Observatório SP - 2019/1

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Universidade Anhembi Morumbi

2019/01

Ano 2019 / Número 01

Jornal produzido por alunos do quarto semestre do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi.

Museu a céu aberto Cemitério da Consolação atrai turistas com seus túmulos artísticos

Mulheres são alvos de violência

Brechó: entrega sobre trilhos

Por que escalar rochas?


Vida paulistana Com mais de 12 milhões de habitantes, a capital paulista vive rotineiramente a diversidade sociocultural, o que a torna uma rica fonte de histórias. Em cada esquina reserva surpresas àqueles dispostos a investigar a cidade mais populosa do País. Observadores atentos deparamse com um cotidiano singular capaz de provocar inquietação aos olhares de curiosos futuros jornalistas. A partir da proposta de explorar e investigar o que acontece nas diferentes regiões da cidade que abriga cidadãos de variadas origens, culturas e classes sociais, os alunos do 4o. semestre do curso de Jornalismo da Anhembi Morumbi foram a campo. Uma experiência que aliou o aprendizado do fazer jornalístico ao contato com o desconhecido. Como resultado desse trabalho, temos a produção deste jornal

laboratório que, além de proporcionar vivência inicial à rotina desafiadora da profissão de jornalista, traz um breve relato da vida paulistana. Da pesquisa à edição gráfica, passando pelos processos de reportagem, redação e registro fotográfico, os alunos vivenciaram os percalços e prazeres da prática jornalística. As editorias são compostas por reportagens que buscam narrar o perfil de onde vivem aqueles que enfrentam as carências próprias de uma grande cidade e, ao mesmo tempo, desfrutam de peculiaridades originadas e mantidas por cidadãos comprometidos com o bem-estar da “casa” onde moram. Boa leitura! Profa. Ms. Maria Cristina B. Barbosa Professora da disciplina Produção de Jornal

///Expediente Reitor Prof. Dr. Paolo Tommassini Coordenadora do curso de Jornalismo Prof.ª Maria Cristina Almeida Coordenador adjunto do curso de Jornalismo Prof. José Augusto Lobato Professoras responsáveis pelo jornal Prof.ª Maria Cristina Barbosa Design e fotografia Prof. Rodrigo Morais


História Giovanna Denoni, Fernandes, Joyce Marianna Tondolo.

Fernanda Moura e

Cidades Mariana Fioux, Dandara Theiss, Gabriela dos Santos e Jennifer Bastos. Economia Bárbara Passarin, Bruna Goularte, Henrique Efigênio e Sara Oliveira. Esportes Lucas Moraes, André Luiz, Bruno Marco, Geovana Martins e Safira Teodoro. Bem-estar Beatriz Ferreira, Camila Fiorante e Inês Jordana. Foto por Mariana Fioux

Saber Gabriel Redondo, Pedro Toyama, Nicolas Borges e Regiane Spielmann. Cultura Bárbara Moreira, Mariana Vince, Victória Monteiro, Andrew Mariotto e Matheus Branco, Douglas Dias e Elnatã Paixão.

Fazer um jornal do zero foi uma experiência estressante e cansativa, mas ver o projeto pronto é recompensador. Cada um passou por um desafio diferente, criou bagagem não só academicamente, mas na vida pessoal. - Mariana Fioux A oportunidade de realizar a produção do jornal foi uma imersão na realidade da profissão de jornalista. Podendo experiênciar o cotidiano de uma redação, com o desafio de entregar a matéria finalizada, realizar a foto dentro do prazo estipulado e fazendo ainda a diagramação. Uma vivência desafiadora e instigante. - Henrique Efigênio Falar sobre uma comunidade não é um trabalho simples. Ainda mais quando há muito sobre o que dizer e pouco tempo disponível. Este trabalho foi engrandecedor para mim pelas pessoas que conheci e pela visão do futuro dos jovens da comunidade Jd. Colombo. - Fernanda Fernandes


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Clique nos pontos do mapa e confira alguns pontos de interesse visitados pela equipe durante a execução das pautas.

1. Morumbi - págs. 08 e 09 2. Bela Vista - págs. 10, 22, 23, 32, 35, 37 e 48 3. 25 de Março - pág. 11 4. Barra Funda - págs. 12 e 28 5. Santa Cecília - pág. 12 6. Sé - pág. 13 7. República - págs. 14, 15 e 39 8. Consolação - págs. 16, 17, 22, 23, 33, 38 e 49 9. Tiradentes - págs. 18 e 19 10. Perdizes - págs. 24 e 25 11. Jabaquara - págs. 26 e 27 12. Mooca - pág. 29 13. Jd. Paulista - págs. 30, 42 e 43 14. Santana - pág. 31 15. Itaim Paulista - págs. 32 e 33 16. Tatuapé - págs. 32, 46 e 47 17. Vila Mariana - pág. 33 18. Tucuruvi - pág. 36 19. Bom Retiro - págs. 40 e 41 20. Alto de Pinheiros - págs. 40 e 41 21. Parelheiros - págs. 44 e 45


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Jd. Colombo aposta em projetos sociais A comunidade, do Complexo do Paraisópolis, investe em integração social, cultura e lazer Fotos: Fernanda Fernandes

chegaram no Jd. Colombo em 1978 apenas com o dinheiro da venda de gado, muito recorrente na época. Segundo Antônio, “tinha muito emprego, tinha alojamento, tudo” mas, até conseguir um emprego, achar lugar para ficar não era fácil. Não ter onde morar fazia com que moradores já estabelecidos alojassem os que chegavam. “Nós ficamos na casa da Dona Maria. A maioria que vinha, ficava lá de quinze dias a um mês, até arrumar emprego”, explica Cícero. O processo de se estabelecer na comunidade se dava pela rapidez de conseguir trabalho, pela urgência de capinar a terra com as próprias mãos e de ter os materiais para definir uma área como sua propriedade. Em mais de 40 anos de ocupação, a comunidade Jd. Colombo cresceu de maneira exponencial e abriga de 15 a 18 mil pessoas, cerca de cinco mil famílias, em que seis delas ainda vivem em barracos de madeira. A arquiteta Ester Carro, que atua na comunidade pelo Projeto Fazendinha, explica: “Não é porque não tem mais barracos de madeira que as condições mudaram.” Segundo ela, as condições de saúde

ainda são muito precárias. “Tem criança com bronquite, sinusite, rinite. Você entra na casa, não tem nenhuma ventilação, não consegue respirar”, conta. Até 2018, a única UBS (Unidade Básica de Saúde) que oferecia atendimento aos moradores das comunidades Porto Seguro e Jd. Colombo era a UBS Vila Sônia, no Butantã. A distância era o fator principal de descontinuidade ao acompanhamento médico. Em mais de 30 anos, os quase 3km foram evitados pelos moradores mais antigos que não tinham como chegar até lá a pé. Inaugurada em 2018, a UBS Jardim Colombo atende moradores das duas comunidades que nunca tiveram acesso à saúde, devido à distância. Ester ainda critica a falta de sensibilidade do governo com as comunidades e aponta: “A população daqui é totalmente desacreditada porque o poder público não dá nenhum retorno. Nunca tivemos o Ministério da Educação aqui. É super cansativo. É desgastante, porque eles querem que você se canse. É horrível. Tem todo um jogo.”

Morumbi é marcado por contrastes sociais entre residências de alto padrão e favelas

por Fernanda Fernandes Quem passa pelo bairro do Morumbi, Zona Oeste de São Paulo, nota de imediato os contrastes socioculturais representados pela presença de mansões, shoppings e centro empresarial, cercados por favelas. O alto custo de vida do estado e a má distribuição de renda do país contribuíram para o surgimento de comunidades como Paraisópolis, Jardim Colombo e Porto Seguro, do Complexo do Paraisópolis. As primeiras ocupações do bairro aconteceram no terreno do

Paraisópolis, entre as décadas de 1940 e 1950. Em geral por famílias japonesas que, à medida que se estabeleciam na cidade, parcelavam as terras em chácaras de pequeno porte, criando os primeiros lotes residenciais da região. Entre 1960 e 1970, a área ganhou novos moradores. Colégios privados e o cemitério de alto padrão Gethsêmani foram implantados, ao mesmo tempo que o primeiro Plano de Desenvolvimento Integrado de Santo Amaro era elaborado. O projeto sugeria definir a região como área de utilidade pública e

visava, para o futuro, um projeto de urbanização, que mais tarde foi deixado de lado. Moradia Em torno do cemitério e do Colégio Porto Seguro surgiram os novos barracos de madeira. O processo de assentamento informal deu origem ao sentimento de marginalidade dos migrantes que chegavam em São Paulo, especialmente do Norte e Nordeste, em busca de emprego. Em expansão, a cidade oferecia muitas vagas em construção civil. Os irmãos Antônio e Cícero

Espaço do Projeto Viver, primeiro projeto social da comunidade, atende 240 crianças

09 Projetos Sociais A falta de presença da subprefeitura do Butantã no Jd. Colombo chamou a atenção de colaboradores do Banco Votorantim, que investiram e tornaram possível o Projeto Viver. Em 2001, foi criada a Associação Viver em Família Para Um Futuro Melhor, onde as crianças brincavam, recebiam o lanche, almoço e voltavam para casa. Quatro anos depois, foi inaugurado o espaço do Projeto Viver, que oferece biblioteca, brinquedoteca, quadra de futebol, aulas de informática, caratê, teatro, cidadania e alimentação. “Eu vejo o Projeto Viver como a extensão da minha casa, como uma família. Queria que tivesse mais [projetos]”, declara a moradora Valéria Valentim. Em 2018, foi inaugurado o 1º Festival de Arte - Fazendinhando, idealizado pelo arquiteto intercambista da universidade Massachussets Institute of Technology - MIT Antônio Moya Latorre. A iniciativa se deu quando foi compreendida a necessidade de um espaço de interação e lazer para os moradores ao mesmo tempo que foi percebida a existência de um terreno livre, anteriormente utilizado para descarte de lixo a céu aberto.


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Cemitério expõe história da arte

Varejistas imigrantes geram riquezas

Túmulos suntuosos atraem turistas à necrópole da Consolação

Sírios e libaneses participam do crescimento econômico da cidade há dois séculos

Foto por Marianna Tondolo

Obras de artistas anônimos são destaque na maioria dos túmulos

por Marianna Tondolo Conhecido como museu a céu aberto, o Cemitério da Consolação atrai 150 visitantes curiosos por mês, interessados em entrar no mundo da história existente no local. Caminhando pelos corredores da necrópole é possível observar a quantidade de obras de arte espalhadas por todos os cantos, são registros de artes tumulares que atravessam os tempos e encantam os olhos de quem vê. Francivaldo Almeida Gomes, o Popó, é o guia da visita e mostra,

durante ela, que muitos nomes importantes estão enterrados no cemitério, como por exemplo Francisco Rangel Pestana, jornalista e fundador do jornal “A Província”, hoje conhecido como jornal “O Estado de São Paulo”. Tarsila do Amaral, Oswald e Mário de Andrade, a tríade do modernismo, também têm seus túmulos no local. E é baseado na história de cada uma dessas pessoas, que Popó conduz a visita pelos corredores do cemitério, trazendo de volta a memória de todos esses personagens que ajudaram a compor a história de São Paulo e do país. O perfil dos visitantes é variado, e de acordo com Popó todos reagem muito bem a visita. Nathalia Cardoso Pereira, bibliotecária especialista em memória, foi à visita guiada ao cemitério e diz que superou suas expectativas. “Eu gosto muito, porque cemitérios e igrejas contam muito sobre a história da cidade. Mesmo que você não tenha uma religião ou não esteja acostumado a visitar um cemitério, você acaba conhecendo muito do lugar”, diz. A bibliotecária também relata que o motivo da sua visita até o local foi por conta da memória e dos túmulos de pessoas que admira, ao exemplo de Monteiro Lobato, e por ser um tipo de turismo alternativo. Rosana Dalla Piazza, professora de artes da Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA) e pesquisadora, diz que o que difere o Cemitério da Consolação dos demais cemitérios não é só a questão histórica e das obras de arte, mas também a questão da memória. “É um marco histórico, a forma como foi construído, a arquitetura neoclássica e eclética. Dentro do próprio cemitério podemos ver vários momentos, como por

exemplo o modernismo de 1922 e obras de Brecheret”. Rosana diz também que a importância artística da necrópole da Consolação se deve a questão da suntuosidade, que é muito forte dentro do local. “A estrutura do cemitério faz com que ele seja um lugar diferenciado”. O Cemitério da Consolação se diferencia exatamente por suas lápides grandiosas e pela história que elas carregam. Hoje, é comum não ver mais esse tipo de arte no mundo moderno. A professora de artes da ECA se refere a esse fato como “um fenômeno que está acontecendo na sociedade no geral, é a pós modernidade, um movimento de utilidade”. Rosana diz que a beleza das lápides e tradições, tão comuns antigamente, está se transformando num ato de praticidade e informalidade, o que é muito triste em sua visão, pois segundo ela é um meio que as pessoas têm de “esconder a morte” e não tratá-la de forma natural, como um ciclo da vida. “As pessoas estão se esquecendo da morte. Não é uma questão bem tratada e abordada, é um tabu. Estamos tão focados em ser os melhores na escola e no trabalho, que esquecemos do lado B da vida, ou seja, a morte e a doença ficam em quarto ou quinto plano. É perigoso a questão do apagamento da memória, é um desgaste dos valores”, reforça a professora. O guia Popó, sempre solícito e preocupado em relatar a história para todos, se orgulha de seu trabalho e diz que para ele é uma honra estar ali, relembrando e sempre mantendo viva a memória da necrópole, o que é muito importante, pois ressalta o fato de tratar a morte como sendo algo natural na vida de todos. “Eu estudo a morte para melhor compreender a vida”, enfatiza.

por Joyce Moura Desde o século XIX imigrantes árabes estão presentes em São Paulo, contribuindo para o crescimento econômico da cidade e marcados desde a criação da avenida comercial mais popular, a 25 de março, até na gastronomia presente em diversos restaurantes. Segundo dados do Sistema Nacional de Cadastro e Registro Estrangeiro levantados pela Agência de Notícias Brasil-Árabe em 2017, atualmente a cidade conta com mais de quatro mil e quinhentos libaneses e mais de mil e quinhentos sírios. Em 1920 a estimativa era de que havia cerca de dezenove mil imigrantes sírios e libaneses, no estado de São Paulo. Sua história, contudo, se inicia ainda no século XIX, mais precisamente em 1870, como aponta a professora e doutora em geografia humana da PUC-SP Márcia Cabreira. Nessa época os países estavam sob dominação do império turco-otomano. Segundo a professora, o império dava a opção para que os habitantes se convertessem ao islamismo ou ingressarem no exército turco. Isso, somado à violência da época, foram um dos principais motivos para a primeira onda de imigração. Ao contrário de outros povos que chegavam em São Paulo no mesmo período, esses árabes não tinham como objetivo trabalhar nas fazendas de café. Pelo contrário, os que aqui chegaram tinham a ideia de trabalhar no comércio. O professor e mestre em história da Faculdade Teológica Batista de SP Luciano Alves, explica que nesse momento quem chega à cidade são, em sua maioria, homens solteiros que pretendiam ganhar dinheiro

para poder voltar para sua casa. Um desses rapazes foi Elie Daccachel que, como explica sua neta Marília Daccachel, foi o único de seis irmãos a sair do Líbano, por volta das décadas de 1940 e 1950, passar seis dias em um navio até finalmente chegar ao Brasil, onde começou a trabalhar com o mercado imobiliário. Porém, Alves explica que a grande maioria que chegava na cidade se dedicava ao trabalho de mascate, isto é, um comércio como caixeiro-viajante. Eles vendiam todo o tipo de mercadoria e chegavam a percorrer o país dessa forma, deixando seus clientes pagaram a prestação. O que acontece, no entanto, é que ao invés desses rapazes voltarem para casa, eles trazem suas respectivas famílias. Ou criam sua própria família na cidade, normalmente com outros imigrantes de sua comunidade. Como foi o caso de Daccachel,

que conheceu sua esposa em São Paulo, uma brasileira filha de imigrantes libaneses. Aos poucos, com o dinheiro ganho, esses imigrantes vão erguendo suas primeiras lojas, costumeiramente situadas na região hoje conhecida como a rua 25 de Março. Cabreira relembra que essa região sempre foi um ponto de venda e troca, e que se expande com a chegada dos imigrantes. Os comércios, em sua maioria de tecidos, começam a crescer, tomam conta da maior parte da região e enriquecem seus donos. Como, por exemplo, a família Jafet, vinda do Líbano e que são criadores de um dos melhores hospitais da América Latina, o Sírio-Libanês, além de estarem presentes nos setores políticos e econômicos da cidade e do país, e se tornarem até mesmo nome de rua. Este é apenas um dos inúmeros casos de sucesso econômico e social de famílias imigrantes vindas de países árabes.

Foto por Joyce Moura Placas da região exemplificam a importância árabe na cidade


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história///cidades

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Arquitetura conta a história de São Paulo

Cães são acolhidos por moradores de rua

Importância dos patrimônios tombados para a cidade pode ser comparado com um álbum de fotos da família, que agrega um valor sentimental único

Animais influenciam na decisão de moradores irem ou não para albergues

Foto por Giovanna G. Denoni Casa tombada na Rua Dona Germaine Burchard, 458

por Giovanna G. Denoni

As vias públicas da cidade estão ocupadas por milhares de cachorros, com maior concentração nas áreas periféricas, nos parques e praças. Mas o fato de eles estarem nas ruas, não significa, necessariamente, que estejam desamparados. Muitos estão sob a tutela de pessoas que se encontram na mesma condição que eles. São muitos os moradores de rua que cuidam de pelo menos um cachorro. O catador de latinhas Pedro Máximo da Paixão tem duas cadelas, a Duquesa e a Princesa, que considera como filhas. Ele diz ter toda a dedicação necessária com elas, não apenas com a alimentação, mas também com vacinação e medicamentos. As doações que recebe e o dinheiro que arrecada com a venda das latinhas são voltados para suas “filhas”. Pedro, conhecido entre moradores da Av. Paulista, disse ainda que prefere ficar na rua a ir para um albergue e não poder conviver com suas cachorras. “É judiação separálas de mim, e eu também não vou me sentir bem. Elas já estão acostumadas a viver comigo. Então, é melhor assim”, diz o catador. Os albergues, de fato, não aparecem como opção para muitos moradores. A impossibilidade de estarem juntos de seus animais influenciam na decisão de ir ou não para um alojamento. É o caso de Francisco Luiz de Souza, que vive em situação de rua com sua cachorrinha e ainda promove ajuda a outros cães que encontra abandonados. “O esquema de eu ir para um albergue e ela ir para um canil não é bom. Um cachorro que chega nesses canis públicos pode

pegar doença dos que já estão lá, porque lá eles não são bem cuidados, não são bem tratados. Eu cuido melhor”, declara Francisco. Há quatro anos, foi criado o projeto Moradores de Rua e Seus Cães, pelo fotógrafo Edu Leporo, voltado a ajudar moradores de rua nessas condições. O projeto, que conta com parceiros, funciona por meio de ações sociais que levam auxílio tanto para os humanos quanto para os caninos. São realizados atendimentos e doações para ambos os lados. O fundador e idealizador do abrigo de animais CoraCão, Thadeu Hiroshi, quando questionado sobre o que acha desse tipo de situação, relata que não vê problema em cães viverem sob a tutela de pessoas em situação de rua, desde que haja

uma avaliação se não existe alguma condição de risco para esses animais. “Na rua, se bem cuidado, é até melhor do que em um abrigo, porque o animal tem mais liberdade, tem acesso a um ambiente livre. O complicado é quando existem situações de exploração ou de mal tratos. Alguns moradores usam os animais para lucrar. Tem de tudo, uns que exploram e outros que cuidam. É uma situação bem delicada, cada caso deve ser analisado com cuidado”, avalia. Thadeu ainda explica que um animal de rua que é resgatado por um abrigo pode levar meses ou até anos para ser adotado. “Aí que entra a questão do que é melhor, o animal ficar preso por vários meses, ou ele ficar livre na rua com uma pessoa que cuide bem dele?”, pondera.

Foto por Jennifer Bastos

Desde que foi fundada pelos jesuítas, a cidade de São Paulo se provou um dos centros econômicos, sociais e culturais mais importantes da América Latina. Com sua arquitetura que vai desde catedrais neogóticas até museus modernistas, andar pela cidade já é mergulhar na história. Para que isso fosse possível foi criado o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que atua até hoje no tombamento de patrimônios históricos e culturais. No número 626 da Avenida Angélica, a própria sede do IPHAN é um patrimônio tombado. A casa foi construída no começo do século XX pela sobrinha e afilhada da Dona Angélica de Barros, uma das mulheres mais poderosas da cidade na época dos grandes cafezais.

O tombamento dessa casa, assim como de outros patrimônios da cidade, é possível graças a uma extensa pesquisa sociocultural, que determina se aquele patrimônio tem um valor histórico para a cidade. É assim que Victor Hugo Mori, arquiteto e superintendente do IPHAN, explica o processo: “O processo não acontece por conta da velhice, são vários fatores que entram. Tem que entender uma coisa que é difícil em princípio, que se chama valor cultural. Os objetos, artefatos, eles só têm propriedade física e química. O valor é fora dele. É atribuído por alguém, por uma sociedade” Depois de ser verificado se o patrimônio possui todos os valores necessários, o projeto passa por uma votação no conselho do IPHAN, que determinará se o tombamento será aprovado. Criado na Era Vargas pelo

renomado escritor Mário de Andrade, o objetivo do tombamento é preservar a estética - seja de um prédio, um bairro, e até uma cidade - para que as gerações futuras tenham uma ideia de como as coisas eram em certo momento da história. Para que isso aconteça, leis foram criadas para que houvesse a preservação da faixada dos patrimônios, que não podem ser derrubados ou mutilados. Porém, a existência dessas leis prejudica os proprietários de residências ou comércios que são tombados, não apenas na manutenção, que é limitada e sempre precisa da aprovação da prefeitura, como também na venda desse imóvel, que é desvalorizado. Além disso, não existe indenização por parte da prefeitura, e portanto, nenhum benefício para o proprietário. “O dono de um patrimônio é prejudicado. A partir do momento que a minha casa é [tombada], e a do vizinho não é, eu tenho uma restrição maior que a dele, então eu tenho menos liberdade do que fazer com o meu imóvel”, completa Mori. É o caso da aposentada Marilda Abrigato, que teve sua casa tombada há dois anos. Vendo o noticiário alguns dias depois de receber a notificação, ela entendeu o porquê: fazia parte de um grupo de casas que haviam sido construídas nas décadas de 1950 e 1960 e que ainda mantinham essa estética. Não gostou. “Eu vim para essa casa em 1953. Faz 70 anos que eu estou aqui. A casa é muito conservada, e nunca passou pela minha cabeça que iriam tombar. Se eu soubesse que isso ia acontecer, eu teria mexido nela. Não me interessa isso”.

por Jennifer Bastos

Catador de latinhas interagindo com suas cachorras


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///cidades

Monumentos refletem invisibilidade feminina É muito comum encontrar pelas ruas do centro e até em parques monumentos de personalidades históricas, mas poucos fazem referência a mulheres

Fotos: Gabriela dos Santos

nosso lugar de representação não é público. ” Luciamary Rodrigues, socióloga, aponta que por as pessoas não se sentirem parte do espaço público, os monumentos de São Paulo não são muito notados. As pessoas seguem sua rotina sem olhar a paisagem da cidade. Por exemplo, Mariana Souza, estudante de psicologia, diz não conhecer nenhum monumento feminino, mesmo estando perto da estátua da Professora Carolina Ribeiro que fica na Praça da República. Apesar dos movimentos feministas estarem crescendo atualmente, a pauta sobre monumentos

históricos não é discutida, o que demonstra que dificilmente em um futuro próximo a quantidade de monumentos femininos irá se aproximar dos masculinos. Como forma de lembrar as mulheres que elas eram importantes na história, a guia turística Tereza Batista ressalta que um homem não realizou feitos históricos sozinho, tem um coletivo por trás, no qual com certeza tem uma mulher participando dessas decisões. Por isso, segundo ela, ao ver um monumento homenageando um homem, é bom pesquisar mais sobre as mulheres que o cercaram em vida.

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Monumentos que homenageiam mulheres • Antonieta Rudge Endereço: Praça Portugal – Pinheiros -05401-000 Quem foi: Grande pianista brasileira. • Carlota Pereira de Queiroz Endereço: Praça Califórnia – Jardins - 01436-070 Quem foi: Primeira mulher eleita deputada federal no Brasil e na América do Sul. • Maria Esther Bueno Endereço: Praça Califórnia – Jardins - 01436-070 Quem foi:. Tenosta que conquistou títulos em três décadas. • Elizabeth Souza Lobo Garcia Endereço: Av. Mendonça e Vasconcelos, 201 - Vila Ester 08330-260 Quem foi: Professora que combinou a atividade acadêmica com a militância política. • Carolina Ribeiro Endereço: Praça da República – República - 01045-000 Quem foi: Secretária da Educação do Estado de São Paulo • Lucinha Mendonça Endereço: Praça Lucinha Mendonça – Indianópolis - 04074-010 Quem foi: Jurista da Procuradoria Geral do Município de São Paulo.

Estátua em homenagem à professora Carolina Ribeiro, na Praça da República desde 1892

por Gabriela dos Santos Um monumento histórico, sejam bustos, estátuas ou marcos, preserva a memória de um momento ou de uma pessoa importante. Uma cidade grande e antiga, como São Paulo, possui muitos monumentos, cerca de 140, entretanto apenas 8 deles homenageiam mulheres. O primeiro monumento feminino foi construído apenas em 1977, homenageando Antonieta Rudge, enquanto os que homenageiam homens começaram a ser feitos em 1910/1920. Essa seria uma

das explicações para a pequena quantidade de monumentos femininos, segundo o professor de história Levi Corrêa, esses fatos estão atrelados à demora do papel da mulher a ser reconhecido na sociedade por conta de um regimento machista. A sociedade está tão acostumada à falta de visibilidade feminina, que a ausência de monumentos femininos muitas vezes é tida como normal e só é percebida quando chamada atenção, como no caso da Pamela Almeida, estudante de Direito, que afirmou nunca ter

pensado antes sobre o assunto e que só agora percebeu o quanto as mulheres são pouco representadas em monumentos. De maneira inconsciente, simbólica e refletindo em ações cotidianas concretas, a falta de monumentos femininos faz com que as mulheres sintam que os espaços públicos pertençam ao homem, como alega a socióloga Mariana Martins. “Não só os monumentos, mas as pessoas mesmo, afinal, uma mulher sozinha caminhando pelas ruas muitas vezes pode sentir medo e um não pertencimento. Nos é ensinado que

• Cora Coralina Endereço: Praça Cora Coralina R. Bento de Andrade, 129 - Jardim Paulista - 04503-010 Quem foi: Importante poetisa brasileira. • Michie Akama Endereço: Praça Michie Akama - R. Domingos de Morais, 3090 Vila Mariana- 04036-100 Quem foi: Professora reconhecida pela dedicação ao ensino. Estátua homenageando a tenista Maria Bueno


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Mulheres são vítimas da violência urbana A falta de segurança e infraestrutura de São Paulo limita a mobilidade nas ruas e o uso de transporte público Fotos: Mariana Fioux

o ‘Movimento Vamos Juntas’ que faz uso de postagens com dicas de segurança e tem como objetivo unir mulheres com caminhos similares para se acompanharem e diminuir os riscos de sofrerem alguma violência. Ainda de acordo com a pesquisa da organização, a iluminação também é uma preocupação feminina. Cerca de 13% das moradoras de São Paulo sofreram alguma violência nas ruas nos últimos anos. A iluminação é, para muitas, uma situação de simples solução. Mas para a Prefeitura não. A cidade está desde 2014 com a iluminação pública sobrevivendo em “situação de emergência”. Ruas escuras com matagais, terrenos baldios e prédios abandonados também influenciam o caminho das mulheres. Tanto as pedestres quanto as motoristas, temem o que pode estar à espera delas nesses locais: “Quando eu saio do trabalho, tenho que decidir qual caminho usar. A avenida

Engenheiro Alves tem monte de buraco, é mal sinalizado, então você se sente insegura, porque se eu estou nessa rua que tem terreno de um lado, mato do outro, se acontece alguma coisa de quebrar meu carro à noite. O entorno mal cuidado dá margem para coisas ruins acontecerem”. Aponta Karen Araújo, que prefere arriscar levar uma multa em dia de rodízio na marginal Tietê, a utilizar o caminho que considera mais perigoso. Outro dado importante revelado pela pesquisa é a de que a vontade de sair da capital entre as mulheres é menor que a dos homens, 42% afirmam não querer sair, contra 32% dos paulistanos. Mas a avaliação da Rede Nossa São Paulo ressalta que isso ocorre porque elas preferem se arriscar menos que os homens. O peso das responsabilidades em relação à família, carreira e segurança é maior que o carregado por eles.

Os problemas de mobilidade na cidade de São Paulo atingem mulheres de formas específicas, sendo as principais usuárias de locomoção não particular, são as principais vítimas de violência urbana. Elas são 55% dos usuários de transporte público na cidade, mas a preocupação com a locomoção delas parece não ser pauta. Segundo a pesquisa divulgada pela Rede Nossa São Paulo em março de 2018, quatro em cada dez mulheres consideram ônibus e metrô locais

hostis, em que 25% das paulistanas dizem ter sofrido alguma situação de violência. O assédio, depois do estupro, é o segundo maior medo feminino e é o mais recorrente nos transportes coletivos. A SPTrans diz que disponibiliza equipamentos de segurança aos operadores do transporte público em ocorrências de abuso sexual, como parte do programa ‘Viagem Segura’. O Metrô afirma manter um canal e aplicativo de denúncia, chamado Metrô Conecta. Tanto a SPTrans quanto o Metrô, nos últimos anos, vêm demonstrando

esforços por meio de campanhas contra a importunação sexual, com cartazes, avisos sonoros e postagens em redes sociais. Mas as usuárias dizem não notar efeito dessas campanhas. A preocupação delas com a segurança nos transportes é facilmente identificada como resume a estudante de moda, Mariáh Mendes: “Evito sentar no canto, sempre tento sentar ao lado de mulher, se não estiver lugar eu encosto o quadril na parede, assim fico de frente para todo mundo”. Há grupos nas redes sociais como

Mesmo com avaliações positivas em relação a sair, a vida das mulheres na cidade não é nada boa e a pesquisa reflete isso em todos os seus pontos avaliados. Não há uma valorização equalitária entre homens e mulheres, além da iluminação e segurança nos coletivos, outro empecilho muito citado é o acesso físico aos locais. Calçadas estreitas ou inexistentes, falta de sinalização e de faixas de pedestres e vielas apertadas, reduzem o acesso de mulheres a locais de ensino, lazer e socialização. É comum, especialmente no período da noite, mulheres andarem com a bolsa a frente do corpo e andando apressadas, não é pressa, é medo, como explica a estudante de marketing Beatriz Varanelli, que inclui ‘fazer cara de brava’ e não olhar nos olhos das pessoas, porque se fizer uma expressão agradável “as pessoas” acham que está dando abertura para uma interação.

A Lei 13.718/18, sancionada em 24 de setembro de 2018, criminaliza a importunação sexual e a divulgação de cenas de estupro. Quem praticá-lo poderá pegar pena de 1 a 5 anos de prisão. O 180 é o número da Central de atendimento à mulher, funciona 24 horas e recebe denúncias de crimes contra as mulheres, fornece informações como a delegacia da mulher mais próxima, o endereço do Ministério Público da cidade, informações de procurados por violência doméstica, e outras informações relacionadas. O Metrô de São Paulo, possui o MetrôConecta, um aplicativo para celular para os usuários mandarem denúncias e tem a possibilidade de enviar fotos e vídeos. SMS denúncia do Metrô SP: 97333-2252 SMS denúncia da CPTM: 97150-4949

Estação Sé é a que mais recebe reclamações das passageiras por assédio nos vagões.

por Mariana Fioux

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Campanha antiassédio veiculada pelo Metrô SP


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///cidades

Blocos de Carnaval agitam SP Alta de 12,4% de foliões em 2019 exige reforço em organização e patrocínio público

Tudo será avaliado pelos órgãos competentes da prefeitura. Desfiles em áreas exclusivamente residenciais são proibidos e os blocos devem dispersar no máximo até as 20 horas. Apesar de as áreas residenciais serem proibidas, moradores de locais próximos enfrentam alguns problemas da mesma forma. O estudante Matheus Toscano mora na região do metrô Tiradentes, onde ocorreram vários blocos, para ele a maior dificuldade é com a super lotação das estações e fechamento de avenidas e ruas. Os custos de aluguel de trio, atrações, etc. são de responsabilidade dos organizadores. Além disso, existem as taxas da prefeitura que são destinadas à limpeza, pagamento de equipe, CET e bombeiros. O bloco será penalizado se descumprir os combinados aprovados pelos órgãos competentes e a Comissão Intersecretarial. Caso não haja o comparecimento no dia do desfile, o bloco não poderá se inscrever no Carnaval por dois anos consecutivos. Em casos de desistência, é necessário informar

com 70 dias de antecedência. Apesar de todas as regras, o governo oferece apoio com banheiros, segurança e trânsito aos blocos que se inscrevem oficialmente e seguem as regras. Os independentes que não possuem alvará, ou seja, não inscritos, podem ser impedidos de desfilar. Sobre segurança, no carnaval de 2019 houve um aumento de 41% no efetivo da polícia militar. Contando com seis mil policiais a mais que no ano passado. Já nas estações de metrô, houve um aumento de 12% no efetivo de funcionários e de 30% de agentes de segurança. Apesar dos supostos aumentos, os foliões ainda não se sentiram protegidos, como conta a estudante Laura Macedo “Devido ao grande número de pessoas, tudo foge do controle, na questão da segurança, está bem fraco, é possível ver diversos casos de furtos e agressões. ” Em 2019 o governo implantou também um projeto inédito. Os mega blocos da avenida Tiradentes e praça da República contaram com um ônibus lilás que atendia vítimas de assédio. A guarda civil participou da ação e as mulheres

Fotos: Dandara Theiss Bloco de rua “Agrada Gregos”. É considerado o terceiro maior de São Paulo

por Dandara Theiss O carnaval de rua de São Paulo começou pequeno, com poucos blocos e frequentadores, mas agora é um dos maiores eventos da cidade. No ano de 2019 houve uma alta de 12,4% em relação a 2018, com um público de 12 milhões de pessoas. São Paulo já está em segundo lugar em faturamento no Carnaval, com potencial de R$ 1,9 bilhão. Parte da razão disso é porque o poder público vem investindo mais na festa. Esse ano o patrocínio superou os R$ 16 milhões.

Apesar de ser ótimo para a economia da cidade, os frequentadores apontam alguns problemas nesse crescimento. Segundo a estudante Tainá Barini, que frequenta o carnaval de rua desde 2015, os blocos estão cada vez mais cheios e mal localizados, “Considero o carnaval de 2016 um dos melhores, as localizações dos blocos eram melhores. Em 2017 começou a expandir demais os lugares e alguns não pareciam ser o melhor para ocupar um bloco.” Por trás de toda folia e crescimento há também muito trabalho.

Organizar um bloco envolve muitas pessoas, leis e regras. Para começar, os interessados devem inscrever o bloco até outubro do ano anterior. Nessa parte é necessário informar o percurso e data de todos os desfiles. É importante anexar o máximo de informações possíveis, inclusive um arquivo digital com os dados geográficos gerados em um navegador da Terra como o Google Earth ou Google Maps. É também obrigação dos organizadores informar como será feita toda a operação do desfile e garantir seu funcionamento.

Pessoas aproveitando o bloco de rua “Love Fest” na Avenida Tiradentes

19 que quisessem prestar queixa eram auxiliadas por guardas. O ônibus contava com psicólogas, assistentes sociais e advogadas. A Amlurb, empresa responsável pela coleta de lixo, recolheu quase 650 toneladas de resíduos e para lavar as ruas foram gastos mais de sete mil milímetros cubicos de água de reuso. Os foliões parecem bem satisfeitos com a limpeza dos blocos e não houve muitas reclamações, como diz Tainá, que aponta que as maiores questões nessa área vem dos próprios participantes da festa, “fazem totalmente o que precisa ser feito, o problema é que fica muito lixo, por conta da população mesmo, mas o papel de limpeza de ruas é o que menos dá pra reclamar.” Além do apoio do governo, tiveram também campanhas não oficiais de limpeza, como o projeto “Carnaval sem Catador é Lixo”. Os voluntários do trabalho coletam as latinhas deixadas para trás e entregam para catadores de lixo poderem obter renda extra. Esse ano mais de 4 toneladas de latinhas foram entregues para 200 catadores.


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///economia e negócios

Com sede em São Paulo, a primeira e maior plataforma do país oferece informações e cursos O mercado empreendedor feminino é uma crescente na economia brasileira, contudo não está preparado para receber as mulheres. No Brasil, elas lideram 42,7% das empresas estabelecidas (com pelo menos três anos e meio de atividade) e 51,5% dos novos empreendimentos, de acordo com o levantamento da Global Entrepreneurship Monitor (GEM). Idealizada em 2010, por Ana Fontes, o Rede Mulher Empreendedora (RME) nasceu de um blog e virou a primeira e maior rede de apoio ao empreendedorismo feminino do Brasil. Após participar de um programa de capacitação, Ana percebeu que não existiam instituições e ações de apoio às mulheres que estavam começando a empreender ou já tinham seus negócios. Com a criação do blog, compartilhava suas experiências e

aprendizados para ajudar outras que passavam pelas mesmas situações. “Em pouco tempo, Ana já tinha um grande público, o blog foi evoluindo, tornou-se um grupo e depois foi se moldando no negócio social que é hoje”, diz o RME. O mercado para a mulher é visto de duas formas: como um caminho para continuarem ativas, e ao mesmo tempo, terem mais flexibilidade com a família. Segundo uma pesquisa do Rede Mulher, mais de 70% das mulheres empreendem após a maternidade - contribui para isso os ambientes hostis para elas, principalmente após esse período. ‘ Em estudo realizado pela Associação Brasileira de Startup (ABStartups), em termos geográficos, o estado de São Paulo é líder disparado em número de startups filiadas com aproximadamente 28%. A capital paulista foi considerada, em 2015, pela Global Startup Ecosystem

Ranking, como um dos espaços mais promissores do mundo. As donas da Wonder Size, startup paulista de marca plus size fitness, que participaram do programa de aceleração do RME, hoje são mentoras da plataforma e um reflexo dessa realidade. “Residir em São Paulo é ter acesso às pessoas e a informação. O mercado de empreendedor é muito pequeno”, afirma Amanda Momente, fundadora da marca. O networking adquirido auxilia na aproximação de parceiros pela causa de empoderamento. “O Brasil tem se estruturado com outros polos tecnológicos, como nordeste e sul, mas São Paulo ainda é o centro”, completou Marioli Oliveira, sócia da Wonder Size. A rede de apoio capacita mulheres durante eventos de networking, cursos e mentorias. Além de realizar parcerias com empresas que acreditam na causa para levar oportunidades e facilidades.

Lorem ipsum dolor sit amet, vix et facer lobortis. Foto por Nome Sobrenome.

Amanda e Mariloli, fundadoras da Wonder Size, expandiram os negócios após o apoio da Rede Mulher

Foto por Bruna Goularte

por Bruna Goularte

Brechós online entregam no Metrô

Trilhos da cidade de São Paulo são alternativa para os fretes caros e método agrada clientes Foto por Henrique Efigênio

Rede capacita empreendedoras

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Comércio facilitado pelas entregas de metrô satisfaz consumidores em São Paulo

por Henrique Efigênio Comprar uma peça que já foi usada, por um preço mais acessível, não é novidade. Mas recebê-la na estação de metrô que você passa todo dia, sim. Alguns brechós online da cidade São Paulo encontraram nos trilhos, uma oportunidade para levar as roupas vendidas a um local que o comprador passa diariamente. “A entrega no metrô é uma opção barata da pessoa pegar a peça, mais próximo de onde ela está”, diz Nathalia Neri, sócia do Brechó Meio-Fio que conta com esse tipo de entrega. Segundo ela, o formato é uma alternativa ao reajuste de 8,03% nas modalidades de entrega dos Correios: Sedex e Pac, aplicados em março deste ano. O sistema, que pode ser considerado comércio ilegal, não sofre nenhuma represália da segurança - principalmente nas linhas geridas pelo estado, pois

não há fiscalização. “Nunca tive problema, já que eles não tem controle nem de quem pula a catraca”, justifica Nathalia. Apesar de ir contra as normas, o método de entrega agrada aos clientes, que gostam da funcionalidade ao atrelar a rotina às compras. “Gosto de entregas no metrô por conta da praticidade e também pela possibilidade de saber quem é a pessoa que faz a seleção das peças” diz o publicitário João Pedro Branco, 23 anos, consumidor. O processo funciona da seguinte forma: o perfil do brechó nas redes sociais avisa o horário em que as fotos com as novas peças serão publicadas O cliente visita a página, escolhe a peça de sua preferência e comenta seu interesse no item. O perfil entra em contato, dando preferência para quem se manifestou primeiro. Então se acerta o modo de entrega e de pagamento. Quando se opta pelo recebimento no metrô,

o pagamento pode ser feito em dinheiro ou na maquininha de cartão de crédito e débito. Depois da compra acertada, é selecionada a estação da entrega. Alguns brechós só fazem entregas em algumas pré-selecionadas, já outros deixam ao gosto do cliente. No horário combinado, o representante da loja espera próximo à catraca para evitar desencontros e inseguranças dos clientes. O cliente o encontra, confere se a peça está ideal, efetua o pagamento e volta para seu trajeto. Segundo Nathalia, muitos empreendedores optam por esse recurso, pois não há um alvará de ambulantes específico para brechós, o que dificulta a exposição do produto. “Quando a Avenida Paulista está fechada, por exemplo, vemos alguns expositores, mas são irregulares. Sempre há o risco de alguém pegar e levar nossos produtos”, acrescenta ela.


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///economia e negócios

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Lojas colaborativas são opção para varejo

Desemprego entre jovens preocupa

Com origem em 2008, o primeiro espaço inaugurado em São Paulo já rendeu oito filiais

A cada 100 jovens paulistanos 28 estão sem trabalho; mas há oportunidades em programas de primeiro emprego por Sara Oliveira

Foto por Bárbara Passarin Loja Endossa: valores de aluguel dependem do tamanho e visibilidade do espaço

por Bárbara Passarin Na contramão do varejo, que fechou mais de 220 mil lojas nos últimos três anos em todo o pais, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), algumas lojas virtuais procuram espaços físicos para expor sua marca. É um desafio para pequenos negócios conseguirem se manter no mercado. No atual balanço, São Paulo, estado que concentra 29% do faturamento do varejo nacional, perdeu mais de 4 mil lojas em 2017. Uma alternativa que tem chamado a atenção de lojistas para driblar essa situação são as chamadas lojas colaborativas. O conceito, conta com uma loja âncora que dispõe espaços específicos para

que diversas marcas criem áreas expositivas exclusivas dentro de um único espaço físico. Segundo a pesquisa mais recente sobre segmento realizada pelo Sebrae, essa é uma boa opção de investimento, pois além de ter custos fixos mais baixos, uma vez que o aluguel do espaço é dividido entre todos os expositores, é possível divulgar produtos em um ambiente físico e também há a possibilidade de fidelizar um público que acaba conhecendo o espaço. Como é o caso da loja Endossa, a primeira loja colaborativa em São Paulo, na Rua Augusta. Carlos Margarido, um os idealizadores, conta que quando abriam as portas da loja na rua Augusta em 2008 não esperavam tamanho sucesso. “Alugamos todos os espaços em

apenas duas semanas e tivemos que correr para criar uma lista de espera antes mesmo de começar a vender os produtos”, diz o empresário. Outro exemplo de sucesso é a loja “Como Assim?!” criada pelo empresário Ednelson Albuquerque, que, somam mais de 200 expositores atualmente. É notável que empreendedores estão repensando na maneira de agir. Para Caroline Vieira, dona da loja Jambo Acessórios, expositora da unidade do Shopping Center 3, na Avenida Paulista a principal vantagem de ter uma loja em um ambiente colaborativo é de todo mundo se ajudar. “Microempreendedores não iriam conseguir pagar um aluguel de um espaço na Paulista, num shopping tão conceituado” diz.

Segundo pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), considerando o percentual que em cada 100 jovens paulistanos 28 estão sem trabalho, são 411.473 moradores da capital paulista na faixa de 16 a 24 anos que estão sem emprego. A taxa de inocupação entre os jovens é superior à população em geral economicamente ativa, que corresponde a 15% no município, o equivalente a mais de um milhão de desempregados. “Em meio à crise econômica e de desemprego é fácil imaginar que o mercado está complicado, concorrido e arriscado, isso é uma verdade, porém, não uma verdade completa. A realidade é que uma mão lava a outra, em diversos aspectos ambos os lados ganham, conseguimos jovens que estão

sedentos para trabalhar, proativos e com muita disposição, com um custo relativamente pequeno e tendo ‘descontos’ em impostos, ou seja, isso facilita muito para nós”, diz Sarah Silva, que trabalha com o recrutamento e seleção do Unibrad Banco Bradesco S/A. Ela afirma que existem diversas maneiras, oportunidades e programas para o ingresso no primeiro emprego, e que jovens de 16 a 24 anos são o público-alvo nesses programas, principalmente no quesito jovem aprendiz/estágio. “Buscamos sempre os melhores dentro desses grupos e nessa fase é difícil falar sobre qualificação, já que é uma faixa etária que não possui basicamente nenhuma experiência, então o foco é naqueles que possuem um perfil psicológico atraente e naqueles que buscam por estudos, sejam os que já estão matriculados em uma universidade, ou aqueles que

Foto por Sara Oliveira Há oportunidades em programas de primeiro emprego

possuem cursos profissionalizantes”. Para Eduardo Mantoan, economista formado pela UFRRJ, essa atitude que foi impulsionada pela crise é de um olhar otimista para a economia. “O brasileiro tem uma cultura de olhar para a crise com criatividade e se reinventar para ganhar dinheiro. Os jovens inventam sua maneira de empreender”, afirma Eduardo. Hanna Rodrigues, 21 anos, é formada em gestão em eventos, encontrou na crise uma forma de atuar indiretamente em sua área e uma maneira de tirar seu sustento. Sempre sonhou em ter o seu próprio negócio, teve a oportunidade de trabalhar com vendas de calçados. Desempregada há 2 anos, viu uma opção de fácil acesso e de pouco investimento, já que não tinha uma renda fixa a um tempo, nem uma oportunidade de seguir carreira. “Antes dos calçados eu já vendia lingerie e não precisava ter investimento nenhum, com isso conquistei algumas clientes fiéis que sempre estavam me cobrando para retomar essas vendas”. Com a formação que tinha, Hanna juntou a necessidade com os pedidos das clientes e expandiu sua ideia de negócio. “Veio a ideia de um chá de lingerie, na qual eu levo a loja para o evento da noiva, com peças do seu tamanho e preferência para suas convidadas lhe presentearem, facilitando na correria do dia a dia de quem irá presentear e a não cometer um erro na escolha do presente”. Hanna conclui dizendo que o seu ganho por conta própria é muito mais vantajoso de quando era funcionária de outra empresa. “Nunca imaginei que uma crise me faria lucrar tanto”.


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///esportes

Escalar rochas é um novo estilo de vida A escalada esportiva é uma modalidade do montanhismo e dos esportes radicais. Hoje, há uma popularização dessa prática em academias em São Paulo com muros artificiais

Fotos: Geovana Melo

Casa de Pedra reúne 300 praticantes de escalada por dia

por Geovana Melo Os esportistas e simpatizantes da escalada encontram ginásios na capital paulista, como a Casa de Pedra. Entretanto, a estrutura para a prática desse esporte continua sendo um desafio, segundo o treinador Felipe Vieira “a maior dificuldade é atender aos padrões internacionais, nós não temos uma cultura hoje aqui no Brasil de escaladores, nós estamos formando isso. Com essa exibição dos atletas brasileiros nas Olimpíadas, isso tende a vir mais rápido para nós”.

Em torno de trezentas pessoas treinam diariamente no ginásio, que oferece treinamentos além das paredes de escalada, como uma academia tradicional multifuncional para atletas. Como explica o funcionário: “a gente vai dar o suporte junto com a ABEE (Associação Brasileira de Escalada Esportiva), temos uma estrutura aqui, somos o maior de São Paulo. Nós vamos estar fazendo um centro de treinamento para que os atletas profissionais possam estar exercendo suas funções”. Quando questionado sobre o

aumento da formação de atletas dessa modalidade em São Paulo, ele se mostrou entusiasmado com a visibilidade atual que pode dar retorno com uma melhor estrutura futuramente. Visibilidade graças ao acesso na programação do Comitê Olímpico que, como ideia inicial, implica opiniões distintas nos simpatizantes do esporte, como João Felipe de Carvalho - guia turístico e praticante de escalada - que acredita em um salto na evolução do esporte e diz imaginar quando os campeonatos nacionais tiverem suporte, “eu

acho que o Brasil chega mais para adquirir aprendizado, tem países com competições internas já muito fortes”. Assim como ele, o atleta Felipe Hoo pondera sua concepção sobre a força do Brasil nas competições: “eu não acredito que o Brasil chegue forte para as competições internacionais, principalmente na questão da preparação aqui no Brasil, por causa dos ginásios que são limitantes. Muito do que a gente tem feito de estratégia é ir e ficar alguns meses para treinar fora e ir competindo ao longo desses meses. Então a evolução é crescente, eu diria que o Brasil se torna forte lá fora, mas ainda tem muito mais para correr atrás, muito mais para evoluir antes de pensar em estar forte”. Felipe, com apenas 19 anos, coleciona conquistas nacionais e internacionais no mundo da escalada. Além de ser integrante da Seleção Brasileira de Escalada Esportiva, ele faz uma preparação árdua para realizar o sonho de representar o país - e sua cidade natal, São Paulo - nas Olimpíadas, tem treinamentos de segunda à sábado com assessoria de uma clínica esportiva que possui fisioterapeuta, preparador físico, médico de esporte e uma nutricionista, todos esses profissionais têm uma interdisciplinaridade, isto é, eles conversam entre si em um plano de treino, exclusivo e baseado nos objetivos de Felipe, que confessa: “tenho um suporte por traz, ninguém consegue ser campeão mundial sozinho, entende? Tem que ter esse suporte, tenho até um psicólogo que não é dessa mesma clínica mas é um psicólogo de esporte que faz um trabalho semanalmente comigo, então trabalhamos minhas questões tanto pessoais, problemas de família ou de relacionamentos interpessoais, até mesmo estratégias mentais para competir”. Um dos fatores cruciais na expansão da escalada esportiva é sua participação inédita nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, porém os atletas não se

consideram estruturados com o que é disponibilizado nos ginásios de São Paulo, como Felipe Hoo descreve “para pessoas com nível de atleta os ginásios são bem limitados. Muitas das vezes eles não suportam nem 60% da qualidade que um treino em um ginásio gringo ofereceria. Então eu diria que não, os ginásios de São Paulo não são preparados para formar uma seleção brasileira de escalada, nem oferecem as melhores condições para isso. Principalmente pela questão de infraestrutura, mas com que temos hoje a gente está fazendo mágica, tem muito atleta que está treinando no Brasil e o nível está subindo de uma maneira que é surpreendente se a gente tivesse as condições que as pessoas na Europa ou nos Estados Unidos têm, eu tenho muita curiosidade para saber onde é que a gente poderia chegar”. Outro fator relevante neste esporte é uma suposta segregação social, mas o atleta se posiciona contrário à essa opinião “têm várias

Projeção da escalada em muro artificial

25 pessoas que não são das grandes cidades, mas praticam escalada em rocha e dessa maneira consegue se desenvolver”. Adrenalina, concentração, força e técnica são outros fatores que determinam o crescimento da prática da escalada. Os adeptos procuram atividades que auxiliem não só sua saúde física como sua saúde mental, a escalada proporciona isso através da interceptação do medo de altura, por exemplo. Além disso, a escalada produz uma sensação descrita como “uma mistura entre realização, um sentimento de prazer e um sentimento de dor” de acordo com o atleta Felipe Hoo. As pessoas procuram o ginásio para “experimentar” essas sensações, se sentirem capazes de realizar o esporte que depende de muitos esforços. Como recompensa, perdem o medo e se sentem capazes fisicamente. Já emocionalmente, se sentem “livres” e próximos da natureza, por estarem escalando rochas, sejam artificiais ou não.


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///esporte

Paradesporto está fora da grande mídia Veículos de nicho buscam visibilidade para prática de esporte no CT Paralímpico

“Sempre que temos apoio cobrimos os eventos esportivos que mexem com a política da pessoa com deficiência. De repente uma mãe que tenha um filho com deficiência possa se aproximar do esporte através da rádio” conta Rafael Tavares, radialista da ONCB e jogador de goalball do time Santos.

pelos atletas aos poucos e a receber pedidos de publicações, ora para divulgação de um campeonato, ora para o anúncio da conquista de um novo título. Atualmente a página possui 2 mil seguidores e conta com 11 colaboradores Hoje a jornalista narra jogos para a Confederação Brasileira de

27 somente em familiares e amigos de atletas pingados no salão, enquanto o último jogo da Supercopa de Futebol de 5, televisionado pela Sport TV, tinha um público bem maior. “Não é exatamente culpa da mídia, apesar dela ser envolvida também por falta de interesse, mas eu acho

Cão guia Clark e atleta na torcida do jogo de Fut5

Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), além de alimentar a Revista ParAtleta e participar de programas de rádio como o Som Olímpico, da Rádio Prado. Mesmo assim, neste segmento, ainda não é possível viver só de jornalismo esportivo. Fora das quadras Luana é educadora. Segundo ela, 90% do paradesporto é adaptação. Adaptação dos próprios jogadores, de material, que ainda é caro e muitas vezes inacessível; e na cobertura dos jogos, que também depende da força de vontade dos jornalistas.

que os próprios times, instituições, de uma forma geral, não divulgam as modalidades”, conta Rafael Tavares, campeão da Supercopa de Goalball pelo time masculino do Santos. O CT Paralímpico recebeu cerca 5 mil pessoas ao longo dos 270 eventos esportivos realizados em 2018. De acordo com Ivo Felipe, o CPB faz divulgações e associações com empresas para tentar ir além dessa bolha do esporte adaptado. Sua ação mais recente foi com o Sesc Vila Mariana, que recebeu uma Arena Paralímpica entre os dias 18 e 23 de setembro de 2018, para difundir a existência do centro de treinamento. Todas as informações sobre os eventos esportivos também são postadas no site do CPB. A entrada para os jogos realizados no CT Paralímpico é inteiramente gratuita. Não existe ingresso, basta entrar e assistir.

Arquibancadas vazias Diante da magnitude de um Maracanã, a pequena arquibancada do jogo do Circuito Paulista de Futebol de 5 parecia feita de simples degraus. Exceto por quatro espectadores e a cão guia Clark, a torcida se resumia a incentivos e provocações animadas de jogadores e técnicos. A final da primeira Supercopa de Goalball, realizada em março deste ano, também consistia

#paracegover Página 26: foto com três atletas saltando para piscina. Em primeiro plano o nadador está suspenso no ar, enquanto os dois de trás ainda se preparam para saltar. No canto inferior há um retrato de Luana Marinho de perfil segurando um microfone. Página 27: Foto de cobrança de falta do jogo de futebol de 5. Jogador chuta a bola em direção a uma barreira de três atletas, enquanto adversário tenta em vão impedir o percurso da bola. Ao lado foto de cão guia segurando com a pata uma chuteira, enquanto as pernas de seu dono aparecem a direita, com um pé calçado e outro não.

Fotos: Safira Teodoro Competição de natação do Circuito Paulista sediada no Centro de Treinamento Paralímpico, realizada em maio de 2019

por Safira Teodoro O Centro de Treinamento Paralímpico, inaugurado em maio de 2016 por iniciativa do Governo Estadual de São Paulo e do Governo Federal, foi o principal instrumento de preparação dos atletas para os jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Localizado no Parque Fontes do Ipiranga, na zona sul de São Paulo, o espaço ocupa 95 mil metros quadrados de área construída e está entre os melhores do mundo do esporte de alto

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rendimento. Hoje, o centro é o principal espaço onde são sediados os campeonatos de paradesporto no Brasil. No entanto, apesar da formidável recepção do público às Paralimpíadas do Rio em 2016, o atleta parece estar submerso pela mídia durante quatro anos até os próximos jogos paralímpicos. Campeonatos ocorrem constantemente e paratletas brasileiros conquistam títulos e medalhas inéditas. Só em 2018, cerca de 270 eventos de esporte adaptado foram realizados nas dependências do CT Paralímpico. Destes, apenas 25 foram cobertos pela grande mídia.

“Esses meninos não estão em capa de revista” Luana Marinho Segundo a jornalista esportiva Luana Marinho, a cobertura de jogos por grandes emissoras ainda é feita em

casos muito específicos. “Ainda sim, as coberturas, na maioria das vezes, são feitas pela TV a cabo, que não está em boa parte das casas. Cobrir mesmo um campeonato, mostrar uma partida do começo ao fim, divulgar o nome dos atletas ainda não acontece. Esses meninos não estão em capa de revista”, comenta Luana. O próprio site do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), gestor do espaço desde 2016, acaba fazendo o papel de divulgar o esporte adaptado. “Nosso portal cumpre a função de informar os clubes e as pessoas com deficiência, além de pautar a imprensa para que ela veja o que está acontecendo e se interesse”, explica Ivo Felipe, supervisor de comunicação do CPB. Confederações de diversas modalidades e organizações para deficientes também são bastante presentes na cobertura dos jogos. A Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), por exemplo, divulga o paradesporto em sua rádio web.

Jogo do Circuito Paulista de Futebol de 5 com arquibancadas vazias

Paradesporto nas redes A maioria destas iniciativas de divulgação acontece utilizando a internet, com portais de notícia, rádios web ou até comunicação colaborativa nas redes sociais. O atleta paranaense Vinícius Rodrigues, velocista recordista das Américas, conheceu o paradesporto assim, pelas redes. Depois de sofrer um acidente de moto, aos 19 anos, assistiu a um vídeo de um paratleta no YouTube e decidiu vir para São Paulo se tornar corredor. Mesmo as próteses para correr conseguiu por indicação de um atleta via Facebook. O compartilhamento de informação nas redes sociais também é feito por trabalhos voluntários. A página no Facebook da Revista ParAtleta, por exemplo, divulga o universo do paradesporto e a gama de paralímpicos ainda anônimos desde outubro de 2016. Luana Marinho, criadora do veículo, viu seu projeto crescer entre as quadras do CT Paralímpico. Passou a ser conhecida


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///esportes

Existe futebol LGBTQIA+ em SP

Em um campo em que o esporte ganha mais espaço, Diversus F. C. é um dos primeiros times paulistas inclusivos à comunidade por André Luiz O Diversus Futebol Clube é um dos pioneiros em São Paulo na inclusão e valorização da diversidade de seus jogadores. Foi com essa ideia que Roger Prado Alcântara, 32 anos e Pedro Henrique Reis, 27 anos, criaram em 2017 o Diversus Futebol Clube, um dos três times de futebol LGBTQIA+ existentes na capital paulista com a intenção de integrar diversos públicos por um amor em comum, jogar bola. “Nós criamos o Diversus com a intenção de unir principalmente o público da periferia, para que eles tenham mais acesso ao futebol. Existem oito times gays em São Paulo e o nosso é LGBTQIA+ porque queríamos expandir isso, usar toda a sigla e incluir todos os públicos. Se vier uma lésbica, um bissexual ou um hétero, todo mundo joga com a gente” diz Roger, também presidente do clube, que treina todos os sábados no Sport Gaúcho Pompéia, às 19h. O time atualmente é formado apenas por homens, mas se mantêm firme à ideia de ser composto por diferentes tipos de pessoas e biotipos, fugindo à regra de estatura semelhante, mesmo tipo físico e comportamento em campo. Tem rapazes baixos, altos, gordos, magros, másculos, afeminados. Um dos jogadores é gay e autista, trazido pela própria mãe com a intenção de que o filho seja quem ele é, livre. Todo mundo é bem-vindo. Mohamad Ludgério, 26 anos, também vê nos treinos a possibilidade de ser quem ele é de fato. “Aqui nós fugimos da realidade. São duas horas de treino que você pode ser quem você quiser, agir com naturalidade e isso nos ajuda a se

entender, se aceitar e desenvolver nossa personalidade, nosso eu que está a todo instante em formação”. Ele, que não esconde que sempre foi afeminado, revela que sofreu muito bullying quando era mais novo. Os trejeitos femininos e por ser um menino gordinho contribuíram para sua rejeição na escola. Apenas no Ensino Médio teve os primeiros contatos com o esporte e pegou gosto pelo futebol. Segundo Mohamad, outros colegas mudaram ao longo do tempo. Antes de cada treino, há uma pequena sessão de terapia com um psicólogo. A partilha de um momento importante, como a transição para a mudança de gênero, foi um momento gostoso e fortalecedor compartilhado recentemente entre amigos. Eles chegavam retraídos, tímidos e assolados por uma sociedade preconceituosa em um espaço acolhedor que os causava estranheza até se sentirem à vontade para se permitirem ser quem são. Gestos de carinho, como um beijo no rosto do amigo, se tornam exercícios diários para se aceitar e se libertar de qualquer auto preconceito. O vice-presidente do clube, Pedro Henrique, jogou em time profissional dos 11 aos 21 anos e mesmo sabendo da sua orientação sexual, a manteve sob segredo com medo de represálias por conta da cultura existente no meio do futebol. “Eu nunca falei que eu era gay porque infelizmente existe muito preconceito dentro do futebol, dentro dos campos e dos vestiários. Foi um pouco difícil. Eu só pude me assumir depois que parei de jogar”, comenta. O Diversus F. C. não enfrenta nenhum tipo de preconceito diretamente, mas comentam que existe uma certa

resistência na aceitação de times gays e LGBTQIA+ no cenário do futebol paulista e que há histórico de times que sofreram agressões de equipes não-gays simplesmente porque estavam ganhando o jogo, é algo complicado a se vencer. No geral ficam contentes com a conquista pela visibilidade e trabalham nas redes sociais para que sejam cada vez mais vistos, que recebam visitas e pessoas interessadas em apoiá-los. “A gente não tem apoio não. Por sermos um time LGBTQIA+, eu encontro um pouco mais de dificuldade para ter patrocínio. Nem toda empresa quer colocar a marca vinculada há um time com gays” diz Roger.

Foto por André Luiz Munhequeira de Mohamad Ludgério

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Futebol raiz perde espaço na mídia Clubes paulistas tradicionais deixam de ser notícia no atual cenário esportivo por Lucas Ferreira Muita história e tradição são ingredientes indispensáveis que tornam o Campeonato Paulista de futebol o mais competitivo e difícil dentre os estaduais do Brasil. Algumas equipes se destacaram ao ponto de marcar a competição com momentos decisivos. Choque Rei, Derby Paulista e Majestoso são alguns dos clássicos mais conhecidos para os amantes de futebol. Entretanto, um confronto tradicional se destaca na capital paulista, mas não recebe a devida atenção e reconhecimento: O Clássico dos Imigrantes. Com a mudança dos parâmetros no futebol, diversos clubes como Juventus e Portuguesa, tradicionais no futebol paulista, perderam espaço na mídia. O jornalista e comentarista esportivo da Web Rádio Mooca, Wagner Hiroi, explica como esse processo aconteceu. “O grande problema atual é que o futebol virou um comércio, um negócio para render dinheiro e não para atrair a atenção do torcedor. Logo, a mídia se volta para onde há visibilidade, seja com um patrocínio, com a torcida”. O duelo histórico entre Juventus e Portuguesa teve início no Campeonato Paulista de 1930 com vitória da Lusa. De lá para cá são 132 embates distribuídos por 89 anos de rivalidade com 68 vitórias da Portuguesa, 31 vitórias do Juventus e 33 empates. A nomenclatura do clássico vem do fato de os dois times terem origens das maiores colônias imigrantes de São Paulo, primordiais para moldar a cidade como ela é hoje. O Juventus, italiana, e a Lusa, portuguesa. O time da Mooca, popularmente conhecido como Moleque Travesso, recebeu a alcunha nos tempos em que disputava a elite do campeonato

estadual por ser, literalmente, uma pedra no sapato dos grandes clubes do estado O ponto alto da equipe grená foram as conquistas da Taça de Prata em 1983, atual Série B do Campeonato Brasileiro, e da Copa Paulista de 2007. De acordo com Hiroi, a transformação no cenário do futebol, somado ao fato de Juventus não disputar a primeira divisão do Campeonato Paulista há 10 anos, contribui para que as aparições na mídia se tornem menos frequentes. Dessa maneira, para contornar o problema, clubes menores têm investido na contratação de jogadores que atuaram em grandes clubes, caso de Adilson (ex-Corinthians) e Alê (exSão Paulo). Ambos jogaram pelo Moleque Travesso no Paulistão A2 de 2019. Sendo assim, o critério de noticiabilidade, por muitas vezes, fica ligado ao momento que essas equipes atravessam nas respectivas competições, bom ou ruim. “Quando você não tem a cobertura da grande mídia ou da mídia geral, mas obtém auxilio da assessoria de imprensa do clube para saber do diaa-dia, além de contar com informações de sites que cobrem as equipes do interior, acaba enaltecendo aqueles que fazem do seu trabalho uma maneira de fortalecer as equipes tradicionais do nosso futebol”, diz Wagner Hiroi. Priorizar pautas rentáveis e de grande repercussão é, em muitos casos, o objetivo da mídia. No processo, times como o Juventus continuam a perder espaço. Robson, zagueiro do Clube Atlético Juventus” fala um pouco sobre como é essa relação. “Em determinado momento do campeonato existe essa cobertura, especialmente nos clássicos, mas ela não é tão incisiva. Nosso dia-a-dia é pouco acompanhado e as pessoas

desconhecem a rotina dentro do Juventus. Já em alguns jogos não há acompanhamento. Infelizmente, os clubes menores de São Paulo acabaram perdendo esse espaço na mídia, o que também prejudica a nós, jogadores”, conta Robson. No momento da história onde a internet se faz presente na vida das pessoas, o acesso ao futebol europeu, de alto rendimento, se mostra mais frequente pelo atrativo que se tornou, como um estilo de futebol completamente diferente do brasileiro. Portanto, se proporciona audiência, a mídia, logicamente, passa a divulgar notícias que a sociedade consome em grande escala, deixando de lado alguns clubes.

Foto por Lucas Ferreira Robson, zagueiro do C.A. Juventus


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Bate-bola em discussão na internet

No mundo globalizado, as mídias tradicionais agora dividem espaço com criadores de conteúdo voltados para o ambiente virtual

Das ruas para as Olimpíadas A modalidade de basquete de três jogadores ganha espaço nos jogos do Japão em 2020

Foto por Paulo Henrique Gravação do programa Desimpedidos. Da esquerda para direita: Bolívia, Chicungunha e Fred

por Paulo Henrique Entre os gêneros de canais no youtube, os esportivos, como o Desimpedidos, se destacam dentre outros. Fundado no ano de 2013, em São Paulo, o canal tem como foco temas futebolísticos. Segundo Bruno Carneiro, mais conhecido como Fred, “O youtube viralizou por ser um site de fácil acesso, onde você pode postar o seu conteúdo mais à vontade e por ser considerado uma forma onde você pode trabalhar, ganhar seu dinheiro, de uma maneira mais confortável para você e para aquilo que você busca”. O Desimpedidos foi criado em 12 de junho de 2013, sendo mais um canal que ir ia oferecer entretenimento sobre o futebol paulista. Hoje é o maior canal

do tema com mais de 7 milhões de inscritos e mais de 1 bilhão de visualizações em seus vídeos semanais, já sendo ganhador dos “Meus Prêmios Nick de Canal Favorito do Youtube”. “O Desimpedidos teve pessoas de muita expressão presentes na equipe, desde o início do canal, como por exemplo Kaká, Marco Luque, Felipe Andreoli, André Barros, entre outros. Então eu que já sou apresentador do canal a três anos, pude acompanhar o progresso e o impacto online cada vez maior. O Desimpedidos se tornou de muita expressão e fico muito feliz em participar, não tem só vídeos, mas eventos, patrocínios, muitas coisas são envoltos dentro do canal”, disse Henrique, conhecido pelo seu personagem, Chicungunha.

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Foto por Bruno dos Santos Partida entre IDCJ Bonifácio (amarelo) e Santos Memorial Fupes (preto)

Com uma equipe guiada pelo seu personagem principal, Fred, o canal posta vídeos toda semana onde eles comentam de forma descontraída e satirizada sobre as rodadas dos jogos dos times Paulistas e diversas vezes postam vídeos de desafios de futebol com jogadores profissionais, inclusive dos 4 times paulistas, para diversificar os vídeos postados na rede e oferecer um tipo diferente de entretenimento para o público. Seus personagens principais são Fred, Bolívia e Chicungunha, onde junto com outras pessoas, apresentam semanalmente um novo conteúdo para o programa. Muitas pessoas famosas já passaram pelo programa, jogadores como Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Neymar entre outras personalidades.

por Bruno dos Santos Com metade da quadra e o dobro de movimentação, a modalidade de basquete três contra três é uma das novidades para as Olimpíadas de 2020 que ocorrerão em Tóquio, no Japão. Criada em 2007 pela FIBA (Federação Internacional de Basquetebol), a modalidade tem ganhado cada vez mais espaço no mundo inteiro. Em junho de 2017, o COI (Comitê Olímpico Internacional) aprovou a inclusão nos Jogos Olímpicos, como uma variação do basquete 5x5, assim como o futsal e o vôlei de praia. É a primeira vez que essa modalidade entra no quadro de competições das Olimpíadas. Também conhecido como “basquete de rua”, o 3x3 possui diversas diferenças do basquete convencional de 5 contra 5. Consultados, os

jogadores do time Santos 013 afirmaram sentirem bastante diferença. A quadra oficial, dividida ao meio, comporta as duas equipes, que dividem a mesma cesta. As partidas têm duração de 12 minutos no 3x3, enquanto no 5x5 são dois tempos de 20 minutos. Vence o time que conseguir marcar 21 pontos primeiro, enquanto no 5x5 o limite se dá pelo tempo. O contato físico é mais liberado, exigindo mais estratégia e tática no jogo , com mais passes e tentativas de marcar pontos diretamente. Por ter um número de jogadores menor, o treino também é mais reforçado, onde os treinadores podem focar diretamente em cada um dos jogadores, planejando passes, arremessos e o preparo físico deles. Segundo Jones Rodrigues, treinador do Instituto Drible Certo, a modalidade

pode ser como o futsal é para o futebol, onde a criança começa a jogar, criar toda sua base até chegar no futebol de campo. Por trabalhar muito na autonomia dos jogadores e o gingado, por ser muito mais rápido que o basquete tradicional. A cidade de São Paulo é a sede brasileira da modalidade e possui campeonatos mensais aprovados pela FPB (Federação Paulista de Basquete. A capital paulista também é sede Copa do Brasil e detentora do primeiro time profissional de basquete 3x3, o São Paulo DC, além de outros quatorze times na categoria elite, como o do Instituto Drible Certo. O IDC é originado de um projeto social no bairro da Casa Verde. O Instituto é um centro de formação de atletas que junta jovens de comunidades carentes e possui times nas principais categorias da FIBA, sub18, sub23 e elite.


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Estresse afeta vida saudável nas cidades

Fast food também é opção para veganos

Estudos comprovam que a doença afeta 35% da população. Nutricionistas orientam como manter um estilo de vida saudável conciliado com a rotina diária vivida por cidadãos da capital paulista

Do bairro nobre à periferia, adeptos ao veganismo preferem pagar pouco para comer fora e economizam preparando a própria comida em casa

por Ines Jordana

por Beatriz Ferreira

Em entrevista à DW Brasil, a psicóloga e diretora do Centro Psicológico de Controle do Stress, Marilda Lipp revelou que o estresse atinge 35% da população. Se não controlada a doença pode afetar e prejudicar o bem-estar causando problemas como hipertensão, fraco desempenho no trabalho, alterações na memória e na concentração. O estudante de Educação Física, Aldosandro explica que o sedentarismo esteve presente em sua infância trazendo problemas como obesidade e pressão alta. “Minha vida era completamente sedentária, não praticava nenhuma atividade física e passava o dia inteiro na frente da televisão”, explicou. Há dez anos, decidiu mudar de vida e o amor pelo esporte e atividades físicas trouxe melhoras a sua saúde. Segundo o portal “Qualidade de Vida”, a alimentação saudável combinada com exercícios físicos pode melhorar o grau de vida. Além disso, ajuda a controlar o estresse, evitar problemas cardíacos e manter a saúde mental. Para Aldo a boa alimentação não está conciliada em sua rotina de estudos e trabalho. Ainda assim, o estudante tem uma vida ativa na prática de atividades esportivas e exercícios físicos. “Minha vida é mais enérgica por praticar esportes. Se tivesse um pouco mais de disciplina quanto a minha alimentação o bemestar seria maior”, disse. Embora ainda não tenha o acompanhamento de um profissional que o ajude com a reeducação alimentar, contou que 50% de seu aprendizado na faculdade tem sido

Foto por Ines Jordana

Doença pode causar hipertensão e alteração de memória

aderido em seu dia a dia. “Muita gente pensa que quem estuda Educação Física vai ter uma boa alimentação, mas isso não acontece! O que aprendemos está relacionado ao movimento e alimentação é voltado para profissionais de nutrição. Como não tenho acompanhamento desses profissionais, minha alimentação não é tão saudável”, concluiu. O estresse das grandes cidades tem grande influência no estilo de vida NÃO saudável de 51% dos idosos, 32% de adultos e 57% de adolescentes, segundo análise divulgada pelo Caderno de Saúde Pública (CSP). Especialistas orientam que para começar bem o dia é necessário equilibrar o metabolismo após um longo período em jejum durante o sono. Os profissionais afirmam que o café da manhã fornece a nutrição necessária. “É aconselhável iniciar o dia com uma refeição saudável, contendo frutas, leite ou algum derivado lácteo. É importante uma fonte de carboidrato como pão, tapioca ou torradas, de preferência integrais e alimentos pobres em açúcares e

gorduras”, explicou a nutricionista Alessandra Luz. A repórter e apresentadora, Sílvia Garcia da TV ALESP da Assembleia Legislativa de São Paulo acorda todos os dias às seis horas. Seu café é composto por wrap, requeijão ou queijo branco e suco natural. No almoço, a jornalista mantém um cardápio simples. “Almoço todos os dias às 12h30, meu cardápio sempre tem salada, legume ou verdura. Costuma ser espinafre, brócolis e acelga”, explicou. No lanche da tarde, opta por mini cenouras, tomate ou frutas. No jantar consome alimentos leves. “À noite, quando janto, é o Mesmo que o almoço ou o velho wrap do café da manhã”, disse. Seus treinos são realizados de três a quatro vezes por semana. Uma vida saudável exige a conciliação entre trabalho, estudos, atividades físicas e lazer. A nutricionista Alessandra orientou “que o ideal é manter uma rotina alimentar adequada, com alimentos saudáveis, e refeições a cada três horas”.

O veganismo é um estilo de vida que exclui qualquer ítem de origem animal da alimentação, vestimenta ou qualquer outra finalidade. Segundo uma pesquisa realizada pelo IBOPE em abril de 2018, o número de vegetarianos no Brasil quase dobrou nos últimos seis anos, e atualmente 14% dos brasileiros se declaram vegetarianos. A pesquisa também revelou que nas capitais metropolitanas como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, 65% dos entrevistados dariam preferência aos alimentos veganos se tivessem o mesmo preço dos não veganos. Segundo o que diz Ana Carolina Soares, não é caro ser vegano. Moradora de Guarulhos, periferia da Zona Leste de São Paulo, ela administra há quase três anos o grupo “Veganos pobres Brasil” no Facebook, que atualmente conta com mais de 88 mil membros e orienta aqueles que querem deixar de consumir produtos de origem animal. Adepta ao veganismo há quatro anos, ela conta que a ideia de criar o grupo surgiu a partir da vontade de mostrar que o veganismo pode ser acessível às classes menos abastadas “Este grupo foi criado para desmistificar que veganismo é um estilo de vida caro e você, como um Vegano pobre, está mais do que convidado a ajudar-nos nessa missão”. É o que diz a descrição do grupo, onde são compartilhadas dezenas de receitas por dia, que variam desde um simples almoço à um prato de fast food. A estudante de Radiologia Suelen Fernandes faz parte do grupo “Veganos pobres Brasil”. Moradora

de Diadema, periferia da Zona Sul de São Paulo e vegana há quatro anos, ela diz que costuma preparar a própria comida em casa. Conta também que aderiu a este estilo de vida pela empatia quem não consome nenhum ítem de origem animal. Outra alternativa é o Prime Dog, localizado na Rua Vergueiro, 1960 na Vila Mariana, é um fast food que fornece um cardápio voltado para o público vegano e vegetariano. Oferecem feijoada vegana, hambúrguer de grão de bico e soja, além de sobremesas como torta de chocolate cada prato custa menos de 20 reais. Também não é fácil para Bianca Lopes de 22 anos, moradora do Brooklin Paulista, zona nobre de São Paulo. “Comer fora é complicado, opções vegetarianas quase sempre tem, mas veganas ainda não, se você não for em um restaurante que seja voltado para esse público vai ter que se contentar com salada muitas vezes. Para mim não chega ser um

problema, mas realmente as opções são difíceis para se alimentar fora de casa”, diz a estudante de Arquitetura e urbanismo. Vegana há apenas quatro meses, ela diz que o veganismo é barato quando se prepara a própria comida, conta também que está muito mais saudável, mas que a maior mudança foi na forma de pensar “acho que vai muito além de um modo de se alimentar, consigo ter mais empatia e sempre tentar fazer o meu melhor a cada dia”, acrescenta. Um dos restaurantes que frequenta é o Pop Vegan Food, localizado na Rua Fernando de Albuquerque, 144 no bairro Consolação. O cardápio oferece uma variedade de pizzas veganas, além de sobremesas, bebidas e almoço todos os dias por menos de 20 reais. Outro é o “Vaca verde”. Com o cardápio 100% vegano, a hamburgueria artesanal localizada na Rua Augusta, 1036, oferece cinco opções de lanches e duas opções de limonada.

Foto por Beatriz Ferreira

Movimentação de clientes no restaurante Prime Dog


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Restrições alimentares impactam paulistanos

Bancas da Paulista aceitam Bitcoin

Como intolerantes a lactose e glúten enfrentam a agitada rotina da cidade

Nova maquininha de cartão permite transações or meio de criptomoedas, que se popularizaram em meados de 2017 devido a seu perfil de investimento de alto risco

Foto por Camila Mazuquieri Camila Castello: Intolerância pode surgir ao longo dos anos

por Camila Mazuquieri A gastronomia da cidade de São Paulo ficou muito conhecida ao longo dos anos por pessoas que buscam variedades em alimentos e que podem ajudar a proporcionar uma vida mais saudável. Porém, existem algumas que possuem condições alimentares, como a intolerância à lactose e glúten e que precisam adequar suas necessidades a suas agitadas rotinas. Essas circunstâncias fazem com que elas mudem toda sua alimentação afim de levar uma vida mais saudável e regrada, quando estão cientes que as possuem. De acordo com a Associação de Celíacos do Brasil (Acelbra), um em cada 600 brasileiros possui intolerância a glúten e, segundo o Instituto

Datafolha, cerca de 35% da população apresenta algum desconforto abdominal quando consome derivados do leite. Mas esse número não é exato. De acordo com a nutricionista Camila Castello, especialista em nutrição comportamental, dentre seus pacientes diários apenas uma pequena parcela deles apresenta essas condições já que elas são de difícil diagnóstico: “Um intolerante à lactose pode nascer com essa condição, o que é mais raro. Geralmente uma pessoa começa a desenvolver intolerâncias com o passar do tempo, quando seu corpo deixa de produzir a enzima lactase e assim começa a demonstrar sintomas. Já um intolerante a glúten apresenta sintomas similares, mas tem um desconforto maior por apresentar doença celíaca, doença autoimune que afeta a absorção de nutrientes

essenciais ao organismo e por isso deve mudar a alimentação de forma mais radical”. Por conta dessas mudanças alimentares, os paulistanos que possuem essas condições devem mudar suas rotinas e tentar adequar sua saúde a isso, como a estudante de publicidade. e propaganda Amanda Victório, de 21 anos, que possui intolerância à lactose e passa a maior parte de seu tempo em São Paulo em uma rotina entre trabalho e estudo e diz que nem sempre é fácil fazer refeições que não a prejudiquem: “Acabo sempre comendo alguma coisa mais ‘fácil’ que tenha por perto e, na maioria das vezes, contém queijo ou no mínimo algo que tenha leite na receita. Sei que vou passar mal, mas ainda assim me sujeito a isso por conta da correria”. Aline Reis, de 25 anos, é intolerante a glúten mas leva uma vida um pouco mais regrada e habituada a essa agitação, garantindo que sempre carrega marmitas preparadas por ela, para não correr o risco de comer algo que contenha glúten e faça com que seus sintomas atrapalhem seu dia-adia. A paulistana trabalha com eventos e, apesar do cotidiano agitado, os cuidados com sua restrição alimentar são parte importante de sua rotina diária: “Geralmente eu acabo fazendo meus alimentos, cozinho para mim. Se eu quero um pão ou uma pizza, eu faço e é muito raro eu comprar coisas prontas como bolos ou algo que contenha farinha porque os sabores industrializados não me agradam. Apesar da facilidade de encontrar alimentos em São Paulo que suprem as necessidades da minha condição, eles nem sempre possuem um gosto bom e por isso escolho prepará-los”.

Foto por Nicolas Silva Borges Banca Gazeta, primeira a aceitar criptomoedas como forma de pagamento

por Nicolas Silva Borges A Avenida Paulista se tornou o primeiro lugar do Brasil com bancas de jornal que aceitam criptomoedas como forma de pagamento, graças a uma maquininha similar às de cartão de crédito. Esta tecnologia permite além da compra de produtos, o investimento em diversas moedas eletrônicas, como o Bitcoin, o Ethereum, a Binance Coin e a Pundi X. Segundo a empresa que desenvolveu o aparelho, o objetivo é facilitar a entrada de leigos neste mercado que cresce de forma exponencial.

A máquina, batizada de XPOS, desenvolvida pela Pundi X Labs está disponível nas bancas ‘Gazeta’ (Avenida Paulista, 900) e ‘Holanda’ (Alameda Santos, 1235). Não há previsão de adesão da tecnologia em outras bancas da região. Adriano Duarte, proprietário da banca Gazeta explica como funciona o aparelho: “O consumidor cria uma conta no site da Pundi X e baixa o aplicativo de celular. Depois disso, é só efetuar a compra da criptomoeda desejada através de dinheiro ou cartão de crédito e transferir para a carteira virtual Pundi X Wallet.

Através desse aplicativo, também é possível pagar por qualquer produto da banca ou estabelecimentos que também possuam a máquina”. De acordo com Artur Botani (23), que investe em Bitcoins desde 2012, a iniciativa beneficia tanto investidores (sejam eles novos ou experientes) quanto os chamados “mineradores”, que usam computadores com grande capacidade de processamento para gerar novas moedas. Isso porque o valor de uma criptomoeda está diretamente ligado ao volume de transações feitas com a mesma.


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Prevenção às drogas começa na escola

Lousa interativa é novidade no SESC

Estudos afirmam que o primeiro contato de um estudante com drogas ocorre, em sua maioria, ainda no ensino fundamental I

O instrumento, que está disponível para visitação na unidade Avenida Paulista, tem como intuito facilitar a aprendizagem

Relação alunos e drogas, no ambiente estudantil

por Gabriel Redondo A relação inicial de um aluno com drogas não é na adolescência e sim na transição da infância para a puberdade. O grande desafio para as escolas da Zona Norte de São Paulo é entender esse processo, e descobrir métodos de prevenção. A gravidade do uso de substâncias alteradoras de humor nas idades correspondentes à frequência escolar, são escancaradas por estudos, como do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No ano de 2015, 0,5 porcento dos adolescentes, de 13 a 15 anos tiveram contato com o Crack, o que representa em números absolutos 15 mil estudantes. Além disso, 55% dos adolescentes já haviam experimentaram álcool.

Diante do uso de drogas precoce pelos discentes, foi realizado Estudos em 2006, pela revista cientifica Saúde Pública da Universidade Católica de Santos, demonstrando o despreparo das escolas para lidar com esse problema. Atrelado a isso, o psicopedagogo formado pela PUC, e diretor do colégio Albuquerque da zona norte de são Paulo Evaldo Albuquerque relacionou essas situações com os problemas enfrentados pela sua escola. Segundo as pesquisas, a droga ainda é um tabu para os profissionais da educação. O diretor, no entanto, discorda: “Hoje não mais. Acredito que na década de 60, 70 quando entrou a lei 5692/71 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), essa questão da droga já tinha começado

a ser difundida nas escolas”. Para Evaldo, a chave para uma política preventiva é uma instrução incisiva no tema. “A escola deve trabalhar com os jovens do ensino fundamental II, nas matérias que tem maior facilidade para lidar com esse assunto. A área de ciências, que fala do corpo humano, vai falar também de drogas lícitas e ilícitas, e também matérias ligadas à área social, filosofia, sociologia”. As questões levantadas também são ligadas com a área da saúde. Por conseguinte, o residente do segundo ano de psiquiatria Omar Samir Hadaya, relacionou o assunto tratado com a medicina. “O principal fator para se pensar em prevenção é falar sobre elas (as drogas), orientar, jamais ignorar o assunto”

Saber sobre tecnologia parece algo complexo e estudar música difícil e cansativo. Com isso, o músico, inventor e arte-educador Vitor Moreira quis enfrentar esses problemas, desenvolvendo uma tecnologia que possibilitasse qualquer pessoa a fazer música, sem precisar saber muito de teoria musical, de um jeito fácil e criativo. Em 2016, inventou a PiMu, a primeira lousa musical do mundo, foi desenvolvida depois que Vitor percebeu que ensinar música poderia ser mais divertido, principalmente para as crianças, que teriam a oportunidade de serem protagonistas no processo de criação. Ele entendeu que precisava ter novos métodos de aprendizagem, além de cativar seus alunos durante o aprendizado. “Esse é um instrumento que eu inventei, que ele tira as necessidades de saber de teoria musical e técnica, só que mesmo assim é difícil, então o problema não está na técnica e nem na teoria musical”, afirma. A lousa de aparência simples, funciona em um quadro branco com 23 sensores ligados a um computador interno e reage por meio de toques na tela, com os dedos, com massinha de modelar, “Slime” ou tinta para produzir sons. “Cada ponto é um som, para ativar, você coloca o dedo na borda e o dedo no ponto, aí tem o som. Agora se eu quiser que esse som fique ligado, eu pego a massinha ou o “Slime”, ligo de um ponto até a borda. Se tirar, para”, explica Atualmente, Vitor promove atividades no Sesc Avenida Paulista, na ala de “Tecnologias e artes”, em que apresenta a lousa e ensina

como usá-la. Com isso, atrai muitas pessoas que se interessam por tecnologia, música ou os dois. A personal organizer, Yara Regina, 53, participou de uma das atividades no centro. “Gostei muito de como funciona a lousa, de como é fácil usála, e de fazer os sons. Eu e os outros colegas na sala, pudemos criar nossa própria música, desde do começo, passando pelo meio até o fim”, disse. O projeto carrega conquistas

significativas. Foi eleito em 9º lugar no concurso “Acelera Startup”, promovido pela Fiesp (federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Além de convidado para participar do Circuito SESC de Artes em 2017. As atividades acontecem aos sábados e domingos, das 14H30 às 17:30, no Sesc Avenida Paulista. É a partir dos 7 anos e não há necessidade de inscrição nem retirada de ingressos. Foto por Pedro Toyama

Foto por Gabriel Redondo

por Pedro Toyama

Nova ferramenta ajuda na aprendizagem musical


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saber///cultura

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Arte e resistência no centro de São Paulo

Com a implantação da telemedicina nas Unidades de Pronto Atendimento de São Paulo, pro issionais da saúde esperam melhorar a expectativa de cura do paciente e o atendimento médico

Ocupado desde maio de 2014, o prédio número 63 da Rua do Ouvidor serve de casa e galeria de arte para pessoas de toda a América Latina

Ingrid Lopes: Me sinto beneficiada pelo serviço

por Regiane Spielmann O Conselho Federal de Medicina (CFM) anunciou no dia 3 de fevereiro a resolução 2.227/2018 que permite consultas à distância, incluindo a rede privada e o Sistema Único de Saúde (SUS), principal porta de entrada para os pacientes. Porém, um mês após o anúncio, CFM revogou a resolução que autoriza a teleconsulta, que são consultas à distância, mantendo apenas o telediagnóstico e a emissão de laudo à distância. O questionamento maior pelos conselhos regionais é que a teleconsulta traz risco à qualidade do atendimento de pacientes. De acordo com o médico obstetra Eduardo Basso, 53 anos, a teleconsulta não atenderia a sua área de atuação, pois “é uma área que precisa do exame físico para

realizar um diagnóstico médico, um ultrassom não pode ser feito a distância” e acrescenta que “a teleconsulta caberia apenas numa triagem ou numa orientação médica, e não em atendimentos que exige o contato físico”. Com a implantação da teleconsulta, os hospitais da rede pública iriam receber aparelhos para comunicação via vídeo, e com isso seria possível para equipe médica obter instruções de um médico especialista de outro hospital, porém nas especialidades em que é necessário o exame físico a consulta à distância não atende, e é justamente essa dificuldade que restringe a questão da teleconsulta. Para a médica Marilande Marcolin, que atende no hospital da Vila Nhocuné, a vantagem da telemedicina é que ela amplia o alcance dos médicos, e “abre portas

para melhorias, principalmente, nos serviços de ponta, pois diminui o tempo de espera de diagnóstico e atende a necessidade do serviço de transferência com uma qualidade e uma rapidez maior”, e ainda acrescenta que “a única desvantagem da telemedicina é que esta restrita a exames de alta complexidade, presente somente nos hospitais maiores, como Santa Casa e Hospital das Clínicas”. A Secretaria da Saúde informou que esta sendo implantado a telemedicina de neurocirurgia na rede municipal, e que o novo sistema fará a leitura e emitirá o laudo com orientações médicas. Essa informação que antes levava de 2 a 3 dias, agora pode ser em tempo real. A usuária Ingrid Lopes, 33 anos, relata que não esperava que o laudo do exame estivesse disponível online, após realizar um exame em outro hospital: “Não esperava que assim que retornasse de um exame, o laudo e a imagem estariam na tela do computador para o médico realizar com precisão o meu diagnóstico e entrar com a medicação adequada para o meu caso”. A emissão de laudos à distância e a telemedicina de diagnóstico já é uma realidade no SUS e atende de forma eficiente e eficaz, porém ainda restrita aos hospitais maiores. Muitas vidas foram salvas com o auxílio da telemedicina, e vem abrindo portas para melhorias, principalmente no atendimento de pacientes em locais remotos, longe das instituições de saúde ou em áreas com escassez de profissionais da saúde.

por Victória Monteiro Um fato inegável é que São Paulo respira arte e cultura: Só na Capital, dados de 2017 apontam a existência de mais de 100 museus e centro culturais, além de manifestações artísticas a céu aberto sendo realizadas de diversos estilos, jeitos e formas, 24 horas por dia, em todos os cantos da cidade. Na Rua do Ouvidor, uma ladeira escondida entre as avenidas 23 de maio e Libero Badaró, ligada ao terminal Bandeira por uma passarela, toda essa energia cultural paulistana se sintetiza em um lugar onde arte, sobrevivência e cultura se misturam de forma quase visceral. Ocupado em 1 de maio de 2014, o prédio de número 63 (hoje com faixada colorida e grafitada), é casa e museu ao mesmo tempo: Cerca de 100 artistas vivem, ocupam e expõem sua arte no Centro Cultural Ouvidor 63. São músicos, artesãos, fotógrafos, acrobatas, malabaristas, músicos, mágicos, dançarinos, atores e pintores, de diversas localidades brasileiras e de diversos países de toda a américa latina. “Nosso maior apoio é o reconhecimento do nosso trabalho e da nossa arte. Trabalhamos desde 2014 sem apoio nenhum, seja público ou privado, de forma completamente gratuita, só com a nossa crença na arte e na cultura e querendo mostrar que nem tudo gira em torno do dinheiro”, conta Alexa Gomes, uma das líderes do centro cultural. A modelo e artesã nasceu no Tocantins e vive com a filha, Aysha, de 7 anos, no número 63 da rua do Ouvidor desde o dia em que o prédio foi ocupado.

Sem apoio ou reconhecimento da prefeitura, mas sempre com um cronograma recheado de exposições, saraus e shows (no último dia 22 de março, a atração foi o cantor Chico César) a ocupação sobrevive de doações de visitantes, venda das produções dos artistas residentes e do dinheiro arrecadado em consumação de comidas e bebidas durante os eventos. Apesar de mobilizar cada vez mais pessoas, a forma irregular como o Centro Cultural é mantido, preocupa. “Buscamos sempre manter um diálogo legal com os órgãos controladores porque sabemos que, em caso de reintegração de posse, muita gente vai ficar na rua. Essa é uma briga que, infelizmente, estamos travando desde o início. Para além de um Centro Cultural, somos também a casa de muitas pessoas que só tem isso aqui como abrigo. É preciso ter cautela e agir com consciência e responsabilidade”, explica o fotógrafo paulista Rafael Avancini, residente da ocupação e um dos responsáveis pelo diálogo com os órgãos públicos. Atualmente, mesmo sem alvará ou permissão oficial para funcionar, o prédio passa por vistorias semestrais para garantir o máximo de segurança possível aos moradores e ao público. INFORMAÇÕES: Aberto todos os dias das 10 às 19h (Com exceções em dias de eventos) Brechó 63: Aberto todos os sábados, sempre das 10 às 19h Entrada gratuita (Pede-se doação de produtos de limpeza e higiene pessoal) Mais informações: Ouvidor 63 em todas as redes sociais.

Foto por Victória Monteiro

Foto por Regiane Spielmann

A realidade da telemedicina no SUS

O prédio colorido chama atenção


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///cultura

Capital conta história da comunidade judaica

uma viagem que remonta ao Holocausto, a partir da recriação de lugares e objetos, como a locomotiva usada para transportar os judeus e o frontão do campo de Auschwitz, na Polônia. Os recursos interativos e audiovisuais trazem maior carga emocional às cenas. Para quem está a fim de uma experiência gastronômica, a capital possui várias opções que se atentam ao princípio da comida kasher que significa “permitida”, e segue os rituais judaicos desde o abate do animal até a cozinha na qual é preparada. Há muitas mercearias, açougues, restaurantes e até mesmo buffet. Tem também os que recriam receitas da culinária judaica, apesar de não seguirem os protocolos, como é caso do restaurante ZDeli. Embora seja uma cidade multicultural, São Paulo convive diariamente com casos de intolerância religiosa. Segundo o Portal de Transparência do Estado, a cidade é a campeã nesse quesito, junto com Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Centro de Memória e Documentação do Museu Judaico de São Paulo: Rua Estela Sezefreda, 76 - Pinheiros. Telefone: (11) 3088-0879. Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto: Rua da Graça, 160 - Bom Retiro.Telefone: (11) 3331-4507. Congregação Israelita Paulista: Rua Antônio Carlos, 653 Cerqueira César, São Paulo/SP. Telefone: (11) 2808-6299 Restaurante Zdeli: Jardins - telefone: (11) 30643058. Jardins - telefone: (11) 30885644. República - telefone: (11) 31293162. Pinheiros - telefone: (11) 23052200. Cerqueira César - telefone: (11) 3083-0021.

Fotos: Bárbara Moreira

Cidade concentra 60 mil judeus e centros culturais que reúnem acervos históricos

Sociedades beneficentes são várias. Os judeus trouxeram muitas contribuições para a cidade. Entre elas, o Hospital Israelita Albert Einstein. Um dos principais centros de saúde da América Latina foi fundado pela comunidade judaica. A capital abriga o Centro de Memória do Museu Judaico. O CDM possui em seu acervo peças com histórias particulares de imigrantes, documentos, livros, fotos e mais de 400 depoimentos de história oral e outras mídias. A coordenadora do acervo, Maria Theodora Falcão, conta: “Um grupo de pessoas viu a necessidade de ter um museu que tratasse da presença judaica em São Paulo de maneira a dialogar com outros grupos e toda a população da cidade. Falando da cidade fala do país e se coloca no mundo”. Em São Paulo fica também o Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto. O acervo do museu vai além das iconografias e documentações e leva a

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Memorial do Holocausto mostra genocídio judeu em campos de concentração

por Bárbara Moreira A cidade mais populosa do País é também a de maior intercâmbio cultural. Em meio a essa diversidade paulistana estão os judeus. De acordo com a Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP), dos 110 mil judeus do Brasil 60 mil se concentram na capital do estado. Na América Latina, a cidade fica atrás somente de Buenos Aires, na Argentina. Em São Paulo, os judeus chegaram a partir do século XIX, na condição de imigrantes e depois como refugiados

da Segunda Guerra Mundial. Se estabeleceram principalmente em bairros próximos a estação da Luz, onde chegavam de trem, após seus navios atracarem no Porto de Santos. Muitos entraram também via Bolívia, já que no primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945) vistos eram negados para eles, conta Paulina Faiguenboim, que faz parte de um projeto de história oral sobre imigração judaica em São Paulo. A diversidade entre os próprios judeus era grande. Com a ascensão do nazismo, muitos alemães também vieram para a capital paulista. De

início não houve interação entre eles e os judeus de outras nacionalidades, já que tinham uma educação mais apurada. A Congregação Israelita Paulista continua sendo a sinagoga dos judeus alemães. A comunidade judaica da cidade apresenta estrutura semelhante as de outros países, já que o povo judeu segue dois preceitos para se estabelecer em diferentes regiões: criar um cemitério e ter uma associação beneficente. São Paulo conta com dois cemitérios judaicos, localizados nos bairros do Butantã e Vila Mariana.

Reprodução de desenhos de crianças confinadas em campos de concentração

Documentos e jornais contam a chegada dos primeiros judeus na cidade


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///cultura

Cultura indiana faz parte de São Paulo Fotos: Mariana Vince

Espaços oferecem cursos de dança, língua e meditação

no Jardim Paulista. Aberto desde 2011, o local oferece cursos de dança clássica indiana, yoga, meditação e os idiomas Sânscrito (Índia antiga) e Hindi (idioma do norte da Índia, considerado como o oficial do governo indiano). Há também atividades mensais de culinária, e os feriados do país são celebrados. Além dos já citados, existe também o Brahma Kumaris, similar ao Centro Cultural da Índia, localizado no bairro Água Branca, que também oferece palestras, workshops e cursos de meditação, em que o principal objetivo está relacionado a transmitir valores universais. Kátia Barbosa Roel, professora de meditação e coordenadora da editora Brahma Kumaris, diz que a relação entre os indianos e brasileiros é muito amigável. “Os indianos que frequentam o centro ficam honrados em ver que os brasileiros se interessam por sua cultura, e também por ser um povo receptivo, como o brasileiro. Então eles apreciam muito”, garante.

Grupo Bollywood Dance Brazil E-mail: dancaindiana@gmail.com Tel: (11) 98334-3388 Endereço: Rua Capote Valente, 305 – Pinheiros, São Paulo

Centro Cultural da Índia E-mail: iccbr@cgisaopaulo.in Tel: (11) 3142-8915 Endereço: Alameda Sarutaiá, 380 São Paulo

Brahma Kumaris Brasil Site: www.brahmakumaris.org.br Tel: (11) 3873-3304 Endereço: Rua Dona Germaine Burchad, 508 – Água Branca, São Paulo

Escultura de Ganesha na entrada do Centro Cultural da Índia

por Mariana Vince A cultura indiana não é tão conhecida e praticada em São Paulo como culturas de outros países, como a japonesa, por exemplo, na qual vemos restaurantes, gibis e esportes relacionados em todos os cantos do estado. Mas, para quem s interessa pela cultura indiana existem alguns lugares muito interessantes para conhecer e aprender um pouquinho mais sobre a Índia. Um deles é o Grupo Bollywood Dance Brazil, escola de dança indiana que nasceu pela

inspiração das coreografias dos filmes Bollywoodianos. A escola, localizada na Casa Jaya, em Pinheiros, desde 2006, ensina dois estilos de dança aos alunos: o Bollywood Dance, destinado as pessoas que almejam trabalhar a musculatura e resistência do corpo, e o estilo Bharatanatyam, em que os alunos praticam exercícios, dança, mudras, estudos e prática das expressões do rosto e do corpo, mitologia Hindu e história da dança. A diretora, coreografa e bailarina do Grupo, Iara Romano, diz que o interesse das pessoas pela cultura

indiana cresce bastante a cada ano, principalmente após a transmissão da novela “Caminho das Índias”, pela Rede Globo (na qual o próprio grupo fez a coreografia de abertura). A trama, dentro de sua história, se baseava na Índia, mostrando a cultura em geral: as roupas, costumes, danças, religião, comida e até palavras da língua híndi. A novela foi grande responsável por despertar o interesse dos brasileiros. Outro lugar bem importante para a cultura indiana em São Paulo é o Centro Cultural da Índia, ligado ao Consulado Geral Indiano, localizado

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Escultura de Ganesha decora o Centro Cultural da Índia

Bandeira da Índia e Mahtma Gandhi ao fundo


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///Cultura

Arte impulsiona militância na periferia Principais dificuldades são a falta de aparato para produção de conteúdo, divergências entre os movimentos culturais e interferência do mercado audiovisual

Fotos: Elnatã Paixão “Não confundam briga com luta, briga tem hora pra acabar, luta é para a vida inteira”, Tody One

Nos últimos anos o espaço artístico tem se tornado mais democrático, a dependência de grandes emissoras e produtoras não impede o surgimento de novos nomes. Apesar dos pontos positivos, há negativos, como nos contam Geovana Sales, MC Recoba e Josh Leone, todos envolvidos com cultura periférica. Para Geovana Salles, 21, Jardim Novo Horizonte, Extremo Sul de São Paulo, a periferia deve usar sua força: “Eles têm medo de nós, a esfera pública não tem interesse em promover políticas que despertem senso crítico, os avanços nos

últimos anos se devem ao esforço de militância, mas falta uma unidade nos núcleos por preconceitos dentro da própria periferia. “Todos têm importância”, e participação das mulheres é importante além da causa central”. Geovana diz que há tentativa de desconstrução de culturas periféricas através absorção da finalidade política por um modo comercial: “Os artistas que abandonam a ideia de luta quando ganham alguma projeção fazem o movimento nadar contra a maré, a sensação que tenho é que quem fica não é visto nem

valorizado”. Geovana é uma das organizadoras da ‘Batalha [de MC´s] do Ponto”, “Sarau Despertar”, com apoio do “Sarau Cooperifa” [Grajaú], as atividades também acontecem no Centro Cultural e na Casa de Cultura de Parelheiros”. A jovem participa do programa “Jovens Mentores, da Secretaria de Cultura de São Paulo, o objetivo é levar pessoas envolvidas com cultura periférica para supervisionar artistas nas Casas de Cultura. MC Recoba, 26, funkeiro há onze anos na região de Paraisópolis, Zona Sul, diz que a luta dos movimentos

artísticos da periferia é importante, mas está segmentada, ao passo que há desconhecimento por parte de alguns artistas: “Certa vez houve um evento no CEU Paraisópolis e não havia ninguém do funk, questionei ao organizador, ele disse que não entraria, um representante da periferia que tem preconceito, está mesmo cumprindo o seu papel”. ”. Recoba revela que essa falta de união atrapalha, uma vez que se reproduz o discurso daqueles que não estão no meio, “O cara que não é enquadrado pela polícia por não ‘parecer’ suspeito, tende a defender que a polícia não reprime o cidadão preconceituosamente, como se polícia não errasse, perseguisse, O MC canta os estilos ousadia, proibidão e consciente, este por influência do Rap, relata que as novas gerações estão muito influenciadas pelas redes e a mensagem não tem o efeito de antes: “Nos adaptamos, você tem que ganhar dinheiro, às vezes fazemos coisas que não imaginamos, mas não se deve renunciar o caráter, não quero estar lá se tiver que abrir mão do que defendo, tem acontecer um acordo de colaboração entre artistas produtores e periferia para consumo e promoção de projetos que estejam diretamente ligados às pautas necessárias, além construir o próprio aparato de produção, impulsionar nomes que pertençam ativamente ao movimento, seria um modo de evitar apropriação cultural, pois se falta profissionalização no ramo o mercado tem e leva para uma finalidade comercial”, ele diz também que letras inadequadas, como apologia ao estupro, não ajudam. “Tropa da 17” será o novo trabalho de Recoba, em parceria com 05 MC’s, “Contagem dos Tuntuns”, com os MC´s Nuttella e Tó, supera os 180 mil acessos. O rapper LGBT Josh Leone, 22, nascido em Mogi das Cruzes, região metropolitana de São Paulo, diz que além do respeito ao seu grupo, defende o direto de ser humano. Josh teve uma vida muito conturbada e cheia de dramas pessoais. Sua mãe era alcoólatra, tinha problemas de bipolaridade e

depressão, ela chegou a dar 40 comprimidos de dizepam quando ele tinha apenas 04 anos, o que resultou na perda da guarda do garoto, o abuso da combinação álcool-remédios também causou um aborto, a criança se chamaria Isabel. Ela morreu há três anos por conta desses problemas: “Estava de folga, não queria sair da cama, quando fui falar com ela, estava gelada, morta”, mas tive a oportunidade de perdoá-la. O o pai de Josh foi preso por ilicitude quando ele ainda era pequeno, cumpre pena desde então. Leone sofreu repressão familiar e colorismo: “Minha mãe era lésbica, mas foi reprimida, ela apanhava muito, motivo pelo qual entrou em declínio, assim como um tio que não se assume por medo de rejeição e represálias. Fui o primeiro a assumir, não foi bem aceito, minha vó disse que eu iria morrer na rua, além disso eu era rejeitado pela cor da minha pele, pois na minha família se valoriza quem é mais claro, sendo negro e gay, então, foi muito difícil, fui morar com meu namorado na época, mas o clima era tenso, a mãe dele era evangélica e não nos aceitava por questão religiosa”. O artista encontrou na arte uma forma se libertar dos seus dramas, influenciado pelo rapper Rico Dalassam. Ele usou sua timidez para criar “o mímico que fala”, sua obra é uma mistura de crítica social e redenção de sua própria história. Em relação ao movimento ao qual faz parte, Josh também tem críticas, para ele, a falta de união e egoísmo enfraquecem o sentido da causa, se mostrando contrário à divisão no meio: “Se alguém chega numa festa [LGBTQI+] vestido com roupas simples, é ignorado, quando a gente deveria se unir, um quer ser melhor que outro e a coisa se perde”. Relata ainda que é ruim atribuir voz a uma personalidade única, pois “É impossível que uma pessoa só represente as ideias e interesses de uma classe, é necessário dar mais espaço para pessoas que possuem letras políticas, como a [fanqueira] Lin da Quebrada, necessário apoiar quem a mídia não apoia, os artistas

45 apoiados pela mídia têm que se calar em certos assuntos”. “Eu só quero amar” será o novo trabalho do artista, que participou da série “Famílias”, lançada no dia 06 de abril a Galeria Olido, Centro de São Paulo, “Novos Poetas” e “1996” são obras já lançadas, dentre outras mais intimistas.

Garafite do artista Tody One


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///cultura

Reciclagem reduz custo de desfile de carnaval

Fotos: Douglas Dias

Acadêmicos do Tatuapé economiza mais de 500 mil reais por ano com carros alegóricos e fantasia

agremiação ficou no grupo de acesso e em 2013, conseguiu a tão sonhada volta à elite do carnaval paulistano para a felicidade de Erivelto e toda comunidade azul e branca da Zona Leste. Até hoje, a Tatuapé se manteve no Grupo Especial. “Esse resultado bacana dependia muito deste trabalho que a gente fazia aqui, que era não jogar nada fora, reutilizar, vender alguma peça que não iríamos utilizar no próximo carnaval e graças a Deus essa ideia acabou dando certo e a gente faz isso até hoje”, disse o vice-presidente. Todo ano, as escolas de samba recebem uma verba da Prefeitura de São Paulo e de seus patrocinadores para realizarem o próximo carnaval. A Tatuapé é uma das escolas que tem menos apoiadores e patrocínios para ajudar neste projeto. Por isso a reciclagem é a saída da escola para economizar em seus recursos. “Pra nós entra uma verba da prefeitura e com a reciclagem, conseguimos economizar mais ou menos, R$ 500 mil em todos os materiais que poderíamos comprar”, complementa Erivelto. Junto com a reciclagem, a escola busca outros recursos de dentro da escola para poder aumentar sua verba. Como promover feijoadas, eventos em aniversários e shows; além de vender quatro vagas na corte da bateria (musa,

rainha, imperatriz e madrinha). Erivelto nos conta sobre as estratégias que a Tatuapé faz para conseguir verba: “Alguém tem que pagar a conta, a reciclagem e as meninas que vem na frente da bateria. Temos que arrecadar recursos e ousar onde não vai comprometer o carnaval. São estratégias que estão dando certo”. Além da parte financeira, a questão de preservar o meio ambiente entre em pauta. Muitas escolas abdicam de fazer a reciclagem por ser mais trabalhoso e acabam prejudicando também a natureza, ao jogarem em terrenos abandonados muitos materiais infláveis. O processo póscarnaval da reciclagem, exige fazer a desmontagem das alegorias e a separação das fantasias por setores. Este trabalho, a escola já deve ter em mente um enredo para o ano seguinte, facilitando a divisão do que será usado ou não no próximo desfile. “Por ser trabalhoso, muitas escolas preferem começar um projeto do zero. É a mesma coisa que perguntar pra alguém se a pessoa prefere um carro zero ou usado? Você já sabe a resposta, né?”, disse o vice-presidente. Com este trabalho, o Acadêmicos do Tatuapé conseguiu nos últimos dois anos o bicampeonato inédito de toda sua história até aqui. E essa gestão foi crucial em levar

Fantasias dos desfiles anteriores amontoadas na Fábrica do Samba antes do processo de reciclagem

por Douglas Dias Se manter vivo no carnaval de São Paulo não é fácil, portanto, para continuar na briga pelo protagonismo, as escolas de samba precisam se renovar sempre, buscando alternativas que viabilizem a continuidade e força do trabalho. O GRES Acadêmicos do Tatuapé sabe bem como funciona essa dinâmica e adota um trabalho de reciclagem, sendo um diferencial com as outras agremiações que disputam o grupo especial do carnaval paulistano. Desde a fundação em 1952,

a Tatuapé sempre teve como obstáculo a verba curta para cobrir os seus gastos de cada carnaval e bater de frente com as escolas tradicionais. Uma solução simples e ecológica foi pensar em reciclar todos os materiais como forma de diminuir os seus gastos e finalmente poder disputar de igual para igual com as outras escolas, o campeonato. O vice-presidente e responsável pelo barracão, Erivelto Coelho nos conta como um projeto de reciclagem é trabalhado e quais são os benefícios que este trabalho pode trazer e levaram a

escola conquistar o bicampeonato inédito em 2017 e 2018. A reciclagem deu iniciou em 2010, onde a escola estava disputando o Grupo A da UESP (União das Escolas de Samba Paulistanas), terceira divisão do carnaval paulista. Como a Tatuapé estava em declínio e sem condições de bancar materiais para este desfile, eles resolveram juntar todas as fantasias e alegorias que tinham e montaram um “novo” desfile. No final, a escola acabou sendo campeã do Grupo A e subiu para o Grupo de Acesso (segunda divisão). Nos dois anos seguintes, a

Alegorias de 2019 no processo de separação para o carnaval 2020

47 a escola pra outro patamar. Atualmente, a escola é uma das mais procuradas pelo público para poder desfilar, justamente, por não “cobrar” a fantasia e somente pedir comprometimento do componente com a agremiação. “A partir da hora que você recicla, melhora a qualidade de fantasias, entrega no tempo em que se comprometeu e deixa o componente a ponto de disputar um título. O cara vai pensar, por que irei pagar uma fantasia de mil reais se posso desfilar de “graça” e disputar um título? ele já sabe onde vai ficar”, finalizou Erivelto Coelho sobre os bons resultados e comprometimento do componente com a escola. A única coisa que a Tatuapé cobra é a carteirinha de associação anual. O componente tem que desembolsar R$ 80 reais e tem direito de escolher sua fantasia, porém, tem que ter comprometimento e comparecer no mínimo uma quantidade de ensaios que a escola determina no começo do ano. Realmente o trabalho que foi feito nestes dez anos teve um diferencial em relação às outras agremiações. A escola da Zona Leste de São Paulo deixou de ser intermediária para ser uma das mais temidas do carnaval paulistano. Em 2020, a Tatuapé irá homenagear a cidade de Atibaia e buscará seu terceiro título.


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///cultura

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Culinária palestina no centro

Todos os dias artistas se apresentam no interior dos trens

(Foto por Andrew Mariotto

Arte faz parte da rotina do metrô

Foto por Matheus Branco.

Refugiados apostam na gastronomia

Lorem ipsum sitamet, vix et facer lobortis. Foto por Nome Sobrenome. Estação Consolação, é um dos pontos das apresentações dos artistas

por Andrew Mariotto

Al Janiah, culinária refugiada no centro

por Matheus Branco A cidade de São Paulo é famosa por dispor de culturas do mundo todo. Imigrantes enriquecem essa diversidade com pratos variados que a torna um centro gastronômico. As opções atendem os mais variados gostos e hábitos alimentares. A culinária do Oriente Médio se apresenta em cardápios pela capital, no bar e restaurante Al Janiah, localizado no Bixiga, refugiados vindos da Palestina, Síria e Turquia, lucram na cidade com o que fazem de melhor, sua gastronomia.

O dono, Hasan Zarif, palestino, conta quais foram as primeiras dificuldades da nova vida num pais desconhecido, “Vim para o Brasil justamentamente por ser um país acolhedor e foi isso que aconteceu, dificuldade enfrentei sim, no começo, aos poucos os clientes vieram e muitos aprovaram minha comida”. Um funcionário, chef da cozinha do Al Janiah fala do gosto de fazer seus pratos, “Eu aprendi na Síria, minha terra, com a minha mãe e eu sai de lá sabendo que eu daria meu jeito de não passar grandes apuros, e o Brasil se tornou minha segunda

casa, o povo brasileiro é um povo bom”, conta Rami Othman. Além das comidas tipicas, o restaurante também conta com apresentações de música, teatro e exposições do cinema durante a noite. O estudante Gabriel Galhardo aprovou o local: “É minha primeira vez aqui no Al Janiah, gosto de experimentar novas culturas e lugares novos, e eu gostei do lugar, o pessoal faz parecer que estamos no país de cada um deles, e a música é boa também, da pra fazer um happy hour bom junto com amigo”, conta o rapaz.

Artistas de metrô estão cada vez mais presentes nas idas e vindas do povo paulistano, trazendo canções, concertos, poesias ou até mesmo peças teatrais. Antes apenas um meio de transporte, atualmente um centro de diversidade cultural. Os protagonistas tem na sua maioria o mesmo objetivo, divulgar o seu trabalho, e se sustentar por meio da arte, algo que, não só em São Paulo, mas em todo Brasil se torna cada vez mais difícil. O decreto municipal Nº 52.504, DE 19 DE JULHO DE 2011 viabilizou a utilização de espaços públicos para apresentações artísticas: “Fica permitida aos artistas, em caráter experimental, na forma regulamentada por este decreto, a apresentação gratuita de seu trabalho em vias, parques e praças públicas,observado o disposto na Constituição Federal, sendo vedada qualquer forma de comercialização em tais apresentações. Ao artista que se apresentar nas vias,

parques e praças públicas é permitido aceitar contribuições pecuniárias, desde que feitas de forma voluntária pela população, sem qualquer tipo de imposição.” Entretanto é comum no dia a dia nos depararmos com cenas de violência entre artistas e seguranças do metrô na cidade de São Paulo, ocasionando revolta entre populares e companheiros de profissão. Em uma breve análise é possível identificar o apoio dos passageiros sobre as apresentações artísticas, Geovanna Fonseca, de 21 anos e estudante de Turismo, utiliza o metrô diariamente e apoia as apresentações. Ela diz que é perceptível a contribuição cultural que esses artistas provocam nos populares. “ Essas apresentações têm grande contribuição cultural, pois no Brasil não há incentivo, não existe valorização da arte, e no metrô é igual. Esse tipo de trabalho é importante pois cria uma identidade, e agrega valor cultural em quem tem contato. Artistas são criminalizados, são vistos

como vagabundos diferentemente dos outros países”, afirma. No Rio de Janeiro essas apresentações são vistas pelo governo de outra maneira, em setembro de 2018 foi decretada uma lei que permite as manifestações artísticas em todos os meios de transporte usados no estado. Inclusive possuem sistema de cadastro desses artistas, que podem receber doações dos passageiros, ato que na capital paulista é criminalizado. Segundo o cantor Guilherme Cabral, 20 anos, estudante de Radio Tv, “os artistas não devem perder a motivação por causa dos obstáculos. A contribuição dos passageiros é importante, mas nosso principal objetivo é o aplauso de cada passageiro, exaltando o respeito ao nosso trabalho, esse é o maior incentivo”, afirma. Guilherme é artista de metrô, mas começou suas manifestações artísticas no Youtube, cujas visualizações de seu canal aumentaram devido ás suas apresentações públicas.


Foto por Joyce Moura


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