Corrente d'escrita 41

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Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021

Corrente d’Escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil

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Corrente d’ escrita

Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha

Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história a língua portuguesa e a cultura em geral. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário.

O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.

Parabéns!

Parabéns.

Confesso que ainda não li “Pecador, me Como poderei participar, se é que podeconfesso”. Mas, os comentários e síntese rei. Sou cronista, por alguns anos e gosme despertaram. taria de fazer parte do teu plantel. ... Mas lingue mesmo, só se for a do tamanduá bandeira

Ivonita Di Concílio

Abraços,

Bravo caro Afonso,

Sílvio Bom dia, Obrigada, por me incluir no rol dos leitores do Corrente d'escrita. O jornal está maravilhoso, parabéns! Vou ler com carinho e divulgar! Abraço, Rozelia Parabéns, parabéns, parabéns, Mestre Afonso. Você é um incansável batalhador das LETRAS. David Caro Afonso! Agradecido pela contribuição literária, através do Corrente.

Caro amigo e colega Afonso Rocha!

Li um pouco, mas assim que der, vou me deter nalgum artigo mais especial pra mim.

Como sempre ocorre, suas “conversas literárias mensais” merecem os melhores aplausos, por seu excelente conteúdo. Apenas gostaria de ressalvar, nesta ocasião, que observei um leve lapso de português, na segunda página de “dicas de português”, na qual o amigo se refere a palavras terminadas em “e”, como algumas sendo femininas e outras masculinas. E entre as masculinas, relaciona o termo “atitude”, que é realmente FEMININA. Faço votos para que o amigo releve minha observação, mais como um lapso de supervisão, do que crítica ao excelente conteúdo de sua tão ampla e sempre apreciada mensagem.

Gosto muito de suas imagens, sempre únicas e muito significativas.

Cordial abraço.

Não sabia das loucuras da dona Carlota libertina!!!

Já o li e considero que está cada vez me- Hans Kress. lhor. Muito bem escrito. Belas fotos e textos atuais e curtos. Meu caro (e desconhecido pessoalmente) amigo Afonso Rocha. A página sobre nossa gramática são sempre bem vindas e poderão ser repeti- EXCELENTE esta abertura literária, do das, assim não devo esquecê-las, tão Corrente D'Escrita. rapidamente.

Obrigada. Abraços Izabella Pavesi Boas reportagens meu amigo. Parabéns. Quero enviar um livro para o amigo. Qual endereço? Atenciosamente; Augusto Coura Parabéns confrade Afonso por começar o ano com tão boa e robusta revista;

E concordo plenamente com o teu artigo sobre a "idiotice" de querer neutralizar masculino e feminino que são elementos próprios da natureza divina. Grande abraço Pansera


Editorial

Corrente d’Escrita fevereiro de 2021

O mundo continua num sufoco, tentando vencer a pandemia, apesar da irresponsabilidade de algumas pessoas que continuam a apregoar que a covid19 não passa de uma gripezinha ou resfriado, que passará com “mesinhas” endiabradas do tio João das Urtigas. Mas neste mundo doente, há que reagir, e, armados dos conhecimentos técnicos e científicos, equilibrando a vida entre o razoável e os responsáveis cuidados apontados por quem sabe do ofício, encarar com otimismo o dia a dia, porque um dia a vacina chegará para todos.

Mesmo na pandemia, como é nosso timbre, continuamos a trabalhar. Neste número e mês do Corrente d’escrita, trazemos uma das grandes senhoras do meio literário, educadora, pelo trabalho e pelo exemplo, “mãezona” de muitos de nós que gostamos e praticamos a arte de bem escrever: Dalvina de Jesus Siqueira, Estrela, como é carinhosamente tratada, fundadora da Academia de Letras de Biguaçu e durante muitos anos sua presidente. Representante da cultura local, é Embaixadora Cultural do Município de Biguaçu. Mas também trazemos escritores, livros e comentários, textos de história e da cultura geral, curiosidades e apontamentos sobre arte de bem entender e de melhor falar e escrever, em português, nossa língua pátria comum aos países que se identificam com a lusofonia. É essa a nossa “missão” e disso, mesmo com adversidades, não deixamos de fazer. Com nossas saudações literárias, aguardamos vossas considerações. Afonso Rocha

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de 2019

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Uma grande senhora, hoje, no Senadinho Literário: Dalvina de Jesus Siqueira, presidente de Honra da Academia de Letras de Biguaçu; professora, especialista em assuntos educacionais; escritora, poetisa, contista e cronista; embaixadora de cultura do Município de Biguaçu; educadora, mãe, avó, e sobretudo amiga, e um grande exemplo cívico a seguir.

DALVINA DE JESUS SIQUEIRA Corrente – Antes de mais, querida Dalvina, permita lhe afirmar que é para nós, Corrente d’escrita e particularmente para mim, como seu fundador e diretor, uma grande honra e prazer em a receber nas nossas páginas. Se acrescentar o facto de partilhar consigo a militância, a convivência e a particularidade de militarmos na Academia de Letras de Biguaçu (Albig) – da qual você é uma das fundadoras ainda viva -, essa honra e prazer não tem tamanho.

tuta no Grupo Escolar Professor Jose Brasilício (de Sousa), de Biguaçu, onde eu havia estudado e fazia Pratica de Ensino com a professora Nila Sarda, que tratavamos como Nenem. Minhas professoras, ate ao curso complementar, foram realmente gente de bem: professoras com vontade de trabalhar. Eram elas: dona Alaíde Sarda de Amorim (que tambem foi da Academia ate 19/08//2008, quando faleceu), dona Eurídice Monteiro, dona Semirames, e dona Lisceia, que ensinava piano.

Meu primeiro pedido, querida Estrela – como So havia o curso complementar. Depois, em 1954, carinhosamente é tratada entre os confrades veio para Biguaçu o Curso de Regente de Ensino da Albig – é que nos fale um pouco sobre sua Primario (REP). Fazia-se um exame na terceira vida, não só como escritora e poeta, mas também como professora, atividade que desemNome: Dalvina de Jesus Siqueira penhou meritoriamente por longos anos. Dalvina – Escrevo desde os meus dez anos, depois de haver lido todos os livros de tres bibliotecas que existiam aqui em Biguaçu. Sou descendente de alemaes, negros e portugueses. Aos treze anos fui convidada para ser professora substiPágina 4

Residência: Biguaçu/SC Naturalidade: Biguaçu/SC Profissão: Professora aposentada Data de nascimento: 23/08/1929 Estado civil: Viúva www.facebook.com/estrela.dalvina


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Dalvina de Jesus com suas filhas: Esmeralda, Safira, Gilda e Iracema

serie e frequentava-se a quarta serie. Em 1964, veio o Curso Normal de Magisterio, e depois, o Curso Academicos de Estudos Sociais (CADES) para lecionar matematica. Fiz a faculdade na UDESC, em pedagogia, e me tornei licenciada plena em psicologia da educaçao, sociologia, didatica e pratica de ensino, com registro no MEC. E assim trabalhei durante 40 anos da minha vida. Ensinando e ensinando a ensinar. Fui treinada pelo CENAFOR (Sao Paulo) para ministrar cursos para diretores de escola. E assim me aposentei. Corrente – Como já referimos, a Dalvina foi uma das fundadoras da Academia de Letras de Biguaçu, instituição que acaba de comemorar os 24 anos de vida. Sei que a seu lado também estavam os nossos confrades Osmarina Página 5

de Sousa, esta desde o início e um pouco mais tarde, o professor Joaquim Gonçalves (já falecido em 2020). Como foi meter-se nessa aventura literária lá nos anos 90 do século passado? Dalvina – Fundar a Academia de Letras, aconteceu porque em Sao Jose (SC) foi fundada a AJOSOL, e eu fui convidada para ocupar a cadeira 23, cujo Patrono e Jorge Lacerda. Entao, como eu escrevia muito e ja havia lançado um livro de poesias, resolvi fundar uma Academia de Letras em Biguaçu. Nao foi facil, nao. Foi a maior aventura da minha vida. Convidei duas amigas: Vilma Bayestorff, e Osmarina Maria de Sousa para um almoço, e falei para elas do projeto. O doutor Paschoal Apostolo Pítsi-


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ca foi o meu grande amigo para tal feito.

ra quem soube aproveitar para aprender. Eu, peConversamos. Eu ja tinha um nome: “Academia lo menos, aprendi tudo o que era necessario. Perde Letras Sao Joao Evangelista da Barra de Bigua- guntava muito. çu” tendo por bandeira: “O sublime e servir”. As cores da bandeira seriam iguais as cores da ban- Corrente – Desde que a conheci, já lá vão cinco deira do município de Biguaçu, com os Biguas. ou seis anos, aprendi muito consigo, sobretuQuem fez, foi o Marcos, filho da Wilma. do com essa força que emana da sua pessoa, O primeiro objetivo do Estatuto: “Resgatar valo- força caldeada com amizade, compreensão e res da comunidade”. solidariedade para com todos os acadêmicos Dados os primeiros passos, ficou Dalvina, como da Albig, sejam eles mais ou menos jovens. presidente, por ser cepa da terra; a Wilma, como Particularmente, a Dalvina ensinou-me que vice-presidente e a Osmarina, como secretaria. temos de ser compreensivos, fortes nos princípios, na vontade de aprender, de resistir, Tudo isto no dia 20 de setembro de 1996. mas nunca perder o condão da unidade, do Lutamos para fazer vingar. perdão, da compreensão, do braço fraterno. Fui presidente por onze anos; a Wilma morreu no Não é fácil militar-se numa Academia que, em ano de 2000 (dia 14 de janeiro ) e a Osmarina princípio, deverá ter quarente cabeças, todas fazendo as atas. Trabalhamos nos duas sozinhas com suas ideias próprias, mas pensando culpor onze anos, fazendo a cada mes ou dois meses, tura e literatura numa visão de conjunto e de uma reuniao. A primeira, foi no dia 18/12/1996, ideais democráticos e solidários. com os primeiros 18 academicos. O Joaquim GonSempre foi assim? Você que dirigiu por diverçalves chegou na academia 10 anos depois. sas vezes os destinos da Academia, que pode nos ensinar? Corrente – Como era, nesses primeiros tempos, o panorama literário, e até educacional, Dalvina – Eu acredito que ja nasci líder, pois em Biguaçu? sempre estive a frente para os trabalhos, inclusive Dalvina – Na literatura com dona Alaíde Sarda de era muito pobre. Amorim, que era amiga da grande ativista Antonieta Algumas pessoas liam de Barros, com quem alguma coisa. Quando aprendi muito. fundei a Academia de Letras, foi um espanto. Perguntavam o porque? Consegui dizer para todos o que significava. A educaçao, no meu ponto de vista, foi muito boa, pelo menos paPágina 6

Corrente – Tendo por base sua experiência, gostaria que me falasse um pouco do panorama da educação, da cultura, da literatura, e não só no município de Bigua-


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çu, mas também no estado catarinense?

mo interlocutoras da sociedade civil e dos poderes de um modo geral, assim como tambem os governantes devem e precisam interDalvina – A educaçao, no meu ponto de vista, e relacionarem-se para que haja o progresso tao cultura. E cultura e a arte que passa de geraçao desejado por todos. em geraçao para melhoramento e desenvolvimento. Santa Catarina esteve durante muitos anos aquem de educaçao, haja vista um contrato Corrente – Ao terminar, gostaria que – como feito com o governador la nos idos de mãezona que é – deixasse uma mensagem pa1899/1900, se nao me falha a memoria. ra os nossos leitores amantes da literatura, Quanto a arte, no sentido de pintar, bordar, fazer para todos aqueles e aquelas que querem escrivo, trico, croche, n meu entender, sei fazer tu- crever, e mesmo para os que, tendo já obra do isto, porque aprendia-se na escola trabalhos publicada, querem aprofundar e alargar esse manuais. Estes trabalhos serviam para que as trabalho com as letras, tendo em conta sua meninas, quando se casassem, saberem dar conta basta experiência e conhecimentos acumulado recado do seu lar. Entao, devemos ate pensar dos. em que estas profissoes e artes manuais, devem ser a sua academia. Dalvina – Como maezona digo o seguinte: estudem cada vez mais; escrevam, façam tudo o que Corrente – A Dalvina acha que as Academias inventarem e sejam felizes. Saber o que se faz, de Letras e Artes, sejam elas de onde for, de- para alcançar amor e longevidade, e estar sempre vem assumirem-se como interlocutoras da de bem com a vida. sociedade civil junto dos poderes (federal, estadual, municipal) públicos? E estes, como devem encarar e tratar essas instituições? Dalvina – E tem mais, devem assumirem-se co-

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Na foto embaixo, a acadêmica Dalvina de Jesus, ladeada pelos seus confrades da Academia de Letras de Biguaçu, notando-se a abrangência etária, com os mais idosos, os mais jovens (da Academia Mirim) e os medianos, assegurando sempre, a propagação das letras em Biguaçu/SC.


Corrente d’Escrita fevereiro de 2021

De nada adiantam os seus escritos ao deixa-los jogados no fundo da gaveta. Leia tudo o que você pegar, não jogue fora, veja com olhos de lince. Invente passagens lindas de um anoitecer na hora em que a lua apareceu redonda; ama estes momentos, faz deles movimentos de pedaços de papel escritos guardados em guardanapos, lenços, livros; tenha o seu esconderijo, sua relíquia. Jesus: ama-o sempre, que serás amado. Segue o teu caminho, mas deixa o teu rastro ileso, mas também muitas vezes com a carga pesada; querer é poder. Une tudo que puderes; embrenha-te no fundo da tua consciência. Invade o teu Eu Rasga, mas não jogues fora aquilo que você um dia escreveu. Dalvina de Jesus—Estrela (Poema inedito, exclusivamente para voce, meu amigo—Biguaçu, 17/02/2021)

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Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 mesmo raciocínio, Roberto Menezes, afirma que “a leitura e agradavel e amena, propria para as tardes de estio que a natureza oferece, mesmo que sejam conturbados seus meandros e contextos de tempo cibernetico”. E dando concelho: “siga em frente, amigo de reunioes literarias, momentos de recitas e declamaçoes, de exposiçao de trabalhos e livros, de trabalhos prazerosos em nossas academias comuns. Esperemos, por fim, a apoteose do lançamento de mais um trabalho poetico de qualidade”.

Sonho Realizado e mais um projeto editorial, no campo da poesia, do escritor Augusto Barbosa Coura Neto. O trabalho tem uma apresentaçao do tambem escritor Roberto Rodrigues de Menezes, e inicia com um texto do poeta e escritor Pinheiro Neto, da Academia Catarinense de Letras. Augusto Barbosa Coura Neto, e natural de Ponte NoNas palavras do tambem poeta e escritor Artenio Za- va/MG, com profissao de engenheiro florestal. Reside non, da Academia de Letras de Sao Jose/SC, “os poe- em Florianopolis e e membro da Academia de Letras mas de Coura Neto sao curtos e densos (de conteudo de Sao Jose/SC; da Academia Desterrense de Literatuintelectual e emocionalmente leves), sem rebusca- ra; Academia Alcantarense de Letras de Sao Pedro de mentos discursivos, ressaltando-se, na poetica, rigor Alcantara/SC e de muitas outras instituiçoes ligadas a vigiado na estruturaçao e equilíbrio nas emoçoes. Po- cultura e a literatura. eta do quotiFpólis, Ed Secco. 2020. 80 p. diano ineviContacto com o autor: augustocoura@hotmail.com tavel, poemiSUPLÍCIO zando motiHomens que vão para o mar, vos corriem busca do doce sustento queiros, a São cipós entrelaçados poesia couao sabor do morno vento. rantiana reVão à busca da fartura fulge com impacto da para em sua mesa fartar. agradabilidaTêm canoas inferiores de: os versos que no mar a resvalar sao de leitunão temem as ondas aflitas. ra prazerosa Do azul do mar intenso e de inegavel é dia é noite a ouvir sabor literao doce marulho zumbido. rio. Por sua vez, e seguindo o

As esposas os esperam,

com o coração apertado são noites de abandono

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Corrente d’ escrita

Leituras...

da borracha—que deu cores epicas as forças destrutivas da natureza e da exploraçao social. 3ª ed. Globo SP/2007

Uma aliciante estoria entre seringueiros, coroneis, 292 p/ (1ª ed. 1961; 2ª ed. 1986. capatazes, bandidos e homens trabalhadores de bem, que se passa nos interiores das terras da borracha, quando esta era quase materia de salvaçao nacional, e começava a desvalorizar pela interferencia do mercado exterior. Como reza na capa, este trabalho do escritor Jose Potyguara, serviu de inspiraçao para os “senhores” da Globo levarem avante a minisserie Amazónia: de Galvez a Chico Mendes. Excelente leitura, como uma linguagem propria da Amazonia, que nos remete para os tempo dos seringueiros e das suas lutas contra a exploraçao e a escravidao levada a cabo longe dos centros urbanos das cidades. Terra caída retoma um dos episodios mais vibrantes da historia do Brasil: a saga dos seringueiros que vivenciaram, nos confins do Acre, uma aventura ambientada no inferno verde da floresta amazonica. Com varias tramas paralelas, nas quais a disputa por riquezas e mulheres, leva a traiçoes e assassinatos, o romance reconstitui o ambiente e a epoca do ciclo


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Na paisagem brasileira das imigraçoes europeias, sempre coube a Santa Catarina um papel caraterístico e original. A começar pela colonizaçao açoriana em 1748, implantada num país de latifundiarios, mao-de-obra escrava, monocultura e exportaçoes. Assim, em solo catarinense, os açorianos inauguraram a agricultura familiar e de subsistencia, a pequena propriedade, e a variedade de plantios e de alimentos. E, em vez do trabalho em terra firme, sua grande empresa industrial foi a caça a baleia e a produçao de oleo para a iluminaçao e a produçao de tintas e vernizes. Cem anos mais tarde, começaram a chegar os alemaes, poloneses e italianos e entao, mais uma vez, diferentemente do que aconteceu em Sao Paulo da grande propriedade cafeeira, onde iriam trabalhar como assalariados, em Santa Catarina estabeleceram-se em pequenos lotes familiares, como proprietarios. E, logo, em pouco tempo, desenvolviam uma economia e uma paisagem social diferenciadas, com industrias, lavouras, comercio regional, educaçao e cultura. Tratam dessa aventura humana, de que tambem participaram os negros e os indígenas, a tematica e os intetestemunhos pessoais de naufragos e imigrantes, iniressantes relatos desta obra, nas palavras do reitor da ciando-se, este trabalho, com a descoberta do Brasil; Unisul, professor Gerson Luiz Joner da Silveira. as varias tentativas de colonizaçao, os naufragos, a Sao autores deste importante trabalho: Marilea M. solidao e o abandono… permitindo-nos a variedade Leal Caruso, geografa, e Raimundo C. Caruso, jornalis- cultural e de estilos dos portugueses, e mais tarde, dos ta, que, recorrendo a um metodo nao muito usual, alemaes, italianos e poloneses que vao colonizar o Escombinaram entrevistas com alguns dos mais nota- tado de SC a partir de 1829. veis estudiosos brasileiros de historia, com informaEditora Unisul, 2007. 296 p. çoes encontradas em cartas, relatos de viajantes, e Divulgue—Partilhe—Leia

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Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 beleza da paisagem, pela cordialidade de sua gente) e faz dele um cenario preferencial para sua ficçao. Flávio José Cardozo e um dos maiores cronistas e contistas catarinense. Outros ha, mas Flavio fica bem la no topo ao lado de outros como Oldemar Olsen Jr, Sergio Costa Ramos, Hilton Görresen, Donald Malschitzky, e que me desculpem todos outros que seria inviavel aqui referenciar.

Uns papeis que voam e um livro para todas as idades, para todos os gostos. Nao ha quem nao se encontre aqui. Os papeis de Flavio voam? Voam, sim, mas voam ao nosso encontro, e nos convidam tambem a voar pelo magico universo de um otimo escritor.” - Moacyr Scliar. Ed. FDT São Paulo, 2003.

Residente em Florianopolis/SC (Santo Antonio de Lisboa), nasceu em 1938 em Lauro Müller; frequentou o curso de jornalismo e trabalhou varios anos no departamento editorial da editora Globo, em Portalegre, tendo sido diretor da Imprensa Oficial de Santa Catarina e da Fundaçao Catarinense de Cultura (FCC). E membro da Academia Catarinense de Letras (cadeira 23). Publicou varios livros: Singradura; Zelia e outros; Longínquas baleias; Agua do pote; Sobre sete viventes; Beco da lamparina; Sofa a rua; Tiroteio depois do filme; Senhora do meu desterro; Trololo para flauta e cavaquinho; O tesouro da Serra do Bem-bem (infantojuvenil). “Uns papéis que voam e exatamente isso, grande literatura. Sao cronicas e historias redigidas de maneira simples, em linguagem muitas das vezes coloquial, como acontece sobretudo com o texto jornalístico; mas isso nao deve nos enganar. Por baixo da simplicidade estao grandes historias e grandes liçoes de vida. Finalmente e preciso dizer que Flavio Jose Cardozo e profundamente brasileiro — e profundamente catarinense. Ele ama o seu estado (e Santa Catarina e um lugar muito amavel, pela Divulgue—Partilhe—Leia

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Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 a priorizar nos produtos imagens de beleza, alegria e dinamismo, ligadas a juventude. Quanto ao amor, o amor romantico, que hoje se vai diluindo em ligaçoes casuais, teve sua origem na Idade Media, a cargo dos trovadores. Era o chamado “amor cortes”, que ensejou a divinizaçao da mulher, como objeto de culto. Em tempos anteriores, a posiçao inferior ocupada pela mulher so lhe permitia figurar como O que mae de família ou objeto de prazer. Casamentos eram devemos ao realizados por interesses economicos ou simplesmenpassado? te para procriar. Daí para frente, a literatura, principalmente a do Romantismo, encarregou-se de plantar nos leitores o sentimento de adoraçao mutua, sendo a Os jovens nascidos nesta era cibernetica devem acre- perda do objeto amado causa de grande desgraça. O ditar que, de repente, num “bug” monumental, surgi- amor produzia estados de enlevo, grandes gestos, ram todas as extensoes eletronicas que os cercam: grandes sofrimentos. internet, ipod, iphone, videogame, dvd, e muitas ouSe voce ja sofreu as doces penas do amor, se curtiu os tras. embalos da juventude, nao esqueça que deve isso ao Os mais maduros, pelo menos, desconfiam que coisas passado. concretas, como os veículos, geladeiras, maquinas de Hilton Görresen lavar e ate o futebol, tiveram sua origem em alguma Escritor, Colunista epoca de nossa historia. No entanto, nao podem imaMembro da Academia Joinvilense de Letras/SC ginar que coisas intangíveis como o amor e a juventude, entre outros, nao tiveram origem tao natural como se pode crer. A juventude, assim como hoje a vemos, foi criaçao recente – da metade do seculo 20. Embora existisse no aspecto fisiologico, como categoria social somente havia a criança e o adulto. O jovem era, entao, a miniatura do adulto. Usava as mesmas roupas, ouvia as mesmas musicas; sua pretensao era atingir a maioridade para ser “igual ao pai”. Alguem conhece momentos na Historia em que aparece o adolescente, como ator social, proclamando sua existencia, diferente da dos adultos? Nesse mundo da masculinidade, ou se era menino, ou se era homem. Com o aumento da previsao de vida das pessoas, pode -se “esticar” o período pre-adulto, conhecido como adolescencia. O cinema americano, com ícones como Marlon Brando e James Dean representando jovens rebeldes, o surgimento do “rock’ n’roll”, levaram a glamorizaçao de um modo de vida proprio da juventude, com seus costumes, musicas, roupas, linguagem, etc. Sentindo a emergencia dessa nova “classe”, a publicidade passou Página 13


Corrente d’Escrita fevereiro de 2021

Para a Mãe África (Eu me rebatizo) Em memória a Miguel Maria da Costa Ao som de todos Os sagrados tambores... Para arte profana... Para o povo que sofre… A dor eviterna da diáspora! Eu me rebatizo! *** Vou me rebatizar. Para ti oh Mãe África! *** Dos ridículos da vida... Volto para ti! Para a minha sacrossanta Mãe África, *** Volto para ti… Com todo o rigor. Para música profana! *** Eu me rebatizo. Para toda a música profana... Do batuque e para dança! Para toda a música profana... O batuque... Eu volto somente para ti Oh minha divina Mãe África... Samuel da Costa é poeta em Itajaí SC

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deste mundao todo, mas tenho minhas razoes esteticas e filosoficas.

O direito à liberdade...

Mas doutor-juiz, o senhor nao tem em conta o meu desespero.

Nao gosto de andar de cara tapada imitando o mascarilha de outros tempos ou os assaltantes de banco. Nao, nao me de essa reprimenda e muito menos penitencia. Porque tenho de usar mascara, se nosso capitao-atleta nao usa? Ele que e o maioral desta adormecida republica passeia-se por onde quer de cara lavada, sem esse aparato de mascarilha, seja a cavalo, de moto, de jet-ski, a pe, e ninguem o chateia, por que me quer obrigar doutor-juiz, a esconder o nariz e os bigodes? E aquelas gentes que vao para o shopping, a praia, o calçadao, as baladas, as festas clandestinas, os churrascos?

Nao gosto, e pronto! Tenho os meus direitos constitucionais. Nao me importa se alastro o perigo de contagio ou nao. Cada um que se cuide e trate da sua vidinha, e nao se meta na minha. Deixe-me viver como quero. Nao e isso, afinal, a liberdade consagrada na carta magna? Para que quero eu a liberdade se nao posso escolher o meu caminho e a forma como quero viver?. Que? A minha liberdade acaba quando começa a liberdade do outro? Ora, doutor-juiz, deixe-se dessas filosofias constitucionais baratas. Liberdade e eu fazer o que quero; viver a minha maneira e os outros que se corrijam, isto para ser educado e nao pensar so em mim, porque se quisesse ser frontal diria: que se fodam...

Por que eu e eles nao? O governador la do distrito da capital ja multou o presidente por se pavonear nas alamedas dos tres poderes de cara descoberta? E ele pagou a penalizaçao? Ah, ele recorreu? Com que dinheiro? Nosso, com certeza. Porque tenho que ser eu, simples cidadao catarinense de Criciuma, a servir de exemplo? Sim, eu sei. O doutor-juiz ja me disse. Nao sou o ultimo cidadao do sul catarinense, do Brasil, nem

Afonso Rocha Escritor, editor, jornalista Academia de Letras de Biguaçu/SC Academia de Letras, Artes e Ciências de Cruz Alta/RS

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criança autista nos chama para dentro da realidade. A cada dia somos confrontados com mais intolerancia e ataques as diferenças, como se os seres vivos, em corpo e alma, fossem frutos das mesmas formas estereotipadas e devessem passar a vida dando os mesmos passos e tivessem os mesmos comportamentos pre-determinados, o que e Em latim, origem da palavra, significa de uma violencia inconcebível. “consagraçao”, uma forma de sublimar a entrega, por isso e chamada de “dedicatoria”. Um livro e Sem o saberem, os autistas – e os artistas - nos resultado de pesquisa, inspiraçao e muito traba- dao a grande liçao: isso e apenas mediocridade, lho, tudo isso lapidado pelo talento, e quando seu mediocridade que Marinaldo, os alunos e Lian autor escreve uma dedicatoria esta consagrando varrem para longe, propondo um mundo mais a trajetoria de sua construçao a alguem. Ate ha compreensivo e feliz. pouco, antes de passa-lo ao coraçoes aos quais esse exemplar foi consagrado, estava em minhas maos: “Este livro foi escrito na forja do carinho para trazer luz aos que nao viam o facho”, escreveu e autografou seu autor, dedicando-o a Igor, Patrícia e Gibran, respectivamente, meus neto, nora e filho.

Mensagem de um adulto menino

Marinaldo de Silva e Silva e um menino de quarenta e tantos anos que pouco consegue segurar o sorriso que o carrega, e que faz da literatura seu jardim de encantamento. Seu livro, “Lian”, misturando ficçao, realidade e liçoes, conta a historia de um menino autista e e um balsamo para quem convive com crianças autistas e, como escreveu na dedicatoria, “luz aos que nao viam o facho”. Carinho, surpresa e bom humor estao semeados em cada pagina, como quando brinca que a mae de Lian, quando recebeu o diagnostico, o confundiu com “artista”, o que nao deixa de ser verdade, e quem convive com crianças com autismo sabe disso. Esse carinho tambem esta presente nas ilustraçoes da obra, feitas por alunos de 11 a 14 anos, durante projeto de leitura e produçao de desenhos nas escolas basicas de Barra Velha: Antonia Gasino de Freitas e Manoel Antonio de Freitas que dao um tempero adicional a sua leitura, e o depoimento sensível e determinado de mae de Página 16

Donald Malschitzky Escritor, cronista


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David Gonçalves

tes, meeiros e peoes começaram o exodo. Nos campos, so os tratores, as grandes maquinas. Uma leva de pessoas, como ele, circulavam nas cidades a procura de sobrevivencia. “Daqui pra diante, nao quero ninguem nas minhas terras” – disse o patrao. “Vao procurar onde se coçar.” “Pra onde vamos?”

UM CORPO COM A CABEÇA VAZIA [conto]

“Isso nao e comigo. Nao sou pai de ninguem. Vao se coçar. Se precisar, busco voces na cidade no caminhao de lona. Vao dando o fora.” “Se a gente nao sair...”

Cabeça zunindo. Um abelhao dentro dela fazia estragos. Ruas barulhentas, buzinas, xingamentos, conversas desencontradas. O abelhao zunia. Gente estranha indo e vindo, praca, prala. Joel, assustado, um peixe fora d’agua, sufocado. Medo e suor, sem chao. Procurava trabalho. Qualquer coisa. Sentia fome. Engolia cuspe seco pra acalmar o estomago contraído. Tem trabalho? Perguntava a qualquer um. Indiferentes, as pessoas se iam, sem repostar. O que sabe fazer? Ora, pergunta boba, sei fazer de tudo, eu nao nego esforço. Sabe dirigir? Nao sabia. Sabe fritar almondegas? Sabe lidar com um torno? Sabe isto, sabe aquilo? Nao sabia. Raios, o que sabe? Entao, disseram, e melhor voce ir pro mercado ou pedir esmola na esquina. Pedir esmola, jamais. O homem voltou a dizer: la, pelo menos, voce pode carregar sacos na cabeça o dia inteiro. Tem pescoço fino, cabeça angular, mas logo a cabeça fica chata e o pescoço grosso igual cascavel e, por la mesmo, se alimenta das sobras que os negociantes jogam fora.

Ah, maldiçao. Estou cagado de urubu. Se, pelo menos, pudesse voltar. Mas passado era passado. Tinha que tomar outras veredas e pronto. Sabia tantas coisas, mas, ali, na cidade grande, naquela selva de pedras, de nada valiam.

“Isso e la com a polícia.” Assim, os carreadores e as estradas viraram uma procissao de carroças, carros de boi, fordecos, transportando mudanças e pessoas desalentadas, olhares sombrios, nervosos. Uma geraçao viva destroçada. O mundo dera uma pancada em sua cabeça. O que ele sabia nao tinha serventia. Sabia tantas coisas... O que voce sabe fazer? Ora, patrao, sei capinar, plantar, colher, pescar, caçar, tanger bois, tirar leite, bater tijolo, cimentar, rebocar, fazer bodoques de grevira, subir nos coqueiros sem escada, encabar enxadas, enxadoes e foices, lavar e secar cafe no terreirao, tratar o gado, fazer buracos pros palanques, esticar arame farpado, plantar cafe, fazer mudas, derriçar cafe, rastelar, abanar, transportar na carroça ate o terreirao, derrubar arvores, serrar tabuas, caibros e vigas, rachar lenha em pedaços medidos, rezar o terço, contar boas historias, andar no mato na escuridao, enfrentar onças, desviar-se das sucuris, diferenciar assobios de passarinhos...

“Isso nao serve pra nada”, disseram. Estava burro de repente. Voce, na verdade, so tem a força bruta de seus braços, voltaram a dizer. Um corpo com a cabeça vazia. Nao e verdade, rebateu. Sei tantas coisas. Olhe pras minhas maos: calejadas, nao sou de vida facil. Va Pela primeira vez, dormira na calçada, debaixo da la no mercado, quem sabe voce consegue dar um jeito marquise, em cima do papelao que catara do lixo. Com naquela sacaria, aconselharam, e voltaram as costas. medo, com fome, ansioso. Onde morava, quando ia La esta Joel dando duro, carregando sacos de sessenta caçar nas beiras de rios e matas, tambem dormira no quilos na cabeça, pescoço grosso, cabeça achatada, chao, no meio da folharada, e fora picado por formisem ideias. Um corpo com a cabeça vazia. Pelo menos, gas, mas nao tinha medo. tinha o que comer e ja alugara um quartinho sem jaNao estava na rua por gosto. Houve uma grande geada nelas pra dormir. e longa estiagem, e os campos ficaram vazios. Sitian>>>>>> p. seguinte Página 17


Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021

MAR SALGADO Mais que mar salgado, sou um mar doente, morto. Sou o fundo do que não presta; do que está imundo; do que está podre; daquilo que os humanos não se servem mais. Sou o depósito das fezes e do mijo; dos pneus gastos; dos vossos combustíveis; dos eletrodomésticos sem uso; dos colchões e mantas rotos; do calçado velho e gasto; dos canudinhos, caixas, sacos e dos outros plásticos descartáveis; das camisinhas do prazer de mil cores e dos frascos de cheiro; dos cotonetes e pontas de cigarro. Sou a tumba dos doentes terminais, dos assassinatos, dos mortos; dos tresloucados; dos bêbados e dos entorpecidos; dos irresponsáveis e das crianças espavoridas ainda sem tino. Sou fonte de sal; de vida, das vidas que geram dentro de mim; de prazeres acalorados; de aventuras merecidas. Sou poço de sofrimentos; de lamentos; de aflições. Sou, fruto de irresponsabilidades humanas, a solução para todos os vossos males e crimes. Um dia, também eu, tratado assim, irei morrer... Afonso Rocha

David Gonçalves (continuação)

Quando escreve aos de casa, diz que esta no paraíso. Possuía um radio a pilha para ouvir musicas e jogos de futebol e um colchao de espuma pra dormir. Dias melhores virao e, entao, mandaria algum dinheiro. Um dia, os patroes comunicaram: estao vendo este tratorzinho que empilha, este treco de madeira, os paletes? Pois e: vai fazer o serviço de voces. Invençaozinha boba, mas me poupara muito dinheiro. Querem ver? O trator monstrinho levantou rapidinho dez sacos de sessenta quilos e levou a carga prala e praca. O que fazer com a cabeça achatada e o pescoço grosso? A cabeça doi. O corpo doi. Sabia tantas coisas... Sentese mutilado por saber que tem um corpo com a cabeça vazia. Escritor, contista membro da Academia Catarinense de Letras e da Academia Joinvilense de Letras

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Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 1534, com um deslocamento de cerca de 1000 toneladas. O navio estava armado com 366 canhoes bocas de fogo de bronze, tendo, portanto, um tremendo poder de fogo. Por essa razao tornou-se conhecido por Botafogo. Maior arma de guerra no seu tempo. Este navio foi usado em inumeras batalhas, tendo ficado famoso durante a conquista de Tunes. Quando Carlos V imperador do Sacro Imperio Romano Germanico se lançou na conquista do Mediterraneo, solicitou apoio naval a Portugal, e pediu especificamente o “Botafogo”.

Lugares com História Páginas do passado

Botafogo O “Botafogo” liderou o ataque a Tunes e foi o seu esporao (quilha de ferro frontal), que conseguiu quebrar as correntes do porto de La Goleta, que defendiam a entrada de Tunes, maior centro islamico do Mediterraneo na epoca, permitindo entao a armada crisO Botafogo foi construído em Portugal, por volta de ta a conquista da cidade de Tunes. O Sao Joao Baptista (mais conhecido pela alcunha de Botafogo) foi um galeao ao serviço da Marinha Portuguesa, durante o seculo XVI. Na sua epoca, era o mais poderoso navio de guerra do mundo.

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Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 Este navio foi usado no Atlantico, Mediterraneo e Indico, ficou famoso durante conquista do Mediterraneo pela armada Crista que destruiu a Marinha do Imperio Otomano derrotando o famoso comandante naval islamico Barba Ruiva. Foi responsavel por acabar com domínio do Imperio Otomano nas agua abrindo um novo mundo para Europa. Um dos membros da tripulaçao do galeao, chamado Joao Pereira de Sousa - um nobre originario da cidade de Elvas - tornou-se famoso uma vez que era o responsavel pela artilharia do navio pelo que, tambem ele, ganhou a alcunha de "Botafogo", que incluiu o seu apelido em seu sobrenome, passando este nome aos seus descendentes. Mais tarde, quando se estabeleceu no Brasil, lutou contra os franceses e contra os índios tupi. Como recompensa, a Coroa Portuguesa doou-lhe terras junto da baía de Guanabara, passando essa area a ser conhecida por Botafogo atendendo ao nome do detentor das terras. Estas terras vieram a constituir o atual bairro da cidade do Rio de Janeiro e a dar nome a um Clube de Futebol local. Fonte : Vortexmag.net Nas fotos, Botafogo/RJ, ontem e hoje

Anime-se. Apoie e participe no

Corrente d’Escrita Faça-nos chegar seus contos, cronicas, poesias (maximo 4 mil toques) com ou sem foto. Página 20


Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 A sociedade

Gente com História O homem vai, mas a abra fica

Fundada em 1831 por Giuseppe Mazzini, a associaçao Jovem Italia tinha como objetivo transformar a Italia em uma republica democratica e unificada, promovendo uma revoluçao para unir as cidades-Estados independentes que surgiram apos a queda do Imperio Romano e recuperar terras dominadas pelo Imperio Austríaco. As palavras de ordem eram direito dos homens, progresso, igualdade jurídica e fraternidade.

O exílio Em 1834, por sua participaçao na guerrilha e na causa

Giuseppe Garibaldi Quem foi Giuseppe Garibaldi, o “heróis de dois mundos”?

de Mazzini, foi condenado a morte e forçado a deixar o país. Acabou no Brasil, onde conheceu Bento Gonçalves, líder da Revoluçao Farroupilha do Rio Grande do Sul, que estava preso.

O italiano participou da unificaçao da Italia e da RevoGuerra dos Farrapos luçao Farroupilha no Brasil. Nascido no dia 4 de julho de 1807 na atual Nice, Fran- Se na Italia Garibaldi buscava a unificaçao do país, iroça, o italiano Giuseppe Garibaldi dedicou a vida a re- nicamente na Revoluçao Farroupilha o objetivo era o voluçoes por independencia na Italia e na America do contrario — ainda que as causas fossem parecidas, Sul. Por isso, ficou conhecido como “heroi de dois com a luta por independencia e o fim da dominaçao mundos”. Conheça a vida e luta de Garibaldi: Amigo da diversão Pouco se sabe da infancia de Garibaldi, mas ha relatos de que nao era muito chegado aos estudos e que afirmava que “era mais amigo da diversao do que do estudo”. Seus pais queriam que fosse advogado, medico ou sacerdote, mas ele queria uma vida no mar. Chegou a tentar fugir para Genova, uma das maiores cidades portuarias da Italia, mas foi descoberto e levado de volta para casa. Enfim, capitão Ja mais velho, Garibaldi passou dez anos de sua vida navegando em navios mercantes e chegou a obter a licença de capitao. As aventuras no mar, porem, nao saciaram seu desejo por adrenalina. Em 1833, no comando de uma escuna que levava um carregamento de laranjas para a Russia, entrou em contato com a sociedade secreta Jovem Italia e ingressou na luta. Página 21

de um imperio. Em 1838, Garibaldi foi nomeado comandante da marinha farroupilha e colaborou para tomar o porto de Laguna, em Santa Catarina, onde foi proclamada a Republica Juliana. Foi la que conheceu e


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se casou com Ana Maria de Jesus Ribeiro, Anita Gari- do Conde de Cavour, conseguiu avançar para o sul e baldi. conquistar a Sicília e o reino de Napoles. Faltava, porem, conquistar Roma, que permanecia sob domínio Mudança para o Uruguai papal apoiada pelos franceses. Com a queda do impePouco antes do fim da Guerra dos Farrapos, foi disrio frances, em 1871, Roma foi anexada a Italia e se pensado por Bento Gonçalves e seguiu para o Uruguai. tornou a capital do país unificado. La, foi nomeado capitao da frota na luta contra o ditador argentino Juan Manoel Rosas. Em 1843, colaborou Fim da vida com a defesa de Montevideu para impedir que a cida- Garibaldi aturou no parlamento italiano em 1874 e de fosse dominada pelos argentinos. continuou apoiando causas democraticas. Em 1879, por exemplo, fundou a Liga da Democracia, que proDe volta para a Itália punha sufragio universal, aboliçao da propriedade Em 1848, no início da primeira fase da revoluçao na eclesiastica e emancipaçao feminina. Recusou o título Italia que recebeu o nome de Risorgimento, Garibaldi de nobreza e pensao vitalícia oferecidos pelo novo rei voltou a terra natal para participar da luta pela expulda Italia Vítor Emanuel, e se retirou para sua casa na sao dos austríacos na regiao norte do país. Conseguiu ilha de Caprera, ao norte da Sardenha, onde viveu ate avançar com os revolucionarios para Roma, mas logo o dia 2 de junho de 1882. Seu legado permanece vivo a cidade foi cercada por exercitos franceses e napoliespecialmente na Italia, que tem mais de cinco mil tanos, obrigando-o a se retirar. Na fuga, Anita Garibalpraças e ruas com seu nome, e no Brasil, que tem um di foi morta. município chamado Garibaldi no Rio Grande do Sul Novo exílio em sua homenagem. Foi novamente condenado ao exílio, desta vez passando pelos Estados Unidos, mas voltou a Italia em 1854 para uma nova tentativa de independencia. Finalmente, com o apoio de Vítor Emanuel II, rei da Sardenha, e Página 22


Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 comerciantes brancos e como intermediarios dos comerciantes de igbo como meu bisavo. Eles carregaram e descarregaram navios e forneceram comida e outras provisoes aos estrangeiros. Eles negociavam os preços dos escravos do interior e depois cobravam royalties de vendedores e compradores. Cerca de 1,5 milhao de escravos Igbo foram enviados pelo Oceano Atlantico entre os seculos 15 e 19. Mais de 1,5 milhao de africanos foram embarcados para o chamado Novo Mundo - as Americas - pelo por'Meu bisavô africano vendeu escravos, mas não to de Calabar, na Baía de Bonny, tornando-o um dos deve ser julgado pelos padrões atuais', diz a es- maiores pontos de saída durante o comercio transatlantico. A unica vida que eles conheciam critora negra Adaobi Tricia Nwaubani. Os legados dos comerciantes de escravos coloniais Nwaubani Ogogo viveu em uma epoca em que os mais estao sendo reavaliados, mas e os africanos que lucra- fortes sobreviveram e os mais valentes se destacaram. O conceito de "todos os homens sao criados iguais" vam? era completamente estranho a religiao e a lei tradicioEm meio ao debate global sobre relaçoes raciais, colonais em sua sociedade. Seria injusto julgar um homem nialismo e escravidao, alguns europeus e americanos do seculo 19 pelos princípios do seculo 21. que fizeram fortuna no comercio de escravos viram seus legados reavaliados, suas estatuas tombadas e Avaliar o povo da Africa de outrora pelos padroes de hoje nos compeliria a retratar a maioria de nossos heseus nomes removidos de predios publicos. rois como viloes, negando-nos o A jornalista e rodireito de homemancista nigeriana nagear compleAdaobi Tricia Nwatamente quem ubani escreve que nao foi influencium de seus ancesado pela ideolotrais vendia escragia ocidental. vos, mas argumenta Os comerciantes que ele nao deve ser de escravos igbo julgado pelos pacomo meu bisadroes ou valores vo nao sofreram atuais. nenhuma crise Meu bisavo, NwauAutora—Adaobi Tricia Nwaubani de aceitaçao sobani Ogogo Oriaku, cial ou legalidaera o que prefiro de. Eles nao prechamar de empresario, da etnia Igbo do sudeste da cisavam de nenhuma justificativa religiosa ou científiNigeria. Ele negociou uma serie de mercadorias, inclu- ca para suas açoes. Eles estavam simplesmente vivenindo tabaco e produtos de palma. Tambem vendeu do a vida em que foram criados. seres humanos. Isso era tudo que eles sabiam. "Seu bisavo tinha agentes que capturavam escravos A historia mais popular que ouvi sobre meu bisavo foi de lugares diferentes e os traziam para ele", meu pai como ele enfrentou com sucesso oficiais do governo me disse. colonial britanico depois que eles apreenderam alOs escravos de Nwaubani Ogogo foram vendidos por guns de seus escravos. meio dos portos de Calabar e Bonny, no sul do que Os escravos estavam sendo transportados por interhoje e conhecido como Nigeria. mediarios, juntamente com uma remessa de produtos Pessoas de grupos etnicos ao longo da costa, como de tabaco e palma, da cidade natal de Nwaubani OgoEfik e Ijaw, costumavam atuar como estivadores dos go, Umuahia, para a costa. Página 23


Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021

Meu bisavo aparentemente nao considerou justo que da, levando as pessoas a sequestrar outras e vendeseus escravos tivessem sido capturados. las. A compra e venda de seres humanos entre os igbo ja vinha ocorrendo muito antes da chegada dos europeus. As pessoas se tornaram escravas como puniçao por crime, pagamento de dívidas ou prisioneiros de guerra.

O comercio de africanos continuou ate 1888, quando o Brasil se tornou o ultimo país do hemisferio ocidental a aboli-lo.

Os escravos Igbo serviam como empregados domesticos e trabalhadores. As vezes tambem eram sacrificados em cerimonias religiosas e enterrados vivos com seus senhores para atende-los na eternidade.

que a aboliçao era sobre a dignidade da humanidade e nao uma mera mudança na política economica que afetava a demanda e a oferta.

Quando os britanicos estenderam seu domínio ao sudeste da Nigeria no final do seculo 19 e início do secuA venda bem-sucedida de adultos foi considerada uma lo 20, começaram a impor a aboliçao por meio de açao façanha pela qual um homem era aclamado por trova- militar. dores, semelhante a façanhas na luta livre, na guerra Mas, usando a força e nao a persuasao, muitas pessoas ou na caça de animais como o leao. locais, como meu bisavo, podem nao ter entendido

"Achamos que esse comercio deve continuar", disse A escravidao estava tao arraigada na cultura que va- um rei local em Bonny, infame, no seculo 19. rios proverbios Igbo populares fazem referencia a ela: "Esse e o veredicto de nosso oraculo e de nossos saQuem nao tem escravo e escravo dele mesmo. cerdotes. Eles dizem que seu país, por maior que seja, Um escravo que observa enquanto um colega escravo nunca pode impedir um comercio ordenado por e amarrado e jogado na sepultura com seu mestre de- Deus." ve perceber que o mesmo pode ser feito com ele al- No que dizia respeito ao meu bisavo, ele possuía uma licença comercial da Royal Niger Company, uma emgum dia. E quando o filho recebe conselhos que o escravo presa britanica que administrava o comercio na regiao no ultimo trimestre do seculo 19. aprende. A chegada de comerciantes europeus que oferecem Assim, quando suas propriedades foram confiscadas, armas, espelhos, gins e outros produtos exoticos em Nwaubani Ogogo, ofendido, foi corajosamente ver os troca de humanos aumentou enormemente a deman- oficiais coloniais responsaveis e lhes entregou sua liPágina 24


Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 cença. Eles libertaram seus bens e seus escravos.

vos por quase toda a duraçao do período colonial.

"Os brancos pediram desculpas a ele", disse meu pai. O aclamado historiador igbo Adiele Afigbo descreveu o comercio de escravos no sudeste da Nigeria, que durou ate o final da decada de 1940 e o início da decada de 1950 como um dos segredos mais bem guardados da administraçao colonial britanica.

Eles promoveram o comercio legítimo, especialmente em produtos de palma. Eles introduziram a moeda inglesa para substituir as mercadorias, como latao, os comerciantes dependiam dos escravos para carregar. Eles processaram os infratores com sentenças de prisao.

Afigbo em seu livro The Abolition of the Slave Trade in Southern Nigeria: 1885 to 1950 (A Aboliçao do Comercio de Escravos no Sul da Nigeria: 1885 a 1950, em traduçao livre).

Trabalhando com os britanicos. Como chefe supremo, Nwaubani Ogogo coletou impostos em nome dos britanicos e ganhou uma comissao para si proprio no processo.

Mas se o comercio internacional terminou, o comercio "Na decada de 1930, o establishment colonial estava desgastado", escreveu Afigbo. local continuou. "O governo estava ciente do fato de que os chefes cos- "Como resultado, eles esperaram a extirpaçao do coteiros e os principais comerciantes costeiros continu- mercio sobre o efeito corrosivo ao longo do tempo da aram comprando escravos do interior", escreveu educaçao e da civilizaçao geral".

Ele acrescentou que os britanicos toleravam o comer- Ele presidiu casos em tribunais nativos. Forneceu tracio em andamento por motivos políticos e economi- balhadores para a construçao de linhas ferroviarias. cos. Tambem voluntariamente doou terras para os missioEles precisavam dos chefes do trafico de escravos para garantir uma governança local eficaz e para a expansao e crescimento do comercio legítimo. As vezes, eles tambem fecharam os olhos, em vez de colocarem em risco essa aliança vantajosa, como parece ter acontecido quando retornaram os escravos de Nwaubani Ogogo. Esse incidente levou Nwaubani Ogogo a ganhar status de Deus entre seu povo. Aqui estava um homem que enfrentou com sucesso os poderes brancos do exterior. Ouvi a historia de pa- narios construírem igrejas e escolas. rentes e li sobre ele. A casa onde cresci e onde meus pais ainda moram fica Foi tambem o início de uma relaçao de respeito mutuo em um terreno que esta com a minha família ha mais com os colonialistas que levou Nwaubani Ogogo a ser de um seculo. nomeado chefe supremo pela administraçao britanica. Era outrora o local da casa de hospedes de Nwaubani Ele era o representante do governo para as pessoas Ogogo, onde ele hospedava oficiais britanicos que esem sua regiao, em um sistema conhecido como impe- tavam de visita. Eles lhe enviavam envelopes contendo chumaços de seus cabelos para que ele soubesse rialismo indireto. quando chegariam. Registros dos Arquivos Nacionais do Reino Unido mostram como os britanicos lutavam desesperada- Nwaubani Ogogo morreu em algum momento no inímente para acabar com o comercio interno de escra- cio do seculo 20. E deixou para tras dezenas de espoPágina 25


Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021

Pai da autora

sas e filhos. Nao existem fotos dele, mas aparentemen- ele poderia estar em algum lugar da regiao de Umuate ele teria uma pele notavelmente clara. hia atualmente. Em dezembro de 2017, uma igreja em Okaiuga, no Estado de Abia, no sudeste da Nigeria, estava comemorando seu centenario e convidou minha família a receber um premio postumo em seu nome.

"Ele era respeitado por todos ao redor", disse meu pai. "Ate os brancos o respeitavam."

Ele era conhecido por suas proezas nos negocios, ousadia notavel, liderança forte, vasta influencia, imensas contribuiçoes para a sociedade e avanço do cristianismo.

pelo tornozelo

Como os escravos eram comercializados na Africa? Os compradores europeus tendiam a permanecer na cosOs registros deles mostraram que meu bisavo havia ta; vendedores africanos traziam escravos do interior fornecido uma escolta armada para os primeiros mis- a pe; as viagens poderiam ser de ate 485 km. sionarios na area. Escravos eram tipicamente acorrentados em dupla

Os igbo nao tem uma cultura de erguer monumentos para seus herois - caso contrario, algum dedicado a

Os escravos capturados eram amarrados em fila indiana por cordas no pescoço. 10% a 15% dos escravos morriam durante a jornada. Fonte: Encyclopaedia Britannica

Corrente d’escrita Revista digital de distribuição gratuita de divulgação dos escritores e suas obras, da literatura em geral, da história e aprimoramento da língua portuguesa. Para receber seu exemplar, envie um e-mail com uma breve apresentação. Página 26


Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021

Nos tempos de Alexandre, Cesar e ate a Idade Media, nao existia nome para a homossexualidade - porque ninguem achava nada de mais.

A uniao civil entre pessoas do mesmo sexo pode parecer coisa de gente moderna. Apenas em 1989 a Dinamarca que abraçou a causa foi o primeiro país a fazer isso. Hoje, o casamento gay esta amparado em varias naçoes. Essa marcha, porem, de nova nao tem nada. Sua historia retoma um tempo em que nao havia necessidade de distinguir o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Para os povos antigos, o conceito e o sexo heterossexual, por sua vez, servia apenas pade homossexualidade simplesmente nao existia. ra procriar. As tribos das ilhas de Nova Guine, Fiji e Salomao, no oceano Pacífico, cerca de 10 mil anos atras ja exercita- Para a educaçao dos jovens atenienses, esperava-se vam algumas formas de homossexualidade ritual. Os que os adolescentes aceitassem a amizade e os laços melanesios acreditavam que o conhecimento sagrado de amor com homens mais velhos, para absorver suas so poderia ser transmitido por meio do coito entre virtudes e seus conhecimentos de filosofia. Apos os 12 duplas do mesmo sexo. No rito, um homem travestido anos, desde que o garoto concordasse, transformavarepresentava um espírito dotado de grande alegria e se em um parceiro passivo ate por volta dos 18 anos, seus trejeitos nao eram muito diferentes dos de um com a aprovaçao de sua família. Normalmente, aos 25 tornava-se um homem e aí esperava-se que assumisse show de Drag Queens atual. o papel ativo. Homossexualidade na antiguidade Entre os romanos, os ideais amorosos eram semelhanUm dos mais antigos e importantes conjuntos de leis tes aos dos gregos, mas com um componente hierardo mundo, elaborado pelo imperador Hammurabi na quico mais forte. A pederastia (relaçao entre um hoantiga Mesopotamia em cerca de 1750 a.C., contem mem adulto e um rapaz mais jovem) era encarada coalguns privilegios que deveriam ser dados aos prostimo um sentimento puro. No entanto, se a ordem fosse tutos e as prostitutas que participavam dos cultos relisubvertida e um homem mais velho mantivesse relagiosos. Eles eram sagrados e tinham relaçoes com os çoes sexuais com outro, estava estabelecida sua deshomens devotos dentro dos templos da Mesopotamia, graça. Os adultos passivos eram encarados com desFenícia, Egito, Sicília e India, entre outros lugares. prezo por toda a sociedade, a ponto de o sujeito ser Herdeiras do Codigo de Hammurabi, as leis hititas impedido de exercer cargos publicos. chegam a reconhecer unioes entre pessoas do mesmo Boa parte do modo como os povos da Antiguidade ensexo. E olha que isso foi ha mais de 3 mil anos. caravam o amor entre pessoas do mesmo sexo pode Na Grecia e na Roma da Antiguidade, era absolutaser explicada ou, ao menos, entendida se levarmos em mente normal um homem mais velho ter relaçoes seconta suas crenças. Na mitologia grega, romana ou xuais com um mais jovem. O filosofo grego Socrates entre os deuses hindus e babilonios, por exemplo, a (469-399), adepto do amor homossexual, pregava que homossexualidade existia. Muitos deuses antigos nao o amor entre iguais era a melhor forma de inspiraçao tem sexo definido. Alguns, como o popularíssiPágina 27


Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 com a força crista, reforçaram a teoria do sexo para procriaçao.

mo hindu Ganesh, da fortuna, teriam ate mesmo nascido de uma relaçao entre duas divindades femininas. Nao e nada difícil perceber que, na Antiguidade, o sexo nao tinha como objetivo exclusivo a procriaçao. Isso começou a mudar, porem, com o advento do cristianismo. Só para procriar O judaísmo ja pregava que as relaçoes sexuais tinham como unico fim a maxima exigida por Deus: "Crescei e multiplicai-vos". Ate o início do seculo 4, essa ideia, porem, ficou restrita a comunidade judaica e aos poucos cristaos que existiam. Nessa epoca, o imperador romano Constantino converteu-se a fe crista e, na sequencia, o cristianismo tornou-se obrigatorio no maior imperio do mundo. Como o sexo passou a ser encarado apenas como forma de gerar filhos, a homossexualidade virou algo antinatural. Data de 390, do reinado de Teodosio, o Grande, o primeiro registro de um castigo corporal aplicado em gays. O primeiro texto de lei proibindo sem reservas a homossexualidade foi promulgado mais tarde, em 533, pelo imperador cristao Justiniano. Ele vinculou todas as relaçoes homossexuais ao adulterio para o qual se previa a pena de morte. Mais tarde, em 538 e 544, outras leis obrigavam os homossexuais a arrepender-se de seus pecados e fazer penitencia. O nascimento e a expansao do islamismo, a partir do seculo 7, junto Página 28

Durante muito tempo, ate meados do seculo 14, no entanto, embora a fe condenasse os prazeres da carne, na pratica os costumes permaneciam os mesmos. A Igreja viu-se, a partir daí, diante de uma serie de crises. Os catolicos assistiram horrorizados a conversao ao protestantismo de diversas pessoas apos a Reforma de Lutero. E, com o humanismo renascentista, os valores classicos, assim, o gosto dos antigos pela forma masculina voltaram a tona. Pintores, escritores, dramaturgos e poetas celebravam o amor entre homens. Alem disso, entre a nobreza, que costumava ditar moda, a homossexualidade sempre correu solta. E, o mais importante, sem censura alguma, ficaram notorios os casos homossexuais de monarcas como o ingles Ricardo Coraçao de Leao (1157-1199). No curto intervalo entre 1347 e 1351, a peste negra assolou a Europa e matou 25 milhoes de pessoas. Como ninguem sabia a causa da doença, a especulaçao ultrapassava os limites da saude publica e alcançava os costumes. O pecado em que viviam os homens passou a ser apontado como a causa dela e de diversas outras catastrofes, como fomes e guerras. Judeus, hereges e sodomitas tornaram-se a causa dos males da sociedade. Nao havia outra soluçao a nao ser a erradicaçao desses grupos. Medidas energicas foram tomadas. Em Florença, por exemplo, a sodomia foi proibida em 1432, com a criaçao dos Ufficiali di Notte (agentes da noite). O resultado? Setenta anos de perseguiçao aos homens que mantinham relaçoes com outros. Entre 1432 e 1502, mais de 17 mil foram incriminados e 3 mil condenados por sodomia, numa populaçao de 40


Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 mil habitantes.

soberano, dotou a nascença certos indivíduos masculiLeis duras foram estabelecidas em varios outros paí- nos e femininos do impulso homossexual. Esse impulses europeus. Na Inglaterra, o seculo 19 começou com so cria de antemao uma aversao direta ao sexo oposo enforcamento de varios cidadaos acusados to". de sodomia. E, entre 1800 e 1834, 80 homens foram Em 1897, o ingles Havelock Ellis publicou o primeiro mortos. Apenas em 1861 o país aboliu a pena de mor- livro medico sobre homossexualidade em ingles, Sete para os atos de sodomia, substituindo-a por uma xual Inversion (Inversao sexual). Como muitos da pena de dez anos de trabalhos forçados. epoca, ele defendia a ideia de que a homossexualidade era congenita e hereditaria. A opiniao científica, mediCiência cruel ca e psiquiatrica vigente era de que a homossexualidaOutro tratamento nada usual foi destinado tanto a hode era uma doença resultante de anormalidade genemossexualidade quanto a ninfomania feminina: a lotica associada a problemas mentais na família. A teobotomia. Desenvolvida pelo neurocirurgiao portugues ria, junto das ideias emergentes sobre pureza racial e Antonio Egas Moniz, que chegou a ganhar o premio eugenismo nos anos 1930, torna facil entender por Nobel de Medicina de 1949 por isso, ela consistia em que a lobotomia foi indicada para os homossexuais. uma tecnica cirurgica que cortava um pedaço do cerebro dos doentes psiquiatricos, mais precisamente ner- A situaçao so começou a mudar no fim do seculo pasvos do cortex pre-frontal. Na Suecia, 3 mil gays foram sado, quando a discussao passou a se libertar de estiglobotomizados. Na Dinamarca, a ultima cirurgia foi mas. Em 1979, a Associaçao Americana de Psiquiatria realizada em 1981. Nos Estados Unidos, cidadaos por- finalmente tirou a homossexualidade de sua lista oficitadores de disfunçoes sexuais lobotomizados chega- al de doenças mentais. Na mesma epoca, o advento da ram as dezenas de milhares. O tratamento medico era aids (SIDA) teve um resultado ambíguo para os hoempregado porque a homossexualidade passou a ser mossexuais. Embora tenha ressuscitado o preconceivista como uma doença, uma especie de defeito gene- to, ja que a doença foi associada aos gays a princípio, tambem fez com que muitos deles viessem a tona, sem tico. medo de mostrar a cara, para reivindicar seus direiA preocupaçao científica com os gays começou no setos. Durante os anos 80 e 90, a maioria dos países deculo 19. A expressao homossexual foi criada em 1848, senvolvidos descriminalizou a homossexualidade e pelo psicologo alemao Karoly Maria Benkert. Sua defiproibiu a discriminaçao contra gays e lesbicas. niçao para o termo: "Alem do impulso sexual normal dos homens e das mulheres, a natureza, do seu modo "Em toda a historia e em todo o mundo a homossexualidade tem sido um componente da vida humana", escreveu William Naphy, diretor do colegio de Teologia, Historia e Filosofia da Universidade de Aberdeen, Reino Unido, em Born to Be Gay: A Historia da Homossexualidade. "Nesse sentido, nao pode ser considerada antinatural ou anormal. Nao ha duvida de que a homossexualidade e e sempre foi menos comum do que a heterossexualidade. No entanto, a homossexualidade e claramente uma característica muito real da especie humana. Para muitos, ainda hoje "sair do armario" continua sendo uma questao de tempo. As portas, no entanto, vem sendo abertas desde a Antiguidade. In Aventuras na História—junho/2019 Humberto Rodrigues / Cláudia de Castro Lima

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Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 mais rapida e facilmente possível e retornar para Portugal. Nesse sentido, os homens que os donatarios trouxeram para ocupar suas terras nao eram “colonos” no sentido literal da palavra: eram conquistadores dispostos a saquear as riquezas da terra – especialmente as minerais. (Capitaes do Brasil, p. 13).

Portugal

Assim: 1- os donatarios e os colonos visavam ao lucro imediato, 2- o seu objetivo precípuo era o de enricar e regressar a Portugal, 3- eram conquistadores, 4- empenhados em auferir as riquezas locais, maxime o ouro, a prata e os diamantes.

Brasil

Colonização Assistimos, sobretudo nos ultimos tempos, a uma tentativa de fazer brilhar, ou a esmorecer, o papel de Portugal na formaçao do Brasil. Uns, preferiam ser colonizados (ou achados, descobertos, encontrados, povoados) por outros países, como a Holanda, a Inglaterra, a França, a Espanha e, quem sabe, pela China ou o Japao, como aquele que aceita ou nao a exploraçao e a escravidao dependendo da nacionalidade do “carrasco”. Ou seja, os escravizados seriam melhor tratados se os descobridores/achadores nao fossem portugueses. Com início neste numero de o Corrente d’escrita, iremos divulgar alguns textos que tratam do assunto. O fato de os divulgar, nao implica o nosso acordo com suas posiçoes.

VIR, ENRIQUECER E TORNAR A PORTUGAL? ERRO DE HISTÓRIA COLONIAL

Neste paragrafo acumulam-se fantasias literarias que o proprio texto de pesquisa historica que lhe segue nao confirma; elas candidamente exprimem ideias de senso-comum que nao resultam da averiguaçoes do proprio autor. Surpreende que, exato e honesto na sua descriçao factual, Eduardo Bueno haja sido imaginoso na sua analise sociologica. Ao contrario do que Bueno assere, “restam duvidas” de que os donatarios e os seus acolitos visavam ao lucro imediato, de que o seu principal ou quase exclusivo fosse o de enricar e regressar tao logo quao possível a Portugal. Restam todas as duvidas de que os adventícios portugueses fossem conquistadores dispostos a saquear as riquezas da terra. No seu tom e na sua elocuçao, trata-se de frase de efeito, bombastica, preconceituosa e vazia de verdade. Para suscitar um mínimo de duvidas, transcrevo Gilberto Freyre: No Brasil, os portugueses substituíram a exploraçao da riqueza local pela criaçao de riqueza no local. (A Colonizaçao Portuguesa no Brasil, p. 84).

Tambem Franklin de Oliveira propalou o mito que Bueno transmitiu. Redigiu bombastico prefacio em A Por: Arthur Virmond Lacerda America Latina, de Manoel Bomfim (editora TopboSite: História do Brasil oks, 1993), eivado de frases de efeito e de declamaçoes em que amesquinhou a colonizaçao portuguesa "Nao restam duvidas de que, desde o momento de seu pela insistencia nos chavoes lusofobos. A proposito desembarque, tanto os donatarios quanto seus colodos engenhos de cana-de-açucar, sentenciou que o nos visavam ao lucro imediato. O principal - e quase seu proprietario era um simples feitor; o seu objetivo unico- objetivo da maioria era [o de] enriquecer o Página 30


Ano IV — Número 41 - Mensal: março de 2021 era enriquecer no Brasil e, ricaço, retornar a Portugal naçao haja colonizado com tanto entusiasmo como (obra citada, p. 21). Portugal. Uma vez estabelecidos no país, os seus pioQue falsidade!!! exclamam Jose Verdasca e Antonio neiros nunca encaravam a nova conquista como um Netto Guerreiro, a proposito. (A Colonizaçao Portu- lugar para residencia transitoria” (Manoel Bomfim, O Brazil na America, 1929, p. 406). guesa no Brasil, p. 27). E prosseguem: Afirmaçao completamente destituída de fundamento, contraria da realidade, ofensiva e irresponsavel, feita por ignorancia ou talvez ma fe, ela nao revela ao leitor que o “proprietario dos engenhos” era o Capitao Donatario (ou um ilustre rico-homem com fortuna e provas dadas) que, escolhido entre os mais ricos nobres portugueses, se desfazia de sua avultada fortuna para, em Portugal, embarcar para o Brasil, em naus fretadas e ou adquiridas, materiais e colonos, que desbravassem o sertao, plantassem as mudas de cana, edificassem e implantassem casas e engenhos, e criassem todas as condiçoes necessarias e suficientes ao fabrico e transporte da cana e do açucar, ou seja, primeiro havia que criar a riqueza no local, mediante vultuosos investimentos, grandes riscos e sobre-humanos sacrifícios. Por aqui vemos que apenas homens ricos, tinham condiçoes de trazer para o Brasil pessoas e bens, mudas e animais, desmatar a selva e plantar as mudas de cana, implantar os engenhos e produzir o açucar, investindo muito para, passados dois a tres anos, poder auferir os rendimentos do capital e do trabalho” (idem).

Bomfim, acrescenta, contudo, ressalva: De facto, era assim, nos primeiros tempos do Brazil, ate que aqui se constituiu, pela lavoura, uma riqueza propria, capaz de ser explorada pelos mercantis. Depois, no tempo de Fr. Vicente, ja os reinos eram mais transitorios do que definitivos. Pouco importa: a necessidade de cultivar a terra para ter riqueza fez o essencial, e deu a colonizaçao primeira do Brazil o carater que mais lhe convinha; e e isto o essencial na verificaçao que nos interessa. (idem, p. 406). Prossegue, linhas adiante: [...] os colonos portugueses iniciaram uma sociedade estavel, agrícola, vinculada ao solo, orientada imediatamente a fazer do país uma patria [...] (idem, p. 407). “O portugues foi por toda a parte, mas sobretudo no Brasil, esplendidamente criador nos seus esforços de colonizaçao”. (Gilberto Freyre, O mundo que o portugues criou, E realizaçoes, 2010, p. 25.).

Carlos Lisboa Mendonça: Acrescentemos, ainda, ao contrario do que muitas vezes ouvimos dizer, que o Brasil foi colonizado por material humano de boa qualidade; o melhor que naquela epoca existia em Portugal. Os líderes eram homens que ja haviam deEscreveu Koebel: “A certos aspectos, talvez, nenhuma monstrado seu valor na India e pertenciam a camada mais representativa da vida política e social portuguesa [...]. Os colonos eram pessoas cuidadosamente escolhidas, com quem os Capitaes pudessem contar nos momentos de dificuldade [...]. (500 anos do descobrimento, editora Destaque, 2000, p. 242).

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Corrente d’Escrita fevereiro de 2021

Libertadores da América Quem foram?

Outro grande nome desse grupo e o de Jose de San Martin. O general argentino foi o primeiro líder da parte sul do continente a obter exito na separaçao com a Espanha. Alem de sua naçao, ele tambem foi importante no processo de independencia do Chile e do Peru.

Bolívar e San Martin uniram forças contra os espanhois apos a Conferencia de Guayaquil. Juntos, eles tinham o objeDecorreu recentemente a 61ª ediçao do torneio desportivo tivo de fazer da America do Sul uma naçao livre e unica. mais importante do continente. Mas, afinal, por que a comAlem da expulsao dos espanhois, a dupla tambem incentipetiçao leva esse nome? vou a eclosao de movimentos pelo continente. A história por trás da taça Libertadores Nessa lista, ha tambem aqueles líderes que sao consideraO campeonato mais importante de America Latina — e um dos menos guerreiros, como Dom Pedro I, que proclamou a dos mais tradicionais do mundo — foi batizado em home- independencia brasileira muito mais em virtude de um pronagem ao conjunto de líderes que foram os responsaveis jeto político e diplomatico do que de um carater libertador nos processos de independencia de seus países, principal- propriamente dito. mente aqueles que se uniram e lutaram contra o Imperio Para fechar o grupo, tambem podemos citar: Jose Gervasio Espanhol nos seculos 18 e 19. Artigas, do Uruguai; Bernardo O’Higgins, do Chile; Jose MiO principal integrante dessa lista e o venezuelano Simon guel Carrera, do Chile; Manuel Belgrano, da ArgentiBolívar que, inclusive, recebeu o apelido de El Liberta- na; Antonio Jose de Sucre, da Venezuela; e Jose Joaquín de dor. Bolívar foi o grande responsavel pela independencia Olmedo, do Equador. de diversos países como: a propria Venezuela, a Colombia, Na imagem: Da esquerda para direita: Jose Miguel Carrera, o Equador, o Panama, o Peru e a Bolívia — a importancia do Antonio Jose de Sucre, Dom Pedro I, Simon Bolívar e Jose líder nesse ultimo país e tao grande que ha um clube batizaGervasio Artigas - Montagem // Wikimedia Commons do em sua homenagem, o Bolívar.

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Corrente d’Escrita fevereiro de 2021

Fotos com História

Uniforme usado pelo arquiduque Franz Ferdinand no momento de seu assassinato, em 1914, evento que provocaria o início da Primeira Guerra Mundial.

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Corrente d’ escrita — fevereiro de 2021

Dicas de português... Carcamano, no Brasil O termo carcamano tem diferentes acepçoes no Brasil. Em Sao Paulo e em partes da Regiao Sul e uma designaçao pejorativa dada aos italianos e seus descendentes. Em outras partes do Brasil, como no Maranhao, Piauí e Ceara, a palavra foi no passado usada para identificar judeus e arabes.

no dialeto paulistano tradicional. Em portugues, calcar significa pressionar de cima para baixo, esmagar, moer. Tal associaçao derivaria do fato que feirantes e pequenos comerciantes discretamente forçavam (calcavam) as suas maos nas balanças, para que estas registrassem um peso maior, e assim as mercadorias seriam vendidas por um valor maior que o peso real. Como a epoca a maioria desses comerciantes eram italianos e descendentes, o termo se popularizou para designaçao desse grupo etnico.

A origem do termo e duvidosa, segundo Antenor Nascentes, e provavel que carcamano derive da Referencias palavra castelhana carcaman, que na America La- Dicionario Houaiss da Língua Portuguesa tina denota "pessoa decrepita" (no Peru), forasteiro pobre (em Cuba), pessoa pretensiosa e de poucos meritos (na Colombia) e italianos - em especial genoveses - (na Argentina). A etimologia popular da cidade de Sao Paulo, sem qualquer fundamento científico, liga o termo carcamano a expressao "calcar as maos", popularmente pronunciada "carca as mano"


Corrente d’ escrita

Dicas de português... Como aprender a escrever bem? Dicas de Stephen King Nada melhor para aprender a escrever bem do que ouvir as dicas de grandes autores, nao e mesmo? Entao, prepare-se. Separamos algumas das melhores sugestoes de Stephen King, renomado autor americano que ja publicou mais de 50 livros e vendeu mais de 350 milhoes de copias. 1. Desligue a TV e vá ler um livro Se voce costumava assistir MTV, ja deve ter ouvido essa propaganda algumas vezes. Pois e, vale como um conselho para todos nos, mas e particularmente util para um escritor. Segundo Stephen King, a televisao e como um veneno para a criatividade, e a cura para esse veneno e a leitura constante.

Carregue um livro com voce para aonde quer que va (ainda bem que existem os ebooks, nao e mesmo?). Leia antes de dormir, no transporte, no intervalo do trabalho, ate enquanto come. E com essa leitura, pense criticamente, inspire-se e escreva muito tambem.

em relaçao ao conteudo dos seus livros. O proprio Stephen King ja foi considerado ate mesmo um psicopata por leitores insatisfeitos. Depois de um tempo, ele percebeu que essas críticas eram inevitaveis e as aceitou. O conselho dele e simples: deixe suas preocupaçoes para tras e, se alguem reclamar do que voce escreveu, apenas deixe para la. O proposito da escrita, segundo Stephen King, e trazer felicidade e satisfaçao ao escritor. E e por esse motivo que King escreve, e e por isso que ele conseguiu escrever tantos livros por tantos anos. 4. Escreva sobre aquilo que é difícil de falar em voz alta Tudo o que realmente importa e difícil de ser dito em voz alta. Sao assuntos que deixam voce envergonhado. E como se as palavras nao fossem o suficiente. (Ou pelo menos e assim que Stephen King pensa). Sob a perspectiva de Stephen King, a escrita e como um pensamento polido. E as melhoras obras da escrita abordam assuntos que exigem horas e horas de reflexao.

Ao escrever, voce deve enxergar sua historia como uma relíquia arqueologica, que precisa ser encontraAlem de desligar a TV, voce tambem deve desligar o da, escavada e interpretada. Cave as profundezas da celular, desconectar-se das redes sociais e de basica- sua mente, revire assuntos difíceis e voce escrevera mente qualquer distraçao que possa atrapalhar seu uma historia memoravel. processo criativo. Ate mesmo uma janela aberta pode 5. Não seja pretensioso na sua escolha de palaatrapalhar. vras 2. Desconecte-se de tudo quando for escrever

Segundo Stephen King, voce deve escrever com a porta fechada e reescrever com a porta aberta. A escrita e um trabalho que exige total privacidade. O ato de escrever o primeiro rascunho deve ser puro e íntimo, como se a propria historia estivesse se despindo na sua frente. Ou seja… feche essa porta e nao deixe ninguem entrar!

Escrever e publicar livro sobre assuntos e temas difíceis nao significa que voce precisa usar palavras difíceis. Na verdade, isso apenas atrapalha a compreensao do leitor. Para Stephen King, essa e uma das piores atrocidades que um escritor pode cometer. E e basicamente brega.

Em nosso artigo Menos e mais: aprenda a reduzir seu texto ao necessario, nos ensinamos que tipo de palaPara ser um bom escritor, voce deve ser verdadeiro vras voce deve evitar e como voce pode se comunicar consigo mesmo. De acordo com Stephen King, isso com o leitor de maneira simples e direta. envolve deixar de lado certas convençoes sociais en- 6. Evite advérbios e escreva parágrafos curtos quanto voce escreve livros. Como consequencia, e provavel que voce receba algumas críticas negativas Os adverbios podem parecer seus amigos, mas nao sao. Inclusive, Stephen King afirma que “a estrada pa3. Não tente agradar os outros, mas a si mesmo


Corrente d’ escrita

Dicas de português... ra o inferno e pavimentada com adverbios”. Pesado, mas faz sentido. A maioria das vezes que um autor usa adverbios em textos narrativos, ele poderia ter transmitido a ideia com apenas um verbo ou adjetivo. Por exemplo, em vez de dizer “muito assustador”, voce pode dizer “aterrorizante”.

E importante pesquisar antes de escrever um livro, mas essa pesquisa nao deve ofuscar a historia. Os detalhes que voce aprendeu devem ficar la no fundo, tao apagados quanto possível. Sim, e normal ficar fascinado quando voce estuda um assunto, mas o que realmente interessa os leitores e a sua historia. Se eles E bom tambem prestar atençao no tamanho dos seus quisessem informaçoes, eles leriam nao ficçao. paragrafos, pois eles definem o ritmo da historia e 9. Não tente copiar a voz de outro autor tem um papel crucial na fluencia do texto. Afinal, pa- Imitar o estilo de outro autor pode ate ser uma boa ragrafos muito longos costumam desanimar os leito- tecnica para treinar a escrita, mas nao deve ir alem res. Segundo Stephen King, a estetica dos paragrafos e disso. Quando voce for escrever e publicar ebook, e quase tao importante quanto o seu conteudo. hora de se levar a serio e usar a propria voz. So assim 7. Não dê tanta importância para a gramática

voce tera uma identidade unica.

De acordo com Stephen King, a escrita se trata de seduçao, nao precisao. O objetivo de uma historia de ficçao e envolver o leitor e contar uma historia, e isso nao tem nada a ver com gramatica.

Lembre-se que nao e possível reproduzir de maneira identica a vivencia de outra pessoa. Portanto, voce tambem nao pode replicar sua voz e identidade. Faça isso e voce sera nada mais do que uma imitaçao baraEmbora seja importante seguir a norma culta ate cer- ta, sem personalidade. to nível, existem diversas estruturas gramaticais que 10. Escreva histórias autênticas sao usadas popularmente. As vezes, escrever “certo” Nao, isso nao significa que voce tem que escrever apesignifica escrever de um jeito que nao vai agradar os nas sobre fatos reais, mas que suas historias devem leitores. O objetivo de uma narrativa e ser tao fluida ser sinceras, verossímeis e reproduzir a verdade. que o leitor vai se esquecer que esta lendo um livro. Segundo Stephen King, os livros ruins costuma ser 8. Não dê informações demais escritos por autores que se recusam a contar historias Existe uma diferença entre dar uma aula sobre os as- sobre personagens autenticas, que agem como pessosuntos que seu livro aborda e usar esse conhecimento as de verdade. Por exemplo, um assassino pode ajupara enriquecer sua narrativa. Segundo Stephen King, dar uma velhinha a atravessar a rua. voce so deve mencionar as informaçoes que contribu- Extra: Viva uma vida plena e saudavel. Stephen King em para o desenvolvimento do enredo e o engajamen- afirma que o seu sucesso se deve inteiramente ao seu to do leitor. casamento e boa saude.

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As mulheres, os homens, as crianças e os idosos; a comunidade LGBT; os negros, os índios, os ciganos, os imigrantes e todos os demais desprotegidos, são perseguidos, violentados, agredidos e estuprados... Nesta obra intimista, Afonso Rocha passeia-se pela sua própria experiência, mas também a de todos nós, como comunidade, para que se dinamize e reforce a forma de combater estas mazelas, estes crimes bárbaros (a pedofilia, estupro), já considerados o holocausto do século XXI.

Através de estórias imperdíveis, Afonso Rocha leva-nos até 500 anos atrás, quando os portugueses chegaram ao sul do Brasil, onde criaram família, cultivaram tradições e culturas que viriam a “marcar” a cultura catarinense. Sangue Lusitano é a história do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, de suas vilas e cidades e de seus povos (indígenas, portugueses, negros e outros que se lhes juntaram posteriormente). Um livro a não perder.

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Corrente d’ escrita

Livros à venda—impressos narealgana@gmail.com Olhos D’Água—Histórias de um tempo sem tempo, relata-nos as vivências do povo português entre 1946 e 1974 e a sua resistência à ditadura e ao fascismo do regime de então. Por outro lado, configura uma autobiografia do autor (Afonso Rocha) nas suas andanças pelo período escolar, pelo serviço militar; a guerra colonial em África; a emigração em França; a resistência, até à revolução dos cravos... Um livro a não perder, sobretudo para quem gosta de história.

Trovas ao Vento, é uma coletânea de poemas e outros pensares, enriquecida com o contributo de outros poetas convidados naturais do Brasil, Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Angola e da Galiza, como expressão do pensar lusófono. Um encontro de expressões diferentes, manifestadas pela língua comum que nos cimenta e faz pensar português. Um livro de cabeceira, não para ler, mas para pensar e refletir.

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Canasvieiras—270 anos, retrata a história e as gentes que fundaram este distrito de Florianópolis/SC. Criado oficialmente a 15 de abril de 1835, o povoado já existia desde os primórdios da fundação do arraial Nossa Senhora do Desterro, em 1673, por Francisco Dias Velho. Recebeu um grande incremento populacional com a chegada dos primeiros açorianos em 1748. No tempo, o povoado estava integrado na freguesia de Santo António de Lisboa desde 1750. O seu nome deriva da existência na região de um grande canavial (cana-do-rei, ou simplesmente cana). Muitos escritores, particularmente Virgílio Várzea escreveram sobre Canasvieiras. Afonso Rocha dá-nos, com este seu recente trabalho, um novo olhar e uma previsão futurista do balneário mais famoso de Floripa.

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Corrente d’ escrita

Número 37 - setembro 2020

I N É D I TO n a a m a z o n . c o m

Casa dos Livros e da Leitura

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