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Revista Técnica da Suinocultura

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SUÍNOS



Editorial

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volução, palavra que se faz presente no dia a dia da suinocultura. Sem dúvida, trata-se de uma atividade intensiva e dinâmica que evolui constantemente. Em todos os segmentos pode-se observar importante evolução, exigindo de técnicos, especialistas e produtores que se reinventem por meio do conhecimento e mantenham a mente aberta para entender que essa atividade encontra-se em constante evolução. Um exemplo é que pouco tempo atrás abordava-se a produção de suínos como fábrica de carne, que evoluiu para a atual indústria de alimentos. O principal objetivo é a produção de suínos, seguindo a produção de carne, que inclui o comprometimento de produzir sem prejudicar o meio ambiente e o respeito ao bem-estar animal. Nessa constante evolução também presenciamos o crescimento da suinocultura brasileira, passando a ocupar a quarta posição mundial devido à conquista de mercados internacionais e às bem-sucedidas campanhas realizadas para promover e incentivar o consumo interno, apoiadas pela indústria e associações de produtores de suínos de vários Estados. Contando com essa história de sucesso, seguem alguns questionamentos: para onde caminhará a evolução da produção de carne suína nos próximos anos? Quais as tecnologias decisivas e como adotá-las com viabilidade? Como será o padrão de instalações? Como funcionarão os fluxos de produção para promover saúde por meio da medicina preventiva, sem perder resultados? Quais os principais desafios a serem enfrentados para produzir carne saudável segundo as exigências de mercado, a preços competitivos com viabilidade econômica? Como as crescentes pressões do consumidor final por um alimento garantido que seja cada vez mais seguro, saudável e economicamente viável devem interferir na produção e sistema? Como a atividade pode enfrentar o desafio de alimentar 9 bilhões de pessoas no mundo até 2050? Estas, entre outras, são algumas das questões que nos levaram a organizar o 8o Suinter (Simpósio Internacional de Produção Suína), que acontecerá na maravilhosa cidade de Foz de Iguaçu, no Paraná, de 9 a 11 de junho de 2015, no Rafain Palace Hotel e Convention Center. O tema “Evolução: Produção em Foco” tem o objetivo de reunir os principais especialistas da suinocultura mundial e responder a estas, entre outras questões, que contribuem para o aperfeiçoamento do atual profissional envolvido em produção suína, oferecendo ferramentas facilmente aplicáveis, as quais permitirão participar de uma suinocultura atraente e competitiva, que possibilitará se preparar melhor para estas mudanças que vêm por aí. O Suinter, que acontece a cada dois anos, é uma extensão do conhecimento técnico voltado aos profissionais de produção suína. É também um complemento da revista técnica Suínos & Cia, que de forma mais frequente pré determina os possíveis temas a serem abordados em cada edição desse importante simpósio. Nesse início de ano, planeje e agende o momento para ter respostas aos constantes desafios vivenciados nos sistemas de produção suína por meio de palestras e debates, além de reencontrar e fazer novos amigos, conhecer pessoas, trocar informações e experiências, desfrutando da aconchegante e maravilhosa cidade de Foz de Iguaçu. Contamos com a sua presença. Participe. Enquanto aguarda o Suinter, aproveite as informações técnicas contidas nesta edição. Boa Leitura! As editoras


Índice

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Sanidade

A passagem pela maternidade e o risco de manter a integridade da mucosa uterina da matriz suína

14 Sanidade

Coccidiose suína

20 Bem-estar Animal

Manejo de bem-estar animal em reprodutores suínos - Parte I - Legislação

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Capa

Bem-estar Animal

Manejo de bem-estar animal em reprodutores suínos Parte I - Legislação

Revista Técnica da Suinocultura

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SUÍNOS

A Revista Suínos&Cia é destinada a médicos-veterinários, zootecnistas, produtores e demais profissionais que atuam na área de suinocultura. Contém artigos técnicocientíficos e editorias instrutivas, apresentados por especialistas do Brasil e do mundo.


26 Revisão Técnica

Nosso juramento na prática

38 Revisão Técnica

6º Simpósio Europeu de Manejo Sanitário Suíno

48 Sumários de Pesquisa 52 Recursos Humanos Culpado ou inocente?

54 Informe Publicitário

Halquinol: a importância do balanço correto de seus isômeros

56 Dicas de Manejo

Transporte de suínos no sistema de produção

62 Divirta-se

Encontre as palavras Teste seus conhecimentos Qual o seu diagnóstico?

Editora Técnica Maria Nazaré Lisboa CRMV-SP 03906 Consultoria Técnica Adriana Cássia Pereira CRMV - SP 18.577 Edison de Almeida CRMV - SP 3045 Mirela Caroline Zadra CRMV - SP 29.539

Ilustrações Roque de Ávila Júnior Departamento Comercial Mirela Caroline Zadra dtecnico@consuitec.com.br Jornalista Responsável Paulo Viarti MTB.: 26.493

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Impressão Gráfica Silva Marts

Assinaturas Anuais Brasil: R$ 160,00 Exterior: R$ 180,00 Mirela Caroline Zadra dtecnico@consuitec.com.br

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A reprodução parcial ou total de reportagens e artigos será permitida apenas com a autorização por escrito dos editores.


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A passagem pela maternidade e o risco de manter a integridade da mucosa uterina da matriz suína Paulo Roberto Souza da Silveira - Médico-veterinário Dsc. Consultor Independente, Concórdia- SC, Brasil Geraldo Alberton - Médico-veterinário DSc. Professor de Doenças de Suínos - UFPR psouzadasilveira@gmail.com

As alterações drásticas do aparelho reprodutivo da porca, ligadas à fisiologia do parto, tornam o parto um evento crítico no ciclo reprodutivo, com a abertura do colo uterino, alta carga de estresse físico, câmbios bruscos no aporte imunológico uterino, aumento na população bacteriana, danos no epitélio uterino, além de traumas físicos que tornam o útero vulnerável à ocorrência de infecções que afetam a saúde da porca e seus leitões. Por outro lado, como um fator de risco, existe uma estreita relação entre as infecções urinárias (cistite e pielonefrite) e os problemas reprodutivos que envolvem a saúde uterina, conforme relato de vários autores. Neste contexto, pode ser dito que a passagem pela maternidade caracteriza-se como um evento que acarreta riscos para a manutenção da saúde uterina na porca. Na fêmea suína moderna, a expressão “preservar a saúde uterina” define, principalmente, o manejo para prevenir e/ou tratar as endometrites e cistites, que costumam se manifestar pelo aparecimento dos corrimentos vulvares.

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As descargas vulvares anormais, que costumam ocorrer em certo número de fêmeas do plantel, indicam a presença de infecções bacterianas no trato geniturinário e são um dos sinais mais evidentes das perturbações da saúde uterina. Por outro lado, as implicações para a saúde do útero, após casos de abortos e retornos de cobertura, também sinalizam para uma possível situação de subfertilidade, caracterizando esses animais como fêmeas de risco para a o bom desempenho reprodutivo do rebanho. Este artigo tem como objetivo apresentar uma breve revisão das informações relativas às patologias e incidências específicas capazes de provocar danos e sequelas à integridade da mucosa uterina (endométrio), como a ocorrência de descargas vulvares em porcas com endometrites e cistites, e também enumerar um conjunto de práticas específicas e inespecíficas capazes de prevenir e promover a sua integridade. Padrão cíclico hormonal e resposta imune secretória aos patógenos no trato reprodutivo A microflora cervical-vaginal varia continuamente devido a mecanismos intrínsecos do trato reprodutivo de porcas, tais como o padrão cíclico hormonal, a secreção de imunoglobulinas e muco e a atividade fagocitária dos granulócitos [4]. Portanto, na fêmea suína, a resposta imune secretória aos patógenos é influenciada pela ciclicidade do ovário. Em ocasiões do ciclo em que estão altos os níveis de estrógeno, ocorre aumento da migração de leucócitos no útero e aumenta o fluxo sanguíneo uterino e a permeabilidade vascular. Estudos em bovinos demonstraram a elevação de imunoglobulinas durante a fase folicular do ciclo e também evidenciaram o bloqueio dos sítios de ligação de bactéria, a aglutinação de bactérias e a opsonisação de bactérias para a subsequente fagocitose [28].

O parto pode ser caracterizado como um evento que acarreta riscos de manter a saúde uterina da fêmea suína Suínos&Cia | nº 53/2015

Nem sempre a presença de bactérias no útero resulta em endometrite, com exceção dos casos de infecções maciças; as bactérias que


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entram no útero por ocasião da monta ou do parto são eliminadas em poucos dias [15]. Segundo estudiosos [5], a acumulação fecal na gaiola, atrás das porcas, é um importante fator na patogênese das infecções ascendentes no útero. Nos rebanhos que realizam múltiplas inseminações durante o período de estro, nos casos de pouca acurácia ou falhas na detecção do estro, as porcas podem ser inseminadas após o período de imobilidade frente ao cachaço (metaestro). Esses animais são mais susceptíveis à infecção uterina. Devido à finalização do estro, as concentrações plasmáticas de estrógeno já se encontram baixas enquanto as de progesterona plasmática já cresceram a 10 ng/ml [10]. Infecções experimentais demonstraram que ocorreu descarga vulvar apenas nas porcas em que o nível sanguíneo de progesterona excedeu 3,0 ng/ml [29]. Aspectos epidemiológicos e fatores de risco As descargas vulvares patológicas podem ser observadas com frequência em fêmeas durante o primeiro ou segundo estro depois do desmame, após a parição e em nuliparas cíclicas, mas são raras nas nuliparas imaturas, fêmeas gestantes e lactantes [15]. O percentual de descargas vulvares que ocorrem em uma granja depende do tipo de instalação, da higiene e do manejo adotados, da aplicação de medidas específicas preventivas e do grau com que são monitoradas essas ocorrências. Uma taxa de descargas vulvares de 2% e 3% é considerada aceitável. Quando as instalações são utilizadas de modo contínuo, sem vazio sanitário nem adequada limpeza e desinfecção, o tecido vulvovestibular das porcas apresenta-se sujo e altamente contaminado [22]. A escassa higiene nas instalações dos cachaços também aumenta o risco de infecção. Medidas rigorosas de higiene também são necessárias durante a intervenção no parto e nos procedimentos para inseminação artificial [15]. Segundo autores [1], os principais fatores predisponentes para as endometrites são infecção urinária concomitante, inseminação artificial no metaestro e auxílio ao parto com toque. Um estudo local [9] sugeriu que porcas com problemas urinários à entrada da maternidade apresentaram oito vezes mais risco de ocorrência de problemas com doenças do periparto. Esta correlação também foi demonstrada num estudo onde porcas afetadas por urocistite apresentaram 3,5 vezes mais probabilidade de ter simultaneamente endometrite [7]. Outros fatores associados às infecções uterinas e urinárias incluem lesões e doenças do aparelho locomotor, idade média do plantel, consumo individual de água, tipo de piso e estado nutricional [26].

Há estreita relação entre as infecções urinárias e os problemas reprodutivos, tais como descargas vulvares, síndrome de hipogalaxia, falhas de concepção e redução do tamanho da leitegada Intervenção manual durante o parto como importante fator de risco - uma pesquisa relatou um percentual de 20,6% de fêmeas submetidas à intervenção manual num estudo envolvendo 4.121 porcas [20]. De acordo com o autor, se forem considerados os relatos da literatura situando em 3%, a ocorrência de distocia em suínos [23] e os percentuais de intervenção ao parto não deveriam ser tão elevados quanto os observados em estudos efetuados em granjas brasileiras, o que sugere que muitas das palpações genitais podem estar sendo efetuadas de forma indiscriminada. Em geral, é preconizado que a taxa de intervenção manual no parto deva ficar em torno de 10% para que sejam evitadas intervenções desnecessárias. Por ser um método invasivo para o ambiente uterino, pode ocorrer a introdução de agentes patogênicos, com o consequente comprometimento do útero para a gestação seguinte. Em um estudo em que 400 fêmeas suínas foram submetidas à palpação vaginal durante o parto, sem luvas e sem prévia desinfecção e lubrificação, ocorreu uma incidência de 34,7% de descarga vulvar patológica, cursando com febre [21]. Foi sugerido que a intervenção manual retarda o processo de parição, introduz microrganismos infecciosos, principalmente de origem fecal, normalmente habitantes da parte anterior da vagina, e provoca trauma, fatores os quais provavelmente resultem em descargas patológicas pós-puerperais [6].

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A parição como momento crítico para a saúde uterina - No período pré e pós-parto há um aumento do número de microrganismos apatogênicos e patogênicos facultativos na porção caudal da vagina. Durante o parto ocorre contaminação da vagina em praticamente todas as porcas, também acontecendo a contaminação da cérvix e do útero numa grande maioria. Segundo autores [4], a mais alta taxa de isolamento de microrganismos foi obtida no dia da parição; e a mais baixa, três semanas após a cobertura. nº 53/2015 | Suínos&Cia


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estudados já utilizarem com certo rigor medidas preventivas (detecção de cistite e corrimentos) e praticarem os respectivos tratamentos explicam porque os demais critérios incluídos no estudo, como corrimentos na maternidade após a parição precedente ou infecções urinárias e febre após a parição precedente, não puderam ser identificados claramente como fatores de risco. A deficência de selênio também foi relacionada com a saúde uterina das porcas [17]. Esta deficiência de selênio é normalmente acompanhada por redução de fertilidade, aumento no número de natimortos, produção de leite de menor qualidade, alta incidência de metrite-mastite-agalactia (MMA) e maior perda de porcas no rebanho. Observar atentamente os corrimentos pela manhã e tarde, durante 48h, afastando os lábios vulvares De acordo com este autor, embora não ocorresse diferença significativa entre porcas de diferentes ordens de parição, houve uma tendência para as porcas mais velhas apresentarem mais amostras positivas após a parição. Essas infecções costumam ser superadas e eliminadas 2 ou 3 dias após a parição. Quando, porém, patógenos facultativos sobrepõem-se à flora local apatogênica, estabelece-se uma infecção persistente. As cistites, frequentemente, são precursoras das endometrites e falhas de prenhez [22]. Existem vários relatos na literatura referentes à estreita relação entre as infecções urinárias e os problemas reprodutivos, tais como descargas vulvares, síndrome de hipogalaxia, falhas de concepção e redução do tamanho da leitegada [27; 18; 7; 9]. Uma pesquisa observacional, enfocando fatores de risco para a ocorrência de leitegadas muito pequenas (≤ 8 leitões nascidos totais), observou 1.214 porcas desde a cobertura até a parição subsequente. Neste estudo [13], entre os sete rebanhos investigados, os extremos de ocorrência de pequenas leitegadas variaram de 5% a 16%. Para o autor, um padrão de ocorrência aceitável, na prática, seria de 5% a 7%. Vários critérios, na maioria relacionada à saúde uterina, foram selecionados e estudados como possíveis fatores de risco para o aparecimento de pequenas leitegadas na pesquisa observacional. Os fatores de risco estatisticamente significativos foram: 1) a intervenção manual durante o parto; 2) o intervalo desmame-estro prolongado; 3) pequena leitegada na parição precedente e 4) ocorrência de corrimentos à inseminação. Observa-se que o primeiro e o quarto desses fatores têm ligação direta com a saúde uterina. Também foi sugerido que as pequenas leitegadas na parição precedente sempre correm o risco de se repetir nos casos em que estiverem associadas com lesões irreversíveis da mucosa uterina. De acordo com o mesmo autor, o fato de os rebanhos

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Principais agentes envolvidos Muitos tipos de bactérias foram isolados de úteros infectados, entretanto, tem sido impossível a associação de um agente patogênico específico com todas as descargas vulvares. As endometrites não específicas são resultantes da infecção por bactérias não consideradas como patógenos específicos do trato reprodutivo. As várias espécies bacterianas que foram isoladas de úteros infectados incluem Escherichia coli, Streptococcus sp, Staphylococcus sp, Arcanobacterium pyogenis, Proteus, Klebsiella e vários outros [2]. Um estudo brasileiro analisou 53 amostras de descargas vulvares de 20 rebanhos suínos comerciais e registrou uma ocorrência de 44,4% de contaminação por Staphylococcus aureus, 44,4% por E. coli, 34,6% por Staphylococcus α hemolítico, 7,5% por Proteus sp, 3,8% por Enterococcus faecalis e 3,8% por Klebisiela. Os autores sugeriram que bactérias ambientais e outras presentes no trato urogenital (oportunistas) são as causas mais comuns desse tipo de infecção seguida de descarga vulvar. Em exames bacteriológicos, são isoladas bactérias do útero de porcas normais, mas segundo autores [8], apesar de o útero de animais sem problema apresentar contaminação, o útero dos animais com problema parece ser consideravelmente mais infectado. Se a E. coli ocorre na vagina ou na cérvix, isso conta em grande extensão também para a sua presença no útero. Isso se aplica em menor extensão para Corynebacterium sp. e outras bactérias. Saúde uterina e fertilidade subsequente Um artigo revisou as correlações entre problemas de saúde uterina e a eficiência reprodutiva subsequente da matriz suína no tocante aos seus efeitos sobre a taxa de concepção, taxa de partos e tamanho da leitegada [25]. As infecções do útero causam uma infertilidade transitória ou persistente, podem afetar a saúde geral das porcas e são mais comuns em fêmeas com maior ordem de parto e em primiparas [15].


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Porcas acometidas por doença puerperal acompanhada por descarga vulvar que persistiu por mais de seis dias, apesar de receberem tratamento, apresentaram um efeito adverso nas taxas de concepção (-3,5%) e de parição (- 9,2%) subsequentes, em todas as ordens de parto, independentemente do intervalo desmame-cio, quando comparadas com fêmeas com descarga de menor duração [27]. Também neste estudo ocorreu uma redução no tamanho da leitegada, mas apenas nas porcas primíparas. Os autores sugeriram que o útero menos maduro de fêmeas jovens talvez requeira mais tempo para se recuperar da infecção, em comparação com porcas mais velhas. Um estudo envolvendo 3.976 matrizes em dois rebanhos [12] observou que porcas sem doença puerperal na parição anterior tiveram menor frequência de falha de concepção (12,4% e 16,1%), comparado com porcas com doença puerperal (15,8% e 21,6%). Com relação ao tamanho da leitegada, as porcas que passaram por doença puerperal na parição anterior tiveram menos leitões nascidos vivos, em comparação com porcas saudáveis (-0,36 leitões). Um índice de leitões nascidos (associando taxa de concepção e nascidos vivos) apresentou uma diferença de +67 e +78 nascidos vivos em benefício das porcas saudáveis. A ordem de parto marcadamente influencia o nível de produção das porcas que possuem um histórico de doença puerperal e descarga vulvar [24]. No estudo observacional realizado na França [13], nos sete rebanhos investigados, os extremos de ocorrência de pequenas leitegadas acima de 7% e até 16% ilustram de maneira muito clara que do ponto de vista reprodutivo a passagem pela maternidade e os riscos relacionados com a parição traduzem-se em pontos críticos para a integridade e a saúde da mucosa uterina, a qual poderá não estar perfeita na próxima cobrição. As nulíparas, por não terem parido anteriormente, constituem um grupo de risco menor. Segundo estudiosos, a duração da descarga vulvar (> 6 dias), com volumes superiores a 50 ml/dia, significativamente reduziu as taxas de concepção e parição [27]. Essas porcas tiveram maior probabilidade de apresentarem infecção crônica persistente e condições uterinas desfavoráveis no momento do retorno ao estro e cobrição, dependendo da duração da lactação e da eficácia do tratamento, caso este tenha sido aplicado. Também ficou evidenciado que a descarga vulvar acima de seis dias é uma indicação da severidade da endometrite e dos seus efeitos associados de longo prazo. Estudos realizados no Brasil sobre fatores de risco associados ao desempenho reprodutivo de fêmeas suínas, conduzidos pela Embrapa Suínos e Aves [3], envolvendo dez rebanhos, procuraram explicar as variações de produtividade num universo de 271 porcas. Aqui também, entre as variáveis que melhor discriminaram essas matrizes quanto ao número total de leitões nascidos, encontravamse os antecedentes reprodutivos, as infecções urinárias e a temperatura retal no dia da cobrição e até quatro dias após, que coincidem em grande

parte com os fatores de risco antes comentados. Também foram encontradas outras variáveis como o tempo de cobrição, o método de cobrição e a soroconversão para parvovírus. Medidas para promoção e preservação da saúde uterina As medidas são baseadas, principalmente, em práticas de manejo que minimizem ou eliminem os fatores de risco anteriormente mencionados, visando a reduzir ao máximo a ocorrência de infecções uterinas e, por consequência, seus efeitos na taxa de concepção e parição e na ocorrência de pequenas leitegadas. O combate aos fatores predisponentes às descargas vulvares atribuídas, principalmente, às endometrites e vaginites, é similar em muitos aspectos ao combate das infecções urinárias, já que estas se constituem num grande fator de risco para infecções do útero. Por outro lado, todo o combate à umidade, contaminação do piso, lesões nos cascos, entre outros, controlam a contaminação ascendente, que pode ocorrer nas duas patologias da bexiga e do útero. A aplicação de prostaglandinas naturais 36 horas após o parto foi originalmente indicada como medida preventiva específica [11]. Mais recentemente também têm sido indicados os análogos de PGF2α 24h-48h após a parição. Esta terapia, além de auxiliar a limpeza uterina via contrações da sua musculatura lisa, também estimula a produção de prostaglandinas uterinas, aumentando as defesas imunitárias e ajudando na capacidade de resolução das possíveis infecções [14]. Segundo especialistas, o ideal é que as porcas identificadas com infecção do aparelho geniturinário sejam medicadas individualmente com antibióticos via parenteral e na escolha do antimicrobiano para uso parenteral, sempre levando em consideração o espectro de ação do produto, a forma como ele é

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A ordem de parto marcadamente influencia o nível de produção das porcas que possuem um histórico de doença puerperal e descarga vulvar nº 53/2015 | Suínos&Cia


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metabolizado e eliminado do organismo, o tempo de ação da molécula e o volume (dose) a ser aplicada no local [1].

Saúde uterina: cuidados e prevenção das descargas vulvares purulentas após o parto

Saúde uterina: critérios de manejo de ordem geral

yyHigiene durante o período de periparto, limpeza do piso e na parideira (2 a 3 vezes ao dia); yyEvitar manipulação obstétrica e, quando necessário, praticá-la com estritas medidas de higiene; yySupervisionar os corrimentos após o parto; - observar atentamente os corrimentos pela manhã e tarde durante 48h, afastando os lábios vulvares; - os corrimentos normais são translúcidos. Se apresentarem aspecto anormal (marrom, leitoso, amarelado), recorrer ao tratamento local ou injetável. yyPrevenir a constipação intestinal na maternidade pelo uso de fibra na ração ou laxantes antes do parto; yyFacilitar o esvaziamento uterino injetando PGF2α 36h após a parição; yyOutras medidas preventivas inespecíficas: indução de parto, vacinação das porcas contra a colibacilose e aplicação de antibiótico de longa ação no dia do parto; yyAlternativamente utilizar antibiótico oral dois dias pré e pós-parto; yyEvitar períodos de lactação inferiores a 21 dias.

yy A higiene na maternidade, entre outros fatores, é um dos que distinguem as granjas mais eficientes. Manter uma rigorosa limpeza nas instalações, com práticas diárias de remoção de sujeiras do piso das unidades de cobrição e gestação. É imprescindível que, no momento da entrada das porcas, as instalações e equipamentos da maternidade tenham sido corretamente lavados, desinfetados e passado por um período de vazio sanitário no mínimo de 72 horas. • É recomendado o uso de um sistema prático de identificação de cada subgrupo de fêmeas “de risco” para cobertura (ex.: fichas individuais com cores diferenciadas) que permita um monitoramento cuidadoso dessas fêmeas (atrasadas, retornos, abortos, partos distócicos). Também deve-se aperfeiçoar o manejo e a atenção ao parto às fêmeas que representam um risco para distocias e natimortos. Os principais fatores de risco para natimortos são leitegadas grandes e fêmeas velhas e com maior duração de parto. • Em cada granja, em conjunto com os funcionários que atuam na maternidade, deve-se elaborar um protocolo de auxílio ao parto para evitar erros grosseiros no acompanhamento dos partos e atendimento às fêmeas com partos distócicos e mesmo aos leitões recém-nascidos [16]. • Para fêmeas que abortaram, numa forma de aborto “limpo”, sem afetar o estado geral, recomenda-se saltar o próximo cio a fim de dar tempo para uma completa recuperação uterina.

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Prevenir os problemas urinários por meio de uma oferta individual de água de 15 a 20 litros/dia Suínos&Cia | nº 53/2015

Saúde uterina: luta contra as cistites O combate aos fatores predisponentes às descargas vulvares, atribuídas, principalmente, às endometrites e vaginites, confunde-se com o das infecções urinárias: yyA escolha da medicação via antibióticos na ração como método eletivo para o combate (prevenção/tratamento) das infecções urinárias no rebanho tem conduzido a inúmeras falhas que costumam ocorrer a campo. Elas vão desde a ausência de urianálise prévia do rebanho para avaliar a prevalência do problema (tratamento indiscriminado de todas as fêmeas), não haver escolha do antibiótico com base no perfil de sensibilidade antimicrobiana, existência de questões logísticas de fábrica de rações a falhas no cálculo da dose de antibiótico ao realizar a mistura [1]; yyPrevenir os problemas urinários por meio de uma oferta individual de água de 15/20 l/dia; yyMedição do fluxo de água (1,5 litros/minuto por meio do bebedouro); yyO uso periódico de acidificantes e de ácidos orgânicos na ração tem sido bastante recomendado. Atualmente existem questionamentos sobre sua eficácia pelo fato da redução do pH ser de menos de um ponto, e o pH ter se elevado logo após o fim do tratamento. Adicionalmente à redução da bacteriúria, não ocorreu em níveis suficientes para a cura da infecção [19];


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yyRaspagem diária (duas vezes) do piso e colocação de um pó secante, não irritante (80% de caulin e 20% hiperfosfato de Na); yySupervisionar os aprumos (tratar artrites e panarícios). Se necessário, utilizar terapias para aumentar a resistência dos cascos como soluções à base de formol ou sulfato de cobre ou formulações comerciais indicadas para esse fim. Quando as porcas estão na maternidade, tornase prática a aplicação destes produtos. Saúde uterina: tratamento das descargas após o parto yyAs porcas com descarga vulvar podem ser tratadas com antimicrobianos por via intrauterina, parenteral ou oral; yyAs drogas com potencial eficácia na terapia ou profilaxia das doenças urogenitais do suíno incluem o florfenicol, a amoxilina, cefalosporinas, sulfas + trimetropin, enroflaxina o oxitetraciclinas. Os testes de sensibilidade antimicrobiana após o isolamento de uma ou mais bactérias idealmente deve orientar a escolha do antibiótico. Dependendo do tempo de meia vida da droga utilizada, o tratamento deve ser repetido, no mínimo, por três dias; yyPraticar uma utilização prudente do antibiótico por meio de terapias individuais e somente quando necessárias. Além de produzirem melhores resultados, evitam a seleção de bactérias patogênicas e o desequilíbrio da microbiota normal do plantel (ALBERTON et al., 2011). Modelo de tratamento para doenças puerperais WALLER et al., 2002. yy Infusão intrauterina de antibiótico (no 1º dia); yy Injeção diária com antibiótico por 3 dias; yy Injeção de Ocitocina por 3 dias (2x ao dia - 10 UI); yy PGF2α (Cloprostenol - 175µg) no 1º dia de tratamento. Considerações finais Presentemente nos grandes plantéis de matrizes suínas, a qualidade sanitária do útero aparece como um fator de risco para um bom desempenho reprodutivo, exigindo medidas preventivas gerais ou específicas na rotina de manejo. Para cada matriz em produção, a fertilidade e a prolificidade começam a ser preparadas desde a parição anterior, por meio da monitoria das infecções urinárias na entrada para a maternidade e a supervisão acurada dos corrimentos duvidosos no periparto ou na cobertura, com a aplicação imediata do respectivo tratamento. Pequenas leitegadas e baixa taxa de concepção e retornos irregulares com descarga vulvar devem se constituir num critério para descarte de porcas.

Referências bibliográficas: 1. ALBERTON, G. C.; MAZUTTI, K.; DONIN, D. Atualização sobre cistites e corrimentos vulvares em matrizes suínas. In: Simpósio Internacional de Suinocultura, VI, 2011, Porto Alegre. Anais. Porto Alegre: SINSUI, 2011, p.207 – 216. 2. ALMOND, G.W.; FLOWERS, W.L.; BATISTA, L.; D’ALLAIRE, S. Diseases of the Reproductive System. In: In: STRAW, B; ZIMMERMAN, J; D’ALAIRE, S.; TAYLOR, D.J. (Eds). Diseases of swine, 9th. Ames: Iowa State University Press, 2006., p.113-147. 3. AMARAL, A. L.; MORÉS, N.; BARIONI JÚNIOR, W.; WENTZ, I.; BORTOLOZZO, F. P.; SOBESTIANSKY, J.; DALLA COSTA, O. A. 2000. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v. 52, n. 5 p. 479-486. 4. BARA, M. R.; McGOWAN, M.R.; O’BOYLE, D.; CAMERON, R.D. A study of the microbial flora of the anterior vagina of normal sows during different stages of the reproductive cycle. Aust. Vet. J. 70: 256-259 (1993). 5. BARA, M. R.; CAMERON, R. D. A. A sutdy of the incidence, characteristisation, effect on reproductive performance and predisposing factors associated with post-mating vulval discharges (PMD). In: INTERNATIONAL PIG VETERINARY SOCIETY CONGRESS, 13., 1994, Bangkok. Proceedings. Bangkok: IPVS, 1994. p. 399.

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9. BUZATO, A; SILVEIRA, P. R.; AMARAL, A. L. ; COLDEBELLA, A.; ZANELLA, E. Relação entre infecções urinárias e problemas do periparto em porcas. In: CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE SUINOCULTURA, 3., 2006, Foz de Iguaçu. Anais. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2006. p. 943-945. 10. DIAL, G. D.; BRIT, J.H. The clinical endocrinology of reproduction in the pig. In: Current Therapy in Theriogenology, 2nd edition, W.B. Saunders, Philadelphia: 905- 911, 1986. 11. GIL, J.; PALLÁS, R.T.; NOVAL, R.; Del POZO, M. Treatment of vaginal discharges in sows with PGF2α in postfarrowing period. In: INTERNATIONAL PIG VETERINARY SOCIETY CONGRESS, 11.,1990, Lausanne. Proceedings. Lausanne: IPVS, 1990.p.477. 12. HOY, S. Puerperal diseases in sows – Impact on performances and influence of different housing factors on frequency. In: IPVS Congress, 18, Hamburg, Proceedings, ,2004, v.2, p. 849. 13. LEBRET, A. 1999. Porc Magazine, n. 328. p. 76-79. 12

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17. MAHAN, D. (2006). O papel do selênio no desempenho reprodutivo de porcas. Disponível em: http://www.engormix. com >. Acesso em: 01jun. 2011.

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18. MARTINEAU, G.; SMITH, B.B.; DOIZÈ, B. Phatogenesis, prevention and treatment of lactational insuficiency in sows. Vet. Clin. North Am. Food Anim. Pract., v.8, n.3, p. 661-683, 1992.

29. WINTER, P. J. J. de; VERDONCK, M.; KRUIF, A. de; CORYN, M.; DELUYKER, H. A.; DEVRIESE, L. A.; HAESEBROUCK, F. The relationship between the blood progesterone concentration at early metoestrus and uterine infection in the sow. Animal Reproduction Science, v.41, n.1, p.51-59, 1996.

19. MAZUTTI, K. (2010) Infecção do trato urinário em porcas : abordagem diagnóstica e terapêutica. Dissertação. Suínos&Cia | nº 53/2015

Universidade Federal do Paraná. Curitiba, Brasil.



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Coccidiose suína Prof. Geraldo Camilo Alberton – Mestre e Doutor em Medicina Veterinária. Professor de Doenças dos Suínos e Patologia Geral da UFPR – Palotina – PR MV. Gladison Carioni – Coordenador Técnico de Suínos – Farmabase Saúde Animal

Introdução

A

coccidiose suína ou isosporose suína é uma das principais doenças que acometem os leitões na maternidade, sendo amplamente disseminada na suinocultura brasileira e mundial. Uma vez introduzida no rebanho, a coccidiose torna-se endêmica, caracterizando-se por diarreia pastosa que acomete os leitões de 5 a 15 dias de idade, causando redução acentuada no ganho de peso diário dos leitões. É uma doença autolimitante, sendo que os leitões tornam-se resistentes a esta enfermidade após a quarta semana de vida. Etiologia O agente causador da coccidiose é o Isospora suis, um protozoário da família Eimeriidae. Existem outras 13 espécies de Eimeria e uma espécie de Isospora identificadas nos suínos, mas o I. suis é o único coccídeo envolvido nos casos de diarreia em leitões5.

14

Os javalis são portadores de várias espécies de Eimeria e também do I. suis. Portanto, os suínos são reservatórios naturais destas protozoários1. O fato dos suínos domésticos serem criados em ambientes que permitem a disseminação entre leitões de diferentes idades faz com que a coccidiose ganhe caráter endêmico. O oocisto do I. suis apresenta dois esporocistos, cada qual com quatro esporozoítos. Já no gênero Eimeria, os oocistos apresentam quatro esporocistos, com dois esporozoítos cada5. O ciclo biológico do I. suis é semelhante ao dos outros membros da família Eimeriidae, e o conhecimento deste ciclo é importante para o diagnóstico, prevenção e tratamento da coccidiose. O ciclo é dividido em três fases: esporogonia, excistação e desenvolvimento endógeno. Ciclo de vida do Isospora suis Esporogonia: é o processo pelo qual os oocistos presentes no ambiente se desenvolvem em formas infectantes denominadas oocistos esporulados. A esporulação no meio ambiente pode ocorrer em 48 horas, com temperatura entre 24oC Suínos&Cia | nº 53/2015

a 27oC e umidade de 80% a 85%4. Em temperaturas mais elevadas, como a encontrada no escamoteador, a esporulação pode ocorrer em apenas 12h5. Excistação: quando os oocistos esporulados são ingeridos pelos leitões, a parede do oocisto é digerida, liberando os esporozoítos no lúmen intestinal, os quais penetram nas células que recobrem as vilosidades para iniciar a terceira fase do ciclo. Desenvolvimento endógeno: os esporocistos ativados pelas enzimas digestivas e sais biliares penetram nas células que recobrem as vilosidades do jejuno e íleo e iniciam o primeiro ciclo de multiplicação assexuada, que é denominada merogonia. Nela, são formados os merozoítos que penetram em novas células e começam um novo ciclo. A merogonia pode continuar por uma ou três gerações, até que eventualmente sejam liberadas as formas do estágio sexual, os macro e microgametas. A fertilização do macrogameta leva a formação dos oocistos, que são liberados nas fezes em torno de 5 dias pós-infecção5, podendo a excreção perdurar por 3 a 4 dias. Todo o ciclo de vida intraintestinal leva de 5 a 8 dias4. Epidemiologia No passado acreditava-se que as porcas eram a fonte de infecção para os leitões. Atualmente é sabido que as porcas raramente excretam oocistos de I. suis4, 9. Os leitões infectam-se ingerindo os oocistos presentes no piso das gaiolas de maternidade. Estes oocistos podem ser remanescentes das leitegadas anteriores ou carreados das outras salas de maternidade, por meio de insetos, roedores ou pelos funcionários. Esta contaminação é facilitada pela grande excreção de oocistos (1 mil a 40 mil oocistos/ grama de fezes)10 pelos animais doentes. Como na maioria das granjas os partos ocorrem em todas as semanas do ano e, tendo em vista que o período de vazio sanitário geralmente é muito pequeno, a possibilidade de contaminação entre leitegadas de diferentes idades é muito grande. Os oocistos são muito resistentes no ambiente, podendo sobreviver no solo por 15 meses em temperatura de 40oC a 45oC 4. Este fato justificaria a dificuldade de controle e erradicação da coccidiose


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Ilustração do ciclo de vida do escoes

nas granjas, mesmo com todas as melhorias que houve com relação à limpeza e desinfecção na suinocultura atual. Entretanto, segundo Langkjaer e Roepstorff (2008), a resistência do oocisto no ambiente não é tão grande como é esperado. Estes pesquisadores analisaram a viabilidade de oocistos de I. suis em condições laboratoriais controladas. Observou-se que em condições de baixa umidade relativa do ar (53% e 62%), combinada com alta temperatura (25oC e 30oC), os oocistos perdem a viabilidade em 24h. Mesmo em umidade alta (75%), os oocistos morrem em um prazo de 24h a 60h, em temperatura de 30oC a 20oC, respectivamente. Em condições de 100% de umidade e 25oC, a viabilidade cai de 100% para 17% em 96h. Com base nestes dados, especula-se que o ponto-chave da infecção dos leitões não seja o piso contaminado com a leitegada anterior, mas sim a contaminação com os oocistos eliminados pelos leitões mais velhos, pois nas granjas comerciais, os mesmos funcionários que manejam leitões com uma semana de vida, manejam os leitões mais velhos, podendo transmitir os oocistos pelas botas, mãos e roupas. Em condições naturais de granja, a contaminação dos leitões pode acontecer em qualquer momento na fase de maternidade, podendo ocorrer precocemente logo após o parto, ou próximo da desmama. Existe um aparente padrão cíclico de excreção dos oocistos, com 2 picos, o primeiro aos 12 dias e o segundo aos 20 dias após o nascimento. Isto demonstra que nem todos os leitões da leitegada infectam-se simultaneamente, de modo que os oocistos liberados no primeiro pico aumentam a pressão de infecção da gaiola de maternidade, infectando os leitões que ainda não estavam contaminados10.

Patogenia A ação patogênica do I. suis está relacionada ao rompimento das células que recobrem as vilosidades durante a fase intraintestinal do parasita. Com o rompimento das células, ocorre a renovação epitelial. Quando a intensidade da infecção e a morte celular superam a capacidade de renovação epitelial, ocorre atrofia de vilosidades e, consequentemente, redução na absorção intestinal, levando ao quadro de diarreia por má absorção. Como o leite ingerido pelos leitões é incompletamente digerido, as fezes possuem consistência

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A coccidiose torna-se endêmica, caracterizando-se por diarreia pastosa que acomete os leitões de 5 a 15 dias de idade, causando redução acentuada no ganho de peso diário dos leitões nº 53/2015 | Suínos&Cia


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pastosa e odor muito fétido, característico da doença. A gravidade da doença vai depender do dano nas vilosidades. Geralmente, a perda de líquido nas fezes não chega a causar desidratação severa, e é por isto que a taxa de mortalidade nesta doença é baixa. Entretanto, a queda na capacidade de absorção provoca redução marcante no ganho de peso diário dos leitões, podendo, inclusive, gerar animais refugos. Sinais clínicos São mais frequentemente observados em leitões de 5 a 15 dias de idade, tanto em leitegadas de primíparas quanto de multíparas. A gravidade do sinais depende muito da idade em que o leitão foi infectado. Deste modo, leitões que se infectam no primeiro dia de vida apresentam sinais clínicos mais graves do que leitões infectados com a mesma quantidade de oocisto no 4o dia de vida10. Os leitões afetados apresentam diarreia fétida, amarelada a acinzentada, cremosa a pastosa e raramente líquida7. A diarreia persiste por 10 a 15 dias e não responde a antibioticoterapia convencional. A região do períneo fica frequentemente impregnada de fezes; o pelo arrepiado; e os leitões tornam-se menos ativos e deprimidos, mas continuam se alimentando. 16

A diarreia cessa espontaneamente de 3 a 4 semanas, porém, o estado geral dos leitões nesta ocasião está bastante comprometido (leitões refugos). O tratamento dos animais afetados acelera a cura, mas devido à perda da capacidade absortiva no intestino, estes leitões apresentarão desenvolvimento mais lento na fase de maternidade.

Imunidade contra o Isospora suis As porcas não transferem imunidade contra este patógeno via colostro, diferentemente do que ocorre com outras enfermidades que cursam com a diarreia nas primeiras semana de vida, como a colibacilose e a rotavirose. Portanto, todos os leitões são susceptíveis à coccidiose na fase de maternidade. O processo pelo qual a imunidade se desenvolve está ligado aos mecanismos de imunidade inata e adaptativa12, os quais se tornam mais efetivos com o avanço da idade11. Deste modo, leitões que nunca foram infectados previamente tornam-se resistentes à coccidiose após a 4a semana de vida13. Não existe vacina comercial disponível para a coccidiose suína, mesmo porque o emprego dela não traria vantagens, pois a doença ocorre precocemente, de modo que a aplicação da vacina no leitão só iria trazer proteção em um momento em que o leitão naturalmente já se tornaria resistente à esta enfermidade. Da mesma forma, a aplicação de vacina na porca não resultaria em proteção aos leitões. Lesões Como a replicação do I. suis ocorre no intestino delgado, mais especificamente no jejuno e íleo, as lesões se restringem a estes segmentos, sendo que somente em casos de infecção maciça observam-se lesões no ceco. Macroscopicamente não se observam lesões no intestino, tanto na mucosa como na serosa. Microscopicamente observam-se atrofia de vilosidades, fusão e necrose do topo das vilosidades, hiperplasia de criptas e a presença das formas endógenas do I. suis nos enterócitos. Estas lesões permitem o diagnóstico definitivo da coccidiose, permitindo diferenciação com outras doenças que cursam com a diarreia na maternidade. Diagnóstico Como a coccidiose ocorre em uma faixa etária na qual outras enfermidades entéricas também são prevalentes, como a colibacilose neonatal e a coccidiose, torna-se muito importante fazer o diagnóstico diferencial entre estas doenças. Na tabela 1 estão elencados os principais parâmetros que devem ser observados nesta etapa do diagnóstico.

Leitões que nunca foram infectados previamente tornam-se resistentes à coccidiose após a 4a semana de vida Suínos&Cia | nº 53/2015

O exame histopatológico confirma a participação do patógeno no processo diarreico, pois é possível visualizar as formas endógenas do I. suis no citoplasma dos enterócitos. Para este exame, o ideal é selecionar 3 ou 4 leitões com sinais clínicos característicos da doença e que estejam pelo menos há uma semana com diarreia, pois as lesões serão mais evidentes. Após a eutanásia, devem ser colhidas porções de jejuno e íleo em formol a 10%.


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Tabela 1. Parâmetros para o diagnóstico diferencial entre as principais doenças que cursam com a diarreia na maternidade. Parâmetros

Colibacilose neonatal

Coccidiose

Rotavirose

0–7

5 - 15

5 - 35

Tipo de diarreia

Aquosa

Pastosa ou cremosa

Aquosa ou pastosa, com grumos

Vômito

Ausente

Ausente

Presente

Resposta à antibioticoterapia

Boa

Ausente

Ausente

Taxa de mortalidade

Alta

Baixa

Baixa à moderada

Primíparas

Todas

Primíparas

Idade dos leitões (dias)

Leitegadas mais afetadas

Para diagnosticar a presença de oocistos nas fezes, devem ser amostradas pelo menos 5 leitegadas com idade entre 8 e 20 dias, fazendo o pool de fezes de cada 2 a 3 leitões. Caso a primeira coleta resulte negativa, recomenda-se uma nova coleta com intervalo de uma semana, pois a chance de detecção aumenta à medida que aumenta a idade dos leitões7. É importante salientar que os suínos podem ser portadores de várias espécies de Eimeria e duas espécies de Isospora e que somente o I. suis é patogênico para os suínos. Portanto, deve-se certificar se o laboratório de diagnóstico consegue fazer a diferenciação dos oocistos ou faz apenas a contagem total. Embora os oocistos de Eimeriae de Isospora sejam diferentes em tamanho e estrutura, esta diferença é pequena e requer treinamento do avaliador. O método mais empregado para detectar a presença de oocistos nas fezes é a técnica de centrífugo-flutuação em solução saturada de sacarose ou em solução água-éter, sendo que esta última apresenta a vantagem em relação à primeira, pois o éter remove o excesso de gordura presente nas fezes, facilitando a contagem e a diferenciação dos oocistos. Controle e prevenção Em rebanhos livres de coccidiose, devem ser adotadas medidas de biossegurança para evitar que a doença ingresse no rebanho. Ainda não está claro qual é a forma de introdução, uma vez que animais adultos não são carreadores do I. suis, portanto, os animais de reposição não parecem ser os responsáveis pela infecção de rebanhos. A troca de calçados para ingressar na propriedade e o controle de moscas e ratos são medidas que podem minimizar as chances do ingresso da doença no rebanho.

O uso profilático de coccidicida em leitões na primeira semana de vida já é rotina na maioria das granjas de suínos, pois é a medida mais eficiente para evitar a doença e as perdas relacionadas. Dentre os produtos disponíveis para uso em suínos, o mais eficiente é o toltrazuril. Quando comparado com outras drogas disponíveis para coccidiose, como o diclazuril e as sulfonamidas, o toltrazuril demonstra efeito superior, impedindo a multiplicação das fases endógenas do I. suis e, consequentemente, reduzindo a pressão de infecção e a presença de diarreia 8. É importante ressaltar que a coccidiose pode se manifestar de forma subclínica, causando prejuízos no desenvolvimento dos leitões, sem a manifestação de diarreia. Neste caso, o uso profilático do toltrazuril é benéfico, conforme demonstrado por MAES et al. (2007). Neste estudo, foram escolhidos dez rebanhos comerciais sem sinais clínicos de coccidiose. Nestes rebanhos, algumas leitegadas foram medicadas com toltrazuril entre o 3o e 50 dias de vida, e outras permaneceram sem tratamento. Nas granjas onde os leitões não estavam excretando oocistos, o tratamento não afetou o desempenho dos leitões, mas nas granjas onde havia excreção, o tratamento incrementou o GPD em 25 gramas (tabela 2). Portanto, em rebanhos positivos para coccidiose, com ou sem sinais clínicos, recomenda-se fazer a aplicação preventiva de toltrazuril na dose de 20mg/kg via oral, entre o 3oe 4o dias de vida. O tratamento curativo também pode ser empregado, no entanto, apenas acelera a cura, mas não evita o prejuízo causado pela doença. A higiene e a limpeza das instalações tem papel fundamental no controle da coccidiose, mesmo quando se utiliza terapia profilática com toltrazuril2. Neste sentido, deve-se dar atenção especial aos leitões recém-nascidos, pois quanto

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Tabela 2. Benefício econômico do uso de toltrazuril em quatro granjas positivas para Isospora suis e que não apresentavam sinais clínicos. Parâmetro

Benefício econômico (reais*) por leitão tratado

Ganho de peso diário

+1,36

Custo de tratamento por leitão (uma dose de toltrazuril)

- 0,60

Custo de mão de obra

- 0,15

Retorno financeiro por leitão tratado com toltrazuril

+ 0,61

Fonte: Adaptado de Mae et al. (2007) * Convertidos do trabalho original no câmbio de 1euro= 3.033 reais nº 53/2015 | Suínos&Cia


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mais precoce for a infecção, mais grave serão os sinais clínicos. A granja deve respeitar o sistema “todos dentro – todos fora”, reduzindo, desta forma, a contaminação entre salas. Os utensílios, como vassoura e pás, devem ser exclusivos por sala. Outro aspecto extremamente importante é a disseminação entre salas pelos funcionários da granja, pois os oocistos podem ser carreados nas mãos e nas botas. Deste modo, deve ser implantado um rigoroso programa de limpeza de mãos e troca de botas na entrada das salas, principalmente nas salas de parto e na de leitões com uma semana de vida. Também deve ser evitada a transferência de leitões mais velhos para as salas com leitões de menor idade. Após o desmame e a saída dos animais, as fezes devem ser removidas mecanicamente e, após isto, a lavagem deve ser realizada com bombas de alta pressão, pois o jato forte de água ajuda Referências bibliográficas 1. GREINER, E. C.;TAYLOR, C. R. D.; FRANKENBERGER, W. B.; BELDEN, R. C. Coccidia of feral swine from Florida. J Am Vet Med Assoc. Dec 1;181(11), p. 1275-1277, 1982. 2. KREINER, T.; WORLICZEK, H. L.; TICHY, A., JOACHIM, A. Influence of toltrazuril treatment on parasitological parameters and health performance of piglets in the field – An Austrian experience. Veterinary Parasitology, v. 183, p. 14–20, 2011.

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na remoção mecânica das fezes. Durante a lavagem deve ser empregado detergente para auxiliar na remoção da gordura, facilitando a remoção dos oocistos do piso. Depois de limpa e desinfetada, o vazio sanitário, com a sala seca, ajuda na dessecação e morte dos oocistos. Portanto, a sala deve permanecer com as cortinas abertas para que a secagem seja completa e mais eficiente na destruição dos oocistos. Considerações finais Dada a importância da coccidiose no que diz respeito à perda de ganho de peso diário na maternidade e sua grande prevalência nos rebanhos comerciais, torna-se fundamental o diagnóstico e a prevenção dela. Vale destacar que uma vez presente no rebanho, esta enfermidade sempre causará prejuízo, mesmo que os sinais clínicos não sejam evidentes. 8. MUNDT, H. C.; MUNDT-WÜSTENBERG, S.; DAUGSCHIES, A.; JOACHIM, A. Efficacy of various anticoccidials against experimental porcine neonatal isosporosis Parasitology Research, v.100, p. 401–411, 2007. 9. SARTOR, A. A.; BELLATO, V.; SOUZA, A. P.; CANTELLI, C. R.; Prevalência das espécies de Eimeria Schneider, 1875 e Isospora Schneider, 1881 (Apicomplexa: Eimeriidae) parasitas de suínos do município de Videira, SC, Brasil. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.6, n.1, p. 38-43, 2007. 10. SOTIRAKI, S.; ROEPSTORFF, A.; NIELSEN, J. P.; MADDOX-HYTTEL, C.; ENØE, C.; BOES, J.; MURRELL, K. D.; THAMSBORG, S. M. Population dynamics and intralitter transmission patterns of Isospora suis in suckling piglets under on-farm conditions. Parasitology, v. 135, p. 395–405. 2008. 11. STUART, B. P.;SISK,D. B.;BEDELL,D. M.; GOSSER,H.S. Demonstration of immunity against Isospora suis in swine. Veterinary Parasitology, v. 9, p.185-191, 1982.

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on the Cellular Immune Response against Isospora suis. Parasitology Research, v. 105, p. S151–S155, 2009.

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13. WORLICZEK,H. L.; MUNDT, H. C.; RUTTKOWSKI, B.; JOACHIM, A. Age, not Infection dose, determines the outcome of Isospora suis infections in suckling piglets. Parasitology Research, v. 105, p. S157–S162, 2009.


Bem-estar Animal

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nº 53/2015 | Suínos&Cia


Bem-estar Animal

Manejo de bem-estar animal em reprodutores suínos Parte I - Legislação Carlos Piñeiro - Médico-veterinário - Consultor Diretor PigCHAMP Pro Europa SL pigchamp@pigchamp-pro.com

Introdução Na Europa, o termo “bem-estar animal” não veio de pesquisadores para expressar um conceito científico. Ao invés disso, originou-se na sociedade para explicar e aplicar as preocupações éticas sobre o tratamento dado aos animais de produção. Este tipo de consciência social começou a se manifestar na década de 80 e cresceu de forma exponencial no início do século XXI. Ao longo dos últimos dez anos, na Europa, a compra de cosméticos não testados em animais aumentou 70%, e o consumo de produtos de origem animal orgânicos aumentou mais de 30%, desde 2007. Apesar da crise econômica que afeta o continente, o consumidor opta cada vez mais por produtos que respeitam o bem-estar dos animais, produtos que não têm um preço mais elevado, como se pensava que teriam inicialmente. Pesquisas sociais indicam que cerca de 90% da sociedade europeia reconhecem a obrigação de proteger os animais de produção. Desde o início deste movimento social muitas organizações têm definido quais seriam os

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fundamentos básicos para considerar que um animal esteja em estado de bem-estar. No entanto, o princípio mais adotado é o estipulado pelo Conselho de Bem-estar dos Animais de Produção (FAWC, na sigla em inglês), um órgão consultivo do governo britânico para questões relacionadas ao bem-estar dos animais, o qual propôs que o referido bem-estar estaria garantido quando fossem cumpridas cinco condições, os chamados “Direitos dos Animais”: • Nutrição adequada • Sanidade adequada • Ausência de incômodo físico e térmico • Ausência de medo, dor e estresse • Capacidade de mostrar a maioria das condutas próprias da espécie

De acordo com alguns estudos, 20% a 100% de fêmeas alojadas em gaiolas individuais desenvolvem estereótipos Suínos&Cia | nº 53/2015

As gaiolas de gestação permitem uma nutrição individualizada, facilitam o acompanhamento dos animais e evitam brigas. No entanto, também apresentam uma série de questões importantes relacionadas com o bem-estar animal. O problema relacionado ao bem-estar que tem recebido mais atenção, na suinocultura, são os esteriótipos. Estereótipos referem-se a qualquer sequência de movimentos repetitivos, invariáveis e sem função aparente. De acordo com alguns estudos, 20% a 100% das fêmeas alojadas em gaiolas individuais desenvolvem estereótipos e gastam entre 10% a 50% do seu tempo com estereótipos. Se dedicando a este comportamento principalmente depois de comer, e a incidência de estereótipos


Bem-estar Animal

* I.A. = inseminação artificial aumenta proporcionalmente com o número de partos. Estereótipos indicam dificuldade de adaptação ao meio ambiente e representam um custo adicional de energia, o que pode piorar a condição corporal das reprodutoras. Além de estereótipos, o alojamento em gaiolas pode levar ao desenvolvimento de apatia, estresse social (impossibilidade de resolver as interações com os animais vizinhos), claudicação e úlceras de decúbito, causados pela restrição do espaço. Na Europa, a maioria das instalações de suínos, as porcas eram alojadas em gaiolas individuais ao longo da gestação. A partir de 1º janeiro de 2013, em cumprimento ao Real Decreto 1135/2002, esta situação mudou, e as porcas passaram a ser alojadas soltas, em grupos. Com esta nova legislação pretende-se prevenir ou reduzir esses problemas aqui descritos.

No entanto, o alojamento em grupo também pode trazer outras situações relacionadas ao bem-estar. Supervisionar os animais em grupo é mais trabalhoso, o que complica a detecção de problemas nutricionais, comportamentais e presença de sinais clínicos que indicam doenças. As mudanças que envolvem acomodar porcas e marrãs em grupos são um grande desafio para a suinocultura como um todo, tanto para os proprietários das instalações, que deverão ser adaptadas a estas exigências, como para os trabalhadores locais e técnicos. O manejo muda radicalmente, passando de cuidados individualizados com as reprodutoras para a criação delas dentro de uma comunidade. Trata-se de uma mudança importante, considerando-se que do ponto de vista do comportamento animal a espécie suína tem um forte caráter hierárquico.

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Qual a diferença, nos termos da legislação, entre uma porca e uma marrã?

Marrã: fêmea suína entre a fase de puberdade ao final da primeira gestação.

Primipara: fêmea suína depois do primeiro parto até o final da segunda gestação.

Porca pós-desmame e porca gestante: matriz suína entre o período depois da desmama até o inicio do parto.

Porca em Lactação: fêmea que se encontra no inicio do parto e segue até o desmame de seus leitões.

Cachaço: reprodutor suíno destinado a reprodução depois da puberdade. nº 53/2015 | Suínos&Cia


Bem-estar Animal

Nesta série de artigos vamos analisar as bases da legislação europeia de proteção aos animais, as quais contemplam diferentes opções para o manejo de porcas em grupos. O suinocultor deve ser apoiado por técnicos, veterinários e engenheiros na decisão do modelo mais adequado a ser adotado em sua granja. Legislação Na Europa, a legislação do bem-estar animal está definida pelo Real Decreto 1135/2002, o qual determina que as porcas gestantes sejam mantidas soltas, em grupos: “as porcas e marrãs serão mantidas em grupos durante o período compreendido entre as quatro semanas seguintes à cobertura/inseminação e os sete dias anteriores à data prevista do parto”.

b) A superfície total de piso livre que deverá estar disponível para cada porca após a cobertura/ inseminação, nesse sistema de criação em grupo, será de pelo menos 2,25 m2(1,64 m2 para cada marrã). • Quando os referidos animais forem criados em grupos inferiores a seis indivíduos, a superfície do piso livre será incrementada em 10% • Quando os referidos animais forem criados em grupos de 40 indivíduos ou mais, a superfície do piso livre poderá diminuir 10% PORCAS

Primíparas

Multíparas

Grupos < de 6 porcas

1,80

2,48 (+10%)

Grupos de 6 a 40 porcas

1,64

2,25

Grupos > de 40 porcas

1,48

2,05 (-10%)

CACHAÇOS

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I. CONDIÇÕES DE CRIAÇÃO a) As baias para as porcas soltas em gestação devem ter uma parte do piso contínuo e compacto, do qual no máximo 15% será reservado para as aberturas de drenagem; o restante do piso deverá ser ripado.

c) As laterais do recinto onde o grupo será mantido medirão mais de 2,8 metros; se o grupo for menor do que 6 indivíduos, medirão mais de 2,4 metros. Esse critério não será aplicado em granjas com menos de 10 porcas.

Piso contínuo compacto - Porcas gestantes: 1,3 m2 - Marrãs: 0,95 m2

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Piso ripado - Aberturas (largura máxima): 20 mm - Vigas (largura mínima): 80 mm

d) As porcas e as marrãs mantidas em grupos serão alimentadas por meio de um sistema que garanta uma ingestão individual suficiente de ração, mesmo na presença de outros animais competindo pelo alimento.

Sistema semibox Suínos&Cia | nº 53/2015


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e) Porcas e marrãs deverão dispor de acesso permanente a materiais manipuláveis.

Gaiolas de livre acesso

II. FORMAÇÃO DE PESSOAL

Comedouro eletrônico

Toda pessoa que empregue ou contrate pessoal encarregado para cuidar de suínos, deverá assegurar-se de que todos tenham sido instruídos ou assessorado a respeito de bem-estar animal.

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Sistema de alimentação eletrônico III. CONSIDERAÇÕES GERAIS 1. Nos setores da granja onde estiverem suínos alojados deverão ser evitados ruídos contínuos em níveis superiores a 85 dBe, assim como ruídos duradouros ou repentinos.

Alimentação no piso

2. Os suínos deverão ser expostos à iluminação com intensidade mínima de 40 lux durante um período mínimo de oito horas por dia. 3. Os locais de estabulação deverão ser construídos de forma que os suínos possam: a) ter acesso a uma área de repouso confortável, dos pontos de vista físico e térmico, adequadamente drenada e limpa, que permita que todos os animais deitem-se ao mesmo tempo b) descansarem e levantarem-se normalmente

Sistema de caída lenta

c) enxergarem-se uns aos outros; exceção na semana prevista ao parto e durante o mesmo, quando porcas e marrãs poderão ser mantidas nº 53/2015 | Suínos&Cia


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fora do alcance visual de outros animais de sua espécie. 4. Os suínos deverão ter acesso permanente a uma quantidade suficiente de materiais que permitam atividades adequadas de investigação e manipulação, tais como palha, feno, maravalha, serragem, etc, desde que os mesmos não comprometam a saúde dos animais. 5. Os pisos deverão ser lisos, porém não escorregadios, para evitar que os animais se machuquem, devendo ser desenhados e construídos de modo a não causar danos ou sofrimento aos suínos confinados. Deverão ser adequados ao tamanho e ao peso dos animais e, se não puderem ser cobertos com palha ou material equivalente, deverão formar uma superfície rígida, plana e estável. 6. Todos os suínos deverão ser alimentados pelo menos uma vez por dia. Quando forem alimentados em grupo e não à vontade, ou por meio de um sistema automático de alimentação individual, cada suíno deverá ter acesso ao alimento ao mesmo tempo que os demais animais do grupo. 7. Todos os suínos com mais de duas semanas de idade terão acesso permanente a uma quantidade suficiente de água fresca.

Cachaço na área de gestação

Disponibilizar material adequado para a confecção do ninho

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Momento do parto PORCAS E MARRÃS Gestação com iluminação e acesso à material manipulável IV. CONSIDERAÇÕES ESPECÍFICAS PARA CACHAÇOS, PORCAS E MARRÃS CACHAÇOS As baias dos cachaços devem ser localizadas e construídas de forma que eles possam circular livremente, ouvir, cheirar e ver os demais reprodutores. • a área de piso livre de obstáculos à disposição de um cachaço adulto deverá ser no mínimo de 6 m2; • quando os recintos também forem utilizados para coberturas, a área de piso à disposição de um macho adulto deverá ser, no mínimo, de 10 m2, e o local deverá estar livre de qualquer obstáculo. Suínos&Cia | nº 53/2015

1. Deverão ser adotadas medidas para minimizar as agressões nos grupos. 2. Caso necessário, as porcas gestantes e/ ou as marrãs deverão ser desparasitadas interna e externamente. No caso de acomodação em gaiolas parideiras, as gestantes (porcas e/ou marrãs) deverão estar limpas. 3. Na semana anterior ao momento previsto do parto, as porcas deverão disponibilizar material adequado para a confecção de ninho em quantidade suficiente, exceto quando for tecnicamente inviável devido ao sistema de coleta de dejetos líquidos utilizados no estabelecimento. 4. Atrás das porcas no momento do parto deverá haver um espaço livre para permitir conforto aos leitões e melhor assistência ao parto. 5. As gaiolas parideiras, nas quais as fêmeas possam se mover livremente, deverão contar com dispositivos de proteção aos leitões, como barras.


Sanidade

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nº 53/2015 | Suínos&Cia


Revisão Técnica

Nosso juramento na prática Resumo da 45ª reunião anual da Associação Norte-americana de Veterinários Especialistas em Suínos (AASV) Antonio Palomo Yagüe Diretor da Divisão de Suinocultura SETNA NUTRICION – INZO antoniopalomo@setna.com

Resumo Nesta edição, Dr. Antonio Palomo Yagüe faz um resumo dos principais temas apresentados durante a reunião anual da Associação Norteamericana de Veterinários Especialistas em Suínos, realizada em março, em Dallas, no Texas (EUA). Para facilitar o entendimento e a leitura os temas foram organizados por itens os quais apresentam conceitos que podem ser aplicados na pratica do dia a dia da suinocultura. Esses temas forma distribuídos da seguinte forma: 26

●● Geral ●● Diarreia Epidêmica Suína por Coronavirus ●● Vírus da Síndrome Reprodutiva e Respiratória Suína (PRRS) ●● Circovírus Suíno do tipo 2 (PCV-2) ●● Vírus da Influenza Suína ●● Mycoplasma spp ●● Haemophilus parasuis ●● Actinobacillus pleuropneumoniae ●● Rotavírus ●● Salmonella spp ●● Lawsonia intracellularis ●● Brachispira spp ●● Reprodução

usar nossos conhecimentos científicos em benefício da sociedade, assim como proteger a saúde animal, prevenir patologias, favorecer o bem-estar animal, preservar os recursos naturais de origem animal e promover a saúde pública e o avanço do conhecimento médico. Como veterinários especialistas em suínos devemos servir também à atividade no sentido de prover a população mundial (que vem crescendo e deve chegar aos 9 bilhões em 2050) com proteína de origem animal, preservando os benefícios sociais obtidos em nossa comunidade, Estado ou nação. A grande maioria das mudanças devidas à suinocultura é positiva, tanto no que diz respeito ao aumento da produtividade como no caso do bemestar animal e do trato humanitário, protegendo a saúde dos suínos e prevenindo as zoonoses. Outro papel importante que desenvolvemos, hoje, é a formação da mão de obra para as granjas, proprietários e empresários do setor. O uso responsável de drogas também é essencial, tanto para a saúde pública como para a animal, sendo a pedra angular da nossa profissão. A transparência no conhecimento das medicinas humana e animal e a complementação constante de conhecimentos por meio da educação continuada são essenciais, reafirmando a importância do aprendizado profissional constante. Diarreia epidêmica suína por coronavírus (vírus RNA) www.aavs.org/pedv e www.pork.org/PED

●● Nutrição ●● Manejo

Geral OLSEN, D.  Todos nós servimos aos nossos clientes e temos a responsabilidade, como veterinários, de fazer o melhor para os suínos. Devemos Suínos&Cia | nº 53/2015

Trata-se de um vírus RNA de cadeia simples, da família Alphacoronavirus, com um diâmetro médio de 95 nm a 150 nm, envelope pleomórfico, muito semelhante ao de outras espécies animais e com a estrutura e replicação do genoma humano. É um vírus altamente infeccioso (a apenas 103) e composto por sete ORFs que codificam quatro proteínas estruturais (S, E, M e N). A sua virulência em isolados de diferentes países e continentes


Revisão Técnica

durante os 30 anos em que os sintomas clínicos foram observados foi semelhante, com uma dispersão genética mínima. Um só sorotipo é conhecido, não havendo nenhuma implicação com a saúde humana. A referida doença não é considerada de notificação obrigatória junto à OIE. Os primeiros casos na Europa foram observados no início dos anos 70 em suínos de engorda (Inglaterra, 1971), passando a se identificar – mais tarde (a partir de 1977) – diarreias em todas as fases da produção, incluindo reprodutoras, leitões lactentes e desmamados. Foi o professor Pensaert, na Bélgica, que propôs o nome à doença no final dos anos 70, quando o vírus se propagou de forma epidêmica por toda a Europa, causando diarreia grave em leitões lactentes e recorrentes em leitões desmamados e suínos de engorda. Ocorreram novos surtos epidêmicos de importância econômica na Europa e na Ásia nos anos 80, 90 e de 2000 até 2009 (Itália, Coreia, Tailândia). A partir daí não foram relatados novos casos, e a referida diarreia epidêmica passou a ser irrelevante. Nos EUA os primeiros quadros apareceram em maio de 2013, estando presentes atualmente em mais de 25 Estados (mais de 2.000 casos clínicos), havendo uma homologia de 96,3% a 99,5% com cepas isoladas na China entre 2010 e 2012 (província de Anhui). Também foram relatados os primeiros casos no Canadá. Este vírus difere, tanto do ponto de vista genético como antigênico, do coronavírus e do vírus da gastrenterite transmissível (TGE). Esse vírus é muito estável no meio ambiente: • 14 a 28 dias em fezes e dejetos, na temperatura ambiente • 28 dias na ração molhada, na temperatura ambiente • 14 dias na ração seca • a umidade relativa não afeta a sua sobrevivência A via de transmissão oro-fecal, direta ou indireta, é a principal porta de entrada do vírus, por meio da qual os animais se tornam infectados positivos. Outras vias importantes de contaminação são os veículos (caminhões com maior frequência e também carros), a ração e as visitas com roupas contaminadas. Estudos demonstram também a importância da transmissão pela via aerógena. E a presença do vírus nas fezes, sangue e sêmen também foi documentada. A duração da excreção viral em suínos infectados é de 5 a 9 dias, especialmente pelas vias fecal e nasal, a partir do primeiro dia após a infecção. O tempo de permanência do vírus nos suínos portadores não é bem conhecido. Os anticorpos detectados por ELISA podem durar até um ano, embora sua quantidade não esteja relacionada com o grau de proteção, servindo

apenas para provar que o animal já tenha estado em contato com o vírus em algum momento. O que melhor indica o grau de proteção é o nível de IgA. Assim, depois de um surto agudo da doença, a persistência ou o desaparecimento do vírus em uma propriedade é muito variável. O vírus é destruído a partir dos 60°C, sendo estável a 37°C. A possibilidade de que o vírus se propague por meio de farinhas de origem animal, tratadas por pressão a baixas temperaturas, não deve ser descartada.

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O período de incubação é de apenas um dia ou um dia e meio. A replicação do vírus ocorre no citoplasma das células epiteliais das vilosidades do intestino delgado. Nesta área ele provoca uma degeneração dos enterócitos, com atrofia das vilosidades intestinais, o que tem como consequência uma elevada redução da capacidade de absorção de nutrientes (diarreia e má absorção, com retardo do crescimento). A morbidade, em qualquer fase de produção, pode chegar a 100%, sendo mais variável nas reprodutoras. A mortalidade em leitões lactentes, com menos de 10 dias de idade, pode chegar a 100% (sendo muito comuns os níveis de 30% a 50%). A principal manifestação clínica é a diarreia aquosa, que provoca morte por desidratação em 2 a 4 dias nos leitões, além de vômitos e anorexia. Leitões já desmamados e suínos de engorda podem se recuperar da diarreia depois de uma semana, embora possam também vir a sofrer as consequências da anorexia e depressão e apresentar retardo no crescimento. Os índices de produção das granjas afetadas voltam ao normal, em média, após 5,9 semanas (entre 4,2 e 7,6 semanas), havendo perda média de leitões desmamados, para cada mil reprodutoras, da ordem de 1.688 (entre 1.077 e 2.299). nº 53/2015 | Suínos&Cia


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coletadas de um número significativo de animais. Deve-se amostrar várias idades, desde que com sintomas clínicos da doença. O resultado de PCR a partir de amostras de fluidos orais é considerado, hoje, tão sensível quanto o de fezes para detectar a presença e a circulação do vírus da diarreia epidêmica em granjas de suínos. As técnicas de imunofluorescência direta e imuno-histoquímica são muito específicas. A prova de ELISA também detecta o antígeno nas fezes, e o PCR permite diferenciar a epidemia de diarreia pelo coronavírus da gastrenterite transmissível.

Centro de negócios de Dallas Depois de um quadro clínico, as reprodutoras adquirem imunidade sólida, que também é transmitida aos seus leitões via colostro e dura até as duas semanas de idade (anticorpos IgG específicos). O curso da doença, em uma granja de reprodutores, geralmente dura até um mês, variando de acordo com o tamanho do plantel e do sistema de produção. Este período pode aumentar no caso de complicações secundárias por agentes infecciosos do sistema digestivo, tais como Escherichia coli, Clostridium perfringens, rotavírus, Isospora suis, salmonela, Lawsonia intracellularis ou Brachispira spp.

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Considerar que as lesões se concentram exclusivamente no intestino delgado, com consequente atrofia das vilosidades no duodeno e jejuno. Tais lesões persistem entre 2 e 7 dias após o início dos sintomas clínicos. O intestino apresenta-se distendido, com conteúdo aguoso amarelado, e o estômago vazio ou contendo colostro não digerido. Há presença de 70% de atrofia das vilosidades intestinais e vacuolização dos enterócitos, com atividade enzimática reduzida. A depressão no consumo de ração nos dias anteriores ao quadro clínico está bem definida (2 a 3 dias), e a presença de fezes moles em porcas lactantes também, embora nesse caso sem grande impacto sobre elas. Não se descartam as recaídas do problema nas granjas. Os sinais clínicos, embora não patognomônicos, são bastante óbvios. O diagnóstico deve ser confirmado em laboratório por meio do envio de amostras adequadas para isolamento do antígeno. As amostras mais adequadas são fezes e porções amarradas de intestino delgado repletas, correspondentes ao primeiro dia de diarreia e Suínos&Cia | nº 53/2015

A sorologia para detectar anticorpos por meio de técnicas de ELISA exige a coleta de amostras emparelhadas, com um intervalo de 3 semanas. Eles aparecem depois de uma semana após a infecção, e o seu pico em granjas infectadas ocorre após quatro meses, diminuindo a partir daí. O tratamento é apenas paliativo, devendo ser priorizada a hidratação dos leitões lactentes e desmamados com soro fisiológico e reidratantes, além do uso de substitutos lácteos. A transmissão de IgA específica via colostro, da fêmea para os leitões, é fundamental para estabelecer uma imunidade forte. A exposição rápida de porcas prenhes ao vírus infectante, por meio de fezes de leitões, pode estimular a imunidade lactogênica, permitindo encurtar ao máximo a duração do quadro clínico e sua disseminação nos diferentes setores da produção. Recomenda-se um intestino de leitão infectado para cada dez reprodutoras (assegurar-se primeiro de que o vírus da PRRS não seja ativo, na granja). Esta técnica tem suas restrições, devido ao risco de criação de subpopulações e ao aumento da pressão de infecção. Também é possível cortar os estágios de transmissão entre as fases de produção, desmamando os leitões em um local fora da granja (sítio 2) ou removendo-os para outro local (sítio 3), também fora da granja, no final da transição. Recomenda-se ainda (e não poderia ser de outra forma) que a realização dos manejos de lavagem, limpeza e desinfecção obedeça aos sistemas de vazio sanitário e “todos dentro-todos fora”, além dos procedimentos de adaptação à granja durante 4 a 6 meses após a entrada de marrãs para reposição vindas de outra granja. A desinfecção de salas com cal e a posterior secagem também têm mostrado bons resultados. Não há vacina disponível para a prevenção dessa doença na Espanha, apesar de já haver um produto do tipo vivo-atenuado na Ásia. Hank Harris desenvolveu uma vacina a partir de replicantes, a qual se mostrou mais eficaz quando aplicada em reprodutoras uma semana antes do parto.


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Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína ou PRRS (vírus RNA) • A indústria de carne suína dos EUA perde, anualmente, US$ 664 milhões por causa do vírus da PRRS (PRRSv). As perdas na produção de suínos de engorda, comparando granjas positivas com negativas, correspondem a US$ 2,24/suíno abatido. As perdas econômicas anuais devidas ao PRRSv no Canadá são estimadas em 219 milhões de dólares canadenses. • A vacinação em massa é usada como estratégia para o controle e a eliminação do vírus em granjas. As cepas vacinais também são excretadas e transmitidas entre os leitões, dificultando o diagnóstico laboratorial e tornando mais complicada a diferenciação de mesmas frentes a cepas de campo, por meio de técnicas de PCR. O uso terapêutico de vacinas vivas em suínos infectados tem por base a redução na duração da excreção do vírus de campo, por via aerógena, em suínossentinela. • Os suínos selecionados geneticamente para expressar melhor conversão alimentar (baixo consumo alimentar residual) não são mais afetados pela infecção experimental com o vírus da PRRS. • A transmissão do PRRSv por via aérea foi demonstrada a distâncias de até 9,1 km. • Há diferenças na capacidade de detecção do vírus excretado por diferentes coletores de ar. • A entrada do vírus em granjas por meio de veículos de transporte contaminados está amplamente descrita, particularmente em áreas de tráfego elevado de suínos. Programas de biossegurança e rigorosos protocolos de manejo correspondem às principais medidas de controle.

Centro financeiro de Dallas o vírus é excretado no desmame e, posteriormente, transferido aos setores de engorda. • Não há uma correlação direta entre a distribuição geográfica e genômica do vírus. • O uso de sistemas de ionização eletrostática de partículas reduz a quantidade de partículas virais no ambiente (43% a 63% de redução de agentes infecciosos em geral).

• As práticas de adoções e cessões de leitões em granjas onde o vírus circula devem ser restritas, especialmente após os 10 dias de idade dos leitões, pois foi demonstrado um aumento na prevalência da ordem de 8,8% no desmame.

• Nos EUA, durante os últimos quatro anos, a incidência de novas doenças aumentou gradualmente em setembro, com um dramático incremento em outubro, chegando ao nível plateau até fevereiro. Cada ano, entre 29% e 38% das granjas relatam um novo surto de doença.

• Avaliar a dinâmica de transmissão do PRRSv na granja por meio da tomada de amostras de fluidos orais em leitões no desmame ajuda a entender a exposição ao vírus e a eliminação do mesmo.

• O risco de disseminação viral é maior em regiões de alta densidade de suínos, potencialmente, já que o vírus é excretado entre grandes populações de suínos de engorda.

• Grande quantidade de vírus foi detectada nas botas de caminhoneiros que transportam suínos, uma via de transmissão a ser levada em conta.

Vírus PCV-2 (vírus DNA)

• Foi demonstrado em um estudo como as técnicas de tatuagem em leitões não correspondem a uma via de transmissão do vírus entre leitegadas. • Se podemos reduzir a frequência de surtos em granjas de reprodutoras, podemos baixar a disseminação geográfica do vírus. Em granjas instáveis

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• A proteção cruzada entre o PCV-2a e o PCV-2b foi demonstrada experimentalmente e à campo. Entre 2012 e 2013, nos EUA, houve aumento na mortalidade de suínos vacinados entre 10 e 18 semanas de vida, associado à síndrome multisistêmica da refugagem pós-desmame (SMDS). No Canadá têm sido demonstrados vários casos de falhas vacinais, com o aparecimento de sintomas nº 53/2015 | Suínos&Cia


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clínicos, em estabelecimentos de engorda, após até seis anos de uso constante de vacinas comprovadamente eficazes na redução do quadro clínico devido à circovirose. • O vírus é dividido em três genótipos (PCV-2a, PCV-2b e PCV-2c). Os dois primeiros têm distribuição mundial, e o PCV-2c está circunscrito ao Brasil e à Dinamarca. Todos os suínos de engorda são positivos para a IgG antiPCV-2. A interpretação do estado de doença subclínica e o tempo de infecção não são sempre fáceis, sendo necessário recorrer ao PCR no soro e ao PCR ou à imunohistoquímica nos tecidos linfáticos e pulmões. • A presença subclínica do vírus no útero pode ser identificada pela detecção do DNA do PCV-2 ou de anticorpos específicos em tecidos fetais (fluido torácico). A viremia é superior em porcas futuras reprodutoras não vacinadas, em comparação com as vacinadas. • Existem poucos estudos, nos EUA, que demonstrem perdas devido ao PCV-2 em porcas, e os que o fazem determinam que há grande variabilidade (de 20% a 100%). Um estudo canadense realizado em 57 granjas, em áreas de alta densidade populacional de suínos, mostrou uma prevalência individual em futuras reprodutoras da ordem de 3,4%. E de 42,11% no nível das granjas. A prevalência em leitões foi muito baixa (1,59% no desmame e 0,71% no pós-desmame). Os dados dos EUA são diferentes.

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• A vacinação é eficaz na prevenção da viremia e da depleção linfocitária. Após a vacinação há uma grande proliferação de IFN-gama. Ambos, leitões e suínos de engorda, apresentam taxas de crescimento e homogeneidade mais elevadas, quando vacinados. • Os anticorpos maternais interferem com a resposta humoral. • Todas as vacinas comerciais são baseadas no genótipo do PCV-2a. A vacina Ingelvac™ CircoFlex (vacina de subunidade com PCV-2a ORF2) promove proteção cruzada contra os isolamentos recentes de granjas que têm o PCV-2b, reduzindo a viremia e a depleção linfoide. • A viremia em futuras reprodutoras têm implicações na saúde reprodutiva, resultantes da sua transmissão placentária. Estudos prévios não determinaram uma correlação positiva entre a viremia de PCV-2 em fêmeas de reposição e a viremia antes e após o desmame. • Nos EUA estima-se que uma redução no preço da dose vacinal, da ordem de US$ 0,25 equivale a 0,2% de mortalidade na engorda. Devemos conhecer sempre as diferenças encontradas nos parâmetros de mortalidade, como, por exemplo, no caso da taxa de refugos. Suínos&Cia | nº 53/2015

• O PCV-2 aumenta a severidade de outras doenças dos suínos economicamente importantes, como a pneumonia enzoótica, a gripe e a PRRS. • A primeira medida de proteção é a viremia (presença do vírus no sangue). A vacinação reduz a viremia e o nível de vírus excretado em mais de 100 vezes, assim como a presença viral no tecido linfoide, pelo menos durante 20 semanas após a vacinação. • A aplicação intradérmica da vacina Circovac™ não causa reações de hipersensibilidade cutânea (DTH), mas sim uma correta proteção vacinal. • A análise do conteúdo do cordão umbelical de leitões recém-nascidos, pela prova do PCR quantitativo em tempo real (qPCR) é utilizada para determinar a prevalência do PCV-2 (considerado positivo entre 2 e 9 logaritmos). Vírus da gripe • Em Ohio, a variabilidade antigênica do vírus da gripe é especialmente elevada. Há uma grande divergência antigênica do vírus da gripe circulante nos EUA. • As vacinas inativadas, aplicadas em matrizes, estimulam a produção de anticorpos e a sua transmissão aos leitões via imunidade passiva. Estes anticorpos maternos reduzem os sinais clínicos da doença, mas não impedem a infecção dos leitões susceptíveis. Sugere-se, inclusive, que sejam os leitões a fonte de propagação do vírus da gripe endêmica nas granjas de reprodutores. Assim, os leitões recém-nascidos infectados assintomáticos seriam os responsáveis ​​pela transmissão do vírus para leitões com baixo nível de anticorpos maternos durante as fases do pré e do pós-desmame. Estes níveis de anticorpos maternos variam muito entre as granjas e durante períodos de tempo (muito dinâmicos). Os títulos elevados de anticorpos maternais, provenientes de vacinas homólogas, podem reduzir a extensão da infecção e a transmissão da doença. • O vírus pode ser mantido em baixa prevalência ao longo de grandes períodos de tempo. Outro grupo importante de animais portadores são as futuras reprodutoras. A imunidade uniforme em marrãs de reposição durante o período de aclimatação é importante para estabilizar as granjas, tanto contra o vírus da gripe quanto o PRRSv. • Na monitoria semanal dos fluidos orais de porcas e leitões no desmame podemos conhecer a circulação viral na granja. • A vacinação de reprodutoras contra a gripe antes do parto serve tanto para protegê-las quanto os leitões.


Revisão Técnica

A presença de anticorpos maternos afeta a eficácia da vacinação na fase de engorda, sendo altamente variável tanto no tempo como no número de animais. • A vacinação dos leitões resulta em títulos virais nasais inferiores, menor excreção e menos lesões pulmonares, além de menor percentual de leitões positivos ao isolamento viral em fluidos de lavados traqueobronquiais. • A circulação do vírus da gripe é endêmica em todas as faixas etárias, incluindo leitões lactentes. A circulação viral em granjas de reprodutoras vacinadas é detectada por meio de fluidos orais de leitões antes do desmame. • A manifestação da gripe em granjas nem sempre é clínica. Deve-se utilizar esxudatos nasais, amostrados sempre em grande quantidade,​​para detectar a presença do vírus por meio de PCR para elementos repetitivos (TRS-PCR). Pools de esfregaços nasais têm grande impacto sobre a sensibilidade dessa técnica (conjunto de 3 esfregaços = 94%; conjunto de 5 esfregaços = 84%; conjunto de 10 esfregaços = 59%). A manifestação é, muitas vezes, subclínica, sem tosse, nem espirros, nem letargia. Existe uma correlação

positiva na detecção do vírus em amostras de ar com fluidos orais. • Os métodos de diagnósticos para detectar o antígeno viral são o isolamento viral propriamente dito, o imunoensaio, o PCR e a imunohistoquímica. • As técnicas sorológicas para detectar anticorpos são a inibição da hemoaglutinação, a soroneutralização e a prova de ELISA. • Quando queremos saber se há vírus da gripe na granja, está indicada a detecção do antígeno por meio do PCR em fluidos orais (em suínos com sintomas de tosse e/ou febre). Mycoplasmas spp • O Mycoplasma foi cultivado pela primeira vez por Edmund Nocard e Emile Roux (Mycoplasma mycoides). Seu genoma é pequeno, com capacidade de codificação limitada. Quatro espécies de Mycoplasma causam doenças em suínos: Mycoplasma hyopneumoniae Mycoplasma hyorhinis Mycoplasma hyosynoviae Mycoplasma suis (Eperythrozoon suis) 31

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Revisão Técnica

• Sua localização sistêmica é muito diferente, causando problemas em: M. hyopneumoniae  aparelho respiratório, causando pneumonia. É o agente primário da pneumonia enzoótica e contribui, junto com outros agentes infecciosos, tanto bacterianos quanto virais, para o agravamento do Complexo Respiratório Suíno. M. hyorhinis  sistêmico, originando poliserosites e poliartrites. M. hyosynoviae  sistêmico, causando artrites. M. suis  agente hematopoiético intracelular, originando anemia. • Os perfis de infecção e colonização dos Mycoplasmas spp são diferentes. Suínos saudáveis ​​podem ser colonizados por qualquer uma das quatro espécies e não necessariamente desenvolver a doença: Mycoplasma hyopneumoniae: ocorre em pequena proporção em leitões lactentes, com muito baixa transmissão após o desmame, sendo os quadros clínicos mais frequentes nos suínos em crescimento e até mesmo em terminação. As marrãs de reposição e as fêmeas de primeiro parto são as que mais transmitem a bactéria para os leitões. A prevalência no desmame é o principal indicador da gravidade da doença na fase de engorda. A principal via de transmissão é o contato focinho contra focinho entre suínos já colonizados. A transmissão vertical em sistemas de produção multifásico é a mais frequente. Detectar a prevalência no desmame é um importante indicador de pressão da doença, essencial para o controle dela, e para projetos de erradicação. Muitos estudos mostram grande variabilidade na colonização dos leitões no

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Portão Sul de Dallas (Dallas South Gate) Suínos&Cia | nº 53/2015

desmame, em granjas onde se vacinam as nulíparas antes do primeiro parto. Nas granjas onde se vacina, em comparação às não vacinadas, os sinais clínicos (tosse), lesões, morbidade, gasto terapêutico, taxa de refugos e excreção do agente são mais baixos. A transmissão da mãe para os leitões é considerada um dos aspectos epidemiológicos mais importantes, variando muito entre granjas e grupos de leitões desmamados, inclusive dentro da mesma granja. Quando as diferenças de idade por banda aumentam, a colonização entre leitões também se complica. Os programas de eliminação empregando a metodologia de segregação por partos, ou o fechamento da granja durante 200 dias, medicando as reprodutoras com lincomicina via água de bebida e os leitões com tulatromicina (Draxxin™) injetável durante seis semanas, têm se demonstrado eficazes. Mycoplasma hyorhinis: coloniza a maioria dos leitões mais lentamente após o desmame, sendo, por isso, uma doença mais comum em leitões desmamados até a 10ª semana de idade do que em adultos. Causa claudicação em suínos de engorda, além de pleurites e pericardites. Vacinas autógenas têm sido usadas com o objetivo de controlar os sinais clínicos. O diagnóstico diferencial deve ser feito com relação às outras espécies de micoplasma, erisipela, circovírus e o vírus da influenza. Mycoplasma hyosinoviae: a colonização ocorre após o desmame, afetando os suínos especialmente no final da engorda. O diagnóstico diferencial deve ser feito contra o Eysiphelotrix rhusiopatiae, o Haemophilus parasuis, o Streptococcus suis e as deficiências nutricionais de cálcio, fósforo e vitamina D3. Fatores de produção que agravam o problema são a densidade excessiva, espaço insuficiente para alimentação e a alta umidade relativa no ambiente. O antibiótico de eleição para o tratamento é a lincomicina, via ração ou na água, com doses de 40 ppm a 100 ppm e 3 mg/kg de peso corporal. Mycoplasma suis: pode infectar leitões ainda no útero ou em qualquer fase por meio da ingestão do agente, havendo, assim, sintomatologia clínica em qualquer idade. Anteriormente conhecido como Mycoplasma haemosuis e Eperytrozoon suis, está também envolvido em falhas reprodutivas (anestro, infertilidade), agalaxia, anemia, icterícia e aumento da diarreia em leitões. Sua manifestação subclínica é factível, havendo, nesses casos, períodos variáveis ​​de incubação. Essa bactéria danifica a membrana do eritrócito. Sua transmissão pode ser ainda por via transplacentária e por mosquitos. Os antibióticos aos quais ela é mais sensível são a tetraciclina, amoxicilina e ácido arsanílico.


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• As técnicas de diagnóstico diferencial disponíveis estão resumidas na tabela 1 Haemophilus parasuis • O Haemophilus parasuis coloniza a mucosa do trato respiratório superior em idade precoce, de modo que os fatores que alteram esta colonização, próximo da fase do desmame, podem alterar a dinâmica da infecção (antibióticos, estresse ambiental, densidade elevada) e aumentar a mortalidade pela doença de Glasser. • Em granjas belgas e holandesas foi determinada uma elevada prevalência, posterior ao desmame e em suínos de engorda. Actinobacillus pleuropneumoniae • Os quadros de mortalidade se concentram entre a 12ª e a 18ª semanas de vida, predominando os sorotipos 4 e 8 nos EUA. Isola-se nas tonsilas por meio de PCR (considerada a técnica mais sensível). • A soroprevalência incrementa-se com a idade. Não há evidências de que o número de partos das porcas guarde relação com a maior ou menor prevalência frente ao Actinobacillus pleuropneumoniae.

Rotavírus suíno (vírus RNA) • São vários os sorotipos de rotavírus que provocam diarreia em leitões lactentes e recém-desmamados. Os rotavírus têm 11 segmentos de dupla cadeia de RNA. Há três grandes grupos (A, B e C), sendo os problemáticos para a espécie suína o B e o C. • Sua apresentação clássica corresponde a uma diarreia aquosa por má absorção e a alguns episódios de vômitos em leitões com 1 a 3 dias de idade, os quais se mostram arrepiados e com aparência ruim. Esse quadro costuma afetar de 10% a 100% das leitegadas e as porcas de todos os partos. Na necropsia, o intestino delgado aparece cheio de líquido, com paredes muito finas e o estômago cheio de leite. • A higiene nas salas de parto, as normas de biossegurança, a ingestão obrigatória de colostro e as vacinas autógenas produzidas com os sorotipos B e C (aplicadas nas matrizes) costumam ser medidas bastante eficazes. A tilosina e a gentamicina são utilizadas no controle dos agentes bacterianos complicantes secundários. Salmonella spp • Nos EUA, a Salmonella typhimurium e a Salmonella enterica são agentes primários. A primeira causa enterite e perdas de produção

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Tabela 1 TÉCNICA

Mycoplasma hyopneumoniae

Mycoplasma hyorhinis

Mycoplasma hyiosynoviae

Mycoplasma suis

AMOSTRAS

OBS.

ELISA

Soro

Indica prévia expo- sição. Não correlacionado com proteção

PCR

Swabs de laringe, nasal Fluidos orais

Prevalência de infecção. Não implica em doença

Imuno-histo-química (IHC)

Pulmão

Diagnóstico de doença

Cultivo

Pulmão

Objetivo de isolamento

Histo-patologia

Pulmão

Diagnóstico de doença

Sorologia

Soro

Avalia imunidade e prévia exposição

PCR

Fluidos orais Swabs nasais Serosas

Indica colonização e prevalência Indica doença

Cultivo

Pulmão Serosas

Indica colonização e doença

Sorologia

Soro

Indica imunidade e prévia exposição

PCR

Swabs faríngeo, traqueal Fluidos articulares

Indica colonização e prevalência Indica doença

Cultivo

Swab nasal Fluido articular

Indica colonização Indica doença

Sangue

Sangue EDTA – heparina

Diagnóstico da doença Não muito sensível

PCR

Sangue Fígado Baço

Diagnóstico da doença

nº 53/2015 | Suínos&Cia


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subclínicas em suínos, contribuindo para a poluição ambiental e das carcaças. Já a Salmonella choleraesuis produz septicemia, pneumonia e enterocolite em suínos de engorda. • Não há vacinas combinadas, mas sim a de S. cholerasuis oral, a qual demonstra proteção cruzada contra ambas (S. cholerasuis e S. thyphimurium). Está em teste uma vacina viva liofilizada, combinada e com dose única oral, que reduz tanto a duração da diarreia quanto a excreção fecal em ambas, melhorando os parâmetros de produção. Lawsonia intracellularis (bactéria Gram-) • Lawsonia intracellularis detecta-se por PCR, em maior quantidade nos fluidos orais do que em amostras de fezes, havendo uma sensibilidade similar tanto no soro quanto nas fezes. • Foi desenvolvido um teste de PCR que diferencia suínos infectados de suínos vacinados. A excreção da bactéria contida na vacina (antígeno) é muito variável, na prática. • A tilvalosina (Aivlosin™) solúvel em água, a 50 ppm durante 5 dias, tem se mostrado eficaz no controle dos sintomas clínicos da doença causada pela Lawsonia intracellularis, reduzindo os sinais clínicos e as lesões intestinais e melhorando o ganho médio de peso diário.

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Brachispira spp • A Brachispira hyodisenteriae é altamente transmissível, afetando negativamente o ganho médio de peso diário, o índice de conversão alimentar e a qualidade dos suínos no abatedouro. Os

sistemas de controle de reposição, vazios sanitários com limpeza, lavagem e desinfecção, “todos dentro-todos fora”, programas de antibióticos (tiamulina a 200 ppm na fase de crescimento e a 35 ppm + 400 ppm de clortetraciclina nas rações de terminação) e controle de roedores são medidas essenciais no combate ao agente. • Monitorar fezes a cada duas semanas, por meio de PCR, nos permite conhecer a evolução da doença na granja. Reprodução • Muitos dos métodos para avaliar a qualidade do sêmen não têm nenhuma correlação com a capacidade de fertilização. A análise do esperma diretamente no líquido seminal, por exemplo, por meio do citômetro de imagens multiespectrais (Fluxo de imagem II) nos fornece uma imagem mais clara da integridade da membrana e do acrossoma. • A Pig Improvement Company (PIC) recomenda, nos EUA, que suas futuras reprodutoras sejam inseminadas pela primeira vez entre os 140 e 150 quilos de peso vivo, aos 230-255 dias de idade, com um ganho médio desde o nascimento de 615 a 750 gramas por dia e, pelo menos, a três semanas posteriores de qualquer impacto sanitário, com um período mínimo de aclimatação de quatro semanas e com fornecimento de comida ad libitum. Desde a 24ª até a 26ª semanas de idade é recomendado o uso do efeito macho sistemático. • O momento da ovulação não é fácil de prever, e a duração do cio é muito variável. Nos EUA, utiliza-se a gonadotrofina análoga de GnRH (triptorelina - Ovugel™), aplicada na apresentação de gel intravaginal, na dose de 2 ml, 96 horas após o desmame e na forma de inseminação a tempo fixo cronometrado (30 a 33 horas após, com uma única dose de sêmen; a ovulação é esperada entre 40 e 48 horas após a aplicação). Recomenda-se exposição ao cachaço, e os dados relativos à fertilidade e à prolificidade das fêmeas são semelhantes ao controle com cio natural e várias doses seminais. As principais vantagens são menor dose seminal, menos mão de obra, maior progresso genético, leitões mais homogêneos por um número menor de cachaços e maior sincronização dos partos por datas. • Um trabalho demonstra a eficácia do ceftiofur sódico, aplicado durante três dias em porcas com descargas vulvares.

Monolito em homenagem a John F. Kennedy Suínos&Cia | nº 53/2015

• A progesterona é um hormônio esteroide produzido pelo corpo lúteo do ovário, necessário para a manutenção da gestação. As porcas que entre 7 e 10 dias após o desmame não mostram cio e


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têm baixos níveis de progesterona são consideradas acíclicas. E aquelas nas quais não se detecta o cio, mas têm níveis elevados de progesterona, são as de cio silencioso. Nutrição

SU

• A saúde intestinal é essencial para um bom crescimento e eficiência, por seu papel crucial na digestão e absorção de nutrientes no sistema circulatório. Em condições normais, o sistema digestivo tem sua condição inflamatória controlada, mas ela pode ser afetada por fatores tanto dependentes quanto independentes da dieta. • Na resposta imune inata alteram-se tanto a resposta fisiológica local como a sistêmica, na priorização do metabolismo energético. Os mananos integram parte dos componentes que formam a superfície celular microbiana entérica. As células dendríticas desempenham papel essencial na regulação, tanto aguda quanto crônica, da imunidade digestiva. Elas são diretamente responsáveis ​​pela manutenção da tolerância induzida pelas células T, que secretam IL-10 e o fator de crescimento B (TGF-B), os quais também desempenham papel crucial na ativação das células TCD4 no mecanismo de imunidade adaptativa. • Somente 50% dos leitões bebem água durante 033_14 - anuncio - FINAL.pdf 1 10/12/2014 17:49:47 as primeiras 24 horas posteriores ao desmame.

A água é essencial para a correta função celular, manutenção da temperatura corporal, transporte de nutrientes aos tecidos e recuperação das perdas metabólicas. • A anemia por deficiência dos níveis de ferro em leitões é comum e está associada aos níveis de hemoglobina abaixo de 90 g/l. A anemia subclínica está associada a níveis inferiores a 110 g/l de hemoglobina. O ferro influencia o transporte de oxigênio, nutrientes, no metabolismo da hemoglobina e também de certas funções do sistema imunológico. Um estudo descobriu que até 30% dos suínos desmamados têm anemia e que o tratamento com ferro no desmame não melhora os parâmetros de produção. • A resposta da inclusão de ácidos orgânicos (propionato de cálcio, ácido fumárico e butirato de sódio) em rações de leitões é superior em dietas sem a adição de antibióticos. Mas o seu efeito positivo sobre os parâmetros produtivos independe dessa adição. • A vitamina A é armazenada principalmente no fígado. Seu transporte por meio da placenta é baixo, e os leitões dependem do seu aporte via colostro e leite. O nível sérico de retinol fornece uma orientação quanto a essa quantidade, mas o nível de palmitato de retinol no fígado é o melhor indicador.

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• A vitamina D, além de interferir no metabolismo ósseo, tem papel importante no estado imunitário. Ao nascer, os níveis são baixos (5ng/ml), subindo no desmame para 10 a 12 ng/ml. • A vitamina E é armazenada nos adipócitos, atravessando a placenta em baixas quantidades. No desmame, os valores normais vão de 4 a 6 ug/ ml de alphatocoferol. Essas três vitaminas lipossolúveis são importantes nas últimas 3 a 4 semanas de gestação. A determinação de seus níveis no soro é mais real do que nas rações, uma vez que essa segunda situação não leva em conta os fatores que afetam potencialmente a sua utilização: qualidade da água, alta concentração de nitratos, doenças, problemas ambientais, gorduras polinsaturadas, oxidação. • Dietas com altos níveis de galactomananas, soja, beta-glucanos e DDGS consomem imunógenos (imunidade inata), o que representa um gasto adicional em nutrientes para aumentar os requisitos de manutenção do suíno. Manejo • Por meio do colostro os leitões recebem imunidade, tanto inata quanto humoral (anticorpos e células – macrófagos, linfócitos B e linfócitos T). As imunoglobulinas são analisadas por refractometria, eletroforese e espectrofotometria.

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• Sobre uma base de um milhão de reprodutoras, nos EUA (2013), podemos destacar alguns parâmetros produtivos, tanto em leitões quanto em suínos de engorda (Tabela 2). Tabela 2 Peso de entrada - kg

LEITÕES

SUÍNOS ENGORDA

5,90 (4,95 a 7,00)

24,54 (16,36 a 32,50)

24,54 (16,36 a 32,50)

122,70 (111 a 133)

Ganho médio diário

382 (268 a 482)

818 (690 a 954)

Índice de Conversão

1,64 (1,21 a 2,03)

2,92 (2,42 a 3,56)

Mortalidade - %

3,00 (0,6 a 8,90)

4,10 (1,30 a 9,20)

Custo ração - US$/ton

432 (319 a 625)

281,13 (230 a 355)

Peso de saída - kg

• Os produtores norte-americanos que implementam o uso da imunocastração têm um beneficio de US$ 5,32 por suíno, derivado de menor mortalidade no setor de lactação em comparação ao sistema tradicional (castração cirúrgica: US$ 1,61/leitão), melhorias no ganho médio diário e no índice de conversão (4 a 10%), maior percentual de carcaças magras (4% a 8%) e menor dispersão de pesos no abate. A 1ª dose deve ser aplicada 4 semanas antes da 2ª, e esta, entre 3 e 10 semanas antes do abate. O fator decisivo costuma ser o peso da carcaça no momento do abate, que no caso dos imunocastrados pode ser Suínos&Cia | nº 53/2015

ligeiramente superior ao dos castrados cirurgicamente, o que também pode favorecer a indústria quando tal situação for exigida. • Manter a estrutura de censo, com relação aos nascimentos, é essencial para uma boa produtividade. Estima-se que as porcas se amortizem já no 3º parto, quando se adota 45% de taxa de reposição e se mantém 18% a 20% de porcas de primeiro parto. As marrãs costumam parir leitegadas menos numerosas e com menor peso ao nascer, além de gerar um número menor de desmamados (e consequente menor peso de leitegada) e apresentar um intervalo desmame/cio superior e uma imunidade inferior. • Os parâmetros indicadores de produção rentável em uma granja baseiam-se no no de suínos vendidos por porca com valor total, no de leitões desmamados, taxa de mortalidade e ganho médio de peso diário. Assim, a qualidade dos leitões de nascimento é vital. Os menores, em comparação aos maiores, têm menor ganho de peso diário, maior mortalidade e pior índice de conversão e geram uma carcaça de baixa qualidade. • Nos EUA o valor do m2 por dia na creche é de US$ 0,35, e na engorda, US$ 0,12. A diferença potencial de produção entre leitões grandes e pequenos é estimada em US$ 7,14. • O peso médio do leitão ao nascer se reduz com o tempo, à medida que aumenta o tamanho da leitegada, assim como aumenta a variação de pesos entre os leitões. Calcula-se que 200 g a mais de peso ao nascer corresponda a € 2,00 a mais por suíno no abate. • Investigações prévias correlacionam à ordem de entrada das porcas gestantes para comer, nas estações eletrônicas, com a dominância social delas. • Para grupos estáticos de porcas recomenda-se, para a tomada de amostras de fluidos orais, colocar de 1 a 2 cordas por cada 15 a 20 porcas na entrada ou na saída da estação eletrônica. • Em um universo de 2.163.916 nascimentos, entre 2003 e 2012, em granjas da Espanha (60.000 porcas), Portugal (12.000 fêmeas), Itália (6.000 matrizes), Brasil (10000 fêmeas), México (5.000 fêmeas) e Colômbia (8.000 fêmeas), monitorados com o PigChamp™ Pro-Europa, ocorreu aumento linear de nascidos vivos, maior peso das leitegadas ao nascer e um peso individual que se manteve constante ao longo do tempo. Os natimortos foram crescendo e o no de fetos mumificados aumentando, desde 2008. • A causa mais comum de suínos mortos durante o transporte ao abatedouro, no Canadá e EUA, durante os meses de verão, é a hipertrofia cardiovascular, condição na qual o coração apresenta um peso mais elevado (448 ± 68,7 gramas).


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6º Simpósio Europeu de Manejo Sanitário Suíno Sorrento (Itália), 7 a 9 de maio de 2014 Antonio Palomo Yagüe Diretor da Divisão de Suinocultura SETNA NUTRICION – INZO antoniopalomo@setna.com

Introdução Como observamos no resumo prévio posterior ao Simpósio Europeu, realizado no início de maio, em Sorrento (Itália), segue uma síntese dos temas principais apresentados no decorrer do evento, agrupados por áreas de conhecimento para facilitar a leitura:

Toneladas e percentual

1985

2012

Presuntos curados

18%

297.400 (25%)

• Suinocultura na Itália

Presuntos cozidos

27%

286.300 (24%)

• Doenças bacterianas

Mortadela e linguiças

22%

243.500 (20%)

• Doenças virais

Salame

14%

111.000 (9%)

• Manejo sanitário

Outros produtos

19%

22%

• Saúde pública

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• Bem-estar animal • Reprodução suína • Nutrição Suinocultura na Itália A Itália tem uma população de 490.000 reprodutoras e produz, anualmente, 13,2 milhões de suínos terminados em granjas com um tamanho médio de 500 matrizes. Atualmente, tem uma taxa de autossuficiência de 60,2% e o predomínio da produção de animais pesando entre 150 e 160 quilos (peso vivo), com 9 a 10 meses de idade. Nesse momento, ocorre na Itália uma redução no número de granjas de ciclo completo e um aumento no número de múltiplos sítios. 90% da produção está concentrada na região norte do país (EmíliaRomanha). Sua indústria de carne suína produz 1,2 milhão de toneladas, com um volume de negócios de € 8 bilhões distribuído entre 2.000 empresas com 31.600 funcionários diretos e indiretos. Já as exportações faturam € 1,1 bilhão. A sustentação dos negócios baseia-se em altos níveis de tecnologia e em rigorosas medidas higiênico-sanitárias. A indústria italiana de embutidos atende a nichos de mercado altamente especializados, cumprindo com os mais exigentes regulamentos globais de comercialização. Em 1985 sua produção aumentou de 930 mil para 1,2 milhão de toneladas (28,7%). Em 2012 foram produzidas 297.400 Suínos&Cia | nº 53/2015

toneladas de presuntos curados (25%), seguidas por 286.300 toneladas de presuntos cozidos (24%), mais 243,5 mil toneladas de mortadela e linguiças (20%), 111 mil toneladas de salame (9%) e um restante de outros produtos correspondente a 22%.

O crescimento depende tanto da demanda interna como da exportação e, nesse momento, o peso dos presuntos vem sendo reduzido em função de exigências do consumidor. O setor de carnes movimenta-se entre a tradição e a inovação em produtos e entre a conservação deles. Reduções no teor de sal (4% a 4,5%), conteúdo menor de gorduras saturadas vs insaturadas, preparação de ambientes protegidos a vácuo (nitrogênio e dióxido de carbono) e embalagens a alta pressão estão sendo implementados. As exportações de presunto atingiram, em 2012, a quantia de 57.000 toneladas e um valor de € 573 milhões, representando 41% do total de carne exportada, seguido de mortadela e linguiça com 32.000 toneladas (23%). O volume de exportação passou de 30.025 toneladas em 1985 para 138.300 em 2012. As vendas para o mercado doméstico estão saturadas, mas as exportações aumentaram em 32.500 toneladas, valor correspondente a € 250 milhões, também em 2012. A principal barreira à exportação é a sanidade, decorrente de surtos de doença vesicular e de peste suína africana nas regiões da Calábria, Campania e Sandinia, localizadas no Vale do Pó, e que corresponde a um nível marginal da produção de suínos local. A Argentina está considerando a possibilidade de importar da Itália produtos curados com mais de 400 dias e, desde a primavera de 2010, são exportados para o Canadá produtos curados mais de 30 dias.


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Doenças bacterianas A - Mycoplasma hyopneumoniae • Testes com vacinas aplicadas aos 3 dias antes e no dia do desmame não mostraram diferença significativa no grau de lesões pulmonares macroscópicas e microscópicas, nem nos parâmetros produtivos (ganho médio diário, morbidade, mortalidade, homogeneidade, taxa de refugos e gasto terapêutico). • A aplicação da vacina com seringas sem agulha mostrou-se segura e eficaz com relação à presença de lesões e aos parâmetros de produção, havendo redução na incidência de abcessos locais e na transmissão iatrogênica. • As vacinas comerciais, aplicadas tanto por via intramuscular ou intradérmica, reduzem o grau de lesão pulmonar e melhoram o ganho médio diário de leitões e animais de engorda, ao mesmo tempo que induzem uma resposta imunológica sistêmica e local apropriada. • Em granjas endêmicas, a transmissão mantém-se por via vertical entre porcas e suas leitegadas, enquanto ocorre pela via horizontal entre os suínos mantidos no mesmo compartimento. O índice de gravidade da doença é definido como sendo a proporção de suínos infectados por dia. Esta taxa é mais elevada nos leitões não vacinados, nos desmamados tardiamente, na mistura de suínos de diferentes idades e quando a adaptação das futuras reprodutoras não é feita corretamente. • Em granjas onde está presente o Complexo Respiratório Suíno (CRS) – causado pela combinação do Mycoplasma hyopneumoniae com o circovírus (PCV2) –, no confinamento e na fase de acabamento, a prevalência de lesões pulmonares foi significativamente menor e o ganho médio diário maior nos suínos vacinados, em comparação com granjas não vacinadas. • A inclusão do tilmicosin (Pulmotil™) a 400 ppm, durante duas semanas após o desmame de leitões afetados pelo CRS, melhorou o ganho médio diário deles (22 gramas) e também dos suínos para engorda (27 gramas); além disso ocorreu redução na mortalidade e na taxa de refugos. • Em 2013, na França, 40% dos leitões foram vacinados contra o PCV2 e o Mycoplasma hyopneumoniae. • A prevalência dm Mycoplasma hyopneumoniae é maior nos meses de inverno (fevereiro) do que na primavera (abril). • Foi demonstrada a eficácia da tylvalosina (Aivlosin™) na redução do Mycoplasma hyopneumoniae em granjas afetadas.

Centro de Congresso Sorrento Palace B - Actinobacillus pleuropneumoniae • As vacinas que incluem as toxinas I, II e III do Actinobacillus pleuropneumoniae (Coglapix™) como principais fatores de virulência estimulam a proteção cruzada e melhoram a mortalidade e o nível das lesões pulmonares. A sua imunidade dura 24 semanas. • Os leitões podem transmitir a bactéria (A. pleuropneumoniae) mesmo na ausência de sinais clínicos. A redução da mistura de leitões de diferentes origens contribui efetivamente para a redução da transmissão da doença.

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• Tanto a doxiciclina como o florfenicol demonstram-se eficazes contra a infecção causada pelo A. pleuropneumoniae, em termos de redução de lesões e mortalidade. • Na Finlândia, os casos agudos da doença causada pelo A. pleuropneumoniae são altamente sensíveis às tetraciclinas e penicilinas. C - Brachispira spp Na Itália, um estudo conduzido em 86 granjas, entre 2003 e 2012, envolvendo 108 cepas de Brachispira hyodysenteriae, revelou um aumento na resistência às pleuromutilinas, sem significância estatística e com base na localização geográfica. A Brachispira hampsonii foi isolada, na Espanha, em patos selvagens e inoculada em leitões com sete semanas de idade. Ela provocou diarreia e colonização do intestino grosso, o que sugere o papel de possíveis fontes de infecção às aves migratórias. Para esse diagnóstico é necessária a utilização de um PCR específico. O uso da valnemulina (Econor™) demonstrou eficácia clínica no tratamento das infecções causadas pela Brachispira hyodysenteriae em suínos, na Itália, levando a uma melhora produtiva e do desempenho dos animais tratados. nº 53/2015 | Suínos&Cia


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O Stalosan™ F, usado como desinfetante frente à Brachispira hyodisenteriae, inibiu o seu crescimento in vitro. D - Lawsonia intracellularis A implantação da vacinação em 23 granjas francesas reduziu em 32% o custo com o tratamento, melhorou o ganho médio diário em 12 g e o índice de conversão em 60 g, o que significa um benefício de € 2,90 por suíno. No Reino Unido e na Irlanda, a prevalência em amostras de fezes é de 48,13%, e nas granjas, de 95,83%, havendo um pico de positividade entre 12 e 14 semanas de idade. E - Escherichia coli A doença do edema é causada por certas cepas de Escherichia coli (0139), as quais geram as toxinas Shiga (Stx2e ou VT2e). Estas toxinas são absorvidas no intestino delgado e caem na circulação, onde provocam angiopatia degenerativa nas artérias e arteríolas, com sintomas de edema da pálpebra, do mesocólon e da submucosa gástrica. Vários estudos demonstram a eficácia da vacina Ecoporc™ Shiga, na qual a dose de 1 ml aplicada em leitões entre 4 e 7 dias de idade reduz de modo notável a mortalidade (5% a 10% nos casos de doença do edema em 1% a 2% dos leitões vacinados). Foi demonstrada a eficácia da amoxicilina em combinação com o ácido clavulânico, administrado via água de bebida contra a diarreia de leitões desmamados causada pela E.coli. O retorno sobre o investimento dessa associação foi melhor do que o uso do sulfato de colistina, resultando em melhor ganho médio diário e em mortalidade menor. Também foi divulgado o seu efeito positivo nas infecções causadas pelo Streptococcus suis

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Entardecer no hotel do evento Suínos&Cia | nº 53/2015

(todos os 94 tipos de S. suis isolados na França foram sensíveis à amoxicilina). Síndrome da diarreia neonatal suína • Trata-se de uma diarreia aquosa amarelada, de consistência variável, que responde mal aos antibióticos de uso comum em leitões durante os primeiros dias de idade e cujo agente etiológico ainda não foi identificado. Sua gravidade difere entre surtos e granjas (11% a 45% dos leitões são afetados), as taxas de mortalidade variam de 4% a 21% e as perdas de peso variam de 9 g/dia nos casos leves a 38 g/dia em casos graves. • As boas práticas de manejo, boas condições de higiene, a prática do vazio sanitário e o fornecimento correto de colostro são pontos cruciais na prevenção e no controle da referida síndrome. F - Erisipelotrix rhusiophatiae • A aplicação de duas doses de vacina, com 3 semanas de intervalo entre elas, nas porcas nulíparas, estimula uma proteção que dura, em média, 146 dias. Doenças virais A - Vírus da síndrome respiratória e reprodutiva suína (PRRSv) • As vacinas vivas modificadas dão bons resultados na redução dos sinais clínicos devidos à infecção e na diminuição da excreção viral. Estima-se que o nível de transmissão entre os leitões seja reduzido em 10 vezes e a duração da infecção em 10 dias (passando de 22,6 para 12 dias), em comparação realizada entre lotes controle e vacinados com o produto Porcilis™ PRRS ID. • Na Holanda, desde 1987, o vírus é endêmico, tendo sido isolados os subtipos 1 e 2, com um impacto econômico variável de € 59,00 a € 379,00/porca/surto e uma média de € 75,00/ reprodutora. Em 2011foi iniciado um programa de controle regional utilizando soros de leitões desmamados e suínos de engorda coletados três vezes por ano, analisados por PCR e ELISA, respectivamente. • As infecções pelo PRRSv, no Reino Unido, causam perdas estimadas em £160,00/porca. • De acordo com estudos norte-americanos, a utilização de vacinas vivas modificadas em suínos com 4 semanas de idade – em áreas de alta densidade – reduz a detecção do vírus em amostras de ar, a taxa de mortalidade em 1% e o percentual de refugos em 2%, aumenta o ganho médio diário em 20 g, além de aumentar o índice de conversão e de reduzir o risco de transmissão entre granjas nestas áreas, devido à redução da viremia e da excreção nasal.


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• As medidas de biossegurança são essenciais para prevenir a introdução de novas cepas virais nas granjas. • Um estudo sobre o quadro da doença causada pelo PRRSv, realizado em oito granjas dinamarquesas, mostrou que a duração dos sintomas varia de 10 a 90 semanas. Voltando aos parâmetros de produção anteriores, após uma média de 30 a 35 semanas a partir do início do surto, ocorre uma perda estimada de € 44,00/porca. Acredita-se que a gravidade seja maior quando a causa é o sorotipo 2, em comparação ao sorotipo 1. B - Circovírus suíno (PCV2) • A aplicação intradérmica do antígeno PCV2 determina uma resposta imunitária positiva, medida pelo teste de hipersensibilidade retardada (DTH). • A presença de anticorpos nas porcas, no parto, não interfere com a indução das imunidades humoral e celular nos leitões, após as vacinações entre 4 a 6 e 8 semanas de idade. • A aplicação de vacinas contra o PCV2 em granjas, tanto na presença clínica como subclínica da doença associada ao circovírus suíno, melhora o ganho médio diário (20 g a 45 g em leitões e 70 g a 100 g em suínos de engorda), assim como reduz a mortalidade em ambas as fases. • Os diferentes níveis de anticorpos, no momento da vacinação, determinarão as variações na dinâmica de anticorpos e na resposta imune frente à vacinação. • O uso de cordas para o diagnóstico do vírus por PCR, por meio dos fluidos orais, foi demonstrado como sendo uma técnica altamente sensível. C - Vírus da gripe (flu) • Em um estudo alemão, no qual foram analisadas 823 amostras de esxudatos nasais coletadas por 51 veterinários diferentes, por meio da prova de PCR em tempo real (RT-PCR) e com base no RNA viral, predominaram o subtipo H1N1 (60,5%), o H1N2 e o H3N2 (ambos com 14% cada). O vírus H1N1 da pandemia humana foi detectado em 11,5% dos casos. Os vírus foram mais detectados em granjas com porcas alojadas em grupos e menos detectados em granjas nas quais vacinam-se porcas e leitões contra o PRRSv. A incidência em leitões, no desmame, foi de 32,2% e de apenas 5,8% em reprodutoras, com maior prevalência em nulíparas. • Na Holanda foram isolados três sorotipos, em exsudatos nasais e fluidos oro-faríngeos de suínos de engorda com problemas respiratórios, prevalecendo o subtipo H1N1. • Nos EUA os três sorotipos são encontrados

Centro de eventos onde ocorreram as palestras infectando populações de suínos ao mesmo tempo, com variações intra e extragranja, tanto em suínos de engorda como em reprodutoras. Tanto os sorotipos europeus como os americanos costumam ser isolados em muitos casos. • Em um estudo realizado em 125 granjas, na França, a maior prevalência foi encontrada em creches com elevada densidade, má ventilação, variações térmicas superiores a 5º C, mistura de leitões de diferentes idades e deficiências no sistema de vazios sanitários.

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• Em 2,7% das amostras coletadas de javalis, na Polônia, analisadas por PCR, foi detectado o subtipo H1N1, entre 2012 e 2013. D - Diarreia epidêmica suína por coronavírus • A presença do coronavírus da diarreia epidêmica suína foi relatada nos EUA, pela primeira vez, em abril de 2013. Previamente havia sido detectada a sua presença na Hungria, Alemanha, China (2010), Coreia e Japão. Os quadros clínicos severos, com elevada mortalidade (80% a 100%), são comuns, e o vírus tem 99,4% de homologia com as cepas chinesas. Na Europa, a gravidade dos casos é menor. • Os sintomas de anorexia, vômitos agudos e diarreia aquosa são os mais frequentes. O vírus é altamente contagioso, e a diarreia pode ser observada em todas as faixas etárias, na granja. A produtividade nos EUA, em granjas afetadas, volta à normalidade entre 5 e 9 semanas após o início do foco. O número médio de leitões não desmamados é estimado em 1.688 para cada 1.000 porcas presentes na granja. As porcas infectadas nos primeiros momentos do primeiro mês de gestação apresentaram uma redução de 12,6% na fertilidade e têm 2,2 leitões a menos nascidos vivos; o problema afeta mais nulíparas do que multíparas. nº 53/2015 | Suínos&Cia


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Costa do mar em Sorrento Manejo sanitário – “Um mundo, uma só sanidade” (“One World, One Health”) • Monitorar a saúde de nossos suínos em tempo real nos traz vantagens competitivas com relação aos parâmetros produtivos, ao gasto terapêutico e aos resultados financeiros. Devemos dispor do maior número possível de informações, bem referendadas, ordenadas, analisadas e interpretadas (Pig Care™). • As novas técnicas de diagnóstico molecular são mais rápidas e sensíveis. Os métodos de sequenciação de DNA nos permitem identificar novas cepas virais e diferenciar entre cepas vacinais e vírus de campo. www.scilifelab.un.se • A interação das pessoas que trabalham com suínos, em seu dia a dia, determina a presença/ ausência de problemas sanitários que não têm uma origem infecciosa primária porque a educação e a formação contínua delas é considerada essencial para evitar protocolos de rotina incorretos. Essa referida interação, quando negativa, é classificada em três grupos de problemas associados, como segue: • Problemas derivados de práticas de manejo inadequadas em leitões, de acordo com a legislação de bem-estar animal (batidas, ataxia, paralisia, abscessos devido a injeções mal aplicadas, necroses de cauda, umbigo, gengivites, alveolites, septicemia devido à castração); • Problemas devidos à ausência ou desconhecimento de práticas de manejo e higiene: má qualidade de água, ambiente, ventilação, necrose por contato, soroterapia contaminante, atenção aos partos, misturas inadequadas de animais, adoções/cessões; • Problemas causados por má visão global da

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granja e falta de monitoria diária da sanidade dos animais: adoções, misturas de animais com idades diferentes, curvas de alimentação, disponibilidade de água. O corte de caudas não necessariamente elimina os problemas de canibalismo nos suínos. A origem desse problema não é bem conhecida, porém, sabe-se que qualquer causa de estresse e falta de bem-estar atuam como fatores de risco. Hoje, sabe-se que os suínos, de forma individual, têm uma predisposição diferente para desenvolver o problema ou ser vítima dele. O risco de mordedura de caudas em suínos doentes é maior do que nos saudáveis. Os suínos-problema mantêm um nível mais alto de serotonina em seu córtex cerebral. A alimentação e o conteúdo das rações, no caso de deficiências ou mudanças bruscas, afetam o comportamento do consumo e representam um fator de risco considerável. A densidade elevada dos leitões na fase final de creche, antes de passar para a engorda, é crucial, no que diz respeito à incidência de problemas sanitários. Se transferirmos leitões de instalações com elevada densidade para engordas com baixa densidade, o risco de mordeduras de cauda minimiza-se. http://farewelldock.eu/ O incremento da movimentação de pessoas, animais e produtos cárneos (peso do pescoço ou PPC, peso da paleta ou PPA), em nível mundial, tem favorecido a disseminação de certas patologias. Então, a regulamentação do transporte de animais vivos e seus produtos é um procedimento essencial. A biossegurança tem um papel primordial na proteção dos animais, diante da introdução de doenças endêmicas ou exóticas, ao mesmo tempo que tem também papel importante na disseminação delas entre as diferentes unidades de produção. As infestações por Ascaris suum, na Irlanda, no nível dos abatedouros, corresponde a 74,4% das granjas estudadas entre 2012 e 2013, sendo que 11,5% dos suínos abatidos apresentaram manchas de leite no fígado. A observação correta dos programas de vacinação em marrãs de reposição é considerada um elemento essencial para a obtenção de reprodutoras mais saudáveis e de suínos de engorda com menos problemas sanitários. Um grupo de pesquisadores suecos levou a cabo um estudo para quantificar o impacto econômico de diferentes problemas sanitários sobre a produção, partindo por base de um custo por suíno por dia da ordem de € 0,33/leitão, € 0,67/ suíno de engorda e € 0,89/reprodutora. Foi avaliada também a mortalidade por unidade: € 5,00/leitão nascido; € 40,00/final da recria; € 84,00/suíno abatido e € 447,00/reprodutora.


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Na tabela seguinte estão expostos, de forma simplificada, os resultados de suas várias apresentações: Pleurite APP crônico RESPIRATÓRIO

Myco hyop clínico Myco hyop subclínico Gripe aguda Gripe subclínica Uma repetição

REPRODUTIVO

Um aborto Síndrome M.M.A. PRRS agudo Diarreia neonatal aguda Diarreia neonatal leve Disenteria aguda

DIGESTIVO

Disenteria média Ileíte crônica Ileíte subclínica PMWS-PCVAD clínica PMWS subclínica

LOCOMOTOR

Artrite (3%)

Saúde Pública • O uso prudente de antibióticos para reduzir as resistências microbianas preocupa, a nível mundial, tendo sido iniciados vários programas e iniciativas em diferentes países. Trata-se de procedimentos essenciais para os atuais sistemas de produção, tanto no que diz respeito ao bemestar animal quanto aos resultados econômicos e de comércio internacional. • Na Dinamarca, em 2012, foram utilizadas 112 toneladas de antibióticos de uso veterinário (dos quais, 76% destinados a suínos). O consumo é maior em leitões no pós-desmame, predominando as tetraciclinas em processos digestivos. Na Holanda, as porcas e os leitões recebem 10 doses por tratamento/100 animais/ano, frente a 6 doses na engorda, 14 doses no caso de frangos e 21 doses no caso de terneiros. O padrão de tratamentos nos diferentes países europeus é muito variável, dependendo do que sugerem os diferentes níveis sanitários, os sistemas de produção e a diversidade cultural na forma de prescrevê-los. • Há uma boa correlação entre o uso de antimicrobianos e o nível de resistência a eles. Devemos ter um cuidado especial com relação à seleção das resistências microbianas da Escherichia coli aos beta-lactâmicos (beta-

lactamases de espectro estendido ou ESBL) e do Staphylococcus aureus à meticilina (S. aureus resistentes à meticilina ou MRSA), por serem as principais resistências transferidas de suínos a pessoas. € 0,80/suíno • É possível otimizar o € 0,69/porca manejo sanitário e reduzir o consumo de antibióticos, € 103,00/porca mediante o cuidado indivi€ 29,00/porca dual dos leitões na granja. € 287,00/porca • Os principais grupos € 77,00/porca de antibióticos observados e registrados para uso € 30,00/porca veterinário são amino€ 332,00/porca glicosídeos, macrolídeos, € 31,00/porca cefalosporinas de 3ª e 4ª gerações, fluorquinolona e € 443,00/porca polimixina. As suinoculturas € 247,00/porca holandesa e dinamarquesa € 127,00/porca proibiram, voluntariamente, o uso de cefalosporinas. Na € 133,00/porca Dinamarca, desde a entrada € 62,00/porca em vigor da carta amarela € 89,00/porca (Yellow Card), em 2010, as € 35,00/porca resistências antimicrobianas foram reduzidas em € 247,00/porca 19%. Os próprios criadores € 110,00/porca ajustam seus tratamentos € 47,00/porca com base nas recomendações para obtê-la. As autoridades dinamarquesas demandaram uma redução de 50% no consumo de antimicrobianos para uso veterinário, entre 2009 e 2013. Os registros são liberados considerando o cálculo do número de animais tratados por cada 100, por dia, durante um período de nove meses. Inicialmente, foi estabelecido um limite de 5,2 doses diárias/animal (DDA ou ADD, da sigla em inglês) em porcas e leitões lactentes, 28 em leitões desmamados e 8 em suínos de engorda, com tendência a baixar. A redução no uso de antimicrobianos é acompanhada de um incremento no uso de vacinas, especialmente a de PCV2. Em um estudo realizado em 500 granjas com leitões desmamados, durante a aplicação do referido programa, em 2010 e 2011, não foram encontradas variações no índice de conversão e na mortalidade deles, e houve uma leve redução no ganho médio diário, da ordem de 1,6%. • Em 2014 começou o novo programa estratégico JPIAR (Joint Programing Initiative on Antimicrobial Resistance), em 19 países europeus e nos Estados Unidos, o qual conta com seis áreas bem definidas: • Novos antibióticos, melhor uso dos antibióticos e alternativas ao uso deles. • Diagnóstico preciso (PCR, bioinformática) • Sobrevivência dos microrganismos e suas resistências

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• Transmissão (contato, flora, ambiente, dejetos, fauna silvestre) • Ambiente (água de bebida) • Intervenções, tanto nacionais como internacionais: “one health problema”. http://ivs.ku.dk/english/research/ veterinaryclinicalmicrobiology/ molecularvetbactjohne/miniresistence / • O Campilobacter coli está presente no intestino de aves selvagens e de animais de produção. Em granjas de suínos, a prevalência é maior nas reprodutoras e nos leitões do que nos suínos de engorda. A contaminação primária das matrizes para os leitões, na baia da porca, é a rota principal de contágio. A limpeza, lavagem e desinfecção das salas de partos, bem como o seu vazio sanitário, são pontos-chave para o seu controle. Bem-estar animal • Foi realizado na Bélgica um estudo em 15 granjas, com porcas alojadas em baias coletivas, relativo à incidência de problemas locomotores nos primeiros dias do reagrupamento na gestação. Houve uma incidência de 13,1%, variando de 0% a 27,3%, e a conclusão foi de que o espaço por porca corresponde ao principal fator de risco. • A incidência de dermatite ulcerativa no aparelho mamário ocorre mais em porcas de elevado número de partos, sendo que as condições higiênicas das salas de partos têm um papel determinante. • O uso de sistemas de injeção subcutânea ou intradérmica tem se mostrado mais seguro e igual em temos de eficácia com relação ao nível de imunidade, além do apelo maior relativo ao bem animal. • O meloxican (Metacam™), como anti-inflamatório não hormonal, é eficaz no tratamento e no controle da síndrome de disgalaxia pós-parto (MMA). Administrado a 0,4 mg/kg PV, por via oral em porcas no dia do parto, favorece um maior ganho médio diário dos leitões lactentes e uma redução na mortalidade deles. • Uma só dose de Improvac™, em cachaços jovens, não altera o tamanho dos testículos nem a produção de espermatozoides.

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Catedral de Sorrento

Reprodução de suínos • O acetato de buserelina (Porceptal™) é uma gonadotrofina sintética que estimula a produção do LH, induzindo e sincronizando a ovulação, de modo a facilitar a inseminação a tempo fixo. Segundo estudos, esse procedimento adiciona um ROI (retorno sobre o investimento) de € 4,29/porca, baseado, principalmente, na redução das horas de trabalho, número de doses seminais e dias não produtivos por porca (sete em nulíparas e três em multíparas). Isso Suínos&Cia | nº 53/2015

sem somar os benefícios da homogeneidade e da melhora genética, pelo uso de um número menor de cachaços melhores. As leitoas devem receber 2,5 ml de Porceptal™,115 a 120 horas antes do término do Regumate™, e as porcas em produção, 83 a 89 horas depois do desmame. Posteriormente, entre 30 e 33 horas após a injeção, devem ser inseminadas na presença de um cachaço. Os parâmetros reprodutivos (prolificidade, fertilidade) são os mesmos que os das inseminações múltiplas não sincronizadas, assim como o peso dos leitões ao nascer. A sincronização dos cios com altrenogest (Altresyn™ – Regumate™) durante 18 dias nos permite homogeneizar o fluxo de animais por banda de produção. A aplicação de Monzal™, no momento do parto, favorece um melhor desencadeamento dele, com menor número de nascidos mortos e maior taxa de desmamados. Seu uso mostra-se mais eficiente que o da oxitocina nestas circunstâncias. O impacto dos problemas reprodutivos na Holanda, no começo do outono (agosto a outubro), corresponde a abortos precoces (25 a 35 dias) e retornos ao cio irregulares. Foi realizado um estudo, entre 2002 e 2012, no qual observou-se maior incidência nos anos em que as flutuações de temperatura exterior foram maiores (2002, 2003, 2012). As porcas não mostraram nenhum outro sinal clínico. As infecções urinárias dão lugar a uma redução da fertilidade e a uma maior mortalidade de reprodutoras. Os principais agentes infecciosos isolados são a Escherichia coli (64,1%), o Streptococcus spp beta-hemolítico (34,6%) e o Staphylococcus hyicus (21,8%). A concentração de imunoglobulina G no colostro


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das porcas, segundo um estudo norueguês, foi de 53,9 g/l. Há diferenças significativas associadas às granjas, ao peso dos leitões ao nascer, à ordem de nascimento e ao número de partos de cada porca. Nutrição suína • A estrutura de uma ração integra duas propriedades básicas da dieta: sua forma física (longitude, tamanho de partículas, dureza, durabilidade, volume, resistência) e a composição química dela (fibra bruta, fibra em detergente ácido ou ADF, fibra em detergente neutro ou NDF, lignina em detergente ácido ou ADL). A forma física implica em consequências para a saúde dos animais, seus parâmetros produtivos e o seu bem-estar. Os moinhos de martelo, frente aos de rolete, produzem rações com maior dispersão no tamanho das partículas, o que deve ser levado em consideração no caso de alimentos farinados, granulados e dietas líquidas. • A prevalência de úlceras gastroesofágicas está muito ligada a um percentual elevado de finos ou ao tamanho reduzido global das partículas na ração. A estrutura da dieta influencia o fluxo intra-gástrico mais do que o conteúdo de matéria seca ingerida, alterando o pH da porção glandular estomacal (esofágica), com um gradiente menor entre ela e o fundus (cárdia e piloro). A presença de mais de 30% destes finos (partículas de tamanho inferior a 500 micras), especialmente em rações granuladas, aumenta a incidência de úlceras gastroesofágicas.

• A estrutura das rações influencia o peso dos órgãos digestivos, principalmente do estômago, pâncreas, porção final do íleo e válvula cecal. Igualmente, a microestrutura da mucosa digestiva está condicionada pela dieta, sobretudo o tipo de mucina que cobre o epitélio. As dietas farinadas favorecem a presença de uma mucina mais ácida, facilitando a colonização por lactobacilos e a consequente produção de ácido lático, ao mesmo tempo em que se reduz a contagem de Escherichia coli no intestino grosso. Do mesmo modo, esse tipo de ração favorece o maior aproveitamento dos hidratos de carbono que chegam ao intestino grosso, promovendo, por sua vez, maior proliferação de bactérias gram positivas, com maior proporção de ácido propiônico e ácido butírico. • Estudos levados a cabo em granjas com elevada prevalência de Salmonella derby observaram maior incidência do agente em dietas granuladas vs farinadas. Seu mecanismo de ação explica-se pelas mudanças nos ácidos graxos voláteis (aumento do butírico), derivados do metabolismo dos carboidratos, pelo efeito da barreira estomacal, tempo de trânsito, pH na região fúndica do estômago e, possivelmente, pelo papel potencial da composição da saliva, que se modifica segundo a referida estrutura das rações (em ruminantes esse ponto está muito mais estudado). • A principal razão para moer as matérias-primas está na intenção de aumentar sua digestibilidade, a taxa de utilização de energia e do restante dos nutrientes por parte do suíno. Porém, nem todos os ingredientes comportam-se igualmente neste ponto, tanto no momento da moagem como da granulação e, segundo a intensidade do primeiro, também teremos diferenças consideráveis no segundo (ex.: dieta de cevada + trigo farinada vs granulada tem os mesmos índices de digestibilidade).

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• As dietas granuladas, frente às farinadas para os suínos, reduzem o tempo de ingestão de matéria seca por minuto, afetando o fluxo de produção de saliva, bem conhecido em outras espécies (cavalos, coelhos, ruminantes). • As dietas farinadas favorecem a presença de maior conteúdo de água nas fezes, com melhor consistência e plasticidade, reduzindo o risco de constipação por favorecer a motilidade de trato gastrintestinal e contribuir para o tempo normal do trânsito digestivo. Isso é especialmente importante nas dietas de reprodutoras. • Em dietas experimentais, o conteúdo/ingestão elevados de amidos resistentes que não são absorvidos no intestino delgado e fermentam no cólon, reduz significativamente a motilidade dos suínos de engorda e, portanto, melhoram seu bem-estar.

Sorrento (Via San Cesareo)

• Há uma associação positiva entre as mudanças na gordura dorsal, na semana prévia ao parto, e a produção de colostro. A maior quantidade nº 53/2015 | Suínos&Cia


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Vista superior do local onde o evento foi realizado de colostro é obtida em porcas com a melhor condição corporal, que são as que mobilizam menos reservas gordurosas (ácidos graxos não esterificados ou NEFA, da sigla em inglês) e proteicas (creatinina, complemento sérico 4 ou C4) e que têm uma proporção melhor de proteína/ gordura, com menor quantidade de corpos cetônicos produzidos (3-OH-C4). A produção leiteira e os parâmetros reprodutivos ficam comprometidos quando o consumo de ração na lactação é baixo.

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• Próximo do parto, o metabolismo da porca sofre grandes mudanças, e a disponibilidade de cálcio e fósforo é crucial para a contração muscular, uterina e a produção leiteira. Sua alteração aumentará a taxa de leitões nascidos mortos e pouco viáveis. Há dois importantes marcadores ósseos que nos indicam o correto metabolismo do cálcio: a osteocalcina e a C-telopeptina. A primeira é uma proteína sintetizada pelos osteblastos que interfere na construção da matriz óssea, e a C-telopeptina é a consequência da degradação do colágeno tipo I, durante a regeneração da matriz óssea. Os níveis de ambos os marcadores, em porcas com partos de mais ou menos quatro horas de duração, variam, sendo

• •

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suas mudanças mais pronunciadas em porcas com partos curtos. A legislação europeia de bem-estar animal exige que as dietas de porcas gestantes tenham, pelo menos, 8% de fibra bruta com relação à matéria seca, ou seja, uma ingestão recomendada de 200 g de fibra bruta por porca por dia. A inclusão de silagem de milho total permite adicionar níveis elevados de fibra, o que favorece o período do periparto e a qualidade das fezes. A concentração de proteína bruta nas dietas de suínos de engorda não influi nas características dos tipos de fibras musculares finais deles. A restrição de proteína bruta em rações finais de suínos ibéricos tem um impacto positivo nos parâmetros produtivos, com mudanças mínimas na microbiota e na saúde digestiva. Em um estudo europeu, realizado entre janeiro e junho de 2013, de 1.781 amostras de cereais e rações analisadas por ELISA e HPLC (High Performance Liquid Chromatography), 83% continham ao menos uma micotoxina, e 52%, mais de uma. Como em outros anos, as duas micotoxinas de maior prevalência na Europa foram a DON (67%) e a fumonisina (70%), com níveis médios de contaminação que vão de 404 a 609 ppb, respectivamente. Foi descrito, em Israel, um caso de intoxicação por maduramicina (7,25 ppm) e salinomicina (2 a 42 ppm) em porcas lactantes, com uma mortalidade pontual de 54,4%, anorexia, dispneia, letargia, ataxia, degeneração de fibras musculares esqueléticas e do miocárdio. Os níveis de maduramicina no fígado delas foi de 0,05 a 1,15 ppm. Em vários estudos, nos quais incluem-se ácidos orgânicos na água de bebida, ficou demonstrado que eles não afetam a palatabilidade da água e, portanto, o seu consumo por parte do suíno. Os níveis de ferro no soro sanguíneo de leitões, no desmame, é um indicador de sua deficiência. Costumam ser menores em leitões grandes, em comparação aos pequenos (19,90 vs 25,11 µmol/L). Os níveis de hemoglobina nas porcas, antes do parto, nos ajudam a conhecer sua relação com a taxa de nascidos mortos por hipóxia, se eles forem inferiores a 114,5 g/l. A substituição do ZnO em elevadas doses por um zinco orgânico, no pós-desmame, permite melhora no ganho médio diário dos leitões. A suplementação da proteína de batata fermentada (Lianol™), como fator de crescimento da insulina no plasma (IGF-1), favorece a deposição de proteína no músculo esquelético, melhora o ganho médio diário entre 2% e 4%, o índice de conversão entre 4% e 7% e o percentual de carne magra na carcaça entre 1% e 2%, quando oferecida a suínos de engorda dos 40 quilos de peso ao abate. Nos leitões, melhora igualmente o crescimento em 20 g e o índice de conversão em 50 g, sem efeito na mortalidade, segundo os estudos apresentados.


09, 10 e 11 de junho de 2015 - Foz do Iguaçu - PR

Uma das 7 maravilhas da natureza

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Sumários de Pesquisa

Método

Efeito das infecções por L. intracellularis e PCV2 sobre o desempenho de suínos em terminação

E

Introdução

xistem vários relatos sobre taxas de crescimento desapontadoras na ausência de sinais clínicos em animais de terminação em situações em que pela capacidade genética, qualidade e consumo da ração um desempenho melhor seria esperado. Quando não existem problemas respiratórios nos suínos, as desordens intestinais são as mais prováveis responsáveis. Dois patógenos intestinais importantes nos Países Baixos são a Lawsonia intracellularis e o PCV2. Pesquisadores holandeses, Groenland, G.J.R. e Geutrs, V. (Proceedings of the 23rd IPVS Congress. p.22, 2014), investigaram o papel desses dois patógenos sobre o desempenho de suínos de terminação por meio da avaliação do nível de ambos os patógenos nas fezes, em situações de campo.

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Suínos&Cia | nº 53/2015

Um total de 656 suínos procedentes de três granjas diferentes foram alojados separadamente em nove unidades, com oito baias cada uma. Os leitões foram vacinados contra Mycoplasma hyopneumoniae e PRRS, porém, não contra L. intracellularis e PCV2. Os animais foram pesados, mediu-se o consumo de ração e foram coletadas amostras de fezes e de sangue na 10ª, 15ª, 20ª e 25ª semanas de idade. Raramente foi observada diarreia. As amostras fecais por baia consistiram numa mescla equivalente a cinco colheres de chá de fezes recolhidas na zona mais úmida da baia. As amostras foram analisadas para L. intracellularis e PCV2, por Q-PCR. As diminuições e aumentos nas cópias de ADN para ambos os patógenos foram comparadas entre as 72 baias e foi calculado o nível de significância das diferenças, utilizando ANOVA. Foi determinada também a possível influência da granja de origem e a contagem total de L. intracellularis e PCV2 (total da 10ª a 25ª semanas) por meio de análise de regressão logística.

Resultados O nível de detecção para PCV2 e L. intracellularis foi de 50.000 e de 300 cópias de ADN/ml, respectivamente. Para L. intracellularis, as baias com um aumento de cópias de ADN entre a 10ª e 15ª semanas, assim como também entre a 15ª e 20ª semanas, tinham um ganho médio diário (GMD) e um consumo médio diário (CMD) significativamente inferiores em comparação com as baias com uma diminuição do número de cópias. Para o PCV2 foi observada a mesma tendência, porém, as diferenças não foram significativas. Neste estudo de campo, as baias com elevadas cópias totais de L. intracellularis tiveram menor GMD. As três granjas mostraram diferentes níveis de contaminação por Lawsonia e PCV2 nas fezes, de acordo com as análises de Q-PCR. A granja com contagens mais baixas para L. intracellularis e PCV2 na 10ª semana de vida experimentou um incremento maior dos patógenos durante as primeiras cinco semanas. Reduções significativas no GMD e no CMD foram evidentes nos animais com um elevado nível fecal de Lawsonia intracellularis. Mediante a análise de regressão, a granja de origem, incluindo raça, peso ao nascer e o estado da infecção, teve a influência mais significativa no GMD, seguido pela contagem total de Lawsonia. De acordo com os autores, inclusive na ausência de sinais clínicos, o índice de crescimento e o consumo de ração podem ser reduzidos devido à infecção por Lawsonia. Observou-se também uma tendência de que as infecções por PCV2 podem exercer um efeito negativo similar.


Sumários de Pesquisa

Resultados de inseminação em tempo fixo num rebanho na Alemanha, com um manejo de desmame à tarde

A

“Inseminação em Tempo Fixo” (IATF) utilizando o análogo de GnRH Buserelina (PorceptalR) e uma única IA teve recentemente seu lançamento pela Merck Ltda. (EUA) como uma nova ferramenta em marrãs e porcas, com o objetivo de induzir a ovulação dentro de um prazo muito estreito, permitindo uma inseminação única e fixa e reduzindo a mão de obra para verificação de cio e os custos para aquisição do sêmen. Apesar dos bons resultados de fertilidade que foram atingidos em estudos precedentes com a IATF, comparado com procedimentos convencionais de IA, o tratamento e a IA parcialmente ocorreram em momentos indesejáveis do dia ou da noite. O objetivo deste estudo conduzido por Kauffold e Sigmarsson University of Leipzig, Germany (Proceeding sof the 23rd IPVS Congress, Cancun, Mexico, p.204, 2014) foi modificar levemente os protocolos existentes de IATF com respeito ao momento, num sistema de produção com parição em grupos com desmame à tarde, com o alvo de mover as tarefas para horários mais convencionais de trabalho.

Método O estudo foi realizado em uma granja de 2.200 porcas com genética Danbred e um sistema de lotes semanal de parição (bandas) na Saxônia, Alemanha. A granja desmama ligeiramente mais de 30 leitões porca/ano. Um total de 138 porcas (OP 1 -10; media: 3.8) foi incluído no experimento. As fêmeas foram desmamadas na quarta-feira, às 14h. O grupo de fêmeas tratadas (GT; n = 93)

recebeu 10 µg Buserelin (2,5 ml PorceptalR) IM no domingo, às 9h (ou seja, 91h pós-desmame), enquanto as fêmeas controle (GC; n = 45) permaneceram não tratadas. O contato com o cachaço iniciou-se no domingo pela manhã, e daí em diante num esquema manhã e tarde até quarta-feira pela manhã. O GT foi inseminado artificialmente uma vez na segunda, às 3h da tarde (ou seja, 30h pósGnRH), enquanto o GC foi inseminado de acordo com o reflexo de tolerância, pelo menos duas num esquema manhã e tarde. Doses de sêmen comerciais de média conservação (7d.) foram utilizadas para IA e aleatoriamente alocadas para o GT e GC. Todas as porcas foram examinadas por ultrassom para espessura de toucinho no dia do desmame. Um subgrupo de 82 animais também foi avaliado já antes do parto. Todas as porcas foram submetidas ao ultrassom transcutaneamente para monitorar a população de folículos e também a ovulação em cinco momentos: ao desmame, ao aplicar o GnRH, próximo da inseminação (ou seja, 30h pós-GnRH), como também 48h e 72h pós-GnRH. As porcas controle foram escaneadas em momentos equivalentes. Os animais foram submetidos ao diagnóstico de gestação aos 24 dias pós-IA.

49

Tabela 1. Número (%) de porcas com e sem ovulações em diferentes intervalos de tempo relativos ao momento do tratamento1 com GnRH Grupo

Tempo após o GnRH 30h - n (%)

48h - n (%)

72h – n (%)

Sem ovulação

ES (n=93)

10 (10,8)

76 (81,7)

6 (6,5)

1 (1,1)

CS (n=45)

11 (24,4)a

24 (53,3)b

9 (20,0)a

1 (2,3)

Tratamento ocorreu apenas nas porcas ES

1

nº 53/2015 | Suínos&Cia


Sumários de Pesquisa

Resultados A espessura média de toucinho ao desmame foi 1,46 cm (n – 138), e a perda de gordura dorsal na lactação, 0,32 cm (n= 82), sem diferenças entre os dois grupos. O GT e GC apresentaram folículos do mesmo tamanho ao desmame (ou seja, 0,38 mm). Isto foi similar às 91h pós-desmame (ou seja, no momento do tratamento com GnRH; 0,62 vs. 0,61 mm). Em geral, a ovulação foi relativamente síncrona, com a maioria das fêmeas dos grupos GT e GC tendo ovulado dentro do intervalo de observação de 72h após o momento do tratamento com GnRH. No entanto, mais fêmeas do grupo tratado tinham ovulado dentro de 48h do que do grupo controle (92,5 vs. 77,7; P< 0,05; tabela 1). Uma porca em cada grupo não ovulou, ou devido a ovários císticos (GT) ou por ausência de crescimento folicular (GC). Mais fêmeas do GT do que do GC foram diagnosticadas em gestação (94,6 vs. 84,4; P<0,05).

50

Desempenho reprodutivo de porcas com a utilização de Triptorelin Gel e IA, em tempo fixo em granjas comerciais

O

vuGel® é uma formulação em gel contendo o análogo de GnRH, Triptolerina. Uma dose única do gel de Triptolerina, depositada intravaginalmente 96 horas após o desmame, induz a ovulação 40h a 48h mais tarde, facilitando, assim, uma única inseminação em tempo fixo 24 horas após o tratamento, sem considerar o cio. O objetivo do estudo publicado por S. Webel e colaboradores (Proceeding sof the 23rd IPVS Congress, Cancun, Mexico, 2014) foi demonstrar ainda mais o uso de gel de Triptorelina sob uma variedade de condições de manejo em granjas comerciais de suínos.

Método O estudo foi conduzido em seis granjas americanas. Uma das granjas utilizou IA convencional, e as demais IA pós-cervical. As porcas elegíveis para a cobertura (BES, em inglês) foram bloqueaSuínos&Cia | nº 53/2015

Discussão e conclusões Este estudo demonstrou que o protocolo de IATF empregado neste experimento funcionou muito bem, mesmo num rebanho bem manejado, com altos índices de produção. O análogo de GnRH Buserelina (ProceptalR) induziu a ovulação de forma confiável numa grande maioria das porcas tratadas dentro de 48h pós-tratamento, garantindo, assim, uma ovulação sincronizada e permitindo o uso de inseminação única num tempo definido, com taxa de concepção muito alta. Os resultados estão, portanto, em consonância com os de estudos anteriores de IATF, que utilizaram um intervalo de 83h a 89h (em vez de 91h neste estudo) entre o desmame e o tratamento com GnRH. Os autores concluíram que o protocolo de IATF, da forma como foi utilizado neste estudo, resultou na sincronização da ovulação e em alta taxa de concepção. Como os resultados de parição ainda não estão disponíveis, para um amplo uso desse protocolo de IATF, como utilizado neste estudo, é preciso aguardar os dados finais.

das por ordem de parto e escore corporal ao desmame e alocadas aleatoriamente aos tratamentos com gel de Triptolerina ou controle (contemporâneas). As fêmeas controle (n=1479) foram inseminadas seguindo o protocolo normal da granja, ou seja, no dia da detecção do estro e 24h mais tarde, se ainda apresentassem estro. As fêmeas que receberam gel de Triptolerina (n=1475) foram tratadas 96h pós-desmame e inseminadas uma única vez 22 ± 2h mais tarde. A prenhez foi determinada por ultrassonografia aproximadamente 30 dias após a IA. Os dados foram submetidos à análise de variância utilizando o procedimento PROC MIX do SAS (versão 9.2). As diferenças entre as médias de tratamento foram testadas por estimativas de quadrados mínimos usando o teste T a5% (P<0.05).

Resultados Os dados de desempenho reprodutivo são apresentados na tabela 1. Não ocorreu diferença entre as fêmeas tratadas com gel de Triptolerina e inseminadas uma única vez e as fêmeas controle, inseminadas 1,9 vezes, na taxa de parição de porcas /utilização de porcas desmamadas (nº de paridas / nº desmamadas =0,41), nascidos vivos (P=0,66) e total de nascidos (P=0,60). Isto resultou num número de 1.100 nascidos vivos por 100 porcas para as fêmeas tratadas com gel de Triptolerina e 1081 para as porcas controle.


Sumários de Pesquisa

Tabela 1. Desempenho reprodutivo em seis granjas1 Controle

Gel Triptolerina

Valor - P

Porcas elegíveis para IA

1479

1475

.

Inseminadas até 7 dias PD

1363

1475

.

1,9

1,0

0,0001

Porcas gestantes

1257

1261

.

Taxa de prenhez (nº gestantes/desmamadas)

85,0

85,5

0,68

Porcas paridas

1224

1239

.

Taxa de parição (nº de paridas /nº cobertas)

89,8

84,0

.

Taxa de partos em fêmeas desmamadas

82,8

84,0

0,41

Total de nascidos

14,2

14,2

0,60

Nascidos vivos

13,1

13,1

0,66

Nº de doses de sêmen

Nascidos totais/dose de sêmen Nascidos vivos por 100 fêmeas 1

0,0001 1081

1100

.

Os dados apresentados nesta tabela são médias brutas Porcas paridas na primavera e verão de 2013

Menos doses de sêmen foram necessárias para a utilização de uma única inseminação em tempo fixo, portanto, o total de nascidos por dose de sêmen foi maior (P<0.01) para as porcas que receberam gel de Triptorelina do que para as fêmeas controle (11,9 x 7,5, respectivamente).

Discussão e conclusões Comparar as taxas de parição convencionais (nº de paridas / nº de cobertas) não é apropriado neste estudo, porque no grupo controle apenas as porcas que demonstraram estro foram inseminadas, enquanto todas as porcas tratadas com gel de Triptolerina foram inseminadas uma vez. Assim, os autores sugeriram que a taxa de parição de porcas desmamadas ou taxa de utilização de porcas des-

mamadas (nº de paridas/nº desmamadas) e suínos vivos por 100 porcas desmamados são as medidas econômicas mais adequadas para comparar o desempenho de parto. Neste estudo, as porcas tratadas com gel de Triptorelina e inseminadas uma única vez obtiveram similar taxa de parição de porcas desmamadas e tamanho de leitegada semelhante às porcas controle inseminadas várias vezes durante o cio. Por inseminarem todas as porcas desmamadas em um único dia, a taxa de utilização do inventário de porcas desmamadas foi aumentada e melhorada. Os dados demonstram que a inseminação de todas as fêmeas desmamadas em um único dia permite que as porcas possam ter o parto induzido sem aumento no número de leitões natimortos. Além disso, 92% das porcas induzidas pariram no mesmo dia. Isto diminuiu o número de dias gastos na parição assistida e com cuidados de leitões no primeiro dia de vida. Além disso, 90% dos leitões eram da mesma idade (20 dias) ao desmame. Após a implementação do gel de Triptorelina na primavera de 2013, a taxa média de prenhez de porcas desmamadas em três granjas aumentou de 82,3 (7.289 porcas gestantes/8.857 desmamadas) para 85,8 (7.187 porcas gestantes/8.377 desmamadas) em comparação com o mesmo período do ano anterior, indicando melhora na utilização das fêmeas desmamadas. A IA convencional e a IA póscervical produziram resultados semelhantes. Estes dados demonstram que o gel de Triptorelina efetivamente sincroniza o momento da ovulação em porcas desmamadas, facilitando, assim, um único momento fixo de inseminação, sem levar em conta o cio. Como resultado, o custo de mão de obra e do sêmen é reduzido, enquanto um nível elevado de desempenho reprodutivo foi mantido.

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Recursos Humanos

Culpado ou inocente?

C

52

onta uma antiga lenda que na Idade Média um homem muito religioso foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. Na verdade, o autor do crime era pessoa influente do reino e, por isso, desde o primeiro momento procurou-se um “bode expiatório” para acobertar o verdadeiro assassino. O homem foi levado a julgamento, já temendo o resultado: a forca. Ele sabia que tudo iria ser feito para condená-lo e que teria poucas chances de sair vivo desta história. O juiz, que também foi comprado para levar o pobre homem à morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado para que este provasse sua inocência. – Sou de uma profunda religiosidade e por isso vou deixar sua sorte nas mãos do Senhor: vou escrever num pedaço de papel a palavra INOCENTE e no outro pedaço a palavra CULPADO. Você sorteará um dos papéis, e aquele que sair será o veredicto. O Senhor decidirá seu destino – determinou o juiz. Sem que o acusado percebesse, o juiz preparou os dois papéis, mas em ambos escreveu CULPADO, de maneira que, naquele Suínos&Cia | nº 53/2015

instante, não existia nenhuma chance de o acusado se livrar da forca. Não havia alternativas para o pobre homem.O juiz colocou os dois papéis em uma mesa e mandou o acusado escolher um. O homem pensou alguns segundos e, pressentindo a “vibração”, aproximou-se confiante da mesa, pegou um dos papéis e rapidamente colocou na boca e engoliu.Os presentes ao julgamento reagiram surpresos e indignados com a atitude do homem. – Mas o que você fez? E agora? Como vamos saber o seu veredicto? – É muito fácil. – respondeu o homem – Basta olhar o outro pedaço que sobrou e saberemos que acabei engolindo o contrário. Imediatamente o homem foi liberado. Moral da história: por mais difícil que seja uma situação, não deixe de acreditar até o último momento. Saiba que, para qualquer problema, há sempre uma saída. Não desista, não entregue os pontos, não se deixe derrotar. Vá em frente, apesar de tudo e de todos, creia que pode conseguir. Autor desconhecido


Revisão Técnica

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Informe Publicitário

Halquinol: a importância do balanço correto de seus isômeros

MV. Gladison Carioni Coordenador Técnico de Suínos gladison@farmabase.com

C

MV. Daniela Oliveira Carneiro Gerente de Desenvolvimento e Registro de Produtos daniela.carneiro@farmabase.com

om a necessidade de melhoria dos indicadores zootécnicos dentro do sistema de produção de suínos, impulsionado pela redução das margens de lucro da atividade, buscam-se alternativas para a melhoria da eficácia alimentar dos animais, pois os custos com a alimentação impactam em aproximadamente 70% do custo de produção total do animal produzido. Com isso, a utilização dos antimicrobianos promotores de crescimento vem sendo amplamente difundida, principalmente nos setores de recria e terminação. Dentre os antimicrobianos promotores de crescimento utilizados na suinocultura, o halquinol vem se destacando como uma excelente opção para utilização nas fases de creche, recria e terminação. Por isso, deve-se dar a devida importância aos fatores que irão impactar na sua eficácia, como o equilíbrio ideal de seus isômeros. O halquinol é uma mistura controlada dos isômeros 5,7-dicloro-8-hidroxiquinolina, 5-mono cloro-8 hidroxiquinolinae 7-cloro-8-hidroxiquinolina, sendo um agente antimicrobiano não antibiótico, demonstrando alto nível de atividade contra uma extensa gama de bactérias, tanto Gram

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Figura 1.

Suínos&Cia | nº 53/2015

MV. Sara Zoca Analista de Desenvolvimento e Registro de Produtos sara.zoca@farmabase.com

negativas como Gram positivas e fungos, bem como sobre certos protozoários em suínos e aves (Cardoso et al, 2002). A Farmacopeia Britânica de 1980 (BP 80) preconiza que a matéria-prima halquinol de qualidade contenha a proporção dos isômeros, de acordo com a figura 1. O conteúdo total dos três componentes é de 95% a 105%. Com o objetivo de demonstrar que a proporção dos isômeros na matéria-prima reflete diretamente na eficiência antimicrobiana do produto formulado, foi realizado um estudo de avaliação de concentração inibitória mínima (CIM) dos diferentes isômeros purificados; sendo eles o 5,7-dicloro 8-hidroxiquinolina e 5-cloro-8-hidroxiquinolina, os quais apresentam atividade biológica, comparando com a CIM da matéria-prima halquinol sabidamente com balanço adequado de seus isômeros. O isômero 7-cloro-8-hidroxiquinolina não foi testado em virtude de ser considerado uma impureza na matéria-prima, estando restrito ao máximo de 4% na concentração total.


Informe Publicitário Tabela I. Resultados da Concentração Inibitória Mínima (CIM) do 5,7-dicloro-8-hidroxiquinolina e 5-cloro-8-hidroxiquinolina Origem

CIM µg/mL (Isômero I*)

CIM µg/Ml (Isômero II**)

Escherichia coli K88

Isolado Clínico

6,6

22,415

Escherichia coli K99

Isolado Clínico

1,6

11,21

Salmonella Gallinarum

Isolado Clínico

6,6

22,415

Salmonella Enteritidis

Isolado Clínico

6,6

22,415

Micro-organismo

*5,7-dicloro-8-hidroxiquinolina

**5-cloro-8-hidroxiquinolina

Tabela II. Resultados da Concentração Inibitória Mínima (CIM) do halquinol Micro-organismo

Origem

CIM µg/mL

Escherichia coli K88

Isolado Clínico

7,1

Escherichia coli K99

Isolado Clínico

2

Salmonella Gallinarum

Isolado Clínico

7,1

Salmonella Enteritidis

Isolado Clínico

7,1

O ensaio de concentração inibitória mínima (CIM) tem o propósito de avaliar in vitro a atividade antimicrobiana de um fármaco isolado ou em associação, presente em produtos farmacêuticos e veterinários (como ingredientes farmacêuticos ativos), frente a diferentes agentes etiológicos. A concentração inibitória mínima (CIM) é o parâmetro farmacodinâmico mais utilizado para otimizar terapias antimicrobianas e pode ser definida como a concentração mínima do antibiótico que previne o crescimento bacteriano visível em um ensaio padronizado in vitro. O estudo foi conduzido de acordo com a Norma M7-A6: “Metodologia dos Testes de Sensibilidade a Agentes Antimicrobianos por Diluição para Bactéria de Crescimento Aeróbico: Norma Aprovada - Sexta Edição”. Este trabalho focaliza métodos de referência para a determinação das concentrações inibitórias mínimas (CIMs) de bactérias aeróbicas por macrodiluição em caldo, microdiluição em caldo e diluição em ágar. Trata-se de uma norma de aplicação global desenvolvida mediante o processo consensual do CLSI (Clinicaland Laboratory Standard Institute - Antigo NCCLS) e que preconiza que o ensaio de CIM seja realizado com ingredientes ativos puros e não com produtos formulados. A concentração inibitória mínima foi determinada contra os seguintes micro-organismos: Escherichia coli K88, Escherichia coli K99, Salmonella gallinarum e Salmonella enteritidis. Os resultados encontrados para a CIM dos isômeros isolados, 5,7-dicloro-8-hidroxiquinolina e 5-cloro-8-hidroxiquinolina, assim como para o halquinol (matéria-prima) frente aos diferentes micro-organismos avaliados, são apresentados nas tabelas de I e II. Nas colunas CIM da tabela I são apresentados os valores de concentração do 5,7dicloro-8-hidroxiquinolina e do 5-cloro-8-hidroxiquinolina, em que não houve crescimento visível do micro-organismo. Na coluna CIM da tabela II

são apresentados os valores para o halquinol: Como se pode observar nas tabelas I e II, a matéria-prima halquinol e o padrão de referência 5,7-dicloro-8-hidroxiquinolina apresentaram valores de CIM próximos para a maioria dos micro-organismos estudados, atingindo um intervalo de 2,0 a 7,1 µg/mL e 1,6 a 6,6 µg/mL, respectivamente. Já o padrão de referência de 5-cloro-8-hidroxiquinolina apresentou valores de CIM mais elevados, na faixa de 11,21 a 22,415 ug/mL. Tais dados permitem inferir que a atividade microbiana do isômero 5,7-dicloro-8-hidroxiquinolina é superior a do isômero 5-cloro-8-hidroxiquinolina e que uma matéria-prima que atende ao padrão farmacopeico da Farmacopeia Britânica de 1980 possui atividade microbiana semelhante a do isômero 5,7-dicloro-8-hidroxiquinolina, já que este isômero é o que está presente em maior proporção na matéria-prima que atende aos padrões de qualidade da BP 80. Assim, as matérias-primas que não atendem ao padrão farmacopeico podem apresentar menor quantidade do isômero 5,7-dicloro-8-hidroxiquinolina, apresentando atividade antimicrobiana reduzida e, consequentemente, menor eficácia.

55

Referências Bibliográficas 1. Cardoso et al. Utilização do halquinol como promotor de crescimento e coadjuvante no controle da coccidiose em frangos de corte. ArchivesofVeterinary Science, v. 7, n.1, p. 11-19, 2002. 2. Norma M7-A6: “Metodologia dos Testes de Sensibilidade a Agentes Antimicrobianos por Diluição para Bactéria de Crescimento Aeróbico: Norma Aprovada - Sexta Edição”. CLSI (ClinicalandLaboratory Standard Institute - Antigo NCCLS). nº 53/2015 | Suínos&Cia


Dicas de Manejo

Transporte de suínos no sistema de produção

O

objetivo de produzir animais saudáveis, sem dúvida, faz-se presente em todos os segmentos de produção. Para realizar boas práticas de manejo antes, durante e depois do transporte, é necessário treinar e revisar constantemente as pessoas envolvidas nessa importante tarefa. No entanto, é fundamental que os animais, nas diferentes fases de produção, sejam transportados adequadamente, evitando qualquer situação de estresse que possa comprometer a saúde e o bem-estar dos mesmos. Abaixo, seguem algumas sugestões do manejo de transporte que, quando colocados em prática, ajudará a melhorar a eficiência desse importante processo em todo o sistema de produção suína. Confira!

Transporte de fêmeas gestantes para a maternidade: transportar as fêmeas para maternidade entre 3-5 dias antes do parto com muita calma e em horário fresco do dia, evitando qualquer situação de estresse.

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Chegou a hora do desmame: os leitões estão aptos a desmamar quando atingem peso superior a 6 kg e idade mínima de 21 dias de lactação.

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Dicas de Manejo

Conduzir os leitões por corredores de manejo sempre nos horários mais frescos do dia.

Transporte de leitões desmamados: o caminhão, ao se aproximar da granja, deverá receber os leitões desmamados sempre limpo, desinfetado e seco, antes de se aproximar das instalações.

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Em alguns sistemas transportam-se leitões em caixas, em caminhões fechados ou ônibus.

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Dicas de Manejo

Manejo adequado de como se deve segurar o leitão e, em seguida, proceder a pesagem.

Alojar os leitões adequadamente em ambiente limpo, desinfetado e seco.

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Manejo de transporte de terminação: as terminações devem ser localizadas em áreas de fácil acesso. Deverão existir corredores que facilitem o descarregamento e o alojamento dos animais.

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Dicas de Manejo

Os animais devem ser retirados das baias de terminação em pequenos grupos, com muita paciência e tranquilidade, utilizando sempre tábua de manejo ou fômite para que não os machuquem nem os estressem.

Cuidados no manejo de transporte: Definido o lote a ser embarcado, proceder o jejum (suspender o fornecimento de ração) com o mínimo de 12 horas, não excedendo 24 horas, acompanhado de dieta hídrica (fornecimento de água) em abundância e de boa qualidade.

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Transporte pós-creche: os caminhões devem receber o processo de lavagem, desinfecção e secagem antes de se aproximarem da granja.

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Dicas de Manejo

Monitorar e revisar a qualidade da limpeza, desinfecção e secagem dos caminhões antes dos mesmos se aproximarem das unidades de produção.

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Transporte de animais para o frigorífico: para assegurar o processo de limpeza e desinfecção antes de entrar nas proximidades da granja, o caminhão deverá passar pelo arco de desinfecção. Em seguida, o responsável pelo carregamento deverá fazer uma vistoria prévia para revisar o processo, com o objetivo de monitorar as condições e o controle de qualidade da limpeza do caminhão.

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Revisão Técnica

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Divirta-se

Encontre as palavras As doenças entéricas ou intestinais são causadas por vírus e/ou bactérias que acometem o suíno em diferentes idades. São infecções intestinais que produzem diarreia, perda excessiva de peso, desidratação e mortes quando não são identificadas e tratadas precocemente. No diagrama abaixo vamos encontrar as palavras que são alguns dos princípios ativos medicamentosos (antibióticos) indicados no tratamento e controle de doenças bacterianas entéricas que acometem o suíno.

Bacitracina Colistina Gentamicina Enrofloxacina Lincomicina Neomicina Norfloxacina Sulfas Tetraciclina Tiamulina Tilosina

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Trimetoprim

Teste seus conhecimentos Leia e assinale as sentenças abaixo, colocando verdadeiro (V) ou falso (F), para compreender melhor porque a inseminação artificial teve tanto incremento nas últimas décadas, passando a ser considerada o método mais seguro e utilizado na reprodução suína. ( ( ( ( ( ( (

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) A Rússia foi o primeiro país a realizar as primeiras inseminações artificiais em suíno. ) Na década de 80 desenvolveram-se os primeiros diluentes de longa conservação. ) Pode-se afirmar que umas das vantagens zootécnicas da IA é a otimização de espaço na granja. ) Uma das grandes vantagens sanitária da IA é a redução do risco de transmissão de doenças infectocontagiosas por via sexual. ) O número de doses a ser elaboradas por ejaculado depende da sua concentração. ) Uma das grandes vantagens de manejo, quando se utiliza a IA, é permitir usar animais de distinto peso no cruzamento. ) O sêmen suíno, quando congelado, apresenta os mesmos ou melhores resultados reprodutivos quando comparado com sêmen resfriado.


Divirta-se

Qual o seu diagnóstico? Caso 1 Em uma UPL (Unidade Produtora de Leitões) houve relato de alta mortalidade, atingindo de 15% a 20% de leitões na primeira semana de vida. Além da mortalidade, os leitões apresentavam diarreia, constipação e atraso no desenvolvimento. Na necropsia, a principal lesão observada foi edema do mesocólon.

Qual dos agentes abaixo pode estar envolvido quando presente este histórico e achado de necropsia? (

) Clostridium difficile

(

) Echerichia coli

(

) Rotavírus

(

) TGE

(

) PED

Caso 2 Em outra UPL (Unidade Produtora de Leitões) houve relato de diarreia em leitões entre 7 e 14 dias de vida com baixa mortalidade, porém, evidente perda de peso dos leitões acometidos e alta morbidade, com mais de 40% dos leitões da mesma leitegada apresentando sinal clínico de diarreia. As diarreias tinham coloração variada, apresentando-se pastosa transitória ou esbranquiçada, até uma mais profusa líquida amarelada, pH ácido (< 6), cerdas engrossadas e sem brilho, desidratação e pouca ou nula resposta ao uso de antibiótico injetável. Piso plástico das gaiolas com presença de diarreia

Piso sólido por baixo das gaiolas com diarreia de diferentes colorações

Leitões desidratados e atraso no desenvolvimento Baseado nas informações acima, qual é o seu diagnóstico? ( ( ( ( (

) Rotavírus ) PED (Diarreia Epidêmica) ) TGE (Gastroenterite Transmissível) ) Isospora suis (Coccidiose) ) Escherichia coli (Colibacilose)

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Divirta-se

Encontre as palavras

Teste seus conhecimentos 64

( V ) A Rússia foi o primeiro país a realizar as primeiras inseminações artificiais em suíno. ( V ) Na década de 80 desenvolveram-se os primeiros diluentes de longa conservação. ( V ) Pode-se afirmar que umas das vantagens zootécnicas da IA é a otimização de espaço na granja. ( V ) Uma das grandes vantagens sanitária da IA é a redução do risco de transmissão de doenças infectocontagiosas por via sexual. ( V ) O número de doses a ser elaboradas por ejaculado depende da sua concentração. ( V ) Uma das grandes vantagens de manejo, quando se utiliza a IA, é permitir usar animais de distinto peso no cruzamento. ( F ) O sêmen suíno, quando congelado, apresenta os mesmos ou melhores resultados reprodutivos quando comparado com sêmen resfriado.

Qual o seu diagnóstico?

Suínos&Cia | nº 53/2015

Caso 1

Caso 2

Qual dos agentes abaixo pode estar envolvido quando presente este histórico e achado de necropsia? ( X ) Clostridium difficile ( ) Echerichia coli ( ) Rotavírus ( ) TGE ( ) PED

Baseado nas informações acima, qual é o seu diagnóstico? (

) Rotavírus

(

) PED (Diarreia Epidêmica)

(

) TGE (Gastroenterite Transmissível)

( X ) Isospora suis (Coccidiose) (

) Escherichia coli (Colibacilose)


Divirta-se

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