Comunicaqui #2

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Comuni ! Outubro de 2013 - 2ª Edição

De olho nos cofres públicos Como iniciativas voluntárias bem organizadas podem influenciar profundamente nos rumos econômicos do país Confira na página 5

Cinema alternativo é opção para quem busca experiências diferenciadas Produções independentes com bons enredos atraem os mais variados públicos Confira na página 12

Falta de alternativas levam famílias a viverem em meio ao lixo Comunidade no bairro Parolin faz a separação do lixo que coleta no próprio terreno Confira na página 16


índice • Editorial............................................ 3 O que nos resta fazer?

• Abelha, para que te quero!............. 23

• Coluna.............................................. 4 As línguas brasileiras

• Colégios carecem de recursos para orientar alunos em relação à profissão...........26

• O olho do dono engorda o boi Brasil....5

• Jovens investem em educação......... 29

• Coluna.............................................. 8 Protestar não é mais trending • Universidades em prol da sustentabilidade............................... 9

• Resenhas........................................ 31 Semana Literária e Feira do Livro atrai todos os tipos de leitores em Curitiba Livro retrata o drama de mães que enfren taram o vício dos filhos

• Cinema fora do eixo....................... 12

• Nas ondas do Paraná...................... 32

• O quintal de lixo............................. 16

• Os primeiros passos do futsal paranaense.................................... 34

• Coluna............................................ 19 Gicante pela própria natureza

• Resenha ...................................... 36 Nova opção de camisa ao torcedor alviverde

• Brechó para it girls......................... 20 • O Haiti é Aqui................................. 37

expediente

Revista Comuni ! - Revista dos alunos do curso Jornalismo das Faculdades Integradas do Brasil - UniBrasil Endereço Rua Konrad Adenauer, 442 - Tarumã - 82821-020 - Curitiba - PR | Telefone: 55 (41) 3361 4200 UniBrasil - Faculdades Integradas do Brasil Coordenadora do curso Maura Martins | Professor orientador Rodolfo Stancki Redação EDITORA CHEFE Emily Kravetz | EDITORA DE TECNOLOGIA Fernanda Brisky | EDITOR DE ESPORTE Guilherme Pinheiro dos Santos EDITORA DE EDUCAÇÃO Jaqueline Lopes | EDITORA DE SAÚDE Jessica Dombrowski Netto | EDITORA DE ECONOMIA Liriane Kampf EDITORA DE POLÍTICA Liriane Kampf | EDITOR CULTURA Marcio Sakyo Poffo Taniguti | EDITORA OPINIÃO Marcio Sakyo Poffo Taniguti EDITORA DE HISTÓRIA Noele Dornelles | EDITORA DE MODA Analy Modesto | EDITORA DE MEIO AMBIENTE Amanda Toledo Equipe de redação: Emily Kravetz, Fernanda Brisky, Guilherme Pinheiro Dos Santos, Jaqueline Lopes, Jessica Dombrowski Netto, Liriane Kampf, Bárbara Beltrame, Marcio Sakyo Poffo Taniguti, Noele Dornelles, Analy Modesto, Amanda Toledo e AnneLouyse Araujo

Comuni !

outubro 2013


editorial

O que nos resta fazer? Por Emily Kravetz

“Nossa proposta é levar a você leitor uma visão panorâmica, que o faça refletir conosco e encontrar possíveis mudanças”

outubro 2013

A segunda edição da revista Comunicaqui promete apresentar as apurações e reflexões feitas por estudantes de jornalismo sobre a realidade política e social dos últimos tempos. Entre as matérias que foram desenvolvidas, a “falta” foi o elemento em comum destacado em meio as diferentes situações retratadas por nossa redação. Falta qualidade nos serviços públicos prestados à população. Faltam recursos na orientação profissional dos alunos. Faltam instruções e condições para a realização de trabalhos de reciclagem. Falta a cultura de assistir aos jogos de futebol de salão e de frequentar as salas dos cinemas alternativos. Há quem queira mudar esta realidade. O olhar atento de nossos repórteres identificou as iniciativas que envolvem profissionais, professores, estudantes, empresários e outros voluntários em ações políticas. Fruto da insatisfação com os gastos públicos, os projetos apresentados em “Olho do dono engorda o Brasil”, ganham cada vez mais espaço e promovem uma reação em prol da causa da justiça social. Em outra circunstância, acompanhamos as condições precárias e o drama de comunidades que vivem no bairro Parolin. Por falta de alternativas, moradores utilizam o próprio terreno para realizar serviços de reciclagem, para alcançar

a única fonte de renda. Em meio a tanto lixo, é difícil encontrar alguém que não seja alvo de doenças. Ainda mais afundo, investigamos um tema pouco presente nas pautas jornalísticas, mas que trazem consequências tremendas na humanidade: o futuro das abelhas. Dados minuciosos e interessantes foram levantados, somando-se a opiniões de especialistas narradas na reportagem “Abelha pra que te quero!”, que mostra a contribuição do trabalho desses insetos não somente para as questões econômicas, mas também para a nossa saúde. Nossa proposta é levar a você leitor uma visão panorâmica, que o faça refletir conosco e encontrar possíveis mudanças. Se assim quiser, quebrar também aqueles velhos paradigmas e senso comuns – como o de que em brechós só se encontram peças velhas, gastas e sem estilo. A provocação, o debate e o esclarecimento fazem parte da missão da Comunicaqui. Em nossa compreensão, não existem vítimas e culpados. Pelo contrário, a mudança na sociedade é um efeito dominó e depende de todos nós. Boa leitura!

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coluna

As línguas brasileiras Se alguém te pedisse para rebolar no mato, você iria? No Ceará, rebolar no mato é um ato de educação Por Analy Modesto

As pessoas vão ao cinema para assistir um filme brasileiro convictas de que entenderão claramente todas as palavras no decorrer da trama. Mas, são surpreendidas ao perceberem que precisariam de uma legenda, mesmo se tratando do mesmo idioma - o português. E quando alguém vai assistir a um filme nacional para não precisar ler, e, ao sentar na poltrona de cinema, se depara com aquelas letrinhas que, às vezes, causam até desatenção? Pois é! Em alguns casos é preciso mesmo a famosa legenda. Assim como foi o caso do longa-metragem “Cine Holliúdy”, com direção de Halder Gomes e sucesso nas bilheterias. O filme cearense tem amplo vocabulário e dá autenticidade para o “cearensês”. Isso dificultaria a compreensão clara dos espectadores se não tivesse a tradução na tela. A maneira com que os personagens se expressam, impressiona o público com a riqueza da criatividade. A variedade de palavras desconhecidas parecem não ter nexo, mas quando são traduzidas, passam a ter sentido. Português x Cearensês Idiomas diferentes? Segundo o Helder Gomes, é. Mesmo as palavras comuns, aquelas de entendimento imediato, no Ceará são faladas pelos conterrâneos de forma muito rápida e enrolada. Mas entre os cearenses, a compreensão é instantânea. É um dialeto e identificação própria do estado. Agora, existem algumas, ou melhor, muitas expressões que são totalmente desconhecidas. Esses são apenas alguns exemplos entre tantos outros jargões falados pelo Brasil a fora. Em São Paulo, se

Foto: reprodução/internet

um freguês pedir um cachorro quente com duas vinas, o vendedor de hot dog, provavelmente, vai balançar a cabeça de forma negativa, como quem pensa: “Eu hein”! Ou em Curitiba, alguém na porta da escola diz: “Estou esperando a perua”. Quem ouvir, vai imediatamente demonstrar uma expressão facial aversiva, por achar que é uma ofensa a alguém. Quando na verdade a vina é um termo usado em Curitiba quando se refere à salsicha e a perua é um termo usado na capital paulista, quando se refere a vans, sejam elas escolares, particulares ou públicas. Bom, entre tantas línguas brasileiras, pode se deduzir que a maioria dos estados consegue uma identificação própria e insubstituível. Além de ensinar novas palavras aos espectadores, ainda deixa a sensação para quem assiste, de estar em outro país.

Rebolar no mato: Juntar o lixo do chão

Leruaite: A pessoa que joga conversa fora/

Botar boneco: Agitar, festar, dançar;

“Cheia de lero-lero”;

Mungango: Uma pessoa desajeita/

Ispilicute: Pessoa exibida/ De boa aparência/ Aquele que mostra o corpo.

“Cheio de marmotas”;

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outubro 2013


editorial política

O olho do dono engorda o Brasil Como iniciativas voluntárias podem ir muito além do protesto e influenciarem profundamente o destino do país Por Guilherme Pinheiro dos Santos

outubro 2013

Segundo o vice-presidente para Assuntos de Controle e Defesa Social do OSB, Ney Ribas, os gastos da prefeitura são acompanhados do início ao fim. Ribas explica que o trabalho começa na análise da licitação, mas que este é apenas o primeiro passo. “A fiscalização vai desde o lançamento do edital de compra até a entrega do produto ou serviço”, conta Ribas, que também atua como voluntário do OS de Ponta Grossa. Para Ney, mais que resultados financeiros, a sociedade já reconhece nos observatórios uma ferramenta legítima para exercer o papel de controle social. “É a demonstração de que qualquer cidadão pode e deve fazer mais”, aponta. Articular Um dos objetivos dos contínuos encontros estaduais e nacionais dos observatórios sociais é buscar novos Fotos: Guilherme Pinheiro

Os protestos ocorridos em diversos municípios brasileiros durante a Copa das Confederações e no dia da independência levantaram a grande insatisfação da população com os excessos dos gastos públicos. Um grupo de aproximadamente 1.500 pessoas, no entanto, demonstra que é possível fazer mais que ir às ruas e protestar. Apenas em 2012, o Observatório Social gerou uma economia de R$ 305 milhões aos cofres públicos. O Observatório Social do Brasil (OSB) surgiu em 2006, como uma iniciativa voluntária de moradores de Maringá, que estavam preocupados com o excesso de gastos da prefeitura na época. Desde então, a iniciativa já se espalhou para outras 77 cidades em 14 estados brasileiros, dos quais 30 estão localizadas apenas no Paraná. Ater Cristófoli, atual presidente do Observatório Social do Brasil, explica que a importância da entidade vai além da fiscalização. “Os resultados dos observatórios demonstram que há outras maneiras de se fazer política de forma organizada e em prol da sociedade”, afirma.

O papel do OSB é atuar como fomentador e auxiliar na criação de novos observatórios. É a organização que estabelece as diretrizes de trabalho para os demais observatórios municipais e estaduais, além de orientar os novos membros acerca das atividades para uma fiscalização eficiente dos gastos públicos. Mais que números, preocupação com a qualidade... Engana-se quem pensa que a fiscalização se resume apenas à análise fria de valores. Há também uma preocupação constante com a qualidade dos serviços públicos prestados à população. O acompanhamento da merenda escolar oferecida nas escolas públicas, a correta destinação dos remédios entregues nas farmácias populares, o atendimento dos postos de saúde e o andamento de obras públicas são alguns exemplos de atividades de controle desenvolvidas pelos observatórios.

Com a rápida expansão dos observatórios sociais pelo país, o objetivo é consolidar o modelo e padronizar a metodologia de análise e fiscalização.

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política aliados no trabalho de fiscalização do poder público. A presença de advogados, procuradores, funcionários públicos e representantes de entidades de classe é constante durante as conferências. A lógica é simples: a presença de diferentes grupos da sociedade promove a troca de experiências úteis ao desenvolvimento de ações de política cidadã. Motivar Mais que uma simples prestação de contas, a exposição dos resultados obtidos por cada observatório durante as conferências serve de fator motivacional. Segundo os organizadores, os números não são o foco. Valem mais os exemplos da política cidadã que realmente têm efeito sobre a gestão pública. Mesmo assim, os dados impressionam. Em dois anos, os pouco mais de 1.000 voluntários envolvidos em 60 municípios pesquisados conseguiram economizar R$ 148 milhões em 2011. No ano seguinte, a economia saltou para R$ 305 milhões. Na prática, cada voluntário salvou, em média, R$ 453 mil em recursos públicos nos últimos dois anos.

Com a rápida expansão dos observatórios sociais pelo país, o objetivo é consolidar o modelo e padronizar a metodologia de análise e fiscalização.

Planejar Só quem atua diretamente na fiscalização entende as dificuldades para verificar as contas públicas e os caminhos para contornar o problema. Pensando nisso, um dos tópicos abordado no encontro dos observatórios é a metodologia utilizada. O segredo é a constante atualização, capacitação e estímulo aos voluntários envolvidos na missão de zelar pelos bens de todos os brasileiros.

Ficou interessado? Para aqueles que anseiam em ajudar no desenvolvimento dos municípios, estados e do Brasil, uma boa notícia: a única exigência para participar dos observatórios sociais é não possuir vínculo com nenhum partido político. Para mais informações sobre todos os observatórios sociais ativos e suporte na criação de novos, acesse o site www.observatoriosocialdobrasil.org.br.

Entre os ramos do trabalho do OSB, está o estímulo à participação ativa de crianças, adolescentes e jovens na política.

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outubro 2013


Inclusão social via internet

Com a rápida expansão dos observatórios sociais pelo país, o objetivo é consolidar o modelo e padronizar a metodologia de análise e fiscalização.

A lei federal de Acesso à Informação, nº 12.527, sancionada no final de 2011, estabelece uma lista de regras a serem seguidas pelos poderes executivo e legislativo nos três níves de governo. Desde então, há um esforço nada espontâneo das prefeituras e governos estaduais de tornarem o funcionamento dos processos econômicos mais transparente aos olhos da sociedade. Um dos principais problemas, porém, é a falta de acesso à inter-

net por uma grande parcela da população. Pensando nisso, a Rede Cidade Digital (RCD), projeto idealizado em 2011, procura fomentar a oferta de internet gratuita nos municípios, para que qualquer cidadão possa, de fato, fiscalizar e utilizar os serviços aos quais tem direito. Para o sócio proprietário e idealizador do projeto, o jornalista José Marinho, a democratização do acesso à internet é um passo importante para a promoção da cidadania. “A inclusão

digital é a primeira etapa do processo de inclusão social”, argumenta. Outra barreira a ser derrubada é a da ineficiência dos gestores em disponibilizarem bons sistemas de informação para a sociedade. Não por acaso, um dos principais serviços oferecidos pela RCD é o de assessoria na criação de portais da transparência. Mesmo próxima de completar dois anos, a lei de acesso à informação continua a ser teoria em diversos órgãos, em especial nos pequenos municípios. “As prefeituras menores não têm a infraestrutura própria necessária para atender com eficiência a lei da transparência, mesmo com ela em vigor desde 2011”, explica Marinho. A ligação entre acesso à internet e a transparência governamental é item básico para a fiscalização do poder público por parte da sociedade. A lista completa dos municípios paranaenses que oferecem internet gratuita pode ser acessada livremente no site www.redecidadedigital.com. br. O site também oferece notícias atualizadas sobre as políticas públicas referentes à democratização da internet e apresenta as últimas novidades tecnológicas da área.

Monitoramento dos eleitos No Paraná, outra boa experiência vem colhendo os frutos de um trabalho realizado com seriedade. É o caso dos Vigilantes da Democracia, iniciativa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP). O projeto, desenvolvido por alunos de Ciências Sociais, com orientação de professores, consiste no contínuo acompanhamento da atividade dos representantes do executivo e legislativo a nível estadual e federal. O trabalho dos estudantes ganhou tanta notoriedade que, durante as eleições de 2010, o site do projeto [www.vigilantesdadeoutubro 2013

Alunos de escolas públicas recebem orientações sobre funcionamento de Vigilantes.

mocracia.com.br] foi utilizado como referência por veículos de mídia como fonte de consulta para os eleitores. Entre as atividades do grupo, o destaque fica para a constante formação de novos vigilantes, por

meio da oferta de cursos gratuitos nas escolas públicas. As aulas teóricas [foto] são enriquecidas com atividades práticas, como a visita acompanhada à Câmara Municipal e à Assembleia Legislativa.

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editorial Resenha

Protestar não é mais trending Como o excesso de internet e a escassez de embasamento político matou o poder de mobilização do brasileiro médio

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Qualquer brasileiro com mais de 12 anos que não esteve congelado ou em coma nos últimos meses deve estar ciente dos inúmeros protestos que eclodiram por todo o país neste ano. O expressivo número de pessoas furiosas nas ruas e na internet demonstrou a alta capacidade mobilização de uma população que se diz cansada de “tudo isso que está aí”. Com o lema “vem pra rua” e, principalmente, “o gigante acordou”, pudemos acompanhar uma série de reinvindicações e reclamações sobre o modo de governar no Brasil. Mais

topics do Twitter e não faltariam caras pintadas fazendo biquinho no Instagram. Não basta exercitar a cidadania, é necessário demonstrar para as diversas redes o alto grau de politização. Mais que isso, é preciso demonstrar a insatisfação de forma que ela fique bonita na foto. Conteúdo? Pouco importa! A não ser que o que é escrito garanta vários likes no Facebook. Baseado nessa regra, textos muito complexos ou longos são logo descartados. O que vale mesmo é a frase de efeito, mesmo que não se saiba muito bem o que está sendo discutido.

partilhando imagens impactantes é mais rápido, fácil e agradável. Com a falta de conteúdo, é inevitável que as próprias discussões percam sentido. O resultado não poderia ser diferente. As manifestações, que inicialmente foram motivadas pela truculência policial da PM paulistana contra os membros do Movimento Passe Livre (lembra?), rapidamente transformaram-se num grande debate genérico e pouco eficaz sobre os principais problemas do país. Passados alguns meses é fácil perceber que as promessas de que “amanhã seria maior” provaram-

que a força física, a participação virtual foi extremamente fomentada pelas recém-criadas mídias sociais. Chega

Posicionar-se de forma contrária à PEC 37 porque uma montagem a denominava de “PEC da impu-

-se mais eficazes no ambiente virtual que na vida real. Assim como o esvaziamento ideológico de uma geração

a ser cômico pensar em como estas ferramentas funcionariam em outras

nidade” é mais cômodo que pesquisar sobre o assunto. Afinal, a internet me

preocupada com as aparências, foi possível acompanhar o esvaziamento

manifestações populares históricas. Provavelmente seria comum acompa-

dá a liberdade de buscar informações e pontos de vistas ilimitados, mas

das ruas e, por fim, das nossas timelines

nhar as #diretasjá direto dos trending

cumprir com meu dever cívico com-

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tecnologia editorial Fotos: Divulgação

Barco movido a energia solar criado por alunos da Udesc.

Universidades em prol da sustentabilidade Projetos como barco movido a energia solar, da Universidade Estadual de Santa Catarina, e o escritório verde, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, mostram como a academia pode ajudar a construir um mundo melhor

Por Marcio Taniguti

O planeta está mudando, como ao longo dos tempos. Nos últimos séculos, essa mudança foi acelerada pela ação do ser humano, que alterou condições ambientais. Por um período, a preocupação ambiental parecia um gesto altruísta para salvar matas, florestas e animais selvagens. Essa concepção mudou sensivelmente nas últimas décadas. Uma nova consciência aponta para a necessidade de garantir um mundo viável para gerações futuras. Um novo exemplo dessas mudanças é a sustentabilidade que vem da energia solar, considerada uma fonte de energia limpa e renovável, pois não agride o meio ambiente e é inesgotável. Pensando em sustentabilidade, outubro 2013

universidades brasileiras desenvolvem vários projetos direcionados ao aproveitamento da energia solar. Estudantes da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC), em Joinville, projetaram e desen-

volveram um barco movido à energia solar. Os Cascos são de fibra de vidro e medem seis metros de comprimento por 2,30 m de largura com seis placas fotovoltaicas de células de alumínio com potência de

Placas fotovoltaicas de células de alumínio fornecem energia solar.

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editorial tecnologia

Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

130 watts. A capacidade e de 250 a 270 quilos, com o piloto, sendo a velocidade média de 11 km/hora. Leonardo Catafesta, formado em Engenharia Elétrica e integrante da equipe, explica como funciona o barco. “A energia solar é captada pelas placas, convertida em energia elétrica e transferida ao controlador de carga. Quando a bateria está totalmente carregada, o controlador manda a energia diretamente para o motor.” O projeto foi elaborado e desenvolvido por uma equipe formada por 12 estudantes e professores de engenharia elétrica e mecânica. A construção dos cascos foi realizada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doados para as equipes. “O grupo projetou e fabricou cada peça e componentes para o barco, o trabalho foi realizado desde fevereiro de 2012 até as vésperas do desafio. Esse processo teve o custo financeiro patrocinado por empresas de diversos seguimentos”, comenta Catafesta. Atra-

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vés de processo seletivo, a equipe está recebendo novos integrantes para trabalhar no aperfeiçoamento do barco, para que, no futuro, possa não só melhorar o desempenho em competições, como também ser desenvolvido para os pescadores artesanais. A equipe participou da 4ª Edição do Desafio Solar Brasil, na categoria “Catamarã” (barco com dois cascos), realizada em Búzios no Rio de Janeiro (RJ), entre os dias 24 e 28 de julho de 2012, e conquistaram o 3º lugar. ESCRITÓRIO VERDE A primeira edificação sustentável acadêmica do Brasil, e a única construção solar autônoma do Paraná, é o Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). A criação tem como base o modelo adotado em diversas universidades dos Estados Unidos, Canadá e Europa. Foram quase dois anos desde os estudos de planejamento do projeto

Coordenado pelo professor Eloy Fassi Casagrande Junior, com o apoio de arquitetos, paisagistas, engenheiros civis, elétricos, alunos e professores, e com parceria de empresas, o Escritório Verde teve como objetivo desenvolver uma política de sustentabilidade, associar a energia solar a uma edificação que pudesse mostrar as vantagens da construção sustentável utilizando materiais e tecnologias de baixo impacto ambiental. As paredes são formadas com materiais de isolação térmica e acústica, janelas amplas para melhor aproveitamento da iluminação natural e com vidros duplos. O posicionamento da casa em relação ao Sol foi projetado de forma para melhorar a captação da luz solar pelas placas de células fotovoltaicas, que foram instaladas ocupando uma área do telhado d e 15 m². A outra parte foi aproveitada com uma horta (telhado verde), onde estão sendo cultivados somente produtos orgânicos. Assim, o Escritório utiliza somente outubro 2013


a energia solar, que é produzida durante o dia e armazenada em um banco de baterias. A construção teve início em janeiro de 2011 e finalizou em dezembro do mesmo ano. Com cerca de 150 m², abriga profissionais e estudantes que trabalham em seus programas. O projeto, inédito no Brasil, foi concebido pela empresa EcoStudio - Soluções Sustentáveis em Arquitetura e Design que forneceram materiais e serviços “Obtivemos 95% do necessário para a construção e tudo entrando como doação para a UTFPR. Muda-se, assim, a relação escola-empresa, criando um ambiente de aprendizado e de divulgação das empresas com o selo da universidade”, comenta Casagrande Jr. Com isso, o espaço pode ser utilizado pelas empresas parceiras para seminários técnicos sobre seus produtos. Assim, a gestão ambiental do campus se torna mais eficiente e facilita a implantação de novos programas para reduzir o impacto ambiental das atividades acadêmicas e também servir de referência a outras instituições e empresas, além de incentivar as pesquisas interdisciplinares. Em 2012, o Escritório Verde recebeu a primeira colocação na categoria Sustentabilidade no Prêmio Santander Universidades - Editora Abril Destaque do ano, a maior premiação acadêmica do mundo com mais de 10 mil projetos concorrentes em quatro categorias e 21 premiações.

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Complementam o projeto Escritório Verde • Sistema de coleta e uso da água da chuva; • Sistema de telhados verdes para maior isolamento térmico e absorção da água; • Uso de lajes e projeto paisagístico que permite a permeabilidade da água; • Instalação de painéis de energia termodinâmica (bombas de calor) para aquecimento da água e calefação; • Uso de equipamentos para controle de umidade e resfriamento do ar; • Sistema de iluminação natural e uso de lâmpadas led; • Janelas em madeira de reflorestamento certificada com vidro duplo; • Isolamento térmico acústico produzido a partir de PET e pneu reciclado; • Uso de piso elevado, carpete e deck, também em material reciclado; • Uso de madeira reaproveitada no piso do mezanino e na escada; • Mobiliário seguindo os critérios de ecodesign.

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editorial cultura

Cinema fora do eixo O cinema alternativo exibe filmes underground, ou seja, que fogem aos padrões comerciais. Contudo, eles têm seu público de cinéfilos, assim como os blockbusters, aqueles que atraem milhares de pessoas às sessões. E Curitiba tem um cenário consolidado desse cinema fora do eixo Por Fernanda Brisky

Populares em Curitiba, as salas alternativas podem ser uma opção para quem busca filmes diversificados. O cinema tem uma heterogeneidade de produções para os mais ecléticos. Dos mais variados lugares do mundo, com produções independentes e com enredos notáveis, esses filmes atraem adeptos à cena underground quanto espectadores das salas convencionais. As produções underground, que, na tradução livre, significa aquilo que foge aos padrões comerciais, caminham na contramão dos blockbusters, produtos que, comumente, fazem enorme sucesso e atraem filas de espectadores.

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A sétima arte A história da sétima arte na cidade tem momentos marcantes. Em 1916, Curitiba contava com sete cinemas. O Cine Avenida, localizado no centro da capital paranaense, foi construído em 1929. Importante lembrar também dos Cine Mignon, Cine Éden, Cine Smart, Cine Radium, Cine Bijou, Cine Progresso e o Cine América, que fazem parte da história cultural, porém estão desativados há alguns anos. Seguindo outra trajetória, em abril de 1975, no antigo Museu Guido Viaro, na Rua XV de Novembro, foi criada a Cinemateca, responsável pela formação de uma geração de cinéfilos e cineastas. A pesquisa e recuperação de filmes antigos foi

um dos trabalhos que lhe deu projeção nacional, permitindo resgatar as primeiras películas produzidas no Estado. As salas funcionaram durante boa parte do século XX. Na nova sede da Cinemateca, inaugurada em 1988, no bairro São Francisco, há um extenso acervo cinematográfico, biblioteca especializada em cinema, banco de dados e são oferecidos cursos na área. Além disso, continua atraindo as novas gerações de cinéfilos. Vinícius Mauricio, estudante da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), conta que é um grande entusiasta do cinema em geral. Sempre que viaja procura conhecer ao menos uma sala que exiba filmes alternativos. outubro 2013


Fotos: Reprodução/internet “Quando vou a Santos, sempre dou uma passada em um espaço que fica na praia e tem capacidade de receber não mais que 50 pessoas. No Rio de Janeiro, vou aos cinemas de Botafogo. Em Curitiba, frequento a Cinemateca, adoro as pessoas que vão lá e gosto do lugar”, conta o estudante. Mauricio revela que, em 2012, assistiu na Cinemateca a mostra do diretor italiano Michelangelo Antonioni, um dos grandes do cinema moderno. “Marcou bastante, lembro que muitos espectadores cochichavam em italiano sobre o filme, o que seria uma heresia nos cinemas convencionais”, comenta Mauricio. Para ele, o preço ajuda, pois, geralmente, a entrada não outubro 2013

tem custo ou o preço é baixo. Mas diz que “pagaria até mais para assistir a esses filmes”. Outro projeto relevante de estímulo ao cinema alternativo, o Cine Omar, existe desde 2011 e é uma iniciativa do shopping de mesmo nome, que fica no centro da capital paranaense. Segundo Marden Machado, jornalista e curador das mostras que ocorrem no local, o objetivo é suscitar a atividade cultural. Cinéfilo assumido, Machado diz que tem grande interesse e entusiasmo pelo cinema e conta que o Cine Omar é voltado para uma programação fora do eixo. O jornalista e curador confessa que as exposições que mais o surpreenderam

foram as mostras especiais de Hitchcock, o gênio do suspense inglês criador de “Psicose” (1960), e de Stanley Kubrick, cineasta estadunidense premiado por filmes como “2001 – uma Odisseia no Espaço” (1968), “Laranja Mecânica” (1971) e “O Iluminado” (1980). A mostra do Neorrealismo Italiano, movimento artístico do qual fazem parte expoentes como Roberto Rosselini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti também chamou sua atenção. Segundo o curador, todas elas tiveram um público maior que o esperado, sendo que a sala tem a capacidade para 30 pessoas. Machado explica que depois das sessões, realizadas aos sábados, acontecem discussões. “Transmi-

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Imagem: Ed Figueiredo

cultura

Sala de reprodução, no Sesc, em São Paulo.

timos, por exemplo, um filme não muito recente, pela manhã, às 10 horas, o qual é reexibido, às 15 horas”. O curador define o perfil dos filmes como “marcantes, fundamentais e clássicos da história do cinema”. No momento desta entrevista, estava passando no Cine Omar “A Felicidade Não se Compra” (1946), do cineasta ítalo-estadunidense Frank Capra, vencedor de três Oscars de melhor diretor (1934, 1936, 1938), de dois Oscars de melhor filme (1934, 1938) e de um Oscar de melhor documentário (1943). Cinema Brasileiro No Centro Cultural do Sesc Paço da Liberdade, a sala CinePensamento é dedicada à exibição de filmes underground. De acordo com o técnico de atividades, Aristeu Araújo, o espaço segue as diretrizes nacionais do Sesc para a programação de cinema, que têm como norte a formação de público e o

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acesso a filmes que não são exibidos rotineiramente nos cinemas de Curitiba. “Contamos com o acervo do Cine Sesc, montado pelo Sesc Nacional e distribuído a diversas unidades do Sesc pelo país, e com o da Programadora Brasil, que tem uma vasta gama de títulos brasileiros, clássicos e contemporâneos”, explica Araújo. O técnico de atividades do Sesc sai em defesa do cinema brasileiro. Segundo Araújo, é importante fomentar um pensamento crítico, tornar o espectador mais ativo e mais consciente sobre a produção audiovisual. Sobretudo, para ele, é necessário estimular para que o espectador assista ao cinema do país. Fazem parte da programação de cinema do Sesc Paço da Liberdade outros projetos, pelos quais são exibidos curtas e longas-metragens, e que têm parceria de instituições como o Goethe Institut e a Cinemateca da Embaixada Francesa. São

exibições em escolas e no comércio, para onde são levadas películas com a intenção de auxiliar aos estudantes e aos comerciários em suas jornadas de aprendizado, trabalho e consciência frente o mundo. Fora do eixo? Uma proposta do Sesc Paço da Liberdade é a exibição de filmes que não são contemplados pelas janelas tradicionais de exibição, e apresentar ao público um tipo de cinema que ele não verá rotineiramente em sua TV ou no cinema mais próximo. Na concepção do técnico de atividades do Sesc, o interessante é exibir o cinema de arte, o cinema independente e, claro, o cinema nacional. “O público é muito vasto, plural. Talvez a preferência seja por filmes brasileiros inéditos na cidade. Filmes que ainda não chegaram nas telas locais ou não tiveram essa oportunidade. O projeto mais recente, no entanoutubro 2013


to, foi a mostra Tati por Inteiro, dedicada ao cineasta francês Jacques Tati. “Surpreendeu-me porque não imaginava que tivesse tanta gente interessada por ele hoje em dia. Tati é um cineasta de grande projeção mundial, mas, mesmo assim, acreditava que

ele estivesse relegado aos ciclos cinéfilos. Talvez eu estivesse errado”, reflete Araújo. Outra vantagem apontada por ele é de que, em geral, o CinePensamento do Sesc não tem nenhum tipo de restrição quando o assunto é a programação. “Se tenho

algum tipo de privação, talvez ela seja relacionada a contingências pontuais. Por exemplo, posso ter a ideia de fazer uma determinada mostra, acerca de um determinado diretor. No entanto, isso envolve diversos custos. É um trabalho de equacionar as vontades com o

Projeto de Cinema na Praça é outro tipo de exebição realizada ao ar livre. orçamento”, pontua. Cinema na praça Outro tipo de exibição são as realizadas ao ar livre. Em janeiro de 2013 foi realizado o projeto Cinema na Praça, evento que ocorreu na Generoso Marques, no centro da cidade. Na ocasião, mais de mil

espectadores assistiram a três filmes contemporâneos brasileiros. Araújo comenta que em outubro deve ser feita mais uma edição do projeto. “O Cinema na Praça em Curitiba está querendo como nunca ocupar os espaços”, define o respon-

sável pelo setor no Sesc. “A sala Cine Pensamento levada à praça é adaptada. Ela não segue os padrões. Por outro lado, tem como diferencial um alto padrão da programação”, assegura.

SERVIÇO Cine Guarani – Portão Cultural

Av. República Argentina, 3430 – Portão Horário de funcionamento: das 10h às 20h (3ª feira a dom)

outubro 2013

Shopping Omar

Rua Comendador Araújo, 268 ou Av. Vicente Machado, 285 – Centro Horário de funcionamento: das 9h30 às 20h (2ª a 6ª feira) e das 9h30 às 18h (sáb)

Cinemateca de Curitiba

Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 – São Francisco Horário de funcionamento: das 9 às 12h e 14 às 22h30 (3ª a 6ª feira) e 14h30 às 22h30 (sáb e dom )

Sesc Paço da Liberdade

Praça Generoso Marques, 180 Horário de funcionamento: das 10h às 21h (3ª a 6ª feira), das 10h às 18h (sáb) e das 11h às 17h (dom e feriados)

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saúde editorial

O quintal de lixo

Crianças em algumas regiões do bairro Parolin convivem com o acúmulo de resíduos dentro de suas próprias casas. Esta realidade as coloca sob sérios riscos de saúde.

Por Analy Modesto

Terreno particular localizado na Rua Professor Porthos Velozo, Bairro do Parolin em Curitiba.

‘’O que mais me deixa triste, é não poder trazer minhas amigas da escola para brincar comigo. Porque eu tenho vergonha”, relata uma menina de 11 anos. Conviver durante o período da infância no “lixo” possivelmente não trará boas recordações para esses pequenos. Há aproximadamente cinco anos, esse é o cenário

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da menina que sente vergonha de seus colegas e de outras crianças que vivem em condições alheias a sua vontade. Eles moram em um terreno particular localizado na Rua Professor Porthos Velozo, no bairro Parolin, na capital do paranaense. Um espaço amplo que abriga pequenas casas de madeira e mais de 15 famílias. Algumas residências

são amontoadas e dão a impressão de apenas uma, mas ao prestar atenção, percebe-se três famílias, ou seja, vizinhos de parede. Uma parcela dessas famílias tem como fonte de renda a reciclagem de lixo. Apesar do lote não ser específico à reciclagem, o local se tornou um depósito de lixo desde que os recicladores passaram a depositar outubro 2013


Fotos: Analy Modesto

Retratos de um convívio diário com o lixo. lixos no quintal do terreno. A separação dos materiais não é feita corretamente e os trabalhadores descartam entulhos que não geram renda, como por exemplo, vidro de automóveis, espuma, fraldas descartáveis, papéis plastificados e laminados. Estes resíduos ficam expostos e espalhados pelo espaço de circulação dos moradores. Apesar da rede de esgoto passar próximo ao local, algumas casas não têm banheiro e as necessidades fisiológicas são jogadas junto ao lixo acumulado. Essas atitudes implicam, principalmente, no cotidiano e na saúde das crianças. Elas, com inocência no olhar e nos gestos, brincam em meio a tanto lixo. O chão do local verte água e o solo sempre está úmido. Os moradores ressaltam também a convivência frequente, dentro e fora de casa, com animais que geram riscos à saúde, como os ratos, por exemplo. Danielle Auxiliadora Carneiro, pensionista de 24 anos, é mãe de cinco filhos, a mais nova com cinco meses e o mais velho com nove anos. Há 20 anos, mora no local e, apesar de não trabalhar com reciclagem, não escapa do mau-cheiro e dos problemas que o lixo em lugar outubro 2013

inadequado pode causar. Isso causa medo da contaminação, e seus filhos são mantidos dentro de casa a maior parte do tempo. Quando os pequenos querem brincar, precisam ir para a movimentada rua que fica em frente ao local, com a companhia da mãe, da avó ou da tia. Mesmo assim correm riscos. “O movimento dos carros é preocupante. Mas o que podemos fazer? Eles precisam brincar”, lamenta a avó das crianças, Eliane Auxiliadora Cordeiro de 49 anos, do lar. Danielle conta que depois que começou a tomar esses cuidados, dificilmente seus filhos adoecem, pois antes sempre precisava levá-los à Unidade de Saúde . Itamara de Freitas, de 47 anos, do lar e vizinha de Danielle, relata que o que mais a deixa tranquila, é o fato de ter filhos adolescentes que passam bom tempo na escola, mas confessa já ter se incomodado muito. “O contato com a contaminação pode ser fatal se a gente não ficar de olho”, alerta a dona de casa. Diz também, que há mais problemas causados pela atividade dos trabalhadores, como a falta de segurança. “O portão do terreno foi danificado pelos carrinhos de lixo”.

As precauções O pediatra Washington Luiz Bittencourt explica que crianças menores de cinco anos podem contrair doenças com mais facilidade, por terem baixa imunidade. Ele diz que a primeira prevenção, sem dúvidas, é a amamentação materna. Esse alimento, exclusivo até os seis meses de vida, pode ser uma das armas na luta por uma saúde razoável, quando se vive em situações de risco, como esses moradores. Além disso, a percepção dos pais a qualquer reação diferente dos filhos, também é uma prevenção eficaz. “A doença, tratada logo que percebida, tem maiores chances de cura”, explica o pediatra. Algumas medidas, como evitar andar com os pés descalços, lavar bem os alimentos antes de ingerilos e lavar as mãos frequentemente, são indispensáveis para precaver doenças contagiosas. As principais doenças Viver em locais com condições precárias de higiene ou saneamento básico pode causar inúmeras doenças. Segundo Washington, as principais são: – Infecção intestinal causada pela contaminação da água e de ali-

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saúde editorial mentos. Essa é uma das principais causas de morte de crianças que vivem nessas condições; – O sistema imunológico das crianças é afetado pela carência alimentar. Isso faz com que fiquem mais sensíveis a outras doenças, como pneumonia, asma e bronquite; – Leptospirose: A umidade do terreno aumenta o risco da contaminação. O acúmulo de lixo eleva o número de ratos. É o caso do terreno no bairro Parolin. O auxilio da prefeitura Os moradores afirmam que a

prefeitura faz a parte dela nas proximidades do local, como a coleta de lixo e outros fatores essenciais para o bem-estar da população. Contestaram apenas, em relação à limpeza. “Eles podiam retirar o lixo daqui com mais frequência”, reivindica Eliane. A prefeitura não atua em locais privados, mas nossa equipe entrou em contato com a assessoria da Limpeza Pública, questionando a possibilidade de uma vistoria e colocação de caçambas para a separação do lixo. Eles nos informaram que, em auxílio à Administração

Regional Portão, há poucos meses foi realizada uma limpeza de grande proporção no lote do bairro Parolin. Foram retirados mais de três caminhões de entulhos da área. Além disso, com o nosso contato, eles vistoriaram o local no dia 09/09/2013. O resultado da vistoria segundo a assessoria de comunicação da Secretaria do Meio Ambiente foi o seguinte: ”O terreno encontra-se relativamente limpo, faltando uma pequena limpeza e varrição que poderá ser executada pelos próprios moradores do local”.

limpeza pública no bairro Parolin: SEMANALMENTE

Terça a sábado, é realizado o serviço de catação manual;

DIARIAMENTE

Um caminhão carroceria efetua o recolhimento do lixo ;

QUINZENALMENTE

Uma equipe Olho D’água faz a limpeza do rio que corta a região;

BIMENSAL

Uma equipe de Limpeza Especial dá apoio na limpeza geral da Vila Parolin.

Resíduos acumulados dificultam a circulação das pessoas. Com base nisso, a prefeitura descarta a hipótese de colocação das caçambas. O endereço é atendido regularmente pelos serviços de coleta pública. A mãe de Danielle enfatiza que, para se precaverem de doença, os recicladores devem se conscientizar e dar um destino correto para

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os lixos. “Não podemos nos acostumar com a ‘nojeira’. Nossas crianças merecem respeito, moradia digna e higiene”. Ela diz morar em um bairro bom, com fácil acesso à Unidade de Saúde e Instituição de Ensino. Antes do acúmulo de lixo, as famílias mais antigas cultivavam uma horta que auxiliava na alimen-

tação mais saudável. Havia uma bica com água límpida, que podíamos beber sem medo de contaminação. Agora, vivemos com medo de tudo. A falta de consciência das pessoas tirou tudo isso da gente”, lamenta a senhora.

outubro 2013


colunA editorial

Gigante pela própria natureza Por Liriane Kämpf

“Acredito que ouviremos muito em breve o brado retumbante de um povo definitivamente heroico”

outubro 2013

O ano ainda nem acabou, mas já trouxe muitas surpresas. Uma delas foi o levantar repentino e massivo do gigante tupiniquim. Mais do que a luta contra a corrupção, ou pelos R$ 0,20, como queiram, essas manifestações esboçaram uma possível mudança da cultura passiva do brasileiro. Passividade esta que não é deliberada por parte dos indivíduos, mas um reflexo da construção do nosso país. Afinal, desde que os portugueses aqui chegaram, o povo brasileiro não teve oportunidade de se manifestar. A esta classe sempre foram destinadas as tarefas braçais. E aos privilegiados, geralmente portugueses ou descendentes destes, cabia o exercício do pensar. E assim o brasileiro foi se acostumando ao pão e ao circo. O pensamento conformista tomou conta de cada indivíduo, do Oiapoque ao Chuí. Pensavam: “Se tenho o que comer, o que vestir e diversão, por que me incomodar?” Passaram-se anos, gerações e oportunidades de transformar este pensamento, mas nada foi feito. Você pode perguntar: “Mas e a Independência? E a proclamação

da República? E o fim da ditadura? Não foram revoluções?”. Então eu te respondo: “Nada disso veio efetivamente do povo, mas das elites, daqueles privilegiados, das minorias que governavam para si mesmas e que não queriam perder seus privilégios.” As movimentações da sociedade civil ao redor do mundo nos últimos anos mostraram efeitos, no mínimo, interessantes nas políticas de seus respectivos países. Mesmo timidamente, o Brasil tem aderido a esses manifestos e protestos contra a corrupção. Uma luz no fim do túnel do comodismo e da inconsciência política? Talvez. Lentamente, o brasileiro, acostumado a deitar eternamente em berço esplêndido, acordou para a calamidade que se tornou a prática da corrupção entre nossos políticos. E ouso dizer que essa manifestação vem, sim, da população. A elite continua no poder. Permanece com suas regalias e privilégios. Se vai continuar? Não sei. Espero que sim. Otimismo? Utopia? Talvez! Mas realmente acredito que ouviremos muito em breve o brado retumbante de um povo definitivamente heroico.

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Fotos: Divulgação

editorial MODA

Clássico e sem perder o estilo. Moldelito de brechó da It Girl Hellen Albuquerque.

Brechó para it girls É possível que garotas lancem tendências usando roupas de brechó? Claro que sim, as it girls com suas atitudes cheias de estilo e bom gosto não precisam de roupas de grife e muito menos de mergulhos profundos em dívidas eternas.

Por Amanda Toledo

Com que roupa eu vou? Qual it girl nunca se perguntou isso dias antes de alguma ocasião importante? O sonho de qualquer garota é ter um guarda roupa semelhante, se não igual, ao das atrizes e de ídolos do mundo artístico. Mas o que muitas estão aprendendo é que não é preciso gastar as verdinhas e ficar sem salário até o fim do mês para se vestir bem. Mas o que fazer em tempos de consumo desenfreado da moda, sem prejudicar o look e ao mesmo tempo com economia? Pois é,

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aí que entram os conhecidos brechós, que de conhecidos talvez não tenham muito, pois para a maioria das pessoas, eles remetem má qualidade, peças gastas, sem estilo e que não caem bem. É isso que nos conta a editora do Blog Indumentária no Portal Bem Paraná, Hellen Albuquerque. Seu guarda-roupa é composto por mais ou menos 70% de peças garimpadas e o mais incrível de tudo é que ela tem peças de tecidos, cortes e costuras que nem são feitos mais, que se perderam em

algum momento. Helen conta que isso proporciona a construção de uma identidade única. “Sou naturalmente nostálgica”, ressalta. Fã de Audrey Hepburn, atriz conhecida pela charmosa personagem “Bonequinha de Luxo” e do cantor Frank Sinatra, para Hellen, essas roupas retrô são uma forma de expressar sua personalidade sem precisar se explicar. “Sua roupa conta a sua história, a minha vem de décadas passadas”, diz a jornalista. Bater pernas em busca da garimpagem em brechós tem mais outubro 2013


um benefício, participar do famoso “recycling fashion”, responsabilidade mais que importante na sociedade consumista de hoje. O sócio proprietário do Libélula Brechó Rafael Gomes Savae é um dos muitos que viram o aumento por essa busca da junção entre o luxo e o lixo. “Muita gente dá valor à responsabilidade ambiental que os brechós têm ao prestar um serviço ao planeta, dar utilidade a algo que talvez virasse resíduo [lixo]”. Hellen também ressalta a importância da sustentabilidade que vem com isso, do reformar ou reusar alguns modelitos, gerando assim a rotação das peças sem novos custos de produção. “É um reaproveitamento e também uma forma de se conscientizar do consumo descontrolado. Não adianta separar o lixo e não ter um consumo consciente.” O que precisa acabar, para que essa tendência vingue de vez, é o que restou do preconceito. Nem toda roupa de brechó pertenceu a alguém necessariamente falecido ou que achava a peça cafona. Essa forma de revender roupas ou essa busca através de inspirações do cinema ou do mundo it style auxilia nessa quebra de preconceitos, mas ainda existem pessoas que mantém o tabu e que geralmente não são envolvidos com moda. “São pessoas que não encaram a moda como uma arte e por isso se prendem a etiqueta que a roupa leva e não a sua identidade”, Hellen afirma sua opinião. Em cidades como São Paulo e no exterior, a quebra de tabus já aconteceu há muito tempo. Aqui em Curitiba a mudança está florescendo. Há alguns anos os brechós eram mais “mal tratados” (ainda existem alguns dessa vanguarda). Porém, como nos conta Marie Piasetzki, vendedora do brechó Balaio de Gato, assim como outros brechós, o Balaio também faz uma seleção mais refinada, acompanhando as outubro 2013

tendências, olhando os materiais, a origem, os cortes da peça, a condição dela e até a história que ela carrega. “Aqui no Balaio nós temos um grande diferencial. Nós lavamos as roupas, passamos, cuidamos bem dela. Tiramos bolinhas, pregamos botões e tudo o mais.” Então o brechó fica agradável, organizado e sem aquele clima de “vai atacar minha rinite se eu entrar ali”. Muitos têm adotado esse cuidado, o que atrai cada vez mais a clientela. Esse it público que busca tendências. Nas lojas comuns, o procedimento normal é ser levada por peças da coleção e da estação atual. Nos brechós essa necessidade não é imposta pelos vendedores, o clima dentro deles é de amizade, como se o vendedor lhe prestasse uma ajuda a encontrar algo que você busque e não empurre uma das mil peças iguais que ele possui em estoque. Passeando pelos brechós curitibanos é possível encontrar várias opções que se encaixam, por exemplo, para as tendências desta primavera. Nesta estação, as tendências que se cruzam com os brechós são as peças monocromáticas, 100% brancas, as peruagens dos estampados, as velhas calças desbotadas e os acessórios just wanna have fun. Como todo brecholeiro afirma, não é a pessoa que encontra a peça, mas a peça que encontra a pessoa. Em um brechó você tem a oportunidade de buscar algo específico ou se deixar levar pela experiência que é sempre única. Sua intenção pode ser procurar uma bolsa divina para uma cerimônia especial, mas você acaba saindo com o vestido para a mesma ocasião. Você pode ir procurando uma calça de cintura alta e sair com um vestido bordado de paetês à mão. Hellen conta que já aconteceu

com ela e que não há experiência melhor. “A peça te encontra, te serve, te conta uma história. Vocês simplesmente se identificam.” Para as it girls não importa se a moda é slow ou fast fashion, o que importa é estar antenada e se sentir bem vestindo as tendências. Para que isso ande em conjunto com a economia e o bom gosto, basta fuçar pilhas e mais pilhas de roupas. Em alguns brechós há prateleiras específicas para cada tamanho e modelo e, no final, o prêmio é o garimpo de peças chaves e com estilos únicos. É inevitável que encontremos uma maneira de reutilizar qualquer coisa hoje, pois é o único caminho daqui pra frente. A versatilidade que a moda nos proporciona permite a ousadia de sermos e nos vestirmos de acordo com o que estamos sentindo. Afinal a moda serve para isso: uma forma de expressar quem somos e como estamos vivendo o momento.

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vitrine

Roupas de luxo X Roupas fast-fashion Em qual vale a pena investir as verdinhas?

As peças são parecidas, seguem as tendências das estações, mas os preços diferem absurdamente. Até que ponto a relação de custo benefício entre esses looks podem incen-

tivar na hora da compra? O preço de uma peça tem inúmeras variantes, pode ser baseado no tecido utilizado, no tempo de produção e, é claro, no caso das grifes, o valor da marca.

Confira uma seleção de 10 peças coringas, clássicas e ao mesmo tempo atemporais, que você vai poder usar sempre, sem ter medo de ficar fora da moda e se arrepender depois:

Camisa leve: 1. Camisa algodão – Shoulder (R$ 198) | 2. Calça de algodão leve – C&A (R$ 39,90 ) Sapatilha com efeitos metalizados: 3. Sapatilha textura metalizada – Luiza Barcelos (R$ 309) | 4. Sapatilha couro ponteira metalizada – Riachuelo (R$ 79,90 ) Shorts resinado: 5. Sapatilha textura metalizada – Luiza Barcelos (R$ 309) | 6. Sapatilha couro ponteira metalizada – Riachuelo (R$ 79,90 ) Calça estampa onçinha: 7. Calça estampa onça – Le Lis Blanc (R$ 459) | 8. Calça estampa onça – Renner (R$ 79,90) Vestido tubinho: 9. Vestido tubinho couro com camurça – Nika Kessler (R$ 1.598) | 10. Vestido de eco couro com tecido – Havan (R$ 129) n

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E aí, já se decidiu? Vocabulário: Fast-fashion (moda rápida): termo utilizado por marcas que possuem produção rápida e contínua de peças, trocando as coleções semanalmente, ou até diariamente, levando ao consumidor as últimas tendências

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da moda em tempo recorde e com preços acessíveis. Recycling fashion (moda reciclável): Renovação ou reutilização de peças já usadas e gastas com o tempo.

It Girl: Meninas e mulheres jovens, carismáticas e estilosas, que costumam criar tendências. Criatividade na hora de montar os looks e personalidade são traços marcantes de uma it girl

outubro 2013


meio ambiente

Abelha, para que te quero! Responsáveis por 30% da produção de alimentos e por 9,5% da produção agrícola mundiais, as abelhas estão sofrendo com o chamado Distúrbio do Colapso das Colônias. E podem desaparecer se o quadro não for revertido

Por Liriane Kämpf

Logo pela manhã, a abelha sai da colônia e viaja cerca de três quilômetros pela região em busca de néctar. Nesta viagem, espalha pólen pela vegetação, o que possibilita a reprodução de diversos alimentos. Depois, volta para a colônia, onde deixa o néctar para que vire mel. Esta é a rotina da Apis Melífera, abelha produtora de mel, cuja vida dura cerca de 60 dias. Ao que parece, nada muito importante. Mas é. Imagine que uma colmeia pode comportar até 80 mil abelhas. Cada uma visita dez flores por minuto. Ao fim de um dia, fazendo em média 40 voos, ela toca 40 mil flores. Para produzir 1 quilo outubro 2013

de mel, as abelhas precisam retirar néctar de cinco milhões de flores. Cada colônia produz, anualmente, cerca de 30 quilos de mel. Um apiário com 30 colônias coleta, então, 1 tonelada do alimento. Como 30% da produção mundial de alimentos depende da polinização que as abelhas fazem, só em valores econômicos, a contribuição delas é de 9,5% do valor da produção agrícola. Ou seja: US$ 135 bilhões ao ano. Por esses dados já é possível perceber a importância destas pequenas trabalhadoras. Mas já imaginou o impacto econômico caso as abelhas desaparecessem da face

da Terra? Pois é exatamente o que está acontecendo. Ano após ano, as abelhas desaparecem em grande escala e de forma bastante misteriosa ao redor do mundo. Desde 2007, estudos são realizados nos Estados Unidos e na Europa para encontrar o motivo do desaparecimento massivo destes insetos. O fenômeno foi batizado como Distúrbio do Colapso das Colônias (CCD) e já causou a diminuição de mais de 50% dos enxames nos Estados Unidos. No Brasil, a situação não está diferente. “O que acontece é que elas saem da colônia pela manhã e não retornam. Seus corpos também não

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Flora Zugaib

Tomás Alexandre segura um dos dez favos de mel da colônia.

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ou pode chegar e contaminar todo o resto”, explica. Há, ainda, a possibilidade de que o ar leve o agrotóxico à colônia, seja pelo vento ou por pulverização proposital. “A pulverização aérea, muito praticada em regiões de agroindústria, não tem controle. Ela atinge tudo o que estiver ao redor do local pulverizado”, explica o biólogo Mario Fritcsh, professor da Universidade do Contestado, em Mafra.

Liriane Kampf

são encontrados próximos à colônia. Simplesmente desaparecem”, explicam os apicultores Tomas Alexandre e Flora Zugaib. Uma perda de 10 a 20% por ano é comum, principalmente nos meses mais frios. A média de perda, atualmente, é de 20 a 40%, mas alguns apicultores relataram perda de 90% do apiário. Os motivos deste desaparecimento massivo ainda não são afirmados categoricamente por pesquisadores, pois podem variar de acordo com a região. No nordeste, por exemplo, a perda se dá principalmente por conta da seca. Nas regiões de atividade agroindustrial (Sul, Sudeste e Centro-Oeste), o principal vilão é o agrotóxico. Para o médico veterinário Walter Miguel, gerente da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), a alta mortandade das abelhas é resultado direto da combinação do uso excessivo de agroquímicos, da destruição da vegetação nativa e do manejo deficiente dos apicultores. “Quando voa, a abelha está em contato com o ar. Se este ar estiver contaminado com pesticidas, o inseto é contaminado. Ele pode morrer antes de chegar à colmeia

O principal agrotóxico causador destas mortes é o chamado neonicotinoide (agrotóxico à base de nicotina). Após contato com esta substância, a abelha começa a sofrer anomalias, enfraquece e morre por sintomas diversos. “Ela perde os sentidos, tem dificuldade de orientação. O agroquímico altera o sistema nervoso da abelha e esta não consegue retornar à colônia. Acaba por morrer de frio e fome”, conta Walter. Outro fator de peso no sumiço destas abelhas é a grande perda das áreas de mata nativa. Sem mata nativa, a fonte de alimentação das abelhas diminui. Os insetos ficam mal nutridos e migram para a cidade para buscar alimentos. Há, ainda, o manejo deficiente dos apicultores. “Muitos querem criar abelhas, mas não buscam o devido preparo para a atividade”, diz Walter. Além da questão econômica, existe o aspecto nutricional. Um estudo da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, aponta que um terço dos alimentos que consumimos são diretamente polinizados pelas abelhas. Além disso, mais de 80% do que é consumido pela humanidade depende diretamente do trabalho das melíferas.

No detalhe, mel produzido pela Apis Melífera. outubro 2013


Em termos práticos, sem abelhas não teríamos alimentos como maçã, pera, melão, melancia, abacate, morango, pêssego, pepino, soja, abóbora, castanha, cebola, nozes, café, óleo e algodão.Também não teríamos mel, própolis e geleia real, que são produzidos exclusivamente por abelhas, dentro das colônias. A nutricionista Catarina Stocco explica os danos que o homem sofreria com a falta destes alimentos. “Nutrientes como vitaminas, selênio, magnésio, zinco e outros afetam diretamente nossa memória, energia, sistema imunológico, regulação hormonal, saúde óssea”. Catarina ainda acrescenta que sem abelhas não haveria alimento suficiente para abastecer a necessidade atual e crescente da humanidade. O professor Mario Fritsch explica que a diminuição da população em função do desaparecimento das abelhas seria impactante. “Alguns dizem que uma diminuição populacional seria bom. Concordo. Desde se tratasse de controle de natalidade. Em caso de extinção das abelhas, cerca de um terço da população mundial morreria de fome”. Com base nos estudos e artigos do professor Osmar Malaspina, do Centro de Estudos de Insetos Sociais da Unesp, o IBAMA conseguiu recentemente uma suspensão da pulverização aérea de agrotóxicos. Malaspina explica que é necessária a implantação de políticas públicas e tentativas de proibição deste tipo de pulverização. “O IBAMA está fazendo uma série de ações, mas as cadeias produtivas da agroindústria são muito mais fortes. No momento, por exemplo, existe uma pressão fortíssima para liberar de vez o uso aéreo de agrotóxicos. E acho que vão conseguir. O lobby é violento”, confessa. outubro 2013

Na internet circula uma frase atribuída a Albert Einstein. “Quando as abelhas desaparecerem da face da Terra, o homem tem apenas quatro anos de vida”. Não há

como saber se a frase é mesmo de Einstein, nem se teríamos mesmo só quatro anos de vida, mas dá para entender bem a preocupação que devemos ter em manter as abelhas.

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Fotos: Emily Kravetz

EDUCAÇÃO

Colégios carecem de recursos para orientar alunos em relação à profissão Escolas procuram suprir demanda por meio de atividades práticas em laboratórios, livros e discussões em aula. Mas será que tudo isso é o suficiente? Por Emily Kravetz

“O que você vai ser quando crescer?” é um questionamento comum na infância, mas “quero ser traficante da vila em que eu moro” é uma resposta que nem todos esperam ouvir. Essa é a realidade de muitas crianças, em que as palavras “orientação profissional” saem pela tangente. Para alguns, essas projeções de profissões causam espanto; para outros, são

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mais uma constatação do cenário onde vivem. Foi essa resposta que a professora Liriane dos Santos, do Colégio Estadual Professora Maria Aguiar Teixeira, ouviu de um aluno da 6º ano. As palavras causaram espanto à professora. O colégio possui um contraste visível: por fora, é possível notar os traços de vandalismo, com as

paredes da fachada pichadas. Por dentro, há outra realidade: existem estruturas como laboratórios de informática, ciências, física, matemática, química e biologia que despertam o interesse dos alunos para a prática das disciplinas. A biblioteca do colégio também é outro recurso utilizado para atrair todas as faixas etárias para uma nova realidade. outubro 2013


Projetos em segundo plano Entretanto, faltam recursos financeiros e liberdade para se gastar o dinheiro que é enviado a cada três meses e direcionado para a compra de materiais básicos. Assim, a renda inversamente proporcional ao tamanho do colégio faz com que muitos projetos fiquem apenas na cabeça dos professores e diretores. Ao todo, transitam diariamente no colégio 1.300 alunos do 6º ano do Fundamental ao Ensino Médio. Todas as salas estão ocupadas e são readaptadas para servir aos alunos e à comunidade. Apesar das atividades que o colégio oferece em sala de aula, não existem opções voltadas à orientação profissional dos alunos. Falta de perspectiva profissional Hoje, existem quatro turmas de 3º ano do Ensino Médio no turno da manhã, e cada uma delas recebe uma média de 35 a 40 alunos por sala. São poucos os alunos que demonstram interesse, a falta de objetivos de vida é um dos elementos apontados por Liriane. “Então veja, desses alunos que vão sair daqui, provavelmente uns oito vão fazer uma faculdade. E destes, alguns correm o risco de desistir na metade do caminho”, explica a professora, preocupada. A falta de objetivos de vida pode estar associada ao contexto social, cultural e econômico em que os jovens do colégio vivem complementa a educadora. Repensando as estratégias educacionais De acordo com a psicóloga especializada em orientação profissional Rafaela Faria, as atividades didáticas e pedagógicas das escolas são limitadas e desfocadas da orientação profissional e precisam ser repensadas. “Preocupa-me o outubro 2013

Sala para aulas práticas de biologia do Colégio Estadual do Paraná.

Na fachada do Colégio é possível notar os traços de vandalismo.

Vinícios Harger Vieira, pretende ser escritor. quanto as escolas ainda precisam incluir esta de parte orientação profissional para carreira. As matérias são totalmente focadas em laboratórios, nas apostilas e nos livros. Falta um espaço para que o aluno se volte para as suas

habilidades, desenvolva competências e olhe com mais cuidado e consciência para as influências que ele sofre”. Nesse contexto, a psicóloga Rafaela entende que existe muito ainda em ser melhorado para que

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EDUCAÇÃO

Os livros em quadrinhos são um dos mais procurados pelas crianças.

o aluno aprenda a se conhecer e descobrir a realidade da sua futura profissão. Dessa forma, ela acredita que é necessário que as escolas incluam de alguma forma, estratégias educacionais relacionadas à orientação profissional. Experiências de alunos Às 5 horas da manhã, Lucia Helena Lira já está acordada para começar uma longa jornada de estudo. Com apenas 15 anos, a jovem já passou por dois processos seletivos para conseguir uma vaga no Colégio Militar do Paraná ou no Colégio Estadual do Paraná (CEP). Para a surpresa da família, a adolescente foi aprovada nos dois testes seletivos, mas optou pelo segundo colégio. Apesar de boa parte de sua família ter escolhido a carreira militar, Lucia pretende ser biomédica. Nas aulas práticas de biologia, a estudante viu as primeiras células, o que despertou o interesse pela escolha de graduação-biomedicina. No Alto da Glória, onde fica o CEP, Lucia se depara com outra realidade, que, diga-se de passagem, poderia ser melhor se não fosse pela

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falta de manutenção do colégio. Vinícios Harger Vieira, de 17 anos, está no terceiro ano do ensino médio e projeta cada etapa que está por vir. Imagina sua vida como escritor, mas deixa o sonho em segundo plano por saber que essa área não traz retorno financeiro fácil. A primeira opção em mente é design gráfico. Para o estudante, a biblioteca colabora com sua futura profissão. “Aqui no colégio encontro livros de outros países. Além disso, os professores são muito bons, apesar da convivência no colégio ensinar que você não depende só deles. Podemos buscar conhecimento lá fora.” Equipamentos desatualizados Nos olhos de Vinicius é possível notar a vontade de falar sobre seus anseios, dificuldades, expectativas e sonhos que não tomaram forma. Aos poucos, as palavras revelam os benefícios de estudar no CEP, que contribui para a construção da história de vida desses jovens e incentiva suas futuras carreiras. Mas, uma das reclamações presentes envolve a estrutura física do local.

“O laboratório de informática não é muito utilizada aqui, até porque a maioria dos computadores não funciona muito bem. É como dizem: só dá pra carregar em caminhão”, aponta o estudante Vinicius. O que podemos mudar? Com 38 anos de magistério, dos quais 36 foram em sala de aula, Malu Rocha, assessora técnica da direção geral do CEP, conta que um dos objetivos da escola é fazer com que o aluno vá para o mundo do trabalho sabendo que vai passar a maior parte da vida em uma profissão que precisa estar associado à sua vocação pessoal. Para isso existir é necessário que haja uma parceria afetiva e efetiva entre a escola e a família. “Quando a família se apropria do direito de participar fora dos muros da sua própria casa, isso se dá de uma forma muito mais consistente. Acho que não há uma necessidade de ter um modelo ou uma receita pronta, cada comunidade escolar deve encontrar o seu caminho”, ressalta Malu.

outubro 2013


editorial economia

Jovens investem em educação Adolescentes estão depositando finanças em cursos de graduação para ingressar no mercado de trabalho e ter uma carreria profissional

Por Jaqueline Lopes

Foto: Jaqueline Lopes

outubro 2013

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ECONOMIA A educação é prioridade para a maioria dos jovens de hoje. Eles sonham com uma carreira próspera, que proporcione segurança e dinheiro. O conhecimento é a forma que encontram para alcançar esse objetivo. Segundo o Estatuto da Juventude, dos 15 aos 29 anos, uma pessoa é considerada jovem. É justamente nessa faixa etária que eles começam a pensar em uma carreira profissional. Cinco a cada oito jovens pagam seu estudo com o salário que recebem. Esse dinheiro é aplicado em faculdades, cursos profissionalizantes, cursos extras e técnicos. A juventude é a melhor época para economizar dinheiro, observa a economista Franciéle Lourenço. Nesse período, os jovens ainda não possuem compromissos financeiros sérios. Ainda assim, é necessário um planejamento orçamentário. A falta de informação sobre como investir reduz o interesse dos jovens nesse tipo de ação. Por outro lado, os que optam pelo investimento pesquisam muito sobre o tema. Alguns chegam a se preocupar com a aposentadoria. É o caso do estudante de administração Antonio Mostefaga Junior, 21 anos, que poupa por temer o futuro. “Os planos previdenciários não são suficientes, guardar dinheiro é uma garantia de conforto na velhice.” Quando o assunto é investimento, os jovens ficam preocupados. Hoje, quem não é capacitado para o mercado de trabalho tem que se contentar com um salário mínimo. Assim, a maioria dos jovens busca a educação para, no futuro, ter retorno financeiro. A supervisora de call center Werleina Figueiredo, 28 anos, pretende começar a faculdade de Gestão Empresarial em 2014 para crescer na empresa em que trabalha. Ela sabe que suas despesas vão aumentar, mas acredita que isso terá um retorno. “Quando a gente

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começa a guardar dinheiro, começa a dar valor a cada centavo. É preciso ter um planejamento futuro.” Investir no aprendizado gera um gasto maior, pois, além da mensalidade, existem despesas extras. A estudante de fisioterapia Gicely Rosner, 22 anos, economiza o que ganha para a faculdade, mas também poupa. “Guardo de 10% a 30% do meu salário mensalmente.” O dinheiro dela tem destino: abrir uma clínica para crianças. A economista Franciéle afirma que a educação é uma boa forma de se obter retono, mas existem outras maneiras de investir, como poupanças, clubes de investimento e títulos de capitalização. “O importante é saber balizar o retorno e o tempo destes.” A cozinheira autônoma Tycinara Buzzi, 27 anos, começou seu negócio sem precisar investir em uma formação acadêmica. Ela economizou dinheiro desde que começou a trabalhar, aos 16 anos, e hoje tem seu próprio negócio na Nova Zelândia. Ela buscou informações sobre como investir de forma consciente e se diz realizada com o que conquistou. “O investimento te anima, te motiva a trabalhar mais, pois você vê o seu dinheiro aplicado em algo que é seu, que você conquistou com esforço e trabalho.” Para obter informações sobre como investir, o jovem pode procurar bancos ou instituições especializadas para avaliar o tempo, o retorno e os riscos. Para cada objetivo será necessária uma estratégia. Assim, é possível acompanhar a evolução das metas. Os jovens sabem da importância de guardar dinheiro hoje para garantir um futuro mais cômodo. Colocar no papel tudo que gasta é uma boa saída para quem quer poupar dinheiro. Com tudo anotado, o jovem tem o controle do seu dinheiro. Esse planejamento vai ajudar a prever dificuldades futuras e remover obstáculos que possam surgir. Assim será possível transformar os sonhos em realidade.

7 passos

para jovens ecnomizarem para a faculdade 1. Registre todas as despesas: pode ser entediante, mas é a forma ideial para descobrir quanto gasta por mês. 2. Reduza as despesas mensais fixas. 3. Em vez de comprar livros vá as bibliotecas públicas. 4. Não gaste tanto nos seus cartões de créditos: só use se for extremamente necessário. 5. Estipule um valor mensal para pôr na poupança. 6. Cuide mais da sua saúde se alimentando bem, fazendo exercícios regulares e indo com frequência aos médicos fazer check-ups. Se você se cuidar, gastará menos com remédios e tratamentos. 7. Saia menos. Mesmo os programas gratuitos demandam alguns gastos (transporte, alimentação etc, especialmente com crianças). Sempre que puder fazer um programa caseiro, faça.

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RESENHA editorial

Livro retrata o drama de mães que enfrentaram o vício dos filhos Por Marcio Taniguti

Semana Literária e Feira do Livro atrai todos os tipos de leitores em Curitiba Por Fernanda Brisky

A proposta do livro-reportagem “Algemadas - A trajetória de mães que adoeceram com a dependência química dos filhos”, da Editora Íthala, escrito pelos jornalistas paranaenses Raphael Moroz e Milena Beduschi, é discutir o cuidado das famílias que sofrem com dependentes químicos. A intenção dos autores é mostrar para os leitores que vivem em situações parecidas que atitudes como ignorar ou tolerar o vício dos filhos pode ser muito prejudicial à vida familiar. Escrito com linguagem simples e direta, a obra envolve facilmente os leitores. A trama acompanha seis histórias reais de mães que lidam com a culpa e que viram suas vidas serem destruídas por causa das drogas. Essas personagens passaram a viver na luta para salvar os filhos. Além de serem mulheres desmotivadas e sem autoestima, elas também precisam de ajuda para entender a dependência química e saber tomar as atitudes corretas em relação aos filhos, por mais dolorosas que possam ser. O livro pode ser adquirido por R$ 24,70, nas Livrarias Curitiba.

A 32ª Semana Literária e Feira do Livro teve início em 16 de setembro. O evento exibiu programações para acompanhar os lançamentos de livros que ocorreram na semana. Essa foi a maior feira literária do Paraná e uma das maiores do país. Na ocasião, foi possível conhecer os escritores que participaram dessa edição. Com o tema: “Cadê o leitor?”, o evento homenageia Bartolomeu Campos de Queirós, que contribuiu para a valorização da formação de leitores. A Semana Literária e XI Feira Universitária do Livro Editora UFPR teve solenidade oficial de abertura na Praça Santos Andrade, em Curitiba, onde permaneceu estruturada até 21 de setembro. Esse grande movimento cultural possibilitou atividades variadas. Na capital, uma programação composta por 67 eventos agitou a cidade, muitos ocorreram simultaneamente. A participação foi franca e aberta ao público. O objetivo foi contribuir para a formação de novos leitores, com debates sobre a literatura. A ação contou também com mesas redondas, palestras, seminários, poesias, exposições, programação artística com concertos e performances literárias, além de lançamentos de livros.

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Fotos: reprodução/internet

editorial surf

Nas ondas do Paraná

Uma viagem ao litoral precisa de um bom roteiro para se tornar inesquecível. Além de pontos turísticos, a região oferece a prática de esportes radicais Por Jéssica D. Netto

Com a alta temporada, mais de um milhão de turistas lotam as praias do Paraná. O verão é sinônimo de diversão com banho de mar, descansos na areia e muita festa. Os principais caminhos até lá são pelas BRs 277, 407 e 508. A viagem leva, em média, 130 quilômetros pela Serra do Mar, que possui a área de Mata Atlântica mais preservada do Brasil. Quem deseja curtir o litoral também pode ir até as baías de Paranaguá, Antonina, Laranjeiras, Pinheiros e Guaraqueçaba na esperança de avistar os botos cinza que passam o ano inteiro no litoral. Além disso, poderão apreciar o modelo de vida calmo dos pescadores da região, é claro. Falando em pescaria, nada melhor do que ir até a praia e ter uma refeição saudável com frutos do mar. Peixes, camarões, lulas,

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ostras, mariscos, siris e mexilhões fortalecem o sistema imunológico e podem prevenir doenças como o colesterol alto e a diabetes. Entre atrações típicas do litoral, falta uma: o surf. No nosso estado há uma escassez de ondas grandes. Isso porque, formadas no fundo do mar, elas perdem força gradativamente em praias rasas, como as que temos por aqui. O swell (ondulação) é formado em ondas mergulhantes, propícias para a prática do surf, ao sentir o atrito da profundidade. Quanto mais fundo, menor é o atrito e maior a ondulação. Cerca de 80 quilômetros da costa, os picos chegam a cinco mil metros, como no caso do Havaí. Mas, no litoral paranaense, eles não passam de 40 metros. Embora não tenha ondas fortes, o surf no Paraná existe. A Federação Paranaense de Surf (FPS) conta com

nove associações afiliadas: a Associação de Surf do Balneário Ipanema (ASBI), Associação Surfistas de Cristo, Associação de Surf da Praia de Leste (ASPL), Associação de Surf de Paranaguá (ASPAR), Associação Paranaense de Longboard (APL), Descobrindo Novos Atletas (DNA), Associação de Surf de Pontal do Paraná (ASPP), Longbrothers e Associação de Surf de Guaratuba (ASG). Essas entidades são responsáveis por realizar vários campeonatos no litoral. A ASBI, por exemplo, realizou em 2012 o primeiro Surf Girl Festival, que contou com a participação de mais de 50 atletas femininas de São Paulo e do Sul do país nas categorias bodyboard, longboard e open. Neste ano, o evento mais importante de Pontal do Paraná foi a Taça Grommets, que ocorreu nos meses de maio e outubro 2013


junho, com cinco etapas em Praia de Leste, Santa Terezinha, Shangrilá, Pontal do Sul e Balneário Ipanema, onde crianças e adolescentes deram show nas ondas locais. As associações não servem somente para realizar campeonatos de surf. Segundo Ailton Moreira Santos Junior, vice-presidente da ASPAR, além de promover competições, essas entidades também realizam um papel de responsabilidade social. Isso porque, após pegarem as ondas, os surfistas limpam a praia, além da presença deles ajudar o local a ficar mais seguro. Iniciativa Não tem como falar do surf paranaense e não citar o empresário Juca Barros. O ex-presidente da Confederação Brasileira de Surf (CBS) tem um projeto que conta a história da prática no estado. A ideia reúne um álbum de fotografias, dois DVDs, um livro, um documentário e um grande festival de surf e rock’n roll. Segundo Juca, como prefere ser chamado, o surf no mundo inteiro mudou conforme o avanço da tecnologia. Ele conta que, antes, o leash (cordinha que prende o surfista à prancha) era feita com uma borracha cirúrgica com fio de nylon e as roupas usadas pelos surfistas eram as mesmas usadas por mergulhadores. Institucional O surf paranaense está carente de profissionais competentes e comprometidos com a prática. Há tempos não são realizados campeonatos com grande repercussão, o que prejudica os atletas daqui. “Enquanto não tivermos uma federação forte e atuante em favor dos atletas,

não teremos muitas chances”, diz Juca. Hoje, o representante do estado é Peterson Crisanto, que luta para entrar no circuito mundial. Outros atletas também são reconhecidos no cenário nacional e mundial como Bruna Schmitz, 23 anos, e Jihad Khodr, de 29. Ela tem na bagagem quatro passaportes carimbados e dois anos no circuito mundial feminino. Ele teve bons resultados na elite em 2007, mas perdeu o foco e acabou se distanciou do estrelato. Atualmente, Jihad é um exemplo de superação e está em segundo lugar no ranking da ABRASP. Seus próximos objetivos são a taça de campeão brasileiro em 2013, correr todo o circuito classificatório mundial WQS em 2014 e retornar a elite mundial do surf. O surfista amador Lucas Cavallari Tomé, de 16 anos, acredita que deve haver uma melhor organização da FPS e mais eventos da categoria de base, que são o futuro do esporte. Ele frequenta o Pico de Matinhos, o qual afirma ser o seu quintal de casa. “Foi lá que eu aprendi a surfar. Em dias de ondas boas, quebram umas direitas clássicas inacreditáveis”, conta. Além de campeonatos, o estado precisa de mais atletas jovens. O hábito de surfar está diminuindo entre os curitibanos, que muitas vezes preferem deixar os filhos se divertirem com a tecnologia. Segundo estudos da Universidade Federal de Goiás (UFG), indivíduos que gastavam mais de 120 minutos por dia com computador e/ou vídeo game apresentam 2,6 vezes mais chances de apresentar excesso de peso. Ou seja, surfar pode ser uma alternativa para um futuro saudável. Pense nisso! ;)

Morte de surfista incentiva criação de ONG no Paraná A psicóloga e surfista Renata Turra Grechinski, de 23 anos, sofreu um acidente envolvendo as redes de pesca clandestina no litoral paranaense. Ela estava surfando durante o verão e ficou presa. Ela se foi e a indignação ficou. Por causa disso, foi criado o Projeto Surf Seguro, que visa lutar pelo aumento da fiscalização e da segurança nas praias do Paraná. Graças a muitos apoios, eles iniciaram uma ONG chamada Parceiros do Mar. A falta de fiscalização adequada no litoral é muito perigosa e a ação principal da ideia é promover a petição pelo projeto de lei pela delimitação entre áreas de pesca e lazer. Se aprovado, ficará proibida a pesca profissional ou amadora, com o uso de redes. A restrição vale até 400 metros da costa, em locais pré-determinados por pesquisas que vêm sendo feitas há mais de vinte anos pelos órgãos competentes.

Onde tem surf no Paraná? n Em Guaratuba dá para pegar onda na região de Direitas, Praia Central, Pico de Guaratuba e Praia dos Paraguaios. n Em Matinhos, os pontos preferidos dos surfistas são Praia Brava e Pico de Matinhos. n O balneário de Pontal do Sul, em Pontal do Paraná, tem ondas

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boas durante as luas ovais e cheias, atraindo os amantes das águas salgadas. n A Ilha do Mel possui praias paradisíacas e altas ondas em Nova Brasília, Praia de Fora, nos tubos da Praia Grande e nas direitas em Paralelas.

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editorial futsal

Os primeiros passos do futsal paranaense Com novo clube de futsal, a capital está começando a se tornar um polo da modalidade

*Uniforme pronto! Ingresso na mão! Sábado à noite no Ginásio do Tarumã, torcida em peso nas arquibancadas para apoiar o seu novo time de futsal em um jogo decisivo contra o São José dos Pinhais. Se vencer, a equipe passa à próxima fase. Time pronto para os hinos e lá vai a equipe para mais uma batalha, torcida em pé cantando junto e pela primeira vez o maior ginásio de Curitiba lotado para acompanhar o jogo. Noele Dornelles

Por Noele Dornelles

Time perfilado para mais uma batalha no GInásio do Tarumã.

Em 2006, o Paraná Clube resolveu investir em um time profissional de futsal. “Atualmente os clubes investem nas categorias de base de futebol

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de salão para a formação dos jogadores para jogarem no campo”, diz Ederson Bueno. Com uma campanha boa nos primeiros anos, o tricolor conse-

guiu chegar à elite do campeonato, mas acabou decaindo pela falta de patrocinadores. Com isso, no fim de 2012, sem conseguir boas campanhas e investidores, o time acabou outubro 2013


sendo desfeito. Hoje, o clube conta apenas com as categorias juvenis. O Paraná não foi o único a ter problemas de patrocínio. Os clubes da Série Prata, segunda divisão do campeonato paranaense de futsal, gastam em média R$ 2,2 mil por jogo. Entre viagens, hospedagens e aluguel de ginásio, o Toledo Futsal, por exemplo, acumulou uma dívida de R$ 50 mil após um ano de competição. “Com uma melhor divulgação da imprensa casos como o do Toledo, que conseguiu subir para a Série Ouro, poderiam ser revertidos com o auxílio de investidores”, afirma o jornalista Luiz Ferraz.

Juiz apita e a bola começa a rolar. Em quadra, o novo time de futsal de Curitiba está atacando e, de repente, a bola sai para escanteio e o jogador Reiler vai até a bandeirinha. Posiciona-se para a cobrança, bate e Polzat, de voleio, manda com tudo para o gol e comemora com Andy, goleiro do time. O Coritiba Foot Ball Club, em parceria com os Amigos do Cancun, uma associação de futsal da capital paranaense, foi outro a investir na categoria,

formando em 2013 o time Coritiba Futsal Cancun. “Quando pensamos no time do Coritiba nessa parceria, queríamos atrair os torcedores do campo para a quadra”, explica o técnico do Coxa, Júnior Roulien. TORCIDA EM QUADRA As torcidas organizadas dos clubes têm um preconceito com novas modalidades que seus times começam a disputar. A torcida do Coritiba, no entanto, apoiou o clube nessa nova etapa. “Tomamos um susto quando entramos em quadra e vimos o ginásio lotado”, afirma Andy, goleiro do time. Contrariando os fatos, a Império Alviverde resolveu apoiar o clube e com isso encheu o ginásio. “A bateria tinha que estar presente, assim os jogadores veriam que estamos aqui os apoiando”, argumenta o torcedor Guilherme Lima. Os juízes ficam meio encabulados de verem a torcida ali com os materiais e as bandeiras. “É uma coisa muito nova. Raramente vemos uma torcida trazer bateria para apoiar a equipe da casa, isso dá um diferencial ao espetáculo”, afirma Cléber Luis, um dos membros da comissão de arbitragem do Campeonato Paranaense.

NA LATERAL Luiz Ferraz, jornalista formado pela Tuiuti, foi convidado pelo Paraná para ser assessor do time profissional de futsal logo que saiu da faculdade. Cinco anos depois de ter entrado no projeto, veio à oportunidade de trabalhar no Coritiba Futsal. Comuni

!: O Falcão, melhor jo-

gador de futsal do mundo, foi para o Santos em 2012, mas o projeto acabou sendo desfeito no fim do ano passado. Qual foi o problema que eles tiveram? E como a torcida apoiou? Luiz: O Santos gastou muito na contratação do Falcão e de outros jogadores de seleção, mas acabaram dando uma passo maior que a perna. A torcida comprou a ideia e foi para o ginásio, mas os gastos foram excessivos e os patrocinadores pularam fora antes do time acabar. Como você vê o papel da Federação Paranaense de Futsal? Luiz: Ainda falta organização na federação. Ela apoia do jeito que dá com o time do Coritiba, mas esse apoio é maior por sermos da capital. Como são os jogos de futsal no interior do estado? Luiz: No interior o futsal e tratado como evento principal. Os jogos acontecem sempre no sábado à noite. Então o povo do interior se reúne pra ir assistir as partidas. Qual o maior desafio que o futsal terá que enfrentar daqui para frente? Luiz: O futsal terá que se sobressair em relação ao futebol, tentar ganhar torcida com boas campanhas e, acima de tudo, tentar as transmissões dos jogos com a televisão para que os torcedores conheçam um pouco mais dessa modalidade.

Torcida Organizada Império Alviverde nas arquibancadas se preparando para mais um jogo do Coritiba. outubro 2013

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futsal MÍDIA A imprensa poderia falar de futsal, mas o que prevalece na mídia paranaense é o esporte de massa que hoje é o futebol. “O futsal em Curitiba compete com o futebol. Hoje é meio complicado de concorrer”, afirma Ederson Bueno. Temos que conseguir maior divulgação para que possamos ter grandes patrocinadores e, com isso, valorizar os times de futsal para ganhar o apoio dos torcedores. A capital tem dois ginásios onde podem ocorrer os jogos, sendo um na sede da Kennedy do Paraná e o principal ginásio do Tarumã, com isso poderíamos nos tornar um polo da modalidade no estado. “Com boas campanhas e com a transmissão dos jogos, já podemos notar que os curitibanos estão começando a acompanhar”, afirma Andy. Apesar de a mídia não divulgar, as torcidas estão cada vez mais apoiando os clubes nessas novas conquistas. É sempre bom ter um lugar diferente para apoiar o time que torcemos.

Luiz Ferraz

Último minuto do jogo, juiz apita uma falta para o São José, Andy monta a barreira com Reiler e Murilo. O jogador do São José arruma a bola para bater, o juiz apita e, após o chute, ela passa pela barreira e vai direto no ângulo, sem chance de Andy pegar, gol dos caras. Coritiba eliminado da competição.

Nova opção de camisa ao torcedor alviverde Por Noele Dornelles

Com um modelo de listas horizontais em verde e branco, a camisa do Coritiba Futsal é composta 100% de poliéster. A peça vem com o destaque no peito do escudo do alviverde. Nas costas, há o número 10 e nome Amigos do Futsal. Com a leveza dela, você pode correr e jogar a vontade. Ela não ficará molhada porque ela contém fibras que impedem o acúmulo de suor. Você pode encontrar do tamanho P ao GG. Essa é mais uma opção para o torcedor alviverde que a NALE produziu para uso dos torcedores e do time em quadra. O Coritiba Futsal também disponibiliza para compra a camisa de treino do clube, que vem em cor verde limão, com o escudo do time. O torcedor também pode pagar barato na camisa e ir aos jogos uniformizado.

Time do Coritiba Futsal se preparando para mais uma batalha no Ginásio do Tarumã. Serviços: A Camisa pode ser encontrada no site http://www.coxamania.com Camisa Oficial: R$ 79.90 | Camisa Treino: R$ 39,90 Na loja Coxa Mania no Shopping Total Rua Itacolomi, nº292, Portão- Curitiba. Telefone: (41) 30257132

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HISTÓRIA editorial

O Haiti é Aqui O rap cantado por Caetano Veloso profetizava nos anos 90 o que se tornaria realidade: haitianos encontram um lar no Brasil

Por Anne Louyse Araújo

Fotos: reprodução/ internet

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editorial HISTÓRIA

O processo de imigração é a mais antiga forma de escapar de uma condição social e econômica. Essa fuga separa os mais necessitados, que se retiram de sua nação e refugiam-se em algum país anfitrião, para equilibrar a pobreza. Dentro da história, a imigração de haitianos aconteceu devido a múltiplos motivos e de maneira sazonal, pois o país foi marcado por inúmeras crises políticas que abalaram a economia. A pobreza extrema e as tentativas de fuga vêm do mesmo lugar de uma importante e desconhecida revolução. A chamada Ilha de São Domingos era habitada por meio milhão de escravos e comandada por cerca de 30 mil homens brancos. Foi o primeiro país no mundo a abolir a escravidão e também o primeiro a proclamar independência na América, derrotando o poderoso general Napoleão Bonaparte. Essa revolução foi liderada por um herói, o escravo Toussaint Louverture, que difundiu os ideais libertários e escrevia a Napoleão como “o rei dos negros falando ao rei dos brancos”. O levante de escravos contra os senhores da ilha foi proferido em agosto de 1791 e a resistência converteu-se em luta pela independência travada. Toussaint acabou preso, exilado e morto na França, mas a independência foi alcançada poucos anos depois, no dia 1º de janeiro de 1804, por JeanJacques Dessalines, que se declarou imperador e assim começou a sucessiva e desastrosa política do primeiro país negro a conquistar a liberdade.

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A vitória do povo negro haitiano refletiu no mundo inteiro, e aparecia ali a possibilidade do que o povo unido poderia fazer. No Brasil, estudiosos e teóricos associam as duas nações por características históricas semelhantes, devido à quantidade de escravos, maioria dos habitantes nos dois países, e também, porque trabalhavam nas plantações de cana, que, como no Brasil colonial, produziam riqueza para poucos. Ao contrário do que comumente se pensa hoje, a imigração não se deve apenas ao famoso terremoto devastador de 2010. Desde a independência, a desordem política e a violência foram grandes problemas para os habitantes do Haiti. A primeira imigração haitiana foi curta e ocorreu rumo a Cuba no final do século XIX. Mais tarde, perto dos anos 60, a imigração foi em direção à Bahamas, seguido de Miami, Guadalupe e Guiana.

A maioria das cidades estava com mão de obra escassa e contaram com a contribuição de imigrantes para o desenvolvimento. Segundo a pesquisa da RádioCanadá, estima-se que, após a chegada ao poder de François Duvalier em 1957, a maioria dos refugiados políticos eram de classes alta e intelectuais, que se opuseram à ditadura. Outra onda migratória foi econômica, e se estendeu até o início dos anos 90. Os Estados Unidos e o Canadá sempre foram o principal destino. Mais de 500 mil haitianos também cruzaram a fronteira para cortar cana-de-açúcar na República Dominicana e cerca de 300 mil optaram por Cuba. Na América do Sul são 75 mil espalhados em vários territórios. O Brasil e o Haiti mantém relações desde 1928, quando foram abertas ligações em ambos os países. Mas foi em 2004, ano de crise no país crioulo, que as relações deixaram de ser somente comerciais. Na ocasião, foi instalada a missão multidimensional e integrada, inserindo homens da Força Militar, que se envolveram em diversas atividades entre operações e ações humanitárias. O acordo foi feito junto a Organização das Nações Unidas (ONU), que viabiliza varias nações a enviam ajuda humanitária para o país.

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A haitiana Jenny Telemaque, 29 anos, veio ao Brasil em 2007, para completar seus estudos no Rio de Janeiro. Em janeiro de 2010, enquanto estava de férias, foi visitar a família no Haiti. No dia 12 de janeiro de 2010, aconteceu a maior de todas as catástrofes naturais já registradas no país, que culminou no atual processo de imigração em massa de haitianos. Um tremor de 7,3 graus na escala Richter comprometeu 60% da estrutura e destruiu o Palácio do Governo, sedes políticas e devastou todo o país. Cerca de um ano depois, o primeiro-ministro Jean-Max Bellerive anunciou que o terremoto deixou 316 mil mortos, e 1.5 milhão de pessoas desabrigadas. Após o violento tremor, os habitantes começaram a sair em massa do país e migrar para o Brasil, pelas fronteiras com o Peru, Colômbia e Venezuela. Com a grande quantidade de estrangeiros entrando no país, o governo brasileiro não cedeu visto de refugiado, mas concedeu o visto de permanência por razões humanitárias. No início de 2012, o sistema de imigração nacional decidiu restringir a quantidade de imigrantes haitianos e controlar o fluxo. O Itamaraty limitou o número de vistos a 1.200 por ano. Cada visto ainda pode

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incluir os familiares, com validade de cinco anos. Para obter, o interessado precisa apresentar apenas passaporte e negativa de antecedentes criminais à Polícia Federal. Segundo estimativas do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), foram concedidas 4.856 autorizações de residência em caráter humanitário em 2012. Esse número aumentou em 2013 e até março deste ano, 3 mil pessoas vindas do Haiti entraram no Brasil. Em Brasileia, no Acre, o CNIg estima que, por semana, cheguem 200 novos migrantes. O fluxo de haitianos chegando ao Brasil é comparado historicamente à imigração de italianos e japoneses, que chegaram no período imperial e nos primeiros anos da República. Ronald Dieuseul Ronal SaintAmour, 33 anos, morava na cidade de Garaibo quando aconteceu a tragédia. Sem emprego e perspectiva, Roald decidiu viajar rumo ao Equador, onde tinha uma prima. O país se transformou na porta de entrada de haitianos para América do Sul, por não exigir visto imediato de entrada. E foi lá que Ronald ouviu falar que o governo brasileiro é muito mais do que futebol e Pelé.

Conversando com amigos, Ronald soube que o Brasil estava menos rígido com os vistos, e resolveu pesquisar. Foi através de um site de buscas pela internet que ele encontrou Curitiba, cidade “friiiiiiia”, mas que acolheu ele, a mulher e o filho mais novo. Passou alguns dias morando com moradores de rua em uma casa de apoio, mas conseguiu emprego, e hoje trabalha em uma fábrica de papelão e faz bicos como pedreiro e pintor. Foram US$ 9.500 para trazer uma parte da família, de forma legal, ao Brasil. Mas ele ainda economiza para trazer os dois filhos que ficaram com a sogra no Haiti. Em 2014, vence a resolução normativa (RN 97), que facilitou a obtenção de vistos e concedeu status de residência permanente aos haitianos que chegam de forma irregular. A prorrogação dessa normativa ainda não foi definida. Apesar de estar encantado com as belezas naturais do nosso país, Ronald não pretende estabelecer raízes. Deseja voltar para um Haiti reconstruído e viver em paz com a família. Jenny apaixonou-se pelo Rio, escreveu sua monografia sobre seus conterrâneos e busca aprender mais sobre este assunto em seu mestrado.

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