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Ex p e r i ê n c i a sd eme d i a ç ã od el e i t u r a : s a b e r e se mmo v i me n t o
Secretaria Municipal de Educação
Experiências de mediação de leitura: saberes em movimento
Belo Horizonte 2015
Prefeitura de Belo Horizonte Secretaria Municipal de Educação Coordenação Geral Sueli Maria Baliza Dias Tiragem desta edição: 1.000 exemplares Organização e redação: Dagmá Brandão Silva, Carolina Teixeira de Paula e Leila Cristina Barros Revisão: Leila Cristina Barros e Tadeu Rodrigo Ribeiro Projeto Gráfico e diagramação: Gerência de Comunicação Social/SMED Edição e distribuição: Secretaria Municipal de Educação Rua Carangola, 288 - Bairro Santo Antônio - Belo Horizonte (31)3277-8606 smed@pbh.gov.br
É permitida a reprodução parcial ou total desta publicação, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.
E96 Experiências de mediação de leitura: saberes em movimento / Carolina Teixeira de Paula; Dagmá Brandão Silva; Leila Cristina Barros (orgs) - Belo Horizonte: SMED, 2015. 174 p. (Cadernos do Programa de Bibliotecas, 3) ISBN 978-85-60851-22-5 1. Biblioteconomia – Educação. 2. Biblioteca Escolar. 3. Relatos de experiência. I. Paula, Carolina Teixeira. II. Silva, Dagmá Brandão. III. Barros, Leila Cristina. IV. Belo Horizonte. Secretaria Municipal de Educação. V. Título. CDD 027.8
Cadernos do Programa de Bibliotecas 3 Experiências de mediação de leitura: saberes em movimento
Apresentação
A efetivação deste Caderno foi possível graças à participação dos profissionais que se dispuseram a refletir sobre as suas práticas, sistematizando, por meio da escrita, as ações e projetos por eles desenvolvidos. Entende-se que, durante esse processo de sistematização formal de nossas experiências, torna-se possível reelaborá-las, de maneira que o fazer diário passa a ter um novo significado para os sujeitos envolvidos nas práticas. A partir da reflexão, é possível também propor ações de aprimoramento do trabalho, fazendo-nos perceber o quanto é importante cada uma das etapas vivenciadas no decorrer do processo. Assim, compreende-se que esta publicação configura-se uma oportunidade real e legítima de registrar as práticas desenvolvidas no âmbito das bibliotecas da RMEBH, divulgando, valorizando e dando visibilidade aos projetos e ações de mediação de leitura que lá acontecem. Espera-se que o Caderno 3 incentive a construção de uma verdadeira rede de troca de ideias entre as escolas da RMEBH, contribuindo para ressignificar a ação daqueles que desenvolvem projetos exitosos e inspirando a realização de trabalhos nas escolas onde as práticas ainda estão latentes. Certamente, a leitura dos textos aqui apresentados possibilitará aos profissionais da Educação a reflexão sobre a própria prática, ao conhecerem outras realidades. Finalmente, acreditamos que os relatos apresentados nesta edição da coleção Cadernos do Programa de Bibliotecas registram um importante momento da Educação no município de Belo Horizonte, imprimindo a marca daqueles profissionais que se aventuraram a escrever juntos mais uma página da história do Programa de Bibliotecas da RMEBH. A esses colegas, nossos cordiais agradecimentos. Sueli Maria Baliza Dias Secretária Municipal de Educação
Apresentação
O terceiro volume da coleção Cadernos do Programa de Bibliotecas, Experiências de mediação de leitura: saberes em movimento, é dedicado a relatos de experiência dos profissionais da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte (RMEBH) sobre as ações voltadas para o incentivo à leitura e à sua promoção nas escolas, desenvolvidas nas bibliotecas ou por meio delas.
Sumário
1 Introdução 11 2 Relatos de experiência 21 2.1 – Biblioteca e sala de aula: saberes em diálogo 23 2.2 – Acesso, divulgação e dinamização: acervos em movimento 39 2.3 – Incentivo à leitura 63 2.4 – Literatura em diálogo com outras artes, linguagens e áreas 83 2.5 – Contação de histórias 105 2.6 – Diversidade 121 2.7 – Datas comemorativas 131 2.8 – Pesquisa Escolar 141 2.9 – Biblioteca aberta: família e leitura livre 145 2.10 – Educar para preservar e conservar 153 3 Premiações
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4 Em foco: Biblioteca do Professor
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5 Sugestões de leitura e Referências
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Introdução
Avaliamos que dois fatores contribuíram para a mobilização e o empenho dos profissionais que produziram os textos aqui publicados, além do desejo de compartilharem suas experiências: a realização da oficina “Mediação de Leitura” e a adoção de nova metodologia de trabalho pela Gerência de Coordenação de Política Pedagógica e de Formação (GCPF). Na oficina “Mediação de Leitura”, realizada em 2014, em quatro encontros de 16 horas, e ministrada pela professora doutora Ana Paula Paiva, exploraram-se os seguintes temas: a importância da biblioteca escolar na memória coletiva; papel dos profissionais atuantes na biblioteca; estratégias de movimentação da biblioteca; critérios de escolhas de livros; a formação do leitor (profissional); dinamização dos acervos e programações das bibliotecas; apelos visuais e desafios lúdicos para atrair os leitores; exibição; exposição, organização dos livros na biblioteca e acessibilidade; gêneros textuais; ilustrações e construção de sentidos; contação de histórias; além de levantamento de demandas e criação de proposta mobilizadora para as bibliotecas da RMEBH. A nova metologia de trabalho da GCPF consiste em reuniões nas escolas, entre as coordenadoras do Programa de Bibliotecas e os profissionais atuantes nas bibliotecas, para acompanhamento do trabalho desenvolvido nesses espaços. Destaca-se o esforço desta Secretaria em tornar a informação acessível a todos, investindo em canais diversos e diretos de
Introdução
Os relatos de experiência aqui apresentados confirmam a necessidade de que as equipes atuantes nas bibliotecas invistam no desenvolvimento de atividades próprias desses espaços. Observa-se que boas ações de incentivo à leitura e sua promoção no contexto escolar, além de uma organização dos acervos que contribua satisfatoriamente para a recuperação da informação, estão fundamentadas em planejamentos consistentes, pensados e discutidos pela equipe da biblioteca com o coletivo escolar. Nessa perspectiva, é preciso considerar a importância do apoio das demais equipes, especialmente das direções, das coordenações pedagógicas e dos professores, para o sucesso dos projetos. Vale ressaltar que as ações descritas nos relatos deste Caderno corroboram as principais orientações para o uso das bibliotecas da RMEBH (constantes no 2º volume da coleção Cadernos do Programa de Bibliotecas, publicado em 2014).
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comunicação com os profissionais da Educação, o que também colaborou para o recebimento de 49 relatos para a composição do Caderno 3. Por uma classificação meramente didática, visto que todos os relatos têm como objetivo principal a mediação da leitura e a promoção da biblioteca e das ações nela desenvolvidas, esta publicação foi organizada a partir de 10 seções gerais, todas relacionadas, de alguma maneira, com a formação de leitores. Na seção Biblioteca e sala de aula: saberes em diálogo, foram reunidos os relatos “Brincando de roda: uma experiência de integração”, “Hip hop e poesia”, “A Biblioteca do POEINT e a Jornada do Saber”, “Trilhando e tecendo histórias” e “Contos de Machado de Assis: momento literário”. Nesses textos, ressalta-se que as atividades realizadas foram (ou são) desenvolvidas em equipe, pelos profissionais da biblioteca e da sala de aula, a partir do Projeto Político Pedagógico da escola. Experiências como estas demonstram como é importante que a biblioteca faça parte do currículo da instituição, desempenhando sua função de apoio pedagógico. Com o envolvimento efetivo dos profissionais da Educação, haverá maior possibilidade de que esses projetos sejam contínuos, uma vez que eles serão uma construção de toda a escola e não de apenas um indivíduo. Nesses relatos, percebe-se o quanto é importante que as ações sejam registradas, como parte do resgate da memória coletiva de uma comunidade; como são importantes ações que promovam o encontro dos estudantes com autores clássicos de nossa literatura, mas não só com esses. Cabe também à biblioteca o papel de promover o diálogo entre as artes, entre os gêneros, num trabalho que promova a leitura e que ajude a romper preconceitos com uma ou outra expressão artística. Há que se considerar também o papel fundamental do lúdico, do brincar, sabendo que as diversas expressões artísticas dão voz ao sujeito e possibilitam sua inserção no mundo letrado. São várias as possibilidades de integração entre os profissionais da escola; mais do nunca, acreditamos no poder da leitura e no espaço especial da biblioteca como um passaporte para o conhecimento e a cidadania.
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Em Acesso, divulgação e dinamização: acervos em movimento, estão os relatos: “Biblioteca pela escola”, “Enigma do Livro”, “Conhecendo a biblioteca”, “Mais poesia, por favor!”, “Biblioteca escolar na educação infantil: um espaço para a formação integral”, “Formação de leitores e contadores de história”, “Mural Fala aí!”, “Uma aposta na participação” e “Catálogo de sugestões de livros por tema”. Esses textos apresentam
Sabemos da necessidade de socializar este bem cultural – ainda caro, em nosso país – que é o livro, garantindo seu acesso. Outro passo primordial para uma efetiva circulação dos livros, nesse contexto, é a divulgação (tanto dos acervos quanto das bibliotecas). Há várias formas, lúdicas e instigantes, de atrair os prováveis (e desejados) leitores: enigmas, que, com uma boa dose de mistério, agucem a curiosidade do estudante; a contação de histórias e outras formas de expressão artística que dialoguem com os livros. Alguns relatos evidenciam que, para atrair o leitor, é necessário, inclusive, que se busquem outros espaços, além dos limites físicos ocupados pela biblioteca, para que os textos possam ir aonde o público está. Outros relatos mostram o quanto é importante investir na participação dos estudantes: seja opinando, num mural, sobre os mais diversos temas referentes à biblioteca (inclusive sua apresentação física); ou em comissões de seleção de acervos. É preciso garantir também a escuta da voz dos familiares, ao participarem da leitura com seus filhos, outra forma de fazer circular os acervos, para além do espaço escolar. Cabe registrar a importância de ações que visem ao acolhimento também do professor, profissional que, devido a vários fatores, por vezes se afasta da biblioteca e das inúmeras possibilidades educativas que esse espaço oferece. Acolher o professor significa abrir portas para um trabalho de integração entre sala de aula e biblioteca, parceria fundamental para a formação de leitores. Outra ação simples e eficiente – desenvolvida por várias escolas da RMEBH, geralmente no início de cada ano letivo – é a apresentação da biblioteca, que pode ser acompanhada de atividades que chamem a atenção para o espaço. Cumpre também destacar a importância do trabalho de apresentação da biblioteca, de suas normas e de seu papel, da sensibilização para a leitura, que deve acontecer desde a mais tenra idade. Por fim, também é fundamental, numa biblioteca escolar, o trabalho do mediador de leitura, no sentido de indicar livros para os usuários. Além disso, é preciso considerar a autonomia do leitor na busca e na recuperação da informação desejada.
Introdução
ações cujo objetivo é divulgar e dinamizar os acervos das bibliotecas entre os leitores (cativos ou em potencial), além de atrair público para esses espaços.
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Um instrumento que permite alcançar esse objetivo é o catálogo, seja ele manual ou automatizado, das obras que compõem o acervo da biblioteca. Nesse sentido, precisamos destacar que o relato “Catálogo de sugestões de livros por tema” aponta uma possibilidade de catalogar acervos bibliográficos de maneira elementar, mas que facilita a localização dos itens na coleção. Vale mencionar que a SMED está em processo de implantação de um sistema de informatização das bibliotecas, a fim de que não sejam mais necessárias atividades como essa, que, no entanto, mostraram-se eficazes e eficientes ao longo dos 18 anos do Programa de Bibliotecas. Sendo assim, considera-se importante registrar esse tipo de experiência, tendo em vista o seu aspecto histórico, sobretudo porque o Programa de Bibliotecas da RMEBH é uma referência para outras Redes de Ensino. Na seção Incentivo à leitura, identificamos os relatos “Biblioteca: lugar de acolhimento, convívio e reconhecimento”, “Ler é viajar nas asas da imaginação”, “Jornada Literária da Primavera”, “Projeto Clube de leitura”, “Clube de leitura da Biblioteca do POEINT”, “Processo de reconstrução da Biblioteca da E. M. Carlos Góis”, “Rezendinho, a mascote da Biblioteca Cecília Meireles” e o “Segunda na Biblioteca”. As experiências aqui apresentadas revelam a importância do trabalho direto com práticas de formação de leitores, a partir da leitura efetiva do livro na biblioteca. De acordo com Cosson (2014), o letramento literário só é possível quando o leitor entra em contato direto com a obra, sendo necessária a construção de uma comunidade de leitores. Assim, é papel do mediador de leitura proporcionar a ampliação do repertório literário dos leitores, oferecendo “atividades sistematizadas e contínuas direcionadas para o desenvolvimento da competência literária, cumprindo-se, assim, o papel da escola de formar o leitor literário” (s/p). Ressalta-se que o acolhimento aos participantes quando a biblioteca é preparada e/ou ornamentada para a ação, de acordo com a temática do livro a ser lido, é um grande diferencial na relação desses estudantes com o espaço.
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Cumprindo seu papel de incentivadora da leitura, especialmente entre jovens e adultos, salientamos o quanto a biblioteca pode impactar positivamente a vida do estudante. Há várias ações que chamam a atenção para esse espaço e para a importância da leitura, como: jogos, brincadeiras e adivinhações (com ou sem premiações); confecção de marcadores de livro; escambos literários; momentos culturais com rodas de leitura; contação de histórias; recitais; dentre outros. Destacamos, aqui, o quanto um clube de leitura pode ser atraente, especialmente se quisermos conquistar um público que, geralmente, realiza empréstimos com menor frequência,
Em todos os relatos desta seção, destacamos a relevância de desbravar o mundo da leitura, especialmente da literária, como uma possibilidade de a escola investir em uma formação humanizadora dos estudantes. Para tanto, é preciso que as equipes estejam em constante avaliação, a fim de que percebam que, por vezes, para contribuir com essa formação, é necessário reconstruir a concepção que temos sobre o papel da biblioteca na trajetória escolar desses estudantes, bem como o espaço físico, de forma que ele seja um local acolhedor e agradável. Várias estratégias são utilizadas para que o estudante vivencie o contato com a biblioteca de forma mais participativa e lúdica. Para os alunos, o espaço ganha sentido quando são convidados a participar de decisões coletivas, como a eleição de uma mascote para a biblioteca, motivando e atraindo os estudantes, especialmente o público infantil, pois lida com a ludicidade, a fantasia e a imaginação do leitor, ao propor uma personagem que dará identidade à biblioteca, a partir de sua sugestão. Na seção Literatura em diálogo com outras artes, linguagens e áreas, foram incluídos os relatos “Monalisa: a arte do Léo”, “A literatura e a interdisciplinaridade: um pequeno relato de experiência”, “Turma da Mônica: parceiros na Educação”, “Teatro com declamação de poemas”, “Intervenção teatral na biblioteca escolar: um caminho para promover o protagonismo estudantil”, “Literatura de cordel” e “Webquest incentivando a leitura na biblioteca escolar. Esses textos apresentam experiências significativas de atuação da biblioteca como um local de promoção do diálogo entre diferentes áreas do conhecimento: Artes Plásticas, teatro, novas tecnologias, por exemplo. É preciso compreender que,
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como estudantes do terceiro ciclo, por exemplo. Nos relatos publicados nesta seção, chamamos atenção para três aspectos concernentes ao clube de leitura: a oportunidade ímpar de se ter na escola um grupo constituído especialmente para se conversar sobre literatura; a possibilidade de o profissional de biblioteca ampliar o conhecimento sobre o perfil do aluno, que poderá se expressar mais explícita e livremente sobre os seus gostos literários; e a importância dessa ação também para os profissionais, como um momento de investir na sua formação leitora.
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a partir da literatura, é possível debater e refletir com o leitor sobre os mais variados temas, em que a fantasia e a imaginação são aspectos condicionantes para a leitura. Segundo Hunt (2010), o texto literário “[...] não é tomado como especificamente relevante ao contexto imediato de sua origem. Ou seja, o texto é usado de modo estético, não prático.” (p. 86); e, portanto, não deve ser reduzido a ações com foco na transmissão de conteúdos programáticos. Nestes relatos, percebemos as ricas possibilidades de atuação da biblioteca, integrando-se com outros espaços escolares. Temas como meio ambiente, arte e literatura dialogam entre si; vários suportes textuais (revistas, HQs), gêneros (como o cordel) e outras artes (como o teatro) podem ser apresentadas aos estudantes, com o objetivo de incentivá-los à leitura. Cabe registrar a relevância de ações como um grupo teatral aberto a todos os segmentos da escola e apresentações teatrais a partir de textos de alunos. Por fim, experiências com o uso de novas tecnologias e da internet fortalecem percepções de que o estudante deve ser incentivado a trabalhar com vários tipos de texto, pondo em foco o protagonismo juvenil, bem como a importância de se investir também na escrita. Os relatos “A contação de história como recurso para mediação de leitura”, “Hora do conto”, “Eu não conto histórias”, “Contação de histórias na bibliotecas”, “Novas histórias podem ser tecidas com os fios do saber e da experiência” e “Histórias para ler e contar” foram categorizados como Contação de histórias. De acordo com os planejamentos das bibliotecas da RMEBH para 2015, verifica-se que esse tipo de ação é bastante desenvolvido nesses espaços, sendo muito bem aceito pela comunidade escolar. Entende-se que a contação de histórias tem sido uma estratégia comumente utilizada para atrair o público, com foco na formação de leitores. Segundo Grossi (2014), a contação de histórias na escola desperta nos educandos o interesse pela leitura de livros literários, estimulando o desejo por novas experiências literárias. Além disso, a contação de histórias contribui, em certa medida, para a permanência do gosto pela literatura, além da infância.
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Percebem-se, nesses relatos, as inúmeras possibilidades de interação entre os profissionais da escola, em ações com foco na leitura e no livro e no incentivo à leitura e à procura pela biblioteca. O trabalho com várias temáticas pode propiciar a reflexão crítica do aluno e também a reflexão teórica do profissional, gerando inclusive produção intelectual. Além desses objetivos, ressaltamos o depoimento em que o profissional afirma ter perdido a timidez, ao se aventurar no universo da contação de histórias. A
Além da contação de história, é importante que os profissionais da biblioteca e/ou da sala de aula proponham essa atividade como uma forma de ouvir, valorizar a participação do aluno e incentivá-lo a desenvolver várias habilidades. Assim sendo, esses profissionais proporcionarão momentos descontraídos, em que os participantes são instigados a trabalhar a imaginação e o senso crítico. Também pode ser uma forma de apresentar o acervo da biblioteca, para que ela seja atrativa, não só para os estudantes, mas também para os profissionais e os demais usuários. Na categoria Diversidade, estão os relatos “Racismo e discriminação”, “Convivendo com as diferenças” e “Biblioteca e Jogo Mancala: quem lê mais joga melhor”. O objetivo principal desses textos é discutir e apresentar ações com foco nas questões étnico-raciais. Observa-se, nos trabalhos apresentados, o uso dos acervos das bibliotecas, especialmente – e de maneira intensa – parte dos livros que compõem os kits de Literatura Afro-brasileira, distribuídos pela SMED, a cada dois anos, desde 2004, a todas as escolas da RMEBH. Destaca-se que esses acervos têm a função de promover o acesso à informação de qualidade e diversificada sobre a temática étnico-racial e de gênero, além de corroborar para a efetivação da Lei 11.645/2008, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Dessa forma, é importante reafirmar como esses acervos têm proporcionado aos profissionais da Educação subsídios para a elaboração e a realização de ações que debatam a diversidade. É urgente, e cada vez mais necessária, a divulgação dessa política, por meio da dinamização dos materiais que compõem o kit. É importante ressaltar também que alguns trabalhos tiveram como foco, além da temática étnico-racial, a apresentação das mais diversas culturas e religiões, as questões relacionados ao
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atividade amplia seus objetivos e ganha mais sentido quando a criança faz a narração para os colegas, usando ilustrações de sua própria autoria. Todo esse processo de leitura, escrita e reescrita constantes também colabora para que o estudante ganhe segurança e trabalhe a timidez, se for o caso.
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gênero e às necessidades especiais. Foram usados, nos projetos, materiais recicláveis, jogos diversos e música, promovendo a interação entre várias disciplinas e a parceria profícua entre biblioteca e sala de aula, para que possam ser trabalhados temas pertinentes ao contexto escolar. Na categoria Datas comemorativas, foram registrados os relatos “Leituras, gostosuras e travessuras”, “País ganhador da copa: a taça é dele e o livro é nosso”, “Copa do Mundo de 2014 em versos e prosas” e “Brincadeira, brinquedo e leitura: tudo é cultura!”. Ações como essas ratificam o que os dados estatísticos, informados pelas equipes de biblioteca à GCPF/Coordenadoria do Programa de Bibliotecas, apontam: boa parte das bibliotecas da RMEBH organizam suas ações a partir daquilo que está sendo debatido e discutido na atualidade, além de se fundamentarem em aspectos do calendário de datas comemorativas para o desenvolvimento de seus projetos e atividades. Nesse contexto, é preciso aliar esse tipo de ação a propostas de integração dos espaços escolares, de forma que a biblioteca faça parte efetivamente do currículo. Quando a biblioteca trabalha datas comemorativas, percebe-se uma grande oportunidade de atuação da biblioteca em seu papel cultural, sempre com foco no incentivo à leitura. Desde os temas mais tradicionais, como folclore, até aqueles mais atuais, como a Copa do Mundo, o que se coloca em prática são projetos que trabalham, com os estudantes, as mais diversas culturas, num ambiente geralmente lúdico, com jogos, brinquedos e atividades diversas (como exibição de vídeos). Esses projetos culturais têm como norte a participação de vários setores da escola, integrando as várias áreas do conhecimento e mostrando a importância da biblioteca também como fomentadora da pesquisa.
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Na categoria Pesquisa Escolar identificamos apenas o relato “Iniciação à pesquisa escolar”, que apresenta uma experiência significativa de uma ação que visa desenvolver, com aos estudantes, um trabalho que envolve o processo de investigação científica. Nesse sentido, de acordo com Silva (2009), considera-se de suma importância que a orientação à pesquisa escolar seja mediada pelos professores e também pelos profissionais de biblioteca, auxiliando os estudantes a estruturarem suas pesquisas, identificando fontes pertinentes e apropriadas ao assunto investigado. Para tanto, reforça-se a necessidade de que haja integração entre a sala de aula e a biblioteca, uma vez que o assunto a ser pesquisado deve transitar entre esses dois espaços. Geralmente, o que se observa é que os alunos vão à biblioteca apenas com o tema de pesquisa sem compreender de fato o que irão pesquisar. Caberá à equipe da biblioteca preparar e selecionar o material e, se necessário, desenvolver uma ação pedagógica sobre o tema
Os relatos “Pais na biblioteca”, “Biblioteca após a aula”, “Recreio com literatura”, dentro da categoria Biblioteca aberta: família e leitura livre, apresentam ações que promovem a biblioteca como um dos principais espaços de convivência da escola, onde práticas de leitura são realizadas livremente, ocorrendo trocas literárias e informacionais entre os membros da comunidade escolar. Devemos considerar um grande avanço quando a demanda pela abertura da biblioteca parte dos próprios estudantes, o que demonstra que estão frequentando o espaço de maneira espontânea e interessada. Esses são tempos escolares propícios para a aproximação entre os profissionais e os usuários da biblioteca – sejam estudantes ou familiares – e também entre os alunos entre si. É um espaço aberto para a afetividade e o envolvimento dos profissionais com as demandas livres dos leitores e das famílias que acompanham seus filhos. Por outro lado, também é uma oportunidade valiosa de se discutirem regras, a serem cumpridas por todos, e, portanto, debaterem questões relacionadas à cidadania. Na categoria Educar para preservar e conservar, foram classificados os relatos “Greve dos livros”, “O hospital dos livros: educar para preservar” e “Meu amigo livro”, que apontam a constante necessidade de serem desenvolvidas ações que visem intervenções pontuais na educação do leitor para um bom uso do rico material de que dispõem as bibliotecas da RMEBH. Cabe salientar que o foco do trabalho desenvolvido pela biblioteca deve ser sempre o leitor e que o acervo é o meio para efetivar a formação leitora dos estudantes. Diante disso, reafirmamos, mais uma vez, que, ao lidar com a preservação e a conservação dos acervos, deve-se considerar o caráter educativo do processo e, de forma alguma, o punitivo, visando sempre à formação de nossos estudantes. Percebemos, nas experiências relatadas, como são efetivas as propostas de
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de pesquisa. Além disso, é preciso considerar que, para o caso das pesquisas realizadas por meio da internet, é necessário selecionar sites de busca a serem indicados para a execução das pesquisas. Nesse contexto, o mais importante é garantir que os estudantes tenham a oportunidade de compartilhar o resultado de sua pesquisa com os demais, a fim de que seja possível a socialização do conhecimento construído.
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atividades lúdicas para ensinar a cuidar. Assim, buscam-se experiências da vida – como greve, hospital – para se fazer uma intervenção fundamental, porque faz parte de um processo educativo, que será mais proveitoso ainda se tiver a família como parceira. São ações que discutem, com os estudantes, as noções de direitos e deveres, sem abordagem traumática, e, por vezes, com a construção conjunta de regras, que serão mais assimiladas pelos usuários, por fazerem sentido para eles. Após essa breve explanação sobre o tema dos relatos que compõem o 3º volume da coleção Cadernos do Programa de Bibliotecas, destacamos que, para aqueles que desejarem informações detalhadas sobre algum dos projetos descritos nesta publicação, orientamos que entrem em contato diretamente com o(s) autores(s) dos textos. Desejamos a todos uma boa leitura.
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Relatos de experiĂŞncia
2.1 Biblioteca e sala de aula: saberes em diรกlogo
Alice Alves da Silva1
Relatos
Brincando de roda: uma experiência de integração
A biblioteca escolar não é só um repositório de livros e informações, ela é um lugar de ensino e aprendizagem. Entendemos que, para que isso aconteça, é necessário que haja sua integração com a sala de aula. Integrado, segundo o Aurélio (1986), “diz-se de cada uma das partes de um todo que se completam ou complementam: unidades integradas” (p. 954). De acordo com Campello (2010), “as três dimensões da biblioteca (estoque de livros e informações, refúgio/lazer e espaço para manifestações culturais) representam características importantes e necessárias da biblioteca escolar. Entretanto, o predomínio exagerado de uma dessas dimensões traz dificuldades para se fazer da biblioteca um espaço efetivo de aprendizagem.” (p. 131). Em Belo Horizonte, avançamos muito nesse sentido. Desde 1996, as bibliotecas escolares municipais vêm passando por mudanças, com a aquisição de acervo diversificado e a contratação de profissionais (bibliotecários e auxiliares de biblioteca), que participam de formações periódicas. Essas formações têm propiciado aos seus profissionais uma melhor atuação como mediadores, fazendo com que ela se torne efetivamente um espaço de ensino e aprendizagem. Quando ingressei na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, em 2001, encontrei uma biblioteca que me impressionou pela 1 Analista de Políticas Públicas/Bibliotecária na E. M. Elisa Buzelin. Formada pela Escola de Ciência da Informação/UFMG; licenciada em Normalização e Qualidade e Bibliografia e Referência, pelo CEFET/MG. Seu interesse é a literatura e o letramento informacional. Analista de Políticas Públicas/Bibliotecária na E. M. Elisa Buzelin. Formada pela Escola de Ciência da Informação/UFMG; licenciada em Normalização e Qualidade e Bibliografia e Referência, pelo CEFET/MG. Seu interesse é a literatura e o letramento informacional.
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sua atuação na escola. Ao chegar à E. M. Elisa Buzelin, fui acolhida com simpatia e entusiasmo pela direção, grupo de professores, coordenadoras e auxiliares de biblioteca. Naquela época, os auxiliares de biblioteca já participavam das discussões e atividades pedagógicas da escola. Tão logo cheguei, me convidaram a participar das reuniões pedagógicas e a atuar nos projetos já em andamento. A E. M. Elisa Buzelin prima nesse quesito, pois todos os projetos desenvolvidos são da escola como um todo e não de grupos segmentados, e a biblioteca está inserida nesse contexto. Vários projetos foram desenvolvidos desde então, dentre eles o Projeto da Festa da Família, ocorrido em 27 de setembro de 2014. O objetivo da Festa da Família era mostrar as diferenças entre as culturas vividas pela família e a realidade atual das crianças, por meio das cantigas de roda. A ideia inicial da coordenação era que a biblioteca participasse com contação de histórias, mas quisemos sair do lugar comum e propusemos “Ler em Festa”, que era brincar de roda, literalmente. Eu e minha equipe (Pollyanna e Roberto), devidamente caracterizados, iniciamos declamando a poesia “As meninas”, de Cecília Meireles. Posteriormente Pollyanna e eu teatralizamos as cantigas de roda e em seguida brincamos de roda com os pais e os alunos. Roberto fez intervenções nos intervalos, pedindo-lhes que lessem cantigas de roda, previamente selecionadas, e enfatizou a importância de ler em família. Foi uma experiência muito gratificante, pois nos aproximamos mais dos familiares dos estudantes. Em contrapartida, os pais elogiaram o nosso trabalho, segundo relatos da direção da escola. Diante de toda a experiência vivida, acreditamos que a parceria entre todos os segmentos da escola é a chave para a prática pedagógica.
Referências: CAMPELLO, Bernadete. A biblioteca escolar como espaço de aprendizagem. In: Literatura. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. p. 127-142. (Coleção Explorando o Ensino; v. 20). FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 1838 p. PATTE, Geneviève. Deixem que leiam. Rio de Janeiro: Rocco, 2012. 335p.
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Suzene Furtado da Fonseca1
Relatos
Projeto hip hop & poesia
Conhecendo o trabalho desenvolvido por Marcela Lopes Mendonça Coelho2, que utiliza o hip hop na musicalização de poemas para incentivar e facilitar a leitura das crianças do 1º ciclo, inspirei-me a realizar prática semelhante com os alunos do 3º ciclo da E. M. Presidente Tancredo Neves, visando oferecer-lhes nova linguagem de expressão e compreensão de si mesmos e do mundo externo. Propus parceria da biblioteca Carlos Drummond de Andrade com Patrícia Martins Campos, professora de Arte que desenvolvia com suas turmas – 7º e 9° ano do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio – estudo sobre o gênero musical hip hop, a fim de levá-las ao maior conhecimento do gênero e sua força como expressão artística individual e coletiva. Nossos objetivos complementaram-se. Selecionamos expressivos representantes dos gêneros musical e literário abordados. Todas as etapas do projeto ocorreram durante as aulas da professora Patrícia, e os alunos de cada classe foram divididos em dois ou três grupos responsáveis pela escolha de um poema, dentre os apresentados, a definição de cenografia, coreografia e figurino, a musicalização do poema, ensaios e apresentação em sala de aula do produto final. 1 Auxiliar de biblioteca na E. M. Presidente Tancredo Neves. Estuda Pedagogia e cursa Biblioteconomia na Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais. É contadora de histórias e escritora dos livros infantis: Liberdade: ainda que em fantasia; Olhos de luz; O dono da Lua; O ursinho marrom; Suspense na mansão do brigadeiro e Bate bola bate boca. Em 2013, recebeu o Prêmio Carol Kuhlthau (promovido pela ECI/UFMG) na categoria “estudante de Biblioteconomia”, com o projeto “Por uma escola leitora”. 2 Bibliotecária da E. M. de Ensino Fundamental Aristóbulo Barbosa Leão em Vitória, no Espírito Santo.
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Selecionei poemas dos seguintes autores nacionais: • Arnaldo Antunes (os poemas sem títulos “O sol vai embora...” e “O tempo todo...”; “Se não se”, “Dinheiro”); • Carlos Drummond de Andrade (“Quadrilha”, “José”, “Cidadezinha qualquer”, “No meio do caminho”); • Ferreira Gullar (“No corpo”, “Cantiga para não Morrer”, “À vida falta uma porta”); • Manoel de Barros (“Sonata ao luar”, “A namorada”, “O casaco”, “Palavras”); • Manuel Bandeira (“Desencanto”, “Canção do vento e da minha Vida”, “O bicho”); • Mário Quintana (“Germinal”, “A revelação”, “Os poemas”, “O poema”, “Seiscentos e sessenta e seis”); • Paulo Leminski (“Asas e azares”, “Razão de ser”, “Diversonagens Suspersas”, poema sem título “Nada tão comum que não possa chamá-lo meu”); • Vinícius de Moraes (“Soneto de separação”, “Soneto do amor como um rio”, “Retrato de Maria Lúcia”). A professora atribuiu a cada turma um autor e coordenou o trabalho dos grupos. Na biblioteca, contei-lhes a história do gênero poesia, exibi documentários sobre os autores, pesquisamos suas biografias e obras presentes no acervo e assistimos ao vídeo “Linhas Tortas”, do compositor Gabriel, o Pensador. Os trabalhos apresentados serviram como avaliação final da disciplina de Arte. Foi surpreendente o nível de interesse e envolvimento dos alunos. O projeto permitiu-lhes a percepção do quanto a poesia já faz parte de suas vidas e contribuiu para a destruição do preconceito a esse gênero literário, que antes julgavam mergulhado em romantismo piegas. Os alunos compreenderam que a música e a poesia podem dar-lhes voz, sendo instrumentos de afirmação, expressão, contestação e mudança. Para a biblioteca, foi uma experiência enriquecedora trabalhar com a professora Patrícia Martins Campos, numa comprovação de que, ao somarmos nossos esforços, multiplicamos nossos resultados positivos.
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Carolina Teixeira de Paula1 Andressa Barbosa Gonçalves2 Áurea Cristina Campos Almeida de Faria3 Graciele Anita Ildefonso Passos Chaves4 Nayara Gabriele Santos5
Relatos
A Biblioteca do POEINT e a Jornada do Saber
A E. M. Polo de Educação Integrada (POEINT Barreiro), inaugurada em julho de 2012, está situada na Regional Barreiro. O POEINT possui amplo espaço físico, onde são desenvolvidas atividades extracurriculares do Programa Escola Integrada (PEI) de nove escolas municipais da Região. A instituição também está à disposição da comunidade situada no seu entorno, funcionando no turno da noite e nos fins de semana. Dentre as principais instalações do POEINT Barreiro, destacamos a sua biblioteca, que possui cerca de 200 m², assim divididos: • dois grandes salões: um para o leitor (com mesas para estudo e computadores conectados à internet) e outro para o acervo (aproximadamente 6.000 títulos); • dois banheiros, ambos com acessibilidade; • uma sala administrativa; • um espaço infantil com acervo próprio para essa faixa etária; • e um espaço para atividades de promoção da leitura. 1 Mestranda em Educação; pós-graduada em Psicopedagogia; graduada em Biblioteconomia e Pedagogia. É uma das coordenadoras do Programa de Bibliotecas da RMEBH e bibliotecária coordenadora da E. M. Polo de Educação Integrada. 2 Graduada em Gestão Financeira Una-BH. Atualmente é auxiliar de biblioteca escolar na RMEBH. 3 Graduada em Geografia e Análise Ambiental pelo Uni-BH. Atuou como professora da Rede Estadual de Belo Horizonte e atualmente é auxiliar de biblioteca escolar. 4 Graduanda em Psicologia na PUC-Minas. Atualmente é auxiliar de biblioteca escolar. 5 Graduada em Letras pela UFMG. Atua na RMEBH como auxiliar de biblioteca escolar.
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Nesse contexto, desde maio de 2014, o POEINT Barreiro vem desenvolvendo o projeto Jornada do Saber, proposta de ação educativa inspirada nos princípios da Carta das Cidades Educadoras, que oferece aos estudantes diversas atividades de livre escolha, realizadas por meio de inscrições prévias. Neste projeto, a biblioteca do POEINT é a Embaixada do Saber, que tem como uma de suas funções a emissão do Passaporte do Saber – documento composto por diversas seções (como Livros que já devorei e Dez mandamentos da leitura) – no qual são registradas as atividades das quais os estudantes participaram durante os dias do projeto, inclusive os empréstimos de livros realizados nesse período. Na segunda edição da Jornada, realizada de 27 a 31 de outubro, a biblioteca desenvolveu a ação literária Circuito Fernando Sabino na Biblioteca do POEINT, com as seguintes atividades: Percurso literário Fernando Sabino (exposição de documentos sobre a vida e a obra do escritor); exibição de vídeos sobre Sabino; exposição dos livros do autor (a biblioteca adquiriu todas as suas obras); bingo “literário” sobre Fernando Sabino. A Biblioteca recebeu muitos estudantes nesse período, todos bastante entusiasmados e motivados a participarem da atividade. Um aspecto importante a se relatar é que a participação foi por adesão. As atividades foram elaboradas e coordenadas pelas profissionais de biblioteca. Merece destaque o percurso que foi construído em forma de “labirinto”, aguçando e estimulando a curiosidade dos frequentadores do espaço. Observa-se que a biblioteca tem papel de destaque na comunidade escolar, enquanto equipamento pedagógico de apoio ao processo de ensino-aprendizagem dos estudantes, porque há, de fato, uma integração da biblioteca com os demais profissionais da escola (direção escolar, coordenação pedagógica, professores, monitores do PEI e equipe da caixa escolar).
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Entendemos, assim, que essa biblioteca contribui para o desenvolvimento educacional, social e cultural dos estudantes da RMEBH, uma vez que esses sujeitos têm usufruído e se apropriado desse espaço de forma bastante produtiva, participando ativamente da “vida” da biblioteca. Ressalta-se que essa realidade se torna possível pelo fato de a biblioteca estar inserida no currículo da escola, como parte integrante da Proposta Político-Pedagógica da instituição. Prova disso é a sua atuação direta na Jornada do Saber (projeto central do POEINT), assumindo importante papel na sua execução.
BELO HORIZONTE. Escola Municipal Polo de Educação Integrada. Orientações da 1ª Jornada dos Saberes. Belo Horizonte: EMPOEINT, 2014.
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Referência:
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Ana Virgínia F. Loureiro1 Cynthia de Souza P. R. Fonseca2 Solange de Fátima C. S. Machado3
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Trilhando e tecendo histórias
A equipe da Biblioteca “Território da Leitura”, da E. M. Tancredo Phídeas Guimarães, é atualmente composta pelas autoras deste relato. Ações de mediação de leitura e formação de leitores foram realizadas por meio de atividades diversificadas, das quais citamos algumas: “(Re)Apresentação da biblioteca”, “Descubra seu livro”, “Tecendo histórias”, “Escambo literário”, “Projeto Eleições”, “Cinema, Música e Literatura”, “Teatralizando no Tancredo”, “Jornal Tancredo News. Todas essas ações encontram-se registradas em portifólios, feitos anualmente, e disponibilizados para consulta. Merecem destaque duas ações que possibilitam a integração da biblioteca com a sala de aula: “I Mostra de Literatura AfroBrasileira da EMTPG” (2010) e “EMTPG Trilhando Venda Nova Tricentenária” (2011). Na “I Mostra de Literatura Afro-Brasileira da EMTPG”, apresentamos uma Literatura Afro-Brasileira comprometida com a autorrepresentação e a autoimagem positiva da criança e do adolescente negro. As atividades desenvolvidas durante 1 Formada em Letras, com especialização em Educação Infantil, tem experiência em alfabetização. Professora, em readaptação funcional na biblioteca desde 2007. 2 Pedagoga, especializou-se em Psicopedagogia Clínica e Institucional e em Educação a Distância e Novas Tecnologias em Educação. Tem experiência como supervisora da Educação Básica. Auxiliar de biblioteca na RMEBH, desde 2006. 3 Ensino Médio Completo. Auxiliar de biblioteca na RMEBH, desde 2008. É secretária executiva aposentada.
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o mês foram: reorganização e ambientação do espaço físico da biblioteca e murais; exposição dos livros do acervo; histórias contadas (equipe da biblioteca e convidados) para alunos surdos e ouvintes; apresentações artísticas (convidados e alunos da escola) e dramatização do livro Palmas e vaias, de Sônia Rosa (organização e direção da biblioteca); debate e reflexão sobre o tema, com alunos do 3º ciclo e convidados do Núcleo de Relações Étnico-Raciais da SMED-PBH; exibição de filmes. O projeto teve continuidade em 2012 e em 2014. O Projeto “EMTPG Trilhando Venda Nova Tricentenária” estimulou a pesquisa, a observação, a criatividade e a reflexão sobre os elementos que constituem a identidade mineira, sua história e a importância de Venda Nova para os 300 anos do ciclo do Ouro em Minas. Lançamos o concurso “No Embalo dos Causos e Versos”, para o qual foram inscritos textos de vários gêneros, desenhos e cartões postais originais sobre a temática. As produções foram divulgadas em varais de poemas, no jornal informativo da escola e em murais. A culminância aconteceu com apresentações artísticas e a entrega dos prêmios dos melhores trabalhos. Todas as ações desenvolvidas e coordenadas por nós, na Biblioteca, buscam formar leitores a partir de suas experiências com a leitura, não só as contidas nos livros, mas as advindas das diversas manifestações de nossa cultura. É importante desenvolver capacidades de compreensão, de seleção e de avaliação das leituras realizadas. A partir destas ações e a cada interação, reafirmamos o espaço da biblioteca “Território da Leitura” como um lugar de liberdade de expressão, de prestígio, de satisfação, de amplo acesso à informação, de democratização do conhecimento, de integração com os profissionais da escola e com o seu Projeto Político Pedagógico.
Referências: CHAGAS, Cíntia Aparecida. Histórias de bairros (de) Belo Horizonte: Regional Venda Nova. - Belo Horizonte: APCBH; ACAP – BH, 2008. GOMES, Nilma Lino (Org.). Tempos de lutas: ações afirmativas no contexto brasileiro. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2006.
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LODY. Raul Giovanni da Mota. Cabelos de Axé: identidade e resistência. Rio de Janeiro: Ed. Senac Nacional, 2004. SILVA, Ana Maria da. Lembranças... Venda Nova. Belo Horizonte, Secretaria Municipal de Cultura, 2000. TERRA DE MINAS – VENDA NOVA (BELO HORIZONTE). Disponível em: http://youtu.be/bP1Wg5nzFR0. Acesso em: 5 ago. 2011.
Relatos
GREGORIM FILHO, José Nicolau. Literatura Infantil: múltiplas linguagens na formação de leitores. São Paulo: Melhoramentos, 2009.
VENDA NOVA 300 ANOS BY Ivan Domingues. Disponível em: http://youtu.be/fPh3bM3IBnY. Acesso em: 5 ago. 2011.
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Elisete Dutra Corrêa1
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Contos de Machado de Assis: momento literário
O objetivo principal do projeto, que foi desenvolvido com cinco turmas do oitavo ano, era despertar o interesse dos alunos do terceiro ciclo pela literatura brasileira. O escritor escolhido foi Machado de Assis, autor de obras clássicas e densas, mais conhecido pelos livros Dom Casmurro, Quincas Borba e Memórias Póstumas de Brás Cubas – em geral, objetos de trabalho em sala de aula. O que muitos leitores desconhecem, principalmente os jovens, é que parte importante da obra de Machado é composta de contos – textos breves, concisos e interessantes. O projeto foi realizado em parceria com a professora de Língua Portuguesa, Elisete E. Ferreira da Silva, e dividido em três partes: trabalho em sala de aula, contação de história e momento literário na biblioteca. Em sala de aula, trabalhou-se o conto como gênero literário, abordando, inicialmente, vários autores. Posteriormente, aprofundou-se na proposta do projeto com o direcionamento para Machado de Assis e seus contos, situando o autor historicamente e discutindo a ideologia dos contos, a complexidade psicológica, a crítica social e o estilo de linguagem. A segunda etapa, apreciação de “A igreja do Diabo”, foi o momento de instigar à leitura dos contos2, extraídos do livro 50 contos de Machado de Assis, e aproximou os alunos de 1 Formada em Pedagogia com aprofundamento em Necessidades Educacionais Especiais (PUC Minas). Contadora de histórias e auxiliar de biblioteca, há dois anos, é Idealizadora e executora deste projeto realizado na biblioteca da E. M. Padre Edeimar Massote. 2 Dez contos foram trabalhados, divididos entre grupos de quatro alunos: “O segredo de Bonzo”, “O espelho”, “A chinela Turca”, “O enfermeiro”, “Conto de escola”, “O diplomático”, “A cartomante”, “Adão e Eva”, “Missa do galo” e “Pai contra mãe”.
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textos de qualidade que seriam partilhados e “dissecados” no momento posterior. A contação de história foi feita por Edward Ramos – na ocasião, gestor do Centro Cultural Pampulha da Fundação Municipal de Cultura – durante três dias diferentes. O momento literário foi ocasião oportuna para se falar da maneira peculiar da escrita, hábitos e costumes da época (século XIX), bem como para fazer links com a realidade atual. O desenvolvimento do projeto revelou uma eficaz parceria entre biblioteca e sala de aula. O conteúdo sugerido no projeto está relacionado à proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) para o ciclo, que diz: [...] Se é de esperar que o escritor iniciante redija seus textos usando como referência estratégias de organização típicas da oralidade, a possibilidade de que venha a construir uma representação do que seja a escrita só estará colocada se as atividades escolares lhe oferecerem uma rica convivência com a diversidade de textos que caracterizam as práticas sociais. [...] a seleção de textos deve privilegiar textos de gêneros que aparecem com maior frequência na realidade social e no universo escolar, tais como notícias, editoriais [...] contos, romances entre outros. (p. 25-26, grifos nossos)
Em suma, o projeto corroborou os benefícios da parceria biblioteca e sala de aula e demonstrou que a contação de história é “[...] muito eficaz na motivação de seus ouvintes para se tornarem leitores autônomos e críticos” (SILVA, p. 126). Destacou, ainda, o papel importante da biblioteca ao fazer a mediação de leitura, por meio dos projetos.
Referências: Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Língua Portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. p. 25-26. SILVA, João Paulo da et al. A formação de leitores a partir da contação de histórias. In: HIGINO, Anderson; BARBOSA, Clarisse; PEREIRA, Maria Antonieta (Org.). Formando leitores de telas e textos. Belo Horizonte: Linha Editorial Tela e Texto, UFMG, 2007. p. 117-126.
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ASSIS, Machado de. 50 contos de Machado de Assis. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
2.2 Acesso, divulgação e dinamização: acervos em movimento
Ana Paula de Souza Fonseca1
O projeto “Biblioteca pela Escola” consiste na disponibilização de trechos de obras literárias do acervo da biblioteca por toda a escola: sala dos professores, coordenação, direção, secretaria, corredores, salas de aula e banheiros. Os objetivos são: divulgação das obras, incentivo e formação de leitores e trabalho com temas presentes (e pertinentes) no dia a dia de todos.
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Biblioteca pela escola
É escolhido um tema e feita uma seleção de títulos. Em seguida, os trechos selecionados são reproduzidos nos cartazes, distribuídos pelo espaço da escola. Os cartazes contêm, além do trecho, uma moldura padrão e a reprodução da capa do livro selecionado. Os livros escolhidos para o projeto ficam expostos com destaque na biblioteca para facilitar o acesso e o empréstimo aos leitores. Este projeto foi pensado para ser realizado trimestralmente. O tema inicial foi “autoestima e autovalorização”, cujos livros selecionados foram: • Classificados e nem tanto – Marina Colasanti • Estou sempre mudando – Bob Gill e Alstair Reid • Eu gosto de mim! – Beatriz Monteiro Cunha • O elefante xadrez – Álvaro Cardoso Gomes • Nós somos os melhores! – Sophie Schmid • Mulheres de coragem – Ruth Rocha 1 Graduanda em Psicologia na Faculdade Pitágoras. Auxiliar de biblioteca da E. M. Antônio Mourão Guimarães, desde maio de 2012.
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• Peppa – Silvana Rando • O cabelo de Cora – Ana Zarco Câmara • O mundo no black power de Tayó – Kiusam de Oliveira • Eu não sou como os outros – Janik Coat • É assim que eu sou – Pierre Winters • Esquisita como eu – Martha Medeiros • Da cabeça aos pés – Marilda Castanha • Lady Fofa – Carla Yanagiura • De vários jeitos – Flávia Reis • A coitadinha – Angélica Lopes
A ação de espalhar textos e trechos pelo espaço escolar fez com que os usuários manifestassem mais interesse em visitar a biblioteca e realizar o empréstimo e a leitura das obras selecionadas. Dentro dos espaços da biblioteca – tanto com alunos quanto com funcionários – e sala dos professores, surgiram discussões ricas acerca do tema proposto. Assim, concluo que a experiência do projeto estimulou a leitura, os debates e o aprofundamento do tema, não só no espaço físico da biblioteca como também em todo o ambiente escolar.
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Anderson Rodrigo de Oliveira1
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Enigma do livro
O “Enigma do livro” é um projeto iniciado em outubro de 2014, realizado com os alunos do segundo e terceiro ciclos, pertencentes ao primeiro turno da E. M. Professor Hilton Rocha. Consiste em um jogo de enigmas referentes a livros do acervo da biblioteca que devem ser desvendados pelos alunos. Para tanto, foram criados mais de 150 enigmas referentes a livros de várias faixas etárias e que contemplam a diversidade do acervo. Essas charadas, espalhadas a cada dia pela escola (salas de aula, corredores, cantina, pátio e biblioteca), compõem-se de dicas, ilustrações ou trechos de livros, que devem ser identificados pelos alunos. Os estudantes devem somar pontos, e, no final do ano, haverá uma premiação especial para aqueles que conseguirem as melhores pontuações. O projeto visa incentivar os alunos a conhecerem melhor o acervo e também elucidar quem são os maiores leitores da biblioteca, assim como aguçar a curiosidade daqueles que não são usuários assíduos deste espaço. Embora o projeto ainda não esteja finalizado, já é possível notar alguns resultados interessantes. Obviamente, é muito mais fácil para os alunos que são leitores assíduos desvendar os enigmas. Porém, muitos estudantes 1 Auxiliar de biblioteca há quase dez anos na E. M. Professor Hilton Rocha (Regional Barreiro). Graduado em História (Licenciatura) pela UFMG. É poeta, músico e compositor. Em junho de 2013, lançou, com o amigo Paulo Marcos M. Santos, o livro Metades, uma obra que reúne poesias dos dois autores.
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que não são leitores procuram a biblioteca para tentar encontrar o livro ao qual o enigma se refere. Há casos de alunos que vão até as estantes e folheiam os livros, na esperança de desvendarem as charadas. Já em outros casos, recorrem a sites de busca da internet para tentar descobrir de qual título o trecho contido no enigma faz parte. Apesar de muitos desses esforços se revelarem ineficazes, é interessante notar que, por meio dessas estratégias, os estudantes, mesmo que indiretamente, acabam tendo contato com os títulos do acervo. E se sentem mais atraídos pelo espaço e pelos livros revelados nos enigmas.
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Adriana Paula Menezes Rêgo1
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Conhecendo a Biblioteca
Sou formada em Educação Artística pela UFRJ e trabalho na PBH desde o início da implantação do Programa de Revitalização das Bibliotecas, como foi chamado em sua época de criação, em julho de 1997. Desde então, venho fazendo trabalhos com as turmas: teatro, reconto, projeto “Conservação dos livros da nossa biblioteca”, Projeto “Lendas do Folclore brasileiro” (confecção de livrões), Projeto História em Quadrinhos, dentre outros. Em 2014, tive uma pequena participação no projeto da professora Eliane Malagolli (turma 408), chamado “Maleta viajante”. O projeto foi iniciado com o livro “Nome e sobrenome”. A turma fez uma releitura e confeccionou um livro. Cada aluno foi autor de uma página, falando sobre seu personagem. As ilustrações foram feitas com recortes à mão (sem utilização de tesouras). A cada semana um aluno era escolhido para levar para casa a maleta contendo o livro e um caderno, que ele trazia na outra aula com o depoimento de seus pais, por escrito. A maleta e o caderno foram confeccionados por mim, com a caixa do kit de literatura que as crianças ganharam e com revistas em quadrinhos. Depois de todos os alunos terem levado a maleta para casa, a cada semana era escolhido um livro na biblioteca e levado na mala viajante para o reconto na sala. O objetivo do projeto era a maior participação do responsável com a leitura, assim interagindo mais com a criança e debatendo os temas propostos.
1 Auxiliar de Biblioteca na E. M. Oswaldo França Júnior.
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Mas o que gostaria de destacar é o projeto que faço todo início de ano letivo, paralelamente aos outros. Dei o nome de “Conhecendo a biblioteca”. O objetivo é que o aluno, ao longo de sua vida escolar, tenha mais intimidade com a biblioteca, seu espaço, seus materiais e que adquira o hábito da leitura de uma maneira diferente. Foi uma forma que encontrei de deixar as crianças mais à vontade na hora de buscar um livro e, ao mesmo tempo, perder o medo do espaço e do auxiliar de biblioteca. Procuro trabalhar com as turmas do final do segundo ciclo, o público que atendo no turno em que trabalho. Primeiro, porque já começam a se interessar pelos livros expostos nas estantes. Depois, como vêm de outro turno, ficam receosos na hora da consulta. A partir daí, nos anos seguintes, os alunos se tornam mais confiantes no momento da escolha de um livro. Faço um primeiro contato com um bate-papo informal para apresentação e explico o projeto. Ele acontece durante todo o ano letivo, dentro da disponibilidade do horário marcado semanalmente com a professora. É organizado em alguns tópicos, dentre eles: apresentação da auxiliar de biblioteca e dos alunos; normas da biblioteca; pequeno relato de como eles veem a biblioteca; organização do nosso espaço; contação de causos; poesias; trava-línguas; reconto com livros de imagens; biografias; manuseio de dicionário, enciclopédia, periódicos, partes de um livro (o que é folha de rosto, capa, contra-capa, orelha, lombada, dedicatória, edição). E entre um tópico e outro, costumo fazer uma dinâmica de grupo para ver se assimilaram tudo o que foi ensinado. A aprendizagem se torna muito mais divertida e atraente. No fim de cada ano letivo, peço que repitam o relato de como veem a nossa biblioteca e fazemos uma comparação com os relatos iniciais.
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Um dos tópicos que mais acho interessante de trabalhar é o da organização da biblioteca, especificamente da organização dos livros de literatura nas estantes. A maioria dos alunos não sabe como é organizado todo o material existente. Não sabem, por exemplo, que o livro possui um registro, que tem a ficha catalográfica, que tem endereço na estante. Ficam assustados quando conto que ali existem mais de 15.000 títulos registrados e que eles não são guardados aleatoriamente. Explico para que serve o registro e a etiqueta nos livros e aproveito para fazer uma dinâmica com eles. Escrevo em um papel A4 as informações de uma etiqueta, só que em tamanho bem grande. Essa etiqueta é colada no peito do aluno. Assim, ele se torna parte do acervo da biblioteca, ele vira um livro. Escolho também um outro aluno para fazer o papel do bibliotecário. Misturo os “alunoslivro” para que o “aluno-bibliotecário” guarde-os na estante da maneira correta. Isso facilita nosso trabalho diário de guardar o material no fim
Outro tópico interessante é a organização dos livros por gênero e faixa etária. Criamos uma tabela com cores para facilitar na hora da procura dos livros. As estantes são organizadas por faixa etária e ciclos. Em nossa biblioteca, há estantes coloridas, o que, de imediato, já é um facilitador para que o aluno identifique os livros aos quais poderá ter acesso. Além disso, criamos uma tabela em que os livros são encontrados pela cor. Em cada lombada, colocamos uma cor para identificálos pela faixa etária, organizando o acervo por ciclos (na parte de cima da lombada) e pelo gênero literário (na parte de baixo da lombada). Assim, quando o aluno vai à biblioteca, já tem a liberdade e a noção de onde encontrar o livro desejado.
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do expediente. O aluno se conscientiza de que é muito mais produtivo se tivermos uma biblioteca organizada e de fácil acesso ao material. No início ninguém quer ser o bibliotecário nem o livro, mas no final todos participam e ficam muito entusiasmados.
Como exemplo: IJ é de cor azul na lombada na parte de cima, infantil é de cor verde, literatura estrangeira é na cor preta, e assim por diante. A tabela com todas as cores correspondentes fica fixada em uma das estantes para que o aluno possa consultá-la sempre que preciso. Da mesma forma, foi feito em livros de imagem, em livros de Histórias em Quadrinhos, em livros de folclore etc. Essa estratégia das cores, além de facilitar a busca, pelo aluno, facilita muito também nosso trabalho, pois a identificação do livro é imediata.
Referência: KUHLTHAU, Carol. Como usar a biblioteca na escola. Tradução de Bernadete Campello. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. 303 p.
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Daniela Cristina Ferreira Campos1
O projeto “Mais poesia, por favor!” foi pensado a partir da necessidade de inserir o professor no ambiente da biblioteca escolar, na E. M. Sebastiana Novais.
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Mais poesia, por favor!
Inicialmente os projetos e ações realizados na biblioteca de nossa escola eram voltados exclusivamente para os alunos. Com isso, percebemos um certo afastamento dos professores e um não reconhecimento daquele local como seu. Para incentivar e promover o encontro do professor com a biblioteca escolar, desenvolvemos um projeto que levou “o mundo da letras” para além do espaço físico da biblioteca. Neste trabalho, foram escolhidos diversos textos e autores que trouxessem um momento lúdico, de delicadeza e que possibilitasse ao professor se sentir acolhido e, ainda, o incentivasse a buscar a biblioteca como espaço de trabalho, recreação e parceria. Espalhamos textos e poesias com enfeites chamativos, em locais frequentados pelos professores (sala dos professores, banheiros, copa, secretaria, cantina). O resultado foi imediato: todos os profissionais se interessaram pelos textos (comentando, pedindo cópias, elogiando e relatando que os poemas e textos traziam um momento de beleza e tranquilidade no dia a dia de trabalho). Com isso, os vínculos foram estreitados, promovendo um trabalho mais interativo entre sala de aula e biblioteca. O projeto foi, inclusive, levado para fora da escola; professoras se interessaram e fizeram o mesmo em seus prédios e em uma igreja. 1 Psicóloga por formação, auxiliar de biblioteca de profissão e coração na E. M. Sebastiana Novais. Está na RMEBH há 8 anos (2 anos como estagiária e 6 como auxiliar de biblioteca).
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Este projeto nos mostrou que simples ações podem ser precursoras de grandes mudanças. A intervenção, por meio da poesia, rompeu com a estética do ambiente escolar e facilitou a percepção de que a biblioteca é um espaço vivo, dinâmico, interessante e coletivo. Além de ampliar seu “poder” de ação.
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Alessandra da Silva Guedes Colares1 Bruna Reis Afonso2 Selma Maria Nogueira Lima3
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Biblioteca escolar na educação infantil: um espaço para a formação integral
A biblioteca da escola de educação infantil Maria da Glória Lommez homenageia, por meio de seu nome, um personagem fictício, o Bonequinho Doce, protagonista do clássico infantil da autora Alaíde Lisboa. Durante o ano letivo, percebemos a necessidade de ressaltar esse aspecto relevante para a construção de uma relação diferenciada com a biblioteca, a fim de que ela seja apropriada como local de fruição literária pelos estudantes. O projeto “Apresentando a Biblioteca Bonequinho Doce” visou sensibilizar os estudantes em relação à utilização do acervo e equipamentos da biblioteca, além de encantá-los com a história do Bonequinho Doce. O projeto foi realizado no período de 28/07/2014 a 18/08/2014, tendo como público-alvo educandos de 2 a 5 anos. Desde sua concepção, o projeto buscou aliar os conhecimentos e atividades realizadas em sala de aula com as ações promovidas na biblioteca, portanto, a participação das professoras, direção e coordenação pedagógica foi indispensável para sua elaboração e execução. As atividades foram divididas em três etapas, com duração aproximada de 35 minutos. No primeiro momento, exibimos o desenho animado Caillou bibliotecário (Caillou, At The Library). Caillou é um menino de 1 Professora na Educação Infantil desde 2008. Tem formação na área de Comunicação Social com habilitação em Produção Editorial. 2 Graduanda em História/licenciatura. Foi auxiliar de biblioteca na RMEBH. 3 Graduada em Pedagogia e pós-graduada em Educação Infantil e Língua portuguesa. Professora da RMEBH desde 2009.
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4 anos que vai com a irmã pequena à biblioteca para ouvir histórias e fazer empréstimo de livros. O desenho retrata alguns comportamentos, anseios e receios que as crianças pequenas costumam apresentar na biblioteca. Esse episódio foi escolhido para ser a fonte motivadora da conversa sobre o que é uma biblioteca, sua finalidade e qual comportamento deve ser adotado nesse ambiente, como também para estabelecer combinados com o objetivo de promover uma boa convivência na biblioteca. Ao fim da primeira etapa do projeto, pediu-se às crianças que fizessem uma representação gráfica da biblioteca. O fechamento da atividade se deu com a leitura de Dez motivos para amar os livros, de Jonas Ribeiro (para crianças de 3 anos), Ler é uma gostosura, de Todd Parr (4 anos), Para que serve um livro, de Chloé Legeay (5 anos). A segunda etapa do projeto centrou-se na história O Bonequinho Doce. Realizou-se a contação da história, seguida pelo reconto das crianças. Com o objetivo de aliar a literatura com conhecimentos matemáticos, as crianças de 5 anos fizeram uma colagem representando o Bonequinho Doce geometricamente. Com as crianças de 2 e 3 anos, a ênfase foi no reconhecimento das partes do corpo: distribuímos papéis cortados nos formatos de chapéu, blusa, calça e cabeça, para que as crianças montassem o personagem e completassem o desenho com olhos, boca, mãos e pés. A última e mais saborosa etapa do projeto foi a degustação do Bonequinho Doce, construído com as crianças, utilizando biscoito de maisena e doce de leite. Finalizamos as atividades com a leitura de A menina dos Livros, de G. Aguiar. Assim, buscamos promover práticas de leitura enriquecedoras, que possibilitaram momentos de prazer e aprendizado para as crianças, contribuindo para sua formação integral.
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Nilza Pires de Azevedo1
Na biblioteca da E. M. Wladimir de Paula Gomes, foi desenvolvido, a partir de 2008, o projeto “Formação de leitores e contadores de histórias”, com o objetivo de divulgar o acervo da biblioteca e despertar o interesse pela leitura.
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Formando leitores e contadores de histórias
Criado pela autora deste relato, e contando com o apoio da equipe da biblioteca, da direção, da coordenação e de professores, o projeto consistia primeiramente na escolha de um livro, pelo aluno. Após a leitura, o estudante recebia orientação sobre como fazer a contação ou a representação teatral do livro, conforme a opção feita por ele próprio. Em seguida, o estudante fazia a apresentação para sua turma e, depois, era convidado para se apresentar em outras turmas e turnos. Assim, surgiram diversos leitores e contadores de histórias e seus respectivos personagens, dentre os quais destacamos: as alunas Isabelly (em 2009) e Ana Luisa (em 2011), como Menina Bonita do Laço de Fita, de Ana Maria Machado, livro constante do kit escolar 2004. A aluna Jenifer (em 2009) como A bonequinha preta, de Alaide Lisboa, do kit escolar 2009. Os alunos Vitória e Caio (em 2011), leitores de A princesa e o vento, de Martha Rodrigues. Natália (em 2011) foi a Narizinho, de Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Hugo e Raynara (em 2011) interpretaram Romeu e Julieta, de William Shakespeare, livro do kit 2009. O aluno Cauã (em 2012) foi O rei de quase-tudo, de Eliardo França (kit 2009). Por meio do projeto, houve apresentações de peças teatrais, dentre elas, “Teimosinho e Mandão” e “Palhaços Pijaminha e 1 Professora readaptada na biblioteca.
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Me-Chama”. A primeira foi interpretada pelos alunos Johnny e Miachael Wagner, com base no livro Dois idiotas sentados cada qual no seu barril, de Ruth Rocha. A segunda, por Gabriel e Arthur, alunos do segundo ciclo, das turmas das professoras Elaine e Isabela. Dentro do projeto, como parte do Chá Literário da Biblioteca, foi encenada a peça “Curta Peça Teatral” (em 2011), onde estiveram presentes os personagens: Dom Quixote e Sancho Pança (alunos Daniel e Darlan), da obra O cavaleiro do sonho: as aventuras e desventuras de Dom Quixote de la Mancha, de Ana Maria Machado (kit escolar 2010); Sherlock e Dr. Watson (alunos Lucas e Rafael), de Sherlock Holmes: um estudo em vermelho, de Arthur Conam Doyle (kit escolar 2007); Robinson Crusoé (aluno Guilherme), da obra homônima de Daniel Defoe (kit literário 2009). As alunas Jenifer e Franciele foram as princesas do Clube da Tiara e a aluna Ana Beatriz (2012) em Murucututu: a coruja da noite, de Marcos Bagno (kit 2010). Além desses, outros estudantes atuaram como “Guilherme Tell”, Beremis Samir (O homem que calculava); Peter Pan; Poliana e a Xerazade de Diomira e o coronel Carrerão: a Sherazade do Sertão, de Ivana A. Leite (kit 2012). Também aconteceram apresentações conjuntas de leitores e contadores na II Jornada Literária “Sons, Cores, Imagens e Sabores: Áfricas no Brasil”. Alunos do 2º ciclo pesquisaram, contaram e encenaram histórias africanas e afro-brasileiras, dando ênfase aos personagens Zumbi, Ganga Zumba, Chico Rei, Dandara, Chica da Silva, Luiza Mahin e Rainha Nzinga. Os alunos Jonatha, Arthur, Maria Luisa e Bianca (em 2012) atuaram, respectivamente, como os personagens dos livros Zumbi, o último herói de Palmares, de Carla Caruso; Palmares, a luta pela liberdade, história em quadrinhos de Eduardo Vetillo; Chico Rei, de Renato Lima; Almanaque pedagógico afrobrasileiro, de Rosa Margarida Carvalho Rocha; e as princesas africanas Zaila e Abena, das histórias Quatro presentes para Zaila, de Rita de Cássia, e O casamento da princesa, de Celso Sisto – livros compostos do kit de Literatura Afro-Brasileira 2010-2011. O projeto, de certa maneira, contribuiu para a melhora da autoestima e do comportamento dos alunos participantes, bem como para a integração e o intercâmbio entre a biblioteca, os leitores e os demais grupos pedagógicos da escola, como mostram dois dos depoimentos, citados abaixo:
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“Naquela época, ajudava bastante na prática da leitura. A professora levava os alunos para a biblioteca, onde nós fazíamos momentos de recreação teatral e contávamos um pouco das histórias aprendidas. Todos os alunos se divertiam muito, na hora de “se” vestir como os personagens e mostrar os iniciantes
“Fizemos uma grande parceria com a biblioteca. Lembro-me bem de que os alunos ouviam e também contavam histórias. As histórias ganhavam ‘vida’ quando os alunos se fantasiavam. Ajudei a divulgar o trabalho no blog “Conta uma História”, da jornalista Rosa Maria Miguel Fontes (publicado em 28/08/2011). Espero que esse projeto continue sempre!” (professora Elaine Oliveira).
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talentos. Entre eles, lembro-me de interpretarmos O menino Maluquinho (eu e o colega Lucas, que também interpretou o Menino Marrom).” (aluno Douglas Henrique).
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André Luiz G. Silva1
Na biblioteca da E. M. CIAC Lucas Monteiro Machado, localizada no bairro Vila Pinho, na regional Barreiro, criamos um mural para possibilitar a expressão direta e aberta dos frequentadores do espaço.
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Mural “Fala aí”
Nesse mural, folhas brancas estão organizadas em “Eu gosto”, “Eu não gosto” e “Eu sugiro”. Nelas, as pessoas são convidadas a emitir suas opiniões sobre o funcionamento da biblioteca, a convivência no espaço, ideias de projetos a serem desenvolvidos, elogios, críticas ou o que mais vier à cabeça de quem a frequenta. Esse mural fica a uma altura onde todas as pessoas que passam pela biblioteca possam lê-lo e nele intervir. Mesmo os alunos menores. Os estudantes que ainda não são alfabetizados também são convidados a intervir, mesmo que por meio de desenhos. O projeto começou com a instalação do mural, a orientação de como ele funcionaria e o estímulo constante à intervenção. Esse tipo de proposta já é adotada em várias escolas, mundo afora, e tem como objetivos, dentre outros, democratizar o espaço escolar e permitir a troca de opiniões, dando voz aos estudantes e frequentadores. Dessa forma, torna a escola num lugar mais agradável, criativo e participativo. 1 Auxiliar de biblioteca da RMEBH, há um ano. Pesquisador informal de ideias e projetos que propiciem a apropriação e a democratização dos espaços escolares por estudantes e demais membros da comunidade. Estudante do curso de graduação em Educação Artística pela Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG.
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São muitas as intervenções de estudantes nesse mural, o que demonstra o grande interesse em se expressarem e contribuírem com melhorias na biblioteca. Surgem muitas sugestões engraçadas e divertidas também! O que vai sendo postado no mural, ao longo das semanas, serve de material para discussões que acontecem uma vez por mês, com as turmas de estudantes que vão à biblioteca. Assuntos como conservação do acervo, comportamento na biblioteca, organização do espaço, sugestões de livros e materiais, elogios, críticas, decoração, convívio e respeito são discutidos, a partir do que os próprios frequentadores expressam e compartilham. Essas conversas acontecem em roda, onde estudantes, professores e profissionais da biblioteca conversam de maneira horizontal, num momento democrático, amistoso e com encaminhamentos do grupo. As reuniões funcionam próximas da ideia de assembleias estudantis. Essa experiência de discussão contribui para a apropriação da biblioteca por parte de seus frequentadores, além de criar uma ótima possibilidade de participação dos estudantes na gestão e na decisão dos rumos que a biblioteca toma. Dessa forma, desenvolve uma educação para o entendimento da relação do indivíduo com o espaço publico. Desde o momento em que o mural foi instalado, ele já começa a fazer diferença na escola, como, por exemplo: melhoria no comportamento dos alunos; um maior entendimento do funcionamento da biblioteca; e sugestões de que a biblioteca abrisse nos horários de recreio, o que não vinha acontecendo. No recreio da tarde, isso já começa a virar realidade. Foi sugerido também que a biblioteca seja mais enfeitada. E já começam a ecoar discussões, a partir das rodas de conversa, no sentido de melhorar a aparência da biblioteca, por meio da construção coletiva de projetos. A impressão que tenho, depois do início deste projeto, é que os frequentadores da biblioteca, principalmente os estudantes, adorariam contribuir com o espaço, e o que faltava era abertura para isso. É um projeto recente nesta escola, mas que inspira um grande potencial de aprendizagem e de transformação da biblioteca, a partir de seus próprios frequentadores. Pretendemos, com ele, estimular a apropriação da biblioteca pelo público e aprimorar maneiras de envolver a comunidade escolar nesse espaço.
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Felipe Frederico de Oliveira1
Quando entrei na Prefeitura de Belo Horizonte e participei da formação “Oficina para novos auxiliares de biblioteca”, promovida pela Coordenadoria do Programa de Bibliotecas da SMED, uma das possibilidades que me chamou a atenção foi a criação da comissão de seleção de acervo da biblioteca. Durante toda a minha trajetória acadêmica, estudei a cidade e sua relação com a democracia e a participação popular, assunto para mim de importância central na discussão sobre a política. A principal ideia de se desenvolver uma comissão de seleção era mostrar ao aluno que o espaço pertence também a ele, e que sua opinião é de vital importância para a construção do acervo, que a biblioteca só tem sentido com a utilização por estudantes e professores. Ao criar um espaço aberto à gestão da biblioteca, o que se espera ganhar é a apropriação do espaço pelos leitores, revitalizando a biblioteca que havia sofrido com a ausência de funcionários durante um certo período.
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Uma aposta na participação
Quando cheguei à E. M. Governador Ozanan Coelho, não consegui vislumbrar a criação imediata da comissão, já que não havia uma relação ainda estabelecida com alunos e professores para que a iniciativa desse certo. Além disso, o tempo escolar não é muito propício para organizar reuniões com professores e alunos. No dia a dia, no entanto, fui percebendo que o acervo não era tão convidativo para os alunos com os quais trabalho, praticamente só terceiro ciclo, e 1 Bacharel e Licenciado em História pela PUC-MG, já lecionou em algumas ocasiões desde que se formou. Fez iniciação científica e participou em projeto de extensão (participação e movimentos sociais era o eixo nas duas ocasiões). Foi auxiliar de biblioteca na PBH de 2013 a 2015. Atualmente, é professor da RMEBH.
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que, após a primeira compra, baseada na experiência da bibliotecária que acompanha a biblioteca, o fluxo de alunos aumentou consideravelmente. Eu pensei que a oferta de determinados títulos poderia ser central para revigorar a biblioteca e tornar o trabalho mais prazeroso. No segundo semestre do mesmo ano, decidi que criaria um momento de participação, ou, pelo menos, tentaria condicionar a compra de literatura infantojuvenil à vontade dos alunos. Concluí que, por hora, o melhor modelo para efetivar a ação seria perguntar aos estudantes o que comprar. Passei de sala em sala e pedi a todos que escrevessem listas dos livros que eles gostariam que fossem comprados. Num primeiro momento, aqueles que já eram frequentes no espaço me entregaram a lista com bastante rapidez, mostrando certa vontade em participar e sinalizando, no que diz respeito à leitura feita por prazer, que nossa biblioteca ainda apresenta grande defasagem de títulos. Uma semana após a primeira ida às salas, voltei e me surpreendi com o retorno: vários alunos que não tinham o hábito de frequentar a biblioteca me entregaram listas com suas preferências e me perguntaram como funcionaria o processo de compra. Perguntas como: se todos os livros das listas seriam adquiridos, qual a quantidade e, principalmente, quando seriam comprados. Os livros mais pedidos pelos estudantes são do gênero fantasia, com elementos de terror, sagas épicas com adolescentes sendo tragados para um turbilhão de guerra e problemas que podem definir o futuro da humanidade. Títulos como Instrumentos mortais, Jogos vorazes e outros similares foram bastante frequentes nas listas. Revistas em quadrinhos e outros suportes literários também aparecem, em menor escala. Receber as sugestões de compras dos alunos tornou a biblioteca um ponto de interesse para todos que participaram da elaboração das listas. Eles perguntam quando será feita a compra e se os livros novos já chegaram. A experiência ainda não foi concluída, e esperamos que a verba chegue em breve para montar uma ação de divulgação da compra e para ver o retorno dessa ideia que, para o próximo ano, se tornará uma prática corriqueira e, se tivermos êxito, revigorante do espaço escolar.
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Kelly Aparecida Santos Said1
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Catálogo de sugestões de livros por tema
No cotidiano do atendimento ao usuário, seja ele aluno, professor, funcionário da escola ou mesmo membro da comunidade, é constante a demanda por sugestões de livros, na maioria das vezes de um determinado tema; noutras, simplesmente a indicação de algum livro interessante para a leitura por lazer. Embora passem por nossas mãos centenas de títulos que possam atender à demanda, torna-se inviável guardar tudo na memória para ser indicado quando solicitado por algum leitor. Sendo assim, ocorreu-me a ideia de sintetizar as informações num catálogo, semelhante a um cardápio, de forma a agilizar a consulta, viabilizando inclusive a circulação de livros que não estejam entre aqueles de sucesso em determinado momento. Embora seja uma espécie de indexação, ou seja, um índice que facilita a localização de determinada obra, seja pelo título ou pelo nome do autor, as informações contidas neste “cardápio literário” são sucintas, de forma a facilitar o uso por qualquer leitor, de qualquer idade, de modo que o material fique disponível sem a necessidade de esperar que o funcionário o ajude a escolher um título, o que também torna mais rápido o atendimento. Muitas vezes, o leitor chega à biblioteca sem ter decidido que tipo de livro vai levar; ou, às vezes, ele tem interesse por algum tema, mas, devido à grande quantidade de títulos do 1 Formada em Design de Ambientes pela UEMG. É auxiliar de biblioteca na E. M. Lídia Angélica, desde abril de 2008, e servidora na RMEBH desde Julho de 1997.
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acervo, acaba desanimando a se enveredar pelas estantes até encontrar algum que prenda sua atenção. É muito comum que alguns leitores, por meio de indicação prévia de colegas, nos procurem com dados vagos sobre determinada obra (se traz um tema atual ou inspirou um filme, por exemplo), inviabilizando o acesso, caso o profissional de biblioteca não esteja a par do que acontece no cinema, ou não tenha lido aquele livro para ajudá-lo a se lembrar do título. Assim, nasceu a ideia de algum registro que auxiliasse o leitor na busca. As novidades vão sendo incorporadas ao catálogo, sendo que os mais assíduos acabam indo diretamente a esse recurso e, muitas vezes, dispensam ajuda na procura, sendo eles mesmos capazes de localizar o que procuram, o que dá mais agilidade ao empréstimo. O catálogo também vem sendo usado por professores, quando precisam utilizar determinados livros específicos, com temas discutidos em sala de aula ou, por exemplo, sobre datas comemorativas. Há funcionários com boa memória, que conseguem guardar uma série de títulos apropriados para indicá-los, entretanto, são poucos. O catálogo surge como uma alternativa, pois não há nada mais frustante do que dizer a um leitor que não temos nada sobre o tema procurado e, tempos depois, encontrar alguma publicação que poderia tê-lo atendido a contento. À medida que o acervo vai crescendo, torna-se inviável lembrar de cada um dos títulos; com o catálogo à mão, ter uma memória extraordinária não é requisito para se trabalhar na biblioteca. Felizmente.
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2.3 Incentivo Ă leitura
Hilton Soares Cardoso Junior1
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Biblioteca: lugar de acolhimento, convívio e reconhecimento
Temos o hábito de premiar todos os alunos que completam sua ficha de leitor. O projeto “Leitor Nota 10”, idealizado pela bibliotecária Cláudia Barros, é realizado ao longo de todo o ano letivo e a premiação é feita sempre que um aluno completa seu Cartão de Leitor sem atrasos ou débitos. O prêmio consiste em um kit com livros literários, material escolar e guloseimas, junto do “Certificado de Leitor Nota 10”, atestando que o aluno é um bom leitor e respeita as normas da biblioteca. Durante 6 anos atuando em biblioteca escolar, tive a oportunidade de entregar dezenas de kits e percebo o quanto os meninos ficam felizes por receberem esta premiação. Pude também perceber, no sorriso e na expressão de surpresa, o gosto de ser reconhecido pela biblioteca. Em nossa escola, não há horário marcado de visita à biblioteca. O ato de vir até ela torna-se essencialmente voluntário, estando o espaço sempre disponível para eles entrarem e fazerem consultas e empréstimos, quando quiserem. Antes de completar uma ficha de leitor (que significa o empréstimo de 44 livros), o aluno descobre a biblioteca e percebe que esse espaço é para ele; que ele pode pegar livros; conhecer histórias; criar gosto por algum gênero literário até, 1 Graduado em Cinema e Audiovisual pelo Centro Universitário UNA (2011) e pós-graduado em Educação e Cinema pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Dirigiu o documentário Imaginário Cotidiano, que apresenta três pessoas com realidades cotidianas diferentes que são convidadas para um desafio: lerem um mesmo livro infantil e contarem a leitura que cada um fez da história. Atua desde 2010 como auxiliar de biblioteca da E. M. Presidente Tancredo Neves, da RMEBH.
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finalmente, criar o hábito da leitura. Ainda que o aluno não leia todas as obra, apenas as folheie, de alguma forma, ele está tendo contato com o livro. Aqueles que pegavam os livros apenas pela premiação ficaram pelo meio do caminho, mas tantos outros usuários descobriram o gosto pela leitura. Quanto a nós, mediadores, tivemos 44 oportunidades de olhar para o leitor, criar laços com ele, conhecer seu gosto pessoal, compartilhar histórias que nos marcaram; 44 oportunidades de indicar um livro, de perguntar se o aluno gostou da história que leu. O aluno pode até revelar que não gostou do livro, já que há tantas outras obras pelas quais ele pode se interessar. Foram 44 oportunidades de dizer – e mostrar – a ele que a leitura vale a pena! Sendo assim, a premiação funciona apenas como um marco da relação que foi construída com o aluno, no qual reconhecemos o seu esforço. Ele não é recompensado porque completou uma ficha de leitor, mas sim porque adquiriu o hábito da leitura. Se hoje ele recebeu um certificado de reconhecimento e um kit, amanhã receberá um certificado de conclusão de curso, para depois conseguir um emprego e ter uma vida digna, tendo a leitura como um hábito. Não importa se o aluno levou 1, 2 ou 5 anos para completar a ficha, o que importa é que podemos auxiliá-lo nesta semeadura, em que os frutos serão colhidos no decorrer de toda a sua vida! É por isso que afirmo, com base na minha experiência, que o “Leitor Nota 10” é capaz de incentivar a leitura; e testemunho isso ao encontrar exalunos no ônibus com um livro a tiracolo ou retornando à biblioteca, como usuários da comunidade. Estes não serão mais contemplados pelo projeto, mas tenho certeza de que serão recompensados pela vida, tendo como lembrança a biblioteca escolar como um lugar de acolhimento, convívio e reconhecimento!
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Maria Elisa de Oliveira Bastos1
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Ler é viajar nas asas da imaginação
Desde meu ingresso na E. M. Maria das Neves, há seis anos, desenvolvo projetos relacionados à divulgação da informação em seus diferentes suportes, além do incentivo à leitura e a divulgação do acervo da biblioteca da escola. É sabido que a leitura é o caminho para ampliação da percepção de mundo das pessoas. É também condição de cidadania, pois permite a interpretação dos diversos textos inseridos na sociedade (panfletos, propagandas, placas de sinalização, nomes de ruas etc.). Quanto mais um indivíduo lê mais integrado com o seu meio ele estará. Objetivando inserir os alunos nessa cultura letrada, mas respeitando seus diferentes níveis de letramento, dependendo do contexto social e cultural de cada um, foi necessário implementar na escola um projeto voltado especificamente para a leitura. Em março de 2014, em parceria com a professora Carla Cristina Caldas, do quinto ano do II ciclo, foi lançado o projeto “Ler é viajar nas asas da imaginação”. Seu objetivo foi incentivar o hábito da leitura entre os alunos e divulgar o acervo da biblioteca. As seis turmas do turno da tarde também foram incluídas neste projeto. A proposta era envolver todos os 145 estudantes do quarto ao sexto ano, possibilitando que eles experimentassem a 1 Formada em Jornalismo. Auxiliar de Biblioteca na E. M. Maria das Neves, da RMEBH. Atualmente, é aluna do curso de Biblioteconomia da UFMG.
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leitura de vários gêneros literários. Dos alunos que só liam livros em caixa alta até os mais desinteressados, eles foram motivados a ler mais, com o projeto. Passaram a se interessar por livros sugeridos pela biblioteca, de acordo com sua faixa etária, e até se arriscaram a levar emprestadas obras com maior número de páginas. Tiveram interesse por livros de poesia, fábula, romance, suspense, crônica, tragédia, conto, literatura brasileira e estrangeira. De forma geral, os alunos mostraram-se interessados pelas atividades propostas pelas professoras. O registro de cada livro lido foi realizado em um caderno próprio, contendo título, nome do autor, a parte preferida, desenho que mais representasse a obra e, no final, um comentário de um familiar sobre aquele livro lido. Dos meses de abril a novembro de 2014, foram lidos 680 livros distribuídos entre as seis salas. O controle do empréstimo foi realizado sistematicamente mês a mês até o dia 30 de novembro. Este número é a prova de que a iniciativa deu resultado e que serviu para incentivar ainda mais os alunos da E. M. Maria das Neves. Considero que o trabalho alcançou os objetivos propostos, chamando a atenção da comunidade escolar para a importância da leitura, além de evidenciar o riquíssimo acervo que a biblioteca possui. O projeto foi uma iniciativa de sucesso e também serviu de inspiração para outras escolas da prefeitura na medida em que foi bastante divulgado na mídia. Foi capa do Diário Oficial do Município – DOM do dia 02/04/14 e matéria no dia 04/10/12. Também foi notícia no jornal Hoje em Dia e em várias matérias no blog da Regional Centro-Sul da Prefeitura de Belo Horizonte.
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Rosane Lomeo1 Érica Patrícia2
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Jornada literária da Primavera
A biblioteca da E. M. Professora Eleonora Pieruccetti realizou, no mês de outubro de 2014, a Jornada Literária da Primavera, com a participação dos alunos do primeiro ao terceiro ciclos. O evento foi idealizado e coordenado pelas autoras deste texto e contou com a participação da professora Elizabete Rossete; das estagiárias Débora Maia e Kelly Fonseca e da estagiária de Língua Portuguesa, Rebeca Maia. No período da manhã, os alunos conheceram a biografia e obras do escritor mineiro de literatura infantojuvenil, Leo Cunha, e do escritor inglês Sir Arthur Conan Doyle, dando destaque ao seu imortal personagem Sherlock Holmes. Os alunos também participaram dos jogos de quiz literário e se divertiram com as adivinhações das caricaturas de escritores brasileiros e estrangeiros. Tendo em vista que grande parte dos alunos não tem o hábito de frequentar a biblioteca, foi interessante apresentá-la durante as visitas, chamando a atenção para o seu rico acervo e para a identificação dos livros nas estantes. Para contações de histórias, foi convidado o professor de História do segundo ciclo, Herbert de Oliveira Timóteo, que contagiou os alunos presentes com as suas fascinantes narrativas. Houve também recital, no horário do recreio, com grupos de alunos inscritos antecipadamente, e roda de leitura. Esta proporcionou o estímulo à interpretação de 1 Auxiliar de biblioteca da E. M. Professora Eleonora Pieruccetti. 2 Auxiliar de biblioteca da E. M. Professora Eleonora Pieruccetti.
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textos variados escolhidos pelos próprios alunos. Ainda foram realizadas oficinas de marcadores de páginas que, assim como as rodas de leitura, ocorreram após o horário de aula. Houve um envolvimento surpreendente dos alunos com todas as atividades propostas. No período da tarde, foram feitas contações de histórias, confecção de marcadores, cruzadinhas, desenhos, confecção de cartazes sobre a primavera, com recortes e pintura, escambo literário, brincadeiras como: “o que é o que é?”, trava-línguas, dentre outras. Tudo ocorreu com a participação efetiva dos alunos e com premiações para aqueles que mais participavam e acertavam as adivinhações. O encerramento da jornada ocorreu com intervenção de dança de um grupo de estagiários do curso de Dança da UFMG. Os alunos envolveramse entusiasmadamente com esse momento inusitado. A Jornada ocorreu com sucesso e propiciou uma agradável aproximação do aluno com a biblioteca. A importância do projeto foi a integração do aluno a esse espaço de aprendizagem e descobertas, com o intuito de promover o estímulo ao mundo da literatura.
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Eliane Vaz Rodrigues Gomes1 Jéssica Patrícia Silva de Sá2
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Projeto Clube de leitura
A proposta da criação de um clube de leitura na biblioteca da E. M. Aurélio Pires partiu da bibliotecária Eliane Vaz e contou com a participação da auxiliar de biblioteca Jéssica de Sá e da professora em readaptação Simone Pena. O principal objetivo foi o incentivo à leitura dos alunos do 3º ciclo, pois eles realizam empréstimos com menor frequência se comparados aos alunos dos outros ciclos. As professoras de Língua Portuguesa Geísa Andrade e Maria Regina Avelar foram convidadas e aderiram ao projeto, que foi apresentado aos alunos. Aqueles que se interessaram em participar preencheram uma ficha de inscrição, informando seu perfil como leitor: gêneros literários preferidos, quais escritores conhecem, a frequência com que visitam a biblioteca etc. Além disso, as professoras definiram um desafio de leitura para o ano de 2014, que consistia em apontar a periodicidade (lerem um livro por semana, por mês etc.) e a diversidade (lerem autores que nunca leram, lerem determinado gênero etc.). Inicialmente, 80 alunos fizeram sua inscrição. Para realizar um acompanhamento, ao fim de cada leitura, o aluno preenchia uma ficha de leitura, na qual fazia um breve comentário sobre o livro.
1 Bibliotecária aposentada da RMEBH. À época do desenvolvimento do projeto, lotada na E. M. Aurélio Pires. Graduada em Biblioteconomia pela Escola de Ciência da Informação da UFMG. 2 Auxiliar de biblioteca da E. M. Aurélio Pires. Estudante de Biblioteconomia na Escola de Ciência da Informação da UFMG.
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Ficou determinado que aconteceriam 4 encontros do clube mediados pelas profissionais da biblioteca. O primeiro encontro foi realizado em 27/05/14, com os 26 alunos que fizeram empréstimos e preencheram as fichas de leitura, os quais foram considerados ativos no clube. Nesse encontro, eles se apresentaram e realizaram uma troca literária, comentando sobre as leituras desse período. Os alunos receberam brindes e aqueles que mais leram ganharam um livro. Foi feita uma exposição na biblioteca com os livros lidos e os respectivos comentários. O segundo encontro, previsto para a segunda semana de julho, não ocorreu devido à greve dos professores. Um novo encontro, em 07/10/14, contou com 27 participantes. A escritora Melissa de Sá, convidada para um bate-papo, falou sobre seus hábitos de leitura e como isso enriquece a sua escrita. Foi realizada uma dinâmica baseada nos livros lidos. Houve uma votação para escolha do nome do clube e o escolhido foi “Sociedade dos Leitores Vorazes”. Aconteceu a troca literária e entrega de brindes. Até essa data foram produzidas 166 fichas de leitura. O último encontro do clube, no ano, foi marcado para 02/12/14, quando os alunos fizeram uma avaliação do projeto e do próprio desempenho em relação ao seu desafio de leitura. A princípio, pretendia-se atingir os alunos não leitores, mas o grupo que se formou apresentou característica diversa. Em sua maioria, eram alunos que já se interessavam por leitura e, por serem introvertidos, ficavam mais isolados. A formação do clube possibilitou, a esse segmento de alunos, a construção de uma identidade e senso de pertencimento. As profissionais da biblioteca pretendem continuar o projeto e ampliá-lo, uma vez que os encontros foram extremamente enriquecedores para os alunos e professoras e para elas próprias, que puderam conhecer melhor o perfil dos usuários e direcionar com mais eficiência suas propostas de trabalho.
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Carolina Teixeira de Paula1 Andressa Barbosa Gonçalves2 Áurea Cristina Campos Almeida de Faria3 Graciele Anita Ildefonso Passos Chaves4 Nayara Gabriele Santos5
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Clube de leitura da Biblioteca do POEINT
As atividades da biblioteca da E. M. Polo de Educação Integrada (POEINT) tiveram início em dezembro de 2012, com a nomeação de duas auxiliares de biblioteca. Em janeiro do ano seguinte, a bibliotecária assumiu a coordenação dos trabalhos. Em julho de 2013 e fevereiro de 2014, respectivamente, mais duas auxiliares passaram a integrar a equipe. A vivência na biblioteca, exigindo a necessidade de conhecer melhor o seu acervo, e as experiências trazidas pelas profissionais, caracterizadas por perfis e níveis de formação leitora diferentes, expôs a necessidade de aprofundar verdadeiramente no “mundo” da leitura. Mostrou-se que era urgente e necessário um trato especial com a literatura de forma prazerosa, em que fossem valorizadas as trocas de ideia entre as profissionais da biblioteca, a respeito daquilo que o literário é capaz de despertar no leitor. Diante disso, e a fim de estimular a formação leitora das mediadoras de leitura da biblioteca do POEINT e de (com)partilhar leituras e impressões sobre o acervo literário da escola, demos início, em 1 Mestranda em Educação; pós-graduada em Psicopedagogia; graduada em Biblioteconomia e Pedagogia. É uma das coordenadoras do Programa de Bibliotecas da RMEBH e bibliotecária coordenadora da E. M. Polo de Educação Integrada. 2 Graduada em Gestão Financeira Una-BH. Atualmente é auxiliar de biblioteca escolar na RMEBH. 3 Graduada em Geografia e Análise Ambiental pelo Uni-BH. Atuou como professora da Rede Estadual de Belo Horizonte e atualmente é auxiliar de biblioteca escolar. 4 Graduanda em Psicologia na PUC-Minas. Atualmente é auxiliar de biblioteca escolar. 5 Graduada em Letras pela UFMG. Atua na RMEBH como auxiliar de biblioteca escolar.
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junho de 2014, ao Clube de Leitura da Biblioteca do POEINT, ação cultural e de formação em serviço. Ressalta-se que, após a primeira sessão, o encontro foi aberto aos demais funcionários da escola, na tentativa de contribuir também com a formação literária desses profissionais, além de ser uma estratégia importante para atrair público para o espaço. De acordo com a organização do projeto, o período de execução da atividade acontece em forma de encontros mensais, das 12 às 13 horas, período do dia em que as auxiliares de biblioteca estão reunidas, em função do horário de trabalho de cada uma delas. Para a realização da ação foram definidas, coletivamente, quatro etapas: 1) seleção de um livro literário do acervo da biblioteca; 2) definição da data do encontro; 3) elaboração de escala para a leitura do livro, de maneira que cada profissional dedique 20 minutos do seu dia de trabalho à leitura da obra; 4) envio de e-mail para todos os participantes e para o público em potencial (professores e demais funcionários), informando a data do encontro, o título, o autor e um breve resumo do livro selecionado. No dia das sessões, o grupo de leitores se reúne na biblioteca para discutir e debater as ideias apresentadas na obra literária. Ao final de cada encontro, o grupo define o livro a ser lido para o próximo encontro. Avalia-se que o Clube de Leitura da Biblioteca do POEINT tem se configurado em um momento de formação literária e profissional muito proveitoso e produtivo, uma vez que os participantes são bastante comprometidos e gostam muito das trocas de experiências daquilo que o texto literário lhes proporcionou e dos sentimentos aguçados no ato da leitura. Considera-se que, durante os encontros, é possível desenvolver aspectos importantes da formação humana, social e cultural dos sujeitos envolvidos. O Clube é, sem dúvida, uma excelente ação de formação do profissional de biblioteca, pois investe na promoção do hábito da leitura prazerosa, para o deleite. Um desafio a ser vencido é atrair mais público para os encontros.
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Flávia Marieta Silva Lopes xavier1 Patrícia Pereira Paulino2 Ruth Simão Paulino3 Sandra Maria Marques Filomena4
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Processo de reconstrução da Biblioteca da E. M. Carlos Góis
No final de 2013, enfrentamos um desafio: adequação do espaço físico e atendimento mais eficiente da biblioteca. Começamos construindo um acervo de material didático dos alunos, além de acervos de livros do professor, em armários na sala dos professores e escaninhos no corredor. Assim, reconstruímos o espaço físico: higienizamos móveis e equipamentos, dispondo-os de maneira prática, para permitir mobilidade das pessoas. Construímos um acervo classificado e organizado. Em 2014, continuou o trabalho de reconstrução, baseado em ideias e envolvimento conjunto da comunidade escolar. Todos têm sentido a biblioteca como um espaço onde se pode aprender a usar a informação, descobrir o prazer pela leitura, acessar vários textos e fazer ligações entre eles, construir conhecimento, interagir com os pares. Asseguramos o atendimento das necessidades informacionais de trabalho e lazer das comunidades interna e externa. Para alunos, professores e funcionários, oferecemos serviços de organização e distribuição do material didático, empréstimos para uso em sala de aula, separação de livros para bibliotecas de classe, disseminação seletiva da informação, pesquisa 1 Professora de 1º e 2º ciclos, em readaptação funcional na biblioteca da E. M. Carlos Góis. 2 Auxiliar de Biblioteca na E. M. Carlos Góis. 3 Auxiliar de Biblioteca na E. M. Carlos Góis. 4 Apoio à Coordenação – turno matutino da E. M. Carlos Góis.
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local, empréstimo domiciliar. Para pais e moradores da região, é oferecido o serviço de consulta local. A reconstrução é contínua e os resultados são visíveis: biblioteca de portas abertas, acesso livre das 7 às 21 horas, interação da equipe da biblioteca nas atividades da escola, atendimento eficaz e eficiente, interação da comunidade interna com o trabalho da biblioteca. A partir daí, foi possível desenvolver projetos, como: 1) Mediação – Identidade e Literatura. Realizamos o atendimento pensando o aluno como sujeito e descobridor do prazer de ler e estar na biblioteca, contando com auxílio de outros funcionários. A mediação é realizada respeitando a idade do aluno, mas não limitando sua curiosidade diante do espaço e do acervo. O processo de ouvir/mediar a leitura foi positivo e muito acrescentou na dinâmica do empréstimo, no recreio e no interesse dos alunos pela biblioteca. Os livros foram escolhidos com cuidado e dispostos nas mesas, por sugestão da coordenação, para favorecer o contato com as obras e seu manuseio. Trabalhamos o senso crítico do estudante, diante dos livros e sua identidade com a literatura. Foram trabalhados vários temas, gêneros literários e suportes de informação. Os alunos compartilharam anseios, dialogaram e exploraram a criatividade. Ao final, foram distribuídos marcadores confeccionados pelos alunos nas oficinas criativas. 2) Projeto Oficina de Criatividade. Objetivando desenvolver habilidades manuais, tornar o ambiente da biblioteca prazeroso, trabalhar datas comemorativas e a literatura, realizamos oficinas criativas, a partir de determinado tema, usando técnicas de origami, recorte, colagem, desenhos e pinturas. As oficinas acontecem por adesão, no horário do recreio. O material resultante dos trabalhos foi usado para confecção de mural, marcadores de livros e capas de blocos para anotações. 3) Projeto Roda de Leitura. Objetiva atender a alunos com dificuldades na leitura, no turno matutino. As atividades são realizadas com grupos de 3 a 4 alunos, organizados ao redor de uma mesa, onde é feita a leitura de um mesmo livro. Os alunos leem por partes, página a página, e são estimulados a debater e compreender a história. Ao final, assinam a ficha de empréstimo, comprovando a leitura. Sistematicamente são confeccionados murais, com a opinião dos alunos sobre os livros lidos.
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A organização da biblioteca e o desenvolvimento de projetos têm proporcionado a sensação de sucesso no nosso fazer diário: disseminação
Referências: BRASIL. Ministério da Educação. Homem, pensamento e cultura: abordagem filosófica e antropológica – formação pedagógica. Brasília: MEC. 2006. 94 p. DIAS, Maria Célia Pessoa Ayres; SANTOS, Lilia Virgínia martins. Desenvolvimento do acervo das bibliotecas escolares da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/LucianaOliveira26/politica-dedesenvolvimento-de-acervo-bh>. Acesso em: 12 fev. 2015.
Relatos
do conhecimento. Por fim, concluímos que o desafio inicial foi cumprido.
SABINO, Maria Manuela do Carmo de. Importância educacional da leitura e as estratégias para a sua promoção. Revista Iberoamericana de Educación, Madri, n. 45/5. 2008. Disponível em: <http://www.rieoei.org/jano/2398Sabino.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2015. PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Sala do estudante: bibliotecas da rede municipal oferecem acesso livre aos moradores. Disponível em: <http://portalpbh.pbh.gov.br/ pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxono miaMenuPortal&app=salaestudante&tax=14665&lang=pt_ BR&pg=5341&taxp=0&>. Acesso em: 12 fev. 2015.
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Ivete Nogueira Nunes1 Margareth Egídia Moreira2 Maria Aparecida de Freitas Almeida3 Regina Célia Costa Nascimento4
Relatos
Rezendinho, a mascote da biblioteca Cecília Meireles
A biblioteca Cecília Meireles, da E. M. Maria de Rezende Costa, utilizava a imagem de um livro humanizado nos folhetos informativos para educação de usuários. Este personagem tornou-se uma figura conhecida pelos alunos, chamado de “livrinho”, “amigo livro” ou “livro”. Para estabelecer um vínculo maior entre alunos e o personagem, a determinação de um nome possibilitaria ainda mais essa aproximação, oficializando o uso da mascote pela biblioteca. A bibliotecária propôs, à equipe de trabalho, a realização de uma atividade para escolha do nome do personagem utilizado. Aproveitando o processo eleitoral para escolha das direções, que também ocorreria nas escolas da RMEBH no ano de 2008, a equipe da biblioteca organizou o processo para escolha do nome da mascote e da cor que a identificaria. Desta maneira, estimularia a compreensão dos alunos do processo eleitoral, possibilitando o manuseio de uma cédula eleitoral, além de despertar o interesse pela participação em decisões coletivas. Toda a equipe da biblioteca selecionou previamente 4 cores (azul, laranja, verde e vermelho) e 4 nomes (Corujinha, Leitorzinho, Livronildo e Rezendinho) que concorreram à escolha dos alunos, servidores e funcionários da escola. 1 2 3 4
Graduada em Pedagogia. Auxiliar de Biblioteca na RMEBH desde 1998. Mestre em Ciência da Informação/ UFMG. Bibliotecária desde 2001na RMEBH. Graduada em História. Professora em readaptação funcional na biblioteca desde 1998. Graduada em Pedagogia. Auxiliar de Biblioteca desde 2006.
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Por sugestão dos professores, a votação aconteceu em cada sala, por meio da escolha na cédula eleitoral pelos alunos e professoras, que enviaram em envelope lacrado os votos de cada turma. Os demais setores da escola – biblioteca, cantina, coordenação, diretoria, sala de informática e secretaria – também participaram, recebendo um envelope com as cédulas para votação em cada local. A eleição ocorreu no dia 3 de dezembro de 2008. E a apuração dos votos foi realizada na biblioteca, que divulgou o resultado em 12 de dezembro no Mural e no blog da biblioteca (http://bibliotecaceciliameireles.blogspot. com), meios de comunicação utilizados para conhecimento de todo o processo eleitoral. O nome preferido recebeu 408 votos dos 950 eleitores; a cor vermelha com 370 votos foi a escolhida para identificar o personagem. Assim, oficializouse Rezendinho como o nome da mascote da biblioteca Cecília Meireles. Atualmente, Rezendinho ganhou uma família: sua mãe, Dona Maria; e seu pai, o Senhor Costa. Todos os personagens fazem parte do dia a dia na Biblioteca de nossa escola. Constantemente, estão representados nos murais, informativos e certificados elaborados pelo setor. Avaliamos que a utilização da mascote é uma forma de criar identidade entre os leitores e a biblioteca, além de estreitar os vínculos afetivos.
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Maria Ângela Ferreira de Almeida Santos1 Olga Pereira de Queiroz2 Vanessa Silva Duarte3
Relatos
Segunda na biblioteca
Pensando em um contato próximo e constante do leitor com o livro, resolvemos criar um projeto que proporcionasse aos alunos do 1º e 2º ciclos o prazer de ler por meio de atividades diversificadas realizadas dentro da biblioteca. A primeira fase do projeto foi decidir que ele aconteceria durante os três recreios da escola e sempre na última segunda-feira de cada mês, para atingir um maior número de leitores. Como nosso objetivo seria proporcionar aos alunos a prática efetiva da leitura, o prazer em ler com liberdade e a dinamização do espaço da biblioteca, nasceu o projeto: “Segunda na biblioteca”, fazendo alusão ao dia da semana. Os critérios de escolha da atividade trabalhada no mês são do cotidiano: tema de livros mais procurados, projetos desenvolvidos na escola, datas comemorativas, sugestões dos leitores etc. No mês de outubro de 2014, em que se comemora o dia das crianças, decidimos fazer uma atividade relacionada à brincadeira. Após pensar, pesquisar e discutir, chegamos à técnica do alinhavo. Mas alinhavar o quê? Então surgiu a ideia de usar a aranha como tema da ação, inseto de que as crianças têm medo: é intocável, é mistério e desafio por tecer teias. Decidido o tema, passamos para a segunda fase do projeto, que foi a pesquisa por livros literários que fossem adequados 1 Bibliotecária da RMEBH. 2 Professora em readaptação funcional na E. M. Professora Maria Modesta Cravo. 3 Auxiliar de biblioteca na E. M. Professora Maria Modesta Cravo.
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à nossa ideia. Dentre vários livros encontrados, escolhemos: A aranha Arabela, da autora Rosana Rios. A terceira fase foi definir o título e elaborar os enfeites, tanto para a porta da biblioteca quanto para seu interior, pois queríamos instigar a curiosidade dos alunos. Trabalhamos durante semanas na preparação do material a ser usado, porque nos livros “... tem princesa, tem herói, tem fada, tem feiticeira, tem gigante, tem bandido” (MAIA, 2007) e, no caso deste projeto, tem inseto: a aranha. No dia da apresentação, a porta já chamava a atenção, pois havia uma aranha bem peluda, com teias e o título: “O desafio da aranha”. Ao entrar na biblioteca, os alunos tinham que vencer o desafio de passar pelas teias, feitas com elástico colorido. E, logo após, já se deparavam com uma aranha gigante no teto da biblioteca. Com a leitura do livro, papéis coloridos, a figura da aranha e o barbante... a aranha ficou entre teias nas mãos dos alunos, como uma brincadeira. Sucesso total! Atendemos duzentas crianças durante os três recreios, sem contar os outros segmentos da escola, que nos presentearam com sua participação. Essa atividade nos deixou com muito entusiasmo e ânimo para preparar o próximo evento. A leitura “tem estrada, tem caminho, tem procura, tem destino... lá dentro do livro” (MAIA, 2007). Nosso projeto, nascido em 2013 como experimento, vive até hoje com muita procura, muita participação e muito entusiasmo.
Referência: MAIA, Joseane. Literatura na formação de leitores e professores. Sao Paulo: Paulinas, 2007. 197 p.
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2.4 Literatura em diรกlogo com outras artes, linguagens e รกreas
Maria de Fátima Machado Gama1
O homem é único não porque produz ciência, e ele não é único porque produz arte, mas sim porque ciência e arte, igualmente, são expressões da maravilhosa plasticidade de sua mente. (J. Bronowski, The Ascent of Man)
Relatos
Monalisa: a arte do Leo
A arte caminha junto com a literatura e se confunde com a própria vida. A arte permeia o cotidiano e expressa as manifestações culturais de uma época. Dentre as várias leituras que se faz no dia a dia, a arte é, por excelência, um manancial de simbolismos, de significados e de lirismo, que enriquece e traz um novo significado para a vida de cada aluno. Pensando nisso, resolvemos intercalar, nas atividades e vivências culturais da biblioteca, a história de vida de Leonardo da Vinci, o expoente máximo da arte renascentista. Os objetivos principais destas atividades foram estabelecer vínculos com a expressividade da arte em si, proporcionar aos alunos o conhecimento e o sentido do Belo na arte, disponibilizar conhecimentos que instigam e geram novas pesquisas e oferecer visão de mundo, conversando sobre outros países e outras culturas e fortalecendo as condições culturais dos alunos. Os participantes envolvidos foram os alunos de 4º e 5º anos (4 turmas, cerca de 100 alunos); e as atividades envolveram 4 encontros. No primeiro encontro, houve um bate-papo informal sobre a vida de Leonardo da Vinci e suas múltiplas atividades. Houve um incentivo para que trouxessem mais informações, resultados de pesquisas em casa. 1 Graduada em Letras pela UFMG. Auxiliar de biblioteca da E. M. IMACO, há três anos. Atua na RMEBH há 17 anos.
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No segundo encontro, foram apresentadas reproduções de várias obras de Leonardo Da Vinci. Houve uma troca para que os alunos observassem os detalhes das obras. Foi apresentada a gravura da Monalisa, sua importância no cenário mundial das artes, técnicas de pintura e a trajetória do quadro até chegar ao Museu do Louvre. Os alunos viram reprodução e filme do Museu do Louvre. Os participantes foram encarregados de realizar leituras múltiplas sobre o assunto e reproduzi-las na biblioteca. Constataram a importância da obra de arte e se entusiasmaram com o assunto, querendo estendê-lo para outras obras. No terceiro encontro, os alunos escutaram a música “Monalisa”, cantada por Nat King Cole, assistiram a um vídeo e tiveram acesso à letra da música em inglês e em português. Os alunos tiveram a consciência da importância do quadro no mundo das Artes. No último encontro, desenharam a Monalisa, ocasião em que transpuseram para o desenho traços da mãe de cada aluno. Batizaram o desenho de “Mamãelisa”. Os quadros foram expostos na biblioteca por ocasião da Festa da Família, e as mães dos alunos envolvidos se emocionaram com a homenagem e com os trabalhos dos filhos. Os alunos foram observados nas várias atividades e constatamos um grande crescimento pessoal, um interesse ímpar e a sedimentação dos conhecimentos adquiridos durante o projeto. Gestores do Museu Mineiro estiveram na escola um mês após estas atividades e ficaram impressionados com os conhecimentos dos alunos sobre o assunto. Os estudantes até discutiram sobre o sorriso enigmático da Monalisa. E souberam, inclusive, relatar o porquê desse sorriso.
Referência COMO desenhar 10. Apresenta desenho para colorir e pintar. Disponível em: <http://comodesenhar10.com/2013/12/como-desenhar-a-monalisa. html>. Acesso em: 25 set. 2014. GÊNIOS da pintura: da Renascença ao Maneirismo. São Paulo: Abril cultural, [20--]. 299 p.
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LEONARDO DA VINCI. In: ENCICLOPÉDIA Wikipédia a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci>. Acesso em: 25 set. 2014.
WHITE, Michael. Leonardo, o primeiro cientista. Rio de Janeiro: Record, 2002, 364p.
Relatos
VENEZIA, Mike. Mestres das artes: Leonardo da Vinci. S達o Paulo: Moderna, 1996. 160p.
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Luciana Rodrigues Luiz1
Relatos
A Literatura e a Interdisciplinaridade: um pequeno relato de experiência
A biblioteca Rita Maria Diniz Alves, da E. M. Hugo Werneck, desenvolveu, no final de 2011, o projeto “Meio ambiente, arte e literatura na escola”. Seu objetivo foi integrar a literatura infantojuvenil com a conscientização ambiental, por meio de atitudes que envolvem os 3 (três) Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), fazendo uso da arte como elo importante entre esses dois temas que compõem o título do projeto. Para o desenvolvimento dessa ideia, utilizamos o livro infantojuvenil Nem uma coisa, nem outra, do autor Moacyr Scliar, cuja personagem é uma lagartinha que tem por nome “Tininha”. Essa personagem, durante quase toda a história, convive com uma grande dúvida: virar ou não uma borboleta. Diante disso, a personagem vai em busca de uma solução para seu dilema, mas acaba se envolvendo em uma grande confusão... Para integrar a literatura às atitudes que envolvem os 3 (três) Rs, fizemos, com todas as turmas do 2º turno, oficinas com materiais recicláveis e reutilizáveis. Dessa forma, utilizaram-se diversas embalagens de produtos, que foram transformadas em objetos de arte relacionados com o tema do livro, ou seja, a metamorfose. Demos outros significados aos materiais, que, certamente, iriam para o lixo! Com essa atitude, conseguimos reduzir uma quantidade significativa de materiais, transformando-os em lindas borboletas, lagartas e flores, que fizeram parte de uma grande exposição na escola. 1 Formada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da UFMG, trabalha na biblioteca escolar Rita Maria Diniz Alves, da E. M. Hugo Werneck, como auxiliar de biblioteca.
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Após a conclusão das oficinas, houve a contação de história sobre o livro; ao final, discutimos a relação desta com as oficinas e objetos confeccionados pelos alunos. Conversamos sobre a importância da transformação dos materiais reaproveitáveis em algo útil e/ou belo. Transformamos lixo em arte! Por meio deste projeto, percebemos que reunimos três áreas de conhecimento: ciências naturais, artes e literatura, com o objetivo de promover a conscientização e a preservação do meio ambiente, com muita imaginação e criatividade!
Referência: SCLIAR, Moacyr. Nem uma coisa, nem outra. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. 40p.
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Elisete Dutra Corrêa1
Relatos
Turma da Mônica: parceiros na educação
O projeto foi direcionado aos alunos e professores da Educação Infantil (4-5 anos) e desenvolvido com duas turmas, em agosto de 2013. Além de utilizarmos as revistas da Turma da Mônica (muito procuradas na biblioteca) como ferramentas para a ação pedagógica, apresentamos o livro Educação Infantil: projetando e registrando a ação educativa, como referência e auxílio em elaboração de projetos. É evidente o apreço que os alunos têm por essas revistas e, segundo Luyten (2011), isso acontece porque “[...] elas os envolvem num formato literário que eles conhecem. E também as HQs ‘falam’ com eles de uma forma que entendem e, melhor do que isto, se identificam.” (p. 6). O processo de aprendizagem se dá principalmente quando o recurso utilizado está diretamente ligado ao interesse do aluno. A linguagem dos quadrinhos facilita a leitura; além disso, sua aparência lúdica torna a revista atraente e apreciada por todas as crianças. Os principais objetivos do projeto eram incentivar a leitura de um gênero que conjuga imagem e palavra, símbolos e signo, facilitando a alfabetização visual; demonstrar que as histórias em quadrinhos são veículos poderosos de comunicação; apresentar a revista como ferramenta didática em sala de aula; e apresentar o periódico como parte do acervo bibliográfico. 1 Formada em Pedagogia com aprofundamento em Necessidades Educacionais Especiais (PUC Minas). Contadora de histórias e auxiliar de biblioteca, há dois anos, é idealizadora e executora deste projeto realizado na biblioteca da E. M. Padre Edeimar Massote.
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Para envolver as crianças no universo da Turma da Mônica (o que aconteceu de maneira bem divertida), a biblioteca foi decorada pela pedagoga Veralúcia Prata de Araújo Rocha (à época do projeto, em readaptação funcional na biblioteca), com cartazes e mini cartazes apresentando as características e a evolução dos traços de cada personagem. Para dar início ao projeto, foi feita uma breve apresentação sobre o que é o gênero literário quadrinhos, quem é o autor Mauricio de Sousa e quais são seus principais personagens. Confeccionou-se uma sacolinha de TNT colorida com as imagens de Mônica, Cascão, Cebolinha, Magali, Chico Bento e Anjinho. Nela foram colocados objetos relacionados aos personagens: Sansão, sabonete, cebola, maçã, borboleta, anjinho. Seis crianças previamente sorteadas retiraram cada uma um objeto, identificaram o personagem e localizaram no acervo o periódico, seguindo um caminho colorido, levaram a revista e colocaramna no expositor. Um breve bate-papo aconteceu, estabelecendo a relação dos objetos com o personagem da revista. Desde então, a localização do acervo desse periódico permanece no mesmo lugar. Ao final, foi apresentado o livro de formação para o professor, Educação infantil: projetando e registrando a ação educativa, onde estão relacionadas possíveis ações pedagógicas com a utilização do periódico: hábitos de higiene e consumo consciente da água (Cascão); trava-línguas (Cebolinha); hábitos alimentares (Magali); presença do divino (Anjinho); impulsividade e a educação para a paz (Mônica); cultura e o amor ao meio ambiente (Chico Bento). Passou a haver consultas ao livro apresentado. O periódico continuou a ser procurado pelos alunos e utilizado como ferramenta pedagógica por professores. Concomitantemente ao projeto, surgiu a ideia de se realizar um bingo temático com a Turma da Mônica em uma das classes, revelando uma avaliação positiva.
Referências:
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LUYTEN, Sonia M. Bibe. Histórias em quadrinhos: um recurso de aprendizagem. Um salto para o futuro, 2011. p. 6 Disponível em: <http:// www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/181213historiaemquadrinhos.pdf>. Acesso em: 14 jan 2013.
Relatos
MARQUES, Circe Mara; JAHNKE, Simone Mundstock. Educação Infantil: projetando e registrando a ação educativa. São Paulo: Paulinas, 2011. (Coleção Pedagogia e Educação).
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Vera Lúcia Dutra Vieira1
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Teatro com declamação de poemas
O trabalho que apresentamos aqui culminou com uma apresentação teatral mesclada com declamações de poemas. Teve início na sala de aula, quando a professora Ione Soares optou pelo gênero poesia ao trabalhar a 4ª Jornada Literária RMEBH, em uma turma de 5º ano. A fim de auxiliar a professora no estímulo à leitura de poemas, nos dias destinados a empréstimos de livros para a turma, fazíamos, na biblioteca, uma exposição improvisada de variados títulos de poesia infantojuvenil. Também conversávamos com os alunos acerca dos temas de que eles mais gostavam, a fim de orientá-los na escolha do livro. Quando o trabalho de leitura e produção de textos em sala de aula estava a pleno vapor, a professora me pediu um auxílio para ensinar aos alunos a declamar poemas. Foi quando necessitamos do espaço do auditório para fazer as oficinas de declamação. Montei essas oficinas a partir de pesquisas na internet (uma vez que minha experiência anterior era apenas com teatro), buscando motivar todos para o gosto de expor poemas oralmente. A turma respondeu com entusiasmo, e a professora desejou ir além da declamação, decidindo fazer uma peça de teatro baseada em um livro de narrativa sensível, repleto de poemas de autores consagrados: A caligrafia de Dona Sofia, de André Neves. A escola adquiriu cinco exemplares do livro, para empréstimo, e fiz a adaptação da obra nos horários de funcionamento 1 Professora da RMEBH desde 1995, há três anos em readaptação funcional na biblioteca da E. M. Dom Bosco, Regional Noroeste.
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interno da biblioteca. O texto teatral, todo intercalado com declamação de poemas, foi lido em sala, os papéis foram escolhidos e iniciamos os ensaios. Durante a semana, eu realizava ensaios com pequenos grupos na biblioteca ou fora dela, e, nas sextas-feiras, fazíamos duas horas de ensaio geral no auditório. Na turma de 31 alunos, apenas três não se envolveram com a encenação da peça. Os ensaios se deram durante o mês de setembro e realizamos três apresentações para as turmas de 2º ciclo, na primeira semana de outubro do presente ano. Ao final do ano, faremos uma apresentação aos pais por ocasião da entrega das avaliações e exposição do livro escrito e confeccionado pela turma e sua professora. Um aspecto importante a ser mencionado é que o trabalho foi realizado a partir da integração entre os profissionais envolvidos, que se articularam em diversos momentos, independentemente da participação ou não nas reuniões pedagógicas. Por meio da convivência, esses sujeitos tiveram a possibilidade de expor suas competências, habilidades e preferências. O teatro com declamação de poemas aconteceu dentro e fora da biblioteca, sendo que a participação da auxiliar de biblioteca Gislaine Alves foi fundamental para garantir o funcionamento normal da biblioteca, reforçando a importância de poder contar com uma equipe trabalho.
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Ana Maria de Louredo1 Sônia Márcia Soares de Moura2
Relatos
Intervenção teatral na biblioteca escolar: um caminho para promover o protagonismo estudantil
Este trabalho teve início a partir de nossa participação no Projeto de Intervenção teatral nos diversos espaços da cidade, do Programa de Bibliotecas/SMED, coordenado pela professora Emilia Nicolai. Esse fato foi fundamental para colocarmos em prática a ideia de um grupo teatral aberto à participação de todos os segmentos de leitores da biblioteca: alunos, professores, funcionários e comunidade. A intervenção teatral iniciou-se pela ocasião do lançamento do livro Histórias de ruas, em 2011, com o texto: “O barulho da noite”, de Dionathas Vargas (participante da 1ª Jornada Literária). Ocorreram também várias intervenções na EJA, pelas oficinas de biblioteca. A participação de alunos e funcionários, de outros turnos e da comunidade, fez surgir o Grupo SEMEARTE. O objetivo geral é divulgar a literatura e estimular a expressão cultural. Mas, no decorrer dos ensaios, a partir dos momentos de leitura coletiva para montagem da peça, os participantes aumentaram o interesse por leituras individuais, buscando outras sugestões de leituras. Além do incentivo à leitura, o teatro também vem motivando os participantes a escrever textos. Tivemos a produção e apresentação de mais dois 1 Auxiliar de biblioteca da E. M. Carlos Drummond de Andrade. Formada em Normal Superior e participante do Projeto de intervenção teatral da SMED, nos anos de 2011 e 2012. 2 Bibliotecária da E. M. Carlos Drummond de Andrade, formada em Biblioteconomia, especialista em Educação Tecnológica e em Gestão de projetos culturais. Participante do Projeto de intervenção teatral da SMED durante o ano de 2011.
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espetáculos, a partir de textos produzidos por alunos da escola: “Diálogo entre os escritores” e “As três Marias”. Observamos que produzir espetáculos, a partir de textos dos estudantes, é um grande incentivo para que eles continuem escrevendo, consolidando-se o protagonismo estudantil. Além da literatura, o teatro possibilita a expressão em outras artes como pintura, escultura, artesanato, música etc. Assim, o participante que, a princípio, não queira interpretar, poderia participar das montagens de cenários, figurinos, maquiagens, etc. Desse modo, a produção dos espetáculos conta com diversos talentos e habilidades. Perceber as potencialidades é um grande trunfo para o sucesso do trabalho. Uma apresentação teatral é o meio, o fim e o começo de tudo. A apresentação marca a finalização de um trabalho desenvolvido, mas a aprendizagem se dá durante toda a montagem da peça, no momento do espetáculo e posterior ao espetáculo. Após as apresentações, algumas pessoas se interessam em participar do grupo, outras tomam conhecimento da biblioteca, passando a frequentá-la. Alguns participantes deram seus depoimentos: • “O teatro é a minha vida” (Júlia, T325). • “aprendi a gostar de ler. O futuro é meu, querendo ou não, quem vai mudar sou eu.” (Carlos, EJA). • “atuar é maravilhoso, me deixa feliz, com bom astral, abre a minha mente e é saudável, me sinto mais jovem e bonita, com vontade de viver e entender as pessoas.” (Elvira, EJA). • “Escrever, para mim, é compartilhar minha imaginação com mais pessoas e não deixá-la guardada até sumir.” (Gabriela, EJA). • “É bom conquistar o sorriso das pessoas, ver que elas podem lembrar das histórias da infância e da escola. Aprender com a personagem e no futuro poder mostrar para os filhos e netos o que você fez.” (Edgar, EJA).
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Agradecemos às colegas da equipe da biblioteca, Paula e Suely, pelo apoio e incentivo. Agradecemos principalmente aos servidores: professora Genícia, com seu violão e voz, sempre nos acompanhando; ao professor Renato, com suas ideias; à professora Luzia e à funcionária Maria José, pela participação de ambas, seja cantando ou atuando. Somos gratas também a todos os demais colegas da EMCDA, pois, afinal, a produção teatral nada mais é que um grande trabalho em equipe.
JÚNIOR, Otávio. O livreiro do Alemão. São Paulo: Guia dos Curiosos Comunicações, 2011. 79p. PAMPLONA, Rosane; ZILBERMAN, Ionit. João Boboca ou João Sabido? São Paulo: Brinque-Book, 2007. 24p. SANTOS, Walther Moreira. Quem vai ajudar o lobo mau? Belo Horizonte: Lê, 2005. 34p.
Relatos
Referências:
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Ana Amélia de Carvalho1
Para que o aluno tenha interesse em leitura é necessário que a biblioteca escolar ofereça uma grande diversidade de livros com histórias interessantes.
Relatos
Literatura de Cordel
A Literatura de Cordel oferece ao leitor textos poéticos com temas variados que abordam situações do dia a dia, permitindo ao leitor maior interação com as rimas e os ritmos. Pensando nisto, a biblioteca da nossa escola adquiriu alguns títulos de histórias infantis em cordel. Todos os exemplares foram escolhidos por meio de várias discussões entre os professores e os profissionais da biblioteca. Nasceu, então, o projeto “Literatura de Cordel”, no período de julho a outubro de 2014, quando foram realizadas várias atividades, dentre elas: leitura e contação de histórias em cordel, empréstimos de livros e folhetos com temas relacionados ao cordel, empréstimos de livros de poesia, estudo da vida dos poetas Cecília Meireles e Vinícius de Moraes, confecção de murais com as poesias escolhidas por cada turma de alunos e apresentações. Um dos resultados mais agradáveis e produtivos da leitura dos cordéis foi compartilhar as reações e emoções de cada aluno. Dando sequência às atividades, foi criada uma oficina de cordel com a participação de um aluno da EJA, que é cordelista, e da 1 Professora em laudo médico, lotada na E. M. Professor Cláudio Brandão. Junto com minha colega Tânia Heller, auxiliar de biblioteca, estivemos à frente deste projeto. Destaco que recebemos contribuição e apoio das colegas Maria Aparecida de Oliveira Silva, bibliotecária; Roane de Abreu Gonçalves, auxiliar de biblioteca, e Lenir Maria Santos de Azevedo, professora em laudo médico. Somos uma equipe unida nos objetivos e propósitos de que a escola deve estar sempre pronta em servir nosso mais importante frequentador: o leitor.
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equipe da biblioteca. Nessa oficina, todos os alunos tiveram oportunidade de construir uma sextilha com o tema relacionado ao título de cada clássico trabalhado. Logo após a oficina, os alunos tiveram um prazo de 1 (um) mês para construção dos seus próprios cordéis, sob a orientação dos professores e da equipe da biblioteca. Em seguida, confeccionaram capas em xilografia com cada aluno, para a montagem dos livretos de cordel. Os alunos tiveram a oportunidade também de exercitar a escrita mais uma vez, correspondendo-se com uma amiga de Fortaleza, que enviou, pelo correios, livretos de cordel e fotos de pontos turísticos do estado do Ceará, em contribuição ao projeto. Na semana de comemoração ao Dia Das Crianças, os alunos foram para a Praça Ramatis, situada próxima da escola, para a divulgação dos cordéis. Os textos foram amarrados em pontos estratégicos, para conhecimento e deleite da comunidade do entorno da escola, intitulando o trabalho de “Cordel na Praça”. Além da divulgação dos cordéis para a comunidade, foram declamadas várias poesias, pelos alunos que participaram, e o encerramento deu-se com um lanche coletivo. Neste dia, todos os alunos e os profissionais da educação envolvidos estiveram identificados com camisetas nas quais lia-se a logomarca do projeto: “Pensou poesia, virou Cordel”. Para culminância do projeto “Literatura de Cordel”, foi produzido um livro com o título “Pensou poesia, virou Cordel”, no qual foram registrados os cordéis elaborados individualmente e/ou coletivamente pelos alunos, contendo, também, ilustrações à mão livre, criadas por um dos alunos. Gostaríamos de registrar o quanto foi prazeroso e significativo o trabalho realizado sobre a Literatura de Cordel. Ressaltamos a qualidade dos trabalhos realizados, o envolvimento dos alunos e a participação em massa dos mesmos, fazendo-nos concluir que o projeto só foi possível graças à integração entre os professores e a equipe da biblioteca. Não podemos também deixar de citar o apoio efetivo de algumas pessoas, inclusive do estado do Ceará, que contribuíram, enviando cordéis e sugestões. Percebemos, com a realização do projeto “Literatura de Cordel”, que os alunos descobriram que a biblioteca é um lugar onde podem trocar ideias e sentimentos sobre sua vivência, como também é um espaço gostoso para escutar e ler histórias.
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Marilene Terra1
Relatos
Webquest: incentivando a leitura na biblioteca escolar
Sou pedagoga por formação. Em função de gostar muito das novas tecnologias aplicadas à educação, fiz uma especialização na área, e a ideia de criar uma webquest, para incentivar os alunos a lerem mais, surgiu naturalmente. A Webquest é uma atividade didática de aprendizagem, com investigações orientadas, e que aproveita a grande riqueza de informações que aumenta diariamente na web. Pode ser utilizada nos ensinos fundamental, médio e superior, para trabalhar e desenvolver o uso da internet. Bernie Dodge, professor da State University (EUA), em 19952, foi quem desenvolveu a metodologia de trabalho Webquest, na qual distinguimos alguns elementos básicos: introdução, tarefa, processo, recursos, avaliação, conclusão e créditos. A autora escolhida foi Ana Maria Machado. Buscando delinear o projeto “Webquest: incentivando a leitura na biblioteca escolar”, os seguintes objetivos foram propostos: desenvolver uma webquest sobre o trabalho da escritora Ana Maria Machado; conhecer, mais de perto, o trabalho da autora; estimular a leitura e a pesquisa literária; apresentar o resultado da webquest a um público definido. O projeto foi desenvolvido por meio da biblioteca da E. M. Magalhães Drummond, em parceria com os alunos do 5º ano. Inicialmente foi explicado aos alunos o que é uma webquest e como se pode trabalhar com essa metodologia. 1 Formada em Pedagogia. Atualmente, em readaptação funcional na biblioteca. Trabalho há 22 anos em escolas da RMEBH. 2 Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/Artigo/Imprimir/29157>. Acesso em: 19 Nov. 2014>.
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No laboratório de informática, os alunos conheceram a interface da webquest (já desenvolvida previamente) e o seu endereço eletrônico foi passado aos alunos para uma visitação3. Foram formados grupos de alunos para o desenvolvimento do projeto e, tanto alunos quanto a professora se envolveram efetivamente no cumprimento das tarefas. Familiares também participaram, o que propiciou uma maior aproximação da família com a prática pedagógica da escola. Para a biblioteca, o desenvolvimento desta webquest proporcionou um maior fluxo de empréstimo de livros e o interesse pela leitura por parte dos alunos. As tarefas foram vivenciadas, bem executadas e apresentadas à comunidade escolar. O prazer pela leitura foi despertado de uma forma inovadora – a tecnologia como parceira do aluno propiciando-lhe a oportunidade de desbravar o universo literário.
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3 O link para acessar a página de nossa webquest é: <https://sites.google.com/site/terramarilene/ webquestanamm>.
2.5 Contação de histórias
Elisete Dutra Corrêa1
Relatos
A contação de história como recurso para mediação de leitura
No início de cada ano letivo, é realizada uma atividade direcionada de apresentação da biblioteca, principalmente aos alunos do sétimo ano do terceiro ciclo. Em 2014, abrimos a biblioteca com contação de histórias. Buscando um caminho mais eficaz, procurei identificar um assunto de interesse dos alunos e a observação apontou para terror e suspense. Edgar Allan Poe, escritor americano do século XIX, foi o autor escolhido, com o conto “O gato preto” (extraído do livro Era uma vez à meia-noite, título disponível na biblioteca). Em princípio, foram convidadas as quatro turmas do sétimo ano da professora Elisete E. Ferreira da Silva. Os encontros foram exitosos. As visitas obedeciam à seguinte dinâmica: uma breve apresentação da biblioteca, do acervo disponível e dos procedimentos para empréstimo; contação de história (o fato de ser narrado em primeira pessoa torna o conto mais impressionante); e, ao final, a apresentação do livro Era uma vez à meia-noite. Vários alunos, no decorrer do mês, procuraram esse título e outros que tinham histórias semelhantes, o que levou ao aumento de leitores.
1 Formada em Pedagogia com aprofundamento em Necessidades Educacionais Especiais (PUC Minas). Contadora de histórias e auxiliar de biblioteca, há dois anos, é idealizadora e executora deste projeto realizado na biblioteca da E. M. Padre Edeimar Massote.
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De acordo com Silva (2007): Uma das formas de se direcionar as atividades de contação para a formação de leitores autônomos – capazes de escolher suas próprias leituras e de ler de maneira sistemática e voluntária – é a articulação entre a narrativa oral da história e sua leitura em texto escrito. (p. 125)
Os comentários foram muito positivos, tanto por docentes quanto por discentes, e houve inclusive quem recontasse a história em casa. A repercussão despertou o interesse dos professores José Delfim Dias e Carmem Lúcia Teixeira Soares (Língua Portuguesa, cinco turmas do nono ano), que inseriram a atividade em seus projetos relacionados à leitura na sala de aula. Silva (2007) explica o que acontece: A contação de histórias pode provocar uma espécie de “efeito dominó”, fazendo surgir uma sucessão de novos contadores e de novas histórias. [...] o público que ouviu uma história, tende a repassá-la, a seu modo, para outros públicos. [...] Cria-se uma teia de significações e metamorfoses, que propicia, sobretudo, a expansão da relação das pessoas com a ficcionalidade, o que gera identificações, catarses, desenvolvimento de reflexões e novas linguagens. (p. 125)
De fato, na sequência, a professora Lucimar Pinho de Assis desenvolveu o projeto “Incentivando a leitura” com três turmas do oitavo ano e uma do sétimo, cujo objetivo era despertar o hábito de ler no âmbito escolar. O projeto teve início na biblioteca, com a apresentação do conto “O gato preto”, para incentivar a leitura de títulos previamente escolhidos no acervo da biblioteca. Na avaliação da educadora, a inserção da biblioteca nesse projeto foi de suma importância, marcando o poder da parceria entre educador e mediador de leitura.
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POE, Edgar Allan. O gato preto. In: AGUIAR, Luiz Antonio (Org.). Era uma vez à meia-noite. Rio de Janeiro: Best Seller, 2012. p. 198. SILVA, João Paulo da et al. A formação de leitores a partir da contação de histórias. In: HIGINO, Anderson; BARBOSA, Clarisse; PEREIRA, Maria Antonieta (Org.). Formando leitores de telas e textos. Belo Horizonte: Linha Editorial Tela e Texto, UFMG, 2007. p. 117-126.
Relatos
Referências:
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Ludmila Borela Durães1
Atualmente vivemos numa sociedade onde, em virtude de vários fatores, podemos afirmar que o contato das crianças com a literatura não tem se apresentado satisfatório. A TV, o rádio e a internet, por exemplo, estão mais presentes no dia a dia das crianças. Outra questão é o pouco contato dos alunos, em sala de aula, com a leitura por prazer, que acreditamos ser a que lhes possibilita a compreensão do mundo, da realidade, na medida em que permite não só satisfazer as necessidades culturais e intelectuais do ser humano, como também é uma forma de inserção no mundo.
Relatos
A Hora do conto
Pensando nisso, os profissionais da educação da E. M. Hugo Pinheiro Soares juntaram-se, cada qual dentro de sua área de atuação, para viabilizar o maior contato dos alunos desta escola com a leitura por prazer. A “Hora do Conto” vem sendo desenvolvida, em nossa escola, com as turmas do quarto ano do 2º ciclo do Ensino Fundamental, desde fevereiro de 2011, e acabou contribuindo não só para aproximar o jovem leitor da biblioteca – espaço de acesso aos livros e à informação – como também para apresentar a leitura como algo prazeroso, gostoso, estimulante, que muda as pessoas, porque amplia os seus horizontes. Nas palavras de Mário Quintana: “livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. Sob a orientação da professora de referência e de acordo com a idade, gosto e interesses de leitura do aluno do 4º ano, 1 Formada em História (2004), pela PUC/MG. Há três anos, lotada na E. M. Hugo Pinheiro Soares, no cargo de auxiliar de biblioteca.
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ele escolhe um livro do acervo. Faz-se, então, na biblioteca da escola, o empréstimo da obra por um período de sete dias corridos, para a leitura e estudo da história a ser contada. A técnica usada nessa atividade é a da simples narrativa com o auxílio das imagens do livro e das ilustrações feitas pelo próprio aluno, em que a criança conta a narrativa por ela escolhida com suas próprias palavras e, ao mesmo tempo, ou ao final da contação, mostra aos seus colegas de classe as ilustrações feitas, no Caderno da “Hora do conto”, além das ilustrações do próprio livro. Nesse caderno, a criança também registra o resumo da história contada. A contação é feita de forma descontraída e envolvente! Ao término da atividade, são feitas discussões das questões tratadas na história contada pela criança. Por fim, chega-se ao momento de descontração, com a distribuição de lembrancinhas confeccionadas pelo aluno que fez a contação para seus colegas de classe. Essas lembrancinhas estão necessariamente ligadas ao livro e ao tema que ele aborda. Acreditamos que não só o hábito como também o gosto pela leitura podem ser adquiridos pela criança durante o desenvolvimento de sua vida escolar. Daí o motivo pelo qual é realizada “A Hora do Conto”. Acreditamos que apenas quando a leitura se dá de forma entusiástica, divertida e atrativa para seus leitores e ouvintes é que ela se torna interessante e essencial a eles, de modo a acompanhá-los por toda a vida. Neste sentido, acreditamos que este trabalho tem surtido efeito, visto que nossos alunos têm se mostrado entusiasmados, interessados e felizes em participar do projeto.
Referências: BARCELLOS, Gládis M. F.; NEVES, Iara C. B. Hora do conto: da fantasia ao prazer de ler. Porto Alegre: Sagra – D. C. Luzzato, 1995. 136p. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. 440p. CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. A literatura infantil: visão histórica e crítica. 5. ed. São Paulo: Global, 1987. 314p.
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Margareth Egídia Moreira1
Não era uma vez um contador de histórias porque eu não conto histórias. Eu confesso que já contei uma única história! Já que saber de cor é saber de coração, nas palavras de Bartolomeu.
Relatos
Eu não conto histórias...
Logo que entrei para a Prefeitura, entre 2001 ou 2002, ia perdendo a voz repetindo várias vezes Sua Alteza a Divinha, sempre com uma história diferente uma da outra. A pessoa encantadora, chamada Sueli Santos, que o diga, quando juntas trabalhamos na E. M. Cônsul Antônio Cadar. E foi Sueli quem me disse: “Você conta cada […] Então também posso contar!” Por que agora? Porque quero deixar registrada uma não contadores e contadores de histórias escolares da RMEBH.
vez de um jeito! essa lembrança história para os das bibliotecas
Em 2010, já atuando na biblioteca Cecília Meireles, da Escola Maria de Rezende Costa, comemoramos 10 edições de um concurso que nasceu em 1999, com o nome de “Pequenos contadores de histórias”. Originalmente idealizado por um bibliotecário que, acredito, também não era contador de histórias, Vitor Hugo. Para celebrar uma década de histórias, uma justa homenagem à bibliotecária, arte-educadora e contadora de histórias, que nos deixou cedo para a felicidade dos anjos. O concurso passou a ser intitulado “Concurso contadores de histórias 1 Graduada em Biblioteconomia e Mestre em Ciência da Informação/UFMG. Bibliotecária desde 2001 na RMEBH.
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Julia Gabrieli”. A grande Julia, que me antecedeu na biblioteca, brilhou com sua maneira cativante de contar! A grata herança que recebi foi uma comunidade leitora sedenta por contar histórias! Planejamento; organização; cooperação de todos os setores da escola; parceria com os professores e coordenação pedagógica; além de apoio e incentivo das direções são responsáveis por esta história não tão curta. O que eu mais admirava nesses concursos era a evolução pessoal dos estudantes. Lembro-me daquele garoto tímido que, na primeira participação, falava baixo com ombros caídos; com toda a torcida dos educadores, na edição seguinte, já se apresentava mais seguro. E a voz já se fazia ouvir com firmeza. E a menina que decorou 44 páginas de um livro (Romilda e Margarida) e nos contou linha a linha, buscando na memória, diante dos nossos olhos confiantes... vai levar para sempre sua conquista. Você quer promover um concurso? Selecione histórias e contos populares para ler ou contar nos ambientes da escola em momentos diversos; sentese com seu colega de trabalho, coordenação pedagógica e os parceiros que conseguir; elaborem juntos um regulamento que expresse os objetivos que vocês querem atingir. E, depois, ouça e valorize cada apresentação. Prêmios?! Todos devem ser premiados, porque contar histórias é uma arte. Este relato não é receita de bolo ou bula de remédio. É apenas a afirmação de que não é preciso saber contar histórias para promover concurso de contação de histórias. Da mesma forma que acredito que apenas o concurso não forma leitores, possibilita sim divulgar leituras e leitores. E, claro, encantar os não leitores e contadores! Este texto é dedicado às maiores contadoras de história da nossa escola, Julia (no céu) e Eliza Lanna.
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Mary de Lourdes Oliveira Santos1
Relatos
Contação de histórias na biblioteca
Exerço a função de auxiliar de biblioteca na E. M. Antônio Mourão Guimarães, regional Barreiro, desde 2001. Trago a afinidade com a literatura desde a infância. Assim, ao me deparar com o trabalho na biblioteca, logo me interessei em estender minhas atividades para além dos empréstimos e da organização do acervo. Num dos primeiros encontros de formação dos quais participei, que ocorreu na Secretaria Municipal de Educação – SMED, ao assistir a uma contação de histórias, apaixonei-me pela atividade, pelo prazer de oportunizar aos alunos a inserção na literatura. Dessa forma, participei de algumas oficinas e, muito timidamente, comecei também a contar histórias, desde o segundo ano de trabalho na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Portanto, faz 12 anos que, mensalmente, exerço essa atividade na biblioteca Sítio do Pica-pau Amarelo, da E. M. Antônio Mourão Guimarães, ofertando as mágicas histórias para os alunos da EMAMG e da UMEI Cardoso. Cada vez mais sou chamada para contar histórias em outras escolas e até em eventos extras, convidada por pessoas que conhecem o meu trabalho. Escolho uma história contextualizada com projetos dos professores e/ou a principal data comemorativa do mês, de preferência de alguma obra do acervo, e conto para cada turma separadamente no “tapete mágico” da biblioteca, nos dois turnos de funcionamento da escola. A cada história, na 1 Auxiliar de Biblioteca na E. M. Antônio Mourão Guimarães desde 2001.
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medida do possível e com o que mais se adequar, ilustro com objetos, painéis e músicas. Por exemplo, na história contada no mês de abril, comemoramos o Dia do Índio. Contei às crianças que estava vestida de acordo com a tribo indígena Kariri Xocó, do estado de Alagoas. Trouxe cocar, cachimbo e outros objetos feitos pelos próprios índios. Na semana seguinte, as professoras do 1º ciclo fizeram exposição de desenhos feitos pelos alunos. Percebo que, para as crianças e os adultos ouvintes, além de conhecer o acervo da biblioteca e de instigar a imaginação, as histórias sempre os levam a um aprendizado e, principalmente, à reflexão. A contação de histórias é um momento mágico. Ao relatar e simular experiências e emoções das histórias, na verdade, estamos lidando com os nossos próprios sentimentos. Exercer esta atividade mudou até a minha vida: ajudou-me a vencer a timidez e me trouxe mais autoconfiança e desenvoltura. Enfim, ajudou-me a ser uma pessoa mais feliz! Sinto-me muito honrada em iniciar as crianças no mundo encantado das histórias. O melhor das histórias não é o que se diz, mas sim o que fica!
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Wanessa Magalhães Pulit1
Relatos
Novas histórias podem ser tecidas com os fios do saber e da experiência
O que uma contação de histórias na biblioteca escolar pode render? Muita imaginação, bate-papo, reflexões, comparações e... um artigo! Isso mesmo, ao interagirem com variados suportes literários e incorporá-los ao seu repertório, auxiliares de biblioteca e bibliotecários podem articular as produções literárias com diversos campos do conhecimento. Assim, no decorrer do ano, em meio à escolha do tema do trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em História, escolhi pesquisar sobre o livro Histórias de Ananse, de Adwoa Badoe (2006), e suas possibilidades de utilização no processo de ensino-aprendizagem sobre História da África. O interesse pelo referido objeto de estudo surgiu em meio à contação das Histórias de Ananse para crianças e adolescentes de escolas públicas de Belo Horizonte, como auxiliar de biblioteca. A partir da contação de histórias, percebi forte empatia e identificação dos estudantes. Somou-se a esse aspecto o estudo do conteúdo da disciplina “História das Culturas Africanas e Afrodescendentes”, no curso de História do UNIBH. Ressalta-se que o estudo dessa disciplina foi determinante para a identificação de elementos convergentes entre a obra literária e os princípios que norteiam o conhecimento sobre a História da África. Desse modo, os enredos que preenchem Histórias de Ananse possuem variados elementos tradicionais africanos, entendidos, conforme Waldman (2006), como 1 Graduada em História pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Auxiliar de biblioteca na E. M. Pérsio Pereira Pinto.
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“numeroso conjunto de formações sociais, cujos princípios civilizatórios são em tudo dessemelhantes aos que hoje regram o nosso mundo” (p. 127). As fábulas do livro Histórias de Ananse trazem diversas aventuras em que Kweku Ananse – uma aranha – interage tanto com seres humanos quanto com outros animais e, também, com seres sobrenaturais. Nesse contexto, o desfecho das histórias quase sempre resulta da índole de Ananse. Índole essa que oscila e revela comportamentos e valores permeados por sabedoria, inteligência, criatividade, astúcia, inveja, ignorância. Tais valores dão o tom da moral contida nas histórias e revelam a sensibilidade da autora, Adwoa Badoe, que capta a dinâmica social dos povos retratados e a traduz nas elaboradas Histórias de Ananse. Dessa forma, enquanto uma produção concebida em uma determinada época e lugar, a obra literária carrega consigo indícios sobre o modo de ser de uma sociedade. A pesquisa permitiu constatar que a educação das relações étnicoraciais perpassa o conhecimento histórico que abarca a compreensão das sociedades africanas por meio de suas marcas deixadas no tempo e no espaço, configurando uma visão de mundo própria, que pode ser identificada por meio da literatura africana. O uso da literatura para o ensino de História pode levar a experiências pessoais capazes de construir novos referenciais acerca da História da África e de sua influência na formação do Brasil, iniciando uma trajetória de superação de preconceitos e estereótipos que afetam as relações sócio-culturais contemporâneas.
Referências: BADOE, Adwoa. Histórias de Ananse. São Paulo: Edições SM, 2006. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000. OLIVEIRA, David Eduardo de. Cosmovisão africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodescendente. Curitiba: Editora Gráfica Popular, 2006. SERRANO, Carlos. WALDMAN, Maurício. Memória d’África: a temática africana em sala de aula. São Paulo: Cortez, 2010. WALDMAN, Maurício. Meio ambiente e Antropologia. São Paulo: Senac, 2006. v. 6. (Coleção Meio Ambiente).
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Cláudia Nerly Teixeira Meireles1 Renata Joceline Sales e Silva Rezende2
Relatos
Histórias para ler e contar
No decorrer do ano de 2014, desenvolvemos, na biblioteca de nossa escola, o Projeto Biblioteca em movimento, tendo como objetivo envolver os educandos no universo literário e aproximá-los um do outro, de forma lúdica e prazerosa, bem como abordar alguns temas que julgamos pertinentes. Por isso, a escolha das histórias foi criteriosa e de comum acordo entre nós, professores e coordenação pedagógica, o que também proporcionou maior interação entre biblioteca e corpo docente. O projeto foi desenvolvido no turno da tarde, contemplando os alunos de 1° e 2° ciclos. A primeira história contada foi do livro O pintinho, obra bastante atrativa por ser pop up. Em função dessa característica, não foi necessário o uso de outros recursos, além da voz e da interpretação, que davam vida aos animais. O livro tem como temática a hora favorita do dia do personagem principal. Logo após a história ter sido contada, demos oportunidade aos alunos para contarem oralmente qual seria a hora favorita do dia de cada um. Foi um tempo muito rico, em que os alunos puderam exercitar a oralidade, bem com externar um pouco de suas vivências. A segunda história foi uma adaptação do livro Bichobol: o futebol da bicharada, escrito por Vitor Bourguignon Vogas. Achamos a história interessante por ter sido escrita por 1 Auxiliar de biblioteca na E. M. Prefeito Oswaldo Pieruccetti desde outubro de 2008. 2 Auxiliar de biblioteca na E. M. Prefeito Oswaldo Pieruccetti desde abril de 2008. Graduada em Geografia e Análise Ambiental pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Graduada em Pedagogia pela Universidade Castelo Branco (UCB).
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uma criança. Pelo fato de que estávamos em ano de Copa do Mundo, conseguimos fazer conexão com a história do futebol da bicharada, abordando alguns valores, de forma divertida, tais como esportividade, criatividade e respeito. No decorrer da contação, os alunos iam interagindo conosco, e, juntos, íamos escalando os times de animais para jogar o bichobol e a figura de cada animal escalado era afixada em um painel que fazia alusão ao campo de futebol. Junto com essa dinâmica, trazíamos informações científicas, tais como: espécie, habitat natural e questões de cunho geográfico. Ao final, entregamos um pacote de atividades diferenciadas de acordo com o ciclo, para cada turma, para ser realizada em sala, com a professora. Depois expusemos os trabalhos no painel da biblioteca. A terceira história foi uma adaptação do livro Festa no céu, de Braguinha. Confeccionamos um painel e outros objetos (máscaras, perucas, minicenários e acessórios diversos) que retrataram a festa no céu, para ajudar a visualização da cena e para transportar os alunos ao universo lúdico. Algumas partes da história foram musicalizadas com violão, o que trouxe novidade, curiosidade e admiração por parte dos alunos. Nessa história, abordamos a socialização e alguns conceitos atitudinais. O processo de contação de história é desenvolvido por meio de parceria entre os profissionais de biblioteca, intercalando falas e atuações. Consideramos que o nosso projeto obteve êxito, por meio das sucintas discussões que fazíamos ao final de cada história e, sobretudo, pela procura dos próprios alunos, ansiosos por novas histórias.
Referências: VOGAS, Vitor Bourguignon. Bichobol: o futebol da bicharada. São Paulo: Paulus, 2011. 29p. BRAGUINHA (João de Barro). Festa no céu. Rio de Janeiro: Rocco Pequenos Leitores, 2010. 31p. THE BOOK COMPANY. Bichos divertidos em 3D: Pintinho. São Paulo: Todolivro, 2009. 16p.
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2.6 Diversidade
Jacilda Mendes Alves1
Como parte dos eventos comemorativos do Dia da Consciência Negra, a biblioteca da E. M. Caio Líbano Soares vem promovendo, desde 2013, encontros com os estudantes para discussões sobre o tema “racismo” e a “Lei 10.639/3”. Mediados pela signatária deste texto, pela professora Mércia Martins Teixeira e pelo diretor da escola à época, professor Otacílio José Ribeiro, foram convidados alunos dos módulos inicial e final do Ensino Médio/Educação de Jovens e Adultos – EJA para participarem de “rodas de leituras” na biblioteca.
Relatos
Racismo e discriminação
Atendendo ao disposto na Lei 10.639/3, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira no currículo escolar, discutiu-se a importância e a necessidade de se conhecer a história do povo africano que veio para o Brasil como mão de obra escrava, além da sua contribuição para a formação do povo brasileiro. Foram feitas reflexões acerca da sociedade em que vivemos, de como o racismo nos afeta direta e cotidianamente nas relações familiares, escolares, no trabalho e na sociedade. Discussões dessa natureza devem ser uma prática constante nas atividades escolares, pois a temática está longe de ser esgotada. Outros encontros aconteceram na escola: o tema “cotas raciais” foi apresentado pela professora Mara Evaristo, do Núcleo de Relações Étnico-Raciais, da Secretária Municipal de Educação de Belo Horizonte – SMED. Numa análise da realidade, pode-se perceber que as condições de inserção no 1 Formada em Biblioteconomia pela Escola de Ciência da Informação da UFMG. Participou da organização da biblioteca escolar do Instituto Zilah Frota e atuou na organização da biblioteca do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais. Há um ano e meio, atua como auxiliar de biblioteca na E. M. Caio Líbano Soares.
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mercado de trabalho não são iguais para todos, justificando, assim, as cotas raciais. Foi traçada uma linha histórica da trajetória do povo negro na sociedade brasileira; porém, evidenciou-se que o preconceito não é só com a raça negra: judeus, índios e ciganos, dentre outras etnias, também sofrem discriminação. Noutro momento, a professora Rosália Diogo, à época também integrante do Núcleo de Relações Étnico-Raciais, discorreu sobre as “relações raciais e cultura brasileira”, ilustrando a temática com sua própria experiência e vivência na luta contra a discriminação. Na sua trajetória, ela tratou inicialmente da representação dos negros na sociedade e nos jornais. Depois, falou dos negros e negras na publicidade, com recorte na Rede Globo de Televisão. Por fim, a professora apresentou a literatura de duas mulheres negras escritoras, Conceição Evaristo e Paulina Chiziane. Coroando sua apresentação, ela declamou algumas poesias de escritoras negras, como Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e Elisa Lucinda. Em 2014, a temática “racismo” foi retomada a partir de manifestações racistas envolvendo o jogador Daniel Alves, no episódio da banana atirada em campo, durante uma partida de futebol na Europa. O fato de ter comido a banana jogada gerou polêmica na imprensa, fato aproveitado pela escola para promover debates com os alunos. Os temas da discriminação tratados aqui são questões de cidadania, envolvem direitos de uma população sofrida e marginalizada e estão nas Proposições Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. A biblioteca escolar, ciente de seu papel de circulação e construção de novos conhecimentos, transforma-se em um ambiente de mediação e discussão da realidade, para além de uma formação cidadã, num gesto de inclusão sociocultural.
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Débora Andrade de Castro Cunha1 Rafaela de Moura Emídio2
Relatos
Projeto Convivendo com as diferenças
O projeto “Convivendo com as diferenças” é desenvolvido em conjunto, pelas auxiliares de biblioteca e professoras da E. M. Professor José Braz, tendo ainda amplo apoio da coordenação e direção. O projeto engloba várias questões referentes às diferenças. Além das diversas culturas, trabalhamos raças, etnias, gênero e necessidades especiais. O projeto foi iniciado por alguns professores, trabalhando com os livros do kit de Literatura Afro-Brasileira em sala de aula. A seleção dos livros trabalhados foi realizada com a orientação das profissionais de biblioteca. Em agosto, todos os professores dos dois turnos intensificaram o trabalho, e a abertura oficial do projeto deu-se por meio da projeção do livro As cores de arco-íris, de Jennifer Moore Mallinos, para todos os alunos da escola. O turno da tarde realizou, ainda, um desfile baseado no livro, para o qual os professores da escola foram caracterizados de modo a representar as diversas culturas e religiões (árabe, muçulmana, oriental, africana, indígena etc.). O trabalho com os livros do kit afro foi estendido a todos os professores, que escolheram, em cooperação com as auxiliares de biblioteca, os livros que gostariam de trabalhar em sala de aula. Paralelamente, a cada semana, no horário reservado ao empréstimo de livros às crianças, a biblioteca 1 Auxiliar de biblioteca na RMEBH desde 2014. 2 Auxiliar de biblioteca na RMEBH desde 2001.
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planejou contações de história ou projeções em áudio e vídeo de histórias relacionadas às diversas culturas. Cada professor, como dito, optou por um foco de trabalho, dentre a enorme variedade de opções que nos dá o tema em questão. Alguns optaram por trabalhar os animais do mundo, priorizando os animais africanos e utilizando livros como Um safári na Tanzânia, de Laurie Krebs e Julia Cairns; outros, por sua vez, trabalharam com aspectos culturais. O livro Princesas negras foi trabalhado por várias professoras, que criaram, com os alunos, releituras da obra, retratando as princesas africanas, confeccionadas com materiais recicláveis. Livros com foco nas necessidades especiais e nas diferenças raciais também foram trabalhados, sempre com o intuito de resgatar as contribuições trazidas pelas matrizes que formaram o nosso país. A culminância do projeto se deu no dia da festa da família, no final do mês de setembro, quando foi montada uma tenda similar às tendas beduínas, enfeitada com ornamentos de várias partes do mundo. Nessa tenda, foram servidos alimentos originários de diversas partes do mundo, preparados pela equipe da escola. Índia, Serra Leoa, África do Sul, Marrocos, Líbano e Quênia foram alguns dos países cujas receitas populares foram trazidas. As receitas foram ainda disponibilizadas aos visitantes, em pequenos formatos e contendo também curiosidades de seus respectivos locais de origem. As crianças apresentaram, nessa mesma data, a música “África”, do grupo Palavra Cantada, com acompanhamento de violão e atabaque. Os trabalhos realizados por todas as turmas foram expostos, nessa data, espalhados pela escola, com pequenos banners confeccionados pela biblioteca, contendo bibliografias curtas de personalidades negras. Após a festa, os trabalhos continuaram. Uma das turmas do período da manhã apresentou uma peça de teatro, baseada no livro Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado, além de outros trabalhos paralelos, desenvolvidos sempre em conjunto com a biblioteca e baseando-se no acervo literário disponível.
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Após a experiência positiva desse ano, esperamos aprimorá-la, sempre buscando representar o diferente e proporcionar momentos culturais às crianças e à comunidade escolar.
Amanda Correia Miranda1 Vilma Regina Coelho2
Relatos
Biblioteca e Jogo Mancala: quem lê mais joga melhor
Somos auxiliares de biblioteca há quatro anos e, desde que iniciamos nosso trabalho, sentimos a necessidade de tornar a biblioteca um espaço acolhedor e lúdico para os leitores. Quando recebemos o convite da coordenadora da nossa escola, Eliane Márcia Jesuíno, para aprender e ensinar o jogo Mancala, não hesitamos. No ano de 2012, tivemos a tarefa de despertar nos alunos o interesse em aprender um jogo africano, direcionado para a matemática e visualmente sem muitos atrativos, se comparado a tantos jogos eletrônicos e virtuais. Aceitamos este desafio e reconhecemos uma excelente oportunidade de concretizar nosso objetivo naquele momento: transformar o espaço da biblioteca em um ambiente agradável e prazeroso. Ao estudarmos o jogo Mancala, percebemos uma forma atraente de divulgar o kit de Literatura Afro-Brasileira. Utilizamos os livros para explicar aos alunos como os valores civilizatórios africanos – ancestralidade, circularidade, ludicidade – estão presentes em nossa sociedade. Frisamos que o bom jogador é aquele que conhece a origem e a história da Mancala; para isso, é preciso ler os livros do kit. Um jogo de mais de 7.000 anos tem muita história para contar: 1 Licenciada no curso de História, pela PUC-Minas. Auxiliar de Biblioteca da RMEBH, desde outubro de 2010. Facilitadora no Projeto “A Cor da Cultura” (de julho de 2010 a setembro de 2012). 2 Auxiliar de biblioteca na E. M. Hilda Rabello Matta.
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Mancalas é uma família de jogos que, nas suas variadas formas – e são numerosas –, ficou conhecida como “jogo nacional da África”. A forma pela qual se realiza a distribuição das peças está intimamente associada à semeadura. Esse fato, aliado ao local de origem, leva alguns a crer que os jogos da família mancala são talvez os mais antigos do mundo.” (Os melhores jogos do mundo apud BRANDÃO, 2006, p. 68).
Como o jogo Mancala é muito antigo, ele possui inúmeras variações. Por isso, para ensinar as regras aos jogadores, utilizamos as instruções contidas no volume 5 do Caderno de Educação Matemática, disponível no acervo das bibliotecas escolares da RMEBH. Essa foi uma maneira de uniformizar as instruções, para a organização do Torneio Municipal de Mancala, uma vez que todas as equipes participantes se orientam por ele. Iniciamos a formação de uma nova equipe todos os anos para participar do Torneio Municipal, então nos organizamos a partir do segundo semestre, de acordo com o calendário escolar. Afixamos cartazes pela escola, convidando os alunos para aprenderem a jogar; disponibilizamos o espaço da biblioteca e o horário do recreio para essa prática e fazemos a exposição do kit de Literatura Afro-Brasileira. Esta atividade se tornou permanente em nossa biblioteca, porque temos o objetivo de formar multiplicadores do jogo, auxiliá-los a repassar o conhecimento aos colegas. Ensinamos qualquer aluno interessado, desde que seja um interesse espontâneo, essa é a nossa maior tática. Assim, trabalhamos essa atividade ao longo do ano nos dois turnos de funcionamento da escola; temos tabuleiros de mancala sobre as mesas da biblioteca e novos jogadores sempre surgem, essa é a circularidade do Jogo. Sempre que possível, vamos às escolas interessadas e promovemos oficinas com intuito de formar multiplicadores do jogo. Agendamos o espaço da biblioteca, pois nosso intuito é, após realizarmos a formação dos multiplicadores, fazer um convite a conhecerem o kit de Literatura Afro-Brasileira, afinal, “quem lê mais joga melhor”.
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SABERES e fazeres, v. 01: modos de interagir. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2006. 152p. (A cor da cultura). BELO HORIZONTE. Secretaria Municipal de Educação. Cadernos de Educação Matemática – Ensino Fundamental, v. 5: Matemática e cultura africana e afro-brasileira. Belo Horizonte: SMED, 2008. 52p.
Relatos
Referências:
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2.7 Datas comemorativas
Stela Araújo de Souza1
Este projeto é desenvolvido anualmente, desde 2010, pela biblioteca André Carvalho, no 2º turno, e tem como objetivo principal incentivar a leitura por meio da criação de um ambiente lúdico e que aguce a curiosidade dos alunos dentro da temática – Dia das Bruxas (cultura celta) e Dia do Saci (folclore brasileiro).
Relatos
Leituras, gostosuras ou travessuras
Mesclamos as duas comemorações e fazemos uma decoração na biblioteca, no mês de outubro, com estante de livros temática, teias de aranha, morcegos, cartazes informativos, sacis, bruxas, fantasmas, aranhas subindo pelas teias, abóboras e elementos que remetem à temporada. As turmas possuem um horário fixo para troca de livros, e os alunos são enviados em grupos de cinco por vez, para fazerem a troca. Ao trocar o livro, o aluno participa do “Quiz da Bruxa”, quando se tira do caldeirão um papelzinho com uma pergunta sobre os textos informativos espalhados pela escola. Se o aluno responde corretamente, ganha uma gostosura: docinho de abóbora ou pirulito da língua azul (que foi substituído atualmente por lápis decorado e dentadura de vampiro de plástico). Caso o aluno responda errado, paga uma travessura (prenda) que pode ser: imitar a gargalhada da bruxa, uivar como um lobisomem, pular como faz um saci, dançar ou cantar uma música etc. Todas as crianças do turno, ao trocar o livro na biblioteca, participam do quiz. No dia 31 de outubro, encerramos o projeto com um encontro na quadra da escola, onde todos os personagens do mundo imaginário 1 Auxiliar de Biblioteca no 2º turno da E. M. Lídia Angélica.
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dos livros são convidados para participar de um desfile de fantasias. Cada aluno vem fantasiado com seu personagem escolhido. A banca de avaliadores escolhe as três melhores fantasias, analisando a criatividade e a originalidade. Os alunos vencedores ganham uma premiação. Acreditamos ser essa uma experiência que proporciona um ambiente escolar mais estimulante e criativo para que os alunos explorem o seu imaginário e busquem o conhecimento, por meio da leitura. Observamos uma procura maior pelos livros, além de uma maior aproximação entre funcionários (auxiliares de biblioteca) e usuários (alunos e professores).
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Ivete Nogueira Nunes1 Margareth Egídia Moreira2 Maria Aparecida de Freitas Almeida3 Regina Célia Costa Nascimento4
Relatos
País ganhador da Copa: a taça é dele e o livro é nosso
A biblioteca Cecília Meireles, da E. M. Maria de Rezende Costa, aproveitando a escolha da cidade de Belo Horizonte como uma das sedes da Copa 2014, resolveu divulgar informações principalmente sobre a cultura dos países que jogariam e/ou se hospedariam em Minas Gerais. Além de divulgar as obras de referência do acervo da biblioteca, também elencaria títulos literários de autores originários desses países. A culminância do projeto seria o sorteio de títulos literários para os leitores da Biblioteca, nos dois turnos de trabalho da escola, entre os participantes de uma votação para indicação do País Ganhador da Copa. O projeto foi apresentado nas salas de aula, com a divulgação de cartazes que identificavam os países participantes, por continente. Durante o período de 19 a 30 de maio, foram divulgadas, nos murais da Biblioteca, informações sobre a cultura desses países. Foram criadas mesas temáticas contendo obras de referência, títulos literários escritos por autores originários dos 32 países e urnas organizadas por continente, representando cada país. Todos os segmentos da escola foram motivados para que visitassem as mesas temáticas na biblioteca e participassem 1 2 3 4
Graduada em Pedagogia. Auxiliar de Biblioteca na RMEBH desde 1998. Mestre em Ciência da Informação/UFMG. Bibliotecária na RMEBH desde 2001. Graduada em História. Professora em Readaptação Funcional na biblioteca desde 1998. Graduada em Pedagogia. Auxiliar de Biblioteca na RMEBH desde 2006.
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da indicação do voto durante o período de 2 a 11 de junho. Os alunos compareceram à votação durante os horários reservados para empréstimo domiciliar por turma. Com o término da Copa foi realizada a apuração. Os leitores ganhadores participaram de um sorteio de livros por segmento e tiveram seus nomes divulgados no mural e no blog da biblioteca, juntamente com os dados da participação na votação. Avaliamos que a aprovação e a participação dos alunos de 1º e 2º ciclos foram bastante positivas. A participação foi de 91,48% (344 alunos), no turno da manhã; e 89% (253 alunos), no turno da tarde, turno que contou também com a votação de uma turma da EJA – Educação de Jovens e Adultos. Observa-se que 58,46% dos servidores da escola (professores, coordenadores pedagógicos, gestão e servidores técnicos administrativos) participaram da votação. Entre os funcionários – incluindo os profissionais da Caixa Escolar (cantina e portaria), Apoio à Inclusão e Escola Integrada –, a participação foi de 73,17%, portanto, também bastante expressiva. Os dados apurados geraram tabelas que foram trabalhadas com os alunos no Programa de Intervenção Pedagógica – PIP de Matemática. Qualitativamente, observamos que os alunos e professores, ao participarem da indicação do voto para o País Ganhador da Copa, puderam estabelecer relações entre os títulos literários presentes nas mesas temáticas com os autores pertencentes às nacionalidades por continente. Os títulos apreciados foram listados para futuras leituras por professores e alunos. Foi possível, ainda, permitir que os alunos exercitassem suas habilidades de leitura e escrita para a escolha e indicação do voto no ambiente da biblioteca.
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Rafael Pablo Ferreira Silva1
O primeiro semestre do ano de 2014 destacou-se pela expectativa de um evento mundial que marcaria, para sempre, o Brasil: a Copa do Mundo de 2014.
Relatos
Copa do mundo de 2014 em versos e prosa
Aproveitando esse momento histórico, a biblioteca Norma Edna de Araújo Gomes, da E. M. Antônio Aleixo, no Barreiro, realizou o projeto “Copa do Mundo de 2014 em Versos e Prosa”, com o 1º ciclo, durante todo o semestre. Os objetivos do projeto foram, dentre outros, despertar nos alunos a curiosidade sobre outros países, a cultura e o folclore de cada um, incentivar e estimular a leitura. O projeto teve como referência o livro Volta ao mundo em 52 histórias, da editora Companhia das Letrinhas, organizado por Neil Philip e ilustrado por Nilesh Mistry. No primeiro momento, foram apresentadas a história do futebol no Brasil e no mundo e as cidades brasileiras sedes do mundial de 2014. O livro utilizado para esse encontro foi Gabriel e a Copa do Mundo de 2014, da editora Brinque-Book, escrito por Ilan Brenman e ilustrado por Silvana Rando. Nos demais encontros, a cada semana, foi trabalhado um país participante do Mundial. No total, foram apresentadas curiosidades de cinco países: Alemanha, Holanda, Itália, México e Rússia. Dentre as curiosidades apresentadas, em powerpoint, com o uso do data-show, destacam-se: a bandeira do país e sua história; localização geográfica; culinária; pontos 1 Auxiliar de biblioteca da E. M. Antônio Aleixo, na Regional Barreiro.
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turísticos; danças típicas; instrumento musical típico; lenda do folclore do respectivo país. É importante destacar que, para ilustrar as atividades e deixar o momento mais prazeroso e lúdico, foram utilizadas muitas imagens, fotos e vídeos, principalmente para mostrar as danças e instrumentos típicos de cada país. Ao final da apresentação dos slides, a atividade do dia era encerrada com a contação ou leitura de uma história do livro de referência. Finalmente, é muito gratificante ressaltar que o projeto foi carinhosamente abraçado pela coordenação e pelos professores, que apoiaram e incentivaram os momentos, com muita energia. Faltam-me palavras para descrever o brilho e o encanto que observei no rostinho de cada aluno, durante este maravilhoso momento.
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Gilson Serra de Morais1
Relatos
Brincadeira, brinquedo e leitura: tudo é cultura!
É prática comum nas escolas a promoção de atividades especiais para comemorar a Semana da Criança, em outubro. Como isso já faz parte do calendário da escola, pensei em como a biblioteca poderia contribuir com um projeto cultural, partindo do universo dos livros. Primeiramente, fiz uma pesquisa bibliográfica para identificar os livros que tratassem de temas relacionados ao brincar, brincadeiras, brinquedos e jogos. A partir daí, elaborei atividades tendo como ponto de partida os livros. Foi feita uma programação com duração de quatro semanas, que incluiu exposição de livros, dinâmicas com brincadeiras e jogos, exibição de vídeos (animações curtas) e oficinas de construção de jogos e brinquedos. Com o projeto, os livros e a leitura se entrelaçaram com as atividades lúdicas comuns do dia a dia das crianças. Por meio dos livros, elas tiveram contato com histórias sobre crianças e seus brinquedos e brincadeiras. Além disso, procurei demonstrar aos alunos a conexão entre os desenhos animados e as histórias dos livros. Aproveitei para comparar a adaptação em animação do conto “O Soldadinho de Chumbo”, realizada pela Disney, com a versão original escrita por Hans Christian Andersen. Após a exibição do curta, fiz a contação da história com os alunos e, passo a passo, comparamos as 1 Graduado em História pela PUC-MG (2003). Atuou como professor de História na Rede Estadual de Ensino no período de 2003 a 2007. Auxiliar de Biblioteca na E. M. Emídio Beirutto.
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versões. Eles fizeram seus comentários sobre as diferenças das versões, principalmente sobre o final. Oportunamente, informei aos alunos que o mesmo conto de Andersen também serviu de inspiração para a série de filmes Toy Story, igualmente produzidos pela Disney. Além de conhecerem muitas histórias, repletas de brincadeiras, brinquedos e jogos, os alunos também tiveram na programação a oportunidade de vivenciar o brincar e o jogar no espaço da biblioteca. Como não poderia deixar de ser, as brincadeiras e jogos foram inspirados pelos livros. Cabe destacar duas experiências. Com os alunos do 1º, 2º e 3º anos, a proposta foi uma dinâmica com jogos de tabuleiro e um jogo coletivo, envolvendo toda a turma. Para o jogo coletivo, elaborei perguntas no formato de adivinhas, utilizando como inspiração o livro Escuta só: o que é, o que é? (adivinhas de brincar), de Lenice Gomes. Outra atividade interessante foi a contação da história Telefone sem fio, feita com desenvoltura pelas professoras da Educação Infantil, que usaram o livro de Ilan Brenman e Renato Moriconi. Após a contação, os alunos realizaram a brincadeira do “telefone sem fio”. A iniciativa desse projeto partiu da compreensão de que a biblioteca pode ter um papel cultural na escola, sem deixar de lado seu papel fundamental: estimular a leitura! As duas coisas podem e devem caminhar juntas. A promoção de projetos culturais relevantes é repleta de possibilidades, contribuindo para desenvolver o gosto pela leitura, o pedagógico, o lúdico e a sociabilidade dos alunos. Acredito que projetos como esse deixam uma imagem positiva da biblioteca na mente dos alunos, demonstrando a eles que ela é um espaço de leitura, saber, cultura e lazer.
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2.8 Pesquisa Escolar
Carla Queiroz Rodrigues1 Cristiane Frade Marques2 Michele Ferreira da Silva Buchholz de Barros3
Relatos
Iniciação à pesquisa
O projeto de iniciação à pesquisa escolar surgiu a partir das dificuldades dos alunos que vinham fazer pesquisas na biblioteca. As maiores dificuldades estavam em entender o que era proposto, encontrar os materiais e valorizar a pesquisa como um momento importante para o aprendizado. Por isso, no segundo semestre de 2014, o projeto foi realizado com duas turmas de quarto ano da E. M. Professor Hilton Rocha, com os objetivos de divulgar os materiais de pesquisa da biblioteca, despertar o interesse pela pesquisa autônoma e ensinar o manuseio dos materiais de pesquisa. Para isso, os encontros foram estruturados a partir de algumas fontes de informação. As fontes trabalhadas foram: revistas, em especial Ciência hoje das crianças, livros de informação, Atlas e sites da internet. Dentre as fontes, foram selecionados os materiais que eram adequados à faixa etária e ao interesse dos alunos. A biblioteca comprou um bloquinho pequeno para que, a cada semana, os alunos anotassem as informações mais interessantes. Nos encontros, apresentamos as fontes de pesquisa. Depois, conversamos sobre a estrutura, tipo de informação
1 Especialista em Gestão da Informação na PUC-IEC (2006) e graduada em Biblioteconomia com ênfase em Gestão da Informação pela UFMG (2002). Analista de Políticas Públicas/ Bibliotecária na RMEBH, desde 2011. 2 Graduanda em Pedagogia na UFMG. Auxiliar de biblioteca na RMEBH desde 2014. 3 Graduada em Língua Portuguesa (2008) e em Língua Espanhola (2011), ambos pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora na RMEBH desde 2011.
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que continha e como citar as referências de cada uma destas. Após a apresentação, os alunos manipulavam os materiais em grupo e, em muitos momentos, conversavam sobre as informações. Após a leitura dos textos, eles anotavam no bloquinho a referência do que consideravam mais interessante. Após o trabalho com todas as fontes, fizemos a leitura das informações coletadas para que cada um escolhesse a que gostaria de escrever para a exposição na escola. Nesse dia, os alunos escolhiam a informação e buscavam o material no acervo. Após a seleção, todos escreveram os textos, individualmente ou em duplas, e ilustraram. Os trabalhos foram expostos pela escola para a valorização dos trabalhos dos alunos e divulgação dos materiais de pesquisa da biblioteca. Consideramos que o projeto foi importante para os alunos e que um dos fatores que mais contribuíram para o sucesso foi a parceria entre a equipe da biblioteca e a sala de aula. No resultado final, percebemos que os alunos escolheram informações relevantes e que a maioria gostou do trabalho. Por outro lado, sabemos que é necessário realizar outras atividades para alcançarmos nosso objetivo de formar alunos que saibam pesquisar e que valorizem essa prática.
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2.9 Biblioteca aberta: famĂlia e leitura livre
Carla Queiroz Rodrigues1 Cristiane Frade Marques2
Relatos
Projeto Pais na Biblioteca
A biblioteca da E. M. Professor Hilton Rocha tornou-se polo em 2012. Desde então, temos tentado divulgar à comunidade os serviços do setor. Como forma de divulgação e aproximação da família com a escola, a diretora Tânia Maria Silva propôs a realização de atividades que envolvessem os familiares dos alunos. Ao discutirmos a proposta, vimos que poderíamos fazer um projeto estruturado com o objetivo de estimular a leitura. Planejamos, então, encontros quinzenais com duração de uma hora e meia. Contudo, devido ao calendário atípico do ano de 2014, realizamos apenas quatro encontros até o momento. Para melhor compreensão do projeto, achamos pertinente a breve descrição dos encontros. No primeiro encontro, realizado no dia 7 de maio, compareceram 11 pessoas. Os funcionários da biblioteca se apresentaram e falaram sobre o projeto. Por meio de fantoches, foi contada a história “Fica Comigo”, da escritora Georgina Martins, em homenagem ao Dia das Mães. Logo após, realizamos uma dinâmica para conhecer o grupo, por meio de imagens. Cada participante se apresentou, escolheu uma imagem e justificou a escolha. Ao término da dinâmica, entregamos o Regimento Interno da Biblioteca e uma ficha de avaliação. A maioria dos 1 Especialista em Gestão da Informação na PUC-IEC (2006) e graduada em Biblioteconomia com ênfase em Gestão da Informação pela UFMG (2002). Analista de Políticas Públicas/ Bibliotecária na RMEBH, desde 2011. 2 Graduanda em Pedagogia na UFMG. Auxiliar de biblioteca na RMEBH, desde 2014.
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participantes se surpreendeu com as atividades desenvolvidas e não sabia que podia fazer empréstimos na biblioteca. Todos disseram ter a intenção de voltar no próximo encontro. O segundo encontro ocorreu no dia 5 de setembro, com o objetivo de divulgar o acervo da biblioteca. No início, os familiares preencheram a ficha de cadastro. Após a introdução, fizemos o jogo dos trechos, que consiste na leitura de trechos de livros e na identificação das obras de que foram retirados. Caso o grupo acertasse sem o uso da dica, ganhava dois pontos e com o uso desta, um ponto. Dividimos os participantes em dois grupos de quatro pessoas. Buscamos trechos marcantes como forma de incentivar a leitura dos livros. Foram feitos três empréstimos. O terceiro encontro aconteceu com os alunos em um evento promovido pela direção da escola, no dia 18 de setembro, em uma palestra ministrada por um colaborador da Casa África, que falou sobre alguns aspectos da cultura do Senegal. Compareceram cinco pais. O quatro encontro aconteceu no dia 23 de outubro e aproveitamos as discussões da mídia para falar da água, trazendo novas informações. Recitamos “ABC do Nordeste Flagelado”, de Patativa do Assaré, citamos um projeto de lei sobre o tema e discutimos outros textos por meio de um seminário. Foi distribuído um material que continha os textos citados e outras notícias. O encontro foi finalizado com a leitura do livro Lila e o segredo da chuva. Apenas três pais compareceram. No mês de outubro, houve também a participação dos familiares na homenagem aos professores. Os encontros têm nos aproximado dos familiares e aumentado os empréstimos da comunidade. Nossa meta para 2015 é formar um grupo assíduo e aumentar o número de participantes. Para os próximos encontros, faremos convites personalizados aos que já participaram e panfletagem na entrada e saída dos alunos, além de divulgar o projeto à coordenação e corpo docente da escola.
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Cristiane Frade Marques1
Ir à biblioteca espontaneamente contribui para a formação do leitor. Na E. M. Professor Hilton Rocha, além da utilização no horário do recreio e no horário pré-determinado, os alunos também leem e fazem empréstimos depois das aulas. A demanda veio deles próprios, e o que começou com cinco estudantes de uma turma abrange, atualmente, alunos de todas as turmas da escola.
Relatos
Biblioteca após a aula
A prática tem possibilitado, no campo da afetividade, a aproximação com os alunos que vêm frequentemente à biblioteca, já que temos tempo para conversar e trocar indicações de livros. Além disso, é comum que amigos venham juntos e que outros estudantes criem laços de amizade na biblioteca. No que se refere à leitura, houve o aumento de empréstimos e da análise dos livros lidos. São frequentes comentários que analisam as obras. A leitura em conjunto e em voz alta também acontece, sendo que a secretária da escola relatou que duas alunas estavam recitando poemas de Vinícius de Moraes na escada da escola após terem feito o empréstimo do livro na biblioteca. Os familiares também foram envolvidos no processo, já que muitos deles vêm com os filhos no fim da aula. Eles auxiliam na escolha dos livros e, em alguns casos, também levam livros emprestados. Outros se orgulham por acompanhar as leituras dos filhos e comentam com as professoras a alegria de ver 1 Graduanda em Pedagogia, na Universidade Federal de Minas Gerais. Auxiliar de biblioteca na RMEBH, desde 2014.
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que o filho é um leitor assíduo. Desse modo, uma relação de proximidade se estabeleceu entre os profissionais da biblioteca e alguns familiares. Outro dado relevante a ser considerado é que a maioria dos alunos que utilizam a biblioteca após a aula está no grupo dos considerados “bagunceiros”. É interessante notar, contudo, a compreensão das regras de uso e a obediência a elas, por parte destes alunos. As regras foram criadas em conjunto, a partir das demandas que foram surgindo e são respeitadas pela maioria. Alguns, ao verem que a biblioteca está cheia, esperam algum aluno sair. Portanto, a experiência tem estimulado a leitura na escola e enriquecido as relações entre alunos e profissionais da biblioteca.
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Ludmila Borela Durães1 Tânia Araújo Leão2
A leitura nunca se fez tão necessária no ambiente escolar. Por um lado, percebemos a dificuldade de nossos alunos em se expressarem corretamente. Vocabulário reduzido e informal, dificuldade de compreender textos em geral, dificuldade de escrever. Por outro lado, percebemos a dificuldade de muitas famílias em incentivarem o exercício do hábito da leitura com seus filhos. Os pais, muitas vezes, passam o dia trabalhando fora, voltando para casa só no final do dia.
Relatos
Recreio com leitura
A leitura nos abre várias possibilidades. Por exemplo, a oportunidade de conhecer mundos novos e distantes da nossa realidade; de explorar e decifrar os sentimentos que permeiam esses novos universos, dando, assim, mais vida e sabor à nossa existência. Dessa forma, pensamos ser importante e desafiador propiciar aos nossos alunos momentos que contribuam para despertar, estimular e incentivar o gosto pela leitura prazerosa e autônoma. Eles devem entender também que, além de prazer, a leitura proporciona conhecimento. Ler é pensar, refletir, raciocinar, comentar, posicionar-se, dialogar com o livro e o autor, tecer comentários com os amigos, trocar com eles opiniões, enfim, ler é libertar-se da alienação, é forma de garantir nossa formação crítica e emancipadora. Como disse Bartolomeu Campos de Queirós: “a leitura acorda no sujeito dizeres insuspeitados enquanto redimensiona seus entendimentos”. 1 Formada em História (2004), pela PUC/MG. Há três anos, lotada na E. M. Hugo Pinheiro Soares, no cargo de auxiliar de biblioteca. 2 Há cinco anos, lotada na E. M. Hugo Pinheiro Soares, no cargo de auxiliar de biblioteca.
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Esse projeto vem sendo realizado na E. M. Hugo Pinheiro Soares, desde 2009. Atende a todas as crianças da escola que desejem, por vontade própria, frequentar a biblioteca escolar no horário do recreio, para fazer sua leitura livremente. Há disposição dos leitores vários gêneros: contos, poesia, prosa, jornal, revistas, quadrinhos etc. Notamos, com o desenvolvimento do projeto, que somente quando a leitura é feita com vontade, interesse e entusiasmo é que se torna interessante para os leitores. Que esse tem sido um estímulo importante para a formação do gosto dos alunos pela leitura e para desenvolver seu potencial cognitivo e seu vocabulário, incentivar a busca de novas leituras, possibilitar a vivência do exercício da fantasia e da imaginação. Enfim, percebemos que, incentivando e estimulando a leitura, contribuímos para fazer que nossos alunos compreendam melhor o que estão aprendendo na sala de aula e o que está acontecendo no mundo em geral. Além disso, esse projeto tem servido para aproximar os alunos da biblioteca, que se tornou, para eles, um espaço prazeroso, onde podem desenvolver não apenas o gosto pela leitura como também satisfazer sua busca pelo conhecimento. A biblioteca escolar pode colaborar também na realização de atividades pedagógicas, contribuindo para a formação de nossos estudantes como cidadãos plenos, ou seja, críticos, criativos, além de leitores nota dez.
Referências: COLOMER, Teresa; CAMPS, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Trad.: Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002. 196p. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 41. ed. São Paulo: Cortez, 2001. 51p.
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2.10 Educar para preservar e conservar
Márcia Cristina Thimóteo do Carmo1
O projeto “Greve dos livros” foi realizado devido ao grande número de livros que eram danificados pelas crianças, na E. M. Monteiro Lobato.
Relatos
A greve dos livros
Tirei das estantes os livros destinados aos empréstimos para os alunos. Cobri as estantes com tecido branco. Coloquei faixas na porta com os seguintes dizeres: “Estamos em greve! Chega de rabiscos! Fora com os maus tratos!”. No informativo da biblioteca, fiz uma reportagem com os personagens falando da falta de cuidados das crianças com os livros: páginas arrancadas, rasgadas, rabiscadas; livros perdidos, jogados pelo chão. Montei livros com capas de obras descartadas: recortei papel A4 branco e encadernei. Avisei que os personagens fugiram das histórias. Uma professora fantasiou-se de Branca de Neve (como outras personagens também), assentava-se em algum lugar da escola e chorava. Às vezes, o personagem trazia esparadrapo na testa, o braço com faixa. Explicava que aquilo acontecia quando um livro era danificado. As crianças perguntavam o que fazer para os livros voltarem para as estantes e os personagens, para os livros. Era a “deixa” de que eu precisava. Na biblioteca, relembramos as regras de comportamento e de cuidados com os livros. As crianças fizeram um “juramento solene”: prometeram nunca mais “judiar” de um livro. 1 Formada em Magistério e Psicologia. Servidora da PBH há 10 anos. Foi Professora de Educação Infantil no Colégio Santo Agostinho.
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No dia seguinte, arrumei a biblioteca: livros nas estantes, balões, música. As professoras vestiram-se de personagens. Apresentei o livro em branco e as crianças despediram-se das personagens, que entraram no “baú dourado das histórias”. As personagens saíam pela porta dos fundos, já que o baú era uma caixa de geladeira. Ao abrir o baú novamente, os estudantes encontravam os livros com as gravuras. O resultado foi ótimo. No ano de 2010 perdi poucos exemplares. Penso que está na hora de entrar em greve novamente!
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Regina Mírian Silva Bruno1 Cláudia Márcia Marques Ribeiro2
Relatos
O hospital dos livros: educar para preservar
Considerando o número significativo de obras literárias danificadas, verificamos a necessidade de uma intervenção educativa com as crianças, em relação aos cuidados com o acervo bibliográfico da biblioteca. Conscientes da responsabilidade do profissional da biblioteca de cativar o leitor infantil, e tendo o cuidado para não inibilo ou afastá-lo dos livros, realizamos uma exposição de obras danificadas como ponto de partida para sensibilizar as crianças a refletirem sobre o estado das obras. A reação das crianças, quando manusearam os livros danificados, foi muito significativa, uma vez que elas expressavam indignação, além de identificarem a ação que danificou o livro. A formação de hábitos e atitudes das crianças em relação às obras literárias precisa do reforço familiar, sendo fundamental que a família seja parceira da escola nesse processo educativo. O ato de levar para casa um livro emprestado é um bom início para serem introduzidas noções de direitos e deveres, sem traumas e intervenções negativas em relação ao acervo. A diferença está na maneira como trabalhar essas questões com as crianças, preparando-as para uma sociedade de 1 Professora da E. M. Alessandra Salum Cadar. Formada em Biblioteconomia pela Escola de Biblioteconomia da UFMG; em Licenciatura Plena pelo Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET/MG. Tem pós-graduação em alfabetização pelo Centro de Estudos e Pesquisa Educacionais de Minas Gerais – CEPEMG. 2 Auxiliar de biblioteca da E. M. Alessandra Salum Cadar, responsável pela organização do espaço da biblioteca “Maurício de Sousa”. Dentre outros, ressalta-se o projeto intitulado “A vida e obra de Joan Mirò”, em parceria com a Professora Daniela Dias Chaves, premiado no concurso “Paulo Freire 2004” e convidado a participar do Fórum Mundial de Educação – III edição, na cidade de Porto Alegre.
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cobranças. Divulgar para os pais o trabalho proposto na Mostra Cultural de 2011 foi uma estratégia positiva para envolver a família nesse processo. Planejamos uma exposição dos livros danificados, denominando-os de “pacientes” no “Hospital dos Livros Machucados”. Propusemos às crianças colocarem os jalecos, para serem os “médicos” dos livros, sendo orientados e incentivados a auscultar, medir a temperatura, diagnosticar a sua “doença”. Registramos os “diagnósticos” apontados pelas crianças: manchas de líquidos; páginas rasgadas, rabiscadas, arrancadas; livros sem capas ou amassados dentro das mochilas. O que foi construído com as crianças, nos encontros semanais, foi inserido no regulamento da biblioteca como orientações. Sintetizamos e registramos de forma bem simples, evitando a expressão “não pode”, mas reforçando a maneira correta de utilizar os livros. Foram adquiridas sacolas, com os dizeres “Lê pra mim?”, onde as crianças pudessem colocar o livro emprestado. Além do objetivo de proteger o livro, seria um convite para a leitura em família. Todas as ações técnicas desenvolvidas numa biblioteca visam dar suporte a um atendimento de qualidade aos seus usuários. Conscientizar os alunos de que os livros são obras de arte, entretenimento e informação e definir uma política de preservação e conservação do acervo da biblioteca são ações que contribuem para o prolongamento da vida útil dos livros, possibilitando a ampliação de novos títulos e reduzindo a reposição de obras danificadas. Conscientes do nosso papel, como profissionais de biblioteca de uma escola de Educação Infantil, acreditamos também que somos responsáveis na construção de hábitos, atitudes, habilidades e competências com os nossos pequenos leitores, para o exercício de sua cidadania.
Referências: ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 3. ed. São Paulo: Editora Scipione. 174p. BELO HORIZONTE. Secretaria Municipal de Educação. Abre-te Sésamo!: construindo a biblioteca Infantil, cantos de leitura, música e brincadeira. Belo Horizonte: SMED, 2004. 54p.
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KUHLTHAU, Carol. Como usar a biblioteca na escola: um programa de atividades para o ensino fundamental. Traduzido e adaptado por Bernadete Santos Campello et al. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
Relatos
BRUNO, Regina Mírian Silva. Manual de preservação e conservação de materiais para bibliotecas escolares da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte. 1989. 116f. Monografia (graduação). Escola de Biblioteconomia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1989.
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Carla Queiroz Rodrigues1 Cristiane Frade Marques2 Ragner Morais3
Relatos
Meu amigo livro
A temática da conservação do livro pode ser trabalhada de várias formas, privilegiando diferentes aspectos. Na E. M. Professor Hilton Rocha, foi realizado um projeto, com duração de aproximadamente três meses, com o intuito de trabalhar o tema a partir do lúdico. O objetivo era o entendimento da importância de manter o acervo conservado, e não simplesmente a reprodução de regras prontas. O projeto se iniciou com a história “Eu”, de Hidelbrando Pontes Neto. Nesta história, o personagem é um livro que conta os seus sentimentos e o seu cotidiano com o seu proprietário. Após a contação, fizemos uma discussão sobre a história. Na segunda semana, conversamos sobre os elementos do livro e a fabricação do mesmo, assunto que seria retomado no jogo da terceira semana. Além de seus elementos, no jogo, os alunos tiveram que citar cuidados que temos que ter com os livros, e argumentar sobre a importância de sua devolução à biblioteca. Na quarta semana, os alunos foram orientados a escolher uma obra que considerassem especial e fossem observando todos os lugares pelos quais passava, da escola para a rua, mesmo que dentro da mochila. A fim de sensibilizálos e ajudá-los na observação, Cristiane fez a apresentação do 1 Especialista em Gestão da Informação na PUC-IEC (2006). Graduada em Biblioteconomia, com ênfase em Gestão da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (2002). Analista de Políticas Públicas/Bibliotecária na RMEBH, desde 2011. 2 Graduanda em Pedagogia na UFMG. Auxiliar de biblioteca na RMEBH, desde 2014. 3 Graduado em Filosofia pela PUCMINAS. Auxiliar de biblioteca na RMEBH, desde 2010.
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livro Macaquinho, de Ronaldo Simões Coelho4. A ênfase na apresentação para os alunos não foi na história, mas sim nos locais por onde ele passou, as pessoas que o pegaram e o sentimento dele (livro) pelos alunos da escola. Na outra semana, cada aluno relatou a vivência do seu livro. Importante observar que, nesse dia, os participantes conseguiram se colocar no lugar do objeto e imaginar os sentimentos dele durante o percurso. O projeto foi finalizado com a confecção de palitoches, para os quais cada aluno fazia de dois a quatro desenhos, retratando o que relataram no caminho percorrido pelo livro. Depois dessa etapa, os estudantes fizeram a apresentação da história para sua turma e para outras turmas da escola. Pudemos observar uma melhora significativa no cuidado com os títulos da biblioteca e que os atrasos e as perdas diminuíram muito a partir daí. Houve um entrosamento entre os participantes e os profissionais da biblioteca, o que demonstrou que o tema foi prazeroso para todos.
4 Texto elaborado por Cristiane, a partir da obra Macaquinho, para a apresentação na quarta semana do projeto: “Olá, sou o livro Macaquinho. Estou aqui na escola desde 2004. Já vi muito menino bonzinho e muito menino chato. Passei nas mãos de muitos alunos. Em algumas casas fui celebridade! Era lido à noite, pela família, e, de tanto carinho, tenho saudades. Já em outras, a situação era difícil, já fiquei na mochila amassado, no chão jogado, e debaixo do sofá fui encontrado. A última pessoa que me pegou foi a Cris. Ela me leu mais de dez vezes, me decorou e, para sua prima Fernanda, me contou. Mas, não parou por aí. Ela e a Carla me decoraram e minha história, para as crianças da Hilton, elas contaram. A música todo mundo cantou, um macaquinho foi o fantoche, as crianças ficaram felizes, e eu pensei: eu sou um livro de sorte! Quero que muitas crianças me peguem pra ler, mas que tomem cuidado, pois estou muito novo para morrer!”
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Premiações
Como reconhecimento ao trabalho realizado, o Programa de Bibliotecas e profissionais de biblioteca da RMEBH foram agraciados com os seguintes prêmios:
2015 • Vencedor do 20º concurso “Melhor Programa de Incentivo à Leitura junto a Crianças e Jovens”, promovido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), pela política do kit literário destinado aos estudantes da RMEBH. • Prêmio "Karol Kuhlthau”, concedido à auxiliar de biblioteca Jéssica Patrícia Silva de Sá, na categoria estudante de biblioteconomia, pela Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (ECI/UFMG)
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Em foco: Biblioteca do Professor
De Olho Maria Aparecida Almeida1
A Biblioteca do Professor é responsável pela organização e disseminação da informação, visando à produção do conhecimento e ao suporte à formação de professores e aos trabalhos educacionais e culturais da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte – SMED. Possui um acervo constituído por livros de formação (técnico-científicos), obras de referência, literatura literária, CDs, DVDs, teses e dissertações e periódicos. Com o objetivo de divulgar as obras desse acervo e contribuir com o trabalho realizado pelos profissionais da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte – RMEBH, foi criado, em 2010, o serviço de alerta De olho – publicação mensal que destaca um tema relevante para a educação, a partir do levantamento, seleção e divulgação de obras correlatas. A publicação possui o formato de folder, impresso em tamanho A3, em cores e ilustrado. Cada edição é elaborada com uma temática de interesse para os trabalhos educacionais realizados nas escolas da RMEBH e recebe um título que a identifica. São abordados assuntos diversos, como “Meio Ambiente”, “Grupos Indígenas”, “Bullying”, “Africanidades” e “Literatura de Férias”. A escolha do tema é realizada pela equipe da biblioteca a partir de conversas com as gerências e núcleos de trabalho da SMED. As edições apresentam texto introdutório sobre o tema escolhido, com sugestões de leitura. As obras são selecionadas de acordo com a pertinência do assunto abordado e apresentadas no folder com seu título, autoria, imagem da capa, resenha e o número de páginas. São relacionados também alguns filmes, CD-ROMs e links da internet que abordam o 1 Graduada em Biblioteconomia, pela UFMG. Especialista em Psicopedagogia (Universidade Castelo BrancoRJ), em Educação Especial (Universidade Federal de Lavras-MG) e em Gestão Pública (IPEMIG-MG). Trabalhou na SMED como Analista de Políticas Públicas, atuando como bibliotecária coordenadora na Biblioteca do Professor. Foi coordenadora municipal do Programa Nacional do Livro Didático para a Educação Básica e do Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos.
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tema proposto e podem contribuir de alguma forma para o trabalho dos educadores. Os títulos são classificados por gênero e têm legenda em cores, que os identifica, como literatura tecnocientífica, literatura literária, cultura ou mídias. O verso da publicação contém a capa do folder – com arte, título, ano e mês da publicação –, um texto com os objetivos da publicação, informações para contato e o brasão da Prefeitura de Belo Horizonte. A tiragem mensal é de, em média, 2.500 exemplares. A Biblioteca do Professor encaminha cerca de dez exemplares para cada escola, Umei e Regional da RMEBH, recomendando sua distribuição na sala dos professores, coordenação pedagógica, direção e biblioteca, visando alcançar o maior número de profissionais. Parte do material é distribuído no prédio da SMED e em oficinas de formação promovidas por esta Secretaria. Reconhecido como uma experiência positiva por ter contribuído para o aumento do número de usuários da Biblioteca do Professor, o serviço de alerta De olho é considerado também um importante suporte à formação de professores e profissionais da educação. Eventualmente, é necessário realizar a reimpressão de algumas edições para apresentação em palestras, encontros e seminários.
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Sugestões e Referências
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Sugestões de leitura: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG). Faculdade de Educação (FaE). Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale). Glossário Ceale: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte, 2014.
Referências: CASTANHEIRA, Maria Lúcia. Letramento escolar. FRADE, I. C. A. da S.; VAL, M. da G. C.; BREGUNCI, M. das G. de C. (Org.). Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Disponível em: <http:// ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/letramentoescolar>. Acesso em: 05 Fev. 2015. COSSON, Rildo. Letramento literário. In: FRADE, I. C. A. da S.; VAL, M. da G. C.; BREGUNCI, M. das G. de C. (Org.). Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Disponível em: <http:// ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/letramentoliterario>. Acesso em: 05 Fev. 2015. EU QUERO MINHA BIBLIOTECA. Disponível em: <www. euquerominhabiblioteca.org.br/uploads/.../16941-hgzn7p.pdf>. Acesso em: 10 Fev. 2015. GROSSI, Maria Elisa de Araújo. Contação de histórias. In: FRADE, I. C. A. da S.; VAL, M. da G. C.; BREGUNCI, M. das G. de C. (Org.). Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Disponível em: <http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/contacaode-historias>. Acesso em: 04 Set. 2015. HUNT, Peter. Crítica, teoria e literatura infantil. São Paulo: Cosac Naify, 2010. 328 p. SILVA, Rovilson José da. Desafios da relação pesquisa, escola e biblioteca escolar. (2009). Disponível em: <http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo. php?cod=425> Acesso em 21 set. 2015.
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