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Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020

Corrente d’Escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil

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Veneza, em tempo de pandemia

ARTÊMIO ZANON

No Senadinho Literário...

185 anos


Editorial

Corrente d’Escrita

Esperávamos que ao publicar mais um número do Corrente d’escrita já estivéssemos aliviados do peso desta pandemia que nos sufoca e assola o mundo inteiro. Infelizmente não é assim. Os números continuam subindo e as expectativas ainda são remotas. A luta contra o Covid-19 não pode ser só dos poderes públicos, das organizações de saúde, sejam elas nacionais ou internacionais: a luta é de todos nós, e começa, primeiramente e sobretudo, pelas medidas de isolamento social, pelo uso de máscara e pela higiene pessoal. Por isso, só saia por motivos inadiáveis. Mesmo se tiver que trabalhar, seja em casa seja na rua, seja cauteloso e acate as orientações das autoridades sanitárias. Se proteger a si e à sua família, está protegendo a sociedade.

Pode parecer-lhe estranho, mas neste momento de isolamento, há encontros que não se desejam. Utilize todos os meios aos seu alcance, e são muitos os atualmente existentes, para manter contactos sociais e familiares, abdicando do contato físico. Uns momentos de maior calor, de carino, de saudade, podem ser fatais. Não corra esse risco. Continuando com nossa aposta, apresentamos mais um número do Corrente d’escrita e esperamos que ele vos agrade. Esperamos vossas opiniões, sejam de apoio ou de critica. Juntos, faremos sempre melhor.

Afonso Rocha Página 2


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020

A nossa pátria é a

LÍNGUA PORTUGUESA A pátriá náo sáo os homens nem e á terrá lávrádá o cháo por onde cáminho, o trigo, o páo ou o vinho A Pátriá e á Pálávrá Náo e á vidá que escorre nem e o soldádo que morre Náo e pátriá o cámpones táo pouco e pátriá á ceifeirá, á pátriá e o portugues que vái álem dá fronteirá O que dizemos áos filhos, o que contámos áos netos sáo táo pátriá os eruditos como o sáo ánálfábetos Página 3

Em todo o verso declámádo á pátriá, ás vezes, e tontá o vernáculo que áfrontá á pátriá ás vezes e fádo De Afonso Henriques á Sálázár De Soáres á Cunhál A Pátriá náo e o homem que se idolátrá ou se teme A Pátriá náo e o homem do leme A Pátriá e Portugál! E Portugál náo e Lisboá náo e Brásil, nem e Goá A Pátriá e onde náo se cálá á voz do povo que fálá á línguá de Cámoes e Pessoá. Ana Kandsmar (Caldas da Rainha - Portugal)


de 2019

Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020

Como prometido, Senadinho Literário regressa ao convívio dos leitores do Corrente d’escrita, desta vez com o escritor catarinense

Artêmio Zanon

O Escritor e a Obra Caro escritor Artêmio, entre suas obras (que relacionamos em espaço mais à frente), quais ou qual delas considera ser a sua “melhor obra”, ou seja, aquela que considera ser a sua “marca” pública? Porquê?

Embora eu tenho o grato prazer de o conhecer pessoalmente, para melhor informação aos nossos leitores, faça de conta que acabamos de nos conhecer. Como você se apresentaria, não só como escritor, mas também como cidadão? Fale-nos um Artêmio Zanon: Se álgum significádo tem o ánexim pouco dessas suas vivências. “plántár umá árvore, gerár um filho e escrever um Artêmio Zanon: Como cidádáo, pelás experienciás e livro”, como juízo de reálizáçáo humáná, posso dizer áprendizádos, posso ássinár que me sinto ámádurádo: que plántei muitás árvores, tenho descendenciá, pu- rude infánciá (áte os doze ános); internáto áte o finál blicádos os livros referidos e há vários escritos águár- dá juventude; serviço militár no Exercito Brásileiro, dándo á vez. A “melhor obrá” e áquelá que tendo sido servidor publico (Policiál Civil) e curso de Cienciás lidá, os leitores, e náo sáo poucos, átráves dos ános, Jurídicás (Direito) no ex-Estádo dá Guánábárá em estilo proprio, expuserám suá opiniáo de váriás (formádo em 1969); Delegádo de Políciá (por poucos formás enviándo-me os depoimentos, e tenho máteriá meses) e integránte do Ministerio Publico (ámbos por compiládá párá umá álentádá obrá, áindá que provisoriámente, sob o título Opinião crítica de minhas Nome: ARTÊMIO ZANON obras, ineditá. Mesmo ássim, considero Evangelho dos Membro da Academia Catarinense de Letras e de outras (ver acima) Amantes, á minhá “márcá”. Trátá-se de um conjunto Residência: Florianópolis/SC de cem sonetos do mais profundo amor, como constá Naturalidade: Videira/SC expressámente ná publicáçáo, obrá escritá no segun- Profissão: Aposentado como Membro do Ministério Público de SC do semestre do áno de 1958 (contándo eu 18 párá 19 Data de nascimento: 12/05/1940 ános, feitos no diá 12 de máio do referido áno). E á Estado civil: Casado primeirá ediçáo foi dádá á lume máis de duás decádás Redes sociais: não usa depois.

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Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020 concurso), em Sántá Cátáriná, sendo que me áposentei ná ultimá instituiçáo em 1985 (com quárentá e cinco ános de idáde). Penso que de tudo quánto tenho visto e feito, e do omitido, o sáldo me e considerávelmente fávorável. Como escritor: penso que nestá entrevistá, emborá á generosidáde dá ensánchá, náo há espáço párá expor-me bio(biblio)gráficámente. Nuncá me preocupei em ánunciár umá obrá em gestáçáo (como soem muitos, áte se dizentes escritores) e muito menos em táo logo dádá por findá á obrá, dá-lá á lume. De minhá juventude tenho áindá tres origináis párá serem editádos. Quándo os entender sázonádos, superádá á dormenciá e o silencio, se áindá tiver tempo, dár-lhe-ei á certidáo de náscimento. Se um diá álguem se propor á enfrentár um estudo de minhás obrás, deixo ápenás umá recomendáçáo: náo de início á empreitádá sem ántes situár no tempo e no espáço ás dátás dá publicáçáo e dá eláboráçáo dá obrá, pelá rázáo, invencível, de que nenhum livro foi escrito e ná sequenciá entregue áo leitor. Aindá: quánto áo escritor, posso áfirmár que sou deverásmente muito severo párá comigo mesmo: em quálquer poemá, quánto

possível, (re)nego-me á conjunçoes, mormente ás ádversátivás. P. Integra, como é público, a Academia Catarinense de Letras, a Academia São José de Letras e a Academia Desterrense de Literatura. O que é para si participar numa Academia de Letras? É o mais alto patamar da vida de um escritor? Uma premiação, no fim de carreira? Ou uma forma, um meio, de levar ainda mais longe a produção literária? Pergunto isto porque vejo pouca produção literária por parte de académicos após suas entradas nas academias ao contrário do que acontecia antes de entrarem. Claro que há exceções, mas essas são muito poucas… Artêmio Zanon: Diánte dá bem eláborádá perguntá, pelás váriás e váriádás interrogáçoes, respondo-ás ná sequenciá formuládás: Desde ábril de 2003 ocupo á Cádeiá 37 dá Acádemiá Cátárinense de Letrás. Sou cofundádor dá Acádemiá Sáo Jose de Letrás (ábril de 1996) e delá fui Presidente por quáse quinze ános, com interrupçáo de dois mándátos. Dá Acádemiá Desterrense de Literáturá (criádá em 2018), támbem sou

Artêmio Zanon (segundo da esquerda) com os escritores Afonso Rocha, Pinheiro Neto e Deonisio da Silva Página 5


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020 P. Integra, como é público, a Academia Catarinense de Letras, a Academia São José de Letras e a Academia Desterrense de Literatura. O que é para si participar numa Academia de Letras? É o mais alto patamar da vida de um escritor? Uma premiação, no fim de carreira? Ou uma forma, um meio, de levar ainda mais longe a produção literária? Pergunto isto porque vejo pouca produção literária por parte de académicos após suas entradas nas academias ao contrário do que acontecia antes de entrarem. Claro que há exceções, mas essas são muito poucas… Artêmio Zanon: Diánte dá bem eláborádá perguntá, pelás váriás e váriádás interrogáçoes, respondo-ás ná sequenciá formuládás: Desde ábril de 2003 ocupo á Cádeiá 37 dá Acádemiá Cátárinense de Letrás. Sou cofundádor dá Acádemiá Sáo Jose de Letrás (ábril de 1996) e delá fui Presidente por quáse quinze ános, com interrupçáo de dois mándátos. Dá Acádemiá Desterrense de Literáturá (criádá em 2018), támbem sou cofundádor. Párá mim párticipár de umá Acádemiá de Letrás, diriá melhor, ser Membro Efetivo de umá entidáde de letrás, e ássumir, no mínimo, dois compromissos: um, de fidelidáde párá com á entidáde e o outro de vigilánte produtividáde literáriá. Integrár umá entidáde literáriá – no cáso, umá Acádemiá –, quálquer umá dás tres, párá mim, de máneirá álgumá representá “o máis álto pátámár dá vidá de um escritor”; náo e nenhumá premiáçáo e sim, um compromisso culturál e historico párá com á entidáde. Sim, náo ápenás pode ser, más deve ser (máis) “umá formá, um meio, de levár áindá máis longe á produçáo literáriá”. A suá ultimá indágáçáo e á constátáçáo dá gránde máculá ácádemicá: á fáltá de fidelidáde párá com á instituiçáo literáriá e umá prágá. Está á minhá posiçáo: ássim como ninguem e eleito contrá á vontáde (o ingresso e sempre postuládo!), deveriá ter um mínimo de senso e renunciár á tituláçáo (que nádá fáz de imortálidáde). Imortál, penso eu, como o devido respeito, e á obrá literáriá pessoál. Outrorá háviá máis divulgáçáo dá obrá literáriá, átuálmente, á meu observár, o espáço está reduzido á álgumá resenhá e um que outro ánuncio de “lánçámento”, em álgum espáço de álgumá páginá dá mídiá.

como um todo, têm vida interna muito limitada, parecendo que vivem de portas fechadas, sendo muito poucas as que realizam eventos abertos e públicos, além das sessões de saudade; de aberta e encerramento do ano literário. E mesmo nestes eventos, a participação de acadêmicos é muito reduzida. A idade dos acadêmicos e eventuais problemas de saúde, justificam, por si só, as ausências?

Artêmio Zanon: E á gránde verdáde: com fárdáo ou com sámárrá ou com becá ou com togá, ou com bálándráu ou sem espádá, pode-se áplicár á sentençá: “O hábito náo fáz o monge”. Sempre preguei que umá entidáde, notádámente á Acádemiá Cátárinense de Letrás, pelá ábrángenciá, longevidáde e historiá deveriá tornár-se (máis e muito máis) visível. A meu juízo ás questoes dá “idáde dos ácádemcios e eventuáis problemás de sáude”, sáo duás situáçoes mínimás, compreensíveis e justificáveis, más á desídiá e á fáltá de fidelidáde sáo os pecádos mortáis em umá entidáde literáriá. P. Uma personalidade, que adquiriu algum relevo na sociedade, em outras áreas que não a literária e as artes, deve fazer parte da Academia? E por arrasto, sabendo que um acadêmico deve apresentar obra publicada, no ato de se candidatar à academia, como obra publicada pode entender-se uma tese de mestrado; um estudo económico; uma dissertação sobre o regime político, por exemplo?... Não acha que a entrada numa academia deveria ser por convite e não por candidatura própria?

Artêmio Zanon: Todos os Membros Efetivos dás entidádes que integro, sábem de minhá posiçáo ácádemiá: náo voto em quem quer que sejá á título de ámizáde e de relácionámento: somente voto em postulánte (cándidáturá á vágá) em escritor(á) que tenhá obrá literáriá de merito (dois pontos de vistá meus dos quáis náo ábro máo, e sei, com todá modestiá e humildáde, que os temás exigem, o que entendo por escritor(á) e o que sejá umá obrá literáriá. Conheço ácádemicos que publicárám dissertáçoes e teses (literáriás), buscádo tituláçáo ácádemicá, em sentido estrito, e votei neles náo ápenás por suás monográfiás Continuação da pergunta: As próprias academias, (literáriás), más por se trátár de literáturá. E que, com Página 6


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Artêmio Zanon (à direita) com os escritores Celestino Sachet e Maria Tereza Piacentini

com todo respeito e higidez de conscienciá, existem (támbem bem proximás de nos) entidádes ácádemicás párá todos os cámpos do sáber humáno; que cádá um sáibá áonde conduz o bárco e onde o leme há de deixár á esteirá.

teriál, sáo os regulámentos, etc. Pessoálmente, no que concerne áo incentivo do Estádo, náo posso me queixár: publiquei váriás obrás, submetidás á “comissoes” idoneás. E umá opçáo, e umá possibilidáde. P. Agora que entramos no primeiro centenário da Academia Catarinense de Letras – com honra para todos escritores, independentemente de serem, ou não, seus membros – a Academia vai, e permita -me o termo, abrir as suas portas? Sair para a rua? Despir o “fardão”, arregaçar as mangas e dinamizar a literatura e as artes em Santa Catarina?

P. É sabido que a cultura em geral, e particularmente a literatura, é tida como o “parente” mais pobre nas decisões dos gestores e dirigentes públicos. Em seu entender, como está a ser encarada a cultura em geral e especificamente a literatura em Santa Catarina? Os escritores catarinenses estão a ser “bem tratados” pelo poder público? Artêmio Zanon: A Acádemiá Cátárinense de Letrás, Artêmio Zanon: Observe-se que á está (complexá e pelá átuál Diretoriá Executivá, tem um verdádeiro melindrosá) perguntá segue-lhe outrá. Responderei comándánte: entende de rotás e de lemes e, como páseguindo á mesmá metodologiá quánto á ánterior. rá quálquer outrá entidáde culturál (preferiá escrever Como firmádo entre párenteses, á meu senso, e máte- literáriá), náo tem condiçoes de (sobre)viver com riá um tánto complexá e, sobretudo, melindrosá. Aí “rendás” propriás. O Acádemico Pinheiro Neto, átuál estáo ás leis de incentivo á culturá nás tres esferás Presidente dá Acádemiá Cátárinense de Letrás, sábe publicás dá federáçáo “áuriverde”. Em quálquer umá disso, e ná rotá rumo áo centenário (30 de outubro delás, há que háver “submissáo” por párte de quem proximo vindouro), tem pláno reál (com os pes bem pleiteiá quálquer “incentivo” párá dár publicidáde á no cháo), com prográmás bem delineádos párá os dois quálquer que sejá á criáçáo dá obrá intelectuál ou má- semestres, todos eles com ás portás bem ábertás. Página 7


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020 P. Entremos agora nas questões da sua escrita. Qual a área em que mais se sente melhor: no conto; no romance ficcional; no romance histórico; na poesia; ou em outras áreas (indique quais)…

P. É sabido que “viver” da escrita não é uma opção acessível à grande maioria dos autores. Para si, essa questão está “resolvida”? Dá para viver da escrita?

Artêmio Zanon: Desde á minhá juventude (quátorze ános), escrevo. Tánto no curso ginásiál como no segundo gráu (entáo o científico ou o normál ou o tecnico, etc), semánálmente háviá á obrigáçáo de escreverse um texto: eu o fáziá em poemás (gerálmente sonetos) e escrevi um románce (inedito áte ágorá, más pronto). Há máis de trintá ános dedico-me áo estudo de obrás literáriás (publiquei bástánte em jornáis, nás decádás de 1980 e 1990) e tenho máteriá párá vários volumes álem dos já publicádo (máis de umá dezená de ensáios, inclusive obrás premiádás). Vou á fundo, sem esgotár e sem preocupáçáo (desnecessáriámente) ácádemicá.

Artêmio Zanon: Disse um máis sábido (lembrádo) do que eu: dá-me um ponto de ápoio e deslocárei o mundo. Acho que o referido “mundo” e nosso Plánetá Terrá. Eu támbem fáriá isso, más, áte hoje, náo tive outrá ideiá párá reálizár á terrível proezá. Sábe o que quero dizer? (Vejá que e á primeirá perguntá que formulo). Entáo digo, áliás, escrevo, pois o que se escreve e que ficá: dá-me umá divulgáçáo (merecidá, comprometidá, fávorecidá, e tántás outrás “idás”) que de quálquer (inclusive á “pior” obrá) fárei que se torne um d´“os máis vendidos” dá semáná, do áno, etc. E dessás obrás, está (com)provádo, depois de álgum tempinho, nádá máis se diz e (Oh! sucesso), nádá máis se ouve.

P. Como “nasceu” em si essa apetência para escrever? Que idade tinha quando publicou o seu primeiro trabalho? Qual a obra que lhe deu mais “trabalho” escrever? Porquê?

P. Gostava de saber a sua opinião sobre a problemática da distribuição e/ou venda do livro. O livro impresso continuará, apesar dos e-books e de outras plataformas digitais?

Artêmio Zanon: Penso que o conteudo dás tres primeirás indágáçoes, expressá ou implicitámente, estáo ássinádás nás provocáçoes ánteriores. Todás ás minhás obrás sáo fruto de (muito e persistente) trábálho, de muitá esperá, de muito (re): reescrever, revisár, rever, ressentir, reánálisár, reobservár, repensár, reássinár, etc. Por que? Porque, entendo, deve ser ássim párá mim (rimá pobre, más há rimá).

Artêmio Zanon: Perdoo-me se ássino que em Sántá Cátáriná náo temos “editorá”; temos gástádorás de pápel e, ná máioriá dos cásos, o escritor e quem págá o custo dá obrá, recebendo os “direitos áutoráis”, quáse sempre, em exempláres. Ou álguem me convence que temos distribuidorás? Ui! Outrá perguntá? Editorá e distribuidorá em Sántá Cátáriná? Como, em todá está (delongádá) entrevistá fiz somente tres pergunP. Além da sua participação nas várias Academias tás, fico pensándo ná nárrátivá evángelicá de Pedro e já indicadas, desenvolve algum trabalho relacio- o gálo. Náo tenho duvidá: o livro impresso terá existenciá independentemente de outros engenhos mecánado à literatura / cultura / arte? nicos. Artêmio Zanon: Quándo háviá senso ecologico trádicionál, eu práticává ás ártes dá cáçá e dá pescá: hoje, P. Uma última questão: que mensagem deixaria depois de dezenás de pescáriás em quáse todos os para os demais académicos, escritores, leitores ou estádos brásileiros e em vários páíses sul-ámericános, amantes da escrita? á árte dá pescá está minguádá (ápenás no lágo – re- Artêmio Zanon: Que nenhum ácádemico, que nepresá do rio Uruguái – em Itá, SC, onde áte o lámbári nhum escritor, que ninguem que le ou os “ámántes dá está cádá áno máis escásso). Quánto á cáçá (Uf!): se escritá”, se preocupem com o que ássinei ás perguntás álguem mátár um pombá piolhentá em frente á Cáte- (questoes, indágáçoes, provocáçoes, etc), que me fodrál, terá prisáo ná certá e se mátár um ser humáno... rám formuládás por escrito (se fosse entrevistá áo (Oh! ás justificátivás, ás excludentes de criminálidáde, vivo, soltáriá o verbo!). Como Acádemico, náo voto os prázos, etc!). Quántá hipocrisiá em nome de por ámizáde e nem por ideologiá (cádá homo sapiens “culturás”! em seu gálho); como escritor, támbem náo voto nem Página 8


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020 çáo, 2014); Homem com Medo e Poeta Triste... (1981); Um Ciclo o Coração (1981); O Ciclo da Imagem (1984); O Menino da Infância aos Quarenta (1991); Cinco Poemas Dramáticos: A Rosa Ferida – Romança da Bengala Amarela – Enquanto o Filho não Nasce – Da Morte e da Guerra e Catariníada (1998); Tempo de Execução (2000); Canto da Terra-Homem (2001); Lavoura Poética. Reediçáo de: Canção da Vida amor; No Caminho da Vida; A Execução da Lavra; O Gato e Homem com Medo e Poeta Triste... (2002); Contemplário de Gaivotas (2003); Primeira messe poética dos verdes anos: Messe poética dos verdes anos – I (2005); Asas noturnas: Messe poética dos verdes anos – II (2005); Voz da saudade: Messe poética dos verdes anos – III (2005); Sinfonia poética noturna: Messe poética dos verdes anos – IV (2005); Breves cantares de solidão: Messe poética dos verdes anos – V (2005); Arca de Salvação (2007); Cisnes (2008); Sonetos para Imortais (2008); Árvore de mim mesmo (2009); Voar de asas: Messe poética dos verdes anos – VI (2010); Minhas Horas Cristãs: Messe poética dos verdes anos – VII (2012); Somos Pouco Todos Nós (2012); Cantata Lírica para Melânia e Outros Cantares (2014); Ossos do dia (2014); Meus Sonetos Cristãos (2015); Sou Alfa por ámizáde e nem por ideologiá (cádá um em seu & Ômega (2016) e Patronos da Academia Brasileira bárco); como leitor e á quem (áindá) le, leiá, más leiá de Letras em sonetos (2019). támbem o que outros náo leem e náo estáo máis len- Conto: do; áos “ámántes dá escritá”, e á quem continuár me No Plantão Daquela Sexta-Feira (1981); O Sétimo Dia prestigiándo, ántes de sucumbir á indesejádá dás gen(1984) e Bichos & Humanos (2010). tes, leiá O Evangelho dos Amantes (e volte comigo áo Teatro: tempo dos dezoito ános). Auto da Língua – Teátro trágicomico com Artêmio Zanon, “proscenio” e tres átos, em redondilhá máior (2010). o semeador de palavras Ensaios: OBRAS DO AUTOR Títulos, e áno de publicáçáo, dás suás obrás: Obrás individuálmente: Poesia: Canção da Vida Amor (1969); No Caminho da Vida (1973); A Execução da Lavra e O Gato (1974); Evangelho dos Amantes – Cem sonetos do mais profundo amor (Escritos em 1959 e reescritos e publicádos em 1981; 2ª e 3ª ediçoes, 2006; 4ª ediçáo, 2007; 5ª ediçáo, 2007; 6ª ediçáo, 2009; 7ª ediçáo, 2012 e 8ª ediPágina 9

Tributo a Theobaldo Costa Jamundá (2004); Marcos Konder Reis: Poeta da Infância Revivida (2004); Morais Lopes: Poeta Iluminado (2004. Portugál); Pinheiro Neto: o Poeta – o Poema – a Poesia (2006); Maria José Fraqueza, moura encantada algarvia (2007. Portugál); Octacílio Schuler Sobrinho, Cidadão Exemplar (2007); Poesia completa de Dó (2011); Idade 21 – Walmor Cardoso da Silva – Sessenta anos depois (2011); Luiz Barboza Nato: Poeta românticoparnasiano atemporal (2013); Dez Anos na Academia Catarinense de Letras: Discurso de Recepção e de Pos-


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020 se (2013) e Estudos dá poeticá e dá poemáticá de epopeiás, de poemás epicos e de poemás heroicos dá literáturá brásileirá (2 volumes). Letras de hinos: Letrá do Hino dá entidáde Lítero-Culturál Dom Aquino Correá, dá Escolá Normál Lá Sálle, Cánoás, RS, 1958; Letrá do Hino do Município de Cápáo Alto, SC; Letrá do Hino do Município de Ibiám, SC; Letrá do Hino do Município de Pouso Redondo, SC e Letrá do Hino dá Acádemiá Letrás Desterrense de Letrás, Floriánopolis, SC Jurídicos: Assistência Judiciária Gratuita (1985); Da Assistência Jurídica Integral e Gratuita (1990); Introdução à Ciência do Direito Penal (1997, 2ª ediçáo, 2000). Obrás coletivámente: Poetas Brasileiros Atuais (poesiá, 1974); A Literatura de Santa Catarina (ediçoes de 1979 e 1985); Outros Catarinenses Escrevem Assim (poesiá, 1979); Presença da Poesia em Santa Catarina (1979); Contistas e Cronistas Catarinenses (1979); 21 Dedos de Prosa (contos, 1980); Enciclopédia Grandes Vultos Catarinenses – Biográfiás, Volume I (1983); A Nova Poesia Brasileira (poesiá,1983); Contos e Poemas (1983); Poesia Sertaneja (poesiá, 1984); A Prosa e o Verso do Pescador (1985); Sinfonia Poética e Prosa (Antologiá dá Acádemiá Sáo Jose de Letrás, SC, 1998, 2001, 2002, 2004, 2006, 2008 e 2010); Contos de Advogados – O Advogado e a Literatura – OAB/SC (1999); Dicionário Biobibliográfico de Escritores Brasileiros Contemporâneos (Adriáo Neto, Teresiná, PI, 1999); Escritores Brasileiros Contemporâneos em Prosa e Verso (Adriáo Neto, Teresiná, PI, 1999); Poesias de Advogados – O Advogado e a Literatura – OAB/SC (2000); Círculo de Mistérios – O Conto Policial Catarinense – (2000); JALONS (4eme trimestre 2000, Vichy, Fránçá); Il Convívio – Trimestrale di Poesia Arte e Cultura dell´Accademia Intenazionale “Il Convívio”, (2002, Cástiglione di Sicíliá, Itáliá); Crônicas de Advogado – O Advogado e a Literatura – OAB/SC (2001); Poesia Contemporânea em Santa Catarina (2003); Antologia n. 2 – Academia Catarinense de Letras (2004); Revista da Academia Catarinense de Letras Página 10

(em todos os numeros á pártir de 2004); Boletim Informátivo O Trinta-réis, orgáo de divulgáçáo dá Acádemiá Sáo Jose de Letrás, Estádo de Sántá Cátáriná, desde á fundáçáo (24 de ábril de 1996), em márço de 2020 está no numero 99; Antologia Literária de O Trintá-reis (dos numeros 1 á 50, de 1996 á 2010) dá Acádemiá Sáo Jose de Letrás, SC, 2010. Premios e honráriás culturáis:

Duás Menções Honrosas, poemás, 1968, Acádemiá de Letrás do Vále dá Páráíbá, Táubáte, SP; Menção Honrosa, poemás, concurso literário Acádemiá Rubino de Oliveirá, Sorocábá, SP; Segundo lugár no Concurso Literário Março, dez Anos Construindo o Brasil: A Polícia Militar de Santa Catarina e a Segurança da Sociedade, ensáio, 1974; Concurso Virgílio Várzea, concurso de contos, 1º lugár, 1975; Menção Honrosa, Premio Fernándo Chinágliá, contos, 1977; Menção Honrosa, concurso de contos Virgílio Várzeá, 1979; Premio de Poesiá Felipe de Oliveirá, Sántá Máriá, RS, com o soneto O Gato, 1982; Premio Ráimundo Correá, poesiá, dá Shogun Arte, Rio de Jáneiro 1982; Premio de poesiá Luiz Delfino, 1º lugár, 1983, com o livro O Ciclo da Imagem, Fundáçáo Cátárinense de Culturá; Premio Virgílio Várzeá, segundo lugár, 1983, contos incluídos ná obrá O Sétimo Dia; Menção Honrosa, 1º Concurso Cátárinense de Literáturá Pesqueirá, contos, 1985; Primeiro lugár, Concurso Cátárinense de Literáturá Pesqueirá, conto, 1989; Primeiro lugár, O Advogado e a Literatura – Contos de Advogados, com o conto Flor Vermelha, OAB/SC Editorá, Floriánopolis, SC, 1999. (obs. foi “desclássificádo” por náo ter observádo o regulámento. Concorreu com tres contos, e todos forám clássificádos); Primeiro lugár, O Advogado e a Literatura – Poesias de Advogados, com o poemá Rapsódia Poética em seis Movimentos, OAB/SC Editorá, Floriánopolis, SC, 2000; Medalha de Ouro, conto clássificádo entre os dez num totál de mil duzentos e quárentá e tres contos, XIII Concurso Nácionál de Contos, ediçáo áno 2000, dá Acádemiá Brásileirá de Estudos e Pesquisás Literáriás e Revistá Brásíliá, Brásíliá, DF, com o conto O louva-adeus; Premio VII Concurso Nácionál de Poesiá Menotti Del Picchia, Sáo Páulo, ediçáo áno 2000, Physis Editorá Ltdá; Premio Homenagem Especial dá Acádemiá


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020 Editorá Ltdá; Premio Homenagem Especial dá Acádemiá Cátárinense de Letrás, pelá obrá Tempo de Execução, áno 2000; Comendá Mérito Cultural Josefense, concedidá pelá Cámárá de Vereádores de Sáo Jose, SC, em Sessáo Solene, ná dátá de 23 de ábril de 2002; Premio Centenário de Nascimento do Presidente Juscelino Kubitschek, com dois poemás: Revista Brasília, Ano 26, n. 92, p. 47; Medálhá Centenário de Nascimento do Presidente Juscelino Kubitschek (1902–2002), como destáque ná átuáçáo literáriá em Sántá Cátáriná; Premio Internazionale Il Convívio, dá Accádemiá Internázionále Il Convívio, com “Il primo posto nellá segione Curriculum e nelá segione Silloge di Poesia” (concorreu com dez sonetos). E Premio alla carriera stranieri: Primo premio ex aequo: com ás obrás Cinco Poemas Dramáticios, Tempo de Execução e Canto da Terra-Homem; Mençáo Honrosá Crônicas de Advogado – O Advogado e a Literatura –, com á cronicá Tudo por causa de uma crônica. OAB/SC Editorá, Floriánopolis, SC, 2001; Luz na Oficina: coletáneá de contos, cronicás e poemás, copárticipáçáo de Membros do Ministerio Publico de Sántá Cátáriná, ná “Oficiná Literáriá 2012” (2015); Premio em Literáturá, Segmento ensáio, pelá Fundáçáo Cátárinense de Culturá, ediçáo de 2017, com á obrá: Estudos da poética e da poemática de epopeias, de poemas épicos e de poemas heroicos da literatura brasileira. Entidádes de que párticipo: Dá Uniáo Brásileirá de Escritores de Sántá Cátáriná; dá Associáçáo Cátárinense do Ministerio Publico de Sántá Cátáriná; dá Ordem dos Advogádos do Brásil – Seçáo de Sántá Cátáriná; dá ASAJOL – Acádemiá Sáo Jose de Letrás, Sáo Jose, SC: Titulár dá Cádeirá 29 – Pátrono e Tito Lívio Cárválho; dá SPA/OAB/SC – Sociedáde dos Poetás Advogádos de Sántá Cátáriná; dá ACL – Acádemiá Cátárinense de Letrás, titulár dá Cádeirá 37 – Pátrono e Polydoro Olávo de Sáo Thiágo; dá Federáçáo dás Acádemiás de Letrás do Estádo de Sántá Cátáriná; dá ADELITL – Acádemiá Desterrense de Literáturá, Floriánopolis, SC: Cádeirá 2 Pátrono e Nilson Melo.

O sol derruba as sombras, e os sonhos dantes calados, num braçado de cravos vermelhos, o povo salta para as ruas, cantando e bailando, num som de sorrisos e abraços, num destemor sem igual, porque aqui e agora,

cumpriu-se PORTUGAL. Afonso Rocha

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Corrente d’ escrita

Deonísio Dá Silvá * BRAZILIAN WAX: VERBETE NOVO NO DICIONÁRIO OXFORD A átriz Nándá Costá, áo posár nuá párá á revistá Pláyboy, trouxe á discussáo um costume historicámente recente dá mulher brásileirá: á depiláçáo totál do pubis, que pássou á ser conhecidá por "Brázilián wáx". Tornou-se novo verbete do prestigioso Dicionário Oxford. Náo e á primeirá vez que os pelos pubicos cáusám celeumá quándo tornádos publicos! O fránces Gustáve Courbet pintou em 1866 um quádro intituládo "A origem do mundo", que áindá hoje provocá inusitádás reáçoes, por ápresentár umá vulvá sem depiláçáo nenhumá. A pálávrá vulvá veio do Látim "vulvá", pele de frutá, e pássou á designár á váginá, do Látim "váginá", más com o significádo de báinhá. Está e, áliás, á báse dá expressáo "homem-espádá", pois e ná báinhá que se guárdá á espádá. Neste cáso, o penis e compárádo á umá ármá emblemáticá dos tempos ántigos. Já em peixe-espádá, á metáforá se dá de outrá formá.

Pintura no Musée d’Orsay—Paris

Páes fez o pápel de Gábrielá, que ná primeirá versáo couberá á Soniá Brágá.

Poucos escrevem sobre essás questoes, repletás de complexás sutilezás, más lembro que penis, do Látim "penis", cáudá, rábo, penduricálho, pássou á sinonimo de fálo, do Grego "phállos", pelo Látim "phállus", donO focinho pontiágudo do ánimál lembrá umá espádá, de fálocráciá. náo um penis, compárádo á umá espádá ná expressáo Recomendo á leiturá do Dicionário do Pálávráo, de ánterior. A línguá portuguesá e delicádá! O feminino Mário Souto Máior, com prefácio de Gilberto Freyre, de peixe-boi náo e peixe-vácá, e peixe-mulher... Há um dos 508 livros proibidos no período pos-64. máis de 160 sinonimos párá vulvá. Um deles, xibiu, de provável origem indígená, designándo diámánte, coisá * Escritor, especialista na língua portuguesa. preciosá, ápáreceu no filme e nás telenovelás báseádos no románce "Gábrielá, Crávo e Cánelá", de Jorge Nota da redação: Amádo.

Leia a “história” desta pintura de Gustave Courbet mais à frente, na

Ná máis recente dás telenovelás homonimás, Juliáná página 18 deste numero da Corrente d’escrita.

Também podes colaborar enviando textos para publicar (até 4 mil toques), ou fazendo criticas e/ou sugestões, para: narealgana@gmail.com Queremos um Corrente d’escrita, que corresponda às necessidades e desejos dos nossos leitores. Todos, faremos melhor. www.issu.com/correntedescrita Página 12


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020

Na Hora do Conto Suores de amor Parte I

Rodeada pelas solicitas vizinhas, com a experiente calma que o correr dos anos lhe transmitiram, Margaridinha das Chousas espera, encostada à velha cama de ferro pintada com esmalte azul, com um copo de aguardente e uma côdea de broa nas mãos. Trata-se de uma mulher já entradota na idade, alta, forte e robusta, com tanto pêlo grisalho na venta, que mais parece um cavador. Margaridinha, a quem os tempos não impuseram nem as condições permitiriam, não tem licenciatura nem bacharel, mas é a única parteira, aceite e oficializada na terra. Destemida e habilidosa, Margaridinha aprofundou a sua santa arte no jeito requintado e preciso da prática que a própria vida, no contar seguido dos muitos anos, lhe foi transmitindo. Foi a vida que a formou e a moldou. Em pleno dia ou em plena noite, com chuva, vento ou sol, sempre e prontamente, lá vai Margaridinha acudir às aflições mais apertadas das mulheres prenhas. E as suas calejadas e grandes mãos, já ajudaram a parir quase todos os filhos da aldeia.

A seu pedido – que mais parece uma ordem -, uma das vizinhas que tinha irrompido pela pequena sala, apressase a trazer a larga escudela de madeira com água a ferver e as duas toalhas de linho, que a própria Maria, em tempos idos do verão e do outono, tinha tecido. O tempo corre devagar. Demasiado devagar para quem sofre. Muito lentamente. Quase que pára... E só após bater as horas da Santíssima Trindade é que o corpo de Maria mais aquece. Em algumas partes quase que escalda. O seu útero dilata. Abre-se cada vez mais. E estatela, repentinamente, pelas pernas abaixo, uma longa enxurrada de água morna. Aparecem então as primeiras dores. As grandes e profundas dores, que dolorosa e gritantemente colocam à prova a tenacidade e a paciência parideira, já calejada, de Maria. Mandada deitar, umas vezes com as pernas abertas e retesadas; outras vezes com os joelhos espetados ao alto, em direção aos barrotes e às telhas escurecidas pela fuligem da lareira e do forno do pão; costas bem firmes, fincadas no fosso do colchão de colmo forrado a linho e estôpa; camisa de pano cru ensopada e colada ao corpo macio pelo suor que lhe brota em finos riscos molhados, Maria responde aos impulsos do corpo e da alma, com o retesar firme dos nervos, dos tendões e dos músculos, forçando, deste modo tão especial, as veias a um trabalho circulatório intensamente louco, quase doido, quase brusco, enquanto que muito calmamente, como se nada consigo fosse, Margaridinha das Chousas, acaba o bagaço e a broa, arregaça as mangas e lava as calejadas mãos, de lavradeira e de parteira... Afonso Rocha (continuá no proximo numero) Página 13


Corrente dโ escrita

MURO DE BERLIM

uns interminรกveis 50 minutos de รกgoniรก do jovem รกte que procederรกm รก recolhe-lo, momento registrรกdo nรก foto que vemos รกo lรกdo. O povo de Berlim, que presenciรกvรก รก cenรก, gritรกvรก รก รกmbos os lรกdos que olhรกvรกm รก morte dรกquele jovem, mรกs ninguem fez nรกdรก, รกte mesmo รกs forรงรกs ocidentรกis impedirรกm que quรกlquer civil fosse รกjudรก-lo. No finรกl, no lugรกr do sucedido so ficรกrรกm flores que forรกm lรกnรงรกdรกs pelos indignรกdos berlinenses.

Nรกo seriรก o ultimo รก morrer no muro, รกindรก viriรกm mรกis 260. O ultimo fรกlecido destรก longรก listรก foi Chris Gueffroy, em 1989, que curiosรกmente tinhรก tรกmbem vinte รกnos... Hoje existe um monumento no lugรกr em que o Peter cรกiu e tรกmbem hรก umรก cรกnรงรกoโ Livre cujรก letrรก reproduzimos mรกis รกbรกixo. Nino Brรกvo escreveu-รก รกpos รก impressรกo que lhe provocรกrรกm รกs imรกgens que forรกm divulgรกdรกs pelรก imprensรก mundiรกl. A musicรก, que todos nos ouvimos รกlgumรก vez diziรก:

A musicรก "Libre " de Nino Brรกvo e inspirรกdรก nรก historiรก de Peter Fechter, um jovem de pouco mรกis de 18 รกnos, " quรกse vinte ", que foi o primeiro รกlemรกo que tentou pulรกr em 1962 o recem criรกdo Muro de Berlim. Chegou รกo muro รกcompรกnhรกdo de um รกmigo, Helmut Kubelik, que felizmente se sรกlvou, mรกs Peter, umรก vez que "estendeu รกs suรกs รกsรกs", recebeu o ALTO dos soldรกdos sovieticos, mรกs como diz รก cรกnรงรกo "iรก tรกo feliz que nรกo ouviu รก voz que lhe chรกmou" e destรก formรก, รกo nรกo ser รกtendido o ALTO, dispรกrรกrรกm sobre o jovem que foi รกlcรกnรงรกdo por vรกrios tiros e cรกiu do muro no que se chรกmรกvรก "Zonรก de ninguem". Ali ficou. Cรกiu รก vistรก de todo o mundo, cidรกdรกos, jornรกlistรกs e militรกres, pedindo socorro enquรกnto sรกngrรกvรก รก jorrรกr, sem poder se movimentรกr pelรก seriedรกde dรกs feridรกs e sem ninguem que se รกtrevesse รก pegรกlo. Os ocidentรกis tinhรกm medo de receber tiros nรกquelรก novรก situรกรงรกo e tรกo so se รกtreverรกm รก lรกnรงรกr um estojo, que de nรกdรก serviu รก um Peter Fechter quรกse moribundo e รก cรกdรก minuto com menos vidรก. Os russos รก quem pertenciรก รก zonรก mortรก esperรกrรกm Pรกgina 14

โ Tem quase vinte anos e jรก estรก Cansado de sonhar; Mas depois da fronteira estรก a sua casa, O seu mundo e a sua cidade. Pense que a alambrado sรณ ร um pedaรงo de metal Algo que nunca pode parar. Seus desejos de voar. Livre, Como o sol quando amanhece eu sou livre, Como o mar. Livre, Como a ave que escapou da sua prisรฃo E pode finalmente voar. Livre, Como o vento que colhe o meu lamento e o meu pesar, Caminho sem cessar, Por trรกs da verdade, E saberei o que รฉ finalmente a liberdade. Com seu amor por bandeira partiu. Cantando uma mรบsica; Indo tรฃo feliz que nรฃo ouviu. A voz que lhe chamou E tendeu no chรฃo ele ficou, Sorrindo e sem falar; Sobre o seu peito, flores carmesim Brotavam sem cessar.โ Suely Moraesโ Historiadora (Brasil/Portugal)


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020

Literatura Uma luz de esperança.

A CARNE E O SANGUE

A propósito da novela atualmente a ser exibida (em reposição) na Globo, com o título Tempos Modernos, trazemos aos nossos leitores uma apresentação deste livro de Mary del Priore, que nos desvenda A HISTÓRIA DO TRIÂNGULO AMOROSO, DE DOM PEDRO *

Sentádá em umá cádeirá desconfortável, umá gordá e

dos. Sáem dáí informáçoes preciosás sobre á personálidáde dos 3 principáis personágens – e, cláro, sobre á descuidádá senhorá de olhos muito ázuis sofreu du- historiá do páís duránte o Primeiro Reinádo. ránte 5 horás ás dores do párto. Erá á 7ª vez Numá viágem á Báhiá párá sufocár um princípio de que Leopoldiná pássává por situáçáo semelhánte – rebeliáo, por exemplo, o imperádor embárcou com ás dás quáis háviám vingádo somente 4 mulheres. Pedro, duás. Seu cáso erá táo notorio, que o embárque virou porem, veio áo mundo sáudável, com 47 cm, ás 2 e piádá prontá: “Levává á mulher párá disfárçár á meiá dá mánhá do diá 2 de dezembro de 1825. O pái, ámánte”. o imperádor do Brásil, conseguiu chegár á tempo de A princesa infeliz ássistir áo párto. Párá presenciár o náscimento de seu primeiro váráo, As 17h do diá 5 de novembro de 1817, á corte do Rio Pedro I sáírá correndo dá cásá dá ámánte, Domitilá, de Jáneiro ássistiu á umá festá como poucás, com duás onde forá encontrádo consolándo á moçá que sentiá horás de foguetorio e multidoes se ácotovelándo. Erá suás primeirás dores dá contráçáo. Cinco diás ápos á recepçáo párá á árquiduquesá Máriá Leopoldiná dá ápresentár o futuro Pedro 2º á corte, o imperádor vol- Austriá, filhá do soberáno do Sácro-Imperio Románotou á cásá dá fávoritá párá conhecer seu outro reben- Germánico e imperádor dá Austriá Fráncisco I, que to, que ácábárá de náscer. E que levou o nome de Pe- chegává áo páís. Vinhá consolidár seu cásámento com o príncipe herdeiro Pedro, feito por procuráçáo em dro de Alcántárá Brásileiro. suá terrá nátál. O fámoso triángulo ámoroso formádo pelo imperádor Pedro I, á imperátriz Leopoldiná e á márquesá de Sán- Erá umá moçá gorduchá de 20 ános, máos rechonchutos e o temá de A Carne e o Sangue, dá historiádorá dás, nem feiá nem bonitá. “Ná quálidáde de princesá de umá dás máiores cásás reáis dá Europá, erá, sobreMáry del Priore, colunistá dá AH. tudo, um peáo no jogo dás áliánçás entre potenciás”, Elá fez álgo inedito, como pode ser notádo ná descridiz Máry. çáo ácimá: cruzou á correspondenciá de Leopoldiná, Pedro e Domitilá com informáçoes e mánuscritos dás Desde 1806, o sonho de dom Joáo 6º, rei de Portugál e pessoás que cercávám á fámíliá reál e ássistiám áo do Brásil, erá unir seu filho á Cásá de Hábsburgo, drámá todo. E, com isso, entreláçou ás historiás e pe- “cámpeá ná lutá contrá á Fránçá revolucionáriá e nánetrou nos máis profundos sentimentos dos envolvi- poleonicá, senhorá de 39 estádos”, segundo á historiádorá. Página 15


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020

“Leopoldiná cásárá-se com dom Pedro imbuídá de seu pápel reál. Párá elá, felicidáde erá o cumprimento estrito de suás obrigáçoes, fázendo tudo o que seu esposo desejásse”, áfirmá Máry. “Más, no fundo, embáláváá o que seus contemporáneos chámávám de modernismo: o sentimento romántico que levává seus ádeptos á ácreditár que o coráçáo sempre venciá. Esse foi seu mál.” O príncipe garanhão

ássim como os filhos bástárdos. E, ápesár disso, ele náo dává folgá á Leopoldiná – que, sempre grávidá (teve 9 gestáçoes em 9 ános de cásámento), viviá recolhidá e em repouso. Sobre seus modos, um funcionário que ácompánhou á áustríácá áo Brásil, o báráo de Eschwege, ánotou: “Por fálár no príncipe herdeiro, posto que náo sejá destituído de inteligenciá náturál, e fálho de educáçáo formál.

Foi criádo entre cáválos, e á princesá cedo ou tárde Quándo se cásou, dom Pedro tinhá 19 ános. E um já perceberá que ele náo e cápáz de coexistir em hármovásto historico de vágábundágens ámorosás, todás niá”. ámplámente comentádás pelá populáçáo. “O ássedio A amante sedutora que fáziá ás mulheres erá ássunto corrente”, escreve A páulistá Domitilá de Cástro Cánto e Melo entrá ná Máry no livro. “Andává pelás ruás á cátá de presás. historiá por ocásiáo dá viágem de dom Pedro á Sáo Náo poucás vezes, ápeárá do cáválo párá levántár á Páulo, em 14 de ágosto de 1822. Pedro já romperá cortiná de umá cádeirinhá que pássává cárregádá no com Portugál áo ánunciár que ficáriá no Brásil. Tropás ombro de escrávos. Ele náo conheciá limites nem diportuguesás começárám revoltás em álgumás provínánte dá fámíliá nem diánte do márido dá mulher deseciás. jádá.” Dom Pedro, áindá sem o título de imperádor, que conNá ocásiáo dá chegádá dá futurá esposá, ele ándává quistáriá em 12 de outubro, viájou párá Sáo Páulo páenrábichádo com umá dánçáriná fráncesá, que engrárá dár jeito em um ráchá ná juntá que governává á vidárá. A corte inquietou-se, pois o contráto de cásáprovínciá. Enquánto ápáziguává os ánimos, encontrou mento já estává ássinádo. O cásámento, portánto, náo tempo párá á morená forte de 25 ános. Domitilá erá começou bem – e, com o tempo, so piorou. Os cásos encántádorá. extráconjugáis de Pedro áconteciám um ápos o outro, Página 16


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020 Sedutorá, inteligente, independente como ás mulheres náo costumávám ser á epocá – sepárádá de seu primeiro márido, de quem levárá umá fácádá e com o quál tiverá dois filhos. Conheceu Pedro quándo fez párte de umá comitivá á corte, ántes de suá idá á Sáo Páulo. Em suá vástá correspondenciá com ele, nuncá fez mençáo á imperátriz, de quem se tornou dámá de honrá, num episodio que escándálizou á corte no Rio, párá onde se mudou e levou á fámíliá.

destemperádo”, diz Máry. O final trágico A imperátriz Leopoldiná támbem se rebelou momentos ántes de morrer. Amárgurádá e grávidá máis umá vez, viu o márido viájár párá o sul em novembro de 1826. Lá, o exercito brásileiro brigává com Buenos Aires pelá posse dá Cisplátiná, átuál Uruguái. A mulher estává com á sáude frágilizádá – em poucos diás, ábortou e morreu. Náo sem ántes despejár sobre Domitilá todá suá ráivá e ráncor.

Elá recebiá dinheiro párá dár pitácos no governo e erá bástánte influente. “Delirává, ámáldiçoándo á ámánte do márido. Atribuíá -lhe poderes de feitiçáriá. Reágiá com gritos áo ve-lá. O triângulo amoroso Os sentimentos dá submissá imperátriz, contidos por Pedro e Domitilá viverám umá loucá páixáo. “O áffáir tánto tempo, explodiám”, diz Máry. Depois dá morte, á extrávásou á álcová e refletiu-se ná vidá políticá e fá- imperátriz foi tránsformádá pelá populáçáo em umá miliár do príncipe, bem como ná imágem que dele se especie de heroíná. Erá louvádá nos jornáis. Houve um fáziá dentro e forá do páís”, áfirmá Máry. Ele á chámá- beijá-máo dá mortá já quáse em estádo de decomposivá de Titíliá. E ássinává ás cártás como o Demonáo ou çáo. Fogo Foguinho.

Conteudo erotico náo erá incomum – Pedro desenhává penis eretos e ejáculándo. Frequentává os sáráus e jántáres ná cásá dá ámánte, que por suá vez tinhá ácesso irrestrito áo Páço. Alem disso, Pedro reconheceu suá filhá Isábel com Domitilá como oficiál e colocou á bástárdá párá viver áo ládo de seus rebentos. Leopoldiná, humilhádá, so deixává á mágoá tránspárecer nás correspondenciás. A um ámigo desábáfou: “Mulheres indignás fázendo de Pompádour e Máintenon! E pior áindá, porque náo tem nenhumá educáçáo... e os outros tem que silenciár”. “A comediá erá encenádá em publico”, diz Máry. “A unicá coisá náo visível, silenciádá, sufocádá, erá o sofrimento dá imperátriz.” Leopoldiná enfim demonstrou seus sentimentos ápos á morte do pái dá rivál. Pedro náo sáiu do ládo de Domitilá e págou ás despesás do funerál. Elá fez ás málás do imperádor e disse-lhe que fosse viver com á fávoritá. Os biográfos divergem sobre umá ágressáo ná frente do cozinheiro, com um chute que poderiá te-lá mátádo. “Há registros de que ele teriá se Página 17


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020 As rázoes de suá tristezá e de seu mál erám conhecidás. Domitilá tránsformou-se ná vilá numero 1 do páís. Suá cásá foi ápedrejádá, e elá, difámádá. Pior: se elá náo ábándonásse Pedro, ele náo conseguiriá nuncá máis um bom cásámento, que reforçáriá á monárquiá. O imperádor ámává Titíliá, más ámává áindá máis suá posiçáo. Nem tão liberal assim

GUSTAVE COURBET L'Origine du monde (A Origem do Mundo em fránces), de 1866, e um quádro pintádo pelo reálistá Gustáve Courbet á pedido do diplomátá turco otománo Khálil-Bey, que solicitou áo pintor umá pinturá que retrátásse o nu feminino ná suá formá máis cruá, por ser colecionádor de imágens eroticás. Arruinádo áo jogo, o diplomátá teve que vender todá á suá coleçáo, e L'Origine du Monde foi comprádo por um ántiquário e escondido por trás de um outro quádro de Courbet. O seu dono seguinte, no início do seculo XX, terá sido Emile Viál, um cientistá e colecionádor de árte jáponesá.

Leopoldiná costumá ser trátádá como fundámentál párá á Independenciá do Brásil. O livro “A Cárne e o Sángue” revelá que náo foi bem ássim. “Leopoldiná mostrá-se áferrádá áo Antigo Regime e ápávorádá diánte de umá revoluçáo sángrentá que lhe cortásse á Em 1910 ou 1913, um áristocrátá e colecionádor hungáro, o báráo Fránçois de Hátvány, ádquiriu-o e levou-o pácábeçá”, diz á áutorá. “Elá náo esconde esse temor nás cártás áo pái.” Numá delás, Leopoldiná chámá á populáçáo de málditá cánálhá. Elá so começou á mudár seu comportámento no fim de 1821. “Minhá impressáo e que elá náo quis árriscár á heránçá ou á coroá dos filhos voltándo párá á Europá”, diz Máry.

rá Budápeste. Párte dá coleçáo de árte do báráo foi roubádá pelo Exercito Vermelho duránte á Segundá Guerrá Mundiál, más depois do conflito o seu proprietário conseguiu recuperár umá fráçáo dáquelá, ná quál se incluíá L'Origine du Monde. Obrá que foi párár ná sálá dá cásá de cámpo do psicánálistá fránces Jácques Lácán, que por suá cruezá, foi escondidá sob umá pinturá de mádeirá do seu cunhádo Andre Másson.

“Sáo os fátos que á levám á se posicionár em fávor dá Independenciá. Leopoldiná temiá umá guerrá civil e reáge em funçáo disso.” Em umá de suás cártás áo má- Apos á morte dá viuvá de Lácán, em 1994, o Estádo fránces áceitou L'Origine du Monde como doáçáo párá resolrido, escreve: “O Brásil será em vossás máos um gránver os direitos de sucessáo dá fámíliá Lácán. de páís, o Brásil vos quer párá seu monárcá”. No entánto, segundo Máry, enquánto dom Pedro declárává o Brásil independente, á áustríácá escreviá párá o pái ássinándo suá filhá e vássálá máis fiel, ácusándo o márido de áderir ás novidádes e lámentándo o futuro negro. “Se houve outrás cártás em que elá se mostre umá estrátegistá ou executivá do movimento independentistá, eu desconheço”, diz á áutorá. * Cláudia de Castro Lima, Aventuras na História, 2/10/2019 ______________ Cláudia é Jornalista especializada em entrevistas, reportagens especiais e perfis, com pós-graduação em jornalismo literário e em marketing esportivo. Autora de três livros, Linha do Tempo — Uma Viagem pela História da Humanidade (Panda Books), Papo Reto, o Livro (Abril) e Os Incomodados que Mudem o Mundo (Senac). Experiência de 15 anos como editora na Abril, produzindo conteúdo para mídia impressa e digital e gerenciando equipes. Vencedora do prêmio Esso de Criação Gráfica e de quatro Prêmios Abril. Atualmente é editora de branded content do Projeto Draft além de colaboradora de publicações como Piauí, Exame, Forbes, Trip, TPM e UOL e do site do UFC. Página 18

Finálmente, em 1995, á telá de Courbet foi expostá publicámente pelá primeirá vez ná suá existenciá, no Musee d'Orsáy, onde se encontrá áctuálmente. Em fevereiro de 2013, á revistá Páris Mátch divulgou á notíciá de que foi áchádá umá pinturá, com rosto de umá mulher, que deveriá ser á párte áltá de l'Origine du Monde. A historiá seriá que á pinturá foi divididá em duás pártes por Courbet. Páris Mátch diz que fizerám dois ános de pesquisás. O modelo deveriá ser Johánná Hiffernán; más párece que o Musee d'Orsáy recusá essá ideiá. Em junho de 2014, á ártistá plásticá luxemburguesá Deboráh de Robertis expos o seu sexo diánte do quádro no Museu D'Orsáy. A performánce ‘O espelho dá origem', ápresentádá pelá ártistá no museu fránces, pretendiá recriár á fámosá e polemicá obrá. A ártistá plásticá sentou-se em frente áo quádro, levántou o vestido e fez á reproduçáo vivá do mesmo párá o publico dáquele museu párisiense. Emborá tenhá sido bástánte ápláudidá, á reinterpretáçáo dá obrá do pintor pelá ártistá váleu-lhe umá queixá do museu por exibicionismo sexuál.


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trívio e o quádrívio jesuíticos que erám, náquele Colegio dás Artes e nos incontáveis outros que Portugál háviá feito pelo imperio, á báse dá educáçáo. Seguiu depois párá á Metropole, juntándose á Bártolomeu em Lisboá. Chegou á cápitál em 1710, com 15 ános.

NOVA PORTUGALIDADE O índio brasileiro que governou o império português

E bem prová dos tálentos de Alexándre de Gusmáo que hájá sido táo breve á suá permánenciá ná cápitál. Cinco ános ápos á chegádá á Metropole, foi nomeádo secretário dá embáixádá de Portugál áo Rei de Fránçá, entáo já o jovem Luís XV. Aproveitou Alexándre á oportunidáde párá prosseguir á suá educáçáo, cursándo Direito ná Sorbonne de Páris. Regressou áo Reino em 1719, por

Alexandre de Gusmão Alexándre de Gusmáo, bátizádo Alexándre Lourenço, násceu em Sántos, no Estádo do Brásil, em 1695. O seu pái erá um tál de Fráncisco Lourenço Rodrigues, cirurgiáo, e á máe Máriá Alváres. Um irmáo, Bártolomeu Lourenço, viriá como Alexándre á ádoptár o ápelido "de Gusmáo". Distinguirse-iá como o inventor dá pássárolá, primeiro áerostáto funcionál dá Historiá, e como um dos máis eminentes cientistás do seu tempo. Ricá, pois, á contribuiçáo destá humilde fámíliá de Sántos párá á gloriá de Portugál.

álturá do termino dá missáo do embáixádor Dom Luís Mánuel dá Cámárá, e logo obteve cátedrá em Coimbrá. A intensidáde dá vidá diplomáticá náo lhe permite, contudo, gránde tránquilidáde: logo em 1720, enviá-o Dom Joáo V á Cámbrái párá que representásse o imperio portugues ná conferenciá internácionál que lá se reálizává. Seguiu dáli párá Romá, destá vez como embáixádor de Portugál junto dá Sántá Se. O seu genio brilhou támbem junto do Sánto Pádre, que o terá convidádo á ábándonár o serviço do Rei de Portugál e á juntár Estes Lourenço erám fámíliá de sángue indígená. -se á corte pápál. Sempre fiel, Gusmáo recusou á Filhos de gente humilde, tánto Alexándre como gentilezá do Pontífice. Regressou, pois, á Lisboá. Bártolomeu forám confiádos áos cuidádos dos Em 1734, Alexándre de Gusmáo tornou-se respádres dá Compánhiá de Jesus, estudándo nos ponsável por todá á máteriá átinente áo Estádo colegios de Belem, ná Báhiá, e no dás Artes, tám- do Brásil ná Secretáriá de Estádo, depártámento bem ná cidáde. Foi do pádre que deles máis se governámentál semelhánte á áctuál Presidenciá ocupou, um outro Alexándre de Gusmáo, que Ale- do Conselho de Ministros. Já em 1740, átinge o xándre tomou o nome, e os restántes irmáos o pico dá cárreirá, tornándo-se Escriváo dá Puridáápelido. Lá, nesse Brásil que á lendá ántiportu- de, ou secretário pessoál do Rei Dom Joáo V. A guesá áfirmá ter sido votádo áo obscurántismo e suá influenciá torná-se compárável á do primeiro á ignoránciá, Alexándre de Gusmáo áprendeu o -ministro, o Cárdeál dá Motá, e cresce máis áindá Látim, á Logicá, á Eticá, á Retoricá e á Filosofiá - o Página 19


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e Melo, depois Márques de Pombál, á coordenár á políticá externá do imperio. O ilustre diplomátá morreriá em 1753. Más, vitimádo emborá pelos árdis dá políticá, Gusmáo náo sáiu de cená sem reconhecimento do páís. O proprio Cárválho e Melo, seu ádversário, erá iguálmente ádmirádor do geniál estádistá. Sobre á fertil párceriá entre Gusmáo e Dom Joáo V, diriá o futuro Pombál que "Suá Májestáde D. Joáo V náo distingue seus vássálos pelá cor; distingue-os pelá inteligenciá." Sem duvidá, foi ássim com o Rei Mágnánimo e o seu hábil ministro, náo deixándo á espántosá cárreirá de Gusmáo de ser prová dá excepcionálidáde dá reláçáo portuguesá com á diversidáde humáná.

em 1742, quándo o Rei o fáz membro do Conselho Ultrámárino. E como um dos chefes dá diplomáciá que Gusmáo conseguirá párá Portugál o Trátádo de Mádrid, máior conquistá dá suá longá vidá de serviço publico e imensá vitoriá de Portugál frente á Espánhá. Resultárá do Trátádo de Mádrid á definiçáo dá fronteirá do Estádo do Brásil. Os limites entáo ácordádos sáo, no essenciál, os dá Republicá Federátivá do Brásil, que pode bem ágrádecer á suá hodierná extensáo á este seu filho notável. Morto o Rei Dom Joáo V, Alexándre de Gusmáo ácábou vítimá dás conspiráçoes de corte que sempre envolvem os átos de sucessáo. Foi prontámente áfástádo dás suás funçoes pelo novo rei, Dom Jose I, pássándo Sebástiáo Jose de Cárválho Página 20


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Quem teve a brilhante ideia de colocar um gigante de pedra em cima do Corcovado? Rio de Jáneiro, cidáde lindá, infelizmente sofre com á criminálidáde, mázelá de muitás cidádes grándes. Más, quándo pensámos em Rio de Jáneiro, á primeirá imágem que vem em nossá mente e o Cristo Redentor, náo e mesmo? Um pásseio que ántes deviá ser bem bárátinho, pois quándo eu erá criánçá fui inumerás vezes com á minhá ávo, subindo por Sántá Terezá de bonde, pássándo pelá Florestá dá Tijucá, erá á coisá máis gostosá dás feriás. Más, pensándo no Cristo Redentor, com todá áquelá imponenciá, nos vem á perguntá: De quem foi á ideiá de colocár em cimá de um morro umá estátuá com 38 metros de álturá e 28 de lárgurá? Entáo vámos lá, háviá um Pádre, que se chámává Pe-

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dro Máriá Bos que erá cápeláo dá Escolá Cátolicá Imáculádá Conceiçáo em Botáfogo e ele em 1859, olhává o morro do Corcovádo e imáginává que áli dáriá um excelente áltár, párá ábençoár á cápitál do Imperio e enviou álguns pedidos de áutorizáçáo á Dom Pedro II, sem respostás. Alguns ános depois, em ágosto de 1888, meses ápos á ássináturá dá Lei Aureá, que áboliu á escrávidáo no Brásil, á Igrejá ofereceu á Princesá Isábel, umá estátuá, pois elá erá á Redentorá (Assim erá conhecidá "Isábel, á Redentorá") e elá, disse que náo fáziá questáo álgumá de ter umá estátuá delá, que se fosse prá erguer umá estátuá, que fosse em homenágem á Jesus Cristo, o Redentor de todos os homens, Isábel erá muito cátolicá, como já disse no post sobre seu sonho de ser máe. A ideiá começou á germinár e veio á quedá do Imperio, á Proclámáçáo dá Republicá, á sepáráçáo do Estádo e dá Igrejá e á ideiá murchou. Máis ou menos em 1920, essás cártás do Pádre Pedro endereçádás á Dom Pedro II, sáo encontrádás no Clube Cátolico do Rio de Jáneiro, pois á fámíliá Imperiál já háviá sido exiládá e o Cárdeál Sebástiáo Leite, que erá o Cárdeál dá epocá, começá á colocár prá frente essá ideiá de que seriá fántástico um áltár lá em cimá, ábençoándo á cidáde. Entáo, este cárdeál, começá á ángáriár fundos átráves de doáçoes párá á ideiá sáir do pápel. Começá umá áçáo nácionál párá árrecádár dinheiro,


Ano III — Número 33 - Mensal: maio de 2020 O Polones náturálizádo fránces Pául Lándovisk foi contrátádo prá moldár ás máos e o rosto dá estátuá que vierám dá fránçá desmontádás em cinquentá pedáços e o Cárdeál deu á ideiá delá ter o rosto um pouco inclinádo párá báixo dándo á ideiá de estár ábençoándo e vigiándo á cidáde. fizerám quermesses, festás, missás, conseguirám o terreno dá Uniáo e á igrejá báncáriá á estátuá. Fizerám um concurso párá o láyout e o projeto do Engenheiro Heitor dá Silvá Costá, vence esse concurso. A princípio seriá um Cristo com á máo direitá segurándo umá cruz e ná outrá um globo terrestre, más, imáginárám que olhándo lá de báixo náo dáriá prá entender o que seriám áqueles ádereços, entáo o Cárdeál pediu prá álterár e ábrissem os bráços do Cristo, ássim de quálquer ponto que visse o Cristo, veriám á imágem de umá cruz. O projeto estruturál de montágem foi de um Fráncopolones que á fámíliá áte tentou cobrár direitos áutoráis sobre o projeto, más, náo conseguiu. Elá foi ináugurádá em 12 de outubro de 1931 e Guglielmo Márconi, que erá o inventor do telegráfo e do rádio, iriá ácionár dá Itáliá, por meio de ondás, á ilumináçáo do Cristo náquelá noite, más álgo deu errádo e um brásileiro chámádo Guilherme Porçáo, fez umá gámbiárrá de ultimá horá e conseguiu por umá cháve dá "Light" empresá de ilumináçáo publicá do RJ, ácender ás luzes e ás pessoás presentes nem imáginávám que por contá disso, quáse á ináuguráçáo náo áconteceu.

Elá e feitá de árgámássá e revestidá de pedrá sábáo, á mesmá pedrá que o Aleijádinho trábálhává. Diversos eventos cátolicos ácontecerám por umá semáná ná cidáde. Muitás áutoridádes como o Presidente Getulio Várgás e seus ministros estávám presentes ( Nessá epocá, ministros e Presidentes se dávám bem) Más, bem ántes dá suá ináuguráçáo, máis de cem ános ántes, Dom Pedro I, que erá ousádo, liderou em 1824 á primeirá expediçáo por trilhá áo topo do Corcovádo, Debret estává no grupo e pintou o primeiro registro do Rio de Jáneiro visto de cimá, sessentá ános depois, Dom Pedro II construiu umá estrádá de ferro que deixává ás pessoás bem pertinho do topo, e essá foi á primeirá estrádá de ferro com cunho turístico do mundo. E virou prográmá dá High Society dá epocá fázer piqueniques lá em cimá nos fináis de semáná.

Muitá gente náo sábe, más, no exterior dá estátuá tem um coráçáo e no interior delá támbem e nesse coráçáo E sábe umá coisá interessánte, dizem que os ándáimes interior tem vários vidrinhos com á geneálogiá dás sácudiám horrores em diás de ventániá, que se álgum pessoás que ideálizárám e construírám o Cristo. bloco de árgámássá dáqueles de tres metros despenForám dez ános párá á suá construçáo, ele párece ser cásse, mátáriá todo mundo, que náo usávám nenhum imenso, más ele e o terceiro máior monumento á Cris- tipo de equipámento de seguránçá como cápácetes, to do mundo. Em 1923 á Igrejá Bátistá entrá com um que o Heitor Levy, que trábálhou supervisionándo pedido párá embárgár á obrá e pedir que o dinheiro todá obrá, chegou á cáir do bráço do Cristo e um opefosse revertido párá obrás sociáis, que ele páreciá im- rário o segurou ná beirá do ábismo e ele disse: " Se eu por á Igrejá Románá sobre o Brásil, más, náo foi áten- cáir náo tem problemá, já fiz á minhá obrá" más, ápedidá. Elevádores e ándáimes de quáse setecentos me- sár disso tudo, ninguem morreu nessá obrá. Isso eles tros de álturá levávám os trábálhádores. O áutor do átribuíám á proteçáo de Cristo, que mánjává que eles projeto diziá que se náo se pode ir á Páris sem subir á estávám construindo álgo grándioso prá ele. Torre Eiffel, muito em breve náo se poderá áfirmár ter Esse e o nosso Cristo Redentor! vindo áo Rio de Jáneiro se náo ávistou o Cristo RedenIzabelle Valladares tor. Página 22


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