Temas Contemporâneos
Geração _identidade de gênero
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Universidade Anhembi Morumbi | Curso de Jornalismo | 6º Semestre | Turma VO Manhã | 2016
A Homossexualidade nas grandes corporações no Brasil Executivos homossexuais de empresas de contexto internacional revelam suas experiências e suas batalhas para vencer os preconceitos no meio de trabalho.
expediente
Revista produzida por alunos do 6º semestre do curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi Reitor Prof. Dr. Paolo Tommasini
DANIELA LOURENÇO Redatora
Pró-Reitor Acadêmico Prof. Dr. Ricardo Fasti Diretor da Escola de Comunicação e Educação Prof. Dr. Luis Alberto de Faria Coordenador do curso de Jornalismo Prof. Ms. Nivaldo Ferraz
FLÁVIA FONSECA Diretora de Redação
Coordenador adjunto do curso de Jornalismo Prof. Ms. Alexandre Possendoro Professora e orientadora desta edição Prof. Ms. Maria Barbosa Redação e diagramação Daniela Lourenço Felipe Micalli Flávia Fonseca Gabriela Vasconcelos Juliana Buccolo Maria Julia Pessoa Mateus Guerra Imagem de Capa Maria Julia Pessoa Daniela Lourenço Modelo desta edição Tiago Minervino Data desta edição Novembro de 2016
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FELIPE MICALLI Editor Assistente
MARIA JÚLIA PESSOA Direção de Arte
sumário
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COMPORTAMENTO
De dia, João, e de noite, Maria Quando o profissional sai do armário
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EDUCAÇÃO Escolha profissional A decisão que contrapõe os padrões
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PERFIL Não basta ser Gay Evaldo Ribeiro: o fenômeno das madeixas
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CAPA Grandes corporações no Brasil Homossexualidade x Corporações
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ECONOMIA Perfil de consumo LGBT Público mantém mercado aquecido
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OPINIÃO Discriminação velada O preconceito que limita
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COTIDIANO As mulheres no mercado Diferenças persistem entre as mulheres
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comportamento
De dia, João, e de noite, Maria Como a orientação sexual pode interferir na postura do empregado em seu ambiente de trabalho Infelizmente para algumas pessoas não se trata apenas de uma letra de música de carnaval. Alguns homossexuais precisam se “adaptar” ao ambiente conservador do trabalho para evitar possíveis discriminações. O professor de educação física e administrador Ricardo Tavares é um exemplo desse homossexual que sofre discriminação e constantemente modula seu comportamento de acordo com o ambiente de trabalho que se apresenta. “Trabalho durante o dia como administrador de uma clínica de fisioterapia especializada em reabilitação. Nesse trabalho, eu mantenho uma postura mais séria. Algumas noites, trabalho como Professor do curso de Educação Física em uma Universidade. Aqui também procuro ser mais discreto.” Existem empregadores, ainda hoje, que se recusam a contratar homossexuais como seu colaborador, baseados na justificativa de que eles poderiam envergonhar ou até mesmo prejudicar a imagem da empresa. “As pessoas sabem que sou homossexual, mas em alguns dos meus trabalhos eu acabo sendo mais discreto”, confessa Tavares. Pesquisa realizada em 2015 pela Elancers, empresa da área de sistemas de recrutamento e seleção, mostrou que 11% das 1500 empresas ouvidas não contratariam homossexuais para determinados cargos, referindo-se a posições de liderança e nível executivo. Inúmeros são os aborrecimentos sofridos pelos homossexuais em seu local de trabalho: desde piadas pejorativas, isolamentos, insinuações e até mesmo agressões físicas. “Os ambientes de trabalho mais sérios preferem profissionais mais discretos”, relata Tavares. A nossa cultura por muito tempo segregou os trabalhadores homossexuais, criando tabus, gerando crendices e tratando-os até como doentes. É sabido que homossexualidade não é doença desde 1985, quando o Conselho Federal de Medicina a excluiu da lista de “doenças”
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Foto: Juliana Buccolo
Por Juliana Buccolo
Ricardo Tavares - 35 anos Administrador e Prof. de Ed. Física
do Classificador Internacional de Doenças – CID, tornando sem efeito o código 302 que considerava a homossexualidade como desvio ou transtorno sexual. “Na clínica e na Universidade acabo sendo mais sério do que normalmente sou para evitar problemas. Na Academia, as pessoas estão mais acostumadas com os homossexuais, principalmente sendo professor de ginástica. ” Segundo Rita de Cássia, gerente de RH da Samhi, empresa especializada em terceirização de mão de obra, muitos homossexuais preferem não revelar esta condição no momento da contratação e procuram ser discretos. “Apesar de não questionarmos os entrevistados sobre sua condição sexual, vemos que, para muitos, isso é uma preocupação. Acredito que eles tenham receio de serem desclassificados em razão da homossexualidade.” Ela acrescenta que já teve que substituir alguns de seus funcionários a pedido dos tomadores de serviço, provavelmente por esta razão. “ Já tivemos casos em que a empresa solicitou a substituição de um funcionário homossexual, insinuando que este seria
comportamento
Foto: Juliana Buccolo
o motivo, mas de modo velado, nada declarado diretamente. ” Para ela, os empresários precisam saber que a orientação sexual não define o caráter de uma pessoa. “Ela nada mais é do que um direcionamento do desejo afetivo de uma pessoa para outra do mesmo sexo que o seu, e nada implica em competência, talento ou disciplina.”
Ricardo Tavares dando aula na academia
educação
Quando a identidade de gênero interfere na escolha profissional Depois do ensino médio, qual deve ser o primeiro passo a ser dado para a escolha da profissão? Por Maria Julia Pessoa
Ao passar dos anos as mulheres vêm conquistando espaço em diversas áreas na sociedade. Foi o tempo em que elas tinham como papel e obrigação cuidar do lar, cuidar de seus filhos e marido e todas aquelas atividades domésticas. Cada ano e avanço da sociedade não só as mulheres (heterossexuais), mas também os homossesuais, transexuais e drags, estão ganhando ainda mais espaço e sendo ouvidos em diversas áreas. Chega uma fase de nossas vidas onde começamos a pensar e planejar nosso futuro profissional, nossa carreira. Na nossa adolescência e enquanto estamos no ensino médio já há vários questionamentos sobre o futuro profissional, somos influenciados o tempo todo, escolher determinada profissão por hobbie, pela influência de seus pais, tios(as), primos(as) ou até mesmo por alguém que você admira muito seja essa pessoa famosa ou não, ou quem sabe pela procura mercadológica ou por questões de gênero. Quando começamos a formar nossas opiniões somos capazes de pesquisar e procurar a fundo o que mais nos atrai, o que mais nos identifica e nos representa. Antigamente as profissões se separavam entre o Feminino e o Masculino, mas ao longo dos anos o cenário vem mudando e a integração e interação entre diversas áreas vêm acontecendo. Hoje é possível nos depararmos com profissões que talvez no passado consideraríamos como Masculina, como exemplo, motorista de ônibus, onde agora uma mulher comanda perfeitamente. Isso nos faz pensar o quanto podemos evoluir e deixar de lado os padrões sociais.
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Foto: Maria Julia Pessoa
educação
Foto: Maria Julia Pessoa
Caroline Alberghini é aluna de Aviação Civil
Foto: Maria Julia Pessoa
Cainã, é formado em Design de Moda pela Universidade Anhembi Morumbi e docente no SENAC
Pedro Rosa, docente no curso de Produção Musical na Universidade Anhembi Morumbi
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“Nunca tive contato com aviação antes de escolher o curso, então quando decidi que essa seria minha profissão, meus pais tiveram um pouco de medo pelo risco diário que o serviço expõe. No início sofri muito preconceito, machismo, situações difíceis colocadas por colegas de trabalho. Eles sim são o principal obstáculo da profissão, as piores situações, fazendo questão de tornar seu dia a dia mais difícil, isso pra ver se você desiste e fica esse conceito de profissão masculina, desnecessário. O dia a dia e crescimento no trabalho já provam a capacidade da mulher seja em qualquer profissão que venha a atuar.”
“Aos 7 anos me interessei, mas foi muito por curiosidade, copiei alguns looks de revistas de moda e arquivei. Ao terminar o 3º ano do ensino médio prestei vestibular na Anhembi e consegui bolsa de estudo. Na área de criação não há muito espaço para julgamento até porque é preciso de referência criativa, então acabei não sofrendo com a escolha que tomei. Em relação aos meus pais e familiares também não fui repreendido com a minha decisão, pois, meus pais são do meio artístico, minha mãe atriz e meu pai musico. Mas o meu contato com a identidade de gênero veio após a faculdade, onde eu passei a pesquisar e buscar informações em blogs e vídeos de drags e trans. E toda essa pesquisa acabou ajudando no momento em que fui para a sala de aula repassar para os meus alunos essa referência e questionamento.”
“O mercado vem se expandindo, aos poucos. Talvez na área de produção, de fato falta mulheres, mas podemos observar que no meio artístico e musical as mulheres estão se destacando. Em sala infelizmente a procura das mulheres pelo curso ainda é pouca mas, mesmo sendo minoria, são dedicadas e competentes para exercer a mesma função que a de outro aluno do sexo masculino, assim quebrando a barreira de profissão masculina e feminina. Ao iniciar o semestre é perceptível que as meninas fiquem juntas, em grupos ‘fechados’ mas ao decorrer do curso elas vão se integrando ao restante da sala, na sua maioria homens, mas não há preconceito, pelo contrário é uma troca de conhecimento e aprendizado.” Diz pedro Rosa, docente no curso de Produção Musical.”
perfil
Não basta ser gay
Salões de beleza abrem as portas para homossexuais com competência Por Felipe Micalli
precisamos esconder a nossa opção sexual, não existe rejeição ao cabeleireiro gay, é natural ser homossexual nesse meio. Somos admirados e valorizados pelo nosso trabalho”. Ele, que já trabalhou como atendente em loja, não teve dificuldade em conseguir seu emprego no salão, mas salienta que precisou se especializar e fazer cursos para entrar nesse ramo assim como todos os outros cabeleireiros bem-sucedidos e que não são homossexuais. “ Não basta apenas ser gay para ser um bom cabeleireiro”, completa Evaldo.
Foto: Felipe Micalii
Quando se fala em mercado de trabalho para o público homossexual, a profissão de cabeleireiro ainda é uma das mais comuns. Não existem estudos científicos que comprovem, mas é o que podemos constatar na maioria dos salões de beleza a ponto de mesmo aqueles que não fazem parte deste grupo, serem considerados homossexuais. Algumas empresas evitam contratar homossexuais, por diversos motivos, entre eles, por medo de afastar clientes preconceituosos, o que não acontece nos salões de beleza onde o profissional “gay” é muito bem aceito. Para a proprietária do Studio Tez, Marcela Sutto, que possui a maioria de seus profissionais gays, a escolha do funcionário para exercer a função de cabeleireiro, é pela capacidade e competência dele e não pelo fato de ser homossexual, mas eles realmente têm aptidão de trabalhar nesta área, além de se sentirem muito à vontade no ambiente dos salões de beleza. SegundoMarcela, outro fator que leva os gays a procurarem por esse mercado de trabalho, é pelo fato de eles serem muito bem aceitos pelos clientes. As mulheres gostam bastante de serem atendidas por eles, sentem mais afinidades com os gays, e como disse a cliente Silvana, “ eles são mais sensíveis, entendem melhor a importância que damos aos nossos cabelos e o que nós queremos fazer para nos sentirmos mais bonitas”. Atualmente, os homens, que estavam acostumados a terem seus cabelos cortados na barbearia, também aceitam bem os cabeleireiros gays, somente os adolescentes meninos é que ainda têm um pouco de receio de ter um “gay” cuidando de seus cabelos. Para esses profissionais, a escolha dessa profissão é, além de tudo, por afinidade, mas Evaldo, que já trabalha há muitos anos no Studio, confessa que o ambiente dos salões também influenciou muito na sua escolha. “Aqui, não
Evaldo Riveiro não esconde a sua opção sexual
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cotidiano
O desafio das mulheres no mercado de trabalho Apesar da evolução, desigualdades persistem entre o público feminino Por Daniela Lourenço
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cado de trabalho, mas que uniu forças a sua família para chegar ao seu objetivo: “Sempre quis ter minhas coisas sem ter que ficar pedindo. Comecei como auxiliar, não tinha nenhuma experiência, por isso tive que me adequar a cada situação no tratamento para com cada criança. A partir disso, abri mão do meu tempo livre para me aprofundar na educação infantil, estudei, fiz cursos e a cada dia busco me atualizar, acho que vivemos numa época onde não podemos ficar esperando por uma só pessoa, mas se quisermos ter uma vida melhor, temos que juntar forças para conquistar. ” O argumento da coordenadora prova que no quesito autodesenvolvimento as mulheres também estão na frente, porque os dados acima comprovam o quanto elas têm se preocupado com o grau de instrução para dar o estandarte em suas carreiras. “O nível de ocupação feminina vem em uma tendência forte de crescimento. Isso também é resultado do grau de instrução, que é mais alto entre as mulheres”, destaca Ana Santos.
Foto: Daniela Lourenço
O tempo em que a Amélia cantada por Mário Lago era a “mulher de verdade” ficou para trás desde que, nos anos 70, filhas e esposas das famílias brasileiras trocaram o fogão por trabalhar fora. A dona de casa tradicional é um modo de vida em extinção no Brasil, segundo pesquisa feita pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), a participação da mulher no mercado de trabalho alcançou 42,79%, um crescimento médio de 1,34%, com relação aos homens. Para Ana Santos, consultora de recursos humanos da empresa de serviços terceirizados Samhi, as empresas em sua maior parte buscam profissionais flexíveis, que consigam manter o foco sobre pressão para atingir resultados. Segundo ela, “em geral, as mulheres são melhores em processar e executar tarefas detalhadas e pré-planejadas, isso pode explicar o fato delas ocuparem cada vez mais nichos masculinos, e de elevado grau de responsabilidade”, explica. Ainda segundo a pesquisa RAIS em um recorte de gênero feito em 2013, os dados evidenciaram que o nível de emprego da mão de obra feminina cresceu 3,91%, uma diferença de cerca de 1,34 pontos percentuais a mais que o sexo oposto, que ficou com2,57%. Os dados ainda revelam que o rendimento masculino cresceu um percentual inferior ao público feminino, enquanto que eles cresceram3,18%, elas obtiveram média de 3,34%. Assim de forma gradual a mulher vem conquistando espaços significantes no mercado de trabalho, isso explica os 58,93% alcançados na pesquisa apontando a crescente exponencial do “sexo frágil” nos níveis de instrução superior. Marisa Batista de Souza tem 37 anos de idade e é coordenadora pedagógica há mais de três anos, ela explica que teve um início difícil no mer-
Ana Santos, consultora de Recursos Humanos há dois anos na empresa de terceirização de serviços Samhi
Foto: Daniela Lourenço
cotidiano
Marisa Batista de Souza aos 37 anos, comemora o sucesso profissional como coordenadora pedagógica há três anos
O outro lado da batalha... Mas, se por um lado vemos a participação feminina ativa, com seus avanços e conquistas, do outro destacam-se as desigualdades, preconceitos e até mesmo o assédio, que mesmo de forma lenta vem se alastrando pelo mundo. As mulheres sofrem mais do que os homens com o estresse de uma carreira, pois as pressões do trabalho fora de casa se duplicaram. Elas se dedicam tanto quanto o homem em suas funções e quando voltam para casa, instintivamente dedicam-se com a mesma intensidade ao trabalho doméstico, embora alguns homens ajudem com essa parte. Aos 25 anos de idade, Mariana Mota comemora o crescimento de sua microempresa no ramo de venda de cosméticos. Há pouco mais de um ano como microempreendedora individual, ela conta que sofreu no início, pois fazia dupla jornada, e entre seu trabalho formal e as vendas ela ainda conciliava os estudos. “No começo foi difícil, porque iniciei minha jornada no mercado de trabalho cedo para ajudar nas despesas de casa. Vi que
tinha potencial com vendas e investi. Aos poucos fui ganhando espaço, hoje tenho cinco funcionários e um negócio que vem crescendo dia a dia, ” comemora. Mariana também faz parte de uma estatística triste: a de mulheres que já sofreram assédio em seus locais de trabalho. Em todo o mundo, 52% das mulheres economicamente ativas já sofreram assédio, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho). “Houve uma vez em que fui assediada na empresa que trabalhei. Ele era meu superior direto, e a princípio cheguei a não crer naquela situação. Permaneci séria, descrente, mas profissional. Depois disso pedi para mudar de equipe, ” desabafa a microempreendedora. O assédio é crime no Brasil desde 2001, quando ficou estabelecida pena de um a dois anos de detenção para quem praticar o ato, mais um alerta: isso só acontece se a vítima conseguir provar o ocorrido. “Eu não levei adiante a conduta dele, pouco tempo depois eu saí para trabalhar por conta. Não tinha mais clima nem vontade de ficar lá. Hoje sou a patroa (risos!), e dois dos meus funcionários são homens. Acima de tudo priorizamos o respeito e profissionalismo uns com os outros. Cresci com essa experiência, e hoje sou feliz e realizada em tudo. Conheci meu marido, e compartilhamos a nossa maior conquista e sucesso: o Lucas, o nosso filho que nascerá em breve, ” conclui. O assédio, dentre tantas lutas feministas são só a ponta do iceberg na luta para o desenvolvimento de um país igualitário a todos. Ao longo dessas lutas travadas pelo sexo feminino, apesar da instrução e dados de pesquisas, o salário ainda não acompanha o crescimento que deveria, elas ainda ganham cerca de 30% menos que os homens exercendo a mesma função, ou seja, o grande desafio para as mulheres dessa geração é tentar reverter o quadro de desigualdade salarial entre homens e mulheres. “Durante muito tempo, as corporações entendiam que o fato do homem ser tradicionalmente o pilar de sustento não havia a necessidade de a mulher ganhar um salário equivalente ou superior ao deles. Acredito que essa questão tem fatores ligados não só a discriTemas Contemporâneos
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cotidiano minação sexual, mas também a diferença de papeis que homens e mulheres exercem na sociedade. É necessário ‘tirar a venda dos olhos’ e quebrar paradigmas da mulher que o mercado profissional tem desde o século passado”, finaliza Ana Santos. Hoje o perfil das mulheres é muito diferente daquele do começo do século, além de trabalhar e ocupar cargos de responsabilidade assim como os homens, ela aglutina tarefas tradicionais de ser mãe, esposa e dona de casa. Trabalhar fora do lar é uma conquista relativamente recente das mulheres, ganhar seu próprio dinheiro, ser independente e ainda ter sua competência reconhecida é pouco, mas motivo de orgulho para todas.
Foto: Daniela Lourenço
“É necessário tirar a venda dos olhos e quebrar paradigmas da mulher que o mercado profissional tem desde o século passado”
A microempreendedora Mariana Mota comemora o sucesso profissional e pessoal
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A Homossexualidade nas grandes corporações no Brasil Executivos homossexuais de empresas de contexto internacional revelam suas experiências e batalhas para vencer os preconceitos Por Mateus Guerra
Apesar de estarmos vivenciado o crescimento das discussões sobre os direitos de homossexuais em nosso pais, com avanços importantes como o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, a adoção por casais homossexuais e direitos à previdência, direitos que geram uma vida mais igualitária, ainda predomina fortemente no Brasil o preconceito à diversidade sexual. E essa realidade se estende ao mercado de trabalho, onde a inclusão do LGBT enfrenta elevadas barreiras, muitas vezes insuperáveis, desprezando o que deveria prevalecer numa ocupação de vaga que é a competência e a qualificação do candidato. Conforme pesquisa feita pela empresa Elancers e divulgada pelo site da Globo, uma em cada cinco empresas brasileiras não contrataria homossexuais para suas posições. Entretanto, novos executivos, assumidamente homossexuais, com posturas mais bem resolvidas e abertas sobre sexualidade estão chegando em postos de comando e o ambiente corporativo, aos poucos, tenderá a se adaptar às mudanças
impostas pela sociedade. Richard Nelson, jornalista e sociólogo e vice-presidente de marketing da Turner, programadora de canais pagos como a Warner Channel, Cartoon Network, TNT e Esporte Interativo, comenta que ”o convívio na nossa empresa é muito bom e a sexualidade não parece como tema que impacta com os demais funcionários. Mas concordo que as empresas, notadamente no Brasil, possuem ambientes machistas que impactam nos homossexuais tanto homem como mulher. Creio que seja reflexo de uma cultura machista em que vivemos e não uma particularidade das empresas. Já ouvi e, inclusive, fui vítima várias vezes de assédio moral em algumas empresas por onde passei. Desde de pequenas piadas “ sem intenção”, até formas muito diretas de menosprezo com relação à sexualidade. Entretanto, isso nunca afetou minha performance como profissional”. A batalha para vencer o preconceito no ambiente de trabalho leva a grande maioria dos homossexuais a se “esconder no armário”, ou seja, omitir a sua sexu-
alidade. Deixar claro a opção sexual para os colegas de trabalho pode significar risco de perder seu emprego ou receber tratamento de rejeição, o que poderia transformar seu dia a dia horas de infelicidade. Segundo Tom Almeida, diretor e sócio fundador da consultoria Bold Ignition, que tem como escopo de trabalho o desenvolvimento humano, liderança e treinamento, coloca que “atualmente a grande maioria dos meus colegas de trabalho sabe da minha opção sexual, e os que não sabem, talvez seja pela falta de convivência. Eu não consigo editar esta informação, evitar falar sobre o tema, pois isto faz parte do que sou. Porém, houve um tempo, antes de sair do armário que eu escondia por medo de julgamento.” Para Nelson, “ter uma posição aberta traz prós e contras e entendo quando os colegas, em algumas empresas, não abrem essa informação. Acho que a “superação” depende muito da personalidade de cada um e da cultura onde se está envolvido. ” Em tempos de redes sociais, a exposição pelos diversos meios também tem dificultado muitos Temas Contemporâneos
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que a cultura é externa e coercitiva a nós e qualquer mudança é um processo social e histórico. Acho que o mais importante é que a transformação aconteça de forma social, de dentro para fora. Que a própria sociedade comece a recriminar o comportamento homofóbico e que isso gere um discurso social capaz de mover a cultura para a aceitação do diferente. Somen-
Foto: Mateus Guerra
profissionais a manter suas opções sexuais e ideológicas anônimas de suas incorporações. De acordo com o Sidnei Junior Baroni, gerente de vendas das lojas SEPHORA no Brasil, responsável por todo o negócio no pais, “não utilizo as redes sociais para levantar bandeira de qualquer ideologia seja para defender o homossexualismo ou qualquer tendência política. Compartilho de imagens de meus relacionamentos sem problemas, mas não no intuito de defender uma causa ou explicitar minha orientação sexual.” Mas a vida nunca foi fácil para nenhum executivo que tenha assumido sua sexualidade. Enfrentar discriminação por causa de sua orientação sexual em ambientes de trabalho é algo unanime entre eles. “Eu fui vítima de discriminação. Muitas vezes de forma velada. Mas como aprendemos ao longo da vida a desenvolver uma capacidade de percepção muito aguçada, até por conta da estratégia de sobrevivência, percebemos representações sutis de discriminação”, afirma Nelson. Para Sidnei, as piadas são sempre frequentes. E o que mudar para que o homossexualismo deixasse de ser um tabu nas nossas corporações? “Eu não uso o termo homossexualismo, pois ismo em grego tem conotações de enfermidade. Eu não sou doente. Eu uso o termo homossexualidade. Ao meu ver não existe uma única proposta que faça com que o tema deixe de ser tabu. Temos que entender
te a partir de uma mudança de postura sociocultural é que poderemos fazer com que os temas relacionados ás sexualidades sejam tratados com mais naturalidade e de forma igualitária no ambiente de trabalho. ”
TOM ALMEIDA Diretor e sócio fundador da consultoria Bold Ignition, atuante no segmento de Desenvolvimento Humano e Organizacional, Liderança e Treinamentos; único facilitador no Brasil certificado pela metodologia Play Your Bigger Game-Eua. Formado em Coaching e Leadership pela CTI – Coaching Training Institute - Eua, sendo a instituição reconhecida pela qualidade e rigor de treinamento.
RICHARD NELSON Jornalista e sociólogo e vice-presidente de marketing da Turner, programadora de canais pagos como a Warner Channel, Cartoon Network, TNT e Esporte interativo. É responsável pelas áreas de comunicação, pesquisa, inteligência de mercado e marketing para o consumidor da companhia.
SIDNEI JUNIOR BARON Gerente nacional de vendas da SEPHORA, responsável pela gestão e liderança de equipes. Controle financeiro, planejamento estratégico ede ações de vendas e marketing
economia
Perfil de consumo LGBT mantém o mercado aquecido
A comunidade homossexual constitui uma oportunidade de marketing para as marcas A indústria de confecção no país cada vez mais vem se desenvolvendo por vestimentas direcionadas a um público-alvo específico, o LGBT. O que resulta em um produto mais eficaz, aumentando o consumo. O público foi inserido no mercado do marketing na moda, pois ele faz parte da grande parte consumidora do país e é um dos que mais consomem e gastam com marcas famosas hoje em dia, principalmente pela maioria não terem filhos e possuírem uma renda para si mesmo. De modo geral, a inserção desse público diversificado, está aumentando a economia, já que este o grupo gay gasta 30% a mais do que héteros, segundo pesquisa da consultoria InSearch. O grande desafio é justamente como estabelecer essa comunicação e agregar ao negócio valores que se identifiquem com os desse público. Diferente de outros segmentos do mercado de trabalho, algumas lojas preferem a contratação de vendedores homossexuais para suas marcas. Muitos afirmam que eles trazem segurança e bem-estar na hora da compra, já que muitas vezes vendedores heterossexuais ficam sem graça ou desconfortáveis em atender um cliente homossexual, fazendo com que o
cliente não queira ajuda, desestimulando a compra. “O marketing de vendas pode não me influenciar para comprar aquela marca, mas ter vendedores homossexuais na loja me deixa mais segura. ”, diz Fernanda Razzo, 28 anos. O cabelereiro, Filipe Azevedo, 28 anos, afirma que as marcas atingem diretamente na hora de comprar através do ambiente, que proporciona segurança e aceitação, uma vez que o público da loja e os vendedores são da mesma condição sexual e usar a marca te faz parte dessa aceitação. “Indiretamente somos influenciados por propagandas e anúncios que mostram que a marca está aberta para você, outro fator que pode influenciar é o feedback positivo de pessoas do seu grupo social na hora de comprar. ”, afirma. Este mercado cresce devido a esse público ter muita preocupação com sua vestimenta e aparência. O progressivo mercado da moda no público gay se torna um segmento promissor em potencial, assim as grandes empresas veem cada vez mais necessidade de inserção deste grupo. Suzan Moura, gerente da grife jovem John John, afirma que a aceitação para esse público é muito importante, principalmente quando
Foto: Gabriela Vasconcelos
Por Gabriela Vasconcelos
John John do Shopping Iguatemi é uma das principais lojas que atendem ao público de nivel A
você lida com os jovens. Então rompendo tabus e com grande poder de consumo, eles buscam se destacar e posicionar socialmente. Jonatas Soares, 40 anos, já trabalhou em grifes como Giorgio Armani, Empório Armani, Crawford, VR, que lida com o público A e B. Segundo ele, as lojas já tem o estilo do público gay, mais modernos, ajustados e caimento perfeito. E isso ajuda na hora das vendas, mesmo com o preço alto, pois eles não medem esforços para gastar. Não só na moda, mas são várias as áreas que têm dado preferências em contratar o público LGBT, como em baladas, agências de turismo e o e-commecer. Já que são consumidores que também estão atentos ao mercado e com interesses diversificados, além de bom poder aquisitivo, fiéis às suas marcas preferidas e muito interessados em inovação. Temas Contemporâneos
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opinião
Sobre a discriminação velada... Por Flávia Fonseca
Fotos: Flávia Fonseca
Há alguns anos, o debate público a respeito de direitos da comunidade LGBT tem sido intenso. Apesar do avanço importante no reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, nos últimos anos, uma catástrofe chamada homofobia vêm se alastrando por todo o canto, inclusive no ambiente de trabalho. Duas jovens recentemente. Perderam seus empregos por terem “saído do armário”. Mesmo com o grau de instrução, experiência profissional e tempo de trabalho de cada uma, esses fatores não foram suficientes para que Juliana de 23 anos e Bianca Miguel de 22 anos evitassem a chamada discriminação velada. Infelizmente, não podemos negar que a homofobia está presente em nosso país. Os homofóbicos partem de todos os lados, desde uma palavra vulgar a assassinatos. A discriminação velada não acontece com agressão, xingamentos ou com a demissão propriamente dita, mas sim, quando o indivíduo se vê obrigado a esconder sua vida. Existe uma resistência contra os novos caminhos, famílias e aos novos profissionais que estão se formando no Brasil e no mundo. Ser homofóbico é uma opção, o problema é quando o respeito à dignidade e aos direitos humanos constituídos são jogados no lixo.
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Juliana comemora a nova fase profissional após sofrer preconceito
Noiva, realizada e feliz: Bianca uniu forças a companheira para vencer o preconceito
Não sou especialista no assunto e não consigo entender como a opção sexual de alguém pode interferir no campo profissional dela, aliás, não há razão nisso. Acontecimentos como este tem que chocar, tem que fazer reascender dentro de cada um que acredita na igualdade, o desejo e a força de lutar além de suas possibilidades. Sinto uma dor profunda e um sentimento ainda maior: a impotência diante de situações como essas. Coloco-me no lugar dessas pessoas, das novas famílias que vem sendo formadas e acima de tudo, daqueles que pedem o mínimo que já deveriam ter, o respeito. As corporações tem um discurso de responsabilidade social e de inclusão das minorias, mas ao ouvir um homossexual descrever a vida corporativa, tudo muda de figura. Sei que infelizmente muitas Julianas e Biancas surgirão, mas espero e quero acreditar que amanhã acordarei em um mundo melhor para todos, mais igual, justo e humano. Espero ler nos noticiários pela manhã que essas garotas e garotos da nova geração e principalmente as novas famílias e profissionais vencerão a batalha contra o preconceito.
ANÚNCIO
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