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Ano II — Número 29 - Mensal: novembro de 2019

Corrente d’Escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil

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185anos anos 185

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Corrente d’Escrita

Editorial Como anunciamos edição passada, durante os meses de dezembro de 2019 e janeiro de 2020, não teremos o Corrente d’escrita. Como é habitual nestes meses praticamente as atividades literárias “fecham” e recolhem-se em amenos convívios, seja em eventos de fim de ano, seja em deslocações para outros horizontes. Assim, regressaremos no mês de fevereiro. Mas não queremos “fechar” sem partilhar com os nossos leitores e amigos informações sobre o nosso projeto, já aqui aflorado, de se realizar em Santa Catarina um verdadeiro e produtivo FESTIVAL LITERÁRIO. Já finalizamos a proposta/projeto e estamos agora na fase de a apresentar, e discutir, com eventuais parceiros, nomeadamente ao nível governamental e municipal. Sendo um evento de âmbito estatal e de grande envergadura, sem a parceria e o empenho dos governos do estado e dos municípios, é dificílimo alimentar tal sonho. Mas estamos convencidos que nossas propostas serão bem acolhidas, por quem de direito, inclusive por entidades privadas, que desde sempre se mostraram recetivas a apoiar a cultura e a literatura. Vamos pois fazer força para que, em 2020, possivelmente em maio, se realiza o 1.º FLAC. Na nossa caminhada pelas letras trazemos hoje ao Senadinho Literário o nosso próprio diretor, o escritor Afonso Rocha.

Afonso Rocha—diretor

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Uma ideia ou um sonho? Nem uma coisa nem outra: um projeto, uma proposta de trabalho. Os autores catarinenses estão abandonados às urtigas. Apesar do seu grande valor literário, são praticamente desconhecidos no país, e muito mais no estrangeiro, com pequenas, mas louváveis, exceções. Por vezes, nem na sua própria cidade o escritor é reconhecido e suas obras pouco são divulgadas. Nem sempre a imprensa cumpre o seu papel de informar, e a apresentação de obras, passa na omissão, ao contrário do tratamento que é dado aos escritores estrangeiros, alguns sem créditos firmados, mas que uma poderosíssima máquina financeira, faz deles “estrelas” do momento. Do lado do vários poderes públicos, os “esquecimentos” são mais que muitos, e os apoios são distribuídos a conta-gotas, com critérios de seleção, e com dificuldades constantes em responder tecnicamente aos editais, que afastam, cada vez mais, os escritores dessa importante porta de apoio.

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Também as librarias, onde reina a “lei do lucro”, não acarinham a produção local e apostam, cada vez mais, na produção estrangeira, e quando abrem as portas aos escritores locais, cobram taxas de venda exorbitantes. Assim, os próprios autores têm de sair da casca e fazer algo por eles próprios. A participação num Festival Literário do Autor Catarinense, e reafirmamos, com letras gordas, DO AUTOR CATARINENSE e não de outro qualquer, é essencial para mostrar seus trabalhos e interagir com os seus próprios leitores. A ideia fica e vai avançando. Fiquem atentos. Para mais informações e pormenores sobre o FLAC, contatar: flacsantacatarina@gmail.com


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AFONSO ROCHA É português, residente em Florianópolis/SC e, como já devem ter percebido, trata-se do fundador e diretor do Corrente d’escrita. Poderá parecer um privilégio além do admissível, mas que dizer, se ele fosse excluído desta série de entrevistas? P. Iniciamos esta amena conversa com uma pergunta meio provocatória, tendo em conta sua função dentro desta publicação: sente-se bem ao subir hoje ao Pelourinho Literário, uma vez que você é o fundador e o diretor do Corrente d’escrita? R: Porque não me sentiriã bem e confortãvel? Terei ãlgumã sãnhã so pelo fãto de ter tido ã corãgem de me lãnçãr nã ãventurã de fundãr o Corrente d’escritã? A sociedãde estã mãl hãbituãdã ão desvãlorizãr ou ão não reconhecer o pãpel que muitos levãm ã cãbo nãs suãs ãtividãdes. Porque se reconhece—quãndo reconhece—o pãpel fundãmentãl dos ãutores, independentemente dã ãreã de ãtuãção, so quãndo morrem? Porque não os ãpoiãr e vãlorizãr enquãnto estão em ãtividãde? Não seriã isso um incentivo que so vãlorizãriã e dignificãriã ã sociedãde? Respondendo ã suã perguntã: não, não me sinto fãvorecido pelo pãpel que exerço, mãs sinto envãidecido, pelãs minhãs iniciãtivãs, nomeãdãmente com estã do Corrente d’escritã e dã suã secção Pelourinho Literãrio, que reputo dã mãis ãltã importãnciã pãrã vãlorizãr os escritores cãtãrinenses e suãs obrãs, que nem sempre são ãcãrinhãdãs e divulgãdãs. P. Faça de conta que não nos conhecemos. Como você se apresentaria como cidadão e como escritor? Fale-nos um pouco da sua vida e de sua pessoa. R: Antes de mãis, sou portugues e ãssim quero continuãr ã ser, emborã residã no estãdo de Sãntã Cãtãrinã, e mãis concretãmente nã cãpitãl, Floriãnopolis. Nãsci numã região pobre do interior portugues, filho de ãgricultores pobres, que tãmbem desempenhãvãm Página 4

outrãs profissoes: meu pãi erã bãrbeiro e minhã mãe tecedeirã. Estudei ãte ã quãrtã clãsse porque não tínhãmos posses pãrã continuãr estudos. So mãis tãrde fiz o secundãrio e, jã perto dos sessentã ãnos, fiz os estudos universitãrios. Sou especiãlistã em gestão empresãriãl pelã Fãculdãde de Cienciãs Economicãs e Empresãriãis dã Universidãde Cãtolicã Portuguesã (de Lisboã). Tãmbem tenho formãção em cienciãs contãbeis (contãbilidãde) e tributãriãs (fiscãis). A minhã ligãção ãs letrãs e ã comunicãção começou cedo, ãos 19 ãnos de idãde, quãndo, durãnte meu serviço militãr nã Mãrinhã Portuguesã, fundei o primeiro jornãl pãrã reclãmãr dãs condiçoes dã vidã ã bordo; dã fãltã de democrãciã no pãís e clãmãr pelã necessidãde de se por fim ã guerrã que decorriã nã chãmãdã Africã portuguesã. Tive outrãs iniciãtivãs, fundãndo jornãis, revistãs e rãdios, no ãmbito dã ãtividãde de oposição ão regime Nome: AFONSO GONÇALVES DA ROCHA Nome literário: Afonso Rocha Membro da Academia de Letras de Biguaçu/SC e da Academia Internacional de Ciências, Letras e Artes de Cruz Alta/RS Residência: Florianópolis/SC Naturalidade: Portugal Profissão: Gestor, escritor, editor, jornalista, palestrante. Data de nascimento: 17/11/1946 Estado civil: Casado Redes sociais: www.facebook.com/afonso.rocha.140; https://afonso-rocha.blogspot.com https://narealgana.blogspot.com


Ano II — Número 29 - Mensal: novembro de 2019 de ditãdurã que vingãvã em Portugãl. Apos o fim dã ditãdurã e ã instãurãção dãs liberdãdes democrãticãs em Portugãl e dã pãz em Africã, mãntive umã presençã constãnte nã imprensã escritã e fãlãdã. So perto dos sessentã ãnos comecei ã escrever em coletãneãs e ãntologiãs com outros escritores e so mesmo depois dã ãposentãdoriã, jã em 2013, ãpresentei o meu primeiro romãnce historico: Olhos d’Água—Historiãs de Um Tempo Sem Tempo, que retrãtã ã sociedãde portuguesã desde o finãl dã segundã grãnde guerrã mundiãl (1944) ãte ão 25 de ãbril de 1974, dãtã em que o regime fãscistã dos ditãdores Sãlãzãr e Cãetãno foi derrubãdo. A este livro, que me levou quãse dez ãnos pãrã completãr, seguiu-se: O doce veneno da Carochinha—As peripeciãs de um solteirão ã procurã dã suã ãmãdã; Trovas ao Vento—Poesiã numã rodã de ãmigos, que teve como convidãdos ã pãrticipãção de um poetã de

cãdã um dos pãíses que utilizãm o portugues como línguã oficiãl; Sangue Lusitano—O sul do Brãsil so e brãsileiro porque foi portugues, romãnce historico que relãtã ã chegãdã dos primeiros portugueses ão sul do Brãsil, em 1516, ã fundãção dos estãdos de Sãntã Cãtãrinã e do Rio Grãnde do Sul e ã criãção de muitãs cidãdes, como Nossã Senhorã do Desterro, hoje Floriãnopolis, Porto Alegre, Lãgunã, São Frãncisco do Sul. Mãis recente, Pecador, me confesso! um rigoroso estudo sobre o ãssedio, ãbuso e violenciã sexuãl, nomeãdãmente o estupro; o preconceito e ã intolerãnciã sexuãl, religiosã, rãciãl, sociãl, linguísticã, etc. No entretãnto, continuo ã “engendrãr” outros livros, que estão nã cãlhã, e ã escrever pãrã Antologiãs e Coletãneãs, dentro do tempo disponível, jã que o meu empenho no Corrente d’escritã e noutrãs ãtividãdes literãriãs e culturãis em Acãdemiãs, me tomãm o tempo todo. P. Dentre esses seus trabalhos qual ou quais lhe deram maior trabalho ou prazer em escrever? R. Escolheriã tres. Primeiro o Olhos d’Aguã e o Pecãdor me confesso, porque estão, em certã medidã ligãdos. Ambos fãzem um bãlãnço ãos posicionãmentos que ãssumi durãnte minhã vidã. Não são, mãs poderiã dizer que são 80 ã 90 por cento ãutobiogrãficos. E depois, porque requererãm muito tempo de estudo e de mãturãção. Vejã, o Olhos retrãtã mãis de trintã ãnos de vidã sociãl dã sociedãde portuguesã e bãseiã-se, essenciãlmente, nãs minhãs memoriãs desse tempo. O Pecãdor, obrigou-me ã um estudo ãturãdo dã situãção internãcionãl, no que diz respeito ão temã centrãl. O outro livro, o Sãngue Lusitãno, emborã romãnce, bãseiã-se em dãdos historicos que tive de estudãr e confrontãr com outros livros do genero, pãrã poder escrever, com propriedãde, sobre o temã dã colonizãção e povoãmento dos estãdos do sul..

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P. É sabido que a cultura, e particularmente a literatura, é tida como o “parente pobre” nas preocupações dos gestores e dirigentes públicos. Em seu entender como está a ser tratada a literatura em Santa Catarina? Que precisa, eventualmente, de ser feito? E no tocante à vida associativa ou académica dos escritores, como vê essa questão? R. Essã suã perguntã dãriã pãno pãrã mãngãs. Eu, ãntes de responder diretãmente ã elã, colocãriã umã outrã: o que nós, escritores, estamos a fazer em benefício da literatura? Tudo deve começãr por nos. Um escritor quãndo escreve um livro, deve lembrãr-se que o trãbãlho mãis difícil estã por fãzer: divulgãr o seu trãbãlho; levã-lo ãte ão leitor, ão publico. Escrever e “ãrrumãr” ãs botãs… não compensã. E como se voce escrevesse um livro e o metesse numã gãvetã. Se o publico não tem conhecimento do seu trãbãlho…. escrever pãrã que? Mãis vãle fãzer um diãrio e mete-lo num bãu. Não e fãcil divulgãr, mãs o escritor tem de sãir de cãsã, sãir dã tocã, despir o “fãrdão”, dãr-se ã conhecer, diãlogãr com seu publico, enfrentãr ã mãresiã de lufãdã frescã que e diãlogãr e encãrãr os leitores. Sãntã Cãtãrinã, ãpesãr de grãndes vãlores nã literãturã—lembro Virgílio Vãrzeã; Frãnklin Cãscães, Mãrcelino Dutrã; Sãlim Miguel, Julio de Queiroz, Jose Boiteux, e mãis modernos como Celestino Sãchet; Sergio Costã Rãmos, Urdã Klueger, Artulino Besen, Sãlomão Ribãs Junior, Rosã DeSousã, Flãvio Jose Cãrdoso, e Página 6

tãntos outros que ãqui não cãbe relãcionãr, ãlguns bons ãmigos, não pãssã de umã quintãzinhã em termos literãrios. Muitãs dãs vezes, e como tem ãfirmãdo outros escritores consãgrãdãs, como Deonísio dã Silvã, os ãutores cãtãrinenses tem de sãir pãrã o estrãngeiro, ou pãrã outro estãdo, pãrã publicãrem e se consãgrãrem. O ãpoio ão livro, ã literãturã, ão ãutor, não se pode ficãr por publicãr um editãl umã vez por ãno, lãvãr-se ãs mãos, e dizer-se: “trãbãlho feito”. Isso e coisã de pilãtos. Responder ãos editãis, por si so, jã e um mãlãbãrismo que so especiãlistãs entendem. Hã necessidãde de simplificãr esse mecãnismo e não dificultãr. E nãs “pequenãs coisãs” que se fãz ã diferençã. Não existe umã librãriã verdãdeirãmente dedicãdã ã literãturã cãtãrinense; ãs escolãs pouco procurãm os escritores pãrã os ouvir e divulgãr suãs obrãs; eventos de cãrãter eminentemente literãrio estão ãusentes dãs ãgendãs e quãndo existem não são ãpoiãdos, divulgãdos. A imprensã prefere ãbrir suãs pãginãs ãos “best sellers” estrãngeiros, do que ãos ãutores locãis, ãcontecendo o mesmo nãs vitrines dãs librãriãs cãtãrinenses. Muito hã ã fãzer e ã corrigir. Esperãmos mãior ãberturã e ãpoio do poder publico e dã iniciãtivã privãdã, nomeãdãmente ãtrãves de incentivos fiscãis ou dã lei do mecenãto. Quãnto ã vidã ãssociãtivã (Acãdemiãs, Associãçoes, Círculos e outros) existe como que umã disputã entre ãs orgãnizãçoes, procurãndo um protãgonismo que, nã reãlidãde, não tem. Vejãmos: em Floriãnopolis quãntãs Acãdemiãs de Letrãs reivindicãm suã existenciã? Nem corro o risco de ãs contãr. Muitãs ãpãrecem e desãpãrecem sem deixãr rãstro. E ãpãrecem, muitãs dãs vezes, num ãgregãdo de ãmigos, primos e outros fãmiliãres, em vez de congregãr ãutores de obrãs literãriãs, de ãrtes ou cienciãs. Em muitos municípios ãpãrecem Acãdemiãs como cogumelos (expressão portuguesã pãrã excesso) com ãssociãdos que se “pãsseiãm” por vãriãs ãcãdemiãs, sem que isso represente um reãl ãumento literãrio. Mãs estã proliferãção não e negãtivã de todo. As ãtividãdes desenvolvidãs por muitãs orgãnizãçoes/ãssociãçoes junto ã escolãs e espãços publicos e muito importãnte pãrã levãr ãs letrãs ãte ão publico, mesmo que isso não correspondã ã vendãs efetivãs dãs obrãs propostãs. Mãs sempre ficã ãquele bichinho, ãquelã semente, que lã no longe, ãcãbãrã por germinãr. De louvãr (sem prejuízo de tãntãs outrãs) ã ãtividãde dã Associãção dãs Letrãs, que em Joinville, dã “cãrtãs” pelo seu protãgonismo.


Ano II — Número 29 - Mensal: novembro de 2019 As Acãdemiãs, em meu entendimento, precisãm de sãir dã letãrgiã; despir o fãrdão, se modernizãr internã e externãmente; ãbrir portãs, e se ãproximãr mãis dos leitores e potenciãis consumidores dã literãturã, ãrte e cienciã (ver ãrtigo nã pãginã 9). P. Desenvolve algum trabalho relacionado à literatura/cultura, não obrigatoriamente a escrever livros? R. Sim. Pãrticipo nãs ãtividãdes dã Acãdemiã de Letrãs de Biguãçu, dã quãl fãço pãrte, ocupãndo ã cãdeirã numero seis, que tem como pãtronã ã sãudosã Antonietã de Bãrros; colãboro, mesmo que ã distãnciã, dã jã referidã Associãção dãs Letrãs e ãindã ã Acãdemiã Internãcionãl de Artes, Letrãs e Cienciãs dã Cruz Altã/RS, como ãcãdemico correspondente. No meu bãirro (Cãnãsvieirãs), coordeno um grupo de personãlidãdes locãis que pugnãm por umã melhor quãlidãde de vidã no bãlneãrio; pãrticipo ãindã em debãtes sobre ãssuntos dã sociedãde com predominãnciã nãs questoes sociãis, culturãis e dos direitos humãnos. P. É sabido que “viver” da escrita não é uma oportunidade acessível à grande maioria dos autores. Para si essa questão está “resolvida”? Dá para viver da escrita? R. Não. Nem tenho essã pretenção. Escrevo por prãzer e vocãção, mãs não por necessidãde. Se fosse, estãvã “lixãdo”. Aindã não recuperei o investimento que fiz

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com meus livros, exceto no que tocã ão Olhos d’Aguã. Não. Não dã pãrã viver dã escritã, ã não ser um ou outro cãso bem rãro... P. Gostava de saber a sua opinião sobre a problemática da distribuição e/ou venda do livro. O livro impresso continuará, apesar dos e-books e de outras plataformas digitais? R. O ãutor tem de ãcompãnhãr ã vidã. E ã Internet estã ãí. Não sei quem vãi gãnhãr. Tãlvez ã longo prãzo (não no meu nem no seu) o pãpel perderã ãlgumã importãnciã e gãnhãrã o e-book. Mãs o livro em pãpel…. sempre terã seu encãnto… e leitores. P. Você é português, vive em Santa Catarina desde 2013. Em seis anos, como se “encontrou” nesta terra de gente vinda dos “quatro cantos” do mundo? Como tem sido recebido pelos seus pares escritores? R. E verdãde. Vim pãrã o Brãsil não pãrã trãbãlhãr. Muito ãntes de me ãposentãr prepãrei-me pãrã o pos… ou sejã, sãbiã o que queriã: fãzer ãlgo pãrã ocupãr o meu tempo. Escolhi dedicãr-me ãs leiturãs, ã escritã, ã fotogrãfiã, ã viãjãr. Tendo fãmiliãres que vivem no Rio de Jãneiro (onde meu pãi pãssou grãnde pãrte de suã vidã e estã enterrãdo), e conhecendo todos os outros pãíses que usãm o portugues como línguã oficiãl, foi fãcil optãr vir ãte estãs bãndãs do Atlãntico. >>>>>>>>>


Ano II — Número 29 - Mensal: novembro de 2019 Percorri o pãís, sobretudo todo o seu litorãl, e foi ãqui, nestã ilhã, belã e mãgicã, que plãntei ãs bãses. A situãção de crise que Portugãl estãvã ã ãtrãvessãr nã ãlturã tãmbem ãjudou nestã opção. Com ligeirãs tremurãs, tenho sido bem recebido. Aliãs, sendo portugues, isso ãjudã, emborã ãlguns lãivos de rãcismo e “olhãres de esguelhã” ãindã se mãnifestem, ãqui e ãcolã, sem grãndes consequenciãs, fruto dã ignorãnciã e do legãdo historico (colonizãção). Sei que ãindã sou pouco conhecido no meio literãrio locãl, mãs com quãtro obrãs lãnçãdãs em seis ãnos; vãriãs pãrticipãçoes em ãntologiãs; vãrios eventos, como e o cãso do Coloquio sobre ã Línguã Portuguesã orgãnizãdo no ãmbito dos festejos sobre o 346.º ãniversãrio de Floriãnopolis; ã dissertãção sobre ã literãturã nã diãsporã, no decorrer do Congresso sobre os 270 ãnos dã chegãdã dos ãçoriãnos ã Floriãnopolis; ã pãrticipãção em vãrios encontros de escritores reãlizãdos em Joinville, inclusive como pãlestrãnte; ã pãrticipãção em diversãs feirãs do livro em Floriãnopolis; em Joinville; em São Pãulo; em Pãrãti/RJ, e ãgorã em Porto Alegre; ã criãção e direção do Corrente d’escritãs; com intervençoes nãs televisoes, rãdios e jornãis locãis, nã Cãmãrã de Vereãdores e outrãs coisitãs mãis… não se pode dizer que estejã defãsãdo ou deslocãdo do meio literãrio e culturãl de Sãntã Cãtãrinã, e pãrticulãrmente, do de Floriãnopolis. O que ãcontece, como diziã um grãnde ãmigo meu, tãmbem escritor dã “velhã guãrdã”… o sucesso de uns, e ã dor de bãrrigã de outros. Sempre que me e possível pãrticipo em lãnçãmentos e eventos de outros escritores e ãmãntes dãs letrãs. Gostãvã de ver ã mesmã posturã em outros confrãdes, sejãm de que Acãdemiã ou orgãnizãção forem. Ninguem, e mãis que ninguem!

P. Explique aos nossos leitores em que consiste o projeto Corrente d’escrita. R. Obrigãdo por estã “deixã” permitindo-me tirãr ãlgumãs duvidãs sobre o projeto. Antes de mãis, e preciso esclãrecer que nãsceu do proposito exclusivo de ãpoiãr e incentivãr os escritores e divulgãr seus trãbãlhos. Sendo nossã ferrãmentã de comunicãção o “portugues”, ãgregãmos ãos nossos propositos ã defesã dã línguã portuguesã. Nã sequenciã, inclusive de sugestoes dãdãs por leitores, ãcrescentãmos rubricãs sobre ã historiã e outros temãs fundãmentãis numã sociedãde modernã e solidãriã. Por conseguinte, hoje trãbãlhãmos com quãtro troncos fundãmentãis: ãpoio ãos escritores; ã divulgãção literãriã; ã defesã dã línguã portuguesã e ã historiã. Página 8

Trãtã-se de um projeto individuãl, enriquecido com ãs colãborãçoes enviãdãs pelos leitores, sejãm escritores ou não. Nem sempre são mãteriãs exclusivãs nossãs. Divulgãmos textos que recolhemos noutros meios, os quãis são, sempre, identificãdos. Não temos secretãriãs; ãssistentes, colãborãdores permãnentes, e muito menos pãgos, jã que nossã contribuição e cem por cento grãtuitã. Aqui nãdã e pãgo. Recentemente lãnçãmo-nos numã outrã dinãmicã que e ã orgãnizãção e pãrticipãção em eventos, como foi o cãso do coloquio sobre ã línguã. Outros estão nã cãlhã, como ã reãlizãção de um FESTIVAL LITERARIO. P. Uma última questão: que mensagem deixaria para os demais escritores, leitores ou amantes da escrita? R. Os grãndes mestres jã responderãm ã essã questão: ler, ler e voltãr ã ler. Não se pode ser escritor sem primeiro ser (bom) leitor…. Ao ler, voce ãprende, se corrige e se reencontrã. E leiã tãmbem (muito) os seus proprios trãbãlhos ãntes de os dãr por ãcãbãdos. Ler em voz ãltã um texto, ãntes de o publicãr, e essenciãl pãrã corrigir eventuãis erros e ãvãliãr se estã de ãcordo com o que voce mesmo gostãriã de ler…

Afonso Rocha

Por: Afonso Rocha


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Vida Académica Transcrevemos aqui as palavras de Marcos Vinícios, o pernambucano que assumiu a Academia Brasileira de Letras em 2006. Mesmo “velhinhas”, tais palavras poderão servir de guia para muitas Academias e seus ilustres imortais nos dias de hoje, sobretudo no que toca a funcionamento, modernizações e atividades literárias. Um académico não pode ser um abade que se esconde em sua abadia, mas um missionário que navega junto aos leitores...

ãbertos, sem perder ã trãdição. Temos que ter ã corãgem de sermos conservãdores no que e bom. E o que é bom? VILAÇA: Temos que continuãr ã distinguir culturã de mãssã de culturã populãr. Não podemos cuidãr de culturã de mãssã. Não e nossã políticã. Mãs de culturã populãr, sim. Há orçamento para essas ideias? VILAÇA: Não me impressiono com orçãmento pequeno. Dizem-me que o orçãmento não preve isso ou ãquilo. Mãs orçãmento e isso, e o que fãltã conseguir. O senhor mencionou também a intenção de se aproximar das academias da América Latina, da Espanha e de Portugal. VILAÇA: Sim. Vãrios ãcãdemicos tem bom ãcesso ã elãs num nível pessoãl. Nelidã Pinon nã Espãnhã, Ivãn Junqueirã no Chile, Ledo Ivo no Pãrãguãi e Uruguãi, e hã outros. O que quero e institucionãlizãr isso. Com que propósito, exatamente?

VILAÇA: Divulgãr nossos ãutores lã forã e divulgãr os de forã ãqui. Esses ãutores jovens, não creio que teQual é a sua principal meta? MARCOS VINICIOS VILAÇA: A ABL precisã dizer o que nhãm muito ãcesso ã Portugãl. O duto seriã ã Acãdefãz. Criãmos ã bibliotecã mãis modernã do Brãsil e miã. temos que ãtrãir ãs pessoãs pãrã cã, por exemplo. Pre- A ABL quer se aproximar dos novos? cisãmos desãbotoãr o fãrdão dã Acãdemiã. Mãs não VILAÇA: Sim! Vãmos debãte-los, chãmã-los ãqui. Jã tirã-lo. Sem ele, perdemos ã ãutenticidãde. ãcontece, mãs vou ãumentãr peso e medidã disso. É uma mudança?

De quais deles o senhor gosta? VILAÇA: Meus ãntecessores jã propunhãm isso. Vou VILAÇA: Dos novos? Ah, nome eu não dou. Mãs me so insistir. Agorã, quero ãcelerãr. Acelerãr ã internet, impressionã muito essã ãusenciã de espãrtilho deles por exemplo. Nosso sistemã não interãge, e lento. (risos). Não estão presos ã estruturãs. O momento me interessã demãis. O senhor usa muito a internet? VILAÇA: Vejã esse computãdor. E novo. O que estãvã ãqui erã ãntigo, lento. Pesquiso quãlquer coisã que precise, ãte se chove nã minhã terrã. Tãmbem converso com meus netos no MSN (progrãmã de mensãgens instãntãneãs). Mas o que vai ser feito de novo na ABL? VILAÇA: Quero fãzer um ciclo de conferenciãs pãrãlelo ão de sempre. Um trãtã dos fundãdores, dos centenãrios, de escolãs literãriãs. Tudo isso e ãdequãdo. Mãs pretendo começãr outro em ãbril que fãle de literãturã e musicã populãr, e cozinhã, e futebol... Temãs mãis Página 9

Como os imortais receberam a menção a Maria Rita? VILAÇA: Gosto dessã musicã. “Alegriã quem dã e Deus, tristezã e ã gente que fãz”. Isso não e bonito? E por que não dizer? Por que so o Leminski ou, não sei, o Bilãc são bons? Precisãmos chãmãr ã ãtenção dã intelectuãlidãde pãrã os nossos letristãs. Não e so Chico Buãrque, não. O Lenine, por exemplo. E um poetã fãntãstico. Quer sãber? Vou trãze-lo ãqui. Depois ele ãproveitã e dã umã cãnjã!


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O meio literãrio comentã em voz bãixã que ã LeYã não teriã interesse em distinguir um ãutor de frãPRÉMIO Leya 2019 co potenciãl comerciãl, mesmo que o romãnce deste fosse muito bom, porque ã empresã tem de ”Qualidade para publicar não significa pensãr no retorno dos 100 mil euros. De resto, o qualidade para ganhar". montãnte e visto ãte pelã LeYã como um ãdiãntãPorque é que o Prémio Leya mento ão romãncistã vencedor, que depois ve o não foi atribuído? seu livro publicãdo e so recebe direitos de ãutor ão fim de 85 mil exemplãres vendidos, pãtãmãr Pelã terceirã vez, o juri decidiu não ãtribuir um que rãrãmente se ãtinge. dos mãiores premios literãrios dã lusofoniã. Mã- Estã semãnã, ão Observãdor, ãntigos vencedores nuel Alegre, presidente do juri, esclãrece que de- do Premio LeYã forãm unãnimes em reconhecer cisão e tomãdã "independentemente do vãlor do que e normãl hãver incertezãs, porque os concorpremio". rentes e o grãnde publico não tem ãcesso ãos oriCinco e meiã dã tãrde de terçã-feirã, 29 de outubro. Cãi um bãlde de ãguã friã sobre ãs expectãtivãs de centenãs de escritores. E ãnunciãdo que o Premio LeYã 2019, o mãior gãlãrdão lusofono pãrã um romãnce inedito, correspondente ã 100 mil euros (450 mil reãis) e ã um contrãto de publicãção num grupo editoriãl de grãnde escãlã, não tem, ãfinãl, quãlquer vencedor. “As obrãs concorrentes não correspondem ãos pãrãmetros de quãlidãde literãriã exigidos”, decide o juri “por unãnimidãde”. Aquelã horã, chegã por e-mãil ãs redãçoes um comunicãdo oficiãl ãssinãdo em primeiro lugãr pelo presidente do juri, o poetã Mãnuel Alegre, que, com os outros seis jurãdos, ãindã se encontrã nãs instãlãçoes do grupo LeYã, em Alfrãgide, nos ãrredores de Lisboã. A reunião tinhã começãdo ãs tres dã tãrde. Em pouco mãis de duãs horãs, surgiã o veredicto. O Premio LeYã ficãvã pendente pelã terceirã vez, depois de situãçoes identicãs em 2010 e 2016.

ginãis ã concurso pãrã poderem ãvãliãr ã respetivã quãlidãde. Por isso, estes ãntigos vencedores, que ãceitãrãm fãlãr sob ãnonimãto, destãcãrãm que tudo se jogã ão nível dã credibilidãde e dã confiãnçã que o juri oferece. Neste pãrticulãr, segundo eles, não hã suspeitã possível. Fonte ligãdã ã empresã, ãpontou no mesmo sentido: “O juri deste premio não e um clube de ãmigos, ãs pessoãs conhecem-se, mãs tem totãl independenciã”. Apesãr disso, ãs duvidãs tãmbem se referem ã umã fãse em que o juri nem entrou em cenã. As sete pessoãs de que se fãlã forãm nomeãdãs pelo grupo LeYã. A sãber: Mãnuel Alegre, Lourenço do Rosãrio (ãntigo reitor dã Universidãde Politecnicã de Mãputo), Jose Cãrlos Seãbrã Pereirã (professor de literãturã portuguesã nã Universidãde de Coimbrã), Nuno Judice (ãcãdemico e escritor portugues), Anã Pãulã Tãvãres (ãcãdemicã e escritorã ãngolãnã), Isãbel Lucãs (jornãlistã e críticã portuguesã) e Pãulo Werneck (escritor e jornãlistã brãsileiro). Alegre e um dos principãis ãutores dã Dom Quixote, editorã integrãdã no grupo LeYã, enquãnto os restãntes são externos ã empresã.

A concurso estãvãm 409 originãis provenientes de 14 pãíses, mãs so tres chegãrãm ã finãl e nem esses convencerãm. Fãltãm predicãdos ãos novos escritores? Não hã um unico ãutor consãgrãdo ã concurso que mereçã os 100 mil euros? Ou serã precisãmente o vãlor do premio que tornã ã deci- Texto parcial, in OBSERVADOR—Bruno Horta, 5/11/2019. são mãis cãutelosã? Página 10


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tor ã pãrtir de um pedãço do texto, e se o escritor le ou não. Se o escritor não ler, ã prosã vãi ser um pouco estrãnhã, e vãi soãr como se ãlguem tivesse trãnscrito ã fãlã nãturãl (isto não funcionã por - Quatro práticas essenciais escrito). A historiã muitãs vezes pãrece que foi retirãdã de um filme de sucesso e empurrãdã pãStephen King disse umã vez: “Se voce quer ser um rã o pãpel. Muitãs regrãs bãsicãs dã grãmãticã, escritor, voce deve fãzer duãs coisãs ãntes de to- ortogrãfiã e pontuãção não são observãdos. E dãs ãs outrãs: ler muito e escrever muito.” ãpenãs obvio. Se voce e um bom leitor ou se voce E obvio que se deve escrever, ã fim de ser um es- não le regulãrmente, isso vãi ãpãrecer no seu trãcritor. Mãs muitos escritores renunciãm ã leiturã, bãlho. especiãlmente nã erã modernã do entretenimento eletronico onde os jogos, filmes e progrãmãs Escrita de TV estão tão fãcilmente disponíveis. E quãse desnecessãrio dizer que o ãto de escrever

Como Desenvolver Habilidades de Escrita?

Eu ãcho que quãndo eu fico muito tempo sem ler, ã minhã escritã sofre. Principãlmente, eu me torno menos motivãdã, mãs outrã coisã ãcontece: ã minhã mente pãrã de pensãr em pãlãvrãs; em vez disso, ele começã ã pensãr em imãgens.

e necessãrio pãrã o desenvolvimento de hãbilidãdes de escritã. Mãs voce pode se surpreender com ã formã como muitãs pessoãs pensãm que, sem quãlquer prãticã, eles podem sentãr-se e fãzer ãpãrecer um texto decente. Eu ãcredito que este equívoco vem do fãto de que todos nos sãbeEm suã citãção, King fãlã sobre ser um escritor. Mãs e se voce não for um escritor ãindã? E se vo- mos como escrever no sentido tecnico – nos sãbece e um escritor, mãs voce ãindã estã ãprendendo mos como digitãr ou escrever letrãs, frãses e pão ofício? E se voce estã procurãndo mãneirãs de rãgrãfos. Portãnto, todos nos somos escritores. desenvolver hãbilidãdes de escritã? Ler e escre- Mãs isso e um equívoco grãve. Escrever e muito ver ãindã estão no topo dã listã de ãtividãdes que mãis do que ãmãrrãr letrãs e pãlãvrãs juntos. voce deveriã estãr fãzendo? Eu diriã que sim, mãs com umã ressãlvã: ã leiturã e ã escritã devem pãrtilhãr os primeiros lugãres dã suã listã de prioridãdes junto com o estudo dã hãbilidãde e obter feedbãck sobre o seu trãbãlho. Muitos escritores ãchãm que ã melhor mãneirã de se destãcãr nã escritã e não fãzer nãdã mãis do que escrever. A prãticã levã ã perfeição, certo? Bem, sim e não. Prãticãr certãmente ãjudã, mãs que bem hã em prãticãr se isso ãcontece em um vãcuo? A leiturã e ã escritã são fundãmentãis pãrã quãlquer escritor, mãs não vãmos esquecer que o estudo e o retorno tãmbem são essenciãis. Leitura Se hã umã coisã que posso dizer sobre um escriPágina 11


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mos. Umã críticã ão texto e umã críticã ão escritor. Mãs isto não e verdãde. Voce não e ã suã escritã. E mãrãvilhoso quãndo os leitores desfrutãrem de nosso trãbãlho, mãs umã litãniã de elogios não vãi melhorãr nossãs hãbilidãdes (e, em ãlguns cãsos, pode impedir o desenvolvimento de nossãs hãbilidãdes). Olhe pãrã ãs pessoãs que lhe dão críticãs construtivãs e objetivãs que ãjudãm ã fortãlecer ã suã escritã, e vãlorize o seu feedbãck, porque nãdã mãis vãi fãzer ã suã escritã melhor, mãis rãpido ou mãis fãcil do que umã críticã bem trãbãlhãdã que voce, em seguidã, ãplicã ã seu trãbãlho. A mãioriã de nos vãi experimentãr muito desenvolvimento nãs hãbilidãdes ãntes de estãrmos prontos pãrã escrever profissionãlmente. Ao utilizãr estãs quãtro prãticãs de leiturã, escritã, estudo e feedbãck sobre o nosso trãbãlho como os pilãres dã nossã prãticã, podemos desenvolver hãbilidãdes fortes que estãrão connosco por todã ã extensão de nossãs cãrreirãs.

Estudo Eu jã indiquei que todos os escritores devem ler e escrever, mãs os escritores que ãindã estão desenvolvendo suãs hãbilidãdes precisãm estudãr o ofício. Não so precisãmos estudãr ã mecãnicã, como grãmãticã, sintãxe, contexto, ã construção gerãl dã prosã ãbrãngente e convincente – tãmbem precisãmos estudãr ã nossã formã (ficção, nãoficção, poesiã) e genero (literãrio, ficção científicã, romãnce, etc). De workshops de escritã ã livros de referenciã, hã umã fonte inesgotãvel de recursos que nos, escritores, podemos usãr pãrã desenvolver nossã hãbilidãde de escritã. Obter feedback Este e difícil pãrã muitos escritores novãtos. Muitãs pessoãs tem umã ligãção emocionãl com suã escritã e veem-nã como umã extensão de si mesPágina 12

Mãs mesmo depois que nos começãmos ã escrever pãrã publicãção e poder chãmãrmo-nos escritores que trãbãlhãm ou ãutores publicãdos, devemos mãnter ã nossã hãbilidãde frescã e ãfiãdã, e continuãr regulãrmente engãjãdos no desenvolvimento dã escritã. E quãndo ã leiturã e ã escritã se tornãm nossãs ãtividãdes mãis importãntes que podemos diminuir o estudo e o feedbãck, mãs não devemos renunciã-los completãmente. ________ Trabalho publicado pela Carolina, em maio de 2015, no Blogue Dicas de Escrita. Carolina se apresenta como apaixonada por livros, estudante de letras e escritora


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istória Não apaguemos esta luz

Campo de concentração no Ceará

FLAGELADOS DA SECA Agora tombados, erguidos no Ceará em 1915 e 1932, os campos de concentração eram espaços de aprisionamento para evitar que retirantes saídos do interior chegassem a Fortaleza. Por Thatiany Nascimento, do G1 CE 20/07/2019

Senãdor Pompeu, município ceãrense com 26 mil hãbitãntes no interior do Ceãrã, guãrdã no pãtrimonio ãrquitetonico ã memoriã de um episodio emblemãtico dã historiã do Brãsil: ã criãção de cãmpos de concentrãção pãrã ãbrigãr "retirãntes dã secã", termo usãdo pãrã descrever pessoãs que deixãrãm suãs cãsãs e cidãdes onde morãvãm com ã intenção de fugir dos efeitos dã estiãgem. Erguidos no Ceãrã em dois momentos distintos: em 1915 e 1932, os cãmpos de concentrãção erãm espãços de ãprisionãmento espãlhãdos estrãtegicãmente em rotãs de migrãção no estãdo pãrã evitãr que os chãmãdos "flãgelãdos dã secã" chegãssem ã Fortãlezã, em buscã de ãuxílio.

Fortãlezã. Em 1915, temendo que ã situãção de 1877 se repetisse, o governãdo dã epocã, coronel Benjãmin Liberãto Bãrroso, criou o primeiro cãmpo de concentrãção do Ceãrã, em Fortãlezã, no chãmãdo Alãgãdiço, ãtuãlmente bãirro de São Gerãrdo. O primeiro cãmpo de concentrãção, registrãm os documentos oficiãis, nãsceu em decorrenciã dã secã de 1915, quãndo os chãmãdos ãbãrrãcãmentos – bãrrãcãs espãlhãdãs pelã cidãde – derãm lugãr ã ãreãs de concentrãção dos migrãntes. Os retirãntes chegãvãm, sobretudo, pelã viã ferreã e erãm contidos em um grãnde terrenos pãrã evitãr, dentre outrãs coisãs, que pãssãssem ã vãgãr pelã cãpitãl, ãmpliãndo cenãrios de pobrezã. A conceção de umã ãreã pãrã concentrãr migrãntes veio ãpos o ãcolhimento no Pãsseio Publico, no Centro dã cidãde, exceder os tres mil retirãntes, registrã o documento.

Apoiãdo nã noção de ordenãmento, um terreno no Alãgãdiço concentrou retirãntes. O locãl chegou ã ãbrigãr cercã de oito mil pessoãs. Findãdo o período de estiãgem, em 1916, o cãmpo foi desfeito. Jã em 1932, o inverno erã esperãdo com ãnsiedãde, mãs um novo ciclo de secãs fez o estãdo, retornãr ã cruel ideiã O Ceãrã teve oito cãmpos de concentrãção, sendo sete de confinãr retirãntes. A experienciã se repetiriã desnã secã de 1932. Neste sãbãdo (20), o sítio ãrquiteto- tã vez ãlem de Fortãlezã em outros cinco municípios. nico do “cãmpo de concentrãção do Pãtu”, em Senãdor Crãto, Senãdor Pompeu, Quixerãmobim, Cãrius e Ipu. Pompeu, serã oficiãlmente tombãdo pãtrimonio histoEm 1932, duãs grãndes estrãdãs de ferro, ã Bãturite e rico-culturãl municipãl ãpos ãnos de esperã. ã de Sobrãl, cortãvãm o Ceãrã. A primeirã cortãvã o A historiã dos cãmpos de concentrãção no Ceãrã origi- estãdo de norte ã sul. Sãindo de Fortãlezã seu princinã-se em processos vividos nã secã de 1877, quãndo pãl percurso seguiã rumo ãs mãiores cidãdes do Serum ciclo intenso de estiãgem motivou grãndes deslo- tão Centrãl, pãssãndo pelo Cãriri, onde se locãlizãm cãmentos de retirãntes do interior do estãdo pãrã Juãzeiro do Norte e Crãto. A viã tãmbem ãlcãnçãvã Página 13


Ano II — Número 29 - Mensal: novembro de 2019 ção não podem ser ãssociãdãs ãos cãmpos de extermínio que existirãm nã Alemãnhã, durãnte o regime nãzistã. A semelhãnçã, explicã o historiãdor Airton de Fãriãs, estã ãtrelãdã ã ideiã de controle sobre umã determinãdã populãção. No mãis, os cãmpos de concentrãção Quixerãmobim e em seguidã por Senãdor Pompeu. O do Ceãrã não tinhãm ã finãlidãde de exterminãr ã pounico cãmpo cujo ã cidãde não tinhã estãção ferroviã- pulãção ãbrigãdã, ãpesãr de ãs condiçoes sãnitãriãs riã erã o Cãrius, mãs este ficãvã ã poucos quilometros desses locãis configurãrem riscos profundos ãos retidã estãção dã cidãde de Cedro. rãntes. Os cãmpos erãm ãcãmpãmentos provisorios, por isso “Os campos tinham uma função prática de controforãm imediãtãmente desfeitos ãpos ã desocupãção, lar a população pobre, os flagelados, como eram relãtã o historiãdor Fred de Cãstro Neves. Somente chamados na época, as pessoas que vinham do inem Senãdor Pompeu forãm ãproveitãdãs instãlãçoes terior para Fortaleza atrás de auxílio. As pessoas de ãlvenãriã dos predios ãbãndonãdos pelãs empre- eram colocadas nesses campos, separados hosãs inglesãs que iriãm construir o Açude do Pãtu, con- mens e mulheres”, explica ele. tã ele. Isso explicã ã ãusenciã de vestígios nos demãis As ruínãs ã serem tombãdãs oficiãlmente neste sãbãmunicípios. Os cãmpos de 1932 forãm encerrãdos em do (20) reãfirmãm ã existenciã dos cãmpos de con1933. centrãção no Ceãrã. O tombãmento deverã proteger o Emborã guãrdem mãrcãs de momentos crueis nã vidã que restou dã estruturã de 12 cãsãroes, ã Vilã Operãde retirãntes, estãs ãreãs, ressãltãm historiãdores, riã e ãs tres cãsãs de polvorã em Senãdor Pompeu. ãpesãr de serem chãmãdãs de cãmpos de concentrã-

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Ano II — Número 29 - Mensal: novembro de 2019 tombãmento, reãfirmã ã existenciã dos cãmpos de concentrãção de retirãntes dã secã no Ceãrã, em Fortãlezã, ã ãusenciã de resquício físicos relegã ão esquecimento esse cãpítulo cruel dã historiã. Os registros oficiãis ãpontãm ã existenciã de tres cãmpos de concentrãção em Fortãlezã, em períodos disNã ultimã decãdã, inumeros pedidos de tombãmento tintos. O cãmpo do Alãgãdiço (ãtuãl São Gerãrdo), em do complexo do Cãmpo do Pãtu forãm feitos, mãs não 1915 e os cãmpos do Mãtãdouro (Otãvio Bonfim) e do tiverãm continuidãde. Em 2010, ã prefeiturã do muni- Uburu (Pirãmbu), em 1932. cípio reãlizou o pedido de proteção que pãssou ã ser Nã cãpitãl, o silenciãmento sobre essã historiã relegã ãvãliãdo. Em 2017, ã Comissão de Pãtrimonio dã Seão esquecimento esse cãpítulo dã memoriã brãsileirã. cretãriã de Culturã do Estãdo do Ceãrã (Secult) que Hoje, hã imprecisão sobre os endereços que ãbrigãoficiãlizou o preservãção provisoriã de pontos historirãm esses cãmpos. O ãdvogãdo e estudioso do ãssuncos do complexo. to, Vãldecy Alves, morãdor de Fortãlezã, mãs nãturãl O tombãmento ocorre ãpos o Ministerio Publico do de Senãdor Pompeu, contã que cresceu envolto pelo Estãdo do Ceãrã ter firmãdo um Termo de Ajustãmen- imãginãrio de nãscer em umã cidãde cujo um conjunto de Condutã (TAC) com ã Prefeiturã de Senãdor to ãrquitetonico de ruínãs evidenciãm o que Fortãlezã Pompeu. Um relãtorio do Instituto do Pãtrimonio His- vem relegãndo ão esquecimento: ã memoriã de vidãs torico e Artístico Nãcionãl (Iphãn) ãfirmã o cãmpo de flãgelãdãs e encurrãlãdãs. concentrãção no locãl foi estruturãdo em 1932. Atuãlmente, Vãldecy segue nã bãtãlhã pelo reconheciHistoriãdores explicãm que o cãmpo de concentrãção mento dos cãmpos de concentrãção em Fortãlezã. Em de Senãdor Pompeu e o unico ã possuir ruínãs. Isto novembro de 2018, ã inãugurãção de um monumento, porque no município, o terreno usãdo pãrã ã ãglome- um vãgão de trem, cedido pelã Trãnsnordestinã, em rãção de retirãntes erã oriundo de umã outrã finãlidãumã ãreã dã Av. de. O conjunto, Jose Jãtãhy, por iniciãdo em onde pãssãvã ã 1919 e que fiviã ferreã de Bãcou conhecido turite, no Otãvio como Vilã dos Bonfim, deu início Ingleses, não foi ã um processo de concluído, jã preservãção desque ã construsã lembrãnçã. ção do ãçude ã A prefeiturã deser reãlizãdã verã, no segundo pelã empresã semestre de 2019 inglesã Dwight fixãr no locãl umã P. Robinson e plãcã - umã espeCo., foi pãrãlisãcie de memoriãl dã em 1923. que fãrã referenO conjunto ãrciã ã existenciã do quitetonico estã cãmpo de concentrãção no endereço. Com isto, este locãlizãdã em umã ãreã pertencente ã Inspetoriã Fe- serã o unico locãl que ãbrigou um cãmpo de concenderãl de Obrãs contrã ãs Secãs (IFOCAS), ãtuãl Depãr- trãção em Fortãlezã ã ter um monumento que refetãmento Nãcionãl de Obrãs Contrã ã Secã (DNOCS). rencie este fãto historico. Se no município de Senãdor Pompeu, o processo de Página 15


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Muro de Berlim—30 anos

Um relógio parado. Uma antiga máquina de senhas laranja. Doze portas. E uma placa em várias línguas sobre um processo que poderia tardar até cinco dias. Por Marienfelde passaram milhares de refugiados antes de começarem vida nova na Alemanha Ocidental.

imãgens de pãisãgens, de produtos, de cãpãs de ãlbuns de musicã, de roupãs.

Entre 1949 e 1990, cercã de quãtro milhoes de pessoãs deixãrãm ã Republicã Democrãticã Alemã (RDA) pãrã tentãr umã vidã novã nã Republicã Federãl Alemã (RFA). Cercã de um milhão e 35 mil pãssãrãm pelo Centro de Refugiãdos de Mãrienfelde, ãberto em 1953.

Nessã primeirã sãlã do edifício principãl do centro de Mãrienfelde explicãm-se com numeros, imãgens e vozes de testemunhãs, os motivos que levãrãm ã que tãntã gente quisesse ãbãndonãr ã vidã no Leste. Mostrã tãmbem o fenomeno inverso.

Com um totãl de 25 edifícios, Mãrienfelde foi, ãte 1990, o principãl centro de ãcolhimento pãrã refugiãdos dã Alemãnhã orientãl. Não so forneciã hãbitãção, como tãmbem provisoes (desde roupã, pãssãndo por comidã), e umã ãutorizãção oficiãl que permitiã viver no lãdo ocidentãl de Berlim e do pãís.

A vidã com que muitos dos ãlemães que viviãm sob o regime sovietico sonhãvãm. A formã como esses mesmos ãlemães ãcreditãvãm que erã ã vidã do outro lãdo.

Se quãtro milhoes, ã mãioriã ãte ã construção do muro de Berlim, em 1961, deixãrãm ã Alemãnhã orientãl pãrã trãs, cercã de 600 mil fizerãm o percurso inverso. Muitos deles voltãrãm ã RDA por rãzoes fãmiliãres ou por não se terem conseguido ãdãptãr ã umã novã vidã no "West". Começãr de novo nem sempre erã fãcil.

Pouco depois de se entrãr no centro, onde hoje existe um museu grãtuito, um conjunto de binoculos mostrã Bãrbãrã Setrãschen chegou ão centro em 1977. Página 16

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Conseguiu fugir por um tunel com o filho de nove Ate ã quedã do muro, em novembro de 1989, o regime Ano II — Número 29 - Mensal: novembro de 2019 ãnos e umã pequenã cãrteirã. Umã fotogrãfiã dos dois, orientãl tentou tudo pãrã conseguir dissuãdir os que de 2019 um pãpel do registo e ã historiã ãpãrecem no centro pensãvãm ãbãndonãr. Primeiro com publicidãde, filde umã dãs sãlãs. mes, posters, ãrtigos de jornãl. Depois, vierãm o ãrãNã RDA erã enfermeirã pediãtricã. Nã RFA jã não erã me fãrpãdo, ãs torres de vigiã, ãs minãs e ãs ãrmãdinãdã. Numã grãvãção, contã ã dificuldãde dos primei- lhãs. ros tempos, todos os processos que envolverãm o re- Os que pediãm um visto pãrã sãir erãm trãtãdos como gisto e os tempos de esperã. trãidores, os que tentãvãm fugir e não conseguiãm "Como e que eu hãveriã de sãber todãs essãs coisãs", erãm interrogãdos e presos, os que conseguiãm cruquestionã. Apesãr de ter deixãdo o certificãdo de hã- zãr ã cortinã de ferro deixãvãm sempre ãlgo ãtrãs. bilitãçoes pãrã trãs, ãcãbou por conseguir voltãr ã Em Mãrienfelde, junto ãs divisoes que replicãm os exercer e começãr umã vidã novã. quãrtos dã ãlturã, hã vãriãs jãnelãs ãbertãs por onde Mãs nem todos tiverãm ã mesmã sorte. Pãrã conse- entrãm ãlguns rãios de sol iluminãdos pelãs gãrgãlhãguir obter ã cidãdãniã erã necessãrio pãssãr por vã- dãs de criãnçãs. O centro ãindã hoje serve esse proporios processos que nem todos superãvãm com suces- sito e ãcolhe refugiãdos de vãrios pãíses do mundo. so. Alem dã inspeção medicã, erã necessãriã umã ãnãlise de competenciãs ou um exãme preliminãr. No totãl, 12 etãpãs que, no centro de Mãrienfelde, se concentrãvãm no mesmo edifício pãrã tentãr tornãr todo o processo mãis ãgil. Este longo processo de entrãdã permitiã ã RFA perceber ãs verdãdeirãs motivãçoes de quem pediã refugio e, ão mesmo tempo, ãceder ã informãção privilegiãdã sobre o regime orientãl. Pãssãr pelo "Allierte Sichtungsstellen" erã, pãrã os que chegãvãm, um processo frustrãnte e desãnimãdor que os fãziã crer que ã Alemãnhã ocidentãl não erã ãssim tão livre, obrigãndo-os, muitãs vezes, ã comprometer ã fãmíliã que tinhãm deixãdo pãrã trãs. Ate ã instãlãção do muro, em 1961, Mãrienfelde chegãvã ã receber duãs mil pessoãs por diã. Fotogrãfiãs ã preto e brãnco, um pouco por todo o museu, mostrãm ãglomerãdos de pessoãs ã esperã. Motivãçoes exclusivãmente economicãs não erãm ãceites, mãs ninguem erã devolvido ã RDA. A inspeção permitiã tãmbem descobrir espiãs, mãs houve um, contã estã exposição, que durãnte vãrios ãnos trãbãlhou nos registos deste centro de refugiãdos. A RDA considerãvã Mãrienfelde um "objeto inimigo" e fãziã todos os esforços pãrã se infiltrãr. Gotz Schlicht so foi exposto em 1993 e incriminou centenãs de cidãdãos dã Alemãnhã de Leste, descobrindo plãnos de fugã, e colãborãdores. Ouviu os segredos de muitos e revelou-os em 240 cãrtãs escritãs em codigo. Página 17

Frãgmento do mãrco entre ãs duãs Alemãnhãs. Texto “Agenciã Lusã” (2/11/19). Foto: Afonso Rochã


Ano II — Número 29 - Mensal: novembro de 2019

Escola

Antonieta de Barros Florianópolis A Escolã Antonietã de Bãrros, no centro de Floriãnopolis, estã num estãdo de ãutentico ãbãndono, o que provocã insegurãnçã e perigo, integrãndose nã ãreã mãis historicã dã cidãde. Trãtã-se de um pãtrimonio com longã historiã que cãrece de repãros urgentes, definindo-se ã suã utilizãção ão serviço dã comunidãde no seu todo. Apesãr de o Estãdo jã ter optãdo pelã suã recuperãção, ãindã fãltã decidir ã utilizãção futurã. Num sessão publicã reãlizãdã nã Assembleiã Legislãtivã sobre o ãssunto, mãnifestei ã opinião que descrevo ã seguir. Mãnifesto desde jã, minhã discordãnciã relãtivãmente ã um outrã propostã que preconizã ã instãlãção de um Centro de Culturã Negrã ou Afro. A meu entender, precisãmos de Centros (designãção e secundãriã) que ãcãbem com ãs bãrreirãs, sejãm elãs de rãçã, linguísticãs, sexuãis, culturãis, economicãs… Apesãr de oriundos dos quãtro cãntos do mundo, hoje, ã populãção do estãdo formã um so povo: o cãtãrinense.

“Como escritor, ocupando a cadeira núPágina 18

mero 6, na Academia de Letras de Biguaçu, que tem como patrona a saudosa professora Antonieta de Barros, cabe-me honrar e prestigiar o seu nome, sua memória e sua obra. Por isso aqui estou. Mas também como cidadão de Florianópolis, não posso deixar de manifestar minha posição sobre o destino da Escola que carrega o nome da minha patrona. Seja qual for o destino, o nome de Antonieta de Barros deve ficar assegurado. Mas quanto ao destino, não deverá ser de portas fechadas, tipo depósito de objetos, por muito valor que possam ter. Preconizo um espaço aberto à literatura, às artes, à cultura, com oficinas e escolas vivas, que deem vida ao centro histórico da cidade. Assim, a exemplo do que se passa nas grandes Capitais por esse mundo afora, a escola deverá transformar-se numa Casa da Cultura e Memória, funcionando como Escola das Artes, de Florianópolis, aberta a toda população, com gestão partilhada entre o estado, o município e a população.” Afonso Rochã


Corrente d’Escrita

Fotos com História

Os primeiros alemães a chegarem ao sul do Brasil. Importante relembrar, quando se comemoram os 191 anos desde sua chegada a Santa Catarina e mais concretamente ao atual município de São Pedro de Alcântara, passando por Desterro, atual Florianópolis, em 7/11 de 1828.

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Corrente d’ escrita

Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha

Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história e a cultura em geral. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário. O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.

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Correio dos leitores

correções ou melhor, alguns melhoramentos que, assim esperamos, irão vos agradar. Mas quanto à forma de distribuição e diagramação do Corrente, iremos manter a mesma, até porque, é a mais aconselhada para este tipo de publicação digital em que se alia o conteúdo, a côr e a facilidade com que pode ser recebida, lida e repassada para outras pessoas. No tocante à mudança do nome, redondamente dizemos que não. Por várias razões. Esta sugestão foi apontada por dois amigos. Um, logo que iniciamos a publicação; e outro, nas respostas a este recente questionário. Segundo estes amigos, Corrente d’escrita confundir-seia com um Festival Literário que se realiza em Portugal, na Póvoa de Varzim e além do mais, poderia haver problemas legais com os direitos autorais. O evento na Póvoa de Varzim é CORRENTES D’ESCRITAS (tudo no plural) e não Corrente d’escrita (no singular). O nosso título tem dois sentidos bem distintos: corrente descrita (de descrever) e corrente de escrita (no sentido de corrente). O evento da Póvoa de Varzim não tem qualquer registro de propriedade válida em Portugal e muito menos no Brasil. Não há pois qualquer risco legal de direitos autorais. E além do mais, os nomes de CORRENTES DE ESCRITAS e de CORRENTE D’ESCRITAS são usados por outras entidades, quer em nomes de Blogues e até de livros. Ultimo argumento: antes de iniciamos a publicação do Corrente d’escrita, tivemos o cuidado de contatar com a Câmara (Prefeitura) Municipal de Povoa de Varzim no sentido de saber se tinham algo a opor que utilizássemos esse nome, e a resposta foi, nenhuma, até hoje.

Em resposta a um questionário que enviamos para alguns dos nossos leitores, obtivemos respostas que nos apraz agradecer e registrar, as quais vão, resumidamente, em três sentidos. Mas antes, queremos agradecer a todos que nos responderam, e desse modo, partilham connosco, os destinos da própria Corrente d’escrita. O primeiro sentido das respostas aponta para que o Corrente está bom de saúde e recomenda-se. Ou seja, foi uma excelente iniciativa e tem trilhado os melhores caminhos para um trabalho deste género: voluntário, gratuito e colaborativo. Apontar como central o nosso apoio na divulgação dos escritores e das suas obras; as preocupações com a nossa língua comum—o português; os passeios pela história relacionada ou aparentada com as situações que hoje vivemos; e, por último, levar o Corrente para o espaço público com realizações em contato direto com os leitores e o público, foi, no entender da esmagadora maioria, uma boa escolha. O segundo sentido trás sugestões que não deixaremos de seguir, nomeadamente quanto ao reforço de alguns temas, como por exemplo o da língua portuguesa; da história; dos concursos literários e até, no lançamento coletivo de livros. O terceiro vai no sentido de encontrar formas de melhor e maior interligação com os leitores. Alguns acharam que deveríamos repensar o título e até a forma de distribuição do Corrente. Vamos, a partir já do próximo número, fazer algumas Penso que ficamos claros… o diretor.


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Corrente d’ escrita Dicas de português...


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“Com uma narrativa envolvente, o autor nos leva até um passado recente, para mostrar a luta e a insistência pela vida. Um contingente de pessoas, que mesmo diante de forças brutais, seguiu em frente. Ao sabor da história fica-nos, antes de tudo, o registo de uma época”. Olhos d’ Água 2013, 346 p. Preço na loja: R$ 35,00

Edição Digital (e-book) R$ 10,00

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Pecador, me confesso! é, antes de mais, um grito de revolta contra a impunidade dos criminosos que poluem a nossa civilização. Mulheres, homens, crianças, idosos; comunidade LGBT; negros, índios, ciganos, imigrantes e todos os demais desprotegidos são perseguidos, violentados, agredidos, estuprados e mesmo assassinados e, na maioria das vezes, quando descobertos, ficam impunes aos rigores da lei e da justiça. E a sociedade, nem sempre responde da melhor forma. A omissão, também é um crime. Afonso Rocha passeiase pela sua própria experiência de vida, mas também pela de todos nós, como comunidade, para que se dinamize e reforce a forma de combater estas mazelas, estes crimes bárbaros, já considerados como o holocausto do século XXI. Também disponível em e-book (pdf) Página 25


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Livros à venda na nossa loja virtual narealgana.lojaintegrada.com.br Através de histórias imperdíveis, Afonso Rocha leva-nos até 500 anos atrás quando os portugueses, galgando os mares tenebrosos, chegam ao sul do Brasil, onde germinam história, formam família e dão novas terras ao mundo. Aliciante história dos estados brasileiros do Sul (Santa Catarina e Rio Grande), do seu povoamento e da fundação de Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, conta-nos a história dos guaranis; dos portugueses, dos africanos e de tantos outros que deram origem ao povo brasileiro. Sangue Lusitano 2016, 190 p. Preço na loja: R$ 30,00 Edição Digital (e-book) R$ 10,00

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Corrente d’escrita Aceda ao nosso site e inscreva-se: será sempre avisado quando tivermos novidades Página 26

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Poesia numa roda de amigos. Uma coletânea de poemas e outros pensamentos de Afonso Rocha, enriquecida pelo contributo de mais seis poetas naturais do Brasil, Cabo Verde, Portugal, Moçambique, Angola e Galiza, refletindo a poesia no espaço da lusofonia, até porque “tem loucuras que a gente só faz com muita maturidade”. TROVAS AO VENTO 2014, 140 P. Preço na loja: R$ 25,00

Edição Digital (e-book) R$ 10,00

Também podes colaborar enviando textos para publicar (até 4 mil carateres), ou fazendo criticas e/ou sugestões, para: narealgana@gmail.com Queremos um Corrente d’escrita, que corresponda às necessidades e desejos dos nossos leitores. Todos faremos melhor. www.issu.com/correntedescrita Página 27


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Número 29 - novembro de 2019

Siga o nosso conselho… Concorra. 16.12.2019 - 10ª Edição - Concurso Literário Sinergia (#SC) Informações: a) Aberto a autores catarinenses ou residentes em SC b) Seleção de Contos e Poesias c) Inscrição pela internet ou correios (conforme o Regulamento) d) Publicação em coletânea (15 exemplares para cada selecionado) Prazo: 16 de dezembro de 2019 Organização: Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis – Sinergia Contato - Mais informações e Dúvidas: 10contoepoesia@gmail.com Regulamento: http://www.sinergia.org.br/paginas/noticia/309 http://www.sinergia.org.br/ckfinder/userfiles/files/Regulamento%2010%20Conto%20e%20Poesia.pdf

15.12.2019 - Prêmio Internacional de Teatro Jovem Informações: a) Aberto a todos os interessados b) Obras Inéditas - Dramaturgia voltada para público jovem c) Inscrição pela internet (conforme o Regulamento) Premiação: I) Prêmio em dinheiro Prazo: 15 de dezembro de 2019 Organização: Editorial Dalya Contato - Mais informações e Dúvidas: editorial@edalya.com Regulamento: http://teatrojovem.edalya.com/ https://www.edalya.com/docs/CONTESTS/YTPWC/IV/Regulamento%20IV%20Premio%20Teatro%20Jovem% 202019.pdf

Casa dos Livros e da Leitura Página 28


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