Corrente 30

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Ano III — Número 30 - Mensal: fevereiro de 2020

Corrente d’Escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil

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185anos anos 185

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Pg.

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No Senadinho Literário (pg. 4 a 7)

DAVID GONÇALVES


Corrente d’Escrita

Editorial Regressamos… Contra o que almejavam alguns, voltamos ao convívio dos nossos leitores. Ao fim de sessenta dias de “fare niente”, é bom estar de volta e poder, sobretudo, contar com o vosso acolhimento e apoio. Este ano, todos nós — que amamos a literatura e navegamos nestas águas — estamos de parabéns: a Academia Catarinense de Letras (ACL), completa este ano o primeiro centenário. Por isso, todos que amam a literatura, sejam ou não membros de tão distinta instituição, estão de parabéns. Nós, por cá, decidimos durante todo o ano de 2020 dar maior cobertura às atividades da ACL e a trazer até nossas páginas — e por conseguinte aos nossos leitores — maior número de escritores da Academia com suas obras e suas biografias. Assim, já neste número, como constatarão, neste recomeço de nova década (2020) trazemos ao Pelourinho Literário o mais recente imortal da ACL: David Gonçalves, que tomou posse na cadeira 40 no passado mês de novembro. Gostaríamos de vos trazer mais novidades, sobretudo sobre nosso propósito de organizar o primeiro Festival Literário do Autor Catarinense (FLAC), largamente falado nos últimos números, mas a apatia (ou desleixo?) com que certas entidades estão a tratar do caso, deixa-nos pessimista. Mas ainda não desistimos. Vamos acompanhando, o dando-vos aqui notícia. Na nossa caminhada pelas letras, pela história e pela nossa língua portuguesa (comum), contamos sempre com vosso apoio.

Afonso Rocha—diretor Página 2


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As donas da capa… Não é por capricho ou porque tenhamos mudado de rumo. Se escolhemos esta capa foi por uma boa causa: contra o preconceito, a defesa da mulher e de suas garras como batalhadoras da liberdade. Vejamos as suas histórias:

A nossa capa...

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Dona Maria Santana deve estar orgulhosa, afinal, suas duas filhas gemeas, Yaci e Yara, estao conquistando o mundo da moda com sua beleza estonteante e uma historia de vida singular. De origem quilombola, nascida na regiao de Viana, no Maranhao, dona Maria se mudou para Sao Luís, onde deu a luz as filhas. Elas tiveram uma infancia humilde, convivendo com a pobreza ate a juventude. Essa realidade moldou o carater de Yaci e Yara. Quando adultas, sentiram a responsabilidade de lutar contra a dura realidade da mulher negra brasileira. Quebraram paradigmas dentro da família ao serem as primeiras mulheres a se formar na faculdade – Ciencias Contabeis na Universidade Federal do Maranhao – anos antes de sequer imaginarem trabalhar como modelos. Ao mergulharem no mundo da moda, romperam outra logica: tornaram-se modelos ja maduras (aos 30 anos), ao contrario da maioria das outras modelos, que começam a trabalhar ainda adolescentes. Para Yaci e Yara, e justamente a raiz quilombola de sua família que marca os traços fortes e a beleza da cor de suas peles. Proporcionou tambem a força para perseverar e se destacar nas passarelas e capas de revistas. Hoje, estao na linha de frente da representatividade negra na industria da moda. No final do ano passado, as gemeas estamparam sua primeira capa de grande relevancia, para a revista Marie Claire. Na ediçao, elas vestiram coleçoes internacionais falaram sobre inclusao e representatividade, alem de suas trajetorias de vida e como modelos.


de 2019

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O mais recente membro da Academia Catarinense de Letras ocupa a cadeira 40, que tem como patrono o escritor catarinense Virgílio Várzea. Tomou posse em 7 de novembro de 2019 e sua história vai-nos ser contada, nas linhas mais abaixo, pelo próprio. Além de membro da ACL, David Gonçalves é também membro da Academia Joinvilense de Letras (AJL), sendo atualmente seu presidente, além de também integrar a Associação das Letras (AL), de quem foi um dos fundadores.

David Gonçalves Corrente: Para início de conversa, amigo David Gonçalves, indique aos nossos leitores os principais títulos de suas obras.

“Geraçao viva”, contos, e “O sol dos tropicos”, romance.

David: Ate ao momento, entre contos e romances, escrevi e apresentei 24 obras, entre as quais destaco: “As flores que o chapadão não deu”, romance, 1972; “Geração Viva”, contos, 1978; “Terra Braba” , romance, 1981; “O rei da estrada”, romance, 1984; “O campeão”, romance, 1988; “O sol dos trópicos”, romance, 1990; “Até Sangrar”, contos, 2008; “A princesa e o anjo negro”, contos, 2013; “Sangue verde”, romance, 2014; “Pés-vermelhos”, romance, 2017; “Contos reunidos”, tres volumes, 2018;

Corrente: Faça de conta que acabamos de nos conhecer. Como você se apresentaria como cidadão e como escritor? Fale-nos um pouco da sua vida e de sua pessoa.

Corrente: Entre essas obras, quais ou qual, a que considera ser a sua “melhor obra”, ou seja, aquela que considera ser a sua “marca” pública? Por quê? David: Duas obras sao a base de minha literatura: Página 4

David: Na maior parte das vezes, nao me apresento como escritor. Sou um homem de habitos simples, despojados. Somente para os amigos escritores e professores, digo que sou escritor. Nome: DAVID GONÇALVES Nome literário: David Gonçalves Membro da Academia Catarinense de Letras; Academia Joinvilense de Letras e da Associação das Letras (Joinville) Residência: Joinville/SC Naturalidade: Jandaia do Sul/PR Profissão: Professor, contista, romancista Data de nascimento: 10/08/1952 Estado civil: Divorciado Redes sociais: www.facebook.com/david.concalves;


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Discuto literatura somente com as pessoas que leem ou escrevem. Na vida do dia a dia, passo despercebido, e assim posso sentir, perceber, focar algo que me interessa.

vida associativa dos escritores, como analisa a situação? David: Acho que todos deviam associar-se, ja que temos tao pouco ou nenhum apoio. Mas, confesso, os escritores em geral tendem para o individualismo, o que nao e bom. A força esta no grupo e nao no indivíduo.

Corrente: É sabido que a cultura em geral, e particularmente a literatura, é tida como o “parente” pobre nas preocupações e decisões dos gestores e dirigentes públicos. Em seu entender, como está a ser tratada a literatura Corrente: Entremos agora nas questões da em Santa Catarina? Que precisa, eventualsua escrita. Qual a área em que você se sente mente, de ser feito? melhor: no conto; no romance ficcional; no David: Bem, eu nunca dependi de favores de Go- romance histórico; na poesia; noutras áreas? verno. Empreendi por conta propria. Se fosse esperar por ajuda de Governo, nao teria feito nada. David: Optei pelo conto e pelo romance. Percebi, Sou casca-dura: nao gosto de pedir migalhas, fa- logo cedo, que nao dava para se dedicar com cervores etc. Políticos nunca estiveram preocupados ta maestria a todos os generos. Mas procuro fazer uma literatura direta, um tanto realista, sobre as com a Literatura. angustias do homem ou de um povo. As vezes, Corrente: E agora que você acaba de assumir percebo que navego no realismo fantastico latino uma cadeira acadêmica, além de já ser presi- -americano. >>>>>>>>> dente da academia joinvilense, no tocante à

Tomada de posse de David: 07/11/2019. A começar pela esquerda: Pinheiro Neto, presidente da ACL; David Gonçalves (nosso entrevistado) e Afonso Rocha, diretor do Corrente d’escrita. Página 5


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Corrente: Desenvolve algum trabalho relacionado à literatura / cultura, não obrigatoriamente a escrever livros? David: Fui professor de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira na universidade. Sempre dei palestras para publico diverso, usando a literatura como ponto de partida e apoio. Quando alunos leem minha obra, aceito os convites para palestrar e incentivar a leitura. Corrente: É sabido que “viver” da escrita não é uma opção acessível à grande maioria dos autores. Para si, essa questão está “resolvida”? Dá para viver da escrita?

David com sua irmã, na roça e as rosquinhas

David: Nunca vivi da escrita. Mas os meus livros tecnicos me deram o pao de cada dia, de forma que pude fazer literatura sem viver na miseria. Sempre digo aos escritores novos: arrume um emprego para sustentar o esqueleto, senao vai ter que morar debaixo da ponte ou viaduto.

Corrente: Gostava de saber a sua opinião sobre a problemática da distribuição e/ou venCorrente: Como “nasceu” em si esse desejo de da do livro. O livro impresso continuará, apeescrever? Que idade tinha quando publicou a sar dos e-books e de outras plataformas digiprimeira obra? tais? David: Escrevo desde os 14 anos. O primeiro romance, “Bagaços de gente”, escrevi quando tinha 16 e 18 anos. Mas nao prestava. Copia pura dos autores que eu estava lendo. Ja “As flores que o chapadao nao deu”, 1972, revela-se promissor. Descrevo e denuncio a escravidao negra no país. Bem, a questao racial esta viva ate hoje. Corrente: Qual a obra que lhe deu mais “trabalho” escrever? Por quê? David: Toda obra e trabalho arduo. Mas o romance “Aguas de outono” me consumiu vinte anos. Quando concebi a ideia e comecei a escrever, tinha 24 anos, e o tema da velhice, morte, solidao, outra vida, me deixou apavorado, exigia mais experiencia e sabedoria.

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David: O problema brasileiro sempre foi a distribuiçao de livros e a falta de leitores. Brasileiros nao gostam de ler, nao possuem o habito. Pouca gente le. O livro físico continuara. O e-book tambem. Atualmente, publico nos dois formatos. Pessoalmente, sou do livro físico. Mas o publico jovem nao. Estimo que 70% dos leitores migrarao para as plataformas virtuais e somente 30% manterao o relacionamento com o livro físico. Corrente: Uma última questão: que mensagem deixaria para os demais escritores, leitores ou amantes da escrita? David: Para alguns escritores: ser escritor demanda muito conhecimento e leituras boas. Nao da para escrever agua com açucar. Literatura nao e passatempo. E, tambem, perguntar-se: e o fogo que me motiva?


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David Gonçalves “O patrão se armou de uma quadrilha de camaradas e buscavam as mulheres arrastadas, enquanto os maridos eram amarrados em qualquer árvore. Elas entravam chorando no rancho Deus-Sol e saíam transformadas, satisfeitas, com olhos brilhantes. Em pouco tempo, o patrão dispensou os capangas e as mulheres iam sozinhas e ansiosas para o coito. Os nomes eram fichados e o controle era rigoroso. O único problema, a bem dizer, foi a invasão de solteironas e viúvas de outras fazendas, que ansiavam uma noite de amor com o estranho pai d’égua. Uns homens se suicidaram, outros se acostumaram e até jogavam cartas com o potro humano. O patrão Leonardo constatou que, numa década, sua gente estava renovada, totalmente restituída. Eu, de minha parte, não tenho a mínima vontade de me casar. Meu filho tem que ter meu sangue. Minha mulher não será uma vagabunda. Este processo de seleção, segundo propalam, é a solução” (do conto: Chapelao de feltro, David Gonçalves, in Rede das Letras—Antologia, Joinville 2015) Página 7


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5 Passos para Escrever um Conto

por um evento (por exemplo, encontrada morta), seguido de um conflito (abandonada por seu amante). Isso ajudara voce a entender sobre o que e a sua historia.

3. Escreva seu Conto Alguns guias sugerem focar em começar escrevendo um primeiro paragrafo cativante, mas ao mesmo tempo em que isso e importante, tambem coloca muita pressao sobre voce, quando voce esta para começar a escrever o conto. Em vez disso, e so escrever. Basta colocar a caneta no papel ou teclar no computador. Nao se preocupe com o que sai. Isso nao e importante. Voce so precisa ter o seu conto começado. Voce precisa escrever entre 50 e 100 por cento mais palavras do que vai haver na versao final do seu conto. Isso significa que se voce esta tentando escrever um conto de 5 mil palavras, pode ser necessario escrever 10 mil palavras no total em sua primeira verComo voce escreve um conto? Como escrever um conto difere de escrever um ro- sao. Por que? Seu trabalho e menos escrever palavras do que escomance? Estas sao perguntas difíceis de responder, porque ha lher as melhores palavras. Para ter um bom conto, tantos tipos de contos quanto ha tipos de romances. voce vai ter que cortar um monte de escrita medíocre. Ha contos longos, contos curtos, contos simples, e contos complexos. Ainda assim, se voce quer escrever 4. Reescreva e edite um conto, aqui estao cinco passos para ajudar voce a Toda boa escrita e reescrita. Depois de escrever o seu primeiro projeto, voce precicomeçar. sa começar a cortar, reescrever e editar o seu conto. Esta e a parte mais difícil de escrever um conto, e voce 1. Leia Contos Escritores de verdade leem, e como Stephen King dis- pode se sentir como se estivesse atravessando um se: “Se voce nao tem tempo para ler, voce nao tem pantano ou subindo atraves de uma caverna muito apertada. tempo para escrever.” Se voce nunca leu um conto, vai ser difícil voce escre- No entanto, nao desista agora. Voce esta quase la. ver um. Mesmo que voce ja tenha lido centenas de Para tornar mais facil reescrever, se utilizar o compuhistorias, estudar uma ou duas de perto vai ajudar a tador, recomendo um bom programa de processamento de texto, o que torna a organizaçao de seu tramelhorar a sua compreensao da forma do conto. Para encontrar alguns bons contos em seu genero fa- balho muito mais facil. vorito, procure revistas literarias. Algumas sao ate 5. Envie! gratuitas. Antes de enviar seu conto, certifique-se que voce leu em voz alta varias vezes para encontrar erros orto2. Resuma seu Conto Antes de começar a escrever, tente um truque de ro- graficos e gramaticais e que voce tenha formatado de acordo com o formato do manuscrito padrao. teiro conhecido como Loglines. O Logline e um resumo de uma frase de sua historia, Entao, consulta sua grafica ou diagramador para sasua essencia. Por exemplo, aqui esta uma sinopse pa- ber se o seu conto vai se ajustar, como por exemplo, integrar uma antologia ou publicaçao independente. ra “Uma Rosa para Emily”, de William Faulkner: Logline: Uma mulher solitária do Sul é encontrada morta e apodrecida em sua casa depois de ter sido Finalmente, e hora de enviar o seu bebe para o mundo. Nao pense mais nisso. Apenas faça. Vai ser difícil abandonada por seu amante. A formula e seu personagem, acrescida de uma descri- deixar a sua historia ir, mas voce nao pode ser publiçao (nesse caso, mulher solitaria do Sul), seguidos cado, se voce nao enviar. Página 8


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para emprestar ou trocar. Era raro casa em que houvesse leitores de gibi onde não se encontrasse um volume de Edição Maravilhosa. Nunca com uma capa novinha, cheirando a tinta, como os gibis mensais com fotos dos caubóis famosos. Na casa de meu tio, onde habitavam (que beleza!) sete primos, tomei contato com “Ivanhoe”, de Walter Scott (aliás, só eu mesmo para lembrar disso), fascinado pelos duelos de lanças entre cavaleiros de armadura. No tempo de ginásio, me caíram nas mãos “O homem que ri”, de Victor Hugo, “Os mistérios de PaEdições maravilhosas ris”, de Eugene Sue, “Verdes moradas”, de W.H. Hudson, uma bela história passada nas selvas da Por Venezuela, “Sob duas bandeiras”, de Maria Louise Hilton Görresen * de La Ramée, meu primeiro contato com as aventuras na Legião Estrangeira, no norte da África, depois revisitadas no trágico filme “Beau Geste”; “O Gaúcho”, de José de Alencar, “Tom Sawyer“ e Huckleberry Finn”, de Mark Twain. Sempre tenho dito que meu primeiro contato com Na casa de um tio solteirão encontrei, e não deixei a literatura foi através dos livros deixados por meu de ler na hora, “Oliver Twist”, de Charles Dickens, e avô. O velho, que não cheguei a conhecer, era músi- “O último dos Moicanos”, de Fenimore Cooper. O co e jornalista (certamente da época parnasiana, “mocinho” da história não era o moicano do título, mas sim o caçador, com um gorro de pele de castor em que se teciam longos e complicados parágrana cabeça, tipo Daniel Boone. fos). Mas isso não é bem verdade: na realidade, Estou citando apenas aqueles de que mais gostei, meu primeiro contato com literatura foi através pois isto pretende ser uma crônica e não um rol de das histórias em quadrinhos. Existia, nas décadas de 1950 e 1960, uma coleção obras da biblioteca pública. É claro que essas leituras destacavam apenas o enredo, as “estórias”, chamada “Edições Maravilhosas”, quadrinização de obras literárias mais populares, a maioria delas omitindo a beleza intraduzível dos textos. Mas valeram como aperitivo. compiladas de uma publicação americana. Mas havia também as obras brasileiras, como a de José (in jornal Gazeta, de São Bento do Sul/SC, em 11-01-2020) de Alencar, e até a de meu tio, Brasil Gerson, sobre Garibaldi e Anita, premiada pela Academia Brasi- _____________ leira de Letras. Aliás, o primeiro volume da coleção * Hilton Görresen é um escritor e contista consagrado, que me interessou – e eu mal sabia ler – foi “O Gua- membro da Academia Joinvilense de Letras e da Associação das Letras. Seu livro mais recente PORQUE MATEI rani”, principalmente pela cena do índio Peri enROCKY LANE—ver Corrente d’escrita número 10/ abrilfrentando uma onça. 2018 — recebeu em 12/12/2019 o PRÉMIO ACL 2019 Essa coleção era muito comum por aqui. Já era an- (Academia Catarinense de Letras). tiga em meu tempo de garoto, mas sempre havia alguém possuidor de um ou dois números em casa, Página 9


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alfarrabistas Por José Carlos Vilhena Mesquita Professor (Algarve-Portugal)

A origem da palavra alfarrabista Numa das minhas aulas, referi-me, ja nao me lembro bem a que proposito, aos alfarrabistas como antiquarios do livro, em cujas lojas se podem encontrar verdadeiras preciosidades, autenticos tesouros da nossa cultura e da nossa historia. E aconselhei os jovens a procurarem nos alfarrabistas, nao so os livros antigos e raros, mas tambem todo e qualquer livro que se encontre esgotado no mercado. Um dos alunos, brasileiro de origem, com toda a franqueza e lealdade, perguntou-me o que significava alfarrabista, visto que no seu país chamam “Sebos” as lojas onde se vendem ou trocam livros usados. Parece que essa designaçao, “Sebo”, que aos nossos ouvidos e tao desagradavel, procede do suposto manuseio dos livros, que pelo seu uso ficam "sebentos", isto e, engordurados pelas maos dos seus leitores. E uma designaçao popular, mais natural e, vamos la, mais realista, do que a nossa erudita nomeaçao de alfarrabista. Desta palavra descende tambem o vocabulo “alfarrabio”, que usamos muito para designar um livro grande, volumoso e, especialmente, um livro antigo. Daí pensarse que dela deriva a denominaçao de alfarrabista, como local de venda de livros antigos (alfarrabios). Ora, e ao contrario, isto e, deriva da segunda a primeira, cujas origens se perdem la para as bandas do Caucaso, numa pequena cidade chamada Farab, nas imediaçoes do mar Caspio, presumo que situada no actual Turquestao, que na altura, seculo IX e X, estava ocupado por uma mescla de tribos e povos nomadas, que hoje designamos genericamente por turcomanos. Na verdade, foi nessa cidade de Farab que nasceu, por volta de 850, um sabio arabe chamado Ibne Muhammad Tarkan, que por ter ali o seu berço começou a ser nomeado simplesmente como Ibne Farabi, em homePágina 10

nagem a sua terra natal, visto que traduzido a letra significa “filho de Farab”. E o mais curioso e que passou a ser desse modo invocado na cultura arabe, sem que alguem se preocupasse, nos seculos seguintes, com o seu verdadeiro nome, que, ja agora, para esclarecimento publico, se escrevia assim: Abn Nasr Muhammad ben Muhammad ben Tarkan al Farabi. Os seus mais directos discípulos chamavam-lhe Ibne Tarkan, nome que hoje se perdeu completamente, sendo invocado apenas como “Alfarabi”. Em boa verdade, Alfarabi e ainda hoje considerado como um dos maiores filosofos da civilizaçao muçulmana, do qual descendem numerosos discípulos igualmente famosos, de entre os quais destaco a figura de Avicena, que teve um papel preponderante no mundo hebraico e na cultura ocidental. Mas, estava eu a dizer que Alfarabi era uma autoridade em varias areas da cultura islamica, sobretudo em leis e etica, tendo traduzido, e comentado, a Metafísica de Aristoteles, assim como A Republica e As Leis, de Platao. Como filosofo, mas tambem, como teologo, escreveu varios tratados de grande folego e solida erudiçao, tendo como desiderato a criaçao de um regime político perfeito, com base na Republica de Platao, adaptada ao Corao. E claro que nao conseguiu porque, em muitos casos, incorria em perigosas heresias. O proprio Avicena, baseando-se nos comentarios de Alfarabi, sobre a Metafísica de Aristoteles, tentou criar a escolastica islamica, com escasso exito, diga-se, tornando-se num fiel seguidor do mestre grego. Tudo isto veio a proposito da tentativa de explicar a origem da palavra alfarrabista. Pois bem, acho que ja se percebeu que e do nome da cidade de Farab e do sabio dali natural, autor de grandes e volumosos tratados usados nas escolas e universidades islamicas, que por serem da autoria de Alfarabi passaram a designar-se por alfarrabios. Os colecionadores desses velhos livros passaram a ser conhecidos por alfarrabistas, e como muitos deles os vendessem a outros estudiosos da cultura helenica e ate do mundo hebraico – nao esqueçamos que os judeus tinham fama de grandes comerciantes de livros raros, transacionando a cultura europeia com a ciencia oriental - fazendo do mar mediterraneo uma feira de relaçoes mercantis com as mais variadas civilizaçoes.


Ano III — Número 30 - Mensal: fevereiro de 2020 Surgiu entao a designaçao de alfarrabista, nao para os colecionadores de livros raros, mas especificamente para os comerciantes das preciosidades bibliograficas, como por exemplo mapas, gravuras, manuscritos e objectos de arte relacionados com a escrita e o livro, como por exemplo bustos e retratos de Aristoteles, Platao, Avicena, Averrois e outros sabios. E, porem, importante nao confundir os antiquarios livreiros, vulgarmente designados por alfarrabistas, com lojas de velharias, de bric-a-brac ou de antiguidades, onde por ventura tambem podem existir, num amontoado de coisas antigas e curiosas, alguns livros. Portanto, que fique bem claro – um alfarrabista e um comerciante de livros usados, antigos e raros, onde se vendem fundamentalmente peças bibliograficas, a par de outras, igualmente invulgares, como mapas, gravuras e outros objectos relacionados com a escrita e a leitura. No entanto, convem ressalvar que existem alguns alfarrabistas no nosso país, que sao antiquarios livreiros, pelo facto de serem muito exigentes na antiguidade, na qualidade e, sobretudo, na raridade das peças bibliograficas, nos manuscritos e peças de arte que colocam a venda, para servir nao so o publico erudito, como tambem os mais exigentes colecionadores espalhados por esse mundo fora. Neste ultimo sentido, merecem particular realce alguns alfarrabistas de reputaçao nacional, estabelecidos em diversas cidades do nosso país, nomeadamente a «Livraria Academica», o «Chamine da Mota» e a

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«Livraria Manuel Ferreira» no Porto; a «Livraria Campos Trindade», do erudito Tarcísio Trindade (1931-2011), a «Livraria Historica e Ultramarina», fundada pelo bibliofilo Jose Maria da Costa e Silva [Almarjao] (1920-2008), a «Livraria Castro e Silva», o alfarrabista «Telles da Sylva», e o «Mundo do Livro», todos em Lisboa; a «Livraria Fernando Santos», em Braga, e a «Livraria Miguel de Carvalho», em Coimbra. Julgo que todos os que acabei de mencionar terao sido os melhores livreiros antiquarios do nosso país. So por curiosidade se acrescenta, que em Faro, temos a «Livraria Simoes», que e o unico alfarrabista no Algarve, a quem rendo as minhas homenagens pelo estoicismo com que tem resistido a todas as adversidades, mantendo aberta a sua loja, onde tambem se podem encontrar muitas preciosidades bibliograficas.

José Carlos Vilhena Mesquita—professor


Ano III — Número 30 - Mensal: fevereiro de 2020 igreja, ou ao atravessar uma ponte, ou era dono de varios palacios, pois agora voce entende o porque dos sobrenomes torres, fontes, igreja, ponte E palacios. E possível que voce tenha tido algum ancestral que tenha algo a ver com a flora e a fauna. Talvez criasse cordeiros, colhia maças ou tinha uma quinta de gado. Daí os sobrenomes cordeiro, manajeiro e touro. As profissoes ou profissoes do passado tambem produziram muitos dos sobrenomes de hoje. Voce conhece algum labrador, pastor, monge, ferreiro, criado ou jeans? Pois voce ja sabe o que seus antepassados se dedicavam durante a idade media. Outra maneira de criar sobrenomes era a base de alDe onde vêm os sobrenomes? guma característica física, ou um traço da sua personalidade ou de um estado civil. Se nao era casado, enNa Antiguidade, nao existiam sobrenomes. tao era solteiro; se nao era gordo, era magro; se nao Vamos tirar a Bíblia, por exemplo… tinha cabelo, era careca; se o cabelo nao era castanho, Aos personagens do antigo e novo testamento eram era loiro; se nao era branco, era moreno; se tinha bom conhecidos pelo seu nome: Abraao, Moises, Pedro, senso de humor, Era alegre; se ele era educado, era Joao, Mateus, Jesus, Maria e Jose. Nao havia tal coisa cortes. como Abraham Perez, Mateus Delgado ou Jose Garcia. (cuidado: Iscariote nao era o sobrenome do traidor Talvez a procedencia mais curiosa seja a dos sobrenoJudas, nem Tadeu o do Santo; eram apelidos, apeli- mes que terminam em ez, como Rodriguez, Martinez, Jimenez, Gonzalez, entre outros muitos que abundam dos). entre nos os hispanicos. A origem e muito simples ez Com o tempo, as comunidades se povoavam cada vez significa 'filho de'. Portanto, se o seu sobrenome e mais e mais, e de momento surgiam as duvidas: Gonzalez e porque voce teve algum antepassado que - leve esta mensagem ao Joao. era filho de um Gonçalo. Da mesma forma, Rodriguez - Qual Joao?- Perguntava o mensageiro. era filho de Rodrigo, Martinez de Martín, Jimenez de - Pois Joao, o 'do vale' - explicava para distingui-lo do Jimeno, Sanchez de Sancho, Alvarez de Alvaro, Benitez de Benito, Domingues de Domingo, Hernandez de outro Joao, o 'do monte'. Neste caso, os sobrenomes 'do vale' d 'do monte', tao Hernando, Lopez de Lope, Ramirez de Ramiro, Vecomuns hoje, surgiram como resultado do lugar onde lazquez de Velasco, e assim pelo estilo. moravam essas pessoas. Estes chamam-se 'Sobrenomes Toponimos', pois a toponímia estuda a procedencia dos nomes proprios de um lugar. Nessa mesma categoria estao os sobrenomes arroio, canais, Costa, cavernas, Penha, Prado, Rivera (que fazem referencia a algum acidente geografico) e Avila, Burgos, Pirassununga, Madrid, Toledo (que vem de uma cidade em Espanha).

Assim mesmo acontece em outros idiomas: Johnson e filho de John em ingles (John-son); Macarthur e filho de Arthur em escoces; Martini e filho de Martin em italiano.

Voce ve: e assim que, pouco a pouco, durante a idade media, começam a surgir os sobrenomes. O objetivo era, portanto, diferenciar uma pessoa da outra. Com o tempo, estes sobrenomes tomaram um carater herediOutros sobrenomes originam-se de alguma peculiari- tario e passaram de geraçao em geraçao com o propodade arquitetonica com a qual se relacionava uma sito de identificar nao so pessoas, mas famílias. pessoa. Se o seu antepassado morava perto de varias Por: Juani Sanchez (retirado do facebook) torres, ou a passos de umas fontes, ou atras de uma Página 12


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istória Não apaguemos esta luz

Ana Kandsmar*

IRÃO—BREVE HISTÓRIA O Irao, país que se localiza no Planalto Iraniano (Medio Oriente), era chamado de Persia do seculo 6 a.C. ate 1935, apesar do nome Irao ja ser utilizado pelos persas desde o seculo 7. Durante a Antiguidade, a Persia foi um grande imperio, que englobava desde a atual Turquia ate ao Punjab, incluindo o Egipto (Africa). Depois de muitos seculos sob domínio de outros povos ou em guerra para conquistar o seu antigo imperio, a Persia foi anexada pelo Imperio Arabe o que aconteceu desde o seculo 7 ate ao seculo 11. A partir de entao, o islamismo tornou-se a religiao local, mas os iranianos adotaram a versao xiita como forma de reaçao nacionalista, ja que o Imperio Arabe era sunita. Da mesma forma, a língua persa foi mantida em oposiçao a língua arabe dos dominadores. Ate hoje a língua persa e o xiismo sao defendidos pelos iranianos como forma de resistencia. Irão no século 19 e início do século 20 Nos seculos 18 e 19 os iranianos tiveram que enfrentar duas novas potencias imperialistas: a Russia, que queria ampliar os seus domínios sobre a Asia Central, e o Imperio Britanico, que desejava o controlo sobre a exploraçao do petroleo asiatico. Em 1907, a Inglaterra e a Russia firmaram um acordo em que, sem consultar o Xa da Persia, dividiu o territorio em zonas de influencia: norte sob controlo russo e sul sob controlo britanico. Dentro dessa conjuntura, a Persia foi arrastada para a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Esse conflito colocou a Entente (Imperio Britanico, França e Imperio Russo) contra a Aliança (Imperio Alemao, Imperio Austro-Hungaro e Imperio Turco-Otomano. Página 13

A Persia, zona de influencia de russos e britanicos, era vizinha do Imperio Turco e possuía os recursos naturais (petroleo) que os dois lados queriam. No final da Primeira Guerra Mundial a situaçao agrava-se para os persas: a norte, os russos estavam em processo revolucionario (Revoluçao Russa) e os britanicos, para impedir o avanço dos ideais bolcheviques atraves da Asia, enviaram tropas para o norte da Persia. Terminada a Grande Guerra, o Imperio Britanico tinha total controlo sobre os iranianos e, principalmente, sobre os seus poços de petroleo. Pahlevi Reza Khan, militar persa, aproveitando-se da fraqueza da dinastia Qajar no pos-guerra, tomou o trono, tornando-se o primeiro Xa da dinastia Pahlevi na Persia em 1925, mudando o nome do país para Irao em 1935. Reza Xa Pahlevi (novo nome de Reza Khan) foi responsavel pelo impulso de modernizaçao que o Irao viveu na decada de 1930, submetendo-se ao modelo ocidental. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Reza Xa teve o seu país invadido por tropas britanicas e sovieticas, devido a sua simpatia pelo regime nazista alemao, e por isso abdicou do trono em nome de seu filho, Mohammad Reza Pahlevi em 1941. O novo Xa, Reza Pahlevi, manteve a política de aproximaçao e submissao do Irao ao ocidente, ao mesmo tempo em que cresciam movimentos nacionalistas, exigindo a independencia economica do Irao. >>>>>>>> * Ana Kandsmar, portuguesa, escritora, jornalista, reside em Lisboa. ( facebook.com/anagaspar.cristina ).


Ano III — Número 30 - Mensal: fevereiro de 2020 As reformas introduzidas, na chamada Revoluçao Branca, visavam principalmente a modernizaçao do Irao, ampliando as relaçoes do Irao com os Estados Unidos, e a separaçao entre o Estado e o clero xiita (sendo que a maioria da populaçao iraniana e xiita). Qualquer oposiçao as medidas tomadas pelo Xa era Em 1949 surgiu a Frente Nacional do Irao, liderada reprimida pela brutal Savak - polícia política iraniana. pelo nacionalista Mohammed Mossadegh, preso du- A censura agia de forma a proibir as organizaçoes trarante o governo de Reza Xa por ser um grande crítico balhistas, os nacionalismos e os ideais religiosos. da política pro-ocidente dos Pahlevi. Contando com a O governo iraniano mostrava ao mundo um Irao mosimpatia popular, Mossadegh foi eleito 1º Ministro em derno, símbolo de desenvolvimento. Ao mesmo tem1951. Mossadegh conseguiu nacionalizar o sector pe- po, os governos ocidentais acreditavam que o Irao era troleiro em 1953, ate entao nas maos dos britanicos, e a possibilidade de "evoluçao" dentro do Medio Orienpor isso a Gra-Bretanha iniciou um bloqueio economi- te, regiao considerada como pobre e retrograda. O co ao Irao. facto do Irao possuir uma das maiores reservas de Em plena Guerra Fria, a Uniao Sovietica, a fim de ampliar a sua influencia sobre a regiao, passou a comprar o petroleo iraniano, levando os Estados Unidos a apoiarem o bloqueio britanico. Durante esse episodio, Reza Pahlevi deixou o Irao, mas por pouco tempo. Atraves de um golpe de Estado conhecido por Operaçao TP-Ajax, arquitetado pelo serviço secreto britanico e pela CIA, Mossadegh foi deposto e o Xa voltou a governar o Irao. A partir de entao, o governo de Pahlevi tornou-se ditatorial.

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petroleo do mundo justificava o grande apoio militar e economico recebido pelo Xa, principalmente dos Estados Unidos. Mas a repressao da Savak descontentava todos os sectores da sociedade, que viviam em condiçao de pobreza, o que representava praticamente toda a populaçao iraniana fora das elites ricas e burguesas de Teerao. Alem disso, a rapida ocidentalizaçao do país amedrontava o povo, que desde ha muito tempo lutava para manter a sua cultura persa milenar.


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Em meados da decada de 1970, na cidade de Qom, principal centro religioso do Irao, o clero xiita iniciou um amplo movimento exigindo a democratizaçao do país, com apoio da elite comercial local, que se ressentia do controlo economico estrangeiro. Em pouco tempo, esse movimento expandiu-se para as regioes industrializadas, levando a adesao dos operarios. Desse momento em diante, foram os trabalhadores das fabricas (a maior parte delas estrangeiras) que lideraram a luta democratica e anti-imperialista: a grande greve de outubro de 1978 acirrou o embate entre a monarquia ditatorial e o movimento popular. Nos Estados Unidos, o grande país aliado de Reza Pahlevi, o presidente Jimmy Carter tinha iniciado a chamada "política dos direitos humanos", recusando-se a auxiliar governos ditatoriais no mundo, o que arrefeceu as relaçoes com o Irao, possibilitando a ampliaçao do questionamento da autoridade do Xa entre os iranianos.

populaçao aclamava o clerigo xiita Ruhollah Khomeine com um Ima (líder político e religioso dos iranianos). Ruhollah Khomeine estava fora do Irao desde 1964, devido a sua oposiçao ao governo dos Pahlevi. Khomeine, na decada de 50, tinha recebido o título de Aitola, ou seja, o "mais alto conhecedor da lei islamica", o mais importante cargo da hierarquia do clero xiita. A facçao xiita dentro do islamismo acredita que o Estado deve ser controlado por um líder religioso, e daí o Aitola Khomeine ser visto como o representante dos iranianos contra Reza Pahlevi. As manifestaçoes populares cresciam vertiginosamente.

Como o exercito e a policia politica (Savak) nao conseguiam conter a populaçao, em 16 de janeiro de 1979 Reza Pahlevi deixou o país. Os Estados Unidos ainda tentaram manter o 1º Ministro Chapour Bakhtiar. Mas a 1 de fevereiro de 1979, o Aitola Khomeine retornou ao Irao, assumindo a liderança da revoluçao. Entre 10 e 12 de fevereiro, uma insurreiçao popular armada tomou conta das principais cidades do Irao. Quando o exercito iraniano passou a defender a revoluçao, Bakhtiar tambem teve que deixar o país. Nesse processo, a Guarda da Revoluçao Islamica (PASDARAM), milícia religiosa ligada ao clero xiita, tomou o controlo da insurreiçao, iniciando quase que A Revolução Islâmica no Irão imediatamente a repressao aos líderes nao religiosos Entre o final de 1978 e início de 1979, manifestaçoes do movimento (trabalhadores, intelectuais, políticos), contra Reza Pahlevi tomaram varias cidades do Irao. A instaurando no Irao um Estado teocratico que perdura ate hoje, sob o nome de Republica Islamica do Irao. O novo governo rompeu relaçoes diplomaticas e comerciais com varios países, acusados de explorar a economia iraniana. Em novembro de 1979, a embaixada norte-americana de Teerao (capital do Irao) foi invadida, e feitos entao 52 refens americanos no seu interior, como represalia pelo facto dos Estados Unidos terem acolhido Reza Pahlevi. As relaçoes entre o Irao e os Estados Unidos tornaram -se mais difíceis quando esses ultimos apoiaram o Iraque a invadir o Irao em setembro de 1980. A Guerra Irao-Iraque durou 8 anos, sem que nenhum dos lados tenha vencido efectivamente, e serviu, mais do que qualquer outra coisa, para unir os iranianos em torno do apoio a Khomeine, fortalecendo ainda mais o poder teocratico dentro do Irao. Página 15


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Perfil

Sou o que sou… Afonso Rocha

PERDÃO Perdoa-me senhor, não sei viver da bajulice, do sorriso falso, da palmadinha nas costas e da figa no bolso, do aperto de mãos com o ranger de dentes, do sorriso amarelo, da falsa promessa, da falta de respeito, da quebra do compromisso ou mesmo da promessa, da recusa infundada e até arbitrária, do engolir em seco, do vestir terno e gravata para meramente agradar aos costumes e aos egos altaneiros e hipócritas da sociedade. Sou mais terra a terra, defensor do pão pão, queijo queijo, do sofrer para não trair nem faltar à palavra dada. Sou assim, como a vida me fez.

Leituras Deonísio da Silva*

ciliano, Joao Guimaraes Rosa e Rubem Fonseca estao sempre presentes. Cada um faz sua lista. Gosto nao se discute, mas tambem e uma categoria estetica em Literatura, como nas outras artes.

Se a lista fosse de 15 romances e nao 10, eu acrescentaria "A grande arte", de Rubem Fonseca; "Maria BataOS VINTE MAIS DA LITERATURA BRASILEIRA lhao", de Dante Mendonça; "Sargento Getulio ", de Joao "Grande Sertao: Veredas" integra a lista dos dez me- Ubaldo Ribeiro; "Memorias Postumas de Bras Cubas", de Machado de Assis; "O guarani", de Jose de Alencar. lhores romances brasileiros de todos os tempos.

Se fosse de 20, incluiria ainda; "A geraçao do deserto”, de Guido Wilmar Sassi; "Memorias do coronel Falcao”, de Aureliano de Figueiredo Pinto; " O coronel e o lobisomem", de Jose Candido de Carvalho; "A ferro e fogo (os 2 volumes), de Josue Guimaraes e "A saga do camiDos primeiros dez, os cinco restantes sao "Quarup", e nho novo", de Benito Barreto. Antonio Callado; "Nur na escuridao”, de Salim Miguel; "Os guaianas", de Benito Barreto; "Incidente em Anta- Sempre havera controversias, que podem ser saudares", de Erico Veríssimo e "Galvez imperador do Acre”, veis ou doentias. de Marcio Souza. Esclareço que nao sigo a mídia nem as academias. E Nao incluí nenhum de Dalton Trevisan e de Clarice muito menos os "lobbies". Lispector, entre outros contistas, porque deles prefiro Naturalmente, li todos os romances que classifico, emboas narrativas curtas, que podem ser contos ou croni- ra muitos autores sejam insuficientemente conhecidos. cas. "Dom Casmurro" de Machado de Assis; "Os Corumbas”, de Amando Fontes; "Sao Bernardo", de Graciliano Ramos e "O caso morel", de Rubem Fonseca, completam a lista dos cinco melhores.

De vez em quando refaço esta lista, mas Machado, GraPágina 16

* Professor, escritor, membro da Academia Catarinense de Letras.


Corrente d’Escrita

Fotos com História

Não podíamos deixar passar a data de libertação do campo de concentração pelos soldados soviéticos, verificada há 75 anos, marcando, assim, o fim do holocausto. Evitamos mostrar imagens de horror, mas estas são bem ilustrativas do que foi aquele pesadelo. Página 17


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Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha

Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história e a cultura em geral. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário. O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.

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Em defesa da (nossa) língua

A Língua Portuguesa e riquíssima no seu vocabulario, nos seus sons e nos seus sotaques. E considerada como sendo um dos mais belos idiomas do mundo para ser usado em poesia ou em musica por causa do seu caracter doce e melodioso. No entanto, a Língua Portuguesa e tambem desrespeitada e mal usada por muitas pessoas. Mas temos que admitir: por vezes e mesmo complicado perceber se realmente estamos a falar ou a escrever bem o nosso idioma. A Língua Portuguesa e um dos mais belos idiomas do mundo. E, ao mesmo tempo, e tambem um dos que possui mais “ratoeiras” que podem apanhar desprevenidos ate os mais experientes ou os mais estudados. Um idioma com tantos pequenos pormenores tem, obrigatoriamente, que causar algumas confusoes, mesmo aquelas pessoas que acham que dominam por completo a Língua Portuguesa. Diz-se “ovelha ranhosa” ou “ovelha ronhosa”? Diz-se “mal e porcamente” ou “mal e parcamente”? Diz-se “salganhada” ou “salgalhada”? Se acha que sabe as respostas a todas estas duvidas, entao e melhor ler o artigo porque de certeza que vai falhar algumas. Todos os dias, quando falamos com os nossos amigos ou familiares, quando vemos as notícias na televisao ou quando lemos os jornais, cometemos erros (ou assistimos a alguem a comete-los) que, de tao frequentes, se assumiu serem as formas correctas de os dizer ou escrever. O livro Dicionário de Erros Frequentes da Língua, escrito por Manuel Monteiro, pretende corrigir os erros mais usuais de quem fala portugues. Descubra

os 15 erros mais frequentes da língua portuguesa. 1. Alta recreaçao (certo) Autorrecreaçao (errado) 2. Cartapacio (certo) Catrapazio (errado) 3. Mal e parcamente (certo) Mal e porcamente (errado) 4. Ovelha ronhosa (certo) Ovelha ranhosa (errado) 5. Olhos azul-escuros (certo) Olhos azuis escuros (errado) 6. Atenazar (certo) Atazanar (errado) 7. Quando muito (certo) Quanto muito (errado) 8. Reouvessemos (certo) Reavessemos (errado) 9. Ribaldaria (certo) Rebaldaria (errado) 10. Aselha (certo) Azelha (errado) 11. Rinque de patinagem (certo) Ringue de patinagem (errado) 12. Ha uma semana (certo) Ha uma semana atras (errado) 13. Escravismo (certo) Esclavagismo (errado) 14. Bandidismo (certo) Banditismo (errado) 15. Passada uma semana (certo) Passado uma semana (errado)


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“Com uma narrativa envolvente, o autor nos leva até um passado recente, para mostrar a luta e a insistência pela vida. Um contingente de pessoas, que mesmo diante de forças brutais, seguiu em frente. Ao sabor da história fica-nos, antes de tudo, o registo de uma época”. Olhos d’ Água 2013, 346 p. Preço na loja: R$ 40,00 Edição Digital (e-book) R$ 10,00

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Pecador, me confesso! é, antes de mais, um grito de revolta contra a impunidade dos criminosos que poluem a nossa civilização. Mulheres, homens, crianças, idosos; comunidade LGBT; negros, índios, ciganos, imigrantes e todos os demais desprotegidos são perseguidos, violentados, agredidos, estuprados e mesmo assassinados e, na maioria das vezes, quando descobertos, ficam impunes aos rigores da lei e da justiça. E a sociedade, nem sempre responde da melhor forma. A omissão, também é um crime. Afonso Rocha passeiase pela sua própria experiência de vida, mas também pela de todos nós, como comunidade, para que se dinamize e reforce a forma de combater estas mazelas, estes crimes bárbaros, já considerados como o holocausto do século XXI. Disponível em livro e e-book (pdf) Página 23


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Poesia numa roda de amigos. Uma coletânea de poemas e outros pensamentos de Afonso Rocha, enriquecida pelo contributo de mais seis poetas naturais do Brasil, Cabo Verde, Portugal, Moçambique, Angola e Galiza, refletindo a poesia no espaço da lusofonia, até porque “tem loucuras que a gente só faz com muita maturidade”. TROVAS AO VENTO 2014, 140 P. Preço na loja: R$ 25,00

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