Revista Close Errado

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Universidade Anhembi Morumbi | Curso de Jornalismo | 6º Semestre | Turma CE Manhã | 2016-2

CLOSE ERRADO

BRUNO VINICIUS E O LADO OBSCURO DOS GAMES

GABRIELA RIBEIRO E O ESTUPRO CORRETIVO

CAIO POMIN CONTA SOBRE O MACHISMO CONTRA O HOMEM

FELIPE PAIVA REVELA INICIATIVAS QUE PROTEGEM A MULHER

BRUNO NASCIMENTO CONTRA O VÍRUS DA VIOLÊNCIA ONLINE

KARINA MATOS, A HOMOFOBIA, O AMOR E OS SKINHEADS


CLOSE ERRADO REVISTA PRODUZIDA POR ALUNOS DO 6º SEMESTRE DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO DA UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI REITOR PROF. DR. PAULO TOMMASINI PRÓ-REITOR ACADÊMICO PROF. DR. RICARDO FASTI DIRETOR DA ESCOLA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROF. DR. LUIS ALBERTO DE FARIAS COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO PROF. DR. NIVALDO FERRAZ COORDENADOR ADJUNTO DO CURSO DE JORNALISMO PROF. MS. ALEXANDRE POSSENDORO PROFESSORA DA DISCIPLINA E ORIENTADORA DESTA EDIÇÃO PROFA. MS. CRISTINA BARBOSA REDAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO BRUNO NASCIMENTO BRUNO VINICIUS CAIO POMIN FELIPE PAIVA GABRIELA RIBEIRO KARINA MATOS FOTO CAPA BRUNO VINICIUS

CLOSE CERTO Diariamente ouvimos em noticiários casos de estupros que por muitas vezes obtêm certa compreensão de parcela da população por atribuir a culpa de tais atos às mulheres. O sentimento de impunidade acompanha a mulher em cada lugar que ela procura para acessar os seus direitos, seja na denúncia ou no pedido de ajuda a amigos e a familiares que justificam o estuprador dizendo que apenas seguiu o seu “instinto de macho”, provocado por mulheres que usam roupas chamativas ou extravagantes. Já dizia Cassia Eller, “sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher… mas sou minha, só minha e não de quem quiser”. Lembre-se de que quem cala consente, por isso ao menor sinal de opressão, grite, berre pela sua liberdade, impedindo que o machismo se fortaleça em nossas vidas. De pouco em pouco, conquistaremos o lugar que nos pertence, conquistaremos a tão sonhada igualdade de gênero e com isso provaremos que o nosso valor não está explicito na roupa que vestimos ou no jeito que nos maquiamos, mas sim pela atitude que tomamos.

DATA DESTA EDIÇÃO NOVEMBRO DE 2016

KARINA MATOS

Gabriela Ribeiro

Karina Matos

Repórter

Diretora de Redação

Felipe Paiva

Caio Pomin

Repórter

Editor-Executivo / Diagramador

Bruno Vinicius

Bruno Nascimento

Repórter Especial

Editor-Chefe


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Estupro corretivo a fórmula para a cura gay Crimes cometidos por homens homofóbicos afetam a vida de mulheres homossexuais

Por: Gabriela Ribeiro

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Em janeiro deste ano, um caso em Tocantins se tornou público após o professor de uma adolescente de 14 anos relatar os abusos e agressões que a jovem sofria do próprio pai por conta de seu relacionamento homoafetivo. Segundo informações, ele queria fazê-la virar mulher. Analisando os casos deste crime, o Juiz do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Alexandre Moraes diz que acreditar que o estupro possa ser corretivo demonstra a mentalidade autoritária e sexista da população que não tolera a diferença “vedar a liberdade em nome do ‘belo, recatado e do lar’ é algo que demonstra o grau de incivilidade de muitos”.

Foto: Gabriela Ribeiro

medo de ser violentada é algo corriqueiro na vida das mulheres - segundo o Instituto Datafolha 90% delas sofrem esse receio - principalmente aquelas que possuem uma orientação sexual diferente da tradicional e têm que se preocupar também com a existência de um crime direcionado para a comunidade LGBT em que o agressor tem a ideia ilusória de poder “curar” os homossexuais, mais especificamente as lésbicas, conhecido como “Estupro Corretivo”.

Fernanda Carito explica o que se passa na mente do estuprador na hora do ato “Já em casos mais extremos o auxílio psiquiátrico também pode ser uma forma de tratamento”.

Fernanda diz ainda que o abuso pode influenciar de muitas maneiras a vida da mulher violentada: “Ela pode desenvolver ansiedade, com bastante possibilidade de evoluir para episódios de pânico, difiSegundo a psicóloga Fernanda Carito, 27 anos, esse cultando sua vida como um todo. É muito comum ato pode estar relacionado a uma personalidade so- que pessoas que sofrem esse tipo de violência pasciopata e, neste caso, a terapia é válida para que o sem a compreender a sociedade como agressor passe a entender melhor a figura feminina: ameaçadora”.

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A CLOSE ERRADO realizou uma enquete através do Facebook com 215 pessoas, homens e mulheres, e o resultado foi que 18,6% dos entrevistados já denunciou algum caso de violência.

A sociedade patriarcal e tradicional acaba alimentando esses agressores a realizarem tamanha violência. Desde pequena, por exemplo, Andreza Gomes, gerente comercial de 28 anos, ouvia seus pais se direcionarem às suas vizinhas com palavras de baixo calão, como “sapatão dos infernos”, por causa da opção sexual delas. Uma pesquisa recente realizada pelo Instituto Datafolha revelou que um em cada três brasileiros concordam que a mulher é responsável pela violência sexual sofrida. Dados como esse mostram também uma realidade mais comum do que se imagina, aumenta a necessidade de se combater a “Cultura do Estupro” e reforçar a ideia de que a mulher é dona do próprio corpo e que tal crime independe do tipo de roupa ou preferência de gênero. O ato em si acaba não sendo nada perto do que a vítima enfrenta para se ressocializar no meio em que vive. A família e os amigos passam a ter um papel fundamental para que os sentimentos de culpa e raiva não sejam alimentados. Além disso, uma forte base psicológica também ajuda a enfrentar esse pós-abuso. A psicóloga afirma que “quando a mulher acolhe sua própria decisão e as pessoas ao seu redor a aceitam acaba sendo mais fácil para ela conseguir lidar com a rejeição do outro e saber superar quaisquer obstáculos”. Para as lésbicas, o agressor é um ser extremamente machista, violento e que não tem noção de que o estupro corretivo pode sim afetar a vida delas, mas de uma forma completamente diferente da que imaginam.

81,4% 18,6%

NÃO SIM Foto: Jonas Netto

Para a estudante Juliana de Lucena, 19 anos, a raiz do problema é a intolerância, o preconceito e, principalmente, o machismo, em que que o homem tem a necessidade de se mostrar o macho alfa, de ter o poder. “Afinal quem melhor para corrigir uma lésbica se não um homem alto, forte, bonito e com pegada, não é?”, ironiza a jovem que completa: “enquanto para nós é uma luta, para eles se torna o desafio do ‘duvida eu pegar aquela lésbica?’ “.

VOCÊ JÁ DENUNCIOU ALGUM CASO DE VIOLÊNCIA?

Juliana de Lucena na luta contra as tradições da sociedade patriarcal Mesmo não existindo estatísticas oficiais especificas para esse caso, baseado no 9º Anuário Brasileiro da Segurança Pública, sabe-se que a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no país e parte dessas vítimas são homossexuais. A falta de dados sobre esse tipo de violência - com um intuito moral de corrigir - impede que hajam informações exatas sobre os crimes cometidos. A vergonha, a culpa e o medo, por sua vez, são sentimentos que podem dificultar a realização de boletins de ocorrências por parte das vítimas, tão necessários para que os culpados sejam encontrados e punidos.

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UMA LUTA INACABADA AMAC e CRH trabalham em conjunto para ajudar mulheres e homens em questões de violência no RJ Por: Felipe Paiva

Foto: Felipe Paiva

Rosiane Pacheco, Ana Claudia Neves, Ana Leoni, Vivi Batista, Cíntia Matos, Sabrina Muniz, Selma Ribeiro e Nill Santos, criadora da ONG. As participantes da AMAC.

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violência contra a mulher é ainda uma grande questão a ser sanada no Brasil. Ao longo dos anos as mulheres lutam para acabarem com as agressões que sofrem, sendo físicas ou morais. Segundo pesquisas realizadas pelo Instituto Avon/ Ipsos - Percepções sobre a violência doméstica contra a mulher, há cerca de dois milhões de vítimas to-

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dos os anos, mobilizando ainda mais a luta do sexo feminino pelo seu espaço. Contudo, no ano de 2006 a criação da Lei Maria da Penha, veio com o intuito de amparar os direitos legais das mulheres, que ainda são muitas vezes tratadas de forma desigual na sociedade.


Todos os anos, pesquisas como a do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, mostram que entre janeiro a outubro de 2015, 63.090 mulheres relataram que foram agredidas de alguma forma. Entre os principais tipos de violência se encontra a física (49,82%), psicológica (30,40%), moral (7,33%), cárcere privado (4,87%), sexual (4,86%), patrimonial (2,19%) e tráfico de pessoas (0,52%). Mas será que existem iniciativas que ajudam a combater esses tipos de violências que as mulheres sofrem? Como iniciativa surge a AMAC (Associação de Mulheres com Compromisso Social). A fundadora da AMAC, Nill Santos, conta que a ONG surgiu através das violências domésticas que viveu durante 10 anos, quando ainda namorava com seu ex-marido, e sofria violência psicológica, moral e sexual; seu

Selma Ribeiro, 52 anos, integrante da AMAC no seu distrito, conta que o trabalho é mostrar que a mulher também pode se defender e não aceitar que essas situações ocorram. “Se essa mulher que sofre violência não falar nada, o seu agressor vai achar que está tudo bem e vai continuar praticando esse massacre psicologicamente e as vezes até fisicamente também”, comenta Selma. A AMAC tem crescido cada vez mais e mesmo não tendo um local fixo como sede, vem conquistado notoriedade por conta da participação do Prêmio Cláudia, que tem o objetivo de descobrir e destacar mulheres competentes, talentosas, inovadoras e empenhadas em construir um Brasil melhor. Das mais diversas histórias, algumas se destacam, sejam pelo sofrimento que passaram ou pela recuperação que tiveram após participarem constantemente das rodas de conversas da AMAC.

Pesquisas, como a do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, mostram que entre janeiro a outubro de 2015, 63.090 mulheres relataram que foram agredidas de alguma forma.

agressor sabia um pouco de artes marciais, portanto, nunca a deixava com roxos aparentes. Assim, usa o slogan de trazer a mulher ao lugar de protagonismo social e familiar, a inserindo no mercado de trabalho e desenvolvendo as localidades em que estas residem, visando empoderamento da mulher e a conscientização dos seus direitos. Atuante no Rio de Janeiro, em Duque de Caxias e subdivisões da região (Campos Elíseos, Imbariê e Xerém), a AMAC não possui ajuda do governo e vive de ações, doações/ajuda de parceiros da comunidade para crescer cada vez mais. Mulheres de outros Estados já foram resgatadas pela ONG e a ideia é expandir e levar esse projeto para outras cidades. Além disso, a iniciativa também oferece oficinas de artesanato para as mulheres aprenderem um ofício e conquistarem independência financeira.

Esse é o caso de Érica Ferreira, 34 anos, auxiliar de cozinha, que começou a participar das rodas depois de sofrer desde 1999 seguidas violências psicológicas e físicas de seus dois ex-maridos. Quando grávida do seu segundo filho durante o segundo relacionamento, Érica foi agredida de várias formas e obrigada a fazer o aborto, além de ficar trancada em casa junto com o filho para que não pudessem sair de casa. Forte, resistente e confiante, não seguiu as “ordens” do seu ex-marido e continuou com a criança, lutando firme para superar de vez aquelas situações. “A cada dia que passava as humilhações aumentavam. Ele não me procurava mais como mulher, fui constantemente maltratada por palavras e agressões. Praticamente ficamos em cárcere privado enquanto ele se divertia na rua com outros colegas dele”.

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E os homens que agridem? Como ficam? Continuam realizando tais atos com suas novas ou futuras mulheres? É aí que entra outro órgão, esse totalmente especializado para homens e que nasceu no bojo da Lei Maria da Penha, o Centro de Referência do Homem (CRH), criado em 2011. O CRH é um equipamento do Departamento dos Direitos da Mulher vinculado à Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Município de Duque de Caxias.

A metodologia dos grupos reflexivos utiliza dinâmicas disparadoras de conversa para que através do diálogo o homem agressor possa rever seus conceitos e compreender que violência contra a mulher é crime e violação dos direitos humanos, além de perceber que existem maneiras de resolver os conflitos familiares sem o uso da violência.

O segundo eixo trabalha no combate da violência através de intervenções (Palestras, rodas de conversa, cine pipoca, ações sociais) em outros espaços “A maior dificuldade é a de se reconhecer como como escolas, empresas, templos religiosos de agressor, como criminoso. Pois, o entendimento qualquer credo, praças, clubes e outros. que eles têm do fato que ocasionou o registro de ocorrência na delegacia é dinâmico, como um filme. O terceiro eixo as unidades de saúde entram na Já o registro de ocorrência (aí em São Paulo seria o causa para envolver o homem no cuidado de si. São B.O.) seria estático como uma fotografia. Também usadas datas como os dias nacional e internacional há muitas queixas de não serem ouvidos nem pela do homem, 15/07 e 19/11 respectivamente. PM, nem na delegacia, nem pela justiça. O interes- Dados divulgados pelo CRH mostram que desde sante é que os homens que passam pelo processo a inauguração do programa, mais de 800 homens reflexivo dificilmente irão voltar a agredir suas com- foram atendidos, em sua maioria, a faixa etária que

A AMAC tem crescido cada vez mais e, mesmo não tendo um local fixo como sede, vem conquistado notoriedade por conta da participação do Prêmio Cláudia, que tem o objetivo de descobrir e destacar mulheres competentes, talentosas, inovadoras e empenhadas em construir um Brasil melhor.

panheiras ou ex-companheiras”, comenta Paulo mais está presente no grupo é entre 31 a 40 anos César da Conceição, 43 anos, coordenador do CRH (29%), de cor branca (42%), e que abusavam da videsde 2011. olência física (61%). O tempo de relacionamento que existe mais problema é de 1 a 5 anos (25,5%), Dentro do programa CRH, existem três eixos de com renda entre 1 e 2 salários mínimos (37,5%), ações: Responsabilização Jurídica, Prevenção da Vi- além da escolaridade, que tem o fundamental inolência e por último Promoção da Saúde. completo sem sua grande maioria (34,3%). O primeiro eixo, trabalha sobretudo, com homens jurisdicionados - homens que respondem a processos de violência doméstica. Além disso, promove-se grupos reflexivos (quinzenalmente com duas horas de duração) onde este homem participará durante 6 meses e a discussão de temas como Lei Maria da Penha, Equidade de gênero, paternidade, crime, violência, respeito, cuidado, saúde, entre outros.

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Essa interatividade e atuação conjunta entre AMAC e CRH mostra os cuidados e a necessidade de trabalhar o homem, pois, a mulher que sofreu algum tipo de agressão pode até romper sua vinculação com o agressor, porém, este provavelmente fará outra mulher de vítima.


O LADO ESCURO DOS JOGOS ONLINE Assédio contra as mulheres é frequente no mundo gamer

Texto e Foto: Bruno Vinicius

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o universo atual em que a internet é parte essencial da vida das pessoas - desde as mais novas até as mais velhas que tentam se encaixar neste “novo mundo” - os modos não apenas de comunicação estão evoluindo, mas também os de se divertir. Saindo porém, da parte divertida dos jogos online e entrando na parte mais interativa que eles fornecem para seus jogadores, um ponto relacionado ao público feminino que se tornou comum no meio, mas ainda é pouco comentado, assusta se analisado com cuidado: o assédio que as mulheres recebem durante suas partidas.

A popularidade dos jogos online é tão grande que os torneios atualmente recebem, além de milhares de espectadores, telespectadores também, pois frequentemente eles têm sido transmitidos por canais de televisão como as partidas de esportes, com presença de narrador e comentaristas. Além disso, as equipes profissionais recebem salários e treinamentos diariamente para se qualificarem aos campeonatos continentais e mundiais. Adentrando nesse universo de jogos, algo que chama a atenção é o grande crescimento do público feminino tanto jogando quanto nos eventos. Em levantamento feito pela agência de tecnologia interativa Sioux, no início de 2016, as mulheres gamers já representam no Brasil 52,6% do público jogador. A redação foi até um evento destinado ao público cosplayer (pessoas que se fantasiam de personagens), nerd e gamer em Santo André, na região do Grande ABC e o que pôde se observar é que realmente as mulheres representam uma grande parte dos presentes. De acordo com a organização, o número de garotas todo ano aumenta.

Seguindo o panorama atual, os jogos online conquistam cada vez mais o gosto do público que inicialmente era basicamente composto de homens de 12 a 18 anos, e hoje em dia ultrapassa qualquer limite de faixa etária e gênero. Os eventos que reúnem gamers (nome dado às pessoas que jogam com frequência) estão cada vez mais lotados e não param de atrair mais gente. Milhares de pessoas se encontram não somente através dos jogos pela internet, mas também em estádios e ginásios que recebem diversos campeonatos dos jogos mais populares com direito a premiações em dinheiro bastante atrativas. Em estudo produzido pela PriceCharting, órgão

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EXPERIÊNCIA PRÓPRIA A CLOSE ERRADO entrou em dois jogos bastante populares com um perfil de personagem mulher para ter uma experiência mais próxima e o resultado foi assustador: em apenas 30 minutos online em cada um, homens ofenderam a perso nagem a culpando exclusivamente por uma derrota, escreveram comentários do tipo “vem até aqui em casa para a gente jogar no meu quarto o que você deve saber fazer de verdade”, “vai lavar a louça que você ganha mais”, além de mensagens pedindo que enviasse foto nua em troca de ajuda no game e insistentes pedidos de divulgação das redes sociais, muitas das vezes se referindo a personagem criada com termos machistas pejorativos. Se já esperando por essas reações nós da redação ficamos horrorizados com a experiência, imagina uma garota muitas vezes criança ou pré-adolescente que está ali somente querendo se divertir um pouco. reponsável por comparar preços de diversos jogos, se concluiu que jogando online as mulheres são 4 vezes mais propensas a sofrerem insultos em comparação ao sexo masculino, provando que o machismo e o sexismo estão impregnados na comunidade de games. O abuso pode se caracterizar de várias maneiras, as mais comuns são as ameaças e piadas de estupro, insultos físicos, insultos se xistas, pedidos de favores sexuais em troca de ajuda no jogo e o stalking, ato de descobrir a identidade da jogadora e persegui-la nas redes sociais. Baseado nisso, perguntamos às garotas que jogam online através das redes sociais e no evento gamer se elas já haviam passado por alguma situação de abuso e o resultado foi alarmante; das 78 que responderam à pergunta, 77 afirmaram terem sido vítimas desse tipo de violência. “É complicado ser mulher jogando, é cada absurdo que a gente é obrigada a passar só para poder se divertir que você até desanima as vezes”, citou uma estudante de 16 anos que pediu para não ter seu nome revelado. Como resultado dessa agressão, muitas mulheres deixam de jogar temporária ou completamente, ou então param de se identificar como de sexo feminino dentro dos jogos, além de passarem a se questionar devido aos insultos sofridos, podendo chegar ao ponto de sofrerem com depressão. “O assédio online como é mais evidente, mais agressi-

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vo, ele pode criar elementos que são mais negativos para a personalidade de quem sofre e muitas vezes tem a pessoa que comete esse assédio e divulga isso no mundo paralelo, na internet, o que cria um grau de repercussão muito maior ‘do lado de lá’, fazendo com que o abuso ganhe menções e características muitas vezes não dimensionados, acabam sendo mais propagados a gente pode dizer assim”, analisou o doutor Cristiano Nabuco, psicólogo comportamental e coordenador do Núcleo de Dependências Tecnológicas do PRO-AMITI do IPq-HC/FMUSP. Frente às agressões que sofrem o sexo feminino, muitos dos próprios homens confirmam que a sociedade gamer é machista e sexista, e alguns já sentiram na pele o que é passar por isso, como é o caso de Rodrigo Kovacs Bortoleto, analista judiciário, 30 anos, que contou sobre um caso que presenciou há alguns anos atrás jogando o jogo Ragnarok Online na conta de sua irmã de apenas 10 anos. “Eu estava lá jogando no perfil dela quando em determinado momento um cara começou a mandar mensagem dizendo que ela era gostosa”. Ainda segundo ele o agressor afirmou que a queria estuprar: “Não foi briga nem nada, mas ele começou a en cher a caixa de mensagens com coisas desse nível”. E uma das reclamações das pessoas é que não há muito o que fazer para se defender nessas situações: “O cara só viu a personagem feminina e mandou essas mensagens, se não fosse eu jogando, teria sido uma menina de 10 anos”, completou Rodrigo.


“Às vezes alguns rapazes mais novos me enviam mensagens de estupro pelo facebook. Então eu comecei a contar para a mãe deles.” Alanah Pearce via twitter.

O psicólogo analisou as causas deste abuso pela internet. “Quando eu converso com você ou com qualquer outra pessoa, você balança a cabeça, o interlocutor vai dando sinais corporais não-verbais e isso vai de uma forma ou de outra cadenciando a minha conversa, cadenciando a quantidade de informação. Quando eu estou na frente de um computador eu não tenho esse ‘feedback’, o cérebro naturalmente acaba criando um ‘exagero’ na quantidade de informação exatamente para segurar ‘o lado de lá’ e tentar compreender o que está sendo dito. Isso gera um exagero natural maior e acaba fazendo com que o indivíduo fique mais agressivo, mais sexualizado, mais insubordinado, é como se a personalidade que navega na internet não fosse sua, mas é uma personalidade tecnológica”.

chismo impregnado na história, as mulheres acabam sendo o principal alvo.

“As pessoas acabam preferindo as interações através da internet porque elas dão para essas pessoas mais liberdade, então nesse sentido muitas que apresentariam problemas na vida real, prefeririam navegar mais tempo porque ‘do lado de lá’ se sentiriam mais a vontade, mais livres para poder ser quem elas querem, fazer o que elas não conseguem. É como se mudassem ‘do outro lado’ porque lá é muito diferente... Existe um efeito de compensação, quanto mais a pessoa se modifica na vida digital, mais insegurança ela tem, menor é a autoestima dela. Tudo isso faz Alanah Pearce, uma gamer australiana que recebia com que o indivíduo acabe usando a reameaças de estupro pela internet ficou conhecida alidade paralela como forma de remédio”, em 2014 por encontrar uma saída no mínimo curio- avaliou por fim o doutor Cristiano. sa para rebater os comentários machistas e sexistas: ela entrou em contato com as mães dos garotos e A realidade é que as mulheres tomam cada mostrou as mensagens que eles andavam lhe envi- vez mais o seu espaço nos jogos online, ando na rede. O resultado seria cômico se não fosse mas assim como na vida real, a impunitrágico. As mães que responderam pediram descul- dade e a injustiça prevalecem, com a dipas pelos filhos que provavelmente pensarão duas ferença de que as autoridades ainda não se vezes antes de cometerem o mesmo erro novamente. importam com o lado escuro desse “munAinda não existe um estudo que tenha perfila- do paralelo”, tão conhecido como internet. do os agressores online, mas fato é que as pessoas na internet se sentem mais livres para fazerem o que sentem vontade e devido ao ma-

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HOMOFOBIA: SÓ O AMOR PODE CURAR Preconceito, violência e crimes de ódio

Por: Karina Matos

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ivemos em um ambiente de incentivo à aceitação crescente das diversidades sociais, culturais e econômicas. Mas ainda em relação às questões de gênero na maioria das vezes isso aplica-se somente na teoria. Em pleno século 21, ainda presenciamos cenas de violência que vão contra os direitos fundamentais do ser humano.

normalidade. O preconceito contra o homossexual foi uma herança deixada por uma sociedade paternalista, onde a figura masculina assumiu papéis rígidos e não lhe era permitido demonstrar afeto, pois se entendia que esse tipo de demonstração torna a pessoa afeminada e consequentemente, merecedora de desprezo, além de lhe expor ao ridículo.

Não é de hoje que o preconceito, a violência de gênero, o preconceito e o machismo, são vistos como uma postura considerada normal e aceitável em nossa sociedade, sendo que homem só pode se relacionar com mulher para não fugir à condição de

Essa forma de preconceito denomina-se homofobia, que significa antipatia, desprezo, aversão e medo irracional a pessoas homossexuais, bissexuais e, em alguns casos, contra transgêneros e pessoas intersexuais. A homofobia é observada como

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Foto: Karina Matos

“O instinto grita mais alto e a única reação é querer eliminá-las (vítimas) para a limpeza da sociedade” Carlos César da Rocha Souza

um comportamento crítico e hostil, assim como a cação em que foram criados e outros por simples discriminação e a violência com base na percepção desprezo social ao seu próximo. de que todo tipo de orientação sexual não-heterossexual é errada. Segundo o psicólogo João Alexandre Borba, a homofobia pode estar relacionada a desejos reOs homossexuais ainda são vistos por muitos como primidos, de forma que as reações dos homofóbianormais, libertinos, pecadores. Há várias causas cos são na maioria das vezes excessivas e difíceis para esse tipo de preconceito, uns baseiam-se em de serem controladas, porque derivam de um fundamentos bíblicos, outros pela modelo de edu- conflito interno, ou seja, essas pessoas não têm

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total convicção da sua sexualidade e diante disso eles precisam reprimir a homossexualidade dos outros a ponto de condená-la, persegui-la e reprimi-la se possível até fisicamente para conseguir conter a sua própria homossexualidade. De acordo com pesquisas realizadas pelo Estadão, em 2015, a violência praticada contra o grupo LGBT no Brasil é preocupante, podendo ser considerado um país campeão no ranking de homicídios de homossexuais, onde, para cada cinco gays ou transgêneros mortos no mundo, quatro são brasileiros, o que o coloca no topo dos países mais homofóbicos do mundo. O número de denúncias ligadas à homofobia cresceu 460% e foram registrados mais de 1.1100 casos de assassinatos somente em 2015. É praticamente impossível não mencionar o grupo dos skinheads quando o assunto é ataques homofóbicos. Os participantes desse movimento são conhecidos por adotarem visuais com roupas escuras, cabeças raspadas e por simpatizarem com o nazismo, sendo intolerantes com minorias, pregando o combate a negros, judeus, homossexuais e nordestinos.

de um bar onde estava com a namorada e com os amigos. Segundo ela, os agressores costumam frequentar lugares de preferência do grupo LGBT, para poder escolher suas próximas vítimas. Os agressores a seguiram até o carro e quando ela virou as costas foi surpreendida com ofensas, tapas, chutes e socos além de diversas fraturas pelo corpo resultando em uma internação longa no hospital. Após isso, Vanessa tem medo de expressar qualquer demonstração de carinho a sua namorada em ambiente público. As maiores sequelas não foram as físicas mas sim as mentais, causando pânico nela ao relembrar esses momentos de violência. A jovem relatou que ao realizar a denúncia, o caso foi arquivado só como mais um, não dando importância para o acontecimento e o tratando como irrelevante, como algo clichê e corriqueiro do cotidiano. O que ela não se conforma é o fato de grupos se aliarem para realizarem guerras e quando trata-se de amor haver tanto preconceito, olhares tortos e agressões.

“Os skinheads não têm total convicção da sua sexualidade e diante disso, precisam reprimir a homossexualidade dos outros” Dr. João Alexandre Borba Carlos César Rocha de Souza, ex participante desse movimento, quando questionado sobre a forma como tratam determinados grupos, afirma que o grupo não é apenas motivado por ideologias nazistas, mas sim por concepções históricas, onde os nordestinos sempre foram considerados exploradores, acredita-se que eles vêm para São Paulo atrás de uma vida boa.

De qualquer maneira, Vanessa não deixa de mencionar a importância da postura que a vítima deve adotar ao sofrer qualquer tipo de violência, seja ela física ou verbal, faz-se sempre necessário estar consciente sobre os direitos que se possui, além de denunciar às autoridades qualquer mínimo vestígio de preconceito antes que os homofóbicos se acomodem.

Os negros sofrem preconceito pelo fato de estarem sempre envolvidos com crimes e os homossexuais, prostitutas, drogados, etc por serem considerados aberrações da natureza, por quebrarem um paradigma imposto pela sociedade. E para ele, isso justifica a questão da violência, pois ao encontrar essas pessoas, o instinto grita mais alto e única reação é querer eliminá-las para a “limpeza’’ da sociedade.

De acordo com o psicólogo Borba, preconceitos nada mais são que reflexos da ignorância humana. São reações diante do que o ser humano desconhece, pois tudo aquilo que é desconhecido acaba assustando, incomodando e perturbando. Por isso se rejeita o que é diferente aos nossos olhos, que estão acomodados com a reação que temos em relação ao novo e ao diferente.

Vanessa Ferreira, estudante de jornalismo, de 19 anos, foi mais uma vítima de preconceito e acabou sendo agredida verbalmente e fisicamente na saída

Dá sempre mais trabalho conhecer algo novo e diferente do que permanecer com o que já se conhece.

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PAPÉIS IИVEЯTIDOS Como o machismo afeta negativamente os homens

Foto: Caio Pomin

Por: Caio Pomin

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le chega em casa após um longo dia de trabalho. Deixa o sapato na soleira da porta e corre para a cozinha. Tem menos de uma hora para comer e se arrumar para a faculdade. Não está em uma boa semana, tem problemas no trabalho e na família. Chora constantemente.

Está comendo quando mãe e irmã chegam. Automaticamente é questionado pelos olhos vermelhos e a face molhada. “Está chorando de novo? Isso não é coisa de homem” anuncia a irmã. Após alguns minutos é interrompido novamente. Precisa trocar uma lâmpada do quintal. “Tarefa de homem, meu filho. Sua irmã fez a parte dela hoje, já lavou a louça’’ aponta a mãe. Ele não concorda com essa diferenciação nas tarefas, mas não diz nada, isto já faz parte de sua rotina. Começou a trabalhar cedo, sempre foi mais cobrado financeiramente. Deve constituir uma família, ser o provedor da casa e ajudar nas tarefas físicas. Contudo, nunca quis ter filhos, quer ser professor e tem o corpo mirrado e fraco. Nunca se preocupou muito com essa cobrança, seus amigos relatam o mesmo. Ao contrário deles, porém, tem um temperamento diferente e começa a sofrer psicologicamente os efeitos das exigências para que seja o “homem da casa”, já que o pai mora em outra cidade. Ele não tem o que fazer. Conversas em família nunca suprem resultados. Considera-se vítima de machismo, mas não ousa buscar ajuda. Acha que se trata de um caso único. Só resta seguir em frente.

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A história fictícia supracitada reproduz uma postura relacionadas a masculinidade e virilidade”, explica conhecida em nossa sociedade, mas que não recon- Felipe de Souza. hece todas as suas vítimas. E parte também das mulheres. Com experiência Ao abrir o dicionário, descobrimos que ‘machismo’ clínica de 17 anos, o psicólogo Maier Augusto desté substantivo masculino; qualidade, ação ou modos aca: “Algumas mulheres se beneficiam de posturas de macho (‘valentão’); macheza; exagerado senso machistas na expectativa com relação ao homem de orgulho masculino; virilidade agressiva; compor- como o provedor, pagador de contas e até mesmo tamento que tende a negar à mulher a extensão de na questão sexual”. prerrogativas ou direitos do homem. Exemplos são mais comuns nas relações matrimoniA semântica nos explica bem suas características, ais entre homem e mulher. E ao contrário da espomas social e culturalmente o machismo adota outra sa, o marido não costuma buscar ajuda para superar definição. Ainda é visto, sumariamente, como práti- esses dilemas. A aceitação do problema passa por ca masculina contra a mulher e os homossexuais. uma autocrítica e humildade em procurar auxílio profissional. Maier Augusto cita exemplos: “Eu tenNo entendimento da questão se faz presente uma ho pacientes que têm uma relação diferente com relação dúbia entre traço cultural e transtorno com- suas companheiras. Ela trabalha, e ele fica em casa. portamental, é o que explica o psicólogo Felipe de E mesmo com as coisas organizadas eles se sentem

“Algumas mulheres se beneficiam de posturas machistas na expectativa com relação ao homem como o provedor, pagador de contas e até mesmo na questão sexual”. Dr. Maier Augusto

Souza, doutor em Psicologia da Religião. “O machismo passa por questões culturais. Um homem não nasce, por exemplo, pensando que é mais função da mulher, do que dele, cuidar dos filhos e dos afazeres domésticos. Esse tipo de crença não se sustenta numa perspectiva biológica, mas sim porque ele aprendeu isso com seu meio cultural” o psicólogo aponta a contradição: “Mas pode se fazer presente em um transtorno comportamental, visto que este, por sua vez, se expressará dentro de uma determinada cultura e em condições específicas. Se você aprendeu e vivencia a ideia de que um homem de verdade não pode chorar, pedir ajuda ou demonstrar fraqueza, isso terá um impacto maior dentro de um transtorno depressivo”. O senso-comum nos deixa de fora de um entendimento mais contemplativo do tema. O machismo pode afetar homens independente de suas respectivas sexualidades: “O machismo afeta os homens na medida em que se criam normas de conduta

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culpados. E normalmente eles não têm muita tranquilidade para dividir isso com outras pessoas”. O tratamento psicológico nos casos de machismo é conhecido e pauta-se em uma abordagem conscientizante, que mostra ao homem que uma prática machista faz mal a sua companheira e a si mesmo. “Tratamento no sentido de autoconhecimento, de fazer com que o sujeito faça uma distinção dele mesmo acerca daquilo que lhe é imposto socialmente e, muitas vezes, gera incômodo, sofrimento e dificulta sua relação com outras pessoas” aponta Felipe de Souza. A metodologia se aplica a perturbações contra homens e mulheres, heterossexuais ou homossexuais, e pode ser aperfeiçoada no diagnóstico de casos de machismo que partem das mulheres. Nesse sentido, o comportamento independe do sexo ou do gênero.


Por uma questão histórica, é evidente que mulheres tendem a sofrer mais – inclusive fisicamente – com essas práticas, e não há uma tentativa de equiparação desses casos de violência. Na verdade, como exemplificado, a maioria dos homens deixa de lado o tema, e muitos se abstêm de participar de movimentos ou apoiar causas feministas.

da família, arcar com tarefas que exigem um maior esforço físico, e adotar uma postura firme e austera – sobretudo em questões emocionais. Tal responsabilidade ignora por completo quaisquer traços de personalidade que difiram desses comportamentos.

O resultado, no caso homem-homem, é de xingaA passividade do homem no debate resulta em mentos homofóbicos e referências a uma suposta opiniões divergentes. Victor Augusto Vasconcellos, postura afeminada do referente. um dos fundadores da página ‘Moça, Você é Machista’, esclarece: “Acredito que seria fundamental existir Para muitos, chorar é sinônimo de fraqueza. E se momentos de diálogo em relação a masculinidade dizer emotivo é eufemismo para gay. para construir coisas para além da masculinidade hegemônica, porém acredito que certos espaços de Talvez o machismo esteja personificado na desigualdebate realmente devem ser restritos a mulheres, dade nas relações matrimoniais, em que o homem por conta as vezes de violências sofrida por com- ou a mulher acabam adotando a posição de subpanheiros e de um empoderamento diferente. En- missão. Ou talvez o machismo seja mesmo essa tretanto, creio que homens poderiam se organizar diferença entre os sexos na hora de se relacionar.

Para muitos, chorar é sinônimo de fraqueza. E se dizer emotivo é eufemismo para gay.

para pensar nessas questões de gênero, na qual são perpassadas, machismo, homofobia, sexismo”.

Cada parceiro(a) busca um companheiro amoroso, psicológico e espiritual, mas, por característica da relação humana, acaba precisando liderar e chefiar Em geral, sites e movimentos feministas endossam de alguma forma. Esse comportamento pode ser as alegações que partem dos homens. Muitas ain- velado e intencional, mas está presente em muitas da somam vozes, e a maioria vê a situação como relações. incentivo ao movimento. Contudo, algumas ainda acreditam que o machismo não atinge de fato os Cabe a sociedade civil o debate do tema, não se eshomens heterossexuais. Victor Vasconcellos con- quecendo que o homem é na maioria das vezes o firma: “Pelo que conheço dos debates feministas maior algoz, mas também pode ser a vítima. muitas não acreditam que homens heterossexuais sofram machismo. Acredito que essa postura acaba por limitar o debate por conta dessas dicotomias homens (opressores) x mulheres (oprimidas) o que nem sempre segue essa lógica”. Casos de violência física são raríssimos, já que quando afeta os homens, o machismo se relaciona aos papéis designados pela cultura vigente. O papel do homem dentro de casa é tradicionalmente o de comando, ele deve provir pelo sustento financeiro

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VIOLÊNCIA EM OUTRO PLANO Agora a luta da mulher é contra o assédio na internet Por: Bruno Nascimento

Foto: Bruno Nascimento

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cyberbullying é o uso do espaço virtual para hostilizar pessoas. Entre as práticas mais comuns de cyberbullying estão a calúnia, difamação, injúria, além de ameaças, crimes que há muito tempo conhecemos off-line. O grande problema é que esse crime está cada vez mais recorrente. Segundo dados da ONU, 75% das mulheres já sofreu assédio ou abuso. Alguns casos mais estrondosos conseguem algum espaço na imprensa, porém, muito do que acontece é camuflado. Uma pesquisa feita pelos Institutos Avon e Data Popular no ano passado indicou que 30% dos jovens já repassou imagens de mulheres nuas. Em uma audiência em março deste ano, a advogada Gisele Truzzi ressaltou que as maiores vítimas da violência online são do sexo feminino, e a maioria dos perseguidores são do sexo masculino. Outra pesquisa desenvolvida em 2015, pela Intel Security realizada no Brasil com 507 crianças e adolescentes entre 8 e 16 anos, mostra que 66% já presenciou casos de agressões nas mídias sociais. 3% assumiram zombar da sexualidade de outra pessoa.

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Para a Delegada Juliana Lopes Bussacos, da 6° Delegacia de Defesa da Mulher, o grande problema dos crimes cibernéticos é consequência do mau uso da internet. Ela é categórica ao afirmar que a educação de base é fundamental para prevenir os crimes contra a mulher, “é importante que as crianças saibam respeitar as meninas desde pequenos, a educação das crianças e jovens é mais importante do que a criação de novas leis”. A delegada ressalta que a forma como os crimes virtuais eram enxergados está mudando, “hoje o crime cibernético, dependendo do caso é configurado como violência doméstica, portanto, deve ser denunciado”. Com nove delegacias espalhadas por todas as regiões da Capital, a Polícia Civil trabalha de forma integrada, compartilhando as informações de algumas investigações específicas. A Delegada Juliana alerta a importância do trabalho das delegacias da mulher: “Aqui é feito um trabalho especializado, desde o princípio, a maioria dos funcionários são mulheres, então desde a recepção, psicóloga, até as delegadas, todas as nove delegacias são chefiadas por mulheres”. Segundo a doutora essa formação das delegacias se deve para confortar a mulher, “As mulheres se sentem mais seguras falando com outra mulher, muitas vezes o dano causado foi muito grande, por isso algumas se sentem inseguras ao falar com outros homens”.

“É importante que as crianças saibam respeitar as meninas desde pequenas, a educação de crianças e jovens é mais importante do que a criação de novas leis.” Juliana Bussacos

A Estudante Ana Beatriz Souza, 22 anos, já foi vítima de crimes virtuais, critica como esse assunto é tratado de maneira superficial, “Há sempre quem me ataque pelo fato de ser feminista, alegando que toda essa revolta passaria quando eu encontrasse um namorado, o mesmo namorado que expôs minhas fotos quando a gente terminou. Quando você vai dar queixa de crimes virtuais, ele é arquivado como só mais um”. Ana diz que o cyberbullying é um tipo covarde de violência, e que o padrão de beleza imposto pela sociedade também é um fator negativo. Segundo ela: “Faz com que a mulher se sinta fragilizada, se valorize menos e se considere menos mulher. Diante disso, é mais fácil que elas sejam alvos de agressões e não denunciem”. Em maio de 2012 a atriz Carolina Dieckmann procurou a polícia pelo vazamento de 36 fotos íntimas, roubadas por hackers que ainda extorquiram a atriz. Em dezembro do mesmo ano, foi sancionada a lei que ficou conhecida como lei Carolina Dieckmann, que promoveu alterações no Código Penal Brasileiro, tipificando os delitos informáticos. O Deputado João Arruda (PMDB/PR) encaminhou ao Congresso Nacional em 2013 uma proposta cujo conteúdo prevê que a lei Maria da Penha (Lei n.11.340/06) seja estendida a crimes virtuais. Segundo o deputado, “qualquer divulgação de imagens, informações, dados pessoais, vídeos ou áudios obtidos no âmbito de relações domésticas, sem o expresso consentimento da mulher, passe a ser entendido como violação da intimidade”. A ampliação da lei é vista com bons olhos. Para alguns juristas é correta, no entanto ainda não foi aprovada.

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