Comunicare 24 horas - Guadalupe

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opinião

Curitiba, 25 de novembro de 2010

Nossa Capa

PASSAGEIROS, COMERCIANTES, TRABALHADORES TÊM SUA VIDA EM TORNO DE UM TERMINAL

Comunicare 24h dá voz ao povo

Terminal do Guadalupe reune vários fatores característicos de Curitiba. Comércio, igreja, diversas linhas de ônibus, ambulantes, tráfico de drogas, criminalidade, convivem em um espaçõ onde circulam cerca de 70 mil pessoas diariamente. Foto: Amanda Hecke

Escrever um jornal laboratório é uma experiência no mínimo desafiadora. Estar sujeito à falta de condições de um jornal de grande porte, e não ter o curso de Jornalismo completo, fez com que não tivéssemos total credibilidade e enfrentássemos grandes obstáculos para finalizar as matérias e o jornal. Um jornal temático, que tenha como objetivo abordar somente um assunto, e buscar todas as possibilidades para as matérias com certo grau de aprofundamento,

FALA, PROFESSOR

FALA, LEITOR

“Religiosidade e Fé são questões culturais no Brasil. E os meios de comunicação não podem se ausentar destas questões, sendo necessário conhecer para poder conviver e respeitar.”

“Fé é igual opinião, cada um tem a sua, não importam as religiões. A diversidade na abordagem, é importante para saber um pouco de cada crença, criando assim o respeito.”

Sérgio Rogério Azevedo, Pós Doutor em Ciência Religiosa, Professor do Mestrado de Teologia da PUC PR

Ana Paula Martins, estudante de Direito da PUC PR

é outro fator de grande pretensão. Porém, tudo o que fazíamos em semanas, fizemos em 24 horas na última edição nº191. Simular a prática de um jornal diário, com a coordenação feita por nós mesmos, nos deu liberdade e união: todos focados na finalização do jornal com qualidade. Ainda em busca do jornalismo cidadão, que significa dar atenção às necessidades do povo, escolhemos o Terminal Guadalupe como foco para as matérias do jornal Comunicare. Mostrar quais são as condições que o antigo terminal rodoviário, transformado em terminal de ônibus, tem e apresenta para seus usuários. A empresa responsável pela limpeza das ruas da cidade de Curitiba não dá conta da sujeira dos moradores durante a madrugada, fazendo com que comerciantes necessitem limpar os arredores de suas lojas. Mesmo sendo um terminal onde cerca de 70 mil pessoas passam diariamente, a Igreja Nossa Senhora do Guadalupe, consegue superar a correria do dia-a-dia e atrair fiéis para as missas nas quartas-feiras. E a prostituição se tornou rotina, e

Ombudsman: Comunicare fé tem abordagem INTELIGENTE E OBJETIVa

Edição é criativa apesar de problemas O tema Fé foi abordado com inteligência pelo Comunicare que se preocupou em evidenciar que os assuntos tratados não envolveriam necessariamente religião. Gostei das reportagens de saúde que de forma objetiva e simples apontaram dados relevantes e personagens interessantes. Merecem destaque também as páginas de tecnologia e comportamento que souberam explorar os temas e trabalhar a diagramação de maneira criativa. A editoria de política trabalhou bem na matéria sobre os xiitas e sunitas, mas não teve o mesmo cuidado na reportagem sobre a Igreja do Guadalupe que apresenta uma série de dados e informações históricas sem fonte. A única pessoa ouvida em toda a matéria só aparece no último parágrafo. O problema se repete na reportagem sobre o público jovem nas

igrejas evangélicas. Nela, o lead é todo construído em afirmações que foram ditas por quem? Os jornalistas devem ouvir fontes capacitadas ou apresentar dados confiáveis para que possam ser feitas tais afirmações, que foi a solução encontrada na boa matéria sobre a perda do público católico. Também na página de sociedade, a construção da reportagem sobre ensino religioso está confusa. O título e suspensório sugerem que os pais ficam descontentes com o ensino obrigatório do islã. No texto, porém, fica claro que o problema não ocorre na escola citada e justamente por tratar de situações opostas merecia um intertítulo. Abrir uma matéria com uma declaração exige que esta tenha conteúdo e impacto para que se sustente. Além de não ser o caso, a declaração que inicia o texto da editoria geral é atribuída a um as-

sessor de imprensa, que só deve ser utilizado como fonte quando todas as possibilidades de apuração se esgotam. Também senti falta de mais fontes na página de turismo. Os dados são interessantes, mas faltou interpretar os números. Além disso, caberiam alguns turistas comentando sobre as experiências nas viagens. O fundo escuro ocupando toda a página também não funcionou. Apesar de algumas fotos escuras ou contra a luz, no geral a edição trouxe boas imagens com relevância jornalística. No aspecto visual dos textos, há alguns parágrafos muito longos ocupando mais de meia coluna, o que muitas vezes gera desinteressante por parte do leitor. Vitor Geron, repórter da Gazeta do Povo ex-aluno Comunicare 2007

não interfere no comércio e a igreja as recebe, sem preconceito. Já a falta de modulo policial acarreta na falta de segurança e no aumento do tráfico de drogas. O terminal Guadalupe por ser o único terminal aberto de Curitiba, tem um comércio bem estabelecido e forte nas quadras que estão em volta. As linhas de ônibus são as mais diversas, ir ao norte da região metropolitana de Curitiba e ir para o sul, são rotas possíveis para os usuários do sistema público de transporte. Trajetos inusitados estão ao alcance de todos por apenas R$1,80 seguindo para o Caminho do Itupava, no Parque Estadual da Serra da Baitaca na Serra do Mar. Mostrar como é um dia no Terminal

Guadalupe e descobrir suas peculiaridades é o que buscamos retratar neste jornal.

Rubiane Kaminski

Marcela Lorenzoni

Juliana Hemili

Estudantes de jornalismo vivem experiência única cobrindo acontecimentos em um dia no Terminal Guadalupe

CARTA DO LEITOR Primeiramente gostaria de parabenizar o trabalho e esforço para com esse jornal. Mas é claro vocês estão começando e tudo no começo é um aprendizado, aprendizado esse que deve ser permanente. Gostaria de fazer uma critica a dois pontos: Na última edição, a página 15 trás uma informação que não esta muito esclarecida. Vemos a citação do site “euconfesso.com” O jornal faz parecer que o site é ligado a alguma religião, o que não é verdade. Esse site esta ligado a sites e exploram a sexualidade entre outras coisas nesse sentido. Por tanto a chamada “confissão online”, não esta relacionada com o Sacramento da Penitência, por isso não merece a importância dada ao artigo. Outra informação que o jornal passa que se diga de passagem: Foi um erro de falta de revisão. Bem, na mesma página é citada: acima vemos a reportagem que fala da benção e CELEBRAÇÕES EUCARÍSTICAS. Pois bem, a foto em anexo não esta dentro do que o artigo busca abordar. A foto é de um Pastor provavelmente neo-pentecostal e não de um PADRE como diz a legenda da foto. Apenas gostaria de sinalizar esses erros para a melhora do jornal e dos artigos. Fazer uma pesquisa mais aprofundada sempre ajuda. Atenciosamente, Cesar da Rocha Pires Estudante de Filosofia EXPEDIENTE Jornal Laboratório da Pontifícia UniEDITORES versidade Católica do Paraná Editor Chefe: Ricardo Tomasi Edição nº 191 Novembro de 2010 Primeira Página: Juliana Hemili Pontifícia Universidade Católica do Opinião: Rubiane Kamiski Paraná Dia de Cão: Bethina Perussolo Rua Imaculada Conceição, nº 1.155 Comportamento: Marcela Lorenzoni Prado Velho, Curitiba Entrevista: Carla Bueno Reitor: Clemente Ivo Juliato Segurança:Laura Sliva Decano CCJS: Roberto Linhares Policial: Flávia Andrade Decano Adjunto do CCJS: Marilena Economia: Rhânele Kiatkoski Winters Meio Ambiente: Richard Roch Diretora do Curso de Jornalismo: Saúde: Isadora Lago Monica Fort Religião: Julia Magalhães COMUNICARE Cultura: Giovanna Miqueletto Jornalista responsável: Cidade: Talitha Maximo Zanei Barcellos DRT-118/07/03 Transporte: Guilherme Mello Projeto Gráfico: Marcelo Públio Transporte: Diane Cursino


dia de cão

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Curitiba, 25 de novembro de 2010

Guadalupe tem seu próprio ritmo para quem vive nas ruas, no qual o que rege é a lei do mais forte

Guadalupe aos olhos de quem de fato o vive Problemas, qualidades, rotinas, ilegalidades, limites, profissões e facilidades pelos olhos de quem vive no Guadalupe, para o Guadalupe e pelo Guadalupe. Renato Lima reflete perfeitamente qualquer prisma da região. Morador, consumidor, trabalhador e crítico, Renato não sabe ao certo sua idade, mas sabe bem como é a rotina de quem não se espera tê-la. Considera ter nascido quando seu pai adotivo o tirou das ruas de São Paulo, deu-lhe documentos, um sobrenome e uma idade. Concluiu o 2º grau, cursou escolas públicas e particulares, tem noção de inglês e alemão, além de dominar com profundidade a língua portuguesa. Seu envolvimento com o Guadalupe começou há seis meses, quando, da impossibilidade de cuidar da mãe doente, se viu obrigado a transferi-la para Curitiba. Tudo que lhe restou da carreira militar é, nada mais que, a técnica de atirar com fuzis, já que todo o bem material que conquistara, gastou no tratamento da mãe, com quem não tem mais contato. Dotado de uma inteligência excepcional, Renato é alcoólatra. Admite que quando bebe, fica alterado e se exalta. Por conta disso, alguns bares se recusam a lhe vender bebidas alcoólicas e outros chegam a cobrar cinco reais pela dose de pinga. Angustiado com a situação, Renato veio até nós como uma forma de externar sua revolta e o descaso que, além de presenciar, vivencia diariamente no Guadalupe. Com um discurso socialista radical, fruto do seu envolvimento

político com os ideais petistas e, outrora socialistas, o personagem tipicamente indigente revela que todo e qualquer problema, seja ele relacionado a drogas, violência ou prostituição, se desenrola por um só motivo: os olhos fechados dos abastados sobre o Guadalupe. Ao se posicionar contra os modos como é aplicada a ação social no local, Renato define: “Ação social no Guadalupe é praticamente um nazismo”. Para quem passa, o Guadalupe é capaz de chocar. Para quem se vê preso ao sistema, ele transforma. Você acha que a mulher que vive nas ruas suja e masculinizada se submete a isso porque não tem condição? Não. Isso é autoproteção para quem vive em uma realidade, na qual vinga a lei do mais forte. Renato conta que já viu muitas mulheres adotarem essa postura para afastar a violência sexual. O mendigo, que faz da marquise seu teto, encontra na sujeira uma maneira de proteger sua saúde e na bebida um remédio contra a fome e o frio. Dez horas da manhã. Renato ainda não havia comido. Já estava há horas vagando pelo terminal, em busca de R$ 2,20 para começar sua jornada diária atrás de um emprego. Com um cigarro na mão, nos contou que hoje já havia trabalhado; limpara a fachada de uma banca em troca de um real para comprar um maço de cigarros. Em meio à nossa conversa, uma viatura policial invadiu o terminal e estacionou em frente à estação-tubo, no meio do comércio. Imaginamos que algo

“A ação social no Guadalupe é praticamente um nazismo”

Prostituição, tráfico e violência são o efeito da exclusão

havia acontecido, mas Renato nos tranquilizou afirmando que a ação faz parte do Esquema Guadalupe. Dois policiais fardados e devidamente armados desceram da viatura, tomaram um pingado e, em menos de quinze minutos, já haviam deixado o local. A presença policial interrompe o fluxo do sistema: “Quando a policia chega o tráfico para. E quando a polícia sai, a violência aumenta. Aí, minha filha... Se segura!”. Enquanto nos contava isso, Renato apagou a metade do cigarro que ainda fumava e guardou o restante para fumar mais tarde. A violência existe constantemente no Guadalupe. Vai de seus consumidores saber lidar com ela. O próprio filho do Guadalupe já foi assaltado no coração do terminal. Quanto a isso, Renato assume sua culpa. “Eu estava bêbado às duas horas da manhã no território de outro. A gente que vive aqui é muito bem avisado. Se não quer comprar, nem vender, sai fora”, constatou. Desaprova a política de pão e circo que, segundo ele, o Governo aplica. O circo existe e é muito bem estruturado, todavia, quando o morador de rua percebe que está com fome e que não tem o pão, é o estopim da violência. Desviando os olhos para uma mulher que estava ao lado, Renato confessou: “Essa mulher não pode me ver”. Ele não pagou pelo último programa, somente pela exigência mínima que ela o fez, a pernoite no hotel. A dívida não muda sua relação amigável com ela, tampouco com as outras prostitutas do local. Ao contrário dele, que, quando não consegue R$ 25,00 para pagar a diária da pensão ao lado, descansa na calçada, dona Maria passa o dia todo vagando entre os tubos gritando qualquer coisa que lhe venha à cabeça e, ao anoitecer, é recolhida pela FAS (Fundação de Ação Social), mas volta às ruas pela manhã. Ontem pela tarde, dona Maria se alterou e, atrapalhando a atividade da lanchonete central, foi repreendida pelo dono, em resposta disse que

Fotos: Amanda Hecke

Renato Lima, dotado de uma inteligência excepcional, há seis meses, vive, trabalha, sustenta e se alimenta do Esquema Guadalupe

Renato Lima é filho do Guadalupe e conhece bem o sistema

pararia em troca de um cigarro. Foi nesse ritmo frenético que nossa conversa com Renato foi interrompida no desenrolar de uma briga. A prostituta com um bebê no colo, o homem que a acompanhava e outra prostituta discutiam fervorosamente com frases sem nexo e passavam despercebidos, atestando que no Guadalupe isso é normal. Passados cinco minutos, o trio conversava natural e amigavelmente. O que é viver nas ruas do Guadalupe? “Triste. Eu já vi gente vi-

ver numa situação tão miserável e desumana, de ter que chegar ao ponto de pedir para ser presa em troca de comida e um lugar para dormir. E o pior é a polícia se aproveitar disso. Recolher o sujeito e soltá-lo durante a noite, impondo-lhe a condição de, independente dos meios, voltar com dinheiro”. Ana Carolina Weber Bethina Perussolo Camila Matta Jéssica Yared

A verdade do sistema O Esquema Guadalupe funciona sob seu próprio sistema. Ao fim de nossa conversa com Renato, agradecemos as informações e ele deixou claro: aqui tudo tem seu preço. Caso quiséssemos remunerá-lo, ele aceitaria dinheiro, nem que fosse o suficiente apenas para o ônibus. “Se quiserem me ajudar, eu agradeço. Mas preciso que vocês sejam muito discretas, senão podem achar que eu estou roubando vocês. Quando forem me cumprimentar, me passem o dinheiro”.


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Curitiba, 25 de novembro de 2010

fiéis reprovam SUa presença na missa

hotéis locais são os únicos prejudicados pela atividade

Prostituição é vista como “rotina” e não incomoda

Igreja não tem preconceito e recebe bem prostitutas De acordo com o padre Odilon Barbosa, da Igreja Nossa Sra. de Guadalupe, é comum a participação de prostitutas nas missas, embora seja rara a procura por orientação. Ele disse que o clima na igreja é de acolhimento, e que não existe preconceito por parte dos devotos. A aposentada Maria Aparecida, 82 anos, vai a igreja toda semana. Ela contou: “Lá fora, acho nojento, mas, aqui, aceito sem nenhuma discriminação. Não cabe a mim julgar, só a Deus. Ele é para todos”. Para o segurança do local, Camilo dos Santos, o

Desde 2009, a Guarda Municipal só registrou 7 casos referentes à prostituição

Camila Toppel Duran Sodré Francielle Ferrari

PUBLICIDADE ILEGAL OFERECE SERVIÇOS QUE CUSTAM ATÉ R$300

Propagandas de conteúdo sexual em telefones públicos constrangem o povo

Marcela Lorenzoni

Hotéis em volta do terminal têm grades e são trancados à meia-noite

principal motivo do comparecimento delas na igreja é a busca por proteção devido ao envolvimento com pessoas “barra-pesada”. Já o pastor Orácio Vieira, da Igreja Pentecostal Deus é Amor, contou que é comum a procura das garotas de programa por ajuda. Porém, a exprostituta Madalena, que mudou de vida graças à religião, disse que ainda sofre discriminação. “Acho que acontece muita falta de respeito, somos muito julgadas. As pessoas não entendem o que se passa com a gente”. (CT)(FF)

“Acho nojento, mas não cabe a mim julgar, cabe a Deus”

prostitutas – o não pagamento de programas é um dos casos mais freqüentes. No entanto, são poucas as mulheres que procuram o auxílio policial por medo da exposição. “As mulheres procuram nossa ajuda, mas têm medo do julgamento e não assumem sua profissão”, revela a socióloga e secretária da Delegacia da Mulher, Leuza Salete de Oliveira.

de seguranças e a instalação de grades, que são trancadas à meia noite. Ela também ensinou sua equipe a identificar sinais suspeitos, e eles têm direito de pedir para o cliente se retirar ou recusar quartos. “Às vezes acontece de a moça sair muitas vezes durante a noite, aí sabemos que há algo errado e avisamos que vamos fechar o portão”, explicou. A prostituição não é considerada ilegal, mas o supervisor da Guarda Municipal Sérgio Roberto da Silva Cruz disse que às vezes ainda recebe denúncias. “As pessoas se sentem lesadas com determinados tipos da sociedade, entre eles as prostitutas”. Quando isso acontece, o máximo que eles podem fazer é separar os casais em casos muito explícitos. “Até dava para apreender os dois e leválos para uma delegacia, mas não adianta muito”. Ocasionalmente, há casos de violência envolvendo

Sujeira – esta é a principal reclamação dos passantes do Terminal Guadalupe em relação aos panfletos de “acompanhantes”. Esta nova forma publicitária facilita a prostituição e é considerada crime, sendo sujeita a prisão de seis meses a dois anos para a distribuição ou confecção dos papéis. Os panfletos ficam geralmente nos telefones públicos, contendo fotos de mulheres seminuas, seus nomes e telefones que muitas vezes oferecem o serviço 24 horas por dia. Os preços podem chegar até a R$300. Roberto, gari do terminal há 15 anos, diz que a prática é recente, e se popularizou há cerca de dois anos. Apesar de ser muita sujeira, ele diz não se incomodar, apenas alerta para o perigo de crianças terem acesso a esse tipo de serviço perigoso, por engano. Os freqüentadores do local concordam com a opinião do gari. “Acho ridículo esse tipo de propaganda, pois elas tomam espaço de propagandas úteis”, confessou a dona de casa Maria Lúcia, 60 anos, que pega ônibus no terminal quase todos os dias. (DS)

Panfletos de prostituição são proibidos, mas não existe fiscalização

Fotos: Duran Sodré

Violência não necessariamente está ligada à prostituição. Comerciantes do Terminal Guadalupe, por exemplo, dizem não se incomodar com a presença das mulheres, e afirmam que as pessoas que vão até lá estão cientes do que acontece. Entre 2009 e 2010, foram registradas apenas sete ocorrências ligadas à prostituição no centro de Curitiba pela Guarda Municipal, mostrando o descaso da população. É o caso do chaveiro Francisco Lima, que disse que elas não interferem no seu negócio. Ele contou que a prostituição está presente ali há mais de trinta anos, e acabou sendo banalizada. Os únicos prejudicados são os hotéis da região, que precisam ter maior controle sobre quem aceitam como hóspedes. Rosa Brito, gerente do hotel Inca, em frente ao terminal, tomou algumas precauções em seu estabelecimento, como a contratação

comportamento

Anúncios eróticos são considerados “favorecimento à prostituição”


entrevista

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Curitiba, 25 de novembro de 2010

Para sampaio, região do guadalupe é um nicho de pessoas singulares dentro de curitiba

Cartunista retrata os perfis do Guadalupe

Letícia Leal

Terminal serve de inspiração por receber linhas de ônibus de dentro e de fora da cidade com pessoas de perfis diferentes e contrastantes Nilson Sampaio é cartunista há 15 anos e tornou-se bacharel em Gravura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP). Possui um humor que é característico da sua personalidade e ama desenhar. É curitibano de nascença e desde pequeno passa pelo Terminal Guadalupe, seja para pegar o ônibus do Caminho do Itupava para o Anhagava (ver p.16) ou para simplesmente deslocar-se pela cidade. Intrigado com os perfis das pessoas que chegam no terminal, Sampaio escolheu dois dias da semana para observar, fotografar e desenhar as figuras que passavam por ali. O resultado da sua pesquisa foi a exposição “‘Guardalupe’ Todo Dia. Uma exposição com Cheiro de Mimosa”, em 2009. Hoje, com 35 anos, possui um estúdio para fazer seus desenhos, chamado Cuca Estúdio Gráfico. Possui mais de mil trabalhos e alguns deles foram expostos fora do país, como na Espanha. Além da exposição do “Guardalupe”, Sampaio também produziu “Puta, Sim, Muito Prazer”, outra exposição que retrata as prostitutas de Curitiba de maneira bem humorada.

Sampaio com um dos seus quadros favoritos, “Emo-cionado”

Comunicare: Para você, o que o Terminal representa? Nilson Sampaio: Aquele é um lugar onde as pessoas de todas as regiões em volta da cidade vão. Como se juntasse toda a região periférica no meio da capital. É um lugar único, um lugar exclusivo. Eu ainda tenho vontade de retratar outras regiões de Curitiba, como Avenida Batel.

pra igreja, pessoas passando ali em geral. Uma das mulheres que eu fui fotografar era “gordinha” e ela tinha uma blusinha de alça. Era como se a mulher já desse uma pintura. Aí ela abriu uma sacola e começou a descascar uma mimosa. Na hora eu pensei “é isso mesmo”. Comunicare: Porque você usou o cheiro de mimosa no Guadalupe nesse seu trabalho? Sampaio: Foi uma das primeiras coisas que reparei. O Terminal tem muitos cheiros ruins, mas o cheiro de mimosa é um dos bons, assim como o de pipoca doce.

Comunicare: Por quê você escolheu o Terminal Guadalupe como inspiração para seu trabalho? Sampaio: Uma vez eu fui até lá pesquisar mais para a exposição “Puta, Sim, Muito Prazer”. Eu estava tirando umas fotos nessa época, pra retratar as prostitutas de Curitiba. Teve uma hora que uma mulher me parou e perguntou: “Você sabe onde é o terminal do ‘Guardalupe’?”. Achei aquilo muito engraçado, porque as pessoas que passam pelo Terminal não sabem que ali é o terminal do Guadalupe, e sim o Terminal “Guardalupe”.

te marcou? Sampaio: Um dos trabalhos que eu mais gosto se chama “La Grande Dame”, acho um dos mais legais que eu fiz até agora. Tem outro que eu também adoro, que fiquei com dó de vender, mas acabei vendendo. Foi da exposição “Puta Sim, Muito Prazer”, se chama “A Nadadora”.

Comunicare: Que elementos você utilizou pra representar o Terminal? Sampaio: Usei pessoas. Pessoas comendo pipoca, pessoas que vão

Comunicare: Na exposição sobre o Terminal, tem algum desenho que te marcou? Sampaio: Da exposição do “Guardalupe”, teve umas que pratica-

“O terminal tem muitos cheiros ruins, mas o da mimosa é bom”

Comun icare: Qual foi o trabalho que mais

mente já saíram prontas, nem tive que pensar muito, parecia natural. Tem uma que eu gosto muito, se chama “Emo-cionado”. Eu retratei por causa da tribo de “emos” que passava ali no Terminal na época. Comunicare: Você acha que as pessoas que você retratou têm o mesmo perfil hoje? Sampaio: Ah, com certeza sim. Penso que se fossemos fazer a mesma exposição hoje, talvez o “emo” fosse diferente. Talvez estivesse mais parecido com o Fiuk (Cantor nacional “teen”). E a “menininha” que aparece com uma pasta escolar, no quadro “Aquelas gatinhas do cursinho” já teria terminado o curso e estaria fazendo regime pra ficar mais bonita. As outras, creio que estariam iguais. Até porque eu busquei o perfil de gente comum que não se preocupa tanto com moda e vaidade.

gente consegue imaginar que ele esteja num momento de relaxar, só comendo uma pipoca. Comunicare: Como foi o dia da sua exposição? Sampaio: No dia da exposição a gente procurou fazer uma degustação de mimosa. Ficou interessante porque eu queria que as pessoas que estivessem lá provassem a fruta “à la Guardalupe”. A gente fez uma tabela de degustação com instruções de como apreciar corretamente a fruta. Por exemplo: “enfie os polegares no centro da fruta, arrancando sua casca. Sinta as notas que desprendem da fruta”.

“Eu tentei simplificar ao máximo a imagem”

Comunicare: Que elementos você usou na criação dos desenhos da “Guardalupe”? Sampaio: Eu tentei simplificar ao máximo a imagem, e acrescentar detalhes da situação, sem exagero. Uma das pinturas é um cobrador de ônibus, bem do povo. A

Gordinha que usava uma blusa de alcinha no momento em que foi observada. Sozinha ela já dava uma pintura, mas de repente ela tirou uma mimosa da bolsa e começou a comer.

Esta pintura simboliza um dos cobradores de ônibus do Guadalupe. Esse parecia ser “do povo” e estava em seu momento de folga comendo uma pipoca.

Comun icare: Como você se sentiria, hoje, no Terminal? Sampaio: Totalmente ambientado. Mas se fosse por volta de uma hora da manhã, com um pouco de medo. (Risos) Comunicare: Qual é o maior problema do Terminal? Por quê? Sampaio: Na realidade, eu não frequento esse terminal, mas acho que a marginalidade e as drogas são um problema geral da cidade. Até por ele estar localizado numa região central e ao mesmo tempo abandonada pela prefeitura.

Menino que acompanhou sua mãe em um dia de trabalho. Como ele não parava de incomodá-la, ela lhe deu um algodão doce. A reação alegre do menino interessou o cartunista.

Ana Luiza Francisco Letícia Costa Letícia leal


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Curitiba, 25 de novembro de 2010

segurança

roubos, prostituição e tráfico de drogas incomodam comerciantes

Terminal do Guadalupe só tem duas câmeras Com ajuda das imagens a Polícia e a Guarda Militar já fizeram 199 flagrantes nos últimos dois anos, porém pouca coisa mudou comerciante José Machado, 54, que vende no terminal desde 1972. Por problemas de saúde ele não consegue correr atrás dos criminosos. Reclama que não havia guardas no local. “Sempre aparece alguém vendendo coisa roubada. Pegam um sapato de R$ 60 e vendem por R$ 10 para comprar droga” indigna-se. Porém as câmeras não estão situadas em lugares estratégicos. Uma comerciante, que pediu para não ser identificada, contou que os traficantes colocam as encomendas atrás do telefone, o conhecido orelhão, para outros pegarem em plena luz do dia. Antonio Carlos de Andrade, 55, supervisor da Guarda Municipal, conta que a real função das câmeras é intimidar as pessoas. “Por isso toda área com câmera tem placa”, diz. “Os marginais não ousam cometer delitos em frente a essas câmeras, pois sabem que serão filmados e presos depois”, defende. Já para

“Ajudou coisa alguma, o pessoal não tem medo das câmeras” “Se o objetivo era filmar para flagrar e prender, é inútil” (Comerciante que pediu para não se identificar)

Angélica Mujahed

A região do Guadalupe tem apenas duas câmeras instaladas nas extremidades do terminal. Apesar de ajudarem a polícia e a guarda militar em 199 flagrantes, comerciantes e frequentadores observam que pouca coisa mudou. Segundo eles, a violência, o tráfico e a prostituição continuam intensos na região. Para o coordenador da área de segurança eletrônica da Defesa Social, Luiz Vecchi, 32 anos, o número de câmeras é suficiente. “A câmera cobre uma quantidade maior de área do que um policial. Além disso, elas filmam em 360º e tem um alcance de 300 m em cada quadra” defende Vecchi. No entanto os frequentadores reclamam e contam que as câmeras não mudam a situação, pois roubos ocorrem com muita freqüência. “Um dia um ‘cara’ veio e pegou um pacote com 12 guarda-chuvas. Berrei ‘ladrão, ladrão’, mas não tinha guarda nenhum”, contou o

“Tudo que você pode imaginar, verá aqui” Placa no terminal é tentativa de intimidar atividades ilícitas

o cabo Masayuki, que faz a ronda no terminal, a segurança não é suficiente. “Aqui até tem câmera, mas até vir a viatura demora”, admite o policial. Machado, há 38 anos no Guadalupe, é direto: “dizem que colocaram as câmeras aqui por causa desses viciados, mas eu não vi diferença alguma”. Cleide da Silva, 40 anos, já

teve seu salão de beleza assaltado duas vezes e diz não se sentir segura. Segundo ela, prostituas e usuários ficam na frente do local. “Eu não vejo câmera alguma aqui. Se tem isso e continua acontecendo coisa, é porque eles realmente não querem fazer nada”, indigna-se.

(José Uelder, 19 anos, comerciante) “Eu trabalho no Guadalupe porque preciso. Se pudesse nem viria aqui” (Antônio Camillo, 52 anos, fiscal de lojas)

Laura Sliva Thayse Nascimento

Crack vicia três vezes mais que maconha e é o mais consumido - são 30 pedras por dia por pessoa

O Terminal do Guadalupe é considerado por comerciantes, policiais e usuários de ônibus um ponto de tráfico de drogas na capital. A falta de policiamento na região facilita a venda e o uso das substâncias ilícitas no local. Segundo os comerciantes, nem mesmo as câmeras de segurança intimidam os viciados. Segundo a PM, o crack é a droga mais usada e vicia três vezes mais que maconha. Fabiano Rodrigues, 36 anos, motorista, conta que não é difícil flagrar o uso e a venda de drogas, pois acontecem em qualquer horário. “Os principais pontos são no canteiro frente aos tubos - longe das câmeras -, perto do semáforo e nas banquetas da lanchonete. Depois vão até hotéis próximos ao terminal usar a droga”, conta Rodrigues. S.L., 26, frequenta o Guadalupe desde os 17 anos de idade. Desde aquela época observa o uso

Duran Sodré

Falta de policiamento transforma o terminal em ponto de tráfico

Policial Militar faz patrulha nas ruas em busca de drogas

de crack no local. “Eles (viciados) vão direto para o crack, não começam pela maconha, porque a ‘pedra’ deixa a pessoa mais louca”, revela. Além disso, S.L diz que mães prostituem suas filhas entre dez e doze anos para conseguirem dinheiro e comprar a droga. As crianças também são usuárias. “A gente vê tudo, mas tem que fingir que não viu nada. É tudo

muito perigoso”, conta uma comerciante, que por medo, prefere não se identificar. “Tudo o que não presta vem aqui pro Guadalupe, é que nem a Estação Luz em São Paulo.” N.M, 32 anos foi uma das primeira pessoas viciadas atendidas pela Fundação de Ação Social (FAS) em 1995. Usuária de crack, se prostitui para conseguir a droga

e mora na rua. Já foi internada várias vezes no Lar Irmão, mas sempre foge e volta para o Guadalupe. “Quando ela usa drogas fica muito agressiva”, afirmou a gerente da FAS, Neli Maria Schneider, de 52 anos. A dependente ficou presa um ano e alguns meses por jogar computadores em cima dos funcionários da fundação. Apesar de todos os anos de tratamento ela continua na mesma situação. Teve quatro filhos na rua e todos foram para adoção. N.M. foge, apesar dos esforços dos assistentes sociais. ‘’Mesmo quando não consegue andar, sae se arrastando’’, conta Neli. As drogas mais consumidas no Terminal são crack, cocaína e maconha. Segundo o Cabo Masayui-

ki, da Polícia Militar, os meninos de rua consomem de 20 a 30 pedras por dia, que custam em média R$ 10. Segundo ele as rondas são feitas, porém não são suficientes. Masayuiki diz que é preciso maior incentivo e efetivo policial, pois tráfico e prostituição aconteceria o tempo todo. Na região central é traficante por metro quadrado, por todo lado”. Segundo o PM, a rua Pedro Ivo, que contorna o terminal, tem hoteis nos quais o comércio e uso de drogas é intenso. “Até vem gente de outras cidades controlar o tráfico lá”, conta. O bailão que ocorre na mesma rua é outro suspeito. “Você entra e vê de tudo”, revela.

“A gente vê de tudo, mas tem que fingir que não viu nada”

Angélica Mujahed Camila Machado


polícia

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Curitiba, 25 de novembro de 2010

módulo policial desativado por corte de custos do governo causa indignação da população

Falta de segurança no Terminal Guadalupe

Violência está diretamente ligada às drogas sendo que 80% dos assaltos estão associados a venda de crack e prostituição no local

Você sabe qual é a diferença? Polícia Civil: cada estado tem uma Polícia Civil. Ela é responsável pela investigação e elucidação dos crimes praticados em seu território, elaboração de Boletins de Ocorrência de qualquer natureza, expedição de Cédula de Identidade e expedição de Atestado de Antecedentes Criminais e de Residência. Também é de sua competência fiscalizar o funcionamento de determinadas atividades comerciais e autorizar a realização de grandes eventos. A Polícia Civil pode, ocasionalmente, cumprir missões fora do seu estado. Para isso, porém, é preciso pedir autorização à Polícia Civil local.

Jéssica Camille

“O terminal não é seguro, nos cinco meses que trabalho aqui já foram assassinados umas seis pessoas”, declara uma fiscal da Urbs (Urbanização de Curitiba), que tem medo de se identificar e sofrer represalia por parte de frequentadores perigosos do local. Ela conta que no terminal tudo está relacionado, o tráfico, a prostituição e o crime. Com um olhar inseguro, fala sobre um guarda metropolitano que se demitiu após ter sido ameaçado, “Ele tentou pegar pesado, mas aqui tem que fazer vistas grossas e fingir que não sabe de nada”. Um policial militar que faz ronda no terminal afirma que lá existe de tudo. “Drogas, prostituição, armas, usuários de drogas. Aqui é um inferninho”. Ele conta que a base móvel está desativada faz um tempo e que era necessário ficar mais de um policial no local devido à tanta violência. “Aqui a gente faz ponto base, a viatura não fica 24 h. Depois das 23 h não fica polícia nenhuma”. Ele ainda dá dicas para se defender na região: “O que acontece é que as pessoas se fingem de deficientes para roubar. O melhor é não conversar com ninguém”. Em um dos cantos do terminal, existe um posto policial que de acordo com a administração e comerciantes da região se encontra fechado há mais de um ano, fato que causa indignação aos frequentadores. Maria Tereza Borges, 42 anos, dona de casa, que foi assaltada enquanto esperava o ônibus a noite, reclama da falta de policiamento e estranha o fechamento do posto. “Como eles fecham um posto policial, quando as condições aqui são tão precárias?” diz Maria Tereza. Essa dúvida não pertence apenas a dona de casa e é explicada por uma série de decisões burocráticas do governo atual. Marcia Santos, coordenadora do Setor de Comunicação da Polícia Militar do Paraná, esclarece que o atual governo adotou um método de trabalho em que o efetivo policial não fica parado e usa o posto poli-

Posto policial desativado causa insegurança nas pessoas

cial somente como ponto de apoio. “Muitos postos policiais fecharam, mas isso não é uma decisão da Polícia Militar, nós só executamos as ações”. Apesar de admitir que exista uma defasagem de efetivo policial, ela defende a corporação dizendo que a população deveria estar ciente de que a responsabilidade de policiamento no terminal não é só da Polícia Militar, mas também da Guarda Civil. É possível traçar um paralelo entre o Guadalupe e a Praça da Sé em São Paulo. Ambos ficam na região central de importantes capitais do Brasil e infelizmente se transformaram em ponto de tráfico de drogas e prostituição. Mas ao contrário da Praça da Sé, o Guadalupe em Curitiba ainda não sofreu nenhum tipo de revitalização. Lucas Andrade, 18 anos, estudante, que já foi roubado na região, conta que o ideal seria reformar o terminal: “a prefeitura de Curitiba não tem interesse em investir aqui porque a maioria dos ônibus é da região metropolitana”. Já o Major Bruno Soares da Silva, 46 anos, porta voz do 12° batalhão, fala que está sendo aguardada uma reforma no posto policial e existe um monitoramento do local por câmeras. Ele acredita que uma concentração maior de policiais em um posto não é necessária e afirma que eles são melhores aproveitados na ronda.

Adolfo Rosevics Filho, superintendente do departamento de polícia que fica perto do terminal Guadalupe, afirma ser impossível separar os roubos do tráfico de drogas. “O usuário rouba basicamente para sustentar o vício. O crack hoje é uma pandemia, 80% da criminalidade é resultado dessa droga”. Ele diz que é preciso estar atento sempre para evitar assaltos, principalmente nos finais de ano. “Na época de Natal temos bastantes operações que são feitas todos os dias no centro da cidade porque aumenta o fluxo de dinheiro e de pessoas”. Rosevics conta que o Guadalupe não se difere de outras regiões de Curitiba e que a situação estava pior há 6 anos atrás. O problema vai além de policiamento, é uma questão social. “A polícia está fazendo a parte dela, o essencial seria aliar isso a programas sociais, principalmente aos usuários de droga”. Segundo a Secretária de Segurança Pública do Paraná, é uma política do atual governo serem desativados todos os postos policiais de Curitiba, pois eles acreditam que não vale a pena o custo benefício de manter esses lugares. Eles ainda afirmam que existe policiamento na região do Guadalupe 24 horas, informação que difere dos relatos dos frequentadores do local e de policiais. Elizabeth Bannwart Jéssica Camille Priscila Cancela

Polícia Militar: a Polícia Militar (que, assim como a Civil, é estadual) é responsável pelo policiamento preventivo, realizando a ronda ostensiva em todas as suas modalidades: policiamento motorizado e a pé; policiamento florestal, de trânsito urbano e rodoviário; policiamento escolar, em praças desportivas e radiopatrulhamento aéreo, ou seja, os militares são responsáveis por prevenir as condutas criminosas e zelar pela ordem pública.

O TERMINAL É SEGURO? “O Terminal Guadalupe dá medo. Eu frequento pouco aqui, mas é o tipo de lugar que você não se sente segura”. Laurene Prado, 62 anos, aposentada “Falta policiamento, já fui assaltado várias vezes, levaram meu dinheiro. E pior é que eu sempre pego o ônibus nesse terminal”. Romeu Sewald, 67 anos, aposentado “Aqui no terminal é péssimo, até na parte do dia. Nunca fui assaltado, mas já vi várias pessoas sendo. Geralmente eles roubam os mais velhos”. Josiel dos Santos, 25 anos, desempregado. “Falta segurança aqui no Guadalupe. Ainda bem que eu nunca fui assaltada aqui”. Ana Soares, 40 anos, dona de casa




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meio ambiente

Curitiba, 25 de novembro de 2010

AO ABRIREM AS PORTAS PELA MANHÃ, DONOS DE LOJA SE DEPARAM COM SURPRESAS COMO URINA, VÔMITO E SANGUE

Comerciantes se obrigam a limpar calçadas O comércio em torno do Terminal Guadalupe é variado. Peixarias, cabeleireiros, distribuidoras de doces e restaurantes são apenas alguns exemplos do que é visto no local. Apesar da tamanha diversificação, a maior parte dos comerciantes enfrenta o mesmo problema: a sujeira em frente aos seus estabelecimentos, que os obriga a limpar as calçadas. A empresa Cavo, responsável pela limpeza das calçadas em torno do terminal, faz um trabalho diário em três turnos: uma vez pela manhã, duas à tarde, e uma à noite. Este trabalho mantém as calçadas limpas durante o dia, mas é de madrugada que o problema dos comerciantes acontece. Edson Abdal, 64, comerciante, diariamente limpa a calçada em frente à sua loja pela manhã. “A gente chega cedo e dá uma limpada, e depois vêm o varredor de

Elian Woidello

Limpeza constante das ruas durante o dia pela empresa Cavo, não é suficiente para garantir lojas limpas no Guadalupe

Carlos Irineu limpa calçada de sua loja: rotina entre os comerciantes

rua duas vezes de dia, e duas vezes até de noite”. Ainda assim, Abdal comenta que não é apenas sujeira o que está na calçada. “ O problema é depois das 23 horas, quando as pessoas urinam nas portas de aço já que não há fiscalização. Chega

de manhã, está aquele cheiro horrível. Nós somos obrigados a fazer a limpeza assim que chegamos. Se fossemos esperar que limpassem, abriríamos o comércio muito tarde”. Vivien Patricia Rodrigues dos

Passos, 39, vendedora de cosméticos, atribui à sujeira a perda de boa parte da sua clientela. “Eu particularmente tenho sentido a diferença. Tínhamos bons clientes que não passam mais por aqui”. A vendedora conta com certo sarcasmo que cada manhã é uma surpresa, já que não sabe o que vai encontrar na frente da sua loja. “Às vezes tem vômito, tem sangue, coisas incríveis. Tinha um sapato de salto enorme hoje cedo, e estava inteiro, em boas condições. Fiquei impressionada como a pessoa foi embora com apenas um pé calçado”, brinca Vivien. Mas comerciantes e clientes também acreditam que é necessária uma mudança por parte das pessoas. Marilda Rodrigues, 50, zeladora, acha que falta colaboração para manter a limpeza. “As pessoas tinham que deixar de jogar lixo, parar de fazer neces-

intensidade de som de 111 decibéis no terminal é quase 100% maior que o tolerado

Devido a grande poluição sonora, o entorno do Terminal Guadalupe acaba sendo um dos locais da cidade onde o limite de decibéis - intensidade do som - considerado não prejudicial ao ouvido humano é ultrapassado. Moradores e pessoas que trabalham na área reclamam da interferência do ruído em suas vidas. Sem o uso de aparelhos para proteção auricular, têm-se em 60 db a maior intensidade tolerável. No terminal, o nível chega à 111 db. O terminal de ônibus e o cruzamento das ruas João Negrão e André de Barros apresentam tráfego intenso e constante de veículos. “O barulho às vezes incomoda, mas eu já estou acostumado”, contou Francisco Cerino de Miranda, 65, auxiliar de serviços do Terminal Guadalupe. Todo ruído que causa incômodo pode ser considerado poluição sonora. Esta noção pode variar

Idionara Marina

Poluição sonora gerada pelo alto tráfego de ônibus no Guadalupe prejudica saúde de seus usuários

Medidor de intensidade de som indica poluição sonora no Guadalupe

de pessoa para pessoa, mas o organismo tem limites físicos para suportá-la. Além da surdez, o barulho em excesso pode desencadear dores de cabeça, pressão alta e distúrbios psicológicos, podendo até alterar o humor das pessoas. Segundo o professor Pau-

lo Henrique Trobetta Zamin, 48, do Laboratório de Acústica Ambiental do Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná, “a poluição sonora é uma questão muito presente no meio urbano, considerada sim um problema de saúde pública”. Para o professor, se

faz necessário uma ação conjunta entre sociedade e autoridades, para que se estabeleçam limites e se exija o respeito de cada um para com o outro. Zamin acredita que “uma das formas de se preservar a qualidade sonora de um ambiente urbano é controlar a velocidade e melhorar a pavimentação das vias”. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as pessoas que habitam lugares ruidosos e estão expostas a mais de 65 decibéis, fazem uso de 10% a mais de drogas lícitas: bebidas, cigarros e remédios para dormir. Numa região como a do Guadalupe, que circulam mais de 280 mil pessoas e recebe mais de dois mil ônibus por dia (O Estado do Paraná, 1994), a poluição sonora, hoje, é mais prejudicial do que se imagina. Rogério Teotonio

sidades pelas ruas e calçadas. O cheiro é insuportável. Não adianta só a prefeitura agir se não houver conscientização”. Carlos Irineu Kaiser, 77, sapateiro, é um dos comerciantes veteranos da região. Toda manhã varre a frente da sua loja. “Varro tanto o meu quanto o do vizinho. O pessoal fuma e joga tudo por aqui. Eu acho um absurdo isso”. De tanto varrer, o sapateiro passou a ser conhecido como “Jânio Quadros Vassourinha”. Isso porque, na época de campanha eleitoral para presidência da República de 1960, o candidato Jânio Quadros lançou uma música de campanha que dizia “varre, varre vassourinha”. Com bom humor, “Jânio Quadros” acha que faz a diferença. “Assim ajudo todo mundo”. Elian Woidello Richard Roch

Terminal é desafio para lei anti-fumo O Terminal do Guadalupe encontra dificuldades para cumprir a lei antifumo. O local é de difícil fiscalização pelo grande fluxo de pessoas e por ser o único terminal aberto da cidade. Apesar das ações realizadas pela Secretaria Municipal de Saúde na última semana, ainda se vê pessoas dentro do terminal. Segundo Cezifredo Paulo Alves Paz, 50, diretor do Centro de Saúde Ambiental, “o cumprimento da lei tem sido satisfatório”. Porém, para a professora Edna Mara Gomes, 51, a consciência das pessoas deve ser modificada. “Acho que está faltando higiene. O povo tem que se reeducar e aprender a respeitar os outros”. Idionara Marina


saúde

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Curitiba, 25 de novembro de 2010

Dedetizadora erra na aplicação de veneno, e o faz durante horário de funcionamento

Falta de cuidado oferece risco em lanchonetes Nesta terça-feira (23), uma funcionária da lanchonete Casa do Pão de Queijo, localizada na Rua João Negrão, em frente ao terminal Guadalupe, teve convulsões após a dedetização do local pela empresa Confiança. Além dela, mais duas funcionárias não se sentiram bem, contudo, continuaram a trabalhar. Era a segunda dose do veneno aplicada no estabelecimento, e de acordo com funcionários da lanchonete, a quantidade foi maior que a indicada. A funcionária foi socorrida por policiais, que chamaram a ambulância do SAMU, mas o socorro demorou cerca de quinze minutos para chegar. Os socorristas ficaram em dúvida se o veneno foi o único causador do problema, já que a funcionária havia perdido

Duran Sodré

A Vigilância Sanitária afirma que o estabelecimento deveria permanecer fechado durante todo o processo de dedetização do local

SAMU atende ocorrencia em lanchonete em frente ao Terminal Guadalupe

a avó no dia anterior. Ela estava abalada por não ter ido ao velório, mesmo tendo sido liberada do serviço. Ontem, a funcionária já se sentia bem, sem a necessidade de

ser internada. A empresa de dedetização vai pagar todos os exames e só irá se pronunciar quando os resultados estiverem prontos, na tarde de hoje. De acordo com a chefe da

Sujeira dos moradores de rua afeta dia-a-dia do Terminal

Passageiros e comerciantes reclamam da presença dos sem teto e de seus resíduos Dentre as maiores reclamações vindas dos usuários do Terminal Guadalupe, a sujeira é uma queixa recorrente. Se fosse apenas o lixo, o problema até teria uma fácil resolução, mas o caso beira a imundície. O cheiro forte de urina e até a presença de fezes é perceptível a qualquer hora do dia. Apesar de muitos passagei ros urinarem diariamente nas esquinas e postes, todos apontam os moradores de rua como culpados por essa situação. “O grande problema são os mendigos, que param em qualquer canto e deixam de tudo, até as fezes”, diz a comerciante Jéssica Fernandes de Macedo, 22 anos. Por mais que o ato de fazer as necessidades em via pública seja crime, nenhum morador de rua é preso.

A mendicância é frequente mesmo estando a uma quadra de distância do Centro de Socorro aos Necessitados Herculano Souza. O centro é ligado à FAS (Fundação de Ação Social de Curitiba) e o programa de recolhimento é diário. O que acontece é que, na abordagem, os assistentes sociais não podem forçar a vinda dos moradores de rua, que deve ser espontânea. Neli Mar ia Schneider Pudelco, gerente do trabalho técnico dent ro d a sede Herculano Souza, afirma que por mais a casa tenha vagas para atender toda a demanda, além de convênios com outros lares e abrigos, a decisão deve ser do próprio necessitado. Existe todo tipo de auxílio nessas fundações de amparo, inclusive repasses do

“As pessoas que reclamam são as mesmas que dão esmola”

Bolsa Família, programas ligados à COHAB (Companhia de Habitação Popular) e auxílio médico, mas a maioria dos abrigados possui algum tipo de dependência química, especialmente do álcool, recusando-se a fazer tratamento contínuo, até assinando termos de recusa. E daqueles que se tratam, é baixo o índice de recuperação. Grande parte deles apenas passa a noite ou faz refeições nos albergues. Saem cedo, sem nem tomar café da manhã e já partem para os sinaleiros, pedir moedas. “O problema é que a própria comunidade que nos liga pedindo para recolhê-los, é que dá esmola nos sinais”, conta Neli. Com relação ao problema de ocupação no terminal e da sujeira deixada, o fato do banheiro ser cobrado pode ser o diferencial, mesmo sendo apenas 50 centavos, e Neli afirma que “eles pedem dinheiro para bebida, mas não para banheiro”. Taisa Echterhoff

Vigilância Sanitária do departamento de alimentação, Ana Valéria Carli, 39 anos, para fazer o processo de dedetização, o estabelecimento precisa estar fechado. Contrariando as normas da Vigilância Sanitária, a lanchonete funcionava normalmente, e a cozinha manteve-se ativa durante a aplicação dos produtos. Atualmente, utilizam-se iscas parafinadas, e não veneno, para a eliminação de pestes. O veneno mata, porém não previne próximas infestações. Segundo a Dedetizadora Confiança, o veneno é inodoro e não prejudica a saúde das pessoas se aplicado corretamente, respeitando seu horário de ativação. O veneno deve ser aplicado quando o estabelecimento se encontrar fechado e assim deve permane-

cer durante oito horas. O serviço continua após três dias, sendo aplicado da mesma forma. Esse não é o primeiro caso envolvendo os alimentos vendidos no terminal. A costureira Maria Edite, de 39 anos, conta que sua filha, de 12 anos, já sofreu de intoxicação alimentar após comer em uma pastelaria da redondeza, e passou quatro dias internada. Desde então elas evitam qualquer tipo de lanche vendido na região. A maioria das lanchonetes ao redor do Guadalupe afirma ter alvará da Vigilância para funcionamento, renovado anualmente, apesar do público achar que as fachadas possuem limpeza duvidosa. Camila Petry Feiler Renan Rederde

Qual é o principal problema de sujeira no terminal guadalupe? “O Terminal é limpo. Sempre fico sentado no banco do terminal e não existe sujeira, é bem limpo.” José Waldir, 47 anos, Panfleteiro

“Para mim está limpo, o grande problema são as pessoas que moram no Terminal. Eles fazem muita algazarra durante o dia inteiro.” Jorge Lansonio, 58 anos, Taxista

“É o mais sujo de todos os lugares. Trabalho 6 anos como gari e 2 meses no Guadalupe, nunca tinha visto lugar tão fedido como aqui no terminal.” Rosangela M. da Silva, 45 anos, Gari

“Não tem problemas de sujeira aqui no Terminal Guadalupe para nós lojistas. Os moradores de rua são mais poluição visual do que de sujeira, eles não atrapalham nenhum pouco.” Sandro S. Silva, 29 anos, Lojista


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religião

Curitiba, 25 de novembro de 2010

Padre Reginaldo Manzotti atrai fiéis à paróquia com seu carisma e Projeto

Mil fiéis em missa de quarta-feira

Pessoas de todo o Brasil vêm para participar de celebrações da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe caminhos para vir à igreja e nunca me aconteceu nada. Gosto de vir aqui, porque Ele e Nossa Senhora do Guadalupe são meus companheiros direto”, comentou. Evangelizar é Preciso A paróquia conta também com dois outros fatores que auxiliam na comunicação e na aproximação dos fiéis com o padre e com a igreja: a Rádio Evangelizar é Preciso - AM 1060 Khz e Associação Evangelizar é Preciso. Segundo a estagiária de jornalismo da rádio, Simone Fernandes de Lima, 26 anos, Evangelizar é Preciso é a principal rádio católica de Curitiba, sendo uma iniciativa do padre Reginaldo Manzotti, que é diretor geral, com total suporte da Arquidiocese de Curitiba. “A rádio também possui programas seculares (não-religiosos), incluindo programas informativos e jornais diários, com hard-news”, afirmou Simone. O contato com os fiéis é diário, com diversas participações. De acordo com a estagiária, “todos os dias o padre Reginaldo atende os fiéis que ligam de todos os lugares do Brasil, muitas vezes até de fora do país. Esse contato acontece sempre através de seu programa “Experiência de Deus”, que vai ao ar das 10h às 11h e é retransmitido para mais de 700 emissoras de rádios em todo o Brasil. No ar, os ouvintes pedem orações, orientações, mandam recados e repartem suas aflições com o padre que, muitas vezes, reza junto com eles”. O Projeto Evangelizar é Preciso foi criado em 2003 pelo padre Reginaldo Manzotti para atender um apelo do Papa João Paulo II, de evangelizar com novos métodos. A Ação Social da paróquia, que realiza um trabalho de voluntariado católico o ano todo é dividida em núcleos. Como explicou Simone, “os núcleos trabalham em bairros específicos, atuando junto às comunidades carentes de Curitiba e Região Metropolitana. Os voluntários atuam no foco do problema, visitando os lares e investigando as necessidades da população assistida. O trabalho é intensificado na época de festas católicas como Páscoa e Natal”. A associação arrecada toneladas de alimentos na “Missa por um Natal Solidário”, que já é realizada há

quase 10 anos. Como outro meio de comunicação, desde 2008, o projeto distribui mensalmente o Jornal Evangelizar é Preciso para os associados, com matérias e artigos assinados pelo padre Reginaldo. O jornal é financiado pelos próprios

associados e conta com a colaboração de psicólogos e religiosos, que abordam temas que se encaixam no cotidiano das pessoas, em um misto de cultura e religião. Júlia Magalhães Paola Possato

Júlia Magalhães

A Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, localizada na Praça Senador Correia, 128, no Centro da cidade de Curitiba, é conhecida por ter uma grande frequência de fiéis. Ontem, dia 24 de novembro, a Missa Honra a Nossa Senhora de Guadalupe, realizada todas as quartas-feiras às 12h, foi presidida pelo padre Odilon Barbosa e contou com a presença de aproximadamente mil pessoas. “Vêm pessoas de muitos lugares, desde o interior do Paraná até o nordeste do Brasil. Todas as missas são lotadas, como essa celebração de hoje”, afirmou Dayse Martins dos Santos, 43 anos e voluntária da Pastoral da Acolhida. O empresário de 43 anos, Pedro Chezanoski, foi ontem pela segunda vez a paróquia e saiu emocionado. “O que me trouxe foi a fé. A missa de hoje me motivou a vir mais vezes”. Luciana Luiza Benedetto, 42 anos e secretária paroquial desde 2006, explicou que a igreja foi fundada em setembro de 1950 e a paróquia foi criada graças ao colonizador Baltazar Carrasco dos Reis, que trouxe a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, da Espanha, para colonização do Paraná e mandou construir uma capela para veneração da imagem. “Ao morrer, ele pediu em testamento para ser enterrado aos pés da Santa, onde foi construída uma capela e mais tarde construída essa igreja, fundada por Dom Emanuel Ebaux e Monsenhor Bernardo José Krasinski”, afirmou. Segundo a secretária, o padre Reginaldo Manzotti tomou posse como pároco do local em janeiro de 2006 e trouxe muitos católicos para a paróquia. “Com seu carisma e dom da palavra, ele cativa os fiéis”, salientou Luciana. Em relação à segurança, Luciana afirmou que atualmente não há problemas, mas que nas redondezas do local também há violência. “Nós nunca passamos por situações graves, nosso cuidado é apenas com a segurança dos fiéis, para que, ao entrarem e saírem, não passem por constrangimentos”, explicou a secretária da paróquia. Dolores Marquett, 65 anos, frequenta a paróquia há 5 anos e disse que se sente segura ao ir à igreja. “Eu sempre venho sozinha, só eu e Deus. Já fiz vários

Católicos realizando oração para Nossa Senhora de Guadalupe

de manhã, fiéis se sentem mais seguros

Igrejas evangélicas são maioria no Guadalupe

Em um raio de três quadras, encontram-se três igrejas evangélicas próximas ao Terminal Guadalupe. Todas contam com movimento de pessoas oriundas da Região Metropolitana de Curitiba, principalmente Pinhais e Colombo. O horário de maior frequência está compreendido entre 11h30 e 13h, quando os funcionários da região têm sua pausa para o almoço. Patrícia Martini Pereira, esposa do pastor responsável pela Igreja Mundial do Poder de Deus (localizada na Rua João Negrão), reclamou da falta de segurança no local. “Estamos aqui há um mês e já torço para ser transferida. Não gostei daqui, é muito perigoso”, afirmou. Ela contou que a igreja já foi furtada duas vezes nesse período e passa diariamente por situações complicadas, já que, segundo Patrícia, há movimento de pessoas bêbadas e drogadas durante todo o dia.

Para seu marido, Haroldo Martini Pereira, um fato curioso e que caracteriza bem a realidade do local é que à noite, exceto pelos moradores de rua e marginais, não há muitas pessoas transitando pelas redondezas. Ele contou que em outras igrejas nas quais já trabalhou, os cultos mais movimentados eram no período noturno, enquanto nessa ocorre o contrário. Roseli da Silva, funcionária pública, mora no Pilarzinho e frequenta, todas as quartas-feiras a Igreja Deus é Amor, já Andréia de Oliveira chega a ir duas vezes por semana de Pinhais ao Guadalupe, para assistir aos cultos na Igreja Mundial e procurar emprego. Ambas concordam que há falta de segurança no entorno do terminal. Ana Carolina Machado Lucas Gualberto

Igreja evangélica promove

ações sociais

Todos os domingos às 18h, a Igreja Internacional da Graça de Deus distribui “sopão” aos moradores de rua em um estacionamento próximo ao Terminal Guadalupe. A ação, que acontece há cinco anos, é conhecida pela maioria dos desabrigados da região, cerca de 100 pessoas são beneficiadas pelo projeto semanalmente. A sopa é feita com alimentos arrecadados nas diversas sedes da igreja, sendo que são 12 os responsáveis pelo processo de preparação e distribuição. De acordo com a evangelista e organizadora do projeto, Márcia Aparecida Domingues, 49 anos, a parte mais importante do evento é o momento em que se busca evangelizar os sem-teto. Ela afirmou já ter conquistado alguns fiéis desta forma, mas o número de pessoas que se recuperam através desta iniciativa ainda é muito pequeno. O ministro evangelista Gilson de Souza Ribeiro, 17 anos, que também é voluntário do projeto, afirmou já ter presenciado violência durante a distribuição: “já vi dois moradores de rua se esfaquearem por um prato de sopa”. Ainda assim, Ribeiro disse que se sente muito gratificado em ajudar pessoas que realmente precisam. Para o morador de rua Luiz Carlos Batista, 42 anos, que mora nas redondezas do Guadalupe há 20, a iniciativa é benéfica, mas ele sente falta da criação de um abrigo para que não precise pernoitar na rua, onde, por vezes, é vítima de violência. “Aqui é muito perigoso, até tem polícia, mas eles só agem contra nós, mendigos”, relatou. A Igreja tem intenção de construir um centro de convivência para desabrigados, mas isso ainda está em discussão, pois, segundo Márcia, depende-se também do governo. (ACM)(LG)


cultura

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Curitiba, 25 de novembro de 2010

APESAR DO GRANDE MOVIMENTO NO GUADALUPE, AS PESSOAS NÃO REPARAM NA CULTURA DE RUA

Artistas de rua são “invisíveis” no Terminal A falta de estrutura e a fama de local violento também contribuem para a desvalorização das atrações culturais Santos, 50 anos, um grande incentivador do artista. “Nos conhecemos no terminal e hoje eu pago para ele café e cigarros. Ele não deveria estar ali, deveria estar em um lugar melhor por ser muito talentoso”, diz o metalúrgico que ajuda o artista a vender seus trabalhos. Segundo o fiscal da Urbs que não quis ser identificado, no Terminal Guadalupe não existem artistas. O fiscal trabalha há 15 anos no local e nunca notou a presença de um. Diz

também que os “possíveis artistas” não precisam de liberação para estar lá. Muitos usuários do Guadalupe, também não se recordam de ter visto artistas de rua pelas imediações. “Há 20 anos eu passo pelo terminal, e nunca vi nenhum artista de rua. Acho que não existe mesmo”, diz Iara Pastos, 63 anos. João Batista, 42 anos, tatuador há 7, fala que o principal motivo para tanta desvalorização dos artistas, é a falta de estrutura do terminal. “Falta

divulgação e falta interesse dos políticos para melhorar o terminal. Já existe um projeto para melhorar a estrutura, mas ninguém faz nada. Se não fosse assim, talvez tivessem mais artistas pelo terminal”, desabafa. Batista acredita ser o único tatuador na região, e diz que pela falta de divulgação, estrutura e violência do local perde muitos clientes. “Como o terminal é conhecido por ser um

lugar utilizado por muitos criminosos, as pessoas relacionam tudo o que acontece por lá, com algo ruim ou perigoso”, finaliza o tatuador. Ana Maria Hladczuk, da Fundação Cultural de Curitiba, diz que não há nenhum projeto cultural relacionado ao Guadalupe e não há previsão para a criação de um. Giovanna Miqueletto Juliano Oliveira Marisol Munari

Fotos: Marisol Munari

Em torno de 70 mil pessoas passam diariamente pelo Terminal Guadalupe. Mesmo assim, alguns artistas de rua que tentam se destacar da multidão passam despercebidos pelas pessoas, que muitas vezes não sabem nem da existência dos desenhistas, cartunistas, tatuadores ou músicos presentes no local. A falta de estrutura e a fama de violento também contribuem para a desvalorização das atrações. Airton Gonçalves, 42 anos, desempregado, vai todo dia ao terminal fazer desenhos, retratos e caricaturas das pessoas há aproximadamente dois meses. O artista que tira uma média de R$ 300,00 por mês, não cobra mais de R$10,00 por retrato, diz que os desenhos são sua fonte de renda. “Apesar de muitas pessoas desprezarem meu trabalho, muitas reconhecem e apóiam; inclusive os fiscais e outros trabalhadores do terminal”, comenta Gonçalves. Morador da Fundação de Ação Social (FAS), o desenhista recebe ajuda de seu amigo Miguel dos

Desenhista Airton Gonçalves ganha a vida vendendo retratos no terminal

Estúdio de tatuagem de João Batista, único tatuador do terminal

SHOPPING ITÁLIA VIRA PALCO PARA MÚSICA E DANÇA IMPROVISADA tERMINAL gUADALUPE dÁ NOME à BANDA

Grupos de rap se encontram aos sábados Músicos criticam Curitiba ocupando o espaço do shopping. Sidney Narrorni, 31 anos, fala que o único problema é o congestionamento ocasionado em frente às portas do shopping, principalmente aos sábados. “Os meninos são bem bacanas, mas bloqueiam o caminho, porém respeitam quando pedimos para que eles se afastem da porta”, diz o segurança que está trabalhando lá há cinco meses. Thiago Jusse, 21 anos, gosta de

dançar no shopping, mas gostaria que houvesse outros lugares para seu grupo treinar as coreografias. “Falta privacidade, pois há muitos grupos diferentes”, diz o dançarino há oito anos. Os grupos que vão ao shopping dançar, afirmam que o local tem total segurança, pelo fato de ter muitas pessoas ao redor. (GM) Larissa Matos

Larissa Matos

Há 24 anos o shopping Itália vira um palco improvisado para os mais variados grupos de hip-hop e rap da cidade. O shopping que fica próximo ao Terminal Guadalupe, sedia os encontros que acontecem nos finais de semana, a partir das 21 horas; modificando um lugar silencioso em uma pista de música e dança improvisada. Ramon Ferreira, 20 anos, fala que a famosa falta de segurança no bairro, não impede os ‘bboys’ (dançarinos de breaking, modalidade do hip-hop) de irem aos encontros. “Acredito que ninguém deixe de ir ao Itália. Faz parte da cultura hip-hop em Curitiba, e o ponto é conhecido por bboys do Brasil inteiro. Seria como os sambistas largarem a Sapucaí”, diz o dançarino, frequentador do Itália há quatro anos. Os seguranças noturnos que presenciam os encontros, possuem uma boa relação com os grupos não se incomodam em tê-los

“Bboys” mostram seus talentos no hip-hop em frente ao shopping Itália

A banda Terminal Guadalupe surgiu com o objetivo de mostrar que Curitiba não é a cidade perfeita que muitos imaginam. Dary Junior, 39 anos, tendo conhecimento de que a capital tem problemas de trânsito, violência, estrutura e pobreza, criou um estilo de banda que “critica” a cidade modelo. “O nome Terminal Guadalupe foi escolhido pelos integrantes, por este terminal ser palco de muitas contradições: é ao mesmo tempo utilizado por trabalhadores, bem como por drogados e prostitutas e crimiminosos”. Além das letras, a forma que os músicos encontraram para expressar suas intenções, foi fazer os shows vestidos de motoristas e cobradores, descaracterizando a forma habitual de se apresentar ao público. Devido à banda ter conseguido conquistar o seu espaço através de suas críticas feitas à

Dary Junior, vocalista da TG

capital paranaense, mesmo nela residindo, Junior produzirá um filme intitulado “Como despertar para o anonimato” que contará a trajetória da banda, bem como suas dificuldades, retratando que todo o “glamour” relacionado à cidade e oportunidades promovidas por ela, não atingem a todos. “O Guadalupe é nada mais que um entreposto de sonhos”, finaliza o cantor. (JO, MM)


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cidade

Curitiba, 25 de novembro de 2010

o local sofre principalmente com a degradação das paredes, colunas e calçadas

Terminal apresenta problemas na infraestrutura Além de desejarem mais qualidade e principalmente segurança, usuários e comerciantes do Terminal Guadalupe aguardam por melhorias na infra-estrutura do local. Hoje o espaço apresenta alguns problemas de degradação, como por exemplo, nas paredes e calçadas. A região receberá no próximo ano reformas do projeto Novo Centro que tem como objetivo melhorar a mobilidade e a acessibilidade dos pedestres e promover a modernização das áreas de comércio. “Pego ônibus aqui todo dia, e tanto o terminal quanto os arredores são de matar. As calçadas, a sujeira, sem contar a violência”, conta a auxiliar doméstica Rosangela Amorim, 46. Já para a comerciante Neide Fernandes, 58, as calçadas do terminal se constituem em um dos maiores proble-

O que falta na estrutura do terminal?

“Não tem fiscal pra controlar, não tem policiamento. Tem pichação nas paredes.” Peiman Parhamfard, 34, vendedor

“Tá péssimo, com rachaduras. Ninguém sabe dar informação e são mau educados.” Mara Lima, 49, dona de casa

Fotos: Laura Schafer

No próximo ano, o projeto Novo Centro trará melhorias aos arredores do Guadalupe, priorizando a acessibilidade dos pedestres

Parte do teto afetada pela infiltração no Terminal Guadalupe

mas de infra-estrutura do local. “O que mais me desagrada são as calçadas, que são muito ruins. O que é um grande problema aqui, já que passam muitos cadeirantes”, conta Neide. Em resposta a estes e outros problemas, a região em torno do Terminal Guadalupe irá receber em 2011 suas primeiras reformas, do projeto chamado Novo Centro, o qual procura dentre determinadas ações promover mais segurança e qualidade ao espaço urbano público. O projeto que foi desenvolvido pelo Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) iniciará com obras na Rua XV de novembro, mas atingirá o Guadalupe pela Rua João Negrão e seguirá até a Rua Conselheiro Laurindo, ou seja, abordará todo o entorno do terminal.

Segundo o arquiteto e coordenador do projeto Novo Centro, Mauro Magnabosco, 58, todas as modificações tem como principal objetivo beneficiar os pedestres que se utilizam tanto da região como do terminal. A própria ampliação das calçadas, como também a construção de rampas de acesso com pisos lisos e táteis, para os portadores de deficiência, visam beneficiar os pedestres e aqueles que se ariscam nas ruas. Serão também instaladas câmeras de segurança em diversos pontos e postes de iluminação voltados aos pedestres. O planejamento aborda até a questão da despoluição visual da área. O coordenador do projeto conta que em certo momento serão criados alguns incentivos fiscais aos comerciantes, para que sejam feitas modernizações de suas

Buraco na parede vira depósito de lixo no terminal

estruturas, a fim de qualificar a região. Incentivos estes que também virão no quesito de ocupação residencial. “Requalificar o espaço urbano em parceria com o comércio local para melhorar o ambiente”, comenta Magnabosco. Embora tenham sido realizadas reformas palhativas nos últimos meses, nos banheiros e na iluminação, reclamações como a do vendedor Ozieu Freire, 29, continuam constantes. “O terminal está muito acabado. Precisa de mudanças na estrutura, como pintura e arrumar as paredes com rachadura. Mesmo depois da reforma os banheiros ás vezes estão fechados, mas a retirada dos bancos até que ajudou um pouco”, comenta Freire. Muitos dos usuários comentam que a retirada de certa parte dos assentos ajudou para afastar os moradores

de rua, que ocupavam os bancos e dormiam no local. “Como ele é todo aberto, quando chove o terminal molha todo. Também tem goteiras e infiltração no teto”, reclama Marli Crispin, 36, balconista. Grande parte dos problemas encontrados no Terminal Guadalupe, como falta de segurança, sujeira e degradação do local se devem a condição de ele ser um terminal aberto e, consequentemente, à alta rotatividade de pessoas no ambiente. Na opinião de Magnabosco, a previsão é de que no futuro parte do Guadalupe seja relocada para outro lugar, afim de desamontoar a área. “A tendência é ele sair dali aos poucos”, acrescenta o arquiteto. Amanda Walzl Laura Schafer Talitha Maximo

valores do local equivalem a de bairros como Xaxim e fazendinha

Alta procura de imóveis mesmo com a desvalorização A região ao redor do Terminal Guadalupe tem sofrido desvalorização imobiliária em razão da degradação e a constante violência no local. Porém, este fato não impede que haja uma constante procura dos imóveis tanto na questão residencial quanto comercial. A média de preços para locação gira em torno de R$ 10,90 por m² para apartamentos residenciais, equivalendo aos valores de bairros como Xaxim e Fazendinha. Os imóveis são principalmente procurados por jovens e estudantes, por causa da localização central e proximidade a reitoria da Universidade Federal do Paraná. Isso promove uma valorização

especial de apartamentos com um ou dois quartos, enquanto os apartamentos maiores perdem certa porcentagem do valor monetário, pois as famílias que moram na região, principalmente as com crianças pequenas, desejam abandonar a área em razão da falta de segurança e tráfico de drogas. Diferente dos idosos que não demonstram vontade de abondonar o local. Segundo a última coleta de dados do Inespar (Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominal) publicada em novembro deste ano, a região central, que engloba o Terminal Guadalu-

pe, sofre certa desvalorização de imóveis residenciais em relação a setores que correspondem a bairros como o Água Verde e Vila Izabel, mas seus valores podem ser igualados aos do Xaxim, Pinheirinho e Fazendinha. A procura e a valorização de salas comerciais, geralmente aquelas ocupadas por pequenos consultórios médicos ou de advocacia, só aumentam quando essas estão localizadas acima do primeiro andar. Em contrapartida, só há procura de espaço para lojas populares no piso térreo, pois os compradores em potencial estão, na maioria das vezes, em trânsito, deixando de entrar em lojas que

não sejam de fácil acesso. Para o corretor de imóveis Ronaldo Morais, 49, a construção do Shopping Capital, localizado na Rua Pedro Ivo foi um erro de mercado, “Investiram em um shopping num local degradado, onde o comércio de rua já era bem sucedido, e por isso que ao invés de lojas, os andares superiores comportam outros tipos de empreendimentos”. Maria do Carmo, 62, dona de uma loja de roupas nos estabelecimentos do shopping, reclama da falta de movimento, “Tenho essa loja faz oito meses e é tudo muito parado. O movimento é bem melhor na rua”. (LS)(TM)


transporte

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Curitiba, 25 de novembro de 2010

DIARIAMENTE SÃO REGISTRADAS dez OCORRÊNCIAS DE PESSOAS QUE ENTRAM SEM PAGAR NO TERMINAL

Pessoas pulam catraca nos tubos do Guadalupe Diariamente 6,5 mil pessoas utilizam os quatro tubos da Rede Integrada de Transportes no Guadalupe, segundo informa o gerente da área de fiscalização de transporte coletivo, Edson Berleze. Pelo intenso movimento no terminal, tornou-se comum casos de pessoas que violam as catracas para não pagar passagem. Por falta de maior fiscalização, são registradas apenas 10 ocorrências oficiais por dia. Mesmo com fiscais da Urbs (Urbanização de Curitiba S/A) percorrendo todo o sistema curitibano diariamente - 30 terminais, 360 estações de tubo e 82 quilômetros de canaletas - a irregularidade ainda se mantém, principalmente em tubos próximos a escolas. Segundo Berleze, “infelizmente é impossível impedir que ocorram invasões, mesmo com nossas medidas”. No ano passado a empresa trabalhava com uma média de 1500 ocorrências por dia, mas devido

Rubens Moreira

Na maioria das vezes indivíduos que praticam a ilegalidade, observam onde há maior ou menor concentração de pessoas nas estações

Guadalupe conta com apenas quatro tubos na região

e Holanda (80) da linha Santa Cândida-Capão Raso. Por serem na maioria estudantes, isso acontece principalmente em horários de saída nas escolas”, explicou. Geralmente, quem pratica a irregularidade sempre analisa os tubos, prestando atenção onde há

a um trabalho de conscientização junto a escolas e ajuda da Polícia Militar, o índice foi reduzido para 900 invasões por dia. Segundo o gerente da área de fiscalização, no mês de outubro, por exemplo, “o maior número de invasões ocorreu nas estações Maria Clara (120)

uma maior ou menor concentração de pessoas, assim como onde o cobrador esteja menos atento. Noêmia Viana, que é cobradora há quase dois anos no Guadalupe, diz perceber quando isso acontece. “Estou sempre de olho. Mas se o tubo estiver bem cheio é impossível, afinal, estamos cuidando do troco”. Ela ainda diz que a cada duas semanas vê cerca de oito pessoas pularem a catraca, porém, sempre que vê, adverte. “Já vi até um senhor tentando pular, mas daí chamei a atenção dele e ele não conseguiu. Mas ele estava de olho”, contou. Para Noêmia, os guardas agem mais quando alguém está incomodando as pessoas no tubo. “Uma vez um bêbado caiu aqui embaixo da catraca e ninguém conseguia entrar no tubo. Outra vez estavam fazendo algazarra aqui e aí os guardas fizeram algo”. Ela também comenta que uma forma de acabar com isso seria fazer do Guadalupe

QUEM UTILIZA O TERMINAL PODE COMPRAR PASSAGEM VINTE CENTAVOS MAIS BARATA

Cambistas vendem passagem mais barata no terminal Os cambistas manejam vários cartões de transporte, escolhendo qual poderá ser utilizado. Em seguida, fazem a oferta para os passageiros pelo preço que julgam melhor. Um dos cambistas fala de onde eles vêm. “Conhecidos nossos que vão de carro para o trabalho e não utilizam a passagem, daí compramos deles cada passagem por R$ 1,50 e vendemos

Thiago Rodrigo

Quem utiliza alguma das linhas do Terminal Guadalupe no centro de Curitiba, pode se deparar com a venda de passagem por R$ 2. Comum nos horários de pico, cambistas com vários cartões de passagens da Urbs (Urbanização de Curitiba S/A), anunciam a venda de um crédito do cartão por vinte centavos a menos da tarifa comum.

Cambista conta os cartões sem se preocupar com o cobrador ao lado

a R$ 2”, afirmou Gilmar Pereira Alves, 29 anos, que é vendedor autônomo e trabalha com escambo há dez anos. O lucro dos cambistas é de cinquenta centavos, mas questiona-se se o ato é legal. Quem paga as passagens do cartão é a empresa que o dono trabalha, retirando 6% de seu salário. Há casos em que o dono do cartão não utiliza as passagens e vende elas para os cambistas, tendo um lucro superior ao que a empresa pagou pela porcentagem extraída do salário. Maria*, cambista que vende as passagens, defende que a prática é lícita. “Não é nada ilegal. O cartão é do patrão. Eu sou a segunda dona. Isso existe há anos, desde a época que existia o ‘vale’. Eles são de pessoas conhecidas que tem o cartão cheio de créditos, porém não usam. Daí a gente pega e vende a passagem por R$ 2”. Perguntado sobre isso, um fiscal da Urbs protestou. “Prejudica, pois o dinheiro que ia para o ônibus vai para eles. É como se

fosse um desvio de verba pública. Mas não sei dizer se existe uma lei dizendo que é proibido isso”. O cobrador Jocimar Alves de Oliveira, 40 anos, concorda. “Se a passagem é R$ 2,20, é para todos. Mas acho que se ela fosse dois reais, isso facilitaria muito o troco”, alegando que o valor do escambo deveria ser o da tarifa. A vendedora Mayara Evangelista, 20 anos, não esconde que prefere pagar mais barato pelo preço da passagem. “Estou economizando, não sei de onde vem o cartão, não cabe a mim interferir nesse trabalho. O que importa para mim é o meu bolso. Os caras pelo menos estão trabalhando, não estão roubando. Eu acho que os fiscais não deveriam acabar com isso. E se os donos do cartão não usam, tem mais é que vender mesmo”, afirmou. *O entrevistado não quis se identificar. Thiago Rodrigo

um terminal fechado. “Para mim só deveria entrar quem pagasse. Todos os outros são assim, porque esse aqui tem que ser diferente? Nos terminais fechados o próprio cobrador já funciona como um fiscal” sugeriu. Já o operador de máquina, Roberto Eliseu Demitrio que mora em Campina Grande do Sul e usa com frequência ônibus no Guadalupe diz “ nunca vi isso acontecer aqui. Mas vejo muito no biarticulado, principalmente quando é dia de jogo, aí é complicado”. Para Antonio Carlos Rocco, que é cobrador de ônibus há cinco anos, muitas vezes ele não percebe as infrações. “Eles aproveitam a falta de guardas e invadem, pois, quando o tubo está cheio, não tem como enxergar o outro lado. Essa invasão sem pagar é frequente, mas muitas vezes eu não vejo. São as pessoas que me avisam”, comentou. Rubens Moreira

Falta de espaço

Circular na região do Guadalupe é sempre um problema em horários de pico. Segundo quem passa diariamente pelo local, em torno do meio-dia e a partir das 16h há um inchaço no número de automóveis, que impede um trânsito tranquilo. O maior exemplo talvez seja o cruzamento da Rua André de Barros com a João Negrão. “Isso não é normal. Não tem como passar por aqui sem se estressar”, reclamou o comerciante local, João Paulo. Mas o motivo do impasse não se deve somente ao excesso de automóveis e pedestres circulando, mas pelas ruas próximas, que são estreitas. É isso que diz o taxista Paulo André. “Não dá para passar... É tudo muito apertado. Todo mundo quer passar ao mesmo tempo e acaba não sobrando espaço”. Guilherme Mello


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Curitiba, 25 de novembro de 2010

ALÉM DOS PROBLEMAS ENFRENTADOS PELOS PASSAGEIROS, O ESPAÇO TÊM DUAS LINHAS DIFERENCIADAS

70 mil pessoas utilizam o Guadalupe por dia Do total de linhas metropolitanas existentes na capital, 34% passam pelo terminal, e esses ônibus ligam Curitiba às cidades vizinhas 4.422

Pinhais/Guadalupe

4.011

Ctba/Independência

3.986

Linhas Alternativas Terminal Guadalupe Caminho do Itupava: Para ir até o parque os passageiros devem utilizar a linha Ctba/ Quatro Barras, descer no terminal de mesmo nome, lá o ônibus Borda do Campo faz o trajeto final até o Itupava. Em média a viagem de ônibus dura uma hora e meia, a caminhada inteira dentro do Itupava pode chegar a cinco horas. O preço da passagem é de R$ 1,80.

Colônia Murici: é uma comunidade de origem polonesa, que até hoje preserva as tradições. Para chegar ao local os passageiros devem pegar o ônibus Ctba/ São José e no terminal central de São José dos Pinhais fazer a conexão com a linha Terminal Central/Murici. O trajeto de ônibus leva uma hora e meia, em média. O preço da passagem é R$ 1,80. (DC)

Almirante Tamandaré

3.415

Ctba/São José

Fazendinha/Tamandaré 3.094

Terminal Guadalupe Ônibus CTBA / SÃO JOSÉ

Pinhais

Piraquara Curitiba

São José dos Pinhais

Terminal São José dos Pinhais Ônibus TERMINAL CENTRAL/ MURICI

Colônia Murici

Diane Cursino

O tempo de espera dos passageiros varia entre 10 e 40 minutos

Fonte: IPPUC/2006

Ctba/Urano

Campina Grande do Sul Colombo Terminal Quatro Barras

Terminal Guadalupe Ônibus CTBA / TIMBÚ CTBA / QUATRO BARRAS

Quatro Barras

Ônibus Borda do Campo

Caminho do Itupava SANTUÁRIO NOSSA SENHORA DO CADEADO

Pinhais Curitiba

Piraquara

Talita Inaba

Amanda Burda Camila Olenik Talita Inaba

Linhas com maior número de passageiros por dia

Fotos: Camila Olenik

Cerca de 70 mil pessoas utilizam o terminal Guadalupe diariamente em 47 linhas. O maior número de ônibus são os metropolitanos, ao todo são 36 linhas que ligam Curitiba aos municípios vizinhos, isso representa 34% do total de metropolitanos de Curitiba. Apesar da capital ser conhecida como cidade modelo no transporte, muitos passageiros se dizem insatisfeitos com o serviço. Gilberto Diep, chefe de expedição, utiliza o terminal para ir trabalhar todos os dias e afirma que “muitas vezes não dá nem para entender qual fila é de qual ônibus”. De acordo com Marcos Isfer, presidente da Urbs (Urbanização de Curitiba), “no momento está se estudando a descentralização das linhas ampliando as possibilidades do cidadão, que poderá optar por outras linhas na Rede Integrada”. Deste modo, determinadas linhas poderiam ter ponto final em terminais integrados. Segundo o Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), as cinco linhas com maior número de passageiros no Terminal Guadalupe são as metropolitanas: Pinhais/Guadalupe, Curitiba/Independência, Curitiba/ Urano, Curitiba/São José e Fazendinha/Tamandaré, em média, essas linhas transportam mais de 3.500 passageiros por dia (ver gráfico). Apesar dos problemas enfrentados pelos passageiros que frequentam o terminal, o espaço têm duas linhas diferenciadas: Ctba/ Quatro Barras e Ctba/São José que dão a opção do passageiro ir até o Caminho do Itupava e a Colônia Murici, respectivamente. Para o biólogo Ernani Mossamek, que já visitou o Itupava por diversas vezes, “é muito bom ter essa opção de pegar um ônibus em Curitiba que dê acesso a um lugar tão bonito, que alivia o estresse”. Segundo o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), o caminho recebe entre 500 e 600 pessoas nos finais de semana.


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