SP
Observatório Paraíso
Jornal produzido por alunos de Jornalismo | Universidade Anhembi Morumbi | 1º semestre de 2016
Ícone do bairro, praça Oswaldo Cruz é exemplo de decadência na cidade Morador de rua diz que é o zelador da praça; por causa de roubos, funcionário de hotel protege monumento; paulistanos reclamam de mal cheiro e sujeira no local
TODOS CONTRA O ESTUPRO!
Violência sexual: terceira causa de atendimento às mulheres pelo SUS; número de casos na região dobrou no último ano
Nova Lei de Zoneamento muda regras de construção na cidade
Ciclovias reduzem mortes no trânsito em São Paulo
Parklets são motivo de polêmica na região Dog Walkers pedem profissionalização Hospital faz mapeamento genético digital CULTURA: música, Vinícius de Moraes, Casa das Rosas, planetário e Planeta Inseto
CRISE! Na feira livre, preços sobem e lucros desabam
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Observatório SP Paraíso
Expediente
O jornal “Observatório SP” é um jornal laboratório de caráter não comercial feito por estudantes da disciplina Produção de Jornal, 5º semestre, do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi. Todo material jornalístico publicado pelo jornal é protegido pela Lei Federal de Direitos Autorais e não pode ser reproduzido, no todo ou em partes, por qualquer meio gráfico, sem a autorização por escrito da coordenação do curso de Jornalismo, sob pena de infração da legislação que zela pela propriedade intelectual neste país. Os textos assinados são de única e total responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião do Jornal. REITOR Prof. Paolo Tommasini PRÓ-REITOR Prof. (xxxxx) DIRETOR DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO Prof. Luís Alberto de Farias COORDENADOR - CURSO DE JORNALISMO Prof. Nivaldo Ferraz COORDENADOR AD. - CURSO DE JORNALISMO Prof. Alexandre José Possendoro
PROF. ORIENTADOR Prof. Alexandre Possendoro Prof. Fernando Moura PROF. ORIENTADOR - FOTOJORNALISMO Prof. Thomaz Pedro PROJETO GRÁFICO Prof. Ricardo Senise DIREÇÃO DE ARTE Daiara Coelho Fernanda Valente Fabrício Luz
Jornalismo local, mas universal Nivaldo Ferraz
Enxergar nossas circunstâncias é exercício fundamental para melhorarmos nossa qualidade de vida. Saber o que temos, o que podemos, o que devemos, nossos direitos e possibilidades em relação ao que está ao nosso redor ou muito próximo de nós, em nossa cidade, oferece a chance de expandirmos nossa posse dos bens públicos, mantidos com o pagamento de nossos impostos. O jornalismo local é uma das ferramentas funcionais para conhecermos e nos apoderarmos do que temos a nosso dispor. O jornalismo local encontra fatos e ações capazes de nos modificar em nossa atitude frente à cidade, ao poder local e à iniciativa privada. É o jornalismo capaz de mostrar
a realidade do bairro e da região, apontando uma saída para problemas ainda sem solução ou uma nova forma de se melhorar o que está posto. É o jornalismo que encontra pessoas com ótimas histórias para contar e as converte em reportagens agradáveis e úteis. Esse é o exercício que propomos aos nossos alunos do 5° Semestre do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi, na disciplina “Produção de Jornal”. Um exercício resultante no jornalObservatório SP, que você lê agora. Em cada semestre, cada turma produz reportagens sobre um bairro importante da cidade de São Paulo. Neste semestre que passou, as quatro turmas da disciplina produziram matérias sobre os bairros do Ipiranga, Paraí-
so, Pari e Santa Cecília. Esta edição específica que você vê, caro leitor, é sobre o bairro Paraíso. E traz reportagens interessantes e relevantes sobre violência urbana, mudanças no zoneamento da cidade, diferenças entre a educação pública e privada e atividades físicas e lúdicas para realizar aos finais de semana. Nas quatro turmas que produziram tais edições, as reportagens foram orientadas pelos professores Alexandre Possendoro, Cláudia Cruz, Fernando Moura, Maria Cristina Brito, Patrícia Paixão e Rose Mara Pinheiro. Todas as edições você poderá conferir no site jornalismo.anhembi.br, no qual publicamos periodicamente os principais conteúdos produzidos por nossos alunos. Não se trata apenas de desenvolvermos uma
ação protocolar para aprovar alunos de jornalismo em uma disciplina. Construído sob os valores já expostos, o projeto editorial do Observatório SP é uma iniciativa que vai muito além, ao praticar um jornalismo local que é pilar fundamental da cidadania.
Prof. Dr. Nivaldo Ferraz, coordenador do curso de Jornalismo. (Foto: Divulgação)
política
Moradores comemoram Lei de Zoneamento
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Nova lei muda regras do planejamento urbano Diego Lucato O projeto da Lei de Zoneamento de autoria do vereador Paulo Frange (PTB), foi aprovado pela Câmara Municipal no último 25 de fevereiro, e sancionado pelo prefeito Fernando Haddad (PT). A lei foi elaborada após um processo que durou vinte e um meses no Executivo e Legislativo, contando com a participação da população. O projeto tem como objetivo normatizar o uso público e privado do solo da cidade. A lei necessita adequar-se ao Plano Diretor Estratégico. A lei tem como objetivo regular o uso e ocupação do espaço por parte dos agentes de produção do espaço urbano, como as construtoras, incorporadoras, comerciantes e proprietários de imóveis. Esse planejamento urbano
promove mudanças nos padrões de produção e consumo da cidade, para diminuir os custos, desperdícios e também implantar formas sustentáveis de extrair recursos naturais para as cidades. Mesmo tendo como objetivo desenvolver a cidade, formando polos industriais, comerciais e de serviços, o zoneamento orienta a localização das zonas, fazendo um estudo sobre a intensidade populacional, dimensões, taxa de ocupação e coeficiente de aproveitamento dos lotes. O vereador Paulo Frange, eleito pela quinta vez, a nova lei irá orientar o desenvolvimento e crescimento de São Paulo pelos próximos dezesseis anos. A proposta simplifica e facilita o entendimento do uso do solo e as
Projeto atende reivindicações de moradores. (Foto: Maurício Moreno)
atividades compatíveis, com conceitos claros e em coordenação com o Plano Diretor Estratégico aprovado em junho de 2014. Frange ainda aponta que “o mais atraente nesse processo foi a participação de mais de 16 mil representantes da sociedade e suas 13 mil contribuições, em mais de 50 audiências públicas e 250 mil acessos no site da Câmara Municipal, em nove meses”. Os moradores do bairro Paraíso aprovaram a sanção da nova lei. Para a Associação Viva Paraíso, a aprovação do projeto representou uma importante vitória dos moradores, após uma extensa e intensa mobilização para evitar o intento revelado pelo projeto da prefeitura, que tinha como objetivo alterar as Zonas Exclusivamente
Residenciais. Com essa mobilização a associação dos moradores também, garantiu outras restrições importantes para o bairro, como por exemplo, a retirada de empreendimentos hoteleiros das Zonas Corredores; nessas zonas há proibição também para bares, restaurantes, espaço para eventos, teatros e cinemas. Comerciantes vem apoiando as novas medidas. Frange explica que “os conflitos entre ZER (Zona Estritamente Residencial) e ZCOR (Zona Corredor) foram resolvidos, em sua maioria”, porém o problema das ZCOR, por ser impactante ao bairro em alguns casos, causou uma mobilização muito grande dos moradores para que não fossem implantadas. Ao mesmo tempo que os moradores comemoram a aprovação das demandas de longa data, a Associação Viva Paraíso manifesta que continuará buscando o diálogo para o aprimoramento do texto com a Câmara Municipal e a Prefeitura, visando o progresso e o bem-estar do Paraíso e, sobretudo, da cidade de São Paulo. Segundo a entidade, a cidade virará um “deserto” caso a lei permita a construção de prédios e equipamentos públicos em áreas de mananciais.
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Observatório SP Paraíso
Casos de estupro aumentam
Número de denúncias na região dobrou no último ano; violênc terceira principal causa de atendimento às mulheres pelo SUS
O constrangimento ainda impede vítimas de denunciar. (Foto: Fernanda Valente)
Beatriz Pinheiro Caroline Maciel Fernanda Valente O número de casos de estupro registrados no bairro do Paraíso aumentou de forma significativa, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP). De 2014 para 2015, as denúncias dobraram de 6 para 12, enquanto apenas no primeiro trimestre de 2016, já são 3 casos registrados.
De acordo com o “Mapa da Violência de 2015 - Homicídios de Mulheres no Brasil”, a violência sexual foi a terceira causa de atendimento às mulheres pelo SUS (Sistema Único de Saúde), com 11,9% dos casos. A maior incidência é entre crianças de até 11 anos de idade (29% dos atendimentos) e adolescentes (24,3%). O OLHAR DO PODER PÚBLICO Segundo a promoto-
ra Ana Paula Lewin do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (NUDEM), “o crime de estupro é difícil de ser denunciado pelas mulheres por ser delicado falar sobre”. Além do constrangimento das vítimas na hora de registrar o caso, ainda falta informação às mulheres, que nem sempre têm consciência do que exatamente é crime e onde podem buscar ajuda. “Eu nunca tinha pa-
rado para pensar sobre o que é estupro”, conta Thais Pereira (36). “A mulher tem que ser respeitada, quando digo não, é não. Eu me sinto muito mal quando recebo cantadas, independente do lugar que estou”, desabafa. Para o estudante Rubens Figueiredo (19) “assédio sexual é o momento em que a gente invade o espaço de outra pessoa”. E acrescenta: “é uma invasão quando a outra pessoa não permite,
m no bairro
segurança
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cia sexual é a
Sobre o NUDEM: O objetivo do Núcleo de Promoção e Defesa dos direitos das Mulheres é dar suporte e auxílio pela criação de políticas públicas e ações educativas. Por telefone ou e-mail, o órgão se disponibiliza a orientar e encaminhar as mulheres em caso de qualquer violação de seus direitos, não apenas o assédio. Contato: Rua Boa Vista, 103, 10º andar, Centro Telefone: 3101-0155 ramal 233/238 nucleo.mulher@ defensoria.sp.def.br
“Faltam políticas públicas voltadas para as mulheres”
desde o beijo até passar a mão”. O crime de estupro está previsto no artigo 213 do Código Penal Brasileiro e é caracterizado como qualquer ato libidinoso praticado sob violência ou grave ameaça, não necessariamente com conjunção carnal. Já o assédio é essencialmente praticado em relações de hierarquia, especialmente no ambiente de trabalho, mas o termo é aplicado para definir diversas formas
de constrangimento sofridas pela vítima no cotidiano. VIOLÊNCIA EM NÚMEROS O salto no número de registros no último ano pode ser creditado a um processo de empoderamento feminino, como explica a defensora, “acredito que hoje há um aumento do número de denúncias. Algumas mulheres se sentem amparadas em buscar ajuda, então elas estão
denunciando mais”. Por isso, ela ainda alerta “faltam políticas públicas voltadas especificamente para as mulheres”. A reportagem do Observatório SP solicitou os boletins de ocorrência de casos de estupro na região para a Secretaria de Segurança Pública, que informou não divulgá-los para resguardar as vítimas, e o Distrito Policial da área não tem autorização para dar mais informações sobre os casos.
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Oswaldo Cruz é exemplo de praça decadente Por causa de roubos, funcionário de hotel próximo retira “lança” de monumento
Rapaz dorme na praça. (Foto: Jonas Netto)
Levi Oliveira Jonas Netto Roberta Tuma Um dos marcos do bairro do Paraíso, a Praça Oswaldo Cruz está suja, depredada, com focos frequentes de dengue, causando polêmicas e reclamações entre moradores, visitantes e pedestres do local. De mosquitos da dengue a fezes humanas, passando por depósito de
papelão a um grande ambiente de assaltos, a praça virou motivo de queixa e descontentamento. Garis mantêm a limpeza do lugar regularmente com água reutilizada, mas, mesmo assim, não tem sido o suficiente. A VISÃO DOS MORADORES “O lugar virou um berçário da dengue. Quando chove a fonte fica
cheia d’água, sem ter para onde escorrer. Isto é um absurdo”, disse Jefferson da Silva, de 32 anos, que trabalha em um hotel na praça. Ele conta que a lança decorativa de um monumento do local encontra-se guardada no hotel, pois ela já foi roubada diversas vezes. Já para Manoel Messias da Silva, de 42 anos, que trabalha como zelador e mora há
18 anos em um edifício comercial na praça, alagamentos também são constantes em épocas de chuva por conta de uma boca de lobo que sempre entope. “A prefeitura já fez reforma no local, mexeu na iluminação e no piso, mas parece que fizeram apenas para embelezar o lugar, não fazer de fato funcionar”. “Os moradores de rua ficam aí largados
cotidiano
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Moradores de rua alegam que nao poluem o lugar, mas ajudam a preservá-lo. (Foto: Jonas Netto)
sem ter para onde ir e ninguém faz nada a respeito”, afirmou um jornaleiro que tem uma banca na praça há 20 anos, mas preferiu não se identificar e se queixa da praça ter se tornado um “banheiro público”, já que o cheiro de fezes e urina é sempre presente, mesmo com a limpeza feita esporadicamente. O Observatório SP conversou com dois moradores de rua que também frequentam o local: Valdemir Elias, de 45 anos, sem teto há sete anos devido à falta de emprego e condições para pagar um aluguel, e Francisco Rafael Gonzales, de 33 anos, ven-
dedor de balas, morador de rua há quatro anos. Valdemir explica que só fica na praça duran-
A praça tem de mosquitos da dengue a fezes humanas te o dia ou quando não está muito cheia. Ele não vê problema ficar ali, já que é um espaço público e não se sente ocupando algo. Para o desabrigado, o governo deveria tomar medi-
das mais cabíveis aos moradores de rua, pois os albergues e empregos temporários não são “sólidos” o bastante para garantir uma estabilidade financeira. Para ele, o que tem sido feito não é o suficiente. Ele afirma que costuma usar banheiros públicos, como de estações de metrô e bares, e que costuma carregar seu próprio lixo. ALTRUÍSMO Já Rafael, ou “menino dos gatos” como é conhecido nas localidades – por causa dos animais que o acompanham –, mora na praça desde que saiu do Rio de Janeiro e veio para
São Paulo. Ele monta sua barraca de dormir à noite, desmonta pela manhã e afirma que faz a própria limpeza do local com vassoura. Ele se autodenomina o “zelador da praça”, pois alguns outros moradores de rua dormem por ali, acordam e vão embora, deixando o local sujo. Rafael afirma que não recebe nenhuma ajuda governo, além de remédios para tratamento contra Aids. A reportagem entrou em contato com a subprefeitura da Vila Mariana e também da Sé para comentar a situação da praça, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.
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Implantação de ciclovias melhora a segurança
Política de mobilidade urbana mais inclusiva em pauta
Ciclistas adotaram a avenida Paulista aos domingos. (Foto: Fernanda Valente)
Daiara Coelho Lucas Oliveira O ano de 2015 terminou com números favoráveis para o trânsito da cidade de São Paulo, principalmente em relação à morte de ciclistas. A implantação de ciclovias nas avenidas Paulista e Sargento Mario Kozel Filho e nas ruas Vergueiro e Bernardino Campos, no Paraíso, também teria ajudado a reduzir os acidentes fatais que envolvem os adeptos às
bicicletas. Segundo estudo divulgado em março pela Companhia de Engenharia de Trânsito (CET), 31 ciclistas morreram em 2015, 34% a menos do que no ano anterior. Os quase sete milhões de motos e carros que trafegam na Capital foram responsáveis, em 2014, por 1.249 mortes no trânsito, sendo que os ciclistas representam a segunda vítima mais frágil, atrás apenas dos pedestres, de acordo
com o Detran-SP. Esse índice preocupante incentivou o Prefeito Fernando Haddad (PT) a criar o Plano de Mobilidade de São Paulo, que tem como um dos principais objetivos o aumento da malha cicloviária na cidade. A meta da Prefeitura é entregar 400 km de ciclovias até o fim do ano - até o momento, já foram implantados 380,7 quilômetros. A melhoria na segurança dos ciclistas in-
centiva o uso de bicicletas para se locomover. “O número de ciclistas na cidade aumentou, dá para observar mais gente pedalando”, conta Valéria Boa Sorte, integrante da Oficina Mão na Roda, que acontece no Centro Cultural São Paulo. A Capital tem 261 mil ciclistas, segundo o IBOPE Inteligência, e muitas dessas pessoas moram ou trabalham no Paraíso. Uma contagem da CicloCidade (As-
cotidiano sociação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo) constatou que, por hora, 72 ciclistas usam a ciclovia da Rua Vergueiro e cerca de dois mil passam diariamente pelo trecho da Avenida Paulista, na altura da Brigadeiro Luís Antônio. “De um modo geral, o Paraíso é uma região segura para os ciclistas, tanto em termos de mobilidade quanto em questão de violência”, conta Pedro Wandalsen,
outro integrante da Oficina Mão na Roda. Ele ainda comentou o impacto das ciclovias no bairro,
educadas com relação aos ciclistas e a presença das ciclovias ajudou”. Ainda que a necessidade das ciclovias seja
“O número de ciclistas na cidade aumentou, dá pra ver mais gente pedalando” “o cenário melhorou recentemente, muito por fruto da conscientização”, e reforça “hoje as pessoas estão mais
reconhecida, a forma como ela foi implantada gera críticas. “Para um projeto desta magnitude, precisa de pla-
9 nejamento específico, não apenas trabalho de demarcação das ciclovias nos vários bairros”, analisa o Departamento Técnico da Federação Paulista de Ciclismo. Serviço Oficina comunitária Mão na roda - Centro Cultural São Paulo Rua Vergueiro, 1000 Às terças, das 19h às 22h; sábado, das 14h às 19h; domingos, das 15h às 20h.
Pedaladas noturnas pelo Paraíso Beatriz Aniceto Karina Freitas Larissa Ázara Bruno Diniz
O grupo de ciclismo TotalBike, orientado por Paulo Roberto, dono da bicicletaria homônima, sai da Rua Cubatão, número 631, todas as terças e quintas-feiras às 21h para explorar as ruas do bairro. A cada noite, aproximadamente vinte pessoas compõem o coletivo, são os “Pedais Noturno”. De acordo com Roberto, a diversidade de idades é um aspecto marcante no grupo - de um rapaz de 22 anos a um jovem senhor de 57: a prática do esporte mostra-se importante em todas as fases da vida. Qualquer pessoa pode juntar-se ao grupo, mas é necessário um bom condicionamento físico, porque o ritmo é intenso. O uso de equipamentos de segurança é
obrigatório, tanto por parte da equipe quanto pela lei, por ser a noite, refletores de luz se fazem necessários também. Em média, são 40 km percorridos a cada saída e o trajeto muda em todos os encontros, “mostrando que pedalar em grupo é divertido e seguro”, afirma o grupo. Aos fins de semana, a maiorida das pedaladas acontecem durante o dia e fora da cidade, são cicloviagens e passeios de mountain bike. Para saber mais, acesse o site do encontro através do QR Code abaixo ou entre em contato pelo telefone: (11) 5539-3530. Acesse
loopbikes.com.br
Passeios atraem pessoas de todas as idades. (Foto: Karina Freitas)
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Observatório SP Paraíso
Consumidores diminuem gastos em feiras livres Bruno Nascimento Felipe Paiva Gabriela Ribeiro Por causa da crise econômica, moradores do Paraíso estão diminuindo as compras ou fazendo a substituição por produtos mais baratos nas feiras livres do bairro. “Diminui a quantidade que compro e consumo. Em vez de uma dúzia de bananas, eu levo meia dúzia só. É uma maneira de não deixar esse momento difícil me afetar completamente”, explica, por exemplo, o empresário Raimundo Pereira, de 55 anos, morador antigo do bairro que frequenta a feira da rua Alcino Braga. Caso também da aposentada Beatriz Faria, de 66 anos, que acaba levando apenas o que está com o preço bom, mudando a rotina alimentar até que o custo de vida diminua. No geral, as frutas são as mais afetadas por essa crise. Muitos clientes estão mudando o hábito, comprando apenas o básico. Mesmo assim, a cada semana voltam com menos sacolas para casa. Do outro lado da “moeda”, feirantes estão reclamando que os lucros diminuem com a crise. Inês Santos, de 51 anos, vendedora de panelas e produtos de cozinha, por exemplo,
O feirante Wellington explica a qualidade de seus produtos para convencer a clientela a comprá-los. (Foto: Caio Pomin)
conta que sofreu uma queda de 70% nos lucros. “Muitas pessoas pararam de comprar e reclamam dos preços, mas eu não posso fazer nada”. Já para outro feirante, Rogério Castanheira, de 42 anos, o lucro caiu bastante. “Se eu fosse falar, seria em torno de 30%. Está tudo muito caro, e o pessoal compra menos”. O comerciante Wesley Rocha, de 28 anos, também reclama da situação. “Eu vendo mamão há algum tempo, e eu nunca faturei tão pouco”. O feirante Ricardo Matos, de 45 anos, explica que há cerca de cinco meses pagava R$ 120,00 numa caixa de alho. Hoje, está saindo por R$ 250,00, um aumento de 108%. O mesmo acontece com o preço da caixa do mamão, que dobrou e agora não sai por menos de R$ 60,00. Segundo clientes, nem sempre vale a pena
esperar a semana toda para ir às compras nas feiras livre. “Eu gosto de ir ao hortifrúti; tem melhor qualidade e é mais barato”, informou Mirtes Soares, de 37 anos. Muitos feirantes garantem a qualidade dos produtos, considerados frescos e selecionados. Portanto, isso interfere diretamente no alto preço. Uma vez que os pro-
dutos ficam mais caros para o comerciante, há necessidade de repassar esses preços à clientela. Isso aconteceu em quase todos os produtos. Até a “cultura da feira” foi afetada, por exemplo, os tradicionais descontos na hora da xepa, período no final em que os comerciantes dão descontos para não terem que levar os produtos de volta. O feirante Wellington do Nascimento, de 42 anos, diz que “não há como dar descontos, pois o prejuízo pode aumentar.” Nas palavras de Edson Almeida, 55 anos, vendedor de bananas há cinco anos na feira da rua Chris Tronbjerg, tanto os clientes quantos os vendedores perdem, pois gastam mais e levam menos.
Associação de feirantes fala em perdas de 35% José Torres Gonçalves (60), presidente da AFSP (Associação dos Feirantes de São Paulo), afirma que a queda dos lucros foi em média de 35% e se deve principalmente pela menor produção dos lavoureiros. “Eles estão produzindo menos com medo de não vender e ficarem no prejuízo, por isso o preço sobe”. Segundo o presidente, a maneira de driblar a crise é fazer descontos pontuais e vender mais do que os outros feirantes. “Existe uma concorrência com o seu vizinho, nós somos todos amigos, mas se eu puder fazer um preço bom e vender mais é melhor. O feirante precisa sempre esvaziar seu estoque e ir ao Ceasa comprar mais”.
economia
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Donos gastam até R$ 900 com “dog walkers” Passeadores enfrentam crise e concorrência de “creches”, porteiros e domésticas Bruno Vinícius Silva Caio Pomin Apesar da crise econômica que atinge o país, moradores do Paraíso chegam a gastar entre R$ 300,00 e R$ 900,00 mensalmente com os chamados “dog walkers”, profissionais que passeiam com os cachorros no lugar dos donos. “Todos os nossos serviços foram afetados com a crise. O que percebo é que foi uma queda muito menor do que as outras áreas. O setor pet se mostra ainda bem aquecido”, analisa Gustavo Campelo, 28, que trabalha na área desde os 10 anos. Os valores cobrados são para caminhadas de até uma hora por dia. Os preços dos planos variam de acordo com nível de atividade física que o cachorro necessita, os dias da semana que o passeio será feito e as atividades escolhidas pelo dono que serão realizadas como: banho-e-tosa, veterinário e adestramento. “Se é um cachorro que não necessita de tantos passeios e tantos cuidados, a gente sai uma vez por dia”, afirma Camila Loverdos, de 30 anos, formada em design, mas que atua
como dog walker há 7 anos. Os dog walkers surgiram na demanda de um público de classe média alta por um serviço de passeio com cães. E ficou popular em bairros nobres, como Higienópolis, Moema, Morumbi e Paraíso. Muitos donos trabalham o dia inteiro e não dispõe de tempo suficiente para as saídas. Por isso, disponibilizam quantias altas para o serviço. É o caso da advogada Adriana Bandeira Mello, de 42 anos, dona de um golden retriever. “É caro, eu gasto uma média de 500 reais por mês”. A dog walker Camila lembra ainda de clientes que gastam mais: “Temos clientes que chegam a gastar 900 reais”. O serviço enfrenta concorrência das chamadas “creches de cachorro”, que funcionam como as creches convencionais, locais onde os cães participam de recreações, atividades físicas e mentais. Apesar disso, alguns profissionais não relatam preocupação: “tem cachorro para todo mundo. Está crescendo demais o mercado. Então eu acho que está tranquilo”, relata Taiana Didone.
Dog walkers levam vários “clientes” ao mesmo tempo. (Foto: Bruno Nascimento)
Regulamentação Muitos dog walkers buscam a regulamentação do serviço devido a uma concorrência, segundo eles, desleal de outros profissionais, como porteiros e empregadas domésticas, que acabam derrubando os preços do trabalho. “Muita gente acha que é só pegar o cachorro, colocar na coleira e sair arrastando pela rua. A gente acaba concorrendo com essas pessoas”, diz Camila Loverdos. Apesar disso, os clientes costumam preterir os profissionais qualificados. Como a decoradora Luciana Gso, dona de uma shiba. “Eles vêm e pegam a Misha, relatam qualquer problema de saúde e qualquer dificuldade no passeio”. Por outro lado, alguns discordam, “não regulamentar é melhor porque senão vai ter muita concorrência”, diz Taiana Didone.
cotidiano
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Parklets geram controvérsias no bairro Para uns, as “minipraças” valorizam bairro; para outros, “roubam” vagas dos carros Isabelle Garotti Marcella Lazzari “Minipraças” montadas em vagas de estacionamento, os parklets causam debates entre pessoas que frequentam o Paraíso. Alguns moradores defendem a novidade implementada pela Prefeitura de São Paulo, geralmente em frente a bares e restaurantes. Outros reclamam que as estruturas ocupam o espaço dos veículos. O Observatório SP foi até uma das instalações, na rua Coronel Oscar Porto, esquina com a Rua Abílio Soares, para saber a opinião dos moradores. “Para estacionar é complicado. Não é algo que eu odeie, mas atrapalha um pouco”, disse Jurandir Ferreira (30), formado em Administração. Já Fernando Gonçalves (67), proprietário da lanchonete que fica em frente ao parklet, a limpeza do local fica por conta própria. “A Prefeitura não ajuda e nem auxilia em nada e sobra tudo para os meus funcionários”, reclamou. Quanto ao lucro, ele diz que “ajuda e atrapalha”; ajuda, pois é um atrativo aos clientes, sobretudo aos fumantes que agora podem fumar sentados. Entre-
Parklet na rua Oscar Porto, esquina com a Abilio Soares. (Foto: Levi Oliveira)
tanto, atrapalha porque os consumidores podem levar a própria comida, bebida e ainda usufruir do lugar sem consumir nada”. “É horrível”, comentou um senhor de meia idade que trabalha numa loja de conveniência e preferiu não se identificar. Comerciantes da região dizem detestar a iniciativa municipal. “O prefeito que mora na região já foi xingado quando passou por aqui a pé”, disse Antônio de Almeida (50), corretor de imóveis. “Eu não sou o único que se incomodou com essa palhaçada, esse negócio só serve para o restau-
rante de esquina e só. Eles deveriam fazer esse tipo de investimento em outro lugar. Não serve para este bairro”. A reportagem visitou mais dois parklets na mesma região, um na Alameda Ministro Rocha Azevedo, e outro na rua São Carlos do Pinhal. O primeiro fica em frente a uma lanchonete bastante movimentada. E o outro, próximo ao Shopping Cidade São Paulo, que fica um tanto isolado e vazio. As estruturas dos parklets têm cerca de três metros de comprimento e dois de largura, são feitas de madeira. Segundo o site oficial
da Prefeitura, a ideia dos parklets vem dos Estados Unidos, com a intenção de converter os estacionamentos na via pública em áreas recreativas temporárias, estimulando a discussão do uso dos espaços da cidade de forma mais equilibrada. Além disso, o objetivo é promover a interação entre as pessoas, trazendo uma opção ecológica para os paulistas. Apesar de gerar polêmica em alguns pontos da cidade, mais de 124 solicitações de novos parklets foram recebidas pela prefeitura, mas somente 55 foram, de fato, implementadas.
ciência
“Planeta Inseto” inaugura exposição sobre Aedes aegypti
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“Planeta Inseto” disponibiliza acervo sobre os mais diversos insetos e inaugura novo espaço para conscientização e eliminação dos focos Aedes aegypti Felipe Pinheiro Flávia Fonseca Natália Mourão O Museu do Instituto Biológico acaba de inaugurar uma nova ala na exposição “Planeta Inseto” que detalha o agente de um dos mais graves e atuais problemas de saúde pública do Brasil: o mosquito da dengue, responsável também pela transmissão da zika e chikungunya. Na ala sobre o Aedes aegypti estão expostos materiais didáticos como cartazes que explicam o ciclo de vida do inseto, o modo de transmissão do vírus pela fêmea e como eliminar os criadouros. O visitante também pode aprender a diferenciar o pernilongo comum do Aedes, em placas de vidro e em lâminas que são examinadas no microscópio. O objetivo da exposição é disseminar ainda mais as informações de prevenção das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, sanar dúvidas de como combater o mosquito e contribuir
para a redução dos casos das doenças. Segundo Mário Kokubo, biólogo, educador e monitor do museu, a proposta da exposição é mostrar a contribuição dos insetos para o meio ambiente. “Como eles interferem em nossas vidas e até na economia, seja através das pragas, do inseto que produz a seda ou a abelha que produz o mel, por exemplo”. Um dos principais objetivos é desmitificar os insetos e fazer com que entendam a importância deles em nosso meio. Em abril, professoras da escola Eudoxia de Barros, da Zona Norte, que visitavam o museu, trouxeram 50 crianças de 4 e 5 anos para conhecer o espaço. Segundo as educadoras, a ideia de visitar o espaço surgiu porque a escola mantém uma área verde que abriga insetos e foi por interesse das próprias crianças. Fundado em 2010, o espaço recebe o público de todas as idades, mas acaba chamando mais
Material didático utilizado no museu. (Foto: Natália Mourão)
a atenção de crianças e profissionais da área da educação. O Instituto recebe cerca de 2 mil pessoas por mês, geralmente quatro escolas por dia, que através de excursões de escolas, atrai crianças de 3 a 9 anos.
Serviço “Planeta Inseto”: Museu do Instituto Biológico Av. Doutor Dante Pazzanese, 64. De terça a domingo, das 9h às 16h. Tel. 2613-9500. Entrada gratuita.
Material didático utilizado no museu. (Foto: Natália Mourão)
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Observatório SP Paraíso
Hospital Oswaldo Cruz testa software que lê mapeamento genético Parceria com hospital de Portugal permite ter nova tecnologia de interpretação genética para melhorar diagnósticos, prognósticos e terapias
Foto: Bárbara Santos.
Bárbara Santos Matheus Bessan O hospital Oswaldo Cruz, re-ferência no Brasil e localizado no Paraíso, firmou uma parceria com o hospital Coimbra Cenomics, de Portugal, para realizar uma série de testes sobre o software ELSIE, que permite, após se realizar um mapeamento ge-nético, obter uma leitura acessível, tanto para o médico quanto
para o paciente, da estrutura do DNA para fazer diagnósticos. A ELSIE per-mite consultar os genomas dos doentes através de perguntas padronizadas. O siste-ma fornece ao médico relatórios fáceis de ler e interpretar, con-tendo informações válidas para tornar as decisões clínicas sobre diagnós-ticos, prognósticos e terapais mais relevantes. O médico pode fa-
zer uma pergunta para o ELSIE, por exemplo, qual é a propensão para o câncer de mama de tal paciente ou qual o risco de Alzheimer etc. O software então retorna com respostas precisas sobre deter-minado indivíduo. Segundo o médico Jefferson Fernandes, de 56 anos, superintendente de Educação e Ciências do Hospital Oswaldo Cruz, a parceira com os portugueses trouxe uma solução
simples, escalável e se gura de se fazer me-dicina personalizada. “A parceria entre a Coimbra Genomics e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz nos co-loca na vanguarda na implementação da medicina personalizada, trazendo maior pre-visibilidade e precisão na assistência aos nossos pacientes, através do uso e disseminação do sequenciamento genômico”, disse. O processo envolve o
ciência mapeamento completo do genoma do paciente a partir de uma amostra de sangue. Após o cadastramento no software, o paciente e o médico poderão acessá-lo para obter qualquer informação desejada ou que foi solicitada. Além disso, a plataforma é desenvolvida para man-ter total sigilo das informações, evitando que os detalhes genéticos sejam analisados por pessoas não autorizadas. Por isso, o doutor Jefferson ressalta que os pacientes mantenham a tranquilidade, garan-tindo que a plataforma é amplamente segura. “A segurança é garantida por existir duas chaves físicas para o acesso às informações genéticas, uma para o paciente e outra para o médico responsável. Assim, é evitada que a carga genética
Foto: Bárbara Santos.
seja analizada sem autorização prévia, já que o sistema só funciona com ambas as chaves inseridas simultaneamente”, com-plementa o especialista. Alguns outros hospitais do bairro do Paraí-
saberiam interpretar os resul-tados, mas isso pode mudar com esse novo sistema”, explica Celso. Segundo o médico, a ELSIE vai ajudar a aperfeiçoar o mapeamento genético. “Mapear o ge-
O mapeamento genético nos ajuda a detectar precocemente uma condição de saúde. so, como o Sírio Libanês, estão atentos ao avanço dos testes. Quem confirma e explica é Celso Arrais Rodrigues da Silva, de 42 anos, médico especializado em Oncohematologia. “O mapeamento genético nos ajuda a detectar precocemente uma condição de saúde, um gene danificado ou uma doença hereditária. Até então, só espe-cialistas em genética
noma, em sua essência, ajuda a detectar os problemas no genes do paciente. Como a ELSIE é um programa de com-putador e sabemos do avanço da tecnologia, a possibilidade de rapidez e melhorias nos resultados são au-mentados de maneira dobrada.”, disse. Reconhecimento internacional Como a repercursão so-
15 bre o software é grande, o superintendente de Educação e Ciências do Oswaldo Cruz aproveitou para relatar que o Coimbra Cenomics procurou diversos hospitais em todas as partes do mundo para realizar os testes. Jefferson Fer-nandes explica que o Oswaldo Cruz é apenas um dos hospitais envolvidos nesta enor-me experiência. O Preventicum Institute for Individualized Medicine (Essen, Alemanha), o Rambam Medical Center (Haifa, Israel) e a Ruppiner Kliniken (Região Ber-lim-Brandenburgo, Alemanha) também par-ticipam da fase de testes. A assessoria de imprensa do Hospital Oswaldo Cruz informou que os testes estão ocorrendo desde março deste ano e ainda não tem um prazo para encerramento e início da utilização da ELSIE.
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Observatório SP Paraíso
Educação e lazer no coração de São Paulo
Encontros, estudos e projetos educativos são somente algumas das atrações do Centro Cultural São Paulo Larissa Avilez Mariella Vicentin Vitória Bitencourt Localizado ao lado de uma das principais avenidas paulistanas, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) comemora este ano seu 30º aniversário. Inaugurado no dia 13 de maio de 1986, o CCSP surgiu a partir da ampliação da Biblioteca Mario de Andrade, principal espaço de leitura do munícipio, localizado próximo ao metrô Anhangabaú. Vinculado à Secretaria Municipal de Cultura (SMC), abriga inúmeras práticas artísticas e educacionais. Com bibliotecas multidisciplinares (literatura, música, teatro, dança e cinema) e wi-fi gratuito, seus bancos e mesas são ocupados majoritariamente por estudantes de diversas idades que utilizam o acervo para pesquisas, trabalhos de faculdade, estudos, no geral. Cristiane Oliveira (35) frequenta o CCSP três vezes por semana, desde 2015, para estudar. “O lugar é tranquilo e respeitoso, evita o desgaste de pessoas que reclamam e falam alto”. Nem todo mundo, porém, vai ao Centro Cul-
tural a procura de paz e sossego. Thomaz Jefferson (65), por exemplo, adora compartilhar a mesa com outras pessoas enquanto lê e estuda matérias acadêmicas de sua quarta faculdade. O CCSP também promove cursos e oficinas gratuitas à população. Os interessados podem se inscrever pessoalmente no local da atividade ou pelo site da própria instituição. A seleção ocorre por ordem de chegada. Abaixo, destacamos duas das mais de 120 atividades oferecidas pelo Centro Cultural São Paulo. Fab Lab Livre Inaugurado há dois me-
ses, o Fab Lab Livre SP é um espaço de fabricação digital constituído por 12 laboratórios que integra a Rede Pública de Laboratórios de Fabricação Digital. Focado no aprendizado e na inovação tecnológica, o programa tem como principal objetivo desenvolver e construir projetos gratuitamente por meio de impressoras 3D, fresadores CNC e aguardam ainda a chegada de uma impressora de corte a laser até o final desse ano, para integrar também a estrutura do laboratório. Para utilizar o que este espaço oferece, o interessado precisar ir até o local e apresentar seu projeto para os
Espaço de leitura do Centro Cultural São Paulo. (Foto: Ana Cecília Faria)
auxiliares analisarem a viabilidade de sua execução. Os profissionais também estão capacitados para ajudar no manuseio das máquinas e softwares. Por conta do pequeno espaço, o laboratório comporta de seis a dez alunos por aula. Através dos processos de criação ali desenvolvidos, pessoas podem dar vida a suas ideias mais simples, como por exemplo, um aluno que planeja fazer um filtro para conseguir respirar um ar menos poluído ao andar de bicicleta, ou até mesmo ideias maiores com uma abordagem mais coletiva, como por exemplo, um aluno que pretende desenvolver
educação
monumentos da cidade de São Paulo em 3D para deficientes visuais tatearem e também conhecerem um pouco do mundo que não podem ver. Folheteria Com a intenção de transformar e reinventar, o curso Folhetaria CCSP foi lançado em dezembro de 2012 e, desde então, realiza inúmeras oficinas gratuitas de xilogravura, serigrafia e monotipias para pessoas de todas as idades que queiram desenvolver seus projetos artísticos. Por ser aberto à tarde, Rodrigo Taguchi, funcionário público que faz parte da equipe do curso, conta que o número de participantes não é muito alto, “São uma média de 14 alunos, às terças-feiras, quantidade que normalmente abaixa às quintas-feiras”.
Serviço Fab Lab Livre SP Dias: Segunda a sexta Horário: 10h às 19h e aos sábados, das 10h às 14h Classificação: 10 anos Inscrições gratuitas: http://fablablivresp.art. br/ Folheteria Dias: até 15 de dezembro Horário: 14h às 21h (terça-feira) e das14h às 17h (quinta-feira) Duração: 180 minutos Classificação: Livre Equipe: Adriane Bertini, Caio Righi, Isabella Finholdt, Rodrigo Taguchi e Solange Azevedo.
Um bairro para todos?
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Desequilíbrio de espaços educativos Ana Cecília Faria Brenda Prestes Jade Passo Fundado em 1897, o bairro Paraíso se estende desde as proximidades do Parque do Ibirapuera até parte da Avenida Paulista. Por estar localizado no coração econômico e cultural da capital do Estado de São Paulo, ele é um dos mais prósperos da cidade e conta com dezenas de instituições direcionadas ao desenvolvimento social e educacional, como o Centro Cultural São Paulo, a Casa das Rosas e o Itaú Cultural; além de cursinhos e faculdades. A região possui inúmeras escolas particulares, como o Colégio Maria Imaculada, Colégio Itatiaia, Curso e Colégio Poliedro e o tradicional Colégio Bandeirantes. Em contrapartida, há somente duas escolas públicas dentro do mesmo perímetro, uma estadual e outra municipal; evidenciando um desequilíbrio, já que outros bairros - até menores - abrigam mais estabelecimentos públicos de ensino, como é o caso de Moema. Questionada sobre essa diferença de oferta, a diretora pedagógica do Colégio Maria Imaculada, Silvana Benigno, diz que acredita que o bairro tenha uma demanda
maior por instituições privadas, devido ao seu perfil socioeconômico. “Considerado de classe média alta, o Paraíso recebe pessoas de todos os perfis e regiões da cidade, por estar situado em uma zona central”. A evidência desta pluralidade pode ser observada nos próprios alunos de Silvana, que moram em bairros como Mooca, Tatuapé, Saúde, Santana e Jardins. A explicação é que “os pais destas crianças preferem matricular seus filhos em entidades próximas aos seus locais de trabalho, pois assim eles podem levá-los, deixá-los em período integral e buscá-los no fim do expediente”, afirma a diretora. A Escola Municipal de Ensino Infantil Heitor Villa Lobos, uma das duas públicas da região, também possui esta ca-
Foto: Brenda Prestes.
racterística referente ao dia a dia dos pais e alunos. As diferenças, porém, aparecem no perfil destes trabalhadores, “em sua maioria de classe média baixa”, segundo fontes consultadas pela reportagem. Além disso, a instituição oferece atendimento apenas a 146 crianças de quatro a seis anos, enquanto a média do Maria Imaculada é de 750 alunos. De acordo com João Pedro da Silva, diretor de divisão técnica da Diretoria Regional de Educação do Ipiranga – responsável pelas instituições educacionais da região - o pequeno número de colégios públicos na área se deve a baixa demanda cadastrada, mas salienta “Independentemente da classe social, a educação é direito público subjetivo”.
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Observatório SP Paraíso
A “casa muito engraçada” de Vinícius de Moraes está no MAC-USP O lar mais famoso da música brasileira pode ser visitado em São Paulo, e ele não fica na Rua dos Bobos, número 0
Foto: João Victor Coelho.
Ana Flavia Monteiro João Victor Coelho Natália Nunes Pamella Massola O Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC) é um famoso centro de acervo artístico e cultural criado em 1963. Atualmente, o museu tem nove exposições em cartaz, e uma de grande destaque é “A Casa”, que conta com curadoria de Katia Canton. A mostra é inspirada na famosa música de Vinícius de Moraes, do mesmo nome, e permite que as pessoas tenham uma ideia do que o poeta imaginou quando compôs a canção. Logo na entrada, o vi-
Foto: João Victor Coelho.
sitante se depara com a figura de uma caçamba de lixo colorida e felpuda na parede em tamanho real. Olhando para obra, nota-se a técnica de profundidade e dimensão. Nas outras paredes, é possível ver a imagem de um sofá e um toca discos, além de um cobertor verde estampando uma onça pintada de olhos vermelhos. Nos outros cômodos, há utensílios de cozinha expostos que ganharam outras funções, questionando os limites entre arte e design. São eletrodomésticos multicoloridos, escadas e cadeiras no meio do caminho e até mesmo um sofá que
não foi feito para sentar. “Inquietante e surpreendente”, foi como a estudante Thyala Dias (20) definiu a exposição de Katia Canton. Aos olhos de Thyala, a obra que mais chamou atenção foi a de um cordeiro colorido com várias escumadeiras espetadas pelo corpo. “Fiquei impressionada com essa obra, passei um bom tempo olhando nos olhos dele (cordeiro)”. “A Casa” faz parte da pesquisa intitulada: Temas da Arte Contemporânea. “Podemos pensar na exposição como o compartilhamento desse espírito de estranheza, ao mesmo tempo lúdico e dramático, questio-
nando os materiais e formas da construção artística. A arte contemporânea permite leituras não convencionais e instigantes dos objetos e dos pensamentos acerca do mundo”, explica Katia Canton. Ainda segundo a curadora, as obras, que pertencem à coleção do MAC USP, não estão distribuídas por ordem cronológica ou autoral, mas pela “representação dos papéis que cada uma cumpriria em sua função de domesticidade. “Essa ordem caseira seria possível, por exemplo, caso o sofá de Regina Silveira fosse feito para se sentar, ou a vitrola de Iran do Espíri-
cultura to Santo fosse pensada para tocar discos. Ou ainda as escumadeiras espetadas no cordeiro, de Alex Flemming, fossem feitas para fritar, utilizando para isso o fogão de Alex Vallauri”, comentou Katia. Mesmo com móveis e utensílios domésticos
customizados de maneira impressionante, a exposição não é sobre design ou decoração, tão pouco sobre o funcionamento de um lar, mas o status da arte nos dias de hoje. Ao final do tour pela “casa engraçada”, a estudante de moda Aman-
da Ramos (22) contou à reportagem “achei todas as obras de uma sensibilidade incrível, cada uma com suas peculiaridades. Todas elas possuem um certo drama que te faz refletir sobre o significado de arte. Realmente é uma casa feita com muito esmero”.
19 Serviço Em cartaz desde o ano passado, “A Casa” permanecerá no MAC até 31 de julho e está aberta para visitações de terça-feira a domingo, das 10 às 18h. A visita é gratuita. Av. Pedro Álvares Cabral, 1301
Planetário reabre em SP
Foto: Lívia Teixeira.
Andressa Moares Lívia Teixeira Em frente ao MAC, no Parque Ibirapuera, está localizado o Planetário Aristóteles Orsini. Inaugurado em 1957, foi o primeiro do Brasil e hoje é um importante patrimônio histórico, cientifico e cultural. O lugar foi reaberto no final de janeiro deste ano, após praticamente três anos fechado devido a refor-
mas, que segundo Rodrigo Ravena, secretário do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo, eram muito complexas e necessitavam de mão de obra especializada. Na sala em formato circular de 550 metros quadrados, com capacidade de 330 pessoas, os visitantes podem ver através de projetores modernos, estrelas em cores e brilhos reais em
uma sessão com cerca de 40 minutos. Em poltronas similares as das salas de cinema é possível admirar o céu paulistano de uma forma diferente, sem poluição, luzes da cidade ou qualquer nebulosidade. Além de estrelas, planetas, meteoros e cometas aparecem como bonitos pontos iluminados em um cenário digno de filme. Uma aula explicativa acompanha cada
trecho da apresentação e entretém crianças e adultos. A visita ao planetário é gratuita. A distribuição de ingressos se realiza uma hora antes do início de cada sessão. Sua entrada fica localizada no Portão 3 do Parque Ibirapuera e é aberto aos sábados, domingos e feriados em quatro sessões, nos seguintes horários: 10h, 12h, 15h e 17h.
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Observatório SP Paraíso
Moradores do bairro viram “atletas do Ibira” O parque é boa opção para manter a forma
Allan Figueiredo, 34 anos, pedalando no parque. (Foto: Bárbara Santos)
Diego Campos Karina Matos Cada vez mais frequentado por moradores do Paraíso, o Parque do Ibirapuera é uma boa opção para quem quer se manter em forma ao ar livre. A prática se tornou comum, principalmente pelos adeptos de corrida e ciclismo. A professora aposentada Teresa dos Santos, de 87 anos, moradora do bairro do Paraíso há 60 anos, sofre de problemas na coluna, mas dispensou diversos centros de fisioterapia para se recuperar das dores caminhando e se exercitando no Ibirapuera. “Venho me exercitando no parque desde que sofro com minha
coluna, há cerca de três anos. Não me vejo em centros de fisioterapia, meu lugar é o Ibirapuera.” A preferência pelo local tem boas explicações. Além do parque se localizar num ponto estratégico do bairro, também promove a realização de exercícios em ambientes frescos e mais úmidos, facilitando o rendimento do corpo, independentemente da idade e do biotipo. O professor de natação e atividades fitness Tadeu Tomio Takama, de 30 anos, treina com os amigos todos os finais de semana no Ibirapuera. Para ele, a respiração e o condicionamento físico são melhorados em relação aos
treinos em academias, e isso interfere de maneira positiva no bem-estar, diminuindo, até mesmo, as lesões. “Aliada com a respiração, o condicionamento físico é melhorado comparando aos exercícios em academias. O prazer de se exercitar ao ar livre interfere positivamente no nosso bem-estar, e os riscos de lesões diminuem”, disse Takama. Outro diferencial são os aparelhos de ginástica encontrados no parque. Com eles, é possível alongar os músculos mais exigidos no dia a dia antes de se divertir nas pistas de bicicleta e correr por todas as dimensões do local. Para Gabriela Pu-
gliesi, estudante de 20 anos, o fácil acesso torna possível praticar alguma atividade em meio à rotina desgastante da faculdade. A jovem conta que a boa localização do parque em relação a sua casa é um fator muito positivo em meio aos constantes problemas públicos de transportes que a cidade enfrenta. O Parque do Ibirapuera fica aberto durante toda a semana das cinco horas da manhã até a meia noite. Aos sábados, tem programação especial: Funcionamento de 24 horas. Segundo a administração do parque, o local recebe aproximadamente 20 mil pessoas entre segunda-feira à sexta-feira, 70 mil aos sábados e cerca de 130 mil aos domingos. Cinco dicas para quem pratica exercícios físicos 1 Beba agua durante os exercícios para se manter hidratado 2 Não se deve fazer exercício sem se alimentar antes 3 Consulte seu médico antes da prática de exercícios 4 Faça aquecimento 5 Uma boa postura para se exercitar é fundamental
lazer
Paulista muda os domingos da capital
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Frequentar a avenida sem carros é uma opção para a população “mais madura” Beatriz Aniceto Larissa Ázara Bruno Diniz Fernando Haddad (PT) propôs uma nova opção de lazer quando em outubro de 2015, passou a fechar a Av. Paulista - principal avenida da cidade -, aos domingos, das 9h às 17h, para que a população desfrutasse da prática de atividades físicas e comerciais no local. A intenção do prefeito foi proporcionar um ambiente mais tranquilo para as cidadãos - não importando a idade para que os amantes de esporte e para aqueles que querem dar apenas uma caminhada ou comprar alguma coisa no comércio local, possam usufruir das feirinhas de artesanato. O uso do metrô facilitou o acesso ao local, possibilitando a chegada de pessoas de diferentes regiões da cidade. Além disso, a Avenida se tornou um grande atrativo para os que praticam outras modalidades, como por exemplo, a corrida, skate, patins, alongamento. Um dos diferentes públicos que frequenta essa opção de entre-
tenimento é o de idade mais avançada, como por exemplo, o comerciante Claudionor Galvão (57) que afirma ser uma ótima opção para aqueles que não querem ficar dentro de casa aos domingos. “Ahh... É melhor que ficar dormindo até tarde, não é?”. Para o médico Ademir Lima (63) que mora
Mas já tiveram momentos em que quis almoçar na região e o trânsito estava um inferno para chegar ao restaurante”. Os adultos, em sua maioria, vão acompanhados de algum familiar, grande parte com netos e filhos. Esse é o caso do aposentado Ricardo Nasser (59), “as crianças estão pedindo
Foto: Karina Freitas.
próximo a região é uma ótima oportunidade para dar continuidade a sua prática de anos: o ciclismo. Questionado quanto à polêmica sobre o trânsito da região e ao difícil acesso aos locais públicos e prédios residenciais do perímetro, ele não se diz muito afetado. “Moro em Perdízes, então não sou tão afetado pelo trânsito local.
para vir já faz um tempo, dai hoje deu para trazer”, afirmou referindo-se aos netos João Pedro (7) e Lucas (9). O administrador de empresas e também corredor João Pedro Aguiar (55) treina diariamente, no entanto, são os domingos os seus dias favoritos. “Pratico corrida já faz um tempo. Domingo é sempre o melhor dia, a cidade está
azia, propícia a isso”. Morador da região, ele não acha a proposta de Haddad negativa. “Eu moro aqui embaixo em Jardins. Não saio muito de carro aos domingos, então não me deixo afetar pelo trânsito caótico. A vantagem é que aqui dá para fazer tudo a pé. Mas acredito que em uma emergência realmente fica inviável fechar a Paulista”. Numa pesquisa do IBOPE, 64% dos paulistanos afirmam ser favoráveis ao uso de vias por pedestres e ciclistas aos domingos. A iniciativa amplia a oferta de espaços de lazer na cidade e deverá ser estendida para todas as subprefeituras. Quanto ao comércio que lá se encontra, embora diversificado, atinge em sua maioria o público mais jovem, potencial consumidor de artigos desenvolvidos manualmente e de peças exclusivas, que no geral seguem a tendência da cultural pop da atualidade. A maior parte dos entrevistados afirma ter consumido apenas bebidas. A opinião geral é que a cidade ganhou um ponto central para lazer aos domingos.
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Tradição e qualidade de vida no bairro Carolina Rosa Victor Rosa Wevertton Araújo Paraíso por batismo, o bairro da zona sul de São Paulo possui o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade (0,943), enquanto se aproxima em valores ao IDH da Noruega, que é maior (0,944). O IDH indica aos moradores e às autoridades a qualidade de vida em uma determinada região. São três fatores que estruturam o IDH: a longevidade, a educação e a renda. Ou seja, ao analisar a longevidade, e a maneira como essa se mantém, junto a uma noção do alfabetismo regional com a renda per capita de cada morador.
Foto: Maurício Moreno.
Realizado no segundo semestre de 2015, o Índice de Desenvolvimento Humano, feito pelo site Atlas Brasil, apontou-nos detalhes dos bairros de São Paulo, porém o destaque, foi ao primeiro colocado: o bairro do Paraíso. Em uma escala de 0 a 1, o Paraíso chama a atenção por estar com um índice esperado por países desenvolvidos, não por bairros paulistanos. O bairro surgiu de uma extensa propriedade rural do século 19 e, conforme o crescimento paulistano, inclusive o destaque que São Paulo ganhou pela “economia do café”, organiza-se bem geograficamente; localizando-se atualmente no trecho inicial da Avenida Pau-
lista, entre a Praça Osvaldo Cruz e a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, o local mostra-se muito importante para a economia do país. Hoje, por mais atalho que o bairro sirva, o Paraíso permanece como bairro residencial. Segundo o conselheiro da Associação Viva Paraíso, Otávio Hosokawa, há uma maior programação cultural de entidades particulares, como a Casa das Rosas, Itaú Cultural, SESI, fora os outros centros culturais que não ficam no Paraíso, mas são muito próximos, o que chama a população interessada que reside no bairro. Parque do Ibirapuera ou SESC da Rua Pelotas, são opções de lazer próxima à região.
Estando no centro metropolitano, além do destaque, o bairro do Paraíso continua crescendo, encantando e conquistando moradores e visitantes que buscam beleza e qualidade de vida em São Paulo. Entretanto, morar no Paraíso ainda é um luxo para a maior parte de paulistanos. Ainda de acordo com Hosokawa, “está cada vez mais difícil que bairros centrais, onde os terrenos custam caro, existir imóveis que comportem população de baixa renda apesar de haver uma quantidade de imóveis bem antigos que ainda resistem à especulação imobiliária, mesmo assim acabam por ter um custo considerável pela própria localização.”
lazer
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Casa das Rosas é refúgio no meio do caos Da recepcionista Aline ao gerente Hátyla é difícil ficar imune ao “clássico francês” da mansão Tiago Minervino Todos os dias, Aline Fernandes, de 26ª nos, acorda cedo para não se atrasar no trabalho. Ela mora em Itaquera, Zona Leste de São Paulo, e percorre diariamente um trajeto de aproximadamente duas horas até a Avenida Paulista, no bairro do Paraíso. Aline trabalha como recepcionista no Centro Cultural Casa das Rosas, uma mansão no estilo clássico francês, construída na década de 1930, pelo renomado arquiteto Francisco Ramos de Azevedo. Apesar da distância, a recepcionista afirma que ama trabalhar na casa. “Eu amo trabalhar aqui, não há lugar melhor! ”, diz Aline, que trabalha há quatro meses no local. “Tenho acesso fácil a cultura e às obras raras da poesia nacional”, finaliza. Às 10h, Aline senta atrás de uma escrivaninha de ma-deira rústica de cor marrom escuro, em um espaçoso salão com teto alto, de frente para o exuberante jardim, com várias espécies de rosas que colorem o ambiente e dá nome ao Espaço. Ela usa uma blusa preta com mangas compridas no estilo “tomara que
caia”, deixando os ombros à mostra. Ela põe um batom ro-sa choque, estampa um sorriso no rosto, realçando a dentição perfeita, indicando que está pronta para recepcionar os primeiros visitantes do dia.
o gerente de uma montadora de carros. Hátyla Marinho (30), natural de For-taleza, veio passar às férias em São Paulo, Essa é a primeira vez que ele visita o espaço e mostrou-se maravilhado com o que viu.
Foto: Fabrício Luz..
Cerca de quatrocentas pessoas visitam a Casa das Rosas de segunda-feira à sexta-feira. Aos finais de semana e feriados, o público é de, no mínimo, mil pessoas. A maioria desses visitantes são turistas vindos de outros países ou estados do Brasil, como
“Muito bonito. Um lugar que deve ser conservado pelo resto da vida”, disse. Em 2004, a Casa das Rosas foi reinaugurada como Espaço Haroldo Campos de Poesia e Literatura, agregando à Casa raros títulos da poesia e literatura nacional.
Frequentadoras assíduas do espaço, as estudantes Ana Clara e Helena Araújo, ambas com 15 anos, destacam a arquitetura imponente e seu notável contraste com os arranha-céus e edifícios modernos que se tornaram característicos da São Paulo de pedra, construída a partir do final do século XIX e por todo o século XX. Para Helena, a Casa significa um refúgio para se livrar do caos cáustico da capital, “uma bolha, onde você consegue esquecer o mundo exterior e o barulho perturbador do tráfego e das pessoas indo e vindo, inin-terruptamente”. Já Ana Clara prefere as exposições temáticas durante todo o ano. Ela destaca a exposição que abordou a vida e obra de Franz Kafka (18831924), autor tcheco, perenizado na história por sua obra “Metamorfose”, principal atração da exposição que ficou disponível para o pú-blico entre o final de 2015 e começo de 2016. Acesse
casadasrosas.org.br
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Foto: Marina Ferreira.
Comida de boteco e música ao vivo atraem público Fabrício Luz Marina Ferreira O bairro do Paraíso tem uma série de bares que mantêm viva a tradição de música ao vivo. Dois exemplos disso na região são o Barnaldo Lucrécia e o Casa de Francisca. Inaugurado em 1994, o Barnaldo destaca-se pela “comida de boteco” e o estilo MPB. A decoração remete aos armazéns de secos e molhados do interior do Brasil. “Tem boa música, ambiente ale-
gre e descontraído”, diz Adrianna de Castro, que se diz freqüentadora de longa data do bar. Lá a música ao vivo acontece de terça a sábado. O palco recebe nomes como Manu Maranhão, que canta e toca ao violão canções de Noel Rosa, Cartola, entre outros. Ele conta que sua paixão sempre foi a música. “Aprendi a tocar violão e a cantar com meu pai, quando tinha 10 anos. Ele era barbeiro e professor de violão”, relembra. Maranhão, como é conhecido desde que
chegou a São Paulo, em 1979, veio de Codó, no Estado do Maranhão, daí seu apelido. Para ele, o que mais importa e cativa é a participação do público nos shows. “Não importa para quem ou onde eu toque, mas eu gosto de sentar na mesa e perguntar o que o cliente quer ouvir. Adoro quando as pessoas vêm cantar comigo no palco”, diz com um sorriso no rosto. O Barnaldo é apreciado por um público diverso que vai desde casais em encontros românticos até boêmios
de carteirinha. O clima rústico acompanhado de música pede uma cerveja gelada ou uma caipirinha. O bar também oferece pacotes para eventos corporativos e aniversários. “Eu indico. Adorei a comida, o ambiente e o atendimento”, afirma Andressa Martins, que já foi três vezes ao local. “Curto a decoração retro, e o preço é bem acessível”, acrescenta. Assim como Karin Medinilla, que gostou mesmo da música: “uma cantora e um cantor tocando MPB. Ótimo!”.
gastronomia
Pequena e aconchegante: Casa de Francisca Já a Casa de Francisca é uma pequena casa de shows de São Paulo voltada exclusivamente para projetos musicais. Recebe uma seleção de artistas que costumam variar bastante no estilo, que começa no jazz, sempre presente na casa, e passa pelo samba, folk e MPB. O interior da casa já desperta o interesse do visitante logo de cara. Todo o ambiente parece ter sido minuciosamente decorado com itens charmosos vindos de dezenas de lojas de antiguidades.
Amanda Pedroza, de 23 anos, fã que estava presente no show do duo de samba Rodrigo Campos e Juçara Marçal, gostou do que viu. “O ambiente intimista e confortável proporciona um con-tato mais próximo com a música que está sendo tocada.” Por ser um local bem pequeno, com limite máximo para 44 pessoas, seria impossível não se sentir próximo dos artistas que a casa recebe. E a lista de músicos que já tocaram lá é longa, embora o principal diferencial sejam os
O espaço Casa de Francisca é principalmente voltado a casais. (Foto: Fabrício Luz)
novos nomes. O histórico vai desde o samba de Rodrigo Campos e Juçara Marçal até a apresentação de Ava Rocha, que se classifica como “MPB-teatral”, ou César Lacerda, que apresentou toda a sensibilidade de seu novo disco, Paralelos & Infinitos, no palco da casa. Em geral os nomes não são conhecidos da grande mídia, embora tenham fãs no mundo cultural. O estilo costuma variar bastante, mas não foge muito do jazz, samba, folk e, claro, MPB. O coordenador cultural,
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Rafael Munduruca, de 28 anos, já foi na Casa de Francisca três vezes e aprova o ambiente. “O que toca lá eu chamo de MPP, Música Popular Paulista, o que seria uma variação da MBP”. Os ingressos variam entre R$ 35 e R$ 53, além do cardápio, que possui uma cremosa polenta com ragu de lentilha e cogumelos a R$ 35 e um vinho Remhoogte Pinotage 2012 a excêntricos R$ 152. Em uma noite romântica a dois, será impossível sair de lá sem gastar pelo menos R$ 150.
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Restaurantes oferecem turismo gastronômico Cozinhas indianas, japonesas e árabes são exemplo de diversidade no bairro
Fachada do restaurante indiano Tandoor. (Foto: Divulgação)
Danilo Alves Juliana Buccolo Restaurantes com comidas típicas de países exóticos proporcionam uma “viagem gastronômica” para apreciadores de pratos diferentes no bairro do Paraíso, Zona Sul de São Paulo. Na região, podem ser encontrados, por exemplo, típicas casas de culinária indiana, árabe e japonesa. O diferencial de cada estabelecimento é proporcionar aos cli-entes a sensação de que estão em outro país. Segundo Lakhi Daswani, proprietário do restaurante indiano Tandoor, a comida do local é autêntica, sem
adaptações de sabor ou ingredientes. “Você come aqui como se fosse na Índia. Nosso cozinheiro é indiano, assim como todas as especiarias que são trazidas de lá”, completa o empresário. De acordo com ele, o estabelecimento cos-tuma receber muitos imigrantes, turistas indianos e também, público brasileiro. É o caso do empresário Antônio Lopes (49), que diz, inclusive, ter viajado recentemente à Índia e nota que a comida e o ambiente são muito parecidos com o que viu no país. “Eu venho sem-pre, o lugar é excelente: o atendimento, a co-mida
e a decoração. É tudo muito bom”, elogiou o empresário. “Encontrei o Tandoor e desde então venho sempre aqui”, completou. O indiano Aja Nasser (59), cozinheiro do restaurante, explica que trabalhar lá lhe traz boas lembranças. “O cheiro me faz lembrar da minha infância. É como se estivesse na Índia”, relatou. Restaurante japonês Já o Yakitori Mizusaka conta com decoração e cardápio tipicamente japonês. “É um restaurante bem tradicional, com a televisão sintoni-
zada num canal oriental. Tem o senhor Mizusaka limpando peixes e pre-parando filés para a churrasqueira, sua mulher fazendo outros pratos e cuidando do caixa”, disse o gerente Michel Tavares (37) sobre os proprietários da casa. “À noite, as estrelas são os espetinhos de frango, carne bovina e legumes”, completa. A advogada Adriana Lima, de 29 anos, relata que o lugar é ótimo para encontrar amigos e comer comida japonesa. “Eu conheci o Yakitori através de um ex-namorado; nós terminamos, porém, eu continuo vindo aqui pelo ambiente agradável e comida excelente”, disse. Ainda segun-do o gerente do es-tabelecimento, no al-moço há outras opções executivas como arroz de curry, pescada frita e sukiyaki. “O tamanho da refeição é suficiente para matar a fome. É uma ótima pedida”, afirma. Esfiha e tabule Também no res-taurante árabe Jaber os clientes fazem uma “viagem” gastronômica a começar dos pratos típicos que contêm cafta, arroz sírio e tabule. “A cada meia hora,
gastronomia
Foto: Divulgação.
“Viajei à Índia, gostei tanto que quando voltei para São Paulo procurei um restaurante típico.“
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Foto: Divulgação.
novas fornadas de esfihas chegam às estufas e em poucos minutos saem quen-tinhas para nossos clientes. Isso garante que a massa esteja sempre macia, e o recheio, fresquinho”, relata Tadeu Oliveira (34), gerente do local. O local existe desde 1952 e possui cinco filiais. Segundo o publicitário Guilherme Pereira, de 31 anos, o serviço é
Fachada do restaurante árabe Jader. (Foto: Danilo Alves)
rápido, e a comida é boa e barata. Além disso, a localização facilita o acesso ao lugar. “Eu vim almoçar aqui no dia em que fiz a minha entrevista de emprego. Fui contratado e desde então venho sempre”, disse Pereira.
19h00 às 22h00. Todos os cartões e formas de pagamento.
Serviço Tandoor: rua Dr. Rafael de Barros, 408. Das 12h00 às 15h00; das
Jaber: rua Domingos de Morais, 86. Das 9h00 às 22h30. Todos os cartões e formas de pagamento.
Yakitori Mizusaka: avenida Brigadeiro Luis Antônio, 2.367. Das 11h30 às 14h30; das 18h às 22h30. Todos os cartões e formas de pagamento.