Observatório Perdizes
SP
Jornal produzido por alunos de Jornalismo | Universidade Anhembi Morumbi | 2º semestre de 2017
Do solo à qualidade do ar, bairro vive contrastes
Reflexo da urbanização, Perdizes lida com variação atmosférica e contaminação do solo Foto: Lucas Leite
Págs. 30 e 31
POLÍTICA
Ruas sem moradores Considerado o terceiro bairro mais seguro de Sâo Paulo, Perdizes afasta população de rua Pág. 24
LAZER
Roteiro inclui gastronomia e música Da noite universitária até restaurantes e espetáculos, conheça as trilhas culturais da região
Págs. 35 e 36
COMBATE À DENGUE
ESPORTE Foto: Débora Bárbara
Moradores barram agentes e dificultam ações de prevenção
Agentes de saúde são impedidos de entrar em condomínios residenciais; Perdizes já foi recordista em casos em SP Pág. 13 PUC-SP
Vida noturna cria clima de guerra entre universitários e moradores
Barulho, acúmulo de lixo e vias bloqueadas por festas no entorno da universidade geram acusações Págs. 23 e 35
Samurai Kids: Academia promove jiu-jitsu adaptado ao público infantil
Pág. 40
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Observatório SP Perdizes EDITORIAL
A rua: mais importante do que nunca Prof. Dr. Nivaldo Ferraz Coordenador do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi Não há dúvida: um mundo que discute de maneira acalorada a qualidade da informação, a credibilidade dos grandes veículos e as noções de pós-verdade e fake news precisa – e muito – do bom jornalismo. Isso diz respeito às coberturas amplas, à informação global, ao conteúdo que caçamos para dar conta de uma realidade complexa; leva-nos aos meios de comunica-
Como o jornalismo local nos dá respostas aos desafios de informar na atualidade ção tradicionais que, aos trancos e barrancos, têm aprendido a se reinventar e dialogar com as mídias digitais. Mas e o jornalismo das pequenas experiências, dos lugares de vivência, do repórter que exercita o “olhar insubordinado” (como nos diz Eliane Brum) ao reinterpretar a realidade à sua volta? Como isso contribui para nos guiar em um mundo sobrecarregado de informação? É isso que buscamos descobrir com a produção do Observatório SP, jornal laboratório do curso de Jornalismo da
Universidade Anhembi Morumbi. Por meio da prática da produção, da apuração, da reportagem e da edição, propomos às turmas explorar o dia a dia dos bairros de São Paulo e revelar seus problemas, progressos, dilemas e estórias. Nesta edição, nossos alunos e alunas revelam, em suas reportagens, leituras locais para assuntos globais: as mudanças do clima, as crises política e econômica, os desafios da educação e do planejamento urbano. Resgatam personagens anônimos ou célebres, cruzando suas
vidas à história dos bairros. E, acima de tudo, colocam-se efetivamente como autores em textos que refletem um processo de redescoberta da cidade. Acreditamos que assim se executa o bom jornalismo: com os pés na rua, buscando histórias que mobilizam, tocam e fazem pensar. Acima de tudo, essa é a prática capaz de, em um ambiente dominado por contradições e maniqueísmos, valorizar o exercício crítico que nós, comunicadores, devemos oferecer a nossos leitores ao interpretar o real.
EXPEDIENTE Reitor Prof. Dr Paolo Tommassini Diretor da Escola de Ciências Humanas e Sociais Prof. Dr. Luiz Alberto de Farias Professores responsáveis Prof. Dr. Fernando Carlos Moura Prof. Dr. José Augusto Lobato Projeto gráfico Prof. Ms. Ricardo Senise O jornal “Observatório SP” é um jornal laboratório sem fins lucrativos feito por estudantes da disciplina Produção de Jornal, 4º semestre, do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi. Todo o material jornalístico publicado é protegido pela Lei Federal de Direitos Autorais e não pode ser reproduzido, no todo ou em partes, por qualquer meio gráfico, sem a autorização por escrito da coordenação do curso de Jornalismo, sob pena de infração da legislação que zela pela propriedade intelectual neste país. Os textos assinados são de única e total responsabilidade dos seus autores e não expressam necessariamente a opinião do jornal.
Alunos do 4º semestre de Jornalismo (Campus Paulista/Manhã)
Alexia Gabrielle de Mello Severo Munhoz, Amanda Sayuri Gushiken, Brenda Marques, Caroline Aintablian Svitras, Danielle Valeria Dos Santos Magalhaes, Dayane Stefany Silva de Lima, Debora Silva Barbara da Conceição, Fabio Martins Stella, Fernanda Yumi Chiappa, Gabriela Lemos Dos Santos, Gabriela Maas Naville, Gabriela Rodrigues Alves, Gabriella Forabelli, Gabrielle Rodrigues Silva, Giovana Petin Passarelli, Guilherme Mercadante Petry, Isabela Mello Costa Carrassari, Jacqueline Alves Araujo, Jaqueline da Silva Sousa, Julia Fernandes de Paiva, Kammyla dos Santos D’ Assumpção, Laura Sabioni Teixeira De Lemos, Leonardo Cavalcante Garcia, Lucas Leite de Barros, Maria Clara Silva Cordeschi, Mayara Amelio Melo, Mayara Cerqueira Cunha, Mirela Santos Alves, Nadine Alves Soares Ferreira, Natália Souza Santos, Nataly Ribeiro de Brito, Nicolle Cabral, Paloma da Silva Venancio, Raphael Preto Alves Pereira, Rayane Dias Goncalves de Lima, Samuel Gonçalves da Silva, Stefanie Neuman, Thamires Zaniboni Maldonado, Victor Vinicius Goes Gonçalves
O bairro
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O caminho da reportagem Confira no mapa alguns pontos de interesse de Perdizes visitados pela equipe durante a execução das pautas 1. Galeria Brasiliana - págs. 4 e 5 2. Colégio Batista Brasileiro - págs. 4 e 5 3. Paróquia São Geraldo - pág. 7 4. R. Apiacás - pág. 8 5. 19º Cartório de Registro Civil - pág. 12 6. CAPS Perdizes - págs. 14 e 15 7. Escola José Candido de Souza - pág. 17 8. Ciclovia da av. Sumaré - pág. 20 9. R. Cayowaá - pág. 22 10. Museu das Invenções - pág. 29 11. Centro Cultural Eita! - pág. 33 12. PUC-SP - págs. 21, 23, 27, 28 e 35 13. Sede - Trovadores Urbanos - pág. 37 14. Academia de Krav Magá - pág. 38
RELATOS DE EXPERIÊNCIA “Fazer um jornal de bairro me fez ver ainda mais como é importante pautar um jornal de fora para dentro. É lógico que a internet ajuda, mas o diferente dentro de um assunto que talvez já tenha sido explorado só surgirá com a vivência de rua do repórter.” Laura Sabioni (Entretenimento) “A experiência foi válida para adquirir conhecimento desde a formulação da pauta até sua produção.” Gabriela Rodrigues (Segurança)
“Com a produção de jornal desenvolvemos o olhar jornalístico, pois fomos instigados a ir às ruas buscar uma pauta.” Brenda Marques (Esporte) “Fazer parte de um jornal impresso me fez entender melhor sua lógica de produção.” Giovana Passarelli (Saúde e Bem-Estar) “Houve diversos obstáculos e aprendizados, desde encontrar fontes até escrever, diagramar e editar as matérias.” Nataly Brito (Educação)
“Escrever um jornal de bairro é um desafio. Você não espera por acontecimentos cotidianos: é preciso usar da criatividade para conseguir escrever uma boa matéria quando não há pautas grandiosas.” Maria Clara Cordeschi (Ciência) “Tivemos algumas dificuldades na construção das matérias, apesar de o bairro ser arborizado. Porém, tivemos uma boa relação com as fontes, o que facilitou a realização do trabalho.” Gabrielle Rodrigues (Meio Ambiente)
“A proatividade da fonte deu material suficiente para prosseguirmos” Samuel Silva (Cultura) “A partir de pesquisas e visitas, notamos divergências socioeconômicas da população de São Paulo com relação aos moradores do bairro.” Nadine Alves (Economia) “A apuração evidenciou as contradições do bairro e deixou claro que os moradores têm noção de lugar de fala.” Raphael Preto (Cotidiano)
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História
Galeria com jabuticabeira une história e cultura
Especializada em arte popular brasileira, a Brasiliana foi fundada por Roberto Rugiero e se tornou referência em seu segmento Amanda Gushiken A casa geminada de três andares, que abriga a Galeria Brasiliana, foi escolhida a dedo por Roberto Rugiero, o fundador e marchand (mercador). A recente pintura externa, com cor que varia entre rosa e um tom alaranjado, chama a atenção dos olhos curiosos. É comércio ou residência? Os dois. É lar de diversas obras de arte popular brasileira, da gata branca Dedé e da jabuticabeira no quintal do fundo. Mesmo com localização a poucos metros da prometida estação PUC-Cardoso de Almeida, da Linha 6 – Laranja do metrô, cuja previsão de inauguração está prevista para 2021, Rugiero deixa claro que o motivo principal de ter escolhido a casa número 1297, em 2012, foi a jabuticabeira. A árvore combina com as bananas, as maçãs e os mamões no cesto que fica na mesa da galeria. E também com os passarinhos visitantes que ele alimenta. Publicitário durante a década de 1960, Roberto se tornou descontente na profissão. “Toda propaganda é enganosa, na medida em que ela oculta possíveis defeitos e exalta pretensas qualidades, então eu tinha ali um conflito
Jabuticabeira e Roberto Rugiero: ícones da galeria (Foto: Amanda Gushiken)
Escultura exposta na Galeria Brasiliana aborda a temática indígena (Foto: Amanda Gushiken)
ético”. A partir de um colega da adolescência, iniciou a vida no mundo da arte na extinta Petite Galerie, no Rio de Janeiro. Voltou para São Paulo e foi indicado para a Galeria Ralph Camargo. Junto com Ralph, o jovem marchand iniciou um projeto de oposição à Galeria Collectio. “A Collectio de repente surgiu com muito dinheiro, revolucionou o mercado dos leilões e se tornou um monopólio no Brasil”, lembra. O objetivo do projeto de crítica era encontrar artistas brasileiros ain-
da não reconhecidos, e o resultado deste passo inicial foi a ascensão de artistas contemporâneos como Lygia Clark, Mira Schendel e Hélio Oiticica. A Galeria Brasiliana foi o mergulho neste ideal, com foco total no país verde e amarelo. Ela é responsável, por exemplo, por emprestar obras ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), na recente exposição “Histórias da Sexualidade”, com obras de Moacir da Chapada dos Veadeiros. O pintor Ranchinho
também teve seu reconhecimento após contato com Rugiero e seus filhos, Fedra e Dmitri. A arte como ar “Eu sou pessimista quanto ao futuro do Brasil, com seu império da ignorância. Tenho pena desses jovens, a grande massa entregue a si mesma, o consumismo desenfreado, a sexualidade irresponsável e as drogas”, analisa Roberto. O marchand tem pensamentos críticos, fruto de seu fascínio pela literatura do século XIX e de uma bagagem cultu-
ral extensa. Nasceu em plena Segunda Guerra Mundial, presenciou os tempos da ditadura militar e hoje vê a atual polêmica da exposição “Queermuseum” promovida pelo Santander Cultural em Porto Alegre. Afirma, categoricamente: “É censura sim!”. Roberto vê na arte popular brasileira a sua paixão e seu ofício, ainda no labirinto do conflito ético que encontrou na publicidade. Toma um gole de café e repete: “A ética precede a estética!”. Cita, ainda, um processo de “globanalização”, em que vê o mundo afundar. “Eu defendo a arte popular e o realismo, porque a beleza é um elemento inerente à arte”, diz. “Ela é quase o principal motivo, principal ingrediente
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de uma obra de arte, e, de repente agora é o conceito. A arte contemporânea é fashion e o construtivismo é moda.” Mencionando Dostoiévski, Tolstói e Mario Vargas Llosa, Roberto diz que “essa coisa do best-seller é um desserviço à cultura”. “As pessoas veem a leitura como distração, mas a leitura é uma incorporação de experiências, muda o mundo.” Não é de se espantar que ele já tenha sido convidado por faculdades para palestrar. E também não é de se espantar que os convites não tenham se repetido. O humor sarcástico e as críticas ácidas, que faz despercebidamente, assinalam o intelectual autodidata que espanta desinformados.
Educação sem medo e dor foi fundada no bairro Colégio Batista inovou com método de aula sem punições Mirela Alves Hoje é consenso: palmatórias e punições aplicadas em crianças nas escolas não trazem efeito positivo na educação dos alunos. As agressões se tornaram contra a lei em 2014, após a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) sancionar a lei 13.010 – que determina multas e até ordem de prisão aos educadores que aplicam punições físicas a crianças e adolescentes na escola. No Brasil, a decisão de acabar com tais cas-
tigos nas escolas não foi apenas por razões constitucionais. Anteriormente, os colégios espalhados pelo País já haviam adotado um sistema de ensino contrário às agressões físicas – e isso em muito se deve a uma escola pioneira na educação, que mostrou que é possível ensinar sem castigo: o colégio Batista Brasileiro de Perdizes, fundado em 1902 pelos missionários da igreja evangélica batista William Buck Bagby e Anne Luther Bagby.
A unidade brasileira só foi construída em 1923. Logo no início do século XX, a escola adotou um sistema de ensino norte-americano, que eliminava agressões físicas e verbais. A escola também foi uma das pioneiras em São Paulo a acabar com o sistema silencioso, que se baseava em não aceitar diálogo dos alunos durante o período de aula. Em 2013, o prédio, localizado na rua Dr. Homem de Melo, 537, foi definido como patrimônio histórico e tombado pelo
Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp). O edifício não é lembrado apenas por sua construção, com vigas inspiradas na arquitetura grega da cidade de Atenas. É também exemplo de educação de qualidade. A diretora da instituição, que não quis ser identificada, afirma ter “orgulho da história que carregamos com muita glória”. “Desde o começo de nossa unidade, ensinamos com maestria pessoas a se tornarem cidadãos de caráter.”
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Paróquia histórica destaca as origens do bairro
Irradiando arte, cultura e fé, igreja guarda Sino da Independência Alexia Munhoz O bairro de Perdizes é recheado de histórias. Seu nome veio por conta da criação da ave perdiz, tanto para usufruto de famílias locais quanto para venda na vizinhança. A simbologia universal da perdiz vislumbra ora um antídoto contra venenos e seduções, ora um símbolo de belos olhos e graça feminina. Entre essas histórias do bairro, um dos destaques é a Paróquia São Geraldo das Perdizes. Com arquitetura no estilo puro neobasilical românico, a basílica foi fundada pelo Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, e só foi oficialmente inaugurada em 1932, por conta de reforma feita por Cláudio Pastro, falecido em 2016. Esse
estilo arquitetônico permite que, hoje, os alunos de arquitetura da Universidade Mackenzie façam estágios no local. Um dos grandes marcos do local sagrado, em sua história, é a guarda do Sino da Independência do Brasil, localizado no campanário da igreja, apelidado como “Bronze Velho”, desde 1942. O pároco atual é o padre José Augusto Schramm Brasil, nomeado em 1990, e tem como padre de apoio Aury Maria Azélio Brunetti. Passaram pela paróquia oito párocos, que permaneceram em média 12 anos cada, com exceção do pároco atual, que permanece até hoje. Vivência Aos 11 anos, Aury entrou para a carreira eclesiástica e religiosa no
Sino da Independência do Brasil, localizado no campanário da Paróquia: um pedaço da história nacional em Perdizes (Foto: Alexia Munhoz)
Economia
Edifícios valorizam conforto para idosos
Acessibilidade para pessoas com mais de 60 anos ganha espaço maior e chama atenção de empresas Mayara Melo
Aury Maria Azéllo Brunetti: depois de 40 anos de casado, tornou-se padre na Paróquia São Geraldo (Foto: Alexia Munhoz)
Seminário Claret, de Rio Claro, iniciando sua forte conexão com a religião. Ao longo de sua jornada, estudou Filosofia em Guarulhos e foi laureado em Teologia pela Pontifícia Universitas Gregoriana, em Roma, onde morou de 1954 a 1956. Nesse período, teve passagem pela renomada Faculdade Sant-Georgen, na Alemanha. Ao retornar para o Brasil, aos 25 anos, o filósofo e teólogo foi integrado à comunidade claretiana da Casa-Mãe dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, em São Paulo, onde iniciou suas atividades como organista e conheceu Maria Aparecida Décourt, cantora solista no Coral da Igreja – que se tornou sua esposa. Em 1962, após um longo período de sofrimento, dúvida e solidão, Aury assinou o termo canônico de desligamento da Congregação Claretiana, afastando-se de
sua vida religiosa, e iniciou a carreira jornalística. Aury foi o primeiro e único Diácono Permanente na Arquidiocese de São Paulo, durante 32 anos. Ele e sua amada esposa, da qual sempre lembra com carinho, permaneceram juntos na orquestra durante 40 anos, e ao se tornar viúvo, em 2010, Brunetti iniciou suas atividades e seu ministério sacerdotal e hoje auxilia o pároco, Pe. José Augusto Schramm Brasil, na Paróquia de São Geraldo das Perdizes. “Eu já publiquei 15 livros e ainda quero publicar mais 8, além de fazer um curta-metragem vocacional sobre minha vida. Acredito que uma vida bem vivida seja isso. Até onde Deus me permitir, quero passar meu conhecimento. Minha principal mensagem é: Ser sempre bom, para ser sempre feliz!”, resume.
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Próximo ao Hospital Albert Einstein, em Perdizes, está sendo construído um prédio adaptado para idosos. Localizado na rua Apiacás, o empreendimento tem como objetivo trazer maior conforto, comodidade e segurança para pessoas com idade mais avançada, com previsão para ser finalizado até o ano de 2019. Esse projeto está sendo realizado pela empresa Vitacon, que está de olho em projetos nesse segmento – denominado senior living pelo mercado imobiliário. Serviços diferenciados são oferecidos, como portas com vãos maiores para facilitar
a passagem, barras de apoio nos banheiros, pisos antiderrapantes e sem pequenos degraus, evitando possíveis quedas, altura diferente para as tomadas, botão de alarme para contatar a portaria em caso de emergência e uma pulseira responsável pelo monitoramento dos sinais vitais do idoso. Outro serviço que será oferecido são os profissionais disponíveis 24 horas, como cuidadores e fisioterapeutas. Adaptação Segundo Ana Marta Aragão Grimm, arquiteta e professora de arquitetura na Universidade Anhembi Morumbi, os idosos se enquadram na cate-
Unidade do Albert Einstein, localizada na Apiacás com a Sumaré: acesso a hospitais está entre as vantagens de Perdizes (Foto: Mayara Melo)
Local onde será construído o edifício VN Apiacás (Foto: Mayara Melo)
goria de pessoas com mobilidade reduzida por conta de dificuldades motoras e funcionais, como uso de muletas e baixa visão. No entanto, prédios com essa acessibilidade têm uma relevância por interferir no direito de ir e vir do ser humano. Ela também acredita que projetos como esse se tornarão cada vez mais frequentes na sociedade, em função da necessidade de adaptação dos espaços para todos os grupos de pessoas com mobilidade reduzida. A arquiteta afirma que existem outros bairros antigos que foram berços da imigração de vários países no começo do século XX, com maior índice de pessoas idosas, como Bela Vista, Mocca, Cambuci e Higienópolis. Hoje, normas como
NRB ABNT 9050 tratam de critérios de acessibilidade em construções, tanto para idosos quanto para pessoas mobilidade reduzida, crianças, gestantes e necessidades especiais. Envelhecimento De acordo com dados atuais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2005 e 2015 a taxa de idosos maiores de 60 anos teve um aumento significativo, de 9,8% para 14,3%, em comparação com o percentual de adultos entre 30 a 59 anos, que cresceu no mesmo período 4,5 e 4,8 pontos percentuais. A proporção de jovens e crianças também diminuiu, indicando uma tendência ao envelhecimento demográfico.
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Bairro é o mais procurado por famílias, aponta pesquisa
Com perfil residencial e renda elevada, Perdizes se beneficia com o crescimento de setores específicos, como o de pets
Economia especializado. Em sua opinião, isso ocorre em função da localização do bairro, que fica entre outros que possuem esses serviços. No bairro está localizado um dos campi de uma das universidades mais reconhecidas do Brasil, a PUC-SP. Ao redor da universidade estão localizados diversos serviços voltados para os estudantes, desde gráficas e pape-
larias até bares, restaurantes e vendedores de comida de rua. Ao lado do campus está localizado o Teatro da Universidade Católica (Tuca), um dos patrimônios históricos de São Paulo. Perdizes oferece aos seus moradores e visitantes diversos serviços, incluindo restaurantes de comidas regionais ou estrangeiras, escolas, bares, lo-
jas de roupas, lojas de utensílios residenciais e comerciais. Crescimento Perdizes oferece, também, serviços voltados para os animais de estimação, mercado que vem crescendo cada vez mais. Somente em 2016, o setor faturou cerca de R$ 18,9 bilhões, de acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira
9 da Indústria de Produtos Para Animais de Estimação (Abinpet). Além de oferecer serviços como banho e tosa e veterinários, alguns estabelecimentos disponibilizam hospedagem e creche para os animais de estimação. Também existe o serviço de cuidador, que ao ser contratado vai até a residência do contratante tomar conta dos animais.
Crise econômica afeta comércio de ambulantes
Mudanças na gestão municipal dificultam trabalho da categoria
Nadine Alves
Vista do bairro de Perdizes, com o Pico do Jaragua e o Allianz Parque ao fundo: localização privilegiada é um dos destaques (foto: Mayara Cunha)
Mayara Cunha O bairro de Perdizes, localizado na zona oeste de São Paulo, é considerado uma área nobre da capital. Distribuído em uma área de 6,10 km², possui 111.161 habitantes, segundo dados disponibilizados pela prefeitura de São Paulo, com média de 18.223 habitantes por quilômetro quadrado. Destinado às classes média-alta e alta da po-
pulação, o bairro tem preço médio de imóveis de R$ 12,5 mil por metro quadrado, segundo o Portal Viva Real. Segundo pesquisa feita pelo Conselho Regional de Corretores de Imóveis São Paulo (Crecisp) em 2012, o valor aproximado do aluguel de casas usadas de três dormitórios fica entre R$ 2 e 3 mil. Com fácil acesso a comércio, educação, e algumas das principais
regiões da capital, como Vila Madalena, Barra Funda e Jardim Paulista, além de estar próximo a shoppings e estádios de futebol, o bairro se torna atrativo para famílias. A imobiliária Lopes fez uma pesquisa, em 2014, com o perfil dos compradores de residências em Perdizes. Os compradores têm idade média de 44 anos, com 71% deles sendo casados e 73% com filhos.
Patrimônio do bairro Perdizes é um bairro essencialmente residencial. No entanto, segundo o coordenador do curso de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Marcel Leite, não há supermercados grandes na região, somente mercadinhos menores e versões “express”. A região também carece de hospitais grandes; há apenas versões com atendimento
A cidade de São Paulo é o maior polo comercial do Brasil. Ao caminhar pelo bairro de Perdizes, na zona oeste da cidade, não é diferente: por meio dos vendedores ambulantes, a economia das ruas também salta aos olhos. No entanto, a categoria relata diminuição da presença de comerciantes. Ainda no começo de 2017, vendedores trabalhavam nas ruas do bairro e em avenidas como a Sumaré em segmentos como comida, lanches e artesanato. Houve, porém, recuo por conta do aumento do rigor na fiscalização de vendedores que não possuem o Termo de Permissão de Uso (TPU), a partir da nova
Veículo de venda de lanches em rua do bairro: recessão e mudança de prefeito são vistos como complicadores do comércio (Foto: Nadine Alves)
gestão do prefeito João Dória (PSDB). Em visita ao bairro de Perdizes, em frente à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a reportagem encontrou Pedro Murilo, 19 anos, que possui o TPU. O jovem administra um carrinho de lanches há dois anos nas redondezas da PUC. Ele afirma que demorou
de três a quatro anos para finalmente ter tudo regularizado e praticar suas vendas livremente. “As vendas caíram e o movimento também, às vezes compensa mais você não ter a TPU e ficar migrando, vendendo em vários lugares com todo o cuidado para não ter sua mercadoria levada pelos policiais”, ressaltou.
Já a vendedora de artesanato Angélica Santana, de 50 anos, trabalha na região há 17 e não dispõe da regularização imposta pela prefeitura. Ela relatou dificuldades que teve ao tentar tirar o TPU e se manter na região, que, atualmente, é bastante fiscalizada. Apesar de ter CNPJ e nota fiscal, Angélica não conseguiu o seu TPU e, por isso, diz se sentir “ameaçada e perseguida” todos os dias pela presença dos fiscais, que podem apreender sua mercadoria a qualquer momento. A reportagem tentou entrar em contato com a Prefeitura de São Paulo para compreender os modos de fiscalização e análise dos pedidos de TPU, porém não teve retorno.
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Moradores ainda sofrem com a falta do metrô Estação é antiga promessa; obras da linha 6 voltam em 2018
Cotidiano
Bairro vive encontro entre o velho e o novo
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Novos moradores e formas de ocupação modificam a rotina do bairro; estudante convive há 26 anos com as transformações
Início da obra no cruzamento da Rua Jão Ramalho com a Rua Cardoso de Almeida (foto: Rayane Lima)
Rayane Lima Muitos bairros na cidade de São Paulo ainda sofrem com a ausência de uma estação própria de metrô, resultando em dificuldades de acesso e locomoção para os moradores e passageiros que vêm de fora. Um desses bairros é o de Perdizes, localizado na zona oeste da cidade. Em 2008, um documento foi assinado concretizando a promessa de uma expansão na linha 6-laranja do Metrô de São Paulo. A extensão da linha ligaria a Vila Brasilândia à estação São Joaquim, com várias estações, sendo uma delas em Perdizes. No entanto, desde seu
início em 2015, a obra passa por diversos obstáculos que adiam cada vez mais o prazo de entrega. A maneira mais convencional de chegar a Perdizes é por meio dos ônibus, porém, estes não são os veículos mais indicados e adequados para se atender a grandes demandas de pessoas. Ana Lucia Barbosa, de 23 anos, estudante de publicidade e propaganda na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), precisa pegar o ônibus todos os dias para chegar à aula e afirma que o transporte não é suficiente. “Demoram para chegar, alguns passageiros
acabam perdendo por estarem muito cheios. Um percurso de 20-25 minutos acaba levando 45”. Ana diz também que a maioria dos passageiros são alunos da PUC ou pessoas que trabalham no bairro, e que se houvesse o metrô, essa grande massa ficaria mais dividida. “A maioria faz baldeação do metrô para o ônibus, que não seria tão cheio se a estação fosse construída”. A estudante ainda acrescenta que, muitas vezes, as pessoas deixam de frequentar o distrito por ter limitado acesso a transporte público. “Não é afastado, mas dá preguiça de ir.” Mariane Formollo, de 25 anos, morado-
ra da região, também confirma a lotação dos ônibus nos horários de pico e diz que uma estação mais próxima seria o ideal. “O único metrô que dá para acessar a pé é a Barra Funda, o acesso à estação Sumaré é distante.” A obra hoje Em outubro deste ano, o governo liberou a informação de que a obra deve ser retomada no início de 2018, de acordo com a Secretaria de Transporte Metropolitano. Isso se deve ao surgimento da proposta de um grupo chinês para a obtenção da operação. A entrega pode ser prevista para 2022.
Bairro convive com transformações que vão do mercado imobiliário ao perfil de moradores (foto: Raphael Preto)
Raphael Preto Pereira A história da vida de Maria Claudia Paiva se confunde com o bairro de Perdizes. Com 27 anos, ela mora no local há 26. Durante esse período, ela acompanhou várias mudanças no perfil do bairro e no tipo de morador que o bairro abriga. Perdizes, um subdistrito da prefeitura regional da Lapa, é o local com o terceiro maior índice de desenvolvimento humano da cidade de São Paulo, além de ter uma renda média alta para os padrões da capital, em torno de R$ 6
mil. Uma rápida pesquisa a sites de imóveis mostra que um apartamento na região pode custar entre R$ 500 mil e R$ 6 milhões. O bairro conta com três casas de cultura. O número, entretanto, permanece congelado desde 2008, segundo
Distrito de Perdizes conta com o terceiro maior IDH do município
indicadores do Índice de Referência do Bem Estar do Munícipio, fornecido pela Rede Nossa São Paulo. A comodidade tem o seu preço. “Perdizes está perto de tudo”, afirma Maria Claudia, que relaciona a história do bairro com a de sua família. “Hoje, toda minha família mora por aqui, todos os primos, isso é bem positivo”, acredita ela, que em outubro entrega seu mestrado em antropologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que também fica no bairro. Há tanto tempo morando na região, Maria
Claudia já conseguiu identificar mudanças no comportamento e no perfil dos moradores. “Hoje o bairro está muito gourmet”, diverte-se. Isso acabou gerando uma espécie de encarecimento do bairro, nas palavras da própria moradora: “coisas mais da vida noturna, como barzinhos, por exemplo, estão ok, no mesmo nível de Pinheiros e Vila Madalena. Ainda dá para sair”. Só que outros serviços mais comuns, como ir numa padaria, estão mais caros. “Um pãozinho, por exemplo, custa 1,50. Tem muitos moradores que não são daqui.”
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Observatório SP Perdizes
Filas e demora geram reclamações em cartório
Desde a década de 1920, unidade é a única do tipo na região
Saúde e bem-estar
Condomínios barram visita de agentes de saúde Bairro é alvo histórico do mosquito da dengue; ações de prevenção da prefeitura enfrentam resistência de moradores
Guilherme Petry
Cartório em dia típico: filas se espalham fora da unidade, fruto da grande movimentação de pessoas (foto: Paloma Venancio)
Paloma Venancio O 19° Cartório de Registro Civil de Perdizes foi inaugurado em 1921 e tem grande relevância por ser o único da região. Mesmo garantindo bom atendimento e boa estrutura em sua página oficial, o local tem muitas reclamações de clientes. Localizado na Rua Turiassú, zona oeste de São Paulo, o Cartório oferece sua estrutura para efetuar registros de nascimento, óbito e casamento, entre outros. Em entrevista com pessoas que utilizaram o ambiente, as maiores reclamações foram de muita fila - algumas tão grandes que não cabem
dentro do estabelecimento, ocupando, então, a calçada -, a falta de qualificação e a demora no atendimento. Os usuários denunciam a estrutura interior, com poucas cadeiras para o número de pessoas que precisam dos serviços. Mariana Formollo, 25 anos, executiva de vendas, e Lucas, de 19 anos, estudante, precisaram do cartório. Mesmo tendo suas necessidades atendidas, saíram com sugestões de melhoria, como a instalação de formas de autoatendimento e melhora no espaço. Já Marina Battistella, de 20 anos, também estudante, não saiu com muitas ressalvas.
Para ela, foi uma experiência agradável, não houve demora e nem mau atendimento. Porém, citou o pequeno espaço como algo que poderia melhorar. Para encontrar os mesmos serviços em outros cartórios, é necessário sair do bairro;
o cartório mais próximo fica no bairro da Lapa na Praça Professor José Azevedo Antunes, 45 e 49. A reportagem tentou contato com trabalhadores do 19º Cartório para saber a visão deles sobre os ocorridos, mas não houve resposta.
Contraste: unidade fechada (foto: Paloma Venancio)
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Perdizes é um bairro da capital com muitos casos de dengue. Sem contar os hospitais particulares, não há nenhum posto de saúde e auxílio ao combate às epidemias causadas pelo mosquito Aedes Aegypti. O único espaço de prestação de serviço aos infectados com o vírus é a Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Anglo, que fica no bairro vizinho, Pompeia. Muitos condomínios da região não autorizam a entrada dos agentes de saúde da Prefeitura Municipal, tornando o combate ao vírus cada vez mais difícil. Segundo dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde à imprensa, no ano 2000 Perdizes já era um bairro recordista em infestação de mosquitos transmissores da dengue. Em relatório publicado pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), 2010 foi o ano em que Perdizes teve o maior número de casos de dengue da capital paulista. A dengue é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti. Os infectados com o vírus apresentam sintomas diversos, como febre intensa, dores de
cabeça, dores musculares e nas articulações e infecções na pele. Além da dengue, o mosquito é transmissor das doenças conhecidas como Zika e Chikungunya. De acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde, foram registrados em São Paulo 33 mil casos de dengue no ano de 2016. Condomínios A prefeitura de São Paulo atua no bairro de Perdizes somente com o monitoramento feito por agentes de saúde, porém muitos condomínios proíbem a entrada dos funcionários da prefeitura, alegando ser uma ameaça à segurança dos moradores. Marcel Trevisan, livreiro e morador do bairro, tem 30 anos e nunca pegou dengue, mas seus pais pegaram na mesma semana. “Foi muito preocupante, achei que pegaria também”, conta Marcel. Morador de um condomínio no bairro, ele relata que os agentes de saúde não passam do portão. “Elas [moradoras] fizeram uma reunião com o sindico, decidiram que não era seguro andar pelos corredores e encontrar os agentes da prefeitura por lá ou bandidos que se passam
Avenida Sumaré: local é rodeado de plantas, ambiente propício à proliferação do mosquito (Foto: Guiherme Petry)
por agentes”, diz, sobre a decisão de não aceitar agentes de saúde. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, os agentes são necessários para o combate e controle da epidemia, não apresentam riscos à segurança pública e, para que sua entrada não seja confundida com nenhum intruso, é necessário exigir que apresentem o crachá. Cabe aos profissionais encaminhar os casos de dengue para a UBS, informar os moradores sobre a doença, seus sintomas e riscos e explicar como funcionam a transmissão do vírus e as medidas de prevenção. O agente de saúde atua também na vistoria de casas e condomínios para
identificar larvas ou mosquitos transmissores da doença, pontuando possíveis criadouros dos mosquitos. A prefeitura e o governo têm a obrigação de cuidar do tratamento, prevenção e controle da doença, assim como qualquer fator na saúde pública, porém a ação da população nessa luta é indispensável, principalmente nos bairros muito arborizados, como Perdizes. De acordo com a página da dengue no site da Prefeitura de São Paulo, os moradores de bairros com alerta de dengue devem evitar que água fique parada em pneus sem uso e vasos de flores, virar as garrafas com a boca para baixo e tampar caixas de água.
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Observatório SP Perdizes
Yoga se espalha na região Cerca de 20 estúdios estão espalhados pelas ruas do bairro Isabela Carrassari A cultura fitness é um sucesso no Brasil: o País é um dos maiores mercados para essa indústria que só cresce, e o fenômeno não deixou de estar presente em Perdizes. Basta caminhar pelo bairro para perceber o número de academias, lojas de produtos orgânicos e estabelecimentos voltados para a prática de atividades físicas. Tomar conta do corpo, porém, vai além da musculação. Para aliviar o caos da cidade e
o estresse do trabalho, uma das opções é trocar as esteiras elétricas por pequenos tapetes de borracha. É o yoga, o estilo de vida que alia exercício e meditação. Só em Perdizes, há cerca de 20 estúdios de yoga. Prova de que, além da estética, o bem-estar da mente é colocado como prioridade por pessoas que procuram atividades físicas. De acordo com a professora yogini Cilene Freitas, houve um grande aumento no número de alunos nos últimos anos.
Ao conversar com adeptos, fica fácil perceber que o yoga vai muito além do movimento: a prática milenar vem acompanhada de uma espécie de estilo de vida alternativo. Cilene, também conhecida como Shanti – paz em hindu –, atribui diversas mudanças em sua vida pessoal ao yoga, que, de acordo com ela, induz seus praticantes mais assíduos a repensar alimentação, consumo, relação com a natureza e até mesmo a forma de encarar os desafios do dia a dia.
História O yoga é uma técnica de meditação milenar nascida na Índia e, assim como diversas filosofias ou religiões, segue uma espécie de cartilha contendo dez pontos considerados a filosofia básica para o convívio social harmonioso. Esses pontos são os chamados Yamas e Nyamas, cada qual subdividido em outros cinco ensinamentos, entre eles concentração, meditação, iluminação, práticas respiratórias e conduta moral e ética.
Oficina promove geração de renda e bem-estar Giovana Petin O Recicla Tudo é uma das oficinas de geração de renda do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Perdizes. A iniciativa existe há 16 anos e é coordenada pela psicóloga Célia Massumi Tchicava e pela enfermeira Neusa Duque. Célia, que trabalha no CAPS Perdizes há 21 anos, conta que a atividade permite a socialização dos pacientes com o bairro e também estimula a humanização.“Nas oficinas eles acabam tendo uma relação com a comunida-
de, criando uma relação de outra ordem. Não são os doentes da nossa rua, são pessoas que estão em tratamento“, diz. O CAPS é um equipamento de saúde para tratamento de pessoas com transtornos mentais graves e tem como finalidade a reabilitação desses pacientes, sendo um método alternativo à internação psiquiátrica. Atualmente, além do Recicla Tudo, existem outros quatro projetos de geração de renda no local: a oficina da padaria, do brechó, do sorvete (que só acontece no verão) e da decupagem. A psicóloga relata
Saúde e bem-estar Como funciona Toda terça-feira, os trabalhadores, como são chamados os que participam da oficina, se reúnem com as coordenadoras para discutir pautas como segurança no trabalho e organização das atividades da semana.
No geral, os fornecedores de material para reciclagem são prédios residenciais e comerciais e restaurantes do bairro As funções são divididas entre os que fazem as buscas na rua e a coleta nos prédios e estabelecimentos da redondeza, os que realizam a separação e armazenamento do material, sen-
do esse o serviço mais pesado, e os que atuam em ambas posições. Eles conseguem arrecadar cerca de R$400 por mês; o valor é dividido proporcionalmente ao tempo trabalhado de cada um. Apesar de ser pouco, para o trabalhador Paulo de Sena é o suficiente para se alimentar à noite e nos fins de semana, já que durante a semana o CAPS fornece café-da-manhã, almoço e lanche da tarde. Ele diz que a prática é boa para passar o tempo. “Quando não tem alguma coisa pra eu reciclar, fica até chato”, comenta. O Recicla conta com sete trabalhadores fixos e mais cinco itinerantes, que nem sempre podem estar presentes. O horário de trabalho é bem flexível - e é isso que permite a participação das pessoas, aponta Célia. “Cada um trabalha o que consegue“, afirma. O padrão é uma carga horária variável de no mínimo 30 minutos e no
máximo, quatro horas. Os fornecedores de material para reciclagem são prédios residenciais e comerciais e restaurantes do bairro. No momento, eles contam com três compradores do material recolhido. Plástico, papelão, jornal, garrafa pet, vidro, isopor e papel estão entre os materiais recolhidos. Segundo o zelador do Edifício Perdizes, Alexandre Ricardo, antes da oficina o lixo reciclável não era reaproveitado. “Era colocado no lixo comum, aí a gente passou a separar, identificar e mandar”. Em todos os prédios que fornecem o material, os moradores estão cientes do projeto e já deixam seus resíduos corretamente separados. Centro de Atenção Psicossocial de Perdizes (CAPS) Rua Doutor Cândido Espinheira, 616 Tel.: (11) 3672-2000
O único CAPS da região fornece outras quatro oficinas para pacientes com transtornos mentais graves (Foto: Giovana Petin)
que o retorno financeiro da ação de reciclagem não é grande, mas o que tem maior importância é o valor simbóli-
co de fazer os pacientes se sentirem ativos, ajudando no tratamento de forma terapêutica.
José Bezerra, de 52 anos, é um trabalhador itinerante da oficina e também participa esporadicamente da banda Ternos da Madrugada (Foto: Giovana Petin)
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Ternos da Madrugada Giovana Petin A banda Ternos da Madrugada também foi uma iniciativa criada com o objetivo de socialização e exercício da mente dos pacientes do CAPS. Há 15 anos, o grupo normalmente se apresenta em eventos ligados ao assunto da saúde mental. A psicóloga do CAPS, Célia Massumi, afirma que a atividade tem fins terapêuticos e os encontros acontecem dentro do centro, “Em alguns momentos consegue-se estar fora do CAPS, o que é mais terapêutico ainda”, conta. Geraldo de Andrade, percussionista do Ternos desde o início e frequentador do CAPS há 20 anos, elogia o projeto. “Eu não fico pensando em besteira, pensando coisa chata. Quando estou no grupo, começo a ter ideia sobre música, pensar em música. Isso me faz tirar as coisas da cabeça, as perseguições”, comenta. Hoje, o Ternos da Madrugada conta com sete integrantes fixos e um CD lançado. O disco, composto de músicas autorais, é vendido dentro do CAPS (R$ 10) e tem seu lucro revertido para os próprios participantes.
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Observatório SP Perdizes
Protagonismo feminino no parto é tema de projeto “Parto sem Medo” adota equipe multidisciplinar para preservar a saúde da mãe e do bebê
Julia Paiva Cada vez mais debatido, o parto humanizado qual é um processo que volta toda a atenção à gestante e ao bebê, tornando o nascimento da criança uma experiência única, saudável e instintiva. Embora não seja muito divulgado pelos hospitais, este procedimento é um direito adquirido por lei e apregoado pela Organização Mundial de Saúde. Com atuação no bairro de Perdizes, o ginecologista e obstetra Alberto Guimarães conduz o projeto Parto Sem Medo em sua clínica, voltada exclusivamente para a saúde da mulher. Nela,
é possível encontrar diversas metodologias que conferem à mulher autonomia sobre o processo da gravidez e do parto. “A ideia é fazer da mulher a protagonista antes e no momento do nascimento, ajudá-la a chegar nesta ocasião com total confiança no seu poder de parir de forma tranquila e saudável”, diz o obstetra. “Além disso, o objetivo é que a atenção obstétrica e o neonatal sejam realizados de forma humanizada. A maneira pela qual a gestante será acolhida e assistida pela equipe é fundamental para diferenciar um pré-natal comum de um humanizado.”
Apesar de muitos acreditarem no mito de que o parto humanizado é somente aquele feito à moda antiga, Guimarães sinaliza que a cesárea, desde que seja necessária, também pode ser realizada de forma humanizada. “Deixar o marido acompanhar o procedimento e retirar aquele pano que separa a paciente do bebê é um exemplo de medidas que podem ser tomadas em uma cesárea para deixá-la a mais humana possível”, explicou. Este procedimento é indicado a todas as futuras mães, desde que, durante o pré-natal e o acompanhamento da gestação, a mulher não tenha nenhum proble-
Parto humanizado de Enzo de Souza Pereira, em março do ano passado (Foto: Julia Paiva)
ma de saúde. Além disso, a recuperação do parto humanizado é melhor do que o habitual. Em geral, não é realizada a episiotomia e, portanto, a par-
Recuperação do parto humanizado é melhor do que o habitual turiente consegue sentar de maneira mais fácil, além de levantar, tomar banho e ainda conseguir amamentar mais rapidamente. A estudante Ana Carolina de Souza (20), mãe de Daniel (04) e Enzo (01), optou pelo parto humanizado durante a gravidez do caçula e contou com a ajuda de uma doula do próprio hospital para tranqüilizá-la. “Desde o momento em que minha bolsa estourou não senti dores. Depois de aproximadamente 8 horas, fui encaminhada para o centro cirúrgico e meus medos e inseguranças desapareceram por conta da presença da enfermeira. Ela conseguiu me tranqüilizar e minha recuperação foi mais rápida do que eu imaginei”, lembra.
Educação
Escolas públicas locais são referência de ensino
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Unidades de ensino José Cândido de Souza e Miss Browne estão com matrículas abertas
Nataly Brito O bairro de Perdizes tem um número reduzido de escolas públicas, já que as unidades públicas e estaduais, em sua maioria, são localizadas na Pompéia, bairro ao lado. Entretanto, as que estão em Perdizes são classificadas como referência no ensino e estão com matrículas abertas para 2018. A Escola Estadual José Cândido de Souza atende os alunos do Ensino Fundamental. Atualmente, conta com 339 alunos matriculados, sem fila de espera. Os estudantes residem em sua maioria no próprio bairro, segundo o Ministério da Educação. Maria Izabel, mãe de Cauã Ribeiro, 13 anos, aluno da oitava série na escola José cândido, elogiou a qualidade da formação oferecida. “Escolhi a escola por ser referência de ensino aqui do bairro, é uma das melhores”, disse. Quanto ao desempenho do filho e à adaptação ao chegar a uma escola nova, a técnica de enfermagem relatou que “a transição de escola foi tranquila, o ensino é muito bom.” A escola Miss Browne também é uma referência no ensino. A
Escola Estadual Miss Browne é referência de ensino no bairro de Perdizes (Foto: Nataly Brito)
instituição atende os alunos do ensino fundamental e médio e também atua no ensino para adultos no período noturno. A Miss Browne tem atualmente 520 alunos matriculados, também sem fila de espera. O Ministério da Educação informou que metade dos alunos reside no bairro de Perdizes; a outra vem de diferentes regiões da cidade. Maria Izabel também é mãe de uma aluna do Miss Browne, Izabele da Silva, de 17 anos, que está cursando o terceiro ano do ensino médio. Quanto à qualidade, Maria Izabel
comenta que “não podemos só culpar o governo.” “O aluno que determina se vai ou não aprender. Depende do esforço, e minha me-
nina é esforçada”. Ela acrescenta ainda que o ensino na escola tem melhorado. Segundo o Ministério da Educação, o bairro tem pouca demanda de alunos nas escolas públicas e estaduais. As salas de aulas têm um número de alunos reduzido, quando comparado às escolas públicas e estaduais de outras regiões. Procuradas pela reportagem, as direções das duas escolas não quiseram se Escola Estadual José Cândido de Souza (Foto: Nataly Brito) pronunciar.
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Observatório SP Perdizes
Escolas locais praticam educação inclusiva
Redes pública e privada integram estudantes ao ensino regular no que podemos desenvolver de potencial nesse estudante”, afirma Alves. Além dos professores regentes da disciplina, os monitores também são essenciais no método: proporcionam atendimento ao aluno, enquanto o professor está ministrando a aula para um determinado grupo. Há momentos em que os estudantes vão para outras salas, para que trabalhem com suas dificuldades específicas.
Alunos durante atividade em sala do Colégio Graphein: inclusão busca valorizar diversidade (Foto: Natália Souza)
Natália Souza A educação inclusiva é uma proposta especial dentro da escola regular. Sua principal característica é a diversidade, considerando que todos os alunos possuem necessidades especiais ou atributos distintos. O sistema educacional, que antes era dividido por dois tipos de serviços, o regular e o especial, fazia com que o aluno pudesse frequentar apenas uma das duas. A novidade, sob influência da Convenção da ONU sobre Direitos das Pessoas com Deficiência, que ocorreu em 2008, é a tendência a um processo de apren-
dizagem que busca que todos os alunos aprendam e participem de atividades. O Colégio Graphein, localizado no bairro de Perdizes, é uma escola privada regular que adota a inclusão e é constantemente procurada por sua metodologia. Segundo a psicopedagoga Cátia Alves, 58, a inclusão tem que acontecer com todos, independentemente de existir ou não uma síndrome, uma dificuldade ou um quadro que peça um atendimento especializado. No colégio, o método de planejamento educacional é bem diferente daquele anual, linear.
Com aproximadamente 130 alunos, a unidade elabora planos para cada um deles. “Quando a criança entra aqui, nosso olhar já é inclusivo. O Gra-
Modelo considera atributos e necessidades dos diferentes perfis de alunos phein é uma escola regular que não foca apenas nas dificuldades e sim
Ensino público Outra escola da região aderiu a esse sistema de inclusão, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Tenente José Maria Pinto Duarte. De acordo com a pedagoga Maria Angela, 51, a unidade tem estrutura para esse novo método educacional, porém, não tanto quanto um colégio particular. “Temos a sala de recursos multifuncionais, que serve para dar um suporte para a parte de inclusão”, diz. Segundo Maria Angela, apesar de a inclusão precisar de mais métodos, há casos de alunos que vieram de escolas particulares por conta do modelo receptivo e, segundo eles, também porque haveria mais recursos do que na rede privada.
Educação
Educação psicomotora estimula expressão
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Escolas abordam artes, música e literatura em seus currículos
Nicolle Cabral A região de Perdizes, dentro dos seus seis quilômetros quadrados, abriga instituições como a Escola Catavento, localizada na Rua Caetés, nº 52, que há 20 anos desenvolve um trabalho pedagógico direcionado às reais necessidades de crianças entre dois a seis anos de idade. Com pequenos grupos formados, e com uma grade curricular de período integral, os alunos matriculados na Instituição participam de atividades como judô, teatro e artes plásticas. “Acreditamos ter o compromisso de garantir aos nossos alunos o desenvolvimento intelectual e emocional para a sua escolarização e ajudá-los a construir valores baseados na solidariedade humana”, conta Myrian, diretora da escola. O trabalho da educação psicomotora é, sobretudo, um processo de maturação entre o corpo do indivíduo em movimento e sua relação com o mundo interno e externo, sustentada por três conhecimentos básicos: o afeto, o intelecto e o movimento. Na educação infantil, o estímulo da psicomotricidade permite o entendimento de como a criança toma consciência do seu corpo e desenvolve a expressão externa, com
Alunos do ensino infantil participam de aula de capoeira (Foto: Nicolle Cabral)
incentivo a atividades lúdicas que incluem jogos, literatura, artes plásticas e musicalidade, entre outros. A ideia é que haja, desde a base, um desenvolvimento motor, afetivo e psicológico para a criança.
“É importante garantir que o lúdico seja presente como rotina diária” Os projetos da Catavento têm a intenção de desenvolver as atividades cognitivas. As aulas de capoeira, por exemplo, estimulam as crianças a terem maior equilíbrio entre seu corpo e o mundo externo. “As aulas envolvem música, história e expressão corporal. A aula de arte possibilita o manuseio
de diferentes materiais, com isso as crianças podem criar com muita liberdade e criatividade”, diz a pedagoga e professora de artes, Ana Cristina Simões. A Escola também promove atividades que proporcionam o contato da criança com a linguagem musical. “Os alunos têm a oportunidade de experimentar os sons como um ato de desprendimento prazeroso, sem que se busque uma imposição pela dominância de um instrumento”, aponta Ricardo Pesce, professor de musicalidade. O estímulo à movimentação do corpo das crianças também é presente nas aulas de capoeira, com berimbau, atabaque e bastões que marcam o ritmo na dança do Maculelê. “Jogos, brinquedos e brincadeira sempre fizeram parte do mundo da criança. É importante garantir que na escola, especialmente nas dos
pequenos, o lúdico seja presente, como rotina diária”, afirma Luciana Morelli, psicóloga da instituição. Ao caminhar 900 metros no bairro, encontra-se outra unidade com práticas inovadoras de ensino. A Escola Bakhita, que nasceu em 1977, é atualmente um Centro de Estudos e conta com a presença de pesquisadores e educadores especializados, atendendo crianças de um ano e dois meses a 14 anos. Com o ensino voltado também às atividades lúdicas, a instituição possui projetos como uma horta em que as crianças cuidam das plantas e acompanham seu crescimento. A unidade também possui um cardápio nutricional, um meio de estimular uma alimentação mais saudável para as crianças. Os alunos, por meio dessa atividade, podem observar os processos de transformação da hortinha e se envolverem regando, retirando “pragas”, e ao final, realizarem preparações culinárias. “Essas atividades mobilizam o interesse e a curiosidade dos aluno que podem observar as diferentes misturas e transformações ocorridas nos alimentos, podem também experimentar e degustar as preparações”.
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Observatório SP Perdizes
Ciclovia da Sumaré é alvo de assaltos constantes Ambiente com descidas suaves e repleto de árvores centenárias expõe moradores a perigo Kammyla D’Assumpção A ciclovia e pista de corrida da avenida Sumaré, que conecta a Praça Marrey Jr. à avenida Henrique Schaumann, em Perdizes, reúne vários esportistas que caminham ou pedalam. O problema é que a falta de segurança tem sido uma reclamação constante entre os ciclistas, que temem assaltos por conta da má iluminação e da falta de policiamento. Só no primeiro semestre de 2017, houve um aumento de 37% nos roubos de bicicleta, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Os números não incluem furtos, o que significa que as estatísticas podem ser ainda maiores – já que muitas vezes as pessoas não registram boletim de ocorrência. O pintor, eletricista e fotógrafo Anderson Sutherland, 45 anos, foi uma das vítimas: teve sua bicicleta roubada enquanto pedalava na ciclovia da Avenida Sumaré. “Uso ela todos os dias, e em um deles vieram quatro adolescentes em duas bicicletas e anunciaram o assalto. Mas teve outra vez que iam me assaltar, viram minha bicicleta e pediram desculpa, me dei-
Apesar da paisagem convidativa para um passeio, o medo tem dominado os ciclistas (Foto: Kammyla D´Assumpção)
xando seguir meu caminho”, conta. Quem também passou por um momento complicado e quase teve sua bicicleta roubada foi a florista Poline Lys, 39. A florista disse que sempre vai e volta do trabalho de bicicleta, passando pela avenida Sumaré duas vezes por dia. Poline afirmou que, quando vê nas páginas que estão roubando muito naquela região, muda de caminho, fazendo um mais seguro. E, quando está muito tarde, prefere andar pela rua entre os carros do que na ciclovia, pois se sente mais protegida “A ciclovia é escura, tem vários lugares ali
que é ponto para a pessoa ficar escondida e te atacar.” A ciclista quase foi assaltada várias vezes. Em uma das ocasiões, dois garotos subindo a rua começaram a cercá-la. A reação foi pegar o celular e “pedir reforços”, fingindo que era policial. Com isso, os meninos logo foram embora. Tanto para Anderson como para Poline, o policiamento deveria aumentar e ser mais efetivo e a iluminação deveria ser melhor. O pintor afirma, também, que seria necessário a prefeitura fazer uma calçada para os pedestres e gradear a ciclovia, pois os assaltantes,
muitas vezes, estão a pé. O segredo é, se necessário, mudar o caminho e sempre estar atento e perceber todas as coisas que estão acontecendo ao seu redor, pois o alvo fácil são as pessoas mais distraídas, afirma Poline. Quando questionado sobre o aumento do roubo de bicicletas, o chefe de investigações da 23ª DP de Perdizes, Wagner Rosalin, afirmou não ser recorrente o registro de boletim de ocorrência de bicicletas roubadas. Ele afirmou, ainda, que os índices de roubo que aumentaram foram apenas em relação a automóveis e celulares na região.
Segurança
Falta de segurança mobiliza estudantes
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Alunas da PUC-SP se unem para combater assédio sexual
Gabriela Rodrigues Com o 9º lugar na classificação de bairros com mais estupros violentos registrados em pesquisa feita pelo Jornal O Estado de S. Paulo, Perdizes é um bairro nobre perigoso para mulheres. Estudantes da PUC-SP relataram uma série de assédios próximos ao campus da faculdade, após uma jovem estudante ser abordada por três homens em 2016. Um grupo de alunas de Jornalismo fundou o Coletivo Feminista Voz, Organização e Autonomia (VOA), com o objetivo de denunciar estes casos e dar voz a todas as mulheres frequentadoras da universidade. Para conscientizar e alertar, o grupo espalhou pelo bairro cartazes divulgando o número da Central de Atendimento à Mulher, com os dizeres: “Atenção, fui assediada aqui. Em caso de agressão, assédio e abuso, ligue 180”. Engana-se quem pensa que o bairro é perigoso somente durante a noite: depoimentos divulgados na página do VOA e acessados pela reportagem mostram assédios feitos à luz do dia, horário em que é comum possuir testemunhas na rua. O Coletivo acredita que a impunidade faz com que os agressores não temam ser vistos. A ação do grupo trou-
Cartazes espalhados por alunas nos arredores da universidade; objetivo é coibir assediadores (Foto: Rogério Dias)
xe resultados. Segundo a estudante de Psicologia Milena Soares, 19 anos, a união entre as mulheres fez com que ela se sentisse mais segura. “Não me sinto sozinha nessa luta. Vou e volto da aula acompanhada de outras alunas”, afirmou. A estudante ainda conta que as alunas que estudam no período noturno possuem um ponto de encontro dentro do campus, para que possam ir embora juntas. “Evitamos ao máximo ficar sozinhas em pontos de ônibus e ruas não movimentadas.” Soluções Além de unir-se a outras mulheres, Milena se alia a aplicativos que foram criados para ajudar na prevenção do assédio. Usando o sistema de mapas, o aplicativo Safetipin possibilita que pessoas avaliem ruas, parques e praças de acordo com
critérios, como iluminação, visibilidade e quantidade de pessoas. “A iluminação de Perdizes melhorou nos últimos dois meses, mas ainda acho escuro”, complementa. O Safetipin possui um botão de emergência que alerta quando a usuária entra num lugar considerado perigoso e se acionado, uma mensagem é enviada automaticamente para um conta-
“Não me sinto sozinha nessa luta. Vou e volto da aula acompanhada” to de segurança escolhido previamente. Outra preocupação pertinente da aluna é o receio que outras mulheres possuem em denunciar o assédio por medo
ou constrangimento. “É preciso prestar queixa. Quem precisa ter vergonha é o assediador e não a vítima”, opina. A psicóloga em formação ressalta também que o assédio pode ocorrer de diferentes formas e não só presencialmente, como também via telefone, e-mail, em público ou de forma privada. Moradora do bairro de Perdizes há 28 anos, a aposentada Elísia Junqueira, 49, já presenciou uma tentativa de assédio. “Ele estava de moto e seu capacete fosco deixava seu rosto completamente escondido”, conta. Mãe de uma menina de 15 anos, Elísia enfatiza que sua preocupação já a fez procurar por imóveis em outros bairros e quando questionada sobre quais seriam as possíveis soluções, alegou: “Nada mudará enquanto o policiamento do próprio estado não melhorar.”
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Observatório SP Perdizes
Moradores apontam queda de violência na Cayowaá
Roubos de carros são passado para a vizinhança; em 2016, rua estava entre as mais perigosas de toda a capital paulista
Política
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Moradores travam guerra contra impactos da PUC Barulho, acúmulo de lixo e vias bloqueadas podem ser enquadrados como crimes; entenda a polêmica legal Gabriela Naville
Rua Cayowaá: região já foi foco de assaltos no passado (Foto: Victor Vinicius)
Victor Vinicius A rua Cayowaá, que já foi palco de grandes assaltos e até assassinatos entre 2015 e 2016, agora se encontra mais segura para os seus moradores e comerciantes. Em uma pesquisa da reportagem com os residentes da rua, notou-se que a percepção da situação no local anda bastante diferente do que havia sido retratado pela imprensa anteriormente. A via, situada no coração de Perdizes, chamou a atenção por ter, segundo uma lista da Polícia Militar de 2016, sido considerada a 12ª
rua mais perigosa da cidade, o que deixou o bairro na posição 25 entre os mais violentos de São Paulo. O roubo de carros foi o principal motivo dos altos índices de violência na área. “Faz 30 anos que eu estou aqui nessa rua e nunca vi nada”, diz José Carlos, de 56 anos, dono de uma banca de jornal localizada na esquina da rua Piracuama com a Cayowaá. Seguindo pela via, a reportagem abordou o segurança de um estacionamento particular entre as ruas Caiubí e Bartira. Sérgio Almeida também demonstrou não ter conhecimento
dos índices de violência da região. “Graças a Deus, nunca teve nada aqui”, afirma.
“Faz 30 anos que estou aqui e nunca vi nada” Ainda segundo um comerciante dono de lanchonete, Robson dos Santos, o bairro e a rua vivem tempos tranquilos. Por diversos quarteirões foi possível notar o clima pacífico, mas ao mesmo tempo que alerta para a falta de moradores caminhando ou
Moradores apontam queda significativa no volume de ocorrências (Foto: Victor Vinicius)
realizando atividades na rua – um potencial chamariz para ocorrências.
Calçadas lotadas, muito barulho e garrafas espalhadas pelas ruas. Esse cenário é real e se repete a cada sexta-feira quando os estudantes da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), se reúnem para beber nas vias em torno do campus. As festas, que têm até bateria de samba, não são estáticas e, ao longo da noite, conforme a animação dos estudantes, vão percorrendo os quarteirões de um bairro residencial e de população majoritariamente idosa: Perdizes. Os estudantes se reúnem na rua Ministro Godói e suas adjacentes entre os períodos vespertino e noturno de aula. Quando o último sinal soa, os bares se enchem de mais jovens comprando bebidas. Há anos, moradores vêm reclamando com a Subprefeitura da Lapa, a responsável pelo local, em busca de soluções para o caso. Ao conversar com uma moradora que não quis ser identificada, a reportagem descobriu que a associação de moradores do bairro conseguiu que alguns bares que funcionavam sem alvará fossem fechados. Por um breve período do tempo, isso diminuiu a quantidade de bebida
A tranquilidade do bairro entra em conflito com o barulho causado pela movimentação dos estudantes em festas (Foto: Gabriela Naville)
sendo vendida e, consequentemente, as aglomerações mudaram de lugar. Mas os bares rapidamente foram abertos, com alvará ou não, e para os moradores o problema voltou. A reportagem tentou insistentemente contato com a Associação de Moradores de Perdizes e com o Conselho Comunitário de Segurança de Perdizes (Conseg). No entanto, ninguém respondeu às solicitações de entrevista. Legislação A Lei do Psiu, que é fiscalizada pela prefeitura, tem a função de proibir qualquer tipo de ruído com níveis superiores aos estipulados pela lei em qualquer hora do dia. Mas os moradores reclamam da
efetividade da fiscalização, isto é, os aparelhos de som são desligados com a chegada dos agentes e ligados novamente ao seu partir. A rua é pública e a Constituição assegura o
Moradores reclamam da efetividade da fiscalização direito de ir e vir. O art. 5º, XVI, garante a liberdade de reunião, isto é, qualquer pessoa pode espontaneamente ou de forma premeditada se reunir livremente sem autorização do Estado. Assim, os estudantes podem estar na rua em qualquer horário, sem restrição.
Fora da universidade, os estudantes são apenas cidadãos e a responsabilidade das festas não é atribuída à PUC, pois os jovens não estão dentro do perímetro de seu terreno. Assim, o campus comporta os alunos apenas no período de aulas e em seu espaço. Em 8 de agosto, uma festa organizada pela Torcida Uniformizada Raça PUC resultou em vias públicas fechadas, discussões e um chamado à polícia. Para evitar o mesmo problema, o grupo organizou uma festa na quadra da Mocidade Unidos da Mooca, no dia 28 de novembro. Leia mais sobre este assunto e seu impacto na vida noturna local na editoria Entretenimento
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Observatório SP Perdizes
Bairro afasta morador de rua Apesar da relativa segurança, Perdizes virou área de difícil permanência para população em situação de vulnerabilidade
Gabriela Forabelli De acordo com a moradora de rua Carol Del Bianco Lamour, 30 anos, o centro de São Paulo é a região mais segura para habitação, uma vez que a violência é menor. “Aqui se acontecer alguma coisa sai na internet, sai na rede social, então eles não procuram bater muito na gente durante o dia. Quando chega na parte da noite vêm cinco seis viaturas e caem batendo”, diz. Perdizes foge à regra dos demais bairos centrais: quase não tem pessoas em situação de rua, o que se verifica em uma rápida caminhada. O bairro, que possui cerca de 100 mil habitantes, é um dos mais seguros e nobres da cidade. Embora seja, assim, uma das regiões onde os moradores de rua sintam-se mais seguros por supressão da
violência, conseguir ficar é uma raridade. De acordo com um comerciante local, que não quis se identificar, as pessoas em situação de rua não permanecem por mais de 24h. “É difícil ter um morador de rua aqui, mas quando tem, a polícia já vem e retira”, afirma. A reportagem ainda verificou que, no site da Subprefeitura da Lapa, um dos serviços oferecidos é a retirada das pessoas de rua. A Assessoria de Imprensa da subprefeitura, que coordena Perdizes, não quis se pronunciar a respeito de quais medidas eram tomadas com os moradores de rua. Afastamento A conjuntura da população de rua sempre foi um desafio para a prefeitura de São Paulo. Equipes de assistentes sociais, médicos e psicó-
logos e até abrigos, locais onde estes possam passar a noite, são adotados pelo poder público. Mestre em direito constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Hugo Albuquerque afirma que o afastamento dos moradores de rua do bairro faz parte de uma especulação imobiliária, uma vez que o bairro residencial deve manter uma boa aparência. “A
população de rua no fim é ‘tolerada’ em algumas áreas específicas e degradadas, as quais não interessam ao capital, como o Centro Velho, Baixada do Glicério ou Aclimação”, diz. Isto explica por que o centro de São Paulo também faz parte de uma das áreas aceitas. Embora seja um local com giro econômico, não faz parte deste nicho. Para Hugo, a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana são os braços utilizados pelo Estado e pelo setor imobiliário para a retirada da população de rua. O advogado aponta que o tratamento dado pelo Estado à questão amplifica os problemas. “O crescimento da população de rua está conectado ao caos não apenas econômico como, também, psicossocial: são milhares de pessoas que vão para as ruas fugindo, também, da invisibilidade ou da violência em seus próprios lares e famílias”, diz.
Política
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Poda de árvore e faltas de energia afetam rotina Moradores reclamam de demora na solução de problemas ligados à manutenção de árvores e às quedas de luz
Gabriela Lemos Moradores de Perdizes já estão habituados aos problemas de queda de energia e árvores, principalmente em épocas em que a chuva afeta mais a região. Ao se formar uma nuvem mais escura, já pensam nas consequências da chuva e em como solucioná-las o mais rápido possível. Perdizes é predominantemente residencial, mas caminhando pelo bairro há uma grande variedade de serviços, como restaurantes, academias e escolas, além da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). O bairro é cercado por árvores em suas calçadas estreitas; muitas vezes elas são o motivo principal das quedas de energia, ao tocarem na rede de fios elétricos por precisar de manutenção. Surgem aí as principais dúvidas dos moradores: quem é responsável por fazer o pedido deste serviço? É função do morador solicitar a poda ou trabalho de manutenção à subprefeitura realizar? Quem cuida? O Decreto Municipal nº 42.239/2002 garante que o serviço é de responsabilidade
Manutenção e poda de árvores são atribuição das prefeituras regionais da não obteve resposta. O processo formal da prefeitura impede que o morador possa fazer a solicitação a uma empresa especializada, o que diminuiria o tempo de espera.
Rua Doutor Homem de Melo, um dos locais por onde o muturão realizado pela Subprefeitura com a AES Eletropaulo passou (Foto: Gabriela Lemos)
das Prefeituras Regionais. O serviço é gratuito; porém, é necessário que a árvore em questão passe por uma avaliação e, então, seja definido se é necessária ou não a manutenção. A solicitação é feita
por meio do SP 156, via telefone ou site, e a espera fica em torno de 120 dias – quase quatro meses. À reportagem, a dona de um estabelecimento educacional, que não quis ser identificada, solicitou o serviço de poda e ain-
Mutirão Recentemente, a Sub-prefeitura da Lapa, responsável pelo bairro de Perdizes, junto com a AES Eletropaulo, realizou um mutirão de poda de árvore. Entre os locais por onde ocorreu a ação, estavam a rua Cardoso de Almeida e a rua Doutor Homem de Melo, locais que geram maior reclamação. Em casos de falta de luz, a AES Eletropaulo orienta que o morador entre em contato com a companhia, portando o número da instalação de luz, e siga com o atendimento de sua região.
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Observatório SP Perdizes
O caminho da enchente Alteração de córregos e urbanização intensificam riscos de enchentes; cursos d´água canalizados atravessam o bairro Gabrielle Rodrigues “Quando eu era pequena ia lá, meu pai me levava para brincar. Descendo tinha o córrego e, pra lá do córrego, era tudo chácaras, então eu gostava muito de ver os boizinhos [...] A gente atravessava o córrego e ia pra lá.” Este é o relato de Anna Maria Penna sobre um dos córregos que passava a céu aberto por Perdizes, o Sumaré. A aposentada mora no bairro há 70 anos e conta que acompanhou toda essa mudança das ruas, inclusive com os córregos que antes eram lugar de diversão e hoje não são vistos por ninguém. Anna, comenta que, todo ano, principalmente em época de chuvas, o final da rua Cardoso de Almeida, onde mora, enche muito. Situação que se tornou comum em comércios que estão em partes baixas da região. A cidade de São Paulo se desenvolveu às margens do rio Tamanduateí e, hoje, tem mais de 300 rios e córregos canalizados, entre eles os córregos de Perdizes e seus arredores. Moradores mais antigos relatam que, conforme o bairro foi crescendo e acompanhando o desenvolvimento da cidade, os córregos começaram se tornar obstáculos para a circulação
Avenida Sumaré, no centro do mapa: importante via de escoamento de Perdizes foi construída seguindo traçado de um córrego, que hoje está canalizado (Fonte: Google Maps)
de automóveis e para a construção de prédios. A urbanização trouxe vantagens aos moradores, como as ruas asfaltadas e maiores, os terrenos para construção de prédios e comércios e as ligações com vias que levam para todas as partes da cidade. Porém, uma das consequências do crescimento da cidade é o aumento na frequência de enchentes. Riscos As enchentes são consideradas fenômenos naturais, porém, acontecem a partir de intervenções humanas. A principal delas é o soterramento ou canalização de rios e córregos. Quando a chuva chega às ruas, corre em direção a estes. Mas, quando a água não encontra espaço, os alagamentos afetam a rotina de moradores.
Além do dano ambiental, os moradores enfrentam prejuízos financeiros com carros, casas e comércio inundados. Correm risco, também, com contaminações das águas sujas. A enchente também pode resultar em morte – é o caso de um morador antigo do bairro, que foi arrastado para baixo de um carro na rua Cardoso de Almeida e não resistiu. O caso aconteceu em janeiro deste ano. Causas O professor Pedro Marcio Munhoz, da Faculdade Senai de tecnologia ambiental, explica a relação entre enchentes e os rios e córregos canalizados ou soterrados. “Quando você não dá uma vazão para o rio, ele vai ter que escapar para algum lugar. Em
contrapartida, existe a impermeabilização do solo pelas grandes cidades” diz. “Então, quando se tem uma chuva significativa, vai aumentar o volume de água dos rios, e este rio irá escapar para algum lugar.” Pedro também explicou que a alteração do percurso do córrego prejudica a fauna e a flora aquática, que dependem dele para sobreviver. Escondido, o córrego Sumaré passa despercebido pelos moradores de Perdizes. Munhoz afirma que a perda de contato entre morador e natureza reduz a atenção para os problemas ambientais do bairro. “A natureza se recupera, uma vez que você começa a respeitar seu lugar e tratar o esgoto. Porém, teria que ter o compromisso do poder público”, conclui.
Meio ambiente
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Projeto leva flores ao bairro
Orquídeas variadas preenchem árvores da rua Monte Alegre Danielle Magalhães Ao andar pela avenida Monte Alegre, onde se localiza a Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), é possível perceber que as árvores agora possuem orquídeas. Elas foram implantadas pela equipe de jardinagem da faculdade, por meio de um projeto de doação. A planta, típica de países tropicais, possui cerca de 50 mil espécies, com pelo menos 30 mil dessas criadas em laboratórios. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Orquídeas alegram e enfeitam as árvores no entorno da PUC (Foto: Danielle Magalhães)
(Inpa), o Brasil tem mais de 3 mil espécies. A PUC desenvolveu o projeto em 2016. Quem tiver orquídeas e não possuir interesse na planta pode leva-lá para a faculdade, para a implantação nos troncos das árvores. Airton Manoel do Santos, 43 anos, é reponsavél pela equipe de jardinagem e afirmou que a fundação São Paulo, que mantém a Universidade, adquiriu 42 mudas inicialmente. A bióloga Ana Paula Martins de 23 anos, explicou o processo de adaptação das orquí-
deas. “Algumas espécies de orquídeas são epifítas, essas utilizam as árvores como um auxílio para se fixarem e receberem luz para realizar fotossíntese, assim também obtêm os nutrientes por meio da decomposição de materiais orgânicos retidos nas copas”, diz. A assistente social Rosa Zulli de Araújo, 60 anos, ressalta a importância da conservação e acredita que as pessoas são capazes de preservar e incentivar o projeto. “Acho que as pessoas vão aderir”, afirmou.
Horta orgânica ganha destaque em restaurante
Caroline Svitras Há seis meses, o restaurante do número 400 atrai os olhares de quem passa pela rua Homem de Melo. A razão está na pequena horta de temperos exposta logo na entrada do estabelecimento Brazuca, dirigido por César Augusto de Lima Cabral. O proprietário diz que “essa horta é uma tremenda ação de marketing”, porque desperta o interesse dos pedestres e os convida a visitar o restaurante. Cabral trabalhava no Banco Itaú quando decidiu começar uma car-
Entre os temperos cultivados, estão manjericão, pimenta, curry e orégano (Foto: Caroline Svitras)
reira na gastronomia. Deixando o antigo cargo para trás, assumiu o risco de reerguer o já existente Brazuca. Assim, ao optar pela horta, César contou que a intenção era mostrar ao freguês a forma natural dos temperos usados na comida, além de agregar qualidade aos pratos. A ideia logo conquistou o público, que não pode deixar de passar no Brazuca sem levar um dos vasinhos para casa. Entre os temperos cultivados, estão manjericão, pimenta, curry e orégano. Para
“Essa horta é uma tremenda ação de marketing” os iniciantes na prática, César dá a dica de sempre manter as plantas fora do sol, para não queimar as folhas e danificar as raízes. Aqueles que se interessam por tendências culinárias podem visitar o restaurante e conferir de perto as mudas.
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Observatório SP Perdizes
Ciência
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Jardim frontal da universidade chama a atenção de moradores e visitantes; na parte interna, mais áreas com diversidade de plantas (Foto: Dayane Stefany)
PUC estuda projeto de reúso da água em jardins
Implantação do sistema resultaria em economia e respeito ao meio ambiente; investimento alcança R$ 1,5 mil por metro
Dayane Stefany Quem passa em frente ao ao campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) não deixa de reparar em seu majestoso jardim. Com cerca de 30 espécies de plantas e inúmeras árvores, entre elas um histórico pau-brasil, o jardim se estende pelas quatro ruas que a universidade ocupa. Para reduzir o consumo de água na irrigação dos jardins, a PUC estudaria, segundo apurado pela repor-
Uma das vantagens do sistema é a economia financeira
tagem, a instalação de pontos de captação de água fluvial. Isso geraria economia para a instituição e reduziria o impacto sobre o meio ambiente. A razão de o projeto não estar sendo executado é explicada pelo oficial de manutenção dos jardins Roberto de Freitas. ‘’Esse projeto está no papel, ainda, falta a instituição liberar verba para começar o serviço’’. Para o biólogo e especialista em tecnologia ambiental Renato Marne, a vantagem desse sistema está justamente na “economia financeira, em não usar a água da concessionária”. Há, ainda, a questão do selo verde, que segundo Marne “intitula entidade que se utiliza desses recursos como ecologicamente correta.”
Porém, a economia não é algo que depende do homem; o segredo do uso, segundo o especialista, seria a capacidade de reserva. Quanto maior o volume que se retém, mais água haverá para utilizar. Para a aplicação
desse sistema na PUC, seria necessário um investimento de R$ 1.500 por metro quadrado. O retorno do dinheiro investido apareceria entre 10 e 24 meses, dependendo das temporadas de chuvas da cidade.
Os Jardins da PUC-SP são cuidados por uma equipe de funcionários, que atua na manutenção diária do espaço (Foto: Dayane Stefany)
No Museu das Invenções, participação do público é um requisito para explorar novidades úteis no dia a dia (Foto: Maria Clara Cordeschi)
Museu explora inovação e criatividade do público Maria Clara Cordeschi O primeiro museu com a temática de invenções da América Latina, Associação Nacional dos Inventores (ANI) - Museu das Invenções, localizado em Perdizes, apresenta atrações para todas as idades. O diferencial da ANI é a possibilidade de acesso que o público tem de levar e apresentar suas ideias e propostas, a fim de que essas sejam futuramente patenteadas e lançadas para o mercado. Muitos já chegam com o protótipo pronto, mas existe a possibilidade de que Carlos Mazzei, fundador do museu, colabore ao analisar a ideia, elaborando-a junto com o inventor. Depois que a análise
da invenção é feita e é concluído que o produto tem potencial para se tornar comercial, a associação se encarrega de entrar em contato com investidores, divulgando as ideias para que a patente seja vendida. As melhores invenções são levadas para o acervo de mais de 700 criações presentes no museu. Entre elas,
Sistema para derreter sacolas plásticas (Foto: Maria Clara Cordeschi)
podemos destacar um sistema para derreter sacolas plásticas, criado pelo inventor José Aparecido Santos. Trata-se de um aquecimento elétrico ou a gás que pode ser implantado em estabelecimentos varejistas, com o intuito de que os clientes levem suas sacolas antigas para derreterem. A invenção tem importância pois, no Brasil, cerca de 1,5 milhão de sacolas são distribuídas por hora, e levam de 100 a 400 anos para se decompor, prejudicando, assim, o meio ambiente. O museu contém guias preparados para fazer um tour descrevendo o processo de criação e o funcionamento de cada item, além de sua
utilidade para o dia a dia de futuros compradores. Ao contar a história de cada invenção, o museu espera cativar o público a pensar e quem sabe, inspirar um futuro inventor. O museu está aberto para visitas escolares, que podem ser agendadas pelo telefone e pela internet, e se destina a todo público que tenha curiosidade. Os ingressos custam R$ 15, e crianças com menos de cinco anos não pagam. Serviço Museu das Invenções R. Doutor Homem de Melo, 1.109 Segunda a sexta, das 10h às 17h Tel.: (11) 3670-3411
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Observatório SP Perdizes
Ciência
Localização de bairro afeta a qualidade do ar
Perdizes é exemplo vivo dos contrastes geográficos de São Paulo, com variações atmosféricas de acordo com a região Avenida Sumaré, sentido Barra Funda: qualidade do ar respirado varia conforme fatores como a presença de veículos (foto: Lucas Leite)
faz com que a atmosfera permaneça estável, porém, segundo a Cetesb, não houve ultrapassagem do padrão de qualidade do ar para o material particulado na estação de monitoramento Cerqueira César (próxima ao bairro de Perdizes) em 2016”, diz.
Dispersão A dispersão de poluentes em cidades como São Paulo, onde há poucas áreas verdes, acontece de forma gradativa. A presença de áreas verdes ajuda a melhorar a qualidade do ar. “As árvores umedecem o ar pela evapotranspiração,
propiciam um ambiente com temperaturas mais amenas e contribuem de forma benéfica para a qualidade do ar”, diz Tayla Dias. “Contudo, em uma cidade altamente urbanizada como São Paulo, esta contribuição pode ser suprimida”, lembrou. Outra característica marcante no bairro é a existência de uma grande quantidade de árvores. Para a professora doutora em Ciências Atmosféricas Adalgiza Fornaro, da Universidade de São Paulo (USP), apesar de Perdizes ter um relevo acidentado, a presença de áreas verdes ameniza a poluição. “As árvores ajudam a diminuir a concentração, principalmente de ma-
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terial particulado, pois funcionam como barreiras”, argumenta. A grande quantidade de prédios colabora para a situação do ar em uma metrópole. Os prédios criam bloqueios e dificultam a circulação do ar e a dispersão de poluentes em alguns pontos. “A canalização do vento na cidade e outros efeitos de verticalização, a combinação das circulações locais e o contraste entre áreas urbanas, suburbanas e rurais podem interferir na qualidade”, observou Tayla Dias. “Os bairros de São Paulo com mais avenidas e prédios e com menos áreas verdes e arborização acabam sofrendo mais.”
Urbanização prejudica o solo
Região da Subprefeitura da Lapa concentra quase 280 áreas contaminadas Vista de Perdizes, a partir do cruzamento das ruas Caiubi e Caetés: bairro se destaca pela arborização e valorização imobiliária (Foto: Lucas Leite)
Lucas Leite Localizada 760 metros acima do nível do mar, São Paulo, a cidade mais populosa do País, tem desafios em diversas áreas, mas um ponto importante que afeta diretamente a vida de todos é a questão da qualidade do ar. Com uma frota de cerca de 6 milhões de carros, a capital paulista ao longo dos anos também vem sofrendo com este mal que atinge as principais cidades do mundo. Com mais de 11 milhões de moradores, São Paulo cresceu de forma desordenada ao longo dos anos, sem
planejamento para futuras áreas verdes que poderiam ter sido preservadas. Isso acabou por gerar problemas relacionados à qualidade do ar. A poluição emitida por veículos é uma das principais causas de mortes no mundo, em função de substâncias como o monóxido de carbono (CO) e o dióxido de carbono (CO2), lançadas por automóveis na atmosfera. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição mata cerca de 7 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. A qualidade do ar aceitável pela OMS é de no máximo de 10 microgramas
de partículas por metro cúbico de ar (ug/m3), mas, para a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cebesp), o aceitável é de 19 ug/m3. Com o relevo tipicamente paulistano, o bairro de Perdizes tem características que simbolizam grande parte da cidade, que é o revelo em formato de um vale. A avenida Sumaré, que corta o bairro, é o lugar onde há maior concentração de veículos e, por consequência, centraliza boa parte da emissão de poluentes. A via está na parte de baixo do vale. As ruas Cardoso de Almeida e Aimberê, dos lados direito e esquer-
do, respectivamente, de quem vai no sentido da Zona Norte, estão nas partes mais altas do bairro. A qualidade do ar nestas regiões é extremamente complexa, pois o revelo da região produz impactos diferentes. Segundo a meteorologista Tayla Dias, os altos e baixos influenciam o aumento da poluição, porque essas características são desfavoráveis à dispersão de poluentes. “Durante a noite, ocorre um fenômeno conhecido como a inversão de vale. A piscina fria que se forma no vale associado à camada residual do dia anterior
Leonardo Cavalcante Perdizes tem uma grande quantidade de prédios. A urbanização que dominou a cidade nos últimos tempos foi prejudicial ao solo da região. Desde a contaminação de rede de esgoto até a estrutura dos prédios, vários fatores foram fundamentais para comprometer a qualidade e fertilidade do solo. Segundo levantamento da Companhia de Tecnologia e Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Cetesb), o estado tem mais de 4,5 mil áreas contaminadas. A capital paulista concentra 34% desse total,
com mais de 1.539 territórios nessas condições. Dados da Prefeitura de São Paulo, baseados em informações da Cetesb e interpretados pelo Núcleo Técnico de Informação em Vigilância em Saúde e pela equipe do Programa Vigisolo, apontam 279 áreas contaminadas somente na Subprefeitura da Lapa, que cobre Perdizes. Com a abrangência comercial que o bairro tomou anos atrás, muitas pessoas migraram e passaram a ser moradores da região, tornando alta a necessidade da criação de redes de esgoto. O solo, por sua vez, passou a se tornar mais poluído. Perdizes
contém muitas ladeiras, dificultando a passagem do esgoto para os grandes rios poluídos da cidade de São Paulo e dei-
xando acumular cada vez mais a contaminação química do solo dessa localidade. .
Prédios do bairro vistos do entorno da avenida Sumaré: urbanização trouxe impactos ao solo (Foto: Lucas Leite)
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Observatório SP Perdizes
Adelina Galeria destaca artistas latino-americanos
Inaugurado em abril, espaço busca relação de proximidade com os artistas e formação de novos públicos
Cultura
Centro cultural estimula socialização na cidade Espaço voltado a práticas artísticas permite contato entre música, dança, artes plásticas e frequentadores
Thamires Zaniboni Adelina Galeria, uma galeria de artes contemporâneas que se assemelha ao conceito de centro cultural, abriu suas portas no mês de abril na Cardoso de Almeida, uma das principais ruas de Perdizes. O ambiente idealizado pelo empresário Fabio Luchettie e dirigido por ele e sua equipe destaca artistas latino-americanos e traz uma forma acessível de espaço e arte para diversos públicos, desde colecionadores, curadores e críticos até curiosos que queiram entender mais sobre o mundo da arte contemporânea. Entre suas propostas estão a relação de proximidade e a formação educacional de seu público e de novos artistas, feita por meio de diálogos, mediações, atividades, cursos, oficinas e bate-papos com os artistas. A galeria procura, ainda, uma relação de parceria e contribuição com a comunidade, indo atrás de fornecedores de produtos no próprio bairro. Além de mediações ao público espontâneo, são oferecidas visitas guiadas para grupos, mediante agendamento de forma gratuita e no
Centro cultural Eita! promove intercâmbio de conhecimento cultural por meio de diversidade e contato de frequentadores (Foto: Samuel Silva)
Samuel Silva Espaço recém-inaugurado no bairro desmistifica o universo das galerias (Foto: Thamires Zaniboni)
horário de funcionamento da galeria. Como é um local recente, o número de visitantes é bem variável, a maior visitação é de grupos agendados, mas o número de público espontâneo tem surpreendido de forma positiva, de acordo com a equipe gestora. Com uma estrutura de três andares, a galeria tem o térreo aberto ao público com as obras dos artistas em exposição. Nos fundos, uma área com uma árvore ao centro funciona como jardim de convivência para os visitantes. No
primeiro andar fica a parte administrativa, onde também se encontra o acervo de obras da galeria, responsável pela equipe de vendas. O segundo andar é um espaço flexível, que se adapta de acordo com os cursos e eventos disponíveis no momento. A galeria conta, também, com um ateliê próximo a sua localidade. Pela galeria já passaram as exposições “Para que eu possa ouvir”, “Falso histórico”, “Luz inscrita, imagem incerta”, “Empty Project” e “Fig. 1 e Fig. 1 Espelhada Alternadas”.
As mais recentes foram do dia 27 de setembro até 4 de novembro: “Algorab”, de Rodrigo Linhares, com curadoria de Nathalia Lavigne, e “Partituras”, uma exposição de Marcelo Armani com curadoria de Lucas Bambozzi. Serviço Adelina Galeria R. Cardoso de Almeida, 1285 Terça-Sexta 10h-19h Sábado 10h-17h Tel.; (11) 3868-0050 Na web: http://www.adelinagaleria.com.br
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Desde março, o centro cultural Espaço Interativo e Artes (EITA!) se dedica a usar a arte como meio de integração social em Perdizes. Tarefa difícil que, segundo a proprietária, Giulia D’Alonso, 24 anos, “é um processo”: “não é de uma hora pra outra que você consegue convencer o pessoal a sair de casa e que conhecer pessoas desconhecidas pode ser interessante.” Moradora da região e guitarrista na banda Hey Ladies, Giulia tem experiência na área e conhece bem a região, apesar da pouca idade . Ela foi incentivada pelo estudo da música desde os cinco anos de
idade pela mãe, Janete D’Alonso, que é formada em pedagogia e direcionou a filha para a prática de lecionar. Apesar de ter cursado Oceanografia, longe da área cultural, Giulia sempre teve o foco nos negócios. Enquanto fazia graduação, já estava trabalhando com aulas de música e dança no bairro e viu em sua inclinação para a esfera cultural a oportunidade do empreendimento. Daí surgiu o centro cultural EITA!: “tranquei a faculdade até as coisas darem certo, e as coisas começaram a dar certo”, diz. O local ainda está em desenvolvimento. Os
profissionais que formam a equipe se juntaram por meio desse ciclo, que segundo Giulia é natural do meio. Assim como na música, a construção do centro cultural foi feita à base de networking: ex-parcerias, colegas e “um indicando o outro”. As atividades enfatizam a formação de rede entre alunos, assim como entre frequentadores. Mais do que aprender a técnica, o EITA! sugere que as diferentes modalidades conversem para formar algo maior, como Giulia indica: “A ideia do espaço é ter esse tipo de convivência, para as pessoas aplicarem a arte na vida e ver o que
ela tem a agregar na sua vida de um jeito absurdo.” A proposta apresenta desafios. Além de tópicos apontados, como dificuldades com documentações, a prefeitura, a antiguidade do bairro e um ou outro morador que acaba implicando, a ideia de movimentação dos residentes não é eficiente, como aponta Giulia: “o pessoal gosta de ficar em casa, mas entre uma aula de música e uma prática de banda, um acaba conhecendo o outro. Mas, com o tempo tenho certeza que vai acontecer de as pessoas ficarem mais abertas.”
Giulia idealizou inicialmente o projeto como uma aula de dança (Foto: Samuel Silva)
Serviço Eita! Rua Caiubí, 83 Tel.: (11)3456-3341 Na web:w http://www.eitacultural. com.br
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Observatório SP Perdizes
Livraria Zaccara: um tesouro escondido em Perdizes Programação cultural diversificada é um dos destaques
Acervo: livros são escolhidos de forma cuidadosa por Lucio e Cris Zaccara (Foto: Stéfanie Neuman)
Stéfanie Neuman Eram cerca de 13h. Caminhava pela rua Cardoso de Almeida, em Perdizes, acompanhada de mais três colegas. Havíamos decidido que aquele era o dia de conhecer o bairro. Descíamos a rua quando avistei, um pouco mais à frente, uma faixada que me chamou a atenção. Uma escada clara, entre um cartaz com um grande desenho que parecia ter sido feito à mão e uma vitrine repleta de livros coloridos. Instantaneamente veio o desejo de entrar e conhecer. Fiz sinal para meus colegas, que buscavam no horizonte nossa próxima parada. - Aqui? — um deles perguntou cobrindo parte do rosto, intensamente iluminado pelo sol. - É… — sorri. — Aqui mesmo. Ao colocar meus pés na escada constatei: o
minha mulher 22. Nós namorávamos. Nunca havia sido comerciante ou empresário, mas tinha paixão pelo que ia fazer”, conta.. “Nós casamos depois e nosso sonho era ter um espaço desses. Nosso espaço era menor, tinha 20m².” Inicialmente o comércio era uma loja de discos de vinil, foi crescendo e se transformando. Hoje, conta com um acervo de sonhos e ideias de artistas de diferentes áreas. “Não sou um livreiro, mas um guardião de livros”, brinca. Andava pela livraria, admirada. Cada detalhe encantava. Havia de fato um tesouro escondido em Perdizes. Onde os artistas vão pessoalmente e cada pessoa constrói um pedacinho da livraria com o coração. Cada adorno, cada enfeite, cada desenho, minuciosamente feito à mão, com todo o capricho.
desenho à esquerda fora de fato feito à mão. Adentramos a livraria Zaccara como exploradores adentram a desconhecida porém encantadora mata. Logo à minha direita, já era possível perceber a particularidade do local, acolhedor como nenhum outro. O cheiro aconchegante de café recém-feito dominava o ambiente. Observava as vastas prateleiras, repletas de livros, esculturas e desenhos. Dentro de mim, a certeza de que havia chegado ao lugar certo. Precisamos ir. — um deles soltou. Meu coração apertou. Mas sabia que não tardaria para voltar. Duas semanas depois, lá estava eu de novo. Fui recebida por “Você percebe?”, disLúcio Zaccara, um dos se Lúcio, apontando fundadores da livraria. para o quadro de pássa“Quando nós abrimos ros em cima do balcão. nossa loja, em 1982, tí- “Este foi feito por Laura nhamos vinte e poucos Beatriz.” anos. Eu tinha 24 e “A girafa e o rinoce-
“Não sou um livreiro, mas um guardião de livros”
ronte também?”, perguntei. “Também”, ele respondeu, sorridente. “Veja, aquele em cima da estante, por Hélio de Almeida.” “Esse também é dele, não é?”, apontei para outra escultura de arame disposta na parede. “É sim”, respondeu. “Sabe que pouquíssimas pessoas olham essas coisas? As crianças que vêm aqui percebem muito mais que os adultos.” A livraria oferece diferentes atividades culturais em seu espaço, como o clube de leitura, no qual se discute um livro por mês; as exposições de artes e desenhos, que geralmente acompanham lançamentos de livros; workshops; e aulas de assuntos variados. Há, também, shows de apresentações musicais no segundo andar da livraria, que são anunciados com antecedência no site e no Facebook, e um teatro que acomoda 26 pessoas — também no segundo andar. Serviço Livraria Zaccara Rua Cardoso de Almeida, 1355 Tel: (11) 3384-0908 | (11) 3872-3849 Aberto de segunda a sexta das 10h-20h, e de sábado das 10h-18hs
Entretenimento
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Vida noturna para quem?
Pancadões organizados por estudantes universitários incomodam moradores da rua Ministro Godói; conflito ainda não tem solução Jacqueline Araujo Os bares e lanchonetes da rua Ministro Godói, em Perdizes, sobrevivem exclusivamente do movimento em dias de semana. Aos fins de semana eles sequer abrem. Isso porque estão localizados em frente a uma das entradas da PUC - e seus clientes são predominantemente os estudantes. De um lado da calçada ficam os bares; do outro, vendedores ambulantes e food trucks. Dentro e fora dos estabelecimentos, os universitários se amontoam de segunda a sexta-feira para o happy hour. Alguns trazem até mesmo o próprio equipamento de som. Até meados de 2016, a rua era conhecida por suas frequentes festas a céu aberto, toda sexta-feira. Os “Pancadões da PUC” iam até a madrugada, tocando música alta, bloqueando a passagem de carros e deixando um rastro de sujeira na manhã seguinte. Mobilização A crescente agitação passou a interferir na qualidade de vida dos moradores que, impedidos de dormir e de transitar pela rua, começaram a cobrar medidas da prefeitura. É só o barulho passar do limite e os “Vizinhos da
Consumo dos estudantes é a principal fonte de renda dos bares e restaurantes da rua Ministro Godói; associação de moradores é contra perturbação do silêncio causada nos arredores da universidade (Foto: Jacqueline Araújo)
PUC” - uma associação de moradores da região - já estão contatando o PSIU para acabar com a festa. “Eles descem aqui, vêm fazer barraco aqui no bar”, conta Rodrigo Riveiras, proprietário do bar Terceira Aula. Além de acionar a polícia nas noites de tumulto e contatar a imprensa, a associação de moradores denuncia as atividades dos estudantes em uma página do Facebook. No entanto, os moradores nem sempre esperam pela ação da polícia. Estudantes relatam que não é incomum avistar um ou outro objeto sendo atirado pela janela dos prédios, sem dúvida tendo como alvo algum universitário lá embaixo. Ao ter dificuldade para transitar pela
calçada, os vizinhos tentam acertar joelhadas na cabeça dos jovens sentados na sarjeta. De quem é a rua? Atualmente os bares fecham mais cedo, com risco de multa, e os pancadões minguaram – o último aconteceu em agosto deste semestre, na festa de calouros. Porém, uma publicação na página dos Vizinhos da PUC - que se recusaram a dar entrevista para esta reportagem - indica que, mesmo depois de fechados os bares, os estudantes continuam ocupando o espaço das varandas e calçadas até a madrugada. “Eles acham que a gente tem que segurar trinta alunos dentro do estabelecimento, sendo que o aluno gosta da
calçada, até porque todos fumam cigarro ou maconha”, conta Tiago dos Santos, proprietário do Boteco da PUC. Ele insiste que nunca teve problema com aluno nenhum, apenas com os vizinhos. De fato, durante a entrevista, um rapaz entra no bar e pede pra carregar o celular nos fundos. Tiago dá permissão e parece cultivar essa familiaridade com a maioria dos clientes. A “disputa territorial” parece inconciliável. Os moradores só querem a calma e tranquilidade que a mudança para o bairro nobre inicialmente lhes prometia. Os alunos, por sua vez, acreditam que possuem o direito de ocupar o espaço afinal, eles também pagam para estar ali.
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Observatório SP Perdizes
Gastronomia local oferece opções variadas
Restaurantes de Perdizes apostam em diversidade de culturas; alimentação vegetariana e culinária árabe se destacam Jaqueline Sousa
Arabesco, Raízes Zen e Krystal Chopps: três restaurantes que mostram a diversidade gastronômica da região de Perdizes (Fotos: Jaqueline Sousa)
Arabesco Após trabalhar em um banco por alguns anos e sempre estar rodeado de comida árabe, Carlos Alberto Isaac resolveu entrar na área do comércio e montar seu próprio restaurante com a ajuda do pai, em 1987. Com origem sírio-libanesa e utilizando as receitas herdadas da avó, Carlos diz que a escolha por Perdizes foi fácil, já que morava na região há 36 anos. O cardápio é recheado de comidas árabes de diversos tipos, desde as mais típicas, como kibes e beirutes, até saladas. Segundo Carlos, os clientes sabem mais sobre a cultura árabe do que ele mesmo, já que é um tipo de comida bastante aceito e difundido pelas pessoas. Para os frequentadores do res-
taurante, o Arabesco é uma boa opção para se conhecer as comidas básicas desse tipo de alimentação. Raízes Zen Criado por meio de uma parceria entre irmãos, o Raízes Zen não é só mais um restaurante exclusivo para vegetarianos. Com uma proposta de divulgar esse tipo de alimentação de um jeito diferente, o cardápio do restaurante foi feito também para os não habituados. O Raízes Zen traz versões de pratos que substituem a falta da carne, com opção, por exemplo, para pessoas que não são vegetarianas, mas que buscam uma alimentação mais saudável. De acordo com o dono, Luiz Fernando Zen Nora, quase 90%
dos clientes não são vegetarianos, mas consomem fielmente a comida do restaurante – que é fornecida exclusivamente por produtores orgânicos. A psicóloga Mirela Giglio conheceu o restaurante na época em que estudava na Pontifícia Universidade Católica (PUC) e, mesmo não sendo vegetariana, sempre que está na região de Perdizes, aproveita para almoçar por lá. “As pessoas têm preconceito porque acham que vão sentir fome por não ter carne, mas eu sempre fiquei bastante satisfeita’, afirma. Krystal Chopps Inaugurado em 1971 por um italiano, o Krystal Chopps atualmente é administrado por sua filha Inês Rivera Sernaglia, que seguiu com
a tradição familiar. A especialidade do bar e restaurante é o chopp, apresentando também um cardápio variado de lanches, pizzas, petiscos e drinks. Mesmo com um espaço limitado, o ambiente é bem decorado e conta com música ao vivo nos sábados. Para Inês, o bairro de Perdizes é bom em vários aspectos e possui todo tipo de pessoa. “Não tem cliente específico, por isso o cardápio é variado”, afirma. Serviço
Arabesco R. Doutor Homem de Melo, 494 Tel.: (11) 3872-8164 Raízes Zen R. Monte Alegre, 1144 Tel.: (11) 3868-1925 Krystal Chopps R. Cardoso de Almeida, 754 - (11) 3862-9599
Entretenimento
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Seresteiros levam a MPB para rua do bairro
Trovadores Urbanos atraem pessoas de outros cantos da cidade
Laura Sabioni Uma casa amarela de arquitetura romântica e com uma pequena sacada no alto se destaca em meio a tantos prédios. O local é a sede do grupo de cantores Trovadores Urbanos, que, usando a Música Popular Brasileira (MPB), faz serestas, cantorias e homenagens por toda a cidade. Desde 2010, começou a realizar em seu bairro, Perdizes, o projeto Seresta de Sexta, que é uma das ações do instituto que leva o nome do grupo. Com figurinos dos anos 1920, um casal de trovadores surge na sacada do instituto cantando músicas românticas, principal característica de uma seresta. Enquanto um canta, o outro toca violão seguindo a canção. Já o público acompanha a apresentação, que é gratuita, sentado em banquinhos no espaço da frente da casa. A ideia de criar o evento foi de Maida Novaes, uma das fundadoras dos Trovadores e que canta às sextas-feiras. Filha de uma cantora de rádio e neta de um tropeiro, que são considerados os primeiros seresteiros, Maida sempre viveu em uma casa musical. Passou a infância e a adolescência fazendo serestas no interior de São Paulo, mais especificamente em Avaré, sua
Seresta de Sexta é um dos principais eventos do calendário local, atraindo público diversificado (Foto: Laura Sabioni)
cidade natal. Mesmo se mudando para a capital paulista e estudando jornalismo, nunca se afastou da música. A iniciativa da Seresta de Sexta foi uma forma que a cantora encontrou de comemorar seus 20 anos de carreira, agradecer à cidade pelo carinho e celebrar um pouco da sua vida como cidadã. Para ela, a seresta “é uma maneira de fazer essa cidade mais possível, de você falar um pouco de afeto, de fazer o paulistano se apropriar do espaço público, saí mais pra rua.” O animador 2D Luiz Fernando da Silva, de 26 anos, é morador do bairro e descobriu os trovadores quando saiu para passear com o seu
cachorro. Frequentador da seresta há pouco mais de um mês, ele ressalta alguns pontos positivos: “é muito agradável o clima, as músicas são muito boas, me sinto até uma criança quando eles começam a cantar.” Mas o público não se resume apenas aos vizinhos, como é o caso da funcionária pública Sandra Rufino, que, mesmo não morando no bairro, faz questão de frequentar a seresta sempre que consegue. Ela vê no evento uma oportunidade de vivenciar instantes de tranquilidade no meio da correria do dia a dia: “é muito gostoso, é um momento que de repente a gente esquece da
correria da cidade e se transporta para épocas diferentes. Acho que é uma experiência que todo mundo deveria ter pelo menos uma vez”, afirma. Por ser um evento ao ar livre, imprevistos podem acontecer, mas Maida salienta que “por vir gente de todo canto, mesmo que chova a gente tá com a janela aberta ou a casa aberta, porque é uma evento que pegou.” Serviço Seresta de Sexta Todas as sextasfeiras na sede dos Trovadores Urbanos Rua Aimberê, 651 – Perdizes Das 20h00 às 21h30 Tel.: (11) 2595-0100
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Observatório SP Perdizes
Academia é pioneira em Krav Magá na cidade
Centro tradicional apresenta arte israelita para o bairro
“Fiquei atraído por ser uma luta diferente das habituais”
Krav Magá de Perdizes é unidade pioneira em São Paulo (Foto: Fábio Martins)
Fábio Martins Vindo de Israel para o Brasil nos anos 90, o Krav Magá é um combate corpo a corpo que se utiliza técnicas de lutas como o boxe e judô. Apesar de ser uma atividade física e ter na sua base alguns esportes, o Krav Magá não é considerado um esporte para os seus participantes, mas sim uma arte de defesa pessoal que surgiu do treinamento militar israelita para sobrevivência. Com o lema “Mente Sã em Corpo São”, o Centro Paulista de Krav Magá foi a primeira escola de São Paulo e está localizada em Perdizes, fator que acabou trazendo alunos de ou-
tros bairros e até mesmo cidades por conta da tradição da academia, mas o principal foi ter apresentado a arte para pessoas do bairro. É o caso do morador de Perdizes Mário Rocha, 23 anos. O aluno conheceu o Krav Magá por meio da divulgação de um jornal do bairro e explicou como surgiu seu interesse pela arte que, até então, era desconhecida: “Conheci o Centro Paulista de Krav Magá a partir da revista do bairro que contava sobre a luta, a história e o endereço, fui até lá e assisti a uma aula”, diz. “Fiquei atraído por ser uma luta diferente das habituais, como Jiu Jitsu, Muay Thai, por ser uma de-
fesa pessoal e ter um estilo próprio, outra filosofia das demais lutas aqui da região.” Aluno de Krav Magá há sete anos, Mário ressaltou a importância de a sede do Krav Magá ficar próxima da sua residência. “Morar perto da academia foi um diferencial, pois como sou do bairro acaba sendo muito mais fácil, e isso acaba dando um estímulo a mais do que treinar em uma academia mais distante”, diz. De branco a vermelho Assim como em outras lutas, o Krav Magá contém a tradicional troca de faixas de acordo com a evolução do praticante, porém, diferentemente das de-
mais, a arte israelense não conta com competições, mas sim com muitos desafios e testes. O Krav Magá move seus praticantes por ser uma arte que exige concentração e condicionamento físico. Sejam crianças, sejam homens ou mulheres, todos enfrentam os mesmos desafios, o que acaba unindo todos eles em prol do crescimento. Mário explicou essa relação: “Krav Magá não é só uma luta, é bem mais que isso, você só entende Krav Magá quando começa a praticar, e leva um tempo para você entender o que é isso”, diz. “Durante esse tempo a gente faz muitas amizades, pois exige um certo condicionamento físico para passar de uma faixa para outra, e a gente acaba construindo laços, então acaba sendo mais que uma simples luta.” Serviço
Centro Paulista de Krav Magá Rua Apiacás, 893 Tel.: (11) 3672-8080
Esporte
Escola mantém tradição do ballet clássico Fernanda Chiappa
Conhecido por suas peculiares ladeiras, o bairro de Perdizes abriga uma quantidade expressiva de clubes esportivos, academias e escolas de arte. Entre as escolas de arte, um dos destaques é a Gisele Bellot, uma escola de dança que está na região há mais de 26 anos e vem formando bailarinos de expressão nacional e internacional.
Ensinamentos vão além da sala de aula
O foco desta academia é a dança clássica, com plano de curso baseado na metodologia russa. Dança contemporânea, jazz, hip-hop, pas-de-deux, alongamento e ritmo também são modalidades presentes na escola. A dança proporciona benefícios psíquicos e de saúde física para quem tem vontade de entrar neste curso. Acredita-se que os ensinamentos vão além da sala de aula. A disciplina, o cuidado, a atenção, a pontualidade, o convívio e até mesmo a confiança são diariamente aprimorados, tanto por alunos como por professores.
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Um aluno em formação
Dante Feliciano, 20 anos, bailarino e estudante de psicologia Como descobriu sua paixão pelo ballet? Desde pequeno sempre tive um encanto gigantesco por danças, mas foi aos nove anos de idade que pedi para minha mãe me colocar na aula de ballet. Com o tempo, minha paixão só aumentou e recebi um reconhecimento da minha professora, foi aí que ela me indicou a Gisele Bellot. Como você avalia o preconceito em relação aos homens bailarinos? A concorrência entre homens é menor, mas o trabalho e dedicação são iguais para todos! Nunca sofri nenhum tipo de preconceito, meus amigos e família sempre me apoiaram. O que a dança representa para você? É uma forma de me expressar. Cada movimento, cada passo é como um poema para mim. Quando estou dançando nos ensaios ou em apresentações é quando sinto que estou vivo.
Escalada atrai aventureiros
Luiz Felipe Yota, 18, em treino de escalada (Foto: Brenda Marques)
Brenda Marques Situada no bairro de Perdizes há 19 anos, a Casa de Pedra surgiu de um sonho de um escalador. Alê Silva é o proprietário do espaço, foi campeão paulista de escalada
em 1996 e brasileiro, na modalidade velocidade, em 1997. Já escalou em diversos países. A casa é sinônimo do esporte na região e prepara alunos, desde os que têm o intuito de ser profissionais até aqueles que almejam se
distrair. No local, é possível encontrar paredes com até 14 metros de altura. Luiz Felipe Yota, 18 anos, estudante de geografia, escala há quatro anos e encontrou o esporte pesquisando práticas ligadas a natureza e aventura. Apesar de trabalhar o corpo e a musculatura, o jovem também estimula a mente – tanto que considera este o esporte mais completo. Yota diz que, para escalar, é necessário pensar muito e ter bastante concentração; destaca, ainda, os benefícios à saúde no geral, instigando o fortalecimento dos ossos e melhorando a respiração.
Segundo o professor Felipe Cavalcante, de 32 anos, além de trabalhar a musculatura, a escalada estimula o adepto a pensar, ter força, técnica, foco e muito equilíbrio, beneficiando ainda os que têm problemas de respiração. De acordo com Felipe, apesar de usar muita força, as mulheres se dão melhor do que os homens na prática. Não existe restrição de idade. E, para quem tem medo de altura, a escalada não é um problema: a partir do momento que o aluno se sente seguro com os aparelhos, fica mais tranquilo.
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Observatório SP Perdizes
Samurai Kids é testado em academia do bairro
Conceito de jiu-jitsu infantil explora autoconfiança e disciplina
Crianças se aquecem antes do treino: atividades destinadas a crianças buscam evitar agressividade na prática do esporte (Foto: Débora Barbara)
Débora Bárbara Se você mora em Perdizes e ainda não ouviu falar no termo “Samurai Kids”, saiba que ele é um nome fantasioso, que foi criado pelo professor de jiu-jitsu Edson Costa, há cerca de quatro anos, em sua academia Alliance Perdizes. É um método que aplica os conceitos básicos do jiu-jitsu para crianças de cinco a doze anos, de forma lúdica e divertida. O Samurai Kids consiste em desenvolver nas crianças o companheirismo, a autoconfiança e a disciplina, além de ensinar técnicas de defesa pessoal. Por meio delas, aprende-se a se proteger de tapas, em-
purrões e qualquer outra situação de bullying, físico ou psicológico. “É como se fosse um jogo, é uma luta mais voltada para o jogo. Não tem nada de agressivo e que envolva nervosismo, muito pelo contrário,
“Não tem nada de agressivo e que envolva nervosismo” lida com a questão de concentração, atenção e ilusão”, conta Edson. Durante as aulas, as crianças passam por um breve aquecimento,
no qual imitam os movimentos de animais, como uma forma de ginástica natural, e brincam de pega-pega ou queimada. Depois de aquecidos, treinam alguns movimentos técnicos da luta. “As técnicas esportivas da própria luta, do jiu-jitsu, são passadas de uma forma bem lúdica. A gente não fala diretamente como acontece, a gente cria um cenário, uma fantasia, às vezes até uma situação de colégio mesmo”, acrescentou o professor. As atividades de caráter lúdico auxiliam principalmente na coordenação motora e no lado emocional. “Estimulam o desenvolvimento neuropsicomotor, despertam o
interesse da criança para se tornar mais ativa”, afirmou a pediatra Fabricia Shimura. “Também podem ajudar a criança a lidar com seus sentimentos, como a raiva, a interagir com outras crianças e até a disciplina.” Shimura aconselha que, além de ter um acompanhamento médico, a criança deve manter uma alimentação saudável, rica em legumes, frutas e fibras, e sempre tomar bastante água durante as atividades físicas. “Outro fator importante é que seja uma atividade que agrade a criança e que não seja imposta pelos pais, para que ela tenha prazer no que faz”, conclui a pediatra.