Jornal SER ABRIGO- Junho 2020

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SERABRIGO Orgão Informativo da Comunidade Vida e Paz

Edição Trimestral Junho 2020 Diretora Renata Alves Ano XXII, n.º97 Reg.º ERC n.º 119 741 Dep. Legal n.º 239 890/06 Preço de assinatura: Gratuito

Comunidade Vida e Paz agradece a todos os benfeitores e informa sobre aplicação dos donativos recebidos (pág. 7)

Espaço Aberto ao Diálogo

Centro de Fátima

Centro da Quinta do Espírito Santo

• “As mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam” • Novas realidades de trabalho (pág. 3)

• Plantando Vida • Acrescentar criatividade às novas rotinas (pág. 4)

• A Pandemia na Vida dos nossos utentes • Uma vida cheia de sorrisos (pág. 6)


2 Editorial

SER ABRIGO

Gratidão para com todos! Horácio Félix, Presidente da Direção da Comunidade Vida e Paz

Um dos valores praticados na Comunidade Vida e Paz é a Gratidão. Este tempo estranho em que vivemos, onde são desaconselhados os abraços ilustrativos do cuidado com o outro e que tão bem caracterizam o excecional trabalho e entrega de todos nesta nossa Casa e Causa, obrigou-nos a resgatar o que de melhor somos como seres humanos. Neste editorial, quero agradecer a forma como cada um de nós se deu em prol do outro. Nos Centros, de uma forma menos visível, a dedicação e entrega dos nossos colaboradores permitiu continuar os diferentes processos terapêuticos, adaptados aos desafios e medos do desconhecido que naturalmente a todos afetou. Os nossos utentes colaboraram, aceitando novas normas e menos acompanhamento técnico, tornando-se, sempre, parte da solução e nunca um problema. Desejo agradecer especialmente aos nossos voluntários, bem como aos nossos colaboradores que estiveram na primeira intervenção e que numa situação muito difícil, responderam — Presente! — ao grito lançado pelas pessoas em situação de sem-abrigo: “Não nos abandonem “. Foram extraordinários na dedicação, trazendo amigos quando as equipas estavam reduzidas. Deste modo as ‘Voltas da Noite’ não só foram mantidas, como aumentaram o número de refeições para responder ao crescimento do número de pessoas com ou sem teto, que passaram a sofrer de privação alimentar. Destaca-se a ação dos Salesianos de Lisboa, que durante cerca de 3 meses confecionaram e ofereceram 550 refeições diárias. Finalmente uma palavra de grande reconhecimento aos nossos benfeitores. As largas centenas de ofertas recebidas pelas diversas vias — em artigos de proteção e limpeza, géneros alimentares e em dinheiro — contribuíram decisivamente para atingir o objetivo definido pela Direção da Comunidade Vida e Paz para responder à situação criada pela pandemia da COVID 19: manter em funcionamento todos os serviços e apoios dispensados pela Comunidade

às pessoas em situação de sem abrigo ou de exclusão social. A Direção manifesta o seu profundo reconhecimento a todos os benfeitores, pela Confiança que nela continuam a depositar, e agradece a enorme generosidade dos seus contributos, assegurando que continuará a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para levar à prática a missão da Comunidade que a todos nos une e inspira: “ir ao encontro das pessoas em situação de sem-abrigo, convidá-las a mudar de vida e apoiá-las no processo de reabilitação com vista à sua reinserção na sociedade”. A todos o nosso bem-haja por nos ajudarem a Reconstruir Sentidos de Vida.

Desejo agradecer especialmente aos nossos voluntários, bem como aos nossos colaboradores que estiveram na primeira intervenção e que numa situação muito difícil, responderam — Presente! — ao grito lançado pelas pessoas em situação de sem-abrigo: “Não nos abandonem “. Foram extraordinários na dedicação, trazendo amigos quando as equipas estavam reduzidas.


Espaço Aberto ao Diálogo 3

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Espaço Aberto ao Diálogo Patrícia Anacleto

“As mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam” Tendo em conta a conjuntura atual, o Espaço Aberto ao Diálogo (EAD) fez, desde o primeiro momento em confinamento, um trabalho de articulação com os vários organismos e instituições a nível nacional (ET, CRI, UA, UD, ARS e Outras Comunidades Terapêuticas), tudo no sentido de se conseguir estruturar respostas e novas estratégias para continuamos a Reconstruir Sentidos de Vida. Neste sentido, todas as admissões realizadas a partir do mês de abril seguiram um conjunto diretrizes próprias criadas pela Comunidade Vida e Paz, tendo em conta as normas e recomendações da DGS, do SICAD e dos próprios planos de contingência criados: tornou-se obrigatório a realização de um teste à COVID-19, dias antes da data prevista da admissão do utente, tendo este de ser obrigatoriamente negativo. Após este primeiro procedimento o utente poderá dar entrada nas nossas valências, tendo que permanecer por um período de 14 dias em isolamento obrigatório. Estas medidas em específico remeteram para o EAD um trabalho extra de motivação e consciencialização prévia da importância do cumprimento das mesmas, em prol da segurança de todos. No espaço físico do EAD, a intervenção focou-se na satisfação das necessidades mais básicas e na gestão/encaminhamento de novos utentes para as respostas possíveis. Também aqui os técnicos têm procurado reajustar e readaptar a sua intervenção e modo de funcionamento, indo sempre ao encontro das normas e diretrizes vigentes neste cenário atual. Entre o dia 16 de março e o dia 31 de maio contámos com mais de 565 presenças no EAD e cerca de 100 pedidos de encaminhamento de entidades externas (Segurança Social, Equipas de Tratamento, Unidades de Cuidados Continuados, Unidades de Alcoologia, Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais entre outros) ou pedidos de ajuda feitos na primeira pessoa ou por familiares.

Em suma, todo este tempo que vivemos foi sinónimo de reflexão, de mudança e acima de tudo de grande partilha e trabalho em equipa, que tem sido um grande aliado nestes últimos meses, como Santa Teresa de Calcutá nos ensinou “As mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam”.

Novas realidades de trabalho O impacto da pandemia Covid-19 obrigou a mudanças no trabalho feito pelos técnicos do Espaço Aberto ao Diálogo. Dois elementos da nossa Equipa Técnica, Clarissa Ferreira e Marco António, foram alocados ao Centro de Acolhimento improvisado no Pavilhão do Casal Vistoso, tendo também passado por outros pavilhões, e partilham os seus testemunhos sobre o modo intervenção adotado, bem como a experiência mais pessoal e íntima destes dois profissionais. Testemunho da Clarissa Ferreira: “O mês de março começou com grandes mudanças para a nossa Equipa Técnica de Rua de Lisboa. Saímos das ruas para atender dentro do Pavilhão do Casal Vistoso. A Equipa faz parte do Protocolo do Plano Municipal da Câmara Municipal de Lisboa e fomos assumir essa nova missão a partir do Plano de Contingência feito para as pessoas em situação de sem-abrigo. Num momento em que todos estavam a diminuir as suas cargas horárias, trabalhei muito mais horas para atender os sem-abrigo de Lisboa. Foi cansativo? Foi, porém estar ali nesse momento em que essa população estava com medo, como nós, e poder ouvi-los, apoiar, conhecer novas caras e fortalecer laços que já existiam, foi gratificante. Sentir que fiz parte desse momento foi algo que ficará na minha memória para sempre. No Pavilhão recebíamos diariamente homens, mulheres e casais de toda Lisboa. Eles passavam por uma avaliação com a equipa de Enfermagem, recebiam roupas limpas, produtos de higiene pessoal, refeições e uma cama para dormir. No início o grupo era mais rotativo

pois funcionava só para a pernoita, mas depois de alguns dias viu-se que havia necessidade de novos espaços e de passar a ser uma resposta de 24 horas. Tínhamos que nos reinventar como técnicos para atender uma grande quantidade de utentes e para isso contámos com voluntários que nos apoiaram. Assim, fui redirecionada para a Casa do Lago, um local com capacidade máxima para 20 mulheres. Esse novo espaço permitiu-me estar mais próxima, conhecer histórias de vida, criar vínculos com diferentes mulheres. Era como uma casa, às vezes o lado técnica ficava de parte e assumíamos a cozinha para prepararmos sobremesas, servíamos as refeições, dançávamos e caminhávamos pelo Monsanto. Essa experiência na pandemia Covid-19 entrou para a minha história. Sempre achei desde que comecei a trabalhar com a população sem-abrigo que quem “ganha” sou eu, porque cresço como ser humano e recebo a gratidão pelo trabalho prestado. É algo além do profissional.” Testemunho do Marco António: “Emergência na emergência pode sintetizar a tarefa a que fomos solicitados. Como conseguir que vidas em crise não desesperem numa situação em que quase tudo pára e os apoios necessários são reduzidos ao mínimo? A missão foi essa: que a crise não intensificasse a crise, que não se sentissem abandonados perante o confinamento sanitário exigido pela nova doença. Mantivemos a relação com muitas das pessoas que já conhecíamos e, ao mesmo tempo, estabelecemos novos laços com outras pessoas que fomos conhecendo nos pavilhões. Para isso, tivemos de fazer de tudo um pouco: garantir que tivessem o rastreio necessário, diário e permanente, providenciar alimentação, atender às solicitações de vestuário, calçado ou produtos de higiene, aligeirar situações de tensão, entre outros, para além do estímulo motivacional do nosso trabalho habitual. Perante a adesão e feedback das pessoas, (grande parte rejeitam os Centros de Acolhimento existentes), a este sistema de pernoita em pavilhões não dispostos em camaratas, e com regras mais flexíveis, a experiência trouxe-nos também a ideia de que é preciso refletir sobre o tipo de alojamento existente.


4 Centros

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Centro de Fátima Jully Pereira, Carina Cristino, Joana Neves

23.º Aniversário celebrado de forma diferente Este ano a pandemia da Covid-19 apanhou-nos a todos de surpresa e vimo-nos obrigados a alterar as nossas rotinas. Estes têm sido tempos em que, além de nos termos que abastecer com os diversos equipamentos de proteção, tornou-se ainda mais urgente abastecermo-nos de capacidade de adaptação, resiliência e criatividade. Com isto em mente, e não querendo deixar passar em branco uma data tão especial, a 12 de maio celebrámos mais um aniversário do nosso Centro de Fátima. Respeitando as normas de segurança, procuramos proporcionar aos nossos utentes e equipa um dia especial. Foi neste ambiente de comunidade que olhámos em conjunto para o caminho percorrido até aqui, com a exibição de vídeos e fotografias alusivos à História do Centro de Fátima. Houve espaço para a boa-disposição e o humor, já que “quem ri, seus males espanta”, para a partilha de testemunhos e momentos musicais de alegria e convívio.

Investir no conhecimento - Programa QUALIFICA em altura de pandemia O Centro de Fátima associou-se ao Programa Qualifica, como forma de empoderar os utentes que aceitaram fazer parte deste desafio. Este é um programa vocacionado para a qualificação de adultos que tem por objetivo melhorar os níveis de educação e formação. A pandemia da Covid-19 obrigou-nos a novas adaptações e, de forma a garantir que esta oportunidade não se desvanecesse, reinventamos a sua estrutura de funcionamento (e-learning e livestreaming) garantindo assim que os nossos utentes continuassem a reforçar o seu projeto de vida.

Novos tempos, novas rotinas O contexto de pandemia trouxe necessidade a todos de reorganizarem as suas rotinas diárias e de criarem outras formas de viver o dia-a-dia. O Centro de Fátima não foi exceção. Durante o estado de emergência decretado a nível nacional e de acordo com as indicações da DGS e do SICAD, fizeram-se mudanças no funcionamento da comunidade terapêutica para cumprimento do confinamento. Alteraram-se horários, algumas atividades foram suspensas ou diminuíram de frequência para respeitar o distanciamento recomendado, reforçaram-se os comportamentos de limpeza e higienização, cessaram as saídas ao exterior dos utentes e evitaram-se entradas de diversas naturezas no centro. Os colaboradores trabalharam em equipas espelho e assumiram outras funções para além das habituais, garantindo a continuidade dos serviços.

Os serviços foram assegurados com o apoio dos meios tecnológicos, pois permitiram a realização de terapias individuais através de Skype, incluindo com os utentes que se encontravam a fazer quarentenas preventivas. A plataforma Zoom possibilitou a continuidade das reuniões multidisciplinares e de formação pelos colaboradores. Como os contactos presenciais com o exterior, em particular com as famílias, estiveram interrompidos com a suspensão de visitas e idas a casa, as videochamadas e os contactos telefónicos foram reforçados, e foram asseguradas as relações e a manutenção dos laços afetivos com os mais significativos. A equipa terapêutica promoveu formas alternativas de realizar as atividades e as intervenções terapêuticas, com grupos com menor número de utentes, em espaços abertos e amplos ou exteriores, com recurso a reforços positivos, com o aumento de períodos de lazer e delegando tarefas específicas aos utentes baseadas nas suas competências, interesses e autonomia. As admissões de novos utentes têm acontecido, pelo facto de ter sido adaptada uma parte do edifício habitacional na denominada “ala de contenção”: quartos que podem ser ocupados para efeito de isolamento e quarentena, devidamente equipados com os meios necessários para a melhor qualidade de vida dentro daquele contexto específico, incluindo tablets que proporcionam o acolhimento ao recém-chegado pela equipa e grupo de pares, à distância. Com o desconfinamento, têm sido mantidos alguns hábitos adquiridos anteriormente: as videochamadas já fazem parte do dia-a-dia e as plataformas/redes sociais têm sido uma mais-valia para o exercício da partilha de informação e acompanhamento terapêutico. As visitas de familiares aos utentes voltaram a ser uma possibilidade, contudo obedecem a uma preparação prévia e a procedimentos sanitários protocolados; as saídas para consultas médicas e outras são supervisionadas pela equipa técnica e obedecem também a procedimentos profiláticos; diariamente são pensadas as melhores alternativas para ir ao encontro dos objetivos terapêuticos que fazem parte do processo de tratamento. Os meios tecnológicos, em particular as plataformas online, permitiram retomar os cursos de qualificação RVCC, os grupos de aftercare e as partilhas ao grupo por parte de ex-utentes. Para auxiliar a gestão emocional e manter hábitos de vida saudáveis, há algumas semanas que se realizam saídas ao exterior com grupos pequenos de utentes e acompanhados por um técnico, desde idas à praia, caminhadas em percursos pedestres, passeios em bicicleta, visitas a monumentos e espaços verdes, a breves deslocações no perímetro local, mantendo as regras de segurança e proteção. Estas mudanças na rotina diária trouxeram ganhos na intervenção terapêutica e desenvolveram a criatividade de utentes e colaboradores!


Centros 5

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Centro da Quinta da Tomada Tânia Diogo

Plantando Vida Para celebrar o Dia Mundial da Árvore, a 21 de março, promovemos, na Quinta da Tomada, uma atividade de plantações de árvores com os nossos utentes. Junto a uma pequena linha de água existente num ligeiro declive de terreno (perto do refeitório) plantámos um abacateiro e uma bananeira. Decidimos tentar a nossa sorte e ver se as plantas se adaptam ao clima local, sempre utilizando práticas amigas do ambiente como fertilizantes naturais, sendo que toda esta atividade ficou ao encargo da equipa da área da agricultura e jardinagem Paulo Pinheiro, um dos utentes que integra este grupo, quis deixar o seu testemunho: “Na Primavera é quando eu gosto mais de trabalhar nos jardins aqui da Quinta da Tomada. Começam a haver muitas flores! Arranjamos os canteiros e fica tudo muito bonito. O tempo começa a melhorar e sopra uma brisa refrescante! No Verão é muito calor e no Inverno chove, temos de nos abrigar e ter cuidado. No Outono são muitas folhas que caem e por vezes também é bonita a cor das folhas. Eu gosto dos jardins e jardinagem e até já trabalhei na agricultura. Mas para mim não há nada que chegue à Primavera. Não só para trabalhar mas também para passear e apreciar a natureza que se renova nesta altura do ano.”

“Acho bem que as pessoas não saiam, falo por mim. Emocionalmente fico muito triste mas encarei que era a melhor maneira de prevenção para mim e para os outros. Do que sinto mais falta é de estar com a minha amiga. Falo agora com ela por telemóvel, também não estive mais com a minha prima e irmão. Tive que me adaptar à nova rotina da desinfeção das mãos e ao uso da máscara. Lavo agora as mãos com mais frequência. A primeira vez que saí depois da quarentena foi ao supermercado. Senti-me aliviado, mas com receio. Quando saio agora tenho sempre mais atenção e uso luvas.”

Acrescentar criatividade às novas rotinas A pandemia veio alterar bastante as rotinas do dia-a-dia do centro. Para se puder manter os grupos da Comunidade Terapêutica, que têm uma elevada importância para os utentes que ainda se encontram em tratamento, estes tiveram que ser reestruturados. Assim, foram divididos em quatro grupos por condições de segurança. Por ideia dos utentes foi atribuído um nome a cada grupo e o utente Vitor Fabricante, com a sua criatividade, fez uma quadra para cada grupo, criando assim um lema. O primeiro grupo, chamado “Grupo Erguer” apresenta a seguinte quadra: “Nós estamos aqui e viemos, Para lutar até morrer, Somos unidos e fortes, Nosso nome: Grupo Erguer” O segundo grupo, chamado de “Grupo Fénix”: “O grupo Fénix tem força, Para lutar lado a lado, Tem esperança e amor, Para resolver o passado” O terceiro grupo, chamado de “Grupo Reconstruir”:

Tempos incertos exigem momentos de reflexão Devido à pandemia Covid-19, muitos dos nossos residentes viram a sua vida alterada. Alguns, o fim ao contrato de trabalho, outros não puderam estar com a família. Falámos com o José Teixeira, que está afeto à nossa Comunidade de Inserção e colabora na jardinagem. Pedimos o seu testemunho sobre como lida com a situação em que atravessamos, os cuidados que tem, do que sente mais falta e as novas rotinas do dia-a-dia.

“Deste modo tão simples, Aqui estamos a sorrir, Lutando contra a adição, No grupo reconstruir” Por último, o “Grupo Renascer”: “Aqui estamos nós, Prontinhos para viver, Na nossa vida, Neste grupo Renascer”


6 A Comunidade

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Centro da Quinta do Espírito Santo Bianca Emiliano

Torneios em confinamento A situação provocada pela Covid-19 obrigou-nos a repensar a nova intervenção e a arranjar formas de estimular os nossos utentes, mantendo sempre as condições de segurança. Durante o Estado de Emergência vivido em Portugal, onde o confinamento era obrigatório, o Centro da Quinta do Espírito Santo manteve-se fechado ao exterior. Uma das formas que a Quinta do Espírito Santo procurou combater a ansiedade em confinamento foi através da promoção de torneios utilizando os recursos da QES. Foram realizados torneios de Sueca, Bilhar, Jogos de Tabuleiro e Petanca, tendo sido bem recebidos por todos os utentes. Estes torneios foram importantes para preencher os dias dos utentes com uma ocupação saudável, combatendo o ocioso de uma forma animada, fomentando o espírito de comunidade e união do grupo.

de usar máscara para nossa segurança e dos outros também. A mim o que custou mais foi o de estar muito tempo sem sair para o exterior mas, de resto passei o tempo estando ocupado com tarefas que tinha de fazer, ler, ouvir música e ler os jornais online“ P.V. QES “Foi uma mudança muito radical, de repente o quotidiano mudou e tivemos de nos adaptar á nova realidade com a facilidade de estarmos num sítio isolado e com a possibilidade ainda de sairmos um pouco sem nos cruzarmos com ninguém. Para mim o que foi mais difícil de adaptar-me foi estarmos 24h sobre 24h com as mesmas pessoas dentro de casa, o que muda o ambiente. Faço um balanço negativo, porque perdi muita coisa que tinha ganho.” N.C. RA S. Pedro da Cadeira “Não foram difíceis estes últimos meses para mim, estive a trabalhar, tive de ter mais cuidados como usar sempre a máscara, lavar e desinfetar mais as mãos. As coisas mudaram muito no trabalho, e tive mesmo de me ajustar a elas, desde os horários às pessoas com quem trabalhava. “ H.V. Apartamento de Odivelas. “O bom foi ninguém ter sido infetado. As primeiras semanas andamos bem, principalmente por não termos nada que fazer, mas com o passar do tempo começámos a sentir falta das nossas atividades. Sempre tivemos bastante cuidado, mas só com o passar do tempo e indo vendo as notícias é que demos conta da gravidade e aí começámos a preocuparmo-nos. Em relação ao ambiente sempre foi bom, mas ao passar dos dias notava-se muita melancolia e uma certa irritação, nada de muito preocupante. Agora estamos pouco a pouco a voltar à normalidade, sem nunca descurarmos dos cuidados devidos. Pensamos que o pior já lá vai, agora é agradecer a quem por nós olhou.” J.B. Ap. Torres Vedras.

A Pandemia na Vida dos nossos utentes

Uma vida cheia de sorrisos

Tendo em conta os tempos de incertezas em que vivemos, devido à situação pandémica, foi lançado o desafio a quatro utentes, representando as quatro unidades que a Equipa da Quinta do Espírito Santo acompanha, de testemunharem como foram os seus últimos meses em confinamento. Recolherem-se testemunhos de utentes da Comunidade de Inserção da Quinta do Espírito Santo, Residência Autónoma de Saúde Mental, Apartamento de Torres Vedras e Apartamento de Odivelas.

Em março, alguns utentes da QES puderam participar numa palestra sobre o tema Saúde Oral no âmbito do projeto Prevenir, Capacitar e Incluir, da Mundo a Sorrir. O projeto tem como principal objetivo promover a saúde geral e oral em populações socioeconomicamente vulneráveis, sendo que foram efetuados rastreios dentários a todos os participantes. Após terem sido divulgados os resultados, dois utentes irão ter a oportunidade de fazer reabilitação protésica gratuita. O nosso muito obrigado à Mundo a Sorrir por nos ajudar a cumprir a nossa missão de reconstruir sentidos de vida!

“Com o alastrar do COVID – 19 a nível mundial, sim, fiquei muito preocupado com o número elevado de mortes em todo o mundo, incluindo no nosso país. Todos nós tivemos de seguir as diretrizes da OMS para nossa segurança pessoal e dos outros, não havendo contacto físico nenhum. Não tocar em superfícies, objetos, maçanetas, etc… um ponto importante foi que tivemos


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A Comunidade 7

CA(u)SA de Vida e Paz Tânia Antunes

Comunidade Vida e Paz agradece a todos os benfeitores e informa sobre aplicação dos donativos recebidos O impacto provocado pela atual pandemia nos serviços prestados pela Comunidade Vida e Paz, tem sido ultrapassado graças, também, à solidariedade gerada em torno das pessoas em situação de sem-abrigo, ou em situação de vulnerabilidade social. A pronta resposta, tanto de particulares como de entidades empresariais, ao apelo lançado pela Comunidade Vida e Paz, permitiu manter em funcionamento todos os nossos Serviços/ Respostas e, nomeadamente, apoiar ainda mais as pessoas em situação de sem abrigo através das Equipas de Rua que, diariamente, distribuem ceias com o objetivo principal de estabelecer uma relação que as motive para a mudança de vida.

trabalho. Face às dificuldades que já hoje são mais acentuadas e que se vão agravar no curto e médio prazo, o restante valor recebido irá sendo aplicado, de forma consciente e responsável, no respeito da Missão da Comunidade Vida e Paz, através da ação integrada de prevenção, reabilitação e reinserção das pessoas que nos estão confiadas. A Comunidade Vida e Paz expressa, assim, a sua enorme gratidão a todos aqueles que num tempo tão difícil como este que vivemos, se mobilizaram em torno desta Causa e renovamos o compromisso de tudo fazer para Ir ao encontro e acolher pessoas em condição de sem-abrigo, ou em situação de vulnerabilidade social.

Pela enorme generosidade dos apoios recebidos ao longo destes dois meses, e porque a Verdade é um dos valores que rege a atuação da Comunidade Vida e Paz, queremos divulgar de forma clara e transparente, o montante e a aplicação dos donativos já recebidos. Entre 20 de março, data em que foi lançada a campanha de apoio nas redes sociais e junto dos habituais benfeitores da Comunidade Vida e Paz, e 30 de abril, recebemos um total de 251.662€. Deste valor, 43.066€ foram já aplicados na aquisição de: • Alimentos e consumíveis para as Equipas de Rua, o Espaço Aberto ao Diálogo e para os Centros de Reabilitação e Reinserção (13.512,00€); • Equipamentos de Proteção Individual para pessoas em situação de sem-abrigo, utentes das nossas Respostas, voluntários e profissionais (8.868,00€); • Equipamentos eletrónicos, essenciais na intervenção para a realização e dinamização de atividades à distância e contactos com os familiares dos nossos utentes, através de plataformas de videoconferência, contribuindo para o normal funcionamento dos Serviços/Respostas da Comunidade Vida e Paz (14.844,00€); • Fogão para a confeção das refeições dos utentes que estão internados no Centro da Quinta da Tomada (3.936,00€). • Paralelamente, foi destinada uma verba à gestão dos nossos profissionais (1.906,00€) para suportar despesas adicionais com aqueles que foram afetos aos Centros de alojamento criados entretanto pela CM Lisboa, e que no atual contexto têm trabalhado em turnos, e bem assim para colmatar a ausência dos profissionais que ficaram impedidos de trabalhar. A crise social e económica que vivemos coloca-nos enormes desafios com o aumento das pessoas em situação de sem-abrigo e de vulnerabilidade social, e das dependências às substâncias, a que acresce a dificuldade na reinserção dos nossos utentes – atualmente, cerca de 200 – na sociedade e no mercado de

O verdadeiro sentimento de Comunidade ultrapassa as barreiras físicas A 17 de abril, a Comunidade Vida e Paz celebrou o seu 31.º aniversário. Este ano, devido à situação pandémica, não foi possível festejar em conjunto com todos os nossos profissionais, voluntários, utentes, parceiros, benfeitores e famílias. No entanto, não quisemos deixar passar este marco, sem agradecer uma vez mais a todos por toda a ajuda e apoio prestado ao longo destes 31 anos ao serviço desta missão de reconstruir sentidos de vida. Ao longo do dia, ocorreram celebrações simbólicas com mensagens de aniversário enviadas por voluntários e colaboradores, tendo havido ainda espaço para cantar os parabéns à distância porque o verdadeiro sentimento de Comunidade ultrapassa as barreiras físicas. Um bem-haja a todos!


SER ABRIGO

Voluntariado Margarida Melo

A força da união presente na ação de voluntariado O Voluntariado é um desafio permanente de equilíbrio entre as vidas pessoais e o compromisso com a Missão da Comunidade. Com o início do Estado de Emergência, esse desafio de equilíbrio foi ainda mais posto à prova e teve uma expressão de enorme responsabilidade: não abandonar as pessoas na rua e assegurar proteção e segurança de cada Voluntário face aos riscos da pandemia. O grupo de fantásticos voluntários da Comunidade conseguiu estabelecer esse mesmo equilíbrio, mantendo-se no ativo os que podiam e integrando-se novos voluntários que quiseram ajudar. Por outro lado, o número de donativos cresceu e foi necessário fazer a integração de voluntários em novas atividades. Felizmente muitas pessoas perceberam essa necessidade e juntaram-se ao trabalho da Comunidade Vida e Paz, o que nos permitiu continuar sempre o nosso trabalho sem que houvesse faltas. José Maria Sanchez é um dos voluntários que esteve com a Comunidade na altura mais difícil, deixando aqui o seu testemunho: “Decretado o estado de emergência por força do Covid, a maioria de nós foi obrigada a ficar em casa. Sem nada para fazer em casa e com tanto que poderia fazer lá fora, procurei ajudar quem mais precisasse. Egoistamente, procurei sentir-me útil. Já tinha ouvido vários relatos muito positivos acerca do trabalho de voluntariado da Comunidade Vida e Paz. Decidi assim apresentar a minha candidatura tendo enviado um e-mail para a Comunidade com indicação da minha disponibilidade. Poucos dias depois, recebi um telefonema a perguntar se tinha disponibilidade imediata para ir recolher alimentos ao Banco Alimentar, ao que respondi logo que sim. Uma hora depois, cheguei à sede da Comunidade, em Alvalade, para ir buscar a carrinha e ir ao Banco Alimentar. Depois de regressar do Banco

Alimentar, fiquei lá até ao fim do dia a ajudar no armazém e perguntei se poderia regressar no dia seguinte e assim foi. Assim começou a minha relação com a Comunidade Vida e Paz, passei a ir todos os dias trabalhar como “motorista”. Passou a ser rotina, todos os dias de manhã, o típico café no pátio, o simpático almoço no refeitório, as conversas entre voltas, as voltas entre centros e instituições. Não tinha ideia da tamanha dimensão do projeto da Comunidade, ou melhor, não tinha ideia de todas as “comunidades” que a instituição apoia. O trabalho na Comunidade realizou-me e cada pessoa com quem tive o prazer de me cruzar enriqueceu-me com a sua história e atitude. A Comunidade Vida e Paz e todos os seus funcionários e pessoas incríveis ficarão para sempre marcados e guardados no meu coração. Obrigado.”

Expandindo o apoio familiar Numa altura de pandemia Covid-19, recebemos mais famílias a apelar à nossa ajuda. Para além das famílias que já estavam a ser apoiadas semanalmente com o cabaz alimentar, houve muitas outras que chegaram até nós, solicitando apoio na alimentação. Felizmente, através da Campanha de recolha de Alimentos, promovida pela Comunidade Vida e Paz, no início do Estado de Emergência, e graças ao apoio de entidades e particulares, foi possível apoiar mais 48 famílias. Nos meses de abril e maio foram entregues cabazes de ajuda alimentar a cada família – 22 em abril e 26 em maio. A par desta ajuda, procura-se que cada família tenha acesso a outras respostas de apoios a famílias que existam na cidade, fazendo-se o encaminhamento necessário.

Vai Acontecer

Necessidades

5 de julho Aniversário Espaço Aberto ao Diálogo- Chelas

Outros: Roupa interior masculina Lixívia Máscaras de proteção (ou acrílicos) Gel desinfetante Álcool etílico.

20 de setembro Aniversário da Residência Autónoma de Saúde Mental Ficha Técnica Diretora: Renata Alves Coordenação: Tânia Antunes Equipa redatorial: Tânia Antunes, André Santos, Jully Pereira, Bianca Emiliano Margarida Melo, Patrícia Anacleto e Tânia Diogo. Estatuto editorial: O Jornal SER ABRIGO é uma publicação periódica de informação especializada sobre o trabalho da IPSS Comunidade Vida e Paz. O SER ABRIGO rege-se pelos princípios deontológicos dos jornalistas, a ética profissional e é responsável apenas perante os leitores, numa relação rigorosa e transparente. Publicação trimestral: registada no ERC com o n.º 119 741; DL 239890/06 Sede da redação/edição: Rua Domingos Bomtempo, nº 7 1700-142 Lisboa

Tiragem: 2.000 exemplares Propriedade: Comunidade Vida e Paz – NIPC: 502 310 421 Rua Domingos Bomtempo, n.º 7, 1700-142 Lisboa Tel. 218460165 Fax. 218495310 Email: geral@alvalade.cvidaepaz.pt www.cvidaepaz.pt | facebook.com/Comunidade.Vida.e.Paz NIB – Montepio Geral: 0036 0000 9910 5505051 96 Produção gráfica: Formandos de Artes Gráficas Oficinas do Centro da Quinta da Tomada, Lapa - Venda do Pinheiro Papel: oferecido pela Inapa Portugal Design e paginação: Magnésio Design Studio - www.magnesio.pt


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