Corrente 07

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Volume 1—edição 07

Janeiro de 2018

diretor e editor — Afonso Rocha

Corrente d’escrita

AÇORIANOS HÁ 270 ANOS EM FLORIANÓPOLIS


Corrente d’escrita

Não partiram da ilha! Eles vieram

Portugal, no seu todo, concretizava a sina de dar mais mundo ao mundo, se encastrar numa, ou em várias enfrentando os adamastores do alto outras ilhas, cercados por matagais, mar, plantando noutras planuras, feras e mil outros perigos descomais arraiais, mais sonhos, mais funhecidos. turo. Vieram de longe, deixaram saudades Desterro, na ocasião pouco mais que um amontoado de casas modestas e sonhos perdidos. E o "norte" que tinham perdido, encontraram-no no construídas em madeira e lama preSul. Das nove estrelas plantadas nas parou-se, apressadamente, para receber os ilustres desbravadores. A brumas do Oceano, vieram concenalguns foram destinadas terras, trar-se na mais bela e mágica ilha ferramentas, utensílios, arma e alencantada. gumas sementes, que tiveram de calcorrear por picadas, nem sempre utilizáveis. Mato grosso, obstáculos “No cais da saudade, e animais bravios tiveram de ser morre um sonho mais; vencidos.

Sou eu, de sonho, indo, para nunca mais”

Viajaram amontoados em porões imundos onde faltava tudo que é essencial à vida e apartados os casais, física e afetivamente, as mulheres dormindo com os filhos menores, fechadas, e guardadas por homens “de bem” armados até aos dentes. As doenças alastravam pelo convés, e o número dos que partiram, à chegada, já estavam reduzidos. Os acidentes a bordo, as doenças, o mau tempo e os naufrágios empurravam os aventureiros, plantadores doutros sonhos e terras, para o fundo do mar tenebroso. Lá longe, já às portas do Desterro, os colonizadores vertiam saudades do Pico, de São Miguel, de Santa Maria, da Terceira, mas também da Madeira, das terras do Minho, das Beiras, da Estremadura, do Ribatejo, Alentejo e Algarve. Página 2

os lados do Sul. Completa a divisão, em freguesias, da linda ilha da magia, já no tempo reconhecida como tal pelos guaranis, muitos dos açorianos e companheiros, seriam transplantados para as terras continentais, seguindo uns para o Norte e outros para o Sul, dando fundação a outros amontoados, base de novas freguesias e lugarejos. Deste vir e ir, começaram a pintalgar a costa litorânea catarinense de outras cores, de outros sabores, outras culturas, magia e religiosidade. Foram mais que seis mil estes bravos homens e bravas mulheres, uns mais novos e outros mais velhos, desbravadores e colonizadores do Outros, aguardando a marcação de pátrio chão catarinense, chorandoseus lotes prometidos por sua altese as inúmeras vidas perdidas, como za real dom João, foram alojados a centenas de madeirenses que nauem tascas, pensões e até ocupando fragaram no mar nordestino e dos partes das casas dos já habitantes mais de oitenta outros que não chedesterrenses, às custas de sua exgaram ao distante Rio Grande, por celência o governador. Outros ainda, terem também naufragado na ponta ainda cambaleando da viagem longa sul da ilha de Santa Catarina. e acidentada, foram metidos em → página seguinte outras barcas e recambiados para


Volume 1—edição 07

O sangue lusitano, que já corria pelas ruelas do Desterro, alastrou-se por todo o litoral, subiu e desceu a serra, entranhou-se por difíceis labirintos e os legumes, as frutas, os cereais, os usos e os costumes passaram a marcar a vida catarinense e rio-grandense. A pegada açoriana, madeirense e portuguesa do continente trouxe outros cheiros, outros sabores, outros saberes, que enrodilhados com os costumes e saberes guaranis elevaram, ainda mais, a nossa riqueza local e nacional. Mas como não vivemos de portas fechadas, entraram outros saberes,

outras cores, outros gostos e proconsumo da mandioca que aprendejetos, fundando desse modo a cultu- ram com os guarani. ra e o estado catarinense, que receAfonso Rocha—escritor beu e recebe quem por bem dele quer fazer parte. Marcas desse passado e desse presente encontramos por toda a parte. Desde o Ribeirão da Ilha e Santo Antônio de Lisboa, passando pelo Mercado Público e a antiga alfandega até ao empedrado das praças e calçadas gastas, a vida dos colonos e desbravadores está presente. Legaram-nos as artes da pesca, os engenhos da cana do açúcar, as rendas de bilros, as tradições alimentares, a religiosidade, o cultivo e o

Caro Escritor, divulgamos gratuitamente, aqui no Corrente d’ Escrita, o seu livro. Mande-nos um resumo do mesmo, uma pequena biografia sua e uma foto da capa. narealgana@gmail.com darocha.afonso@gmail.com

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tomava as mezinhices que a mulher lhe preparava. Às vezes embirrava de não dormir, e caso houvesse de amanhecer em pleno campo no frio. Ninguém podia com ele. A vó Nanda, um serafim de encanto, enrugadinha e formosa, era um anjo de bondade e meiguice. Está no céu, com Nossa Senhora. E agora esta faiança, uma desfalcada pilha de pratos tão delicados, um lavor de Benita, vem aqui ao pé de mim, a debulhar saudades esquecidas no fundo deste baú. Nele mora e nele bate porcelana trabalhada no Reino, sempre ouvi dizer que o coração da lembrança da nossa gente de antanho, Foi foi legado da bisavó que morreu na travessia. O chapéu amarrotado que puxaste desse canto foi pertence trazido na viagem da minha bisavó Maria Amália, que tanto cuidado lhe teve a ponto de vê-lo desmantelado do bisavô Jordelino, que com ele ia à Câmara, com este alto chapéu preto de abas largas abarracadas. Estes e perdido nos maltratos da marujada. Mas inteiro ele botões dourados guarneceram uma farda de garboso chegou, ela mesma é que se perdeu no desmantelo da soldado do Regimento de Linha, um traje do meu pai morte que muitas vidas roubou em asperezas de dor José Maria, aquele que sozinho combateu e desfeiteou no balanço da nau ingrata. A triste desventurada! Olha, repara, toca, a arca dos seus desvelos está inda a milícia espanhola, uns dez mil homens armados em rija e firme. Só o fecho e as cantoneiras se cobriram mais de cem navios de guerra! Cada vez que considede ferrugem. Também envelheceu nas rugas dos arra- ro… Foi uma tormenta que nesta ilha se abateu como nhões. Tenho os olhos cansados, que já se querem cer- se fosse uma tempestade de chuva e vento. rar, é assim hora de te fazer guardiã desta herança da alma. Vamos ao rol, minha neta, das coisas aqui guardadas desde as terras d’além-mar, aviventando memórias. Este rico atoalhado desprendendo alfazema poucas vezes foi usado, só em festas, casamentos, natais, um batizado. Veio lá da outra banda do mundo, das ilhas açorianas, lá onde cedo tiveram seu bonito amor cativo minha avó rapariguinha, meu avô rapazola. Ela chegou na primeira, ele na segunda leva, aqui logo se casaram e sesmaria ganharam rente ao sítio dos pais dela, no Saco dos Limões. Agora espia que lindos lençóis de linho! Quantas noites de amor nos seus vales madrugaram…

Açorianos, há 270 anos... Arca—I

A touca que tens nas mãos parecendo um capuz de freira era de uso nas searas terceirenses pelas mulheres do povo. Do sol decerto abrigou as bisavós de outrora. E esta pedrinha branca? Lê se puderes o que foi aí escrito, mas sei bem que não podes, que pela força do tempo as letras desmereceram. Um dia minha avó Nanda me confiou o segredo: dum lado as duas palavras eram—Sempre constante - e do outro, revira, ela gravou—Duda-Nanda 1748. Esse amor durou toda a vida e nunca, nunca, se acabou. Lembro deles bem velhinhos. Os dois juntinhos sentados lá no banco da cozinha. Sempre fiéis eles foram a um juramento feito de constância e lealdade, e ajustaram que o quebrador da palavra não voltasse para o outro nunca mais os olhos falsos. Cumpriram pela vida toda essa jura da juventude. Conheci os dois velhinhos. O vô Duda, muito teso e teimoso, só fazia o que queria, rejeitava, não Página 4

SOBRE O AUTOR Osvaldo Ferreira de Melo: Almiro Caldeira de Andrada tem sido, ao longo de sua atividade intelectual, extremamente fiel a um tema que lhe toda de perto. Refiro-me à saga açoriana que, como história, o escritor domina em razão de sua reconhecida erudição, e, como estórias e lendas, o ficcionista cria, recria, vivifica com sua sensibilidade e arte.


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Florianópolis Santa Catarina +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com Loja virtual: narealgana.lojaintegrada.com.br

Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura e a cultura em geral. Não nos move qualquer interesse comercial , pelo que, os nossos serviços / trabalhos de divulgação não implicam qualquer pagamento. Chamaremos para colaborar com o corrente d’ escrita os escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir gratuitamente o presente Boletim Literário.

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Dicas de português... Por que / Por quê / Porque ou Porquê?

que prejudicará você mesmo (uma vez que).

Porquê: é substantivo e tem significado de “o motivo”, “a razão”. Vem acompanhado de artigo, pronome, adjePor que tem dois empregos diferenciados: quando for a junção da preposição por + pronome interrogativo tivo ou numeral. ou indefinido que, possuirá o significado de “por qual Exemplos: O porquê de não estar conversando é porque razão” ou “por qual motivo”. quero estar concentrada. (motivo). Diga-me um porquê para não fazer o que devo. (uma razão) Exemplos: Por que você não vai ao cinema? (por qual razão). Não sei por que não quero ir (por qual motivo).

Por Sabrina Vilarinho—Graduada em Letras.

Escrevendo assim, você não passa mesmo!... Quando for a junção da preposição por + pronome relativo que, possuirá o significado de “pelo qual” e poderá ter as flexões: pela qual, pelos quais, pelas quais. Exemplo: Os lugares por que passamos eram encantadores. (pelos quais) Por quê: quando vier antes de um ponto (final, interrogativo, exclamação), o por quê deverá vir acentuado e continuará com o significado de “por qual motivo”, “por qual razão”. Exemplos: Vocês não comeram tudo? Por quê? Andar cinco quilômetros, por quê? Vamos de carro. Porque: é conjunção causal ou explicativa, com valor aproximado de “pois”, “uma vez que”, “para que”. Exemplos: Não fui ao cinema porque tenho que estudar para a prova. (pois). Não vá fazer intrigas por-


ô catarina

Suplemento Cultural de Santa Catarina, a publicação trimestral do estado—através da Fundação Catarinense de Cultura catalisador da produção literária e artística catarinense e brasileira www.fcc.sc.gov.br/ocatarina


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Vida académica... Em dezembro foram eleitos como Membros da Academia Catarinense de Letras mais dois ilustres imortais: Maria Teresa de Queiroz Piacentini, de Joaçaba, residente em Florianópolis, formada em Letras e Mestre em Educação. Apolinário Ternes, é escritor, autor de vários livros entre os quais “A Estratégia da Confiança” e “Vôo do Condor”. É de Joinville.

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