Rumos Práticos nº40 - Dragão do Mar

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Revista do CONAPRA - Conselho Nacional de Praticagem - Ano XV - N0 40 - fev a mai/2014 Brazilian Maritime Pilots’ Association Magazine - Year XV - N0 40 - Fev to May/2014


Brazilian Maritime Pilots ’Association

www.conapra.org.br

Praticagem

Pilotage

o serviço de todas as horas the 24/7/365 service

24 7 365 horas por dia hours a day

dias por semana days a week

dias por ano days a year


CONAPRA – Conselho Nacional de Praticagem CONAPRA – Brazilian Maritime Pilots’ Association Av. Rio Branco, 89/1502 – Centro Rio de Janeiro – RJ – CEP 20040-004 Tel.: 55 (­21) 2516-4479 conapra@conapra.org.br www.conapra.org.br

diretor-presidente director president Ricardo Augusto Leite Falcão

4 22º Congresso da IMPA acontece no Panamá Panama hosts the 22nd IMPA Congress

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diretores directors Alexandre Koji Takimoto Carlos Alberto de Souza Filho Lauri Rui Ramos Linésio Gomes Barbosa Junior planejamento planning Otavio Fragoso / Flávia Pires / Claudio Davanzo edição e redação writer and editor Maria Amélia Parente (jornalista responsável) (journalist responsible) MTb/RJ 26.601

índice index

A trajetória de Otavio Fragoso The career of Otavio Fragoso

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revisão revision ­Maria Helena Torres Aglen McLauchlan

Shiphandling for the Mariner, de Daniel H. MacElrevey, continua sendo referência na formação de práticos brasileiros

Daniel H. MacElrevey’s Shiphandling for the Mariner continues to be a benchmark for training Brazilian pilots

versão translation Elvyn Marshall

Um dragão na luta pela liberdade

projeto gráfico e design layout and design Katia Piranda

A dragon fighting for freedom

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pré-impressão / impressão pre-print / printing DVZ/Davanzzo Soluções Gráficas

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Praticagem brasileira assina acordo com armadores internacionais

Brazilian pilotage signs agreement with international ship-owners

29 Atualização de Práticos no Ciaba The Pilot Refresher Course in Ciaba Paper produced from responsible sources

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As informações e opiniões veiculadas nesta publicação são de exclusiva responsabilidade de seus autores. Não exprimem, necessariamente, pontos de vista do CONAPRA. The information and opinions expressed in this publication are the sole responsibility of the writers and do not necessarily express CONAPRA’s viewpoint.

Lancha de praticagem resgatou náufraga no Rio Pilot’s motorboat rescued woman in the waters of Rio’s Guanabara Bay

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Lord Nelson: navio promove ambiente no qual se aprende a conviver com a diferença Lord Nelson: a ship that creates an environment for learning to live with the handicapped


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Nova gestão à vista 22º Congresso da IMPA aconteceu no Panamá. Eleição de executivos e ampliação do canal tiveram destaque no evento

Práticos brasileiros na Cidade do Panamá

Desde abril a IMPA conta com novos dirigentes. O prático canadense Simon Pelletier e seu colega francês Frédéric Moncany foram eleitos presidente e vice-presidente sênior durante o 22º Congresso da IMPA, realizado na Cidade do Panamá. Durante os próximos quatro anos eles serão os responsáveis pela gestão da International Maritime Pilots’ Association. A dupla substituiu o norte-americano Michael Watson e o brasileiro Otavio Fragoso, que dirigiram a entidade de 2006 a 2014.

Brazilian pilots in Panama City

New management in sight Panama hosts the 22nd IMPA Congress. Emphasis at the event on the election of executives and expansion of the Canal

Frédéric Moncany E/ and SIMON PELLETIER

IMPA has new directors since April. Canadian pilot Simon Pelletier and his French colleague Frédéric Moncany were elected president and senior vice-president during the 22nd IMPA Congress in Panama City. They will be responsible over the next four years for the administration of the International Maritime Pilots’ Association. The duo has substituted North American Michael Watson and Brazilian Otavio Fragoso, who ran the association from 2006 to 2014.

Os três cargos de vice-presidente que se encontravam vagos também foram preenchidos com a eleição do inglês John Pearn, do sul-coreano Na, Jong Pal e do brasileiro Ricardo Falcão. Otavio ressaltou que o ingresso de Falcão na IMPA revela o respeito que

The three vice-president vacancies have also been filled by the newly elected Englishman John Pearn, South Korean Na, Jong Pal and Brazilian Ricardo Falcão. Otavio Fragoso pointed out that the inclusion of Falcão in IMPA shows how the association now

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respects Brazilian pilotage. “By providing a proven quality service, the Brazilian pilotage plays a leading role in Brazil. The more structured the service in its country of origin, the more force it will have in IMPA or any other international organization”, commented the pilot. The election of Pelletier and Moncany reinforces this theory, since Canada and France also have organized and successful pilotage models.

Rainiero Salas, Alvaro Moreno, Otavio Fragoso e/and Michael Watson

a praticagem brasileira conquistou na associação. “Por prestar um serviço de qualidade comprovada, a praticagem nacional tem posição de destaque no Brasil. Quanto mais estruturado o serviço se apresentar em seu país de origem, mais força ele terá na IMPA ou em qualquer outra entidade internacional”, refletiu o prático. A eleição de Simon e Moncany reforça essa teoria, posto que Canadá e França apresentam modelos de praticagem igualmente organizados e bem-sucedidos. Tendo começado na profissão em 1996 como prático do Rio São Lourenço, Simon Pelletier preside a Associação Canadense de Práticos desde 2009. Dedica-se há anos a estudos e debates na IMO relacionados à tecnologia, especialmente à e-navigation, assunto no qual é expert. Entrou na IMPA em 2008 como vicepresidente; Moncany é prático do Porto de Rouen, na França. Em 1999, elegeu-se presidente da Organização de Práticos de Rouen e, em 2009, presidente da Associação Francesa de Práticos. Desde 2010 ocupa um dos postos de vice-presidente da IMPA.

Simon Pelletier joined the profession in 1996 as a pilot on St. Lawrence River and is president of the Canadian Marine Pilots’ Association since 2009. He has dedicated years to study and debates in the IMO related to technology, especially e-navigation, a subject on which he is an expert. He joined IMPA in 2008 as vicepresident. Frédéric Moncany is a pilot in Rouen port, France. In 1999, he was elected president of the Rouen Pilots’ Organization and in 2009 president of the French Pilots’ Association. Since 2010 he has occupied one of the vice-president positions in IMPA. The Congress Many of the panels were devoted to the special nature of canal pilotage and to the impacts of the Panama Canal expansion. Pilot Rainiero Salas spoke about his experience on the Panama Canal, and Manuel Benitez, its administrator, talked about the effects of the project. Mike Burgess, from the Canadian Marine Pilots’ Association, analyzed the service in Welland Canal in Ontario. Pilots Michael Hartmann and Stefan Borowski presented special details of the major German waterway, Kiel Canal. And finally, Mike Morris, from the UK Maritime Pilots’ Association, spoke about Manchester Canal. The choice of Panama City to host the 22nd IMPA Congress was perfect, according to IMO secretary-general Koji Sekimizu, who spoke to the meeting’s audience by videoconference. He stressed that Panama today is one of the great maritime nations. He also made reference to its “iconic” canal, whose inauguration is commemorated in 2014. Its expansion works are advancing and the delegates were impressed by its grandeur and ingenuity. The subsequent sessions addressed technical topics: innovation in pilot motorboats, Hadrian Rail; pilot training, AIS Replay; collision

A. Moreno E/ and Ricardo falcão

O congresso Boa parte dos painéis foi dedicada às peculiaridades da praticagem em canais e aos impactos que a ampliação do canal panamenho trará. O prático Rainiero Salas ofereceu depoimento sobre sua experiência no Canal do Panamá, e Manuel Benitez, seu administrador, discorreu acerca dos efeitos da obra. Mike Burgess, da Associação de Práticos do Canadá, analisou o serviço no Canal

Comportas de Miraflores

Miraflores Locks

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de Welland, em Ontário. As particularidades do estreito alemão mais importante, o Canal de Kiel, foram apresentadas pelos práticos Michael Hartmann e Stefan Borowski. Por fim, Mike Morris, da Associação de Práticos do Reino Unido, falou sobre o Canal de Manchester. A escolha da Cidade do Panamá para sediar o 22º Congresso da IMPA mostrou-se acertada, segundo o secretário-geral da IMO, Koji Sekimizu, que se dirigiu à plateia do encontro por videoconferência. Ele salientou que o Panamá hoje está entre as grandes nações marítimas. Fez referência, ainda, a seu “icônico” canal, cujo centenário de inauguração comemora-se em 2014. As obras para sua ampliação encontram-se em etapa avançada e impressionaram os participantes por sua grandiosidade e engenhosidade. As sessões subsequentes trataram de temas técnicos; inovação em lanchas de práticos, Hadrian Rail, treinamento de práticos, AIS Replay, prevenção de colisões, manobrabilidade e e-navigation estiveram entre os assuntos abordados. No final do encontro, houve o tradicional convite para o próximo congresso, que acontecerá em 2016, na Coreia. Evento marca 20 anos de participação brasileira na Associação Internacional de Práticos Carlos Jesus Schein é o primeiro brasileiro de que se tem notícia a participar de um congresso da IMPA. Em 1990, o prático esteve presente na décima edição do encontro da associação, em Tel Aviv. Dois anos depois, em 1992, a praticagem nacional enfrentaria séria crise institucional. A fim de obter subsídios para se articular e fazer frente aos ataques que a profissão vinha sofrendo, um grupo de práticos brasileiros resolveu participar do 11º Congresso da IMPA, em Madri, naquele ano. Antonio Robles, Carlos Eloy Cardoso Filho, Carlos Hermann, Herbert Frederico Mello Hasselmann (falecido), Marco Antonio Barroca, Mauro Canto, Otavio Fragoso, Ronaldo Jansson e Vicente Fraga Mares Guia fizeram parte dessa emblemática comitiva, reforçando o relacionamento dos práticos brasileiros com a IMPA.

prevention, maneuverability and e-navigation were some of the issues discussed. At the end of the meeting the traditional invitation was offered for the next Congress to be held in 2016 in Korea. Event marks 20 years of Brazilian participation in the International Maritime Pilots’ Association As far as we know, Carlos Jesus Schein is the first Brazilian to participate in an IMPA congress. In 1990, the pilot attended the tenth Association’s meeting in Tel Aviv. Two years later, in 1992, Brazilian pilotage was to face a serious institutional crisis. In order to obtain subsidies to coordinate and stand up to the attacks against the profession, a group of Brazilian pilots decided to attend the 11th IMPA Congress in Madrid that year. Antonio Robles, Carlos Eloy Cardoso Filho, Carlos Hermann, the late Herbert Frederico Mello Hasselmann, Marco Antonio Barroca, Mauro Canto, Otavio Fragoso, Ronaldo Jansson and Vicente Fraga Mares Guia were part of this emblematic delegation, reinforcing the relationship of Brazilian pilots with IMPA. The Brazilians, full of vigor, with questions, ideas and experiences to share, were pure enthusiasm and quickly gained the foreign pilots’ sympathy. A strong bond was formed at that moment, which in the future would provide support for the representativeness, which Brazilian pilotage enjoys today at an international level. Before the start of the Congress, the group was divided in two. One part went to the UK. A must for the delegation was to learn more about English pilotage, which had suffered the rebound effect imposed by former Prime Minister Margaret Thatcher around a decade earlier. One of the measures adopted by the Iron Lady was to decentralize the service, which was now controlled by private port authorities.

Eloy, Otavio, Mauro e Mello na histórica comitiva de 92 Eloy, Otavio, Mauro and Mello at the historic 1992 meeting Jansson, Mares Guia, Mauro, Otavio e Robles no 11º Congresso da IMPA, Madri, 1992 Jansson, Mares Guia, Mauro, Otavio and Robles at the 11th IMPA Congress, madrid, 1992

Cheios de garra, perguntas, ideias e experiências para compartilhar, os brasileiros eram puro entusiasmo e conquistaram rapidamente a simpatia dos estrangeiros. Nascia nesse momento forte 6

The neoliberal onslaught overwhelmed what had once been the world’s greatest maritime power, and there was a real threat of its impacts spreading to other countries. The other delegation visited pilotage in Germany, always a benchmark for organization and economic strength. Later, they all met up in Rotterdam, the main European port.


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vínculo que no futuro forneceria sustentação à representatividade da qual a praticagem brasileira goza hoje em âmbito internacional. Antes do início do congresso, o grupo dividiu-se em dois. Parte dele seguiu para o Reino Unido. Conhecer de perto a praticagem inglesa, que sofria o efeito rebote da desregulamentação imposta pela primeira-ministra Margaret Thatcher, cerca de uma década antes, configurava tarefa mandatória da missão. Entre as medidas adotadas pela Dama de Ferro estava a descentralização do serviço, que passou a ser controlado por autoridades portuárias privadas. O neoliberalismo chegara de forma avassaladora naquela que fora a maior potência marítima mundial, e a ameaça de seus efeitos propagarem-se em outros países era real. O outro segmento visitou a praticagem da Alemanha, sempre uma referência por sua organização e pujança econômica. Depois, todos se encontraram no Porto de Roterdã, o principal da Europa. A participação no encontro da IMPA foi tão bem sucedida, que a delegação brasileira ofereceu com êxito o Rio de Janeiro para sediar o 13º Congresso da IMPA, que aconteceu em 1996. Os congressos da IMPA são bienais e, depois do de Madri, seguiu-se o de Vancouver, em 1994, quando a praticagem brasileira mostrou que havia chegado para ficar. Durante o evento no Canadá, o carioca Helcio Kerr elegeu-se vice-presidente da associação. Pela primeira vez na história um prático brasileiro fazia parte do comitêexecutivo da IMPA. Mais do que uma vitória do Brasil, o fato representou grande conquista para a praticagem da América Latina, que sofrera duro golpe na Argentina dois anos antes. A profissão deixou de ser regulamentada pela autoridade marítima argentina graças a decreto baixado pelo presidente Carlos Menem, em janeiro de 1992. Os brasileiros estavam sob alerta total. O exemplo do que acontecera no país vizinho era altamente indesejável. Um executivo brasileiro na IMPA vinha a calhar. Atuando ao lado do canadense Michel Pouliot (então presidente da IMPA), Helcio realizou trabalho memorável visando aumentar a representatividade latino-americana internacional, até então incipiente na IMPA. Visitou diversas nações do continente e conseguiu a adesão de novos países-membros. Sua competência foi reconhecida em Xangai, em 1998, quando se reelegeu vicepresidente, cargo que ocupou até 2002. Siegberto Schenk, prático da Espírito Santo Pilots, também se destacou na trajetória do Brasil na IMPA, tendo sido membro do Conselho Técnico da associação de 2001 a 2004. Depois viriam Otavio Fragoso e, em seguida, Ricardo Falcão. O ano de 2014 marca, portanto, 20 anos de atuação ininterrupta do Brasil na IMPA. O período Mike/Otavio A empatia entre os práticos Michael Watson e Otavio Fragoso aconteceu de forma instantânea. Embora sejam indivíduos bastante diferentes, profissionalmente compartilham dos mesmos

Its participation in the IMPA meeting was so successful that the Brazilian delegation’s suggestion that Rio de Janeiro host the 13th IMPA Congress in 1996 was accepted. IMPA congresses are held every two years and, after Madrid, it went to Vancouver in 1994, when Brazilian pilotage showed that it had come to stay. During the event in Canada, Rio-born Helcio Kerr was voted vice-president of the association. For the first time ever, a Brazilian pilot was a member of the executive committee of IMPA. This was not just a victory for Brazil but also a major achievement for Latin American pilotage, which had suffered a heavy blow in Argentina two years earlier. The profession was no longer regulated by the Argentine maritime authority thanks to a decree issued by President Carlos Menem in January 1992. The Brazilians were on full alert. That event in its neighboring country was extremely undesirable. A Brazilian executive in IMPA was a lucky stroke. Working alongside Canadian Michel Pouliot (then IMPA president), Helcio Kerr did memorable work to increase international Latin American representativeness, until then in its early days in IMPA. He visited various nations on the continent and successfully attracted new member-states. His competence was acknowledged in Shanghai in 1998, the year he was re-elected vice-president, a position he occupied until 2002. Siegberto Schenk, a pilot of Espírito Santo Pilots, was also outstanding in Brazil’s career in IMPA, as a member of the Association’s Technical Council from 2001 to 2004. Then came Otavio Fragoso and later Ricardo Falcão. The year 2014, therefore, marks 20 years of Brazil’s continuing role in IMPA.

Carlos Eduardo Massayoshi, Euclides Alcantara, Helcio Kerr, Siegberto Schenk e Pedro Paulo ALCANTARA no 15º Congresso da IMPA, Havaí, 2000 Carlos Eduardo Massayoshi, Euclides Alcantara, Helcio Kerr, Siegberto Schenk and Pedro Paulo ALCANTARA at the 15th IMPA Congress, Hawaii, 2000

The Watson/Fragoso period The empathy between the pilots Michael Watson and Otavio Fragoso was instant. Although quite different people professionally, they share the same values, which brought them together as soon as they met. Both have always been identified as professionals engaged in matters related to strengthening what is the noblest aspect of the profession: its work in the public interest. It is no coincidence that they both sacrificed and sacrifice their personal lives to the collective. 7


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Os práticos na American Pilots’ Association, Washington D.C., 2010 The pilots in the American Pilots’ Association, Washington-DC, 2010

Otavio e sua filha, Marina, com Michael Watson, Trancoso, 2004 Otavio and his daughter Marina, with Michael Watson, Trancoso, 2004

valores, o que os aproximou desde que se conheceram. Ambos sempre foram identificados como profissionais engajados em matérias relativas ao fortalecimento da profissão no que de mais nobre ela possui: o interesse público. Não por acaso os dois sacrificaram e sacrificam suas vidas pessoais em prol do coletivo. Em 2004, o norte-americano Michael Watson esteve em Trancoso (BA), onde participou do 25º Encontro Nacional de Praticagem. Lançando mão de sua apurada intuição, Mike enxergou em Otavio um parceiro. Sugeriu que ele se candidatasse a um dos postos de vice-presidente da IMPA. Pego de surpresa, Otavio teve pouco tempo para pensar – o prazo para as inscrições terminaria logo. Na época o brasileiro era presidente do CONAPRA e, durante a assembleia realizada no encontro, colocou o assunto em pauta. Não houve dúvida de que ele era a pessoa mais indicada para a empreitada: já frequentava fóruns internacionais, tinha inglês fluente, sólido conhecimento das questões essenciais para a profissão e muitos relacionamentos no meio. Três meses depois, em Istambul, Otavio tornou-se vice-presidente da IMPA. Watson, também vice-presidente na época, fora eleito antes, em 2002. Em Cuba, no congresso de 2006, a parceria Mike/ Otavio seria formalmente instituída com sua eleição para presidente e vice-presidente sênior. Uma espécie de upgrade, que lhes permitiu a formação de poderosa parceria, altamente eficiente e respeitada no meio marítimo mundial. Watson é emotivo e político, e Otavio, racional e sem papas na língua. Juntos dirigiram por oito anos a praticagem internacional colocando a serviço da classe toda a experiência e o conhecimento adquiridos em suas carreiras. Segundo Otavio, a harmonia e complementaridade entre eles superou todas as intempéries que a associação enfrentou. Sempre 8

In 2004, Michael Watson was visiting Trancoso (Bahia State), where he participated in the 25th National Pilotage Meeting. Watson, using his finely tuned intuition, saw a partner in Fragoso. He suggested he apply for one of the vice-president positions in IMPA. Otavio Fragoso, caught by surprise, had little time to think about it – the application deadline was close. At that time the Brazilian was president of CONAPRA and during the assembly at the meeting, he raised the matter for discussion. There was no doubt he was the best person for the job: he was already attending international forums, spoke fluent English, had solid knowledge of the profession’s key issues and knew many people in the field. Three months later, Fragoso was voted vice-president of IMPA in Istanbul. Watson, also then vice-president, was elected earlier, in 2002. In Cuba, at the 2006 Congress, the Watson/Fragoso partnership was to be formally instituted with their election to president and senior vice-president. This was a kind of upgrade that allowed them to form a powerful, highly efficient and respected team in the international maritime world. Watson is emotive and political, while Fragoso is rational and outspoken. For eight years they directed international pilotage together, providing the whole class with all their experience and know-how acquired during their careers. Otavio Fragoso says that harmony and their complementing each other overcame any storm faced by the association. They were always in tune, with no power struggles, and they would carry on solving, or at least showing the ways to solve external or internal problems. The partnership was so successful that there were more than a few delegations disappointed when they learned that Fragoso was not standing for the presidency of IMPA; he was the natural candidate, someone who everyone expected to see at the head of IMPA after the end of Watson’s mandate. Fragoso, however, ended his career as an executive of the association. “We will greatly miss this double act”, stressed Nick Cutmore, IMPA secretary-general, when saying farewell to both of them in Panama. – Mike and Otavio have spent longer than just their eight years as President and Senior Vice President. Both were Exec members


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Mike e Geraldine Watson, Lia da Silveira e Otavio, Malta, 2013 Mike and Geraldine Watson, Lia da Silveira and Otavio, Malta, 2013 Otavio e Mike em visual faroeste

em sintonia, sem disputa de poder, foram caminhando e resolvendo, ou pelo menos mostrando os caminhos para resolver, problemas externos ou internos. A parceria deu tão certo, que não foram poucas as delegações que ficaram frustradas quando souberam que Otavio não se candidataria ao cargo de presidente da IMPA; ele era o candidato natural, aquele que todos esperavam ver à frente da IMPA depois do final do mandato de Watson. Otavio, porém, deu por encerrada sua jornada como executivo da entidade. “Uma dupla que deixou saudades”, frisou o secretário-geral da IMPA, Nick Cutmore, na despedida de ambos, no Panamá. – Mike e Otavio permaneceram mais tempo na IMPA do que o período em que ocuparam os cargos de presidente e vice-presidente sênior. Antes já eram membros do quadro executivo da entidade. Tenho certeza de que mais será dito na sexta-feira, mas quero agradecer a ambos seu desempenho durante os últimos oito anos, o que foi tão essencial para a organização quanto para o bom funcionamento do escritório. Apesar de serem pessoas muito diferentes, seu entrosamento não poderia ter sido melhor para a associação. Mike, como vocês sabem, é duro e franco (alguns usam adjetivos mais grosseiros para qualificá-lo). Quando o vemos falando, melhor seria dizer rosnando, nas Bahamas ou na IACS, ou quando alguém tenta criticar vocês, compreendemos quão vantajosa foi sua presidência. Mike, no entanto, seria o primeiro a admitir que não teria sido bem-sucedido sem a presença, a seu lado, de seu cerebral vice-presidente sênior, o que me leva a imaginar os dois no velho oeste do tempo dos pioneiros − disse Nick projetando a montagem que exibiu para homenageá-los. Um dos maiores orgulhos da gestão Mike/Otavio foi alavancar a African Maritime Pilots’ Association (AMPA). Junto com outros executivos, estiveram em 2010 no Senegal apoiando a AMPA e o Porto de Dacar durante o primeiro fórum africano de praticagem. Em 2012, mais organizada, a praticagem africana promoveu o primeiro congresso da AMPA, no Marrocos, também com o apoio da IMPA. Ter contribuído para o fortalecimento

Fragoso and Watson in the Wild West

before they assumed these posts. I am sure more is going to be said on Friday but I want to personally thank them for their steering during the past eight years, which has been essential for the organization and the office to function properly. They are both very different people, but their pairing could not have been better for the organization. Mike, as you know, is blunt and forthright (some say ruder things about him). When you see him at IMO speaking, or should I say growling, at the Bahamas, IACS or anyone else trying to criticize you, you will see the benefits you have enjoyed of his presidency. However Mike would be the first to admit that he couldn’t have done it without his cerebral Senior Vice President riding shotgun with him. This led me to imagine the two of them in the Wild West years ago – said Nick when projecting a slide in their honor. One of the greatest sources of pride of the Watson/Fragoso management was leveraging the African Maritime Pilots’ Association (AMPA). In the company of other executives, they went to Senegal in 2010 to support AMPA and visited Dakar port during the first African pilotage forum. In 2012, a better-organized African pilotage held the first AMPA Congress in Morocco, also with IMPA’s support. A major achievement for the category was its contribution to regional reinforcement of the profession and to adoption of the international regulations governing the service on the African continent, namely those in the IMO Resolution A.960.

Prático do porto de Dacar e senhora recebem executivos da IMPA, 2010 Dakar port pilot and his wife welcome IMPA executives, 2010

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Executivos, conselheiros e funcionários da IMPA, Londres, 2006 IMPA executives, counselors and employees, London, 2006

19º Congresso da IMPA, Bangoc, 2008 19th IMPA Congress, Bangkok, 2008

regional da profissão e para a adoção das normas internacionais que regem o serviço no continente africano, sobretudo as da Resolução A.960 da IMO, configurou grande conquista para a categoria.

Another example of how important IMPA’s support is in local organizations is the consolidation of the Latin American Maritime Pilot’s Forum, now in its eighth year. The forum began after some difficulties faced by the profession in Latin America, and its organization has proven essential for the group’s survival in rocky scenarios. After the unrest of the 1990s, and with IMPA support, it took shape and gained credibility, having today 11 member countries: Argentina, Brazil, Chile, Colombia, Cuba, Ecuador, Mexico, Panama, Paraguay, Uruguay and Venezuela. A bloc that keeps the differences between its members but also cohesion by following the basic principles regulating the service.

Também a consolidação do Fórum Latino-Americano de Práticos, que já vai para a 8ª edição, exemplifica quão importante é o apoio da IMPA às organizações locais. O fórum nasceu devido a dificuldades enfrentadas pela profissão na América Latina, e sua organização mostrou-se fundamental para o grupo sobreviver em cenários instáveis. Passada a turbulência da década de 1990, e com o apoio da IMPA, ganhou corpo e credibilidade, e hoje congrega 11 países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Panamá, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Um bloco que, apesar de guardar diferenças entre seus membros, mantém a coesão por seguir os princípios básicos que regem o serviço. Os líderes da IMPA costumam explicar que a associação não dita normas para o serviço de praticagem de seus países-membros. Muito pelo contrário, a entidade acredita que quanto mais fortalecidas em nível regional mais preparadas as praticagens estarão para os desafios. A IMPA funciona como órgão agregador e unificador. Entre seus objetivos está o estímulo às parcerias regionais de acordo com os padrões preconizados internacionalmente pela IMO e dos quais a IMPA é porta-voz. Como reforçou Watson no Panamá, a Organização Marítima Internacional recusou o projeto de padronização internacional dos serviços de praticagem − eles devem ser adequados às peculiaridades locais, e os esforços no sentido de padronizá-los mostraram-se equivocados.

V Fórum Latino-Americano de Práticos, Cartagena, 2009 5th Latin American Pilots’ Forum, Cartagena, 2009

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IMPA leaders usually explain that the association does not dictate rules for the pilotage service of its member states. Quite the contrary, since the organization believes that the stronger they are at a regional level, the better prepared the pilots will be to face their challenges. IMPA operates as an aggregating and unifying body. One of its objectives is to encourage regional partnerships to adopt the international standards recommended by IMO and for which IMPA is spokesman. As Watson stressed in Panama, the International Maritime Organization rejected the idea of international standardization of pilotage services – they must adapt to local peculiarities, and the efforts to standardize them was a mistake.

VII Fórum Latino-Americano de Práticos, Búzios, 2013 7th Latin American Pilots’ Forum, Buzios, 2013


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O case Otavio Fragoso

Maria Amélia Parente

The Otavio Fragoso case Otavio Augusto Fragoso Alves da Silva representa a antítese da mentalidade individualista e de curtíssimo prazo, verdadeira praga do nosso tempo. Para um prático conquistar sua antipatia basta dizer que ingressou na profissão apenas para ganhar dinheiro. “Obviamente tomo decisões profissionais e particulares levando em conta retorno financeiro, mas o acúmulo de recursos nunca foi prioridade na minha vida”, explicita. Colegas do prático corroboram a afirmação e, sem titubear, asseguram que na praticagem brasileira não existe alguém que trabalhe mais pelo coletivo do que Otavio. Para a lida como prático e executivo, ele conta com preciosas ferramentas: enorme capacidade de trabalho, inteligência privilegiada (a de acepção clássica e a emocional), cultura e retidão de caráter. Otavio é uma pessoa multitarefa. Dá conta de fazer várias coisas simultaneamente. Além de manobrar navios, ocupa o posto de presidente da Fenapráticos* e do Sindicato de Práticos do Rio de Janeiro, atua regularmente no Conselho Nacional de Praticagem, em que é conselheiro institucional e editor da revista Rumos Práticos (não participou, entretanto, da elaboração desta matéria), e até poucos meses atrás era vice-presidente sênior da IMPA.

No Porto do Rio, nos anos 90

At Rio Port in the 1990s

Sua virtude, entretanto, acaba voltando-se contra ele. Vez por outra tem que ouvir da família e dos amigos cobranças por conta de sua ausência, já que dedica boa parte de sua existência ao trabalho. “Ele costuma ter compromisso no exterior mês sim, mês sim”, reclamam. Mas a responsabilidade não é da praticagem. Otavio se comportaria assim em qualquer profissão. Ele tem o gene da realização, de colocar em prática suas ideias, que normalmente são boas e muitas. Isso gera um custo: quase não tem tempo para ele. Esse foi um dos motivos pelo qual decidiu não se candidatar ao cargo de presidente da IMPA, cuja eleição ocorreu em abril de 2014. “Já dei minha cota, se aceitasse seria por pura vaidade”, explica. A trajetória profissional de Otavio começou bem antes de a praticagem entrar em sua vida. Quando era adolescente queria ser oceanógrafo. Na universidade estadual do Rio cursou durante algum tempo geografia e geologia, com objetivo de se especializar em oceanografia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas a graduação que vingou foi economia, cursada na UFRJ, onde obteve o título de bacharel. Ainda na faculdade, prestou concurso público e começou a trabalhar, aos 19 anos, na Prefeitura do Rio de Janeiro. Parte de seu plano deu certo: conquistou a almejada independência financeira e, ainda jovem, já ganhava bem a vida. Era dono do próprio nariz, mas, internamente, não se sentia realizado. Havia virado um burocrata, algo pouco estimulante para um jovem apai-

Em escada de quebra-peito, 2013

On a Jacob’s ladder, 2013

Otavio Augusto Fragoso Alves da Silva is the antithesis of the immediatist individualist mentality so rife today. For a pilot to rouse his hostility he just needs to say he joined the profession only for the money. “Obviously I make my professional and personal decisions considering financial return, but accumulating money was never a priority in my life”, he explains. Pilot's colleagues corroborate this statement and without hesitation assure us that in Brazilian pilotage no one works harder for the collective than Otavio Fragoso.

*Federação Nacional dos Práticos, entidade sindical criada em Brasília, em agosto de 2013, a fim de representar em nível nacional os profissionais de praticagem. *National Pilots’ Federation (Federação Nacional dos Práticos), a union created in Brasilia in August 2013, to represent professional pilots nationwide.

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xonado pelo conjunto veleiro, praia e mar. Otavio gostava tanto da vida no mar, que chegou a fazer curso de telegrafia a fim de passar férias embarcado, ocupando o posto de transmissor de mensagens. O tragicômico é que, assim que se formou, a Marinha deixou de usar esse sistema de comunicação. Nesse ponto de sua história o acaso resolveu dar-lhe uma mãozinha. Em uma tarde banal no Centro da cidade do Rio, Otavio foi ao Sindicato dos Oficiais de Náutica buscar o amigo Murilo para almoçar. Enquanto o aguardava, leu no quadro de avisos comunicado que anunciava processo seletivo para praticante de prático. O assunto do almoço dos três (Salustiano, outro oficial amigo juntara-se ao grupo) foi o concurso. Otavio conta que a descrição dos dois mostrara-se tão excitante, que ele ficou interessadíssimo. Mas como achava que a profissão só podia ser exercida por oficiais da Marinha Mercante, logo se resignou: “Pena que não posso inscrever-me.” Quando ouviu de Murilo que podia, sim, participar do concurso, começou a grande virada. Com a maré definitivamente a seu favor, o acaso interviu mais uma vez. Por questões burocráticas a Marinha adiou o exame, e Otavio, que jamais havia entrado em um navio mercante, tirou férias para conhecer embarcações dessa natureza e estudar noite e dia. Até então só conhecia veleiros. O que havia comprado não tinha nem motor. “Às vezes passava a noite na Baía de Guanabara esperando o vento”, recorda. Ele lembra que eram mais de 800 candidatos para as cinco vagas disponíveis para praticante de prático no Rio. Lembra-se, aliás, de tudo; até da farda que o candidato Marcos Evangelista, futuro colega, usava no dia da prova no simulador do Ciaga. Tem na memória cada detalhe do concurso, apesar dos quase trinta anos que separam aquele período de hoje.

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For life as a pilot and executive, he has on hand valuable tools: enormous working capacity, outstanding intelligence (in the traditional and emotional sense), culture and uprightness of character. Fragoso is a multitasker. He is able to do several things at the same time. In addition to maneuvering ships, he occupies the position of president of Fenapráticos* (see previous page) and the Rio de Janeiro Pilots’ Union (Sindicato de Práticos do Rio de Janeiro), regularly attends the Brazilian Maritime Pilots’ Association, in which he is institutional conselor and editor of the magazine Rumos Práticos (but not involved in writing this article), and until a few months ago was senior vice- president of IMPA. His virtue, however, turned against him. Occasionally he has to hear from his family and friends complaints about his absence, since he devotes a large part of his life to work. They complain: “He usually has a commitment abroad every other month”. But his sense of responsibility has nothing to do with pilotage. Otavio Fragoso would behave like that in any profession. He has a gene for inventing and putting in practice his many good ideas. This is at a cost: he has almost no time for himself. It was one of the reasons why he decided not to stand as candidate for president of IMPA in the election held in April 2014. “I had done my bit. I realized that if I were to accept, it would be pure vanity”, he explains. Otavio Fragoso’s professional career began long before pilotage entered his life. When he was still a teenager he wanted to be an oceanographer. At the Rio State University he studied geography and geology for some time, in order to specialize in oceanography at the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ). But that was where he graduated in economics. While still at college he sat a public examination and at 19 years old began working in Rio de Janeiro City Hall.

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“Não tinha a dimensão exata do que estava acontecendo, mas sentia que era algo crucial para a minha vida. O fato de já ter um bom emprego ajudou-me a não colocar expectativa nos resultados. Se passasse, seria lucro. Era como se eu estivesse sendo levado, não havia planejado aquilo. Se acreditasse em forças superiores, talvez dissesse que a vaga estava destinada a mim, pois passei em quinto lugar, tendo na minha frente quatro candidatos da Marinha (três da Mercante e um da de Guerra)”, comenta. O vento, porém, sempre muda e, em seguida, vieram as provações. O fato de ser economista trouxe mal-estar aos práticos que tinham preconceito com profissionais sem formação marítima. “Apesar de jovem, tinha experiência de vida e estava acostumado a enfrentar dificuldades no trabalho”, conta. Terminado o rito de passagem, recebeu finalmente sua carta de prático, e teve início um dos melhores momentos de sua vida – um período de encantamento, do qual ele se recorda com nostalgia. “Ia trabalhar feliz da vida com o que havia conquistado. Manobrar significava puro prazer. Era tudo muito tranquilo, agradável. Adorava meu novo ofício. Tinha carro, mas preferia ir de ônibus para a Avenida Presidente Vargas, onde ficava a sede da Cooperativa de Práticos do Estado do Rio de Janeiro (Coprarj). Achava tudo ótimo, não tinha estresse. No primeiro ano ganhava menos do que na Prefeitura, mas não dava importância para isso. Foi uma época maravilhosa”, relembra. As conquistas vieram naturalmente. Ainda como praticante participou do grupo de negociação de contratos. Presidiu a Coprarj (em 92, 96 e 97) e a empresa Rio Pilots (de 97 a 99). No Conselho Nacional de Praticagem atuou como diretor (em 97/98), conselheiro técnico (de 1999 a 2002) e presidente (em 2003/2004).

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At this point in his life, luck decided to lend him a hand. One ordinary afternoon in downtown Rio, Otavio Fragoso was visiting the Navy Officers’ Union to meet up with his friend Murilo for lunch. While he was waiting for him, he read on the notice board an announcement to select apprentice pilots. The subject over lunch between the three of them (Salustiano, another officer friend joined them) was the selection process. Otavio says that the description both gave was so exciting that he became immediately interested. But since the profession would only accept Merchant Navy officers, he soon gave up the idea: “Pity I can’t register”. When Murilo told him he could participate in the competition, this was his turning point. With the tide definitely in his favor, chance had again intervened. The Navy postponed the examination for bureaucratic reasons, and Otavio, who had never boarded a merchant ship in his life, spent his vacation learning about vessels of this kind and studying night and day. Until then his only contact with the sea had been sailboats. The one he had bought didn’t even have an engine.“Sometimes I would spend the night in Guanabara Bay waiting for the wind”, he recalls. He remembers that there were more than 800 candidates for the five apprentice pilot vacancies in Rio. In fact, he remembers everything; even the uniform that the candidate Marcos Evangelista, his future colleague, was wearing on the day of the exam in the Ciaga simula-

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Part of his plan was successful: he gained his longed for financial independence and, although young, was already earning well. He was his own master, but in his heart he felt unfulfilled. He had become a bureaucrat, not exactly exciting for a young man passionate for sailing, beach and the sea. Fragoso loved life at sea so much that he took a course in telegraphy so that he could spend vacations at sea, dispatching messages. The tragicomedy is that as soon as he graduated the Navy stopped using this communication system.

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tor. His memory holds each detail of the competition, despite the almost thirty years since that day.

Com parte da diretoria do Conapra durante a gestão 2003/2004 With some Conapra directors during the 2003-04 administration

Otavio sempre foi bom de conteúdo. Colegas do prático são unânimes em apontar sua incrível capacidade analítica e estratégica. Não por acaso entre suas responsabilidades na IMPA estava o planejamento estratégico. “Ele tem aguçada percepção dos acontecimentos e do comportamento das pessoas, o que permite que se antecipe aos fatos e preveja o que vai acontecer”, analisa o prático Marcelo Cajaty, com quem Otavio escreveu o livro Rebocadores Portuários, obra que faz parte da bibliografia do atual processo seletivo para praticante de prático.

“I had no precise idea of what was happening, but I felt that it was a key moment in my life. The fact of already having a good job helped me not to have expectations in the results. If I passed, it would be profit. It was as if I was being carried along, not having planned it. If I were to believe in superior forces, perhaps I would say that I was meant to be there, since I passed in fifth place, behind four Naval candidates (three from the Merchant Navy and one from the Brazilian Navy)”, he comments. The wind, however, always changes and his trials were about to begin. The fact that he was an economist caused discomfort among the pilots who were prejudiced against professionals without maritime training. “Although young, I had experience of life and was used to facing setbacks at work”, he says. After his rite of passage, he finally received his pilot’s license, and began one of best times in his life – a period of delight which he recalls with nostalgia. “I would go to work so happy at what I had achieved. Maneuvering was pure pleasure. Everything was very pleasant and peaceful. I

Com Helcio, ao ser empossado presidente do Conapra, 2003 With Helcio, when taking office as Conapra president, 2003

Com/with Marcelo Cajaty, Maceió, 2002

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Ele passeia do micro ao macro com igual desenvoltura, e suas antecipações são obra de eficiente modus operandi : acumular o máximo de informações sobre o passado para compreender o presente e prever e aprimorar o futuro. Provido de sensores naturais, Otavio jamais desconecta a racionalidade da sensibilidade, talvez seu grande diferencial. A curiosidade é outra aliada do prático. Em seu cardápio de leitura entram jornais, romances, obras científicas e técnicas e o que mais lhe aprouver – o que lhe garante robusta cultura geral e, em particular, sobre a profissão. “Ele sempre procurou informar-se e estar em dia com a evolução tecnológica. Como prático trabalha de forma extremamente técnica, cercando-se do máximo de informações a fim de realizar a faina de forma segura”, afirma Durvalino Ferreira, prático do Rio de Janeiro, colega de Otavio desde que este entrou na profissão. O relacionamento dos dois nem sempre se mostrou harmônico. Divergiram bastante nesses anos, mas o tempo encarregou-se de aparar as arestas. Hoje se admiram mutuamente e riem dos desentendimentos que tiveram, dando belo exemplo de maturidade em prol do fortalecimento da profissão. Entre as empreitadas lideradas por Otavio, Durvalino destaca a implementação do Conselho Técnico na Rio Pilots e do fim da terceirização do serviço de lanchas de praticagem na Coprarj.

loved my new job. I had a car but preferred to go by bus to President Vargas Avenue, the address of the headquarters of the Rio de Janeiro State Pilots Cooperative (Coprarj). I thought everything was excellent, no stress. The first year I earned less than at City Hall but it didn’t matter. It was a wonderful time”, he recalls. Achievements came naturally. He was still an apprentice pilot when he participated in the contract negotiation group. He presided Coprarj (1992, 1996 and 1997) and the company Rio Pilots (1997-1999). He was director of the Brazilian Maritime Pilots’ Association (1997/98), technical councilor (1999-2002) and president (2003/2004). Otavio Fragoso has always had a lot going for him. The pilot’s colleagues are unanimous in pointing out his incredible analytical and strategic capacity. It is no coincidence that strategic planning was one of his responsibilities. “He has sharp perception of events and people’s behavior, which helps him anticipate the facts and foresee what’s going to happen”, analyzes pilot Marcelo Cajaty co-author with Otavio Fragoso of the book Rebocadores Portuários [Harbor Tugs], which is included in the bibliography of the current selection process for apprentice pilots.

Genial no tocante ao conteúdo, por analisar brilhantemente os fatos e propor estratégias que invariavelmente dão certo, as críticas que recebe são quase sempre em relação à forma como coloca seus pontos de vista. Em Havana, no 18º Congresso da IMPA, quando foi eleito vice-presidente sênior da associação In Havana, at the 18th IMPA Congress, when elected senior vice-president of the Association

“Otavio gosta de trabalhar de forma correta. Tem muita confiança nas suas ideias e pode ser implacável em discussões, já que apre-

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senta argumentos imbatíveis. Alguns interpretam seu comportamento como arrogante, mas a veemência com que se coloca acontece pelo fato de ele ser uma espécie de paladino da honestidade e, por experiência, saber de antemão o que vai dar certo”, observa o prático Mauro do Canto.

COM Hein Mehrkens, ao ser eleito vice-presidente da IMPA, Istambul, 2004 WITH Hein Mehrkens on his election as vice-president of IMPA, Istanbul 2004

Com Mauro do Canto, no 13º Congresso da IMPA, Rio de Janeiro, 1996 With Mauro do Canto, 13th IMPA Congress, Rio de Janeiro, 1996

De acordo com Mauro, o colega granjeou no exterior respeito igual ao que conquistou no Brasil: “Geoff Taylor e Michel Pouliot (ambos ex-presidentes da IMPA) e Joseph Angelo (diretor-geral adjunto da Intertanko), por exemplo, são grande admiradores de sua ética e capacidade intelectual”. Mauro ressalta ainda que, desde que entrou na profissão, Otavio esteve em todas as frentes de trabalho que visaram colocar a praticagem brasileira nos padrões preconizados pelo organismo internacional competente. “Trata-de de profissional ímpar, com características especiais. Líder nato, formou e inspirou várias lideranças que hoje atuam na praticagem brasileira e mundial”, complementa.

He surfs from micro to macro with the same ease, and his predictions are the result of an efficient modus operandi: accumulating maximum information on the past in order to understand the present and foresee and enhance the future. Provided with natural sensors, Fragoso never loses the link between logic and sensitivity, perhaps his leading edge. The pilot’s curiosity is another ally. His reading menu includes newspapers, novels, scientific and technical books and whatever he sees fit – to ensure him a robust general knowledge, particularly about his profession. “He always strives to be informed and up-todate with technological evolution. As a pilot he works extremely technically, surrounding himself with as much information as he can to accomplish the task safely”, says Durvalino Ferreira, pilot from Rio de Janeiro, Otavio’s colleague since he joined the profession. The relationship of the two has not always been harmonious. They diverged considerably over the years, but time has smoothed the edges. Today they admire each other and laugh at the disagreements they had, in a beautiful example of maturity in order to strengthen the profession. Ferreira highlights two of the projects headed by Fragoso: implementation of the Technical Council in Rio Pilots and the end of outsourcing the pilots’ motorboat service in Coprarj. He is extremely gifted with regard to content, by brilliantly analyzing the facts and proposing strategies that are invariably successful, but the criticism he receives is almost always about the way in which he puts forward his points of view.

Com Michel Pouliot, durante encontro da CMPA, 2005 With Michel Pouliot, at a meeting of the CMPA, 2005

Casado há 28 anos com a arquiteta Lia da Silveira, Otavio conta com uma maravilhosa relações-públicas. Extrovertida e despachada, Lia, sempre que é possível, acompanha o marido em suas missões, quando aproveita para fazer uma das coisas de que mais gosta: conhecer pessoas e lugares diferentes. Craque na arte de fazer amigos, graças a ela o casal tem amizades genuínas em todo o mundo. Lia sabe receber como ninguém, e a residência do casal está sempre cheia de amigos. Amigos que poderiam hospedar-se em hotéis, mas preferem sua hospitalidade. 16

“Otavio likes to work correctly. He has a lot of confidence in his own ideas and can be implacable in discussions, since he presents unbeatable arguments. Some interpret his behavior as arrogant, but his vehemence is due to the fact that he is a kind of champion of honesty and, from experience, knows beforehand what will be a successful outcome”, comments pilot Mauro do Canto. He adds that his colleague earned as much respect outside Brazil as he has at home: “Geoff Taylor and Michel Pouliot (both former presidents of IMPA) and Joseph Angelo (deputy director-general of Intertanko), for example, are great admirers of his ethics and intellectual capacity”. Mauro de Canto also emphasizes that as soon as he joined


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the profession, Fragoso was involved in all work fronts that would place Brazilian pilotage in the standards recommended by the relevant international organization. “He is a unique professional, with special characteristics. He is a born leader, and inspired several leaderships that today work in pilotage at home and abroad”, he adds.

Com a mulher, Lia da Silveira, Quebec, 2005 With his wife Lia da Silveira, Quebec, 2005

Assim como o marido, adora velejar. Já trouxe, aliás, junto com colegas de Otavio, um veleiro de 45 pés das Ilhas Canárias a Salvador, em travessia que durou 20 dias. Por sua simpatia e espontaneidade é muito querida no ambiente da praticagem.

Otavio Fragoso is married for 28 years to architect Lia da Silveira, his wonderful public relations promoter. Extroverted and efficient, whenever possible Lia accompanies her husband on his missions, when she takes advantage to do one of the things she likes best: getting to know people and different places. She is an expert in the art of making friends, and thanks to her the couple have true friendships the world over. Lia is a remarkable hostess and the couple’s home is always full of friends. Friends who could stay in hotels, but prefer their hospitality. Like her husband, she loves to sail. Together with Otavio’s colleagues, she has already brought a 45-ft sailboat from the Canary Islands to Salvador, in a 20-day crossing. She is very well liked in the pilotage environment because of her charm and spontaneity.

Aos 55 anos, Otavio representa precioso patrimônio da praticagem brasileira. Fundamental frisar, entretanto, que reconhece ter encontrado na profissão e na vida pessoas que o ajudaram a colocar em prática suas competências. Acredita, portanto, que, assim como em todo caso de sucesso, sua vitória não é individual, mas de um grupo.

Otavio Fragoso, 55 years old, is a valuable asset to Brazilian pilotage. We must point out, however, that he gives credit to having found people in his profession and life that have helped him put his skills in practice. He therefore believes that, as in all success stories, his achievements are not individual but collective.

Maria Amélia Parente é jornalista

Maria Amélia Parente is a journalist

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1990 - Com Mello e Mauro de Assis, Ilhéus With Mello and Mauro de Assis, Ilhéus 1998 - Na Muralha da China com os práticos Peter Russel e Martin Retes On the Great Wall of China with pilots Peter Russell and Martin Retes 1999 - Com o filho, Lucas, e participantes do 13º ENP, Fortaleza With his son Lucas and delegates of the 13th ENP, Fortaleza 2003 - No passadiço On the bridge 2003 - Recebendo a medalha Amigo da Marinha Being awarded the ’Friend of the Brazilian Navy’ medal 2003 - Com práticos e a filha, Marina, Cabedelo With pilots and his daughter, Marina, Cabedelo 2004 - Com Jandira e Neusa, Conapra With Jandira and Neusa, Conapra 2004 - Istambul Istanbul 2005 - III Fórum Latino-Americano de Práticos, Montevidéu 3rd Latin American Pilot’s Forum, Montevideo 2005 - 29º ENP, Fortaleza 29th ENP, Fortaleza 2005 - Com Decio e o vice-almirante Aurélio, Rio de Janeiro With Decio and Vice Admiral Aurélio, Rio de Janeiro 2006 - Com Nick Cutmore e Caron James (do staff da IMPA), Havana With Nick Cutmore and Caron James (IMPA staff), Havana 2006 - Com R. Striga, Havana With R. Striga, Havana 2007 - Com Carlos Eloy Cardoso Filho, Rio de Janeiro With Carlos Eloy Cardoso Filho, Rio de Janeiro 2007 - Com equipe da Rio Pilots With the Rio Pilots team 2007 - Em Port Revel, França At Port Revel, France 2008 - Em Bangcoc, no 19º Congresso da IMPA In Bangkok, at the 19th IMPA Congress 2008 - Com Geoff Taylor e Efthimios Mitropoulos, Londres With Geoff Taylor and Efthimios Mitropoulos, London 2008 - Representando a IMPA em Bangcoc Representing IMPA in Bangkok 2009 - Em Cartagena, no V Fórum Latino-Americano de Práticos In Cartagena, at the 5th Latin American Pilots’ Form 2010 - Com Durvalino e sua mulher durante o 35º ENP, Praia do Forte With Durvalino Ferreira and his wife during the 35th ENP, Praia do Forte 2010 - Otavio e J. P. Casanova recepcionados por prático de Dacar Fragoso and Casanova welcomed by Dakar pilot 2011 - Com Paulo Barbosa, 36º ENP, São Paulo With Paulo Barbosa, 36th ENP, São Paulo 2012 - 38º ENP, Porto de Galinhas 38th ENP, Porto de Galinhas 2012 - Idem Ditto 2013 - Com práticos latino-americanos, Búzios With Latin American pilots in Buzios 2014 - Durante o 22º Congresso da IMPA, Panamá During the 22nd IMPA Congress, Panama 17


literatura marítima maritime literature

Shiphandling for the Mariner, de Daniel H. MacElrevey, continua sendo referência na formação de práticos brasileiros Qualquer prático habilitado nos últimos 20 anos já pensou, em algum momento de sua carreira, em olhar por baixo das pernas para avaliar a distância de outro navio. Esse mesmo prático, quando desce para algum convés inferior, nunca diz que está indo “downstairs”, mas, sim, “down below”. Ele fica feliz quando suas manobras são “tão excitantes quanto ver a grama crescer”, “exatamente como deveria ser”. Essas ideias são familiares aos práticos formados no que se pode chamar de cultura Shiphandling for the Mariner. O livro, escrito por Daniel H. MacElrevey, foi publicado pela primeira vez em 1983 e representa um marco na literatura marítima. Além disso, faz parte da lista de referências bibliográficas do processo seletivo para praticante de prático desde 1995. Trata-se da obra preferida por quem estuda seguindo a bibliografia do concurso, que normalmente apresenta publicações maçantes, repletas de regulamentos, normas, minúcias ou fórmulas complicadas. Como o título já sugere, o livro trata de manobras de navios. Escrito por um marítimo, para marítimos, o trabalho resulta em leitura bastante leve e dinâmica; cada capítulo começa e/ou termina com uma história sobre o cotidiano dos marítimos e é recheado de desenhos bem-humorados, que complementam o assunto enfocado. MacElrevey era prático no Canal do Panamá quando foi convidado a voltar a viajar como capitão de longo curso nos novos navios de LNG da recém-criada El Paso Marine Co. Nessa ocasião, o presidente da El Paso, sabendo de sua experiência como prático, pediu que escrevesse um pequeno manual de manobras, na verdade um guia de 50 páginas, para oficiais da companhia. Enquanto escrevia, percebeu a carência de literatura que abordasse manobras de forma prática. Reparou ainda que muitos oficiais, embora observassem os práticos em ação, não tinham experiência em manobra. Sua observação evoluiu até virar livro, elaborado com a colaboração de práticos e oficiais que, como todos os homens do mar, querem compartilhar sua experiência e suas histórias. Apesar do grande sucesso da publicação, foi o primeiro e único livro escrito por ele. Posteriormente, apenas artigos para revistas e painéis. A partir da quarta edição, seu filho, Daniel E. MacElrevey, passou a trabalhar na atualização da obra. No concernente à manobra não houve grandes mudanças, ainda que ele tenha incluído alguns capítulos. 18

Marcelo Cajaty

Shiphandling for the Mariner by Daniel H. MacElrevey continues to be a benchmark for training Brazilian maritime pilots Any pilot qualifying in the past 20 years has already thought, at some time in his career, of “bending over and looking between his legs“ to estimate the distance of another ship. This same pilot, when he goes down to a lower deck never says “downstairs”, but rather “down below”. He rejoices when his maneuvers are “about as exciting as watching grass grow”, “just the way it was supposed to be”. These ideas are familiar to the pilots trained in what could be called Shiphandling for the Mariner culture. The book by Daniel H. MacElrevey was published for the first time in 1983 and is a benchmark in maritime literature. Moreover, it is on the list of bibliographic references for the pilot apprentice selection process since 1995. This is a student’s favorite among the books on the list of the public competition, which usually contains boring publications, full of rules and regulations, details or complicated formulas. As the title suggests, the book is about shiphandling, written by a mariner for mariners. The result is light and dynamic reading; each chapter begins and/or ends with a story about the mariners’ everyday life and is filled with amusing drawings complementing the subject in focus. Daniel H. MacElrevey was a pilot on the Panama Canal when he was invited to sail again as a captain on the new LNG ships of the recently created El Paso Marine Co. On that occasion, the El Paso CEO, learning of his experience as pilot, asked him to write a small handbook on shiphandling, a 50-page guide for the company’s officers. While he wrote, MacElrevey noticed the absence of practical literature on shiphandling. He also found that many officers, although they watched pilots in action, had no experience in shiphandling. His observation developed into a book, written with the collaboration of pilots and officers who, like all mariners, love to share their experience and stories. Even though it was a best seller, it was the first and only book written by MacElrevey; later, he just wrote articles for journals and panels. After the fourth edition, his son Daniel E. MacElrevey joined his father, updating the book. There were no major changes to


literatura marítima maritime literature

Recentemente, os editores os shiphandling, but he has procuraram perguntando sobre included some chapters. a possibilidade de nova edição, já que o estoque se aproximava Recently, the publishers do fim. Os MacElrevey inicialasked them about the possimente pensaram em apenas bility of a new edition, since atualizar determinadas figuras. the stock was almost at an Depois optaram por aprofundar end. The MacElreveys first o trabalho e começaram a perthought about only updating guntar aos usuários o que goscertain drawings. Then they tariam de ver incluído no livro. decided to delve deeper and Foram a escolas de marinha began asking users what they mercante pedindo novas ideias would like to see included in Práticos brasileiros com Daniel E. MacElrevey e consultaram práticos sobre o the book. They visited merBrazilian pilots with Daniel E. MacElrevey assunto. Percebendo a demanchant navy schools asking for da de atualização do conteúdo, new ideas, and consulted há um ano e meio começaram a modernizar segmentos do texto com pilots on the matter. Having discovered there was a demand for data de entrega prevista para final de 2014. updating the contents, a year and a half ago they began to refresh parts of the text with delivery deadline for the late fall of 2014. As novas figuras foram desenhadas por Earl R. McMillin, grande amigo e colega de Daniel H. MacElrevey. Daniel E., o filho, e o filho The new pictures were drawn by Earl R. McMillin, a close friend de Earl R. McMillin também foram colegas e agora são práticos. and colleague of Daniel H. MacElrevey. Daniel E., the son, and Earl São as gerações se sucedendo... R. McMillin’s son were also colleagues and are now pilots. From father to son... E, de nossa parte, podemos falar o mesmo. Muitos práticos estudaram no livro de MacElrevey, pai, e os filhos desses práticos estuAnd we can say the same thing. Many pilots have studied from daram nas novas edições, escritas pelos MacElrevey, pai e filho. MacElrevey’s book (father), and the sons of those pilots have São as gerações se sucedendo... studied from the new editions written by the MacElreveys – father and son. From one generation to another... Daniel H. MacElrevey Formado pela US Maritime Academy (1959-1963), navegou pela Mooremack Line, na qual fez as primeiras viagens para o Canal do Panamá. Como prático trabalhou no canal panamenho entre 1970 e 1978, quando havia grande necessidade de profissionais de praticagem. Voltou para o mar, navegando em navios LNG da El Paso entre 1978 e 1981, tendo atuado também como capitão de manobra em plataformas na Louisiana, EUA. Voltou a exercer o ofício de prático no Canal do Panamá entre 1983 e 1998. Nos últimos anos, trabalhou no escritório de operações do Canal e também dando aulas. Atualmente tem uma empresa e trabalha administrando vários hotéis em Nova Jersey.

Daniel H. MacElrevey Graduated from the US Maritime Academy (1959-1963), sailed for Moore-McCormack Lines, making his first voyages to the Panama Canal. As a pilot, worked on the Panama Canal from 1970 to 1978, when there was a great need for pilotage professionals. He returned to the sea, navigating LNG vessels for El Paso Marine Company (1978-1981), also serving as docking master on platforms in Louisiana, USA. He subsequently served as pilot again on the Panama Canal from 1983 to 1998. In recent years, he has worked in the Canal operations office and giving classes. Today he has his own company and manages several New Jersey hotels.

Daniel E. MacElrevey Formou-se em 1990 na US Maritime Academy. Navegou pela Mooremack Line Tankers durante quatro anos. Prático desde 1997, seu treinamento na Delaware River Pilots’ Association durou três anos. Em 2003 tornou-se full pilot.

Daniel E. MacElrevey Graduated in 1990 from the US Maritime Academy. Served aboard tankers for Moore-McCormack Lines for four years. Has been a pilot since 1997, after qualifying in three years from Delaware River Pilots’ Association. He became a full pilot in 2003.

Marcelo Cajaty é prático de Rio Grande e conselheiro institucional do CONAPRA. Durante o congresso do Panamá, entrevistou Daniel E. MacElrevey.

Marcelo Cajaty is a Rio Grande pilot and institutional counselor for CONAPRA. During the Panama Congress he interviewed Daniel E. MacElrevey 19


história history

Um dragão na luta pela liberdade A dragon fighting for freedom Há cem anos morria Chico da Matilde, o prático que fechou o porto de Fortaleza ao comércio negreiro Chico da Matilde, the pilot who closed the port of Fortaleza to the slave trade, died a hundred years ago

Defender o interesse público é e sempre foi o objetivo da praticagem. O prático cearense Francisco José do Nascimento, cujo centenário de morte se comemora em 2014, entretanto, foi além. Chico da Matilde, como também era conhecido, utilizando-se das prerrogativas de sua profissão, lutou para abolir uma das grandes aberrações da sociedade brasileira: a escravidão. O final do século 19 é fortemente marcado por debates relativos ao abolicionismo. O Brasil sofre mudanças profundas, e a escravidão passa a ser vista como sinônimo de atraso, um dos entraves para o esperado desenvolvimento nacional. Em 1880 funda-se em Fortaleza a Sociedade Cearense Libertadora, da qual Chico da Matilde torna-se membro.

The purpose of pilotage is forever to protect public interest. But pilot Francisco José do Nascimento, born in Ceará State, the centenary of whose death is commemorated in 2014, went far beyond. Chico da Matilde, as he was also known, using the prerogatives of his profession, fought to abolish one of the major aberrations of Brazilian society: slavery. The late 19th century is deeply marked by discussions on abolitionism. Brazil undergoes radical changes and slavery is regarded as synonymous with backwardness, one of the barriers against long-awaited national development. In 1880, the Ceará Society for Liberation (Sociedade Cearense Libertadora) of which Chico da Matilde was a member was founded in Fortaleza.

Os práticos tiveram papel relevante na luta contra o comércio negreiro no Ceará. Confrontando-se com um sistema arcaico e desumano, negaram-se a prestar seu serviço para fins escravocratas, desestabilizando um sistema que privilegiava interesses particulares em detrimento da coletividade: “No Ceará não se embarcam escravos”, bradaram então.

Pilots in Ceará played a leading role in the struggle against the slave trade. They confronted an archaic inhuman system by refusing to provide their service for purposes of slavery, undermining a system that favored private interests in detriment to the collective: “In Ceará, slaves do not embark”, was the cry then.

Em janeiro de 1881, Chico da Matilde liderou o movimento que ficou conhecido como a greve dos jangadeiros. Recusando-se a embarcar negros cativos, fechou o porto de Fortaleza ao tráfico de escravos. Seu gesto tornou-se emblema da causa abolicionista, e o prático passou a ser símbolo de bravura e liberdade. “Não há força bruta neste mundo que faça reabrir o porto ao tráfico negreiro”, declarou na época.

In January 1881, Chico da Matilde led the movement that became known as the raft-men’s strike. They refused to board black slaves and closed the port of Fortaleza to the slave trade. His gesture became an emblem of the abolitionist cause and the pilot was now a symbol of bravery and freedom. “No brute force in the world can make the port re-open to the slave trade”, he stated at the time.

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Em agosto do mesmo ano, houve nova tentativa de vender escravos cearenses para províncias do sul, sobretudo Rio de Janeiro e São Paulo, que careciam de mão de obra para a cultura do café. Os práticos, a bordo de suas jangadas, novamente frustraram a operação impedindo o embarque dos cativos. Após a segunda sublevação, o movimento abolicionista considerou o porto do Ceará definitivamente fechado ao tráfico negreiro. Sem condições de sustentar seus escravos, os fazendeiros do Ceará foram pressionados a alforriá-los, o que acelerou o processo de extinção da escravidão na província, efetivado em 1884. O fato preconizou a assinatura da Lei Áurea, que só aconteceria quatro anos depois, na capital do Império. Por conta de seu pioneirismo, o intelectual e político José do Patrocínio batizou o Ceará de Terra da Luz, como o estado é conhecido até hoje. Prático foi fundamental na história abolicionista brasileira Nascido em Aracati, em 1839, Francisco José era conhecido como Chico da Matilde, nome de sua mãe. Filho e neto de pescadores, perdeu o pai ainda criança e começou a trabalhar em tarefas ligadas ao meio marítimo para ajudar a família. Nos registros a seu respeito constam entre suas tarefas e funções a de garoto de recados de navios e chefe de catraieiros. Posteriormente trabalhou no porto de Fortaleza até virar marinheiro, quando teve a oportunidade de viajar. Com 20 anos, aprendeu a ler e escrever, o que era privilégio na época.

In August that same year there was a fresh attempt to sell Ceará slaves to Southern provinces, namely to Rio de Janeiro and São Paulo, which had a shortage of labor for the coffee plantations. The pilots aboard their sailing rafts again frustrated the operation by preventing the captives from boarding. After the second uprising, the abolitionist movement considered the Ceará port finally closed to the slave trade. With no conditions to provide for their slaves, the Ceará plantation owners were forced to emancipate them, which accelerated the process of extinguishing slavery in the province, completed in 1884. This called for the signing of the Lei Áurea [Golden Law] four years later in the empire’s capital. Because of its groundbreaking role, politician and intellectual José do Patrocinio named Ceará the Land of Light [Terra da Luz], as the State is known even today. A pilot fundamental in Brazil’s abolitionist history Francisco José, born in Aracati in 1839, was known as Chico da Matilde, his mother’s name. Son and grandson of fishermen, he was only a child when he lost his father and began to work in marine-related tasks to help his family. In the records about him some of his duties and jobs were as a ship’s messenger boy and head of the boatmen. Later he went to work in Fortaleza port before becoming a mariner, when he had the opportunity to travel. When he was twenty years old he learned to read and write, which was a privilege at that time. He was appointed pilot in 1874 and given the position of harbor pilot. Some time later his license was withdrawn due to his participation in the raft-men’s uprising. The winds of freedom however did not abate. With the end of slavery decreed in Ceará in 1884, he sailed on the ship Espírito Santo to Rio de Janeiro, where he was

Nomeado prático em 1874, conquistou o posto de prático-mor e, mais tarde, teve sua licença cassada devido à participação na rebelião dos jangadeiros. Os ventos da liberdade, entretanto, não amainariam. Com o fim da escravidão decretado no Ceará em 1884, ele viajou no mesmo ano a bordo do navio Espírito Santo para o Rio de Janeiro, onde recebeu inúmeras homenagens pela bravura com que defendeu a causa abolicionista. Trazendo consigo uma de suas jangadas, a de nome Liberdade, participou de desfiles, concertos e quermesses. Aclamado nas ruas, periódicos publicaram edições especiais sobre a libertação dos escravos na província cearense, destacando-o como herói. O escritor Aluízio de Azevedo deu-lhe a alcunha Dragão do Mar, como passou a ser conhecido. Em 1889 o imperador dom Pedro II ordena que lhe seja devolvida a licença para exercer a praticagem, profissão que Chico da Matilde desempenhou com maestria por fazer vir à tona o que caracteriza o ofício: o interesse público. 21


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Uma história que merece ser contada O Conselho Nacional de Praticagem, junto a outras entidades, vem promovendo desde o início de 2014 homenagens ao Dragão do Mar, cuja morte completa 100 anos. Nos dias 22 e 23 de março aconteceu em Fortaleza o seminário De Zumbi dos Palmares a Dragão do Mar, um grande painel cujo objetivo foi celebrar o marco histórico do dia 25 de março de 1884, quando o Ceará entrou para os anais da história brasileira como a primeira província a extinguir a escravidão. Na ocasião, representantes do CONAPRA falaram sobre a importância da praticagem, ofício que ainda permanece desconhecido. Ivaldo Paixão, Falcão e/and Ivanir dos Santos

awarded numerous tributes for his bravery when he defended the abolitionist cause. He brought with him one of his sailing rafts, called Liberty, and took part in parades, concerts and charity bazaars. Cheered in the streets, journals published special editions on the emancipation of the slaves in Ceará province, highlighting him as a hero. Writer Aluízio de Azevedo nicknamed him the Sea Dragon, as he is still known today. In 1889, Emperor Dom Pedro II ordered his pilot’s license to be reinstated, a profession that Chico da Matilde held skillfully to bring to the fore what characterizes the trade: public interest. A tale that deserves to be told

Ricardo Falcão em seminário na capital cearense Ricardo Falcão at a seminar in the capital of Ceará State

Entre outros aspectos, o resgate da memória do Dragão do Mar permite mostrar aos brasileiros a importância do trabalho do prático, cujo serviço é frequentemente alvo de críticas sem fundamento por conta do desconhecimento acerca da profissão. “São os práticos que garantem a segurança e o fluxo comercial marítimos no país”, enfatizou o CONAPRA. No final do evento, Ricardo Falcão, prático e presidente do Conselho Nacional de Praticagem, Ivaldo Paixão, titular da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial (Ceppir), e Ivanir dos Santos, líder religioso, inauguraram placa em homenagem a Chico da Matilde ao lado da estátua do herói, localizada no Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza. Ainda como parte das comemorações, Falcão fez discurso na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, quando lembrou aos presentes que no século 19 o porto de Fortaleza era rudimentar. 22

Since the beginning of 2014, the Brazilian Maritime Pilots’ Association (CONAPRA), together with other agencies, has been organizing tributes to the Sea Dragon, who died 100 years ago this year. On March 22nd and 23rd Fortaleza hosted the seminar From Zumbi dos Palmares to the Sea Dragon, a major panel designed to celebrate the historic landmark on March 25th, 1884, when Ceará went down in Brazilian history as the first province to abolish slavery. On that occasion, CONAPRA representatives spoke about the importance of pilotage, a profession as yet little known. Among other aspects, retrieving the heritage of the Sea Dragon helps Brazilians to be aware of the importance of a pilot’s work, whose services are often target of unfounded criticism because of lack of knowledge about the profession. CONAPRA stressed: “it is the pilots who guarantee maritime safety and trade in the country”. At the end of the event, Ricardo Falcão, pilot and president of the Brazilian Pilotage Council, Ivaldo Paixão, Special Coordinator of Public Policies for Promoting Race Equality (Ceppir), and Ivanir dos Santos, religious leader, inaugurated a plaque in honor of Chico da Matilde alongside the hero’s statue in the Sea Dragon Cultural Center in Fortaleza.


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Devido aos fortes ventos e correntes marítimas, comandantes encontravam dificuldade para atracar os navios no porto. Assim, fundeavam as embarcações e pessoas e cargas eram transportadas até a praia em jangadas. – Além de muito estimado por seus colegas de trabalho, tratava-se de profissional respeitado pelos donos de casas comerciais que precisavam do seu serviço para o transporte de mercadorias. Em relação à causa abolicionista, lutou de forma veemente a ponto de oferecer sua residência para abrigar escravos fugitivos – lembrou Falcão. Destacou ainda que o princípio que norteava o Dragão do Mar é o mesmo que guia a praticagem nacional: – O inimigo da sociedade brasileira à sua época era representado por uma elite interessada na compra e venda de escravos. Hoje, um dos grupos que ameaça o interesse de nossa nação é a armação internacional, que, sem pudor algum, mantém lobby no Congresso Nacional pressionando-o por mudanças na legislação em benefício próprio em detrimento do da sociedade. Nada mais justo que nós, colegas de profissão de Chico da Matilde, rendamos sincera homenagem àquele que foi exemplo de profissional a serviço do bem público. Àquele que, provido de elevado espírito cívico, usou seus conhecimentos sobre ventos, marés, práticas de navegação e meio ambiente na luta para transformar o Brasil em um país mais justo – concluiu.

Also as part of the commemorations Falcão made a speech at the Ceará State Legislative Assembly, when he reminded those present that in the 19th century the port of Fortaleza was rudimentary. Due to the strong winds and ocean currents, captains found it difficult to moor their ships in the port. So the vessels would anchor offshore and passengers and cargo would be carried ashore on sailing rafts. – Not only was he greatly admired by his workmates but was also professionally respected by the owners of commercial establishments that needed his services to transport merchandise. In relation to the abolitionist cause, he fought so vehemently that he opened his own home to shelter fugitive slaves – Falcão mentioned. He also mentioned that the principle guiding the Sea Dragon is the same upheld by Brazilian pilotage: – The enemy of Brazilian society in his lifetime was represented by an elite interested only in buying and selling slaves. Today, international shipowning groups are one of the threats to the interest of our nation, shamelessly lobbying in the Brazilian Congress to pressure it to change the legislation for their own benefit in detriment to that of society. Nothing more just that we, professional colleagues of Chico da Matilde, offer our sincere homage to a man who was a professional benchmark working for the public good. To a man who, endowed with strong public spirit, used his knowledge of winds, tides, navigation practices and environment in the fight to make Brazil a more just society – he concluded. Brazilian National Congress salutes Chico da Matilde Tributes to the Sea Dragon were not restricted to his native State. In Brasilia, members of parliament and representatives of civil society formally celebrated the legacy of Chico da Matilde. Ricardo

Congresso Nacional saúda Chico da Matilde As homenagens ao Dragão do Mar não se restringiram a seu estado de origem. Em Brasília, parlamentares e representantes da sociedade civil celebraram o legado de Chico da Matilde. Presente à sessão solene de 18 de março, Ricardo Falcão fez discurso na Câmara dos Deputados. Na ocasião destacou a dívida que o Brasil tem com o Dragão do Mar por ter lançado mão de sua profissão para extinguir um dos capítulos mais tristes de nossa história.

Falcão com o deputado estadual Lula Morais e o governador do Ceará, Cid Gomes (ao centro) Falcão with state representative Lula Morais and Cid Gomes, governor of Ceará (center)

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Falcão, at the ceremony on May 18th, spoke with emphasis on the debt Brazil owes to the Sea Dragon for having given up his profession to abolish one of the saddest chapters in Brazilian history. Falcão stressed that we must reflect on who we are and what our national heroes have done, and he spoke of the importance of including in school curricula the history of the Sea Dragon and other such personalities. – Just as Brazilian society needs to know about this great man, it must know about his profession. Pilots have been working in Brazil for over 200 years. This is work recognized by high safety indices, excellence in service, high technical capacity and protecting national interests – he said. Raquel Marques (deputada estadual), Falcão, Alexandro Reis (diretor da Fundação Palmares) e Lula Morais Raquel Marques (state representative), Falcão, Alexandro Reis (director of Palmares Foundation) and Lula Morais

Enfatizando que é necessário refletir sobre quem são e o que fizeram os heróis nacionais, Falcão falou da importância de os currículos escolares incluírem a história de personagens como o Dragão do Mar. – Assim como a sociedade brasileira precisa conhecer esse grande homem, é preciso que se conheça a sua profissão. Os práticos atuam no Brasil há mais de 200 anos. Trata-se de trabalho

He also explained that pilotage guarantees the safe passage of ships to Brazilian seaports and river estuaries. According to the club of ship insurance companies, the accident rate with pilots on board in Brazil is only two-thousandths of a percent. This figure places Brazilian pilotage on a par with the USA, despite the Brazilian inferiority in terms or port infrastructure. – Paraphrasing the Sea Dragon, we proclaim that no brute force will make us abandon the public spirit that has always guided our work – he concluded. Also in Brasilia, the Culture Committee of the Chamber of Deputies

Parlamentares e representantes da sociedade civil na Assembleia Legislativa do Ceará, Fortaleza Congressmen and representatives of civil society in the Legislative Assembly of Ceará, Fortaleza

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Práticos participam de solenidade no Distrito Federal

reconhecido por elevados índices de segurança, excelência no serviço, alta capacitação técnica e defesa dos interesses nacionais – afirmou. Explicou igualmente que a praticagem garante a condução segura de navios aos portos marítimos e estuários de rios brasileiros. Segundo o clube de seguradoras de navios, o índice de acidentes com práticos a bordo no Brasil é de apenas dois milésimos por cento. Essa medida põe a praticagem brasileira em situação similar à dos Estados Unidos, apesar da inferioridade brasileira no que diz respeito à infraestrutura portuária.

Pilots participate in a ceremony in Brasilia

unanimously approved in March a bill to register Francisco José do Nascimento in the Book of Homeland Heroes, laid out in the Pantheon of Freedom and Democracy in the Square of the Three Powers in the country’s capital. In Rio de Janeiro, CONAPRA participated in the inter-religious act in commemoration of the seventh anniversary of the Committee

– Parafraseando o Dragão do Mar, proclamamos que não há força bruta que nos faça abandonar o espírito público que sempre pautou nosso trabalho – finalizou.

Ricardo Falcão com a deputada federal Benedita da Silva... Ricardo Falcão with congresswoman Benedita da Silva...

...e discursando no plenário ... and speaking in the plenary

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Práticos homenageiam o colega Chico da Matilde na Câmara dos Deputados, Brasília Pilots pay tribute to their colleague Chico da Matilde in the House of Representatives, Brasilia

Também em Brasília, a Comissão de Cultura da Câmara Federal aprovou em março, por unanimidade, projeto de lei que prevê a inscrição de Francisco José do Nascimento no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, localizado na Praça dos Três Poderes, na capital federal.

Against Religious Intolerance (CCIR), when tribute was also paid to the Sea Dragon. Religious representatives gathered in the Church of Our Lady of the Rosary to discuss the importance of building a nation in which all races and creeds effectively live in harmony and under equal conditions. Pilots from all over Brazil attended the event and were entertained by a display of young capoeira athletes.

No Rio de Janeiro, o CONAPRA participou do ato inter-religioso em comemoração ao sétimo aniversário da Comissão para Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), quando também se homenageou o Dragão do Mar. Representantes religiosos encontraram-se na Igreja Nossa Senhora do Rosário para falar sobre a importância de se construir uma nação na qual efetivamente todas as etnias e religiões convivam harmonicamente e em igualdade de condições. Práticos de todo o Brasil prestigiaram o evento, que contou com apresentação de capoeiristas mirins.

On May 12th, Senator Eunício Oliveira called a special session to commemorate the centenary of the pilot’s death. The ceremony was held in Brasilia attended by the president of the Brazilian Maritime Pilots’ Association, who paid tribute to Chico da Matilde in the following words:

Conapra participa de ato inter-religioso no Rio de Janeiro

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– Francisco José do Nascimento was a unique human being. Unique because he chose the tough profession of pilot and, in a heroic gesture, prevented slave shipments in 1881 in Ceará. His

Conapra participates in an inter-religious event in Rio de Janeiro


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Em 12 de maio, o senador Eunício Oliveira convocou sessão especial para celebrar o centenário de morte do prático. A solenidade ocorreu em Brasília com a presença do presidente do Conselho Nacional de Praticagem, que prestou homenagem a Chico da Matilde: – Francisco José do Nascimento era um ser humano raro. Raro porque escolheu a difícil profissão de prático e, em gesto heroico, impediu o embarque de escravos em 1881 no Ceará. O gesto o faria passar à história como aquele que antecipou em quatro anos a abolição da escravatura no seu estado. Amanhã, dia 13 de maio, a abolição da escravatura em nosso país completará 126 anos. No Ceará, terra do Dragão do Mar, 130 anos. Quando me refiro à difícil profissão dos práticos, eu e meus companheiros aqui presentes, que vieram de vários estados do Brasil, sabemos do que estamos falando. Se hoje dispomos de modernas lanchas e, eventualmente, aviões para cumprir nossa tarefa de atracar e desatracar navios, há cem anos, esse trabalho era feito em jangadas, sem equipamentos modernos, à mercê das incertezas dos ventos e marés – disse Falcão no Senado Federal.

gesture made him go down in history as someone who brought forward the abolition of slavery in his State four years earlier than it occurred in the rest of Brazil. On May 13th, abolition of slavery completed 126 years in Brazil. But in Ceará, land of the Sea Dragon, it occurred 130 years ago. – When I say that pilots have a tough profession, my colleagues and myself coming here from different Brazilian States know all too well what it is like. If today we have the use of modern motorboats and, at times even aircraft to help us do our job of mooring and unmooring ships, a hundred years ago this work was done on sailing rafts, with no modern equipment, at the mercy of the whims of the wind and tides – said Falcão in the Federal Senate.

Camarinha, Schenk, Falcão, Ralf e/and Jean, RIO DE JANEIRO

No Senado Federal, práticos, parlamentares e líderes de movimentos sociais celebram o legado do Dragão do Mar In the Brazilian Senate, pilots, congressmen and leaders of social movements celebrate the legacy of the Sea Dragon

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cooperação cooperation

Praticagem brasileira assina acordo com armadores internacionais Brazilian pilotage signs agreement with international ship-owners

Carlos Juan Madinabeitia (presidente do painel latinoamericano da International Tank Owners), Otavio Fragoso, Graham Westgarth (presidente da Intertanko) e Ricardo Falcão Carlos Juan Madinabeitia (president of the Latin American panel of International Tank Owners) Otavio Fragoso, Graham Westgarth (Intertanko CEO) and Ricardo Falcão

Um acordo de cooperação internacional para garantir a transparência, segurança e eficiência nos portos no que diz respeito às operações de atracar e desatracar navios foi assinado pelo Conselho Nacional de Praticagem (CONAPRA) e a Federação Nacional de Práticos (Fenapráticos) com armadores internacionais. Apesar de o serviço de praticagem brasileiro ser um dos mais eficientes do mundo, com um percentual de apenas dois milésimos por cento em número de acidentes, o acordo internacional legitima a praticagem brasileira e pode contribuir para o fortalecimento do setor, segundo o prático Ricardo Falcão, presidente do CONAPRA.

An international cooperation agreement to guarantee transparency, safety and efficiency in ports with regard to mooring and unmooring ships was signed by the Brazilian Maritime Pilots' Association (CONAPRA) and National Federation of Pilots (Fenapráticos) with international ship-owners. Although the Brazilian pilotage service is one of the most efficient in the world, with only a two-thousandths of a percent accident rate, the international agreement legitimates it and can contribute to reinforcing the sector, according to pilot Ricardo Falcão, president of CONAPRA.

As duas entidades representativas dos práticos brasileiros e a Associação Internacional de Armadores Independentes de Petroleiros (Intertanko) assinaram o documento em 9 de maio, em Nova York. De acordo com Falcão, embora um pequeno grupo de armadores tente reduzir a importância do trabalho da praticagem no Brasil, a magnitude do acordo firmado revela a importância do serviço e o respeito de que gozam os práticos brasileiros em escala internacional.

The two institutions representing Brazilian pilots and the International Association of Independent Tanker Owners (Intertanko) signed the document on May 9th in New York. Falcão says that, although a small group of ship-owners tries to belittle the importance of pilotage work in Brazil, the extent of the signed agreement shows how important the service is and the respect that Brazilian pilots enjoy worldwide.

Os signatários assumiram compromissos mútuos relativos a meio ambiente no transporte de óleo, gás e produtos químicos, além de compartilhar e uniformizar informações nas áreas de operação marítima e técnicas de interesses comuns. – O ponto-chave do acordo é promover a segurança marítima e de navegação nas zonas de praticagem, protegendo a vida e a propriedade, prevenindo danos ambientais e de bens vitais para a economia das nações. Já realizamos com êxito esse trabalho, e o acordo veio reforçá-lo – disse Ricardo Falcão. 28

The signatories made mutual environmental commitments regarding shipments of oil, gas and chemicals, as well as sharing and standardizing information in the technical areas and maritime operations of common interest. – The key point of the agreement is to further offshore and navigation safety in the pilotage zones, protecting life and property, preventing damage to the environment and business assets for the economy of the nations. We’ve already been successful in this work and the agreement reinforces it – said Ricardo Falcão.


treinamento training

ATPR no Ciaba ATPR in Ciaba

Pela primeira vez curso foi ministrado em outro estado The first time the course was given in another State Ciaba

A realização do Curso de Atualização para Práticos – ATPR para uma turma no Norte do país beneficiaria um percentual significativo dos práticos em atividade nas Zonas de Praticagem 01 a 04 e constituía anseio antigo daqueles práticos; não fora, porém, implementada em razão de não existirem as condições tecnológicas requeridas pelo curso e oferecidas no Rio de Janeiro, no Ciaga.

Holding the Pilot Refresher Course (ATPR) for a group in North Brazil would benefit a significant percentage of the pilots working in Pilotage Zones 01 to 04 and which is also a longstanding desire of those pilots. This had not yet, however, been put in place because of lack of technological conditions required for the course and offered in Rio de Janeiro in Ciaga.

Com a inauguração em 2013 do Centro de Simuladores do Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar – Ciaba, o CONAPRA vislumbrou a possibilidade de nele realizar o curso, o que, tendo a DPC o incluído no Programa de Ensino Profissional Marítimo de 2014 – Prepom/2014, se tornou realidade no mês de abril passado.

When the Simulator Center was inaugurated in 2013 in the Admiral Braz de Aguiar Instruction Center (Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar – Ciaba), CONAPRA saw the possibility of holding the course there. It became reality last April when DPC included it in the 2014 Maritime Professional Learning Program (Prepom/2014).

SALA ECDIS

ECDIS ROOM

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treinamento training

Em fevereiro, durante visita precursora da coordenação do curso ao Ciaba, que contou com a participação dos professores Edson Mesquita e Marco Aurélio Faial e do chefe do Departamento de Simuladores do Ciaga, Evandro Alves Santos, foram realizados a configuração de exercícios de situações de emergência e os ajustes de procedimentos técnicos e administrativos necessários com a participação e colaboração de analistas, servidores civis e militares, e pessoal de apoio do Centro de Simuladores do Ciaba. Por ocasião da efetiva realização do curso, entre 7 e 11 de abril, houve a necessidade de mover a estrutura de coordenação e de palestrantes para Belém, o que representou custo significativamente mais alto em comparação ao custo da realização do curso no Rio de Janeiro, como tem sido feito desde 2005. O resultado demonstrou que valeu a pena levar adiante essa iniciativa. Entre os palestrantes, o único representante local foi o instrutor do Ciaba, primeiro oficial de náutica João Paulo Purificação Alves, que ministrou palestra sobre ECDIS de forma brilhante, tendo sido bastante elogiado pelos práticos alunos. Da mesma forma, a atuação do pessoal do Ciaba responsável pelo controle de exercícios foi fundamental para o desenvolvimento do aprendizado da turma. O curso contou ainda com a participação do diretor técnico do CONAPRA, prático Carlos Alberto de Souza Filho, que ministrou palestra com o tema “A atual situação da praticagem brasileira e as ações do CONAPRA”, suscitando intenso e profícuo debate com os alunos. A turma, que foi conduzida pelo prático instrutor Armando Menezes, incluiu dez práticos alunos integrantes das Zonas de Praticagem 01, 02 e 03, sendo, certamente a que, até hoje, reuniu práticos com mais tempo de experiência na profissão.

Práticos com oficiais do Ciaba Pilots with Ciaba officers

In February, during a preliminary visit of the course coordinators to Ciaba, which was attended by professors Edson Mesquita and Marco Aurelio Faial, and Evandro Alves Santos head of the Ciaga Simulator Department, exercises of emergency situations were drawn up and necessary adjustments made to technical and administrative procedures with the participation and collaboration of analysts, civil servants and the military, as well as support personnel of the Ciaba Simulator Center. On occasion of the actual course between April 7 and 11, it was necessary to move the structure of coordination and speakers to Belem, which was significantly more costly than holding the course in Rio de Janeiro, as had been done since 2005.

nascimento com pessoal do simulador do ciaba e professores do ciaga Nascimento with CIABA simulator personnel and CIAGA instructors

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The outcome showed that it was worth the effort to push forward this project. The only local representative among the speakers was the instructor from Ciaba, First Officer João Paulo Purificação Alves, who gave a brilliant talk on ECDIS, and was warmly praised by the student pilots. Similarly, the role of the Ciaba personnel


treinamento training

responsible for controlling exercises was essential for advancing the group’s learning. The course also had the participation of pilot Carlos Alberto de Souza Filho, technical director of CONAPRA, who gave a talk on “The current status of Brazilian pilotage and the work of CONAPRA”, raising intense and fruitful discussion with the students.

grupo durante exercício

group during exercise

The class, which was conducted by instructor pilot Armando Menezes, included ten student pilots from the Pilotage Zones 01, 02 and 03, and there is no doubt that to date it brought together pilots with longer experience in the profession.

praticagem pilotage prático pilot tempo de praticagem (anos) time working as a pilot (years) NORTE PILOTS NORTH PILOTS RUPPERO URUBATAN OLIVEIRA COSTA 65 NORTE PILOTS NORTH PILOTS ATAUALPA NEVES DIAS 56 NORTE PILOTS NORTH PILOTS

ALVARO ANTONIO MERCES DE CARVALHO

54

NORTE PILOTS NORTH PILOTS JOÃO ERIDIAS DOS SANTOS 53 NORTE PILOTS NORTH PILOTS LEÔNIDAS CRAVEIRO DA SILVA 46 BARRA DO PARÁ BARRA DO PARÁ MIGUEL DE JESUS SALGADO 39 BACIA AMAZÔNICA E BARRA NORTE AMAZON BASIN & NORTH BARRA

FRANCISCO DE ASSIS COSTA NEGRÃO

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BARRA DO PARÁ BARRA DO PARÁ JOÃO CARLOS DIAS GRIMOUTH 16 MANAUS PILOTS MANAUS PILOTS

CARLOS JOSÉ DA SILVA TAVARES

15

BARRA DO PARÁ BARRA DO PARÁ

ALEX LUIZ GARCIA SAPUCAIA

4

PRÁTICO INSTRUTOR PILOT INSTRUCTOR

ARMANDO MENEZES DA CONCEIÇÃO FILHO

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turma no auditório

class in the auditorium

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salvamento rescue

Lancha de praticagem resgatou náufraga no Rio Em três de março, por volta das 6h15, uma mensagem incomun no canal 16 chamou a atenção do prático Luiz Antonio Silva. A bordo do navio-tanque Guaporé, que se encontrava fundeado na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro, ouviu pelo rádio a notícia de que um veículo caíra no mar na altura do vão central da Ponte Rio-Niterói. O prático, com a anuência do comandante, liberou um dos rebocadores do navio para a busca e solicitou que uma lancha de praticagem, embarcação mais veloz, fosse direcionada para a missão. Igualmente, via atalaia, foi enviado pedido de apoio à Capitania dos Portos do Rio de Janeiro. Com uma preocupação a mais – evitar colisão com o automóvel ou com as vítimas –, o prático conduzia o Guaporé para fora da baía quando, pouco antes de atravessar o trecho sob a ponte, recebeu mensagem da lancha Pilot 03 na qual o mestre informava ter avistado uma mulher boiando, ao sul da ponte, na altura da Ilha das Enxadas, local afastado do vão central. Comunicava ainda que a motorista arremessada estava consciente, apresentava bons sinais vitais e não tinha lesões graves externas, apenas escoriações nas costas. A própria vítima disse que estava sozinha no veículo e que viu o carro afundando. No passadiço, a notícia aliviou prático e tripulantes. Segundo Luiz Antonio, a tripulação da lancha agiu de forma safa. Olharam para cima e avistaram pessoas, na ponte, olhando para baixo, indicando aproximadamente a posição da queda. Além dos primeiros socorros terem sido prestados corretamente, os tripulantes saíram-se muito bem no salvamento pelo acesso ao convés. O mestre do rebocador também foi fundamental no resgate, oferecendo a tranquilidade necessária na área em que a tripulação da Pilot 03 efetuou o salvamento.

Pilot’s motorboat rescued woman in the waters of Rio’s Guanabara Bay On March 3rd, around 6:15 a.m., an unusual message on Channel 16 called the attention of pilot Luiz Antonio Silva. He was on board the tanker Guaporé, which was anchored in Guanabara Bay, Rio de Janeiro, when he heard on the radio the news that a vehicle had fallen into the sea from the central span of the Rio-Niterói Bridge. The pilot, with the captain’s consent, released one of the ship’s tugs for the search and asked a pilot motorboat, a faster vessel, to go straight there. He also, from the lookout point, sent a call for help to the Rio de Janeiro Harbormaster. With a further concern – to prevent a collision with the car or victims -, the pilot was sailing the Guaporé out of the bay when, shortly before crossing the stretch under the bridge, he received a message from the Pilot boat 03 master who said he had seen a

As lanchas do Corpo de Bombeiros chegaram rapidamente, e já havia uma ambulância em terra pronta para conduzir a vítima ao hospital, onde foi prontamente atendida. A segurança da navegação ficou a cargo da embarcação da Capitania dos Portos, que chegou logo em seguida. Segundo relatos e análises de especialistas, o carro vinha de Niterói, capotou algumas vezes, passou para a pista de sentido oposto e caiu de cerca de 50 metros de altura, de forma que houve tempo para a abertura da porta e saída da vítima, antes de seu afundamento. A motorista ainda tentou nadar em direção à pilastra da ponte para se apoiar. 32

vítima é atendida pelo Corpo de Bombeiros Fire Department attends victim


salvamento rescue

Desse acidente, o prático Luiz Antonio destaca lições aprendidas: acreditar que coincidências felizes acontecem (os homens do mar realmente devem dar valor a isso), certificar-se de que o passadiço guarnece efetivamente o canal 16 e o canal de praticagem durante as manobras, buscar sempre fluxo de informações rápidas e precisas, manter treinamento em primeiro socorros e aprimorar a situation awareness.

woman floating to the south of the bridge near Enxadas Island, quite far from the central span. He also informed that the driver thrown from the car was alive and conscious and had no serious external injury, only some bruising on her back. The victim said she was alone in the car and saw the car sinking. On the gangway, the pilot and crew were relieved to hear the news.

Considerando que a causa de incidentes e acidentes é normalmente uma cadeia de falhas e erros que convergem para uma situação ruim e indesejável, no caso do salvamento, é justamente uma sequência positiva de acontecimentos e acertos que fará com que haja êxito na salvaguarda da vida humana.

Luiz Antonio Silva said that the motorboat crewmembers acted swiftly. They looked up and saw people on the bridge looking down, indicating the approximate place where the car had fallen. They not only gave the correct first aid, but also coped very well in the rescue by access to the deck. The tug master was fundamental in the rescue, offering the necessary calm in the area where the Pilot 03 crew undertook the rescue.

Nesse caso, pode-se enumerar: a transmissão da mensagem no VHF por alguém, o recebimento e processamento dessa mensagem, o rápido deslocamento de lancha e rebocador para o local correto, a competência e agilidade das tripulações, as comunicações eficazes, a atuação do Corpo de Bombeiros, da CPRJ, da ambulância e do hospital, além da exemplar vontade da jovem de se manter viva.

The Fire Department motorboats were quick to arrive and soon there was an ambulance onshore ready to take the victim to hospital, where she was immediately treated. The navigation safety was the task of the Harbormaster’s vessel, arriving soon after.

Luiz Felipe de Oliveira

Em um momento histórico, em que são registradas tantas reivindicações de melhoria nos serviços de atendimento ao cidadão, o prático ressalta que o salvamento da náufraga exemplifica aquilo que todos desejam: que, na ocorrência de falhas ou erros, haja representantes da esfera governamental ou do setor privado prontos para atuar e evitar mal maior.

According to specialist reports and analyses, the car was coming from the Niterói direction, overturned several times, crossed over to the opposite lane and dropped about 50 meters, so there was time for the victim to open her door and get out before it sank. The driver even tried to swim toward the pillar of the bridge for support. From this accident, pilot Luiz Antonio points to the lessons learned: to believe in lucky coincidences (seafarers must really give value to this), to ensure that the bridge does actually receive channel 16 and the pilotage channel during maneuvers, to always seek a flow of fast accurate information, maintain first aid training and enhance situation awareness. Considering that the cause of incidents and accidents is normally a chain of failures and mistakes converging on an undesirable bad situation, in the case of the rescue it is precisely a positive sequence of events and right decisions that successfully saved a human life.

RESGATE POR tripulantes da lancha Pilot 03 rescue by the crew from the Pilot 03 motorboat

lanchas de praticagem próximas à Ponte Rio-Niterói pilot motorboats close to the Rio-Niterói Bridge

In this case, the order was as follows: someone sends the message in VHF, the message is received and processed; the speedy move by motorboat and tug to the right place, the skill and agility of the crew, efficient communications, the role of the Fire Department, the Rio de Janeiro Harbormaster, ambulance and hospital, as well as the young woman’s determination to stay alive. At a historical moment, when so many complaints are made asking for improvement of citizen emergency services, the pilot stresses that saving the woman in the water is an example of everyone’s wishes: that, in event of failures or errors, representatives of the government sphere or private sector are ready to act and prevent a worse tragedy. 33


inclusão social social inclusion

Navio promove ambiente no qual se aprende a conviver com a diferença

Atracado entre 7 e 12 de maio, na Marina da Glória do Rio de Janeiro, o veleiro Lord Nelson chamou a atenção dos usuários do local por sua imponente arquitetura clássica e, principalmente, pela tripulação cosmopolita. Homens e mulheres de idades variadas, provenientes da Alemanha, Argentina, Dinamarca, Inglaterra, Irlanda, dos Estados Unidos, Portugal e Uruguai, trabalhavam e se divertiam em ambiente de cooperação. O mais incrível de tudo, porém, consiste na proposta do navio. O Lord Nelson é um tall ship (tipo caravela) totalmente equipado e adaptado para abrigar tripulantes com deficiências físicas. Não se trata de um navio-escola: o objetivo ultrapassa os ensinamentos náuticos. O mote é promover a convivência diária entre deficientes e não deficientes, o que gera desenvolvimento pessoal através da percepção das diferenças e valorização do que se é capaz de fazer. Este é, aliás, um dos grandes diferenciais do projeto: realçar a possibilidade de contribuição de cada um, e não a incapacidade de realizar determinadas tarefas.

A ship that creates an environment for learning to live with the handicapped

O camarim de navegação

The chartroom photos: courtesy of Jubilee Sailing Trust

Lord Nelson

Em 12 de outubro de 2012, o navio deixou a Inglaterra sob o comando de Chris Phillips, ex-militar inglês. Desde então passaram pelo Brasil (duas vezes), África do Sul, Índia, Sri Lanka, Singapura, Malásia, Indonésia, Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Antártida, Uruguai e Canadá. A viagem deve terminar em setembro, com o retorno a Southampton, na Grã-Bretanha.

O veleiro Lord Nelson atracado na Marina da Glória The Lord Nelson at her berth in the Marina da Gloria

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Um membro da tripulação subindo no cordame do navio A voyage crew member climbing the rigging


inclusão social social inclusion

Jubilee Sailing Trust O Lord Nelson foi projetado especialmente para permitir que deficientes físicos participem como tripulantes de viagens em embarcações a vela. Não é preciso ter experiência náutica prévia para participar das expedições. O time compõe-se de oito tripulantes profissionais – encarregados da navegação –, quatro ou cinco voluntários e 38 tripulantes pagantes. Nesse montante há 19 lugares para deficientes, dos quais oito podem ser cadeirantes. Em 1977, por ocasião do jubileu de prata do reinado de Elizabeth II, criou-se na Inglaterra um fundo de caridade que permitiu a fundação da organização não governamental Jubilee Sailing Trust (JST). Assim, o sonho de seus idealizadores começou a ganhar força com a injeção de recursos. O Lord Nelson, por exemplo, ficou pronto em 1986 e, desde então, vem permitindo que deficientes mostrem que em um ambiente preparado para recebê-los são seres capazes. Num mundo ideal, talvez não houvesse necessidade da JST e de seus navios: o Lord Nelson e seu irmão mais novo, o Tenacious.

Conveses largos e nivelados para facilitar a circulação Wide and flush decks to allow easy circulation

A placa de identificação do navio The ship’s name board

The sailing ship Lord Nelson, moored from May 7 to May 12, in the Marina of Gloria, Rio de Janeiro, attracted the attention of the locals because of its impressive classic architecture and especially its cosmopolitan crew. Men and women of all ages from Argentina, Denmark, England, Germany, Ireland, Portugal, Uruguay and the USA worked together and enjoyed themselves in an atmosphere of cooperation. The most intriguing thing of all, however, is the idea of the ship. Lord Nelson is a tall ship, fully equipped and adapted for physically handicapped crewmembers. This is not a naval trainingvessel: the objective goes beyond naval training. The motto is to encourage the handicapped and non-handicapped living together each day, which creates personal development through the perception of differences and appreciation of what can be done. This is, in fact, one of the cutting edges of the project: to highlight each person’s ability to contribute and not the inability to do certain tasks.

cabos de controle das velas alinhados logicamente e com fácil acesso Sail control lines all logically and accessibly laid-out

On October 12, 2012, the ship left England under the command of Englishman Chris Phillips, formerly a military officer in the Royal Navy. The voyage includes visiting Brazil (twice), South Africa, 35


inclusão social social inclusion

India, Sri Lanka, Singapore, Malaysia, Indonesia, Australia, New Zealand, Argentina, Antarctica, Uruguay and Canada. It is due to end in September 2014, when the Lord Nelson returns to Southampton, UK. Jubilee Sailing Trust The Lord Nelson was designed and built for physically disabled crewmembers on sailing vessel voyages. It is not necessary to have previous sailing experience to participate. The team consists of eight professional crewmembers in charge of navigation, four or five volunteers and 38 paying crewmembers. Of this total, 19 places are allocated to the handicapped, eight of whom can be wheelchair users.

Conviver harmonicamente com as diferenças é, entretanto, um dos maiores desafios do ser humano. Cultivamos ideias preconcebidas sobre pessoas especiais, como os deficientes físicos, sem jamais ter convivido com eles. E os deficientes, por sua vez, fazem o mesmo a fim de se proteger. Ação e reação, por assim dizer. A nobreza da JST está justamente em promover esse tipo de encontro em viagens em barcos a vela, em que todos têm como missão contribuir para a navegação, fazendo o que sabem e aprendendo o que podem aprender. Como disse o comandante Phillips, “uma viagem no Lord Nelson torna o indivíduo uma pessoa melhor, porque o ajuda a superar preconceitos e ideias distorcidas a respeito do outro”. O lema da JST – changing lives (mudando vidas) – parece bastante adequado.

Uma das escadas principais com elevador de cadeira-de-roda One of the main stairways with a wheelchair stairlift

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In 1977, the year of the Queen Elizabeth II Silver Jubilee, a charity fund was set up in England to help found the non-governmental organization Jubilee Sailing Trust (JST). So, with the injection of funds, the dream of its creators gained impetus. The Lord Nelson, for example, was completed in 1986 and since then has been helping the disabled to prove that they are capable in an environment ready to receive them. In an ideal world, perhaps there is no need for the JST and its ships: the Lord Nelson and its younger sister, the Tenacious. To live

O passadiço, com a cadeira ajustável do timoneiro, agulha com conexão de áudio, e pontos de fixação de cadeiras de rodas The Bridge, with adjustable helmsman’s chair, audio compass and wheelchair securing points


inclusão social social inclusion

harmoniously with the differences is, however, one of the human being’s greatest challenges. We cultivate preconceived notions about special people, such as, for example, the physically handicapped, without ever having lived with them. And the handicapped, in turn, do the same in self-defense – action and reaction, so to speak. The value of JST is precisely to encourage this type of encounter on sail-ship voyages, when everyone has a mission to contribute to the navigation, doing what they know and learning what they can learn. As Captain Phillips said: “a voyage on the Lord Nelson makes the individual a better person, because it helps him or her to overcome prejudice and distorted ideas about the other”. The JST motto – changing lives– seems very apt.

O navio tem capacidade para 50 pessoas, com tripulação permanente de oito membros The ship can carry 50 people, with a permanent crew of 8

Comandante Chris Phillips com a marinheira voluntária Caterina Mesquita Captain Chris Phillips with volunteer deckhand Caterina Mesquita

Manobra do navio é facilitada por sistema de assistência hidráulica Steering is made easy with hydraulic assistance

Pontos de fixação de cadeiras de rodas

Wheelchair securing points

Aparentemente um emaranhado de cabos, mas tudo em seu lugar Seemingly a maze of rigging, but everything has its place

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Rita Martins

Falecimento Death A empresária Clarice da Silva Schein, mulher do prático Carlos Jesus Schein, morreu em acidente de automóvel, em 21 de março. O casal voltava de Jaguarão, no Rio Grande do Sul, quando seu carro, desgovernado, caiu em um rio. O prático nada sofreu. Clarice e Schein eram casados há quase 40 anos e tiveram quatro filhos. Businesswomen Clarice da Silva Schein, wife of pilot Carlos Jesus Schein, died in a car crash on March 21, 2014. The couple was returning from Jaguarão, Rio Grande do Sul state, when their car went out of control and fell into a river. Schein was unhurt. Clarice and Schein had been married for almost 40 years and have four children.

Encontro sobre restrições nos canais brasileiros Meeting on restrictions in Brazilian approach channels A nova recomendação da Pianc para projetos portuários e seu impacto na realidade brasileira serão debatidos em seminário nos dias 14 e 15 de agosto, no auditório do prédio da administração da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), parceria do CONAPRA com o TPC-USP. Os painéis mostrarão análises e sugestões das praticagens para otimização operacional em suas regiões, segundo as normas técnicas existentes. Mais informações sobre o evento e as apresentações em conapra@conapra.org.br. The new recommendations by Pianc (The World Association for Waterborne Transport Infrastructure) for harbor designs and their impact on Brazilian reality will be discussed in a seminar on August 14 and 15 in the auditorium of the Polytechnic administration building of São Paulo University (USP), a partner of CONAPRA with TPC-USP. The panels will address analyses and suggestions of pilotage to optimize operations in their regions, in line with the existing technical regulations. Further information about the event and presentations in conapra@conapra.org.br.

Errata Errata Diferente do que foi publicado na edição n. 39, página 38, Carla Frisso é o nome correto da prática capixaba que compõe o efetivo da Bacia Amazônica Práticos. Contrary to what was published in edition no. 39 on page 38, Carla Frisso is the correct name of the pilot from Espírito Santo, who is an employee of the Amazon Basin Pilots.

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Tr i bun al M arí ti m o

80 anos

Criado em 1934, este ano o Tribunal Marítimo completa 80 anos de atividades. Regido pela Lei nº 2.180/54, é um órgão autônomo, auxiliar do Poder Judiciário, com jurisdição em todo o território nacional, vinculado à Marinha do Brasil e com sede na cidade do Rio de Janeiro. Tem como atribuições julgar os acidentes e fatos da navegação marítima, fluvial e lacustre, além de manter o registro da propriedade marítima. Sua competência deriva, também, de compromissos internacionais do Brasil, na qualidade de parte contratante de Convenções, Códigos e regulamentos na área marítima no que tange à segurança da navegação, à salvaguarda da vida humana e prevenção de poluição no meio hídrico por embarcações. Durante seus 80 anos de existência, a busca incessante do verdadeiro senso de justiça permite que suas decisões tenham plena validade jurídica, que asseguram ao Tribunal Marítimo o reconhecido respeito das comunidades marítima e jurídica do país, contribuindo para a segurança da navegação e para a sociedade brasileira.

M A RI TI M E CO U RT

80 years

This year is the 80th anniversary of the Maritime Court, founded in 1934. It is an independent body under Law no. 2,180/54, and auxiliary to the Judiciary, with nationwide jurisdiction, linked to the Brazilian Navy and based in the city of Rio de Janeiro. Its role is to judge accidents and facts of sea, river and coastal navigation, and also keep ownership registration. Its jurisdiction also stems from Brazil’s international commitments as a contracting party of maritime conventions, codes and regulations with regard to shipping safety, safeguarding human life and preventing water pollution by vessels. During its 80 years, its ceaseless search for the true sense of justice permits its decisions to be legally enforceable, assuring the Maritime Court the widespread respect of the seagoing and legal communities in the country, contributing to shipping safety and Brazilian society.


Em Pilotos da Barra de Viana do Castelo. 100 Anos de História (1858-1958), Manuel de Oliveira Martins oferece-nos um fresco da vida desses homens da barra vianense, resgatando uma memória sócio-profissional que, no contexto da produção regional, ainda não tinha merecido atenção. Esse é um dos seus méritos: inscrever estas memórias na memória da cidade, promovendo a identidade e o reconhecimento social que lhes é devido. (...) Não sendo um trabalho de cariz científico, embora nele se respeitem muitas das suas regras de escrita, traz-nos uma interessante e interpelante recolecção de recordações profissionais e sociais, que cruza com a memória pessoal. Mais do que um discurso historiográfico, recorrendo à racionalidade explicativa ou compreensiva, o leitor é confrontado com a verosimilhança do evocado e do evocador. Do prefácio

José Carlos Loureiro Pilotos da Barra de Viana do Castelo, 100 anos de história (1858/1958) [Pilots of Barra de Viana do Castelo, 100 years of history] was written by the Portuguese pilot Manuel de Oliveira Martins. The book offers an interesting set of professional and social recollections intermingled with the author's own memories.


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