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panorama
O MErcadO Está MudandO. E as empresas de internet precisam se adaptar
No IX Fórum, realizado pelo NIC.br em outubro, foi feito um diagnóstico do cenário atual do segmento. Os dados mostram que, hoje, há 12.826 empresas de internet no País, mas somente 7.007 têm declaração de acessos à Anatel. A maior parte – 35% – está na região Sudeste e 93% são micro ou pequenas empresas. O evento tratou ainda do impacto dos PTTs e das redes neutras e evidenciou que a adoção do IPv6 segue em ritmo abaixo do esperado.
EVENtO tRADICIONAL do segmento de internet, o IX Fórum, promovido pelo NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR), CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil) e o IX.br (Brasil Internet Exchange) e que está em sua 16ª. edição, fez uma análise abrangente do mercado. Existem, hoje, 12.826 empresas de internet no Brasil, mas apenas 7.007 têm acessos declarados à Anatel. O levantamento mostra que 35% estão na região Sudeste e 93% são micro ou pequenas empresas (1 a 49 empregados). O total estimado de empresas de internet com presença em algum ponto de troca de tráfego (PTT, ou IX, na sigla em inglês para internet exchange), passou de 1.289, em 2017, para 2.442, em 2020, segundo a mais recente pesquisa TIC Provedores.
EDuarDo Parajo Vice-presidente da Abranet
alEx juCius Chief Marketing Officer (CMO) da Fibrasil
O IX.br proporciona a ligação direta, permitindo que muitos sistemas autônomos (AS) troquem tráfego diretamente. A interligação de diversos AS em um IX ou PTT simplifica o trânsito da internet e diminui o número de redes até um determinado destino. Isso melhora a qualidade, reduz custos e aumenta a resiliência da rede. No total, são 9.530 os ASNs (Autonomous System Number, ou Número de Sistemas Autônomos) alocados no Brasil e destes 5.633 têm conexões no IX.br, e únicos conectados no IX.br são 3.478. O IX.br, em outubro, estava presente em 35 localidades, somando 3.478 AS participantes. O tráfego gira em 26 Tbit/s por mês.
As empresas de internet vivem um momento de transição e sabem que é preciso se adequar aos novos tempos, ponderou o vice-presidente da Abranet, Eduardo Parajo. “O trabalho de desbravador feito pelas empresas de internet está chegando a um ponto de saturação. Temos de olhar quais oportunidades teremos, porque virou um ‘rouba-monte’, um conquistando o cliente do outro com algum diferencial e serviço. O que fazer com os investimentos realizados, que estão pendurados ou enterrados?”. De acordo com Parajo, “é preciso criar uma dinâmica de mercado um pouco diferente. Sei que as pessoas [donos de provedores] consideram a rede um filho, mas temos de olhar adiante, porque tem mercado para crescer, há oportunidades.”
O vice-presidente da Abranet observou também que há uma sobra de ativos, de redes disponíveis, que podem ser oportunidade para fusões e aquisições ou novos modelos de negócios. E foi enfático: a palavra final é compartilhamento. “Não vão ter 1.200 pontos para fixar fibra ótica no poste. Sabemos que muitas operações hoje correm risco. Teremos de olhar, cada vez mais, para a forma como esse compartilhamento vai existir”, sinalizou.
É aqui que entram as redes neutras. A preocupação de muitas empresas de internet é como ficam a transparência e a concorrência em um cenário no qual companhias de redes neutras têm um cliente âncora ou incumbent. Segundo Parajo, há outros pontos a serem colocados à mesa,
Veja a íntegra do painel “Redes Neutras”, realizado no IX Fórum 16: https://youtu.be/9k-Y_vp7Wla
como a preservação da competitividade e da concorrência e como se dará a tributação. “É locação que não tem ICMS ou é serviço de telecom que tem ICMS?”.
Ao avaliar o modelo de negócios das redes neutras, Parajo considerou que elas vão complementar a rede física que a empresa de internet tem. “Existe uma malha de infraestrutura, que não é das empresas de rede neutra, e que se precisa fazer algo com ela; é ativo que tem de ser remunerado”, destacou. Ele também defendeu que, dentro dos modelos de negócios de redes neutras, haja espaço para as empresas de internet buscarem a sua diferenciação. “A camada de IP, de backbone, a conexão com CDN, a forma como o provedor gera conteúdo é o que o diferencia. Há diferenciais em cada prestador de serviço, seja por latência ou rota escolhida; por isso, é importante deixar a porta dentro do lego que está sendo montado.”
transparência
As redes neutras começaram a ganhar notoriedade no Brasil, principalmente, com a atuação de três grandes empresas especializadas nessa oferta e oriundas da venda de ativos das operadoras: Fibrasil (Vivo/Telefônica), I-Systems (TIM) e V.tal (Oi). Do lado das empresas de internet, ainda há cautela e receio, mas encarar esse novo cenário é uma necessidade, como foi enfatizado no painel moderado por Eduardo Parajo durante o IX Fórum.
Ficou claro que transparência deve ser a palavra-chave no relacionamento entre as empresas de internet e as de infraestrutura de fibra ótica. “Não estamos falando para os ISPs deixarem de construir nas cidades, mas, sim, para olharem as redes que existem e construir onde não tenha cobertura”, destacou Alex Jucius, Chief Marketing Officer (CMO) da Fibrasil, da qual a Telefônica é acionista. “Se o provedor não tiver cliente, a rede neutra não ganha dinheiro. A competição hoje é muito grande e você tem de ter diferencial; um deles é o atendimento”, completou.
Eduardo Grizendi, diretor de Engenharia & Operações da RNP, disse que a organização, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), firma parcerias com as empresas de internet para a construção, expansão e manutenção de redes metropolitanas dentro de alguns modelos, que podem ser de construção conjunta ou de permuta de fibras por manutenção. Ele lembrou que, dentro do Programa Amazônia Integrada e Sustentável (PAIS), a RNP construiu e compartilhou infovias de forma neutra.
O programa, segundo Grizendi explicou, prevê a construção de oito infovias na região amazônica. A RNP foi escalada e construiu uma infovia piloto para servir de modelo e boas práticas para as demais. “Implantamos a infovia 00, que ficou operacional em junho de 2022; é
ipv6: MErcadO Está atrasadO
Em 2023, celebram-se 25 anos da criação do IPv6, 15 anos do projeto IPv6.br e cinco anos da RFC 8200, que instituiu o IPv6 como padrão. Mas a adoção no Brasil caminha a passos lentos. Em sua apresentação no IX Fórum, Eduardo Barasal Morales, coordenador da área de formação de sistemas autônomos do Centro de Estudos e Pesquisas em Tecnologia de Redes e Operações (Ceptro.br/NIC.br), convocou a comunidade para unir esforços visando avançar no tema.
O tempo médio de espera na fila do IPv4, no LACNIC (sigla para Registro de Endereçamento da Internet para a América Latina e o Caribe), é de 661 dias e quem entrar hoje na fila de espera vai aguardar, pelo menos, cinco anos para conseguir o bloco IPv4, apontou Morales. “Estamos no fim do IPv4 em nível mundial, é esgotamento, e tem de esperar. Não tem por que não pensar em trabalhar com IPv6”, ressaltou. A recomendação é não esperar para partir para o IPv6.
Mundialmente, a adoção do IPv6 está crescendo de modo devagar, ainda que tenha havido um impulso à medida que se passaram as fases de esgotamento do IPv4. “É um crescimento linear. De um lado, é uma coisa boa, porque continua crescendo, mas não é uma coisa tão boa quanto esperávamos. Esperávamos que o IPv6 alavancasse e que nem precisaríamos estar falando dele em todos os IX Fórum”, disse Morales. Veja esta apresentação em: https://youtu.be/XkrZjprcQaY?t=3926 Com base em dados do APNIC, Google
EDuarDo GrizEnDi Diretor de Engenharia & Operações da RNP
DaniEl CarDoso CEO da I–Systems
e Facebook, a média de adoção mundial do IPv6 está na casa dos 40% e, segundo Morales, levaria ainda uns dois anos para chegar ao patamar dos 50%.
No Brasil, com relação à conectividade, a adoção também está em cerca de 40%, seguindo a média mundial. O crescimento no País começou em 2015, período que coincide com o esgotamento do IPv4. “O que realmente impulsionou o IPv6 foi a falta de endereços IPv4. E cada vez está faltando mais e mais.”
Grandes operadoras estão com altas taxas de implantação de IPv6 no mercado brasileiro, mas Morales ressaltou que, se essas companhias puxam a média para cima, os pequenos provedores de internet a puxam para baixo. “E esta situação não é apenas da América Latina.”
Quando se observa a adoção de IPv6 no aspecto de conteúdo, há também diferença entre os maiores e menores sites. Dentre os 500 sites mais acessados mundialmente, a implantação do IPv6 está perto dos 40%, mas, quando se aumenta o escopo para os mil sites, o percentual cai para 27%. “Estamos vendo as grandes operadoras de conteúdo colocando IPv6 e as pequenas, não. Isso é um ponto de alerta de como estimular a implantação do IPv6, também acompanhando a questão da conectividade.” No Brasil, a adoção de IPv6 no conteúdo está na casa dos 30% entre os 500 sites mais acessados.
Os números apresentados pelo NIC.br mostram que o total estimado de provedores que entregam IPv6 saltou de 922, em 2017, para 3.102 em 2020; e que a menor entrega de IPv6 está entre os provedores com menos de 300 acessos.
um cabo fluvial que conecta Santarém/PA a Macapá/AP. O consórcio é aberto e estamos reabrindo processo para entrar novos consorciados que operem e mantenham a infraestrutura”, detalhou.
Daniel Cardoso, CEO da I–Systems, que tem a TIM como acionista, enfatizou que o conceito de rede neutra não é novo e que o compartilhamento já existe, seja no backbone, seja nas torres das móveis. “O que é novo e propomos é trazer o conceito de compartilhamento para a rede de acesso, FTTH, de conectar as nossas residências”, ressaltou. O executivo apontou que, no Brasil, existe uma dicotomia: entre 15 milhões a 20 milhões de endereços precisam ser conectados e não há fibra (ou ela é insuficiente) e muitos outros lugares têm fibra demais, levando a desperdício de recursos.
A neutralidade de rede se garante, segundo Rafael Marquez, diretor de Marketing da V.tal, empresa oriunda da Oi, pelo controle, pela gestão e pela existência de um comitê. Ele ressaltou que a Oi, apesar de deter 35% das ações, não participa das decisões e não compõe o time executivo da V.tal. “Por conceito e por contrato, temos cláusula de não competição; somos atacadista puro”, ressaltou.
rEtEnçãO dE cliEntEs
A palavra de ordem para as empresas de internet é retenção de clientes, já que muitas praticamente esgotaram o número de casas passadas e aumentar a base significa captar assinantes de outras empresas. “Hoje, o provedor de internet está instalando menos, porque acabaram os assinantes. Virou ‘toma, toma’. Falta poste, há uma guerra de preço; precisa-se de mudança de rota e retenção é a palavra mágica”, ressaltou Lacier Dias, diretor-técnico da Solintel, assessoria especializada na obtenção de outorgas em telecomunicações.
Para Dias, a rede neutra talvez seja uma saída elegante deste processo e um caminho que pode ser trilhado por alguns ISPs. “Não adianta ficar nadando contra a corrente, tem muita rede subutilizada no País. É importante pensar em maneiras mais inteligentes de usar esta capacidade”, disse. No entanto, ele enfatizou que, por parte dos ISPs, ainda existe muito medo de o fornecedor de redes neutras se tornar concorrente. “As redes neutras não podem vender acesso”, frisou. “Acreditamos no modelo de compartilhamento para evoluir. Se tiver de se apegar, se apegue a seu cliente e não ao roteador, porque é melhor se apegar ao que gera valor para o seu negócio. Para um país do tamanho do nosso, não existe uma única bala de prata para tudo”, enfatizou Cardoso, da I-Systems. Alex Jucius, da Fibrasil, disse que os modelos de negócios foram feitos ouvindo os provedores. “Fizemos uma rede fixa virtualizada, repassando os ganhos de escala para o provedor. É um lego que o provedor monta como quiser. Durante muitos anos foi época de tirar pedido de internet; hoje não é mais. Provedor tem de ser inteligente para entender que o mercado, que a dinâmica mudou.” •
ruMO à MOdErniZaçãO
Segue em curso o movimento de modernizar os pontos de troca de tráfego no Brasil. Julio Sirota, gerente de Engenharia e Infraestrutura do IX.br (Brasil Internet Exchange), reiterou que ainda é atual a meta de implantar EVPN (sigla para Ethernet Virtual Private Network) principalmente, em São Paulo, onde “pelo tamanho da rede, é importante ter este tipo de tecnologia.”
Segundo ele, houve avanços em 2022 e existe a possibilidade de testes e pilotos em 2023. A implantação em São Paulo vai demandar um tempo, cerca de dois anos, para adequação do parque de equipamentos e migração. De forma simplificada, uma arquitetura EVPN-VXLAN suporta conectividade de rede de camada 2 e camada 3 com escala, simplicidade e agilidade, ao mesmo tempo que reduz os custos de OpEx.
Sirota ressaltou que não haverá freezing operacional durante a Copa do Mundo de 2022 no Catar, entre novembro e dezembro, mas há previsão para a Black Friday e a véspera, nos dias 24 e 25 de novembro. O freezing operacional permite dar a maior estabilidade possível nos pontos de troca de tráfego do IX.br durante períodos de grande movimento do tráfego internet e significa que as manutenções e configurações estão suspensas. Veja esta apresentação em: https://youtu.be/XkrZjprcQaY?t=1816
rafaEl MarquEz Diretor de Marketing da V.tal “O provedor de internet está instalando menos, porque acabaram os assinantes. Falta poste, há uma guerra de preço; precisa-se de mudança de rota e retenção é a palavra mágica.”
laCiEr Dias Diretor Técnico da Solintel
A ENtRADA em operação em Manaus (AM) do OpenCDN, uma iniciativa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) para compartilhamento de infraestrutura visando aproximar CDNs de pontos de troca de tráfego (PTTs), beneficiou diretamente os usuários da região amazônica. O OpenCDN fica em datacenter da empresa de internet Bemol e começou a operar em maio de 2021.
“Começamos, no ano passado, com as caixas da Globo. com sendo as primeiras a chegar. Estávamos conectados ao PTT, fizemos acesso de redundância e nos tornamos um IX. Todo mundo pergunta qual é o nosso objetivo. Nós nos beneficiamos, mas o principal é gerar impacto social. Quando você consegue impactar as cidades onde está, fica mais fácil galgar novos passos”, relatou Jesaias Arruda, head of IT & Operations na Bemol e diretor na Abranet.
Com o OpenCDN, é possível levar mais conteúdo, entregar mais qualidade e de forma mais rápida, além de o projeto atender a qualquer tamanho de empresa. Depois da Globo.com, chegaram Netflix e Google, e a Akamai deve ser instalada em breve. Segundo Arruda, há conversas também com a Meta, dona do Facebook e Instagram. “O OpenCDN teve um ponto primordial, que foi o de entregar internet na cidade e a pessoa poder assistir o filme dela na Netflix com 5 milissegundos de resposta. Isso é revolução”, atestou.
O impacto do OpenCDN em Manaus pode ser medido pelo tamanho da região. São, aproximadamente, 18 milhões de habitantes, distribuídos em 450 municípios, sendo que 79% dos domicílios e 83% dos usuários têm acesso à internet, dos quais 18% exclusivamente via rede móvel e 20% somente por Wi-Fi. A região amazônica é abastecida por apenas três rotas de internet que atendem os estados do Amazonas e Roraima.
O projeto OpenCDN tem como objetivo descentralizar o conteúdo na internet brasileira, e outras localidades devem receber o sistema em breve. “Nosso projeto é levar para 30 PTTs. Aos poucos, estamos ampliando”, disse Antonio Marcos Moreiras, gerente de Projetos e Desenvolvimento do Ceptro.br/NIC.br.
Atualmente, o projeto está em Salvador e Brasília, além de Manaus. Recife pode ser a próxima localidade. “Estamos tentando costurar acordos para outros OpenCDNs em cidades como Belém e Cuiabá,” relatou Moreiras. •
Veja a apresentação de JEsaias arruda em: https://youtu.be/uju8KvazO9g?t=543 Veja a apresentação de antOniO MarcOs MOrEiras em: https://youtu.be/uju8KvazO9g?t=2396