Tempo de natal, de josé sepúlveda

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Presépio de Glória Costa

JOSÉ SEPÚLVEDA


Presépio de Glória Costa

JOSÉ SEPÚLVEDA



Tempo de Natal

O autor José Sepúlveda, nascido em Delães, Vila Nova de Famalicão, hoje a residir em Vila do Conde. Começou a escrever poesia cerca dos doze anos. No decorrer da sua carreira profissional trabalhou, primeiro, como funcionário público e depois, durante 35 anos, como empregado bancário. Publicou em alguns jornais e revistas ao longo da sua carreira. Amante da literatura, criou e administra os grupos do facebook Solar de Poetas, Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa, Casa do Poeta., SolarTv - Online, Solarte e Solar-Si-Dó. Frequenta a Universidade Sénior do Rotary Club da Póvoa de Varzim, como aluno e orientando a disciplina de iniciação à informática.


Tempo de Natal

Apoia vários projetos literários, promovendo a edição de autores em início de carreira, organiza e participa com regularidade em saraus e tertúlias, tem prefaciado alguns livros, apresentado e participado em lançamentos de antologias e livros de autor e outros. Tem diversas publicações individuais e colectivas sobre música, história, genealogia, biografia e outras. Livros publicados: Meu verso, meu berço, meu poema – 2014 Porque ele vive – 2015 E-book Akrosticis Josíadas, epopeia da vida Estórias Reais, memorial do tempo Génese, retratos de família (em fase de edição) Amor Perfeito, radiografia do sonho Participa num elevado número de antologias portuguesas, brasileiras e italianas. Tem publicações diversas em e-book (issuu).


ERA UMA VEZ UM MENINO


História de Natal

ERA UMA VEZ UM MENINO Era uma vez um Menino Numa choupana em Belém; Uma vaquinha, um burrinho, O seu pai, a sua mãe Numa noite muito fria Aquela mãe deu a luz O seu nome era Maria E o do menino, Jesus Vieram da Galileia Passaram por Samaria. E a cidade estava cheia Não havia hospedaria E grávida como estava Quase pronta a dar à luz Um lugar não encontrava P’ra aliviar sua cruz


História de Natal

E foram-nos alojar Na choupana rude e fria E pela noite, ao luar, O seu menino nascia Lá no céu anjos cantaram Com tanta tanta alegria Que os pastores acordaram E foram à estrebaria E havia entre essa gente O sentimento profundo Que o menino sorridente Era o Salvador do mundo Numa noite muito escura Quarto Reis do oriente Caminharam à procura Do menino e sua gente


Histรณria de Natal

Trouxeram mirra e incenso E ouro para lhe dar E em cada presente, penso, Profecia singular O Ouro era Realeza O Incenso Santidade A mirra era Tristeza, Sofrimento e Lealdade Era uma vez.., vos dizia Com sentimento profundo, Nessa noite nos nascia O Salvador deste mundo


ANUNCIAÇÃO


ANUNCIAÇÃO ⁃ Bendita sejas tu, Avé Maria, Agraciada és p'lo Criador, Do ventre teu irá surgir um dia O Deus-Menino, o Rei Libertador! ⁃ Minha alma canta cheia de alegria! Aqui me tens, a escrava do Senhor, Te peço que me dês sabedoria Para poder criá-Lo com amor! " Em ti, Belém Efrata,vai nascer O Deus-Menino, filho de mulher, Para limpar o mundo do pecado! " ⁃ Um dia irão pregá-Lo numa cruz Mas o teu filho, o doce e bom Jesus, Vai ser além do tempo o Filho Amado!”


NÃO HAVIA LUGAR…


NÃO HAVIA LUGAR… Obedecendo às ordens de algum rei, José, na companhia de Maria, Partiram p’rá Judeia. E em sua grei Se foram registãr naquele dia. Nessa euforia imensa que vivia O povo dessa extensa região As casas invadia e se esquecia Da humilde criancinha em gestação. E quando outro lugar já não havia, Levaram-nos a uma estrebaria E ali pariu Maria o seu Menino. Deitado na singela mangedoura, Aos bafos de um burrinho e de uma toura, Iria então ditar nosso destino!


O RUSSO E A MIMOSA


O RUSSO E A MIMOSA ⁃ Ouviste, Russo? Alguém abriu a porta, Bem tento ver quem é, mas não consigo! ⁃ Não é ninguém, Mimosa, a hora é morta, Quem ousaria vir ao nosso abrigo? ⁃ Entraram, não há palha que nos valha! ⁃ Tem calma, é um casal, anda perdido! A mãe vai dar à luz naquela palha, ⁃ Que possam ficar bem no nosso abrigo! ⁃ Nasceu! Pobre criança, está tão frio! Vamos levar-lhe o pelo tão macio Que envolve o nosso corpo e nesta hora Essa criança em nós possa encontrar Um pouco de conforto e, se calhar, Até gostar da nossa manjedoura!


JESUS NASCEU, ALELUIA


JESUS NASCEU, ALELUIA Num curro de animais te vi nascer Naquela noite fria de Belém, Do ventre de Maria, essa mulher Que pela Divindade se fez mãe. Tolhido, numa frágil manjedoura Olhavas p'ra teus país que com carinho Tentavam aquecer-te noite fora, Com bafos da vaquinha e do burrinho.

Na longa madrugada feita breu Os Anjos que se desciam lá do Céu Cantaram com louvor, com alegria. Num curro humilde havias de nascer Do ventre imaculado da mulher Que, virgem, se fez mãe... Aleluia!


HOSSANA NAS ALTURAS


HOSSANA NAS ALTURAS Dai glória a Deus, hossana nas Alturas, Louvado seja o grande Deus-de-Amor, Dobrai-vos de joelhos, criaturas, Porque hoje vos nasceu o Salvador! Ide, anunciai pastor após pastor E a todo o camponês, p'lo mundo além, Que numa manjedoura, envolto em dor, Jesus nasceu, na gruta de Belém. No berço humilde dorme o Deus-Menino Ao lado da vaquinha, do burrinho, Do pai, da mãe, que doce companhia! Correi e anunciai a toda a gente Que o Deus-Menino espera tão contente, Quer partilhar convosco esta alegria!


MENINO, DORME!


MENINO, DORME! Dorme dorme Deus Menino No teu bercinho deitado Que os desígnios do destino Quiseram fazer sagrado

Dorme dorme criancinha O teu soninho profundo Pois hás de ser, adivinha, O salvador deste mundo

Nesta noite fresca e fria Maria te trouxe à luz E conforme a profecia Deu-te o nome de Jesus

A vaquinha e o burrinho Com seu bafo delicado Vão aquecer-te o bercinho E ficar sempre a teu lado

No teu soninho suave E sob a luz do luar Já sonha o povo que sabe Que havias de voltar

Dorme dorme até ser dia Que esta noite em cada lar Vai haver muita alegria Quando a notícia chegar


ADORAÇÃO AO MENINO


ADORAÇÃO AO MENINO - Oiço cantar! Maria, vem ouvir A multidão de gente à nossa espera, Um coro celestial a refulgir Como se fora um sonho, uma quimera! Pastores, camponeses, tanta gente Cantando com louvor ao nosso filho E cada um lhe trouxe o seu presente P'ra dar a esta noite luz e brilho! Olha, Maria, lindo este cordeiro! E requeijão! E leite! Olha o padeiro! Favos-de-mel e pão, quente, fresquinho! Oh, não! São Reis, é gente eloquente! Vieram de tão longe, do Oriente, Com ouro, incenso e mirra p'ró Menino!


AS ESTRELAS


AS ESTRELAS - Luzia, vem cá ver! Ali no campo, Uma candeia acesa que reluz! Uma mulher entrou e lá num canto, Em grande pranto... ó não, vai dar à luz! Vamos descer, levar-lhe o nosso encanto, Tentar aliviar as suas dores, Eu tentarei cuidá-la no seu pranto, Tu vais e anuncias aos pastores. - Depressa, Clara, vamos, vem depressa, Que na verdade, a noite que começa Nos vai contar histórias de encantar. Naquele sítio escuro, abandonado, Irá brilhar a Estrela, um Filho amado, Que vai o Céu e a Terra iluminar!


OS PASTORES


OS PASTORES - Que brilho intenso aquele ali no ar, Vê bem a luz imensa que nos dá! Será a Cassiopeia ou a Polar ? Näo pode ser a Estrela da Manhã. - Sim, na verdade, o brilho é muito intenso! Vá…, toca a levanter, olhar o céu! Aquela bela estrela veio – penso Dizer que alguma coisa aconteceu. - Rejubilai, cantai com alegria, Eu sou Luzia, a estrela que anuncia Que numa gruta, num imenso breu, Vivemos o momento mais solene, Envolto em panos, numa paz perene, Jesus, o Rei dos reis, ali nasceu!


OS REIS DO ORIENTE


OS REIS DO ORIENTE - Gaspar, vem cá, vem ver aquela estrela, Repara bem no brilho que ela tem! Algo me diz no céu que vai ser ela Que há-de conduzir-nos a Belém. - A profecia? É isso, Melchior? Será que já nasceu o grande Rei? Avisa Baltazar, sim? Por favor! E aonde a estrela for, segui-la-ei! - Vamos levar incenso, mirra, ouro, Ao grande Rei, sabendo que o tesouro Que ele vai pedir na ocasião Não passa por riquezas, tão somente, Irá querer, pedir-nos por presente, O nosso arrependido coração!


O QUARTO REI


O QUARTO REI Lá longe, entre as colinas do Oriente, Um Mago Rei olhava o firmamento Na ânsia duma estrela diferente Que lhe viesse iluminar a mente. Relendo a Profecia, descobria, Que um Rei Divino havia de nascer. E o grande Mago conhecer queria O Deus Menino, filho de mulher. E pretendeu três Reis acompanhar Mas atrasou-se e foi calcorrear Toda uma vida o solo palestino. Até que um dia, velho, já cansado, Foi encontrar ali, mesmo ao seu lado, Pregado numa cruz o Rei Menino!


RUMORES EM BELÉM


RUMORES EM BELÉM ⁃ Já sabes da notícia que circula Acerca de Maria e de José? Desse casal que veio numa mula E há dias cá chegou de Nazaré! ⁃ Não sei, o que se passa, houve sarilho? - Maria, em Nazaré, engravidou… Belém não a acolheu… E teve o filho Sem aconchego, a noite que passou. O povo diz que é filho do Divino E vêem no chegar desse Menino Cumprir-se aquela antiga profecia:

- Belém Efrata em ti há-de nascer, Gerado em puro ventre de mulher, Aquele que há-de ser teu Rei um dia!


OS CAMINHEIROS E O ANJO


OS CAMINHEIROS E O ANJO ⁃ Uma candeia acesa a esta hora Ali, naquele curro de animais! ⁃ Que importa isso? Vamo-nos embora, Um vagabundo... ou outras coisas mais! ⁃ Espera um pouco. Vou dar uma olhada, Satisfazer a curiosidade... ⁃ Não vás que pode ser uma cilada De algum dos vagabundos da cidade. ⁃ Vem ver! Uma mulher! Nasceu-lhe um filho! - Caramba, está metida num sarilho, Aqui não há parteiras nem doutor! ……… ⁃ Cantai, homens, cantai, haja alegria, Pois nesta humilde e parca estrebaria Nasceu Jesus, o vosso Salvador!


DOCE LAR


DOCE LAR ⁃ Aonde estás, Maria? - Da oficina, Chamava com ternura e emoção Só para ver os olhos da menina Que enchia aquele frágil coração. ⁃ Estou aqui, marido, na cozinha, Cuidando do Menino e a preparar A nossa refeição. Vem, adivinha Que coisas boas fiz para o jantar. Naquele humilde lar, um lar de amor, Olhava p'ra Maria com dulçor E elevava preces para os céus. Tocava no seu ventre com carinho Para poder sentir esse Filhinho, Gerado pelo Espírito de Deus!


A FUGA DO MENINO


A FUGA DO MENINO ⁃ Vá, vem depressa, fala-se que o Rei Anda a matar meninos em Belém. Não sei qual a razão, isso não sei, Mas falam dum menino e sua mãe. Mataram tanta gente! Dizem ser Por ter nascido ali algum Menino Para ser Rei. Não fosse acontecer, Passaram a cidade a pente fino. Chegaram mais soldados, vem depressa! Vamos fugir, a saga recomeça, E certo nos trará golpe profundo. (Belém Efrata - diz a profecia Do ventre duma virgem - de Maria Vos vai nascer o Salvador do mundo!)


PORQUÊ?


PORQUÊ? - Mãezinha, diz-me lá porque razão Eu fui nascer ali, nesse lugar, Se havia em toda aquela região Tanto outro sítio aonde pernoitar? Porque razão deixou a vida errante E veio visitar-me aquela gente E mesmo os reis de terra tão distante Vieram ver-me lá do Oriente? Porque razão mataram os meninos Da minha terra e nós os três fugimos Naquela noite longa, fria e dura? - Não sei, meu filho, sei que essa missão Devia levar graça e redenção Ao povo que ainda hoje te procura!


ELE VEM, É NATAL!


ELE VEM, É NATAL! Há quem discuta a data do Natal Mas não nos sirva isso como entrave, Que importa é que nasceu e afinal Quando Ele veio ou volta, só Deus sabe. Quer fosse no Outono ou Primavera Ou mesmo no Inverno, que mal tem? Sabemos que ele vive à nossa espera E foi gerado pela virgem mãe. Sabemos o que diz a profecia: - Em ti, Belém Efrata, vai um dia Nascer Jesus, o teu Libertador. Deixemos para trás toda a quezília E aguardemos juntos e em família A volta triunfante do Senhor!


Histรณria do Natal

SOLIS INVICTUS DEO


SOLIS INVICTUS DEO No tempo em que reinava Constantino, No dia vinte e cinco de Dezembro Havia muita orgia, muito vinho, Na festa do deus-sol, se bem me lembro. Mas, conta-se que em sua conversão, O Rei, para agradar ao povo, à gente, Quis transformar o seu rito pagão Num ritual cristão, bem diferente. E pela noite, um sonho peregrino Levou-o até Belém, a um Menino, De nascimento sobrenatural. E o dia do deus-sol (qual ser divino (?)) Talvez por ironia do destino, Se transformou no Dia de Natal!


Histรณria do Natal

O PAI NATAL


O PAI NATAL Nascido na Lapónia, o bom velhinho, Que fora um carpinteiro alegre e só, Fazia os seus brinquedos com carinho, Levava-os as crianças num trenó. Um dia, a Coca-Cola ao ver no velho Um instrumento tão potencial, Pegou em si, vestiu-o de vermelho E proclamou ao mundo o Pai Natal, E a publicidade, em frenesim, De Coca-Cola em riste, o fez assim De longa barba e ar bonacheirão. Então, foi esquecido o Deus-Menino Porque os presentes para o sapatinho O Pai Natal trazia em profusão!


Presépio de Glória Costa

É Natal



O MENINO


O MENINO Belém Efrata está alvoroçada! O povo se aglomera em todo o lado Cansado por aquela atroz jornada Atravessando o monte e o valado A jumentinha mansa ali andava Cansada, atormentada, já sem tino, Trouxera nessa sua caminhada A mãe e, no seu ventre, o Deus Menino Mas ao chegar feliz, p’ra seu espanto , Os dois não encontraram um recanto Aonde pernoitar, pela cidade E numa manjedoura, entre animais, No aconchego santo de seus pais, Nascia o Salvador da humanidade


É NATAL


É NATAL Numa choupana em Belém Um milagre acontecia Com seu pai e sua mãe O Deus Menino nascia Enquanto tudo dormia Naquela humilde grutinha Teve como companhia O burrico e a vaquinha Olhem que quadro mais lindo Nos braços da virgem mãe O menino está sorrindo Sua mãezinha também Ao longo da madrugada Tudo canta em seu louvor Pois nessa noite sagrada Veio ao mundo o Salvador


O BURRICO


O BURRICO De pelo pardacento e olhar brando, Ali ficou num canto do curral A ver aquela estrela que, brilhando, Anunciava a noite de Natal. Olhava à sua volta com desmando E os urros em surdina mal continha Ao ver essa criança despertando Do ventre puro e santo da mãezinha. Surpreso com este ato inesperado, Olhava o pai, dobrado em seu cajado, Junto ao rebento, com sentir profundo. E via a jovem mãe, p'la noite dentro, Com ele ao peito e com o sentimento Que ali nascera o Salvador do mundo!


MARIA


É Natal MARIA Maria, esse Menino que pariste Naquela rude e fria estrebaria Anda por ai vagueando, amargo e triste, E chora ao ver cumprir-se a profecia... Hossana nas alturas! Ele existe, Ondula pelas ruas cada dia Chamando, proclamando... e não desiste De um mundo novo em paz e harmonia. As novas desse humilde nascimento Que um dia receberam noite dentro Pastores que cuidavam do seu gado São réstias de esperanca na cidade, Prenúncio duma vida em liberdade Aonde não exista mais pecado!


OS PASTORES


OS PASTORES À volta da fogueira, ei-los cantando, Zelando p'los rebanhos com carinho, Ouvindo crepitar no pune brando Os ramos que encontraram no caminho A noite ia correndo. Eis senão quando, Luzente estrela surge lá no céu E lentamente chega e vai passando Enchendo de luar o escuro breu Miraculosa estrela! Num momento, Criou em qual um sentimento De liberdade e de um amor profundo. E ei-los caminhando serra dentro Alimentando o nobre pensamento Que lá nascera o Salvador do mundo!


É Natal

OS REIS DO ORIENTE


É Natal OS REIS O ORIENTE Ao contemplar os céus, o firmamento, Havia qualquer coisa que trazia À luz do seu fecundo pensamento A história que essa história contaria.

E Melchior, Gaspar e Baltazar Rumaram numa noite longa e fria Para Belém, buscar o lindo Lar Onde nascera o Rei da Profecia! Atravessaram todo o Oriente Levando no alforge por presente As novas do que estava a acontecer: O ouro o incenso, a mirra, qual verdade Da Sua Realeza, Divindade E morte que na cruz ousou vencer!


O MENINO


O MENINO Naquela manjedoura parca e dura Que fora já repasto de animais Nascera uma crianca linda e pura Na humilde companhia de seus pais E ali durante a noite fria, escura, Os anjos anunciaram aos demais O renascer naquela criatura Da paz e da esperanca entre os mortais E a gente humilde à volta da fogueira Velava pelo gado a noite inteira E ao receber as novas de alegria Lançou-se pelo campo e o valado E foi-se a espalhar por todo o lado A história de Menino e de Maria


O POVEIRINHO JESUS


O POVEIRINHO JESUS entre silêncios e bruma nessa noite longa e fria envolta num mar de espuma essa menina paria e nas medas de sargaço tendo o luar como luz tinha agora no regaço o poveirinho jesus

logo os párias do destino que vaguavam ao relento vieram ver o menino noite fora ao frio e ao vento numa noite de luar entre cantos de louvor, viera o lobo-do-mar p’ra salvar o pescador


SÓ, É NATAL!


SÓ, É NATAL Olhos nos olhos. Sento-me ao espelho, Do outro lado, um ser que não conheço; Sorriso amargo, um coração de velho, Lançando farpas, pedras de arremesso! Empurro a porta ( já sem caravelho ) Que ruge escancarada, do avesso, No assombro dum castelo gasto, velho, E agacho-me… e arrasto-me… e tropeço! Sou eu! Revolto e triste! Se soubesse O que é viver, se a vida me oferecesse As coisas que busquei dia após dia! Talvez, as mãos pró céu então volvesse! Quem sabe, se gritasse, em minha prece, Lá longe, o Deus-Menino me ouviria!


AONDE ESTÁS?


AONDE ESTÁS? Hoje procurei-te Em montras veladas Cobertas de enfeite Tão iluminadas Perguntei por ti Procuras frustradas Não sei não te vi Ali não estavas Vi crianças nuas Vagueando cansadas Lançadas nas ruas Muito esfomeadas Quando assim me vi Entre dor e mágoas Perguntei por ti Mas tu não estavas

E olhando ao redor Eu vi uma cruz Um rasgo de dor A si me conduz Perdido em seu brilho Qual raio de luz Gritaste: - meu filho Vem cá, sou Jesus! Lembrei o bercinho A gruta em Belém A vaca o burrinho O filho e a mãe O tempo que passa E o mundo sustém A vida devassa Dos homens também


NOITE DE NATAL


NOITE DE NATAL Dobrei aquela esquina. Ali num canto, Um pobre vagabundo mais um cão... Olhei com atenção... P'ra meu espanto, O cão comia, o vagabundo não! Nos olhos seus não vi temor ou pranto, Não senti dor, tristeza ou solidão... O vagabundo olhava-o com encanto, O cão lambia alegre a sua mão… Ao longe, na mansão iluminada, Ouviam-se por toda a madrugada Cantigas de louvor ao Deus-Menino. E o vagabundo olhando entre as estrelas, Agradecia ao cão as lambidelas, Quais prendas que lhe pôs no sapatinho.


TEMPO DE HARMONIA


TEMPO DE HARMONIA Tocam os sinos, Rejubilando, Ao Deus-Menino... Tempo de paz, De amor E de alegria! Anunciemos Com carinho A chegada Do Menino... Dia apรณs dia!

Feliz natal


FELIZ NATAL


FELIZ NATAL Neste Natal, a voz do pensamento Irei lançar ao vento num clamor E tu vais ser o eterno sentimento Que guardarei no peito com amor. E a luz do teu olhar em movimento, Rasgado pelo tempo e pela dor, Vai ser no nosso eterno firmamento A estrela que irradia luz e cor! Vem-me abraçar! No nosso sapatinho Só quero o teu amor... E o teu carinho Irradiará na pruma do pinheiro! E num abraço puro e singular, No teu olhar meus olhos vão brilhar E então vai ser Natal o ano inteiro!


NATAL, TU NÃO VIESTE!


NATAL, TU NÃO VIESTE! Hoje esperei por ti. Olhei a lua Na ânsia de te ver correr pra mim. Não tinha chaminé, vim para a rua Que a guerra destruiu tudo isto, assim! Os homens de vermelho ainda os vi Com seus presentes vis, incandescentes! Olhei com a esperança posta em ti Mas não, esses não eram teus presentes! Disseram que o Natal, tempo de paz, Momento de alegria, sempre traz Alguém - o Deus Menino, o Pai Natal... Mas não, tu não vieste! Eram dif'rentes, No seu alforge tinham mil presentes Que aqui deixaram: o ódio, a morte, o mal!


O MEU NATAL


O MEU NATAL Como um ladrão, espreito p'la vidraça E saio dessa pele de indigente, Tentando imaginar o que se passa Naquele estranho mundo à minha frente! Que triste! O desperdício que ali grassa Assalta o meu sentir delinquente; E perco-me a pensar em tal devassa Que insiste em perturbar a minha mente! E anseio entrar, prostrar-me ali na mesa, Sentado na poltrona, co'a certeza Do despertar de um sonho, uma quimera! Espreito p'la vidraça. Num instante, De novo, ali, sozinho, mendicante, Qual pária, nesse mundo à minha espera!


MENINO


MENINO Não fiques triste quando vais na rua E encontras um mendigo com seu cão Sentado numa berma, olhando a lua, E à gente que ali passa estende a mão. Se vires uma jovem semi-nua Olhando com olhar de insinuação, Não fiques triste e pensa, não é tua, E deixa-a nua em sua sedução. Se vires um jovem triste, quase velho, Que não consegue olhar-se num espelho Olhando com o seu olhar cansado, Vivendo o seu papel de arrumador, Não fiques triste e sente, por favor, Que a vida agora é assim cá deste lado.


O MEU POEMA DE NATAL


O MEU POEMA DE NATAL Deixemos que o menino nasça e cresça E espalhe amor e paz universal Porque o Natal, por muito que ofereça, Se não tiver Jesus, não é Natal. Nem Pai Natal, nem coisa que mereça Escaparate, luz ou arraial Serão p’ra nós, por muito que se peça, A verdadeira essência do Natal Jesus nasceu, nos reza a Escritura, P’ra dar ao mundo, a toda a criatura, Esp'rança e paz, saúde e bem-estar. De resto, enfeites, prendas, luz radiante, Só trazem ilusão e num instante Transformam Deus-Jesus num ser vulgar


OUTRO NATAL


OUTRO NATAL Vi-te despido, triste e agachado Mexendo e remexendo na lixeira, Em busca de alimento, pão lascado, Para enganar a fome a vez primeira Depois vi-te na rua esfarrapado, Prostrado lá num canto a tarde inteira A mendigar um ombro dedicado Para fazer de tua travesseira E ao ver essa criança entrar na luta Nos braços de uma jovem dissoluta Que anda pela vida ao Deus-dará, Qual pária, caminhei triste, sozinho, Na esp'rança de encontrar no meu caminho Um novo alvorecer, um amanhã!


É NATAL


AI, DEUS MENINO Ai, Deus Menino, desces lá dos céus Aonde eras honrado cada dia E vão-te colocar os filhos teus Para nascer em rude estrebaria Um burro e uma vaca te aqueceram Naquela noite longa, escura, fria Do velho pai se lágrimas vieram, Com tanto amor te olhava e te sorria. Nem reis nem sábios ali acorreram... Presentes os pastores te trouxeram Com gestos simples mas de amor profundo. E nesse sítio próprio de animais Sem lágrimas, lamentos, tristes ais, Nasceste, enfim, ó Salvador do mundo!


QUE NATAL


QUE NATAL Vejam bem o desatino Destes ilustres mortais Deixar nascer o Menino Num casebre de animais Que frio, como está frio Na choupana do Menino Que se aquece co’o bafio Da vaquinha e do burrinho Vamos numa correria Levar-lhe com emoção O calor e a alegria Que nos vai no coração Neste dia de harmonia E de paz universal Façamos de cada dia Mais um dia de Natal


UMA ESTRELA


UMA ESTRELA Era uma estrela branca, luzidia, Que veio do espaço sideral E anunciou na noite desse dia, Um nascimento em tudo especial. É noite de vigília, longa, fria. A sua luz intensa, tão natural, Quedou-se junto à humilde estrebaria E iluminou a gruta, a serra e vale. E foi-se... E anunciou a toda a gente Pastores, camponeses, no Oriente, Aos reis daquela terra original, Que ali, entre animais, José, Maria, Naquela humilde gruta, renascia A Essência do Amor!... E foi Natal!


Presépio de Glória Costa

Memórias


Memรณrias


Memรณrias

O NATAL DA VAQUINHA


Memórias O NATAL DA VAQUINHA Com muita honra e prazer Venho aqui anunciar Que uma linda mulher Veio em meu leito gerar

Burrico, vem por favor Nesta noite longa e fria Dar um pouco de calor Ao menino e a Maria

Chegaram de Nazaré Após longo caminhar E nem ela nem José Tinham onde pernoitar

Estou contente e feliz Nesta noite iluminada Co'a senhora e o petiz Estou bem acompanhada

Esta minha manjedoura Vai ser o repouso seu Há melodias lá fora São os anjos lá do céu

Andam cânticos no ar São os pastores á porfia Parecem querer cantar Para Jesus e Maria

Vou dar-lhes o meu cantinho Chorai, ó homens sem tino Humilde para dormir Bradai alto, em tristes ais, Olha-me bem o menino Lançastes este menino Que não para de sorrir Numa curra de animais Sinto o coração em brasa E esse sentir é profundo Pois nasceu na minha casa O Salvador deste mundo


AS PRENDAS DO MENINO


Memórias AS PRENDAS DO MENINO Neste Natal, em plena madrugada, No novo lar feliz que tanto auguro Queremos receber por consoada A luz do Seu olhar tão doce e puro. E juntos, mais felizes e libertos, Na casa de Pedrito, o benjamim, Os nossos corações serão despertos Com banhos de verdura e de alecrim. Durante a noite, quando Ele vier, Nós vamos do Menino receber Com canto e oração, o Seu ensino. E ao vê-Lo olhar feliz e a sorrir, Iremos, confiantes no porvir, Abrir o coração ao Deus Menino!


O NATAL NA MINHA ALDEIA


Memórias O NATAL NA MINHA ALDEIA Saudades dessa minha eterna aldeia Perdida num recanto, lá no Minho... A natureza as vezes nos premeia Fazendo-nos lembrá-la com carinho. Como era bom entrar, a casa cheia, A árvore, os enfeites de azevinho E na lareira o fogo que se ateia Pra dar maior conforto ao nosso ninho. O pai Armando, alegre, dava o mote E toda a pequenada ia a reboque Cantando com louvor ao Deus-Menino... E quando a noite vinha, já sem luz, Ansiosos esperámos Jesus Co'as prendas para o nosso sapatinho!


O MENINO JESUS


Memórias O MENINO JESUS Noite de consoada. Num cantinho Da sala espalhávamos no chão O musgo do presépio e o Menino, Guardado para esta ocasião. Por cima tinha um grande pinheirinho Laivado com montinhos de algodão E ramos com bolinhas de azevinho Ou bolas coloridas de bombom. E na magia dessa consoada, Confiantes, junto à arvore enfeitada, Deixávamos o nosso sapatinho. E quando a luz da aurora já raiava No despertar da curta madrugada, Corríamos às prendas do Menino.


NATAL


Memórias NATAL Que frio! Cai a neve lá na aldeia... E os pequeninos correm ao quintal Em busca de pedrinhas e de areia Para o presépio deste seu Natal. E partem pelo vale, pelo monte, Colhendo musgos, líquenes, azevinho, À espera que a avòzinha venha e conte A história da vaquinha e do burrinho. E mesmo com as mãozinhas tão geladas, Constroem seu presépio... E animadas Co'as luzes que dão brilho ao seu redor, Revivem o Natal da sua aldeia E toda essa magia que rodeia A história do Menino Deus de Amor


MISSA DO GALO


Memórias MISSA DO GALO É quase meia noite... O galo canta E os sinos já não param de tocar... E lá na aldeia o povo se levanta E o Menino Deus vai adorar. E nessa devoção o que me encanta É ver tanta alegria pelo ar E, no silêncio, a paz na noite santa Descer dos altos céus a cada lar. Repicam sinos como ao desafio E a gente alheia à noite, à chuva, ao frio, Devota, vai cumprir a tradição... E quando o rito acaba, toda a gente Regressa para o lar feliz, contente, Com seu Menino Deus no coração!


O PRESÉPIO


Memórias O PRESÉPIO No natal da minha aldeia Tudo era tão diferente Havia barriga cheia E alegria entre a gente

Era tão grande a alegria E o povo fazia jus Co'a chegada de Maria E do menino Jesus

Umas bolinhas de vidro, Efeito multicolor E algodão convertido Em neve, com muito amor

São José, nossa senhora E o menino Jesus Pastores p,los campos fora E uma estrela dava luz

Ainda mal o sol nascera, Íamos nós, valentões, Apanhar musgos e hera Pinheiro, pinhas e pinhões

Uma vaquinha, um burrinho, Ovelhinhas com fartura Três reis a meio caminho, Tanta, tanta criatura

O presépio era montado Com muito amor e carinho Ali, um papel pintado E umas folhas de azevinho

E com toda a devoção, Com carinho, com respeito, Se alegrava o coração ‐ O presépio estava feito

E toda a gente sorria, Convívio, barriga cheira Era assim que se vivia O Natal na minha aldeia


CEIA DE NATAL


Memórias CEIA DE NATAL Chegada a hora da Ceia, Tudo se senta ao redor Dessa mesa farta, cheia De carinho, muito amor

Amêndoas, figos e nozes, Uvas passas pela mesa, Para afinar nossas vozes Para a festa, com certeza

Batatas com bacalhau, Molho de azeite, beleza, Com troços a dar co'pau De couve, da portuguesa

Anda magia no ar E muita, muita alegria Porque a festa vai durar Toda a noite, ate ser dia

Vinho tinto era aquecido Com pedaços de maçã; Adocicado, servido, Melhor bebida não há

O nosso pai dava o mote Com o fado da Favela Daquela mulher sem sorte Do café e da tigela

Há doces por todo o lado: Rabanadas, aletria, Formigos, creme queimado, Regados com malvasia

Rapa, tira,deixa, põe, Começou a brincadeira, Toda a gente se dispõe A brincar a noite inteira


Memórias

"Uma pomba duas pombas Três pombinhas a voar Uma é minha outra é tua Outra e de quem a agarrar"

Um carrinho de folheta Bonecas de papelão E para alegrar a festa Rebuçados de tostão

E a festa continuava Tão cheia de frenesim, Muito se ria e cantava O Trevo e o Alecrim

Naquele humilde cantinho O nosso lar, doce lar 0 amor e o carinho Não paravam de brotar

No meio da pequenada As prendas faziam jus Pois toda ela aguardava A chegada de Jesus

Agora sinto saudade Muita saudade, diria De tanta felicidade Que nesse tempo vivia

Uma dúzia de bombons Umas meias a estrear, Com papéis de muitos tons Para a árvore enfeitar

Natal, ó quanta alegria! E se todos, afinal, Vivêssemos cada dia Como um dia de Natal?


Memórias NATAL Neste tempo de alegria É z melhor ocasião Pra cantar com alegria E abrir o coração Lá na igreja toca o sino Anda a alegria no ar Pois Jesus o Deus menino Já nasceu pra nos salvar


CEIA DE NATAL


Memórias CEIA DE NATAL Sentado à mesa. O bacalhau, a couve, Regados com um molho especial... Olhei para os teus olhos, então, soube Que havia aqui chegado o Pai Natal... E pus-me a cogitar com meus botões: - Porque é que ela, a minha doce amada, Me vem encher de afetos, de ilusões, No despertar de cada madrugada? E ao mergulhar na senda desse amor, Eu descobri que seja porque for Tu és toda a razão da minha vida... Durante cada instante, nesse dia, Perante tanto doce e iguaria Tu foste a minha ceia preferida!


DIA DE NATAL


Memórias DIA DE NATAL É dia de Natal. Os filhos, netos, A casa vão enchendo. Essa alegria Dos filhos abraçar - tempos diletos, Nos levam a sonhar num outro dia. De longe, lá da Serra da Lousã, Chega o primeiro, a prole em movimento; E de Vizela um outro nos virá Com netos p'ra alegrar este momento. E de Valongo chega outro rebento, Criando em todos nós o sentimento Solene da família reunida. É dia de Natal. Eu sei que um dia Iremos desfrutar desta alegria Nos braços do Menino, toda a vida!


NATAL DA MINHA INFÂNCIA


Memórias NATAL DA MINHA INFÂNCIA Bem de manhã saltávamos da cama E íamos ao musgo, ao azevinho, Para montar a simples choupana Aonde aconchegar o Deus-Menino E,recolhidos líquenes e rama E enfeites que surgiam no caminho, Voltávamos felizes, com a chama Pra iluminar o nosso pinheirinho E pela tarde, enquanto na cozinha A tia Panxa andava co'a Geninha Fazendo rabanadas, aletria, Partíamos pinhões, nozes e figos Para deitar por cima dos formigos, Rapando os tachos, cheios de alegria!


FELIZ NATAL, MANA


Memórias FELIZ NATAL, MANA As tuas mãos, tais cheias de certeza Moldavam mãe e pai e o Menino Com delicado amor, quanta beleza, Com esse instinto artístico, divino. E, gradualmente, surgem na lembrança A estrela e a vaquinha e o burrinho, A tosca gruta, tempos de bonança Que deixam mil pegadas no caminho. E, de repente, um gosto amargo-doce Que surge em teu viver como de fosse Paradoxal sentença, qual perfídia! E o teu olhar apático, sombrio, Nos surge, tal qual fosse um desafio Que quer mudar p'ra sempre a nossa vida!


O TEU PRESÉPIO


Memórias O TEU PRESÉPIO Juntavas leite e ovos com farinha, Açúcar e um bom Porto em profusão; Batias tudo aquilo que lá tinha, Fazias-te varinha de condão. E à massa singular que dali vinha Havias de entregar o coração; No forno, em lume brando se retinha, Cobria-la depois com massapão. E em tuas mãos nascia a obra de arte, Envolta de carinho. E a melhor parte Gradualmente estava a acontecer. Já pela noite, cheios de alegria, No teu presépio, à mesa, nesse dia, O Deus Menino havia de nascer!


Presépio de Glória Costa

Conto



Conto

O POVEIRINHO JESUS


Conto O POVEIRINHO JESUS Ali, junto ao Fieiro, enquanto olhava os pequenos caícos que iam cruzando a barra, José, conhecido na comunidade como o Zé da Russa, andava com alguns amigos a consertar as redes que dia-a-dia serviam os seus companheiros na labuta da pesca. O peso das suas dezenas de anos não lhe permitiam já a afoitar-se assíduamente na rude faina a pesca e por isso, por ali ficava com outros amigos na tarefa do conserto das redes. Vivia com Maria, a sua companheira, numa pequena arrecadação da Ilha do Serôdo, nos confins do Bairro Sul, que repartia com mais uma dezena de famílias humildes como a sua.


Conto

A esposa era uma jovem de dezasseis anos, mas mandava a tradição que a gesta poveira casasse entre si, para que mantivesse a sua raça e identidade ancestral. Ela era ainda sua prima em terceiro grau e era considerada no bairro como a mais bela de todas as mulheres. O seu casamente era visto com alguma preocupação e desconfiança tendo em conta a sua juventude, mesmo tratando-se duma jovem de comportamento irrepreensível. . Ele, religiosamente, resguardava a sua imagem e protegia-a com carinho, sem nunca ter consumado a sua verdadeira união física. Um dia, Maria foi visitada por ti’Bel, a filha do Peroqueiro, sua tia, pessoa


Conto

respeitada por toda a comunidade por pertencer à prestigiada família dos Peroqueiros, linhagem antiga das gentes do mar. Ao vê-la,Maria cumprimentou-a com respeito e carinho. Esta,aproximou-se e segredou-lhe que bem cedo iria dar à luz uma criança. Quando ouviu tal notícia, Maria corou e disse: - Qual quê, minha tia? Eu e José nunca consumamos a nossa relação de marido e mulher! - Não me perguntes quando nem porquê, porque não sei responder-te. Mas que vai acontecer, isso vai. Fui instruída para te dizer, minha filha!

E partiu dali sem mais palavra ou explicação.


Conto

O mar estava calmo. No Fieiro José consertava redes com amigos, enquanto conversava m olhando o mar. - Então, vais ser pai – dizia com um ar sarcástico o Nia da Ti’ Rita. - Pai? Como se nem sequer consumei ainda a nossa relação?

- Não? Ó homem, coisas do Divino! – e soltou uma gargalhada Perante o olhar atónito de todos, José correu para casa ao encontro de Maria. Esta, aflita, contou-lhe o encontro com Ti’ Bel. E aflita, nada mais soube dizer de como isso aconteceu.


Conto

O tempo passava e Maria, agora meio enjeitada pela sua comunidade, ia cuidando com zelo e carinho o crescimento da criança. Um dia, o Comandante do Porto das duas cidades mandou que se fizesse um recenseamento geral da gesta poveira a fim de aquilatar com segurança o seu tamanho e melhor gerir os impostos a angariar. O Recenseamento seria no correr de um só dia e teria lugar lá nos confins do Bairro Norte. Prevendo um longo dia, de filas contínua e muito cansaço, Maria preparou um pequeno farnel e foram, ela, José e no ventre o Menino.


Conto

A fila era longa e não havia condição ou lugar onde repousar naquelas condições precárias, com a criança prestes a darse à luz do dia.

Anoiteceu e o recenseamento ia ainda muito longo. Ao verem-na gemendo com dores, para não ser vista a parir a criança, vou levada para o meio de umas medas de sargaço existentes no início da aldeia e ali, à luz duma pequena candeia, acabou por parir a criança. Um cão rafeiro que andava à procura de comida (ou amigos)uivando baixinho, aproximou-se e carinhosamente lambia a criança e com seu bafo a aquecia. Naquelas longas horas, os párias da noite foram aparecendo com pedaços de pão e algum alimento que restara.


Conto

Rodeavam o Menino e sorriam para o humilde casal ajudando-o no aconchego com a sua vasta experiência de noites ao relento. Ainda mal o sol despontava e já um bando de gaivotas sobrevoava as medas de sargaço, num voo leve, espalhando ao redor em sons harmoniosos a boa nova de que no meio dumas medas desertas, nos confins da aldeia, ao som harmonioso da maresia, numa noite encantadora de luar, o Poveirinho Jesus nascia e havia de crescer para se transformar num lobodo-mar que um dia daria a sua vida para resgatar das águas desse marcão todos aqueles que na sua fúria ele ameaçasse tragar.


Presépio de Glória Costa

Musica


Música


Música

O POVEIRINHO JESUS


Música O POVEIRINHO JESUS Música de António Teixeira

No seu humilde bercinho Colocado sobre a areia Quis nascer o Deus Menino Entre doce melopeia Nessa noite fresca amena Ali mesmo ao pe do mar A vaquinha tão serena Não parou de bafejar Era inverno quem diria Que na Póvoa de Varzim José a Virgem Maria Iam ter um filho assim

Nessa noite de luar Coberta de paz e luz Nascia junto do mar O poveirinho Jesus


Música

UMA ESTRELA

Música de Verdi (Marcha de Escravos)


Música UMA ESTRELA Música de Verdi (Marcha de Escravos)

Uma estrela surgiu Lá nos céus de Belém Para dar luz radiosa A toda a Terra Um menino nasceu Numa gruta no além E crescer e ensinou E pregou O fim da guerra No Jordão Vi-o emergir Em paz e amor Renasceu E o seu rosto Era brilho, esplendor


Música

A alegria surgiu Entre luz, som plangente, Querubins e anjos mil A cantar com toda a gente Em jesus nasce a luz Que nos conduz à salvação Nasceu, cresceu, morreu P'la liberdade O Senhor, bom Pastor É paz e amor, imensidão Caminho que nos leva À eternidade


Música

Lá na cruz vi Jesus expirar A inimigos cruéis confortar Vida eterna oferece Com seu grande amor Se aceitarmos com gozo e com fé O bom Redentor Crede pois em Jesus Nossa paz nossa luz Crede pois no senhor Nosso libertador


Música

VAI VOLTAR

Música de Johnny (Ghosth Riders in the Sky)


Música VAI VOLTAR Música de Johnny (Ghosth Riders in the Sky)

Há muito, muito tempo Entre os campos de Belém Se ouvira que nascera Uma criança singular O menino crescia E a multidão dizia Que vinha Mataram o Senhor Que vinha pra salvar Vai voltar Vai voltar Há de voltar Há de voltar Cristo Cristo Vai voltar


Música

O tempo se passava E aumentava o seu clamor E quando ela falava A gente ouvia com ardor Mas o erro apontou E o povo não gostou Mataram Vai voltar Vai voltar Há de voltar Há de voltar Cristo Cristo Vai voltar


Música

Dois mil anos passaram E alguém acreditou Nas solenes mensagens Que um dia quis deixar E aguarda essa criança Tão cheio de esperança Que um dia Que um dia vai voltar Vai voltar Vai voltar Há de voltar Há de voltar Cristo Cristo Vai voltar


Tempo de Natal

Ficha Técnica

Título: TEMPO DE NATAL Autor: JOSÉ SEPÚLVEDA

Capa: GLÓRIA COSTA Formatação: JOSÉ SEPÚLVEDA PUBLICADO EM DEZEMBRO 2017


EDIÇÃO E-BOOK DEZ 2017


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