Revista Para Todxs

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Temas Contemporâneos

MODA SEM GÊNERO Tudo que você precisa saber sobre o movimento SERGINHO ORGASTIC! Por dentro da vida do ex-bbb

Bate bola EXCLUSIVO com Rodrigo Martins e sua vida após sua transformação

Ed 01 Dezembro 2016

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expediente Revista produzida por alunos do 6º semestre do curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi

JONAS NETTO Social Media, estudante de jornalismo e entusiasta da arte

Reitor Oscar Hipólito Diretor da Escola de Comunicação e Educação Prof. Dr. Luis Alberto de Faria Coordenador do curso de Jornalismo Prof. Ms. Nivaldo Ferraz Professores orientadores Prof. Ms. Maria Cris�na

LEVI OLIVEIRA Fotográfo, estudante de jornalismo, 21 anos e a�vista LGBT

Redação e diagramação Jonas Ne�o Levi Oliveira Marcella Lazzari Roberta Tuma Data desta edição Novembro de 2016

MARCELLA LAZZARI Gerente Comercial da Ellus e aventureira

ROBERTA TUMA Estudante de Jornalismo, apresentadora e apaixonada pela vida

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editorial

A cada mês a revista Para Todxs procura trazer novidades e atualizações a cerca do mundo da moda para o nosso co�diano para leitores de todos os gêneros e, esse mês, não foi diferente. Na procura pelo novo, inovador e da qualidade, trouxemos nessa edição assuntos que vão desde o mundo fashion até temas sociais. Textos que trarão reflexão e diversão a todxs que es�verem dispostos a conhecer um pouco mais a cerca dessa universo. Nossos repórteres prepararam matérias que tratam de assuntos da atualidade e que estão sempre em voga, como a metrossexualidade, igualdade de gêneros e movimentos sociais e, finalizando, temos um ar�go e uma crônica que trará uma ó�ma reflexão sobre a sociedade atual e como temos criado nossos filhos. Agora que você leu uma pequena introdução a nossa revista, apenas nos resta dizer: APROVEITE, afinal essa revista foi feita para Todxs.

Por Levi Oliveira

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sumário

PERFIL Tudo sobre o Ex BBB Serginho Orgas�c Pág. 08

Moda para ela? Para ele? Que tal para todxs? Matéria de capa sobre a moda sem gênero Pág. 10

BATE-PAPO CABEÇA Uma entrevista exclusiva com o transsexual Rodrigo Mar�ns Pág. 14

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“Crianças Viadas” Uma crônica para lá de curiosa. Pág. 07

COMERCIALIZAÇÃO DE MOVIMENTOS SOCIAIS Em um país onde a desigualdade, o machismo e o racismo reinam, qual o súbito interesse das marcas por esses movimentos? Pág. 16

“VAIDADE É COISA DE HOMEM” A metrossexualidade vista pelos olhos dos homens. Pág. 05


metrossexualidade

VAIDADE É COISA DE HOMEM

Uma reportagem para acabar com o paradigma de que vaidade é só coisa de mulher. A princípio, alguém – que aqui poderíamos chamar de ‘meio desinformado ou distraído’ – poderia pensar que a metrossexualidade seria de um ataque sexual no metrô. Calma... Não se trata disso.

inglês metrossexual, de metro(politan), «urbano, citadino» +sexual, «idem». Seria de se supor que a metrossexualidade estaria apenas ligado à vaidade, que tem com uma das definições no Dicionário do Aurélio “sen�mento de grande valorização que alguém tem em relação a si próprio”. Mas parece que vai além disso. Parece não; o aumento ver�ginoso desse mercado e o grande volume de dinheiro movimentado vêm mostrando crescimento ininterrupto nos úl�mos anos.

O jornalista Mark Simpson, em 1994, criou o termo em inglês – “metrossexual” – para definir um determinado �po de consumidor. Consumidor? De produtos variados em sexshops? Não. Mais uma vez, não se trata disso. Este termo diz respeito não só o homem heterossexual vaidoso, mas o hipernarcisista vaidoso ao Foi-se o tempo extremo (indeem que apenas pendente da orias mulheres preentação sexuocupavam-se al). Ícones como com esté�ca David Beckham e beleza. Esse e Brad Pi� deespaço, antes screvem perfeitaocupado quase mente esse públique exclusivaco: um prato cheio mente pelo sexo para as indústrias. feminino, cada Em conversa com vez mais cede Kleber Nunes, 36, lugar a homens gerente comerque se preocucial, heterossexpam em ter uma ual e consideravaparência mais elmente vaidoso, saudável, ou, no ele cita que “as limite, buscar pessoas confuno corpo perfeidem pelo fato de to – os metrosnos julgar pela sexuais. An�gaaparência” quanmente, para um do perguntei se homem se senexis�a a relação �r sa�sfeito Fabrício Johann provando seu amor pela maquiagem de homossexcom a sua aparênualidade com metrossexualidade. cia bastavam uma Gille�e, a espuma de bar“Não quer dizer que só porque sou héte- bear e, talvez, uma loção após. A atual sociero e que gosto de me cuidar, sou gay”, afirma. dade em que vivemos parece impor uma certa Segundo o infopédia – Dicionários Porto Editora, metrossexual “é o indivíduo masculino, jovem, moderno e com elevado poder de compra, que habita um meio urbano, excessivamente preocupado com a aparência e o seu es�lo de vida. ” Gosta de se ves�r bem e de estar na moda. A palavra vem do

preocupação masculina com a aparência, coisa que an�gamente não era tão presente. Por isso, no final dos anos 1990, surge o termo metrossexual, que pode ser definido como o homem atual morador das grandes cidades que se

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Foto: Marcella Lazzari

preocupa e gosta de se cuidar. Entre outras coisas cuidam das unhas, das sobrancelhas, dos cabelos, da barba, fazem dieta, academia, etc. É um novo es�lo de vida. “Tenho muitos clientes que vem ao salão fazer hidratação no cabelo, unhas das mãos e pés. ” Conta Fabrício Johann, cabelereiro da zona sul de São Paulo. “Eles querem se cuidar”, afirma. Segundo pesquisadores, os grandes meios de comunicação nos massacram diariamente com publicidades, fotografias em revistas, jornais, cinema e televisão e, quase sem exceção, todas elas exigem que o protagonista tenha um corpo bonito, perfeito. Inclusive quando pergunto ao Bruno se ele cuida também de seu corpo, o mesmo me disse que “não deixo de lado minha academia e meus suplementos”. O metrossexual investe uma quan�a considerável de dinheiro em acessórios e roupas, principalmente, pois faz questão de sempre estar impecável. Para se ter uma ideia, de alguns anos para cá uma variedade interminável de itens direcionados especificamente ao público masculino foi desenvolvida e lançada pelas indústrias de cosmé�cos, no mundo.

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Fabrício Johann, cabeleireiro

Foto: Marcella Lazzari

Tanto isso é verdade que a venda de cosmé�cos direcionados ao homem teve um crescimento de mais de 20% nos úl�mos dois anos, enquanto que, no mesmo período, o resto do setor teve seu faturamento diminuído. Segundo uma pesquisa sobre os hábitos de consumo do homem brasileiro publicada pela a ABIHPEC – Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmé�cos, apontou que 43% dos homens entrevistados consideram-se supervaidosos. Kleber Nunes diz que se preocupa bastante com o espelho, “Compro produtos de beleza para melhorar meu visual”, conta. Entre as curiosidades apontadas pelo levantamento sobre os hábitos de consumo dos homens brasileiros a pesquisa também apontou que, apesar do aumento da procura por produtos especializados, eles ainda não estão sa�sfeitos com os itens disponíveis no mercado e buscam por mais opções de produtos para o cuidado com a barba, maquiagens com efeito corre�vo e cremes depilatórios para o corpo. O crescimento é tamanho que, se compararmos as vendas em 2014 de produtos esté�cos masculinos no Brasil com o faturamento do setor em 2009, teremos um aumento de 99,4%. Con�nuando assim, a vaidade masculina tende a abrir novos es�los de vida nas gerações que vem a seguir, conquistando cada vez mais espaço na sociedade.

Kleber Nunes, gerente comercial


crônica com pessoas do mesmo sexo. Pessoas que apontavam e riam de mim – as vezes na minha frente e as vezes pelas minhas costas.

Levi Oliveira quando pequeno, colunista No último dia das crianças as redes sociais foram à loucura com as fotos dos usuários quando eram menores; haviam crianças de todos os tipos, cores, tamanhos, trejeitos. Mas as fotos que mais me chamaram atenção foram as fotos das famosas “crianças viadas”. Como sou uma pessoa inserida no meio LGBT, eu entendi as brincadeiras que os rapazes gays estavam fazendo quando postaram as fotos mais afeminadas que tinham de quando estavam no primário, como, por exemplo, um grande amigo meu, Victor Rosa, que postou as fotos mais lindas que passaram pelo meu feed.

Com lagrimas nos olhos – e com ódio no coração –, rasguei foto por foto, até perceber que não havia mais nenhuma ao meu alcance que eu pudesse rasgar. Naquela época eu queria olhar para minhas fotografias e encontrar o que a sociedade esperava ver em mim, um garoto viril com "jeito de macho", que namora garotas e não são amigos delas. Dessa forma negava minha verdadeira natureza que, segundo eles, era algo feio, vergonhoso, nojento, desagradável... Eu precisava mudar, precisava me esconder e por grande parte da minha vida foi assim. Quando completei dezoito anos chegou o momento em que eu tive que escolher: ou eu dava um fim à minha própria vida (ideia que veio e vem muitas vezes na mente de um jovem LGBT) ou eu assumia quem eu realmente era e arranjava uma forma de ser feliz com isso.

Nelas ele demonstrava não se importar com nada ao seu redor, apenas sorria com seu ar espevitado de criança que já aprontava desde cedo. Pena que eu não pude acompanhar essa onda de fotos infantis, porque eu rasguei todas as minhas fotos que pudessem mostrar qualquer reflexo de feminilidade que existia em mim.

Hoje sou muito feliz com o resultado de tantas lutas e encorajo todxs a fazerem o mesmo. Já sofri muito por conta da minha aparência e pela minha forma de me portar, de um simples pulso desmunhecado até mesmo do meu andar mais “feminino”.

As rasguei na esperança que aquelas fotos estivessem mentindo e que o ato de rasga-las arrancaria de mim qualquer traço de "impureza" que existisse ali.

Gostaria que as crianças de hoje – e também as que estão prestes a nascer, como sobrinhos e os filhos que eu possa vir a ter – nunca precisem passar por situações parecidas e sejam felizes, da forma como for, sem que sejam julgados ou prejudicados por isso.

Não queria dar meu braço a torcer ou dar razão àqueles que diziam que eu era gay, afeminado, boiola, bixinha, le-viado (como era meu apelido naquela época) e outros termos pejorativos que são designados a homens que se relacionam afetiva e/ou sexualmente

Que não tenham suas vidas tiradas na calada da noite, saindo de um bar ou mesmo durante o dia, dentro de uma escola, simplesmente por serem diferentes do que o senso comum e nossa sociedade hipócrita e falida está habituada.

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perďŹ l

Serginho Orgastic! Um pouco mais da vida do ex-BBB antes e depois do reality show. 8


Foto: Marcella Lazzari

Morador do Morumbi, em São Paulo, o ex brother foi uma criança brincalhona na escola e sempre se sen�u diferente em relação às outras crianças. A descoberta sexual se deu no fim da adolescência, e o apoio da família veio em seguida, inclusive do irmão, “dez anos mais velho, advogado, “bombado”, professor de Aikido, o oposto de mim”, descreve. Do signo de peixes, Serginho se acha bem calmo e tranquilo em casa com seus pais, mas quando precisa, ele prefere ser franco e falar o que pensa, independente do que for. E apesar da aparência forte que ele passa, o es�lo de vida, suas roupas e sapatos caros, Sergio leva como lema de sua vida a seguinte frase: “A felicidade é a maior riqueza que temos”. Longe do que dizem por aí sobre sua personalidade, pessoas que convivem com ele dizem que seu coração é enorme, principalmente com seus fãs. E, para finalizar, em entrevista exclusiva, Serginho revela estar solteiro e a procura de alguém para dividir essa loucura que é viver! Serginho, ex bbb posando para selfie Sergio Luis cido como do Reality é um dos

de Ramos Franceschini, mais conheSerginho Orgas�c, 27, ex-par�cipante Show Big Brother Brasil 10ª edição, andróginos mais conhecidos do país.

Quando o assunto é moda, o “ex BBB” não falha. Ele gosta de se maquiar, abusa das escovas e chapinhas no cabelo, e, claro, veste-se mesclando as ul�mas tendências da moda, mas sempre com seu toque pessoal. Tem diversos piercings e tatuagens, adora posar para fotos com seu visual excêntrico, e tem a mania de sempre que avista um espelho, arruma seu cabelo, por mais impecável que ele esteja. Assumido pela sua androginia – mistura de caracterís�cas femininas e masculinas em um único ser, ou uma forma de descrever algo que não é nem masculino e nem feminino –, o que não lhe falta é coragem para fugir dos padrões e encarar as crí�cas alheias.

Foto: Marcella Lazzari

Sempre bem humorado, Serginho leva sua fama de forma leve e se preocupa ao máximo com seus fãs, fazendo-os ter o carinho e a atenção que merecem. Gay assumido, baladeiro, alterna�vo, o paulista vive de forma livre e gosta muito de conhecer novos lugares. Sergio virou celebridade primeiro pela internet, mas hoje sua fama já ocupa todos os meios de comunicação. Sendo convidado para par�cipar de programas na rádio, na Tv, e também revistas, jornais e afins.

Serginho, ex bbb 9


matéria de capa

MODA PARA ELA? PARA ELE? QUE TAL PARA

Conheça tudo sobre a moda sem gênero, a moda e tendência que Juliana de Lucena, estudante de publicidade aderiu para a vida Juliana de Lucena 10

Foto: Jonas Netto

TODXS?


Foto: Jonas Netto

O unissex nunca foi novidade. Graças ao legado deixado pela icônica fashionista, Coco Chanel, por volta dos anos 20, quando decidiu ousar ao traves�r roupas “masculinas” na silhueta feminina, iniciava-se um trajeto que, hoje, tomou proporções imensuráveis e uma discussão que vale nossa atenção. Com o surgimento de novas tendências, as peças unissex se intensificaram, trazendo consigo novos diálogos a respeito de uma moda cole�va. Confortável, agradável aos olhos, de grande es�lo e que encaixe-se em ambos sexos. Genderless, gender-bender, agender, plurissex são nomenclaturas que metamorfosearam o termo “unissex”, todavia, um em específico trouxe mais impacto e visibilidade à atualidade: a moda sem gênero. A moda sem gênero é mais que uma tendência fashion ou um hype do universo das grandes grifes. É um movimento. Movimento esse que frisa, de forma clara e pragmá�ca, a importância de desmis�ficarmos a ideia que existe roupa para homem e roupa para mulher. Afinal, por que não criarmos algo que ambos possam usar; que sintam-se bem e aconchegantes usando e, sobretudo, gostem do que vestem? Juliana, 22, apesar de ter descoberto o movimento este ano, diz que sempre foi adepta do unissex e que gosta mais das chuteiras surradas a sapa�lhas novas. De acordo com ela, as pessoas precisam parar de associar roupas a gêneros e vice-versa. “Por mais que eu seja mulher, uso roupas masculinas porque me trazem conforto. Isso gera olhares e con-

Mirelle Furlan, estudante de Publicidade strangimento, além de preconceitos e confusão. A luta contra esse es�gma é para que a criança, desde pequena, seja livre para escolher suas roupas sem pressão e coerção da sociedade; para que as pessoas se sintam mais à vontade ao ves�r o que lhes cai bem e entendam que roupa serve apenas para não andar nu, não passar frio e ter es�lo”, afirma Juliana. Mesmo trazendo um amplo universo de debate, essa abordagem ainda se diverge em instâncias e ques�onamentos que fazem parte de nossa criação desde quando nascemos; que implicam no modo como somos criados e, também, como enxergamos o mundo que nos cerca.

Foto: Jonas Netto

Tais debates giram em torno de indagações como: “por que um homem não pode usar uma saia se ele gostar da peça? ”, “por que somos incessantemente levados a acreditar em rótulos como ‘feminino’ e ‘masculino’? ”, “se uma mulher gostar de um ‘adereço masculino’ ela não pode usar, pois a sociedade pode julgá-la como masculinizada? ” . Mirelle, 21, se diz adepta da moda genderless desde sempre. Para a estudante, pouco importa o rótulo que é posto em cima das peças. Ela usa o que cai bem em sua silhueta, seja o que for dito como masculino ou feminino. Se ela gostou, é o que importa. A respeito do preconceito com suas roupas, ela Juliana de Lucena, estudante de Publicidade

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Foto: Jonas Netto Thalita Sewaybrick, estudante de Design de Moda

diz que já passou inúmeras vezes por situações capciosas, sendo, inclusive, até abordada para ouvir “você é uma moça tão bonita e tem um corpo tão bacana, para que usar uma calça de homem?”. “Eu acredito que seria incrível se fosse abolido a parte “feminina” e parte “masculina” das lojas, até porque as pessoas se sen�ram mais livres para usarem o que quisessem. Moda sem gênero é isso! É liberdade. É eu me olhar no espelho e gostar de mim, gostar do que visto, gostar de quem sou. A sociedade é muito doente por nos julgar por coisas tão supérfluas como a orientação, religião e até as roupas”, diz a estudante de Publicidade e Propaganda. Portanto, mais que uma inicia�va viável de criar uma moda conjunta, independente de rótulos, o movimento genderless visa também a ideia que cada um pode usar o que quer, desde que se sinta confortável com aquilo e goste do que usa. A estudante de Design de Moda do Senac, Thalita Sewaybrick, 20, quando ques�onada sobre o tema, se entusiasma.

um ves�do, que assim seja e que cada um se sinta bem com aquilo que mais gosta”, afirma Thalita. Para a es�lista, o mercado tem tragado essa ideia aos poucos. Tanto por preconceito, quanto por demagogia. Enquanto algumas marcas fingem que este movimento sequer existe, há outras que o evidenciam, mas não acreditam totalmente, o que as faz incen�var apenas para lucro próprio ou dizer-se “moderna”, todavia, a prá�ca é outra. “O medo de perder os clientes e se comprometer com algo que quebra tantos tabus enraizados, é o maior problema das lojas de departamento”, diz ela. Marcas como C&A e Zara já ousaram ao criar coleções ditas sem gênero, como a Coleção Tudo Lindo & Misturado que, nos comerciais televisivos, con�nha cidadãos festejando ao ves�rem roupas que não pertenciam aos seus devidos sexos. Homens de ves�do e mulheres com trajes masculinos, porém, tanto na loja online quanto �sica, as roupas ainda estavam segmentadas por instâncias masculinas e femininas, levando por água abaixo todo o discurso criado.

Por mais que a luta ainda tarde, o importante é “A moda é livre e as pessoas também. Vai de cada manter-se a�vo e engajado para desmascarar preum se sen�r bem com aquilo que lhe agrada e que conceitos e quebrar tabus. Em pleno século XXI, não os faça sen�r confortáveis. (...) A liberdade de ex- podemos nos deixar levar por dogmas tão retrógrapressão é um direito de todos os cidadãos e isso dos. Somos livres! Livres para amar quem queremos, se deve através de gostos musicais, da arte, polí�- seguir quem nos convém e usar o que achamos conca, cultura, religião e também através do vestuário. veniente. No final, ser feliz é o que mais importa. Se uma mulher quer usar um blazer, ou um homem 12


LOOKS PARA O DIA A DIA

Coleção Melissa 2016

Dicas de look sem gênero! Peças que valorizam a silhueta feminina e masculina, sem rótulos e cheias de es�lo. Aposte nessa tendência!

Fonte: Audaces - www.audaces.com

Fonte: Vila Mulher - www.vilamulher.com.br

Fonte: Vogue - www.vogue.com.br

Fotos: divugação

ROSA PARA MENINA E AZUL PARA MENINO: POR QUÊ? Desde que nascemos, somos orientados a acreditar que nos encaixamos em padrões. Discernimos o certo do errado, equivocado e coerente, coisas de menino e coisas de menina. Isso acontece com as cores. Desde a tenra idade, meninos são levados a acreditar que existem cores de menino, como verde, amarelo, mas principalmente o azul. Enquanto meninas, são induzidas ao rosa e lilás. Direcionamentos assim são capazes de frustrar as crianças nos es�mulos mais internos, como a capacidade de criação, desenvolvimento da imaginação e até mesmo a sexualidade. O movimento sem gênero incen�va desmis�ficação das cores. Somos livres para usarmos o que acharmos conveniente. Incen�ve seu pequeno! Deixe-o usar o que quer, da cor que for, e es�mule um crescimento mental saudável e seguro. 13


Foto: Roberta Tuma

O TRANSSEXUAL, DE 22 ANOS, CONTA OS PROBLEMAS QUE TEVE DE ENFRENTAR PARA ASSUMIR SUA NOVA IDENTIDADE E AINDA DÁ DICAS PARA QUEM ESTÁ PASSANDO PELA MESMA TRASIÇÃO.

Rodrigo Martins, transsexual

Foto: Roberta Tuma

RODRIGO MARTINS

bate-bola

“A minha felicidade é poder seu eu mesmo. Poder ser Rodrigo e vestir o que quiser e como quiser. É libertador.”

PARA TODXS: EM RELAÇÃO À MANEIRA DE SE VESTIR, COMO VOCÊ SENTIU SUA TRANSIÇÃO?

RODRIGO MARTINS: Quando eu morava com minha mãe biológica, não tinha essa liberdade. Ela rotulava meu guarda-roupa como achava que fosse certo pra mim. Tinha que me vestir como alguém queria e não como eu me sentia bem. Mas isso mudou depois que saí de lá, AOS 18 ANOS. Hoje eu posso usar o que quero e isso têm sido muito bom.

VOCÊ SOFREU ALGUM TIPO DE PRECONCEITO QUANDO MUDOU A MANEIRA DE SE VESTIR?

R: Inúmeras vezes. Principalmente quando cortei o cabelo. Muita gente questionou o porquê, disse que não precisaria mudar minha aparência já que eu gosto de meninas e não teria problema em ser uma. Mas a questão não era o gostar de garotas, mas sim, de não gostar do jeito que eu me encontrava. Não me sentia feminino, nunca me senti. Queria ter voz grossa, barba... mudar pra me sentir como eu achava que tinha que ser.

COMO VOCÊ SE SENTE AGORA QUE ASSUMIU UMA NOVA IDENTIDADE?

R: Bom, a maioria das pessoas tem um ideal de felicidade baseado em ter coisas como casa, um carro ou então ganhar na Mega Sena. A minha felicidade é poder seu eu MESMO. Poder ser Rodrigo e vestir o que quiser e como quiser. É libertador.

HOJE EXISTE ALGUM TIPO DE MODA QUE VOCÊ SEGUE? E O QUE PENSA SOBRE A MODA SEM GÊNERO? R: Não sigo moda. A MODA SEM Gênero É interessante, mas não tenho muito o que opinar. Cada um tem seu jeito de se vestir e sabe com o que se sente bem.

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Foto: Roberta Tuma Rodrigo Martins

COMO É PARA VOCÊ ARRUMAR UM TRABALHO, FAZER AMIZADES, NAMORAR DIANTE DO PRECONCEITO DA SOCIEDADE?

R: Tenho dois anos no meu trabalho atual, sou auxiliar, mas antes de estar lá, recebi muitas negativas por ser transsexual e não ter documentos trocados (sua identidade continua com nome de menina, o qual ele prefere não comentar). Quanto a amizades, tenho me dado bem. Nem todas as pessoas sabem sobre isso, e essas me tratam de forma comum como alguém ‘’qualquer’’, só questionam a minha idade. Já sobre namorar, é um pouco mais difícil, principalmente porque tenho um certo receio de revelar para alguém e a reação não ser tão boa assim. Reagir de uma forma que não me aceite.

COMO FOI PARA VOCÊ ENFRENTAR O PRECONCEITO?

R: Atualmente ainda enfrento, mas aprendi a ignorar, não dando ouvidos para essas pessoas. De um jeito ou de outro, o preconceito sempre vai existir. É preciso seguir em frente, é o que tenho feito com a minha vida.

O QUE VOCÊ AINDA ACREDITA QUE FALTA MUDAR NA SOCIEDADE?

R: As pessoas deviam esquecer de classe social, cor, raça e religião e prezar o amor. O mundo precisa disso. As pessoas precisam. Acredito que se o amor fosse levado em consideração, haveria um fim no preconceito, seja ele qual for e como for.

QUAIS AS DICAS QUE DARIA PARA AS PESSOAS QUE ESTÃO PASSANDO POR ESSA TRANSIÇÃO?

R: A palavra chave é paciência. Eu sempre prezo a ideia de que as pessoas devem lutar pelos seus sonhos e pra ser o que são. A vida é curta demais pra deixar de ser o que quiser pra ser o que querem que nós sejamos.

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reportagem

Comercialização de movimentos sociais Em um país onde a desigualdade, o machismo e o racismo reinam, qual o súbito interesse das marcas por esses movimentos?

Tem se tornado cada dia mais comum ver anúncios na internet, ou mesmo na televisão, que usam Ações Sociais para promover suas marcas. Essas ações, também conhecidas como “virais”, são uma das ferramentas mais utilizadas pelas marcas atualmente para ter seu nome reconhecido nas redes sociais e reforçar positivamente sua imagem. Para essas empresas, é interessante a ideia de que um cliente faça seu trabalho para divulgar para outros usuários, amigos e familiares os ideais e os supostos valores e representações dessa marca. Contado de maneira simples, o marketing, se bem planejado, tende a se aproximar da realidade do consumidor. Muitas fazem isso a fim de dar visibilidade e voz para esses movimentos, (como os movimentos feministas, negros e LGBT) para suas conquistas e reivindicações, e outras podem estar se aproveitando dessa oportunidade para atrair determinados públicos para sua marca e, através disso, gerar mais lucros sem, necessariamente, acreditar na mensagem que está transmitindo. Mas será que essa visibilidade é algo que pode ser usada como moeda de troca por essas companhias, que muitas vezes podem nem acreditar no movimento social que está divulgando? Essas ações sociais tendem a ajudar ou prejudicar esses movimentos sociais? Segundo a Professora Universitária Rose Naves, que leciona a matéria de Comunicação e Gestão da Informação em Empresas na Universidade Anhembi Morumbi, essa visibilidade pode, sim, ajudar esses movimentos, mesmo que com interesses mercadológicos por parte dessas

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empresas. Essa visibilidade tende a ajudar esses movimentos. “Mesmo que a empresa faça isso com fins mercadológicos, é ela quem está gerando uma contradição para si, porque se ela (empresa) discursa algo e pratica o contrário, ela que tem que prestar contas”. Para ela esse boom de ações sociais com interesses mercadológicos surgiu a partir da necessidade de resolver “questões sociais ainda não resolvidas”, que as pessoas (que estão representadas nesses movimentos sociais) estão mais passivas aos problemas sociais e querem respostas, que tendem a surgir a partir de uma organização social. “Elas querem uma participação maior (no meio social e na política). Elas querem ter sua voz ouvida”. Já para o Community Manager da empresa de cosméticos Avon, Caio Baptista, 25 anos, também responsável pela criação e planejamento de conteúdo, a diversidade infelizmente virou moda e isso se tornou uma realidade, mas defende que essa não é a visão da marca para a qual trabalha. Segundo ele, a marca segue o empoderamento de mulheres desde sua criação, e o principal fator é ter sido fundada no pós-guerra. “No entanto, a imagem da empresa, pelo menos no Brasil, havia perdido esse elemento que era tão importante e através de um alinhamento global isso foi retomado”. Recentemente a marca lançou diversas campanhas com artistas que levam uma mensagem empoderadora através de seus trabalhos, entre as quais estavam a dragqueen Lorelay Fox, a funkeira Mc Carol e a rapper Karol Conka. “O intuito é dar voz a quem faz um trabalho legal sabe!? Através da visibilidade. Mostrando que


existem muitas realidades por aí, não só a do privilegiado” E emenda “O conceito de beleza é amplo demais. Sabe o que tem sido legal? O mercado tem se motivado a sair do mesmo. Começam a surgir mudanças causadas por isso, mesmo que seja com pouca força no discurso. O bom disso (trabalhar na Avon) é quebrar o sistema de dentro para fora, espaços tem sido ocupados e outras marcas estão entendendo a necessidade da diversidade. São ações transformadoras que mexem com o todo. Casos como o da Vogue (que tentou retratar através de uma campanha que viralizou de maneira negativa ao tentar retratar atletas paraolimpicos com atores que não possuem qualquer deficiência física ou limitações) só reforçam a necessidade de se entender melhor os

façam bastante barulho”. Questionado se a empresa tem medo de perder públicos ao apoiar essas causas, Caio afirma que não tem tido medo e que o trabalho feito por sua equipe tem sido muito bem visto. A equipe, a qual ele se refere, é composta por dois gays, um negro (o próprio Caio), um “urso” e mais uma garota gorda nordestina, isso, segundo ele, auxilia na hora de criar conteúdo “porque não fica falso, entende!? Tem diversidade dentro e fora, assim não tem ninguém ocupando lugar de fala”. Ele conta, também, que no dia das mães a diretora de arte era mãe, no dia da mulher, todas as decisões foram femininas, tudo ligado a negritude quem decidiu é ele e por aí vai.

MONTAGEM FEITA PELA INTERNET

conceitos. Mensagens rasas encontramos sempre, até que todo mundo entenda”. Perguntado de onde surgiu a iniciativa, Caio reafirma que esse é o posicionamento Global da marca e que dentro disso eles tem uma liberdade criativa que os permite trabalhar da forma que quiserem para produzir as campanhas. O retorno do público para a marca tem sido bem positivo. “Tem quem ame e tem quem odeie. Tem sido uma parada um pouco complicada, mas normal por conta de nem todo mundo estar no mesmo nível de desconstrução”, afirma. “ (Não tem como se livrar dos haters) Ainda mais quando são senhoras nos seus 40/50 anos, né!? Mas busco sempre ser didático e ensinar os conceitos. Há pessoas que tentam boicotar a marca, mas felizmente eles são menor número, por mais que

Dessa forma o trabalho da equipe se torna muito democratizado. Para ele, o bom da “problematização” é o fato das pessoas entenderem que a voz delas deve ser ouvida. E o não gostar ou não compactuar (do público) é identificado na hora em que a campanha é lançada. “O sucesso da coisa geralmente acontece porque as pessoas se enxergam, sabe!? Me enxergo, logo consumo. Com isso quem estava excluído socialmente passa a fazer parte”. Para o militante e universitário LGBT Victor Rosa, de 21 anos, o que essas marcas fazem é algo errado quando a marca dá essa visibilidade mas não acredita no que está propagando. “Veja a bem, meus amigos e eu, independente da causa que estamos lutando, estamos dedicando tudo o que temos a perder na vida em torno daquilo. A gente quer esse progresso, quer esse direito e essa liber17


dade. E aí vem uma marca que não concorda com isso (com os movimentos sociais), não defende isso, mas usa para fazer campanhas publicitárias” explica. “Eu gosto de brincar: ‘tá na moda ser empoderado’, ‘tá na moda se manifestar’, mas não é que ‘tá na moda’ ter contato com aquela realidade, até porque eu quero que as pessoas tenham contato, está na moda no sentido da marca querer tirar proveito disso”. E complementa: “Por exemplo, marcas como a Avon e a C&A, que tem propagado ideais sobre roupas e maquiagens sem gênero, tem doado alguma parte dos lucros para alguma instituição? Ela doa alguma parte desse dinheiro para algum projeto? Ela tenta discutir a homofobia? O machismo numa discução? Se ela não propõe essa discussão (de forma eficaz) ela só está tentando ganhar dinheiro”. Ele defende que, há um tempo atrás, todo esse conhecimento e empoderamento era algo exclusivo de quem tinha dinheiro e possuía acesso a informação. Hoje, grande parte das pessoas tem acesso a informação, à indústria cultural e, sobretudo, a internet todos querem saber o que se passa no mundo e se “empoderar”, “e o que as grandes companhias fazem?” ele pergunta e em seguida já dá a resposta: “Vão transformar em dinheiro. Para mim, o único lado bom dessas campanhas publicitárias é a visibilidade”.

Por fim, agora apenas nos resta acompanhar os desdobramentos que essas companhas publicitárias trarão para a nossa sociedade na esperança de que possamos viver num muito um pouco mais consciente, onde exista a oportunidade de termos no mercado propagandas menos machistas e livres de estereótipos, onde o gay não é a “bichinha” frágil e engraçada, onde a mulher não é um ser indefeso ou um objeto sexual ou mesmo que precise da atenção ou admiração para terem suas vidas validadas. As marcas precisam estar preparadas para abordar tais temas em suas campanhas para não gerarem resultados desfavoráveis à sua imagem. Ou seja, se quiser de alguma forma utilizar os movimentos sociais a favor da construção ou consolidação de sua marca, jamais subestime a força do povo, da internet e das redes sociais.

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Rose Naves, professora de assessoria de comunicação da Anhembi Morumbi

Community Manager da empresa de cosméticos Avon, Caio Baptista, 25 anos

Victor Rosa, militante LGBT

Fotos: Levi Oliveira


POR QUE HOMENS NÃO PODEM USAR SAIA? Por que homens não podem usar saia? Tratamos nesta edição acerca da moda unissex e explicamos como devemos tratar com igualdade as formas de se ves�r por pessoas de ambos os gêneros e do preconceito que a sociedade ainda possui intrínseco em sua cultura com qualquer um que queira se ves�r diferente do que é imposto pelos padrões norma�vos. Dessa forma, se um homem tem caracterís�cas �das como masculinas é considerado, sem ques�onamentos, correto, mesmo que ves�do de mulher.

artigo mas diferentes em locais dis�ntos, mas, graças ao mul�culturalismo e as diversidades que existem em nossa sociedade, temos a oportunidade de mudar nossa cultura e a forma como vemos as coisas, principalmente em detrimento deste assunto, trazendo em voga outros assuntos que possam, muitas vezes, gerar desconforto a muitos, mas que poderá, a longo prazo, trazer mudanças que trará dignidade a milhares de homens, mulheres, gays, lésbicas e transexuais que tem seu modo de vida privados em detrimento do preconceito ou falta de conhecimentos de outros. É necessário revermos tais conceitos e essa inicia�va deve par�r de dentro de nossos lares, com nossos familiares e amigos, e muitas vezes deve par�r de nós mesmos, pois crescemos forçados a acreditar que devemos separar de forma abrupta não só o que é masculino e o que é feminino, mas entre “rude” e “frágil”, “forte” e “fraco”, “dominador” e “submisso”, e o homem sempre é a parte forte ou soberana nessa cadeia, e, acredito, que chegou o momento de mudarmos isso. Cabe a nós fazermos a diferença e posso dizer com firmeza que CHEGOU O MOMENTO.

Agora, se um homem com trejeitos femininos ou que não se encaixa num padrão de comportamento “modus operandi” masculino não é apenas rechaçado socialmente, mas apontado como uma aberração cultural e muitas vezes é levado a morte por conta de uma caracterís�ca que é própria sua. Esta discussão faz com que com que surja diversas outras, e, entre elas, podemos nos ques�onar: por que o fato de homens usarem roupas consideradas “femininas”, como saias ou calças saruel, causa tanta repulsa? Por quê grande parte da população brasileira tem tendência a rejeitar peças de roupa que, embora mais confortáveis, denotam “feminilidade”? Por que no carnaval e em festas a fantasia é algo ‘normal’ um homem heterossexual se fantasiar de mulher ou uma versão ‘escrachada’ da mesma e o resto do ano não? O comportamento feminino é algo do qual devemos sen�r vergonha ou do qual devemos �rar sarro? Assim, apesar de o masculino e o feminino serem apenas criados culturalmente, são vistos de for19



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