Observatório SP - Santa Cecília

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SP

Observatório Santa Cecília

Jornal produzido por alunos de Jornalismo | Universidade Anhembi Morumbi | 1º semestre de 2016

Moradores têm expectativa de vida acima de 80 anos Viver com qualidade é sinônimo de longevidade e os moradores do bairro Santa Cecília são prova disso. Com expectativa de vida superior ao da cidade de São Paulo, a localidade se torna um reduto para a população

da melhor idade. Segundo pesquisa do Instituto Atlas Brasil, o bairro está entre os 20 melhores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) da capital paulista. Pág. 10

Sala São Paulo: uma das melhores Minhocão divide do mundo opiniões

A Sala São Paulo é uma das cinco salas de concertos melhores do mundo. Localizada no Complexo Cultural Júlio Prestes, recebeu em 2000 o Prêmio ECO de Cultura da Câmara

Americana de Comércio e é considerado de padrão internacional. Fica situada na Estação Júlio Prestes e teve sua estreia em 9 de julho de 1999. Pág. 19

Moradores da região discutem futuro e tentam decidir qual será a melhor alternativa para o Elevado Costa e Silva. Dentre as possibilidades

estão a sua demolição, a transformação em parque suspenso ou sua manutenção. Pág. 12

Entrevista com Lilian Gonçalves

Castelinho ganha restauração

Proprietária das badaladas casas noturnas da rua Canuto do Val, a “rainha da noite paulistana” fala sobre sua trajetória e sua relação com o bairro Santa Cecília. Pág. 16

Tombado pelo Conpresp, o famoso palacete de contornos medievais, localizado na esquina da rua Apa com a avenida Sâo João, deve ter sua reforma finalizada em outubro de 2016. Pág. 5

Larissa Hanstenreiter


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Pontos da notícia

1. Casa Higienópolis - Pág 10. 2. CEI Indir Coração de Maria - Pág. 8 3. Atelier dos Bolos - Pág. 13 4. Escola Estadual Prof. Fidelino - Pág. 8 5. Grupo Esparrama - Pág. 24 6. Associação Cecília - Pág. 23 7. Funarte - Pág. 23 8. Galpão Folias - Pág. 24 9. AMA Especialidades - Pág. 11 10. Rua Martins Francisco - Pág. 13 11. Instituto de Educação São Gonçalo - Pág. 9 12. Hemocentro da Santa Casa - Pág. 11

13. SESC - Pág. 18 14. Complexo Júlio Prestes/Sala SP - Pág. 19 15. Santa Casa - Pág. 11 16. Castelinho da rua Apa - Pág 5 17. Largo Santa Cecília - Pág 4 18. UBS Santa Cecília - Pág 14 19. Rota do Acarajé - Pág 20 20. Pinati - Pág 21 21. D’Ouro Antigo - Pág 15 22. Casa dos Artistas e Siga La Vaca - Pág 16 Ponto verde: Parque Buenos Aires Pontos vermelhos: Metrôs

O jornal “Observatório SP” é um jornal laboratório sem fins lucrativos feito por estudantes da disciplina Produção de Jornal, 5º semestre, do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi. Todo material jornalístico publicado pelo jornal é protegido pela Lei Federal de Direitos Autorais e não pode ser reproduzido, no todo ou em partes, por qualquer meio gráfico, sem a autorização por escrito da coordenação do curso de Jornalismo, sob pena de infração da legislação que zela pela propriedade intelectual neste país. Os textos assinados são de única e total responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião do Jornal.


editorial

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Jornalismo local, mas universal Nivaldo Ferraz, coordenador do curso de Jornalismo Enxergar nossas circunstâncias é exercício fundamental para melhorarmos nossa qualidade de vida. Saber o que temos, o que podemos, o que devemos, nossos direitos e possibilidades em relação ao que está ao nosso redor ou muito próximo de nós, em nossa cidade, oferece a chance de expandirmos nossa posse dos bens públicos, mantidos com o pagamento de nossos impostos. O jornalismo local é uma das ferramentas funcionais para conhecermos e nos apoderarmos do que temos a

nosso dispor. O jornalismo local encontra fatos e ações capazes de nos modificar em nossa atitude frente à cidade, ao poder local e à iniciativa privada. É o jornalismo capaz de mostrar a realidade do bairro e da região, apontando uma saída para problemas ainda sem solução ou uma nova forma de se melhorar o que está posto. É o jornalismo que encontra pessoas com ótimas histórias para contar e as converte em reportagens agradáveis e úteis. Esse é o exercício que propomos aos nos-

sos alunos do 5° Semestre do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi, na disciplina “Produção de Jornal”. Um exercício resultante no jornal Observatório SP. Em cada semestre, cada turma produz reportagens sobre um bairro importante da cidade de São Paulo. Neste semestre que passou, as quatro turmas da disciplina produziram matérias sobre os bairros do Ipiranga, Paraíso, Pari e Santa Cecília. Esta edição específica que você vê, caro leitor, é sobre Santa Cecília.

Todas as edições você poderá conferir no site jornalismo.anhembi. br, no qual publicamos periodicamente os principais conteúdos produzidos por nossos alunos. Não se trata apenas de desenvolvermos uma ação protocolar para aprovar alunos de jornalismo em uma disciplina. Construído sob os valores já expostos, o projeto editorial do Observatório SP é uma iniciativa que vai muito além, ao praticar um jornalismo local que é pilar fundamental da cidadania.

Expediente Universidade Anhembi Morumbi Reitor Prof. Dr. Paolo Tommasini Diretor da Escola de Comunicação Prof. Dr. Luiz Alberto de Farias Coordenador do curso de Jornalismo Prof. Dr. Nivaldo Ferraz Coordenador Adjunto do curso de Jornalismo Prof. Ms. Alexandre Possendoro Professoras responsáveis pelo jornal Profa. Ms. Patrícia Paixão Profa. Dra. Rose Mara Pinheiro Professores responsáveis pela fotografia Prof. Ms. Carlos Frucci Prof. Ms. Marcelo Moreira Santos Projeto gráfico Prof. Ms. Ricardo Senise

Alunos do 5º semestre de Jornalismo (Campus Centro/Manhã) Aline Cristina, Amandlah Fernandes, Ana Paula Pereira dos Santos, Andressa Pereira, Ariane dos Santos, Arthur Fernandes, Bruna Tiemi, Brunna Ando, Bruno Costa, Byanca Calabrez, Caio Doganelli, Camila Neves, Camila Vinha, Carolina Barone, Carolina Oliveira, Diogo José, Eduardo Morgado, Flavia Lima, Gabriela Lira, Gabriela Santos, Gabriela Zacatei, Giovane Codinhoto, Giovanna Mendes, Giovanna Moraes, Giovanna Sarah, Giovanna Vernacci, Gustavo Cruz, Gustavo Mayer, Iago Lourenço, Jean Lucas, João Victor Ueji, Julia Alcantara de Faria, Larissa Hanstenreiter, Larissa Nara, Larissa Rodrigues, Leonardo Borges, Leonardo Oliveira, Leonardo Roberto, Leonardo Saraiva, Lia Queiroz, Luana Inácio, Ludmila Goncalves, Luiz Minici, Marcela Biaggi, Mariana Ciriaco, Martha Victoria, Mateus Ramalho, Matheus Almeida, Matheus Viana, Max Alexandre, Mayara Missi, Nataly Caldas, Otavio Esparrinha, Raísa Soave, Rafael Pereira, Rafaela Carvalho, Renata de Oliveira, Tainara Rocha, Tamires Menezes, Thamiris Moura, Vanessa Carvalho, Victor Rodrigues, Victoria Ragazzi, Vinicius Sabino


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Largo é testemunha dos primeiros passos do bairro Tudo começou com um pedido de fazendeiros para a construção de uma capela no local (Leonardo Roberto Leonardo Saraiva Mateus Ramalho Matheus Viana Max Alexandre Otavio Esparrinha O Largo de Santa Cecília e sua expressiva paróquia marcam os primeiros capítulos da história do bairro, na segunda metade do século 19. A abertura das primeiras ruas de Santa Cecília aconteceu justamente nesta região, depois que fazendeiros de café que residiam no Arouche promoveram o loteamento de algumas chácaras no local, solicitando a construção de uma pequena capela de madeira. Um abaixo-assinado foi encaminhado à Câmara da cidade e o pedido foi atendido. “Em atenção ao que expõe Henrique Pupo de Morais e outros moradores no Arouche, pedindo terreno entre as casas daquele suplicante e a rua da Alegria para a construção de um templo à Santa Cecília, é de parecer que seja deferido”, dizia a resposta dada pela Comissão Permanente da Câmara aos fazendeiros, em 7 de março de 1861, conforme registros presentes no livro “História dos Bairros de São Paulo”, do historiador Clóvis

Athayde Jorge. Com o loteamento das terras e a criação da capela, a modernização do Largo foi impulsionada, atraindo novos moradores. Em 1884, a então capela de madeira foi substituída por outra, também demolida para dar lugar à atual Paróquia Santa Cecília, inaugurada em 22 de novembro de 1901, data em que se comemora o dia de Santa Cecília. Para modernizar a obra, foram chamados dois importantes nomes da arte brasileira na época, Benedito Calixto, que pintou as telas da vida e martírio de Santa Cecília (estão no presbitério e nas paredes laterais do altar) e Oscar Pereira da Silva, que concebeu obras nas cúpulas central e lateral.

“Bairro nasceu com vocação escolar e cultural” A Igreja sempre foi um local marcante no bairro. “O ponto religioso foi bem alto aqui, principalmente nos anos 60, 70. Meus fi-

lhos se casaram nesta igreja”, destaca Lurdes Cunha, 68, aposentada. Ainda em 1884, a Santa Casa de Misericórdia, outro ponto marcante de Santa Cecília, foi inaugurada, testemunhando momentos importantes da história da cidade, como a Revolução Constitucionalista de 1832, quando a irmandade recebeu os soldados do movimento. A história de Santa Cecília se confunde com a do bairro de Higienópolis. “Tudo era uma coisa só, entre essas duas saídas da Consolação e o caminho de Jundiaí. Até hoje Santa Cecília é um bairro considerado junto com Higienópolis e a Vila Buarque”, afirma a historiadora Maria Cecília Homem, 73, autora do livro “Higienópolis: grandeza e decadência de um bairro paulistano”. Ela explica quem foram os primeiros moradores da região: “foram três mulheres importantes, que tinham chácara no local: a dona Angélica, cujo nome hoje vemos na avenida Angélica, a dona Veridiana, que era mãe do conselheiro Antônio Prado, que era ministro do imperador, e a dona Maria Antônia. O pai dela comercializava topos de mula e era barão”

O Largo de Santa Cecília e a sua Igreja Matriz. (Foto: Gabriel Veiga)

A historiadora ressalta que a educação foi outro marco da trajetória de Santa Cecília. “O bairro nasceu com uma vocação escolar e cultural muito grande. Há escolas e universidades bastante tradicionais, como o Mackenzie”. Maria Cecília afirma que o bairro contribuiu para o desenvolvimento de São Paulo como um todo: “é um bairro de muita tradição, pioneiro de muitas coisas da cidade”.


história

Castelinho da rua Apa ganha restauração

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Considerado como “mal-assombrado”, o palacete de contornos medievais deve ficar pronto em outubro Arthur Fernandes Bruna Tiemi Gustavo Cruz O Castelinho da Rua Apa, situado na esquina com a Avenida São João, ficou famoso, por ter sido cenário de um crime que chocou a sociedade paulistana. Em 12 de maio de 1937, a dona do castelo, Maria Cândida Guimarães dos Reis e seus dois filhos, Armando Cezar e Álvaro Cezar, foram achados mortos no local. Depois do episódio macabro, o Castelinho ganhou fama de mal-assombrado. Vizinhos e uma pessoa que viveu na residência (após a família Reis) afirmavam ouvir barulhos e gritos durante a noite. Marli Martins, 39, que trabalha perto da propriedade, diz que a arquitetura original do prédio é assustadora. “Ele tem cara de mal-assombrado. É possível ver os olhos, que são duas janelas em cima, e há uma no meio, que parece uma boca”, afirma. Tombado em 2004 pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), o Castelinho viveu décadas de abandono. Esse despre-

Depois de décadas de abandono, o prédio do Castelinho está sendo restaurado. (Foto: Arthur Fernandes e Gustavo Cruz)

zo agora parece próximo do fim. Uma grande restauração está sendo realizada, e mais de R$ 3 milhões estão sendo investidos. Os recursos para o investimento vieram do Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos (FID) e da Secretaria de Estado da Justiça e Defesa da Cidadania. Segundo o historiador Chico Balaguer, “o Castelinho representa um vestígio controverso e rico das origens residenciais do bairro”. Ele ressalta a curiosa e diferente arquitetura do prédio: “Talvez, o formato inusitado e extravagante de castelo me-

dieval seja seu principal diferencial em relação aos demais patrimônios”, explica. Ao ser construído, o

“Formato inusitado e extravagante é seu diferencial” Castelinho teve como inspiração, castelos medievais franceses. Um dos pontos mais importantes da reforma é que a estrutura original será mantida, trazendo de

volta a elegância do início do século passado. A notícia da restauração foi recebida com entusiasmo por boa parte dos comerciantes e moradores da região. “Tem que fazer dele uma obra de arte, algo que seja valioso”, defende Ráquel Suárez, 70, moradora do bairro. O comerciante Roberto Laranjeira, 48, também comemora a restauração: “é um aparelho cultural diferenciado, quase que um ponto turístico. Então, para o bairro, se ele está restaurado, é um ponto favorável.” Informações obtidas junto ao Clube de Mães do Brasil, que faz uso do prédio do Castelinho para suas atividades, dão conta de que a propriedade servirá como uma espécie de sede administrativa da entidade. A reforma tinha como previsão inicial de término outubro deste ano. Segundo o Clube, baseado no andamento da restauração, o prazo de entrega deve ser cumprido. Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado da Justiça e Defesa da Cidadania, responsável pela reforma, não se manifestou até o fechamento desta edição.


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política

Moradores fazem balanço sobre gestão municipal Em ano de eleição, integrantes da comunidade opinam sobre prioridades do bairro

Ana Paula Pereira dos Santos Bruno Costa Giovanna Sarah Com a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT/SP) e dos vereadores chegando ao fim, moradores e representantes de grupos comunitários de Santa Cecília apontam de que forma algumas medidas tomadas nos últimos quatro anos impactaram o bairro, e dão sua opinião sobre questões polêmicas que envolvem o local. Por estar na região central da cidade, as condições e a infraestrutura de Santa Cecília afetam não só seus moradores como milhares de pessoas que circulam todos os dias pelo local, seja na estação de metrô, nas ruas, no comércio ou nas escolas próximas. A construção das ciclovias no bairro é um dos assuntos de maior polêmica. Em 2014, o Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) de Santa Cecília e os moradores foram ao 77° DP para registrar queixa contra a falta de planejamento da Prefeitura em relação às faixas para ciclistas. “A comunidade é favorável à ciclovia, mas a maioria delas em nosso bairro foi traçada em local impróprio”, diz o atual presidente do Conseg, Geraldo Oliveira. A professora Ana Cotrim, que reside no bairro há mais de 10 anos, afirma que a opinião dos moradores é bem dividida neste aspecto. Ela não vê problemas nas ciclovias. “Adorei. Eu mesma não ando de bicicleta, mas meu filho vai à escola de patinete ou bicicleta. Acho totalmente seguro e saudável.” Segundo os moradores, Santa

Cecília não se caracteriza como um bairro violento. “Nunca foi assaltada ou abordada na região, mesmo durante a madrugada. Bares ficam abertos até tarde. Há uma base comunitária da polícia perto da igreja, que também não costuma agir com violência. Por isso, não considero que a violência seja um problema sério do bairro”, afirma Ana Cotrim. Compartilhando da mesma opinião, Geraldo Oliveira diz: “os índices de criminalidade em nosso bairro são considerados pequenos.” A presença de pessoas em situação de rua e dependentes químicos é muito comum na região. A aglomeração dos desabrigados é notada com frequência, principalmente em frente à paróquia, no Largo Santa Cecília. A exis-

tência de centros de acolhida, que prestam assistência social a essas pessoas, também divide a opinião dos moradores. “Sou a favor da ampliação desses centros, que não causam nenhum tipo de distúrbio para o bairro, ao contrário, levam à diminuição dos moradores de rua”, declara Ana Cotrim. Já o comerciante Jorge Bastos não vê essas instituições com bons olhos: “Esses centros só aumentam a presença dos moradores por aqui. Em vez deles irem embora, ficam a tarde toda jogados em frente à igreja”. O Conseg defende que a Guarda Civil Metropolitana continue realizando os trabalhos de ronda e segurança com mais intensidade, para manter a tranquilidade em relação aos desabrigados.

Centros de assistência a moradores de rua geram polêmica

Moradores de rua na região do Largo Santa Cecília. (Foto: Giovanna Sarah)


educação

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Diversidade sexual entra no projeto pedagógico

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Escolas devem abordar identidade de gênero Vinícius Sabino

“A escola é uma instituição de educação e, portanto, é o lugar ideal para o combate ao preconceito e à discriminação de identidade de gênero e orientação sexual”. É o que afirma o professor Eduardo Souto Siqueira, professor de Sociologia da Escola Estadual Fidelino. Para ele, o assunto deve ser tratado não só no ambiente familiar, como também escolar. A inclusão do assunto no currículo escola surgiu após uma pesquisa sobre Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, realizada em 2009 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O levantamento apontou que 87,3% dos entrevistados têm preconceito em relação

Casal homossexual de mãos dadas no colégio. (Foto: Vinícius Sabino)

a diversidade sexual e identidade de gênero. Em janeiro deste ano, o Diário Oficial da União publicou uma resolução obrigando as escolas a abordarem o assunto em salas de aula. As determinações publicadas na Resolução 12 do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de LGBTs (Lésbicas, Gays, Bis-

da vida. As referências a esses temas na grade curricular escolar foram excluídas dos Planos Estaduais de Educação dos estados de Tocantins, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Distrito Federal, Espírito Santo, Acre e Paraíba, além de diversos municípios por todo o país.

Alunos negros sofrem preconceito em sala de aula Luanna Inácio

Para entender como a discriminação racial interfere na vida do aluno e o quanto é prejudicial, podendo inclusive ter reflexo na formação profissional, o NEPRE (Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação) realizou uma pesquisa em 2009, que constatou que a cor da pele é um dos fatores que mais influenciam o desempenho escolar. A criança negra que se sente inferiorizada costuma brigar, reclamar com os adultos ou se isolar para evitar os insultos raciais. A psicopedagoga Andressa

de Andrade Cruz, que atua na escola estadual Doutor Alarico Silveira, diz que o silêncio reforça o agressor e dá à vítima impressão de impunidade. “É importante ir até à escola, informar da situação e não aceitar as desculpas da equipe pedagógica, que geralmente minimizam o acontecido, colocam a culpa na vítima, com a desculpa de que naquela escola não há racismo, que há todo um trabalho sobre a diversidade”, orienta. Todo esse cuidado se faz necessário por conta da formação na vida adulta dessas crianças e jovens. O estudante da escola Doutor Alarico Silveira Aka-

sexuais, Travestis e Transexuais), da Secretaria de Direitos Humanos levam também, em consideração, a importância da autonomia que uma pessoa tem em diferir de seu sexo biológico ou nome social adotado a ela ao longo

ni Queiroz dos Santos conta que nunca sofreu nenhum tipo de discriminação. “Eu graças a Deus, nunca sofri nenhum tipo de preconceito, seja na escola ou em qualquer lugar. Mais já tive o desprazer de ouvir depoimentos de amigos”. A estudante Joyce Borges afirma que sempre foi uma das únicas negras nas salas de aula. “No máximo éramos em duas ou três. Já ouvi muitas piadinhas e aguentei brincadeiras de mau gosto. Eu odeio isso. O complicado é explicar para os professores porque eles não conseguem conter. Acho que não estão preparados”, lamenta.


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Os desafios da mãe adolescente

Jovens sofrem ao conciliar maternidade e estudo Gabriela Lira

O Instituto Brasil apontou que a maior taxa de natalidade no Brasil é dos 15 aos 19 anos. Em 2014 foram registrados 30 mil nascimentos, sendo 70% jovens com menos de 20 anos e 35% solteiras. A psicopedagoga e hoje administradora da creche “CEI coração de Maria”, Camile Santos Cunha, afirma que a família é muito importante em momentos difíceis como esse. Pâmela Oliveira, de 19 anos, conta que a maternidade fez com

que ela amadurecesse mais rápido e aprendesse a abrir mão de algumas coisas pelo bem do filho. “Eu não abri mão do meu trabalho e estudo. É a garantia do meu futuro e dele também”, declarou. Roseli, mãe de Pâmela, diz que em momento algum julgou a filha. “Eu dei todas as informações possíveis, mas todo mundo corre o risco de engravidar cedo. Eu só quero que a partir de agora ela cumpra seu papel de mãe. Ela não é mais uma jovem universitária comum”. A pesquisa, divulgada em 2014 pelo Instituto Brasil, apon-

tou que uma parte significativa das jovens que engravidam até os 19 anos ficam solteiras e não entram na universidade. A dificuldade de encontrar vagas nas creches da prefeitura e a alta mensalidade das escolas particulares são as principais justificativas. O psicólogo Juliano Pereira diz que o diálogo é essencial para evitar a gravidez na adolescência. “É preciso prevenir e não remediar. Não adianta distribuir preservativos e não mostrar a importância de usá-los”, ensina.

Falta investimento em tecnologia Thamiris Gomes A revista Escola Pública registrou que 92% das escolas brasileiras têm computadores e baixa velocidade de internet, mas o número em cada escola ainda é insuficiente. Uma pesquisa realizada em 2012, pelo CETIC.br, entrevistou 1,5 mil professores de 856 escolas de todo o país. No levantamento, eles afirmam que quando há computadores nas escolas, o número disponível para utilização do aluno é bem menor. A aluna da escola estadual Fidelino Figueiredo Paloma Costa, do 2º ano do ensino médio, conta que foram poucas as vezes que ela e a turma fizeram atividades em computadores. “Nossa, não lembro a última vez. Difícil a gente ter aula desse tipo aqui”, contou. Já o estudante Diego Borges, também do 2º ano, diz que nunca teve uma aula em que a atividade

siderando que temos uma média de quase 60 alunos por sala, o governo teria de investir bem mais para conseguir um computador por aluno. Isso não seria absurdo, mas Rodrigo Christofolli, estudante de 11 anos. (Foto: Giovanna Mendes) parece ser, porque não fosse prática ou sobre tecnologia. “Nunca tive. Acho que não temos temos nem metade de compuessas aulas, por não ter compu- tadores que deveríamos”. Para a tadores para todo mundo. Temos professora de Língua Portuguesa o básico aqui. Às vezes rola um Andréia Alves seria interessante filme e um texto sobre, mas nada inserir ainda mais os alunos no meio tecnológico. “Não que eles fora disso”, relatou. O professor Hélio Coutinho, não tenham acesso fora do amque dá aula de Química para tur- biente escolar, mas acho que esmas do 1º e 2º ano do ensino mé- timularia ainda mais o interesse dio na mesma escola, explica que deles se pudéssemos variar as o problema é investimento. “Con- aulas”.


educação

Medo do vestibular faz aluno dobrar o estudo

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Opção pelo cursinho complementa ensino médio

Giovanna Mendes Os colégios particulares costumam se diferenciar dos públicos pela qualidade do ensino e melhor estrutura. Mesmo assim, muitos estudantes optam pelo cursinho para complementar seus estudos. É o que aponta, por exemplo, uma pesquisa da PUC, que mostra que cerca de 40% dos alunos secundaristas do setor privado procuram alguma forma de estudo extra para o vestibular. Larissa Schimt está no terceiro ano do ensino médio e optou por prestar medicina na USP. A aluna conta que escolheu fazer o ensino médio no período da manhã e cursinho à tarde, porque acredita que ver como os outros candidatos estudam é um estí-

Alunos do terceiro ano do ensino médio. (Foto: Giovanna Mendes)

mulo para aumentar o esforço e alcançar seu sonho. “Acho melhor uma turma onde todos têm o mesmo objetivo e passam por medos e problemas parecidos”. O curso de medicina é o mais procurado nos vestibulares. Na Fuvest, prova que garante a vaga na USP, o candidato deve acertar

pelo menos 78 de 90 questões para passar para a segunda fase do exame. A segunda opção de Larissa é a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, universidade privada que chega a cobrar mais de R$ 4000 na mensalidade do curso de medicina. Giovanna Ishio, estudante do segundo ano do ensino médio do Instituto de Educação São Gonçalo, diz que está em dúvida entre cursos bem distintos: moda e nutrição. Apesar disso está calma, porque ela ainda tem um ano para tomar a decisão final. “Ah, moda é um sonho de criança! Mas nutrição vai garantir uma colocação melhor no mercado de trabalho e uma remuneração mais alta”, acredita.

Rede pública recebe mais alunos Diogo Domingos A queda registrada entre 10% a 12% de matrícula nas escolas particulares está diretamente relacionada com a crise econômica do país, segundo a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep). A redução ocorreu principalmente nas classes C e D, que obtiveram ganho de poder aquisitivo antes da crise e que agora sentem mais os efeitos da desaceleração econômica. Com a redução de matrículas no ensino privado, as escolas públicas sofrem um impacto imediato. Segundo a Secretaria da Educação, a média de matrículas por

ano variava entre 30 a 32 mil, e em 2016, foi para cerca de 42 mil. Tal aumento foi reparado pelos alunos, como conta Bruna Oliveira, matriculada no 2º ano do ensino médio na escola estadual Doutor Alarico Silveira. “As escolas que tiveram maior índice de aumento de matrículas foram as públicas consideradas referências para o bairro”, afirmou uma das professoras que integram o corpo docente da Escola Estadual Conselheiro Antônio Prado, que preferiu não se identificar. Para ela, as escolas que possuem zelo e apoio dos moradores da região em projetos ganham destaque entre os pais na hora da matrícula.

Alunos da escola Estadual Alárico Silveira na saída . (Foto: Vinícius Sabino)


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Expectativa de vida é de 80 anos, acima de SP Santa Cecília é sinônimo de qualidade de vida

Jean Lucas da Silva Localizado na região central de São Paulo, Santa Cecília é avaliado pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) entre os vinte melhores bairros da cidade. O distrito é destaque em um dos critérios da pesquisa de Desenvolvimento Humano: longevidade. A expectativa de vida ao nascer no bairro é de 80,3 anos, maior que a média da cidade de São Paulo e do Brasil, que possuem 76,3 e 76,2, respectivamente. “Por serem bairros de classe alta, Santa Cecilia e também Higienópolis são bairros tranquilos, arborizados, isso influencia na média de idade dos moradores”, aponta o inspetor do parque Buenos Aires, Arthur Shimoto.

Idosos se exercitam no parque Buenos Aires. (Foto: Amandlah Fernandes)

A média de idade do distrito reflete em outra estatística. O percentual de natalidade do bairro é de 1,2, abaixo do restante da cidade de São Paulo, que tem 1,5. “Eu vejo poucas crianças pelo bairro. Até os prédios, construídos na metade do século passado, são estruturas não apropriadas para crianças, por isso

a população meio que não se renova em Santa Cecília”, pontua o morador e jornalista Conrado Ferrato. Oriundo das fazendas de café no início do séc. XX, Santa Cecília foi pioneiro no desenvolvimento da cidade de São Paulo, o que fez da região central uma metrópole fora de época. “O crescimento da popula-

ção da Santa Cecília se deu principalmente na primeira metade do século XX. A população da época, que era principalmente de camadas superiores da sociedade, fez do bairro um local apropriado para viver com qualidade”, avalia o professor de Geografia Elizeu Passalongo. A qualidade de vida do bairro é evidenciada também pelo número de hospitais no distrito. No total, são setes hospitais em Santa Cecília, número que eleva o índice de desenvolvimento local. “Sou satisfeito com a saúde do bairro. É uma região com muitos hospitais. Até brinco com isso, pois quando preciso de algum atendimento, posso escolher qual hospital eu quero ir. Em saúde, é um bairro invejável”, elogia Ferrato.

Mais de 18% dos moradores têm idade superior a 60 anos Tainara Rocha De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dos 85 mil habitantes na região de Santa Cecília, aproximadamente 18% têm mais de 60 anos. Nessa faixa etária é indispen-

sável ter hábitos que promovam uma melhor qualidade de vida, para envelhecer com saúde. A Casa Higienópolis é especializada em repouso e recuperação para pessoas idosas e conta com diversos especialistas para melhor atender a esse público.

Christianne Pardini, responsável pela clínica, explica que a casa procura acolher e dar qualidade de vida aos idosos, trabalhando a parte física e mental. Segundo a pesquisa realizada pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, em

2012, o bairro possui o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de 0,863. O critério da longevidade, que mede a esperança de vida ao nascer, contribui com o maior índice, de 0,921.


saúde

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Hemocentro é o 2º maior banco de sangue de SP Número de doadores está abaixo do ideal Luiz Minici Segundo maior banco de sangue público do Estado de São Paulo, atrás apenas do Hospital das Clínicas, o Hemocentro da Santa Casa fornece bolsas de sangue a 11 hospitais, disponibilizando um total de 4 mil transfusões ao mês. Em agosto de 2003 foi criado o setor de captação de doadores, para conscientizar a população sobre a importância da doação de sangue.

Todos os pedidos são realizados pela web. O hospital Brigadeiro consome mais da metade do estoque e o Santa Isabel é o único particular. A enfermeira Lilian Razaboni, coordenadora da equipe de captação do Hemocentro, explica que o número de doadores está abaixo do ideal, comparado ao da fundação Pró-Sangue, que tem uma média de 15 mil por mês. “Se tivéssemos uma mídia para trabalhar essa divulgação, certamente faria di-

ferença”, acredita. Bruno Neres tem um primo que sofre de leucemia. “O Hemocentro faz um trabalho fantástico e todos deveriam conhecer, pois é uma forma linda de ajudar o próximo”, incentivou. Para doar Após realização do cadastro, é necessário um exame que verifica se a pessoa está com anemia ou não; Depois, o candidato passa por uma entrevista voltada para a proteção do doador e

do receptor. Para se tornar um doador, basta levar o RG original, estar alimentado e descansado.

Doador contribui para o banco. (Foto: Luiz Minici)

Tecnologia para Vacina gratuita pacientes do SUS para moradores Giovane Codinhoto

Os Centros de Estudos do Hospital Central da Santa Casa são um dos maiores locais de pesquisa científica do Brasil. O maior departamento é o Centro de Estudos e Pesquisas Alípio Correa Netto, composto por 14 áreas do Departamento de Cirurgia da Santa Casa e existente há 31 anos. O local fornece cursos e reuniões científicas apresentando debates sobre as novidades do ramo da cirurgia. “O nosso objetivo é oferece uma oportunidade para os médicos fazerem cursos práticos e não só te-

óricos”, disse. Na última Jornada Científica, por exemplo, foi realizada uma semana só de cirurgias. “Com isso, levamos uma tecnologia disponível em hospitais particulares para pacientes do SUS”, explica Roni de Carvalho Fernandes, presidente do departamento. Em São Paulo, poucos locais se dedicam à área. “O que se tem hoje são centros de estudos em hospitais particulares, mas na rede pública ainda falta a boa vontade do corpo clínico. O ideal seria que cada hospital tivesse seus cursos próprios”, conta Fernandes.

Matheus Almeida

O AMA Especialidades oferece vacina gratuita contra H1N1 para doentes crônicos e mulheres que deram à luz há menos de 45 dias, idosos e crianças de 6 meses a 5 anos incompletos estão entre os contemplados. “Apesar da fila, vale a pena, temos que nos preocupar, não podemos vacilar”, disse Amanda Fabro, estudante de direito, que deu à luz há um mês. Fundado em 2008, após constatar as necessidades em consultas de especialidades e recursos diagnósticos, o serviço de Assistên-

cia Médica Ambulatorial atende usuários do SUS, permitindo agilizar o direcionamento da demanda aos serviços de Atenção Primária de acordo com a complexidade necessária. O objetivo do ambulatório é atender os encaminhamentos nas especialidades oferecidas, reorganizar o fluxo assistencial por Coordenadoria Regional de Saúde e, dessa forma, fortalecer a integração regional da rede de serviços. O atendimento restringe-se exclusivamente aos pacientes do SUS residentes ou acompanhados pelas Unidades Básicas.


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Moradores discutem futuro do Minhocão

Duas soluções consideradas: demolição ou transformação

O Elevado Costa e Silva é reservado para lazer e esportes durante os finais de semana. (Foto: Mayara Missi)

Mayara Missi O Elevado Costa e Silva, também conhecido como Minhocão, é o viaduto que liga a praça Roosevelt, no centro, ao Largo Padre Péricles, em Perdizes. Inaugurado na década de 1970 por Paulo Maluf, o percurso de 3,5 km é constantemente motivo de muitas reclamações e polêmicas pela sua proximidade com os prédios vizinhos. Em meio a inúmeros projetos, duas soluções se destacam: a transformação permanente de toda a estrutura em parque ou a sua total demolição. Visando apenas agradar os

donos de veículos que precisavam se deslocar rapidamente, o Elevado foi construído sem planejamento e não levou em conta a qualidade de vida de vários moradores das redondezas. Esse é o caso de Fernando Machado, 36, que há 17 anos mora próximo ao metrô Marechal e é contra a permanência do Elevado. “Deveria acontecer a demolição total, construção de ciclovias e rearborização. A cidade precisa respirar e viver”, afirma. Simone Dias, 27, frequentadora do Parque Minhocão aos domingos, concorda que a política do Elevado hoje em dia. “Acho

que o Minhocão não deveria ter sido construído, mas como está aqui, ajuda muito quem usa carro e nos finais de semana é uma boa opção de lazer para quem mora perto. Se ele não existisse, seria muito mais difícil e demorado para chegar na Zona Oeste”, pondera. Em março, o prefeito Fernando Haddad sancionou uma lei que criou o “Parque Minhocão”. Em abril, o Ministério Público recomendou a proibição de pedestres e ciclistas no local, afirmando que a segurança é precária. Pelo visto, a discussão ainda vai longe.

Divergências na ciclofaixa Mariana Martignani Desde agosto de 2014, Santa Cecília ganhou três quilômetros de ciclofaixas, trazendo benefícios para os ciclistas, mas alguns problemas para os moradores. Dentre os problemas, estão “a entrada e saída dos condomínios e a falta de espaço para carros em algumas ruas”, diz Olívia Prado,

42. Por outro lado, os ciclistas reclamam da falta de fiscalização. Segundo o estudante e ciclista Jackson Matheus, 17, os carros não respeitam a demarcação da via. “Alguns param em cima das faixas. Tem motorista que não dá passagem nem quando o nosso farol está aberto”, reclama. O benefício trazido para os ciclistas foi o fácil acesso pelas

ruas sem terem que utilizar as calçadas, sem estrutura para bicicletas. As ciclofaixas são um fácil e rápido trajeto até a Barra Funda, avenida Pacaembu, a estação Júlio Prestes da CPTM e o Terminal de Santa Isabel. “Sempre usei bicicleta e o que mais nos ajudou foi ter um espaço nosso nas ruas”, elogia a moradora Fernanda Moreira, 28.


Lugar ‘bom pra cachorro’

cidades

Ozzy, da raça Border Collie, descansando após caminhada. (Foto: Byanka Calabrez)

Camila Campiteli Rafael Pereira Nas ruas movimentadas, nos espaços entre os quintais com gramado, ou nas sacadas dos apartamentos, quem manda são os pets. Ozzy, um lindo cãozinho de apenas dois meses, e seus outros amigos caninos, vivem à espera de saírem às ruas do bairro, para seus passeios diários de manhã e à tarde. Segundo uma pesquisa do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), feita entre 2006 e 2009, Santa Cecília é um bairro propício para cães. O distrito só não está no topo desta pesquisa por ser um bairro comercial. O labrador e os cães de pequenos portes são os mais típicos do bairro, que possui dezenas de pet shops, clínicas veterinárias e moradores que amam bichos. Mas como explicar por que o distrito é o reduto deles? “A resposta pode estar em como as pessoas enxergam seus bichos”, diz Maria Helena da Silva, dona do cão Ozzy. Para ela, a maioria dos donos têm animais porque gostam, mas principalmente pelo

bairro ser tão adequado, plano, arborizado e tranquilo. Mas tudo tem seu ponto negativo. “Seria muito bom ter mais área verde por aqui”, reclama Maria Helena. O parque Buenos Aires conta com uma grande diversidade de espécies de aves e

“Quem manda são os pets” vegetação, bebedouros para cães e saquinhos plásticos disponíveis. Os animais possuem bom espaço para percorrer e cercados onde é possível deixar os cães livres. (veja matéria na página 18) Tanto cachorro se reflete no comércio especializado do bairro. De acordo com a atendente Ellen Siqueira, do PetShop Bad Dog, na rua São Vicente de Paulo, os serviços são muito procurados. “A crise ainda não chegou por aqui, os donos dos animais não deixaram de economizar com seus filhotes”, comemora. O Observatório SP percorreu o bairro e contou 21 pet shops (muitos são clínicas também).

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Mudanças alteram paisagem Lia Queiroz Com o passar do tempo, o bairro Santa Cecília teve muitas mudanças positivas e negativas na visão dos moradores da região. Uma das maiores foi a construção das estações Santa Cecília’e Marechal Deodoro, em 1983 e 1988 respectivamente, que compõem a linha Vermelha do metrô. Santa Cecília é um bairro na região central da cidade de São Paulo, em seus domínios encontra-se a maior parte do Elevado Costa e Silva, vulgo Minhocão, a Praça Marechal Deodoro, a Praça Princesa Isabel, a Praça Júlio Prestes e o Largo Coração de Jesus. Por sua ótima localização, traz uma boa qualidade de vida para seus moradores e dá oportunidade de andarem tranquilamente pelas ruas. “Há uma imensa facilidade de encontrar comércios, hospitais, colégios e faculdades”, relata Benito Dalla, 80, que mora na alameda Barros há 70 anos. Entretanto, Nilben Dorsa, 88, relata sua maior reclamação.

Nilben descansa da caminhada. (Foto: Lia Queiroz)

“Três anos atrás caí na calçada por conta de ondulações na rua que deixam o chão em desnível”, recorda. Apesar do incidente, ela está satisfeita com o bairro, porque é bem arborizado e facilita muito a vida dos idosos. Apesar dos problemas, Santa Cecília é um dos melhores bairros para se morar em São Paulo.


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Observatório SP Santa Cecília

UBS oferece atendimento específico a transexuais

Mulheres interessadas em receber o tratamento hormonal e psicológico precisam passar por uma triagem Aline Cristina Ariane dos Santos Camila Neves Leonardo Oliveira Nataly Caldas Anna Gabriella já percebia desde cedo que não se encaixava no corpo masculino que tinha. Conversando com amigos mais velhos, percebeu que logo teria barba e outras características físicas de um homem. Para evitar essa situação, com apenas 13 anos iniciou, por conta própria, o uso de hormônios. “Eu pesquisava e comprava os medicamentos na farmácia, escondido dos meus pais, e aplicava-os em mim mesma”, conta a transexual. Sem ter um serviço público de saúde capaz de lhe proporcionar, de forma segura, um corpo com o qual ela pudesse se reconhecer, correu riscos e chegou a ficar doente. “Não é só você chegar e dizer que quer tomar hormônio. A gente tem que estar ciente das consequências que isso tem. Eu fiquei com gastrite e fiquei muito mal por causa de muito hormônio no meu corpo”, recorda. Hoje Anna Gabriella é paciente da UBS (Uni-

“Não é só chegar e dizer que você quer tomar hormônio. É preciso estar ciente das consequências”, destaca Anna Gabriella. (Foto: Aline Cristina e Ariane dos Santos)

dade Básica de Saúde) de Santa Cecília, pioneira na extensão do tratamento hormonal e psicológico voltado a transexuais. A hormonioterapia, antigamente ministrada somente pelo Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids, foi abraçada pela UBS em parceria com o projeto de reinserção social “Transcidadania” (da Prefeitura de São Paulo) e se tornou referência para outras unidades. Localizada na Rua Vitorino Carmilo, 599, a

unidade recebe muitas mulheres interessadas em conhecer e iniciar o tratamento. A triagem é feita pela psicóloga Érica Nunes, a fim de identificar o perfil das mulheres transexuais, e se houve automedicação. Em uma sala de aproximadamente nove metros quadrados, a psicóloga faz o primeiro atendimento e o acolhimento das pacientes. “Muitas mulheres chegam aqui em grande sofrimento, é uma luta interna e externa”, comenta. A exaustão é uma característica presente na

vida da maioria destas mulheres. A carência de acolhimento social e familiar muitas vezes é agravante para a marginalização. “Somente quando comecei a fazer o tratamento hormonal comecei a me reconhecer”, destaca Anna Gabriela. As primeiras etapas consistem em identificar se em algum momento houve o uso de hormônios sem prescrição médica e atestar a saúde física das pacientes para iniciar o tratamento. A automedicação é a alternativa encontrada quando não existe uma


mulher estrutura social, que proporcione acompanhamento e tratamento médico de qualidade. “É importante ter um posto assim que tem endocrinologista, psicólogo e psiquiatra e todo um acompanhamento que vai ajudar outras meninas a não passarem pelo que eu passei. São muitos exames, é uma burocracia enorme, mas é para nosso bem, pra ver se o corpo vai aguentar aquilo. Pra gente é ótimo quando

Temos direito a tratamento de saúde em qualquer lugar

um seio cresce e quando ganha corpo, mas se você for pensar, do que adianta tudo isso, se você não tem saúde?”, questiona Anna Gabriella. “A existência de homens e mulheres transexuais é um fato que acompanhou o desenvolvimento da humanidade e é reconhecido por inúmeras culturas”, comenta Larissa Renata, também paciente da UBS, fazendo referência à figura mitológica Afrodite. Na opinião dela, cabe ao Estado e à sociedade criarem condições para que estas pessoas vivam de maneira saudável e tenham acesso aos mesmos benefícios que qualquer outro cidadão. “Tem gente que fala que é frescura ficar

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Transexuais aguardando atendimento na UBS Santa Cecília. (Foto: Aline Cristina e Ariane dos Santos)

dando hormônio, mas não, é importante sim. Muitas meninas já morreram por causa de excesso de hormônio e isso causa muitas doenças. Temos direitos como todo mundo de fazermos um tratamento de saúde e sermos respeitadas em qualquer lugar”, diz Anna Gabriella, avalizando a opinião de Larissa. Ela explica que o tratamento oferecido pela

UBS carece de divulgação externa e acaba sendo informado pelas próprias pacientes, através de grupos no Facebook e WhatsApp, criados com a intenção de orientar e ajudar meninas e rapazes que se descobrem transexuais. Pessoas interessadas devem comparecer à Unidade Básica de Saúde de Santa Cecília para uma avaliação psicológica e orientação.

Uma viagem ao passado Caio Doganewlli João Victor Ueji

Quem passa apressado pelo número 2.097, da avenida São João, dificilmente não desacelera o passo para contemplar uma profusão de objetos e móveis antigos, dispostos na loja D´Ouro Antigo. São carrilhões, vasos decorativos, mesas, armários e cristaleiras dos séculos 19 e 20, máquinas de escrever, lustres, dentre centenas de outras raridades. A sensação que se tem é de uma viagem ao passado. “É como passar em frente a um museu e olhar através de sua portas e janelas abertas. Sou apaixonado pelo mundo das antiguidades, vin-

tage e retrô”, explica o proprietário da D´Ouro, Roberto Laranjeira, 56. A loja está localizada numa região da Santa Cecília que tem tradição na comercialização de móveis e objetos antigos. Laranjeira tinha um imóvel no local e sofria com a dificuldade para alugá-lo. Foi aí que teve a ideia de passar a vender raridades. “O imóvel estava vazio há alguns meses e sem perspectiva de locação a curto ou médio prazo. A região estava em situação decadente, ocupada por dependentes químicos e pessoas em situação de abandono. Resolvemos, então, usar o espaço para explorar o segmento de antiguidades, como uma alterna-

Roberto Laranjeira, proprietário da loja de D´Ouro Antigo. (Foto: Caio Doganelli e João Victor Ueji)

tiva de minimizar nossos prejuízos. Passamos cinco anos estudando e nos dedicando a esse mercado”, conta. Morador de um bairro vizinho, ele gosta bastante da região. “Praticamente nasci em Santa Cecília. É um excelente bairro, de todas as tribos e idades”, elogia. Laranjeira passa praticamente o dia todo na loja recebendo clientes e amigos que tem como vizinhos.

“Por termos uma personalidade comercial que envolve e se dedica a cultura e arte, somos bem vistos”, destaca. Questionado sobre se sua atividade é valorizada, Laranjeira finaliza: “não podemos reclamar. Somos apaixonados pelo que fazemos e nossa trajetória em relação à conquista de clientes e fechamento de negócios continua em ascendência”.


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Observatório SP Santa Cecília

A rainha de Santa Cecília

Lilian Gonçalves conta um pouco da sua trajetória e sua relação com o bairro que “a escolheu”

Foto: Larissa Hanstenreiter.

Chegando em seu escritório, impossível não reparar em uma arara com vestidos de gala, que contrasta com uma pilha de papéis espalhados pela mesa. O cenário espelha o dia a dia da dona de uma das maiores redes de entretenimento de São Paulo, concentrada na rua Canuto do Val, em Santa Cecília. A impressão que se tem quando se chega é a mesma quando se vai: a de uma mulher intensa, ousada e que trabalha muito para concretizar seus sonhos. Lilian Gonçalves é autêntica, fala o que pensa e faz questão de exaltar sua trajetória de quem chegou a principal metrópole do país com alguns trocados no bolso, dormiu a primeira noite na rua e logo se tornou dona do seu próprio nariz, tornando-se uma referência. Tem anos de experiência, mas ainda traz o brilho no olhar de quem está começando. Aqui uma conversa com essa mulher que recebe o título de “rainha da noite paulistana”. Eduardo Morgado Larissa Hanstenreiter Larissa Nara Tamires Menezes Vanessa Carvalho Observatório SP: Você veio de Brasília para São Paulo com apenas 100 cruzeiros, que equivalem hoje a menos do que R$ 100,00. Como foi chegar aqui? Lilian Gonçalves: Muito difícil. Essa chegada não sai da minha memória em nenhum mo-

mento, porque cheguei na maior metrópole do Brasil, sem documentos, menor de idade, sem profissão e com muito menos do que R$ 100 no bolso - eu já tinha gasto com a passagem e com algumas coxinhas que comi no caminho. Então eu estava praticamente sem nada. Desci do ônibus com uma proposta de vida. Meu objetivo era arrumar um emprego naquele mesmo dia. E eu consegui isso,

no mesmo dia comecei a trabalhar de garçonete, na Sopa Carioca, na avenida Rio Branco. Como você chegou aqui no bairro da Santa Cecília? Eu não escolhi Santa Cecília, o bairro que me escolheu. Foi impressionante! Quando arrumei aquele primeiro emprego na avenida Rio Branco, no fim da noite, eu não tinha onde morar, onde dormir, não tinha nada.

Eu só tinha 14 anos, perguntei a uma colega sobre um lugar para ficar e ela me indicou um pensionato na Rua Jaguaribe. O aluguel era R$ 500. Naquele tempo eram cruzeiros. Eu falei que não tinha o dinheiro e ela bateu a porta na minha cara, fiquei sem saber o que fazer. Já era noite, estava escuro, sentei num cantinho encostada na porta e dormi ali naquele cantinho. Quando ela acordou de manhã e abriu a porta, estava com um balde, um rodo e uma vassoura na mão. Falei: “A senhora me desculpa, mas aquela hora eu não tinha para onde ir, fiquei aqui mesmo e eu quero te ajudar”. Peguei o balde dela, a vassoura e comecei a lavar, limpar sem perguntar. Ela ficou assustada de ver como eu estava trabalhando e gostou muito de mim, era muito velhinha. Então ela me disse: “Quer saber de uma coisa? Toma essa chave aqui, fica nesse quarto. Quando você tiver dinheiro, você me paga”. Meu primeiro salário eu coloquei na mão dela, e continuei ajudando ela a fazer tudo. Um dia, olhei em um jornal e vi: Vende-se um barzinho na rua Jaguaribe, 90. Comprei o bar em 76 prestações. Fui transformando um barzinho que só vendia café com leite. Achava muito cedo


entrevista fechar 17 horas e inventei isso de ficar até meia noite, uma hora da manhã. Depois de comprar esse bar, voltei para Santa Cecilia, comprei uma casa na avenida Angélica. Em seguida comprei a Biroska, a Casa dos Artistas, e aqui fiquei.

com a intenção de montar um negócio? Eu vim com a intenção de vencer na vida, de ser uma pessoa reconhecida nacionalmente e com uma única intenção: vencer a custo do meu próprio trabalho. A custo da minha própria vontade.

Qual a sua relação hoje

O bairro mudou muito desde que você chegou aqui? Muito, e modéstia à parte, tenho uma grande parcela nessa mudança. Porque quando eu entrei na Santa Cecilia, o bairro era muito abandonado, não tinha nada comercialmente. E depois do grande movimento que eu trouxe com o Biroska, começaram a surgir lojas, bares, restaurantes, surgir tudo. Eu acho que a socialização desse bairro deve bastante à rede Biroska. O Brasil inteiro sabe onde é a Santa Cecilia hoje. Não existe uma rua mais segura de São Paulo do que a rua Canuto do Val, mas isso não é a segurança pública, sou eu que faço. É uma segurança paga por mim.

“Eu amo a Santa Cecília! Sou apaixonada por esse bairro. Luto e brigo por ele”

em dia com o bairro? Uma relação totalmente de amor. Eu amo a Santa Cecília, sou apaixonada por este bairro, luto e brigo por ele. Participo de todas as reuniões, tenho um relacionamento com amigos e vizinhos. Quando ando por aqui a pé, é uma loucura! Todo mundo gritando “Lilian, Lilian”. Você já veio para cá

Qual foi o primeiro estabelecimento que você abriu na rua? O Biroska, em 1971.

Mix de restaurante, bar e videokê, o Siga La Vaca é mais uma das atrações de Lilian Gonçalves. (Foto: Larissa Hanstenreiter)

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O bar Biroska, conhecido como “Casa dos Artistas”. (Foto: Larissa Hanstenreiter)

Todos os estabelecimentos são próximos. A rua é praticamente sua. Foi uma escolha isso ou aconteceu de ter vendas próximas? Foi muita coincidência mesmo. Depois que vendi na Rua Javari, comprei uma casinha na Avenida Angélica e apareceu uma pessoa falando assim: “Lilian, eu tenho uma casa para vender, é maravilhosa, de esquina, eu não quero nem vender. Eu te dou e você vai me pagando quando der”. Fui ver a casa e era aqui na Santa Cecilia. Hoje seu nome é conhecido no bairro inteiro. Como isso aconteceu? Não é no bairro não, modéstia à parte, é no mundo inteiro. Em qualquer lugar do mundo que você falar Lilian Goncalves, a imprensa vai saber quem é. Até no Japão. Como você acha que isso se deu? Na verdade, acho que eu fui uma grande marqueteira. Eu mesma fui trabalhando, entregando folheto, entregando cartão. Aonde eu ia

que era lotado, entregava cartão e fazia propaganda boca a boca. Você é conhecida como “Rainha da noite paulistana”. Depois de quanto tempo você ganhou esse título, e quem te deu? Na verdade, foi o jornalista Adones de Oliveira, que era da revista Visão, uma revista equivalente à Veja de hoje. Ele veio no Biroska, eu atendi ele e mais quatro amigos e ficaram encantados com o meu jeito. Ele voltou nos dias seguintes e descobriu que eu era a dona do bar, quis fazer uma matéria e me intitulou rainha. Como você via sua vida quando você chegou e como você hoje? Às vezes eu assisto entrevistas minhas, de quando eu tinha 14, 15 anos, e percebo que eu faço a mesma coisa, falo a mesma coisa, no mesmo tom e do mesmo jeito. É impressionante! Não mudei nada no meu modo de pensar, de ver... Tem pessoas que mudam, só mudei fisionomia, infelizmente a gente fica velha (risos).


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Observatório SP Santa Cecília

Artista propõe reflexão a partir de ‘ervas daninhas’ Iniciativa no Sesc mostra parte da história do bairro

Larissa Rodrigues O projeto Ervas SP apresentou as vegetações espontâneas existente no Minhocão, no Sesc local, em abril. As plantas consideradas ervas daninhas viraram foco pelo fato da sua persistência e poder de brotar onde parece não haver possibilidade de vida. A iniciativa despertou não só o interesse dos adultos, mas também das crianças. O visitante José da Silva, 57 anos, que estava acompanhado de sua neta, Maria Eduarda, de 12 anos, afirma ter se encantado com a proposta lançada pelo projeto, que alcança as novas gerações. Segundo o funcionário Lean-

Artista Laura Lydia retrata ervas daninhas. (Foto: Larissa Rodrigues)

dro da Silva, 25 anos, responsável por receber e acompanhar o público dentro do Sesc, o foco foi mostrar que a vegetação é persistente e renasce em condições adversas. “Essas plantas tornam-se

metáfora da vida humana”, filosofa. O projeto realizado pela artista Laura Lydia propõe uma reflexão sobre a relação entre vida, cidade e natureza, “um convite a pensar sobre o direito à cidade, à vida e as possibilidades de transformação da nossa realidade”. A artista mapeou o Minhocão e encontrou 40 espécies de vegetação ao longo da via. O projeto foi premiado pela Funarte. (www.ervassp.com) O Sesc está localizado na alameda Nothmann, 185. O mapeamento está exposto nas escadarias da unidade até o final de julho. Mais informações pelo telefone (11) 3332-3600. A entrada é gratuita.

A ‘ilha verde’ da Angélica

Area onde os cães correm sem coleiras. (Foto: Giovanna Moraes)

Giovanna Moraes Situado no bairro Santa Cecília, o parque Buenos Aires traz um universo tranquilo e agradável aos seus visitantes. Com atrativos para todas as idades, os que mais chamam atenção são seus diferenciais: o playground para as crianças e o espaço para cães. A área cercada para os cachor-

ros é um dos motivos do grande número de pessoas frequentarem o parque. “Os cachorros têm um espaço legal para ficarem à vontade, e não precisam de coleira, por isso trago o meu cão aqui. É o único lugar que conheço que disponibiliza um espaço desse tipo”, conta Janaina Xavier, 32 anos, empresária e moradora do bairro. Já o playground apresenta amplo espaço e variedade de brinquedos. Área tranquila para mães e babás curtirem o dia com as crianças. Elenira Silva é babá do Pedro Freitas, 6 anos, e do Lucas Freitas, 9 anos, e trabalha na residência deles no bairro. “O local é limpinho, e eles ficam à vontade. Trago os meninos todos os dias, eles adoram!”, elogia. O parque é aberto ao público

de segunda a domingo, das 6h às 19h, com entrada gratuita. Localizado na avenida Angélica, altura do número, 1500, o parque está na divisa com o bairro Higienópolis. Para informações, e dúvidas, o atendimento telefônico é feito através do (11) 3666 8032.

Playground onde as mães ficam com as crianças sem preocupações. (Foto: Giovanna Moraes)


entretenimento

Complexo Cultural de São Paulo

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Sala São Paulo é ponto turístico da capital

Complexo Júlio Prestes, onde se localiza a sala de concetos Sala São Paulo. (Foto: Flávia Lima)

Flávia Lima A Sala São Paulo é uma das cinco salas de concertos mais bem avaliadas do mundo. Localizada no Complexo Cultural Júlio Prestes, recebeu em 2000 o Prêmio ECO de Cultura da Câmara Americana de Comércio e é considerada de padrão internacional. “A Sala São Paulo é uma das mais avançadas salas de concerto, pois possui a possibilidade de modificação de cenário de acordo com a apresentação que será feita. Por conta de suas partes móveis, como o teto e elevadores no palco, a sala tem pouquíssimas superfícies lisas, dificultando a ocorrência de ecos que poderiam atrapalhar os músicos, entre outras coisas que ajudam os músicos na parte técnica”, disse o monitor de visitas Victor Oliveira, de 24 anos. Na sala é possível assistir aos mais variados concertos, a diversas audições, a apresentações

dos corais da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) à melhor música de câmara. Ela também é sede de programas educacionais que tornam o acesso bem mais abrangente. O complexo hoje, segundo relatórios do site, recebe 9 mil visitas escolares por ano. Além disso, por conta do programa de visitas monitoradas, a sala é procurada por pessoas tanto do bairro, quanto de São Paulo e de outras partes do mundo. “Todos ficam encantados com o lugar, que é repleto de beleza e história”, disse. As visitas à Sala São Paulo têm aproximadamente 50 minutos, quando são explicadas as informações históricas e acústicas do local. Por ter visitantes de todos os lugares, as visitas podem ser em inglês, francês ou espanhol. Serviço Para fazer a visita é necessário agendar com antecedência pelo

telefone: (11) 3337-5414. Os ingressos custam R$ 5, sendo que estudantes e idosos pagam apenas metade. O horário é de segunda a sexta-feira, às 12h30 e às 16h30, e aos sábados a partir das 14 horas. Fica situada na Estação Júlio Prestes e teve sua estreia em 9 de julho de 1999.

Palco da Sala São Paulo. (Foto: Flávia Lima)


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Observatório SP Santa Cecília

Um pedacinho do Nordeste em Santa Cecília Com aquele gostinho de “feito em casa”, Rota do Acarajé oferece delícias típicas da culinária baiana Carolina Oliveira Iago Lourenço Leonardo Borges Martha Victoria Rafaela Carvalho Victor Rodrigues Já imaginou saborear comida típica nordestina sem ter que pegar o avião? O “Rota do Acarajé” oferece, no bairro de Santa Cecília, uma viagem de sabores à culinária nordestina. Criado por Luísa Saliba e seu marido, Ricardo Gil Fonseca, está situado na rua Martin Francisco, 529. Seu tempero atrai clientes de todos os lugares do país e até do exterior. A aposta na comida nordestina surgiu a partir de uma cozinheira baiana, conhecida como Dona Eva, que veio para São Paulo em busca de melhores oportunidades para sua culinária.

No tempo em que esteve à frente da cozinha do restaurante, Dona Eva ensinou os segredos do acarajé típico de Salvador. A ideia de levar esses pratos ao povo começou com a venda em pequenas feiras gastronômicas e acabou com a abertura do “delivery de acarajés”. Hoje, os donos Luísa e Ricardo possuem um lugar aconchegante e com “cara de casa” para realmente chamarem de restaurante. No decorrer de 14 anos de estrada (o estabelecimento foi inaugurado em 2002), o “Rota do Acarajé” construiu um notável cardápio que não só investe nos pratos mais clássicos da cozinha baiana, mas abre espaço para as ideias inovadoras de seu chef Alan Datorre. Um exemplo são suas famosas

O restaurante mescla pratos tradicionais e criações exclusivas do chef Alan Datorre. (Foto: Martha Victoria)

O que torna a casa única é a liberdade que a equipe tem para criar

moquecas: a de camarão com banana da terra e a de peixe acompanhada de quiabo. Datorre passou por diversas casas, mas fincou suas bases no Rota pela autonomia que o espaço lhe dá. “O que torna a casa única é a liberdade que a equipe tem para criar. Os pratos que temos aqui, você não encontra em nenhum outro lugar”, garante. Em 2012, o restaurante participou do famoso concurso “Comida de Boteco”, alcançando

boa colocação com seu prato “acarajé bola de fogo”, um acarajé feito com pimenta em sua massa original. Acabaram conquistando nova clientela ao deixarem o prato do concurso no cardápio oficial. No entanto, Luísa e Ricardo não pretendem participar de novo do concurso. Luísa acredita que dar ar de boteco ao “Rota de Acarajé” faz com que ele perca a essência de lugar de comida caseira. “Você traz novas pessoas para a casa, mas acaba prejudicando o atendimento dos clientes que frequentam normalmente”, explica. SERVIÇO Rota do Acarajé Rua Martin Francisco, 529 - Santa Cecilia, Tel.: (11)3668-6222

Os donos Luísa Saliba e Ricardo Gil Fonseca apostam no clima “caseiro” para cativar a clientela. (Foto: Martha Victoria)


gastronomia

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Pinati: a culinária judaica no coração de São Paulo

Sabor, respeito e religiosidade andam lado a lado na lanchonete que segue os princípios hebraicos Gustavo Mayer Julia Alcantara de Faria Marcela Biaggi Victoria Ragazzi Alimentar-se não deixa de ser um ritual, uma maneira de vivenciar costumes e experiências de outros povos. Saborear a culinária hebraica, por exemplo, é uma forma de conhecer sua cultura e religiosidade. E é exatamente essa oportunidade que a lanchonete Pinati, no bairro de Santa Cecília, oferece. Em hebraico, Pinati significa “esquina”. A lanchonete faz jus ao nome e se localiza na esquina das ruas Rosa e Sila com Brasílio Machado. A religiosidade é vivida em cada prato servido pelo estabelecimento, do mais simples ao mais elaborado. Há cinco anos, Alon Berlovich, filho de Bentzi Berlovich e Berta Berlovich, decidiu se aventurar em um intercâmbio religioso em Israel, na escola Yeshiva. Na volta, a vontade de compartilhar a cultura ultrapassou a barreira geográfica e, em seu aniversário, a família preparou o Falafel: “eu me animei com a cultura local, a culinária hebraica já fazia parte da

O shawarma, composto por fatias finas de frango ou carne de vaca servidas no pão sírio, é um dos pratos da casa. (Foto: Victoria Ragazzi)

rotina da minha família, mas apenas em ocasiões especiais. O preparo do prato foi um passo inicial para abrirmos o negócio, em 2011”, conta Alon. Mais do que delícias hebraicas, o restaurante traz as regras da cozinha kosher na elaboração de seus pratos. A tradição, conhecida como “comida correta”, impõe regras que proíbem alguns alimentos, como a carne de porco e a ingestão de carne com leite e seus derivados. Esses ritos estão registrados no Torah, livro religioso dos judeus. O Falafel, precursor do estabelecimento, é um bolinho de grão de bico acompanhado por salada árabe de pepino, servido em porções. Fernando Sousa, 26, cliente há pouco tem-

po, assume que é um dos aperitivos que mais chamou sua atenção: “o preparo não me parece difícil, mas o sabor é muito elaborado, é difícil comer um só. Gosto muito de experimentar novas culturas e, com certeza, vou voltar aqui”, assume. Berta Berlovich conta que, inicialmente, a maior parte do público era formada por judeus e israelenses, que sentiam falta de um restaurante de pratos típicos: “já são cinco anos de tradição, o público ampliou e hoje sinto que mais de 50% dos consumidores vêm de todos os cantos da cidade”, comemora. Mais do que se preocupar com o produto final, cada etapa de preparo é tratada com respeito e religiosidade. Todos os dias, dois religiosos fi-

cam no estabelecimento para vigiar os alimentos, selecionar os grãos e organizá-los para o dia seguinte. Já no preparo, apenas um deles pode acender o fogo e colocar os alimentos no processo. O cardápio é variado e, além do Falafel, um prato que faz muito sucesso é o shawarma, composto por fatias finas de frango ou carne de vaca assadas e servidas no pão sírio com legumes. De primeira, o cliente pode pensar que o preparo é simples, mas o tempero é que faz toda a diferença, sendo utilizados coentro e pimenta síria, peculiares da culinária do país. Ambiente agradável, preparo cuidadoso e refeições deliciosas são a marca do Pinati. Para quem imagina que por ser uma lanchonete de comida hebraica os preços sejam altos, se surpreende. Um dos pratos típicos da casa, o Mish Mash (mistura das carnes shwarma, shnitzel e wursht, com ovo, homos e batata palha), custa R$ 44,90. SERVIÇO Lanchonete Pinati Onde: Alameda Barros, 782 - Santa Cecilia Tel.: (11) 3668-5424


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Observatório SP Santa Cecília

A pé com Cadillac

Ex-chacrete conta sua relação com o bairro Renata de Oliveira A década de 80, época de calças boca de sino e cantores bregas, permitiu que Rita Cadillac se tornasse conhecida pelo público. Ex-dançarina do programa do Chacrinha, cantora de um único hit, atriz de filmes pornôs e há 12 anos em Santa Cecília. É fácil ouvir “Rita!”, “Oi, Rita!” em uma caminhada de menos de 50 metros entre seu apartamento, um prédio espremido entre um estacionamento e uma papelaria, e seu lugar favorito no bairro: um ateliê de bolos na rua Martim Francisco. “Conheço essa Japinha desde antes dela nascer”, brinca, apontando para a moça de olhos puxados, touca e avental branco atrás do balcão. Enquanto a funcionária ri um pouco desconcertada. Com bermudas jeans, camiseta regata e rabo de cavalo, a chacrete dá lugar a Rita de Cássia Coutinho, preocupada em alimentar a poodle de 14 anos, Angel, que já se sente em casa. “Gosto de coisas assim, azedas ou apimentadas”, diz ao dar a primeira colherada no creme de leite com iogurte e maracujá. Conheceu o Atelier dos Bolos por conta de suas andanças pelo bairro. No dia da inauguração não aguentou a curiosidade de ver o entra e sai da loja, pegou a cachor-

ra nos braços e foi ver o que tinha ali. “As pessoas não costumam gostar de cachorros nesses cafés”, conta sem abandonar os exageros do ‘s’, denunciando a certidão carioca, “mas a dona não se importou com a Angel e fomos voltando cada vez mais”.

Quando você é sozinha, você tem socorro, entende?

Rita morou de 1983 a 1989 na Avenida Angélica em sua primeira passagem pelo bairro, depois em Santana e Praia Grande, para voltar em 2010. Doze anos na região fizeram com que se tornasse amiga dos farmacêuticos e das floristas do bairro, vendo Santa Cecília, segundo ela, crescer e melhorar. “Não sou de ficar mudando”, confessa, “tento voltar sempre para o mesmo lugar. Quando você é sozinha você tem socorro, entende?”. Com um olhar desafiador, afirma não ter medo do anonimato, para ela seria algo para rir. “Se eu tivesse medo disso andaria para cima e para baixo de Rita Cadillac, toda produzida pelas ruas”. Ao longo dos mais de 40 anos de carreira, não faria nada diferente. “Se

Rita Cadillac e sua cachorrinha Angel . (Foto: Renata de Oliveira)

eu me arrependo é das coisas que eu não fiz, juro por Deus”, afirma. Tira o celular do bolso, novas mensagens. O sobrinho pedia que levasse bolo de leite ninho. A vida anda muito corrida, as crises de diabetes de Angel fazem com que sua rotina se baseie no sobe e desce

da glicose da cachorra e em suas sessões de fisioterapia. “Foi quase impossível conversar hoje. Levo minha vida, como a música do Zeca Pagodinho: ‘deixa a vida me levar’!”. E ao fim da sobremesa, arremata: “O que vier eu traço, o que vier eu aguento”, finaliza.

Rita de Cássia Coutinho nasceu em 13 de junho de 1954 no Rio de Janeiro. Tornou-se Rita Cadillac enquanto trabalhava em uma boate da cidade por conta da semelhança que o dono acreditava haver entre ela e uma stripper francesa dos anos 50 de mesmo nome. De 1975 a 1983, participou da equipe de dançarinas do Programa do Chacrinha. Durante os anos 90 realizou diversos shows para detentos do Brasil, que lhe renderam o título de “Madrinha dos presidiários”. Entrou para a indústria pornográfica em 2004, estrelando oito filmes, até o ano de 2008. Participou do reality show “A Fazenda”, em 2013. Rita foi casada com César Coutinho, de 1969 a 1971, e tem um filho, Carlos César.


cultura

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Técnica de Coworking chega ao cenário cultural Associação Cecília aposta na prática empresarial

Giovanna Vernacci

Famosa no bairro por suas intervenções artísticas, eventos culturais e até blocos de Carnaval, a Associação Cultural Cecília inovou mais uma vez tornando-se em abril deste ano o primeiro espaço cultural de Coworking de São Paulo. Uma prática muito conhecida no cenário empresarial e em contínuo crescimento na cidade, o coworking é um modelo de trabalho no qual freelancers, profissionais autônomos e pequenas empresas se reúnem em um mesmo

ambiente para compartilhar experiências, custos, ideias e endereço. “A [Associação Cultural] Cecília é uma casa que agrega profissionais, parceiros e amigos conectados a cultura, arte e lazer. O coworking nos possibilita promover novas propostas culturais, novas experiências, tanto em nosso trabalho diário como nos workshops, oficinas e eventos culturais que a casa oferece”, disse Renato Machado, 42 anos, um dos sócios fundadores da entidade. “Oferecemos um espaço de encontro entre pessoas com interesses,

habilidades e projetos em comum”, continua Renato. A casa desenvolve projetos próprios e em cooperação com outras instituições, integrando os conhecimentos de associados e investidores. “Grande iniciativa cultural com infraestrutura excelente e equipe compromissada. É um lugar aconchegante, além de oferecer programação e serviços de alto nível”, descreve Marky Wildstone, 39 anos, músico e frequentador. Muitas novidades prometem movimentar Santa Cecília nos próximos meses, segundo os

40 anos de Funarte

Gabriela Gonçalves

Em 1976 nasceu a Fundação Nacional de Artes - Funarte, órgão responsável pelo desenvolvimento das artes visuais, música, teatro, dança e circo. Os principais objetivos da instituição, vinculada ao Ministério da Cultura, são o incentivo à produção e à capacitação de artistas, a ampliação da pesquisa, a preservação da memória e a formação de público para as artes no Brasil. A Funarte em São Paulo fica localizada em um galpão no bairro de

Santa Cecília, onde se encontra salas para exposições de artes, espetáculos teatrais, dança e música, com estrutura para receber diversas manifestações de arte. Segundo a administradora cultural do galpão Sharine Melo, a participação da comunidade é bem expressiva nas apresentações. “Não precisamos fazer uma divulgação específica. Depois de tanto tempo no bairro os moradores se interessam e acompanham as atrações”, conta. “Não precisamos procurar muito para en-

contrar espetáculos com boa qualidade”, diz a comerciante Alessandra Martins. O espaço também é aberto para qualquer grupo que queira se apresentar, ensaiar ou fazer oficinas. Para isso, basta entrar em contato com a secretaria. A administradora do espaço, Andreia Sousa, informa que, além de grupos da região, o local também recebe companhias de outros estados, mostrando o reconhecimento que a Funarte tem no país. “O espaço é sempre muito procurado não só pelos mora-

Sala de convivência e bar da Associação Cecília. (Foto: Gi Vernacci)

sócios da casa. “Sem a utilização do coworking, nenhuma dessas novidades seria possível”, finaliza João Daterra, 38 anos, fundador da associação.

dores da região mas de todo país. Nossa agenda sempre está cheia”, ressaltou Andreia.

Fachada histórica, onde são desenvolvidas as artes do Brasil desde 1976. (Foto: Gabriela Gonçalves)


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SP Santa Cecília

cultura

Galpão do Folias faz teatro, música e poesia Peças incentivam debatem sobre problemas sociais sociais

Gabriella Ignácio Idealizado pelo Grupo Folias d’Arte em 1997, o Galpão do Folias é um espaço para a apresentação e reflexão dos problemas sociais através de peças e debates. Com uma linguagem contemporânea e adaptação de textos clássicos, cria uma dramaturgia própria sobre a atualidade.

A moradora Raquel Couri, 30, elogia os temas abordados. “Um trabalho profundo integrando as raízes sociais da cultura faz parte do ideário do grupo”, disse. Ela ressaltou o empenho dos envolvidos no projeto. “Meus parabéns ao afinco e dedicação dos atores e do diretor, empenhados em um trabalho tão difícil e exi-

gente”. Como todo teatro no Brasil, a equipe mantém a análise crítica com heroísmo. A luta por políticas públicas para a arte e cultura faz parte da bandeira do grupo, que também promove palestras com temas diversos, como, por exemplo, “Debate a favor da democracia” e “Questão de gênero:

precisamos falar!”. Serviço O Galpão do Folias fica na Rua Ana Cintra, 213. A bilheteria abre uma hora antes das apresentações. Os ingressos custam R$ 40 (inteira) e para moradores do bairro R$ 10. Mais informações pelo telefone (11) 3361-2223.

Esparrama arte no Minhocão Carolina Barone Há três anos, o grupo Esparrama realiza apresentações nas janelas do Edifício São Benedito, localizado em frente ao Elevado Presidente Costa e Silva, conhecido como o Minhocão. Através de palhaços, bonecos, máscaras e música, a peça teatral conta a história de um morador dos prédios do Minhocão que já está cansado de tanto barulho e decide transformar o caos da cidade em arte. O público assiste as performances dos acessos do Metrô Santa Cecília e da rua Consolação ao elevado. De acordo com o diretor do grupo Esparrama, Iarlei Rangel, o

intuito do projeto é a reflexão em relação à cidade. “Achamos o tema de primeira importância nos dias atuais. Acreditamos que esta discussão tem de ser apresentada também para as crianças. Por esse motivo, nossos espetáculos são para todas as idades”, enfatizou. A estreia da peça foi realizada em 17 de novembro de 2013. Na época, apenas 30 pessoas assistiram a apresentação. Hoje a média habitual de público é de 350 pessoas. “Já chegamos a reunir 1200 pessoas em frente à nossa janela”, conta Rangel. O diretor afirmou que o retorno da população superou a expectativa. “É muito grati-

Grupo se apresenta nas janelas do elevado. (Foto: Luciana Gandelini/Divulgação)

ficante quando vemos diversas pessoas vindo nos agradecer com os olhos marejados. Também recebemos dezenas de mensagens pelo Facebook refletindo sobre as questões propostas”, relatou. “É isso que nos motiva”. Perfil O grupo Esparrama é formado por amigos

que já haviam trabalhado juntos em outros grupos de teatro e que em 2012 resolveram criar seu próprio coletivo. Os primeiros trabalhos foram a peça “2por4” e o projeto Viagem Teatral Sesi. Depois vieram os espetáculos na janela: “Esparrama pela Janela” e “Minhoca na Cabeça”.


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