CRBio-04 INAUGURA DELEGACIA NO DISTRITO FEDERAL
Thiago Marra
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Fevereiro de 2019
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CRBio-04 | Fevereiro de 2019 | Jornal do Biólogo
Minas Gerais - Goiás - Tocantins - Distrito Federal
EDITORIAL
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Uma luta diária Foi com muita alegria que estive em Brasília, no início de dezembro, para a cerimônia de inauguração da Delegacia Regional do CRBio-04 no Distrito Federal. Esta iniciativa era tão cara à atual gestão do Conselho que tratava-se da primeira ação do Eixo I das atividades previstas no Plano de Ação 2016-2019 (disponível no Portal da Transparência, no site do CRBio-04). Oficialmente a Delegacia já havia sido criada em 2016. Desde 2017 o órgão também já contava com representantes designados, o delegado Felipe Musardo Firmino e o subdelegado Gildemar José Bezerra Crispim. Porém, apenas recentemente, ao fim de 2018, conseguimos concretizá-la plenamente, com a inauguração da sede, que funcionará em imóvel próprio no Setor Hoteleiro Norte de Brasília, em área de fácil acesso aos profissionais. Nosso intuito não é que a Delegacia seja um balcão de expediente, para mero recebimento de documentos. Fosse essa a motivação ela nem precisaria existir. O objetivo é que o espaço contribua para criar e estreitar o relacionamento institucional do Conselho com as instituições de ensino superior, com órgãos públicos e empresas. Parte do trabalho de fortalecimento da imagem do biólogo perante a sociedade se dá pela ação política. Mas que fique bem claro que
estamos tratando não da política no sentido partidário, eleitoral, mas no âmbito do relacionamento, da sinergia, da troca de ideias. O simples fato de termos uma sede, de termos uma estrutura formal, é um facilitador de todo esse processo. Vale ressaltar, entretanto, que a política em favor da profissão, das Ciências Biológicas e de suas premissas não é papel exclusivo de conselho de classe. Sempre batemos nesta tecla e, uma vez mais, reforçamos a importância da tríade formada por conselho, associação e sindicato. Os biólogos do Distrito Federal contam com as três instituições e devem buscar se engajar ativamente nas proposições e ações. Uma andorinha só não faz verão, um conselho só não faz uma profissão. Conforme afirmei em meu discurso durante a cerimônia de inauguração da Delegacia, precisamos todos nós, biólogos, sermos mais políticos. Essa briga é de todos. Quando uma vaga de trabalho de um biólogo se fecha, aquela perda não é de um profissional, é de uma categoria inteira e, ainda, da sociedade. Precisamos, diuturnamente, mostrar nosso valor e batalhar por nosso espaço. Essa é uma luta diária. Essa é uma luta de área.
CRBio-04 Av. Amazonas, 298 - 15º andar Belo Horizonte - MG - 30180-001 | Telefone: (31) 3207-5000 www.crbio04.gov.br | crbio04@crbio04.gov.br
Diretoria Executiva Presidente: Tales Heliodoro Viana Vice-Presidente: Arlete Vieira da Silva Tesoureiro: Gladstone Corrêa de Araújo Secretário: Evandro Freitas Bouzada
Conselheiros Efetivos: Arlete Vieira da Silva, Bruce Amir Dacier Lobato de Almeida, Carlos Frederico Loiola, Edeltrudes Maria Valadares Calaça Câmara, Evandro Freitas Bouzada, Gladstone Corrêa de Araújo, Helena Lúcia Menezes Ferreira, Mariana Pires de Campos Telles, Renata Maria Strozi Alves Meira e Tales Heliodoro Viana Conselheiros Suplentes: Afonso Pelli, Aneliza de Almeida Miranda Melo, Elias Manna Teixeira, Emilson Miranda, João Gabriel Viana de Grázia, Juliana Ordones Rego, Laiane da Silva Santos, Meriele Cristina Costa Rodrigues Oliveira, Thiago Metzker, Wenderson Francisco de Almeida
Tales Heliodoro Viana Presidente do CRBio-04
Jornal do Biólogo Nº 72 | Fevereiro de 2019 Produção Editorial: Berlim Comunicação www.berlimcomunicacao.com.br Jornalista Responsável: Vitor Moreira | Registro: 14055/MG Reportagens páginas 4-11: Maria Dulce Miranda | Registro: 20236/MG Projeto Gráfico: Rafael Chimicatti Impressão: 1.500 exemplares
2 Jornal 2 Jornaldo doBiólogo Biólogo| |Fevereiro Fevereirode de2019 2019| |CRBio-04 CRBio-04
CRBIO-04
Inaugurada Delegacia do Distrito Federal Novo espaço já está em funcionamento no Setor Hoteleiro Norte
Cumprindo uma meta prevista no Plano de Ação da atual gestão e atendendo a uma antiga reivindicação dos profissionais, o CRBio-04 inaugurou, no dia 06 de dezembro, sua Delegacia Regional no Distrito Federal. Com isso, o Conselho passa a contar com uma sede física em todas as capitais em que possui jurisdição: Belo Horizonte, Goiânia, Palmas e Brasília. A cerimônia de inauguração ocorreu na sede da Associação Brasiliense de Construtores, ocasião em que também foi realizada a entrega do Prêmio Mérito em Biologia 2018 a profissionais do Distrito Federal. O presidente do Conselho, Tales Heliodoro Viana, relembrou o nascimento do CRBio-04 em Brasília e sua trajetória de crescimento em Belo Horizonte. “Transferi o Conselho para BH, mas fiquei sempre com essa questão em mente: ‘E Brasília?”. Hoje estamos concretizando o sonho da Delegacia e pagando essa conta com a história”. O presidente do Conselho Federal de Biologia, Wlademir João Tadei, prestigiou o evento e cumprimentou o CRBio-04 e os biólogos do Distrito Federal pela conquista. “A instalação da Delegacia é o assentamento de um tijolo que esperamos que se amplie e ajude na edificação do que nós, biólogos, precisamos como Conselho e profissão”.
Estratégica O conselheiro Gladstone Corrêa de Araújo fez um resgate histórico da trajetória do Conselho e dos principais marcos na criação da Delegacia. O espaço contribuirá para o fortalecimento do relacionamento institucional do Conselho com instituições de ensino, órgãos públicos e empresas. Em Brasília essa política se faz especialmente estratégica em função da cidade ser sede de vários órgãos ambientais federais. O delegado Gildemar José Bezerra Crispim e o subdelegado Felipe Musardo Firmino, que já ocupavam as funções de representantes do CRBio-04 no DF desde novembro de 2017 (em cargos opostos), estarão à frente da Delegacia. “O papel de fortalecimento da profissão não cabe apenas aos conselhos, mas a todos os biólogos”, ressaltou o subdelegado.
Delegacia Regional do CRBio-04 no Distrito Federal SHN - Quadra 1, Bloco A Ed. Le Quartier - salas 807/808 Brasília-DF | (61) 3547-4930 delegaciadf@crbio04.gov.br
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ENTOMOLOGIA
Novo inseto bioindicador descoberto
Imagens: Revista Plos One
Espécie foi registrada na região de Diamantina-MG
Foi em uma expedição ao Parque Estadual do Rio Preto, na região central de Minas, que o biólogo Henrique Paprocki e a então bolsista de iniciação científica Larissa Moreira Silva (atualmente já graduada) descobriram uma nova espécie de inseto, a Plectromacronema solaris. O inseto, pertencente à ordem Trichoptera, compartilha um ancestral em comum com as mariposas e borboletas. Ao contrário das “primas” lepidópteras, porém, as espécies da ordem Trichoptera têm por característica permanecer a maior parte do ciclo de vida no ambiente aquático, emergindo na fase de reprodução. Descrito em 1906, o gênero Plectromacronema só possuía, até então, duas espécies registradas no Brasil. O artigo da descoberta foi divulgado na revista científica internacional Plos One, publicada pela Public Library of Science. O projeto foi desenvolvido na Coleção de Invertebrados do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, da qual
Paprocki é curador, com recursos da Pró-Reitoria de Pesquisa e de Pós-graduação da Universidade. “Essas coleções ficam como um testemunho para o futuro. Em um cenário de mudanças climáticas que podem causar a extinção ou expansão de algumas espécies, esse é um registro muito importante. Assim, cada parque ou unidade de conservação ganha valor por ter sua biodiversidade descrita, o que também justifica a criação de novos espaços”, afirma o biólogo.
Bioindicador Em sua fase imatura, os indivíduos da espécie Plectromacronema solaris são exclusivamente aquáticos, habitando riachos de montanha encaichoeirados. Já os adultos se assemelham a pequenas mariposas e voam nas margens de córregos, nas montanhas do Espinhaço meridional.
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ENTOMOLOGIA
Por se desenvolverem na água, as larvas da espécie são sensíveis ao meio, caracterizando-as como um bom bioindicador. “A constituição da fauna presente na água é um fator importante para determinar sua qualidade. Não é uma análise que substitui a físico-química, em que se leva em conta fatores como o pH, cor, alcalinidades, mas são processos complementares”, explica o pesquisador. A identificação da nova espécie também abre caminho para que o inseto possa ser registrado em outras localidades, possibilitando a aplicação do bioindicador em regiões distintas.
inventário de diversidade para a conservação da fauna local e para a elaboração de políticas de preservação e licenciamento ambiental”, complementa Paprocki. Além desses fatores, a descoberta de insetos sensíveis a distúrbios no meio aquático dá à comunidade científica possibilidades econômicas de estudos. Em ambientes devastados pela ação do homem não há incidência desses indivíduos, o que facilita a detecção e definição dos padrões de potabilidade da água.
O registro de uma nova espécie
A descoberta da espécie Plectromacronema solaris também contribui, na opinião do professor, para a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos. “Levamos a vida mais felizes quando estamos cercados de biodiversidade. Isso vai refletir em todas as áreas de nossas vidas. Podemos tomar como exemplo a alimentação: se temos mais opções, aumentam as possibilidades de uma dieta mais equilibrada e, portanto, mais qualidade de vida. Se extinguirmos metade das espécies do planeta nos próximos 30 anos, como dão conta algumas previsões, as próximas gerações não terão opções como nós temos”.
A espécie Plectromacronema solaris passa a integrar uma lista de cerca de dois milhões de espécies descritas em todo o mundo. O número, porém, é ínfimo perto do que ainda há por se descobrir. O professor Henrique Paprocki afirma que há uma estimativa que entre 30 milhões e 100 milhões de espécies ainda não são conhecidas pelo homem. “O registro de uma nova espécie representa uma contribuição significante para o mundo acadêmico”, pontua. “Do ponto de vista social, só damos valor a coisas que têm um nome. A partir da descoberta, deve ser feito um
Felicidade
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HERPETOLOGIA
Preservação e conscientização Instituto desenvolve ações para proteger répteis e anfíbios O juramento do biólogo fala em “defesa da vida, estimulando o desenvolvimento científico, tecnológico e humanístico”. Cada profissional, à sua maneira e no contexto de suas atribuições, deve sempre atuar com esse princípio em mente. Para um grupo de biólogos de Goiânia, o caminho encontrado foi a criação de uma associação sem fins lucrativos, o Instituto Boitatá. Em entrevista, o presidente do Instituto, Iberê Machado, fala das contribuições para a comunidade e sobre a gestão da associação.
Como surgiu o Instituto Boitatá?
Sempre conversávamos sobre a importância de trabalhos de conservação e preservação da fauna brasileira, em especial de dois grupos de animais que a maior parte da comunidade tem medo, os répteis e anfíbios. Nós já participávamos, individualmente, de ações de pesquisa organizadas pela academia e por órgãos públicos e fomos percebendo que existia um nicho a ser preenchido, de trabalhar ativamente na conservação subsidiando ações governamentais. Adicionalmente, sempre tivemos a visão de que uma parte importante do trabalho de conservação é a atuação com a comunidade ao redor de onde os animais aparecem, por isso uma das nossas principais linhas é a de sensibilização ambiental. Quais atividades o instituto realiza?
Para alcançar os objetivos do Instituto Boitatá realizamos três tipos de ações: a primeira é a pesquisa científica, gerando conhecimento sobre o que está acontecendo com cada espécie naquele ambiente. A segunda é compartilhar nossos resultados por meio de palestras, planilhas e artigos científicos que subsidiem medidas protetivas de cada espécie. E por fim, como citado, nossa ação principal é de sensibilização ambiental. Acreditamos que é preciso conhecer para preservar. Logo, levamos aulas, palestras e exposições às comunidades, apresentando as espécies, seu papel na natureza, nas relações ecológicas e sua importância, inclusive para o ser humano. Quando você conhece uma espécie seu medo diminui e seu interesse aumenta, mesmo em espécies
tidas como pouco carismáticas, como sapos, rãs e pererecas. E temos exemplos reais: depois de assistir a nossas palestras alguns moradores de área rural de Silvânia, em Goiás, que antes tinham o costume de matar serpentes, passaram a fotografar e nos mandar perguntando que espécie é, o que ela come, se é venenosa ou não. Fale das ações já desenvolvidas.
O Instituto começou com projetos em pequena escala, gerando informações locais a respeito de espécies ameaçadas, por exemplo, da rã-manezinho (Ischnocnema manezinho), espécie endêmica e ameaçada da parte insular de Florianópolis. Atualmente, trabalhamos em dois planos de ação nacionais para conservação de espécies ameaçadas de extinção, o PANSUL e o CERPAN. Nossa participação no CERPAN é desenvolver ações de proteção da herpetofauna do Cerrado, e nele estamos desenvolvendo ações com uma rãzinha de floresta que só ocorre nos estados de Goiás e Tocantins. Também atuamos com a geração de material informativo sobre esses projetos e ações. Além disso, temos as atividades rotineiras, que contam, principalmente, com visitas a escolas, EJAs, CMEIs, além das datas comemorativas, quando levamos informação sobre as espécies e a comunidade pode ter contato com alguns animais. Acredito que essa seja nossa maior contribuição para o meio ambiente e para a comunidade, fazer com que as pessoas enxerguem as espécies e o ambiente em seu entorno como uma parte importante de suas vidas.
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Arquivo pessoal
HERPETOLOGIA
O apoio do CRBio-04, por meio do PAPE, tem sido importante?
Saiba mais
Foram várias ações em 2018, cada uma com abordagens diferentes de sensibilização ambiental, como o “Salvem os Sapos”, o “Save the Frogs Brasil” e o “Salvem as Serpentes”, que ocorreram em abril, julho e agosto, respectivamente. Ao todo, cerca de cinco mil pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos, foram impactados por esses projetos. Além disso, tivemos a realização de eventos acadêmicos, como a Semana Científica da Biologia 2018 da PUC Goiás, e de uma iniciativa chamada “Cidadão Biólogo”, com o intuito de conscientizar a sociedade da importância da conservação do meio ambiente e do papel do biólogo nesse processo. Todos esses projetos contaram com a parceria do CRBio-04, cujo apoio foi fundamental.
O Instituto Boitatá é uma associação civil composta, atualmente, por uma diretoria formada por quatro biólogos e quase 40 voluntários e coordenadores. Nenhum cargo na entidade é remunerado e todos os recursos obtidos por meio de doações ou de editais de financiamento são destinados às despesas de custeio e às ações de conservação. O trabalho do Instituto pode ser conferido pelo site www.institutoboitata.org.
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SAÚDE
Biólogo pode atuar como perfusionista Resolução do CFBio determina condições para atuação na profissão Foi publicada no Diário Oficial da União, no mês de agosto, a Resolução 479/2018 do Conselho Federal de Biologia, que dispõe sobre a atuação do biólogo como perfusionista. Entre os requisitos previstos na nova legislação para que o biólogo possa desempenhar a função estão a exigência de certificado de pós-graduação Lato sensu em perfusionismo/circulação extracorpórea e o treinamento específico no planejamento e ministração dos procedimentos de circulação extracorpórea certificado pela Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea (SBCEC). A resolução ainda prevê que o profissional deve apresentar no currículo conhecimento em análises clínicas, anatomia e fisiologia humanas, biofísica, bioquímica, biologia celular e molecular, farmacologia, hematologia, imunologia, microbiologia, bioética, bioestatística e biossegurança. O professor de Teoria da Circulação Extracorpórea da UNA e UniBH e primeiro perfusionista graduado em Biologia de Minas Gerais, Sérgio Luis de Jesus, avalia a publicação da resolução como um avanço: “Atuo como perfusionista antes mesmo de me tornar biólogo exatamente por, até então, não haver nenhuma regulamentação específica dos conselhos na atuação. A SBCEC mantém há anos um árduo esforço para o reconhecimento da profissão pelos conselhos federais. Penso que a resolução, além de cumprir o papel regulatório, vai ajudar também na divulgação de mais uma área de atuação dos biólogos”. E completa: “O biólogo tem todos os preceitos acadêmicos para buscar uma especialização e se tornar um profissional perfusionista. Espero que haja uma fiscalização efetiva dos conselhos para que não aconteça o exercício ilegal da profissão”. O CFBio foi o primeiro conselho de classe a estabelecer uma carga horária mínima de 1.200 horas de capacitação para que o profissional possa exercer a função de perfusionista, como orienta a SBCEC.
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O que faz o perfusionista A perfusão diz das funções necessárias ao suporte, tratamento, avaliação ou suplementação dos sistemas cardiopulmonar e circulatório dos pacientes. O perfusionista é um profissional que opera o equipamento de circulação extracorpórea durante qualquer situação médica em que é necessário oferecer suporte ou substituir as funções cardiopulmonares ou circulatórias e assegurar o manuseio adequado das funções fisiológicas pela monitoração das variáveis necessárias. A circulação extracorpórea consiste no desvio parcial ou total do sangue para um equipamento denominado de oxigenador, onde o sangue sofre as trocas gasosas e retorna ao organismo já arterializado para manter a circulação sistêmica. Esta técnica é indispensável durante o período que o cirurgião cardíaco corrige uma patologia cardiovascular, momento em que coração e pulmões encontram-se parados.
MASTOFAUNA
Sauá é registrado em APP de Pitangui-MG
WikiCommons
Ocorrência pode estimular novas pesquisas na região
Conhecido como guigó ou sauá, o Callicebus nigrifrons é originário da Mata Atlântica e de áreas de transição com o Cerrado, estando presente em grande parte do Sudeste do Brasil, em especial no norte do estado de São Paulo, no oeste do Rio de Janeiro e no sul de Minas Gerais. Sua ocupação já foi observada tanto em áreas conservadas quanto em florestas com distúrbios antropogênios ou em regeneração. Segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), a espécie ainda não se encontra ameaçada, mas o número de indivíduos vem diminuindo. Esse é um dos motivos pelo qual a notícia da ocorrência de um sauá na Área de Preservação Permanente do Rio São João em Pitangui-MG pode ser considerada um alento. A descoberta foi registrada em artigo publicado na revista SynThesis, da Faculdade de Pará de Minas. Um dos autores do artigo, o biólogo Eduardo José Azevedo Côrrea, relata que escutava sons de um primata na mata próxima à Escola Agrícola onde trabalha. O som despertou a curiosidade de Eduardo, que por um tempo tentou, sem sucesso,
fotografar o animal. Conversando com outros pesquisadores, foi aconselhado a atrair o primata através do playback, ou seja, emitir um som semelhante para que o indivíduo buscasse defender seu território. “É a única maneira de ele aparecer. Não adianta tentar atraí-lo com comida ou de alguma outra forma”, explica Eduardo. Depois de conseguir capturar imagens do animal, o biólogo contou com ajuda de especialistas para sua identificação. O estudo sobre a presença do sauá nos arredores de Pitangui é inicial, ainda sem um dimensionamento do tamanho da população. Por ser uma região marcada economicamente pela produção agropecuária, entretanto, já funciona como um alerta à sobrevivência da espécie, uma vez que seu habitat sofre constante pressão pela expansão de lavouras e pastagens. “O artigo deixa portas abertas para que futuras pesquisas façam um levantamento da população e tracem estratégias de conservação da espécie. Seria interessante fazer um monitoramento dessa população para acompanhar se a atividade agropecuária atinge esse e outros primatas”, sugere o biólogo.
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MEIO AMBIENTE
Estudo avalia remoção de pequenas centrais hidrelétricas Pesquisa parte da análise dos impactos em rio no Norte de Minas
Localizado na região norte de Minas Gerais, o Rio Pandeiros banha os municípios de Bonito de Minas, Cônego Marinho e Januária. Nesta última funcionou, até 2008, a Pequena Central Hidrelétrica de Pandeiros. Um estudo desenvolvido pelo doutor em Ecologia Aplicada pela Universidade Federal de Lavras Rafael C. R. Souza visa a identificar os possíveis impactos que a PCH Pandeiros ainda causa no ecossistema aquático da região, tanto acima quanto abaixo da barragem, mesmo após ter encerrado sua operação. “A principal motivação foi a necessidade da elaboração de um estudo de viabilidade de remoção da Pequena Central Hidrelétrica de Pandeiros e a utilização de uma ferramenta que pudesse ser utilizada em escala estadual e/ou nacional, a fim de conservar e manter o equilíbrio ecológico de nossos rios”, explica o biólogo, que atualmente trabalha como analista ambiental no Programa Peixe Vivo.
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Ferramenta A principal aplicação desta ferramenta é ser utilizada como norteadora para a construção de novas usinas. Permite, ainda, a avaliação de novas possibilidades de remoção de usinas hidrelétricas, considerando o balanço entre as vantagens e desvantagens ecológicas e econômicas, identificando locais onde a permanência da barragem não faz mais sentido.
MEIO AMBIENTE
O projeto se iniciou em 2014, teve sua primeira etapa finalizada em 2017 e contou com pesquisas em parceria entre professores e estudantes das Universidades Federais de Lavras e de Minas Gerais e da Universidade de Southampton (Inglaterra), além do financiamento da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e gestão da Fapemig. Rafael destaca que o objetivo do estudo é, a partir da análise de caso da PCH Pandeiros, formular uma ferramenta que identifique, inicialmente em Minas Gerais, pequenas centrais hidrelétricas em que a relação entre conservação do ambiente aquático e produção de energia esteja em desequilíbrio. Ou seja, se uma usina produz pouca ou nenhuma energia e causa grandes impactos em sua manutenção e operação ou é um bloqueio de rota de migração de peixes, esta usina teria prioridade em uma ação de descomissionamento – que inclui todo o processo de retirada de uma barragem do rio, desde aspectos legais até a remoção física das estruturas da usina. O descomissionamento vem sendo amplamente desenvolvido nos Estados Unidos, onde milhares de usinas estão sendo colocadas abaixo com foco na restauração ambiental.
Primeiros passos O estudo no Rio Pandeiros analisou diversos grupos de organismos, tanto aquáticos quanto terrestres, para avaliar a viabilidade de remoção da usina. “Essa abordagem é inédita em países da América Sul e na região neotropical. A remoção de barragens ainda é uma alternativa pouco convencional para manejo ambiental em todo mundo, mas tem mostrado resultados interessantes e positivos na tentativa de restaurar ambientes impactados por usinas hidrelétricas”, ressalta o biólogo. A conclusão mais expressiva da pesquisa de Rafael é que, mesmo estando desativada desde 2008, a PCH ainda é fonte de impactos negativos na comunidade biótica em seu entorno. “A usina ainda modifica o ambiente, principalmente nas regiões imediatamente acima do barramento,
alterando também as espécies ali presentes, especialmente se considerarmos os organismos aquáticos”, salienta. “O estudo ainda demonstrou que, havendo uma descarga de sedimentos provenientes do reservatório, os impactos não ultrapassariam dez quilômetros abaixo da barragem. Os resultados indicam, portanto, que a remoção da barragem é uma possibilidade que traria mais consequências positivas em prol do ecossistema do entorno da PCH Pandeiros do que negativas”, completa o pesquisador.
Próximos passos A primeira etapa da pesquisa consistia no levantamento dos dados biológicos da usina de Pandeiros para as simulações da ferramenta de priorização de descomissionamento de barragens. Entre os pontos contemplados estão o fluxo de carbono na bacia, ictiofauna, dispersão de sementes pelas formigas no ecossistema da planície de inundação do rio e seu entorno, avaliação da vegetação da mata ciliar, macroinvertebrados bentônicos bioindicadores na bacia do rio, efeito da barragem na riqueza de espécies, avaliação dos mamíferos frente aos eventuais efeitos do descomissionamento da barragem, modelagem matemática de redes tróficas, análise de estabilidade e simulação hidrosedimentológica na bacia hidrográfica. Agora, o projeto encontra-se em nova fase, ainda em negociação e em ajustes de planejamento, para o início das etapas da remoção física da PCH Pandeiros. “Inicialmente será feito um trabalho com a população do entorno da hidrelética para conscientizá-las sobre o projeto e também apresentar os atuais resultados e implicações. Também precisa ser iniciado o processo de licenciamento do descomissionamento. A partir daí, será feita a abertura da comporta de fundo da PCH a fim de liberar os sedimentos, hoje acumulados no reservatório da barragem. O projeto irá monitorar a descarga e a liberação de sedimentos a jusante com a abertura das comportas da PCH e avaliará os impactos em curto e médio prazo.
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