Observatório SP - Pari

Page 1

SP

Observatório Pari

Jornal produzido por alunos de Jornalismo | Universidade Anhembi Morumbi | 1º semestre de 2016

Estádio do Canindé: o ícone esportivo do Pari

Estádio do Canindé, símbolo da comunidade portuguesa (Foto: Acervo da Portuguesa)

CULTURA

ECONOMIA

Presença feminina consolida a religião muçulmana no bairro

As mulheres representam cerca de 60% dos fiéis convertidos ao islã no Pari. Porém, poucos conhecem o protagonismo feminino na crença. Página 42

“Nova 25 de março” fomenta economia com baixos preços Feira da Avenida Valtier funciona das 2 horas da manhã às 16 horas e gera cerca de cinco mil empregos. Página 14


2

Observatório SP Pari

O jornal “Observatório SP” é um jornal laboratório feito por estudantes da disciplina Produção de Jornal, 5º semestre, do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi. Todo material jornalístico publicado pelo jornal é protegido pela Lei Federal de Direitos Autorais e não pode ser reproduzido, no todo ou em partes, por qualquer meio

gráfico, sem a autorização por escrito da coordenação do curso de Jornalismo, sob pena de infração da legislação que zela pela propriedade intelectual neste país. Os textos assinados são de única e total responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião do Jornal.

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI REITOR PROF PAOLO TOMMASINI DIRETOR DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO PROF. LUÍS ALBERTO DE FARIAS PROJETO GRÁFICO RICARDO SENISE COORD. DO CURSO DE JORNALISMO PROF. NIVALDO FERRAZ COORD. ADJUNTO DO CURSO DE JORNALISMO ALEXANDRE POSSENDORO

PROF. ORIENTADOR DESTA EDIÇÃO CLAUDIA CRUZ CRISTINA BARBOSA PROF. ORIENTADOR DE FOTOJORNALISMO ADRIANO MIRANDA CARLOS FRUCCI PROJETO GRÁFICO E DIREÇÃO DE ARTE RICARDO SENISE REPÓRTERES

ANA CLAUDIA COSTA ANDERSON PEIXOTO ANGELO AUGUSTO CRISPIM MARTINS ARTHUR DOS REIS AUGUSTO CESAR BEATRIZ CUNHA

BEATRIZ RODRIGUES CAIO PATRIANI CARLA APARECIDA CAUE SPINELLI CLARA MARINA NICOLI CERIONI CRISTIANO DOS SANTOS DANIELE GONÇALVES DANIELLE NUNES DOMINIQUE BLINK FELIPE NASCIMENTO FERNANDO MARTIN GABRIEL FRANÇA GUILHERME MESZAROS GUSTAVO BEZERRA JESSICA MAGALHÃES JESSICA PINHEIRO JOÃO PEDRO DOS SANTOS SOUZA JOYCE FERREIRA JULIANA BORGES JULIANA VASCONCELOS KAINARA GUIMARÃES LAIS GOUVEIA

LUCAS ANDRÉ LUIZ GUILHERME VIANA MARIA NAYARA DINIZ MATHEUS MATOS MAYARA MAZZINI RANGEL TEIXEIRA MELISSA REIS NATALIA TORRES NATHALIA LIMA LOPES PALOMA GABRIELI PALOMA NERI PAULA GABRIELA DE LIMA RAFAELA DIAS RAFAEL AUGUSTO RAFAEL ROCHA RENAN DANTAS SIDNEI DA SILVA VIANA STEFFANIE GODOI SUELLEN DE ANDRADE TAINAH MATOS THAINA STEIN THAIS GOMES VITÓRIA RUANO


Editorial

3

Jornalismo local, mas universal Por Nivaldo Ferraz, coordenador do curso de Jornalismo Enxergar nossas circunstâncias é exercício fundamental para melhorarmos nossa qualidade de vida. Saber o que temos, o que podemos, o que devemos, nossos direitos e possibilidades em relação ao que está ao nosso redor ou muito próximo de nós, em nossa cidade, oferece a chance de expandirmos nossa posse dos bens públicos, mantidos com o pagamento de nossos impostos. O jornalismo local é uma das ferramentas funcionais para conhecermos e nos apoderarmos do que temos a nosso dispor. O jornalismo local encontra fatos e ações capazes de nos modificar em nossa atitude frente à cidade, ao poder local e à iniciativa privada. É o jornalismo capaz de mostrar a realidade do bairro e da região, apontando uma saída para problemas ainda sem solução ou uma nova forma de se melhorar o que está posto. É o jornalismo que encontra pessoas com ótimas histórias para contar e as converte em reportagens agradáveis e úteis. Esse é o exercício que propomos aos nossos alunos do 5° Semestre do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi, na disciplina “Produção de Jornal”. Um exercício resultante no jornal Observatório SP, que você lê agora. Em cada semestre, cada turma produz reportagens sobre um bairro importante da cidade de São Paulo. Neste semestre que passou, as quatro turmas da disciplina produziram matérias sobre os bairros do Ipiranga, Paraíso, Pari e Santa Cecília. Esta edição específica que você vê, caro leitor, é sobre o bairro do Pari. Nas quatro turmas que produziram tais edições, as reportagens foram orientadas pelos professores Alexandre Possendoro, Claudia Cruz, Fernando Moura, Maria Cristina Barbosa, Patrícia Paixão e Rose Mara Pinheiro. Todas as edições você poderá conferir no site jornalismo.anhembi.br, no qual publicamos periodicamente os principais conteúdos produzidos por nossos alunos. Não se trata apenas de desenvolvermos uma ação protocolar para aprovar alunos de jornalismo em uma disciplina. Construído sob os valores já expostos, o projeto editorial do Observatório SP é uma iniciativa que vai muito além, ao praticar um jornalismo local que é pilar fundamental da cidadania.


4

Observatório

Pari

Administração pública no bairro: a quem recorrer? O bairro vinculado à subprefeitura da Mooca possui uma administração bem próxima aos munícipes Paloma Gonçalves O bairro do Pari é um dos mais velhos distritos da cidade de São Paulo, com mais de 400 anos. Por outro lado, é também um dos menores distritos - apesar de abranger o bairro do Canindé - com apenas 2,9 km² e uma população em torno de 17.300 (IBGE 2010). Atualmente está sob a jurisdição da subprefeitura da Mooca. A subprefeitura, localizada na Mooca, tem como função a comunicação e aproximação com os munícipes. Ela é a responsável por recepcionar pedidos e reclamações, resolução dos problemas indicados e a manutenção de vários serviços em cada bairro. “Essa aproximação com os munícipes se torna uma facilidade. As funções de uma subprefeitura são coisas pequenas: obras de revitalização, poda de

árvores, administração junto com a defesa civil, problemas internos e um elo de comunicação com a prefeitura, então nada que dificulte muito a nossa atividade, e também temos o auxílio do Conselho Participativo”, explica o Chefe de Gabinete da Subprefeitura, Alexandre Francisco Trunkl. O conselho participativo é reconhecido pelo Poder Público Municipal de cada subprefeitura e tem a função de exercer o controle social e assegurar a participação no planejamento e fiscalização. Atualmente, o distrito do Pari possui cinco conselheiros, que foram eleitos, assim como em todos os bairros, pelos próprios moradores. Um dos conselheiros do bairro, Claudinei Virgulino dos Santos, é assíduo em todas as reuniões,

Alexandre Francisco Trunkl, chefe de gabinete da subprefeitura. (Foto: Paloma Gonçalves)

Logotipo do Conselho Participativo Municipal. (Foto: Divulgação) projetos sociais e palestras. Ele alega que há falta de segurança em algumas ruas do bairro, como, por exemplo, a Rua Comendador Nestor Pereira (antiga rua da piscina) onde existem duas escolas e um albergue, muito lixo e grande tráfico de carros. “Já recebemos muitas reclamações, principalmente de pais de alunos e da própria diretoria da escola. Já apresentei os protocolos das queixas aqui e estamos aguardando respostas e providêcias”. Elisângela Cristina Flávio, conselheira e suplente do Conselho Gestor do bairro, reclama da falta de atividades físicas voltadas para a terceira idade e da revitalização de algumas praças. Ela cobra respostas da subprefeitura. Ambos os conselheiros acompanham de perto

a gestão do subprefeito, cobram diariamente providências e os problemas diários do bairro. As reuniões do Conselho ainda contam com a presença de um secretário e da interlocutora da subprefeitura, que é responsável em passar as pautas da reunião para a gestão e a resposta para os conselheiros. Qualquer cidadão pode participar e interagir com suas sugestões e críticas, e acompanhar de perto suas reivindicações. As reuniões do conselho participativo ocorrem às segundas terças-feiras do mês, às 19h30 na subprefeitura da Moóca, que se localiza na Rua Taquari, 549. No mesmo local os munícipes podem abrir ocorrências na Praça de Atendimento durante a semana em horário comercial.


Política

Poder público em favor dos imigrantes

5

Pari se tornou região estratégica para o atendimento a estrangeiros e refugiados

Gustavo Bezerra Na região central de São Paulo, o bairro do Pari se tornou um centro importante de assistência social por parte do poder público aos imigrantes e refugiados que adotaram a capital paulista como nova residência. Desde 2014, a gestão de Fernando Haddad (PT), através das secretarias municipais de Assistência Social e de Direitos Humanos, tem promovido mutirões com a disponibilização de diversos serviços voltados aos imigrantes, como a realização de exames de diagnóstico de DSTs, administração de vacinas, emissão da carteirinha do SUS e de carteiras de trabalho. Para fornecer acolhimento aos estrangeiros recém-chegados, a Congregação das Irmãs Mis-

sionárias de São Carlos Borromeo Scalabrinianinas buscou a Prefeitura de São Paulo e foi firmado um acordo para realização conjunta de um centro de acolhida para imigrantes em situação de pobreza e necessidade. Erta Lemos, gerente do dispositivo, elogia o acordo: “Sabíamos que sozinhas não daríamos conta, e conseguir essa parceria com a prefeitura é uma graça para nós”. Em nota, a Secretaria de Assistência Social ressaltou que no bairro há também disponível aos imigrantes o Centro de Acolhida Olaria: “O trabalho é permanente e sempre com a missão de convencê-los a deixarem as ruas”. Um estudo do Centro de Pesquisas Sanitárias da USP relacionou um pe-

queno surto da doença de Chagas que atingiu o Pari com a decorrência da enfermidade na Bolívia, e a Secretaria Municipal da Saúde passou a promover ações específicas para o atendimento adequado aos estrangeiros, incluindo intervenções adaptadas a vícios culturais: “Foi disponibilizado um grupo de apoio às vitimas de violência de gênero, que é voltado não só, mas principalmente, a um determinado grupo étnico em que as mulheres estão frequentemente à mercê de comportamento machista por razões culturais”, afirmou a Assessoria de Imprensa da pasta por meio de nota. Devido à diversidade de nacionalidades do bairro, a UBS Pari foi eleita pela Secretaria como

Relação de estrangeiros atendidos na UBS. (Fonte: Secretaria Municipal de Saúde)

um polo de atendimento aos estrangeiros após ser notada uma demanda específica: “A gestão considerou a sensibilização dos funcionários da unidade sobre a vulnerabilidade dos imigrantes, características culturais relevantes de cada etnia, como facilitar e ampliar o acesso destas pessoas ao serviço.” Dados disponibilizados pela pasta apontam que dos 4367 atendimentos realizados pelo dispositivo, 437, cerca de 10%, foram a imigrantes de 17 diferentes nacionalidades. Os bolivianos são maioria e respondem a 216 atendimentos. Renê Barrientos, presidente da ONG Icujal, voltada à proteção de bolivianos, critica a forma como o poder público lida com a política de assistência aos imigrantes: “O governo ainda não está preparado para dar acolhimento ao imigrante”. Barrientos acredita que a ausência de uma política migratória e maiores verbas para programas se faz necessário e pede uma maior integração dos estrangeiros à cidadania, em prol de pleno acesso a direitos. Uma das principais reivindicações da ONG é o direito ao voto.


6

Observatório

Pari

Subprefeitura Brás/Pari não sai do papel Entraves administrativos e novas eleições adiam ainda mais a volta da pauta à câmara

Felipe Nascimento Criado em 2008 pelo vereador Adilson Amadeu (PTB), o Projeto de Lei 473 que cria a Subprefeitura Brás/ Pari segue paralisado na Câmara Municipal de São Paulo. Aprovado em primeira sessão em 2013, o projeto deve demorar para entrar novamente em pauta. O projeto obteve parecer favorável das comissões da câmara também em 2013, mas segundo o vereador Adilson Amadeu “houve um entendimento que seria oportuno colocá-la em pauta após a aprovação do novo Plano Diretor e Zoneamento, o que só veio acontecer mais recentemente”. O Plano Diretor da cidade de São Paulo foi sancionado em julho de 2014 e a Lei de Zoneamento somente em março deste ano. Ainda assim, a previsão é que o assunto só volte à discussão depois das eleições deste ano. “O prefeito viu com bons olhos a iniciativa e chegou a sugerir a inclusão do Canindé (hoje, na subprefeitura da Sé). Por questões políticas, a proposta deve ficar para a próxima administração”, disse o vereador Adilson Amadeu. Caso chegue a ser sacionado, o projeto ainda precisa entrar em discussão na definição do

orçamento referente ao ano seguinte do sancionamento, a fim de indicar os recursos de infraestrutura e pessoal necessários à implantação da nova subprefeitura. Orçamento Um dos argumentos para a criação da subprefeitura Brás/Pari é a redução da carga sobre a subprefeitura Mooca, já que o projeto retira dois distritos de sua responsabilidade, diminuindo a extensão territorial sob sua administração. “A subprefeitura Mooca perde uma parte de seus recursos, mas também uma parte de suas responsabilidades, permite um foco melhor nas necessidades da região que

compreende”, alega o vereador Adilson Amadeu. O chefe de gabinete da subprefeitura Mooca, Alexandre Francisco Trunkl, disse não ter informações sobre o projeto, mas que a alteração é transparente para a gestão na prática. “Se a prefeitura sancionar a lei, aparece mais uma subprefeitura aqui para nós”, disse apontando para o mapa na parede, que mostra os bairros da cidade de São Paulo. Questionado sobre se o projeto otimizaria a distribuição do orçamento para a região do Brás e Pari, Trunkl entende não ter grande vantagens, já que o orçamento é planejado e distribuído conforme a densidade de cada

distrito. “Dizer que vai ser justo, eu não sei. Não vai ser partilhado 50% para cada. O Brás é um bairro de comércio, onde a densidade é passageira, a pessoas vem e vão. Já o Pari é mais residencial, apesar de também ter um núcleo de comércio. Tem que ver essas características”. A reportagem solicitou à Subprefeitura Mooca, dados que detalhassem quanto do orçamento foi gasto em cada distrito. A assessoria respondeu que “ao propor uma obra, o gasto é contabilizado considerando todo o território administrado pela subprefeitura, não havendo possibilidade de especificação sobre o que foi investido em cada distrito”.

Número de habitantes por quilômetro quadrado na Subprefeitura Mooca e possível Subprefeitura Brás/Pari. (Arte: Felipe Nascimento/SMSP)


Política

Extensão do metrô até o Pari é suspensa

7

Prevista para 2020, obra de extensão da Linha 4 Amarela é suspensa pelo governo estadual

Tainah Matos Em 2012, foi publicado que ViaQuatro - Amarela seria estendida até o bairro do Pari, onde ainda se vê um túnel já construído depois da estação terminal Luz. No entanto, pouco tempo após a publicação, as obras foram canceladas sem nenhum motivo aparente, deixando a população frustrada, já que essa alternativa melhoraria o transporte no local. Em entrevista, Alexandre Trunkl, chefe de gabinete da subprefeitura Mooca, informou que desconhece a existência de projetos de mobilidade urbana no bairro, e que este tipo de obra é de responsabilidade do Governo do Estado de São Paulo, disse ainda, que o foco neste momento está em melhorias nas antigas galerias pluviais, que hoje é o principal motivo de alagamentos na região. A Secretaria dos Transportes Metropolitanos, por meio de assessoria, informou que o projeto ainda está em estudo, e pode sofrer alterações, já que as obras ainda não tem previsão para começar. Enquanto isso, os moradores e trabalhadores da região continuam com dificuldade de

acesso ao bairro, que hoje depende principalmente da estação Brás, que fica cerca de 10 minutos de ônibus do Pari, podendo se estender a 30 minutos devido às condições de trânsito na região. Nathalia Truvides, estagiária de engenharia

ambiental, que mora na região há 12 anos, sente dificuldade em chegar ao trabalho devido ao grande trânsito no local e acredita que uma estação de metrô seria uma solução: “o bairro se tornou bastante comercial, o que atrai muitos comprado-

res para a região. Principalmente pela manhã tem bastante trânsito, um percurso que eu levava cerca de 15 minutos, hoje levo meia hora. Se tivesse uma estação no local, acredito que os compradores viriam menos de carro e o fluxo de veículos diminuiria”.

O Metrô divulgou a projeção de linhas e estações para 2020 excluindo a estação Pari, prevista no projeto anterior. (Foto: Divulgação)


8

Observatório

Pari

Reforma na “feirinha” gera insatisfação

Comerciantes relatam problemas com a administração do projeto das novas instalações Juliana Gonzaga

Procurada por paulistanos e pessoas de diversas regiões do país devido a variedade e preços baixos dos produtos, a famosa feira da madrugada, localizada no Pari, está passando por grandes mudanças. A prefeitura iniciou um processo de revitalização do local que hoje está com a gestão do consórcio Circuito de Compras São Paulo. A ideia é transformar a feira da madrugada em um grande shopping popular, com estacionamento para ônibus e veículos menores, torres para escritórios, restaurantes e mais 4 mil lojas. Entretanto, os comerciantes estão passando por problemas por conta da administração desse processo. Os problemas começam com o prazo de conclusão do projeto que, quando iniciado, tinha a promessa de ser concluído em dois meses. Atualmente, pouco mais 6 meses depois, o projeto ainda está em andamento. Dentro do acordo entre prefeitura e comerciantes, foi prometido também a não paralisação dos trabalhadores enquanto ocorressem as mudanças, porém os comerciantes tiveram que esvaziar todos os seus

boxes até o dia vinte e seis de fevereiro, para realização da reforma do local, e retornariam no início do mês seguinte para reabertura da feira. Rosário de Sá, uma das comerciantes, nos contou sobre a dificuldade de esvaziar e temporariamente fechar o seu box. “Todo esse processo deu muito trabalho, sabe? Transportar toda a mercadoria, desparafusar as prateleiras, foi algo que nos parou por um mês inteiro. Imagina ficar sem seu salário, por um mês? Atrasa tudo! ” Após a reforma, os trabalhadores recebem mensalmente um boleto de 960,00 reais, referente as melhorias realizadas em seu espaço, porém alguns comerciantes receberam da prefeitura o boleto e a autorização para trabalhar juntamente com seu novo número de box, mas chegando ao local, o box já estava ocupado. Ao voltar na prefeitura para reclamar, é pedido tempo para averiguação junto ao consórcio, tempo este que para o comerciante significa mais perda em suas vendas. Segundo os trabalhadores, a ausência e a demora de esclarecimentos sobre todas as questões é frequente e perturbadora.

“O pessoal do consorcio vem aqui no final do mês, pedem para fazer uma fila para entregar o boleto, e é ali o único momento que podemos perguntar algo, mas quem disse que eles sabem responder alguma coisa? Sabem nada! E a fila? È de uma espera de mais ou menos 4 horas! Debaixo de sol! Estamos sendo tratados como gado! Nós merecíamos no mínimo mais atenção por parte do consórcio. E a secretaria do trabalho que disseram que estariam sempre fiscalizando os atos praticados pela empresa, nunca apareceu! Vamos nos juntar, e fazer barulho até sermos ouvidos ’’ Disse Mauricio Sousa, um dos comerciantes da feira. Diante de tantos problemas, os comercian-

tes estão buscando se organizar para formar um sindicato dos trabalhadores da feirinha. Eles já se intitularam como “Grupo Luta e Trabalho” e estão ainda em fase de escolha do representante. A reportagem procurou por Elias Tergilene, gestor do consórcio que assumiu o projeto de revitalização da feira da madrugada, para esclarecimentos sobre as reclamações. Porém, até o presente momento não obtivemos respostas.

‘‘Obra se arrasta por mais de seis meses.’’

Futura Feirinha da Madrugada: plano foi apresentado por investidor. (Foto: Divulgação)


Política

Um mal que assola o Pari

9

Indíce de roubos no bairro cresce e população convive com insegurança Lucas Carvalho

Apesar de ser um bairro pequeno – cerca de 2,9km²- possui uma extensa carga de mercadorias e produtos do ramo têxtil. O bairro abrange o Canindé, o shopping D e também a famosa Feira da Madrugada, responsável por movimentar grande parte do dinheiro que circula na região. Vem crescendo comercialmente e, principalmente, no setor de confecções, mas também possui um grande número de indústria de doces. Segundo o Estadão, o Pari terminou o ano de 2015 entre os bairros com maior índice de furtos. A concentração de policia é maior

na parte matinal, devido a grande movimentação de pessoas por conta da feirinha. Porém, no resto do dia, são poucas as viaturas vistas. A população A vendedora Alessandra da Silva, 33 anos, trabalha na região há três anos, na feirinha da madrugada, ela afirma que a segurança no local já foi pior, mas que hoje em dia ainda deixa a desejar: “quando troca a administração, eles falam que vão melhorar, entendeu? No começo dá uma mudada, mas depois volta a ser como era”, afirma Alessandra, que completa: “nos

portões de saída, o que mais tem é gente roubando cliente, e isso já nos prejudica bastante”. “Já vi muita coisa acontecer diante dos meus olhos. Já fui assaltado, já roubaram minha casa, já vi o vizinho sendo espancado por não ter o que eles queriam”, diz Francisco Barbosa Miccini, morador do bairro há sete anos. “Hoje, temos menos violência do que antes, mas ainda assim é perigoso”. Quando solicitado para fazer uma análise geral da segurança do Pari, Francisco é claro: “tudo que falei aqui existe em todo lugar, segurança é ruim aqui, ali, em tudo quanto é canto. Morar

Policiais fazem segurança em rua comercial do Pari. (Foto: Lucas Carvalho)

aqui é especial pra mim, pois meus pais viveram por muito tempo nesse lugar. O país inteiro sofre com esse tipo de violência, cabe à Polícia combater”. A administração da Polícia Militar afirma que a segurança é feita dentro das normas e que o número de agentes da PM é maior durante a madrugada, devido ao grande número de pessoas que circulam no local nos horários matinais. “Temos muitas viaturas espalhadas pela região, a segurança é forte. Somos preparados para qualquer situação”, afirma Wagner Pereira de Andrade, agente da Polícia Militar de São Paulo.


10

Observatório SP Pari

Vendedores ambulantes sentem a crise

Para autônomos da região do Pari, vendas no comércio de rua diminuiu Kainara Guimarães A avenida Vautier, no bairro do Pari, é referência na venda de alimentos de rua, uma de suas maiores fontes de renda e economia. Alimentos que na hora da correria e na falta de dinheiro no bolso, ajudam a matar a fome. Na avenida e em volta dela encontram-se vários carrinhos, que vendem milho verde, pipocas, frutas, salgadinhos, açaí, água e guloseimas. A venda de comidas de rua não é uma prática nova na vida do paulistano e existe há bastante tempo. Muitos têm o negócio como fonte de renda fixa e outros, como renda extra. Na Vautier há três vendedores com histórias muito parecidas. José Braz, vendedor de pipoca há 44 anos e morador do bairro de São Miguel, trabalha cerca de quatro a seis dias na semana no bairro e nas quermesses da região. Ele já chegou a ter sete carrinhos de pipoca e funcionários. Segundo Braz, a crise econômica no país vem afetando os negócios: “As vendas têm caído cerca de 90%, afetando não só a mim, mas a todos”, diz o vendedor. Braz vende sua pipoca no valor de R$ 3,00 a

Há 40 anos, Fernando sustenta a família com a venda de frutas na região do Pari. (Foto: Kainara Guimarães) R$ 6,00. Há dias em que ele chega a vender apenas um saquinho, isso trabalhando oito ou mais horas por dia. Quanto ao valor de sua renda, ele diz: “Tenho até vergonha de dizer, mas tem mês que não chega nem a um salário mínimo.” A poucos metros do senhor Braz, está Antônio Pina, vendedor de milho verde há 30 anos na região. Antônio explica que seus fregueses em maioria são as pessoas que frequentam os shoppings da Vautier. Ele que já perdeu cerca de dez carrinhos ou mais, diz: “Eu não tenho licença porque não quero, e sim porque a prefeitura não libera para nós.” Os carrinhos custam em média R$ 1.000,00

e os que não possuem licença, a prefeitura tem o direito de recolher. Mas Antônio deixa claro que a vontade dele e de seus companheiros de trabalho é ter a licença. “Se for necessário pagar até mil reais por mês, nós pagamos”, garante. Não existe nenhum tipo de sindicato para esses trabalhadores. O vendedor de frutas Fernando Fernando, há 40 anos na região vendendo alimentos em épocas diferentes, confirma as palavras de Antônio e reafirma o quanto a crise tem afetado os negócios. Ele denuncia os fiscais que abordam os vendedores, são brutos, destroem suas mercadorias ou as jogam no lixo. Esses senhores sobrevivem com uma faixa de renda de

um a dois salários mínimos, todos com rotinas muito parecidas. E esse tipo de comércio é cada vez mais comum em ruas, avenidas e bairros com grande fluxo de vendas. Muitas lanchonetes não se incomodam com a venda desses alimentos pela região. Os proprietários afirmam que há clientes para todos e que é possível até aumentar a visibilidade dos comerciantes regulares.

“Se for necessário pagar até mil reais por mês, nós pagamos.”


11

Economia

Dólar em alta afeta lojistas do Pari

Produtos importados da China são afetados pela variação da moeda americana Mayara Mazzini Os lojistas da avenida Vautier, localizada no bairro do Canindé, distrito situado na região central da cidade de São Paulo, têm sentido grandes impactos nos lucros devido à atual crise econômica. A alta do dólar é o principal fator apontado pelos lojistas, já que os produtos comercializados em seus estabelecimentos são importados da China e de diversos países. A recessão econômica interfere diretamente nos itens comercializados na região do Pari, como objetos de decoração, que são elementos cortados nos orçamentos de diversas famílias, o que interfere no faturamento total dos estabelecimentos. Os comerciantes apontaram

que a queda chegou a 10% no 1º trimestre de 2016 em relação ao mesmo período do ano anterior. Com isso, os empresários enxergam a redução de custos como uma prioridade para salvar seus negócios. “Primeiro passo para enfrentar a crise é a redução de custos. Os funcionários são os primeiros a serem prejudicados e em seguida vem a diminuição de estoque”, afirma o dono da loja DuChapéu. Segundo os comerciantes, 98% de seus produtos são importados. Essa relação comercial com

os países estrangeiros interfere diretamente nos preços. “Compramos um lote custando um preço x e quando ele chega no Brasil o dólar abaixou e acabamos pagando bem mais caro. É uma oscilação sem fim. E agora, compramos mais vezes e em menor quantidade de produtos”, acrescenta o lojista. Os consumidores afirmam que o principal motivo que os leva até a avenida Vautier são os preços atrativos e a possibilidade de encontrar produtos diferentes do mercado.

“Aqui encontramos itens de decoração bem diferentes e com um preço bom, sem contar que é mais tranquilo que a 25 de março. Não costumo vir aqui sempre, só quando estou precisando de alguma coisinha especifica, mas aproveito para olhar outras”, afirma a dona de casa Regiane Andrade. A expectativa dos lojistas é que as vendas aumentem em dezembro, época de datas comemorativas que são realizadas as maiores compras do ano.

“Compramos um lote custando um preço e quando ele chega no Brasil fica mais caro.’’

Consumidores afirmam que a avenida Vautier oferece preços atrativos. (Foto: Kainara Guimarães)


12

Observatório SP Pari

Comércio de roupas aciona economia local Conhecido como bairro industrial, o Pari também concentra comércio de atacado e varejo Nathalia Lopes Situado na zona central de São Paulo e limitado pelos bairros do Bom Retiro e Brás, o distrito do Pari possui notável participação econômica da cidade de São Paulo. Mesmo sendo um dos

menores bairros da capital, e tendo dois grandes expoentes como concorrentes na indústria têxtil, que poderiam simbolizar enfraquecimento, o bairro apresenta características

Varejistas diminuem os preços para atrair clientes. (Foto: Nathalia Lopes)

vantajosas para o giro interno da moeda. O maior exemplo de êxito é setor de vestuário, isso porque o que é confeccionado no bairro, na maioria das vezes, é revendido para lojas próximas, que por sua vez, repassam a consumidores locais. O lucro permanece no mesmo nicho. “O Pari possui muitas confecções, por isso a fonte de abastecimento das lojas são as confecções da região. Além disso, revende em atacado para moradores comercializarem em estabelecimentos menores”, destaca Gleyse Souza, atendente do Shopping Vautier, localizado na rua mais movimentada do bairro de mesmo nome. Além de fortalecer a economia do Pari em particular, essa estratégia de venda possibilita uma atuação auxiliar e não convergente para os estabelecimentos próximos. “O Brás vende muito mais roupas para varejo, enquanto o foco principal das lojas de roupas do Shopping Vautier e do Pari, é para atacado”, completa Souza. Uma das exceções de comércio atacadista da região é a loja Têxtil Abril

que concentra 95% das suas vendas no varejo. “Nossos produtos são vendidos em poucas quantidades por apresentarem um custo mais caro na hora da compra, porque muitos são importados”, declara o gerente Valdecir Monteiro. Em época de crise econômica, as compras varejistas são as que mais sofrem com os gastos da população por não serem custos primários. Segundo os dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil, em 2015 houve uma queda significativa de 4 % nesse segmento, seguido pela perspectiva de – 4,50% em 2016. Sobre o impacto desses cortes para o negócio, Monteiro conta que: “ A crise afetou bastante, de um tempo para cá as vendas caíram cerca de 20%”. Apesar do cenário contido, as expectativas para as vendas, sejam elas em atacado ou varejo, para 2016 são razoáveis. De acordo com a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), o faturamento deve beirar próximo a 2.795 milhões - 300 milhões a mais do que o ano de 2015.


Economia

Camelôs atraem clientes de todo o Brasil

13

Sem Termo de Permissão de Uso, comerciantes irregulares vendem produtos sem nota fiscal

Paula Gabriela Farias Os camelôs são maioria entre às 2h e 7h da manhã no bairro, onde ocupam as calçadas com peças de roupas que custam em média R$ 10,00. Em relação à concorrência com o comércio regularizado pela Prefeitura de São Paulo, o ambulante José Barbosa acredita que a disputa entre eles e os vendedores dos boxes e lojas não é desleal, já que: “Há uns cinco anos não tinha nada aqui, foi a vinda dos camelôs na madrugada que formou o movimento atual”. Ao ser questionado se tentou se regularizar com a prefeitura, o comerciante foi enfático: “Não tentei conseguir o TPU (Termo de Permissão de Uso) porque a prefeitura não dá para ninguém aqui da madrugada”. Segundo o vigia de carros Adriano Santos, de segunda a sábado, durante a madrugada, param mais de 20 ônibus próximo à avenida Vautier, no Pari, com pessoas de vários lugares do Brasil, incluindo interior de São Paulo, Mato Grosso e Rio de Janeiro. Ao andar alguns metros adiante

Feirinha da madrugada movimenta o comércio local. (Foto: Paula Gabriela Farias) da esquina onde o jovem trabalha é fácil entender o motivo da vinda de tanta gente àquela avenida. Peças de roupas são vendidas a preços quase que de custo. Um vendedor de camisetas, que se identificou como Antônio, faz parte da Organização Popular da Feira Noturna do bairro do Pari, são oito monitores que cuidam da organização e da segurança da feira. Para ele, são os camelôs que atraem os consumidores: “Se não fosse nós,os

lojistas nem abririam na avenida Vautier”, apesar da importância desse comércio para a região, “A Prefeitura não regulariza a feira, mas temos advogado correndo atrás”, acrescenta. A respeito da média de faturamento dos comerciantes irregulares, o vendedor é evasivo: “Não tem como projetar faturamento porque varia muito”, afirma Antônio. Outro vendedor de camisetas, explica que os monitores da organização fazem o que a prefeitura

não faz, mas preferia que houvesse um imposto justo sobre os camelôs para gerar mais renda e organização para eles. O vendedor questiona: “No estado de Nova York tem ambulante. Mas ambulante paga imposto, e aqui no Brasil é mais fácil a Prefeitura tirar os camelôs, que ficam sem trabalho e a Prefeitura sem a renda”. A Prefeitura de São Paulo e a subprefeitura do bairro não quiseram se pronunciar sobre o assunto.


14

Observatório

Pari

O comércio que não dorme

Feira da madrugada emprega mais de 5 mil pessoas Jéssica Magalhães “Nova 25 de Março”, como é chamada por consumidores e lojistas, a Avenida Vautier, localizada no bairro do Pari, na região central da capital paulista, pode ser considerada também como “a rua que não dorme”. Shoppings populares ficam abertos diariamente durante o período da madrugada, onde empregam uma média de 5 mil funcionários e recebem clientes de diversas partes do Brasil, segundo as administrações do “Shopping Vautier” e “Azulão: Feirão da Madrugada”. De segunda-feira a sábado, entre duas horas da manhã e quatro da tarde, três dos seis quarteirões da movimentada avenida são marcados por shoppings repletos de pequenas lojas, em formato de boxes ou stands onde acontece a comercialização varejista e atacadista de produtos populares. De acordo com dados do setor administrativo dos estabelecimentos “Shopping Vautier” e “Azulão: Feirão da Madrugada”, os segmentos de roupas e acessórios, como bijuterias e bolsas, são a maioria entre os mais de 3 mil postos de vendas localizados na região, que expõem esses itens por preços acessíveis e atrativos ao público.

Com o sonho de terem seus próprios negócios, diversas pessoas investem na chamada “Feira da Madrugada” como uma porta de entrada para essa realização. Espaços para vendas são alugados pelo valor semanal de R$ 150,00. Além disso, o comércio popular é considerado uma forma de “fuga” para o desemprego. “A maioria está aqui porque precisa, porque está desempregada. Ou então, é pra dizer que não trabalha diretamente para os outros”, afirma o empreendedor Fábio Pires Santos, que tem sua loja há um ano

no shopping “Azulão: Feirão da Madrugada”. “Recebemos clientes de várias partes do País e até mesmo do Paraguai”, como relata Vanda Neres, que possui um boxe de moda feminina na região há dois anos, os lojistas reclamam do atual cenário das vendas. A crise econômica e os comerciantes irregulares são mencionados como os principais fatores para o recuo do faturamento líquido (livre de impostos e descontos), que atualmente chega a uma média de R$ 6 mil ao mês. “Eu comecei aqui com três boxes, agora eu estou fechando para um

Comerciantes alugam boxes por 150 reais por semana. (Foto: Jéssica Magalhães)

boxe só. Então, no meu caso, o comércio não está crescendo”, conta o paraguaio Jorge Halke, que deixou seu País há três anos com o sonho de empreender no Brasil. Além disso, os empresários da Feira da Madrugada enfatizam os pontos negativos de se trabalhar nesse período. O cansaço, a correria do dia a dia e o baixo custo arrecadado com as vendas se tornam elementos decisivos. “Praticamente, nem tem lucro mesmo. As mercadorias têm preços bem baixos. Feirinha é só sinônimo de trabalho.”, diz o lojista Fábio Pires Santos. Em contraponto aos empreendedores, as palavras-chaves “dinheiro” e “tempo” ganham destaque entre os clientes que vão à Feira da Madrugada. Os preços populares, que podem ser percebidos em peças de roupas com valores a partir de R$ 15,00, é o ponto forte para consumidores. “O preço é o único motivo de eu vir pra cá, porque eu não sou daqui, eu sou de Bariri, interior de São Paulo”, conta a consumidora Aline Camargo. Já o tempo é fator determinante para revendedores, que aproveitam o horário diferenciado para realizarem suas compras.


Saúde

15

Moradores culpam lixo e entulho por dengue A falta de conscientização das pessoas é a grande preocupação de moradores do bairro

Maria Nayara Diniz

Pneu é encontrado no interior da casa abandonada. (Foto: Maria Mayara Diniz) Sendo o bairro com maior incidência de casos de dengue em São Paulo, moradores do Pari acreditam que isso se deve pela quantidade de lixo e entulho que é jogada nas ruas por falta de educação de alguns moradores e visitantes. A rua Comendador Nestor Pereira, situada na região central do Pari, concentra pelo

menos 20 casos de dengue, segundo os moradores, do total de 61 registrados no bairro ano passado. Referente às medidas que a Prefeitura de São Paulo está tomando para reverter a questão do lixo, moradores citaram que havia sido colocada uma lixeira na rua, porém as próprias pessoas acabaram

quebrando e até então não colocaram outra novamente. Também há a sujeira que é feita pelos animais, pois os donos andam com seus cachorros, mas não cuidam. Próximo dalí, na rua Felisberto de Carvalho, se encontram duas casas abandonadas que, segundo os vizinhos, estão sendo usadas como ponto de descarte para algumas pessoas. O dono da residência faleceu há 6 meses e era acumulador há aproximadamente 20 anos. Depois da sua morte, a casa ficou abandonada e, como já estava lotada de lixo, passou-se a despejar ainda mais rejeitos. Moradores contam que devido à epidemia no bairro passaram a ligar insistentemente para a prefeitura fazer limpeza na residência, pois havia muitos pneus e entulho que poderiam acumular água e se transformar em um criadouro para o mosquito. Agora, a cada 15 dias a casa é esvaziada pela prefeitura, porém, segundo a vizinha Sandra Coelho, 5 minutos após o caminhão da prefeitura sair, a frente e o quintal da casa já se encontram lotados de lixo. Na família da Sandra houve dois casos de dengue no ano passado, e ela diz tomar todos os

cuidados necessários dentro de sua casa para evitar focos do mosquito, mas quando questionada sobre ao trabalho dos órgãos públicos e a cooperação dos vizinhos, ela diz: “Não é que os vizinhos não cooperam, as pessoas acham que aqui é lugar de descarte e é qualquer um que passa. Esses dias veio um cara com uma carroça e descarregou toda aí, estava cheia de panos e simplesmente jogou tudo. Aí vem um outro com materiais de construção e joga também. Então assim, não é uma questão dos vizinhos, é uma questão de consciência pública”. Para os moradores, a questão do lixo e de contaminação em relação ao ano passado está bem melhor. O caminhão de lixo passa regularmente, como também prestadores públicos orientando sobre os cuidados que se devem tomar, e que o fumacê já foi realizado. O problema ainda continua sendo a conscientização das pessoas em relação ao lixo. O último balanço realizado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), indicou que apenas este ano foram realizadas 23.490


16 nebulizações veiculares na cidade de São Paulo. Afirmou ainda que, atualmente, 2.500 agentes trabalham em toda a cidade no combate à doença, com ações de visitas porta a porta, grupos de orientação e ações de combate nos locais de grande concentração de pessoas. Segundo o Clínico Geral da UBS do Parí, Dr. Lucas Ferreira, o número de pessoas que procuraram atendimento com suspeita de dengue também está menor. Ele acredita que essa baixa se deu pela conscientização popular, pois agora já se sabe que há mais 2 vírus que podem ser

Observatório transmitido pela picada do mosquito, o zika vírus e chikungunya. O médico também conta que dá orientações quanto aos cuidados que devem ser tomados pelos pacientes para não adquirir a doença, pois quanto mais informações obtidas e mais cuidados tomados, menos casos aparecerão. Sendo assim, o Dr. Lucas Ferreira listou uma série de cuidados que devem ser tomados em nossas residências, pois segundo ele, como é praticamente impossível eliminar o mosquito, é preciso identificar objetos que possam se transformar em criadouros do Aedes aegypti.

Possíveis focos de dengue são encontrados pelas ruas do Pari. (Foto: Maria Mayara Diniz)

Pari

14 passos para evitar o mosquito da dengue: • Encha de areia até a borda os pratinhos dos vasos de planta. • Mantenha o saco de lixo bem fechado e fora do alcance de animais até o recolhimento pelo serviço de limpeza urbana. • Lave semanalmente por dentro com escovas e sabão os tanques utilizados para armazenar água. • Coloque o lixo em sacos plásticos e mantenha a lixeira bem fechada. Não jogue lixo em terrenos baldios • Jogue no lixo todo objeto que possa acumular água, como embalagens usadas, potes, latas, copos, garrafas vazias, etc. • Remova folhas, galhos e tudo que possa impedir a água de correr pelas calhas. • Mantenha bem tampados tonéis e barris dágua. • Não deixe a água da chuva acumulada sobre a laje. • Lave principalmente por dentro com escova e sabão os utensílios usados para água em casa, como jarras, garrafas, potes, baldes, etc. • Se você não colocou areia e acumulou água no pratinho de planta, lave-o com escova, água e sabão. Faça isso uma vez por semana. • Mantenha a caixa d’água sempre fechada com tampa adequada. • Entregue seus pneus velhos ao serviço de limpeza urbana ou guarde-os sem água em local coberto e abrigados da chuva. • Se você tiver vasos de plantas aquáticas, troque a água e lave o vaso principalmente por dentro pelo menos uma vez por semana. • Guarde garrafas sempre de cabeça para baixo.


Saúde

Epidemia de dengue assola o bairro do Pari

17

Com mais de 3 mil casos, a região é considerada a primeira a contabilizar nível epidêmico na capital paulista Dominique Thompson O bairro do Pari, localizado na região central de São Paulo, em 2015 sofreu uma epidemia de dengue. Uma doença é considerada epidemia quando tem uma incidência superior a 300 casos por 100 mil habitantes. O Pari registra 3413 para 100 mil, a região é considerada a primeira a registrar nível epidêmico de dengue na capital paulista. Um dos maiores focos do mosquito são os terrenos baldios, repletos de lixo acumulado e entulho. A Covisa (Coordenação de vigilância em saúde) também considera o aumento de casos relacionado ao calor, que acelera o desenvolvimento do mosquito, assim como o acumulo de agua limpa sem proteção, devido à crise de abastecimento de água. . Diante dessa situação alarmante, soldados do exército foram treinados por equipes da Covisa para combater os focos do mosquito, além de agentes do Centro de Controle da Zoonose que diariamente visitam domicílios e orientam os cidadãos acerca de como evitar a proliferação dos mosquitos. Dona Sandra Coelho é moradora do Pari, e nos conta que na época da epidemia ela e sua irmã, assim como outros vizinhos foram uma

Sidney

Cláudia Coelho, vítima da dengue no bairro do Pari. (Foto: Dominique Thompson) das vítimas da dengue, ela mora em frente a uma casa abandonada, que serve de deposito de lixo e entulho, que infelizmente os próprios moradores jogam por lá. Dona Sandra, e a irmã buscaram assistência no AMA do Pari: ”buscamos porque é uma sensação horrível de fraqueza, dor de cabeça, manchas vermelhas, mal-estar que não dá para se alto medicar, fomos bem atendidas, tinha bastante gente, mas estava andando rápido o atendimento.” Ela confirmou que recebeu visita dos agentes do Centro de Controle da Zoonose, e também receberam a cartilha de prevenção. A questão do lixo é preocupante,

pois mesmo com a Prefeitura fazendo coleta regularmente e orientando com placas que o local não é próprio para o descarte de lixo, os moradores não respeitam. Dona Sandra conta que sempre quando chega a chuva, vem junto a preocupação com o lixo acumulado, trazendo um grande risco de um criadouro do mosquito, mas mesmo com a falta de conscientização dos moradores em relação ao lixo, ela admitiu que esse ano só foram registradas algumas suspeitas, e afirma ainda não ter visto ninguém no bairro com dengue. O clinico geral Doutor Lucas Teixeira, da UBS do Pari, passou algumas informações em relação a

recuperação da doença: “Quando o paciente faz uma avaliação medica, a gente avalia o grau de risco e os cuidados vão de acordo com isso, a gente orienta a questão que a dengue é passageira, é uma doença que, na maioria das vezes, dura sete dias. O corpo consegue curar, porem os sintomas atrapalham muito a qualidade de vida nesses sete dias, como as dores, febre, náusea e falta de apetite, alguns casos evoluem com a questão da diarreia.” E não se esqueçam, a hidratação é fundamental para que a doença não evolua para o estado hemorrágico que leva a morte.


18

Observatório

Pari

AMA Pari é considerado o melhor da região

Local sofre com número reduzido de profissionais, porém se destaca devido ao melhor atendimento dos médicos Sidney Viana Os moradores do bairro do Pari têm, entre outras alternativas de atendimento médico, uma unidade da AMA, que presta serviços de pronto atendimento, localizada na Rua das Olarias 503. A unidade, além do pronto atendimento de rotina, integrou a campanha de vacinação da Prefeitura de São Paulo contra a gripe H1N1, iniciada em 4 de abril. Mas no pronto a t e n d i m e n t o , principalmente às sextasfeiras, há superlotação nas salas de espera e muita demora. O Dr.

José Carlos Haddad explica: “sexta-feira é sempre gente demais e só tem dois médicos para atender. São três. Três já não ajuda tanto, imagine dois. Além do que, é sempre a mesma coisa: muita gente, pouco médico, a sequência é essa sempre. O atendimento é individualizado. Depende de cada caso, e se chega emergência, a gente tem que dar prioridade para quem tem mais risco. ” Usuário da unidade há mais de dez anos, o encarregado Luciano Souza

Rocha,

que

aguardava a chamada do pediatra para seu filho de 3 anos, que está com catapora, falou: “Tem dia aqui que é muito lotado. ” Ele considera o atendimento regular: “Não é bom nem ruim, mas é regular.” E diz que no caso dos adultos, dependendo do dia, a espera pelo atendimento pode ser de até quatro horas. “Mas é que da região aqui, esse é um dos melhores. Tem o Bom Retiro, tem o Armênia, mas geralmente o pessoal vem para cá, porque é o melhorzinho. ” Luciano

atribuiu nota 6 ao atendimento da AMA. Já a dona de casa Maria, perguntada sobre o atendimento e o tempo de espera disse: “Fui bem atendida hoje”, após espera de uma hora. Ela atribuiu nota 8 ao atendimento. Nota-se que, apesar da demora no atendimento e com poucos médicos, as condições das instalações, o bom estado de conservação do prédio e o bom atendimento dos médicos fazem a diferença, tornando a AMA do Pari, a UBS preferida da região.

Usuários qualificam UBS com média sete, e principal fator negativo é a demora nas filas de atendimento. (Foto: Sidney Viana )


Saúde

19

Agentes de saúde atuam na prevenção de doenças

Profissionais realizam visitas mensais para controle de vacinação e supervisão médica no bairro do Pari Augusto Cesar O quadro de saúde dos moradores do bairro é acompanhado por agentes de saúde uma ou duas vezes por mês. Esses profissionais são os responsáveis por manter o Pari longe de doenças, pandemias e epidemias. Desta maneira, é possível traçar um panorama geral das condições de saúde dos moradores, que é documentado e serve para auxiliar a Unidade Básica de Saúde (UBS) local nos cuidados e distribuição dos medicamentos quando alguém já doente e recebe tratamento em casa. O Programa de Estratégia Saúde da Família está presente no Pari há 15 anos. Fernanda de Oliveira, agente de saúde da UBS local há quatro anos, visita os moradores uma vez ao mês para acompanhar as necessidades, vendo se as vacinações estão em dia e até em supervisão clínica, de acordo com o caso. “Temos uma meta de fazer dez visitas por dia, todos os dias da semana. O morador nos recebe uma ou duas vezes por mês em média”, explica. O sul-coreano Chung Gi Park, morador do bairro,

é otimista quanto ao projeto municipal. “Uma vez por mês elas nos visitam fazendo o nosso controle de vacinação e principalmente das crianças”. O quadro, afirma o imigrante, melhorou depois de sua chegada. “Moro aqui desde que cheguei no Brasil. Não lembro a data, mas nem sempre foi assim; quando esse projeto começou as coisas melhoraram muito”, afirma. Mas se no Pari os habitantes são beneficiados com o programa que os atendem em suas casas, há no bairro uma grande concentração de moradores de rua que

são acolhidos no Centro de Acolhida ao Adulto (CAA), que fica em frene a UBS. O local não recebe visita das agentes de saúde, apenas uma enfermeira e uma auxiliar do posto fazem uma triagem prévia para com os que ali estão. A psicóloga Flávia Teixeira, que atua há dois anos no CAA, afirma não saber o período de tempo entre as visitas. Ela acredita que não há uma rotina estabelecida, porém, as visitas acontecem. O Centro, que não tem nenhum especialista de saúde no seu quadro de profissionais, também

recebe visitas dos agentes de saúde quando há campanhas, como a de prevenção da proliferação de mosquitos e suas doenças ou o vírus H1N1. Para Flávia, não falta atendimento aos acolhidos, mas a prevenção deixa a desejar. “As informações que trazem são precárias, eles colam os cartazes e para os que passam aquele dia aqui têm a informação, os demais perdem a informação, às vezes por não saberem ler e entender as mensagens dos cartazes colados no CAA”, explica a psicóloga.

Usuários da UBS Pari já enxergam melhoria nas condições de saúde da região. (Foto: Augusto Cesar)


20

Observatório

Pari

Idioma dificulta diálogo entre imigrantes e UBS

Centro de Acolhimento utiliza estrangeiros já adaptados como intérpretes Anderson Peixoto

O angolano Longelo Matondo, recepcionista do Centro de Acolhimento, ajuda outros imigrantes a se adaptarem ao cotidiano no Brasil. (Foto: Anderson Peixoto) Sendo uma região com grande número de imigrantes – cerca de 45%, segundo o censo de 2010 – uma das principais dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde ainda é a barreira do idioma, causa de constrangimento de ambos os lados e ainda é motivo de afastamento dos imigrantes do posto de saúde. A maioria dos hospitais públicos hoje não dispõe de equipe suficiente para lidar com imigrantes recém-chegados, devido à extensa diversidade de idiomas. Assim, cabe a

áreas de políticas sociais a familiarização do imigrante com a língua portuguesa. Uma das alternativas aos imigrantes em situação de vulnerabilidade na região é o Centro de Acolhimento de Imigrantes, que tem capacidade para cerca de 150 pessoas, onde ocupam até que consigam estabilizarse economicamente. O Centro serve como um agente intermediário entre o imigrante e a Unidade Básica de Saúde (UBS), até que aquele adapte-se ao cotidiano do bairro.

Este agente mediador, na maioria dos casos, é representado por um imigrante que conhece a língua

Centro de Acolhimento atende cerca de 150 pessoas portuguesa, como o angolano Longelo Matondo (foto), que trabalha como recepcionista no Centro de Acolhimento,

e minutos antes de conceder entrevista, levava outro imigrante senegalês à UBS Pari. “Ele estava com dor de dente, e só fala francês, então eu sirvo como intérprete entre ele e o pessoal do posto”, disse. Os angolanos, assim como cabo-verdianos, guineenses, e outros cidadãos oriundos de países que têm o português como uma das línguas nativas se adaptam com maior facilidade ao país, e assim acabam desempenhando papel fundamental na adequação de outros estrangeiros. Segundo a gerente do local, Irmã Erta Lemos, os principais motivos que levam os imigrantes à Unidade de Saúde são doenças corriqueiras, como febre, dores de cabeça e recentemente a dengue. A gerente relatou alguns casos específicos também, como dois casos de tuberculose, os quais os pacientes tiveram que ficar isolados, e um caso de doença psíquica, que também precisou de um tratamento especial. Mas em geral, porém, os imigrantes chegam ao Centro de Acolhimento em boas condições de saúde.


Saúde

21

Idosos recebem projeto de atividades esportivas

Iniciativa do Centro de Formação reduz ociosidade e sedentarismo, além de promover interação social Cauê Andreta Desde agosto, educadores do Centro de Formação em Segurança Urbana, habilitados em condicionamento físico e qualidade de vida, desenvolvem atividades voltadas para pessoas da terceira idade do bairro do Pari. Em cooperação com o Centro de Formação Profissional e Educação Ambiental (CEFOPEA), organização que trabalha com idosos em situação de vulnerabilidade social e comunidade do bairro, as aulas de sessenta minutos ocorrem todas as terças e quintasfeiras e reúnem em média 20 alunos. Segundo Marcelo Torres,

diretor do CEFOPEA e um dos idealizadores do projeto, o objetivo da parceria é estimular a prática de atividades físicas entre os idosos, além de aproximar o Centro de Formação da comunidade local. Dona Lurdes Fonseca, de 78 anos, frequenta as aulas desde o primeiro dia. ‘’ Sou aposentada há 17 anos, e sempre vivia dentro de casa, saía no máximo para cuidar das minhas plantinhas e ir até a feira. Foi quando através da minha nora descobri esse projeto que ia começar aqui ao lado da minha casa. Já que eu não fazia nada mesmo resolvi vir e não parei mais.

’’ Segundo ela, sua vida melhorou muito depois de frequentar as aulas no Centro. ‘’ Fiz muitas amizades aqui, os professores também são muito atenciosos, e sem falar nas dores nas costas e nas pernas que diminuíram muito’’. Conversando com o geriatra, Dr. Carlos Henrique Paes, a atividade física oferece importantes benefícios à população da terceira idade, tais como, a prevenção e diminuição de problemas de saúde e fortalecimento muscular. ‘’Dentre tantas opções de atividades físicas, o ideal é que o idoso escolha uma modalidade em

anúncio

que possa praticar exercícios que lhe agrade e motive, e assim gerem bem estar e qualidade de vida. Seja ela a musculação, a yoga, o pilates, a caminhada, a natação, o importante é a prática regular de atividade física de maneira adequada às necessidades e realidade física, psicológica e social do idoso, pode significar a diferença entre uma vida autônoma ou não ’’, ensina o médico geriatra. Os interessados podem procurar as atividades que acontecem na sede da CEFOPEA, na Av. Ariston de Azevedo, 10, próximo ao CFSU.


22

Observatório SP Pari

Vila de pescadores deu origem ao bairro do Pari Com mais de 400 anos de história, a região se tornou polo industrial, de comércio e cultural Ana Cláudia Rodrigues Joyce Ferreira O Pari é um dos bairros mais antigos da cidade de São Paulo, possui origens conservadoras e de forte influência de imigrantes. Com mais de 400 anos, o local tem uma história interessante a respeito do seu nome. Os peixes vendidos no centro da então vila de São Paulo eram pescados principalmente nos rios Tietê e Tamanduateí. A nomenclatura veio a partir dos lugares piscosos próprios para a instalação de “paris”, uma cerca de taquara ou cipó, estendida nas extremidades do mar para pescar os peixes. Por muito tempo, a venda do pescado acontecia nas calçadas da igreja do Carmo, uma espécie de mercado de peixe da cidade. Nesse ambiente, vestidas com saias curtas, descalças, com xale pequeno ou baeta azul, as vendedoras eram quase sempre do Pari. Esse comércio terminou em 1867, com a inauguração do Mercado Municipal, próximo à rua 25 de Março. O Pari foi um bairro importante para a sobrevivência e o crescimento da cidade durante seus primeiros séculos, por causa da

pesca que servia como alimentação para os moradores da região. A partir de 1870, com a chegada das ferrovias à cidade, nascem diversos bairros operários ao longo da linha de trens, entre eles o do Pari. Em 1885 e 1890, o comércio e a indústria se desenvolveram e foi criado um controle do movimento de entrada e saída de mercadorias, uma espécie de extensão da alfândega de Santos. Devido ao fluxo de trens, foi implantado no bairro um dos maiores pátios ferroviários da cidade. O Pátio do Pari construído em 1891 servia como estacionamento de vagões, depósito de mercadorias e ponto de

carga e descarga, ligado à São Paulo Railway. A região era situada em uma área de alagamentos. Em 1908 para acabar com os constantes transbordamentos nos arredores do Tamanduateí, a Prefeitura mandou solevar umagrandeextensãodavárzea do rio. Foram cobertos com dois mil metros de terra as planícies do Brás, passando por Pari, até a Mooca. Nas décadas anteriores, devido à alta concentração do comércio e de fábricas de doces na região, o local passou de familiar para comercial e ficou conhecido como o “bairro doce de São Paulo”. A urbanização começou no final do século passado. Os primeiros benefícios do “novo” bairro foi a criação da Paróquia Santo Antônio

Igreja Santo Antônio do Pari em 1927. (Acervo: Jayme Ramos)

do Pari, oficialmente fundada no dia 02 de fevereiro de 1914, por dom Duarte Leopoldo e Silva, e seu primeiro pároco foi o português Frei José Rolim. No começo era apenas uma casa pequena onde as pessoas se reuniam. A atual matriz foi inaugurada em 13 de junho de 1924, mesma data de comemoração para os devotos do Santo Casamenteiro. Por causa dessa celebração, os fiéis lotam a praça Padre Bento, para a distribuição de milhares de pãezinhos e a famosa venda do ‘bolo bento’ ao custo de R$3,00 a fatia. Na mesma época da fundação da igreja, o bairro tornou-se confluência de imigrantes italianos que, nos fins de semana, ocupavam a praça conhecida como largo do Pari, para cantar e dançar a “tarantela”. Por estar próximo ao centro da cidade de São Paulo o bairro cresceu e desenvolveu intensamente. Em 30 de agosto de o Pari foi elevado à categoria de 25º Subdistrito da Capital, com uma área de 5,46 Km², que abrange a Vila Guilherme, o Canindé e as vilas adjacentes. Atualmente houveram transformações da paisagem, que reúne uma grande


História

23

concentração de bolivianos, muçulmanos, coreanos, indianos, haitianos, entre outros. Aos domingos os imigrantes bolivianos fazem encontros nas praças Padre Bento e na Kantuta. Revelam suas barracas que dividem a própria cultura, por meio da música folclórica e de comidas picantes. Existe uma forte influência dos muçulmanos, um exemplo é o templo islâmico. Templo islâmico A Associação Beneficente Islâmica do Brasil é um templo islâmico localizado no Pari, bairro central da cidade de São Paulo. Construída em 1987 a mesquita islâmica tem como base a preservação cultural e religiosa do islamismo na cidade. Oferece aos visitantes, gratuitamente, a oportunidade de ampliar os conhecimentos referentes ao Islã. No altar, há a existência de símbolos, traços e formas que remetem a religião islâmica. Cléber Silva, supervisor de segurança do templo, esclarece que cada um dos símbolos significa uma palavra e todas as demais formas, vírgulas e traços equivalem a trechos do Alcorão. “O Alcorão é considerado o guia que fornece o regulamento das comunidades muçulmanas e iranianas. Os ensinamentos do Alcorão são universais. 10 milhões de edições e cópias foram traduzidas para quase todas as línguas, impressas e escritas à mão em quase todas as partes do mundo”. Feira da Madrugada Procurada por visitantes de diversas regiões do país, devido à variedades e preços baixos, a famosa feira da madrugada, passa por grandes mudanças.

Mesquita Mohammad Mensageiro de Deus atrai milhares de fiéis todos os anos. (Foto: Joyce Rocha) A prefeitura iniciou um processo de revitalização do local que hoje está sob a gestão do consórcio Circuito de Compras São Paulo. A ideia é transformar a feira da madrugada em um grande shopping popular. Porém, nesse momento, os comerciantes sofrem problemas por conta da administração desse processo. Essas dificuldades começam com o prazo de conclusão do projeto que tinha a promessa

de ser concluído em dois meses, e hoje, pouco mais de seis meses depois, ainda está em andamento. Dentro do acordo entre Prefeitura e comerciantes, foi estabelecido a não paralisação dos trabalhadores enquanto ocorriam as mudanças. Porém os comerciantes tiveram que esvaziar todos os seus boxes até o dia 26 de fevereiro, para a realização da reforma do local e retornaram no início do mês seguinte

Criada há 11 anos, Feirinha da Madrugada movimenta economia local. (Foto: João Luiz)

para a reabertura da feira. Após a reforma os trabalhadores receberam mensalmente um boleto de R$ 960,00 referente as melhorias realizadas em seu espaço. Existem comerciantes que embolsaram da prefeitura o boleto e a autorização para trabalhar juntamente com o seu novo número de box, mas quando chegaram ao local, o box já estava ocupado. Ao se direcionarem à prefeitura para reclamar são informados que a averiguação junto ao consórcio leva um tempo. De acordo com os comerciantes, a ausência e demora dos esclarecimentos sobre essas questões é frequente e perturbadora. Diante de tantos descasos os comerciantes da Feirinha da Madrugada buscam se organizar para formar um Sindicato dos Trabalhadores da Feirinha, intitulado como “Grupo Luta e Trabalho”. A escolha do representante está em fase de aprovação.


24

Observatório

Pari

Vista panorãmica do Estádio do Canindé. (Foto: Museu da Portuguesa) Lusa A Associação Portuguesa de Desportos (inicialmente Associação Portuguesa de Esportes), fundada no dia 14 de agosto de 1920 a partir da fusão de cinco clubes portugueses da cidade de São Paulo: Lusíadas, Lusitano, 5 de Outubro, Marquês de Pombal e Portugal Marinhense. Nos primeiros anos, a Portuguesa uniu-se ao Mackenzie para a disputa dos torneios de futebol. Em 1923 passou a jogar de maneira independente, ao mesmo tempo em que equipava sua primeira sede, localizada na Rua Cesário Ramalho, no Cambuci. A década seguinte marcou as primeiras conquistas de peso do Clube, com os títulos do Campeonato Paulista de 1935 e 1936. Entre os jogadores marcantes da primeira fase estão Filó, que atuou na Lusa nos anos 20 e mais tarde ganhou a Copa do Mundo de 1934 com a Se-

leção Italiana, e o goleiro Batatais, que defendeu a meta rubro-verde na década de 30. Nos anos 40, já instalada na nova sede, no Largo São Bento, a Portuguesa iniciou a montagem do que viria a ser o grande esquadrão dos anos 50, considerado um dos maiores times da história do futebol brasileiro. Em 1956 foi adquirido o terreno do Canindé, dando início ao sonho

de construção de um estádio próprio, que seria concretizado em 1972, com a inauguração do Estádio Independência, atual Dr. Oswaldo Teixeira Duarte, o famoso Canindé. Craques continuaram desfilando com a camisa da Lusa, entre eles Ivair, Orlando, Ditão e Félix na década de 60, e Enéas, Badeco, Cabinho e Basílio, heróis do título paulista de 1973. A Portuguesa também

começou a se desenvolver em outras modalidades, como no hóquei, ciclismo, vôlei, basquete e boxe. Por volta dos anos 90, a Lusa manteve sua tradição de revelar grandes jogadores, como Edu Marangon, Dener, Zé Roberto e Rodrigo Fabri. Chegou à final do Campeonato Brasileiro em 1996, até a Barcelusa de 2011. O clube tem uma história gloriosa e quase centenária que continua a ser escrita

Troféus que simbolizam os títulos ganhos ao decorrer da trajetória do time. (Foto: Paloma Neri)


Educação

Educação para todos

25

Escola estadual enfrenta os desafios de educar imigrantes Melissa Reis A educação para jovens em escolas públicas é sempre um grande desafio. Por inúmeros motivos é difícil entregar uma educação de qualidade para os alunos. Na escola estadual Frei Paulo Luig esse desafio se torna ainda mais complexo, já que muitas vezes desses alunos são imigrantes que mal compreendem o idioma falado em sala de aula. A maioria dos alunos são bolivianos, mas há também sírios, paraguaios, angolanos, peruanos e até mesmo egípcios. Muitas vezes refugiados de outros países, e trazendo em uma cultura diferente. Esses alunos enfrentam várias barreiras para garantir uma educação de qualidade negada, muitas vezes, até mesmo para os Brasileiros que estudam em escolas públicas. O nome da escola é uma homenagem a Frei Paulo Luig, um Franciscano alemão, que lutou pelo ensino público gratuito em uma época em que ninguém mais defendia, e ofereceu as salas da tradicional Igreja Santo Antônio do Pari para criar uma escola primária para as crianças do Bairro. Frei Paulo Luig viveu no Pari na década de 40 e deixou sua marca para sempre no Bairro. Atualmente a escola enfrenta dilemas muito parecidos com os que tiveram que enfrentar seu homenageado. Sendo

Professora Angela Gonçalves em sala de aula. (Foto: Melissa Reis) uma das únicas a oferecer ensino público na região, a escola recebe uma grande quantidade de alunos estrangeiros, reflexo do grande número de imigrantes que o bairro recebe. Sem ajuda ou suporte do estado, os funcionários da escola tentam encontrar maneiras de contornar a situação no ambiente de estudo. A professora Angela Gonçalves de Souza que ensina há cinco anos na escola, diz que a maior dificuldade é a grande barreira em relação a língua. “O aluno vem para a escola sem preparo nenhum em relação à língua com que ele vai conviver, tendo problemas na parte de gramatica e de leitura”. A aceitação dos es-

trangeiros é também um problema presente, com salas muitas vezes divididas igualmente entre alunos estrangeiros e brasileiros, preconceitos trazidos de casa se tornam muito evidentes. Os alunos estrangeiros andam em pequenos grupos fechados e muitas vezes apenas interagem entre si, por medo de sofrerem xenofobia ou de adentrar uma cultura estranha. A maioria dos alunos são tímidos e reservados, além daqueles que não demostram interesse nas aulas. O aluno Luiz Carlos, de 11 anos de idade, viveu tudo isso. Vindo do Paraguai chegou na escola com apenas 6 anos de idade e teve muitos problemas para se adaptar tanto à língua quanto à cultura.

Sem conhecer ninguém, inicialmente teve dificuldades para se relacionar com os amigos e também pedir ajuda aos professores. Hoje, ele tem amigos de diferentes nacionalidades na escola, desenvolveu melhor a nossa língua,costumes, e não gostaria de voltar para sua terra natal. Em um mundo de tantas barreiras, essas histórias muitas vezes se repetem. Os próprios alunos se ajudam bastante. “Os que já estão a mais tempo e que já têm compreensão maior da língua e dos costumes, passam para os alunos mais novos, que acabaram de chegar”. Diz a professora Angela. Muitas vezes os próprios professores utilizam


26 esse recurso, para que alunos estrangeiros entendam algo mais complicado. Pedem para que outro aluno que fale ambas as línguas e tenha mais vivência explique para um colega com dificuldade. Os recursos para os professores também são limitados, obrigando-os a encontrarem soluções e maneiras de lidarem com as diferenças. “Você tem que insistir mais com o aluno, ter mais paciência, saber que o ritmo dele vai ser diferente do outro”, diz a professora Angela. As professoras utilizam o recurso das com-

Observatório parações quando os alunos não conseguem compreender ou pedem para que outro aluno, com maior fluência em português, explique. “Os alunos bolivianos escrevem misturando português e espanhol” diz a professora Maria do Carmo, que dá aula para crianças do quinto ano. Para ela o idioma é uma barreira tão grande que muitas vezes prejudica até mesmo os alunos que já entendem o conteúdo. Já os pais têm opiniões diferentes sobre o ambiente escolar. Originários de outros países tiveram seus filhos no Brasil e descrevem a dificul-

Pari

dade que foi para eles se adaptarem a língua. Alguns tiveram ajuda em sua adaptação, como a imigrante boliviana Silvia Poma, que recebeu ajuda da família na sua chegada. Hoje, para seu filho de 7 anos na escola as coisas caminham muito bem: “Ele gosta da escola, meio dia ele já está com a lancheira e a entrada é só uma hora”. Já Alison Lusco, de La Paz, diz que o ensino público de sua cidade natal era melhor do que o do Brasil, mas que não tem condições de pagar uma escola particular para os filhos. Sua filha mais velha chegou a

sofrer bullying na escola por ser morena. “Ela ficou bem triste, mas eu falei não tem problema ser branco ser preto, ser loiro, o que vale é o que você pensa o que você sabe. Ela pode ser uma médica, quem sabe? Ela poderia ajudar muitas pessoas”. Seguindo a tradição de Frei Paulo Luig, a escola tenta a melhor forma possível lidar com os desafios e oferecer a melhor educação a todos que venham em busca dela. E apesar de todas as dificuldades ainda honra o nome do seu homenageado.

Estudo do islamismo chega ao Pari

Filhos de imigrantes que moram no bairro estudam em colégios tradicionais, mantendo viva a cultura árabe

Steffanie Godoi O Pari é um bairro que possui um grande número de moradores árabes, a maioria libaneses. Os que possuem filhos precisam de um estudo que atenda suas necessidades. Por esse motivo, houve um pedido da comunidade libanesa, a Mesquita do Brás, que fosse fundado um colégio que seguisse as tradições islâmicas. Assim sendo, em fevereiro de 2010 foi inaugurado o Colégio Brasileiro Islâmico seguindo totalmente a cultura Árabe. O colégio atende o ensino infantil até o oitavo ano do ensino fundamental com aproximadamente 200 alunos. A grade curricular são as mesmas que das instituições do ensino brasileiro. O diferencial é que

Alunos do quinto ano se preparando para o intervalo. (Foto: Steffanie Godoi) o estudante obtém, por semana, nove aulas de árabe e duas da religião islâmica. Segundo a professora de Português Anitta Mendes, o principal obstáculo para os alunos é a escrita: “A dificuldade que eu percebo é

na grafia, porque o Árabe é o contrário do Português, nós começamos da esquerda para direita e eles da direita para esquerda”. Para a professora de árabe Batoul Abdala, os alunos não possuem dificuldade na língua

de origem mas preferem aprender o português por acharem mais fácil: “Os nossos alunos já sabem o Árabe. Eles pegam rapidinho por ser a língua materna, mas eles preferem o Português, por acharem


Educação o Pari é um bairro que possui um grande número de moradores árabes, a maioria libaneses. Os que possuem filhos precisam de um estudo que atenda suas necessidades. Por esse motivo, houve um pedido da comunidade libanesa que fosse fundado um colégio que seguisse as tradições islâmicas. Em fevereiro de 2010 foi inaugurado o Colégio Brasileiro Islâmico que segue totalmente a cultura Árabe. O colégio atende o ensino

infantil até o oitavo ano do ensino fundamental com cerca de 200 alunos. A grade são as mesmas que das instituições do ensino brasileiro. Segundo a professora de Português Anitta Mendes, o principal obstáculo para os alunos é a escrita: “A dificuldade que eu percebo é na grafia, porque o Árabe é o contrário do Português, nós começamos da esquerda para direita e eles da direita para esquerda”. Para a professora de árabe Batoul Abdala,

os alunos não possuem dificuldade na língua de origem mas preferem aprender o português por acharem mais fácil: “Os nossos alunos já sabem o Árabe. Eles pegam rapidinho por ser a língua materna, mas eles preferem o Português, por acharem mais fácil por usarem no cotidiano”. Para os alunos com dificuldades tanto em falar o árabe como o português, há aulas de reforço realizadas após o horário da escola. A aluna Shirin Chadi

27 tem dez anos e nasceu no Brasil. Ela diz ter muita dificuldade com o árabe por ser diferente: “O Árabe tem uma escrita mais difícil, tem que ter ponto em todas as letras. Mas não é como colocar acento e ponto nos textos de português, é mais complicado”. Quando concluem o oitavo ano, os alunos seguem para instituições de ensino de sua escolha, já que não há um colégio islâmico para o ensino médio.

Organização social oferece diversas oficinas para jovens

Crianças e adolescentes de escolas públicas são atendidas por associação que busca formar cidadãos

Juliana Borges Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento dos jovens do bairro do Pari e de formar cidadãos autônomos, a organização social União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes) criou o programa Centro da Criança e do Adolescente (CCA). Nele, são cerca de 630 crianças e adolescentes que estudam na rede pública com idade entre 6 a 14 anos. A seleção dos jovens que participam do CCA é feita por uma assistente social que segue critérios como renda familiar, proximidade do espaço e situação de vulnerabilidade social. De acordo com a coordenadora do projeto, Claudia Claudino, a

André Freitas, coordenador técnico da orquestra e professor de percussão. (Foto: Juliana Borges) prioridade são crianças carentes e as quais é identificada a necessidade, como no caso de crianças que possuem pais que trabalham em período integral. “Todas são de baixa renda,

moram em cortiços, em CDHU. Mas são do bairro a grande maioria”, explica ela. O programa também recebe crianças de diferentes nacionalidades, a maioria de crianças bolivianas.

Após completarem 14 anos, os alunos do programa são encaminhados para um curso profissionalizante. “A criança que está com a gente no CCA vai para o curso de formação


28

Observatório

Pari

profissional e muitas delas acabam saindo, depois de seis meses, encaminhadas para o mercado de trabalho”, explica Claudia. Para ela, a importância do projeto está na formação do cidadão. “Trabalhar valores, a formação de cidadania para a sociedade, família. A gente trabalha tudo, mas realmente a gente tem um trabalho voltado bem para a produção humana”, diz a coordenadora. A Orquestra As crianças participam de oficinas e diversas atividades, como dança, teatro, xadrez, futebol, vôlei, judô, orquestra, coral. Entre as oficinas do programa está a orquestra. Para o coordenador técnico da orquestra e professor de percussão, André Freitas, “a música ajuda a melhorar a autoestima das crianças, a sua postura corporal e autonomia e a ensinar a elas como se manter focadas e a possuir disciplina.” Segundo André, participam da orquestra da Unibes aproximadamente 180 jovens. “O trabalho todo começa na base que é a musicalização e o coral, então as turmas dos menores fazem coral. Depois quando completam dez anos podem escolher os instrumentos que eles quiserem”, explica o coordenador. Entre os instrumentos que as crianças podem aprender estão à flauta, o saxofone, o clarinete, o trombone, o bombadilho, o trompete, o contrabaixo, o violino, o violoncelo, vários instrumentos de percussão, entre outros. Os alunos ensaiam separadamente em classes de sopro, percussão e cordas

Alunos da orquestra ensaiam.. (Foto: Juliana Borges) graves e se reúnem uma vez por semana para ensaiar como orquestra. Thalia Aparecida Oliveira, 14 anos, frequenta a organização social desde que tinha 4 anos de idade. Ela ingressou na creche, seguiu para o programa do Centro da Criança e do Adolescente e passou a integrar a orquestra quando tinha 10 anos, tocando percussão. Apesar de não desejar seguir carreira na música, Thalia pretende continuar praticando o instrumento quando se formar. “Aqui eu aprendo várias coisas, já fiz treino de vôlei, mas o que eu me importo mais aqui é com a percussão porque eu gosto muito, sempre quis tocar e acho que a Unibes me deu essa oportunidade”, relata a estudante. Amiga de Thalia, Ingrid Mayara Dominguez, 15 anos, também frequenta a Unibes desde a creche e toca na orquestra há pelo menos quatro anos. “Primeiro eu comecei no

violino, depois enjoei, fui para o trompete e depois fui para a percussão. Acho que estou há mais de quatro anos na percussão. É o que eu gosto”, diz Ingrid. Ela não pretende seguir carreira na área musical, pelo contrário, sua ambição é se formar em Direito, mas considera um privilégio participar da Unibes. “Para mim é um privilégio muito grande, a gente tem valores, várias atividades que crianças lá fora querem”, diz ela. Tanto Thalia quanto Ingrid revelam que as apresentações da orquestra sempre deixam as mães emocionadas. “Sempre que tem apresentação ela vem e me vê tocando. Sempre se emociona. Ela gosta muito”, afirma Thalia. “Minha mãe adora, toda vez que tem apresentação ela vem aqui e sempre se emociona”, diz Ingrid. Outros alunos optaram pela continuidade, de acordo com o coor-

denador do projeto. “Começamos a ter alguns casos de alunos que já prestaram faculdade e que estão dando aula em conservatórios. Muitos estão ligados à igreja e continuam tocando lá”, diz André. Ele aponta que alguns alunos que se destacaram. “O Alan prestou o Centro Tom Jobim e está fazendo agora. Tem a Mayara que está fazendo licenciatura de música na USP e tem alguns outros ex-alunos que estão tocando, ainda não fizeram faculdade, mas estão tocando na ativa”, afirma ele. O professor ressalta a importância do projeto no destino dessas crianças. “Elas começam a tocar e nós começamos a fazer muitas apresentações. Quando chegam aos 15 anos elas acham que podem tocar violino, mas também pensam ‘eu posso ser advogado, eu posso ser médico. Por que não se eu consegui tocar violino?’”, diz André Freitas.


Educação

29

Programa EJA muda vida de jovens e adultos

Volta ao estudo abre portas para a profissionalização Matheus Matos O EJA (Educação de Jovens Adultos) é um programa de estudos destinado a jovens e adultos que desejam concluir o Ensino Fundamental e Médio oferecido pelo ensino estadual de São Paulo. Para Alessandra Brito, coordenadora do programa EJA da escola E.E. Frei Paulo Luigi, essa é uma ótima oportunidade para aqueles que desejam conquistar um diploma. “Muitos deles não são de São Paulo, vieram de outros estados, principalmente do Nordeste, além de imigrantes bolivianos. Esses grupos não tiveram oportunidade de se dedicar aos estudos, agora, com o EJA, eles têm a chance de se dedicar e, assim, dar um novo horizonte para suas vidas”. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), de 2010 a 2016, a maioria dos estudantes matriculados no EJA pertence a duas faixas etárias, com idades entre 20 e 24 anos ou mais de 40 anos. Para a entidade, um dos grandes desafios do programa é criar um sistema que possa atender de modo satisfatório um grupo de estudantes tão diverso.

Ao ser questionada sobre os desafios do EJA, Brito ressalta a necessidade de o governo investir mais no programa, uma vez que tem sido registrado um aumento no número de estudantes inscritos nas aulas, principalmente na faixa dos 40 a 50 anos. Além disso, a coordenadora enfatiza a maior dificuldade enfrentada por esses alunos: os problemas pessoais e a falta de tempo. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), 42,7% dos oito milhões de brasileiros que frequentaram classes de EJA até 2015 não concluíram o curso. Enquanto isso, as matrículas também caíram. Anteriormente o número de estudantes inscritos era de 3,5 milhões, ano passado foi de 2,8 milhões. Para Brito a dedicação aos estudos não deve parar por aí. “Para mim, os alunos devem terminar o curso e ingressar em uma faculdade, não parar apenas no ensino médio. Com um curso superior eles podem se qualificar em uma profissão e alcançarem novos objetivos no mercado de trabalho”. No final da entrevista, a coordenadora contou que convive

Clovis Ortolani, aluno do EJA. (Foto: Matheus Matos) todos os dias com histórias dos alunos do EJA. “Alguns deles vêm estudar alcoolizados, ele vivem em abrigos, trabalham, são catadores de lixo. Então eles vêm para a escola porque querem aprender, mas acabam chegando alcoolizados aqui”. Antônia Maria da Silva, 50 anos, contou que não estudava no Paraguai, onde morava, porque tinha que trabalhar. “Troquei a caneta por inchada. Eu era muito pobre e tinha que trabalhar”, citou Antônia. Contou que implorou para o pai que queria voltar a estudar, mas o pai não deixou. Ela tinha que trabalhar. Então, aos 22 anos,

Antônia foi até seu pai e disse que precisava sair de casa para voltar aos estudos, pois não sabia nem ler e nem escrever direito ainda. A partir daí ela partiu para São Paulo. Sua irmã, Marisa, disse: “Antônia, vamos estudar?’’. Mas ela tinha vergonha, porque havia muitos jovens. “Eu tinha medo. Achava que o professor iria brigar comigo. Eu era extremamente tímida, não conseguia me encaixar”, contou Antônia. Ela teve seus dois filhos e parou de estudar para poder cuidar das crianças. Mas depois de um tempo, decidiu


30 retomar os estudos. Antônia conta que enfrentou diversas dificuldades, até que soube da existência de uma escola com sistema para Jovens Adultos. Foi então que ela decidiu retomar os estudos. “Se não fosse o EJA, eu não iria conseguir terminar meus estudos. Muitas pessoas precisam do EJA”. Antes de conhecer o EJA, Clovis Ortolani, 65 anos, disse que não sabia nem preencher uma ficha. “Eu me via em uma condição de semianalfabeto”. Diz que teve que trabalhar desde sua adolescência e que não tinha condições, e acabou

Observatório deixando os estudos para segundo plano. Mas sua irmã, que era professora, acabou o incentivando a voltar aos estudos. “Entrei no EJA e consegui me desenvolver melhor. Até que decidi fazer o Enem”, disse Clovis. Ele teve uma grande pontuação, só acabou perdendo em matemática. Clovis tirou 800 pontos em sua redação. E ainda diz: “O EJA foi muito importante para mim porque tive um encontro com a carteira escolar. É muito gratificante”. Ele contou que só voltou aos estudos porque queria ter um bom conhecimento. E para não ficar mais inibido

Pari

Antonia Maria da Silva, vendedora e aluna do EJA. (Foto: Matheus Matos) quando precisava assinar um documento: “Agora eu posso dizer

Anúncio

que eu tenho pelo menos o segundo grau. Não passo mais vergonha”.


Educação

Poluição no Rio Tietê prejudica moradores

31

População reclama da falta de saneamento básico na região

Beatriz Cunha Há anos o Brasil enfrenta dificuldade para despoluir os rios do país. Um dos maiores e mais importantes, o rio Tietê, não fica fora disso. Parte dele corta o bairro do Pari, região central de São Paulo, o que resulta em queixas da população devido a problemas respiratórios e mau cheiro. Para tentar diminuir a poluição, foi estabelecido em 1991, pelo Governo do Estado de São Paulo, o Projeto Tietê que tem como objetivo diminuir a carga poluidora da atividade urbana. Para isso, é necessária a execução de um conjunto de ações integradas nas áreas de abrangência dos afluentes do Tietê, de modo a buscar o saneamento da bacia como um todo. Segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), no âmbito do saneamento, o tratamento de despoluição do rio Pinheiros não é isolado, ou seja, as ações necessárias à infraestrutura de coleta e

Rio Tietê prejudica a saúde dos moradores. (Foto: Beatriz Cunha) tratamento na bacia do Pinheiros são também objeto do Projeto Tietê. Desde o lançamento, o governo gastou cerca de US$ 2,5 bilhões em investimentos, e apesar de uma melhora significativa de 87% de tratamentos de esgoto, a população que mora em torno da região do Pari ainda sofre com o mau cheiro. Segundo a dona de casa Rita Xavier, 52, moradora há 6 anos do Pari “em época de chuva o cheiro fica insuportável, quando não chove já é ruim, mas quando chove fica tudo pior, tem que se acostumar. Infelizmente eu já me acostumei, mas, vou fazer o que né? E depois que me mudei para cá, eu e meus filhos começamos a ter renite e bronquite por conta do mau cheiro” O órgão explica que há cerca de 4.000 quilômet-

ros de tubulações enterradas com a função de coletar os esgotos gerados e transportá-los até as estações de tratamento. Além disso, a capacidade instalada do sistema de tratamento de esgotos foi duplicada, prevista para o fim deste ano a conclusão de mais uma etapa de ampliação, capacitando o sistema a tratar 24.500 litros por segundo de esgoto. Em 1992, do total de 70% do esgoto coletado, apenas 24% era tratado. Plano de ação A Sabesp conclui que, para a efetiva despoluição dos rios, é necessária a atuação de outros agentes com planos e ações específicas nos diversos fatores que influem na poluição dos rios. Podemos destacar: saneamento básico,

poluição industrial, controle de resíduos sólidos, poluição difusa (lixo que é jogado nas ruas (bitucas e maço de cigarro, papel de bala, panfletos de propaganda, embalagens e sacolas plásticas) como causas determinantes para a condição. A CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), responsável pela coleta de dados que medem a qualidade da água, do ar e do solo, relatou que a qualidade do rio Tietê pode ser recuperada substancialmente com a universalização da coleta e tratamento dos esgotos domésticos, cuja meta do governo estadual para todos os municípios do estado de São Paulo é 2020. Procurado para falar sobre a situação, a Subprefeitura da Mooca, responsável por atender a região do Pari, não quis se posicionar sobre o assunto.


32

Observatório

Altas temperaturas afetam a vida de moradores do Pari

Pari

Tradicional bairro da zona leste é um dos mais quentes da capital. Cidade sofre com fenômeno chamado “Ilha de Calor” Arthur dos Reis O termômetro marca 31 graus, o tempo seco aumenta sensação térmica. O calor incomoda quem caminha pelo bairro, onde procuram uma calçada com sombra para fugir do sol. Essa situação poderia descrever qualquer bairro da capital paulista, que sofre com as altas temperaturas, porém a cena acontece no bairro do Pari, na zona leste paulista, e uma das regiões mais quentes de São Paulo. A maior cidade da América latina sofre com um problema típico das grandes cidades do mundo, a “Ilha de Calor”. Com o excesso de impermeabilização do solo com construções de casas, prédios e indústrias, o concreto e asfalto retém maior quantidade de calor, que não se dissipa no ambiente. Com a falta de áreas verdes e emissão de poluentes, o calor retido faz com que a cidade se transforme em um bolsão de calor, afetando principalmente em regiões centrais e industrializadas. Segundo

dados do Atlas Ambiental do Município de São Paulo, realizado pela prefeitura em 2002, a temperatura pode variar quase 10 graus do Pari ao Grajaú, na zona sul da capital (mapa). Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o efeito do calor não afeta apenas durante o dia. A noite, todos os gases e edificações dificultam o resfriamento da superfície, fazendo com que as madrugadas sejam mais quentes. Segundo o professor Augusto José Pereira Filho, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP) e coautor do artigo “Evolução Climática na Região Metropolitana de São Paulo”, de 2005, houve aumento de 395 milímetros de chuva na média anual e 2,1°C na temperatura na capital paulista nos últimos 70 anos “O problema passou a afetar a cidade no pós-guerra, a partir da década de 50 e 60, quando a cidade passou a se desenvolver e aumentar demograficamente”.

Temperatura aparente da superfície da cidade de São Paulo, em setembro de 1999. (Foto: Atlas Ambiental do Município de São Paulo) Morador do bairro de Santana, o comerciante Edison Lombardi Ventura, 70 anos, viveu seis décadas no Pari, onde cresceu. Para ele, existe diferença de temperatura entre os dois bairros. “O calor está aumentando cada vez mais. Em Santana é mais fresco que aqui”. No bairro da zona norte, a temperatura pode ser até 2°C mais baixa que na região central. Para o meteorologista do Clima Tempo, Cesar Soares, o excesso de calor concentrado faz com que haja pancadas de chuvas mais fortes em São Paulo. “Conforme os anos, São Paulo deixou de ser a terra da garoa e passou a ser a terra dos temporais no fim de tarde”. As enchentes se tornam um problema grave para a cidade, com a drenagem

da rede de águas pluviais não suportando a quantidade de água das chuvas. Pior para quem mora em áreas de risco. Reduzir o efeito da ilha de calor não será uma missão fácil. Para especialistas, a solução seria aumentar a quantidade de áreas verdes no bairro comercial do Pari. “A solução seria mais áreas verdes e a construção de piscinões” diz Pereira Filho. “A melhor forma para você amenizar a ilha de calor é aproveitar o uso do solo de uma maneira ecologicamente correta. Em uma cidade como São Paulo, a utilização de parque, áreas verdes é fundamental”, completa Soares. “A solução seria colocar um ventilador bem grande, porque aqui não tem jeito” brinca Edison Ventura.


Tecnologia

Hospital é centro de referência tecnológica

33

O HPARI também é reconhecido pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Clara Cerioni Há pouco tempo era impensável para os moradores do Pari, zona central da capital paulista, terem acesso no seu bairro a um centro médico que atendesse pelo SUS e que além disso, fosse referência em cirurgias com equipamentos tecnológicos. Especializado em ortopedia e traumatologia, o Hospital Nossa Senhora do Pari foi fundado há mais de 30 anos, mas os investimentos em tecnologia só começaram em 2010. “Faz só seis anos que me lembro do vereador Adilson Amadeu nos dando por meio de uma emenda ao orçamento do município, um raio-x computadorizado. Antes disso, trabalhávamos apenas com o básico do básico. Depois disso outros vereadores incentivaram a conquista de novos equipamentos”, explica o chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia, doutor Antônio Guilherme Padovani. O raio-x computadorizado foi, entretanto, só o pontapé necessário para que o HPARI, como é conhecido, investisse cada vez mais em equipamentos que facilitem e assessorem o trabalho dos médicos. Como

Fachada do hospital Nossa Senhora do Pari. ( Foto: Clara Cerioni) é o caso da microcirurgia de mão realizada no hospital e das próteses oferecidas. O cirurgião Edson Fujita, especialista em microcirurgia de mão, explica que lesões nas mãos ganharam nos últimos anos uma abordagem especializada e competente. “Esses tipos de cirurgias necessitam, além de um conhecimento anatômico detalhado, técnicas de cirurgia de alta precisão, uso de implantes resistentes, mas ao mesmo tempo delicados e um pós-operatório diferenciado. Aqui no HPARI só é possível realizarmos essa cirurgia por conta da ajuda que os avançados equipamentos dão aos médicos”, completa. Além da microcirurgia de mão, Padovani explica que dentro das especialidades do cen-

tro médico, o que mais se destaca (em paralelo com a cirurgia de mão) são as próteses, que por conta de seus aprimoramentos tecnológicos, permitem uma melhor adaptação dos pacientes à nova vida. Todo esse direcionamento de esforços para transformar um hospital público em referência ortopédica trouxe para o HPARI uma das melhores notas do Ministério da Saúde do Governo Federal (9,1), o reconhecimento da SBOT – Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e da população de São Paulo – tanto que em 2015, 45% de todas as cirurgias de fêmur realizadas na cidade foram feitas pelo centro médico do Pari. Vanessa Fonseca, que utilizou a estrutura do hospital quando seu

pai quebrou o fêmur, garante: “O atendimento é maravilhoso, meu pai foi cuidado com excelência, sua cirurgia foi rápida e sem complicações e sua recuperação foi tranquila. Sem contar que a equipe é muito dinâmica e é visível o comprometimento com o público. Gostaria que todo atendimento público fosse como esse”. O emprego das verbas O dinheiro que entra, que não é muito, mas é suficiente, vem da Secretaria Municipal de Saúde, que recebe o repasse do Governo Federal e de algumas parcerias já estabelecidas como do Hospital Ifor, especializado em patologias da coluna vertebral, da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) e do Hospital A.C Camargo, centro de pesquisa em câncer.


34

Observatório

Pari

Nova tecnologia chega ao comércio do Pari

O “Root” é o um novo aplicativo que facilita comunicação entre empresa e clientes Suellen de Andrade O tradicional bairro do Pari, conhecido pelo seu comércio de atacado e varejo, traz uma novidade para os clientes que passam diariamente por ali. A loja de atacado e varejo Izam, localizada na principal rua do Pari, na rua Vautier, traz ao mercado um aplicativo inovador aos seus clientes para a compra de seus produtos. Trata-se de um aplicativo batizado de “root” que é similar ao conhecido Whatsapp. Esse aplicativo também permite que os clientes adicionem o telefone da loja e interajam com os funcionários solicitando vídeos e fotos dos produtos, podendo acompanhar os pedidos e enviar anexos de pagamento. Há mais de 15 anos no mercado, a Izam atua como atacadista e distribuidora de diversos produtos, nos segmentos de brinquedos, utilidades domésticas, ferramentas, artigos natalinos, escolares dentre muitos outros. Diante do mercado competitivo e repleto de mudanças, a empresa está atenta às tendências e busca inovações para

surpreender seus clientes diariamente. “Foram pouco mais de um ano de pesquisas para testar a viabilidade do aplicativo. Pensamos que nossos clientes fossem rejeitar a ideia, mas aos poucos as solicitações para adicionar ao aplicativo triplicaram, tanto que hoje deixamos as televendas responsáveis pelo pós-atendimento, e damos aos nossos clientes e também fornecedores uma nova forma de comunicação, com mais rapidez e eficácia”afirma o diretor de marketing e tecnologia Marcelo Guimarães.

Inovação permite acompanhar pedidos e comunicar pagamentos O novo aplicativo trouxe mudanças também ao funcionários que passaram a trabalhar com homework atendendo as demandas, que, segundo Marcelo, “triplicaram com o root, e devido à

Aplicativo “Root” impulsionou comércio na região do Pari. (Foto: Jéssica Magalhães) comodidade, a tendência é aumentar”. O comerciante Antônio de Souza, comprador há quase uma década da loja, aprovou a nova tecnologia: “Traz conforto e rapidez, gera confian-

ça maior para comprar e poder acompanhar a entrega”, garante. Com a inovação, a Izam tornou-se referência em atendimento diferenciado ao adotar essa nova forma de comunicação.


Tecnologia

35

Aplicativo ajuda a combater Aedes Aegypti

Para evitar focos de dengue, chikungunya e Zika Vírus, a empresa Colab cria novo aplicativo Natalia Torres

Tendo em vista que a epidemia de dengue se espalha rapidamente por todo o país, a empresa Colab, de São Paulo, teve no final do ano passado a ideia de criar o “Sem Dengue”. Um aplicativo em parceria com mais de trinta Prefeituras em todo Brasil, no qual os próprios cidadãos podem informar os focos do mosquito da dengue em seus bairros. Segundo balanço da Secretaria Municipal de Saúde, Pari é o bairro com maior incidência de casos de dengue no estado de São Paulo. O índice de 341,3 ocorrências para cada 100 mil habitantes, e é 13% acima do que já é considerado epidemia, fazendo com que o bairro entrasse em estado de emergência. O aplicativo funciona da seguinte forma: o morador fotografa o ponto onde acredita que possa haver foco do mosquito transmissor da dengue, Zika vírus e da febre Chikungunya e envia a foto pelo aplicativo, que é enviada simultaneamente para as equipes de monitoramento de vigilância sanitária. Após receber todas as informações enviadas pelos usuários, a Prefeitura direciona sua equipe

para ação de eliminação dos criadouros. O relator ainda pode continuar acompanhando o trabalho dos vigilantes pelo próprio aplicativo. Ana Clara Ferrari, coordenadora de comunicação do SUS, explica: “o Colab entra com a concepção da plataforma e a ferramenta; e a Prefeitura organiza a estrutura interna de modo a incluir o aplicativo no monitoramento oficial da situação da dengue na cidade.” A moradora, Karolina Viana (19) sempre morou no bairro e ainda não conhecia o aplicativo “Sem Dengue”. “ É uma ideia muito boa e necessária, principalmente nos dias de hoje, onde já viu vizinhas próximas pegarem dengue”, falou Karolina. Segundo Daniel Drumond, gerente do Colab, com a tecnologia ao nosso favor, tanto os cidadãos, como a prefeitura saem ganhando:” [...] por um lado, há uma otimização dos processos burocráticos da gestão pública, reduzindo muito a demora para a resposta de problemas estruturais da

cidade e aumentando muito o número de resoluções de demandas em comparação com os métodos convencionais, como o 156. De outro, há uma ampliação da participação do cidadão na gestão do município, do sentimento de coletividade e de cuidado com a cidade, tendo um potencial de transformação bastante profundo na sociedade”. Com o uso do aplicativo, uma série de ações integradas que visam combater a dengue como campanhas de conscientização, ações de bloqueio, teste rápido, visita casa a casa, ajudará a combater a dengue. “Há queda de 81%

dos casos de dengue nos três primeiros meses de 2016 em relação ao mesmo período do ano passado. O diferencial do aplicativo é a instantaneidade e a possibilidade da criação de um mapa rápido de calor que permitem visualizar uma situação grave em potencial e tomar as medidas cabíveis”, como nos conta Ana Clara. Além de reportar mais de 5 mil focos de dengue em todo o Brasil, sendo mais de 2 mil só em São Paulo, o aplicativo Sem Dengue ainda oferece ao usuário dicas sobre como combater o Aedes Aegypti, e informações sobre as doenças que o mosquito pode causar.

Usuário do app “Sem Dengue”. (foto: Natalia Torres)


36

Observatório

Pari

Tratamento de efluentes permite reúso de água Com projeto de 2 milhões de reais, Shopping D trata 100% do esgoto gerado no centro de compras

Thais Gomes Implantada no início deste ano pelo Shopping D no bairro do Pari, a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), vai permitir o tratamento de todo esgoto produzido nas dependências do centro de compras. O shopping já conta com um moderno sistema de captação de água, em funcionamento desde 2011, que produz aproximadamente 8 mil m³ de água por mês e agora conta com um sistema ainda mais inovador na área de tratamento de água e esgotos que permite o reuso de todo volume de efluentes. Limpeza de dejetos O projeto, orçado em R$ 2 milhões, é da empresa General Water que já oferece esse tipo de serviço a outros shoppings da capital paulista. O processo para limpeza dos dejetos é feito totalmente dentro de circuitos fechados, conta Janaína Pereira, assessora de comunicação do estabelecimento. “Uma série de processos mecânicos e químicos limpa a

Estação de tratamento de água do shopping D. (Foto: Thais Gomes) água, que é usada apenas para fins não potáveis, como descargas sanitárias, processos industriais, irrigação, lavagem de pátios de estacionamento, entre outros”, conta Janaína. Com o funcionamento do sistema de tratamento de dejetos, há uma adição de 2 mil a 3 mil m³ de água, ampliando ainda mais a independência do Shopping em relação ao sistema de fornecimento de água normal. Juntas, as estações de captação de água e a estação de tratamento de efluentes ajudam também na contribuição social no Pari, como conta o superintendente do Shopping Wilson Pelizaro. “Além da autonomia no abastecimento e da economia financeira, o Shopping D contribui com

a sociedade na medida em que deixa de consumir água potável da concessionária, reduzindo pressões sobre os mananciais”, diz.O shopping mantém parcerias para ações que visam a conscientização sobre o uso consciente dos recursos naturais. O morador local Luiz Viana, conta que após a crise hídrica dos últimos dois anos, esse tipo de serviço se tornou essencial para o paulistano. “É complicado ver pessoas que levam esse tipo de problema a sério. Água não é um bem renovável e enquanto as autoridades tapam os olhos para o problema, cabe a nós, moradores do bairro nos conscientizarmos para evitar o pior”, ele ainda completa.

“Uma série de processos mecânicos e químicos limpa a água, que é usada apenas para fins não potáveis, como descargas sanitárias e processos industriais”


Tecnologia

Robótica: das salas de aula aos campeonatos

37

Disciplina diferenciada traz, além da inovação no currículo escolar, a oportunidade de participar de grandes eventos Luiz G. Viana

Divididos em duas modalidades denominadas de “rescue” e “dancing”, os alunos do colégio Sant Clair participaram das olimpíadas de robótica no ano passado, e garantiram uma vaga na ROBOCUP, evento que abrange toda a América Latina, e acontecerá em julho deste ano. A criação dos robôs ou “Robots”, como são chamados pelos alunos, respeita categorias que vão desde o entretenimento até a utilidade pública, como é o caso do robô apelidado de “Savers”, um simulador de resgate e que auxilia em diagnósticos. Kaiky Santiago, um dos membros do grupo responsável pela criação do “Savers”, conta como surgiu a ideia. “Pelo fato do meu irmão caçula ter contraído uma bactéria após nossa casa ter sido invadida por uma enchente, sugeri que o tema do nosso trabalho fosse esse, pois a minha família só descobriu a infecção do meu irmão um pouco tarde e na hora não associamos à enchente. O nome é justamente para remeter a salvamento”. A professora Cristina Coelho comenta como essa tecnologia contribuiu para o bairro: “Nós testamos o ‘Savers’ em casos de infecções de

pele e respiratórias onde um scanner verifica pela saliva da pessoa ou por uma biopsia, se foi contraído alguma bactéria. A ideia é aplicar nas vítimas das enchentes algo que infelizmente ainda é recorrente na região. O diagnóstico ainda é muito simples, e solicitamos o auxílio de um médico infectologista para aprimorarmos o projeto e colocarmos em prática. Antes é claro, teremos uma autorização dos órgãos responsáveis para efetivá-lo nessa função.” A diretora de pedagogia do colégio, Lucia Fasito, comenta a importância dessa matéria tão diferenciada em relação à grade de outros colégios

da cidade: “A disciplina de robótica é um enorme diferencial nosso, além de atrair a atenção dos pais, contribui para o crescimento intelectual de nossos alunos. Essa disciplina influência positivamente nas matérias, como em matemática por exemplo.” O robozinho “Savers” é composto por sucata, scanner de sensibilidade óptica, tinta de longa duração e, além da bateria de 220 volts, possui uma placa solar. Esse material vem, em grande parte, de doações de grandes empresas e a outra parte é adquirida pelo colégio. Porém, a professora Cristina ressalta: “To-

dos os projetos iniciais que são elaborados em sala de aula são feitos com materiais reciclados e de baixo custo. O investimento do colégio e dos patrocinadores são exclusivos para as competições.” Além do “Savers” que competirá na categoria “rescue” o colégio irá apresentar o robô “Electro” na categoria “dancing”. Para divulgação aos moradores do bairro, o colégio, além das redes sociais, possui anualmente a “Feira de Robótica” que ocorre sempre entre outubro e novembro. A entrada é livre para quem quiser ter contato com a tecnologia robótica da região, desenvolvida pelos alunos.

Robô “saves” em módulo de atividade. (Foto: Luiz G. Viana)


38

Observatório

Pari

A tradicional festa de Santo Antônio

A festividade mais popular do bairro completa 102 anos Rafael Rocha Em 1914, Dom Duarte Leopoldo inaugurou a Paróquia de Santo Antônio do Pari. Quatro meses depois, o sacerdote reuniu fiéis da comunidade para a primeira Festa de Santo Antônio do Pari. Naquele junho de 1914 foram distribuídos pães bentos, tradição que o Frei José Rolim trouxe de Portugal. Nos anos seguintes, os próximos freis a assumirem a paróquia foram mantendo a tradição. Em 2014,a festa completou 100 anos com 60 mil visitantes por ano. Santo Antônio é conhecido por ser o santo casamenteiro e ajudar os fiéis a encontrar objetos perdidos. Segundo o frei Germano Anacleto, 66, pároco, Santo Antônio ficou conhecido como casamenteiro depois de ajudar uma moça pobre a encontrar um marido. ‘’Naquela época só se casava uma moça

se a família tivesse um bom dote para oferecer ao noivo e aquela moça pobre não tinha nada e pediu ajuda a Santo Antônio, que conseguiu o casamento tão esperado’’ disse o frei. Para Anacleto, o mérito do sucesso da festa de Santo Antônio do Pari não se dá aos padres e aos voluntários que organizam a festa, e sim à fé que a população tem no santo, um dos mais populares do mundo,que por conta dos inúmeros pedidos realizados, se tornou um sinônimo de esperança para seus devotos fiéis. Wanda Costa, 75, coordenadora das voluntárias que confeccionam o famoso bolo de Santo Antônio, diz que ajuda na organização da festa há 36 anos e que começou quando fez uma promessa para Santo Antônio salvar sua filha recém-nascida. ‘’Pedia muito a Santo Antônio que curasse minha filha

Silvia Lourenço e a equipe que confeccionava sonhos antes de irem para a equipe do bolo.. (Foto: Divulgação)

Paróquia de Santo Antônio do Pari, uma das construções mais antigas do bairro. (Foto: Rafael Rocha)

e dia 11 de junho ela foi internada e fizeram um procedimento nela que a fez cuspir toda a água e o sangue que estavam no pulmão, dois dias depois ela estava melhor e dia 13 foi a primeira festa de Santo Antônio que eu participei, depois disso nunca mais parei’’, disse. Wanda coordena uma equipe de 30 senhoras que confeccionam a massa do bolo e três dias antes levam para a paróquia para outros voluntários confeitarem. O bolo, depois de pronto, mede

150 metros e é o produto mais vendido das festas. Silvia Lourenço, 74, cresceu no bairro do Pari e conta que desde sempre frequentava a Paróquia, mas há apenas 35 anos começou a ajudar na organização da festa. ‘’Era do quentão e ajudava na barraca, mas depois me convidaram para ajudar no bolo, pois eu sempre tive doceria’’, disse. A festa acontece na Paróquia de Santo Antônio do Pari, na Praça Padre Bento, 13, no bairro do Pari, em São Paulo.


Cultura

Dança boliviana, o Kantuta, une culturas

39

Grupo de dança contribui para a adaptação de bolivianos Renan Dantas

Dançarina de Kantuta em apresentação no Pari. (Foto: Renan Dantas) Você já ouviu falar na Kantuta? Inspirado na flor nacional boliviana Kantuta, o grupo de dança criado em 1982, formado por 160 integrantes, já agrega diversas famílias com projetos que auxiliam suas vidas no Brasil. Uma das danças que são apresentadas pelo grupo é a caporales. Os dançarinos se apresentam na E. E. Frei Paulo Luigi, localizada na Avenida Carlos de Campos, no bairro do Pari, durante os finais de semana, aos sábados das 14h às 17h e aos domingos das 10h às 14h. A caporales é uma dança tradicional da cultura boliviana, que nasceu em 1969, em La Paz. O traje típico apresenta o homem com a vestimenta de um chapéu largo, com camisas folgadas, botas e um chicote. Já as mulheres utilizam um vestido com mangas compridas. Durante a dança as jovens fazem movimentos

sensuais, enquanto os homens realizam movimentos ágeis. A escola é aberta para o público, onde é possível conhecer o projeto e até mesmo fazer parte dos eventos. Debora Romero Maita, de 20 anos, revela que as pessoas podem participar do grupo e frequentar os ensaios. “Cheguei há quatro anos, por meio de minha irmã mais velha, que desde sua infância tinha o desejo de aprender a caporales”, comenta Maita. Filha de bolivianos, Débora e suas irmãs nasceram no Brasil, lugar que encontraram para viver e aprender mais sobre as suas origens no Kantuta. “Além da caporales, existe a preocupação de receber os bolivianos que vem todos os meses para o Brasil para trabalhar (...) NoKantuta é possível aprender o português, oferecer apoio as famílias e auxiliar no desenvolvimento pessoal

no Brasil”, complementa. Kelly Romero Maita, de 19 anos, grávida, comenta que após o nascimento de seu filho, deseja que sua criação seja efetuada dentro dos costumes bolivianos, dentre eles a dança caporales. “Sou apaixonada por essa cultura, acredito que será um orgulho meu filho participar dos mesmos hábitos realizados no Kantunta. Mesmo grávida, não pa-

rei de frequentar as experiências dos conhecimentos bolivianos”. De acordo com IBGE, em 2000 eram cerca de 6 mil bolivianos, em 2010 o número aumentou para 17.960. O crescente desenvolvimento populacional dessa etnia proporcionou a união das culturas, o que garante a maior procura de qualidade de vida e a permanência de suas raízes culturais.

Cursos agitam principal biblioteca do Pari Gabriel Freire

A Biblioteca Aldepha Figueiredo não conta só com livros como opções, além disso, ela oferece cursos orientais, teatro e até sarau. Segundo os funcionários, o número de frequentadores vêm caindo muito em decorrência, por exemplo, do fácil acesso a informações pela internet, além do baixo incentivo oferecido pelo Governo Estadual. Hoje no Brasil vimos uma parte da sociedade que se importa muito com a leitura, mas na Aldepha Figueiredo o número de frequentadores caiu mesmo com os cursos oferecidos pela biblioteca. Atualmente em algumas bibliotecas é oferecido ao frequentador o acesso à internet

para realizar cursos, um serviço que não é oferecido na biblioteca do Pari. A falta de fiscalização e divulgação por parte do governo do estado está afastando a população da biblioteca. Atualmente ela tem cursos de teatro, aulas orientais e saraus, no último sábado de cada mês. Hoje o curso mais procurado na biblioteca é o de teatro e também o sarau que vêm movimentando bastante o dia-a-dia do local. Segundo informações de uma das funcionárias, o cadastro dos visitantes é feito quando há algum interesse, mas mesmo a biblioteca fazendo esse tipo de trabalho ainda enfrenta dificuldades para aumentar o fluxo no dia-a-dia.


40

Observatório

Pari

Feira Kantayuta atrai visitantes ao Pari

Imigrantes divulgam a cultura boliviana através da gastronomia, artesanato e música Thaina Stein

Feira Kantayuta. (Foto: Thaina Stein) Feira boliviana, localizada no bairro do Pari, atrai todos os domingos um grande número de pessoas de diversos públicos, porém 80% são bolivianos que moram na cidade de São Paulo, que hoje em dia representam o quinto maior grupo de imigrantes que vivem no Brasil. Contando com diversas barracas típicas, como tradicionais pães, grãos e guloseimas, como por exemplo o milho negro ou milho roxo, que é conhecido e indicado para reduzir sintomas inflamatórios, uma outra coisa que se encontra com facilidade na feira é também o chá de coca ou a folha de coca, conhecida por ser um item muito nutritivo e muito

eficaz para prevenir a osteoporose. O espaço é cedido pela prefeitura de São Paulo, mas os verdadeiros organizadores são as próprias pessoas que trabalham nas barracas e que desejam trazer ao Pari um local aconchegante para os imigrantes e novo para os paulistanos. Um dos colaboradores da feira, Rene Quisbert afirma que o público varia muito, mas o grande alvo dos próprios organizadores é sem dúvida os bolivianos, que querem sentir um pouco da sua cultura no Brasil, principalmente na parte da culinária. Porém, o número de imigrantes no Brasil está aumentando de

forma consistente e tende a crescer ainda mais nos próximos anos. Com isso, é muito comum encontrar na feira famílias miscigenadas, como foi o caso do casal Kenny Tola e Maria Lucia, que se conheceram enquanto Kenny viajava ao Brasil a trabalho. O estrangeiro afirma, “moro no Brasil há 10 anos e não visito muito meu país, venho na feira Kantuta sempre que posso ou quando sinto muita saudade da minha cultura. O que mais sinto falta é da comida e vir aqui é sempre muito reconfortante, pois além de saborear coisas simples da Bolívia, ainda consigo levar para casa coisas que não se acham tão fácil no Brasil, como meu querido chá de coca e diversos

outros temperos”. Como grande parte do público da feira Kantuta, é notável a presença de muitos jovens. O paulistano Rafael disse um pouco de como conheceu o espaço, “Eu gosto de andar de skate e nesses intervalos de conversas jogadas fora eu conheci um colega que comentou dessa feira. Nós estávamos próximo e na mesma hora já demos uma passadinha. Fiquei surpreso, pois moro em São Paulo desde que nasci e não sabia desse lugar. Achei bem bacana, sinceramente, pois agrega cultura ao bairro, além de proporcionar ao povo paulistano um pouco mais desses costumes tão presentes e tão pouco conhecidos.”


Cultura

O passado de São Paulo sobre trilhos

41

A história e nostalgia dos tempos em que o bonde era o principal meio de transporte do paulistano Fernando Morales Você já imaginou como era o transporte público quando o bonde era o principal meio? Será que era seguro? Atendia toda a população paulista? Quer descobrir? Embarque nesta viagem ao passado. O Brasil é um dos pioneiros quando o assunto é bonde. Fomos o segundo país a usá-lo como um meio de transporte. O primeiro veículo do tipo a entrar em circulação ficou conhecido como Bonde de tração animal, que transportou os paulistanos de 1982 a 1900. O museu do transporte, localizado na Av. Cruzeiro do Sul, mostra como era a realidade do bonde em São Paulo. O administrador do Museu, Henrique Di Santoro Júnior, comenta que o bonde representava boa parte do transporte na capital paulista. “No passado, nós tínhamos os bondes que representavam, aproximadamente, 900 quilômetros da rota que era feita em toda cidade de São Paulo. A metrópole, basicamente, a partir do ano de 1900, era atendida

pelos bondes”. Sônia V a l d i v i e z o , 70 anos, utilizou o bonde e comenta que naquela época era um meio de transporte calmo e aberto, onde você podia ver a paisagem e observar as pessoas. “Era bem legal. Como ele andava devagar, conseguia aproveitar e olhar as coisas. Não tinha aquele medo que temos hoje de cair do ônibus quando está em

ficavam sempre perto dos locais importantes e a gente não tinha que andar muito, eram fechados, mas havia uma grande janela, tínhamos impressão de realizar um passeio turístico, porque conseguíamos conhecer praticamente tudo no caminho”. Nos dias de hoje, um usuário comum não tem ideia de como o bonde funcionava. Ricardo Cruz, estudante,

gino que tinha alguém que ficava responsável por cobrar a passagem na hora do embarque”. Os tipos de bondes mais utilizados no Brasil eram os de tração animal, que possuíam 20 assentos, com aproximadamente 5 metros de comprimento, largura de 2 metros e 10 centímetros. Outro exemplo bastante usado era o Bonde Camarão, veículos pintados de vermelho, que ofereciam mais segurança ao passageiro, e foram os últimos modelos a serem aplicados pela CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos).

Serviço:

Bonde fechado tipo Centex exposto no Museu de Transportes. (Foto: Fernando Morales) alta velocidade. Era possível até cumprimentar as pessoas na rua. No momento em que um cidadão subia, e o bonde queria andar, todos gritavam e o transporte já parava. Os pontos também eram bons, porque

comenta sobre como poderiam ser feitas as viagens de bonde: “Eu acredito que as viagens eram mais curtas e desconfortáveis, já que boa parte da estrutura dos bondes foram construídas com madeira. Ima-

O Museu dos Transportes se localiza ao lado do Shopping D, próximo ao Metrô Armênia. Av. Cruzeiro do Sul, 780 - São Paulo – SP. Tel: 3315 - 8884 Visitas: de terça a domingo, das 9h às 17h.


42

Observatório

Pari

A força das mulheres na religião muçulmana

Cerca de 60% dos fiéis brasileiros convertidos no Pari são do sexo feminino Vitória Ruano Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) revelam que cerca de 60% dos muçulmanos brasileiros são do sexo masculino, sete em cada dez novos revertidos (convertidos) ao islã são mulheres. De 2000 a 2010 cresceu 29% da população islâmica no país. No bairro do Pari, cerca de 60% dos fiéis são mulheres convertidas. Cecilia Guaglioni, trabalhadora de tanatopaxia

e convertida ao islã há cerca de 15 anos, participa da Liga da Juventude Islâmica Beneficente do Brasil - Mesquita do Pari (fundada em 12 de janeiro de 1995). “Quando eu me converti a religião, já sabia exatamente o que desejava. No início, procurava os conhecimentos sobre lavagem dos corpos, quando já estava apaixonada pelos ensinamentos, o meu modo de trabalho foi transformado. Antes praticava apenas a técnica, hoje o processo

se ‘humanizou’, passei a me preocupar com o próximo e meu propósito com o serviço passou a criar adjetivos” Os ideais da Mesquita se baseiam nos conhecimentos do Alcorão Sagrado e nos ensinamentos do Profeta Muhammad, a entidade civil, sem fins lucrativos, professa sua fé islâmica para os religiosos do bairro. De acordo com o sheikh Rodrigo Rodriguez, líder religioso da Mesquita, a maior parte dos muçulmanos

Cecília Guaglioni trabalhadora de tanatopaxia. (Foto: Renan Dantas)

no Brasil vivem em São Paulo. Existe cerca de dez mesquitas no Estado, dentre elas o bairro do Pari e Brás. As mulheres representam um papel revelador no desenvolvimento das crenças islâmicas, mas poucos conhecem a força do sexo feminino perante às regras sociais, manifestações e costumes. Elas enfrentam preconceitos no seu dia-a-dia, não apenas no Brasil, mas em diversos lugares do mundo. Na França é negado a uma


Cultura jovem muçulmana o uso do lenço durante as aulas, no entanto, adolescentes de outras religiões podem usar símbolos que representam suas crenças, como por exemplo a cruz (católico) ou o solidéu (judeu). “Independente do preconceito, devemos retornar com amor. Mas é comum o estranhamento nas ruas, pois criam estereótipos por meio de informações incompletas. Quando me converti, fiquei assustada porque foi no momento em que aconteceu o atentado nos Estados Unidos, achei que seria julgada, porém não houve muitas mudanças, apenas a falta de informação sobre o fundamento islâmico”, comenta Guaglioni. No Brasil as mulheres mulçumanas têm o direito de serem fotografadas com lenço, no formato 3x4 da identidade, mas por falta de informações muitos indivíduos não permitem esse costume. “Isso é uma afronta a mulher mulçumana, uma humilhação e desrespeito aos seus costumes”, diz o sheikh Rodriguez. As pessoas associam cultura com religião, montam argumentos e preconceitos sem o conhecimento da identidade islâmica. “Existe preconceito racional, regional e por religiões, que são desenvolvidos por falta de informação e preconceitos estabelecidos por divulgações manipuladoras (...) Há uma cultura diferente

43

Livro do Alcorão. (Foto: Renan Dantas) em outros países islâmicos, mas a essência religiosa se difere desses costumes”, comenta Rodriguez. A religião islâmica prega que não existe distinção entre meninos e meninas. “No Alcorão considera-se que o nascimento de uma mulher é como um presente e benção

As mulheres exercem importante papel no islamismo e enfrentam preconceito em diversos países de Deus. Ela é o símbolo da maternidade e da educação familiar”, complementa Rodriguez, o sheikh.

Aquele que se ocupa da educação das filhas e as trata benevolentemente, estará protegido contra o Inferno” (Bukhari e Muslim). “Aquele que mantém duas meninas, até que elas atinjam a maturidade, ele e eu chegaremos no dia da ressurreição desse modo: e ele juntou seus dedos” (Muslim). As orações são realizadas separadamente. Na Mesquita do Pari as mulheres rezam no andar superior. O líder que conduz a oração é um homem, porém existe um lenço ou algo que os separam para a continuidade das preces. “No nosso cotidiano respeitamos a individualidade, a mulher se arruma para os ‘seus’ e para Deus, e não para os outros. A gente se preserva e preserva o outro. Quando oramos existem posições que seriam desagradáveis de serem realizadas na presença masculina”, complementa Cecilia.

Serviço: A mesquita realizada as cinco orações oficiais: da Alvorada, do Meio Dia, da Tarde, do Crepúsculo e do início da noite. Além disso, são oferecidas aulas religiosas e curso de língua árabe. A mesquita está localizada na Rua Barão de Ladário, 922, divisa do Pari e Brás. Para mais informações, acesse: www.ligaislamica.org.br ou entre em contato pelo telefone (11) 3311-6734.


44

Observatório

Pari

Futebol de várzea é tradição no bairro

Há mais de 80 anos, a Associação Atlética Serra Morena faz do esporte uma atividade sagrada aos domingos Daniele Amorim A Associação Atlética Serra Morena foi inaugurada em 10 de abril de 1929, no Pari, zona central da cidade, como um simples campo de futebol de terra batida, idealizada por um grupo de amigos moradores da região que buscavam um lugar para poder viver sua paixão: o futebol de várzea. Oitenta e sete anos se passaram desde então e o terreno simples tornou-se um dos clubes ícones do bairro. O vice-presidente, Herberth Esteves, conta que o Serra Morena é uma das associações mais antigas de esporte do Pari, perdendo somente para a Estrela do Pari, que é de 1919. Ele relembra a importância de espaços como este para a região: “A gente tem que ajudar a comunidade. Coisa que está diminuindo bastante, os espaços, o futebol de várzea”, reflete. Os times de futebol de várzea do clube se dividem em quatro categorias que realizam seus jogos aos domingos: Sucatão F.C, Master, Veterano e Esporte. Nos outros dias da semana, a associação aluga suas quadras de futebol de salão e de campo para outros times ou para recreação. Apesar de

Associação Atlética Serra Morena em jogo válido pelo campeonato de várzea. (Foto: Daniele Amorim)

tradicionalmente o futebol ser mais praticado, o clube também oferece atividades com o foco na terceira idade, como bocha, dança e ginástica, com preços acessíveis para pagar os instrutores. Um dos membros mais antigos e ex-presidente do clube, Arthur Rodrigues,78, chegou no Serra Morena nos anos 60, após a indicação de um amigo. Uma das coisas mais curiosas que ele conta sobre o clube é o suposto plágio que o

São Paulo Futebol Clube cometeu com o logotipo do Serra Morena: “O São Paulo Futebol Clube, em 1932, plagiou o distintivo do Serra Morena. A única diferença é no distintivo. Um lado é preto e o outro é branco, mas o resto é igual.” O microempresário Lívio Júnior, 31, frequenta a associação desde a infância por influência de seu pai, que possuí uma lanchonete no local. Ele faz parte do Sucatão F.C, time com idades mescla-

das na associação. Ele dá a dica de como alguém pode entrar para o futebol de várzea no Serra Morena. “No Sucatão nós temos uma lista de espera. Nos outros times, gente nova aparece porque é convidada por pessoas que já estão no grupo.” Questionado sobre a possibilidade de algum novo morador da região, que visite o Serra Morena, querer jogar futebol, Lívio responde: “A gente dá uma conversada, mas se não for bom, a gente tira.”


Esporte

Clube Vigor estimula prática de esportes

45

Sem ajuda financeira do governo, programa prioriza o futebol e atende crianças de diferentes faixas etárias Laís Gouveia O Clube Vigor está localizado no bairro do Pari, na cidade de São Paulo, desde 1929. É um espaço cedido pela prefeitura para a realização de atividades esportivas com o foco principal no futebol de várzea, com integrantes de idades variadas, times femininos e masculinos e atividades recreativas, como bocha e carteado. Aos domingos, das 7h às 10h, é colocado em prática o principal projeto do clube voltado para a comunidade.

As crianças se reúnem para treinar futebol, divididas em times mistos. Também estão presentes, orientando o grupo, professores de educação física voluntários. Ao final das partidas, acontece uma reunião da turma para o lanche, com a ajuda de moradores e donos de comércios da região, que preparam tudo. “Alemão”, como é chamado o responsável por administrar as atividades, conta com muito orgulho: “procuro sempre orientá-los e

saber se estão indo bem na escola para que o esporte possa motivá-los a terem um futuro próspero, promovendo a educação e vice-versa”. Para as crianças, o projeto é uma diversão garantida e uma oportunidade para praticarem o esporte em um local seguro e com orientação. “Nós aproveitamos a oportunidade para brincar e treinar, ficamos na expectativa de sermos escolhidos por alguns olheiros que costumam vir aqui as vezes”, relata, entusiasmado,

Renan, de 12 anos, um dos participantes do projeto. A grande m aioria das crianças não têm condições financeiras para alugar quadras ou pagar escolinhas e treinos. O clube também fatura com o aluguel de suas quadras para sessões de treinamento. Os fundos arrecadados têm como finalidade a manutenção das atividades do clube, que não recebe ajuda financeira da prefeitura.

Equipe do time de futebol reunida no Clube Vigor. (Foto: Acervo Clube Vigor)


46

Observatório

Pari

Criado na década de 70, museu pode ser fechado

Falta de investimento coloca em risco espaço que reúne a trajetória da história da Portuguesa Paloma Neri da Silva Atualmente, a Associação Portuguesa de Desportos vem passando por algumas dificuldades financeiras e administrativas, que acarretam problemas para o clube, como o possível fechamento do Museu Histórico. O museu chamado de Dr. Eduardo de Campos Rosmaninho foi criado na década de 70, na gestão do Presidente Dr. Oswaldo Teixeira Duarte, e foi um dos primeiros museus a ser criado voltado totalmente à história de um clube de futebol, assim também como troféus de momentos históricos do futebol brasileiro. O possível fechamento do espaço pode acontecer já que o ginásio onde fica o museu é dividido com a Igreja Renascer, que possui um contrato de aluguel por 10 anos com o clube. Até o momento não havia nenhuma divergência entre ambos, mas os integrantes da igreja pretendem reformar e ampliar o local. O contrato causa desacordo entre eles, já que o local do museu não estava incluído na locação, além da reforma que está ocorrendo e que traz alguns transtornos em relação a preser-

Museu da Portuguesa com jornais, fotografias e troféus pode fechar. (Foto: Paloma Neri) vação das peças. “Não acreditamos ser adequado a mudança do museu neste momento, por tudo que envolve, desde a estrutura que precisa ser modificada e adaptada para um novo local, que tem um custo de reforma. Além de um prazo que, se existisse para a mudança, teria que ser longo. Não pode ser feito às pressas, sem nenhum planejamento, e o museu precisa ter, não somente uma boa estrutura, como também uma visibilidade e segurança, por ter objetos de valor”, declara Rogério Salgado Gomes, colaborador no museu e coordenador de comunicações da Portuguesa.

“Encaro o possível fechamento do museu com tristeza porque a gente não pode esquecer que, apesar de ser o Museu da Portuguesa, carrega boa parte da história do futebol brasileiro”, lamenta Luiz Felipe Rente, colaborador do museu. No seu início, a comunidade tinha uma relação muito forte com o clube, até porque o bairro era de imigrantes portugueses que se identificavam com o ambiente e, com esses problemas atuais, acabou dividindo a opinião dos moradores do bairro sobre a gestão atual. “Em homenagem ao meu pai (português e torcedor da portuguesa desde os

anos 50), que participou da área administrativa do clube nos anos 70 e ajudou indiretamente na captação de dinheiro para a construção do estádio. “Eu colaboro com a preservação da história do nosso clube, do museu histórico e das memórias de todos que construíram para que tudo isso aqui desse certo”, declara Alberto Mirando, colaborador do museu, que lamenta o possível fechamento. Mas, pelo correr dos fatos, ainda não se tem certeza do fechamento, já que o caso está em análise judicial. Os colaboradores lutam para que o museu não feche, mas se o veredito for contra a permanência do museu neste local, um outro lugar precisará ser escolhido.

Ainda está sendo cogitada a criação de um acervo digital, caso o museu tenha que fechar as portas, para que não se percam estes momentos históricos. Enquanto nada está decidido, o local continua abrindo normalmente aos sábados, das 11h às 14h para visitação - a entrada é franca.


Esporte

Canindé marca dias de glória da Portuguesa

47

Construído com ajuda da comunidade portuguesa, o local traz à memória os dias de glória do clube Beatriz Cardozo O Estádio Dr. Oswaldo Teixeira Duarte pode ser visto de longe na Marginal Tietê, em São Paulo. Popularmente conhecido como Estádio do Canindé, o símbolo esportivo do bairro tem anos de história e traz à memória tempos de glória da Associação Portuguesa de Desportos Adquirido em 1956, o terreno do Canindé pertencia a Whadi Sadi. O empresário havia comprado o terreno do São Paulo Futebol Clube, time do qual era sócio. Com pouquíssima estrutura no local, a Portuguesa deu início às obras de seu primeiro estádio - apelidado como Ilha da Madeira -, para então realizar sua primeira partida em novembro de 1956, quando

derrotou um time formado pelos rivais Palmeiras e São Paulo por 3 a 2. Foi só em 1972 que o estádio tomou a forma que se conhece hoje. Dr. Oswaldo Teixeira Duarte, reconhecido como o maior presidente da história do clube, reuniu esforços de toda a comunidade luso-brasileira para inaugurar o então Estádio Independência. Em 1984, o estádio recebeu o nome do antigo presidente como homenagem pelos seus grandes feitos pela Lusa. Nos anos 1950, a Portuguesa vivia sua melhor época e era considerado o maior time do país, conquistou títulos importantes e colocou o Brasil no mapa quando o assunto era esporte, antes mes-

Estádio do Canindé, símbolo da comunidade portuguesa. (Foto: Acervo da Portuguesa)

Estrutura do estádio do Canindé apresenta marcas de desgaste. (Foto: Alberto Miranda) mo do Santos de Pelé. Na mesma época, o estádio era ponto de festas e de encontro para as famílias, que se reuniam em bailes de carnaval, festas juninas e até mesmo à beira da piscina nos dias de verão. Em meio a tanta história, o clube também é conhecido por apresentar grandes talentos da suas categorias de base. Nomes como Dener, Rodrigo Fabri e Ricardo Oliveira deram seus primeiros passos no futebol com a Lusa. Há pouco tempo de completar 100 anos, o clube enfrenta atualmente sua pior fase. Em meio à um número sem fim de dívidas e anos de má administração, correndo risco de demolição do estádio,

os administradores tentam achar saídas e fontes de rendas alternativas para o clube, como o aluguel de espaços para igrejas. Atualmente na série C, a Portuguesa sofre com a crise que reflete na atuação do time em campo. “É importante lembrar que a construção desse estádio foi feita com dinheiro próprio de famílias e empresas que faziam parte da comunidade portuguesa”, afirma com muito orgulho Alberto Miranda, um dos colaboradores do museu Histórico da Portuguesa, “mas infelizmente alguns homens da comunidade estragaram a cultura e o clube por dinheiro e ganância”, lamenta-se.


48

Observatório

Pari

Gastronomia árabe é destaque em restaurantes Além de gostosos, os alimentos são ricos em proteínas e vitaminas e ajudam no combate de doenças

Caio Patriani O Pari reúne diversas culturas e suas respectivas culinárias.Pratos de origem árabe são facilmente encontrados em diversos pontos comerciais especializados nesse estilo de cozinha. Muitos pratos árabes oferecem uma grande gama de proteínas e vitaminas necessárias para uma alimentação saudável. A Dra. Renata Saffioti, nutricionista que trabalha no bairro de Santana, comentou sobre alguns dos principais exemplos de alimentos árabes que oferecem benefício à saúde e ao bem-estar: O homus, uma pasta a base de grão de bico; o tabule, uma salada repleta de verduras, trigo para quibe e ingredientes frescos; o quibe cru e a coalhada. “O homus é rico em proteínas provenientes do grão de bico, que podem ser consumidos por veganos, vegetarianos e pessoas alérgicas à proteína do leite como um substituto proteico, ” disse a nutricionista, que ainda destacou a utilização, no prato, de uma pasta de gergelim rica em cálcio, impor-

Coalhada feita a base de leite (à esquerda), quibe cru (centro) e Homus (à direita). (Foto: Memórias de um estômago feliz) tante na prevenção à osteoporose, o tahine. O homus também é rico em fibras, o que ajuda a manter a saciedade por mais tempo, além de ser fonte de triptófano, importante na produção de serotonina. Mauri Baumgart, gerente do restaurante Abu Ali, da Rua Barão de Ladário, 927, no Pari, há oito anos, define o homus da casa como “Show de bola! ”. O tabule, um tipo de salada árabe, é repleto de nutrientes devido a sua variedade de alimentos frescos. A horte-lã, um dos ingredientes da salada, oferece propriedades calmantes e auxilia na

digestão, além de oferecer “frescor” ao prato, como afirma Renata. O tomate presente no tabule, rico em licopeno e betacaroteno, é importante na prevenção do câncer, na saúde da pele e dos olhos. “Nosso tabule é feito na hora, com salsinha, trigo, limão. O quibe cru também, ” completa o gerente do restaurante Abu Ali, que se estabeleceu na região do Pari 17 anos atrás. O quibe em sua versão crua é rico em proteínas e apresenta menos gordura e calorias quando comparado com a versão frita do alimento. O trigo tem fibras que, além de aumentar a sensação de saciedade, ajudam no

controle do colesterol, segundo a nutricionista, que também é mestre em ciências pela Faculdade de Medicina da USP. A coalhada é “feita através do leite, ela ajuda no equilíbrio do intestino, além de ser rico em cálcio”, finaliza. Essas e outras opções estão presentes nos vários restaurantes dedicados à cozinha árabe nos 2,9 km² do distrito do Pari. Seus mais de 17 mil habitantes, segundo dados da Subprefeitura da Mooca, podem degustar mais do que apenas uma esfiha e gozar dos benefícios à saúde atrelados aos respectivos pratos.


Bem-Estar

49

Ciclofaixa sofre com más condições e desrespeito

Moradores aprovam a implantação da faixa exclusiva para bicicletas, mas reclamam do estado de conservação Guilherme Meszaros Em meio a tanto caos causado por carros, caminhões e ônibus, o bairro do Pari, que abrange também o Canindé, possui um grande número de pessoas que utiliza a bicicleta como meio de transporte. Desde setembro de 2014, quando foi inaugurado o primeiro trecho da ciclovia no bairro, foram feitos cerca de 5km de faixa exclusiva para quem anda de bicicleta. Moradores locais e pessoas que trabalham ou passam pela região, gostaram da iniciativa, mas quem usufrui da pista, reclama das condições inapropriadas. “Se fosse respeitada seria bom e teoricamente teria que funcionar, mas não funciona. Tem buracos, e não há sinalização. Dependendo da minha velocidade, eu posso cair no meio da rua e se estiver passando algum carro, corro o risco de ser atropelado” disse Antônio Marcos, 32 anos, que usa a sua bicicleta como meio de transporte para as suas entregas e que também mora na região. Bruno da Silva, 26, é outro trabalhador que utiliza

a sua bicicleta. Para ele, os carros respeitam o ciclista somente em regiões com o padrão de vida mais elevado. “Ontem eu estava voltando do Ibirapuera para o Pari de bicicleta, e na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, fui respeitado, mas em outros lugares, como aqui, não” comentou Bruno. Do ponto de vista de quem usa automóveis, há sim harmonia entre os meios de transportes. Perguntado se os motoristas respeitam a ciclovia, o taxista Pedro Henrique disse que “acontece de carros usarem a faixa para ciclistas, mas é raro”. E ele diz ainda que a ciclovia não atrapalha o trânsito, mas que há muita reclamação por parte de moradores, de motoristas e de alguns comerciantes que tem a faixa em frente ao seu estabelecimento. A reportagem apurou que no local há somente fiscalização para carros estacionados em Zona Azul ou quando há semáforos quebrados ou desligados. Em relação ao estado da ciclovia, foi constatado também que ela está inapropri-

Ciclista a caminho do trabalho desvia de carro estacionado na ciclofaixa. (Foto: Guilherme Meszaros) ada para uso. Existem muitos buracos em vários trechos da via e recapeamentos mal feitos. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) não se pronunciou

quando perguntada se há algum tipo de fiscalização específica sobre as ciclovias e em relação ao mau estado delas.


50

Observatório

Pari

Plural e acolhedor, Pari é o recanto libanês em SP

Imigrantes encontram na região uma comunidade capaz de atender suas necessidades culturais e econômicas Angelo Martins e Danielle Mendes

Moradores convivem com diferenças culturais. (Foto: Angelo Martins e Danielle Mendes) Mulheres de burca passeando na praça com seus filhos, jovens de olhos puxados se deliciando com um tradicional pastel na feira e portugueses falando alto na padaria da praça. Esse é o cenário encontrado em apenas cinco minutos de caminhada pelas ruas do Pari. Qualquer desavisado de passagem pode se espantar com a pluralidade de nacionalidades no bairro, mas os moradores do Pari estão bem acostumados em escutar idiomas diferentes do nosso a cada esquina cruzada. “Eu tenho amigas libanesas e saio bastante com elas. Nunca tive nenhum problema com isso. Tenho mais receio é de brasileiro mesmo”, brinca a brasileira Nuriele Farias, moradora do bairro. O Pari é tradicional-

mente conhecido como uma região de imigrantes. São diversas etnias que trazem cultura e costumes diferentes para o dia-a-dia desse bairro tão pluralizado. O último censo do IBGE, de 2010, diz que, em São Paulo, há pouco mais de 260 mil imigrantes, vindos de todas as partes do mundo. No Pari os nativos do Oriente Médio se destacam em meio aos muitos estrangeiros da região. Motivado pela Guerra Civil do Líbano, que teve início em 1982, Elias Chaib, hoje com 54 anos, decidiu partir de seu país natal rumo às terras ocidentais aos 25 anos. Não bastasse o choque de realidade, Chaib veio sozinho, passou por Minas Gerais e Paraná até se estabe-

lecer no Pari. A vasta colônia libanesa já instalada por aqui foi determinante para o libanês optar pelo bairro. “O Pari acolheu todo mundo. Tem muitos libaneses e sírios por aqui. A colônia é muito grande. Então o comércio para a gente que trabalha com produtos importados é excelente”, comenta o comerciante sentado em uma das mesas de sua doceria. Nassam Nabil Melhem, 19, endossa o caráter receptivo da região. A jovem afirma que relacionamentos entre libaneses e brasileiros são muito comuns pois há respeito mútuo entre os povos. “O relacionamento entre os libaneses e os demais, é de respeito e paz. Muitos acabam se casando com mulheres brasileiras por conta do respeito existente entre nós e os brasileiros. Além disso, gostamos de fazer amizades, o que facilita ainda mais a convivência”. Sempre sorridente em suas fotos nas redes sociais, Melhem enfatiza as principais diferenças em seus costumes e de suas amigas brasileiras. “Eu, por exemplo, sou noiva, meu noivo é filho de libaneses mas nasceu no Canadá. Seguimos a mesma religião e, diante

disso nossos costumes são bem diferentes dos de nossos amigos. Por exemplo, quando o conheci, nós não podíamos sair sozinhos até que ele viesse em minha casa e pedisse para o meu pai. Depois disso tínhamos de formalizar nosso noivado religioso, ou seja, o Xeque (líder religioso) nos autoriza a assinar um documento ligado ao nosso livro sagrado e, só assim, nos permite viver este relacionamento”. Para Chaib essa é uma realidade diferente, uma vez que ele é um homem que sempre seguiu os preceitos do catolicismo ainda quando morava no Líbano. Outro fato que o deixa mais próximo dos costumes brasileiros é a paixão pelo futebol. “No meu caso não muda nada em termos de religião, já que nasci católico. Eu sou libanês porque nasci lá. O Brasil não, eu escolhi o Brasil. Sou mais brasileiro do que vocês”. Ironizou o comerciante, que ainda afirmou ser torcedor fanático do São Paulo. Seja você brasileiro ou libanês, católico ou muçulmano, encontrará no Pari uma comunidade acolhedora, sempre aberta a conviver com as diferenças que dão o tom singular e especial à região.


Bem-Estar

Verticalização reduz construções residenciais

51

Casas térreas dão lugar a novos empreendimentos de prédios voltados ao comércio Rafael Augusto Pereira Nascido entre os rios Tietê e Tamanduateí, o Pari mudou muito ao longo de sua história. O bairro que cheirava doce, das muitas fábricas instaladas, hoje cheira poeira das obras. A predominância das casas térreas e assobradadas hoje não existe mais, e o que antes era residencial, tornou-se comercial. Antes considerado um bairro “baixo”, devido aos poucos prédios existentes na região, o Pari sofre agora as consequências de seu sucesso comercial. Tornando-se cada vez mais um bairro de comércio, foi inevitável a sua verticalização. Os quase três quilômetros quadrados que compõem o bairro são suficientes para abrigar novos empreendimentos gigantescos, como shoppings, lojas e hotéis. De acordo com Gabriel Oliveira, gerente de uma perfumaria, essas construções são benéficas. “Só neste shopping – que está sendo construído bem em frente ao estabelecimento – cabem 150 ônibus no estacionamento, então vale a pena, é mais cliente”, disse. Quando perguntado sobre os malefícios gerados

Obras ocupam espaços na rua que podem interferir no trânsito. (Foto: Rafael Augusto Pereira) pelas obras, Gabriel diz que é um mal necessário. “É normal e para ter esse benefício a gente tem que passar por isso. ” Além da poeira, outro problema é gerado por essas obras: fechamento de calçadas. Os pedestres que circulam pelo bairro encontram dificuldades em alguns trechos por conta da sujeira e entulho que ficam jogados pelas calçadas. Rodolfo Marques, que é engenheiro civil e circula sempre pelo bairro para fazer compras diz que “a cidade está crescendo e ela não pode parar. As

pessoas às vezes tem de se adaptar. Eu não concordo com o lixo e os entulhos, que é falta de respeito não só com o pedestre, mas com toda a comunidade”. As calçadas intransitáveis também geram trânsito na região. A moradora Nuriely Farias diz que as obras interferem também na circulação das vias. “O trânsito é impossível, você tem que sair de casa duas horas mais cedo. Além de nunca ter lugar para estacionar. Quando alguém vem me visitar, não encon-

tra lugar, por conta dos novos prédios”. Com a quantidade de lojas que serão abertas, ampliando o potencial de comércio, Nuriely é categórica ao afirmar que a situação dos moradores “piora porque o bairro não consegue suportar a quantidade de pessoas que vai começar a frequentá-lo”. Essas opiniões demonstram quão afetados são os moradores. O comércio vai tomando conta de um bairro residencial. As multidões que adoram o comércio popular agradecem.


52

Observatório

Pari

Por que morar no Pari?

A tranquilidade e a segurança são pontos fortes para moradores João Pedro Souza Moradora do bairro do Pari há 20 anos, Nuriele Farias, hoje com 23 anos de idade, classifica o bairro da zona norte de São Paulo como “muito seguro”. Por ser um local que abrange pessoas de uma faixa etária mais alta - entre 30 e 60 anos -, tem mais segurança e não apresenta altos índices de criminalidade. Questionada sobre o porquê de morar no Pari, Nuriele disse que a tranquilidade é a maior qualidade da região, porém, esta tranquilidade torna-o muito pacato, o que a jovem qualifica como a parte ruim do bairro. A faixa etária encontrada no bairro mudou conforme o passar do tempo.

Antigamente, o Pari era conhecido por ser um local mais frequentado por idosos, porém, com a construção de novos prédios e escolas na região, uma parcela maior de jovens podem ser vistos frequentando o bairro. “ O público jovem tem aumentado muito - absurdamente muito. Na minha época eu tinha que procurar amigos para andar de bicicleta. Hoje em dia, a minha rua é cheia de crianças jogando bola. Isso eu não via antes”, afirmou Nuriele. Apesar do comércio ser uma força na região e estar presente no bairro há anos, Nuriele afirmou que o local é estritamente residencial. “Não é como a região do Brás na qual se con-

centra um número muito maior de comércio do que de residências”, completou. Sobre o bem-estar do bairro, Nuriele destaca que o Pari abrange muitos lugares públicos para quem gosta de se exercitar, correr ou praticar outros esportes. A moradora deu o exemplo de sua avó, Dona Maria Salete, que pratica yoga e lutou para que a população e a administração pública cuidassem melhor da Praça do Catumbi e arborizassem a área, tornando possível para que os moradores a frequentassem regularmente. Nuriele informou que todas as terças-feiras, pela manhã, é possível ver um grupo de senhoras jogando futebol na quad-

Anúncio

ra instalada no local. Em relação à visão da moradora sobre os imigrantes que residem no bairro, ela enfatizou que não tem problemas com isso. Relatou que tem amigas árabes e se relaciona bem com elas. O ponto negativo está nos maus hábitos dos bolivianos, segundo Nuriele. Muito lixo é encontrado nas ruas e nos espaços de lazer, principalmente no Parque do Trote, localizado na Vila Guilherme. Ela concluiu dizendo que, por mais que goste de morar no bairro, no futuro, pretende deixar a região do Pari e seguir sua vida em uma parte melhor localizada de São Paulo.


Meio-Ambiente

53

Escolas criam projetos sustentáveis para conscientizar comunidade

Iniciativa visa alertar alunos e funcionários sobre a questão ambiental Cristiano dos Santos

Entulhos são responsáveis por enchentes e dificultam passagem dos pedestres nas calçadas. (Foto: Cristiano dos Santos)

O bairro do Pari, como tantos outros da capital, está esquecido pelo poder público quando se fala em limpeza das ruas e preservação do meio ambiente. A região sofre com a falta da coleta de lixo. É possível encontrar todo tipo de resíduo e embalagens jogadas nas ruas. Mas isso não impede que a comunidade movimente-se para transformar o bairro em um lugar com melhor consciência ambiental. Duas escolas deram os primeiros passos. Na Escola Estadual Orestes Guimarães, o diretor José Cardonha, apresenta um projeto que visa transformar o bagaço da cana-de-açúcar em adubo para o jardim da própria instituição. Já no colégio da polícia militar, Cruz Azul, tanto alunos como funcionários aprendem sobre sustentabilidade, preservação do meio ambiente e limpeza das vias públicas por meio de um treinamento. Apesar de bem intencionadas, as ações das escolas não tiveram efeitos em grande escala e sofrem com problemas

corriqueiros. A máquina que transforma bagaço em adubo, por exemplo, quebrou. A alternativa encontrada pelos professores foi abordar o tema da sustentabilidade na disciplina de Ciência. Fato é que a conscientização deve ser construída com o tempo. Toda medida tomada faz diferença, por menor que ela possa parecer. Ações conjuntas da Prefeitura com a comunidade podem ser o caminho para um bairro que sofre tanto com a questão ambiental.

Esquina de rua cheia de lixo. (Foto: Maria Nayara)


54

Observatório

Pari

Fechamento de Ecoponto aumenta o lixo nas ruas Inatividade do espaço e falta de divulgação do Catabagulho agravam a situação Carla Moura O acumulo de lixo nas ruas é o causador de problemas de grande extensão e prejuízo para o Pari. Além de deixar a aparência do bairro desagradável, cheia de entulhos, afeta diretamente a questão da saúde pública. Uma situação agrava ainda mais esse quadro. O Ecoponto do bairro do Pari, local público para os munícipes se desfazerem de materiais de grande porte ou recicláveis, encontra-se inativo. Procurada pela reportagem, a subprefeitura da região disse que não há previsão para a retorno das atividades do Ecoponto. Fabio Moreira, morador do bairro há vinte

cinco anos, afirma que o Ecoponto do bairro era de grande contribuição para a população fazer o descarte de lixo no lugar ideal. Segundo ele, a maioria dos moradores levava o seu lixo até lá e o risco de enchentes e doenças decorrentes pelo acúmulo de lixo era menor. ‘’Tiraram o Ecoponto no bairro do Pari. Tem um na Rua Bresser, mas ninguém leva lá. De vez em quando vem o Cata-bagulho’’, disse o morador. O Cata-bagulho funciona da seguinte maneira. Em um horário pré-estabelecido pelas subprefeituras, os munícipes colocam os objetos nas suas calçadas

Moradores devem colocar o lixo na calçada uma hora antes do Cata-bagulho passar. (Foto: Carla Moura)

Para João Francisco, serviço não é bem divulgado pela subprefeitura. (Foto: Carla Moura)

Sem previsão de reabertura, resta aos moradores o serviço na rua Bresser e um veículo passa para recolher. Esse serviço dá aos moradores uma opção para descartar corretamente o chamado RCC (resíduos sólidos de construção civil). Móveis também podem ser coletados no Cata-bagulho , o que evita que pedaços de madeira ou outros materiais sejam jogados nas ruas. A medida visa diminuir o entupimento dos bueiros e enchentes da cidade .

Em contrapartida, João Francisco, morador do bairro do Pari há oito anos, afirma que continuam a jogar lixo na rua, pois, ainda desconhecem o serviço. ‘’Ninguém anda divulgando nada. Pelo que eu sei, tem que no ligar 156 para poder ter o Cata-bagulho e assim você vê o dia que ele passa para poder colocar o lixo na rua e esperar que seja recolhido’’. Reclamou o morador.


Meio-Ambiente

55

Rio Tietê nos dias de hoje. (Foto: Rafaela Dias)

Quilômetros de poluição no Tietê Apesar de projetos de despoluição, o rio ainda está longe de ter vida Rafaela Dias Um dos maiores rios de São Paulo, com 1.150 quilômetros de extensão, o Rio Tietê possuí 96 anos de existência. Nascendo na cidade de Serra do Mar, no interior paulista, o rio atravessa a região metropolitana do estado e deságua no Rio Paraná no município de Itapura na divisa com o Mato Grosso do Sul. Quem vê sua nascente com águas puras e cristalinas não imagina o quão poluído ele se torna à medida que vai se aproximando da capital. A poluição das águas começa no município de Mogi das Cruzes e ao longo de sua extensão pela região metropolitana, vai sendo ainda mais contaminada por

esgotos e resíduos industriais que fazem com que os peixes sejam extintos do rio. O maior poluente das águas do Rio Tietê é o esgoto. Para se ter uma ideia, apenas 44% dos moradores da bacia do Alto Tietê têm esgoto tratado, ou seja, os outros 66% despejam no rio. Além do mau cheiro, a poluição também faz com que os peixes do rio sejam extintos e são percursores da proliferação de microrganismos e de doenças em casos de enchentes. Apesar da despeja de resíduos industriais em rios seja proibida por lei, no Brasil a prática ainda é muito comum. Rayanne Fernandes de 26 anos é moradora do bairro do Pari. A jovem universitária mora aos redores do Rio Tietê e convive com

o mau cheiro do local: “A gente é obrigado a se adaptar a ele. Quando chove, torcemos para que ele não encha e cause enchentes por aqui”, relata a jovem. A despoluição do rio é um objetivo que ainda está longe de ser alcançado. Em 1992 a Sabesp deu inicio ao Projeto Tietê que consiste em realizar a despoluição do local. Em 23 anos, já foram gastos mais R$8 bilhões. A princípio, a previsão era de que o rio fosse limpo até 2022, no entanto o prazo foi prolongado mais 3 anos. Desde que o projeto foi iniciado, a mancha de poluição recuou 70% e de acordo com especialistas, projetos como este costumam mesmo demorar décadas para serem concluídos.


56

Observatório SP Pari

Anúncio


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.