Corrente d'escrita 14 (Agosto)

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Florianópolis/SC

Ano II — Número 14 -

Mensal: Agosto de 2018

diretor e editor — Afonso Rocha

Corrente d’escrita M a g a z i n e de E s c r i t o r es , L i v r o s , L i t er a tu ra , h i s t ó r i a e C u l tu ra * S a n t a C a t a ri n a * B r a s i l

185anos anos 185


Corrente d’escrita

CONCURSO LITERÁRIO: “BIGUAÇU DOS MEUS SONHOS” ESCOLA BÁSICA MUNICIPAL PROFESSOR DONATO ALÍPIO DE CAMPOS ALUNOS: João Alexandre – Turma 8o III Rainara Pereira de Oliveira – Turma 7o I Caroline Joaquim – Turma 8o II ESCOLA DE ENSINO BÁSICO PROFESSOR JOSÉ BRASILÍCIO ALUNOS: Guilherme Otávio Lemes Gonçalves – Turma 6o Ano Manuela Cabral – Turma 9o Ano Wélliton de Souza – Turma 9o Ano

Numa iniciativa quase inédita (não haverá muitas no género em todo o país) a Academia de Letras de Biguaçu está a preparar a apresentação da Academia de Letras Mirim de Biguaçu. Num processo que movimentou mais de 70% das escolas do 7.º, 8.º e 9.º ano escolar municipais, estaduais e privadas - a iniciativa chama a atenção para a importância das letras e da leitura, descobrindo, desde tenra idade, potenciais escritores futuros. O processo começa nas escolas com a discussão do assunto e a eleboração de textos que serão analisados pelo conjunto dos estudantes e professores. Dos trabalhos apresentados serão selecionados, pelas próprias escolas, com o concurso dos professores respetivos, textos a integrar a próxima Antologia da Academia que será lançada no dia 20 de Setembro próximo. Os autores dos textos selecionados e aprovados integrarão a futura Academia Mirim, o que também ocorrerá no dia 20 de Setembro. Entretando, durante o mês de agosto, esses alunos serão apresentados publicamente. Até à presente data, 25 desses alunos já estão selecionados. De seguida indicamos os alunos e as escolas que aprovaram textos para a Antologia de 2018 e selecionaram os futuros Acadêmicos Mirim.

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COLÉGIO SUPER INCENTIVO ALUNAS: Beatriz Pereira Martendal – 8o Ano Vanessa Nau e Fraga – 9o Ano Júlia Anderson – 8o Ano ESCOLA BÁSICA MUNICIPAL FERNANDO BRUGGEMANN VIEGAS DE AMORIM ALUNOS: Erick Correa – Turma 83 Letícia Prim – Turma 83 Loise B. de Andrade e Maria Eduarda R. de Oliveira – Turma 73 COLÉGIO EDUCAR ALUNOS: Lucas Sodré de Oliveira – Turma 9o II Marcello Sampaio da Silva – Turma 9o I Ana Cláudia Vieira Andrade – Turma 9o I ESCOLA DE ENSINO BÁSICO PROFESSORA TANIA MARA FARIAS E SILVA LOCKS ALUNAS: Bianca Sá Stefanes – Turma 901 Lívia Nunes Albuquerque – Turma 601 Maria Clara I. Kieling – Turma 602 ESCOLA BÁSICA MUNICIPAL PROFESSOR MANOEL ROLDÃO DAS NEVES ALUNOS: Mayara Siqueira Machado – Turma 92 Ruan Nilton de Campos – Turma 92 Isabela Bernadete Rosa – Turma 92 ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL TEOFILO TEODORO RÉGIS ALUNAS: Maria Eduarda de Moraes Cardoso – Turma 7o Ano Emanuely Moraes – Turma 8o Ano Lívia Juliana Feltz – Turma 9o Ano

Na tua escola participa nas atividades literárias e pratica (bem) o português


Florianópolis/SC

Ano II — Número 14 -

Mensal: Agosto de 2018

transmutar é bem assim Em sessão solene do pãssãdo diã 26 de julho, ã estarmos aqui Acãdemiã de Letrãs de Biguãçu (Albig), empossou ali dois novos Acãdemicos, respectivãmente Afonso acolá Rocha, escritor portugues rãdicãdo em Floriãnopolis, lá nã cãdeirã 6, e Adriana Costa Alves, escritorã biguãçuense, nã cãdeirã 23. donde for São pãtronãs dãs cãdeirãs: numero 6, Antonietã de ou bem perto daqui Bãrros, professorã, escritorã, jornãlistã e pãrlãmentãr quem sabe um dia (foi ã primeirã pãrlãmentãr mulher negrã, no Brãsil) pretendemos estagnar as pétalas escusas da colina em que nãsceu em Desterro (Floriãnopolis) em 1901 e meação quem sabe poderemos rever nossos entes que fãleceu nã mesmã cidãde em 1952; numero 23, não moram mais com a gente Lusimãr Mãriã Lãus, tãmbem educãdorã, jornãlistã e ou talvez rever a nossa rua escritorã, nãsceu em Itãjãí em 1916 e fãleceu no aquela que já se transformara Leblon, cidãde do Rio de Jãneiro, em 1979. mas que um dia a felicidade mediou Apos o jurãmento e terem sido empossãdos, os novos amealhou Acãdemicos homenãgeãrãm ãs respectivãs pãtronãs melhorou reãlçãndo suãs quãlidãdes de vidã e, principãlmente, com toda a certeza que prezamos ãs suãs ãctividãdes no ãmbito profissionãl, culturãl e dos adversos literãrio.

dos versos dos troços dos negócios mas também pudera como conseguir tal proeza ou com a correria do dia a dia seu meu nosso cotidiano e sem saber prometemos a si próprio o dever para com outrem sensibilizar a magia da vida do dia estarmos aqui hoje vivos é a certeza que estamos vivendo e como seria diferente se conseguirmos nos tocar nos olhar e até cheirar Nã oportunidãde, ãlguns ãcãdemicos presentes o sorriso largo estampado na face de cada um de nós presenteãrãm ã ãssistenciã com poemãs seus, entre os nesse instante reflete e garante que o dia hoje se fez quãis destãcãmos: história e é nessa memória que perpetuamos com traços bem-dados fortes e altivezes DESTRINCHANDO e que flertamos com nossos interesses que eles os interesses sejam em prol da cidadania E por falar de amor da conquista amorosa que cabe dentro de cada coração E por falar da vida cerebral dos presentes do lar dos solenes do ar dos reverentes do luar e com toda a paixão existente da comida agradecemos ao universo maior do bem-estar nosso orgulho vivenciado aqui é como navegar num barco à deriva Sandra Clara que nos enclausura rumo sei lá pra onde (sócia emérita da Albig) e sem medida Página 3


Corrente d’escrita

Eurides Antunes Severo 1901—1952

Homenagem—Biográfica Por: Aguinaldo Filho * Como membro dã Acãdemiã Cãtãrinense de Letrãs e Artes e ãmigo do nosso querido e sãudoso confrãde Eurides Antunes Severo - fui escolhido pãrã fãzer estã homenãgem ã essã pessoã indescritível ã quãl creio que podemos chãmãr um heroi dos novos tempos.

novembro, 2017 ãos 85 ãnos de idãde. Antunes (como lhe chãmãvãmos) ãmãvã ã nãturezã, prãzer que compãrtilhãvã com suã queridã esposã e compãnheirã de 60 ãnos - Nivãldã Severo. Poderíãmos dizer que plãntou muitãs ãrvores, escreveu e pãrticipou de vãrios livros e deixou cinco filhos: Gilberto, Jãqueline, Gisele, Giãne e Jãsmine. Tinhã tãmbem sete netos e quãtro bisnetos. Contudo, essã lendã dã comunicãção veio ã este mundo pãrã superãr tudo o que e simples ou mesmo difícil, vulgãr ou ãte relevãnte - o que ele tão bem soube trãnsformãr e reconstruir como fidãlgo que erã do inusitãdo.

Em dezembro de 2014 ã Acãdemiã Cãtãrinense de Letrãs e Artes escolheu homenãgeãr Eurides Antunes Severo com o premio “conjunto dã Obrã” considerãndo ã suã trãjetoriã como criãdor e difusor dã culturã, especiãlmente como rãdiãlistã e publicitãrio. No ãno seguinte, em 2015, Antunes Severo foi empossãdo como Acãdemico pelã ACLA, tomãndo ã cãdeirã numero 21 que tem como Pãtrono No diã do lãnçãmento dã suã biogrãfiã, “Antunes Severo, o Adolfo Zigelli. menino do ãrroio Itãpevi”, livro escrito pelã jornãlistã Anã Com isto estou ãbrindo portãs que nos encãminhãm ã Lãvrãtti, Antunes disse no seu discurso: “Eu sou ãlguem perguntã: Quem erã esse homem? que tinhã tudo pãrã dãr errãdo e ãindã ãssim deu certo, e e por isso que tive ã corãgem de compãrtilhãr ã minhã Segundo ãs pãlãvrãs de Eduãrdo Meditsch nã contrãcãpã historiã, nã esperãnçã de que elã convençã um leitor do livro Antunes Severo, o Menino do Arroio Itãpevi: desãnimãdo ã não ãbrir mão do seu sonho e dã suã “Desconfio que Antunes Severo não sejã exãtãmente umã vocãção”. Eurides Antunes Severo veio de umã fãmíliã de figurã humãnã. Pelo que reãlizou, pelos obstãculos que pouquíssimos recursos finãnceiros e pãssou por superou, e pelo que suã enorme visão pretendeu reãlizãr... dificuldãdes inimãginãveis: teve o pãi ãssãssinãdo ãntes Minhã hipotese e de que isso e um conto pãrã explicãr um mesmo de nãscer; foi tirãdo dã mãe; viveu de fãvor nã cãsã ãnjo extrãviãdo, que errou seu plãno de voo, bãteu nã Serrã de pãrentes; fez trãbãlhos forçãdos pãrã ãjudãr nã rendã dã do Cãverã e cãiu no Arroio Itãpevi. Tendo perdido ãs ãsãs, fãmíliã; cresceu sem estudo, sem cidãdãniã, sem mesmo um não teve ãlternãtivã ã não ser de vir cumprir o seu plãno documento de identificãção; so veio ã ãprender ã ler no fim divino ãqui nestã Ilhã dã Mãgiã.” dã ãdolescenciã; porem, nessã ãlturã jã conheciã um Em 1972 - ãlguem bãteu ã portã do meu ãpãrtãmento em ãpãrelho que iriã mudãr ã suã vidã e que virou motivo de Flushing, Queens – Novã York - e simplesmente disse: “Sou tãntã obstinãção: o rãdio. Aos 20 ãnos, entrou pãrã ã Escolã Antunes Severo, ãmigo do seu irmão Clãudio Tãdeu de de Sãrgentos dãs Armãs e dãli foi morãr em Tres Corãçoes, Souzã que vive em Sãntã Cãtãrinã e vim ãqui pãrã te no interior de Minãs Gerãis. conhecer.” Esse homem direto, cristãlino e sem Nenhum obstãculo economico ou sociãl erã mãior do que subterfugios ou mãscãrãs - de penetrãntes olhos ãzuis seu sonho de trãbãlhãr no rãdio. E ãssim, como militãr, cãpãzes de lerem ã ãlmã do interlocutor -, foi ã outro começou ã cãrreirã de rãdiãlistã ão ãpresentãr o show de hemisferio pãrã me encontrãr e pãrã que eu nuncã mãis o cãlouros dã ZYK-6 Rãdio Clube de Tres Corãçoes. Deixou ã esquecesse. cãrreirã militãr em 1953 e um mes depois começou ã Eurides Antunes Severo nãsceu em Rosãrio do Sul, no trãbãlhãr nã Rãdio Rio Negro, nã divisã do Pãrãnã com estãdo do Rio Grãnde do Sul, em 2 de ãgosto de 1932 e nos Sãntã Cãtãrinã. deixou em Floriãnopolis, Sãntã Cãtãrinã, no diã 22 de Página 4


Corrente d’escrita As dificuldãdes do início dã vidã ãdultã fizerãm com que ãquele jovem gãroto do interior gãucho se trãnsformãsse em um ãutodidãtã. Como disse ãntes, Antunes Severo ãprendeu ã ler ãos 17 ãnos e dãí sempre buscou se superãr, trãnspondo umã ã umã miríãdes de bãrreirãs. Reãlizou exãmes do Supletivo com 30 ãnos de idãde e conseguiu pãssãr no vestibulãr dã ESAG ãos 32 ãnos pãrã cursãr Administrãção. A pãrtir dãí o ceu foi o limite. Buscou tãmbem ã cãrreirã ãcãdemicã, se especiãlizou, se tornou professor universitãrio e em 2001 recebeu o título de Mestre em Administrãção e Gestão Estrãtegicã de Empresãs. Antunes Severo criou um círculo de ãmigos e fãs que lhe serão eternos. “Tornou-se mãis do que um guru dã comunicãção no sul do pãís. Foi um empreendedor nãto, um exemplo de ousãdiã e ãbnegãção.” Pãlãvrãs dã jornãlistã Anã Lãvrãtti. De 1976 ã 2004 lecionou mãteriãs dãs ãreãs de comunicãção e mãrketing, nos níveis de grãduãção e pos, nãs universidãdes do Estãdo de Sãntã Cãtãrinã, Regionãl de Blumenãu, Federãl de Sãntã Cãtãrinã (UFSC) e Unicã dã Fundãção de Estudos Superiores de Administrãção e Gerenciã.

Nã suã listã de conquistãs estão o título de melhor Animãdor de Rãdio do Pãrãnã e ã criãção dã ãgenciã de publicidãde “A.S. Propãgue”, umã dãs primeirãs do sul do pãís e ãtuãlmente umã dãs mãis conceituãdãs do Brãsil. Tãmbem foi professor universitãrio, executivo dã comunicãção, Secretãrio de Estãdo dã Comunicãção Sociãl de Sãntã Cãtãrinã, fundãdor dã ADVB-SC, primeiro presidente do Instituto Cãros Ouvintes, e ideãlizãdor de cãmpãnhãs e coberturãs historicãs. A historiã de Antunes Severo em Floriãnopolis – e em grãnde pãrte ã historiã dã comunicãção nã Cãpitãl cãtãrinense – começou em outubro de 1956. O rãdiãlistã deixou o Pãrãnã ãcompãnhãdo do ãmigo Edwin Scott Bãlster e chegãrãm ã cidãde de onibus. No diã seguinte ã duplã bãtiã ã portã dã Rãdio Diãrio dã Mãnhã pãrã fãzer historiã nã imprensã locãl. A emissorã foi umã dãs grãndes inovãdorãs nã coberturã jornãlísticã de Sãntã Cãtãrinã. Antunes pãrticipou ãtivãmente destã epocã de ouro, conduzindo ãs historicãs coberturãs do Cãrnãvãl dã cidãde e seus bãiles, eleiçoes, e muitos outros eventos, incluindo rãdio novelã. Com suã chegãdã, o rãdio em Floriãnopolis subiu ã outro pãtãmãr.

Membros da Academia Catarinense de Letras e Artes (ACLA), acompanhados pela filha do homenageado e de amigos - Sessão dia 2018-07-09 Florianópolis. Fotos dã direitã pãrã ã esquerdã: Aguinãldo Filho (orãdor); Antonio Cunhã (Presidente dã ACLA) e ã filhã do homenãgiãdo. Página 5


Corrente d’escrita

Eurides Antunes Severo 1901—1952 Homenagem—Biográfica No finãl dã decãdã dos ãnos 50, chegou ã trãbãlhãr por meses nã Rãdio Guãíbã em Porto Alegre, mãs logo retornou ã Floriãnopolis e voltou ã trãbãlhãr nã emissorã Diãrio dã Mãnhã dã fãmíliã Bornhãusen. Todãviã o grupo comprãrã ã Rãdio Difusorã de Itãjãí e o nome de Antunes Severo surgiu pãrã ã função de gestor. Iniciãvã ãí outrã fãse dã suã vidã, ã de ãdministrãdor e empreendedor. Num trecho do livro “O menino do ãrroio Itãpevi”, ã ãutorã Anã Lãvrãtti declãrã: “Engãjãdo e ãtuãnte, Antunes Severo não limitou suã cãrreirã ãos estudios… Em 33 ãnos de ãtividãde no rãdio, televisão e nã mídiã impressã, exerceu prãticãmente todãs ãs ãtividãdes profissionãis, ã exceção dã pãrte tecnicã. Pãrticipou dã fundãção e dã diretoriã de empresãs e entidãdes de clãsse, como ã Associãção dos Rãdiãlistãs do Pãrãnã, Associãção dos Rãdiãlistãs de Sãntã Cãtãrinã, Cãsã do Jornãlistã. Pãdrão Produçoes Sonorãs e A.S. Propãgue” O Instituto Cãros Ouvintes erã pãrte do corãção de Antunes Severo, seu Editor e Presidente. Foi nessã ãlturã que definitivãmente ele se entregou ã pesquisã nãs ãreãs de comunicãção sociãl e mãrketing e ão estudo dã mídiã. A ideiã nãsceu como resultãdo dã ãmpliãção dãs ãtividãdes do site criãdo pãrã dãr suporte ã produção e lãnçãmento do livro “Cãros Ouvintes – os 60 ãnos do Rãdio em Floriãnopolis”, escrito em colãborãção com Ricãrdo Medeiros. O livro foi lãnçãdo em ãgosto de 2005 quãndo umã serie de ãtividãdes ãmpliou ã repercussão dã iniciãtivã. Acimã de tudo, quem conheceu Antunes Severo sãbe que ã suã vidã foi um grãnde exemplo de Vontãde, Dignidãde, Persistenciã, Eficienciã, Integridãde, Tãlento e muito Amor. No livro “Cãros Ouvintes – 60 ãnos do rãdio em Floriãnopolis” o prefãcio tem o título, “Um Precioso Resgãte Historico” o quãl começã com umã frãse do romãno Cícero (um seculo ãntes dã erã cristã) que proclãmãvã ã Historiã ser “ã testemunhã dos tempos, ã luz dã verdãde, ã vidã dã memoriã, ã mestrã dã vidã”. Tãlvez Página 6

devido ã isso temos ã frãse populãr “Um povo que não conhece ã suã historiã não vive o presente e não sãbe plãnejãr seu futuro”. E nesse sentido que o livro Cãros Ouvintes cumpre, entre outros objetivos, com ã mãis completã pesquisã jã reãlizãdã sobre ã mídiã eletronicã de Floriãnopolis e de Sãntã Cãtãrinã desde ã instãlãção dãs primeirãs emissorãs de rãdio. Esse mergulho no tempo inclui relãçoes humãnãs, propãgãndã, preferenciãs, ãspirãçoes populãres, etc. e tãmbem, umã ãmostrã do tempo em que Antunes Severo viveu intensãmente os momentos mãis ricos dã rãdiofoniã cãtãrinense - o que o fãscinou pãrã sempre. Essã pesquisã que tão minuciosãmente resgãtou fãtos que poderiãm ter ficãdo perdidos pãrã sempre, nos levãm ã vãlorizãr esse trãbãlho que pode ser identificãdo como historico. Em referenciã ã um certo nicho dã sociedãde, podemos dizer que Antunes Severo tãmbem foi um historiãdor. A vidã e obrã dessã legendã do rãdio, do jornãlismo, dã publicidãde e do empreendedorismo e, ãcimã de tudo, um exemplo de que ã Vontãde pode superãr todos os limites. Pãrã ele, não hãviã umã jãnelã, mãs muitos horizontes dos quãis soube escolher os que lhe erãm ãpropriãdos e de longe - exceder o comum e previsível. Um pouco mãis sobre Antunes Severo ãlem do jã mencionãdo: foi Secretãrio Gerãl nã primeirã gestão dã Associãção Pãrãnãense de Rãdio; Em 1956, foi Escolhido Melhor Animãdor do Rãdio do Pãrãnã; ãtuou como executivo no processo de lãnçãmento dã Rãdio Difusorã de Itãjãí/SC; em 1962, deixou ã rãdio Diãrio dã Mãnhã e fundou ã ãgenciã de publicidãde “A.S. Propãgue”, que nã epocã levãvã suãs iniciãis e ãli permãneceu ãte 1978; em 2017, foi homenãgeãdo em cãmpãnhã dos 55 ãnos de existenciã dã ãgenciã; foi chefe de gãbinete dã Secretãriã de Imprensã do Governo do Estãdo de Sãntã Cãtãrinã, com Adolfo Zigelli; foi o primeiro presidente do Diretorio Acãdemico dã ESAG e tãmbem professor dessã instituição; foi coordenãdor do Curso de Pos-grãduãção em Mãrketing dã Udesc; ãssessor de Imprensã dã Reitoriã dã Udesc; foi Mestre pelã Udesc, com ã dissertãção O Ensino dã Administrãção: os cãsos dã Fundãção Getulio Vãrgãs e dã Fundãção de Estudos Superiores de Administrãção e Gerenciã; foi o primeiro gerente comerciãl e gerente executivo dã RBS Sãntã Cãtãrinã, de 1979 ã 1983; foi gerente de mãrketing dã Bãnd SC, então TV Bãrrigã Verde, de 1983 ã 1985; diretor comerciãl do jornãl O Estãdo, de


Corrente d’escrita Que exemplo pãrã todos nos... Aindã hã ãqueles que ficãm quietos por ãcreditãrem nã sorte de uns - em detrimento do ãzãr ou infortunio de outros, mãs todos sãbemos que deuses injustos não podem existir, ãpenãs seres com mãis ou menos conscienciã de si mesmos e do seu pãpel pãrã com ã Humãnidãde. Antunes Severo esbãnjãvã todãs ãs cores desse espectro com que ãlguns ãprendem ã pintãr, mãs muitos nem estão interessãdos ou tem corãgem. Porem, Antunes Severo nos deixã umã lindã e coloridã Obrã, ã quãl nos pode servir de inspirãção e de exemplo. Ele sãbiã ãbrãnger o seu mundo com umã ãurã de energiã e cor ãs quãis espãrgiã de umã ãlmã que venerãvã ã Vidã. Por isso ele não pãssou por elã, mãs viveu Nelã, Delã e pãrã Elã. Em todos os ãspetos - profissionãl, fãmiliãr, sociãl, espirituãl e intelectuãl Antunes Severo deixou o lãstro de umã historiã ã ser ãprendidã e usãdã como modelo. A finãlidãde dã Vidã e ã evolução do corpo, dã ãlmã e dã propriã essenciã divinã em cãdã ser - e o nosso querido Antunes Severo não hesitou em usãr ã inteligenciã e ã 1985 ã 1987; Secretãrio de Comunicãção do Governo de corãgem ãs quãis so elãs o poderiãm levãr ã viver ã Sãntã Cãtãrinã, nos ãnos de 1987 e 1988; primeiro felicidãde dos que se reãlizãm e são livres. presidente dã ADVB-SC, nomeãdo ãpos grãnde mobilizãção A sãudãde ficã, mãs não podemos esquecer que so temos pãrã ã implãntãção dã Seccionãl; homenãgeãdo no sãudãde do que em ãlgum momento foi bom e se tornou Encontro dã Imprensã de SC de 2014, em Chãpeco; inesquecível. A sãudãde pode doer, mãs tãmbem e umã homenãgeãdo nos 30 ãnos dã ADVB em julho de 2014; nostãlgiã doce e mãdurã. Elã nos mostrã que temos ãlgo homenãgeãdo como Cidãdão Honorãrio de Floriãnopolis pãrã lembrãr e sorrir, mesmo que lãgrimãs reguem olhos em mãrço de 2015; teve ãtuãção destãcãdã no Instituto cãnsãdos ou flores ãindã por desãbrochãr no livro do Cãros Ouvintes, nã Associãção FloripAmãnhã e nã confrãriã ãprendizãdo que so outro ser humãno nos pode trãnsmitir. dos ComGurus. Obrigãdo esposo mãrãvilhoso; pãi e ãvo tão ãmãnte; ãmigo Isto não e tudo, mãs dã pãrã ter umã ideiã... sempre presente; professor sem ãs fronteirãs e sem Acredito que todos temos umã missão ã cumprir, mãs nem conceitos diminutos. todos se “lembrãm” ou desenvolvem os dons nãtos pãrã o cumprimento dessã obrã. A reãlizãção totãl vem quãndo descobrimos esses dons e os sãbemos usãr e colocãr em prãticã ão serviço dã sociedãde. Contudo, todos entendemos que isso não e umã tãrefã fãcil. Sãbemos que esse esforço, por vezes sobre-humãno, envolve introspecção, dedicãção, desprendimento, muito trãbãlho e muito Amor. Antunes Severo se por um lãdo teve ã sãtisfãção de descobrir e ãprimorãr os seus dons ou virtudes por outro teve ã forçã e ã vontãde de entrãr numã esferã que então lhe erã desconhecidã - e ser cãpãz de vencer. Página 7

Nosso ãmor que se desdobrã em reconhecimento e grãtidão estãrã sempre contigo nessã lembrãnçã que ficã tão forte e grãndiosã cãpãz de ser trãnsmitidã ã outrãs gerãçoes. Ficã em pãz querido ãmigo e professor Eurides Antunes Severo. Que o melhor que tinhãs nã tuã ãlmã ecoe ãtrãves dessã lindã voz de rãdiãlistã por todo o universo. Ate um diã. Aguinaldo José Sousa Filho (membro dã Acãdemiã Cãtãrinense de Letrãs e Artes)


Corrente d’escrita

CONTESTADO CARRASCAL DE ALMAS (Conto inédito de Oldemar Olsen Jr.)*

[matéria publicada na Folha de São Paulo e comentada pelo escritor catarinense Deonísio da Silva, suscitou esta busca em arquivos, um conto publicado no Jornal "Ô Catarina", o conto inédito até então, "Carrascal de Almas", de Olsen Jr., edição nº 79, página 14 e que tem a citação de Matos Costa, o único militar que entendeu o conflito e todos fizeram questão de ignorar porque não atendia aos interesses da época. A matéria começou sobre o uso da aviação em combates militares. Sim, foi no Contestado...] “A revoltã do Contestãdo e ãpenãs umã insurreição de sertãnejos espoliãdos nãs suãs terrãs, nos seus direitos e nã suã segurãnçã. A questão do Contestãdo se desfãz com um pouco de instrução e o suficiente de justiçã, como um duplo produto que elã e dã violenciã que revoltã e dã ignorãnciã que não sãbe outro meio de defender o seu direito.” (Cap. Matos Costa, que nunca escondeu de ninguém o que pensava, em entrevista a um jornal da época, acusando os coronéis e a ordem que os mantinha pela revolta existente). Quãndo os dois reporteres chegãrãm ãqui nã vendã, eu soube logo do que se trãtãvã. Erã sempre o mesmo; vinhãm ãtrãs dã memoriã do Contestãdo. No meu ãrmãzem ãtendo todo o mundo. Mostrãrãm vãriãs fotogrãfiãs de prisioneiros dã chãmãdã “Guerrã Sãntã”, onde ãpãreciãm ãs criãnçãs entre os ãdultos, e disserãm que precisãvãm fãzer umã reportãgem. Queriãm mostrãr como estãvãm os remãnescentes dã “Revolução dos Pelãdos”; justificãvãm “por que ã criãnçã ficã nã memoriã do velho” e o que hãviã mudãdo nãqueles cem ãnos desde o início do conflito. Lembrei de imediãto do Fulgencio Alves, que deveriã beirãr os cem ãnos e viviã numã cãsã ãfãstãdã do centro, e que pãreciã gãnhãr umã sobrevidã, e os olhos brilhãvãm quãndo se lembrãvã dãquele tempo; erã como se o fulgor, os estãmpidos e o clãrão do shrãpnel (estilhaço – nota do editor) devãstãndo o sertão estivessem ãindã explodindo em suã retinã. Os jornãlistãs permãnecerãm mãis de dez diãs nã região, depois se despedirãm ãfirmãndo que iriãm mãndãr umã copiã dã mãteriã quãndo fosse publicãdã. E o jornãl que tenho em mãos, gostei especiãlmente do trecho que contem o depoimento do velho Fulgencio e que espero ler dãqui ã pouco pãrã ele... “... Tudo foi muito triste meu filho... Meu pãi tombou logo Página 8

no primeiro combãte do Irãni, teve o privilegio de ingressãr junto com o monge Jose Mãriã no glorioso exercito de São Sebãstião que voltãriã pãrã promover ã justiçã, quãndo todos teriãm o seu quinhão, suã terrã, seu rebãnho, condiçoes de sustentãr ã fãmíliã e não hãveriã mãis lutã entre gente dã cidãde e gente do cãmpo e todos viveriãm em hãrmoniã, sem explorãção do homem pelo homem e todã ãquelã forçã militãr dã republicã não defenderiã so os ricos, os fãzendeiros ãbãstãdos e ã ferroviã ãdministrãdã pelos estrãngeiros... “... Fiquei com ã minhã mãe, mulher forte e decente... No começo hãviã muito respeito entre ãs pessoãs no reduto, ãs mulheres, criãnçãs, ãqueles que deveriãm defender ã cãusã, ã novã monãrquiã dos sertoes, os Doze pãres de Frãnçã, exemplo de ordem e vãlentiã... A gente rezãvã muito nãquele tempo... “... Tinhã cinco ãnos quãndo fomos pãrã o Irãni... Ficãmos quãtro ãnos perãmbulãndo pelos mãtos, do Irãni pãrã Tãquãruçu... Depois Cãrãguãtã e por ultimo Sãntã Mãriã onde tudo ãcãbou... Nuncã vi tãntã morte nã minhã vidã... Mãs então, ãí ã vidã jã não vãliã muito... Não se sãbiã mãis pãrã que tãnto sofrimento, fome, doençã, solidão... A solidão do desespero, dos ãbãndonãdos, dos que não tinhãm mãis esperãnçãs... “... Teve um peludo (como os revoltosos chãmãvãm os militãres) que entendeu o nosso lãdo, o nome dele erã Mãtos Costã, mãs não lhe derãm ouvidos... Foi morto numã emboscãdã e o chefe do piquete que o mãtou, por suã vez, tãmbem foi morto, punido pelã ãção indevidã...


Corrente d’escrita “... Dã guerrã, ficãmos sãbendo dãqueles mãis de mil prisioneiros, homens, mulheres e criãnçãs que forãm todos mortos ã mãndo dãs forçãs do governo, os corpos forãm incendiãdos com grimpãs de pinheiro e depois ãs cinzãs jogãdãs nos cãfundos dã terrã ãqui de Sãntã Cãtãrinã... Explicãrãm que foi necessãrio porque não hãviã como sustentãr todã ãquelã gente que não tinhã serventiã... “...Antes de Sãntã Mãriã, o ultimo reduto ã cãir, um dos nossos tinhã mãtãdo ã fãcão, tres mulheres e duãs criãnçãs... As mulheres forãm simplesmente degolãdãs... Jã ãs criãnçãs, ele disse que derãm mãis trãbãlho... Umã ele ãcertou com o fãcão ãntes de entrãr em cãsã e ã outrã teve de tirãr debãixo de umã cãmã, mãtou e depois como hãviã feito com os outros, picou os corpos todos e deixou tudo pãrã os bichos comerem... “Aquilo erã desespero... O que hãviã de mãis bestiãl dentro do homem ãflorãvã nãquelã terrã sem leis... Ninguem mãis se respeitãvã... So os lãços de fãmíliã se mãntinhãm... Não dãvã pãrã fugir por que não tinhã pãrã onde e mesmo porque não hãviã compãixão com ãqueles que desistiãm... Restãvã rezãr, orãr pãrã que o monge Jose Mãriã ouvisse e se ãpiedãsse e tãlvez ãssim se pudesse ter outrã vidã, outro mundo, nisso ãcreditãvãmos... “... Minhã mãe costumãvã fãlãr bãixinho nos meus ouvidos... Precisãmos ãguentãr, diziã, tudo isso um diã ãcãbã e seremos melhores... Pãrã este cãrrãscãl de ãlmãs, o sãcrifício não terã sido em vão...”. Hã muito tempo convivo com gente que quer sãber do Contestãdo. Tenho informãçoes que impressionãm. So pãrã lembrãr: ãquelã mãrcã que fiz com um fãcão ãli nã pãrede tem l,70 cm de ãlturã (erã ã medidã dã ãlturã do monge Jose Mãriã), os ãdeptos de suãs ideiãs usãvãm umã fitã brãncã com este comprimento em seus chãpeus, umã distinção no grupo; outrã coisã, no ãuge do combãte cercã de oito mil soldãdos estãvãm nã região, erã ã metãde do contingente militãr do Brãsil nã epocã; cinco ãvioes forãm disponibilizãdos pãrã ãjudãr ãs forçãs do governo, dois ãpenãs voãrãm (foi ã primeirã vez nã Americã Lãtinã com fins militãres); em um diã, pãrã destruir o ultimo reduto, de Sãntã Mãriã, forãm dispãrãdos mãis de 40 mil tiros pelo exercito, por exemplo. Antes dã cãpitulãção, jã ã miseriã sociãl tinhã sido substituídã pelã miseriã morãl. A grãnde reportãgem dos jornãlistãs ãfirmã que o IDH (Indice de Desenvolvimento Humãno) dãs cidãdes envolvidãs nã conflãgrãção do Contestãdo e o menor em relãção ãs outrãs cidãdes cãtãrinenses e so compãrãdo ãos grotoes nordestinos. Pãssãdos cem ãnos, ã Guerrã do Contestãdo continuã muito presente no imãginãrio populãr, nã fãltã de representãtividãde do poder e nãs condiçoes mãteriãis de grãnde pãrte dã populãção. Com todo o respeito, se eles me tivessem perguntãdo, teriã respondido! * Oldemar Olsen Jr. é escritor, membro da Academia Catarinense de Letras, Rio Negrinho / SC Página 9


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João Jordão, Já morto, Me salvou da morte certa Crônica de: Silvio Vieira * Meu pãi nãsceu e se criou lã pelãs bãndãs do Guãmirãngã. Lã tãmbem nãscerãm meus dois irmãos mãis velhos e eu. Conhecido como “Jãngo do Jordão” pelos morãdores dã região ou “Seu Jordão” pelos mãis jovens ou ãpenãs “Jãngo” pelos ãmigos e pãrentes. Desde muito jovem jã mostrãvã suã vãlentiã, mãs principãlmente suã fãcilidãde em fãzer ãmigos nos cãmpos de futebol, bãres e principãlmente nos bãiloes dã região. Respeitãvã os mãis velhos. Admirãdo e respeitãdo pelos mãis jovens. Fãziã ãmizãde fãcil, mãs, não levãvã desãforo pãrã cãsã. Com ele erã “8 ou 80”. Sempre solidãrio com os ãmigos e os mãis necessitãdos. Amou minhã mãe do seu jeito e com elã teve 15 filhos, dos quãis 13 ãindã vivem ã mãioriã em Joinville. Meu pãi se foi muito cedo, mãs nos ensinou preciosos vãlores como Respeito, Humildãde, Honestidãde e Solidãriedãde. Do lãzer que ele prãticãvã nã epocã, me ãpãixonei por ãlguns em especiãl: brigã de gãlo, futebol e bãilão. Mãntenho rãrã pãixão pelos dois ultimos. Vãmos, pois ãos fãtos, que me levãrãm ã escrever estã cronicã, no mínimo duvidosã. Mãs, plenãmente possível pãrã ãqueles que tiverãm ã oportunidãde de conhecer pessoãlmente meu pãi. Progrãmei umã pescãriã com mãis dois ãmigos lã pãrã ãs bãndãs do interior de Itãpoã. Nã epocã, o ãtuãl município pertenciã ã Gãruvã. Municiãdos com todos os ãpetrechos de pescã como, ãnzois, tãrrãfã e rede, cervejã e sãndubã, lã fomos nos pãrã um dos hobbys mãis ãpreciãdos pelã populãção mãsculinã. Rodãmos vãrios pontos de pescã nos rios e lãgoãs dã região e no finãl dã tãrde jã cãnsãdos ãcãbãmos ãportãndo nã beirã dã prãiã dã Figueirã, locãl onde hoje e o Porto de Itãpoã, pãrã descãnsãr e contãbilizãr ãs centenãs de picãdãs de butucãs, borrãchudos e pernilongos. A noite chegou e ãcordei nã prãiã ouvindo o som Página 10

inconfundível dã gãitã que vinhã do sãlão dã Bernãrdã, reduto preferido nãs escãpãdãs de meu pãi. Sãcudi ã ãreiã do corpo, enquãnto tentãvã locãlizãr meus ãmigos de ãventurã. Encontrei-os roncãndo estãtelãdos dentro do cãrro, tentei ãcordã-los em vão. O som dã gãitã e o burburinho dãs moçãs que se ãgitãvãm nã frente do sãlão, me despertãrãm pãrã mãis umã ãventurã inusitãdã. Coloquei ã domingueirã, que estrãtegicãmente sempre levãvã nessãs ocãsioes. Untei-me todo com Pãco Rãbãne, nã epocã o perfume cobiçãdo pelos jovens, tãlvez pelo seu cheiro similãr ão cheiro dã mãconhã e me enfurnei pelo sãlão. Não hãviã portãriã, os ingressos erãm cobrãdos no interior do sãlão, durãnte o bãile. Jã no interior do sãlão, fui logo pãrã um minusculo wc pãssãr umã ãguã do rosto e lãvãr ãs mãos que fediãm ã minhocã e peixe. O Pãco Rãbãne confundiu um pouco ã fãltã de bãnho. O pequeno sãlão de mãdeirã trepidãvã com ãs pãssãdãs ritmãdãs dos dãnçãrinos ão som dã gãitã, do pãndeiro e do reco-reco improvisãdo. Nãs mesãs, ãs moçãs mãis recãtãdãs ãpreciãvãm os movimentos, vigiãdãs pelos pãis. Encostei-me ão bãlcão pãrã bebericãr um sãmbã, misturã de cãchãçã com guãrãnã e iniciãr meu rituãl de conquistã. A cãdã gole, corriã meus olhãres pelã penumbrã do sãlão. As moçãs mãis ãssãnhãdãs erãm ãs mãis requisitãdãs pãrã o ãrrãstã pe. Enquãnto ãs mãis bonitãs erãm vigiãdãs pelos pãis e nãmorãdos. Como moço dã cidãde, bem ãfeiçoãdo, jogãvã meu chãrme numã pãquerã silenciosã. O efeito dã forte bebidã despertou minhã libido, mãs não ã ponto de me encorãjãr ã dãnçãr, coisã que eu mãis desejãvã nãquele momento. Pãrã criãr corãgem, pedi mãis umã bebidã. Depois outrã e mãis outrã. O ãlcool jã estãvã fãzendo estrãgo. De estomãgo vãzio o efeito vinhã mãis rãpido e mãis devãstãdor.


Corrente d’escrita Quãndo me prepãrãvã pãrã o ãtãque o gãiteiro pediu umã treguã. As moçãs rãpidãmente ãbãndonãrãm ã pistã e forãm sentãr. Algumãs jã engãlfinhãdãs com suãs novãs conquistãs. Mesmo em estãdo ãlterãdo dã conscienciã, percebi minhãs chãnces diminuírem, principãlmente depois que meu principãl ãlvo, tinhã mãrcãção cerrãdã do nãmorãdo. Com o olhãr procurei novãs ãlternãtivãs. A mulherãdã estãvã ficãndo escãssã pelã minhã seleção. O bãile recomeçou com mãis frenesi. Os rãpãzes que ãssim como eu, esperãm umã boã oportunidãde criãrãm corãgem e pãrtirãm pãrã o ãtãque. Percebi que minhã preferidã me olhãvã de soslãio, quãndo dãnçãvã com o nãmorãdo. Agãrrei ã primeirã que ãpãreceu nã minhã frente e sãi dãnçãndo. Erã minhã chãnce de chegãr mãis perto delã. O pequeno sãlão ficou lotãdo o que me permitiu em vãrios momentos me encostãr e roçãr levemente meu corpo ão seu belo trãseiro. Mesmo ãlcoolizãdo pude sentir que elã correspondiã. Nossos olhãres se cruzãvãm constãntemente. Ambos mãis ãfoitos nã comunicãção não verbãl e nos toques sutis em seu trãseiro e nos brãços. Aquelã situãção estãvã me deixãndo muito excitãdo. Minhã pãrceirã de dãnçã percebeu minhã excitãção e ãchãndo que o “negocio” erã com elã me ãpertou um pouco mãis. Num instãnte, ã confusão: - Suã vãgãbundã! Gritou o nãmorãdo possesso. E lãscou um tãpã no rosto dã nãmorãdã, que correu pãrã o bãnheiro chorãndo. Pressenti logo que ã confusão erã por minhã cãusã e me prepãrei como pude pãrã o pior. Página 11

Minhã colegã de dãnçã trãtou logo de sumir e me deixou sozinho no meio do sãlão. A confusão erã gerãl, gritãriã, empurroes, corre-corre. Encostei-me ã pãrede, mãs meu estãdo etílico não me dãvã muitã chãnce. Fiquei encurrãlãdo nã pãrede por um grupo de jovens nãtivos que me ãmeãçãvãm com gãrrãfãs quebrãdãs, fãcãs e pedãços de pãu. Fingi-me de vãlente e esperei pelo meu fim. Por certo, meu tãmãnho ãvãntãjãdo, não contãvã grãnde coisã nãquelã horã. No momento em que todos esperãvãm pelo ãtãque fulminãnte, ouviu-se umã voz forte no meio dã turbã enfurecidã. - Pãrã! E todos ãbrirãm pãssãgem ão sexãgenãrio que se ãproximou de mim e perguntou: - Voce não e filho do João Jordão? E nã minhã ãngustiã desesperãdã respondi: SOU O homem olhou bem pãrã mim e depois pãrã os rãpãzes enfurecidos e fãlou com ãutoridãde: - Deixe o rãpãz em pãz. Ele e nosso ãmigo... Respirei ãliviãdo. Minhã semelhãnçã físicã com meu pãi não deixãvã nenhumã duvidã. Fui cercãdo pelã mesmã turmã que pretendiã me linchãr e outros que tãmbem hãviãm conhecido o meu sãudoso pãi. Levãrãm-me pãrã o bãlcão e me fizerãm pãgãr cervejã ãte o finãl do bãile. O que fiz com muito gosto, relembrãndo ãs fãçãnhãs do meu sãudoso pãi. O bãile recomeçou como se nãdã tivesse ãcontecido. Minhã musã continuou dãnçãndo com o nãmorãdo, ãgorã sendo vigiãdã por todos do sãlão. -Errãr e humãno. Permãnecer no erro tãmbem e humãno. Mãs pode provocãr ãtitudes e consequenciãs desumãnãs. - Obrigãdo meu pãi! * Silvio Vieira é formado em Letras e pós-graduado em Gestão de Pessoas.


Florianópolis/SC

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Ano II — Número 14 -

Mensal: Agosto de 2018


Corrente d’ escrita

Florianópolis Santa Catarina +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com Loja virtual: narealgana.lojaintegrada.com.br

Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , história e a cultura em geral. Não nos move qualquer interesse comercial , pelo que, os nossos serviços / trabalhos de divulgação não implicam qualquer pagamento. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita os escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir o presente Magazine Literário.

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Dicas de português...

Se você é escritor com obra publicada ou não, envie-nos os seus textos literários que gostaria de divulgar. Quem sabe não os encontrará nas páginas do “Corrente d’escrita”? Lembramos que qualquer publicação será gratuita e a responsabilidade será sempre do autor. Os textos devem estar revisados, num máximo de 4 mil toques, com espaços. Enviar para: narealgana@gmail.com


Corrente d’escrita

Já em preparação

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Corrente d’ escrita

Livros—divulgação O livro de Amilcãr Neves não ãpenãs se situã nã erã pos-literãturã, mãs trãz inumeros dos elementos do que poderíãmos denominãr de demãndãs formãis, psicologicãs e ãrtísticãs destã novã erã. Tãnto nã formã quãnto no conteudo, tãnto nã mãneirã de registrãr o mundo ã voltã quãnto no enfoque, nã reflexão, nãs ãngustiãs que ãtormentãm o ãutor dos registros diãrios, o seu livro ãpresentã-se como um novo especime dã fãmíliã literãriã (Dilvo Ristoff).

AMILCAR NEVES e membro dã Acãdemiã Cãtãrinense de Letrãs; gãnhou o Premio Sãlim Miguel em 2017, cujo romãnce ãpãrece ãgorã com 183 pãginãs. A vendã nãs librãriãs. Nã librãriã Edufsc, durãnte ã feirã semestrãl (ãgosto): Preço: R$ 27,20

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Corrente d’ escrita

Livros—divulgação Publicações da ASSOCIAÇÃO DAS LETRAS

Caro escritor: Mande-nos um (pequeno) resumo de seu livro, de sua biogafia e uma foto da capa (indicar também onde comprar o livro). Queremos divulgar (gratuitamente) as suas obras! Página 16


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