Corrente d'escrita 58

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Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 Corrente d’escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil Fundado por Afonso Rocha julho 2017 www.issuu.com/correntedescrita Ver pág. 6 >>>

Santa Catarina Brasil +55 48 991 311

narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha

Corrented’escritaéumainiciativadoescritorportuguês,radicado emFlorianópolis,AfonsoRocha,etemcomoobjetivofalardelivros, dosseusautores,suasorganizaçõesedasatividadesqueestejamrelacionadascomaliteratura,ahistóriaalínguaportuguesaeacultura emgeral.

ChamaremosparacolaborarcomoCorrented’escritaescritorese agentesliterários,aqualquernível,cujacolaboraçãoseráexclusivamentegratuitaesemqualquercontrapartida,anãoser,ocompromissoparadivulgar,propagaredistribuiresteMagazineLiterário. Oenvioparapublicaçãodequalquermatéria(textooufoto)implicaa autorizaçãodeformagratuita.Asmatériasassinadassãodaresponsabilidadeexclusivadeseusautoresenãoreflete,necessariamente,a opiniãodeCorrented’escrita.Asimagensnãocreditadassãodo domíniopúblicoquecirculamnainternetsemindicaçãodeautoria.As matériasnãoassinadasãodaresponsabilidadedaredação.

cerumlinkdamesma? Obrigadíssima, tambem, pela publicaçao domeutexto! Grandeabraço, Urda

ta do mes de setembro, do bicentenario daindependenciabrasileira.

Excelentes os diversos artigos sobre o 7 deSetembro,umaesclarecedoraedidatica aula sobre tao importante fato da historiabrasileira.

OCorrented'escritadessemesdeSetembro sintetiza toda a sua trajetoria...a de nos trazer fatos historicos que esclarecem muitas duvidas e alguma falta de informaçao e ate interesse de nos brasileiros em de fato termos o conhecimento verdadeirodanossahistoriaedasnossas relaçoescomPortugal.

Doinício aofim, todos os artigos e materiasvemrecheadosdemuitaelucidaçaoe clareza dos fatos historicos que marcaram nossa trajetoria ate hoje do BicentenariodaIndependencia.

Com muita pluralidade nas ideias, emoçoes e nacionalismo, acho que aqui temos um registro muito importante da nossahistoriaquedevemoslereguardar comodocumento.

Parabens, Afonso por nos trazer todo esseconhecimento.

Maria Da Luz

CaroAfonso,obrigadíssimapeloenvioda Corrente d’Escrita relativa ao bicentenario da nossa independencia fez me deixar de pensar no Imbrochavel. Esta uma beleza, tanto de textos quanto de ilustraçoes! Quantos quadros desses eu nunca vira!Gostaria muito de divulgara revista toda no meu facebook, que tem mais de 6.000 seguidores. Terias como me forne-

PrezadoamigoAfonsoRocha, Os meus parabens pela sua iniciativa. Li com interessee com atençao odocumentoquemeenviou.Louvooseutrabalho. Tambemlimaislivrossobreahistoriado Brasil, nomeadamente: Brasil: uma biografia (Schwarcz e Starling) e 1822 (Laurentino Gomes). Da minha leitura e da minha observaçao aqui no Brasil começo a entender melhor certas coisas. O desconhecimento e o preconceito contra Portugal e os portugueses surpreendem meeultrapassamoqueeuimaginava. Por isso sinto necessidade de ler e esforço meporentenderarazaodetantodesconhecimento.

Nesse sentido, acabei de ler um livro de CarlosFinoquemeajudouimenso.Araiz da estranheza, que e mutua, esta aí bem descrita e analisada.: Raízes do estranhamento: a (in) comunicaçao Portugal Brasil, Universidade do Minho e UNB. Ficaumabraço, Duarte Gomes

Nossos aplausos pela beleza da apresentaçao e conteudo feito com todo o esmero.

Felicidadesesucesso. Vera De Barcellos Escritora,MusicistaeArtistaPlastica

ParabenspelaediçaodoCorrented’Escri-

Umabraço.

Acadêmico JJLeal Cadeira31daAcademiaCatarinensedeLetras

Suarevistaestaprimorosa,ricadeconteudo e muito bem ilustrada Meus parabensevotosdsucesso.

Estourepassandoao“ meupovo. ” Grandeabraçodo Eneas Atanázio

Agradeçooenviodessabelaediçaoespecial 200 anos, ousada desde a capa e por issomesmo,instiganteeinteressante. Jalivariosdosartigos,ameiessetrecho: "E a bandeira nacional, símbolomaior da nossa patria, que por certo na o vai mudardecor,tambemnaopoderajamaisser usada indevidamente, muito menos sequestradaporumpartidooucandidato." Parabenspelotrabalho!

Grandeabraço, Heloisa

ESCREVA * DIVULGUE

AVISO:

Só os textos não assinados vinculam e responsabilizam a Corrente d’escrita e a sua direção; os textos e opiniões assinados responsabilizam exclusivamente os seus autores.

Corrente d’ escrita
Florianópolis
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Anseio de muitos, acaba de ser inaugurada a “Casa”” dos escritores catarinenses, local que permite lançamento de livros, sessoes de autografos, rodas de conversa, consulta e manuseamento de livros de autores catarinenses. Mas a reivindicaçao continua, sobretudo junto da Prefeitura de Florianopolis, para que seja aberta umaLIVRARIAcomlivrosexclusivosdosescritorescatarinensesedetemas queversemsobreahistoriaeasrealidadesdonossoEstadodeSantaCatarina. Nao queremos ser ingratos, mas a abertura da “Casa”, cuja iniciativa louvamos, so nos adoçaaboca:agorafaltaocomplemento.Ok,PrefeituradeFloripa?

Onossonumero57,referenteasetembro,foiumsucesso.Naoporquesejamosnos a dize lo, mas sim pelas muitas reaçoes dos nossos leitores. E como muitos afirmaram, um so numero, apesardebastanteenriquecido,sabeapouco.Porisso,duranteesteano,continuaremosadivulgartextos sobre a dinamica do Bicentenario da Independencia doBrasil.

Ejapensamosnumaoutrainiciativadentrodosmesmos moldes. Porque nao escrever sobre os 350 anos desde a fundaçao de Nossa Senhora de Desterro, primeiroedeFlorianopolis,depois?Seranomesdemarço de 2023. Entao, fica combinado, metam animo a essascanetasouaoscomputadoreseescrevamsobre esse importante marco historico na vida dos catarinenses.

Porhojeetudo,boasleituraseatenovembro. AfonsoRocha

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Corrente d’escrita Número 50—fevereiro 2022
Editorial

Enquantoascriançasvisitaremasfeirasdoslivros,asbibliotecas,aslivrarias,osmuseus,aesperançanaonosabandona.EstegrupodecriançasdasescolasdeSaoJose/SC visitarameassistiramasexplicaçoesdaprofessorarasobreaimportanciaeovalordos livrosnaformaçaodoserhumano.

Tardedealegria,passadana1ªBienaldoLivrodeSaoJose,emSantaCatarina,realizadoentreosdias7e11desetembro,numalouvaveliniciativadaPrefeituralocal,como apoioeaparticipaçaodeeditoraseinstituiçoesliterariaslocais,comofoiocasoexemplardaEditoraJucaPalha,queativamenteacompanhoutodooevento.Aoseudiretor geral,OsmarCardoso,felicitamoseagradecemosestataolouvaveliniciativa,nummomentoemqueadivulgaçaoeapopularizaçaodosaber,daculturaedaliteratura,tem taopoucosapoioseadeptos.

CASA DA LITERATURA

Foiinauguradanopassadodia30desetembroaCasadaLiteraturaCatarinensePoetaCruzeSousa, Florianopolis,napraçaXV,esquinacomaruaVitorMeireles,ondepoderaoserconsultadasasobras dosescritoresdeSantaCatarina.Funcionadesegundaasexta,entreas13eas18h.Verreportagem fotograficamaisafrente.

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Corrente d’escrita

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Atualidade

mas tambem porque eu representava o povo que ela respeitavaeamava:opovoeanaçaoportuguesa. Lembro me que numa das primeiras reunioes a que assisti,jacomomembroefetivo,elacantou,emminha homenagemumfadotípicoanaçaoirmadoalem mar. Isso me encheu de orgulho e, confesso, de vaidade e patriotismo.

Ela apreciava meu trabalho e foi com grande honra para mim, que me concedeu uma entrevista pessoal, publicadano Corrente d'escrita domesdemarçode 2021. Foi uma entrevista por escrito, tendo em conta operíodocríticoqueatravessavamosdevidoapandemia. Tínhamos acordado numa entrevista diferente, pessoal, sobretudo mais longa e abordando temas maisrelacionadosasuavidacomoeducadora,professora e como escritora ativa, como sempre foi, mas a covid 19 nosimpos limitaçoes etrocou nos as voltas. Honra mequetalveztenhasidoasuaultimaentrevista. Ela achava importante falar de seu passado para servirdeincentivoedeaprendizadoparaosmaisnovos. Corrente d'escrita serviriade"elodepassagem" entregeraçoes.

Dona Dalvina, a nossa Estrela

O mes de setembro dia 2 começou triste para nos, escritoresemembrosdaAcademia.Perdemosanossa Estrela maior, a incentivadora, educadora, companheira e amiga. Ninguem se pode sentir marginalizado e muitomenos excluído, porque aconfreira Dalvina acolhia e amava a todos nos como se fosse nossa mae,nossairma,nossamaisfirmeconfidente. Eu aprendi a respeita la e a ama la, como se durante todaavidaaconhecesseeestivessesobsuaproteçao. Eassimfoi.

Desde que contatei pela primeira vez os membrosda Academia de Letras de Biguaçu/SC, em 2015, dona Dalvinamelançouseumantoprotetordeacolhimento eamigo.

Sei que me reservava o seu carinho e amizade com especial desvelo, nao so por apreciar meu trabalho,

A confreira Dalvina era, no verdadeiro sentido literario, uma MESTRA. Seus ensinamentos vinham pelo exemplo.

Na vida da Academia era a primeira a impulsionar o trabalho dos restantes escritores e poetas, a incentivareaanimarosmenosativos.Naofaltavaaoseventos; nunca deixou de participar nas antologias e os seuslivrosapareciamcomocogumelos.Erarepousantelerseuspoemas;suaspalavrasescritascomocoraçao. Era uma mulher que nao parou no tempo, antes pelo contrario, seus escritos respiram a juventude de seutemperamentoe de suamilitancia pelas questoes daatualidade,daeducaçao,dacultura,daliteratura. DonaDalvinacontinuacomtodosnos.

Elanaosefoi.Continuamosjuntos.Sigamosseuexemplo de vida, sua militancia no seio da instituiçao que ela fundou a nossa ALBIG, e sejamos dignos desuas causasedeseusexemplos.

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Atualidade

Foi inaugurada, no passado dia 30 de setembro, a Casa da Literatura Catarinense Poeta Cruz e Sousa, localizada na esquina da praça XV e a rua Vitor Meireles, no centro da capital (Florianópolis). A Casa tem instalações próprias para a realização de apresentação de livros, sessões de autógrafos, redes de conversa sobre literatura, pequenos eventos afins, e funciona, de segunda a sexta feira, entre as 13h e as 18h. No local poderão ser consultadas e manipuladas obras de autores catarinenses, tendo, inclusive, uma sala de leitura. Um espaço agradável que espera a visita de escritores, amantes da literatura, pronta a ser utilizada.

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17 DE AGOSTO DE 2022

O nosso colaborador e amigo Donald Malschitzky, vem de tomar posse como Acadêmico Correspondente na Academia Joinvilense de Letras. Achamos por bem e justiça, mais uma vez, trazer ao conhecimento de nossos leitores, o “escrevinhar” precioso e impar praticado pelo escritor Donald

“Oqueestoufazendoaqui?”eoprimeiropensamento que acorda no meio de tantos talentos, mas, vendo a logo da Academia Domus Amica. Domus Optima lembro da singela musica “Boas Vindas”, de Villa LoboseManuelBandeira:“Amigo,sejabem vindo,acasa e sua, nao faça cerimonia, va pedindo, va mandando, seja seu tudo que tenho de meu e mais a Divina Graça”,eousocontarcomoessaConstelaçaodeLetras entrouemminhaalma(anima):

A pata nada. Pata pa. Nada na. Assim comecei a aprenderaligarsonsesignificadoscomsílabas.Eraa Cartilha do 1º ano que Dona Zeze nos passava. Qual seria a magica dessas palavras ou da professora que fez o milagre de nos ensinar os misterios da escrita em pouquíssimo tempo usando um metodo tao simples?

Curiosamente, quase dez anos mais tarde, a primeira aula de Latim, na mesma linha: “Rana in aqua est”, mas alguma coisa nao funcionou direito: enquanto a pata, com seu andar desengonçado e suas asas nao acostumadasavooslongos,descobriu caminhos, subiu montanhas, aprendeu a voar longe e alto, misturando se as nuvens e empurrando o horizonte cada vez para mais longe, carregando a utopia consigo, se alimentou de paginas e paginas e marcou outras tantas, a ra, coitada, continuou na agua,anadarsoumpou-

coe,aosair,nuncaseafastar,pormedo depredadores.

No segundo ano, Dona Aurora Guimaraes Pereira escrevia aqueles “pontos” interminaveis de Historia. Para mim era o maximo: nao significavam materia para estudar, mas historias para ler e imaginar. Dona Aurora achou uma forma de valorizar meu interesse: pedia que eu emprestasse meu caderno aqueles que nao tinham conseguido copiar tudo para que atualizassem os seus. Leituras em voz alta, declamaçoes, pequenas apresentaçoes, ditados e descriçoes completavamopacote.

Quando ela ja passava bem dos 80 anos, encontrei a num evento e ela declamou de cor um poema meu. Comonaoseapaixonarpelasletras?

No5ºano(admissaoparaoginasio),oprofessorMario Cristofolini, organizou um gremio, dirigido pelos propriosalunos,comdeclamaçoes,leiturasecançoes. Abríamos nossas cortinas para a arte a cada sabado. Noginasio,logodepois, ogremio eradetodaescola, com eleiçoes fiscalizadas, jornal mimeografado e, o que nao podia faltar, jornal mural. O jornal mural, alias, nos acompanhava: no científico, era bem dinamico, o que nos obrigava a pesquisar para escrever. Como os tempos nao eram exatamente democraticos, alem de comunicaçao, aprendemos muito bem o que era censura, que ia de arrancar publicaçoes expostasasuspenderaluno por uma semana, com ameaçadeexpulsao. Essa trajetoria acho que explica o porque da paixao pelas letras: foram colocadas em aguas piscosas, e as pesquei, grudaram se nas pipas empinadas por crianças para colorir os ceus, espalharam se em caminhos, campos, montes, onde as colho, muitas vezes em solitariaspedaladas. Escrevia cronicas, ensai-

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avapoemas,amaioriarepousandonomeiodepapeis variados, sem maiores pretensoes, ate que atendi a umtelefonema.EraMilaRamos:“Donald,porquevocenuncamecontouqueescreviapoesia?”. Porconta de alguns projetos sociais, nos tornaramos amigos, mas nunca lhe falei sobre o que escrevia. Sem meu conhecimento, a Mariza, minha mulher, ja falecida, datilografoualgunspoemas,encadernou oseoslevou paraaMila,quenaodesistiudemim:primeiroforam folders com seis poemas, ate que, novamente num telefonema, me intimou: “Tenho patrocínio para teu livro, mande os poemas”. Nasceu Grafite e, com ele, assinei um contrato moral com a literatura. Ser cronista foi a consequencia que me acompanha ha mais de30anos.

Oquealiteraturametrouxe? Ondemaisteriaachance de entrevistar Ottmar Schmidt, um artista alemao que nao gostava de Hitler, mas teve que lutar na 2ª Guerra e elogiava o inimigo por sua etica? E para o mesmo livro, deleitar me com as historias de Helmuth Knop, que, no início da adolescencia levava almoçoparaumpresoe, naprisao, encontravapessoasquelaestavam porfalaremalemao?Dequemaneiraseriaapresentadoaumamulherquenaomeconhecia,anaoserpormeusescritos,e,hadecadas,recorta e guarda minhas cronicas? Nao receberia o livro “Barao Semeando Poesia”, do Colegio Barao, de Blumenau,comdepoimentodeDennisRadunzeprefacio de Lindolf Bell, das maos da entao diretora, Ilse Schmider,carinhosamentedizendo:“Foiseulivroquenos inspirou”. Ficaria sem me emocionar com dezenas de crianças,juntamentecomescritores, numpiquenique na praia, a escreverem poemas na areia para que o mar os levasse. Chrys Grossl nao me surpreenderia comseuslivros,acordadosempalestraquefizemsua

escola quando ela ainda era adolescente. Nao ouviria umhomem dizer:“Agorapossoirpraroça”,graçasa cadeiraderodasqueeleeoutrosreceberamdoSemeador, um evento beneficente de poesia e musica, com maisde50artistas,querealizamosha19anosemSao Bento e que ja distribuiu bem mais de 100 mil reais paracausassociais.

Definitivamente,eunaoseriaoquesousenaofossea literatura.

Esta na hora de agradecer a tanta gente que ate ja combinei com a presidente que nao nomearia para nao tomar todo tempo da cerimonia, mas faço uma exceçao:aCida,minhamulher, naoconseguiuvirpor motivodesaude,masqueroregistrar:obrigado,Cida, porme aguentar, ajudar me a domar ocomputador e ainda, aomenosumavezporsemana, fazer aprimeirarevisaodoqueescrevo.

Alguns me perguntam o que significa ser Academico correspondente; respondo que e aquele que precisa corresponder as expectativas de quem fez o convite. Tomara que consiga. Obrigado pelo carinho e pela acolhida.

Em tempos em que pessoas ousam dizer que nunca precisaram de um artista, vem me uma velha cançao marinheira cantada para ditar o ritmo dos trabalhos no conves. O estribilho diz: “What shall we do with a drunkensailor/Earlyinthemorning?” “Oquefaremoscomummarinheirobebedocedopelamanha?”

Eacançaosegue,listandooquefarao.

Enos,oquepodemosfazer?Resistir.Eoquesignifica resistir para o artista? Produzir, mostrar, mostrar se, encantarcoraçoese,peloencantamento,seduzirmentes, pois mentes seduzidas pela arte nao caem bebadasnamanhadecadadia.

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NO PRONTO SOCORRO...

Quando entrei, a recepçao estava apinhada de gente. Umamoçaveioprontamentemeatender.

ODr.Diomedes,cardiologista,estaatendendo?

Elamepassouumasenhaefalou:

O senhor aguarde um instante, por favor. Sente ali naquelascadeiras.

Apos meia hora, outra atendente, de jaleco branco, veio com uma cadeira de rodas, me fez sentar com todocuidadoefoideslizandoacadeiraporvarioscorredores. Parou diante de uma salinha; ali outra atendente mediu minha pressao, enfiou um termometro sob minha axila, depois falou algo para a minha condutora. Esta foi empurrando a cadeira por outro corredor. Eu so ia observando as paredes que passavam rapidodiantedemeusolhos.

Parou numa sala. Ali havia um jovem atendente que falou:

Porfavor,tireacamisaedeite senestamaca. Eumedeiteidecostaseelecolouumassanguessugas deborrachaemmeupeitoenosbraços.Eraumeletro.

Semdizernada,medeuunsguardanaposparalimpar ocremequemelecarameucorpoeabriuaportapara meconduziremaoutrolocal.

Aliencostaramminhacadeiranumcantoeumaenfermeira veio com duas ampolas de soro, pendurou as num cabide ao meu ladoe enfiou uma agulha emminhas veias. Eu tentava reclamar: Nao precisa isso, eu estoubem.

Mas elas nao queriam ouvir. Sua funçao era essa. Fiquei ali porcerca deumahora. Depois veiomaisum atendenteemeconduziuaoutrasala.

Osenhorpodeentrar.

Finalmente. Entrei numa sala media, com ar condicionado.Omedicomecumprimentougentilmenteemefezsentarnumamacanosfundosdasala.Auscultoumeupeito,comprimiucomosdedosmeuestomago. Depois, pegou um martelinho e deu um golpe seco no ossinho de meu joelho, minha perna saltou feito uma ra. Em seguida me pediu para sentar se na poltronadiantedesuamesaeperguntou:

Vocetemdormidobem?

Sim,otimamente.

Sentetonturas,dornopeito?

Naosenhor.

Temevacuadocomfrequencia?

Como?

Temfeitococodireitinho?

Sim,doutor,maseunao...

Naosepreocupe,vocenaotemnadagrave.Vaiviver aindaunscemanos gracejou.

Maseu...

Naodiganada.Omedicoaquisoueuouevoce? Puxou seu bloco de receitas e garatujou rapidamente algumaspalavras.

Pronto.Sigaissodireitinhoevoltedaquiatrintadias.

Agradeciaobomdoutor,recolhiacarteirinhademeu plano, que havia entregado antecipadamente e sai comareceitaemmaos.

Comosaoascoisas:eeuquetinhaidoaliapenaspara lheentregarumboletodaempresaemquetrabalho.

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Um juri, coordenado por Jose Manuel Mendes, constituído por Annabela Rita, Guilherme d’Oliveira Martins e Isabel Cristina Mateus,atribuiu,porunanimidade,oGrandePremiodeLiteratura deViagens MariaOndina Braga APE/CM de Braga ao livro CronicasItalianas,(SextanteEditora),deAntonioMegaFerreira. Naataojurifundamenta:«AntonioMegaFerreiraem “CronicasItalianas”da nosumaobradegrandequalidade literaria, na qual a viagem se associa a grande literatura, a arte e a cultura e onde o classico “Grand Tour” cede lugar a descoberta das narrativas ocultas nascidadesdeItaliaeaodialogoquecomelasestabeleceramturistasapaixonadosegrandeautoresdaculturaeuropeiacomoStendhal,Rilke,ProusteFreud.

Viajarganha,assim,umaricadimensaodeprocurada vida,daHistoriaedavalorizaçaodopatrimoniocultural para alem da imediata apreensao do que se ve e sente.

Podedizer sequesetratadeumpreciosovademecum capazdeenriqueceraviagemeoviajante.»

Nesta 5.ª ediçao da Grande Premio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, instituído pela Associaçao Portuguesa de Escritorescom opatrocínio daCamaraMunicipaldeBraga,concorreramobraspublicadasnoanode2021.

OvalormonetariodesteGrandePremioe,paraoautordistinguido,de€12.500,00.

A cerimonia de entrega do premio sera anunciada oportunamente.

Nota Biográfica do premiado:

António Mega Ferreira, escritor, gestor e jornalista, nasceu em Lisboa em 1949. Estudou Direito e Comunicação Social, foi jornalista no Jornal Novo, no Expresso, em O Jornal e na RTP, onde chefiou a redação da Informação do segundo canal. Foi chefe de redação do JL Jornal de Letras, Artes e Ideias. Fundou as revistas Ler e Oceanos. Chefiou a candidatura de Lisboa à Expo’98, de que foi comissário executivo. Foi presidente da Parque Expo, do Oceanário de Lisboa e da Atlântico, Pavilhão Multiusos de Lisboa. S.A. De 2006 a 2012, presidiu à Fundação Centro Cultural de Belém. De 2013 a 2019, desempenhou as funções de diretor executivo da AMEC/Metropolitana. Tem cerca de 40 obras publicadas, entre ficção, ensaio, poesia e crónicas.

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Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 ANTÓNIO MEGA FERREIRA VENCE O GRANDE PRÉMIO DE LITERATURA DE VIAGENS MARIA ONDINA BRAGA
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Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 Na compra de SANGUE LUSITANO, receba mais um título, à sua escolha. R$ 40,00 Portes inclusos

CIDADÃO INVISIVEL

Todo dia aquele jovem senhor caminhavapelasruasdacidade,cumprimentava a todos que encontrava, dava um belo sorriso, estendia sua mao sem nada receber em troca.Jaestavaacostumado,poissabia de antemao o que iria acontecer, poremoseusorriso aoutrem nunca lhe faltara. Continuava sua jornada cruzando as ruas principais dacidade,aliassabiadecoresalteado seus nomes, os principais comercios como tambem algumas residencias que o tempo houvera preservado para que todos lembrassemdesuahistoria.

No cair da tarde aquele jovem se-

nhor caminhava para o seu lar ao encontrodeseusamigosparamais uma rodada de conversa e um merecido descanso. De sua cama avistava as estrelas e nelas se perdia a contareenamora las.Dizia seapaixonado pela lua, sua segunda namorada.Emnoitesdeluacheiainebriava se tamanha era a beleza proporcionada por seu clarao. No amanhecer,osraiosdesolbatendo em sua cama, era seu despertador. Acordava com um bom dia a todos seus amigos, fazia sua higiene pessoal num banheiro improvisado seguindo para mais uma “turne” pelacidade.

Seus amigos nao entendiam o porque daquele jovem senhor estar entre eles. Todos conheciam seus

passados, menos daquele jovem senhor.Dentretodos,eleeraounicoquegostavadeler,alias,sempre estava acompanhado de algum livro, provocando certa curiosidade aos demais. Algumas duvidas que seus companheiros tinham acerca da vida, de suas realidades, ele sempre estava a disposiçao para sana las. Alguns ate foram semialfabetizados por ele, proporcionando alegria aos demais. Naquele pequeno mundo, todos sentiam se irmanados e solidarios. Mesmo parecendo estarem harmonicos algumas duvidas pairavam sobre os demaislevantandosuspeitasdeser um impostor, melhor dizendo, um policial disfarçado arquitetando uma emboscada a fim de prende

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los, pois lugar de vagabundo e na cadeia como tantas vezes ouviram demuitostranseuntesqueporeles cruzavam. Quem sabe um bandido perigoso com o intuito de dizima los ou mesmo incrimina los diante deumasociedadeintolerante.

O jovem senhor percebendo a intranquilidade de seus companheiros, numa noite de inverno onde o vento adentrava pelas lonas rotas da parede improvisada, acendera seu velho cachimbo iniciando uma conversaçao com todos. Primeiramentefalaradeseupassadodistante onde vivera uma vida abastada onde nada lhe faltara. Tivera uma linda esposa e dois filhos maravilhosos que proporcionaram prazerosos momentos, hoje guardados em velhas lembranças. Para dar conforto a sua família fora preciso estarausenteemalgunsmomentos cruciais e fora justamente numa situaçao desta que sua vida iria transformar se radicalmente. Durante um circuito de palestras na Europa, sua casa sofreraum incendio enquanto sua família dormia, apos chegarem cansados de uma festa na casa de seus pais. Nunca soubera se o tal incendio fora acidental ou criminoso ja que naqueles tempos ele convivera com alguns desafetos inclusive no meio policial e político. O laudo tecnico dera impreciso com margem para interpretaçoes dubias deixando o aflito.Comotempoeleforaficando depressivo, afastando se de todos os amigos, familiares, vindo a morar numa caverna distante da cidade. Abandonou totalmente seu trabalho, seus negocios, queimou seu passaporte que tantas viagens acu-

savamemsuaspaginascarimbadas delegando a seus familiares o podersobreseusbens.

Nesta caverna distante conhecera um senhor místico que lhe mostrara um outro lado da vida que ele nao percebera ate entao. Com ele aprendera a meditar, viver na simplicidade, ouvir o canto dos passaros,ouvirosomdacachoeira,atitudes jamais imaginaveis em tempos de outrora. Aprendeu a conviver comaperdadosseus,amaranatureza.Forambonstemposdeaprendizado junto aquele velho místico, atequeumdiaeleseforatambem. Sentindo se so, porem revigorado de suas energias, resolvera voltar para a cidade viver umavida puramentefranciscanajuntodosmenos favorecidos. Nao procurou seus parentes nem os amigos, como tambem ocultara sua realidentidade preferindo viver no anonimato. Nestes tempos franciscanos encontrara alguns amigos do passado sem ser reconhecido e percebera como alguns o trataram com desdem,enquantonopassadoforapor eles bajulado. Quanto aprendizado avidametemproporcionadofalara o jovem senhor aos demais enquanto uma tosse rouca se apresentava entremeada de uma leve falta de ar. A cada frase dita seus amigos ficavam atonitos com sua historia. Alguns se questionando acercadesuasvidasoutrosficaram incredulos com tanta historia contadaporele.

Amanhecera sem o jovem senhor assistir ao por do sol como era de seucostume.Todosficaramperplexos ao ve lo inerte no seu canto junto a alguns livros e sua insepa-

ravel cruz de madeira que sempre carregaraemseupescoço.Enquanto alguns amigos se prostravam sobreele,outroscorreramaoposto policial avisando do acontecido. Seu corpo fora encaminhado ao IML para as devidas tratativas legais enquanto seus amigos esperavam na delegacia para os devidos depoimentos conforme a lei exige numa situaçao desta. Horas depois o comissario recebe a notícia de que o corpo daquele indigente se refere ao ilustre doutor Jose Garcia Rodriguez Menza, filosofo, teologo, palestrante renomado internacionalmente que houvera desaparecido desde a morte de sua esposa e seus dois filhos num incendio cujo processo investigativo nao fora concluído pela polícia tecnica deixando duvidas quanto a lisura investigativa. Seus amigos ficaram boquiabertos com a descoberta da real identidade daquele que convivera por um tempo de muito aprendizado. Nunca sabemos tudo falavamentresi...

Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 Valmir Vílmar de Sousa (Vevê)
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Página 14 Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 Para divulgar (grátis) seus trabalhos no Corrente d’escrita Envie nosseustextos(maximo:4miltoquesparacronica,contoouensaio).

Perfil

De faxineiro a dono de livraria: livreiro mais antigo do Rio deixa ofício após pandemia

Livraria Sao Jose sobreviveuaditaduraeaespecula-

Hoje com 83 anos, Germano começou a trabalhar na lojaaos12,comofaxineiroeentregador,evirouproprietario. Com quase 70 anos de livraria, enfrentou nos ultimos anos uma dura reduçao das vendas, que caíram a zero em meio as restriçoes impostas pela crisesanitaria.

"Ja estava ruim. Quando entrou a pandemia, acabou dematar",dizGermano.

José Germano da Silva

çaoimobiliaria,masnaoapandemia

Em seus 85 anos de historia, a Livraria Sao Jose passou por seis endereços, uma guerra mundial e duas ditaduras. Considerada a mais antiga ainda em atividade doRiode Janeiro, alivraria, noentanto, naosobreviveuapandemiadocoronavírus.

Entre fevereiro e março deste ano, fechou suas portas em definitivo.

Comoencerramentodonegocio,tambemdeixaoofício o homem considerado o mais antigo livreiro em

Ele mesmo e um sobrevivente: passou 39 dias neste início de ano internado com 70% dos pulmoes comprometidos pela covid 19, 11 deles em um leito de UTI.

De volta a família, e reaprendendo aos poucos a andar,viveparacontarahistoriadalivraria,quevaiela mesmavirarlivro.

Legenda da foto, Livraria São José em seu endereço mais célebre, na rua São José, 38, 40 e 42, em foto de novembro de 1967

Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 atividadenoRiodeJaneiro,JoseGermanodaSilva.
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A livraria e os locais que não existem mais

Naosesabeadataaocerto,masaLivrariaSaoJosefoi criadaemalgummomentode1935,tendosidoregistradanoDepartamentoNacionaldeComercioapenas em1939,jaemplenaditaduradoEstadoNovodeGetulioVargas.

SeuprimeiroendereçofoiaRuaSaoJose,nocentroda capitalfluminense.

"ARuaSaoJoseeraaruadocentrodoRiodeJaneiro que arregimentava o maior numero de sebos, como sao chamadas as livrarias de livros usados", conta AdrianoGomesFilho,pesquisadorqueestatrabalhandonaobrasobreahistoriadaempresa.

"Oladoímpardaruanaoexistemais.Foitododemolido nos anos 1950, por conta das obras de remodelaçaodocentro",acrescenta.

Em1936,alivrariamudoudo35paraonumero38da mesma rua, que seria seu endereço mais celebre. "Esse local tambem ja nao existe, foi demolido nos anos1970."

Apartirde1947,quandoosempresariosCarlosRibeiro e Walter Alves da Cunha compraram a livraria,teriainíciosuafaseaurea.

Legenda da foto, O sociólogo Gilberto Freyre em tarde de autógrafos na Livraria São José

Noprimeirodos"AnosDourados",comoficouconhecidaadecadade1950,alemdelivraria,acasapassou asertambemeditora.Eem1954,Ribeirotrouxeuma inovaçao ao mercado editorial nacional: as tardes de autografoscomautores.

"Porincrívelquepareça,ateessaepoca,naoexistiao habito no Brasil de os escritores fazerem uma tarde ou noite de autografos. Havia um distanciamento entre a figura do escritor e o publico", diz Gomes Filho, acrescentandoqueanovidadefoisugeridaaodonoda livraria pela jornalista Eneida de Moraes, que participou desse tipo de evento em uma viagem a Paris, no pos SegundaGuerra.

Eneida e descrita em um artigo do jornal paraense O Liberal como "jornalista comunista e feminista", "vanguardistarevolucionarianaliteratura,napolítica enoCarnaval".

A primeira das tardes de autografos por ela inspiradasfoicomManuelBandeira,queassinouexemplares da sua autobiografia Itinerario de Pasargada nela, o poetadoPneumotoraxconclui,cotejandoversos,"que apoesiaefeitadepequeninosnadas".

Festa Discos e a livraria como ponto de encontro Astardesdeautografossetornaramfrequentes,atraíram outros escritores e jornalistas, e levaram a Sao Jose as paginas de jornaiserevistas.

Em 1956, Carlos Ribeiro se associou ao jornalista, escritor e tradutor Irineu Garcia e eles criaram juntos a gravadora Festa Discos, que passaria a lançar discos de poesia, em que os proprios autores declamavam seusversos.

O album de estreia tinha Carlos DrummonddeAndradede

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um lado e Bandeira do outro. A coleçao contou ainda com nomes como Paulo Mendes de Campos, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Murilo Mendes, Joao CabraldeMeloNetoePabloNeruda.

"Ate1955,alivrariamaisimportantedoRioeraaJose Olympio,queficavanaRuadoOuvidor",contaGomes Filho.

Pontodeencontrodosintelectuaisdaepoca,alojada editora de mesmo nome fechou naquele ano, quando os proprietarios do imovel onde ela estava instalada interromperam o contrato de aluguel para demolir o predioeconstruirumnovo.

"Quando houve o fechamento da Jose Olympio, a Sao JosepassouaseralivrariamaisimportantedoRiode Janeiroe,naoeexageronenhumdizer,alivrariamais importantedoBrasil,porcontadastardesdeautografos, eventos de lançamento, da gravadora Festa e da ediçao de livros importantes", diz o pesquisador, acrescentandoque,aepoca,osucessoeratantoquea livraria se estendeu para os numeros 40 e 42 da Rua SaoJose.

Legenda da foto, Em 30 de abril de 1964, Carlos Ribeiro (foto) foi detido por agentes do Dops no interior da livraria

"Por exemplo, o Drummond trabalhava no Ministerio da Educaçao e Cultura nocentro do Rio e, invariavelmente,nahoradoalmoçoounofinaldodia,elepodia ser encontrado na Sao Jose", conta Gomes Filho, lembrando ainda que varias eleiçoes da Academia BrasileiradeLetrasforamdecididasali.

Legendadafoto, Em30deabrilde1964,CarlosRibeiro(foto)foidetidoporagentesdoDopsnointeriordalivraria

Mas veio o Golpe Militar de 1964

A epoca de glorias da livraria chegaria ao fim com o golpemilitarde1964.

Em30deabrildaqueleano,ummesdepoisdeopresidenteeleitoJoaoGoulartserremovidodocargopelosmilitares,CarlosRibeirofoidetidoporagentesdo Dops (Departamento de Ordem Política e Social) no interiordaloja.

A prisao durou apenas uma noite, mas chamou atençaoporqueolivreironaomantinhaligaçoescompartidos ou grupos políticos organizados, nem editava obraspolíticas.

"Provavelmentefoiumaformadepressaodosmilitares, ja que a Sao Jose era um dos mais importantes pontos de encontro de escritores, jornalistas e intelectuais, muitos deles de esquerda e filiados ao PCB [Partido Comunista Brasileiro]", avalia GomesFilho.

"Foraissotudo,elasetornouumpontodeencontro", afirma.

Apos o golpe, essas reunioes se tornaram menos frequentesepassouadominaromedodosagentesinfiltrados da Polícia do Exercito, que andavam disfarça-

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dospeloscorredoresdalivraria,paraouviraconversadossimpatizantesdaesquerda.

Em 1967, em meio a esse clima político pesado, tambemavançaoprocessodeespeculaçaoimobiliariano centrodoRiodeJaneiro,eRibeiroeseusociovendem os sobrados da Rua Sao Jose para uma construtora. Esses sobrados historicos foram demolidos, para dar lugaraumprediocomercial,queestalaatehoje.

A livraria se mudou para a Rua Sao Jose, 70, mas ja naoeraamesma,emmeioaoavançodarepressao,da censura e com a ediçao do AI 5 (Ato Institucional nº 5),queendureceuoregimeetornouaindamaisdifícil aconvivenciapublicadosintelectuais.

De funcionários a donos

Em 1975, o sobrado da Rua Sao Jose foi novamente vendido, para a mesma empresa de engenharia que levou ao chao seu endereço mais celebre. A livraria entaosemudariaparaumimovelalugado,naRuado Carmo,61.

"OCarlos,queeralivreironaRuaSaoJosedesde1921 ele começou trabalhando na Livraria Quaresma , comamudançaparaaRuadoCarmoficamuitoabatido, depressivo e triste", conta Gomes Filho. "E aí, a livraria volta a ser so sebo e entra num processo de decadencia."

"Entreinalivrariaem1952,massofuiregistradoem 1954, porque em 1952 eu nao tinha idade para tirar CarteiradeTrabalhodeMenor",contaGermano. O faxineiro de 12 anos

Morador entao da Pavuna, bairro da Zona Norte do Rio,distantecercade30kmdocentro,Germanoperdeuopaiaos5anos.Seupadrastoeracapatazdeum grileiro,tomandocontadeumcanavialnaregiao. Contratadocomofaxineiroeentregador,omeninode 12 anos saía de casa as 4h da manha, tomava o trem MariaFumaçaateaPraçadaBandeira,queatravessavaparapegarobondeateaPraçaXV.

Germano virou Germano porque quando entrou para aLivrariaSaoJose,naRuaSaoJose,jatrabalhavamla outrostresJoses."Quandoopatraogritava'seuJose', todomundorespondia'eu,eu'.AípasseiaserGermano",contaolivreiro.

Ao fim da decada de 1960, o funcionario que entrou menino virou atendentedo balcao. E,ao longo dadecadaseguinte,tomougostopelaseçaojurídica,muito prestigiada devido a proximidade da livraria com o Forum de Justiça do Rio e a Faculdade Nacional de Direito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Entre os clientes famosos estiveram os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Jose Carlos Moreira Alves,aposentadoem2003,eLuizFux.

GermanolembraaindadojuizEliezerRosa,da8a.VaraCriminaldoRio("Primeiroqueocriminoso,buscavanoinfratorohomem,queaesteeramisterrecuperarerestituiraoconvíviosocial",dizumtextodeelogioaomagistrado).

"Eu tinha amigos que diziam 'Poxa, Germano, voce e formado em direito? Vejo voce aí, conversando com juiz, com ministro, como se fosse um advogado'. Eu dizia 'nao, e que gosto de ler as orelhas dos livros'", contaolivreiro,entrerisos.

A luta contra o aluguel

ComadoençadeCarlosRibeiro,seusfilhosdecidiram sedesfazerdonegocio.Germano,VieiraeAdelbinose organizaram entao para comprar a livraria. A venda foifeitapor1milhaodecruzeiros,comcadafuncionario dando 150 mil de entrada, com dinheiro dos seus fundosdegarantia.

O restante foi pago em suaves prestaçoes mensais a perderdevista.

Carlos Ribeiro morreu em 1993, mas a Sao Jose permaneceu na Rua do Carmo, tocada por seus antigos funcionarios, durante 30 anos. Em 2004, com o aumento do aluguel, a loja se mudou novamente, para um imovel menor, na Rua Primeiro de Março, onde funcionouate2014.

"Entao, mais uma vez, veio a questao imobiliaria", contaGomesFilho."ORiodeJaneiroficoumuitocaro, por causa de Copa do Mundo, de Olimpíada, tudo encareceu."

Ultimosocioremanescentedaloja,Germanoentaose mudou para uma sala comercial, no quarto andar de umedifíciodaRuadaQuitanda,contandocomaven-

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daonlinepelositeEstanteVirtual.

"O movimento de loja e uma coisa, o de sala e outra. Quem e que vai saberque a livraria estava no quarto andar da Rua da Quitanda? Ninguem sabia, mesmo a gente botando no site, pagando anuncio", lamenta Germano.

"Começouaficarruimonegocioparamim,euialade manha,ficavaateumas16h,eraeusozinho,naovendia nada. So gastando, pagando aluguel. Aí eu disse a minhafilha:'Melhoragenteacabarcomissoaquieeu viver da aposentadoria, porque a livraria agora nao estadandomaisnada'."

E então veio a pandemia

O que ja estava ruim, ficou ainda pior com a crise do coronavírus. "Eu nao vendi mais nada. Durante 30 dias,eunaovendiumlivro",contaGermano.

E entao, no começo deste ano, o livreiro caiu doente, vítima do vírus. "Fiquei 39 dias internado, com 70% do meu pulmao tomado. So no CTI, eu fiquei 11 dias, entrelaeca",lembra."Masohomemladecimadisse: 'Nao, ainda nao esta na hora de voce vir para ca, vamos deixar voce sofrer mais um pouco aí embaixo'. Entaoeutivealtaevimparacasa."

Enquanto Germano se recuperava, coube a filha venderoacervorestanteeentregarasaladaRuadaQui-

tanda, pondo fim a historia de 85 anos da Livraria Sao Jose. Para o pesquisador Adriano Gomes Filho, a historia da Livraria

SaoJosefoiumahistoriadesobrevivenciaemmeioao avançodaespeculaçaoimobiliarianoRiodeJaneiro.

"Em nenhum dos endereços onde ela funcionou, sobrouoprediooriginal.Foitudodemolido",dizGomes Filho. "Todas as mudanças de local da livraria foram relacionadasaespeculaçaoimobiliariaouaoaumento dos alugueis. Foi assim em 2004, quando ela sai da Rua do Carmo. E em 2014, quando o Rio se tornou impraticavel,eelafoireduzidaaumasalacomercial."

"O fim da Livraria Sao Jose tem uma carga simbolica muito grande", avalia o pesquisador. "Eo fim da ultimaremanescenteaquinoRiodeJaneirodessaslivrariasmaistradicionais.Eeumapena,porqueasnovas geraçoesnaotemideiadaimportanciaqueelateve."

"Eu ia fazer quase 70 anos de Livraria Sao Jose", lamentaGermano.

"Minha vida toda foi ali na livraria. Entao eu tenho saudade.Masnaopossoabaixaracabeça,nao.Tenho que ficar bem orgulhoso, porque o que eu fiz pela Livraria Sao Jose e coisa muito rara, entrar como faxineiro e chegar a dono da livraria. E uma livraria que era mundialmente famosa. Eu nao vou dizer a voce queeunaotenhosaudade,claroqueeutenho."

Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 Thais Carrança Da BBC News Brasil em São Paulo
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11 abril 2021

Atendendo a reivindicaçoes populares,em1730,oreibaixou,temporariamente,os20%,para12%.

Paramaisdacobrançadosquintos, havia impostos. Para ater me a Minas Gerais, de 1700 a 1800, nenhum imposto foi cobrado sem previa discussao e aceitaçao das camaras.

omaisrapidaefacilmentepossível e retornar para Portugal. Nesse sentido, os homens que os donatarios trouxeram para ocupar suas terrasnaoeram“colonos”nosentidoliteraldapalavra:eramconquistadores dispostos a saquear as riquezas da terra especialmente as minerais. (Capitaes do Brasil, p. 13).

Famigerada história do ouro...

A recente inauguraçao, em Lisboa, doMuseudoTesouroReal,queexibeouroportugues,colhidonoterritorio do (posterior e atualmente) paísindependentequeeoBrasil,ja serve para reestimular o ressentimentohistoricodebrasileirospara com Portugal. Assanha se, como e tradicional,omitodeque"Portugal roubou o ouro do Brasil" & coisas do estilo. Sao bobagens; senao, eis que:

Doouro,prataediamantesprospetadosemsolobrasileiro,atotalidade pertencia a coroa, ao Estado, que abandonava 80% ao pesquisador e cobrava lhe 20%, os quintos reais.

Os pesquisadores sonegaram 2/3, ouseja, 14%;entregaram, de facto, 7%. Portugal recebeu 7% do ouro do Brasil, de que metade apenas ingressouemPortugal;aoutrametadefoiembolsadapelaInglaterra. Portugal embolsou, de facto, 3,5% do ouro do Brasil, que nao pertenciaaoBrasilesimaPortugal,poiso Brasil era territorio portugues, ultramarino, era Portugal, e nao país independente.

No mesmo período, na França, o Estadoembolsava50%darendado burgues, do operario e do campones;apesardovolumedoembolso, a coroa portuguesa aplicava no Brasilmaisdoqueacoroafrancesa aplicavanoseuproprioterritorio.

Por“ourodoBrasil”deve seentenderouroexistentenoterritorioentaopertencenteaPortugalenaoao que posteriormente se tornou no país autonomo daquele nome. E grosseiranasualinguagemefalsaa todos os títulos a acusaçao de que “PortugalroubouoourodoBrasil”. Houvesse se apropriado de 100%, era ouro que lhe pertencia e ao Brasil que, como soberania proprietaria do ouro, somente surgiu em 1822.Portugalnao“roubou”oouro brasileiroporqueeleeraolegítimo dono.

CriaçaoderiquezanoBrasil.Perola demitologiadevidaaEduardoBueno:

Nao restam duvidas de que, desde o momento de seu desembarque, tanto os donatarios quanto seus colonos visavam ao lucroimediato. O principal e quase unico objetivodamaioriaera[ode]enriquecer

Assim: 1 os donatarios e os colonosvisavamaolucroimediato,2 o seuobjetivoprecípuoeraodeenricar e regressar a Portugal, 3 eram conquistadores,4 empenhadosem auferirasriquezaslocais,maximeo ouro,aprataeosdiamantes. Neste paragrafo acumulam se fantasiasliterariasqueopropriotexto depesquisahistoricaquelhesegue nao confirma; elas candidamente exprimem ideias de senso comum que nao resultam de averiguaçoes do proprio autor. Surpreende que, exato e honesto na sua descriçao factual, Eduardo Bueno haja sido imaginoso na sua analise sociologica.

Ao contrario do que Bueno assere, “restamduvidas”dequeosdonatarios e os seus acolitos visavam ao lucroimediato,dequeoseuprincipal ou quase exclusivo fosse o de enricar e regressar tao logo quao possível a Portugal. Restam todas as duvidas de que os adventícios portugueses fossem conquistadoresdispostosasaquearasriquezas daterra.

Noseutomenasuaelocuçao,trata se de frase de efeito, bombastica,

Página 20 Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 CASOS com História Páginas do passado

preconceituosa e vazia de verdade. Para suscitar um mínimo de duvidas, transcrevo Gilberto Freyre: No Brasil, os portuguesessubstituíram a exploraçao da riqueza local pela criaçaoderiquezanolocal.(AColonizaçao Portuguesa no Brasil, p. 84).

Tambem Franklin de Oliveira propalouomitoqueBuenotransmitiu. Redigiu bombastico prefacio a America Latina, de Manoel Bomfim (editora Topbooks, 1993), eivado de frases de efeito e de declamaçoesemqueamesquinhouacolonizaçao portuguesa pela insistencia nos chavoes lusofobos. Aproposito dos engenhos de cana de açucar, sentenciou que o seu proprietario era um simples feitor; o seu objetivo era enriquecer no Brasil e, ricaço,retornaraPortugal(obracitada, p.21).

Quefalsidade!!!exclamamJoseVerdasca e Antonio Netto Guerreiro, a proposito(AColonizaçaoPortuguesanoBrasil,p.27).Eprosseguem: Afirmaçao completamente destituída de fundamento, contraria da realidade, ofensiva e irresponsavel, feitaporignoranciaoutalvezmafe, ela nao revela ao leitor que o “proprietario dos engenhos” era o Capitao Donatario (ou um ilustre rico homem com fortuna e provas dadas)que,escolhidoentreosmais ricos nobres portugueses, se desfazia de sua avultada fortuna para,

em Portugal, embarcar para o Brasil, em naus fretadas e ou adquiridas, materiais e colonos, que desbravassem o sertao, plantassem as mudas de cana, edificassem e implantassemcasaseengenhos,ecriassem todas as condiçoes necessariasesuficientesaofabricoetransporte da cana e do açucar, ou seja, primeiro havia que criar a riqueza no local, mediante vultuosos investimentos, grandes riscos e sobre humanos sacrifícios. Por aqui vemos que apenas homens ricos, tinham condiçoes de trazer para o Brasilpessoasebens,mudaseanimais, desmatar a selva e plantar as mudas de cana, implantar os engenhos e produzir o açucar, investindomuitopara,passadosdoisatres anos, poderauferiros rendimentos docapitaledotrabalho”(idem).

Escreveu Koebel: “A certos aspectos, talvez, nenhuma naçao haja colonizado com tanto entusiasmo comoPortugal.Umavezestabelecidos no país, os seus pioneiros nunca encaravam a nova conquista comoumlugarpararesidenciatransitoria” (Manoel Bomfim, OBrazil na America,1929,p.406).

Bomfim, acrescenta, contudo, ressalva: De facto, era assim, nos primeiros tempos do Brazil, ate que aqui se constituiu, pela lavoura, uma riqueza propria, capaz de ser explorada pelos mercantis. Depois, no tempo de Fr. Vicente, ja os reinois eram mais transitorios do

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que definitivos. Pouco importa: a necessidadedecultivaraterrapara ter riqueza fez o essencial, e deu a colonizaçao primeira do Brazil o carater que mais lhe convinha; e e isto o essencial na verificaçao que nos interessa. (idem, p. 406). Prossegue, linhas adiante: [...] os colonos portugueses iniciaram uma sociedade estavel, agrícola, vinculada ao solo, orientada imediatamente a fazer do país uma patria[...] (idem, p.407).

“O portugues foi por toda a parte, mas sobretudo no Brasil, esplendidamente criador nos seus esforços decolonizaçao”.(GilbertoFreyre,O mundo que o portugues criou, E realizaçoes,2010,p.25.).

Carlos LisboaMendonça:Acrescentemos, ainda, ao contrario do que muitas vezes ouvimos dizer, que o Brasil foi colonizado por material humano de boa qualidade; o melhor que naquela epoca existia em Portugal. Os líderes eram homens que ja haviam demonstrado seu valornaIndiaepertenciamacamadamaisrepresentativadavidapolítica e social portuguesa [...]. Os colonoserampessoascuidadosamente escolhidas, com quem os Capitaes pudessem contar nos momentosdedificuldade[...].(500anosdo descobrimento, editora Destaque, 2000,p.242).

Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 Arthur Virmond de Lacerda
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ra. Nao tive nem barco, nem mar. Quem viajou foram vozes brasileiras que entraram na minha casa como se nao houvesse porta. Essas vozes falavam de uma naçao distante que guardava Africa nas suas raízes e misturava Africa nas suas sementes.

Na minha varanda, desembarcou o

que buscavam refugio político em Moçambique eram pessoas tao generosas, solidarias e afaveis e era difícilaceitarqueamaiorpartedeles tivessem sido perseguidos, presosetorturados.

Ainda o Bicentenário...

Devido à importância do assunto e da larga participação dos nossos leitores, decidimos continuar com o tema relacionado ao Bicentenário da Independência do Brasil.

E continuamos, com a divulgação de uma carta do escritor Moçambicano Mia Couto, largamente conhecido no mundo da Lusofonia.

Aconteceu me a mim o oposto do que sucedeu com Pedro Alvares Cabral: encontrei voce, Brasil, pensandoqueeraaminhapropriater-

mardeDorivalCaymmi,desembarcaram os versos de Joao Cabral, de Bandeira, desembarcou a prosa de Drummond,Amado,Machado,Rosa e Graciliano. Havia um idioma que era o de Moçambique, mas que ja eraumoutro.Ehaviaumlugarque meabraçavacomosmeusproprios braços.Esseparentescoeramotivo deorgulhodosmoçambicanosque, enchendoopeito,avisavamomundo: olha que temos um irmao que sechamaBrasil!

Em 1975, ja Moçambique livre e independente, chegaram dezenas de brasileiros que fugiam do regime militar que se tinha instalado a força em Brasília. Esse país que eu idealizara como um lugar de afeto e harmonia era, desde 1964, governado pelo odio, pelo medo e pela violencia. Os brasileiros

Finalmente, em 1987, viajei para o Brasil, dois anos depois da democracia ter sido reinstalada. Foi como encontrar finalmente um pretendente com quem, durante anos, namorouporcarta.Nestecaso,nao houve desilusao. Pelo contrario, a paixaopelagenteepelaterrabrasileira nao me deixou ver a ruga e a macula.EncontreiumBrasilqueeu tinharomantizado.

Sobessacapadedoçuraeafabilidade havia uma outra dimensao de violencia que era filha e neta da brutalidade colonial. Eu tinha visitado voce, Brasil, como aqueles sujeitos que clamam serem cegos para raças e, dessemodo, nao sao capazesdeveroracismo.

Essa cegueira seletiva fez com que, decadas depois, me surpreendesse ofatodeosbrasileirosteremelegidoparapresidenteumhomemque declarasentirsaudadesdaditadura e que celebra como referencia moral um torturador no regime militar. Um presidente que substitui o dialogo pela ameaça das armas e que manifesta a maior indiferença peranteamorteeosofrimentodos seus compatriotas. Houve, admito, um Brasil que foi mais sonho do que realidade. Mas este voce de hojeeumpesadelobemreal.

Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022
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Omeumaiordesejoequeosbrasileiros superem de vez e para sempreestasuapassagempeloinferno. O Brasil que ganhou o respeito do mundo nao pode ser representado senao por alguem que celebra a vidaequedefendeotesouromaior danaçaobrasileira:ainfinitadiversidade do seu passado e pluralidadedoseufuturo.

Nao e apenas um desejo pessoal. E uma certeza: voce vai se levantar, vaisacudirapoeiraevaidaravoltaporcima.

Francisco Seixas da Costa, diplomata aposentado e antigo embaixador dePortugalnoBrasil.

ORAÇÃO AO ALTO

Foi necessario ter vivido, em 2008, como embaixador portugues, o tempo das comemoraçoes dos 200 anosdachegadadacorteaoBrasil, para me aperceber da filigrana diplomatica que sempre constitui, para o nosso país, o manejo das datas historicas que nos sao comuns com uma antiga colonia que teve um dos mais atípicos processos de independencia da Historia mundial.

Constituiuentaoumabelaliçaoobservar o modo como a narrativa brasileira entao tratou, em multiplas ocasioes, uma figura como dom Joao VI, tentando equilibrar uma intravavel apetencia para a caricatura ridicularizante da corte lusitana, que ali tropicalizara os seus bizarros costumes europeus, com a constataçao, que a verdade dos factos tornava impossível de contornar, de que acabou por ser

essa estada da monarquia lisboeta, exilada pela ambiçao napoleonica, que deu corpoe aceleroua expressaodanacionalidadebrasileira.

Das instituiçoes a cultura, o Brasil sabe bem que a presença da corte foi muito mais do que as coxinhas de frango que o rei adorava, foi bem alem das aventuras lubricas dospríncipes,oudaespanholaque ornaraosoberanopelasalcovasou da rainha louca que acabou por se apagarporalie,dessaforma,transformou o príncipe que chegara em 1808noreiqueiriaumdiaregressarasorigens.Umpouco“à contre coeur”, o Brasil sabe que tem obrigaçaodeacarinhar,emborasempre muitolanofundo,amemoriadesse rei dolente, um homem que afinal tinha uma sabedoria manhosa, a queonovopaístalvezdevaalguma coisa mais do que ainda hoje se permiteconfessar.

Algunsamigosbrasileiros etenho muitos nao gostam de ouvir me dizer que a lusofobia e a doença infantil da brasilidade. Mas e. E ate e muito natural que assim seja, se olharmosaHistoriacomalgumrealismo.

Uma independencia faz se sempre contra algo ou contra alguem de quem se e dependente. Por vezes, comosucedeuemalgumascolonias africanas de Portugal, foi necessaria uma luta armada, ela propria eivada de longas e penosas contradiçoesentreosprotagonistas,algumas prolongadas ate aos dias de hoje,comvistaaforçaramaoaum poder colonial relutante em resignar seasleisdaHistoria.

Ora nao foi esse o caso do Brasil.

Ali, foi o filho do rei portugues que acabou por corporizar o desejo do novo país de definir e seguir o seu proprio destino, deixando de ser uma muleta economica de um poder europeu decadente, ja entao quase so inchado de glorias de um tempoquejasefora.

Uns novos “Estados unidos” estavam ali a nascer. Mas nao tinham lutado contra Lisboa. Uma nova classe, onde curiosamente estava o dedo letrado de Coimbra, afirmava uma vigorosa vontade nacional e, nessediscurso,eraquaseimperativo o surgimento de alguma “vingança”contraoantigopoder.

A tal lusofobia, que chegou a ter expressoes muito fortes no seculo XIX,contraosquesequiseramprolongarnamaquinadonovoEstado, seria mais tarde corporizada na anedota“doportugues”,castigando o antigo poder atraves daqueles que ainda dele provinham, na procura do sustento. Era, no termo de contas, uma expressao, afinal benigna, desse inevitavel contraste, a substituiçao, retorica e risonha, da luta armada que nunca teve lugar.

Eraafarsa,emlugardatragedia.

E neste contexto que a posiçao de Portugal, como estranho parceiro nestas comemoraçoes do bicentenario da independencia do Brasil, se torna quase fascinante, como objetodiplomatico.

Ondeestamos,nessesfestejos?

Anossaposiçao,porquefomossimpaticamente convidados a participar e nao era imperativo que o fossemos, vale a pena notar , e quase a de um observador historico,naoencontrandoeuoutroquali-

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ficativomaisadequado.

Convocados para o exercício, revelamos, como país, silenciosa e discretamente, uma íntima satisfaçao porsermoschamadosaoato.Ogesto brasileiro, em si mesmo, afaga o nosso ego de antiga potencia declinantee,nofimdecontas,comoque da razao postuma ao reique soube gizar um “phasing out” inteligente, com uma gestao familiar da sua saídadecena.

Que acabe por ser uma relíquia morta,algomacabra,comdiferente simbolismo para cada lado, o coraçao de dom Pedro que e “primeiro”paraunse“quarto”para outros , a ser elevado ao alto destas comemoraçoes e algo que nao deixadeteralgumacoisadetocante.Como,afinal,oeaeternarelaçao luso brasileira.

Brasil, diz que o Brasil “nao tem muita vontade de se lembrar de Portugal” porqueeumpaíscom “sonhos de grandeza” incompatíveis com a memoria da ligaçao a um pequeno país que ha 200 anos deixou de ter ascendente sobre os negocios publicos brasileiros. Isso explicaraaignoranciaquenoBrasil existesobre o bicentenario daproclamaçao da independencia, que se assinalanestaquarta feira.

Segundo um estudo agora conhecido, realizado pela portuguesa Pitagorica e pelo brasileiro Ipespe, o desconhecimento e partilhado dos dois lados do Atlantico: 52% dos inquiridos brasileiros e 51% dos portugueses nao sabem que este anopassam200anossobreoacontecimento que ficou conhecido como Grito do Ipiranga. Nuno GonçaloMonteiroadiantaumaexplicaçao paraaqueleresultadoemPortugal: traumacoletivo.

Em 1822: Das Americas Portuguesas ao Brasil encontram se ensaios de quatro cientistas sociais portugueses e quatro brasileiros. A saber:AlainElYoussef,AndreaSlemian, Isabel Correa da Silva, Isabel Lustosa, Jorge M. Pedreira, Miguel Figueira de Faria e os dois coordenadores.

"Emcertamedida,oBrasiltorna se umcentropolítico,eumcentropolítico autonomo, entre 1808 a 1810", explica Nuno Gonçalo Monteiro

Um estudo brasileiro divulgado esta semana indica que mais de metade dos portuguesese dos brasileiros nao sabe que se assinala esteanoobicentenariodaindependenciadoBrasil.Esurpreendente?

O historiador Nuno Gonçalo Monteiro coordenou um novo livro sobre o bicentenario do Brasil. Em entrevista, analisa ressentimentos luso brasileiros e fala da exibiçao docoraçaodeD.PedroIV.

Professor da Faculdade de Letras de Lisboa e investigador coordenador do Instituto de Ciencias Sociais, Nuno Gonçalo Monteiro,de67anos,fazquestaodesublinhar que fala enquanto historiador enaocomocomentador.

Em entrevista ao Observador, a proposito da publicaçao do livro 1822:DasAmericasPortuguesasao

O livro de que se fala foi proposto pela editora aos autores (a chancelaCasadasLetrasdoGrupoLeya)e a coordenaçao esteve a cargo de investigador do ICS e da tambem historiadora Roberta Stumpf. O volume ja teve apresentaçao na Feira doLivrodeLisboa(quedecorreate 11 de setembro) e retoma trabalhos de investigaçao ja conhecidos, alem de incluir alguma pesquisa recente ainda pouco difundida. Destina se sobretudo ao grande publico em Portugal. “Se tivesse sido pensado para o publico brasileiro teria por exemplo um retrato mais detalhado dos conflitos regionais” no contexto da independencia,segundoocoordenador.

Nao sou especialista em inqueritos de opiniao atuais, mas convem nao achartudoassimtaoexcecional.Os norte americanos tambem nao fazemdeideiademuitosfactoshistoricos.

Mas que leitura tem esta ignorancia?

Do ponto de vista portugues, a rutura com o Brasil foi um acontecimento traumatico. Foi vivido como talaepoca.Asociedadeportuguesa do fim do seculo XVIII e inícios do seculoXIXeraumaespeciedecontínuo com o Brasil, como nunca foi com Africa, alias. Havia muito mais gente a ir para o Brasil, em termos relativos e por vezes tambem em termosabsolutos.Mesmonoseculo XX,tirandoumanooudois,oprincipaldestinodeemigraçaodosportugueses foi o Brasil, antes de ser França. A integraçao de Portugal comoBrasil,queterminaem1822

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Ressentimentos luso-brasileiros

mas tambem continua depois aoutros níveis, foi vivida como um acontecimento traumatico, que parecia contrariar os sonhos imperiais que se estava a querer construir. A independencia do Brasil encerrou de forma drastica um ciclo em que Portugal era um país Atlantico. Praticamente desde a Restauraçao [1640] Portugal mantinha as suas ligaçoes europeias, mas tinha as descentrado da Asia paraasconcentrarnaAmerica.

Essetraumaaindanaofoiultrapassado?

E um trauma que esta inscrito. Os portugueses andaram a alimentar um sonho imperial em Africa durante os seculos XIX e XX. Falar de umaindependencianaoseriaacoisaquedessemaisjeito.Alemdisso, aspessoasquepontificavamnazonaquefezaindependenciadoBrasil,ouseja,ocentro sul SaoPaulo, Santa Catarina, Porto Alegre, uma parte de Minas, menos o Rio de Janeiro nao tinham nenhuns vínculos com Portugal. O Brasil contemporaneo,apartirdemeados do seculoXIX, ja nao temumaligaçaocomPortugalcomotinhaantes, eapartirdemeadosdoseculoXXe um Brasil que começa a olhar para osEUA.

Prevalece um certo ressentimento emrelaçaoaPortugal?

A minha opiniao pode ir contra a corrente. Penso que esse ressentimento e em grande medida uma recriaçaofeitaapartirdomomento em que o Brasil sente dificuldades. O Brasil e a terra do futuro desde ha 80, 90 anos. Mas depois vive quebras nos indicadores de desen-

volvimento e de igualdade social.

Semprequepareceirdarosalto,as coisasnaoseconcretizam.Porisso, a esquerda e a direita, ha um discurso de imputaçao de responsabilidades a herança portuguesa: a violencia,acorrupçao,oatrasoeconomico,adesigualdadesocial.

Fazsentido?

Para quem o protagoniza faz sentido porque e uma forma de desresponsabilizaçao:“Aculpanaoenossa, a culpa e deles”. A resposta que ohistoriadorsensatotemquedare esta: ha muitas heranças coloniais a escravatura e uma delas, embora o Brasil pudesse ter terminado com ela mais cedo , mas ha muitos aspetos que nao tem nada que ver com heranças coloniais. Porexemplo,aviolenciaurbanano Brasil. E um fenomeno que nao se relacionacomaviolenciarural,decorre de que o Brasil se urbanizou apenas no seculo XX, tal como Portugal. Eram sociedade agrarias, muito desiguais, muito pobres, que sofreramprocessosdeurbanizaçao muitorapidosecomplexos.NoBrasil, foi uma catastrofe porque concentrou nos centros urbanos uma enorme quantidade de populaçao desenraizada que nao foi absorvida. Ou seja, essas imputaçoes tem fundamento em alguns casos, mas naonoutros.

O ressentimento baseia se num discursoideologico?

Muito ideologico. E um discurso esquematico. Nao permite distinguir entre continuidades indiscutíveis e mudanças que tiveram lugar nos ultimos 200 anos. E como se dissessemos que Portugal nao se

desenvolveuporcausadeD.JoaoV ou por causa do Marques de Pombal,queperseguiuosjesuítas.

Maseumdiscursoquecolhe.

Colhe e passa nas escolas, desde logo. E um discurso que cobre o espectro político brasileiro de uma ponta a outra. Basta ver que em relaçaoaGuerranaUcraniahahoje no Brasil uma visao muito crítica da Europa e isso esta presente em todaaculturapolíticadoBrasil.

Sera oequivalente ao ressentimentoqueosportuguesestememrelaçaoaEspanha?

FuiformadonissoduranteoEstado Novo, mas nao acho que os portuguesestenhamhojeumsentimento antiespanhol comparavel ao que havia no tempo em que andei na escola e em que fazíamos redaçoes sobre a reconquista de Olivença. Alias,aindependenciadoBrasil,tal como a rutura de Portugal como a monarquia hispanica, sao acontecimentos remotos. Nao estamos a falar da relaçao entre Portugal e Angola, cuja rutura se deu no tempo de vida de muitos que ainda ca estao. Diria que a imputaçao ao remoto passado e, em muitas areas, uma forma de gerar uma unidade coletiva contra um fantasma relativamenteinocuo.Portugalnaoeum ator político muito temível. Dito isto, deixe me acrescentar: e evidente que a sociedade portuguesa atual deveria assumir mais claramente o papel que os subditos do rei de Portugal tiveram no trafico de escravos. Isso e verdade, nao nos era ensinado na escola e e um aspetorelevantedanossaHistoria.

"Sobretudo na cultura das pessoas

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de geraçoes mais recuadas estava muito pouco difundidoopapel que ossubditosdoreidePortugaltiveram no trafico de escravos. Foram dos maiores praticantes do trafico de escravos. Ora, isso faz parte da Historia portuguesa, como muitas outrascoisas."

Porque e que emprega a expressao “subditosdoreidePortugal”?

Primeiro,porqueateaindependenciaeramtodosportugueses,caela. Depois,porqueaideiadequeocomercio de escravos foi todo ele triangularecentradoemLisboanaoe verdadeira. Houve, por exemplo, muito comercio direto entre Luanda e o Rio de Janeiro, ou entre a zona da Mina e Salvador da Bahia. Estou a dizer que os portugueses ainda nao tem uma relaçao normal comotraficodeescravos.

Sugere que Portugal, atraves de representantes eleitos, deve pedir desculpa ao Brasil e a Africa pelo esclavagismo?

Os pedidos de perdao sobre coisas passadas sao de um domínio mais oumenosreligioso.Eumatransposiçao direta de praticas da cultura eclesial, sobretudo de igrejas protestantes americanas. Sou muito crítico de pedidos de desculpa por acontecimentos remotos, mas acho que os países devem incorporarna Historia e na memoria as coisas que aconteceram. Sobretudo na cultura das pessoas de geraçoes mais recuadas estava muito pouco difundido o papel que os subditos doreidePortugaltiveramnotrafico de escravos. Foram dos maiores praticantes do trafico de escravos. Ora, isso faz parte da Historia por-

tuguesa,comomuitasoutrascoisas.

Mas como e que nao temos noçao disso se sabemos que houve escravatura no Brasil e que Portugal era apotenciacolonial?

Essa consciencia e recente. Nao existiria ha 40 anos. Nasci no tempo do Estado Novo, fui estudante nessaepoca,enaosefalavanisso.E umdadoquemereceserincorporado, nao para qualquer ato de contriçao ou para qualquer pratica autopunitiva, mas porque a memoria historica se deve fazer a partir de factosverdadeiros discutíveisna sua interpretaçao, por vezes, mas comprovaveis. Nao posso dizer sobreopassadotudooquemeapetecer, posso e interpretar de maneiras diferentes. Nos, historiadores, esforçamo nosporinterpretar,mas tambem por apresentar evidencias eindicadoresquesaosustentaveis.

Quer explicar um pouco melhor a ideia de que pedidos de desculpa por acontecimentos passados sao dodomíniodoreligioso?

Porque em ultima analise pedir desculpapelopassadoremetepara a noçao religiosa de pecado. E por isso.Eumatransposiçaoplanetaria de uma pratica de certos países. Vivemosnummundoemquecirculam os valores da liberdade, da democracia, e bem, mas tambem circulam modelos de comportamento quetendemaserimpositivoseuniformizantes. Tenho uma relaçao críticacomessatransposiçaoimpositivaaescalaplanetaria.Naoestou adefenderumisolacionismo,estou a defender a liberdade de circulaçaodeideias.Masdevemosmanter uma relaçao crítica com a circula-

çaodemodeloseformulas.

"Nasci no tempo do Estado Novo, fui estudantenessa epoca, e nao se falava nisso [escravatura]. E um dado que merece ser incorporado, naoparaqualqueratodecontriçao ou paraqualquer praticaautopunitiva, mas porque a memoria historicasedevefazerapartirdefactos verdadeiros discutíveis na sua interpretaçao, por vezes, mas comprovaveis."

Falemos do livro. Ha factos novos ouinterpretaçoesnovas?

Aparece a ideia de que se criou o Brasil como entidade política antes deexistirempropriamentebrasileiros. E uma ideia que ja tem algum tempo,naofuieuqueacriei.Entre muitas outras. O livro sistematiza ideias atualizadas e de maneira relativamente legível para um publicoquesepretendeamplo.Partimos de investigaçoes antigas e tambem de trabalhos recentes que ainda nao foram muito difundidos. A independencia do Brasil começa de alguma maneira por um processo de independencia de Portugal. A cabeça nao estava em Lisboa, estava no Rio. Paradoxalmente e esse processo que vai indiretamente desencadear a independencia do Brasil.Haoutroaspetodolivroque e importante: o Brasil podia ter se partido como se partiu a America espanhola. Isso nao aconteceu desdelogoporqueexistiuumprincípio delegitimidadedinastica,quecoincide com o princípio de legitimidadepopular.

Faz sentido dizer que a independenciadoBrasilfoiexemplar? Nao posso querer doutrinar. Nao

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posso dar normas, sou historiador, interpreto. Foi uma independencia diferente das outras. Melhor ou pior,podemosdiscutir.Aindahojeha quem entenda que o sul rico do Brasil poderia ter se separado do norte mais pobre. A componente monarquica contribuiu para essa independencia diferente, como um princípio de legitimidade que sub-

sistiu. Por outro lado, e preciso ter emcontaquehouvegrandesconflitos entre regioes e dentro de regioes, houve tentativas republicanas, nomeadamente em Pernambuco. Um fator de que pouco se fala, e queterapesado,foiqueocorpode oficiais, sobretudo o topo do Exercito brasileiro, era quase todo nascido em Portugal. Isso talvez tenha

contribuídoparaquenaoaparecessem tantos caudilhos como na America espanhola e a fratura no territorio nao se desse. Isto que acabodedizernaoeciencia,euma hipotese.

As Invasoes Francesas levaram a fuga da família real para o Brasil em 1807 e criaram condiçoes para a independencia, o que e sublinhado no livro. Mas tambem se le que “foi o processo constitucional portugues que acabou por precipitar a independencia do Brasil”. Esta e umaideiapoucocomum.

Quando as tropas de Junot entram ca, ja nao ha recuo possível e a coroa portuguesa, que tentava evitar a guerra por todas as formas, sai para o Brasil. Nao e um acontecimento remoto de 50 anos antes, e um acontecimento concreto de 1807 1808. As coisas aceleram se demaneiraextraordinaria.Emcerta medida, o Brasil torna se um centropolítico,eumcentropolítico autonomo, entre 1808 a 1810. Deixa de terde comerciar apenas com Portugal, os portos passam a estar abertos a navegaçao britanica. O estatuto colonial em termos de comercio, desaparece. Depois, tem todas as instituiçoes de governo que existiam ca e para cumulo a corte esta la. A alta nobreza acaba porvoltartoda,masoaparelhoadministrativo, judicial e militar fica la montado, no Rio de Janeiro. PassaaexistiroReinoUnidodePortugal,BrasileAlgarves.Pode sefazer umparaleloentreestafaseeaquelaemquePortugalsetinhaintegradoemEspanha.ORiodeJaneirode inícios do seculo XIX e equiparavel a Madrid ou Valladolid de meados

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do seculo XVII:a cabeçada monarquia nao esta em Lisboa. Ora, do ponto de vista da cultura política, 1822etambemoanodaConstituiçao em Portugal. A mudança faz se dentrodeumaculturapolíticaliberal, independentemente de D. Pedro ter pulsoes mais ou menos autoritarias. A naçao tem representantes e a imprensa tem o seu papel.AindependenciadoBrasileum momentodeculturaliberal,nosentido político que o termo tinha na altura,oquetornavailegítimaqualquerapropriaçaoautoritaria.

Escreve que a imprensa reforçou a polarizaçao no Brasil. Ou seja, com D.JoaoVIdooutroladodoAtlanticoosjornaiseospanfletoscomeçaram a ter um papel mais relevante navidapublica,eisso?

Começa a chegar ao Brasil imprensa vinda de Londres, como começa achegaraPortugal.Jornaisquesao impressos em Londres, em portuguesefeitosparaomercadoportugues, que nao ha maneirade impedir. Alguns ate sao patrocinados pela embaixada portuguesa em Londres com o objetivo de combater a imprensa crítica da monarquia. Ha uma explosao da imprensa,eummomentomuitoimportantedopontodevistacultural.

"OBrasiltorna seumcentropolítico, e um centro político autonomo, entre 1808 a 1810. Tem todas as instituiçoes de governo que existiamcaeparacumuloacorteestala. A alta nobreza acaba porvoltar toda, mas o aparelho administrativo, judicialemilitarficalamontado,no RiodeJaneiro."

Embora nao houvesse muita gente

asaberler.

Exatamente, mas as que liam, liam muito. E ha formas de difusao, comoaleituracoletiva,etc.Claroque a maioria da populaçao nao era abrangida,claro que 30ou 40% da populaçao brasileira era constituída porescravos e haviamuitos homens livres pobres, mas ha alguns momentos de participaçao popular no processo. Nao era a política de massasdoseculoXX,masaparticipaçao na esfera política sofre um alargamento, tanto em Portugal comonoBrasil,eissoajudaaindependencia. Os favoraveis de um lado e do outro mobilizam se. A imprensa e muito violenta, ha um artigo no livro, de Isabel Lustosa, sobre isso. Ja nao e o Antigo Regime, e o nascimento da imprensa moderna, digamos assim. E um aspetofundamentaletambemaquise pode dizer que a imprensa no Brasil e uma marca da cultura política liberal.

Portugalesteve300anosnoBrasil, de1500a1822,eha200anosque naoesta.Otempododomíniocolonial prevalece. Esta comparaçao permiteconcluiroque?

Que uma parte substantiva do que

oBrasilehoje,paraobemeparao mal,foiconstruídanoperíodocolonial. Isto inclui a continuidade territorial. A administraçao daquele territorio era bastante uniforme o que se fazia a custa de ir tirando territorio as populaçoes ameríndias, como e obvio. Camaras, capitanias,paroquias.Istonaosepassava na India portuguesa, por exemplo. Note se que uma grande parte doquesepassanoBrasil Acoroa organiza o modelo administrativo, etc., mas uma grande parte do que acontece deve se a quem para la vai.Tantootraficodeescravos,como a emigraçao portuguesa, amaiorpartedoqualtemorigemnoMinho,naoeacoroaqueorganiza. Acelebraçaodobicentenarioincluiu a exposiçao publica do coraçao deD.PedroIVemBrasília,queviajou desde o Porto. Houve alguma polemica. Como e que viu este episodio?

Com franqueza, o Brasil nao tem muita vontade de se lembrar de Portugal. Os seus sonhos de grandeza nao se compadecem com um voo tao pequenino. Acho que se deve evocar a independencia do Brasil, que e um aspeto fundamentaldaHistoriadoBrasiledaHistoria de Portugal. Nao se entende Portugalsenaoentendermosqueo Brasil fez parte de Portugal de forma intrínseca. Mas o episodio do coraçao nao me pareceu muito feliz. Talvez tenha sido impressionante, mas nao me pareceu uma invençao de ritual muito interessante.

Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 Bruno Horta
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set 2022

vidas pela monarquia, por nao haverbanheiros.

das para beber cerveja ou uísque; essacombinaçaoasvezesdeixavao indivíduo "no chao" (numa especie denarcolepsiainduzidapelamisturadebebidaalcoolicacomoxidode estanho).

Alguem andando na rua pensaria que ele estava morto, entao eles recolhiamocorpoesepreparavam

Os perfumes do antigamente...

Na Idade Media, nao havia escovas dedente,perfumes,desodorantese muito menos papel higienico. Excremento humano era jogado das janelasdopalacio.

Num dia de festa, a cozinha do palacio podia preparar um banquete para 1500 pessoas, sem a mínima higiene.

Nos filmes de hoje, vemos pessoas daquela epoca se sacudindo ou se abanando.

Aexplicaçaonaoestanocalor,mas nomaucheiroqueexalavamsobas saias(feitasdepropositoparaconter o cheiro das partes íntimas, ja que nao havia higiene). Tambem naoeracostumetomarbanhodevidoaofrioeaquaseinexistenciade aguacorrente.

So os nobres tinham lacaios para abana los, dissipar o mau cheiro que o corpo e a boca exalavam, alemdeafugentarosinsetos.

Quem esteve em Versalhes admirouosimensosebelosjardinsque, naquela epoca, nao eram apenas contemplados, mas serviam de banheironasfamosasbaladaspromo-

NaIdadeMedia,amaioriadoscasamentos acontecia em junho (para eles, o início do verao). O motivo e simples: o primeiro banho do ano era tomado em maio; entao, em junho, o cheiro das pessoas ainda era toleravel. Porem, como alguns cheirosjacomeçavamaincomodar, as noivas carregavam buques de florespertodocorpoparadisfarçar ofedor.Daíaexplicaçaodaorigem dobuquedenoiva.

Osbanhoseramfeitosemumaunica banheira enorme cheia de agua quente. O chefe da família tinha o privilegio do primeiro banho em agua limpa. Entao, sem trocar a agua, os demais chegaram a casa, por ordem de idade, mulheres, tambemporidadee,porfim,filhos. Os bebes eram os ultimos a se banhar.

As vigas de madeira, que sustentavam os telhados das casa, eram o melhor lugar para os animais, cachorros, gatos, ratos e besouros, se aquecerem. Quando chovia, as goteirasobrigavamosanimaisapularemnochao.

Quem tinha dinheiro tinha chapas de lata. Certos tipos de alimentos oxidam o material, fazendo com quemuitaspessoasmorramdeenvenenamento. Os habitos de higiene da epoca eram terríveis. Os tomates, por serem acidos, foram considerados venenosos por muito tempo,asxícarasdelataeramusa-

paraofuneral.Emseguida,ocorpo era colocado na mesa da cozinha poralgunsdiaseafamíliaobservava, comia, bebia e esperava para verseomortoacordavaounao.

A Inglaterra e um país pequeno, onde nem sempre havia um lugar para enterrar todos os mortos. Os caixoes foram entao abertos, os ossos removidos, colocados em ossarioseatumbafoiusadaparaoutro cadaver. As vezes, ao abrir os caixoes,percebia sequehaviaarranhoes nas tampas internas, indicando que o morto havia, de fato, sidoenterradovivo.

Assim, ao fechar o caixao, surgiu a ideiadeamarrarumaalçadopulso dofalecido,passando aporumorifício feito no caixao e amarrando a a uma campainha. Apos o enterro, alguem foi deixado de plantao ao lado do tumulo por alguns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimentodeseubraçofariasoaracampainha.Eseria"salvopelogongo",que e uma expressao popular que usamosatehoje.

Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022
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doc.com

LITERATURA Jornalista formado em Joinville lança novo livro de poemas “CorpoFumegante”,deJoaoBatista (JB),saipelaeditoraIpeamarelo,de Itajaí

ComformaçaoetrajetoriaemJoinville, o jornalista Joao Batista (JB), radicado em Balneario Camboriu, lançou seu segundo livro de poemas,intitulado“CorpoFumegante”, pelaeditoraIpeamarelo,deItajaí.A obraestadisponívelnocatalogodo selonestelinkhttps://tinyurl.com/ yckkpeym.

“CorpoFumegante”soma77textos que integram parte da produçao mais recente do autor. Os poemas exploram as possibilidades da linguagem, na construçao de imagens que incorporam o poetico dos elementosdocotidiano,passandopelo concreto, o abstrato e o transcendente.

Os versos atravessam, como fumaça ao fogo, o corpo dos poemas, ao mesmo tempo unico e fragmentado,natentativadetransformarafetos, sentidos, dores e fingimentos

em palavras vivas no espaço suspenso da fruiçao. Amor e morte, vícioepuro,comumeraroligamos nervosdestecorpo livro.

A obra conta com apresentaçao do musico e compositor Tiago Luis Pereira, de Joinville. “Corpo Fumegante reune poemas que dialogam entre si tanto pela tematica quanto pelozelonoentalhefinal,comdestaqueparaamusicalidadeintrínseca de versos cuja cadencia rítmica pouco se afasta da linguagem coloquial”,comenta.

O autor

Natural de Imaruí, no litoral sul de Santa Catarina, Joao Batista (JB) e jornalistaformadoemJoinville,ondemorouporquase30anos.AtualmenteradicadoemBalnearioCamboriu,foimembro do Grupo de Poetas Zaragata, da Associaçao das Letras e da Confraria do Escritor, entidadesliterariasjoinvilenses.

O autor trabalhou no jornal Notícias do Dia em Joinville, onde tambemfoicronistadocadernodeculturaPlural.Atuaha13anosnojor-

nalismoetempublicadoolivro“Os mesmos nos” (Design Editora, 2010) e poemas em diversas coletaneas, alem de cronicas e contos premiados. Desde 2016 e reporter dojornalDiarinho,emItajaí.

SERVIÇO

“Corpo Fumegante” (poesia, 106 pag.)

EditoraIpeamarelo R$40

https://editoraipeamarelo.com.br/ produto/corpo fumegante/

Contatocomoautor: (47)99197 9273 @jb_jotabe

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Se tens uma crônica, um conto, um poema, um ensaio que queiras partilhar com nossos leitores, envia para narealgana@gmail.com e dependendo do espaço e de identificação com nossos propósitos, poderás ter teu trabalho divulgado pelo corrente d’escrita.

Fotos com História

Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 Moinhodecereais,particularmentedemilho,aindaexistentenointeriordopaís.
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O jornalista e academico uruguaio Leonardo Haberkorn, desistiu de continuar a dar aulas do curso de "Comunicaçao" na Universidade ORT de Montevideu, atraves desta carta que comoveu o mundo da Educaçao:

"Depois de muitos anos como professor universitario, hoje dei aula nafaculdadepelaultimavez.Estou cansadodelutarcontratelemoveis, WhatsApp e Facebook. Eles venceram me. Eu desisto. Eu atiro a toalha ao chao. Cansei me de falar de assuntospelosquaiseusouapaixonado, para rapazes e raparigas que nao conseguem tirar os olhos de um telemovel que nao para de receberselfies.

E verdade que nem todos sao assim, mas ha cada vez mais a ficar assim.Atehatresouquatroanos,o apelo para deixar o telemovel de ladopor90minutos nemquefosse so para nao ser desrespeitoso ainda teve algum efeito. Ja nao o estaater.Podeserquesejaeuque me tenha desgastado demais neste combate, ou queesteja afazer algo deerrado.

Mas umacoisa e certa:muitos dessesmiudosnaotemconscienciado quao ofensivo e, e o quanto magoa o que eles fazem. Alem disso, esta cada vez mais difícil explicar como funciona o jornalismo, a pessoas que nao o consomem, nem lhes faz diferençaestarinformadoounao. Esta semana na aula saiu o tema Venezuela. Apenas uma estudante entre 20 conseguiu explicar o basi-

codoconflito.Obasico!!!

O resto nao fazia a mínima ideia.

Perguntei se eles sabiam que Uruguaio estava no meio dessa tempestade. Obviamente, ninguem sabia.

Perguntei lhesseelessabiamquem e o "Luis Almagro". Silencio. Entre as "cansadas" do fundo da sala, uma unica miuda apenas balbuciou:"NaoeraoChanceler?".

O que esta a acontecer na Síria? Novamentesilencio.

Qual partido e mais liberal, ou esta mais a esquerda nos Estados Unidos? Democratas ou Republicanos? Silencio. Sabem quem e o Vargas Llosa?

"Sim! Sim!" Alguem leu algum dos seus livros? "Nao, nenhum". Lamento que os jovens nao consigam libertar se do telemovel, nem mesmo na aula. Conectar pessoas tao desinformadas com o jornalismo, e complicado.

E como ensinar botanica a alguem que vem de um planeta onde nao existemvegetais.

Num exercício em que os alunos tinham de sair para encontraruma notícia na rua, uma estudante voltou com a notícia de que ainda se vendemjornaiserevistasnarua. Chegaumaalturaemqueserjorna-

lista joga contra si mesmo. Porque nos somos ensinados a colocarmo nos no lugar do outro, a cultivar empatiacomoferramentabasicade trabalho.

E entao vemos que esses miudos que continuam a ter a inteligencia, a simpatia e o calor de sempre foram enganados, a culpa nao e so deles. A incultura, o desinteresse e o alheamento, nao lhes nasceu do nada.

Foram lhesmatandoacuriosidade, ecadaprofessorquedeixoudelhes corrigir os erros ortograficos, lhes estava a ensinar que tudo vai dar maisoumenosaomesmo.

Entao,quandotuentendesqueeles tambem sao vítimas, quase sem percebervaisbaixandoaguarda. Eaíomauacabasendoclassificado como medíocre; o medíocre passa porbom;eobom,naspoucasvezes quechega,celebra secomosefosse brilhante. Nao quero fazer parte desse círculo perverso. Nunca fui assim e nem serei. O que eu faço, gosto de fazer direito, ou o melhor possível, e eu nao suporto o desinteresse a cada pergunta que faço, respondida invariavelmente com o silencio.Silencio!Silencio!Silencio! Elesqueriamqueaaulaacabasse. Eutambem."

Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 In Facebook Minha língua, minha pátria.
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Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022
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Nós, portugueses, brasileiros, guineenses, timorenses, angolanos, moçambicanos, caboverdianos, são-tomenses… falamos e entendemonos em “bom” PORTUGUÊS. Não precisamos de “muletas” estrangeiras.

Escritor

Divulga as tuas obras e as obras de teus confrades. Não vivas numa masmorra, isolado do mundo e da vida. Teus escritos não foram criados para viverem numa gaveta ou na memória de teu computador.

Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022
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Página 35 Ano V Número 58 Mensal: outubro de 2022 Divulgue Partilhe Leia Corrente d’escrita Aceda ao nosso site e inscreva se: será sempre avisado quando tivermos novidades www.issuu.com/correntedescrita Ler,Aprender, Divulgar.

OUTONO, uma forma de pensar a vida.Quandoseatingetresquartos de um seculo, a vida tem outros horizontes, outros prazeres, outros estadosdealma.Ostemasdasconversas sao diferentes, as preocupaçoessaooutras,mas,esobretudo,a experiencia e as liçoes da vida sao muito mais enriquecedoras e valorizadas.

MOMENTOS, quepoderiamserde amargura, de tristeza, de sofrimento, mas tambem de alegria, de comemoraçao,decomemoraçao,mas, embora possam ser tudo isso, sao, sobretudo,MOMENTOS depoesiae dereflexao.

Afonso Rocha mistura poesia com pensamentos de cariz fisiologico, mas sobretudo, de pensamentos refletivos tomados ao longo das vivenciadoquotidiano.

CANASVIEIRAS 270 anos, retrataahistoriaeasgentesquefundaram este distrito de Florianopolis/SC. Criado oficialmente a 15 de abril de 1835, o povoado ja existia desde os primordios da fundaçao do arraial Nossa Senhora do Desterro, em 1673, por Francisco Dias Velho. Recebeu um grande incremento populacional com a chegada dos primeiros açorianos em 1748. No tempo, o povoado estava integrado na freguesia de Santo AntoniodeLisboadesde1750. Oseunomederivadaexistenciana regiaodeumgrandecanavial(cana do rei, ou simplesmente cana). Muitos escritores, particularmente Virgílio Varzea escreveram sobre Canasvieiras.

Afonso Rocha da nos, com este seu recente trabalho, um novo olhar e umaprevisaofuturistadobalneario maisfamosodeFloripa.

Foi isso que oautor quistestemunharcomesteOUTONO cronicas &arrufos,umconjuntode75narrativas uma por cada ano, que tomamaformadecronicas,contos, ensaios, reportagens. Umas mais longas, outas mais curtas; umas mais distantes, outras mais recentes, mas todas com endereço e nome.

Sao testemunhos devidae deestadosdealma.

Livros à venda, direto do autor Impressos: R$ 35,00—E-book/Pdf: R$ 5,00 Qualquer título Pedidos a: narealgana@gmail.com Página 36

As mulheres, os homens, as crianças e os idosos; a comunidade LGBT;os negros, os índios, osciganos, os imigrantes e todos os demais desprotegidos, sao perseguidos, violentados, agredidos e estuprados...

Nesta obra intimista, Afonso Rocha passeia se pela sua propria experiencia, mas tambem a de todos nos, como comunidade, para que se dinamizeereforceaformadecombaterestasmazelas,estescrimesbarbaros (a pedofilia, estupro), ja considerados como o holocausto do seculoXXI.

SANGUE LUSITANO, atraves de estorias imperdíveis, Afonso Rocha leva nos ate 500 anos atras, quando os portugueses chegaram aosul doBrasil,ondecriaramfamília,cultivaram tradiçoes e culturas que viriam a “marcar” a cultura catarinense.Aolongodostempos

SangueLusitanoeahistoriadoRio Grande do Sul e de Santa Catarina, de suas vilas e cidades e de seus povos (indígenas, portugueses, negros e outros que se lhes juntaram posteriormente).

Umlivroanaoperder.

Olhos D’Água Historiasdeum tempo sem tempo, relata nos as vivencias do povo portugues entre 1946 e 1974 e a sua resistencia a ditadura e ao fascismo do regime salazaristadeentao.

Poroutrolado,configuraumaautobiografia do autor (Afonso Rocha) nas suas andanças pelo período escolar,peloserviçomilitar;aguerra colonial em Africa; a emigraçao emFrança;aresistencia,atearevoluçaodoscravos.Em25deabrilde 1974.

Um livro a nao perder, sobretudo paraquemgostadehistoria.

Trovas ao Vento, e uma coletanea de poemas e outros pensares, enriquecida com o contributo de outros poetas convidados naturais do Brasil, Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Angola e da Galiza, como expressao do pensar lusofono.

Um encontro de expressoes diferentes, manifestadas pela língua comum que nos cimenta e faz pensarportugues.

Livros à venda—impressos & E-book/Pdf narealgana@gmail.com Página 37
Página Corrente d’ escrita Número 37 setembro 2020INÉDITOS na amazon.com
Biblioteca em Helsínquia Finlândia, em forma de navio

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