Revista PH Rolfs - Crônicas Esportivas

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Número 3 | Ano 3 | Agosto 2014

Crônicas Esportivas

A Copa do Mundo da Fifa e as Olimpíadas no Brasil provocaram discussões a respeito da realização dessas competições no país e aguçaram o interesse pelo esporte no Curso de Jornalismo da UFV


A Seleção Brasileira merece as vaias que está ouvindo?

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Imagine a orquestra sinfônica Brasileira no teatro Municipal. A certa altura começa a desafinar e, entre outras falhas, descobre-se que o 1º violino esqueceu o arco em casa. Não teria de ser vaiada?

Armando Nogueira, ao ser perguntado pelo Jornal Zero Hora (RS), em agosto de 1993, sobre o mau desempenho da Seleção Brasileira comandada por Parreira


Ao leitor Projeto Editado pelo professor Joaquim Sucena Lannes (MT/RJ 13173/58) Jornalismo Esportivo Coordenação Jéssica Santana (monitora) e Hugo Amichi Foto de Capa Diogo Rodrigues Projeto Gráfico e Diagramação Diogo Rodrigues Agradecimentos aos alunos e professora da disciplina Fotografia, pela cessão de parte do material fotográfico utilizado, aos alunos convidados dos diversos períodos do curso e aos servidores do Departamento de Comunicação Social Reitora Profª. Nilda de Fátima Ferreira Diretora do CCH Profª Maria das Graças Floresta Chefe do DCM Prof. Joaquim Sucena Lannes

A Copa do Mundo da Fifa no Brasil despertou o interesse geral da população para os temas futebol e seleção brasileira. Grandes espaços na mídia foram ocupados com o assunto. Nas conversas entre amigos ou mesmo na sociedade, de um modo geral, também o futebol foi enquadrado como tema obrigatório. Todos no país passaram a ser técnicos, escalando times ideais, analisando criticamente os jogos, o técnico, os jogadores, a seleção e a maneira como ela foi preparada. A Fifa, a CBF e o Governo Federal também entraram na dança. As duas entidades, pela forma como organizaram o evento. Já o governo e os políticos, por terem se aproveitado para tirar vantagem própria e por terem prometido mil benefícios, supostamente conquistas dos preparativos para a realização do torneio em terras brasileiras, dos quais muitos acabaram não saindo do campo das promessas. Aqui na UFV o clima de expectativa não foi diferente, especialmente no Curso de Jornalismo. As atividades acadêmicas, as discussões em sala e nos corredores também incluíram o tema. Esse clima e todas as atividades proporcionadas a partir dele acarretaram diversas produções, como textos, fotos, jornais, matérias e programas, que versaram sobre a competição maior do futebol mundial e os temas que gravitaram paralelamente. A Revista PH Rolfs, criada pelo Curso de Jornalismo para veicular trabalhos em diversos gêneros jornalísticos, produzidos por alunos e professores, aproveitou o ensejo e o rico acervo de fotos e textos, desta feita, do gênero opinativo, na forma de crônicas, em mais este projeto especial que esperamos ser do gosto e do agrado de você, leitor. Uma excelente leitura. Joaquim Lannes Editor

Coordenadora do Curso Profª Mariana Lopes Bretas Endereço Vila Gianetti, casa 39 Campus Universitário Viçosa – MG CEP: 36570-900 Telefone: 3899-2878 www.com.ufv.br

Os textos e materiais publicados não refletem necessariamente a opinião do Departamento de Comunicação, do Curso de Jornalismo ou da Instituição, sendo de inteira responsabilidade de seus autores e fontes. Cópias são autorizadas, desde que o conteúdo não seja alterado e que sejam citados o veículo e seus autores

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ÍNDICE

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6 O esporte de mãos dadas com a aprendizagem 8 A #CopaDasCopas, só que não 10 Vergonha à brasileira 12 Fernando Peyroteo, um mito desconhecido pelos brasileiros 14 Nós? Macacos? Estamos longe disso! 16 Agora quem dá a bola são elas 18 O Fato das Fotos 20 Futebol americano cada vez mais brasileiro 22 O Brasil contra ‘os NBA’

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24 Esporte brasileiro precisa ser repensado, e rápido 26 Saudades das crônicas esportivas de antigamente 28 Luciano do Valle - 50 anos de narração e incentivo ao esporte 30 Figurinhas da Crônica Esportiva Brasileira 4

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Leonardo Fonseca

por Hugo Amichi

A triste transformação do futebol brasileiro

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opa do Mundo da Espanha, 1982. O estádio Sarriá, em Barcelona, viu a eliminação de uma das maiores seleções de futebol de todos os tempos. Para aquela Copa, o Brasil era cotado por muitos como o futuro campeão. Jogava um futebol alegre, rápido e habilidoso. No entanto, para o espanto de muitos, isso não aconteceu: a Seleção caiu diante de uma pragmática Itália, que depois se sagraria campeã do torneio. A queda de um time com enorme potencial ofensivo, que primava a técnica, para uma seleção com a defesa sólida e sem muitos recursos ofensivos, foi o marco que mudou a visão mundial sobre o futebol: a defesa começou a ser mais importante e decisiva do que o ataque. Os times não mais jogavam com três ou quatro atacantes, mas sim com três ou quatro jogadores mais recuados, que tinham como fun-

ção principal se defender, para depois pensar em fazer gol. Exemplos como o Carrossel holandês de 1974 e o grandioso Brasil de 1970 foram substituídos por esquadrões com um sistema defensivo forte. A Alemanha tricampeã em 1990 e a Itália tetra em 2006 são exemplos disso. A seleção canarinho seguiu a nova filosofia do futebol mundial. O time foi novamente campeão em 1994 e 2002. Ambas as equipes apostavam em um sistema defensivo forte e buscavam o diferencial em craques: Romário em 1994, Ronaldo em 2002. Se adequar à nova filosofia futebolística foi necessário, mas perder o DNA de um futebol ofensivo, alegre e habilidoso é necessário? O principal problema está nas categorias de base. O Brasil é um grande revelador de talentos para o futebol mundial. Atualmente, muitos dos grandes clubes europeus contam com brasileiros em seus

elencos. O garoto já sai da base sonhando em atuar na Europa, com grandes times e os maiores craques. Aprende-se a jogar como os europeus. Com isso, o rapaz franzino e habilidoso não tem chances perante o brutamonte. Um volante não joga mais como Gérson ou Falcão. Joga para marcar e proteger a defesa. As promessas com habilidade, velocidade e ofensividade que vingam, acabam perdendo suas características e entrando em pragmáticos sistemas. Os exemplos são muitos, como os casos de Robinho, Anderson, Oscar e Lucas. Portanto, se na formação do atleta tudo está sendo alterado, é possível que em breve o DNA do futebol brasileiro se transforme. Não vamos parar de revelar talentos, mas ao invés de grandes atacantes, vamos começar a fazer grandes defensores. Triste mudança para aqueles que conhecem o nosso futebol pela alegria, habilidade e ousadia.

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O esporte de mãos dadas com a aprendizagem por Caroline Mauri

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m maio de 2014 aconteceu em Barueri (SP) o Campeonato Brasileiro de Jiu-jitsu, contando com a participação de diversos campeões mundiais. Viçosa foi representada por três lutadores, dentre eles Paulo Alexandre, mais conhecido como “Boi”. Ele conquistou o 3º lugar na categoria faixa preta máster pesadíssimo e o 2º lugar absoluto na competição. Entre outros atletas de destaque em Viçosa, Boi é mais um exemplo de que com esforço e dedicação, apesar das oportunidades limitadas de uma cidade do interior, se consegue alcançar grandes objetivos. Podemos citar outros, como os estudantes da UFV que foram convocados para integrar a Seleção Brasileira de Levantamento de Peso no Campeonato Pan-americano da modalidade. Ou ainda, o lutador de MMA Wagner Silva Gomes, o Wagnão, participante da terceira edição do reality-show The Ultimate Fighter Brasil, que se destacou chegando à semifinal e conseguiu assinar um contrato com o UFC, a maior organização dessa modalidade de lutas do mundo. Com esses e tantos outros exemplos de sucesso, eu me pergunto: o

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que ainda falta para que o município de Viçosa invista no esporte? E não me refiro apenas ao esporte na Educação Física das escolas e nem restritamente ao poder público. A sociedade como um todo: pais, professores e amigos devem se preocupar com isso. As escolas, academias, clubes e centros de treinamento, mesmo os que fazem bons trabalhos, estão acomodados com a situação atual e não inovam nos tipos de investimento que podem ser feitos sobre os atletas. Quando estimulado desde a infância, as chances de o esportista conseguir uma boa oportunidade, chamando a atenção de algum olheiro, é muito maior. As próprias famílias devem incentivar a prática da atividade física. Não estou dizendo para nenhum garoto ou garota largar a escola e se dedicar integralmente ao futebol, à natação, ou a qualquer outro esporte. A escola é fundamental para orientar, até mesmo psicologicamente, o amadurecimento da criança e ajudá-la a escolher se o esporte que ela pratica é o mesmo que ela quer para o futuro. Bem explicado esse posicionamento, pais e mães apenas estão ajudando quando apoiam os filhos

nos treinamentos. Além da possibilidade de construir um futuro na modalidade escolhida, a atividade física só resulta em benefícios para os praticantes, tanto nos campos da saúde, quando da cidadania e do convívio social. Enquanto a maioria só se lem-


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bra das vantagens para o corpo, devo ressaltar que a prática dos esportes, principalmente os coletivos, deixam nos jovens um grande senso de disciplina e responsabilidade. Além de aprender a conviver com os colegas e valorizar o trabalho em equipe, sem esquecer da obediência

e o respeito para com o profissional especializado e às autoridades, no caso treinadores, árbitros e os demais envolvidos no fazer esportivo. Apesar de ser importante cobrar, de maneira justa, daqueles que podem investir mais nos atletas, no fim, a força maior de impulsão para

o sucesso é a vontade e a dedicação de quem o pratica. Por isso todos os apaixonados por algum esporte, praticantes assíduos e que sonham em brilhar na sua modalidade: não desistam! Aliás, eu comecei mesmo esse texto com exemplos que deram certo, não foi?

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A #CopaDasCopas, s

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altando apenas 30 dias para a Copa do Mundo aqui no Brasil, apenas 41% das obras anunciadas estavam prontas, segundo informações da Folha de São Paulo. Proliferavam nos jornais notícias de atrasos em obras, liberação extra de verba, acidentes e outras situações nada patrióticas. As propagandas nacionalistas se espalharam por toda mídia, exaltando nosso futebol e a seleção brasileira. Não que a seleção não seja digna de admiração e torcida, mas não há o que comemorar com a Copa do Mundo 2014. A escolha do Brasil para sediar o mundial foi anunciada em 2007 e alardeada pelo então presidente, Luís Inácio Lula da Silva. Durante todo seu governo e sucessão muito se falou do tal “legado da Copa”. Nos meses próximos ao evento

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o discurso mudou, saindo do foco aos legados que não vão existir, terminando em profusões nacionalistas do país do futebol. De cadeiras de níveis superiores aos exigidos, passando por demasiadas solturas de verbas quebrando licitações, a arenas e viadutos desmoronando, parece não faltar mais nada. O Gigante acordou no ano passado, cochilou e prometia despertar com tudo em manifestações organizadas nas redes sociais. O grande questionamento diz respeito à enorme quantia de dinheiro investida em estádios e obras de mobilidade urbana que nem sequer chegaram a se concretizar. Os gritos são pela saúde e educação. O problema do Brasil, entretanto, não é a falta de recursos, e sim a corrupção intrincada no sistema público. A maior parte dos investimentos liberados para a saúde e educa-

ção se perdem em meio a contratos e propinas. Tivessem as obras de mobilidade urbana saído do papel, talvez o descontentamento com a Copa fosse menor. Talvez, os vinte centavos custassem menos. Talvez. A Copa do Mundo 2014 é apenas válvula de escape para um povo marginalizado. Desde a época das colônias de exploração, uma nata usufrui de melhores condições exploradas dos comuns. Ora, são nossos impostos que financiaram a maior parte das obras que deveriam ter sido feitas. Daí o sentimento de exclusão e exploração perante à Copa, enquanto ainda há muitas mortes nos hospitais e professores são mal remunerados por seu trabalho. As propagandas nacionalistas do país do futebol aparecem no contexto como instrumento integrador, ao trazer a ilusão de que


Aline Soares

só que não por Yane Guadalupe

nós, os brasileiros, estamos juntos rumo à taça no campeonato. Não se trata de direita, esquerda, Lordes ou Comuns, devem se lembrar os manifestantes. Utopicamente, os dois lados deveriam caminhar rumo ao mesmo lugar. O caso mais recente de embates políticos é do Deputado Federal Romário, ex-jogador de futebol e campeão do mundial pela seleção brasileira. Em uma página do Partido dos Trabalhadores (PT) no Facebook, o baixinho foi criticado por participar de campanhas publicitárias referentes à Copa enquanto apontava falhas na #CopaDasCopas. Ora, não se trata de futebol.

É mesquinharia política. Romário, enquanto um dos maiores goleadores das décadas de 90 e 2000, tem direito de colher os frutos do seu trabalho como esportista. Enquanto Deputado Federal, tem o dever de fiscalizar o executivo e, se há inconsistências nas obras de estádios e mobilidade urbana, deve sim criticar e cobrar providências. Deixem o baixinho trabalhar e trabalhem vocês também! Desde o anúncio do Brasil como sede da Copa 2014 muitas pessoas duvidaram do legado alardeado e até se o evento chegaria a acontecer. O legado da Copa não vingou e nem irá. Nacionalismo à parte, o

melhor que fizemos foi tentar atender o mínimo para a realização do evento no país. Os olhos do mundo ficaram voltados para o Brasil e, dessa vez, não pelo carnaval ou pelas mulheres. É o futebol sim, também, mas fomos avaliados pela capacidade de concretização. Que sirva de lição e aprendizado. A maior manifestação contra a desordem das obras para a Copa deve acontecer em outubro, nas urnas. Não há instrumento mais eficaz para reformas políticas. Não é hora de tapear as coisas, tampouco “etapar”. Já dizia meu pai: “futebol de verdade é a pelada com os amigos. O resto é politicagem”.

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Vergonha à brasileira por Felipe Pacheco

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dia 18 de abril de 2014 ficará marcado na memória e na história do futebol brasileiro. Não pela conquista de um importante título, seja com a seleção brasileira ou qualquer grande clube do país. Também não será pelo surgimento de um novo grande craque, desses que reúne a genialidade de Neymar, o faro de gol de Pelé e a frieza de Lionel Messi. Está longe disso. O que marca esse dia é um acontecimento ímpar no nosso futebol. E não pense você que seria loucura imaginar que um dia isso pudesse acontecer. Em Santa Catarina, Joinville e Portuguesa entraram em campo para jogar uma das partidas de abertura da série B do Campeonato Brasileiro de 2014. A partida já chamava a atenção por marcar a estreia da Lusa, rebaixada da elite do futebol brasileiro no tapetão. Durante a semana, uma liminar emitida pela 3ª Vara Cível da Penha recolocou o time paulista na primeira divisão. Sob pressão da CBF, o clube foi a campo mesmo com o documento não tendo sido cassado. Eis que aos 17 minutos da primeira etapa aconteceu o inédito: uma ordem judicial determinou a saída dos jogadores da Portuguesa de campo. O documento apresentado ao delegado da partida indicava que o time paulista estava desrespeitando uma determinação da

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Justiça ao ir para o jogo, o que poderia resultar até na prisão do presidente da Lusa, Ilídio Lico. Comissão técnica e jogadores rumaram ao vestiário e de lá não saíram mais. O resultado: partida encerrada e muitos protestos na arquibancada, com direito a gritos de ‘VERGONHA’. Vergonha essa que assola o futebol brasileiro já há algum tempo. Não são os jogadores de Portuguesa ou Joinville que merecem ser os alvos das exclamações, e sim os dirigentes que cuidam do futebol brasileiro. Justamente no ano em que o mundo viu uma Copa ser realizada em nossas terras, o futebol pentacampeão vive uma crise interna. Resultado de más administrações que visavam, prioritariamente, ao enriquecimento da Confederação, ao invés do desenvolvimento do futebol. Ricardo Teixeira perdurou por anos no topo da CBF. Ao sair, sob o olhar atento de investigações, colocou no trono José Maria Marín, indicado para dar continuidade ao trabalho do senhor feudal que de lá saía. Marín, por sua vez, será sucedido no ano que vem por Marco Polo Del Nero, seu atual vice. Ou seja, é mais do mesmo. O resultado destes anos de chumbo na entidade máxima de nosso futebol estão visíveis para qualquer cego ver: uma seleção afastada do seu torcedor, com um futebol, antes referência, agora estagnado e em busca de se reinventar; clubes e federações en-

dividados, limitando suas ações financeiras; um calendário extenso, massante, que prejudica o espetáculo e não atende ao interesse de grande parte dos times do país (os de pequeno porte fecham as portas por mais de meia temporada). Organizar melhor o nosso futebol é possível! Mas, para chegar terra.com.br


lá, as pessoas de bem que querem alcançar esse denominador comum precisam vencer um jogo de interesses que circunda CBF, federações estaduais e clubes. Uma recente tentativa de se chegar às necessárias melhoras está ligada ao Movimento Bom Senso FC, organizado pelos próprios jogadores. Porém, eles próprios já viram que as batalhas a serem disputadas nesta guerra são complicadas. Voltemos ao jogo aqui destacado. Ele deixa um exemplo do que está errado e o que pode ser muda-

do. Dirigentes do Joinville criticaram as ações da Portuguesa, a saída do time de campo e o não retorno. Isso mostra que muitos não se opõe à CBF. Medo? Pode ser uma explicação. Uma possível revolução no futebol brasileiro, por mais radical que seja, pode trazer bons frutos. Mas, para isso, os clubes devem se enxergar como companheiros e não rivais. Eles têm que ver a Confederação e seus manda-chuvas como o inimigo a ser batido. A união das equipes é uma alternativa para combater essa ditadura. Afinal de

contas, eles são os donos da festa. A justiça interveio no campo de jogo. As retaliações à Portuguesa não irão cessar facilmente. Assim como liminares surgirão, serão caçadas, até que se esgotem as investigações. O que não pode deixar passar é o fato em si. Repito: um momento ímpar, até então, em nosso futebol. Que ele se torne exemplo de uma luta que, para o bem do nosso futebol, deve se tornar mais franca. Porque a desordem já cansou o torcedor que quer ver um bom espetáculo.

Aglomeração de jornalistas e muita confusão no jogo entre Joinville e Portuguesa, pela rodada de abertura da Série B, paralisado aos 16 minutos do primeiro tempo

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Fernando Peyroteo por Alexandre Scheibel

um mito desconhecido pelos brasileiros

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orreu este ano, aos 71 anos, o ídolo português Eusébio, também conhecido como pantera negra. O futebolista, nascido em Moçambique, ficou conhecido no país luso por conta da sua brilhante carreira no Benfica, onde marcou 638 gols em 624 jogos. Além, é claro, das suas conquistas: 11 campeonatos nacionais, 5 taças de Portugal e 1 Taça dos campeões europeus. Pela seleção, realizou 61 partidas e marcou 41 vezes. Somando todos os números da sua carreira obtemos a incrível marca de 733 gols em 745 jogos oficiais, uma média de quase um gol por partida. Desempenho este que lhe conferiu o status de um dos maiores jogadores de todos os tempos ao lado de lendas como Pelé,

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Maradona, Di Stefano e Puskas. Mas o que Eusébio tem a ver com o jogador exposto no título? Bom, eles têm muitas qualidades em comum, e a única discrepância entre eles é o reconhecimento mundial que o Pantera tem, diferentemente de Peyroteo. Não que seja um desconhecido: pelo contrário, é um mito nas terras portuguesas, mas, fora de lá, são poucas as pessoas que o conhecem. Assim como Eusébio, Fernando Baptista Seixas Peyroteo também nasceu no continente africano, mais precisamente em Angola, no dia 10 de março de 1918. Chegou a Portugal com 19 anos. Depois de passar nos testes acertou seu contrato com a diretoria do Sporting sem sequer uma assinatura: um acordo foi selado baseado somente na palavra de honra de ambos. Clubes rivais como Benfica e Porto ofereceriam contratos mais vantajosos pelos serviços do atacante, ambos recusados pelo jogador. Em apenas uma temporada, o

jogador de físico robusto, cabelo cuidadosamente repartido ao meio, sobrancelha única e um rosto ovalmente simpático, conquistaria os leões alviverdes. Eles não sabiam, mas o ano de 1937 marcaria uma início de uma era dourada para o Sporting. Em sua primeira temporada, Peyroteo foi artilheiro do campeonato português com 34 bolas na rede, mais da metade dos gols da equipe no certame, isso em apenas 14 partidas. Fez, sozinho, mais gols que a soma dos dois últimos clubes colocados no campeonato, e o mesmo número do campeão Benfica. Apesar de não ter sido campeão, o esquadrão leonino levou a taça de Portugal, passando por cima de seu maior rival, o Benfica. Nos anos seguintes, conquistou 5 Campeonatos Portugueses, 5 Taças de Portugal e 1 Supercopa de Portugal. Foi seis vezes artilheiro do campeonato português e é até hoje quem mais fez gols nessa liga: 331 em 197 jogos - média de 1,68 por jogo.


Peyroteo ergue a taça do campeonato de 1945-46. Abaixo, o esquadrão alviverde do Sporting Lisboa, campeão português em 1947-48

Fotos: reprodução

Outros recordes que se juntam a estes são: quatro gols em um só jogo 17 vezes, cinco gols em um só jogo 12 vezes, seis gols em um só jogo 3 vezes, uma vez oito gols - Sporting 12×1 Boa Vista, 48/49 - e uma vez nove - Sporting 14×0 Leça, 41/42. No ano de 1946, integrou o quinteto de ouro que recebeu a alcunha de os “Cinco Violinos”, tamanha harmonia que apresentavam seus componentes dentro de campo. O nome veio do jornalista e treinador Tavares Silva. Segundo ele, Jesus Correia, Vasques, Travassos, Albano e Peyroteo, formavam uma orquestra do esporte bretão devido à beleza das atuações, ao es-

pírito coletivo e ao elevado número de bolas na rede. Com os “Violinos” afinados, o Sporting foi tricampeão do Campeonato Português, façanha que começou na temporada 19461947, quando a esquadra alviverde assinalou inacreditáveis 123 gols em 26 jogos - uma média de quase cinco por jogo - e venceu 23 partidas. Peyroteo alcançou outro recorde ao anotar 43 gols em 19 partidas disputadas e se consagrar artilheiro daquele campeonato. Foi superado somente em 1974 pelo também sportinguista Yazalde, que marcou 46 gols, porém, em 30 jogos. Todo mito é cercado histórias de superação e com Peyroteo não

foi diferente. Na temporada 47/48 a equipe do craque precisava vencer por três gols de diferença fora de casa se quisesse ficar com o bicampeonato. Mesmo estando com forte febre, ele pediu pra jogar. Marcou três dos quatro tentos anotados pela equipe, garantindo o título. Peyroteo só não foi mais famoso por causa da Segunda Guerra Mundial, que o impediu de jogar uma Copa do Mundo. O campeonato de seleções mais importante do mundo teve um recesso após a edição de 1938 e só voltou em 1950, tendo o Brasil como sede. Mas aí o craque já havia pendurado suas chuteiras. Na seleção portuguesa, ele entrou em campo apenas 20 vezes, marcando 14 gols. Em 1949, aos 31 anos, Peyroteo decidiu se aposentar e ganhou enormes honrarias do Sporting, onde é tido como maior atleta da história do clube. Nos anos 60, se aventurou no comando da seleção portuguesa em duas partidas, mas perdeu ambas e deixou a equipe para Manuel da Luz Afonso. Tempo depois, sofreu uma lesão após um jogo de veteranos e teve a perna amputada por um erro médico. Em 1978, aos 60 anos, faleceu após um ataque cardíaco, em Lisboa, o maior jogador da história do Sporting e, há quem diga, o melhor português de todos os tempos.

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Nós? Macacos? Estamos longe disso! por Pedro Vital

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stádio El Madrigal. Villarreal, Espanha, 31 minutos do 2° tempo. Tiro de canto para o Barcelona. Seria só mais um escanteio se o batedor não fosse o brasileiro Daniel Alves. O jogador, titular da Seleção Brasileira de futebol, se posicionou para bater a bola parada quando um torcedor atirou uma banana no gramado. Não somos inocentes. Sabemos que a referida fruta é o alimento predileto do macaco. Logo, fazendo

uma analogia, Daniel Alves, devido à cor de sua pele, foi “diminuído” a um reles Quinguana makako. O ato é crime. No Brasil, a injúria racial está tipificada no artigo 140, § 3º do Código Penal Brasileiro, e consiste em ofender a honra de alguém com a utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Injúria racial é quando há a lesão da honra subjetiva da vítima, ou seja, a sua própria autoestima. Na Espanha, o ato do torcedor foi classificado como racismo, pois

a justiça espanhola entendeu que a ofensa se dirigiu contra membros de um determinado grupo. Na lei brasileira, o crime de racismo, previsto na Lei 7.716/89, implica em conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou coletividade. Considerado mais grave pelo legislador, este crime é imprescritível e inafiançável. Os campos de futebol tornaram-se palco para manifestações de ódio racial. Porém, não é só na Europa. Neste ano, dois casos tornaram-se Reprodução Bein Sports

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relevantes aos olhos da mídia. Em partida válida pela Libertadores da América, no Peru, o jogador do Cruzeiro Tinga foi alvo de gritos dos torcedores rivais que emitiam sons de macaco quando o volante pegava na bola. Depois, foi a vez do árbitro Márcio Chagas da Silva, no Campeonato Gaúcho, ser vítima dos gritos “macaco safado”. Márcio encontrou o seu carro amassado e arranhado e com bananas no capô e no teto depois do jogo. O que será que passa pela cabeça desse criminoso? Sim. Cometeu um crime é criminoso. Pesado falar assim, não é? Parece até que a pessoa roubou ou matou alguém. Vou usar esse termo para me referir a esse minoritário grupo de pessoas para que eles e você entendam a gravidade da situação. Afinal, quem comete crime de racismo ou injúria racial sentar-se-á a frente de um juiz assim como o assaltante ou o assassino. Por que os negros, mulatos ou índios são diferentes aos olhos desses criminosos? Será que existe uma explicação lógica para isso? Vamos procurar. Para a biologia, não interessa se o ser humano é negro ou branco, ele é o Homo sapiens. Para a física, o branco ou o negro são um corpo. Sem diferenças por enquanto. Vamos mais fundo. Será que um exame de Raios-x poderia diferenciar um branco de um negro? Também não. Ah! Já sei. Encontrei. A diferença está na cabeça do criminoso. Só pode ser! Não há como estar em outro lugar. Estudos recentes comprovaram que esse criminoso sofre de sério distúrbio mental, mais conhecido como babaquice aguda. É crônico. O indivíduo tende a ser

Nas redes sociais, diversos artistas e muitos jogadores de renome aderiram à atitude de Dani Alves e foram à defesa do lateral-direito brasileiro, numa atitude antiracista que acabou se viralizando por toda a internet

agressivo com os seus pares de espécie. Desse distúrbio, a humanidade tenta se livrar há um bom tempo. A notícia boa? Há cura. Mas ela não fica nas prateleiras de uma farmácia ou em uma seringa de hospital. Ela está disponível de graça. Chama-se consciência. Algumas pessoas têm mais, outras têm menos, mas todo mundo pode praticá-la, inclusive – e de preferência – esses criminosos doentes. Porém, termino esta minha reflexão com outra crítica. Depois da repercussão do caso de Daniel Alves, o seu companheiro de clube e de Seleção, o atacante Neymar, iniciou a seguinte campanha na rede social Instagram: #somostodosmacacos. Neymar, não somos macacos. Eu não sou macaco. O macaco é um ótimo ser vivo, se comparado a nós. Ele, diferentemente do ser humano, não discrimina os seus pares. O ser humano, a cada ano, prova para si mesmo e para todas as espécies do planeta que ele é o ser mais imbecil que habita este mundo. Por quê? Porque nós temos a capacidade de raciocinar, pensar; temos o dedo polegar – que nos permitiu enorme aquisição evolutiva –, porém, mesmo com todas essas vantagens, conseguimos causar sofrimento, guerras, destruição e discriminação. Então, Neymar, não compare o Quinguana makako ao Homo sapiens. Os macacos não merecem tamanha humilhação.

Ivete Sangalo

Balotelli

Lucas

Coutinho e Suaréz

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Agora quem dá a bola são elas por Monique Bertto

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ora de campo, o futebol tem sido não apenas uma paixão para milhões de pessoas ao redor do mundo, mas também um incentivador de mudanças sociais, suprindo deficiências e produzindo avanços extraordinários. São muitas as iniciativas que buscam, por meio do esporte mais praticado no planeta, catalisar sonhos em busca de um ideal de cidadania e igualdade social. Uma dessas ações é o SEGway Project, que visa fortalecer, através da prática do futebol, a vida de centenas de meninas no Nepal, Quênia e Camboja. Quebrando as barreiras

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de gênero, o projeto capta doações para patrocinar garotas que vivem em regiões de extrema pobreza, e em que grande partes delas ocupam um papel de submissão sexista e direitos básicos restritos. Os idealizadores do projeto, que têm o suporte da Universidade de Cambridge (EUA), acreditam que o futebol pode desempenhar um papel importante na vida dessas meninas, ajudando-as a serem mais

competitivas, adquirir autoconfiança e as características necessárias para que elas se tornem verdadeiras líderes e construam para si outras possibilidades de futuro. No Quênia, o projeto é oferecido na favela de Kibera, a segunda maior do mundo, onde aproximadamente um milhão de pessoas vivem sem eletricidade e água encanada. Lá foi criado o Kibera Girls Soccer Academy (KGSA), que já conta com quatro times de futebol feminino, com meninas entre 10 e 18 anos. O mês de Julho de 2014 será particularmente especial na história dessas meninas, uma vez que elas deixarão o continente afri-


ra, Educação Física, Informática, Leitura e Escrita; e o Kids League, que organiza torneios de futebol para os jovens desfavorecidos em zonas de conflito da Uganda. Muito além dos campos rodeados por holofotes, onde impera o padrão Fifa de futebol, existem pessoas que enxergam no chute ao gol uma possibilidade de transcender. Superando expectativas, essa gente que nada tem a perder, mas muito a oferecer, enche o peito e

segwayproject.org

cano para participar da Schwan’s USA Cup, em Minnesota, Estados Unidos. Não é preciso saber tudo sobre o projeto para perceber que ele é uma das maiores e mais significativas iniciativas já realizadas envolvendo o futebol. Romper com paradigmas ultrapassados, provando que elas também podem desempenhar funções antes restritas apenas a homens, e oferecer a oportunidade de desenvolvimento pessoal a essas meninas, fortalecendo em cada uma a esperança de um futuro cheio de oportunidades, foi, convenhamos, uma jogada e tanto. No 64º Congresso da Fifa, o presidente da Federação, Joseph Blatter, ressaltou que o futebol precisa ser o “pioneiro da esperança”. Como esperado, ele também reintegrou a importância do fair play (jogo limpo), e da necessidade de agir com solidariedade e com integridade, dentro e fora de campo. Porém, os esforços da Fifa em promover mudanças sociais não vêm tendo expressão significativa, quando levado em consideração seu poder e relevância mundial. Enquanto os grandes órgãos parecem mais preocupados em acumular, milhões de pessoas ao redor do mundo se mobilizam e são mobilizadas por iniciativas como o SEGway Project e inúmeras outras. Podemos listar, por exemplo, o One World Futbol Project, que leva bolas ultra resistentes à crianças em zona de guerra; o Virando o Jogo, da Fundação Gol de Letra, dos ex-jogadores Raí e Leonardo, que oferece a quase 300 crianças e adolescente oficinas de Artes Plásticas, Dança, Teatro, Música, Capoei-

corre pra dizer que é gol. Pessoas que acreditam na paixão e no poder transformador do futebol e levantam essa bandeira. Afinal, poder de transformar um simples esporte em sonho, o futebol tem. Pessoas determinadas em oferecer melhores oportunidades para seus próximos, o mundo tem. Oportunidade de unir ambos em uma luta contra toda e qualquer injustiça social, todos nós temos. A bola já está rolando.

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O Fato das Fotos

Sérgio Félix

O fotojornalismo também é responsável pela mensagem, assim como o texto, a pintura e a voz. As fotos a seguir são um exemplo disso. Elas registram e fixam para a posteridade aspectos da recente Copa aqui realizada. Elas não só revelam imagens, como também emitem significados decodificados pelos seus olhares.

Álbum da Copa do Mundo pode até ser coisa de criança. Mas, quando falamos em números, passa a ser coisa de gente grande. As figurinhas dos jogadores que participariam do mundial viraram febre em escolas e praças das cidades do país. Segundo a Panini, editora que comercializa o produto, o lucro previsto era de 600 milhões de reais, quase o mesmo valor da reforma do estádio Castelão em Fortaleza (623 milhões).

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Os estádios não tiveram muitos problemas du destaque negativo ficou por conta da invasão do Maracanã. Todos foram prontamente depo Horizonte, foi um dos palcos que mais recebe dois do Brasil. No ‘’Gigante da Pampulha’’ jog Inglaterra, Colômbia, Chile e Bélgica. A desped 7 a 1 da campeã Alemanha sobre a nossa sele


urante a Copa do Mundo. O o de chilenos ao centro de imprensa ortados. O Mineirão, em Belo eu jogos: cinco no total, sendo garam seleções como Argentina, dida foi melancólica: os humilhantes eção, em uma das semifinais.

Hugo Quintero

Letícia Cozoli

Os estrangeiros invadiram o Brasil na Copa do Mundo. Segundo dados do Ministério do Turismo, mais de 1 milhão de pessoas vieram visitar o país do futebol. Elas passaram por 378 municípios. Desse elevado número, 60% esteve aqui pela primeira vez e 95% pretende voltar. Segundo os estrangeiros, o que mais agradou foi a calorosa hospitalidade do povo brasileiro.

Diogo Rodrigues

Mariana Barbosa

Os brasileiros estavam ansiosos pelo mundial. Eles expressaram esse sentimento de diversas formas. A expectativa pelo hexa campeonato, contudo, foi frustrada. Nossa seleção fez uma de suas piores copas. Com o peso da camisa conseguimos chegar à semifinal, mas passamos, em nossa própria casa, a maior vergonha da história dos mundiais, após a derrota para a Alemanha. Apenas dois dos nove campeões do mundo nunca venceram uma Copa em casa. O Brasil, infelizmente, é um deles.

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Futebol cada vez mais por Gustavo Pires

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oi-se o tempo em que praticamente todos os brasileiros descreviam o futebol americano como “um monte de homem amontoado se batendo sem motivo”. Agora, existem muitos fãs desse esporte, que surgiu por volta de 1869 e com o passar dos anos vem tomando proporções gigantescas. O Brasil, que valoriza o atleta com maior habilidade nos pés, está aos poucos dando espaço para o esporte que prima pela habilidade nas mãos, e claro, que também considera força física, estratégia e garra, algumas das bases dessa modalidade. Até porque, diferentemente do que pensam os leigos, as pancadas, os grandalhões na linha de frente e o amontoado de jogadores buscando a bola têm motivos plausíveis. Basta conhecer a modalidade para entender. Ao fazer uma analogia com nosso futebol, temos na figura do goleiro o safety, atleta que geralmente é o último defensor no campo. Essa posição é uma das mais importantes da defesa, já que, assim como no soccer, se o atleta errar lá atrás, é difícil de se consertar. Temos na figura do zagueiro o linebacker, defen-

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americano brasileiro sor responsável por parar a jogada ofensiva, principalmente pelo meio. Como laterais, temos os cornerbacks, que são os que acompanham os recebedores que geralmente estão nas pontas. Geralmente esses jogadores são bem habilidosos e versáteis. Passando para o meio-de-campo, temos como volantes os defensive ends, que vão atrás do melhor do outro time. Eles buscam estragar a jogada que está sendo armada. Como meia-atacante, o tradicional camisa 10 do futebol, temos o quarterback. Nessa função, o jogador geralmente lança para algum dos recebedores. É ele quem pensa a partida e quem tem a habilidade diferenciada ao ponto de colocar a bola onde nenhum outro consegue. É o centro do time, o mais inteligente do ataque e que normalmente tem a maior responsabilidade. É a peça mais importante do jogo, apesar de não atuar quando o time está sem a posse de bola. Na figura dos atacantes, temos os wild receivers, que traçam uma rota e se movimentam buscando a liberdade para agarrar a bola e pontuar. É válido citar, para finalizar, que os kickers, jogadores especializados em chutar a bola entre as

duas traves que estão no final de cada parte do campo, são como os especialistas em bola parada no futebol. Subvalorizados, eles recebem os menores salários, mas mesmo assim são de extrema relevância, já que decidem inúmeras partidas. É importante dizer que esse esporte tem regras, e muitas por sinal. Não é válido desferir socos, pontapés e rasteiras, não pode puxar a grade do capacete, agredir o adversário e nem machucá-lo de maneira intencional. Enfim, são várias normas que poupam o lado físico do atleta e também deixam o jogo menos truculento. Apesar da sua natureza pesada e bruta, o futebol americano é mais uma modalidade extremamente atlética e competitiva do que propriamente violenta, principalmente por causa da citada proteção com os envolvidos. Outros países têm mais de um esporte como paixão nacional, mas no Brasil vivemos uma situação em que o futebol reina soberano. Algumas modalidades têm certa importância, como o vôlei e o basquete, mas o espaço que outras (como o MMA e o futebol americano) estão ganhando é importante, afinal, pelo esporte aprendemos sobre dis-

ciplina, um pouco da cultura alheia e também nos divertimos. A chegada da modalidade ao Brasil é muito proveitosa, já que a população apaixonada por esporte está bastante carente de boas novidades no cotidiano. Além disso, é preciso perder essa cultura “monoesportiva” que nos persegue há anos, já que vamos receber as Olimpíadas, em 2016. Ao escrever que o futebol americano está cada vez brasileiro, quero dizer que está caindo no gosto do povo daqui. Na última final disputada, diversas pessoas se reuniram para verem juntos, tanto em alguns bares que transmitiram, quanto em casa. Isso mostra o crescimento da modalidade, que está, aos poucos, se tornando um hábito nacional. Caso você se sinta carente de um vencedor definido no último minuto, garra, raça, tática, habilidade individual e coletiva e muito mais, deveria dar uma chance ao futebol americano. Ou melhor, uma não, algumas, já que de início as regras e o jogo em si podem parecer estranhos devido diversas características diferentes do soccer. Você não vai se arrepender, e quando perceber, estará apaixonado por esse esporte.

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O Brasil con

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m todo lugar do mundo, muitas crianças crescem nutrindo um sonho em comum: se tornar jogador. Ganham a primeira bola, começam a dar os primeiros passos e aprimorar suas habilidades. Aqui no Brasil não é diferente. Todos os dias crianças transformam garrafas em bola e dão os seus primeiros chutes. Mas, no país do futebol, têm também aquelas crianças que cresceram quicando suas bolas laranjas e acertando suas primeiras cestas. O ápice do sonho de virar um jogador de basquete é chegar à NBA, a Liga Norte-Americana de Basquetebol. E alguns atingiram essa conquista. Atualmente,

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Fotos: nba.com

Anderson Varejão, Tiago Splitter, Nenê Hilário e Leandrinho Barbosa atuam por lá. Ao mesmo tempo, como jogadores ‘top de linha no país’ – não à toa, jogam nos EUA – são convocados a representar nosso país nas principais competições da modalidade. E na interseção Seleção Brasileira x NBA, esses jogadores encontram o que não imaginavam: as críticas de mídia nacional e torcida. Para quem não está acostumado com o ‘padrão NBA’, vale ressaltar que os times da Liga são exigentes com a liberação de atletas. Eles exigem o pagamento de um seguro, que resguarda o time em caso da lesão de algum atleta. Num esporte de muito contato físico e que exige muito

da capacidade dos esportistas, nada mais normal. O problema é que quem conduz a obtenção e pagamento desse seguro é a Confederação Brasileira de Basketball (CBB). Além de atrasar com frequência esse processo, a CBB peca por muitos anos com a falta de transparência em sua gestão. E para se proteger, a organização tem como costume colocar os atletas como os vilões da história. As convocações trazem jogadores que não tiverem suas situações regularizadas, e quando da negação, as notas são emitidas com a justificativa de que ‘os atletas não podem representar o Brasil por problemas pessoais’. Até mesmo jogador lesionado, que atua na NBA, já foi chamado e teve


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ntra ‘os NBA’ por Felipe Pacheco

que passar por justificativa. E nem o treinador da seleção nacional, o argentino Rubén Magnano, conhecedor da situação, aliviou os atletas de críticas dessa última vez. Essa situação toda acaba incitando o torcedor brasileiro contra esses jogadores. Talvez o torcedor comum acompanhe superficialmente (sabe quem são os jogadores, quem foi convocado e qual competição será jogada) e aceita a versão oficial da Confederação. Acham que os interesses desses atletas é apenas estar bem para a próxima temporada no melhor campeonato do mundo na modalidade, e por isso, abrem mão de representar o Brasil. Ledo engano, que culminou, recentemente, numa atitude de fal-

Leandrinho, Varejão, Nenê e Splitter: os quatro brasileiros que jogam a NBA têm relação de amor e ódio com a CBB ta de respeito da torcida brasileiro com o pivô Nenê. Em excursão pelo país com seu time, o Washington Wizards, o jogador foi vaiado pelos presentes em partida da sua equipe contra o Chicago Bulls, em outubro passado. Nenê, aliás, é um capítulo à parte. Por muito tempo não defendeu o verde e amarelo por não concordar com as atitudes da Confederação. Arestas aparadas, sempre que disponível jogou pelo Brasil. E recebe as críticas, do alto de seus 2,11 metros, com naturalidade, e continua a representar o país. Tiago Splitter, que em junho se tornou o primeiro

brasileiro campeão da NBA, deixou de jogar pelo Brasil pela primeira vez (desde 2002) por lesão, no ano passado, e foi criticado. Culpa da ausência de transparência da CBB. Os quatro, que foram apedrejados por não vestirem o uniforme do Brasil na Copa América da última temporada, estão na lista para o Mundial, competição que o país esteve ameaçado de não jogar pela má atuação no torneio citado. Prometem vir com todo o gás para ajudar o país a não fazer feio e sair com um lugar de respeito. Respeito esse que falta, por parte da Confederação, com os atletas que eles são.

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Esporte brasileiro precisa ser repensado, e rápido! por Joaquim Lannes

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eus amigos”, como iniciaria sua crônica o saudoso cronista esportivo João Saldanha;, o Brasil desperdiçou, mais uma vez, a chance de brilhar e mostrar o seu valor e talento no futebol, em uma competição realizada aqui dentro de nossa casa. Tudo por desleixo, mau planejamento, falta de políticas apropriadas para o setor e para a infraestrutura da sociedade, ufa-

nismo e autoconfiança excessivas, e, sobretudo, por achar que “Deus é brasileiro”, que aqui é o país do “jeitinho”, “onde se deve levar vantagem em tudo, certo!?” e que acima de tudo, nós vivemos no “país do futebol.” Errado! Onde estejam, João Saldanha (o “João sem medo”), Nelson Rodrigues, Armando Nogueira, José Lins do Rego, Mário Filho, Sandro Moreyra e tantos outros tantos jornalistas que não mais estão entre

Mineiraço: vexame na semifinal da Copa abriu os olhos do torcedor brasileiro para a real situação do futebol no país

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nós, certamente devem estar aflitos por não poderem criticar ou tecer comentários a respeito da vergonha e de tantas humilhações que passamos nesse mundial. Mais uma vez ele foi realizado em nossa casa e, de novo, os responsáveis pelo futebol daqui deixaram um título escorrer pelos dedos, frustrando os brasileiros e até alguns estrangeiros fãs do nosso futebol. As proporções da decepção podem ser comparadas até às de 1950, quando deixamos


escapar a Copa para os uruguaios. De maneira impensada, ou se queiram, mal planejada, políticos brasileiros, na ânsia de tirar vantagem da popularidade trazida a partir desse esporte, em pleno ano eleitoral, pleitearam que a Copa viesse a ser realizada em terras brasileiras. A trajetória do esporte bretão em nosso território é repleta de fatos semelhantes, nos quais os políticos sempre desejaram tirar uma “casquinha” da popularidade que ele proporciona. Para tal, mais uma vez prometeram mundos e fundos à população a partir das obras que foram realizadas. Promessas, é claro, muitas das quais nunca foram ou serão cumpridas. As intenções escusas e obscuras logo detectadas por parte do povo tinham fins uniDiogo Rodrigues

camente de angariar a simpatia e a adesão eleitoral da sociedade, para que tudo se transformasse em votos e popularidade, com vistas ao pleito de outubro. Contudo, cuidados adicionais a este desastrado “planejamento” deixaram de ser tomados. Afinal, “somos o país do futebol”. Só que se esqueceram do principal: comunicar ou combinar com as demais equipes participantes e com a própria promotora do evento; a Fifa, para que dessem um jeitinho. E o resultado é esse que aí vemos, ou melhor, viveremos e sentiremos nos próximos quatro anos, ou mais. A supremacia nessa modalidade já não é nossa há muito tempo. Os países adeptos a ela trataram de correr atrás das diferenças, enquanto nós continuamos a comemorar com excessiva soberba, em prol de um dom que foi dado por Deus a algumas pessoas que aqui nasceram e que galgaram os títulos e conquistas passados a partir desse talento natural. No entanto, se continuarmos a não cultivar e tratar com mais atenção e respeito necessários o futebol nacional e os nossos adversários, seremos surpreendidos e superados em outras ocasiões. Atualmente podemos verificar que os problemas gerados dentro e fora das quatro linhas afetam diretamente o lado mais bonito que levou a modalidade ao gosto popular: a “arte futebolística”, como diriam alguns dos cronistas citados. Antes, as competições tinham menos tecnologias ao seu dispor. Dispunham de menos aparatos para a a sua realização, e o que acabava valendo era a habilidade, a genialidade, a técnica e as táticas utilizadas em prol do brilhantismo das competições.

Sem contar as “manhas” adotadas por antigos “gênios da pelota” para driblar seus adversários em campo e impor seu estilo e vocação aos adversários. O esporte, no entanto, caiu no gosto popular e se propagou pelo mundo, e o rumo acabou desviando essa modalidade em demasia dos seus ideais esportivos. Outros interesses despertaram a volúpia de pessoas não muito interessadas pelo esporte em si, mas sim nas possibilidades que ele pode trazer em termos de lucro ou vantagens pessoais. Os órgãos e organismos esportivos foram tomados por pessoas de interesses dúbios, e o quadro acabou se agravando e desencadeando para um cenário de rivalidade excessiva, desonestidades e roubalheiras explícitas e desnecessárias, que enfeiam o futebol e as competições. Enfim, caros amigos do esporte, chegamos a um limiar da realidade do nosso futebol. E por que não de outros esportes também. Há muito o Brasil não revela ou não mais permanece em destaque em diversas modalidades nas quais, até então, o país se destacava. Talvez seja esta a hora das autoridades e responsáveis pelo desporto nacional pensarem melhor e se aprofundarem em projetos que realmente beneficiem os objetivos reais deste campo e desvinculem as suas práticas dos interesses pessoais. As ações daqui para frente, no nosso modesto entender, devem se direcionar única e exclusivamente para a seriedade, honestidade e firmeza de propósitos. Só assim poderemos retornar aos pódios esportivos e voltar a erguer troféus e ostentar títulos novamente.

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Saudades das crônicas esportivas de antigamente por Jéssica Santana

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avia um tempo em que se lia nas colunas esportivas de jornais sobre os belíssimos gols, sobre as performances dos jogadores e a mistura de sentimentos das torcidas ao ver uma partida de futebol. Jose Lins Rego era o craque das crônicas esportivas do Jornal dos Sports e por meio delas falava da sua paixão pelo futebol e do fôlego dos jogadores. Nelson Rodrigues, com muita ironia e sem papas na língua, falava sobre a “pátria das chuteiras”, apelidava seus jogadores favoritos, descrevia os lance com retoques de arte. Armando Nogueira retratava desde a rapaziada, as peladas, a bola, o chute às olimpíadas. Mário Filho fez jus ao parentesco com Nelson Rodrigues. Escreveu seis livros com temas envolvendo futebol e se destacou com “O Negro no Futebol Brasileiro”. Lá em 1947, Mário escreveu sobre os primeiros clubes brasileiros que tiveram jogadores negros compondo seus elencos, como Bangu e Vasco. Falou sobre a restrição aos negros nos clubes, que eram obrigados a usar pó de arroz para disfarçar a cor, criticava o país

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Nelson Rodrigues é um dos melhores exemplos da poesia e do drama que outrora figurava nas páginas esportivas dos jornais

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miscigenado e majoritariamente mulato onde apenas brancos e ricos podiam correr atrás da bola. Exaltava a ginga e o drible do jogador brasileiro, criados pelos negros. Passados muitos anos, nos encontramos em um cenário em que racismo é crime, os negros têm presença forte nos times de futebol, e ainda assim, o preconceito e discriminação estão manchando o esporte. Em 2005, Grafite foi insultado na Copa dos Libertadores por Leandro Desábato. O ex-zagueiro Antônio Carlos, no campeonato gaúcho de 2006, quando jogava pelo Juventude, se desentendeu com o volante do Grêmio Jeovânio e esfregou o dedo em cima do braço em um gesto racista. Roberto Carlos abandonou o campo do estádio Melallurg em Samara em 2011, quando a torcida adversária atirou-lhe uma banana. Paulão, do espanhol Betis, foi ofendido pelos torcedores do próprio time em 2013. Tinga, na estreia do Cruzeiro na Copa Libertadores, o árbitro Márcio Chagas da Silva, o volante Arouca, o lateral Assis do Uberlândia e Daniel Alves foram os alvos até agora, neste ano. Não temos mais José Lins Rego

nem Nelson. Não temos mais o primor de suas crônicas, mas também não há mais o contexto daqueles saudosos tempos. Aumenta-se a violência nos campos, a corrupção dos clubes, a revolta, o preconceito. O esporte nunca esteve tão ligado ao Direito Penal quanto agora. Na verdade, a saudade que fica não é somente das crônicas de outros tempos, mas da época em que o esporte era leve e até poético e não um drama cujo caráter humano se encontra em xeque. Onde estão as partidas que enchem os olhos de lágrimas? Arrepiam todos os pelos do corpo? Ainda existe a firula, a torcida que se organiza para comemorar ao invés de espancar os adversários? Ou o futebol não é mais um esporte, um lazer, um momento de se reunir nas quartas e domingos? Será que a estupidez vai ser a melhor artilheira daqui pra frente? Finalizo concordando com aquele que, por mais que tivesse a visão comprometida, enxergou algo que está diante dos nossos olhos. “Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos aumenta o desgaste da nossa delicadeza”. Sábio Nelson Rodrigues.

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Luciano do Valle por Lílian Moura

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s ares do interior de Minas Gerais abrigaram os últimos momentos do dono de uma das vozes mais marcantes do Brasil. Luciano do Valle, e por que não ser Luciano do Esporte, calou-se definitivamente no dia 19 de abril de 2014. A caminho de mais um dia de trabalho, entre tantos que ele já havia feito: desde os 16 anos emprestava a sua voz aos veículos de comunicação. O narrador esportivo que nasceu no interior de São Paulo, em Campinas, estava no triângulo mineiro para dar voz aos lances do duelo que aconteceria no dia seguinte entre o Atlético-MG e o Corinthians. Fim de semana em que o campeonato brasileiro começou. Fim de semana de escalações, jogos, gols e luto. Todos os times homenagearam em silêncio (talvez grande contradição, com certeza muito respeito e gratidão do futebol brasileiro) a morte de Luciano. Se fosse um dos times do brasileirão, a vida de Luciano do Valle teria história e camisa pra ganhar o campeonato. Analisemos as campanhas anteriores: narrador nas rádios Educadora FM, Brasil AM, Gazeta e Nacional e das redes de televisão Globo, Record e Band. Participação em competições: Copa do Mundo do México de 1970; Copa do Mundo da Alemanha de 1974; Copa do Mundo

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50 anos de narração

da Argentina de 1978; Copa do Mundo da Espanha de 1982; todas as Copas do Mundo entre 1986 e 2010. Versátil e atuante em outras áreas do esporte e sempre defensor das transmissões esportivas, também esteve em diversas edições dos Jogos Olímpicos e no vôlei. Organizou, em julho de 1983, o Grande Desafio de Vôlei entre as seleções masculinas do Brasil e da União Soviética, no Estádio do Maracanã, que teve público de quase 96 mil pessoas, um recorde para a modalidade. Na fórmula 1 narrou o segundo título do piloto brasileiro Emerson Fittipaldi. Uma bela trajetória. Como não colocá-lo entre os grandes do esporte? Se não era uma equipe em campo, nos bastidores sempre teve atitudes de campeão. E aos 66 anos, no momento em que o Brasil se preparava para receber os melhores do mundo no futebol, Luciano do Valle se despediu e não pode ver, tampouco narrar, esse encontro de gigantes. Mas ainda e sempre figurará entre os melhores, porque a história lembrará seu nome e sua dedicação ao cenário esportivo nacional. Sobre o jogo daquele domingo, no Estádio Municipal João Havelange, o Parque do Sabiá, em Uberlândia, em campo faltaram gols, e na cabine da imprensa faltou ele: Luciano do Valle.


emresumo.com.br

e incentivo ao esporte

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Hoje em dia, para os narradores, tudo passou a ser genial, passou a ser fantástico. Tudo é golaço, e não é bem assim. A gente passou a procurar ídolos. (1947 - 2014) PH Rolfs

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Figurinhas da Crônica E A crônica esportiva brasileira é formada por nomes que entraram para a história do jornalismo e do esporte nacional. Abaixo listamos 11 dos nossos selecionados, sendo que gostaríamos de citar todos. Contudo, se assim o fizéssemos, teríamos de editar um livro retratando esses valorosos profissionais que informam ou informaram não só retratando os fatos ligados aos esportes, mas também emitindo as suas opiniões e esclarecimentos adicionais, por vezes beirando a literatura.*

Armando Nogueira (1927- 2010) Acreano da cidade de Xapuri, é considerado por muitos o maior jornalista e cronista esportivo brasileiro de todos os tempos. Iniciou a carreira na editoria de esportes do jornal Diário Carioca. Atuou ainda no Diário da Noite, Jornal do Brasil e nas revistas Manchete, e O Cruzeiro. Na TV Globo foi um dos responsáveis pela criação do Jornal Nacional e do Globo Repórter. A crônica esportiva deve a ele o trabalho feito em prol do enriquecimento da narração esportiva, em todos os setores, tornando a descrição e os registros até mais poéticos. Para ele, “a crônica esportiva tem uma tendência de recriar o fato que a televisão reduz a uma expressão mais simples do ponto de vista da realidade”. Ainda em vida, ele chamava a atenção para o fato da importância das palavras no esporte, para valorizá-lo e conceder-lhe uma dimensão mais artística e literária. Ao falecer atuava no canal por assinatura SPORTV. João Saldanha (1917-1990) Polêmico, controverso e impulsivo, ele nasceu no dia 3 de julho de 1917, na cidade gaúcha de Alegrete. Após mudar para o Rio de Janeiro, passou a ser jogador profissional pelo Botafogo (clube de sua paixão). Contudo a carreira de jogador não deu certo. Formou-se em Direito, mas acabou virando jornalista esportivo. Conhecido pelas duras críticas a todas as esferas do futebol, característica que lhe fez carregar a alcunha de João Sem-Medo. Atuou ao lado de grandes nomes da crônica esportiva e em diversas redações como, por exemplo, nas emissoras das Organizações Globo. Em 1969 entrou para a história como o primeiro jornalista a comandar a seleção brasileira. O seu estilo rude e contra o governo ditatorial no Brasil, causou a sua demissão, antes da Copa de 1970, sendo substituído por Zagallo. Com isso, voltou à vida de cronista esportivo. Morreu quando cobria a Copa de 1990, pela TV Manchete.

Nelson Rodrigues (1912-1980) Nascido em Recife, 23 de agosto de 1912. Um dos maiores cronistas esportivos da história do país. Escreveu textos antológicos sobre o seu time de coração, o Fluminense. A maioria deles publicada no memorável Jornal dos Sports (RJ). Junto com seu irmão, o jornalista Mário Filho, Nelson foi fundamental para que os Fla-Flu’s tivessem conquistado o prestígio que tem até hoje e se tornasse um dos grandes clássicos do futebol brasileiro. Nelson em suas crônicas nos jornais criou e evocava personagens fictícios como Gravatinha, Sobrenatural Almeida e Caboclo Mamador, para elaborar textos esportivos. Nelson também era escritor e dramaturgo, além de jornalista. Atuou em redações de jornais como Correio da Manhã, Crítica, O Globo e Última Hora. Na televisão participou de mesas redondas juntamente com figuras marcantes da área como Luis Mendes, João Saldanha, entre outros.

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Esportiva Brasileira por Joaquim Lannes

Sandro Moreyra (1918-1987) Sandro Moreira foi um dos grandes jornalistas integrantes da crônica esportiva brasileira. Ele escreveu uma coluna diária das mais lidas no Jornal do Brasil. Irreverente e divertido os personagens preferidos em seus textos eram jogadores, treinadores, juízes e dirigentes. Botafoguense doente e responsável pela cobertura do clube para o JB, ele elegeu dois atletas alvinegros como seus personagens favoritos: o goleiro Manga e o ponta direita Garrincha. Amigo íntimo de João Saldanha e de Nelson Rodrigues, Sandro atuou também em um famoso programa da área, a Resenha Esportiva Facit, a primeira mesa redonda apresentada da TV brasileira. Este programa primeiramente era apresentado na TV Rio e posteriormente foi para a TV Globo, Além do JB, Sandro trabalhou ainda nos jornais Tribuna Popular e no Diário da Noite e em seu currículo constam a cobertura de diversas copas do mundo.

Mário Filho (1908- 1966) Incluído no rol dos maiores e mais importantes profissionais da história da crônica esportiva brasileira, Mário atuava numa época complicada em que o futebol ainda não tinha a popularidade que mantém na atualidade. Atuou e fundou jornais na área esportiva (O Globo, Mundo Sportivo e Jornal dos Sports - JS). Foi responsável pelo aportuguesamento do jargão futebolístico, por parte da crônica, que no início ainda utilizava expressões arcaicas e inglesas como foul, football, entre outras. Ao assumir o JS, que tinha a capa cor de rosa, também utilizada por jornais europeus ele criou e promoveu competições em diversas modalidades e dedicadas a públicos variados, fazendo, paralelamente, as coberturas que alavancavam a vendagem do seu diário JS. Mário também foi o responsável pela construção do Estádio do Maracanã, para a Copa de 1950, que hoje é batizado com o seu nome: Estádio Mário Filho.

José Lins do Rego (1901 -1957) Também romancista e autor do livro O Menino do Engenho ele é considerado um dos melhores cronistas esportivos de todos os tempos no país. Foi um dos primeiros escritores brasileiros a se dedicar a escrever sobre o futebol. Sua trajetória registra a publicação e mais de mil crônicas entre 1945 a 1957, ano de seu falecimento. Por meio delas, registrou a paixão pelo futebol e pelo Clube de Regatas do Flamengo, time do coração. Se declarava militante da crônica esportiva e escrevia diariamente no Jornal dos Sports, como titular da coluna Esporte. Nela, demonstrava a preocupação de comentar fatos do dia a dia do mundo esportivo. Exerceu também cargos em outras áreas como secretário-geral da CBD, atual CBF, entre 1943 e 1953. Para os estudiosos diversos conteúdos de seus escritos ainda são bastante atuais. José Lins viveu em uma época em que o futebol ainda engatinhava no profissionalismo

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Renato Maurício Prado Comentarista no canal FOX Sports Renato escreve uma coluna de esportes, três vezes por semana, no jornal O Globo. Antes de ser contratado pelo FOX Sports, foi comentarista no canal por assinatura SporTV. Lá ele participava dos programas Bem,Amigos; Redação SporTV; e Troca de Passes. Fez comentários diários pela rádio CBN, programa Esporte Clube, de Juca Kfouri, onde ainda participa do Debate Bola, dentro do programa Globo Esportivo, apresentado por Luiz Penido. Seu blog A Última Palavra, segundo ele, é muito mais do que um veículo de entrevistas. Trata-se espaço para debates esportivos, com elementos surpreendentes e inusitados. Leve e profundo. Agradável e incisivo em suas análises. Semanalmente, uma personalidade do esporte é convidada para a discussão de temas da atualidade. Renato é hoje uma das principais referências da crônica esportiva nacional.

Lédio Carmona Cronista esportivo respeitado há 27 anos, nascido em Niterói (RJ), esteve nas seis últimas Copas do Mundo, entre coberturas e comentários, além de ter também participado de três Copas das Confederações (1997, 2009, 2013), daEurocopa - 2012, da Copa da África - 2013 e de várias Copas América. Trabalhou em grandes jornais, como Jornal do Brasil, O Globo, Lance!, Diário Popular, na Revista Placar e na TV Globo (chefe de reportagem do Globo Esporte). É co-autor do Almanaque do Futebol, juntamente com Gustavo Poli, e organizador do Livro Jogo das Copas, ao lado de Marcelo Martinez. Atualmente é comentarista da TV por assinatura SporTV, colunista do Jornal Extra e colaborador da revista Placar. Também mantém um blog no SporTV.com.br. onde analisa os principais jogos da rodada, aponta os destaques e critica os resultados, as falhas e táticas adotadas pelos técnicos.

Teixeira Heiser Carioca, nascido em 16 de dezembro de 1932. Atualmente trabalha no canal por assinatura SporTV da Globosat, onde comenta jogos. Autor de livros como Maracanazo-Tragédias e Epopeias de um Estádio com Alma; O Jogo Bruto das Copas do Mundo. Nome tradicional da crônica esportiva com grande atuação na área. Fez parte de diversas redações de jornalismo esportivo. Entre elas, Diário da Noite, Diário de Notícias, Última Hora, O Dia, Placar, Veja e Estado de S. Paulo e Rádio Globo, onde foi colega de nomes como Waldir Amaral, Luis Mendes e Raul Brunini. Cobriu várias Copas do Mundo. Foi um dos responsáveis pelos primeiros programas esportivos da TV Globo. Lá, ele também planejou a primeira transmissão de um jogo de futebol, em 1965, Brasil e a URSS no Maracanã. Na emissora recebeu o crachá número 01 da empresa, na qual foi contratado em janeiro de 1964.

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Juca Kfouri Foi chefe de reportagem e diretor de redação de revista Placar. Passou pela extinta TV Tupi. Jornalista polêmico fez matérias sobre corrupção na CBF e sobre denúncias contra Eduardo José Farah e Ricardo Teixeira. Em 1982 ganhou notoriedade ao organizar uma matéria que denunciava a chamada Máfia da Loteria Esportiva, na qual jogadores eram comprados por apostadores, a fim de garantir que os resultados dos jogos da loteria. Atuou ainda como diretor de redação da revista Playboy, comentarista das TVs Record, Globo, RedeTV! e da Rede Cultura, no programa Cartão Verde, mesa redonda que contava ainda com os jornalistas Flávio Prado, José Trajano e Armando Nogueira. Apresentou o programa Bola na Rede (RedeTV!). Atuou como colunista em O Globo, Folha de S.Paulo, e Lance!, Mantêm um blog no UOL, que já ultrapassou a marca 200 milhões de visitas.

Paulo Vinicius Coelho (PVC) Nasceu em 30 de agosto de 1969. Formou-se em jornalismo em 1990 - Universidade Metodista de São Paulo (São Bernardo do Campo). Repórter do jornal Diário do Grande ABC; das revistas Ação e Placar, da Editora Abril. Em 1997 foi para o jornal Lance!, onde atuou como repórter-especial, colunista e diretor-executivo. Em 2008 foi para a Folha de São Paulo e em 2011 passou a assinar uma coluna no jornal O Estado de São Paulo. Desde 2000 é comentarista da ESPN Brasil nos programas Bate-Bola 1ª Edição, Linha de Passe e Loucos por Futebol, e já participou do programas Fora de Jogo, do canal por assinatura ESPN. Atua em transmissões de jogos para o canal e para a rádio Rádio Capital ESPN. É comentarista in loco de partidas da Liga dos Campeões da UEFA e outros campeonatos europeus, Cobriu as Copas do Mundo de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014.

* Textos retirados do acervo do Projeto de Pesquisa Permanente Figurinhas da crônica esportiva brasileira, organizado pela disciplina Jornalismo Esportivo. Junto com alguns dos estudantes que integraram a primeira turma da disciplina Jornalismo Esportivo oferecida pelo Curso de Jornalismo da UFV, iniciamos os trabalhos de captação (pesquisa), seleção e redação de personagens da Crônica Esportiva Brasileira. Na ocasião, os alunos Rodrigo Resende, Oswaldo Botrel, Fellipe Guimarães (Pardal) e Débora Bravo foram fundamentais para darmos início a uma pesquisa permanente, que tem prosseguido nas turmas subsequentes e já apresenta significativos resultados, com mais de uma centena de nomes cadastrados. Desse acervo, selecionamos 11 verbetes para esta seção “Figurinhas da Crônica Esportiva Brasileira”. A tendência é que mais tarde este trabalho possa ser transformado em publicação, relacionando os profissionais que trabalham ou trabalharam na área, em um acervo que detalhe, ainda, um pequeno resumo de suas trajetórias e estilos.

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Ellen Ramos

A expectativa e a posterior euforia das crianças antes da Copa começar deram lugar à humilhação e à frustração de ver o time brasileiro derrotado em sua própria casa. Se a lição da derrota não for assimilada e as suas causas corrigidas, por quem de direito, o sonho de crianças que desejavam comemorar a conquista de um título a mais do futebol brasileiro também pode demorar. 34

PH Rolfs


Luana Müller

Não é a vontade de vencer que importa – todo mundo tem isso. O que importa é a vontade de se preparar para vencer.



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