COMUNICARE CURITIBA, SETEMBRO DE 2011 - ANO 15 - NÚMERO 199 - 2º ANO DE JORNALISMO - PUCPR
15 ANOS
jornalcomunicare@hotmail.com
twitter:@JorComunicare EDADREBIL
Eutanásia: a LIBERDADE de escolha entre a vida e a morte Pg. 12
Pg. 03
LIBERDADE
Ex-presidiário fala sobre LIBERDADE
COMUNICARE twitter:@JorComunicare
15 ANOS
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CURITIBA, SETEMBRO DE 2011 - ANO 15 - NÚMERO 199 - 2º ANO DE JORNALISMO - PUCPR
Curitiba, setembro de 2011
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COMUNICARE CONVERSA COM OS QUE FOGEM DO CONVENCIONAL
Liberdade: Qual é o limite? Constituição Federal diz que os cidadãos são livres para fazer suas escolhas Livre de preconceitos, aberto a novas idéias e disposto a ouvir todos os lados, o Comunicare novamente dá voz à sociedade e busca expressar, nas páginas seguintes, como ela absorve as diferenças. Liberdade, que tem como uma das definições a oportunidade de escolha, é garantida pelo artigo 5º da Constituição Federal Brasileira e, em 54 itens garante, em teoria, a todos os cidadãos igualdade e liberdade para tomar as decisões que melhor lhes cabe sobre os mais diferentes aspectos. Porém, contrariar convenções sociais pré-estabelecidas há muito tempo, muitas vezes, é árduo. Apesar de a internet oferecer liberdade de expressão e de pesquisa, não é possível negar que a sociedade ainda é avessa ao novo e com alguns pensamentos e preconceitos que já deveriam ter sido abolidos há muito tempo. Por causa disto, escolher, por exemplo, uma religião, ideologia, opção política e de que
forma exercê-la, ou até mesmo opção sexual escolha, que fuja do óbvio gera conseqüências que podem ser negativas na convivência social de quem as escolheu. O Comunicare conversou com algumas destas pessoas e agora oferece ao leitor a oportunidade de conhecer as histórias delas, dar oportunidade para que ele possa ampliar os horizontes para vivenciar novas
experiências. Optar por um caminho diferente é possível, mas quem o escolher precisa ter em mente que segui-lo pode ser mais difícil e doloroso do que continuar nas velhas e conhecidas trilhas, mas, no final do novo caminho, sempre há amadurecimento e a descoberta de uma nova e bela paisagem. Maria Brey
OMBUDSMAN: FALTOU PESQUISA SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL
Apesar de erros gramaticais, algumas editorias do Comunicare estavam boas O tema Responsabilidade Social foi tratado de uma maneira pouco madura pelo Comunicare 195. Em algumas editorias, como na de opinião, termos e conceitos foram tratados de forma errada e muito vaga, o que sinaliza para o leitor um discurso superficial e uma falta de real conhecimento sobre a prática de Responsabilidade Social e do que significa o conceito em si. Mais pesquisa sobre práticas locais e mais pesquisa geral sobre o tema fizeram falta. Em Curitiba existem muitas iniciativas inovadoras e referência no país que poderiam ter sido abordadas, como casos de negócios sociais bem sucedidos, sustentabilidade nas empresas e iniciativas de empreendedorismo social. Isso deixou o jornal com muitas matérias batidas e abordagem um tanto superficial. As editorias de Saúde, Social,
Entrevista, Cidade, Mobilidade e Veterinária (apesar desse nome na editoria) estão de parabéns pelas matérias: conteúdo mais interessante, texto bom e com cara de jornalismo mesmo. Erros de português e principalmente de pontuação são encontrados em todo o jornal, o que sinaliza a necessidade de uma revisão mais atenta. O Comunicare precisa e merece um upgrade no design e diagramação do jornal. O formato extremamente “quadrado” não chama atenção. A
baixa qualidade nas fotos, capa e infográficos feios faz o jornal perder pontos. E hoje em dia, com tantas ferramentas de fácil uso e milhares de tutorias na internet, não tem mais desculpa para se ter um jornal com bom conteúdo, mas design deixando muito a desejar.
Expediente: Comunicare Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Pontifícia Universidade Católica do Paraná Rua Imaculada Conceição nº 1.155 Prado Velho, Curitiba Reitor: Clemento Ivo Juliato Decano CCJS: Alvacir Alfredo Nicz
Decano Adjunto do CCJS: Marilena Winters Coordenadora do Curso de Jornalismo: Mônica Fort Comunicare Jornalista Responsável Prof.º Zanei Barcellos DRT – 118/07/9 Projeto Gráfico Prof.º Marcelo Públio Setembro de 2011
Giana Andonini Jornalista e empreendedora Comunicare 2007
opinião Carta do Leitor Responsabilidade 1 Quero parabenizar os editores e os reponsáveis pelo projeto do Comunicare. Porém, tenho uma crítica: não concordo com a matéria sobre as torcidas organizadas: me parece que não é o momento de se dar espaço a essas pessoas, devido ao envolvimento destes grupos em situações e ações que muito têm causado danos a nossa sociedade e, principalmente, aos nossos jovens. Estas pessoas representam valores que não devem ser cultivados e alimentados, pois tem-se impressão que a violência faz parte de sua rotina. Tenho conhecimento para fazer esta crítica, pois sou uma assídua frequentadora dos campos de futebol e vejo o quanto a violência é fomentada por eles, dentro e fora dos estádios: apostura, as gangues, os “gritos de guerra”, o comportamento, o consumo de drogas, etc. Roseli Marinelli Rodrigues Professora de Língua Portuguesa, especialista em Psicopedagogia
Responsabilidade 2 Recebi o Comunicare “Responsabilidade Social” e não gostei do jornal no geral. Mas o que me chocou foi a matéria sobre as torcidas organizadas. Não consigo conceber que futuros jornalistas, formadores de opinião, cedam espaço para esse tipo de facção. Essa atividade com crianças é apenas para “limpar” a imagem. Não cabe a uma torcida organizada projeto de entregar brinquedos para as crianças. Isso é demagogia pura e aplicada, até porque conheço a comunidade na qual a Império “atua” e sei muito bem que isso acontece apenas uma vez por ano. Luiz Fernando Monteiro
Edição 199 Editores: Primeira página: Helena Salgado e Maria Brey Opinião: Maria Brey e João Paulo Garcia Teles Entrevista: Fernanda Vargas Cidade: Melanie Lisbôa Comprotamento: Rogério Scarione Comportamento: Amanda Scandelari Religião: Gustavo Magalhães
Nossa Capa
A capa da edição 199 do Comunicare foi desenvolvida por Helena Salgado e ofereçe ao leitor um labirinto com duas entradas, onde apenas uma delas possui saída.
Fala, leitor
“A reportagem do caderno Geral, da edição 195, foi definitivamente a melhor desta edição.” Eduardo Balbinot, 21 anos. Estudante de Economia da UFPR
Fala, professor
“O tema e as fotos estão bons, mas o texto ainda é muito técnico.” Rosita C. L. Hummell, Professora de Sociologia da PUCPR. Internacional: Thaís Reis Moda: Amanda Vicentini Nacional: Bruna Milanese Saúde: Mariana Rodrigues Geral: Bruna Milanese Esporte: Amanda Vicentini Sociedade:Gustavo Magalhães Social: Fernanda Vargas Internet: Lucas Vian
entrevista
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Curitiba, setembro de 2011
EX-PRESIDIÁRIO CONTA EXPERIÊNCIAS DA ADOLESCÊNCIA: PRISÃO E EDUCANDÁRIO
Após 4 anos na cadeia, chega a liberdade André*, ex-presidiário, é mais conhecido como Tio Chico. Ganhou o apelido na infância, pela semelhança com o personagem de mesmo nome do desenho Família Adams. Com apenas 20 anos, carrega o rótulo de ex-presidiário. Entre idas e vindas, passou quatro na cadeia. Vindo de família humilde, sofria agressões do pai alcóolatra. Quando pequeno, foi mandado pela mãe para morar com os avós, por segurança. Passou a adolescência sem qualquer contato com os pais. Quando completou 16 anos, seu pai faleceu. Com a perda, a mãe não teve mais condições de pagar o aluguel da casa e se mudou para a pequena casa de madeira de seus pais. Nela, se apertavam avô, avó, mãe e filho. Na mesma época, entrou na vida do crime. Preso pela primeira vez aos 16 anos, por porte de arma, assalto sem arma e receptação (receber produtos roubados). Passou pelo Educandário e pela cadeia. Foi preso novamente por assalto à mão armada. Conheceu a liberdade aos 20 anos, quando foi solto. Costuma justificar seus maus feitos em uma frase: “Aí não tem quem aguente a miséria”. *o entrevistado preferiu não se identificar
Comunicare - Por que você foi preso? Tio Chico - Ainda menor de idade fui preso por porte de arma, assalto sem arma e receptação (receber produtos roubados) e como maior de idade mais uma vez, assalto à mão armada. Comunicare - Quanto tempo você ficou preso? Tio Chico - Quando era menor de idade, duas vezes de 45 dias e a terceira vez fui para o Educandário e lá fiquei 1 ano. Quando eu já era maior de idade, fiquei um ano e meio. Nessa, fiquei no 12o Distrito em um cela que eram para seis pessoas e tinham mais de trinta.
Comunicare - Nas visitas que você recebia, quais eram os conselhos que você recebia? Tio Chico - Para arrumar um serviço, pra parar, ficar tranquilo, arrumar uma namorada. Comunicare - Do que mais você sentia falta lá dentro? Tio Chico - Para falar a verdade, de mulher. Comunicare - Qual era o sentimento de seus parentes e amigos mais próximos? Tio Chico - Da primeira vez foi muito revoltante, mais depois foram acostumando. E da última vez foi natural, porque todo mundo já sabia que eu roubava. Só que eu tentei deixar um dinheiro para eles pagarem um advogado.
“Quando eu saí, só liberdade. Queria fazer tudo no mesmo dia”
Comunicare - O que te levou a entrar nesta vida tão cedo? Tio Chico - A falta de dinheiro, a desigualdade social. Comunicare - Sua família te apoiou, ficou do teu lado, te incentivou para sair e mudar de vida enquanto você estava preso? Tio Chico - Desde o começo, minha fanília sempre ficou ao meu lado.
Comunicare - Você teve algum aprendizado enquanto estava preso? Tio Chico - Só aprendi coisas ruins dentro da cadeia, só tem veneno lá dentro. Comunicare - O que mudou na sua vida desde que você foi preso? Tio Chico - Todo mundo me
Arquivo pessoal
Tio Chico, como gosta de ser chamado, foi preso na juventude. Solto e com vinte anos, afirma que teve o direito de liberdade restrito
Tio Chico diz que a passagem pela prisão dificultou muito a sua vida
olhou diferente, todos viram o tempo que eu fiquei longe das ruas, todo mundo me marginalizou. Muita gente começou a me tratar diferente, principalmente a Polícia quando eles me paravam na rua e viam que eu já tinha passagem. Comunicare - Que sentimento você teve quando colocou os pés para fora da cadeia? Tio Chico - Tive uma sensação de liberdade, eu fiquei perdido, queria fazer tudo no mesmo dia, queria sair, curtir, conversar com todo mundo.
Comunicare - O que significa sua liberdade agora? Tio Chico - Significa tudo para mim, demorou para mim começar a dar valor para ela, mas agora eu estou dando. Ainda mais agora que eu estou casado, virei chefe de família, dou muito valor em ficar sem dinheiro aqui fora com a minha família. Sei que lá dentro eu fico sem dinheiro e sem minha família. Comunicare A adrenalina, o assalto, fez com que você perdesse sua liberdade? Tio Chico Fez, porque não adianta, eu fazia os assaltos e ficava muito cabreiro. Você vai com muito medo, mas a necessidade falava mais alto. Só que depois de um tempo, que eu vi que não deu nada e fiquei com o dinheiro eu já ficava mais tranqüilo.
“No educandário você apanha pra caramba, só arranja confusão”
Comu n i c a r e - O conceito de liberdade mudou depois que você foi preso, comparado ao que você pensava por liberdade antes? Tio Chico - Você dá muito mais valor para a tua liberdade quando você tá lá dentro do que quando você tá aqui fora, mas quando você tá lá dentro você acha que quando você sair vai estar tudo tranqüilo, tudo perfeito. Mas quando você sai aqui fora vem a necessidade, e você acaba debatendo com sua mente que se você roubar de novo é você que vai ser preso novamente.
Comunicare - Quais as diferenças entre o educandário e a cadeia? Tio Chico - No educandário só tem menores de idade, é ruim você apanha pra caramba lá dentro dos educares, mas não é tão apertado como a cadeia.
e a cadeia tem muita doença, muito piolho lá dentro (se referindo às pessoas) . No educandário quando você chega lá a primeira coisa que todo mundo quer é arrumar confusão com você e medir você para saber como você é, porque é todo mundo muito novo, muito venenoso, é muito confusão, e na cadeia é mais tranqüilo, acaba arrumando amizades, mas tem aquele negócio, você não pode dar mancada, se você der mancada você tá ferrado. Não pode falar da mãe de ninguém, nem ofender ninguém, porque lá todo mundo é igual. Comunicare - Vocês conversavam sobre liberdade lá dentro? Tio Chico - Dentro da cadeia a única coisa que você faz é conversar. Comunicare - Como são os carcereiros? Tio Chico - Depende muito, os do educandário eram maus, ruins, mais severos. E os da cadeia são mais tranqüilos, só que se você der mancada com eles tá f..., é “pau no gato sem massagem”. Comunicare - Fora da prisão você acha que te dão direito a liberdade? Tio Chico - É muito difícil arrumar um emprego bom agora, um emprego que ganhe bem, os únicos empregos que sobram para ex-presidiarios é emprego vagabundo, tem que trabalhar sábado, domingo e de madrugada. É ruim mais tudo vai da tua cabeça, se você tiver força de vontade e for esperto, você se vira. Mas é cada veneno que te dá vontade de roubar de novo, é verdade, mas só vontade, porque bem no fim você sabe que não compensa roubar porque quem vai se ferrar é você, e mais cedo ou mais tarde você se f... não adianta. Carolina Chinen Maiara Stival
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cidade
Curitiba, setembro de 2011
DUPLA forma de interpretar a lei divide opiniões sobre a constitucionalidade do pedágio
Advogada nunca paga pedágio e defende que a cobrança é ilegal
Juliana Pivato Thiago Radael
Pedágio localizado na BR-277 entre Curitiba e Paranaguá, concessionado pela Ecovia
CURITIBA Es tra da da G
racios a
O acesso à estrada da Graciosa é pela BR-116, em direção ao litoral do Paraná e as cidades de Morretes e Antonina, sua extensão é de 28,5 Km de pista simples. O trecho é asfaltado e com pavimentação poliédrica, com muitas curvas sinuosas. Há forte nevoeiro a noite e, aconselha-se não passar de carro em dias de chuva e a noite.
Portal da Estrada da Graciosa: a estrada começa em Curitiba, no Trevo do Atuba. A viagem tem início no portal. Nesse trecho há vagas de estacionamento à direita da pista. Por ser um trajeto com curvas acentuadas é importante dirigir com calma, além de evitar acidentes, o turista pode apreciar a natureza local.
Saindo de Curitiba com destino a Morretes pela BR-277, em todo o trecho há uma rodovia com pista dupla e bem sinalizada. O motorista pode contar também com o apoio da concessionária Ecovia, responsável pela manutenção da estrada.
O rio Cascata tem uma bela queda d’agua, sendo um ótimo lugar para relaxar, ouvindo o som da cachoeira. É importante se programar para fazer o passeio, pois existem poucas vagas para estacionar e elas lotam rapidamente.
Recanto da Mãe Catira: local preferido dos turistas, com churrasqueiras e bela paisagem sobre o Rio Mãe Catira. É possível encontrar trilhas que levam até o leito do rio, com águas límpidas e calmas e algumas pequenas cascatas. No período das cheias é possível relaxar nas piscinas naturais.
CURITIBA BR-277
Infográfico: Isabelle Warzinczak e Melanie Lisbôa
As tarifas cobradas ao utilizar estradas concessionadas pelos pedágios causa inquietação à advogada Márcia dos Santos Silva. Motivada pela ideia de que a estrada é um bem público e já possui recursos destinados a sua construção e conservação, nunca paga o tributo. O assunto é polemico e divide opiniões. Márcia se recusa a pagar pedágio, pois acredita que a cobrança é inconstitucional: “passo com o carro por cima da cancela mesmo! Não estraga o carro nem danifica o bem daquele particular que está obstruindo a passagem de cidadãos livres”. Conta que já foi multada, mas, recorreu porque entende que a liberdade de locomoção está prevista na Constituição Federal, e é hierarquicamente superior ao Código de Trânsito. Relata que seu recurso jamais foi julgado. O caso repercutiu quando em 2007, apresentou seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso de Direito), “A Inconstitucionalidade do Pedágio”, surpreendendo os presentes ao afirmar que viajou de Pelotas a Rio Grande (RS) sem pagar a tarifa do pedágio. “a repercussão do trabalho foi bastante positiva, recebi diversas manifestações de apoio, mas, o resultado que eu queria não consegui, pois gostaria que todos exercessem seu direito de locomoção e parassem de pagar o pedágio”, afirma. A advogada e professora da PUCPR, Amélia Rossi, doutora em direito constitucional, discorda e diz que no inciso V, Artigo 150 da Constituição Federal, está escrito que: “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público”. Para ela o pagamento do tributo restringe, mas, não fere o direito de ir e vir.
Fotos: Thiago Radael
Liberdade total para ir e vir mediante a pagamento de tributo é causa de revolta para usuária de estradas
MORRETES
A dona do pedaço
Estar leva flanelinha a mudar de função para completar renda Com as ruas próximas do Hospital Evangélico regulamentadas pelo Estar, Ana Alves, 66 anos, viu-se obrigada a deixar o posto que ocupou por 17 anos, como guardadora de carros. Hoje, a aposentada, divorciada, vende Estar para completar a renda e sustentar três filhas e um filho com problema neurológico. “Agora eu tenho que vender 3 blocos para ganhar 30 reais, 1 real de comissão por cartão vendido. Mas antes, como guardadora, eu ganhava até 50 reais por dia e nos fins de semana 70”, desabafa. A vendedora conta que após ser demitida, teve que recorrer a diversos trabalhos para não passar necessidades. “Já pedi para abrir valeta, por 10 reais, já catei papel e enfim me sustentei como guardadora. Meus filhos me deram força, eles são tudo para mim”, revela emocionada. Por ser um trabalho exaustivo e perigoso, Ana se sentiu diversas vezes ameaçada, principalmente quando era mais nova e trabalhava até à noite. A aposentada diz que uma vez presenciou um roubo: “o ladrão passou por mim correndo com uma arma na mão, e levou um carro. Os proprietários até chamaram a polícia, mas ela nem apareceu” declara. Entretanto, a trabalhadora acompanhou muitas histórias de superação e cura dos pacientes, e mantém fé que seu filho vai ficar curado. Isabelle Warzinczak Melanie Lisbôa
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Há um único posto de pedágio até o litoral, o custo é de R$13,90. Após descer a serra, deve-se dobrar a esquerda na PR-411. A viagem totaliza 62 Km.
MORRETES
Ana Alves: ex-flanelinha
comportamento
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Curitiba, setembro de 2011
Com decoração em cores escuras e música indie, james bar traz novidades a FREQUENTADORES
Casa de rock “sai do armário” e vira bar gay Você acredita que existe liberdade sexual ?
“ Não, pois muitas pessoas assimilam o homossexualismo com adultério e pedofilia. ” Samantha Carvalho 23 anos, professora
“ Sim, pois não me privo de minhas particularidades em função dos preconceitos. ” Leonardo Vieira 20 anos, bailarino
“ Sim, pois no meio em que vivo não existe estespreconceitos” Tiago Salezio 19 anos, estudante
“Não, pois a sociedade repreende a todos” Luiz Prada 25 anos, professor
Curitiba possui cerca de 14 casas noturnas destinadas ao público homossexual. Porém, existe uma que, inicialmente, atendia a outro tipo de consumidores e vem se destacando no cenário GLS, o James Bar. Localizada na rua Vicente Machado, a balada foi inaugurada em 1998 e era voltada para o rock’n roll curitibano. Nos últimos anos, foi adotada pelo público gay, obrigando-a a mudar seu estilo. Nos dias de semana, a casa abre de quarta à sexta, alternando apresentações ao vivo, DJs de indie, hardcore, rock e outros ritmos alternativos. Já nos finais de semana, a pista ferve ao som de Lady Gaga, Kate Perry e Beyoncé e promove frequentemente a tradicional “Batalha de Ipods”, na qual os jovens montam equipes, selecionam músicas e dispu-
tam entre si a preferência dos frequentadores. Cristian Lucas, 20, estudante, homossexual assumido, conta que gosta do James por não ser somente uma balada gay. “É bastante alternativo, tem homossexuais e heterossexuais convivendo bem em um mesmo lugar, as músicas são ótimas e as pessoas que frequentam são bonitas”, relata. Apesar do espaço interno com capacidade para, aproximadamente, 350 pessoas, a fila que se forma na porta do local é tão grande que chega a ser confundida com a da Liqüe Club, uma balada de música eletrônica que fica no final do quarteirão. “Às vezes fico mais de 3 horas na fila, mas nem passa pela minha cabeça ir embora”, diz Andressa Machado, 23 anos, bailarina. Segundo a psicóloga Selma Nunes, 51, que estuda o com-
William Borges
Curitiba tem atualmente 14 casas noturnas, de vários tipos, destinadas exclusivamente ao público homessexuais e simpatizantes
Filas já são algo comum em baladas cujo a maioria do público é gay
portamento dos jovens, diz que a adoção de um lugar por uma determinada tribo está diretamente ligada ao fato da mesma se sentir bem no local. “A partir do momento em que os jovens se sentem a vontade em um lugar, começam a chamar os
MAIOR EVENTO DA CIDADE, PRETENDE BATER RECORDE ESTE ANO
Parada não é unanimidade entre gays A maior manifestação voltada para o público formado por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) divide opiniões. Para alguns deles, a passeata é exemplo de união e ocasião para reivindicar respeito, defender direitos e demonstrar orgulho. Para outros, é mais exemplo de uma festa sem motivo para ocorrer que não representa o posicionamento da maioria. Este ano em sua décima quarta edição a parada gay, que ocorre também em outras capitais do país, será realizada no próximo dia 25, na Avenida Cândido de Abreu e tem como tema “Estamos ao Redor do Mundo – LGBT”, e se intuito é a busca pela liberdade de expressão do público homossexual. Segundo Luis Felipe Camargo, 38 anos, frequentador de todas as edições da versão curitibana da Parada Gay, a liberdade de expressão é uma conquista que vem com o tempo e o evento é um grande atalho para isso.
“Desde que uma pessoa assume sua homossexualidade, ela sofre com descriminação por parte da sociedade. Seja para conseguir um emprego, frequentar lugares, se vestir, modo de falar e até mesmo aceitação familiar. A Parada Gay surgiu com o intuíto de mudar isso, queremos poder expressar tudo que somos e sentimos. Graças a Deus hoje estamos começando a colher os frutos que plantamos lá atrás. Ainda falta muito, mas aos poucos estamos conquistando o respeito da população e grande parte disso deve-se as nossas manifestações pela cidade”, comenta. Para a dragqueen Brigitte Beaulieu, 36 anos que trabalha como dragqueen há 17 anos e atualmente está cursando faculdade de Design de Moda todas as oportunidades de expressão devem ser respeitadas. “Levo a sério este trabalho e tenho muito respeito com o mesmo, vivo para o meu trabalho, porque dele é que tiro o meu sustento e amo o
que faço”. Ela ainda afirma ter muito orgulho da sua personagem, porque ela é sua invenção. Para Brigitte a parada gay é muito importante na luta pela liberdade de expressão, pois a visibilidade do evento é muito grande. Já para Allan Bruck, estudante, 22 anos, a parada gay está fugindo de seu ideal que é a luta pela liberdade e igualdade e vem se tornando apenas uma festa como qualquer outra, onde a maioria das pessoas só vai para festejar e aparecer. Segundo ele “todos somos iguais e não devemos ser diferenciados apenas pela opção sexual, por isso não é necessário existir a parada gay do jeito que ela está sendo feita, pois desta forma ela está apenas denegrindo a imagem dos homossexuais”. Ele conclui dizendo que o evento está indo apenas para o lado da promiscuidade. Paula Werneck Rafaela Campagnoli
amigos e ali passa a ser um ponto de encontro, onde podem ser o que realmente são sem qualquer tipo de julgamento”. Maria Stella Mafra Rogério Scarione William Borges
VOCÊ SABIA? A primeira união estável homossexual homologada no Brasil, ocorreu em Curitiba No Brasil não existem leis que proíbam e prevejam punição para atos homossexuais desde 1830 Argentina foi o primeiro país da América Latina a autorizar o casamento gay Na Guiana, país vizinho ao nosso, a prática de atos homossexuais por parte dos homens pode levar à prisão perpétua, enquanto a homossexualidade feminina é permitida Mauritânia, Sudão, Somália, Uganda, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Yêmen e Irã são alguns dos países onde além de qualquer ato homossexual ser proibido, uma das consequências é a pena de morte SUS(Sistema Unico de Saúde) faz cirurgia de mudança de sexo.(RS)
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comportamento
Curitiba, setembro de 2011
Lei federal permite reprodução de Sons com até 85 decibéis em ambientes compartilhados
Passageiros reclamam da música alta nos coletivos
PROIBIDO
Quem usa o transporte coletivo de Curitiba, eventualmente já cruzou com passageiros que escutam música alta durante o trajeto ou já circulou em ônibus que reproduzem músicas clássicas. Os coletivos articulados e biarticulados (com uma ou duas articulações sanfonadas, respectivamente) acessíveis através das estações tubos, possuem o sistema de música clássica integrado ao veículo. A Lei federal 10.625 libera a reprodução de ruídos em ambientes compartilhados, como os ônibus, que cheguem a 85 decibéis. Em áreas residências, esse número cai para 65 dB durante o dia e 40 dB no período noturno. Já referente às pessoas ouvirem música alta dentro dos ônibus, não há nenhuma legislação proibindo esse ato. Segundo Celso Ferreira Lucio, coordenador da unidade de inspeção da URBS (Urbanização de Curitiba), a música reproduzida
nos ônibus se adequa à lei. Lucio afirma que este método foi aplicado aos ônibus de Curitiba baseado em uma pesquisa, realizada pela Universidade de São Paulo (USP), a qual constatou que “ouvintes de músicas clássicas tendem a ser mais sociáveis e atentos”, conta Lucio. Para Olívia Sens, aposentada, esse método realmente tranquiliza as pessoas, já que estas têm algo com o que se entreter durante o trajeto. Porém, Eduardo Nunes, auxiliar de escritório, critica a repetição das mesmas músicas durante todo o percurso e complementa: “Às vezes o volume é muito alto, às vezes é muito baixo”. Ouvir a mesma música dos outros passageiros, entretanto, não agrada Rafael de Castro, estudante de administração. Ele conta que cruza com pessoas que ouvem música alta nos ônibus frequentemente, mas que, apesar de se sentir
incomodado e ter vontade de pedir para desligarem o celular, nunca fez isso. “Tenho medo da reação que eles possam ter”, explica. O estudante Allanderson Erdiman, de 16 anos, mesmo tendo consciência de que incomoda os outros passageiros, confessa que ouve música alta no ônibus para “atormentar as outras pessoas”. Essa atitude, contudo, já teve consequências negativas para Erdiman. “Uma vez, um homem me mandou abaixar o volume do celular, mas eu disse que não iria abaixar porque o celular era meu e o cara me deu um soco no peito”, conta. Questionado sobre o que tem a dizer para as pessoas que não gostam do que ele faz, Erdiman retruca: “paciência, eu gosto e pronto”. Beatriz Zanelatto Camila Castro Gabriela Rodrigues
Beatriz Zanelatto
Músicas clássicas reproduzidas nos ônibus de Curitiba respeitam à legislação
O “carro do sonho” está proibido de circular por Curitiba Desde que entrou em vigor a Lei da Poluição Sonora (nº 10.625), em 2002, os carros que fazem propaganda pelas ruas, como os que vendem sonho, estão proibidos de circular. Estes carros emitem sons com cerca de 80 decibéis, valor superior ao permitido pela lei (65 dB durante o dia e 45 à noite). Maicom Rodrigues, motorista e vendedor de um “carro do sonho”, afirma que recebe reclamações de alguns moradores por isso e também sabe que emite mais decibéis do que o permitido. Porém, conta que não para de circular devido à falta de fiscalização.
O que você acha das pessoas que ouvem música alta nos ônibus? “Eu gosto de ler no ônibus, e com a música, fica difícil se concentrar”
“Geralmente são músicas loucas, que não me atraem”
“Me incomoda, por isso, sempre tento usar fone de ouvido”
“Ninguém é obrigado a ouvir a música que eles gostam”
SAÍDA
Henrique Soares, Tânia Bajdiuk, Rafael de Castro, 20, estagiário 50, dona de 19, estudante casa
“Dependendo da música, até distrai a gente”
ENTRADA
Elis Regina Leal, 18, estudante
Uzelita da Silva, 45, cobradora de ônibus
Ar te: Amanda Scandelari e Gabriela Rodrigues
Entenda a Lei • A Lei federal nº 10.625, de 2002, prevê que é proibido perturbar o sossego e o bem estar público com sons que causem incômodo ou que ultrapassem, em áreas residenciais, os 65 decibéis (o equivalente a uma televisão em tom normal), durante o dia, e os 45 decibéis (o equivalente a uma conversa em tom baixo) à noite. • Essa Lei é válida durante as 24 horas do dia e reclamações referentes ao descumprimento da Lei da Poluição Sonora (nº 10.625) podem ser feitas pelo telefone 156.
religião
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Curitiba, setembro de 2011
A DECISÃO DE TROCAR A DOUTRINA SEGUIDA PELA FAMÍLIA PODE SER COMPLICADA SE NÃO HOUVER RESPEITO
Mudar de religião ainda gera preconceito familiar Liberdade de escolha religiosa é um dos direitos fundamentais da humanidade. No entanto, em pleno século XXI, muitas pessoas que resolvem trocar a religião seguida pela família sofrem preconceito. A escolha da religião devia ser vista com mais naturalidade, afinal, os próprios líderes religiosos defendem a liberdade na hora de escolher ou mudar sua religião. Religião significa religar os laços que unem o homem à divindade. A aposentada Catarina da Silva, há 32 anos sofreu preconceito de seus parentes por ter mudado de doutrina. “Quando informei aos meus familiares que tinha deixado de ser batista para ser católica, meus pais ficaram tristes, mas se conformaram e meus tios ficaram um tempo sem falar comigo”. Catarina ainda revela: “Desde pequena eu participava dos cultos, mas não me sentia bem lá, foi quando resolvi ir a uma missa de domingo
com uma amiga e me identifiquei completamente com o modo de pensar e de celebrar a Deus”. Determinar uma religião no qual a intenção é de fato segui-lá é uma escolha muito pessoal e difícil. Juliana Mattos, acadêmica de Pedagogia, 20 anos, freqüentava as doutrinas católica e espírita, mas resolveu mudar. “Eu nunca me identifiquei com o catolicismo já a religião espírita eu gostava, mas a calmaria não era o meu forte. Foi então que conheci a umbanda e me encantei com as músicas, o som do atabaque e a agitação”. Para ela, a liberdade de escolha foi muito importante, pois assim pôde descobrir o que é certo e o que não é, e através disso obter mais responsabilidade e até autoconhecimento sobre o modo de vida. Por fim, Juliana completa: “É com a liberdade de escolha que determinamos o que queremos para o nosso futuro, o que vai além de religião, da escolha
Náthalie Sikorski
Escolher qual religião seguir é uma questão pessoal e cada um deve usufruir de seu livre-arbítrio para definir suas crenças
Catarina: Batista que se tornou católica, reza na igreja dos Capuchinhos
profissional, família, amizades, etc”. A estudante de Musicoterapia, Larissa Chapiewsky, 19 anos, seguia o catolicismo e há 2 anos começou a visitar a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecida como Mórmon, pois achava que com a
mudança de religião aprenderia mais. No inicio ela teve a oportunidade de conhecer a doutrina da igreja a partir daí o interesse cresceu até se converter. “Minha vida mudou depois da troca de religião, hoje sei de algumas coisas que nunca pensei que saberia.
Atualmente tenho certezas que fazem algumas escolhas diferentes das que eu tinha antes. O conhecimento mórmon que adquiri enfatiza a importância de cada um”. Diante da escolha em mudar ou não de religião, o Bispo Fernando, mórmon da Ala Bom Retiro, o Pastor Claudinei Gonçalves, da Igreja Evangélica Avivamento Bíblico e o Frei Capuchinho Ivo Severino, da Igreja Nossa Senhora das Mercês, chegam a uma mesma conclusão, de que cada indivíduo tem o seu livre-arbítrio no qual a responsabilidade individual é se encontrar na religião e com Deus. “Religião é um assunto muito pessoal, entre a consciência, o espírito e o Criador. O que cabe aos outro é respeitar a escolha”, afirma o Bispo. Já o Pastor Claudinei revela que Deus sempre vai apresentar o que é bom e correto, porém a escolha é de cada um. Náthalie Sikorski
SER ATEU NÃO É SER “DO MAL”, SÓ O ESCLARECIMENTO PODE DIMINUIR O PRECONCEITO
Ateus e Agnósticos ainda sofrem preconceito e julgamento da sociedade O Brasil é um país onde se considera que exista liberdade religiosa, que é o fato de cada pessoa poder escolher a religião ou a crença que quiser, sem ser julgado ou sofrer preconceito com isso. Entretanto, quem se assume ateu ou agnóstico ainda sofre claras demonstrações de preconceito e desconfiança pela sociedade. Débora Beyer tem 24 anos e é ateia. Ela disse que quando era pequena já desconfiava das religiões, mas considerava Deus algo sagrado e inquestionável. Quando cresceu resolveu estudar várias religiões, para ver se encontrava algo que fizesse sentido para ela. No entanto, durante o estudo, acabou percebendo que já não acreditava em nada. “Percebi que a crença em Deus não fazia nenhum sentido para mim”, ela relatou. Para se assumir atéia, ela contou que o processo foi
gradativo: “Primeiro deixei o catolicismo, me tornei agnóstica, e então, tomei coragem de assumir o ateísmo. Sim, é preciso coragem, eu sabia que seria muito criticada.” Rafael Guerreiro, de 19 anos, contou que acreditava em Deus quando pequeno, mas que perdeu a fé quando percebeu que havia conflitos entre as diferentes religiões: “Uma vez, por exemplo, um evangélico me disse que só a religião dele era verdadeira, e que quem acredita nas outras está sendo enganado. Eu comecei a achar que tudo isso não tinha nexo.” O ateísmo é visto com mausolhos por grande parte da população, que desconfia e julga quem não acredita em Deus. Os ateus, muitas vezes, são vistos como pessoas “perdidas” ou “do mal.” Em relação a esses julgamentos, tanto Débora como Guerreiro disseram que foi bom se assumirem ateus e
perceberem que são moldados pela ética e pelo respeito, e que continuavam a mesma “pessoa do bem”, independente de ter uma religião. Inclusive, Débora contou que esse é o argumento que ela usa para tentar lidar com o preconceito: O esclarecimento. “Eu faço o possível para mostrar que caráter e ética não têm a ver com crenças”, ela declara. A arma contra o preconceito é o conhecimento. As pessoas tendem a rejeitar o que é novo, o que é diferente do comum. Inês Ribeiro, de 70 anos, é católica, mas declarou: “Cada um pode ter sua escolha e seguir sua vida de acordo com o que acredita, ou mesmo com o que não acredita. Não dá pra ter preconceito contra a raça ou a cor de uma pessoa, então também temos que aceitar a nãocrença em Deus, sem julgamentos.” Ana Luísa Bussular
Ateus X Agnósticos Os Ateus negam a existência de Deus; não acreditam (ou m e s m o nã o conseguem acreditar) que haja uma divindade.
Agnósticos acreditam que exista mas não conseguem definir uma “forma”. Por isso o uso da expressão agnosticismo.
Dizem que tudo pode ser explicado pela ciência, utilizam sempre o pensamento crítico.
Eles dizem que não é possível provar a existência ou não de uma divindade.
Ateus não necessariamente declaram que Deus não existe, apenas não têm crença na sua existência.
Agnósticos podem ser teístas, e é comum dizerem que não têm como saber que Deus existe, mas acreditam.
08
ESPAÇO DÁ SUPORTE À LIBERDADE DE EXPRESSÃO E CRIMES
Deep web, a face oculta do universo da internet
Thaís Reis Oliveira
Rede de acesso restrito reúne temas diversos e favorece o anonimato dos usuários
Muitas pessoas se surpreendem com o tamanho e capacidade da internet, mas poucas conhecem um mundo de possibilidades ainda restrito: a deep web. Os sites lá hospedados não podem ser encontrados em mecanismos de buscas comuns. O anonimato da rede hospeda desde de fóruns sobre crimes até comunidades que discutem questões políticas e filosóficas. O conteúdo da deep web é cerca de 500 vezes maior do que o da internet convencional ou surface web Para acessar a deep web, é necessário um navegador especial, o Tor. Desenvolvido pela marinha norte-americana, a ferramenta inspirou a ong Tor Project, que luta a favor da liberdade de informação dentro do mundo virtual. Dentro da deep web são encontrados os mais diferentes tipos de assuntos. A rede permitiu com que movimentos internacionais como o Anonymous e o WikiLeaks se desenvolvessem e ganhassem força, mas também permite com que grupos criminosos divulguem suas ações e ideias livremente. “pedofilia e tráfico de pessoas são extremamente comuns na deep web e alguns só conseguem ser acessados descriptografando uma série de códigos, dificultando muito o acesso”, diz o estudante Guilherme Alves, que já acessou a deep web. A privacidade dos fóruns de discussão anônimos é vista como a melhor solução para que internautas acessem a internet sem sofrer nenhum tipo de retaliação, como ocorre em países como a China, a Líbia e o Irã. O internauta Siet* opina que a deep web oferece a possibilidade de aumentar a privacidade e assim a liberdade do internauta. “A deep web prioriza o anonimato não só pela falta de liberdade de expressão, informação e escolha na surface, mas tam-
internacional
Curitiba, setembro de 2011
A Deep Web só pode ser acessada por navegadores especiais
bém pelo medo de roubo de inteligência “armazenada”. A única questão que divide a deep web em dois lados é a posição final de quem as utiliza. Cada um escolhe: ou a utiliza para o bem ou para o mal”, pontua. Porém, Guilherme Alves
“O usuário pode usar a deep web para o bem ou para o mal” acredita que o excesso de liberdade traz mais danos do que benefícios. “Não me parece nada “comum” pessoas combinarem atos de canibalismo, tortura e etc. sem quaisquer problemas futuros”, explica ele. Por meio da deep web, diversos crimes chocantes foram concretizados, como o caso do “Canibal de Rotenburg”, onde a própria vítima procurou o assassino para um ritual de canibalismo. De acordo com o internauta Dean*, o comportamento no mundo virtual apenas reflete a vida real. “Todos
os homens e mulheres são perversos, o que muda é o grau da perversidade e como ela se aplica. As pessoas que cometem certos crimes e acessam a deep web, já eram aptos a cometê-los”, relata. Já Siet* vai mais além. “A única diferença entre a surface e a deep web é que na segunda os criminosos conversam abertamente, sem o uso de códigos para definir o que discutem. Já na surface são usadas palavras chaves para se conversar sobre crimes”, relata. Para Fernando Peres, perito forense da empresa de segurança E-Net Security, as maiores dificuldades em se combater os crimes virtuais estão na quantidade de ocorrências que a polícia lida diariamente. “Existem delegacias especializadas em crimes virtuais, mas não há pessoas suficientes para investigar a quantidade de crimes”, explica ele, que reclama do sigilo e das dificuldades de acesso a determinados sites. “Alguns sites foram feitos para que as pessoas possam manter seu anonimato. Isso de modo algum é vantajoso. Todo acesso deveria ser registrado”, critica. * Os nomes verdadeiros foram preservados Renan Araújo
Crowdfunding viabiliza projetos
O crowdfunding é uma espécie de colaboração financeira na qual pessoas de mesmo interesse se reúnem para viabilizar uma ideia ou um projeto. O financiamento pode acontecer na área cultural, tecnológica, de saúde e muitas outras. Com a iniciativa do crowdfunding é possível criar sites de caridade, projetos para empresas e até conseguir trazer algum show ou evento para uma determinada cidade apostando na mobilização através das redes sociais. Cada evento é produzido de acordo com a demanda do público. O exemplo mais conhecido de crowdfounding bem-sucedido no Brasil é o site Catarse. me. O portal recebe o cadastra os realizadores e recebe os recursos enviados pelos apoiadores. Outro exemplo é o Queremos. Motivados pela escassez de eventos no Rio de Janeiro, o grupo se organiza para trazer shows à cidade com a ajuda do público, responsável pela divulgação e pelos custos iniciais, podendo ser reembolsado integralmente, caso meta de vendas seja atingida. Com o crowdfunding o artista pode produzir eventos sem leis de incentivo e sem contratos com gravadoras. Em Curitiba, “A Banda Mais Bonita da Cidade” inscreveu o projeto de um disco em um site de financiamento coletivo. A banda recebeu doações de 10 a 300 reais para a realizar a gravação, sendo que as músicas que mais receberam doações serão lançadas no próximo CD.
Karen Okuyama
LIBERDADE NA INTERNET TEM LIMITES
COMO FUNCIONA O CROWDFUNDING
1
A internet é considerada um território de livre expressão. Porém é preciso ter cuidado com tudo o que se diz no mundo virtual. Em certos casos, a pessoa que fez comentários ofensivos ou prejudiciais a alguma pessoa ou instituição pode sofrer as conseqüências e estar passível de punições previstas até no Código Penal. Confira alguns depoimentos de pessoas que já passaram por experiências polêmicas no mundo virtual:
A IDÉIA
O autor expõe seu projeto ao site, listando os investimentos necessários para realizar a obra e a ‘recompensa’ que será paga aos colaboradores.
2
A AVALIAÇÃO
Após ser avaliado e aprovado, o projeto vai ao ar e começa a arrecadar fundos.
3
O APOIO
Os colaboradores do projeto enviam recursos via sistemas de pagamento eletrônico, como o PayPal.
09
Curitiba, setembro de 2011
4
A ‘RECOMPENSA’
Caso o valor previsto seja arrecadado, o realizador paga os apoiadores com o resultado do projeto (disco, shows, etc.)
“Existem algumas informações que podem nunca mais sair da internet, então se você diz algo que soa preconceituoso ou algo assim, seu nome pode ficar ligado a isso pelo resto da vida. O que você coloca na internet não é mais seu, você perde a propriedade. Assim como qualquer pessoa pode acessar o conteúdo postado, a empresa também pode.” Fernando Perez, perito forense
“Numa aula vaga, alguns amigos resolveram jogar futebol dentro da sala de aula, e eu filmei e coloquei no Youtube. Se um vídeo contém agressões, pornografia, ou algo que seja considerado crime, deve-se punir e encaminhar para as autoridades. No caso em que participei, a escola, além de agir da maneira errada fez uma tempestade em copo d’água. Houve ameaça de expulsão por parte da diretora.” Heron Torquato, estudante de Jornalismo
“No início do ano, a professora de inglês passou um trabalho muito extenso sobre Shakespeare, por a turma ser estar fazendo muita bagunça. Depois disso, toda a sala se rebelou no Twitter, postando ofensas pessoais à ela. A professora viu tudo e deu o maior sermão em todo mundo. O caso foi parar na diretoria da escola” Andressa Reis, estudante
Marina Bueno
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ESPAÇO DÁ SUPORTE À LIBERDADE DE EXPRESSÃO E CRIMES
Deep web, a face oculta do universo da internet
Thaís Reis Oliveira
Rede de acesso restrito reúne temas diversos e favorece o anonimato dos usuários
Muitas pessoas se surpreendem com o tamanho e capacidade da internet, mas poucas conhecem um mundo de possibilidades ainda restrito: a deep web. Os sites lá hospedados não podem ser encontrados em mecanismos de buscas comuns. O anonimato da rede hospeda desde de fóruns sobre crimes até comunidades que discutem questões políticas e filosóficas. O conteúdo da deep web é cerca de 500 vezes maior do que o da internet convencional ou surface web Para acessar a deep web, é necessário um navegador especial, o Tor. Desenvolvido pela marinha norte-americana, a ferramenta inspirou a ong Tor Project, que luta a favor da liberdade de informação dentro do mundo virtual. Dentro da deep web são encontrados os mais diferentes tipos de assuntos. A rede permitiu com que movimentos internacionais como o Anonymous e o WikiLeaks se desenvolvessem e ganhassem força, mas também permite com que grupos criminosos divulguem suas ações e ideias livremente. “pedofilia e tráfico de pessoas são extremamente comuns na deep web e alguns só conseguem ser acessados descriptografando uma série de códigos, dificultando muito o acesso”, diz o estudante Guilherme Alves, que já acessou a deep web. A privacidade dos fóruns de discussão anônimos é vista como a melhor solução para que internautas acessem a internet sem sofrer nenhum tipo de retaliação, como ocorre em países como a China, a Líbia e o Irã. O internauta Siet* opina que a deep web oferece a possibilidade de aumentar a privacidade e assim a liberdade do internauta. “A deep web prioriza o anonimato não só pela falta de liberdade de expressão, informação e escolha na surface, mas tam-
internacional
Curitiba, setembro de 2011
A Deep Web só pode ser acessada por navegadores especiais
bém pelo medo de roubo de inteligência “armazenada”. A única questão que divide a deep web em dois lados é a posição final de quem as utiliza. Cada um escolhe: ou a utiliza para o bem ou para o mal”, pontua. Porém, Guilherme Alves
“O usuário pode usar a deep web para o bem ou para o mal” acredita que o excesso de liberdade traz mais danos do que benefícios. “Não me parece nada “comum” pessoas combinarem atos de canibalismo, tortura e etc. sem quaisquer problemas futuros”, explica ele. Por meio da deep web, diversos crimes chocantes foram concretizados, como o caso do “Canibal de Rotenburg”, onde a própria vítima procurou o assassino para um ritual de canibalismo. De acordo com o internauta Dean*, o comportamento no mundo virtual apenas reflete a vida real. “Todos
os homens e mulheres são perversos, o que muda é o grau da perversidade e como ela se aplica. As pessoas que cometem certos crimes e acessam a deep web, já eram aptos a cometê-los”, relata. Já Siet* vai mais além. “A única diferença entre a surface e a deep web é que na segunda os criminosos conversam abertamente, sem o uso de códigos para definir o que discutem. Já na surface são usadas palavras chaves para se conversar sobre crimes”, relata. Para Fernando Peres, perito forense da empresa de segurança E-Net Security, as maiores dificuldades em se combater os crimes virtuais estão na quantidade de ocorrências que a polícia lida diariamente. “Existem delegacias especializadas em crimes virtuais, mas não há pessoas suficientes para investigar a quantidade de crimes”, explica ele, que reclama do sigilo e das dificuldades de acesso a determinados sites. “Alguns sites foram feitos para que as pessoas possam manter seu anonimato. Isso de modo algum é vantajoso. Todo acesso deveria ser registrado”, critica. * Os nomes verdadeiros foram preservados Renan Araújo
Crowdfunding viabiliza projetos
O crowdfunding é uma espécie de colaboração financeira na qual pessoas de mesmo interesse se reúnem para viabilizar uma ideia ou um projeto. O financiamento pode acontecer na área cultural, tecnológica, de saúde e muitas outras. Com a iniciativa do crowdfunding é possível criar sites de caridade, projetos para empresas e até conseguir trazer algum show ou evento para uma determinada cidade apostando na mobilização através das redes sociais. Cada evento é produzido de acordo com a demanda do público. O exemplo mais conhecido de crowdfounding bem-sucedido no Brasil é o site Catarse. me. O portal recebe o cadastra os realizadores e recebe os recursos enviados pelos apoiadores. Outro exemplo é o Queremos. Motivados pela escassez de eventos no Rio de Janeiro, o grupo se organiza para trazer shows à cidade com a ajuda do público, responsável pela divulgação e pelos custos iniciais, podendo ser reembolsado integralmente, caso meta de vendas seja atingida. Com o crowdfunding o artista pode produzir eventos sem leis de incentivo e sem contratos com gravadoras. Em Curitiba, “A Banda Mais Bonita da Cidade” inscreveu o projeto de um disco em um site de financiamento coletivo. A banda recebeu doações de 10 a 300 reais para a realizar a gravação, sendo que as músicas que mais receberam doações serão lançadas no próximo CD.
Karen Okuyama
LIBERDADE NA INTERNET TEM LIMITES
COMO FUNCIONA O CROWDFUNDING
1
A internet é considerada um território de livre expressão. Porém é preciso ter cuidado com tudo o que se diz no mundo virtual. Em certos casos, a pessoa que fez comentários ofensivos ou prejudiciais a alguma pessoa ou instituição pode sofrer as conseqüências e estar passível de punições previstas até no Código Penal. Confira alguns depoimentos de pessoas que já passaram por experiências polêmicas no mundo virtual:
A IDÉIA
O autor expõe seu projeto ao site, listando os investimentos necessários para realizar a obra e a ‘recompensa’ que será paga aos colaboradores.
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A AVALIAÇÃO
Após ser avaliado e aprovado, o projeto vai ao ar e começa a arrecadar fundos.
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O APOIO
Os colaboradores do projeto enviam recursos via sistemas de pagamento eletrônico, como o PayPal.
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Curitiba, setembro de 2011
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A ‘RECOMPENSA’
Caso o valor previsto seja arrecadado, o realizador paga os apoiadores com o resultado do projeto (disco, shows, etc.)
“Existem algumas informações que podem nunca mais sair da internet, então se você diz algo que soa preconceituoso ou algo assim, seu nome pode ficar ligado a isso pelo resto da vida. O que você coloca na internet não é mais seu, você perde a propriedade. Assim como qualquer pessoa pode acessar o conteúdo postado, a empresa também pode.” Fernando Perez, perito forense
“Numa aula vaga, alguns amigos resolveram jogar futebol dentro da sala de aula, e eu filmei e coloquei no Youtube. Se um vídeo contém agressões, pornografia, ou algo que seja considerado crime, deve-se punir e encaminhar para as autoridades. No caso em que participei, a escola, além de agir da maneira errada fez uma tempestade em copo d’água. Houve ameaça de expulsão por parte da diretora.” Heron Torquato, estudante de Jornalismo
“No início do ano, a professora de inglês passou um trabalho muito extenso sobre Shakespeare, por a turma ser estar fazendo muita bagunça. Depois disso, toda a sala se rebelou no Twitter, postando ofensas pessoais à ela. A professora viu tudo e deu o maior sermão em todo mundo. O caso foi parar na diretoria da escola” Andressa Reis, estudante
Marina Bueno
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moda
Curitiba, setembro de 2011
Modo de se vestir faz com que pessoas sejam barradas em lugares pÚblicos
A escolha da minha roupa me caracteriza?
A desigualde entre os gêneros faz com que as mulheres saiam às ruas em busca de respeito e liberdade para se vestirem como querem norma jurídica que legitime a ação de proibir a entrada de indivíduos em estabelecimentos comercias. Pois não é possível que uma empresa, comércio ou qualquer instituição interfira na esfera privada do sujeito. Ou seja, proibir a entrada de pessoas em estabelecimentos é crime. Movimento das “vadias” Depois do sucesso da marcha das “vadias” em Curitiba, que teve início no Canadá depois que uma mulher foi agredida sexualmente por estar vestida de determinada forma, o Movimento Mulheres Livres surgiu para dar continuidade à luta das mulheres por igualdade, respeito e justiça e
abrir diálogo para discutir temas como a culpabilização da muher em caso de crimes sexuais. Ludmilla Nascarella, 25, publicitária uma das coordenadoras do movimento, acredita que a diferença de gênero ainda é muito forte no Brasil, e Curitiba ainda é uma cidade muito conservadora e preconceituosa, mas que já consegue ver mudanças nesse sentido, visto que diversos artistas, educadores, ongs e partidos políticos agregaram ao movimento. “Fazendo um exercício de divulgação do nosso discurso, saímos às ruas realizando interferências urbanas, como colagem de cartazes e participação da Marcha da Liberdade”.
João* diz que as mulheres devem se vestir adequadamente se não quiserem ser difamadas. “Se quiser sair na rua mostrando o corpo para todo mundo ver, é uma escolha dela, mas sabe que estará sujeita á comentários”. Ana Eduarda Dihel, 19, estudante diz que é triste que em pleno século XXI, as mulheres ainda são difamadas por optarem usar determinados tipos de roupa. “O corpo é meu, posso usá-lo como quiser”. Nicholas Figueiredo, 43, empresário, apoia a luta das muheres. “Hoje elas chefiam 70% dos lares”. Figueiredo ainda lastima que 43% das brasileiras já sofreram violência doméstica, e que a
cada 24 segundos uma mulher é espancada. “A luta pela liberdade das mulheres começa com ela podendo se vestir como ela quer”, afirma Sônia Braga, 50, professora, fala que isso se dá a partir de uma construção cultural e até mesmo climática. “Curitiba é sempre frio, quando faz calor, as mulheres querem mostrar o corpo. Eu sou carioca, andar de biquíni no rio é super natural”. Ludmilla, ainda convida todos a participarem das reuniões do movimento de mulheres de Curitiba, todas às sextas das 17h às 19h na Boca Maldita. * O nome foi modificado Amanda Vicentini
Por que cobrar entrada?
Amanda Vicentini
Selecionar os clientes a partir das roupas que o indivíduo usa é característica de várias casas noturnas e bares em Curitiba. O bar Quermesse, recentemente foi alvo de polêmica, pois na entrada do bar existia uma placa explicando o porquê de pessoas com determinadas roupas não deveriam entrar no bar. A placa dizia que se até Deus selecionava os que deveriam entrar no céu ou não, o Quermesse também adotaria medidas para triar seus clientes. Entre bêbados e baderneiros que não poderiam adentrar a casa, a placa também se destinava ao que chamam de “calçudos”. Marcos Araújo proprietário do bar, diz que os indivíduos caracterizados como “calçudos”, geralmente tem comportamento inadequado, prejudicando a imagem do bar, mas que qualquer cliente que haja inadequadamente será retirado do estabelecimento. “O Quermesse seleciona os clientes, pois é um lugar bem freqüentado, um ambiente familiar”. Diz Araújo. Ele ainda diz que a retirada da placa, se deu devido a evitar polêmicas, pois pessoas se sentiram ofendidas com a mensagem. Débora Santos, 28, estudante conta que já sofreu preconceito por conta do visual em algumas baladas da cidade: “Eu costumo sair em um visual mais voltado pro rock/metal, com coturno, correntes e tal. Uma vez fui no Empório São Francisco, e estava tocando samba. Muitas pessoas ficavam zombando de mim e dizendo que estava na balada errada”. Para Carlos Zimmerman, 29, estudante de Direito, a proibição para pessoas com certos visuais, em determinados estabelecimentos, é um assunto a ser discutido. “Isso é feito no mundo todo, exatamente para selecionar os clientes. Eu veria alguma ilegalidade caso a seleção fosse sem nenhum aviso. Pois mesmo sendo um bar, ainda é um local privado”. Segundo José Antonio Gediel, professor de Direito Civil da UFPR, não há príncipio ou
Placa com aviso foi retirada do bar
Seguindo os passos do Criador, que estabeleceu critérios de seleção até para quem vai para o Céu, sendo que alguns têm que passar pelo purgatório e outros têm como destino o inferno, o Quermesse também quer adotar medidas para selecionar seus clientes. Devido ao atual sucesso do Bar, pessoas como: bêbados, calçudos, molecadas e baderneiros começam a aparecer. Pessoas estas têm comportamento inadequado e que agride, de certa forma, os bons clientes que temos e queremos preservar. A cobrança de entrada é uma das formas de triar a clientela, na busca de evitarmos a frequência de pessoas com perfil incompatível com o bar. A Diretoria Cartaz de mobilização do movimento Mulheres Livres
nacional
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Curitiba, setembro de 2011
homens que completam 18 anos confrontam-se com a obrigatoriedade de servir o exército
Jovens mentem na hora do alistamento O excesso de contingente não diminui a preocupação dos jovens de 18 anos, pois não influencia na possibilidade deste ser dispensado das Forças Armadas. Pelo alistamento a serviços militares ser obrigatório no Brasil, muitos homens mentem por não querem exercer tal trabalho. O estudante Paulo*, 20, conta que não queria se alistar, mas o Exército não o dispensou. Depois de passar por quase todas as etapas, o universitário conta que não teve alternativa a não ser mentir. “Inventei que tinha uma bolsa de estudos garantida na Inglaterra, mas mesmo assim foi difícil conseguir a liberação para não servir. Só consegui ser dispensado depois de entrar em contato com um militar que me ajudou”, confessa Paulo. Jovens podem ser dispensados do Exército por alguns motivos como ingressar em uma faculdade ou universidade, problemas de saúde, possuir deficiência física ou mental, ser legalmente casado ou ter filhos,
ou praticante da religião Testemunha de Jeová. Humberto*, 25, ao se alistar, mentiu que sofria de uma doença chamada Osgood-Schlatter, um problema nas juntas do joelho, que provoca dor e inchaço, e atinge na maioria jovens do sexo masculino. Tal problema o impossibilitaria de fazer exercícios físicos em excesso, tendo também dificuldades em dobrá-los. “Eu contei que tinha isso e me dispensaram. Na hora, fiquei com medo de pesquisarem mais a fundo sobre o meu problema, mas não aconteceu”, afirma. No entanto, há jovens que mentem para entrar na carreira militar, pois admiram o ato de lutar pelo país. Jorge*, 19, teve problemas com seu sonho de seguir carreira militar. Por ser diabético, teve que mentir para o exército sobre sua condição. “Um dia antes da incorporação, houve um contrato médico que eu assinei, dizendo que não tinha nenhum problema de saúde e que estava
Diana Araújo
Embora para alguns o Exército seja a realização de um sonho, outros sofrem com a possibilidade de serem chamados para servir ao país
Jorge* ainda sonha com a carreira militar
sujeito a justiça militar. Já tinha mentido pro Detran também sobre minha situação”, admite Jorge. No dia da incorporação, o estudante afirma ter mentido novamente para os oficiais sobre sua saúde. “Quando fui incorporado, fiquei em internato por 15 dias, sem insulina e
correndo sérios riscos. Por a rotina ser muito pesada, eu acabava queimando os carboidratos ingeridos sem a insulina durante o dia”, Jorge explica como fez para lidar com as dificuldades. Depois de um ano, com medo de ser descoberto, Jorge conseguiu
dispensa sem que soubessem de seu problema. “Até hoje quero voltar, apesar de tudo, mas agora só faria com eles sabendo do meu problema”, afirma. Para jovens estudantes de medicina, a realidade é diferente. No caso de já haver matrícula do cidadão no curso, as instituições militares verificam a situação do estudante e adiam a incorporação do alistado. Todo ano, o jovem precisa comprovar que ainda cursa medicina, pois pode ser convocado a qualquer momento pelo Exército depois de formado. Os jovens que não se alistarem entram em débito com o Serviço Militar. Isto pode resultar em consequências, pois este não poderá prestar concurso público, tirar passaporte e nem ser matriculado em universidade, além de uma multa em dinheiro que deverá pagar. *Os nomes foram modificados. Diana Araújo
leis eleitorais brasileiras são comparadas com a de outros países
Protestos confrontam a obrigatoriedade do voto
pagar”, explica Melissa. A servidora pública ainda complementa, dizendo que há a possibilidade do voto nulo ou voto branco e que, ao contrário do que a maioria da população pensa, não são contados nem para a legenda ou para outros candidatos. Outro ponto bastante discutido no “Voto Nulo, Voto Útil”, é a comparação com as leis eleitorais de outros países mais desenvolvidos, onde o voto é facultativo. “Nos países desenvolvidos, votam apenas as pessoas conscientes, que realmente têm interesse em que mude alguma coisa. No Brasil, no meu ponto de vista, não há interesse de que apenas pessoas conscientes votem, pois isso faria uma grande diferença”, Melissa conclui, atribuindo as leis à consciencia de cada povo. Bruna Milanese
1 - EUA: Voto facultativo a partir dos 18 anos. 2 - Canadá: Em geral, voto facultativo a partir de 18 anos. Em algumas províncias, só é permitido votar aos 19.
Bruna Milanese
A lei que obriga os brasileiros a votar a partir dos 18 anos causa protestos em anos de eleição. Sites como “Voto Nulo, Voto Útil” ou “Manifesto Livre” explicam os diversos motivos pelos quais o voto deve se tornar facultativo, enfatizando sempre a liberdade de opção. Segundo manifestos, há estudos que pretendem aprovar o projeto de lei o quanto antes. O tema frequentemente colocado em debate é a liberdade de votar ou não. A servidora pública federal do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE/PR), Melissa Myuki Ito, 34, afirma que a população tem escolha, o que falta é informação. “Na realidade, a obrigatoriedade do voto é bem relativa, pois a multa pelo fato de não votar é de apenas R$ 3,51 por turno; e ainda há a possibilidade desta multa ser perdoada se o eleitor não tiver condições de
Sistema Eleitoral no mundo
3 - Repúbica Dominicana: Voto obrigatório para pessoas acima de 18 anos e para pessoas casadas, independente da idade. Membros das Forças Armadas e policiais nacionais não podem votar.
4 - Bolívia: Voto obrigatório para pessoas acima de 18 anos e para pessoas casadas, independente da idade. 5 - Brasil: Voto facultativo entre 16 e 18 anos e obrigatório para pessoas acima de 18 anos. 6 - Itália: Voto obrigatório a partir dos 18 anos. Para as eleições do Senado é preciso ter 25 anos. 7 - Austráia: Voto obrigatório a partir dos 18
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saúde
Curitiba, setembro de 2011
No brasil a interrupção da vida por conta de doenças irreversíveis é considerada homicídio
Eutanásia gera debate sobre o direito à vida
Reprodução
A eutanásia é um recurso médico proibido no Brasil. A polêmica em torno da liberdade de viver ou morrer não é à toa e afeta diversas áreas da sociedade O ato de interromper a vida de uma pessoa devido às suas condições de saúde é considerado homicídio pelo Código Penal, um pecado, segundo os cristãos e judeus e ainda, uma ação antiética pelo Conselho Federal de Medicina. Segundo a advogada e professora Rebeca Dias, a eutanásia é tão repudiada, pois afronta um direito fundamental do homem; o direito à vida. “Alguns projetos sobre a legalização já foram apresentados ao Congresso, mas são barrados na Comissão de Constituição e Justiça por ser um projeto inconstitucional”, afirma Rebeca. Ela explica que, no Brasil, o assunto se torna ainda mais delicado, pois a religião ainda influencia muito nas decisões governamentais. Além disso, a precariedade do sistema de saúde é um fator decisivo. Países como a Holanda, Bélgica, Suíça e alguns estados dos EUA legalizaram ou despenalizaram a eutanásia sem deixar de lado a ética médica e questões morais. Um controle dos casos é feito para não haver nenhum abuso da prática. Rebeca diz que desse modo “há um cuidado com o paciente, sua dignidade e sua humanidade”. O Conselho Regional de Medicina do Paraná, em nota oficial, se posiciona contra a eutanásia, há apenas a imposição de limites da atuação médica no caso de pacientes em fase terminal de doenças incuráveis. Sendo assim, o médico pode suspender, sendo da vontade do paciente, tratamentos que prolonguem sua vida causando-lhe algum tipo de sofrimento (procedimento chamado de ortotanásia). Para a Igreja Católica, não há nada que justifique a morte induzida. “Enquanto a pessoa tiver sinais vitais ela está viva”, diz o padre e doutor em teologia moral Gilberto Aurélio Bordini. De acordo com o Evangelium Vitae (encíclica escrita pelo Papa João Paulo II), só Deus dá a vida e a morte. A Igreja, por considerar a eutanásia uma forma de homicídio, a tem como a
Fotos: Olívia D’Agnoluzzo
Convicções espirituais e más condições do sistema de saúde interferem nas decisões governamentais sobre a legalização da prática
Conselho Regional de Medicina
“O compromisso do médico é com a dignidade humana na vida e na morte” infração do quinto mandamento: “Não matarás”. Padre Gilberto explica que a Igreja acredita na ‘boa morte’, serena e natural. Na comunidade judaica, o posicionamento é o mesmo, a Torah, o código de leis dos judeus, repudia a antecipação da morte de qualquer indivíduo independente de suas condições. Porém, segundo o rabino Marcelo Barzilai, da Sinagoga Humanista Teshuvá de Curitiba, a ortotanásia, “prescreve interpretações diversas, já que não se é possível determinar uma situação de morte aparente”. Trazendo toda a controvérsia, há muitos a favor da liberdade de escolha. Como diz Rebeca, “é necessário superar essa forma mecânica de interpretação da lei e do direito e ponderar sobre o que pode ser a vontade do indivíduo em questão.” O ideal segundo ela, seria portanto buscar um meio eficaz que possibilite o respeito às diferenças de crenças e valores, conciliando liberdade e responsabilidade social. Pauline Féo Gleize Perez
Rabino Marcelo Barzilai
“A eutanásia está em desacordo com as prescrições do Torah”
Advogada Rebeca Dias
“Hoje por dedução das normas do Código Penal, eutanásia é crime”
Padre Gilberto Aurélio Bordini
“É necessário respeitar a inviolabilidade da vida humana”
Famílias autorizam suspensão de procedimentos médicos
Lei não impede a prática da eutanásia
Apesar da ilegalidade e das questões jurídicas e morais que ainda cercam a eutanásia no Brasil, existem ocorrências em que familiares optam por deixar de fazer procedimentos médicos com o objetivo de diminuir o período de sofrimento que antecede a morte do doente. Esse foi o caso da família de Viviane Picussa, analista de sistemas de 33 anos. Sua avó, Teresa Gabardo, estava com 91 anos quando descobriu que tinha água nos pulmões. Depois disso passou por diversas internações, todas elas sem resultado, enquanto sua condição de saúde piorava progressivamente. “Ela era internada e recebia alta, entrava e saía do hospital. Já não nos reconhecia, parou de falar, tinha sempre um olhar vago”, lembra Viviane e complementa, “Minha mãe entrou em depressão, foi um período extremamente difícil para a família”.
Em sua última internação, os médicos disseram que a única maneira de mantê-la viva seria por meio da utilização de uma sonda alimentar. Isso lhe daria mais dois meses de vida, mas sem a possibilidade de melhorar seu estado de saúde. “Fizemos uma reunião de família e discutimos por muito tempo o que seria a melhor opção. Além de estar entubada, essa situação não lhe agregaria nada”, comenta Viviane. Assim, optaram por não colocar a sonda em Teresa e deixar que ela morresse de uma forma natural. Viviane confessa, “no dia em que tomamos a decisão sofremos e lamentamos, mas no dia em que ela morreu mesmo, todos estávamos em paz”. Casos famosos Alguns casos de eutanásia chamaram a atenção da mídia internacional. O espanhol Ramon Sampedro era tetraplégico desde os 26 anos de idade e solicitou
à justiça espanhola o direito de morrer. Depois de cinco anos de luta judicial Sampedro foi encontrado morto em 1998 após ingerir cianureto com a ajuda de amigos. O seu caso foi considerado suicídio assistido. O diretor Alejandro Amenábar adaptou a história de Ramon em seu filme Mar Adentro de 2003. Em 2005 o caso Terri Schiavo levantou discussões e polêmicas sobre a eutanásia em todo o mundo. Após sofrer um ataque cardíaco a americana teve severas atrofias cerebrais que resultaram na perda de consciência. Entre 1998 e 2005 a família de Terri lutou contra o sistema jurídico para obter o direito de realizar a eutanásia. Dia 31 de março de 2005 Terri morreu 14 dias depois de ter tido seus tubos de alimentação retirados. Olívia D’Agnoluzzo Mariana Siqueira
geral
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Curitiba, setembro de 2011
Criança aprende mais brincando que estudando
Pais priorizam estudos à brincadeiras e matriculam seus filhos em mais atividades extracurriculares A falta de tempo dos pais e a preocupação com o futuro dos filhos são os principais motivos que têm os levado a colocar suas crianças em várias atividades extracurriculares. No entanto, a pedagoga Rosane Mira defende que o ato de brincar, quando a criança é ela mesma, também interfere em seu crescimento e desenvolvimento. “A criança aprende mais enquanto brinca do que enquanto estuda. Através de uma forma lúdica, ela aprende a ter limites e regras”, explica. A pedagoga ressalta ainda, que é através das brincadeiras que as crianças aprendem a respeitar o próximo como ser humano, a viver a vida com prazer e a ver alegria nas pequenas coisas. A importância do “brincar” é enfatizada também pela psicóloga Maria Ruth Tavares: “O brincar faz com que as crianças sejam desprendidas dos problemas do dia-dia; quebra o círculo do compromisso, permitindo que ela seja ela mesma. Brincar é saúde”. Rosylaine Sritsche, 42, técnica em estética, tem dois filhos: um de quatorze e o outro de nove anos. O mais velho além de freqüentar o colégio diariamente, pratica também natação três dias por semana e duas, o curso de inglês. O menor, além das atividades escolares, faz também aulas de violão, capoeira, natação e catequese. Rosylaine assume que os filhos fazem bastante atividade, mas
afirma que eles gostam e que elas não os impedem de ter um tempo para eles brincarem e fazer aquilo que as crianças e adolescentes da idade deles gostam de fazer. “O inglês é necessário para a vida profissional; a catequese é importante, porque somos católicos; a natação foi uma ordem médica, e as outras atividades eles que optaram por fazer”, comenta. Os pais devem respeitar as vontades e os gostos da criança ao colocá-lo em uma atividade. Segunda a pedagoga Rosane, o essencial é que haja um equilíbrio entre os momentos de estudar e os momentos de brincar. Rafael Quartarolle dos Santos, 10, faz aulas de português as terças e quintas-feiras e, aos sábados, catequese. Ele conta que até o ano passado, além das duas aulas, ele tinha também atendimento com fonoaudiólogo às sextas-feiras e fazia aula de violino às segundas. Rafael comenta que, embora seu cronograma fosse cheio, sempre teve um tempo para brincar, inclusive com os pais. A psicóloga Maria Ruth alerta que a pressão e a responsabilidade de muitos afazeres podem trazer riscos à saúde. “Tantos compromissos podem fazer com que a criança tenha medo de enfrentar o futuro, tenha ansiedade, depressão e até síndrome do pânico”, esclarece.
A pressão de muitos afazeres podem trazer riscos à saúde
Carine Rocha
Carine Rocha
Desenvolvimento intelectual e psicológico está atrelado à diversão na infância
Enquanto brinca, a criança aprende e cuida da saúde
bebidas alcoólicas são proibidas aos emancipados
Emancipação permite independência, mas não garante maturidade de jovens
Os pais podem antecipar a maioridade dos filhos, concedendo-lhes legalmente a emancipação. Ela permite que adolescentes com idade entre 16 e 17 anos se tornem responsáveis pelos próprios atos civis, como fazer contratos de compra e venda de imóveis, abrir empresas e viajar sozinhos. A professora e psicanalista Shirley Rialto Sesarino explica que a maioridade, mesmo em casos que não sejam antecipados, nem sempre é garantia de maturidade dos jovens. Apesar de terem adquirindo a independência, os menores também ainda estão sob proteção do Estatuto de Criança e Adolescente, e, por isso, ficam restritos a determinadas ações, como dirigir, comprar bebida alcoólica e frequentar locais que só permitam a entrada de maiores de 18 anos. O estudante Victor Hugo Santos, 18, decidiu se emancipar aos 17 anos. Ele estagiava numa compa-
nhia de teatro que se apresentaria fora do Brasil, e, para poder viajar sozinho, pediu a emancipação ao pai. Santos, que mora com os avós, comenta que inicialmente a avó estranhou a decisão, mas o apoiou. “A partir do momento que eu tinha a emancipação em minhas mãos, comecei me sentir diferente, até minha avó mudou o jeito de me tratar”, diz o estudante. De acordo com o Código Civil brasileiro, o procedimento pode ser realizado de forma voluntária, que é através da permissão de ambos os pais ou só de um na falta do outro, e através de processo judicial quando o menor estiver sob responsabilidade de um tutor. Há ainda possibilidade de emancipação legal que ocorre automaticamente em casos como de casamentos, de conclusão de ensino superior, exercício de emprego público. A escrevente Solange Aparecida Cuba de Toledo comenta que a
procura por emancipação aumenta em época de concursos públicos. No caso de ser voluntária, afirma que é necessário apenas que o adolescente se dirija com seus pais a um Cartório de 1º Ofício de Registro Civil, portanto certidão de nascimento original, carteira de identidade e CPF – os pais precisam apresentar ainda certidão de casamento. O custo fica em torno de R$ 150 reais. Mesmo sendo considerados responsáveis por seus atos, Shirley explica que, de uma forma geral, os jovens ainda não estão totalmente preparados para assumir determinadas responsabilidades. “Com 16 anos, alguns teriam condições de se emancipar, mas outros nem com mais de 18. Ainda não deu tempo de ter um amadurecimento e depende muito da formação desse adolescente, de uma família bem equilibrada, o que é difícil hoje”, finaliza. Jordana Basilio
O que você acha da emancipação de menores? “Não tem que acelerar o processo. Se o emancipado não tiver sido bem educado com valores e morais, ele vai agir como um cego em tiroteio.”
“Como nessa idade eles já podem votar, tudo devia ser liberado. Significa que eles já têm plena consciência de suas responsabilidades.”
Vanderson Godoi, 36, taxista
Tania Mara, 42, empresária
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“Sou a favor da proibição, porque é inconstitucional defender a liberdade de expressão para quem propaga a violência.” Murillo Tigrinho Cordeiro, 23 anos, publicitário.
“Sou contra. Acho que deviam deixar usar, afinal a torcida faz parte da história do time”. Mariana Mazon, 15 anos, estudante.
“Isso depende da torcida. Tem algumas que além de mostrar o amor pelo time, exageram e agem com violência e precisam ser restringidas.” Alexandre Dorneles, 30 anos, jornalista.
“Acho errado e que isso interfere sim na liberdade de expressão dos torcedores, assim como algumas outras proibições no estatuto do torcedor.” Thales Augusto Camargo Sizenando, 20 anos, estudante.
esporte
Diretoria do Coritiba e Secretaria de Segurança romperam com a torcida
Sem uniforme ou sem liberdade? Depois de incidentes torcedores são proibidos de entrar no estádio com materiais de torcidas organizadas As torcidas organizadas foram proibidas de entrar nos estádios de futebol do Paraná usando camisas, faixas e qualquer outro tipo de material alusivo à elas. Essa decisão foi tomada pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná em acordo com a Federação Paranaense de Futebol (FPF). Porém, isso funciona com maior rigor no Estádio Couto Pereira, após alguns integrantes da Império Alviverde, torcida organizada do Coritiba Foot Ball Club, invadirem o gramado e agirem com violência ao tentar protestar pelo rebaixamento do time no ano de 2009. A proibição divide opiniões entre as pessoas e gera polêmica quando o assunto é associado à liberdade de expressão dos torcedores. Paulo Henrique de Souza, vice-presidente da torcida organizada Império Alviverde, é contra a restrição, feita. Segundo ele, as vendas na loja oficial da torcida diminuíram 20% nos primeiros meses após a invasão. Ele lamenta a proibição e acredita que todos deveriam ter a liberdade de expressar o amor ao clube usando a imagem da torcida organizada. “A torcida é a alma, é o que move o time”, afirma. Por outro lado, existem aqueles que não simpatizam com a existência e nem com as atitudes das organizadas. Murillo Cordeiro, 23 anos, é a favor. Segundo ele, é inconstitucional defender a expressão nesses casos onde se propaga a violência. “O vestuário das organizadas, se é que podemos chamá-los assim, são fardas de guerras. Guerras que tem como objetivo mostrar quem é mais forte, quem manda mais e quem domina o território”, opina Cordeiro. Ao contrário do Coritiba, o Atlético Paranaense não exerce a proibição da entrada de torcedores carregando materiais da torcida organizada As únicas proibições, além do uniforme em dias de clássico (Atletiba), são as roupas de comando (uniformes da torcida organizada identificando a localização, bairro. Exemplo: Zona
Heloísa Ferreira
Você é contra ou a favor da proibição do uso de uniformes das torcidas organizadas?
Curitiba, setembro de 2011
Torcida Império Alviverde cria camiseta alternativa para identificar seus membros dentro do estádio
Norte, Zona Leste). Segundo o Departamento de Comunicação do Coritiba Foot Ball Club, a proibição também faz parte de um processo para o reposicionamento da marca clube , que contou com uma série de outras ações para isso acontecer, como a valorização de seu quadro social e, em especial, no atendimento de seu Sócio. A diretoria diz que após a proibição, houve um aumento considerável na venda de produtos oficiais do Coritiba, além de uma readequação e valorização da marca. Ao serem perguntados se o uso dos uniformes das organizadas acaba gerando mais violência dentro dos estádios a diretoria ainda afirma que não é papel do Clube fazer esse julgamento. “O Coritiba acredita que isso cabe as autoridades competentes”. Diz o departamento de comunicação por meio de nota. Para conseguir caracterizar os membros da torcida organizada, estes se organizaram e criaram uma camisa alternativa, sem fazer nenhuma referência à Império, somente ao Coritiba. Amanda Vicentini Heloísa Ferreira
Casos de violência envolvendo torcidas organizadas • A principal torcida organizada do Clube Atlético Paranaense, conhecida como Os Fanáticos, enfrentou a torcida Ultras, também do time rubro negro, em uma lanchonete que fica nas mediações do estádio Arena da Baixada. Os envolvidos na confusão tiveram ferimentos e o vereador Júlio Cesar Sobota, presidente da Fanáticos, mais conhecido como Julião da caveira, estava presente. Dos 80 envolvidos na confusão, poucos foram encaminhados para a delegacia. Atualmente, está sendo comuns registros de ocorrências de conflitos entre essas duas torcidas. • A jornalista Elaine Felchacka estava fazendo uma matéria nas mediações do estádio Couto Pereira, onde tirava fotos de torcedores trajados com uniforme da torcida. Após fazer a foto, três torcedores abordaram a jornalista e roubaram sua câmera digital. Após o assalto, os criminosos saíram do local tranquilamente. • A enfermeira Tania Regina da Silva, de 43 anos, foi alvo da violência das organizadas, sem ter culpa de nada. Ela estava dentro do ônibus quando uma bomba caseira foi arremessada para dentro do veiculo e caiu no seu colo, assustada, quando foi se livrar do artefato jogando-o para fora, inesperadamente, ele explodiu, ferindo apenas Tania, que perdeu três dedos no ocorrido. Gustavo Almeida
sociedade
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Curitiba, setembro de 2011
IDEOLOGIAS: ALGUMAS BUSCAM A PAZ E HARMONIA E OUTRAS A VIOLÊNCIA, RACISMO E O PRECONCEITO
Estudos originam Ideologias positivas Antigamente, a sociedade tinha ideologias violentas (veja box ao lado), que derramaram muito sangue. Hoje, as ordens buscam em estudos filosóficos um novo jeito de ver e tentar mudar o mundo. Em Curitiba, sendo a sede dos países que tem a língua portuguesa como língua oficial, a ordem Rosacruz, mesmo não tendo uma ideologia política, procura, na filosofia, seus preceitos para conseguir essa mudança. São conhecidos como uma ideologia filosófica, uma ideia de praticar o bem, ser ético, respeitar as pessoas, aprimorar sentimentos que o transformem em uma pessoa útil. Laerte Ferraz, 60 anos, estudioso há mais de 30 anos da Amorc afirma: “Não se pode definir uma instituição como ideologia, claro que existe uma ideologia por trás, porém, não é de caráter político, social ou religioso. É uma ideologia de caráter filosófico, estamos sempre em busca da verdade”. Apesar de não ter caráter religioso, o pensamento filosófico buscado pelos membros da Amorc, é baseado muitas vezes em frases ou ensinamentos do catolicismo, cristianismo, islamismo, evangelhos e preceitos no Torá, que são providos de grande sabedoria. Outro pensamento dos membros da ordem é a questão deles quererem um mundo melhor, ensinando e passando sabedoria para outras pessoas. “Todos nós queremos mudar o mundo, o vemos cheio de incertezas, maldades e nós ficamos inconformados com isso. Nós gostaríamos de certa forma, amenizar o efeito dela sobre as outras pessoas”, afirma Ferraz. Complementa dizendo que o mundo só se tornará um lugar melhor quando as pessoas conseguirem mudar a si próprio. O estudioso conta que foi muito influenciado para entrar na ordem, mas que entrou mesmo pois desde criança pesquisava os temas que achava misteriosos, como o poder da mente e como ter um raciocínio mais rápido. “Eu me tornei mais tolerante, mais compreensivo, com
Gustavo Magalhães
Participar de uma ordem requer que seus membros aprendam, antes de tudo, a serem pessoas melhores
Mesmo baseado nos egípcios, a Rosa Cruz busca ideologias em outras religiões
uma capacidade de análise bem diferente do que eu tinha do passado. Isso veio tanto com a idade, tanto com os estudos que eu realizei.” Outra ordem conhecida é a Arco-Íris, que foi idealizada nos Estados Unidos e sua ideologia é a construção da verdadeira dignidade feminina, criar mulheres jovens, líderes e pensantes para uma sociedade. A primeira assembléia no Brasil, foi instaurada em Cascavel, no Paraná, em 1992, mas hoje já tem sede em outras cidades do Brasil. As meninas entram na ordem
ou por serem filhas de maçons ou por serem amigas de outras arcoíris. Com isso, elas passam por uma votação e são visitadas por membros superiores da ordem para o melhor conhecimento sobre a vida delas. A idade mínima é de 11 anos e a máxima é de 20 e a garota não pode ter nenhum vício. A estudante Anelize Mafra, 25 anos, entrou para a ordem com 13 anos, por indicação de seu pai, que na época fazia parte da maçonaria. Ela conta que as arcoíris, como são chamadas, pregam
a comunicação, a liderança e que a menina tenha uma boa oratória, além de terem uma ideologia filantrópica, na qual cada assembléia determina o que vão fazer. Anelize comenta que a gestão na ordem muda a cada seis meses e que cada diretoria é que escolhe o que será feito. “Nós geralmente fazemos pizzadas, jantares, futebol, que na verdade chamados de futebodes, pois é a junção das arco-íris com os demolays, que é a ordem de meninos e porque um dos símbolos da maçonaria é o bode”, afirma a estudante. O intuito dessas reuniões é arrecadar dinheiro para doações. “A última arrecadação foi ajudar o Lar dos Bebês, aqui em Cascavel. E além disso, um sábado por mês, nós vamos brincar com as crianças de lá”. A ordem demolay, é uma organização direcionada aos meninos, que tem como ideologia preparar os jovens para uma vida de retidão, com base nas sete virtudes: amor filial, reverência pelas coisas sagradas, cortesia, companheirismo, fidelidade, pureza e patriotismo. É também, uma entidade filantrópica e é patrocinada pela maçonaria. É direcionada aos jovens de 12 a 21 anos e para ingressar, precisa-se de uma solicitação escrita, que após ser avaliada pelos membros do capítulo, será aprovada ou não. Bruno Hussein, 19 anos, estudante, entrou na ordem com 16 anos, convidado por um amigo. “Fui convidado por um amigo, mas, mesmo assim, tive que preencher a ficha de ingresso à ordem demolay, que após discussões dos membros, foi decidido que eu estava aprovado para a iniciação.” Com a mesma finalidade da ordem arco-íris, os demolays desejam criar melhores cidadãos e formar líderes, com base nas sete virtudes citadas. Hussein comenta que são uma grande família, na qual, quando um está passando por dificuldades, todos dentro da ordem o ajudarão. Gustavo Magalhães Rhaíssa Silva
IDEOLOGIAS VIOLENTAS JÁ DEIXARAM MARCAS NA HISTÓRIA DO MUNDO O Fascismo desenvolveu-se em alguns países da Europa, essa ideologia política, econômica e social, ganhou força após a Primeira Guerra Mundial. Na Itália, Benedito Mussolini tornou-se o líder do movimento. Adolf Hitler foi a cara do fascismo na Alemanha, porém, fora conhecido lá como Nazismo. Ainda hoje o Fascismo ainda está presente em alguns partidos políticos europeus que defendem a xenofobia.
O Neonazismo tem seus princípios resgatados da ideologia Nazista, criada por Adolf Hitler. Os neonazistas primam pela raça pura ariana e os seus seguidores discriminam pessoas negras, homossexuais, índias, judeus e comunistas sempre agindo com violência.
O Totalitarismo é um sistema político, no qual o estado tinha somente um comando. É caracterizado pelo fato de que os cidadãos comuns não têm participação nas tomadas de decisões do Estado. Esse movimento mantêm o poder político através da divulgação pelos meios de comunicação, que são controlados pelo próprio estado. Um exemplo de líder foi Josef Stalin que comandava a antiga União Soviética. (GM)
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social
Curitiba, setembro de 2011
comparação entre gerações: os valores da bebida e do cigarro se inverteram
Liberdade une o pensamento de gerações
Baby boomers e os nascidos nas gerações X e Y, passaram suas juventudes lutando por um ideal em comum: a liberdade individual A geração jovem nem sempre foi a mesma. Ao longo dos anos, mudanças comportamentais e ideológicas puderam ser observadas devido a diversos fatores. Porém, uma questão as fez parecidas: a busca pela liberdade. A empresa Box1824, realizou pesquisas nos últimos 5 anos e definiu características específicas de cada geração. A geração baby boomer, que caracteriza as pessoas nascidas entre os anos 40 e 50, foi marcada pelos diversos movimentos a favor da liberdade individual. Já nos anos 60, 70 e 80, aparece mais uma nova geração, filhos da geração baby boomer, o jovens da geração X. Estes foram caracterizados por serem rebeldes demais para os padrões de sua época. Pensamentos como: não acreditar em Deus, fazer sexo antes do casamento, menor respeito à família e a ruptura com gerações anteriores eram muito presentes. Mas ainda sim, a luta pelos seus direitos, pela liberdade e pela individualidade, não os diferenciavam muito de seus pais. Segundo a pesquisa, a geração Y nasce logo em seguida. Estes que nasceram entre os anos de 1980 e 2000, são caracterizados por serem uma juventude global. A internet, as redes sociais e os recursos digitais permitiram uma maior integração entre as pessoas ao redor do mundo. É possível construir amizades sem ao menos sair da frente do computador. Essa geração está sempre atrás da informação rápida e de fácil acesso e de novas tecnologias. E sempre utilizando esses meios como forma de expressar suas idéias. O conceito de liberdade para todas essas gerações é a possibilidade de realizar mudanças, criar novos pensamentos e se destacar entre os demais. Os jovens, independentemente da época, sempre irão influenciar novos comportamentos e hábitos de consumo.
Daniela Maccio Fernanda Vargas
GERAÇÃO BABY BOOMER “Era muito reprimido, “Só precisam saber a só podia fazer onde vou e quesehoras casasse.” (Doracy de volto.” (Hellen AlbuOliveira, 63) querque, 17)
SEXO BEBIDAS ALCOÓLICAS DORMIR FORA DE CASA CIGARRO
GERAÇÃO X GERAÇÃO GERAÇÃO Y Y “Não existia preocupação em usar camisinha.” (Claudio Rocha, 44)
“Bem menos que “Não era comum ver agora, e quem bebia era meninas bebendo.” homem.” (Doracy de (Claudio Rocha, 44) Oliveira, 63)
“Muita gente banalizou. Não interessa com quem e nem como vai ser.” (Bruna D’Amico, 19) “Quem não bebe não é considerado descolado ou da galera.” (Bruna D’Amico, 19)
“Meus pais não encrencam com isso, só precisam saber onde vou e que horas volto.” (Hellen Albuquerque, 17) “Na época era até bonito. “Antes as drogas eram “Se eu fumasse seria inTinha muita gente que mais “naturais”. Hoje fluência do meu pai, ele elas são mais quími- fuma muito.” (Letícia fumava.” (Doracy de cas, produzidas.” (Neila Duarte, 18) Oliveira, 63) Chinen, 50) “Dormir fora de casa nem era cogitado. Depois que se casar, aí sim.” (Tiguça Chinen, 83)
“Era camuflado, e só se estivesse namorando sério.” (Claudio Rocha, 44)
“o facebook me anima.” afirma zilda vilela, 69, usuária da rede social
O antigo e o novo trocam papéis na sociedade atual Twitter, smartphones, notebooks, fitas cassete, VHS, walkman, máquina de escrever. Imagine se tudo isso se invertesse entre as décadas. É isso o que aconteceu com a usuária do Facebook, Zilda Vilela de 69 anos e com Filipe Horst, 21, colecionador de discos de vinil. Com o intuito de distrair sua mãe que passa muito tempo em casa cuidando do marido, a filha de
dona Zilda resolveu criar uma conta na rede social para ela. Apesar de entrar uma vez por dia no computador, ela checa os sites de notícias e aproveita para entrar em contato com suas amigas e até mesmo rever fotos do tempo de sua formatura. “O Facebook me anima”, afirma, toda entusiasmada. Mas não é tudo na rede social que lhe agrada. Dona Zilda não gosta da maneira como
os jovens de hoje em dia escrevem, com palavras abreviadas e, principalmente, as palavras chulas que aparecem aos montes nas publicações: “Além de você estar falando isso para alguém, todos os seus amigos estão vendo!”. Em contraponto, Filipe Horst, estudante de biotecnologia da PUCPR, possui cerca de 40 discos de vinil em casa. Ele defende sua pre-
ferência pelos discos já que acredita que as músicas são melhores e o som também. “É como se a banda estivesse ali, tocando na sua frente”, afirma. Horst também confessa sua preferências pelos VHS: “Você tem mais opções, pode filmar qualquer coisa, é muito mais fácil.” Fernanda Vargas