Curitiba, junho de 2010 - Ano 14 - número 183 - 2º Ano de Jornalismo manhã PUCPR - jornalcomunicare@hotmail.com - www.jornalcomunicare.wordpress.com
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opinião
Curitiba, junho de 2010
cidadãos sentem a falta de segurança enquanto o dinheiro público sofre com supostos desvios
Violência em Curitiba: reflexo da corrupção?
Thayse Nascimento
Nossa Capa
Enquanto pessoas de bem buscam proteção atrás dos muros, os ladrões estão á solta. Foto: Laura Sliva (muro) e Gian Andreso (Pessuti). Arte: Thayse Nascimento.
FALA, PROFESSOR
“Os assuntos polêmicos tratados no jornal contribuem para a formação cidadã de nossos acadêmicos e futuros dirigentes do país” Martia Izabel Pires, coordenadora do curso de Serviço Social, PUC-PR
FALA, LEITOR
“Eu vim do interior do Paraná porque não tinha trabalho lá. Eu faço parte dos imigrantes que o jornal mostrou” Lica, 40, doméstica
Foi publicado neste ano que a cidade de Curitiba é três vezes mais violenta que a de São Paulo, em relação ao número de homicídios por cada 100 mil habitantes. A divulgação assusta tanto porque a capital paulista costumava ser aquela cidade onde os índices de criminalidade eram os maiores do país. De repente, a vida de medo e cuidados, que parecia pertencer só aos paulistas, começou a chegar cada vez mais perto dos curitibanos e o que temos hoje é uma cidade amedrontada, com pouco efetivo policial e carente de soluções. A violência entrou na nossa casa sem bater e as pessoas na rua são o pior inimigo. Foi justamente o cenário de desordem da segurança que motivou a equipe do Comunicare a desenvolver essa edição. Ao mesmo tempo em que a população ergue muros forrados
de cercas eletrônicas e câmeras de vigilância, 100 milhões de reais são desviados do estado do Paraná, de acordo com as investigações do Ministério Público sobre os Diários Secretos da Assembléia. Justamente no ano em que a ausência de segurança parece estar mais próxima dos cidadãos, o dinheiro público se torna vítima de mais uma violência: a corrupção. Para alguns, o peculato - ato de roubar para si o que é um bem público - e a falta de segurança demoram a ser percebidos como atos relacionados, mas a proximidade de ambos é estreita. A falta de direcionamento da tributação dos curitibanos faz com que o dinheiro que poderia ser investido em efetivo policial ou educação acabe nos bolsos de quem foi escolhido pelos cidadãos para representar-lhes. No entanto, a responsabilidade
Marcela Lorenzoni
A capital paranaense tornou-se uma das cidades mais violêntas do país, os curitibanos têm o dever de exigir políticas públicas eficientes
por toda essa catástrofe não é somente das ações cometidas pelos parlamentares, mas também encontra ressonância na passividade da população. Isso ocorre uma vez que sendo, por exemplo, vítima de um assalto, a pessoa sente a violência diretamente em sua
OMBUDSMAN: Editorias estão deslocadas dentro do JORNAL
Desde a capa até a produção das matérias, a edição anterior possui vários erros A edição 181 tem uma capa entediante, com manchetes vazias, que nada contam. Mas o miolo do jornal - página 7 - é uma agradável surpresa. Ali está o suprassumo da edição. A única ressalva é que as reportagens estão deslocadas de editoria. Não são matérias de política. O mesmo aconteceu na editoria de Comportamento, que a escolha da pauta foi infeliz e as reportagens não dizem nada relevante. O sírio atleticano dava uma boa história, se a abordagem fosse bem humorada. O box “Cen-
sura” é totalmente desnecessário: ao leitor não interessa a relação entre o repórter e a assessoria de imprensa. O papel do jornalista também é buscar alternativas para concluir o trabalho. A entrevista na página 03 – local privilegiado do jornal – tem vários problemas. O primeiro é o título, que não chama a atenção do leitor. O entrevistado poderia ter sido provocado a fazer uma análise da migração atual, a relação com a imagem externa de Curitiba e o inchaço da Região Metropolitana. A abordagem foi fraca. A pergunta sobre
um suposto movimento xenófobo de “Orgulho Curitibano” é vazia e arriscada. O problema da hierarquia das reportagens continua. A matéria que valia manchete de capa estava escondida no meio do jornal. Outro exemplo: em Cultura, as reportagens da página 14 salvam a editoria. Deveriam vir antes. E o que faz a manchete de capa na página 16?
EXPEDIENTE Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Edição nº 183 Junho de 2010
Reitor: Clemente Ivo Juliato Decano CCJS: Roberto Linhares da Costa Decano Adjunto do CCJS: Marilena Winters Diretora do Curso de Jornalismo: Monica Fort
Jornalista responsável: Zanei Barcellos DRT-118/07/03 Projeto Gráfico: Marcelo Públio
Pontifícia Universidade Católica do Paraná Rua Imaculada Conceição, n‘ 1.155 Prado Velho, Curitiba
COMUNICARE
Roberta Canetti, Produtora, Rádio CBN
EDITORES Primeira Página: Thayse Nascimento Educação: Rubiane Kaminski Policial: Laura Sliva
rotina. De forma contraditória, quando ela se depara com episódios como o dos diários secretos, dificilmente enxerga a relação que há entre a corrupção e a cotidiana carência de segurança. Carla Comarella
COMENTÁRIO ESPECIAL Ricardo Kotscho* Recebi e gostei muito do Comunicare. O jornal está bem equilibrado ao tratar de temas da vida real. É sempre preciso mesclar matérias sobre problemas sociais com o lado bom da vida, que também existe. Seria legal se todo número tivesse uma boa entrevista e/ou um perfil de alguém fora da grande mídia. *Ricardo Kotscho é jornalista e atualmente escreve para o Portal IG e para a revista Brasileiros
Segurança: Flávia de Andrade Política: Laura Sliva Geral: Taisa Echterhoff e Talita Inaba Comportamento: Bethina Perussolo Drogas: Idionara Bortolossi Tecnologia: Camila Machado Esporte: Ricardo Tomasi Sociedade: Camila Petry Cultura: Giovanna Miqueletto
política
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Curitiba, junho de 2010
CURITIBA - COMUNICARE DISCUTE SEGURANÇA PÚBLICA COM AUTORIDADES E EXPERTS
Violência cresce 53,8% em 2 anos
Os R$ 100 milhões desviados da Assembleia poderiam ter sido investidos em melhorias para segurança
Falta de políticas públicas e de investimentos em segurança são as principais causas da violência que afeta os moradores de Curitiba, segundo Hamilton Dal’Lin Neto, um dos coordenadores do Movimento Pró-Paraná. “Ultimamente os investimentos em políticas públicas de segurança não ocorreram. Nós temos políticas que fazem somente servir para a eleição de governantes descompromissados com a finança pública”, afirmou o advogado. As mesmas práticas corruptas da década de 80 continuam. “Cor r upção e desvios afetam todas as áreas do Estado. Na medida em que o Estado tem menos recursos para aplicar nas suas políticas, cada setor, por menor que seja, sofre, tem menos orçamento”, diz Cláudio Abramo, presidente da ONG Transparência Brasil. O Ministério Público estima que foram desviados mais de R$ 100 milhões dos cofres públicos só nos escândalos da Assembleia Legislativa do Paraná. Se melhor gerenciado, esse dinheiro poderia servir para investir em setores precários em Curitiba, como segurança pública. “Se economizassem e utilizassem esse dinheiro em outros setores, ele seria melhor administrado. Sabemos que no Paraná faltam pelo menos 20 mil policiais militares e 300 mil policiais civis”, declarou José Augusto Araújo de Noronha, presidente da Caixa dos Advogados (CAA/PR). Atualmente, há 3.500 policiais militares nas
ruas de Curitiba. Porém, segundo Senio Abdon Dias, procurador do Estado aposentado e advogado da Associação de Policiais Militares, faltam aproximadamente 4 mil policiais para uma segurança pública de qualidade. “Falta contingente, operacionalidade, e também especialização”, relata. Levando-se em conta que um policial tem custo de aproximadamente R$ 3.000 por mês para o Estado, os R$ 100 milhões desviados poderiam sustentar em média 2.574 policiais durante u m ano, ou seja, quase suprindo a necessidade atual de Curitiba. Carlos Luis Strapazzon, mestre em Direito do Estado, calculou que a Assembleia gasta R$ 3 milhões e 800 mil por mês, com 1.242 cargos comissionados. Em vez de gastar 3 milhões de reais por mês com servidores não concursados, por que não gastar o mesmo valor em mil policiais e proteger a população? “A falta de serviços públicos é questão de destinação orçamentária. Curitiba não é uma cidade segura. Eu me impressiono com o número de casas e edifícios com segurança própria. Falta uma estrutura do Estado, da polícia, do sistema judiciário”, afirmou Maurício Guimarães, conselheiro da Ordem de Advogados do Paraná (OAB). “Os desvios de dinheiro público acarretam custos diretos e indiretos na segurança pública. O que eles estão fazendo para melhorar a sociedade?”, critica Rosane Kolotelo Wendpap, professora de Direito Econômico da
R$ 100 milhões poderiam sustentar 2.574 policiais a mais
Rosane Kolotelo Wendpap, professora de Direito Econômico e Direito Internacional da Tuiuti
“Ultimamente os investimentos em políticas públicas de segurança não ocorreram” Hamilton Dal’Lin Neto, um dos coordenadores do Movimento PróParaná
Giancarlo Andreso
“Curitiba ainda é uma cidade segura se comparada a outras capitais”, afirmou o governador Orlando Pessuti ao Comunicare. Porém, quando recém empossado como governador do Paraná, sua casa em Curitiba sofreu uma tentativa de assalto, que culminou na morte do criminoso. Ou seja, Pessuti só ficou em segurança por ter a Polícia Militar como guarda pessoal. Se até a casa do governador é quase invadida, como fica a situação do simples cidadão? O que está deixando a violência bater na porta do curitibano? Falta de políticas públicas e de investimentos no setor são consequências da má administração e de desvio de dinheiro. Conforme dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) a violência cresceu 53,8% nos últimos dois anos em Curitiba. Levantamento estatístico do Crimes em Curitiba apontou que, apenas em maio de 2010, ocorreram 123 mortes violentas, uma média de quatro mortes por dia, sendo que 108 foram causadas por arma de fogo. Curitiba tem proporcionalmente 3 vezes mais homicídios que São Paulo. Atenção: falta o dobro de policiais nas ruas de Curitiba. Os estimados R$ 100 milhões desviados na Assembleia Legislativa poderiam ser investidos
“Os desvios de dinheiro público acarretam custos diretos e indiretos na segurança pública. O que eles estão fazendo para melhorar a sociedade?”
“Sem pressão, a situação não muda” Apesar de vítima, governador Pessuti afirma que Curitiba é segura
Universidade Tuiuti. Rosane contou que Curitiba empiricamente não é uma cidade segura. Relata que tentou um levantamento sobre os gastos que são consequência da crescente violência na capital paranaense, mas faltaram informações. “A negação do acesso às informações é a negação da democracia”, alerta. Além da falta de investimento, outro fato é apontado: má administração. “Isso também se dá pela forma de administração da própria Secretaria de Segurança Pública”, afirmou Senio Abdon Dias, procurador do Estado aposentado. Senio defendeu um policiamento de educação, de prevenção. “ For a o a u mento do contingente e dos investimentos, é necessário criar uma relação de confiança entre a polícia e a sociedade”, completa. “Temos que parar e questionar: qual é a finalidade da atividade? Crimes localizados, de bairro, de fácil identificação não são solucionados. Porque falta verba, falta contingente, falta operacionalidade, falta especialização”, critica F.C.S., autoridade de alta patente da PM que pediu para não ser identificado. José Lucio Glomb, presidente da OAB do Paraná, apontou, entre possíveis soluções, maiores investimentos e aumento dos efetivos, os quais, segundo ele, são os mesmos há muito tempo, independente do aumento da população. Também defendeu maior capacitação de investigação da polícia e prevenção, não apenas
a repressão. Segundo Hamilton Dal’Lin Neto, um dos coordenadores do Movimento Pró-Paraná, as atuais políticas públicas visam o aparelhamento da polícia externa, que só aparece, vive nas ruas.“Mas o desenvolvimento de uma política como uma polícia científica, verdadeiramente ativa, que tem o papel de desvendar os os crimes na nossa sociedade, não ocorre”, critica. Hamilton afirma que praticamente 90% dos homicídios não são solucionados e a razão disso seria não haver polícia científica eficiente no Paraná. “Nós temos o Segundo Distrito Policial, no Caju r u, talvez uma das piores carceragens do Brasil, aqui em Curitiba. Sim, na cidade padrão”, critica Noronha, p r e sid e nt e d a CAA/PR. Sobre a provável má ad m i n ist ração de recursos, dispara: “Aqui no Paraná, nós somos um estado de trabalhadores, de gente honesta, que paga seus impostos. Então definitivamente não podemos permitir que nosso dinheiro seja utilizado para fins obscuros”. Ele afirma que, pelo que observou, o caso dos “Diários Secretos” é apenas um fato entre diversos. “Os escândalos na Assembleia podem ser só uma ponta de um iceberg. Pelo que tenho observado, acho que a RPC não conseguiu ver muita coisa, conseguiu ver menos de 0,5% do que acontece”, entrega. É preciso brigar pela ética na gestão dos recursos públicos. Cláudio Abramo enfatiza: “Sem pressão, a situação não muda”.
“Acho que a RPC conseguiu ver apenas 0,5% do que acontece”
Laura Sliva
Cláudio Abramo, presidente da ONG Transparência Brasil
“Eu me pergunto por que servidores sem concurso têm o direito de gastar 3 milhões do nosso dinheiro por mês. Tem gente com cargo de comissão só para atender telefone” Professor Carlos Luis Strapazzon
“A falta de serviços públicos é questão de destinação orçamentária. Curitiba não é uma cidade segura” Maurício Guimarães, conselheiro da Ordem dos Advogados do Paraná
“Faltam policiais nas ruas, fazendo o policiamento preventivo, além de um treinamento mais direcionado à segurança pública” Senio Abdon Dias, procurador do Estado aposentado
“Como é que tem gente que rouba milhares, de milhares de pessoas e não sente nada?” José Augusto de Araújo Noronha, presidente da Caixa dos Advogados -PR
“Crimes localizados, de bairro, de fácil identificação não são solucionados” F.C.S. autoridade de alta patente da PM
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tecnologia
Curitiba, junho de 2010
Moradores do jardim das américas se orGAnizaram para diminuir a violência
Câmeras em rua de Curitiba geram polêmica O uso de equipamentos de segurança e monitoramento em vias públicas aumenta a proteção ou é invasão de privacidade? caso das placas - que indicam: “Rua monitorada por câmeras” - a colocação deve partir do Estado. Sobre as câmeras, não há legislação específica no Brasil, entretanto “por sua utilidade presumida ser a de proporcionar maior segurança pública, somente o estado as possa instalar e administrar”. Rodrigo Firmino, doutor em Planejamento Urbano e Regional e autor do livro Vigilância e visibilidade: espaço, tecnologia e identificação, acredita que o direito de se proteger deve existir, “desde que não invada o que é de todos”. As câmeras diminuíram o número de assaltos, porém eles ainda são frequentes. A tecnologia em favor da segurança existe, mas não resolve os problemas. “Nunca nos sentimos totalmente protegidos, o medo sempre existe”, conclui Mercis. Os moradores reclamam ainda da falta de policiamento, principalmente durante a noite, e da má iluminação das ruas. E n q u a nt o o Estado, pr incipal responsável por providências em defesa da população não se manifesta, todos estão sujeitos a vivenciar situações violentas. Infelizmente, os moradores do Jardim das Américas continuarão a ver seu bairro retratado com as seguintes manchetes: “Ladrões amarram vítimas durante assalto”, “PM troca tiros com bandidos”, “Garoto morre em tentativa de assalto”...
“Nunca estamos protegidos, o medo sempre existe”
o que você pensa sobre as câmeras?
Angélica Mujahed Camila Machado Júlia Magalhães Paola Possato
Bárbara Gomes, 20 anos, estudante
“As câmeras ajudaram muito. Os roubos diminuíram”
Dicas de segurança EM CASA
Fotos: Angélica Mujahed
O bairro Jardim das Américas vem sofrendo com a falta de segurança. Um grupo de moradores instalou câmeras em circuitofechado e placas, alertando sobre o monitoramento, na Rua Professor Paulo D`Assumpção, entre a Rua Eliezer Disaro Frangueiro e Rua Fr. Francisco Montalverne. Segundo Mercis Aniceto, juíza de direito e habitante da quadra monitorada, a situação estava caótica e os assaltos eram frequentes. “A vigilância começou há menos de um ano. Quando algo estranho é percebido nas imagens, que são transmitidas para o interior das residências participantes, fazemos uma algazarra através de apitos, para avisarmos uns aos outros”. A discussão gira, portanto, em torno do uso demasiado e indevido dos equipamentos de segurança, interferindo na liberdade e privacidade dos transeuntes. Para Danilo Doneda, advogado especialista em proteção de dados e privacidade, o uso dos equipamentos se justificaria em casos específicos, como riscos à segurança extremamente relevantes e reconhecidos por autoridade pública; fosse expressamente autorizado e supervisionado pelo poder público; transparente, com a clara indicação de quem realiza a vigilância; além do cidadão monitorado ter o direito ao acesso das imagens e saber quanto tempo elas ficam armazenadas. De acordo com a legislação, Doneda explica que é limitada em relação ao uso de imagem, porém qualquer intervenção em local público deve obedecer a atos administrativos específicos. No
Placa na Rua Prof. Paulo d’Assumpção alerta sobre o monitoramento
- Dificulte a vida dos marginais, trancando bem a janela e, se possível, usando alarme. É bom colocar o máximo de recursos possíveis, principalmente à noite ou quando a casa estiver vazia. - Ao viajar, peça a algu é m d e c onf ianç a que recolha a correspondência. Solicite ao vizinho que acione a polícia caso note algum suspeito observando ou adentrando na casa. CONDOMÍNIOS
Rodrigo Firmino, urbanista
Danilo Doneda, advogado
“Se o Estado é responsável pela segurança há meios de pressioná-lo, além da possibilidade de se contratar empresas particulares para o serviço. Existe um limite que deve ser respeitado: segurança sim, mas sem invadir o senso comum. Pessoas menos atentas as questões de espaços urbanos podem nem perceber a presença das câmeras, porém, eu me sinto constrangido. Como a legislação é limitada, há a preocupação com o uso das imagens. Enquanto cidadãos temos a responsabilidade de cuidar do que é de todos. Por que alguns tem direito ao monitoramento e outros não? Qualquer um pode tomar qualquer atitude para se proteger?” (CM)
“O cidadão não pode esperar que a sua passagem por via pública seja anônima. Por outro lado, deve ter garantias de que isto não lhe cause danos potenciais à sua imagem ou privacidade pela utilização abusiva de técnicas de monitoramento. É um balanceamento delicado, mas minha opinião é a de que o sistema, da forma que está disposto na citada rua, permite a um cidadão privado, que é dono da casa e do sistema de monitoramento, capturar livremente e a seu bel-prazer as imagens que julgue necessárias, sem que esteja legalmente vinculado à finalidade de segurança pública à qual estaria o Estado se fizesse o mesmo, gerando o risco do abuso da imagem para o cidadão que é filmado”. (CM)
José Luis Silva,45 anos, corretor de imóveis
Rosângela Marília, 46 anos, babá
Existe limite Privacidade
“É um instrumento excelente para o monitoramento”
“Acredito que esse tipo de proteção chame o ladrão”
- Moradores de edifício devem solicitar aos empregados do condomínio que não comentem com ninguém quais famílias estejam viajando, quais apartamentos estão vazios ou quais os hábitos e horários dos moradores. - Não abra a porta para pessoas que se aprese n t a m of e r e c e n d o ser viços não solicitados (encanadores, eletricista etc.). É útil o uso do interfone. Caso não o tenha, use a janela para certificarse da real intenção do sujeito; - Quando for sair ou chegar em casa, fique atento com suspeitos nas proximidades. Desconfiado, dê a volta no quarteirão e chame a Polícia Militar. FONTE: CONSEG
Nathanael Malafaia, 65 anos, aposentado
“As câmeras não são a melhor saída”
policial
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Curitiba, junho de 2010
POLÍCIA MILITAR NÃO TEM ARMAMENTO ADEQUADO PARA COMBATER CRIMINALIDADE
Número de policiais deveria ser 50% maior Segurança do cidadão curitibano entra em cheque com a realidade violenta avassaladora: os números apontam que Polícia Militar não está preparada para atender a população. Falta de treinamento, armamento e contingente são parte da realidade policial, junto com o despreparo para lidar com a criminalidade. O efetivo da Polícia Militar do Estado do Paraná corresponde a 18.724 mil, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Em Curitiba estão aproximadamente 3.500 mil destes policiais para uma população de 1.817.434 milhões de habitantes (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC). Uma vez que o ideal, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), para cada grupo de 250 habitantes é de 1 policial, a capital paranaense deveria ter 7.269 mil policiais. Outro dado alarmante é que parte dos PMs está à disposição de outros órgãos, em trabalhos como segurança, motorista. Isso chega a ser
Marcelo P.
Realidade precária: salário defasado, falta de treinamento, de condicionamento e apenas 34% dos policiais com ensino fundamental completo
Ostensivas de Natureza Especial (RONE) e dos Comandos e Operações Especiais (COE) recebem, além destes armamentos, mais três armas longas. Porém, RONE e COE compreendem a menor fatia do comando de policiais. Dados do Ministério da Justiça e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em pesquisa realizada em 2001 apontam que 57,1% dos policiais concluíram o Ensino Médio, 34,1% possuem o Fundamental
superior a quantidade de policiais civis, sendo que estes representam em média 2 mil funcionários. Soldados de primeira classe da PM do Paraná recebem em média R$ 837 durante o período de treinamento, que dura 4 meses. Após a conclusão do treinamento, o salário chega ao patamar de R$ 1.818,13. Depois de formados, os policiais recebem duas armas ponto quarenta e treinamentos esporádicos. Já soldados de abordagem ostensiva como das Rondas
e apenas 8,6% possuem Ensino Superior. Isto mostra que há pouco interesse por parte do governo na qualificação dos profissionais que atendem a população. Para um soldado conseguir se elevar de cargo, é necessário que ele passe por provas de resistência e de injúrias, que vão desde afogamentos, socos nos estômago e tapas na cara. Isso quando não saem do treinamento direto para o hospital. Muitos desistem antes mesmo de chegar ao final. A realidade do último curso de formação para o COE explicita isso: de 57 inscritos, sobraram apenas 4. Mesmo formados, após a promoção de cargo não há alteração salarial. O soldado Stive (nome fictício), hoje integrante do COE, destaca que há uma mudança significativa no armamento, reciclagens, treinamentos e testes físicos. Ele passou quatro meses no Policiamento Ostensivo Volante (Projeto POVO). ”O armamento não é condizente com a criminalidade, quase não se tem treinamentos”, relata. O soldado ainda ressalta
que é tarefa quase impossível combater o crime cotidiano com a estrutura defasada. Sobre a sua promoção relata: “O armamento é melhor e tenho mais instrução técnica”. Segundo dados da Secretaria de Estado e da Previdência (SEAP), os proventos para todos os policias representam 51 milhões para os cofres públicos por mês. O custo médio para o estado do Paraná é de R$ 300 reais cada e estão distribuídos em 13 distritos policiais, distribuídos por 75 bairros. O governo propôs reestruturação da polícia e adequação dos salários, que irão de R$ 2.289,57 a R$ 3.434, 36. Prevê a inclusão de 1.600 PMs e 500 Policiais Civis, para o segundo semestre. Mesmo com esforços das autoridades públicas no primeiro trimestre o aumento da violência em Curitiba aumentou 50%, apontando para a ainda presente deficiência no combate à criminalidade. Mario Luiz Costa Jr
INVESTIGADOR AFIRMA QUE SE AS PESSOAS SOUBESSEM A REAL SITUAÇÃO NÃO SAIRIAM DE CASA O investigador da Polícia Civil de Curitiba, Daniel Côrtes, há 25 anos na profissão, enxerga as divergências que revelam a realidade da segurança pública em Curitiba. Ele afirma que, se as pessoas soubessem realmente como está a situação, ninguém sairia de casa. Isso reafirma que a Curitiba desejada não é a cidade obtida pela sociedade. Segundo o investigador, a criminalidade cresce também porque não há investimento por parte do governo em áreas como treinamento policial e educação. Além disso, a falta de policiais nas ruas e ausência de queixas contra crimes pequenos em delegacias não ajuda. “As pessoas não registram justamente porque a polícia não vai prender o bandido”, declarou Côrtes. Em sua opinião, o que faltaria é vontade política. “O governo tem o Poder Legislativo e Judiciário. Mas o
Legislativo não cobra e o Judiciário não faz cumprir”, critica. Antes do trabalho nas ruas os integrantes das forças da Policia Civil passam por uma preparação intensiva, tanto mental, quanto física. O treinamento da Polícia Civil, por exemplo, tem duração de 4 meses, com aulas de segunda à sexta-feira, das oito da manhã às dez da noite. Além de ensinamentos teóricos, como da área jurídica brasileira, também fazem parte os ensinamentos físicos, que exigem muita disposição por parte do policial. Dentre as práticas físicas há manuseamento de armas de fogo, defesa pessoal, saúde física e operação policial (abordagem de veículos e pessoas, algemamento, arrombamentos etc).“Tem que estar sempre preparado, o treinamento é constante”, afirmou Paulo César Januário, 41 anos, instrutor de tiro da Escola da Polícia Civil
Amanda Hecke
Falta de investimentos governamentais prejudicam a segurança
Apesar de treinamento, policiais não estão presentes nas ruas
desde 2006 e policial há 19 anos. O objetivo do treinamento é preparar o profissional para situações futuras, em que sua função será prestar um serviço à população. “Você se torna policial porque quer prestar um serviço à sociedade, ser algo a mais”, disse Luis Vicente Soares de Quadros, 41 anos, investigador de polícia.
No entanto, a resultante que vemos nas ruas não é exatamente essa. A cada dia a criminalidade cresce na capital e, sem dúvida, quem leva a pior é a população, que não é protegida pela polícia. O Centro de Operações Policiais Especiais (COPE) é uma das instituições mais importantes da Polícia Civil. Com 78 policiais
na unidade atualmente, é o único com permissão para o uso de fuzil e treinamento eficiente junto ao exército. Sua função é realizar operações especiais depois que o fato ocorre, trabalhando na investigação, que é seu ponto forte. É preciso rigidez e sangue-frio para se submeter aos riscos que envolvem a profissão.“Se você ouvir alguém dizer que não fica nervoso é porque essa pessoa é louca”, afirmou Luis Vicente. A proporção de cidadãos por policiais é quase o dobro da recomendada pela ONU (Organização das Nações Unidas). Então, se o treinamento policial é tão eficaz e satisfatório, por que não há policiais suficientes nas ruas e nas escolas de polícia? Este é um dos fatores principais: a falta de “mão-de-obra”, já que existem as viaturas, mas ninguém quem as dirija.
Letícia Costa
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segurança
Curitiba, junho de 2010
Para cada empresa regular três são irregulares e número de vigilantes supera o de policiais
Procura por segurança privada aumenta O aumento da criminalidade em Curitiba faz com que as pessoas recorram a profissionais de segurança privada para sua proteção A procura por serviços de segurança privada vem aumentando em torno de 8% ao ano em Curitiba. Isso se deve principalmente ao acréscimo de pequenos furtos e da criminalidade. O setor de segurança privada emprega um contingente de cerca de 22 mil pessoas na capital. Segundo Sandro Maurício Smaniotto, presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, 43 anos, existe procura por segurança para residências, mas a maioria é das empresas. Smaniotto alerta para o perigo de contratar empresas de segurança clandestinas, alegando que além do provável despreparo é possível que os funcionários dessas empresas ilegais tenham antecedentes criminais. “Contratando empresas ilegais as pessoas põe em risco seus bens e sua própria segurança”, afirma Smaniotto. É necessário ao contratar uma empresa exigir o Alvará de
Funcionamento e o Certificado de Segurança devidamente renovado. A legislação define que toda empresa que exercer a prestação de serviços de Vigilância deverá possuir a Autorização de Funcionamento, documento expedido pela Polícia Federal, que permite a empresa explorar este ramo de atividade. Segundo João Soares, presidente do Sindicato de Vigilantes de Curitiba e região, para cada empresa legalizada existem três irregulares e o número de vigilantes na capital paranaense excede o de policiais. “Existem situações que a PM não consegue suprir, como a própria vigilância de estabelecimentos, mas o aumento da criminalidade é tanta que as pessoas não confiam mais apenas na segurança policial”, diz Soares. Uma empresa com dois vigilantes trabalhando oito horas fica cerca de R$ 8 mil, uma quantidade alta para a realidade brasileira, já
80
Empresas de segurança privada legais e ilegais no Brasil (%)
70 60 50 40
Legais
30
Ilegais
20 10 0
Ilegais
Legais
Fonte: Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e região.
que a segurança é um benefício assegurado pela Constituição. Segundo um soldado da elite militar de Curitiba, que preferiu não se identificar, a falta de preparo físico, psicológico e má remuneração dos policiais apenas agravam a situação do aumento da criminalidade. Com um salá-
rio insuficiente, integrantes da polícia são forçados a fazerem os “bicos”, o que contribui com o aumento da segurança ilegal, falta de policiamento e um trabalho não eficiente. Ele conta que costuma fazer serviços de segurança privada, o que apesar de ilegal é o que
proporciona a maior parte de sua renda. “Faço escolta para bancos, segurança de pessoas influentes como políticos ou empresários”. Ele afirma que o motivo de fazer tais serviços é sua insatisfação salarial. Ele diz que enquanto em Brasília um soldado de seu status ganha em torno de R$ 5.500, em Curitiba o mesmo ganha R$ 2.200. “Não quero que sejam liberados os bicos, mas sim que o salário melhore”. Apesar de o soldado fazer serviços de segurança privada ele acredita ser necessária uma reflexão sobre o assunto, pois enquanto uma parte da sociedade, com condições financeiras superiores, pode usufruir do sossego que a segurança privada proporciona a maior parte, apesar de pagar impostos, vive refém da criminalidade. Elizabeth Bannwart Jéssica Camille Priscila Cancela
Grosseria policial e abuso da autoridade são as atitudes mais apontadas pela população
Pesquisa revela que população não confia na polícia de Curitiba Segundo uma pesquisa feita pelo Comunicare, aproximadamente 62% da população curitibana não confia nos policiais. Os motivos apontados foram a grosseria e falta de educação na abordagem, tanto em blitz como no dia a dia. Cerca de 51% dos entrevistados disseram já ter sido vítima ou ter presenciado falta de educação e abuso da autoridade por parte dos policiais. O levantamento foi feito no dia 20 de maio de 2010 na Praça Carlos Gomes, Rua XV de Novembro e Praça Santos de Andrade. Arthur Whembller,19 anos, estudante, conta sobre sua experiência de ser preso por causa de um protesto estudantil. Whembller destaca a brutalidade da polícia. “Na delegacia os policias apertavam os meus ferimentos, alguns dias antes eu tinha sofrido um acidente de moto e insultavam a mim, a minha família e me davam tapas na cara”. O estudante acredita que falta estrutura psi-
cológica para a polícia lidar com a pressão. “Falta treinamento, falta condicionamento físico e efetivo. Eles não sabem abordar os diferentes tipos de classe”. O estudante também aponta o modo errôneo da abordagem usado pelas autoridades: “Eles sacam a pistola e gritam “mão na cabeça”. Se você não abrir a perna eles a chutam. Normalmente atrás de drogas, mas alguns, eu acho, só por ‘esporte’”. Compartilha da mesma opinião o empresário Carlos Eduardo Gomes, 39 anos: “É um medo com fundamento, há tanta corrupção dentro das delegacias que não se sabe quem é o bandido e quem é o mocinho”. Para Gomes um treinamento e uma assistência psicológica aos policiais seria fundamental para reduzir o número de incidentes que envolvem a falta de “tato” da polícia. Além do porte de armamento de fogo, os policiais também utilizam armas de efeito moral, como o spray de
pimenta e a bala de borracha, geralmente usados para conter grandes grupos. Ana Aparecida Peixoto, 21 anos, estudante, já foi vítima dessas armas em uma manifestação: “Eu não tinha nada a ver com a manifestação e quando vi estava no chão com um monte de gente passando por cima de mim, com os olhos e boca ardendo. A polícia não está nem aí para quem é culpado ou não, eles querem mesmo é bater”. A estudante acredita que se as ações da polícia militar e civil não tiverem uma fiscalização maior da população e do Estado os abusos só vão aumentar. “O poder costuma subir na cabeça das pessoas, é o que acontece com muitos policiais”, conclui Ana, que considera a imprudência da polícia como um dos fatores que mais contribui para o aumento da criminalidade.
Duran Sodré (EB) (JC)
Você confia na polícia?
Sim - 35,8% Não - 64,2%
Você já sofreu brutalidade policial? Não Sim
Não - 48,6% Sim - 51,4%
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*Comunicare Pesquisas.
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comportamento
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Curitiba, junho de 2010
MORADORES SE PREOCUPAM MAIS COM SEGURANÇA DO QUE CONFORTO FAMÍLIA CONVIVE COM O MEDO APÓS ASSALTO
Medo da violência aumenta Adolescente sofre assalto na frente procura por apartamentos de casa e é baleada A venda de imóveis em prédios ou condomínios fechados é o que tem sustentado a economia do ramo imobiliário de Curitiba nos últimos quatro anos. É o que afirma o corretor imobiliário Hélio Makishi, garantindo que nunca vendeu tantos apartamentos como agora. Assustados com os altos índices de assalto e violência, os curitibanos estão procurando mais segurança nesses modelos de construção. Até mesmo os que gostam de casas estão mudando sua rotina e aderindo à nova tendência. “Eu não gosto de viver em um apartamento. Me sinto sem liberdade, mas é a solução”, revelou a aposentada Iná Brunetti, que há três anos trocou sua casa por um apartamento. Antes da mudança, Iná e o filho foram rendidos e assaltados no portão de casa vol-
tando de um jantar. Curitiba possui bairros tomados por prédios, como o Cristo Rei e Juvevê, onde os apartamentos representam mais de 80% dos imóveis residenciais. Mas há locais em que os prédios não agradam. São Lourenço e Xaxim são exemplos, já que os edifícios não chegam a atingir nem 5% dos domicílios. A falta de popularidade dos prédios nessas áreas não impede a nova tendência. É o que comentou o consultor de vendas imobiliárias Luis Fernando Brenner: “esses bairros são vilas cheias de condomínios fechados. E se algum deles ainda não é, com certezacserá em breve.” Segundo Brenner, garagens, porteiros 24h e circuitos internos de monitoração são as primeiras preocupações de quem procura um imóvel na capital. Esses requi-
sitos tomam a frente do conforto e até do custo-benefício. O metro quadrado de apartamentos e residências em condomínios fechados é mais caro do que os de casas. “O preço baixo até motiva alguns clientes a escolherem casas, mas quando somam o que vão gastar em cercas elétricas, sistemas de monitoração e outros artigos de segurança, desistem. É o preço da segurança e tranquilidade”, comentou Ruth Dalcuchi, gerente comercial de vendas imobiliárias. O crescimento de prédios e condomínios fechados foi trazido de São Paulo e é recente em Curitiba. Apenas 24,8% dos domicílios são apartamentos, mas esse fenômeno vem crescendo rapidamente. A capital, que era conhecida por cidade grande com cara de pequena, começa a ser tomada por edifícios. Preocupadas com isso, as construtoras aderiram a um novo conceito. Apartamentos com pequenos ambientes ao ar livre e prédios com serviço de cinema, lavanderia, academia e playground vêm aparecendo para que o cliente não precise sair de casa e enfrentar a violência. “É o espaço e a liberdade de uma casa, com toda a segurança e comodidade de um apartamento”, comentou Ruth. Bethina Perussolo Camila Matta
Bethina Perussolo
Criminalidade faz construtoras adotarem novos conceitos de moradia
Crystal, ao lado da mãe, sobreviveu graças à flor que usava no cabelo
“Se for para sair um pouquinho de casa eu já olho para todos os lados”, revelou Suzy Valéria Serafim de Souza, mãe de Crystal Serafim de Souza, 16 anos, que foi atingida na cabeça por uma bala numa troca de tiros na frente de casa. A menina, que sobreviveu graças a uma fivela que adornava a cabeça, convive com o medo na rotina da família. No último 31 de março, terçafeira, por volta do meio-dia, Crystal e sua mãe foram ao banco retirar uma grande quantia em dinheiro. Temendo assaltos, constantes nas redondezas do Bairro Alto, pediram a um policial amigo da família que as acompanhasse. Um motoqueiro e outro homem seguiram o carro. Ao retornarem para casa, começou o conflito. O policial e os bandidos trocaram tiros, enquanto mãe e filha permaneciam no carro. “O policial escorregou no barro
bem na hora em que deu um tiro. O tiro acabou acertando o pára-brisa do carro e a minha cabeça”, contou Crystal. A bala atingiu a flor que ela usava no cabelo, amenizando os efeitos do disparo. Crystal sofreu paralisia completa no lado direito do corpo e sua rápida recuperação impressionou os médicos. Menos de dois meses depois da tentativa de assalto, ela já movimenta o braço direito e a perna, mesmo que com limitações. Não teve a memória ou fala afetadas e já voltou para a escola. Quanto aos bandidos, Crystal pediu ao pai para parar de procurálos, temendo que eles voltassem
a ater rorizar a família. Foi ela também que tranquilizou o poli-
cial, pois ele ficou extremamente abalado com o ocorrido.
Jéssica Yared
“O absurdo, a injustiça, passam a ser normais e aceitáveis”, revelou a pedadoga rossana floriano
Assédio moral no trabalho é realidade nas grandes empresas O acosso laboral, mais conhecido como assédio moral no trabalho, é uma forma de violência que tem crescido na realidade empresarial de Curitiba. A pedagoga e analista de sistemas Rossana Floriano, 50 anos, sentiu na pele o sofrimento causado pelo acosso. Depois de superar essa fase de sua vida, escreveu o livro “Acosso laboral nas organizações – Uma “realidade velada”. Através do livro, Rossana concretizou sua
volta por cima, dividindo sua experiência. Hoje, seu livro é referência para o tema que quase não é conhecido pela sociedade. Segundo Rossana, o acosso laboral acontece em cinco etapas: o enredamento, que se dá a partir do desconforto percebido pelo funcionário. A concepção de que passou a ser perseguido pelo superior. A manifestação de doenças como as de pele e depressão. O domínio público, em que todos já
sabem o que está acontecendo e, por fim, a exclusão, quando o acossado pede demissão ou é demitido. A pedagoga revelou que em sua experiência a empresa era culpada, o que favorecia o acosso. Um ambiente de trabalho com uma gestão ruim em conjunto a uma pessoa com princípios “deficientes” acaba sendo terreno fértil para a violência. “O absurdo, a injustiça, passam a ser normais e aceitáveis”, contou Rossana.
O funcionário assediado sentese sozinho o tempo todo, pois colegas e amigos não têm coragem de ajudar. O medo de se prejudicar ou até de se tornar a próxima vítima acanha a todos. A psicóloga Cláudia Balvedi, 42, especialista em terapia cognitiva comportamental garante: as pessoas tendem a sofrer o assédio em silêncio, por medo de se expor e de ter crédito em sua queixa, já que em geral são assediadas por um superior.
A única saída, conforme Rossana, é a prevenção. Através de gravações de conversas, e-mails e qualquer tipo de prova para a acusação. Uma vez dentro da realidade da perseguição, o acossado é aconselhado a fazer tratamento psicoterápico para auxiliar na reestruturação. Mas, segundo a Cláudia, a vergonha leva o funcionário a não procurar ajuda. Ana Carolina Weber (JY)
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CONSUMO E TRÁFICO DE ENTORPECENTES SÃO MOTIVADORES DE AGRESSÕES CONTRA A MULHER, DO AUMENTO
Curitiba e a criminalidade: envolvimento com
Diversos projetos são desenvolvidos na capital paranaense, tanto para prevenção quanto para o combate de ações violen de Macedo, Curitiba será, possivelmente, a primeira cidade do Brasil a realizar uma pesquisa analisando esse tema caso a caso. O órgão possui também o apoio da Secretaria Antidrogas, para que em casos de violência contra mulher, que estejam relacionados a entorpecentes, seja possível tomar uma medida imediata contra o agressor. Ligado a esses fatores está o crescente número de pessoas que morreram por armas de fogo em Curitiba. Em 2009 foram contabilizadas mais de 300 mortes por esse tipo de agressão. O advogado criminal, Pedro Octávio Oliveira, comenta que na maioria dos casos em que trabalha, seus clientes costumam utilizar as armas de fogo. Esse uso ocorre porque os criminosos acreditam que o armamento “ajuda na hora de abordar as pessoas, dando um motivo para que elas não reajam e cedam ao assalto”. O acesso às armas está cada vez mais banalizado, uma vez que elas se tornam abundantes no mercado (legal ou contrabandeado). E esses itens chegam cada vez mais cedo às mãos dos jovens, na maioria dos casos, por intermédio do tráfico. Esse é apenas um dos motivos para crianças e adolescentes, entre 12 e 18 anos, se envolverem com a criminalidade. A delegada Nilcéia Ferraro da Silva, explica que o trabalho realizado na Delegacia do Adolescente precisa ser visto com a devida importância, pois ela não lida com homicídios, furtos e roubos de forma isolada, ela é uma clínica geral. Por tratar de jovens, ela é a delegacia do futuro. Nela, todo tipo de punição tem caráter pedagógico, buscando a reinserção do menor nos âmbitos escolar, familiar e social, o que é complicado tendo em vista que 80% estão em situação de miséria. Mas, apesar dos métodos de reeducação serem bem estruturados, os índices não mentem, o número de prisões nessa faixa etária está quase três vezes maior. Nilcéia critica a falta de interesse com a delegacia por parte das autoridades, dizendo que sofre com o número baixo de policiais e com as viaturas que não se encontram em bom estado, nem se enquadram no padrão das outras DPs; e admite que é preciso que os policiais dessa área tenham um melhor preparo para trabalhar com casos, por exemplo, de roubos famélicos (movidos pela fome) que exigem uma abordagem delicada. (leia mais na pág.10) Amanda Walzl Isadora Lago Renan Rderde Taisa Echterhoff
Índices de violên
Pedro Octávio - Advogado Criminal “Várias das pessoas que defendo em tribunal com posse de arma de fogo assumem que conseguiram o instrumento por meios ilícitos, muitas vezes ligados com o tráfico.”
Realidade - Em 2009, foram registrados 632 homícidios só na capital, sendo mais de 300 efetuados com armas de fogo
Camila Olenik
Em vista do aumento da criminalidade em Curitiba (34 homicídios a cada 100 mil habitantes), o Comunicare levantou quatro dos crimes mais frequentes na cidade: o tráfico de drogas, violência contra mulher, agressões utilizando armas de fogo e crimes cometidos por menores. Entre os profissionais entrevistados está o representante da Secretaria Antidrogas de Curitiba, Antônio Moreira, que afirma: “todos os níveis sociais usam drogas, sem exceção”. Isso se dá pelos mais diversos motivos, seja por fatores emocionais, companhias ou falta de informação. O especialista em Segurança Pública, afirma que Curitiba e Região Metropolitana são até mais violentas que São Paulo e Rio de Janeiro, de acordo com os números de ocorrência por habitante; e explica que o auxílio das polícias Militar, Federal e outros tipos de patrulha são de suma importância nas ações combativas. Moreira contou que a Secretaria promove projetos em diversos locais da capital e do estado, tais como: “Papo Legal”, “Caravana do Bem” e “Cão Amigo”. Contando com, aproximadamente, 300 jovens por região, o projeto “Bola Cheia” é realizado durante o período da noite, onde professores de Educação Física promovem jogos de futebol com o intuito de afastar as crianças e adolescentes do contato com as drogas. Índices mostram que no horário em que os menores praticam esportes, o tráfico diminui, mas isso é só o começo. Além desses projetos, a S.A.M. investiga as denúncias anônimas enviadas para seu site ou pelo disk denúncia. Já na área de violência contra as mulheres curitibanas, a presidente do Conselho Municipal da Condição Feminina, Elizabeth Maria de Aguiar, alega que muitas mulheres não denunciam casos de violência por falta de apoio e que uma possível melhora nos locais de amparo poderia gerar uma maior confiança nas vítimas na hora de prestar queixa. Os casos mais comuns são de agressão física e sexual, havendo também ocorrências de violência psicológica, moral e patrimonial (considerados crimes graves, mas não reconhecidos como tal). A falta de números conclusivos gera dificuldades para os órgãos responsáveis, tanto no atendimento das vítimas quanto na punição dos agressores. Em função dessa necessidade de informações sobre o assunto, o Conselho resolveu realizar uma pesquisa onde as vítimas e/ou pessoas que conheçam alguém nessa situação possam preencher um formulário para participar dessa coleta de dados, que existe a cerca de um ano e meio. De acordo com a Coordenadora de Projetos do CMCF, Magali
Antônio Moreira – Secretaria Antidrogas “O traficante é um comerciante. Ele quer demonstrar poder, e se ele for adolescente, ele mata por uma pessoa ficar devendo
Realidade - Os homicídios dolosos na Capital saltaram de 156 casos no primeiro trimestre de 2009 para 240 no mesmo período em 2010. Sendo que, 80% dos homicídios são por causa do tráfico de drogas.
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NOS HOMICÍDIOS COM ARMAS DE FOGO E DA PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM CRIMES GRAVES
m drogas resulta em vários tipos de violência ntas, mas ainda falta um maior acompanhamento das vítimas e investimento nas áreas de apoio, que não são prioridade
Você acha Curitiba segura?
ência em Curitiba
Diane Cursino
Talita Inaba Nilcéia Ferraro da Silva Delegacia do Adolescente “A D.A. precisa ser vista com a devida importância. Ela é uma clínica geral, é a delegacia do futuro.”
Realidade - As punições são feitas levando em conta a índole, a origem social e a gravidade do crime, podendo chegar a no máximo 3 anos. O que não significa que “não deu em nada”, pois em Curitiba esse processo tem caráter pedagógico e não de simples reclusão.
Amanda Burda
Elizabeth Aguiar - Conselho Municipal da Condição Feminina “Elas possuem uma relação de amor e ódio com o companheiro, esperando que eles mudem algum dia.”
Realidade - A cada quinze segundos uma mulher é agredida no Brasil. Se multiplicarmos esse valor por quatro anos, chegaremos quase ao dobro da população feminina do Paraná. E Curitiba não foge à essa regra.
“Não. Curitiba cresceu muito e o número de policiais continua pequeno.” Elliete Pegoraro, 50, aposentada
“Sim, Curitiba é exemplo apesar de ser uma cidade em desenvolvimento.” Valtencir de Souza, 33, zelador
“Relativamente, mas ainda faltam investimentos em educação, instrução, princípios morais.” Hália de Souza, 72, sexóloga
“Sim, me sinto segura no geral, mas existem regiões que não frequento.” Keila de Freitas, 17, estudante
“Não. Curitiba tornouse uma cidade violenta principalmente pela falta de oportunidades.” Giovani Mendes, 44, administrador
“Sim, porque só vou ao trabalho no período da manhã e da tarde, não saio à noite.” Rafael Ferreira, 27, téc. informática
“Não, pois no período da noite tem pouca segurança e iluminação fora do centro.” Mariana Musse, 21, estagiária
“Não, porque onde eu moro, à noite não podemos mais sair nas ruas.” Francielly Gomes, 24, recepcionista
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geral
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O USO DE CRACK É O PRINCIPAL MOTIVO DOS FURTOS E ROUBOS COMETIDOS POR MENORES NA CAPITAL
Maioria dos infratores são negros de classe baixa 90% dos jovens detidos são do sexo masculino e geralmente provém de famílias desestruturadas com pais ausentes ou violentos A sede da Delegacia do Adolescente de Curitiba, no Tarumã, conta atualmente com 90 internos, sendo que sua capacidade é para até 100 infratores. Dentre os quase mil jovens detidos em todo estado, 115 estão na Unidade São Francisco em Piraquara, 23 em Fazenda Rio Grande e 13 na Unidade Joana Richa (para meninas) em Curitiba. Dentre os crimes cometidos, 90% caracterizam-se por furtos simples e roubos, aliados ao sustento do uso de drogas, e nos outros 10% estão crimes mais graves como homicídios – que têm aumentado, entre eles parricídios e matricídios (assassinato de pais e mães), além do latrocínio (roubo seguido de morte) – envolvimento com tráfico e abuso sexual, de acordo com o do
Datasus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde). No perfil curitibano de 2009, 90% dos apreendidos eram do sexo masculino, maioria negros de classe baixa, segundo o Cense (Centro de Socioeducação de Curtiba). A entidade faz parte do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Infrator (CIAADI). O Centro Integrado une vários órgãos públicos, com a função de agilizar e tornar mais eficiente o atendimento de crianças e adolescentes infratores. As medidas sócioeducativas, visam a reinserção destes jovens na sociedade e a prevenção de mais crimes. O desemprego, a desorganização familiar, o tráfico, a falta de educação de qualidade e até mesmo de lazer, levam os jovens
Tempo de detenção pode variar de seis meses a três anos
a abandonar seus lares. “Temos visto bastante o problema familiar das mães, que acabam se casando de novo, e os filhos do casamento anterior não têm uma boa relação com o padrasto, são maltratados e acabam indo para as ruas”, afirma Maria Roseli Guiessman, juíza da Vara de Infância e Juventude. A desestruturação familiar faz com que esses meninos fiquem nas ruas e sejam presas fáceis do tráfico, porque não há uma referência familiar, um pai. “Essa figura do pai ausente ou, quando presente, muito agressivo, um modelo negativo, é um dos motivos para que os meninos entrem para a vida do crime”, explica o psicólogo Kirchner. Além da desestruturação familiar, outro ponto que contribui para o aumento da criminalidade entre os jovens é o uso e tráfico de entorpecentes. Tem sido notada uma preferência pelo crack, que dá lugar aos antigos solventes, como a cola de sapateiro, que eram mais
utilizadas por jovens em condição de miserabilidade para enganar a fome. O crack é o maior inimigo. “O desespero pelas drogas já faz esses meninos cometerem coisas muito piores”, relata a delegada Aline Manzatto. Durante a detenção, os garotos recebem auxílio para lidar com a dependência toxicológica Em episódios de reincidência, caso o jovem volte à criminalidade, abre-se um novo processo. Existe um sistema de acompanhamento do egresso com auxílio de bolsa, mas acaba existindo um sequestro social, pois o jovem é maltratado pela sociedade, pela família que não mudou e ainda é violenta, por frequentar os mesmos círculos sociais, por falta de empregabilidade do ex-detento e até pelo preconceito nas escolas. Isadora Lago Laura Sliva Taisa Echterhoff
METODOLOGIA PEDAGÓGICA TENTA REINSERIR JOVEM NA SOCIEDADE
Delegacia do Adolescente mostra como trata infrator “O adolescente não comete mais atos (ilegais) que criminosos adultos; ele não é o maior praticante, mas sim a maior vítima: da polícia, das drogas, da própria família, do mercado de trabalho e até da escravização infantil”. É assim que Luciano Souza, diretor da Unidade Cense Curitiba (núcleo de tratamento de menores localizado na Delegacia do Adolescente) mostra que a violência envolvendo menores é estrutural. Segundo ele, é preciso sair do senso comum de achar que jovens são os maiores delinquentes do país. Quando chega uma ocorrência a essa delegacia, o primeiro passo é a identificação do menor. Caso a infração cometida não tenha sido grave, o responsável é chamado e assina um termo de responsabilidade garantindo a apresentação judicial quando for chamado, além de mostrar a matrícula escolar do jovem. Se houver apreensão, em 24 horas ouvem-se as partes, verifica-se o dano contra pessoa ou patrimônio. O adolescente é internado provisoriamente até 45 dias, para que seja
feita acareação, com comprovações de materialidade e uma seguinte defesa. As penas são expedidas pelo delegado, promotor ou juiz, de acordo com a gravidade. Podem ser pedidas reparações de dano, aplicação de medida sócio-educativa, processo de semi-liberdade ou culminar na internação, mínimo de 6 meses e máximo 3 anos. Famílias de vítimas de assassinato se indignam, por exemplo. em relação às penas. Como pode passar apenas três anos preso alguém que tirou a vida de outra pessoa? Ora, isso é o que a legislação permite, só cabe às delegacias executar e recuperar o infrator, reintegrando-o à sociedade. A adolescência é uma fase de transição, na qual o caráter não está totalmente formado, logo não se pode julgar o menor como bom ou mal. Segundo a delegada Nilcéia Ferraro da Silva, os profissionais levam em conta a índole, a origem do jovem e a gravidade do crime para formular uma sentença justa. Uma vez sentenciado, o transgressor é enviado para o Cense
(Centro de Sócio Educação) . A única privação aplicada é sobre o direito à liberdade, já alimentação, educação ou saúde, devem ser mantidos para que o jovem tenha um tratamento humano durante o período de reclusão. Também são garantidas visitas, pois a base familiar é de suma importância para a reestruturação do jovem. Como 30% dos casos provém do interior e litoral, a D.A. garante que parentes venham até o distrito, ofertando até duas passagens para os pais ou responsáveis. O jovem deve estar o mais próximo da família possível, mas como o adolescente não pode ser detido por mais de 48 horas em delegacias de sua cidade, são relocados de acordo com as vagas disponíveis no distrito mais próximo. A escolarização é feita pelo Proeduse, no mesmo formato do Ensino de Jovens e Adultos. Existe uma grande disparidade idade-série, por isso há no máximo 8 alunos por turma. Eles recebem aulas normais do currículo de ensino fundamental, além de artes, terapia ocupacional, e
um trabalho de reestruturação vocabular com professores de português (devido à grande coloquialidade e ao número de gírias e palavrões). Trabalha-se como lidar com autoridade, imposição de limites, tratando com respeito e exigindo respeito. Tanto na atuação policial quanto no tratamento dentro do sistema carcerário dos adolescentes pode haver atos de contenção física ou uso de algemas – amparados por legislação, e geralmente restritos a casos de rebeliões, por exemplo. Luciano afirma que caso houvesse qualquer tipo de abuso, a Polícia Civil estaria causando um desserviço, ao praticar a chamada violência estrutural, que só pode ser combatida com qualificação do profissional. Ele também explica que as atuais melhorias são dadas pois, entre os 18 diretores dos Cense do Paraná, nenhum provém de cargo político, mas são cargos técnicos, onde a formação é decisiva para o cumprimento da gestão. Isadora Lago Taisa Echterhoff
Procedimento pós-crime Num procedimento de adolescente apreendido são produzidos em média 40 documentos, dentre deles: • Ouvir policiais, 2ª testemunha e vítima • Auto exibição e apreensão • Auto de avaliação / Constatação de Substância Entorpecente • Auto de entrega dos objetos para as vítimas • Fotografia dos objetos apreendidos / vítima lesionada • Encaminhamento do adolescente ao SAS • Encaminhamento da vítima de abuso sexual ao setor de psicologia jurídica • Encaminhamento do adolescente ao Instituto de Identificação do Paraná para confecção do RG (caso não possua) • Concluído o processo de investigação na DA, o adolescente será apresentado ao Ministério Público para ser ouvido de modo informal • Na sequência o Ministério Público encaminha o adolescente a presença do Juiz para definição da medida sócio-educativa – art. 112 a 125 do ECA
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OS PRINCIPAIS DESTINOS DAS DROGAS SÃO TAMBÉM OS BAIRROS COM O MAIOR ÍNDICE DE HOMICÍDIOS EM CURITIBA
Consumo de crack aumenta na capital Do início do ano até agora, já foram apreendidos mais de 1,3 milhão de pedras de crack no Paraná. Desse todo, a Polícia Civil é responsável pelo confisco de 24 quilos da droga, ou seja, 120 mil pedras, pouco menos do que o total do ano passado, que chegou a 29 quilos. Na capital, os principais destinos da droga são os bairros Uberaba, Boqueirão, Tatuquara e Cajuru, lugares com os maiores índices de homicídios na cidade. Feito a partir da mistura da pasta base (resto da cocaína), que diversos produtos químicos, o crack se apresenta na forma de pedras e causa dependência facilmente. Quando fumado, ele atinge o cérebro de 5 a 10 segundos, provocando efeitos de intensa euforia, excitação, insônia, sensação de poder, desorientação, instabilidade emocional, mania de perseguição e fissura. Maria Cristina Venâncio, Policial Civil, psicóloga e coordenadora do Cape (Centro Antitóxicos de Prevenção e Educação), afirma que
Rubens Moreira / Juliana Hemili
Apreensão de crack em Curitiba até abril de 2010 pela Divisão Estadual de Narcóticos já ultrapassa total de 2009
Maria Cristina (esq.) e Ana Paula (dir.) concordam: o crack está dominando
a quantidade de usuários de crack vem aumentando. “O que nós vemos bastante pelos noticiários e até mesmo pelas pessoas que nos procuram é o crack. Nós o chamamos de câncer do mundo, já que ele está destruindo muitas famílias”, ressalta Maria. Ela diz ainda que quando o dependente químico faz uso da droga, sente-se
onipotente e encara qualquer situação, depois, quando quer dinheiro para comprá-la, torna-se muito agressivo. A violência também está diretamente relacionada com as drogas. Ainda não existe um mapeamento do crime para ter informações precisas em relação à quantidade de assassinatos cometidos pelo tráfico, mas a
delegada da Denarc, Ana Paula Cunha Carvalho, estima que cerca de 80% dos homicídios que ocorrem em Curitiba e região metropolitana são em decorrência das drogas. Até o dia 28 de abril deste ano, foram apreendidos pela Divisão Estadual de Narcóticos, em Curitiba 15 quilos de maconha, 59 quilos de crack e 4 quilos de cocaína, o que demonstra o crescimento da venda de crack em relação às outras drogas e também ao ano passado. Em 2001 a região sul do Brasil possuía o maior índice de pessoas que já usaram crack uma vez na vida. Daquele ano para 2005, o índice subiu de 0,5% para 1,1%, segundo pesquisa realizada pelo Obid (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas). Alessandro Xavier*, 34 anos, foi usuário de crack por 8 anos. “Comecei com 13 anos cheirando benzina, aos 15 já conhecia a maconha e aos 18 fumava diariamente, então, aos 23, experimentei um Cabral, mistura de maconha com crack. No começo eu
usava apenas aos fins de semana e algum tempo depois já estava usando diariamente”. Ele ainda conta que teve amigos e amigas que foram assassinados por dívidas com traficantes. “No tráfico você pode morrer por R$ 5,00, o fato não é a dívida e sim a palavra.” Como muitos usuários de crack, Alessandro também furtava objetos de familiares para obter a droga e acabou cometendo outros atos ilícitos. “Eu trafiquei maconha por muito tempo e busquei muito crack para conhecidos em troca de algumas pedras”, comenta ele. Há quase três anos Alessandro está de livre das drogas, “de cara-limpa, como é chamado por ex-usuários, mas ele sabe que a dependência não tem cura e sim tratamento. Por isso, freqüenta regularmente o grupo de Narcóticos Anônimos e evita pessoas, lugares e hábitos que possam levá-lo a recaída. (*Nome fictício) Juliana Hemili Rubens Moreira
CIDADE LIDERA RANKING DAS CAPITAIS COM MAIS JOVENS QUE JÁ CONSUMIRAM ALGUM TIPO DE SUBSTÂNCIA ILÍCITA
Juventude de Curitiba é cada vez mais tragada pelas drogas Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), 8,7 % dos estudantes até 15 anos usam drogas ilícitas. O dado é assustador, não pela porcentagem em si, mas pela idade dos adolescentes. O estudo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em janeiro deste ano, torna-se ainda mais preocupante quando coloca Curitiba, com 13,2%, no topo da lista das capitais com mais jovens que já consumiram algum tipo de substância ilícita, independente se tenham se tornado usuários. Mas a dúvida que fica no ar é: como evitar um aumento desses números? A solução aparece de diferentes maneiras. Através de um policiamento maior nas ruas, de uma evolução no sistema de combate ao tráfico organizado ou de uma maior rigorosidade na pena a quem se opõe a lei. A Polícia Federal apreendeu 132 mil comprimidos de ecstasy em 2009, o que representa um crescimento de
2.500% em relação ao índice de nove anos antes, quando o número chegou a 5 mil. No mesmo período, a cocaína teve um crescimento de 500% e o crack, 3.000%. Porém, não há como garantir que o problema esteja sendo resolvido, uma vez que, tendo sua droga apreendida, o usuário passa a ingerir outro tipo de substância. Para o Cebrid (Centro Brasileiro de Informações), a causa do problema está na ausência de perspectiva de muitos jovens. A falta de senso de cidadania confunde e ilude muitos deles, assim as drogas surgem como um “cano de escape”. O crack, capaz de levar uma pessoa a ter cirrose com apenas uma usada, é o principal exemplo disso. Segundo o centro de pesquisas, a causa do seu uso está na carência de alternativas, como lazer e cultura. O coordenador de combate antidrogas, Jônatas Davis de Paula, concorda com o Cebrid ao afirmar que
a solução está em combater o uso de drogas através da prevenção. “A única maneira de acabar com as drogas sem o uso da violência é com um trabalho de educação que deve ser iniciado muito cedo na vida das crianças”, concluiu o coordenador, que organiza eventos com esse fim. Assim, prezando por uma juventude mais consciente de sua posição na sociedade, seria possível evitar muito da hipocrisia existente hoje na classe média/alta. A Secretaria Anti-drogas de Curitiba diz que “não existe uso inocente e nem ‘não sabia’, já que só existe tráfico porque tem quem compre”. O órgão afirma ainda que “muitos jovens sabem que financiam o tráfico ao adquirir uma droga, mas mesmo assim o fazem. Porém, quando dobram numa esquina e são assaltados, criticam o sistema e culpam o governo”. Guilherme Mello Idionara Bortolossi
Chacina na Vila Audi
Em outubro do ano passado, Curitiba sediou um fato que parecia isolado. Traficantes instituíram um toque de recolher às 22 horas. O aviso foi claro: todos que estivessem fora de sua casa na Vila Audi seriam baleados. O motivo para isso? O assassinato do sobrinho de um dos traficantes do grupo “Nerdão”. Quando chegou a hora determinada, os bandidos passaram atirando em quem estava na rua. O resultado foram oito mortos e dois feridos. Cinco deles tinham entre 15 e 25 anos. Jovens que estavam começando sua vida, mas os que mataram a sanguefrio, eram tão novos quanto. Os responsáveis têm idades entre 18 e 25 anos. Tudo parece muito diferente e raro de acontecer. Mas os toques de recolher são comuns na região. Quando eles estipulam um horário, os alunos das escolas próximas noite saem mais cedo da aula, mesmo que o professor não libere, eles não ficam na sala. Segundo moradores, todos sabiam desse toque dias antes do acontecimento, mas por medo dos traficantes, calaram-se. A diferença dessa chacina com as outras que já ocorreram na vila foi a sua abrangência e a falta de controle dos assassinos. Tudo indica que a chacina estava programada para acontecer de uma determinada forma, mas os bandidos perderam o controle da situação, mataram quem queriam, mas também quem não era para morrer. Segundo informações dos moradores, o incidente deixou o chefe da quadrilha morto. A situação dentro da Vila Audi é complicada. Jovens de 16 anos assumiram o comando do narcotráfico dentro da favela e, por serem muito novos, demonstram seu poder através de assassinatos sem grande motivação. Além disso, depois do episódio, roubos e outros crimes menores que não aconteciam dentro da comunidade se tornaram comuns. “Eles estão vivendo sem regra alguma, não respeitam nem mesmo as leis deles”, enfatizou um morador. (IB)
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educação
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POUCAS VIATURAS DA PATRULHA ESCOLAR DIFICULTAM O COMBATE À INSEGURANÇA
Dificuldade no controle da violência A Patrulha Escolar Comunitária, responsável pelo policiamento das escolas estaduais de Curitiba, apesar do bom funcionamento de seu programa de atuação, apresenta hoje dificuldade em atender ao grande número de instituições escolares. Cerca de 20 escolas de diferentes bairros da capital apontam a quantidade de patrulheiros e viaturas disponíveis para o trabalho como o principal problema enfrentado. O programa de atuação da patrulha é inicialmente preventivo. São aplicadas dinâmicas e palestras aos pais, professores, funcionários e alunos de cada escola, para alertar e proteger os mesmos, sobre as diversas situações de risco. Além disso, são realizadas visitas as escolas e monitoramente de suas atividades. Dependendo da gravidade da situação, em algumas ocasiões são necessárias atitudes de repressão por parte dos patrulheiros, porém estes afirmam que são raros tais casos e o objetivo da patrulha é justamente impedir que uma situação chegue a este nível. “São raros os casos que necessitam de medidas repressivas, acho que não representam nem 5% das situações, o trabalho é prioritariamente preventivo”, comenta um patrulheiro. Seg u nd o a s escolas, a realização das atividades é de grande importância. Além de trazer melhorias ao ambiente escolar e aos próprios alunos, o trabalho diminui consideravelmente a sensação de insegurança dentro das instituições. Porém, quando chamados, nem sempre a patrulha consegue atender a todas regiões. Para a pedagoga e vice-diretora de um colégio localizado no bairro Uberaba, o serviço da patrulha é ineficiente, mas não por incompetência dos policiais. Ela contou que recentemente houve dois casos envolvendo drogas na instituição: “em um deles, um aluno tinha escondido drogas no tênis e um de
Tatitha Maximo
Atividades e programas voltados para jovens contribuem para diminuir os índices da violência na escola
Policiais da Patrulha Escolar Comunitária deslocam-se todos os dias para o monitoramente das escolas
nossos funcionários viu. Ligamos para a Patrulha Escolar e mantivemos o menino sob observação para que ele não se livrasse do pacote até que a viatura chegasse. Quando ele viu a viatura engoliu o pacotinho. Os policiais que nos atenderam foram de um profissionalismo fora de sério. A situação foi inteiramente resolvida pela patrulha, os pais do menino foram chamados e ele foi transferido”. A pedagoga acrescentou que em algumas ocasiões a patrulha não conseguiu chegar a tempo e a escola teve de resolver o problema sem auxílio, todavia, ela atribui tal ineficiência ao número precário de viaturas. Os professores de um colégio do Bairro Novo concordam: “dificilmente conseguimos ser atendidos, porque são poucas viaturas e os policiais têm que atender as escolas de acordo com a urgência das situações, mas nas vezes em que vi a atuação da patrulha ela foi boa”, afirmou um dos educadores. Alguns alunos de um colégio no
São dois policiais para cerca de 30 escolas na região
bairro Xaxim não falam sobre o trabalho dos policiais, mas confirmam que o número de viaturas é muito baixo. Eles acrescentam que esse fator faz com que a patrulha não garanta segurança, pois a impedem de fazer rondas periódicas e passar tempo suficiente nas escolas para evitar problemas ou resolvê-los. No Pinheirinho, não são só os alunos de uma instituição estadual que se sentem inseguros, seus pais e professores também têm medo da violência que ocorre dentro do colégio. A orientadora dessa escola disse que há um descaso muito grande por parte do governo quanto à segurança. Para ela, os policiais da patrulha não são despreparados, mas são em pqueno número, é qeu talvez seja impossível para eles resolverem todos os problemas que ocorrem em diversos lugares ao mesmo tempo. A mãe de um aluno reitera que as pessoas criticam muito o trabalho da polícia, mas não param para pensar que os policiais precisam de infra-estrutura para desempenhar
bem seu papel. Segundo o diretor de uma outra instituição estadual, situada na Vila Guaíra, são somente dois policiais para gerenciar cerca de 30 escolas na região. A Polícia Militar do Paraná, entretanto, prefer iu não fornecer informações quanto ao número de viaturas disponíveis. A tenente do batalhão da Patrulha Escolar Comunitária, Denise Marília Silva, explicou que “a principal dificuldade hoje é a demanda de serviços e a quantidade de escolas que necessitam de policiamento”. Denise destaca agressões, brigas e participação de gangues como as ocorrências mais frequentes. “Há dias em que o trabalho é bem complicado, recebemos chamadas de mais de um colégio ao mesmo tempo, tentamos sempre priorizar o que é muito urgente”, contou um policial responsável por uma das viaturas.
“Tentamos sempre priorizar o que é muito urgente”
Talitha Maximo Ana Carolina Machado
Um dia de cão Falar com propriedade de determinado assunto exige pesquisa e inserção no âmbito que se propõe discutir. Pensando nisso, a editoria de Educação do COMUNICARE se propôs a acompanhar um dia inteiro em uma escola com sérios problemas de violência em Curitiba, porém a ideia teve que ser abolida. Após falar com todas as instâncias possíveis para requerer autorização para fazermos a repor tagem, obtivemos a seguinte explicação - dada por uma funcionária que pediu para não ser identificada por questões de manutenção de seu emprego – “Você tem que pedir autorização para a SEED (Secretaria de Estado de Educação), mas é certeza absoluta que você não vai conseguir, porque estamos em ano eleitoral, e por serem todos cargos políticos, sejam os diretores, os responsáveis pela Secretaria ou nós mesmos, perigamos perder nossos empregos, eles vão protocolar seu pedido, mas vai demorar muito tempo, sem contar com a burocracia, que é proposital”. Realmente a autorzação não foi concedida. Portanto, mudamos as reportagens e ainda assim conseguimos materiais, que levantam profundas discussões sobre como a escola, a comunidade e a sociedade está estruturada. Vale ressaltar que as entrevistas que contém nesta página, bem como o nome das escolas que abriram as portas, serão mantidas em sigilo, por razões já explicadas. Fica o questionamento da editoria: será essa simples proibição já, não é uma forma de violência? Professores que querem se pronunciar e demonstrar como é a situação real, são boicotados por ameaças e chantagens políticas. As realidades serão escondidas somente porque estamos em ano eleitoral? Rubiane Kaminski
esporte
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Curitiba, Junho de 2010
atitudes dos torcedores fazem das ruas no entorno dos estádios verdadeiras “terras sem leis”
Vizinhos de estádios reclamam da violência
Torcedores paranistas fecham rua residencial próxima ao estádio a caminho do jogo
Ricahrd Roch
As formas de violência praticadas no entorno dos estádios curitibanos são as mais variadas. Além das agressões físicas, os moradores reclamam de diversas atitudes promovidas pelas torcidas em dia de jogo. As ruas adjacentes se tornam espaços “sem controle, sem lei”, como reclama o morador vizinho ao estádio atleticano Inácio Scláin, 42 anos, apontando para as inúmeras pichações em seu muro. Edgar Graciano, 33 anos, também sofre quando há jogos na Arena. Além de se queixar sobre o abuso de drogas pelas torcidas na frente de sua casa, o morador começou a prestar atenção nas cores do time visitante, uma vez que já sofreu provocações por estar “trajando verde e branco”. A violência não fica restrita somente nas localidades próximas ao estádio atleticano. O morador do bairro Água Verde, Célio Donizete Correia, de 32 anos, diz já ter procurado a polícia para prestar queixa sobre os abusos praticados pela torcida em dias de jogo no Couto Pereira. “Eles mexem com velhinhas e até com crianças de colo. Às vezes sai do controle, acabam pichando uma casa ou mesmo fazendo xixi ali perto do estádio, onde a polícia não está vendo. A minha casa já foi depredada duas vezes em dias de clássico”. Morador próximo ao estádio do Paraná Clube, Carlos Alberto Albini Belegare, 26 anos, comenta sobre as dificuldades de sair de casa. “Em dia de jogo, não tem como eu sair sem passar no meio da torcida. Já aconteceu de um vândalo jogar uma pedra em meu carro
Elian Woidello
Agressões físicas competem com outros crimes na porta das residências, como o uso de drogas e a depredação do espaço público
Encontro de torcedores atleticanos em terminal de ônibus: palco frequente de brigas
sem motivo algum”. Torcidas Para o vice-presidente da torcida atleticana “Fanáticos” Juliano Suk, de 38 anos, a população não deve generalizar os torcedores enquanto vândalos.
Torcidas combatem a violência
Frente aos conhecidos combates que ocorrem quando times da Capital se enfrentam, as diretorias das torcidas organizadas – vistas como principais responsáveis pelo vandalismo em dias de jogo – começam a tomar atitudes visando diminuir a violência em torno dos estádios. Juliano Suk, 38 anos, advogado, vice-presidente da Torcida Organizada Os Fanáticos, se reuni periodicamente com a Polícia Militar para alertar ‘’os pontos fracos e regiões mais problemáticas’’. Suk diz ainda que enquanto ‘’não houver uma punição severa aos vândalos, tudo continuará igual’’. Atualmente, a TOF acompanha algumas torcidas de adversários para evitar que torcedores mal intencionados comecem brigas. ‘’Só a nossa presença inibe a ação destes elementos. Fazemos isto nos terminais também’’. Para o Coronel da PM, Roberson Luiz Bondaruk, 47 anos, a boa vontade das torcidas é algo bom, mas faz ressalvas. ‘’Eles colocam a culpa em membros que não são da torcida, mas a violência é incitada dentro de suas sedes. Nestes casos, O jogo se transforma em um pretexto para se cometer crimes”. (RT)
“Nós temos um estatuto com tudo pré-estabelecido. Os que descumprem são colocados para fora. Não toleramos práticas agressivas”. Porém, o próprio Suk destaca o quanto “é complicado controlar a grande quantidade de associados ou de pessoas que somente compram a camiseta da torcida e cometem crimes”. Já para Fernando Santana, 19 anos, membro da torcida ligada ao Paraná Clube “Fúria Independente”, os problemas das organizadas são muito mais evidentes. “Não vou generalizar porque eu vou ser injusto, mas tem gente que usa droga sim, e de vários tipos, aí ficam mais violentos. Não há controle pela torcida, pelos clubes ou pela polícia. O que existe é um diálogo com a PM e com torcidas rivais, mas que não chega no ouvido de todos.”
Estado Segundo o coronel da Polícia Militar do Paraná, Roberson Luiz Bondaruk, 47 anos, o Estado é somente parte do problema. “O policiamento ostensivo não é a solução, mas uma forma de remediar os crimes praticados. A solução não repousa na polícia. Para acabar com a violência nos estádios, ações estruturais devem ser tomadas”. Para Bondaruk, além de programas visando à conscientização dos torcedores, uma nova legislação deveria ser feita para cobrar dos clubes suas responsabilidades. “Aquilo que ocorre no entorno dos estádios, como pichações e depredações, fazem parte de um problema crônico que extrapola a ação policial. Os clubes deveriam ser responsabilizados pelo que acontece no entorno, pois é por causa dos seus
“Já aconteceu de um vândalo jogar uma pedra sem motivo algum”
eventos que ocorrem os delitos”. O policial também destaca a importância do planejamento urbano enquanto fator crucial no controle dos crimes cometidos em dias de jogo. “A estrutura do ambiente pode favorecer tanto a segurança quanto a violência. Com algumas ressalvas, a Arena é o único estádio favorável para a segurança, por seu planejamento. O desenho do entorno complica nossa ação, como é o caso do Couto Pereira, com casas e ruas estreitas em volta. Tudo o que a estrutura do estádio não colabora, nós temos que suprir com policiamento”. Como aponta Hermes Piyerl, 41 anos, diretor da Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi), a última vistoria nos estádios curitibanos foi realizada a mais de dois anos. Nela, se concluiu a falta de estrutura dos times para lidar com grandes multidões. Além deste problema, o tenente Ivan Baranoski, de 36 anos, membro do Corpo de Bombeiros, aponta outro agravante: “Nesta vistoria, até os extintores de incêndio do Couto Pereira estavam vazios”. Especialistas O urbanista e professor Carlos Hardt, 56 anos, aponta que “coisas simples podem ser feitas para melhorar projetos inadequados de estádios, como a questão da iluminação. Por exemplo, a luz na praça em frente ao Atlético é muito precária. Tem que evidenciar ao torcedor os mecanismos de controle, não só com uma iluminação adequada, mas também com postos de polícia em lugares estratégicos”. Segundo Hardt, o problema é social, mas o urbanismo pode contribuir “aliviando os sintomas”. Para o professor de história da UFPR Carlos Ribeiro, 59 anos, que estuda o esporte e suas implicações sociais, o futebol gera um alto grau de envolvimento por seus torcedores graças a seu caráter competitivo. “Existe uma grande força passional pela disputa. Isto, aliado com uma série de desajustes sociais, faz com que alguns torcedores encontrem no futebol seu único momento de valorização, o que pode resultar em práticas violentas”. Elian Woidello Richard Junior Rogerio Rodrigues
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sociedade
Curitiba, junho de 2010
Capital conta com delegacia, promotor e juiz específicos
governo não fará parte deste projeto
Casos de violência sexual infantil são investigados e julgados em até 6 meses
O projeto para a construção do Hospital do Idoso Zilda Arns Neumann foi feito pela Secretaria de Saúde, em parceria com o governo estadual do Paraná, em 2006. A obra, que deveria ter sido concluída em 2008, continua inacabada e, de acordo com a superintendência da Secretaria Municipal de Saúde, houve pouco interesse do estado em continuar participando. Agora, o projeto continua com a ajuda do Ministério da Saúde, estimando-se o gasto de R$ 36 milhões. Tereza Kindra, responsável pela obra, diz que o prédio deve ser terminado ainda em 2010, e que a previsão para instalação dos equipamentos é até 2011. Segundo Tereza, o hospital visa ser “referência da pessoa idosa, na formação profissional e para cuidadores”. Conforme dados do IBGE, o número de idosos na capital corresponde a 10,4% da população e o número tende a crescer. Por enquanto, a capital não possui um centro de atendimento especializado ao idoso, que já existe em diversas capitais do país. Para Jeane Oliveira, coordenadora de proteção social
Fonte: Cecovi - Centro de Combate à Violência Infantil
tes violentados, localizado no Cristo Rei. Segundo o conselheiro Hygino, a procura é grande, e não há profissionais suficientes. “No Creas, leva cerca de dez dias para marcar a primeira consulta. Se for urgente, talvez três ou quatro dias, mas nunca em menos. Depois, a manutenção do paciente é mensal”, explica. Apesar disso, não existem projetos para criar outro Creas voltado para a violência sexual.
na região metropolitana e em cidades do interior. “Nós temos uma boa estrutura aqui, com uma promotoria e um juiz específicos para esses casos. Mas é difícil comparar com o resto do Brasil, as situações são muito diferentes”, diz Luís Augusto Dias de Souza, superintendente do Nucria. No entanto, continua havendo falhas na hora de auxiliar as vítimas. Em Curitiba, só existe um Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) destinado a crianças e adolescen-
Marcela Lorenzoni
especial de média complexidade da Fundação de Ação Social, o serviço que supre essa necessidade é o apoio à vítima através do número 156. O serviço encaminha o idoso agredido para uma casa de saúde e, de lá, para uma casa de apoio. No ano passado, foram atendidos 968 idosos. O principal motivo da agressão era o envolvimento do agressor com drogas. Para o geriatra Rodolfo Alves Pedrão, com mestrado em negligência e maus-tratos contra o idoso, o principal motivo é a sobrecarga do cuidador, por ter que acompanhar o quadro de estagnação do idoso. Segundo ele, 30% dos cuidadores têm depressão. “O que falta é o apoio intelectual para as famílias de baixa renda e a opção de encaminhamento a casas de repouso”, relata o geriatra. Para Pedrão, falta informação por parte da população. Para Tânia Gomes, psicóloga do Asilo São Vicente, “as pessoas sabem que existem muitos casos de violência contra o idoso, mas não tem coragem de comentar”.
Camila Petry Francielle Ferrari
ciclo da violência: 60% dos pedófilos sofreram abuso sexual quando crianças
Pedofilia ainda é considerada uma doença sem cura Os crimes de pedofilia não revelam somente a situação enfrentada por milhares de crianças, como também mostram a carência de serviços para o tratamento das vítimas e reabilitação dos agressores. Além disso, de acordo com a psicóloga e Consultora em Psicologia Jurídica Maria Cristina Neiva de Carvalho, cerca de 60% das crianças agredidas viram agressores, no processo chamado “Ciclo da Violência”. “O que tentamos fazer é quebrar esse ciclo, mas não há recursos suficientes na saúde pública.”, afirma a psicóloga. Ela também coloca que é preciso discriminar os casos de violência sexual. “A pedofilia é uma doença, com pouca regeneração. Hoje, não existem tratamentos efetivos para ela”. Para estabelecer essa diferença, são feitas avaliações psicológicas do agressor para definir o problema. Se o abusador for
Talita Inaba
Crimes de violência sexual contra crianças e adolescentes são punidos mais rapidamente em Curitiba do que no resto do país: em até seis meses. Esse é o dado apresentado pela Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, divulgado em novembro de 2009. Ainda assim, as denúncias não diminuíram. Segundo a Central de Notícias dos Direitos da Infância e da Adolescência (Ciranda), no ano passado foram recebidas 1.085 denúncias no Paraná, contra 1.226 em 2008 e 1.184 em 2007. De acordo com o conselheiro tutelar Amaro Hygino, antes coordenador paroquial da Pastoral da Criança, o diferencial de Curitiba não é uma estrutura que falta às outras capitais, e sim um sistema judiciário mais rápido e dinâmico. Para ele, porém, o aumento das punições não irá diminuir o número de casos. Pelo contrário, isso tende a encorajar a população a denunciar. “Não existem mais crimes, e sim mais denúncias. Mas a população ainda tem medo e vergonha de se expor”, diz Hygino. Em Curitiba e Região Metropolitana, em 80% dos casos os abusadores são próximos da criança. Nesse cenário, a mãe pode duvidar ou acobertar o familiar. A criança violentada acaba se tornando agressiva, deprimida ou sexualmente precoce, e cabe principalmente à escola perceber as mudanças de comportamento. Ainda assim, estima-se que, para cada crime exposto, outros vinte per maneçam omissos. Com o aumento de denúncias, o investimento área também cresceu. Em 2004, foi criado no Paraná o Nucria, uma delegacia que atende às crianças agredidas por adultos. Ela funciona em parceria com a Vara de Crimes Contra a Criança e o Adolescente, e investiga atualmente de mais de 2.500 casos, em diferentes estágios de desenvolvimento. Antes, delitos contra a infância eram atendidos nos próprios distritos, como ainda acontece
Diane Cursino
Curitiba julga crimes de abuso infantil Hospital do Idoso deveria mais rapidamente que o resto do Brasil ter sido entregue em 2008
Menino vive no Lar Moisés, e aguarda o fim do processo de adoção
realmente pedófilo ele deve ser monitorado constantemente, apesar de nunca deixar de ter esse desvio de conduta. Em outros casos o agressor não é doente, mas foi reprimido sexualmente durante toda sua vida – seja cultural, social ou religiosamente – e desenvolve perversões para suprir suas necessidades. A criança abusada recebe trata-
mento psicológico, que pode durar anos - até a vítima aprender a lidar com o ocorrido. A idade mais vulnerável é até os três anos, fase em que o corpo e o psicológico do bebê ainda estão em desenvolvimento. Nesse cenário, a criança absorve o trauma como parte de sua formação, tornando mais difícil superá-lo. A criança retirada da famí-
lia é transferida para um abrigo, onde recebe apoio e orientação para entender a situação. João Ricardo Rocha, coordenador do Lar Moisés, explica que a criança considera a sua situação normal e é comum ela acreditar que adulto agressor estava agindo corretamente. Muitas vezes, ela se sente culpada pela violência que sofreu. O tratamento gira em torno de “tirar a culpa” da criança e mostrar outras realidades e vivências. Ela passa a ser responsabilidade da Vara de Infância e vai para a adoção. Rocha afirma que não existe preconceito por parte dos adotantes em relação a crianças violentadas. Os futuros pais são informados do caso apenas até onde ele possa interferir no desenvolvimento da criança. Camila Toppel
cultura
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Curitiba, junho de 2010
Bandas de hip hop, rock e funk tentam conquistar o espaço musical e perdem a fama de violentas
Ritmo forte nem sempre gera violência Os músicos diversificam seus trabalhos para que as pessoas os conheçam melhor e percam o preconceito
nadas músicas do funk têm algumas letras com duplo sentido (no caso por exemplo de Adultério), sendo esse o motivo que às vezes acaba gerando violência; mas que tudo não passa de uma brincadeira. O grupo nunca teve problemas nos shows com brigas e não consideram suas músicas violentas. “O nosso estilo é mais ‘light’, não fala de violência. Nosso ritmo é envolvente e contagiante. Existem sim algumas músicas que falam da realidade, mas não é para incitar a violência”, comenta o cantor que garante que o funk hoje atinge todas as classes sociais. Independentemente do estilo musical, os artistas procuram na maioria de suas composiçôes, relatar suas experiências mas sem incentivar atos violentos. O objetivo é fazer com que o público vá aos shows e prestigie o artista.
Fotos: Larissa Matos
Integrantes da banda Mortais
Cabes: Famoso rapper curitibano
estimula a violência, quando mal interpretado pelas pessoas. “Uma pessoa sem condição ouve o rap e não tem base para entender aquilo e acaba distorcendo a música. Os rappers não querem incitar a violência, só mostrar a realidade. Minha idéia é fazer rap de autoestima, mostrar o que passsei e
sofri”, conta o artista que possui em todas as suas composições, letras reflexivas como forma de protesto e desabafo. Para o funkeiro Jurandir dos Santos, 29 anos, que faz parte do grupo Mc Jura e As Causadoras do Funk, o preconceito e os julgamentos acontecem, pois determi-
Giovanna Miqueletto Juliano Oliveira
A maioria das pessoas já presenciou confusão em baladas
Álcool em excesso provoca brigas e confusões em muitos locais da cidade
A cada dez pessoas em Curitiba, sete já presenciaram ou sabem de uma briga ou discussão ocorrida em baladas ou barzinhos. O motivo principal continua sendo a ingestão de álcool de forma inadequada, que gera provocações, xingamentos e brigas que podem levar até a morte, como foi o caso do garçom Rodrigo Alves 29 anos, que foi baleado por um cliente bêbado de uma danceteria do bairro Batel em novembro de 2009. Felipe Boaventura 20 anos, conta que se já envolveu em uma briga de boate, mas que nem sabia o motivo exato. “Quando eu vi que meus amigos estavam brigando, eu peguei uma garrafa e comecei a jogar em quem vinha bater neles. Só depois descobri o motivo da briga”, conta o estudante. Gustavo Listing, 23 anos, saiu para se divertir com seus amigos e acabou sendo vítima de uma briga que deixou em seu rosto várias cica-
trizes. “Era garrafa para todo lado. Fiquei com muito medo”, conta. Por um lado, a violência em casas noturnas afasta algumas pessoas, como Julio Forte, 28 anos que afirma não gostar de ambientes fechados, fumaça e bêbados, por isso prefere lugares mais tranquilos: “Nada melhor que um churrasco em casa, um futebolzinho, cinema, ar puro. Existem opções melhores que balada, mas cada um faz sua escolha e com isso suas consequências”, comenta. Por outro, há quem não ligue para as brigas e confusões ocorridas nas danceterias. Alessandra Lira, 19 anos, não dispensaria uma balada apenas pelo fato de poder ocorrer uma briga. “Violência sempre acontece. Eu mesma já presenciei muitas brigas, mas não parei de ir a festas por causa disso. Claro que se isso aumentar, é melhor escolher outros programas”, diz. Na opinião dos empresários, a maioria das brigas é provocada
Juliano Oliveira
Grupos musicais com ritmos fortes dizem que ao contrário do que muitas pessoas pensam, as músicas com letras pesadas no geral não causam violência e nem estimulam confusões entre o público. Isso quebra preconceitos e julgamentos, como por exemplo, quando é dito que o rock e o funk são formas de estimular a violência. Muitas vezes as letras são de certa forma violentas, mas a atitude do público e dos artistas não. Um dos estilos musicais que mais tem fama de violento é o rock, por sua batida mais forte e pesada e pelas letras terem certa agressividade. João Oginski, 35 anos da banda de rock Mortais, diz que o rock já foi rotulado como música de protesto e marginalizado em outras épocas, mas que hoje não é mais assim. “Acho que existem tantos estilos de música que são usados como formas de expressar alguma indignação, revolta, que não tem mais como ligar somente o rock a está tarefa”, comenta. A respeito das músicas, o vocalista Marcelo Garcia, 35 anos, acredita que cada música tem a sua peculiaridade e cada letra tem a sua mensagem. “Cada pessoa interpreta a música de um jeito diferente. Para um cara que é violento a música ‘atirei o pau no gato’ é trilha sonora para pancadaria. Para outro mais consciente pode ser motivo de reflexão”, fala o cantor. A banda que já parou um show por causa da fúria da plateia, acha que a violência se dá muito mais por causa do sexo e das drogas, do que pelo próprio rock´n roll. Ricardo Pires conhecido como Cabes, 24 anos, começou com o rap em 1999 como uma brincadeira entre amigos e hoje é um dos maiores rappers de Curitiba. Cabes acredita que a sociedade ainda possui muito preconceito em relação à cultura hip hop, principalmente por relacionaremna à pessoas de má índole. Mas em seus shows, é raro se ver uma briga ou discussão, até porque, a maioria do público vai com o intuito de curtir o show e prestigiar o artista. Pode-se dizer que o rap
Gustavo: balada deixou cicatrizes
pelos próprios frequentadores, já que há clientes que chegam bêbados e dispostos a arrumar confusão com todo mundo. Os lugares mais violentos segundo os entrevistados são: Hangar, Empório São Francisco, Chinasky e Victoria Villa. Larissa Matos Marisol Munari
Filme sobre expresidiário retrata violência social “Na vida há os que devoram e os que são devorados”. Esse é o lema principal que envolve o primeiro longa-metragem do diretor curitibano Marcos Jorge. O filme Estômago, filmado durante 5 semanas em Curitiba e São Paulo, conta a história do presidiário Raimundo, um cozinheiro nato que conquista o respeito de todos através de seus incríveis dotes culinários. Alessandro Yamada, assistente de direção de arte, conta que apesar de ter várias cenas de violência, o filme mostra apenas a realidade dentro de uma cadeia e das cozinhas de restaurantes. O tema não foi o principal destaque do longa: “A violência é colocada como um fator secundário. A culinária, o poder e o sexo que estão em primeiro plano”, afirmou. O filme procura mostrar que as pessoas são igualmente más e igualmente boas. “Pessoas que são vítimas da violência também causam violência”, fala Yamada a respeito das cenas mais “pesadas”. O filme foi inspirado no conto “Presos pelo Estômago”, de Lusa Silvestre, que assina, junto com o diretor Marcos Jorge, o argumento do filme. Como grande parte da trama se passa dentro de uma cela de cadeia (montada dentro do presídio do Ahú), Luiz Mendes Jr., que entrou na prisão aos 19 anos, semi-analfabeto, e saiu 30 anos depois, como escritor e cronista, atuou como consultor de vida e comportamento no presídio. Marcos Jorge conta que a participação e a ajuda do ex-presidiário serviu para dar mais realismo ao filme: “No presídio, não foram semanas fáceis, pois algo, lá dentro, deixava sempre claro para nós que estávamos trabalhando, que aquele era um lugar de sofrimento. Para garantir o realismo total, chamamos o Luís Mendes, para ajudar-nos em todos os setores.” comentou o diretor. Estômago, uma produção de R$ 2 milhões, fez um enorme sucesso dentro e fora do Brasil e conta com dezenas de prêmios e indicações.
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geral
Amanda Burda/ Camila Olenik/ Diane Cursino/ Talita Inaba
Curitiba, junho de 2010
Eleito o melhor site jornalístico da Expocom SUL 2010
Agora o site vai disputar o prêmio nacional, já conquistado uma vez
Com mais este prêmio o
peão nacional
Sul e cam É o site tricampeão da Região
Quem faz o melhor jornal também faz o melhor jornalismo
O jornal líder em premiações
O Jornal Laboratório da PUCPR acaba de ganhar pela 10ª vez o Prêmio Sangue Novo de Jornalismo do Paraná
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smo em 2 li a rn Jo e d o v o N e u g rêmio San ão da 15ª edição do P
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Quatorze anos de história Dezessete prêmios conquistados entre regionais, estaduais e nacionais
Parabéns aos alunos, professores e Núcleos de Editores de Internet e de Jornal Impresso por mais essas vitórias