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Centro de Fátima
Carina Cristino e Eliana Salgueiro
Inspirar, expirar e relaxar.
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No plano semanal do Centro de Fátima estão incluídas diversas atividades, de maneira a ir ao encontro das necessidades dos nossos utentes e da sua recuperação a nível físico, psicológico, social e espiritual. Entre todas estas atividades, foi encontrado um espaço semanal dedicado ao relaxamento e ao mindfulness, um espaço para abrandar. Todas as segundas-feiras de manhã um grupo de utentes é convidado a realizar uma série de exercícios que procuram estimular a atenção plena, contrariando o piloto-automático e alterando a forma como se relacionam com os seus pensamentos, emoções e sensações corporais. Os benefícios destas práticas são diversos e no Centro de Fátima acreditamos que o desenvolvimento destas competências pode auxiliar no processo de recuperação dos nossos utentes, assim como na manutenção da mesma e prevenção da recaída.
“Contribui para o meu relaxamento, para o meu bem-estar. (…) Chego lá cheio de stress e saio de lá aliviadíssimo. Depois ando mais calmo durante o dia.” (D.)
“Às vezes isto de viver em comunidade não é tão fácil como parece. Às vezes andamos muito tensos, seja com os problemas que às veze surgem aqui, seja com o nosso aborrecimento. Uma pessoa chega ali e parece que desliga, relaxa o corpo e relaxa o cérebro. Parece que sai outra pessoa dali.” (A.)
A arte como companheira do processo terapêutico.
Da Vinci dizia que “a arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível” e em Fátima esta tem vindo a expressar e traduzir o sentir de alguns dos nossos utentes. É o caso do Bruno Carriço, que traz a pintura na bagagem da sua história de vida. Chegado a tratamento, esta tem-se mantido como companheira no processo terapêutico e tem acompanhado a sua evolução, como nos conta o próprio Bruno: “Para mim a arte é uma forma de expressar emoções e sentimentos e o que tenho notado é que ao longo destes 7 meses que estou aqui, é evidente a evolução na minha forma de sentir as coisas. No início as minhas obras eram mais caóticas, ambíguas, com emoções mais intensas e violentas. Agora estou a entrar numa fase mais serena e de facto isso espelha o que estou a sentir neste momento.”
O mito de que a criatividade está muito ligada ao consumo de substâncias é antigo e é alimentado em diversas áreas do mundo artístico. Então, falámos também com o Bruno no sentido de perceber como é esta vivência da expressão através da arte com e sem substâncias.
“Antes de vir para aqui todos os meus quadros eram muito emaranhados de trevas e escuridão. (…) Eu nessa altura pensava muito nesse mito de que só conseguia pintar bem sob o efeito de consumos e fui alimentando isso durante muito tempo, mas não é de todo verdade. (…) Eu agora tenho uma fonte de criatividade que nem sei de onde vem. A criatividade está dentro de uma pessoa. Agora consigo estar mais atento, apontar sonhos e olhar para as coisas com outros olhos. Noto uma grande diferença comparando com quando consumia. Agora estou muito mais sereno e isso nota-se também.”
Além da expressão de emoções, a pintura tem potenciado também o autoconhecimento, a valorização pessoal e autoestima, reconhecida pelo próprio Bruno que se encontra neste momento a preparar uma exposição onde irá apresentar os seus quadros (1 de abril de 2023, em Fátima).
“Estou a gostar muito do que estou a fazer, estou bem comigo e com a minha arte. (…) Eu agora acabo de pintar um quadro e gosto e quero mostrar às pessoas. Estou-me a valorizar mais a mim mesmo, o que é muito importante aqui e para o meu processo.”