Domingo, 26/Novembro/2017
BAZAR 15
ENTREVISTA ADAMA PARIS
“Meu ativismo é fazer dinheiro. Dinheiro é poder e te leva onde você quiser” Daniel Silveira |
OMAR VIKTOR/DIVULGAÇÃO
queria fazer moda negra. Percebi que preciso ser ativista no que quer que eu faça. E quero patrocinadoresquemeapoiemassim. Porisso,paramim,aBFWéuma extensão mais poderosa da DKF.
dansilcruz
daniel.silveira@redebahia.com.br
Essa é a bandeira de Adama Amanda Ndiaye, 40, conhecida como Adama Paris, criadora da semana de moda do Senegal, a Dakar Fashion Week, e do selo Black Fashion Week. “Meu ativismo é colocar valor nas coisas, fazer dinheiro, porque ele é poder, te leva onde você quiser”, comenta a estilista. Em passagem por Salvador, ela conversou com o BAZAR e falou sobre moda, ativismo e cultura negra. Como foi do banco para a moda? Meu pai queria que eu seguisse uma carreira como Medicina ou Economia.Agentefezumacordo que, quando acabasse de estudar, eu poderia fazer o que quisesse. Ele achou que eu esqueceria. Terminei os estudos e comecei na moda, mas meu pai foi contra. Aí comecei a dançar para juntar dinheiro. Sempre quis ser designer? Sim. Com 9 anos, minha mãe melevouparaumdesfiledeYves Saint Laurent e eu disse: ‘é isso
que eu quero ser’. Fiquei impressionada porque, naquela época, ele era o único designer branco a usar modelos negras. Como nasceu a Dakar Fashion Week (DFW)? Quando terminei minha primeira coleção, na França, vi que era boa e me perguntei: ‘onde vou mostrar isso?’. Era difícil: sou negra, não tinha dinheiro nem as relações necessárias. Me tornei designer com diploma, e nada aconteceu. Então, voltei para o Senegal e lá não tinha semana de moda. Daí eu criei. E a Black Fashion Week? É uma continuação da DFW, uma forma de mostrar moda negra fora da África. Eu quero conquistar o mundo. Como foi o início? Tive problema com o nome. As pessoas não gostavam do ‘black’. Fui à L'Oréal e me disseram que se eu colocasse African Fashion Week, patrocinariam. Aí começou meu ativismo. Só
Você tem que se mexer, se tornar ativo para causar mudança ou você não vai ser a pessoa a mudar o jogo A estilista conta que não pode haver transformação se optarmos por esperar reclamando
Como é seu ativismo no trabalho? Especialmente para incentivar jovens. Acho que sou um bom exemplo. Não sou de sair às ruas complacas,masseiqueénecessário. Meu ativismo é colocar valor nas coisas e fazer dinheiro. Porque dinheiro é poder e leva onde você quiser. Algumas pessoas dizem que não sou artista, e sim mulher de negócios. Hoje emdiaprecisamosserosdois.Se não pensar o negócio, você fecha. Para competir com o sistema branco, isso é preciso. Isso influencia outras pessoas? Agora promovo Carol [Barreto, que desfilou na Black Fashion Week de Paris e no AFD] e ela podepromoveroutrapessoa.Isso é ativismo. Você conhece o AFD? Sim e estou muito triste de ter perdido. Cheguei logo depois... Como vê eventos desse tipo? É maravilhoso. Para mim não existe competição. Quanto mais, melhor. Expande o espaço. Uma coisa acrescenta mais valor ainda à outra. Gostaria que houvesse mais eventos assim.