Corrente d'escrita 37

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Ano III — Número 37 - Mensal: setembro de 2020

Corrente d’Escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil

www.issuu.com/correntedescrita

(página 23)

Formação do estado

de Israel Veneza, em tempo de pandemia

(página 18)

Ler, pág. 4 a 8

MARCIA CRISTINA FERREIRA

Be nzedeiras De florianópolis

Páginas 03 a 07

185 anos


Editorial

Corrente d’Escrita

Para a presente edição do Corrente d’escrita trazemos à vossa presença a conselheira do Conselho Estadual de Cultura (CEC) Marcia Cristina Ferreira, que nos fala de sua atividade como escritora, jornalista, fotógrafa, promotora cultural e pesquisadora, mas também, e sobretudo, das suas funções e objetivos no referido CEC — leiam sobre o assunto nas páginas 3 a 7.

No âmbito das presenças no Senadinho Literário — e comemorando os 100 anos da Academia Catarinense de Letras (ACL), convidamos para o próximo número o escritor/poeta Liberato Manuel Pinheiro Neto, presidente da referida Academia. Nesta edição trazemos temas/assuntos que reputamos de primordial importância, como sobre os escravos, que também foram donos de escravos; as benzedeiras de Florianópolis; a criação do estado de Israel; a diferença entre antologia e coletânea; como escrever pequenos contos e crônicas; poesias, contos e crônicas diversas; lançamento de novos livros e notas de leitura; e as sempre bem acarinhadas orientações sobre o uso do português; E não esqueça que nossas páginas estarão sempre abertas a novas e produtivas colaborações, pelo que aguardamos vossas sugestões e opiniões. Serão sempre, bem vindos. Afonso Rocha Página 2


de 2019

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Recebemos hoje no Senadinho Literário a conselheira estadual da cultura—área das letras, Marcia Cristina Ferreira, natural de Guaíba, Paraná, residente em Bombinhas, litoral de Santa Catarina.

MARCIA CRISTINA FERREIRA P. Marcia, para início de conversa quer falar-nos um pouco da sua pessoa, de sua vida pessoal, para que nossos leitores fiquem a conhecer um pouco mais da representante das Letras no CEC/Santa Catarina? R. Eu sou um ser humano sempre em construçao, em busca de conhecimento, sedenta por aprendizado. Nao paro nunca, costumo dizer que sou ligada nos 360. E se eu vivesse mais 100 anos, nao daria conta de fazer tudo o que tenho em mente. Trabalho como jornalista cultural, e na area artística em literatura, produçao cultural, fotografia e na pesquisa. Mantenho uma coluna cultural quinzenal no jornal local (Boletim Informativo de Bombinhas on-line e impresso), com enfoque na historia e na memoria. Meus livros demoram bastante para serem produzidos, pois, sao pesquisas longas. O Eira e resultado de sete anos de pesquisa, e este que publico neste ano, 21 anos. E como meu trabalho tem esse enfoque de memoria, historia de vidas, escritos por meio da metodologia da historia oral, e tambem patrimonio imaterial e cultura popular. Sou perfiladora, ou seja, sou especializada em jornalismo literario. Tambem sou uma apaixonada pela cultura popular e Página 3

tenho trabalhos relevantes nesse segmento, coordeno e canto num grupo de Boi de Mamao, o Eira meu Boi, num grupo de Terno de Reis, O Estrela do Oriente do Morrinhos, e sou muito dedicada aos festejos religiosos, como festejos de padroeiros e do Divino Espírito Santo. Sou crista e dedico na obra da igreja catolica com meu conhecimento de jornalista, como coordenadora da Pastoral da Comunicaçao da Paroquia de Nossa Sra. da Imaculada Conceiçao. Gosto de trabalhar pela coletividade, fui Conselheira Municipal de Cultura no bienio 2017/2019 como titular em literatura, e 2019/2021 como suplente. Sou presidente da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina seccional Bombinhas Mestre Atílio Antao, e da Microrregional de Itajaí. E tambem sou membro Nome: MARCIA CRISTINA FERREIRA Residência: Bombinhas/SC Naturalidade: Guaíra/PR Profissão: escritora, jornalista, fotografa, pro. cultural, investigadora Data de nascimento: 12/07/1972 Estado civil: solteira Redes sociais: www.facebook.com/bruxinharuiva


Ano III — Número 37 - Mensal: setembro de 2020 da diretoria da Associaçao dos Pais e Amigos dos Au- age no sentido de se definir, ao nível do estado, tistas de Bombinhas - Ama. uma política relativamente à literatura? Sou mae de um lindo garoto de 18 anos, autista, e cheguei a matar um leao por dia para que ele pudesse ter as condiçoes necessarias, estudo e atendimento para se tornar um cidadao independente, feliz e com sua dignidade respeitada. Hoje e academico de design de jogos e entretenimento na Univali, o que me deixa inflada de orgulho. Enfim, sou uma mulher aguerrida, feminista, persistente nos meus objetivos, uma cidada consciente, totalmente livre de preconceitos, que prega a aceitaçao, ou seja, uma pessoa comum, entre tantos. P. Como referido na pergunta anterior, você representa o setor das Letras no Conselho Estadual da Cultura/Santa Catarina. Mais especificamente qual é a sua função? Ser porta-voz dos escritores no Conselho? Encaminhar, acompanhar e defender suas reivindicações, suas necessidades? Ou

R. Eu sou a voz do segmento no CEC em todos os sentidos: reivindicaçao de pautas, sugestoes, duvidas. Basta me enviar um e-mail com a demanda (marcinhaferreirabbs@gmail.com) ou mesmo ao email do Conselho (cec@fcc.sc.gov.br) que chegara ate mim. Inclusive informo aos colegas, aqueles que nao sabem, que sou vice-presidente do CEC, eleita pelos pares, ou seja temos o segmento/setorial de Letras na mesa diretora do Conselho Estadual de Cultura. Nossa setorial tem dois grupos de WhatsApp estadual: GT do Colegiado - formado pelos delegados que concorreram ao pleito eleitoral do CEC; e da Setorial de Letras com todos que participaram do processo e que deve ter o acrescimo de quem tiver interesse, basta entrar em contato. Atualizo o que acontece no CEC por ali. Temos muito o que se construir para a Literatura/ Letras estadual, ampliar as políticas publicas voltadas

Marcia Ferreira, à esquerda, seguida por Miguel Simão (gov. Censo Ramos) e outros dois académicos

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ao setor, mas pra isso e preciso uma setorial fortaleci- manda que chegue a mim oficialmente. Quanto a edida e unida. tais, penso que primeiro precisamos usufruir o que o Política publica se constroi coletivamente, eu sou a Anderle nos oferece e nao aproveitamos. Ano passado ponta, como chegar no CEC, mas tem que vir do grupo foram muitos premios remanejados em letras por nao setorial que eu represento. Ainda esse ano o Colegia- haverem projetos que conseguiram nem a nota de do de Letras pretende realizar um Forum Estadual corte. Este ano achei uma grande vitoria termos alSetorial, discutir como esta o segmento depois dos cançado 200 projetos inscritos na area e habilitados editais realizados durante essa pandemia, o que preci- 183, e esperar pra ver como chegaremos ao final. sa ampliar para termos fontes de publicaçao, fortalecer a nossa rede de contatos e tambem a rede colaborativa para que possamos vislumbrar novos horizontes com parcerias que podem e devem ser construídas. Eu penso que o caminho e esse.

Essa questao da compra de uma parte da produçao literaria e algo que podemos discutir setorialmente pra ver de que forma podemos propor isso a FCC, por meio de edital penso ser o mais democratico. Todavia, como propor um edital exclusivo de Letras ao Governo, se o setor nao consegue suprir o Anderle, como foi ano passado? Espero responder essa pergunta com P. Como jornalista e também como escritora quais indicadores positivos no final deste ano. são, a seu ver, as medidas que o governo pode e deve tomar no sentido de um maior apoio aos escritores e às suas obras? P. Segundo a constituição estadual, só duas acadeR. Afonso, penso que a resposta dessa questao esta mias de letras e de artes receberiam o apoio financeiro do estado. Que acha de o Conselho atuar junto com a proxima. no sentido de outras academias virem a receber apoios do estado? Quais são os critérios para se P. Sei que temos o Edital Elisabete Anderle. Que manter limitado esse apoio a só duas, entre tantas mais poderemos esperar do governo através do outras? Conselho? Que acha da ideia de propor que o goR. Essa questao da Constituiçao Estadual para resolverno assuma a compra de uma parte da produver/ampliar/modificar e necessario o engajamento da ção literária catarinense (contos, crônicas, romanAlesc, por ser uma questao de legislaçao, e para tal e ces, poesia, ensaios) para ser distribuída pelas preciso haver um levante bibliotecas públicas do da sociedade civil para estado? Outra ideia que mostrar aos nossos legislame parece necessária e dores a importancia de tal urgente, seria o estado modificaçao, e tambem jusassumir o despacho gratificar tal feito. Nao chegou tuito, via correios, dos nada, ao menos neste manlivros editados por escridato, ao CEC com essa detores catarinenses ou manda para que possamos aqui residentes. encampar. Para que eu leve R. A questao do despacho um assunto ao CEC solicigratuito e algo extrematando encaminhamento de mente pertinente e vou leuma carta de apoio, por var ao CEC como uma deexemplo, e necessario que a manda do setor, solicitando demanda chegue a mim. E apoio. E dessa forma sera isso que pecamos, digo nos com toda e qualquer dea setorial de Letras >>>> Página 5


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Marcia, apresentando seu livro: A eira, a roda e o tempo

Estadual, pois reverberamos individualmente e nao em conjunto. O ganho, a vitoria vem na coletividade, e em açoes coletivas que se constroi política publica cultural. Eu acredito que tanto a Comissao de Educaçao, Cultura e Desporto, quanto a Frente Parlamentar da Cultura da Alesc sao abertas a discutir uma questao desta sobre as Academias, ainda mais vindo da sociedade civil organizada. Inclusive deixo claro que nao sou contra que recebam, mas de fato e injusto que sejam somente estas em detrimento as outras, seria bem mais gratificante, construtivo e justo se todas pudessem receber tal recurso.

P. Como conselheira estadual na área das Letras, que palavras gostaria de deixar para quem tudo faz para escrever, elevar a formação e a cultura catarinense, para divulgar as suas própria obras que, diga-se de passagem, não alimentam quem assim procede?

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R. E fato que nos escritores dificilmente conseguimos nos sustentar com nossos livros, e muito difícil chegar a esse patamar. Que bom que outras areas das letras como ilustraçao e contaçao de historias, e tambem o trabalho na escrita de colunas de periodicos, ao menos conseguem esse feito. Eu penso que escrever, publicar livros, registrar por meio de palavras esse recorte temporal da nossa existencia (mesmo quando se trata de escritor de memoria, patrimonio imaterial como e meu caso, e um recorte temporal da minha vida me dedicar a esse segmento), nos encaramos como missao, porque e tao prazeroso ver nossos livros publicados, e um filho que nos criamos e mostramos ao mundo, que neste momento nos esquecemos do quao difícil e para conseguir essa publicaçao. Continuemos com nossos feitos, e eu incentivo os colegas a cada vez mais se inscreverem em editais, nao parem por causa de alguns naos, eles virao com mais frequencia que gostaríamos. Tambem penso que e importante nos juntarmos, tentar fazer a famosa rede colaborativa de artistas, de repente o escritor nao e muito bom em elaborar projetos, >>>>>>>


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justificar e fundamentar, mas tem outro colega que al – livro reportagem trabalha com produçao que faz e muito bem, e assim Coluna quinzenal do Jornal Impresso e on-line vamos somando as diversas expertises para chegar ao Jornal Informativo de Bombinhas https:// objetivo. Volto a me colocar a disposiçao para receber as demandas, orientar em editais se for o caso, somar forças em lutas coletivas. No CEC integrei quase todas as Comissoes de Organizaçao e Acompanhamento dos editais vigentes e posso ser uma boa fonte de elucidaçao de duvidas.

www.facebook.com/jornalboletiminformativo memoria, historia, patimonio imaterial

Antologia poetica: Perolas da ALBSC - paginas 67 a 69 (2017) – poesia e cronica

Livro Pesca Artesanal da Tainha “Cerca rapazi” – poema pagina 8 (2018) – poesia

Obras da nossa entrevistada: No prelo: Canoas a remo de Bombinhas: um legado de vidas intensas (para este ano de 2020) – memoria, patimonio imaterial – livro reportagem - Livro reportagem: A eira, a roda e o tempo: um retrato de Bombinhas a partir do olhar de seus moradores (2016) – memoria, patimonio imateri-

Na imagem, Marcia, num dos eventos mais significativos da cultura açoriana, que se realiza anualmente, sob a alçada do NEA=Núcleo de estudos açorianos, da UFSC.

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ço isso ou vou ser tragado por todas estas reminiscencias, um mero produto de desejos insatisfeitos e sonhos irrealizados e a sensaçao maldita de que a consciencia de tudo isso nao muda nada, apenas favorece a solidao que permite a vida, e com o que resta dela e que conto.

Guardador de Sonhos Olsen Jr. * Talvez tenha começado com os meus avos aquele habito de guardar “coisas” na família. Em tempo de escassez tal providencia se justificava. Havia um tempo para tudo na natureza, estava la no Eclesiastes. Talvez houvesse aquele tambem, de guardar pedaços de barbantes, embalagens de vidro, pequenas caixas de papelao, tampinhas de garrafa, rolhas de cortiça, involucros de plastico, cordas de nylon, rolos de arame, pequenos pregos e parafusos avulsos, elasticos, recortes de revistas com conselhos praticos para uma dona de casa, remedios com validades vencidas inelegíveis, papeizinhos incontaveis de tamanhos variados, grampos de cabelos, tocos de velas, tesouras enferrujadas, vidros de compotas com borrachas de pressao ressequidas, amostras de panos que nao se fabricam mais, velhos calendarios divulgando lojas que resistem ao capitalismo e marcam, simultaneamente, o avanço dos desvarios economicos que a todos procuram escravizar... Cada objeto, cada coisinha com sua historia e ninguem mais ali para conta-las. Talvez, apenas para testemunhar a loucura da passagem de um tempo cada vez mais celere, ou como lembrou aquele cínico, nao e que os “tempos” mudaram ou de que o mundo piorou, as coberturas jornalísticas e que melhoraram. Mas os jornais nao falam dos sonhos que se perderam. Estou pensando nisso enquanto vou descobrindo “coisas” nas caixas que abro quando escancaro o meu proprio passado. Ou faPágina 8

... Abro uma caixinha, vejo todas as cartas de minha primeira namorada. Tres anos, 62 textos, 43 anos se passaram. Os sentimentos se transformam em estatísticas. O que ela fez? Onde andara? Por que tenho de carregar estas lembranças? ... Outra caixa, todas as carteirinhas de estudantes, de um curso de engenharia, de uma faculdade de direito, misturadas com as dela, da mae dos meus filhos, de uma faculdade de ciencias biologicas, de um curso de direito. Foram 18 anos, ja se passaram mais 21 e ainda faltam alguns. E por que tenho de ser o guardiao destas frustraçoes? ... Uma caixa maior, mais pesada, dois livros de poesias, um livro de contos, um romance, quatro de cronicas, dois com artigos de jornais, um com entrevistas (a maioria dos entrevistados ja esta morta), dois com ensaios. Varias pastas com textos iniciados, ideias para contos, novelas e romances, muitos projetos desenvolvidos e outros tantos de interrogaçoes. Sinto-me perdido no meio daquela barafunda de ideias, sonhos, enfim, do lugar de onde nunca deveria ter saído, daquele mundinho paralelo onde me sinto bem. As obras completas do nordico Hans-Christian Andersen aqui do meu lado e um conforto indispensavel. Agora, enquanto penso que hoje, sempre sentimos a falta de alguem, e de que talvez, amanha, alguem va sentir a nossa... Entao ainda restara uma pergunta, um tanto prosaica, mas obvia, para que? * Escritor Membro da Academia Catarinense de Letras

Literatura não cansa. O que cansa é a preguiça...


Contos & Crônicas (cont.) Teimosia de velho Afonso Rocha * Zeca do Canto, na verdade Jose Jesus de Freiras, tambem conhecido por JJJ, residia no canto da rua, daí a alcunha, era um paranaense que chegara a Desterro ha mais de meio seculo. Por assim dizer, e sem favor, ja se considerava manezinho de gema.

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taria para ficarem em casa, para saírem somente em casos de extrema necessidade e mesmo assim, tomando todos os cuidados sanitarios, evitando, por precauçao, os ajuntamentos sociais e usando sempre mascara. Usar mascara ate que usavam, mas como adereço facial e nao porque acreditavam na sua necessidade. Protegiam mais o queixo do que a boca e o nariz. Entao Ze do Canto era um castiço e um abusador, sempre de cigarro fumegante no canto da boca, puxava a mascara pra o queixo, e la andava ele de trabalho em trabalho, de carteado em carteado, de onibus ou a pe. O argumento deles era a de que, na fase de suas vidas, jogar carteado e conviver com amigos e familiares era da mais alta relevancia. Mesmo sabendo que outros amigos ou conhecidos estavam a fazer a ultima viagem, argumentavam que “se ja foram era porque estavam doentes”.

A vida nunca lhe fora grata. Sem estudos, sem profissao defendia, ia vivendo e trabalhando naquilo que aparecesse. Umas vezes ajudava a fazer entregas; outras a lavar carros; outros como piscineiro, e outras ainda como zelador, mas o que gostava mesmo era de jardinar. Ultimamente era A teimosia era tanta que um dia a guarda municio que mais fazia e ate ja tinha uma “carteira" de pal os escorraçou da praceta e avisou que caso clientes certos bastante significativa. voltassem seriam multados. No dia seguinte, volApesar destes entretens, que lhe garantiam um taram. Em menor numero, mas voltaram. Dois sustento aprazível nos gastos da casa, Ze do Candias depois, so vieram tres. to ainda comparecia nos finais de tarde, pontualZe do Canto pergunta pelo Adelio. Ontem sentiumente, no clube do carteado que funcionava no se a tremer, com uma pitada de febre, foi a UPA e Jardim publico da comunidade. Aí se encontranao o deixaram vir embora. Isso e coisa de estupivam outros, na sua maioria aposentados ou dedos, comenta o Manel. Onde ja se viu prenderem sempregados de longa duraçao. Funcionavam cono hospital um homem por uma gripezinha. Pois mo família. Todos se preocupavam se algum fie, resmunga o Adelio. casse doente ou atravessasse algum problema Semana seguinte so compareceram o Adelio e o fora do comum. Manel. Voltaram novamente na semana a seguir Desde que apareceu essa tal de pandemia o grupo os dois. baixou drasticamente, estando reduzido, nos ultimos tempos, a seis ou sete. Mas esses, resistentes Uns dias antes Ze do Canto sentiu uma tremedeida velha guarda como se costumavam intitular, ra nas pernas, um abafo no respirar e ja nao ajarteimosamente, pelo menos duas a tres vezes por dinou mais. semana, la estavam eles sentados frente as mesi- Levaram-nos para o hospital. nhas de concreto que a prefeitura instalara na E por la se ficou, para sempre, sem dizer adeus praceta. aos amigos da jogatina. E esses seis ou sete da velha guarda nao eram so resistentes. Eram tambem teimosos, e muito, porque nao acatavam os conselhos da vigilancia saniPágina 9

* Escritor, jornalista e editor


Antologia ou Coletânea? Ana Lucia Merege, autora de fantasia com grande destaque no país, e Flavio Moreira da Costa, escritor e organizador de diversas antologias de sucesso, esclarecem o que pensam ser a diferença entre antologia e coletânea. Segundo Flavio, ate as editoras fazem confusao.

O dicionario Michaelis on linhe tem como uma das definiçoes de antologia: “Coletanea de textos literarios, em prosa ou verso, selecionados das obras de autores celebres, dispostos segundo criterios diversos: tema, epoca, autoria etc.; seleçao, seleta. No mesmo Michaelis, temos as definiçoes para coletanea:

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onario pouco inteligente. 1—a “antologia” de poemas (dita no proprio subtítulo) de Adriana Calcanhoto, nao passa de uma coletanea. Sobre a qualidade do livro, nao sei (Amador Neto desancou a boa intençao da cantora), e me espanta como a editora nao percebeu o erro de chamar o livro de “antologia”; 2—anunciado um livro de contos como “antologia” (quando tambem e uma coletanea) com base nos sambas de Noel Rosa, uma ideia boa. Que o leitor comum misture coletanea (sem obrigaçao de certa perenidade, e com autores longe de serem “antologicos”, porque ainda recentes‼!) com antologia (que a crítica do tempo fez para registro historico, na realidade), da para entender. Mas editores e escritores deveriam saber um pouco mais sobre o assunto.

“1 Excertos seletos e reunidos de diversas obras”. Para o escritor e tradutor Fabio Fernandes, a con“2 Coleçao de diferentes obras ou coisas”. fusao entre os termos antologia e coletanea, no Flavio diz que, no caso de livros de contos para Brasil, possivelmente tem a ver com a pratica do submissao de textos ineditos e/ou ja publicados, mercado editorial americano. La tudo e antologia, o melhor e chamar de coletanea, sendo que tais de autores novatos, veteranos, contemporaneos livros podem ser tematicos. ou classicos, conforme definiçao do dicionario Ana Lucia reforça dizendo que antologia e amos- Merriam-Webster on line: tra de algo: Anthology: 1: a collection of selected literary pie“Assim, normalmente antologias reunem contos ja publicados, pinçados de outras publicaçoes. Coletanea e uma coleçao de contos, reunidos por tema, autor… ou nao. Ineditos ou nao. Toda antologia e tambem uma coletanea, mas nem toda coletanea e uma antologia.”

ces or passages or works of art or music […]

Mas, assim como Flavio, Fabio alerta para as limitaçoes de dicionarios em relaçao a realidade. E provavel que, “[…] A cultura anglofona editorial tornou o termo mais abrangente”. No final das contas, Fabio considera que a diferença dos terPara Flavio, os dicionarios nem sempre sao confi- mos nao importa muito. “Eu continuo achando aveis. A experiencia no mercado editorial tam- que eles estao mais certos la. Mas enfim, sao dois bem conta. mercados que nao se misturam, entao nao faz diNum comentario ele escreveu a respeito de al- ferença ao fim e ao cabo.” guns lançamentos: No caso do mercado editorial brasileiro, se voce pensa em organizar um livro de contos de ficçao “Atençao! científica, terror e/ou fantasia, melhor chama-lo Defesa do consumidor literario: de coletanea. Antologia nao e coletanea, coletanea nao e antologia (independente do que possa dizer algum dici- Deixe as antologias para os autores ja estabelecidos. Página 10


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Hora do Poema...

MIGUEL TORGA* SUPLICA

Agora que o silêncio é um mar sem ondas, E que nele posso navegar sem rumo, Não respondas Às urgentes perguntas Que te fiz. Deixa-me ser feliz Assim, Já tão longe de ti como de mim. Perde-se a vida a desejá-la tanto. Só soubemos sofrer, enquanto O nosso amor Durou. Mas o tempo passou, Há calmaria... Não perturbes a paz que me foi dada. Ouvir de novo a tua voz seria Matar a sede com água salgada.

* Nasceu a 12 Agosto 1907 (S. Martinho de Anta-Sabrosa, Portugal)

Morreu em 17 Janeiro 1995 (Coimbra)

Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, foi um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX. Destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios.

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Hora do Poema...

V O U PA R T I R * Sem nada levar comigo. Quero partir, tenho que partir, sou obrigado a partir. Tudo vos deixo. Vou como cheguei: despido. Até as marcas dos infortúnios aqui vos deixo: os azedumes; a inveja; a ganância, o ódio e o desprezo pelo meu igual. Lá, pra onde vou, não preciso de nada e muito menos do que me agregou distúrbios e preocupações no decorrer dos tempos. Não é triste, esta minha partida. Fui preparado para isso e se não fosse, minha viagem estava programada faz tempo. Pena que, a isso não tenha dado ouvidos e tenha agido como dono do saber, dono do tempo, dono de outros, dono do mundo. Agora já sei, talvez tarde, mas sei! O mundo é o aqui e o agora. Vou tranquilo. As contas estão pagas; os azedumes sanados; os compromissos cumpridos. Quando estiver lá longe, onde não existem mais desigualdades, onde todos seremos medidos pelo mesmo olhar, quero recordar, como foi bom estar aqui e vos recordar com o meu doce pensar. Não fiquem tristes. Não quero choros, nem lágrimas. Quero música… e poesia. Foi bom estar com vocês e juntos, comungarmos os prazeres da vida. Eita, mundo bom... Valeu a pena.

* Afonso Rocha do seu último livro: momentos Página 12


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dose de nostalgia e sentimentalismo

COMO ESCREVER

Ensaios – critica relaçoes de poder e sociais de maneira ironica

E, quanto as principais características das cronicas, elas devem ser curtas, com linguagem mais coloquial, sem “firulas” ou exageros, e falar sobre acontecimentos do cotidiano ou contemporaneos. Muitos autores começam sua carreira apren- Em geral, as cronicas nao precisam ter personadendo como escrever uma cronica ou um conto, gens e, quando tem, sao poucos. que sao textos mais curtos, mais simples de se Agora voce ja sabe o que e, mas como escrever concluir. Na autopublicaçao, essas pequenas uma cronica? Vamos listar algumas dicas que vao obras literarias podem ter espaço tanto em blogs ajudar voce a escrever e publicar livro de cronicomo em e-books que compilam historias. cas. As cronicas sao um genero textual híbrido, com 1. Defina o tema da crônica elementos literarios e jornalísticos, que surgiu com os folhetins do seculo XIX na França e ga- Cronicas sao, em essencia, textos relacionados nhou forma no Brasil, evoluindo de um texto que aos fatos atuais, a questoes do dia-a-dia contemfocava na transmissao de informaçoes para uma poraneo. Por isso, antes de começar a escrever uma cronica, voce deve definir qual sera o seu forma de expressao artística. tema. Ou seja, ao redor de qual fato ou evento ela Ate hoje em dia, as cronicas fazem parte dos jorsera focada. nais e tem como uma das principais características comentar ou relatar fatos atuais. Nao e a toa Esse tema, de preferencia, deve ser centrado ao que o nome do genero, “cronica”, vem do grego redor de questoes que sao de conhecimento ge“chronos” (tempo). Esses textos devem sempre ral. Seja porque e um evento cotidiano, que a maioria das pessoas vive em primeira mao, ou porser contemporaneos em seu conteudo. que e uma notícia comentada por todos. O diferencial e incluir nesse texto doses da perso2. Expresse sua opinião nalidade e perspetiva do cronista, seja atraves de críticas, piadas ou os dois. A cronica vai alem da Alem de escolher um fato ou evento, voce deve transmissao de informaçoes atuais, ela tem visao, ter uma opiniao sobre o assunto. A cronica nao e opiniao, identidade. Ela e elaborada em cima de um texto jornalístico impessoal, que exige que o eventos e vai alem. autor seja imparcial ao transmitir informaçoes.

CRÔNICAS?

Com a evoluçao da cronica, diversos sub-generos Pelo contrario, ela se “alimenta” de pontos de vissurgiram. As cronicas podem ser: ta unicos e doses acentuadas de personalidade. Jornalísticas – apresenta aspectos específicos de Segundo alguns teoricos, a posiçao crítica e a experiencia do autor sao os focos da cronica, de modeterminadas notícias do que, ao escrever um texto sem opiniao, voce Filosóficas – reflete sobre um determinado fato simplesmente nao tera escrito uma cronica. ou evento 3. Evite personagens Humorísticas – faz graça ou ironiza questoes do Voce nao esta escrevendo um conto! cotidiano ou eventos Líricas – relata um fato ou evento com grande Página 13


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As cronicas misturam o jornalístico e o literario, elas falam de fatos, opinioes, ideias e, por isso mesmo, acabam se desconectando da ideia de personagens e, muitas vezes, tambem nao tem cenario ou tempo. Pense bem sobre como quer apresentar os fatos e ideias. Caso seja realmente necessario, por exemplo, quando o tema da cronica e baseado em uma breve interaçao entre duas pessoas, voce pode incluir essas pessoas como personagens.

belezar seu texto. Ainda que sua cronica seja lírica, nao e necessario usar palavras “difíceis” e “bonitas”. Basta usar uma boa dose de sentimento. A beleza tambem esta na simplicidade. 6. Revise sua crônica

Assim como qualquer texto, a cronica tambem merece revisao e ediçao adequadas. Leia e releia. Corrija mais do que os erros gramaticais. Verifique a fluidez do texto, troque palavras caso necessario e remova trechos que nao adicionam em Contudo, lembre-se que o foco ainda e a maneira nada a qualidade da cronica. que voce, autor, transmite essas informaçoes e Lembre-se tambem de conferir consigo mesmo se reflete sobre esses fatos, seja de modo lírico, huo texto que voce escreveu e, de fato, uma cronica. morístico, filosofico… Ha personagens demais? Falta opiniao? O estilo 4. Não imagine demais esta errado? Reflita sobre essas questoes. Novamente, nao se esqueça: a cronica nao e um Algumas perguntas que voce pode fazer a si mesconto. O texto que esta escrevendo deve se base- mo para avaliar sua cronica sao: ar em fatos e eventos reais, muitas vezes ate baO meu texto esta curto? nais. Por isso, pes no chao. Foque nos fatos, na A leitura do meu texto e leve? vivencia das pessoas. Fantasiar so e permitido se estiver nítido que e a A linguagem e simples e universal? imaginaçao do cronista se desdobrando como resposta ao evento em foco. Ou seja, se o leitor puder participar do processo imaginativo e identificar a fantasia do autor como algo semelhante a uma divagaçao ou reflexao. 5. Respeite o tamanho da crônica

O meu texto contem elementos narrativos basicos? O meu texto inclui minha visao pessoal sobre o tema? O meu texto promove uma reflexao ou diverte os leitores?

Cronicas sao textos curtos, que tendem a falar de Caso a resposta seja sim para todas as perguntas, fatos cotidianos e cuja propria leitura deve ser entao, parabens, voce escreveu uma cronica. Se feita de maneira rapida e leve. nao, pode ser que voce tenha escrito um texto Ela e feita levando em consideraçao o conheci- excelente para outro genero, um texto que meremento de mundo do leitor. Ou seja, nao sao as- ce ser publicado e exaltado, mas ainda precise suntos aprofundados, mas sim assuntos do senso praticar mais na escrita de cronicas propriamencomum, que estao em todos os jornais ou fazem te ditas. parte do dia-a-dia de qualquer brasileiro. Para nao escrever demais e extrapolar os limites Nota: não queremos ensinar nada a ninguém, mas tãode uma cronica, voce pode reduzir seu texto ao só divulgar o que nos parece ser ajustado. economizar nas palavras. Nada de descriçoes de- A Redação. talhadas demais, nem floreios e enfeites para emPágina 14


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Livros & Lançamentos...

clui cronicas e pensamentos, ja característicos do autor relacionadas as vivencias e aos prazeres da vida.

CANAVIEIRAS—Nossa Historia. Nossa Gente, traO mes de agosto foi prodigo em lançamentos de ta da historia do povoamento e da criaçao da annovos livros. Apresentamos aqui dois ineditos do tiga freguesia de um dos mais antigos e tradicioescritor Afonso Rocha. Tendo em conta o necessario isolamento social devido a pandemia do coronavírus, tais lançamentos ficaram-se por ediçoes na modalidade de e-book, ja disponíveis na plataforma da amazon.com. MOMENTOS—Poesia & Outras falas, vem na sequencia do Trovas ao Vento, tambem de poesia, lançado em 2014, logo apos a chegada do autor a terras brasileiras. Alem de poesias, o trabalho in-

nais comunidades de Florianopolis., e hoje um dos mais badalados balnearios da cidade, frequentado, sobretudo no verao, por milhares e milhares de argentinos, uruguaios, paulistas, paranaenses e muitos outros que procuram boa praia e um ambiente seguro e boa qualidade de vida. Os dois livros encontram-se disponíveis na amazon.com para todo o mundo, pelo preço unico de R$ 9,44 cada. Disponibilizado para laptop; Kindle e celular. Página 15


Ano III — Número 37 - Mensal: setembro de 2020

Livros & Lançamentos...

Deonísio da Silva, o nosso habitual colaborador, brindou-nos com mais uma ediçao atualizada e ampliada do ja famoso “A vida íntima das frases & Outras sentenças”, fundamental ferramenta para quem precisa ou quer se aperfeiçoar na arte do bem escrever e do bem falar. Edições 70, R $ 89,10 não tiver conta no amazon.com ou no kindle, é o momento para abrir, podendo utilizar a conta do seu próprio e-mail…. E é só baixar os livros que desejar. No computador; no celular; no aplicativo… tudo Para encontrar o livros, procure pelo título, ou pelo nogratuitamente. me do autor. Encontrará muitas ofertas. E quase todos os livros ofereComo baixar no computador? Procure no google “Kindle para PC; baixe em seu computador e instale; se cem uma “amostra” grátis para você apreciar antes de comprar. não tiver conta no amazon.com ou no kindle, é o momento para criar nova conta. Pode utilizar mesmo sua conta de e-mail. E pronto, agora é só escolher os livros Lembramos que no Kindle você pode aumentar o tipo de letra para que possa ler como maior comodidade. que quer baixar. Para baixar no seu celular, o processo é idêntico. Baixe gratuitamente o aplicativo “kindle” no Google Play, se Boas leituras.

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Ano III — Número 37 - Mensal: setembro de 2020 Canasvieiras foi povoado sobretudo por portugueses dos açores que chegaram em 1748 e aprenderam a viver e a partilhar saberes, afinidades e culturas com os carijos que no tempo ja habitavam a ilha a quem chamavam Miembique. CANASVIEIRAS e um importante estudo para quem quer conhecer as suas origens, a sua cultura, usos e costumes, no contexto de Santa Catarina e no Brasil.

Notas de Leitura...

Figura natural de Canasvieiras: o escritor Virgílio Varzea retratou a ilha e particularmente Canasvieiras nos seus muitos livros, e que CANASVIEIRAS revive neste livros que vos apresentamos. Livro e-book kindle disponível na amazon.com

Ler CANASVIEIRAS. Nossa Historia. Nossa Gente. e passear pela propria historia do antigo Desterro e atual Florianopolis, embriao e capital do estado de Santa Catarina. Quando festeja 185 anos desde a sua oficializaçao como freguesia autonoma, tambem se poderia festejar os 270 anos desde a chegada dos açorianos e da criaçao da freguesia de Santa Antonio de Lisboa, onde se integrava a posterior freguesia de Sao Francisco de Paula de Canasvieiras, hoje, simplesmente CANASVIEIRAS. Esta comunidade viveu marcos que integram a historia catarinense, desde a fundaçao do povoado. Neste livro de Afonso Rocha, esta o presente e o passado de Canasvieiras no contexto do povoamento de Santa Catarina e de Florianopolis. Canasvieiras “viu” nascer o povoado Nossa Senhora do Desterro (hoje Florianopolis) fundado pelo luso-vicentino Francisco Dias Velho em 1673; tambem “viu” a invasao da Ilha de Santa Catarina em 1777, pelo governador de Buenos Aires a mando dos reis de Castela. Página 17


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çao.

Criação do Estado da República de Israel—1948 Por: Eudes Bezerra www.incrivelhistoria.com.br

Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), Arthur Balfour, um influente político britanico, enviou uma declaraçao ao lorde Rothschild, um banqueiro judeu e financiador de projetos judaicos na Palestina. A “Declaraçao de Balfour”, como ficou conhecida, apoiava a criaçao, na Palestina, de um lar para o povo hebreu. Entretanto, ate entao, a Inglaterra nao possuía poderes sobre o territorio, que, a epoca, ainda

ESTADO DE ESRAEL Apesar de uma conturbada fundaçao, o Estado de Israel se consolidou perante seus vizinhosinimigos por meio de uma forte política, quando nao por meio das armas. A concretizaçao de Israel, no Oriente Medio, transfigurou-se em uma problematica questao de interesse internacional, onde a paz cada vez mais se mostra acanhada. Cada um com sua bandeira, Israel e seus vizinhos encontram uma cambiante legitimidade para dar continuidade a luta. 1. A ideia da criação de Israel Antes do nascimento do Estado de Israel, a criaçao da patria ja se tornara objeto de discussao global. No fim do seculo XIX, o judeu austríaco Theodor Herzl fortemente animou o imaginario da comunidade judaica internacional ao propor a criaçao de um estado israelense para, basicamente, servir de proteçao aos seus pares, visto o alto grau de antissemitismo que percorria diversos países, sobretudo os europeus. A esperança de uma patria para os judeus começou a incendiar a imaginaçao de muitos e varias das cupulas ocidentais concordavam que o povo judeu deveria ter sua propria naçao mais uma vez. A problematica residia em encontrar a naçao que cederia parte de seu territorio para tal fundaPágina 18

pertencia ao Imperio Turco-Otomano, seu adversario na guerra. >>>>>>>>> Foto pag. 20 - Comite da declaraçao de independencia de Israel. A fotografia, no quadro, retrata Theodor Herzl, o visionario do moderno Estado de Israel. Creditos: Rudi Weissenstein, Ministerio das Relaçoes Exteriores de Israel. No Museu de Tel Aviv, o entao líder da comunidade judaica na Palestina, David Ben-Gurion, proclamou a criaçao do sonhado Estado de Israel: “Este e o direito natural dos judeus serem donos de seus proprios destinos, assim como todas as outras naçoes, em seu proprio Estado soberano”. (The History Channel, 2014, p.290) Fotografia: Government Press Office (GPO).


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Com o termino da Primeira Guerra Mundial, entretanto, o gigantesco e conturbado Imperio Otomano deixou de existir, esfacelando-se em diversas “patrias”. A Liga das Naçoes, orgao internacional que visava evitar uma nova guerra, concedeu, mediante mandato, a Inglaterra e a França o domínio sobre alguns dos antigos domínios otomanos, sendo aquela responsavel pelo controle territorial do que se tornariam Israel, Jordania, Cisjordania e Gaza. O plano de Balfour tambem concebia o reconhecimento dos direitos civis e religiosos dos povos islamicos, ao mesmo tempo em que estava disposto a ajudar arabes em outras regioes. Os britanicos apoiaram a criaçao de uma província chamada Transjordania para os palestinos. No entanto, o plano ingles abrigava um equívoco que se mostraria tragico: acreditava-se que os arabes coraçao de milhoes de pessoas. aceitariam passivamente a chegada dos judeus. Na Palestina as opinioes divergiam radicalmente Posteriormente, nas decadas de 1920-1930, cada e mostravam que estava cada vez mais difícil de vez mais judeus chegavam a Palestina, transfor- conciliar interesses judeus e palestinos — alguns mando o modo de vida da regiao. Muitos arabes ja pegavam em armas. A recem-criada Organizase posicionaram contra e os primeiros atritos/ çao das Naçoes Unidas (ONU) teria que provar confrontos logo se iniciaram. Os países vizinhos seu valor formulando alguma soluçao em que amda Palestina, que eram e continuam a ser muçul- bas as partes concordassem, mesmo que a naçao manos, nao desejavam que o povo palestino ficas- israelita fosse fundada em outro local — soluçao se em segundo plano uma vez que ja estavam ali esta que os palestinos concordavam, mas nao os judeus que ja somavam grande numero no Orien— e ha bastante tempo. O governo britanico, por mais difícil que fosse, te Medio.

tentou manter o equilíbrio, mas apos o termino da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), quando as vísceras do Holocausto (massacre de aproximadamente seis milhoes de judeus) foram expostas aos quatro cantos do planeta, a centelha da uniao dos judeus para com seu proprio povo nunca ardeu tanto. Transformou-se em ufanismo e o sionismo (nacionalismo judeu), mais do que nunca, foi compreendido por parte consideravel dos semitas. Consequentemente, o Congresso Sionista Mundial solicitou que um milhao de judeus fossem acolhidos na Palestina, o que comoveu o Página 19

Em maio de 1947, as Naçoes Unidas instituíram um comite para delimitar o espaço para cada um dos povos no minusculo territorio palestino, sendo as divergencias entre as partes, mais uma vez, notorias e conturbadas. Deste comite foi aconselhada a criaçao de dois estados independentes, um judeu e outro palestino. O relatorio tambem estabeleceu que os lugares sagrados aos dois povos deveriam permanecer neutros, sob a tutela permanente das Naçoes Unidas. Em novembro de 1947, apesar da reprovaçao palestina, o projeto foi votado e aprovado na ONU.


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Isto forneceu aval para o surgimento do Estado de Israel. Os países islamicos, em solidariedade aos palestinos, mais uma vez, repudiaram o ato tido como ilegítimo e despotico.

por mulheres e crianças. A crueldade dos radicais judeus acarretou uma imensa indignaçao perante as naçoes muçulmanas, onde o dialogo foi sepultado e a Guerra Arabe-Israelense, de 1948, fora O principal argumento arabe era o de que deti- municiada e engatilhada. nham todo o territorio, portanto, nao lhes inte- O grupo que atacou a aldeia teria sido formado ressava ficar com menos da metade dele por paramilitares de dois grupos sionistas, (aproximadamente 55% judeu e 45% palestino). o Irgun e o Lehi. O Massacre de Deir Yassin, dessa Os judeus responderam dizendo que, em epocas forma, ultrajou o princípio judaico da “pureza das mais remotas, seus ancestrais eram os donos de armas”, manchando, com o sangue de inocentes, a toda a Palestina (em 70 d.C., os romanos, apos um reputaçao de Israel. duro cerco a cidade Jerusalem, expulsaram os ju- 2. Nasce o Estado de Israel deus da Palestina — episodio conhecido como a No mes seguinte ao massacre, mais precisamente segunda diaspora; Nabucodonosor II teria dado em 14 de maio, finalmente desabrochava a tao causa a primeira em 586 a.c.). sonhada Republica de Israel. As tropas britanicas Embora ambas as partes ja estivessem se engalfinhando ha algum tempo, diz-se que no dia 9 de abril de 1948 as bandeiras de paz exclamaram horror, quando o odio foi hasteado entre judeus e islamicos. Ocorre que na parte ocidental de Jerusalem, na pacata aldeia de Deir Yassin, arabes conviviam em harmonia com os seus vizinhos, um grupo de judeus ortodoxos, e a boa relaçao entre os dois lados era, inclusive, reconhecida. Entretanto, a paz se calou quando Deir Yassin foi atacada por um grupo de judeus que teria causado a morte de aproximadamente 200 pessoas (a aldeia tinha uma populaçao estimada em 400 habitantes). Grande parte das vítimas era composta

se retiraram por ocasiao do fim do seu mandato e logo no dia seguinte se iniciou a primeira de tantas guerras da regiao: uma força militar combinada composta por egípcios, sírios, libaneses e jordanianos cruzou as fronteiras do estado recemcriado israelense empreendendo plena força de combate. Apos um custoso período de derrotas, os agora autodenominados de israelitas/israelenses reagiram com vigor, quando mostraram que nao deixariam que uma nova e melancolica diaspora ocorresse. Reagiram implacavelmente nao apenas derrotando seus vizinhos, mas, tambem, ampliando seu territorio patrio, o que elevou ainda mais o odio dos países arabes, que começaram a pregar a destruiçao do estado israelita. Desde entao, o unico fato em que ambas as partes concordam plenamente e tragica: a paz esta distante. Mas todos, certamente, querem a paz… Ver nota da foto na página 18

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Chica da Silva

mos, casamentos e mortes dos trabalhadores de suas fazendas, igrejas e mosteiros. Nao eram donos de si proprios, mas possuíam outras pessoas. O historiador Joao Jose Reis encontrou diversos casos de escravos-senhores em documentos baianos do seculo 19. Ja Carlos Eugenio Líbano Soares, vasculhando registros de batismo da Bahia do seculo 18, achou “um numero espantoso de escravos que possuíam escravos”, como afirmou num estudo sobre o tema. Eis um exemplo de re-

Escravos, Donos de Escravos gistro de batismo que da essa informaçao: Joaquim, Nago, com 22 anos de idade aparente,

Escravos que foram donos de escravos, escravo de Benedito, Hauça, solteiro, e este tamintrigam historiadores brasileiros. bem escravo de dona Ponciana Isabel de Freitas, branca, viuva, [moradora] ao Cais da Loiça. Foi "Os casos de ex-escravos donos de escravos sao Padrinho Domingos Lopes de Oliveira, benguela, relativamente comuns – ha exemplos deles por forro, solteiro, da Freguesia de Santo Antonio todo a America, principalmente em cidades onde Alem do Carmo. o crescimento da economia abria oportunidades Como escravos se tornavam senhores? E por que para pequenos empreendedores. Mais raras e nao compravam a propria liberdade antes de adperturbadoras sao as historias de escravos com quirir esse tipo de propriedade? Alguns se tornaescravos – pessoas que, mesmo antes de conquis- vam senhores por herança. Se uma negra liberta e tar a liberdade, compraram gente para si pro- proprietaria morresse, seus bens seriam herdaprias. dos pelos filhos, e podia acontecer de esses filhos Imagine o leitor o espanto que deve tomar os his- ainda viverem em cativeiro. Como a escravidao toriadores quando, ao examinar documentos an- era um costume socialmente aceito na epoca, os tigos, encontram registros como estes: escravos nao viam contradiçao em possuírem esEm 17 de maio do ano de 1788, se enterrou nesta cravos. sepultura um escravo chamado Joao, do nosso "Mais comum era o caso dos negros, principalescravo Ignacio dos Santos. mente das grandes cidades, que conquistaram a Em 29 de março de se enterrou nesta sepultura confiança de seus senhores e desfrutavam de tanuma escrava do nosso escravo Damasio, de Ca- ta autonomia para tocar os negocios que nao pensavam em se alforriar. Possuir escravos provavelmorim, chamada Maria. mente lhes conferia mais benefícios e um status Ignacio dos Santos e Damasio eram escravos da mais alto que a liberdade. Ordem Beneditina do Rio de Janeiro, que manti>>>>>>> nha registros detalhados de nascimentos, batisPágina 21


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Um exemplo e o africano Manoel Joaquim Ricardo, tema de um artigo do historiador Joao Jose Reis. Em 1842, quando foi testemunha em um processo judicial, Manoel que tinha de seu senhor “a autorizaçao para negociar por si e adquirir quaisquer bens, mas tambem uma ampla licença de morar fora da casa daquele senhor”. Comerciante de alimentos e pessoas em Salvador, Ricardo comprou tres mulheres – entre elas uma menina de 12 anos – quando ainda era escravo. Morreu livre em 1865, dono de quatro casas e 28 negros,

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patrimonio que o colocava entre os 10% dos cidadaos mais ricos da Bahia. Costumamos retratar os personagens da historia como viloes e mocinhos. Ignacio dos Santos, Damasio, Benedito e Manoel e outros tantos escravos-senhores embaralham essa visao simplista. Interpretaram ao mesmo tempo o papel de opressores e oprimidos, vítimas e algozes da escravidao brasileira. Livro “escravos” in Gazeta do Povo, 17/11/19


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explica Sueli. O conhecimento de afastar os males e aliviar as dores e repassado de maneira oral; e preciso escutar e ver para aprender. Mas para ela, querer nao e o suficiente; e preciso ter um dom: “Esse dom, so Jesus te doa e nao e qualquer pessoa que tem. E assim o, e um dom que nao pode ser cobrado. Tem que fazer isso aí de boa vontaPARA AS ONDAS DO MAR, de. Pode chegar uma pessoa domingo e nao atender? Nao. Tem que atender. Isso que Deus me deu TEU MAL SERÁ LEVADO: nao e para mim, e para dividir com as pessoas A FÉ E A TRADIÇÃO DAS BENZEDEIRAS que precisam”.

EM FLORIANÓPOLIS

Reportagem e fotos: Carol Gomez E na Barra da Lagoa, em um quartinho de paredes claras com cortina na pequena janela, que Dona Sueli, de 66 anos, faz a sua benzedura. Na mesinha que fica em um dos cantos, estao dispostas imagens de santos que a benzedeira ganhou de pessoas que a visitaram. Quem olha a mesa tambem ve uma pequena cruz de madeira e uma foto em preto e branco de Tia Benta, antiga benzedeira da Barra da Lagoa. Alem da mesinha, estao dispostas tres cadeiras, uma foto de Chico Xavier e um retrato de Jesus Cristo.

Ha seculos essas mulheres benzedeiras (e as vezes homens) cuidam da saude das pessoas. O historiador Joi Cletison conta que a tradiçao chegou ao litoral catarinense por volta do seculo XVIII junto com os imigrantes açorianos e que aos poucos foi absorvendo conhecimentos de culturas indígenas da regiao. Em Florianopolis, a Barra da Lagoa e uma das comunidades que mantem viva a figura das benzedeiras, juntamente com outros aspectos da cultura açoriana como a pesca artesanal da tainha, boi de mamao e renda de bilro. Boas energias Apesar dos tempos modernos, dos avanços na medicina científica e da correria do dia a dia, a tradiçao faz com que muita gente continue visitando as benzedeiras.“ As pessoas vem aqui pedindo para se benzer por um problema de saude ou pedem oraçao para conseguir um emprego, entao eu faço a minha oraçao. A pessoa vem pedir a mim e eu peço a Jesus. Se ela tiver o merecimento, recebe sim”, conta Dona Sueli, que ja recebeu visitas de varias partes do Brasil, de diversas idades e diferentes religioes.

Uma das poucas benzedeiras que restam na Barra, Dona Sueli começou a benzer aos 15 anos. Espírita, mas de criaçao catolica, desde cedo presenciou benzeduras e teve a fe muito presente em sua trajetoria. Ao contar como começou, relembra com carinho de Tia Benta, antiga benzedeira que dizia a ela “voce que vai ficar no meu lugar quando eu morrer”. Um tempo apos o seu falecimento, mais ou menos na decada de 1960, nasceu seu bisneto e Dona Sueli foi chamada para benzer a criança de arca caída*. “Eu benzi a benzedura Caroline Soares, 35, e uma dessas pessoas e codela, a que ela benzia. E daí eu fiquei, benzo ate nheceu a benzedeira atraves da indicaçao de uma hoje”. amiga. Doutoranda em Antropologia Social e Cada benzedeira faz a sua reza e transmite sua fe moradora de Florianopolis, desde pequena code uma maneira unica, de seu proprio jeito. “Eu nhece muitas pessoas que buscam auxílio espiribenzo alto, tres vezes. Essa e a minha benzedura”, tual nas benzedeiras e ha algum tempo decidiu Página 23


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experimentar. “Resolvi procurar uma benzedeira porque estava me sentindo muito angustiada e pensei que receber uma bençao faria bem. Quando uma benzedeira faz a reza, ela esta enviando boas energias para voce.” conta ela. Quando foi levada pela mae de uma amiga a uma benzedeira Raquel Schmidt, 31, era criança. Depois de mais de 20 anos, a designer e professora de piano decidiu procurar por iniciativa propria uma dessas mulheres. Em meio a um tratamento para depressao e ansiedade ela explica que, por ser medium, esta sofrendo algumas dificuldades espirituais. “Busco uma benzedeira para tentar encontrar um pouco de paz, de conforto para um momento tao difícil e confuso.” Para ela, as benzedeiras sao tao tradicionais quanto a Igreja, pois estao presentes na vida das pessoas ha muito tempo e tambem transmitem conforto para quem esta com alguma dificuldade na vida ou mesmo para quem busca uma energia melhor no seu dia a dia.

pratica das benzeduras. Desde criança era benzida por uma amiga de sua vo e hoje segue a tradiçao. A cientista social conta que a sua procura pelas benzedeiras esta relacionada a conexao que essas mulheres tem com o divino e a crença de que essa relaçao ajuda quem as visita tanto energeticamente quanto espiritualmente. “O maior benefício para mim e energetico e espiritual, seja para limpeza de energias negativas, cura e proteçao espiritual. Acho que conforta, protege-nos e nos da força para seguir a vida com todas as dificuldades, percalços e desafios que encontramos em nossa caminhada.” *Arca caída: mal causado pelo deslocamento do osso do meio tórax. Quebranto: mau olhado, inveja. Identificado geralmente por sintomas como bocejar contínuo, tristeza e olhos lacrimejantes. Cobreiro: mal que atinge a pele e causa inflação por bolhas. Diz-se que é causado por insetos, cobras e aranhas.

Z, que pediu para nao se identificar, e natural de Zipra: infeções de pele, cortes e outros ferimentos Minas Gerais e foi la seu primeiro contato com a contaminados que causam febre alta e calafrios. Página 24


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Criança embruxada: vive com as perninhas e bra- o Espírito Santo acompanhando as cinco chagas cinhos cruzados. Mal causado por bruxa. de nosso senhor Jesus Cristo. Teus quebrante peCriança empresada: não come, chora o tempo gasse, no teu comer, no teu beber, no teu dormir. Na tua casa, no teu dormido, no teu estudo, no teu todo. Mal causado por bruxa. trabalho ou nos passos de tua vida. Doença tu és na pele, um sangue na carne, no nervo, nos ossos, é Cultura popular cortado, levado e jogado nas ondas do mar sagraAs benzedeiras fazem parte da cultura popular e do. Se não comes, comerás. Se não dormes, dormida historia de Florianopolis, porem e difícil esti- rás. O anjo de tua guarda será o teu bom guia e o mar quantas dessas mulheres ainda existem na teu advogado. Advogar teu lado direito, tuas costas cidade. No começo dos anos 2000, um estudo do e a frente e os passos de tua vida. Para as ondas do Nucleo de Estudos Açorianos (NEA), da Universi- mar, teu mal será levado em nome de Jesus. És fordade Federal de Santa Catarina (UFSC), encon- te como foi o Jesus no ventre da Virgem Maria os trou 40 benzedeiras na capital e 80 somando o nove meses sem comer e sem beber. Ele foi alimenlitoral de Santa Catarina. “A tradiçao e uma resis- tado, ele foi abençoado. Peço misericórdia de Deus tencia cultural, tem grande importancia para as e do Divino Espírito Santo derramando sobre o teu pessoas. Muita gente ja recorreu a essas benze- corpo sagrado. deiras e a existencia delas e a preservaçao de um Com essas palavras teu corpo a de ser curado e forhabito cultural” explica o historiador Joi Cletison. tificado. O alecrim virgem e abençoado não foi Dona Sueli e uma dessas mulheres de fe que fa- plantado nem semeado, nessa água de cristo ele foi zem parte dessa resistencia e dedicam sua vida a gerado. Teu corpo a de ser livrado e curado de toatender quem precisa de ajuda. “Para mim e im- do o mal. É a virgem eterna, é a vó, é a bradama, é portante porque eu estou fazendo a caridade, tra- a chave do sacrário. Sendo servida, fechar o teu zendo benefício. A pessoa para mim e o instru- corpo em nome de Jesus. Ave Maria de graça O Semento, estou favorecendo ela. Se ela recebe um nhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulhebom benefício, esta bom para mim”. res e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa E possível procurar uma benzedeira para curar Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agodoenças como arca caída, zipra, cobreiro, para ra e na hora da nossa morte. Amém Jesus. Pai nosespantar mau olhado, para pedir bençaos e prote- so que estás nos céus, santificado seja o Vosso noçao e ate para salvar crianças embruxadas e em- me. presadas. As benzeduras sao baseadas na crença Venha a nós o Vosso Reino. Seja feita a Vossa vondo poder das oraçoes como soluçao para males tade, assim na Terra como no Céu. O pão nosso de físicos e espirituais. cada dia nos dai hoje. Perdoa senhor as nossas díOração realizada por Dona Sueli – Março/2017:

“Pai, filho e Espírito Santo. Deus meu Jesus pai infinito misericordioso e a vós eu peço neste momento seja decido e recaído sobre o corpo desta tua filha. Acha-se necessitada para receber a graça, para ser curada pelo amor de vós. Eu lhe benzo com as três pessoas da santíssima trindade: é o pai, é o filho, é Página 25

vidas assim como nós perdoamos nosso devedores. Não deixeis cair em tentação, livra essa tua filha, Jesus, de todo o mal que assim seja. Essas preces eu ofereço e entrego a Deus, a Jesus e a Mãe Maria Santíssima. O anjo de guarda, divino Espírito Santo, que lhe cubra com o teu sagrado manto em nome de Jesus. Que assim seja. Pai, filho e espírito Santo. Jesus te abençoe.”


Corrente d’Escrita

Fotos com História

Só quem “cheirou” os ares do tempo…. terá conhecido esta situação.

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Corrente d’ escrita

Dicas de português... Marcos Schmalz

ganta, como em roquefoRRRRt, paRRRRRi. A elite carioca tratou de copiar a nobreza, e assim, na contramao do R caipira e 100% brasileiro, o Rio importou seu som de R dos franceses. Do mesmo modo a corte portuguesa trouxe o S chiado dos cariocas, sendo hoje o Rio o lugar que mais se chia no Brasil, 97% dos cariocas chiam no meio das palavras e 94% chiam no final. Belem do Para ocupa o segundo lugar e Florianopolis em terceiro. As regioes Norte e Sul receberam a partir do seculo 17 imigrantes dos Açores e ilha da Madeira, lugares onde o S tambem vira SH. Viviam mais de 15 mil portugueses no Para, quarta maior populaçao portuguesa no Brasil a epoca, o que fez os paraenses tambem incorporarem o S chiado.

Ja Porto Alegre misturava indígenas, portugueses, espanhois e depois alemaes e italianos, toda essa mistuExplicaçao dos diversos sotaques regionais no Brasil. ra resultou num sotaque sem chiamento. Copio e colo: Mapa Linguístico do Brasil! Curitiba recebeu muitos ucranianos e poloneses, a falO R caipira do interior de Sao Paulo, Mato Grosso, Mi- ta de vogais nos idiomas desses povos acabou estimunas Gerais, Parana e Santa Catarina deve-se ao fato de lando uma pronuncia mais pausada de vogais como o que os indígenas que aqui moravam nao conseguiam E, para que se fizessem entender, dando origem ao falar o R dos portugueses, nao havia o som da letra R folclorico "leitE quentE". em muitos dos mais de 1200 idiomas que falavam Em Cuiaba e outras cidades do interior do Mato Grosaqui. so preservou-se o sotaque de Cabral, nao sendo incoEntao na tentativa de se pronunciar o R, acabou-se mum os moradores falando de um "djeito diferentE". criando essa jabuticaba brasileira, que nao existe em Os portugueses que se instalaram ali vieram do norte de Portugal e inseriam T antes de CH e D antes de J. E Portugal. A isso tambem se deve o fato de muitas pessoas ate ate "hodje os cuiabanos tchamam feijao de fedjao". hoje em dia trocarem L por R, como em farta (falta), Junto com os 800 mil escravos tambem foram trazidos seus falares, e sua influencia que perdura ate hoje em frecha (flecha) e firme (filme). Com a chegada de mais de 1,5 milhao de italianos a se comer o R no final das palavras: Salvado, amo, calo capital de Sao Paulo o sotaque do paulistano incorpo- e a destruiçao de vogal em ditongos: lavora, chero, rou o R vibrante atras dos dentes, porta como "porita", bejo, poco, que aparece em muitos dialetos africanos.

A falta de plurais, o uso do gerundio sem falar o D (andano, fazeno), a ligaçao de fonemas em som de z (ozoio, foi simbora) e a simplificaçao da terceira pessoa do plural (dissero, cantaro) tambem sao heranças O R falado no Rio de Janeiro deve-se ao fato de que africanas. do livro "Mapa Linguístico do Brasil" de Renato Mendonça quando a corte portuguesa pisou aqui, a moda era falar o R como dos franceses, saindo do fundo da gare em alguns casos ate incorporando mais Rs do que existem: carro como "caRRRo", se quem fala for de Mooca, Bras e Bexiga, bairros paulistanos com bastante influencia italiana.


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Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha

Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história e a cultura em geral. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário. O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.

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Atenciosamente,

Prezado Afonso,

Cleonisse Inês Schmit BP de SC. _______________________

Recebi e agradeço o Corrente d’escrita, nº 36. Usando a forma singular muito bem resgatada na p. 39. Parabém, por essa nova edição, sempre com matérias que contribuem, com certeza, para a produção literária catarinense.

Afonso no editorial, 3º parágrafo: "gente que jamais leram" está certo? Mais uma vez parabéns pelo seu trabalho, está cada vez melhor e mais interessante

Entre as muitas matérias, destaco aquela sobre a pintora Frida Kalo, que se imortalizou não só pela pintura, mas por seu envolvimento com a política mexicana e mundial. Companheira de Diego Rive- abraços ra, grande pintor, muralista e ativista do Partido Comunista mexicano, ainda teve tempo para se en- Joãolupi volver amorosamente com Leon Trotsky, tragica- _______________________ mente, assassinado por um fanático comunista espanhol, a mando do ditador Stalin. Um abraço. JJLeal ________________________________ Estimado, escritor, jornalista e editor. Queremos cumprimentar e parabenizar pelo seu belo e importante trabalho!


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Número 37 - setembro 2020 I NÉ DI TO AGORA EM E-BOOK KINDLE—PREÇO ÚNICO: R$ 9,44 - € 1,35 Corrente d’ escrita

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