Migração na Região Metropolitana

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Curitiba, maio de 2010 - Ano 14 - número 181 - 2º Ano de Jornalismo manhã PUCPR- jornalcomunicare@hotmail.com

MIGRAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA

Em sete anos, riqueza da RMC cresce mais que a população

Família Oliveira desembarca em Curitiba e contribui para o crescimento populacional de 14% Pág. 4 IDENTIDADE

Mistura de pessoas de vários lugares beneficia Curitiba

Páginas 3 e 8

FUTEBOL

Maioria dos jogadores do Atlético, Coritiba e Paraná são de fora

Página 11

INVASÕES

Maior parte dos moradores irregulares é do interior

Página 6


Curitiba, maio de 2010

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opinião

Curitiba: duas cidades para a migração O leite quente com o “e” acentuado há tempo começou a sofrer concorrência com o jeitinho manso do baiano, com a fala arrastada do “catarina” e com o estilo despojado do paulista. Os sotaques de todas as regiões do país entram e saem da capital paranaense, fazendo da “cidade da gente” uma cidade das gentes. Fosse apenas o sotaque, mas aqueles que chegam para ficar trazem consigo comidas, músicas e costumes. São pessoas que deixam o seu lugar de origem, mas não se desapegam da cultura que nasceu ou fez parte da vida desses migrantes. O próprio Eric Hobsbawn comenta em uma en-

trevista que as migrações de antigamente são diferentes das de hoje. “Ao emigrar, as pessoas já não rompem os vínculos com o passado no mesmo grau em que o faziam antes”, explica o historiador inglês. Aqui vale lembrar da distinção entre emigrantes, imigrantes e migrações. Emigrantes para aqueles que saíram de seu país ou estado e imigrante pra quem está chegando. No fim, são todos migrantes que passam a compor o cenário da nova cidade hospitaleira. São bares, empresas, restaurantes e até feiras de rua que abrigam o ser novato. No entanto, para os que vêm para Curitiba, a cidade não é tão

A “cidade da gente” tornou-se uma cidade das gentes

FALA, PROFESSOR

“O Comunicare revelou que os parques precisam de reparos antes de ser cartões postais” Diana Decock, 25, professora de Filosofia PUCPR

FALA, LEITOR

hospitaleira assim. A dificuldade de lidar com a falta de estrutura é um dos grandes problemas que a capital enfrenta. A própria prefeitura criou a Casa da Acolhida e do Regresso na Rodoferroviária para abrigar aqueles que chegam aqui e encontram dificuldades para se adaptar. Três dias é o prazo para achar seu lugar ao sol - ou chuva, ou então ser mandado de volta para o local de origem. No entanto, as pessoas que chegam sentem dificuldade para se achar na “cidade modelo”, já que enfrentam preconceito dos moradores curitibanos. Exceções, porém, sempre existem. São “sortudos” ou bons administradores que montaram o próprio negócio aqui e ainda conseguiram divulgar sua tradição de origem. Aí, lembramos dos restaurantes de comida mineira, baiana, árabe... Estes imigrantes contribuem para o PIB da cidade

Marcela Lorenzi

Curitiba é uma capital boa para quem vem como turista, mas para quem resolve vir se estabelecer, a situação já é mais complicada

e ainda ajudam na dispersão de culturas diferentes. Já para quem decidiu por apenas visitar Curitiba, a visão diverge daquela do imigrante. Os turistas que vêm para cá não têm do que reclamar. Tudo é bonito, bem estruturado e um modelo de educação. Seria a carcaça

destaque na capa não corresponde com matérias internas

Falta de hierarquização das matérias prejudica na interpretação do jornal

O desafio de se fazer um jornal diário com qualidade é a prova máxima de que uma turma de jornalismo está formando bons repórteres. Esta edição é um bom exemplo do que foi aprendido pelos alunos ao longo do ano. No entanto, apesar dos acertos, identificam-se alguns erros, principalmente na hierarquização das matérias e escolha das chamadas. Em um impresso diário, a matéria factual deve ser valorizada. A boa pauta que fala sobre a chuva da madrugada anterior ter prejudicado o museu do automóvel, por exemplo,

“Espero que as pessoas se conscientizem e zelem pela preservação dos nossos parques”

EXPEDIENTE Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Edição nº 181 Maio de 2010

Rodrigo Giorgi, 25, professor de inglês

Pontifícia Universidade Católica do Paraná Rua Imaculada Conceição, nº 1.155 Prado Velho, Curitiba

poderia ser tão destacada quando outras chamadas. A interpretação de classificar o que é mais importante entre tantas coisas tratadas nas 16 páginas é fundamental para tornar a leitura fácil e atraente. A matéria sobre saúde, por exemplo, que é chamada na primeira página, preenche apenas um box na editoria geral. O mesmo pode ser dito da foto de capa que trata de uma matéria secundária, o que jornalisticamente é um contra-senso – com a ressalva de que a imagem foi muito bem escolhida para a capa. Nesse caso,

talvez a pauta sobre o abandono dos parques pudesse ser uma única matéria. O principal ponto positivo é o uso do jornalismo cidadão no sentido de dar voz à população. Os textos mostram os problemas e os riscos que estão ligados à falta de estrutura e segurança destes lugares, como fica muito bem retratado nas páginas centrais do jornal.

Reitor: Clemente Ivo Juliato Decano do CCJS: Roberto Linhares da Costa Decano Adjunto do CCJS: Marilena Winters Diretora do curso de Jornalismo: Monica Fort

Jornalista responsável Zanei Barcellos DRT-118/07/93 Projeto gráfico Marcelo Públio EDITORES Primeira página: Thayse Nascimento Entrevista: Camila Machado Religião: Bethina Perussolo Cultura: Flavia de Andrade e Taísa

COMUNICARE

Pedro Brodbeck, assessor Página 1 Comunicações (Comunicare 2006)

que a capital veste para quem vem de fora? Afinal, a cidade parece receber bem aqueles que já chegam com um bom capital, porém, seleciona os que vieram para construir o seu. Carla Comarella

Nossa capa

Família Oliveira, recém chegada do Mato Grosso, na Rodoviária de Curitiba. Eles são migrantes em busca de uma vida melhor Foto: Rubens Moreira. Arte: Thayse Nascimento

Echterhoff Comportamento: Idionara Bortolossi Política: Laura Sliva e Camila Petry Turismo: Letícia da Costa Educação: Letícia Leal Sociedade: Ricardo Tomasi Economia: Rubiane Kuminski Esporte: Giovanna Miqueletto Geral: Talita Inaba


Curitiba, maio de 2010

entrevista

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APESAR DO ALTO CUSTO DE VIDA NA CAPITAL, CURITIBA AINDA É O DESTINO DE GRANDE NÚMERO DE MIGRANTES

Migração é benéfica para a capital paranaense Até o final do ano, um total de 3,7 milhões de pessoas estará vivendo na capital e na RMC, segundo o Ipardes

Comunicare: Curitiba ganhou 30.684 novos habitantes. Com isso, a população da capital paranaense chegou a 1.828.092 pessoas. O aumento de um ano para outro foi de 1,7%, o quinto maior acréscimo em todo o País (IBGE 2008). Como pode ser explicada a alta taxa de migração que compõe a população da capital? Boneti: O processo de urbanização do Paraná é recente, pode ser considerado um estado novo, é muito jovem. O processo de modernização da agricultura no Paraná se deu de forma mais lenta, posterior a outros estados brasileiros (como exemplo o estado do Rio Grande do Sul, especialmente a cidade de Porto Alegre), “atrasando” a mudança da população rural para as cidades. Essa mudança, que ocorreu nas décadas de 1940 e 1950, impulsionou, portanto, o fluxo migratório para Curitiba e as demais cidades do estado. Outro aspecto é que Curitiba chamou e chama atenção de outros estados em decorrência da oferta de emprego (demanda principal de estados nordestinos).

gar um número cada vez maior de migrantes? Boneti: Têm-se grandes problemas, como todo grande centro urbano. Esse processo migratório deu origem à formação das típicas cidades brasileiras, com o aparecimento de periferias, favelização. E hoje grande parte dessa população continua sem ser absorvida totalmente pela cidade – sofre com abastecimento de água insuficiente, poluição da maioria dos rios, aumento crescente nos índices de criminalidade e de violência, alto índice de moradores de rua na região central da cidade, lotação da rede de transporte urbano, prejudicando não só os migrantes como a população de um modo geral. A cidade nunca estará preparada.

“Não há cultura certa ou errada e nem uma única verdade”

Comunicare: Segundo o IBGE, “Curitiba e região metropolitana ultrapassaram a marca de 3,3 milhões de habitantes”. A capital tem a estrutura necessária para abri-

Comunicare: Qual é imagem da capital que atrai os migrantes? Boneti - Em certos aspectos a imagem positiva é comprovada, afinal é uma capital com grande absorção de migrantes. Porém, apresenta inúmeros problemas, já citados anteriormente. Os migrantes muitas vezes não levam em consideração o alto custo de vida nas capitais, bem diferenciado do padrão de vida das pequenas cidades. Comunicare: Como a vinda de

Publicações

Boneti possui 6 livros próprios, entre eles “Políticas Públicas por Dentro” da Editora Unijui, publicado em 2006 e 2008. Em recente projeto, faz um estudo sobre “Estratégias sócioeducativas de apropriação do espaço público por famílias em condições de vulnerabilidade social no Brasil.”

Angélica Mujahed

O doutor em Sociologia pela Université Laval (Quebec-Canadá), Lindomar Wessler Boneti, acredita que a migração crescente na cidade de Curitiba está trazendo benefícios à capital paranaense. Nos últimos 30 anos, Curitiba deixou de ser uma cidade tranquila para ser uma das mais populosas capitais do Brasil. Mesmo assim, segundo a ONU, é a segunda cidade brasileira com melhor qualidade de vida, atrás somente de Porto Alegre. Apesar de apresentar quadros críticos em sua infra-estrutura na absorção dos novos migrantes, mostra-se como cidade modelo, atraindo milhares de pessoas. O sociólogo explica que Curitiba se apresentou perante o país como uma cidade forte e com um destacado centro industrial, o que atraiu um grande número de brasileiros à procura de oportunidades de emprego. Sendo natural de Santa Catarina e já tendo sido vítima de xenófobos no exterior, Boneti afirma que o preconceito com os migrantes vem de pessoas conservadoras e que não entendem como novas culturas podem vir a acrescentar no bem-estar comum. Atualmente é professor e pesquisador da Pós-Graduação em Educação (Mestrado e Doutorado) da PUCPR.

Lindomar Boneti explica o fenômeno da migração

jovens para estudar na capital contribui na economia curitibana? Quais são os atrativos? Boneti: O jovem sempre contribui. A juventude é um período de grande vitalidade, de grande criatividade: se cria, se trabalha bastante, pois se tem energia. Hoje, Curitiba ainda é o destino principal, e a chegada de jovens é de extrema importância. Acredito que as Universidades da capital oferecem mais condições, pois dispõe de melhor estrutura, melhor nível acadêmico. Do ponto de vista do lazer, a capital oferece aos migrantes uma variedade de atrações, a noite curitibana gira em torno dos estudantes, gerando aí alto capital. Porém, faço uma ressalva. Nos dias de hoje, já existe todo um processo de interiorização do ensino superior, sobretudo nos últimos tempos, com o atual governo. Esse quadro, portanto, tende a ser alterado, os jovens vão acabar ficando em suas próprias cidades, diminuindo esse fluxo de migração para as capitais. O que já acontece com cidades como Londrina, Maringá, Ponta Grossa. Comunicare: Muitas universidades possuem programas de intercâmbio, estimulando a migração. Qual é a contribuição? Boneti: A troca é sempre muito interessante. No caso específico da PUC, já recebemos estudantes africanos, angolanos, entre outros, porém o número de estudantes que saem em busca de oportunidade é bem maior.

Há de destacar a grandiosidade dessa troca, pois são jovens que vem trazendo uma infinidade de novas informações e diferentes culturas. Comunicare: Em Curitiba cresce o movimento xenófobo, promovido por uma onda chamada primeiramente de “Orgulho Curitibano”. O que pensa a respeito? Boneti: Isso é de uma ignorância sem tamanho, chega a ser vergonhoso. Normalmente isso ocorre em grupos extremamente conservadores, porque não há cultura totalmente desvinculada de preconceitos. Aqui em Curitiba nós temos um diferencial, advindas dos dois fenômenos de migração (antigo e o recente), uma mistura de tradições. O processo de migração antiga se encaixaria na explicação desse fato, principalmente por serem oriundas de países europeus. Há laços de conservadorismo cultural. Como se houvesse uma verdade absoluta para todas as coisas, a cor certa, a cultura certa. Como se isso existisse. Eu mesmo já fui vítima de preconceito. Foi na primeira vez que saí do país para estudar, quando morei no Canadá, em 1991. Naquela época, a imagem do brasileiro pelo mundo não era nada positiva, então em certa ocasião, as pessoas se de-

cepcionaram porque eu, branco, com os olhos claros, com uma razoável bagagem intelectual, me apresentava como brasileiro, e aí as coisas mudavam. Comunicare: Curitiba pode ser vista como uma colcha de sotaques e é rica em diversidade cultural. Quais os benefícios que essa migração trouxe a capital? Boneti: Em primeiro lugar, a migração trouxe a mão de obra especializada. Não somente os trabalhadores se beneficiaram como a própria capital obteve crescimento, através do suor dos migrantes. Em segundo lugar, há os aspectos culturais. A pluralidade de Curitiba. A imensa variedade de linguagens faz com que a socialização aconteça de forma rica. Um fator que pode ser citado para a contrariedade dessa integração é o clima. Este cria uma tendência à individualização. Porém, felizmente, não é um fator determinante. Um exemplo simples e claro que pode ser citado, é a variedade de culturas encontradas num parque: pluralidade de costumes, hábitos, cores, tribos... O que só enriquece o ser humano.

“É uma ignorância sem tamanho, chega a ser vergonhoso”

Angélica Mujahed Camila Machado Júlia Magalhães Paola Possato


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comportamento

ATRAÍDOS PELA POSSIBILIDADE DE MELHORA DE VIDA, MIGRANTES SENTEM MUITAS DIFICULDADES AO CHEGAR A CURITIBA

Migrantes sofrem em Curitiba

Censura

A liberdade de imprensa parece não existir mais entre as multinacionais. Nem mesmo para aqueles que buscam informações de interesse público. As assessorias intermediam a comunicação entre empresa e mídia, mas suas políticas internas estão extinguindo esse papel, que é indispensável para o exercício do jornalismo. O Comunicare entrou em contato com a Audi, a Bosch e a Pepsico, mas não obteve resposta. Foram inúmeras tentativas durante a produção da matéria, e, quando havia o atendimento à ligação, solicitavam envio de e-mails – aos quais não responderam.

Os Oliveira chegando de Alta Floresta (MT) em Curitiba

melhor salário e estabilidade. Ele veio acompanhado da irmã e do cunhado que também esperam trabalhar em Curitiba. Já os estrangeiros sofrem, inicialmente, com o aprendizado da língua portuguesa. A documentação também se transforma em problema

devido ao custo elevado e demora na legalização. O casal peruano Juan Ramon Soto Franco, 48 anos, advogado, e a contadora Rosa Lira Chávez, 53 anos, vieram para Curitiba em 1991 após venderem todos os bens no Peru. Eles contaram que mesmo para alugar uma casa foi difícil.

“Tivemos dificuldades por não ter um fiador conhecido que possuísse imóvel próprio na cidade”, afirmou Franco. Muitos migrantes também são alvo de preconceito em Curitiba, como conta Selene Calafange, 50 anos. Natural de Recife, ela desistiu da pós-graduação em Neurociências devido à falta de coleguismo na sala de aula e também pelo preconceito de um professor com ela. “Uma vez ele falou em alto e bom tom que detestava os nordestinos, que eram preguiçosos, e que para nada prestavam”, disse Selene. Mesmo com saudades da família, dos amigos e da terra natal, eles não se arrependem da vinda para Curitiba e nem desejam voltar ao seu país de origem, pois muitos já constituíram família e conseguiram certa estabilidade financeira. Juliana Hemili Rubens Moreira da Silva

O sírio naturalizado brasileiro, Moutih Ibrahim, assim que chegou a Curitiba, em 1970, foi convidado para assistir um atletiba, e decidiu que iria torcer para o time considerado mais fraco por seus amigos, o Atlético. Ibrahim procurou um lugar para se sentar e não imaginava o tamanho da rivalidade existente entre os dois clubes. Vendo os outros gritarem “Coxa!” ele, imediatamente, gritou “Atlético!”, no meio da torcida rival. O imigrante apanhou como nunca em sua vida, e sem saber o motivo. Segundo Ibrahim, após este episódio ele decidiu que seria torcedor do Atlético até a morte.

EMPRESAS DE CURITIBA BUSCAM TRABALHADORES DO INTERIOR PELA MÃO DE OBRA MAIS BARATA

Curitiba apresenta aumento significativo no número de trabalhadores vindos do interior

O número de trabalhadores vindos do interior do Paraná tem crescido significativamente em Curitiba nos últimos 15 anos. Em 2008, a cidade recebeu mais de 30 mil novos moradores, superando a média de 25 mil por ano, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Muitos vêm em busca de uma oportunidade de emprego, já que grandes e pequenas empresas têm preferência pela contratação de funcionários de fora da capital. Esse interesse é quase uma necessidade, já que essa política é muito mais lucrativa e rentável. “As pessoas que vem do interior costumam ser mais dedicadas. Além do que os curitibanos acham que o salário é muito baixo”, disse Ana Barbosa, gerente da Ideal Central de Apoio. Ela afirma ainda que já contratou curitibanos para trabalhar, mas eles não foram tão fieis ao emprego quanto os

Guilherme de Mello

Todos os anos cresce o número de migrantes na capital paranaense. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Curitiba apresentava 1,5 milhão de habitantes no ano 2000, oito anos depois, este número passou de 1,8 milhão. Mesmo tendo crescimento acelerado, a cidade apresenta índices de capital com a melhor qualidade de vida do Brasil. Os principais motivos desse aumento são principalmente de ordem econômica e social, como a busca por melhor emprego e melhores condições vida. Atraídos pela possibilidade de melhor emprego, muitos se arriscam a vir para a capital sonhando com um futuro promissor. Aroldo Domingues de Oliveira, 45 anos, chegou no último dia 26 de abril com a expectativa de mudar seu ramo de trabalho. Em Alta Floresta, Mato Grosso, sua cidade natal, era professor interino. Pretende encontrar aqui um emprego com

Rubens Moreira da Silva

Dinheiro dificulta uma mudança, mas idioma também pode ser problema para estrangeiros

Em Apuros

Carolina Caroba veio à Curitiba para ser auxiliar de cozinha

migrantes. A visão de quem vem de outras cidades do estado é de que aqui as chances de encontrar seu espaço no mercado são maiores. A auxiliar de cozinha, Carolina Saudade, se mudou com seu esposo para Curitiba após aceitar uma proposta de emprego.

Segundo ela as oportunidades de trabalho são restritas em Bela Vista da Caroba, e quase sempre vinculadas ao governo. Isso a impulsionou em sua mudança, porém, hoje ela admite querer voltar. Contrariando Carolina, o responsável pelas compras da

empresa Ideal, Jorge Leandro Soares, diz que gosta da cidade toda. “Vim pra Curitiba acompanhar um tratamento de saúde da minha mãe, gostei da cidade e recebi uma proposta da Ideal para trabalhar, aceitei e não voltaria pra Mariópolis”, conta. Para ser ainda mais atrativa a vinda, algumas empresas oferecem benefícios aos funcionários que aceitam sair de suas cidades. É o caso do engenheiro Carlos de Almeida, que veio de Pato Branco e mora na capital há quatro anos. Ele recebeu quase 100% de aumento salarial e encontrou um mercado de trabalho com muitas oportunidades. “Logo que cheguei, mostrei serviço e fiz muitos contatos, e o que não faltou foram propostas de emprego”. Guilherme de Mello Idionara Marina


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economia

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MUNICÍPIOS DO PR TORNAM-SE CIDADES DORMITÓRIOS, COM ISSO VÊM AS VANTAGENS E DESVANTAGENS

RMC é dominada pelas “cidades do sono”

O Estado do Paraná, segundo o IBGE, encabeça a lista das cidades com maior número de habitantes que realizam todos os dias um novo fenômeno, decorrente do inchaço populacional das grandes metrópoles, denominado movimento pendular. Segundo o senso realizado no ano de 2000 pelo IBGE, a cidade o com maior expressividade em deslocamentos pendulares no Paraná é o município de Almirante Tamandaré, localizado há 15 quilômetros de Curitiba. Cerca de 55,3% da população economicamente ativa da cidade se desloca diariamente para outras cidades, por diversos motivos. Esta característica é adotada por cidades que permeiam regiões importantes, cidadãos que não tem condições de morarem onde conseguem trabalho por questão financeira ou de falta de lugares acessíveis economicamente para morarem.

Com apenas 20 anos de história Fazenda Rio Grande, cidade da Região Metropolitana tem aproximadamente 81 mil habitantes, sendo que deste número, estima-se que 47,2% também se deslocam para os grandes centros urbanos. Este município apresenta um número não tão elevado em migração pendular devido as condições e atrativos para grandes empresas, mantendo assim o trabalhador em sua cidade. Colombo, também se encontra na mesma situação de Fazenda Rio Grande, porém a grande diferença é o número de habitantes, aproximadamente 234 mil, sendo assim o grande número de moradores é dividido em 46,7% que são os típicos moradores pêndulo. A expectativa é que esses números tenham mudado, por serem realizados os sensos de dez em dez anos, a probabilidade de aumento nos deslocamentos

populacionais é muito grande, é o que explica o geógrafo Carlos Storer, analista de desenvolvimento municipal de projetos da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano, SEDU. Storer aponta outro fator a ser analisado sobre a quantidade de pessoas que morarão na área urbana. Em 2000, 82% da população brasileira vivia na área urbana, estima-se que o senso realizado este ano trará o resultado de 85% de habitantes na parte da cidade e existem previsões, não muito otimistas, que somente 8 à 10% da população total do Brasil, esteja vivendo em área rural. A principal preocupação das cidades que são consideradas cidades dormitórios, é como a economia e os sistemas públicos poderão se sustentar sem ter o trabalhador gerindo o fluxo de capital. A cidade que “perde” o seu possível trabalhador para outra cidade pode apresentar

Rubiane Kaminski

Em Almirante Tamandaré – Região da Grande Curitiba - 55,3% da população economicamente ativa se desloca todos os dias

MULTINACIONAIS TRAZEM BENEFÍCIOS ECONÔMICOS E SOCIAIS

Região Metropolitana de Curitiba aposta na indústria automobilística para crescer

Importantes investimentos e ampliações do segmento da indústria têm trazido prosperidade para o desenvolvimento da RMC. O setor automotivo é o que apresenta maior expectativa de crescimento e expansão, segundo a Secretaria de Estado da Indústria, do Comércio e Assuntos do Mercosul, SEIM, a Fiat Group comprou as instalações da Tritec, em Campo Largo, e ainda vai investir inicialmente R$ 250 milhões para construir a maior fábrica de motores da América do Sul. A Dynapar investiu R$ 6 milhões em Quatro Barras. Já a Volvo pretende investir R$ 220 milhões entre 2010/2011 e a Renault do Brasil, em São José dos Pinhais, apostando alto entrará com R$ 1 bilhão para os novos investimentos nos próximos três anos. A escolha da cidade da RMC

que irá abrigar as multinacionais é feita seguindo alguns preceitos e necessidades de lucratividade como por exemplo as baixas tarifas, vastos recursos naturais e terras, numerosa mão-de-obra, além da privilegiada localização em relação a possíveis meios de exportação. A união destes e outros fatores possibilitam a implantação de indústrias, centros comerciais e de serviços que a cada ano constituem os diferenciais que marcam evolução da economia do Estado paranaense. Para atrair investimentos e consequentemente geração de renda para sua região, muitos governos promovem incentivos variados para as empresas. Em decorrência desses benefícios para a instalação das empresas nasce a “guerra fiscal”, que é a disputa entre as cidades e estados, para ver quem oferece melhores

incentivos para que as empresas se instalem em seus territórios. Porém, existem desvantagens nessa guerra por impostos e tributação, é a possibilidade da perda do investimento geral, que de alguma maneira beneficiaria toda a região sendo o município, o estado ou o país. Políticas aplicadas junto aos incentivos fiscais, podem ser políticas de obrigatoriedade em contratações de moradores da região. Como exemplo a criação do Programa Bom Emprego implementado no Paraná, já tem como resultado positivo novos ganhos para 45 municípios e 97 empresas. Os lucros das empresas que participam do programa já alcançaram mais de R$ 3 bilhões, com a criação de 16 mil empregos diretos e 48 mil indiretos. Rubiane Kaminski

Viagens diárias, incômodos permanentes, nem tudo é maravilhoso

dificuldades financeiras, já que seus moradores não geram renda onde vivem, quanto para a região que absorve todos esses novos agentes de influência no meio urbano, como por exemplo,

aumento da criminalidade, a falta de vagas em escolas e creches e grande demanda em postos de saúde. Rubiane Kaminski

NCIA ORRÊ AR C N O A C ESTIBUL NO V RANDE? ÉG

OS CO NTE COMP ÚDOS SÃO LICAD OS?

VOCÊ JÁ SE IMAGINA NA UNIVERSIDADE?

! e r a c i n u m Leia o Co 15 ANOS FAZENDO HISTÓRIA. Muito mais que informação. Clécyo Albertho de Sousa / Rubiane Kaminski


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política RIO IGUAÇU É UM DOS MAIS POLUÍDOS DO BRASIL

64,9% DOS MORADORES DA CIC É DE MIGRANTES DO INTERIOR

Migrantes são a maioria Para urbanista, Curitiba não é cidade sustentável em moradias irregulares Premiada, capital ainda precisa evoluir Pólo atrativo: Curitiba atrai migrantes em busca de emprego

Curitiba tem mais de 1,7 milhão de habitantes. Desse total, 13,7% estão morando em ocupações irregulares. De acordo com o censo demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2000, 64,90% da população da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), uma das regiões da cidade com maior número de ocupações irregulares, é de migrantes do interior do Paraná. O gestor público e migrante José Ortiz Lins, que mora há 25 anos na Vila Sabará (CIC), estima que 80% da população em regiões irregulares seja formada por migrantes, principalmente oriundos do interior do Paraná. O restante é formado por casais novos, de baixo poder aquisitivo, que nasceram na região. De acordo com doutor em Estudos Urbanos Tomás Antônio

Moreira, Curitiba é município sede, destino de migração de outras regiões do estado. O arquiteto afirma que esses migrantes têm, como principal característica, ser parte da população mais trabalhadora, de classe média baixa. A cidade é atraente pelo fato de que desde os anos 70 há um planejamento urbano forte, empregabilidade e boa qualidade de vida. Porém, segundo o urbanista, essa é a realidade de apenas uma parte da capital. José Ortiz Lins, gestor público, conta que os migrantes mudam-se para alcançar o sonho de melhorar a vidae em uma grande cidade, mas acabam tendo que se estabelecer onde o custo é viável. Um exemplo é o CIC, no qual muitos migrantes aglutinaram-se nos arredores das fábricas. “A maioria da

Ocupação irregular de terra é fruto de falta de planejamento

Fotos: Laura Sliva

Mais de 16% das moradias do CIC e do Cajuru são irregulares

população de baixa renda se concentra lá”, diz Tomás Antônio. Segundo ele, há dois motivos para as ocupações: o primeiro, um longo período que Curitiba ficou sem políticas habitacionais. O segundo, a política atual empreendida em tais locais não daria conta da demanda populacional. “A migração para ocupações irregulares só deixará de existir quando houver uma política regional que procure estabelecer um desenvolvimento econômico em outros municípios”, afirma o arquiteto. Favelização conceitua uma ocupação espontânea, com organização desestruturada. Diferencia-se da ocupação irregular, que geralmente é fruto de indivíduos que ocupam umm loteamento organizado. Geralmente não há água, nem luz e os moradores do local não possuem documento de propriedade. Tomás Antônio conta que o padrão brasileiro é a irregularidade, fruto de falta de planejamento e atenção a essa parte da população. A Companhia de Habitação de Curitiba (Cohab) realiza desde 2007 um Plano de Regularização Fundiária, que visa a preservação do meio ambiente e melhoria de qualidade dos moradores. Porém, está retirando e reassentando de forma polêmica alguns habitantes de áreas de risco. O morador e migrante do norte do Paraná, João Batista Anacleto da Silva, 30 anos, ressalta que “O Beto (Richa) diz que deu a casa, mas todo mês tem que pagar”. Ele morava em uma casa regularizada de seis cômodos no Sabará. Agora está numa casa pequena, de 30m ², com goteiras, que acumula lixo nas ruas, as cartas não chegam com periodicidade e há proliferação de ratos. As prestações comprometem 25% da renda familiar e o tempo estimado para pagamento é de 15 a 20 anos. Laura Sliva Mário Costa Jr

Lixo e esgoto de comunidades carentes são jogados nos córregos

Apesar de Curitiba ter recebido em abril o prêmio Globe Award Sustainable City, que elege a cada ano a cidade mais sustentável do mundo, sua responsabilidade ambiental é questionada por especialistas. “Isso é apenas um retrato de nossa própria sociedade, é assim que tratamos o meio ambiente da capital”, diz o tenente da Defesa Civil Estadual, Eduardo Gomes Pinheiro, 31 anos. Ele se refere ao Rio Belém, cuja área de preservação não escapou do lixo. O Rio Iguaçu é outro exemplo, um dos mais poluídos do país. “Falta essa cultura para a população, esse cuidado com o próprio meio em que vivemos. Não há conscientização dos habitantes”, afirma Nelson de Lima Ribeiro, 44, inspetor da Defesa Civil de Curitiba. Devido a esse descuido, diversos alagamentos ocorreram em abril de 2010 e a população mais afetada é a de invasões. Manter a qualidade ambiental dos rios e possuir políticas sólidas, que envolvam a população na prática diária da sustentabilidade, são características de uma cidade sustentável, de acordo com o doutor em Estudos Urbanos, Tomás Antônio Moreira. “Curitiba está no caminho de se tornar uma cidade sustentável, mas ainda não é”, afirma.

“Um time de futebol ganha o campeonato, mas nem por isso a equipe é excelente. O mesmo ocorre com a capital paranaense, a cidade ganha prêmios, mas continua tendo uma série de problemas em todas as áreas”, afirma o supervisor de planejamento do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), Ricardo Bindo, 59 anos. Sidney perdeu para Curitiba na premiação. Porém, há dez anos, conseguiu promover uma Olimpíada sustentável, preocupação inovadora que previa a sustentabilidade da cidade também durante o evento. Segundo especialistas, Curitiba até se assemelha a uma cidade modelo no quesito de transporte público e área verde por habitante, porém a reciclagem, o saneamento e o lixo não se comparam a estrutura de cidades do Primeiro Mundo. Um exemplo é o aterro da Caximba, situação ambientalmente alarmante. De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente, os habitantes do município produzem em média 1800 toneladas de lixo por dia. Todos os resíduos sólidos de curitiba vão para o aterro, que está lotado, já contamina o lençol freático do Rio Iguaçu e afeta a população. Laura Sliva Giancarlo Andreso


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política

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REGIÃO METROPOLITANA E BAIRROS DA ZONA SUL DE CURITIBA SE DESTACAM POR DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO URBANO

Curitiba já não tem mais terrenos “O previsto é que mais um milhão de moradores venha até 2020, ocupando 18 mil hectares de terra”, diz urbanista

Curitiba não possui mais terrenos disponíveis. Ainda assim, de acordo com Carlos Hardt, doutor em Gestão Urbana, a migração para a capital e região metropolitana não dá sinais de terminar em um futuro próximo. “O previsto é que mais um milhão de moradores venha até 2020, ocupando 18 mil hectares de terra”, disse Hardt. A área livre calculada pelo Plano de Desenvolvimento integrado da Comec é de 28 mil hectares. O problema é que grande parte deste espaço consiste em terrenos privados, ou seja, o dono pode escolher colocálo a venda ou não. Hoje, os poucos terrenos disponíveis estão em fase de venda. Plínio Gonzaga Filho, empresário do ramo imobiliário, não considera isso consequência de inchaço populacional e sim de desenvolvimento. Afinal, segundo dados do IBGE, esta é a região que mais se desenvolve desde a década de 70 e que oferece terrenos mais baratos. Jacir Albini, gerente

Fonte: Inpespar (Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominial)

de uma imobiliária local, concorda: “Mesmo sendo altos, os preços dos imóveis aqui são um dos mais baratos dentre as capitais”. Os bairros mais procurados são Portão, Campo Comprido e Capão Raso. Os motivos são a

proximidade da Linha Verde e a evolução da indústria e do comércio, que têm gerado ofertas de emprego. Na Região Metropolitana, o fluxo migratório é mais forte em São José dos Pinhais, uma das dez maiores cidades do Paraná, dando lugar a

Colombo e Araucária. Apesar do crescimento, para manter o selo de “Cidade Verde”, o governo precisa investir em planejamento urbano. Para Carlos Hardt, isso já começou a ser feito, mas não trouxe resultados concretos.

“O desenvolvimento completamente sustentável é uma utopia, mas, comparando com outras capitais, Curitiba é a que mais se destaca nisso”, diz. E explica: “O que está acontecendo é uma ocupação dos espaços vazios, o que não interfere nos parques e áreas de preservação, como Passaúna e Iguaçu”. (ver matéria abaixo) A preocupação dos empresários é que haja um foco exagerado sobre o meio-ambiente. Segundo Plínio, os parâmetros de manutenção da área verde nacionais são injustos. “Logo não se poderá mais construir”, afirma. O preço dos imóveis será valorizado e os migrantes não conseguirão pagar. Com isso, podem ocorrer invasões, acarretando violência, desemprego e formação de favelas.

Camila Toppel Marcela Lorenzoni

BIÓLOGA VÊ CONSTRUÇÕES DE CONDOMÍNIOS COMO AMEAÇA ÀS ÁREAS PRESERVADAS DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA

“Desde a década de 70, Curitiba investe em políticas eficientes e tem um planejamento focado no meio ambiente”, afirma a coordenadora da Educação Ambiental de Curitiba Leny Mary Toniolo. Em contrapartida, a bióloga Elenise Angelloti da ONG Condomínio da Biodiversidade, acredita ser impossível conciliar as atividades econômicas com a proteção ambiental, ou seja, o desenvolvimento sustentável. De acordo com Elenise, a falta de terrenos em Curitiba cria uma pressão sobre o meio ambiente. Essa pressão está na motivação para a construção de condomínios em áreas ainda preservadas. Mesmo nas cidades da Região Metropolitana de Curitiba como Cerro Azul, regiões ainda pouco desmatadas, existe a idéia da construção de condomínios, “afinal, condomínios estão na moda” disse Elenise.

Elian Woidello

95% das áreas presevadas em Curitiba estão localizadas em terras particulares

Cerro Azul, localizada na RMC ainda possui área verde preservada

Essa ideia se contrapõe a necessidade crescente de moradia em Curitiba, acarretada pelo grande fluxo de migração. Para o Doutor em Gestão Urbana, Carlos Hardt, isso não significa necessariamente causar danos ao meio ambiente. “O crescimento popula-

cional pode acontecer sem causar desmatamento. Mas o problema de um crescimento rápido, é a falta de infra-estrutura”, explica Hardt. Segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba, as ruas da capital contam com 300 mil árvores. E Curitiba desenvolve

programas de conscientização para mostrar à população a importância de respeitar e valorizar a natureza. O principal projeto é a Biocidade Urbana, criada em 2007 com o intuito de preservar a área verde mesmo nas regiões mais urbanizadas da capital. Foi devido a esse projeto que Curitiba recebeu o prêmio de cidade mais sustentável do mundo, o Globe Award Sustainable City. Porém, apesar do destaque internacional, essa preservação se aplica a somente 5% de terras, já que 95% estão em mãos particulares. Esses proprietários recebem incentivos da prefeitura, como redução dos impostos, mas mesmo assim está com eles a decisão de construir nessas áreas.

Camila Petry Francielle Ferrari

No Paraná... - Entre 2000 e 2005, foram 28 mil hectares derrubados. No período de 2005 a 2008, foram dez mil. - De cada dez hectares de Mata Atlântica perdidos no Brasil, um foi em território paranaense. - O Paraná já teve 97% de sua área coberta por floresta atlântica. Hoje restam apenas 10% disso – concentrados na Serra do Mar e no Parque Nacional do Iguaçu.


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socie

Curitiba, maio de 2010

PLURALIDADE DE HERANÇAS CULTURAIS E MUDANÇAS MIGRATÓRIAS CARACTERIZAM O CURITIBANO

Diversidade cultural impossibilita identidade A cidade de Curitiba é influenciada por várias culturas de diferentes regiões, e dessa forma, definir uma identidade para o curitibano não é algo fácil. A feira do Largo da Ordem, programa típico de domingo na capital paranaense, é um exemplo desta mistura cultural: restaurantes típicos paranaenses dividem espaço com artesãos e comidas de outros estados e até mesmo de outros países. A ABRAA, (Associação Brasileira de Artesãos e Artistas), fundada em 1994 no Largo da Ordem, conta com 40 artesãos cadastrados, sendo metade nascidos fora da capital. A historiadora e assessora pedagógica Vanessa Maria Rodrigues Viacava, 30 anos, conduz uma pesquisa que discute a viabilidade de uma identidade para o curitibano. Segundo ela, “vale ressaltar que esta imagem está dentro de uma política pública. A imagem do curitibano

Richard Roch

Reflexo de uma cidade de migrantes, Feira do Largo conta com artesanatos e comidas típicas de outros estados e países

Feira do Largo da Ordem: Pluralidade naquilo que se vende reflete no que é Curitiba

foi pensada, criada. Iluminam-se algumas culturas como a ucraniana e polonesa, mas diminuem outras como a indígena e africana”. O artesão Roberto Avelmo Navarro, 40 anos, é peruano e já

viajou por grande parte do Brasil. “De todas as cidades que andei, Curitiba é uma das que mais vejo diversidade cultural, mais vejo pessoas diferentes”. Quanto ao curitibano, o define como “um

europeu bem brasileiro”. Por outro lado, a professora Joelma Barbosa, 42 anos, nascida em Foz do Iguaçu, não teve uma boa primeira impressão da cidade em sua chegada. “Ouvia muito o termo curitiboca.

Quando cheguei aqui descobri. As pessoas são muito quietas”. Sobre a imagem do curitibano ser uma pessoa fechada, o professor de História da UFPR Denisson de Oliveira, 46 anos, destaca que “ver somente o morador daqui como uma pessoa fria é não enxergar isso nas populações de outras grandes cidades. Ocorre a desumanização das relações nas multidões”. Além deste aspecto, Oliveira destaca a dificuldade em se definir uma identidade ao curitibano pela grande mobilidade migratória característica de sua população. “Em média, a cada dez anos, Curitiba troca quase metade de sua população segundo o IBGE. Descobrir uma identidade curitibana é como enxugar gelo. Como uma cidade que troca metade da sua população pode ter uma identidade fixa?” Richard Roch Rogerio Rodrigues

PUBLICIDADE AJUDOU A FORJAR IDENTIDADE ASSIMILADA POR CURITIBA

QUILOMBO E CONGO

A propaganda institucional realizada pelas gestões municipais de Curitiba pouco influenciou nos ciclos migratórios para a capital. As campanhas publicitárias começadas pelo prefeito Jaime Lerner na década de 80, e continuadas por Rafael Greca e Cássio Taniguchi em 90, obtiveram maior êxito entre os próprios curitibanos do que entre aqueles que vêm de fora. Isto se deve ao público alvo pretendido atingir por esta publicidade. De acordo com o professor de História da UFPR, Dennison Oliveira, 46 anos, “a partir dos anos 80, começou a se disseminar nas gestões urbanas o paradigma de se fazer o marketing da cidade para atrair migrantes de alto nível social e investimentos, tanto nacionais quanto internacionais”. Segundo o professor, isto era importante durante as disputas entre os municípios

Comunidades tradicionais, localizadas na Região Metropolitana de Curitiba, sofrem grande risco de desaparecer em decorrência do aumento populacional. Grupos culturais como o dos quilombolas e congos veem suas vilas crescerem em descompasso com o número de adeptos de seus movimentos culturais. A busca de uma vida em um centro urbano, a questão fundiária e o descaso público são as principais causas para que as novas gerações não se interessem em continuar com a herança de seus familiares. Perto do distrito de Mariental, à 14 quilômetros da Lapa, se encontra a comunidade quilombola do Fexo. Líder do movimento na década de 90, Lauro Camargo, 66 anos, observa a progressiva perda da identidade africana em seu povoado. “Em 1993, fiz pela última vez a contagem das famílias. Eram quase 1.400. Hoje,

Propaganda institucional de prefeitos anteriores Lapa: Cresci teve como alvo os curitibanos e não os migrantes comunidade para atrair empresas, como as multinacionais, e não o migrante comum. “O foco nunca foi no falido, no indigente. O foco é no empresário, na classe média”. Quanto aos motivos que levam a pessoa migrar, o professor de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR, Clóvis Ultramari, de 52 anos, destaca a busca do migrante por melhorar de vida estudando ou trabalhando em grandes centros urbanos. Para ele, “não existe nenhuma comprovação científica com relação aos que migram em decorrência da imagem que Curitiba apresenta. Os benefícios dessa propaganda

trouxeram melhorias na auto-estima da cidade, do próprio curitibano. Houve um aumento na sensação de pertencimento”. Sobre o conteúdo das propagandas, os dois professores destacam a falta de coerência entre aquilo anunciado com a realidade. Para Oliveira, “a idéia da capital ecológica é um fiasco. Foi divulgado recentemente que apenas 10% do lixo é realmente tratado. Os rios curitibanos estão todos mortos, apodrecidos”. Para Ultramari, nenhuma propaganda sobrevive muito tempo se não tiver conteúdo. Desta maneira, acredita que “o sistema de transporte já foi

“O foco nunca foi no falido, no indigente. O foco é no empresário”

eficaz, só que agora está sucateado”. Segundo o próprio ex-prefeito Rafael Greca, 54 anos, a propaganda institucional de seu governo foi pensada em defesa de uma identidade curitibana. “A propaganda da cidade de Curitiba enquanto capital social ou como capital ecológica, e no meu mandato como cidade cultural, era muito mais voltada para o reforço da identidade cultural Curitibana, para a autodefesa da cidade, do que para vendê-la como destino”. Além disto, quanto à captação de investimentos, Greca destaca como a publicidade pode servir a cidade. “Não tenho dúvida de que os concertos de José Carreras e Paul MacCartney na Pedreira, em 1993, ajudaram a trazer para cá as montadoras Renault, Audi, Fiat”. Ricardo Tomasi Rogerio Rodrigues


edade

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Curitiba, maio de 2010

MAIORIA DAS MANIFESTAÇÕES DE PRECONCEITO É VOLTADA PARA O MIGRANTE DE BAIXA RENDA

Preconceito sociocultural contra migrante existe mesmo que metade da população de Curitiba não seja nascida na capital permanência, contatam a família e custeiam a volta para sua cidade. A assistente social Marcia Regina Anzolin, 37 anos, é responsável pelo atendimento. “Ouvimos muito de quem chega que a cidade não é nada acolhedora, que é só pedir uma informação que as pessoas já escondem a bolsa achando que é um assalto”. A instituição recebe em média mil migrantes por mês, sendo que a maioria destes é do interior do Paraná e do Estado de São Paulo. Apenas 30% das pessoas atendidas permanecem em Curitiba. Tendo de lidar com grande número de migrantes, a Casa da Acolhida e do Regresso por muitas vezes convida a pessoa de fora a retornar. Francisco

Muitos dos migrantes que chegam a Curitiba sofrem algum tipo de preconceito devido às diferenças socioculturais. Isto ocorre mesmo quando metade dos habitantes da cidade não é nascida na Capital. Segundo dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), de 2008, 47,7% dos moradores da capital vieram de fora. Mesmo assim, muitos migrantes se queixam do preconceito sofrido. Na maior parte dos casos, a imagem que eles têm da cidade antes de chegarem é diferente da realidade que encontram. A Casa da Acolhida e do Regresso, entidade da Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS), funciona desde 1994 oferecendo suporte aos migrantes brasileiros que chegam a Curitiba. Primeiramente fazem uma triagem e disponibilizam albergagem quando necessário. Depois de três dias, se não houver condições de

Padua, natural de Rodeiro, à 296 quilômetros de Belo Horizonte, procurou a Casa da Acolhida e do Regresso por ter dificuldades em lidar com um centro urbano grande como Curitiba. Porém, “mesmo com o bom atendimento da Casa, essa questão do regresso é complicada. Parece que a cidade não quer a gente”. A instituição não trabalha com pessoas que vêm de fora do país, e tem a instrução de encaminhá-las para seus respectivos consulados. A esperança para estas pessoas é a Pastoral dos Migrantes. O projeto é uma iniciativa da Congregação dos Missionários de São Carlos, fundada em 1985, e que em 2000 mudou o foco para os migrantes vindos da

“Ouvimos muito de quem chega que a cidade não é acolhedora”

América Latina. De acordo com Elizete Sant’ana de Oliveira, 47 anos, assistente social, e o padre haitiano Gustot Lucien, 38 anos, coordenadores do projeto, a Pastoral já recebeu migrantes de todo continente. Segundo Elizete, das 50 pessoas que procuram a casa por mês, a forma de falar é a principal queixa de preconceito. “O sotaque diferente desperta a sensação de que quem vem de fora vem apenas para tirar o trabalho de quem é daqui”. Já para o padre Gustot, que além de acompanhar as histórias também é um estrangeiro, “o pessoal leva em conta o sotaque e a cor da pele, mas às vezes um título diminui a questão do preconceito. A questão financeira conta muito para a pessoa encontrar seu espaço na cidade”.

imento da Região Metropolitana de Curitiba ameaça es tradicionais de cultura africana únicas do estado

Ellian Woidello

Outra comunidade de origem africana ameaçada de extinção é a congada da cidade da Lapa. O grupo é formado por 51 pessoas, sendo 38 pertencentes da mesma família. O representante do grupo é Ney Ferreira, que atribui grande parte das dificuldades enfrentadas ao poder público. “Nosso apoio vem mais de fora do que daqui da Lapa. A congada já esteve desativada por 17 anos. Gestões de prefeitos que não querem nada de cultura acabaram com ela. Só pensam em expandir fazendas e indústrias. Não enxergam o turismo como renda.” Ney destaca que somente com muito esforço o grupo se mantém. Dos quatro congos que existiam no Paraná, somente o da Lapa continua.

Lauro Camargo: Um dos poucos quilombolas remanescentes do Paraná

Edna Maria Leopoldo, 52, restauradora “A família do meu marido me tratava mal por ser capixaba”

Ricardo Tomasi Richard Roch

SOFREM DA FALTA DE INTERESSE DO SETOR PÚBLICO E DAS NOVAS GERAÇÕES

a população tá perto de ter dobrado. Eu ando por aí e nem mais reconheço as pessoas”. Camargo destaca o quanto este aumento populacional em Mariental não representa maior número de integrantes na comunidade quilombola: “Cresceu bastante, em moradia e população, e até em melhorias de vida. Mas o quilombo tá diminuindo. A cultura do fandango e a da querumana (dança típica paranaense) está se perdendo”. Outro aspecto apontado pelo quilombola é a questão dos loteamentos. Segundo Camargo, na década de 70, toda a comunidade dividia as mesmas terras para o plantio e a criação de animais. Porém, com ao aumento da procura de terras no entorno de Curitiba, ocorreu o cerceamento das áreas ao redor da comunidade. De acordo com o quilombola “muitas terras foram até roubadas”.

Sofreu algum preconceito por ser migrante?

Elian Woidello Ricardo Tomasi

Fanny Karina Orellana, 33 anos, artesã

“’ Ao procurar trabalho, dizem que tenho que voltar de onde vim”

Gustot Lucien, 38 anos, padre

“Nós podemos não sofrer um preconceito direto, mas há”

Edcarlos Leite Junior, 18 anos, estudante “Meus amigos pegam muito no meu, porque eu puxo demais o R”


Curitiba, maio de 2010

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turismo

ORGANIZAÇÃO E LIMPEZA SÃO FORTEMENTE ELOGIADAS POR PESSOAS DE FORA

Curitiba encanta seus visitantes

De que você não gostou em Curitiba?

Capital paranaense impressiona e é vista como cidade-modelo pela maior parte dos turistas isso vai acabar”, afirmou. Os turistas costumam comparar Curitiba e os curitibanos com suas cidades de origem. De acordo com Luchak os curitibanos se parecem fisicamente com os canadenses. A médica Raquel Tavares, 40 anos, que morou três anos nos Estados Unidos e agora mora em Brasília, disse que no Brasil as pessoas têm costumes diferentes para se escolher onde vai viver. “Brasileiro quer nascer, viver e morrer no mesmo lugar. Por isso sempre dá um jeito de morar num lugar decente, como Curitiba, por exemplo”, comentou Raquel. Os turistas não param de se surpreender com Curitiba, mesmo não sendo sua primeira visita à capital. Ângela Santana, 41 anos, analista de qualidade, mora em Salvador e veio pela terceira vez a cidade. Segundo ela a capital paranaense investe muito em educação e infraestrutura, dispondo de faculdades e escolas de alta qualidade. “Das outras vezes que vim, participei de alguns processos de seleção de funcionários da minha empresa e é notável o nível da educação dos curitibanos”, comentou Ângela. Além de visitar parques e museus, comer boa comida é essencial. E na opinião dos turistas, Curitiba não deixa a desejar nesse quesito. Os restaurantes mais procurados são os de Santa Felicidade, com gastronomia diversificada, mas outros tipos de comida também são apreciados. Para a pernambucana Adriana, o barreado é um dos melhores pratos típicos que já comeu. “Anotei a receita e com certeza vou levar para a minha terra”, afirmou.

“É notável o nível de educação dos curitibanos”

Ana Luiza Francisco Duran Sodré

“Tem muitas ruas esburacadas, principalmente perto de rodovias de acesso” Fábio Martins, 32 anos, designer, Rio de Janeiro (RJ)

Amanda Hecke

Quem não conhece Curitiba, encanta-se no momento em que chega aqui. Turistas admiram desde a limpeza da cidade até o nível de seus restaurantes. Pontos como o Jardim Botânico e Ópera de Arame são alguns dos principais locais para se encontrar o maior número de turistas. Um dos motivos que mais atrai as pessoas de outras cidades são os títulos que a capital possui, como por exemplo, o de cidade-modelo. Apesar de ser conhecida como uma cidade dotada de cidadãos pouco sociáveis, muitas pessoas se surpreendem com o tratamento recebido pelos curitibanos. Segundo a pernambucana Adriana Melo, 43 anos, engenheira e estudante de Psicologia, as pessoas são muito receptivas. “Aqui foi o primeiro lugar onde o taxista indicou o caminho que ficaria mais barato”, contou. Adriana ainda não conhecia a cidade, mas acredita que Curitiba é um ótimo lugar para se morar. A limpeza e a organização da cidade também chamam a atenção dos turistas. O contador público, Carlos Szperling, 48 anos, natural de Buenos Aires, disse que não se pode comparar Curitiba à sua cidade natal. “Curitiba é infinitamente mais limpa e organizada que Buenos Aires”, afirmou Szperling. Além disso, a segurança também foi elogiada pela canadense aposentada Kay Luchak, 67 anos, que sempre vem a Curitiba para visitar o filho e as netas. “Aqui as pessoas vão aos parques até de noite. No Canadá isso não acontece, os parques estão quase sempre vazios”, disse Kay. Segundo seu filho, Matheus Luchak, 42 anos, é importante que Curitiba não perca o título de cidade segura e limpa. “Um dos diferenciais daqui é que as pessoas estão sempre nas ruas, se a cidade ficar violenta demais

Turista admira o Museu Oscar Niemeyer em sua primeira visita a Curitiba

CURITIBA DESPERTA SAUDADE DE QUEM A DEIXOU

Curitibanos deixam a cidade e sentem falta

As pessoas deixam Curitiba, geralmente, por motivos profissionais. Foi o que aconteceu com Marina Laporte Böni, 17. Ela se mudou no começo de 2007 para Balneário Camboriú, em Santa Catarina, quando seu pai conseguiu um emprego melhor. Ela conta que, no começo, a transição foi difícil, mas agora está gostando de morar lá e não sabe se voltaria. “Eu gosto bastante das duas cidades, elas são diferentes, mas as duas têm suas qualidades”, afirmou. A modelo Jéssica Pacheco, de 19 anos, que agora mora na Malásia, também saiu da cidade a trabalho. Para ela, a capital paranaense é muito mais civilizada e a comida é muito melhor. “Eu sinto muita falta dos restaurantes. Por aqui é tudo muito estranho, a comida é diferente. Os parques e shoppings também”, declarou a modelo. Quem já saiu de Curitiba e voltou pode ter uma visão ainda mais ampla da diferença que a cidade faz. É

o caso de Andressa Pires Alves, de 18 anos, que ainda criança se mudou para Medianeira, interior do Paraná, e voltou para a capital, onde estudou durante 3 anos. Segundo ela, o aspecto cultural é o que mais faz falta, principalmente cinemas, teatros e livrarias. “No interior as pessoas não são tão bem informadas, não lêem muito e não se interessam por essas coisas”, disse Andressa. Essas mudanças ainda ficam na imaginação de Arthur Kouten Nogacz, de 17 anos. Ele aguarda ansiosamente a sua mudança para Vancouver, no Canadá. Seus pais tomaram essa decisão pensando numa melhor educação para os filhos. Ele acredita que vai se adaptar bem, pois já gosta do clima frio. “Só volto para visitar os amigos”, concluiu. Amanda Hecke

“A programação cultural não é muito completa, falta diversidade” Adriana Passos, 28 anos, publicitária, Ponta Grossa (PR)

“A identificação dos bairros e das ruas é meio confusa” Evilásio Pereira, 50 anos, comerciante, Cascavel (PR)

“Aqui é perigoso, violento, prefiro minha cidade” Maria de Lurdes Garcia, 60 anos, dona de casa, Conisa (MT)


Curitiba, maio de 2010

esportes

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ESTRANGEIROS DIZEM SER BEM RECEBIDOS E NÃO TER PROBLEMAS DE ADAPTAÇÃO

Jogadores migrantes são grande destaque em campos de futebol

O número de equipes profissionais que buscam jogadores de futebol de outras cidades e países aumenta a cada ano. Nos três principais Clubes de Futebol do Paraná o número de jogadores curitibanos é muito pequeno. O Coritiba conta com quatro jogadores, o Paraná com dois e o Atlético Paranaense não possui nenhum jogador da capital. Isso deve-se principalmente ao fato de muitos jogadores curitibanos migrarem para times de outros estados. A atual aposta são os jogadores estrangeiros, que estão ganhando cada vez mais espaço nos grandes clubes brasileiros, como é o caso do Clube Atlético Paranaense que contratou o colombiano Edwin Valência e o argentino Javier Toledo, do Coritiba Futebol Clube, que conta com o argentino Ariel Osten e o angolano Geraldo Bartolomeu e do Paraná Clube que possui em sua equipe o japonês Yohei Iawasaki. Edwin Valencia, 25 anos, que já está há três anos no Brasil, conta que veio para Curitiba somente pelo futebol, recusando outra proposta oferecida por uma equipe da Ucrânia. “Seria uma ótima oportunidade, pena que é muito longe de casa. O Brasil foi a melhor opção”. A dificuldade de Valencia foi se adaptar ao idioma, afinal era difícil a conversação com as pessoas, com o técnico e com os jogadores, o que causou no começo, muitas brincadeiras. “Eles só faziam piadas. O que me ajudou foi que na época tinha outro colombiano no time. Isso colaborou bastante”, conta o jogador. Javier Toledo, 24 anos, devido à sua nacionalidade, ficou receoso em aceitar o convite para jogar no Atlético. “Fiquei com medo de morar no Brasil por ser argentino, mas isso não foi problema. Os brasileiros são os melhores do mundo. É a realização de um sonho jogar aqui”, falou o atacante do time. Toledo tem saudades da Argentina, mas pretende continuar no Brasil, pois adora o seu time e as brasileiras. A lei Existe uma lei no Brasil e na Europa, que não permite mais de três estran-

Fotos: Larissa Mattos

Quando contratados pelos clubes, os atletas migrantes recebem toda assistência necessária

Valencia: “Adoro morar em Curitiba”

Yohei: “Chove demais em Curitiba”

Javier: “Adoro mulheres brasileiras”

Neto: “Não troco Curitiba por nada”

JOGADOR DO COXA TEM PÉS HOMENAGEADOS

Alex brilha na Turquia Alexsandro de Sousa, ex jogador do Coxa, tem grande apoio da torcida e tornou-se popular. A prova disso foi Mural Dural, 36 anos. Dural é torcedor do Fenerbahçe e, após perder os pés em um acidente, fez suas próteses com base no molde dos pés do ex-jogador do Coritiba.“Fui pego de surpresa. Esse rapaz necessitava escolher os pés de alguém como molde e os meus foram os escolhidos. Nem pensei, aceitei na hora, e hoje ele anda com uma cópia dos meus pés. Foi uma satisfação enorme poder ajudá-lo”. Alex nasceu em Curitiba no dia 14 de setembro de 1977. Jogou profissionalmente no Cori-

tiba durante dois anos, disputando 124 partidas e marcando 28 gols. Um momento inesquecível foi o jogo no qual o Coritiba venceu o Atlético-PR em 3x1. Com este resultado o Coxa foi classificado para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Desde 2004 joga no Fenerbahçe da Turquia. O time foi campeão turco em 2005. “Quando saí do Cruzeiro, em 2004, rumo ao Fenerbahçe, nunca passou pela minha cabeça ser tão reconhecido”, contou Alex. Marisol Munari

geiros em campo, mesmo que o time tenha um número maior de jogadores. Quando se contratam estrangeiros, os clubes acertam detalhes antes de o jogador chegar. Moradia e despesas são responsabilidades do time. Geraldo Bartolomeu, 18 anos mora no alojamento do estádio do Couto Pereira, onde divide quarto com outros jogadores. Feliz com o momento que está vivendo, o jogador comemora: “tenho um carinho imenso pelo Coxa. Me apeguei ao pessoal que trabalha aqui: as tias da lavanderia, as tias que servem as refeições, os vigias...”, contou o jogador que está no Coritiba há um ano e se sente o novo xodó da torcida após seu primeiro gol profissional no Atletiba. “Acredito que isso seja por eu ser um jogador estrangeiro e por ter tido uma história muito difícil até chegar aqui”, conta Geraldo. Yohei Iawasaki, 23 anos, lateral do Paraná, também se sente satisfeito com tudo que o time tem lhe proporcionado e disse que Curitiba superou suas expectativas. Yohei teve poucas dificuldades na cidade e falou que é muito bom para o Japão ter um jogador de futebol no Brasil. “Existe aquela crença de que japonês não sabe jogar, mas estou aqui para provar que sabemos sim”. Os torcedores paranistas concordam. Eduardo Fabris, 21 anos, acredita que ter um jogador japonês no time trás credibilidade e jogadores estrangeiros fazem o futebol brasileiro crescer. Já Luciano Sarraff, acha interessante ter um estrangeiro no time, mas não acha que a nacionalidade faz diferença, e sim o jogador ser bom ou não. O goleiro do Atlético Neto, 21 anos, veio de Minas Gerais e está há oito anos em Curitiba. Sempre sonhou em jogar na equipe principal do Atlético e sente muito orgulho do seu time. Não trocaria Curitiba por nenhuma outra cidade e disse que valeu a pena ter vindo de tão longe.

Giovanna Miqueletto Juliano Oiveira

Punhobol: cada dia mais curitibano • O Punhobol, de origem alemã, é praticado em Curitiba há mais de 50 anos. Um dos primeiros esportes do mundo, possui no Brasil cerca de 5 mil praticantes, sendo jogado principalmente nos estados do Sul. O clube curitibano Duque de Caxias é um dos principais times no cenário mundial. O Brasil é bicampeão na modalidade (1999 e 2003). O esporte semelhante ao vôlei é jogado na grama e a bola pode quicar uma vez no chão, como no tênis. Paraná é destaque no Badminton • O esporte nasceu na Inglaterra e chegou ao Brasil em 1988. Curitiba foi escolhida para sediar as competições do circuito nacional por se localizar no centro de todos os estados participantes. Os paranaenses ficaram com o maior número de pódios e títulos no campeonato. Le parkour desde 1980 no Brasil • O parkour começou na França em 1980 e chegou ao Brasil nos anos 90. Consiste no deslocamento com movimentos, no qual a intenção é usar elementos de áreas urbanas, como muros, blocos de concreto e barras de ferro. 30 anos de rugby • De origem inglesa, o rugby transformou as tradições do futebol, usando o toque das mãos. É praticado em Curitiba há quase 30 anos dentro do Parque Barigui. Destaque para o time Curitiba Rugby Clube.


Curitiba, maio de 2010

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educação

ESTUDANTES EUROPEUS PREFEREM O SUL DO PAÍS COMO DESTINO PARA A REALIZAÇÃO DE INTERCÂMBIOS

Curitiba é preferência para os intercambistas

O Brasil é um destino disputado entre estudantes de todo o mundo que pretendem fazer intercâmbio, seja este feito por uma agência privada ou ONG. Curitiba é uma localidade atraente aos olhos destes jovens estrangeiros, principalmente originários do hemisfério norte. Alguns vêm da África, outros da Ásia, muitos são do Velho Continente e outros são da própria América. O programa vem crescendo em popularidade a cada geração, principalmente da década de 90 em diante. Seja de cunho acadêmico ou de trabalho, a capital paranaense não ficou fora deste cenário de aprendizagem e enriquecimento cultural. A Europa é de onde vem a maioria dos intercambistas, uma parcela significativa destes prefere cidades dos estados da região sul por razões simples, como um clima mais ameno e uma cultura menos contrastante. A Alemanha manda

mais de 100 estudantes ao país por ano, sendo a nação que mais exporta estrangeiros ao Brasil. Em segundo lugar vem os Estados Unidos com cerca de 90 indivíduos por ano em média. Curitiba pela sua popularidade no exterior e forte influência de imigração européia a b s o r v e uma parcela expressiva d e s t e s números. Uma das empresas privadas que seleciona famílias para hospedarem tais jovens é a Travelmate, presente também em outras cidades de Santa Catarina. A agência faz parceria com famílias curitibanas que mandam seus filhos para estudarem por 6 ou 12 meses no exterior. A rotatividade

é essencial, ou seja, deve-se estar preparado para hospedar mais de um intercambista. Na AFS (American Field Service), ONG pioneira no mundo quanto a este tipo de programa, todas as famílias são voluntárias e não recebem nenhum tipo de benefício financeiro por abrigar alunos estrangeiros. Isabel Henklein de 22 anos, estudante de Direito e voluntária da AFS, monitora e dá amparo a estas pessoas que chegam em Curitiba, “após a chegada do ‘gringo’, como chamamos os intercambistas, a AFS dá todo o suporte. Família, escola, amigos ajudam a explicar os dois lados das diferenças culturais”, afirmou a estudante. A questão da sobrevivência em Curitiba é um ponto de que

“Após a chegada do intercambistas, a AFS dá todo o suporte”

ALUNOS BUSCAM IMOVÉS QUE OFEREÇAMA PRATICIDADE E ECONOMIA

Estudantes preferem morar no Centro

A procura crescente de imóveis por estudantes fez com que as imobiliárias facilitassem a locação para que os mesmos tenham condições de pagar seu aluguel. A maioria prefere o Centro, e a busca não para de aumentar. O motivo é a redução de gastos e o aumento da praticidade. DeacordocomFernandaRibeiro, gerente de locações da Imobiliária Galvão (empresa com mais de 40 anos de mercado), a procura de imóveis por esses jovens começa já em dezembro. O fechamento de contratos acontece normalmente em janeiro, mesmo que a maioria das aulas tenha início apenas no final de fevereiro, ou começo de março, estes que geralmente têm duração de um ano. Com esta grande demanda, as empresas tiveram a iniciativa de facilitar tais contratos para esse público. Permitindo assim que os estudantes possam alugar seus apartamentos, contanto que tenham

uma renda mensal ou tendo seu responsável como fiador. A venda dos imóveis para vestibulandos e universitários também cresceu. A chamada composição de renda familiar permite que o alunos comprove renda juntamente com seus pais pondo o imóvel em seu próprio nome. Os prazos de pagamento podem chegar a até 360 meses, financiando até 80% do imóvel e fazendo com que o preço da compra acabe saindo próximo ao valor de locação. O bairro mais procurado é o Centro, onde se obtêm a maior busca de imóveis por estudantes, segundo as Imobiliárias. A preferência é por locações de apartamentos de dois ou três quartos, em que os ocupantes assumem taxas que variam em torno de R$ 650 a R$ 1.600, segundo Vinícius, corretor da imobiliária Apolar. Ele afirma que “18% dos apartamentos locados no Centro são para estudantes”. Ao redor de universidades

são encontradas mais opções de locações. Um exemplo é o Ceuc, (Casa dos Estudantes Universitários de Curitiba), que é subsidiada pela UFPR. Nesse local são aceitos somente alunos da universidade. Para conseguir vaga o aluno deve participar de uma seleção que é realizada pelos moradores, que em um mês recolhem os documentos dos concorrentes. “Nessa análise entra: distância de onde vêm, renda mensal e perfil”, explica Lariessa Lima, estudante de engenharia da UFPR. A universidade além de oferecer moradia de baixo custo para os seus alunos distribui bolsas de alimentação e permanência para ajudar nas despesas diárias dos mesmos. A diversidade de moradia é um grande fator para a escolha do estudante pela cidade de Curitiba. Totalizando em média 40% dos alugueis da capital. Letícia Leal Rhanele Kiatkoski

Lucas Gualberto

Agências privadas e ONGs oferecem palestras de sobrevivência que orientam os intercambistas para boa a adaptação na capital

Material dado pela Travelmate com dicas para intercambistas

os imigrantes não estão completamente cientes. Sendo muitas vezes provenientes de países com sistemas de segurança pública e infraestrutura diferentes, o intercambista tem de se adaptar ao Brasil. Palestras chamadas de “Survival” informam, tiram dúvidas e deixam o aluno precavido quanto à sua segurança. Dicas à quem recorrer

em situações de emergência e locais que devem ser evitados, são disponibilizadas pelos sites das agências ou ONGs.

Lucas Gualberto Marília Alberti

O que você vê de melhor em Curitiba?

“A cidade é grande, tem muitos parques, ônibus barato. Só chove demais” Linda Stephan, 16, Münster, Alemanha

“Acho que curitibanos são educados e respeitam o espaço do outro” Francisco Lopez, 20, Caracas, Venezuela

“Tem muitas árvores, parques, me faz lembrar muito a Pôlonia” Krzysiek Gawronski, 22, Krakow, Polônia

“Para estudante, é tudo muito prático, mas não perfeito” Alexandra Böhm, 21, Rostock, Alemanha


Curitiba, maio de 2010

cultura

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MIGRAÇÃO RECENTE IMPULSIONA O AUMENTO DE BARES E RESTAURANTES TÍPICOS NA CAPITAL PARANAENSE

Cresce opção de restaurantes Estabelecimentos adaptam sua culinária para satisfazer o paladar de curitibanos e migrantes

Elizabeth Bannwart Jéssica Camille Priscila Cancela

Bar Madrid oferece música e decoração características da Espanha

ORIGINALIDADE NO FORRÓ ESQUENTA A NOITE NA CAPITAL PARANAENSE

Ritmo nordestino conquista espaço em Curitiba e atrai migrantes e locais

O forró é um ritmo originalmente nordestino, mas que conquistou seu espaço na noite curitibana. Motivados pelo saudosismo, os migrantes que vieram estudar ou trabalhar na capital paranaense passaram a procurar casas noturnas que tocam esse estilo. Apesar de poucos espaços que oferecem o ritmo, o Aoca Bar é uma alternativa. Todas as quintasfeiras a casa é embalada pelo Trio Destilado. A banda é composta por dois gaúchos, um cearense e um curitibano. O público varia de pessoas de todo o Brasil. A auxiliar de dentista Grazieli Roque, 30 anos, que veio de Minas Gerais a Curitiba para trabalhar costuma frequentar as casas de forró. Ela acredita que o forró não combina com Curitiba. “O povo curitibano é muito frio enquanto o forró é um ritmo

• Bar do Alemão (Schwarzwald) – Famoso pelo melhor chope de Curitiba, é ótimo para um happy hour ao ar livre. Rua Doutor Claudino dos Santos, 63. Telefone: 3223-2585. www.bardoalemaocuritiba. com.br

• Bagdá Café - O bar se transformou em casa de espetáculos da cultura árabe e passou a ser conhecido como ponto de encontro das mais diversas etnias. Al. Prudente de Moraes, 130. Telefone: 3336-2421. w w w. b a g d a d c a f e . com.br

Jéssica Camille

curitibano, mas não abre mão de certas iguarias mexicanas como o tradicional guacamole. Já Romian Alexandro Guancino, 40 anos, proprietário do Bar Madrid, afirma: “Nosso cardápio não deixa de ser uma releitura da cozinha espanhola, apesar disso acho importante ser o mais fiel possível”. O empresário comenta que quando veio morar em Curitiba a cidade tinha pouquíssimas opções de happy hour, sendo o seu restaurante o primeiro a oferecer um ambiente que mescla comida e entretenimento. “Curitiba vem crescendo rápido e sua gastronomia está evoluindo junto”, ele conclui.

Jéssica Camille

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) divulgou em uma pesquisa que há dez anos existiam apenas 150 bares e restaurantes na capital, atualmente esse número cresceu para aproximadamente 15 mil estabelecimentos. A variedade de restaurantes típicos também cresceu e vai da culinária regional a internacional. Isso ocorreu principalmente para atender a necessidade dos migrantes e imigrantes de se aproximarem de sua cultura em uma cidade com costumes diferentes. De acordo com Rubens Guadagnin, dono do restaurante O mineiro, a comida precisa se adequar ao paladar tanto dos curitibanos como dos migrantes que moram em Curitiba. Um exemplo disso é a fruta pequi, muito presente na culinária da região nordeste, centro oeste e norte de Minas Gerais. É uma fruta peculiar em razão dos inúmeros e minúsculos espinhos encontrados debaixo da polpa. “É um alimento que requer muito cuidado ao ser consumido, os curitibanos não estão acostumados e provavelmente iriam se machucar”, diz Guadagnin. Ele conta que vários clientes mineiros sentem falta tanto da fruta como de outros pratos tradicionais. O mineiro Lívio Pereira, 19 anos, estudante de Engenharia Química na PUCPR, que mora em Curitiba há um ano e meio, diz procurar restaurantes que oferecem uma refeição parecida com a de sua região. “É uma forma de matar a saudade do próprio estado e não apenas da comida”, declarou o estudante . Compartilha da mesma ideia Marcos Poli, proprietário do restaurante Mexicano BrasMex Grill. Ele acredita que as pessoas que frequentam seu estabelecimento não vão apenas pela comida, mas também pela proximidade com a cultura mexicana. Assim como o restaurante mineiro, sua culinária é adaptada para o paladar

Bares típicos

Casal dança ao som do Trio Destilado no Aoca Bar

quente”, diz Grazieli. Já para o empresário pernambucano, Diego Caffé, 31 anos, o forró tem tudo a ver com Curitiba, “clima frio, forrozinho agarradinho é ótimo!”. Gladis Selaje, 43 anos, integrante do Trio Destilado, diz que a maioria do público busca uma manifestação

mais genuína do forró.“O forró em Curitiba é mais tradicional do que na Bahia. Lá o forró tem um apelo mais comercial, aqui isso não é bem aceito”, diz Selaje. Elizabeth Bannwart Jéssica Camille

• Peggy Sue – A lanchonete traz para Curitiba a atmosfera de Marylin Monroe e Elvis Presley. Hambúrgueres, batatas fritas e ilk shakes tipicamente americanos são a melhor pedida. Rua Bispo Dom José, 2295. Telefone: 30149615. www.peggysue. com.br •

Mexicano Bras-Mex Grill – O restaurante se adaptou ao paladar brasileiro inovando a cozinha mexicana. O próprio cliente monta os seus tacos. Rua Chile, 2135. Telefone: 3333-0300. www.restaurantemexicano. com.br

• Bar Madrid – Um ambiente aconchegante, oferece pratos que se assemelham ao máximo do que é servido na Espanha. Exibe shows de dança flamenca. Rua Chile, 2067 Telefone: 30291717. www.barmadrid. com.br.


Curitiba, maio de 2010

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cultura

ESPAÇOS DE CURITIBA RECEBEM NOMES DE REGIÕES QUE FAZEM PARTE DA NOVA CULTURA PARANAENSE

Pedaços do mundo dentro de uma cidade Logradouros públicos de Curitiba são batizados com nomes de países, estados e cidades que têm participado da migração atual Já no bairro Água Verde, partindo da Avenida dos Estados saem vias com nomes de regiões aqui do próprio Brasil, como Acre, Goiás, Mato Grosso e Santa Catarina. Mas o curioso é que elas não seguem um padrão geográfico como no mapa do país; ali estados localizados no centro-oeste fazem esquina com outros do extremo norte. É difícil encontrar paulistas que morem na São Paulo, ou capixabas que morem na Espírito Santo, mas sempre acontece uma brincadeira ou outra por parte dos moradores. Como foi o caso da estudante Daniela Cechinel, que durante o ensino fundamental foi apelidada de gaúcha pelos colegas por morar na Rua Rio Grande do Sul: “Eu não gostava nem um pouco, mas também não ligava”. O problema segundo determinados residentes é em relação ao correio. Alguns contam que cartas de familiares já foram enviadas para outros lugares, pois, na falta do CEP, o endereço foi confundido. Essas pequenas homenagens acontecem por toda cidade, mesmo fora desses bairros é possível caminhar

Confira os endereços que você pode visitar - Bosque de Portugal Rua Fagundes Varela, Jardim Social

Amanda Walzl

Ao andar por Curitiba é possível visitar praças, bosques e parques que homenageiam inúmeras culturas diferentes, de povos imigrantes que vieram construir o Paraná no século passado. Alguns exemplos conhecidos são a Praça do Japão, da Espanha e o Bosque do Alemão, mas o que capta o olhar de poucos passantes muitas vezes é o nome do certas ruas, que fazem menção tanto a países que contribuíram para nosso município ter a cara de hoje, quanto a outros estados do Brasil, que trazem cada vez mais novos moradores para cá. Um desses casos é a Vila América, no Bacacheri, que possui ruas com nomes de países das Américas do Norte, Central e do Sul (países dos quais se tem recebido maior número migrantes há pouco tempo). Nesse bairro, dobrando apenas uma quadra, pode-se ir dos Estados Unidos para a Venezuela em menos de um minuto. O comércio também explora essa temática para dar nomes a suas lojas e criar bares e restaurantes que sirvam comidas étnicas.

- Bosque Italiano Rua Calisto Cumin, Santa Felicidade

É comum ver o nome dos países e das ruas estampando o comércio

por ruas como a Chile ou a República Argentina e ir descobrindo o que cada novo habitante traz para a capital – afinal também existem tributos a grandes personalidades que fizeram Curitiba ser reconhecida por todo o mundo. Poetas, políticos, engenheiros e diversas outras pessoas que ajudaram a edificar a capital paranaense

- Memorial Ucraniano Rua Fredolin Wolf, Tingui

têm seus nomes registrados em museus, prédios ou alamedas. Modos singelos de agradecer por todo esse mix cultural que existe hoje aqui.

- Parque dos Tropeiros Rua Maria Lúcia Locher Athayde, Cidade Industrial

Isadora Lago Taisa Echterhoff

CIDADE É ESCOLHIDA POR ARTISTAS PARA DESENVOLVER PROJETOS CULTURAIS E TAMBÉM PARA MORADIA

Curitiba é conhecida por ser um grande nicho cultural do sul do país. Vários artistas de outras localidades buscam aqui um lugar onde possam promover seus trabalhos, e muitas vezes, por gostarem da resposta obtida do público curitibano, resolvem permanecer na cidade. Jean Carlos Gonçalves, professor do Curso de Tecnologia em Produção Cênica da UFPR e diretor de teatro, diz que quando chegou aqui, há aproximadamente um ano, foi muito bem recebido por todos, tanto colegas de trabalho, alunos do curso e também quando se hospedava em hotéis – apesar da fama dos curitibanos serem frios. Nascido em Blumenau e morando atualmente em Balneário Camboriú, Jean viaja todas as quartas-feiras para dar aulas e estudar (pois atualmente está fazendo doutorado na UFPR), e retorna nas quintas-feiras para sua cidade.

Mas pretende vir morar em Curitiba o quanto antes, junto com a esposa. “Pretendo criar raízes e ter filhos aqui”. O professor enxerga a cidade como um lugar que tem muitas possibilidades de campo artístico tanto para profissionais quanto para o público, estando no mesmo nível de desenvolvimento em que se encontra Porto Alegre, artisticamente. Já a dubladora Monica Pacha, natural de Juazeiro, na Bahia, chegou aqui aos 13 anos depois de morar em diversos estados brasileiros, devido à profissão do pai, que era Geólogo. Se formou aqui e ficou na cidade até decidir ir para São Paulo, fazer faculdade de Dublagem. Ao voltar, per-

cebeu que em sua área a cidade era bastante atrasada em relação ao eixo Rio-São Paulo, mas não desistiu. Hoje ela ministra cursos como um meio de especialização para os artistas daqui, mas percebe que eles se portam de uma maneira diferente em relação às produções. “São mais exigentes do que em outros estados, e muitas vezes não conseguem esperar por uma gravação”. Mas mesmo assim a dubladora não se arrepende: “me considero mais curitibana que qualquer outra coisa”. Outro artista que conseguiu firmar seu trabalho na cidade é o excêntrico músico de rua, Plá, que atrai a atenção das pessoas

“Me considero mais curitibana que qualquer outra coisa”

com suas músicas não-comerciais e sua postura mais despojada. Vindo de Santa Catarina nos anos 70, chegou à cidade com um propósito: estudar música, sua paixão desde que seu pai começou a ensiná-lo a tocar violão. O cantor utiliza em seu cotidiano e em seu trabalho os ideais de uma vida sem apego material e reconhece que não são todos os moradores daqui que apreciam isso: “curitibano tende a ser mais fechado”. Independente das diferentes reações de público, os três artistas concordam que a cidade é um bom lugar tanto para expor seus trabalhos quanto para morar. São muitos profissionais de fora que vivem em Curitiba e todos, de alguma forma, contribuem para o desenvolvimento da cultura curitibana. Alguns com mais visibilidade e outros com menos, mas todos com sua importância. Outras personalidades “não curi-

Taisa Echterhoff

Capital acolhe novos moradores de ampla bagagem cultural

Jean Carllos: arte e criatividade

tibanas” como Ademir Paixão, cartunista oficial da Gazeta do Povo; Didonet Thomaz, artista plástica; Efigênia Ramos Rolim, “rainha do papel de bala”; que saíram de suas cidades natais e hoje residem na capital, merecem destaque por terem conseguido vencer as dificuldades que um migrante tem ao chegar a um lugar desconhecido, e hoje serem reconhecidos pelo seu trabalho. Isadora Lago Taisa Echterhoff


Curitiba, maio de 2010

religião

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CAPITAL PARANAENSE SE DEMONSTRA RECEPTIVA E MUITO ADAPTÁVEL COM MIGRANTES MISSIONÁRIOS

Missão de religiosos é nunca criar raízes

Grandes igrejas adotam a migração de seus sacerdotes como principal estratégia de evangelização. Elas optam pelas transferências visando mesclar experiências entre fieis e ordenados. “Somos missionários e é nossa característica não criar raízes. Migrar faz parte da nossa missão”, afirmou o pastor adventista Douglas Jeferson Menslin. O fluxo migratório proporciona troca de culturas e cria novas perspectivas. “A migração ajuda a trabalhar a cabeça dos fieis para que eles tenham sempre novas referências do que a religião pode ensinar”, comentou o pastor da Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), Odair Francisco de Souza. Carioca e em Curitiba há oito meses, o pastor conta que já passou por quatro estados em seus quatro anos de serviço à ordem. Cada instituição possui sua estratégia de organizar o rodízio.

Bethina Perussolo

Igrejas cristãs utilizam a migração de seus evangelizadores como meio de promover troca de experiências e rodízio cultural

Padre Gustot migrou para Curitiba para dirigir a Pastoral do Migrante

A Igreja Adventista do Sétimo Dia propõe que cada pastor se redirecione em no máximo cinco anos. Já a IMPD e a Igreja Católica demandam seus sacerdotes conforme as necessidades de cada região. Entretanto, a Instituição Católica subdivide seus

evangelizadores em Diocesanos e Religiosos, e somente estes têm a missão de migrar. Quebrando mitos, Curitiba é muito receptiva e adaptável quando o assunto é religião. A migração entre ordenados é intensa e não impõe barreiras entre

NOVA RELIGIÃO É CONSIDERADA ESTILO DE VIDA POR CURITIBANOS

Budismo Tibetano é recente em Curitiba e já congrega milhares de seguidores

O Budismo Vajraryana, mais conhecido no Brasil por Tibetano, chegou há pouco em Curitiba e já conta com mais de dez mil adeptos na capital. Essa ramificação do Budismo tradicional está na capital paranaense há pouco mais de dez anos, mas já é considerada estilo de vida por muitos curitibanos. O Centro Budista Tibetano Va j r a r y a n a Dordje Ling, localizado na Rua Dr. Roberto Barroso, 220, é frequentado por pessoas que vão “à procura da luz” através de rituais de meditação e outras práticas regulares.Aprogramação funciona da seguinte forma: às terças e

quintas-feiras é realizada a chamada Prática da Tara Vermelha, que consiste na recitação de mantras e no repouso natural da mente. Nas quartas-feiras acontece a Prática do Ngöndro, quando ocorre a contemplação dos ensinamentos. Unicamente às quintas-feiras é realizada a Meditação Silenciosa, t a m b é m chamada de Shine, em que o praticante atinge o bem-estar e a felicidade através da tranquilidade e calma mental do exercício. Os responsáveis por ensinar e auxiliar nas práticas são chamados lamas. São guias espirituais com conhecimentos tântricos

Lama californiano migrou e veio com sua mulher, também lama

avançados e liberdade para passar a diante sua sabedoria. No Centro Dordje Ling, o lama Rigdzin é quem passa essa experiência aos praticantes. Nasceu na Califórnia e estudou a tradição budista Tibetana de acordo com a filosofia pregada pelo professor S. Ema Chagdud Tulku Rinpoche. Depois de anos dedicando-se à prática do Budismo, mudou-se para o Brasil, em 1995. Em 2002 suas qualidades de líder e professor foram oficialmente reconhecidas pelo mestre Rinpoche que o ordenou lama. Hoje, vive em Curitiba com sua esposa, lama Yeshe, ensinando as práticas do Tibetano através de sua experiência e desempenhando um português impecável. Bethina Perussolo Jéssica Yared

sacerdotes e fieis. Porém, receber um novo evangelizador não é de todo uma tarefa fácil para os curitibanos. “Eles recebem muito bem novos rostos, mas se queixam em deixar partir quem se tornou íntimo da comunidade”, revelou o padre católico José Roberto

Medeiros Furtuoso, que presta serviços à Pastoral do Migrante. Coordenada pelo padre haitiano Gustot Lucien, que migrou para Curitiba para assumir a Pastoral, a equipe trabalha oferecendo apoio aos migrantes, imigrantes e emigrantes. Segundo Furtuoso, paulista e residente em Curitiba há quatro anos, a fácil adaptação que os religiosos encontram se deve à grande abertura que a população curitibana proporciona, além da qualidade de vida e respeito. O padre, que também é formado no Seminário dos Padres Maristas, revelou que os nordestinos são maioria entre os seminaristas e que, se pudessem escolher um lugar para se fixar, optariam por Curitiba.

Ana Carolina Weber Camila Matta

Pastoral acolhe migrantes A Pastoral do Migrante, que tem como objetivo orientar e acolher os recém-chegados em Curitiba, conta com o apoio gratuito de médicos, psicólogos e uma advogada que auxiliam na parte jurídica e social. Segundo o padre Gustot Lucien, responsável pela Pastoral, a maioria dos migrantes acha Curitiba uma cidade excelente para se morar, pois além de muito bonita, é limpa e bem estruturada. Os migrantes atendidos pela Pastoral variam de estudantes que vieram de outros locais do estado a trabalhadores transferidos do Norte ou Nordeste. Chilenos, paraguaios e peruanos lideram o índice de imigrantes atendidos. A questão do idioma é uma dificuldade, já que os membros da Pastoral não são poliglotas. Antes o trabalho com imigrantes se restringia a acolher os que falam espanhol. Hoje são atendidos também africanos vindos do Congo, Guiné-Bissau e Angola. A assistente social Silvia Reyes Vieyra é mexicana e veio para o Brasil em 2005 com o intuito de abrir uma empresa de fabricação de cosméticos. Passou por dificuldades e procurou a ajuda da Pastoral. Participou de projetos como festas temáticas e dança latina, recebe apoio de psicólogos até hoje e diz que muito do que conquistou no Brasil deve à Pastoral. Silvia contou que, como já viveu em uma cidade mexicana que faz fronteira com os Estados Unidos, pôde notar grandes diferenças em relação à legalização de imigrantes no Brasil e nos EUA, “é muito mais difícil viver ilegalmente no Brasil do que lá”, completou. (CM)


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geral

Curitiba, maio de 2010

PIB CRESCE 165,8% ENQUANTO POPULAÇÃO CRESCE 14,6% NOS ÚLTIMOS SETE ANOS

PIB cresce mais que a população na RMC Líder no aumento do PIB per capita de 2000 a 2007, Tijucas do Sul tem uma porcentagem de apenas 6,7% no crescimento populacional O Produto Interno Bruto a preços correntes cresceu 165,8% na Região Metropolitana de Curitiba, RMC, em sete anos (2000 a 2007), o que representa um crescimento anual de 23,7%, enquanto a população aumentou apenas 14,6% no mesmo período (média de 2,08% ao ano). O PIB a preços correntes é a soma dos setores da economia e dos impostos sobre produtos líquidos de subsídios de um município. Curitiba, Araucária e São José dos Pinhais estão entre os cem maiores PIBs do país. Segundo o economista Carlos Magno Andrioli Bittencourt, o crescimento do PIB revela que “a concentração de renda na região leva a circulação do dinheiro e gera emprego, que gera renda, que gera investimentos, reiniciando o ciclo econômico”. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que as cidades com menor número populacional, possuem uma renda per capita maior que cidades com maiores densidades demográficas. Curitiba, por exemplo, apresenta a maior densidade demográfica da RMC (4.250,83 hab/ km²), mas está em quarto lugar no aumento da renda per capita. Tijucas do Sul, cujo principal setor econômico é o de serviços, teve o maior aumento do PIB per capita (soma das riquezas produzidas pelo município e divididas pelo número de habitantes) entre os anos de 2000 e 2007, mas o percentual de crescimento populacional no mesmo período foi de apenas 6,7%. O município de São José dos Pinhais, vice-líder no crescimento populacional, têm como principal setor econômico o de serviços. Apesar disso, o setor industrial está em constante evolução, com uma diferença de apenas R$ 65 mil arrecadados ao ano. Amanda Burda Camila Olenik Diane Cursino Talita Inaba

Índices socioeconômicos de Curitiba e Região Metropolitana Cidades que mais cresceram entre 2000 e 2007 (%) 70

O setor da indústria se destaca na economia de Rio Branco do Sul. O segmento representa R$ 221.82 mil ao ano.

60 Doutor Ulysses

50 40 30

Adrianópolis

20 10 Cerro Azul

0

Tunas do Paraná

São José dos Pinhais

Colombo

Fazenda Rio Grande

Araucária

Tunas do Paraná

Rio Branco do Sul

Itaperuçu

Itaperuçu e Campo Magro, além de vizinhas, possuem índices de pobreza contrastantes. O maior índice de pobreza é de 54,63% e o menor é de 23,38% respectivamente.

Bocaiúva do Sul

C

Campo Largo

am

po

M

ag

ro Pinhais

As cinco maiores densidades demográficas hab/km² - 2009

Campina Grande do Sul

Almirante Tamandaré Colombo

Curitiba

Quatro Barras

Piraquara

Balsa Nova

4.500,00 4.000,00 3.500,00 3.000,00 2.500,00 2.000,00 1.500,00 1.000,00 500,00 0,00

Araucária

São José dos Pinhais Fazenda Rio Grande

Lapa

Contenda

Quitandinha Curitiba

Pinhais

Colombo

Fazenda Rio Grande

Mandirituba

Curitiba lidera o setor de serviços com R$ 25 milhões ao ano, além de possuir o maior número de habitantes (1.851.215).

Tijucas do Sul

Almirante Tamandaré

Agudos do Sul

Campeãs no aumento do PIB per capita ( 2000 a 2007) Contenda Curitiba Adrianópolis

Valores em %

Tunas do Paraná Tijucas do Sul 0

50

100

150

200

250

Araucária teve o maior PIB per capita de 2007, R$ 86.736 mil. A cidade é a sexta colocada no aumento do PIB per capta (2000 a 2007) com 143,2%.

Dados Gerais RMC (2009) População Área Densidade Demográfica

População (2009) Abaixo de 50.000 Entre 50.000 a 100.000 Entre 100.000 a 250.000 Entre 250.000 a 500.000

3.172.358 hab 15,5 mil km2 204,6 hab/km2

Principal Setor da Economia Agropecuária Indústria Serviços

Acima de 500.000 Fontes: IBGE/IPARDES/IPPUC


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