Revista Suínos e Cia.

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SUÍNOS&CIA - REVISTA TÉCNICA DA SUINOCULTURA

ANO VI - Nº 37/2010



Editorial

N

esta edição, a Suínos & Cia. traz aos seus leitores diversos assuntos que podem colaborar para a elaboração de seus planejamentos para o próximo ano. Confira as recentes informações técnicas abordadas no último IPVS, em Vancouver, no Canadá, que podem influenciar nas tomadas de decisões para 2011. Aproveite a completa revisão sobre a nutrição da fêmea suína de alta produtividade, que pode ser uma das áreas de oportunidade para maximizar seus resultados. Por meio da melhoria destes resultados, pode-se adequar previamente o possível aumento de produtividade ao adequado fluxo de produção. Aproveite as dicas de manejo para reduzir as perdas que acometem os recém-nascidos e aprenda se divertindo com os instrutivos jogos dessa edição. Finalmente, fazendo um balanço do ano que se encerra, temos muito a agradecer pelo positivo resultado que a atividade deixou, principalmente no segundo semestre. É hora de planejar o próximo ano e investir em produtividade, crescimento e sustentabilidade. Atuar nas áreas que, com pouco investimento, trazem rápido retorno por meio das possíveis oportunidades que existem dentro de cada empresa e produzem rápido crescimento. Prepararmos para nos fortalecer das possíveis crises que possam surgir no mercado, tendo consciência que bons e maus momentos sempre vão existir. Ser criativo, porém, com os pés no chão. Aproveitamos para desejar aos nos parceiros e colaboradores um feliz 2011, cheio de realizações e prosperidade.


Índice 6

Entrevista Destaque O jubileu de prata da Globoaves

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Nutrição Nutrição de Fêmeas Suínas de Alta Performance Reprodutiva nos Trópicos

36

Manejo Cama para suínos: estratégia de manejo e bem-estar animal

42

Revisão Técnica Resumo do 21º Congresso Internacional da Associação Mundial de Veterinários Especialistas em Suínos (IPVS)

58

Sumários de Pesquisa

62

Recursos Humanos

64

Dicas de Manejo Importância do colostro aos leitões nas primeiras horas de vida

68

Divirta-se Encontre as palavras Teste seus conhecimentos Jogo dos 7 erros Cruzadox


Expediente Revista Técnica da Suinocultura A Revista Suínos&Cia é destinada a médicosveterinários, zootecnistas, produtores e demais profissionais que atuam na área de suinocultura. Contém artigos técnico-científicos e editorias instrutivas, apresentados por especialistas do Brasil e do mundo.

Editora Técnica Maria Nazaré Lisboa CRMV-SP 03906

Consultoria Técnica Adriana Cássia Pereira CRMV - SP 18.577 Deborah Gerda de Geus CRMV - SP 22.464 Edison de Almeida CRMV - SP 3045

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Central de Inseminação Artificial - Globosuínos / Toledo - PR

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Entrevista Destaque Entrevista Destaque O jubileu de prata da Globoaves

O jubileu de prata da Globoaves

Empresa voltada ao agronegócio, a Globoaves sobressai no mercado brasileiro por atuar com grande destaque nos diferentes segmentos de avicultura, suinocultura, agricultura e pecuária. Atualmente completa 25 anos e se tornou a principal empresa do grupo controlado pela holding Kaefer Administração e Participações. Confira sua historia! Constituída em 1985 pela Família Kaefer, a Globoaves passou de um pequeno comércio local, de origem familiar, à maior fornecedora nacional de ovos férteis e pintos de um dia para corte e postura. De lá para cá a empresa conquistou mercado, diversificou sua atuação, tornou-se um grupo e tem muitos motivos para comemorar seus 25 anos. Como a maioria das grandes empresas brasileiras, a Globoaves é fruto de uma vocação familiar, cujos primórdios remontam a meados do século passado quando, no interior do Rio Grande do Sul, o patriarca Henrique Helmuth Kaefer abriu um pequeno comércio de produtos agropecuários. Depois de ter partici-

Velci Kaefer e Roberto Kaefer, sócios da Globoaves/Globosuínos pação societária num armazém de secos e molhados, Helmuth e os filhos Velci, José Saldi e Roberto Kaefer constituíram, em 1976, a Globo Comércio e Representações, uma loja agropecuária que vendia rações, suínos e pintainhos de um dia. Em 1978, a família adquiriu uma pequena granja de suínos de ciclo completo com 50 matrizes e 500 suínos em engorda (produção de leitões e engorda). Nascia a Heve Agropecuária e, depois, a Globosuínos. Buscando maior independência de fornecedores que não primavam pela regularidade no abastecimento às grandes empresas, a família decidiu pela implantação de uma pequena granja de matrizes e um incubatório para produção própria. Para desenvolver essa atividade, em 27 de março de 1985 foi fundada a Globoaves, principal empresa do grupo controlado pela holding Kaefer Administração e Participações, com atuação na avicultura, suinocultura, agricultura e pecuária. Nesta entrevista, o Sr. Velci Luiz Kaefer, diretor financeiro do grupo, fala sobre o surgimento da empresa, explica seus constantes investimentos em treinamentos e na área de biosseguranca e comenta sobre o futuro da suinocultura e do agronegócio brasileiro.

O senhor tem uma empresa bem-sucedida, que atualmente comemora 25 anos. Pode nos fazer um breve resumo de sua trajetória? A Globoaves teve início com a produção própria de ovos férteis e pintos de um dia para dar sequência ao negócio que tínhamos de compra e venda, junto com a suinocultura em pequena escala, comércio de rações, equipamentos para avicultura e produtos veterinários. Passados 25 anos, comemoramos o sucesso alcançado, principalmente pela colaboração e dedicação do nosso corpo de colaboradores, gerentes, sócios, parcei-

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Entrevista Destaque ros e consultores. A confiança e o crédito que recebemos de nossos fornecedores e clientes são a razão de termos chegado até aqui e estarmos prontos e preparados para prosseguirmos nesta empreitada de produzir e participar do agronegócio do Brasil.

Qual a visão de mercado dos empreendedores ou dos sócios da empresa, em 1985, que permitiu a todos acreditar nesse meganegócio? Estávamos iniciando a avicultura industrial com as integrações avícolas, e nós, que já trabalhávamos com compra e venda de pintos, pensamos que era a hora de iniciar uma produção própria de ovos férteis e pintos de um dia, com matrizes e incubatório próprios. Acreditar no que sabemos e gostamos de fazer foram as nossas prioridades, e os resultados são apenas consequências de um árduo trabalho, aproveitando as oportunidades.

Qual a diferença da visão futurista das décadas passadas com a atual? Ser empreendedor é ter visão futurista com os pés no chão, colocados na realidade e na sustentabilidade. Isto não mudou. O que mudou é a velocidade da decisão e, para isto, o empresário precisa estar cada vez mais preparado e capacitado, sabendo somar e reconhecer talentos para tomar as melhores decisões para o crescimento da empresa.

outros. Quando um desses nos atinge, o outro ajuda a sustentar o todo, e a empresa perpetua-se. Aliás, a grande vocação das empresas é se perpetuar, isto é, ganhar e perder, mas continuar existindo.

Quais as razões que possibilitaram o rápido crescimento nos segmentos de aves e suínos? Aproveitamos as oportunidades que apareceram e sempre reinvestimos todos os resultados no próprio negócio. Sempre tem alguém vendendo e, se for do segmento, com condições favoráveis, compramos. Podemos citar como exemplo a oportunidade que tivemos quando a Sadia, de Toledo, colocou à venda uma de suas granjas de suínos, de 600 matrizes. Após a compra, nós a expandimos e modernizamos. Hoje conta com 3.600 matrizes e é a maior e melhor unidade UPL de produção de leitões da empresa. Também acreditamos em arrendamento e parcerias e temos granjas de matrizes de frangos e suínos e incubatórios arrendados com parceiros distribuídos por todo o Brasil. Há casos em que o parceiro entra com a propriedade e outros com o capital. Há, ainda, quem entre com propriedade, capital e mão de obra. Acreditamos e apoiamos nossos parceiros.

A suinocultura ensinou algo para a avicultura? A suinocultura foi quem mais so-

freu mudanças para sobrevier e crescer. Só sobreviveram aqueles que tornaram a atividade uma gestão empresarial. A avicultura terá de se reciclar e atualizar ou passará pelo mesmo processo da suinocultura, que sofreu profundas alterações e grandes perdas.

Hoje, a Globosuínos tem se destacado como uma das empresas com melhores resultados zootécnicos e de viabilidade econômica, dentro e fora do país. A que o senhor atribui tamanho sucesso? Os bons resultados são fonte de constantes investimentos em genética, tecnologia em instalações, manejo, biossegurança, sanidade e muito treinamento para os colaboradores e parceiros. Reinvestimos os resultados na constante melhoria das instalações e, evidentemente, isto só é possível com boa assistência técnica coordenada por uma boa consultoria.

Quais as frentes de atuação do grupo e as áreas que cresceram mais rapidamente? As áreas de negócios têm tempos e respostas distintas. Depende muito do quanto colocamos de capital, do interesse neles e do mercado. A produção de ovos férteis , pintos de um dia e ovos embrionados é nosso principal e maior negócio, nosso carro-chefe. Nossa suinocultura também teve um vigoroso crescimento nos últimos anos e, hoje, é um importante negócio da empresa.

Quando iniciou a suinocultura nos negócios da empresa? A suinocultura teve início com a compra de uma pequena granja adquirida em sociedade por mim e pelo meu pai, dez anos antes de iniciarmos a produção própria de pintos. Mais tarde, com o crescimento e sustentabilidade dessa pequena suinocultura, decidimos, entre os sócios da Globoaves, formar e constituir a Globosuínos.

O que faz a empresa acreditar na diversificação dos negócios? Sempre ouvimos dizer para não colocar todos os ovos em um só cesto. A experiência nos mostrou que sempre acontecem crises e oportunidades, e esta situação ocorre em alguns setores, mas não em Ano VI - nº 37/2010

Velci Luiz Kaefer, diretor financeiro do grupo

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Entrevista Destaque vemos aproveitar as oportunidades que aparecerem, porém, com os pés no chão.

A empresa possui programas de biossegurança, 5S e investe em treinamento de seus colaboradores constantemente. Qual o ponto de destaque quando comparada a outras empresas do setor no país?

Como sócio de uma grande empresa que participa ativamente de investimentos, empreendimentos e da sustentabilidade do agronegócio brasileiro, qual a sua visão do futuro do agronegócio do Brasil? Considero o agronegócio brasileiro muito promissor pelas próprias condições naturais de solo, clima e gente, além da disponibilidade que temos de material genético e da própria tecnologia que chega e é adotada rapidamente em nosso negócio. Falta apenas nosso governo entrar com sua parte na infraestrutura, com impostos compatíveis para sermos mais competitivos com nossos concorrentes e diminuição da atual burocracia.

A empresa atua nos diferentes segmentos do agronegócio. Quais são os planos para os próximos dez anos no setor? Queremos crescer em qualidade e escala no nosso setor de aves e suínos; preparar a empresa para acompanhar a dinâmica do setor com capital, profissionalizando e qualificando nosso quadro gerencial e de produção; e aprimorar a sucessão com a participação de profissionais e familiares, com muita responsabilidade e tranquilidade.

E com relação à suinocultura, o senhor acredita que há espaço para mais crescimento na próxima década? O crescimento sempre é necessário. A empresa cresce ou desparece. De-

A empresa cresceu sempre focada no treinamento de seus colaboradores e está inserida nos programas de qualidade total há muitos anos. Nas nossas plantas, programa de biosseguridade é regra básica. Também montamos um comitê interno do meio ambiente. Preocupamo-nos muito com a segurança das instalações e, principalmente, de nossos colaboradores. Para isso, implantamos comitê de risco, SESMT e CIPA.

Avaliando a empresa ao longo desses 25 anos, qual setor obteve maior crescimento sustentável? Somos o maior produtor independente de ovos e pintos de um dia do Brasil, e é claro que para isso temos de ser competentes em qualidade e biosseguridade. Por estarmos em quase todos os Estados do Brasil temos grande competitividade em logística e custo. Nossa suinocultura tem crescido em bases constantes, com altos índices de produtividade e qualidade. No momento o que mais queremos é consolidar nosso próprio abate de animais e diferenciarmos na industrialização de nossos produtos.

Qual sua principal análise ao comemorar os 25 anos da empresa? Gosto muito do slogan do Amador Aguiar, fundador do Bradesco: “só o trabalho constrói riquezas”. Foi o que fizemos e continuamos a fazer. A parábola dos talentos nos ensina que quem os multiplica acaba recebendo sempre novos talentos. Aproveitamos oportunidades, reinvestimos os ganhos nos negócios, cercamo-nos de bons colaboradores, parceiros e sócios e neles devemos confiar, investir e lhes dar conforto na empresa e para suas famílias. Suínos & Cia

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Entrevista Destaque Qual a grande diferença de crescer hoje em relação há 20 anos? No passado a possibilidade de corrigirmos erros era maior do que hoje, pois a dinâmica moderna não permite mais cometermos erros. Quem não acompanhar a velocidade dos negócios na grande aldeia global será atropelado e irá para a galeria das empresas incorporadas, desaparecidas ou falidas.

Dos diferentes segmentos nos quais atua, existe algum que manteria estável, ou à medida que os demais crescerem, há algum que pretenda excluir do grupo? Não existe segmento que se possa manter estável; ou cresce ou desaparece. A dinâmica nos negó-

e, hoje, lidera, de forma exemplar, sua equipe de produção. Em 2009 atingiu a marca de 30 leitões desmamado/porca/ ano, superando a expectativa das metas de produção. No entanto, por meio da especialização e do trabalho em equipe, conseguiu alcançar, em 2010, a marca de

31,5 leitões desmamados/porca/ano. “O segredo para o sucesso é o trabalho que desenvolvemos de um time altamente integrado. Sem dúvida, um dos maiores desafios da minha carreira foi aprender formar talentos e delegar funções, acreditando nos nossos colaboradores”, destaca Wanderley, que também reconhece que a razão para atingir os objetivos é o apoio que recebe da própria empresa, que o motiva a cada dia, sem se esquecer da colaboração que recebe da consultoria. “Se acreditarmos na adoção de novas tecnologias, com apoio e trabalho ombro a ombro, sempre chegamos ao foco. Nossos colaboradores estão altamente comprometidos e envolvidos nos resultados. Crescer junto com a empresa é motivo de orgulho. Nos últimos anos assumimos mais um segmento da cadeia e queremos chegar ao consumidor final com excelência de produtos, atingindo a satisfação do consumidor em todas as suas exigências. Por tudo isso, posso afirmar que apenas com esta paixão que temos pela suinocultura realmente se faz a diferença na conquista de nossos resultados”, afirma Wanderley.

Confira também a trajetória de Wanderley Schlindwein, que gerencia a produção da Globosuínos

Aproximadamente há 15 anos Wanderley foi incorporado na empresa e, assim, segue sua trajetória de sucesso. Cresceu profissionalmente Ano VI - nº 37/2010

Ao comemorar 25 anos da empresa, qual a mensagem que deixaria para sua família, fornecedores, parceiros, sócios, clientes e colaboradores? Nosso maior patrimônio, depois da família, são nossos 9 mil colaboradores, os milhares de parceiros que se completam com nossos seletos fornecedores e, evidentemente, nossos clientes no Brasil e no exterior e nossos sócios, partícipes dos lucros e perdas. A todos agradecemos pela confiança e colaboração e pedimos que continuem confiando em nossos projetos, pois continuaremos a dar todo nosso trabalho, esforço, transparência, credibilidade e amor.

Wanderley Schlindwein, gerente de produção da Globosuínos

Desde criança, Wanderley vivencia a suinocultura e, sem dúvida, esta é uma das razões que o motivou a eleger essa área como carreira profissional. Ao lado de sua mãe, Ortelina Campagnolo, Wanderley acompanhava as suas rotinas de trabalho em uma das maternidades do grupo. Atualmente, Ortelina, com muito entusiasmo, lidera o mesmo setor em uma das maiores granjas da Globosuínos, na qual tem as funções de gerenciar e transferir conhecimento por meio de sua vasta experiência para os principiantes e aos que já se encontram em fase de especialização no setor de maternidade.

cios é muito grande e dependente do momento. Estamos bem focados na produção de suínos, ovos férteis, pintos de um dia e frangos de corte e investindo forte na produção de ovos embrionados para o Instituto Butantan, que são usados na fabricação da vacina da gripe. No momento não temos nada a excluir dos nossos negócios.

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Nutrição Nutrição

Nutrição de Suínas Fêmeas Suínas Nutrição de Fêmeas de Alta Performance Reprodutiva nos de Alta Performance Trópicos Reprodutiva nos Trópicos

Dr. Bruno A. N. Silva IPG, Institute for Pig Genetics The Netherlands Bruno.Nunes.Silva@ipg.nl

A Fêmea Moderna A produtividade da fêmea suína aumentou de forma substancial nos últimos 10 anos devido ao manejo, avanços genéticos e seleção baseada em parâmetros, tais como tamanho de leitegada, intervalo desmama-estro e eficiência na lactação. É possível ver, na Tabela 1, uma indicação do tipo de progresso alcançado nas 10% melhores granjas comerciais, hoje, na Holanda. Estes dados demonstram a eficiência da seleção genética balanceada, que traz, associada, maior capacidade reprodutiva das fêmeas, vigor e sobrevivência dos leitões, permitindo a produção de leitegadas maiores, sem aumentar a mortalidade dos leitões (Figura 1). Os resultados indicam um crescimento estável de 0.35 leitão desmamado/fêmea/ano. Estes valores nos levam a uma estimação para 2020 de 15 – 16 leitões nascidos vivos/leitegada ou 33 leitões desmamados/fêmea/ano. Neste momento não existem evidências de que este melhoramento já tenha alcançado o seu patamar máximo (ex.: raças chinesas com 17 leitões nascidos vivos). Nos últimos anos foi verificado que uma seleção balanceada é de fundamental importância para equilibrar o aumento do tamanho da leitegada com

Figura 1. Tendência genética para mortalidade pré-desmame e número de leitões nascidos vivos por leitegada (IPG, 2010). a vitalidade dos leitões. Entretanto, é de comum conhecimento que o aumento do tamanho da leitegada implica na redução do peso ao nascimento e em variações do peso dentro da leitegada, levando a vitalidade reduzida até o desmame. Isto é mostrado na Figura 2 para a situação de manejo em que não há acompanhamento direto do parto da fêmea, na qual podemos verificar que a vitalidade do leitão não é apenas dependente do peso ao nascimen-

Tabela 1. Progresso alcançado em produtividade nas 10% melhores granjas comerciais da Holanda entre 2000 e 2009 (IPG, 2010). # granjas (10% melhores)

2004

2007

2009

48

62

94

95

# fêmeas/granja

287

351

435

489

Leitegadas/porca/ano

2.42

2.43

2.44

2.46

Nascidos vivos/leitegada

12.2

12.7

13.5

14.0

Desmamados/ leitegada

11.0

11.5

12.0

12.5

Desmamados/porca/ano

26.7

27.9

29.4

30.8

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to, mas também da linha genética. A vitalidade do leitão, assim como o tamanho da leitegada, é uma característica de baixa herdabilidade (h2 = 0.05, Knol 2000), mas com oportunidades claras para melhoramento genético. Novos modelos estatísticos e protocolos adicionais de coleta de dados entre o nascimento e o desmame têm sido desenvolvidos e testados para combinar o progresso no número de nascidos vivos, a vitalidade dos leitões e a uniformidade da leitegada em progresso genético sustentável para o número de leitões desmamados/ fêmea/ano, ou seja, cada leitão nascido extra deverá nascer vivo e ser desmamado. Isto é combinado com a seleção para habilidade materna (número de tetas, ganho de peso dos leitões até o desmame, etc) e a eficiência alimentar das porcas. A Tabela 2 mostra o progresso genético esperado para uma seleção baseada em um grande número de leitegadas Ano VI - nº 37/2010



Nutrição

Figura 2. Relação entre peso ao nascimento e sobrevivência de leitões até o desmame em leitegadas sem assistência ao parto para duas linhas genéticas (Merks, 2008). fenotípicas e informação de família para tamanho de leitegada, peso ao nascimento e sobrevivência até o desmame, comparado a tendências realizadas entre 2000 e 2004. A longevidade das fêmeas é relevante para uma alta performance reprodutiva (até o 4º parto o tamanho da leitegada aumenta, Figura 3), bem como para um sistema de produção sustentável. Uma pesquisa com mais de 50 granjas utilizando o mesmo material genético mostrou que diferenças na longevidade estão diretamente relacionadas aos diferentes tipos de instalações e manejos adotados pelas granjas. Isto significa que apesar das oportunidades genéticas (longevidade é hereditário h2 = 0.10 – 0.18, mas a um nível baixo, assim como outros parâmetros reprodutivos), a escolha da instalação e do sistema de manejo influencia de forma mais efetiva na longevidade das fêmeas.

No entanto, longevidade versus performance reprodutiva por ordem de parto deverá permanecer como parte da seleção genética balanceada. O intenso trabalho de melhoramento genético realizado nos suínos, com o objetivo de obter maior eficiência alimentar e carcaças com maior teor de carne magra, tem provocado alterações significativas nas matrizes atualmente disponíveis no mercado. As matrizes modernas são mais precoces e produtivas e possuem maior peso corporal, portanto, são nutricionalmente mais exigentes.

A Nutrição da Fêmea Moderna Embora os avanços genéticos tenham tornado as fêmeas mais produtivas, elas são mais exigentes nutricionalmente e menos resistentes aos desafios

Tabela 2. Progresso genético realizado e esperado para a produtividade de leitões, sendo 2000 o ano base, e os resultados do Brasil e da Holanda (Merks, 2008). Realizado 2000 Leitegadas/porca/ano

2.45

2.45

2.45

2.45

2.45

Nasc. Vivos/leitegada

12.2

12.6

13.0

13.4

14.2

Mortalidade %

7.5

7.3

7.2

7.1

7.0

Desmamados/ leitegada

11.3

11.7

12.1

12.4

13.2

Desmamados/porca/ ano

27.6

28.6

29.6

30.5

32.4

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Realizado Esperado Esperado Esperado 2004 2008 2012 2020

nutricionais. As necessidades nutricionais das fêmeas modernas e a disponibilidade de nutrientes da dieta delas são pouco conhecidas em comparação ao conhecimento que se tem dos suínos em fase de crescimento e terminação. O número de pesquisas publicadas durante os últimos 40 anos com fêmeas suínas, de acordo com o Commonwealth Agricultural Bureau database (5), equivale a menos de 1% de todas as publicações referentes a suínos. A produtividade dos genótipos modernos aumentou de forma extremamente rápida nos últimos 20 anos, entretanto, os níveis nutricionais adotados para estes animais ainda são baseados em resultados de pesquisas feitas entra a década 70 e o começo dos anos 90 (Agricultural Research Council-ARC) (3) e National Research Council (NRC) (53). Além disso, grande parte das recomendações nutricionais atuais adotadas para as fêmeas em reprodução são extrapolações não verificadas de pesquisas realizadas com suínos em terminação. Pesquisas mais recentes, utilizando os genótipos modernos, têm mostrado que as necessidades, tanto de energia quanto de aminoácidos, são muito mais elevadas por uma margem significativa do que os níveis propostos pelo National Research Council (NRC) (53). Para estabelecer um adequado programa de nutrição para matrizes modernas, deve-se considerar o material genético da granja, suas necessidades nutricionais e os fatores que afetam essas necessidades. Também é preciso entender os diversos aspectos metabólicos da interação entre o genótipo, a nutrição e a reprodução da fêmea suína. Este entendimento é fundamental para que se possa alcançar, ao mesmo tempo, produtividade e longevidade do plantel.

Nutrição da Fêmea Gestante Mudanças na nutrição energética O estado energético da fêmea gestante pode influenciar diretamente seu desempenho na lactação. O excesso de energia pode causar obesidade ao parto, o que resulta em um consumo voluntário reduzido, resultando em perdas corporais elevadas durante a lactação (76,34). Comparando porcas gordas (349 g de gordura/kg de peso corporal) com magras (280 g de gordura/kg de peso corporal), mas com semelhantes pesos ao parto, Revell et all (1998) Ano VI - nº 37/2010



Nutrição autores concluíram que o valor sugerido por Noblet et al. (1997) e NRC(53) para a atual população de fêmeas está abaixo da necessidade real em, aproximadamente, 14%. A provável explicação para as mudanças nas necessidades está relacionada à queda no conteúdo de gordura corporal e ao aumento do conteúdo de massa protéica, bem como ao aumento das taxas de turnover protéico dos genótipos modernos.

Figura 3. Relação entre ordem de parto e tamanho da leitegada, como visto em diferentes linhas genéticas (Merks, 2008). observaram uma redução de 30% no consumo e maior perda de gordura dorsal nas porcas gordas durante a lactação, efeitos que foram acompanhados por maior concentração de ácidos graxos não-esterificados e glicerol no sangue. A explicação é que altos índices de consumo alimentar durante a gestação irão reduzir os níveis de insulina durante a lactação e/ou diminuir a sensibilidade à insulina, o que, por sua vez, resultará em maiores lipólise e nível de NEFA e, consequentemente, em um apetite reduzido (64). A redução no consumo voluntário passa ser um problema ainda maior quando se trata de fêmeas de primeiro e segundo partos em relação às porcas pluríparas. Matrizes de primeiro parto apresentam menor capacidade de consumo alimentar, da ordem de 20% (17), quando comparadas a porcas pluríparas. De acordo com Boyd et al. (2000), isso pode ser devido à menor capacidade gastrointestinal das fêmeas jovens. Como as primíparas ainda estão em fase de crescimento, esse insuficiente consumo pode acarretar efeitos mais prejudiciais em sua vida produtiva e reprodutiva futura quando comparadas às fêmeas pluríparas. Uma deficiência severa de energia poderá resultar em porcas magras ao parto, podendo levar a problemas durante o parto e lactação com redução na capacidade de produção de leite e no peso da leitegada ao desmame. Para controlar de forma mais eficiente o consumo de energia pela fêmea gestante, o uso da alimentação restrita e/ou controlada é realizada. As estimativas de energia para porcas gesSuínos & Cia

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tantes foram determinadas por Noblet et al. (1997), nas quais os autores afirmam que mais de 60% das exigências de energia das fêmeas gestantes são representadas pela mantença, estando em torno de 0.44 MJ (ou 105 kcal) de EM/ kg de peso metabólico (PC0.75)/ dia, em condições de termoneutralidade. Este valor, segundo os mesmos autores, não é significativamente influenciado pela ordem de parto, gestação e fase da gestação. Mais recentemente, Samuel et al. (2007) reavaliaram as necessidades de energia metabolizável de mantença para genótipos modernos (altas taxas de deposição de tecido magro e prolificidade) e observaram uma necessidade de 0.50 MJ (ou 120 kcal) de EM/ kg de peso metabólico (PC0.75)/ dia. Os mesmos

O ganho materno deve ser entendido como o ganho líquido de peso da porca durante o período de gestação, desconsiderando o ganho de peso atribuído ao útero, placenta, fluidos placentários, fetos e glândula mamária. De acordo com Tokach et al. (1999), a demanda energética para ganho materno, considerando a composição do ganho em 25% de gordura e 15% de proteína, é de, aproximadamente, 4.8 MJ (ou 1150 kcal) de EM/ dia. A contribuição do ganho materno para a exigência energética da matriz é variável e está relacionada à fase de crescimento da matriz, sendo maior em fêmeas primíparas. O crescimento fetal do útero e da glândula mamária, representando as necessidades energéticas da reprodução, exige um total de 1.59 MJ (ou 380 kcal) de EM/ dia para uma leitegada equivalente a 12 fetos, independentemente do peso da fêmea (57). Se considerarmos os genótipos modernos, nos quais se observam fêmeas com 16 fetos, esta exigência seria de 1.98 MJ (ou 473 kcal) de EM/ dia, um aumento de 25% na necessidade de energia para reprodução. Segundo Close (2001),

Figura 4. Exigências energéticas de porcas de primeiro parto (a) e quarto parto (b) em função do período de gestação (Adaptado de Close, 2001).

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Nutrição aos 114 dias de gestação, 60% do gasto energético com a reprodução é devido ao útero gravídico, e o restante, ao desenvolvimento da glândula mamária.

Tabela 3. Ganho de conteúdo protéico (CP) e aminoacídico pelo feto e tecido mamário durante a gestação (adaptado de Kim et al., 1999a; Wu et al., 1999; Ji et al., 2004; e McPherson et al., 2004). Item

CP

Lis

Thr

Trp

Met

Val

Arg

Ile

Leu

Tecido fetal D 0 a 70 de gestação

% em proteína 7,79 4,04 1,22 2,23 5,30 6,45 3,56 8,12 Além de diferirem entre porcas nulípa0,25 0,019 0,010 0,003 0,006 0,013 0,016 0,009 0,020 Ganho, g • d-1 • feto-1 ras e pluríparas, as exiD 70 ao parto gências energéticas se al% em proteína 6,11 3,51 1,20 1,99 4,55 6,84 3,07 7,16 teram durante a gestação (Figura 4). As exigências -1 -1 4,63 0,283 0,162 0,056 0,092 0,211 0,317 0,142 0,332 Ganho, g • d • feto para ganho materno são Tecido mamário maiores no primeiro terço de gestação e signifi% em proteína 7,50 4,25 1,17 1,98 5,70 6,13 4,13 8,37 cativamente superiores D 0 a 80 de gestação em porcas primíparas. Ganho, g • d-1 • glând.-1 0,14 0,011 0,006 0,002 0,003 0,008 0,009 0,006 0,012 Por outro lado, a demanda energética para D 80 ao parto reprodução é maior no -1 -1 3,41 0,256 0,145 0,040 0,068 0,194 0,209 0,141 0,286 Ganho, g • d • glând. terço final de gestação. A demanda energética total aminoácidos como indicadores. Estes o crescimento muscular deverá ser conde uma fêmea gestante depende, também, autores encontraram que a necessidade siderado nas fêmeas mais jovens como da condição corporal da matriz no mode lisina é de 49 mg/ kg de peso meta- parte de suas necessidades reprodutivas. mento da cobertura. Segundo Young et bólico (PC0,75); este valor excede a atual Analisando estudos recentes com fêmeal. (2005), animais com menor reserva de as de genótipos modernos, tem sido dada recomendação (23, 53) em 30%. gordura corporal exigem maior quantidaHá mais informações disponíveis uma atenção, em particular, ao crescimende de energia para atingirem a condição to fetal(49), desenvolvimento das glândulas corporal preconizada para o momento do sobre as exigências de lisina do que de (28) (29) . outro aminoácido essencial. Entretanto, se mamárias e crescimento materno parto. aplicarmos a relação de proteína ideal uti- Os resultados obtidos por estes autores lizando a necessidade de lisina proposto indicam um crescimento cúbico, tanto do Mudanças na nutrição proteíca e por Samuel et al. (2008a), a necessidade tecido mamário quanto dos fetos, princiaminoacídica de metionina seria 40% superior à reco- palmente a partir dos 70 dias de gestação. mendação atual. A metionina desempe- Resultados, estes, superiores aos observanha função essencial durante a gestação, dos em estudos similares nas décadas de A restrição alimentar imposta incluindo a metilação de DNA durante 80 e 90. durante a gestação poderá tornar-se um o desenvolvimento gestacional, o que a De acordo com McPherson et al. fator limitante para ingestão de proteítorna extremamente importante para a re- (2004) e Kim et al. (2009), um feto ganha nas, causando deficiências, especialmente gulação da expressão genética. Dourmad 17,5 g de proteína corporal do dia 0 ao 70 durante o terço final da gestação. Assim, e Etienne (2002) concluíram que a ne- (0,25 g de proteína/dia) e 203,7 g de proconsiderando um fornecimento limitado cessidade de treonina durante a gestação teína do dia 70 ao 114 (4,63 g de proteína/ de ração para restringir o consumo de para as fêmeas modernas é maior do que dia). Se considerarmos uma fêmea com energia, torna-se importante fornecer uma o valor proposto pelo National Research 16 fetos, são 4,0 e 74,1 g/dia de ganho dieta que permita uma elevada eficiência Council (NRC)(53). As autoras atribuem protéico para o início e final da gestação, de utilização da proteína. esta diferença a uma maior retenção de respectivamente. Isto equivale a uma diDurante a gestação, as exigências protéicas de mantença têm sido estimadas com grande variabilidade, com valores entre 50 a 133 g de proteína/dia (60), podendo estar relacionada à massa protéica corporal. Fuller et al., (1989) e National Research Council (NRC) (53) estimaram a exigência diária de lisina para mantença em 36 mg para cada kg de peso metabólico (PC0,75). Recentemente, Samuel et al. (2008a) avaliaram as necessidades de lisina para mantença em fêmeas de genótipo moderno usando a oxidação de Suínos & Cia

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nitrogênio diária observada nas fêmeas modernas durante a gestação. Estes resultados corroboram para a hipótese de que as necessidades de aminoácidos dos genótipos modernos sejam maiores, em virtude de uma maior capacidade de deposição de tecido magro e turnover proteico.

Para que o crescimento fetal e o desenvolvimento do tecido mamário ocorram de forma rápida durante a fase final da gestação, as necessidades de aminoácidos tendem a ser maiores nesta fase, particularmente em primíparas. Portanto,

ferença de 70,1 g/dia ou um aumento de 18,5 vezes na taxa de ganho protéico entre as fases inicial e final da gestação. Wu et al. (1999) avaliaram a composição de aminoácidos de fetos suínos durante diferentes fases da gestação e observaram que esta variável muda de forma significativa com o progresso da gestação.

O ganho individual da glândula mamária é de, aproximadamente, 11,2 g de proteína do dia 0 até 80 (0,14 g de proteína/dia) e 115,9 g de proteína do dia 80 até 114 (3,41 g de proteína/dia). Se uma Ano VI - nº 37/2010


Nutrição fêmea tem 16 glândulas mamárias, serão 2,2 e 54,6 g/ dia de ganho protéico para as fases inicial e final da gestação, respectivamente. Isto representa uma diferença de 52,3 g ou um aumento de 24,4 vezes na taxa de ganho proteico entre o início e o fim da gestação (28). Com base nestes resultados, é possível determinar o ganho protéico e aminoacídico dos fetos e do tecido mamário durante a gestação (Tabela 3). As mudanças nas taxas e composição dos ganhos de tecidos afetam as necessidades individuais dos aminoácidos para o crescimento fetal e mamário durante a gestação. O National Research Council (NRC)(53) e o Centraal Veeroederbureau (CVB) (3), que utilizam modelos baseados em genótipos diferentes dos atuais para estimar as necessidades de lisina para gestação, indicam níveis de 9 a 10 g/dia de lisina para pluríparas e 11 a 12 g/dia para nulíparas. Segundo Close (2001), matrizes gestantes pluríparas têm exigência de lisina da ordem de 10 a 11 g/dia, enquanto nulíparas ou matrizes em processo de crescimento exigem 14 a 15 g/ dia de lisina. A partir da composição aminoacídica dos diversos tecidos (materno, útero, feto, placenta e glândula mamária) e das mudanças que ocorrem durante a gestação foi possível desenvolvermos um modelo (IPG Sow Model® 2010) baseado no perfil produtivo dos genótipos modernos, por meio do qual obtivemos necessidades de lisina da ordem de 12 a 13 g/ dia para pluríparas, enquanto que para fêmeas nulíparas e primíparas obtivemos uma necessidade média da ordem de 14 a 16 g/dia de lisina. Nossos resultados estão próximos aos encontrados por Close (2001) e superam, aproximadamente, 24% dos requerimentos propostos pelo National Research Council (NRC)(53) e o Centraal Veeroederbureau (CVB)(3) (Figura 5). Segundo Ji et al. (2005), baseado nas exigências de mantença, como ganho de tecido materno e crescimento dos conceptos, porcas nulíparas gestantes exigem 6,8 e 15,3 g/dia de lisina digestível antes e após os 75 dias de gestação. Separando as necessidades em duas fases (antes e após os 75 dias de gestação), obtivemos, com nosso modelo, um requerimento de 10,3 e 17,8 g/dia de lisina digestível para matrizes nulíparas e 9,2 e 16,6 g/ dia para pluríparas. As diferenças observadas entre os resultados de Ji et al. (2005) e os nossos podem ser atribuídas às diferenças de condição corporal das fêmeas no começo Ano VI - nº 37/2010

Figura 5. Comparação das necessidades de lisina digestível para matrizes utilizando dois modelos diferentes (IPG Sow Model® 2010 – azul; e CVB 1996 – rosa). da gestação, ao número e peso dos fetos e ao genótipo utilizado. Com base nos resultados das recentes pesquisas tem-se estimulado o estabelecimento de programas nutricionais baseados em mais de uma fase, e não mais uma única dieta durante todo o período de gestação(49). Embora Clowes et al. (2003a) não tenham encontrado benefícios produtivos e reprodutivos para fêmeas alimentadas com três níveis de proteína durante a gestação, os autores recomendam tal prática pela redução da excreção total e emissão de amônia, o que pode contribuir para maior produtividade animal e atendimento da legislação ambiental. A nutrição durante a gestação deve maximizar a retenção protéica e garantir

uma adequada deposição de gordura. Esta estratégia maximiza a liberação de insulina, minimiza os níveis de glucagon, aumentando o consumo voluntário de ração durante a lactação (32). Nutrição materna durante a gestação como uma oportunidade para melhorar peso e uniformidade da leitegada ao nascimento A seleção genética para maior prolificidade alcançou bons resultados, aumentando o tamanho da leitegada. Assumindo que a capacidade do útero em manter o número de feto inteiramente formados até o parto é limitada, é aceitável

Figure 6. Relação entre o número de fetos e o peso médio. O peso fetal foi mensurado nos dias 46 (l) e 56(n) de gestação (Adaptado de Musser et al., 2004).

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Nutrição que se estabeleça uma correlação negativa entre o aumento do número de fetos e o seu crescimento individual (Figura 6). Sendo assim, vários autores observaram aumentos na desuniformidade do peso dos leitões dentro de uma mesma leitegada, bem como a redução do peso médio da leitegada, devido à seleção genética para tamanho de leitegada (45,82,24) (Figura 7). O peso ao nascimento e sua variação dentro da leitegada representam um fator de interesse, uma vez que tem sido mostrado que estão positivamente correlacionados com a mortalidade prédesmame(89). Em leitegadas com grandes variações na uniformidade ao nascimento, os leitões menores são excluídos do acesso aos tetos funcionais e produtivos, devido à desvantagem em competir com os leitões maiores pelos melhores tetos. Estes leitões apresentam menor ingestão de colostro e de leite, o que leva à menor aquisição de imunidade passiva, acarretando um estado nutricional baixo (65) Consequentemente, os leitões menores são comprometidos fisiologicamente em termos de reservas de energia, sendo mais susceptíveis à hipotermia (89). Em adição, leitegadas com maior variação no peso ao nascimento também apresentam maiores variações de peso ao desmame. Este fato, como não é desejado, resulta em um manejo mais complicado. Leitões que nascem com pesos abaixo da média apresentam índices de crescimento mais lentos e idade mais avançada ao abate(26). O não atendimento das exigências nutricionais das fêmeas durante a gestação, associado às necessidades nutricionais elevadas para suportar mais fetos no útero, pode ser correlacionado ao fenômeno denominado restrição do crescimento intrauterino (IUGR) e, por consequência,

Figura 7. Relação entre o numero de leitões nascidos e o peso médio do leitão dentro da leitegada (Adaptado de Smit., 2007). afetar negativamente o desempenho da leitegada por meio do aumento na desuniformidade e redução do peso de nascimento dos leitões. A nutrição durante o período préovulatório e suas consequências sobre o desenvolvimento e a sobrevivência embrionária têm sido avaliadas por diversos autores(38, 64, 92, 93). Entretanto, evidências que provam este efeito são limitadas. Ferguson et al. (2006), avaliando os efeitos das alterações na quantidade e composição de dietas pré-cobertura em marrãs, não encontraram efeitos sobre variabilidade no peso da placenta, peso fetal ou comprimento do feto nos dias 27/28 de gestação (Tabela 4). Entretanto, os autores encontraram indícios de fetos com restrição do crescimento intrauterino em muitas leitegadas. Os efeitos da nutrição pré-ovulatória sobre os folículos e oócitos estão associados ao efeito da nutrição sobre a

concentração de hormônios circulantes, tais como hormônios de crescimento e leptina, mais em especial as considerações de insulina e IGF-I. Concentrações sanguíneas de insulina e IGF-I são consideradas importantes mediadores dos efeitos da nutrição sobre os ovários. Segundo Yang et al. (2000a), o nível de ingestão de lisina durante a lactação anterior afetou a distribuição e o tamanho dos folículos na população pré-ovulatória, a atividade esteroidogênica dos folículos maiores e a habilidade do folículo em suportar maturação do oócito (qualidade folicular). De acordo com os autores, estes achados dão suporte fisiológico para a redução observada na performance reprodutiva, resultado de uma ingestão deficiente de aminoácidos durante a lactação. O nível de energia da dieta também tem sido investigado como um fator relacionado ao desenvolvimento da placenta e do feto. Noblet et al. (1985) observaram uma relação direta entre a nutrição

Tabela 4. Efeito da dieta pré-cobertura sobre o crescimento fetal até os dias 27/28 de gestação (Adaptado de Ferguson et al., 2006). Ma (n = 10)

1.8 x M (n = 8)

2.6 x M (n = 8)

Fibrab (n = 8)

Proteinab (n = 8)

Amidob (n = 8)

Número de leitegadas com fetos IUGRc

1

4

1

1*

0

5#

Número de leitegadas com fetos SGAd

3

2

2

3

4

2

Total de leitegadas com fetos IUGR ou SGA

4

6

3

4

4

7

% de leitegadas contendo fetos com crescimento inadequado

40

75

38

50

50

88

a

b c M = mantença 1.8 x M isoenergética IUGR = restrição do crescimento intrauterino SGA = pequeno para a idade gestacional * Sign. diferente do 1.8 x M controle (p<0.05) # Sign. diferente do M control (p<0.05)

d

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Nutrição Tabela 5. Performance reprodutiva de marrãs suplementadas ou não com 1% de L-arginina-HCL (Adaptado de Mateo et al., 2007). Tratamento

Parâmetros

Erro padrão

Controle

Arginina

Total nascidos vivos por leitegada (n)

9,37

11,40*

Peso da leitegada ao nascimento, nascidos vivos (Kg)

13,19

16,38*

0,74

Natimortos por leitegada (n)

1,86

0,66*

0,147

Variação de peso leitões nascidos vivos (Kg)

0,240

0,253

0,017

0,56

*Sign. ao nivel de P<0.05 materna e o peso fetal, na qual, reduzindo o consumo de ração e, por consequência, a ingestão de energia após os 80 dias de gestação, levou-se à uma redução do crescimento fetal em marrãs. Lawlor et al. (2007) não observaram influência sobre peso ao nascimento, peso ao desmame e uniformidade da leitegada quando avaliaram cinco diferentes níveis de energia durante a gestação. Laws et al. (2009) observaram que a suplementação de óleo (10%) alterou a distribuição dos pesos dos leitões ao nascimento e melhorou o estado energético dos leitões mais leves. A suplementação de MUFA durante a primeira metade da gestação tem mostrado resultados benéficos por meio da redução de leitões com peso baixo ao nascimento. Já o fornecimento de dietas com níveis elevados de PUFA tem um efeito inverso. Kongested (2005) sugeriu que a taxa de prenhez e o tamanho de leitegada podem ser influenciados pelo consumo de energia, entretanto, o autor concluiu que os resultados de literatura são inconsistentes e não fornecem uma ideia clara da relação ideal entre o fornecimento de energia e a performance reprodutiva. A restrição protéica tem sido relacionada com efeitos negativos observados durante a gestação. Segundo Wu et al. (1998), marrãs recebendo dietas com

baixos níveis de proteína apresentam concentrações reduzidas de aminoácidos básicos (arginina, lisina e ornitina) e de vários aminoácidos neutros (alanina, glutamina, glycina, prolina, serina, taurina e treonina) na placenta e no endométrio ao nível de 16% a 30%. Uma restrição severa de proteína reduzirá as atividades do óxido nítrico sintetase e a síntese de citrulina a partir da atividade da arginina e ornitina descarboxilase na placenta e no endométrio em 30% a 51%, 34% a 42% e 44% a 77%, respectivamente. Estes resultados mostram evidências da importância da nutrição materna, mais especificamente dos aminoácidos da família da arginina sobre o crescimento fetal, já que as funções afetadas são estritamente relacionadas à angiogênese e ao crescimento da placenta e embrionário. Mateo et al. (2007) avaliaram a suplementação de 1% de L-arginina na dieta para marrãs e observaram um aumento em 22% no número de nascidos vivos e 24% no peso da leitegada (Tabela 5). A explicação é que a suplementação de arginina aumentou a síntese de óxido nítrico e de poliaminas, elevando a eficiência no processo de angiogênese e crescimento da placenta, melhorando a circulação uteroplacental, aumentando a transferência de nutrientes e O2 entre a porca e os fetos e consequentemente, aumentando a sobrevivência e crescimento fetal.

A utilização de aditivos pode ser uma alternativa para melhorar o desempenho da leitegada durante a gestação. A suplementação da ração com L-carnitina (Tabela 6) durante a gestação aumentou o tamanho e o peso da leitegada ao nascimento (Ramanau et al., 2008). A variação na quantidade de ração fornecida tem sido relacionada a melhoras do peso da leitegada ao nascimento. Mahan (1998), avaliando diferentes níveis de fornecimento de ração para fêmeas gestantes, observou que aquelas que receberam 130 gramas de ração adicional por dia pariram um número maior de leitões, mais pesados do que o tratamento controle. Diversos autores (51, 56, 42 11) observaram efeitos negativos sobre a mortalidade, número total de nascidos vivos, peso da leitegada e uniformidade quando forneceram quantidades elevadas de ração em diversas fases da gestação. O que pode ser explicado é que o fornecimento elevado de ração altera a concentração de progesterona circulante, que, por sua vez, modifica o desenvolvimento do endométrio e sua atividade secretora, afetando a composição dos fluidos alantóicos que fornecem nutrientes para os fetos(4,19). Recentemente, Quesnel et al. (2010) observaram que níveis elevados de alimentação (4 vs. 2 kg/ dia) da cobertura até os 28 dias

Tabela 6. Efeito da suplementação de L-carnitina (25 ou 50 mg/ kg) durante a gestação sobre o tamanho da leitegada, peso do leitão ao nascimento (kg) e peso da leitegada ao nascimento (kg) (Adaptado de Ramanau et al., 2008). P-value (50 vs. C)

P-value (50 vs. 25)

11,99

0,35

0,04

0,49

11,18

0,04

0,01

0,86

0,68

0,81

0,01

0,46

0,09

1,40

1,48

1,51

<0,001

<0,001

0,08

15,07

16,39

16,78

<0,001

<0,001

0,24

25 mg/kg

50 mg/kg

491

535

521

Total nascidos

11,47

11,76

Número nascidos vivos

10,60

11,07

Natimortos & mumif,

0,87

Peso nascimento leitão Peso leitegada ao parto

Número de fêmeas

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P-value (25 vs. C)

Controle

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Nutrição

Figura 8. Esquema do metabolismo energético em fêmeas lactantes (Bergsma et al., 2009).

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Nutrição de gestação em marrãs prolíficas não afetaram a sobrevivência embrionária e não tiveram nenhum efeito benéfico ou detrimental sobre o tamanho e a variabilidade dos embriões.

Nutrição da Fêmea Lactante Mudanças na nutrição energética Fêmeas em lactação exigem energia para sua mantença e produção de leite. Tais exigências dependem de seu peso, produção e composição de seu leite e das condições ambientais sob as quais estão alojadas. Embora a mensuração dessas exigências seja difícil, segundo Aherne & Foxcroft (2000), de 25% a 80% das exigências energéticas das fêmeas lactantes são destinadas à produção de leite, e os 25% restantes, à mantença. Informações atualizadas sobre a necessidade de energia para matrizes lactantes modernas são limitadas. O consumo inadequado de energia durante a lactação faz com que a matriz mobilize nutrientes de diferentes tecidos corporais, levando a uma significativa perda de peso. A maioria dos trabalhos aponta para exigências energéticas de mantença semelhantes entre fêmeas gestantes e lactantes. Noblet et al. (1990) sugerem diferentes valores, 0,46 (ou 110 kcal) e 0,44 (ou 105 kcal) MJ de EM/ kg de peso metabólico (PC0.75) para lactação e gestação, respectivamente. Porém, estas diferenças parecem ser relativamente pequenas, da ordem de 5%. Mais recentemente, Samuel et al. (2007a, b, c, d) estimaram a energia de mantença para fêmeas lactantes em 0,51 (ou 122

kcal) ± 0,07 (ou 16,73 kcal) MJ de EM/ kg de peso metabólico (PC0.75), 10% superior ao valor proposto por Noblet et al. (1990). Para o cálculo da demanda energética para a produção de leite é utilizado o ganho de peso da leitegada no período de lactação. Porém, novos conceitos têm sido adotados para melhor estimação da produção de leite e eficiência de utilização da energia para tal produção. Para que a fêmea suporte um número crescente de leitões durante a lactação, torna-se extremamente importante mantê-las em uma condição corporal adequada. Geralmente, o consumo de ração durante a lactação não é suficiente para sustentar uma produção de leite adequada e manter leitegadas grandes(57,20). Se uma maior demanda por energia não pode ser atendida via consumo extra, as matrizes são obrigadas a mobilizar suas reservas corporais. Níveis excessivos de mobilização podem tornarse um problema para a longevidade da fêmea(13, 14). Como resultado da seleção para suínos mais magros e com maior eficiência alimentar, o consumo de ração tende a diminuir, pois a alta deposição muscular e a eficiência alimentar são negativamente correlacionadas com o apetite (Kanis, 1990). Assim sendo, torna-se necessário focar na eficiência lactacional (Figura 8;(6)), ou seja, aumentar a eficiência energética durante a lactação poderá ser uma solução, levando a uma maior produção de leite com um dado consumo e mobilização de reservas. Um exemplo de determinação das necessidades de energia para fêmeas lactantes é proposto por Abreu et al. (2005). De acordo com os autores, os dados da

Tabela 7 indicam que as exigências energéticas totais de fêmeas em lactação são muito superiores do que em gestação e que podem, na maioria das condições comerciais de criação, não serem atendidas pelo consumo alimentar da fêmea. Isso implica que a matriz necessitará mobilizar reservas corporais para atendimento das necessidades nutricionais. Koketsu et al. (1996), trabalhando com fêmeas primíparas, avaliaram o uso de rações com altos (69 MJ [ou 16,5 Mcal] EM/dia) ou baixos (27 MJ [ou 6,4 Mcal] EM/dia) níveis de energia, durante um período de lactação de 21 dias. As restrições de consumo de energia foram impostas durante toda a lactação e durante a primeira, segunda ou terceira semanas de lactação. Os autores verificaram que o consumo de dietas com níveis elevados de energia durante toda a lactação promoveu menor perda de peso corporal e menor intervalo desmame-estro e ainda que a restrição de consumo de energia em qualquer período da lactação possui um efeito importante sobre a produtividade das fêmeas. O efeito do alto consumo de energia sobre a capacidade reprodutiva das fêmeas após o desmame pode ser atribuído ao perfil de secreções dos hormônios, LH e insulina(20, 85). Mudanças na nutrição protéica e aminoacídica Em sistemas de manejo convencionais, leitões recém-nascidos são capazes de atingir somente uma fração do seu real potencial de crescimento durante a fase de amamentação(27). Nos últimos

Tabela 7. Exigência diária de energia metabolizável de porcas em lactação em função do peso da matriz e do ganho de peso da leitegada (adaptado de Abreu et al., 2005). Peso da porca após o parto (kg) 200

Energia metabolizável

2

3,0

2,0

3,0

Para mantença (MJ)

24,5

24,5

28,9

28,9

Para produção (MJ)

52,0

79,6

52,0

79,6

Total (MJ)

76,5

104,1

80,9

108,5

Total (Mcal)

18,3

24,9

19,3

25,9

Kg de ração

5,9

8,0

6,2

8,3

– 10 e 12 leitões para 2,0 e 3,0 kg/dia respectivamente – 12,9 MJ (3083 kcal) de EM/ kg

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Ganho de peso da leitegada (kg/dia) 2,0

2

1

250 1

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Nutrição anos, este fato tem levado pesquisadores a focarem na importância dos nutrientes, em particular, os aminoácidos, para otimizar o potencial das glândulas mamárias durante a lactação(34). O crescimento da glândula mamária durante a lactação afeta a quantidade de leite produzido pelas fêmeas e, por consequência, o crescimento dos leitões(35). Desta forma, o manejo nutricional adotado durante a lactação deverá priorizar o máximo crescimento mamário. Kim et al. (1999b) demonstraram que o crescimento mamário é afetado pelo consumo de aminoácidos e de energia durante a lactação. O crescimento das glândulas mamárias foi maximizado quando as fêmeas receberam 55 g de lisina e 71 MJ (ou 16,9 Mcal) de EM por dia durante a lactação, entretanto, este valor excede a recomendação proposta pelo National Research Council (NRC)(53). As necessidades de aminoácidos para maximizar a produtividade de leite também podem ser afetadas pelo tamanho da leitegada. A deposição de lisina (ou aminoácidos essenciais) na glândula mamária aumenta em 0,13 g/dia (ou 1,20 g/dia) para cada leitão adicionado à fêmea durante a lactação(37). Nielsen et al. (2002) determinaram a quantidade de lisina utilizada pelas glândulas mamárias de fêmeas com diferentes tamanhos de leitegadas (1,92 g de lisina/dia) para cada leitão extra (por leitegada), durante 21 dias de lactação. Considerando os resultados obtidos por Kim et al. (1999c) e Nielsen et al. (2002), as necessidades de aminoácidos para cada leitão adicional serão maiores do que o acúmulo atual de aminoácidos pelos tecidos. Estes resultados indicam que os programas nutricionais atuais não são ideais para o crescimento da glândula mamária, especialmente para as fêmeas de genótipos modernos, que possuem leitegadas grandes e mais glândulas mamárias ativas. Segundo Abreu et al. (2005), as exigências de proteína e de lisina de fêmeas lactantes podem ser estimadas fatorialmente a partir das exigências para a mantença e produção de leite, devendo, ainda, ser descontadas as quantidades fornecidas por meio da mobilização da proteína corporal. Utilizando as equações propostas por Close (2001) e o novo requerimento de lisina para mantença proposto por Samuel et al. (2008a), é possível estimar as exigências de lisina para fêmeAno VI - nº 37/2010

as lactantes: De acordo com Samuel et al. (2008a), as exigências são: Exigência de lisina para mantença = 0,049 g x peso corporal(kg) 0,75 E segundo Close (2001) são: Exigência de lisina para produção de leite: • Produção de leite (g/dia) = 4 x ganho de peso da leitegada (g/dia) • Produção de proteína no leite (g/dia) = produção de leite x 0,056 • Produção de lisina total (g/dia) = produção de proteína no leite (g/dia) x 0,076 • Eficiência de utilização de lisina para produção de leite = 80% • Digestibilidade da lisina = 90% Lisina da proteína corporal: • Proteína mobilizada (g/dia) = perda de peso diária(g) x 0,175 • Eficiência de utilização da proteína do tecido = 85% • Lisina total mobilizada (g/dia) = proteína mobilizada x 0,07 • Digestibilidade da lisina = 90% A partir das informações acima, na Tabela 8 são apresentadas estimativas de exigência de lisina para fêmeas em lactação com 200 kg de peso, para um período de lactação de 21 dias.

mad et al. (1998) afirmaram que fêmeas de alta capacidade produtiva precisam de, no mínimo, 55 g/ dia de lisina dietética para minimizar a perda corporal, e este requerimento é o mesmo que o proposto por Kim et al. (1999b) para obter o máximo crescimento da glândula mamária. O conceito de proteína ideal tem sido utilizado para estimar as necessidades dos diversos aminoácidos, a partir do conhecimento da exigência de lisina. De acordo com o ARC (1981), como as necessidades de aminoácidos para produção de leite pela fêmea são bem maiores do que para outros processos metabólicos, o balanço dietético ideal de aminoácidos relativo à lisina deveria ser semelhante ao balanço de aminoácidos do leite da fêmea. Entretanto, os estudos de Trottier et al. (1997) têm demonstrado que o perfil de aminoácidos extraídos do plasma pela glândula mamária difere, consideravelmente, do perfil de aminoácidos da proteína do leite. Entre os aminoácidos essenciais, os autores encontraram, respectivamente, uma retenção significativa de arginina, leucina, isoleucina, valina, fenilalanina e treonina, e não foram observadas retenção de metionina, lisina e histidina. Estes autores acreditam que os aminoácidos retidos seriam utilizados para manutenção da glândula mamária, síntese de proteínas estruturais, ou como fonte de energia.

Quando fêmeas não recebem quantidades adequadas de aminoácidos na dieta, proteínas do tecido materno, particularmente proteínas musculares esqueléticas, são mobilizadas para atender à produção de leite. A mobilização excessiva de proteína materna geralmente resulta em falhas na atividade reprodutiva subsequente(30).

Outro aspecto que deve ser levado em consideração no estabelecimento das exigências de aminoácidos de fêmeas lactantes é o grau de mobilização dos tecidos corporais durante a lactação. Kim et al. (2001) sugerem diferentes padrões de proteína ideal para fêmeas em lactação, de acordo com o grau de mobilização do tecido muscular. Assim, para fêmeas que apresentam baixo consumo voluntário de alimento e substancial mobilização de tecidos durante a lactação, a treonina é um aminoácido crítico, enquanto que a valina torna-se mais importante para fêmeas que apresentam um alto consumo de alimento e pouca mobilização de tecidos durante a lactação. A lisina, entretanto, continua a ser o principal aminoácido limitante em ambos os casos.

Portanto, estabelecer os requerimentos de aminoácidos ideais para fêmeas em lactação não só maximiza a produção de leite para os leitões, mas também auxilia na mantença da condição corporal para garantir uma boa longevidade(36). Dour-

Conduzindo um ensaio a campo, Silva et al (2003) verificaram menor perda de peso e proteína corporal em fêmeas que receberam ração com redução de proteína bruta adicionada de aminoácidos sintéticos, na qual a relação treonina

A produção de leite é relativamente pouco afetada por uma deficiência modesta de proteína na dieta, isto porque as fêmeas são capazes de mobilizar proteína corporal para suportar as demandas por aminoácidos para a síntese de leite(69). Entretanto, uma deficiência severa de proteína na dieta durante a lactação reduz a produção de leite (39,30).

Suínos & Cia

23


Nutrição Tabela 8. Estimativa fatorial da exigência de lisina de porcas em lactação com 200 kg de peso corporal (Adaptado de Close, 2001; e Samuel et al., 2008a) GPD leitegada (kg/dia)

1,8

2,2

2,6

Produção de leite (kg/dia)

7,2

8,8

10,4

Com 0% de perda de peso Lisina para mantença (g/dia)

2,6

2,6

2,6

Lisina para produção de leite (g/dia)

38,3

46,8

55,3

Lisina mobilizada (g/dia)

0

0

0

Exigência lisina digestível (g/dia)

40,9

49,4

57,9

Exigência lisina total (g/dia)

45,4

54,9

64,3

Com 10% de perda de peso Lisina para mantença (g/dia)

2,6

2,6

2,6

Lisina para produção de leite (g/dia)

38,3

46,8

55,3

Lisina mobilizada (g/dia)

9,9

9,9

9,9

Exigência lisina digestível (g/dia)

31,0

39,5

48,0

Exigência lisina total (g/dia)

34,4

43,9

53,3

Com 15% de perda de peso Lisina para mantença (g/dia)

2,6

2,6

2,6

Lisina para produção de leite (g/dia)

38,3

46,8

55,3

Lisina mobilizada (g/dia)

14,8

14,8

14,8

Exigência lisina digestível (g/dia)

26,1

34,6

43,1

Exigência lisina total (g/dia)

29,0

38,4

47,9

digestível/lisina digestível foi aumentada. Embora não tenha havido diferenças para o desempenho da leitegada, as fêmeas que perderam menos peso apresentaram menor intervalo desmame-cio.

Nutrição da Fêmea Moderna nos Trópicos Efeitos do clima tropical sobre a produtividade de fêmeas gestantes e lactantes Durante a última década, a produção de suínos em regiões tropicais, como o Brasil, aumentou de forma intensa. Nestas regiões, a produção e a performance geralmente permanecem abaixo daquelas obtidas em países de clima temperado, como na Europa e América do Norte. Apesar de muitos fatores estarem envolvidos, o clima é o primeiro fator limitante para uma produtividade eficiente em regiões quentes. Enquanto que o estresse por calor é um desafio ocasional nas regiões de clima temperado por meio das chamadas “ondas de calor”, nas áreSuínos & Cia

24

as tropicais e subtropicais é um desafio constante. Em adição, nestas regiões, os efeitos das temperaturas elevadas podem ser intensificados pela umidade relativa do ar(70). Os suínos, como animais homeotérmicos, possuem um sistema de controle do ambiente interno, acionado quando o ambiente externo apresenta situações desfavoráveis. Sob condições de estresse por calor, os suínos reduzem seu apetite como forma de diminuir a produção de calor endógena, devido ao efeito termogênico do alimento (TEF). Esta redução no consumo é dependente de fatores relacionados à categoria animal, tais como peso vivo, raça e sexo, e fatores ambientais, como instalações, manejo alimentar e condições climáticas. A redução de consumo de ração resulta em perdas na performance produtiva e reprodutiva dos suínos, o que gera prejuízos para o setor produtivo. Quando consideramos os genótipos modernos, os efeitos climáticos são mais intensificados devido às taxas elevadas de crescimento, deposição de tecido muscular e potencial reprodutivo(70). Segundo Brown-Brandl et al. (2004), a capacidade de produção de calor dos genótipos modernos é 18,1% superior

a dos genótipos das décadas de 80 e 90. Isto se deve, em grande parte, às mudanças na composição corporal dos animais (mais músculo e menos gordura) e ao aumento nas taxas de crescimento de tecido muscular. Tess et al. (1984) estimaram que para cada 2,1% de aumento na porcentagem de tecido magro, a produção de calor aumenta em 18,7%. Portanto, é de suma importância considerar estas alterações na capacidade de produção de calor do suíno moderno, já que este fator, associado às condições climáticas observadas nos trópicos, implica na necessidade de redefinir conceitos das instalações e de manejo para podermos maximizar o potencial produtivo dos animais. Altas temperaturas podem afetar todos os estágios da vida reprodutiva e produtiva das fêmeas, desde o desenvolvimento da puberdade até a reprodução e nascimento dos leitões. Alguns dos efeitos negativos do clima em matrizes gestantes são atraso no desenvolvimento normal dos níveis de hormônios em marrãs, redução na taxa de concepção, aumento na mortalidade ao nascimento, aumento na incidência de aborto e mortalidade embrionária(41). Fêmeas destinadas à reprodução possuem elevado peso corporal e espessa camada de gordura subcutânea e também apresentam maior atividade metabólica, devido à manutenção dos processos reprodutivos, seja manutenção da gestação e/ou da lactação(61,75). As variações na temperatura ambiente e o fotoperíodo são os principais fatores externos responsáveis pela infertilidade estacional em fêmeas suínas, representando perdas econômicas expressivas durante os períodos mais quentes do ano. No período de gestação, a temperatura elevada pode ser um fator de risco para aumentar o número de leitões mumificados ou reduzir o número de leitões nascidos vivos, e mesmo quando a exposição ao calor ocorre durante um curto período do ciclo reprodutivo (três dias antes do estro previsto, prolongando-se até dois dias após a ocorrência do mesmo), pode aumentar a incidência de cistos ovarianos, estros tardios, anestros e até mesmo de estros anovulatórios em leitoas(7). Por outro lado, as menores taxas de parto observadas no período de verão estão relacionadas com distúrbios reprodutivos ocorridos no início da gestação, provavelmente em consequência da inadequada secreção de LH ou da endometrial, que interferem no Ano VI - nº 37/2010



Nutrição

Figura 9. Efeito da estação e hora do dia sobre as flutuações diárias da temperatura (linhas pontilhadas) e do consumo de ração em porcas lactantes (linhas sólidas) (Silva et al., 2009a). desenvolvimento normal dos embriões, e da habilidade deles em produzir sinais estrogênicos quando do reconhecimento materno da gestação (41). Embora não estejam ainda completamente desvendados os mecanismos pelos quais a temperatura ambiente elevada induz aos distúrbios reprodutivos na fêmea suína, algumas teorias foram propostas e estão relacionadas ao consumo alimentar, mudanças endócrinas e elevação da temperatura retal. Com a elevação da temperatura interna da maternidade, além da máxima de conforto térmico, a fêmea lactante fica sujeita ao estresse por calor, e à medida que esta condição estressante vai se mantendo ou aumentando, o desempenho da leitegada vai piorando(77). Quanto mais elevada for a temperatura, maior poderá ser o estresse por calor. As fêmeas, quando submetidas ao estresse por calor, passam a fazer uso do processo de respiração superficial, que é pouco eficiente em dissipar o calor corporal, em virtude do menor tempo disponível para a saturação do ar expirado. Animais sob estas condições, para manter a temperatura corporal constante, aceleram a respiração, reduzem a ingestão de alimentos e aumentam a ingestão de água(80). Em decorrência disto, as fêmeas diminuem quantitativamente a produção Suínos & Cia

26

as na maternidade. A partir destes resultados pode-se concluir que se não houver interferências do homem para minimizar as condições de calor nas maternidades nas horas mais quentes do dia, no verão ou mesmo no inverno em algumas regiões do Brasil, a produção de leitões e a produtividade das porcas pode ser bastante afetada.

de leite e aumentam a perda de peso. Isto, dependendo da intensidade, pode acarretar no atraso do cio pós-desmame e/ou em aparecimento de cio infértil e, como consequência, leva à redução da taxa de concepção (taxa de partos), podendo resultar em aumento da mortalidade embrionária naquelas fêmeas que fecundaram. O estresse por calor também pode ocasionar alterações no comportamento das fêmeas em lactação. Essas alterações comportamentais devido a estresse térmico podem ocasionar alterações na cinética de consumo diário, bem como na redução da ingestão total de alimento pelas fêmeas (Figura 9), redução do tempo de oferecimento de leite aos leitões e agitação com mudanças de posicionamento das porcas (elas deitam e levantam mais vezes do que o normal e em decorrência desta agitação ocorre o aumento da mortalidade de leitões por esmagamento)(80). Assim, constata-se que a falta de bem-estar pode resultar em consequências graves sobre a produtividade das matrizes, comprometendo o seu ciclo reprodutivo e o desempenho dos leitões.

Segundo Prunier et al. (1997), Renaudeau et al. (2003) e Silva et al., (2009), três hipóteses podem estar envolvidas na redução da produção de leite de fêmeas estressadas pelo calor: a) o suprimento de nutrientes para a glândula mamária não ser suficiente para atender a produção de leite em virtude do reduzido consumo de alimento; b) diferentemente de fêmeas mantidas sob condição de termoneutralidade, fêmeas estressadas por calor podem ter dificuldades para mobilizar reservas corporais diante da redução de consumo alimentar e c) o fluxo sanguíneo para a glândula mamária pode ser reduzido e, consequentemente, reduzir ainda mais a disponibilidade de nutrientes para a síntese de leite.

Na Tabela 9 estão apresentados, de forma resumida, os resultados de algumas pesquisas nas quais as condições de temperatura foram variadas para as fême-

No ambiente termoneutro, o animal apresenta melhor eficiência na utilização dos nutrientes, consequência do mínimo esforço termorregulatório para manAno VI - nº 37/2010


Nutrição Tabela 9. Resumo de experimentos com porcas em lactação estressadas por calor (Adaptado de revisão de Farmer & Prunier (2002). Tratamentos

Redução consumo de ração pela porca (%)

Perda de peso da porca (kg)

Redução produção de leite (%)

Redução ganho de peso da leitegada (%)

Messias de Bragança et al. (1998)

30 oC vs 20,0 oC, por 20 dias

42,9

22,0 vs 8,0

-

21,0

Quiniou & Noblet (1999)

29 o C vs 18 o C, por 21 dias

45,7

35,0 vs 23,0

17,5

22,5

Pérez Laspiur and Trotier (2001)

29 o C vs 20 o C, por 22 dias

18,8

15,7 vs 6,8

-

22,0

Renaudeau and Noblet (2001)

29 o C vs 20 o C, por 28 dias

44,7

34,0 vs 16,0

29,5

26,1

Autores

ter a temperatura corporal(23). Nas regiões tropicais, os suínos estão frequentemente expostos a temperaturas acima das convenientes para o seu conforto térmico. Por isso que alguns esforços científicos têm sido despendidos na busca de alternativas genéticas, nutricionais e/ou ambientais, que, na impossibilidade de se eliminar totalmente o desconforto do animal, minimizem os efeitos negativos fisiológicos e endócrinos causados pelo calor. Seleção genética como uma oportunidade para melhorar a produtividade nos trópicos Está claro que o desempenho produtivo e reprodutivo de matrizes suínas é maximizado quando uma combinação ideal entre genótipo e ambiente é alcançado. A seleção genética de fêmeas prolíficas, normalmente, é realizada em rebanhosnúcleos e, principalmente, em regiões de clima temperado. Como consequência, multiplicadores e produtores enfrentam uma variedade ampla de respostas frentes às diversas condições climáticas, nas quais os seus animais são obrigados a produzir(39). Diferenças reprodutivas entre granjas em regiões tropicais e regiões temperadas têm dado suporte a esta ideia. De acordo com Bloemhof et al. (2008), tem sido encontrado uma variabilidade genética suficiente para tolerância ao estresse por calor para leite, gordura e produção de proteína, permitindo, portanto, a seleção genética para maior tolerância ao calor. Os mesmos autores mostraram, recentemente, que existem diferenças entre linhas comerciais para fêmeas em regiões termoneutras (Figura Ano VI - nº 37/2010

10), especialmente para a taxa de parição. A utilização de tais estratégias genéticas já são práticas comuns de algumas empresas de genética de suínos, e a utilização destas fêmeas selecionadas para maior tolerância ao calor já é realidade em países de regiões tropicais, como, por exemplo, o Brasil. Na Tabela 10 estão apresentados de forma resumida os resultados de desempenho de três diferentes linhas genéticas para fêmeas em condições de clima tropical (Brasil) e temperado (Holanda) na maternidade. A partir destes resultados pode-se concluir que diferentes regiões/ mercados necessitam de estratégias reprodutivas otimizadas, ou seja, diferentes linhas genéticas. Apesar das matrizes selecionadas geneticamente para maior tolerância ao calor apresentarem resultados produtivos superiores aos das fêmeas não selecionadas, ainda assim existe espaço para estratégias nutricionais e ambientais que visem à melhora na produtividade, visto que os resultados de desempenho ainda são inferiores aos das fêmeas em condições temperadas. Alternativas nutricionais e modificações ambientais para atenuar os efeitos negativos do clima tropical Devido ao reconhecimento dos problemas causados pelas temperaturas elevadas na eficiência de produção das fêmeas, os objetivos de várias pesquisas nos últimos anos têm sido o de desenvolver soluções para aliviar os efeitos negativos das altas temperaturas. Várias técnicas de manejo têm sido testadas, porém, apenas um número limitado mostrou-se realmen-

te eficiente e viável economicamente. Aumentar o consumo de alimento pela fêmea é um dos maiores desafios para o nutricionista em condições de clima tropical. A temperatura ambiental elevada é um dos principais fatores que afetam a capacidade de consumo alimentar pelas fêmeas lactantes. Quando esses animais são submetidos a temperaturas elevadas, condição frequente em regiões tropicais, em geral, ocorre uma redução no consumo de ração, queda na produção de leite, maior perda de peso corporal, aumento no intervalo desmame-estro e prejuízos no tamanho e peso da leitegada(80). Alguns trabalhos têm sido realizados na tentativa de estimular o consumo de ração pela porca durante a lactação. O aumento da capacidade do trato gastrointestinal por meio da alimentação das fêmeas durante a gestação com níveis mais altos de fibra tem sido pesquisado, e alguns resultados favoráveis têm sido obtidos. Entretanto, níveis muito altos de fibra dietética podem reduzir o ganho de peso das matrizes e o peso ao nascer dos leitões(54). Além disso, essa prática necessita ser mais bem avaliada em regiões de clima quente, tendo em vista o aumento da massa visceral dos animais e o consequente aumento da produção de calor metabólico. A utilização de aditivos pode ser outra alternativa para melhorar o consumo de ração pelas fêmeas. A suplementação da ração com L-carnitina aumentou em até 11% o consumo de ração pela fêmea em lactação, com reflexos positivos na produção de leite e no ganho de peso da leitegada(68). Ajustes na nutrição protéica podem proporcionar menor desgaste da fêSuínos & Cia

27


Nutrição mea durante a lactação, principalmente em condições de alta temperatura ambiental, com benefícios para o seu desempenho reprodutivo após o desmame. A redução do consumo de ração pelo animal é uma forma de reduzir o calor gerado nos processos de digestão, absorção e metabolismo dos nutrientes, também conhecido como incremento calórico. Neste sentido, dietas com menor incremento calórico vêm sendo estudadas em condições de estresse por calor. De acordo com Le Bellego et al. (2001), uma redução de 18,9% para 12,3% no nível de proteína da ração resultou em uma redução da ordem de 7% na produção de calor endógena de suínos de 35kg. Seguindo esta hipótese, Silva et al. (2009b), avaliando os efeitos da redução de proteína bruta (17,3 vs. 14,1 % PB) da ração para fêmeas em lactação sob estresse por calor, observaram que esta redução permitiu um aumento de 12% (540 g/ dia) no consumo diário de ração, o que resultou, segundo os autores, em menor mobilização de tecido corporal por parte das fêmeas. Renaudeau e Noblet (2001) também observaram que a redução de proteína na ração (17,6 vs. 14,2% PB) aumentou o consumo das fêmeas lactantes sob estresse térmico em 639 g/ dia. Na prática tem sido sugerido que aumentando o consumo de ração da fêmea também resulta em aumento da produção de leite. Esta afirmação está correta se considerarmos condições de clima temperado, porém, em condições de clima tropical isto não é observado. Diversos autores(66, 71, 77, 78) validaram alternativas nutricionais que melhoraram o consumo e a condição corporal das fêmeas lactantes, porém, sem efeito algum sobre o desempenho das leitegadas (Tabela 11). A explicação para isto é que a redução da produção de leite em fêmeas estressadas por calor parece ter envolvimento endócrino. De acordo com Prunier (1997), Renaudeau et al. (2003) e Silva et al., (2006; 2009 e 2009b) estas fêmeas apresentam níveis reduzidos de hormônios catabólicos circulantes, tais como triiodotironina e tiroxina, os quais exercem importante função no controle do metabolismo celular, reduzindo a produção de calor metabólico como forma de adaptação ao estresse térmico. Isso resulta em efeito negativo sobre a mobilização de reservas corporais para produção de leite e sobre a própria síntese de leite. De Bragança & Prunier (1999) verificaram menores concentrações plasmáticas de cortisol em fêmeas em lactação mantidas Suínos & Cia

28

Figura 10. Médias para três parâmetros de performance reprodutiva [a = taxa de parição (FR); b = tamanho de leitegada (LS); c = número total de leitões nascidos na primeira inseminação (TNBF)] em função da máxima temperatura externa no dia de inseminação, para duas linhas de fêmeas, Yorshire holandês puro (- - -) e uma internacional, Large White puro (—) (Bloemhof et al., 2008). 1 SG Calor = linha genética selecionada para maior tolerância ao estresse por calor 2 NSG Calor = linha genética comum sem seleção para calor em ambiente a 30 oC quando comparadas a animais mantidos a 20 oC, o que poderia resultar em menor disponibilidade de energia para a glândula mamária, uma vez que o cortisol favorece a mobilização das reservas corporais. O aumento da densidade nutricio-

nal da ração vem sendo sugerida como alternativa de sustentar o aporte de nutrientes para a fêmea em lactação: a qual apresenta queda do consumo de alimento durante períodos de estresse por calor. Entretanto, alguns trabalhos têm mostrado que esta alternativa nem sempre resulta Ano VI - nº 37/2010



Nutrição Tabela 10. Resumo de resultados produtivos da maternidade para porcas selecionadas ou não para maior tolerância ao calor (dados próprios). Clima

Tropical

Linha Genética

SG calor1

Temperado

NSG calor2

NSG calor

Performance Maternidade Média nascidos por leitegada

13,6

11,8

13,7

Média peso nascidos vivos

1,3

1,3

1.4

Natimortos

0,7

0,6

0,5

Performance Desmama Desmamados por porca

11,4

9,7

12,2

Peso médio/ leitão desmamado, kg

5,6

4,9

6,3

Peso da leitg.ajust.21 dias, kg

64,1

48,2

76,9

Desm./ fêmea coberta/ano

28,5

23,9

30,0

Produção de leite, kg/d

8,7

6,8

10,4

em benefícios para os animais. Isso pode ser explicado, em parte, pela limitação da resposta, devido às alterações endócrinas e metabólicas que ocorrem com a fêmea em lactação(16), o que sugere uma limitada capacidade de compensar, por meio da nutrição, os efeitos prejudiciais das altas temperaturas sobre o desempenho das matrizes suínas lactantes. A resposta à utilização de altos níveis de gordura/energia na ração também foi avaliada em fêmeas sob estresse por calor. Quando dietas com altos níveis de gordura foram utilizadas sem aumentar os níveis de proteína bruta (PB) da ração ou o aporte de aminoácidos essenciais (AAs) essenciais para manter constante a relação CP/EM, a perda corporal e a produção de leite não foram afetadas pelo tratamento(48). Em contrapartida, quando a dieta foi balanceada de forma correta para PB ou lisina/EM, o aumento da densidade dos nutrientes em fêmeas lactantes sob estresse por calor melhorou o ganho de peso da leitegada por meio do aumento no nível de gordura do leite, mas não aumentou a produção de leite e não limitou a mobilização de reservas corporais(66,75). Entretanto, a magnitude destes efeitos parece ser dependente dos níveis de gordura incorporada à dieta. Como visto anteriormente, nem sempre as alternativas nutricionais conseguem reverter por completo os efeitos negativos das altas temperaturas. Sendo assim, o uso de alterações ambientais passa a ser uma opção para se obter melhoras significativas nos parâmetros fisiológicos Suínos & Cia

30

e nas variáveis de desempenho de fêmeas em gestação e em lactação e de suas leitegadas. Das alternativas usadas para reduzir a exposição da matriz às temperaturas internas elevadas nas salas de gestação, o sistema de acondicionamento por meio de resfriamento adiabático evaporativo tem sido mais eficiente do que a ventilação forçada, no sentido de melhorar as condições térmicas da instalação. Entretanto, devem ser utilizadas moderadamente por alterar em demasia a umidade do ambiente interno. Uma opção prática é a otimização do sistema de ventilação natural, por meio de amplas aberturas nas laterais. De acordo com Sousa (2010), os sistemas de

resfriamento adiabático evaporativo consistem em mudar o ponto de estado psicrométrico do ar, para maior umidade e menor temperatura mediante o contato do ar com a superfície umedecida ou líquida, ou com água aspergida ou pulverizada. Como a pressão de vapor do ar insaturado a ser resfriado é menor que a da água de contato, ocorre a vaporização da água; o calor necessário para esta mudança de estado vem do calor sensível contido no ar e na água, resultando em decréscimo da temperatura de ambos, e, consequentemente, do ambiente. O sistema de nebulização consiste na formação de gotículas extremamente pequenas, que aumentam a superfície de uma gota d’água exposta ao ar e asseguram a evaporação mais rápida. A nebulização associada à movimentação do ar, ocasionado pelos ventiladores, acelera a evaporação e evita que a pulverização ocorra em um só local e venha molhar a cama. A nebulização de água sem os ventiladores ou outro sistema de controle pode conduzir ao umedecimento da cama ou aumento exagerado da umidade relativa do local. Os limites críticos de temperatura para os suínos na maternidade encontramse em condições opostas em relação ao conforto dos animais alojados nelas, pois as fêmeas lactantes suportam bem o frio e não suportam o calor, enquanto que os leitões necessitam de calor e não suportam o frio. Por isso, foi iniciado um processo de estudos de alternativas para melhorar

Tabela 11. Resumo de resultados produtivos da maternidade para fêmeas submetidas a diferentes dietas (Adaptado de Silva et al., 2009b). Dieta

Sign.1

Variáveis

NP

LP

NP+

Consumo diário de ração, kg/d

4,39

4,93

4,91

*

Perda peso corporal da fêmea, kg

27,0

25,4

21,8

*

Tamanho da leitegada Ao Parto (após equalização)

12,2

12,4

11,4

NS

Ao Desmame

10,1

10,1

10,7

NS

Peso do leitão ao desmame, kg

7,5

7,4

7,1

NS

GPD leitegada, kg/ dia

2,2

2,1

2,1

NS

Produção de Leite, kg/d

7,6

7,3

7,5

NS

Sign.: * P<0.05 e NS não significativo. NP = dieta proteína normal (17,3%) LP = dieta com redução de proteína (14,1%) NP+ = dieta NP + complemento de AAs “on top”

1

Ano VI - nº 37/2010


Nutrição Tabela 12. Parâmetros fisiológicos e desempenho de matrizes em lactação e de suas leitegadas, segundo tratamento do piso da maternidade da fêmea com ou sem resfriamento (Adaptado de Silva et al., 2006). Tratamento Variáveis Temperatura piso

Piso com resfriamento (28 oC)

Piso sem resfriamento (36 oC)

CV (%)

P

27,6

37,3

6,58

0,01

Parâmetros fisiológicos da porca

a

Frequência respiratória (mov/min)

33,4

80,0

44,93

0,01

Temperatura da nuca (oC)

36,5

37,7

3,70

0,01

Temperatura peitoral em contato (oC)

32,5

37,3

5,90

0,01

6,47

5,60

14,28

0,01

Desempenho da porca Consumo de ração (kg/dia)

10,22

7,20

16,45

0,01

Variação de peso (kg)

-6,9

-12,2

45,63

0,01

Intervalo desmame-estro (dias)

4,0

5,7

41,53

0,01

Peso ao desmame (kg)

6,42

5,30

12,88

0,01

Ganho de peso leitão (g/dia)

257

201

15,14

0,01

Produção de leite (kg/porca/dia)

b

Desempenho da leitegada

o bem-estar ambiental para fêmeas na maternidade e, por conseguinte, viabilizar o potencial produtivo e reprodutivo dos plantéis. Dentre estas alternativas destacam-se aquelas nas quais é utilizado algum tipo de sistema de resfriamento. Os sistemas de ventilação forçada não têm sido satisfatórios, pois, muitas vezes, não reduzem a temperatura do ar. Já o sistema de resfriamento evaporativo do ar, que consiste em incorporar vapor de água diretamente a ele, causando mudança em seu ponto de estado psicrométrico (aumento da umidade e redução da temperatura), tem sido difundido com sucesso, porém, o sistema tem suas limitações, não podendo ser utilizado em regiões de umidade relativa do ar elevada, pois reduz a eficiência do sistema e contribui para aumentar a umidade do microambiente do leitão, podendo causar desafios imunológicos para ele. Silva et al. (2006 e 2009) avaliaram um sistema de resfriamento do piso da fêmea e dietas com diferentes densidades na lactação durante o verão. Segundo os autores, o aumento da densidade da ração como forma de compensar o baixo consumo por causa do calor trouxe apenas benefícios para a condição corporal das fêmeas, sem aumentar a produção de leite e sem benefícios no ganho dos leitões. Ano VI - nº 37/2010

Enquanto que para as fêmeas submetidas ao resfriamento do piso foram verificadas alterações significantes em seus parâmetros fisiológicos, bem como no desempenho e produção de leite, o que resultou em um aumento significativo do peso dos leitões ao desmame. Na Tabela 12 podem ser visualizados os resultados obtidos nestes trabalhos.

fêmeas modernas não é uma tarefa sim-

O resfriamento da água de beber das fêmeas em lactação sob estresse por calor também foi avaliado (Jeon et al., 2006). A utilização deste sistema aumentou em 40% o consumo voluntário das fêmeas, porém, sem efeitos sobre a produção de leite ou desempenho dos leitões.

também a perda de peso da fêmea. O estabelecimento de um programa nutricional

Considerações finais

dos corporais.

O programa de seleção genética balanceado mudou completamente o perfil produtivo das fêmeas modernas. Essas matrizes são mais precoces e produtivas, possuem maior peso corporal e são mais exigentes nutricionalmente. Além disso, apresentam menor reserva corporal de gordura e padrão de consumo de alimento muitas vezes insuficiente para atender à demanda nutricional da fase de gestação e lactação. Como observado, a nutrição de

ples. Vários fatores podem interferir na capacidade produtiva e reprodutiva desses animais. A nutrição protéica da fêmea gestante deve ser diferenciada segundo a ordem de parto. Na lactação, a preocupação não deve ser somente a produção de leite e o crescimento da leitegada, mas

deve levar em consideração o potencial genético do animal, o número de fetos, o desenvolvimento do aparelho mamário, a capacidade de consumo de alimento, a produção de leite e a mobilização de teciPráticas devem ser adotadas na granja, visando a maximizar o potencial genético destes animais. As alternativas podem envolver modificações químicas ou físicas da ração ou modificações de manejo (horário e quantidade das refeições). Em períodos de calor, pode não ser possível, por meio da nutrição e do manejo, amenizar o problema da redução do consumo de ração, necessitando que sejam adotadas medidas de controle ambiental das instalações. Suínos & Cia

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Manejo Manejo Cama para suínos: estratégia de manejo e bem-estar animal

Cama para suínos: estratégia de manejo e bem-estar animal

Prof. Dr. Caio Abércio da Silva 1,2 Eduardo Raele de Oliveira 1,3 David Fernandes Gavioli 1,3 Aline A. Silva 4,3 1 Médico Veterinário 2 Professor Doutor em Suinocultura da Universidade Estadual de Londrina 3 Mestrando em Ciência Animal da Universidade Estadual de Londrina 4 Zootecnista

Introdução O complexo agroindustrial da suinocultura nacional é responsável pela quarta maior produção mundial desse setor, com perspectivas de melhoria para os próximos anos (5). Na contramão deste futuro promissor, a carne suína do país tem enfrentado, nos últimos anos, barreiras que dificultam ou restringem maior incremento no comércio exterior. As principais exigências são encabeçadas pela União Europeia e correspondem às questões sanitárias e ao bem-estar animal. São imposições internacionais que acarretam mudanças na estrutura de produção, na infraestrutura das instalações, no controle de temperatura e no manejo de transporte e abate dos animais e promovem, inevitavelmente, a curto prazo, um aumento no preço de produção dos suínos. E é esta ampliação de custos que leva o produtor a reconhecer na preocupação com a qualidade de vida dos animais um problema para a suinocultura. Por isso, conhecer os benefícios que estas mudanças podem trazer quanto à qualidade da carne destinada ao consumidor, à ampliação das exportações, à melhoria dos índices zootécnicos e à consciência das necessidades básicas dos animais torna-se fundamental para que se entenda o verdadeiro impacto do bem-estar animal sobre toda a cadeia de produção. Todas as ações destinadas à melhoria das condições de criação devem estar associadas a uma das cinco liberdades fundamentais para o animal estabelecidas pela ciência do Bem-Estar Animal (BEA) e que são as bases da legislação animal vigente na Europa. Estas liberdades são: animais livres de medo e estresse, fome e sede, desconforto, dor e doenças e garantia de liberdade de expressão de seu comportamento natural. Suínos & Cia

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Utilização da cama sobreposta de maravalha para galpão de matrizes: garantia de conforto para os animais Fonte: Maria Carolina T. Tonelli Para a União Europeia, o fim das celas individuais de matrizes, a redução da taxa de lotação no crescimento e terminação e o controle térmico das instalações são algumas garantias destas cinco liberdades. O Brasil, apesar de estar muito distante da realidade europeia, já apresenta o bem-estar animal como tema obrigatório em seus principais congressos e encontros do setor. Granjas também vêm se atualizando e substituindo formas arcaicas e ultrapassadas de manejo, por orientações que levam em conta o bem-estar. Ainda é cedo para que algumas ações destinadas ao bem-estar animal sejam implantandas em todas as granjas nacionais, sobretudo, pela instabilidade do setor e pelo custo destas transformações. Por isso, é fundamental que medidas que possam garantir uma condição de vida mais adequada aos animais e que tenham um baixo custo de implantação possam

fazer parte do dia a dia do segmento. Nesse sentido, a utilização de camas sobrepostas nas baias dos animais é uma estratégia de manejo capaz de aumentar a socialização do grupo, diminuindo as brigas territoriais e de domínio, comum entre esses animais, proporcionar maior conforto e minimizar o estresse individual e coletivo. É uma ação simples, de custo relativamente inferior a outras medidas que beneficiam o bem-estar e que pode ser implantada na maioria das propriedades. Este trabalho tem o objetivo de apresentar a utilização do manejo de cama sobreposta para as diferentes fases da cadeia de produção, apontando os benefícios obtidos para os animais, os melhores resultados na produção e as dificuldades e empecilhos que podem existir com a adoção deste manejo em uma propriedade. Ano VI - nº 37/2010



Manejo elevadas ou muito baixas e baixa qualidade do ar (KIEFER et al, 2009). Estes quatro últimos apresentam relação positiva com a utilização do sistema de camas sobrepostas, com melhoras significativas no convívio social dos animais (reduzindo as brigas territoriais ocasionadas pela densidade e exacerbando o comportamento natural dos suínos de curiosidade) e na manutenção da temperatura ambiente, além da diminuição da poluição da baia e do ar graças à absorção de dejetos pela cama. Como exemplo da necessidade da cama para suínos, existem as normas de bem-estar da União Europeia estabelecidas pelo Comitê Científico Veterinário da Comissão Europeia (SVC), que exige a utilização de substratos como camas para estes animais mimetizarem seu comportamento natural, como explorar o ambiente e brincar, além da disponibilidade de substratos para que o animal não se deite exclusivamente no concreto. É preciso salientar que cada fase de criação tem sua especificidade de utilização do sistema de camas sobrepostas que acarreta mudanças no manejo de dejetos, necessidade de adequação das instalações e nas necessidades fisiológicas dos animais, sobretudo, em relação à interação entre temperatura de conforto térmico e temperatura ambiente da região em que a granja está localizada (4).

Camas sobrepostas para matrizes e suínos em crescimento e terminação Pisos ripado e com maravalha em experimento de preferência de tipo de cama para leitões em fase de creche Fonte: Eduardo Raele de Oliveira

Sistema de Camas Sobrepostas Nos últimos anos, muitas pesquisas têm sido realizadas com camas sobrepostas (deep bedding) para as diferentes fases de criação de suínos. A Embrapa Suínos e Aves, por exemplo, há mais de 15 anos estuda o tema no sul do Brasil, que é a principal região fomentadora deste sistema no país. Entretanto, qualquer região tem a possibilidade de adotar esse sistema, bastando que siga especificações técnicas de acordo com o clima e disponibilidade de substratos de cada lugar (11,12).

A utilização de substratos sobre o piso das instalações destinadas às matrizes em gestação pressupõe o uso de baias coletivas para esse tipo de animal, o que, apesar de ser uma obrigatoriedade na Europa, ainda não é uma realidade em toda a suinocultura nacional. Assim, baias coletivas para gestantes em substituição às gaiolas individuais pode ser visto como o maior avanço na melhoria das condições de vida para a criação racional de suínos. Esse tipo de baia privilegia em todos os aspectos as cinco liberdades já citadas e garante condições básicas para a vida dos animais. Além disso, a diferença entre baias individuais e coletivas também se reflete nos índices zootécnicos, principalmente no tempo de duração de parto e nas taxas de mortalidade e de natimortos, que se mostram melhores para as baias coletivas (14).

Associar esta grande melhoria das baias coletivas ao Entre os tipos de cama sobreposta, tem-se a maravalha, a casca de arroz, a palha de cereais e a serragem, utilizadas devido uso de cama sobreposta é potencializar o bem-estar das matrià alta capacidade de absorção de fezes, urina e água desses subs- zes, aproximando os animais de seu comportamento natural de tratos, o que promove decomposição parcial dos dejetos, com exploração de ambiente, procura por comida e convívio social, diminuição do volume de dejetos e produção de compostos orgâ- aumentando o conforto dentro da baia, minimizando o estresse nicos que podem ser utilizados na agricultura (5). Os benefícios e garantindo um período gestacional com menos intempéries, o da utilização de camas sobrepostas para o produtor incluem melhor custo de investiAS CINCO LIBERDADES DOS ANIMAIS, SEGUNDO O BEA mento em edificações, aproveitamento da 1) Manter os animais livres de fome e sede cama como substrato agrícola, desempenho zootécnico equivalente ou superior ao 2) Manter os animais livres de desconforto físico e dor sistema tradicional, redução do impacto 3) Manter os animais livres de injúrias e doenças ambiental dos dejetos produzidos, menor 4) Manter os animais livres de medo e estresse tempo de limpeza das baias, entre outros. Para os animais, o ambiente tem influência preponderante no bem-estar(17). Os principais fatores estressantes são o confinamento intensivo, fome, alta densidade, isolamento social, temperaturas Suínos & Cia

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5) Manter os animais livres para que manifestem os padrões comportamentais característicos da espécie REFERÊNCIA: FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL. FAWC updates the five freedoms. The Veterinary Record, Londres, v.131, p.357, 1992. Fonte: FAWC, 1992

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Manejo que melhora ainda mais os índices zootécnicos (16). Para suínos em crescimento e terminação, os benefícios do uso de sistema de camas sobrepostas são similares aos atribuídos às matrizes para o bem-estar animal. Aliado a isso, a melhoria da qualidade da carne de suínos criados sob baixos fatores de estresse, a diminuição do total de dejetos produzidos e a possibilidade de utilização desta cama como fertilizantes para a agricultura implementam outras características positivas para a utilização da cama para estas fases (11,12).

Fase de Creche No Brasil, a utilização da cama sobreposta para leitões em creche é menos comum do que em outras fases. Normalmente, os alojamentos contam com pisos total ou parcialmente ripados. A utilização do sistema de camas sobrepostas surge como uma alternativa para estes tipos de pisos (11,12). O período de desmama do animal é o de maior estresse de sua vida, caracterizado pela perda do contato com a mãe, alteração na alimentação, mudança do ambiente de vida, dificuldade de adaptação a comedouros e bebedouros, brigas para o estabelecimento das relações de dominância com leitões de outras leitegadas (13). No entanto, quando se utilizam camas sobrepostas para leitões em creche, tem-se a diminuição maciça das brigas

territoriais e dos comportamentos estereotipados e um incentivo às brincadeiras e à exploração do ambiente, com redução do estresse da desmama e uma melhor adaptação do leitão ao novo ambiente.

so, comportamentos não discutidos neste experimento, mas verificados, como brincadeiras e exploração de território, foram mais acentuados nos pisos com camas sobrepostas.

O contato desses animais com o substrato das camas sobrepostas também tem papel preponderante no desenvolvimento da habilidade inata de exploração do ambiente e curiosidade natural da espécie. Outro benefício é a maior sensação de conforto para o leitão deitar, com diminuição dos problemas de casco e lesões de apoio. Nesse sentido, o chão em que o animal está alojado exerce grande influência sobre seu comportamento, sobretudo quando se comparam pisos de concreto com aqueles enriquecidos com substratos (7).

Essa melhora na qualidade de vida dos leitões pode ser importante para o desempenho dos animais durante este período, pois estratégias que podem aumentar o consumo diário de ração são fundamentais para promover os índices zootécnicos da creche (6). Alguns trabalhos apontam incrementos também dos índices de mortalidade nesta fase para a utilização de camas sobrepostas a partir de maravalha em relação a pisos parcialmente ripados.

Em um experimento de preferência de tipo de piso e comportamento de leitões realizado nas instalações de creche do setor de suinocultura da Universidade Estadual de Londrina, avaliou-se quatro tipos de pisos diferentes, sendo dois de camas sobrepostas, maravalha e capim seco (ou palha), e dois comuns em granjas comerciais, ripado e contínuo. Verificou-se a preferência dos animais por ambientes enriquecidos em relação ao piso contínuo, além do comportamento destes animais demonstrar maior satisfação quando sobre estes ambientes, pois, nestas camas, eles permaneceram mais tempo deitados, enquanto que, no piso contínuo, ficaram mais tempo em pé (Gráfico 1). Além dis-

Benefícios já vistos anteriormente nas fases de crescimento e terminação também se enquadram nesta fase, tornando esta estratégia de criação muito promissora para o setor de creche.

Algumas considerações Com tantos pontos positivos a favor da utilização do sistema de camas sobrepostas para a suinocultura, sobretudo nas referências ao tema “bem-estar animal”, é preciso que se discutam algumas dificuldades ou problemas deste sistema. Além da adequação das instalações, pois, dependendo do substrato, a cama não pode ser colocada sobre o piso ripado, a questão sanitária advinda da permanência dos dejetos nas baias coletivas é impactante. Maior prevalência de doenças, como a linfadenite, tem sido relacionada com a utilização de sistemas de camas sobrepostas para leitões em fases de creche, crescimento e terminação (13,01,02). A adubação de solos agrícolas com substratos utilizados em camas para suínos também apontam resultados inferiores ao que se obtém com a utilização dos dejetos líquidos destes animais, como ocorre, por exemplo, com a adubação do milho (5). A degradação, dependendo do tipo de substrato utilizado, pode ser lenta e prejudicar sua capacidade fertilizante (3) .

Granja dinamarquesa: o manejo de cama sobreposta é uma das exigências de bem-estar Fonte: Caio Abércio da Silva

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Além disso, é preciso que se conheça a quantidade necessária e ideal de substrato para a colocação e sobreposição da cama de acordo com a fase preterida e a região climatológica em que se localiza a granja, pois a temperatura ambiente exige especificações técnicas do tipo de substrato e formas de manufatura da cama, que devem ser conhecidas e respeitadas pelo produtor. Suínos & Cia

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Manejo Conclusões A cama sobreposta é um modelo que tem sensibilizado o setor, sendo implantada em muitos países. Seus benefícios para o bem-estar do suíno são inquestionáveis.

Cama sobreposta: conforto e bem-estar para matrizes em final de gestação Fonte: Maria Carolina T. Tonelli

Referências Bibliográficas 1 - AMARAL, A.L.; MORÉS, N.; VENTURA, L.V. et al. Ocorrência de linfadenite por Mycobacterium avium em suínos criados em cama de maravalha sobreposta. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE SUINOCULTURA, 1, 2002, Foz do Iguacú, Pr. Anais... Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2002. p.5758. 2 - AMARAL, A.L.; MORÉS, N.; VENTURA, L.V. et al. Ocorrência de linfadenite em suínos criados em sistema convencional e cama sobreposta nas fases de crescimento e terminação. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.5, n.1, p. 64-72, 2006. 3 - ARNS, A.P. Eficiência fertilizante da cama sobreposta de suíno. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo, 2004. 99p. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) Universidade de Passo Fundo, 2004. 4 - COSTA, O.A.D, OLIVEIRA, P.A.V., HOLDEFER, C., et al. Sistema Alternativo de Criação de Suínos em Cama Sobreposta para Agricultura Familiar. Comunicado Técnico, Março, 2006. EMBRAPA. 5 - FAPRI – FOOD AND AGRICULTURAL POLICY RESEARCH INSTITUTE. Suínos & Cia

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Disponível:<http://www.fapri. iastate.edu/publications/>. Acesso em: 10 Jul.2010.

Ainda são necessários muitos estudos sobre os tipos de cama que podem ser utilizados, as especificidades de cada fase de criação, o manejo adequado de sobreposição das camas, a relação entre as diferentes regiões do país e as formas de utilização deste sistema. Entretanto, é preciso que se estabeleça uma consciência de que a criação animal de forma ética e humanitária, sob a égide do bem-estar animal, não é um entrave financeiro para a atividade, mas uma semente capaz de gerar frutos abundantes e duradouros.

Desenvolvimento da suinocultura, 2001. Anais... Gramado, 2001

6 - GIACOMINI, S.J.; AITA, C. Cama sobreposta e dejetos líquidos de suínos como fonte de nitrogênio ao milho. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.32, p.195-205, 2008.

12 - OLIVEIRA, P.A.V. Criação de suínos em cama sobreposta: fases de crescimento e terminação. In: Encontros Técnicos ABRAVES-SC, 2000. Memórias. 2000. - Concórdia, SC: Embrapa Suínos e Aves, 2001.

7 - HANNA, I. M. Leitões na desmama: limitações fisiológicas e aspectos da nutrição. PORKWORD, v.8, n. 46, p.196-200, set/out. 2008

13 - ROSSI, C. A. R. R. Suínos em cama sobreposta e presença de linfadenita tuberculóide. Revista da FVZA, v. 10, n. 1, p. x-y. 2003.

8 - HURNIK, J. F. Conceito de BemEstar e Conforto Animal. (Palestra). In: PINHEIRO MACHADO FILHO, L. C. (Coord.). I Simpósio latinoamericano de bem-estar animal. Florianópolis, 6 a 8 de abril, 2000.

14 - SILVA, I.J.O.; PANDORFI, H.; PIEDADE, S.M.S. Influência do sistema de alojamento no comportamento e bem-estar de matrizes suínas em gestação. Revista Brasileira Zootécnica. Viçosa vol.37 no.7, 2008.

9 - LOPES, E. J. C. Análise do bemestar e desempenho de suínos em sistema de camas sobrepostas. 2004. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas). - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004. 10 - MAGANHINI, Magali Bernardes et al. Carnes PSE (Pale, Soft, Exudative) e DFD (Dark, Firm, Dry) em lombo suíno numa linha de abate industrial. Ciênc. Tecnol. Aliment. 2007, vol.27, p. 69-72 . 11- OLIVEIRA, P. A. V. Sistemas de produção de suínos em cama sobreposta “Deep Bedding”. Seminário Nacional de

15 - SOBESTIANSKY, J.; BARCELLOS, D. Doenças dos Suínos. Goiânia: Cânone, 2007. 16 - STEVENSON, P. Questões de bemestar animal na criação intensiva de suínos na União Européia. Em: I conferência virtual internacional sobre qualidade de carne suína. Anais... Concórdia. Embrapa Suínos e Aves. 253 p. Documento 69, p. 4-10. 2000. 17 - MACHADO, L.C.P. F e M.J. Hötzel. 2000. Bem- estar dos suínos. Em: V Seminário internacional de suinocultura. Anais... Gessuli. São Paulo. p. 70-82. Ano VI - nº 37/2010



Revisão Técnica Revisão Técnica

Resumo do 21º Congresso Resumo do 21º Congresso Internacional da Associação Internacional Mundial de Veterinários da Associação Especialistas em Suínos (IPVS) Mundial de Veterinários Especialistas em Suínos (IPVS)

Introdução Como um representante entre os mais de 2.400 inscritos no 21º Congresso Bianual da Sociedade Internacional de Veterinários Especialistas em Suínos, realizado no recém-inaugurado Centro de Convenções de Vancouver, que sediou os Jogos Olímpicos de Inverno deste ano, Dr. Antonio Palomo, mais uma vez, demonstra um resumo dos principais temas e trabalhos apresentados. O presidente deste IPVS 2010, Dr. Ernest Sandorf, contou com um Comitê Organizador de 12 membros e um Comitê Científico codirigido por Sylvie D’Allaire e Robert Friendship e formado por outras 20 pessoas.

GERAL – BEM-ESTAR ANIMAL HANK HARRIS  Os princípios para o controle das doenças devem ser dinâmicos, tomando como ponto de partida os básicos, reavaliados constantemente e modificados segundo as necessidades. Tom Alexander foi um dos primeiros veterinários a reconhecer que a densidade de suínos e a localização da granja eram importantes para o controle das doenças. Lembrar as suas contribuições na descrição do agente etiológico da disenteria hemorrágica, assim como suas atividades pioneiras com suínos SPF (Suínos Livres de Patógenos), o desenvolvimento do desmame precoce medicado (sigla em inglês, MEW), base dos sistemas de produção em três fases e do Isowean, programa de erradicação da pneumonia enzoótica, além dos xenotransplantes em suínos. Da mesma forma, em 1989, tornou patentes os Suínos & Cia

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As empresas patrocinadoras foram Bayer, Boehringer Ingelheim, Intervet Schering-Plough, Merial, Novartis e Pfizer; e as colaboradoras; Genetiporc, Harrisvaccines, Hypor, Janssen, Newsham, PIC e Uniferon. Na Assembleia Geral, realizada no encerramento do Congresso, foram apresentadas as candidaturas que pleiteavam a organização do 23º Congresso, em 2014, e cuja realização coube, pela segunda vez, ao México – na cidade de Cancun – país que já organizou o 7º Congresso da IPVS na Cidade do México, em 1982. Só para lembrar, o próximo 22º Congresso IPVS 2012 será em Jeju, na Coréia do Sul, entre 10 e 13 de junho de 2012. Pela segunda vez será no continente asiático, a primeira foi em Bangkok, na Tailândia, em 1994.

23 princípios do Programa de Segurança Sanitária da PIC, dando a entender que são uma referência, a qual deve estar em constante reavaliação e modificação (não quando são ações contrárias aos princípios). Nos próximos dez anos a imunogenética continuará aumentando sua importância, e as vacinas recombinantes serão mais comuns e econômicas para prevenir as doenças. Os princípios tudo dentro tudo fora e somente uma origem produtiva são essenciais no controle de patógenos, do mesmo modo que também é a aplicação das normas de bem-estar animal e de meio ambiente. DAVID FRASER  O bem-estar animal tem sido foco de atenção mundial, destacando-se as menções à Associação Mundial para a Saúde Animal e ao seu código de 2005, com 80 páginas (170 membros), ao Banco Mundial, às Nações

Prof. Dr. Antonio Palomo Yagüe Director División Porcino SETNA NUTRICION SA – INZO antoniopalomo@setna.com

O índice dos temas apresentados durante o IPVS 2001 está abordado os trabalhos conforme descrito abaixo: • Geral – Bem-Estar Animal • Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína (PRRS) • Doenças Associadas ao Circovírus Suíno (PCVAD) • Gripe Suína • Pneumonia enzoótica por Mycoplasma hyopneumoniae e CRS (Complexo Respiratório Suíno) • Transtornos digestivos de natureza infecciosa • Nutrição • Reprodução • Segurança Alimentar

Unidas – FAO (2008) e à sua declaração universal de bem-estar animal. Portanto, o apoio por parte da sociedade e as tendências em direção ao tema devem ser considerados. Nos anos 60 começaram as correntes críticas a respeito do tratamento dos animais (Ruth Harrison – Animal Machines, Peter Singer – Animal Liberation, Brambell, Astrid Lindgren, Bernard Rollin), tendo saído, em sua defesa, veterinários como Taylor (1972) e David Sainsbury (1986). Do ponto de vista técnico e considerando a interação que define o bem-estar entre estados afetivos, comportamento natural e saúde animal, nossa responsabilidade – como veterinários – está em desenvolver os princípios científicos do bem-estar e liderar o mesmo (como especialistas em prevenção e controle sanitário), além de sermos melhores profissionais a cada dia, aos olhos da sociedade. Ano VI - nº 37/2010


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Revisão Técnica JEREMY MARCHANT  Os suínos são animais sociais. A formação e a manutenção da sua organização social estão centradas nas questões de agressão e dominância. O grupo social é influenciado pelo habitat e recursos disponíveis (especialmente pelo alimento). A posição dos mesmos, na hierarquia, é dependente do tamanho e da idade. As agressões têm lugar durante a competição por recursos, sendo influenciadas pelo grau de mistura/ remistura de animais, sistema de alimentação e quantidade/qualidade de espaço disponível. Cada suíno tem clara a idéia da posição ocupada na hierarquia. A mistura prévia dos mesmos após o desmame ajuda a reduzir as agressões nas fases posteriores, nos alojamentos em forma de grupos. Os elementos, na configuração das baias, são essenciais para diminuir as agressões. A alimentação no piso promove a competição e as agressões. Em geral, quando o espaço é reduzido, as agressões aumentam, ainda que muitos outros aspectos do projeto tenham que ser considerados.  O uso de sistemas eletrônicos de alimentação para porcas gestantes alojadas em grupos traz boas oportunidades aos produtores, no sentido de detectar fêmeas com desvios de comportamento. Em grupos com mais de 65 porcas temos mais falhas no consumo completo diário de ração, considerando que elas precisam de 19 horas por dia para consumi-la (grupos de 65 a 80 porcas). Quando uma porca já comeu sua ração diária, o número de visitas desnecessárias às estações aumenta. As nulíparas e as primíparas tendem a realizar mais visitas aos comedouros vazios do que as porcas mais velhas. Estas, por sua vez, utilizam os espaços livres por mais tempo do que as jovens. Na Noruega as jaulas de parição foram proibidas em 2003. O país tem 65 mil reprodutoras, produz 1,5 milhão de suínos por ano e tem um consumo per capita anual de 25 kg de carne suína.  Os processos de validação com alguns padrões mínimos de bem-estar animal foram concluídos em 2010, na Nova Zelândia, depois do desenvolvimento do Código de Bem-estar Animal, em 2005.  Desconhece-se, em grande escala, como as doenças infecciosas afetam o bem-estar animal, sabendo-se apenas que o comportamento muda, assim como também o fazem seus parâmetros químicos e sua atividade (44% por dia nos suínos sadios, 33% nos doentes crônicos, Suínos & Cia

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20% nos doentes subclínicos e 10% nos doentes agudos).  Os grandes produtores norteamericanos estão se antecipando ao alojar as porcas gestantes em grupos, pretendendo ter toda a sua produção completa em dez anos.  A mortalidade na lactação nos EUA, em 2009, foi de 12,2%, dos quais 24% ocorreram por aplastramento. As causas principais que ajudam a sua redução são alojar as porcas gestantes em grupos (39% menos), reduzir o percentual de porcas velhas e evitar problemas locomotores. Este último procedimento também gera mudanças de comportamento, tanto no consumo de água quanto no de ração.  O maior risco de lesões locomotoras ocorre em porcas de maior número de partos, alojadas durante a gestação, tanto em estações eletrônicas quanto em comedouros de livre acesso. Assim, a distribuição de partos das porcas não é só importante por razões de produtividade, mas também se considerando a sanidade e o bem-estar animal.  Em março de 2009 foi aprovado para todo o mercado europeu o método de vacinação que estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos específicos frente ao fator liberador de gonadotrofinas (GnRF), inibindo a produção e o acúmulo de andrógenos e escatol, responsáveis pelo odor sexual em machos inteiros. Em estudo realizado com consumidores da Alemanha, França, Holanda e Bélgica, a maioria (70%) aceitou o referido método,

comparado à castração física realizada com anestesia. A partir da segunda dose do imunocastrador, aumenta o consumo de ração, assim como o ganho médio diário, elevando-se a capacidade de deposição de tecido magro e havendo melhora do índice de conversão (em comparação aos castrados fisicamente), o que determina a realização de um ajuste nos níveis nutricionais. O uso conjunto da referida vacina com a ractopamina, em dietas a 5 ppm, durante o último mês, coincidindo com a segunda dose vacinal, também melhora os referidos índices. Em diferentes estudos realizados no Canadá não se observou nenhuma mudança na qualidade da carne dos suínos castrados, tanto física como imunologicamente. A vacinação induz uma inibição completa da função testicular e do epidídimo (células de Sertoli e células de Leydig muito reduzidas), sendo o seu efeito reversível a partir de 10 semanas da segunda dose. Não afeta os parâmetros químicos e hematológicos dos machos inteiros, frente aos castrados. O tempo dedicado a consumir ração é menor em grupos de suínos com elevado nível de competição, por isso, há melhora em termos de comportamento alimentar, comparado a suínos imunocastrados.  Em estudo realizado com cinco machos, nos quais foram aplicados 4,7 mg de um análogo de GnRH (deslorelin), por via intramuscular, com 5 semanas de idade, houve inibição do crescimento testicular e supressão da espermatogênese e da libido até a 27ª semana. Os testículos Ano VI - nº 37/2010


Revisão Técnica crescimento.  A incidência de lesões de cauda, em abatedouros na Dinamarca, é de 0,85%, sendo o maior número de descartes devido a osteomielites (57 vezes mais), assim como um maior percentual de abscessos no abdômen, costelas e pescoço.  A doença vesicular idiopática, descrita na Itália, em outubro de 2008, como vesículas na língua (3 mm a 4 mm) de suínos em fase de engorda, que regrediam em 3 semanas por si só, revelou-se negativa para os vírus da doença vesicular e da febre aftosa em nível laboratorial. Ela costuma ser associada a ocorrências sazonais agravadas por níveis elevados de ácidos orgânicos e deoxinivalenol na ração, além de deficiências de vitamina B1.

começaram a crescer de novo a partir da 17ª semana, e a concentração de hormônios esteróides foi tão alta ou até maior que a dos machos inteiros.  A aplicação de anestesia por CO2 (70% de CO2 + 30% de O2) previamente à castração, revelou níveis plasmáticos elevados de epinefrina e norepinefrina. Na Noruega e na Suíça a castração física sem anestesia está proibida.  A produção de suínos orgânicos está regulamentada na Europa (EEC 1804/1999, substituída por EEC 834/2007). Atualmente ela ocorre em pequena escala, com baixo grau de especialização e grande variabilidade sanitária. As médias de mortalidade na lactação são de 19,7 ± 9,7%, e no desmame, de 4,9 ± 5,4%. Os principais problemas sanitários são a síndrome mamite – metrite – agalaxia (MMA) em porcas e as diarreias pósdesmame em leitões (27,6 ± 34,3% dos leitões tratados). O estudo foi realizado em 101 granjas, na Dinamarca, Alemanha, Áustria, Suécia, Itália e França.  Um estudo espanhol sobre úlceras gastroesofágicas avaliou que suínos em fase de engorda têm decréscimo em parâmetros bioquímicos, como colesterol, creatinina, gama-glutamiltransferase (GGT), fosfatase alcalina (ALP), alanina transaminase (ALT), albumina, bilirrubina e ferro, comparativamente a animaiscontrole.  Tão importante quanto o peso médio de abate é o desvio-padrão relativo ao mesmo. Uma redução de 10% no Ano VI - nº 37/2010

desvio-padrão pode proporcionar uma melhora – no retorno sobre o custo de alimentação – da ordem de € 0,62 a € 1,68 por suíno, dependendo do preço da ração, peso final do suíno, ganho médio de peso diário e índice de conversão.  Passar do sistema de produção em bandas de 3 para 4 a 5 semanas tem vantagens, especialmente sanitárias (com relação à Lawsonia intracellularis, Mycoplasma hyopneumoniae, A. pleuropneumoniae, Brachispira hyodisenteriae e Pasteurella multocida).  A epidermite exudativa é causada por uma toxina esfoliante termossensível do Staphylococcus hyicus na fase de lactação e nos recémdesmamados. O principal tratamento recomendado é a injeção de derivados da penicilina (82%) ou os tratamentos tópicos (69,4%). Já foi detectada resistência, tanto do Staphylococcus hyicus como do Staphylococcus aureus, frente à penicilina, ampicilina e ceftiofur. A relação de transferência genética entre ambas as bactérias precisa ser estudada.  A etiologia da síndrome da necrose auricular em leitões desmamados não está totalmente esclarecida, sendo o Streptococcus sp e o Staphylococcus sp os dois agentes mais frequentemente isolados, associados a outros fatores como as micotoxinas (de-oxi-nivalenol e zearalenona). Em suínos com lesões não se isola o circovírus suíno do tipo 2 (PCV2) por meio da prova do PCR, e as toxinas citadas não se correlacionam com o atraso no

 A síndrome catabólica do definhamento pós-desmame (PMWS em inglês ou síndrome multissistêmica do definhamento – SMDS –, em português) manifesta-se por meio de anorexia, emaciação e elevada mortalidade (10%) nas três semanas após o desmame. Suas lesões típicas são a atrofia do timo e das vilosidades intestinais, sem a ocorrência de sintomatologia respiratória. Desde 2008 ela vem sendo observada em algumas granjas de alto nível sanitário e onde se pratica a vacinação contra o PCV2. Em alguns casos se isolou o calicivírus sem que se conheça nenhuma outra etiologia.  O vírus da encefalomiocardite é endêmico em muitas granjas de suínos ao redor do mundo e pertence à família Picornavírus, infectando também roedores e humanos. Em 1990, na Bélgica, Itália, Grécia e Chipre, foram diagnosticados casos clínicos de miocardite com morte súbita de 100% dos leitões lactentes (dois a quatro dias de idade), nascidos de porcas multíparas, casos, estes, precedidos de um aumento de abortos em porcas de primeira cria. Muitas granjas dinamarquesas são soropositivas, embora sem lesões nem sintomas clínicos. Foi diagnosticado também na Holanda, em 2008.  O torque-teno vírus (TTV) é circular, sem envoltório, com cadeia simples de DNA, e pertence à família Anelloviridae. Ele foi descrito em suínos e humanos, nos quais temos dois genogrupos (TTV1 e TTV2). Sua transmissão vertical pela via orofecal é a mais importante. Não é considerado responsável por abortos, ainda que seja encontrado em Suínos & Cia

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Revisão Técnica fetos abortados em diferentes estados de gestação (estudos de origem espanhola). Têm sido descritas coinfecciones, entre elas a do vírus da PRRS (PRRSv) e o TTV1, assim como a sua relação com a PMWS-TTV2 e a síndrome da dermatite e da nefropatia suína (PDNS)-TTV1.  A peste suína africana é endêmica na África subsaariana, assim como no Congo e na Sardenha (Itália), tendo emergido no Cáucaso em 2007, pela primeira vez. Na península ibérica ela foi erradicada em 1995, e o teste FTA-ABS é utilizado para uma rápida titulação da viremia (www.whatman.com). Por meio de um modelo estocástico (no qual se usa livremente as equações diferenciais) é possível quantificar o risco da introdução do vírus na Europa. Com base na legislação sobre o tráfego de animais vivos (modelo da PPC) foi determinada a possibilidade da ocorrência de um foco a cada 1972 anos, concentrando-se o risco no mês de maio, na Eslovênia, França e Bélgica.  A Erysipelothrix rhusiophatiae é uma das bactérias mais comuns envolvidas nos episódios de artrite em suínos, ainda mais em sistemas de produção extensiva (artrites no abatedouro com 3 vezes mais intensidade que no sistema intensivo). Assim, a vacinação mais intensa se faz necessária.  A incidência de pleurites, em estudos ingleses, foi estimada em 12,5%, entre 2005 e 2009, com uma perda avaliada em € 4,00/suíno, com base na redução do ganho de peso.

ção viral são informações-chave para o processo de eliminação deles, devido aos riscos de contágio (fechamento de granjas durante 200 dias), já que existe um tempo limitado. Seu diagnóstico é bastante preciso, tanto no sangue como em fluidos orais, em amostras individuais ou em pool (recomenda-se de cinco animais).  A diversidade genética dos sorotipos do PRRSv europeus é superior à dos americanos. As reações cruzadas restritivas entre os referidos sorotipos existem, embora seu impacto sobre a sensibilidade e a especificidade das técnicas de ELISA seja desconhecido.  Os leitões imunizados com vacinas vivas atenuadas têm baixos títulos de anticorpos neutralizantes (ou até inexistentes), um mês após a vacinação. E as porcas de 5º parto têm menos títulos que as de 1º. Questiona-se se a vacinação seria efetiva em presença de anticorpos neutralizantes homólogos.  A replicação do PRRSv em pulmões e tonsilas induz a expressão da citoquina IL - 10.  A disseminação do vírus vacinal entre granjas foi descrito em numerosos estudos.  O grau de transmissão do vírus e sua excreção aérea estão relacionados com sua patogenicidade, tanto em cepas americanas como em europeias, de forma que as cepas mais virulentas se replicam mais eficientemente, sendo transmitidas mais facilmente a suínos susceptíveis.

 A transmissão aérea do vírus por até 4,7 km tem sido demonstrada. Aceita-se, de forma geral, que haja maior prevalência do PRRSv em zonas de maior densidade de suínos, assim como nas granjas grandes a prevalência de anticorpos é maior.  Os sistemas de filtragem de ar demonstram-se eficazes, tanto na prevenção da entrada do PRRSv como do Mycoplasma hyopneumoniae e do vírus da gripe. Devemos evitar danificar os filtros no momento do transporte ou da montagem, para evitar a ocorrência de falhas de eficácia no sistema.  A presença de indivíduos persistentemente infectados e a introduçãocontínua de porcas susceptíveis perpetuam a transmissão do vírus dentro da granja. A prevalência de leitões infectados no desmame é superior à do nascimento. Isto nos indica que os protocolos tradicionais de monitoria podem ter uma sensibilidade insuficiente para determinar o verdadeiro estado de infecção da granja.  Monitorar os leitões no momento do desmame (podendo ser complementar à prova de PCR em leitões natimortos) é um processo comum para detectar a circulação viral na gestação e, portanto, conhecer a susceptibilidade de certas subpopulações. Não obstante, essa monitoria não distingue a circulação do vírus entre o setor de partos e a gestação.  A detecção do PRRSv em fetos abortados, por meio de PCR (7,23%) e da

SÍNDROME RESPIRATÓRIA E REPRODUTIVA SUÍNA JANE CHRISTOPHER-HENNINGS  O vírus da síndrome respiratória e reprodutiva suína (PRRSv) é um RNA relativamente novo (1991), se comparado com outros vírus como o da gastroenterite transmissível (1946), o da doença de Aujeszky (1909), o da febre aftosa (1897), ou o da peste suína clássica (1810). Não é um vírus que apresenta latência, sendo sensível a desinfetantes, ao calor e à baixa umidade (diferente do PCV2), não sendo transmitido às pessoas (como o vírus da gripe). Já se passaram entre 100 e 200 anos desde a identificação até a erradicação de alguns vírus que acometem os suínos. Os tempos de excreSuínos & Cia

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Revisão Técnica imuno-histoquímica (23,89%), na área folicular do timo não supera um positivo para cada quatro analisados. As lesões mais comuns são edema e hemorragia umbilical, com hepatite linfocitária e hiperemia hepática.  As amostras de fluidos orais de cachaços analisadas por PCR quantitativo reverso em tempo real (qRT-PCR) são positivas desde o 1º até o 21º dia pós-infecção, enquanto as amostras de soro são positivas a partir do 3º dia. A idade dos cachaços não tem efeito significativo na quantidade de vírus encontrada nos fluidos orais, embora sejam dependentes da cepa viral infectante.  O teste de ELISA indireto (IDEXX HerdChek™ PRRS 2XR), que detecta anticorpos no soro provenientes de cepas europeias e americanas (sample to positive ratio ou S/P > 0,4) tem maior especificidade em porcas jovens do que em adultas, nas quais a dispersão é maior.  A especificidade estimada da técnica de PCR sobre o pool é maior naqueles de cinco amostras (99%) do que nos de 10 (97,7%).  O estado das granjas frente ao PRRS continua criando confusão e ineficiência na classificação. Tanto que a Associação Norte-americana de Veterinários Especialistas em Suínos (AASV) e o Ministério da Agricultura dos EUA (USDA) criaram uma denominação padrão, aceita universalmente, para classificar as granjas de reprodutoras e de engorda segundo seu status frente ao PRRSv, baseando-se tanto

na excreção viral como nos níveis de anticorpos. Desta maneira temos: o Granjas de reprodutoras:

o Categoria I (positiva instável): com anticorpos e excretando o vírus. o Categoria II (positiva estável): com anticorpos e se desconhece se excretam ou não o vírus. o Categoria III (negativa provisional): com anticorpos e não excretam o vírus. o Categoria IV (negativa): sem anticorpos e não excretam o vírus. o Granjas de engorda: positivas ou negativas com a somatória de ambos.  A restrição da movimentação de suínos dentro da pirâmide de produção, combinada com a redução da persistência viral, é básica para o controle do PRRSv. As salas de partos são os locais das granjas onde mais persiste a circulação viral, por isso, as práticas de manejo de adoções e cessões devem ser amplamente consideradas.  Os quadros agudos de PRRS em creches têm um custo de US$ 3,35 a 9,12/ leitão, sendo efetivas as medidas de despovoamento e vacinação, tanto das mães como dos leitões, para controlar a cepa do vírus de campo (o que reduz a circulação viral e a transmissão vertical). Estimamse perdas da ordem de US$ 29 a US$ 158/ reprodutora, devido a esses quadros agudos.  As práticas de fechamento de

granjas grandes com muitas edificações e compartimentações criam um ambiente favorável para a sobrevivência do vírus, dificultando o controle e favorecendo o surgimento de novos focos, quando há entrada de novas fêmeas ou movimentação dos animais. A aplicação de medidas de biossegurança reduz o risco de doenças em geral, subpopulações e compartimentação, neste caso em particular (também conhecidas como “estratégias de biossegurança psicológicas“).  A incorporação de tilmicosina em suínos infectados traz efeitos positivos na melhora clínica.

DOENÇAS ASSOCIADAS AO CIRCOVÍRUS SUÍNO (PCVAD) CAROLINE FOSSUM  O circovírus suíno (PCV) é um vírus DNA pequeno, da família Circoviridae, com dois genótipos (PCV1 e PCV2) e uma homologia genômica de 80%. Seus genótipos são diferenciados, particularmente, na ORF3 (60,6% da sequência de aminoácidos é idêntica, em ambos). O PCV1 é considerado não-patogênico em suínos. São vários os isolamentos do PCV2 que diferem em sua patogenicidade (PCV2a e PCV2b). As lesões no tecido linfóide, a clínica e o isolamento viral determinam o diagnóstico. Aceita-se, de forma geral, que o manejo na granja tenha um impacto predominante no desenvolvimento e na incidência da SMDS (PMWS – PCVAD), na qual a presença do PCV2 é necessária. Os estudos sorológicos demonstram grandes variações nos níveis de anticorpos e de cópias do vírus com relação ao tempo da infecção. Também se observa estas diferenças nos níveis de anticorpos maternais, os quais são inferiores em porcas mais velhas. Com os estudos atuais não é possível determinar, ainda, o envolvimento do Torque Teno Vírus e do Baculovírus na etiologia da PMWS. O PCV1 é encontrado como contaminante em duas vacinas de rotavírus infantis.  Novos PCV1 e PCV2a são 2,5% dos casos de PCV no Canadá, entre setembro de 2008 e janeiro de 2009. Explica-se o seu surgimento pela recombinação genética entre PCV1 e PCV2 em suínos infectados.  O PCV2 é transmitido pelas

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Revisão Técnica vias vertical e horizontal, não estando a primeira muito bem definida em granjas com infecção subclínica.  Os leitões nascidos de porcas com níveis elevados de DNA do PCV2 têm maior viremia e mais cópias virais no soro. O PCV2b é mais prevalente que o PCV2 em creches. A presença de anticorpos frente ao PCV2, em porcas gestantes, não necessariamente alivia a incidência de infecções nos fetos.  O aumento da prevalência na segunda metade da gestação e próximo do parto indica infecção latente em porcas; além disso, um aumento nos níveis de estresse promove uma reativação do PCV2, a qual pode ser observada por uma resposta de anticorpos.  Os suínos positivos contra o PCV2 pela prova do PCR têm menor peso e mais lesões patológicas post-mortem que os PCR-PCV2 negativos.  Os leitões vacinados, comparados aos não vacinados, têm menor mortalidade, maior peso e menor percentual de atrasados. As primíparas e as porcas velhas são as mais expostas ao PCV2.  O PCV2 é excretado no sêmen, podendo ser detectado entre 18 e 30 horas pela prova de PCR, em um percentual de 18,2% a 24,7% de amostras positivas.  O nível sorológico de anticorpos e vírus revela-se uniforme, não havendo correlação com a intensidade dos sinais clínicos. Desse modo, a carga viral do soro – por si só – não serve como diagnóstico final para a PCVAD (havia-se sugerido que 7 log10 cópias de DNA do PCV2/mL, no soro, estabeleceria o diagnóstico final da PMWS).  Os leitões vacinados, frente aos não vacinados até três semanas de idade, revelam níveis maiores de IgG (já os não vacinados, mais IgM), quando do contato com o PCV2.  Animais refugo, em comparação com os mais pesados em granjas de engorda onde se pratica a vacinação, têm maior viremia (determinada por titulação pela prova de imunofluorescência indireta ou IFA, frente ao PCV2b) no final do período de engorda.  Os javalis são reservatórios do PCV2 com mais heterogeneidade viral que os suínos domésticos. O PCV2-2b é o genótipo mais comum para ambos, e o PCV2-2a é o de maior prevalência em jaSuínos & Cia

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valis (57,5%).

vamente no índice de conversão.

 Trabalhos ingleses revelam que as porcas Large White, quando cruzadas com Hampshire ou Pietrain, são mais suscetíveis ao PCV2 (PCVAD). Elas apresentam resposta ruim à vacinação, sendo esta mais eficaz quando se vacinam porcas e leitões.

 Os casos de falhas vacinais têm sido muito mais os erros na conservação (transporte, dosagem, diluição e administração) dos produtos do que a própria natureza da vacina em si.

 Não foram encontradas interferências imunológicas no uso conjunto, entre três e quatro semanas de idade, de vacinas contra o Mycoplasma hyopneumoniae e o PCV, tanto em sua aplicação separada como em conjunto.  Nas coinfecções causadas pelos PCV2 e PRRSv deve-se considerar o uso conjunto de ambas as vacinas em leitões, com base na sua avaliação relativa à proteção a curto e longo prazos.  O uso da vacina inativada em porcas resulta em aumento do tamanho da leitegada (+0,8 nascidos vivos), segundo diferentes estudos.  Quando as porcas estão vacinadas, os resultados do uso das vacinas nos leitões são melhores até três semanas de idade, tanto com relação à redução da excreção viral na 14ª, 18ª e 22ª semanas de idade quanto na proteção e quantidade de vírus presente nos órgãos linfóides.  Níveis elevados de anticorpos maternais não interferem com a imunização ativa dos leitões até três semanas de idade. Todas as vacinas melhoram a mortalidade, o crescimento e a taxa de refugos, porém, só algumas atuam positi-

 A viremia está associada a um menor ganho médio de peso diário e a uma maior variação nos crescimentos individuais dos suínos, sobretudo, em sua fase final de produção.  O PCV2 só se replica, nas reprodutoras, no epitélio coriônico, resultando em lesões no útero e na placenta. Não se detecta o vírus em todos os leitões abortados, o que exige a remessa de toda a leitegada abortada para o laboratório.  Um estudo espanhol, realizado em laboratório entre 1998 e 2008, revelou que mais de 80% dos quadros de PMWS manifestaram-se entre dois e quatro meses de vida e que a idade média de apresentação, nesse período, não foi incrementada significativamente.

GRIPE SUÍNA  O novo vírus humano nH1N1 pode infectar os suínos, como foi relatado recentemente em muitos países: Inglaterra, EUA, Espanha, Canadá, Dinamarca, Noruega. As amostras de tecidos de eleição para o diagnóstico devem ser coletadas das tonsilas e dos pulmões, assim como de exsudatos nasais e soro (PCR). A mortalidade é muito baixa, com elevada Ano VI - nº 37/2010


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Revisão Técnica morbidade e sintomatologia respiratória em reprodutoras variável, segundo o país (Reino Unido – não, Canadá – sim), com alta difusão entre suínos de engorda e lesões pulmonares macroscópicas – pneumonia intersticial.  Na Dinamarca, 90% das granjas de reprodutoras são positivas para o vírus da gripe A (H1N1, H3N2 e H1N2). Além dos sintomas clínicos respiratórios, produzem falhas reprodutivas em porcas, as quais se manifestam na forma de abortos. As fêmeas de 1º e 2º partos têm maior prevalência que o restante, não havendo correlação com a prevalência nos leitões. Não foram encontradas diferenças significativas em ganho médio de peso diário em suínos positivos ou negativos para o vírus da gripe.  As infecções subclínicas são muito frequentes em granjas endêmicas e com presença de anticorpos, detectados por ELISA. Os anticorpos maternais provavelmente persistem até as seis semanas de idade.  As infecções experimentais são efetivas, tanto pela via intratraqueal como por aerossol, em 24 horas.  Os suínos com imunidade natural frente ao cluster (grupo de genes que mantém sua expressão em condições distintas) gama desenvolvem proteção significativa frente a infecções pelo vírus H1N1, da pandemia de 2009 (declarada em 11 de junho, pela OMS). O primeiro caso em suínos ocorreu em uma pequena granja canadense, em 2 de maio, onde um funcionário com sintomas de gripe havia regressado de uma viagem ao México. Em seguida, em 16 de junho, em mais duas granjas na cidade de Alberta, bem manejadas, com alta sanidade, sem receber novos animais desde os últimos 10 meses e praticando sistematicamente a vacinação contra os vírus da gripe H1N1 e H3N2. Na Europa, o primeiro caso de infecção em granjas de suínos pelo vírus da pandemia ocorreu na Noruega, em 10 de outubro de 2009, detectado por RT-PCR em esxudatos nasais, o que determinou a transmissão de pessoas a suínos. O referido vírus da pandemia pode ser transmitido entre suínos, experimentalmente. Sua transmissão em uma população previamente infectada é mais lenta que em uma granja negativa (quadro agudo).  Os estudos realizados na Espanha entre 2007 e 2009, em 100 granjas, Suínos & Cia

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por meio da prova de ELISA em amostras de sangue, determinaram uma prevalência de 40,9% em suínos de engorda e de 77,8% em reprodutoras (H1N1 e H3N2, principalmente). O maior contato entre animais favorece a disseminação, assim como os sistemas de ventilação dinâmicos e uma elevada taxa de renovação de marrãs.  As vacinas inativadas demonstram uma proteção cruzada insuficiente frente a subtipos heterólogos do vírus da gripe.  Todas as vacinas testadas nos EUA frente à gripe promovem uma proteção parcial, com redução das lesões pulmonares e a replicação viral no referido órgão e no nariz, podendo se observar certa excreção nasal e sinais clínicos mais suaves.  A utilização da tecnologia dos réplicons alfa-vírus, que são uma recombinação da hemaglutinina do vírus H1N1 da pandemia de 2009, e o cluster 4 do vírus H3N2 estão trazendo resultados interessantes em termos de eficácia, dentro dos modelos de infecção.

PNEUMONIA ENZOÓTICA COMPLEXO RESPIRATÓRIO SUÍNO (CRS) DOMINIEK MAES  A bactéria Mycoplasma hyopneumoniae (M. hyo) é transmitida aos suínos suscetíveis

por contato direto com suínos infectados, por meio da via aérea, até 4,7 km, e por transmissão vertical de porcas a leitões, na baia de parição (focinho com focinho e aerossol). A transmissão é maior em porcas primíparas e com mais de sete partos. O suíno permanece infectado por mais de 200 dias pós-contato. O percentual de suínos positivos em uma granja é muito variável, assim como a prevalência no momento do desmame, de modo que as práticas de manejo “tudo dentro – tudo fora” nas salas de parto e na creche, a aclimatação das futuras reprodutoras e a quarentena das nulíparas influenciam sobremaneira no controle da doença. A prevalência chega a ser maior em granjas de ciclo completo, comparativamente às unidades produtoras de leitões (UPLs). A transmissão também é maior com cepas de alta virulência (em comparação com as de baixa). O M. hyo predispõe infecções por agentes secundários, em consequência das lesões que causa nos cílios epiteliais, da infiltração de células linfo-histiocitárias, da alteração da viscosidade do muco e da modulação da resposta imune (Pasteurella multocida, Actinobacillus pleuropneumoniae, Bordetella bronchiseptica, Haemophilus parasuis, Arcanobacterium pyogenes, Streptococcus sp). Em infecções conjuntas com o PRRSv prolonga e incrementa a gravidade da pneumonia induzida pelo primeiro e também potencializa a gravidade do PCV2 nos pulmões e nos gânglios linfóides, prolongando a presença viral e incrementando a incidência da PMWS. Aperfeiçoar o manejo e as Ano VI - nº 37/2010


Revisão Técnica condições ambientais é primordial para o controle das infecções por M. hyo. O uso de antibióticos permite apenas controlar a sintomatologia clínica, já que não elimina a bactéria dos pulmões; nesse caso, são eficazes os macrolídoes, os tetraciclínicos, as pleuromutilinas, o florfenicol e os aminoglicosídeos. Todos reduzem o quadro clínico, melhorando os parâmetros produtivos, ainda que os sinais clínicos possam reaparecer ao cessar o tratamento. É necessário mais pesquisa para conhecer a dinâmica de excreção em reprodutoras que tenham recebido o tratamento com antibióticos. As maiores vantagens das vacinas são a melhora no ganho de peso médio diário (de 2% a 8%) e no índice de conversão (de 2% a 5%), mesmo sendo a sua proteção incompleta e não havendo prevenção da colonização. As infecções posteriores ao desmame, devidas ao PRRSv e ao PCV2, podem afetar e interferir na resposta imune à vacinação. A imunidade materna não evita a colonização, e tampouco se conhece bem a proteção celular derivada dela. A vacinação das futuras reprodutoras deve ser concentrada nas marrãs negativas, que entram na granja em grupos não estáveis ou positivos. Novas vacinas focalizadas na criação de imunidade nas mucosas (vacinas de subunidades de DNA) estão sendo estudadas, do mesmo modo que vacinas com vários agentes respiratórios em conjunto, assim como suas estratégias de aplicação. As vacinas atuais não induzem uma proteção completa, nem sobre a colonização, tampouco sobre a transmissão, depen-

dendo de variações na virulência das cepas e da variabilidade proteica entre as mesmas. Ainda assim, com a utilização da vacina estima-se um benefício de retorno sobre investimento (ROI) da ordem de sete, frente a controles não vacinados. • Em um estudo realizado em nove países europeus, incluindo a Espanha, ficou determinado que 67,8% das granjas e 10,7% dos leitões com 21 ± 3 dias de idade são positivos. • O diagnóstico por PCR é mais sensível nos fluidos orais que nos esxudatos nasais, entre 8 e 12 semanas posteriores à infecção. Os positivos atribuídos à imunidade materna são detectados por ELISA mais rapidamente, e os anticorpos de infecção em suínos vacinados são detectados por PCR, entre 8 e 12 semanas. • A vacinação conjunta PCV2 M. hyo melhora o crescimento e o peso da carcaça, promovendo um benefício 3,6 vezes maior que apenas a vacinação com a segunda vacina. • Foram descritas várias experiências com programas de erradicação, combinando o modelo suíço de interdição da granja durante oito a nove meses e tratamentos com tulatromicina para todos os leitões entre 2 e 4 semanas de permanência na recria. • O gene P146 pode nos ajudar a distinguir as diferenças genéticas entre as cepas de M. hyo. • O Mycoplasma hyorhinis, em estudos prévios, potencializa a pneumo-

nia induzida pelo PRRSv in vivo, porém, sua habilidade em causar pneumonia por si só não está totalmente esclarecida. • Os antibióticos mais sensíveis frente ao A. pleuropneumoniae (sorotipo 5), no final do período de engorda, são a tulatromicina, a marbofloxacina, o florfenicol, os penicilínicos e o ceftiofur sódico. No complexo respiratório suíno, além dos planos de vacinação, foram apresentados vários trabalhos utilizando 15 mg/kg/dia de tiamulina diluída em água de bebida, durante 14 dias, tendo sido observada uma melhora no ganho médio de peso diário e uma redução nos índices de tosse. Também são numerosos os estudos com resultados positivos utilizando tilmicosina, florfenicol e tulatromicina. • O Haemophilus parasuis induz a uma bacteremia – doença sistêmica com poliserosite, pneumonia e sintomas nervosos, dentro do quadro da doença de Glassër. São conhecidos 15 sorotipos, e a bactéria tem um período de incubação que varia de 1 a 5 dias. Suínos sadios podem ser reservatórios do H. parasuis e também transmitir a bactéria, podendo-se isolá-lo de esxudatos nasais. A prevalência, nos EUA, é estimada entre 7,3% e 17,4% na fase de creche e de 5,4% a 18,7% na engorda. As vacinas com sorotipos 4, 5 e 13 demonstram-se eficazes na redução da mortalidade, dos sinais clínicos, das lesões e na melhora do ganho médio de peso diário, sem que o seu efeito interfira com o uso de antibióticos. Os anticorpos presentes no colostro são encontrados nos leitões somente até as duas semanas de idade. A colonização pelo H. parasuis no nariz e nos pulmões é maior em suínos infectados pelo vírus da gripe, que por alterar a resposta imune, contribui aumentando a colonização bacteriana.

TRANSTORNOS DIGESTIVOS STEVEN McORIST  A sintomatologia clínica da disenteria hemorrágica por Brachispira hyodisenteriae é conhecida desde 1920, sendo essa doença comum em suínos de 12 a 75 kg de peso vivo, futuras reprodutoras e porcas em produção. Sua disseminação em granjas de reprodutoras é lenta, com um período de incubação de 7 a 14 dias, custo elevado devido à morbidade, mortalidade, supressão de consumo e do ganho médio de peso diário, piora no índice de conversão Ano VI - nº 37/2010

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Revisão Técnica e alto custo terapêutico. Não se dispõe de vacinas nem de testes sanguíneos, sendo críticos o diagnóstico microbiológico por isolamento anaeróbio e a identificação pelo PCR. Permanecem duas grandes dúvidas sobre como a bactéria causa lesões e como se gera a imunidade. As baratas têm o potencial de transportar esta bactéria durante três dias e sua prevalência vem sendo incrementada nos últimos dez anos, em muitos países europeus e americanos. Os antibióticos mais utilizados no seu controle, com relatos de resistência segundo a cepa, o país e a severidade, são as pleuromutilinas (tiamulina, valnemulina), a tylvalosina, a lincomicina e a doxiciclina. O quadro clínico da ileíte foi descrito em 1930, na espécie suína. Os mecanismos intrínsecos que deveriam explicar como a Lawsonia intracellularis infecta as células epiteliais, continua o processo da mitose e produz a hiperplasia das criptas não estão totalmente esclarecidos. A redução no ganho médio de peso diário parece ser devida às perdas de proteína corporal e à redução na absorção de nutrientes na mucosa intestinal. A vacina registrada em 2001 é usada até hoje, em todo o mundo e com bons resultados produtivos e econômicos. Nos suínos com diarréia moderada ou severa, a L. intracellularis é excretada nas fezes, não tendo sido encontradas evidências de coinfecções com o PCV2. A imunofluorescência indireta, realizada em amostras de soro, nos possibilita entender como circula a bactéria na granja e o momento adequado para a intervenção por meio da vacinação e/ou do tratamento com antibióticos. 84,2% dos suínos, na Austrália, têm anticorpos frente à L. intracellularis. O custo da doença varia entre granjas, dependendo da proporção de suínos infectados, grau de severidade da doença, fluxo de animais na granja e custo das medidas de tratamento e controle. A Associação Australiana de Suinocultores (AUSPIG) estima um custo médio da doença em U$ 7,00/suíno em suas instalações de crescimento, custo, esse, derivado da redução no crescimento da piora do índice de conversão. Em infecções tardias, soma-se a redução do percentual de tecido magro da carcaça. Os mecanismos fisiopatológicos responsáveis pela diarreia na enteropatia proliferativa, causada por essa bactéria intracelular, não estão totalmente esclarecidos, havendo alguns estudos primários de infecções Suínos & Cia

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experimentais, nos quais se reduziu a absorção de glicose e eletrólitos (K+, Cl-). Esta situação se enquadraria em um caso de diarreia por má absorção. Na Dinamarca, a L. intracellularis é uma das maiores causas de diarreia aguda em leitões desmamados, sendo altamente sensível aos antibióticos tilosina, lincomicina, tiamutina, tilmicosina e aivlosin.  O Clostridium perfringens do tipo A é o agente causal da diarreia Neonatal, e a toxina B2 é o seu principal fator de virulência. Os isolamentos dinamarqueses são mais sensíveis às pleuromutilinas, comparados aos italianos, e também mais sensíveis à valnemulina do que à tiamutina.  Entre suínos com e sem diarreia, a sensibilidade diagnóstica foi significativamente distinta em cepas de Escherichia coli hemolíticas e não hemolíticas. Os resultados relativos a amostras de fezes colhidas do conteúdo intestinal superestimam a prevalência, tanto da E. coli como da Brachispira sp. A adesão da fímbria F18 da E. coli no intestino delgado está associada tanto à diarreia pós-desmame quanto à doença do edema. A diarreia neonatal enzoótica ocorre entre 15% a 20% das granjas de ciclo completo, na França, havendo uma correlação com a baixa ingestão de colostro (IgG), o que causa uma elevada mortalidade na fase de lactação. As variações no nível de ingestão do colostro se explicam, parcialmente, pela vitalidade e peso do leitão ao nascer, assim como pela ordem de nascimento,

não havendo efeito estatisticamente significativo sobre o número de partos das porcas. A ingestão de colostro situa-se entre 210 e 370 gramas/kg de peso vivo de leitão, e a capacidade de produção de colostro, pelas porcas, é de 1,91 a 5,31 kg. A incorporação de leveduras na ração de porcas e leitões reduz a incidência de diarreia por E. coli, em consequência de seu efeito imunomodulador sobre a flora digestiva.  O Helicobacter suis é uma bactéria Gram negativa que coloniza o estômago de mais de 60% dos suínos (observação de matadouro), sendo muito baixa a sua prevalência em leitões lactantes. Leitões desmamados, inoculados experimentalmente, tiveram uma redução da ordem de 5% no ganho médio de peso diário.  Os vazios sanitários mostramse bastante eficazes no controle da Isospora suis, o agente da coccidiose; vazio e limpeza completa das jaulas de parição, uso de pisos plásticos e aplicação do sistema de adoções e cessões nas primeiras 24 horas de vida, assim como o tratamento com toltrazuril entre três e quatro dias de idade. Os leitões tratados com toltrazuril eliminam menos oocistos e têm menor incidência de diarreias posteriores ao desmame devido às E. coli enterotoxigênica (ETEC), L. intracellularis e Brachispira hyodisenteriae; apresentam, ainda, um índice melhor de conversão na fase de engorda, com o mesmo ganho médio de peso diário, de acordo com diferentes estudos.

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Revisão Técnica baixo consumo de ração na lactação, dando lugar a uma fase catabólica, que leva a índices reprodutivos ruins no 1º, 2º e 3º partos em porcas hiperprolíficas.  Muitas porcas hiperprolíficas, no final da gestação, apresentam quadro de anemia. A aplicação de ferro injetável entre sete e quatro semanas antes do parto melhora parcialmente o referido estado metabólico.  A adição de 1.000 mg de vitamina E natural, no mínimo sete dias antes do parto, reduz a incidência de nascidos vivos em porcas velhas.

NUTRIÇÃO DOUGLAS BURRIN  A manutenção das funções digestivas em leitões desmamados implica em um esforço metabólico e na substituição de células com exigências elevadas, em termos de aminoácidos. Neste momento, a sobrevivência, a saúde e o crescimento dependerão da habilidade fisiológica do leitão no sentido de adaptar-se às mudanças ambientais e nutricionais, sendo crítico o desenvolvimento das funções digestivas e imunitárias do trato gastrintestinal. Após o desmame, o tamanho das vilosidades se reduz, ocorre uma hiperplasia das criptas e uma expansão das células da lâmina própria, o que leva a maior hipersensibilidade às proteínas de origem vegetal (glicininas, lecitinas). O catabolismo e a oxidação dos aminoácidos ocorrem no intestino. A treonina é utilizada na síntese da mucina e na secreção das células de Globet. A metionina se converte em cisteína, usada na síntese das poliamidas. A cisteína é utilizada também como precursora na síntese do glutation e na manutenção do estado antioxidativo da mucosa. O estímulo próinflamatório, induzido pelas bactérias, endotoxinas e citoquinas, aumenta o grau de síntese protéica intestinal. O equilíbrio entre a flora comensal e a patógena afeta diretamente os requerimentos de nutrientes intestinais, podendo consumir parte deles e reduzir o crescimento do leitão. Este mecanismo é crítico no consumo de certos aminoácidos da dieta (treonina, Ano VI - nº 37/2010

glutamina), e o uso de prebióticos, probióticos, ácidos orgânicos, proteínas plasmáticas e minerais como zinco e cobre são alternativas nutricionais para manipular a microflora digestiva.  Criar e manter um ambiente intestinal sadio é essencial para uma correta produtividade e segurança alimentar.  A incorporação de enzimas exógenas em leitões desmamados melhora os parâmetros produtivos ao reduzir a atrofia das vilosidades e aumentar a digestibilidade dos nutrientes, sem afetar o tamanho das criptas.  A flora digestiva dos leitões desmamados se altera pela incorporação de antibióticos (Enterobacteriaceae, Lactobacillus).  Em porcas lactantes, 70% dos requerimentos energéticos e 90% dos aminoácidos absorvidos são utilizados pela glândula mamária para crescer e secretar leite. As porcas que perdem menos condição corporal (< 1 ponto) consomem mais ração e têm – no desmame – níveis sanguíneos maiores de ureia nitrogenada e níveis similares de glicose e de ácidos graxos não esterificados, em comparação com porcas que perdem mais de 1 ponto em sua condição corporal.  A relação entre produtividade e estado metabólico é de grande interesse, particularmente em nulíparas. Um grande consumo energético no final da gestação determina, necessariamente, um

 O sódio é necessário no balanço eletrolítico das porcas. Níveis elevados de sal em dietas (+ de 30 vezes a dose recomendada), mesmo com livre acesso à água, determinam uma grave intoxicação em suínos de engorda, com mortalidade ao redor de 49%. 30% desses suínos intoxicados mostraram desordens de origem nervosa (hiperestesia, reflexo palpebral, posição de cão sentado, palidez da pele, diarreia com ausência de febre) e os outros 70% manifestaram problemas respiratórios. As lesões nos rins foram severas e bilaterais (fibrose intersticial difusa, glomérulo-esclerose) e houve também meningoencefalite mononuclear multifocal.  Níveis deficientes de fósforo em dietas produzem hipofosfatemia, o que reduz a ossificação (dureza dos ossos) e prejudica os parâmetros produtivos. A capacidade de retenção de fósforo em suínos de 40 kg é boa, com níveis médios, sendo superior nos suínos de 70 a 105 kg, com níveis altos. A retenção diária de nitrogênio e cálcio é maior, em níveis de fósforo médios (6,2 g P/kg de matéria seca ou MS) frente aos altos (8,8 g P/kg de MS), na fase de engorda.  A relação exata entre deficiências de selênio e vitamina E não está clara em todos os casos da doença do coração de amora (miocardite hemorrágica aguda e necrose de miocárdio).  A intoxicação aguda por selênio leva à poliomalácia da medula espinhal, com paralisia súbita dos membros (tetraplegia). O diagnóstico se baseia nos níveis hepáticos de selênio (0,7 a 1,8 mg/ kg de MS) e sorológicos (140 a 190 mg/mL). Níveis elevados em períodos de tempo muito curtos não causam intoxicações graves. 

Níveis elevados de vitamina Suínos & Cia

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Revisão Técnica A reduzem o peso ósseo e interferem no desenvolvimento das cartilagens, predispondo a osteocondroses e espondiloses. A suplementação dos ácidos graxos poliinsaturados Omega 3, nas dietas de porcas gestantes e/ou lactantes, tem efeitos inconsistentes sobre o aumento do tamanho da leitegada e o peso da mesma no nascimento.

 O consumo total de água em uma granja de ciclo completo, para produzir um suíno de 100 kg, é de 2.600 litros, segundo um estudo mexicano.

ao momento da sua aplicação quando elas provêm de um centro de I.A. externo, já que são muitos os fatores que interferem na variabilidade dos parâmetros estudados, ao se preparar essas referidas doses.

REPRODUÇÃO

 O tamanho de leitegada, na Dinamarca, passou de 11 para 14 leitões entre 1996 e 2009, com um número médio de glândulas mamárias funcionais por porca da ordem de 14,3. As glândulas mamárias não utilizadas em uma lactação prévia produzem menos leite na lactação seguinte, sendo, por isso, muito importante a manutenção das porcas jovens com o número máximo aceitável ou suportável de leitões.

 Na alimentação líquida, em comparação à convencional (seca), o tamanho de partícula na moenda do milho pode ser superior (950 micras), sem que se afete a fisiologia digestiva e sem aumentar as lesões na mucosa gastresofágica.

GEORGE FOXCROFT  A aplicação da inseminação artificial (I.A.) em suínos rendeu seu maior impacto na melhoria genética ocorrida nos últimos 40 anos. Estima-se a referida melhoria em U$ 1,00 por suíno. Nossa habilidade em identificar os cachaços com limitações em seus parâmetros reprodutivos (fertilidade, prolificidade), assim como a combinação da aplicação pós-cervical e a inseminação a tempo fixo, poderão nos ajudar a diminuir mais rapidamente o tempo de exploração do potencial genético. A utilização de doses seminais com diferentes concentrações espermáticas e o uso de doses heterospérmicas podem alterar essa referida melhoria, em termos de precisão relativa à fertilidade e à prolificidade. O papel das proteínas do plasma seminal na fertilidade deverá continuar a ser estudado, assim como o desenvolvimento da genômica individual nos cachaços para a eliminação dos problemáticos o mais cedo possível.

 A zearalenona pode ser detectada no colostro/leite de porcas, em granjas com falhas reprodutivas derivadas da referida micotoxina (hiper-estrogenismo, em doses superiores a 50 mg/kg de ração).

 A eficácia na detecção do cio é crucial no momento correto da inseminação, considerando que a presença do cachaço diante da porca, no referido momento, é positiva. É necessário comparar a qualidade das doses seminais previamente

 A mortalidade na fase de lactação e a variação no consumo de colostro (IgG) estão positivamente correlacionadas com o tamanho da leitegada.  O tamanho de partícula, nas rações, influi na digestibilidade, no consumo voluntário, na incidência de úlceras gastresofágicas, na incidência de canibalismo e no conteúdo de nutrientes analíticos (níveis de proteína bruta e amido), os quais são maiores quando as amostras são coletadas com o silo recém completo do que quando vazio. Ocorre o contrário no caso dos níveis de gordura bruta, fibra bruta e cinzas totais, os quais são menores.

 Entre 60.990 partos, na Bélgica, a duração média da gestação foi de 115,4 ± 1,62 dias, com 10% abaixo de 114 dias e com maior número de nascidos mortos. Além disso, esses 10% têm um maior risco potencial de adiantamento nos partos seguintes. As porcas que parem com mais de 118 dias têm menos nascidos totais e menos nascidos vivos.  A relação cérebro/fígado no leitão recém-nascido é um bom indicador do estado de seu desenvolvimento. O cérebro é um dos primeiros órgãos a se desenvolver intrauterinamente. Assim, um atraso no referido desenvolvimento determina menor maturidade do leitão, o que implica em menor peso no momento do desmame.  Porcas hiperprolíficas com elevado conteúdo muscular no momento do parto (Noveko) mantiveram-se em trabalho de parto por um período mais longo, comparado a porcas mais gordas. O efeito do nível de gordura e a genética, entretanto, não foi significativo.  A seleção por prolificidade cria um desequilíbrio entre o número de ovócitos fecundados implantados e a capacidade uterina, levando a uma competição entre os fetos por nutrientes e pelo oxigênio, o que induz ao conhecido Fator de Restrição de Crescimento Intrauterino (IUGR), que gera um número de leitões com baixo peso ao nascer (800 g a 1,2 kg). As leitoas que nascem com baixo peso apresentam índices reprodutivos piores que os daquelas que nascem mais pesadas (> 1,4 kg). Há uma correlação positiva entre a longitude do canal vaginal e o número total de leitões nascidos vivos.  A aplicação de sistemas de refrigeração por evaporação (cooling),

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Revisão Técnica comparado à ventilação natural de salas de gestação em climas quentes, melhora o tamanho da leitegada e a fertilidade, diminuindo as mortes tanto embrionárias como de reprodutoras. No caso de umidade muito elevada, pode ocorrer um efeito contrário.

tantes (11,0 g/dL – desvio padrão = 1,0) do que em multíparas em qualquer fase de gestação (10,2 g/dL – desvio padrão = 1,0). Não foi encontrada correlação entre o nível de hemoglobina, a incidência da síndrome mamite, metrite e agalaxia (MMA) e os natimortos.

 O uso do hormônio luteinizante de origem suína ajuda a sincronizar a ovulação e, portanto, a inseminação (somente em porcas que estejam ciclando).

 Os fatores de risco para úlceras de escápula em porcas lactantes estão associados a fêmeas delgadas, número de partos elevados, problemas locomotores, síndrome MMA e superfícies de piso não confortáveis.

 O uso do altrenogest a 20 mg/porca/dia, nos dias 111, 112 e 113 de gestação, é efetivo para prevenir partos prematuros e melhorar os parâmetros reprodutivos (com relação aos partos < 114 dias), não havendo diferença quando da utilização em partos normais a termo. Foi desenvolvida uma apresentação de altrenogest em excipiente oleoso (óleo de soja), para uso oral à base de 5 mL diários, durante 18 dias, com resultados reprodutivos similares.  Níveis sanguíneos elevados de progesterona no 1º dia anterior ao parto e de lactato (também elevados), 3 horas após o nascimento do primeiro leitão, têm correlação com um parto mais prolongado.  A incidência das infecções subclínicas do trato urinário é estimada em 20%, predominando como agentes infecciosos a E. coli, o Streptococcus sp e o Staphylococcus sp. O primeiro deles produz nitritos, mas os outros dois não, por isso a relação entre níveis de nitritos e as infecções do trato urinário é pobre. Tanto os nascidos totais como os nascidos vivos vêm reduzidos em porcas com as referidas infecções.

 A aplicação de azaperone (2 mg/kg de peso vivo) no momento da expulsão da placenta em porcas primíparas determina uma redução da mortalidade na lactação, sobretudo por aplastramento e canibalismo, assim como uma melhora no peso da leitegada no desmame.  Um estudo realizado no abatedouro em 500 testículos de cachaços para determinar a causa de sua baixa fertilidade e qualidade seminal indicou ser a varicocele (com diferentes graus de fibrose e focos inflamatórios) a patologia mais frequente. O espermatozóide do cachaço é rico em ácidos graxos poliinsaturados; por isso a lipo-oxidação é um mecanismo fisiológico que promove mudanças negativas durante as primeiras 24 horas da armazenagem do sêmen fresco (e mais ainda no sêmen congelado). Assim, a inclusão de selênio e de vitamina E na ração dos machos, como antioxidantes, deve ser bem considerada.

SEGURANÇA ALIMENTAR PETER DAVIS  A fome e a desnutrição são responsáveis por 35% das mortes de crianças e 11% do total mundial de óbitos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem uma previsão de mais de 700 milhões de adultos obesos e 2,3 bilhões com sobrepeso até 2015. A hipernutrição custa, para o sistema de saúde norte-americano, US$ 147 bilhões por ano. A carne suína é a mais consumida no mundo e pela maioria das culturas. McMichael, em 2007, calculou um consumo médio global de carne da ordem de 100 gramas por pessoa, por dia, com uma variação de 10 vezes entre as populações. A prioridade para o consumo de carne, em países desenvolvidos e para a exportação, é a segurança alimentar. Isso tudo levando em conta, para sua percepção social, tanto a experiência pessoal como a informação externa recebida pelos meios de comunicação e agências governamentais. As intoxicações alimentares nos EUA, a partir de 1997, ascenderam para 76 milhões de casos por ano, com 325 mil hospitalizados e 5 mil óbitos (o que equivale a uma intoxicação a cada 4.200 refeições, uma hospitalização por cada milhão de refeições e uma morte para cada 65 milhões de refeições). A carne suína é hoje, nos EUA, comprovadamente mais segura como em nenhum tempo passado. Os agentes infecciosos considerados nas doenças transmitidas por alimentos são os seguintes:

 Os fatores clássicos que influenciam a presença de abortos e repetições são bem conhecidos. Um estudo referente a 870 mil inseminações realizadas em um período de quatro anos adicionou dados relativos a esses problemas em granjas, como o número de partos e inseminações das porcas, o dia da semana em que se realizou a inseminação e o intervalo desmame-inseminação.  O estudo de falhas reprodutivas (abortos) por meio de órgãos, em nível laboratorial, apresenta grandes dificuldades e, em muitas ocasiões, não é conclusivo.  O nível de hemoglobina é significativamente maior em primíparas gesAno VI - nº 37/2010

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ARevisão conteceu Técnica - Parasitas o Taenia solium: estima-se em 50 milhões o número de pessoas infectadas, com 50 mil mortos por ano em nível mundial, sobretudo em países com sanidade ruim. A educação seria o primeiro método para reduzir sua prevalência. o Toxoplasma gondii: nos EUA, sua prevalência em granjas de suínos é de 40% em porcas e de 20% em animais de engorda, mesmo após uma redução de mais de 90%. A carne sem cozinhar representa o maior risco. o Trichinella spiralis (triquinose): prevalência mínima, nos EUA. - Bactérias: Salmonella sp, Campylobacter sp, Listeria e Yersinia enterocolítica formam parte do nicho ecológico primário do trato intestinal de aves e mamíferos sadios. É preciso conhecer melhor a epidemiologia destes organismos, tanto no nível da produção como do abate e comercialização.  A transmissão da Salmonella sp pode ser direta e indireta, assim como dose e sorotipo dependente. Essa bactéria, difícil de ser erradicada de uma granja de suínos, pode ser controlada para minimizar o risco aos consumidores. O aparelho digestivo do suíno reúne as condições ótimas para o crescimento da Salmonella sp (temperatura de 35 ºC a 37ºC, umidade > 12% e pH entre 4,5 e 9,0). Assim, a prática de normas de biossegurança – tanto em granjas como em fábricas de ração – é essencial. Foi demonstrado em vários países (França, Irlanda, Alemanha e Inglaterra) o efeito positivo da incorporação de 0,6% de diformiato potássico nas rações. Os suínos portadores de Salmonella sp no momento do abate são 3 a 4 vezes mais suscetíveis a produzir carcaças contaminadas. O jejum, em combinação com o transporte, pode incrementar os níveis de Salmonella sp no íleo e no ceco. As porcas têm um papel importante na manutenção das infecções por Salmonella sp em granjas de ciclo completo, sendo, portanto, essencial que se leve isso em conta, tanto nos estudos de prevalência como nos programas de controle (biossegurança, aditivos,

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vacinas). As vacinas vivas atenuadas contra a Salmonella choleraesuis induzem uma resposta imunológica superior à das inativadas, reduzindo os sinais clínicos, a excreção e a colonização, assim como a morbidade e a mortalidade. Além das medidas de biossegurança também é necessário que se pratique, ao mesmo tempo, boas práticas de manejo. São muitos os casos em que suínos, aparentemente sadios, estão excretando a bactéria. Conhecer o sorotipo exato da Salmonella sp de cada granja é prioritário para se decidir sobre o uso de bacterinas autógenas. Os três principais isolados de Salmonella sp em abatedouros canadenses são o derby (21,9%), o typhiumurium v. 5 (20,5%) e o typhimurium (11,3%). Em granjas são o typhimurium v. 5 (27,9%), o brandenburg (14,8%) e o derby (11,5 %). As resistências mais comuns frente à E. coli e à Salmonella sp são as tetraciclinas (37,4% a 84,7%), a kanamicina (3,1% a 21,3%), a ampicilina (17,3% a 34%) e a estreptomicina (15,1% a 44,4%). As resistências determinadas no momento do abate costumam ser superiores às mostradas na comercialização da carne. Entre os isolados em fezes no final da fase de engorda, o sorotipo derby costuma ser o mais prevalente nos EUA, em 29,6% dos casos. Na Noruega são os sorotipos typhimurium e derby.  O Toxoplasma gondii é um protozoário parasita capaz de infectar ani-

mais de sangue quente. Os gatos servem de hospedeiro, excretando seus oocistos pelas fezes. Os suínos se infectam ao ingerir material contaminado pelos referidos oocistos. Estima-se que, nos EUA, 25% dos suínos aparentemente sadios tenham anticorpos e que 60 milhões de pessoas estejam infectadas, sem manifestar nenhum sintoma clínico. A prevalência média mundial estimada para o T. gondii é de 29%. Na Colômbia estima-se uma prevalência de 40% na carne suína, determinada por meio da técnica de amplificação do gene B1. A análise da amostra de sangue por ELISA revela maior incidência em granjas pequenas em comparação a grandes e médias.  A incidência de Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA), em estudo realizado na Alemanha, varia entre 52,4% e 79% em granjas orgânicas e convencionais e fica próximo de 8% em granjas de javalis. As amostras são tomadas na cavidade nasal, e os principais fatores de risco são o tamanho da granja, o uso excessivo de antibióticos, a mistura de suínos de origens distintas na engorda, o mês do ano, a ausência de vazios sanitários e a escassez de medidas de biossegurança. Quanto aos funcionários das granjas, o risco de contaminação pelo MRSA CC398 é maior nas de reprodução que nas de terminações, segundo estudos dinamarqueses. Ano AnoVIVI- -nºnº36/2010 37/2010


Aconteceu

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Sumários de Pesquisa

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Sumários de Pesquisada temperatura mucosa vulvar muda significativamente durante o período periovulatório no suíno Com a expansão da indústria de carne suína, a maior ênfase está sendo colocada na manutenção de uma consistente produtividade do rebanho de matrizes. A acurada detecção do cio é um componente essencial de um programa de inseminação artificial bemsucedido nestas modernas operações de produção suína. É fundamental estabelecer mecanismos eficazes de detecção de cio e otimizar o desempenho reprodutivo do rebanho. Como possíveis métodos para auxiliar a detecção de cio, algumas medidas de certas características físicas e fisiológicas têm sido investigadas, tais como a temperatura corporal, resistência elétrica vaginal e avermelhamento da vulva.

gital (TID), as temperaturas da mucosa vulvar foram medidas duas vezes ao dia, com oito horas de intervalo, utilizando uma termocâmera (Fluke IR FlexCam

® Termovisor, Fluke Cor incorporação, Everett, WA). A detecção de cio foi realizada duas vezes ao dia (após imagem TID)

Apesar disso, a relação entre essas características e a ovulação não foi significativa. A relação entre a temperatura da mucosa vulvar e a ovulação não foi previamente investigada em suínos, com a utilização de imagens térmicas, mas foi estudada em fêmeas bovinas. Esse estudo, conduzido por Sherrie Clark e colaboradores, na Universidade de Illinois, foi apresentado no 10º Encontro Anual da American Association of Swine Veterinarians, AASV, 2009, e teve o objetivo de avaliar as mudanças na temperatura da mucosa vulvar que ocorrem durante o período periovulatório, utilizando termografia infravermelho digital (TID).

Metodologia O grupo experimental contou com 25 leitoas e 27 porcas multíparas e um grupo controle de 30 fêmeas com 60 dias de gestação. Todas as fêmeas (Yorkshire-Landrace) foram alojadas individualmente em um ambiente com temperatura e umidade controladas. Por meio da termografia infravermelho diSuínos & Cia

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Figura 1: Temperatura da pele vulvar de leitoas (A) e porcas (B) durante o período periovulatório medida pela termografia infravermelho digital. a, b – diferença significativa (P < 0,05).

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Sumários de Pesquisa com o auxílio de um macho adulto. Uma vez observado o reflexo de imobilidade, foi realizada uma ultrassonografia transretal, em tempo real (Aloka 500V), duas vezes ao dia, em intervalos de 8h, para acompanhar o desenvolvimento folicular e determinar o momento relativo da ovulação. A temperatura média da mucosa vulvar e as horas foram registradas e comparadas por análise de variância (ANOVA), com comparações pareadas e teste de Student usando o SAS.

Resultados Evidências de formação de corpos lúteos e de ovulação foram detecta-

das em aproximadamente 38 ± 9 horas após o início do cio em marrãs e 43 ± 12 horas em porcas. A temperatura média da mucosa vulvar das porcas durante o estro foi significativamente maior (P ≤ 0,05) do que nas leitoas. Durante o cio, a temperatura da mucosa vulvar média das leitoas atingiu um pico de 35,6 ± 1,6˚C e, em seguida, diminuiu significativamente para 33,9 ± 1,7 ˚C, 12h antes da ovulação. Esta mudança acentuada nas temperaturas médias da mucosa vulvar foi detectada entre 32h e 8h antes da ovulação (Figura 1A). Houve uma tendência semelhante em porcas, com um pico de temperatura na mucosa vulvar de 36,1 ± 1,3 ˚C, 24h antes da ovulação, e depois com uma queda para 34,6 ± 1,6 ˚C, 16h antes da ovulação (Figura 1B). Não houve diferença sig-

nificativa (P ≥ 0,05) entre a temperatura de mucosa vulvar em marrãs e porcas no momento da ovulação.

tensivamente estudados. As restrições alimentar e protéica durante a lactação e, portanto, um balanço energético negativo aumentado, têm sido relacionadas à redução do desenvolvimento folicular, com aumento do intervalo desmame estro, redução da taxa de ovulação e diminuição da sobrevivência embrionária e do tamanho da leitegada.

nhez e tamanho de leitegada) não estão bem documentados. Nestes estudos, as diferenças no balanço energético são induzidas pela restrição alimentar das porcas, o que pode não ter nada a ver com a diferença “natural” no balanço energético.

Este estudo demonstrou que a temperatura da mucosa vulvar em porcas e marrãs medida pela termografia infravermelho digital mudou significativamente durante o período periovulatório. Além disso, há momentos distintos em que a temperatura da mucosa vulvar sobe e depois cai vertiginosamente em porcas quando comparadas às leitoas. Os autores concluíram que o potencial de uso da termografia infravermelho digital como preditor de ovulação em suínos parece ser uma ferramenta promissora. Outros estudos envolvendo modelos de previsão e análises hormonais necessitam ser realizados.

E

feito do desenvolvimento de peso vivo e da reprodução no primeiro parto sobre o desempenho reprodutivo de porcas de segundo parto Um desempenho reprodutivo menor no segundo parto em comparação com porcas de primeiro parto diminui a eficiência reprodutiva. Este fenômeno é chamado síndrome de segunda leitegada (SSL), diminui a eficiência reprodutiva de porcas de ordem de parto (OP) 2 e pode diminuir a longevidade da fêmea, visto que a falha reprodutiva é a principal razão para abate em fêmeas jovens. Geneticamente há uma alta correlação entre o tamanho da leitegada nas ordem de parto (OP) 1 e 2 (0,88), entretanto, a correlação fenotípica é baixa (0,04), indicando uma alta influência ambiental sobre o tamanho da leitegada. O severo esgotamento de reservas corporais durante a lactação é um fator conhecido, associado com a falha reprodutiva em porcas. Os efeitos do estado metabólico no funcionamento reprodutivo subsequente têm sido exAno VI - nº 37/2010

Nestes estudos, as porcas são, geralmente, abatidas durante a gestação precoce, e os efeitos sobre as variáveis de rebanho (por exemplo, taxa de pre-

A maioria dos estudos anteriores concentrou-se em porcas de primeira leitegada. Porcas de primeiro parto são especialmente sensíveis à depleção de reservas corporais, porque elas não têm suficientes reservas corporais ao parto e Suínos & Cia

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Sumários de Pesquisa sua capacidade de ingestão de alimentos não é suficiente para satisfazer às necessidades de energia durante a lactação. Além disso, as porcas jovens ainda precisam crescer para atingir a maturidade. O crescimento é constituído, principalmente, por acumulo de proteína e gordura e pretende chegar a certo “padrão” de crescimento intrínseco. A falta de reservas corporais e a necessidade de crescer tornam as fêmeas jovens mais sensíveis aos efeitos adversos de um balanço energético negativo na reprodução. O estudo retrospectivo conduzido por Hoving e colaboradores (Wageningen University , Holanda) visou a quantificar a associação entre o desempenho reprodutivo de porcas de segunda parição com foco na taxa de prenhez e tamanho de leitegada com relação às medidas de desenvolvimento do peso vivo da matriz de primeiro parto (Animal Reproduction Science, Volume 122, Issues 1-2, 2010, p. 82-89).

Método Medidas do desenvolvimento de fêmeas (peso vivo na primeira inseminação, parto e desmame) e reprodução (número total de leitões nascidos, intervalo desmame-inseminação, período de lactação, número de leitões desmamados) foram registradas em duas granjas experimentais. Uma análise de regressão logística foi realizada para o

I

nvestigação da mortalidade de porcas numa granja com 2.500 matrizes

Introdução Atualmente, os riscos de mortalidade nos plantéis de matrizes parecem que estão aumentando. Estes altos níveis de mortalidade representam perdas econômicas importantes e são indicatiSuínos & Cia

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desfecho binário (sim / não) com relação à prenhez a partir da primeira inseminação após o primeiro desmame. Foi utilizada uma análise geral de regressão linear para o tamanho da leitegada da primeira inseminação na ordem de parição (OP) 2. As porcas repetidoras foram omitidas da análise sobre o tamanho da leitegada no segundo parto, uma vez que um período prolongado entre o desmame e a concepção pode influenciar positivamente o tamanho da leitegada.

Resultados As granjas diferiram significativamente nas medidas de desenvolvimento de peso vivo das porcas e, portanto, os dados foram analisados por granja. Em comparação com fêmeas da granja A, as fêmeas da granja B eram mais velhas e pesadas nos seguintes momentos: primeira inseminação (275 dias e 145 kg para a granja B versus 230 dias e 124 kg para a granja A), primeira parição (respectivamente 189 kg versus 181 kg) e ao primeiro desmame (respectivamente 165 versus 156 kg). A perda de peso durante a gestação foi semelhante para ambas as granjas (respectivamente 24,9 e 23,7 kg). As leitoas da granja A, no entanto, ganharam mais peso no período compreendido entre a inseminação e o primeiro desmame em comparação com fêmeas da granja B (respectivamente

vos de bem-estar animal comprometido. Esse estudo, conduzido por Sara Dillon, T. Donovan e G. Almond, na North Carolina State University, foi apresentado no 9º Congresso da American Association of Swine Veterinarians - AASV, 2009, na forma de um relato de caso sobre mortalidade e matrizes, ocorrido numa grande propriedade suinícola. Em rebanhos suínos, uma taxa aceitável de mortalidade de porcas situa-se em torno de 3% a 6%. Esta taxa atinge, por vezes, 10% a 15% em certos rebanhos, na maioria dos casos, sem nenhum sinal prévio. Além disso, a perda

36,1 e 20,9 kg). As falhas de prenhez na Ordem de Parto 2 foram de 11% para a granja A e 15% para a granja B. Os tamanhos de leitegada na primeira e na segunda parição foram, respectivamente, 10,7 e 11,6 para granja A e 11,8 e 11,6 para a granja B. Na granja A, o desenvolvimento de peso vivo das fêmeas foi associado com a falha de prenhez e o tamanho da leitegada na segunda parição, enquanto que na granja B, as variáveis, como número de nascidos totais no primeiro parto e linhagem da fêmea, foram associadas com falha de prenhez e tamanho da leitegada no segundo parto. Em ambas as granjas, o maior ganho de peso entre a primeira inseminação e o primeiro desmame foi associado a uma redução nas falhas de prenhez (probabilidade 0.7 por 10 kg para a granja A e 0,8 por 10 kg para a granja B); e na granja A com um maior tamanho de leitegada no segundo parto (β = 0,42 para cada 10 kg de ganho de peso). Os resultados mostram que o desenvolvimento (peso) das fêmeas afetou o desempenho reprodutivo no segundo parto, especialmente na granja A, na qual as marrãs eram relativamente leves ou jovens à primeira inseminação. Os autores sugerem que o manejo desses animais deve ter como objetivo otimizar o desenvolvimento à primeira inseminação e aumentar o crescimento entre a primeira inseminação e o primeiro desmame, a fim de otimizar a produção no segundo parto.

de matrizes preocupa os funcionários e pode afetar a moral da equipe. Na maioria dos sistemas de registro das granjas, a morte natural e a eutanásia (sacrifício do animal) são incluídas como mortalidade. Altos níveis de mortalidade ou eutanásia num rebanho resultam em grandes perdas devido ao valor da porca, dias não-produtivos, falta de aproveitamento econômico da carcaça, eventuais gastos com veterinário antes da remoção e perda da leitegada quando gestante. Ano VI - nº 37/2010


Sumários de Pesquisa que pode ser explicado pela população do rebanho com 71% das fêmeas com ordem de parto (OP) entre 3 e menos.

Relato de caso: identificação do problema Uma granja com 2.500 matrizes na Carolina do Norte, Estados Unidos, estava sofrendo uma mortalidade de porcas maior do que o esperado (9% a 33%), com uma média de 16% em dois anos. Em dezembro de 2007, houve um levantamento para coletar dados sobre as mortes de matrizes suínas (n = 225), que incluiu a causa da morte, ordem de parto (OP), fase de produção, datas de cobertura / parto / desmame, tratamento e histórico do evento.

Recomendações

Como as causas mais comumente relatadas da morte foram “repentina” ou “desconhecida”, houve uma série de necropsias durante 11 semanas (entre maio e agosto de 2008). Do total de fêmeas, 66 morreram e 56 foram necropsiadas por um investigador. Após o exame de necropsia, em caso de diagnóstico inconclusivo, tecidos foram submetidos ao Laboratório de Diagnóstico Veterinário da Universidade de Minnesota.

Achados significativos A principal razão para a morte

Os resultados foram apresentados à equipe da granja, e as áreas de foco discutidas, para reduzir as mortes de porcas. Depois, a equipe foi treinada para reconhecer e registrar razões precisas para a morte de matrizes e identificar sinais precoces de doença para um tratamento rápido. Houve a implementação de um programa terapêutico com medicação nas dietas de lactação.

Implicações de porcas foi o estresse calórico, seguida de complicações reprodutivas e claudicação (Tabela 1). 47% das fêmeas morreram na maternidade, sendo 39% devido ao estresse por calor. As mortes ocorreram quando as temperaturas registradas nos dias de estresse térmico alcançaram médias de 95˚F (88˚F a 100˚F) ou 35˚C (31,1˚C a 37,7˚C). A maioria das mortes ocorreu em porcas de OP igual ou menor que 3 (75%), fato

Razões para morte de porcas de acordo com o estágio de produção (n = 66) Razões

Cn

Fn

Gn

Total n (%)

Torção de baço

0

1

0

1 (1.52)

Torção hepática

0

1

0

1 (1.52)

Pneumonia bacteriana

0

0

2

2 (3.03)

Falha cardíaca

0

1

1

2 (3.03)

GI

2

3

0

5 (7.58)

Outras

2

1

5

8 (12.12)

Claudicação

5

2

5

12 (18.18)

Reprodutiva

1

10

1

12 (18.18)

Estresse calórico

0

12

11

23 (34.84)

10 (15)

31 (47)

25 (38)

66 (100)

Total n (%)

B - cobertas até 5 semanas de gestação, F- parição, G - gestação.

Ano VI - nº 37/2010

 O estresse térmico pode ser reduzido pela movimentação das porcas em pequenos grupos e no início da manhã, quando é mais fresco;  Durante e após situações estressantes, ou seja, em movimentações, vacinação, etc., as porcas devem ser monitoradas e, se necessário, com assistência ou tratamento administrado;  O maior risco de mortalidade ocorre durante o período periparto, portanto, a rápida identificação e tratamento imediato das porcas são fundamentais nesta fase;  As causas de mortalidade não estão corretamente documentadas nas granjas. Veterinários e produtores devem treinar os funcionários para reconhecer os sinais cardinais de cada problema;  As claudicações continuam a ser um componente importante da mortalidade de matrizes e deve ser uma área de foco. Por: Dr Paulo Roberto S. da Silveira psouzadasilveira@gmail.com Suínos & Cia

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Recursos Humanos Recursos Humanos

Mensagem O dia mais belo: hoje A coisa mais fácil: errar O maior obstáculo: o medo O maior erro: abandono A raiz de todos os males: o egoísmo A melhor distração: o trabalho A pior derrota: o desânimo Os melhores professores: as crianças A primeira necessidade: comunicar-se O que lhe faz mais feliz: ser útil aos demais O pior defeito: o mau humor O pior sentimento: o rancor Jamais se deve sentir: inveja O presente mais bonito: o perdão O mais imprescídivel: o lar A rota mais agradável: a paz interior Rompe paradigmas: a união Vence barreiras: persistência O melhor remédio: o otimismo Maior proteção efetiva: o sorriso A maior satisfação: o dever cumprido A força mais potente do universo: a fé As pessoas mais imprescindíveis: os pais O mais nobre dos sentimentos: o amor Autor desconhecido

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Dicas de Manejo Importância do colostro aos leitões nas Importância do colostro aos primeiras horas de vida leitões nas primeiras horas

Dicas de Manejo

de vida

O colostro é um nobre produto da glândula mamária, rico em proteínas e distribuído uniformemente em abundância pelas mamas e mamilos durante e pós-parto. Sem dúvida, para garantir a saúde e sobrevivência do recém-nascido é fundamental que o leitão, imediatamente após o nascimento, alimente-se do primeiro leite materno. Confira nas dicas abaixo a importância da ingestão do colostro e como deve-se estimular o consumo desse nobre alimento nas primeiras horas de vida.

A porcentagem de proteínas (imunoglobulinas) presente no colostro x leite garante, uma vez ingerido, imunidade passiva para o recém-nascido.

Durante os primeiros dias de vida o sistema imune do leitão comporta-se com o mesmo nível imunológico da porca. Os anticorpos ingeridos durante as primeiras 5 horas são absorvidos pela corrente sanguínea, ativando o sistema.

Horas de vida

Anticorpos (mg/mL)

Passagem para corrente sanguínea

0 – 5 horas

130

100%

6-12 horas

130

50%

13 – 24 horas

60

50%

Além da imunidade passiva, o colostro tem a função de prover energia por meio de proteínas, gorduras e carboidratos auxiliando o metabolismo fisiológico do recém-nascido. A quantidade do colostro ingerida nas primeiras horas de vida, garante a saúde sobrevivência e o desempenho do leitão. Suínos & Cia

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Ano VI - nº 37/2010


Dicas de Manejo Durante o parto deve-se pressionar e massagear a glândula mamária e estimular a presença de leite no teto, procurando orientar a localização desse nobre alimento ao recém-nascido.

Imediatamente após o nascimento deve-se incentivar e ajudar o recém-nascido a mamar o colostro. O consumo desse alimento nas primeiras horas de vida tem grande importância e influencia na saúde e sobrevivência dos leitões na primeira semana de vida.

Quanto maior o consumo de colostro nas primeiras horas de vida, maior será a quantidade de anticorpos ingerida, seguido de melhor desenvolvimento do sistema imune. Ano VI - nº 37/2010

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Dicas de Manejo É fundamental ajudar de forma especial o recém-nascido de baixo peso, seguir com atenção aos leitões menores e com menor vigor. Oferecer boas tetas e orientar a mamada principalmente nas primeiras horas de vida até que eles definam seu próprio mamilo.

Durante o parto deve-se coletar com muita higiene o colostro de algumas porcas mais velhas para oferecer aos leitões que nascem de baixo peso filhos de marrãs e os que nasceram no final do parto.

Ajudar para que os recém-nascidos mamem adequada quantidade de colostro nas primeiras horas de vida e, em seguida, ensiná-los e deixá-los mamar diretamente nas tetas, evitando dependências. Suínos & Cia

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Ano VI - nº 37/2010


Dicas de Manejo O manejo de ajudar porcas e leitões durante o parto é essencial e garante o sucesso da maternidade. Pessoas capacitadas e envolvidas nesse trabalho determinam a saúde e a qualidade da reprodutora durante e depois do parto, como também a sobrevivência dos leitões nos primeiros dias de vida.

Para cumprir o objetivo de desmamar muitos leitões fortes e saudáveis serão necessárias dedicação e aplicação das boas práticas de manejo ao recém-nascido.

Ano VI - nº 37/2010

Suínos & Cia

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Divirta-se Encontre as palavras

Divirta-se

Encontre as palavras Testedeseus conhecimentos Na produção suínos, algumas S M vezes eles são os protagonistas. Jogo dos 7 erros A Vamos encontrá-los Cruzadox no diagrama I ao lado:

Leitões Cachaço Matriz Marrã Cevado Refugo Leitoa Rufião Porca Mãe de leite

S I D A F T G S H N J T K R L O M Y M E X R O V R G

S S A F R S N F Q D W L G D R D T D F R S M Z F E S N M F R

D C D R T S J R G T I R T R R U E Y C U N I N O T D Q Ã G T

F D I O R Q I T V A S M X N L G F R B B N R X L Y F O E V Y

A F G H A Ã O C I Y T K R J E H O I C H L I T L R G W D C H

H G B X X L W Q A N H H B X J U K R Ã C M O J I B T F E Z N

J A B D C T B U K B J B N D B J B N S O W B G K B J E L D B

K H H S C E I W E B L N C A C H A Ç O E K V P F V K E E E T

L O Y Q R S G D J R L G Y W F L G Y W F L G B J S L R I A I

P J U C O D Y L G G P Y U S G P Y U S G P Y H I C O T T C R

Q S J I O D O F O H O T J Z H O T J Z H O T U H H O T E Q A

O F P P I W F O D J I F M X J I F M X J I F O O J I O B A E

W O I E Z R C I O M U C K A M U C K A M U C I T M U Y F L I

E Z W I U E X Y T N Y X I Q N Y X I Q N Y X E G N C O C I W

R D H R N F D L H K T D O W K T D O W K T D K R L G U D R A

O M E F X U S O M L R R L A L R R L A L R R L F L R E L A D

T L T Y P G G V I P E E P S P E E P S P E E E I P O I S D O

A B P F L O T I E O W S P D O W S P D O W S I D B G O I I C

Y N O E F Q O L Q I Q Z O E I Q Z O E I Q Z T E I S O A U H

R V I C B G A E N U Z A I R U Z A I R U Z A Õ R H Z T O T A

U J D F U X N L I D X Q L F J X Q L F J X X E T J M P L X T

C C K M T C W H U I U W K C K C W K C I E W S C R Q O K L O

S M C A D I F U C L U K E J H V A J X E L D W N X F R J K S

L X U T N A Z U E H B I F Z G B Z U Z G V U H I G B C U O G

O N N R D W X I A F L X Y K F N X N A D N A F H A R A E A F

R Z M I S R T H Q C M N M T F M S M H C R A D I C M B M C C

L O B Z D O W B C D K S H A T M R I E N W A Q O A T Z B W D

D R T T A Y I U A M H E H E X P L H E X O E H E X A D H E X

O D Y D S O D Y D S V D Y D C T L F B O R F D H R O N Y D S

K S O D S F L G O H D O R F Z K C T S Z K C T F Z K C E F Z

Teste seus conhecimentos Para garantir a sobrevivência dos recém-nascidos são necessárias dedicação e habilidade. Aplicar boas práticas de manejo aos leitões nas primeiras horas de vida garante saúde e sobrevivência para desmamar quantidade e qualidade. Obedecendo a um cronograma por ordem de importância das primeiras atividades que devem ser realizadas no leitão imediatamente após o nascimento, enumere a sequência abaixo de quais são as principais medidas de manejo que se devem adotar com o recém-nascido.

Suínos & Cia

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(

) Amarrar, cortar e colocar Iodo no cordão umbilical

(

) Orientar a primeira mamada

(

) Secar o leitão

(

) Observar a área de aquecimento e, se necessário, regular fonte de calor

(

) Identificar os que mamaram colostro

(

) Pressionar e estimular a teta, mostrando leite ao recém-nascido

(

) Treinar os leitões a dormirem na casinha ou no escamoteador Ano VI - nº 37/2010


Divirta-se

Jogo dos 7 erros

Cruzadox 7 L

I 3 8 C O N T R O L E D E P R A G A S

A biosseguridade é um conjunto de normas que deve funcionar de forma integrada para prevenir a entrada de doenças na granja. Vamos responder às perguntas abaixo completando o diagrama para conferir as práticas de biosseguridade?

V R O D E V E R C A D E 2 10 C 1 Q U A R E N R I C F A O V R I M V O E A H N 9 A R C O D B 5

Ano VI - nº 37/2010

4 I S I T A S E I S O L A M E N T O A A N T E N A T I R P O A D S A S G A I R M O U E D E S I N F E C Ç Ã O 6

1. Local em que os animais devem ficar isolados antes de ingressarem na granja

2. Proteção ao redor da granja 3. Deve ser realizada para evitar a disseminação e propagação de agentes

4. É utilizada para prevenir a entrada de pragas

5. É obrigatório antes da entrada na granja. 6. Todos os materiais devem passar pelo processo antes de entrar na granja

7. É preenchido antes de entrar na propriedade

8. Evita a entrada de pessoas e/ou animais na granja

9. Todos os veículos devem passar para serem desinfetados

10. Indispensável utilização durante o trabalho Suínos & Cia

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Divirta-se

Encontre as palavras S M A I S I D A F T G S H N J T K R L O M Y M E X R O V R G

S S A F R S N F Q D W L G D R D T D F R S M Z F E S N M F R

D C D R T S J R G T I R T R R U E Y C U N I N O T D Q Ã G T

F D I O R Q I T V A S M X N L G F R B B N R X L Y F O E V Y

A F G H A Ã O C I Y T K R J E H O I C H L I T L R G W D C H

H G B X X L W Q A N H H B X J U K R Ã C M O J I B T F E Z N

J A B D C T B U K B J B N D B J B N S O W B G K B J E L D B

K H H S C E I W E B L N C A C H A Ç O E K V P F V K E E E T

L O Y Q R S G D J R L G Y W F L G Y W F L G B J S L R I A I

P J U C O D Y L G G P Y U S G P Y U S G P Y H I C O T T C R

Q S J I O D O F O H O T J Z H O T J Z H O T U H H O T E Q A

O F P P I W F O D J I F M X J I F M X J I F O O J I O B A E

W O I E Z R C I O M U C K A M U C K A M U C I T M U Y F L I

E Z W I U E X Y T N Y X I Q N Y X I Q N Y X E G N C O C I W

R D H R N F D L H K T D O W K T D O W K T D K R L G U D R A

O M E F X U S O M L R R L A L R R L A L R R L F L R E L A D

T L T Y P G G V I P E E P S P E E P S P E E E I P O I S D O

A B P F L O T I E O W S P D O W S P D O W S I D B G O I I C

Y N O E F Q O L Q I Q Z O E I Q Z O E I Q Z T E I S O A U H

R V I C B G A E N U Z A I R U Z A I R U Z A Õ R H Z T O T A

U J D F U X N L I D X Q L F J X Q L F J X X E T J M P L X T

C C K M T C W H U I U W K C K C W K C I E W S C R Q O K L O

S M C A D I F U C L U K E J H V A J X E L D W N X F R J K S

L X U T N A Z U E H B I F Z G B Z U Z G V U H I G B C U O G

O N N R D W X I A F L X Y K F N X N A D N A F H A R A E A F

R Z M I S R T H Q C M N M T F M S M H C R A D I C M B M C C

L O B Z D O W B C D K S H A T M R I E N W A Q O A T Z B W D

D R T T A Y I U A M H E H E X P L H E X O E H E X A D H E X

Teste seus conhecimentos (1) Amarrar, cortar e colocar Iodo no cordão umbilical (4) Orientar a primeira mamada (2) Secar o leitão (5) Observar a área de aquecimento e, se necessário, regular fonte de calor (6) Identificar os que mamaram colostro (3) Pressionar e estimular a teta, mostrando leite ao recémnascido (7) Treinar os leitões a dormirem na casinha ou no escamoteador

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O D Y D S O D Y D S V D Y D C T L F B O R F D H R O N Y D S

Jogo dos 7 erros K S O D S F L G O H D O R F Z K C T S Z K C T F Z K C E F Z

Cruzadox 7 L

I 3 8 C O N T R O L E D E P R A G A S

V R O D E V E R C A D E 2 10 C 1 Q U A R E N R I C F A O V R I M V O E A H N 9 A R C O D B 5

4 I S I T A S E I S O L A M E N T O A A N T E N A T I R P O A D S A S G A I R M O U E D E S I N F E C Ç Ã O 6

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