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opinião
Curitiba, setembro de 2010
UMA OBSERVAÇÃO DETALHADA DO AGORA E UM RASCUNHO DE UM FUTURO NADA DISTANTE
É divertido ser curitibano? Tem arte?
FALA, PROFESSOR
Juliana Hemili
Nossa Capa
O descaso com alguns parques de Curitiba é um risco para a população. Na periferia, parques fechados obrigam crianças a brincar na rua e os que estão abertos são inseguros. Ilustração: Marcela Lorenzoni. Foto: Elian Woidello.
Em Curitiba não há praia, não faz muito sol não tem muito calor, tem muita chuva, mas isso não é novidade. Afinal o que é diversão em Curitiba? E o que é arte? O Comunicare escolheu este tema para mostar que nem só de “leite quente” vive o homem. Fomos mais a fundo nestas questões e investigamos que a capital e região metropolitana, ao todo 75 bairros, dos quais 21,3% não apresentam algum tipo de equipamento publico de diversão. As ruas que dão acesso ao único zoológico da capital não são pavimentadas há 25 anos, são somente “recapadas” e há falta sinalização. Mas em alguns casos é necessário ser otimista. Segundo o Chefe do Departamento de melhorias urbanas da Regional Boqueirão, João Vidal, não é prioridade o conserto das ruas
para o zoo, pois assim os motoristas se obrigam a reduzirem a velocidade, diminuindo assim o número de acidentes. Outro probrema apontado foi a segurança nos parques. O interessante foi a justificativa dada pelo secretário de Esporte e Lazer de Curitiba, Rudimar Fedrigo, que afirma que grande parte dos problemas de segurança nos parques seriam resolvidos se houvesse a “participação efetivada população” na ida aos parques, fazendo assim com que os usuários de drogas parassem de frequentar os mesmos. A malha cicloviária de Curitiba, por mais que não aparente ser diversão e sim meio de transporte, teve como ideia inicial ser uma interconexão entre os principais parques da cidade. Porém, com o crescimento da venda de carros, os investimentos foram sendo
Marcela Lorenzoni
A imagem que vendem para outras cidades pode ser ótima, mas será a realidade que vivemos diariamente?
destinados somente para ruas, assim as ciclovias estão em péssimo estado e sem sinalização. Em ano eleitoral, é importante relembrar que é direito de todo ser humano e assegurado no artigo 24 da Declaração Universal dos Direitos Humanos que todo o homem tem direito a repouso e lazer. Entretanto este direito não esteja sendo negligenciado?
Rubiane Kaminski
“O problema da violência só terá solução quando formos atrás da verdadeira causa. A desigualdade social é o maior mal da nossa sociedade, é dela que derivam tantos problemas.” Rodrigo Alvarenga, professor de Ética e Filosofia, PUC-PR
FALA, LEITOR
“A violência em Curitiba têm aumentado. É importante apontar os focos e os meios para combatê-la.” Valdemar Félix, Professor
OMBUDSMAM DUPLO: FALTOU APURAÇÃO E SOBROU DROGAS E POLÍCIA NO COMUNICARE EDIÇÃO VIOLÊNCIA
Detalhe tem grande relevância Temática e abordagem são repetitivas no jornal Rafael Tavares de Mello Diretor de Redação Grupo Paulo Pimentel
A toda pauta, matéria ou edição, o jornalista deve responder a fácil e importante pergunta: isso que estou fazendo vai interessar a alguém? A relevância de temas deveria nortear o trabalho de todo jornal. Como não há dúvidas de que violência desperta atenção de qualquer um, cumpriram esta parte da lição os editores do número 183 do Comunicare. O que faltou, num trabalho certamente árduo de apuração, foi maior cuidado na construção dos textos e uso das informações coletadas. Em artigo da página 2, por exemplo, comparar violência urbana sem definir com clareza o critério não ficou bem. São Paulo tinha índices de violência maiores de forma absoluta ou em relação ao número de habitantes? Na sequência, a análise da situação das nossas polícias derrapa
ao afirmar que faltam 300 mil policiais civis no Paraná, número fora da realidade. Boa surpresa a matéria sobre câmeras instaladas por moradores em rua do Jardim das Américas. Pecou apenas por não ser mais aprofundada. Quem leu, assim como eu, ficou com aquele gostinho de “quero mais”. Quantos roubos aconteceram após a colocação dos equipamentos? Resposta genérica não vale. Fato semelhante está registrado na sétima página, com a emocionante história da menina que teve a vida salva por uma fivela de cabelo. Muito mais importante que a maioria dos textos do jornal, mas relegada à condição de segundo destaque. Registro, ainda, duas escorregadas que poderiam ter sido evitadas. A página 6 traz uma “pesquisa” – aspas propositais – que carece de crédito. Trata-se de simples enquete e assim deveria ser tratada, pois não possui nenhum critério científico para afirmar que a população não
confia na polícia, apesar de a resposta parecer um tanto óbvia. Em outro texto, o autor cita como “injúrias” casos de afogamentos, socos no estômago e tapas na cara. Nenhuma conexão possível, tanto pelo significado ortográfico ou enquadramento penal. Esta matéria, em especial, poderia ser 80% melhorada. Sem dúvida os editores merecem cumprimentos por abordarem assunto tão relevante. Mas fica o alerta: mais atenção para editar e dedicação para apurar vão laurear ainda mais o trabalho de toda a equipe. E que tal um toque mais criativo na diagramação?
Elisa Lopes Jornalista Gazeta do Povo Ex-aluna do Comunicare 2007
O jornal abordou um tema muito importante e presente na vida de todos os cidadãos. Nas matérias sobre a polícia senti falta do outro lado: a voz dos policiais. Como é feito o treinamento, o que é exigido deles e o que lhes é oferecido para que nossa segurança seja tão precária. O editorial está muito bem colocado e a relação com o poder público foi adequadamente explorada na página 3. Mas tem-se
CARTA DO LEITOR
Gostaria de parabenizar os alunos e professores organizadores da edição sobre “Violência”, do Jornal Comunicare. Sou doutoranda e professora do curso de Direito da PUCPR e tenho acompanhado as edições do jornal que se apresenta cada vez melhor e mais interessante, não apenas para a comunidade acadêmica, mas para toda a população. Parabéns! Cordialmente, Leila Andressa Dissenha
a impressão, ao ler as primeiras páginas, que violência tem a ver apenas com segurança (ou falta dela). Na capa, poluição visual e exagero com o título em letra ensangüentada – desnecessário. Além disso, é visível a tentativa de encobrir uma falha na foto do governador com a frase em sua testa. As editorias Central e Drogas se repetem e são confusas. A chamada de capa sobre as páginas 8 e 9 aparece apenas em um Box e um dado importante (80% dos homicídios são por causa do tráfico) aparece descontextualizado. O título da página 10 é referenciado apenas no terceiro parágrafo, e a matéria seguinte é uma extensão do mencionado na Central, sobre a Delegacia. Outros tipos de violência, como contra a mulher e crianças têm pouquíssimo destaque, e os idosos aparecem em matéria com destaque apenas à questão da saúde. E violência no trânsito?
política
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Curitiba, setembro de 2010
APÓS INTERDIÇÃO, PEDREIRA CONTINUA ABERTA somente PARA VISITAÇÃO
Agosto de 2008: MP acata a reclamação dos moradores locais e ingressa com uma ação civil pública. A Pedreira Paulo Leminski é interditada. Outubro de 2008: O juiz da 4ª vara da Fazenda, Douglas Marcel Perez, libera a Pedreira para alguns shows. No entanto, deve ser feito um pedido prévio para análise e confirmação. Os eventos podem estender-se somente até às 23h. Maio de 2009: A campanha “A Pedreira é Nossa” tem início. Trata-se de uma mobilização virtual organizada pelo vereador Jonny Stica (PT), em conjunto com empresários e produtores artísticos de Curitiba, estudantes e representantes da sociedade, para tentar reabrir a Pedreira Paulo Leminski para shows. Dezembro de 2009: Abaixo assinado recolhe 12 mil assinaturas e pede reabertura da Pedreira Paulo Leminski. Junho de 2010: Instituto de Pesquisa e planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) estuda criar uma nova “Pedreira” no Parque Municipal do Iguaçu. Junho de 2010: Justiça determina que o perito responsável pelo laudo da Pedreira deverá ser indicado pelo Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Imbape) e não mais pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea).
Interdição da Pedreira Paulo Leminski interrompe a realização de eventos de grande porte em Curitiba Curitiba está, há mais de um ano, fora do roteiro de shows realizados no Brasil. A capital não conta com um espaço adequado para eventos de grande porte desde que a Pedreira Paulo Leminski foi interditada. Moradores próximos ao local dividem opiniões quanto à reabertura do local para shows. Para alguns o espaço seria um destaque da cidade no cenário mundial. Para outros, apenas uma concentração de barulho e baderna durante a madrugada. Uma ação civil pública iniciada pelo Ministério Público, o qual acatou as reclamações de 134 moradores locais, fechou a Pedreira em agosto de 2008. Desde então, alguns acordos foram logrados (ver box ao lado), mas nenhum que deixasse gregos e troianos satisfeitos. Enquanto isso, a Pedreira continua aberta para visitação, mas fechada para grandes eventos. Para o diretor administrativo
e financeiro da Fundação Cultural de Curitiba, Nilson Cordoni Junior, a capital paranaense está perdendo visibilidade no cenário nacional ao deixar um local com capacidade para 30 mil pessoas interditado. Além da pouca promoção cultural, o espaço turístico também sofre com o cancelamento das atividades artísticas. “A Ópera de Arame era mantida com os recursos arrecadados dos shows que eram realizados na Pedreira. Agora, temos que arranjar dinheiro não sei onde para manter o local”, reclamou. Dividindo a opinião de que Curitiba só perde com o fechamento do local, o morador Gerson Damakosky acredita ainda que o incômodo se dá somente porque não há um controle efetivo das pessoas que comparecem aos shows. “Eu moro de frente para o palco da Pedreira e não me incomodo nem um pouco com o barulho dos shows. O que atrapalha são aqueles que depois dos eventos ficam com o
Amanda Hecke
Julho de 2008: Banda de pagode Inimigos da HP é a última a fazer show na Pedreira.
Capital já não recebe grandes shows
Pedreira Paulo Leminski continua aberta só para visitação
som do carro alto e bebendo até de manhã”, contou. Chegou a ser criado o movimento “A Pedreira é Nossa”, a favor da reabertura, coordenado pelo vereador Jonny Stica que, em dezembro do ano passado, conseguiu arrecadar 12 mil assinaturas para protestar contra a interdição. O protesto
funcionou, já que a associação dos moradores local entrou em acordo. Mas a justiça não trabalha no mesmo ritmo, e o processo continua parado. Até agora nenhuma providência foi tomada para acelerar a reabertura. Carla Comarella Letícia Costa
FUMÓDROMOS CAUSAM TUMULTO EM BARES E INCÔMODO em áreas residenciais
Lei antifumo ocasiona criação de fumódromos ao lado de fora dos bares, perturbando os moradores A lei antifumo, que proíbe o fumo em locais fechados e públicos, entrou em vigor em Curitiba em novembro do ano passado. Desde então, essa decisão vem causando um conflito entre a população e as casas noturnas. O barulho originado pelos bares incomoda os moradores que residem próximo a esses locais. O tumulto nos fumódromos e a falta de respeito dos freqüentadores causam a maior parte das reclamações. Roseli Cardoso é síndica de um prédio localizado na rua Dr. Pedrosa, ao lado do bar Aos Democratas, e sua principal reclamação é quanto à fumaça dos cigarros. “O fumódromo é embaixo da nossa garagem e acaba fazendo uma chaminé, que leva o cheiro para dentro dos apartamentos. Às vezes nós estamos
Ana Luiza Francisco
A Pedreira no tempo
Movimento de fumantes em frente ao bar é motivo de reclamações
na cozinha comendo e sobe um cheiro forte de cigarro”, reclamou. Ela comentou também que “o que incomoda é o pessoal bêbado e a gritaria na rua”. Já Lilian Cavalca, que é corretora de imóveis, vê seus negócios prejudicados nessas regi-
ões. “Os novos moradores reclamam muito do barulho que é feito em frente ao prédio”, afirmou. O presidente da Abrabar (Associação Brasileira de Bares e casas noturnas) Fabio Aguayo acredita que a lei foi imposta sem pensar nas
conseqüências. “O poder público e os donos de bares não conseguem chegar a um consenso sobre o local que os fumantes devem ocupar”, disse Aguayo. De qualquer forma, ele considera que os curitibanos são intolerantes ao barulho gerado pela noite na cidade. Uma solução encontrada até agora pode ser a criação de uma cartilha educativa que será produzida pela Prefeitura em parceria com a Abrabar. Nela irão conter informações sobre locais apropriados para o fumo. Essa cartilha circulará entre as casas noturnas após a aprovação da prefeitura. Não será mencionado nada sobre a redução de barulho. Amanda Hecke Ana Luiza Francisco Letícia Leal
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geral
Curitiba, setembro de 2010
frequentadores não dão a volta no parque iguaçu com medo de assaltos e violência
Parque vira local de prostituição e drogas O Parque Náutico apresenta um contraste: uma área de lazer que ocupa a parte da frente e que nos finais de semana é frequentada por famílias; e os fundos, onde há trilhas que eram para ser usadas para caminhadas, mas que são pontos de prostituição, uso de drogas e sexo explícito. A grande extensão do parque é monitorada, em média, por três policiais. O parque faz parte do complexo do Parque Iguaçu assim como o zoológico. As divisas do Parque Náutico são a invasão Vila Iguape, na qual as pessoas moram a dois metros da linha do trem, o Rio Belém, que de acordo com o Instituto Ambiental do Paraná, é o mais poluído de Curitiba, e a estação de tratamento de esgoto da Sanepar. Fazendo o percurso da ciclovia que leva até os bosque, a paisagem muda para uma mata mais fechada onde há entradas para pequenas trilhas. Essas trilhas, entretanto, são forradas de preservativos e
são pontos dos usuários de drogas fazendo com que esses caminhos sejam perigosos em qualquer hora do dia. A guarda municipal Elenir Rubert, que trabalha há quatro anos no parque, ressalta a dificuldade de policiar uma área tão extensa com um contingente policial pequeno: “Tem havido varias denúncias de assaltos, uso de drogas, estupros e até mesmo de virar ponto de prostituição. Algumas trilhas são perigosas até mesmo para os policiais entrarem sozinhos”. O inspetor da Guarda Municipal de Curitiba Cláudio de Oliveira afirma que em virtude da situação delicada da região é imprescindível aumentar o número de policiais na área nos dias de movimento. “A região é bem complicada, em parte pelo fato de toda a área do Iguape ser oriunda de invasões”. O guarda Vilmar Soares, que faz parte do reforço policial para os fins de semana, afirma que pra ser
Flávia de Andrade
Limitado por uma área de invasão, um rio poluído e a estação de esgoto da Sanepar, bosque ainda sofre com falta de segurança
Trilhas do Parque Naútico são usadas para prostituição
resgatado a questão da família participar do parque com segurança é necessário que todo o processo a partir da prisão dos infratores funcione. “Não adianta prender, se não vai haver uma seqüência no processo judicial. Quem é solto volta pra cometer os mesmos crimes”.
Nos finais de semana o parque é freqüentado por diversas famílias que são instruídas pelos guardas municipais a não fazer o contorno do parque. Luciane Carvalho, 38 anos, almoxarifeira, conta que gosta de freqüentar aos domingos com os filhos e as amigas, mas que
antes do mês passado era raro ver a polícia fora do posto da Guarda Municipal. “É ótimo vir para cá com os filhos para se divertir, mas nós sempre ficamos apenas na parte da frente do parque”. Cristoffer Fernandes, morador do Uberaba que costuma praticar corrida e ciclismo no parque, afirma que é comum assaltos e ver os usuários de crack. “Depois das cinco horas da tarde é o horário mais perigoso andar por aqui. Junta as meninas da Vila Iguape para se prostituir, os drogados e os travestis”. Os frequentadores do parque têm consciência do que acontece, mas ficam sem alternativas para solucionar o problema. “É uma pena isso que acontece, porque o espaço é tão grande, bonito e por falta de investimento não é aproveitado”, completa Cristoffer. Jéssica Camille Priscila Cancela
Com infra-estrutura comprometida, parque náutico perde espaço nos esportes aquáticos
Pistas esburacadas e falta de iluminação desencoraja frequentadores ques de Curitiba como o Parque Barigüi, Jardim Botânico e São Lourenço, o Parque Náutico carece de atenção e infra-estrutura, é um espaço grande e frequentado principalmente nos finais de semana por moradores da capital e região metropolitana mas que simplesmente não recebe a atenção de ponto turístico igual outras áreas verdes da cidade. Os decks e pontes que são utilizados em competições de remo, vela e canoagem estão sendo usados com menos frequência devido ao péssimo estado de conservação. A parte do parque onde eles se encontram é fechada para evitar a entrada de pessoas não autorizadas e a depredação do lugar, igual já aconteceu com o banheiro antes de ser terceirizado. Tanto no IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) quanto na Secretária do Meio Ambiente existem projetos para a reestruturação do parque.O engenheiro do depar-
tamento de parques e praças da Secretária de Meio Ambiente de Curitiba Reinaldo Piloto, que é responsável pelo projeto de recuperação do parque, afirma que entre outubro e novembro as obras devem ser iniciadas. “O projeto compreende o alargamento das ruas e ciclovias,a recuperação da iluminação e dos equipamentos náuticos.” Outro grande problema é a falta de uma área de lazer voltada para as crianças e falta de equipamentos para ginástica, que comparado com outros parques de Curitiba, deixa a desejar. Os caminhões da Sanepar que carregam o esgoto para a estação fazem a maioria dos buracos de um lado da pista, que apesar de ser um mal necessário, poderiam achar outro acesso que não precisasse passar por dentro do Parque Náutico.
Flávia de Andrade
O Parque Náutico já foi referência em Curitiba nos esportes aquáticos e lazer para as famílias da região. A imagem que se tem hoje é de abandono, falta de infraestrutura e segurança. A maior reclamação dos frequentadores é em relação à pista de corrida e a ciclovia. “A pista não dá para correr por causa dos buracos e a ciclovia é muito estreita, não dá para andar duas bicicletas de uma vez” diz Luiz Paulo Penha que reside em São José dos Pinhais. Além desse problema a falta de iluminação também prejudica os frequentadores que preferem o horário da tarde para fazer seus exercícios. “Os vândalos quebram ou roubam as lâmpadas, tanto que o banheiro teve que ser terceirizado e às 17h fecha, e isso já provocou muitas reclamações das pessoas que vem aqui depois desse horário”, disse uma guarda Municipal que trabalha no parque. Em comparação com outros par-
Ciclovias esburacadas e falta de segurança prejudicam parque
Elizabeth Bannwart (JC)
geral
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Curitiba, setembro de 2010
Prefeitura diz não ter verba suficiente para reformas e usa tapa-buracos como manutenção
Rua para Zoo não é pavimentada há 25 anos girem mais devagar” explica. Diz, no entanto, que existe interesse da prefeitura em refazer o pavimento do local. “O projeto foi feito, mas não há recursos suficientes”. De acordo com o diretor do Zoológi-
“Não tenho certeza de como achar a saída na hora de voltar para casa”. A reclamação de Célio Osowski, que foi de Quitandinha com o filho para passar o domingo no Zoológico do Parque Iguaçu, é freqüente entre os visitantes. Entre os problemas apontados estão a falta de sinalização e a má qualidade das estradas – o pavimento das ruas é o mesmo de vinte e cinco anos atrás, quando a atração foi fundada. Segundo João Vidal, chefe do Departamento de Melhorias Urbanas da região do Boqueirão, a única medida tomada, no caso de queixas, é o tapa-buracos. Vidal disse que a manutenção das vias é feita em média a cada noventa dias – e em intervalos menores em períodos de chuva. Para ele, a situação das estradas não é de emergência. “Na verdade, os buracos previnem acidentes, porque obrigam os motoristas a diri-
Pontos turísticos devem ter prioridade nas reformas co, Marcos Traad, são liberados, anualmente, R$ 6 milhões como verba destinada ao zoológico. Os gastos envolvem alimentação e limpeza, mas também abrangem funcionários e possíveis reformas. Porém, Traad esclarece que “esse dinheiro é usado somente em
obras internas”. O descaso com a região transparece para os visitantes, que chegam a 700 mil por ano. Indo no sentido Curitiba - São José dos Pinhais, há apenas uma forma de acesso. A estrada é mal iluminada durante a noite, rodeada por vegetação alta e cheia de lixo. Para a turismóloga Raquel Panke Apolo, especializada em ecoturismo, a falta de cuidado é incompatível com o título de Curitiba de ser uma cidade modelo, ecológica e socialmente. “Os pontos turísticos devem ter prioridade na hora das reformas, especialmente pela Copa de 2014. O que os estrangeiros mais vão procurar são elementos típicos da natureza do Brasil”, diz Raquel. Segundo ela, a prefeitura deveria aumentar a sensação de segurança dos moradores e visitantes. Outras preocupações seriam ampliar as vias de acesso, pavimentação e
Marcela Lorenzoni
Visitantes reclamam de buracos, falta de sinalização e iluminação e mau cheiro nas ruas próximas ao zoológico, no Alto Boqueirão
Trecho da estrada: falta de cuidado passa imagem ruim aos turistas
sinalização, além de distribuir materiais que destacassem ao Parque Iguaçu. “Não são só turistas que desconhecem o Parque. Muitos curitibanos não sabem onde fica”, comentou. Raquel disse que a capital lucraria com o aumento do número de visitantes e de seu tempo de permanência. Ainda que o cami-
nho esteja em más condições, o local costuma agradar os freqüentadores. Maria Luiza de Castro, de São José dos Pinhais, contou: “Achei as ruas complicadas, mas o passeio vale à pena. É muito divertido”. Francielle Ferrari Marcela Lorenzoni
ESCOLAS MUNICIPAIS TÊM PREFERÊNCIA PARA MARCAR VISITA. DATAS ESTÃO RESERVADAS ATÉ FIM DO ANO
Consciência ambiental é o lema que norteia o projeto do Zoológico junto à prefeitura de Curitiba, que permite aos estudantes da 4ª série do ensino fundamental, passar um final de semana em contato aos animais. O programa tem como objetivo ensinar conceitos ecológicos. Juan Ramón Soto Franco, chefe de Divisão de Educação Ambiental do Zoológico, afirma que o projeto vem de encontro aos próprios valores que o local possui – educar, conservar e pesquisar. “Normalmente o zoológico é associado ao lazer, mas ele proporciona muito mais do que isso”, destaca Franco. A iniciativa, que começou em 1991, é um sucesso entre os colégios de Curitiba. Qualquer escola pode agendar um passeio, porém a preferência é dada à rede pública. As escolas participantes arcam apenas com a alimentação e o transporte das crianças. Desde junho, o zoológico não tem mais
Camila Toppel
Acantonamento no zoológico é chance de testar conhecimentos
Alunos da 4ª série da Escola Monteiro Lobato foram ao Zoo em junho
finais de semana disponíveis até o final do ano. A rotina no acantonamento é bastante agitada, começando às 9 horas da manhã do sábado e terminando somente às 17 horas de domingo. Os alunos começam tendo uma breve apresentação, com teatro e palestras. Depois, eles participam de um cerimonial cívico, no qual aprendem sobre a letra do
Hino Nacional e seu dever como cidadão. Durante o resto do dia, as crianças são divididas em grupos e acompanham os estagiários de biologia do local, que dão palestras sobre animais - os peçonhentos são os que promovem mais interesse – e visitam a horta e o pomar, onde os alunos recebem orientações para plantar e comer as frutas do local. Depois disso eles fazem uma trilha
até o zoológico, onde acontece o primeiro contato das crianças com os animais. O período da noite é o ponto alto do acantonamento em que as crianças fazem outra trilha até o zoológico e acompanham os hábitos dos animais noturnos, como leões e hipopótamos. Depois da visita noturna eles voltam para trilha e realizam a “cerimônia do fogo”. “É um antigo costume indígena que resgatamos. Para os índios, quando se faz uma fogueira, o conhecimento que se teve em volta dela fica na lenha. Então, quando a fogueira se apaga, pegamos o carvão e as crianças levam um pedacinho dele para casa, numa forma simbólica de levar o conhecimento que tiveram no final de semana”, relata Franco. Quando o passeio termina, as crianças recebem uma avaliação, tanto para testar o que aprenderam quanto para dar sua opinião sobre a visita. Essa é uma parte essencial do acantonamento para o zoológi-
co, que utiliza as sugestões para mudar as atividades que desagradam e criar outras, mais de acordo com seu público. A professora da Escola Municipal Monteiro Lobato, Fabiana de Salles Motta da Cruz, afirma que a experiência do acantonamento permitiu aos alunos aplicar os conteúdos aprendidos em sala de aula, além de ajudar na independência deles. Ela ressalta a importância de projetos fora do ambiente escolar. “Através de projetos como esse, podemos testar novos recursos. As crianças aprendem de um jeito diferente, e têm maior interesse em aprender”, afirma. Os alunos da turma de Fabiana participaram do acantonamento em junho deste ano e adoraram a experiência, citando a trilha noturna e a alimentação dos animais como atividades preferidas. Camila Toppel Duran Sodré
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esporte
Curitiba, setembro de 2010
NÃO é mais necessário sER SÓCIO PARA PRaTICAR
esportes em locais inusitados
Curitibanos jogam futebol até dentro dos shoppings
“Esportes de elite” custam pouco e atraem populares
O bairro do Xaxim recebeu há três anos uma diferente proposta de lazer, o Shopping & Sports que além de oferecer ao público serviços normais como lojas, praça de alimentação e cinema propõe inusitadamente a utilização de quadras poliesportivas e atividades físicas dentro do próprio shopping. O empreendimento surgiu a partir da idéia de Sérgio Ternus, propr ietár io do local que ao sair com os amigos para jogar bola se incomodava com a ligação da esposa e com sua própria preocupação em relação a família. Ele queria um lugar onde todos pudessem passar um tempo agradável juntos. “Eu disse que ia construir um local de multieventos, que pudesse acomodar todos da família”, lembra Sérgio. No caso os homens jogando futebol, as mulheres na academia ou fazendo compras e as crianças podendo se divertir em segurança nos parquinhos de diversão. O Shopping & Sports é a realização dessa idéia. O empreendimento é ecologicamente correto e sustentável, e seu nome vem em decorrência de suas atividades já que os esportes são as grandes âncoras do local. O shopping conta com aproximadamente 14 mil m² de lazer para seu público que é na maior parte da própria região. No shopping são destinadas
Hipismo e esgrima são algumas das atividades que hoje se tornam acessíveis
Diversifique suas atividades diárias. Substitua: • Aula de pilates (R$ 230, 2 vezes por semana) por hipismo (R$ 150, 2 vezes por semana) • Academia (R$ 85) entre outras atividades aeróbicas por aulas de esgrima (R$ 135, 2 vezes por semana) • Uma tarde no shopping (em média R$ 35 por pessoa) por golfe (aluguel do campo por R$ 40)
Valores baixos atraem interessados em esportes com cavalo
balha com a coordenação motora e disciplina e conta com uma grande participação do público jovem. Lígia Schererprix, estudante de Administração monta desde os 10 anos de idade. Ela não tem o seu próprio cavalo, mas prática pelo menos uma vez por semana, no Haras 3 Lagos. Não sendo sócia de nenhum clube, paga R$ 200 por mês. Para aqueles que quiserem ter seu próprio cavalo, o Círculo Militar criou alguns incentivos que permitem oferecer baixo custo pelo estabelecimento e manutenção dos animais. Para os não sócios fica em torno de R$ 470 mensais por cavalo, tendo os sócios algumas vantagens. A esgrima é considerada um esporte nobre pela história, porém pode ser praticada hoje sem grandes custos. Quatro lugares ofertam aulas de esgrima em Curitiba, um deles é a APPES - Associação Paranaense dos Praticantes de Esgrima, que abriga cerca de 22 alunos. A prática para duas aulas semanais custa R$ 135 e não é necessário obter seu próprio equipamento para treinar, o qual pode ser adquirido numa faixa de R$ 1.000. O mestre de esgrima Giocondo Cabral, professor na APPES e ex-chefe de equipe da seleção brasileira de esgrima, conta sobre
esse novo momento que vive o esporte. “A esgrima já foi muito restrita, era caro treinar e difícil de conseguir os equipamentos, hoje ela está aberta para todos os públicos”. Giocondo conta também que estão sendo criados alguns incentivos do esporte para o ensino público. O golfe passará a ser esporte olímpico a partir das olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. Esta decisão irá desencadear uma série de ações por parte das entidades responsáveis pelo esporte no Brasil, que trarão o golfe para mais perto dos interessados. Por enquanto, como não existem locais públicos para a prática, é necessário buscar clubes que ofereçam a locação de campos. Existem cinco campos de golfe em Curitiba e região metropolitana. O clube Santa Mônica, por exemplo, permite que seus associados pratiquem o esporte de graça. E os não associados do clube pagam apenas a Taxa de Green Fee, que varia de R$ 40 a R$ 90, dependendo do campo e do dia da semana. O clube também disponibiliza para locação, os materiais necessários aos jogos. Amanda Walzl Mário Luiz Costa Jr
Laura Schafer Talitha Maximo
Talitha Maximo
Saia do comum
As quatro quadras poliesportivas funcionam quase 20 horas por dia
Laura Schafer
Por apresentarem baixos custos, esportes como hipismo, golfe e esgrima permitem maior acesso do público em geral. Sem mais a obrigação de se tornar sócio, alguns clubes de Curitiba oferecem a prática de tais esportes por um valor médio de R$ 100. O hipismo é mais um dos belos esportes com cavalo que está hoje muito mais acessível. Apesar de ser um esporte no qual se investe muito dinheiro em animais, equipamentos e manutenção, a prática é barata e está aberta ao público. Só em Curitiba e região são mais de dez locais que oferecem treinamento. No Círculo Militar do Paraná, o interessado não precisa ser sócio e nem ter cavalo para praticar o esporte. É cobrada apenas a mensalidade referente aos dias de aula. Para praticá-lo de terçafeira á domingo é cobrado apenas R$ 300. Hélio de Paula, instrutor de hipismo do CMP comenta que hoje existe um maior investimento e procura em relação ao esporte no Paraná. “O pessoal começa brincando, querendo aprender a montar, depois se apaixonam pelo esporte e continuam. É um esporte muito respeitado e hoje qualquer um pode praticar”. O hipismo tra-
as práticas esportivas, o boliche, a academia e as quatro quadras esportivas cobertas, sendo duas de salão e duas de grama sintética, onde podem ser praticadas diversas atividades como futsal, vôlei e handebol. Ao lado das quadras ainda podem ser utilizados serviços como de vestiários masculino e feminino, sauna, canchas e espaços com chu r r a s q uei r a para o lazer dos usuários. O policial militar, Rui Carmelo, 43, que frequentava o local pela primeira vez aprovou a proposta. “A idéia é boa. Um ambiente gostoso para reunir os amigos e as quadras são ótimas”, diz Rui. As quadras poliesportivas funcionam quase 20 horas por dia, das 8h da manhã as 2h da madrugada e atraem um público bem diversificado. A locação das quadras fica em torno de R$ 55 a hora na de salão e R$ 120 a hora na sintética. O local funciona também pelas manhãs e tardes como escolinha de futebol com parceria do clube Atlético Paranaense. Ao todo são cerca de 12 jogos por dia e aos fins de semana o número dobra. “A freqüência é muito boa, não tem nada igual, o público adora e para a comunidade foi excelente”, diz Sérgio.
Além do futebol, o público pode praticar vôlei e handebol nas quadras
esportes
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Curitiba, setembro de 2010
baixo número de ciclistas se deve a falta de funcionalidade das ciclovias para trabalhadores
Ciclovias são destinadas somente ao lazer Mesmo apresentando a segunda maior malha de ciclovias do Brasil, Curitiba conta com baixo número de ciclistas. Além da péssima conservação das pistas ao longo dos seus 120 km, a construção das ciclovias foi pensada para o lazer, e não como uma modalidade de transporte. “Na cidade nós temos um número razoável de ciclovias, mas elas não são úteis, não tem continuidade. Elas precisariam fornecer alternativas para o ciclista ir do seu local de trabalho para a sua residência”, destaca Carlos Hart, 57 anos, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR. Aproximadamente 6% da população curitibana utiliza a bicicleta como meio de transporte. Segundo estudo realizado pelo Curso de Educação Física da PUCPR, estes ciclistas em sua maioria correspondem a jovens pobres moradores da periferia. O uso da bicicleta ocorre por necessidade e não por opção. É o caso do estudante
Elian Woidello
Além da precária conservação, a falta de projetos e a prioridade no transporte automotivo são as principais reclamações dos ciclistas
Ciclista se desloca pela cidade junto de outros automóveis em via que não conta com calçada ou ciclovia
Gustavo Siqueira, 22 anos, que destaca os perigos de dividir a via pública com outros veículos. “Geralmente a ciclovia acaba num lugar qualquer, sem ter ligação. Para piorar, elas estão muito mal conservadas. Nós temos que dividir as ruas junto com os carros e ônibus, então
é um perigo a mais tanto pra gente, quanto para os outros”. Segundo o Departamento de Trânsito (Detran), Curitiba conta com um carro para cada 1,8 habitante, o maior número do Brasil. Com quase 960 mil veículos circulando na Capital, sobra
pouco espaço para ciclistas como o advogado Fábio Fehlauer, 30 anos. “Os principais problemas das ciclovias de Curitiba são buracos, entulhos e a falta de espaço. Há grande resistência não só por parte dos políticos e do poder público, mas principalmente por parte
atuais 32 academias podem acarretar em lesões principalmente em idosos
As academias ao ar livre, projeto que visa incentivar o curitibano a praticar exercícios, estão a pouco mais de um ano espalhadas pela cidade. São 32 funcionando atualmente, e até o final do ano, estima-se que aproximadamente 130 estejam disponíveis para a população. Mesmo com painéis informativos sobre a correta utilização dos aparelhos, a ginástica realizada por conta própria pode apresentar certos riscos, principalmente aos idosos. Temeroso em se lesionar nos novos equipamentos, o aposentado Carlos Almeida, 67 anos, destaca a desconfiança trazida pela falta de um acompanhamento durante o exercício. “A idéia é boa, mas na minha idade não posso correr o risco. Tenho diversos problemas já. Seria interessante alguém me ajudando no exercício”. Já para o vigilante Adão Costa, de 51 anos, a atividade física deveria contar com a participação de profissionais da área médica, mesmo que o acompanhamento seja realizado a distância. “Pessoa de idade que não pode ir ou pagar uma academia, pode fazer ao ar livre, gratuito, perto de casa. Mas deveria ter
Richard Roch
Novas academias ao ar livre trazem riscos por não contar com acompanhamento de especialistas
Aparelho utilizado pela usuária está sendo banido da fisioterapia
uma ajuda nos novos exercícios. Os postos de saúde perto das academias deveriam contar com profissionais da área”. Segundo o secretário do Esporte e Lazer de Curitiba Rudimar Fedrigo, 47 anos, a proposta das academias ao ar livre é que elas sejam justamente auto-explicativas. “Em caso de dúvidas, nós temos os painéis, onde a pessoa pode seguir exatamente como fazer o exercício. A pessoa utiliza o próprio peso
do corpo, sendo assim ela dificilmente vai se machucar”. Para Dalton Grande, 58 anos, gerente do Centro de Referência Qualidade de Vida e Movimento, responsável pelos programas ligados ao esporte em Curitiba, os aparelhos não apresentam riscos. “Existe uma pesquisa da UFPR, onde 26 idosos fizeram o trabalho na academia do Botânico, e notou-se melhoria no uso básico dos aparelhos de forma independente”.
Já para Rodrigo Siqueira Reis, 40 anos, coordenador do curso de Educação Física da PUCPR, um profissional da área poderia trazer uma série de benefícios aos praticantes das novas academias. “Acredito que um professor de educação física poderia orientar as dúvidas, fazer correções de exercícios impróprios e motivando as pessoas quanto à prática do exercício”. O fisioterapeuta Cássio Preis, 30 anos, é mais enfático quanto aos problemas que a atividade física sem acompanhamento pode trazer. “Qualquer equipamento de musculação, se não tiver um profissional do lado, por mais que o exercício seja livre de carga ou use o peso do paciente, pode trazer sim algum tipo de comprometimento, a curto ou a longo prazo”. Preis também destaca o uso de um equipamento contestado entre os profissionais da área que faz parte das atuais 32 novas academias ao ar livre. “A roda de ombro faz um movimento circulatório que já foi praticamente banido da fisioterapia, já que trás diversos malefícios”. Richard Roch Rogerio Rodrigues
do enorme público de carro que não respeita o ciclista.” A tendência é piorar, já que o número de veículos cresce em média 6% ao ano na cidade. De acordo com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), a construção de novas ciclovias é o ultimo item referente na atual lista das prioridades de mobilidade viária da cidade. Para o atual prefeito de Curitiba Luciano Ducci, 55 anos, a falta de projetos nesta área tem como motivo não expor o ciclista aos perigos do trânsito. “A gente não pode colocar ciclovias onde já tem um alto tráfego de veículos e expor o ciclista a um acidente. Propostas de misturar carro com bicicleta são muito arriscadas. Então nós vamos tentar ficar na exclusividade mesmo com as ciclovias bem definidas, onde não haja um grande número de veículos”. Ricardo Tomasi Rogerio Rodrigues
Corrida na madrugada Por necessidade ou opção, muitos atletas curitibanos realizam seus treinamentos em horários inusitados. Fugindo do trânsito e da poluição, corredores se organizam em grupos para praticar o esporte durante a madrugada. O assistente financeiro Nilton Alves, 47 anos, é o representante da comunidade Corredores de Rua de Curitiba, que organiza competições e treinamentos para diversos atletas da Capital. Sobre a prática da corrida na madrugada, Alves destaca que são as condições da cidade que levam as pessoas a treinar neste horário. “Na madrugada não há trânsito, e com isto não perdemos o ritmo da corrida, e a poluição é muito menor”. O professor de Nutrição e Fisiologia Aplicada da UTFPR Julio Bassan, 48 anos, confirma as vantagens da madrugada. “Realmente os bronquíolos estão mais abertos sem a poluição do final da tarde, além de que sem a quebra do ritmo, as vantagens da atividade física são maiores. A única questão a ser mensurada é a da segurança durante a madrugada, por isto a necessidade de se organizar em grupos”. Elian Woidello Ricardo Tomasi
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comport
Curitiba, setembro de 2010
OFICINAS DA ONG “ART CÉU”, CRIADA POR MAURO GONÇALVES, ENSINAM CRIANÇAS A FAZER E SOLTAR PIPAS. OS P
Artesão usa a paixão de ensinar e soltar pip
Há 25 anos envolvido em causas sociais e ambientais, Gonçalves é admirado por seus alunos de pipa. Ele afirma ter “mais de 400 filh
Laura Sliva
Passo a passo par
Laura Sliva
Equipe Art Céu e crianças em um dos últimos terrenos disponíveis para soltar pipa
trabalho. Para Grace, as atividades que ele desenvolve ensinam respeito e coleguismo. “O Mauro ensina as crianças a utilizarem o que elas gostam, da melhor maneira”, conta orgulhosa. Não só os filhos se divertem. A estudante Josefa Fernandes, 42, conta que quando pequena soltava pipas de bambu e jornal com mais sete crianças, entre irmãos e primos. Hoje participa das oficinas e faz questão de ensinar o filho a fazer e soltar sua própria pipa. O artesão curitibano nasceu e sempre morou na a região do Hauer. Ele lembra da época na qual lá só havia campos e vacas. Aprendeu a soltar pipa com os irmãos e desde então passa o conhecimento adiante. “Trabalho com crianças desde pequeno, meu objetivo é criar cidadãos” diz. Além da ONG, possui projetos de conscientização ambiental, como o “Três Marco”, no qual defende a revitalização de córregos. Ele aponta um fator crítico das grandes cidades: a falta de espaço para brincar ao ar livre. “Esse lugar
onde estamos é um dos últimos aqui perto que é possível soltar pipa. Todos os nossos campos estão virando condomínios”. Ele mostra o condomínio-fechado ao lado, que antigamente já foi lugar de muitas brincadeiras. Mauro já conseguiu que a prefeitura construísse uma quadra de esporte onde antes era um lixão. Hoje afirma que a próxima meta é que, em vales próximos a córregos e pequenos rios, sejam construídos “pipódramos” (lugares próprios para o lazer de empinar pipas), aliando diversão e sustentabilidade. Ao fim da entrevista “Tio Mauro” revela um sonho: “Fazer um programa onde possa resgatar brinquedos antigos. Em um dia de chuva e barro, brincarmos nas poças d’água puxando latas de leite cheias de areia, como se fosse um caminhão”. Com muito bom humor, encerra: “Será que os biarticulados saíram daí?”. Camila Machado Laura Sliva Thayse Nascimento
projeto “minha vila filmo eu” retrata
Filme mostra a Vila Torres
A proposta inicial, do Ponto de Cultura Minha Vila Filmo Eu, um convênio do Projeto Olho Vivo com o Ministério da Cultura, foi a de retratar uma Curitiba vista e falada por poucos. Para isso, o projeto decidiu mostrar a Vila Torres, mas com um olhar diferenciado, ou seja, a vila vista pelos próprios moradores. A ideia surgiu em 2008, durante a produção dos curtasmetragens Um grito na vila e 15 minutos de fama, ambos rodados na Vila Torres. O atual coordenador do projeto, Bruno Mancuso, 29, arte-educador, está há dois anos e meio na produção dos curtas. Para tirar a ideia do papel e colocá-la em prática, montou uma equipe com Willian Coutinho, Caroline Paulino e Marta Pego, todos moradores adolescentes da vila. O objetivo maior era o de ensinar como é feito um filme e
Projeto Olho Vivo
Mauro Gonçalves, artesão, líder e “paizão” de muitas crianças, tem uma proposta de mobilização social, na qual toda a comunidade do bairro Hauer, de Curitiba, se envolve. Ele aliou a paixão de praticar e ensinar a soltar pipas com a vontade de melhorar sua comunidade. “O maior problema que encontramos é a falta de espaço”, afirma Gonçalves. A ONG Art Céu foi criada em 2005, sua nomenclatura surgiu de uma pipa em forma de estrela que ele soltou em uma competição de raias. “Que arte!” exclamou um, “Sim, é arte no céu”, ele retrucou; e o nome pegou. Desde a criação da ONG, o artesão é o responsável pela interação de crianças e pais nos finais de semana, quando se encontram nas oficinas de pipa que promove em escolas municipais. “O legal é que ele mobiliza a comunidade, leva toda a família para o trabalho voluntário”, elogia Grace Puchetti, 31, coordenadora do Projeto Comunidade Escola, que mantém escolas abertas, durante os finais de semana e horários noturnos, para atividades culturais. Há 25 anos envolvido em causas sociais e admirado por seus alunos de pipa, Gonçalves afirma ter “mais de 400 filhos postiços”. Sorri orgulhoso quando conta que muitos de seus educandos sonham em ser como ele. “Eles brincam de ter uma lojinha de vender pipa e de ser o Mauro”, divertese o “paizão”. Ao soltar pipa, as crianças fazem exercício ao ar livre, melhoram sua coordenação motora e aprendem lições de respeito. O projeto das oficinas em escolas municipais pretende resgatar o vínculo familiar e atrair os jovens para brincadeiras antigas e saudáveis. Participam, em trânsito, uma média de 100 crianças por oficina. Segundo registros da equipe, o trabalho já contou com mais de dez mil participantes. O artista é reconhecido pela comunidade e espera que os pequenos sigam seus passos na continuação do
Willian, Caroline, Marta e Bruno, du
proporcioná-los o contato com a narrativa audiovisual, além de fazer um resgate social. A estudante Marta Pego, 17, participa das produções de curtas desde 2006. Ela decidiu entrar no projeto apenas por curiosidade e para ocupar suas
tamento
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PAIS TAMBÉM PARTICIPAM, e, DESTA FORMA, INTERAGEM COM SEUS FILHOS E OUTRAS CRIANÇAS PARTICIPANTES
pas para melhorar a comunidade onde vive
hos postiços”. Sorri orgulhoso contando que muitos de seus aprendizes são fãs de sua arte e sonham em ser como o “paizão” da turma Encontro diminui isolamento e busca promover a reabilitação da saúde
Musicoterapia promove e estimula interações sociais Uma vez por mês é realizado um encontro de musicoterapia, na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), com pessoas da comuni dade. As reuniões são abertas e acontecem há um ano. O objetivo é estimular interações sociais e musicais, fortalecendo o grupo e modificando a realidade dos par ticipantes. O projeto surgiu de um nú cleo de estudos e começou com a necessidade de observar as teo rias na prática. O trabalho é feito com pessoas que já participavam do atendimento de musicoterapia individual. Muitos não tinham a chance de uma convivência social devido a problemas diversos. Integrada ao dia a dia, as melodias facili tam a construção de cumplicidade entre os participantes. “A gente
curitiba com um olhar diferenciado
Thayse Nascimento
ra fazer uma pipa
Érico Cantarelli Neto, 16, acompanha a mãe nos encontros
passa horas bem alegres e des contraídas, vamos conhecendo outras pessoas, é muito bom”, diz a aposentada Odette Muller, 72, que também leva seu marido Cícero Santos, 80, para os encon tros.
“Acho que as pessoas se sentem em casa, como se fosse a família ali”, conta o músico Car los Frederico da Silva Boechat, 40, que sempre participa tocando piano e soltando sua voz. “Você vai trabalhando nas coisas que
tem dificuldade; através da músi ca você pode encontrar a cora gem”, completa. Os benefícios surgem aos poucos, com uma troca de ex periência. “Pelo menos nas horas que a gente fica aqui, esquecemos os problemas. Voltamos para casa mais alegres, mais descontraí dos”, sorri Odette. Pessoas com isolamento so cial alcançam, através da música, a construção de um cotidiano mais satisfatório e saudável. “É muito legal ver que todo mundo participa, todos colaboram com alguma coisa”, diz Cícero. “A música mexe com você, ela te leva longe, te liberta”, completa Boechat. Angélica Mujahed (CM) (TN)
Três trabalhadores partilham suas histórias
vista por seus moradores Pipoca, orgânicos e xadrez no Passeio
urante a produção do filme
tardes. Quando foram abertas vagas para interpretação teatral, ela se inscreveu e desde então já atuou em dois curtasmetragens, colaborou com uma animação e está na produção de um documentário de ficção. Além de atuar, Marta ajuda nos
roteiros, na gravação e edição dos filmes. “Desde o trabalho do ano passado até esse a gente já viu um profissionalismo maior”, diz. Por essa razão pretende continuar no projeto e trabalhar na área. Mancuso conta que “as de cisões eram tomadas em conjunto e havia rodízio de tarefas; assim cada um descobre mais fácil o que gosta de fazer”. O processo desde a gravação até a finalização é longo, o que acaba desmotivando a produção. Como motivá-los tornou-se um desafio para Mancuso. “Cinema é uma coisa muito trabalhosa, não fica pronto na hora, e isso os deixa desinteressados”, completa. No entanto, depois de seis me ses de muito trabalho, o filme está pronto e será veiculado em canais comunitários a partir deste mês.
(TN)
Mecânico e músico, Divino de Oliveira, 61, frequenta o Passeio Divino, músico público há 40 anos. Oliveira conta que na juventude constumava visitar o local para paquerar as meninas e no restaurante e tocar música. Naquela época, segundo ele, o parque era mais conservado. “Baiano”, como é chamado pelos amigos, é membro assíduo dos jogos de xadrez, truco e damas que acontecem no Passeio das 12h às 20h. O amigo de cartas, Pedro Pexeira, 68 anos, conta que chegou a ganhar R$150 em uma rodada. “No final do dia, enquanto os guardas não mandarem embora, a gente não sossega. Tem dia que está tão bom que a gente fica até triste quando vão fechar o parque”, desabafa o músico, entre uma jogada e outra.
O pipo q u e i r o Manuel Fernandes, 70, trabalha há 38 anos Manuel, pipoqueiro no Pas seio Público. Já foi cabo eleito ral, fiscal, delegado de partido, açogueiro e foi para o Passeio por falta de emprego. Denuncia a caça de votos no parque em época de eleição e critica a política: “Tem que entrar na máfia deles, senão não sobrevive lá dentro”. Fernandes se queixa da falta de segurança no local, conta que seu carrinho já foi alvo de vândalos, além de relatar a presença de drogados no parque. Simpático, explica que para ser pipoqueiro é preciso ter uma licença. Se é feliz nessa profissão? “Dou graças a Deus, muita gente quer ser e não consegue. Com a pipoca eu criei meus três filhos”.
O z i r Natal dos Santos, 51, foi um dos primeiros agricultores Ozir, agricultor da feira orgânica que acontece todos os sábados no Passeio Público. Ele conta que sua barraquinha mudouse do Largo da Ordem para o Passeio em 1992, por iniciativa do governo municipal na tentativa de moralizar o parque. “A imagem era muito ruim, ninguém vinha aqui, tinha muito ladrão, muita piazada”, conta. Para Silva, a comida orgânica é uma proposta de vida, na qual se compra saúde. Denuncia que hoje, com a adição química, se perderam os sabores das frutas e que o próprio produtor perdeu sua identidade. “Estamos induzidos ao consumo, sem consciência, somos máquinas”. (CM e LS)
10 VOCÊ ACHA QUE BALADAS GLS VIRARAM MODA?
sociedade
Curitiba, setembro de 2010
Curitibanos vencem preconceito e aumentam a adesão nas baladas gays
Baladas GLS: boa opção para todos
“Sim. Hoje todo mundo tem vontade de conhecer esse mundo alternativo.” Amanda Queiroz, 18 anos, estudante
“Sim. Antigamente tinha as mesmas baladas mas com menos procura.” Caio de Almeida, 19 anos, estudante
“Sim. A curiosidade pelo desconhecido fez aumentar o número de heteros.” Juliana Berté, 21 anos, designer
“Não. A fama da música boa é que atrai as pessoas e não a modinha.” Fernando Macedo, 25 anos, administrador
“Sim.Todas as tribos estão mais abertas para o lado alternativo.” Alexandre Sampaio, 21 anos, estagiário
Aumenta o número de heterossexuais nas baladas GLS e alternativas de Curitiba. É o que afirma Alexandre Dantas, Dj residente do James Bar desde 2002. “O local foi criado com o intuito de ser apenas alternativo, porém, com o passar dos anos, os clientes GLS identificaram-se com o lugar e o bar acabou sendo frequentado por esse público”. Independente disso, nos últimos dois anos diz ter notado o aumento de frequentadores heterossexuais. Já a casa noturna Cats, criada em 1999, foi desde o início direcionada ao público gay. Hoje apresenta 70% de clientela heterossexual. “Os gays se incomodam nas demais baladas por não serem tão bem tratados como os heterossexuais são nas baladas GLS”, comenta a drag queen “Tina Simpson”, “host” do local. Um exemplo desse preconceito foi o que aconteceu com o casal Jéssica
Guerber e Fernanda Trevizzan, no Arrumadinho Bar, na Batel. Estavam abraçadas quando um garçom pediu para que se retirassem da casa, afirmando que o local não era apropriado para tal comportamento. Esse tipo de ação faz com que pessoas que abominam essa conduta deixem de frequentar locais onde tais coisas acontecem vendo assim uma oportunidade de conhecer lugares GLS. Os principais motivos apontados como fatores que propiciaram esse aumento foram o melhor atendimento ao cliente, os mais novos sets de músicas e a liberdade com respeito entre as pessoas. “O que mais me atraiu nas baladas alternativas foi o fato de eu poder sair realmente para dançar sem me incomodar com o desrespeito por parte de homens”, explica Estephanie Ramos, estudante de Publicidade e Propaganda. Mais uma pessoa que ressalta
Paula Bueno
Aumenta a preferência pelas casas noturnas alternativas e GLS, pois oferecem melhor atendimento e música
Drag queen “Paola”, host da casa, na frente da balada GLS Cats
isso é Patricia Cristina Recktenyn, 23 anos, que frequenta bares alternativos como James e Wonka, com seu namorado Daniel Augusto Krause, 24 anos. A preferência, além de gostarem da música, é porque todos se respeitam e não há ciúmes quando um deles vai
sozinho. Disse também que é o ambiente descontraído que tem sido o principal atrativo desses estabelecimentos. Marilia Alberti Paula Bueno Rhânele Kiatkoski Thays Schumacher
Matinês são boa alternativa de distração e melhoram a qualidade de vida
Infraestrutura e diversão das matinês, oferecidas na cidade de Curitiba, atraem o público da terceira idade As matinês realizadas por clubes de Curitiba são o principal atrativo de diversão para o público da terceira idade. Antigamente frequentadas somente por sócios, passaram a ser direcionadas a todas as pessoas da meia e terceira idade, independente de serem associadas ou não. De acordo com Nilson Lanconi, que trabalha na Sociedade Água Verde desde 1977 e agora assume o cargo de gerente, isso se deve ao fato dos clubes terem passado por dificuldades financeiras, como o Clube Juventus que veio a falência. As festas começam e acabam cedo, e tem o custo de entrada a
partir de cinco reais. Um requisito imposto pelos clubes e associações é o vestuário, não sendo permitida a entrada com bonés e tênis. As roupas não devem ser curtas ou justas, pois o “namoro” de forma excessiva e abusiva não é tolerado. O gênero musical mais presente é o sertanejo, apesar de outros estilos, como o bolero, t ambém serem tocados. Maria Alice Barbosa Bus, 68 a nos pa r t icipa das matinês desde os 40 anos. Para ela o diferencial desses lugares são as pessoas animadas e da mesma faixa etária. Maria relata ter conhecido pessoas que sofriam de depressão e que por
“Em outros lugares eu me sinto excluído”
recomendação médica buscaram as matinês como uma forma de distração e apresentaram em seguida uma melhora psicológica. Ela conta ainda que foi em um desses eventos que conheceu seu ex-namorado, Lorios Dalabona, na época com 79 anos, com quem manteve um relacionamento durante cinco anos. Já Iracema Barbosa, de 73 anos, que também conheceu na matinê seu atual namorado, 10 anos mais jovem, Sérgio Figueroa, conta que começou a freqüentar esses bailes para melhorar seu condicionamento físico, pois outros exercícios não lhe proporcionavam o mesmo prazer que a dança. Vários idosos comentam que se sentem mais seguros participando desses bailes, do que praticando atividades físicas em lugares como parques. Esses clubes realizam também concursos que elegem rainha,
princesa e miss simpatia do baile para a diversão e integração dos idosos. Os critérios de avaliação usados para a eleição das participantes são assiduidade, popularidade no local e simpatia. Outro fator que torna o ambiente atrativo para esse público é a questão de as pessoas se sentirem mais a vontade. “Em outros lugares eu me sinto excluído e um incômodo para as pessoas por causa da minha idade. Aqui me sinto em casa, livre para conhecer pessoas, até mesmo namorar, sem nenhum preconceito,” conta Cristóvão Teixeira Mendonça, de 81 anos. Nesses locais também é possível a realização de eventos particulares como aniversários, amigos secretos e outras comemorações que divertem e distraem o público de meia e terceira idade. (MA, PB, RK, TS)
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mercado profissional da noite curitibana é especializado, amplo e está em constante renovação
Trabalhar para a diversão também é divertido Quem trabalha para proporcionar o entretenimento na noite curitibana não perde para o cliente quando o assunto é diversão. Esses profissionais que, aparentemente, abrem mão de se divertir no horário destinado ao lazer, afirmam que o mercado da noite de Curitiba é ideal para quem quer trabalhar em um ambiente descontraído. Além disso, as casas noturnas oferecem boa oportunidade de promoção e uma remuneração que os profissionais não obteriam trabalhando o mesmo período durante o dia. A noite curitibana oferece uma vasta lista de opções no que se refere a estilo musical, temática e culinária. Para atender os diversos tipos de público, as casas apresentam mão-de-obra especializada. Devido a isso, esse campo é amplo e de constantes renovações. Segundo o gerente de bar e restaurante Rodrigo Borba Chaves, 27 anos, a noite não se adapta ao profissional. Ao contrário, é ele que deve se adequar aos moldes do estabelecimento em que trabalha. “Se a pessoa não for flexível e extrovertida, não adianta, ela não tem perfil para trabalhar na noite”, afirmou. Há os que precisam do trabalho à noite como forma de sustento. É o caso do segurança César de Oliveira, 38 anos, que veio do Rio de Janeiro e começou a exercer a profissão por necessidade e pela boa remuneração oferecida. Segundo o segurança, apesar de haver alguns contratempos, a capital paranaense é melhor que o Rio em tranquilidade e remuneração. Existem também aqueles que optaram pela noite, mas não dependem dela para sobreviver. “Eu adoro trabalhar nas baladas. Porque, como promoter, eu conheço muita gente e, ao mesmo tempo em que estou ganhando dinheiro, vou a várias baladas numa mesma
noite”, disse Nicole Baumeier, 23 anos, promoter e estudante de Odontologia. Nicole declarou de antemão que não precisa do emprego e aceitou para completar o orçamento e se divertir de uma maneira produtiva. Handerson Banks, 29 anos, formado em Direito, chegou a advogar por dois anos, mas optou por deixar a magistratura de lado e dedicar-se integralmente à arte. Handerson começou na música há 14 anos por influência do pai e precisou fazer duas pósgraduações para ser respeitado no meio musical. Hoje, Handerson é músico, ator e sustenta sua filha de dez anos com conforto trabalhando com a música. “Toco de terça a domingo, não tenho vida social, mas meu trabalho já é uma forma alternativa de diversão. Ganho bem, e faço por amor à música e por achar que eu realmente nasci com o dom para isso”, concluiu Banks. O sub-chef de cozinha João Vitor Zanon Paludeto, de 25 anos, após pe rcebe r que a culinária era sua paixão e que o que realmente queria era ser chef de cozinha, foi em busca de um ambiente em que o trabalho não fosse tão regrado como nos restaurantes tradicionais. Foi então que João Vitor descobriu as vantagens de cozinhar em uma balada. “Trabalhar em um ambiente divertido, como é aqui, torna a rotina do chef mais leve. Sem falar que depois que a cozinha fecha, a gente ainda pode ir para outro lugar e continuar se divertindo”, disse. Assim como o sub-chef, o gerente Rodrigo confessou que após o expediente, toda a equipe costuma ir a outra balada para encerrar de forma ainda mais agradável a noite de trabalho.
Trabalhar na noite é uma saída para se divertir de maneira produtiva
Bethina Perussolo Camila Matta
Fotos: Bethina Perussolo
Segundo profissionais, atuar durante a noite é garantia de boa remuneração para quem prefere estar em um ambiente descontraído
João Vitor escolheu trabalhar na balada para sair da rotina massante dos restaurantes tradicionais
Handerson é advogado, mas optou por viver da noite
Depois do trabalho, Rodrigo costuma ir para a balada
baladeiros arriscam manobras de skate à noite para relaxar
Jovens buscam atividades ligadas ao esporte para relaxar depois da balada
Quando a balada acaba, para alguns a noite está apenas começando. Além dos muitos jovens que passam por barraquinhas de cachorro-quente para saciar a fome antes de dormir, há aqueles que buscam algo diferente ou até mesmo extremo após a festa. A prática de esportes como natação e skate durante a madrugada está começando a surgir no cenário noturno de Curitiba. Muitos baladeiros aparecem pelas pistas de skate da cidade depois que a casa noturna fecha as portas. “É legal ir lá para esfriar a cabeça e gastar energia para dormir melhor”, afirmou Daniel Candido Portero, 19 anos, que frequenta a Pista do Ambiental, no
Alto da XV. Jovens como Daniel arriscam manobras mesmo depois de uma longa noite de festa. Os motivos são muitos pelos quais amigos se reúnem para continuar a diversão, desde a adrenalina da madrugada até o clima mais descontraído. “Tem menos gente, você pode andar mais tranquilo, sem ter os ‘pistoleiros’, que são os skatistas que furam a vez dos outros, para atrapalhar”, disse Daniel. Já o estudante Ramon Moraviski, 21 anos, opta por nadar depois da diversão noturna. Ele criou o hábito para relaxar, mesmo que de madrugada. Segundo Ramon, quando chega à casa, sente-se mais atraído pela piscina do que pela
própria cama. “Gosto de dormir relaxado depois da balada. Como tenho uma piscina em casa, adoro nadar antes de ir para a cama”, confessou o estudante. Há ainda quem prolongue a noite de forma ilícita, como um grupo de ex-estudantes do CEP (Colégio Estadual do Paraná) que após a balada prefere invadir a piscina do colégio antes de ir para casa. “Pulamos o muro, invadimos a piscina e às vezes até ficamos nus. Nos divertimos muito, mas a festa acaba assim que os seguranças chegam”, afirmou um dos ex-alunos.
Ana Carolina Weber Jéssica Yared
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OLHARES DIFERENTES: PRATICANTES DE ATIVIDADES E DEFENSORES DOS ANIMAIS FALAM SOBRE RINHAS
Treinados, galos lutam em atividade ilícita
Legislação prevê multa para participantes e apreensão dos animais em rinhas, segundo a Lei 9605/98 de Crimes Ambientais Curitiba e Região Metropolitana possuem espaços onde acontece a criação, treinamento e as rinhas, geralmente de galos. Rinha consiste em animais da mesma espécie brigando no rinheiro (local onde ocorrem as disputas) para satisfazer os apostadores que apreciam essa luta. Segundo Pedro Souza*, treinador de galos, na capital existe um clube, em bairro nobre, onde a cadeira para assistir a briga pode custar 500 reais. A atividade é considerada ação de maus tratos com animais, segundo o Decreto-lei nº 24645, de 10 de julho de 1934. “Na rinha ocorre a seleção direcionada pelo homem dos chamados galos combatentes”, explicou Souza, 29, que faz treinamentos de galos em sua fazenda. Segundo ele, os animais passam por preparações, desde novos, antes de começar a lutar, sendo analisados quanto à saúde e físico, com uma alimentação composta de sementes, milhos e verdura. Seleciona-
dos os animais que têm condições de serem “bons combatentes”, vão para a cocheira principal, onde são preparados fisicamente. Após 120 dias passeando e fazendo lutatreino, os galos vão para a rinha, equipados com lâminas de metal na altura das esporas. Souza disse que as pessoas precisam saber que “o animal não pode se machucar. Um atleta não pode estar mal tratado, senão ele não se torna um campeão”. O treinador disse que leva seus galos para lutar em um clube em um bairro nobre de Curitiba e já participou de rinhas em outros países, como na República Dominicana, onde, segundo ele, existem muitos apostadores e grande movimento de dinheiro. “As apostas dependem. Na Região Metropolitana, são em torno de 100 reais, no máximo. Já no clube aqui de Curitiba a aposta mínima é de 2 mil reais”, afirmou Souza, explicando que isso acontece pelo fato de reunir criadores
ricos e aves nobres. Marco Aurélio, escrivão chefe da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), disse que o órgão recebe diversas denúncias sobre rinhas, sendo todas atendidas e investigadas. “São tomadas as medidas necessárias, como apreensão dos animais e intimação dos participantes para responderem o procedimento específico do caso, que se enquadra no crime de maus tratos, previsto no artigo 32 da Lei 9605/98 (Crimes Ambientais)”. “O animal não está se divertindo. Nós, humanos, achamos que podemos interferir em tudo, mas o sofrimento é o mesmo e o direito a vida é o mesmo”, afirmou Soraya Simon, presidente voluntária da Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba (SPAC) desde 2008. De acordo com Soraya, denúncias de rinhas são pouco frequentes, pois “as pessoas têm medo de se envolver”. Soraya explicou que a recuperação psicológica dos animais após situações de vio-
Rinha de galos e apostadores em clube em bairro nobre de Curitiba
lência é difícil. “Geralmente não conseguem ter uma convivência pacífica. Por causa dos treinamentos, eles querem pegar outros animais de qualquer jeito”, disse. (*Nome fictício) Júlia Magalhães Paola Possato
BINGOS beneficentes promovidos por IGREJAs são fontes de entretenimento
“Ação entre amigos” leva diversão à melhor idade Bingos de igreja reúnem dezenas de mulheres idosas todas as semanas. Sem responsabilidades como levar os filhos para a escola, muitas senhoras buscam se distrair, conversar, ajudar a comunidade e ganhar prêmios. Esses eventos são permitidos nas igrejas com a liberação da arquidiocese, desde que beneficentes e divulgados sob o nome “ação entre amigos”. O Santuário Nossa Senhora do Carmo, por exemplo, promove quatro bingos por ano. O vigário da igreja, padre Valdirlei EXPEDIENTE Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Edição nº 185 - Setembro de 2010 Pontifícia Universidade Católica do Paraná Rua Imaculada Conceição, nº 1.155 Prado Velho, Curitiba
Augusto Chiquito, afirmou que a margem de lucros não é significativa. “São todos prêmios doados e não se pode oferecer valores em dinheiro”, explicou. Os bingos ocorrem no salão, ao lado do santuário, onde, além de cartelas, vende-se guloseimas para alimentar os participantes. O público, em geral, é composto por mulheres com mais de 60 anos e a maioria dos prêmios são artigos femininos ou para casa, variam de uma cesta de produtos de beleza a um micro-ondas.
As “bingueiras” são facilmente notadas, com seus “kit-bingos” e técnicas próprias para jogar, agem como profissionais. Umas trazem pedras de casa, outras usam canetas que apagam como lápis e as mais experientes levam moedas antigas e um ímã; dessa forma não perdem tempo limpando as cartelas entre uma rodada e outra. Mais uma característica em comum é o fato de não frequentarem apenas uma igreja, participam de bingos quase todas as semanas e, por isso, vão a diversas comunidades.
Teresa Putrique, 80, é uma dessas bingueiras. Ela participa dos bingos do Carmo há nove anos. Teresa não perde um evento, mas garantiu que o faz apenas para ajudar a comunidade. Não negou, entretanto, divertir-se muito em todas as ocasiões, mas disse não ter muita sorte. “Tem gente que nasce com o joelho virado pra lua”, brinca sempre que alguém ganha um prêmio.
Reitor: Clemente Ivo Juliato Decano CCJS: Roberto Linhares da Costa Decano Adjunto do CCJS: Marilena Winters Diretora do Curso de Jornalismo: Monica Fort
Jornalista Responsável: Zanei Barcellos DRT-118/07/03 Projeto Gráfico: Marcelo Públio
Esporte: Richard Junior e Talitha Maximo Comportamento: Laura Sliva Sociedade: Bethina Perussolo e Rhânele Kiatkoski Polícia: Júlia Magalhães Cultura: Giovanna Miqueletto e Guilherme Mello Educação: Isadora Lago Bairros: Diane Cursino
COMUNICARE
EDITORES Primeira Página: Juliana Hemili Opinião: Rubiane Kaminski Política: Carla Comarella Geral: Flávia de Andrade e Marcela Lorenzoni
Ana Carolina Machado
Maltratar animais é crime De acordo com o Decreto-lei nº 24645, criado em 10 de julho de 1934, os animais são considerados “sujeitos de direito”; maltratá- los é crime e eles têm como representante o Ministério Público. Está previsto no artigo 16 que “as autoridades federais, estaduais e municipais prestarão aos membros das sociedades protetoras de animais a cooperação necessária para fazer cumprir a presente lei”. As penalidades consistem em detenção de 3 meses a 1 ano, e com a morte do animal, este período pode aumentar de um terço para um sexto. O órgão responsável por denúncias de maus tratos a animais é a Delegacia de Proteção do Meio Ambiente, mas também é possível procurar outras delegacias ou a Promotoria de Defesa do Meio Ambiente.
cultura
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Curitiba, setembro de 2010
OBRAS DE ARTE presentes em muitos locais da cidade ajudam a divulgar trabalho de artistas
Exposições em bares e cafés chamam atenção Cafés, restaurantes e bares de Curitiba apostam em decorações com diversos tipos de expressões artísticas, com a intenção de valorizar artistas e despertar a atenção do público em relação a arte. Hoje muitas exposições circulam por locais destinados ao lazer e a gastronomia, deixando de serem exibidas apenas no tradicional formato de galerias. Gustavo Dias, responsável pelo Jokers, um dos primeiros bares a ter obras de arte na capital, diz que desde sua estréia, existe a preocupação de valorizar a decoração circense (tradição em homenagem aos Irmãos Queirolo) e as diversas obras de artistas paranaenses, recebendo uma reação muito positiva do público. “O mais legal de expor em bares e cafés é que o cliente não está indo exclusivamente para ver a exposição. Ele sai para curtir uma balada ou conversar com os amigos e se depara com obras interessantes. Se essa obra chamar atenção ou causar uma reação, o objetivo de expor em lugares alternativos foi alcançado”, comenta.
Giovanna Miqueletto
Expressões artísticas deixam de ser destinadas apenas as galerias e passam a decorar os mais diversos ambientes da capital paranaense
Exposição no Fran’s Café
Arte de Fabrizio Andriani
Fabrizio Andriani, artista plástico que já expôs suas obras em diversos locais de Curitiba e em outros países, fala que os bares exercem um papel importante para os artistas. “Se dependesse só das galerias estaríamos perdidos. Em bares, nosso trabalho é mais divulgado”, comenta. Andriani acha que um trabalho decorativo acaba se mesclando com o lugar, por isso, devem ser expostos somente trabalhos que
chamem a atenção do público. Suas obras diferentes e atrativas, que são influenciadas por games, desenhos 3D e televisão, alcançam esse objetivo. No James, tradicional balada curitibana, a decoração também valoriza os artistas da capital. Existem trabalhos de artistas locais em todos os ambientes e o lugar conta com uma parede exclusiva para a montagem de exposições, com iluminação e
estrutura para suporte de obras. Pela decoração ser sempre uma preocupação do James, costumase existir uma grande expectativa do público. “A postura com as obras é de apreciação. Expondo em bares, a aproximação do artista com o público ligado ao seu estilo é fortificada, ampliando o impacto do seu trabalho”, conta Fabiane Pellegrino, produtora de eventos do local. Ana Zaramella, 22 anos, acha muito válido ter arte em bares. “Gosto bastante de bares e cafés que trazem cultura como o James. Fica um clima muito bom”, diz a estudante. Para Rodrigo Simmet, gerente do Fran’s Café, as exposições nos cafés são uma forma mais fácil de divulgar a arte. “Por ser um local mais acessível do que as galerias tradicionais, as pessoas demonstram bastante interesse e admiração”, diz. Assim concorda Rossana Rizzi, gerente do Beto Batata, um espaço decorado com fotos e obras de diferentes estilos. “Valoriza muito ao artista ter seus trabalhos em locais como o
Beto. É impressionante a reação e o interesse das pessoas”, conta Rozzana que por ser do Uruguai, se impressionou com o tanto de expressão artística que existe na capital. Ivens Galhardo, 26 anos, acredita ser muito bom ter na cidade lugares assim. “Bares e cafés com obras de arte, são ótimos! Inclusive conheço alguns que disponibilizam até micro bibliotecas. Acho esse conceito interessante”, conta. Já Tiago Peixer, 24 anos, não repara tanto nas decorações dos lugares, apesar de achar ótimo a valorização do artista curitibano. “Para falar a verdade, nunca olhei muito se existe ou não obras de arte no local. Mas acho interessante a idéia, vou começar a reparar mais”, fala o fisioterapeuta. Alguns locais em que também podem ser encontradas exposições de artistas curitibanos são: Wonka, Era Só o Que Faltava, Café Hacienda, entre outros. Giovanna Miqueletto Juliano Oliveira Marisol Munari
ARTE NAS TRASEIRAS DOS ôNIBUS E EM FACHADAS DE LOJAS DESPERTAM ATENÇÃO DAS PESSOAS NAS RUAS
Fachada da Galeria Lúdica, um espaço composto por moda, arte, design e tudo que gira em torno destas tendências. O local trás uma experiência nova às pessoas, com um formato de varejo onde é possível fazer compras, buscar referências, inspiração, ler um livro, apreciar uma exposição de arte, ou simplesmente comer ou tomar algo no espaço gastronômico. Duas vezes por ano acontece o Mega Bazar Lúdica, uma das principais realizações do coletivo da Galeria. “Esse é o maior foco do evento: valorizar o trabalho de novos criadores, independente de serem na área de moda, arte ou design. A maioria dos artistas são curitibanos; e em geral, as pessoas ficam surpresas com nosso espaço, pois ele é diferente do formato que estão acostumadas”, conta Débora Mello, coordenadora geral da galeria.
Larissa Matos
Larissa Matos
Giovanna Miqueletto
Formas não convencionais de apresentar arte em Curitiba
Oito projetos de artistas curitibanos, selecionados pelo edital Arte Urbana do Fundo Municipal da Cultura, vêm chamando atenção das pessoas nas ruas, por estarem expostos na parte traseira dos ônibus, da linha Circular Centro em Curitiba. Esse projeto já existe há quatro anos e as obras visuais ficarão expostas nos ônibus da cidade até final de dezembro. “Passeio Público”, obra inteiramente digital, criada pela designer Thalita Sejanes, foi feita para atingir diretamente as pessoas. “A ideia é mostrar para todo mundo atráves de um desenho, uma imagem divertida, que passe a ideia da dualidade existente dentro e fora dos ônibus. É uma oportunidade incrível”, conta a artista.
Bruno Stock, 26 anos, autor da obra “Composição sobre Nuvens” realizada em fotografia digital, acha essa uma boa chance para novos e jovens artistas mostrarem seu trabalho. “Não sei se as pessoas em geral percebem que existem obras de arte atrás dos ônibus, uma vez que o ritmo na cidade é muito alucinante; mas ter um trabalho circulando por todo o centro da cidade é bem interessante. Ele vai chegar a pessoas que nunca iriam ver algo que eu fiz.”, conta. O artista quis mostrar em sua obra dois elementos: um indefinido e natural (nuvens) e outro delimitador, estático e artificial (fios de poste de energia), sendo estes alguns dos elementos que o incomodam na cidade.
(GM) Larissa Matos
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educação
Curitiba, setembro de 2010
AO INVÉS DE PRATELEIRAS, UMA GELADEIRA É USADA COMO LOCAL PARA ARMAZENAR OBRAS
Panificadora dispõe livros para comunidade possam usufruir dos livros. Cliente de longa data da Pote de Mel, Alessandro propôs aos donos uma parceria, que mesmo receosos de que os livros não fossem retornar, aceitaram a proposta inovadora. Não existe cadastro para levar os livros, muito menos prazo para devolução, o que importa é que eles sejam passados para frente, gerando novos leitores. “Lugar de livro é na mão das pessoas e não em prateleiras”, explica Sandra Lazzaris, uma das administradoras da Pote de Mel. Sandra também comenta que até mesmo pessoas de outros estados levam os livros “Temos um cliente que é de Florianópolis, e quando ele vem ao hospital ele sempre leva algum livro, e depois de dois meses retorna pra Curitiba e os devolve, e leva mais alguns”. O acervo da Bibliopote já recebeu doações de outros estados como São Paulo e Rio Grande
A Bibliopote, como é chamada, é uma biblioteca livre onde as pessoas podem levar os livros, que ficam dentro de uma geladeira, e devolver, ou não, quando quiserem. Ela fica dentro da panificadora Pote de Mel, no centro de Curitiba, e por ser bem localizada, é freqüentada pelas mais diversas pessoas. Desde jovens estudantes até pessoas que vem para a capital em busca de tratamento médico no Hospital das Clinicas. “Acho bonito que você possa encontrar livros no mesmo lugar onde encontra o pão”, comenta o jornalista Alessandro Martins, idealizador da biblioteca, sobre o porquê de criar o acervo dentro de uma panificadora. Após a morte de seu pai, o jornalista recebeu uma grande quantidade de livros como herança e resolveu criar uma biblioteca livre (idéia vinda de uma viagem que fez a Brasília) para que todos
do Sul, e também dos Estados Unidos, e em quase um ano de funcionamento mais de mil livros já passaram pela geladeira da panificadora. Como se trata de um local para a disseminação de livros de literatura, quando recebem doações e alguns são de gêneros diferentes (como livros técnicos), eles são repassados para pessoas que se mostram interessadas nas publicações “Uma vez, recebemos uma doação de livros de direito, e uma cliente nossa que estava na panificadora no momento, que era estudante de direito, levou-os para casa e em troca nos trouxe outros livros de literatura, que estavam encostados em sua prateleira”. Roseli Dunaysky, 49 anos, trabalha há dezesseis anos na Pote de Mel como chapeira e desde pequena tem a literatura como uma grande paixão. Quando a Bibliopote foi aberta em 2009, Roseli trocou as estantes da Bi-
Isadora Lago
Bem localizada e por ser menos burocrática, biblioteca livre atrai clientes de vários pontos de Curitiba, RMC e do país
Aluna de ensino fundamental tira livros do freezer
blioteca Pública pela geladeira da panificadora onde trabalha. “É mais perto e mais fácil para mim, levo um livro por semana para casa. E até a minha sobrinha de 6 anos pede para que eu leve livros daqui para ela ler”. A Bibliopote passa desperce-
bida por muitos na Pote de Mel, mas uma vez que a porta daquela geladeira é aberta, todos os olhares se voltam para aquele canto com tantas histórias. Camila Petry Isadora Lago
secretaria de educação espera que até 2012 todas as escolas públicas de curitiba tenham bibliotecas
Faróis do Saber e Casas de Leitura são opções para população efetivamente a violência com investimentos no setor. Outra opção para quem busca aumentar seu conhecimento bibliográfico são os Faróis do Saber. Eles estão geralmente vinculados a escolas, e o perfil do usuário do farol é de estudantes que buscam fazer pesquisas escolares. Na parte de literatura muitos idosos também se interessam pelos empréstimos. Uma vez que o uso está mais ligado ao ambiente escolar, muitos faróis possuem extensão
e troca de livros com colégios municipais, que estão abrindo suas bibliotecas para atendimento ao público, 26 delas inclusive aos sábados. Como o ideal, por lei, é ter uma biblioteca por escola, essa parceria com os faróis vem sanando algumas necessidades, já que em Curitiba de 179 escolas, 161 possuem bibliotecas escolares. A média de aluguéis de livro nos faróis subiu de 20.408 empréstimos no ano de 2009 para 38.953 até o mês de julho de 2010, sendo
Renan Rederde
Emprestar livro em Curitiba não é só na Biblioteca Pública, existem outras opções espalhadas por toda a cidade. A capital conta com 13 Casas de Leitura vinculadas à Fundação Cultural, instaladas em locais de grande circulação para que a comunidade possa usufruir dos serviços prestados. Elas estão geralmente localizadas em regiões descentralizadas para atender toda a população, como é o caso da Estação do Pinheirinho, que se encontra no terminal do bairro. Com 2.000 volumes ela já atende cerca de 2.300 cadastrados. Esse aumento de empréstimos foi o que motivou a transformação de algumas bibliotecas em casas de leitura, segundo Mariane Torres, da Coordenação de Literatura da Fundação Cultural. A assessora diz que faltam alguns incentivos por parte do governo e afirma que “é um equivoco dos governantes não investir na cultura”, afinal, cidades como Medellin, na Colômbia, conseguiram diminuir
Pessoas utilizam serviços oferecidos em Farol do Saber Emiliano Perneta
que a rede conta com 760 mil livros, muitos deles doados pela população. Margareth Caldas Fuchs, gerente de Bibliotecas e Faróis do Saber, afirma que em 2010 todos os computadores dos faróis foram renovados, o que se confirma em depoimentos da maioria dos funcionários. Eles admitem que além de computadores em ‘excelente estado’ – entre eles máquinas especiais para cadeirantes – as instalações teriam recebido também outros aparelhos de multimídia e pintura nova, mas muitos não estão sendo utilizados pelo pouco acesso, e alguns postos sofrem com a vandalização. Outras reclamações seriam acerca da segurança, como conta Maricleusa Hessel, da sede Emiliano Perneta: “Durante o dia, temos segurança porque o guarda fica no posto aqui ao lado. Mas a noite ele vai embora, então fechamos as portas às 19 horas e só entram pessoas conhecidas”. A estudante Maria Lucia Mo-
raes busca o farol como opção de pesquisa escolar, mas afirma que os livros de vestibular estão desatualizados, e nem tudo se encontra na internet. O acesso a computadores também possui regras especiais e só está disponível para quem tem carteirinha. “Como não tenho computador em casa, posso fazer muitas pesquisas no computador do Farol. E acho bom o bloqueio de sites de relacionamento, para não fazerem daqui uma lan house”, afirma Maria Lucia. Para obter a carteirinha de usuário do Farol do Saber, é necessário apresentar o documento de identidade, comprovante de endereço e número de telefone para contato. Com a carteirinha, os usuários podem emprestar dois livros e realizar três impressões nos computadores. O empréstimo de livros é por quinze dias, podendo ser renovado por mais outros quinze. (CP, IL) Renan Rederde Taisa Echterhoff
bairros
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Curitiba, setembro de 2010
enquanto o parque esta fechado crianças divertem-se nas ruas do bairro
Bairro São Miguel fica sem opção de lazer Parque dos Tropeiros na regional CIC foi interditado em 2009 por não atender normas de segurança básica do Corpo de Bombeiros
Rio Passaúna
Rivieira
Regional CIC
Augusta
Bairro São Miguel
Parque do Tropeiro
Elian Woidello
Cidade Industrial
O Passaúna é a maior represa de Curitiba e o rio mais limpo dos grandes rios de Curitiba, com vegetação rica e mata fechada, basicamente composta por bracatingas. Sua bacia hidrográfia está localizada em cinco municípios da região e têm 39 km². É responsável pelo abastecimento de aproximandamente 700 mil pessoas. O crescimento do número de propriedades tem poluido o rio e o deixado menos preservado, ainda mais na parte sul do Parque Municipal do Passaúna onde a população se banha correndo riscos, como o de sumidouros (têm a função de fossa de absorção dos esgostos domésticos) no fundo da represa e a contaminação.
As grades, a placa e a interdição do parque afastam os moradores de sua única opção de lazer
parque sofre com a falta de opções de lazer, já que a distância para os demais bairros é grande e apenas as ruas no entorno do parque são asfaltadas. No São Miguel faltam creches, escolas, postos de saúde, praças e sobra abandono. Maria da Graça, doméstica, diz que sente muito medo do futuro dos filhos e conta que tem muito medo de deixá-los sozinhos na casa. “Faltam projetos, escola e nem no parque eles podem ir brincar mais”. Luis Felipe, estudante e morador do bairro conta que já viu o amigo ser atropelado por que brincava na rua. Não há previsão para a reabertura do parque. Bairro São Miguel Com uma população de 6.248 habitantes (dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), o São Miguel é um bairro onde o mundo rural e o urbano se encontram. A vila que se formou ao lado do parque dos tropeiros foi criada pela prefeitura após a desapropriação de áreas
irregulares no Fazendinha, mas também podem ser encontradas muitas chácaras e área verde no local. O acesso único se dá pela Rua Raul Pompéia, que se torna sinuosa após o terminal do Caiuá, na área urbana do bairro vivem muitas pessoas de classes C e D. O patrulhamento policial é difícil e raro, a coleta de lixo ocorre em apenas três dias, a população carece de serviços médicos. Em um paradoxo a quantidade de chácaras torna o lugar curioso se limitando entre a Cidade Industrial de Curitiba (CIC), Araucária e Campo Largo no mesmo bairro pode-se encontrar os aspectos do desenvolvimento de uma metrópole nacional e de uma interiorização da população da mesma já que o número de chácaras e sítios é muito alto. Após o Parque dos Tropeiros nenhuma rua é asfaltada fazendo com que a chegada ao Passaúna seja de difícil acesso (ver box). Elian Woidello
(E.W.)
“O Parque dos Tropeiros está fechado”. A denúncia veio dos moradores do bairro São Miguel, que reclamam a falta de opções de lazer. Segundo os moradores, o parque fica aberto apenas nos fins de semana e durante a semana não dá nem para jogar bola no local. O parque localizado na zona oeste de Curitiba possui uma área de 174 mil m², e foi criado em 1994 para homenagear o ciclo histórico do tropeirismo. É um parque sobre a cultura gauchesca. Possui cancha de rodeio, camping, palco, museu, churrascaria e um bosque de mata nativa e seria a única opção de lazer do local. Tudo começou com a interdição do espaço pela COSEDI (Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis), segundo Jorge Castro , fiscal do órgão, os espaços do parque foram interditados para eventos nos salões do local porque não atendiam as normas de segurança básica do Corpo de Bombeiros. Para Thiago Soares, morador do local, o pior é ter que jogar bola, empinar pipa ou andar de bicicleta na rua já que o parque possui horário de funcionamento apenas nos fins de semana e nos feriados. Até para a prefeitura as informações são desencontradas, pela central 156 o parque possui horário de funcionamento, para a Secretaria do Meio Ambiente e para a COSEDI ele está interditado, então o Comuincare foi até o local. Chegando ao São Miguel percebe-se uma situação de abandono, crianças brincando no cascalho da rua. Muitas contam que já tentaram ir brincar no local, mas que é melhor na rua já que podem ficar lá quando quiserem. Para Pedro Ferreira, um dos zeladores do parque a recomendação é “manter o portão fechado”. Ele mesmo conta que burla a ordem e abre os portões às vezes. A Guarda Municipal se faz presente, atuando no vazio do parque vinte e quatro horas por dia. A População A população dos arredores do
Brincar na rua passa a ser opção de lazer para moradores do bairro
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bairros
Curitiba, setembro de 2010
dos 75 bairros de curitiba, 21,3% não apresentam nenhum equipamento público de diversão
Lazer é ameaçado pela falta de segurança Áreas de lazer periféricas não são frequentadas por moradores devido a presença de usuários de drogas e pela falta de manutenção Nos bairros de Curitiba muitos dos equipamentos públicos de diversão (parques, teatros e centros culturais) estão sem manutenção e segurança. No Parque Histórico de Curitiba, a Vilinha (foto de fundo), localizado no Bairro Alto, a depredação do local e a falta de segurança são visíveis no portal de entrada. A costureira Lúcia Panichek mora no Bairro Alto há pouco tempo, mas diz não frequentar a Vilinha por ser um “ponto de encontro de malandro” e por causa da alta criminalidade no bairro. Já o comerciário Ricardo Patinho, também morador do bairro, afirma que o local é ponto de venda de drogas e que a polícia faz somente “vista grossa” no local. Não muito diferente da realidade dos moradores do Bairro Alto, o porteiro Claudinei Aparecido Alves, morador do Bairro Novo há 17 anos, diz não frequentar o Parque do Semeador (que não passa de uma academia ao ar livre com um campo de futebol). Para ele, o lugar deve ser visitado em grupos e em horários restritos, já que a partir das 19h “a fumaça corre solta”. A equipe de reportagem do Comunicare visitou o parque e presenciou jovens fazendo o uso de drogas. O secretário de Esporte e Lazer em Curitiba, Rudimar Fedrigo, acredita que a solução para esses problemas de falta de segurança seria a “participação efetiva dos moradores no parque”. Já que, segundo ele, a maior frequência da população faria com que “os usuários de drogas parassem de frequentar os parques”. De acordo com o prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, a cidade tem um déficit de policiais civis e militares muito grande. Segundo ele, o Paraná tem o mesmo efetivo de Santa Catarina, que tem metade da população do Paraná. Outro problema são as regiões que possuem grande número populacional, mas que não têm lugares de diversão equivalentes à demanda de moradores (ver gráficos).
Índices de Lazer e Cultura por regionais de Curitiba Fonte: IPPUC
A regional Boa Vista apresenta a maior porcentagem em Faróis do Saber de toda a cidade de Curitiba são mais de 18%. E é a segunda regional em porcentagem de parques e bosques. Entre todas as regionais, a Matriz, que é composta pelos bairros arredores do centro, possui a maior porcentagem dos espaços de lazer (centros de cultura, teatros e parques) da capital, ao todo são 46,55%.
REGIONAL BOA VISTA
REGIONAL SANTA FELICIDADE
A regional do Cajuru possui uma população equivalente a cidade de Colombo que é a 8º maior cidade do Paraná. No total, são 221.005 habitantes, porém ela concentra apenas 1,72% de espaços de lazer, como teatros, parques e centros culturais em Curitiba.
REGIONAL MATRIZ
REGIONAL PORTÃO
Na regional do Pinheirinho (composta pelos bairros da Caximba, Campo de Santana, Tatuquara, Pinheirinho e Capão Raso) não existem teatros, centros de cultura ou parques. Contam apenas com 3 faróis do saber e 1 biblioteca pública.
REGIONAL CAJURU
REGIONAL CIC REGIONAL BOQUEIRÃO
POPULAÇÃO
REGIONAL PINHEIRINHO
REGIONAL BAIRRO NOVO
247.6 mil habitantes 221 mil habitantes 210.8 mil habitantes 142.9 mil habitantes 183.6 mil habitantes 234.4 mil habitantes 206.8 mil habitantes 143.5 mil habitantes 152.5 mil habitantes Farol do Saber
REGIONAL PINHEIRINHO
Biblioteca
Foto de Fundo: Parque Histórico de Curitiba, a Vilinha. Depredação e falta de segurança marcam a localidade.
Comparação entre a distribuição de espaços de lazer e população nas regionais (%)
Distribuição dos centros de lazer em Curitiba, por regionais (%) Teatros
Bosques e Parques
Espaços Culturais
Espaços de lazer
65,38% 62,50%
27,58%
41,67%
12,09% 20,83%
19,23%
4,17%
Reg. Boa Vista
14,20%
13,44% 12,67% 8,19% 11,86% 10,53% 8,23% 6,89% 8,62% 3,44% 3,44% 1,72%
1,72%
12,50%
Reg. Matriz
Porcentagem da População
46,55%
12,50% 8,33% 7,69%
Reg. Cajuru
Reg. Santa Felicidade
8,74% 0
12,50% 8,33%
Reg. Boqueirão
8,33%
7,69% 4,17%
Reg. Cidade Reg. Portão Industrial
4,17%
Reg. Bairro Novo
Amanda Burda Camila Olenik
Diane Cursino Talita Inaba