ObservatórioSP - 2017/1 - Liberdade

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Observatório Liberdade

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Jornal produzido por alunos de Jornalismo | Universidade Anhembi Morumbi | 1º semestre de 2017

São Paulo Shimbun dá voz à comunidade japonesa

Foto: Victor Pontes

EDUCAÇÃO

Liberdade, bairro universitário

Região combina vida noturna agitada a opções diversificadas de ensino superior SAÚDE

Pág. 8

Feira traz riscos a visitantes

Depois de 70 anos contando a história da imigração, jornal se adequa às novas tecnologias sem perder a identidade Pág. 6

Festivais reúnem música, gastronomia e dança Calendário de festas tradicionais se estende por todo o ano; destaque, também, para festivais que trazem opções de lazer à população

Falta de higiene e exposição de alimentos no local têm prejudicado consumidores e feirantes Pág. 18

ECONOMIA

O peso da crise

Queda das vendas tem maior índice em três anos; comércios são forçados a fechar ou buscar alternativas para manter seus negócios Pág. 12

ESPORTE

Do bar ao sumô

Irmãos administram bar oriental e disseminam a arte marcial na cidade

Págs. 23 e 25 Foto: Amanda Kaori

Pág. 29


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EDITORIAL

O valor da informação local Nossa tendência majoritária em navegar, ler, ouvir e assistir notícias, reportagens e documentários com temas amplos nos dá, por suas perspectivas, conhecimentos que podem ser profundos, mas que são também sobre coisas e pessoas que estão distantes de nós. É evidente que um dos claros reflexos da globalização na área da Comunicação é o acesso fácil a tudo o que é global. Quanto mais se acentua essa tendência, mais as reportagens de cunho local são necessárias. Se olharmos esse fenômeno com uma

perspectiva dialética, chegaremos ao ponto de perceber que a informação local é necessária inclusive para dar sentido à informação global. As informações locais nos costumam chegar em muito menos frequência do que as globais. É preciso buscar por elas, pois às vezes parecem estar relegadas a rincões mais tímidos e periféricos de portais e redes digitais de informações. Em cada encontro as informações locais estão para nos lembrar - caso entremos por longo tempo no devastador transe global que traz as informações

de todos os lugares e todos os tempos - que nossas felicidades e nossas tragédias estão no local. As reportagens locais nos lembram que, ao lado de pertencermos a um estado, discutirmos um país, tentar entender nosso continente, entender nossa região como participante de alinhamentos geopolíticos e geoeconômicos globais, somos de nossa cidade e nela afundamos nossas raízes. O jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi, Observatório SP, cumpre, com esforço de nossos alunos e

O jornal “Observatório SP” é um jornal laboratório sem fins lucrativos feito por estudantes da disciplina Produção de Jornal, 5º semestre, do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi. Todo o material jornalístico publicado é protegido pela Lei Federal de Direitos Autorais e não pode ser reproduzido, no todo ou em partes, por qualquer meio gráfico, sem a autorização por escrito da coordenação do curso de Jornalismo, sob pena de infração da legislação que zela pela propriedade intelectual neste país. Os textos assinados são de única e total responsabilidade dos seus autores e não expressam necessariamente a opinião do jornal.

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Execuções marcam o bairro no período colonial Igreja conta história pouco conhecida por moradores

Prof. Dr. Nivaldo Ferraz Coordenador do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi alunas, professoras e professores, essa necessária tarefa jornalística, na intenção de tornar unificados o global e o local.

Nossas felicidades e nossas tragédias estão no jornal de bairro

EXPEDIENTE Reitor Prof. Dr Paolo Tommassini Diretor da Escola de Ciências Humanas e Sociais Prof. Dr. Luiz Alberto de Farias Professor responsável pelo jornal Prof. Ms. Maria Cristina Barbosa Prof. Dr. José Augusto Lobato Projeto gráfico Prof. Ms. Ricardo Senise

História

Alunos do 5º semestre de Jornalismo (Campus Centro/Noite)

Mohana Amorim Furst, Rinaldo Aparecido Francisco Junior, Laila Beatriz Almeida De Souza, Gabriella Brito Silva, Bruna Calazans, Lara Carvalho Spineli, Paulo Chacon Bibiano Jacoud, Emily Christini Goncalves Da Silva, Mariana Cristina Ferreira Florencio Ayala Pana, Thalia Cruz Santos Da Silva, Vitor Da Cruz Azevedo, Thais Da Pena Morelli, Camila Da Silva Torres, Cinthia Da Silva Ventura, Bruna De Fatima Lucas Barros, Victor De Oliveira Rodrigres Pontes, Bruna Dos Santos, Mikaelly Dos Santos Capella, Maria Eduarda Souza, Celestino Francisco Da Silva Filho, Vitoria Frattini Ruozzi Da Silva, Bianca Gancedo Gomes, Gustavo Henrique Nascimento Soler, Amanda Kaori Oka Rodrigues, Mylena Lococo Peres Fantini Pimenta, Juliana Marques Da Silva, Karina Martins Santos, Gustavo Massarenti, Giovanna Monteiro De Oliveira, Barbara Novaes Rocha, Isabella Nunes Liranco, Mayara Oliveira Custodio Da Silva, Thais Pires Santiago, Giovanna Polverini Requena, Vitoria Regina De Oliveira, Luana Rocha Munekata, Vinicius Rodrigues Da Silva, Juliana Santoros Miranda, Leonardo Sapucaia Vaz, Gabriela Schatz Queiroz, Vinicius Silva Caldeira Marques, Karen Souza Da Cruz, Matheus Sylvestre Da Silva Ferreira Alves, Adriano Valdivino De Oliveira Silva, Joao Victor Aguiar Barroso, Leticia Vieira Da Silva, Marcos Vinicius Cariolano Da Silva, Joao Vitor Neves Vieira.

Vitor da Cruz Conhecido por abrigar pessoas de descendência oriental, é difícil imaginar que o bairro da Liberdade já foi um local de grandes atrocidades durante o reinado de Dom Pedro I. Quando o Brasil ainda era colônia de Portugal, o lugar foi palco de assassinatos por meio de enforcamentos, a maioria de escravos que tentavam fugir ou que se rebelavam contra seus senhores. Em função disso, o bairro era chamado de Largo da Forca. As execuções aconteciam no local que hoje é conhecido como Praça da Liberdade. No ano de 1891, em frente à atual Praça da Liberdade, foi construída a capela Santa Cruz das Almas dos Enforcados, que serve como memorial de todos os escravos mortos nessa época. No mês de setembro, os responsáveis realizam uma missa ecumênica, que mistura ritos católicos e de religiões de matrizes africanas. Para o segurança Reinaldo Siqueira, a igreja é um marco do início do bairro, pois serve como memória de todas as mortes ocorridas na Praça, incluindo a do cabo Francisco José das Chagas, o Chaguinhas. Chaguinhas foi parte fundamental para a

Há 126 anos, Capela Santa Cruz das Almas dos Enforcados está localizada no bairro da Liberdade (Foto: Vitor da Cruz) construção da capela, identificar relatou que período histórico do Braapós incitar uma revo- passa boa parte de seu sil, relembrando a luta lução para melhorias dia em frente à igreja e do povo negro por sua salariais aos soldados diz não saber sua histó- liberdade. Infelizmente, de Santos, sendo conde- ria, mas acha muito im- mesmo com toda essa nado à morte na Praça portante a realização de bagagem histórica é um da Forca. Após sua mor- uma missa ecumênica local completamente este, foi erguida uma cruz para diminuir o precon- quecido pelas pessoas. em homenagem a Fran- ceito. Reinaldo Siqueira, Segundo Reinaldo, não cisco e aos escravos por sua vez, conta que existe uma divulgação enforcados, onde anos os frequentadores vão por parte dos responmais tarde a capela se- à igreja com o intuito sáveis, o que contribui ria construída. de devotar as almas em para a falta de conhePorém, muitos desco- geral, principalmente de cimento dos frequentanhecem a história dessa entes queridos que já fa- dores, que muitas vezes igreja e os motivos de leceram, e não se preo- vão até o local por conela estar em um bairro cupam em conhecer sua ta de parentes ou amique abriga uma grande história. gos que lhes contaram. população oriental. Nem O segurança diz ainda mesmo seus fiéis ou Esquecimento que se sua história fosse pessoas que passam re- Entre tantos lugares mais divulgada a capela gularmente pela Liber- com histórias importan- poderia ser até mesmo dade a conhecem. Uma tes no bairro da Liberda- um ponto turístico. fonte que não quis se de, a capela marca um


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Moradores conservam identidade cultural

Nipo-brasileiros procuram manter vivas suas tradições

História fortalecimento da identidade japonesa. Segundo a especialista, “nessas colônias eles acabam reproduzindo suas histórias de vida aqui no país”, o que pode ter auxiliado em sua adaptação. Entre culturas Por ser um processo complexo, o fenômeno migratório chama a atenção por causar uma sensação de “entre dois lugares” no imigrante. Segundo Mirabeli, “esse estado acontece quando a pessoa não consegue mais se identificar com o país do qual ela veio, nem com o que ela está”, explica. Para a especialista, “ela ainda fica

nesse processo de voltar a seu país, caso tenha algum problema em seu novo território, ao passo que não consegue mais se ver em sua terra natal por já ter criado uma nova identidade nesse novo país”, conta. Morador da Liberdade há 30 anos, um vendedor de anúncios de 61 anos, que não quis se identificar, é um exemplo nesse assunto. Ao ser questionado sobre sua identidade, o japonês de Tóquio responde num sorriso confuso: “Não me sinto nem brasileiro, nem japonês”, conclui. Pai de duas filhas e casado com uma brasileira, o vendedor não

se preocupa em passar adiante os costumes japoneses a suas filhas. “Eu até tentei ensinar minhas filhas a falar japonês, mas elas preferem a cultura europeia e americana”, comenta, em tom despreocupado. Não é o que pensa o estudante Mitsuo Takebayashi, 16, também morador do bairro. Neto de japonês refugiado da Segunda Guerra Mundial, conta que gosta da cultura japonesa e se interessa pelo assunto. O nipo-brasileiro diz que mesmo não sofrendo pressão por parte de sua família faz questão de conhecer suas origens e passá-las adiante. “Eu

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vou ensinar tudo a meus filhos, a usar hashi, a comer, a cultura, querer visitar o Japão”, conta Takebayashi, que diz ter o sonho de visitar o Japão pela primeira vez. Mesmo sem um apelo de conservação por parte dos mais velhos, a cultura japonesa continuará presente nas gerações futuras, se depender da geração atual. Para Takebayashi, a memória e a história japonesa devem ser mantidas aos nipo-brasileiros. “Quero ensinar tudo aos meus filhos, netos e bisnetos. Esse é meu sonho”, conclui, com um sorriso entusiasmado.

Muito além do Japão

Em centro cultural japonês, moradores convivem com novos sotaques e diversificam o perfil da região

Moradores e turistas circulam por um dos principais símbolos da cultura oriental; região se torna um ambiente de convívio entre diferentes tradições (Foto: Adriano Oliveira) Adriano Oliveira O bairro da Liberdade ainda é conhecido como uma colônia japonesa em São Paulo. Sua história se confunde com o início da imigração japonesa no Brasil, tendo seus primeiros moradores da capital alocados na rua Conde de Sarzedas. Com a adaptação da cultura, os japoneses do bairro nem sempre têm seu sentimento de identidade definido. Mas, se depender dos nipo-brasileiros do bairro, a cultura do Japão continuará viva por muito

tempo no país. Os primeiros japoneses chegaram na região em que se formou o bairro logo após o início da imigração japonesa. Com a vinda de uma grande quantidade de trabalhadores, muitos destes imigrantes chegaram à cidade de São Paulo sem um local fixo de trabalho e sem vagas nas fazendas de plantação de café. Estes japoneses passaram a morar em porões na rua Conde de Sarzedas que, segundo a historiadora e mestre em imigração japonesa Célia Sakurai, não tinham

ocupação e passaram a buscar formas independentes para sobreviver, trabalhando como barbeiros, costureiras, alfaiates e comerciantes na região. “As mulheres trabalhavam como empregadas domésticas e os homens como motoristas nos casarões das famílias ricas, nas avenidas Paulista e Angélica”, conta Sakurai. A especialista conta que esses trabalhos se tornaram uma rede entre os japoneses: “Alguém, por acaso, se empregou como motorista de alguma dessas famílias ricas e chamou um conheci-

do para uma casa que também precisava de um motorista”, conta. Com a expansão do centro da cidade, a Liberdade passou a ser o ponto de encontro de japoneses de outras cidades paulistas, em busca de produtos importados e comidas típicas, que chegavam aos comerciantes do bairro no período. Para a psicóloga social especialista em imigração Carolina Mirabeli, o convívio em grupo destes imigrantes, trocando experiências e produtos de sua terra natal, pode ter sido importante para o

João Victor Aguiar O bairro da Liberdade sempre foi postulado como o local que preserva e propaga a cultura japonesa. Isso fica claro ao se encontrar objetos, lazer, esporte e gastronomia de origens asiáticas. Mas se engana quem pensa que o lugar se resume ao Japão. Outras culturas ganham força e contribuem com a formação da identidade do local. O bairro, que originalmente foi um reduto de italianos e portugueses, está cada vez mais ocupado por chineses. Hoje muitas pessoas que saem da China chegam ao país, se instalam e abrem comér-

cio por lá; um exemplo é o restaurante Chi fu. O local, próximo ao metrô, funciona todos os dias e é famoso por vender comidas tradicionais chinesas. Renato Zhu, um dos responsáveis, ressalta o crescimento de outras culturas.

Outra cultura que se expande nos arredores do bairro é a árabe. E um dos responsáveis por isso é o restaurante Al Maual, do chef Samer Barhoum. Ele diz que está no local desde 1985 e que é fácil encontrar comércios desse gênero

“A Liberdade não é um bairro japonês, é um bairro oriental” “Hoje a Liberdade não é um bairro japonês, é um bairro oriental”. Conforme afirmou Renato, a maioria dos clientes são brasileiros e o país é muito receptivo. A única ressalva que faz é referente à falta de segurança.

na região. “A Liberdade hoje é um bairro japonês e árabe”, diz Samer. Diversidade Um dos grandes atrativos do Al Maual é espalhar a cultura do oriente médio não apenas com a gastronomia. “Todas as

sextas e sábados temos músicas tradicionais e dança do ventre que também ensinamos aqui”, conclui o chefe. O bairro continua sendo em sua maioria nipônico, e atrai visitantes das mais variadas regiões justamente por esse perfil. Mas está ficando cada vez mais comum encontrar pessoas que vão atrás da cultura chinesa, portuguesa, árabe, coreana... pessoas que vão atrás de aprendizado, troca de ideias, crenças, formas de agir e de falar. A diversidade de tradições invade o bairro que tem como característica ser japonês por excelência.


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São Paulo Shimbun, tradição ontem e hoje

Jornal que ajudou a contar a história da imigração japonesa se adapta ao tempo das mídias digitais Victor Pontes Fundado em 1946 após o término da 2ª Guerra Mundial, o jornal São Paulo Shimbun foi um dos principais responsáveis por informar, integrar e fortalecer a colônia japonesa na cidade de São Paulo, em um período repleto de incertezas e represálias do governo brasileiro, com um conteúdo inteiramente em japonês. Devido à familiarização dos descendentes com a língua portuguesa e ao surgimento dos meios de comunicação virtuais, o jornal enfrenta um período de transição e busca atingir os mais jovens, porém mantendo a tradição e a valorização histórica. Localizado desde a fundação na rua Mituto Mizumoto, que leva o nome de seu fundador, no bairro da Liberdade, o jornal septuagenário carrega em suas publicações, ao longo do tempo, uma grande carga histórica da imigração japonesa, relatando fatos do Brasil e do mundo para aqueles que ainda não dominavam o idioma da grande metrópole, mas que precisavam se manter informados e sobreviver às dificuldades de se firmar em um país completamen-

te diferente. De acordo com o Subsecretário de Empreendedorismo do Governo do Estado de São Paulo, leitor e filho de um ex-funcionário do São Paulo Shimbun, Roberto Sekiya, o jornal era “um grande líder da

vitória do Japão e na omissão da imprensa brasileira na Segunda Grande Guerra e os que tinham ciência de que o país havia perdido, contribuiu para a perpetuação do veículo, pois, segundo a Diretora de

Pioneiro no ramo, o jornal completou 70 anos de existência em 2016 (Foto: Victor Pontes) comunidade por fazer toda a parte social, de engajamento e direcionamento da comunidade”, considerado desbravador, responsável também pela interação da comunidade japonesa no cenário nacional. A insegurança dos japoneses residentes no Brasil com as informações publicadas pelos jornais brasileiros, ilustrada principalmente pela história de desunião dos Kachigumi e Makigumi, que se dividiam entre os que acreditavam na

Planejamento do jornal, Nobuko Kojo, “o papel do Shimbun foi de esclarecer as informações, principalmente sobre o final da 2ª Guerra”. No entanto, a importância do periódico não se limita às questões históricas, influenciando também na disseminação da cultura japonesa por meio das artes em geral, divulgando exposições, eventos musicais, peças teatrais e filmes. O crescimento natural dos portais de notícias, o surgimento das redes

sociais, o enfraquecimento dos meios impressos e o fácil acesso às informações internacionais em tempo real fizeram com que o número de assinantes sofresse uma queda vertiginosa. Tais fatores criaram nos diretores e produtores de conteúdo uma grande preocupação em se modernizar e buscar alternativas para que o jornal se mantenha atualizado e financeiramente viável. Rumo ao digital Por ser um jornal com uma parcela considerável de leitores tradicionais, que possuem o hábito de acompanhar o conteúdo diariamente há mais de 60 anos, o veículo ainda se preocupa especialmente com a sua publicação impressa, mas não abre mão de atualizar gradativamente sua equipe, para inserir ao seu grupo de seguidores pessoas mais jovens, nipônicos ou não, que tenham interesse pela cultura japonesa. A interação nas redes sociais é um grande termômetro do público que o jornal atinge e virá a atingir nos próximos anos, porém, por ter um público alvo bem específico, há uma grande quantidade de cartas

História que são enviadas à redação, com sugestões de pautas e comentários de leitores, algo bem característico de um veículo tradicional e importante no contexto histórico. Essa tradição presente nas páginas do Shimbun atrai um grupo de anunciantes muito direcionado, adicionando mais um fator a ser pesado no processo de modernização do veículo. A transição estrutural de jornais de grande repercussão nacional é um trabalho árduo; quando se trata então de um veículo direcionado a uma

parcela específica da população, é algo ainda mais complicado, como ressalta Nobuko. “Eu acho que o jornal daqui

como todos os jornais tendem a mudar, porque o papel vai desaparecer. Já estamos pensando como iremos fazer para

a 10 anos estará em um formato diferente do que apresentamos hoje, porque o número de leitores tende a diminuir, infelizmente”, diz. “O formato do jornal terá de mudar,

sobreviver”. Porém, mesmo olhando para o futuro e buscando uma forma de unir conteúdo e modernidade, há de se preocupar com a valorização da

“O papel do Shimbun foi de esclarecer as informações, principalmente sobre o final da 2ª guerra”

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importância do jornal ao longo do tempo, como afirma Roberto: “É um mega desafio, mas ao mesmo tempo essa nossa geração não pode perder todo esse fato histórico. É muita riqueza, então não podemos aceitar que é só mais um veículo que se apaga. O São Paulo Shimbun é um ator importante para a nossa comunidade japonesa, é uma coisa para nos preocuparmos”. São Paulo Shimbun R. Mituto Mizumoto, 255 - Liberdade - www.saopauloshimbun.com.br

Herança portuguesa em foco Criada em 1822, Casa de Portugal reúne comunidade luso-brasileira e resgata parte da história do bairro Bruna dos Santos A Casa de Portugal é uma instituição que representa a cultura luso-brasileira no bairro da Liberdade. Criada em 1822 por portugueses e luso-brasileiros, a casa inicialmente era voltada à alta sociedade que havia na região na época, antes de o bairro se tornar reduto dos orientais. De acordo com Paulo Machado, jornalista e diretor do espaço, o local foi criado com a finalidade de apoiar e dar assistência à comunidade portuguesa daquela época, divulgando os valores da tradição herdados dos antepassados, além da prestação de serviços em caráter assistencial oferecidos aos portugueses moradores da região e aos

professores trazidos de Portugal para lecionar na Universidade de São Paulo (USP), que havia sido fundada há pouco tempo. A associação reforçava a preservação de valores históricos e culturais e a presença dos portugueses em São Paulo. O local foi sede do Consulado Português até 2004 e também acolheu o Instituto Camões. Os eventos que acontecem na Casa são casamentos, aniversários, confraternizações, shows e eventos corporativos. Os clientes chegam de todos os lugares do Brasil, assim como de fora; um exemplo foi a Conferência Internacional Portuguesa. Pessoas de outros estados procuram a Casa para fazer eventos, por sua popularidade e história. A biblioteca foi inau-

Salão de eventos no subsolo da Casa de Portugal (Foto: Bruna dos Santos) gurada em agosto de 1993. “Organizei todo o espaço e a cada doação, tento otimizar o mesmo, já que a biblioteca está ficando sem espaço”, explica a bibliotecária Eliane Junqueira. No acervo, livros com as histórias de Portugal e do Brasil, da língua por-

tuguesa, da imigração, da literatura portuguesa e brasileira e de poesias, fados, mapas, artigos e autores como Eça de Queiroz, Saramago, Maria Malia Vaz de Carvalho, Almeida Garrel e Almiro Castello Branco, além de revistas e jornais portugueses.


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Liberdade é o novo bairro dos universitários em SP Repleto de instituições de ensino, o bairro atrai estudantes com opções diversificadas de cursos e vida noturna agitada Camila Torres Matheus Sylvestre As universidades vêm conquistando um espaço cada vez maior na Liberdade. O bairro se tornou preferência dos alunos pelas inúmeras opções de universidades e pelo fácil acesso de transporte público. O bairro, que é a escolha de alunos de todas as idades e todos os lugares, conta com universidades para todos os gostos, cursos e bolsos; entre elas, estão Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU-FIAM-FAAM), Faculdade Escola Paulista de Direito (Facepd), Faculdades Integradas IPEP, Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), Fundação Escola Comércio Alvares Penteado (Fecap), Ibmec e Damásio, Uninove, Centro Universitário da FEI, Universidade Solidária (Unisol), Faculdade de Teologia Metodista Livre e Universidade Paulista (Unip). Visão dos alunos A reportagem entrevistou alunos de uma das universidades da Liberdade. Eles contaram um pouco da sua experiência de estudar na região. A estudante Bárbara Nottari, 20 anos, cursa o 5º semestre de Jornal-

Educação falar na proximidade com a Avenida Paulista –, o bairro forma um ambiente universitário noturno agitado, principalmente no entorno da rua Taguá. Habituado com o ambiente, o estudante de Jornalismo do Centro Universitário FIAM-FAAM Paulo Cardoso, de 19 anos, conta que antes de ingressar na faculdade já havia escolhido o campus Liberdade por identificação com o local. “Tudo se movimenta no bairro, existem diferentes públicos, diferentes locais de lazer e variados ambientes corporativos. São fatores que atraem a todos nós. O problema,

Região conta com mais de 10 universidades de fato, é conseguir conciliar essa vida boêmia com a vida acadêmica que o bairro propõe”, declarou. Há estudantes que não gostam dessa característica boêmia do público que frequenta o bairro. É o caso de Moniele Araújo, de 21 anos, que também estuda Jornalismo no FIAM-FAAM. “Não me sinto bem em lugares cheios, não bebo,

não fumo, não curto esse ambiente vulnerável, propício a brigas, e nem gosto de ver a galera se viciando em coisas vazias. Não generalizando, mas é isso”, refletiu. Um dos bares conhecidos da rua Taguá, o chamado Bar Ed’s, atrai os estudantes da região desde 1992, sendo o maior ponto de encontro no horário de intervalo das aulas. O fluxo de estudantes é muito alto, com o policiamento reforçado para assegurar o bem-estar de todos. O Ed’s funciona das 7h às 23h30. A funcionária Camila Santana, de 27 anos, trabalha há seis anos no Ed’s e diz que essa

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conciliação é algo natural para ela. “Os alunos costumam vir no horário do intervalo e depois voltam para a aula. Eles curtem, bebem e depois vão embora tranquilamente para estudar”, comentou. A escolha entre estudo e diversão é pessoal, contudo, assim como em qualquer ambiente universitário, é necessário que existam regras para garantir a segurança de todos que ali buscam diversão e que o policiamento seja reforçado, já que o número de brigas, assaltos e reclamações da vizinhança vem subindo, conforme comentado pelos alunos.

Faixa verde divide opiniões Mikaelly Santos

Rua Vergueiro e Centro Cultural vistos do terraço da Unip (Foto: Maria Eduarda) ismo na Unip, no período da manhã. Ela diz ter escolhido a universidade por ter uma boa nota no MEC e o bairro por se interessar pela cultura asiática. A estudante reclama da distância da universidade de sua casa, já que mora na zona leste de São Paulo. Já o estudante Robson Cardoso, 21 anos, aluno de Publicidade e Propaganda da Unip do período matutino, conta que teve dois fatores determinantes para sua escolha: “Eu tinha visto um ranking em que a Unip era uma das melhores universidades por conta da sua grade de aulas. E escolhi o

bairro por conta da bolsa ProUni, que só tinha neste campus”. Quando questionado sobre os pontos positivos de estudar na Liberdade, ele diz com firmeza: ‘’Como é praticamente perto do centro, você tem opções de se locomover em diferentes cantos de São Paulo, assim como diversas opções de lazer’’. Os prós Algumas das vantagens em estudar na Liberdade são o alto número de universidades, os cursos e as mensalidades para todos os bolsos, além do fácil acesso por transporte público. As opções de cultura e

a variedade de restaurantes, feiras e bares também se destacam. Os contras Por ser preferência de muitos universitários, as ruas entre as estações e as universidades estão sempre cheias nos horários de entrada e saída de aulas, o que leva os alunos a perder um tempo considerável na caminhada. Estações do metrô como Liberdade, Paraíso e Vergueiro estão sempre cheias às 7h, 12h, 19h e 23h. Os points da Taguá Em meio à acessibilidade de comércios, serviços e encontros – sem

A faixa exclusiva para pedestres, implantada em setembro de 2015 e localizada na Avenida Liberdade, centro de São Paulo, está longe de ser consenso. O bairro abriga mais de uma dezena de faculdades, causando grande fluxo de pessoas em determinados horários do dia. De acordo com a medição feita pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), é possível verificar 5,5 mil pessoas por hora andando entre a calçada e a via onde trafegam os automóveis. O projeto da prefeitura visava proteger os pedestres, porém, para a estudante de direito Isabela Lopes, circular pela faixa é um risco. “A faixa não tem sinalização adequada e em alguns

horários do dia a circulação de estudantes é muito grande. Muitos se arriscam e andam pela via sem proteção”, diz. Procurada, a CET ainda não se posicionou sobre a falta de sinalização. Com 750 metros de extensão e 1,5 metro de largura, a faixa pintada com a cor verde fica do lado oposto da ciclovia. Rogério Pereira, cobrador de transporte público, questiona o espaço pequeno para o fluxo de automóveis. “Os corredores de carros ficaram ainda menores com a faixa, não houve planejamento. Em horário de pico, o trânsito fica ainda mais lento.” Nas faixas de trafego não é permitido estacionar. Hoje, a proibição acontece de segunda a sexta, das 6h às 23h, o que prejudica os comerciantes do local. “Todos os dias tenho que descarre-

Alunos circulam pela faixa verde (Foto: Maria Eduarda) gar mercadorias. Como é proibido estacionar na frente do meu comércio por conta da faixa, tive que redefinir os horários e receber os produtos ainda de madrugada”, diz a comerciante Flávia Queiroz. Nos finais de semana, ainda é possível visualizar aqueles que preferem circular pela calçada alternativa. Em lazer com os filhos, a bancária Lilian Silva apoia a

iniciativa de olhar para os pedestres da região. “Meus filhos estudam nessa avenida e há uma necessidade de segurança para quem costuma caminhar por aqui. Também é preciso priorizar a mobilidade sem carros.” Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, medida semelhante foi adotada na rua Medeiros de Albuquerque, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo.


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Primeira escola japonesa marcou história no Brasil

Aberta em 1914, a escola Taisho Shogakko encerrou suas atividades durante a Era Vargas e hoje funciona como museu Rinaldo Junior Juliana Marques Quinta feira, nove horas da manhã. Já havia um enorme fluxo de pessoas, como sempre há, em torno da estação Liberdade. Descemos a Rua São Joaquim, uma ladeira íngreme, em busca do Museu Histórico da Imigração japonesa no Brasil. Ao chegar, fomos direcionados ao acervo do museu e a simpática e atenciosa Mieco Yano, funcionária, pôs diante de nós uma série de materiais pertencentes à primeira escola Japonesa no Brasil. Entre vários materiais, fotos, certificados de estudantes e livros sobre a imigração japonesa, fomos em busca para conhecer melhor a história da Taisho Shogakko, a primeira escola japonesa do Brasil. A Taisho teve seu início por volta dos anos de 1913 e 1914, na casa de Jinshirō Tagashira, que se localizava na Rua Conde de Sarzedas, 38. Jinshirō chegou ao Brasil em 1912 e começou ensinando um grupo pequeno, 3 ou 4 crianças. No ano seguinte, o professor Shinzō Miyazaki assumiu o comando da escola e, em 7 de outubro, a instituição foi oficializada. Cada aluno pagava

uma mensalidade de 3 mil réis, o que não cobria o valor do aluguel, avaliado em 20 mil réis por mês. Isso fez com que a escola mudasse de lugar várias vezes. O problema só foi resolvido quando o estado de São Paulo reconheceu a escola como instituição particular, no ano de 1919. E, com o apoio do consulado Geral do Japão, a escola teve um aumento no número de alunos, o que impulsionou sua realocação para a Rua São Joaquim, em 1928 - local que hoje é ocupado pelo Museu Histórico da Imigração. Práticas de ensino Pausa nas pesquisas. Mieco Yano oferece um café e vai atrás de um livro sobre a imigração japonesa, “O Imigrante Japonês”. Entre as frases, destaque: “quando três japoneses se reúnem, fundam uma associação”. Em seguida, fomos para uma sala onde Mieco mostrou os materiais de ensino da escola Taisho. Entre as disciplinas ensinadas na escola, estão japonês, geografia, história e ciência. Não muito diferente do ensino fundamental das escolas brasileiras. Os japoneses separaram períodos por eras marcadas pelo reinado de um

Educação

Escola reforça ensino de Mangá na Liberdade

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Costumes orientais se traduzem em desenhos e quadrinhos

Variedades de edições de mangás expostas no acervo; escola tem nove franquias em SP (Foto: Maria Eduarda) Karen Cruz

Mieco Yano manuseando gravuras de 1930, usadas para o ensino da língua japonesa (Foto: Rinaldo Junior) imperador, o chamado Sistema Nengo. O nome da escola “Taisho Shogakko” faz referência ao tempo do imperador Taisho, que reinou durante os anos de 1912 e 1926. Já o ”Shogakko” significa escola primária, Sho (pequeno) Gakko (escola). Com o governo nacionalista de Getúlio Vargas, a implantação do Estado Novo e a explosão da Segunda Guerra Mundial, a população japonesa foi a maior vítima de um patri-

otismo exagerado provocado na época, inclusive sendo proibidos de se comunicar e ensinar a língua japonesa. Neste período, a escola Taisho Shogakko foi fechada e nunca mais foi reaberta. Colhidas as informações, fomos direcionados para a saída do museu; durante o processo de construção desta reportagem, uma frase nos fez refletir sobre a cultura japonesa: “Os europeus constroem uma igreja; os japoneses, uma escola”.

As histórias em quadrinhos japonesas, também conhecidas como Mangá, têm influenciado e interessado tanto jovens quanto adultos. Entre as suas particularidades estão os traços dos personagens e as histórias, que são baseados em costumes da cultura oriental. No bairro da Liberdade, a escola Japan Sunset foi fundada por Fabio Shin, considerado o pioneiro da popularização do mangá no Brasil, contendo 9 filiais com aproximadamente 900 alunos. Shin começou a desenhar mangás aos cinco anos de idade e, com onze anos, já realizava trabalhos para

jornais de bairro, tornando-se, em 1997, o primeiro professor dessa técnica na região. Além das aulas e oficinas de mangá, a instituição trabalha com encomendas de brindes e produtos direcionados e personalizados em desenhos japoneses. Foi a primeira equipe da America Latina a trabalhar com caricaturas em mangá. No bairro da Liberdade, destacam-se as várias opções de ensino. Apesar de ser um bairro oriental, as escolas de mangá são um diferencial na região, na qual o ensino superior acena a cada esquina. O ensino oriental foi sendo implantado no Brasil e desperta no pú-

blico, além da curiosidade pela cultura japonesa, uma opção de leitura que gera aprendizado. As ilustrações, os personagens e a linguagem de fácil acesso aproximam o leitor. Segundo

Escola Japan Sunset é pioneira em caricaturas em mangá na América Latina Shin, “esses cursos possibilitam que os alunos desenvolvam suas habilidades, estimulando a criatividade, a obser-

vação e a expressão dos sentimentos através do desenho”. De acordo com o dono do projeto, hoje a unidade da Liberdade divide espaço com um karaokê. Para um melhor desenvolvimento, são turmas pequenas: apenas três no sábado de manhã, incluindo uma turma de adolescentes das 9 às 11h; de adultos, das 10h às 12h, e uma turma mista, para aqueles que preferirem, das 12h às 14h. O curso tem muita procura: por semana. há um fechamento de dez a quinze matrículas. O valor é acessível comparado com o mercado, e todo o atendimento é online. O dono é quem gerencia toda a equipe.


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Crise econômica afeta comércio da Liberdade

Instabilidade financeira do país leva comerciantes a buscar novas soluções para se manter no mercado Marcos Vinicius Cariolano A crise financeira estabelecida no Brasil desde 2014 afetou diretamente a Liberdade. Segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACPS), em 2015 o bairro teve queda de 10% nas vendas, aumentando para 20% em 2016. O começo de 2017 não vem sendo diferente: o acumulado até o mês de março é de 5% de queda. O bairro vem desde 2014 sofrendo com a crise. Segundo o Diretor Superintendente da ACPS, Luiz Alberto da Silva, a atual situação é reflexo da política econômica do governo federal. “Os comerciantes começaram a não ter dinheiro para investir e repor estoque,

mas com o auxílio do governo eles conseguiram recompor as suas lojas. Mas por conta da baixa procura dos consumidores, não houve giro de capital, ocasionando a dívida dos comerciantes. Frente a isso, os bancos bloquearam os créditos e cobraram os débitos. Tudo isso levou lojistas a ficarem com os nomes sujos no Serasa e SPC, culminando no fechamento da loja”, explica Silva. Além da crise, a queda das vendas teve um acréscimo por conta da invasão chinesa no bairro. A perda da tradição e da originalidade do local, segundo o entrevistado, fez com que menos turistas frequentassem a Liberdade. Para o diretor, os chineses estão trazen-

Fonte: Associação Comercial de São Paulo

do toda a sistematização de serviço prestado na 25 de março, então o público não tem mais que ir até o bairro fazer as compras; os produtos ali encontrados podem ser buscados em outros locais. Segurança Para aumentar as dificuldades enfrentadas por comerciantes e compradores, Luiz Alberto coloca a segurança pública como um dos motivos pelo qual os turistas frequentem menos a região. “A Liberdade está muito próxima à baixada do Glicério, que é a maior cracolândia de São Paulo. Os moradores de lá estão começando a subir e assaltar as pessoas. Diante disso, os lojistas estão tendo

que contratar seguranças particulares.” Para tentar fugir da crise, alguns comerciantes buscam alternativas viáveis sem que prejudiquem o consumidor. Segundo a ACSP, algumas lojas diminuíram o número de funcionários. Outras foram ao mercado negociar aluguel, pois a inflação das locações atingiu um crescimento de cerca de 18% nos últimos dois anos, segundo o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M). De acordo com a ACSP, os comerciantes ainda não estão otimistas em relação a 2018. Silva diz que, até lá, cabe às lojas serem as mais criativas possíveis, pois a concorrência no mercado está cada vez maior.

Fonte: Associação Comercial de São Paulo

Economia

Fidelização de clientes incentiva consumo

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Livraria Sol ensina que, em tempos desafiadores, manter um freguês fiel sai mais barato do que conquistar um novo Thais Santiago

Desde 1945, quando Yoshiru Fujita, fundador da Livraria Sol, iniciou a importação de produtos de papelaria do Japão, suas lojas passaram por diversas dificuldades. Atualmente, dos quatro comércios abertos, apenas a livraria do bairro da Liberdade está em funcionamento. Segundo Tatiana Fujita, neta e atual proprietária, um dos pontos chaves para

a loja se manter ativa ao longo desses anos, principalmente em 2016, quando houve uma queda de 17% nas vendas, são seus assinantes japoneses. Eles representam 80% do seu público atual, com média de sessenta anos, seguidos dos consumidores locais. A livraria aposta como estratégias o atendimento personalizado para cada cliente. O diferencial da loja é ser uma empresa familiar,

que está em sua terceira geração na administração da livraria. Como escape para a atual crise econômica, os atuais sócios optaram pela redução do próprio salário, uma segunda alternativa, já que em crises anteriores os próprios empresários emprestaram dinheiro pessoal para o fundo de caixa a fim de manter todos os funcionários, que estão há mais de meio século no local.

A livraria conta com o maior acervo de títulos japoneses do Brasil, mas as reposições são difíceis porque os produtos demoram em média dois meses para chegar ao Brasil. Os preços das mercadorias estão em torno de R$ 80, variando conforme a alta ou baixa do dólar. Seu produto mais vendido é a revista Bunjui, que traz os principais fatos econômicos e atualidades sobre o Japão.

relação ao ano anterior. Além da crise econômica brasileira, o aumento do dólar, que teve seu maior valor em relação ao real no ano passado, fez com que as mercadorias ficassem mais caras, já que o acréscimo é repassado. As compras de produtos importados, como os temperos e os chocolates, que são os mais vendidos na loja, são feitas com importadoras especializadas. A equipe de suprimentos do Empório pesquisa a que tem o melhor custo-benefício para que, assim, possa comprar e vender da forma mais barata para seus consumi-

dores. Apesar do cenário econômico brasileiro, Andrea diz que a expectati-

va é que as vendas da loja cresçam mais 10% nos próximos cinco anos.

Queda das vendas não impede investimentos Mariana Pana Inaugurado em 2012 no bairro da Liberdade, o Empório Azuki tinha como ideia inicial a venda de produtos orientais e utensílios domésticos, como porcelanas e panelas. Entretanto, segundo a gerente Andrea Akemi, em fevereiro de 2016, a equipe decidiu investir totalmente no setor alimentício. Porém, ano passado foi a pior época para os negócios da loja. O local, que desde sua abertura teve um aumento de 10% nos lucros, sofreu uma queda de 20% no primeiro semestre em

Empório Azuki triplicou seus produtos desde a inauguração (Foto: Vitória Frattini)


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Observatório SP Liberdade

Comércio ambulante ganha força no bairro

Alternativa de geração de renda movimenta economia Karina Martins O comércio ambulante tem crescido cada vez mais pelas ruas de São Paulo como opção de renda para trabalhadores. No bairro da Liberdade, o lucro de vendas deste ramo contribuiu no ano de 2016 com cerca de 40% para o rendimento local, de acordo com pesquisas feitas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebare). Porém, muitos comerciantes ainda enfrentam dificuldades para regularizar vendas. A Associação Comercial de Lojistas de São Paulo (ACSP) busca ajudar estes ambulantes a regularizarem seus negócios.

De acordo com o Diretor Superintendente da associação, Luiz Alberto da Silva, o trabalho do grupo é retirar os camelôs da informalidade do comércio, os incentivando a abrir uma loja física para que se formalizem com a Prefeitura de São Paulo, pois essa transição “proporciona lucro monetário para o bairro e segurança para o consumidor, que sofre sem a garantia de qualidade do produto”. O comerciante Adriano Venâncio, formado em Relações Públicas, viu o comércio ambulante como única saída para se manter após perder o emprego. Adriano não pensa em legalizar seu comércio por ser apenas

temporário, não valendo a pena, financeiramente, abrir uma loja física. Por conta disso, Venâncio acaba sendo exposto a 12 horas ininterruptas de trabalho, além do risco de ter suas mercadorias apreendidas pela fiscalização. Com lucro mensal em média de R$2 mil, Adriano tem maior procura por suas mercadorias em época de inverno, com seus produtos e preços baseados em pesquisas de mercado, onde o comerciante observa o que os clientes estão usando e buscando como novidade. Resistência Ainda há resistência dos comerciantes em formalizar seus negócios,

tanto pela falta de informações como por altas taxas cobradas, fazendo com que o vendedor opte por continuar nas ruas. Sendo assim, para a regularização em um ponto fixo de um bairro é necessário obter o Termo de Permissão de Uso (TPU), documento emitido pela Subprefeitura que autoriza o comerciante a se estabelecer em vias públicas, determinando horário, local e fiscalização dos produtos a serem vendidos. Mas ainda são encontradas dificuldades para obter o TPU, como a concorrência entre um mesmo ponto, levando os pedidos à análise. Ao final do processo, nem todos são aprovados.

Comércio de rua ocupa a Liberdade e ACSP incentiva regularização de vendedores ambulantes (Foto: Karina Martins)

Economia

Como sobrevive a única peixaria da Liberdade

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Para Mitsugi, sucesso depende da satisfação dos clientes Vitória Frattini Fundada em 1971, a Peixaria Mitsugi, a única do segmento na região da Liberdade, deve seu sucesso à tradição do bairro e aos frequentes clientes. Hoje, além de vender peixes, o comércio também é voltado à venda de pratos típicos japoneses e bebidas alcóolicas, atraindo o público jovem e gourmet da Liberdade. Com o falecimento do fundador, Sousaborro Mitsugi, a peixaria foi

vendida para seu mais antigo funcionário, Antônio Carneiro, que não tinha conhecimento algum de empreendedorismo, mas conseguiu manter o negócio por quatro anos com sucesso. Em 2017, quando a crise financeira atingiu seu ápice, Antônio decidiu vender o comércio pela segunda vez. O psicanalista Luís Fernando é o terceiro dono e o responsável por implantar a mudança de público da peixaria. Antigo cliente,

suas ideias foram as propulsoras da atual reforma pela qual o comércio passa. Além de restaurar e aumentar as instalações, Fernando renovou o equipamento da loja. Quanto à divulgação da peixaria, Fernando conta que antes dependiam muito de seus clientes. “Se o serviço for bom, as pessoas vão contar para os parentes e amigos”, conta o proprietário, afirmando, porém, que hoje utilizam a plataforma Netfood e a

divulgação online para atrair novos fregueses. O caminho para o sucesso é árduo. Segundo Carneiro, o investimento mensal de produtos é de R$ 15 mil, sem adicionar o preço de aluguel e demais contas. Não há grandes vendas, também, já que a maioria dos clientes da peixaria são moradores da região. É necessária muita pesquisa antes de abrir um comércio, principalmente em uma região pequena como esta.

dade, que antes ocorria somente aos domingos, passou a ser realizada também aos sábados. Ailton Tateishi é proprietário de uma barraca de comida japonesa no local. O comerciante obteve a licença para funcionamento pela subprefeitura após cinco anos de sua inscrição no site, e para mantê-la é necessário que ele esteja em dia com o curso de vigilância sanitária. Em busca de um empreendimento, Tateishi optou pelo MEI em função do baixo custo, já que um estabelecimento fixo sairia muito caro. Só o aluguel da região subiu 18% nos últimos

anos. Por meio desse programa, Ailton encontrou uma solução para a crise. Com isso, os únicos custos fixos, além da compra de mercado-

rias, serão o valor de 5% do salário mínimo referente ao INSS e a taxa de R$50, estabelecida pelo Estado, relativa à Previdência Social.

Cresce o número de MEIs Vitória Oliveira

A atual crise econômica fez com que o número de microempresas crescesse nos últimos dois anos. Em 2015, o aumento foi de 21% em relação a 2014, e em 2016 foi de 22%, em comparação ao ano anterior, segundo estudo de pesquisa do Sebrae. O levantamento, que leva em consideração o segmento MEI (Microempreendedor individual), aponta que, a cada 100 brasileiros, 21 estão envolvidos em atividades iniciais de empreendedorismo. Há quatro meses, a tradicional feira da Liber-

Ailton Tateishi trabalha na feira oriental da Liberdade aos sábados (Foto: Vitória Oliveira)

Qualquer empreendedor informal que fature até R$ 60 mil ao ano pode se inscrever por meio do portal do empreendedor. É necessário ter CNPJ, CPF, Título de Eleitor e número do recibo do imposto de renda do responsável.


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Observatório SP Liberdade

Cotidiano

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Falta de acessibilidade coíbe circulação de cadeirantes

Fluxo de turistas incomoda moradores da Liberdade

Isabella Liranço

Cinthia Ventura

Rampas de acesso comprometidas são um dos fatores que dificultam a passagem em atração turística paulistana Faróis de pedestre com tempo reduzido, rampas de acesso bloqueadas, calçadas esburacadas são só alguns dos impasses que cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida enfrentam ao visitar o bairro da Liberdade, no centro da capital paulista. Em uma breve inspeção não é difícil notar os inúmeros problemas de acessibilidade na região. Segundo lei federal nº 10.098, as vias públicas

devem ser adaptadas para promover uma maior acessibilidade às pessoas com deficiência. Porém, o retrato que encontramos no bairro é bem diferente. É raro se deparar com cadeirantes passeando pela área, e os poucos que visitam o bairro se decepcionam com as condições das ruas. “Eu acho muito triste um bairro turístico como a Liberdade não me receber. Se houvesse um trabalho legal nas calçadas, junto com os comerciantes, com certeza nós

iríamos circular com mais facilidade e mais vezes”, desabafa a publicitária Mila Guedes, cadeirante e frequentadora assídua do bairro. Apesar de ter grande quantidade de pessoas passeando, uma das maiores atrações turísticas de São Paulo está longe de ser considerada adequada, não só pelos deficientes físicos, mas como também pelos pedestres em geral. “Para uma calçada ser boa, você tem que ter pelo menos 1,20m de área

livre para transitar. Na Liberdade, a maioria das calçadas não tem esta metragem, elas são estreitas, muito esburacadas, não têm rampa. O bairro em si não é acessível”, complementa a publicitária. Em conversa com a Prefeitura Regional da Sé, responsável pela zeladoria da Liberdade e outros bairros vizinhos, foi informado que a conservação das calçadas, por exemplo, é de responsabilidade do dono do imóvel, e que só atua

Lei exige vias adaptadas à circulação de pessoas com mobilidade reduzida

Banca de jornal na Rua Galvão Bueno: cadeirantes são impedidos de circular em qualquer um dos dois sentidos da calçada (Foto: Isabella Liranço)

depois de uma denúncia, na qual a medida tomada é feita com uma notificação ou é dada diretamente uma multa, conforme o Decreto Municipal nº 45.122. O não cumprimento pode acarretar em multa de até R$ 11 mil, executada por um fiscal, até que sejam realizados os reparos necessários.

Lixo, mau cheiro, alto índice de assalto e barulho na madrugada estão entre as maiores queixas Lixo nas esquinas, índice de assalto aumentando constantemente e pancadões até tarde da noite são reclamações frequentes dos moradores do centro de São Paulo. Apesar do bairro da Liberdade ser pouco residencial e conhecido pelo número de comércio e grande comunidade japonesa, os moradores sofrem com o descaso da Prefeitura de São Paulo e desrespeito

dos visitantes da região. Segundo Rafael Vitorino, Conselheiro Participativo Municipal e morador do bairro há 22 anos, os serviços públicos deixaram a desejar desde o ano passado. “Os globos das lanternas típicas estão quebrados ou apagados, os serviços de coleta parecem ter abandonado o bairro, lixos dos restaurantes ficam jogados nas esquinas, acumulando bichos e causando mau cheiro.”

Entre as ruas Galvão Bueno, São Joaquim e Taguá é possível encontrar acúmulo de sujeira com maior facilidade. Além dos restaurantes, na região também há faculdades, após as aulas os alunos se reúnem para consumir bebidas alcoólicas e ouvir música alta, deixando sujeira e garrafas de bebidas pela calçada. Um morador da região que não quis se identificar, que sempre morou

na Liberdade e trabalhou com comércio de alimentos, diz que o movimento o agrada, pois assim sua loja sempre está cheia e tem maior lucro. Conta que o bairro deixou a desejar no quesito segurança, “A parte baixa é onde se concentram os trombadinhas e drogados, eles aproveitam os dias de maior movimento, as feirinhas, e os alunos saindo da aula que estão distraídos pra pegar carteira e celular.”

Violência faz lojistas optarem por segurança particular Estatísticas colocam bairro entre os mais perigosos da cidade Mayara Oliveira Devido ao excesso de roubos e furtos no bairro paulistano da Liberdade, os lojistas da região estão optando pela contratação de seguranças particulares nos últimos anos. Muitos deles justificam que não se sentem seguros apenas com o policiamento oferecido pela Prefeitura de São Paulo. Há 9 anos no bairro, Elisa Hamada é proprietária

de duas lojas e afirma a necessidade da contratação do serviço: “Sempre necessitei de segurança particular, a polícia nunca deu conta. Aqui, se alguém andar com bolsa nas costas ou na lateral, eles cortam as alças sem você perceber, por isso temos que nos precaver, para conseguir trabalhar com tranquilidade.” Apesar de ser um bairro pequeno, a região é um dos principais pontos

turísticos daqueles que visitam a capital paulista, recebendo diversas pessoas do Brasil e do mundo. Porém, ainda há uma deficiência de policiamento. Criminalidade Segundo dados apresentados na Edição 1059 da Revista Exame, a Liberdade está entre os 20 bairros de São Paulo onde mais pessoas são roubadas e furtadas. O DP 001

chegou a registrar nos primeiros meses de 2016 quase três mil casos de roubos e furtos. Rebecca Takao, comerciante, conta que já foi assaltada mais de quatro vezes. “Não dá para saber quando vamos ser assaltados em um bairro onde o fluxo de pessoas é enorme e o policiamento é falho, após o quarto assalto tive que contratar um segurança”, afirma.


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Comidas de feira típica podem ser prejudiciais

Alimentos expostos na tradicional feira de fim de semana podem sofrer mutações e causar danos ao consumidor Laila Almeida No tradicional bairro da Liberdade, conhecido por hospedar imigrantes japoneses, é realizada a feira de artifícios e comidas típicas da cultura oriental. O passeio popular entre os moradores da grande São Paulo enfrenta falha na infraestrutura, comprometendo alguns tipos de serviço. As barracas que comercializam alimentos saem com maior prejuízo, considerando a situação precária de higienização. A feira de Arte, Artesanato e Cultura da Liberdade, conhecida como “Feirinha da Liberdade”, existe há mais de 30 anos e atrai visitantes de todas as localidades. Inicialmente, a feira era para japoneses exporem seus artesanatos, mas expandiu-se para mostrar artigos orientais, pratos típicos e itens de madeira e metais, entre outros. Algumas vezes, os visitantes têm a sorte de participar de manifestações culturais e artísticas ao ar livre. A feira acontece todos os sábados e domingos, das 9 às 18 horas. O setor de alimentação é o mais frequentado e possui grande variedade de pratos, com opções rápidas e tradicionais da culinária oriental. O grande problema está

Feira da Liberdade é passeio tradicional da capital (Foto: Laila Almeida) na organização e higienização dos locais em que os alimentos são armazenados, preparados e servidos. Além disso, a

extrema importância”, diz a nutricionista Priscila Barganhão. “Qualquer inadequação neste processo pode acarretar

”Qualquer inadequação neste processo pode acarretar danos ao consumidor” praça da Liberdade, local onde acontece a feira, é repleta de pombos e ratos. Riscos sanitários Os alimentos que são vendidos na feira ficam expostos ao meio ambiente e não contam com boa logística para o armazenamento, expondo os alimentos à contaminação de bactérias. “O controle da temperatura do alimento no pré e pós preparo, bem como seu armazenamento, são de

danos ao consumidor, como uma toxinfecção alimentar ocasionada pela proliferação de bactérias.” Além de o sol ser um grande vilão para alimentos, também estão sujeitos à contaminação no meio em que são comercializados, visto que há ocorrência de infestação de pombos e ratos na região. “Vejo muitas pombas rondando a área, ratos nunca vi, porém conheço pessoas que já viram sim. Toma-

mos todo cuidado para a comida não ter contato. Evitar o calor é mais complicado, fazemos o máximo também”, declara um comerciante que não quis se identificar. Visão dos moradores Os moradores da região não estão satisfeitos com a quantidade de lixo que se concentra nos arredores. Alguns chegam a sugerir que a prefeitura organize a feira e forneça melhor estrutura. Apesar do incômodo, todos gostam da feira e dizem ser parte da cultura do bairro. Karoline Coelho conta que o mau cheiro muitas vezes atrai bichos, mas que ela não se importa. A moradora já havia residido no bairro quando criança e voltou depois de casada. “Eu não me importo. É uma tradição do bairro, muita gente

Saúde frequenta, eu não venho mais tanto, passo apenas quando vou pegar o metrô”, diz. A feira é conhecida em toda a cidade e é atração para moradores de outras regiões. Nathalia Fernandes conta que ela e o noivo vão à feira todo final de semana. “É muito legal termos esse tipo de coisa na cidade, poder conhecer outras culturas passeando por um lugar agradável.” Sobre as condições de preparo dos alimentos na feira, ela diz que poderia ser bem mais or-

ganizado. “É fácil perceber que as pessoas que trabalham nas barracas têm conhecimento da culinária, já que a comida é muito saborosa, porém falta organização, alguém para levar o lixo o tempo todo, sem isso ficam acumulados nas barracas”, finaliza. O comerciante diz que o intuito dos comerciantes é se unir para solicitar melhor infraestrutura para o negócio, já que faz parte da cultura da cidade. Apesar dos inconvenientes, o local é muito visitado e não dei-

Gustavo Massarenti

ra de Carvalho, Cetrus, Dasa-Lavoisier, Hospital Santa Joana, Dr. Consulta, Beneficência Portuguesa, Aviccena, Hospital Presidente, Megamed e Tadao Mori. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, estas são as principais instituições participantes. Foram realizados cerca de 250 mil exames no primeiro bimestre, e 231 mil exames foram agendados até maio. Para os moradores do bairro da Liberdade, os exames e consultas ocorrem no Hospital Beneficência Portuguesa, situado na rua Maestro Cardim. Os processos de consulta com especialistas ocorrem a partir das 18h até 0h em unidades municipais. Podem participar do programa pacientes que já têm exames ou consultas marcados há

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Alimentação de rua tem riscos (Foto: Laila Almeida) xa de ter consumidores, mesmo que cientes dos

riscos de consumir os alimentos típicos.

mais de seis messes. Os cidadãos serão chamados e passarão por uma consulta de reavaliação do quadro na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de suas residências. Essa reavaliação acontece para que não haja

sar de maiores cuidados ou realizar exames diferentes dos já agendados. Um paciente que não quis se identificar elogiou o Hospital, sua infraestrutura e o atendimento dos funcionários. “Esperei apenas três meses e o hospital é bem perto de casa, então ficou muito bom para mim”, diz. “Tenho um amigo que também fez exames por meio do Corujão, e ele me disse que o retorno não demorou dois meses, mas ele foi ao Oswaldo Cruz.” A reportagem tentou contato com a prefeitura de São Paulo para ter mais informações referentes às consultas, ao tratamento dos funcionários e ao retorno dos exames e consultas, mas não houve posição até o fechamento desta edição.

Corujão da Saúde reduz filas de atendimento Hoje em dia, os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) conseguem agendar consultas e exames com maior facilidade. Com o programa Corujão da Saúde, os moradores do bairro da Liberdade têm acesso privilegiado por contar com alguns hospitais próximos; entre eles, a principal instituição é o Hospital Beneficência Portuguesa. O Corujão da Saúde, projeto do prefeito João Dória, completa três meses em abril e tem chamado bastante atenção, contando com 34 instituições privadas, como os hospitais Albert Einstein, Edmundo Vasconcelos, Sepaco, Santa Casa de Santo Amaro, Santa Marcelina de Itaquera e Cruz Azul, Instituto Arnaldo Viei-

Beneficência Portuguesa é um dos hospitais ligados ao projeto

consultas marcadas sem necessidade, pelo fato de haver possibilidade de, após tanto tempo, o paciente não precisar mais da consulta ou exame. Também pode ocorrer caso de o paciente preci-


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Observatório SP Liberdade

Programa estimula ações de prevenção ao câncer

Saúde

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Moradores sofrem com falta de remédios na UBS

Programa do A.C. Camargo altera empresas e funcionários

Prefeitura diz que disponibilidade nas farmácias chega a 90%

Mohana Fürst

Gabriella Brito

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas 10% dos casos de câncer são determinados por fatores genéticos. Os outros 90% são por fatores externos que podem ser evitados se prevenidos com cuidados à exposição ao sol, hábitos e alimentação saúdavel. Interessado em alertar sobre os fatores de risco da doença e a importância do diagnóstico precoce, o Hospital A.C. Camargo, localizado na Liberdade, criou o Pro-

grama de Prevenção ao Câncer in company para organizações e seus colaboradores. “É importante que as pessoas saibam que 30% dos casos de câncer poderiam ter sido evitados com medidas de prevenção primária, 30% das

diagnosticados precocemente são passíveis de cura”, destaca a médica residente de medicina nuclear pela Universidade de São Paulo (USP) Ana Beatriz Cabral. Por meio de palestras, workshops, exposições e dicas de saúde, o progra-

95% dos tumores que são diagnosticados precocemente são passíveis de cura mortes por câncer poderiam ter sido evitadas com diagnóstico precoce e 95% dos tumores

ma alerta e conscientiza seus espectadores sobre o assunto. O agendamento do programa é fle-

xível e pode ser realizado dentro da empresa. Valdinete Barreto, uma das responsáveis pelo programa, conta que palestras abordam oito temas diferentes, entre eles tabagismo, Outubro Rosa, nutrição e saúde da mulher. As Dicas de Saúde são variadas e abordam todos os tipos de temas. Já os workshops são interativos e os temas são escolhidos conforme as necessidades da empresa. Informações sobre o serviço podem ser obtidas no atendimento coorporativo do Hospital.

Hospital abre nova unidade Vinícius Rodrigues

O Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC) abrirá uma unidade na antiga instalação do Hospital Santa Helena, localizado na rua Vergueiro, no bairro da Liberdade. Previsto para iniciar atendimento ainda no primeiro semestre de 2017, o projeto possui investimentos de R$ 140 milhões de reais para reformas na propriedade, além da aquisição de equipamentos de última geração. A nova instalação apresentará 260 leitos, com 12 salas cirúrgicas e 38 UTIs. O projeto também inclui consultórios clínicos e

centros de diagnósticos. A empresa prevê capacidade de 1.500 cirurgias por mês. O objetivo é estabelecer um hospital especializado em média e alta complexidade. Os moradores demonstram aprovação, já que terão mais uma opção de atendimento médico de ponta próximo de casa. “A gente se sente mais tranquilo, né? Qualquer coisa é só correr pra cá”, diz a advogada Juliana Marques Schneider, 29, que possui residência próxima ao hospital. O superintendente executivo do HAOC, Paulo Vasconcellos, disse em nota que “o Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Complexo terá 260 leitos (Foto: Vinícius Rodrigues) atende as faixas mais altas dos principais planos de saúde. Na nova unidade, vamos ampliar a nossa atuação para atender as necessidades do mercado’’. A inauguração do HAOC também resultará em novas oportunidades de em-

prego. Desde o começo de 2017, a seleção dos profissionais está em andamento. De acordo com a administração do hospital, a unidade poderá empregar até 1.200 colaboradores nas áreas administrativas e assistenciais.

A falta de medicamentos continua a assolar as unidades básicas de saúde que atendem os moradores da Liberdade. Desde outubro de 2016, época da gestão do ex-prefeito Fernando Haddad, as unidades Cambuci e Humaitá, localizada no bairro da Bela Vista, não recebem periodicamente os remédios solicitados. Nem medicamentos básicos, como Dipirona e remédios para amenizar cólicas e dores intestinais, são encontrados com a mesma frequência. “Sempre faltou uma coisa ou outra, mas hoje nem antitérmico e buscopan estão mandando mais”, comenta a atendente e farmacêutica da unidade Cambuci, que não quis se identificar. Unidades básicas de saúde e farmácias públicas vêm sofrendo com o insuficiente número de remédios há cerca de seis meses, ainda no governo Haddad, por conta de recursos e falta de velocidade na compra dos medicamentos, segundo o Ministério Público. Na UBS Humaitá, os usuários já não têm mais esperança de encontrar os remédios que são essenciais para tratamento de hipertensão e diabetes. Com algumas receitas nas mãos,

dona Ilda Lacerda (65), moradora da Bela Vista, queixa-se. “Já faz duas semanas que venho atrás dos comprimidos para controle da pressão e diabetes do meu esposo, a resposta é sempre a mesma: ‘estamos aguardando a entrega. Semana que vem deve estar por aí’”, diz. Disponibilidade O atual prefeito da cidade de São Paulo, João Dória, junto do secretário municipal da Saúde, Wilson Pollara, solicitou a 12 laboratórios a doação de medicamentos, cerca de 165 tipos de remédios básicos como analgésicos, anti-inflamatórios e medicamentos de controle de pressão arterial e diabetes. Em notícias na página da Prefeitura de São Paulo na web, no mês de abril, a disponibilidade de medicamentos do tipo básico chegou à média de 90% nas farmácias da Prefeitura de SP, a partir de levantamentos da Secretaria Municipal da Saúde. Responsáveis pela distribuição dos remédios nas unidades Humaitá e Cambuci relataram à reportagem que o abastecimento está se normalizando aos poucos; não informaram, porém, sobre a distribuição de medicamentos de grande procura, como a Tiami-

UBS Cambuci atende região da Liberdade (Foto: Gabriella Brito) na, também conhecida como vitamina B1, mais utilizada por idosos; a Fluoxetina, antidepressivo; o Ibuprofeno, para dores musculares; e o Butibrometo de escopolamina, conhecido como Buscopan, usado para cólicas. Outro lado Em nota, o assessor de imprensa da Secretaria Municipal da Saúde, Mauricio Martins, disse que a distribuição está voltando à normalidade aos poucos em todas as unidades básicas de saúde. “Vale esclarecer que a compra de medicamentos pela Secretaria segue a Lei Geral de Licitações, Lei Nº 8.666, no qual trâmites obrigatórios são realizados para aquisição de remédios”, ressalva.

Na Liberdade, até hoje não há unidade pública de saúde fixa no bairro, a não ser as unidades básicas em um raio próximo que fazem o atendimento dos moradores do distrito. São elas: a UBS Cambuci e a Humaitá, localizada no bairro da Bela Vista, a cerca de 3,5 km de distância. No último levantamento da nossa equipe nas UBS da região sobre medicação para tratamentos crônicos, o Fluoxetina, antidepressivo, está voltando a ser distribuído parcialmente na unidade básica de saúde do bairro do Cambuci, e os medicamentos utilizados como vitamina para idosos e controle de dores nas articulações, Tiamina e Ibuprofeno, continuam com grande procura dos usuários.


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Observatório SP Liberdade

Loja reúne gamers de SP

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Entretenimento

Evento promove e celebra a cultura japonesa Liberdade Japan Festival reúne diversas formas de entretenimento para preservar as tradições orientais

Amanda Kaori

Foto: Emily Christini

Epic Game é uma das mais frequentadas da Liberdade, com campeonatos de games e jogos de carta que atraem jovens de toda a cidade

A cada dois meses acontece o Liberdade Japan Festival no Nikkey Palace Hotel. O evento combina gastronomia, bazar e shows de música, dança e mágica para atrair o público. Com temas ligados ao Japão e escolhidos de acordo com o mês da realização, o festival divulga a cultura japonesa no país e tem entrada gratuita. O Liberdade Japan Festival proporciona um encontro entre pessoas da colônia japonesa e de

outras nacionalidades. A escolha do local não é por acaso. O bairro da Liberdade ficou durante muito tempo conhecido como reduto japonês, mas hoje abriga cada vez mais chineses e coreanos. Assim, o objetivo do festival, segundo o apresentador do evento, Nobuhiro Hirata, é difundir e manter viva a cultura japonesa. São presenças garantidas em todas as edições o taiko, com as batidas ritmadas em grandes

tambores, as danças típicas, as músicas orientais nas vozes de cantores nipo-brasileiros e os truques de ilusionismo. Para Ossamá Sato, um dos idealizadores, essa grande variedade de apresentações, além de atrair diferentes públicos, também promove a integração entre eles e atinge o objetivo citado por Nobuhiro. No bazar, maquiagens, calçados, roupas e outros produtos de diversos segmentos são ven-

Bruna Lucas Ponto de encontro entre os jovens, a Epic Game é conhecida por vender Card Game e realizar torneios. Inaugurada há oito meses, a loja já é uma das mais movimentadas da Liberdade. O estabelecimento tem como atividades de entretenimento jogos de cartas japoneses, como Pokémon, Magic, Yu-gi-oh!, Vanguard e também os Board games, que são jogos de tabuleiro.  De quarta a sexta-feira, no final do dia, as pessoas se reúnem para os eventos organizados. Os campeonatos, as palestras para jogadores ini-

ciantes e as decorações chamam a atenção dos frequentadores: “A Epic Game é organizada, a decoração é legal e o ambiente é excelente. Eu e meus amigos gostamos de vir jogar jogos de tabuleiros e cartas. É um passatempo”, diz Kevin Tsukioka, um dos clientes. Além de comercializar os jogos, a loja também empresta e disponibiliza o lugar para o divertimento. “O local aqui é para todos, mesmo quem não compra nada pode vir. Nós realizamos torneios e eventos constantemente, então geralmente o pessoal vem

para as competições”, explica Daniel, um dos sócios. Competição Os campeonatos realizados são um dos atrativos; reúnem mais de 50 jogadores e são divididos entre os regulares, que são organizados pelos donos da loja e acontecem de quarta a sexta e domingo. Há ainda os mensais, que ocorrem todo final do mês e são organizados pelas empresas dos jogos. Para participar, o jogador paga uma taxa de inscrição de R$ 20,00 e o valor arrecadado é revertido em créditos para

o vencedor gastar no estabelecimento. Para Daniel, desde o início o principal propósito dos sócios foi promover o encontro entre jovens interessados no mundo dos games: “É um ponto de encontro aqui no bairro. Quando abrimos a loja pensamos na possibilidade de ser mais uma atração turística.” Serviço Epic Game Rua da Glória, 117 - Liberdade epicgame.com.br (11) 3101-5259

Grupo Kodaiko apresenta performance de taiko durante o festival (Foto: Amanda Kaori)

didos por mais de 30 expositores. Há também os estandes de comida e uma pequena praça de alimentação para quem gosta ou quer experimentar algum prato da culinária oriental. Entre um show e outro, uma rodada de bingo é realizada para entreter e animar a plateia. Uma parte da renda do jogo, segundo Ossamá, é revertida para caridade e a outra serve para ajudar os artistas que se apresentam.


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Cultura e artes

Karaokê dance mantém tradições orientais

Bairro oriental investe em festivais o ano inteiro

Há 19 anos, o espaço incentiva a diversidade musical Localizada em frente ao Hospital Bandeirantes e a 200 metros da estação do metrô Liberdade, a Nikkey Cultural foi criada com a intenção de reunir amantes da cultura oriental através dos bailes de Karaokê dance. O local atrai frequentadores até de outros bairros e Estados, como o Rio de Janeiro. José Iritsu, fundador da instituição, tem como

intenção oferecer o lazer por meio dos bailes, mantendo a tradição do Karaokê. Os frequentadores geralmente são idosos que, em vez de ficarem sozinhos, se reúnem e criam vínculos. Para Naoki, de 68 anos, a quinta-feira é o dia mais feliz da semana. “Nunca achei que eu gostaria tanto de um lugar quanto este.” Em 1998, quando o projeto surgiu, os fundadores visavam reunir os

nikkeis, que são descendentes diretos dos japoneses. Com o passar do tempo a instituição foi crescendo e hoje chega

a reunir até coreanos e chineses O repertório diversificado inclui músicas japonesas, chinesas e brasileiras.

Foto: Giovanna Requena

Giovanna Requena

Bailes reúnem casais às quintas-feiras

Culinária ao som da música oriental

Restaurante alia gastronomia e karaokê Gabriela Schatz É no bairro da Liberdade que se encontra o restaurante “Porque sim”, um dos mais frequentados por mora-

Foto: Gabriela Schatz

“Porque sim” garante diversão na Liberdade

dores e visitantes da região. Popular entre todas as idades, o restaurante é conhecido por oferecer, além de comidas japonesas como lamen e yakis-

soba, uma forma de entretenimento muito apreciada pelos clientes: o karaokê. O prédio de dois andares tem a fachada repleta de gatinhos desenhados, atraindo a atenção de quem passa, mas o que realmente conquista os visitantes é a qualidade da comida e dos produtos oferecidos. Junior Yokoyama, responsável pelo restaurante, fala sobre o diferencial do local: “O que eu acho que nos diferencia é o preço, o atendimento simpático e a

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proximidade no sabor dos pratos com os do Japão”. Os valores variam entre R$ 20,00 e R$ 40,00, dependendo do pedido. Acima disso estão os combinados de sushi e sashimi para duas ou mais pessoas. As salas com os aparelhos ficam no andar de cima e lá os clientes podem escolher entre músicas brasileiras e orientais para cantar. O preço varia de acordo com a quantidade de pessoas, chegando a grupos de 20 por R$80,00 a hora.

De janeiro a dezembro, diversas festas comemorativas são organizadas no Bairro da Liberdade em São Paulo Lara Spineli Conhecido por conter imigrantes japoneses, o bairro da Liberdade abrange diversidade de comércios e, todos os anos, diferentes festivais com representações singulares e importantes para o bairro. O Ano Novo Chinês é o primeiro festival e acontece em janeiro, com o propósito de comemorar no Brasil a passagem de ano que acontece em países orientais, representando cada ano com um animal. Outro evento é o Campeonato de Sumô, em que diversos lutadores demonstram suas técnicas na tradicional luta japonesa no mês de maio. Em julho, bambus e origamis tomam o bairro no Festival das Estrelas, em que as pessoas podem depositar seus pedidos e desejos. Para encerrar o ano, em dezembro é organizado o Festival Oriental, conhecido por trazer a cultura do oriente ao bairro. Também acontece o Festival de Final de Ano, que tem como objetivo unir as famílias no dia 31 de dezembro para realizar o ritual de amassar arroz, que significa manter a família unida para o próximo ano.

Homenagem a Buda Neste ano, o 51º Festival das Flores, organizado em abril, foi uma comemoração para homenagear o nascimento do Buda Xaquiamuni. Entre os dias 3 e 8, foi montado um altar na Praça da Liberdade com a imagem do Buda, rabanetes de flores e o tradicional chá doce. Ocorreu uma cerimônia no dia 8 de abril, com os diretores da Associação Cultural e Assistencial da Liberdade (Acal) e monges de federações budistas, como a Federação de Escolas Budistas no Brasil e o Consulado Japonês. Eles eram chamados por seus nomes e se direcionavam até o altar para banhar o buda com chá doce, além de agradecer e fa-

zer pedidos de proteção e realização de seus sonhos. O grupo de escoteiros Hongwanji ajudou na organização, distribuindo rabanetes para o público que estava interagindo. Márcia Regina participa do evento há quatro anos e diz que o festival é importante para divulgar a religião budista no Brasil. “A homenagem ao nascimento do Buda Xaquiamuni é uma forma de preservar a cultura, a filosofia budista e a difusão para mais pessoas que não conhecem a religião”, declara Márcia. Um dos objetivos do Festival das Flores, além de homenagear o Buda Xaquiamuni e divulgar o budismo, é de alertar as pessoas a trabalhar

pela paz mundial. Um dos exemplos citados foi a Guerra Civil da Síria. Segundo o monge Tetho Sazaki, da Federação de Escolas Budistas no Brasil, o Buda Xaquiamuni é importante para acabar com o sofrimento que existe na sociedade. “Existem quatro elementos que a religião budista oferece e que nós não temos controle nenhum. O primeiro é o nascer, o segundo é o envelhecer, o terceiro é a impermanência e o quarto a doença”, diz. “Esses quatro elementos geram sofrimento, e hoje sofremos porque só pensamos em dinheiro e bem material. O único que freia isso, segundo a religião budista, é o Buda Xaquiamuni” explica Tetho Sazaki.

Cerimônia do Buda Xaquiamuni durante o Festival das Flores (Foto: Lara Spineli)


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Observatório SP Liberdade

Cultura e artes

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Tradições orientais são preservadas em museu

Reinaugurado, Cine Joia atrai público alternativo

Barbara Novaes

Bianca Gancedo

Da fundação ao centenário da imigração japonesa, instituição promove resistência e fomento à cultura O prédio de fachada sóbria e comercial engana visitantes desavisados que procuram por uma construção parecida com o Museu do Ipiranga ou o Museu da Imigração, na Mooca. O letreiro instalado na parede do edifício informa que o espaço abriga a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa. É somente a placa fixada pela prefeitura na calçada que indica o local como sendo o Museu Histórico da Imigração Japonesa. Acomodado em três andares do edifício - 7º, 8º e 9º -, o museu propõe aos visitantes conhecer mais da cultura nipônica por meio de um retrato da história dos imigrantes vindos dos países asiáticos no início do século XX. Fundado em 1958, o museu propôs desmistificar e aprofundar as nuances da cultura nipônica. “Em comemoração ao aniversário de 400 anos da cidade, foi instalado o Pavilhão Japonês, no Parque do Ibirapuera. A partir desse episódio, se viu a necessidade da criação de um local que abrigasse e preservasse a cultura oriental”, conta Paulo Takeda, consultor do museu. O equipamento apresenta a evolução da participação oriental na cultura do País.

Usando como base um acervo de 97 mil objetos doados por imigrantes nipônicos que revelam o dia-a-dia do japonês, o local mostra como foram a chegada e a adaptação dos imigrantes e como a cultura oriental saiu da marginalização e foi englobada pela brasileira, encerrando em uma análise contemporânea sobre a influência japonesa no Brasil.

exposição, se chocam ao serem apresentados a algo que não esperavam. Os próprios japoneses que chegam ao Brasil, sofrem esse mesmo choque”, comenta Paulo. Diferente do que se imagina, o governo brasileiro agiu com relutância em relação à imigração japonesa. “O governo alegou que não conhecia a raça japonesa, já que os imigrantes da época eram, majoritariamente, euro-

Acervo conta história da imigração japonesa ao Brasil. (Foto: Barbara Novaes) Cultura raiz Com seu público-alvo tanto de brasileiros quanto de japoneses ou descendentes, o museu desconstrói mitos que permeiam costumes e tradições orientais. “Os brasileiros, normalmente, chegam ao museu com uma ideia pré-formada do que é a cultura japonesa. Ao visitarem a

peus. Eles poderiam aceitar a vinda de japoneses logo de cara”, explica. Grande parte desse pensamento se deve à eugenia racial, movimento forte incutido em diversos setores, inclusive na política migratória. Com o estopim da Segunda Guerra Mundial e a inclusão do Japão nas forças do Eixo, a con-

centração de colônias e a dificuldade de assimilação social geraram a desconfiança do governo brasileiro, que fechou a imprensa escrita em japonês, proibiu o acesso da comunidade nipônica às informações sobre a guerra e organizou operações de descentralização de áreas, como a Liberdade, expulsando famílias de suas casas. Impacto e tradição Hoje com mais de 50 anos de história, o museu mostra sua importância tanto para a comunidade brasileira como para a japonesa. Segundo Takeda, o equipamento tem uma média de 2 mil visitas mensais. Segundo o consultor, o valor cultural do equipamento para a comunidade local é significativo e tradicional do povo japonês. “O museu age como um centro de preservação dos costumes do seu país natal, sendo até uma forma de perpetuar hábitos e práticas japonesas em gerações que nascem à luz da cultura brasileira, extremamente diferente da oriental.”, finaliza Takeda. Serviço Museu Histórico da Imigração Japonesa R. São Joaquim, 381 Horário: ter-dom, 13h30 a 17h Tel.: (11) 3209-5465

Cine Joia, importante reduto para os jovens desde os anos 1950, já foi cinema, igreja e agora é uma casa de shows Com pretensão de ser uma das principais casas de shows da América Latina, o Cine Joia foi reinaugurado em novembro de 2011. O espaço, que pretende oferecer uma nova experiência sonora, visual e de convivência, é um patrimônio histórico recuperado. Fundado em 1952 como cinema, o espaço era também um importante espaço de convivência para os jovens, que teve suas portas fechadas em 1980 para ser templo de uma igreja pen-

tecostal. Atualmente, a programação é dedicada a shows, mas também a outras manifestações culturais, com o título de querida dos moderninhos da cidade. De calça jeans skinny, coturno e blusa com transparência, Marília Aby, estudante de Jornalismo, conta sobre a casa. “Nas festas o público é mais novo, meninos que acabaram de entrar na faculdade, meninas que querem fotos legais no Instagram”, diz. “Tem uma festa que mistura filmes clássicos com bandas

indie, é bem interessante.” A SPTuris traçou o perfil do público de shows na cidade. De acordo com o levantamento, o público de shows em São Paulo são homens de 18 a 24 anos, resi-

fora dos eventos. “Se for muito longe de casa, eu prefiro me arrumar lá, mas se for um evento em alguma loja, é melhor ir pronta”, afirma a praticante. Raphaela não tem como motivação as competições de cosplay, onde são julgadas as performances, roupas e fidelidade com os personagens. “Minha maior motivação sempre foi entrar na pele de um personagem que eu gosto e viver outra realidade.” O costume cria demanda para produtos especializados, como lentes de contato coloridas,

confecção de acessórios e peças de roupa. Para atender essa demanda, surgiram lojas como a Cosplaykeer, localizada no primeiro andar do Shopping Trade Center, conhecido ponto de comércio na região, onde um público fiel lota a pequena loja, procurando novas roupas ou itens para aprimorar as antigas. O cosplay, além de movimentar uma economia própria, atrai turistas. Wanderson Wandy, 24 anos, designer, habituado ao bairro e conhecedor dos personagens dos mangás, continua

R$ 151 é a média de gastos nos eventos em SP dentes na capital, com nível médio completo e renda mensal de três a

cinco salários mínimos. A média de gastos nos eventos foi estimada em R$ 151. Para Cris, que tem um carro de hot dog na porta do Cine Joia há cinco anos, o público se renova. “Sempre tem gente nova aqui, meninada que acabou de completar 18. Eles bebem e vêm para cá comer alguma coisa para voltar para a casa dos pais. Quando tem show o movimento é mais fraco, o público é mais velho; 2h da manhã aqui já está vazio. Quando tem festa, a moçada só sai de manhã”, afirma.

Cosplays povoam o bairro Leonardo Vaz

Os frequentadores do bairro da Liberdade já acham comum avistar jovens fantasiados andando pelas calçadas. Eles são os praticantes do cosplay, jovens que se vestem de conhecidos personagens dos quadrinhos e mangás (revistas em quadrinhos tradicionais do Japão). Nem todos os praticantes desfilam já montados com seus acessórios. Raphaela Vieira, 26 anos, blogueira e cosplayer, fala sobre suas condições para andar fantasiada

a se surpreender com os fantasiados. “Ver no dia-a-dia andando pelas calçadas é bem legal. Virou uma nova atração do bairro, que não fica só nos eventos e permite mostrar mais a cultura.”

“Minha maior motivação sempre foi entrar na pele de um personagem”


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Jardim Oriental oferece lazer ligado a arte milenar Atrações incluem paisagismo e uma feira gastronômica Letícia Vieira Mesmo com a fachada grandiosa e característica da arquitetura japonesa, o Jardim Oriental se mostra modesto para a construção. O pequeno ponto de verde em meio à Rua Galvão Bueno abriga o espaço, arquitetado para criar um espaço de reflexão e contato com a natureza, um dos principais traços da arte milenar japonesa. O bairro da Liberdade

teve seu projeto arquitetônico adaptado apenas em 1968, quando ganhou traços da cultura japonesa. O jardim não foi dispensado, mas desta vez ganhou um novo significado e tornou-se ponto turístico. Além do paisagismo, da presença do lago e das carpas, o Jardim Oriental também conta com restaurantes e uma área de comércio de plantas. Mas é aos sábados que o espaço recebe maior número de visitantes,

quando acontece a feira gastronômica. Fernanda Marques, estudante de Estética, visitou o espaço pela primeira vez no fim de semana e aprovou a opção de lazer. “A fonte é uma das partes mais bonitas, aqui eu posso conversar com os amigos e ainda provar da culinária japonesa”, afirma a estudante. Apesar do leque de atrações oferecidas, a queixa entre os visitantes é a mesma: o espaço torna-se pequeno para as

atividades e a manutenção deixa a desejar. Nas avaliações em sites de turismo, como o TripAdvisor, os comentários sobre o abandono do local são frequentes. A Associação de Cultura e Assistência da Liberdade (Acal) é responsável pela manutenção do local. Até o fechamento da matéria, a instituição não se pronunciou sobre as providências tomadas para assegurar o bem-estar dos visitantes.

humanístico do Buda Nichiren Daishonin. A principal diretriz de Nichiren é a fé, prática, estudo e felicidade plena da humanidade. Segundo Juliana Ballestero, 30, membro e funcionária da BSGI, um dos princípios do Budismo de Nichiren são os dez estados da vida, e um desses estados é o Buda. “Buda significa iluminação, é uma condição de vida inerente a todas as pessoas, e nossas orações são para manifestar essa capacidade que já existe em nosso interior na forma máxima de sabedoria, nós não oramos para o Buda; nós oramos para alcançar o nosso próprio Buda”, diz Juliana. A BSGI hoje oferece programas e projetos

institucionais ligados a educação, exposições, atividades para saúde e bem-estar e eventos culturais de dança e música que são realizados pelos próprios membros da Associação.

ações é a alfabetização de jovens e adultos que já passaram da idade de entrar em uma escola. Essa ação acontece há mais de 20 anos e já alfabetizou mais de 8 mil pessoas. “As aulas são dadas por educadores voluntários associados da BSGI e acontecem em Kaikans (expressão japonesa que significa local de encontro), onde também acontecem reuniões do budismo”, diz Juliana. A associação é mantida pelos seus próprios membros (de forma não obrigatória) através do Kofu, que é como um dizimo. A contribuição é feita a cada três meses, quando ocorre uma distribuição do valor recolhido para a manutenção de outros templos

Associação difunde budismo Thalia Cruz

Para os budistas, toda ação gera uma reação; se a sua ação for negativa a sua consequência virá de forma negativa, mas se esta for positiva logo você colherá bons frutos em sua vida. A Associação Brasil Soka Gakkai internacional (BSGI), que hoje é uma das maiores associações budistas no Brasil, está na Liberdade e tem como objetivo valorizar a vida construindo uma cultura de paz baseada no humanismo. Fundada em 1960 no Brasil por Daisaku Ikeda, a BSGI é representante de uma organização não governamental do Soka Gakkai que segue o pensamento filosófico

Educação Dentro da BSGI, existe um departamento educacional, e uma das

“Nós não oramos para o Buda; nós oramos para alcançar nosso próprio Buda”

Esporte

Irmãos unem prática de sumô a bar oriental

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Referências do esporte em São Paulo, a dupla Taka e Yoshi Higuchi comanda o b ​ oteco Kintaro

Juliana Santoros

Taka (34) e Yoshi (32) Higuchi treinam sumô desde os seis anos por influência do pai (imigrante), que via no esporte um meio de manter a cultura japonesa. “Não é que ele incentivou, não deixava a gente fazer outra coisa, só lutar”, conta Taka. A dupla não se restringe à prática esportiva: eles servem os clientes do Kintaro com cervejas geladas e iguarias tradicionais (elementos típicos de um ​izakaya, que significa “boteco” em japonês) que a mãe, dona Líria, prepara. O local tornou-se ponto de encontro da comunidade do sumô no bairro. Público do Kintaro Além dos curiosos, há japoneses que frequentam o ​izakaya para conversar sobre sumô. “Não tem muito lugar no Brasil onde você discute um campeonato profissional”, diz Yoshi. Os irmãos praticam o esporte no Ginásio de Sumô do Bom Retiro, onde os treinos acontecem oficialmente aos domingos. Porém, a pedidos dos clientes do bar, Yoshi passou a organizar treinos aos sábados. Amador x profissional Mesmo com tantos anos de luta, os irmãos expli-

cam que não são ​sumotoris profissionais. Fora do Japão há apenas a modalidade amadora, que abrange várias competições. Para disputar

hierarquia. Se acabar o sumô, o Japão acaba!”. A luta profissional exige um modo de vida que o ​ sumotori alcança somente lá, onde recebe

mas. Antes de cada luta, joga-se sal no dohyô (círculo) para limpeza, hábito ligado ao xintoísmo. Yoshi diz que purifica a arena e espanta os

Os irmãos foram criados em contato diário com a luta (Foto: Juliana Santoros) qualquer campeonato internacional, é necessário ganhar o nacional, ou uma seletiva. Yoshi fala que as divisões por peso e idade do amador não fazem sentido no profissional, já que sumô é arte marcial e “na guerra não dá pra escolher alguém do seu tamanho, tem que ganhar de qualquer um.” Yoshi ressalta a importância do esporte para o Japão, mesmo repleto de estrangeiros: “O sumô é enraizado com o xintoísmo, essencial na formação do povo japonês. Tem regras da própria sociedade, como

um novo nome, fica recluso, ganha salário e casa e tem filhos apenas ao atingir uma colocação excepcional. “Tudo que pra gente é ‘normal’ ter ele só consegue quando está entre os 60 melhores”, diz Taka.

maus espíritos. As normas são simples: o sumotori deve derrubar o adversário ou retirá-lo do dohyô​. Dentro do círculo só é permitido encostar a sola do pé no chão. As proibições são as mesmas de outras lutas: golpes baixos. “Não Norma e tradição tem ponto, não tem emTaka desconstrói o pa- pate. É vida ou morte. drão conhecido do lu- Ou ganha ou perde”, tador de sumô: “Não conta Yoshi. ​Para os irprecisa ser grande e gor- mãos, o sumô trabalha do, qualquer um pode sobretudo a mente: “A praticar, a gente cada gente ensina a se portar vez mais derruba bar- bem ganhando e perdenreiras”. A “cuequinha”​ do, porque na vida nunca (mawashi) é usada para é 100% vitória ou 100% mostrar uma disputa derrota”, conclui Taka. transparente, sem ar-


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O bê-á-bá do sumô

De forma pioneira, a professora Luciana Watanabe aposta no treino para crianças e adolescentes em São Paulo Mylena Fantini A treinadora e professora de Educação Física Luciana Watanabe, de 32 anos, detém 13 títulos brasileiros de sumô feminino e também medalha de prata no Mundial de 2013. Apesar de não seguir o estereótipo de uma lutadora de sumô, a campeã garante que a luta não é apenas um esporte para os mais gordinhos. Natural de Mogi das Cruzes, re-

Esporte

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Lutas beneficiam a saúde Junior Celestino

O bairro da Liberdade é a maior comunidade nipônica fora do Japão. Embora tenha origem japonesa, também é marcado pela cultura chinesa e coreana. As diversas escolas de ar-

tes marciais existentes no local reforçam a fama de que a Liberdade é o “pedaço oriental da cidade de São Paulo.” Mesmo admirando as lutas orientais, a maioria das pessoas desconhece as semelhanças e diferenças de cada uma.

O professor de Educação Física Cleber Kamada ressalta que as lutas orientais possuem características em comum, baseadas no código bushidô. Entre elas, estão não desafiar o adversário que não sabe lutar, não lutar com o

oponente quando ele estiver de costas e reverenciar o adversário de frente, para que ele saiba que está sendo desafiado. Confira a seguir a história, as técnicas e os benefícios de cada arte marcial.

Menina em campeonato infantojuvenil paulista (Foto: Juliana Santoros)

Luciana em campeonato mundial (Foto: arquivo pessoal) gião metropolitana de São Paulo, a atleta conheceu a luta com 15 anos, tornando-se uma das primeiras mulheres praticantes no Brasil. Esposa de Taka Higuchi, também lutador e dono do famoso bar temático Kintaro, localizado no bairro da Liberdade, Luciana começou a história como treinadora após trabalhar com inclusão social por meio do projeto “Lutas como forma de inclusão”, se-

diado no município de Suzano, a 34 km da capital, onde é concursada. A atleta explica que o projeto começou dentro de escolas públicas como forma de recreação para crianças e jovens com deficiências intelectuais. A iniciativa deu tão certo que foi apresentada para a Secretaria de Educação de Suzano, em 2013. Após cinco anos, o projeto foi aberto para todos os tipos de criança e conta com aproximadamente 100 alunos de 6 até 18 anos, idade limite para a categoria infantojuvenil. Luciana enfatiza que o esporte e a categoria feminina ainda estão em crescimento no Brasil: “Não me recordo de outra mulher treinadora, pois no sumô é pratica-

mente tudo feito de forma voluntária. É difícil alguém que sobreviva apenas de esporte aqui no Brasil. Eu sou treinadora, mas é porque eu fiz uma espécie de troca, deixei a sala de aula para ficar focada no projeto.” Preconceitos Diferente do profissional, no qual apenas homens podem participar, a categoria amadora conta com a essencial presença feminina nos treinos infantojuvenis: “a parte feminina tem ficado cada vez mais forte, principalmente nos campeonatos regionais. Possuímos mais de 50% de garotas de diversas idades praticantes da arte marcial”, diz. Mesmo com o número crescente de meninas interessadas no sumô, a

treinadora acredita que o combate ao preconceito de gênero é uma luta constante. Os treinos entre meninas e meninos são feitos de forma igualitária, sendo divididos apenas por categorias de idade. Não existe nenhum pré-requisito para participar do projeto, porém o incentivo dos pais é fundamental para as crianças, ressalta Luciana. A campeã sonha em ver algum de seus alunos conquistando competições mundiais: “Se eles continuarem a praticar, quem sabe estarão disputando e ganhando um mundial. Se isso acontecer, eu estarei realizada! O importante é se esforçar em cada uma das etapas da vida”, finaliza a atleta.

Parkour cresce na região

João Vitor Neves

Um grupo de jovens salta por cima de corrimões e grades, escala muros e pula vãos formados por guias de concreto utilizando apenas um instrumento: o próprio corpo. Tudo isso acontece ao lado da estação Vergueiro do metrô, onde outras pessoas passam e olham intrigadas. “Isso se chama parkour, tenho um amigo que pratica”, comenta uma adolescente. Surgido nos subúrbios de Paris no final dos anos

1980, o parkour (percurso em francês) chegou ao Brasil em 2004 e desde então ganhou cada vez mais “traceurs” e “traceuses”, como são chamados os praticantes da modalidade, que hoje só é reconhecida como esporte no Reino Unido. “Acho que deve ser considerada uma filosofia de vida, um movimento cultural”, conta Diego Gomes da Silva, de 29 anos, que há três dá aulas de parkour na região da Liberdade e em bairros de São Paulo.

Praticar a modalidade exige treino e comprometimento. “Para começar é preciso treinar com outros praticantes, ler sobre a filosofia e viver a prática. É muito fácil praticá-lo, o difícil é entender e saber se está fazendo certo”, diz Diego. Fernando Henrique Santana, 27 anos, treina parkour há oito e não tem a arte como um sustento, mas sempre que possível, dá os seus pulos. “Apesar de não morar por aqui, essa região é um dos lugares que eu

mais gosto de treinar.” Há quem diga que a prática é perigosa, mas Diego discorda. “É muito perigoso para quem assiste um vídeo e quer sair treinando por aí ou treina há um ano e já acha que sabe tudo, é uma filosofia que precisamos vivê-la para deixar de ser perigosa, cheguei em um ponto em que viver normalmente me oferece mais riscos do que treinar parkour, porque me preparei muito para isso.”


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Falta liberdade para exercícios ao ar livre

Movimentado 24 horas por dia, bairro não possui praças capacitadas para treinos físicos Gustavo Soler Conhecida por herdar as origens asiáticas, tanto em tradições quanto em culinária e costumes, o bairro da Liberdade também se adaptou à correria de São Paulo. Com trânsito, metrôs lotados e intensa movimentação nas calçadas, a região também concentra uma vida noturna movimentada por conta de bares, karaokês e das universidades, que criam um mar de gente na rua Taguá. Para tanta agitação, o bairro peca em alguns quesitos de lazer, entre eles a presença de áreas públicas para prática

de exercícios. Apesar da proximidade do Parque da Aclimação, os moradores não têm um espaço para chamar de seu, onde a população possa realizar atividades físicas. Em outros pontos da capital paulista aparelhos de ginástica em praças e parques atendem todas as faixas etárias e auxiliam na qualidade de vida da população. Com pouco espaço arborizado, a praça mais conhecida da região é a João Mendes Júnior, sede do fórum. O prédio é rodeado por calçadas cimentadas, muita gente passando, vendedores ambulantes e

moradores de rua, que para ter uma condição mínima de moradia, instalaram barracas por diversos pontos. A falta de locais para a pratica atividades ao ar livre frustra os residentes da região, como a jornalista Isadora Tega de Camargo. “Para nós que moramos na Liberdade é muito difícil conviver com a falta de locais para praticar exercícios físicos e atividades ao ar livre.” Isadora enfatizou a intensa movimentação próxima na região do fórum. “Também por ser um lugar com muita gente passando. É muito movimentado”, com-

pletou. Os que encaram a maratona de sair da Liberdade para chegar ao Parque da Aclimação levam em média de 25 a 30 minutos, de metrô ou ônibus. Para os que preferem caminhar para aquecer a musculatura, o mesmo trajeto leva de 35 a 40 minutos. Tirando a opção do Parque da Aclimação, os moradores da Liberdade podem se dirigir até a Praça Clóvis Beviláqua, na Sé. Porém, as calçadas não apresentam a segurança necessária. A região apresenta muitos buracos por todos os lugares e capazes de causar lesões físicas.

Lâmpadas mais eficientes Luana Munekata Lançado em 2008, o projeto de revitalização da Liberdade, que buscava homenagear o Centenário da Imigração Japonesa, traz benefícios em relação ao meio ambiente. Embora seja abrangente, a proposta não passou de uma ideia audaciosa que, na prática, não saiu do papel: com o orçamento fechado em 54 milhões, a revitalização não foi completa por falta de verba; como

resultado, das 427 unidades de iluminação, apenas 200 lanternas de vapor de sódio foram trocadas por modelos de vapor metálico, que gastam menos energia, até 2016. Na época, o Banco Bradesco investiu cerca de 6 milhões de reais, mas o projeto reduziu-se à pintura dos postes e à troca de uma porcentagem de lâmpadas, majoritariamente nas Aveni-

da Galvão Bueno, Praça da Liberdade e arredores. Com isso, apesar de as novas iluminações terem vida útil de 30 anos, o impacto ambiental não foi significativo. Segundo a assessoria do Departamento de Iluminação (ILUME), da Secretaria Municipal de Serviços, a falta de patrocínio não prejudicou a substituição das lâmpadas, que ainda pretende alcançar toda a

extensão do bairro. Por meio das reformas previstas no projeto, é possível colaborar com a evolução ambiental da Liberdade, principalmente no que diz respeito ao consumo de energia das lanternas japonesas. As lâmpadas de vapor metálico trazem 50% mais durabilidade e ainda possuem aproximadamente 331% a mais de reprodução de cor, ou seja, são neces-

Meio ambiente sárias menos lâmpadas para a mesma iluminação. De acordo com o ILUME, “são utilizados os materiais mais econômicos para iluminação pública”, entretanto, para que se tenha a economia de energia esperada, ainda é fundamental completar o projeto. Outra questão a se tratar é a frequência de troca das lâmpadas antigas: nos casos de queda de energia, elas apresentam dificuldade em reacender, enquanto os modelos de vapor metálico são até 2 minutos

33 mais rápidos. Esse fator também influencia negativamente no processo de reciclagem da cidade, já que produz uma quantidade maior de vidro como lixo que, se descartado erroneamente, pode causar reações corrosivas. Ainda, são comuns os acidentes devido à queda dessas lâmpadas, menos resistentes: “Em algumas ruas, é perigoso andar a pé. O risco de uma lanterna cair é grande”, revela Paulo Mori, lojista há quase uma década na principal avenida do bairro.

Acúmulo de sujeira nas ruas incomoda turistas Coleta irregular e descaso prejudicam comerciantes

Giovanna Monteiro O acúmulo de lixo nas ruas é a principal queixa de frequentadores da Avenida Galvão Bueno e Rua da Glória, importantes vias públicas da Liberdade. O problema, causado pelo descarte irregular de lixo especialmente por comerciantes da área, é ainda mais visível após a realização das feirinhas que acontecem todos os finais de semana. Além da sujeira, a ausência de banheiros públicos também está entre as reivindicações de quem passa pelo local. Não há mais cabines para uso e as que existiam estão desativadas há mais de cinco anos. Os consumidores que querem usar um sanitá-

rio precisam contar com a boa vontade dos lojistas, e os moradores de rua que não têm a mesma sorte acabam por fazer suas necessidades nas calçadas. Restos de comida e papéis depositados ao lado de postes de energia e esquinas dificultam trânsito de pedestres nos arredores da região. Além do mau cheiro, os detritos espalhados também potencializam o número de insetos, roedores e pombos nas ruas. “Todo dia aparece rato por aqui, às vezes eles roem nossas coisas e fazem xixi, me sinto exposta, é um nojo só”, como relata Rosângela Rosa, que há 15 anos possui um Box de arte-

sanato no Viaduto Cidade de Osaka, localizado na Rua Galvão Bueno. Turistas e frequentadores também contribuem para a poluição do local. Em visita ao bairro, vimos uma mulher descartar uma embalagem de comida no chão na Avenida da Glória. Durante nossa abordagem, a visitante que não quis se identificar, disse não se importar. “Já tem tanto lixo espalhado por aqui, esse meu copinho não vai fazer diferença nenhuma”, ironizou ela. Em seu site, a Subprefeitura da Sé informa que realiza diariamente os serviços de limpeza e remoção de entulhos das vias e praças, porém os dados divergem das

informações cedidas por vendedores e ambulantes. “O caminhão passa dia sim, dia não, se a gente tiver sorte. Isso quando não precisamos ligar lá para pedir a retirada dos sacos que estão bem no nosso espaço de trabalho”, desabafou o ambulante José Silveira. Procurada, a AMLURB Autoridade Municipal de Limpeza Urbana, órgão gerenciador dos serviços de limpeza prestados na cidade de São Paulo afirmou não estar ciente do problema. Tentamos entrar em contato com a subprefeitura da Sé para explicar a situação, mas não houve retorno até o fechamento desta matéria.


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Lixo polui tradicional feira gastronômica

Diferentemente do hábito japonês, a feirinha da Liberdade é conhecida pela desorganização e sujeira Bruna Calazans A Feira da Liberdade, evento clássico do bairro japonês, atrai um grande número de turistas e apaixonados por culinária oriental todos os finais de semana. Porém, ao fim de cada edição, a quantidade de lixo acumulada aos arredores da Praça da Liberdade é gigantesca, atrapalhando a vida dos moradores e de todos que frequentam o lugar. As barracas de comida começam a funcionar às 9h, e antes mesmo do término do evento, às 18h, é possível ver uma pilha de sacos de lixo próxima da feira, mesmo com os latões espalhados pela praça. Segundo Naira Leite, moradora do bairro, o maior incômodo é o cheiro. “Demora umas três horas depois do final da feira para a prefeitura retirar o lixo. Então, o odor é bem forte”, revela. Naira ainda comentou que o recolhimento do lixo não é feito pelos donos das barracas e sim por garis, que juntam toda a sujeira ao final do evento. Uma comerciante que preferiu não se identificar, revelou que todos os feirantes utilizam um tapete protetor embaixo de suas barracas para evitar a sujeira direto no chão. Mas o que os

Lixo produzido em feira forma pilhas de sacos em frente ao metrô Liberdade (Foto: Bruna Calazans) turistas e moradores do bairro observam é que apenas alguns usam esta proteção e o número de feirantes preocupados em retirar o próprio lixo é ainda menor. Coleta De acordo com a Subprefeitura da Sé, responsável pela limpeza do local, a coleta​é feita diariamente. Mas não é o que se vê ao sair do metrô Liberdade após o fim da feira. O órgão responsável pela coleta do lixo em toda a cidade de São Paulo, inclusive o bairro Liberdade, é o AMLURB (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana), porém em contato com os responsáveis, eles disseram que recolhem apenas lixos residenciais, deixando de fora o que é produ-

zido no evento. Wagner Agenlli, que mora no bairro há 39 anos, informou que em algumas ocasiões o lixo permanece a madrugada inteira nas ruas. “Cheguei a levar esta questão para a audiência de políticas públicas da região, mas não houve retorno”. Apesar do curso de vigilância sanitária ofertado pela Prefeitura, obrigatório para todos os donos de barracas, poucos são aqueles que recolhem seus lixos ao final da feira. A maioria junta apenas a estrutura da própria barraca, deixando restos de alimentos para trás, piorando a situação. Segundo Wagner, os comerciantes têm uma boa parcela de culpa na sujeira, não apenas os visitantes. Ele ainda ironiza que nos

países orientais, principalmente no Japão, o comportamento é muito diferente do que ocorre no bairro Liberdade. Cidade Linda No início de 2017, João Dória assumiu o cargo de prefeito da cidade São Paulo. Uma das principais propostas dele é revitalizar áreas degradadas da capital paulista, projeto conhecido como “Cidade Linda”. Entre os serviços estão a retirada de entulhos, varrição, lavagem de calçadas e instalação de lixeiras especiais. Até o primeiro semestre deste ano, o bairro Liberdade não está incluso nas próximas ações da iniciativa. Todo o cronograma do programa Cidade Linda está disponível no site da Prefeitura.


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