Corrente 21 - março de 2019

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Ano II — Número 21 - Mensal: março de 2019

Corrente d’Escrita P lantando Cultura * Santa Catarina * Brasil

www.issuu.com/correntedescrita

185anos anos 185

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Corrente d’Escrita

R

enovamos.

Mas manteremos a mesma ambição. Chegar ao máximo de pessoas plantando nelas o gosto pela leitura, pela história, pelas artes, pela cultura. A nossa divisa será, daqui para a frente “plantando cultura”, porque exprime, claramente, o nosso objetivo primeiro. Iniciamos um novo capítulo na vida do “Corrente d’escrita” realizando, em parceria ou individualmente, atividades em contato direto com o público. A iniciativa do colóquio sobre a língua portuguesa, tratado em outro espaço, numa parceria com a Fundaçao Cultural de Florianopolis Franklin Cascaes, o “braço” para a cultura da Prefeitura de Florianópolis, é o primeiro, de muitos outros projetos que iremos dinamizar e dos quais, no decorrer dos tempos, vos daremos aqui conta. “Corrente d’escrita” alargou os temas que inicialmente se propôs. De mera intenção de divulgar livros e escritores, tenta absorver, agora, a literatura, a história e as artes, em suma, a cultura. Apelamos aos nossos leitores que colaborem com a vossa (nossa) revista, quer divulgando-a quer participando, enviando notícias e textos para publicação. Como referimos na nossa carta de intenções nenhum trabalho/ serviço nosso será pago. Continuaremos a ser uma publicação digital, distribuída gratuitamente, quer por e-mail, quer pelo nosso canal www.issuu.com/correntedescrita. Quem quiser pode inscrever-se neste canal e será avisado sempre que procedermos a qualquer publicação. Se quer receber no seu e-mail, basta nos enviar seu endereço para o nosso email: narealgana@gmail.com Estas sãos as “novidades por hoje. Colabore connosco.

Afonso Rocha—diretor Página 2


Ano II — Número 21 - Mensal: março de 2019

A língua portuguesa, uma analise dos escritores Deonísio da Silva, Maria Tereza de Queiroz Piacentini, Nereu do Vale Pereira e Afonso Rocha. Quarta-feira, dia 27 de março, as 19:30 horas, no auditorio do Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina, numa iniciativa do “Corrente d’escrita”, e organizaçao partilhada com a Prefeitura de Florianopolis, atraves da Fundaçao Cultural de Florianopolis Franklin Cascaes, evento integrado no 346º aniversario o Município. E evento conta com o apoio estatal, atraves da Fundaçao Catarinense de Cultura (FCC); da Academia Catarinense de Letras e Artes (ACLA); Academia Desterrense de Literatura (ADL); Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina (ALBSC); Academia de Letras Jurídicas de Santa Catarina (ALJSC) e Academia de Letras do Brasil de SC, Seccional de Florianopolis (ALBSC/Florianopolis). A língua portuguesa e “falada”, pelo menos oficialmente, por cerca de 280 milhoes de pessoas espalhadas pelos nove países que tem o portugues como língua oficial: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guine-Bissau, Cabo Verde, Sao Tome e Príncipe, Timor Leste e, mais recente, Guine Equatorial. Alem disso o portugues tambem e falado em Goa, Damao, Diu, Macau, e na Galiza. Apelamos a participaçao, aberta ao publico em geral, mas com particular interesse a todos aqueles que “trabalham” com a língua portuguesa: jornalistas, escritores, professores.

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Ano II — Número 21 LINGUA PORTUGUESA

- Mensal: março de 2019

Um exercício permanente A Língua Portuguesa e uma língua poetica e optima para ser utilizada na redaçao de livros, romances ou poemas. Mas muitas vezes, embora possamos ter o dom da palavra e exprimir as nossas ideias de forma correta e em bom portugues, e difícil transpor tudo aquilo que queremos para o papel. Escrever um bom texto em Língua Portuguesa requer talento, mas tambem requer motivaçao, treino e paciencia.

Como melhorar a escrita de textos? Essa e uma pergunta recorrente entre os falantes, pois escrever bem pode ser o segredo do sucesso na vida academica e na vida profissional. A resposta nao e simples. Afinal de contas, escrever bem e uma competencia que desenvolvemos ao longo da vida e nao existe uma formula magica capaz de nos transformar em exímios escritores do dia para a noite.

Dica 3: Não se esqueça do leitor

Dica importantíssima! Qual e a finalidade maior da linguagem, seja ela oral ou escrita? A comunicaçao. Se a comunicaçao nao acontece, ou seja, se o leitor nao consegue entender o que voce escreveu, entao algo esta errado. Para ter certeza de que o erro nao e seu, certifique-se de que o seu texto esta em conformidade com o seu publico-alvo. Evite rebuscamentos linguístiSe voce quer aprender a lidar melhor com a modalida- cos, termos tecnicos e construçoes sintaticas complede escrita ou mesmo aprimorar o conhecimento sobre xas, principalmente se o seu leitor for um leitor medio. a língua que voce ja dispoe, confira as cinco dicas que preparamos para si. Dica 4: Pontue mais Dica 1: Leia mais E inegavel o facto de que quem le mais tem mais facilidade com a modalidade escrita. E por isso que logo no começo deste texto afirmamos que nao existe uma formula magica disponível para transformar uma pessoa que nao le num bom escritor. Escrever bem e um objetivo a ser alcançado e o melhor exercício para atingir essa competencia linguística e a leitura. Por meio da leitura entramos em contacto com a língua e os seus diferentes registos, aprendemos na pratica regras da norma-padrao sem que precisemos de decorar toda a gramatica normativa. Dica 2: Diversifique a leitura Nao basta ler qualquer coisa. E preciso selecionar aquilo que voce vai ler. Voce pode ler best-sellers, mas nao se esqueça dos classicos da literatura. Afinal de contas, eles sao as fontes de toda a literatura contemporanea. Lembre-se tambem de diversificar a leitura, ou seja, nao fique preso a um unico genero textual. Conhecer os generos e as suas características e importante para que voce os identifique, assim como e importante para que voce se aproprie dos seus recursos linguísticos. Página 4

Uma pontuaçao correta e capaz de eliminar períodos longos, tipo de construçao sintatica que favorece o surgimento da ambiguidade, defeito textual indesejado nos textos nao literarios. Se voce nao conhece bem todas as regras para pontuar adequadamente, faça o simples exercício de ler o seu texto em voz alta. Ao ler a sua redaçao, certamente voce entendera quando e como pontua-la, o que consequentemente levara a elaboraçao de períodos mais curtos. Os períodos curtos podem eliminar incoerencias, alem de ser uma otima pedida para a coesao do seu texto. Dica 5: Cada parágrafo, uma ideia Voce sabe para que serve o paragrafo? Na estrutura do texto, o paragrafo e responsavel por dar um intervalo entre um assunto e outro dentro do mesmo tema. Isso quer dizer que num unico paragrafo nao devem coabitar ideias diferentes. Nele deve existir uma ideia central desenvolvida por ideias secundarias que estabeleçam conexao com o topico frasal. Se voce perceber que outra ideia central surgiu, entao e hora de mudar de paragrafo. Se ainda assim, no final do seu texto, voce notar que a estrutura textual ficou comprometida em virtude da paragrafaçao inadequada, nao tenha preguiça de reestrutura-lo. Reescrever e um dos principais exercícios para quem quer aprimorar a escrita.


Ano II — Número 21 - Mensal: março de 2019

Mês de março - mês da Mulher Mulheres (17) negras brasileiras que lutaram contra a escravidao Por: Patrícia Gonçalves

Benguela em homenagem a líder quilombola. Era mulher do líder do Quilombo de Quartere ou do Piolho, no Mato Grosso. Por la, foram abrigados ate índios bolivianos incomodando autoridades das Coroas espanhola e portuguesa. Tereza foi presa em um dos confrontos e como nao aceitou a condiçao de escravizada suicidou-se.

As mulheres que foram escravizadas no Brasil contribuíram, e muito, para acabar com escravidao no país. Enganase quem acha que a Princesa Isabel foi a responsavel pela libertaçao dos escravizados, como diria a cantora Yzalu,” a Lei Aurea nao passa de um texto morto”, afinal apos o 13 de maio de 1888, mulheres lutaram, e ainda lutam contra a racismo e machismo. Os passos das mulheres negras vem de longe, mesmo. Por isso, separamos 17 mulheres negras que fizeram parte de quilombos brasileiros e foram fundamentais em algum momento para a comunidade negra. As historias sao relatadas nos cordeis de Jarid Arraes e do Mural Memoria das MulheAqualtune res Negras, acervo do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, Rio de Janeiro. Era filha do Rei do Congo e foi vendida para o Brasil. Gravida no Quilombo dos Palmares organizou sua primeira fuga. Dandara dos Palmares Ficou conhecida por ficar ao lado de Ganga Zumba, antecessor de Zumbi, seu neto. A guerreira morreu queimada. E uma das líderes mais conhecidas no Brasil. Lutou contra a escravidao em Palmares. Foi contra a proposta da Coroa Zeferina Portuguesa em condicionar as reivindicaçoes dos quilombolas. A guerreira morreu durante a disputa no Quilombo Líder no quilombo de Urubu, na Bahia. Era angolana e foi dos Macacos pertencente ao Quilombo de Palmares, onde trazida ainda criança para o Brasil. As historias relatam que vivia tambem seu marido, Zumbi dos Palmares. ela confrontava os capitaes do mato com arco e flecha. Anastácia

Maria Felipa de Oliveira

Ajudou escravos quando eram castigados, ou facilitando a fuga. Certa vez, lutou contra a violencia física e sexual de um homem branco, por isso, recebeu o castigo de usar uma mordaça de folha de flandres e uma gargantilha de ferro. Apesar de viver na Bahia e em Minas Gerais foi levada para o Rio de Janeiro no fim da vida, la atribuíram varios milagres durante sua estadia.

Foi líder na Ilha de Itaparica, Bahia. Aprendeu a jogar capoeira para se defender. Tinha como missao principalmente libertar seus descendentes e avos. Ficava escondida na Fazenda 27, em Gameleira (Itaparica), para acompanhar, durante a noite, a movimentaçao das caravelas lusitanas. Em seguida, tomava uma jangada e ia para Salvador, passar as informaçoes para o Comando do Movimento de Libertaçao. Foi marisqueira, pescadora e trabalhadora braçal.

Luiza Mahín Passou muito tempo na Bahia e participou do levante na Revolta dos Males, em 1835 e a Sabinada, em 1837. Trabalhava como ganhadeira (no comercio de rua). Tereza de Benguela No Brasil, dia 25 de julho e comemorado o Dia de Tereza de Página 5

Acotirene Era considerada matriarca no Quilombo dos Palmares e conselheira dos primeiros negros refugiados na Cerca Real dos Macacos. Um dos mocambos (casa) foi batizado com o seu nome. Seg. pag. 8


Ano II — Número 21 - Mensal: março de 2019

istória Não apaguemos esta luz

A força da historia Seria melhor escrever cronica, mas hoje nao e possível. Faz dias que abro jornais e revistas e aparece uma saraivada de notícias e artigos de opiniao a respeito do que o governo eleito do país pretende fazer na area de Educaçao. Tramita um projeto de lei no parlamento para instituir a censura em sala de aula, fala-se em fundir o ministerio da Educaçao com outro, em cobrar mensalidades nas universidades publicas, em vouchers etc. Bastante cacofonia, mas nao seria razoavel descartar de início todos os pontos que aparecem para discussao. Todavia, ha alguns esclarecimentos a fazer no que tange a produçao do conhecimento historico e a difusao dele nas instituiçoes de ensino, nos livros, em revistas especializadas, em meios diversos de divulgaçao. Apesar das aparencias (a julgar pelo que se le e escuta), a produçao de conhecimento historico e o ensino dele nao sao a casa da mae Joana. De modo que vou explicar duas ou tres cousas basicas, para colocar a conversa em lugar devido. Ao que parece, professores e professoras de historia sao alvos principais de iniciativas para combater uma suposta doutrinaçao nas escolas. Todo dia ha alguma notícia sobre docente de historia denunciado, perseguido, demitido, ameaçado, agredido verbalmente, ou pior. E possível que tenha havido um excesso ou outro, em especial devido a alta temperatura política dos ultimos meses. Mas a exceçao nao faz a regra, nem o ataque em curso contra docentes de historia precisa de episodios isolados para se justificar. Quais os motivos para tanto foco nos historiadores? Por que eles passaram a incomodar tanto a certos setores da sociedade brasileira e da classe política? A resposta e complexa. Seria necessario situa -la no quadro mais amplo de explicaçoes dos motivos pelos quais a extrema direita chegou ao poder no Brasil, neste preciso momento. Conheço meus pares. Nos, historiadores, e colegas cientistas sociais de diversas disciplinas, no Brasil e no mundo, nos debruçaremos sobre o tema nas proximas decadas e vamos dissecar o assunto ate que a nuvem espessa da incompreensao se dissipe um pouco, ou bastante. O processo e lento, ja começou e nao tem hora para acabar. O tempo nervoso da política nao tem nada a ver com a longa Página 6

duraçao requerida na investigaçao, no dialogo academico e na sistematizaçao de resultados de pesquisa. Por aí se chega a uma primeira resposta quanto aos ataques aos historiadores. Os historiadores brasileiros estao na berlinda porque o conhecimento que produzem hoje e autonomo, crítico, baseado em pesquisas empíricas lentas e solidas, informado por debates conceituais densos. Alem disso, em varias areas da pesquisa historica, tem o reconhecimento da comunidade academica internacional. Desde o início da decada de 1980, a formaçao de historiadores se profissionalizou no país de maneira admiravel. Ha hoje dezenas de cursos de mestrado e doutorado em historia espalhados por todas as regioes. Sao programas de pos-graduaçao constantemente e rigorosamente avaliados pelos pares, em processos de acompanhamento institucionalizados pelo governo federal que nada deixam a dever (de fato, superam em muitos aspectos) a procedimentos similares existentes em outros países. Varios desses programas sao de excelencia, muitos deles de otima qualidade. Via de regra, os professores e professoras de historia das universidades brasileiras passaram por um processo de formaçao exigente, demorado, a demandar doses absurdas de vocaçao e determinaçao –quatro anos de graduaçao, dois ou tres anos de mestrado, quatro a seis anos de doutorado. Dez a treze anos de formaçao, quando da tudo certo, sem intemperies. Essa qualidade concentrada nas universidades, nas publicas em especial, mas nao so nelas, se espraia pelo sistema inteiro, instaura a reflexao crítica sobre a historia em toda parte. Isso incomoda demais. >>>>>>


Ano II — Número 21 - Mensal: março de 2019 E facil entender o desconforto de tanta gente. As historiadoras e historiadores brasileiros passaram as ultimas decadas a escarafunchar arquivos e rever inteiramente o que antes se sabia sobre a historia da escravidao e do racismo no país. A violencia da escravidao, a expansao da cafeicultura baseada na invasao de terras e no trafico africano ilegal, o estudo das formas de resistencia e de enfrentamento cotidiano por mulheres e homens escravizados –tudo isso se pesquisa e aprende, chega as salas de aula e ate ajudou na justificativa para a adoçao de políticas publicas de açao afirmativa. A historiografia brasileira participou intensamente de um movimento internacional de investigaçao das relaçoes de genero e seu impacto na reproduçao de desigualdades em sociedades diversas, em qualquer tempo. Aprendemos a respeito dos modos de as mulheres lidarem com as violencias e as formas diversas de subordinaçao, sabemos melhor aquilo que tem feito ao longo da historia contra aqueles que pregam a violaçao delas, a amputaçao de suas potencialidades, a interdiçao de seus sonhos. Houve uma gama enorme de estudos sobre a ditadura brasileira de 1964-1985, baseados em fontes primarias que se tornaram disponíveis, produzidos em dialogo com a historiografia internacional a respeito das ditaduras latinoamericanas no período da guerra fria. Os historiadores brasileiros sequer inventaram de chamar “ditadura” o que ocorreu no país naquele período, pois historiadores de outras partes do mundo ja haviam adotado a bossa de chamar a cousa pelo nome que a cousa tem. Nada disso, e muito mais, agrada a quem tem agora as redeas do poder. Paciencia. Outras eleiçoes virao. Mas algo precisa ficar claro. Nenhum político, nenhum general, nenhum juiz, ira determinar como historiadores de ofício chamarao isso ou aquilo, ou como exercerao o seu ofício. Podemos ser calados, mas nao vencidos. E estamos a disposiçao para ensinar, como sempre estivemos, a quem quiser aprender. As portas das universidades brasileiras estao abertas a quem se qualificar para ingressar nelas –ha ENEM, vestibulares, concursos de ingresso para programas de pos-graduaçao. Depois muitos anos de formaçao, exames diante de bancas de mestrado, doutorado, tudo com os salamaleques da tradiçao academica. Ha centenas e centenas de livros e artigos científicos sobre os temas citados no paragrafo anterior, e sobre muitos mais. E longo, duro, mas fascinante. Podem crer. Sidney Chalhoub Professor of History, Harvard University Professor Titular Colaborador, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (Texto de janeiro 2019).

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Mulheres (17) negras brasileiras que lutaram contra a escravidao Adelina Charuteira

Maria Aranha Foi líder do Quilombo de Mola, no Tocantins. Venceu todos os ataques escravistas e organizou toda a sociedade do local.

Era uma das líderes no Maranhao. Era filha de uma escraviNa Agontimé zada com um senhor, por isso, sabia ler e escrever. Apesar do pai, nao foi libertada aos 17 anos, mas era ativamente Era rainha do Benim e foi vendida como escrava para o Maparte da sociedade abolicionista de rapazes, o Clube dos ranhao, ate ganhou um novo nome, Maria Jesuína. Ela funMortos. Para arrecadar dinheiro vendia charutos fabricados dou a Casa das Minas e reconstruiu o culto aos ancestrais. pelo pai, com essa articulaçao descobria varios planos de perseguiçao aos escravos. Tia Simoa Rainha Tereza do Quariterê

Liderou a luta contra a escravidao no Ceara. Foi do Grupo de Mulheres Negras do Cariri, o Pretas Simoa.

Foi guerreira no Quilombo do Quaritere, em Cuiaba. Comandou toda a estrutura política, economica e administraZacimba Gaba tiva do quilombo. Mantinha ate um sistema de defesa com armas trocadas com homens brancos ou resgatadas pelos Era princesa angolana e acabou no Espírito Santo. Provocou escravizados. Ajudou na ampliaçao de outros quilombos no uma revolta das pessoas escravizadas contra a Casa Grande Mato Grosso. e liderou um quilombo onde foi rainha. Comandou durante anos ataques aos navios, surgindo no meio da noite em caMariana Crioula nos precarias para resgatar os negros escravos, a referencia a sua morte seja em um desses enfrentamentos. Era mucama em Vila das Vassouras, Rio de Janeiro. Se juntou com escravizados na maior fuga de escravos da historia fluminense em 5 de novembro de 1838. Liderou a fuga e um quilombo com Manuel Congo. Esperança Garcia Ousou a escrever uma carta para o presidente da Província de Sao Jose do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, denunciando os maus-tratos físicos de que era vítima, ela e seu filho, por parte do feitor da Fazenda Algodoes. Maria Firmina dos Reis Foi considerada a primeira romancista brasileira, alem de escrever o primeiro romance abolicionista, Ursula, que narra a condiçao da populaçao negra no Brasil com elementos da tradiçao africana. Dedicou sua vida a leitura e escrita. Eva Maria de Bonsucesso Era uma escrava alforriada que vendia frutas e verduras no Rio de Janeiro. Foi agredida por um homem branco e conseguiu que ele fosse preso, e condenado pela agressao

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Recorte de jornal procurando por escrava fugida (1883)


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ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA O Arquivo Publico do Estado de Santa Catarina, criado em 28 de junho de 1960, e uma unidade da Secretaria de Estado da Administraçao, vinculado a Diretoria da Imprensa Oficial e Editora de Santa Catarina (DIOESC).

nua crítica, na medida em que as instalaçoes prediais nao se apresentam totalmente seguras a preservaçao deste importante acervo. Vale ainda lembrar que o Arquivo Publico e um espaço de memoria e fonte de importantes documentos para a pesquisa em diversas areas e encontra-se fechado para a realizaçao de pesquisas, em funçao da situaçao encontrada. Urgem soluçoes que resgatem a importancia e dignidade desta Instituiçao, que durante os seus mais de 58 anos de atuaçao vem preservando desde o seculo XVIII, a memoria documental do Estado de Santa Catarina e tem possibilitado a produçao de conhecimento científico e cultural a partir do seu acervo.

Como orgao normativo do Sistema de Gestao Documental do Estado, tem por finalidade a gestao do acervo documental, seu recolhimento, seu tratamento tecnico, sua preservaçao e sua divulgaçao, garantindo o pleno acesso a informaSuzane Albers Araujo çao, alem de incentivar a produçao de conhecimento cientíJoao Pacheco de Souza fico e cultural. Possui um rico acervo, composto por documentos datados a partir de 1703, provenientes dos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciario e arquivos privados de pessoas físicas e jurídicas, incluindo a documentaçao especial composta por mapas, plantas, fotografias e filmes. Dentre a documentaçao historica mais importante para o Estado de Santa Catarina, destacam-se as relativas ao Governo da Capitania de SC, do Conselho Geral da Província, da Assembleia Provincial, do Congresso Representativo, Terras e Colonizaçao, alem dos documentos constitucionais e judiciais. Reune em torno de 4 mil mapas, plantas e croquis, de 9 mil imagens iconograficas, de um conjunto documental de manuscritos, cujo valor e imensuravel, alem de outros materiais e uma biblioteca de apoio. O Arquivo Publico dispoe ainda, desde 1983, de um Laboratorio de Conservaçao e Restauraçao de Documentos com suporte em papel, que trata da conservaçao preventiva do acervo documental, alem de açoes de restauraçao. Fonte riquíssima de pesquisa, mantem, em parceria com o curso de Arquivologia da UFSC, a Revista Agora editada semestralmente, importante periodico na area da arquivologia, historia, geografia e disciplinas afins. Pela sua relevancia cultural, sobretudo como referencia na preservaçao do patrimonio cultural do Estado de Santa Catarina, com enfase no patrimonio documental, o Arquivo Publico do Estado de SC foi agraciado em 2014 com a Medalha do Merito Cultural “Cruz e Sousa”, a maior honraria cultural do Estado de Santa Catarina. Apesar dessa importancia, as notícias veiculadas pela imprensa no ultimo dia 20 de dezembro, sobre os danos provocados em parte do acervo provocados por um temporal, em decorrencia da falta de manutençao da estrutura física predial, trouxeram grandes preocupaçoes a sociedade, especialmente aos pesquisadores. Ainda que tenham sido tomadas providencias imediatas por uma equipe, que realizou um trabalho emergencial de salvaguarda do acervo comprometido com a agua da chuva, a situaçao ainda contiPágina 9

FREQUENTE A BIBLIOTECA DA SUA CIDADE


Corrente d’Escrita

POEMA SOBRE UMA RESOLUÇÃO DO COMITÉ CENTRAL * mandaram-me escrever uma resoluçao do comite central estava frio recolhi-me a um cafe escrevi reescrevi rasguei e tornei a escrever a teoria da revoluçao e um parto de gritos que uns dirao conscientes outros alucinados um casal de melros namorava na arvore do jardim um barco atravessava o Tejo e os operarios entravam na Lisnave levando na lancheira o jornal com a cronica do benfica-sporting sepultando (para sempre?) o Marx na vala comum do esquecimento fumei mais um cigarro mandei vir novo cafe reescrevi a resoluçao do comite central e reparei no riso claro e nas pernas longas da rapariga da mesa em frente o meu soldo de membro do comite central era baixo mas mandei vir mais um brande e recomecei a fazer emendas e mais emendas nada me saia bem talvez porque estavam tao longe de mim os operarios da Lisnave chegou a hora de jantar e o empregado procurou empurrar-me da mesa colocando uma toalha avermelhada a minha frente mandei vir uma sopa para nao perder o lugar e recomecei a escrever a resoluçao do comite central pedi um jarro de vinho e uma sandes esperando que o camarada das finanças do comite central nao considere estes meus gastos um desvio pequeno-burgues o vinho deu-me asas e desviou-me da rota pus de lado a resoluçao do comite central e escrevi-te um poema para que o desvio nao fosse avassalador imaginei a revoluçao num prado verde e que esse territorio era o teu corpo acabei o breve poema e recomecei a escrever a resoluçao do comite central os camaradas acharam que a resoluçao sofria de um desvio idealista e foi esmagadoramente derrotada na votaçao final (creio que foi aí que perdi a corrida para o lugar de secretario-geral) passei a maquina o poema que te tinha escrito e dei-to na primeira vez que te encontrei foste mais efusiva que os camaradas do comite central e nessa noite mergulhei no teu corpo como um partizan em terra libertada o sabor amargo da derrota no comite central colocou a nu o meu pendor idealista nefasto a visao materialista do mundo proprio de um secretario geral que se preze talvez para apagar a magoa de ser derrotado na corrida a secretario-geral passei a escrever poemas líricos levemente pequeno-burgueses poemas que transcrevo no teclado de uma maquina antiga e vou distribuindo pelas ruas as raparigas de olhar suave agora que nao sei onde andas e os membros do comite central ja esqueceram o meu nome.

* Por Manuel Monteiro, português, escritor, alfarrabista, antigo deputado e dirigente político partidário. Página 10


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Urda Alice Klueger Escritora, historiadora e doutora em Geografia

ENVELHECENDO 3 As vezes vive-se tanto que e melhor trocar alguns nomes nas historias vividas para nao ferir suscetibilidades ou mesmo sofrer alguns processos. Entao, os nomes que seguem sao fictícios, mas tudo aconteceu direitinho como eu vou contar.

Esse era um tempo antes da informatica, quando a vida de uma bancaria era uma tristeza, e entao olhavamos a praça la fora e pensavamos na aposentadoria que nunca viria, mas na qual nao custava sonhar. Seríamos aposentadas chiques, tendo na bolsa frascos de prata contendo uísque de boa qualidade. Sentaríamos na praça, entao, olharíamos para o banco e lembraríamos das coisas: - Lembra daquele dia em que tivemos que ficar trabalhando ate as onze da noite por causa de uma diferença de quatro centavos? Aquilo nos faria beber o primeiro gole dos nossos frascos chiques, e as lembranças continuavam, enquanto nos vingavamos das agruras do banco olhando la de fora para ele, que ja nao poderia mais nos fazer mal. Em algum momento, uma de nos diria: - Lembra do Tonhao?

Foi la no final da decada de 1970, creio, que apareceu em Blumenau um verdadeiro príncipe encantado: o Tonhao. Alem do nome imponente, Tonhao era mulato, lindo, simpaticíssimo, vinha com emprego importante em firma seria, E entao riríamos muito e beberíamos tudo o que restava tinha um carro colorido com placa do Rio de Janeiro e, pas- dos nossos frascos de prata, ja que ele se fora de vez, levado mem! – TINHA UMA CARTEIRINHA DE SOCIO DO FLAMEN- pela Lourdes. GO!!! Mas a historia nao acabou assim. Na altura em que realmente nos aposentamos, nenhuma de nos mais bebia alcoE claro que ele imediatamente virou alvo da cobiça de todas as loiras casadoiras da cidade, que eram muitas e lindas ol, o banco tinha trocado de endereço, a praça tinha sido e que passaram a se vestir mais caprichosamente do que de modificada e tínhamos esquecido completamente dos chiques frascos de prata que levaríamos em bolsas chiques, e costume, na tentativa de abocanhar o gato. sequer bolsa eu usava mais: havia aderido a mochila e TruFaziam-se muitas festas nas casas das pessoas, nessa epoca, de gastava boa parte do seu tempo fazendo longas caminas noites de sexta, e foi com tremendo espanto que viu-se nhadas com fones de ouvido que lhe davam boa musica – chegar a uma delas o Tonhao ja devidamente comprometi- eramos felizes de uma nova maneira. Um dia vi passar o Tonhao e nao quis crer: ele ficara velho, estava barrigudo e do com a Trude, uma daquelas loiras arrasadoras, exibida careca, e e de se pensar que ao inves do Flamengo, agora como so, que fazia questao de ficar a noite inteira com os era socio de algum Clube de Caça e Tiro. Quando encontrei dedos entrelaçados com os dele e sem dar atençao para mais ninguem. Um pequeno exercito de loiras deslumbran- Trude de novo morremos de rir. Coisas de quando se envelhece! tes ficava a noite inteira no entorno, esperando qualquer descuido da Trude para avançar o sinal, sem nenhum sucesso. Claro que quando o casal se ia uma pequena revolu- Sertao da Enseada de Brito, 09 de fevereiro de 2019. Urda Alice Klueger çao cheia de odio acontecia: como a Trude fora ter aquela Escritora, historiadora e doutora em Geografia. sorte? O que e que as outras tinham de errado? Encurtando a conversa, Tonhao nao ficou com a Trude nem com nenhuma outra da turma: acabou casando-se com a Lourdes, estranha para nos, que nem loira era e com quem esta casado ate hoje, caso nenhum dos dois tenha morrido, pois faz tempo. Um dia, muitos anos depois, conheci umas moças lindas e simpaticas que eram filhas dele e da Lourdes. Bingo para a Lourdes O que aconteceu aí no meio foi que fui trabalhar em um banco, e la tambem trabalhava a Trude. Em algum momento, fui colocada a trabalhar na mesa exatamente ao lado da Trude. Nos nos odiavamos profundamente, mas havia um telefone so entre nossas duas mesas, e quando uma atendia e era para a outra eramos obrigadas a falar uma com a outra, e tanto nos chamamos por causa do telefone que acabamos ficando amigas e passamos a pensar coisas juntas. Página 11


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Fotos com História

Maria Bonita, anterior à sua adesão ao grupo do Lampião. Foto rara. Página 12


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Agredir Mulher É sempre cr ime!

Solidariedade e luta comum.

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Dicas de português...

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Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha

Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história e a cultura em geral. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário. O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.

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Nesta coletânea de escritores integrantes da Associação das Letras e estudantes de escolas públicas municipais nos proporcionam uma caminhada pelo universo das palavras, onde vivências e referências se mesclam a sonhos , desejos, dores, sentimentos e fantasias. Viagem das Letras 2017, 148 p. Preço/de autor: R$ 15,00

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“Através de histórias imperdíveis, Afonso Rocha leva-nos até 500 anos atrás quando os portugueses, galgavam os mares tenebrosos, chegando ao sul do Brasil, onde enraizaram, formaram família e deram nos terras ao mundo”.

“Com uma narrativa envolvente, o autor nos leva até um passado recente, para mostrar a luta e a insistência pela vida. Um contingente de pessoas, que mesmo diante de forças brutais, seguiu em frente. Ao sabor da história fica-nos, antes de tudo, o registo de uma época”. Olhos d’ Água 2013, 346 p. Preço/de autor: R$ 35,00 Edição Digital E-book R$ 10,00

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Corrente d’ escrita

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Poesia numa roda de amigos. Uma coletânea de poemas e outros pensamentos de Afonso Rocha, enriquecida pelo contributo de mais seis amigos naturais do Brasil, Cabo Verde, Portugal, Moçambique, Angola e Galiza, refletindo a poesia no espaço da lusofonia, até porque “tem loucuras que a gente só faz com muita maturidade”. TROVAS AO VENTO 2014, 140 P. Preço/de autor: R$ 25,00

Esta antologia publicada pela Associação das Letras reúne 25 escritores, com os mais variados estilos. É a união de diferentes mentes criativas que formam uma rede, cujos fios são tramados, letra por letra, culminando em resultado necessário para o fazer literário e o incentivo à leitura. REDE DAS LETRAS 2015, 256 p. Preço/de autor: R$ 15,00

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Corrente d’ escrita

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Um académico Cruz Alta/RS •

Discurso de tomada de posse;

Biografia do acadêmico Afonso Rocha;

Biografia do patrono, António Aleixo;

Juramento; Edição Digital E-book R$ 10,00

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em


Corrente d’ escrita

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