Responsabilidade Social

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opinião

Curitiba, agosto de 2011

Responsabilidade social: o indivíduo numa perspectiva atuante dentro da sociedade

Jornalismo cidadão e as facetas da sociedade

Os meios de comunicação são fundamentais para exercício da cidadania, denunciando,viabilizando e construindo projetos coletivos

Nossa Capa

A capa deste Comunicare mostra motoqueiros de um clube que além de suas atividades por lazer e diversão, se organizam também para ações sociais.

Fala, leitor

“Além de conhecer mais as tribos, me impressionei com a procura pelas casas de swing”. Gustavo Anderson Estudante de Ciências Sociais UFPR.

Fala, professor

“A capa foi ousada, mas não condiz com a diagramação do restante do jornal”. Alessandro Foggiato Professor de TV e cinema PUCPR.

A palavra responsabilidade no Direito: obrigação geral de responder pelas consequências dos próprios atos ou pela dos outros. E quando se pensa em responsabilidade social, pensamos no indivíduo como um elemento de um quebra-cabeça, fundamental para que as todas as peças se encaixem. Essa edição do Comunicare falará do homem com os olhos para suas especificidades. Desde o mundo dos deficientes e sua adequação por meio de estruturas, que possibilitem a ele, condições não só de sobreviver, mas ter papel de construtor dentro de uma sociedade. Até as grandes massas, como as torcidas organizadas, que em seu papel podem distorcer ou não o rosto de um clube. Atrás de muito brilho de purpurina, encontramos nas ruas escuras, histórias ainda mais

sombrias daqueles que travestem sua própria dignidade. Apresentaremos aqueles que são invisíveis diante da imprensa comum, mas que por meios alternativos conquistaram espaço para se expressar. Acreditamos que o Comunicare intitulado responsabilidade social, identifica seu papel como meio de comunicação, na direção da sociedade, construindo um jornalismo cada dia mais cidadão focando em trazer a tona na opinião publica assuntos muitas vezes esquecidos ou deixados de lado. Dessa forma voltamos ao início, o que é responsabilidade social? É dar valor a dignidade e igualdade à pessoa humana trilhando e construindo um caminho, cada dia mais forte, rumo à cidadania. Amanda Vicentini

OMBUDSMAN: ERROS GRAVES DE PORTUGUÊS

Sabiam do que falavam Tratar da cena underground de Curitiba foi uma iniciativa interessante da edição do Comunicare. As pautas produzidas pelos estudantes foram bem sacadas. Apenas não entendi a entrada da página de gastronomia, aberta com uma matéria sobre carne de caça em um restaurante “classe A”. Mas a matéria central, que explicou bem as tribos (talvez com um certo exagero tecnicista), o texto sobre swing e os drive-ins foram bem executados. Destaco, principalmente, o material sobre pichações, com boas fotos e um bom personagem. Outros assuntos interessantes acabaram se perdendo por conta de más construções de textos. Um deles, o skate, amenizou o fato de skatistas usarem as canaletas dos

ônibus, o que é proibido. As matérias das lojas de roupas e acessórios não tinham personagem. A matéria sobre dança de rua perdeu . O que mais preocupou ao ler o Comunicare foi o excesso de erros de português. Frases longuíssimas, acentuação falha, exageros em vírgulas. Ficou claro, ao ler o material, que a maioria da equipe sabia do que estava falando. Não só sabia como queria mostrar claro que sabia, exagerando em termos rebuscados e formando frases sem sentido.

Expediente: Comunicare Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Agosto de 2011

Reitor: Clemente Ivo Juliato Decano CCJS: Alvacir Alfredo Nicz Decano Adjunto do CCJS: Marilena Winters Coordenadora do Curso de Jornalismo: Mônica Fort

Pontifícia Universidade Católica do Paraná Rua Imaculada Conceição nº 1.155 Prado Velho, Curitiba

Comunicare Jornalista Responsável Prof.º Zanei Barcellos DRT – 118/07/9

Cristian Pereira Comunicare 1996 Jornalista GRPCOM

Carta do Leitor São Luiz do Purunã 1 Ao Professor e alunos do 4o. Período de Jornalismo. Com os agradecimentos e parabéns pela publicação. Clemente Ivo Juliatto Magnífico Reitor da PUCPR

São Luiz do Purunã 2 Em 15 anos o COMUNICARE foi editado 193 vezes. Vê-se por isso, que além de prestar importante serviço à sociedade, se constitui em valiosa aula prática aos alunos. Fiquei muito surpreendido, principalmente com a foto e o criativo carimbo “FECHADO?”. O mesmo carimbo poderia estar na matéria sobre o Cristo. Havia muito mais a ser dito sobre o abandono que o distrito de São Luiz do Purunã tem merecido da administração municipal. Nos esquecemos de passar para os alunos mais informações que podem ser classificadas como estarrecedoras. A previsão orçamentária enviada pelo prefeito é a mais grave: dos 28 milhões de arrecadação, prevê para a secretaria de Indústria e Comércio e Turismo apenas R$9.405,00 (nove mil, quatrocentos e cinco reais) por ano. Parabéns a equipe a edição do COMUNICARE nº 193. Nota 9 para todos. Um dica: criticar é fácil, mostrar o que está errado, registrar fatos é fácil. O importante porém é sugerir soluções. Aqui em São Luiz do Purunã que um dia poderá a vir uma “Canela Gramado”, continuaremos lutando no mesmo ritmo dos velhos tropeiros. Essa região um dia será descoberta e valorizada para essa atividade tão importante: o turismo, a indústria sem chaminés. Casto José Pereira da Pousada Parque São Luiz do Purunã Projeto Gráfico Prof.º Marcelo Públio Editores: Primeira página: Maria Brey Opinião: Amanda Vicentini Social: Bruna Ávila Cidade: Diana Araújo Esporte: Rogério Scarione

Cultura: Fernanda Vargas Meio Ambiente: Gustavo Magalhães Comportamento: Beatriz Zanelatto Educação: Amanda Scandelari Geral/ Entrevista: Mariana Siqueira Saúde: Melanie Lisbôa Transporte: Anna Bárbara Tuttoilmondo Saúde: Thaís Reis Internet: Lucas Vian

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social

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Curitiba, agosto de 2011

diferente de asilos, Creche luta contra abandono e desmotivação da terceira idade

Curitiba abre primeira “creche para idosos” A creche para idosos Vivavida, localizada em Santa Felicidade, é a primeira em Curitiba com essa denominação. Oferece, desde janeiro deste ano, atividades recreativas, maior zelo pelos idosos e, principalmente, possui horários flexíveis. Fisioterapeuta e uma das fundadoras do espaço, Sandra Maboni, conta que o local é realmente como uma creche e, por isso, além de oferecer à família do idoso a opção de levá-lo e buscá-lo a qualquer hora do dia, possui também um cronograma semanal com atividades como a “hora da roda” – momento que os idosos contam o que gostariam de fazer durante o dia - jogos, alongamento, culinária, jardinagem, atividades físicas, etc. Clotilde Elvira Steffano, 52, assistente social, encontrou a Vivavida por indicação de amigos e, desde então, leva sua mãe, Clotilde Sara Steffano, 89, para passar o dia na creche. A filha sentia a necessi-

dade de ter uma rede especializada em idosos e de confiança para não deixar sua mãe sozinha. As duas visitaram alguns asilos antes de chegar à creche, porém, achavam os locais “deprimentes”. Clotilde Sara nasceu e viveu no Paraguai até os 42 anos, quando se mudou com seu marido e sua filha para Curitiba. Em sua cidade natal, se especializou em medicina nuclear e trabalhou na área de saúde até 1998, quando se aposentou e parou de trabalhar. Muito ativa e interessada por conhecimento, ela afirma que “o pior veneno que existe no trabalho é a aposentadoria”, o que é confirmado pela filha, que conta que a mãe vinha perdendo até a vaidade por não ter com o que ocupar seus dias. Hoje, Clotilde frequenta a creche há cerca de um mês e sua filha já percebe melhoras de ânimo e motivação da mãe. “Ela passou a ter uma rotina com a creche, o que

Fotos: Bruna Milanese

Com horários opcionais de estadia, creche Vivavida oferece cronograma de atividades para melhorar a qualidade de vida dos idosos

Na creche, o afeto é muito preservado. Na foto, Sandra e Eunice

a estimula e deixa animada. Além disso, ela convive com pessoas diferentes e de sua idade”, afirma a filha. Sandra e sua sócia, Inge Susla, idealizaram durante anos criar um espaço para idosos que não fosse um asilo. “Geralmente, em asilos, os idosos ficam abandonados. Aqui

na creche, a gente deixa os idosos bem cuidados sem que eles percam o vínculo com a família”, comenta Sandra. Ela explica também que os idosos podem até morar na creche, mas a família tem a obrigação de visitar o idoso no mínimo duas vezes por mês. Eunice Miranda Machado, 84,

pesquisar na internet é o principal objetivo de idosos

Aumenta o interesse de idosos por aulas de informática A Aliance Informática, localizada no Bairro Novo, disponibiliza aulas de computação em domicílio para idoso. Hélio Junior, dono da empresa e professor exclusivo de idosos, afirma que o interesse por aulas específicas para a 3ª idade tem aumentado. Segundo Junior, cerca de 70% da procura por sua escola, corresponde de uma geração mais velha, entre 45 e 93 anos, que, geralmente, quer aprender a utilizar a internet e as funções básicas de um computador - como usar a impressora, mandar e-mails e anexar fotos. Junior comenta que alguns de seus alunos se sentem intimidados por não saberem lidar com tecnologia. Ele explica que com as aulas particulares, é possível dar maior atenção às dificuldades de cada um, diferente de quando os cursos são em turma. “Tem que ter paciência, começar ‘devagarzinho’, é como ensinar a dirigir: antes tem que explicar a função de cada peça, passo a passo”, diz

o professor Hélio Junior. Antonieta Maciel, 84, aposentada, é aluna de Junior há cerca de um ano. Ela conta que soube das aulas de informática e se interessou por ser curiosa e gostar de aprender. Comenta também que gosta de pesquisar biografias de pintores, músicas e ler notícias e que fica feliz quando encontra materiais que dificilmente teria

acesso de outra forma. “Se não fosse a aula de informática, eu não teria achado”, diz. Segundo o professor, Antonieta tinha dificuldade em controlar o mouse, então passou a utilizar dois, um para movimentar, outro para clicar. Junior diz que o progresso de sua aluna é devido à persistência dela, diferente de alguns idosos que se cansam e

Antonieta usa a internet para pesquisar sobre música e arte

desistem das aulas. A psicóloga Flávia de Paula Soares, 43, explica que a interação com o computador faz com os idosos estimulem a memória e permaneçam ativos após se aposentarem. “A internet amplia o universo simbólico do idoso, mantendo sua atividade mental cognitiva”, comenta. Flavia explica, ainda, que a participação em redes sociais e a própria interação com o professor também são importantes, pois criam vínculos afetivos. “Se alguém fala comigo, eu existo”, complementa. Zenir Terezinha Buschnamm, 72, começou a fazer curso de informática por incentivo dos filhos. Ela conta que tinha medo de usar o computador, mas que se esforçou e hoje se sente bem com o aprendizado. “Não é nenhum bicho de sete cabeças que a gente pensa. Eu não tinha nenhuma noção; tinha curiosidade e me adaptei”, diz Zenir. Jordana Basilio

é a única moradora da Vivavida. Seus primeiros dias na creche foram de adaptação. Ela passava apenas o dia e no final da tarde voltava para casa, até se familiarizar com o local e as pessoas. Hoje, vivendo há cinco meses na nova moradia, admite que às vezes prefere ficar na creche do que em casa. “Aqui eu nunca fico sozinha e sou muito bem tratada. Sou paparicada o tempo todo”, admite Eunice. Professora de primário aposentada, a atividade preferida de Eunice é a hora da leitura, momento em que ela lê um livro para os integrantes da casa. Porém, as atividades físicas e fisioterápicas também são muito importantes, já que fizeram com que ela abandonasse a cadeira de rodas e conseguisse andar apenas com o apoio do andador. “As atividades são um deleite”, finaliza Eunice. Carine Rocha

Atenção Assim como em qualquer idade, praticar algum tipo de atividade na velhice mantém a saúde mental e física. Respeitando suas limitações, é importante para o idoso: 1 - Estimular a leitura 2 - Cultivar contatos pessoais ou virtuais 3 - Manter uma rotina com horários definidos 4 - Fazer exercícios físicos 5 - Praticar atividade que o idoso ache prazerosa 6 - Manter contato próximo com os parentes 7 - Estimular a memória e saúde mental


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geral

Curitiba, agosto de 2011

transgrupo tenta garantir qualidade de vida e direitos à população transexual e travesti

Violência e hipocrisia atingem transexuais Em Curitiba o Transgr upo Marcela Prado é responsável por promover a cidadania, segurança e defesa dos direitos das travestis e transexuais desde 2005. A entidade foi criada dentro do grupo Dignidade, ONG que já atuava na área da promoção de direitos humanos da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). A fundadora e atual presidente da organização, Carla Amaral, acredita que uma união das “trans” é necessária para que o grupo seja cada vez mais respeitado. Uma das principais causas do movimento do grupo é a luta pelo nome social. Muito do preconceito sofrido pelas transexuais se origina na confusão entre o nome civil (nome registrado no nascimento) e o social (nome escolhido pela pessoa após assumir o novo gênero). Essa falta de reconhecimento do nome social gera constrangimentos constantes na apresentação, por exemplo, de documentos de identidade. Josiane Bougers, diretora executiva do Transgrupo, conta sobre episódios humilhantes que já passou: “Uma vez no aeroporto um atendente não me reconheceu como a pessoa na minha carteira de identidade. Parecia que ele fazia questão de chamar atenção de todos em volta para mostrar que eu era diferente.” O processo legal para a modificação do nome civil é longo e burocrático. Quando se consegue chegar à última instância, a aprovação legal

do processo, muitos juízes negam o pedido ou só permitem a alteração do nome caso o indivíduo já tenha passado pela cirurgia de mudança de sexo. Carla foi a primeira transexual a conseguir oficializar o seu nome social e é uma das únicas em Curitiba, isso mostra o quão difícil é o processo. “Falta uma sensibilização das pessoas com relação à nossa situação. É tão bom quando alguém me pergunta, ‘Como você quer ser chamada?’ sem causar constrangimento”, diz Josiane. Carla afirma que o preconceito contra travestis e transexuais já foi pior, “durante as décadas de 60 e 70 as meninas eram recolhidas das ruas pela polícia e muitas vezes sofriam humilhação ou até tortura por parte dos policiais. Hoje isso não acontece mais, mas não quer dizer que não sofremos outros tipos de preconceito”. As trans que estão mais sujeitas e vulneráveis a agressões são as que trabalham na rua como prostitutas. Segundo elas, muitas vezes são atingidas por ovos, garrafas de bebida ou até camisinhas cheias de urina e fezes enquanto esperam por clientes. “As vezes até grupos de igrejas evangélicas vão jogar sal grosso nas meninas,” acrescenta Carla. Além disso, também existem as agressões físicas por parte de clientes, cafetões, e até companheiros. Ana Cláudia Rinaldi trabalha na beira da BR 376 e conta que após terminar um programa com um cliente, outro homem saiu do porta-

Fotos: Olívia D’Agnoluzzo

O abandono da família e a rejeição no mercado de trabalho levam muitas meninas à prostituição na qual encontram dinheito rápido

Prostitutas transexuais trabalham nas ruas do centro da cidade e em beiras de estradas

malas do carro onde estavam e os dois a espancaram. “Eles não queria me pagar, e ainda roubaram minha carteira. Fiquei dois meses no hospital”. Estupros e espancamentos são situações que se repetem com frequência, levando em alguns casos à morte. Só no primeiro semestre de 2011, quatro já foram assassinadas, segundo o Transgrupo. Apesar do estigma carregado pelas transexuais, nem todas trabalham com a prostituição. Algumas

levam uma vida normal e tem empregos no mercado de trabalho convencional. Lara Moura conta que apesar de ter sido rejeitada em algumas entrevistas de trabalho devido a discriminação e preconceito, já trabalhou no comércio, telemarketing e em grandes empresas em que foi bem recebida. “Sempre tem alguém que olha torto ou pessoas maldosas que não falavam comigo, mas eu nunca tive grandes problemas,” explica.

Qual a diferença?

Josiane, Carla e Lara fazem parte da diretoria do Transgrupo

Transexualidade

Travestilidade

É um transtorno de identidade de gênero. O indivíduo se reconhece e quer ser aceito como membro do sexo oposto, sente disconfor to com o seu gênero. Indivíduo se sente como “uma mulher presa em um corpo masculino”, ou vice-versa. Pode passar por uma cirurgia de mudança de sexo ou não.

O travesti não apresentam apenas uma identidade, masculina ou feminina. Ele se reconhece nos dois gêneros e não apresenta a necessidade de optar por um dos sexos. Não sente a vontade de fazer cirurgia para mudar o sexo e opta pela vestimenta como uma forma de transitar entre os dois sexos.

Mas apesar de todos os riscos que enfrentam, a maioria delas não pensa em sair da profissão. Fernanda Leão já foi atendente e camareira, hoje passa as noites trabalhando em um ponto num bairro afastado do centro. “Já trabalhei no mercado convencional, mas aí descobri a prostituição. Agora não volto mais”. Carla explica que trabalhando como prostituta uma transexual ganha muito mais do que conseguiria se trabalhasse em um “emprego normal”. Segundo elas o grande problema das transexuais e travestis não é a prostituição e sim o mundo que a envolve. O preconceito, a violência, seja ela física ou verbal, a exploração e a falta de informação das pessoas são as verdadeiras barreiras que enfrentam todos os dias. “É preciso que haja uma maior conscientização e menos hipocrisia”, declara Josiane e acrescenta “a prostituição nunca vai acabar, a sociedade que nos critica é a mesma que nos sustenta.” Olívia D’Agnoluzzo Mariana Siqueira Pauline Féo


entrevista

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Curitiba, agosto de 2011

projetos sociais promovem a cultura e afastam jovens das drogas e do crime

Incentivo à leitura tira crianças das ruas

A biblioteca comunitária da Vila das Torres reúne aproximadamente 6.000 obras que foram retiradas do lixo pelos carrinheiros No dia 19 de agosto a Biblioteca Comunitária Vila das Torres completa dois anos. Carlos Roberto Teles, morador da comunidade, mais conhecido como “Chameguinho”, realiza o projeto com a ajuda dos moradores e catadores de papel. Eles ajudaram a compor o que é hoje a primeira biblioteca composta integralmente por livros tirados do lixo. Sem nenhum tipo de apoio ou ajuda financeira do governo, “Chameguinho” mantém o espaço sempre pronto para receber aqueles que buscam na literatura entretenimento e até mesmo refúgio. Com o objetivo principal de tirar os jovens das ruas e dar-lhes acesso à cultura e informação, a biblioteca foi a primeira de muitas iniciativas que estão mudando a reputação da Vila das Torres. Com o incentivo de Chameguinho, os moradores tomaram a iniciativa de trazer atividades e eventos culturais para a comunidade. Um Dia da Cultura, que pretende reunir talentos da Vila já está programado para outubro e o lançamento do Projeto Cinema, um cinema ao ar livre também está nos planos. as ruas influenciadas pela leitura e nós já conseguimos diminuir em quase cem por cento o numero de crianças que estavam nas ruas e hoje se interessam pelos livros. Comunicare - Quais os outros projetos que estão por trás da Biblioteca Comunitária? Chameguinho - O projeto maior que engloba tudo isso é o Projeto Jovem Cidadão que trabalha muito mais na área de prevenção contra as drogas. Nós usamos bastante palestras e shows nas escolas, a nossa ideia é que os jovens e as crianças de agora não entrem no mundo das drogas. Nós queremos mostrar para eles o que é a droga, como é a realidade de um viciado e o sofrimento da pessoa que se torna um usuário.

“Nós cuidamos da biblioteca, a prefeitura não dá apoio.”

Comunicare - Qual o objetivo principal de desenvolver o projeto de uma biblioteca dentro da vila? Chameguinho - O objetivo principal é que as pessoas leiam mais, e já nós notamos que isso realmente está acontecendo. Nós temos duas mil pessoas cadastradas, em torno de quarenta crianças vêm passar a manhã aqui e outras quarenta à tarde. A idéia é que elas deixem

Comunicare - Como esses projetos sociais são mantidos dentro da Vila das Torres? Chameguinho - Nós não temos patrocinadores e muito menos respaldo do governo. A própria comunidade é que mantém os projetos funcionando, então hoje nós precisamos de ajuda de todo o lado. Sempre nos perguntamos: “Por que é que nunca foi construído um Farol do Saber dentro da Vila das Torres?”. Eles colocam Farol do Saber em vários bairros de classe alta, bairros nobres, mas

Olívia D’Agnoluzzo

Comunicare - Como começou o projeto da biblioteca? Chameguinho - Ela começou com os catadores de papel que tiravam as capas dos livros encontrados na rua e vendiam por trinta centavos. E então, quando nós vimos aquilo, resolvemos abrir uma biblioteca. Os catadores, em vez de vender o papel, começaram a doar os livros. Entre uma doação e outra temos hoje um acervo de quase seis mil livros, alguns bem importantes como os de história do Brasil, economia e a enciclopédia Barsa. Até que um dia apareceu a Maria, uma bibliotecária da Universidade Federal do Paraná, e fez um acordo conosco. Ela precisava completar uma tese na faculdade e queria uma biblioteca onde trabalhar, nós, então, cedemos a nossa e em troca ela catalogaria os nossos livros. Hoje todos os livros são catalogados.

Participe

“Chameguinho” é um dos líderes comunitários da Vila das Torres

nunca mostraram interesse em implantar um aqui dentro. Então nós decidimos fazer por conta própria. Se você perguntar para qualquer morador o que ele acha de ter uma biblioteca dentro da vila todos eles gostam muito.

Comunicare - Existiu, há um tempo atrás, um processo de pacificação dentro da Vila das Torres. Como aconteceu esse processo? Isso ajudou a biblioteca a funcionar? Chameguinho - Bom, o primeiro passo foi trazer a paz para a vila. Antigamente a comunidade era separada em duas metades rivais que se enfrentavam o tempo todo. Hoje já não existe mais isso. Nos anos passados nós tínhamos uma média de cem homicídios por ano, já em 2011, até agora, tivemos apenas quatro mortes. Isso quer dizer, passamos quase um ano inteiro sem morte na Vila das Torres. Isso foi uma grande conquista! Os próprios homens do mal se reuniram e decidiram que

não haveria mais matança. Agora, com a união das “duas metades” todas as crianças tem total acesso à biblioteca. Comunicare - A Vila das Torres está passando por uma revitalização no momento. Como você enxerga essa mudança dentro da comunidade? Chameguinho - Agora com a Copa do Mundo de 2014 está sendo feita, pela prefeitura, uma revitalização da rua principal. Estão melhorando também o calçamento, as pinturas das casas e a pavimentação das ruas. Isso trás mais dignidade para a comunidade. Mas muito antes da revitalização a Biblioteca Comunitária já tinha chamado a atenção da mídia, das pessoas em geral de Curitiba. A mídia costumava mostrar a Vila das Torres como o pior lugar para se viver na cidade. A imagem que as pessoas tinham da vila era uma imagem de que ninguém podia entrar aqui, ninguém podia caminhar por aqui, e todo mundo tinha medo da “Vila Torres”. Com

“A Vila está de portas abertas para quem quiser nos ajudar.”

A Biblioteca Comunitária Vila das Torres e o projeto Jovens Cidadãos de Mãos Dadas sempre precisam de ajuda de voluntários. Os interessados podem entrar em contato para ajudar como atendentes, bibliotecários ou prestar alguma outra forma de serviço. Além disso, ambas entidades organizam coletas e doações de roupas e livros com frequência, quem estiver disposto a ajudar pode deixar doações no Clube das Mães Vila das Torres. Para mais informações mande um e-mail para: grasiela.08@hotmail. com Endereço: Clube das Mães União Vila das Torres: Rua Comendador Franco, 681

a abertura da biblioteca a imprensa começou a mostrar um outro lado. Comunicare - As pessoas de fora da vila podem se envolver com os projetos sociais? Chameguinho - Claro! As pessoas, e principalmente os estudantes, tem que entender que a porta da Vila está sempre aberta. Quem vier aqui vai ser recebido com a maior atenção, carinho e importância. Não podemos dizer que não há violência dentro da comunidade, porque nós ainda temos muito problema com as drogas. Mas eu penso que não adianta isolarmos esse problema, quanto mais pessoas de bem circularem por aqui, mais chances nós temos de combater esse tipo de problema e lutarmos para que nossos projetos dêem certo. Olívia D’Agnoluzzo Mariana Siqueira Pauline Féo


cultura

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CONVÊNIO ENTRE BANDA E PODER JUDICIÁRIO APOIA A RECUPERAÇÃO DE DEPENDENTES QUÍMICOS

Visuais agressivos e ações admiráveis de prevenção contra as drogas, em conjunto com o Comusd–CL (Conselho Municipal Sobre Drogas de Campo Largo). Com um som que varia do pop ao rock, a banda realiza shows que arrecadam recursos, os quais são direcionados a comunidades terapêuticas e outras instituições voltadas ao tratamento de dependentes químicos. Carlos Weber, líder da banda, foi nomeado Representante das Igrejas Evangélicas no Conselho, que atua no combate ao uso de entorpecentes no município. Os seminários do Comusd, que são voltados a escolas e universidades, informam os alunos sobre os efeitos das drogas, maneiras de prevenção e possíveis tratamentos. Além disso, existem também os seminários direcionados exclusivamente aos pais e professores. Neles, informações de como identificar e proceder em situações com jovens dependentes químicos são expostas aos participantes. A banda, sempre que esses ciclos de palestras são efetuados, os fecham com um show e depois é realizado um evento recreativo, no qual os integrantes passam sua mensagem de uma forma jovem e dinâmica. Um convênio entre o Poder Judiciário e o Instituto de Pesquisa e Tratamento do Alcoolismo (IPTA) foi criado por intermédio do Comusd. Segundo Weber, que também é advogado, o motorista alcoolizado, além de sofrer um processo criminal em que pode ser preso, pode optar em fazer um curso para a identificação do mesmo, como alcoólatra eventual ou aquele que precisa de tratamento. Além disso, caso seja preso, o pagamento de sua fiança vai diretamente para o Instituto.

“Se sou tão agraciado, por que não ajudar quem precisa?”

Daniela Maccio Fernanda Vargas

Capa do atual CD, Rock na Veia, da banda Motorocker. Contraste: tatuagens e beneficência

Carolina Chinen

Roupas pretas, tatuagens, correntes e voz rouca. Quando pensamos nessas características, logo nos vem à cabeça um roqueiro. Mas o visual agressivo não é motivo para preconceitos. Como é o caso da banda Motorocker, que contraria esses estereótipos, com um trabalho digno de admiração. A banda, composta por cinco integrantes, existe desde 1993 e faz sucesso com produções próprias e covers de bandas internacionais, como AC/DC, Motörhead e ZZ Top. A Motorocker abriu o show do Iron Maiden na turnê brasileira deste ano. Geralmente, nos shows realizados pela banda há a arrecadação de um quilo de alimento, agasalho, ou a doação do cachê ou parte dele para diversas organizações. A banda realiza uma espécie de parceria com a Torcida Organizada Fanáticos, do Clube Atlético Paranaense, e com o deputado Ratinho Junior. As arrecadações dos shows são conduzidas à Fanáticos e ao deputado, que as direcionam para diferentes instituições. “Se eu sou tão agraciado por Deus, por que não ajudar quem precisa?”, declarou Marcelus dos Santos, vocalista da Motorocker. O roqueiro iniciou sua carreira em uma banda, que, segundo ele, só pensava no status e no dinheiro. O que foi um dos motivos para sua saída e a criação de seu atual conjunto. Para ele, “quando você faz o que gosta e vive bem, de uma maneira estável, não há motivo para não ajudar”. Um exemplo da filantropia praticada pelos integrantes é o apoio à Associação Beneficente São Roque – Piraquara, que há mais de cinco anos recebe doações que são arrecadadas nos shows. Outro exemplo de ações filantrópicas é o trabalho efetuado pela Jesus Inside, que existe há seis anos e desde sua formação organiza palestras e seminários

Divulgação

Roqueiros quebram tabus e realizam filantropia na Capital. Agasalhos, dinheiro e comida são doados para diferentes instituições

Cerca de 40 motoqueiros se reúnem para fazer ações sociais

PRECONCEITO, ROCK’N ROLL, MOTOCICLISMO E AÇÃO SOCIAL

Moto Clubes realizam visitas em casas de recuperação, orfanatos e asilos O Moto Clube Bola de Neve é um ministério da Igreja Bola de Neve de Curitiba, que realiza ações sociais em orfanatos, asilos e casas de recuperação, com o intuito de levar atenção, compreensão e carinho a quem precisa. Os eventos são feitos seis vezes por ano, mês sim, mês não. Os lugares a serem visitados são escolhidos esporadicamente e há apenas um critério de seleção: não ser tão conhecido. O Moto Clube prefere locais mais abandonados, que recebam menos ajuda, por acreditar que mais pessoas serão beneficiadas. O líder do Moto Clube, Lenilton Batista de Oliveira, de

29 anos, conta que a iniciativa surgiu da vontade de ajudar, somada ao objetivo de reunir os motoqueiros da Igreja. “Começamos em 2006, com duas pessoas e hoje temos 120 no grupo, desde crianças até os mais velhos. Mas é difícil, sofremos preconceito.” Segundo ele, a sociedade possui uma visão equivocada de moto clubes, portanto saber que um grupo desses, conhecido pela loucura, drogas e rock’n roll, faz ações sociais é um impacto, um grande contraste. O Moto Clube Bola de Neve faz ações em todas as sedes existentes no Brasil, como São José dos Pinhais, Cascavel, Foz do Iguaçu, Maringá, Floria-

nópolis, Blumenau, Registro e São José dos Campos. As atividades programadas para as visitas dependem do perfil do local a ser beneficiado. Em orfanatos, eles levam brinquedos e até cama elástica. Em casas de recuperação, esperança. Já nos asilos, fazem dinâmicas, ginásticas e até massagens, mas o mais importante é ouvir, deixá-los relembrar e contar suas histórias. Para Oliveira, o objetivo das visitas é “levar aquilo que a gente recebe de graça, como amor, carinho e atenção”. Carolina Chinen


educação

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Curitiba, agosto de 2011

Por decorrência de retinoblastoma, perdeu a visão com um ano e meio de idade

Professor cego dá aula em escola municipal

Amanda Scandelari

Professor há 20 anos, Altedanio Luiz Mason afirma que no início pensou em desistir por falta de experiência e autoridade em sala

Professor lê cópia em braile da atividade entregue aos alunos

São oito horas da manhã. As aulas começam no quinto ano do Centro de Educação Infantil (CEI) Doutel de Andrade. A atividade de hoje é fazer um texto descritivo sobre o Visconde de Sabugosa, personagem do Sítio do Pica-pau Amarelo. Até aí, nada de diferente, exceto pelo fato de que o professor dessa turma é cego. Uma doença, denominada Retinoblastoma, deixou Altedanio Luiz Mason, 43, totalmente cego com cerca de um ano e meio de vida. Entretanto, o fato de não enxergar não o fez desistir da vontade de ser professor. Mason prestou vestibular de Pedagogia com cerca de 20 anos. A prova dele foi diferente da realizada pelos demais. Uma pessoa leu todas as perguntas e alternativas e ele foi dizendo quais eram as corretas. Luiz passou de primeira no vestibular. Há 20 anos dá aula no CEI Doutel de Andrade. “No começo foi bem difícil. Os alunos pensavam em se aproveitar pelo fato de eu não enxergar”, conta. Luiz afirma, ainda, que, quando começou a dar aulas, não tinha a autoridade que tem hoje com os alunos. “Foi bem sofrido, eu até pensei em desistir de dar aula, mas a diretora da época me incentivou a ficar”, explica. A maneira que ele encontrou para fazer as atividades dos alunos foi através de um programa para computador adaptado a deficientes visuais, Jaws, que lê as atividades

escaneadas ou tiradas da internet. Depois de ouvir as atividades, ele as transcreve para o braille, por meio de uma “máquina de escrever” apropriada. “Tudo que eu entrego aos alunos, tenho em braille”, conta Mason. Esse mecanismo para deficientes visuais é apenas uma das adaptações que ele utiliza. Por morar sozinho, Luiz fez algumas modificações em sua casa, como pequenos furos ao lado dos interruptores de luz para saber quando elas estão acesas ou apagadas. Outro fator que o ajuda é o software Talks, que lê tudo o que está escrito em seu celular, como nome de contatos e mensagens de texto. Luiz é a prova viva de que é possível ter uma vida normal mesmo possuindo alguma deficiência. Ele vai a peças de teatro e jogos de futebol, inclusive, já viajou com a torcida do seu time de coração, o Atlético Paranaense. Outra experiência vivenciada por Luiz foi passar o carnaval na Bahia. “Foi maravilhoso, uma das melhores experiências da minha vida”, conta Mason, que pulou carnaval atrás dos trios elétricos do Chiclete com Banana e da Cláudia Leitte. Mesmo se esforçando ao máximo para não depender dos outros e cumprir as atividades cotidianas sozinho, Mason afirma que sofre preconceito. “Às vezes, quando vou a uma loja, os atendentes fingem não me ver. É impressio-

nante. Muitas vezes, eu tenho que chamá-los para conseguir pedir algo”, reclama. O fato de sofrer preconceito, entretanto, não abala Luiz. Ele acredita que o preconceito nunca vai deixar de existir e que é preciso “passar por cima” dele, para não se magoar. “Deixem-me tentar fazer as coisas, se eu não conseguir, aí tudo bem. Mas, antes, eu preciso tentar”. Este é um apelo que Luiz faz a todas as pessoas que acham que sua peculiaridade deixa-o incapaz.

SOFTWARES ADAPTADOS PARA DEFICIENTES VISUAIS Software criado pela empresa americana Nuance, que ao ser instalado em um aparelho celular com o sistema operacional Symbian, lê, por meio de um sintetizador de voz, o que está na tela do celular, como opções do menu, mensagens e contatos.

Amanda Scandelari Gabriela Rodrigues

TALKS

O que você acha do Luiz como professor? “Ele é muito legal e ensina muito bem os alunos” F. T., 9 anos, aluna de Luiz

JAWS

“O Luiz é um exemplo de dedicação, profissionalismo e superação. Tem uma trajetória marcante”

O software, criado pela empresa americana Freedom Scientific, auxilia pessoas com deficiência visual a utilizar o computador, por meio de um sintetizador de voz que utiliza a placa de som do computador. Pode ser reproduzido em diversos idiomas e tem a capacidade de ler páginas da internet, bem como as funções do computador. O programa é disponível somente para Windows.

Suzane Maltaca, vicediretora da CEI Doutel de Andrade Amanda Scandelari e Gabriela Rodrigues

Você sabia? • A Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência, regulamentada pelo Decreto nº 3.298, deve oferecer atendimento psicológico, fornecimento de medicamentos e assistência através de planos de saúde.

Pela Lei 8.213, todas as empresas privadas com 100 ou mais empregados devem ter uma cota mínima de vagas para pessoas com deficiência. Até 200 empregados: 2%; de 201 a 500: 3%; de 501 a 1000: 4%; de 1001 em diante: 5%

• A Lei do Passe Livre, prevê que toda pessoa com deficiência tem direito ao transporte coletivo e de viagem interestadual gratuito, desde que comprove baixa renda. Maiara Stival


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Curitiba, agosto de 2011

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Curitiba, agosto de 2011

MAIS DE 3.000 PESSOAS SÃO MORADORES DE RUA EM CURITIBA E PROCURAM VIVER UNIDOS PARA SOBREVIVER AO DIA-A-DIA NAS RUAS

Desabrigados buscam criar um dossiê para reivindicar segurança e inclusão social Assassinatos cometidos contra moradores de rua levam o Movimento Nacional da População de Rua a desenvolver projetos para mobilização da sociedade curitibana e as autoridades responsáveis pela segurança social da capital paranaense foram investigadas corretamente. Acreditam que isso ocorre pelo fato de não serem considerados cidadãos de tanta importância, quanto os que possuem um endereço fixo. O GTI afirma que com a criação de tal arquivo, o próximo passo é entregá-lo aos grandes veículos de comunicação, para que chamem a atenção da população e das autoridades. Tentando assim, melhorar a discriminação contra moradores de rua. Além de buscarem mostrar para a sociedade sua indignação sobre a exclusão que sofrem, buscam mostrar seu desprezo pelo novo projeto da RPC, “Paz sem Voz é Medo”. Segundo o movimento e os moradores de rua, a campanha é preconceituosa, pois afirmam que mostra pessoas que vivem nas ruas como uma ameaça à sociedade. Alegam que nem todos os moradores de rua são bandidos e que existem os que procuram melhorar sua situação atual de vida de maneira honesta. O projeto que busca,

não só denúnciar e divulgar os números da criminalidade no Paraná, mas também abrir espaço para que a sociedade discuta as causas, os efeitos e tudo que gera a violência e o medo, trazendo insegurança à sociedade. O MNPR busca uma política de município efetiva que atenda as necessidades básicas das pessoas que vivem nas ruas. o grupo de apoio a moradores de rua se reúne semanalmente e discute pautas decorrentes dos problemas enfrentados por eles. Os habitantes das ruas procuram conhecer seus direitos e deveres como cidadãos, e sonham com uma melhor realidade para a situação em que se encontram. Além disso o propoem projetos para incentivar uma vida livre das drogas para os desabrigados. Incentivando portanto uma melhora da situação em que a maioria se encontra atualmente. Diana Araujo

Sonho: “Dar uma reviravolta na minha vida, voltar a ter vínculo com a minha família”

Sonho: Terminar a faculdade de tecnologia em alimentos que tranquei no ultimo ano de conclusao do curso na UEPG”

Nadir Vierira de Oliveira

Marcos Aurélio de Paula

Como se tronou morador de rua: “Usuário de drogas” Sonho: “Voltar ao mercado de trabalho como auxiliar de produçâo largar as drogas”

Como se tornou moradora de rua : brigas familiares, pai e madrasta. “Meu grande sonho é melhorar de vida , ter um lar, arrumar um serviço e construir uma família.” Andréa da Silva

Ântonio Ricardo Coelho

O CONVÍVIO COM DROGAS AFETA CERCA DE 80% DOS MORADORES DE RUA

Moradores de rua buscam uma realidade de vida melhor

Fotos: Diana Araujo

Nos últimos dois meses, dois moradores de rua foram queimados vivos em Curitiba. O Grupo de Trabalho de Inclusão Social da População de Rua (GTI) articula a criação de um dossiê para chamar a atenção das autoridades responsáveis pela segurança da cidade. Buscando mobilizar a sociedade, a população de rua realiza protestos e mobilizações para mostrar sua indignação com a falta de políticas efetivas, que tratem todo cidadão igualmente, independente da quantidade de “bens” que este possui. Devido ao grande número de denúncias feitas pela população, o GTI com o Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) está com projetos para organizar um conjunto de documentos, contendo todos os atos de violência ocoridos neste ano no Paraná. Esse documento apresentará as mortes e agressões físicas contra moradores de rua que foram denúnciadas no Disk100 e pela internet. O GTI alega que as autoridades não fazem nada para mudar essa realidade violenta contra as pessoas que moram nas ruas. Querem mobilizar a sociedade como forma de protesto contra as autoridades responsáveis pela segurança em Curitiba, que para eles é falha. Crêem que todo cidadão tem o mesmo direito à segurança. Os moradores criticam a polícia pois afirmam que ela não investiga , nem dá o valor devido à tais casos, tratando com descaso os desabrigados. “Por que não estão sendo investigadas as mortes da população em situação de rua? Quando a ‘moça’ que trabalhava no Shopping Mueller sumiu, não demoraram pra encontrar ela. Agora quando é morador de rua, ninguém nem fica sabendo que sumiu.” Diz Leonildo Monteiro, coordenador nacional do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR) e ex-morador de rua. O Movimento alega que desde janeiro de 2011, mais de 100 moradores de rua foram mortos no Paraná, e que essas mortes não

Jeferson Ribeiro, morador de rua e representante do MNPR

O Movimento Nacional da População de Rua de Curitiba semanalmente se reúne com objetivos de discutir assuntos e levantar propostas e projetos para a melhoria dos problemas enfrentados pelos moradores de rua. Desabrigados enfrentam diáriamente vários problemas, mas os mais importantes são os de saúde, abrigo, comida e higiêne. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS de 2008), 2776 pessoas encontravam-se desabrigadas em Curitiba. Hoje não se sabe ao certo a quantidade de pessoas, mas extima-se que mais de 3000 vivem nas ruas. Na capital do Paraná, existe apenas dois abrigos para moradores de rua. Um deles com 320 leitos, abrigo da (FAS) Fundação de Ação Social, mantido pela Prefeitura de Curitiba.

Moradores de rua discutem melhorias para os desabrigados

O outro local é mantido pela FAS, a casa de convivência João do Ivalino, com aproximada mente 30 vagas, somando um total de 350, ou seja, a disputa por um espaço é muito grande entre os desabrigados. Os maiores problemas que carac-

terizam grande parte dos desabrigados é o alcoolismo e drogas. O Grupo de Trabalho de Inclusão Social da População de Rua (��������������������� GTI) afirma que aproximadamente 80% dos moradores são dependentes. O Grupo de trabalho de inclusão

social da população de rua do Paraná não possui recurso nenhum para se manter, eles sobrevivem de doações de comida, roupas e cobertores, pois não apoio financeiro de nenhum órgão ou instituição no estado ou na cidade. Segundo Leonildo Monteiro, coordenador nacional do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR) o melhor caminho é a criação de políticas públicas que tragam oportunidades, pois falta iniciativa do poder público para a melhoria nas condições de vida desses cidadãos. O GTI se esforça para obter melhorias para a população que vive nas ruas. A maioria dos desabrigados de Curitiba está localizada no centro, entre as Praças Tiradentes, Rui Barbosa e Osório. (DA)

O jornal a Laje é uma iniciativa do Movimento Nacional da População de Rua em parceria com o Núcleo de Comunicação de Educação Popular da Uiversidade Federal do Paraná, com objetivo de “dar voz” às pessoas desabrigadas. O jornal mensal traz notícias pautadas pelos próprios moradores das ruas. Com uma tiragem de 500 exemplares, o jornal circula há 10 meses em grandes metrópoles como Brasília, Belo Horizonte e Curitiba. O projeto tem como foco chamar a atenção da sociedade para uma melhoria nas condições das pessoas que moram nas ruas e divulgar também fatos encobertos pela mídia. Mesmo sendo um jornal simples de uma página somente, frente e verso, A Laje tem ajudado muito o movimento de moradores de rua. Também alcança educadores, autoridades estaduais, nacionais e até internacionais, como a ONU . O nome do jornal foi uma ideia de um dos moradores de rua. A gíria utilizada por desabrigados, é utilizada quando o cidadão acorda na rua, no chão, em baixo da ponte, ele diz “dormi na laje”. Possui dois colaboradores na área de jornalismo, estudantes da UFPR. Felipe Nascimento e Franciele Schramm, diagramam e escrevem as matérias junto com o Movimento dos Moradores de Rua e o GTI. (DA)

Informativo das atividades do MNPR:

- 16-17 ou 17-18 de agosto: evento do MNPR-PR em Joinville Santa Catarina - 18 de agosto: reunião de rede solidária - 18 de agosto: vídeo conferência sobre tuberculose - 19 de agosto: ato da população em situação de rua. Local: Praça Tiradentes, 10h - 20 de agosto: Lançamento da Marcha do Comitê da Copa. Local: Praça Santos Andrade - 21 de agosto: reunião preparatória para o fórum metropolitano - 22,23 e 24 de agosto: reunião do comitê Inter setorial de acompanhamento e monitoramento da política nacional para a população em situação de rua, em Brasília - Adiamento da reunião com o Promotor da justiça de Paranaguá. Alterado do dia 11/08/2011 para o dia 01/09/2011.


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Curitiba, agosto de 2011

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Curitiba, agosto de 2011

MAIS DE 3.000 PESSOAS SÃO MORADORES DE RUA EM CURITIBA E PROCURAM VIVER UNIDOS PARA SOBREVIVER AO DIA-A-DIA NAS RUAS

Desabrigados buscam criar um dossiê para reivindicar segurança e inclusão social Assassinatos cometidos contra moradores de rua levam o Movimento Nacional da População de Rua a desenvolver projetos para mobilização da sociedade curitibana e as autoridades responsáveis pela segurança social da capital paranaense foram investigadas corretamente. Acreditam que isso ocorre pelo fato de não serem considerados cidadãos de tanta importância, quanto os que possuem um endereço fixo. O GTI afirma que com a criação de tal arquivo, o próximo passo é entregá-lo aos grandes veículos de comunicação, para que chamem a atenção da população e das autoridades. Tentando assim, melhorar a discriminação contra moradores de rua. Além de buscarem mostrar para a sociedade sua indignação sobre a exclusão que sofrem, buscam mostrar seu desprezo pelo novo projeto da RPC, “Paz sem Voz é Medo”. Segundo o movimento e os moradores de rua, a campanha é preconceituosa, pois afirmam que mostra pessoas que vivem nas ruas como uma ameaça à sociedade. Alegam que nem todos os moradores de rua são bandidos e que existem os que procuram melhorar sua situação atual de vida de maneira honesta. O projeto que busca,

não só denúnciar e divulgar os números da criminalidade no Paraná, mas também abrir espaço para que a sociedade discuta as causas, os efeitos e tudo que gera a violência e o medo, trazendo insegurança à sociedade. O MNPR busca uma política de município efetiva que atenda as necessidades básicas das pessoas que vivem nas ruas. o grupo de apoio a moradores de rua se reúne semanalmente e discute pautas decorrentes dos problemas enfrentados por eles. Os habitantes das ruas procuram conhecer seus direitos e deveres como cidadãos, e sonham com uma melhor realidade para a situação em que se encontram. Além disso o propoem projetos para incentivar uma vida livre das drogas para os desabrigados. Incentivando portanto uma melhora da situação em que a maioria se encontra atualmente. Diana Araujo

Sonho: “Dar uma reviravolta na minha vida, voltar a ter vínculo com a minha família”

Sonho: Terminar a faculdade de tecnologia em alimentos que tranquei no ultimo ano de conclusao do curso na UEPG”

Nadir Vierira de Oliveira

Marcos Aurélio de Paula

Como se tronou morador de rua: “Usuário de drogas” Sonho: “Voltar ao mercado de trabalho como auxiliar de produçâo largar as drogas”

Como se tornou moradora de rua : brigas familiares, pai e madrasta. “Meu grande sonho é melhorar de vida , ter um lar, arrumar um serviço e construir uma família.” Andréa da Silva

Ântonio Ricardo Coelho

O CONVÍVIO COM DROGAS AFETA CERCA DE 80% DOS MORADORES DE RUA

Moradores de rua buscam uma realidade de vida melhor

Fotos: Diana Araujo

Nos últimos dois meses, dois moradores de rua foram queimados vivos em Curitiba. O Grupo de Trabalho de Inclusão Social da População de Rua (GTI) articula a criação de um dossiê para chamar a atenção das autoridades responsáveis pela segurança da cidade. Buscando mobilizar a sociedade, a população de rua realiza protestos e mobilizações para mostrar sua indignação com a falta de políticas efetivas, que tratem todo cidadão igualmente, independente da quantidade de “bens” que este possui. Devido ao grande número de denúncias feitas pela população, o GTI com o Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) está com projetos para organizar um conjunto de documentos, contendo todos os atos de violência ocoridos neste ano no Paraná. Esse documento apresentará as mortes e agressões físicas contra moradores de rua que foram denúnciadas no Disk100 e pela internet. O GTI alega que as autoridades não fazem nada para mudar essa realidade violenta contra as pessoas que moram nas ruas. Querem mobilizar a sociedade como forma de protesto contra as autoridades responsáveis pela segurança em Curitiba, que para eles é falha. Crêem que todo cidadão tem o mesmo direito à segurança. Os moradores criticam a polícia pois afirmam que ela não investiga , nem dá o valor devido à tais casos, tratando com descaso os desabrigados. “Por que não estão sendo investigadas as mortes da população em situação de rua? Quando a ‘moça’ que trabalhava no Shopping Mueller sumiu, não demoraram pra encontrar ela. Agora quando é morador de rua, ninguém nem fica sabendo que sumiu.” Diz Leonildo Monteiro, coordenador nacional do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR) e ex-morador de rua. O Movimento alega que desde janeiro de 2011, mais de 100 moradores de rua foram mortos no Paraná, e que essas mortes não

Jeferson Ribeiro, morador de rua e representante do MNPR

O Movimento Nacional da População de Rua de Curitiba semanalmente se reúne com objetivos de discutir assuntos e levantar propostas e projetos para a melhoria dos problemas enfrentados pelos moradores de rua. Desabrigados enfrentam diáriamente vários problemas, mas os mais importantes são os de saúde, abrigo, comida e higiêne. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS de 2008), 2776 pessoas encontravam-se desabrigadas em Curitiba. Hoje não se sabe ao certo a quantidade de pessoas, mas extima-se que mais de 3000 vivem nas ruas. Na capital do Paraná, existe apenas dois abrigos para moradores de rua. Um deles com 320 leitos, abrigo da (FAS) Fundação de Ação Social, mantido pela Prefeitura de Curitiba.

Moradores de rua discutem melhorias para os desabrigados

O outro local é mantido pela FAS, a casa de convivência João do Ivalino, com aproximada mente 30 vagas, somando um total de 350, ou seja, a disputa por um espaço é muito grande entre os desabrigados. Os maiores problemas que carac-

terizam grande parte dos desabrigados é o alcoolismo e drogas. O Grupo de Trabalho de Inclusão Social da População de Rua (��������������������� GTI) afirma que aproximadamente 80% dos moradores são dependentes. O Grupo de trabalho de inclusão

social da população de rua do Paraná não possui recurso nenhum para se manter, eles sobrevivem de doações de comida, roupas e cobertores, pois não apoio financeiro de nenhum órgão ou instituição no estado ou na cidade. Segundo Leonildo Monteiro, coordenador nacional do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR) o melhor caminho é a criação de políticas públicas que tragam oportunidades, pois falta iniciativa do poder público para a melhoria nas condições de vida desses cidadãos. O GTI se esforça para obter melhorias para a população que vive nas ruas. A maioria dos desabrigados de Curitiba está localizada no centro, entre as Praças Tiradentes, Rui Barbosa e Osório. (DA)

O jornal a Laje é uma iniciativa do Movimento Nacional da População de Rua em parceria com o Núcleo de Comunicação de Educação Popular da Uiversidade Federal do Paraná, com objetivo de “dar voz” às pessoas desabrigadas. O jornal mensal traz notícias pautadas pelos próprios moradores das ruas. Com uma tiragem de 500 exemplares, o jornal circula há 10 meses em grandes metrópoles como Brasília, Belo Horizonte e Curitiba. O projeto tem como foco chamar a atenção da sociedade para uma melhoria nas condições das pessoas que moram nas ruas e divulgar também fatos encobertos pela mídia. Mesmo sendo um jornal simples de uma página somente, frente e verso, A Laje tem ajudado muito o movimento de moradores de rua. Também alcança educadores, autoridades estaduais, nacionais e até internacionais, como a ONU . O nome do jornal foi uma ideia de um dos moradores de rua. A gíria utilizada por desabrigados, é utilizada quando o cidadão acorda na rua, no chão, em baixo da ponte, ele diz “dormi na laje”. Possui dois colaboradores na área de jornalismo, estudantes da UFPR. Felipe Nascimento e Franciele Schramm, diagramam e escrevem as matérias junto com o Movimento dos Moradores de Rua e o GTI. (DA)

Informativo das atividades do MNPR:

- 16-17 ou 17-18 de agosto: evento do MNPR-PR em Joinville Santa Catarina - 18 de agosto: reunião de rede solidária - 18 de agosto: vídeo conferência sobre tuberculose - 19 de agosto: ato da população em situação de rua. Local: Praça Tiradentes, 10h - 20 de agosto: Lançamento da Marcha do Comitê da Copa. Local: Praça Santos Andrade - 21 de agosto: reunião preparatória para o fórum metropolitano - 22,23 e 24 de agosto: reunião do comitê Inter setorial de acompanhamento e monitoramento da política nacional para a população em situação de rua, em Brasília - Adiamento da reunião com o Promotor da justiça de Paranaguá. Alterado do dia 11/08/2011 para o dia 01/09/2011.


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Curitiba, agosto de 2011

SEM O TRABALHO DOS CATADORES DE LIXO, A CIDADE ECOLÓGICA NÃO SERIA TÃO LIMPA

Resto dos ricos é o luxo dos pobres

Carrinheiros disputam com o caminhão de lixo e às vezes acabam fazendo bagunça nas lixeiras dos prédios Curitiba produz aproximadamente 44 toneladas de lixo reciclável por dia, para ser coletado pelos caminhões da prefeitura municipal, conhecidos também como “lixo que não é lixo”. Eles passam em todo o território da cidade, fazendo a coleta seletiva, com uma frequência de pelo menos três dias na semana, mas muito reciclável seria deixada de lado sem o trabalho dos carrinheiros. Esse trabalho consiste em recolher o maior quantidade de lixo reciclável possível, para depois pesar e vender. Chegam a conseguir em média 100 reais por semana com essa atividade. O que dificulta, no entanto, é a não separação do lixo orgânico do reciclável pela parte dos moradores de prédios e condomínios, o que faz com que os catadores tenham que revirá-lo, causando assim desordem na frente das moradias. Irenilda Arruda, presidente da Associação de Mães da Vila das Torres, coordena um projeto voltado aos carrinheiros. Ela diz que a rotina deles é pesada e que eles devem acordar por volta das cinco horas da manhã para que possam chegar antes dos caminhões de lixo da prefeitura. O catador Benedito Silva, diz que os moradores dos prédios

preferem deixar os latões de lixo trancados, usando o argumento de que os catadores fazem muita bagunça na hora que vão separar e pegar o lixo que não é lixo. “Bagunçamos porque eles não separam o lixo comum de papel, plástico e metal, daí temos que separar na hora que vamos pegar”, reclama Silva. Sônia Wactawski, profissional liberal, reside em um apartamento no bairro alto e disse que em seu prédio tem duas lixeiras, uma para o lixo orgânico e outra para o reciclável. Comentou que a lixeira é aberta apenas na hora em que o caminhão do “lixo que não é lixo” passa, mas que normalmente o carrinheiro já está esperando para conseguir pegar uma parte do lixo reciclável. Ana Maria, 49 anos, catadora de lixo há 20, acorda todos os dias cedo para levar a neta à escola e sair para recolher o lixo da cidade ecológica. A carrinheira comenta que Curitiba é muita rica na quantidade que produz de lixo, mas que as pessoas deviam aprender a separálo. Diz ainda que o que é lixo para uns, mais tarde passa a ser sustento e riqueza para outros. Ana Luisa Bussular Rhaíssa Silva

Curitiba poluída e população desinformada

Rio de Janeiro - 21,23 Curitiba - 21,43 Porto Alegre - 22,25 São Paulo - 30,90

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Fotos: Gustavo Magalhães

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o limite de partículas poluentes não ultrapasse 10 microgramas por metro cúbico. Em Curitiba, o nível de poluição é duas vezes maior que o tolerado, com 21,43 microgramas metro cúbico.

A dificuldade de quem sofre para manter a cidade ecológica limpa 1 - 87% dos entrevistados acreditam que o nível de poluição de Curitiba é razoável; 2 - 9% acreditam que quase não há poluição; 3 - 4% acreditam que o nível de poluição é crítico.

Menino observa a pesagem do lixo reciclável recolhido pelos catadores durante o dia. Os carrinheiros reclamam que os caminhões de lixo que não é lixo, passam muito cedo em alguns lugares, como o Mercado Municipal, com isso, muitos acordam ainda de madrugada para o recolhimento do reciclável e ainda encontram dificuldade com lixeiras fechadas com cadeados ou até mesmo dentro dos prédios, impedindo o acesso para a coleta.

meio ambiente Céu de Curitiba e região metropolitana não é mais o mesmo Com o passar do tempo, as estrelas foram desaparecendo, mesmo estando no mesmo lugar. Isso, devido a uma forma de poluição, que durante a noite, deixa as nuvens brancas, amareladas ou alaranjadas. A poluição luminosa é causada pela luz projetada e iluminada para o céu, fazendo assim, um bloqueio com a luz dos astros. Boa parte da população que vive em grandes cidades, não tem noção do quanto são afetados por esse tipo de poluição. Desse modo, diversos grupos amadores de astronomia são impedidos de exercer seus hobbies, devido à alta quantidade de luz nas cidades e então, migram para lugares onde não existe claridade. O grupo Nevoeiro, organiza saídas à lugares em torno de 50 km de Curitiba e mesmo assim, observam a grande poluição luminosa na região metropolitana. O engenheiro eletricista comenta que o município de São Luiz do Purunã e a cidade de Rio Branco do Sul estão sendo afetadas pela poluição do céu. Fernando Augusto Lopes Corrêa, estuda astronomia há mais de 25 anos e faz parte do grupo de astrônomos amadores Nevoeiro. Para ele, o céu de Curitiba é péssimo para estudar as estrelas. Corrêa diz que isso é consequência da iluminação pública e também de instalações particulares: “O que posso afirmar, com certeza, que é um grande desperdício de energia e dinheiro. Se o Brasil investir em um sistema mais racional poderá adiar investimentos em geração, transmissão e distribuição de energia para sustentar um desperdício que pode ser evitado”, por fim, completa: “Pensam que iluminando mais dão maior segurança. É correto afirmar que a iluminação pública e privada são fatores que influenciam a segurança. O problema sempre são os exageros.” Fernando Corrêa finaliza alertando que basicamente se combate a poluição luminosa através de substituição de luminárias ou lâmpadas por outras mais eficiêntes. Em certos casos pode-se diminuir a potência das lâmpadas e consequêntemente a energia e o dinheiro gasto. Gustavo Magalhães Náthalie Sikorski


saúde

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Curitiba, agosto de 2011

SUBSTÂNCIA É EXTRAÍDA DA RAIZ DE PLANTA AFRICANA E NÃO TEM REGULAMENTAÇÃO DA ANVISA

Ibogaína, a solução final contra o vício? Após sonhar por 12 horas pela ação do tratamento, pacientes dizem estar livres da vontade incontrolável de usar drogas e álcool

Os efeitos da ibogaína Além de agir na química cerebral, a ibogaína promove uma psicoterapia intensiva no paciente. Segundo relatos de usuários, os sonhos ocorridos durante o tratamento trazem imagens da própria vida. “A sensação é de completa dissolução da identidade pessoal, seguido a uma fase de experiências de visões do plano superior, onde ocorrem as experiências que transformam para sempre a mente de quem usa” explica o músico e advogado paraibano Felipe Kariri. O advogado relatou ter usado droga como simples experiência pessoal. Segundo ele “O efeito positivo (da ibogaína) é a abertura espiritual que ela proporciona”. O médico Bruno Rasmussen Chaves, diz que a ibogaína não pode ser considerada um alucinógeno. “É como sonhar de olhos abertos. Durante o sono temos apenas cinco minutos de sonhos a cada duas horas. Com a ibogaína são 12 horas”, explica Chaves. (TR)

Divulgação

Há dez anos, Curitiba é pioneira em um procedimento para tratar a dependência química ainda desconhecido no país. Diversos usuários de álcool e/ou drogas recorrem ao uso da ibogaína – substância originária de uma raiz africana – como último recurso na luta contra o vício. A ibogaína é extraída da raiz do iboga, planta africana utilizada em rituais sagrados milenares. Seu uso terapêutico foi descoberto nos anos 60 por Howard Lotsof, dependente de heroína. Desde então, existe uma rede internacional de provedores de tratamentos para a dependência química com a droga, oficiais ou não. Até hoje, cerca de 15.000 pessoas foram tratadas com a ibogaína no mundo todo. No Brasil, há apenas uma instituição que trabalha com o procedimento, a Clínica Cleuza Canan, com sede em Curitiba. Segundo Bruno Rasmussen Chaves, gastroenterolgista da clínica, a droga age no sistema nervoso e tem o poder “limpar” totalmente o organismo do paciente e desestimulá-lo a voltar a usar drogas. “O principal benefício é a rapidez do resultado. Já em 24 ou 48 horas, a fissura desaparece e o paciente volta a pensar “por si”, sem a pressão da necessidade de usar drogas“. Enquanto a maioria dos tratamentos tem taxas de eficácia por volta de 30%, a eficácia da ibogaína é de 80%, afirma o médico, que trabalha com a droga há 17 anos e é uma das referências internacionais sobre o assunto. Uma cápsula de ibogaína usada no tratamento pode custar até R$ 7 mil. O estudante Rafael* era viciado em álcool, maconha e cocaína. Por indicação de um amigo que se curou da dependência com a ibogaína e com o apoio dos pais, decidiu procurar o tratamento, que, segundo ele, foi totalmente eficaz. “A sensação que eu tive depois (do tratamento) era de um grande bem-estar, de nunca ter usado nada e não tive mais vonta-

Cápsulas de ibogaína são vendidas na Internet por sites estrangeiros

de de usar nada” diz. Hoje, ele não faz uso de nenhuma medicação, apenas freqüenta grupos de apoio psicossocial. Riscos Para Rafael, o tratamento não oferece riscos, pois o paciente recebe acompanhamento médico durante as 24 horas em que fica internado sob o efeito da droga. Além disso, é feita uma bateria de exames cardiológicos. O tratamento é contra-indicado para pessoas com doenças no coração, fígado e rins e ainda é restrito a poucas pessoas por conta de seu preço. Diversos especialistas da área ainda possuem dúvidas quanto à eficácia da substância no combate à dependência química,

já que ainda há poucas pesquisas sobre o assunto. A literatura médica registra 12 mortes associadas ao uso da ibogaína. De psicóloga Solange Barão, que trabalha com dependência no Instituto Paranaense de Alcoolismo (IPTA), a substância possui resultados favoráveis, mas não há nada que indique a sua eficácia. “É uma alternativa na busca da abstinência que está sendo pesquisada e testada. Apresenta resultados de sucesso e insucesso, assim como os outros métodos desta área. Ainda não há comprovação científica de sua indicação”, analisa ela. Em parecer do Conselho Regional de Medicina, o médico Marco Antônio Bessa, aponta para

os possíveis prejuízos que a substância pode trazer aos pacientes. “Seu uso não é recomendado até que as evidências científicas sejam fortes, especialmente por tratar-se de substância alucinógena potente que pode desencadear quadros psiquiátricos graves e mesmo outras conseqüências clínicas danosas”, alerta ele. Comprovação científica A ibogaína possui restrições a seu uso em diversos países do mundo por conta da falta de comprovação científica sobre o assunto. Na Nova Zelândia e na Holanda, ela é utilizada normalmente. Nos Estados Unidos, ela é ilegal e utilizada apenas em pesquisas realizadas com animais por

universidades. Na Dinamarca, Suécia e Suiça, a droga é totalmente proibida. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não restringe a ibogaína, mas também não regulamenta seu uso como medicamento. Os tratamentos são considerados experimentais, não é permitida a fabricação e comercialização nas farmácias brasileiras e por isso a ibogaína tem que ser importada dose a dose, pelo próprio paciente e pode ser encontrada na Internet em sites internacionais. *O nome foi preservado Thaís Reis Oliveira Renan Araújo


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saúde

Curitiba, agosto de 2011

falta de funcionários para integrar comissão hospitalar atrapalha notificação de disponibilidade de órgãos

Transplantes: burocracia é maior causa de demora

O que pode ser doado CÓRNEAS

VÁLVULAS CARDÍACAS

Consientização dos profissionais da saúde e da população pode reduzir falta de órgãos A comissão é formada por profissionais médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos. Muitos desses profissionais não recebem remuneração por mais esta atividade, e com isso, alguns não se dão ao trabalho de fazer esta busca. Para Glaucia Repula, assistente social da central de transplantes de Curitiba, “cada hospital deveria ter uma CIHDOTT e ela deveria ser específica, com profissionais capacitados e contratados apenas para esta função”. Uma comissão mal estruturada pode levar a falhas e a um sistema deficitário que desperdiça órgãos. Além da CIHDOTT funcionar corretamente, Glaucia afirma que deve haver uma melhor conscientização sobre doações de órgãos e aprimorar o atendimento dos

hospitais, para que quando um paciente dê entrada, ele e sua família sejam bem tratados durante todo o processo. Gerando assim confiança, pois, caso o paciente venha a óbito, a família não se revolte, ainda mais, quando for tocado no assunto doação de órgãos. Pensando na conscientização, a Santa Casa de Curitiba está trabalhando para implantar uma campanha permanente sobre doações de órgãos, e não apenas temporária, como na semana nacional em setembro. Uma das metas da campanha, segundo Pereira “é levar campanhas de conscientização para as escolas, para criar uma cultura sobre doações de órgãos desde a infância”. Isabelle Warzinczak Thiago Radael

gesto de amor Foi capaz de salvar uma vida e consolar uma famÍlia

Coração renova esperança e une famílias

PULMÃO FÍGADO RIM

PÂNCREAS MEDULA ÓSSEA

PELE

OSSOS

CÓRNEAS** - Retiradas do doador em até 6 horas após parada cardíaca e preserváveis por até 7 dias. VÁLVULAS CARDÍACAS** - Retiradas do doador em até 16 horas após a parada cardíaca e viáveis por 5 anos até o transplante. PULMÃO*** - Retirado do doador antes da parada cardíaca e preservado por 4 ou 6 horas. PÂNCREAS*** - Retirado do doador antes da parada cardíaca e preservado de 12 a 24 horas. MEDULA ÓSSEA* - Se compatível, é feita por aspiração óssea ou coleta de sangue. Doador inter-vivo. PELE** - Retirada do doador até 12 horas após a parada cardíaca e viável por 5 anos até o transplante. OSSOS** - Retirados do doador em até 6 horas após a parada cardíaca e viáveis por 5 anos.

Thiago Radael

Vanda Vieira, 53 anos, curitibana, aposentada, sempre foi contra a doação de órgãos. Nunca imaginou que no final de 2006, por causa de uma arritmia cardíaca precisaria de um doador para sobreviver. Não passou pela lista de espera, pois precisou ser transplantada com urgência, através de uma doação que veio de Londrina, na Santa Casa de Curitiba. O doador foi Pedro*, 25 anos, que perdeu a vida num assalto, onde morava com a família. A decisão de doar todos os órgãos do rapaz partiu da mãe, Joana*, que contou com incentivo da família. Vanda conta que mantém contato por telefone e redes sociais com a mãe do doador, mas, ainda falta coragem para finalmente se conhecerem pessoalmente. “Apesar de tudo nos tornamos grandes amigas, e eu sempre digo pra ela que estou

CORAÇÃO

Melanie Lisbôa

Filas de espera não são o único problema que os pacientes enfrentam quando precisam de um transplante. Muitos fatores dificultam o processo da doação, entre eles, a demora nos documentos que notificam a doação, e, nos exames clínicos que atestam a morte do doador e a compatibilidade com o receptor. Segundo o coordenador de transplantes da Santa Casa de Curitiba, Antoninho Pereira, nos hospitais existe uma comissão, chamada CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes), que agiliza o SNT (Sistema Nacional de Transplantes), procurando nas UTIs dos hospitais casos de pacientes com morte encefálica e, com parada cardíaca que sejam possíveis doadores.

FÍGADO*** - Retirado do doador antes da parada cardíaca e viável por 12 a 24 horas. Vanda: emoção e alegria de receber um novo coração

cuidando muito bem do coração do menino dela,” afirma. Questionada sobre o que aconteceria quando se encontrassem, tomada de forte emoção revela que daria um forte abraço agradecendo pela vida que recebeu através da escolha de Joana.

Depois da cirurgia, a aposentada que agora faz visitas de rotina ao hospital, convenceu toda a família a praticar esse gesto de amor, como ela, comovida, define a doação. *Os nomes foram preservados. Juliana Pivato

RIM*** - Retirado do doador em até 30 min após parada cardíaca e preservado por até 48 horas. CORAÇÃO** - Retirado do doador antes da parada cardíaca e viável por 4 a 6 horas até o transplante. * Doador vivo ** Doador morto *** Doador vivo ou morto


mobilidade

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Curitiba, agosto de 2011

Jovens unem o uso de bebidas alcóolicas com a prática de esportes em bicicletas de roda-fixa na capital

Bicicletas invadem a cidade e ganham espaço nas baladas os participantes. “Distribuímos várias garrafas de tequila para as mulheres que estiverem presentes já no início da festa. Mulheres animadas animam os homens e, conseqüentemente, deixam a festa bonita”. Nessas reuniões, apesar de terem o incentivo da bebida, nunca houve problemas com autoridades, assim como nunca houve brigas ou acidentes ou brigas entre os participantes. “Até hoje não tivemos nenhuma briga nessas festas, o que é ótimo, visto que o consumo de álcool alcança níveis industriais (bem mais de 600 garrafas de cerveja por noite) e a testosterona rola solta a noite inteira”, brinca o ciclista. Outros bares da cidade incentivam o uso da bicicleta como meio de transporte ao fazer promoções e descontos para os que chegam pedalando. Essas atitudes não só visam divulgar a bicicleta como meio de transporte viável para as pessoas, como também tem o intuito de unir as mais diversas pessoas pelo interesse no esporte. “Nestes

Marina Bueno

Atletas e simpatizantes do ciclismo vêm atraindo cada vez mais o público para a prática do esporte, através da realização de eventos tanto em praça pública como em baladas de Curitiba. A bicicleta ganha espaço na noite Curitiba, em inusitadas competições ou simplesmente fazendo promoções para aqueles que chegam pedalando. Guilherme Sant’Ana, ciclista desde os quinze anos e integrante do Fixa Cwb – organização em prol do ciclismo – defende a bicicleta não só como meio de transporte, mas como cultura. Ele conta que o primeiro contato com o Fixa Cwb foi através da chamada “Festa Da Multa”, onde os presentes juntaram-se para arrecadar dinheiro para pagar uma multa cobrada pela prefeitura, na qual um grupo de ciclo-ativistas pintou a primeira ciclo-faixa de Curitiba. Eles foram presos e multados, e a ciclo-faixa foi pintada de preto no dia seguinte. Outro evento que vem atraindo público é o Rock’n’Rollo, também de autoria do Fixa Cwb. A festa

Rock’n’Rollo: evento da Fixa Cwb realizado no bar Barba Negra

consiste em uma corrida de bicicletas de roda-fixa sobre rolos de treinamento. O participante pedala sem parar e sem sair do lugar, tendo um mecanismo responsável por saber quem percorreu os 666 metros antes. O objetivo é girar o pedal cada vez mais rápido e o ganhador é contemplado com prêmios. O Rock’n’Rollo chegou a sua

terceira edição no último mês de maio, e a cada novo evento atrai um numero maior de pessoas. O consumo de bebida alcoólica é alto e os participantes afirmam que isso da “mais emoção” para a festa. Para Victor Gollnick, criador do Fixa Cwb, além da inusitada competição de bicicletas, a bebida é o atrativo que empolga

Divulgação

Curitibanos formam grupo de ciclismo para promover eventos e“bicicletadas” visando sustentabilidade e uma melhor qualidade de vida

eventos conseguimos juntar várias ‘tribos’ diferentes dentro do ciclismo que vão desde, obviamente, o pessoal das fixas, passando por cicloturistas e até atletas profissionais de estrada e de pista”, diz Gollnick. Apesar do método arriscado de promoção para a bicicleta, ela vem ganhando espaço em todos os lugares. Anna Barbara Tuttoilmondo

FLUXO INSTENSO DE VEÍCULOS PREJUDICA CICLISTAS AO TENTAREM CRUZAR A CICLOVIA DO são lourenço

A Ciclovia do bairro São Lourenço, assim como muitas outras de Curitiba, sofre com o descaso por parte da prefeitura. Usuários deste trecho que liga o bairro ao centro da cidade colecionam histórias de violência e reclamam da ausência de ronda policial no local, além da falta de segurança na hora de atravessar os cruzamentos. A pavimentação do trecho está irregular em muitos pontos, sendo que em um deles, próximo a Rua João Guariza, metade da ciclovia cedeu, o que traz muitos riscos aos ciclistas, corredores e pedestres que passam pelo local, principalmente à noite. A vulnerabilidade do local é marcada por assaltos, como foi o caso de Dhionatan Sou-

za , 18 anos, que teve sua bicicleta levada por dois homens armados, enquanto andava com mais um amigo na ciclovia que fica atrás do Mercadorama do São Lourenço, por volta das 19h. O problema da segurança afeta, inclusive, moradores do bairro, como Gilson Antônio, 43, que já foi assaltado duas vezes nas mediações da ciclovia do São Lourenço. “Um deles tinha alguma coisa em baixo da blusa, parecia uma arma, como não vou arriscar, entreguei meus bens materiais e, logo, eles sumiram”, diz. Depois dessa experiência, Antônio prefere percorrer o caminho mais longo para chegar ao trabalho e faz um alerta: “Andar por essa ciclovia

a partir das 18h é pedir para ser assaltado”. Já o corredor Rusevelt Taborda, de 55 anos, reclama muito do problema que enfrenta ao tentar atravessar as ruas que cruzam a ciclovia, principalmente a Rua Professor Nilo Brandão. “Este ponto é crítico, os veículos muitas vezes param em cima da travessia elevada. São poucos os que respeitam os direitos dos pedestres que querem atravessar a rua e ir ao parque, sem contar que temos que parar a nossa atividade para esperar a boa vontade dos motoristas”, conta. Gustavo Almeida João Paulo Teles

Fotos: Gustavo Almeida

Ciclistas reclamam da falta de segurança nas ciclovias de Curitiba

Descaso com o cidadão: ciclovias se encontram em estado precário


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comportamento

Curitiba, agosto de 2011

“Estávamos interessados em fazer trabalho voluntário. Sentimos o chamado de Deus”

Fronteiras ultrapassadas pela solidariedade Muitos são os motivos que levam uma pessoa ou uma família a mudar de cidade, estado ou país. A procura por uma vida melhor é determinante no momento da escolha, mas para algumas famílias, motivos religiosos ou de responsabilidade social os levam a aceitar desafios transformando suas vidas. Para Deborah Dunn, 56, seu marido Timothy, 49, e seu filho Jonathan, 11, que há dois anos mudaram de Atlanta, Estados Unidos, para Curitiba, a missão de formar líderes religiosos foi uma das razões que motivou a família a morar no Brasil: “Estávamos interessados em fazer trabalho voluntário. Sentimos o chamado de Deus. Nos Estados Unidos entramos em contato com brasileiros que nos disseram que o Brasil precisa de ajuda para a formação de missionários”, declara Deborah. Deborah afirma não ter sido fácil se adaptar aos costumes do país mesmo já tendo morado no Brasil

Helena Salgado

Em busca de realizar trabalhos missionários, pessoas decidem transformar suas vidas e aceitam os desafios de viver outras culturas

Família Dunn, americana, realiza trabalhos missionários no Brasil

anteriormente, durante a adolescência, quando seus pais aqui vieram realizar trabalho missionário. Para a família, o comportamento dos brasileiros e o clima curitibano os surpreenderam: “Chegamos a pensar sobre países da Ásia, mas gostaria de ir para um lugar onde algum de nós conhecesse a língua. Foi por isso que pensei que no Brasil seria mais fácil. Os brasileiros são mais abertos que os americanos

em geral, mas o povo de Curitiba, em relação ao resto do país, é um pouco mais frio. Aqui tem pessoas de todas as origens, especialmente da Europa, posso perceber a diferença entre elas e as de outras partes do país”, afirma o casal. Há 47 anos no Brasil, Stephen Vanyo, 75, sacerdote há 49 anos, nascido nos Estados Unidos, conta que sua vinda para a América do Sul aconteceu inesperadamente:

“Saí do seminário, estávamos em 20 pessoas e nós recebemos um diploma de formação. Seis de nós também receberam um envelope. Ao abrir, vimos que era uma passagem de avião de Nova Iorque para São Paulo”, declara. Para o sacerdote, o fato de não saber a língua portuguesa não foi problema para sua adaptação. Aos risos, recorda de sua primeira semana no país, em que foi escalado para rezar a novena na comunidade, mesmo sem ter nenhum conhecimento sobre o português: “Me mandaram aprender apenas a primeira palavra das orações, que depois o povo continuava, e foi assim”. A missão de ajudar pessoas o levou a morar em diversas regiões do país e afirma estar pronto para o seu novo trabalho em Ponta Grossa, onde auxiliará uma congregação de religiosas responsáveis por uma casa de reabilitação de dependentes químicos. Helena Salgado

cAPITAL PARANAENSE agrega etnias

Vidas opostas

Dirzinha da Luz Cruqui, 42 anos, Dirce como é chamada, nasceu em São Luiz (PR), passou parte de sua infância em Campo Mourão (PR) e com 11 anos mudou-se para Curitiba. Ela acredita que a vinda para a capital foi um divisor de águas em sua história e na de sua família. A cidade proporcionou crescimento na sua qualidade de vida. Entretanto, alguns de seus familiares que ficaram em Campo Mourão , tiveram como opção seguir outro caminho, segundo Dirce o do “dinheiro fácil” e envolveram-se no tráfico de drogas. Enquanto Dirzinha trabalhava como doméstica, conquistava sua casa, construía uma família, sua tia que permaneu em Campo Mourão entrava cada vez mais no mundo do tráfico e trazia junto seus filhos. Sua tia acabou presa, com pena de sete anos de reclusão. O sobrinho de Dirce, após três meses desaparecido, apenas consumindo drogas, conseguiu se reestruturar ao vir para Curitiba. Com a ajuda da dona de uma clínica de repouso, arrumou um emprego e hoje tem uma vida melhor. Para Dirce suas conquistas só puderam se concretizar com a ajuda de alguns “anjos” que encontrou pelo caminho. Kamal, chefe de seu pai, chegou a pagar o aluguel da casa onde ela morou e depois cedeu um de seus apartamentos para a família de Dirzinha viver. Os patrões de suas irmãs ajudaram com roupas para o frio. “Até hoje os curitibanos estão me ajudando”, afirma Dirce. “Eu já passei tanta coisa, que agora estou no céu. O céu é aqui e eu não sabia”, finaliza. Camila Castro

Escolha de ser curitibano A ideia de mudar-se não é sempre recebida com entusiasmo. O destino, muitas vezes não é o mais desejado. Porém, a maioria dos entrevistados acredita que a mudança foi boa para si e para a família. Ricardo Feitosa, nascido em Recife, com 11 anos mudou-se sozinho para Curitiba em busca de um bom colégio para estudar. Feitosa afirma: “fiquei um pouco assustado, pois morava em uma cidade muito diferente e tudo em Curitiba parecia novidade”. História não muito diferente da de Michael Mull, alemão, cuja mãe casou-se com um brasileiro e foi obrigado a se mudar para Santa Catarina. Depois de não encontrar boas escolas, mudou-se sozinho para Curitiba. Mull conta que não foi fácil no começo. O alemão afirma que mesmo insatisfeito com o clima, é feliz, e pretende passar o

resto da vida no Brasil. Rosana da Silva mudou-se para Curitiba pois seu marido, curitibano, tinha um emprego estável na capital. Rosana conta que ficou decepcionada quando chegou, porém afirma: “Depois de 20 anos de convivência com os curitibanos, minha relação é de amizade e carinho.”. Dennis Warren, inglês, casouse com uma paulista na Inglaterra, depois de decidir que o casal não queria morar em São Paulo, se mudaram para Curitiba, pois oferecia boa infraestrutura e ofertas de emprego. Anders Hojers, sueco, mudouse para a capital paranaense pelo fato de sua esposa ser transferida para São Paulo. Anders pediu remanejamento para Curitiba, assim ficaria próximo de sua família. Beatriz Zanelatto

Como você se sente em Curitiba?

“Minha vida é ótima”. Dennis Warren, inglês, professor

“Estou satisfeito com o tipo de vida que levo aqui”. Anders Höjer, sueco, analista de sistemas

“Gosto de Curitiba, só não gosto do clima”. Michael Mull, alemão, analista de sistemas

“Quando cheguei não tinha muitas expectativas, mas certamente Curitiba não me decepcionou”. Gabriel Lima, uruguaio, analista de sistemas


veterinária

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Curitiba, agosto de 2011

GATO OBESO É ATRAÇÃO EM CLÍNICA VETERINÁRIA NO BAIRRO NOVO MUNDO EM CURITIBA

Profissionais levam seus animais no trabalho A Clínica Veterinária Portal dos Bichos, no bairro Novo Mundo, é uma das que além de oferecerem serviços convencionais de atendimento a animais de estimação, dão orientação psicológica a donos cujos animais têm problemas, como a depressão. Os profissionais percebem cada vez mais, semelhança entre animais e humanos, devido às doenças em comum, entre elas a gastrite e a obesidade (Leia mais abaixo). O consultório ainda serve de residência para um casal de gatos, o Amy e a Dani e outro casal de cachorros da raça Silk Terrier, que já foram campeões em exposição. O proprietário, Dr. Leonardo Hrebinnik, 34 anos, casado com Micheline Cavichiolo, 36 anos, ambos graduados em medicina veterinária pela PUCPR, ainda têm mais cinco cachorros que são levados à clínica todos os dias. Como o casal trabalha junto o dia todo, desde o início da carreira, resolveram levar os animais ao trabalho, para que nos interva-

Fotos: Karen Okuyama

Veterinário alerta sobre a Síndrome do Abandono do Dono e dá orientações sobre cuidados com mascotes domesticados

Dr. Hrebinnik com o gato Amy e dois cães que moram na clínica

los possam dar carinho e atenção aos bichinhos, a fim de evitarem problemas psicológicos nos animais, já que verificaram diversos casos em pacientes que ficam muito tempo longe de seus donos. “Alguns pacientes que chegam à clínica apresentam mudança de comportamento, um dos sintomas é a agressividade até com seus donos,” revela o Dr. Hrebinnik. Mas a ansiedade e compulsão também são aliadas nos transtornos psicológicos. Os donos investem de todas as formas, buscando a plena recuperação do companheiro, mas muitas vezes, a cura não existe, os medicamentos só ajudam a controlar a doença. Conta o Dr. Leonardo, que muitos clientes ficam com medo quando chegam à clínica e vêem o Amy, pois o seu tamanho assusta um pouco, afinal não é qualquer gato que pesa 12 quilos com três anos de idade, mas ao mesmo tempo, o seu jeito dócil tem conquistado muitas pessoas

que sentiam aversão por felinos, despertando o desejo de possuir um também. Amy se pudesse falar, diria que viveu duas experiências marcantes, quando filhote, foi abandonado na frente da clínica e agora se tornou atração para as crianças que querem conhecê-lo e brincar com ele. Solidão não faz bem aos seres humanos e muito menos aos animais, todos precisamos de afeto e companheirismo, por isso, Hrebinnik é a favor de que as pessoas pudessem levar seus animais ao trabalho, neste caso o animal não ficaria sozinho, em troca, ajudaria os funcionários no combate ao estresse, aumentando o lucro das empresas ao produzirem mais, evitando assim muitos aborrecimentos e tristezas ao enfrentarem doenças que fazem sofrer tanto o animal quanto o dono diante de certas situações em que só a dedicação não é suficiente. Gleize Perez

bichos SOFREM DE DEPRESSÃO E GASTRITE , DOENÇAS ANTES DIAGNOSTICADAS SÓ EM SERES HUMANOS

Veterinários recomendam remédios antidepressivos para animais Um problema muito comum nos animais domesticados, é a síndrome do abandono do dono, que muitas vezes é difícil de os donos diagnosticarem. Acontece com animais que se sentem sozinhos, e sentem muito a falta do dono, começam a mostrar estresse frequentemente e ficam muito carentes. Geralmente os donos não classificam como alguma doença psicológica, pois pensam quem é normal o cão ficar acelerado ou deprimido algumas vezes, podendo causar mais dor no animal se demorar a começar o tratamento. A estudante Carolina Lopes Leivas, 27, hoje moradora de Curitiba, trouxe de Pelotas, Rio Grande do Sul, há cinco anos , um cachorrinho bebê, nomeado Boris, classificado como sendo SRD (sem raça definida). No começo era muito calmo e nunca deu pro-

blema. Ao passar alguns meses, ela percebeu que ele andava mais agitado do que antes e começou a comer tudo o que lhe aparecia na frente. Sendo os casos mais frequentes a destruição de fios e portas. Uma vez até destruiu a chave tetra de uma casa do casal. Ele também era muito ofegante e chegava a babar sem parar de tanta ansiedade, chegando até a agredir a dona. Com essa doença piorando ao passar dos anos, ela preferiu procurar um médico veterinário, o qual lhe receitou um remédio e que durante dois meses não fez efeito, e a dona vendo que não estava adiantando resolveu voltar ao médico. O veterinério teve que receitar outro remédio mais forte, o qual a dona não queria aceitar de início, mas sendo melhor para o cão, foi melhor ceder. Bóris não

queria tomar as cápsulas, então Carolina começou a colocar o pó do remédio no meio das comidas prontas para animais, porém com isso, chegou até a dar gastrite no animal, tendo que dar um jeito de Bóris tomar o medicamento. Na casa de seus pais, no Rio Grande do Sul, eles tinham mais três machos e duas fêmeas, e Bóris era muito calmo e manso, mas mesmo assim era complicado a convivência dele com os outros. Esse é um dos motivos da estudante e do seu noivo, publicitário, Rodrigo da Rosa Classen, 31, não terem mais cães para fazerem companhia a Bóris. O outro motivo era que seria um gasto muito alto para manter dois cães, pois eles precisam de alimentação e do hotel quando viajam, o que acontece frequentemente. Bóris não come nem bebe

água enquanto seus donos estão fora de casa. O cachorro preto começou a ter pelos brancos no corpo, e a dona acredita ser pelo estresse, mas hoje com o tratamento, Bóris já está bem melhor, com menos ataques aos fios e destruindo com menor frequência as

portas. Mesmo com as recaídas a família já pode passear mais tranquilamente e ver a brincadeira mais favorita dele, ser perseguido por outro cachorro.

Karen Okuyama

Bóris seguindo orientações médicas, passeando em uma praça


criança

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Curitiba, agosto de 2011

TORCEDORES SE DEDICAM A TRABALHOS VOLUNTÁRIOS MESMO SEM RECONHECIMENTO

O outro lado das organizadas em Curitiba Apesar de não ser de conhecimento da maioria da pessoas, as torcidas organizadas Império Alviverde e Os Fanáticos, do Coritiba e do Atlético Paranaense, respectivamente, promovem eventos sociais visando dar oportunidades e amor as crianças menos privilegiadas da capital paranaense. As duas torcidas chegaram a trabalhar juntas em prol das crianças. Trata-se do projeto Aprendendo a Torcer, onde os principais responsáveis pelas organizadas deixaram a rivalidade de lado e se uniram para fazer entregas de brinquedos, dar palestras e conversar com os menores em bairros da periferia. “Foi um projeto bastante interessante. Trabalhamos em conjunto para ensinar essa meninada a torcer, ir ao estádio para fazer festa e não para ficar arranjando confusão. Tenho certeza que o que estamos fazendo hoje terá um resultado maravilhoso lá na frente”, contou o presidente da Império Alviverde, Luiz Fernando Corrêa, 30, mais conhecido como Papagaio. Criado em novembro de 2006, o projeto Torcida Social, idealizado pela torcida Império Alviverde, visa dar oportunidades e ensinar crianças que vivem em orfanatos ou abrigos para menores. O projeto começou de forma tímida contando com a colaboração do Coritiba, da ONG Coritiba Eterno e o site Coxanautas tendo apenas visitas a lares infantis em períodos festivos, mas vem crescendo ano após ano. Os torcedores buscam também usar de suas habilidades musicais para além de ensinar os jovens a tocarem instrumentos, conquistar novos torcedores para o clube. “Nós nos divertimos ensinando as crianças. Isso não tem

preço. E além de tudo, o Coritiba ganha cada vez mais novos torcedores e a Império, membros”, explica Gabriel Zornig, 24, diretor de bateria da torcida verde e branca. O fato dos eventos estarem longe dos holofotes não incomoda o diretor de bateria, que até prefere isso a ser julgado de forma errônea. “É complicado. As pessoas não entendem que a gente faz isso por amor. Tem gente que chega a dizer que fazemos isso apenas pela imagem. Não precisamos disso, por isso é até melhor que fique restrito. Fazemos isso porque gostamos e nos dá prazer”. A última ação realizada pela uniformizada foi a festa julina ocorrida no último dia 23, onde toda renda será destinada a menores carentes. “A festa foi muito produtiva. Lucramos cerca de 1600 reais que serão integralmente destinados a ações para as crianças. Também recebemos a doação de centenas de brinquedos, que certamente farão o dia das crianças, de bastante gente, muito mais feliz”, contou o presidente, que também promete coisas novas para um futuro próximo. “Estamos concluindo nossa nova sede, que terá quatro andares e o terceiro será destinado exclusivamente para cuidar de projetos para a sociedade”, ressalta. Já a maior torcida organizada do Atlético Paranaense, o outro clube do estado que está na elite do futebol nacional, Os Fanáticos, busca incentivar crianças de uma forma diferente, porém, não menos importante. Os integrantes da torcida apoiam ao projeto Nossa Torcida é pela paz, que tira os jovens e crianças das ruas, para que pratiquem esportes. “O projeto tem como um dos objetivos criar um novo cidadão. Tirá-lo da marginalidade,

Stella Mafra

Torcidas Organizadas do Coritiba e do Atlético deixam a rivalidade de lado e se unem para dar assistência às crianças carentes

Aos olhos de um membro da torcida, meninos participam do projeto Nossa Torcida é pela paz

Stella Mafra

“As pessoas não entendem que fazemos isso por amor”

Diretores da Império Alviverde exibem com orgulho donativos arrecadados

dar uma oportunidade a essas crianças e mostrar que o estudo aliado ao esporte é o ������������ caminho certo para ser uma pessoa de bem.. Plantando coisas boas hoje, no futuro colheremos coisas ainda melhores”, explica Julião Sobota, 42, presidente da torcida, que aproveita e emenda. “Realizamos campeonatos com o objetivo de propiciar a prática esportiva, de forma recreativa e sistemática,

como opção de lazer e entretenimento para as crianças”. Conhecido popularmente como Julião da Caveira, o dirigente, de forma diferente da Império Alviverde, acredita haver importância na divulgação deste trabalho. “Essa rapaziada é maravilhosa. Sempre estão dispostos a ajudar. É uma pena que a sociedade, não veja esse outro lado da torcida e tenham uma visão to-

talmente errada sobre organizadas” relata. Ele acredita que essas ações sociais podem trazer novos integrantes para a organizada e torcedores para o clube, incluindo familiares das crianças que participam dos projetos. Rogério Scarione Stella Mafra William Borges


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