Bolachinha à Descoberta de Tarouca

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ROSA MARIA SANTOS


Ficha Técnica Título:

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Autor:

Rosa Maria Santos

Capa:

Glória Costa

Coordenação Editorial: José Sepúlveda Rosa Maria Santos Edição: Rosa Maria Santos Formatação: José Sepúlveda

Publicado em ISSUU Rosa Maria Santos Maio de 2018




Bolachinha foi ao vale

BOLACHINHA Ã descoberta de Tarouca


BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Bolachinha foi ao vale

- Luizinho, acorda filho, chegamos a Tarouca. - A Taroucaaaa? Como, mãezinha? Nem me lembro de sair de casa… - Pois é Luizinho, mas estamos em Tarouca. Luizinho arregalou seus olhitos castanhos, espreitou pela janela. Depois, abriu a porta do carro e gritou: - Bolachinhaaaaaaaaaaaaa, acorda preguiçosa, chegamos a Taroucaaaaaa… Uauuuuuuuuuu que espetáculo, de fim de semana vamos passar neste vale encantado.

Enfiou a cabeça dentro do carro e abanou Bolachinha que, refastelada, permanecia ainda no seu sono profundo. E cantarolou:


Bolachinha foi ao vale

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Bolachinha companheira Acorda lá, pequenita, Olha as Caves Murganheira, As águas em cachoeira Vamos saltar e brincar Para assim nos divertir A Ponte Ucanha passar Ver o Varosa a fluir Monumentos vamos ver Na praia vamos nadar Quiçá, depois escrever E memórias registar - Bolachinha, não estás com atenção a nada do que digo! Vamos, não há tempo a perder.


BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Bolachinha foi ao vale

Bolachinha ergueu-se, deu a mão ao Luizinho e correram pelo verde prado. Ao vê-los distanciar-se, a mãe gritou: - Luizinho, tem cuidado filho, não faças asneiras nem te percas.

Mas Luizinho já ia tão distante que quase não escutou as recomendações da mãe. - Olha, Bolachinha, vês aquele passadiço? atravessá-lo e ver aonde nos pode levar?

Vamos

Nem esperou pela resposta da Bolachinha. Puxou-a quase a arrastando e entrou no passadiço da ponte. Ofegante, murmurou: - Estou maravilhado. Estás a ver o mesmo que eu Bolachinha? Olha esta Torre.


Bolachinha foi ao vale

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

E largou a mão da amiga, correndo em direção à Torre. Estava tão obcecado que nem notou que Bolachinha ficara para trás. Rodou de um lado para o outro, à volta da ponte, subiu à Torre, primeiro, segundo, falando, gesticulando sozinho. De repente, lembrou-se, virou-se para trás e gritou: - Bolachinhaaaaa, onde estáaaas, amiguinha?

Bolachinha onde estás? Diz amiguinha por favor Não te escondas vem cá Não me provoques esta dor Desculpa se te larguei Não foi por mal acredita Entusiasmado fiquei Não me assustes pequenita


Bolachinha foi ao vale

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Bolachinha, que tristeza Não me abandones aqui Ficaste triste com certeza Porque me esqueci de ti Deu voltas e mais voltas e nada. Correu escada abaixo, num ápice atravessou o passadiço, olhou ao redor e qual não foi o seu espanto ao ver Bolachinha no meio das crianças, sentados na praia Fluvial. E chamou: - Bolachinhaaaa, onde andas? Fiquei preocupado. Não queria abandonar-te. - Luizinho, vem cá, vem brincar connosco, estou aqui com os meninos de Ucanha. Que coisas fantásticas me têm contado! Olha, vamos dar um mergulho? Estas águas são tão límpidas, tão claras, tão frescas.


Bolachinha foi ao vale

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Luizinho lançou para o chão o bonezito azul e coçou a cabeça. Como ia dizer-lhe que ela não podia entrar na água?

- Ouve, Bolachinha. Sabes que não podes entrar na água. Se entrares, desapareces, ficas desfeita. É melhor ficarmos a ouvir as histórias dos meninos de Tarouca. Concordas? Bolachinha sorriu e deixou escapar um desabafo: - Pois é. O melhor é ir ouvir as lendas que os meus amigos têm contado. Em casa, a mãe do Luizinho estava impaciente e preocupada. Nada sabia deles havia já muito tempo. E agora que a hora do almoço se aproximava. Onde andarão Luizinho e Bolachinha?


Bolachinha foi ao vale

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Na praia, alheios a essas preocupações, as crianças davam as mãos, brincavam à roda, ao esconde-esconde, cantavam, enfim, que dia! Bela praia Fluvial Como esta não há igual Ouvimos lendas antigas Fizemos jogos, cantigas Novos amiguinhos temos, A Bolachinha é diferente, E bons amigos seremos Não só agora mas sempre

Vamos até à cidade E aprender a viver Nesta cidade – é verdade! Somos livres, podem crer


Bolachinha foi ao vale

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

É tanta a felicidade! Corremos livres no monte, Respiramos liberdade Atravessamos a Ponte! - Ouve, Bolachinha, é a mãezinha que nos chama! - Estamos aquiiiii!, na praia fluvial, fizemos novos amigos, vem cá, vais conhecê-los também. A mãe soltou um sorriso e todos caminharam ao longo da praia. Uma pequena ondulação atingiu Bolachinha, humedecendo-a um pouco. Esta tropeça e cai. Fica trôpega, amolecida. Aflito, Luizinho grita: - Mãezinha, depressa, a Bolachinha caiu, esta a desfazerse! Preocupada, a mãe corre no seu encalço e desce a ponte, correndo em auxílio dos dois.


Bolachinha foi ao vale

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Ali, ao redor, os meninos da terra olhavam Bolachinha com lágrimas no olhar. - Segura, Luizinho, com cuidado. Saiu da água e embrulhou-a carinhosamente no lenço que trazia ao pescoço. E correram ao café ali próximo. Pediram um secador de cabelo e com mil cuidados começaram a secar a Bolachinha, combalida, assustada, lutando pela sua própria existência. E lá se recompôs. Assim que sentiu seca, disse aliviada: - Vamos pessoal, já passou. Vamos de novo brincar. Quero correr pelas ruas de Tarouca, descobrir cada canto. Vamos lá, rapaziada, não percamos mais tempo. Mas que susto, Bolachinha, Nos acabaste de dar, É bem triste, pequenina, Na água não vais entrar.


Bolachinha foi ao vale

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Queria na realidade Que fosses uma menina Com um corpo de verdade Mesmo ousada e tão chatinha. À noite peço ao Senhor Que me conceda o desejo E me faça esse favor Que há tanto tempo eu almejo Gosto de ti, Bolachinha, És minha mana querida E embora fragilzinha Serás sempre minha amiga. Bolachinha ergueu-se e sorriu. O Vale Encantado esperava-os. Embora ainda pálida pelo susto, quem se lembrava de comer?


Bolachinha foi ao vale

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Queria, sim, conhecer o Vale e todos os seus maravilhosos recantos. - Que maravilha! Vamos, o tempo escasseia. Naquele desvario, tropeça e exclama: - Cuidado com as irregularidades do chão. Ouvem-se sorrisos. Ao vê-la correr, a criançada solta-se desenfreada no seu encalço, enquanto ela mergulhava por entre todo aquele manto verde. Ao longe, o som da água da cascata em sobressalto entre as pedras do seu leito. - Parece que chora – diz – oiçam. Será que está à espera da tal moura encantada que por estes lados viveu, conforme narrava a lenda? - Sim - disseram em coro as crianças da aldeia – depois contar-te-emos a história. Continuemos a caminhar


Bolachinha foi ao vale

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- Ena, isto sobe muito. Vejam, é a cidade! Como é linda vista daqui do Alto, junto desta maravilha que é o Mosteiro de Santa Helena. - Uauuuuuuuuuuuu, que belo. - Bem, meninos, vamos descansar um pouco. Temos aqui o nosso lanche. E agora, digam lá: Valeu a pena? - Ó, sim, Tarouca Vale mesmo a Pena.



Bolachinha no Sarau de Poesia

BOLACHINHA Ã descoberta de Tarouca


Bolachinha no Sarau de Poesia

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

O sol escondeu-se lá além, atrás do verde manto sagrado. Bolachinha corria ainda atravessando o Vale Encantado. Vendo-os distraídos, a mãe chama: - Luizinho, Bolachinha, vamos, o tempo é pouco, temos de nos preparar para jantar. Hoje temos o Sarau de Poesia. Vamos conhecer muita gente, poetas, escritores, artistas, enfim. Vamos, não nos podemos distrair com as horas. Entraram na Residencial Chave de Ouro. Luisinho ficou boquiaberto, Bolachinha não sabia o que dizer. Nem consciência tinha do que se haveria de passar! Pensava consigo mesmo: - Oh, Mais uma daquelas reuniões fastidiosas que nunca mais têm fim. Sarau? Poesia? Ufffff.


Bolachinha no Sarau de Poesia

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Bolachinha, olha que lindo, Que bela residencial, A menina está sorrindo, Pensa que és especial. - Nem desvia o seu olhar! Será que te quer comer? Se lhe fossemos falar, Ver o que tem a dizer? - Como te chamas menina? Não és desta freguesia? Sou Luizinho. - Bolachinha - Eu sou a Rita Maria - Lindo nome, Bolachinha, Porque te chamam assim? - Sou crocante, bonitinha - Como gostava p’ra mim


Bolachinha no Sarau de Poesia

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- A Bolachinha é mesmo especial e única, não há outra igual. Tem vida.

- Bolachinha, fala com a menina, o gato comeu-te a língua? Não é teu hábito estares tão calada. Que aconteceu? Envergonhada, Bolachinha olhava o vestido da menina. Tão simples e belo! Rendas e brocados…. Desejou ter um assim. Olhou as suas calças cor marrom e suspirou. A menina entendeu tudo o que se estava a passar naquela cabecinha e disse: - Bolachinha, não fiques triste, tenho vestidos na mala. Vou emprestar-te um e vais ver que até te vão confundir com uma menina a sério – sorriu. E continuou – Mas não te esqueças, ela é uma menina de verdade. retorquiu Luizinho. E ficou sozinho na sala a olhar a menina e Bolachinha a desaparecer ao longe, qual arrastada pelos braços da menina.


Bolachinha no Sarau de Poesia

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Luizinho ficou nervoso. Fazia tempo que Bolachinha desaparecera e não a via voltar. Que terá acontecido? Sentiu uma lágrima a deslizar pela face. De repente, chegou junto da mãe e puxou-lhe o braço. - Mãezinha – segredou - a Bolachinha desapareceu há algum tempo com a Rita Maria e não voltou. Estou preocupado. Não estou a gostar nada disto. - Calma, Luizinho, vamos ver o que se passa. - Rita, diz-me, por favor, Aonde está Bolachinha. O Luizinho, que pavor, Quer saber da amiguinha! - Abre a porta, quero entrar, O que está a acontecer Talvez eu possa ajudar Abre a porta, quero ver!


Bolachinha no Sarau de Poesia

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

A porta do quarto abriu-se. Para espanto de todos, a Rita sai: - Vamos, Bolachinha, o Luisinho quer-te ver. Vá lá, não tenhas vergonha, saiiiiiiiiiii . Bolachinha surge perante os olhares atónitos dos seus amigos: - Uaaaauuuu – exclamam – que beleza! Pareces a Princesa Moura! Até na cor chocolate! – riram. Eis Bolachinha, enfiada naquele vestido enoooorme, cor de rosa, fita de seda na cabecita e um grande laçarote. Nos pés, um lindo par de sapatos de verniz. Luizinho nem queria acreditar, a sua Bolachinha querida transformada numa linda Princesa. Deu dois passos em frente e exclamou: - Bolachinha, estás lindaaaaaaaaaaaa. Pareces uma Princesa. Nunca pensei que ficarias tão linda assim. Estranho ver-te de vestido, estava habituado a ver-te de macaco castanho (o teu chocolate). Mas estás um espanto. Vamos, estamos atrasados para o jantar e sarau.


Bolachinha no Sarau de Poesia

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Bolachinha, que beleza Que lindo vestido tem É agora uma princesa Diga lá, sente-se bem? - Tão frágil e tão pequena! Esse vestido bordado É leve como uma pena E tem rosas de brocado - Que orgulho sinto de si, Ó Princesinha querida - Mãezinha, olha p’ra aqui, Parece que ganhou vida. - Bolachinha, tu vais ver, Aqui, no Vale Encantado, Tudo pode acontecer, Rosto lindo, tão corado!


Bolachinha no Sarau de Poesia

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Luizinho não parava de olhar Bolachinha que viu de repente transformada numa bela Princesa. Chegados ao restaurante, sentaram-se e jantaram. Tudo às mil maravilhas. A Ana, com a sua bela voz, declamava e cativava a mente de Luizinho que sorria enternecido e absorvia cada palavra que ouvia. O César distribuía abraços de cortesia a todos os poetas, um a um anunciados no correr da noite naquele enorme Salão de Festas. - Mãezinha, quem é aquele poeta? O barbudo! Ah, Mouquinho? Uiii! Não ouve bem? - Moutinho, miúdo – sorriu. - Ah! E aquele? – perguntava deslumbrado ao ver tanta gente reunida. - Sossega, Luizinho – disse a mãe discretamente.


Bolachinha no Sarau de Poesia

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Mas Luizinho, de olhos arregalados captava cada gesto, cada olhar, na ânsia de saber tudo o que ali se passava. Curioso, irrequieto, como, afinal, todas as crianças. Bolachinha olhava com encanto as crianças presentes. Apetecia-lhe falar-lhes. Estava linda, era, afinal, a Princesa Moura. O seu belo vestido de renda cor de rosa, com rosas de brocado, assentava que nem uma luva no seu corpito frágil de Bolachita de chocolate e canela. Ouvia atentamente os poetas a declamar e somente desejava um dia ser uma menina de verdade para também poder exibir os seus dotes de declamadora. E poder tomar banho como as outras meninas, sentir a chuva no corpo, cair sem medo de se desfazer. Um sonho que ambicionava desde o dia que saíra do forno na sua forma de Bolacha de chocolate e canela. Olhou toda aquela gente: poetas, pintores, declamadores vindos de toda a parte, presentes para dignificar a poesia e a arte.


Bolachinha no Sarau de Poesia

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Bocejou, esboçou um sorriso e deixou-se levar por um suspiro. Ó Deus, tu és meu amigo, Desculpa tanta ansiedade E atende ao meu pedido Faz-me gente de verdade Ouve esta prece, Senhor, Peço-te neste salão Que concedas o favor De me dar um coração É de mais o que te peço? Quero ser uma menina Se pensas que não mereço, Então, serei Bolachinha


Bolachinha no Sarau de Poesia

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Se concederes o desejo, Ser-te-ei grata p’ra sempre Pois é tudo o que eu almejo Ser um dia como gente Bolachinha estava tão absorvida na sua oração que, comovida, deixou escapar uma lágrima pelo rosto. De repente, ouviu-se um eco no Salão. Olha a Murganheira! Cuidado que não caia sobre a bolachinha! Pode desfazer-se num momento! Bebam, sim, mas à sua saúde, e já agora, com moderação! Afinal, temos que mostrar a toda a gente que Tarouca Vale mesmo a Pena. Hip, Hip, Hurra! Viva a Bolachinha!



Bolachinha, uma aventura na noite

BOLACHINHA Ã descoberta de Tarouca


Bolachinha, uma aventura na noite

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Era já tarde quando regressaram do Sarau à Residencial Chave de Ouro. Luisinho ia eufórico e a Bolachinha a pavonear-se com o lindo vestido que Rita Maria lhe tinha oferecido. Estava muito feliz, mas pensativa. Luisinho quase não dormia com tanta excitação. Falava, falava e não conseguia mesmo disfarçar toda essa euforia. De repente, perguntou: - Bolachinha, o que se passa, pequenita? Tão calada! Pareces uma princesa, sentes isso?

- Estou triste, Luisinho. É já amanhã o último dia no Vale Encantado… Vamos dormir. Amanhã quero explorar todo o resto que até agora ainda não conseguimos explorar - Vamos, sim. Vá lá, Vamos dormir, Bolachinha.


Bolachinha, uma aventura na noite

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Deitaram-se. Sentiram entreabrir-se a porta. Era a mãe. Veio apagar a luz. - Muito boa-noite, mãezinha, Desejo-te um bom dormir - Ei, princesa Bolachinha, Amanhã vamos partir. - Luizinho tem sonhos, Sonhos lindos, dorme bem Uns momentinhos risonhos P’ra Bolachinha também. - Boa noite, mano lindo, Boa noite mãe querida Ao Senhor estou pedindo Proteção p’ra nossa vida


Bolachinha, uma aventura na noite

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Silêncio absoluto no quarto. Bolachinha dava voltas e mais voltas na cama. O sono escusava-se a chegar. De repente, levanta-se e sai para tomar um pouco de ar. Salta a janela e embrenha-se na escuridão da noite, ao longo do Vale. Ouve um ruído estranho. Nunca tinha ouvido. - Grigrigri… - Quem anda aí? Responda! Sente medo, permaneceu imóvel, assustada. E se fosse algum animal feroz! Ou daqueles que gostam de bolachas? Brrrrrrr, assustador!

- Meu nome é Grigri, sou o grilo – ouviu. - E tu quem és? És tão estranha! Nunca vi pessoa assim! - Sou a Bolachinha, Grigri.


Bolachinha, uma aventura na noite

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- Bolachinha? Pensei que eras uma menina, tens ar de princesa encantada. Sabes como se chama este Vale? O vale Encantado. E tu a moura guardada neste encanto – sorriu - Senta aqui, Grigri, vou explicar-te. E começou a narrar a sua história. - Um dia, não era mais que farinha, ovos, leite, canela, chocolate…, blá blá blá…. - Uauuuu, que história! És então, como eu pensava, uma moura encantada, na forma de bolacha. Eu sou o grilo. Ando pelos prados na primavera…Vem, vou mostrar-te coisas interessantes escondidas por aqui. Segredos nossos, não contes a ninguém. Vamos. - Sim, vamos, já estou em pulgas – sorriu contente.


Bolachinha, uma aventura na noite

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E lá se foram, lado a lado, a conversar ao longo de todo o Vale. - O meu nome é Grigrigri, O teu nome Bolachinha Sou inseto, vivo aqui E tu, querida amiguinha? - Eu vivo lá na cidade E vim aqui de visita Cá não falta liberdade… Diz lá, quem é que assim grita? Um ruido imenso se ouve ao longo do Vale Encantado. - Baixa-te depressa, baixa-te, Bolachinha, é a coruja, anda a procura de alimento para as crias. Ao anoitecer, a coruja vem à procura de alimento para levar para os seus filhotes. Baixa-te, esconde-te.


Bolachinha, uma aventura na noite

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Uma aragem fria atravessou todo o corpo de Bolachinha que se agachou assustada e em silêncio. - Quanto tempo vamos ficar assim – perguntou - Espera, apenas mais uns segundos… Ufff, acho que passou o perigo. De repente Bolachinha sente-se levantada no ar. Grigri grita aflito: - Solta-teeeee, solta-te, amiguinha! – grita – salta depressa ou viras comida dos filhotes da coruja. - Ouve-se alguém gritar em alta voz. Era Luisinho que entretanto acordara e dera falta de Bolachinha partindo louco à sua procura. Ao ver a amiga em apuros, baixa-se, apanha algumas pedras e imediatamente as lança em direção da coruja. Esta, assustada, largou a presa, Bolachinha, que cai sobre um emaranhado de ervas.


Bolachinha, uma aventura na noite

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Mas logo as ervas pareceram ter vida e no momento em que Luisinho corria em socorro da amiga, depara com o focinho aterrorizante de um javali que, despertado pelo barulho, logo tentou cair-lhes em cima. - Fujam – gritava Grigri em alta voz – o javali é perigoso e pode magoar-vos. Luizinho pegou num pau de marmeleiro que por ali estava caído e atirou-se corajosamente ao javali que, surpreendido, largou a Bolachinha que, desamparada, caiu. Ainda combalida, correu para um lado, Luizinho para o outro. Ouve-se latir um cão. O javali olha e desata a correr noutra direção. - Bolachinha, minha amiga, Porque vieste para a rua Diz-me lá, estás ferida? O teu vestido? Estás nua.


Bolachinha, uma aventura na noite

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Quando dormia, acordei Senti-te longe de mim E só quando aqui cheguei Pensei que era o teu fim Ai, se eu aqui não viesse O que seria, amiguinha, Se a coruja te comesse Não mais tinha a Bolachinha Bolachinha, cabisbaixa, olhava e abanava com a cabeça, como dando-lhe razão, mas o mal estava feito. Que aventura aquela. E, já mais recomposta, desafiou: - Luizinho, vamos correr tudo isto, sim? Ainda falta muito para o sol nascer, anda, vem, vou-te apresentar o Grigri. - Olha, Grigri, este é Luizinho, o meu mano lindo.


Bolachinha, uma aventura na noite

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Grigri, que acabara de sair do seu esconderijo, ainda mal refeito e boquiaberto, murmurou: - Tu és um menino. Não me vais levar contigo, pois não? - Descansa, Grigri, não vou fazer-te mal, prometo. - Venham daí – avançou Grigri - não façam barulho, vou levar-vos aos cantos mais lindos do Vale encantado.

E lá foram ao longo do vale, até à cascata: - Uauuuu, - murmurou o Luizinho - que beleza. - Bolachinha, olha-me só! Que água tão limpa e prateada. Eiii, olha no céu a lua como brilha. Parece apaixonada! Olha a cascata que linda, como brilha na noite. Ai, se a mãezinha aqui estivesse, como se iria sentir apaixonada por este recanto mágico.


Bolachinha, uma aventura na noite

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Linda cascata prateada Com a lua em ti deitada Pareces estar apaixonada Linda cascata adorada O trinar da água ao cair Quanta alegria, afinal Tens a lua em teu dormir Com um toque especial Nas pedras que em teu cantar Te seguem por todo o lado A queda de água a trinar As notas deste teu fado Com um longo suspiro, assombrado, Luisinho afasta-se do vulto de um cavalo que passava a trote e no seu altivo galopar, quase o atropelava.


Bolachinha, uma aventura na noite

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Na magia do Vale, de repente, a cascata deixou de jorrar as suas límpidas águas. Fez-se um estranho silêncio. Do meio das cristalinas águas, surge então uma bela princesa, vestida de azul. Seus longos cabelos deslizavam-lhe pelos ombros. Do meio dos arbustos, surge um cavaleiro alto e bem parecido. O cavalo, seguindo a trote, entra nas aguas do rio em direção à princesa. A cena termina com um beijo apaixonado envolto num longo abraço. Grigri explica: - Todos os dias o cavaleiro vem visitar a Princesa Encantada da cascata. Conta a lenda que um dia ela se lançou da janela e se refugiou na cascata porque fora proibida de casar com o seu amado cavaleiro errante. Bem, vamos embora, há mais segredos para descobrir. Lá longe, agora, ouvia-se o som de uma bela canção.


Bolachinha, uma aventura na noite

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Já chegaste, meu amor, Estava aqui ansiosa A rogar ao meu Senhor Junto às aguas do Varosa. O dia custa a passar A noite é abençoada Quando te vejo chegar Eu fico mais descansada Vem-me abraçar, amor meu, Traz teus beijos para mim Meu corpo é agora teu E sou tão feliz assim Peço a nosso amado Deus Que me conceda um desejo Que me leve para os céus Contigo que eu tanto almejo


Bolachinha, uma aventura na noite

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Luizinho e Bolachinha estavam encantados com esta linda história de amor e, constrangidos com tal paixão, quase não se aperceberam que o dia estava a clarear, começavam a despontar os primeiros raios de sol lá longe, no horizonte. - Vê, Bolachinha, temos que nos apressar. Mãezinha não pode aperceber-se que estamos no Vale Encantado.

- Vamos – reclamava Grigri – há ainda tanto para ver. Vamos embora, Grigri, Logo o sol irá nascer E com nossa mãe aqui Ainda vai aparecer Tudo bem, vamos embora É hora de regressar E quando romper a aurora Um dia há-de se chegar


Bolachinha, uma aventura na noite

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Vamos todos a correr Para a Residencial E não queremos sofrer Porque nos portamos mal E acenando continuamente a Grigri, lá se foram a toda a pressa ao longo deste Vale sem fim.

Chegados a casa, sorrateiramente entraram pela janela. Quando se preparavam para entrar na cama, acendeu-se a luz. - Aonde se meteram, meninos? – questionou a mãe – que descaramento! Valente susto me pregaram. - Desculpa, mãezinha, prometo que vamos contar-te tintim por tintim tudo o que se passou nesta longa noite. Fomos conhecer o mais lindo Vale da nossa vida. Valeu a Pena.


Bolachinha, uma aventura na noite

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Conhecemos uma moura No nosso Vale Encantado Se o amado vai embora Ela canta um triste fado Assim que chega a cascata No corcel todo branco As águas da cor de prata Afastam-se como um manto Pela abertura ele passa Dá-lhe um abraço apertado E o seu corpo se entrelaça Nesse beijo apaixonado Ai, meninos, devia ficar zangada convosco. Mas…. Bem, como estamos no Vale Encantado, nesta cidade poema… bem, cantai o vosso fado que Tarouca Vale a Pena.




Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA Ã descoberta de Tarouca


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Depois daquela noite mágica e cheia de aventuras, Bolachinha sentia-se cansada mas também animada, pronta para começar um novo dia na Cidade Poema, este cantinho lindo no coração do Vale Encantado. Depois de um relaxante banho, Luizinho, sorridente, entra na sala de convívio da Residencial. - Luizinho, Bolachinha – chamou a mãe - vamos tomar o pequeno almoço, falta pouco para a hora do encontro. – Sim, Mãezinha já vamos. Levantaram-se e dirigiram-se ao refeitório. - Ei, Bolachinha, tanta coisa boa na mesa! Vamos comer e chorar por mais. Era bom se pudéssemos levar umas sandes para enganar a fome ao meio da manhã. Será que podemos? A mãezinha não condescendente.

conseguiu

esconder

um

sorriso


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Mãezinha, chama o senhor, Pergunta-lhe por favor, Se nos pode preparar Umas sandes para levar! - É que assim, por este andar, Precisamos de comer, Para a fome saciar Sandes precisamos ter

- Senhor, podia trazer-nos pão Com manteiga, uma maçã, Bolachas de massapão Para o meio da manhã? - Trago sim, minha senhora, Um precioso lanchinho - Obrigada, está na hora Vamos por-nos ao caminho!


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Depois de agradecer ao empregado que simpaticamente tinha acedido ao seu pedido, saíram. Estava uma linda manhã de sol. Que simpatia esta gente da Chave d’ Ouro. Bolachinha, aqui e ali, deixava ainda escapar um bocejo. Estava cansada, parecia mole e quebradiça. - Ainda falta muito tempo? – perguntava, arrastando os seus frágeis pezitos enfiados nuns lindos ténis que a faziam parecer um palhaço de circo. Estava exausta e não o escondia. Apercebendo-se, Mãezinha estendeu-lhe a mão. E continuaram o seu caminho. O encontro era junto ao Pelourinho. - Que lindo - exclamou Luizinho – olhem que lindo. Apetecia brincar um pouco por aqui. - Qual quê! Bolachinha sentou-se num recanto do Pelourinho e…


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Acorda Bolachinha – adiantou Luizinho – bora, vamos daí, estamos a chegar.! Olhem tantos meninas e meninos a chegar. Devem ser os meninos de Armamar que parecem colecionar prémios nas Correntes d’Escritas na Póvoa. Já ganharam uma série deles. - Ai - adiantou Bolachinha – Fantástico, vamos conhecêlos. Bolachinha arregalou os olhos de contente. De repente, sente algo na orelha. - Aiii. Quem está a morder a minha orelha? Ufa, Que dor! Com a mãozita sacudiu a orelha e viu algo que caiu. - Caramba, que coisa feia Bater numa Joaninha Levanta-se - fiquei cheia, Eu sou uma princezinha


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Tu, afinal, quem és? Que raio de aberração! Não sei bem mas quem te fez Não prestou muita atenção Pareces doce demais. De que és feita criatura? Algodão-doce? Que mais? É tanta, tanta a doçura!

- De chocolate sou feita Tenho canela à mistura Sou bolacha, sou perfeita Tu és uma pinta escura? - Kakaka, sou Joaninha Pois a ti não acho graça - Mas eu sou bolachinha Sou chocolate com massa


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Juntei açúcar, canela E depois fui ao fogão Fiquei doce, fiquei bela E em mim pulsa um coração - Então, meninas, o que é isso? Joaninha, porte-se bem – resmungava a mãe Joana - não costumas ser assim, és sempre afável e amiga! O que foi que aconteceu? - Olha, mamã, para esta coisa doce e crocante! Eu só queria comer um bocadinho para ver se ela é apetitosa. Irra! Apenas lhe dei uma pequena dentadinha e esta coisa estranha fez-me logo estatelar no chão. Quase dava cabo das minhas asas.. - Luizinho - retorquiu Bolachinha - temos amigos novos… e estranhos. Esta é a Joaninha – disse mal-humorado – essa coisa saltitante de pintas escuras devia ter pensado que eu era a última bolacha do pacote. Convencida!


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Era o que ela era. Estava decidido. Não gostava da Joaninha e pronto. Luizinho resmungou-lhe. - Vá lá, juizinho – adiantou a mãe Joana - Não sei porque reagiste assim, Joaninha não tentou comer-te, irra. A mãe de Luizinho, ao aperceber-se de que algo estava a acontecer, condescendente, aproximou-se e tentou deitar água na fervura. - Que se passa, meninos?

- Foi essa coisa irritante, que me tentou comer a minha orelha - avançou Bolachinha. - Tentou comer, como? - Olha mãezinha estava a cair de sono e de repente, zás! Uma mordida na minha orelha, vê como ela ficou, até vi estrelas. Sacudi essa coisa sarapintada, ela não gostou e chamou me aberração! Aberração, eu?


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Olha eu! A Bolacha mais famosa do mundo! Olha Mãezinha, não quero ver mais essa coisa encarnada e de pintas escuras, que voa como uma tonta, à minha frente. uma lagrima escorria-lhe pela face.. Joana, a mãe, em tom de repreensão, aproximou-se de Joaninha e disse-lhe. - Tu não costumas andar por aí às mordidas, Joaninha. Porque a mordeste? Ela até é meiga e engraçada.

- Até pode ser tudo isso. Mas atirou-me ao chão, não é coisa que se faça a um bichinho frágil como eu. - Joaninha, Bolachinha, Prestem lá bem atenção, São as duas amiguinhas, Quero um aperto de mão!


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Nesta Cidade Poema É sempre tudo agradável Zangar-se não vale a pena Aqui só há gente amável Vamos correr e saltar, Ver os moinhos, as pontes E os Mosteiros visitar Atravessar vales, montes

A cascata do Varosa Os moinhos lá da serra A erva verde e viçosa E as gentes desta terra É hoje o último dia, Brindemos com Murganheira, Vamos dizer poesia Durante esta noite inteira


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Cabisbaixa, Bolachinha deu dois passos em direção a Joaninha, olhou-a bem nos olhos e disse: - Desculpa, estava meia a dormir quando me tocaste. Reagi mal. Joaninha olhou Bolachinha e respondeu: - Também eu quero pedir-te que me perdoes. Não devia ter-te mordido, mas… parecias tão apetitosa que… não resisti.

- Vá, abracem-se, sejam lá amigas. E olharam uma para a outra, um longo abraço, um sorriso, uma gargalhada… e soltaram a mais bela gargalhada que algum dia já se ouviu ecoar por aqueles montes, até à Várzea da Serra. E lá foram a correr encosta abaixo, quase não ouvindo as recomendações das mães. Meninas! – diziam umas para as outras.


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

E a brincadeira ainda agora ia começar. Naquele relvado fofo, Bolachinha sacudia os sapatos dos pés e ambas saltavam de alegria. Joaninha olhou e disse: - Eu não tenho sapatos, mas vou voar e bater o terreno a ver se há perigo. Há por aí pequenos rastejantes que podem fazer-te mal. - Alto - gritou Joaninha - não se mexam. Está ali algo que não conheço! Pode fazer-te mal.

- Muito cuidado – acrescentou Luizinho - eu vou à frente ver que bicho é esse! E de repente, Luizinho sussurrou: - É um filhote de raposa. Está a chorar, certamente perdeu-se da mãe, coitadinha. O que lhe poderá acontecer se não encontrar a mãe?


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Porque choras, raposinha, Tens fome ou terás medo? Procuras a tua mãezinha Quero contar-te um segredo! Sonhava e andava eu Na floresta, tão sozinha, E me virei para o céu Que mandou uma nuvenzinha

Branca, parecia algodão, Resguardou-me com carinho, Com sua suave mão Pôs-se a afagar meu rostinho Então, fiquei a saber Que a natureza aparece Quando algo acontecer Em resposta à nossa prece


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Dorme, dorme, pequenita Sozinha, não vais ficar Até que a tua mãezita Possa breve regressar

Bolachinha olhou e sorriu. Nunca tinha visto uma cria de raposa, linda, linda que era. Pelo tão macio e fofinho. Não parava de passar a asa suavemente no pelo da raposinha que acabou por adormecer, ao sentir todo o carinho dos novos amiguinhos. Ouviram ruídos junto do covil. Mesmo assim os meninos permanecem imóveis, protegendo a cria. Seria algum intruso? Não iria fazer-lhe mal, não! Sossegaram-na. E de repente surge a raposa mãe, carregada de alimentos. Com sua voz maternal, aquela voz que só as mães sabem fazer, agradeceu aos meninos o cuidado que tiveram com a sua cria.


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Os meninos, felizes, sorriram e deixaram-na aos cuidados da carinhosa progenitora. - Para onde vão – perguntou a raposa – qual é o vosso caminho? - Vamos ao Mosteiro de Santa Helena desfrutar da bela vista panorâmica lá no alto. - Uma maravilha. Passei lá perto ontem. Que encanto. Ali não podemos ir. É um lugar descoberto. E as raposas nem sempre são bem-vindas. Temos que procurar alimento. Nada melhor e mais fácil que assaltar uma capoeira. Enfim, a lei da sobrevivência. O que podemos fazer? - Nem eu sei dar conselho, amiguinha – disse Luizinho ouvem-se tantas histórias à cerca da Senhora Raposa – sorriu - ainda sou pequeno e quase nada sei da vida. De Amizade, isso já sei um pouco


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Agradeço-vos meninos. Já se faz tarde, esta quase na hora do almoço, as vossas famílias devem estar preocupadas à vossa procura. - Que que barulho é esse? - pergunta a Raposa, com as orelhas espetadas no ar. - Ai que não gosto nada. Lá vou ter que me fazer de novo à estrada. Tenho que proteger a minha cria. - Não se assuste, são os nossos estômagos com fome, ah ah ah ah. Já esta na hora. Luizinho abriu a sacola e retirou umas apetitosas sandes com manteiga de amendoim e mortadela. Ofereceram às amigas que se lambuzavam, gulosas. Por aquele manjar ora caído do céu. - Vai uma maçã? Ai, ai, que não vai! Que boaaaa, deliciosa.


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Os meninos olhavam felizes. Foi uma experiência única poder partilhar com os seus novos amigos que não paravam de agradecer Às vezes desço a cidade Para procurar alimento Só o faço por necessidade Acreditem que o lamento Abandonar uma cria Não é fácil pra ninguém Procuramos no dia, a dia O melhor que nos provem As gentes desta bela terra Até que nem nos fazem mal Trazem-nos comida à serra Para não irmos ao seu quintal


Bolachinha, no Vale de Santa Helena

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Temos que partir, amiguinhas, gostávamos de ficar mais tempo convosco mas a hora avança. Nossas mães devem estar preocupadas. Dissemos que nos encontraríamos no Mosteiro e já devíamos ter chegado. Até um dia, cuide bem da sua cria neste belo Vale Encantado. E, cantarolando, lá seguiram a caminho de Santa Helena. Ao vê-los, as mães gritaram: - Então meninos, perderam-se?

- Ai Mãezinha – respondeu Luizinho – Tarouca tem magia. Até as raposas falam… Atónitas, as duas mães trocaram num olhar e sorriram felizes.




Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Bolachinha vivia ainda essa euforia dos dias passados na Cidade Poema. Muita coisa tinha acontecido em tão curto espaço de tempo, e o seu coração rejubilava de alegria. Depois do almoço, a preguiça instalara-se no seu frágil corpo adocicado. Bolachinhaaa, - gritava Luizinho – vamos, menina, nada de preguiça, vamos dar uma volta. Olha, e se fossemos visitar a Torre de Ucanha? Estive lá perto mas acabei por ver muito pouco. Tu tinhas-te evaporado. - Porque não vamos antes visitar o Mosteiro? – sugeriu a mãe. - Oh, Mosteiro? Está um dia tão lindo de sol. Podíamos passear ao ar livre. - Se preferes, vamos a isso., Ao longe, ouvia-se um coro angelical. Eram crianças no regresso a casa.


BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Bolachinha aprende a dançar

Olha- adiantou a mãe – vamos visitar a Várzea Serra! - É isso, vamos – acrescentou Luizinho saltando de contente.

E lá se puseram a caminho, calcorreando a serra, em direção à Várzea. De repente, ouve-se a voz de um poeta que parecia inspirar-se na bela paisagem ao redor. - Então, meninos – disse a mãe, puxando a mão de Luizinho – nada de se distraírem. Bolachinha, Luizinho – puxou. - Ai, Luizinho, quase arrancas o meu frágil bracinho de chocolate e canela. Quase me desfazes toda

- Mãezinha – gritou o menino – vem cá depressa! Acho que magoei sem querer a Bolachinha. - Desculpa, amiguinha, às vezes esqueço-me que és frágil e delicada


BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Bolachinha aprende a dançar

- Oh, o bracinho deslocado – suspirou a mãe. Ai, ai querida mãezinha Olha o meu bracinho que dói Desculpa mana queridinha Luizinho, o que foi?

- Mãezinha, o que é aquilo Que se dirige p’ra aqui? Parece um pequeno esquilo, Fugiu, escondeu-se ali - Bolachinha, vem brincar, Vais ficar boa, pequena, A mamã vai arranjar Algo que o bracinho prenda


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Uma linha colocar No braço da Bolachinha E mais logo, ao regressar, Vou compô-lo com farinha. Depois de tratar da Bolachinha, colocando com muito jeito uma linha no seu frágil bracinho, esta logo saltou de contente, já não sentia dores. - Vamos lá à nossa brincadeira – gritou Ao vê-los felizes, um dos poetas sorriu e disse: - Vão brincar, sim, é essa a vossa condição. Toca a divertirem-se.

E embrenharam-se por entre uma densa mata de sabugueiros em flor. - Cruzes, que estas crianças não param, sempre em correrias e tropelias. Fazem-me lembrar o meu neto mais novo.


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Era o José Sepúlveda. Todos olharam com um sorriso de troça. - Avô babado – cogitou o Moutinho.

E enquanto as crianças se perdiam nas suas aventuras, a mãe observava um carreiro de formigas que se dirigia para eles e temeu pela sorte da Bolachinha. Para elas não seria mais que um pitéu apetecível. - Bem – pensou – não há-de ser nada. Mas vou manter-me atenta. Afinal, tem ali algumas crianças que certamente tomarão conta da Bolachinha, não deixando que nada lhe aconteça. - Tudo bem, Bolachinha? - pergunta Luizinho.

- Sim, o braço já não dói. Que longe estavam do que havia de acontecer ao longo do dia. E enquanto todos corriam e saltavam, Bolachinha sentiu umas picadas estranhas no seu frágil corpito.


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Ui, ai, Luizinho! – gritou - estou a sentir umas comichões estranhas! Ajuda- meee, parece que me estão a comer viva. As crianças correram na sua direção e, estupefactas, viram-na coberta de formigas. - Mas que é isto? Chôooo, malditas, larguem a Bolachinha! Não pensem que vai ser o vosso manjar. E toca de as sacudir decididas. Uma das crianças envolveu-a no seu lencinho para a proteger daqueles insetos inoportunos que afastavam como podiam, batendo com os pés no chão, como que a assusta-las. - Atrevidas! - Larguem nossa Bolachinha! Bolachinha não é gente É uma nossa amiguinha Mas que fala, mas que sente


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Bolachinha, que maldade O que te queriam fazer? Que dura realidade, Quase te iam comer! - Comilonas, vão embora, Sigam o vosso caminho E se não forem agora Digam adeus ao corpinho - Nós damos cabo de vós Se não forem a correr Bolachinha é nossa e nós Sempre a vamos proteger As formigas atrevidas Ficaram sem a provisão E, tristes, desiludidas, Partiram sem ter razão


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Ainda combalida e assustada, Bolachinha, amparou-se em Luizinho que logo a pegou ao colo, dizendo aos amigos: - Vamos parar um pouquinho para que a Bolachinha se restabeleça do susto. Pouco tempo depois, recuperada e refeita do susto, Bolachinha saltou do colo e disse: - Vamos, o dia vai longo. Temos ainda muito para descobrir. E lá foram cantando e rindo ao longo desses prados verdejantes e frescos. E eis que se ouviu um som, um canto harmonioso: - Chiu - sussurrou Luizinho – é uma cigarra. Que encanto! Dizem que a cigarra e a formiga são eternas rivais, não sei se é lenda, mas já ouvi isso muitas vezes. A cigarra canta todo o Verão. Já a formiga, sempre a trabalhar, sem descansar, passa o dia a armazenar provisões para o inverno. Laboriosa mas, coitada, sempre a trabalhar.


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

A cigarra no inverno não se ouve. Sem provisões, não consegue sobreviver. - Sou a cigarra ladina E passo a vida a cantar, No vale sou bailarina Canto e danço sem parar

- Este canto de sereia Mesmo sem viver no mar O meu destino premeia Na minha voz de encantar Dizem que sou preguiçosa Mas preguiçosa não sou Vivo às margens do Varosa Que meu destino traçou


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

E se canto ao desafio Parceiro não tenho igual As margens deste meu rio Únicas são, afinal Bolachinha estava encantada com aquela harmoniosa voz. Ergueu-se e sem se aperceber, assustou a pobre cigarra que se esconde e pergunta aflita:

- Quem anda aí? Nada fiz de mal, apenas canto. Não me faça mal! - Sou eu, a Bolachinha, amiga cigarra, não te assustes. - Bolachinha? As bolachas não falam. Quem és? Diz-me, és estranha, mesmo! - Sou uma Bolachinha de chocolate e canela que fala. Ufff, tenho sempre que explicar tudo. Começo a ficar cansada!


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Olha, Luizinho, explica tu à D. Cigarra. Já não tenho paciência. Afinal, sou apenas uma Bolachinha crocante de chocolate e canela. Entende, minha senhora?

- Desculpa, não quis ofender-te, na verdade, nunca tinha visto nada assim. Olha-me esta! Uma Bolacha a falar! - Olha, Cigarra, hoje já quase fui tragada por um bando de formigas que me atacaram sem dó nem piedade. Agora, tu! É demais! - Que coisa, Luizinho. Ergue-te, mano, explica a esta dançarina cantora quem sou, para não ficar a olhar para mim com cara de parva. Luizinho sorriu, ergueu-se do esconderijo. Todos riam desalmadamente ao assistir àquele diálogo insólito. Valeu a pena vir à Várzea da Serra para assistir a um espetáculo destes.


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Vê-me bem estes fedelhos Pasmados a olhar p’ra mim Não sou como escaravelhos Que vivem lá no jardim Eu sou cigarra cantora Uma deusa na verdura Sou bonita, sedutora E tenho uma voz madura Diz-me lá, ó rapazito Que coisa é essa marron? Tem olhitos, narizito E quase a cor do carvão Eu passo a vida a cantar E esta gente aqui vem No verão importunar A filha da minha mãe


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Não te irrites, Cigarra. A Bolachinha é meiga e simpática, foi apenas um mal-entendido. Pronto, Bolachinha, acabou, vamo-nos daqui. Estás nervosa, acalma-te, a Cigarra, quanto sei, não come Bolachinhas. - Pois não, Cigarra? - Claro que não. Eu até sou diabético – sorriu.

- Vês, Bolachinha, despede-te lá da nossa amiga e diz-lhe que canta maravilhosamente. Cá por mim, ficava aqui a tarde inteira a ouvi-la. - Vão lá à vossa vida. Gostei de ti, “coisa esquisita”, ah ah ah ah… - Bolachinha, quer’s dançar? Dás um passo p’rá direita Outro p’rá esquerda, acertar, O resto, tudo se ajeita


Bolachinha aprende a dançar

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Dança agora um chá-chá-chá Passo à frente, passo atrás, Lanças o corpo, ó lá lá E tudo o resto se faz Sacode o teu corpo, assim, Dá meia volta para ali Vamos, encosta-te a mim, E faz de conta… Não vi. - Ciao, bambinos. Vou-me pôr ao fresco antes que apareça por aí algum predador que não vá nas minhas cantigas. E foi-se… - Meninos, onde andam vocês? Estávamos assustados com a vossa ausência e viemos ver o que se passa. Como vais, Bolachinha, estas bem?


BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Bolachinha aprende a dançar

- Sim, mãezinha, sinto-me agora muito bem. - Sabes? – acrescentou Luizinho – depois que a Bolachinha foi atacada por um bando de formigas horríveis, já vivemos outras aventuras. Conhecemos uma Cigarra que cantava para aí no meio dos silvados. Este Vale tem mesmo, muito encanto. A Cigarra até quis ensinar a Bolachinha a dançar! Ai, mãezinha, desejava muito ficar a viver aqui! - Lá estás tu a inventar! Vamos lá e… siga a dança!




Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA Ã descoberta de Tarouca


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Num ápice, o dia tinha passado cheio de peripécias. Bolachinha e Luizinho estavam muito exaustos mas felizes. Luisinho mergulhou na sua banheira num banhinho revigorante, enquanto a mãe foi cuidar com carinho do bracito de Bolachinha que estava um pouco maltratado. - Mãezinha, que vais fazer No meu braço doentinho? - Espera um pouco e vais ver, Vou trata-lo com carinho - Senhor Mestre cozinheiro, Quero tirar esta linha Que durante o dia inteiro, Segurou a Bolachinha - Vamos lá ver com cuidado Vou lá pôr esta massinha; Bolachinha, olha p’ró lado, Tem coragem, princesinha


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Vamos tratar com jeitinho Teu bracinho delicado Com canela, poucochinho, Mais chocolate e farinha Uns grãos de açúcar vou pôr Com amor, dedicação, E não vais sentir o ardor Que tinhas na tua mão Menina, toma atenção, Não te mexas por favor Segura na minha mão E não vais sentir a dor Bolachinha cerrou os olhos, apertou a mão da mãezinha e sentiu-se mais confortável. Sentia estar a viver um conto de fadas. Parecia ver a princesa Ardinga e o seu cavaleiro a lutar em prol do amor, que beleza.


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Cabelos negros olhos verdes… E deixou escapar um longo suspiro. No seu imaginário, Ardinga e o cavaleiro trocavam um olhar apaixonado. Ela, Bolachinha, nunca iria viver um momento assim, afinal, era apenas uma bolachinha crocante de chocolate e canela. E prosseguia nessa viagem edílica com Ardinga que estranhamente agora olhava para si. Os seus olhos brilhavam de alegria, só depois se apercebeu duma lágrima que deslizava pelo rosto. Arlinda aproximava-se com seu belo lenço de seda, bordado com duas lindas rosas azuis. Baixou-se e enxugou-lhe os olhos, perguntando com o mais belo sorriso: - Como te chamas? És muito linda, sabias? Não te conheço deste Vale Encantado. Onde vives? - Eu sei quem tu és, princesa, ouvi contar a tua história. Eu sou a Bolachinha. Mas, por favor, não me perguntes de que sou feita.


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Desde que cheguei à Cidade Poema, toda a gente me faz essa pergunta – sorriu – sou apenas a Bolachinha. Vim a um evento importante aqui em Tarouca. Sabias que a batizamos de Cidade Poema? Há por aí poetas espalhados por todo o lado. Vieram do país inteiro e até de outros lugares. Escreveram imenso e quiseram participar deste evento. Vá lá, conta-me a tua história, gosto tanto de a ouvir! Gostava tanto de um dia ser como tu, uma princesa, ser gente. Sempre ambicionei ser gente desde que fui concebida pelas mãos carinhosas de mãezinha. Sei lá, um dia viro pessoa como o Luizinho. - Luizinho? - Não sabes? É o meu irmãozinho de carne e osso. Esse, sim, tem vida própria – suspirou – eu sou uma mistura de farinha, chocolate e canela. E fiquei assim, crocante, ólarilas! - Pois é, amiguinha. Mas não fiques triste. Na verdade, eu nem sei se existo – murmura – um dia dizem que fui gente


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Hoje, não passo de uma lenda que circula de mente em mente, como se um ato de magia. Anda, vou-te apresentar o meu príncipe. Por ele, entreguei a minha vida. - Ai, amor da minha vida, Vem ver o que eu encontrei A Bolachinha querida A quem a história contei Estava ali a chorar, Tive muita pena dela Ficamos a conversar, É chocolate e canela Talvez linda princesinha Ou qualquer lenda vai ser E ainda que pequeninha Muito se vai escrever


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

No nosso Vale Encantado Nesta terra tão dileta Lendas há por todo o lado Como versos de um poeta Bolachinha estava encantada. No mundo encantado da princesa não faltava nada: Póneis brancos e malhados, princesas com lindas roupas coloridas, belos príncipes encantados, cavaleiros, trovadores, poetas… Ai, quem lhe dera ficar ali para sempre! - Princesa - murmurou baixinho, tão baixinho que Ardinga quase nem ouviu. De repente, ouviu-se um som angelical, era tão melodioso que todo o Vale Encantado permanecia silente, ouvindo as harpas que tocavam e uma voz maviosa entoando o mais belo cântico de amor que ela jamais ouvira.


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Quem sou eu, diz-me quem sou, Responde-me, por favor Nem sequer sei se me vou À procura do amor Perdida no universo, Sem saber o que fazer, Escrevo em prosa ou em verso E respiro, é meu viver Tenho voz melodiosa, Vivo no Vale encantado Atravessei o Varosa E passei para este lado Tenho o nome de Maria Sou branca, da cor da neve Com tristeza ou alegria A minha história se escreve


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Nasci num dia de Outono Tinha pai, mãe, um irmão, Desapareci sem retorno E nem sei qual a razão Serei adulta, criança? Não consigo perscrutar, As recordações da infância Algum dia hei-de contar Bolachinha ergueu os olhos com espanto e gritou: - Mariazinha! - Conheces-me? - Conheço sim. Vi-te no Vale Encantado um dia, andavas a passear o teu Kiko, o gato e desapareceste. Lembras-te? - Nunca mais ninguém te viu. Agora vêem-te como o desenho animado muito famoso da nossa televisão!


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Quem és tu, nunca te vi, Responde? Quero saber! - Bolachinha, adormeci E a este sonho vim ter - Mãezinha, aonde está? Luizinho, meu irmão Despertei esta manha Com sonhos no coração - Neste universo encantado Adormeceste, pequena, Viemos cantar o fado Em Tarouca, Vale a Pena Mãezinha querida mãe Não me deixes cá ficar Sou Bolachinha e também Quero contigo cantar


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Que calor, estou doente, Ainda hoje brinquei Com meu maninho presente, Não sei porquê, desmaiei.

Enquanto isso, a mãe parecia ansiosa e preocupada. Via Bolachinha como que a navegar no outro lado da vida. Tinha uma pequena infeção que a afetava. E delirava. Luizinho saíra já do seu banho e vinha a cantarolar e a saltar. - Bolachinha! – chamou. Mas Bolachinha não respondeu Bolachinha - repetiu - aonde andas? A mãe chegou junto da porta da cozinha e disse: - Chiu, não faças barulho, Luizinho. - Procuro a Bolachinha, sabes dela?


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Deve andar por aí. Vai ao seu encontro mas não andas por aí a gritar. - Ai, a marota, adora fazer isso comigo. Vou-te encontrar, estejas onde estiveres. - Bolachinha vem aqui E não te escondas de mim Estás ai já te vi Escondida no jardim! Vou contar, de um até três, Quando contar, olha, vem Porque agora é a minha vez E escondo-me também.

- Luizinho – chamou a mãe - vem cá. Quero-te contar uma coisa. Vem aqui à cozinha.


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Ó Mãezinha, agora não. Tenho de encontrar a Bolachinha. Não é que a marota não aparece? Desde que lhe compraste esses vestidos novos, tornou-se cá uma vaidosa! - Vem aqui, Luizinho, a Bolachinha esta aqui na cozinha. - Na cozinha? O que faz ela na cozinha mãezinha. - Vem aqui e já vês. Curioso, Luizinho entrou na cozinha e …. - Ó mãezinha, o que aconteceu? O que fizeram à minha Bolachinha? E correu para junto dela, deitada na mesa da cozinha, estendida numa toalha de linho. Ó, a sua irmãzinha! Carinhosamente, estendeu-lhe a mão e pegou a sua frágil mãezinha. Deixou soltar-se uma lágrima que lhe rolou pela face e pousou no rosto pálido da amiguinha.


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Acorda, minha maninha, Sou eu, o teu irmãozinho, Tem coragem, pequenina, Já trataram teu ombrinho Levanta-te, por favor E vamos às tropelias Estás curada, melhor, Mas nada de correrias Minha linda Bolachinha, Não te quero mais doente, Levanta-te, princesinha, E vamos lá para a frente Bolachinha, ainda do outro lado da linha do tempo, contorcia-se, e com voz trémula, parecia balbuciar algo enquanto ouvia a voz trémula do Luizinho e da mãe, mal percetíveis, distantes da sua mente e pensamento.


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Queria despertar desse sonho que tanto gostou. Sim, estava na hora de despertar. - Ardinga, diz, por favor, Como vou daqui sair Sinto em mim tamanho ardor, Não sei se vou conseguir Ai, meu querido irmãozinho, Mãezinha, vem-me buscar, Eu quero o vosso carinho Que nunca mais vou deixar Um abraço, meu amigos, A casa vou regressar E bem longe de perigos Bolachinha hei-de acordar


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Sinto no vosso coração Vosso carinho e calor E em qualquer ocasião Vou cantar o vosso amor - Luizinho, tem cuidado, filho, não deixes as lágrimas cair no corpinho frágil da Bolachinha, sabes o que pode acontecer. - Sim, mãezinha – disse - vem Bolachinha, regressa à vida. - Peço desculpa, amiguinha, Está na hora de voltar Beijinhos, Mariazinha, - Ardinga vai namorar

Num paraíso encantado Tudo pode acontecer E bom viver deste lado Mas no outro vou viver


Bolachinha no Jardim de Ardinga

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Vou regressar ao meu lar Levo-vos no coração Luizinho está a chamar E a amparar minha mão Até lá, gente querida, Vão comigo em sentimento E por toda a minha vida Sereis o meu pensamento Ei-la desperta. Abre os olhos e sente-se humedecida pela lágrima sentida do seu Luizinho.

ainda

- Ui, Luizinho, sou uma Bolachinha, queres dar-me banho? Cuidado, sou apenas uma frágil bolachinha de chocolate e canela, não suporto a água – sorriu – Obrigada, mãezinha, Luizinho e grande Chefe. Agora é uma vez. Vou contar-vos a minha aventura: - Era uma vez… um Vale Encantado numa Cidade Poema…


Rosa Maria Santos Conto


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA Ã descoberta de Tarouca


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Bolachinha, ainda combalida, saltou da cozinha. Não podia perder a reunião na sala de convívio, queria estar com os poetas, todos eles brilhavam naquele espaço onde se respirava. Entre eles, alguns pintores e visitas que se juntaram ao grupo. Eram como ela e Luizinho, apenas acompanhantes no evento. Quiseram também conhecer a Cidade Poema. -Mãezinha vá, vem daí Vamos ver o meu vestido Olha que lindo este aqui Ajuda, mano querido Hoje quero ficar linda Sentir-me como uma estrela Quem sabe se como Ardinga, De olhos verdes, como ela


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Sou somente Bolachinha De chocolate e canela Como era bom ser menina Mesmo não sendo tão bela Sabes, mãezinha querida? Entrei neste paraíso E senti-me princesinha Muito mais do que preciso Cuidadosamente, vestiram Bolachinha, pentearam seus lindos cabelos castanhos, um cheirinho de Chanel espalhado no vestido, uns sapatinhos rosa, na verdade, estava como uma princesinha. O Luizinho abriu a boca de espanto. - Que desplante, mana. Tal e qual uma princesa. Parece até que cresceste, estás quase da minha altura. – sorriu de maroto – vê que não apareça por aí um príncipe encantado a fazer versinhos como os poetas.


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Este lugar é tão belo, Mesmo lindo, Bolachinha, Põe a fita no cabelo. Estás linda princesinha - Vamos lá que está na hora, Pequenita, dá-me a mão, Ouve a cascata que chora Cuidado, há pedras no chão - Bolachinha, tem cuidado, Sem querer podes cair - Ó rapaz, fica calado! Se não ficas, vais dormir - Estou a pensar, mãezinha, No que pode acontecer E se a nossa Bolachinha Cair e adoecer?


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Na verdade, estou aqui E para me divertir Tantos meninos ali Olha, não param de rir

E lá vão eles estrada fora a caminho do Salão. Nem sequer dão atenção a ninguém, só querem brincadeira. Esta é a última noite que vamos passar no Vale Encantado. Nem nisso pensam, sequer. Momentos mágicos que querem aproveitar até ao fim. De repente, os miúdos encaram Bolachinha. Que linda, mas que musa! Luisinho dirigiu a sessão de apresentações. Esta é a Bolachinha, eu sou o Luizinho… blá blá blá… - Que beleza! Quem és tu? - Luizinho e Bolachinha - Esta de azul é a Milú - Eu sou Maria. - Eu, Ritinha


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Marinho, muito prazer O meu mano, Gasparzinho, Gosta muito de comer Mas não é mau rapazinho - Esta é Clara, a Carolina Marcos, Pedro, Joaninha O António, a Rosalina O André, a Giselinha - Eh, pessoal – chamou uma das crianças – e se fossemos até ao pátio? Está uma linda noite. Abanaram as cabecinhas em sinal de concordância e saíram. Mãezinha ainda esboçou meia dúzia de recomendações mas já ninguém ouviu. Saíram de tal forma a correr que Bolachinha quase tropeçava, tendo deixado para trás um dos sapatinhos. Ao vê-la atrapalhada, Luizinho acorreu e apanhou o sapato.


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Ai, queixou-se Bolachinha – doem-me os pés. Os sapatos são novos e ainda não me habituei a eles. - Sei bem o que é isso – retorquiu o Marinho. Todos pararam de repente e entreolharam-se como que a dizer: - Há moura na costa! Parece que a miúda lhe caiu nas graças. Na verdade, Marinho não tirava os olhos de Bolachinha. Estava fascinado. Parecia a moura encantada das tais lendas de que tanto se falava pela aldeia. Vamos correr e saltar Nesta noite sem igual É deixá-los lá falar Que a noite é nossa, afinal


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Precisam de conversar? Que falem de poesia, Comecem a combinar Um evento noutro dia Na rua vamos brincar E estamos bem aqui Olha a cascata a cantar Enquanto a gente se ri O que foi que aconteceu Vamos p’ra junto do rio Que nesta noite de breu Já começa a ficar frio - Varosa, estás agitado, Quem te fez mal, meu amigo? O teu brilho acetinado Parece algo poluído


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Miúda, pode cair! Sendo tão especial Tenha cuidado ao subir Pois lhe pode ser fatal Apesar da escuridão da noite, no céu brilhava uma interminável constelação de estrelas. Mesmo envergonhada e algumas vezes semioculta, era bem visível a lua com o seus raios doirados que insistiam em trazer alguma luz àquele lugar de breu. Na acalmia da noite, algo brilhante luzia agora sobre o ombro de Bolachinha. Assustada, deu um grito e dois passos para trás. Depois, caindo em si, ousou perguntar: - Quem és tu? Nunca vi nada assim! Uma estrela? Pareces mesmo uma estrela. Mas as estrelas não voam! Responde! Não vou fazer-te mal. - Bolachinha – perguntou Luizinho – estás a falar sozinha? Que luz é essa que trazes ao ombro?


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Pronto – aproxima-se – agora ficou surda e muda. Ó, que inseto estranho! Todos ficaram especados a ver Bolachinha animada a conversar com o seu novo amigo. - Diz-me, pequenina luz, Diz-me quem és, afinal, Uma estrela que reluz? A estrelinha do Natal? Estás só? Andas perdida! Ou não queres responder? Olha as asas, tão querida, Que andas aqui a fazer? Vá lá, responde, miúda Porque te quero ajudar Serás surda? Serás muda? Surda-muda, se calhar!


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Não há luminosidade, Poucas estrelas no céu Mas esta luz, na verdade, Veio iluminar o breu.

- Zee…zee… zee… - Ó, chamas-te Zee? (chamando os amigos) Meninos, venham cá! Luizinho, vem cá ver, este é o Zee! Luizinho fixou seus olhos no pequeno raio de luz no ombro de Bolachinha e quase lhe dava uma sacudidela, com receio que lhe fizesse algum mal. O pequeno inseto, assustado, voou. - Ó, não! O que fizeste, Luizinho – reclamou Bolachinha – Assustaste-o. - Vem cá Zee, volta para mim. Este é meu mano, o Luizinho.


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Zee desceu do ramo onde se refugiara e colocou-se de novo no ombro da menina, dizendo: - Meu nome é Zee, o pirilampo. Vivo no Vale encantado, tenho uma enorme família. É conhecida por família Lelé – sorriu - Vim voar um pouco para ajudar a iluminar a noite. Sempre que anoitece, eu e os meus vimos iluminar o Vale. Vou contar-vos um segredo: Um dia já fui gente, mas apaixonei-me por uma pirilampo. - O quê? - perguntou o Luizinho espantado.

- Sim, fui um menino como tu, há muito tempo, era muito feliz. Um dia, andava a passear nas margens do Varosa e apaixonei-me pela minha linda pirilampo, a mais bela do povoado. Passou muito tempo até me tornar como ela. Agora, sou o Zee. É certo que tive muitas saudades dos meus pais, dos meus amigos, mas…, enfim, são os caminhos inexpugnáveis do amor – sorriu – Hoje, ao ver- vos senti uma saudade imensa desse tempo.


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Mas não, não estou arrependido de me ter tornado um pirilampo. É tão bom ter luz própria dentro de nós mesmos. Meu amor, aonde estás? Vem trazer o teu carinho E um raminho de hortelã Te darei com rosmaninho Vem até mim um pouquinho, Vem e traz-me o teu amor Vem aqui ao meu cantinho, Não demores por favor Depois, já no nosso lar E os filhos à nossa espera Estaremos p’ra contar Que chegou a primavera


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Olha a serra, que beleza, Quanta frescura vem dela Como é linda a natureza E a luz de cada estrela

- Porque te escondes da tua esposa, Zee? Disseste que gostavas muito dela, não estou a entender. - Não, Luizinho, é que se ela me visse convosco ia ficar certamente triste, a pensar que tenho saudades da minha antiga condição de ser humano. E isso não é verdade. Vamos fazer uma coisa, eu vivo ali adiante. Vou apanhar um pouco destas ervas e vamos até ao meu lar, vou vos apresentar à minha família. Apanhou um pouco de ervas e la foram a cantarolar pelo caminho


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Ai, ó lé, p’ra casa vou Ai ó lé quem vem ali? O Zee Zee eu sou, eu sou Meu amor, quero-te aqui Sapo, sapelo do rio Nada tem, vive sozinho Canta sempre ao desafio Para acordar o vizinho

Zee, Zee, me diz, quem vem lá O bichinho vai e vem Fica aqui desde manhã E toda a noite também E nesta cantilena, esvoaçava ao redor, iluminando o caminho, até chegar a casa.


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Cheguei, querida! Assustada com a presença dos amigos, exclamou: - Zee, quem é essa gente? Porque os trazes contigo? - Não tenhas receio – disse Luizinho em baixa voz – sou Luizinho e esta e Bolachinha. - Essa tem cara de quem gosta de pirilampos. Escondamse meninos. Se vos apanha, era uma vez uma família de pirilampos. Luizinho, calmamente, tentava explicar, mas Dona Pirilampo temia pela vida dos filhos. Bolachinha deixou escapar algumas palavras de conforto, deixando escapar uma lágrima. Sabia que não podia fazê-lo mas sensível como era… Ciente do que podia acontecer, Luizinho correu e com cuidado limpou a pequena lágrima. - Minha amiguinha Pirilampo, não temas. Por favor, deixe que Bolachinha se aproxime do calor. É feita de chocolate e de canela, não se pode molhar.


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

– Está bem, vou confiar em vós. Sentem-se aqui. Embora Pirilampo, sou sensível. Olhou Bolachinha e deixou escapar um ar triste por a ver assim frágil. - Vem, vem e aquece-te, não devias andar por aí, está nevoeiro e aqui na Várzea a noite é mesmo fria, arrefece mesmo. Contai lá, quem são vocês? - Como te disse, sou o Luizinho. - Eu a Bolachinha. - Esperem, vou preparar algo para confortar os nossos estômagos. - Venham daí, meninos, podem sair, afinal, são amigos do papá, são de confiança. Colocou uma linda toalha bordada na mesa e toca a petiscar.


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Vamos daí, pequenada Ajudar vossa mãezinha, Vão buscar a marmelada Ao armário da cozinha Trazei pão, está guardado Naquele saco de linho E no prato acobreado Tragam-nos lá um queijinho Traz as chávenas, vá, traz, Despacha-te, maridinho, Pinhões, nozes, avelãs Enquanto o chã está quentinho E conversaram tanto no correr da noite que nem deram pelo passar do tempo. De repente, Luizinho levantou-se e disse:


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Bolachinha, já está a amanhecer, olha o sol a querer romper. Vamos lá mesmo com frio, Temos que nos despachar, Vamos para o pé do rio Onde nos vão procurar Até sempre, meu, amigo, Nunca vamos esquecer Este dia em que contigo Tive muito que aprender E lá saíram eles a correr, com Zee que, sem que eles tivessem notado, os acompanhava ao longo do caminho. - Vai, amiguinho, já sabemos o caminho, não podes andar aqui à luz do dia.


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Junto do rio, um barulho imenso, uma algazarra enorme. - Luizinho! Bolachinha – gritava mãezinha aflita – onde estão? - Aqui, mãezinha, tudo bem. Fomos conhecer a casa dum novo amiguinho, Zee, o pirilampo. Depois, pusemo-nos a tagarelar e pronto… - Ai, meninos danados. - Desculpa, mãezinha – pediu arrependido – sabes que Zee já foi uma criança como eu? E canta que é um encanto: - Chega a manhã, ó la ri Para casa vou, ó la ré Linda Várzea, moro em ti, Sou o Pirilampo Zee


Bolachinha e Zee, o Pirilampo

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Um pirilampo ladino Que vive p’ra lá do monte E um dia já foi menino E bebeu água da fonte A casa há-de chegar Para o lar já vai seguir O seu amor vai beijar E na caminha dormir - Tu e as tuas invenções – gracejou a mãe. Luizinho olhou Bolachinha e segredou: - Adultos! – virando-se para a mãe - Ai, mamã, se tu soubesses!...



Bolachinha e o dia da Mãe

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca


Bolachinha e o dia da Mãe

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Bolachinha estava triste, hoje comemorava-se o Dia da Mãe e ela não sabia o que oferecer. O dia estava chuvoso. Luizinho estava ainda relaxado a descansar. Afinal, o tempo não convidada a levantar-se. A acrescentar a tudo isso, tinha tido insónias, que noite terrível. Desceu da cama e abanou o Luizinho: - Acorda, mano, não sabes que dia é hoje? - Deixa-me, miúda, estou cheio de sono! E não lhe ligou patavina. - Luizinho – continuou Bolachinha – Hoje é o Dia da Mãe! Acorda, dorminhoco! Que vamos dar à mãezinha?

- Não estejas assim, miúda! – respondeu, bocejando – Não te preocupes, ontem vi um lenço lindo na montra daquela loja onde paras sempre. Tenho a certeza que Mãezinha vai adorar. Daqui a pouco vamos lá busca-lo.


Bolachinha e o dia da Mãe

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

E ao mesmo tempo, os dois colocámo-lo com um beijinho no pescoço, que dizes? - - Luizinho, Bolachinha – chamou a mãe – vamos, estão atrasados para o pequeno-almoço. - Sim, mãezinha, já descemos. - Muito bom dia, mãezinha, Não quero pequeno-almoço Imagina, que a Bolachinha Que tenho dores no pescoço Ainda estava a dormir, Abanei-o todo à pressa Desci da cama e ao sair Quase bati co’ a cabeça A Bolachinha, a sorrir, Não queria acreditar Seria ele a mentir? Ou queria disfarçar?


Bolachinha e o dia da Mãe

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Para lá de resmungar Chamou a mãe à atenção – Pões Bolachinha a chorar E eu não quero isso, não! Luizinho chama Bolachinha e segreda-lhe algo. Esta, a sorrir, quase mal segurava uma lagrimita que insistia em descer pelo seu frágil rosto. Agora entendia a manhosice do irmão. Queria era pirar-se dali e ir à Loja dos Sonhos comprar o tal lenço que vira na montra, para oferecer à mãezinha. Afinal, hoje era um dia muito especial, o Dia da Mãe. Pela primeira vez iam passa-lo fora de casa. É que Tarouca era linda e não dava mesmo vontade de sair daquele Vale Encantado. Cidade Poema, como agora lhe chamavam. - Mãezinha – disse – vou ali com a Bolachinha e já volto. Preciso de arejar.


Bolachinha e o dia da Mãe

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Porquê Luizinho? – perguntou a mãe que não deixou que escapasse um ar de desconfiança sobre ele. - Apenas para ver se fico um pouco melhor, como disse, acordei mal disposto. Condescendente e para não frustrar as suas expectativas, a mãe concordou: - Vai lá, mas não vás para longe, hoje é dia de regressar. O evento de Tarouca Vale a Pena já foi – sorriu – está tudo de regresso a casa. Ficamos um pouco mais, mas agora chegou a hora de seguir viagem.

- Vou apanhar fresco ar, Vem comigo, minha amiga, Talvez que ao caminhar Já não sinta esta fadiga


Bolachinha e o dia da Mãe

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

O dia esta tão escuro! Será que ainda vai chover? Talvez um pouco de ar puro Me traga para comer Esgueirou-se pela rua A correr e a saltar E a Bolachinha até sua Por com tanta pressa andar - Tem cuidado, Bolachinha, Trata o moço com carinho Essa dor de cabecinha Deu cabo do meu menino - Coisas deles, com certeza, Disse espreitando a janela Como é linda a natureza Nesta terra doce e bela


Bolachinha e o dia da Mãe

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

Mas Luizinho já quase não ouvia as admoestações da mãe, já ia bem distante à procura de comprar o Lenço para sua mãe.

Entrou na loja e perguntou: - Bom dia. Pode dizer-me por favor quanto custa aquele lencinho que está ali no manequim? - Bom dia meninos. Que linda a tua maninha. Como te chamas. Não me digas que também vieste à festa do fimde-semana, de poesia, creio. Uma das poetas? - Não – sorriu – não somos poetas. A mãezinha, sim, escreve que é um sonho. Ela diz que não é poeta, apenas uma alma sonhadora a vaguear pelo universo. Se calhar é por isso que estou aqui hoje, andou por aí a deambular nas suas poesias e criou esta figurinha estranha que está aqui a olhar para si, a que agora chamam Bolachinha – disse, sorrindo.


Bolachinha e o dia da Mãe

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Bem, vamos lá ao preço do tal lencinho. Quinze euros. - Ó - exclama Luizinho – não tenho dinheiro que chegue. Queríamos oferecer esse lenço à mãezinha. Hoje é o dia das mães. Que pena. O que vamos fazer Bolachinha? O dinheiro não chega. A porta abre-se e entra um dos muitos personagens do evento. Ficara também um pouco mais para que a Ana Borges lhes mostrasse as maravilhas da região? Não, era ela mesmo, a Ana Borges, em pele e osso. - O que fazem aqui, meninos? - Viemos comprar um lenço para oferecer à mãezinha. É o dia da mãe.

Mas… Bem, temos que ir. -Hei, onde vão a correr? Disfarçadamente, dá indicação ao balconista que embrulhe o lencinho.


Bolachinha e o dia da Mãe

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Tomem – disse no fim – a minha prenda para vós, vão e ofereçam à vossa mãe. Não lhe digam que vos ofereci. - Levem o lenço a mãezinha Ofereço com prazer Tem cuidado, Bolachinha Vão que está quase a chover

Obrigada minha amiga Como posso agradecer No correr da minha vida Não mais a vou esquecer Lá se foram sem demora E com que pressa eles vão - Não pode chover agora Bolachinha, dá-me a mão!


Bolachinha e o dia da Mãe

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Não podes ficar molhada Vá, estamos a chegar Bolachinha atrapalhada Já nem pode respirar E na janela a mãezinha Ao bondoso Deus rezava - Vá, afasta a nuvenzinha E guia-os pela estrada - Mãezinha, chegamos, ajuda a Bolachinha que está cansada e quase não consegue respirar. Leva-a para dentro e sentaa no sofá a descansar.

Qual quê? Bolachinha, assim que se viu em casa, arrebitou e logo correu para os braços da mãe que abraçou com um carinho inusitado. Queria ver brilhar os olhos da mãe quando abrisse o embrulho com esse lencinho lindo que lhe trouxeram, queria vê-la sorrir de alegria e felicidade.


Bolachinha e o dia da Mãe

BOLACHINHA à descoberta de Tarouca

- Toma, querida Mãezinha Vê se gostas, bicolor! - Luizinho, Bolachinha, Que lindo gesto de amor! A lágrima peregrina Logo dos olhos saltou E em Luizinho e Bolachinha Depressa se evaporou - Vamos, vamos p’rá cozinha Vamos fazer um lanchinho, Luizinho, Bolachinha Vamos lá, quero um beijinho Dia da Mãe, um dia que nunca vão esquecer. Para trás, aquele Vale Encantado, a Ana Borges, o lenço da mãezinha, lenço bicolor e os olhos de Ana Borges, cujo carinho e amizade nos proporcionou um momento que ficará para sempre gravado nos seus corações.


escrito durante a promoção do evento Tarouca Vale a Pena

EDIÇÃO DO AUTOR PARA E-BOOK – MAIO 2018


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