Underground

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C O M U N I C A R E

CURI TI BA,JUNHO DE 201 1- ANO 15-NÚMERO 195-2ºANO DE JORNALI SMO -PUCPR

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opinião

Curitiba, junho de 2011

Lei de incentivo, arte marginal e falta de interesse, geram barreiras para cultura fora de circuito

A Curitiba que a cidade não quer ver

Nas galerias de uma cidade sorriso, encontramos uma Curitiba perdida, caracterizada por tribos, artes, hábitos e lugares até mesmo debaixo do solo.

Nossa Capa

A capa desta edição, trás uma arte feita por Carolina Araújo, exclusivamente para o Comunicare caracterizando as diversas tribos e costumes da cena undergroud curitibana.

Fala, leitor

“Não tinha ouvido falar de São Luiz, depois que li o Comunicare, fiquei com vontade de conhecer”. Eduardo Simpson, 20 anos. Estudante Engenharia Ambiental PUCPR

Fala, professor

“O conteúdo jornalístico está muito bom. Mas, fica devendo nas fotos”. Leomar Brito, 53 anos. Professor de Fotografia PUCPR.

O Comunicare nunca foi tão “fundo”. Vasculhando os cantos mais desconhecidos e peculiares da cidade; entretanto irreverentes e desafiadores, esta edição, sobe alto com os loops na pista de skate, descendo até as galerias de um teatro debaixo da rua, passando pelos cruzamentos cujos malabaristas testam sua sorte. O cenário underground de Curitiba se perde no vazio dos olhos das pessoas que aqui vivem, ou nas rodas das tribos que ditam sua moda e costumes, dando às praças e parques um hibridismo de formas. Hibridismo este entre indivíduos diferentes na variedade, e que não fecundos, disputam o mesmo território. Nesta edição do Comunicare mostraremos aquilo que é visto e ninguém vê, como as casas de

swing para aqueles que desejam algo novo para o relacionamento a dois, ou mesmo a busca por aquilo que chamam de liberdade. Existem também os drive- ins para aqueles que preferem rapidez e praticidade.

E as ‘artes marginais’, questionando o que é arte ou o que é crime, trazendo o graffiti tão defendido por Leminski nos anos 80 e que hoje toma a fundo colorindo os muros da capital. Curitiba de grandes artistas,

OMBUDSMAN: JORNAL peca NAS REPORTAGENS DE INTERESSE PÚBLICO

Tema político exige percepção mais apurada O desafio de apresentar a atual situação do distrito de São Luiz do Purunã foi cumprido pela equipe de reportagem da edição 193 do Comunicare. Mas tem falhas editoriais nas reportagens mais importantes. Apesar das pautas terem ultrapassado o limite “turístico” da região – grande parte das notícias sobre o distrito são deste tema na mídia –, o jornal falhou nas reportagens políticas e econômicas. Aponto dois motivos principais: as fracas entrevistas com as autoridades e a participação tímida dos moradores como fonte. Na matéria sobre emancipação fica claro o problema. Não foi ouvido moradores de São Luiz e ambos os vereadores entrevistados ficaram no conforto das respostas

superficiais. Faltou questionar de forma mais embasada, o que levou a uma estrutura de texto narrativa e não jornalística do tema. Já na matéria sobre o monumento do Cristo Redentor ficou uma miscelânea de declarações acusativas. E os repórteres caíram no erro: vide o título e a gravata, que acusa sem comprovação o ex-prefeito e libera da resposabilidade, durante o texto, o atual. A linguagem fotográfica também não colaborou, com declarações negativas de pessoas sorrindo. Ficou estranho. Deve-se, sempre, se atentar no editorial como um todo (texto e foto). A matéria da editoria de Economia está bem trabalhada, com informações concretas e fontes importantes. Entretanto, ficou

a pergunta: para onde está indo a renda arrecadada? A resposta não apareceu, o que pode comprometer o título e liberar da culpa, novamente, as autoridades responsáveis. A crítica para estas reportagens é firme, justamente pela capa da edição: “Fechado?”, questiona. Pelo tom das reportagens ninguém sabe o que será de São Luiz do Purunã, enfraquecendo o papel do jornalista, que deve ser mais do que um mero ouvinte.

Expediente: Comunicare Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Maio de 2011 Pontifícia Universidade Católica do Paraná Rua Imaculada Conceição nº 1.155 Prado Velho, Curitiba

Reitor: Clemento Ivo Juliato Decano CCJS: Alvacir Alfredo Nicz Decano Adjunto do CCJS: Marilena Winters Coordenadora do Curso de Jornalismo: Mônica Fort

Projeto Gráfico Prof.º Marcelo Públio

Comunicare Jornalista Responsável Prof.º Zanei Barcellos DRT – 118/07/9

Kim Kopycki Editor Revista RG Móvel Comunicare 2008

Editores: Primeira página: Diana Araújo Entrevista: Beatriz Zanelatto Geral: Anna Tuttoilmondo Política: Ana Luísa Bussular Moda: Maria Aparecida Brey

mas que pela falta de incentivo, faz com que os próprios curitibanos não enxerguem inconseqüentes malucos ditando o que é arte em meio a rua das flores ou nos entornos do cavalo babão. Enquanto isso perdem artistas e movimentos quiçá tornar-se-iam os mais belos representantes de vanguarda ou cara curitibana. Underground aquilo que em inglês é subterrâneo, caminha lado a lado com uma cidade que em sua arquitetura procura viver um “neoclassicismo britânico tupiniquim” em seu edifícios. Fomos “em busca de um Curitiba perdida”, passando por todos aqueles despercebidos, que vem e vão sob o suburbano céu azul curitibanamente undergroud. Amanda Vicentini

Carta do Leitor

Acho que agora, aos 15 anos, mais do que nunca o jornal tem que dar vontade de ler, e me parece que o jornal ainda está muito quadrado. A minha sugestão é que um jornal universitário tem que se assumir universitário, com mais respiros, tex tos mais corridos, e mais elementos gráficos. Já f iz o jornal, e sei bem das limitações impostas pela faculdade. Sugestões não machucam. Guilherme Binder Jornalista Jornal Metro Resposta: O Comunicare não é feito exclusivamente para universitários. Seguimos o padrão de um jornal comum, exercitando a prática jornalística como um todo. Geral: Gabriela Rodrigues Sociedade: Melanie Lisbôa Cultura: Carolina Chinen Comportamento: Mariana Siqueira Esporte: Stella Mafra Polícia: Bruna Ávila Gastronomia: Maria Aparecida Brey Cidade: Thaís Reis/Aline Hobmeier Internet e Redes Sociais: Lucas Vian


entrevista

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Curitiba, junho de 2011

Torcidas de futebol são grandes grupos sociais, pois unificam diversas tribos urbanas

As pessoas necessitam viver em conjunto Ana Luísa Fayet Sallas explica ser instintivo ao homem viver em conjunto, pois todos precisam de outras pessoas para viver. Surgem assim, as tribos urbanas. De acordo com a professora Ana Luísa, o que há de novidade nesses grupos é a forma de comunicação pelo meio virtual, que facilita o encontro de milhares de pessoas. “Ao mesmo tempo em que participo de um grupo, posso torcer pra um time de futebol”, segundo Ana Luísa Sallas, essa é a razão para que as torcidas de futebol sejam consideradas os maiores grupos, pois agregam variados tipos de tribos urbanas. Ela esclarece que as tribos urbanas são movimentos sociais antigos, que abrangem uma grande faixa etária, desde adolescentes até adultos. Nesse contexto abordado, a professora considera o uso do termo grupos juvenis urbanos mais adequado. Doutora em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e mestre em Antropologia Social, Ana Luísa Fayet Sallas é professora titular da UFPR.

Comunicare - Quais são as maiores tribos urbanas? Ana Luísa - Quando você me pergunta se eu tenho como medir o tamanho desses grupos, eu não tenho, pois essas expressões têm sido apenas identificadas e não quantificadas. Porém, posso falar para vocês que, desses grupos que dizem respeito às culturas juvenis, os maiores são as torcidas de futebol. Elas unificam uma diversidade de grupos, ao mesmo tempo em que participo de um grupo, posso torcer para um time de futebol. Comunicare - Quais são os outros fatores de unificação? Ana Luísa - Temos a globalização, ela está ligada às formas de apropriação das novas tecnologias. Hoje temos a revolu-

Helena Salgado

O que há de novo nas tribos é a comunicação virtual, que possibilita a convocação de milhares de pessoas para encontros face a face

Ana Luísa, professora da UFPR, acredita que a música unifica grupos

ção tecnológica muito rápida, acompanhada por essas formas de expressão. A música também é um fator de unificação muito forte. Entre diferentes estilos você tem a música que vai produzir uma identificação do grupo através da letra e da mensagem que ela está passando. Comunicare - Quais são as principais formas de comunicação dessas tribos? E no que elas interferem? Ana Luísa - Internet, mensagens. Muitas pessoas acreditam que a comunicação só se mantém no espaço virtual, entretanto, eles também realizam encontros face a face, no espaço físico. Com as possibilidades de comunicação, você tem a apro-

priação de linguagens. Os grupos retrabalham isso, misturam. Como os cosplays que juntam a ficção científica do futuro com o passado pré-histórico. Então você tem tempo e espaço, que seriam categorias orientadoras, completamente misturadas. É possível viver esses tempos de uma maneira simultânea conectando o passado com o futuro. Comunicare - Quais são os principais espaços públicos usados para encontros das tribos? Ana Luísa - Tem o Museu Oscar Niemeyer, onde ocorrem encontros, de vários grupos, no fim de semana. Na Praça 19 de dezembro os emos se reúnem domingo no período da tarde.

As Ruínas do São Francisco também são um ponto de encontro dos jovens. E na Praça Eufrásio Correa o pessoal do hip-hop realiza batalhas de rap.

rosto, cortar o cabelo, usar roupa, mas você pode se identificar com alguns estilos mais livremente. Essa necessidade de estar junto é um princípio humano.

Comunicare - É possível identificar rivalidades entre as tribos? Ana Luísa - Em Curitiba os skinheads são rivais dos punks. Eles também agridem os homossexuais. Existem as torcidas de futebol que constituem a maior rivalidade da cidade. E até mesmo jovens de bairros diferentes que vão para um outro espaço e brigam entre si. A ideia de conflito faz parte da sociedade, esse pensamento de uma sociedade sem conflitos é utópico.

Comunicare - Quais são as tribos mais tradicionais de Curitiba? E quais as expressões mais peculiares que já estudou? Ana Luísa - Entre as mais tradicionais podemos citar: os punks, skinheads, os grupos de hip-hop, que também são muito fortes e têm mostrado um desenvolvimento e uma visibilidade pública muito maior. Dos mais peculiares, já estudei os rastecas, rastafáris que vem da influência jamaicana e fazem referência à cultura asteca tradicional. Aqui no Brasil temos o grupo da tribo indígena Guarani, que dança o chamado hip-hop Guarani.

Comunicare - Existe apenas uma faixa etária que pertença a essas tribos? Ana Luísa - Existem grupos de todas as faixas etárias. Se observar os emos, eles são jovens que começam na faixa dos 13 aos 14 anos e vão até os 17, depois tem uma transição, na qual eles já se consideram como alternativos. Já o que eu tenho visto relacionado à vida adulta, são pessoas que vivem as experiências da adolescência e não deixam de gostar da música, do skate, do surf. Porque essas vivências são muito intensas e marcantes.

Comunicare - Tribo urbana é um movimento antropológico e social antigo? Ana Luísa - Você tem os movimentos sociais há muitos anos. Não é novidade. O que pode ser colocado como novo são essas formas de organização, de ação política. Você pode convocar milhares de pessoas através da internet. As bandeiras atuais giram basicamente em torno de algumas questões que a globalização e o capitalismo não conseguiram resolver: a democratização, a distribuição de renda e a ampliação dos direitos sociais, culturais e sexuais.

“A ideia de uma sociedade sem conflitos é utópica”

Comunicare Por que o jovem sente a necessidade de viver em conjunto? Ana Luísa - Porque todo mundo precisa de outras pessoas para viver. Algo que é próprio do juntar, de criar grupo. Você pode ter seu grupo de amigos e amigas que não mostrem sua identidade ou adesão a isso ou aquilo. Você não precisa pintar o

Beatriz Zanelatto Camila Castro Helena Salgado


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moda

Curitiba, junho de 2011

PARA SKaTISTAS CONFORTO, DURABILIDADE E PERFORMACE É FATOR DECISiVO NA HORA DE COMPRAR ROUPAS E ACESSÓRIOS

Vendedores falam a “língua” das tribos No cenário da moda underground, cada tribo (veja mais nas páginas 08 e 09) procura uma loja específica, no qual ele se identifique. A maior parte delas possui vendedores que se vestem e se comunicam usando linguajar e as gírias da tribo a qual ela atende. Como é o caso do Túnel do Rock, voltada para as tribos do rock e da Ultra Shock Skateboards, votada aos skatistas (veja mais na página 07). A loja Hard Rock, no Shopping Cidade, também é u m exemplo disso, pois, agrega num mesmo lugar roupas e adereços para os roqueiros e suas vertentes como os metaleiros, emos e indies. O item mais procurado é a camiseta com a estampa da banda preferida. O preço da peça sai por R$ 32. Os tênis são da marca Mad Bull e custam R$

Fotos: Thiago Radael

As lojas do setor undergroud atendem diversas classes sociais, com roupas que refletem os estilos das tribos e o gosto pessoal

LRG é a marca mais procurada em lojas especializadas em skate

75. Os moletons custam cerca de R$ 100. Acessórios como cintos e boné estão na faixa de R$ 30. As saias são procuradas pelas adolescentes até 15 anos, já os corpetes são procurados

por mulheres de diversas faixas etárias e custam R$ 100. Segundo Marcio Jeremias Cavichiolo, proprietário da loja, “as mulheres, em geral, mudam mais de estilo do que os homens”.

No mesmo shopping encontra-se a loja Water Falls, que atende clientes surfistas. Apesar das mulheres comprarem na loja, a grande maioria dos clientes é do sexo masculino, até porque, a maioria dos produtos é destinada a eles. Camiseta e tênis são os mais vendidos e os preços variam de acordo com a marca. No caso das camisetas, as mais caras são da Rip Curl e Vans, que podem sair por até R$ 150 e as mais baratas, da HB e Vida Marinha, por R$ 40,00. Os tênis da Nicoboco são os mais baratos vendidos a R$ 99,90 e os mais caros, da Vans, podem custar até R$ 450. As calças jeans variam de R$ 100 até R$ 250 e as bermudas, de R$ 39 até R$ 300. As mochilas podem custar entre R$ 99 e R$ 500. Segundo o dono da loja Diego Oliveira Araújo o Xadrez está

sendo bastante procurado. Muitos acessórios e principalmente marcas encontradas em lojas de surf, são praticamente as mesma que as da tribo do skate, tanto que existem lojas como a Blood Stream, no Shopping Total, que une esses dois estilos. O vendedor Frantiesco Luiz Lobertt, comenta que o tênis da marca Vans é mais procurado pelos surfistas e tem maior durabilidade e, o da Nike é mais procurado pelos skatistas. O público feminino opta por roupas mais descoladas, coloridas e principalmente xadrez, que voltou a moda. Os skates podem variar desde o mais simples, de R$ 300, até o mais completo, que custa R$ 3 mil. Paula Pellizzaro Rafaela Campanholi Thiago Radael

15 anos de história e muitos estilos para mostrar

O skate é referência no mundo da moda

Fundado em 1997 por Bola Bola, o Túnel do Rock é a loja mais procurada pelas tribos em Curitiba. Localizada no centro da cidade, entre às ruas Marechal Floriano e XV de Novembro, dispõe dos estilos Hard Core, Gótico, Grunge, Death, Heavy Metal, Quadrinhos, Punk, White e Black Metal, Emo, Doom, Hallowen. A loja possui produtos variados como calça, tênis, coturnos, cinto, camisa com várias estampas, pulseiras, boné, corrente, piercing, e o mais procurados por todos, o alargador. Ajudando também na divulgação de grandes shows de rock, vendendo ingressos e fazendo publicidade. Com matriz em Belo Horizonte, o local é visitado por pessoas de todos os cantos. O vendedor Marcio Hen r ique Conde conta que, por dia, em média de 500 pessoas passam

No skate o conforto está relacionado com a moda, os skatistas tem um estilo urbano bastante original, que varia conforme a tribo que ele pertence e consequentemente as músicas que ele ouve. As roupas usadas por eles resgatam o estilo de décadas passadas como é o caso da linha Old School, dos anos 70 e 80, quando o esporte era considerado uma forma alternativa de vida destacado pela rebeldia. A marca que retoma bem essa década é a LRG que segundo o vendedor Rodrigo Otávio Figueiro, da loja Skate Ultra Shock, localizada no Shopping Total, caracteriza bem o estilo underground. No caso das meninas as roupas e acessórios são um pouco mais coloridos e descolados, com destaque para o xadrez e a calça saruel. Além das peças de roupa, o shape do skate também faz parte do conjunto. Os modelos são específicos para cada modalidade. O

Com vários estilos, Túnel do Rock Skatista quer conforto e é procurado por diversas as tribos resgata anos 1970 e 80

Variedade de estilos, roupas e adereços para todas as tribos rock

pela loja. Durante os finais de semana cerca de 1.000. A loja é procurada por todas as classes sociais, que vai dos 5 até os 60 anos de idade. Segundo Michael Schoffel Bueno, as estampas de camisas mais procuradas são das bandas

ACDC, Iron Maiden, Metallica e Scorpions. A Camisa xadrez está em alta. Saias são mais utilizadas pelos góticos. As calças justas, pretas, conquistaram o sexo masculino. A moda colorida não está tão em alta como em 2010. (PP, RC, TR)

material utilizado para fazê-lo varia. A madeira do shape importado, proveniente do Maple Canadense, é melhor do que a do nacional, pois, além de ser mais leve tem melhor qualidade e durabilidade. O dono da Loja Ultra Shock, Rafael Gomes Pinheiro, afirma não existir um público específico “nossos clientes tem idade que variam de 4 a 50 anos e são de várias classes sociais”. O tênis é um acessório indispensável que sofreu uma grande evolução nos modelos nos últimos anos, devido à tecnologia e a necessidade dos esportistas, ele pode variar do casual para andar de skate, até o vulcanizado, que não descola a borracha do solado e, o de solado translúcido. Outro acessório que marca o estilo é o boné que pode ser de aba torta, procurada geralmente pelos mais velhos, ou, o de aba reta montando um estilo mais hip hop. (TR, RC)


geral

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Curitiba, junho de 2011

SERV CARS cobram CERCA DE R$ 15 por casal, e funcionam todos os dias das 10h às 5h EM MÉDIA

Casais procuram drive-ins pelo baixo custo Como solução para casais que procuram “namorar” dentro dos carros pagando pouco, existe os drive-ins, também conhecidos, em Curitiba, como serv car. A média de preço para entrar nestes locais é de R$ 15, e o casal pode permanecer das 10h às 5h, média de horário de funcionamento dos drive-ins da cidade. Em alguns destes espaços pode haver uma lanchonete, para aqueles que querem apenas saborear o que o local oferece. Entretanto, o que caracteriza os drive-ins são as garagens, que podem ser separadas uma a uma para garantir a privacidade do cliente, ou sem nenhuma divisão, para os carros estacionarem e os casais, que permanecem dentro dos veículos, desfrutarem da maneira que quiserem. Segundo Tadeu*, funcionário de um drive-in de Curitiba, a maioria dos frequentadores tem mais de 25 anos. Ele acredita que a

Gabriela Rodrigues

Funcionário afirma que a maioria dos frequentadores tem mais de 25 anos e procuram o local pela privacidade que ele disponibiliza

Vagas disponíveis aos carros em um drive-in de Curitiba

preferência dos jovens por motéis, os afasta destes lugares. “Muitas vezes, homens casados trazem as amantes por acreditarem que aqui é um lugar privativo, já que existem tendas para fechar as garagens enquanto o casal permanece lá dentro”, conta Tadeu.

O drive-in onde ele trabalha possui uma cozinha, separada das garagens, em que são servidos aperitivos e bebidas dentro dos carros. Quando o casal quer fazer algum pedido, ele disca de um telefone localizado na vaga, e este cai direto na cozinha. Contudo,

Tadeu explica que “tem gente que pede alguma coisa achando que é obrigado. Às vezes, quando vamos ver, toda a comida foi deixada, já que o casal não estava com fome e só fez o pedido porque achou que era obrigado”. Para Mariana*, frequentadora de um serv car de Curitiba, “estes lugares garantem a tranquilidade na hora de o casal ficar a sós, pois, no local, estão apenas os carros, em vagas individuais, e os funcionários, que permanecem na cozinha para atender aos clientes”. Segundo ela, esse atendimento é feito com serenidade, já que, no drive-in que frequenta, quando o casal quer fazer algum pedido ao funcionário, eles dão alguns toques com o pisca-alerta do automóvel e, quando pronto, o atendente bate no vidro antes de entregar o lanche. Na maioria das vezes, os casais procuram os drive-ins por serem

uma forma discreta de passar um tempo juntos, ou apenas por disponibilizar um espaço em que as pessoas aproveitem o desejo do momento. Para Paula*, os drive-ins têm como diferencial a possibilidade de oferecer um ambiente para encontros rápidos, com privacidade. Mariana concorda e afirma que, “o drive-in é uma boa maneira de passar um tempo com o parceiro e não pagar muito caro”. No quesito segurança, “os drive-ins deixam a desejar”, como afirma Sônia*. Ela conta que, quando frequentava um serv car, o espaço destinado aos carros não possuía nenhum tipo de iluminação. “Era completamente escuro, qualquer um podia entrar ali. Mas tínhamos mais privacidade”, finaliza. * Os nomes foram modificados. Gabriela Rodrigues Isabella Rosa

os flintstones em viva rock vegas também é um exemplo de filme com cenas em drive-in

Filmes americanos como Os Flintstones em Viva Rock Vegas (2000) e Grease – Nos Tempos da Brilhantina (1978) possuem cenas em que os personagens aparecem em drive-ins. No primeiro, Wilma (Jane Krakowski) trabalha no Bronto King Drive-In como garçonete. Já em Grease, o drive-in é um dos lugares mais frequentados pela turma do filme. Um exemplo é quando Danny (John Travolta) presenteia Sandy (Olivia Newton-John) com um anel de compromisso, dentro do carro, em um drive-in. Há, ainda, filmes em que toda a história se passa dentro de driveins. No Drive in da Morte (DeadEnd Drive in), de 1986, um casal encontra um lugar em que o uso de drogas e o sexo são liberados, sem saber que o Star Drive-In é um campo de concentração para marginais. Uma guerra é travada

Divulgação

Drive-ins fazem parte do cenário de filmes norte-americanos como Grease

Cena do filme Drive in da Morte, de 1986

entre os policiais e os marginais, o que faz com que o casal queira escapar do local. A comédia Embalos de Verão (Bikini Drive-In), de 1995, narra a história de duas mulheres que deixam de frequentar as praias e passam a tomar conta de um drive-in recebido como herança

por uma delas. As garotas organizam uma festa no local para arrecadar uma grande quantia em dinheiro e conseguir pagar as dívidas que o ex-proprietário do estabelecimento deixou, além de tentar impedir que um banco tome posse do terreno e um empresário da cidade o arremate. (GR)

De lazer a prazer Quando o drive-in foi criado, por volta dos anos 30, em Nova Jersey - EUA, era uma espécie de cinema ao ar livre, um lugar para o lazer da família, já que, para assistir aos filmes, não era necessário sair de dentro do carro. Mas com o tempo, esse conceito de drive-in foi se modificando, pelo menos no Brasil. Hoje, a imagem que se tem é de uma opção barata para pessoas que querem manter relações íntimas pagando pouco, sem precisar ir a um motel. Devido ao sucesso deste primeiro drive-in, surgiram vários outros, e cada vez maiores. Isso fez com que problemas aparecessem. Como o sistema de áudio era constituído por enormes caixas de som ao lado das telas, o barulho incomodava os vizinhos e tornava a qualidade do som ruim para quem ficava longe da imagem. Para solucionar esses problemas, os administradores resolveram colocar pequenas caixas de som individuais em cada vaga. Ao passar do tempo, os espaços destinados aos carros foram cercados e deram mais privacidade aos clientes dos drive-ins. O lugar, que tinha como frequentadores famílias, passou a ter como público pessoas que procuram um lugar para manter relações sexuais. Hoje, os drive-ins podem ou não possuir uma lanchonete. Mas em todos existe um espaço onde os casais estacionam e podem ter relações íntimas dentro dos carros, sem serem surpreendidos pela polícia acusados de atentado violento ao pudor. Amanda Scandelari


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comportamento

Curitiba, junho de 2011

suspensões corporais são procuradas por quem deseja experimentar elevação espiritual

Modificações corporais ganham popularidade Tatuagens e piercings já não são um diferencial e começam a dividir espaço com outras formas de body art mais extremas pensão corporal na qual ganchos de 4mm, semelhantes aos utilizados para pendurar peças de carnes, são inseridos no corpo do praticante e ligados à uma estrutura de roldanas elevando-o e o deixando suspenso à certa altura. O recorde mundial de suspensão mais alta foi estabelecido por Lima. Ele ficou suspenso a uma altura de 60 metros. Diogo Zimmermann também é tatuador e praticante da suspensão. Ele conta que sempre teve curiosidade e fez sua primeira suspensão em Campinas já que não tinha contato com os praticantes de Curitiba. Depois desta ele já se suspendeu mais quatro vezes. “Gosto de fazer quando estou estressado. Na hora de perfurar dói, mas depois é uma calmaria total”, lembra. Segundo Lima, das 30 pessoas que ajudou a suspender, nenhuma delas reclamou de sentir dor durante a prática. Ele explica que a descarga de adrenalina e endorfina durante o processo é tão

Olívia D’Agnoluzzo

Tatuagens e piercings que já foram cercados de tabus e preconceitos se popularizaram a partir dos anos 90 e hoje são convencionais e comuns nos centros urbanos. Os tatuadores do estúdio Addiction Arts em Curitiba realizam semanalmente cerca de 30 tatuagens. Outras modificações corporais mais extremas vem ganhando espaço e são cada vez mais procuradas por quem deseja se expressar usando o corpo como instrumento. Modificações como a escarificação (cicatrizes), branding (queimaduras) e implantes subcutâneos já são muito utilizadas em países como os Estados Unidos e na Europa. A cultura dessas formas de ‘body art’ é muito difundida no exterior e aceita tanto pela sociedade quanto por entidades governamentais. No Brasil, o Ministério da Saúde e a Anvisa ainda não possuem critérios definidos para o controle e regulamentação de estes tipos de prática. Os implantes, por exemplo, são proibidos por se encaixarem no perfil de procedimento cirúrgico. Já a escarificação e o branding podem ser feitos em estúdios de tatuagem convencionais. Rafael Rodrigues de Lima é tatuador desde 1999 e é o único em Curitiba que realiza modificações corporais. Dono de inúmeras tatuagens, implantes, alargadores e uma escarificação, Lima conta que a grande maioria de seus clientes buscam modificar o corpo por questões estéticas. “Eu mesmo só

Rafael de Lima é o único modificador corporal em Curitiba

fiz por achar bonito”, ele confessa. Mas ainda existem aqueles que encontram na modificação corporal um significado forte de superação, elevação espiritual, ou uma maneira de expressar conquistas pessoais. O que também atrai cada vez mais adeptos da modif icação corporal é o conceito de ‘moderno primitivo’. Desde os egípcios o

homem explora seu corpo através de perfurações e desenhos corporais, “o que mudou foi apenas as técnicas usadas, o conceito ainda é o mesmo”, ele conta e depois questiona: “Se as modificações existem a milhares de anos, por que ainda hoje existem tabus e preconceitos acerca dessas práticas?” Suspensão Outra prática extrema é a sus-

grande que anula a dor e anestesia o corpo inteiro. Mas adverte que a suspensão é um processo delicado e não deve ser feita de maneira displicente. “O mais importante no procedimento é a drenagem e massagem que fazemos após a retirada dos ganchos para que não se formem bolhas de ar debaixo da pele causando infecções”. A primeira experiência geralmente é feita em casa para garantir um conforto maior e a pessoa é elevada a poucos centímetros do chão. Depois, a suspensão pode ser realizada em qualquer lugar, inclusive em praias e chácaras, é necessário apenas que se monte a estrutura adequada. “Sou procurado ao menos uma vez por mês por pessoas interessadas em fazer uma suspensão. Isso só em Curitiba”, conta Lima. Olívia D’Agnoluzzo Mariana Siqueira Pauline Féo

Opinião médica Segundo o dermatologista Dr. Lincoln Fabrício, o maior perigo das modificações corporais é o risco de infecções. Equipamentos não esterilizados como agulhas podem espalhar doenças como a hepatite e a AIDS. A formação de quelóides e cicatrizes hipertróficas são outras complicações médicas que podem decorrer de modificações corporais. “Por mais que hoje em dia exista um cuidado maior com relação à higiene em estúdios de body art, as modificações não deixam de ser uma agressão ao corpo. A pele, afinal, é o nosso orgão de proteção, qualquer rompimento desta barreira deixa o corpo vulnerável”, relata Dr. Fabrício.

Principais tipos de modificações corporais Piercing: uma abertura ou furo no corpo no qual é introduzida uma jóia ou peça de metal esterelizado. Alargador: uma expansão

deliberada de um furo feito na pele. Nela também é inserida uma peça que impede o fechamento do furo e ajuda na cicatrização.

Tatuagem: uma marca ou desenho permanente feito no corpo. Com agulhas a tinta é introduzida na camada dérmica através de rupturas na camada superficial da pele. Escarificação: uma técnica

na qual se produz cicatrizes no próprio corpo através de instrumentos cortantes com a inteção de formar desenhos.

Branding: uma marca feita

no corpo utilizando um metal quente. A cicatriz da queimadura produz desenhos.

Tongue split: também conhecida como bisecção da língua, é uma modificação na qual corta-se a ponta da língua em duas partes, tornando a semelhante à língua de répteis.

Implante subcutâneo: um implante sob a pele de um objeto, geralmente de silicone ou titânio para formar um alto relevo. Implante transdermal: uma

técnica que consiste em inserir um objeto de titânio de forma que parte dele fique sob a pele e a outra parte fi que exposta.

Lixamento de dentes: um

processo no qual se lixa os dentes para deixa-los com pontas mais finas e afiadas.

Tatuagem de córnea: tinta é introduzida sob a cornéa, camada frontal e invisível do olho. Não há a formação de desenhos, o objetivo é a pigmentação da parte branca do olho.


geral

07

Curitiba, junho de 2011

PROJETO LIGADO A COPA DO MUNDO DE 2014 AMEAÇA A PERMANêNCIA DA PISTA DE SKATE DA PRAÇA AFONSO BOTELHO

Tradicional pista de skate de Curitiba será demolida na Praça. Porém, afirma que não chegou a nenhum acordo com os responsáveis, pois, segundo ele, a Prefeitura sugeriu uma construção de uma nova pista no Jardim Botânico, local de difícil acesso. Outro problema que os skatistas da pista do Atlético estão enfrentando é a falta de incentivo tanto por parte da Federação de Skate de Curitiba, como pela Prefeitura da cidade. “Eles não ajudam em nada. Tanto é que os freqüentadores da pista do Atlético se uniram e criaram a Associação dos Skatistas da Praça. Nós cuidamos da pista. Além de juntar dinheiro para comprar material para a manutenção, nós mesmos fazemos os reparos”, explicou Guilherme. Aqueles que acompanham e simpatizam com o esporte, lamentam pela cena de skate de Curitiba não receber incentivos. Gui “Barba” acredita que a demolição da pista, para facilitar obras da Copa do Mundo, é só mais uma prova do quanto o skate ainda é marginalizado e desvalorizado. “Prova

Campeonato de skate organizado pela marca Diet.co na pista do Atlético

disso é a destruição de uma pista tradicional, e uma praça inteira, por um evento que, por maior que seja, vai durar pouco tempo”, lamentou. Essa “luta” dos skatistas contra a Prefeitura do Município, foi apoiada recentemente por uma marca de skate, a Diet co. No dia 28 de maio, a Diet organizou um evento na pista do Atlético para a divulgação da marca e em prol da

reivindicação da ampliação da pista, provando que todos estão confiantes e fazendo o possível para que a demolição não aconteça. O objetivo do evento causouestranhamento em alguns, que chegaram a duvidar de que a demolição realmente acontecerá. “Eu acho muito estranho essa história, não sei se isso realmente é verdade. Está acontecendo até campeonatos para que a pista seja

ampliada”, disse Antonio Ribeiro Junior, frequentador da pista há oito anos, que ainda tem esperança dela continuar no local. Agora é esperar até 2014 pela demolição da Praça Afonso Botelho e da pista de skate, que desaparecerá para dar lugar a instalações da Copa.

Heloisa Ferreira Anna Tuttoilmondo

SKATISTAS INFRINGEM A LEI DE TRÂNSITO AO UTILIZAREM AS CANALETAS DE ÔNIBUS

Skate vira opção alternativa de locomoção na cidade Com o trânsito cada vez mais intenso, medidas alternativas de locomoção pelo centro de Curitiba estão sendo cada vez mais exploradas. Hoje, o aumento no número de skatistas que andam nas ruas ao invés das pistas, modalidade chamada de Street, é visivelmente percebido. É comum encontrar nas vias expressas, popularmente conhecidas como “canaletas”, jovens utilizando o espaço destinado a ônibus para se locomover com seus skates, o que é proibido devido a uma lei Federal. Apesar de a lei existir, poucos levam a sério, pois a fiscalização é falha. Para aqueles que utilizam o skate para trabalhar, trafegar pelas canaletas facilita o percurso. Segundo Renato França, skatista há 12 anos, que anda de skate pelo centro de Curitiba para fazer transferência de produtos de uma

loja de surf para a outra, confessa que usa a canaleta, pois o asfalto é melhor para locomoção. “Sinceramente é bom andar na canaleta. Tem mais espaço, o chão é bem melhor e o risco de acidentes é

menor, pois a via expressa possui duas mãos e o fluxo não é intenso”, explicou Renato, que acredita que se as ciclovias tivessem uma melhor estrutura, as canaletas não seriam usadas por eles.

Heloisa Ferreira

Desde a sua construção, há 12 anos, a pista de Skate da Praça Afonso Botelho, mais conhecida como “Pista do Atlético”, por estar localizada em frente ao Estádio do Clube Atlético Paranaense, Joaquim Américo, pode estar com seus dias contados devido a um projeto de ampliação de estacionamentos, que suporte o aumento de torcedores nos jogos da Copa do Mundo de 2014, na cidade de Curitiba. A desapropriação da Praça e da pista de Skate não tem uma data prevista para acontecer. Segundo Lucas Martins Rike, assessor parlamentar de Juliano Borghetti, Vereador ligado aos assuntos da Copa do Mundo, a única certeza que os órgãos públicos têm é a confirmação de que a praça terá que ser demolida para que os projetos de melhorias para receber os turistas sejam implantados. Desde que ficaram sabendo sobre a possível demolição da pista, há um ano, os skatistas locais já protestaram de forma pacífica contra decisão em um evento mundialmente conhecido, o Go skate Day. Na sua segunda edição em Curitiba, no dia 20 de junho 2010, skatistas da cidade saíram nas ruas em uma passeata em prol da cena de skate e aproveitaram para expressar a indignação pela decisão de acabar com uma das pistas mais tradicionais de Curitiba. Porém, a manifestação não repercutiu em nenhum ponto positivo para os skatistas. Mesmo sabendo que após um ano a pista ainda não tenha sido desativada, os frequentadores se revoltam quando o assunto é a demolição da sua “segunda casa”. Guilherme Gonçalves, que frequenta a pista há cerca de 10 anos, mostra sua indignação com os responsáveis pelo projeto. “É uma falta de respeito e descaso pelo fato dos freqüentadores não terem noção de quando será a demolição. Simplesmente um dia vamos chegar lá e tudo vai estar destruído, sem aviso prévio”, disse. Gui “Barba”, como é conhecido pelos skatistas, teve acesso ao possível projeto que será aplicado

Anna Tuttoilmondo

Além da demolição, skatistas reclamam que o poder público não da assistência para revitalização da “Pista do Atlético”, como é conhecida

Jovem se arrisca ao andar de skate pela canaleta

Lucas Mura, skatista há 14 anos, também utiliza o skate como meio de transporte. “Sempre andei nas canaletas porque elas proporcionam uma mobilidade maior, e usando o skate não é preciso gastar com passagem de ônibus”, afirma Lucas, que espera que a urbanização da cidade seja reformulada para beneficiar a todos. “Os carros não tem espaço, as bicicletas também não, quem dirá os skatistas de Curitiba que acharam nas canaletas um refúgio para se locomoverem”, lamenta. Para que a lei Federal que proíbe o tráfego de veículos não autorizados nas canaletas, como o skate, seja aplicada com maior rigor em Curitiba, agentes da Diretran da Urbs e policiais do BPTRan vão intensificar a fiscalização. Heloisa Ferreira


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sociedade

Curitiba, junho de 2011

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Curitiba, junho de 2011

Psicólogos explicam que adolescentes se dividem em grupos para tentar romper padrões com as próprias famílias e sociedade, além de buscarem descobrir novas percepções do mundo

Emos, metaleiros, straight edges, otakus, skinheads e hippies. Qual é a sua tribo?

Rivalidade entre tribos na capital curitibana garante a união dos integrantes do próprio grupo, mas para sobrevivência, alguns participantes de tais grupos, evitam contato visual com tribos opostas e recorrem a spray de pimenta além de fugas

Glossário

STRAIGHT EDGES Nasceram dentro da cena punk/hardcore com a proposta de ser um grupo livre de drogas e geralmente vegetarianos. Alguns usam tatuagens com trechos de músicas ou um X na mão, mas não são todos e isso não é uma regra. Em Curitiba, as maiores reuniões são na Verdurada - evento que acontece em varias cidades e tem a proposta de debates sobre política, vegetarianismo e outras atualidades, além dos shows e um jantar vegetariano de graça no final.

Infográfico - Arte e texto: Isabelle Warzinczak e Melanie Lisbôa Fotos: Saulo Schamaedecke/Marina Bueno

O espaço urbano curitibano é composto por diversos grupos que se formam por afinidades em comum, como gostos musicais, valores, ideais ou admiração por alguma cultura. Chamados de ‘tribos urbanas’, cada um tem suas peculiaridades, criam suas regras, dialeto e características próprias, garantindo assim identidade ao grupo. Da mesma maneira que existem grupos passivos ligados a tecnologia e games, ou até mesmo apaixonados por desenhos japoneses, cosplays, existem grupos considerados agressivos. Manter o estilo e gosto é uma tarefa difícil, pois os integrantes de cada tribo, além de sofrerem com o preconceito da sociedade, ainda sofrem com não-aceitação dos familiares, segundo eles, a parte mais difícil. Em Curitiba os mais conhecidos buscam uma autonomia psíquica são os emos, metaleiros, straight ed- e valores para sustentar sua nova ges, otakus, skinheads e os hippies. identidade separada dos pais. “MiSegundo a professora da disciplina nha família inteira me critica e por de Transtornos Psicossociais na serem evangélicos, dizem que meu Infância e Adolescência, e doutora estilo é do demônio”, conta a emo. O Presidente do Conselho Reem Desenvolvimento Humano da PUC-PR, Leda Fischer Bernardino, gional de Psicologia do Paraná, jovens em fase de transição da in- Rubens Marcondes Weber, com fância para a adolescência procuram experiência em Estruturas Sociais, um ideal comum num grupo, para complementa que no processo de que possam fortalecer suas identida- desenvolvimento da personalidade, des. “Geralmente andam em bando, quando o adolescente sai portão para que sejam notados, em busca afora, ele vai tentar contestar a sociedade e seu aprendizado até ende autoconfiança”, conclui Leda. Para o skinhead Jean Nazario, tão. Ao checar os valores ele tenta 19 anos, andar em bando é uma construir e vivenciar novas expequestão de segurança: “não saí- riências, e muitas vezes estas não mos por aí agredindo ninguém, só fazem parte dos valores da família, apanha quem merece, ou quem faz então isto assusta os pais. E pode alguma coisa contra nós, é a sobre- haver problemas, caso a distância vivência”. Jean faz parte dos ‘trads’ estabelecida entre o jovem e a famí[skinheads tradicionais] e afirma ser lia não tenha sido bem estabelecida contra o preconceito racial, diferen- em fazes anteriores. Quando um jovem ingressa te dos “white powers” [skinheads numa tribo de corpo e alma ele corre neonazistas]. Assim também age a tribo emo, o risco de se alienar aos valores do a qual Jackeline Pereira Ribeiro de grupo e da família, não pensando 16 anos, pertence. Segundo ela a individualmente e sim por influêntribo não se dá bem com os punk cia. “Eu passo a experimentar o “Eu rock, manos e os skinheads, com interior” e estruturar limites e posquem prefere não manter nenhum sibilidades, começo a organizar os contato visual “não vou mentir, limites das relações sociais e limites eu tenho um pouco de medo, mas pessoal (limites do Eu interior), a sempre ando com meu spray de pi- partir deste convívio, eu posso dar menta, e evito freqüentar os mesmos poder à características que indivilugares que eles, como o Shopping dualmente possam ser positivas e Estação”. Mesmo enfrentando tan- negativas no plano da existência”, tas conseqüências, pertencer a uma explica o Rubens Marcondes. E tribo não é somente fazer amigos. para o desenvolvimento da persoJackeline está na tribo há um ano e nalidade não são só as experiências afirma que nunca teria coragem de positivas trarão “benefícios” para largar: “se eu sair perco uma parte o individuo. A experiência como um todo é que determinará valores, de mim”, desabafa. A psicóloga Leda Fischer ainda regras, fantasias e ideais a serem comenta que é normal jovens re- cultivados durante a vida. manejarem suas figuras de identiIsabelle Warzinczak ficação construídas na infância sob Juliana Pivato a orientação dos familiares. Eles

METALEIROS O visual é composto por camisetas de bandas, jaquetas de couro e jeans, acessórios como cinto, braceletes e pulseiras. Curtem músicas pesadas e bandas como Black Sabbath, Kiss, Iron Maiden, Motörhead, Metallica, Slayer entre outras. Frequentam bares como Blood Rock, Vox e alguns localizados no Largo da Ordem.

EMOS A tribo divide-se em emodark que se vestem de preto e gostam de usar maquiagens fortes - o primeiro que apareceu e os emo cutes que gostam de coisas mais infantis. Se encontram no Shopping Mueller e na praça Oswaldo Cruz. Ouvem músicas das bandas Hevo84, Fresno, Black Veil Brides, Glória, Simple Plan entre outras.

HIPPIES Defendem o amor livre e a paz. Vivem em comunidade ou como nômades e se mantém através de artesanatos. Em Curitiba, vendem seus produtos nas praças Eufrásio Correia e Oswaldo Cruz. Muitos usam roupas estampadas e cabelos e barbas compridos. Gostos musicais: Mutantes, Zé Ramalho, Secos e Molhados, Caetano Veloso, Gilberto Gil, The Beatles, Led Zeppelin, Bob Dylan.

OTAKUS Curtem a cultura japonesa, anime e mangás. Alguns se vestem como o personagem do desenho ou game - cosplays. Usam bottons e camisetas de anime. Encontram-se na Praça do Japão, Jardim Botânico ou em lojas especializadas em HQ e Mangás, como a Itiban.

Skin Head

SKINHEADS Existem três gêneros: os Shaps - apolíticos, White Powers e os Trads, que geralmente não batem em homossexuais ou emos. Andam bem arrumados, sapatos, coturnos, que remetem ao militarismo, sua força, e sua agressividade, tento como principal significado a luta pelos seus ideais, e marcas como Adidas, Lonsdale, Fred Perry.

HIPPIES Bode = confusão Capanga = bolsa Eu “tô” que “tô” que nem “tô” de tanto que “tô” = eu estou bem SKINHEADS Bonehead = cabeça de osso. É a designação dada aos nazi-skins Rato, subclasse, lixo de esgoto = como os skinheads chamam os punks STRAIGHT EDGES Pico = local, lugar Moscando = vacilando Perreio = determinação OTAKUS Kawaii = fofo Sugoi = legal, incrível Baka/Baka mitai = idiota Kimi o aishiteru = te amo Dai kirai = odeio EMOS Bacanerr = bacana Pakito = moleque, menino (O mesmo para emogirls) Uma marca registrada do emo é escrever antes do nome palavras como: Lady, Srtº, Srtª METALEIROS Hail = “ave!” em versão infernal Deu biziu = deu errado Purassooo = muito legal Melanie Lisboa Saulo Schmaedecke

“Eu acho que emo é uma das melhores tribos, não pelo jeito de se vestir. É porque não importa sua religião ou opção sexual, mas o que você é”

“Nunca bebi nem usei outros tipos de droga, quando conheci o grupo me senti bem. Você não precisa se adequar a nenhuma característica física ou hábitos para ser straight edge”

“Ser metal é fugir das regras e valores, simplesmente “curtir” e sempre deixar isso no dia a dia. Adoro o fato de ser livre pra fazer o que eu quiser”

“Sou irmã gêmea das araucárias e também uma hippie frustrada! Todos os meus amigos viajaram o mundo inteiro, e eu no máximo fui pra Santa Catarina!”

Jackeline Ribeiro, 16 anos, estudante

Nathan Vidal, 19 anos, estudante

Hamilcar Vieira, 22, produtor de eventos

Gislaine Toniolo, 45, hippie das ruas


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Curitiba, junho de 2011

Psicólogos explicam que adolescentes se dividem em grupos para tentar romper padrões com as próprias famílias e sociedade, além de buscarem descobrir novas percepções do mundo

Emos, metaleiros, straight edges, otakus, skinheads e hippies. Qual é a sua tribo?

Rivalidade entre tribos na capital curitibana garante a união dos integrantes do próprio grupo, mas para sobrevivência, alguns participantes de tais grupos, evitam contato visual com tribos opostas e recorrem a spray de pimenta além de fugas

Glossário

STRAIGHT EDGES Nasceram dentro da cena punk/hardcore com a proposta de ser um grupo livre de drogas e geralmente vegetarianos. Alguns usam tatuagens com trechos de músicas ou um X na mão, mas não são todos e isso não é uma regra. Em Curitiba, as maiores reuniões são na Verdurada - evento que acontece em varias cidades e tem a proposta de debates sobre política, vegetarianismo e outras atualidades, além dos shows e um jantar vegetariano de graça no final.

Infográfico - Arte e texto: Isabelle Warzinczak e Melanie Lisbôa Fotos: Saulo Schamaedecke/Marina Bueno

O espaço urbano curitibano é composto por diversos grupos que se formam por afinidades em comum, como gostos musicais, valores, ideais ou admiração por alguma cultura. Chamados de ‘tribos urbanas’, cada um tem suas peculiaridades, criam suas regras, dialeto e características próprias, garantindo assim identidade ao grupo. Da mesma maneira que existem grupos passivos ligados a tecnologia e games, ou até mesmo apaixonados por desenhos japoneses, cosplays, existem grupos considerados agressivos. Manter o estilo e gosto é uma tarefa difícil, pois os integrantes de cada tribo, além de sofrerem com o preconceito da sociedade, ainda sofrem com não-aceitação dos familiares, segundo eles, a parte mais difícil. Em Curitiba os mais conhecidos buscam uma autonomia psíquica são os emos, metaleiros, straight ed- e valores para sustentar sua nova ges, otakus, skinheads e os hippies. identidade separada dos pais. “MiSegundo a professora da disciplina nha família inteira me critica e por de Transtornos Psicossociais na serem evangélicos, dizem que meu Infância e Adolescência, e doutora estilo é do demônio”, conta a emo. O Presidente do Conselho Reem Desenvolvimento Humano da PUC-PR, Leda Fischer Bernardino, gional de Psicologia do Paraná, jovens em fase de transição da in- Rubens Marcondes Weber, com fância para a adolescência procuram experiência em Estruturas Sociais, um ideal comum num grupo, para complementa que no processo de que possam fortalecer suas identida- desenvolvimento da personalidade, des. “Geralmente andam em bando, quando o adolescente sai portão para que sejam notados, em busca afora, ele vai tentar contestar a sociedade e seu aprendizado até ende autoconfiança”, conclui Leda. Para o skinhead Jean Nazario, tão. Ao checar os valores ele tenta 19 anos, andar em bando é uma construir e vivenciar novas expequestão de segurança: “não saí- riências, e muitas vezes estas não mos por aí agredindo ninguém, só fazem parte dos valores da família, apanha quem merece, ou quem faz então isto assusta os pais. E pode alguma coisa contra nós, é a sobre- haver problemas, caso a distância vivência”. Jean faz parte dos ‘trads’ estabelecida entre o jovem e a famí[skinheads tradicionais] e afirma ser lia não tenha sido bem estabelecida contra o preconceito racial, diferen- em fazes anteriores. Quando um jovem ingressa te dos “white powers” [skinheads numa tribo de corpo e alma ele corre neonazistas]. Assim também age a tribo emo, o risco de se alienar aos valores do a qual Jackeline Pereira Ribeiro de grupo e da família, não pensando 16 anos, pertence. Segundo ela a individualmente e sim por influêntribo não se dá bem com os punk cia. “Eu passo a experimentar o “Eu rock, manos e os skinheads, com interior” e estruturar limites e posquem prefere não manter nenhum sibilidades, começo a organizar os contato visual “não vou mentir, limites das relações sociais e limites eu tenho um pouco de medo, mas pessoal (limites do Eu interior), a sempre ando com meu spray de pi- partir deste convívio, eu posso dar menta, e evito freqüentar os mesmos poder à características que indivilugares que eles, como o Shopping dualmente possam ser positivas e Estação”. Mesmo enfrentando tan- negativas no plano da existência”, tas conseqüências, pertencer a uma explica o Rubens Marcondes. E tribo não é somente fazer amigos. para o desenvolvimento da persoJackeline está na tribo há um ano e nalidade não são só as experiências afirma que nunca teria coragem de positivas trarão “benefícios” para largar: “se eu sair perco uma parte o individuo. A experiência como um todo é que determinará valores, de mim”, desabafa. A psicóloga Leda Fischer ainda regras, fantasias e ideais a serem comenta que é normal jovens re- cultivados durante a vida. manejarem suas figuras de identiIsabelle Warzinczak ficação construídas na infância sob Juliana Pivato a orientação dos familiares. Eles

METALEIROS O visual é composto por camisetas de bandas, jaquetas de couro e jeans, acessórios como cinto, braceletes e pulseiras. Curtem músicas pesadas e bandas como Black Sabbath, Kiss, Iron Maiden, Motörhead, Metallica, Slayer entre outras. Frequentam bares como Blood Rock, Vox e alguns localizados no Largo da Ordem.

EMOS A tribo divide-se em emodark que se vestem de preto e gostam de usar maquiagens fortes - o primeiro que apareceu e os emo cutes que gostam de coisas mais infantis. Se encontram no Shopping Mueller e na praça Oswaldo Cruz. Ouvem músicas das bandas Hevo84, Fresno, Black Veil Brides, Glória, Simple Plan entre outras.

HIPPIES Defendem o amor livre e a paz. Vivem em comunidade ou como nômades e se mantém através de artesanatos. Em Curitiba, vendem seus produtos nas praças Eufrásio Correia e Oswaldo Cruz. Muitos usam roupas estampadas e cabelos e barbas compridos. Gostos musicais: Mutantes, Zé Ramalho, Secos e Molhados, Caetano Veloso, Gilberto Gil, The Beatles, Led Zeppelin, Bob Dylan.

OTAKUS Curtem a cultura japonesa, anime e mangás. Alguns se vestem como o personagem do desenho ou game - cosplays. Usam bottons e camisetas de anime. Encontram-se na Praça do Japão, Jardim Botânico ou em lojas especializadas em HQ e Mangás, como a Itiban.

Skin Head

SKINHEADS Existem três gêneros: os Shaps - apolíticos, White Powers e os Trads, que geralmente não batem em homossexuais ou emos. Andam bem arrumados, sapatos, coturnos, que remetem ao militarismo, sua força, e sua agressividade, tento como principal significado a luta pelos seus ideais, e marcas como Adidas, Lonsdale, Fred Perry.

HIPPIES Bode = confusão Capanga = bolsa Eu “tô” que “tô” que nem “tô” de tanto que “tô” = eu estou bem SKINHEADS Bonehead = cabeça de osso. É a designação dada aos nazi-skins Rato, subclasse, lixo de esgoto = como os skinheads chamam os punks STRAIGHT EDGES Pico = local, lugar Moscando = vacilando Perreio = determinação OTAKUS Kawaii = fofo Sugoi = legal, incrível Baka/Baka mitai = idiota Kimi o aishiteru = te amo Dai kirai = odeio EMOS Bacanerr = bacana Pakito = moleque, menino (O mesmo para emogirls) Uma marca registrada do emo é escrever antes do nome palavras como: Lady, Srtº, Srtª METALEIROS Hail = “ave!” em versão infernal Deu biziu = deu errado Purassooo = muito legal Melanie Lisboa Saulo Schmaedecke

“Eu acho que emo é uma das melhores tribos, não pelo jeito de se vestir. É porque não importa sua religião ou opção sexual, mas o que você é”

“Nunca bebi nem usei outros tipos de droga, quando conheci o grupo me senti bem. Você não precisa se adequar a nenhuma característica física ou hábitos para ser straight edge”

“Ser metal é fugir das regras e valores, simplesmente “curtir” e sempre deixar isso no dia a dia. Adoro o fato de ser livre pra fazer o que eu quiser”

“Sou irmã gêmea das araucárias e também uma hippie frustrada! Todos os meus amigos viajaram o mundo inteiro, e eu no máximo fui pra Santa Catarina!”

Jackeline Ribeiro, 16 anos, estudante

Nathan Vidal, 19 anos, estudante

Hamilcar Vieira, 22, produtor de eventos

Gislaine Toniolo, 45, hippie das ruas


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política

Curitiba, junho de 2011

“A SITUAÇÃO REMETE ÀQUELA MÚSICA DO RENATO RUSSO: “QUE PAÍS É ESSE?””, DESABAFA VENDEDOR

URBS despeja antigos comerciantes do TUC A revitalização do Teatro Universitário de Curitiba (TUC) na Galeria Júlio Moreira, no Largo da Ordem, fez com que os comerciantes locais fossem “convidados a se retirar”. De acordo com os comerciantes, o espaço underground encontrava-se abandonado pela URBS, que mantinha apenas o aluguel dos espaços. A Fundação Cultural de Curitiba assumiu a administração e transformou o espaço em um ambiente cultural. Segundo os comerciantes, eles receberam por correio uma carta informando que seria feita uma revitalização no espaço e deveriam sair em 30 dias. Nabil André Kansou, vendedor autônomo, conta que tinha direito de ficar até 2011. “Gastei 8 mil reais na locação, mais 4 mil para arrumar o espaço para, após um ano, me expulsarem de lá. Sem compensação, sem justa causa. Para entrar com uma ação judicial, mais 2 mil.” Com ajuda

de amigos e familiares, a loja de Kansou tem um novo endereço, mas a Justiça não resolveu seu problema. “É injusto. Tudo foi por água abaixo.” Após a revitalização, os comerciantes mudaram-se para locais próximos, na Praça Tiradentes e na Rua Saldanha Marinho. Segundo eles, o público agora é maior, no entanto, a segurança é falha. As despesas e o incômodo em arranjar um novo endereço e dinheiro em tão pouco tempo são os fatores que mais pesaram. “A vantagem é que agora não somos mais vinculados a ninguém”, declara Hamilton, proprietário da loja de sucos O Rei do Açaí. “Nem adianta processar, não existe quem ganhe contra o Estado e a Prefeitura”. Hamilton conta que teve sua permissão de uso renovada. Entretanto, a medida não teve efeito, pois a garantia para usar o espaço só valia “enquanto os lá de cima quisessem”.

Segundo o advogado dos comerciantes, Bernardo Strobel, a Fundação Cultural de Curitiba, por meio do Decreto Municipal nº 1.499 de 2006, passou a gerir a galeria e se tornou responsável por avaliar as permissões de uso concedidas anteriormente. Ou seja, caberia à própria Fundação revogar o termo de permissão, e não à URBS, como ocorreu. A ação busca uma indenização devido à suposta ilegalidade do ato. “Nesse caso em que a permissão de uso se deu por longo prazo, havendo a aplicação de investimentos no bem público por parte do administrado, não se pode admitir que a permissão fosse revogada de uma hora para a outra sem que haja indenização pelas despesas efetuadas, e em alguns casos até pelos prejuízos decorrentes da revogação da permissão. Como no caso nenhuma indenização foi oferecida, o ato é ilegal.”

SALA DE EXPOSIÇÕES, CLUBE DE XADREZ E TEATRO EM CURITIBA

Cenário alternativo disponibiliza cultura de forma gratuita e aberta ao público “Aqui é um espaço multicultural”, afirmou Pedro Bahl Júnior, técnico de som do TUC. Conhecido por poucas pessoas, o Teatro Universitário de Curitiba dispõe de diversos espaços e atividades para o público. A galeria abriga três salas: a da Administração, a de Exposições de Arte Urbana e a do Clube de Xadrez. O diferencial é a possibilidade da população em usufruir das salas e do Teatro facilmente. O procedimento para a utilização da Sala de Exposições e do Teatro não envolve muita burocracia. A coordenadora do espaço, Patrícia Silva, explica que os interessados devem enviar uma solicitação ao TUC. Depois de aprovado, a diária para locação do Teatro custa R$55, um preço acessível às bandas e artistas em geral no início de suas carreiras. “Todas as bandas devem começar por algum lugar. As pesso-

Fotos: Daniela Maccio

A revitalização do Teatro em 2008, com o intuito de criar um ambiente cultural na Capital, acabou com o comércio underground

Espaços que abrigavam o comércio, hoje integram ambiente cultural

Kansou processou a Fundação, o Município de Curitiba e a URBS. De acordo com o advogado da URBS, Rodrigo Binotto, o juiz julgou improcedente o caso contra os dois primeiros, por ilegitimidade de partes. Em linguagem leiga, a ação apenas teria sentido contra a

última. Em 2010, o caso foi extinto e o comerciante condenado a pagar mais 3 mil reais. Como ele perdeu a ação, deve arcar com os custos da Defensoria, além da despesa para entrar na Justiça. Carolina Chinen

Programação e Contatos Festival de Bandas: todos os sábados até dezembro, às 19h30 11 e 17/06: Show João Tuska, às 16h 18/06: Banda DGrau Entrada Franca TUC: Galeria Júlio Moreira, Largo da Ordem, 30 3321-3312 www.fccdigital.com.br Horário de atendimento: 13h às 19h Fundação Cultural de Curitiba: Engenheiro Rebouças, 1732 - Rebouças 3213-7500 www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br

Clube de Xadrez fornece troca de experiências entre participantes

as veem o sucesso, mas não sabem pelos obstáculos que essas bandas passaram”, complementa Bahl. Um exemplo citado por ele é A Banda Mais Bonita Da Cidade, que abriu o Festival de Teatro de Curitiba, sem serem muito conhecidos. E agora fazem sucesso, tendo seu trabalho divulgado pela internet. Além de ser um espaço aberto ao público e que apoia grupos artísticos não muito conhecidos,

o TUC também é um espaço para troca de experiências. Bandas e artistas de outros lugares promovem encontros para discussões e intercâmbio de informações. Essa troca também acontece no Clube de Xadrez, onde jovens, adultos e idosos, passam tardes jogando, realizando campeonatos e tendo aulas gratuitas. Daniela Maccio Fernanda Vargas

Casa da Memória: Rua São Francisco, 319 – São Francisco 3321-3230 Horário de Atendimento: 9h às 11h30 e das 14h às 17h30 Solar do Barão – Sala de Exposições Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533 - Centro 3321-3269/ 3321-3240 Clube do Xadrez 3323-0708 Torneio Relâmpago: 5ªs e 6ªs das 17h30 às 18h30 Aulas pré-agendadas Horário de atendimento: 13h às 19h


política

Curitiba, junho de 2011

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Conta Cultura pode ser a saÍda para bandas independentes

Bandas iniciantes reclamam do excesso de burocracia A Lei do Incentivo seria um impulso do governo federal para o desenvolvimento da arte. No entanto, a burocracia para receber apoio através dessa lei é tanta, que as jovens bandas curitibanas preferem nem tentar. Lucas Rena n, 23 a nos, guitarrista da Banda Soma, disse que para conseguir esse incentivo a burocracia é muito grande: “Eles passam um questionário enorme, e só consegue o incentivo tendo um projeto perfeito”. Numa banda formada por gente muito nova, que está apenas começando, fica ainda mais complicado. Renan afirma que a banda só conseguiu deslanchar quando conseguiu contrato com uma gravadora, que procurou o grupo quando escutou suas músicas na internet. O guitarrista da banda Mo-

dales, Victor Fonseca, de 24 anos, disse que eles preferiram nem ir atrás desse incentivo governamental, pois já tinham ideia do desgaste desnecessário que enfrentariam. Os integrantes da banda se conhe-

começam com um questionário extenso que essas bandas tem que responder, e após o questionário respondido, vão aparecendo ainda mais empecilhos. Como os integrantes das duas bandas acima, muitos são os que preferem tentar se virar sem buscar a ajuda do governo. No entanto, por mais difícil que seja, algumas seguem firme no processo e acabam conseguindo pela Lei Rouanet, Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991, uma lei nacional de incentivo à Cultura. Em Curitiba, existe uma lei Municipal em que a Fundação Cultural de Curitiba está envolvida. Ela é a mais importante ferramenta para que as produções culturais do município aconteçam. Já no Paraná, existe a Conta Cultura, que tem por objetivo facilitar a parceria de entidades

“Só consegue o incentivo tendo um projeto perfeito” ceram na escola de música, e lá fizeram seus primeiros shows. Começaram a se programar para tocar em barzinhos, mas contam que está bem complicado para conseguir. As exigências burocráticas

Marina Bueno

Leis de incentivo são a maneira mais indicada das bandas conseguirem apoio, porém, a maioria prefere seguir carreira independente

Banda Modales prefere fazer shows com seus próprios recursos

que pretendem ajudar a cultura estadual. As estatais que aderiram à ação são a Sanepar, Copel, Copagás e Agência de Fomento do Paraná. Logo após serem aprovadas na Lei Rouanet, as bandas, se inscrevem e são avaliadas por uma comissão. Caso sejam aprovadas

PRODUTORES CULTURAIS APOIAM LEIS DE INCENTIVO à cultura

Maior parte da verba federal vai para o teatro lista que realizou curso de projetos culturais complementa: “As pessoas poderiam prestar mais atenção, porque há muitas leis voltadas para projetos culturais, sociais, entre outras, que ajudam na cultura da cidade. O desenvolvimento dos projetos inicia-se com as inscrições para a apresentação do empreendimento, visando à criatividade, se ela é inovadora ou não e se a proposta apresentada é relevante. “Hoje os projetos são aprovados por mérito. Uma comissão julgadora analisa a contra partida social, os envolvidos nele e se tem boas propostas”, conclui Vogue. Anteriormente, os projetos deveriam ser entregues contendo toda a documentação necessária, antes mesmo de ser aprovado. Vogue acredita que a burocracia é necessária: “Eu acho que tem que ter uma certa burocracia para não virar festa. Hoje só é necessário apresentar o projeto junto com o currículo dos principais

Ana Luísa Bussular Rhaíssa Sizenando

Principais pontos • Antigamente, os projetos eram analisados pelo orçamento e análise documental. Hoje é exclusvamente por méritos. • Existe uma comissão de fiscalização a qual acompanha prestações de contas e o projeto. • Uma garantia é estabelecida para artistas em início de carreira que apresentam um primeiro projeto. • Entra como critério de avaliação se o projeto contém uma contrapartida social, trazendo retorno cultural para a comunidade.

Gustavo Magalhães

A maioria das peças teatrais em Curitiba são beneficiadas pelas leis de incentivo. De acordo com o Ministério da Cultura, o teatro não se autossustenta economicamente e sempre precisará de subsídios. Quase todos os auxílios da lei Rouanet, são aplicados na montagem dos espetáculos e na manutenção das temporadas teatrais. Vários produtores culturais se apóiam nas leis para a realização dos projetos. Adriano Vogue, 37, produtor cultural, afirma que realiza projetos desde a criação da lei: “Como produtor, usufruo da lei desde quando ela existe, de lá pra cá realizei em torno de duas produções por ano, isso é um bom número”. Em 2009, Vogue produziu o espetáculo “Cinderela” com incentivo à cultura municipal. Neste ano, a peça retorna em uma nova temporada com incentivo da lei Rouanet, no caso, lei federal. Cristiano Luiz Freitas, 34, jorna-

as propostas, podem ganhar um patrocínio de até 100% do valor dos trabalhos. Essa é uma forma de juntar governo e empresas privadas.

Atores ensaiam peça incentivada pela lei municipal cultural

envolvidos, tendo o projeto aprovado, eles pedem a documentação necessária pra poder receber a autorização e consequentemente receber o recurso”. Além do retorno cultural que

os projetos apresentam, o governo dá mais crédito à iniciativas que priorizam a geração de empregos. Gustavo Magalhães Náthalie Sikorski

• Há possibilidade de penas progressivas, de acordo com a gravidade, que pode chegar a 4 anos sem pode apresentar novos projetos.(GM)


esporte

Curitiba, junho de 2011

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O shopping itália apoia os encontros de dança de rua visando a divulgação na capital paranaense

As raízes da dança de rua em Curitiba Jam Session, como é chamado, é o encontro de dança de rua mais antigo, em atividade, no país. Nasceu em 1986, pela necessidade de praticar que os bboys, como são chamados estes bailarinos, sentiam e para travar competições saudáveis, verdadeiras batalhas, onde o vencedor tem como único prêmio, a moral entre o grupo. Street dance, ou simplesmente dança de rua, é uma das práticas que integra a cultura hip hop, juntamente com os mc’s (cantores), grafite e etc. Na cidade de Curitiba, a dança de rua ainda é mantida em suas raízes, sendo praticada no local que deu origem ao seu nome, a rua. Os primeiros encontros desse tipo existentes no Brasil aconteciam na estação São Bento no metrô da cidade de São Paulo e foram proibidos pela direção do estabelecimento sob alegação de marginalização da estação. Já

aqui na capital, o Shopping Itália tem aproveitado o público que se reúne para sua divulgação. Os encontros acontecem sempre aos sábados às 19h e não existe um único responsável. De acordo com

Os bailarinos vão aos encontros para rever os amigos e praticar os participantes é dever de todos os bailarinos zelar pelo local, não sujar e nem depredar. O som utilizado é trazido cada semana por um membro e fica sempre instalado nos carros parados em frente as rodinhas, onde os meninos e me-

ninas estão dançando. De acordo com Tiago “Superstar” o local virou um point, referência para os bailarinos que não gostam de dançar em academias e participar dos grandes campeonatos, pois como praticam as modalidades consideradas “de rua” não sentem que tem o olhar dos jurados da forma que merecem. Ele conta ainda, que o Festival Internacional de Hip Hop, que acontece aqui na cidade, já tentou ter entre suas categorias de competição uma que os abrangesse, mas os poucos participantes fizeram com que a mesma parasse de existir. A praticante Silvia, conhecida como Sil, ensaia para uma competição, na qual ela competirá na categoria de bgirl, nome dado as meninas que praticam estas modalidades.

Stella Mafra

Inspirado nas brigas das gangues americanas que encontraram uma forma pacífica de resolver suas diferenças os curitibanos dançam

Rapaz inicia uma sequência assistido pelos bailarinos

Jovens ensinam pakour em Curitiba

Stella Mafra

Slackline: diversão para alguns, fonte de renda para artistas de rua da capital

O slackline é um esporte criado na Califórnia em meados de 1970, que chegou ao Brasil na década de 90, conhecido como “corda bamba”. Apesar de já terem acontecido campeonatos em alguns estados, ainda é pouco reconhecido pelos brasileiros. A atividade consiste em caminhar e realizar manobras em uma fita de nylon, fixada através de um sistema de catracas entre dois pontos. Concentração, respiração e equilíbrio são as principais habilidades treinadas. O esporte pode ser feito de diferentes distâncias, tanto entre árvores próximas quanto entre edifícios distantes. Dependendo do equipamento usado pelo praticantes e sempre de acordo com sua experiência. Há ainda cordas de diversos tamanhos. Algumas pessoas utilizam o esporte como forma de ganhar di-

nheiro. Em Curitiba, a atividade é encontrada em alguns semáforos, ou próximo deles, onde os praticantes usam o esporte como forma de trabalho. Evandro D’Hipolito que pratica o slackline a três anos, conta que encontrou no esporte um jeito de ganhar dinheiro. “O difícil é que dependo da bondade das pessoas, mas posso dizer que com o que ganho dá pra me sustentar” afirma Evandro também ressaltando que “É cansativo, eu tenho que andar na corda aqui, e ir correndo para os carros pedir dinheiro”. O praticante diz que ganha em média 50 centavos por motorista que o ajuda e relata “Olha, tem carro que me dá cinco centavos, tem carro que me dá dois, três reais, varia muito”. Ele fica durante os dias de semana na rua Silva Jardim, e nos finais de semana é encontrado na rua Cândido de Abreu, pois segundo ele a Silva

Jardim é pouco movimentada aos sábados e domingos. Normalmente começa seu trabalho por volta das 15h e só termina quando o movimento acabar. Além do Slackline, ele também pratica outras artes de rua como o malabarismo. É comum vê-lo praticando o malabarismo junto com o slackline, de forma muito hábil. Nos finais de semana o slackline também é praticado no parque que fica atrás do Museu Oscar Niemeyer, como forma de brincadeira. A atividade também era realizada no Parque Barigui, mas foi proibida por fiscais florestais, que consideram a atividade um crime ambiental por amarrar a corda em árvores e então colocar o peso de seu corpo contra ela, fazendo com que ela se curve, assim danificando os troncos. William Borges

Rogério Scarione

A corda bamba ainda é um esporte desconhecido no BRASIL

Jovens praticam o esporte nas praças de Curitiba

O le pakour é um esporte radical, que surgiu na França, nos anos 80 e desde então tem se difundido pelas grandes cidades do mundo. Em Curitiba, ainda não muito conhecido, o esporte vem crescendo e ganhando cada vez mais adeptos. Isso porque, um grupo de jovens ensina, todas as terças e quintas-feiras, na PUCPR, as técnicas do pakour. O GAP, Grupo de Aulas de Pakour, é formado por 7 integrantes, existe desde 2005 e há 3 anos vem ensinando o esporte que, segundo eles, pode ser praticado por pessoas de qualquer idade . “É acessível pra todos. Sem idade para começar. Quanto mais cedo, melhor”, explica João Soter, 22, integrante do GAP. Além das aulas semanais, o GAP também realiza palestras em escolas e workshops para grupos circenses e teatrais, sempre com o intuito de divulgar o esporte, como explica Lucas Lima, 21, também integrante do grupo. “A intenção é levar a pakour a todos, dar a possibilidade de qualquer pessoa ter a chance de praticar o esporte”. Os interessados, podem entrar em contato com o GAP através de sua pagina na internet: www.aulasdepakour.com.br Rogério Scarione


polícia

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Curitiba, junho de 2011

número de casos de pichação aumenta 2% em comparação com 2010

Menores são culpados por 47% da pichação Índices do Sistema de Gestão da Guarda Municipal (SiGesGuarda) de Curitiba informam que 47% dos casos de pichação são cometidos por menores de idade. Elisabeth Seraphim Prosser, historiadora social da arte no Paraná, explica que isso se dá porque os jovens querem transgredir as regras e, ao mesmo tempo, se divertir. “É um misto de entretenimento e protesto, de irritar aqueles que os irritam”. Dados do SiGesGuarda mostram ainda que de um total de 262 ocorrências, 94 foram registradas apenas na região Matriz, correspondente ao Centro e aos bairros vizinhos. Nos primeiros cinco meses de 2011, comparados ao mesmo período de 2010, o índice de casos registrados por pichação em Curitiba aumentou em 1,94%, segundo SiGesGuarda. A fim de inibir casos como este, no último dia 25, foi aprovada pela presidente Dilma Rousseff, a Lei nº 12.408 que proíbe a venda de tinta do tipo aerossol para menores de 18 anos. Sérgio Cruz, super visor da Guarda Municipal, comenta que a pichação é uma questão de visibilidade e, por isso, o Centro é o local mais almejado. “Os pichadores querem ser vistos e o Centro é o local ideal, pelo alto fluxo de pessoas que passam por lá diariamente”. Marcelo* começou a pichar quando era menor de idade, aos 16 anos, e hoje, aos 22, explica o motivo para ainda continuar pichando. “Eu também faço graffiti, mas às vezes saio para pichar e sentir adrenalina”. Conta ainda já ter sido pego pela polícia algumas vezes. “Eles me pegaram, me bateram e jogaram a tinta em

mim, mas não deu nada”, comenta. Trajetória Michael Puquevis Ando, 26, um dos pioneiros do graffiti em Curitiba, começou com a pichação, aos 14 anos, e fazia com a intenção de vandalizar. “Pichar é muito perigoso. Os melhores são os que fazem mais alto, os que se arriscam mais”, afirma. Michael ou Devis, como é mais conhecido, conta ainda que começou a pichar no seu bairro com um grupo de amigos, depois se distanciou e continuou a pichar sozinho. Algumas vezes foi pego pela polícia, mas nunca aconteceu nada sério. Um dia, na escola, a professora passou um vídeo sobre o artista Jean-Michel Basquiat, um grafiteiro da década de 80 que teve seu trabalho reconhecido por todo o mundo. A história do artista norte-americano inspirou Devis, que resolveu se dedicar exclusivamente ao graffiti e a estudar sobre a história da arte. “Eu ia à Biblioteca Pública para ler sobre a história da arte e dos pintores. Eu pesquisava, e continuo pesquisando, para aprimorar minha arte”. Hoje, além de dono de uma loja e escritor de graffiti, título dado a esses ar tistas urbanos, Ando ministra oficinas na Fundação Cultural de Curitiba, como a Mural Curitiba + Graffiti, e já realizou campanhas publicitárias, dentro e fora do Brasil, para grandes empresas como Tim, Nike e Red Bull. “Quando vai para o exterior, o artista é mais reconhecido onde mora”. *O nome foi modificado.

Jordana Basilio

Dados recentes da Guarda Municipal apontam que 94 dos 262 flagrantes de pichação registrados em 2011 ocorreram na região central

Comunicare flagra jovens pichando muro em plena luz do dia no bairro Tarumã

Diana Araújo

Carine Rocha Jordana Basilio

Diana Araújo

“Os melhores são os que sobem mais alto, os que se arriscam mais”

Pichação sobrepõe graffiti autorizado

Funcionário limpa muro pichado na Mateus Leme

“Infelizmente a lei no papel é uma coisa, mas na prática é totalmente outra. A comunidade precisa se inserir também na fiscalização dessa lei”

“Sou totalmente contra a lei. Não vai adiantar, porque quase 70% dos pichadores usam rolinho. A forma mais correta não é coibir, é tentar educar”

“A arte é sempre criativa. Acredito que o certo seria canalizar a energia e o talento desses meninos que fazem arte de rua para fazer coisas interessantes e originais”

Sérgio Cruz, supervisor da Guarda Municipal

Michael Puquevis Ando, escritor de graffiti

Elisabeth Seraphim Prosser, historiadora social da arte


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gastronomia

Curitiba, junho de 2011

Animais são criados especialmente para abate e fiscalizados pelo Ministério da Fazenda

Carne de caça: desconhecida, exótica e saborosa A carne de caça não é muito conhecida pelos frequentadores de restaurantes contemporâneos na cidade, mas a carne agrada a consumidores fiéis, na maioria, da classe A e de meia idade. Com sabores e texturas específicos, a carne de javali se assemelha a carne de porco, mas, mais forte. A carne de pato é parecida com a carne de frango, porém, é mais rígida. Apesar de a avestruz ser uma ave, a carne é vermelha, com textura e, macia. É conhecida por ser rica em ferro. Na cidade, também, podem ser apreciadas caças mais difíceis de serem encontradas nos restaurantes como rã e jacaré. A carne de jacaré apresenta sabor entre frango e peixe e é dura. Já a carne de rã é saborosa e de fácil digestão, apresenta baixo teor calórico e alto nível de proteínas e sais minerais. O gerente do restaurante Petit Château, localizado em Santa Felicidade, Marcelo Pleti, afirma que a carne de caça ainda é pouco

Paula Pelizzaro

Encontrada em poucos lugares, com sabores incomuns, atraem público fiel a alguns restaurantes da capital paranaense

Javali, avestruz e pato são as opções de carne de caça do Petit Château

procurada, porém os apreciadores do produto costumam optar pelos pratos com freqüência. Não é muito comum o aparecimento de novos consumidores. Os que resolvem experimentar pela primeira vez são, normalmente, incentivados por antigos consumidores do produto. O restaurante costuma receber cerca

de 200 clientes as sextas e sábados. O restaurante, está localizado na Avenida Manoel Ribas, 5.039, em Santa Felicidade. No cardápio, contêm como opções javali, avestruz e pato. Para quem deseja preparar um prato com carne de caça em casa, ela pode ser encontrada em alguns

açougues especializados. Os animais são criados num habitat o mais parecido possível com o natural de cada espécie. O Ministério da Fazenda fiscaliza a criação e abate dos animais até o processamento, congelamento e comercialização da carne. O aposentado Manoel Caetano, 61, comeu javali, pela primeira vez, há dois meses, em um jantar com amigos e aprovou, depois, conheceu a carne de pato e por último, a de avestruz. Ele nos contou que: “nunca tinha pensado em comer uma carne estranha, como a de avestruz, comia carneiro e achava que já era estranha, mas, depois que conheci gostei”. Caetano também afirma que as pessoas que dizem não gostar do sabor da caça antes de experimentálo deveriam vencer o preconceito e provar. Finaliza dizendo: “agora quero experimentar carne de jacaré, já me disseram que é gostosa”. Maria Brey

Javali ao vinho Ingredientes Escalopes de mignon de javali. Vinho branco seco. Sal, pimenta do reino, louro, alecrim e azeite de oliva. Suco de 10 laranjas coados. 250 ml de vinho do porto. 2 colheres de sopa cheia de açúcar. 1 colher de sopa de amido de milho e 50 ml de água. Modo de preparo Temperar os escalopes de mignon com 24 horas de antecedência no vinho branco seco e condimentos. Grelhar os escalopes até ficarem dourados. Para o molho, juntar o suco de laranja, o vinho do porto e açúcar. Levar ao fogo e deixar reduzir por cerca de 10 minutos e engrossar com o amido de milho dissolvido na água. Acrescentar uma pitada de sal.

Espaço Surf Gourmet aproveita luz natural, embalagens retornáveis e reciclagem 31 anos de tradição

Recentemente inaugurado em Curitiba, o Espaço Surf Gourmet inclui, num cardápio leve e natural, pratos cujos sabores fazem referência a países como México e Índia. O restaurante cuida do meio ambiente utilizando o máximo possível de materiais retornáveis e reciclando. Procurado, em maior parte, pelo público da classe média, o restaurante é especializado em sanduíches, brusquetas e panquecas leves, preparados sem ingredientes fritos. Segundo a chef Maia de Oliveira, clientes adeptos do surf preferem consumir pratos vegetarianos, justificando a opção do Espaço em servir pratos leves. Com arquitetura jovem e música ao vivo em alguns dias da semana, o estabelecimento é amplamente procurado após as 18 horas. O espaço mantém sua característica de restaurante gourmet, servindo pratos bem elaborados como, por exemplo, a panqueca mexicana e

Thiago Radael

Sabores do México e Índia em pratos saudáveis Churrasco e rock no bar

Chef do Espaço Surf Gourmet cria cardápio leve e natural

o sanduíche indiano, muito procurado pelos clientes. Outro ponto é ofertar poucos tipos de bebidas alcoólicas e, segundo Maia, eles param de vender bebidas pouco tempo após o encerramento das vendas de alimentos. O empreendimento dos sócios

Eduardo Kupchak e Rafael Tempo opta por práticas simples que auxiliam no cuidado com o meio ambiente. O tratamento do lixo orgânico para que possa ser usada como adubo é, por exemplo, uma das práticas utilizadas por eles. Outra ação é reciclar todos os

materiais possíveis e a venda de bebidas engarrafadas em embalagens retornáveis. Segundo Kupchak, a única exceção é uma famosa bebida energética que é vendida em lata. Kupchak conta que o Espaço Surf (empreendimento do qual fazem parte o Espaço Surf Gourmet e mais 7 estabelecimentos) planeja implantar um projeto social em parceria com a prefeitura, no qual será oferecida a crianças carentes a possibilidade de passar um dia conhecendo o esporte. Elas receberão transporte e alimentação gratuitos, contarão com instrutores para aprender sobre skate. A revitalização da praça localizada em frente ao Espaço e a implantação de uma pista de skate. O Espaço Surf Gormet fica na Avenida Arthur Bernardes, 958, no bairro Santa Quitéria. (MB) Rafaela Campanholi Paula Pelizzaro

Há quase 31 anos, no dia 7 de setembro de 1980, nasce o Lino’s Bar, localizado no centro de Curitiba, como ponto de encontro de tribos ligadas ao rock. Segundo Antônio José Lino dono bar, o lugar varia de geração a geração. Ele conta que os clientes são fiéis e que viu muitos crescerem, e hoje são casados com filhos, alguns até com netos, a integração é muito bonita. Não há petiscos no local, em dias de jogo e quando as bandas tocam, quinzenalmente, os frequentadores levam carne e churrasqueira para o local. O bar mudou-se há seis anos para o bairro Boa Vista, na Rua Paula Prevedello Gusso, 8, próximo ao Balaroti da Rua Anita Garibaldi. (PP) Thiago Radael


cidade

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Curitiba, junho de 2011

INTERNET E LIBERDADE SEXUAL AUMENTAM A PROCURA PELAS BALADAS LIBERAIS

Swing: Curitiba atrai casais de todo o país Capital paranaense reforça a tese de que cidades mais “conservadoras” possuem as casas mais bem-sucedidas para a prática do swing Seja para realizar desejos e fantasias, aumentar a intimidade entre o casal ou por simples curiosidade, o fato é que as casas de swing curitibanas vêm atraindo cada vez mais pessoas às chamadas “baladas liberais”. Apesar do preconceito e do desconhecimento do público em geral, esses clubes arrebanham novos freqüentadores, além dos swingers (ou suigueiros) fiéis. Os dois maiores clubes da capital, Venus e Desirèe, contribuem para a fama de Curitiba como uma das cidades mais procuradas pelos swingers no Brasil. As casas recebem excursões de Santa Catarina, de São Paulo e até mesmo do Nordeste. O dono da Vênus, conhecido como Bê*, explica por que a cidade

se mostra tão bem sucedida nesse sentido.“Em cidades em que o público é mais fechado e a sexualidade mais preservada os clubes de swing funcionam melhor. Em lugares mais liberais, não há clubes com estruturas como nas casas de swing que a gente vê por aqui”, enaltece ele. O casal Kamily* e Fer*, que já freqüentou casas de swing em diversos estados, pontua as principais diferenças entre as casas de Curitiba e as de fora. “Conhecemos casas em Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e há muita diferença. Em Santa Catarina, os casais são muito mais receptivos, conversam mais e tem uma maior liberdade entre eles. Já em São Paulo, as pessoas são mais fechadas e os clubes não tem um clima de balada como os do sul”, explica ela. “As casas de swing vem crescendo muito nos últimos anos.

Marina Bueno

“A vida fora do mundo liberal tornou-se chata, aborrecida” Bê: “Onde o público é mais fechado, os clubes funcionam melhor”

São vinte novos casais por fim de semana e acredito que isso está acontecendo por causa de uma maior liberdade sexual. Hoje há uma facilidade maior porque está mais difundido, também por conta da internet”, avalia Bê. Ele e sua esposa, Cris* praticam a troca de casais a mais de 12 anos. Há cerca de um ano, o casal decidiu conciliar suas profissões “formais” - Bê é autor de livros didáticos e Cris, produtora de eventos – com a vida liberal e inaugurar uma casa em Curitiba, a Vênus Swing Club. A internet possibilita aos casais de diferentes estados com os mesmos interesses uma aproximação mais fácil. Depois do encontro dentro das casas, muito casais se tornam amigos e conti-

nuam a se encontrar fora dali, não necessariamente para praticar o swing. “A gente costuma se esquecer dos casais fora dos casais que estão fora dos clubes. A vida fora do mundo liberal tornou-se chata, aborrecida. Mantemos um contato próximo com vários casais swingers. Não para transar mas para conversar, rir, se divertir. E só se pintar clima, transar”, afirmou Márcio*, que freqüenta o swing há um ano com a mulher Cris*. Porém, a relação dentro e fora das casas são muito diferentes. No swing, o que está em jogo é o corpo, não a emoção. Apesar da intimidade sexual, não há o envolvimento emocional com outro casal da mesma forma que há entre marido e mulher. De-

monstrações de afeto costumam causar cenas de ciúme, conta o empresário Maurício Camargo, dono da Desiree. Os clubes realizam noites em que são permitidos solteiros – os chamados avulsos - e casais e outras destinadas apenas para casais. “Tem casais que gostam de swing e de ménage à trois (sexo a três). Na quarta (noite dos solteiros) tem mais junção e mistura. Não é uma abordagem mais agressiva, ela tem mais volume”, explica Maurício Camargo. Os freqüentadores tem liberdade para fazer e se envolver com quem desejarem. Os clubes se parecem muito com casas noturnas convencionais, com pista de dança e bar. Além destes, existem ambientes para momentos mais íntimos, como salas para troca de carícias, salas completamente escuras (conhecidas como dark rooms) e há também uma grande cama coletiva. Em certos quartos, é possível ser observado por outras pessoas ou optar pela privacidade em quartos fechados. Apesar da atmosfera liberal, os swingers prezam muito pelo respeito entre si. “As mulheres não estão aqui para serem desrespeitadas. A mulher é mais respeitada aqui do que em uma balada convencional. Nós fazemos um trabalho sério, muitos casais procuram isso e tem confiança em vir. Por isso são exigidas regras e um nível de comportamento”, diz Camargo. Algumas noites são temáticas e diversas brincadeiras aproximam mais os participantes. Certos casais demoram mais do que outros para se soltar e cada um tem suas preferências. Há aqueles que, inclusive, preferem apenas assistir. “Todo casal tem suas fantasias e cada um tem seu ritmo. Alguns demoram mais para se soltar e ficam só assistindo por determinado tempo. Quando começa a se soltar a se sentir desejada, a mulher muda completamente e passa a se sentir melhor”, explica Bê. E é justamente esse bem-estar

que faz com que casais retornem às casas. Muitos freqüentadores fiéis desses clubes dizem que a prática melhorou o relacionamento com o parceiro e provocou um aumento na auto-estima. “Você fica

Na balada liberal, os swingers prezam muito o respeito entre si mais preocupado com sua aparência e saúde - pois o físico é muito importante. Se preocupa mais com suas roupas, passa a curtir mais sua mulher - e ela, a mim - porque percebe que ela é desejada, e isso te dá orgulho”, afirmam o casal Márcio e Cris. “Minha vida amorosa melhorou de 40% para 99%, porque nós começamos a conversar mais em casa, descobrir o que cada um queria. Nos conhecemos mais agora do que quando estávamos no início do nosso casamento”, diz a secretária Any Lalo, que freqüenta o swing com o marido há quatro anos. Todos os envolvidos nesse meio também são unânimes em afirmar que o swing não ajuda a melhorar um relacionamento ruim. Os donos das casas aconselham o casal a conversar e deixar tudo muito bem planejado em casa para evitar surpresas. Portanto, para que os benefícios esperados venham após a ida a uma “balada liberal”, é preciso que o casal esteja em um bom momento. “O swing não é tábua de salvação de casamento. Se o relacionamento vai mal, quando chegar em casa vai brigar. Se estiver bem quando chegar em casa o casal pode se aproximar muito mais”, esclarece Camargo. *Os nomes foram preservados Renan Araújo Thaís Reis Oliveira


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cidade

Curitiba, junho de 2011

MALABARISTAS, PERSONAGENS INFANTIS E PROTESTOS SÃO ENCONTRADOS EM RUAS CENTRAIS DE CURITIBA

Manifestações artísticas, políticas e culturais Com o objetivo de complementarem suas rendas, malabaristas e personagens infantis são encontrados nos sinaleiros e nas calçadas do centro de Curitiba. Além disso, ruas da cidade são palcos de protestos em favor de indivíduos que sofrem discriminação. Pablo Ramirez é um malabarista uruguaio que faz apresentações com fogo nos semáforos. Há sete anos, veio ao Brasil em busca de uma vida melhor, porque, apesar de ter familiares em Minas Gerais, “aqui é mais fácil para arranjar emprego”, contou. Ramirez aprendeu a arte do malabarismo com pessoas que já exerciam esta profissão. Atuou em circo por alguns meses, mas prefere trabalhar na rua por se sentir mais livre, com a possibilidade de fazer rodízio na cidade, não precisando estar sempre no mesmo lugar, nem obedecendo a regras e horários. Na Rua XV de Novembro, João Mário Alves Santana, 40 anos, representa o homem aranha. Trabalhando a 25 anos em teatro de forma independente, começou a se fantasiar ao precisar de recursos para pagar o aluguel, e desde então, une diversão e trabalho. Com cartazes e fitas isolantes em suas bocas, Guilherme Copetti, 27 anos, psicólogo, e Lucas Pio, 21, estudante de Economia, defendem uma causa, protestando em silêncio, que, segundo eles, não recebe a merecida atenção da mídia, a discriminação. Em um dos cartazes tinha uma estatística brasileira: “Todo dia 3 adolescentes gays se matam devido as pressões decorrentes da discriminação”. Por entender que esses jovens não tiveram forças nem o apoio necessário para resistir às pressões, Pio foi o autor da ideia de aderir ao luto em solidariedade às famílias. Copetti acredita que conscientizando a população a respeito do assunto, pode ser que as pessoas passem a agir de uma forma mais compreensiva e respeitosa em relação aos sentimentos afetivos dos seus semelhantes. Gleize Perez Karen Okuyama

Fotos: Aline Hobmeier

Contraste na capital une diversão e trabalho, além de ser palco de denúncias como a de discriminação que leva ao suicídio de gays

O malabarista uruguaio Pablo Ramirez fazendo apresentações com fogo em um sinaleiro ao lado do Shopping Mueller

João Santana representa o homem aranha na Rua XV de Novembro

Protesto em silêncio contra o preconceito homofóbico


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