oterreno é fértil, a semente é boa, vale a pena plantar...
Amélia Pires Palerma
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Amélia Pires Palerma
ESCOLA COMUNITÁRIA DE CAMPINAS
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Campinas - SP
2000
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2000 Palermo, Amélia Pires Lançando sementes
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VOI. EX.
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Mais do que educadora, Da. Amélia sempre foi uma grande líder. Na sala de aula, nos recreios, nos pátios , nas reuniões da escola. Semeando idéias, vislumbrando novos horizontes, abrindo caminhos ... . Pois como diz o poeta, Thiago de Mello: "É tempo de avançar de mãos dadas com quem vai no mesmo rumo. É tempo, sobretudo, de deixar de ser apenas a solitária vanguarda de nós mesmos. Trata-se de ir ao encontro, trata-se de abrir o rumo... "
5
Sumário
Introdução
7
Fragmentos de uma história
11
Princípios e Valores
87
Educar para quê?
11 3
Datas Especiais
131
Sobre a Vida e a Morte
149
6
Sumário -I
A
mélia Pires Palermo nasceu a 14 de maio de 1920, na cidade de Campinas, sendo a primogênita dentre onze irmãos. Filha de Maria Pires de Camargo Palermo, da tradicional família campineira Pires de Camargo, e de Ângelo Palermo, descendente de imigrantes italianos, reviveu na sua vida um pouco da história de Os Ossos do Barão.
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a Vida e a Morte 149
Descobriu muito cedo sua vocação de educadora. Aos dez . anos já começava a dar aulas particulares para crianças da vizinhança. Cursou desde o primário até o curso de formação de professores (antigo Normal) no Instituto de Educação Carlos Gomes. Depois de formada passou a lecionar no colégio Progresso Campineiro , onde, mais tarde, exerceria a função de diretora pedagógica. Da. Amélia sempre gostou de trabalhar com crianças e jovens, tendo sido esse, provavelmente, o motivo mais forte que a levou a fazer sua opção profissional. Se não fosse professora, Da.
7
Amélia talvez fosse engenheira, Para construir pontes - explica ela, as pontes cortam distâncias, aproximam as pessoas e por isso me fascinam, E esse fascinio a acompanha até hoje, nas suas viagens, nas paisagens que chamam mais a sua atenção, na escolha de seus quadros, Da, Amélia lecionou para as mais diversas idades - primeira a quarta série, quinta a oitava, curso de magistério, Fez curso superior de Geografia e História e de Orientação Educacional, na .PUCC (única universidade d~, Campinas, naquela época), Mais tarde, em 1972, último ano do governo Allende, fez curso de Planejamento Educacional em Santiago (Chile), Fez do magistério, como ela mesma diz, uma profissão para ser levada a sério, Dentre os valores que vive e apregoa - a sala de aula é um lugar sagrado, Para isso exige diariamente do professor um ritual de preparação, de trabalho e preocupação com a aprendizagem do aluno, Toda a sua formação, leitura e estudo se traduz, na prática, no seu trabalho em sala de aula - afirma, Para D, Amélia, a reflexão sobre a prática é fundamental. Penso que além de ler, estudar, fazer cursos, todos os dias o professor precisa refietir sobre sua prática, Precisa se perguntar: o que fiz ontem? Por quê? E o que vou fazer hoje? Por quê? Oestudo, a teoria, somados à reflexão sobre a sua prática, é que vão torná-lo competente, Um professor deve estar sempre aprendendo: com seus alunos, pais dos alunos, colegas.. , deve ser um eterno aprendiz, Precisa, ao mesmo tempo, ter criatividade e organização, espírito de pesquisa, seriedade nas propostas e muita coerência, procurando sempre ensinar aquilo que ele próprio pensa, vive e acredita - afirma Da, Amélia, Sobre os rumos da educação no Brasil, o momento é de esperança: .Com a nova lei de diretrizes e bases e os parâmetros curriculares, tenho esperança de que possamos caminhar mais
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depressa e voltar a valorizar novamente o professor, a escola, o ensino-aprendizagem - explica Da. Amélia. O governo tem um papel primordial. Cabe-lhe incentivar e cuidar da formação do professor, possibilitar melhores condições de trabalho, um salário mais digno, para que o professor possa ter acesso a livros, cursos e continuar estudando e aprendendo. A sociedade tem também o seu papel, valorizando o professor, assumindo alguns projetos da escola pública. E o professor precisa se valorizar, acreditar que ele é capaz, acreditar cada vez mais na sua força, na sua luta, tomar consciência do valor do seu papel de educador. Compreender que educador é aquele que não está preocupado só em ensinar, mas em fazer o aluno aprender. Aprender não só em .conteúdos, mas aprender habilidades, aprender valores - afirma com autoridade. E como educadora, Da. Amélia tem muitos sonhos: Ver os alunos felizes dentro das escolas, professores bem-humorados, com esperança de dias melhores. Não uma esperança ingênua, mas uma esperança fundamentada em uma crença: eu sou capaz, eu vou conseguir. E toda vez que encontrar dificuldades ser capaz de encontrar saídas, de lutar para superá-Ias. Com a fundação da Escola Comunitária de Campinas, a 7 de novembro de 1977, D. Amélia foi convidada pelos pais e professores a ocupar o cargo de Diretora Pedagógica, onde permanece até hoje. Antes que os alicerces do novo prédio fossem levantados, Da. Amélia, junto à sua equipe pedagógica, já definia a filosofia de educação da nova escola, seus princípios e valores e sua proposta pedagógica. Vivendo o dia-a-dia desta instituição educacional, registrou com experiências, atos e palavras um pouco da sua história. Reunindo alguns de seus textos, discursos e depoimentos é que surgiu o livro "Lançando sementes" . Um presente à autora e a todos que acompanharam de perto sua trajetória.
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Fragmentos de uma
história
A abertura do portão tem ainda um outro sentido. Abrir o portão Significa entrada; entrada para todos aqueles que participaram ou querem participar de nossa caminhada]Earticipar da caminhada é acreditar num tipo de educação onde todos se sintam responsáveis. É acreditar que educação se faz através da palavra, do gesto, e principalmente através de atos. Atos simples, pequenos, porém carregados de significado. É acreditar em certos valores, na humanização das pessoas, num trabalho feito com seriedade e na construção de uma vida mais comunitária. (Palavras de D. Amélia, extraídas do discurso proferido na inauguração da nova unidade da Escola Comunitária)
o
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13
10 dia de aula na nova Escola 2' feira, 7h 00 min da manhã do dia 20 de fevereiro de
1978.
o portão de um novo Colégio se abre, sob o olhar assustado e apreensivo dos vizinhos, para receber professores, pais, funcionários e alunos, os amarelinhos. Todos os alunos grandes e pequenos foram acompanhados até suas classes pelos pais. Ninguém precisou indicar nada, pois todos sabiam o local das classes e o nome dos professores. No sábado e domingo que precederam a esta 2' feira, pais, professores e alunos tinham passado na Escola, quase vigília, encerando, lavando o pátio e banheiros, tirando o pó, colocando vasos, pregando o horário e etiquetas nas classes. Deu o sinal ...professores e alunos se despedem dos pais e a l ' aula começa...
Noite de autógrafos A nossa vida toda é formada de momentos alegres e momentos mais difíceis. Uns e outros são necessários e fazem o nosso cotidiano. Uns nos ajudam a superar os outros. A alegria nos estimula a enfrentar pedaços mais difíceis e os mais difíceis nos preparam para apreciar melhor os bons momentos. Vivemos um período difícil em nossa história de país, de mundo. [viuitas vezes nos sentimos angustiados e quase que queremos esconder tudo de nossos alunos e filhos para que eles não sofram.
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As manchetes dos jornais, os acontecimentos diários nos revelam um mundo cheio de rancor, de ódio, de guerra. Como, não escondendo isto de nossos filhos e alunos, podemos, ao mesmo tempo, fazê-los aprender a descobrir: o brjlho da gota d'água, o sorriso de uma criança, o verde das árvores, a cor do arco-íris, a r:queza do interior de uma pessoa, a beleza de um rosto bonito, o gosto pela pintura, a alegria de um Bumba? Parece que é isto que tentamos fazer.. Penso que conseguimos em parte, porque nestes livros vocês irão encontrar a rudeza da vida, a tristeza do sofrimento, a poesia do amor e a beleza de viver. (Publicado em "O Comunitário" dez/79)
I Salão de Artes Como surgiu o salão? Desde o ano passado, começamos a acompanhar mais de perto as atividades relacionadas diretamente às artes. As artes sempre ocuparam lugar muito importante dentro do nosso processo educacional e por isso mesmo fizemos muitas tentativas neste campo. Tentamos introduzir, em nosso currículo, artes plásticas, teatro, expressão corporal, cinema, música, etc. Algumas vezes, fomos bem sucedidos, outras não. Seguindo mais de perto o trabalho de Artes, começamos a descobrir alguns trabalhos bons. Estes trabalhos foram recolhidos e guardados. Este ano, resolvemos fazer a nossa Galeria de Arte, onde expusemos os trabalhos já guardados do ano anterior, como também os deste ano e mesmo de alguns artistas.
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A Galeria estimulou professores e crianças, e muitas começaram a trazer seus trabalhinhos. Muitos dos trabalhos expostos foram oferecidos pelos próprios alunos. Era comum alguém chegar e dizer: "Tia, você quer esta pintura para você?" Algumas eram muito boas no nosso modo de julgar, outras não. Porém, diante da criança, a pergunta feita era a seguinte: - Por que você está me dando esta pintura? - Porque eu quero. - Oque você acha deste trabalho? Você gosta dele? Eu acho lindo, tia! A resposta era sempre esta: "Se você acha lindo, eu também acho. Ele ficará para a Escola." Outros foram pedidos às professoras e aos alunos. Alguns davam prontamente, outros diziam que iam pensar e outros, muitas vezes, afirmavam: "Não, eu não quero dar, porque vou levar para a mamãe." Outras vezes, era a professora que dizia: "Este quero que o aluno leve em uma pasta para casa." Todas estas pinturas e trabalhos coletados foram colocados nos quadros e enfeitam as paredes da Escola. Outro fator muito importante foi o convite feito pelo artista plástico Biojone, para que a Escola participasse de uma exposição junto a outras escolas. Aceitamos o convite e, por diversas razões, a nossa Escola realizará, sozinha, o seu Salão de Artes. O que gostaríamos de deixar bem claro é que não são os melhores trabalhos que estamos expondo. Eles foram sendo coletados ou ganhos no decorrer do ano. Talvez, muitos outros existam, porém passaram despercebidos por nós, pela nossa impossibilidade de acompanhar tudo e descobrir muitos outros trabalhos. (Publicado em "O Comunitário" dez/79)
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A nossa mensagem Começamos um ano novo de trabalho. Este, como os demais, está sendo preparado com muito cuidado. Tudo o que foi possível ser planejado o foi. Precisamos de outra casa, para a colocação de duas classes, enquanto esperamos a nova construção. A reparação do prédio onde funciona a escola - pintura, pequenos consertos, tudo foi feito. Porém, o mais importante, que é o trabalho da equipe de coordenação e dos professores, para planejarem o novo ano, merece especialmente o nosso cuidado. Durante quinze dias, todos os nossos esforços se direcionaram especialmente para a condução do nosso trabalho em 1980. Temos consciência de que, apesar de todo esse cuidado, muitas falhas irão aparecer. Muitas procuraremos reparar no decorrer do ano. Outras; talvez pelas nossas limitações de tempo, de local, de dinheiro, ou mesmo pessoas, serão objeto de avaliação p entrarão como novos elementos para o planejamento de 81. Para nós, o que importa é querer acertar e, para acertar, é preciso estudar, refletir, discutir, ouvir, ceder algumas vezes, ser firme em outras, E é isto que até agora tentamos fazer. Da parte dos pais esperamos como sempre a colaboração, a compreensão e o diálogo franco. Em relação ao nosso jornalzinho, esperamos não só a ajuda efetiva, como, por exemplo, na redação e no envio de artigos; mas, principalmente, que ele se transforme num vínculo de contato entre Escola: e casa. (Publicado em "O Comunitário" - março/8D)
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Publicado em "O Comunitário" - março/30)
Énosso modo de ser, viver sempre em busca. Naturalmente, esta busca nos incomoda e nos impele a procurar novos meios para atingir os nossos objetivos. . Há oois anos, porém, esta busca tem se tornado mais intensa e muitas vezes tem nos levado a uma certa angústia. Não pretendo tirar a angústia de ninguém, porque acho a angústia positiva, porém, precisamos acertar alguns pontos para podermos continuar nossa caminhada. Não se trata de propormos uma maneira de ser escola, um novo modelo, porém de descobrirmos novos meios de sermos o que nos propusemos a ser. Nós nos propusemos a ser uma Escola diferente. Diferente em quê? Diferente, quando faz o aluno completar, colocar novos dados, descobrir outros, questionar um conteúdo dado. Diferente, quando nos propomos a fornecer aos alunos todos os dados de uma realidade que nos cerca. Diferente quando nos propomos a uma linha de descoberta em comum, a uma lin~a d: trabalho em comum, a uma linha de trabalho em grupo, onde nao so os conhecimentos se completam e se confrontam, como principalmente, as pessoas entram em confronto e por isso aprendem a conviver. Diferente, enquanto procuramos, em equipe, (professores e coordenadores) discutir juntos as grandes propostas da Escola. Entretanto, alguma coisa impede o nosso crescimento quando questionamos a nossa posição política. . A educação é u~ ato político, portanto, ao definirmos a nossa maneira de ser Escola, Ja fizemos a nossa definição política. Talvez alguns esperassem um rótulo, um nome a esta definição, isto não saberíamos fazer ou dar e também penso que como escola não nos compete dar.
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o que importa é que a definição está feita.
É uma escola que se propõe a fazer o aluno a:
- pensar;
- buscar ou completar seus conhecimentos;
- conhecer sem sonegação os dados da realidade e, a partir
dos dados, refletir, comparar e tirar suas conclusões; - levar a sério a sua condição de estudante (clima de trabalho, seriedade na entrega de trabalhos, trabalhos bem elaborados) ; - saber conviver com os seus colegas e demais pessoas da Escola; - respeitá-los como pessoas. É uma Escola que se propõe, com o professor, a: - ter um diálogo franco; - discutir todas as grandes propostas; - tentar formar uma equipe. Portanto, é uma . Escola que se define por um sistema educacional diferente do que o atual propõe. Penso que ainda temos muitas coisas para descobrir, para chegarmos mais perto do modelo proposto, porém o que agora se torna mais urgente é a descoberta da importância de cada área dentro de todo este conjunto. Cada área com o seu conteúdo específico, com a sua maneira e métodos próprios, tem muito o que fazer na formação deste ser pessoa (incluindo também a dimensão política). Estudos Sociais, fornecendo os dados corretos de uma realidade, aprimorando o senso crítico; Matemática, ajudando a observar e experimentar os dados; Português, a aprender a ler, compreender e analisar um texto (escrito e falado) e cada matéria dentro de sua especificidade dará uma base mais sólida, para ajudar
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o aluno a fazer a opção de sua vida - ser pessoa - deste ou daquele jeito. Além disto, e principalmente isto, a presença, a postura do professor são muito importantes. A sua maneira de ser e agir, o seu entrosamento com a equipe de professores que o ajuda a buscar os objetivos como educador e por isto mesmo dar maior sentido à sua vida. Tudo isto nos levará a explicitar através dos nossos atos, a nossa filosofia de educação, a nossa posição política. Penso mesmo que pai algum e mesmo os nossos alunos maiores ignoram a nossa opção, porque conhecem a nossa posição tomada e assumida frente a cada fato acontecido. (Publicado em "O Comunitário" - maio/80)
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Como tornar a Escola maís comunítáría Durante toda a movimentação da Festa Junina, muitos pontos que são motivo de preocupação para nós vieram à tona. Ao mesmo tempo que você quer e deseja que todos participem de tudo, você começa a perceber que a participação precisa ser em diversos níveis. A participação não pode ter como ponto de partida a doação das mesmas coisas, não pode partir do ter e sim da disponibilidade de cada um que, como conseqüência,' pode ser traduzida no dar também coisas materiais. Quando pedimos a colaboração de cada classe para trazer um determinado produto - catchup, maionese, mostarda, prenda, doces e outros, deparamos com esta dificuldade. Para alguns ficou pesado trazer o material, a prenda e ainda pagar a entrada; para a maioria, talvez, isto nada tenha alterado. Fica, entretanto, aqui, a
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nossa preocupação: como, ao mesmo tempo, sensibilizar todos e deixar espaço para cada um, livremente, responder à altura de sua possibilidade econômica ou de seu envolvimento com a Escola? O que aconteceu com a Festa Junina acontece com todas as iniciativas e mesmo com a mensalidade da Escola. Como atender a todos compromissos financeiros da Escola, sem sobrecarregar aqueles que não podem? Talvez a saída seja uma reflexão sobre o que é uma Escola Comunitária. Ser uma Escola Comunitária é dar todo mundo a mesma coisa, pagar a mesma mensalidade? Talvez comunitário seja cada um dar aquilo que pode. Este "poder" está também muito ligado a valores. Muitas vezes temos para fazer muita coisa, porém quando o dar se reverte em termos de educação, de Escola, a coisa muda muito. Sempre para a Escola quase não há sobras. Tudo isto merece de nós uma reflexão mais profunda para que a nossa Escola seja verdadeiramente comunitária. (Publicado em "O Comunitário" - ju/lago 80)
A busca da coerência Cada um de nós já tem definidos certos valores e procura vivenciá-Ios através de atos e atitudes. A nossa tentativa é buscar, quando queremos ser sérios perante a vida, uma coerência entre o ser e o fazer e o ter. É uma busca constante e não sei se seremos um dia totalmente coerentes. Os grupos e as instituições têm também os seus valores definidos. Têm definidas a sua filosofia e a sua ideologia. E, quando pretendem fazer um trabalho sério, procuram na sua ação ser coerentes com a definição filosófica e ideológica.
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Quando começam a aparecer os desvios, tanto no terreno pessoal, como no grupo e na instituição, aparecem os descontentamentos e uma situação de mal-estar. Como Escola, temos a nossa linha de trabalho definida, porém, como somos pessoas humanas, também, algumas vezes, nos desviamos da linha definida. Muitas vezes, dando um enfoque maior ao que na revisão percebemos falho, desviamos para outro lado. O ano passado começamos aperceber que alguma coisa não ia bem. Muitas vezes se torna difícil concretizar o que não vai bem porque percebemos a falha no todo, porém não conseguimos localizar onde, concretamente, ela se situa. Depois de reuniões com professores, coordenadores, pais, alunos, começamos a localizar onde se situava o desvio. Percebemos que o enfoque maior estava sendo dado ao intelectual e algumas falhas começaram a surgir afetando o social e o emocional. Como pretendemos fazer um trabalho sério, tentamos enfrentar a parada e tentar novamente estabelecer o equilíbrio dando, no momento, um enfoque maior ao social para que este equilíbrio se estabeleça. Como qualquer alteração reflete no todo, a própria estrutura de coordenação foi alterada e seria urgente se tentar um colegiado. Era urgente uma maior participação, nos destinos da Escola, de novos elementos. Era preciso pedir mais ajuda aos professores. E isto foi feito. Montou-se uma nova estrutura onde houve melhor e maior divisão de trabalhos, maior participação, maior trabalho em equipe e divisão de responsabilidades. Um maior número de cabeças pensantes nos ajudaria a conduzir a Escola com mais eficiência. Para não perdermos a unidade, necessário se tornou refletir, novamente, sobre a proposta de trabalho da Escola. A Escola como instituição tem um papel a cumprir na sociedade. Ela foi criada para sistematizar os conhecimentos, para
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fornecer informações e também desempenhar, na parte social, um campo muito propício a um relacionamento maior entre crianças e adolescentes da mesma idade. A nossa Escola não foge a isto, porém quer ir um pouco além, tanto no intelectual como no social. No intelectual queremos que o aluno não só receba informações, sistematize um conteúdo, mas também seja capaz de trabalhar sobre dados fornecidos pelo professor, ajudando a elaborar uma informação e a sistematizar um conteúdo. Que ele também seja capaz de ser criativo, que seja capaz de pensar. Para o aluno pensar, ele precisa primeiro de um estímulo, de uma provocação, de algo que o desequilibre para que procure estabelecer o equilíbrio. Aqui entra muito o papel do professor. O professor precisa provocar esta situação para o aluno procurar a saída. Para pensar, o aluno precisa de condições: físicas, ambientais e psicológicas. O ambiente de trabalho é muito importante. Não queremos alunos indisciplinados para não nos dar trabalho, porém queremos alunos que saibam, por respeito a si mesmos, aos colegas e ao professor, criar ou manter um clima onde o trabalho possa ser desenvolvido . de maneira séria e dando oportunidade para que todos possam participar. Geralmente pensamos a partir de conhecimentos ou experiências já vivenciadas anteriormente. Sobre estes dados, com informações novas, construímos o nosso saber. É muito importante o professor respeitar os conhecimentos anteriores e voltar constantemente a eles, porque é comparando, analisando, sintetizando, generalizando, que se faz o ato de aprendizagem. Para ajudar o aluno a pensar, a Escola se vale do conteúdo das diversas disciplinas. Cada uma tem um papel importante a desempenhar no desenvolvimento total do aluno. Aqui, porém, se
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situa um ponto importante. Se o pr.ofessor estiver preocupado somente com a parte intelectual, a proposta de trabalho pode atingir somente uma faixa de alunos. Se ele estiver preocupado com o grupo todo, a sua proposta será diferente. Não só a proposta, mas também a maneira como irá desenvolvê-Ia será diferente. O professor, preocupado também com o social, não irá permitir, na sua classe, alunos marginalizados. A proposta precisa ser entendida e desenvolvida pela totalidade dos alunos. Discutimos muito sobre marginalização na sociedade, de um cinturão de marginalizados em nossas cidades e, muitas vezes, não percebemos que dentro de nossa sala de .aula existem alunos marginalizados porque não somos claros em nossas propostas ou elas são tão altas que somente uma elite privilegiada é capaz de entendê-Ia. É impossível desvincular o intelectual do social se procuramos a coerência. Na parte social, vamos falar sobre o ser em relação a outro ser ou grupo. Este tipo de relacionamento define uma filosofia e ideologia. Orelacionamento pode ser de dominação, submissão ou de fraternidade. Conforme o nosso modo de encarar o homem, este ou aquele tipo de relacionamento irá ocorrer. Isto merece de nossa parte uma maior reflexão. Muitas vezes estamos discutindo a dominação de nações sobre nações, a opressão do rico sobre o pobre e, no entanto, nos esquecemos de voltar os nossos olhos para o nosso relacionamento com os alunos e dos alunos entre si. Neste ponto, temos muito trabalho pela frente a ser feito. Como se relacionam os nossos alunos? Como nos relacionamos com os alunos e com os colegas? Para que haja um bom relacionamento é preciso um conhecimento da própria pessoa e da pessoa do outro. Um conhecer as suas capacidades e limitações e saber lidar com elas.
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Porém não basta nos conhecermos e ao outro, se não conhecermos também a realidade que nos cerca. A realidade bem próxima: a nossa família, o nosso grupo, a nossa Escola e a realidade maior: a realidade brasileira, a realidade do mundo. Qualquer fato altera profundamente o nosso modo de vida, A subida do dólar, a mudança de um presidente, alteram o nosso cotidiano e, por isso mesmo, o nosso relacionamento. Além do conhecimento, é preciso a experimentação, A criança, o adolescente, aprende a se relacionar experimentando, convivendo com outros, vivendo com os seus colegas, Feita a experiência, ele se conhece mais e começa a aceitar, não de maneira passiva, os seus limites e as suas possibilidades, Melhor que aceitar, seria trabalhar com estes elementos, A partir daí vem o envolvimento, E quando a pessoa se envolve, ela se atira de cabeça, podendo até se machucar. O risco, entretanto, é necessário, Quem quer fugir do risco não vive, O envolvimento leva ao engajamento. A pessoa, de acordo com os seus valores, faz a sua opção de trabalho neste ou naquele campo, Quando a pessoa se engaja, ela e seu grupo sempre procuram uma transformação, uma mudança, Esta mudança precisa acontecer, desde as "pequenas mudanças", até as "grandes mudanças ", Porém, todo este trabalho só será possível quando feito de maneira lenta, respeitando os limites de cada pessoa, para não gerar amarguras paralisantes nem descomprometimento com o seu mundo. (Publicado em "O Comunitário " - março/8 1)
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Novo ano A cada ano que começa renascem em nós uma série de sonhos, propósitos e esperanças. Começamos um novo ano escolar repleto de esperança. Esperança de conseguir efetuar um trabalho de maior colaboração em todos os níveis: alunos, pais, professores, funcionários, auxiliares e coordenadores. Esperança que se transforma em alegria no funcionamento da nova Unidade (Infantil e 1a a 4a série). Esperança de que aquele mutirão de pais se repita muitas vezes. Esperança de que daquele encontro com os novos pais muitos se ofereçam para participar das díversas comissões da Escola. Esperança de realmente construirmos uma Escola Comunitária. (Publicado em "O Comunitário" março/8 1)
Ainsegurança do novo
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(Publicado em "O Comunitário" . março/81)
Cada vez que nos defrontamos com uma situação nova, sentimo-nos inseguros. Isto é muito natural. Sempre o novo, o desconhecido, ao mesmo tempo que nos fascina também nos amedronta. Sentimo-nos inseguros quando temos que falar com uma pessoa desconhecida, entrar num lugar onde não conhecemos ninguém, começar um trabalho novo ou começar a freqüentar uma outra escola. Continuo afirmando ser isto perfeitamente normal, desde que não adquira grandes proporções.
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Entretanto, o que me preocupa são as pessoas que estão em outra situação, na situação de segurança e não descobrem, não percebem o sofrimento daqueles que começam qualquer .empreendimento, trabalho ou novas situações. Esta preocupação se torna para mim muito maior em nossa Escola. Por que sofre tanto o professor novo, o aluno novo, o pai novo que chega em nossa Escola? Quanta carinha amargurada encontramos em nossas classes! Quanta criança que chega em nossa Escola e custa a encontrar colegas que a recebam! Muitas vezes até são aceitas dentro da sala de aula (o que já acho um passo), porém esta criança ou jovem fica sem amigos fora da Escola. Sente-se completamente perdido numa nova cidade, num novo mundo. E o professor? O professor que chega em nossa Escola não pode ter um deslize. Isto é duramente cobrado por todos nós: colegas, alunos, pais. A quantos professores não se dá o tempo suficiente para que vençam a insegurança do novo? Não temos paciência e sensibilidade para ajudar aquele que começa qualquer tarefa nova. Faço uma pergunta a cada um de nós, adultos e jovens, professores, alunos, funcionários e pais - O que podemos fazer para ajudar estas pessoas a não se sentirem tão perdidas quando enfrentam esta situação? Sei que é muito mais gostoso viver dentro de nossa rodinha, porém, pergunto: - É isto certo? É viver um espírito comunitário? Não seria a hora de começarmos a agir fazendo atos concretos ? Convidar o colega novo para ir a nossa casa? Saber se o pai novo que aqui chegou já conseguiu descobrir alguém com quem possa conversar nos fins de semana? Dar mais atenção ao professor .novo que encontra pela frente uma situação bastante dificil? Fica a pergunta. A resposta será dada por vocês. (Publicado em "O Comunitário" maio/SI)
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Alegrias e emoções do dia 4:
Inauguração da Biblioteca Infantil
Céu azul, vento não muito forte. Um dia "encomendado" por Mara e Yamara. Era mesmo um dia especial. Acontecimentos alegres, porém carregados de muita emoção. Inauguração da Biblioteca Infantil - um misto de alegria e tristeza. Alegria, por podermos dar à Biblioteca o nome de uma criança que nos foi muito querida - Felício. Ofilho de um casal de ex alunos: Melia e Felício. Um menino que amou intensamente a sua Escola e tão cedo nos deixou. Tristeza, justamente pela emoção que nos causou a presença dos pais, da irmãzinha e pela falta que ele nos faz. A vida é mesmo assim, constituída de pedaços alegres e tristes. A exposição de artesanato e pintura organizada por Lucinha e Biojone. A alegria de percebermos pais que se reúnem não só para exporem 0$ seus trabalhos, como, principalmente, para estimularem nossos alunos, seus filhos, com o exemplo de trabalho, criatividade e iniciativa. Ochurrasco, como ponto alto de confraternização entre pais, alunos, professores, funcionários. É a Escola que se reúne para comemorar mais uma etapa da construção de seu prédio definitivo; E, para alegrar mais o dia, a conquista da Taça de Ouro de vôlei pelos nossos meninos. Dia 4, um sábado alegre, cheio de grandes emoções". (Publicado em "O Comunitário" dez/82)
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Publicado em "O Comunitário" maio/8 l)
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o nosso 3 o Colegial de
1981
Quem não se lembra, com saudades, da turma de 81? Alegre, unida, divertida... A formatura e todos os cartazes espalhados pela Escola nos disseram bem do seu jeito de ser. Entretanto, agora muitos pais começam a nos questionar por que somente dois entraram em primeira chamada nas listas das universidades: um na Unicamp e outro na PUe. Isto também nos fez parar para pensar. Nós, professores, desde o começo, tínhamos em mente não prepará-los diretamente para o vestibular. O passar no vestibular poderia e deveria acontecer em alguns casos. Achamos importante que nesta fase da adolescência - 17 anos - eles fizessem um 3° Colegial bem feito e depois se preparassem para o vestibular. Conversando com alguns alunos do 3° Colegial de 81 que vieram nos visitar no primeiro dia de aula, eles confirmaram o resultado de nossa reflexão: - "Optamos por curtir esta fase de nossa vida, que para nós é muito importante. A experiência. de camaradagem que vivenciamos na Escola foi para nós muito mais importante que passar no vestibular. Temos toda uma vida pela frente e o vestibular é um dos momentos de nossa vida, porém não o mais importante. Importante será agora darmos conta do que temos pela frente: fazermos um cursinho bem feito e entrarmos bem numa Universidade. " Penso que a vida é maior que o vestibular, embora este faça parte da vida. Fazendo uma análise do resultado da classe, enfocando o vestibular, vemos que aquilo que, em primeira mão, pareceu para alguns como negativo, foi muito positivo. Acabaram o curso 18 alunos. Destes, 3 optaram, conscientemente, por não prestar este ano o vestibular; um prestou concurso, entrou e está trabalhando; uma preferiu esperar este ano,
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porque talvez resolva fazer o 40 de Magistério para ser professora primária; um resolveu que gostaria de ter mais tempo para definir o que realmente quer fazer. Dos restantes: um optou por fazer Teologia e está cursando esta faculdade - será pastor; dois entraram em primeira chamada, três entraram em segunda opção; porém, dos três, somente um irá cursar a faculdade, porque acha que, para ele, também a segunda opção é importante; os outros dois não quiseram aceitar a segunda opção, por acharem que não corresponde aos seus anseios. Fazendo esta análise, pergunto: - Não são sinal de maturidade as decisões tomadas? Não é isto o que queremos de nossos alunos e filhos?
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o novo prédio Vamos nos mudar para o novo prédio. Todos nós nos sentimos felizes. Adquirimos a casa própria. Esta mudança, no entanto, deve significar para nós muito mais do que uma mudança de local. Há implicações muito mais sérias nesta mudança que precisam ser motivo de reflexão e, depois, de tomada de posição. A construção deste prédio significa o esforço de um grupo pais, professores e funcionários - que acredita numa linha de educação, numa proposta pedagógica. Hoje, que temos a nossa casa, esta responsabilidade aumenta de ambas as partes - dos pais e dos professores. Cabe a ambos a fidelidade à proposta inicial. Quando digo à proposta inicial, digo aos valores que inspiraram tal proposta - o respeito mútuo, o amor às coisas simples, a ausência de competição, a seriedade no trabalho e o espírito comunitário. É à luz desses valores que todos nós nos devemos questionar.
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A mudança também nos deve alertar, mais uma vez, para o respeito às coisas que são colocadas ao nosso uso. Hoje, talvez, o momento sócio-econômico nos ajude a mudar; é muito comum não darmos valor ao que nos é colocado para uso. Temos uma casa nova, construída com muito esforço e amor, que precisa ser conservada; temos móveis que precisam ser zelados; temos jardins que precisam ser carinhosamente cuidados; temos, principalmente, gente que precisa ser respeitada na sua pessoa e no seu trabalho. É essa postura de gente que tentamos ter e que queremos que se intensifique nesse novo prédio. E esta postura não se adquire com proibições (É proibido pisar na grama, é proibido rabiscar carteiras e paredes... ) nem com ordens (De hoje em diante... ); ela só é adquirida à medida que vamos tendo a consciência do coletivo, do respeito às pessoas e às coisas que nos são colocadas para uso. Por isso digo postura, porque é toda uma maneira de ser da pessoa que só é adquirida ao longo de uma vida experienciada e não de uma intelectualização de normas e preceitos. Eesta experiência de vida só pode ser adquirida pelos mais novos, quando testemunhada por nós, pessoas adultas. (Publicado em "O Comunitário" - ago/83)
As emoções da festa Todos nós vivemos ainda as grandes emoções do dia 5 de novembro. Pela primeira vez depois daquelas assembléias do começo da Escola, sentimos todos como pertencentes a uma grande família. Todos se sentiam em casa, todos donos da festa.
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Acaminhada foi emocionante. Quando, depois de uma hora e pouco de caminhada, numa subida, avistamos a Escola, todos pararam e, olhando para ela, saiu um "oh! ... " prolongado por uma mistura de choro e euforia. Na caminhada todos conversavam gostosamente. A espera dos outros no portão da Escola deve ter servido também para um entrosamento maior. Quem lá ficou também sentiu a mesma emoção ao avistar o grupo que chegava da caminhada. Interessante que nenhum espetáculo foi montado para a inauguração da Escola porque ninguém precisava assistir a nada: todos nós éramos os atores. Outro momento emocionante foi quando, num gesto espontâneo, demos as mãos para abrir o portão. Éramos todos que entrávamos juntos para juntos enfrentarmos as alegrias e as dificuldades. Outro momento foi o do hasteamento das bandeiras. Era a primeira vez que as bandeiras seriam desfraldadas sob o olhar curioso e feliz das crianças e sob um misto de sentimento de emoção e entusiasmo dos adultos. Compensador o momento do descerramento da placa oferecida pelos alunos e as palavras do nosso ex-aluno Daniel. Lindo o cartão das crianças, que atingiu o auge no momento em que todos deram as mãos e cantaram "todos juntos somos fortes, somos arcos, somos flechas... " A exposição dos trabalhos foi montada com muito gosto pelas professoras de Artes e o gostoso do bazar foi também a troca de experiências , que aconteceu na terça e quinta-feira. Foi uma festa que deixou saudades...
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(Publicado em "O Comunitário"· nov/dez 83)
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Anossa festa Esta parada, agora em frente a este portão, tem para nós muito significado. É um símbolo, um sinal, um sacramento de algumas realidades já vivenciadas por nós e outras ainda a serem experimentadas. Esta parada é para olharmos para este prédio com os olhos do corpo e os olhos do coração. Olhem bem para ele! Ele é lindo! Olhem agora para todas as pessoas aqui presentes. Pensem também naquelas que hoje deveriam estar aqui e não estão, ou porque não concordaram com nossos valores, ou porque não fomos Capazes de cativá-Ias, ou porque mudaram de cidade ou país. A elas devemos muito. Lembrem-se daqueles que já se foram: Toscanelli, Marinho, Libertini, jvlaria Helena Scalabrini, Paulo Lemos, Maria do Carmo Magalhães e o nosso aluno Felício ... Vendo todo este conjunto recordamos um pedaço de nossa história, desde o início, lá em outro colégio... a movimentação dos pais, as mesas nas calçadas colhendo as primeiras adesões, as reu niões pelas madrugadas adentro na casa de vocês, a organização da Sociedade cuja sede é ainda a casa de Marineide e Nelsinho, na rua Lions Club, 250, as reuniões para a confecção da documentação necessária e do regimento interno (aqui lembro-me da Isabel), as idas e vindas para São Paulo (lembro-me da ajuda do irmão do João Alberto), a autorização para o funcionamento da Sociedade e da Escola, a procura do prédio onde a mesma pudesse funcionar, o uso do prédio da clínica do Cleto, Rubinho e Tozzi para as primeiras inscrições, a movimentação das mães que faziam rodízio para a matrícula e depois para pensar no uniforme, a invasão, concedida, da casa da Rosa e do Carlos, onde funcionou a primeira secretaria da Escola.
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Tudo isto volta hoje à nossa mente. Depois, a reforma do prédio escolhido, na Av. Guarani, a limpeza feita pelos pais, professores, alunos e funcionários. O esforço do carregamento de água feito pelo Kurachi e outros pais; os vasos com . plantas, o plantio das árvores feito pelo Alfredinho e outros. Tudo isto faz parte de uma história que está sendo escrita por todos nós, Depois, um novo capítulo - a compra do terreno, a construção do prédio do Infantil, a luta pelo empréstimo, a saída do mesmo e a construção dos prédios definitivos. Esta parada tem este sentido - pensarmos um pouquinho em nossa caminhada, em nossa história. A abertura do portão tem ainda um outro sentido: abrir o portão significa entrada; entrada para todos aqueles que participaram ou querem participar de nossa caminhada. Participar da caminhada é acreditar num tipo de educação onde todos se sintam responsáveis. É acreditar que educação se faz através da palavra, do gesto e, principalmente, através de atos. Atos simples, pequenos, porém carregados de significado. É acreditar em certos valores humanização das pessoas, num trabalho feito com seriedade e na construção de uma vida mais comunitária, portanto menos individualista. E aqui perguntamos a todos nós: este portão, que agora se abre, deve se fechar para aqueles que, acreditando em nossos valores, mas que realmente não podendo economicamente, fiquem impedidos de estudar em nossa Escola? A abertura do portão deve ser, para todos nós, um sinal, um sacramento de uma abertura de nossas mentes, de nossos corações e também de abertura de salário e de pagam ento de mensalidades, de revermos que valor tem para nós este tipo de educação - um tipo de educação que vai nos levar a nos preocupar não só com a
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educação de nossos filhos, mas também com a daqueles que, por condições econômicas momentâneas ou duradouras, não podem participar desse bem. Ainda descubro um outro sentido na abertura deste portão o sinal de gratidão para com todos aqueles que nos acompanharam e nos ajudaram nesta caminhada de seis anos. Todos somos responsáveis pelo que hoje aqui acontece; portanto, todos nós deveríamos abrir este portão. Como isto se torna impossível, tentamos convidar pessoas que pudessem representar os diversos momentos e setores de trabalho da Escola. Ao escolher estas pessoas, gostaríamos que todos se sentissem representados e recompensados pelo grande esforço dispendido. Escolhemos: da parte de construção - Carlos Gargantini, engenheiro responsável pelas obras; Adyr Moura Ferreira, arquiteto responsável pelo projeto da Escola; José Valim, encarregado das obras. Estas pessoas representam todos os pais e operários que nos ajudaram mais diretamente na construção destes prédios. João Alberto, diretor-geral da Sociedade, para representar todos os pais que, de uma forma ou de outra, são os responsáveis pela construção desta Escola. Leda, para representar o Conselho de Coordenação Pedagógica, que, com seu trabalho, procura manter unida a equipe de professores e com isso torna mais leve o trabalho de manutenção e renovação de uma linha pedagógica. Mariná, representando todas as mães que doaram muito de seu tempo trabalhando no início da Escola para que o sonho se tornasse realidade. Mara e Lucinha - trazem junto delas todas aquelas mães que trabalharam organizando festas e outras promoções na Escola. Paques, representando os pais que, através de projetos especiais, lutam pelo barateamento do ensino.
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Lourdes , Lysette, Cila e Agnes representam os professores que dão a sua contribuição muito importante na construção das .pessoas que devem se abrigar dentro deste prédio. Léa e Alaíde, representando os funcionários que fazem todo o trabalho de infra-estrutura para o bom funcionamento da Escola. Antoninho, representando aqueles que transportam com carinho e cuidado os nossos filhos e alunos. Não pudemos entrar em contato com o nosso lixeiro, porém queremos agradecer nesta hora, todo o trabalho que nos presta. Helena, Newton e Aline, representando os nossos alunos, para os quais toda esta estrutura é montada. Daniel - representa os nossos queridos ex-alunos, aqueles que acreditaram na Escola e hoje cursam as universidades e cursinhos. Não sei se esquecemos de alguém e gostaríamos de que nesse momento nos ajudassem a lembrá-los... A todos vocês a nossa eterna gratidão e as nossas boasvindas. (Palavras proferidas na inauguração da nova unidade da Escola)
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Colegial de 1983
Não sei por que. Sempre tentamos radicalizar. Quando, em 1981, a turma do 3° Colegial prestou o vestibular e poucos entraram na primeira chamada, houve por parte dos pais, professores e alunos, uma grande decepção. A nossa expectativa era muito alta. Diante do fato, a primeira justificativa foi: "o Colegial da Escola Comunitária não prepara para o vestibular. Vamos mudar, fazer o Colegial em outro colégio se quisermos entrar direto."
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Do lado dos professores um outro tipo de radicalização: "precisamos apertar mais." Quanta reflexão nos custou este fato. Quantas discussões, quantos debates. Tudo isto é crescimento. Crescimento doloroso, porém é crescimento. . Oque é preparar para o vestibular? Será selecionar logo os alunos em classes de acordo com os conceitos obtidos? Será treinar alunos? Será fazer do colegial um minicursinho? Será dar todo o conteúdo necessário de um Colegial para que tenham base para enfrentar não só um cursinho, mas uma universidade? Será exigir mais trabalho dos alunos para que adquiram o hábito de um estudo sério e sistemático? Será.. . será... será? A situação deste ano é outra: dos onze alunos, oito entraram na primeira chamada. Alguns em duas, e um, especificamente, em três faculdades. Isto significa que tudo está ótimo? Não seria outra radicalização? Penso que sim. Estamos contentes com os resultados, e nem poderíamos deixar de estar. Vibramos mesmo, porém ainda temos muito caminho pela frente. Éisto que não nos deixa parar. (Publicado em "O Comunitário" - março/abril 84)
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Inauguração das quadras E a nossa história continua... Do prédio da Av. Guarani, 405, passamos para este, amplo e lindo! A mudança foi tão grande que ainda não conseguimos dominar adequadamente o espaço! ... Hoje mais um pedacinho da história fica registrado - a inauguração das quadras. Esta inauguração, para nós, tem muito sentido: temos agora um local mais adequado para a prática de Educação Física. Tudo foi feito com muito carinho pelo Carlos Gargantini e seus operários. Há um destino que queremos dar a esta quadra: gostaríamos que ela fosse ponto de encontro de pais, professores, funcionários, ex-alunos e alunos; que todos dela pudessem aproveitar também aos sábados, domingos, feriados e mesmo à noite - por isso ela foi iluminada. Tem ainda esta inauguração um outro objetivo: agradecer, entre muitos , a algumas pessoas. Nossa homenagem ao Octávio · Pires, que fez toda a terraplenagem desta Escola. Deixamos de propósito para homenageá-lo hoje porque nos parece ser a quadra o ponto de convergência de toda a Escola. A nossa homenagem ao Antônio Augusto, o Tonhão, que durante anos manteve unida uma equipe de pais e professores que jogava no gramado de sua casa. Quantos foram acordados, nas manhãs de domingo, com o telefonema do Antônio Augusto:"- Disnei, hoje tem jogo." Depois chamava o Wilson, o Hélio, o Duda, o Og, o Rubens, o Eduardo, o Jaime, o Norton, o Ênio, o Alfredinho, o Octávio, o Rubinho, o Gil, o Abraão, o Geraldo Betini e outros. A nossa homenagem ao Hannibal, que durante muitos sábados treinou as "nossas meninas" (professoras e coordenadoras) naquela quadra tão precária da Av. Guarani...
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A nossa homenagem ao Nelsinho Machado, que está sempre presente em todas as comemorações esportivas e joga com garra, tanto para defender o time dos pais, como dos professores. Ainda nos lembramos do último jogo, alunos do Colegial versus pais e professores. Contra toda a expectativa e a vibração dos alunos, os pais e professores ganharam o jogo. No final, na saída, os alunos diziam aos professores: "Se não fosse o pai da Lara, Nelsinho, vocês todos teriam apanhado e muito"." . A nossa homenagem ao Henrique, Silvana, Adilson e Márcia, que dão diariamente a vida a esta quadra. De longe vemos o amarelo das camisas, a bola subindo e descendo, porém sabemos que junto deles está o Henrique, com toda a sua postura de treinador, o Adilson, com o seu modo todo especial de conduzir as crianças, a Silvana, com todo o seu dinamismo, e a Márcia, com toda a sua meiguice. (Publicado em "O Comunitário" - março/abril 84)
Novo semestre Queridos, Começamos um novo semestre. Sempre o começar traz em si muitas esperanças. Penso que mais do que nunca precisamos dessas esperanças. A esperança nos impulsiona para frente e nos ajuda a caminhar. Esperança de que o segundo semestre seja melhor que o primeiro. Esperança de que nos entendamos mais, esperança de recuperar o que ainda falta, esperança de refazer o nosso projeto de vida.
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elsinho Machado, que está sempre : - ~- - ~ç3es esportivas e joga com garra, -~ -:: A .S. como dos professores. - - -:: o último jogo, alunos do Colegial r.~:.c--::..:: :::-~a oda a expectativa e a vibração dos - - - ~ a! haram o jogo. No final, na saída, os :~ - :: Se não fosse o pai da Lara, Nelsinho, - --: e uito... "· L enrique, Silvana, Adilson e Márcia, - -:: = .:os:a quadra. De longe vemos o amarelo - - :' descendo, porém sabemos que junto - ::- ~ a a sua postura de treinador, o -: : --~ especial de conduzir as crianças, a -~ - : ~--sm o , e a Márcia, com toda a sua
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A esperança, porém, supõe coragem. Coragem de vencer um limite para depois ultrapassá-lo. O limite pode ser o tempo - 6 meses; o limite pode ser a superação de uma dificuldade - recuperar o estudo, o trabalho já feito, vencer um relacionamento difícil. O limite pode ser o controle de emoções - deixar um pouco de lado o mau humor, o sentido de exigência de perfeição dos outros, o sentimento de se julgar o centro das atenções de todos. Esperança supõe decisão. Decisão de querer mudar as coisas para construção de algo melhor, onde todos se sintam mais felizes. É isto que nós desejamos. (Publícado em "O Comunitário" - ago/84)
Nossa identidade Cada escola tem a sua marca, tem a sua identidade, e é isto o que faz uma escola diferente da outra, embora todas cumpram um mesmo programa de ensino. Ao dizer que uma escola é diferente da outra, não queremos dizer que seja melhor; queremos simplesmente tentar identificar essa escola. Entre as marcas que identificam a nossa Escola, queremos, no momento, salientar uma, por julgarmos oportuno - a seriedade do trabalho. Para nós, educação é coisa séria, muito séria. E é esta seriedade de trabalho que tentamos passar através de tudo o que é feito na escola. Tudo é pensado, discutido e resolvido por uma equipe. Isto não nos dá a garantia de fazermos tudo perfeito. Há erros, falhas, que vamos tentando corrigir à medida que deles
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tomamos consciência ou à medida que deles nos fazem tomar consciência, através dos questionamentos feitos pelos alunos, pais e professores. Esta postura de seriedade se traduz em nosso trabalho no dia-a-dia. Há todo um trabalho feito com os coordenadores para que, realmente, se forme na Escola o Conselho de Coordenação Pedagógica. Esta tentativa de uma Direção Colegiada nos leva a um confronto de idéias, de descobertas em conjunto, de novos caminhos. Fazem parte do Conselho de Coordenação Pedagógica os coordenadores dos diversos cursos, a Diretora da Escola e seu Assessor. Nas nossas reuniões quinzenais são discutidos os problemas da Escola, as novas pistas de ação. São também traçadas as linhas do ano, os pontos a serem abordados no planejamento e também avaliações e reavaliações do nosso trabalho. Além disso, toda a equipe também estuda junto para ampliar seus conhecimentos relativos à Educação. Os Coordenadores de Curso se reúnem também semanalmente juntamente com os outros dois membros do Conselho de Coordenação Pedagógica (Diretor e Assessor) para estudar, discutir e propor soluções para os problemas do curso. Faz parte também da pauta dessas reuniões, além do aprofundamento do aspecto pedagógico discutido ou proposto no Conselho de Coordenação Pedagógica, o preparo do conteúdo dos CPs (Conselho de Professores) realizados semanal mente. O nosso maior enfoque, entretanto, se faz com os professores. Eles merecem a nossa maior atenção, uma vez que são eles que vão atuar, junto com os orientadores, diretamente com os alunos. Tentamos cuidar muito da formação educacional do professor. Todo o nosso esforço é fazer do professor um educador.
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É muito importante a competência do professor, porém é também importante como ele coloca essa competência a serviço dos alunos. É muito importante a visão que ele tem de educador e como trabalha com o conteúdo de sua área. Se ele parte do princípio de que a classe toda pode e deve aprender o conteúdo, ele tem uma determinada visão de educação e por isto vai dar um determinado tratamento metodológico às suas aulas. Se ele também acredita que a aprendizagem só se faz à medida que o aluno se coloca em situação de trabalhar sobre a proposta dada, a sua maneira de montar a aula é completamente diferente daquele que acredita que basta explicar .muito bem um conteúdo, dar muitos exercícios e depois cobrar. São posturas diametralmente opostas. Para que este trabalho seja eficíente com os professores, montamos uma estrutura onde há um trabalho que chamaremos de sistemático, porque constante; e outro assistemático (esporádico) . Os píOfessores de cada curso se reúnem semanalmente (CP) juntamente com os orientadores, coordenadores de curso e mais dois membros do Conselho Pedagógico para estudar, refletir, propor soluções, planejar assuntos referentes ao seu curso. Há também um encontro sistemático semanal entre coordenadores de curso e professores de pré-escola e 10 Grau - 1a a 4a série - para discutir problemas específicos daquelas classes. É nesse encontro que se discute o manejo de classe, que se questiona a aplicação prática da proposta pedagógica e também se discutem determinados comportamentos dos alunos. É aí também que se discute o relacionamento professor-aluno. Além disso, há também um encontro semanal de professores com os coordenadores de área ou núcleo. Nesses encontros os coordenadores ajudam a traçar a linha do conteúdo a ser desenvolvida, discutem a montagem da aula, as atividades a serem propostas, a técnica adequada para este ou aquele conteúdo. .
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Há uma outra forma de ajudar na competência do professor educador: a assistência às aulas pelo coordenador de curso ou orientador e posterior discussão com o professor. Outros meios que chamamos assistemáticos são: - proposição de temas para estudo e posterior discussão; - debates sobre assuntos atuais; - cursos; - possibilidade de participar uma vez por mês. de uma reunião com um psiquiatra (Du Loreto), especialista em trabalho de grupo. Tudo isto é feito pelo profundo respeito que temos pela pessoa do aluno. Ainda visando a um melhor trabalho com os alunos, temos um serviço de Orientação Educacional. Todo esse serviço é montado tendo em vista ajudar o aluno a se integrar no seu meio (ser um estudante capaz de resolver seus problemas de estudo, de relacionamento), ajudar o professor a entender melhor a faixa etária, a receber um retorno do que faz para posterior análise. O orientador também, principalmente da sa série em diante, é aquele que reúne as informações. e dados fornecidos pelos professores e, depois de elaborá-los, passa aos pais quando necessário. Com os alunos, o nosso trabalho sério se traduz num profundo respeito. Orespeito é entendido como: - aulas bem preparadas; - aulas dadas de maneira adequada, visando ao aproveita mento da totalidade da classe; fazendo o aluno trabalhar sobre a proposta dada; evitando criar tensões; - postura do professor; - abordagem adequada do conteúdo, respeitando as etapas, fornecendo dados de qualidade;
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Daí a nossa preocupação em não trabalhar só com a elite intelectual, porém com a classe toda. Existe também a preocupação de fazê-los compreender sua inserção dentro de um grupo, da Escola, dentro de um contexto maior. A família e a escola não são ilhas isoladas, porém fazem parte de um mundo que vive hoje uma problemática social muito séria. E há ainda a preocupação de abrir espaço para que o relacionamento entre eles e os adultos se realize de maneira o mais possível espontânea. É preciso que eles aprendam a conviver. Esta nossa postura de seriedade frente ao trabalho se liga à nossa filosofia de vida e de educação que se concretiza no dia-a-dia através de todas essas atividades abordadas. (Publicado em "O Comunitário" - novembro/ 1984)
Nosso 2 o Salão de Artes Estamos abrindo o nosso Colégio para as inscrições do ZO Salão de Artes . OSalão sempre traz para nós, educadores, muita expectativa e muito interesse. A escola toda se volta para este grande evento, como aliás se voltou para o 10 Salão de Poesia. Um novo "élan", um respirar de ar diferente começa a circular pela Escola nestes dias tão sofridos por nós todos. É um redobrar de preocupações, de trabalho; porém um trabalho, embora difícil, bastante gostoso. É lindo perceber o interesse de alguns alunos, pais, professores e amigos pelo 20 Salão. É lindo ver aparecerem no papel branco figuras, traços coloridos. É lindo perceber que pessoas são capazes de colocar todo o seu sentimento,
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em traços que as definem e as identificam. A arte é a expressão do que a pessoa tem de mais sensível. Cada traço, cada cor, é também um pedacinho de quem manipula o lápis, o pincel, a argila ou outro material. É uma outra maneira de se dialogar com alguém. Um diálogo não imposto, não forçado, um diálogo em que o artista dá o seu íecado e espera pacientemente, silenciosamente, a reflexão e a descoberta do outro. (Publicado em "O Comunitário" - nov 85)
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7 de novembro p.p., dia da Escola, foi um lindo
espetáculo! Logo às 7 horas da manhã, um grupo de professores, pais e alunos nos esperavam sob o Laurão, bem em frente ao out-door alusivo ao aniversário da Escola. Organizou-se, a partir daí, um grande cortejo até a Escola. Só de olhar o sorriso e o brilho nos olhos dos professores, pais e alunos, foi o suficiente para eu precisar dar uma escapadela para não desmontar meus sentimentos. Depois, o hasteamento solene das bandeiras sob o olhar curioso e deslumbrado da pequenada. Os professores de Português, juntamente com os demais professores do dia, desempenharam muitíssimo bem com os alunos a execução e montagem do projeto - liA nossa Escola". Às 10 horas da manhã, a Escola toda estava enfeitada - poesias, escritos, cartazes, maquetes, bonecos e tudo que possamos imaginar de belo e criativo. Enquanto tudo isto ia acontecendo na Escola, numa movimentação harmoniosa, chegavam os alunos do Notre Dame, que
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nos vieram brindar, juntamente com seus professores, com jogos e torcida. Antes, porém, de começarmos a Ginástica Olímpica, comandada pela Sissa, uma grande e emocionante surpresa! Berta pega o microfone e começa a ler uma significativa mensagem. Num determinado momento entram na quadra todos os funcionários e professores carregando a Bandeira da Escola sustentada por balões amarelos e azuis e, num determinado trecho da mensagem, a Bandeira é alçada ao infinito tão brilhante e azul como nos sentíamos no momento. Foi lindo olhar a Bandeira subir sob o olhar alegre e espantado de todos nós. Foi uma linda e comovente surpresa. Parabéns professores, parabéns funcionários, parabéns alunos, parabéns visitantes, parabéns pais! A ginástica foi linda! O jogo seguinte, dos maiores com o Anglo, vibrante! Para a noite estava reservado outro espetáculo - a Orquestra Sinfônica Jovem. Lindo! Lindo! Lindo! Foi um dia de muita alegria e emoção. E é justamente tudo isto que nos encoraja e nos coloca em caminho para continuarmos nosso trabalho. Muito obrigado por tudo. (Publicado em "O Comunitário" - nov/dez 85)
Uma filosofia de educação A Educação de um povo, de um grupo, ou mesmo de uma pessoa se realiza através de um processo; portanto, ela é lenta, contínua e dinâmica.
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A educação também não se faz através de uma pessoa, mas através de um grupo. Quando dizemos que alguém foi um grande educador, queremos dizer que aquela pessoa foi capaz de captar as aspirações ou anseios de um grupo e elaborá-los, para depois explicitá-los. A partir desta explicitação, as pessoas aceitam, rejeitam, ou questionam o conteúdo explicitado. A posição tomada, perante o discurso exposto por alguém, sigriifica que a aceitação se faz ou não, só diante de valores já interiorizados pelas próprias pessoas. É o que chamamos de filosofia de vida. Cada pessoa, cada grupo, tem os seus valores e procura vivê-los para ser coerente. São estes valores que nos definem como pessoa. E é como pessoa que ajo e interajo com os outros e me posiciono frente aos fatos, aos acontecimentos. É uma filosofia de vida que me faz aceitar mais uma situação que outra, que me faz aderir a este ou àquele sistema de educação. Geralmente, as pessoas que possuem a mesma filosofia de vida se agrupam para fazer, juntas, algum empreendimento. Quando são educadores, muitas vezes, definem uma filosofia de educação. A .adesão a esta ou àquela filosofia de educação advém dos princípios globais assumidos, definidos ou vivenciados por diversos educadores . Surge o que chamamos uma Filosofia de Educação. Toda escola ou todo grupo de educadores tem uma filosofia de educação definida. Toda escola tem as suas vigas mestras, os seus pilares bem fincados . Com o correr dos tempos, estes valores vão sendo explicitados por um grupo de educadores. É justamente esta explicitação, através da maneira de ser e agir dos professores, funcionários e coordenadores, que define uma escola. Quando a escola consegue isto, ela realmente está educando. Pode parecer a esta altura que a escola está impondo os seus valores. Aqui pode ser aberto um amplo debate. Para nós, é justamente esta a nossa visão de educação. Mostrar um caminho através do nosso modo de ser e agir, e deixar que a criança, conhecendo. um caminho, possa segui-lo
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ou rejeitá-lo. Isto não significa um tipo de ação unlca, e sim a definição de objetivos a serem alcançados ou procurados através de caminhos e meios diferentes. Os nossos objetivos são bem amplos, portanto comportam uma gama imensa de caminhos. Na parte intelectual, a nossa única proposição é que o aluno tenha possibilidade de trabalhar sobre a proposta apresentada pelo professor. A proposta nunca deve ser fechada, pronta, acabada. É preciso abrir espaço para que o aluno preencha com os conhecimentos adquiridos através de informações colhidas, ou melhor, através de sua experiência de vida. Não me refiro somente a um simples acrescentar conhecimento, ou melhor, contel.Jdo, porém elaborar este conhecimento, trabalhar sobre este conteúdo; refletir sobre o mesmo, tirar conclusões, criticar, levantar hipóteses, etc. Só assim a escola não será mera transmissora de conhecimentos. Quanto à parte social, a nossa proposta é que o aluno saiba descobrir, nos seus companheiros de escola, pessoas que com ele possam trabalhar juntos, construir algo em comum. Pessoas com quem possam se relacionar, conviver, e não competidores, numa luta de quem sabe mais, pode mais, ou tem mais. Sabemos que muitas pessoas acham isto uma utopia e talvez tenham razão de assim pensar, porém nós escolhemos este caminho - o da cooperação. Não sei se conseguimos, porém vale a pena lutar. A vida por si só estim ulará à competição, infelizmente. Cabe a nós mostrar outro caminho. Quanto ao emocional, estamos convencidos de que, embora seja o mais importante, pouco poderemos fazer. A nossa tentativa é, pelo menos, de não sobrecarregar o aluno de mais tensões. À medida que ele próprio vai descobrindo o seu caminho, ele vai conhecendo melhor, vai adquirindo confiança em si, e, portanto, tornando-se mais seguro.
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Nesta nossa proposta é muito importante a postura do professor, ou melhor, de uma equipe, porque não se educa falando ou impondo valores e sim sendo naturalmente aquilo que somos. E só somos , à medida que tentamos viver coerentemente aquilo em que acreditamos. Nesta equipe quero incluir todos: professores, funcionários, pais. Poderemos discordar quanto às técnicas empregadas, modos e maneiras de selecionar o conteúdo, e muitas outras coisas, porém é preciso que em relação à linha mestra tenhamos uma unidade de pensamento e ação. (Publicado em "O Comunitário" - fev/85)
Anossa dura caminhada __ . ~-s que com ele . - _- Pessoas com :: :xyes, numa luta
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_ ~ :,c- 3. lutar. A vida por ~::
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de que, embora 10ssa tentativa é, -- ' ~ iensÕes. À medida
Toda vez que nos empenhamos em uma obra estamos sujeitos a muitos contratempos.. Nenhuma caminhada se faz sem passar por pedaços alegres, gostosos e pedaços tristes e ruins. Ora o trecho é lindo, florido, árvores verdes, borboletas voando, canto de pássaros, água fresca. Ora o trecho é árido, difícil, poeirento, sol a pino. Porém, ninguém faz uma caminhada longa sem passar por diferentes paisagens. A nossa caminhada de Escola não foge e nem poderia fugir desta mesma história. Porque é assim a história dos homens e assim é a história das ins i uições. Tivemos pedaços lindos, momentos agradáveis, cheios de sorrisos e cumprimentos, tivemos pedaços difíceis cheios de tristeza e, por que não dizer, de dor. Dor do desencontro, dor da limitação, dor do desentendimento, das incompreensões. Passamos agora por um pedaço difícil. É um momento doloroso de nossa caminhada, onde o desencontro está sendo muito forte. A nossa tomada de posição quanto à paralisação dos
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professores magoou profundamente os pais. Magoou por se sentirem afastados da decisão ou por pensarem de maneira diferente. Isto acontece sempre na vida das pessoas, porém de tudo precisamos tentar tirar o positivo, não como "jogo do contente", mas como processo histórico muito importante. Não existem fatos isolados. As coisas não acontecem por acaso. Elas acontecem dentro de uma lógica, dentro de todo um processo. Algumas vezes podemos ter a lucidez de parar ou acelerar o processo, outras vezes estamos tão envolvidos nele que só nos damos conta na hora do resultado. O nosso último acontecimento - paralisação dos professores - foi um processo muito doído. Doído para nós, doído para os alunos e pais, Somente com o passar dos dias e talvez dos anos, quando esfriarmos as nossas cabeças, poderemos analisar o produto. Muita gente saiu ferida do processo, porém acredito que muita gente cresceu no seu desenrolar. Diante deste fato vejo, como educadora, um único caminho: aproveitarmos as lições - e foram muitas - e tentar levantar, sacudir o pó da estrada e continuar a caminhada.. Parar no caminho seria difícil e penso que não ajudaríamos os outros a crescerem se a parada fosse feita por desânimo ou de propósito, para atrasar a caminhada. Se a parada, porém, for para acudir no caminho pessoas que poderiam ficar caídas ou mesmo que precisam encontrar alguém que as estimule, a parada é caminhada e caminhada é vida. (Publicado em "O Comunitário" - set/85)
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Todo ano, nesta época, começam as negociações, através do Sindicato, entre professores e donos de escolas. É um período difícil , tambér:! para nós, da Escola Comunitária: muita agitação, muita discussão, assembléias na Escola, no Sindicato, conversas com a Diretoria Administrativa e, por fim, a Assembléia dos sócios. Toda vez cue chegamos na Assembléia, percebemos um grande desgaste de ambas as partes - pais e professores. Apesar de todos nós sermos sócios, nessa hora há um grupo que reivindica um salário e ná um grupo que paga esse salário. Por maior que seja a boa vontade dos dois grupos, os interesses são opostos, com relação ao dinheiro - Ur.1 paga e o outro recebe. Cada ano, entretanto, vamos tendo novas experiências e vamos aprendendo muito. Este ano a atitude dos professores foi excelent~. Os encontros com a diretoria e o trabalho feito com o próprio g'uoo foram de maneira sofrida, porém calma e de bastante diálogo. A Diretoria Administrativa esteve aberta, disposta ao diálogo, e querendo. junto com os professores, chegar a um consenso (sem afetar muito os pais e sem fugir da proposta do Sindicato, que nos pareceu a todos justa) . O ponto de encontro foi descoberto e levado para a Assembléia como proposta única. A ajuda do Cláudio foi excelente. A atitude dos pais também merece destaque. Muito debate, posições sofridas mesmo, mas não agressivas. Percebemos que todos queriam chegar a um resultado que pudesse minimizar os grandes contrastes. Muitas sugestões foram feitas ou refeitas, e precisam ser levadas a sério: - diferenciação de mensalidades; - estudo de uma política salarial; - descoberta de outros meios de arrecadação;
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Pensamos que, apesar de tudo, crescemos juntos. (Publicado em "O Comunitário" - abri/ 87)
Adura lição da vida Todos os anos, por ocasião do dissídio coletivo, vivemos em nossa Escola dias de muito desgaste e tensão. Oimpasse, geralmente, aparece no momento de se tomar ou não a mesma posição .das outras escolas. Sabemos que vivemos dentro de nossa Escola uma realidade muito diferente das demais. Como todos nós somos sócios, pais , professores e funcionários, temos acesso a todos os dados do balancete da Escola. Só isto nos coloca numa posição diferente. Outra realidade: não há, em nossa Escola, um dono usufruindo do trabalho dos demais membros. Existem sim , sócios com funções diferentes. Há os que pagam pela prestação de um serviço (educação de seus filhos), há os que recebem pela prestação deste serviço (professores, coordenadores, orientadores e funcionários) e há os que pagam e prestam serviço gratuito à comunidade escolar (os diretores administrativos). A própria organização da Sociedade favorece o estabelecimento do diálogo. Pais, professores e funcionários se reúnem também para resolver o salário dos professores e dos funcionários e para o estabelecimento da mensalidade dos filhos e alunos. Onde, porém, existe o ponto de tensão ?
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Se temos esta estrutura de Escola que favorece as relações democráticas, outras escolas lutam com uma estrutura onde esta situação não existe. São escolas onde não há a disponibilidade para uma .conversa leal e franca entre donos de escola, professores e funcionários. Escolas onde, desconhecendo-se os dados, os professores tentam negociar, pedindo muitas vezes mais, para conseguirem menos. Justamente estas escolas, sozinhas, não conseguem fazer a sua reivindicação, porque seus professores se sentem ameaçados pelos donos de escola. Aí entra a ação do Sindicato. Propor que as Escolas se juntem para reivindicarem uma pauta de benefício em prol do professor. Como tudo é negociado, é bom se pedir muito para se conseguir o razoável. Onde fica a nossa Escola? Reivindicar o que (não que esteja tudo ótimo), quando sabemos que tudo o que foi possível, no momento, nos foi concedido? Sair do movimento? A saída nos pareceu até hoje uma falta de solidariedade à classe, um enfraquecimento ao movimento. Sair, nos parece dizer: aqui tudo está bom, conseguimos o que, no momento, nos é possível darem e os demais que "se danem". Pareceu-nos até hoje ser esta uma atitude egoísta, individualista. É sempre sob esta tensão que aderimos ao movimento de paralisação. . Entretanto, alguns pontos nos vêm questionando, e neste .questionamento alguns pais têm nos ajudado.
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É necessário, como ato de solidariedade, usar as mesmas armas utilizadas por aqueles que não podem se fazer ouvir? É certo colocar situações diferentes sob um mesmo esquema? É justo cortar, em nome de uma solidariedade que precisa ser tão discutida para ser entendida, mesmo que seja provisório, um diálogo que vem sendo cuidadosamente feito? É correto tanto desgaste para mostrar à nossa própria comunidade escolar que o nosso gesto é de solidariedade? Não existe outra maneira de ser solidário? Todas estas indagações povoam as nossas cabeças e este ano fizemos uma outra tentativa. Quisemos, num esforço quase heróico, colocar na Assembléia do próprio Sindicato outra posição. Talvez a nossa colocação não tenha sido tão clara, tão eficaz, tão contundente para ser entendida por todos os professores. Talvez ainda não tenha chegado o momento, ou até talvez estejamos mesmo enganados. Entretanto, se o momento não é chegado, ele produziu o seu efeito. Na assembléia de professores da nossa Escola, o espaço foi aberto para cada um colocar o seu modo de pensar e se colocar como pessoa. Talvez tenha sido este o ponto alto desta tão desgastante situação. Talvez ainda sejamos capazes de descobrir outros gestos que nos desinstalem a todos, porque os que existem já estão desgastados, viciados. Por enquanto, porém, somente fomos capazes de ir um .pouco além de uma paralisação, fizemos uma denúncia pública. Foi pouco, porém este pouco nos custou muito... (Publicado em "O Comunitário" - abril 87)
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opreparo do professor em nossa Escola Todos nós sabemos que ao sairmos da universidade, embora com muita teoria na cabeça, muita vontade de trabalhar, não estamos preparados para enfrentar o dia-a-dia da profissão. Isto acontece em todas as profissões, e especialmente com os professores. Todos pensam que para dar aula é bastante saber um conteúdo, chegar numa sala de aula e despejar tudo para os alunos e pronto... Entretanto, feliz ou infelizmente, não é isso. Ser professor, ou melhor, educador, é difícil e exige da pessoa não só saber um conteúdo (o que é muito necessário), mas também como trabalhar com esse c.onteúdo, como equacioná-lo, como ensiná-lo aos alunos, como entender suas reações. É preciso muita dose de conhecimento da própria área, além de pedagogia, de metodologia, de psicologia (o trato com os alunos e toda a interação aluno-aluno e aluno professor). A estrutura escolar do nosso país não está preparada para formar o professor. Ela existe para receber o professor já pronto, preparadinho. Tanto assim que se exige do professor (tanto a coordenação como os colegas, os pais, e principalmente os alunos), que ele esteja preparado. Mas esta não é a realidade. O professor precisa ser preparado, e muito. Em nossa Escola, ainda de modo muito precário, montamos uma pequena estrutura para atender a essa necessidade. Percebemos que é somente o mínimo e isto já nos custa muito, tanto em tempo como em custo financeiro. Sabemos que seria necessário dispormos de mais re(Ursos para investirmos no professor; porém, se não podemos, por agora, dispor de tnais verbas, não podemos dispensar este mlnlmo que já conseguimos, para não comprometermos nossa proposta pedagógica.
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Para a seleção do conteúdo, sua dosagem, seqüência, tanto no sentido horizontal (na mesma série), como no sentido vertical (nas diversas séries), distribuição no espaço de uma aula; o professor, em nossa Escola, tem oportunidade de discussão através de um encontro semanal com o coordenador de núcleo (Matemática, Estudos Sociais, Ciências, Português, Artes). Esse encontro tem a duração de duas horas para os mais novos e de uma hora para os mais antigos. Ainda para o aprimoramento do conteúdo, novas descobertas, novas programações, todos os professores da mesma disciplina se reúnem uma vez por mês durante quatro horas com o coordenador de núcleo. Para que se possa formar uma equipe, todos os professores do mesmo curso se juntam com os seus coordenadores semanalmente, durante duas horas, para estudarem a proposta pedagógica, traçarem os objetivos do curso, das séries, as metas a serem alcançadas durante o ano, o dia-a-dia da Escola e estudar as classes e os alunos. Temos ainda, também para acompanhar os professores, os orientadores, que os ajudam no relacionamento com os alunos. Os coordenadores de curso e pedagógico acompanham de perto, entrando mesmo dentro das salas de aula para poderem dar aos professores elementos necessanos para seu próprio questionamento e aprimoramento. Todo esse trabalho é montado para se estabelecer uma linha filosófica, uma proposta pedagógica, um acompanhamento metodológico, e também dar mais segurança ao professor; apesar disso, percebemos que só a partir do 3° ou 40 ano ele se sente mais seguro para acompanhar, com mais desembaraço, os seus alunos dentro da sala de aula e poder, numa reunião de pais, colocar o seu ponto de vista ou expressar a sua visão. Éum trabalho demorado, porém compensador. Hoje, entretanto, esse trabalho nosso ameaça ser comprometido com a mutabilidade de professores. É importante que
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todos nós, coordenadores, professores e pais, descubramos juntos maneiras de lidar com o fato. A primeira, a que se faz urgente, é não sobrecarregarmos o professor de mais tensão, não cobrarmos dele o que não pode ser dado no momento. Em segundo lugar, é entendermos que o processo é lento (pela formação anterior do professor e pela limitação de nossa própria estrutura) e passarmos para os nossos filhos e alunos essa atitude de compreensão, da visão de uma realidade e de confiança mesmo, porque um trabalho, embora limitado, está sendo feito de maneira séria. (Publicado em "O Comunitário" - maio/87)
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Quando me pediram para falar hoje, para ser bem honesta com vocês , tive vontade de dizer não. Não porque tivesse perdido o meu entusiasmo, o meu amor pela Escola, e muito menos pelos professores, aiunos, funcionários, ou pais, mas porque já escrevi e falei muito sobre a nossa Escola. Falo através dos Informativos, do "O Comunitário", de circulares e, principalmente, nas reuniões que faço dentro e fora da Escola. Era preciso que uma outra voz se levantasse e conseguisse dizer a nós todos o que representa esta Escola para seus próprios membros e para toda a comunidade educacional - uma Escola que nasceu da contestação de alguns, mas de uma contestação sadia e madura. Não contestávamos por contestar, e nem para impor o nosso modo de pensar; contestávamos porque tínhamos uma proposta, acreditávamos nela e queríamos que ela vingasse em qualquer lugar, mesmo por outras pessoas, para continuar sendo sincera.
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Lutávamos por um ideal, e talvez por isto a luta tivesse tanta força. Era uma luta por valores político-educacionais; tanto assim, que as pessoas mais politizadas na ocasião aderiram à causa. Havia assim, uma proposta pedagógica, mas uma proposta que levava em conta uma determinada visão de mundo e de homem. Com o correr dos anos, talvez todos nós tivéssemos nos esquecido um pouco do sentido político da educação. Procuramos uma escola que tenha fama - ela precisa, sim, ser muito bem conceituada na comunidade. Mas que tipo de conceito? Procuramos uma escola que prepare os nossos filhos para o vestibular. É necessário que ela os prepare, porém, para a universidade ou para outras situações em que ter aprendido um determinado conteúdo se torna muito importante para novas descobertas I Queremos uma escola que agradece aos nossos filhos, mas a que preçol Queremos uma escola que não nos dê muito trabalho, que não exija muito de seus alunos e professores. Que tipo de exigência? Exigir para quê? Não sei se é possível ... Talvez a vida corrida nos tenha levado, a todos nós, a exigir da escola uma resposta para o "agora", para resolver as nossas exigências do hoje, sem investir no amanhã. Sei muito bem que o amanhã depende do hoje, como o hoje de ontem, mas não posso só ficar pensando no hoje e vivendo das glórias do ontem. É urgente pensar no amanhã. Qual seria o princípio pedagógico que nos faria pensar no amanhã? Cuidar hoje da criança e do jovem e ir dando-lhes o instrumental que os leve a resolver pequenos problemas do dia-a dia. É preciso que o aluno comece a trabalhar muito dentro da sala de aula. Que a proposta feita pelo professor seja para ele, aluno,
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Para isso, porém, é preciso, outra vez:
- uma decisão corajosa
- um trabalho comum
- um esforço continuado
- e muito amor...
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(Discurso proferido por ocasião dos anos da Escola, em 07/ 11/87 e publicado em "O Comunitário" - nov/87)
Nosso amigo, Hélio Estava em Curitiba acompanhando os alunos das sas séries , quando fiquei sabendo pelo Henrique da morte do Hélio. Embora soubesse da gravidade do estado de saúde do Hélio, fiq uei chocada pela morte desta pessoa que aprendi a admirar à distância e pelas circunstâncias em que aconteceu - morreu no Coiégio, numa manhã de confraternização da classe de seu filho Hel inho. É impressionante como as coisas têm sentido para mim. Não sei se elas têm mesmo ou se sou eu que os invento ou descubro. Hélio morreu no Colégio, numa manhã de confraternização da classe de seu filho. Hélio era uma pessoa muito atuante na Escola e, como atuante, estava sempre presente em todas as situações, mas era principalmente naquelas mais festivas que o Hélio se deixava conhecer melhor. Quem não se lembra dele nos churrascos das Festas Juninas? Alegre, brincalhão, delicado. "Um churrasco", alguém pedia e Hélio dizia: "bem ou mal passado?". "Bem passado", "mal passado" ... Helio sorrindo trazia o espetinho e dizia: "Este é especial ... "
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Na última festa fui buscar meu espetinho e a pergunta veio: "Bem ou mal passado?" "Bem passado", e Hélio, muito bem humorado, porém um pouco ofegante, trouxe-me o churrasco. Como o movimento estava menor, porque era a hora de uma das quadrilhas , resolvi conversar um pouco com o Hélio. - "Hélio, como você tem paciência de atender a cada um?" .Ele simplesmente me respondeu: "O churrasco é o mesmo, depende de como você trata a pessoa." Profundo pensamento que precisava ser mais vivenciado por todos nós. Esta é uma das lições que Hélio nos deixa. Continuando · a conversa, perguntei-lhe pela sua saúde. Arrisquei a dizer-lhe: "Você não está abusando? Este serviço do churrasco não é muito pesado para você? Evem a resposta do Hélio: "D. Amélia, eu sou uma pessoa condenada. Não sei quanto tempo de vida terei, quero aproveitá-Ia, viver feliz e fazer aquilo de que gosto. Isto me dá prazer e por isso eu faço." Falou-me isto com muita profundidade, não como brincadeira, porém sem fazer drama. Havia aprendido a segunda grande lição - já era muito para aquela noite, porém Hélio não acabou. "Este churrasco aqui não dá trabalho. Já vem pronto, há um grupo de amigos que trabalha junto e a gente se diverte muito. Mais gostoso é a gente preparar a carne e depois, com os amigos, assá-Ia e comê-Ia. Um dia eu vou fazer um churrasco de costela de vaca e aí a senhora vai ver o que é churrasco! Era demais - outra lição - saber repartir. Muito comovida falei-lhe: "Vamos fazer para comemorar os 1Oanos da Escol a?" A resposta veio rápida: "É só marcar!" Fiquei sabendo da morte do Hélio em Curitiba e, por coincidênciá ou não, naquele dia foi o único em que, no rodízio, veio churrasco de costela. Impossível, Hélio, não deixar de me lembrar de você.
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Você não fará o churrasco nem estará presente nas festas, mas estará muito mais presente em cada um de nós, que conheceu um pouquinho do grande homem que você foi. (Publicado em "O Comunitário" - nov/87)
Olimpíadas / 98 Estamos abrindo neste momento a IX Olimpíada. Pela primeira vez estamos realizando uma Olimpíada no final do ano. Etem sua razão de ser. É o primeiro ano que tivemos 200 dias letivos e 200 dias bem contadinhos um a um. Sempre uma mudança traz incertezas, preocupações e um novo replanejar. Tínhamos quase certeza de que os alunos e os professores estariam mais cansados em dezembro, não só pelos 20 dias a mais, como também por todas as mudanças ocorridas e outras previstas para 99. Por esta razão deixamos este espaço final para que fosse aproveitado pela Ol impíada. Embora a Olimpíada demande muito trabalho e esforço, é entretanto um esforço e um trabalho diferente. As aulas não acontecerão mais entre as quatro paredes de uma sala. Elas irão acontecer nas quadras, nas arquibancadas, nas torcidas, nos ensaios, nas peças de teatro, nos jogos e em muitos outros lugares. É o momento oportuno para colocarmos em prática muita lição aprendida na sala de aula:
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- o respeito pelo outro - principalmente sendo este outro o adversário do jogo; - a aprender a acatar ordens e a obedecer sinais. - é o apito do juiz que irá iniciar e parar o jogo. E aí não haverá discussões, não haverá o nosso típico jeitinho. - é aqui na quadra que iremos encontrar dois grandes adversários que precisamos aprender a vencer: - o adversário externo, que muitas vezes é mais forte, mais hábil; - e o adversário interno, o nosso orgulho ferido, algumas vezes a vontade de uma desforra, o ímpeto de desacatar uma ordem. Ambos os adversários precisam ser estudados e com a cabeça fresca descobrir um meio de vencê-los de maneira limpa e corajosa. É este o espaço aberto para vivenciarmos muitas lições aprendidas e discutidas na sala de aula, na família e em outros grupos. É este o momento adequado para extravasarmos o nosso cansaço e a nossa alegria de comemorarmos mais um ano de trabalho. Declaro, neste dia de hoje, quando o mundo comemora os 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aberta a IX Olimpíada. (Discurso de Abertura· 98)
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Palestra de abertura do Seminário:
Educação: mudanças no paradigma
Hoje, ao abrir este Seminário tão importante, e que com certeza será um marco na Educação de nossa Escola, tenho em mente algumas intenções: Primeiro, agradecer: - ao Centro de Estudos da Escola Comunitária, na pessoa de Sônia Losito, assessorada atualmente por Clotilde Curado, que foi quem levantou a idéia do Seminário e lutou para concretizá-lo, apesar de todas as dificuldades; - à Diretoria Administrativa, que nos deu força no difícil momento da decisão final; - ao Colegiado, que durante diversas reuniões discutiu, apontou as dificuldades e ajudou a encontrar soluções para que este evento se realizasse; - à Rosângela Feres, a Rose, diretora responsável pela administração da Escola e deste encontro; - aos nossos funcionários e funcionárias, que montaram e cuidaram da infra-estrutura do Seminário; - ao Paschoal Neto, responsável pela comunicação visual deste evento, que estimula e concretiza nossos sonhos e devaneios; - a todos os nossos parceiros, que de uma ou de outra forma nos ajudaram a realizar este evento. - a todos aqueles, da casa ou de fora, que aceitaram, apesar de todo o trabalho de final de ano, trazer o seu ser, o seu saber, seu fazer, para ajudar na nossa caminhada do dia-a-dia; - a vocês, que aqui estão para participarem conosco do Seminário. A presença de vocês e a participação nas palestras, cursos e pôsteres, comcerteza trarão subsídios valiosos, que irão nos ajudar na mudança de paradigma.
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- aos nossos alunos e alunas das oitavas séries e do Ensino Médio, que se inscreveram para participar das palestras especiais para eles; - aos pais, que precisaram ficar com seus filhos menores em casa, porque fizemos a opção de trazer para este evento todos os professores e professoras, do Curso Infantil ao Ensino Médio. - e todos aqueles que trabalharam nos bastidores para que tudo estivesse preparado para hoje. Segundo, falar sobre a razão deste Seminário: A Escola Comunitária, nossa Escola, faz 21 anos; atinge portanto a maioridade e por isso precisa se apresentar à sociedade como adulta. Ser adulta significa ser capaz de assumir uma posição, ser capaz de explicitar o que pretende. E o que ela pretende? Relembrar, recontar a sua história e retraçar, se necessário for, o seu caminhar. Uma história de luta, algumas vezes de ousadia, de avanços e recuos mas, principalmente, de muitos gestos de coragem, perseverança e solidariedade. Pretende trazer a público a sua experiência, construída nestes 2 i anos, através de um trabalho despretencioso, porém sério, para trocar com o tros educadores e outras escolas. Pretende, principalmente , valer-se do conhecimento, do modo de ser e da experiência de nossos convidados para as palestras e mini-cursos. Muitos destes convidados foram, e são, pais e mães de nossos alunos : Caniato, Orly, Regina, Ana Luiza, Maria Carolina. Vocês todos, com certeza; os que têm ou não ligação mais profunda conosco, irão nos fornecer elementos que nos ajudem em nossa reflexão, 'e que esta refl exão possa servir de mudança em nosso ser e fazer, de professores-educadores dentro da sala de aula.
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Vocês me desculpem, neste momento eu vou me valer da minha experiência de 57 anos de trabalho em Educação para repetir diante de pessoas tão importantes e queridas o que sempre digo é na sala de aula, junto de seus alunos, que o professor-educador mostra a sua competência, o seu valor. É importante e necessário mesmo que o professor, a professora, freqüente Universidade, faça cursos, defenda teses, escreva artigos e livros. Ministre palestras e cursos. Leia e estude muito. Porém, é necessário, é mesmo imprescindível que ele, ou ela, aprenda a refletir sobre a sua prática, iluminada pela teoria, para ser capaz de transformar a sua atuação dentro da sala de aula, ouvindo e entendendo seu aluno e tornando-se, por esta razão, cúmplice e parceiro no processo ensino-aprendizagem. É isto que esperamos deste encontro. Sejam bem-vindos a esta casa e a este Seminário! (nov- 98)
A nossa Festa Junina Voltamos hoje a falar da nossa Festa Junina. É bom voltar às coisas boas. Como foi bonita a nossa festa! Uma festa onde todos os que aqui estiveram sentiram-se perfeitamente em casa. Isto, entretanto, não acontece por acaso. Atrás de cada movimento, de cada barraca, de cada dança, houve o trabalho anterior de uma equipe de pais, professores, funcionários e alunos. Um trabalho dificil, onde algumas vezes houve desencontro, porém um trabalho que foi assumido com muita garra por uma equipe de coordenação: Mara, Yamara, Inês, Ana Lúcia, pelos pais que movimentaram as barracas e caixas, pela dedicação dos professores
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que ensaiaram as danças e a quadrilha, pelos que enfeitaram a Escola, pelos funcionários e pelos alunos que montaram os jogos, Um destaque também ao casal Fuad e Thébis, que ensaiou e marcou a quadrilha de pais e professores, Interessante tentar sentir esta Festa. Uma Festa onde não houve, no dia, aborrecimentos. Não houve brigas, estragos, nada que pudesse fazer infeliz qualquer pessoa, Muito do bom resultado deve-se a: - uma equipe de coordenação incansável; - o preparo cuidadoso que a Festa merece; - as danças, que sempre trazem para a quadra todos os espectadores, portanto, ocupa as pessoas; - todos serem responsáveis por ela; - a ausência de preocupação com o lucro,
(nov - 98)
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Atrás de cada ve o trabalho
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Uma coisa, entretanto, nos preocupava e pensamos que começa a ficar mais claro - a não-participação ativa dos nossos alunos maiores, Examinando agora, percebemos que os objetivos são diferentes e por isso não podem combinar, A Festa Junina, como ela foi concebida, é muito mais uma Festa para trazer para a Escola pais e filhos, uma festa onde todos se sintam à vontade e trabalhem com um único objetivo - se houver lucro ele será destinado à caixa comum da Escola. Os alunos, não, eles querem um fim mais específico conseguir dinheiro para a formatura ou para o Estudo do Meio ou para o Centro Gvico. Achamos as duas coisas válidas, porém devemos pensar em duas festas com objetivos diferentes. A Festa Junina, organizada pelos pais, onde nós, professores, alunos e funcionários, prestaremos a nossa colaboração
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eficiente e necessária, e outra, talvez organizada pelos alunos, em que nós, os adultos, prestaremos a nossa colaboração. Isto não significa que estejamos dividindo forças e estejamos criando grupos de pessoas. Justamente para que possamos trabalhar juntos, precisamos criar outras situações - situações diferentes, onde cada grupo possa ter maior participação e dar ampla vazão à sua criatividade e assumir a sua parcela de responsabilidade. (Publicado em "O Comunitário" -jun/jul 98)
Aniversário de 21 anos Inauguração da Praça da Paz
A nossa preocupação com a valorização da vida, construindo a paz, ganha hoje um enfoque todo especial. Queremos finalizar os festejos voltando a este tema, depois de termos trabalhado nele a manhã toda e nos propondo a fazer dele o Projeto para 99. Para marcar o dia de hoje queremos, neste momento, inaugurar com vocês todos, professores, coordenadores, alunos, orientadores, funcionários e demais pessoas presentes, esta praça, que receberá, a partir deste momento, o nome de Praça da Paz. A Praça da paz irá ficar ao lado da Praça da Cidadania, e não por coincidência. Para construir cidadania é preciso valorizar a vida e trabalhar incessantemente para que a Paz se estabeleça em nossa vida e em nosso meio. Paz não é ausência de luta; paz é como já refletimos no início - a coincidência entre o que eu quero para mim e o que. eu quero para os outros.
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E este querer depende da definição de valores, depende de que tipo de homem ou mulher eu quero ser. Para eu ser, preciso lutar, e muito, porém nunca atingirei o ser, se não lutar para que o outro, que vive ao meu lado possa também ser. Gostaria que vocês, em suas vidas, se lembrassem do dia de hoje; e quando para cá viessem para trazer os seus filhos, chegassem .até esta Praça e se fizessem esta pergunta - o que tenho feito para Ser? E o que tenho feito para que outros possam desenvolver e aprimorar o seu Ser? (Discurso pronunciado em 07/ 11/98 em Comemoração aos 21 anos da ECC)
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Aniversário da Escola - 22 anos - 1999 Aniversário lembra alegria, festa, surpresas, balões coloridos, parabéns a você. Para as crianças é o bolo, o brigadeiro; tanto assim que, enquanto o bolo e o doce não são servidos, o aniversário não acontece. . Para nós hoje, aqui, será uma reunião de amigos. Amigos que se encontram para festejar um aniversário, o aniversário da Escola. Amigo que, no dizer da Canção de Milton Nascimento, "é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves dentro do coração". Geralmente a amizade se constrói dentro de um processo de convivência, de conhecimento. É a convivência que nos faz perceber as pessoas, o seu caráter, a sua disponibilidade, sua franqueza, suas falhas, seu modo de ser.
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Todos nós fomos nos conhecendo através da aniversariante de hoje - a Escola, É ela o nosso ponto de referência, de contato, o elo de ligação. Mas quem é a Escola? Oprédio? Os móveis? A Escola são as pessoas que trabalham, que estudam e as que têm ligação íntima com aqueles que aqui trabalham e estudam, É o conjunto todo: prédio, móveis, plantas e, principalmente, as pessoas. Somos nós, com nossos acertos e erros, Por esta razão estamos aniversariando hoje, Todos nós completamos hoje 22 - 20 19 - 15 - 10 - 5 ou menos, 1 ano; não importa quantos, Importa que estamos todos juntos, como amigos, comemorando o nosso aniversário. Ecomo amigos queremos trocar presentes, Um presente de gratidão, de agradecimento, de reconhecimento, Precisamos agradecer, e agradecer uns aos outros, e como quase sempre é a pessoa mais velha que começa, vou me valer deste privilégio. . O meu muito obrigada será em primeiro lugar aos nossos alunos - crianças, adolescentes e jovens - que são a razão de ser desta Festa. Não há Escola sem alunos. Aos coordenadores, professores, funcionários, nossos amigos de cada momento, companheiros de trabalho no dia-a-dia, os meus agradecimentos por existirem e por estarem aqui. Aos pais, os primeiros, os fundadores, os que vieram depois e os de agora que nos confiaram e nos confiam o que têm de mais precioso, os seus filhos, nossos alunos, os nossos agradecimentos, O meu muito obrigada especial aos pais das diversas diretorias, e especialmente, .aos que hoje nos ajudam a dirigir a Escola,
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A todos - alunos, professores, funcionários, pais, .obrigada por existirem, obrigada pela amizade, obrigada por estarem hoje aqui comemorando juntos o nosso aniversário. Parabéns. (Discurso de abertura)
II Seminário - outubro de 99 nosso
Abrimos hoje o nosso 11 Seminário no Dia do Professor. professor é o educador que procura sistematizar o conhecimento acumulado, todo o tipo de conhecimento, tornando-o mais acessível, mais fác ii de ser eritendido, de ser assimilado. É o educador que se preocupa com o ensino aprendizagem. Portanto, meus primeiros agradecimentos hoje são principalmente para vocês professores, e professoras aqui presentes, mas também para todos os nossos companheiros e companheiras de trabalho espalhados pelo Brasii afora. Quero agradecer à Sônia Losito e a Maria Clotilde Curado, responsáveis peio nosso Centro de Estudos, e por isso mesmo, por este Seminário. Quem costuma organizar eventos sabe de todo o trabalho que existe nos bastidores da festa. Quando sou chamada, ou mesmo resolvo participar de um Seminário, Encontro, Mesa Redonda, Festa, por ocasião da abertura, tudo está lindo, enfeitado, organizado, o meu pensamento escapa para além dos toldos e cortinas, penetra nas coxias e encontra um grande número de pessoas, que geralmente não aparecem nas mesas de abertura.
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agradecimento,
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É a todas essas pessoas que apresento os meus agradecimentos, principalmente a Rose Feres, nossa administradora, responsável pela infra~estrutura deste Seminário. Ao Eduardo Passeto, o profissional que nos ajudou na área de comunicação e divulgação, e que vem trabalhando conosco desde julho e precisou ter algumas vezes um pouquinho de paciência para mudar o tipo de letra, escurecer ou clarear o fundo de um texto, deslocá-lo ora mais para a direita outras vezes para a esquerda e apresentar um segundo modelo para nos dar a possibilidade de optarmos pelo primeiro. Ao colegiado, às coordenadoras de curso, que abriram espaço nas reuniões de professores, nos nossos CPs semanais, muito sobrecarregados de assuntos, para que Sônia e Clotilde pudessem falar sobre o Seminário. Aos professores, monitores, funcionários, os nossos agradecimentos. A nossa gratidão à Adriana, coordenadora pedagógica das Escolas da Prefeitura, ao Professor Euclides Brasileiro Filho, nosso supervisor, ao Professor Claudiney Rodrigues Gobbi, dirigente regional de ensino, setor leste, que nos ajudaram a divulgar este evento nas Escolas Públicas, ~~unicipais e Estaduais. A todos aqueles que, por descuido ou esquecimento não foram destacados, o meu profundo reconhecimento. Depois dos agradecimentos, volto a falar ao professor, professora, sujeito e objeto deste Seminário. Por que preparar um Seminário para nós, professores? Por que colocar na programação temas como Inclusão Social, Sustentabilidade? Por que trazer para este Seminário outros tipos de experiências diferentes das que acontecem no cotidiano da sala de aula?
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Talvez essas e outras indagações nos levem a refletir sobre uma outra realidade, nos direcione o olhar para um outro quadro de referência. Equal seria? Voltaremos ao nosso tema do I Seminário - ~~udanças no paradigma. Estamos mudando de paradigma? É aqui que se situa o nosso convite para participarmos deste Seminário. Queremos e precisamos ter mais elementos que nos ajudem a pensar nesta mudança. É por isso que convidamos a Cida Davoli; Dr. Luis Orlandi; Dr. Ivan Amaral; Lúcia Helena ~~anzochi; Sandro Tonso; Paulo Ivo; ProF. Ora. Corinta Geraldi, Prof. Dr. Sérgio Leite; Prof!. Ora. Dulce Pompeo de Camargo: Rosefi Fischmann; ProF. ~~aria Clotilde Curado. Queremos aproveitar os conhecimentos e experiências dessas pessoas, refletir sobre o que eles e elas nos disseram, questionar o nosso trabalho e, se necessário, fazer a mudança no paradigma. A mudança sempre é dincil, incomoda, exige trabalho, esforço, e principalmente, coragem. Falo de uma mudança refletida, assumida, e não de uma mudança que poderia ser chamada de modismo. A sociedade exige, no momento, muito de nós, professores, e isto é bom. Significa que somos necessários. Há hoje uma maior exigência de competência. E esta competência se dá justamente quando somos capazes de perceber que mudanças devemos e precisamos fazer, para continuarmos sendo úteis e indispensáveis na formação das crianças, adolescentes e jovens. Percebemos que, com relação à transmissão de informações, os diversos meios de comunicação nos substituem muito bem. Há, entretanto, outros caminhos que nos são abertos e dos quais não
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podemos e não devemos abrir mão. Como escolher, entre a profusão de informações, o que é essencial? Como utilizá-Ias? Como fazer delas também o conteúdo de nossas aulas? Como ajudar a descobrir a serviço de quem elas (as informações) estão sendo colocadas? Hoje já não precisamos perder tempo com muitas informações, precisamos ocupá-lo (e aí somos insubstituíveis), ensinando os nossos alunos a selecionar as informações, a questioná-Ias e aprofundá-Ias. As informações recebidas precisam hoje de um outro trabalho, de um outro trato. Precisam de cuidado. Cuidar das informações é cuidar da formação de nossas crianças, adolescentes ejovens. Cuidar é trabalhar com valores. Para Leonardo 80ff, tudo o que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver. Mas não basta cuidar do ser humano, é preciso fazê-lo cidadão. E para que isto ocorra, é necessária a preocupação não só com o seu bem estar, mas também com o bem estar de todos os outros seres que vivem ao seu redor e principalmente com o nosso Planeta Terra. Porque tudo na natureza se relaciona e se inter relaciona. Hoje isso é ecologia. Para Leonardo 80ff, ecologia é relação inter-ação e dialogação de todas as coisas existentes (viventes ou não) entre si e com tudo que existe, real ou potencial. A ecologia não tem a ver apenas com a natureza (ecologia natural), mas principalmente com a sociedade e a cultura (ecologia humana, social, etc.). Numa visão ecológica, tudo o que existe, coexiste. Tudo o que coexiste, preexiste. Etudo oque coexiste e preexiste subsiste através de uma teia infinita de relação omnicompreensiva. Nada existe fora da relação. Tudo se relaciona com tudo em todos os pontos. Para formar este cidadão é preciso, é urgente, que nós, professores, comecemos hoje com nossos alunos este trabalho, dentro da sala de aula.
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conteúdo bem preparado e de maneira adequada, isto é importante, porém é ponto de partida. É necessário ir além, é necessário que ele aprenda que o cuidado com ele mesmo irá depender do cuidado que ele precisa ter com todos. os elementos que vivem ao seu redor, homens, mulheres animais, plantas, rios, mares, ar , a Terra toda. É ainda Leonardo Boff quem vai dizer - a questão ecológica remete a um novo nível de consciência mundial: a importância da Terra como um todo, o bem comum como o bem das pessoas, das sociedades e do conjunto dos seres da natureza, o risco apocalíptico que pesa sobre tudo o que foi criado. O ser humano pode ser o anjo da guarda, bem como o satã da Terra. Eu diria que precisamos revestir o conteúdo dado (conteúdo este, no seu sentido mais amplo), do manto, da vestimenta, da ternura, para nós nos tornarmos mais humanos, digo mais anjos da guarda, mais responsáveis pela nossa vida e pela vida de nossos irmãos em qualquer condição, em qualquer lugar do Planeta, tornando a vida na Terra mais habitável, mais sustentável, mais cuidada, mais igualitária e por isso mesmo, mais digna de ser vivida. (Discurso proferido por ocasião da abertura do" Seminário de Educação da ECC-outubro/ 99)
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10 a Olimpíada Uma Escola é feita de muitas partes que se juntam para construir um todo. Esta construção precisa ser bem planejada para que a junção destas partes se dê de maneira harmoniosa, formando um conjunto estético. Há ocasiões de trabalho mais pesado construído dentro da sala de aula, onde é exigida a concentração e o esforço intelectual. Há outros onde a exigência maior é a resistência física, como no estudo do meio. Outros há, onde se exige mais a criatividade, a imaginação ~ Viagem ao l"lississipi. Alguns a capacidade de se expressar, ter domínio do público - Cabeça Aberta. E ainda aqueles que exigem garra, competição, esforço físico, como a Olimpíada. Todos fazem parte do todo, do inteiro, e para que o todo funcione é preciso que cada parte cumpra o que lhe é pedido. O que é pedido desta parte que iniciamos hoje: alegria, entusiasmo, vibração, competitividade, generosidade, respeito, responsabilidade e muita garra. É preciso vestir a camisa do time. É preciso defender a cor do grupo, é preciso levantar o troféu da vitória. Porém, para chegar até a vitória, temos que passar pelos jogos, onde há ganhos e perdas, onde há momentos em que precisamos nos segurar para que o inimigo que existe dentro de nós não se manifeste em gestos de violência e desrespeito. Há momentos de cansaço nos ensaios de teatro e é preciso passar por isso para uma boa apresentação no final. É preciso ter sensibiiidade para captar momentos, situações novas e originais, para serem fotografadas. É necessário ter ritmo, graça nos movimentos para apresentar as coreografias. Há também momentos de vibrações, euforia, quando o nosso time está vencendo ou quando há um lindo gol, ou uma cesta bonita. Na Olimpíada, e esta é a décima, por isso merece mais cuidado, outras habilidades são trabalhadas como a atenção,
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destreza, equilíbrio, movimentos, determinação, pontualidade, obediência às regras. Também muitos valores podem e devem ser praticados: o respeito ao companheiro, ou companheira de time e ao adversário, o vibrar com a vitória do grupo sem ofender o time contrário; o respeito às decisões do juiz, a responsabilidade para com o grupo. Tudo isto é conteúdo que precisa ser ensinado e avaliado dentro de uma Escola. Tudo isto é desenvolver e valorizar as inteligências múltiplas. Tudo isto é Escola, é educação. (Discurso de abertura - novembro de 1999)
Nos bastidores da festa Gosto sempre de chegar com aritecedência nos dias de festa. Acho um bonito espetáculo a arrumação; é um verdadeiro balé. Quanta dedicação, cooperação, esforço e, principalmente, a criatividade que se observa neste espaço de tempo. Antes da Festa de Abertura da 10a Olimpíada, em pé na quadra, participava da luta do José Roberto, do Henrique, da Silvana e dos nossos funcionários Roberto e César para segurarem a imensa cortina branca que deveria servir como tela para o teatro de sombras. De repente uma rajada mais forte de vento arranca os ilhoses e leva para os ares a cortina branca. Era todo um esforço, um trabalho não só de um dia inteiro, mas de alguns dias, de professores , funcionários e, mais que isto, o sOnho dos organizadores que se desfazia ali. Se bem que todos, embora tristes, ficaram calmos e diziam "queríamos fazer uma grande surpresa, mas o vento não deixou." Com este espírito puseram-se em campo, em cima da escada, para retirar os pedaços que ficaram . Era
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preciso também retirar o cabo de aço que, com muito esforço, durante horas seguidas, tentaram esticar para segurar a cortina e que agora não podia mais Acar para que os alunos não tropeçassem durante as danças, uma vez que não havia mais a referência da cortina. Tudo foi retirado sob o olhar triste das pessoas que ali estavam. Porém o desencontro não acabou aí. Às 17h30min percebemos que não havia eletricidade. Tudo na Escola foi testado e notou-se que o defeito não era interno e sim externo. A eficiência da equipe entrou mais uma vez em ação - entrar em contato com a CPFL mas, justamente por ser hora de pico, o contato se tomou dificil. Pais, funcionários da CPFL, foram contatados e foi com alegria que vimos chegar a equipe de manutenção da empresa. A energia elétrica ainda custou a chegar, porém todos esperavam com calma que as "coisas" se recolQcassem novamente em ordem. Foi emocionante a explosão de alegria quando a eletricidade voltou, a Escola se iluminou e a Festa pôde acontecer com muito brilho. A Festa foi linda! ' As coreografias e as danças criadas e dançadas pelos alunos estavam perfeitas. Foi comovente a interpretação do hino da Escola pela nossa aluna Débora Macedo Costa, do 2° ano do Ensino Médio. Neste ambiente de entusiasmo, de muita dedicação e cooperação, iniciamos a nossa 10a Olimpíada. (Publicado no "Informativo", ano /5, n. 389 - /O/nov/99)
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Iniciando as aulas Todos os anos, no início das aulas, costumo escrever aos professores , funcionários e alunos. Aos professores sempre proponho, para o ano que se inicia, uma meta de trabalho. Este ano estou propondo, ou melhor, enfatiza do, o que tem sido a nossa preocupação: ensino aprendizagem. Um ensinar que resulta num aprender. Não basta ensinar, é preciso saber se o aluno aprendeu. Este ensinar ligado ao aprender exige do professor. pro essora um esforço, uma dedicação, uma co petência muito grande. O aprender também está ligado a uma atitude ativa do aluno de querer aprender. O querer aprender traz embutido o prestar atenção, ficar ate to no que está sendo proposto, nos dados que lhe são oferecidos para co stnJir o seu conhecimento. No sign ificado que o ai no atribui aos novos conteúdos. Nas relações que consegue estabelecer entre o ovo conteúdo e seus conhecimentos anteriores. Isto equer esforço. Existe todo um trabalho mental a ser feito. É preciso querer aprende . E é para isto que tento chamar a atenção dos professores como despertar no aluno o .uerer aprender? É o grande desafio do ano 2000. Desafio dificil, que precisa de estudo, pesquisa, observação de toda uma eq ipe e da ajuda de nosso agente principal - o aluno. Aos fundo ários e funcionárias escrevo sempre comentando o esforço, a dedicação e carinho com - que preparam tudo para receber os alunos. e ainda cuidam da manutenção do dia-a-dia da Escola. Tento mostrar-lhes sempre que eles são educadores. Aos alunos, tento fazê-los reftetir sobre a condição de ser aluno - qua tos hoje não podem estudar. De ser aluno de uma
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Escola Particular, que se preocupa em lhes transmitir conceitos e valores. Foi frente a esta situação que achei que deveria também escrever aos pais, os primeiros responsáveis pela educação de nossas crianças e jovens. Vocês trazem hoje os seus filhos para a Escola. O recomeçar do ano traz sempre novas esperanças, novas descobertas. Quantas vezes durante as férias vocês conversaram sobre a Escola, sobre seu aproveitamento e da necessidade hoje, mais que nunca, de se preparar bem para ser uma pessoa competente! A competência prepara-se, elabora-se, faz-se no dia-a-dia, ano após ano. Aponto na competência a presença de valores -:- a conquista honesta feita com esforço próprio, a cooperação, a ajuda a quem necessita, o respeito pelos outros e muito mais. Sei que esta conversa não é só de férias, ela perdura durante o ano, principalmente nos momentos de aproximação maior. Penso ser importante a reflexão que os pais fazem com seus filhos sobre o significado da volta à Escola na idade em que estão. É importante que saibam que um gasto é investido para que possam ter um estudo melhor, para depois, na sua profissão, atuarem, da melhor forma possível, para os outros, brasileiros, seus irmãos. É bom saber que muitas vezes a família se priva de algumas coisas para oferecer ao filho ou filha um estudo melhor. É necessário, é importante saber que alguns colegas ' não voltaram porque não podem mais pagar uma Escola. Esta conversa precisa acontecer num encontro gostoso, amigável, e não no momento de um deslize escolar. Por que toco neste assunto? Nós, os adultos, não podemos ficar indiferentes a esta situação de injustiça social - crianças e jovens não podem estudar porque precisam trabalhar ou pedir esmolas para se sustentarem e ajudar as famílias. Outros não podem
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estudar porque não há Escolas, ou foram afastados delas pelas enchentes, desmoronamentos. Nós, os adultos, precisamos ajudar os nossos jovens a terem mais esperança e tentarem trabalhar por um futuro melhor, deles próprios e de todas as outras crianças e jovens. Falo aos pais e mães porque sem vocês nada, ou quase nada, a Escola pode fazer neste terreno. (Enviado aos pais em fe vereiro de 2000)
Querídos alunos e a/unas Hoje vocês retomam às aulas. Vêm cheios de novidades e esperanças. Espera ças de um ano melhor, onde muitos dos sonhos serão realizados - a conquista amorosa, ir bem na Escola, resolver os problemas de família. Esperança de um mundo melhor com menos violê da, maior oportunidade de emprego. Um Brasil onde as crianças não precisem ficar nas r as e que todas as crianças possam freqüentar uma Escola. Sempre no iníc"o das aulas costumo escrever-lhes. O bom seria que eu pudesse falar com cada um ou uma, com cada classe, para lhes dizer que sejam be -vindos. junto com esta acolhida e o desejo de que voces realizem todos os sonhos, coloco sempre alguma coisa para 'odos ós refletirmos. Esta reflexão não é para diminuir a alegria da chegada, do reencon ro com os colegas. Não é também para tirar o sabor das férias. É para nós irmos um pouco mais além do nosso eu, de nossa família. É para pensar um pouco nos outros jovens.
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Vocês voltam para a Escola - saíram, passearam, tiveram boa alimentação, não passaram por situações dificeis, como enchentes, desmoronamentos e outros sofrimentos deste tipo. Voltaram para a Escola lindos, lindas, de uniforme limpo, material novo, condução fácil, bem alimentados, e isto é muito bom e necessário. Encontram a Escola lavada, arrumada, tudo preparado para recebê-Ias e recebê-los. Isto também é necessário e faz parte de uma Escola: Entretanto, gostaria que vocês olhassem um pouco para a nossa realidade de Campinas, de Brasil, sem fazer disso um drama; mas para abrir horizontes e começarmos a pensar numa mudança de ·situação. Vocês voltam para a Escola; porém quantos hoje não podem fazer isto? Porque não têm condição (precisam trabalhar), não descobriram a necessidade da Escola (andam pelas ruas) , ou não voltam porque perderam a casa, ou quase tudo, porque as enchentes destruíram; e outros ainda porque onde moram não há Escolas. Aiguns podem me perguntar - o que tenho com isto? Tudo, ou nada? Tudo, se você é uma pessoa consciente. Desde cuidar do lixo para que ele não entupa os bueiros, não sejam lançados aos rios, a se preparar para ajudar a escolher candidatos para a próxima eleição, que sejam sensíveis a estes sofrimentos, e até você mesma, ou mesmo, fazer alguma coisa para um menino de rua ou o filho de sua empregada. Você é capaz de descobrir maneiras de mostrar que não é insensível a todo este sofrimento. Outra coisa, lembre-se de mostrar reconhecimento e respeito por todos aqueles que trabalharam para que hoje você encontrasse tudo em ordem para começar o ano - seus pais, funcionários de sua casa e da Escola, e outros. Bom começo de ano! (En viado aos alunos em fevereiro/2000)
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Começamos um novo ano de trabalho. Cada ano traz novas expectativas, novos sonhos. E é isto que nos mantém vivos. É bom e necessário fazer planos e sonhar. Durante as férias vocês puderam trabalhar mais tranqüilos, porque não havia alunos. Agora eles voltam, e o serviço precisa continuar sendo feito com eles. Eíes são a razão de nosso trabalho. Cada vez q e falo desse assunto lembro-me da sabedoria de D. Nai . Ela havia acabado de varrer e alguém deixou cair ou jogou um pa . Ela pacientemente voltou com a pazinha e recolheu. la passando, percebi o fato e disse-;he: - Esses alunos! Ela me respondeu: - Se eles ão existissem nós todos não estávamos aqui . - Está certo D. Nair porém todos nós precisamos ajudar esses alunos a també serem colaboradores. Vocês tfab arêl.l muito e bem durante as férias. A casa es á linda, tudo li po e e ordem. Hoje eles e elas (alu as e alunos) oltam e o nosso trabalho contin a com compro isso a mais - ajudá-los, com palavras adequadas, a serem I ais respo sávei s, mais colaboradores, sem ra' ,po ém muito mais com nosso exemplo. Vocês odos são educadores e é como educadores que precisa os rabalha . Bom trab ho! (Enviaáo aos funcionários em fevereiro/ZOaa)
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Princípios e Valores
Não queremos pertencer ao grupo dos ingênuos · que pensam que a nossa reforma irá reformar o mundo, mas não queremos pertencer ao grupo daqueles que cruzam os braços e esperam as grandes mudanças ou as mudanças nas altas esferas nacionais e .mundiais, para que o nosso pequeno mundo mude. Pertencemos ao grupo daqueles que acreditam que a mudança deve ser feita nos dois íveis, porém ela só acontecerá em nível maior (na macro estrutura), se for experienciada, vivenciada em nível menor (micro-estrutura) . Amélia Pires Palerma
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Onde começa a "dominação" Quando o Conselho de Pais · levantou o problema dos maiores estarem tomando os brinquedos e o lanche dos menores, pedimos a colaboração dos pais, não só numa parte mais prática (trazer lanche), como também levantamos a questão para que todos nós fizéssemos , sobre este assunto, uma reflexão mais profunda. Preocupa-nos muito, como educadores, esta atitude de nossos alunos mais velhos com relação aos menores, não só no caso do lanche e brinquedos; isto é apenas um incidente dentre outros. O que nos preocupa é como fazê-los perceber que assim procedendo estão reproduzindo exatamente o jogo de um sistema. Discutimos, em classe, a dominação dos países desenvolvidos ou independentes sobre os países subdesenvolvidos e não conseguimos ajudá-los a perceber que esta situação se reproduz em todos os níveis. Todos os dias sentimos a revolta da exploração de uns pelos outros e não tomamos consciência de que, dentro de nossa casa, de nossa Escola, de nossa profissão, pode e deve estar havendo esta dominação. Muitas vezes encontramos maridos dominando mulheres, pais dominando filhos, professores dominando alunos, diretores impondo a sua força sobre os professores, patrões sobre os empregados e colegas sobre colegas. Não seria o caso de pararmos um pouco e revermos toda a nossa estrutura grupal: família, Escola, trabalho? Não queremos pertencer ao grupo dos ingênuos que pensam que a nossa reforma irá reformar o mundo, mas não queremos pertencer ao grupo daqueles que cruzam os braços e esperam as grandes mudanças ou as mudanças nas altas esferas nacionais e mundiais, para que o nosso pequeno mundo mude. Pertencemos ao grupo daqueles que acreditam que a mudança deve ser feita nos dois níveis, porém ela só acontecerá em nível maíor (na
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macro-estrutura), se for experienciado, vivenciado em nível menor (micro-estrutura) . Esta tarefa não é só da Escola, porém de todos nós. Não adianta fazermos belos discursos, se a nossa postura frente a pequenos fatos é de imposição, dominação. Quando permitimos, dentro de nossa casa, de nosso trabalho, que alguns sejam sufocados por outros, estamos aumentando a dominação, portanto, reforçando esta estrutura. QU<l.ndo pessoas são tratadas diferentemente por pertencerem a sexo, cor, ou classe social diferente, estamos contribuindo ' para a permanência deste estado de coisas. A Escola pode e deve dar a sua contribuição neste particular, porém, a sua atuação será mínima se outras instituições também não começarem a mudar. (Publicado em "O Comunitário" - ago/set 1979)
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A grandeza dos pequenos gestos Em nossa Escola começa a ser introduzida uma atitude pela qual há muito vínhamos lutando, porém ainda não havia passado para os nossos corações. Ela existia em nossa mente, porém não havia se incorporado em nós. Só depois que o valor é incorporado é que começa a ser traduzido em atos. Quisemos sempre que os presentes dados a alguém trouxessem, no seu conteúdo, alguma coisa de pessoal. Gostaríamos que cada presente fosse único, porque ele é dirigido a uma única pessoa - a pessoa a quem queremos bem. Quando descobrimos a alegria das crianças, em pintar em conjunto um quadro, uma pintura para ser oferecida a um coleguinha que faz anos, isto nos alegrou muito. Quando ouvimos de algumas pessoas que os filhos se recusam a comprar um presente para dar aos pais, no seu dia, e que trabalharam o sábado todo para construir um peso de papel, um cinzeiro ou outro presente e que, muitas vezes, saiu até mesmo torto, isto para nós foi de uma imensa alegria. Vivemos num mundo onde o valor é dado aos grandes e luxuosos presentes e vamos perdendo a sensibilidade para perceber que o importante é o tempo que "você gasta com sua rosa... " Estas atitudes de nossos alunos e filhos precisam ser valorizadas, porque são estes pequenos gestos que dão a grande dimensão da nossa sensibilidade de homem, a grande dimensão do nosso amor. (Publicado em "O Comunitário" - out/79)
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Lição de moral? Como professores sempre temos a tentação de dar lições: lições de i"iatemática, de Português, de Ciências, e muitas vezes não escapamos, como todos os professores adultos, de dar as nossas .Iições de moral. Não sei se é lição de moral, porém, diante de certas situações, não podemos nos calar, e achamos que devemos emitir nosso modo de pensar se quisermos ser educadores. Não sei por que, se por coincidência ou defeito profissional, quase sempre enxergo os fatos, quer andando despreocupada pelos corredores, recreios, quer substituindo os professores, quer nas entradas e saídas, e mesmo dando caronas para alunos da Escola ou de outras escolas. Porém, um fato me fez pensar e questionar tod o o esforço de uma educação dada por uma Escola. Um menino de seus 11 anos exibia uma caneta dada de presente pelo pai, que a trouxe dos Estados Unidos. Até aí, tudo bem. Que mal existe em um pai viajar para os Estados Unidos e trazer de presente uma caneta para seu filho? Que mal existe em ele, satisfeito, mostrá-Ia aos seus colegas? Também não acho que nenhum companheiro ficará frustrado porque seu pai não viajou pelos Estados Unidos ou pela Europa. Isto é tão comum hoje em nosso meio! O que me chamou a atenção foi quando o menino, pegando da caneta, fez sua exibição. Escreveu o nome do colega, e depois de mostrar orgulhosamente para os companheiros, perguntou: - Isto não é uma escrita comum? E, pegando de uma borracha, pediu para todos examinarem-na e fez a mesma pergunta: - É uma borracha comum? Os companheiros, meio espantados, meio desapontados, responderam em coro: - Éééé... E, pegando da borracha, apagou o que havia escrito. E, para completar, disse: - Pois nós, em casa, agora usamos esta caneta para
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a tentação de dar lições:
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apagar as horas marcadas nos talões da zona azul. Não é legal? Um outro ·mais gaiato completou: - Que bacana, agora a gente faz a pro;a. e depois c:e o professor corrigir, a gente apaga e faz certo, ass ;n-> a gente engana o professor. QiJe fazer diante deste caso? Calar? Conversar com o aluno, dizendo que seus pais estão agindo erradamente? Teria a nossa fala valor diante de atitudes pequenas, porém tão concretas? Diante do exposto, como iria se sentir: um herói, um vilão? Como educar ta·s alunos? Precisamos urge te, de uma resposta. (Publicado em "O Comunitário" - out/80)
Quem transmite valores? lal existe em ele, satisfeito, não acho que nenhum ai não viajou pelos Estados oje em nosso meio l : ~ : :: " quando o menino, pegando ome do colega, e depois .de -: :: _:-.l.rmeiros, perguntou: - Isto não .: - - -: € uma borracha, pediu para ~ - .... a pergunta: - É uma borracha ~ _ :::: aJ tados, meio desapontados.
Não sei se por mania ou por defeito de profissão, sempre procuro refletir sob e os fatos acontec"dos no dia-a-dia. Cada frase, cada gesto, cada palavra, muitas vezes me fazem investigar seu significado mais profu o. Is o algumas vezes é bom, outras vezes to a-se ta bém um defeito; porém, é com este meu jeito que tento aprender a viver, retirar minhas lições e, quando possível, transmitir aos outros um quinho desta vivência. Hoje, quinta-feira, dia 16 de o t bro, um caso me fez refletir muito. Não que o caso em si, acontecido corr.o aconteceu, e vindo de quem"veio, tivesse mai r signrricado porém, o que ele representa em termos de valo es aceitos uase que automaticamente pela nossa sociedade.
: ::.: -gou o que havia escrito. E, para :~
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Até onde uma sociedade deformada vai vinculando os seus valores em todos nós, crianças, adolescentes e adultos? Até onde a assimilação vai-se fazendo sem mesmo tomarmos disto consciência? Aconteceu este fato numa determinada série: entrei em classe para substituir um professor que havia saído com um grupo de alunos para um Estudo do Meio nas Cidades Históricas; um grupo de alunos ficou fora da classe tirando retratos. Depois de iniciado o trabalho, o grupo resolveu entrar, e eu, simplesmente, impedi que entrassem, porque seria atrapalhar um trabalho que estamos tentanto fazer com os alunos - respeitar alguns limites. (Tudo isto está sendo contado para entendermos o que vai ser colocado depois). Na saída, um aluno, brincando, me fez uma proposta: Quantos "barões" a senhora quer para não me suspender da aula? Levei o caso na brincadeira, porque conheço o aluno' e sua família. Sei que isto não é de jeito nenhum feito em sua casa. Entretanto, na brincadeira, o aluno trouxe à tona um costume tão comum em nossa sociedade - o suborno. Hoje, em nossa sociedade, quase tudo é feito na base do ajeitar as coisas, da compra, da mentira, do suborno. Éisto que vemos e ouvimos por aí, e é por isto que este costume começa a ser objeto até de nossas brincadeiras. Penso que, pelo menos nós, os adultos, precisamos deixar de brincar com coisas tão sérias e de efeitos tão funestos para os nossos adolescentes. (Publicado em "O Comunitário" - nov/80)
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É difícil arrumar a própria casa Quarta-feira, dia 5 de novembro, viemos ao Colégio para participar de uma mesa-redonda sobre alimentação, que, aliás, foi muito boa. Pena que poucas pessoas dela participaram. Durante os debates, muitos pontos para nossa reflexão foram levantados; um deles, no entanto, nos tocou muito - a competição que está ocorrendo com as nossas crianças em relação ao lanche. Cada criança quer trazer uma novidade para a hora do lanche; isto não só aumenta o consumismo, como estabelece entre as crianças uma competição - quem trouxe o melhor chocolate, o último lançamento das guloseimas, o lanche mais sofisticado .. . Isto nos faz pensar - existe coerência entre não aceitar alimentos e presentes na Semana da Criança e depois deixar que isto aconteça dentro da Escola? Seria trabalho só nosso ou isso não merece dos pais uma maior reftexão e uma tomada de posição? Não seria este um bom assunto para ser discutido pelos pais, no Conselho de Pais? Será que a competição e o consumismo só existem em relação ao lanche ou existem também em relação ao material escolar - um lápis diferente, um caderno mais caro, um estojo último tipo? Não estará existindo também esta competição no uso do tipo e marca das blusas e calças? Será que, como educadores, não estamos deixando passar estas coisas? Num traje aparentemente simples pode existir uma grande sofisticação, se a blusa precisa ser de tal marca ou comprada em tal "boutique". Nessa idade, a pressão do grupo é muito grande, e se para alguns isto não é valor, a postura dessas pessoas pode acabar abalando valores de outras pessoas. Penso ser hora de nós, adultos,
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pararmos para uma reflexão (pais e professores) e nos perguntarmos - que valores queremos que nossos filhos e alunos tenham? (Publicado em "O Comunitário" - dez/3D)
Dia Nacional de Luta .- 1o de outubro de 198 1 Educar é um ato político, por isso de maneira alguma podemos dize que a Escola nada tem a ver com a política. Escola alguma é neutra. Oproblema, entretanto, que se coloca para nós, educadores, é como educar politicamente os nossos alunos. O impasse é grande. Todos nós temos as nossas posições tomadas - isto é política. QUando tomamos uma posição , se somos sinceros e honestos, a tomamos depois de toda uma reflexão e apoiados em dados que para nós são, no momento, verdadeiros. Uma vez assumida esta posição, queiramos ou não, nós a transmitimos pela ossa fala e muito ais pela nossa postura. Sabemos que não podemos impor o nosso modo de pensar e de ser. Não pretendemos e nem mesmo podemos ter esta pretensão, porque cada um já tem elementos trazidos de casa que entram em sintonia ou em choque com os nossos. Até aí tudo nor aI. O confronto é bom desde que não seja insuportável. Co o educadores tentamos transmitir a nossa mensagem, uma mensagem na qual acreditamos e justamente nos define como educadores de um determinado tipo. Se somos de um determinado jeito, é este jeito que podemos transmitir aos nossos alunos.
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Diante de cada fato, a equipe de professores toma posição e tenta colocar a sua posição para os alunos. Esta posição pode e deve ser confrontada com a dos alunos. Diante deste fato, Dia Nacional de Luta, tomamos a nossa posição - informar e discutir com os alunos os valores que envolviam o acontecimento. Oy'g,[9r solidariedade, denúncia de injustiças, posicionam€nto, ependendo da idade de cada grupo. Com os pequenos, desenvolvemos atividades no sentido do valor - solidariedade, cooperação, sem nos preocuparmos com a data. Com os maiores · tentamos aliar as duas coisas - ligar determinados valores com o acontecimento. As 5~ séries trabalharam com recortes de figuras tentando compor a realidade atual. Depois de feito b cartaz, as equipes contaram para os demais colegas o significado das figuras escolhidas. Beth, Bel e mais Beatriz vibraram com os alunos. As 6~ séries saíram para dar um passeio pelo bairro. Queríamos que constatassem a grande miséria existente numa favela. A única indicação era observar o que mais os tocasse na caminhada. Chegando na classe, divididos em grupos, eles foram levantando e registrando as impressões sentidas. Apó s este trabalho, com Nilsa, Ivan e Beatriz, começaram, em assembléia, os debates. Saiu de tudo. Muitos foram capazes de captar a problemática das favel as. Pessoas que vivem em situação desumana. Perceberam a situação de violência e por isto de injustiça em que vivem nossos semelhantes. Outros ainda não são capazes de captar a problemática e continuaram pensando que nas favelas vivem os preguiçosos, os marginais. Vivem ali porque querem. Não podemos criticá-los, porque muitos de nós, adultos, ainda assim pensamos. Como educadores, tentaremos mosirar-Ihes outra realidade, porém cabe a todos nós a responsabilidade de assim pensarem.
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As 7""5 e 8as séries fizeram um debate sobre problemas atuais. Aliás, a 8a série já vinha apresentando durante as aulas de História, seminários onde os problemas atuais eram debatidos: desemprego, saúde, inflação e educação. Como dois trabalhos levantaram maior questionamento, estes foram escolhidos: desemprego e inflação, para serem debatidos também com a 7a série. No final do debate, Henrique e Paulo tentaram mostrar a correlação dos temas debatidos com a data. Oçolegial partiu para a exibição de um filme montado pelos próprios alunos do 3° Colegial, "Nossa Gente". Exibido o filme, os alunos tentaram analisar todos os problemas focalizados no filme. Feito o levantamento e estabelecida a discussão, foi fácil chegar à conclusão da necessidade de todos se uni rem para denunciar a situação de injustiça que vivem muitos de nossos irmãos. Resolvemos assumir a problemática que levou os trabalhadores a programarem um Dia Nacional de Luta, porque achamos justa a causa e porque achamos que os nossos alunos precisam parar e pensar sobre o assunto. Não queremos nem esperamos que eles resolvam o problema, porém que, pelo menos, conhecendo o fato, tentem tomar uma posição mais tarde. Uma posição madura e consciente, qualquer que ela seja. . (Publicado em "OComunitário" - out/nov 81)
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ESCOLA COMUNITÁRIA DE CAMPINAS BIBLIOTECA O2 8 49 9
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As minhas indagações Pela minha experiência de vida e de trabalho, acho que a criança, o adolescente, e mesmo nós, adultos, devemos ser educados até mesmo em nossos sentimentos. Não digo aquela educação formal - boas maneiras - de pessoa bem educada. Falo de outro tipo de educação - a educação dos sentimentos. Os psicólogos que me perdoem, não sei se posso dizer isto, porém não estou preocupada com termos e sim com a idéia em si. Penso (posso estar totalmente errada, e gostaria que me entendessem) que a criança deva aprender a ter gestos de carinho, de gratidão, de delicadeza. Sei que esta aprendizagem não se faz através do discurso falado. Ela se faz através da aprendizagem concreta. A criança, o adolescente, precisam perceber em nós, adultos, certos gestos, não para imitá-los, porém para serem capazes de ir além da casca e penetrar no seu interior - descobrir que o ato externo traduz um sentimento interior. Acho que nós, adultos, muitas vezes porque não aceitamos as datas marcadas (o que acho certo), outras vezes pelo excesso de serviço (aqui ponho minhas dúvidas), vamos nos esquecendo de certas delicadezas que nos realizam como pessoas humanas e ajudam na realização dos outros. Tudo isto veio à tona quando recebemos um cartão da 6a série A homenageando os professores. Alguém deve ter tido a idéia. Este alguém talvez tenha sido educado na sua sensibilidade. (Publicado em "O Comunitário" - outubro 83)
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Para vocês, alunos do 3 o ano Colegial Vocês foram para nós este ano um desafio muito grande. Houve mesmo determinados momentos em que cheguei a me perguntar - onde falhamos? Nas nossas conversas, quantas vezes vocês mesmos chegaram a me dizer - "Se somos assim, é porque assim vocês nos educaram." Ao mesmo tempo que admirávamos a precisão e a esperteza intelectual na discussão dos fatos, ficávamos extremamente preocupados com o questionamento amargo, a insensibilidade com .relação ao sofrimento das pessoas e a ausência de auto-crítica em relação a vocês mesmos. Só voces estavam certos. mundo dos adultos era completamente errado. Quantas vezes não foi possível o diálogo! Quantas vezes gostaríamos de ter começado tudo de novo. Quantas vezes nos perguntávamos o porquê de tanto descontentamento. Entretanto, quando olhávamos para cada um de vocês, tudo era diferente! Cada um trazia dentro de si uma riqueza imensa que precisava ser colocada para fora. Cada um de nós, professores ou coordenadores, ficava torcendo para esta virada. Que o bom, o admirável, o sensivelmente belo que existia dentro de cada um de vocês viesse à tona e desse um outro tom ao grande concerto. Talvez mesmo ela tenha .se dado, porém nós, professores e coordenadores, não soubemos perceber. que importa hoje é que aqui estamos para dizer: nós queremos muito bem a vocês. Talvez a nossa falta de jeito não deixasse vocês perceberem este amor por vocês.
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E talvez também o jeito diferente de vocês serem como classe nos impedisse de entender a mensagem de amizade, de carinho, que vocês talvez tentassem nos transmitir. (Publicado em "O Comunitário" - dez/84)
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Aprática da cidadania No dia 17/11/99 recebi de um grupo de alunos e alunas do 10 ano B do I Ciclo uma carta muito bem escrita, onde os autores, depois de se apresentarem, dizem - "Nós estamos estudando os cuidados com o ambiente de nossa escola e observamos que têm pessoas que não estão cuidando dos espaços" .. . "O outro problema é que a escola não separa o lixo e nós achamos importante separar o lixo para aproveitar de novo" .. . Queremos muito ter latões na escola. Se você puder nos ajudar, vai ser muito bom. Muito obrigado". Assinam todos os alunos e alunas da classe. Ao ler a carta, diante da expectativa das crianças, tive ímpeto de solucionar logo o problema. Dizer a estas crianças que iria pedir para providenciarem algumas latas 'para a separação do lixo. Felizmente uma pessoa ao meu lado fez uma intervenção que me ajudou a pensar. Pedi a estas crianças um ter.:po e disse que logo que pudesse daria uma resposta. Hoje, dia 23, voltei à classe para falar com as crianças. Expliquei-lhes que seria fácil providenciar alguns latões para que eles pudessem colocar o lixo, porém não iria fazê-lo porque precisava que eles me fornecessem mais dados para que pudéssemos fazer um trabalho sério, eficiente e duradouro.
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Como as professoras desses alunos e alunas estão levantando problemas, ou mesmo problematizando situações para que os alunos busquem soluções, levantei a questão: - Há neste bairro coleta seletiva de lixo? Eles não souberam responder! Arrisquei: - Como saber? Um aluno levanta a mão e responde: - Precisamos pesquisar. - Onde? - Com os vizinhos ou na Prefeitura. Combinamos que depois da pesquisa voltaria para conversar. Foi levantado o problema, e eles se dispuseram a procurar dados para resolvê-lo. Penso que se esses alunos continuarem sendo questionados e ao mesmo tempo ajudados na busca de soluções serão, com certeza, cidadãos muito mais atuantes do que temos sido até hoje. (nov/99)
Natal: rensascer da solidariedade Há uma falha lamentável na formação de nossas crianças e jovens de classe média que estudam em escolas particulares. Eles vivem num ambiente muito restrito e não têm, se a família não proporciona, contato com as classes menos favorecidas da sociedade. A Escola também tem seus limites e hoje está muito sobrecarregada. Atualmente, porém, começa a redescobrir o seu papel: trabalhar de maneira sistemática com valores, tais como: respeito, solidariedade, coerência, busca da verdade.
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Faltava em nossa Escola um trabalho mais sistemático de contato dos alunos com outras crianças, com outra realidade. É importante para a formação dessas crianças e jovens uma outra leitura do mundo. É verdade que os professores e professoras fazem muito bem o que pode ser feito dentro da estrutura de Escola. Abordam com seus alunos a problematização social e usam artigos de jornal, revistas, e muitos outros textos. Discutem o problema, fazem painéis, porém falta o contato físico, o olhar de perto para uma outra realidade. Várias tentativas foram feitas, porém faltava um grupo que assumisse o trabalho. Felizmente isto aconteceu com o ressurgimento da Comissão Solidariedade. Um grupo de professores, funcionários, pais e alunos assumiu com muita garra, entusiasmo e perseverança este trabalho voluntário. Muitas coisas já foram feitas, muitos brinquedos já foram resgatados, muitas sacolas já foram montadas. Creches e outras instituições foram visitadas. A solidariedade faz mudanças notórias nas pessoas. Depois de um trabalho com os excluídos; ou pela pobreza, ou pela deficíência, ou por ambas, o modo de pensar dessas pessoas muda muito. Este ano, a Comissão Solidariedade iniciou uma nova campanha para o Natal: para as crianças pediu brinquedos e para os idosos, uma toalha de banho e uma lavanda; uma camiseta tamanho Ge uma lavanda, e/ou um par de meia para homem e um para mulher e uma lavanda. A lavanda foi constante para alegrar, perfumar a vida de alguém que é, muitas vezes, excluído pela pobreza e pela idade. Foi durante esta Campanha que um fato entre muitos me chamou a atenção. Ia para uma reunião, e para não subír muitos degraus, me dirigia ao Bloco I pelos fundos, pela rampa, quando encontrei com Cristina Cruz (Coordenadora do Curso Infantil) trazendo pela mão um aluno do Infantil que segurava firme uma sacola.
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Cristina disse: - D, Amélia, a senhora sabe o que este aluno vai fazer? -Não! - Estou mostrando a ele o lugar, a caixa onde deve depositar o brinquedo que trouxe para as crianças pobres, - Você trouxe o presente? ~ perguntei, e o menino me respondeu com imensa alegria. - "Da minha classe só eu se alembrei de trazer." - Você se lembrou sozinho ou alguém ajudou você a se lembrar? -' "Minha mãe se alembrou mas eu é que se alembrei minha mãe.. - E agora não há um jeito de você ajudar os seus colegas a se lembrarem do brinquedo? E a resposta foi imediata. - Eu vou se alembrar os meus amigos. Cristina conduziu o menino e eu continuei o meu caminho pensando: houve uma conversa entre esta mãe e o filho ~ eu lembrei minha mãe e ela me lembrou. Houve parceria, comprometimento, cumplicidade. E ele trouxe o presente. A nossa intervenção apenas despertou nele a atitude já vivenciada com a mãe ~ eu vou lembrar os meus amigos. A intervenção da mãe foi tão eficiente que levou o filho a uma ação ~ trazer o presente; foi mais além ~ ser o multiplicador dessa ação ~ lembrar os colegas. Este menino me fez vivenciar o Natal, porque Natal é isto ~ o renascer da solidariedade, do amor entre pessoas. (Publicado no "Informativo" ano 15, n. 392, 01/12/99)
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Andanças, muitas andanças! que este aluno vai fazer?
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Saía da reunião do Colegiado ( por ter sido chamada) e na volta, ao passar pelo corredor do prédio do I e 11 Ciclos, vi duas meninas com o pano de chão no pé enxugando o banheiro feminino. Entrei e perguntei-lhes: - Oque vocês estão fazendo? - Limpando o chão que está molhado! Antes que eu falasse qualquer coisa, a menorzinha virou-se para mim e disse: - Eu que tive a idéia, e ela está me ajudando. Cada vez que o chão estiver molhado nós vamos enxugar. - Que coisa bonita! Como vocês se chamam? Imediatamente disseram-me os nomes. - Quem é a professora de vocês? - Deise! - Deise sabe que vocês são tão boas meninas, cooperado ras, preocupadas com a limpeza da Escola? - Sabe, é ela que nos orienta: . Saí acreditando mais na educação. Saí mais esperançosa. Saí refietindo sobre a necessidade do trabalho com valores. Deise foi capaz de ajudar estas Cuas meninas lindas a descobrirem o valor da ajuda, da cooperação, e ainda mais, foram capazes de usar a palavra adequada - é ela que nos orienta. Ao voltar para a reunião do Colegiado, comentei o fato com os demais coordenacores. Mileine e Eliane lembraram-me que as classes dos 1°s anos do I Ciclo estão trabalhando no projeto Escola e faz parte do projeto o cuidado com o ambiente, a limpeza da Escola, a cooperação com o trabalho dos funcionários de limpeza e muito mais.. . Que bom ter professores como a Deise (e temos várias), cada uma com a sua própria característica. Que bom ter alunas como estasl Etambém são várias, muitas.
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Agora é preciso um trabalho de conjunto de toda a Escola e das famílias para que essas duas meninas e muitas outras e outros que há, não percam o que lhes foi eficiente e carinhosamente ensinado. E o melhor meio de ajudá-los é nós mesmos, os adultos, começarmos a ter atitudes semelhantes. (Publicado no "Informativo", n.393, 01/ 12/99)
Três casos... uma só história! Na 2a feira à tarde a Escola se preparava para a abertura da 10 Olimpíada. Era toda ela uma grande agitação. Um agitar sadio, alegre, de preparo de festa, ensaios, arrumação do ambiente, busca de material e ainda distribuição de camisetas. Cada aluno ou aluna estava à procura da camiseta da cor de seu time. Alguns a vestiam imediatamente e outros a guardavam dobrada, envolta em saquinho plástico junto de sua bagagem. Foi justamente em tal situação que percebi o diálogo entre dois meninos: - Você já vai vestir a camiseta? E se amanhã ela estiver suja? - Não tem ímportância, se sujar eu lavo. Depois de lavada, coloco Bijou e ela fica limpa e perfumada. - Bijou? Oque é Bijou? - É um amaciante, sempre eu o coloco em minhas roupas. Não agüentei e intervim: - Mas você é entendido no assunto! Sou eu que lavo a minha roupa, disse o menino com toda a desenvoltura. Minha mãe trabalha o dia inteiro, não posso deixar tudo para ela. Lavar minha roupa é um meio de ajudá-Ia. a
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preciso um trabalho de conjunto de toda a Escola e que essas duas meninas e muitas outras e outros rcam o que lhes foi eficiente e carinhosamente ~h meio de ajudá-los é nós mesmos, os adultos , . atitu es semelhantes.
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(Publicado no "Informativo", n.393, 0 1/fZ/99)
uma só história!
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Fiquei parada e só fui capaz de dizer: - Que linda a sua atitude, que mãe feliz! Eos dois se foram alegres para a quadra de esportes, Acompanhei os meninos com o olhar e fiquei pensando esta mãe é uma excelente educadora. Foi capaz de fazer o filho entender a necessidade, o valor da cooperação. Foi capaz de ajudá-lo a se preocupar efetivamente com o outro, conseguiu que o filho , embora pequeno (10 ou 11 anos ) assumisse uma tarefa de maneira rêS sável, eficiente, e pelo que pude observar, sem traumas, sem rancor, pois o mesmo falava co o colega sobre o assunto com toda a a: alidade. Esta mãe é 'el'z por er um filho assim, e este fi lho é feliz por mãe que ' i ca az e despertar nele a solidariedade e a
coopefação. ESie caso e arcou mu'to pela aturaJidade do menino e ta vez a bé pelo fato de e er deparado uma semana antes com episódio u' se nan e. U ai a' me procurou para falar sobre o seu não uso do ifo e. Es. :ui P ' -que os monitores resolvem muito bem es'ô , casos. PrO( '- o e peiCebi q e, por diversas vezes, dito por
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responsabilidade, o desrespeito aos colegas que vinham de uniforme e também a sua falta de compromisso com a verdade. Refletíamos ainda a sua maneira de escape. Depois de toda conversa quis saber: - Mas por que você se recusa a vir sem o uniforme?" - Minha mãe trabalha o dia todo, chega cansada em casa e não tem tempo de lavar roupa. - O que? E você, por que não lava a sua roupa? Você, um rapaz desse tamanho, deveria lavar a própria roupa. - Não sei lavar, disse-me o rapaz. Nunca lavei nada. Tentei ensiná-lo a lavar roupa. Entretanto, o meu ensinar não foi tão eficiente quanto o do menino, pois nem me lembrei do amaciante. As minhas histórias verídicas terminariam aqui se não me deparasse com um outro fato na 6a feira, dia 05. Saía às 10h30min da reunião do Colegiado e passando pela frente da sala onde os alunos, ao entrarem para a aula de Educação Física, retiram seus tênis, deparei com uma cena. Um aluno de 7 ou 8 anos, só de meias, raspava os pés no chão. - Por que você está fazendo assim? - perguntei-lhe. - Quero encardir bem as meias para dar trabalho para quem for lavá-Ias! Fiquei paralisada, sem iniciativa. E o menino entrou na sala de aula. Precisei parar para pensar. Passei o caso para a Mariza (Coord. de I e /I Ciclos), porque é preciso um trabalho continuado. Confio no bom senso e na competência da Mariza, sei que um longo trabalho será feito com o aluno e que não ficará só na conversa. Sei que ela irá tentar 'descobrir o porquê da revolta, do sentimento de vingança. O que o está perturbando, a quem ele estaria agredindo, e por que. Sei ainda que terá todos os dados para analisar, se é um gesto isolado ou é algum ato constante. Tenho
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colegas que vinham de uniforme _ _ -:: -:- _r:,..,.. ;550 com a verdade. Refletiamos - __ :.:: ~ _ - ': . OIS de toda conversa quis saber: -==' := 'e: ~ sa a vir sem o uniforme7" -- -:: : -:: lodo, chega cansada em casa e
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certeza de que irá acompanhar, através da professora, o trabalho a ser feito com este aluno. Isto é educar, é trabalhar com valores, é ajudar na formação da personalidade moral. Tenho certeza de que este aluno, se não chegar a lavar as suas próprias meias, tomará mais cuidado com elas para não sujá-Ias tanto. Isto já seria cooperação, já seria respeito pelas coisas, pelas pessoas. Já seria ajudar este menino a ser mais sensível, mais humano, mais feliz! (Publicado no "lnformati'lo"Ano 15, n. 390, 17/11/ 99)
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Penso que a flor da paz só brotará na terra quando a fome for banida, quando o homem e a mulher puderem ter um trabalho digno, quando cada pessoa for respeitada por ser um ser humano, . quando cada um se sentir realmente responsável pela construção de toda sociedade. Amélia Pires Palerma
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Anistia e direitos humanos Atualmente, todos nós conversamos sobre Anistia e Direitos humanos, porém será que todos nós já refletimos suficientemente sobre o assunto? Os Direitos Humanos estarão vinculados às leis escritas ou se colocam acima delas, porque já estão inscritas no coração dos homens? Há direitos que existem independentes de leis escritas. A própria essência de ser homem já o faz detentor de muitos direitos. O homem, por ser homem, precisa ser levado a sério. O homem, independente de cor, de sexo, de profissão, de estado social, deve ter noção de sua dignidade de homem. Como homem, ele precisa, primeiro, satisfazer as suas necessidades básicas: comer, vestir, ter habitação, que garantam a sua sobrevivência. Além disto, o homem tem direito a uma educação conveniente. Faz parte do ser homem pensar e expor o seu pensamento, ter acesso às informações corretas, reunir-se com os seus irmãos homens e partiCipar das decisões dos grupos aos quais pertence, desde o menor deles, a família, o grupo de trabalho, o grupo de estudos, até o grupo político (cidade, nação). Por ser homem, ele pensa e formula a sua opinião, defende a e luta por ela. Como vive em sociedade, tenta organizar-se e por isso escolhe aqueles que vão ajudá-lo a manter o grupo, aqueles que, dentro do grupo, vão exercer funções diferentes. Tudo que contraria este homem é injusto, é indigno, e portanto, não pode ser aceito. Quando um homem é impedido de trabalhar porque lhe falta trabalho, quando é impedido de sobreviver porque lhe falta alimento, vestuário, habitação, este homem precisa lutar com todas as suas forças para continuar sendo homem. Quando algum poder o impede
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de expor o que pensa, de ter acesso aos meios de cultura e comunicação, o homem se vê atingido no seu SER e portanto, reage; quanto maior a opressão, maior será a reação. Todo homem tem direito de ser cidadão de seu próprio país. Quando isto lhe é negado, é preciso que vozes se levantem e gritem. Todo homem tem direito de se defender quando atingido e, quando isto lhe é negado, é preciso que ele lute para que este direito lhe seja devolvido. É pela conquista de todos estes direitos que hoje lutamos. Anistia , para nós, significa não somente a abertura das prisões, a volta dos exilados, porém a volta ao direito do homem, de SER HOMEM. É contra tudo isto que devemos lutar e empenhar nossa vida. E, se a palavra "proibido" devesse ser usada, nós a usaríamos neste momento: - É PROIBIDO AO HOMEM DEIXAR DE SER HOIY1EM. (Publicado em "OComunitário" - ago/set 1979)
Educação e política - planejamento 1980 A educação está intimamente ligada à política, porque educar é um ato político. Se toda educação é um ato político, muito mais o é a educação sistemática; a educação que se faz dentro de uma instituição. E a escola é uma instituição. Todo o regime político procura definir as suas linhas de educação e é através da escola que veicula as suas idéias. Se educar é um ato político, precisamos tentar explicitar a nossa visão política. Falo aqui em política, e não em política partidária. Se a minha visão de educadora me leva a fazer do aluno um mero receptor do que estou transmitindo, sem possibilidade de questionamento, de crítica, de participação no processo,
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aos meios de cultura e seu SER e portanto, reage; ~ _ : ~'á a reação. Todo homem tem .: __ :-=_ : !)(i's. Quando isto lhe é negado, - : - ;; -=- .:- --. '.-,:>m. Tod o homem tem direito de - ~ .: = ~_a".. isto lhe é negado, é preciso ~ - =- : -::. se a devolvido. . :. -; '::.: :ses direitos que hoje lutamos. _ _: ~ ::rr:e te a abertura das prisões, a - ~ ~ ':' ê.J direito do homem, de SER _ : ::- _:: :e e fllOS lutar e empenhar nossa _ . . _- ::.c :;sse ser usada, nós a usaríamos ==. ~ ; _- ~ - -- ::M DEIXAR DE SER HOME~~. -:; ~ ;: . -;; "" 110
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simp!esmente reproduzo o sistema, portanto, tenho uma determinada visão política. Se procuro antes definir o que pretendo com os meus alunos, e uso de maneira diferente o conteúdo da minha área, colocando o aluno em situação de busca, é outra, naturalmente, a minha visão política.. Para nós, penso que definimos que o importante é fazer o aluno pensar. Ao lado deste pensar, além do seu conteúdo intelectual - construir sobre dados já fornecidos anteriormente, criar coisas novas, completar o conteúdo já iniciado, observar, organizar logicamente o pensamento, fundamentar, criticar - colocar-se um outro dado muito especial e importante, que é refletir sobre uma real idade que nos cerca, sobre os dados que a história nos fornece para entendermos a situação aqui e agora. O nosso pensar se baseia em situações reais e concretas de uma realidade maior que se refiete em uma sala de aula. Se estamos certos de que a Escola faz parte de um sistema, tentamos fornecer aos alunos o conteúdo de nossa área, respeitando a especificidade de cada uma; cabendo, portanto, mais, e principalmente a Estudos Sociais uma análise da realidade, e abrindo espaço para transmitirmos nosso modo de ser de educador e a nossa postura frente a cada situação, a nossa linha política e também a nossa ideologia. Não nos compete, como Escola, forçar ' os nossos professores e alunos a se definirem por uma determinada linha políti ca e sim fornecer elementos para que, de posse dos mesmos, possam refletir, comparar, tirar conclusões e escolher o seu caminho, e uma vez decidido "ser responsável" (respeitando a idade, as condições emocionais) pela opção feita. (Publicado em "O Comunitário" . março/3D)
processo,
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Uberdade Falar sobre liberdade é tão fácil e tão difícil. .. Ela se tornou aspiração, sonho, poesia, conquista, alienação, fuga, bandeira e até estátua. Os poetas tentaram falar sobre ela em prosa e verso. "Ser livre é escorregar pelo arco-íris", "é navegar num barco em pleno mar azul", "é poder ancorar em qualquer porto". Ela se tornou crônica - Cecilia Meireles escreve: "Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliara órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes". Ela se tornou inspiração para muitos artistas plásticos. Tornou-se palavra mágica a ser pronunciada nos discursos e comícios. Tornou-se frase-feita de muitos políticos. Transformou-se em palavra bonita para ser pintada nos muros brancos. Ela se tornou lema de bandeira - "Liberdade ainda que tardia. " Tornou-se hino: "Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós"; "... o sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou no céu da Pátria... ", "... ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil." Ela se tornou sonho de todos os homens que vivem qualquer espécie de isolamento: um amigo, uma companheira, uma pessoa compreensiva que possa preencher a solidão da vida; alguém em quem o homem possa confiar. Para Thiago de Mello, em "Estatutos do Homem", o sonho se transformou em artigo: Artigo 4 - Fica decretado que o homem Não precisará nunca mais Duvidar do homem Como a palmeira confia no vento Como o vento confia no ar,
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Como o ar confia no campo azul do céu
§ - O homem confiará no homem
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e ela em prosa e verso. . -= _ - - _ _ - :.eo arco-íris", "é navegar num -: - - ancorar em qualquer porto". - _ -- s - ~ec lia Meireles escreve: é buscar outro espaço, outras ida. É não estar acorrentado. É _ -: ;r-:. _..ã'JO paredes". __ -;:~:. :,.a-a muitos artistas plásticos. - ~ - ~ ; ~ a se pronunciada nos discursos e __ ':_-: -" :-: ,uitos políticos. Transformou-se s uros brancos. _ :.:= ~nd e i ra - "Libe ~dade ainda que -- -
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- ;: ~ :~~.2.: que o homem
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como um menino em outro menino. Sonho de todos os homens sofredores: um prato de comida, uma casa, um emprego, o remédio para o filho doente, uma vida mais digna... Ela se tornou busca, conquista: maior abertura, direito à greve, uma imprensa mais livre, filiação a ~m sindicato, escolha de seus legítimos representantes. ECecília Meireles quem diz: "Somos, pois. criaturas flutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-Ia.. amá-Ia, combater e certamente morrer por ela." Por isso tornou-se aspiração de todos os homens: - maior justiça; - melhor distribuição de bens; - o direito a ter um pedaço de t~rra; - o direito de escolher onde morar; - o direito de ter uma pátria por adoção ou por necessidade. Thiago de Mello escreve: Artigo 5 - Fica decretadc que os homens estão 'ivres do iugo da mentira. fl unca mais será preciso usar a ccuraça do silêncio nem a armadura de palavras. o homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo final- Fica proibido o
Uso da palavra liberdade
A qual será suprimida dos dicionários
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Edo pântano enganoso das bocas. A partir deste instante, A liberdade será algo novo e transparente Como um fogo ou um rio, Como a semente do trigo E a sua morada será sempre Ocoração do homem . Ela se tornou também alienação: - viver a vida independente do que pode acontecer aos outros, - fazer o que quiser sem arcar com as suas consequências, - ter a chave de um carro e correr pelo mundo Ela se tornou fuga - esquecer problemas: - drogas, bebidas, orgias . Ela se tornou compromisso, quando alguém foi capaz de dar a sua vida para que ela se tornasse sempre aspiração e realidade de todos os homens. Para os que têm fé, a morte e a ressurreição do Cristo deu sentido a esta busca e, ao buscá-Ia , outros também derramaram o seu sangue: Santo Dias da Silva, Raimundo, Padre Penido e muitos outros. Ela se torna realidade quando cada um de nós é capaz de entender que não é um ser isolado, que pertence ao gênero humano e assume livremente lutar pelos seus direitos e pelos direitos de seus semelhantes; para que haja no mundo maior fraternidade entre os homens. E é ain a Thiago de Mello quem diz: rtigo 1°; - Fica decretado que agora vale a verdade que agora vale a vida e que de mãos dadas trabalharemos todos pela vida verdadeira. (Publicado em "O Comunitário" - set/80)
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ros. a realidade quando cada um de nós é capaz de e um ser isolado, que pertence ao gênero humano :e lutar pelos seus direitos e pelos direitos de seus que haja no mundo maior fraternidade entre os Thiago de Mello quem diz: : - Fica decretado que agora vale a verdade a va; e a vida mãos dadas emos todos pela vida verdadeira.
Penso que todos nós nos sentimos confusos no momento presente. O que seria educar para a liberdade? Deixar a criança ou jovem fazer tudo o que quer? Deixá-los falar o que passa pela cabeça, ofenda ou não as pessoas? Deixá-los agir sem arcar com nenhuma responsabilidade? Facilitar-lhes a vida de tal forma que ada os aborreça? Penso que não. Educar para a liberdade é ajudar o jovem a se possuir; a controlar as suas emoções, os seus impulsos, de modo que passe a ser capaz de domináclos sempre quando possível, e não passar a ser deles escravo. Ninguém, entretanto, é capaz de se possuir sem começar a fazê-lo no dia-a-dia. O exercício do domínio se faz a cada momento, e cada barreira que precisa ser enfrentada. Por isso uma educação que não coloque limites, barreiras, não é educação. Os limites são necessários para ajudar o jovem a se locomover dentro daquele espaço, e mesmo saber o momento em que pode ultrapassá-lo. O rompimento ou alargamento do limite sempre se faz com esforço, com rachaduras que preds ser assumidas. Talvez tenhamos Q,ue nos debr c, ar mais sobre este assunto e nos p€rgunt ar os: - Não estamos cedendo muito e, deste modo, tirando todos os obs áculos para que, num excesso de proteção, ninguém se sin a molestado? Não estaríamos, Escola e família, favorecendo uma educação tão liberal que, por isso mesmo, seria nociva? Deixo a indagação para ser trabalhada, refletida, e, quiçá, respondida por alg ém. (Publicado em "O Comunitário" - nov/SO)
(Publicado em "O Comunitário" - sel/SO)
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Ainsegurança do novo Cada vez que nos defrontamos com uma situação nova, sentimo-nos inseguros, Isto é muito natural, Sempre o novo, o desconhecido, ao mesmo tempo que nos fascina também nos amedronta, Sentimo-nos inseguros quando temos que falar com uma pessoa desconhecida, entrar num lugar onde não conhecemos ninguém, começar um trabalho n.ovo ou começar a freqüentar uma outra escola, Continuo afirmando ser isto perfeitamente normal, desde que não adquira grandes proporções, Entretanto, o que me preocupa são as pessoas que estão em outra situação, na situação de segurança e não descobrem, não percebem o sofrimento daqueles que começam qualquer empreendimento, trabalho ou novas situações, Esta preocupação se torna para mim muito maior em nossa Escola, Por que sofre tanto o professor novo, o aluno novo, o pai novo que chega em nossa Escola? Quanta carinha amargurada encontramos em nossas classes! Quanta criança que chega em nossa Escola e custa a encontrar colegas que a recebam! Muitas vezes até são aceitas dentro da sala de aula (o que já acho um passo), porém esta criança ou jovem fica sem amigos fora da Escola, Sente-se completamente perdido numa nova cidade, num novo mundo, E o professor? O professor que chega em nossa Escola não pode ter um deslize. Isto é duramente cobrado por todos nós: colegas, alunos, pais, A quantos professores não se dá o tempo suficiente para que vençam a insegurança do novo? Não temos paciência e sensibilidade para ajudar aquele que começa qualquer tarefa nova, Faço uma pergunta a cada um de nós, adultos e jovens, professores, alunos, funcionários e pais - Oque podemos fazer para
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com uma situação nova, -::: e muito natural. Sempre o novo, o que nos fascina também nos - --~~ ~ "os quando temos que falar com uma -:- -=. e.::.- ~Iu m lugar onde não conhecemos ovo ou começar a freqüentar uma - . =..- .-ê.-~ ser isto perfeitamente normal, desde
ajudar estas pessoas a não se sentirem tão perdidas quando enfrentam esta situação? Sei que é muito mais gostoso viver dentro de nossa rodinha, porém, pergunto: - É isto certo? Éviver um espírito comunitário? Não seria a hora de começarmos a agir fazendo atos concretos? Convidar o colega novo para ir a nossa casa? Saber se o pai novo que aqui chegou já conseguiu descobrir alguém com quem possa conversar nos fins de semana? Dar mais atenção ao professor novo que encontra pela frente uma situação bastante difícil? Fica a pergunta. A resposta será dada por vocês. (Publicado em "O Comunitário" - maio/SI)
orespeito pelas coisas públicas
s ..- O rofessor que chega em nossa Escola não _. _= Is!o é duramente cobrado por todos nós: ::12'-5. A a 'antos professores não se dá o tempo Q'",e :ençam a insegurança do novo? Não temos . i ade para ajudar aquele que começa qualquer .a pergunta a cada um de nós, adultos e jovens, s, funcionários e pais - Oque podemos fazer para
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Não sei se já faz parte de nossa cultura ou de nosso modo de ser, deixar as coisas acontecerem , ou ainda de nossa falta de educação para o social. deixar que as coisas públicas não sejam por nós respeitadas. É muito comum vermos árvores quebradas, flores apanhadas, gramas pisadas, móveis e paredes riscados. É muito comumjogarmos papéis, cascas e tocos de cigarro em qualquer lugar em que estivermos. Este costume também se introduz na Escola através dos alunos. Há uma falta de cuidado e mesmo de respeito com tudo o que é do outro, seja este outro o colega ou a Escola. É lamen ável que em nossa Escola tenhamos, constantemente, de estar atrás disto. É lamentável que alunos nossos não tenham cuidado com cadeiras e carteiras e outros pertences da Escola. É triste vermos os nossos alunos estragando material tanto seu como dos outros. É muito duro verificar que o trabalho das pessoas que limpam não é por
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eles considerado. A impressão que temos é de que estes ou todos nós estamos aqui para servi-los. Digo servi-los, não no sentido de se colocar a serviço de alguém para ajudá-lo a procurar o seu caminho, a sair de uma dificuldade, ou mesmo no sentido de troca ; porém, servir no sentido de: ele é objeto dos meus caprichos, de minha aneira discriminatória de ver as pessoas. É isto que nos preocupa e é contra isto que queremos lutar. Entretanto , sabemos que esta luta não podemos empreendê-Ia sozinhos; precisamos, e muito, da ajuda de todos e principalmente dos pais. Se em cada casa (e sei que em muitas isto é fato) for começado um trabalho neste sentido, e se cada um de nós, professores, funcionários ou coordenadores, voltar os olhos para isto, obteremos algum resultado. Quero ainda colocar que este alerta não é só no sentido de economia, porém muito mais que isto: de respeito pelo trabalho do outro, de solidariedade a todos os idealistas que pensaram em construir uma Escola Comunitária e de compromisso com os outros. Talvez milhares de pessoas sofram porque nós ainda podemos esbanjar. (Publicado em "O Comunitário " - junho/81 )
Os nossos filhos cresceram? Os nossos filhos vão crescendo e nós, muitas vezes, não percebemos as mudanças ocorridas no seu modo de ser, de agir, de olhar o mundo. Percebemos que crescem fisicamente, porém as mudanças mais profundas nem sempre as percebemos. Muitas vezes, porque são os primeiros filhos e por isso não temos parâmetros; outras vezes, colocamos as causas fora da pessoa,
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quando o que está ocorrendo é normal e, justamente, ocorre dentro da pessoa devido ao seu novo modo de encarar o mundo. Vamos só tentar observar o que ocorre com eles em relação às pessoas que lidam mais de perto com eles - pais e professores. Até uma certa idade, os pais são os heróis - a mãe é a mais linda do mundo, a mais perfeita. O pai é o melhor pai do mundo. A mesma coisa ocorre em relação à professora - a professora é bonita, inteligente, boa e jamais o que ela diz é· questionado. Com o crescimento, as coisas vão mudando. Começam a ver as coisas e as pessoas com outros olhos. Olhar excessivamente crítico. Até o tratamento em relação às pessoas vai-se tornando diferente - o pai não é mais aquele herói sem defeitos. Os defeitos começam a aparecer com muito mais intensidade. Eles são vistos com lentes de aumento. A mãe começa a ser chata, não é mais bonita; o pai é quadrado, careta. Quanto aos professores, são uns ranzinzas. Toda proposta feita é contestada, discutida. Há sempre o gostinho "maldoso" de pegar o ponto fraco de ataque. Ninguém escapa a este crivo - colegas, amigos, pais. O mundo está errado. Só eles estão certos, só eles têm razão. E a Escola? Esta passa a ser o objeto de critica dos alunos. Escola quadrada, professores chatos. Muitas vezes, os pais não percebem esta mudança e começam a "entraí na deies" e passam a querer descobrir, na Escola e nos professores, todos os .defeitos apontados pelos filhos. Esquecem que o senso critico é, nesta idade, um tanto deformado eles só descobrem o lado ruim das coisas. O mesmo pode acontecer com a Escola, com os professores, que começam a ver os pais sob o prisma descrito pelos alunos. É bom sabermos disto para equilibrarmos a balança. (Publicado em "O Comunitário" - abril 82)
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Educação - paz
I
Confesso que estou tendo muita dificuldade para escrever sobre este tema. O que seria educar para a paz? Vou soltar a minha imaginação e vou talvez entrar no terreno do sonho. Educar para a paz seria em primeiro lugar ensinar a respeitar os direitos humanos mais básicos - o respeito pelo outro, qualquer que ele seja. Em que traduziria este respeito? - não privilegiar ninguém. Isto significa respeitar o lugar na fila, esperar a sua vez (desde a sua vaga na Escola), a consulta médica, a sua retirada do carro. Seria conseguir emprego pela sua competência e não por ser ·do mesmo partido, da mesma família, ou da mesma comunidade religiosa ou de amigos. Respeitar o outro seria valorizar o trabalho de cada um, do diretor, professor, aluno, faxineiro, porteiro. Seria ajudar cada um a amenizar o seu serviço e não sobrecarregá-lo de tanto trabalho, que a própria pessoa não possa fazê-lo. Seria respeitar o outro, deixá-lo expor até o fim o seu modo de pensàr, tentar ouvi-lo não só para refutá-lo, mas para descobrir o que de bom seria possível aproveitar. Educar para a paz seria educar a pessoa numa vivência comunitária, onde cada um teria o seu lugar para colocar os seus dons à disposição dos outros e ser ajudado na correção de seus erros. Onde não venceria o mais forte, o mais esperto, o mais capaz, porém onde todos se beneficiariam porque todos saberiam dar a sua contribuição. Educar para a paz seria ajudar para que as pessoas possam expor aquilo que no momento acham ser a verdade e não se esconderem sobre falsas suposições. Acreditar que a pessoa possa valer pelo que ela é, e não porque fala mais bonito, tem mais dinheiro, mais posição, mais poder, ou porque promete mais.
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o-paz
Que es:cu tendo muita dificuldade para escrever q e se ;a educar para a paz? Vou soltar a minha trar o terreno do sonho. a a paz seria em primeiro lugar ensinar a :5 os mais básicos - o respeito pelo outro, = sej- , E, que traduziria este respeito? - não '. st s'~nifi ca respeitar o lugar na fila, esperar a s a .a_à a Escola), a consulta médica, a sua S::>r'a c seguir emprego pela sua competência e - es; ~ pari'do, da mesma família, ou da mesma sa " ê amigos, o 'f seria valorizar o trabalho de cada um, do a.J . faxineiro, porteiro. Seria ajudar cada um a Ç2 e r ão sobrecarregá-lo de tanto trabalho, que à oossa 'azê-Io. ~e'tar o ut"O, deixá-lo expor até o fim o seu modo J i- o ão só para refutá-lo, mas para descobrir o )(}SSI el apro eitar. ara a paz seria educar a pessoa numa vivência cada um teria ' o seu lugar para colocar os seus ) des outros e ser ajudado na correção de seus encena o mais forte, o mais esperto, o mais capaz, se beneficiariam porque todos saberiam dar a sua
Ira a paz seria ajudar para que as pessoas possam no momento acham ser a verdade e não se ~ falsas suposições. Acreditar que a pessoa possa la é, e não porque fala mais bonito, tem mais ição, mais poder, ou porque promete mais.
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Educar para a paz seria ter a serenidade de ouvir todas as pessoas, simpáticas ou não, pobres ou ricas, brancas ou pretas. Educar para a paz seria ajudar a abolir os preconceitos de cor, sexo, raça, religião, ideologia. Educar para a paz seria... seria... seria... Porém, ao escrever tudo isto chego mesmo à conclusão de estar sonhando e sonhando um sonho muito individualista. Sonho que só se tornaria realidade através de pessoas carismáticas, idealistas e de pequenos grupos. Não nego que tudo isto possa e deva ser feito, porém educar para a paz seria o comprometimento de todos os educadores e professores co, es'a causa - a paz. Porém como educar para a paz sem pensar na justiça? Existiria a paz se justiça? ( orno ensinar a respeitar os outros se não é isto que vemos todos os dias em nossa sociedade? Como ens.inar a respeitar o direito dos outros se todos os dias lemos e assistimos a cenas 'de expulsão de pessoas, espancamento violê cia e outras coisas ma)s... Volto a me indagar se não seria a realidade, se não seria educar para a paz mostrarmos aos nossos educandos a realidade que hoje temos pela frente - pessoas sendo exploradas .pela ganância de alguns. Multidão passando fome porque poucos não querem repartir o que têm e sobra. Poucos detendo o poder porque não querem um regime democrático. Não seria educar para a paz, depois de discutirmos com nossos educandos essa triste realidade, fazê-los sentirem-se responsáveis por toda uma mudança? Seria educar para a paz fazê-los sentir que a mudança precisa ser feita em cada um, no seu meio e em toda a sociedade? }>enso q e a flor da paz só brotará na terra quando a fome for banida, quando o homem e a mulher puderem ter um trabalho
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digno, quando cada pessoa for respeitada por ser um ser humano, quando cada um se sentir realmente responsåvel pela construção de toda a sociedade.l
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::_= o:' ~ pe" ada por ser um ser humano, =.:. :;:.-:e responsável pela construção de
Datas Especiais
Que passagens em nossas vidas precisam ser feitas? Que mares devemos atravessar para que certos costumes, atos e atitudes possam ser . levadas . pelas águas, sem que percamos a nossa identidade, o nosso sentido de pessoa que nos torna membro de um povo, de uma nação? Amélia Pires Palerma
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Início de um novo ano
o início de cada ano tem o sabor "de um caderno novo que a gente principia". Como é gostoso começar um caderno novo! O caderno novo nos faz esquecer as orelhas do velho, os riscos em vermelho das palavras erradas, a caligrafia mal feita, os erros anteriores. O caderno novo nos dá a sensação de que tudo vai mudar. As mãos precisam estar limpas para não macular o novo, a caligrafia é caprichada e a esperança e a promessa de começar bem estão presentes. Começamos m novo ano. Vamos entrar nele de mãos limpas para não sujar o nosso caderno. Vamos melhorar a nossa caligrafia, o nosso vocabulário.' Um vocabulário novo onde devem aparecer palavras de estímulo, compreensão,' crítica construtiva. Um vocabulário onde não devem aparecer palavras que diminuam as pessoas, palavras agressivas. palavras carregadas de preconceitos contra pessoas e Instituições. Vamos fazer renascer em ós a Esperança, Esperança que ão nos deixa cruzar os braços, mas nos impele para a frente a fim de começarmos o novo, valendo-nos da experiência anterior e contando com novas orças. Todos nós estamos principiando hoje um novo caderno. Eele será lindo como são lindos os cadernos feitos com carinho! (Publicado em "O Comunitário " - fev/8 5)
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Páscoa 99 Páscoa é uma festa religiosa e é neste contexto que devemos buscar as suas raízes, o seu significado. Páscoa significa - Passagem, Vida Nova, Ressurreição, Transformação. A figura da Passagem vem desde o Antigo Testamento passagem dos hebreus no Mar Vermelho. A passagem no Mar Vermelho é uma alegoria , uma figura muito rica e plena de significados. Ela quer nos mostrar, nos fazer entender que esta passagem significou, marcou a libertação, a conquista, a cidadania de um povo que se livrou da escravidão e vai traçar o seu destino, vai reconstruir, como povo livre, a sua história "Foi assim que naquele dia o Senhor livrou Israel das mãos dos egípcios" Êxodo 14-30. Todo povo, toda nação, todo indivíduo que se livra da escravidão, que faz esta passagem, passa a ser o Israel, o povo de Deus. A figura da passagem deve ser retomada por nós, independentemente de se acreditar ou não em um Ser Superior. Os poetas usam também figuras e elas nos falam muito mais que as palavras. Figuras, expressões, imagens que nos questionam e nos fazem pensar no nosso cotidiano, em nossos atos do dia-a-dia. Que passagens em nossas vidas precisam ser feitas? Que mares devemos atravessar para que certos costumes, atos e atitudes possam ser levados pelas águas, sem que percamos a nossa identidade, o nosso sentido de pessoa que nos torna membro de um povo, de uma nação? Quantas e quais as amarras que nos impedem de ser gente, de ser cidadão ou cidadã? Quantos laços de escravidão existem que precisam ser rompidos?
ª
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l",= g'osa e é neste contexto que - -:...: = ~ê significado.
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- : ::" . e elho. ::- ermelho é uma alegoria , uma figura
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_ azer entender que esta passagem -=.~: 3 conquista, a cidadania de um povo -:': -= ã - :raçar o seu destino, vai reconstruir, Çoj assim que naquele dia o Senhor . ' ~- ~ " Êxodo 14-30. -- - :::çà . todo indivíduo que se livra da ==~ . passa a ser o Israel, o povo de ~
A passagem ajuda o povo de Israel a descobrir a sua identidade de povo, capaz de ser livre, independente, e deve nos ajudar a pensar também em nossas amarras, nos empecilhos que nos dificultam e nos impedem mesmo de sermos cidadãos conscientes, responsáveis e atuantes. Deve nos ajudar a ampliar a nossa visão, para pensarmos nas amarras que impedem os grupos, as comunidades, as cidades, o país, a vencer o egoismo, a ambição, a disputa pelo poder; para passarem a ser Instituições responsáveis pelo bem estar dos homens e das mulheres. O nosso Brasil precisa desta passagem para se tornar um país, uma nação mais justa, mais humana, onde a riqueza e o saber sejam mais divididos, para que o povo seja mais feliz. Fazer esta Passagem é a nossa mensagem de Páscoa.
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(Enviado aos pais em março/99)
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Mãe A palavra Mãe traz no seu bojo uma gama imensa de significados: meiguice, ternura, compreensão, dedicação, coragem, força, decisão, desprendimento, proteção, amor. Por que uma palavra tão pequena contém tanto significado? Seria a nossa experiência de vida que nos iria fazer descobrir todo este conteúdo? Talvez, porém, se a vida nos faz descobrir é porque de fato ele existe. Na palavra Mãe se concentra tudo o que de bom e positivo encontramos na pessoa humana. É tudo aquilo que esperamos de um irmão, de um pai, de um amigo, do namorado, da namorada, do
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companheiro de trabalho, do nosso irmão de luta, de fé e, principalmente, de nossa Mãe. Talvez a Mãe tenha mais possibilidades de acumular estas qualidades justamente pelo seu contato, mesmo físico com o filho, e pela intuição que a natureza, sábia, lhe deu, é capaz de captar todas as aspirações da pessoa humana; neste caso, o seu filho. Épor isto que, quando alguém num momento dificil de nossa vida nos compreende, nos ajuda, nos estimula, nos estende a mão, nós dizemos, seja ele homem ou mulher: este ou esta foi para mim uma Mãe. Em todos nós, casados ou solteiros, homem ou mulher, existe esse instinto de Mãe. Existe em cada um de nós o lado bom do ser humano que nos faz sair de nosso egoísmo e estender a mão, não num gesto de esmola, porém num gesto de verdadeira fraternidade ao nosso irmão doehte, sofrido, desprezado, desprotegido, desfigurado. Em todos nós também existe um sentimento filial. Todos nós precisamos encontrar em nossa vida, para sermos mais humanos, uma Mãe que nos ajude, proteja, compreenda, estimule e perdoe. Todos nós, seres humanos, somos em alguns momentos da vida Mãe e filho. Em todos nós há momentos de doação e de necessidade de receber um carinho, um gesto amigo, compreensivo, e amor. Há,porém, pessoas que, pela dedicação, pelo seu modo de ser, pelo esforço de serem mais humanas, desempenham muito mais o papel de Mãe. A todas estas pessoas, e são muitas em nossa vida, hoje nos voltamos para elas e dizemos: ajudem-nos a sermos mais Mães; ajudem-nos a sair de nosso egoísmo e a lembrar-nos mais de nossos irmãos que vivem ao nosso redor. E assim o mundo será muito mais humano e por isso mesmo mais fraterno. (Publicado em "O Comunitário" - maio 81)
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irmão de luta, de fé e,
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ssibilidades de acumular estas
__ : :::_ : 'l'ato , mesmo físico com o filho, e - ~:.
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_- aJJém num momento difícil de nossa ""os estimula, nos estende a mão, ulher: este ou esta foi para mim
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o solteiros, homem ou mulher,
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.:e - sso egoísmo e estender a mão,
rêm num gesto de verdadeira doente, sofrido, desprezado,
ste um sentimento filial. Todos nós - : ~3 :;, ,'da, para sermos mais humanos , _-~ :':'::2 ,. rnpreenda, estimu le e perdoe. - =- -:-: _~ ~ _s, somos em alguns mom entos da _5 há momentos de doação e de 0, um gesto amigo, compreensivo, -
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- .=.- '"
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e são muitas em nossa vida, hoje nos - _e~ _-o ajudem-nos a sermos mais Mães; :_ .: ::-_ smo e a lembrar-nos mais de nossos ' . E assim o mundo será muito mais :_
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(Publicado em "O Comunitário", maio 81)
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Pai Há certas palavras que vão sendo carregadas de um conteúdo tão profundo que, apesar de todas as mudanças, continuam sempre tendo o seu significado . Entre elas, - Pai. A palavra pai tem todo um conteúdo de ternura, coragem, proteção, segurança, perdão e justiça. A ternura de alguém que, num gesto de amor, foi capaz de ajudar a dar vida a um ser. A ternura de quem se debruça sobre o filho pequeno. A ternura de quem dedica toda uma vida a pensar juntamente com sua companheira - a Mãe - o que será bom para o filho. A ternura de quem, já idoso, é capaz de entender os mais jovens. Pai significa corage"l , proteção, segurança. Aquele a quem o fi lho recorre nos momentos difíceis, aquele a quem a criança apela nos momentos trágicos. Aquele em quem os filhos depositam toda a confiança. Pai é sobretudo perdão. Por mais desvairada que seja uma vida, sabemos que o pai sempre é capaz de perdoar. É inerente ao ser - Pai , Mãe - o perdão. Talvez seja este o traço que faz o homem mais próximo de Deus- a capacidade de perdoar. O perdão sem restrições, sem exigências. A palavra Pai traz como conseqüência a palavra filho e a palavra inmão. Filhos de um mesmo Pai - irmãos. O Pai transmite o seu amor aos filhos. É com o Pai e a Mãe que os filhos aprendem a amar. O amor que transborda passa para os outros e os filhos aprendem também a amar. Amar os pais, os irmãos, os colegas, os vizi hos.. . Se este amor for cultivado, for fomentado, ele se expande e rompe as fronteiras de uma casa e passa para outras pessoas.
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Começam a descobrir em cada pessoa um pouquinho do ser irmão. É a nossa grande virada, a virada do amor. Pai significa justiça. Para o pai não há diferença entre os filhos; todos recebem o mesmo amor; todos merecem os mesmos cuidados. É interessante a justiça do amor porque, quando alguém é valorizado, este alguém é justamente o mais fraco, o mais doente, o menos capaz. Éjustamente este que recebe as maiores atenções do pai, da mãe e dos irmãos. Este é outro traço que faz o homem transpor todas as barreiras do ser humano; há muito de transcendente nesta característica - o ser justo. Esta talvez deva ser a nossa virada definitiva. (Publicado em "O Comunitário" -jul/ago 82)
Abertura do 1o Salão de Poesias Abrimos, dia 21 de setembro, nosso 10 Salão de Poesias. Qualquer que seja o resultado a partir daqui, nossos objetivos já foram atingidos. Foram atingidos não pelo número considerável de inscrições, mas por todo o seu preparo, pela beleza das poesias e pela originalidade de apresentação de alguns trabalhos. Todas as classes trabalharam com o assunto (não para apresentar um trabalho para o Salão), porém, valendo-nos da situação, conseguimos motivar os alunos, pais e professores. Os alunos descobriram através das aulas de língua portuguesa que não é tão difícil fazer poesia. Aprendendo técnicas, lendo e discutindo poesias, deram asas à imaginação e criaram lindos textos. O sentido poético tomou conta de todos, desde o pequeno de nove anos, nosso aluno, até uma avó de setenta anos.
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Um mesmo evento foi capaz de unir gerações tão diferentes na idade, porém igualmente sensíveis na expressão de seus sentimentos. (Publicado em "O Comunitário" - setl85)
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Dia do Professor, Dia da Criança Não gosto destas datas marcadas. Todos nós sabemos porque elas aparecem. Entretanto elas estão aí e, quer queiramos ou não, elas nos atingem. A princípio quisemos ignorá-Ias, porém descobrimos que deveríamos ser capazes de aproveitá-Ias para, junto de nossos alunos e professores, fazermos uma reflexão. Dia da Criança... Dia do Professor.. . Duas realidades distintas, porém muito ligadas entre si. Dois componentes de um mesmo elemento: Escola - Educação. Vamos tentar sub-dividir o conjunto em dois sub-conjuntos: Criança-Escola; Professor-Aluno. Oque é a Escola para uma criança? Oque é a criança para uma Escola? Oque é o professor para um aluno? Oque é o aluno para um professor? Quanto material para uma reflexão profunda! Ao mesmo tempo que escrevo, vou refletindo sobre os dados que tenho, dados de experiêncía pessoal. Lembro-me de minha infância, já distante, porém muito viva em minha lembrança. Ogosto pela Escola, o amor pela professora. Não ir à Escola era para mim o maior e grande castigo. A professora para mim era a· mais linda pessoa, que eu respeitava e admirava à distância.
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Não me lembro nunca de ter conversado com ela ou com elas, durante todo o período primário, uma só vez, sem ser para dar a lição ou. fazer alguma pergunta sobre o conteúdo dado. E no entanto eu a(s) admirava. Há entretanto um lapso em minha memória: lembro-me perfeitamente de duas professoras - a do 1° ano e a do 3° e 4°, que por sinal foi a mesma; e não me recordo de nenhum gesto da do 2° ano. O que teria acontecido? Há lindas lembranças destas duas criaturas encantadoras: Durvalina Nascimento e Leontina Cardoso e um esquecimento total de uma terceira, a tal ponto de não saber o seu nome e de não me lembrar de sua fisionomia. Não posso dizer como era ela porque para mim simplesmente não existiu ... Impressionante como isto me faz mal agora escrevendo sobre o assunto. Não gostaria que isto tivesse acontecido - gostaria que, não podendo admirá-Ia, pelo menos pudesse ter por ela um sentimento de repulsa ou outro qualquer e não tenho - ela não existiu. Fico pensando hoje nas centenas de alunos que tive nestes longos anos de magistério. Qual a lembrança que terão de mim? Boa, má, não sei ... Entretanto fico hoje pensando - teria sido eu também apagada da lembrança de alguém ? Teria sido tão inútil a minha passagem pela vida de alguém? . É a primeira vez que coloco para mim mesma esta reflexão, porém de uma só coisa tenho certeza: todos eles ficaram muito presentes em mim porque em qualquer lugar que eu os encontre eu os reconheço. Muitas vezes, para me recordar de seus nomes, preciso retirar deles os óculos escuros e esperar que pelo menos digam uma frase, e o· nome e mesmo o apelido, saltam imediatamente na memória.
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Não sei hoje o que passa pela cabeça de nossos alunos. Não sei o que representam para eles os professores. Teriam mudado os alunos? Teriam mudado os professores? De uma coisa entretanto também eu me lembro: a figura do professor foi sempre muito querida e respeitada em minha casa. (Publicado em "O Comunitário"" out/85)
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Um novo Natal Sempre o Natal nos pega de surpresa. Ofinal do ano, muito cheio de trabalho, compromissos profissionais, sociais e mais um cansaço acumulado de dias, semanas e até meses, vai nos colocando numa rotina de trabalho onde muitas vezes não há espaço para uma reflexão mais pessoal. Quantas vezes somente nos damos conta de que é Natal no dia 22 ou 23 de dezembro! Este ano quisemos fazer uma outra tentativa: um grupo de cristãos resolveu parar na tarde de domingo, dia 10/ 11 antes mesmo de começar o Advento, para fazer esta reflexão que foi extremamente válida. Natal - Esperança. Esperança de que algo de novo, de transformação, irá ocorrer. Seria possível ter ainda esperança? Basta olhar ao nosso redor para percebermos que o mundo não vai bem. Não um mundo teórico e distante, porém o mundo, o espaço em que vivemos está deteriorado. Um mundo de fome, de injustiças, onde a maior parte da população é marginalizada de tudo. Um mundo de crianças desnutridas, de menores abandonados ...
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Um mundo onde predomina a ganância, a exploração, o desestímulo à criação de trabalho porqúe o dinheiro empregado rende muito mais que colocá-lo em produção, em geração de empregos. Um mundo onde assistimos, "pasmos", a um debate de baixo nível entre candidatos à Prefeitura de uma das mais ricas e cultas capitais do país. Entretanto, coloca-se para nós o desafio - é preciso ter esperança. É preciso, não num sentido obrigatório, porém, sem me referir ao sentido religioso, é preciso ter esperança para a nossa própria sanidade mental, mesmo porque, como educadora, acredito numa saída, não estratégica, porém criativa, decidida, corajosa, que nos leve a uma transformação, a uma mudança. E é esta mudança que busco como educadora, como pessoa que tem fé e que acredita na força de união dos homens. Esta mudança só acontecerá se mudarmos também a nossa atitude, a nossa postura. Não adianta mais discutirmos grandes idéias, acumularmos mais conhecimentos teóricos (tudo isto foi e continua válido), porém é necessária a adesão a uma causa. Penso que o ato de aderir tem muito de intelectual, mas tem muito mais de emocional , de convicção, de engajamento, de comprometimento. Enquanto tentamos transmitir idéias que somente estão na nossa cabeça, por melhores que sejam, não convenceremos ninguém, nem a nós mesmos, e por aí não posso ter esperança. Se, entretanto, formos capazes de fazer as nossas idéias de transformação passarem pelo nosso coração, elas acontecerão dentro e ao redor de nós porque cada um de nós deixará de ser somente porta-voz, porém, elemento da própria transformação. E isto é esperança! Um novo Natal acontecerá! (Publicado em "O Comunitário " - nov/ dez 85)
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(Publicado em "O Comunitário" - nov/dez 85)
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Tudo é lindo? Não! Há coisas boas, lindas, e há no nosso dia-a-dia coisas que nos aborrecem e nos fazem sofrer. Porque então enfocar só coisas boas? Penso que atualmente estamos nos cansando de ler, de ouvir e ver somente fatos, acontecimentos negativos. É preciso começar a descobrir as coisas boas que existem e acontecem dentro e fora de nós. Geralmente sou quase sempre otimista e talvez por isso tenha mais facilidade para descobrir o lado positivo dos fatos e das pessoas. Quero entretanto deixar claro que na nossa Escola não há só acontecimentos positivos, existe sim, desencontros, falhas e aborrecimentos. Eles fazem parte do cotidiano de qualquer pessoa, de qualquer Instituição e devem ser resolvidos da melhor maneira possível. Por esta razão prefiro enfocar sempre o que há de bom, de positivo, na vida de pessoas e da Escola. Sábado, dia 13 de novembro, algumas alunas e um aluno fizeram a 1a Eucaristia na Comunidade João XXIII. A Comunidade João XXIII funciona na Escola desde seu início e fazem parte dela pessoas ligadas à Escola, porque trabalham, estudam , estudaram, vizinhos, amigos. Alguns alunos foram preparados por Ana Lúcia Nunes Domingues, ex-mãe da Escola, para participarem da cerimônia da 1a Eucaristia. Foi uma preparação longa, cuidadosa. No convite que esse pré-adolescentes nos fizeram para participar da cerimônia havia um pedido, trazer um brinquedo para que ele e elas pudessem dá-los às crianças pobres através da Comissão Solidariedade. Um gesto bonito desses pré-adolescentes, mostra que eles entenderam muito bem o sentido da Eucaristia, partilha, comprometimento, ação, doação.
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Para melhor explicitar o que queriam eles escolheram para ser cantada enquanto todos nos depositávamos os presentes, a serem por eles doados, a Balada da Caridade que diz: Para mim a chuva no telhado É cantiga de minar Mas o pobre meu irmão Para ele a chuva fina Vai entrando em seu barraco Efaz lama pelo chão Para mim o vento que sopra Énoturna melodia r"las o pobre meu irmão Ouve o vento angustiado Pois o vento, este malvado Lhe desmancha o barracão Como posso ter sono sossegado Se no dia que passou Os meus braços eu cruzei? Como posso ser feliz Se ao pobre meu irmão Eu fechei o coração Meu amor eu recusei? A lição aprendida precisa ser feita, explicitada mais, muitas vezes e aí entra o nosso papel de adultos: ajudá-los através de nossa postura, de nossas ações, como membros da mesma Comunidade de Família, ou ainda da Escola, a crescerem na fé em Jesus Cristo. Eles também, com a sua atitude, nos alertaram da necessidade de manifestarmos a nossa fé através de ações concretas de solidariedade, de doação e de amor ao próximo. Foi esta a mensagem explicitada por esses pré-adolescentes. Foi esta a lição passada, agora só nos resta fazê-Ia, e como na vida
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outro dia. É melhor,
no "Informativo" Ano 5,
391,
Procura-se uma
No
é a luz. nem outro profeta não conheceis.
o
nós, ou
- no - no - na - na
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as
- no sofrimento dos doentes;
- e no coração de cada homem e mulher de boa vontade.
(dezembro 1999)
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Sobre a Vida e a
Morte
A vida está sernpre ligada à morte. O homem é capaz de transformar cada momento de morte em uma semente de vida. Talvez seja por isso que, depois do Dia de Todos os Santos, o calendário comemora o Dia de Finados, para nos lembrar que o Santo, o Justo, para ser capaz de se doar e doar a sua vida na luta pelos irmãos, precisa passar pelo processo da morte. Amélia Pires Palerma
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Se pudéssemos pular pedaços de nossa caminhada De repente deparamo-nos com certos pedaços duros em nossa vida. Daríamos tudo para que eles não existissem. Faríamos tudo para passar por eles sem sermos tocados. Porém, eles aí estão, e nós não podemos escapar. Agora começa um pedaço duro de nossa vida de Escola. Duro para os professores, para os pais, e também para os alunos. Como seria bom se só existisse início de ano, e não fim! Estamos vivendo na Escola um tempo de tensão, de esforço, de noites mal dormidas. Éo tempo de entrevistas de fim de ano. Nem tudo corre bem durante o ano escolar para os pais, alunos e professores. Uns vencem as dificuldades com mais rapidez, outros precisam parar um pouco para depois continuar a caminhada. Aqui começa o sofrimento. Sofrimento duro, doído, de todas as partes. Para os pais a dor, o sofrimento, e sempre a preocupação: o que está acontecendo com ele? Para o professor, a dúvida, a incerteza do que seria melhor para o aluno. Porém, é neste sofrimento que vamos aprendendo a lidar com os problemas e com as pessoas. Vamos descobrindo que nada existe de an.ormal numa parada no meio do caminho, e sim um simples descanso para recuperar novas forças para nova caminhada. (Publicado em "O Comunitário" - out/80)
Vale a pena lutar Há muito nos propusemos a trabalhar com nossos alunos, professores e pais sobre o significado do presente. Colocamo-nos em campo, refletindo, argumentando, questionando, sendo questionado,
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porém achávamos que a causa merecia todo o nosso empenho pelo seu grande valor educativo. Hoje, começamos a perceber os efeitos de nosso trabalho comum. Pais, filhos e professores começam a colocar em prática aquilo que nos parece um valor - construir algo para se oferecer a alguém de quem gostamos, respeitamos ou queremos homenagear. O Dia das Mães foi um exemplo. Os aniversários têm sido ocasião para a volta da reflexão deste valor. O interessante é perceber com que entusiasmo e seriedade as crianças se empenham na construção do presente que irão oferecer aos pais, aos professores, aos amigos. E, mais interessante ainda, é perceber no olhar radiante e no sorriso aberto dos professores esta expressão - eles curtiram o trabalho feito ... Oterreno é fértil, a semente é boa, vale a pena plantar... (Publicado em "O Comunitário" - junho 80)
Vida e morte Constantemente em nossas vidas deparamo-nos com estas duas realidades - vida e morte. Assistimos ao nascimento de crianças enchendo lares e o mundo de alegria e nos defrontamos com a morte colocando a tristeza em nossas vidas. Vida e morte andam juntas e uma é conseqüência da outra. Fazem parte do nosso cotidiano, porém elas nos tocam muito mais quando acontecem bem ao nosso lado. Sentimos a beleza do desabrochar da vida, quando, ao nosso lado, assistimos ao brotar de uma semente, ao abrir de uma flor, ao romper do ovo para dar saída ao pássaro, à beleza do parto de uma mulher. Sentimos a morte quando ela atinge alguém a quem queremos bem, alguém com o qual convivemos.
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Há, entretanto, fatos e tempos que nos lembram mais a vida: um dia de sol, a chegada da primavera, a espera de uma festa, o sorrir de uma criança, a beleza de uma jovem, a alegria de um rapaz, um casal de namorados, a chegada de um amigo, o carinho do esposo ou da esposa, a certeza de ser amado... Há outros que trazem mais a presença da morte: o choro de uma criança, o grito de fome dos homens, o desemprego, a ameaça de guerra, a separação dos que se amam, a injustiça cometida, a expulsão de pessoas compromissadas com o outro... Vivemos rodeados de vida e morte... Entretanto, também dentro de nós, existe a presença da vida e da morte. Há momentos em que toda a nossa existência se transforma num gesto de vida: um sonho realizado, uma idéia luminosa, a resposta esperada, urna luta vencida... Há outros em que aparecem as marcas de morte: a doença, uma esperança frustrada, a ausência de um ideal maior, o desânimo de uma derrota, a ausência de luta... Vivemos constantemente esta ambigüidade dentro e ao redor de nós. Isto é inevitável em nossa vida, porém podemos ou multiplicar os momentos de vida ou aumentar os momentos de morte. A vida sempre surge de uma morte. É preciso que a semente morra para nascer a planta, é preciso que dentro de nós muita coisa morra para ressurgir a vida - morte ao egoísmo para surgir um espírito mais comunitário; ao ódio, para surgir apaz; à ambição de ter mais, para ter a alegria de que outros também tenham. A vida sempre está ligada à morte. O homem é capaz de transformar cada momento de morte em uma semente de vida. Talvez seja por isso que, depois do dia de Todos os Santos, o calendário comemora o dia de Finados, para nos lembrar que o Santo, o Justo, para ser capaz de se doar e doar a sua vida na luta pelos irmãos, precisa passar pelo processo da morte. . (Publicado em "O Comunitário" nov/80)
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osabor de uma colheita lV1uitas vezes ficamos nos perguntando - seria o nosso papel só o de semeador? Semear, semear, arrancar o matinho, regar, cuidar do campo e, talvez, nunca ver a colheita? Embora seja um lindo trabalho o da semeadura, agricultor algum se realizaria se não visse ou não participasse da colheita. Para nós, educadores, acontece muito isto. Ajudamos a cuidar da semente e pouco participamos da colheita, porque ela não se faz em época marcada; está muito mais sujeita às intempéries do que qualquer outra. Entretanto, nestes dias participamos de uma farta colheita. Foi lindo o trabalho feito pelos pais das aulas de Descoberta. Quando, de manhã, chegando ao colégio, vi pais de branco (médico, dentista) - portanto, com sua roupa de trabalho - desocupando o seu carro, carregando as encomendas de cerâmica para o trabalho das crianças, não pude esconder o entusiasmo. Para aqueles pais, naquele momento (pode ser até que tivessem reclamado), mais importante que a limpeza do seu traje branco de serviço era o material de trabalho para os seus filhos. E que material seria esse, que exigia tanto trabalho dos pais? É que as mães que trabalham com alunos de 1a a 4a série, na aula de Descoberta, resolveram levar a sério uma proposta da Escola - fazer o presente para dar ao professor no seu dia. Tudo foi lindo: o entusiasmo dos adultos, a alegria das crianças, a originalidade dos presentes. O presente para o professor teve o sabor delicioso de uma resposta: uma resposta de carinho, de recompensa, de crédito. Outros gestos descobrimos também entre outras mães do Infantil e de outros cursos.
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Para coroar tudo, tivemos o convite simpático do Reverendo Carlos Aranha para participar de um culto no domingo, quando sua comunidade faria uma prece especial para os professores. (Publicado em "O Comunitário " - nov/BO)
Sebastião, nosso grande amigo
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Ao ficar sabendo da trágica morte de Sebastião, fiquei meio perplexa. E nestes momentos sempre surgem as clássicas indagações: por quê? Por que Sebastião, quando este homem teria tanto para fazer por esta nossa Campinas tão necessitada de valores como ele? Por que uma vida tão coerente, tão valorosa, ser cortada tão tragicamente? Por quê... ? Por quê... ? Por quê... ? Aparentemente não encontro resposta. São os mistérios da vida... Fico, entretanto, pensando... Sebastião nunca poderia ficar muito tempo num leito, nunca poderia ficar sem trabalhar, e sem trabalhar dedicando a sua vida aos outros. Talvez seja por aí que tente investigar a resposta, porém não quero escrever sobre a morte .de Sebastião. Quero escrever um pedaço da sua vida. Um pedaço muito importante, que conheci muito de perto e que o caracteriza muito. Quando a repressão ficou muito séria neste nosso país, entre 68 e 71, muitas coisas aconteceram que os jornais não contaram , porque nãO poderiam contar, e que devem estar vivas em muitas cabeças de nossa cidade. Muitos jovens, estudantes ou não, foram presos, torturados, estuprados. Quando essas pessoas saíam da prisão, em condições miseráveis, era preciso que, além de todo um trabalho para fazê-Ias
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acreditar novamente na possibilidade de vida e dar-lhes um pouco de esperança, se fizesse um tratamento físico. E como fazer, se até médicos tinham medo de se comprometer cuidando de tais pessoas consideradas pelo regime como espúrias, perigosas portadoras do gérmen da destruição, cujo vírus, como o da AIDS, poderia contaminar não só através do beijo ou da relação sexual, mas também pela simples presença num ambiente sadio? É verdade que alguns médicos especialistas receberam um ou outro caso, porém era preciso tomar cuidado para não marcá-los. Foi nesta ocasião que conheci melhor Sebastião. Conhecia seu pai Nelson, dono da Farmácia São Luís, conhecia Salete, sua irmã, que morreu vítima do acidente do desabamento do Cine Rinque, e conhecia Sebastião, de vê-lo algumas vezes na Farmácia. Como educadora e membro da Pastoral Estudantil da cidade, trabalhando sempre com estudantes e jovens, era muito procurada por pais, irmãos, amigos e pelos próprios jovens ,que saíam das prisões. Anêmicos, abatidos, com doenças de pele e violentados. Pessoas que, junto com a acolhida, precisavam urgentemente de um médico que os examinasse sim , mas também que não os censurasse por terem tido um ato de coragem ou um arroubo de juventude. Um médico que soubesse entendê-los e que tivesse a coragem de dizer: "é de você que o país precisa". Um dia todos nós viveremos a liberdade tão procurada hoje. Alguém, não sei quem, me vendo preocupada e sabendo dos problemas que enfrentava, disse-me: "Por que você não conversa com o Sebastião"? Ele é médico jovem, tem idéias socialistas, é cristão e, principalmente, honesto e corajoso. Com todo o meu preconceito, pensei: "não é possível, Sebastião teve toda educação diferente e nunca o vi participando de nenhum movimento",
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Como, porém, os casos aumentassem, não tive outra saída. Escrevi um bilhetinho a Sebastião, porque os telefones estavam grampeados e a minha presença no seu consultório poderia também levantar suspeitas. O próprio jovem levou o bilhete. Sebastião recebeu-o muito bem, com toda a delicadeza e carinho que lhe eram peculiares. Recebeu outro, mais outro, muitos... Uma vez, uma jovenzinha que fora duramente violentada, depois de examinada por ele, voltou para me agradecer e disse-me chorando: "Ele, o Or. Sebastião, me disse que se um dia eu gostar de alguém e este tiver dificuldade para entender o que se passou comigo, que eu o traga que ele se propõe a conversar com o rapaz." Sebastião sabia entender e respeitar as pessoas e não cos :ü mava falar das coisas boas que fazia. Fazia porque achava que deveria fazê-Ias e não para receber aplausos ou outro tipo de retorno. Nunca mais tinha conversado com ele sobre este assunto. Quando Sebastião foi apontado como candidato a prefeito de Campinas , num programa de esclarecimentos políticos que estabelecemos na Escola, trouxemos Sebastião. Ao apresentá-lo, contei um pequeno pedaço desta história, e ele, com o sorriso nos lábios e lágrimas nos olhos, me disse: "Não sabia, Amélia, que você guardava tudo isto e que um dia iria contá-lo." Hoje eu quis registrar esta história para que outras pessoas saibam e que, quando forem escrever as memórias do grande homem, ela apareça também juntamente com outros lindos trechos da história de Sebastião. É pena, Sebastião, que você não possa lê-Ia. (Publicado em "O Comunitário " - nov/87)
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Avida é uma caminhada... Há momentos em nossa caminhada em que temos necessidade de parar, olhar para dentro de nós mesmos e tentar responder as perguntas que nos são feitas ou as que nós mesmos nos fazemos. Há muitos outros momentos em que precisamos caminhar junto com outras pessoas, para dividir os nossos anseios, as nossas preocupações, as nossas alegrias e, principalmente, para contar com a presença de uma mão amiga que nos ajude a ser gente. (dez/98)
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obre os rumos da educação no Brasil, o momento é de esperança: com a nova lei de diretrizes e bases e os parâmetros curriculares,tenho esperança de que possamos caminhar mais depressa e voltar a valorizar novamente o professor, a escola, o ensino-aprendizagem - explica Da. . Amélia. O governo tem um papel primordial. Cabe-lhe incentivar e cuidar da formação do professor, possibilitar melhores condições de trabalho, um salário mais digno, para que ele possa ter acesso a livros, cursos e continuar estudando e aprendendo. A sociedade tem também o seu papel, valorizando o professor, assumindo alguns projetos da escola pública. E o professor precisa se valorizar, acreditar que ele é capaz, acreditar cada vez mais na sua força, na sua luta, tomar consciência do valor do seu papel de educador. AMÉLlA PIRES PALERMO