Ano II — Número 20 - Mensal: fevereiro de 2019
Corrente d’Escrita Literatura, Arte, História e Cultura * Santa Catar ina * Brasil
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185anos anos 185
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Corrente d’Escrita
Os militares e a governança Num regime democrático, em geral, o lugar dos militares é no quartel. O seu papel é o de garantir a independência do país, nomeadamente a inviolabilidade das fronteiras terrestres, aéreas, marítimas e agora, mais que nunca, as que chegam pela via informática. Mesmo a existência, eventual, de um ministro da defesa, este depende sempre do poder político e não militar. Os militares estão na ribalta pelo protagonismo que ultimamente estão a tomar no governo federal, em alguns estados, no senado e na própria câmara legislativa, no Brasil. Mas nem sempre eles são os mauzões da fita. Houve casos em que eles foram fundamentais para a reposição da democracia, das liberdades e da paz. Não é por ser militar, por usar farda, que ele vira, obrigatoriamente, num tirano. Vejamos o caso dos militares portugueses, jovens capitães, que ajudaram a derrubar a ditadura, acabaram com a guerra em África, restauraram as liberdades e depois entregaram o poder aos civis, em abril de 1974.
A Revolução dos Cravos Por Afonso Rocha *
Tenho o privilegio de ter ajudado, e participado, no movimento que tirou meu país de origem (Portugal) das trevas do subdesenvolvimento, da falta de liberdade e de uma guerra injustificavel que durava ha mais de treze anos em África, primados essenciais para o desenvolvimento humano, tecnologico e social da sociedade. Refiro-me ao movimento militar que ficou conhecido, primeiro como o “movimento dos capitaes”, e depois, como a “Revoluçao dos Cravos” que decorreu em Portugal na noite de 24 para 25 de Ábril de 1974, gerando abruptamente a queda do fascismo e da ditadura de Salazar e Caetano, que, ha mais de 40 anos, dirigiam os destinos do país com maos de ferro, apoiados numas forças armadas ja caducas, mas fieis ao regime, e numa polícia secreta que assassinava, amordaçava e aprisionava a populaçao, empurrando-a para grandes contingentes clandestinos de emigrantes. Quando, naquela noite de abril, algumas, poucas, centenas de jovens militares foram chamados para a parada do quartel julgavam que iriam iniciar mais um duro treinamento Página 2
nas montanhas e nas campinas vizinhas, e nunca de que iriam iniciar uma jornada historica que derrubaria o regime e construiria um novo amanhecer. Foram-lhes metidas nas maos espingardas inadaptadas, muitas delas caducas e sem muniçao. E o jeito e habilidade para as manipular e usar era muito escasso para quem tinha reduzidos dias de treino no quartel. Mas as vontades e a determinaçao de quem mandava, jovens tenentes e capitaes era de tal modo incisivo e entusiasmado, que os jovens mancebos se entusiasmaram com a missao a tal ponto, que a assumiram como se fosse sua. Desconheciam, ate porque a surpresa e o segredo eram a maior arma que possuíam para o sucesso da missao que iniciavam. E assim la seguiram, em carreira nem sempre ordenada, alguns ainda meio adormecidos, ate que chegaram ao centro administrativo do poder na Capital. E este, apanhado de surpresa, retirado das camas as pressas, quase que nem tempo teve para abrir os olhos e construir um sopro mínimo de resistencia. Se nao fosse a teimosia de uns poucos acobardados, poderia ter-se feito a revoluçao sem que um sopro de resistencia fosse dado. Mas assim nao aconteceu. E os reacionarios mais fieis lançaram-se numa aventura arrojada para contrariar o movimento militar, felizmente contida pela populaçao que, de braços abertos, apoiou e aderiu ao movimento dos militares libertadores. Inicialmente, a populaçao, acabrunhada, temendo o pior, julgava tratar-se de um golpe dos ultra direitistas, de cariz sanguinario e ditatorial que nao aceitavam qualquer mudança no regime, mas aos poucos, com os apelos a calma que vinham das radios e televisoes, entretanto na posse dos revoltosos, iam sossegando os animos e as consciencias. E passadas as primeiras horas de alvoroço, milhares de anonimos enchiam as ruas e as praças, empurrando os reacionarios fieis ao regime a se esconderem cobardemente nos escombros mais abjetos que encontrassem. O “primeiro”, o mandante da quadrilha fascista, a quem ja faltava autoridade e moralidade para chefiar fosse o que fosse, ainda tenta resistir no quartel das forças que lhe manifestavam maior fidelidade, mas os militares revoltosos, escudados e acompanhados por centenas de milhar de pessoas cansadas por tanta humilhaçao e exploraçao, incentivam e apoiam. Foi neste enorme magote, simultaneo de festa, de alegria e de luta, que apareceram, por entre a multidao, como que por milagre nao se sabe de que santo mestre, os primeiros cravos vermelhos espetados nas baionetas das espingardas revoltadas. Os primeiros tiros visaram a frontaria do quartel e, apos algumas tentativas de resistencia dos sitiados, os maiorais do regime, agora deposto, se entregam e sao recambiados para o exilio.
Ano II — Número 20 - Mensal: fevereiro de 2019 Á hora destes acontecimentos que decorriam em pleno centro da capital, nas cidades do interior, nos campos, nas fabricas, nos quarteis espalhados pelo país milhares de trabalhadores, estudantes, aposentados, populaçao amordaçada pelo tempo, mas agora livre, invadia as ruas e as praças das cidades, vilas, aldeias, gritando bem alto o seu contentamento, enquanto entoava de que “o povo e quem mais ordena” e o “fim da guerra, ja!”. No exterior, em Paris, Luxemburgo, Álemanha, Suecia, Dinamarca, Holanda, Belgica, Árgelia, os milhares de emigrantes – uns de raiz e motivaçao economica e outros por motivaçao política - que tinham sido obrigados a calcorrear os caminhos espinhosos da fronteira, associavam-se aos acontecimentos e preparavam as malas para o regresso ao país. Do mais de milhao de portugueses que viviam em França nos anos setenta, um ano apos a revoluçao, nao passavam dos quatrocentos mil. Muitos estrangeiros, sobretudo jovens, quase que invadiram Portugal, num misto de militancia e curiosidade, capitaneados por jovens de esquerda fieis seguidores de Fidel Castro e de Che Guevara e dos países do Leste Europeu, ou mais concretamente da antiga Uniao Sovietica. Traziam a missao voluntariosa de querer “ajudar” na revoluçao e de dar largas ao aventureirismo que sempre grassa nestas ocasioes em que multidoes de cidadaos saltam para as ruas mostrar seu (des)contentamento. Todos achavam e idealizavam que Portugal se transformasse em mais um “laboratorio” da luta de classes onde, pela primeira vez, um
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golpe militar, gerado e chefiado por jovens capitaes, se transformaria numa revoluçao popular em busca dum socialismo minado pelo idealismo e a utopia. Com a presença de tanta variedade e quantidade de “militantes de opiniao” as discussoes sobre os rumos da revoluçao eram inevitaveis e as opçoes em cima da mesa iam desde um alinhamento com os países satelites da Uniao Sovietica, ate aos alinhamentos claros com os Estados Unidos da Ámerica. Na sequencia do debate, nem sempre publico, mas acalorado e feroz, verificaram-se confrontos partidarios, açoes terroristas, incendios, greves e ocupaçoes de sedes políticas, propriedades, edifícios publicos, gerando um movimento que ficou conhecido como “verao quente”. Mas ainda bem que outros ideais pontuaram com lucidez, como aqueles, mais moderados, que defendiam uma política mais conservadora, nao alinhada – nem Sovieticos nem Ámericanos -, onde se incluía o grosso dos militares que idealizaram o movimento que derrubaria a ditadura, largamente amparados por “jovens” políticos de envergadura como Mario Soares e tantos outros anonimos – onde eu proprio me incluía. Esta política de nao alinhamento viria a vingar, continuando Portugal fora da orbita e influencia das duas grandes potencias mundiais (EUÁ/URSS), emparceirando com os países desenvolvidos – os chamados segundo e terceiro mundo -, mais moderados e nao alinhados. Todos queríamos contribuir para a construçao de um novo País aberto ao mundo moderno, progressista, mas independente, uma nova sociedade, sem fascismo, sem repressao
Ano II — Número 20 - Mensal: fevereiro de 2019 modernizar e ombrear, hoje, com os países mais livres da Europa e do resto do mundo, fazendo parte do pequeno leque de países mais seguros, democraticos e desenvolvidos do planeta. Á crise economica por que passou recentemente esta a ser debelada e ja sao visíveis os sinais de recuperaçao, embora ainda muito haja que fazer nesse sentido. Portugal, apesar do que se disse e da propaganda oficializada, nao e o El Dourado dos contos de fadas ou do imaginario quinhentista, nem nunca o sera, mas e um país onde da gosto viver. Tem seus espinhos e suas lacunas, e e bom que disso estejam acautelados todos aqueles que – desgostosos pelo rumo dos brasis atuais - almejam atravessar o Átlantico no sentido contranas escolas, nos campos, nas fabricas, nas famílias, sem rios dos antigos navegadores lusos. guerra colonial, sem polícia a controlar as nossas vidas, os Graças a determinaçao e politizaçao do seu povo, que se nossos pensamentos, os nossos costumes, os nossos credos envolveu nas questoes da gestao do país; que prima pela e filosofias. Todos tínhamos um papel a desempenhar e liberdade e pela democracia assente no direito e no dever queríamos assumir esse compromisso para com a historia, indispensavel do voto consciente, Portugal, como qualquer a democracia e a paz. Criaram-se formas de participaçao outro país civilizado, encontrara sempre o melhor caminho popular na gestao e orientaçao do país; preparam-se eleipara o seu povo soberano. çoes livres, democraticas e diretas; legalizaram-se os partidos políticos, os sindicatos, as associaçoes cívicas, a liberda* escritor / jornalista de religiosa ou confessional; nacionalizaram-se os monopo- ________________________________________________ lios, sobretudo a banca financeira, os seguros, as grandes industrias do cimento; do petroleo, da agua, da energia, da exploraçao agraria, e a terra foi reformada e os monopolios agrarios desagregados. Nas escolas o ensino foi democratizado permitindo a sua modernizaçao e aprofundamento. Nos quarteis militares, os velhos do regime foram apeados Continuaçao da pag. 9 do comando e novo espírito e relacionamento com a sociedade civil foi conquistado, ficando as forças armadas, nao Em 1962, aposentou-se pelo governo do estado e recebeu o ao serviço de um regime caduco e fascista, mas do proprio reconhecimento do governador Ney Braga, que por decreto povo. admitiu os feitos de Enedina enquanto engenheira e lhe Ás primeiras eleiçoes ocorridas um ano apos o derrube do garante proventos equivalentes ao salario de um juiz. regime reinante por 44 anos, aprovaram uma nova constiEmbora nao tenha publicamente demonstrado interesse ou tuiçao democratica e republicana, com eleiçoes livres, a livre concorrencia e coexistencia entre indivíduo e socieda- participaçao em nenhuma vertente de movimento em prol da igualdade racial, Enedina e um exemplo de mulher, nede; entre propriedade estatizada, privada e coletivizada, com igualdade de oportunidades para todos e de livre aces- gra, que alcançou seus objetivos e mostrou que poderia estar onde quis estar. so as riquezas naturais.
Enedina Alves Marques
Claro que nem tudo correu como desejado e muitas propostas e muitos anseios ficaram pelo caminho, com constantes contratempos sociais, culturais e políticos, onde nao faltaram tentativas de reverter a situaçao, com golpes radicais da extrema direita e da extrema esquerda, quer para o lado dos paladinos do antigo regime pro-fascistas, quer para outros de aparencia oposta, mas que no fim, nao seriam mais progressistas nem nacionalistas que os outros. Mas isso sao historias para serem contadas em outra oportunidade. O certo e que Portugal, apesar das vicissitudes e contratempos do processo revolucionario, conseguiu se desenvolver, Página 4
Em 1981, Enedina e encontrada morta no Edifício Lido, no Centro de Curitiba, vítima de ataque cardíaco. Morreu sem deixar descendentes. No ano de 2000, foi imortalizada ao lado de outras 53 mulheres pioneiras do Brasil, pelo Memorial a Mulher, localizado na Praça do Soroptismismo, em Curitiba, no bairro Hugo Lange. Em 2006, e fundado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Álves Marques, em Maringa.
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istória Não apaguemos esta luz Á 27 de janeiro assinalou-se mais um Dia da Memoria (75º aniversario) do famigerado Holocausto, onde, pelo menos, seis milhoes de judeus foram exterminados. Num inquerito realizado em finais de 2018, apurou-se que: • 5% dos britanicos nao acreditam que tenha havido holocausto; • 40% dos jovens alemaes, dizem “nada saber” sobre tal genocídio; • 20% dos jovens franceses, entre os 18-34 anos, afirmam nunca ter ouvido falar do holocausto; na Áustria essa percentagem baixa para 12% e nos Estados Unido, para 9%. Como afirmou Karen Porlok, do Fundo Educacional do Holocausto, “uma so pessoa que questione a verdade do holocausto, ja e demais”...
Sepé Tiaraju
O guerreiro que morreu com 1500 índios defendendo o Brasil Sepe Tiaraju e um dos muitos herois brasileiros que nao sao reconhecidos nos livros de Historia do país. Sepe Tiaraju foi um guerreiro indígena brasileiro, considerado santo popular e declarado “heroi guarani missioneiro riograndense” por lei. Chefe indígena dos Sete Povos das Missoes, liderou uma rebeliao contra o Tratado de Madri.
Um dos principais episodios da vida de Sepe Tiaraju e a chamada Guerra Guaranítica, na qual Sepe liderou índios guaranis na resistencia contra a desocupaçao dos Sete Povos das Missoes que os espanhois pretendiam. Á Guerra Guaranítica durou de 1753 a 1756, ano da morte de Sepe Tiaraju. Sepe foi criado como líder e treinado pelos guerreiros Guaranis, entretanto, o advento das Missoes Jesuíticas, que incluíam a regiao de Sao Gabriel (RS), onde vivia Sepe, introduziram novas configuraçoes de forma abrupta as comunidades indígenas e gerou insatisfaçao das aldeias. (continua pág. 10)
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Seis Livros sobre Racismo que todo mundo deveria ler O racismo e um tema muito importante e atual em todo o mundo. Estes livros contam historias reais ou de ficçao abordando o tema do racismo e sao recomendados para todos os que pretendem compreender melhor o racismo e combater o preconceito.
O Sol e Para Todos, de Harper Lee Este livro aborda o tema do racismo e injustiça atraves da historia de um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos anos 30 nos Estados Unidos. O Sol é Para Todos ganhou o Premio Pullitzer e foi eleito por varias publicaçoes como um dos melhores romances do seculo XX.
Á Resposta, de Kathryn Stockett Com mais de 5 milhoes de exemplares vendidos em todo o mundo, A Resposta e uma historia de preconceito e racismo, mas tambem de esperança. O livro conta a historia de uma jovem jornalista branca na decada de 60 no Mississípi, que decide escrever um livro polemico onde varias empregadas domesticas contam historias sobre as suas patroas brancas. A Resposta foi livro mais vendido nos Estados Unidos em 2011.
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Á Cor Purpura, de Álice Walker E um dos romances mais aclamados de sempre, vencedor do Premio Pullitzer. A Cor Púrpura conta a historia de uma mulher negra no sul dos Estados Unidos nos anos 30, que foi abusada desde criança pelo padrasto e marido, focando temas como a desigualdade social entre as diferentes etnias.
Tempo de Matar, de John Grisham John Grisham, um dos escritores mais lidos nos Estados Unidos, aborda neste livro a historia de um negro que decide fazer justiça pelas proprias maos depois de dois brancos terem estuprado e tentado matar a sua filha. O livro retrata o julgamento desse pai e a divisao entre aqueles que o apoiam e aqueles que nao aceitam que um negro mate um branco, focando temas como racismo, injustiça e desigualdade social.
Á Vida Secreta das Ábelhas, de Sue Monk Kidd A Vida Secreta das Abelhas retrata a historia de uma menina branca nos anos 60, que decide fugir com a sua baba negra, a procura de respostas sobre a vida da sua mae. Uma historia sobre direitos civis e preconceito, estando mais de dois anos na lista dos mais vendidos segundo o The New York Times.
Ás Áventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain Este livro de Mark Twain conta a historia de Huckleberry Finn, um menino que, apos fugir do seu pai alcoolatra, encontra um escravo que estava escapando para o norte do país, onde a escravatura ja havia sido abolida. Nesta grande aventura, os dois amigos irao questionar a escravidao e o racismo instituído na sociedade.
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Corrente d’Escrita
Agora não dá ... Evento estadual em Balneario Camboriu com a presença de alguns argentinos. Para alegrar, um sorteio de premios entre os participantes, entre eles um passeio por Buenos Áires, com tudo livre por tres dias: transporte local, hotel, alimentaçao, show de tango, parrilla, Recoleta e aquelas coisas que se sabe como sao na capital hermana. Passagens nao incluídas. Á Mariza foi a felizarda. Como era uma epoca de muitas correrias e mudanças, inclusive de emprego para nos dois, nao foi possível ir. Mais tarde, as coisas se acalmaram, mas havia os filhos pequenos, o trabalho, o pouco dinheiro para pagar as passagens. E estavamos ate o nariz envolvidos com outros projetos locais. Em resumo: faltava tempo, dinheiro e, principalmente, a decisao de ir. Filhos crescendo, dificuldades tambem, “um dia a gente vai”. Nao fomos. Á correria nao parava e quase nunca sobrava tempo. Dinheiro, menos ainda. Talvez desse para comprar duas passagens para Buenos Áires, mas nem tentamos. Com dores no abdome, Mariza foi a um medico, mas nada diagnosticou. Outro nao so desconfiou como descobriu um problema no pulmao. Os exames mostraram grande quantidade de líquido na pleura, com suspeita de tuberculose pleural. Infelizmente, nao era tuberculose, mas efeito de metastase de um cancer. Ágora, Buenos Áires tinha que esperar. Foram dois anos de deslocamentos, exames e mais exames, no início, na esperança de que o diagnostico estivesse errado, mas estava certo. Começaram os tratamentos e as cirurgias e, embora procurassemos conviver meio normalmente com a doença e levar uma vida o mais perto possível daquela a que estavamos acostumados, quando chegava o silencio, nada era facil. Os altos e baixos dos sintomas e as vezes em que os exames davam uma enorme esperança nao ajudavam em nada, pois a dor da queda era sempre maior depois. Mais uma cirurgia em agosto de 1998. Internada durante uma semana, fazendo o preoperatorio, saiu apenas para passar o Dia dos Pais connosco e voltou no domingo a noite para ser operada na segunda-feira. Uma amiga que conhecera nas longas seçoes de quimioterapia veio ate o quarto e bateram longo papo. “Viver um dia de cada vez” foi o conselho da amiga. Na sexta-feira, Mariza morreu. Ános depois, achei uma carteira velha e, dentro dela, o vale do passeio que nao valia mais nada, pois quem o ganhou ja havia partido sem conhecer Buenos Áires. Donald Malschitzky escritor / cronista
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Corrente d’Escrita
Enedina Alves Marques Primeira engenheira negra no Brasil Enedina nasceu no dia 13 de janeiro de 1913, em Curitiba no Parana. Filha de Paulo Marques e Virgília Álves Marques, formou-se engenheira no ano de 1945, sendo a primeira mulher negra no Brasil a se formar em Engenharia e primeira mulher a ter essa graduaçao no estado do Parana. Filha de domestica, foi criada na casa da família do delegado e major, Domingos Nascimento Sobrinho, para quem sua mae (carinhosamente chamada dona Duca) trabalhava. Enedina tinha a mesma idade da filha de Domingos e para que pudesse fazer companhia uma a outra ele a matriculou nos mesmos colegios e assim, foi alfabetizada na Escola Particular da Professora Luiza Dorfmund, entre 1925 e 1926. Durante 1932 e 1935, Enedina passou a trabalhar como professora em cidades no interior do estado, como Rio Negro, Sao Mateus do Sul, Cerro Ázul, Campo Largo. Entre os anos de 1935 e 1937 retorna a capital para cursar no Novo Áteu, o Madureza – Curso intermediario, que era exigido na epoca para o magisterio, equivalente nos dias de hoje a um supletivo ginasial. Nesse mesmo período, passa a morar com a família do construtor Mathias Caron, em Juveve. Mesmo nao sendo formalmente empregada, Enedina pagava os prestimos de moradia com serviços domesticos. Áinda em 1935, aluga uma casa na frente do Colegio Nossa Senhora Menina, no Juveve, e monta classes seriadas de alfabetizaçao. Em 1938, faz curso complementar em Página 9
pre-Engenharia no Ginasio Paranaense, hoje Estadual do Parana, no período noturno, enquanto estava na casa dos Caron. Em 1940, ingressa na Faculdade de Engenharia da Universidade do Parana. O valor da mensalidade equivaleria hoje a um salario mínimo. Em 1945, Enedina Álves Marques se gradua em Engenharia Civil na mesma instituiçao, tornando-se a primeira mulher engenheira do Parana e a primeira engenheira negra do Brasil. Á formatura se deu no Palacio Ávenida, tendo como paraninfo o professor Joao Moreira Garcez. Ántes dela, dois negros se formaram em Engenharia na instituiçao: Otavio Álencar (1918) e Nelson Jose da Rocha (1938). Em 1946, Enedina foi exonerada da Escola da Linha de Tiro e tornou-se auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Viaçao e Obras Publicas do Parana. No ano seguinte foi deslocada para trabalhar no Departamento Estadual de Águas e Energia Eletrica, apos ser descoberta pelo entao governador Moises Lupion. Nesse período realiza o que para muitos foi seu maior feito como engenheira, a construçao da Usina Capivari-Cachoeira. Tambem trabalha no Plano Hidreletrico do estado, alem de atuar no aproveitamento das aguas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu. Estabelecida no governo e com carreira estruturada, entre os anos 1950 e 1960, Enedina dedicou-se a conhecer o mundo e outras culturas viajando. Nesse mesmo período em 1958, o major Domingos Nascimento Sobrinho faleceu, deixando-a como uma de suas beneficiarias no seu testamento. Segue pag. 4
Corrente d’Escrita
Cartas... “Agora que li por completo os texto do Corrente 19. Farei alguns comentários. 1 . “Capricho” é a palavra que defino para o Corrente. Visual bonito, Bem estruturado e muito bem escrito. Linguagem simples e textos atraentes. 2. A divulgação de textos de outros escritores e organizações literárias, mostra tua disponibilidade, cooperação e solidariedade para com a literatura. 3. O texto sobre Ditadura Militar, está bem escrito e fundamentado. Pena que o autor, buscou sempre a desconstrução dos fatos. Ou seja, as Forças Militares e policiais fizeram tudo errado com o povo e com o Brasil. O Exército Brasileiro sempre foi e é um dos esteios e guardião da Pátria. Trata-se da instituição mais confiável e solidária ao povo brasileiro. Cometeu desmandos, sim. E provavelmente ainda comete desvios de conduta. Mas, no momento político que vive o Brasil, é de longe, uma das poucas organizações em quem podemos CONFIAR. Há que se ter respeito!” Sílvio Vieira “Em tempo, o cumprimento pela primeira Corrente d'Escrita de 2019. Agradeço o olhar carinhoso na divulgação das obras dos amigos joinvilenses, Sílvio Vieira e Salustiano Souza, bem como da Associação das Letras. Trabalho primoroso e hercúleo, que nos chega com grande pitada de compromisso com a literatura. Obrigada!!” Bernadéte Costa (Manuscritos Editora)
Sepé Tiaraju
O guerreiro que morreu com 1500 índios defendendo o Brasil (cont. da pag. 5)
Ás missoes se encarregavam de implementar nas aldeias Guaranis casas coletivas, centros administrativos hispanicos, expulsao de pajes (que eram substituídos por líderes jesuítas) e o estudo religioso com fim de conversao. Álem disso, alteravam a divisao das propriedades e dos trabalhos entre os indígenas. Em 1750, foi estabelecido o Tratado de Madri entre portugueses e espanhois. O tratado determinou que Portugal iria ceder a regiao da Colonia do Sacramento, hoje Uruguai, a Espanha, em troca da cessao do territorio dos Sete Povos das Missoes. Á tentativa de desocupaçao implicava que cerca de 50 mil indígenas fossem expulsos de suas propriedades e deslocados para outro territorio espanhol. Os indígenas nao aceitaram a proposta e tiveram o apoio de padres jesuítas da Companhia de Jesus. Á regiao era rica em gado e foi disputada com armas. Espanhois e portugueses se juntaram na luta contra os índios Guaranis. Em 7 de fevereiro de 1756, o episodio da Batalha de Caiboate ficou conhecido como uma das piores derrotas dos índios, com 1500 mortos. Entre os mortos estava Sepe Tiaraju. Nesta batalha, Sepe disse uma frase que e hoje reconhecida historicamente e atribuída a sua figura: “Esta terra tem dono.” Á historia de Sepe Tiaraju tornou-se tema literario. Entre as obras do tipo, e considerada a mais importante “Romance dos Sete Povos das Missoes”, de 1975, de Álcy Cheuiche, que retrata a vida do guerreiro indígena brasileiro. Observatório do Terceiro Setor Maria Fernanda Garcia Ilustração do livro: Sepé Tiaraju
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Palavras que animam e educam
Corrente d’Escrita
Fotos com História
A “lei” da palmatória, foto de 1862—Pernambuco, estúdio Hermann Kummler Hoje, felizmente, há outras formas de ensinar e de educar. Página 12
Corrente d’Escrita
Escritores—Jornalistas—Professores Florianópolis—Março/2019 Em dia, hora e local a indicar posteriormente
Com o apoio de instituições e academias de letras, a confirmar no próximo número do “Corrente d’escrita”.
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Corrente d’Escrita
Dicas de português...
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Corrente d’ escrita
Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha
Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história e a cultura em geral. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário. O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.
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O mais famoso pastel (doc Olhar de escritor...
Nas lonjuras do mar, Tenebroso, A um voo, rasante, de milhafre, esta foto de um A Com esperança do açoriano, Repousa, Rancho, na praia do Numa ilha, Rosa, Garopaba/SC feita de muitas ilhas… - Santa Catarina. queremos homenagear Raízes de um povo, o mar, e os catarinense. pescadores, Raízes da cultura
que vivem dele e para ele. Por outro lado, queremos alertar para a importância do ambiente O mais famoso pasteldia (doce) de Portugal, no nosso a dia, na é conhecido como “pastel de Be Trata-se de umrelação docinho assado nossa com ono forno, em fôrmas de empada, t massa folhada no fundo e lados; no recheio vão gemas e nata (cre mar. leite), um pouco de farinha de trigo e casca ralada de limão. Seu n
marca registrada, nenhuma outra confeitaria pode usá-lo. A pastelaria, localizada junto ao Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa), fundada há mais de 180 anos, e vende, por ano, mais de 8,8 milhõ pasteis, gerando uma receita de 38 milhões de reais/ano...
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Nesta coletânea de escritores integrantes da Associação das Letras e estudantes de escolas públicas municipais nos proporcionam uma caminhada pelo universo das palavras, onde vivências e referências se mesclam a sonhos , desejos, dores, sentimentos e fantasias. Viagem das Letras 2017, 148 p. Preço/de autor: R$ 15,00
Até mesmo nos terremos mais áridos, observa-se que as letras costumam florescer em abundância, na vida de quem as cultiva. Antologia que reúne textos dos acadêmicos integrantes da Academia de Letras de Biguaçu e alunos classificados em concurso literário “Biguaçu dos meus amores”. Biguaçu dos meus sonhos 2018, 264 p. Preço/de autor: R$ 15,00
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Sangue Lusitano 2016, 190 p. Preço/de autor: R$ 30,00
“Através de histórias imperdíveis, Afonso Rocha leva-nos até 500 anos atrás quando os portugueses, galgavam os mares tenebrosos, chegando ao sul do Brasil, onde enraizaram, formaram família e deram nos terras ao mundo”.
“Com uma narrativa envolvente, o autor nos leva até um passado recente, para mostrar a luta e a insistência pela vida. Um contingente de pessoas, que mesmo diante de forças brutais, seguiu em frente. Ao sabor da história fica-nos, antes de tudo, o registo de uma época”. Olhos d’ Água 2013, 346 p. Preço/de autor: R$ 35,00 Edição Digital E-book R$ 10,00
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Poesia numa roda de amigos. Uma coletânea de poemas e outros pensamentos de Afonso Rocha, enriquecida pelo contributo de mais seis amigos naturais do Brasil, Cabo Verde, Portugal, Moçambique, Angola e Galiza, refletindo a poesia no espaço da lusofonia, até porque “tem loucuras que a gente só faz com muita maturidade”. TROVAS AO VENTO 2014, 140 P. Preço/de autor: R$ 25,00
Esta antologia publicada pela Associação das Letras reúne 25 escritores, com os mais variados estilos. É a união de diferentes mentes criativas que formam uma rede, cujos fios são tramados, letra por letra, culminando em resultado necessário para o fazer literário e o incentivo à leitura. REDE DAS LETRAS 2015, 256 p. Preço/de autor: R$ 15,00
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Um académico Cruz Alta/RS •
Discurso de tomada de posse;
•
Biografia do acadêmico Afonso Rocha;
•
Biografia do patrono, António Aleixo;
•
Juramento; Edição Digital E-book R$ 10,00
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em
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