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José P edro Falc ão Si nce r
memórias de um missionário
José Sepúlveda 2
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Autor José Luís Correia Sepúlveda nasceu em Delães, Vila Nova de Famalicão, hoje a morar em Vila do Conde. Começou a escrever poesia cerca dos doze anos. No decorrer da sua carreira profissional trabalhou primeiro, como funcionário público e depois, durante 35 anos, como empregado bancário. Publicou em alguns jornais e revistas ao longo da sua carreira, atividade que continua a manter. Amante da literatura, administra grupos no Facebook vocacionados para a literatura, música, artes e divulgações culturais de eventos. Apoiou e apoia projetos literários, promovendo a edição de autores em início de carreira. Organizou durante vários anos, participou e participa em eventos culturais, Saraus e Tertúlias. Durante alguns anos, com o grupo que ajudou a formar Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa, deu rosto ao programa Mar-à-Tona em poesia, na Póvoa de Varzim, que comemorava o Dia Mundial de Poesia. Prefaciou alguns livros e apresentou os seus autores. Participou num elevado número de coletâneas de poesia portuguesas, brasileiras e italianas. 4
Publicou dois livros de poesia em papel e possui na sua Biblioteca de E-books mais de trinta outros livros seus (poesia, música, genealogia, história e outros). Promoveu e editou nos seus grupos de poesia um número elevado de coletâneas em E-book. Mantém uma série de publicações nos seus Blogs O Canto do Albatroz e Família Sepúlveda em Portugal. Produziu alguns trabalhos pessoais e participou noutros coletivos com colegas da Universidade Sénior do Rotary Club da Póvoa de Varzim. Divulga e apoia grupos de poesia e programas de rádio cuja temática seja a mesma. Dedica-se à pesquisa genealógica, musical, histórica e de cariz espiritual, tendo desenvolvido alguns trabalhos nessas áreas.
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“Atrás de um grande homem está sempre uma grande mulher”
Dedico estas páginas a: Maria Amélia, ... esposa e companheira dedicada ao longo de uma vida de matrimónio, em todos os momentos; Ana Maria, ... sua extremosa filha, esposa, mãe e avô exemplar; Filhos, noras e netos, para quem os avós e a mãe, quais bússolas que os levaram e os mantêm sempre aos pés de Jesus.
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Nota: A maioria dos textos que implicam ação missionária que aqui incluí, foram reescritos a partir de memórias deixadas por José Pedro Sincer.
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Infância e juventude
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Fundão José Sincer nasceu no dia 25 de dezembro de 1923, na Rua da Cale, no Fundão, no prédio aonde residiam os pais e que antes pertencera ao Desembargador Pessoa Amorim (o bisavô). Foi batizado na Igreja Matriz do Fundão. Teve por madrinha a tia-avó Maria do Carmo Figueiredo Frazão Falcão Castelo Branco, a mesma que após a morte da avó materna - Maria Soares Prata assumiu a criação e educação de sua mãe Maria José. Maria do Carmo era casada com o reputado médico D. Fernando António da Nazaré Almeida e Silva Saldanha, oriundo duma família antiquíssima e distinta, ligada ao I Vice Rei da Índia, D. Francisco de Almeida, a Família Almeida. Por seu lado, o padrinho, também seu tio-avô materno, foi Alberto Carlos da Costa Falcão, que foi o I Visconde do Alcaide (era irmão de Maria do Carmo). A mãe, Maria José, era descendente dos Costa Falcão cujos ancestrais eram oriundos duma linhagem ibérica (biscainha) de origem judia, que vieram para Portugal para fugir às perseguições da inquisição, propósito algo frustrado, dado as perseguições que viriam a sofrer já em Portugal. Esse seu avoengo chamava-se Pedro Falcão e deu origem a duas gerações que se desenvolveram em paralelo: os Costa Falcão, cristãos novos que aceitaram a sua nova condição. O pai era descendente de outra linhagem, a dos Pessoa da Cunha, que curiosamente tinham como avoengo o 12
mesmo Pedro Falcão. Esta geração manteve durante muito tempo a sua ligação ao judaísmo e sofreram a perseguição da inquisição, acabando muitos mortos na fogueira. É de um desses troncos dessa linhagem que acabaria de nascer o poeta Fernando Pessoa. Descendente desse mesmo ramo, era António Pessoa Amorim, grande industrial de lanifícios, na Covilhã, bisavô de José Sincer, cujo filho extraconjugal, Pedro António Sincer, nunca viria a legitimar. Pedro António nascera dessa ligação ilegítima entre este e a bisavó de José Sincer, Clementina Sincer. Uma e outra dessas gerações deixaram na sua descendência ilustres personagens que prestaram serviços de relevo ao país. O pai de José Sincer, que tinha como ele mesmo o nome de José Pedro Sincer, fizera a sua formação no Seminário de Cernache do Bonjardim (que preparava missionários para divulgação da fé católica), com vista a uma carreira de sacerdote. Contudo, quando se preparava para cantar missa, enamorou-se duma bela donzela e abandonou a vida para que se preparara. Diziam ser um exímio orador e mesmo depois de deixar a carreira, os seus dotes no domínio da palavra continuaram a ser reconhecidos. 13
Mas não seria essa a bela mulher que lhe estava destinada. A vida trocou-lhe as voltas e, na sequência da vida social e artística em que se veio a envolver, acabou por conhecer a bela Maria José Prata da Costa Falcão. Enamoraram-se e seria esta a sua companheira para a vida. O seu casamento azul contou com a presença de muitos convidados das casas nobres da região. Era vê-los chegar à Quinta de S. Pedro, no Fundão nos seus vistosos automóveis (raros nesse tempo) ou em elegantes carruagens, vindo de todo o distrito e de distritos vizinhos. Foi desse casamento que nasceu José Sincer, depois do nascimento de dois outros irmãos. O primeiro, que morreu quando do seu nascimento, estrangulado pelo cordão umbilical; o segundo, o Fernando, que malogradamente morreria com dezassete dias, acometido por coqueluche. Um terceiro irmão nasceria já depois de si, o João Carlos, o qual viria a seguir a carreira de jornalista. O seu pai herdara do avô, Pedro António Sincer - neto materno de William Sincer, um general inglês que veio para Portugal quando das invasões francesas, e filho de Clementina Sincer e António Pessoa Amorim, duma relação extraconjugal que o mesmo nunca legitimou - o estabelecimento de comércio de calçado, ao qual após o seu casamento com Maria José juntou bijutarias, artigos de decoração e outros. Ele, contudo, não tinha perfil comercial e o negócio degradava-se e dia após dia ia 14
de mal a pior. Ao verem-se confrontados com cada vez mais dificuldades financeiras e na eminência de um colapso, quando José Sincer tinha cerca de dez anos, os pais tomaram a decisão de partir para Lisboa, à procura
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de encontrar outro rumo para a sua vida.
João Carlos, ao colo de Maria José, atrás José Pedro Sincer, à frente em pé José Pedro Falcão Sincer (filho)
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Lisboa Como se disse atrás, quando José Sincer tinha cerca de dez anos, os pais passaram o estabelecimento comercial de sapataria, novidades e partiram para Lisboa, lugar aonde o acesso ao ensino e à educação dos filhos seria também mais fácil. Além do mais, na capital sempre surgiriam melhores oportunidades para o futuro. Para essa mudança de vida, contaram com o apoio de um familiar materno, o tio António, irmão da sua mãe Maria José, em casa de quem viveram durante o tempo necessário para a sua adaptação à nova vida na cidade. Foi ali que com o passar do tempo conheceu aquela que viria a ser a sua companheira de uma vida, Maria Amélia. Quando com outros amigos frequentava ao fim de semana a casa de um deles, , o filho de um juiz, aonde participava em festas de convívio saudável entre jovens, conheceu o Jorge Augusto, irmão de Maria Amélia. A amizade entre os dois foi crescendo e não tardou a que começasse a frequentar a sua casa. Aí, com a continuidade das suas visitas, acabou por criar amizade com Maria Amélia, com a qual veio a casar a 16 de julho de 1949. Durante uma conversa que manteve com o padre, quando da preparação do casamento, depois de uma recusa para se confessar e participar este apelidou-o de protestante e obrigou-o a prometer sob compromisso de honra que ele respeitaria sempre as escolhas religio17
sas da esposa e filhos que viesse a ter, com o que ele concordou.
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A esposa, Maria Amélia Xavier de Brito Ghira Dine, nascera em Lisboa a 23 de dezembro de 1923. Cresceu e tornou-se professora do ensino primário e educadora de infância no ensino particular. José Sincer foi primeiro funcionário da Junta Nacional da Cortiça e depois do Instituto Nacional de Estatística. Durante os primeiros anos de casados, permaneceram em casa dos pais de Amélia. Do seu casamento, viria a nascer a sua única filha, a Ana Maria (Anitita). Só alguns anos depois e após a morte do seu pai resolveram vender o prédio que possuíam no Fundão, na Rua da Cale. Fizeram partilhas e com o quinhão que recebeu – sessenta contos – adquiriu uma moradia na Rua da Serra de Baixo, no Algueirão, lugar aonde haveriam de fixar residência, que apelidou de Vivenda Anitita.
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Primeiros Passos Essa conversa que tempos antes tinha tido com o padre, levou-o a pensar mais seriamente na sua condição de não religioso e, se Deus existia realmente, Ele lhe indicaria o caminho a seguir. E foi assim que certo dia, ao passar na Avenida de Roma, lhe chamou a atenção, na montra duma livraria, uma Bíblia aberta precisamente no capítulo três do livro de Daniel, que relata a história dos três jovens hebreus exilados na cidade de Babilónia, na fornalha ardente, e da grande estátua que o Rei Nabucodonosor mandara construir, para que fosse adorada. Ao ler esse pequeno texto, sentiu-se impressionado e desejou comprar um exemplar da Bíblia… mas a livraria estava encerrada. Dias depois, com vontade de atenuar a sua ansiedade, voltou com o mesmo propósito de a adquirir. Entrou, perguntou o preço. Mas não, o dinheiro que possuía não chegava. O livreiro, contudo, não deixou que ele saísse sem que levasse consigo pelo menos um exemplar do Novo Testamento. E assim foi, momento abençoado. Começou a devorá-lo página após página e cada vez mais começou a ganhar consciência do pecador que era. Lembrou-se então da Bíblia que vira em tempos na velha estante do pai e que nunca chegara a abrir. Depressa decidiu adquirir uma para si, que gradualmente, começou a ler e tentar entender.
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A ânsia de conhecer cada dia mais ia crescendo e certa tarde, quando voltava para o almoço, pegou no jornal do sogro, como era habitual, folheou-o e chamou-lhe à atenção um anúncio: Curso Bíblico por Correspondência, gratuito. Pediu à sogra que lhe emprestasse um postal para se inscrever e enviou o pedido. Conforme ia chegando cada lição, comparava, investigava e foi tirando as suas conclusões. E os ensinos se iam enraizando, as lições foram-se sucedendo. Quando este terminou, antes ainda de se terem mudado para a nova casa no Algueirão, decidiu entrar em contacto com os promotores do curso. Era a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
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Batismo O casal tomou a sua decisão por Cristo e a 19 de setembro de 1959 desceram às águas batismais na igreja central de Lisboa, em cerimónia oficiada pelo pastor Pedro Brito Ribeiro, após terem recebido estudos bíblicos no Algueirão, orientados pelo pastor Alberto Raposo e o Engenheiro Nunes Ramos. Ainda antes do seu batismo, começaram a divulgar entre amigos e vizinhos a sua nova fé e não tardou a que se desenvolvesse um grupo de interessados que reunia na sua casa.
Grupo de crentes batizados no mesmo dia na Igreja de Lisboa.
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A pequenina Anita, filha de José Sincer e Maria Amélia, desceria às águas batismais um ano e meio depois, em 25 de março de 1961, na Igreja Central de Lisboa, fruto da sua insistência em ser batizada e não sem antes ter sido submetida a um exame exigente sobre o conhecimento das doutrinas, mais rigoroso do que habitualmente se faz a qualquer adulto. À data era a mais jovem crente a ser batizada em Portugal, apenas com nove anos. A cerimónia teve como Pastor Armando Casaca, que era então Presidente da Associação Portuguesa dos Adventistas em Portugal.
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Batismo de Anita
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José Sincer acabaria por estar na génese da Igreja do Algueirão. Foi ele quem lançou a semente: Para reunir vizinhos e amigos que com a evolução do trabalho começaram a ser demasiado numerosos para conter na sua pequena salinha, decidiu-se a construir no quintal Vivenda Anitita, sala das primeiras reuniões da sua moradia, na Rua Serra de Baixo, um acomodado anexo que serviu durante algum tempo para as primeiras reuniões. Para essas obras, arranjou um outro emprego extra, como Delegado de Propaganda Médica e todo o dinheiro que daí provinha foi empregue na construção da salinha de culto. Membro sempre muito ativo na Igreja, em diversos departamentos e sobretudo na ação missionária e tendo dado provas da sua capacidade organizativa e evangelística no Algueirão, a então Associação Portuguesa dos Adventistas do Sétimo Dia viu nele um potencial obreiro. E assim, em 1961, convida-o para ir dar assistência às Igrejas de Caldas da Rainha, Cadaval, Peniche e Rio Maior. Ele aceita o convite, pedindo junto do Instituto Nacional de Estatística licença ilimitada sem vencimento para lhe permitir assumir este compromisso, tendo então fixado residência nas Caldas da Rainha.
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Grupo de crentes no Algueirão à porta da Capelinha (anexa à residência)
Anita, Maria Amélia e José Sincer
Grupo do Algueirão com o então Evangelista José Manuel de Matos na Estação de Pero Negro (1960)
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Caldas da Rainha, Cadaval, Peniche e Rio Maior
Grupo de Crentes de Caldas da Rainha
Grupo de Crentes do Cadaval
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Foi em Peniche que batizou o jovem José Luís Bernardino dos Santos, que anos mais tarde, a partir de janeiro de 1967, trabalhou como missionário na Casa Publicadora do Bongo e anos depois na Publicadora Atlântico, da União Portuguesa. Nessa cerimónia foram ainda batizados outros crentes. O casal foi depois convidado para apoiar o trabalho que se vinha desenvolvendo na Igreja de General Roçadas, então conhecida como Terceira Igreja de Lisboa e os grupos de Prior Velho e Algueirão. Nessa altura, o então grupo do Algueirão passou a reunir-se num novo espaço situado na Estrada do Algueirão, tendo posteriormente adquirido uma moradia em Sintra que transformou em igreja, lugar onde ainda hoje se reú-nem os membros daquela congregação.
Batismo no mar, em Peniche
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Membros das Igrejas de Peniche, Rio Maior e Franca
Grupo de membros da Igreja de Rio Maior
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Anita, Maria Amélia e José Pedro
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Angola
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Angola Em 1963 a União Portuguesa dos ASD recebeu um pedido de Angola e de Moçambique para o envio de alguns missionários, de forma a poderem apoiar a evangelização desses territórios. Foi então solicitado a José Sincer pela Direção da Igreja para que se deslocasse à sua sede, onde lhe foi feito o convite para partir com a família como missionários para África. Perante esse convite, pediu algum tempo para que pudesse colocar o assunto à família. Na verdade, já antes, por diversas vezes, tinham manifestado o desejo de um dia virem a fazer uma experiência em África ou noutro campo missionário. Era a resposta aos seus anseios. Voltou à sede da Associação e colocou-se à disposição para partir com a família. Quando questionado sobre o campo que mais desejavam, deixou essa decisão na mão dos dirigentes que acabaram por os convidar a ir para Angola. Assim, no dia 30 de agosto de 1963, do Cais de Alcântara, no navio Quanza, partiram, tendo chegado a Luanda a 13 de setembro; ao Lobito, Navio Quanza a 15 de setembro; e a 32
Nova Lisboa a 17 do mesmo mês.
Nova Lisboa Na sua edição de … … … o Boletim Adventista anunciava:
BA 10.1963
Nessa cidade, hoje Huambo, desempenharam as funções de professores no Colégio da União Angolana dos Adventistas , Maria Amélia, no ensino primário; José Sincer, no ensino secundário, com as disciplinas de matemática, desenho e ciências naturais, tarefas que acu-
33 Colégio de Nova Lisboa
mulou com as funções de Obreiro na Igreja de Caala. A filha era uma das suas alunas.
Corpo docente e discente
Um dia, ainda no Colégio, foi surpreendido por uma visita inesperada. Era o Diretor do Laboratório aonde tinha trabalhado quando ainda em Lisboa. Mal desembarcara no aeroporto e logo pediu ao motorista para se dirigir à Missão Adventista pois tinha ali um amigo que desejava rever, antes de se instalar no hotel. José Sincer convidou-o para jantar consigo, convite que não pode ser aceite devido a estar já comprometido com o seu representante em Luanda. Reagendou o convite, agora extensivo a esse seu colaborador e na data aprazada foi buscá-los. Quando lá em casa, o Diretor não mais fazia do que olhar para os móveis já muito velhos e desirmanados. Sentiu-o algo agitado e pouco à vontade. Quando o levou de regresso ao hotel, antes mesmo de sair da via34
tura, colocou a sua mão sobre o ombro de José Sincer e perguntou: - Senhor Sincer, o senhor não tem necessidade de nada? Como respondesse que não, insistiu. - Não, Senhor Doutor, graças a Deus está tudo bem, Ele tem provido sempre o necessário para nós. Então, virando-se para o seu representante, disse: - Peço-lhe que se algum dia o senhor Sincer o contatar solicitando seja o que for, corresponda de imediato ao seu pedido, não têm necessidade de me contatar previamente, tempo é dinheiro. E dirigindo-se a José Sincer: - Ouviu, senhor Sincer? Este senhor fica com a incumbência de corresponder a qualquer necessidade sua. - Estou imensamente grato, senhor Doutor, mas eu sei que sirvo a um Deus que nunca nos vai deixar ficar em necessidade. Quando regressou a Portugal, José Sincer teve então o ensejo de o contatar de novo para lhe renovar a sua gratidão e inteirá-lo de quantas bênçãos tinha recebido desse Deus em quem deposita a sua confiança. Infelizmente, já não foi possível. Recebeu uma carta do sobrinho informando-o que o tio tinha falecido.
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Durante um ano exerceu a sua atividade de professor, mas dentro de si sentia um vazio, ansiava poder trabalhar nas igrejas, levar a outros as boas novas da salvação, como um verdadeiro missionário. Ainda em Nova Lisboa organizou o primeiro curso de pregadores voluntários. Pediu então à Direção da União Angolana que lhe fosse atribuída uma ou mais Igrejas para evangelizar.
Primeiro Curso de Missionários Voluntários no Huambo
No final desse ano foi informado de que o pastor das igrejas de Benguela e Lobito havia sido nomeado para dirigir a Missão do Bongo e que esse cargo lhe fora agora atribuído. Feliz da vida, deu início ao novo trabalho.
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Benguela Em 15 de agosto de 1964 foram transferidos para um novo campo, Benguela, Lobito e Catumbela, aonde permaneceram até 1968.
Igreja de Benguela
Durante esse período, procedeu-se à construção do anfiteatro exterior da Igreja de Benguela.
Residência do Pastor em Benguela
Construção do anfiteatro
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Foi nesse período que foi organizado nestas igrejas o grupo de Missionários Voluntários (MV), com as respe-
José Sincer a batizar
Crentes batizados em Benguela
tivas Classes Progressivas e Especialidades, nas quais se incluía a de Primeiros Socorros, orientada por José Sincer. Foi também fomentada a realização de Concursos Bíblicos, Jogos Florais, Acampamentos, Passeios e promovida a organização de um Congresso da Juventude. Era então que todas as manhãs, com a esposa, visitava a cadeia local a fim de dar escolaridade aos reclusos.
Congresso da Juventude
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Investiduras MV em Benguela (1965)
Acampamento na Pescaria dos Sabinos, preparando a refeição
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Lobito Foi nesse período que o casal deu grande impulso à construção da Igreja do Lobito, edificada sobre um mangal, terreno que no tempo do seu antecessor António Cruz Coquenão Lopes tinha sido cedido à Igreja por preço simbólico, tendo em conta a obra social que a Igreja vinha a desenvolver na cidade. Anteriormente à construção da Igreja, os crentes reuniam-se numa sala alugada com fracas condições, embora ali se desenvolvessem todas as atividades inerentes a uma igreja, inclusive Festas de Natal, das Mães e outras.
Festa das Mães no Lobito
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O mangal foi enxuto através de largas argolas de cimento que iam sendo cheias à medida que iam descendo sobre as águas, até atingirem solo firme, tendo o município cedido os inertes necessários para isso.
Curso de Pregadores Voluntários no Lobito
Desassoreamento do mangal
Escola em construção
Igreja em construção
Igreja em construção (2) 41
Em meados de 1966 fixou residência no Lobito, podendo assim acompanhar mais de perto as obras de construção da Igreja e da Escola que aí se efetuavam. Nessa cidade multiplicou contactos entre comerciantes e outros grupos de interesse, com vista à angariação de fundos para a construção. Publicou então um pequeno Manual de Arqueologia Bíblica cuja venda serviu de pretexto para estabelecer esses contactos, motivando assim muita gente a participar na construção daquela obra singular. Concluídas as obras três anos depois, a Igreja acabou por ser dedicada no dia 18 de fevereiro de 1967. Foi na sua inauguração que se deu a apresentação pública do Coro da Igreja de Benguela, formado e dirigido pela irmã Fernanda Reis.
Igreja do Compão (Lobito). Foi na sua inauguração que se fez a apresentação pública do Coro da Igreja de Benguela, orientado pela Ir. Fernanda Reis.
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Inauguração
Novos conversos das Igrejas de Lobito, Benguela e Catumbela batizados no dia da inauguração da Igreja
Grupo Coral do Lobito
Assistência
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Igreja do Lobito, interior
Grupo coral de Benguela, vista parcial
Figura Cristã 1A Anita na Festa das Mães Escola de participando Férias no Lobito
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Como diz o povo, depois do batizado feito não faltam padrinhos. E aqui não foi diferente. Depois da inauguração, não faltariam candidatos a reivindicar o feito, o que não deixou de entristecer José Sincer, por ser ilegítimo e injusto o procedimento. Em 1969, quando pastoreava o Centro Evangelístico de Luanda, após regressar das férias em Portugal, teve contacto com o representante da Divi- BA 1970 Janeiro são Europeia, de visita a Angola, que publicamente atribuiu o mérito dessa construção a um outro obreiro. Ao tentar esclarecer o equívoco, foi apelidado de mentiroso e mandado calar-se. Esse acontecimento não deixaria mais de marcar o seu ministério. Quando em Agosto de 1968 veio ao continente em gozo de férias, tinha deixado construídas no Lobito uma belíssima Igreja e um Instituto de Ensino que, no dizer do Inspetor de Ensino era o melhor do distrito. Eis um testemunho presencial de Albano Francisco Fontes, ao tempo diretor de jovens daquela Igreja: “A Igreja do Lobito foi construída em 1967, graças a um trabalho extraordinário desenvolvido pelo pastor José Pedro Falcão Sincer.”
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A Igreja do Lobito, assistia a Igreja de Catumbela, sendo nessa altura essa vila um baluarte da igreja católica. A cento e oitenta quilómetros de distância, na linha do caminho de ferro de Benguela, tinham ainda deixado um grupo de crentes na cidade do Cubal, composto por brancos e nativos, indistintamente. Foram quatro anos de labor em que o poder de Deus se fez manifestar e lhe permitiu deixar a semente necessária para poder alcançar os Seus altos desígnios e permitiu que uma centena de novos conversos tivessem acei- Cubal, aspeto da vila tado Cristo através das águas do batismo. Generosas recordações haveriam de acompanhar toda a sua vida. Dava ainda assistência a Marco de Canavezes e Chimboa da Hanha.
Família de Vieira Cazuela
Em Chimboa da Hanha
46 Marco de Canavezes
Marco de Canavezes
Catumbela O grupo de Catumbela começou quando foram efetuadas visitas a algumas famílias amigas, ou familiares de membros da Igreja do Lobito, entre elas, a família Marvão e o casal Claudina Lourenço e marido. Com o correr do tempo, essas visitas tornaram-se mais regulares e começaram a aparecer outras pessoas interessadas. Foi então que resolveram alugar uma pequena sala aonde passaram a efetuar as reuniões. Fruto desse trabalho, vieram a batizar-se diversas pessoas, entre elas a mãe da Zezinha Marvão, Claudina Lourenço e marido, o casal Branquinho, o casal Barradas, entre outros.
Alguns membros da Igreja de Catumbela e Lobito
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Antes da vinda de férias a Portugal da família Sincer, os grupos de jovens das igrejas de Lobito e Catumbela organizaram uma festa de despedida. Também em jeito de despedida, José Sincer organizou com eles o seu último passeio, desta feita à Serra do Pundo.
Março de 1967 – Alguns membros das Igrejas de Lobitro e Catumbela num passeio à serra do Pundo.
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Jogos e brincadeiras realizados durante a tarde desse domingo.
Um grupo de jovens fazendo a exploração da ribeira.
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Collonges-sous-Salève
BA 1968 Agosto
Viajaram para a Europa em gozo de férias no dia 6 de agosto de 1968, tendo José Sincer aproveitado parte desse tempo para aperfeiçoar os seus conhecimentos teológicos junto do Seminário Adventista de Collongessous-Salève, na França (junto da fronteira Suíça), para onde se dirigiu com a família. Foi aí que a filha Anita aproveitou para fazer a sua formação em Francês, no nível três (quinto ano da Alliance Française). Na mesma altura, frequentavam o Seminário os seguintes pastores e estudantes portugueses: Joaquim Casaquinha e esposa, Arnaldo Martins, Joaquim Dias, Eunice e família, os irmãos Moisés, Rafael e Daniel Silva, entre outros. Após seis meses regressaram a Portugal para gozo do restante período de férias.
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Anita, entre as neves de Collonges-sous-Salève
Seminário Adventista de Collonges-sous-Salève
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Luanda E ei-los de novo de regresso ao campo missionário, desta feita em Luanda, com a incumbência de pastorear o Instituto Evangelístico de Luanda, acabado de construir e tendo então participado na sua inauguração.
Centro Evangelístico de Luanda
Embarcaram a 31 de julho de 1969 no Paquete Angola. O trabalho que desenvolveu no lugar foi assinalável e diversificado. No decurso de uma vasta Campanha Evangelística, durante a qual apresentou uma série de conferências sobre as mais variadas doutrinas, conheceu um casal que viria a estar na génese do Família Sincer a aguardar o embarque
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nascimento da Igreja de Delães (S. Mateus). Para divulgação dessas conferências mobilizou um grupo de jovens que, distribuindo os convites, contactaram com Rosa Dolores. Esta aceitou o convite de bom grado e passou a frequentar as conferências de início ao fim. O marido, no entanto, não mostrou interesse, até ao dia em que Rosa, cujas conferências estavam a modificar a sua vida, se aproximou dele e o convidou para assistir a uma conferência que iria ter lugar na sexta-feira seguinte, cujo tema era: “Aonde estão os nossos mortos?”. O marido olhou-a com benevolência e, para lhe agradar, respondeu-lhe: - Bem, vamos lá à conferência. Assim como assim, quero saber aonde estão os meus paizinhos. E não falhou a mais nenhuma das conferências. O casal começou a frequentar a Igreja mas acabaria por regressar à Metrópole em 1972, precisamente no mesmo ano em que José Sincer e a família regressaram. No lugar próprio, abordaremos de novo este assunto.
53 Grupo Coral
Igreja, interior
Momento do apelo pós-batismos e bênção final
Assistência
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Foram grandes as repercussões conseguidas com esse trabalho que teve eco nos jornais, com referências muito agradáveis de um jornalista que ali esteve presente e que foi conduzido a visitar todo o edifício. Tiveram depois o ensejo de visitar a cadeia de Luanda, o Lar de Terceira Idade, o Hospital, a Rádio de Luanda, aonde levaram programas diversificados, com música, poesia e pequenas representações cénicas, programas muito apreciados por quem a eles assistiu. O Diretor da Cadeia acabou por desabafar no final que havia colocado guardas bem armados em pontos estratégicos, mas que ficara surpreendido pela ordem e reverência demonstradas pelos presos e que ficou sensibilizado quando viu lágrimas a rolar pela face de alguns dos que considerava mais duros e que estavam a cumprir pesadas penas. Por seu lado, o Diretor, que com alguma relutância aceitara a presença do grupo no Hospital, desabafava, com pedidos de desculpa, por pensar que se tratasse de mais algumas larachas ou mesmo cordas de barriga como algumas vezes tinha já acontecido com outros grupos.
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Na Rádio O programa que apresentaram na Rádio acabaria por ir para o ar na noite de Natal de 1969.
Grupo de Jovens canta na Rádio no Natal
BA 1070 04
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Missão do Bongo A Missão do Bongo pode bem ser considerada a percursora do adventismo em Angola. Foi a Missão mãe de todas as Missões Adventistas de África.
O primeiro missionário a ali chegar, em 1922, foi H. H. Anderson que, vindo do sudoeste africano, Namíbia, foi incumbido de explorar o território e tentar encontrar os melhores lugares aonde se pudessem instalar polos para espalhar a obra médico-missionária e educativa. E foi assim que passados cerca de seis meses encontrou o lugar ideal no Bongo, perto dos caminhos de ferro de Benguela e a oeste de Nova Lisboa (Huambo). Depois de apresentado o plano aos dirigentes nativos, recebeu com agrado o acordo do Soba que logo se apercebeu da oportunidade que essa infraestrutura poderia criar para catapultar o desenvolvimento da região e do povo que dirigia. 58
Após o contato com as autoridades, foram ajustadas as condições em que esse espaço seria cedido à Igreja, a quem seria entregue sob o regime de foreiros uma área de cerca de 300 hectares. A concessão viria a ser autorizada a 5 de setembro de 1924. Posteriormente, a pedido da própria Missão, foi aumentado até aos 620 hectares, porque o Foto aérea da Missão do Bongo. anterior se mosÁrea ocupada 620 hectares. trou insuficiente para ali albergar Missão do Bongo todo o complexo que se pretendia. O primeiro diretor da Missão foi o Dr. James Delma Baker, em 1923, que ali chegou com a sua esposa Annie Eulália Baker. Em outubro de 1926 chegou o primeiro médico ao Bongo, o Dr. Archie N. Tongue, a fim de estabelecer e dar início à obra médica.
Missão do Bongo
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Roy Parsons e a esposa, Mabel, chegariam em 1 de dezembro de 1931 acompanhados dos seus filhos Roy Júnior e David Justice, que viria também a ser médico no hospital. Robert (Bob) o filho mais novo, nasceu no Bongo em março de 1932 e tornou-se mais tarde analista e responsável pelo laboratório da missão. Em outubro de 1933 iria nascer a sua única filha, Elaine. A família Parsons iria dar um grande impulso às atividades do Hospital que veio então a ser um dos melhores do país. Aí permaneceram durante quarenta anos.
Igreja do Instituto. À frente, um grupo de alunos
A Missão do Bongo era constituída por dois polos distintos e autónomos entre si, o Hospital e o Instituto de Ensino. Cada um deles tinha Igrejas próprias. A do hospital, para assistir os seus colaboradores e doentes, a do Instituto, para acolher as centenas de alunos e membros da população que ali acorriam. 60
No seu todo, a Missão desenvolvia atividades muito abrangentes nas áreas: social, saúde, ensino, formação profissional e a sua ação era apreciada e reconhecida por todos, populações, autoridades e público em geral.
Mapa que localiza a Missão do Bongo
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Hospital do Bongo O hospital surgiu em 1923, com a vinda do Dr. Archie N. Tongue, que chegou a fim de o instalar e dar início à obra médico-missionária, mas só iniciou a sua atividade em 1926, quando da chegada do Dr. James Delmer Baker. Mas foi com a chegada do Dr. Roy Parsons, médico, e sua esposa Mabel Parsons, enfermeira, que se expandiu e se veio a tornar uma referência nacional.
Hospital
Os seus dois filhos, Davi e Robert (Bob) cresceram e se tornaram uma grande mais-valia para a missão, Davi, como médico e Bob como analista, tendo então estado 62
na génese do laboratório de análises. Era um tipo de faz-tudo lá na missão. Além dessas faculdades, tinha ainda o perfil de perfeito rancheiro texano e tinha ao seu cuidado uma manada de bovinos que proporcionava à missão o leite e a manteiga, cujos excedentes eram depois vendidos para o exterior da missão. Um e outro possuíam o brevet de aviador e eram eles os responsáveis por pilotar a avioneta da missão. O Hospital do Bongo veio a alcançar um grande prestígio e ali acorriam doentes das mais diversas regiões, às vezes de países vizinhos, graças à dedicação e empenho da família Parsons e dos seus muitos colaboradores.
Alunos junto do Instituto Adventista do Bongo
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Instituto de Educação do Bongo Em outubro de 1925 chegou ao Bongo D. P. Herder, para se ocupar da Escola (mais tarde, Instituto do Bongo). A sua atividade abrangia o ensino primário e ciclo preparatório, a que se seguia uma formação profissional ou teológica, esta para alunos que pretendessem abraçar o ministério.
Instituto Adventista do Bongo
Na formação profissional ensinavam-se um bom par de artes e ofícios: carpintaria, marcenaria, sapataria, alfaiataria. A carpintaria e marcenaria produziam arcas e outras peças de mobiliário, parte das quais decoradas com 64
motivos geométricos, que as distinguiam das restantes, e eram muito disputadas entre as pessoas que ali acorriam. Às meninas eram ensinadas puericultura e cuidados do lar. Em 1927 estavam estabelecidas na missão e ao seu redor muitas dezenas de classes bíblicas que abrangiam mais de quinhentos alunos. Existia também a funcionar ali uma Tipografia, que providenciava as publicações necessárias à expansão da Obra. Foi aí que trabalhou o jovem José Luís Bernardino dos Santos, de Rio Maior, que José Sincer tinha batizado quando ainda estava a pastorear aquela igreja, batismo que teve lugar no mar de Peniche. No Bongo casou com Maria Amália, que era então enfermeira no hospital. Em março de 1970, José Sincer, então à frente do Centro Evangelístico de Luanda, recebeu a visita de dois representantes da Divisão Euro-Africana para o convidar, a si, à esposa e à filha a aceitar os lugares para que haviam sido nomeados por aquele Conselho, ocupar o lugar de diretor do instituto de ensino do Bongo. Na mesma altura, o então Presidente da União Angolana, escrevia: “Depois de muita ponderação, meditação e oração, foi o conselho unânime em considerar que a pessoa indicada para assumir essa responsabilidade era o irmão Sincer”. (carta de 14 1 1970). E noutra carta datada de 22 de janeiro, dizia: “na verdade, há uma grande obra a fazer no Instituto do Bongo e com a vinda dos 65
irmãos Steiner e Howe, novas diretrizes se impõe sob o ponto de vista denominacional. Cremos firmemente que o irmão é a pessoa indicada para, com a ajuda de Deus, pôr em prática essas diretrizes e realizar a obra que convém numa instituição como o Instituto do Bongo”. Ficavam com a incumbência de remodelar alguns setores do ensino, de modo a que, iniciando na instrução primária, se estendesse até ao ciclo do liceu, seguido duma formação em teologia (afinal, acabou por incluir o ensino infantil). E é assim que, após uma mudança realizada em pouco mais de vinte e quatro horas, a família Sincer chega à Missão do Bongo, sem ninguém que a acompanhe para uma apresentação e sem que ninguém a espere e possa ajudar na mudança, naquele dia de chuva intensa. Dentro de casa também chovia no quarto de banho e no da filha, tendo esta colocado durante uma semana (o tempo em que perdurou a chuva) um guarda-chuva aberto por cima dos pés da cama, a fim de que a água que ali caía escorresse para o chão. A família Sincer desenvolvia então as seguintes atividades: José Sincer era diretor e administrador do Instituto, acumulando a função de professor de teologia. De quinze em quinze dias dava também assistência às igrejas do Cubal e Vila Mariana Machado, muito distanciadas da Missão. Maria Amélia era professora das disciplinas de português, cursos de educação doméstica, didática, metodologia e pedagogia. Além disso, dirigia o Jardim de In66
fância, por si criado, graças à particularidade da sua formação como educadora de infância, encarregandose assim do ensino pré-escolar. A Anita, sua filha, tinha a seu cargo as aulas de francês, ciências naturais e desenho. Paralelamente, encarregava-se de toda a contabilidade e ajudava na cantina (mercearia) que fornecia não só o instituto mas ainda professores, colaboradores e pastores que ali se podiam abastecer. O casal promoveu ainda o cultivo de terrenos pertencentes ao Instituto, para consumo da escola e a criação de um pequeno rebanho de cabras que forneciam leite para consumo do instituto. Havia ainda outros professores europeus: Catarino, Amilcar Lopes, Miranda e sua esposa Dulce. Foi ainda nesse período que se procedeu à diversificação do mobiliário construído na carpintaria. Davam ainda apoio no regime de estudo complementar a alunos com mais dificuldade e promoviam a educação de adultos. Foram árduas e intensas as tarefas exercidas durante a sua permanência. A Missão tinha então cerca de cento e setenta alunos internos, de ambos os sexos e de diferentes etnias. Foi profícuo o seu trabalho, mesmo quando se confrontou com manifestações mais hostis por parte de algumas pessoas que almejavam o lugar. Esse desagrado acabou por lhe ocasionar uma série de contratempos que viriam afetar o seu futuro ministerial. 67
Instituto do Bongo
Refeitório do Instituto
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Essas manifestações e o acumular de problemas, acabaram por provocar a sua transferência compulsiva para a Casa Publicadora de Nova Lisboa, no dia 27 de Agosto de 1971, com a incumbência de reorganizar aquele espaço. Não se deixando esmorecer pelo acontecido, José Sincer reorganizou toda aquela Casa Publicadora, com uma gestão rigorosa de todo o seu espólio imobilizado e comercial. Para isso, valeu-lhe a experiência que tinha adquirido enquanto trabalhou no Instituto Nacional de Estatística.
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Regresso
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Vila do Conde Corria o mês de julho de 1972, José Sincer e a família, a seu pedido, tinham regressado de Angola.
BA 1972 Agosto
Depois de um curto período de férias, já em Portugal, José Sincer foi incumbido de pastorear a igreja de Vila do Conde acabada de construir, e à espera de ser inau-
Igreja de Vila do Conde
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gurada. Paralelamente, iria dar apoio aos grupos a si ligados, entre eles Delães, em fase de formação, Vizela e a outros membros dispersos em Viana do Castelo, Valença e Arcos de Valdevez. Quando ali chegou, a Igreja passava por um período de pura apatia o que preocupava todos os que a visitavam. Estava "adormecida". As atividades continuavam a desenrolar-se no Salão de Jovens, permanecendo o Salão de Culto fechado, à espera da oportunidade para ser inaugurado. As atividades resumiam-se às reuniões de Sábado de manhã, quase sempre com o apoio da Igreja do Porto. As Reuniões de Oração, à Quarta-feira, tinham uma frequência muito reduzida. José Sincer acabara de sofrer um enfarte do miocárdio e estava muito débil ainda para abraçar o trabalho. Mesmo assim, a Campanha das Missões continuava a efetuar-se, impulsionada sobretudo pela família Mendes e a família pastoral. Mas a vida não lhe corria de feição. O certo é que mal se tinham instalado em Vila do Conde quando foi acometido pelo dito enfarte que o levou ao Hospital de S. João, na cidade do Porto. Foi no Hospital que o conheci, recostado numa cama. A filha, a meu pedido, tinha concordado em nos apresentar. Estava com um pálido rosto e nos seus olhos podiam-se ler dois sentimentos contraditórios. O primeiro era de paz e serenidade. O segundo era de temor pelo futuro da esposa e filha, caso viesse a falecer. Transpa-
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recia no entanto uma grande confiança em Deus que certo haveria de orientar tudo no melhor caminho. Logo que lhe foi dada a alta no hospital, meteu as mãos ao trabalho, mesmo contrariando os conselhos médicos. Voltei a encontrá-lo depois, já no seu lar, na rua Estevão Soares, em Vila do Conde, naquela sala virada ao mar, ali de pé, olhando ao longe as ondas que se levantavam bravias. As suas conversas iam sempre desaguar aos ensinos do Mestre, com quem vivia no pensamento. Apesar da sua saúde débil, José Sincer abraçou a causa e começou a trabalhar. Viveu pouco tempo nessa casa. Não tardou e encontrou uma moradia à saída da cidade, em direção à Póvoa de Varzim. No decorrer do seu ministério, às vezes sentia-se cansado. Nas suas memórias, José Sincer, dizia: “Trabalhei ainda um ano, mas mui penosamente, e pude, então, batizar no rio, em Delães, seis preciosas almas.”
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Vila do Conde, atividades Grupo de Jovens Ao longo desse tempo, o grupo de jovens MV, então organizado por José Sincer, desenvolveu na Igreja e no espaço público uma série de atividades que não só incentivavam os jovens como também eram apreciadas por todos.
I Concurso de Jogos Florais Com o apoio da Igreja do Porto, realizaram-se os Primeiros Jogos Florais em Vila do Conde, que incluíam diversas atividades como: artes plásticas, poesia, fotografia e outras. Recordo que um dos poemas selecionados nessa ocasião, foi este.
Oração Senhor, não tenho forças p’ra pensar. Se penso, o meu pensar não é seguro, Se espero, essa verdade que procuro É meu sofrer, Senhor, é meu penar. Quando em Ti vivo, vivo p’ra sonhar Com sentimento são, imenso, puro. E brilha a luz no meu solar escuro, E sinto ânsia infinita de cantar. 75
Perdoa, ó Deus, desculpa, Pai Celeste, Meu coração sem cor, minha alma agreste Que vive a profanar queixumes seus. A minha crença em fogo prevalece! Eu posso tudo em quem me fortalece! E eu sei que a minha força és tu, Meu Deus! Nesse concurso despontaram alguns talentos que viriam a ser úteis no futuro, no apoio às duas Igrejas.
Plano de Cinco Dias Para Deixar de Fumar Foi também organizada a primeira campanha antitabágica em Vila do Conde, com a organização dum Plano de Cinco Dias para deixar de Fumar. Era vê-lo na sua sala de jantar na azáfama de preparar os cartazes para apresentar no primeiro Plano de Cinco Dias para deixar de Fumar, que teve lugar no início de 1973. Essa atividade teve uma afluência elevada e muitos dos presentes deixaram de fumar. Outras atividades foram surgindo. Da parte dos jovens, surgia o jornal "Verbo" do qual sairiam apenas dois números. Recomeçaram também as reuniões de jovens ao Sábado de tarde, que trouxeram alguma alegria à Igreja, que começou a reagir a pouco e pouco, arrastando para as reuniões algumas visitas.
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Passado pouco tempo foi possível organizar-se uma Cerimónia Batismal na qual foram batizadas cinco pessoas.
Ciclo de Conferências Sem perder tempo, organizou o primeiro Ciclo de Conferências. De novo, o recurso ao desenho, à pintura e ao recorte, atividades para as quais tinha uma grande vocação. Sentia-se nele um grande prazer quando efetuava esses trabalhos. Criava então as imagens daqueles animais apocalíticos, em papel de feltro. que haveriam de ilustrar a exposição das profecias de Daniel ou Apocalipse, doutrinas que apreciava expor pelo seu grande impacto e pela necessidade que sentia em as dar a conhecer ao mundo. Também a mim me foram explicadas em privado e de algum modo, foi através delas que fui alertado para a necessidade de uma transformação na minha vida e que me levaram a tomar a minha decisão pelo batismo que teve lugar em Agosto de 1973 no Parque de Campismo J.A., na Costa de Lavos. Foi nesse período que o autor deste trabalho veio a conhecer a sua companheira de uma vida, Ana Maria Sincer, a filha do casal. Permito-me aqui dar a conhecer esse feliz encontro.
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Era uma vez… um autocarro Já lá vão quase cinquenta anos. Ao fim da tarde, quando findava a labuta do dia, saía do Instituto e dirigia-me para a paragem do autocarro que me levaria de regresso a casa. Nesse dia ia acompanhado por uma jovem simpática que habitualmente me acompanhava até ao primeiro transbordo. Quando estava prestes a atravessar a estrada e me dirigia para a paragem, vi junto a esta uma menina de longos cabelos loiros que desciam suavemente até à cintura. O sol, se bem que já ténue a essa hora, refletia-se e o seu brilho era um encanto. Aproximei-me, mal conseguindo disfarçar uma certa inquietude nervosa. Os seus olhos estavam ocultos por uns óculos de sol. Mesmo assim, trocámos um olhar furtivo e aparentemente desinteressado. Ao meu lado, a jovem que me acompanhava lançava-me um sorriso maroto: - Vou-me apaixonar - segredei. - Convencido! – retorquiu.
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O autocarro chegou. Cheio. Entrámos e segurámo-nos como pudemos em pé. E lá seguimos. A viagem era curta. - Pode dizer-me onde devo sair para apanhar o autocarro para Vila do Conde? – ouvi uma voz melodiosa ao meu lado. - Na próxima paragem – respondeu o cobrador do autocarro. - Eu também vou para lá – disse-lhe – vou no mesmo autocarro. Deixou escapar um subtil sorriso e agradeceu. Quando chegamos, dirigimo-nos para a paragem seguinte. Ali nos esperava uma fila enorme! - Siga-me ou vai ficar em terra – disse com certa frieza e disfarçando qualquer interesse. Na dúvida, com um ar desconfiado e até com certo espanto, seguiu-me. Encostamo-nos à parede, fora da fila de espera, e aguardamos. Passado um tempo infinito, o autocarro chegou. Cheio, como sempre. O embrutecimento que nos trouxe a mecanização do dia-a-dia habituou-nos a esperar conformados, sentados naquela poltrona de melancolia. O cobrador abriu a porta traseira, olhou, viu-me e gritou: - Só tenho um lugar para aquele senhor, marcado na origem. Fiz-lhe um gesto disfarçado com a mão direita, dizendo que eram dois. E ele repetiu:
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- Só tenho lugar para aquele casal. Aguardem pelo próximo autocarro que vem atrás. Parecia adivinhar que nesse dia a gratificação seria a dobrar. A jovem esboçou um sorriso de agradecimento e entrou comigo. Na verdade, havia dois lugares no autocarro: um, ao meio do corredor; outro, no banco grande atrás, a que chamávamos a “cocheira”. O cobrador acomodou a menina na frente e eu fiquei. Para nosso espanto, o seu companheiro de viagem levantou-se e chamou-me: - Posso trocar consigo. Venha para junto da sua namorada. A jovem, corada, fingiu que não ouvia mas agradeceu. Depois de uma amena conversa, fiquei a saber que o seu pai tinha sofrido um enfarte do miocárdio e se encontrava internado no hospital central, ao lado do Instituto. Duma forma quase automática, puxei da cigarreira, abri e ofereci-lhe um cigarro. Rejeitou liminarmente e repreendeu: - Então, o senhor trabalha no Instituto de Oncologia e fuma? Agora, quem corou fui eu. Fechei a cigarreira e continuamos a nossa amena cavaqueira. O tempo voou. Num ápice, estávamos em Vila do Conde. Embora o meu destino fosse a Póvoa de Varzim, saí em Vila do Conde e acompanhei-a até perto de casa. Aos poucos, estávamos a criar uma certa empatia que parecia agradar aos
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dois. Despedi-me e lá segui para a Póvoa de Varzim, com a cabeça repleta de sonhos. Passaram-se alguns dias e a cena repetiu-se. Desta vez, aproximei-me e perguntei: - O seu pai, como vai? - Melhor, obrigado - Um destes dias vou lá vê-lo, quando voltar aqui. Os tempos foram-se passando devagar. Quantas peripécias pelo caminho. Um ano depois, já batizado, namorados declarados – nessa altura Já não trabalhava no Instituto - a Amy aproximou-se e disse: - Precisamos conversar. - Vamos a isso, quando quiseres. E marcamos encontro numa lanchonete na Póvoa, frente ao mar, alguns dias depois. E ali, na varanda, explicou: - O meu pai foi mudado para outra localidade, Santarém. Tinha que te dizer para que possamos tomar decisões para a nossa vida. - Quais são as hipóteses? - Se acompanhar os meus pais, é longe e dificilmente nos iremos voltar a ver. A outra alternativa é casar. - Casamos – respondi. E embarcamos nessa aventura. Quando no fim de semana, numa festa de família, anunciamos o nosso casamento, as reações por parte da minha família, sobre81
tudo do meu pai, foram bastante hostis. Valeu-nos o apoio de algumas das minhas irmãs ali presentes. Mas fomos em frente e casamos. Os meus pais não assistiram ao casamento, ele por ser contrário ao mesmo, a minha mãe por coação. No entanto, o relacionamento posterior com a família, inclusive meu pai, foi sempre cordial e colaborante. Desde esse dia, aquela cabeleira loira permaneceu intocável, acompanhando-me em cada passo da minha vida. Obrigado, Amy. Quarenta e oito anos depois: três filhos lindos; três noras invejáveis; quatro netos carinhosos; duas netas de sonho. Parafraseando a Condessa de Segur: - “…e foram felizes para sempre…”.
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Primeiro encontro
Estava na paragem do autocarro Sozinha, a cogitar com seus botões, Vivendo esse momento tão bizarro Na mente que se trava de razões. Eu saio do Instituto e logo esbarro Com seus cabelos longos e brilhantes. E atravesso a rua, carro a carro, Perdido em meus silêncios, por instantes. E eis-me frente a si, enfeitiçado, A olhar o seu sorriso disfarçado, Perdido no meu antro de paixão. E quando, enfim, desperto do meu sonho, O seu olhar sereno e tão risonho Passeia em meu Palácio de Ilusão!
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O meu Batismo Recordo bem quando ainda de madrugada o casal António Silva e Rosa chegaram a Vila do Conde, a casa da família Sincer, para me transportarem generosamente à Figueira da Foz, com esse fim. Fui batizado a meio da tarde no batistério ali existente pela mão do então Diretor de Jovens Nacional António Baião que ali estava a dirigir o Acampamento da Juventude. O período que antecedeu este passo e tudo o que foi acontecendo, marcariam a minha vida. Trabalhava então no Instituto Português de Oncologia, no Porto. Logo após ter conhecido a Anita, a minha vida começou a transformar-se gradualmente. O conhecimento que desde então comecei a adquirir impeliam-me a tomar decisões que a iria alterar radicalmente. Quando fui confrontado com a questão do dia de repouso, a primeira ideia que me assaltou foi que tinha que deixar de trabalhar nesse dia. Era uma vontade firme e da qual não iria retroceder. Confrontei o então administrador do IPO com a situação, que após alguns momentos de algum cinismo e gozo acabou por aquiescer a esse pedido. Ora, acontece que passadas algumas semanas, chamoume ao seu gabinete e pediu-me que no sábado seguinte estivesse presente no armazém, que me preparava para chefiar, a fim de os poder inteirar sobre os procedimentos a tomar com vista à inauguração do Instituto. 84
Obedeci e na segunda feira seguinte dirigi-me ao seu gabinete de novo, descontente com o acontecido e apresentei-lhe a demissão. Entretanto, tratei de concorrer a uma Companhia de Seguros. Embora fossem cerca de cento e oitenta os candidatos, fiquei em quarto lugar e em Abril fui chamado para me apresentar. Confrontado o Administrador com a situação, conseguiu depois de uma longa conversa demover-me dessa decisão, com a promessa de que esse percalço não voltaria a acontecer. Mas aconteceu. Passado algum tempo, chamou-me de novo e pediu-me que no sábado seguinte estivesse na sala de entrada do Instituto pois lá estariam os responsáveis clínicos a preparar a abertura. Uma vez mais, aquiesci. Na segunda feira seguinte, repetiu-se a cena do despedimento. Desta vez, concorri a uma empresa de referência que procurava um chefe de armazém. E foi aprovada a minha entrada na mesma. Uma vez mais, o Administrador, ao dar-lhe conhecimento, me enganou, afirmando mesmo que já tinha autorização para ser dispensado ao sábado. Mas não. Pela terceira vez, fui enganado. Tomei então a decisão final e fiquei sem emprego. Sem saber o que fazer, fui para casa e esperei. Tinham-se passado dois dias da minha demissão e fui alertado pela minha mãe para uma carta que tinha chegado para mim. Era do Banco Português do Atlântico, convidando-me a comparecer nas suas instalações no Porto para assunto de interesse comum. Baralhado com insólito convite, no dia marcado fui ao Porto. 85
Quando ali cheguei, fui recebido por uma simpática senhora, responsável pela seleção de colaboradores, que depois de um cordial cumprimento me disse: - Temos aqui uma candidatura sua para trabalhar no Banco. Não sei porquê, ficou para aí arquivada e ao rever os arquivos, encontrei-a. Continua interessado em vir trabalhar para o Banco? Essa candidatura datava de 1968, altura em que terminara o Curso Geral do Comércio. Surpreendido com tudo aquilo, sem saber o que dizer, disparei: - Depende… - Depende? De quê? - Primeiro: não trabalhar ao sábado. - Nós não trabalhamos ao sábado… - Segundo: Que vá trabalhar para a Póvoa de Varzim, o lugar aonde vivo. - Curioso, a vaga é na Póvoa de Varzim. E já agora, a terceira, quanto lhe vamos pagar – disse com um sorriso. - Não, as duas bastam. Aceito. Pois muito bem. Mesmo assim, aqui vai. O ordenado é de quatro mil e duzentos escudos mensais, ilíquidos. Sorri para ela e respondi: - O meu ordenado atual é de seis mil escudos já livres de encargos. - Oh, que pena, isso não posso oferecer. Não vai aceitar? - Aceito. E estendi-lhe a mão, como que celebrando um contrato. 86
- Nesse caso, pode apresentar-se no balcão da Póvoa de Varzim no início deste mês. Ora, o início do més era precisamente no dia 1 de setembro de 1973, poucos dias depois do meu batismo. Estávamos então a meio do mês de Agosto, o batismo seria uns dias depois. Quando me apresentei ao serviço, ficaram surpreendidos pois não contavam comigo e com ar de gozo, disseram: - Grande cunha! Ao que eu retorqui: - Sem dúvida, grande cunha! Na verdade, para além da cunha, para se entrar no Banco, era necessário, previamente, fazer testes psicotécnicos e um exame à saúde. Os psicotécnicos nunca os fiz. O exame à saúde fi-lo passados uns dias após a admissão. Alguém disse: Não digas a Deus que tens um grande problema, antes, diz ao problema que tens um grande Deus!
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Delães Mas o maior prazer de José Sincer era quando chegava o sábado, depois do almoço, e se deslocava a Delães para assistir o pequeno grupo em formação que à data se reunia na salinha da casa de António Silva, situada junto ao Posto dos Correios, mesmo em frente à belíssima Quinta das Aves, sendo audível aquela contínua sinfonia das aves que por ali proliferavam. Nesse entretanto, lá em casa, ficávamos eu, a Anita e a sua avó, na salinha de estar no primeiro andar. Ambos nos tínhamos inscrito num Curso Bíblico, Futuro Brilhante, que vinha apresentado duma forma cativante e motivadora. Aproveitávamos esse tempo para ler e preencher as lições que a Anita depois se encarregava de enviar à Escola Bíblica Postal para correção. Quando conclui essa série de estudos, José Sincer ofereceu-se para estudar comigo a Bíblia, o que aceitei de bom grado e cujo ensino me foi muito útil nos anos seguintes. Passamo-nos a encontrar mais vezes, ora em sua casa, ora na Igreja. Como dizia, a sua grande alegria era quando aos sábados de tarde ia para Delães, para visitar aquele grupo que ia crescendo e que vivia então uma fé fervorosa. Ali, tarde após tarde de sábado, saciava os fieis com belas mensagens bíblicas ou proféticas, da extensa biblioteca de Ellen White, cujos ensinos expunha com grande entusiasmo. 88
Uma tarde, quando ali chegou, soube que a Família Machado tinha sido visitada por uma patrulha da GNR que lhe apreendera a Bíblia e a literatura religiosa que encontraram em sua casa, com ar ameaçador. Foi então que lhe disseram: - Prepare-se para vir connosco. Ao que ela ripostou dizendo: - Se querem levar -me, terão que levar também aquelas quatro crianças que ali vos olham assustadas. - Vamos levar então todos os livros proibidos que tem cá em casa. - Façam o favor. Uma coisa mais, senhores guardas. Queria dar-lhes conhecimento que deste sábado a oito dias vamos realizar uma cerimónia de batismos no Rio Ave. - Nem pensem, estão proibidos de o fazer. - Muito bem. Nesse caso, irei comunicar isso ao nosso pastor, senhores guardas. E logo saíram, após a apreensão de todos os livros e literatura religiosa que encontraram. Quando na tarde do sábado seguinte José Sincer chegou a sua casa, deram-lhe conhecimento do sucedido. Sem mais tardar, meteu-se na sua Dyane acompanhado da esposa e dirigiu-se ao posto da GNR de Riba d’Ave. Quando lá chegou, apresentou-se e mostrou as suas credenciais, reclamando sobre a atitude prepotente por eles demonstrada e contrária à lei vigente e à própria Constituição da República, pedindo que lhe fossem devolvidos todos os livros e literatura apreendidos, o que prontamente fizeram. E com o sentido de missão 89
cumprida, dirigiu-se de novo para casa da Família Machado, contando o sucedido.
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Os primeiros batismos no Rio Ave Naquele sábado de tarde, um bom grupo de crentes vindos de algumas das comunidades vizinhas, reuniuse, primeiro, frente à casa de Laura, tendo depois descido a estrada para junto das margens do Rio Ave, onde decorreria a cerimónia.
Era uma data marcante porque nesse dia alguns crentes se entregavam através das águas batismais, entre eles: Maria, tia de Rosa; Maria da Nazaré, irmã de Joaquim; Américo e José, filhos de Rosa e António, os primeiros conversos. Ao redor da casa, patrulhavam já alguns soldados da GNR, que os seguiram depois até ao rio. A organização desta sessão espiritual de batismos criou na aldeia um grande alarido. Muitos dos residentes, incentivados por alguns líderes da aldeia, manifestaram-se ruidosamente no decorrer da cerimónia, com 91
recurso a um gira-discos que puseram a tocar o mais alto que conseguiram, tentando perturbar a mesma. Os crentes presentes responderam com cânticos de louvor, sem mostrarem sinais de qualquer tipo de perturbação. Ali estava presente também Fernando Mendes, pastor da Igreja do Porto. Na verdade, muitos populares, estavam ali com ar ameaçador, prontos a agir, se impelidos a isso. Toda a cerimónia, não fosse o ruído do gira-discos, decorreu sem percalços.
Esses batismos contaram com a presença duma brigada da GNR que, no dizer do Cabo que a chefiava, “estavam ali porque lhes teria chegado aos ouvidos que poderia haver desacatos e vieram para os proteger”.
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Curiosamente, a esposa de um desses militares acabou frequentando o Grupo, até o marido ser transferido para Barcelos. Foi vista mais tarde na Igreja de Braga. Mas
Laura e os amigos nunca mais tiveram notícias da mesma. Foi um dia memorável para os crentes que ali se deslocaram do Porto, de Guimarães, de Vizela, de Braga, de Vila do Conde e de outras localidades. Um pequeno número de crentes, rendia-se a Deus e entregava as suas vidas para que fossem por Si conduzidos. A voz dos anjos fazia-se ouvir no coração dos presentes. Havia alegria e regozijo. Lenta, mas firme, a Igreja ia nascendo.
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No fim, a presença da GNR acabou por serenar os ânimos dos conflituosos que ali permaneceram serenos a assistir a toda a cerimónia, que serviu assim como um testemunho público da fé do pequeno grupo de crentes.
Inauguração do novo templo de S. Mateus, na qual participou como convidado
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Santarém Em 22 de outubro de 1973, parte para Santarém, transferência pressionada por pessoas influentes que promoveram a vinda de um outro obreiro, que iria por fim preparar a inauguração do novo Templo. José Sincer iria também apoiar os grupos de Rio Maior, S. João da Ribeira e Azóia.
Templo Adventista de Santarém inaugurada a 30 de julho de 1984.
Foi breve e não foi fácil a sua passagem por Santarém, a qual durou cerca de um ano. Para trás, deixava a filha que durante toda a vida os acompanhara para toda a parte. Por outro lado, a saúde débil, que se vinha a agravar gradualmente em nada ajudava a uma adaptação que se mostrava necessária. Mesmo assim, foi trabalhando como pode no novo campo que lhe fora confiado durante o tempo que ali 95
permaneceu E não tardou, teve ainda a oportunidade de levar às águas do batismo uma crente que algum tempo mais tarde foi para o Brasil. Depois, debaixo das pressões constantes dos médicos que o assistiam, apreensivos com o evoluir da sua doença, que não se coadunava com a azáfama a que estava a ser submetido, e sentindo-se cada dia desfalecer, acabou por apresentar o seu pedido de aposentação, o que veio a acontecer em 1975. Confirmada essa, regressou ao Algueirão aonde foi recebido na sua antiga Igreja com imensurável carinho.
Passeio a Lisboa com membros da Igreja de Santarém
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Algueirão De novo em casa, preparou a sua Vivenda Anitita, adquirida antes de se ter iniciado no ministério e da partida para Angola, que construíra com o quinhão que recebera do produto da venda do prédio que a família possuía no Fundão, como dissemos, e logo começou a trabalhar de novo no sentido de resgatar almas para Cristo, agora sem o peso dos compromissos contínuos a que estava submetido. Esta nova realidade ajudou-o a ir pelos seus próprios passos ao encontro dos crentes. Era vê-lo de megafone em punho, praça após praça, anunciando a salvação em Cristo e pregando com veemência a Reforma da Saúde, conforme os ensinos da Bíblia e de acordo com os preceitos proféticos legados por Ellen White, a profetiza em quem acreditava e cujos ensinamentos estava a colocar em prática na sua vida, um trabalho gigantesco na luta contra o consumo de tabaco, álcool e drogas. Durante esse período, esteve em contato com o prestigiado cardiologista Prof. Dr. Fernando Pádua, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, com quem partilhou alguma da sua experiência. Nesse período, conheceu alguns crentes da Igreja Adventista da Reforma que com zelo ajudou a voltar ao redil. Depois, com o seu apoio, conseguiu ir mais longe. E não tardou a que viessem a desenvolver um desafiante trabalho com os reclusos da Cadeia de Sintra lugar aonde surpreendentemente foram encontrar um bom 97
número de interessados, ávidos por melhorar a sua vida espiritual e o equilíbrio que lhes permitisse um dia voltar ao seio da sociedade mais preparados para melhor enfrentarem os desafios que se lhes deparavam. Essas visitas à prisão eram feitas semanalmente. Recordo o dia em que me fiz convidado e os acompanhei. Quando entrei na sala aonde decorriam as reuniões, encontrei cerca de vinte interessados que assistiam curiosos e atentos ao desenrolar da pregação. Naturalmente, cumprimentei-os com cordialidade e sentei-me ao seu lado, na primeira fila, sob o olhar preocupado e atento dos guardas prisionais, que no fim não deixariam de me questionar dos motivos que me levaram a isso, porque acabara de me juntar a um grupo de homens muito perigosos. Com um sorriso ingénuo, respondi que não vi nos seus olhares qualquer sinal de perigo, como se veio a constatar. Foi nesse período também que José Sincer e os novos amigos da reforma começaram a editar um pequeno jornal policopiado que intitularam de Voz que Clama, que defendia a bandeira de uma verdadeira transformação do estilo de vida, através dos princípios da temperança cristã, que agitou alguns espíritos, mexeu com mentalidades e que rapidamente chegou às mãos da Direção da Igreja. Eram admoestações sobre uma vida desregrada e intemperante que lentamente se vinha a instalar no seio das igrejas, com o beneplácito do grupo dirigente que se acomodara e deixara o barco à deriva. Era também o abanão para muitos princípios errôneos 98
que se vinham a instalar, admoestações feitas à luz exclusiva dos escritos de Ellen White, que desde a sua época preconizava a necessidade duma verdadeira reforma da saúde na Igreja. Não tardou que surgisse a reação solitária de um dos responsáveis da Igreja, que num gesto de pretenso zelo se deslocou ao Algueirão para o admoestar, trazendo no alforge as consequentes ameaças de expulsão. " ...ou deixa as atividades a que se está a dedicar no campo da saúde, ou terá que sair da Igreja". José Sincer e os amigos mantiveram-se firmes e não desistiram da sua missão. Por ironia do destino, foi esse mesmo dirigente que não tendo passado muito tempo, acabou, infelizmente, por ser demitido das suas funções e apreendidas as suas credenciais, por má conduta.
Ações desenvolvidas junto de crentes e amigos regressados à pressa das ex-colónias No ano de 1975 quando muitos hotéis estavam cheios de pessoas que haviam sido forçadas a regressar em catadupa de Angola e Moçambique, a Igreja do Algueirão conseguiu ainda assim alojar nas suas instalações duas famílias. Essa foi também a oportunidade para ali, nos hotéis, serem organizados alguns programas, entre eles, dois cursos sobre alimentação saudável. Nesse período difícil, a Igreja teve o privilégio de apoiar essas famílias
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com distribuições continuas de roupas, calçado e alimentos.
Formações sobre alimentação saudável no Algueirão
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Voz que clama
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Escola Cristã de Férias no Algueirão
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Congresso no Palácio de Valenças Foi também nesse período que, ainda no âmbito da reforma da saúde, José Sincer organizou, entre 20 a 22 de maio de 1977, no Palácio de Valenças, em Sintra, um congresso sobre alimentação ovo-lacto-vegetariana, o qual teve uma grande repercussão social e que contou com a presença de algumas pessoas influentes nessa região e com um elevado número de participantes. Ainda nesse lugar, foi organizada a seguir uma Escola Cristã de Férias, atividade que contou com a presença dos filhos de muitos dos regressados de Angola mas que foi aberta à participação de crianças que viviam ao redor.
Feira de S. Pedro, em Sintra Na feira de S. Pedro, em Sintra, foi organizado um desfile pró-saúde, chamando a atenção para os malefícios do tabaco, álcool e drogas, para o qual José Sincer e alguns amigos prepararam uma série de cartazes com alertas sobre os prejuízos à saúde provocados por aqueles tóxicos.
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Atividades paralelas Paralelamente e sem se poupar a esforços, José Sincer foi colaborando continuamente com a Igreja que ajudara a criar, ora instalada na Estrada do Algueirão, e que fora reforçada com a chegada de muitos crentes regressados de Angola, tendo preparado algumas pessoas para fazerem a sua opção por Cristo através das águas do batismo. Nesse mesmo sentido, foi também relevante o trabalho desenvolvido pelo então Pastor Sandoval Melim que deu um bom contributo não só à Igreja local como ao trabalho que José Sincer vinha a efetuar. Passado algum tempo e quando se apercebeu que a vida no Algueirão começava a tornar-se demasiado agitada e stressante, tomou a decisão de se fixar no interior, num lugar que lhe proporcionasse mais calma que lhe permitisse ficar mais perto da natureza. Foi então que, após muita procura, com o produto da venda da casa do Algueirão, decidiu adquirir a Quinta do Cerro, lugar sossegado, situado na freguesia de Várzea Redonda, em Figueiró dos Vinhos, lugar aonde fixou residência em 17 de Outubro de 1977. Com algum idealismo e com o sonho de levar de novo a filha para junto de si, esboçou connosco uma hipótese da minha transferência profissional para Figueiró. Acabei por me aperceber que eu mesmo não estava preparado para essa alteração drástica na minha vida. Não fora habituado a viver isolado e num lugar no interior que não conhecia e isso demoveu-me a tomar essa de105
cisão. Por outro lado, vi-me confrontado em abandonar os meus familiares, com quem tinha grande ligação, e os meus amigos, razão porque esse sonho nunca se concretizou.
Figueiró dos Vinhos Depois de algumas obras de melhoramento da modesta casa que ali existia, de modo a criar melhor qualidade de vida ao casal, fixou-se na Quinta do Cerro. Para apoiar essas obras, colportou durante algum tempo, divulgando entre as empresas da região e escolas as nossas publicações, os livros Saúde pelos Alimentos, Saúde pelos Tratamentos Naturais, Companheiros de Jornada e as revistas Saúde e Lar e Nosso Amiguinho, esta, sobretudo, mais direcionada para as crianças, junto das escolas da região. Foi o princípio de uma ação de relevante divulgação que iria desenvolver-se e dar os seus frutos ao longo dos anos em que ali viveu, desde 17 de outubro de 1977 até à sua morte em 4 de janeiro de 2001. Foi grande a atividade que levaram a cabo ao longo desse período.
Ações de Prevenção do Tabagismo Em 1978, com o apoio do Pr. Sandoval Melim, levaram a efeito dois Cursos de Prevenção contra o Tabagismo, junto da Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos e um terceiro junto da Casa do Povo de Pedrogão Grande. 106
Em 1979, ainda junto da Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos, uma nova ação pró-saúde foi organizada.
A Capelinha do Cerro Em 6 de outubro de 1979 foi dedicada a Capelinha do Cerro sendo nessa data efetuada a Cerimónia de Apresentação do seu neto, o Pedrito, o terceiro filho do casal Anita e José Luís.
Capelinha do Cerro com um grupo de crentes
O casal Sincer comprara recentemente, a Quinta do Cerro, situada na freguesia de Várzea Redonda, em Figueiró 107
dos Vinhos, propriedade adquirida com o produto da venda da moradia que possuía no Algueirão, Sintra, tendo em 17 de outubro de 1977 fixado aí a sua residência. Logo, começaram a espalhar ao redor a Mensagem Adventista. Com o intuito de serem criadas melhores condições para um trabalho evangelístico mais alicerçado, pensaram construir uma pequena capela onde pudessem proclamar as verdades do evangelho. Convidada pelo casal, no verão de 1979, a família Machado – que tinham criado com José Sincer e esposa laços de grande amizade - foi lá passar sete semanas, com o intuito de nesse período se construir a Capelinha do Cerro. Com o empenho de Joaquim, Laura, os filhos e o próprio pastor José Sincer, a capela, com a capacidade de sessenta lugares sentados, ficou concluída em cerca de dois meses. Ao trabalho juntaram-se ainda dois jovens que viviam em Pedrogão Grande, que ajudaram na abertura dos caboucos, e a Paula Echevarría, filha do Pastor Abílio, que permaneceu com eles todo o tempo. Foi grande a azáfama nesses dias, mas ao fim de cerca de um mês, a Capela do Cerro lá estava concluída. Era um tributo ao apelo feito pelo casal Sincer para ali se construir uma pequena capela onde a mensagem do evangelho pudesse ser difundida entre as gentes que viviam ao redor.
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A Capelinha foi inaugurada no dia 6 de outubro, com a presença de amigos vindos de algumas cidades e vilas, sobretudo, de terras do norte e centro do país. No decorrer da cerimónia, que contou com a presença do então Presidente da União Portuguesa dos Adventistas, Pastor Joaquim Dias, procedeu-se à cerimónia de apresentação à Igreja do pequeno José Pedro Sincer Sepúlveda, neto do casal Sincer, filho de Ana Maria e de José Luís. A seara é grande e poucos os ceifeiros – diz o Evangelho - mas com a graça de Deus, a semente da esperança germina ainda ao longo daquelas terras, graças ao empenho de Seus filhos dedicados que, como Laura e a família, estão sempre de coração aberto para, ao seu modo, ajudar a propagar a mensagem da sua esperança, no decorrer da sua peregrinação.
9 Família Machado na Quinta 1 do0Cerro
Curso de Alimentação Saudável De 13 de janeiro a 10 de fevereiro de 1980, dirigiram mais uma formação sobre alimentação saudável na Quinta do Cerro, durante a qual puderam contar com a presença da fina-flor das senhoras de Figueiró dos Vinhos e de Pedrogão Grande, entre as dezassete pessoas então presentes a Notária local, a Juíza e alguns Professores. De 13 de janeiro a 10 de fevereiro de 1980, dirigiram
Nestas ações faziam-se notar a presença de pessoal influentes da Vila: notária, juíza, professores e outros
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mais uma formação de alimentação saudável junto da quinta do cerro, no qual puderam contar com a fina flor das senhoras de Figueiró dos Vinhos, e de Pedrogão grande, a cuja formação afluíram dezassete pessoas, entre elas a notaria local, a juíza e alguns professores daquelas localidades.
Liga de Prevenção Alcoólica Em 13 de abril de 1980 foi a vez de organizarem uma reunião pública na Casa do Povo de Figueiró dos Vinhos para divulgar a recém criada Liga de Prevenção Alcoólica, que contava entre os seus constituintes o delegado de saúde, a delegada escolar, a notária, a assistente social, o pároco e o presidente do município. José Sincer, que a promoveu, foi então nomeado por unanimidade Presidente da Liga, ao que alegavam, porque é o único que não consome bebidas alcoólicas. Esteve presente no evento o então Secretário da Associação Internacional de Temperança, delegação portuguesa, Pr. Joaquim Dias.
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Comemoração do Dia do Trabalhador Tendo José Sincer sido convidado pelas autoridades para animar o Dia do Trabalhador, do ano de 1980, ele de imediato, arrebanhou um grupo de jovens junto das escolas e com eles levou a efeito algumas atividades. De manhã, os jovens participaram numa série de jogos populares: corridas de sacos, barra do Anita participando no dia da mulher trabalhadora lenço, salto à corda e outros. De tarde, , organizaram um Jornal de Parede, com desenhos, contos, poesias, tudo subordinado ao tema A Mãe, a Criança, o Mundo e o Trabalho. Finalmente, apresentaram uma festa dedicada à Mãe Trabalhadora, com cerca de cinquenta participantes, que teve lugar na Casa da Criança. Nela participaram também crianças dessa instituição. No fim, comentava-se entre os assistentes que em Figueiró nunca tinham assistido a algo semelhante. Esse evento proporcionou o contato com diversas famílias que mostraram interesse em estudar as Escrituras. 112
Ações de sensibilização sobre os malefícios das drogas Entre 1978 e 1985, foram muitas as ações de sensibilização sobre os malefícios do tabaco, do álcool e das drogas organizadas em Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pera, Pedrogão Grande, Cernache do Bonjardim, e Ferreira do Zêzere. , sessões que eram organizadas junto das escolas, documentadas com projeção de slides, a que se seguiam amplos debates entre professores e alunos.
Festival da Juventude Adventista Uma vez mais, resolveram comemorar o Dia do trabalhador, o qual se realizou de 1 a 3 de Maio de 1981, desta vez com a organização de um festival da juventude adventista, alargado à população em geral. Este teve lugar nas instalações dos Bombeiros Voluntários de Figueiró, que também disponibilizaram o seu vestiário e um dormitório para os rapazes, além de outras instalações, auditório e espaço de exposições. As meninas ficaram acantonadas na Casa do Povo. Além dessas infraestruturas, recorreram ainda ao Campo de Férias do Cerro, aonde foram montadas trinta e duas tendas, para alojar cerca de cento e vinte pessoas. Recorreram ainda a um espaço cedido junto de uma quinta do Dr. Forte, mais perto do centro da vila, para que outras tendas fossem montadas. 113
A juventude, após uma sessão de investiduras, desfilou pelas ruas da vila. As tardes e noites foram ocupadas com a apresentação de cânticos jovens, em sessões abertas ao público que decorreram com muita adesão e agrado. Durante a sessão espiritual de sábado foi recolhida uma generosa oferta destinada aos Bombeiros que a receberam com lágrimas nos olhos. Paralelamente, a juventude levou programas direcionados ao Lar de Idosos de Castanheira de Pera, que agradeceram com a seguinte mensagem: “Vimos agradecer-lhe a visita que se dignou efetuar ao Lar de Idosos de S. José, fazendo-se acompanhar da sua esposa e do Sr. Dr. Forte e esposa e de muitos jovens que por momentos alegraram o ambiente da sala de convívio do nosso lar, repleta de utentes”. Havia entre os presentes um senhor que era invisual e que certamente irá relatar tudo o que sentiu. Foram dias memoráveis que permaneceram ao longo do tempo nos anais da nossa juventude.
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Feira de S. Pantaleão Nos dias 26 e 27 de julho de 1981, o grupo participou na Feira Anual de S. Pantaleão. Uma série de expositores foram preparados versando diversas temáticas de saúde, alimentação e prevenção sobre drogas. Passaram pelos expositores mais de setecentas pessoas. Para isso, José Sincer e a esposa puderam contar com o apoio do Casal Heliodoro Silva e es-
Feira de S. Pantaleão
posa
Cortejo de Oferendas a favor dos Bombeiros Nos dias 27 e 28 de Agosto de 1981 participou com o seu grupo no Cortejo de Oferendas a favor dos Bombeiros locais. A sua Dyane desfilou enfeitada, levando consigo um punhado de desbravadores
Citroen Dyane de José Sincer
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que levavam a oferta do grupo. .
Bombeiros Voluntários de Figueiró dos Vinhos Nos anos de 1982/83, José Sincer incorporou a Direção dos Bombeiros Voluntários, como Vogal do Conselho Fiscal. Data: 17 de Abril de 1982 –09 de Julho de 1983 Corpo Diretivo: Assembleia-Geral Presidente: Alberto Teixeira Forte Vice-Presidente: Artur dos Santos Mateus Secretário: Lúcio dos Santos Simões Arinto Direção Presidente: Manuel Simões Telhada Vice-Presidente: José de São José Simões Secretário: Luís Filipe da Silva Lopes Tesoureiro: António Lopes dos Santos Conselho Fiscal Presidente: Nelson de Passos Quintas Vice-Presidente: Fernando dos Santos Conceição Secretário: José Pedro Falcão Sincer Comandante: José Guimarães Ladeira
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Jornal de Figueiró dos Vinhos 1982 05 20
Campo de Férias Saúde e Alegria de Viver No inicio de julho de 1983, procedeu-se à abertura do Campo de Férias Saúde e alegria de Viver – Missão Maranata, evento que foi possível graças ao apoio dado pelo irmão Maia, de Vila do Conde, que ali se deslocou durante algum tempo para construir algumas infraestruturas que eram necessárias: W.C., Cozinha, Lavadouros para as louças e outros. Uma preciosa ajuda. A partir dessa data, foram muitas as pessoas que acorreram ao lugar para gozar de alguns dias de repouso.
Revista Adventista
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Usufruindo os prazeres do Campo de Férias
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Casal Hermanson, vindo da América para visitar a família Sincer
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Dia Mundial da Saúde Em 26 de Março de 1984, Dia Mundial da Saúde, foram organizadas algumas atividades, junto de espaços contíguos às escolas primárias e do logradouro da Casa do Povo, aonde foram realizados diversos jogos populares. Paralelamente, foi organizada uma exposição de trabalhos dos próprios alunos, subordinada ao tema Saúde, Alimentação e Drogas. No decorrer da tarde, no Salão da Casa do povo levouse a feito um programa sobre saúde, com a atuação de jovens adventistas de Tomar, programa que incluía uma apresentação teatral subordinada ao mesmo tema. Nesse evento, procedeu-se à venda de alguns produtos alimentares ovo-lacto-vegetarianos confecionados pela equipa.
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Lar Rosa de Saron De fevereiro de 1985 a outubro de 1987 funcionou na Missão Maranata o Lar Rosa de Sáron, destinado a proteger e orientar meninas de risco. Do grupo faziam parte quatro meninas, além de outros que o frequentaram mais ocasionalmente. Através desta ação, foi possível educar e orientar para a vida essas crianças frágeis, hoje instaladas na sociedade.
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Crianças que frequentaram o Lar Rosa de Saron
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Pequenos Cantores de Sião No dia 14 de setembro de 1985, um pequeno grupo de crianças que apelidamos por Pequenos Cantores de Sião, composto pelos três netos, uma das meninas do Lar Rosa de Sáron e uma jovenzinha de Vila do Conde, a Raquel, apresentaram uma sessão de cânticos espirituais no jardim público de Figueiró dos Vinhos, sendo acompanhados à viola pelo pequeno Luís, de onze anos, neto mais velho de José Sincer.
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Açores
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Angra do Heroísmo No início de 1988 foi solicitado ao casal Sincer para ir apoiar a Igreja de Angra do Heroísmo, que há pouco tempo tinha sido reconstruída dos danos provocados pelo terramoto e que então se encontrava sem pastor.
Igreja (à direita)
Em resposta, José Sincer e a esposa partiram a 7 de março para a região, ficando com a responsabilidade de apoiar a Igreja de Angra e o grupo de Praia da Vitória. Para reconstrução da Igre- ja, foi decisivo o Módulos de apoio usados durante a apoio de alguns membros reconstrução 126
da Igreja de S. Mateus, que para ali se deslocaram e permaneceram até findarem as obras. Não tardou e no dia 7 de maio seguinte, logo o grupo coral das duas igrejas, orientado por Carlos Ávila foi fazer uma apresentação no Cine Teatro Angrense.
Grupo musical em atuação no Cine Teatro Angrense
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Atividades na Prisão de Angra Pouco tempo depois, conseguiram autorização das autoridades prisionais para efetuar algumas reuniões com prisioneiros daquela prisão, tendo conseguido passado algum tempo permissão para que um deles pudesse frequentar a igreja ao sábado. Esse prisioneiro era acompanhado pelo casal desde a prisão até ao seu regresso.
Visita à Associação Le Patriarche Em 24 de julho de 1988, o grupo coral fez uma nova apresentação pública, desta vez junto da Associação Le Patriarche que contou ainda com a presença de membros da Igreja da Praia da Vitória.
Escola Cristã de Férias De 25 de julho a 5 de agosto, foi organizada uma Escola Cristã e Férias, ao ar livre, num jardim da Canada Joaquim Alves, na Praia da Vitória, a que se seguiu uma festa, no dia sete com uma exposição dos trabalhos efe-
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tuados pelas crianças presentes durante a Escola Cristã de Férias. Durante o programa, seguiram-se as apresentações dos grupos corais das duas igrejas que atuaram em conjunto.
Alguns participantes em atividades
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Grupo de membros de Angra e Praia da Vitória
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Festa de Natal Em Dezembro, durante o período festivo, foi organizada uma festa de Natal na Igreja das Lages, a que se seguiu uma sessão batismal. De seguida, teve lugar um jantar convívio no salão de jovens da Igreja de Angra do Heroísmo.
Participantes na Festa de Natal
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Exposição no Palácio dos Capitães-Generais De 23 a 28 de janeiro de 1989, foi organizada mais uma exposição, desta vez no Palácio dos Oficiais- Generais, subordinada a temas de vida saudável e prevenção contra o malefício das drogas, durante a qual por ali passaram, além de muito público, um elevado número de alunos das escolas da Ilha, acompanhados dos seus professores. Essa exposição provocou grande impacto social na cidade que a recebeu com simpatia.
Exposição antidrogas no Palácio dos Oficiais Generais (ver mais fotos no álbum)
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Regresso à Quinta do Cerro A 31 de maio de 1989 o casal regressa ao seu lar, junto da Quinta do Cerro, na Várzea Redonda, cumprida a missão que lhe fora confiada. O casal vinha feliz por uma vez mais ter podido contribuir para o avanço do Evangelho, então, em terras de além mar.
Conferências sobre Daniel e Apocalipse Incansáveis, no decorrer do ano de 1991, a par de outras atividades que foram realizando, José Sincer apresentou no Salão dos Bombeiros uma série de conferências, versando os livros de Daniel e Apocalipse e expondo e comparando as suas profecias, alertando para a sua atualidade para os nossos dias.
A Missão de Levar Almas a Cristo Uma constante na sua atividade como Ministro do Evangelho era a preparação e o batismo de crentes que se rendiam a Cristo. Mesmo nas alturas em que não foi muito o tempo em que esteve à frente de uma Igreja, esse cuidado merecia sempre para ele uma atenção especial. Assim aconteceu no Algueirão, nas Caldas da Rainha e grupos adjacentes, no Lobito, em Benguela, em Catumbela, em Luanda, na Missão do Bongo, em Vila do Con133
de, em Delães (S. Mateus), em Santarém, em Rio Maior, no Algueirão (depois de aposentado) e em Figueiró dos Vinhos. Foram muitas dezenas os crentes que foram por si mergulhados nas águas para um novo nascimento. Esses eventos eram para si o reflexo das bênçãos que recebia do Mestre e que estavam sempre como objetivo da sua pregação.
O Batismo do neto Luís Como corolário da onda de batismos no decorrer da sua missão evangélica, em outubro de 1985, batizou o seu neto Luís, o mais velho, quando da comemoração do primeiro aniversário da Jave, Clube de Desbravadores de Vila do Conde. Não seria esta a sua derradeira cerimónia batismal, já que, quando da sua missão em Angra do Heroísmo batizou mais três crentes. Concluía assim essa série de festas espirituais com o coração cheio de alegria.
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Batismo do neto Luís, na Igreja de Vila do Conde, quando do primeiro aniversário da Jave
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Pombal José Sincer apoiou ainda a Igreja de Pombal, aonde se deslocava várias vezes ao Sábado, para ali pregar.
José Sincer no apoio à Igreja de Pombal
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… “Acabei a carreira, guardei a fé…” No dia 4 de fevereiro de 1994, depois de ter tomado o seu pequeno almoço na cozinha, na companhia da esposa, subiu ao seu escritório, como era seu hábito. Passado pouco tempo, quando a esposa para lá se dirigia com a habitual bebida quente, foi encontrá-lo sentado no último degrau da escada de acesso ao primeiro andar, dormindo tranquilamente. Depois de uma vida abnegada, anunciando a toda a gente ao seu redor as boas novas da salvação na sua geração, viu chegar a hora do seu merecido descanso. Deus fora magnânimo consigo. Tinham-se passado vinte e um anos desde que fora vítima de enfarte do miocárdio, ainda em Vila do Conde, a 6 de setembro de 1972. O funeral teve lugar no dia 6, na Capelinha do Cerro que com tanto zelo e carinho tinha edificado para proclamar o nome do Senhor. Ali estiveram presentes vizinhos e amigos, de perto e de longe. A cerimónia fúnebre foi celebrada por alguns colegas de ministério que quiseram vincar a sua presença, entre eles: Joaquim Dias, presidente da União Portuguesa, Manuel Cordeiro, Júlio Cardoso. O seu corpo repousa no jazigo adquirido pela esposa junto do cemitério de Figueiró dos Vinhos e é ali que aguarda o regresso do seu Mestre, Jesus. Como testemunho para quem passa, lá se encontra inscrita a passagem bíblica de II Timóteo 4:7 e 8.
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"Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa de justiça me está guardada a qual o Senhor justo juiz me dará naquele dia e não somente a mim mas a todos os que amarem a sua vinda." O seu exemplo de integridade, de consagração e de labor hão de ser lembrados pelos vindouros, familiares e amigos, de geração em geração.
Nota de condolências da Pr. Joaquim Dias, então Presidente da União Portuguesa
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Homenagem de José Sincer no Encontro Nacional de Obreiros reformados
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José Sincer
No dia em que o Senhor te quis chamar Para espalhar a Sua salvação, A tua vida ousaste transformar E logo lhe entregar o coração. Mais tarde, quando foste p’ra o Lobito E viste erguer-se a Casa do Senhor, Com veemência, tu lançaste um grito Manifestado em gestos de louvor. Mas não tardou, chegaram provações! Ao ver ruir teus sonhos e paixões, Ousaste manter firme a tua fé. E nesse turbilhão de sofrimento, Tu entregaste teu ressentimento Nos braços de Jesus de Nazaré.
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Sepúltura de José Sincer, no cemitério de Figueiró dos Vinhos
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José Sincer, o Missionário Como um fiel obreiro trabalhaste Nas vinhas, na Seara do Senhor, Em Seu nome muitas almas ganhaste Levando-as aos pés do Salvador. Imensas alegrias tu tiveste! Traição, ciúmes, injustiça e dor, Foste um guerreiro, o estandarte empunhaste Falando sempre de um Deus de Amor. Rapidamente, os anos se passaram, Vivias agora um tempo emprestado… Nem mesmo assim, teus lábios se calaram, Pregaste a palavra aqui, por todo o lado. E naquela manhã de um intenso frio Teu frágil coração por fim parou; Teu corpo desgastado sucumbiu, Para ti a batalha terminou. Repousa, querido pai, nas mãos de Deus Liberto de canseiras e cuidado, Em breve reencontrarás os teus, Felizes viveremos, pai amado. Na tua campa, o teu Anjo de Luz Aguarda o dia da ressurreição Para subires com ele até Jesus A fim de receberes teu galardão. Amy Dine
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RA 03.1994
Jornal de Figueiró dos Vinhos, 20.3.94
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Testemunhos
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Excertos de alguns testemunhos de alunos, obreiros e amigos “… eu não só cumpro um dever de cortesia mas também o desejo de manifestar ao meu professor e amigo a gratidão de que estou devedor pela forma caridosa e pela bondade com que me tem ensinado a formar-me na senda de honrar a Deus e do dever. Muitas vezes, quando leio as epístolas do apóstolo Paulo e as suas viagens lembro-me sempre do senhor professor. Do teu discípulo amado que respeitosamente assina: Antunes Filipe” “…ideia de agradecimento sobretudo o que tendes tido comigo cá no Instituto. A vossa educação me valerá não só na vida estudantina, mas sim em toda a minha vida. Subscrevo-me com respeito, o aluno, Armando Lucala” “…precisávamos da vossa presença cá no leste para levantar o nível atrasadíssimo que o nosso Campo tem. Marcelino Avelino 24.3.1972” “…estas simplicíssimas palavras, porem, não traduzem a minha gratidão. Não posso expressar a minha gratidão por tudo quanto devo ao senhor pastor: amabilidade, 146
interesse e sobretudo a educação e instrução que nos legou. Deus lhe pague. Muitíssimo obrigado. Despeço-me humildemente, seu admirador aluno, Manuel Maceu Rafael 28.1.1972” “…não tenho palavras para vos agradecer tudo quanto fizestes por mim durante os dias duros que aí passei. Jamais esquecerei o carinho e o conforto de que fui alvo; creio que para mim foram mais que amigos e irmãos, pois encontrei em vós os pais que aí não tinha… Leonel Pereira (membro europeu da Igreja de Luanda, quando prestava serviço militar em Nova Lisboa 2.5.1972” “…É pena que não volte. Mas o Senhor sabe o que é melhor para vós. Sei que deixais vários amigos sinceros em Angola, que vos admiram e estimam e continuam a admirar pela vossa prova de firmeza e lealdade para com todos e acima de tudo para com o trabalho do Senhor. Manuel Cordeiro Pastor e Diretor da Missão de Lucusse 5.7.1972” … Inesquecível professor… Digo que foi uma vitória para mim em alcançar a vossa direção hoje. 147
… Nunca esquece esta amada família Sincer. Envio os meus agradecimentos por tudo o que fizeram por mim. Até aqui continuo a ser bom rapaz, mesmo aqui na tropa. Isto veio por intermédio da vossa disciplina dada no vosso lar. Sempre folgo com saudades quando vejo a fotografia vossa. Armando Lucala Aluno africano 29 5 1973” “… Nunca nos esquecemos de vós. Na vitrine da nossa escola de Colola está a vossa fotografia, símbolo da amizade que deixastes no nosso coração. Pastor Sincer, se o mundo nos aborrece, é prova que temos estado associados com Jesus. Isaque Diamantino Tadeu. Pastor africano e Director da Central de Colola 12.2.19733” “… O pastor Sincer não é esquecido entre nós; ainda no sábado passado surpreendi um irmão e mais dois, entre eles aquele que não tem um braço, ou uma mão de luva postiça, a falarem do irmão Sincer, admirando as suas qualidades e o seu método de ensino, assim como a sua pontualidade, resumindo, a sua consagração simples e ardente na obra do Senhor. Joaquim Alves Couto Membro da Igreja de Guimarães 6.23.1974” 148
“… Recordando tempos passados, não podia ser ingrato, apenas resolvi hoje passar algumas linhas a fim de agradecer como fui ajudado pelo senhor pastor quando se encontrava na Missão do Bongo, como Diretor. Não sei se o senhor pastor se recorda de mim, na altura fui obreiro da tipografia, a trabalhar junto do senhor Botelho e José Luís. Afonso Paiva 30.11.1986” “…Querido Pastor Sincer, Sua carta apressou a decidir batizar-me no dia 27 de setembro, batismo de primavera… Eu tinha uma resistência muito grande de ir à Igreja, embora às vezes desejasse. Sua carta quebrou essa resistência. O Senhor é uma pessoa privilegiada. Conceição Madeira Mendes (a residir atualmente no Brasil mas a quem José Sincer deu estudos bíblicos quando pastoreava a Igreja de Santarém 17.9.1992” “Meu querido amigo Pastor Sincer. … Desejo que saiba que o considero um Neemias impecável… com quem muito aprendi e a quem muito devo. Muito obrigada, querido amigo, pelo incentivo das palavras que me enviou. Sempre Neemias… Manuela Câmara (membro da Igreja de Lobito, a residir em Salvaterra de Magos 149
20.9.1972” Muitos anos se passaram, mas ficou sempre a lembrança dos momentos que passámos com os teus pais, pastor Sincer e esposa. Direi que foram tempos inesquecíveis aqueles em que os teus pais estiveram à frente da Igreja de Benguela. Ele, com a sua pujança e saber, galvanizou a juventude, que jamais se esqueceu da sua presença em cada atividade em que se empenhou ao máximo: belos acampamentos, jogos, peças históricas, etc. etc. Eduardo de Oliveira (Beto) 22.10.2021 – Benguela” “… Quem me dera que o meu pai e a minha mãe fossem vivos, eles gostavam muito do Pastor Sincer. Sei que pregava pelo que era certo e correto… e incomodava alguns… Depois, tive o privilégio de reencontrar o Pastor Sincer e a irmã Amélia quando começamos o nosso Ministério na Igreja de Pombal. Filomena Dias 21.10.2021”
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Testemunho Pr. E. V. Hermanson Prezado irmão Sincer, Durante estes últimos meses tenho sentido o desejo de lhe escrever umas linhas acerca do seu trabalho em Angola, mas só hoje consigo dar cumprimento do meu desejo. Estimo que esta o encontre animado na fé e na Grande Esperança. Conheci o irmão durante os anos em que tanto os irmãos como nós morávamos em Nova Lisboa. Apreciei a sua atuação tanto no Colégio Adventista no Huambo como na Igreja de Nova Lisboa. Admirei sempre o seu entusiasmo e espírito de trabalho. Depois, apreciei os seus trabalho nas Igrejas de Benguela e Lobito. No seu tempo abriu-se o trabalho em Catumbela, o qual continua a desenvolver-se. O irmão também fazia reuniões em Baía Farta. Chegou também a orientar de Benguela o trabalho no Cubal, tanto para os africanos como para os europeus. Andava com as mãos muito cheias de trabalho. No seu tempo e devido ao seu dinamismo, levou-se avante com a bênção de Deus, o que o Pastor António Lopes tentou fazer antes: a construção da bela Igreja que tanto honra a Causa no Lobito. Sua persistência e esforço também trouxeram à existência a Escola Primária da Igreja do Lobito, construção que tanto valoriza nossa Obra naquela cidade. 151
Era plano do Pastor Ferreira que o irmão continuasse no Lobito ao regressar das suas férias na Europa, mas com a vinda do Pastor Casaca os planos foram alterados e o irmão foi transferido para Luanda. Segundo consta, parece que um colega, impensadamente, criou-lhe um mau ambiente nesta cidade, antes do irmão começar nela o seu trabalho e que dificilmente poderia ser vencido e isto só com o tempo. Mas o irmão não teve tempo para vencê-lo porquanto dentro de seis meses foi transferido para o Bongo, onde parece que lhe aconteceu a mesma coisa, faltando-lhe também o apoio, segundo consta no planalto, daquele que devia ter-lhe dado toda a ajuda. Esta falta de apoio talvez tenha sido motivada pelo facto dessa pessoa estar cercada por parentes a quem não desejava melindrar. Mas a despeito das dificuldades que o irmão encontrava no seu trabalho, sempre encontrei irmãos, quer entre os africanos, quer entre os europeus, que apreciaram o seu esforço, a sua consagração, o seu zelo, probidade, sinceridade e operosidade, e que nutriam a opinião de que o irmão estava a fazer um trabalho que carecia de ser feito. Encontrei alguns que não sabiam apreciar o seu trabalho na altura em que o irmão se encontrava presente, mas que vieram a reconhecer as suas qualidades de trabalho depois da sua saída. Quem cumpre o seu dever não pode contar com apoio de todos os crentes como se depreende de Lucas 6:26.
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Todos nós erramos numa coisa ou noutra mas sempre encontrei sinceridade no irmão e creio ter sido sempre o seu desejo servir bem a Deus. Nunca me constou que tivesse havido algum problema insuperável sob a administração do Pastor Ernesto Ferreira. Sempre ouvi dele as melhores referências a seu respeito. É meu sincero desejo que o irmão possa vencer todas as dificuldades e que possa continuar a trabalhar com ânimo e com coragem, avançando com a Graça e o Poder de Deus. Que os fogos apenas o refinem e o façam brilhar mais. Conte com as minhas orações pelo seu êxito e felicidade. Com um abraço e muitos cumprimentos, fico, seu irmão em Cristo, E. V. Hermanson
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Testemunho Pr. Joaquim Dias Grilo Foi meu privilégio conhecer o Pastor Sincer em duas fases cruciais da sua trajetória, ao serviço da Igreja Adventista, que coincidiram com dois marcos importantes da minha carreira pastoral. A primeira fase foi no começo da carreira Pastoral do Pastor, Sincer e da minha própria carreira. Com efeito, quando eu, após sete anos de preparação no Curso Bíblico em Lisboa e em Collonges, França, iniciava com alguma apreensão, em 1962, o meu estágio, sob a égide dum pastor com larga experiência, fui intensamente impactado pela corajosa e exemplar dedicação do então Irmão Sincer, recentemente convertido, abandonando a sua importante carreira profissional no Instituto Nacional de Estatística (INE) para servir a Cristo, que o resgatara da vã maneira de viver, que por tradição recebera de seus pais,»(1 Pedro 1:18). Esse impacto aumentou quando, passado pouco tempo, José Pedro e Maria Amélia Sincer partiram para Angola como Casal Missionário ideal, pois se completavam - um pastor e uma professora; ali durante cerca de dez anos, realizaram um profícuo ministério evangelístico e de educação, cujos frutos ainda hoje testemunham na vida de algumas pessoas. O mesmo espírito missionário que os motivou a dedicar a sua vida e talentos à carreira missionária em África não diminuiu com o regresso à metrópole. Com efeito, pouco 154
tempo depois o casal Sincer vendeu, a sua cómoda residência no Algueirão, Concelho de Sintra, para se instalar em Figueiró dos Vinhos, numa propriedade rural para prosseguir o seu ministério usando o método de Jesus, assim descrito por Ellen White: “Ao aproximar-se do povo, o Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: “Segue-Me.” — A Ciência do Bom Viver, 143. Foi exatamente nesse lugar e nessas circunstâncias que no fim da década de 1970 tive de novo, o privilégio não só de me encontrar com o Pastor Sincer, mas também de colaborar com ele na sua nobre e original atividade nos moldes atrás referidos, assim sintetizado: partilhar a Boa Nova do Evangelho Eterno, de forma integral, tendo em conta as dimensões física, mental e espirituais da comunidade. Com o seu espírito rigoroso e matemático ainda marcado com a sua anterior atividade Estatística, o Pastor Sincer intuitivamente se apercebeu que a dependência do álcool era um dos problemas locais sendo, eventualmente, a causa principal do baixo rendimento escolar de algumas crianças sonolentas durante as aulas. Como homem de experiência e habituado às lides da função pública, fácil e rapidamente o Pastor Sincer granjeou a amizade e o respeito dos dirigentes locais; face a esta realidade o Pastor Sincer dedicou muito do seu tempo na visitação às escolas primárias para em conjunto com os/as professores preparar e apresentar programas 155
de combate ao alcoolismo e outras dependências, usando material didático cuidadosamente preparado. Foi assim, e neste enquadramento, que sendo eu responsável dos departamentos de Jovens e da Temperança, se realizou em Figueiró dos Vinhos um Plano de Cinco Dias para Deixar de Fumar e um acampamento de Desbravares. Posso testemunhar que foi uma experiência rica e inspiradora para os jovens participantes; foi uma excelente oportunidade para conhecer melhor e para colaborar com a nobre e altruísta atividade da família Sincer e, eventualmente, ter contribuído para mostrar à Comunidade, particularmente à juventude local que a vida cristã consiste em amar a Deus, vivendo de acordo com a Sua Lei Moral e as leis da saúde, assim como amar ao próximo através do serviço abnegado, conforme o modelo exemplificado por Cristo. Um facto incontornável na vida do casal Sincer é que lhes nasceu uma filha, Ana Maria, que cedo aprendeu a amar a Deus, a cultivar o espírito Missionário e a tomar decisões certas, nomeadamente a de só vir a formar um lar com um homem genuinamente convertido, isto é, um lar cristão, onde Jesus fosse honrado e se vivesse segundo os Seus princípios. No cumprimento da promessa, “aos que me honram honrarei” (2 Samuel 2:30), Deus honrou esse elevado propósito deparando-lhe o “companheiro idóneo” na pessoa de José Luís Sepúlveda, surgindo assim este outro facto incontornável: do casamento de Ana Maria Sincer com José Sepúlveda nasceram José Luís, José Miguel e José Pedro, exímios profissionais nas suas respe156
tivas atividades - saúde e novas tecnologias - e, acima de tudo, como cristãos sinceros e ativos com um discipulado pessoal efetivo e equilibrado, segundo o modelo apontado por Paulo “enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé.» (Gálatas 6:10). Indubitavelmente a memória e o inspirador ministério do Pastor Sincer tem bons continuadores na pessoa de seus netos que «Amam a Deus sobre todas coisas e ao próximo como a si mesmo.» (Mateus 22:37-39).
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Testemunho Dr. Manuel Vieira Estive numa actividade da Igreja em Figueiró dos Vinhos com o Pr. Dias, Acampamento de Desbravadores. Ali havia uma Drª Notária que simpatizava com a Igreja e que tinha um filho muito jovem que estava nesse acampamento e que achava que a Igreja Adventista era uma instituição moderna pois cuidava dos jovens com actividades úteis e divertidas. Recordo perfeitamente que fomos à casa do Pr. Sincer onde a esposa, uma senhora baixa, sendo o Pr. Sincer magro e alto, cuidava do marido com esmero e dedicação pois, no pouco tempo que lá estivemos, veio trazerlhe uma gema de ovo para o ajudar a recuperar de uma mazela e o fortificar. Tomei conhecimento nessa deslocação a Figueiró dos Vinhos que o Pr. Sincer era associado dos Bombeiros locais, dando-lhes apoio e pagava a sua quota mensal.
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No Tempo dos Missionários Por Albano F. Fontes Quando cheguei ao Lobito em Abril de 1966, o arrebatador encanto da cidade não foi surpresa para mim. Na verdade, em tempos de férias militares, já lá passara duas semanas em casa de uma irmã. Agora, porém, não se tratava de férias. Depois de uma adolescência e primeira juventude vivida na cidade de Luanda, estava no Lobito para ficar. Morando a minha irmã num bairro periférico da cidade e não havendo regularidade de transportes urbanos, que facilitassem a tarefa de encontrar um emprego na cidade, tive a sorte (mão de Deus?) de encontrar alojamento na casa de um casal, amigo de família, que vivia em local bastante mais favorável à demanda que agora teria de enfrentar, ou seja, a tarefa de encontrar um novo emprego. Compão, era o nome de um bairro residencial, de grande densidade demográfica, situado entre o atlântico e os mangais, no estremo sul da cidade. Ali, e mesmo junto à passagem de nível, morava a família Carrinho que teve a gentileza e a bondade de me receber. Graças a Deus e ao trabalho desenvolvido por este meu amigo, poucos dias depois estava empregado. Vivia agora. no primeiro piso de um prédio de três andares. Ao sair de casa, poucos dias depois, sou surpreendido por duas jovens raparigas que desciam de um piso superior. Sem me esforçar por dissimular a surpresa, armei o meu melhor sorriso enquanto as cumprimentava com a 159
maior das gentilezas. Depois das apresentações, que se impunham, fiquei a saber que uma se chamava Cândida, a outra se chamava Rosa e que ambas se dirigiam para a Igreja Adventista, mesmo ali ao lado. Feito o convite para as acompanhar, não fui capaz de recusar, até porque, já frequentava a mesma igreja em Luanda, embora não assiduamente. A igreja funcionava em local alugado, de pequenas dimensões e que no passado, havia servido como armazém de vinhos. Aquele dia e aquele local testemunharam o meu primeiro encontro, com o homem que haveria de marcar a minha vida para sempre. Corpo magro de estatura média, olhos penetrantes, sorriso fácil, irrepreensível educação, otimismo contagiante e fé inabalável. O seu nome: José Pedro Falcão Sincer. O seu trabalho, absolutamente vocacional: Pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Conheci este homem no momento em que se encontrava totalmente empenhado, segundo o próprio, no grande objetivo da sua vida, ou seja; a construção, de raiz, de uma igreja capaz de acolher, não só os membros atuais como, segundo me dizia, para receber todos aqueles que estavam aguardando em suas casas o chamado divino. Na ocasião, embora poucos, os frequentadores masculinos da igreja de então, não resistiram à coragem, entusiasmo, dinamismo e, sobretudo à fé daquele homem de Deus. Com um só homem se ergueram, empenharam, puseram mãos à obra e avançaram firmes para a consumação do projeto. 160
A igreja não dispunha de fundos capazes de custear tão desejada construção, mas tal não demoveu, nem por um momento, o querer daquele homem. O projeto tinha sido longamente acalentado na sua mente e a forma, literal, de o materializar também. Com a ajuda do irmão Pinto, conhecedor como era, dos meandros da construção civil, fez um levantamento exaustivo do tipo e quantidades de materiais necessários à consumação da obra que se propunha realizar. Com estes elementos em seu poder, recorreu à sua experiência missionária, ou seja; bateu a todas as portas de estabelecimentos comerciais da especialidade e, tal como só ele sabia fazer, falou do seu projeto e pediu ajuda. Apetece-me abrir aqui um parêntesis e acrescentar alguma coisa às palavras do poeta que diz: “Quando o homem sonha e Deus quer, a obra pula e avança” E assim foi, realmente; todos os materiais necessários foram, gratuitamente, Igreja do Lobito colocados em estaleiro. Nesta igreja, inaugurada em fins de 1966, tive o grande privilégio de, um ano depois, ser batizado pelo meu grande amigo e pastor Sincer. Graças a este pastor, a minha vida mudou; quer do ponto de vista espiritual, quer social e até humano. Foi pela sua mão que, pela primeira vez, fui “obrigado” a falar em 161
público. Após um mês do meu batismo, fui “empurrado” para o púlpito e celebrar um culto de oração. Antes de subir à tribuna, chamou-me à sala da preparação e perguntou-me: - Então Fontes… está com medo? - Um pouco – respondi meio envergonhado. - Não é caso para isso – respondeu-me com a sua afabilidade habitual e continuou: - Eu também já passei pelo mesmo. Nessa ocasião os meus joelhos tremiam tanto, que eu receava que o tremor fosse notado pelas pessoas. Então, sabe o que eu fiz? - Não, não faço ideia! - Fiz isto! – Endireitou o corpo como se estivesse em rigoroso sentido militar, apontou os indicadores para os joelhos e disse: Covardes… firmes! Eu repliquei o gesto e ambos rimos por uns momentos. Depois lá fui para o meu posto e, a julgar pelas consequências, não me devo ter saído muito mal porquanto, dois meses depois, foi-me confiada a responsabilidade pela igreja da Catumbela onde, pela graça de Deus, desenvolvi um trabalho que todos consideraram meritório. Mas hoje, não posso deixar de recordar aqui uma história que, por onde tenho passado, sempre fiz questão de contar a toda a gente: O pastor, José Pedro Falcão Sincer, na verdade não era um pastor; era um verdadeiro missionário. Todos os dias da semana, de segunda a quinta-feira, vestia o seu fato (único fato) e fizesse sol ou chuva, de Bíblia debaixo do braço, saía a percorrer ruas da cidade, de bairros periféri162
cos e até casas isoladas. Subia escadas, descia escadas, entrava e saía. Fosse qual fosse a receção das pessoas, não deixava ninguém para trás. Era um trabalho esforçado e por vezes, diria mesmo, bastante penoso. Consequência direta desse esforço não só emocional mas, e sobretudo físico, era o suor abundante que permeava a roupa sem que lhe poupasse o próprio casaco. Assim sendo e porque só tinha aquele fato, a cada sexta-feira sua dedicada esposa, sempre lavava, secava e passava o fato a ferro, a fim de que o mesmo se encontrasse devidamente limpo e capaz de ser usado no Sábado. A falta de um fato alternativo era mais do que evidente porém, dado o seu exíguo quadro remuneratório, a situação não seria fácil de resolver. Na rua 28 de Maio, havia uma alfaiataria e ao seu lado uma agência funerária, ambas pertencentes a um homem chamado “Caruta”. Não sei se era o seu verdadeiro nome, mas era por este que todos o conheciam. Por graça, até se dizia que o Caruta fazia fatos para vivos e para mortos. O pastor Sincer, como não podia deixar de ser, no decorrer do seu trabalho diário, um dia entrou na sua loja. A empatia entre os dois homens foi imediata e a alfaiataria do Caruta passou a fazer parte obrigatória das visitas missionárias do pastor Sincer. Um dia, quando o pastor entrou na alfaiataria, em cima do pequeno balcão, estavam meia dúzia de peças de tecido para fatos. Depois dos cumprimentos habituais, o
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Caruta pegou o pastor por um braço e encaminhou-o para junto das peças de tecido e disse-lhe: - Pastor Sincer, se quisesse mandar fazer um fato, destas peças que estão aqui, qual escolheria? O Pastor, surpreendido, deu um passo atrás, levantou as duas mãos e disse: - Mas ó senhor Caruta, eu não quero mandar fazer fato nenhum! - Está muito bem, não se preocupe! Só gostaria que me dissesse qual destas peças escolheria – disse o Caruta conciliador – - Mas eu não posso escolher. Não vou mandar fazer nenhum fato! - Eu sei que não! – disse o Caruta pacientemente, acrescentando- O pastor não vai mandar fazer um fato; sou eu que lhe quero fazer um fato. - Mas eu não posso aceitar! - Claro que pode. Pode e vai aceitar! O Caruta, embora de pequena estatura, era um homem decidido. A sua decisão estava tomada e nada nem ninguém o impediria de o fazer. Virou-se para o empregado, dizendo: - Nogueira, tira aqui as medidas ao senhor Sincer. Vamos fazer-lhe um fato! Estava dito e em pouco tempo; estava feito! Agora, o Pastor Sincer, já tinha um novo fato para vestir aos Sábados Este era o pastor José Pedro Falcão Sincer, Um verdadeiro evangelista. Um trabalhador incansável. Um amigo a 164
toda a prova. Um homem bom. Um homem de Deus. Um mal-amado entre alguns dos seus pares.
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Esclarecimento sobre data do Voto de Consagração para Pastor Por Pastor. M. Castro “…Estive a procurar no meu arquivo e encontrei os dados que o amigo pede. O Voto para a sua consagração foi no Conselho 6 a 8 de janeiro de 1971, número do Voto 16. Não há nenhum Voto que eu saiba que tenha anulado o anterior. Este voto continua de pé. Sua mudança para Nova Lisboa está no Voto 151, no dia 22 de junho de 1971. Nas actas não encontro algo mais sobre este assunto. Espero que estes dados venham ajudá-lo a resolver este problema que a meu ver já deveria estar resolvido, se houvesse compreensão e um pouco mais de caridade cristã… M. Castro 14.10.1973 – Luanda” Nota: Esta consagração nunca viria a ter lugar, por deliberação unilateral do então presidente da União Angolana, tomada no dia marcado para a mesma, contrariando a deliberação do Conselho da União e da maioria dos pastores presentes nesse dia.
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Momento triste
O almejado dia, esse momento Tão nobre e puro da consagração Chegara! O testemunho, o sentimento De a Cristo dedicar o coração. Mas nessa tarde, um certo movimento De hostilidade surgia pelo ar; E logo, acusações sem fundamento Vieram e ocuparam seu lugar. E foi então que unilateralmente, Se ouviu a alta voz do Presidente A dar por nulo um voto tão sagrado. Momento triste! E foi que o Missionário Envolto nesse “conto do vigário” Não mais seria, nunca, consagrado.
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Figueiró dos Vinhos
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Índice Autor ..............................................................................................................4 Nota: ..............................................................................................................8 Fundão ....................................................................................................... 12 Lisboa ......................................................................................................... 17 Primeiros Passos ..................................................................................... 20 Batismo ...................................................................................................... 22 Caldas da Rainha, Cadaval, Peniche e Rio Maior ....................... 26 Angola ........................................................................................................ 32 Nova Lisboa.............................................................................................. 33 Benguela.................................................................................................... 37 Lobito .......................................................................................................... 40 Catumbela ................................................................................................ 47 Collonges-sous-Salève .......................................................................... 50 Luanda ....................................................................................................... 52 Na Rádio ................................................................................................... 56 Missão do Bongo .................................................................................... 58 Hospital do Bongo.................................................................................. 62 Instituto de Educação do Bongo........................................................ 64 Vila do Conde .......................................................................................... 72 Era uma vez… um autocarro .............................................................. 78 Delães ......................................................................................................... 88 Santarém ................................................................................................... 95 Algueirão ................................................................................................... 97 Figueiró dos Vinhos .............................................................................106 A Capelinha do Cerro .........................................................................107 Angra do Heroísmo .............................................................................126 Pombal .....................................................................................................136 … “Acabei a carreira, guardei a fé…” .............................................137 José Sincer...............................................................................................140 José Sincer, o Missionário ..................................................................142
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Excertos de alguns testemunhos .....................................................146 de alunos, obreiros e amigos............................................................146 Esclarecimento sobre data do Voto de Consagração para Pastor .......................................................................................................166 Artigos Publicados ..............................................................................170 Notícias ....................................................................................................180
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