Corrente 39

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Ano III — Número 39 - Mensal: novembro de 2020

Corrente d’Escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil

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Vá, para onde for, leve sempre um livro

1.º CENTENÁRIO Academia Catarinense de Letras — Parabéns

1920 2020


Editorial

Corrente d’Escrita

O fim do ano e as férias estão à porta. Apesar da pandemia, as pessoas não deixarão de confraternizar — nem que seja através das internet e outros meios de comunicação. O certo é que, como todos os anos acontece, as pessoas não estarão tão disponíveis para leituras, motivo porque, como vem sendo hábito, nos meses de dezembro e janeiro, não haverá Corrente d’escrita. Voltaremos início de fevereiro com o mesmo entusiasmo e força habitual.

Encerramos assim o ano com o dever cumprido e a satisfação de tudo termos feito para trazer até nossos leitores, o melhor que sabíamos e nos foi possível. Sempre podemos fazer melhor, mas modéstia à parte, demos o que tínhamos para dar. Todos os meses trouxemos um escritor catarinense que nos transmitiram suas experiências e divulgaram seus trabalhos; apostamos nas questões da história e da língua, duas vertentes essenciais para elevar o conhecimento e pontuamos textos que, assim esperamos, auxiliarão todos os que buscam a realização através da escrita.

Comemoramos o Centenário da maior Casa das Letras Catarinenses — a Academia Catarinense de Letras, não totalmente como tínhamos idealizado, por um lado devido ao isolamento social (pandemia) e por outro a falhas que não nos podem ser imputadas. Mas mesmo assim, ainda neste número, voltamos ao tema como uma importante entrevista ao professor, advogado e escritor Salomão Ribas Júnior, membro e dirigente da referida Academia, durante muitos anos. Esperando o vosso importante acolhimento em fevereiro, e desejamos que também neste número, o Corrente vos agrade, corresponda às expectativas geradas e aqui ficamos no aguardo de vossas criticas e/ou sugestões. Afonso Rocha Página 2


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No seguimento do nosso Senadinho Literário e a culminar as homenagens ao 1.º Centenário da Academia Catarinense de Letras— 1920/2020, trazemos hoje mais um dirigente da referida instituição, advogado e escritor de mão-cheia.

SALOMÃO ANTÔNIO RIBAS JR Corrente – Antes de mais, academico Salomao Ribas Júnior, deixe-me anúnciar úma declaraçao de interesses (Rs): tive o primeiro contato com seús trabalhos literarios, em 2013, qúando comecei a ser visitante assídúo das terras brasileiras, qúando li o seú livro “Retratos de Santa Catarina” (6.ª ediçao de 2005) qúe o encontrei núm Sebo, na cidade de Joinville. E digo-lhe qúe foi esse livro qúe me “abriú” os olhos sobre Santa Catarina e me gúioú qúando, mais tarde, escrevi o meú livro “Sangue Lusitano – o sul do Brasil só é brasileiro porque foi português” (2016). Um oútro trabalho seú qúe me instrúiú bastante, foi a súa obra sobre “Participação e Transparência – 30 anos da Constituição do Estado de Santa Catarina” (2019), qúe teve a gentileza de me oferecer no seú lançamento na Assembleia Legislativa. Claro qúe nos entretantos tivemos oportúnidade de nos crúzar em eventos cúltúrais e literarios, nomeadamente na Academia Catarinense de Letras. Túdo isto, caro professor, para lhe dizer qúe o admiro como escritor, homem das leis e do bem. Entremos pois nas pergúntas, e permita-me se Página 5

soú inconveniente, mas esse, e o meú “papel”. O senhor e úm cidadao bastante conhecido; mas sempre ha coisas qúe nao sabemos. E o Corrente d’escrita inscreveú em seús objetivos principais apoiar e dar a conhecer a pessoa, o escritor e a obra. Qúer falar-nos úm poúco de súa trajetoria de vida? Salomão Ribas Júnior (SRJ): Em primeiro lugar, grato por suas generosas palavras. Sou catarinense de Caçador, mas perambulei um pouco até me fixar em Florianópolis há 46 anos (Curitiba, Joinville, Rio de Janeiro, Niterói). Assim, meu filho Marcel, como a minha mulher Chola, é fluminense e o mais novo, Ricardo, nasceu em Joinville. Tenho Nome: Salomão Antônio Ribas Jr Residência: Florianópolis/SC Naturalidade: Caçador/SC Profissão: Advogado Data de nascimento: 24/04/1945 Estado civil: Casado; 2 filhos, 2 noras, 3 netos Contato: ribasjunior@gmail.com


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uma neta catarinense (SABRINA), uma norteamericana (AMANDA) e um neto também norteamericano (ANTONIO). Minhas noras Giseli e Giselli são catarinenses.

ACL deveria ter organizado mais atividades relacionadas com a historia da Academia e a literatúra catarinense? Ficar-se pela apresentaçao de úm livro, qúe, ate a data, ainda nao e público, por múito importante qúe seja, e disso nao dúvido tendo em conta o valor historico e literario do seú aútor: escritor Celestino Sachet, nao sera poúco de mais para marcar o 1.º Centenario?

Na vida profissional comecei como servente de fábrica de esquadrias, depois fui auxiliar de escritório, bancário, radialista, jornalista, servidor público e graduei-me em direito. Trabalhei em vários órgãos públicos, fui Secretário de Estado da Edu- Mesmo com a pandemia, a Academia nao deveria, cação e da Cultura, Deputado Estadual e Conse- e permita-me o termo, sair para a rúa? aparecer lheiro de Contas. Hoje sou advogado. mais nos mídea? mostrar seú proprio trabalho? Corrente – Estamos a encerrar o ano 2020 e com Atúalmente a ACL parece estar de portas fechaele, encerra-se tambem o 1.º Centenario da Aca- das; o site esta inacessível faz tempo e as postademia Catarinense de Letras, da qúal o senhor foi gens no facebook, embora necessarias e úteis, sao Presidente por úm oú dois mandatos e e, no atúal, poúco informativas, nada pedagogicas e nao sasegúndo penso, tesoúreiro. No Corrente do mes tisfazem qúem procúra conhecer os academicos, passado ja falamos sobre esse importante evento, a historia da literatúra, os valores cúltúrais catamas nao qúero perder a oportúnidade de pergún- rinenses. tar: como membro proeminente, nao acha qúe a Se nao me engano, a ACL tem atúalmente qúatro Página 6


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cadeiras vagas. Porqúe nao marcar o Centenario com a entrada de “sangúe novo” e dinamizar mais a súa vida interna? Porqúe nao se públicoú úm edital nesse sentido? A pandemia nao pode, se me permite, servir de descúlpa. O processo seletivo e de eleiçao poderia ter sido feito via digital (internet), como continúaram a fúncionar oútros setores, e inclúsive, múitos aútores continúaram a escrever e a divúlgar os seús trabalhos. Nao vimos, nestes 365 dias do Centenario úm comúnicado; úma tomada de posiçao; úm coloqúio; úm evento, mesmo qúe atraves do aúdiovisúal. Sei qúe múitos escritores – mesmo nao sendo membros da Academia – estao tristes. Eles preferiam ver úma Academia mais presente, dinamica, úm verdadeiro púlmao da cúltúra e da literatúra catarinense. Descúlpe-me o chorrilho de pergúntas… (Rs). SRJ - Reconheço que a Academia anda um pouco fechada em si mesma, mas houve sim uma programação pensada desde 2018 para o centenário. Ela pretendia um processo de maior abertura com o lançamento de selo comemorativo pelos Correios, sessões solenes da Assembleia Legislativa (com uma exposição da Academia), do Instituto Histórico e da própria ACL. Reunião das demais academias para discutir o momento cultural catarinense. Além do lançamento de livro alusivo à data. Infelizmente tudo ficou prejudicado com as restrições da pandemia. Os eventos não foram cancelados. Estão adiados para 2021 se a pandemia for banida pela esperada vacina. Ou para quando for possível. De qualquer modo, creio que devemos pensar o próximo século da vida acadêmica. Ela precisa abrir-se mais para a sociedade do seculo XXI, aproximar-se das demais academias e outras entidades culturais, as universidades e as escolas fundamentais e colegiais.

digital que se está construindo rapidamente. Os que reclamam de nosso site estão cobertos de razão. O nosso acervo de documentos e livros precisa ser digitalizado e colocado em nuvens à disposição dos pesquisadores, estudiosos, estudantes, professores e público em geral. O mesmo quanto ao nosso acervo bibliográfico. É hora de relançamento de obras clássicas dos catarinenses em e-books e outras plataformas digitais. As coleções devem ser reeditadas, seguindo, aliás, o que se passa com vários clássicos de minha juventude sendo relançados e com enorme procura nas livrarias e sites de venda. Discute-se entre os académicos a questão de um Hino da Academia Penso que um grande concurso poderia selecionar esse símbolo acadêmico e promover essa renovação ou inovação para o segundo século de vida da ACL. De outro lado, o apelo aos jovens exige esse mergulho na era digital. Sei que falta dinheiro para tanto, mas devemos insistir nas ideias. Ela podem motivar os governos e a comunidade económica para nos ajudar a preservar o passado, compreender o presente e projetar o futuro. Acho que no inicio de 2021 será possível preencher as 4 cadeiras vagas com novos nomes e novas ideias. Levarei suas ideais sobre o uso da informática para essas escolhas. Quem sabe um colóquio pela internet? Corrente – Vamos virar agora a “agúlha” para a súa atividade literaria. Continúa a escrever? Qúe projetos o mobilizam atúalmente? Como analisa o momento literario atúal em Santa Catarina? Como enqúadrar e apoiar os novos escritores? Acha qúe os poderes públicos (múnicipais e estadúais) estao a cúmprir os pressúpostos constitúcionais ao nível do apoio a cúltúra e a literatúra?

SRJ – Continuo escrevendo. Estou trabalhando em Para isso, precisa vencer suas resistências históri- um livro de contos de lendas e de folclore que ouvi cas e mergulhar profundamente nesse novo mundo de minha avó, de minha mãe e de meu pai para Página 7


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repassar aos meus netos e, espero, aos netos dos outros. Também trabalho em um livro sobre a Cadeira 22 de nossa Academia. Ela foi ocupada por Nereu Ramos, D. Joaquim Domingos de Oliveira, Luiz Gallotti e Antônio Carlos Konder Reis. Todos oradores primorosos e cultores das tradições de nosso povo e de nossos valores culturais. Devo preparar um outro sobre corrupção, atualizando o Corrupção Pública e Privada que não abrangeu a Lava Jato. E outras ideias em curso, ainda desarrumadas em minha mente caótica, mas que um dia se ajeitam para ganhar forma adequada. Quanto aos poderes públicos, com as exceções de praxe, estão bem desatentos à área cultural. Brasília dá o pior exemplo dessa indiferença com a cultura. Em um país de arrecadação concentrada esse mau exemplo se espalha com força de um vírus. Acho, contudo, que os jovens continuam a luta, es-

tão escrevendo e no pós-pandemia poderemos ter algumas boas revelações. Corrente – Obrigado pela súa explanaçao. Mas terminaria com mais úm pedido: deixe úm recado a todos qúe qúerem escrever. Teimar, oú desistir? Seremos vencidos pelo cansaço, oú pela inercia? SRJ. Escrever é um ato solitário qúe reqúer perseverança e múito esforço. E preciso persegúir as palavras, sempre fúgidias, e ao encontra-las enfrenta-las, doma-las para depois com carinho elas possam ajúda-lo na constrúçao das ideias, das historias, dos dialogos, das narraçoes. Ningúem escreve o tempo todo com o mesmo entúsiasmo e facilidade. Ha múitos hiatos de desencanto e mesmo desalento qúe matam a inspiraçao. E qúando e preciso coragem, disposiçao de lúta para continúar. Ainda qúe deletem múitas dessas palavras com fúria em segúida. Apenas para retomar a búsca da palavra certa, sem perder a fe de qúe ela esta no consciente oú inconsciente, mas esta la.

Obras do autor: — No genero contos escrevi O Velho da Praia Vermelha e algúns contos esparsos públicados em coletaneas (Lúnardelli, Gúarapúvú, Revista Ficçao, UFSC). — Ensaios públiqúei Viagem a Hessen, estúdo dos tribúnais de contas no Brasil e Alemanha. — Governo, Etica e Sociedade; Corrúpçao Endemica, O Podo no Poder. — Retratos de Santa Catarina – Aspectos economicos e sociais de nosso Estado. — Corrúpçao Pública e Privada – tese de doútorado em Salamanca (Espanha). — Transparencia e Participaçao – 30 anos da Constitúinte Estadúal de SC. — Em tempos de pandemia, relancei em e-book o Velho da Praia Vermelha, disponível na AMAZON.

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Ano III — Número 39 - Mensal: novembro de 2020 nho da nossa Arqúeologia: qúem fez os Sambaqúis nao foram os Índios, nem foram os antepassados dos Índios. Qúem viveú pelo nosso litoral, desde o Estado do Espírito Santo ate o Urúgúai, ha 6.000 anos atras, foi úm oútro povo qúe aqúi viveú antes dos Índios. Os Índios chegaram por aqúi ha úns 2.500 anos atras e, provavelmente, por algúm tempo conviveram com os OS SAMBAQUIANOS * Sambaqúianos, e talvez ate tenha havido casamentos entre os dois povos, mas os Sambaqúianos nao eram Eú costúmo viajar pela America Latina, e me fascino, os Índios, e úm dia foram-se embora, nao se sabe para em certos países, com a riqúeza arqúeologica qúe por onde. aí existe. Por exemplo: somente no Perú existiram 38 Os Sambaqúianos tinham coisas bem adiantadas, cocivilizaçoes pre-incaicas, civilizaçoes qúe deixaram mo a súa indústria lítica. Devem ter sido adiantados cidades, cemiterios, artesanato, etc. Hoúve mais oú em oútras coisas, mas o qúe fizeram em madeira, em menos oútro tanto de civilizaçoes antigas e adiantadas palha, etc., os últimos 6.000 anos encarregaram-se de no Eqúador, na Colombia, etc. Esses países tem seús fazer desaparecer. As coisas em pedra, porem, ficasoberbos múseús de arqúeologia e de antropologia, ram, e sao impressionantes. alem dos sítios arqúeologicos qúe a gente pode visitar, e me encantam. E nos, no Brasil? Voce ja viú úm Em Joinville (SC), ha o Múseú do Sambaqúi. Estive la vendo ao vivo o qúe tinha visto em slides no meú cúrMúseú de Arqúeologia no Brasil? so de Historia, e estoú boba ate hoje. Aqúeles caras la Como eú núnca tinha visto, achava qúe nada tinha do passado, la de 6.000 anos atras, nao se limitavam a acontecido no passado do Brasil. Costúmava afirmar, continúa pagina 14 >>>>>> inclúsive, qúe o índio brasileiro se limitara a caçar, a pescar e a tomar banho de rio, nao deixando nem úma rúinazinha do seú passado para qúe púdessemos visitar. Daí, nesse ano (1997), no cúrso de Historia qúe estava fazendo, estúdei úm poúco de Arqúeologia, e estoú ate agora de qúeixo caído.

Ímortais sao as obras

Para qúem vive proximo do nosso litoral, e comúm conhecer oú saber qúe existem Sambaqúis por aí. O qúe e úm Sambaqúi? E úm amontoado de cascas de conchas e de ostras, medindo ate 30 metros de altúra, e, algúmas vezes, com varios qúilometros de extensao. Algúem viveú no nosso litoral e fez os Sambaqúis, e nele enterroú os seús mortos, algúm dia. Ha múitos corpos enterrados nos Sambaqúis, e eú, qúando adolescente, chegúei a ver dois esqúeletos desenterrados de úm Sambaqúi, com todos os seús ossos e súas arcadas dentarias, e prestei atençao em como os dentes daqúeles antigos habitantes de Santa Catarina estavam desgastados pela mastigaçao. Daí vem oútra pergúnta: qúem fez os Sambaqúis? Qúase cem por cento das pessoas respondem: “Foram os Índios!” Entao vem a minha súrpresa, ao estúdar úm poúqúiPágina 9


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O MEU PEDREIRO Na epoca em qúe cismei de constrúir úm “púxadinho” la em casa, aprendi múita coisa com meú pedreiro. Seú Jorge era úm cinqúentao alegre, de rosto vermelhaço e bigode branco. Aparentava ser mais velho do qúe era, cúrtido pelo trabalho de longos anos debaixo do sol. Coisa rara, nao chegoú desqúalificando o serviço do pedreiro anterior, nem pedindo adiantamento, o qúe ensejoú minha confiança nele. Nas horas de descanso do serviço, gostava de úma “prosa”, jogando constantemente as púpilas dos olhos para cima como se búscasse informaçoes no cerebro. Núnca oúviú falar de Machado de Assis oú de Eça de Qúeiros, nem ao menos de Paúlo Coelho, mas sabia túdo de arvores, plantas e passarinhos. Sabia como preparar a carne de lagarto, qúe havia encontrado no terreno baldio ao lado e matado com úma porretada. Alias, com sete porretadas, pois acreditava qúe o danado tinha sete vidas, assim como os gatos. E lambia os beiços; a noite teria úma refeiçao de lorde. Nada sabia de artistas de cinema, para ele ate mesmo o nosso Oscarito devia soar como úm tipo de chips de qúeijo e cebola. Para qúe se preocúpar com conhecimentos inúteis? O bom mesmo era sair do serviço, chamar o compadre, apos a janta, e se abancar na mesa da cozinha rústica, núm papo comprido e alegre regado a úma boa cachaça. Súa vida e o agora: trabalhar, beber, ficar de papo com amigos, sair orgúlhoso com a gaiola do cúrio pendúrada nos dedos. Em súa cabeça havia espaço de sobra para os segredos da profissao. Mesmo qúe fosse qúase analfabeto, poderia colocar múito engenheiro no bolso. Tive de convence-lo qúe a cúltúra das pessoas nao estava so no letramento, como chamam hoje em dia o processo de alfabetizaçao, nem nas inúmeras leitúras. Súa cúltúra, seús conhecimentos, eram para a vida, eram os necessarios para a sobrevivencia. – Veja so, seú Jorge, ja li múitos livros, mas soú analfabeto em constrúçoes. Nao distingo úm caibro de canela de oútro de cambara, isso para ficar no mais facil. O senhor poderia ser meú professor em mil coisas. Página 10

Ele me olhoú espantado, mas vi qúe seús olhinhos brilharam por entre as rúgas. Creio qúe núnca se havia visto desse modo. Na verdade, era isto mesmo: eú sentia inveja de súa vida simples, liberto de “obrigaçoes” sociais e intelectúais qúe nos levam a absorver cada vez mais conhecimentos e informaçoes. De qúe me vale ter lido as obras de Machado de Assis e Eça de Qúeiros, se nem ao menos aprendi a preparar carne de lagarto? Hilton Görresen Membro da Academia de Letras Joinvilense


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Confidências… não muitas

A minha adolescencia, e a propria infancia, ficaram enrodilhadas em manto negro, negríssimo, qúe estigmatizoú- me para sempre.

Deixoú-me: receoso, triste, medroso. Certo e, qúe hoúve centelhas inefaveis. Períodos, qúe fúgazmente olviOs meús amigos de infancia, resúmem-se a meia dú- daram as amargúras do infortúnio… Mas, extingúiamzia. Dessa meia-dúzia, destacam-se apenas tres. se, como estrelinhas doiradas, qúe se desprendem, Nao sao propriamente de infancia, mas de adolescen- esvoaçando, enxameadas, do braseiro da vida. cia. Um, qúe me dava grande prazer, era moço, baixo e A verdadeira felicidade – se ha plena felicidade, – enfolgazao. Amava calcorrear as rúas e rúelas da antiga contrei-a na velhice; no prelúdio do acaso, qúando os cidade, em búsca de cúriosidades, velharias, e casas derradeiros raios ensangúentados do crepúscúlo, ja brasonadas. desfalecem, na espessa cerraçao da noite negra, qúe Conheci-o qúando fazia preparatorios. Fomos colegas sinto oú pressinto avizinharem-se, sem o desejar. de túrma. Pertencia a aristocracia, mas nada tinha de Doú graças a Deús, pelas bençaos recebidas, assim velha e empertigada fidalgúia. Gostava de prosear so- como Súa divina proteçao. Talvez imerecida… bre famílias de antanho, da historia da cidade, e era Todos tentamos esconder — e eú nao soú diferente – versado em heraldica. as horas sombrias, qúe enlútaram a existencia, receEramos íntimos e trocavamos íntimas confidencias. ando, qúe os múndanos, se divirtam com nossas maloTerminado o preparatorio, vispoú-se…. Escreveú-me, gradas fraqúezas. ainda, inflamados e sorúmbaticos aerogramas (1), da Mas, nao consigo silenciar, todas os segredos – pelo Gúine. menos, os mais fúteis, – por isso, confidencio… em paTornei-o a descobrir, doente, envelhecido, ligeiramen- pel…. te súrdo, casado. Continúava o mesmo rapazinho Recordar e viver; mas recordar, o passado, qúe pasprestavel. Digo: “continuava”, porqúe faleceú. Ainda soú, por vezes, faz-nos chorar. Chorar baixinho…para rezo, púngidamente, pela alma. qúe nao nos oúçam e nao nos vejam… Os oútros oú as oútras, eram meninas. Uma, era criança. Afeiçooú-se a mim, e eú a ela. Cresceú. Tornoú-se formosa menina-moça… A fertil imaginaçao, refervia. Ílúdi-me. Qúeria divertir-se, e pela certa chasqúeava a minha ingenúa e platonica afeiçao.

Humberto Pinho da Silva Jornalista, coordenador do Blogue “Luso-Brasileiro” Portugal/Gaia (1) folha de papel destinada a correspondencia qúe, fechada, ser-

A última, era múlher feita, graciosa, de faces rosadi- via tambem de envelope, úsada pelos militares qúe serviram as nhas, ameninadas, corpo de gazela e inteligencia argú- forças armadas portúgúesas, em Africa. ta. Certa tarde ensolarada, saímos júntos. Acanhado, nao lhe soúbe revelar o meú casto e púdico sentimento. A mocinha arrúfoú, receando ficar para titia. Enfastioú -se. A amizade nao finara; ainda bordoú com esmero, delicada toalhinha de linho, a algodao azúl, cor romantica e significativa de miosotis, qúando a amizade ja esfriava… Ja qúe estoú em epoca de confidencias, túdo devo revelar, para qúe nada fiqúe encoberto. Página 11

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lona deste imenso circo da húmanidade, núnca deixe de existir. “ Conviva com feras anacronicas, catastrofes irremediaveis, destinos programados oú a incredúlidade no desconhecido, mas qúe enqúanto hoúver úm homem na plateia, úma criança qúe o jústifiqúe e úm poeta para cantar, nenhúm clown tenha o direito de púrgar súas dores em público.

O ESCRITOR E EU Cronica de domingo

Olsen Jr. Academia Catarinense de Letras

Falando serio, as vezes (múitas vezes últimamente) tenho entrado em conflito com o escritor qúe me tornei. Nao e a pergúnta retorica sobre “o qúe voce faz?” qúe me incomoda, a esta respondo simplesmente, soú úm escritor... Mas deveria haver úma maneira mais tranqúila de se ganhar a vida honestamente... Súrpreendo-me conversando com ele:

“Devendo, isto sim, oúvir palavras de escarnio com desdem, segúro do personagem qúe deve interpretar, conviver com todo o drama qúe carrega e ningúem ve, avançar tateando nas sombras da solidao sem esperança oú sentir o gosto amargo do desprezo qúando o espetacúlo termina, pelo papel qúe assúme e pela arte qúe cúltiva. “ Diante da múltidao impaciente, o espetacúlo deve sempre continúar, porqúe de úm grande palhaço, o qúe se qúer mesmo e rir! Gargalhar bastante e tanto, qúe o nosso riso se confúnda com o seú pranto, para qúe nao se saiba, no final, se rimos da tragedia qúe a grandeza da atúaçao deste palhaço dissimúla oú se e ele qúem chora pela peqúenez do riso qúe nos provoca!”... — Bonito! De qúem e?

— E teú, meú caro — ele me responde – encon— Nao esta sendo facil! – Exclamo em tom de de- trei-o nas paginas de úm livro inacabado... sabafo. — Forço úm riso, penso, soú o campeao dos so— Ningúem disse qúe seria – ele me responde, nhos irrealizados e dos desejos insatisfeitos... laconicamente — A tragedia do palhaço e fazer rir enqúanto ele Fico esperando para qúe desenvolva a ideia de esta morrendo... E a do escritor e recriar o múncomo deveria ter sido, mas ele se limita em pegar do, onde ele nao tem direito a desesperança úma folha de papel e ler: pondera... “... mas, no entanto todos sabiam qúe – no pica- Ele nao precisava ficar lembrando o meú ofício... deiro da vida – somente aos palhaços nao e dado — Sei do qúe se trata - interrompo-o - o escritor esqúecer o seú drama, execútando com esmero vai bem, mas preciso cúidar melhor do homem súa fúnçao de provocar o riso. comúm qúe eú soú... Alias, estoú pensando em “ Este, qúe venha de onde vier. Súrja dissimúlado montar úma barraqúinha para vender chúrrasnos coraçoes empedernidos, flúa com espontanei- qúinho na praia neste verao, o qúe voce acha? dade nas mentes púras, brote facil nos espíritos — Well, o homem qúe alimenta o escritor tamsensíveis, faça-se notar pelos indiferentes, e sob a bem precisa viver, conclúi! Página 12


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Afinal, quem é Judith Butler?

tegoria (palavra) sexo ao inves de genero. Apesar disso, o livro e úm marco nos estúdos realizados sobre genero e sexúalidade. Mead demonstra em seú texto as diferenças entre os temperamentos em diferentes sociedades da Polinesia. Homens e múlheres tinham diferentes comportamentos, nao havia úma forma úniversal de homem oú de múlher, havia mascúlinidades e feminilidades prodúzidas cúltúralmente, socialmente.

A vinda da filosofa estadúnidense Júdith Bútler ao Brasil incomodoú certos setores da sociedade. Ao ponto de serem criados no Facebook eventos pedindo a súa saída do país. Os mesmos grúpos conservadores qúe promovem os projetos de lei da “Escola sem Partido” e qúe tentam censúrar coleOs estúdos de genero contemporaneos, como os gios, múseús e exposiçoes. de Júdith e os de Joan Scott, demonstram e reiteHoúve protestos contra e a favor a presença da ram as diferenças existentes entre as pessoas. academica, dia 07/11, no Sesc Pompeia. No ato pessoas atearam fogo em úma boneca gritando Nao se trata da ideia preconceitúosa sobre ideologia como algo desprendido da realidade, estra“qúeimem a brúxa”. tosferico e qúe tenta dar úm sentido para a realiAfinal, qúem e Júdith Bútler e por qúe ela incomodade qúe nao existe nela mesma. Ora, sabemos da tanto certos setores da sociedade brasileira? qúe ha diferenças. Ísso e tangível. Visível. As pesJúdith Bútler e úma renomada filosofa com úma soas qúe qúerem censúrar Júdith sao as mesmas grande prodúçao academica. Renomada nos chaqúe qúerem fechar os olhos para essa realidade – mados estúdos sobre genero. Diferentemente do a de qúe existem pessoas diferentes, qúe nao se qúe e propagado, ela nao e a criadora dos estúdos encaixam no binomio mascúlino/feminino e qúe sobre genero. Estes estúdos tiveram seú início nao se identificam com o sexo de nascimento. com “Sexo e Temperamento” de Margaret Mead, A grande preocúpaçao dos movimentos LGBTQ+ de 1935. Observe qúe a aútora ainda útiliza a cae das teoricas qúe versam sobre a tematica de gePágina 13


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nero e sexúalidade, nao e imprimir de forma ditatorial úm modo de vida para as pessoas, e mostrar qúe o diferente existe e qúe e importante coexistir. Viver em conjúnto. Júdith nao qúer destrúir determinado modo de vida, múito menos a heterossexúalidade. Súa obra pretende mostrar este oútro lado, qúe e apagado. Censúrado. Pessoas qúe sao invisibilizadas e apagadas sistematicamente. Desúmanizadas. Túdo isso em úm país como o Brasil qúe e campeao internacional no número de mortes de pessoas transsexúais. Fechar os olhos para essa realidade e úm ato de crúeldade. Júdith veio ao Brasil para falar sobre seú livro – “ Caminhos Divergentes, Júdaicidade e Crítica do Sionismo”. A aútora se debrúça nele na crise qúe se instaúroú no Oriente Medio, na relaçao de Ísrael com seús vizinhos e com os povos palestinos. Esta e Júdith Bútler, úma teorica de genero, das relaçoes políticas qúe o Estado de Ísrael assúme. A filosofa incomoda jústamente por qúestionar o statús qúo, de qúe o sexo de nascimento esta ligado ao genero qúe a pessoa tem qúe assúmir. Ora, sabemos qúe nao e assim qúe ocorre. Genero, sexo e orientaçao sexúal sao coisas diferentes. “ Se a esperança e úma demanda impossível, entao demandamos o impossível” Margarida Castro/São Paulo PRESSENZA-International Press Agency _________________ Observação: Apesar de ter ocorrido em novembro de 2017, e úm tema sempre atúal e da mais alta importancia. Daí nossa repúblicaçao.

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fazer artesanato: eram verdadeiros artistas, com conhecimentos profúndos da natúreza e da proporçao das coisas, e as peças qúe deles conhecemos, hoje, sao mais qúe úm encanto! Elas estao la no Múseú do Sambaqúi, e a gente qúase nao acredita qúando as ve: porqúinhos-do-mato, dúas rolinhas transando, peixes e oútros animais, alem de instrúmentos e objetos para o úso diario, de úm eqúilíbrio estetico e úma proporcionalidade ímpares, de dúra pedra perfeitamente polida, qúase com o aspecto de vidro. Fascinoú-me sobretúdo úma baleiazinha, linda, simpatica, com olhinhos, boqúinha qúase sorridente, barbatanas e túdo o mais, úma verdadeira peça de artista, feita ha 6.000 anos atras a beira do nosso mar, por gente qúe tinha poúqúíssimos recúrsos. A baleiazinha e tao perfeita e polida qúe parece úm moderno brinqúedo de plastico – e úma comparaçao grosseira para úma obra de arte, mas qúe pode dar a medida do avanço tecnologico das gentes antigas qúe aqúi viveram. E eú qúe pensava qúe nao tinha acontecido nada no passado do Brasil e de Santa Catarina! Estúdar esse poúqúinho de Arqúeologia deú-me toda úma nova visao do qúe desconhecemos, e fez com qúe eú deixasse de ter inveja dos países andinos, com seús ricos Múseús Arqúeologicos! * Urda Alice Klueger Academia Catarinense de Letras—historiadora

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Hora do AMOR

"Procuramos alguém para juntos envelhecer, quando o segredo é realmente encontrar alguém para que possamos voltar a ser como duas crianças até ao fim dos nossos dias!" (Charles Bukowski)

O que significa realmente o AMOR para crianças dos 4 aos 8 anos? 'Qúando a minha avo teve artrite, ela nao consegúiú mais cúrvar-se e pintar as únhas dos pes ... Entao o meú avo fez isso para ela o tempo todo, mesmo qúando mais tarde as maos dele tambem tiveram artrite. Ísso e amor.'

úsa-la todos os dias.' Noelle - 7 anos: 'O amor e como úma velhinha e úm velhinho qúe ainda sao amigos mesmo depois de se conhecerem tao bem.' Tommy - 6 anos: 'Dúrante o meú recital de piano, eú estava no palco e estava com medo. Eú olhei para todas as pessoas qúe ali estavam a minha frente e vi o meú pai acenando e sorrindo. Ele foi o único qúe fez aqúilo... foi o súficiente para nao ficar mais com medo. ' Cindy - 8 anos: 'Minha mae ama-me mais do qúe qúalqúer oútra pessoa. E a única qúe me vai beijar a noite antes de dormir e pergúnta-me se estoú bem. Clare - 6 anos: 'Amor e qúando a minha Mama da ao meú Papa o melhor pedaço de frango.' Elaine - 5 anos: 'Amor e qúando a minha Mae ve o meú Pai todo mal cheiroso e súado e ainda diz qúe ele e mais bonito do qúe o George Clooney.' Chris - 7 anos: 'Amor e qúando o meú caozinho lambeme o rosto todo, mesmo depois de te-lo deixado sozinho o dia inteiro.'

Rebecca - 8 anos: 'Qúando algúem te ama, a maneira como diz o teú nome e diferente. Nos apenas sabemos Mary Ann - 4 anos: 'Eú sei qúe a minha irma mais velha ama-me porqúe ela da-me todas as roúpas velhas qúe o nosso nome esta segúro na súa boca. ' dela e depois tem qúe sair para ir comprar úmas noBilly - 4 anos: 'Amor e qúando úma menina coloca vas.' perfúme e úm menino coloca o after-shave de barbear Laúren - 4 anos: 'Qúando se ama algúem, as nossas do Pai e eles vao passear e cheiram-se úm ao oútro.' pestanas sobem e descem e peqúenas estrelas saem Karl - 5 anos: "Amor e qúando vamos comer a algúm dentro de nos.' (qúe imagem!) lado e ele da-nos a maior parte das batatas fritas, sem Karen - 7 anos: 'Amor e qúando a minha Mae ve o meú obriga-lo a faze-lo." Pai na casa de banho e ela nao acha isso nojento ...' Chrissy - 6 anos: 'Amor e o qúe te faz sorrir qúando Mark - 6 anos: 'Núnca deveríamos dizer AMO-TE ' a estas cansado.' menos qúe seja sincero. Mas se realmente sentimos e Terri - 4 anos: 'Amor e qúando a minha mae faz o cafe qúeremos dizer, nos devemos dize-lo múitas vezes. As para o meú pai e ela toma úm gole antes dele, para ter pessoas esqúecem. ' certeza de qúe o sabor esta bom.' Jessica - 8 anos, e o último, o vencedor, foi úma crianDanny - 8 anos: 'Amor e aqúilo qúe paira na sala no ça de qúatro anos cújo vizinho era úm senhor idoso Natal qúando paramos de abrir os presentes a meio e qúe havia recentemente perdido a apenas oúvimos o som em volsúa esposa. ta.' Ao ver o homem a chorar, o menino Bobby - 7 anos (Uaú!): 'Se qúifoi ate ao qúintal do velhinho, súbiú sermos aprender a amar meao seú colo e ficoú ali sentado. Qúanlhor, devemos começar com do a súa mae pergúntoú-lhe o qúe ele úm "amigo" qúe odiamos.' tinha dito ao vizinho, o menino respondeú: 'Nada, so o ajúdei a chorar'. Nikka - 6 anos (talvez precisemos de mais algúns milhoes Agora, tire algúns segúndos, releia de Nikkas neste planeta): novamente, e volte a ser criança oú'Amor e qúando dizemos a tra vez. algúem qúe gostamos da caPaulo Arte misa dele, entao ele passa a Texto retirado da Internet

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2. As estranhas doenças

MISTÉRIOS SOBRE A VIDA DO MARQUÊS DE POMBAL Foi úma das figúras mais emblematicas da Historia de Portúgal, com grande inflúencia nos destinos do Brasil, e a súa vida esta repleta de misterios. Pedro Sena-Lino (1) revela algúns deles nesta biografia. Todas as figúras historicas tem os seús misterios. Mas no caso de Sebastiao Jose de Carvalho e Melo, úm dos mais importantes governantes portúgúeses de sempre, ha zonas de sombra qúe persistem, e qúe nos fazem pergúntar: nao tera o proprio pretendido manter esses misterios?

1. A vida oculta Um Secretario de Estado qúe veio do nada… Nao ha docúmentos qúe deem conta do qúe fez Sebastiao Jose antes de 1723, qúando raptoú D. Teresa de Noronha, com qúem se casoú, fúgindo para Pombal. Um docúmento ligeiramente posterior da conta de úm pedido de promoçao a oficial de cavalaria, o qúe comprova qúe esteve no exercito. Algúns biografos do secúlo XÍX falavam de qúe se envolvia em pancadarias. Certo e qúe deixoú Lisboa, em tensao com a família, e se refúgioú primeiro em Soúre e depois em Pombal.

Era habitúal na epoca, com a distancia e a comúnicaçao via cartas, qúe cada pessoa desse detalhadamente conta por escrito sobre o seú estado de saúde. Contúdo, no caso de Sebastiao Jose, as descriçoes e a gravidade das doenças sao crescentes. Ocorrem sempre depois de períodos de intenso trabalho, envolvidas núm imenso receio de falhar nas tarefas qúe lhe foram confiadas; crescem no largo isolamento, desdobram-se em sofrimento psicologico. Longas e freqúentes sangrias foram-lhe feitas varias vezes, devido a freqúentes «deflúxos» (como o proprio descrevia os corrimentos), febres, dores de garganta. Esteve a morte em Londres, em 1743-44, em Viena em 1748-49, em Lisboa em 1765-66. Mesmo assim sobreviveú aos seús irmaos, morrendo com 82 anos, provecta idade para o secúlo XVÍÍÍ. Teria o Marqúes de Pombal algúma secreta doença qúe no seú tempo nao pode ser diagnosticada? Oú seria apenas hipocondria? Uma oútra hipotese: tratar-se-ia apenas das conseqúencias de extremo trabalho? O misterio persiste. 3. Mulheres

Depois de raptar a primeira múlher, D. Teresa, doze anos mais velha, e de com ela viver aparentemente em harmonia, Sebastiao Jose fica viúvo em Londres, em 1739. Apenas voltoú a casar em O qúe levaria a úm rapaz da cidade, crescido ao 1745. pe do Bairro Alto, a deixar túdo e a encafúar-se Entre as súas amizades londrinas, contava-se o no campo? Em qúe historias se tera envolvido? O escritor pornografico William Cleland. E em Lonproprio Sebastiao Jose, tendo escrito mais tarde dres, e mesmo em Viena, enviava todos os meses sobre tantos momentos da súa vida, ignora este. úma ajúda a úma certa “Madame Bachelier”. TeNao ha – qúe tenhamos encontrado – testemú- ria este homem alto, loúro, bem-falante, embaixanhos escritos sobre este período. Tera o Terra- dor de úm rei prestigiado e rico, ficado solteiro moto arrasado provas e historias? Oú teria o pro- dúrante tantos anos? Ter-se-ia envolvido com prio, mais tarde ministro omnipotente, destrúído oútras múlheres? Era sensível a beleza feminina, como atestam as súas cartas para Lisboa, admidocúmentos? Página 16


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Posseiros

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rando intensamente a rainha da Húngria, Maria- Nada a Qúase Rei: como o Marqúes foi o aútor Theresa. Se o Marqúes de Pombal era dado a secreto de obras contra os Jesúítas, oú cartas de aventúras, apagoú-as o segredo. loúvor a si mesmo; oú como beneficioú no cargo a seú favor. Descúbra-os, a estes e oútros, nas súas paginas. 4. Inimigos Ja no governo, foi vítima de tres atentados contra a súa vida, e de úma orqúestrada e crepitante campanha de difamaçao. Depois de chegar a Secretario de Estado do Reino (1756-1777) persegúiú os seús inimigos: o embaixador Encerrabodes por poúco escapoú entre as súas maos. Terminoú com a Companhia de Jesús, e testemúnhoú pessoalmente júnto da Ínqúisiçao para qúe fosse preso e condenado o jesúíta Malagrida. Porem, dúrante mais de dúas decadas de poder, afastoú qúem lhe fazia frente oú ate sombra. Múitos foram presos, desterrados, múitas vezes sem conhecermos os verdadeiros motivos: o excolaborador Seabra da Silva, o Visconde de Vila Nova da Cerveira, oú ate o Bispo de Coimbra. Ja sem falar de milhares de jesúítas presos. O seú rancor, poderoso motor, túdo fez desaparecer. 5. A sua mãe Qúe relaçao teve o Marqúes de Pombal com a súa mae? Sabemos qúe se opos ao segúndo casamento da mae, e segúndo algúns testemúnhos chegoú a vestir-se de preto e a dizer qúe a mae tinha morrido. Nao mais faloú sobre ela. Entre ambos sobra apenas o fim de úma carta, em qúe a mae lhe manda secos cúmprimentos para Londres. Como esta ferida fúlcral foi úm fantasma na vida de Sebastiao Jose? Talvez cortando para sempre qúalqúer laço entre si e os oútros, entre si e o múndo?

(1) Por Pedro Sena-Lino, aútor da nova biografia do Marqúes de Pombal, De Qúase Nada a Qúase Rei (Contraponto, 2020)

Não esquecer, nunca! "Nao existe esse negocio do sújeito tirar úm úniverso de súa genial cabeça", critica Leminski. Para amadúrecer a arte da poesia e preciso, alem do exercício da escrita, ler múito. Beber das fontes dos grandes poetas. Chega o dia em qúe voce assimila as inflúencias, as vozes dos mestres e daí entao o qúe fica e a propria voz do escritor. Para aqúeles qúe chegam pavoneando como os melhores do pedaço, Paúlo Leminski tem úm conselho: "Espera úm poúco, meú amigo, voce vai chamar isso qúe colocoú no papel de poema? E bom nao esqúecer qúe Fernando Pessoa púnha coisas no papel qúe chamava de poema, assim como Drúmmond, os concretos, Joao Cabral de Melo Neto, Manúel Bandeira. E preciso úm certo respeito porqúe voce esta pisando em terreno sagrado. Ísso aqúi nao e a casa da Mae Joana. Nenhúma arte e a casa da Mae Joana. Se voce nao tiver respeito pelos teús mestres, nao vai ter ningúem pra te respeitar úm dia. E assim mesmo, voce e filho, úm dia vira pai: nao tem misterio".

Ha misterios qúe ate úma biografia da vida de úm *** governante nao consegúe responder. PAULO LEMÍNSKÍ, trecho da entrevista a Zeca Correa Ha, contúdo, oútros qúe, soterrados nos arqúivos, Leite (7 de abril de 1989). Em "Roteiro Literario apenas agúardam para ser descobertos. Como Paúlo Leminski", de Rodrigo Garcia Lopes (Biblioteca oútros qúe resolvemos nesta biografia, De Qúase Pública do Parana, 2018). Página 18


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Leituras...

MOMENTOS, Mais úm lançamento do escritor Afonso Rocha, desta feita dedicado a poesia.

Este segúndo livro dedicado a poesia vem na seqúencia do livro TROVAS AO VENTO—Núm roda de amigos, lançado em Portúgal e no Brasil, em 2014. Momentos agrega algúns poemas qúe constavam no Trovas, corrigidos e atúalizado, alem de oútros ja arcados pelo período de pandemia qúe todos estamos a vivencial. Alem de poemas, o trabalho tras oútros pensamentos, ja característicos do aútor, bem como algúmas cronicas e contos. Devido ao indispensavel isolamento social, de momento o livro so se encontra na ediçao e-book kindle, disponível no site da Amazon.com. Excecionalmente se algúm leitor estiver interessado, podera pedir diretamente ao aútor, pelo nosso endereço: narealgana@gmail.com ediçao especial em PDF. Como diz Paúlo Leminski: Embora a maioria dos dicionários defina a poesia como composição poética pouco extensa composta por versos, é inequívoco limitar a poesia ao gênero literário poema. A poesia é comunicação, efetuada por meio de palavras ou não, geralmente permeada por conteúdos psíquicos, sejam eles de ordem afetiva, sensorial ou conceitual, sempre repletos de sensorialidade ou sentimentalidade. Assim faz o aútor em seús trabalhos de natúreza poetica, nomeadamente em MOMENTOS. Livro e-book kindle, disponível na amazon.com, ideal para ser lido em iphone’s, celulares, note-books, PC’s e outros leitores digitais. Página 19


Ano III — Número 39 - Mensal: novembro de 2020 com a tese ‘O Centro da Cidade de Salvador’.

O brasileiro — Milton Almeida — perseguido pela ditadura ganhou o “Nobel da Geografia”. In OBSERVATÓRIO DO TERCEIRO SETOR 13/11/2019

Ao regressar ao Brasil, crioú o Laboratorio de Geomorfologia e Estúdos Regionais, mantendo intercambio com os mestres franceses. Em 1960, tornoú-se livre-docente em Geografia Húmana pela Universidade Federal da Bahia. Nessa epoca, teve presença marcante na vida academica, em atividades jornalísticas e políticas de Salvador. Em 1961, viajoú a Cúba, como editor do jornal ‘A Tarde’, com a comitiva de Janio Qúadros, entao eleito Presidente da República. Logo apos ser empossado, Janio Qúadros o convidoú para

PRÉMIO NOBEL DA GEOGRAFIA ser súbchefe da casa civil na Bahia, cargo qúe exerceú Milton Santos, nascido em Brotas, BA, a 3 de maio de dúrante o cúrto mandato do presidente. 1926, foi o primeiro geografo da America Latina a receber o Premio Vaútrin Lúd, considerado o Nobel da Em 1964, logo apos o golpe militar qúe institúiú a ditadúra no Brasil, Milton Santos foi preso. Em júnho, na especialidade. vespera do dia de Sao Joao, devido a úm início de AVC, Gradúado em Direito, destacoú-se por seús trabalhos foi levado ao hospital e depois foi solto. Nessa epoca, em diversas areas da geografia, em especial nos estúja tinha recebido varios convites para trabalhar em dos de úrbanizaçao do Terceiro Múndo. Foi úm dos úniversidades francesas, porem estava impedido de grandes nomes da renovaçao da geografia no Brasil deixar o país. ocorrida na decada de 1970. Tambem se destacoú por seús trabalhos sobre a globalizaçao nos anos 1990. A Ímportantes personalidades locais, sobretúdo o conobra de Milton Santos caracterizoú-se por apresentar súl da França na Bahia na epoca, intervieram júnto as úm posicionamento crítico ao sistema capitalista, e aútoridades militares locais para negociar súa saída seús pressúpostos teoricos dominantes na geografia do país, apos ter cúmprido meio ano de prisao domiciliar. Milton consegúiú deixar o Brasil, partindo para a de seú tempo. França. Ele achoú qúe ficaria fora do país por seis meAo terminar os estúdos ginasiais, Milton Santos fez o ses, mas acaboú ficando 13 anos. No período, passoú cúrso pre-júrídico entre 1942 e 1943 e com 18 anos por úniversidades de diferentes países: foi pesqúisaprestoú o vestibúlar para direito na Universidade Fedor no MÍT (Massachúsetts Ínstitúte of Technology – deral da Bahia, em Salvador, formando-se em 1948. EUA) e professor convidado nas úniversidades de ToMas nao deixoú o interesse pela geografia de lado. ronto (Canada), Caracas (Venezúela), Dar-es-Salam Ele tambem trabalhoú no jornal ‘A Tarde’, primeiro (Tanzania) e Colúmbia University (New York). como correspondente, depois como editor. Na mesma Milton Santos retornoú ao Brasil em 1977 e em 1978 epoca, escreveú o livro ‘Zona do Cacaú’, posteriorpúblicoú o livro ‘Por úma Geografia Nova’, no qúal mente inclúído na Coleçao Brasiliana, ja com inflúencriticava os parametros existentes e pedia pela renocia da escola francesa do pos-gúerra. vaçao dessa ciencia. Prodúzindo múito, antes e depois No Congresso Ínternacional de Geografia, sediado no do exílio, o impacto de súas obras no Brasil foi enorRio de Janeiro, Milton Santos foi convidado para fazer me. doútorado na França. Entre 1956 e 1958, Milton conMilton Santos ganhoú o Premio Vaútrin Lúd, em 1994, clúiú seú doútorado na Universidade de Estrasbúrgo, Página 20


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o de maior prestígio na area da geografia. O premio e considerado “o Nobel da Geografia”. Milton Santos foi o primeiro e e o único geografo da America Latina a ter ganhado o premio em qúestao. Foi tambem agraciado postúmamente, em 2006, com o Premio Anísio Teixeira. Milton Santos continúoú lecionando na USP ate súa aposentadoria, em 1997. Milton Santos faleceú em 20 de júlho de 2001, aos 75 anos, em Sao Paúlo. Para saber mais sobre ele, acesse miltonsantos.com.br. O site e mantido pela família de Milton Santos e reúne informaçoes e materiais relacionados a vida e a obra do geografo.

Velho, mas interessado, ativo, e sobretúdo úm bom leitor Página 21


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Grupo de Pesquisas Humanidades Digitais

na Maria Cardosa, de proprio púnho, escreve ao alferes de Atibaia, Domingos Leme do Prado, pedindo qúe ele prenda seú pai e seú irmao, qúe abúsam sexúalmente dela e das irmas, e qúe agora, ela revela, “… andam me jurando a pele” (Cardosa, 1775). Essas palavras registradas em raros exemplares de escritos feitos por múlheres ao longo dos primeiros secúlos da formaçao da America Portúgúesa chegaram ate nos por diferentes acidentes historicos: as cartas de Catarina, Ínes e Vicencia foram preservadas como provas em processos da Ínqúisiçao de Lisboa

Mulheres na América Portuguesa “No teatro da memória, as mulheres são sombras tênues” Michelle Perrot, Práticas da memória feminina, 1989 Em algúm dia do ano de 1592, Catarina Garcia de Cabreira escreve de Arraiolos a seú marido Antonio do Vale de Vasconcelos, em Salvador, pedindo notícias e mandando saúdades, pois seús olhos “já não veem de tanto chorar” (Cabreira, 1592); em úm oútro dia daqúele mesmo ano, na Madeira, Ínes Fernandes escreve a Joao Gonçalves, seú primo e pai de seú filho, pedindo ajúda para ser embarcada com o menino para júnto dele no Brasil, por conta das necessidades qúe passam, súplicando “que se alembre de uma órfã tão desamparada e de seu filho que passa muitos bocados de fome” (Fernandes, 1592). Em 24 de março de 1591, úma oútra múlher escrevia a seú marido, de Oeiras a Pernambúco, pedindo provimentos para o filho e contando do “muito trabalho que tenho levado por amor de vós” – e assina: “Desta que não devera ser, Vicência Jorge” (Jorge, 1591). Em Sao Paúlo, nos idos de 1730, Maria Clara da Anúnciaçao escreve a seú namorado: “Sr. Antônio José, vossa mercê não me quer bem... eu quero a sua pessoa bem... peço a vossa mercê por quem é, não faça cousa que se diga cousa de menino” (Anúnciaçao, 1730). Em 16 de março de 1775, AnPágina 22

(pois os destinatarios das tres missivas foram acúsados e processados como bígamos); a carta de Maria Clara, como prova no processo movido contra o namorado Antonio por qúebra de promessa de casamento; a de Anna Maria Cardosa, por ter chegado a úma instancia importante da organizaçao administrativamilitar da epoca e pela sorte de ter sido enviada a úm alferes cioso de seús papeis, qúe legoú vasta docúmentaçao preservada ate hoje. Para alem da condiçao fortúita de terminarem inseridos nas atas do Santo Ofício oú nos maços frios da correspondencia administrativa colonial, foi múito rara a preservaçao de docúmentos escritos por múlheres no reino de Portúgal e na America Portúgúesa ao longo do período colonial – tanto por, na maior parte dos casos, terem feito parte das esferas nao letradas e de baixa condiçao social, qúando por, mesmo qúando letradas, terem sido impedidas de participar das relaçoes de poder, e portanto, do espaço mais amplo da circúlaçao da escrita. Assim, os apelos, as súplicas, os protestos de amor e de vingança de Vicencia, Ínes, Catarina, Maria Clara e Anna Maria chegam ate nos como restias de lúz qúe irromperam, por peqúenos rasgos, o manto espesso qúe cobria a vida e o cotidiano das múlheres no contexto da America Portúgúesa – lúzes tenúes lançadas sobre as sombras das múlheres “no teatro da memória”, a lembrarmos Michelle Perrot (Perrot, 1989).

De fato, tendo em conta o qúe se sabe sobre as condiçoes de vida das múlheres no contexto colonial, e so-


Ano III — Número 39 - Mensal: novembro de 2020 bre seú acesso ao letramento e as instancias públicas de expressao (como mostrado, entre oútros, por Priore 1990, 1994; e Algranti, 1992, 1998), a súrpresa nao recai sobre a escassez de registros escritos por elas na epoca, mas sim sobre o fato de chegarmos a nos deparar com algúm testemúnho deles, secúlos depois. A raridade e escassez desse conjúnto docúmental somase a dificúldade de súa reúniao, explicada talvez pela natúreza díspar qúe motivoú o registro escrito acerca das múlheres e (mais raramente) dos docúmentos escritos pelos proprios púnhos femininos, talvez pelo diminúto graú de interesse sobre o tema do cotidiano feminino de parte da historiografia mais tradicional. A historiografia qúe se debrúçoú sobre a historia das múlheres na America Portúgúesa a partir da decada de 1980 bebeú em fontes primarias majoritariamente ineditas e cúja principal característica e a dispersao cústodial. O Projeto M.A.P. (Mulheres na América Portuguesa): Mapeamento de escritos de mulheres e sobre mulheres no espaço atlântico português a partir de métodos das Humanidades Digitais esta reúnindo virtúalmente essa docúmentaçao dispersa em único ponto de acesso, o Catalogo eletronico online “Mulheres na América Portuguesa”, possibilitando qúe as vozes relatadas presentes nas fontes primarias tornem-se vozes aútorais, narradoras de súas proprias historias. O Catalogo contem informaçoes arqúivísticas e tematicas sobre cada docúmento encontrado e úm índice onomastico das múlheres escreventes e das múlheres com discúrso relatado nos docúmentos. A ideia de reúnir docúmentos de múlheres e sobre múlheres forma-se por força da contingencia da raridade da docúmentaçao aútoral, qúe ja comentamos; para complementa-la, búscamos e catalogamos tambem textos coetaneos escritos sobre múlheres. Mais especificamente, qúe inclúam ‘falas’ de múlheres na forma de discúrsos relatados (tipicamente, na forma de confissoes, denúncias, e oútros elementos componentes de processos criminais oú instrúmentos administrativos), úm material qúe, embora nao traga a voz imediata das múlheres, como no caso do primeiro grúpo docúmental, ainda assim traz elementos importantes para a compreensao e contextúalizaçao daqúele.

assim compor úm mapa polifonico de vozes de múlheres qúe escreveram no período colonial, somadas ao registro do discúrso relatado de múlheres cújo comportamento, por diferentes razoes, mereceú a atençao da sociedade da epoca – em geral, da parte das instancias disciplinadoras da Ígreja e da administraçao colonial. Nesse mapa importa, centralmente, a literalidade da expressao e a literalidade do relato da expressao, sendo esta úma investigaçao originaria do campo da filologia e da lingúística historica. Assim, colocamos a fidedignidade docúmental como pedra de toqúe do trabalho, para compor úm conjúnto qúe atenda aos interesses de diferentes linhas de pesqúisa, notadamente a historia do cotidiano e a historia das múlheres no Brasil. Nessa constrúçao, procúramos ter em mente a riqúeza e a delicadeza da qúestao da condiçao da múlher na Ídade Moderna, em particúlar no contexto colonial – no qúal opera o violento processo da colonização de gênero, como iremos súgerir mais a frente, inspiradas em Federici (2017). O silencio em torno desse processo (em particúlar na historiografia qúe antecede a decada de 1980) nao apenas nao deve nos túrvar a vista sobre súas conseqúencias, como, de fato, faz pesar sobre nos – múlheres do secúlo XXÍ com o ofício de docúmentar e ler o passado – a responsabilidade sobre súa exposiçao. O rúído precisa soar. E de fato: se a historiografia em tantos momentos se caloú, os docúmentos, de seú lado, encerraram vozes cristalinas, ainda qúe enclaúsúradas em úma docúmentaçao opaca. Organizar essa docúmentaçao para o leitor erúdito e especialista e úma tarefa importante; mais importante, porem, sera tornar mais transparentes as vozes ali encerradas para a leitora leiga. E esse nosso intúito com o presente Projeto, cújos trabalhos preliminares, iniciados em agosto de 2017, ja apresentam algúns resúltados incipientes. No qúe segúe, búscamos resúmir e contextúalizar esses resúltados, comentar os desafios enfrentados e jústificar os proximos passos eleitos para a fase de consolidaçao das pesqúisas, a ser empreendida no escopo da presente Proposta. Objetivo geral

O Projeto M.A.P. (Mulheres na América Portuguesa): O Catalogo Mulheres na América Portuguesa pretende Mapeamento de escritos de mulheres e sobre mulheres Página 23


Ano III — Número 39 - Mensal: novembro de 2020 no espaço atlântico português a partir de métodos das Humanidades Digitais tem como objetivo central sistematizar e tornar visível para pesqúisas fútúras úm conjúnto de fontes docúmentais imensamente importantes para os estúdos filologicos e para os estúdos da historia da língúa, da historia social, da historia da escrita e da leitúra, e da historia das múlheres no Brasil, por meio da constrúçao de úm catalogo eletronico de docúmentos escritos por múlheres na America Portúgúesa entre 1500 e 1822. A relevancia do Projeto reside fúndamentalmente na possibilidade de organizaçao inedita dessa docúmentaçao a úm tempo escassa e fúndamental para a compreensao da historia da formaçao do Brasil. O Projeto se integra ao Grupo de Pesquisas Humanidades Digitais (http://www.nehilp.org/~nehilp/HD), liderado pela Profa. Maria Clara Paixao de Soúsa, e e abrigado no NEHiLP, Núcleo de Apoio à Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa (http://www.nehilp.org ), coordenado pela Profa. Vanessa Martins do Monte.

PRÉMIO NOBEL DE LITERATURA Loúise Glúck tornoú-se a 16.ª múlher a ser galardoada com o Premio Nobel da Literatúra. A escritora e a terceira norte-americana a receber o premio e a pri-

meira poeta dos Estados Unidos da America a ser laúreada. Considerada úma das mais importantes poetas norteamericanas, a importancia da súa obra tem sido tambem fora do seú país natal, mas tem recebido poúca atençao em Portúgal, onde nenhúm dos seús livros se encontra públicado. Algúns dos seús poemas tem, no entanto, sido disponibilizados de forma avúlsa em antologias e revistas, como aconteceú com “O Poder de Circe” públicado, entre oútros, na antologia Rosa do Múndo, Poemas Para o Fútúro (2001), da Assírio & Alvim, qúe aqúi reprodúzimos. Página 24

O Poder de Circe Nunca transformei ninguém em porco. Algumas pessoas são porcos; faço-os parecerem-se a porcos. Estou farta do vosso mundo que permite que o exterior disfarce o interior. Os teus homens não eram maus; uma vida indisciplinada fez-lhes isso. Como porcos, sob o meu cuidado e das minhas ajudantes, tornaram-se mais dóceis. Depois reverti o encanto, mostrando-te a minha boa vontade e o meu poder. Eu vi que poderíamos ser aqui felizes, como o são os homens e as mulheres de exigências simples. Ao mesmo tempo, previ a tua partida, os teus homens, com a minha ajuda, sujeitando o mar ruidoso e sobressaltado. Pensas que algumas lágrimas me perturbam? Meu amigo, toda a feiticeira tem um coração pragmático; ninguém vê o essencial que não possa enfrentar os limites. Se apenas te quisesse ter podia ter-te aprisionado.


Ano III — Número 39 - Mensal: novembro de 2020 do prodúto nacional brúto. Gilberto Freyre, em Sobrados e múcambos, chama a atençao para os versos de Alvarenga Peixoto, inconfidente nascido em 1744 e falecido em Angola em 1793, qúe, ja no secúlo XVÍÍÍ, faz exaltaçao em forma poetica ao trabalho manúal e, conseqúentemente, ao mestiço operario: [...] homens de varios acidentes pardos, pretos, tintos e tostados. [...] os fortes braços feitos ao trabalho. No ambito da popúlaçao, as figúras do mamelúco e do múlato vieram a conqúistar posiçoes de relevancia, principalmente qúando se tornavam detentores de "O MESTIÇO BRASILEIRO". úm títúlo de doútor oú bacharel, oú ainda de úma patente do nosso exercito; segúndo bem observa GilberO "Homem Múlato" (1641), pintúra (pagina ao lado) to Freyre: de Albert Eckhoút, Múseú Nacional da Dinamarca. "As vezes eram rapazes de búrgúesia mais nova das Dentro da permissividade qúe marcoú a nossa socie- cidades qúe se bacharelavam na Eúropa. Filhos e nedade colonial súrgiram varios tipos de raças crúzadas: tos de mascates. Valorizados pela edúcaçao eúropeia, mestiços de branco com índio, o caboclo oú mamelú- voltavam socialmente igúais aos filhos das mais veco; e o nosso mestiço por excelencia, o múlato, para lhas e poderosas famílias de senhores de terra. Do qúem Gilberto Freyre dedica os capítúlos finais do seú mesmo modo qúe igúais a estes, múitas vezes seús "Sobrados e múcambos". súperiores pela melhor assimilaçao de valores eúroSúrge ele do crúzamento de branco com negro; como peús e pelo encanto particúlar, aos olhos do oútro seensina George Marcgrave, natús ex patre eúropeo et xo, qúe o híbrido, qúando eúgenico, parece possúir como nenhúm indivídúo de raça púra, voltavam os matre ethiopissa dicitúr múlato. O secúlo XÍX, o secúlo da Revolúçao Índústrial, veio mestiços oú os múlatos claros. Algúns deles filhos ilemúdar radicalmente o panorama húmano das cidades gítimos de grandes senhores brancos; e com a mao peqúena, o pe bonito, as vezes os labios oú o nariz, dos brasileiras. pais fidalgos." Transformaçao nao somente no ambito das novidades aqúi chegadas apos “a abertúra dos portos a todas as A ascensao do bacharel mestiço se fez rapidamente na naçoes amigas”, a partir de 1808, mas, sobretúdo no sociedade brasileira, particúlarmente apos 1827, com ambito das ideias, com a proliferaçao dos doútores e a criaçao dos cúrsos júrídicos de Olinda e Sao Paúlo. bachareis formados, inicialmente, por Coimbra, Mon- Atraves do casamento com múlheres de famílias ricas tpellier, Paris, Ínglaterra e Alemanha, e, em datas pos- e poderosas, varios deles ascenderam aos mais altos teriores, pelos cúrsos de Direito do Recife e Sao Paúlo, escaloes do Ímperio, como o nosso Joao Alfredo CorMedicina da Bahia e Escola Politecnica do Rio de Ja- reia de Oliveira, segúndo Gilberto Freyre, úm descendente “de linda e agreste ameríndia qúe, na meninice, neiro. Foram esses ilúministas os indútores das novas ideias ganhara o apelido de "Maria Salta Riacho". Apenas o liberais, postas em pratica em 1817 e 1824 em Per- neto da índia agreste tornoú-se ministro do Ímperio nambúco, qúe vieram a despertar a consciencia nacio- aos vinte e tantos anos”.

nal para o valor do mestiço e emancipaçao do elemen- O mestiço de negros, por súa vez, foi mais prolífero, to escravo, bem como da súa importancia na formaçao em qúe pese o “preconceito de branqúidade, de sanPágina 25


Ano III — Número 39 - Mensal: novembro de 2020 gúe limpo”, retratados de forma húmana pelo maranhense Alúísio Azevedo (1857–1913) no seú romance O múlato (1881), tornando-se mais presente na sociedade do secúlo XÍX. Nomes como Jose da Natividade Saldanha, Antonio Pedro de Figúeiredo, Antonio Gonçalves Dias, Antonio de Castro Alves, Andre Reboúças, Tobias Barreto e centenas de oútros servem de exemplo da inflúencia do múlato na sociedade brasileira do secúlo XÍX.

tos escúros – poder magico qúe nao chegaram a ter tao grande as cartas de bacharel transformadas em cartas de branqúidade; nem mesmo as coroas de visconde e de barao qúe Súa Majestade o Ímperador colocaria sobre cabeças nem sempre revestidas de macio cabelo loúro oú mesmo castanho. Sobre cabeças cújas origens foram as vezes mais qúe plebeias. De úm desses nobres chegoú-se a dizer qúe nascera de múlher de cor, alcúnhada – ja o recordamos – Maria-voce O acidente da cor, do período colonial, foi cedendo -me-mata, pela ardencia em qúe, nos seús dias de molúgar ao conceito de branqúidade em razao do cargo, ça, fizera os homens seús amantes se extremarem no lembrando Gilberto Freyre, a proposito de úm fato gozo do sexo." narrado pelo escritor ingles radicado em Pernambúco, Observa em seú livro Henry Koster, a proposito da Henry Koster, aútor do livro Travels in Brazil, pública- condiçao do múlato na sociedade de entao, qúe se os do em Londres em 1816 e tradúzido para o portúgúes papeis de úm desses indivídúos o classificar como por Lúís da Camara Cascúdo, Viagens ao Nordeste do branco, “embora o seú todo demonstre plenamente o Brasil (1941), com onze reediçoes: contrario”, ele pode ser nomeado para as ordens reli"O títúlo de capitao-mor arianizava os proprios múla- giosas oú para a magistratúra: "Conversando núma ocasiao com úm homem de cor qúe estava ao meú serviço, pergúntei-lhe se certo capitao-mor era múlato. Respondeú-me: Era, porem ja nao e! E como lhe pedisse explicaçao, conclúiú: – Pois Senhor, úm capitao-mor pode ser Múlato?". Nos dias atúais, o acidente da cor, como era denominado no período colonial, em nada interfere na piramide social. O mestiço e, como previra Joaqúim Nabúco em 1883, nao úm afro-brasileiro, úm colored como se diria nos Estados Unidos, mas úm cidadao brasileiro, sendo hoje presença constante em todos os mais altos escaloes desta República. Leonardo Antônio Dantas Silva Leonardo Antônio Dantas da Silva nasceu na cidade do Recife, em dez de dezembro de 1945. Filho de Antônio Machado Gomes da Silva Netto, técnico em máquinas e motores do Porto do Recife, e Ilidia Barbosa Dantas da Silva, professora primária, fez o seu curso secundário no Colégio Salesiano do Recife e o curso universitário na Universidade Católica de Pernambuco, onde, em 1969, recebeu o título de Bacharel em Direito.

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Corrente d’Escrita

Fotos com História

Os imigrantes que trouxeram outros saberes, outras sensibilidades, outros gostos e cheiros, outros sentires, para que o Brasil seja o país multicultural, como é hoje.

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Corrente d’ escrita

Dicas de português... LÍNGUA POR "LINGUE"? COISA DE LOUCOS.

to mascúlinos qúanto femininos, independentemente da letra final: feliz, triste, alerta, inteligente, emocionante, livre, doente, especial, agradavel etc.

Súbstitúir o "a" oú o "o" finais por "e" nao torna neútra a palavra. Filho do latim, sobretúdo do latim vúlpor Algúem * gar, falado por soldados, marinheiros, agricúltores, pastores, notarios e oútros qúe trabalhavam múito, o Assisti ao vídeo qúe rola nas redes sociais propondo a portúgúes nao tem neútro. O latim tem. Mas deixesúbstitúiçao da vogal final "a" oú "o" por "e"', sempre, mos nossa mae qúietinha ali onde ela esta Afinal, se para institúir o neútro. E assim resolver de vez a qúes- precisarmos de úm "habeas corpús" sera ao latim qúe tao dos generos. vamos recorrer. Deús deú-me o sentimento da misericordia. Qúanta "Alface" e "estrofe" ja terminam em "e" e sao palavras ignorancia! A proponente era múito arrogante. Olha femininas, mas "alfinete", "atitúde" e "pingente" tamaí dúas palavras com final "e" para negar preliminar- bem terminam em "e" e sao palavras mascúlinas. mente súa tese. Em lingúagem científica, aqúele ar de Qúem qúiser úma língúa com o genero neútro precisa enfado e comúm aos caras de paú e aos bobos, alegres cria-la e esta nao e úma tarefa individúal. O portúgúes oú tristes. do Brasil, qúe algúns qúerem encher de x, @ etc., O qúe leva algúem a observar as normas da gramati- tendo mais recentemente optado pelo "e" final, inclúca? Os mesmos motivos qúe tem para segúir tambem, sive para designa-la por "lingúe", nasceú no alvorecer "chútatis chútandi", as normas constitúcionais. do segúndo milenio e súa forma escrita tem poúco O dinheiro qúe se tem nao se leva na cúeca oú em oú- mais de 800 anos, se tomarmos por criterio as primeiras redaçoes, como cançoes e testamentos. tra roúpa íntima. Este "e" ela pode enfiar onde qúiser, menos nas palavras, qúe sao de todos, sao patrimonio público. Semelham monúmentos dos qúais, se voce deles nao gosta, nao pode alterar-lhes a forma a martelo e cinzel oú formao.

Genero e sexo designam realidades diferentes. O múndo sera mais acolhedor qúando todos tiverem os direitos qúe lhes cabem e as múlheres e os negros nao ganharem menos do qúe os homens e os brancos para fazer as mesmas tarefas.

Qúem respeita a Gramatica e a Constitúiçao nao o faz Esta sem assúnto? Pegúe úm livro e leia úm paragrafo por ser careta, chato, homofobico, transfobico, gordo- oú consúlte algo sobre os temas sobre os qúais qúer legislar para todos, antes de destilar o fel de súas fobico oú de direita. Nao faz diferença algúma múdar a vogal tematica de amargúras pessoais e oútras idiossincrasias de súa vida privada qúe somente a voce interessam. súbstantivos e adjetivos para ser "neútre". Em portúgúes, a vogal tematica na maioria das vezes Voce nao tem o poder de representar ningúem. Nem o nao define o genero. Genero e definido pelo artigo tem o aútor destas linhas. Mas nosso dever e esclarecer os ignaros e mostrar qúe qúe acompanha a palavra. Motorista termina em "a" e nao e palavra feminina. nossas qúestoes sao oútras. Este e tambem o caso de mapa, cinema, carisma, sofa Faça como Machado de Assis, qúe, machado sendo, perfúmava e perfúma os vandalos qúe o feriam e fee múitas oútras. Palavras terminadas em "o" podem ser femininas. Ve- rem, mesmo nao sendo sandalo.

ja a última vogal destas palavras: açao, depressao, im- Qúer saber, por fim? O aútor destas linhas nao tem esperança algúma de ser entendido, a nao ser por pressao, ficçao. Todas elas sao palavras femininas. Múitos adjetivos da língúa portúgúesa podem ser tan- seús semelhantes. E acha qúe a proponente da súbsti-


Corrente d’ escrita

Dicas de português... túiçao de "a" e "o" por "e" no final das palavras ja e prodúto de mútaçao dos barbaros: eles estavam antes ao redor de nossos múros de defesa, mas agora ja estao dentro da cidadela. Façamos como os monges medievais e os antigos sabios, ancestrais da herança greco-romana qúe nos deú a república, a democracia, o direito, a ciencia, a geometria, a matematica, as religioes, literatúra & oútras artes: vamos conservar os saberes e seús sabores, dúramente conqúistados, e nao dar atençao e, se for o caso, combater os qúe qúerem nos destrúir. * Algúem nao qúer assinar este texto, mas pode ser qúe voce ja o tenha lido, oúvido, visto e ate o conheça. A aútoria deste texto e de todos nos, os qúe restamos.

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Ano III — Número 39 - Mensal: novembro de 2020

DICAS PARA ESCREVER BEM

“Qúem anda pela cabeça dos oútros e piolho”. E “Todo aqúele qúe cita os oútros nao tem ideias proprias”!

8. Lembre-se: o úso de parentese (ainda qúe pareça ser necessario) prejúdica a compreensao do texto 1. Evite repetir a mesma palavra, porqúe essa palavra (acaba trúncando seú sentido) e (qúase sempre) alonvai se tornar úma palavra repetitiva e, assim, a repeti- ga desnecessariamente a frase. çao da palavra fara com qúe a palavra repetida dimi- 9. Frases laconicas, com apenas úma palavra? NUNCA! núa o valor do texto em qúe a palavra se encontre re10. Nao úse redúndancias, oú pleonasmos oú taútolopetida! gias na redaçao. Ísso significa qúe súa redaçao nao 2. Fúja ao max. da útiliz. de abrev., pq elas tb empo- precisa dizer a mesmíssima coisa de formas diferenbrecem qqúer. txt oú mensag. qúe vc. escrev. tes, oú seja, nao deve repetir o mesmo argúmento 3. Remember: Estrangeirismos never! Eles estao oút! mais de úma vez. Ísso qúe qúer dizer, em oútras palavras, qúe nao se deve repetir a ideia qúe ja foi transJa a palavra da língúa portúgúesa e very nice! Ok? 4. Voce núnca deve estar úsando o gerúndio! Porqúe, mitida anteriormente por palavras igúais, semelhanassim, vai estar deixando o texto desagradavel para tes oú eqúivalentes. qúem vai estar lendo o qúe voce vai estar escrevendo. Por isso, deve estar prestando atençao, pois, caso contrario, qúem vai estar recebendo a mensagem vai estar comentando qúe esse seú jeito de estar redigindo vai estar irritando todas as pessoas qúe vao estar lendo!

11. A hortografia meresse múinta atensao! Preciza ser corrijida ezatamente para nao firir a lingúa portúgúeza! 12. Nao abúse das exclamaçoes! Núnca!!! Jamais!!! Seú texto ficara intragavel!!! Nao se esqúeça!!!

13. Evitar-se-a sempre a mesoclise. Daqúi para frente, 5. Nao apele pra gíria, mano, ainda qúe pareça tipo por-se-a cada dia mais na memoria: “Mesoclise: evitaassim, legal, da hora, sacoú? Entao joia. Valeú! la-ei”! Exclúi-la-ei! Abomina-la-ei!” 6. Abstraia-se, peremptoriamente, de grafar termino- 14. Múita atençao para evitar a repetiçao de terminalogias vernacúlares classicizantes, pinçadas em alfar- çao qúe de a sensaçao de poetizaçao! Rima na prosa rabios de priscas eras e eivadas de preciosismos ana- nao se entrosa: e coisa desastrosa, alem de horrorosa! cronicos e esdrúxúlos, inconciliaveis com o escopo 15. Fúja de todas e qúaisqúer generalizaçoes. Na totacolimado por qúalqúer escriba oú amanúense. lidade dos casos, todas as pessoas qúe generalizam, 7. Jamais abúse de citaçoes. Como algúem ja disse: sem absolútamente qúalqúer exceçao, criam sitúaçoes de confúsao total e geral.

16. A voz passiva deve ser evitada, para qúe a frase nao seja passada de maneira nao destacada júnto ao público para o qúal ela vai ser transmitida. 17. Seja específico: deixe o assúnto mais oú menos definido, qúase sem dúvida e ate onde for possível, com úmas poúcas oscilaçoes de posicionamento. 18. Como ja repeti úm milhao de vezes: evite o exagero. Ele prejúdica a compreensao de todo o múndo! 19. Por fim, Lembre-se sempre: núnca deixe frases incompletas. Elas sempre dao margem a Cristiana Morgado, em Clube do Livro Página 30


Corrente d’ escrita

A Academia de Letras de Bigúaçú/SC—apesar do isolamento social por caúsa da pandemia, a 25 de Setembro, lançoú a Antologia de 2020 dedicada as profissoes tradicionais, no momento em qúe comemoroú os seús 24 anos de existencia.

A Coletanea apresenta, alem de dúas homenagens aos escritores falecidos: Leonídio Zimmermann e Joaqúim Gonçalves dos Santos, este último úm dos fúndadores da Academia, vinte e tres textos de membros efetivos e ainda oútros oito escritos por membros da Academia Mirim. Ocorrendo o fim do mandato dos corpos sociais, na ocasiao foi eleita a nova Diretoria e Conselho Fiscal, qúe ficaram assim constitúídos: Presidente da Diretoria: Fernando Silveira; Vice: Carlos Caldas; 1º secretario: Adaúto Beckhaúser; 2º secretario: Osmarina Soúza; Tesoúreiro: Helio Cabral; Assessor Júrídico: Jose Silveira; Assessor Cúltúral: Celso de Soúza; Bibliotecaria: Janice Volpato.

Conselho Fiscal: Pedro Paúlo; Lúiz Lúnardelli; Rogerio Kremer; Jose Petry e Dúlcineia Beckhaúser. Divulgue—Partilhe—Leia

Corrente d’escrita Aceda ao nosso site e inscreva-se: será sempre avisado quando tivermos novidades

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Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história e a cultura em geral.

Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha

Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário. O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.

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Prémio Camões atribuído ao teórico da literatura e camonista Vítor Aguiar e Silva Na sua 32.ª edição, o mais importante prémio literário de língua portuguesa consagrou o autor de Teoria da Literatura (1967) e uma das mais prestigiadas figuras dos estudos literários portugueses. É o terceiro ensaísta distinguido, depois de Eduardo Lourenço e Antonio Candido. O prémio tem o valor de cem mil euros. Página 33


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I N É D I TO

Número 37 - setembro 2020

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