Corrente d'escrita 43

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Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

Corrente d’escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil

Fundador Afonso Rocha—julho 2017 www.issuu.com/correntedescrita

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Aniversário de fundação: 23 de março de 1673, com o nome de NS de Desterro


Corrente d’ escrita

Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha

Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história a língua portuguesa e a cultura em geral. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário.

O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.

Principais assuntos nesta edição: Academia Catarinense de Letras e Artes Com Antônio Cunha

6-9

Estância—Marcos do Pam- 19-20 pas Manoel da Motta Coqueiros—Pena de morte

22-23

A Inquisição

24-26

Anita Garibaldi—200 anos depois

27-30

Após a Independência do Brasil

31-36

Como divulgar seu livro?

38-39

Deparamos com esta postagem no perfil do Acadêmico da ACL, João Nicolau Carvalho... Dias depois, recebemos a triste notícia de sua morte por covid-19.


Corrente d’ escrita continuar a receber mensalmente o seu jornal atraves de e-mail. E uma leitura que nos enriquece muito, azar de quem nao le.

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Louvo sua ousadia e coragem para manter a rotina de publicaçao mensal desta sua revista dedicada a literatura, Grande abraço e parabens pelo magní- historia e língua portuguesa, sobretudo fico trabalho executado no Corrente durante este doloroso momento em que enfrentamos a pandemia. d’escrita. Perdemos a alegria, o animo e ate a vontade de ler e escrever, mas voce, __________ mes apos mes, nos tras esta bela revisParabens por mais esta ediçao do Corta. rente d'escrita. Eu a partilho com minha mulher que A lida em prol da literatura e um camitambem a adora, e ainda com minha nho de pedras, mas o seu esforço esta neta, que mora no Rio Pardo/RS. E nosvalendo a pena! so entretem de leitura. Obrigada! Continue assim. Osmar Cardoso/Florianópolis

Caro amigo, mesmo que voce possa estranhar, eu acho que posso lhe chamar de amigo. Tivemos pessoalmente apenas um encontro em nossas vidas, e acho que o amigo deve lembrar de qual ocasiao eu me refiro. Foi na realizaçao do festival 6 continentes, na escola Melao, em Sao Jose/SC, promovido pela ALIASC - Academia Literaria e Artística de Santa Catarina, entidade presidida pela escritora e artista plastica Rute Cardoso.

Bernadéte Costa/Joinville __________

Excelente, como as demais, esta ediçao do Corrente d'escrita. Mandarei, em proxima missiva, uma cronica para Obviamente nao poderíamos nos con- possível publicaçao. siderarmos amigos apenas por ocasiao desse unico encontro. Minha forte ami- Um fraternal abraço, zade e minha profunda admiraçao e Ivonita Di Concílio/São José respeito pelo nobre amigo cresceu __________ atraves dos nossos encontros mensais, Prezadíssimo, atraves dos encontros mensais que o amigo tem comigo, mostrando toda a Agradeço pela remessa do "Corrente" nº 42. sua essencia de ser humano, toda a sua essencia de escritor, e toda a sua essen- Otimo, como os demais. cia de cidadao preocupado com o pro- Abraços e Bom Final de Semana ximo e com o meio em que vive.

Obrigado. Florêncio Pacheco/Rio Grande do Sul __________

Parabens pela Mençao Honrosa na FIO LISBOA. Um concurso desses so para bons mestres da Filolinguística portuguesa. Flávio Pansera/Chapecó

Rudney Otto/Florianópolis

Neste momento voce deve estar se per- __________ guntando! Mas quando que eu enconOla Afonso! tro com esse cara? Que folego. Esta muito bom. E eu lhe respondo que tenho muita honra em lhe encontrar mensalmente Grato! no dia em que recebo o seu jornal Cor- João Pacheco de Souza/Garopaba rente d’escrita, desde a primeira vez __________ que o amigo expressou consideraçao por minha pessoa e me enviou o priJa li a entrevista do presidente da ACL meiro exemplar. e a transcriçao da minha carta. Eu como editor de livros da Editora Juca Palha, imagino bem toda a sua Depois vou ler o restante. preocupaçao, todo o seu empenho e Parabens pelo trabalho. Continue editodo o seu amor na produçao dessas tando a Corrente. paginas extraordinarias que o amigo Um abraço. me envia todo mes. Se nao for um incomodo, eu quero sim

JJLeal/Brusque

ESCREVA Apoie, critique, e faça sugestões. A sua opinião é importante para nós. Participe! Envie-nos seus textos para publicação.


Editorial

Corrente d’escrita

Número 43—maio 2021

Entramos no mês de maio com 43 edições do Corrente d’escrita. Nem a pandemia, nem o fato de termos sido hospitalizado barrou, ou tão-pouco, abandou nosso ritmo de trabalho. Sim, porque para nós, a literatura, a cultura, a formação… seguem em primeiro lugar. Esta atividade de apoiar os escritores que se expressam em português; a propagação do fazer literário através da divulgação dos livros e textos, a divulgação de ensaios e documentos sobre a história, por vezes textos inéditos; e o cumprimento da propósito de ajudar a aprimorar o falar e o escrever português, esta língua que, arrojadamente, atravessa países e continentes, não pode parar, apesar das maleitas eventuais do corpo e da alma.

Foi também esta ambição de trabalho que nos levou à candidatura para ocupar a Cadeira 07 na Academia Catarinense de Letras—ver página seguinte. Não porque seja indispensável ser membro da Academia, mas porque será, caso eleito, mais uma ferramenta, um meio de trabalho, de atingir os mesmos propósitos literários e culturais. Continuamos nesta edição a dar voz aos escritores e às Academias, estando com nós, na presente edição, a Academia Catarinense de Letras e Artes (ACLA) através do seu presidente Antônio Cunha, a quem agradecemos ter correspondido ao nosso convite. Como observarão, damos destaque ao bicentenário de Anita Garibaldi, a heroína de dois mundos, que saída de Santa Catarina (Laguna), conquistou a Itália, através de um trabalho da escritora Izabelle Valladares que, com seu jeito peculiar de descrever, nos conduz pela vida da homenageada e do seu grande amor, Giuseppe Garibaldi. Agradecendo o vosso acolhimento, como sempre, ficamos à espera de vossas sugestões, criticas e colaborações.

Afonso Rocha Página 4


Corrente d’escrita

Número 43—maio 2021

Academia Catarinense de Letras, elege novos membros. Convocada pelo seu presidente, Moacir Pereira, no próximo dia 7 de junho reunirá, em Assembleia Geral, a Academia Catarinense de Letras, para eleger os candidatos que irão ocupar as duas cadeira (07 e 22) que se encontram vagas. Apresentam-se ao sufrágio os candidatos abaixo indicados. Em momentos de pandemia, as LETRAS não podem parar. A criatividade, a obra, o perfil dos candidatos está em cima da mesa. Que vença o melhor, na base, não na cor da pele, não no sexo, não na origem, não nas relações sociais, MAS SIM na obra realizada e consolidada, na atividade literária produzida, no empenho em defesa da cultura e literatura catarinense, na defesa, propagação e no uso da nossa língua portuguesa. Cadeira 07 Afonso Rocha Carlos Alberto Maciel Edenice Fraga Katia Rebello Luiz Alberto Silveira Nelma Baldin Renata M. de Avellar Dal-Bó Willian Wollinger Brenuvida Cadeira 22 Danilo Silvio Aurich Ismael dos Santos Luiz Felipe Siegert Schuch Umberto Grillo Silmar Boher Página 5


de 2019

Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

Hoje temos mais uma Academia no nosso Senadinho, desta feita a ACLA—Academia Catarinense de Letras e Artes, que nos “fala” através do seu presidente, o ator, declamador, encenador, critico, escritor e poeta Antônio Cunha. A dele, pois, o palco!

ACADEMIA CATARINENSE DE LETRAS E ARTES (ACLA) ração dos Trabalhadores no Comércio do Estado de Santa Catarina como assessor sindical. Assumiu a caQUESTIONÁRIO deira de número 37 da ACLA no ano de 2011 e desde Nome oficial da Academia: ACADEMIA CATARINENSE 2016 é seu presidente. Além da ACLA, é membro do DE LETRAS E ARTES - ACLA Grupo Armação de Teatro, de Florianópolis e ViceCidade: Florianópolis/SC Presidente da Companhia Ópera de Santa Catarina. Na Nome do actual presidente: Antônio Cunha Companhia Ópera, atua também como Diretor Cênico, Número de cadeiras: 40 tendo dirigido a montagem de demais de 12 óperas Data de fundação: 05/07/2003 completas. Endereço redes sociais: facebook.com/aclaacademia

Corrente – Embora o nosso principal objetivo seja falar e divulgar a Academia, é importante que o seu principal, e atual, responsável, nos fale um pouco da sua pessoa, quer como presidente desta insigne instituição, seus eventuais trabalhos ligados às letras, às artes e à cultura em geral, quer sobre a sua atividade ocupacional e cívica.

Resposta – O presidente Antônio Cunha é dramaturgo, ator, diretor de teatro e poeta, natural de e residente em Florianópolis/SC. Possui formação acadêmica em Ciências Sociais e atua profissionalmente junto à FedePágina 6

Corrente – Então passemos agora à Academia. Quando foi fundada? Com quantos fundadores? Há alguém, desse grupo inicial, que queira relevar? E atualmente, quantas cadeiras tem a Academia? E destas quantas estão ocupadas? Qual é a forma de seleção? Nesse processo de escolha, digamos assim, que critérios pesam mais, as suas obras? A sua


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

Do ponto de vista de gênero a ACLA tem procurado manter um certo equilíbrio, tendo atualmente em seu quadro 17 acadêmicos e 15 acadêmicas. Em termos de idade, a ACLA possui 1 acadêmico na fixa até 40 anos, 23 na faixa dos 40 aos 70 anos e 8 na faixa igual ou superior a 71 anos.

Corrente – Como vive, financeiramente a Academia? Teem apoios do poder público? De alguma outra entidade privada? Que outros recursos são mobilizados para “alimentar” a vossa atividade? Vocês teem local próprio onde funcionam e recebam público?

atividade profissional? O seu curriculum político e/ou cívico? Do ponto de vista de género, quantas mulheres e quantos homens fazem parte atualmente da Academia? E em termos de idade: quantos têm até 40 anos? Quantos entre 41 e 70 anos e, finalmente, com idade superior ou igual a 71 anos?

Resposta – Até o momento a ACLA possui como única fonte de renda o pagamento de anuidade efetuada pelos seus acadêmicos.

Embora a ACLA, juntamente com algumas outras entidades do gênero, tenha assegurado pela Constituição do Estado de Santa Catarina o direito a auxílio financeiro e material por parte do Estado, esse auxílio até hoje não foi disponibilizado, não obstante várias tentativas. A ACLA não possui até o momento um local próprio, possuindo no momento o direito de uso de uma sala Resposta – A ACLA foi fundada em 05/07/2003, com 8 disponibilizada por uma entidade não governamental. fundadores, sendo eles: Dagmar Sanchez, Wesley O. Collyer, Luz Carpin, Manoel Teles, Adir Pacheco, Ivan Corrente – Entre os atuais membros da Academia, Alves Pereira, Doralice Silva e Augusto de Abreu. quantos deles se dedicam ao romance/conto, à históPossui 40 cadeiras, divididas em 4 áreas de representa- ria, à poesia, ao ensaio, a assuntos científicos/sociais? ção com 10 cadeiras cada uma: Letras, Música, Artes Cênicas e Artes Visuais. Resposta – A ACLA possui atualmente 8 acadêmicos Atualmente estão ocupadas 32 cadeiras. A escolha dos compondo a área de letras, dentre poetas, romancisacadêmicos se dá após indicações feitas pelos próprios tas e contistas. No entanto, diversos outros acadêmiacadêmicos, seguida de pesquisa sobre a vida artística cos que compõem as demais áreas de representação e a obra do ou dos indicados. Após a seleção é efetuatambém se dedicam às letras e possuem obras publicado convite por meio de correspondência formal e, em das em diversas áreas, tais como poesia, dramaturgia e sendo aceito, a posse é efetuada em sessão solene de assuntos científicos/sociais. encerramento do ano acadêmico. Utilizam-se como critérios definidores a existência de uma obra consolidada e reconhecida no meio literário e artístico catari- Corrente – Entre as atividades periódicas da Academia, nense e a proeminência da atuação do indicado em quais as que gostaria de destacar? A Academia tem prol das letras e das artes. publicações periódicas definidas? Página 7


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

Além disso, a ACLA procura estar atenta e atuante na defesa de políticas públicas que beneficiem o meio cultural.

Corrente – Gostaria de deixar alguma mensagem para os nossos leitores?

Resposta – Conclamo a todos a abraçarem a defesa da cultura, da liberdade de expressão e da valorização da arte e dos agentes e trabalhadores da cultura. FIM

Resposta – ACLA não realiza publicações periódicas até o momento. A sua atividade mais destacada no âmbito da sociedade é a premiação anual que concede a literatos e artistas ou instituições catarinenses que tenham se destacado nas suas áreas de atuação no decorrer do ano. São as seguintes premiações: Prêmio Personalidade do ano nas Letras, na Música, nas Artes Cênicas e nas Artes Visuais, além do Prêmio ACLA Conjunto da Obra.

Corrente – Gostaria que me respondesse a uma última pergunta: o âmbito de vossa atividade abrange todo o Estado? O Município? Ou é mais localizado? Que tipo de ações costumam desenvolver que se envolvam com o público: leitores/consumidores de vossos trabalhos?

Resposta – A ACLA possui âmbito estadual. A ação de maior impacto junto ao público é justamente a noite de entrega das premiações já citadas, que é aberta e costuma ser enriquecida com apresentações artísticas. Página 8


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

A Revolução de 25 de Abril, tambem conhecida como a Revoluçao dos Cravos ou de Abril, refere-se a um evento da historia de Portugal resultante do movimento político e social, ocorrido no dia 25 de abril de 1974, que depos o regime ditatorial do Estado Novo,vigente desde 1933, e que iniciou um processo que viria a terminar com a implantaçao de um regime democratico, o fim da guerra colonial em Africa e com a entrada em vigor de uma nova Constituiçao a 25 de abril de 1976, marcada por forte orientaçao socializante. Esta açao foi liderada por um movimento militar, o chamado Movimento das Forças Armadas (MFA), composto na sua maior parte por capitaes, tenentes e outros militares de baixa patente que tinham participado na Guerra Colonial em Africa (Angola, Moçambique e Guine) e que tiveram o apoio de oficiais milicianos. Este movimento surgiu por volta de 1973, baseando-se inicialmente em reivindicaçoes corporativistas, como a luta pelo prestígio das forças armadas e a carreira militar, acabando por atingir o regime político entao em vigor. Com reduzido poderio militar e com uma adesao em massa da populaçao ao movimento, a reaçao do regime foi praticamente inexistente e infrutífera, registando-se apenas quatro civis mortos e quarenta e cinco feridos em Lisboa, atingidos pelas balas da DGS (Direçao Geral de Segurança), ou seja, pela polícia política do regime. No início o movimento confiou a direçao do país a uma Junta de Salvaçao Nacional composto por oficiais de alta patente, que assumiu os poderes dos orgaos do Estado. A 15 de maio de 1974, um deste oficiais, o general Antonio de Spínola, foi nomeado presidente da republica. O cargo de primeiroministro seria atribuído a um civil, ao advogado Adelino da Palma Carlos. Seguiu-se um período de grande agitaçao social, política e militar conhecido como o PREC (Processo Revolucionario Em Curso), marcado por manifestaçoes, ocupaçoes, governos provisorios, nacionalizaçoes e confrontos militares que terminaram com um novo movimento de democratas—os chamados nao alinhados — o 25 de novembro de 1975. Estabilizada a conjuntura política, prosseguiram os trabalhos da Assembleia Constituinte para uma nova Constituiçao democratica, que entrou em vigor no dia 25 de abril de 1976, no mesmo dia em que se realizaram as primeiras eleiçoes legislativas da nova Republica. Na sequencia destes eventos foi instituído em Portugal um feriado nacional, no dia 25 de abril, denominado como "Dia da Liberdade".

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Corrente d’ escrita

Leituras... Esse Poemas Infames pode-se entender como um incidente na atribuiçao de minha vida e uma necessidade interna de novamente buscar energia e luz nos primeiros sonhos, na fonte literaria, ate como refugio e desabafo para meus desatinos particulares — palavras da autora.

Como diz Ney Vidal Filho na lombada do livro “sexo, hoje tao divulgado pela mídea, ontem escondido atras dos prostibulos, e sempre assunto delicado e, por isso mesmo, referencia na literatura, espelho da alma coletiva em busca do autoconhecimento e do prazer. E disso que Maria Odete Olsen trata aqui, em seu segundo livro de poemas (Sem Rimas e Sem Razão, 1991), porem, nao da forma como as vozes das cavernas dominadas pelo homem gostariam. E uma voz de mulher que fala de coisas vividas ou contadas, e fala com amor as vezes suave, as vezes furioso. Ela nos tras esse livro de corpo e alma, nao para quebrar tabus, enfrentar preconceitos... Nao! E quase um depoimento, coisa de mulher sensível nao so ao bom manejo das palavras, mas tambem ao manejo d vida e dos sentimentos que ela desencadeia.

Maria Odete tem a visao feminina afiada, mas nao presa ao feminismo facil. Ela e uma poetisa a espero do melhor leitor, aquele que, sem sacanagem, quer ouvir sobre o amor manifesto e livre, sem pecado ou sentimento de culpa, mesmo que pagando o preço dos inevitaveis desenganos. Ha nesse livro poemas de muita qualidade literaria, reflexos do amadurecimento nao so da autora como da linguagem que usa para exprimir sua arte. Mas ha, sobretudo, a presença feminina forte, e ao mesmo tempo sensual e envolvente. Este trabalho de Maria Odete Olsen, que recebeu o apoio do Governo do Estado de Santa Catarina, atraves da Fundaçao Catarinense de Cultura (FCC) e um balsamo para estas tristes vivencias, pautadas pela pandemia e o isolamento social tao necessario para a saude de todos nos.

Ed. Insular, 2002. Florianopolis, 64 paginas 21x22 cm ilustradas.

“É um livro que dedico às mulheres que vivem ou viveram suas transições pessoais com verdade e intensidade, sem o temor de soltar, encarar ou doma seus anjos e demônios” - a autora.


Corrente d’ escrita categoria. Em 2018, intitulada “Palavras que florescem”, a publicaçao teve como tema o meio ambiente e a sustentabilidade. No ano passado (2019), o tema de Em mais uma antologia, os membros da seccional de uma nova publicaçao foi a mulher, sob p título “Elas— Balneario Piçarras da Academia de Letras de Santa uma antologia sobre a mulher do seculo 21”. Catarina nos apresentam os desafios e sentimentos deste momento presente na historia da humanidade. O objetivo desta obra, segundo seus autores, nao e incentivar as polemicas que dividiram a sociedade em torno das abordagens do enfrentamento a pandemia. O convite da Academia aos seus imortais foi o de expor algo mais profundo, as percepçoes íntimas de cada um neste contexto tao fecundo—porque assim sao os períodos de desconforto e de provaçao. A pandemia nos fez pensar sobre a vida e sobre a morte. Sobre nossa condiçao tao precaria na existencia. Diante de uma ameaça microscopica que varreu o planeta, nossa grandeza humana viu-se questionada. Os medos sobre o futuro se tornaram fantasmas do dia a dia. A esperança esta sendo testada. A capacidade de enxergar o amanha com otimismo talvez seja o grande desafio posto a humanidade. Com a participaçao de vinte imortais, “Sentimentos que afloram” e o registro íntimo de um evento planetario. Esta provocaçao literaria nao tem a pandemia como tema, mas como pano de fundo das reflexoes deste período triste e extraordinario ao mesmo tempo. Triste por motivos obvios. Extraordinario porque poe em xeque tantos de nossos valores e atitudes que se mostram irrelevantes diante do essencial. Extraordinario porque esse mal-estar nos convida a repensar direçao de nossos passos. (na contracapa) Projeto grafico: Oficina Biro de Criaçao, com impresEsta e a quinta obra editada pela ALBSC—Seccional sao: TIPOTIL. 88 paginas/2020. Balneario Piçarras. Em 2016, publicou a coetanea de poemas, contos e cronicas “Piçarras em Letras e Traços” e, no ano seguinte, “Coisas da Vida”, na mesma


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

O medico de uma condessa de Veneza recomendou-lhe comer alimentos crus, ricos em ferro, porque sua cliente estava com anemia. Cortados em fatias pequenas e bem temperadas, a carne ou o peixe foi servido de aperitivo por um barman de Veneza. A cor avermelhada lembroulhe os quadros do pintor cuja obra estava em exposiçao na cidade: Vittore Carpaccio. E da Italia o nome veio para os cardapios e menus do mundo inteiro. As palavras deste livro lembram a erva

sempre-viva, assim chamada por nao murchar nem perder a cor. Por isso, todos querem a reediçao mais recente. E esta aqui a 18ª, que corrige, modifica e amplia as anteriores. Preço: 319,20 R$.

ou 6 x 53,20 R$

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Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

«A nação portuguesa é um produto da sua História: isto dá à História de Portugal um valor eminente». É assim que Henry Morse Stephens, docente da Universidade da Califórnia, começa esta obra notável, que em muito contribui para trazer ao conhecimento comum diversos acontecimentos até agora desconhecidos da História de Portugal. Abrange a instauração da nacionalidade, a consolidação do território e da independência, atravessa o período heroico dos Descobrimentos e a criação de um império global, as navegações em África, na Índia, no Próximo Oriente e no Brasil, e culmina no período de declínio, que começa na fatídica batalha de Alcácer Quibir e se prolonga mais ou menos até aos nossos dias, iluminado aqui e ali com alguns lampejos de uma glória fugaz. Na primeira fase, aliou-se uma força combatente a uma sabedoria administrativa e um tato de governo que granjearam o respeito de toda a Europa. Na segunda, a dos Descobrimentos, a visão estratégica dos principais dirigentes do reino e o insuperável heroísmo dos navegadores trouxeram glória e poder à alma lusa. Finalmente, com a perda da independência e as respetivas consequências, Portugal entra na fase mais negra da sua História. Este é um livro essencial para entender o contexto e os acontecimentos que conferiram ao reino uma individualidade e uma existência nacionais de que justamente se orgulha e para vislumbrar como conseguiu um país tão pequeno erguer o primeiro império global da História. Suely Moraes

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Padrão dos Descobrimentos—Lisboa Lado Poente (1ª foto) 1 Infante D. Pedro, Duque de Coimbra (filho do rei Joao I de Portugal); 2 Dona Filipa de Lencastre (Rainha, Mae dos Infantes, mulher de D. Joao I); 3 Fernao Mendes Pinto (escritor e aventureiro do Oriente); 4 Frei Gonçalo de Carvalho (Dominicano); 5 Frei Henrique de Coimbra (Franciscano); 6 Luís Vaz de Camoes (poeta epico, o maior de Portugal); 7 Nuno Gonçalves (pintor); 8 Gomes Eanes de Zurara (cronista); 9 Pero da Covilha (viageiro); 10 Jacome de Maiorca (cosmografo); 11 Pero Escobar (navegador/ piloto); 12 Pedro Nunes (matematico); 13 Pero de Alenquer (navegador/ piloto); 14 Gil Eanes (navegador); 15 Joao Gonçalves Zarco (navegador); 16 Infante D. Fernando, (o Infante Santo, filho do rei Joao I de Portugal).

Lado Nascente (2ª foto)

1 D. Afonso V de Portugal (Rei); 2 Vasco da Gama (navegador/descobridor do Caminho Marítimo para a Índia); 3 Afonso Baldaia (navegador); 4 Pedro Álvares Cabral (navegador/ descobridor do Brasil); 5 Fernão de Magalhães (Navegador/Viagem de Circum-navegação); 6 Nicolau Coelho (navegador); 7 Gaspar Corte-Real (navegador/Península Labrador); 8 Martim Afonso de Sousa (navegador); 9 João de Barros (Cronista/Historiador);

10 Estêvão da Gama (capitão); 11 Bartolomeu Dias (navegador/ descobridor do Cabo da Boa Esperança); 12 Diogo Cão (navegador); 13 António de Abreu (navegador); 14 Afonso de Albuquerque (Vice-rei da Índia/governador); 15 São Francisco Xavier (missionário/evangelizador); 16 Cristóvão da Gama (capitão).

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Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

CADA UM COM SUA(S) MANIA(S)

Recebo de alguem que prezo muito uma síntese de “manias” que estao vinculadas a escritores de sucesso. Algo como: “As 10 manias mais curiosas de escritores famosos”... A ideia inicial era provocar-me, talvez, para conhecer as minhas ou se aquilo tudo procedia e se era ‘importante” para o processo criativo.

bara a tinta, tentou retoma-lo 10 dias depois, mas nao conseguiu porque a ‘inspiraçao” o abandonara; Agatha Christie escrevia em uma banheira... Vícios sao comuns em genios, Joyce era apaixonado por chocolates; Mark Twain escrevia fumando charutos; Goethe, Virginia Woolf e Gloria Perez gostavam de escrever em pe; Proust, Truman Capote e George Orwell, gostavam de escrever deitados... Depois de ter lido Freud, transformei o meu inconsciente, em um parceiro invisível. Introjeto algumas ideias que preciso desenvolver e deixo tudo la, a mente processa... De vez em quando busco para ver a quantas anda... Uma hora, sem tempo predeterminado, enquanto lavo louça ou tomo um banho, influenciado talvez, pela agua caindo ou fluindo, o insight surge... Nao e “inspiraçao”, e muito trabalho mesmo... Quando fazia engenharia civil, nas aulas de física e calculo, tinha as melhores ideias... Como nao suportava aquilo, me abstraia do ambiente, ausente mentalmente dali, produzia... Abandonei aquela ocupaçao perdularia quando fui surpreendido fazendo um poema em uma prova de calculo diferencial e integral II, materia para outro dia... Rs...

Quando se atinge notoriedade em uma profissao, moda, artes plasticas, literatura, enfim, seu portador passa a ser visto com outros olhos, a curiosidade e a preguiça mental fazem com que, sem o perceber, gestos, frases, blagues ditas aqui e ali (fora do contexto em que foram criadas) passem a ser incorporados pelo imaginario coletivo. E um paliNao ha nada de científico em nenhuma destas “escolhas”. ativo saber que podemos nos safar de situaçoes embaraçoAs pessoas cultivam aquilo que faz bem, um habito pode ser sas repetindo este ou aquele que todos sabem do que se tao bom quanto qualquer outro. O que fazer com os habitrata. tos? Eis a questao. Se o cara precisa caminhar 5 km para O escritor Douglas Adams, ouvia a musica “Shine on you escrever uma obra de qualidade, nao vejo por que nao pencrazy Diamond”, do Pink Floyd, ad nauseam enquanto es- se em caminhar 10 km para fazer duas, aí lembro da fabula crevia;. George R. R. Martin, lia gibis, era fa da Marvel; “A galinha dos ovos de ouro”, outra historia... Os americaStephen King, caminha 3 a 5 km antes de começar pela ma- nos popularizaram o dito: “se funciona, nao conserte”, e nha, a tarde le carta dos fas; Dan Brown, acorda e faz ginas- isso... tica, quando escreve, faz pausa de hora em hora para fazer flexoes; Honore de Balzac, bebia em torno de 50 xícaras de cafe por dia, seguidas de degustaçao e graos de cafe que comia como se fossem amendoins; Paulo Coelho, evitava noites de autografos depois que foi ameaçado para que desse um autografo (essa nem eu entendi); Alexandre Dumas (pai) entregava todas as suas roupas para um criado, para ter a certeza de que nao sairia de casa, mas gostava de comer maças embaixo do Arco do Triunfo: Victor Hugo escrevia em mesa situada na frente de um espelho; Pablo Neruda escrevia com tinta verde, para manter a esperança num futuro melhor, um dia interrompeu um poema porque aca-

Para divulgar (grátis) seus trabalhos no

Corrente d’Escrita Envie-nos seus textos (maximo: 4 mil toques para cronica, conto ou ensaio). Página 15


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021 dia, numa outra viagem, acabei comprando um daqueles para mim, tao simpaticos me eram!

Paraguai—A Paz

Urda Alice Klueger * Numa manha de 31 de dezembro (penso que foi naquele ano em que Valentina tinha um aninho – eu ainda nao tinha Atahualpa), despertei la no apartamento da rua Hermann Huscher sabendo que nao poderia me mexer – meu coraçao se transformara num coraçao de gelatina vermelha que, ao menor movimento, se desmancharia e eu morreria. Foi a unica vez na vida em que tive uma sensaçao assim – entao, fiquei absolutamente imovel para garantir a vida, e acabei dormindo de novo. Acordei horas mais tarde, com o coraçao normalizado. Naquela noite eu iria a uma festa de Ano Novo na casa do meu amigo Aldo, e quando cheguei e contei o que acontecera, ele foi taxativo:

Para nos, que vivemos no sul do Brasil, o Paraguai e logo ali. Viaja-se de noite e se esta em Asuncion ao meio-dia, de onibus. Lembro que chegamos la quase as vesperas do Dia de Reis, data em que as crianças do mundo hispanico ganham presentes (diferente do nosso Natal), e parecia que a cidade inteira estava inundada de “flotantes” (boias para brincar na agua) penduradas nos mais diferentes lugares, sendo oferecidas aos pais para que as crianças as ganhassem de presente. Tudo parecia colorido e festivo com todos aqueles flotantes, e acho que ja comecei a relaxar ali. Na verdade, eu estava extremamente cansada e estressada. Lembro que nas duas primeiras noites tive sonhos horríveis, onde era perseguida por vírus de computador que eram como monstros, mas depois aquilo passou. Eu diria, hoje, que um dos lugares mais relaxantes do mundo para quem precisa se recuperar de um estresse e Asuncion.

Nos primeiros dias la logo estabeleci uma rotina: con- Síndrome do panico. Precisas sair um pouco para versei com a mae do Aldo para que ela nao se preocumelhorar. passe em fazer comida para mim e passava os dias Alem de medico, o Aldo e paraguaio, e sua mae e sua pela cidade (se bem que a mae do Aldo sempre espeirma Suzy tinham vindo de visita e estavam na festa. rava eu me acordar com um pratinho de uvas geladas Elas me levariam para Asuncion quando viajassem, ou alguma outra delícia). Como Asuncion e uma cidade projetada (como tantas outras cidades hispanicas, dali a 2 ou 3 dias. Foi aquela a primeira vez que adentrei ao territorio toda em quadras quadradas, tipo toalha de pizzaria), era bem facil a orientaçao, e eu saía a andar pelas ruas paraguaio, alem da zona franca. de manha e voltava de noitinha, fazendo as refeiçoes Era janeiro e fazia muito calor, e gelo era uma coisa por aí. Como se come bem em Asuncion! Sem duvida, fundamental na vida daquelas gentes que viviam la. a minha comida preferida, por la, e o lomito, uma carNa ampla cozinha da família do Aldo havia duas granne como nao ha no Brasil, um file mignon do tamanho des geladeiras e, nas manhas, a mae dele se apressu- de um prato normal, que a gente come acebolado, rava em guardar com cuidado o gelo feito durante a acompanhado de pedaços de aipim (no Paraguai, esnoite e encher com agua nova as muitas forminhas de queça que existe arroz ou trigo – tudo la e com aipim gelo, para produzir o gelo da noite. Grande parte do ou milho). Comi tanto lomito, mas tanto, que houve gelo era guardado nas bojudas vasilhas termicas de um dia em que me senti intoxicada de lomito, e tive um certo aparato que cada paraguaio tem, destinado que passar um dia a base de agua mineral, para refaao terere, bebida profundamente nacional naquele zer a saude. Preferencialmente, eu comia num restaupaís. Aqueles aparatos para o terere, de plastico colo- rante que fica bem defronte ao Panteao dos Herois, rido, com suas gordas garrafas termicas, eu nunca vi numa mesinha na rua, atendida por simpaticíssimos em outro lugar. E como um certo parente dos aparagarçons, e depois atravessava a rua e, numa das pratos para o chimarrao, se bem que muito diferente. Um ças proximas, escolhia um banco numa sombra priviPágina 16


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021 guarani, bem como pararem tudo por volta das onze da manha, tanto os simples comerciantes como os grandes bancos, pois era a hora de tomar terere. E o respeito pela “siesta”, entao! E as banquinhas das mulheres que vendem os temperos para o terere (raízes, tuberculos, folhas, capins) e que se recostam na sombra das arvores para a satisfaçao dos consumidores que nao precisam ir muito longe para adquirir aqueles produtos – que paz e que tranquilidade naquelas ruas relaxantes! A mae do Aldo temperava o terere da sua família, nas manhas, com folhas de abacate maceradas no fundo das bojudas termicas, antes de enche-las com gelo que iria derreter-se lentamente durante os dias. legiada e falava com a vendedora de produtos para terere mais proxima, para que cuidasse de mim, deitava com a mochila a guisa de travesseiro e dormia ate a metade da tarde, descansada e feliz. Começava a voltar, entao, e ate a noite chegava em casa. Se nao me atrasasse muito, pegava as belas reunioes de vizinhos, como nunca havia visto: cada um com uma cadeira plastica, todos se sentavam rua afora, de ambos os lados, deixando o centro para as crianças e os jovens brincarem de carrinho ou de bicicleta. Uma vida bem sem estresse, temperada a terere e musicada a um espanhol que eu diria “dulce”, amolecido pelo guarani, pois a língua mais usada por la era mesmo o guarani. O guarani e a primeira língua de um paraguaio, e nessa língua se publicam livros, se ensina na escola, etc. Ficava pasma ao cruzar com loiros estrangeiros de terno, tipo presidente do Citibank, e ouvi-los falar

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- Para los rinones! – me explicava. Rinones sao rins. Devo parar logo de contar, antes que voces me abandonem. Haveria que falar das noites, no quarto da Suzy, onde ficavamos conversando como se fosse um internato de moças, e das saídas e passeios com Ruben, ou com a Suzy e o namorado dela, ou os papos matinais com os pais do Aldo, ou daquele banheirinho simpatico que me coube, ou da pequena viagem que fiz ao Chaco... Ai, o Paraguai e minhas vivencias la merecem um livro! Oxala viva o suficiente para escreve-lo! * Escritora, membro da Academia Catarinense de Letras, reside na Enseado de Brito/SC, escreve no Facebook: “Diário da Pandemia”, e o presente trabalho refere-se aos dias 384 e 385 (2 e 3 de abril 2021.


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021 Clarisse da Costa e militante do movimento negro e poetisa em Biguaçu SC.

Riscos da Mulher Negra

As vezes paro e penso em tudo. Custo a crer na mulher que floresceu em mim. Foi tanta opressao de todos os lados que eu pensei que a sociedade fosse me moldar. Pensei como seria o meu cabelo liso, se eu seria bem aceita. Tive um período de raiva, nao queria saber mais do meu cabelo, estava difícil cuidar. Eu me sentia sozinha sem os amigos. A solidao parecia bater na minha porta. Primeiro que namorar estava difícil. E continua sendo. Trançar o cabelo foi a melhor forma, preso era como se eu me escondesse e ninguem mais pudesse me ver. Eu queria ser invisível, pelo menos a cor da pele nao ia fazer a diferença, o meu corpo fora dos padroes nao ia ser julgado. Nossa, ate parece um exagero meu! Mas nao e exagero e nem lamento, a mulher preta ja nasce oprimida. A boneca e branca, nos comerciais cinco crianças brancas e uma preta como atestado de que nao existe racismo no Brasil, e sim uma democracia forte. Nas minhas lembranças, ter um diario era coisa para menina branca. O que uma menina preta tinha para escrever de tao importante? Eu ouvi inumeros questionamentos quando ganhei o meu primeiro diario. E eu so queria escrever. Acho que ja ali nascia em mim essa escritora que eu sou. Mas quando voce começa voce começa sem apoio e literalmente sozinha. E um mundo estranho para muitos principalmente para a família. Eles entendem como trabalho aquilo que da estabilidade e carteira assinada para receber o seu dinheiro todo fim do mes. Fazer a sua propria escolha seguir o seu caminho requer coragem. Algumas vezes vem a rejeiçao. Aí voce tem que aprender a ser forte mais do que o normal. O tempo todo temos que nos posicionar e jamais abaixar a cabeça pra sociedade. Página 18


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

Lugares com História Páginas do passado

As mangueiras, que podem ser de pedra, de arame, de tabua ou de varejao (troncos) incluem a mangueira grande, o curro, o tronco e os bretes, sao os currais para encerrar o gado em determinados trabalhos. E, quase sempre, o banheiro, que e grande para o gado (vacuns) e pequeno para o rebanho (ovinos), onde se banham os animais com remedios contra a sarna, o carrapato, etc... Junto as Casas, o potreiro da frente e atras do galpao, o piquete, onde se soltam os animais de trabalho e para consumo. Depois, as invernadas, quase todas

Estâncias—Marcos do Pampa A estancia gaucha foi criada em 1634, pelo padre jesuíta Cristobal de Mendonza que trouxe da Argentina mil cabeças de gado bovino. Este gado foi distribuído em "estancias". Algumas ficavam distantes das Missoes, como a de Santa Tecla, hoje no município de Bage. Por essa razao, os índios foram treinados para andar a cavalo, e passaram a ser chamados de "vaqueros". Expulsos os jesuítas, muito gado ficou por aqui e o branco - espanhol ou portugues - foi se adonando de tudo, organizando as suas proprias estancias. E ja registrando "marca" e "sinal", como persiste ate hoje.

com nome: Invernada da Tapera, do Coqueiro, do Cerro, do Valo. Nessas invernadas se cuida do gado e onde esta o parador do rodeio, ponto de reuniao da animais para trabalhos especiais, como aparte e coisas assim. Longe das Casas, os postos, que so existem nas estancias grandes, cuidados por um Posteiro, que mora num rancho com a família. Junto aos matos, ou rio, vive algum Agregado, gente amiga do proprietario que obteve licença para erguer um rancho nos campos deste e tem alguma vaca de leite, uma horta, galinhas, ovelhas para consumo e porcos. A habitaçao desses agregados era um casebre de barro coberto de palha, despojado de todo conforto, possuíam um barril para a agua, uma guampa para o leite e um espeto para assar a carne. A mobília nao ia alem de umas tres peças.

Essas primeiras estancias tinham como limites rios, montes, matos. Os jesuítas tambem mandavam os índios escavar extensos valos, para delimitar areas de campo, como os que existem ainda hoje na estancia Guabijutuja, em Tupancireta. Depois, com os escravos, vieram as cercas de pedra. ja na metade do seculo XIX Havia momentos de entretenimento nos bolichos, peaparece a cerca de arame, fazendo a divisa de potrei- quenas casas de comercio de beira de estrada, e as ros, invernadas e postos. festas religiosas na capela local congregavam toda a A estancia gaucha tradicional se compoe das Casas, comunidade das estancias. Nesses encontros se foronde mora o proprietario com sua família, a do capa- mou o folclore do Rio Grande do Sul, nos relatos de taz, e o galpao que e da peonada, onde havia trabalha- causos em torno do fogo, nas carreiras de cavalos, na dores especializados domadores, alambradores, tro- troca de experiencias sobre a vida campeira, o emprepeiros, peao caseiro, guasqueiro, entre outros. No Gal- gado da estancia foi, assim, um dos formadores da pao cada peao tem o seu catre, tarimba ou cama (hoje figura do gaucho.

em dia, beliche) e aonde sempre arde um fogo-dechao para a roda do mate ou algum churrasco. Página 19

Paulo Mena


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

Na 1.ª foto da esquerda, traje de estanceiros anos de 1730 a 1820. A direita, tradicional, com a inseparavel cuia do chimarrao. Foto maior, em pleno acampamento.

Anime-se. Apoie e participe no

Corrente d’Escrita Faça-nos chegar seus contos, cronicas, poesias (maximo 4 mil toques) com ou sem foto. Página 20


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

Aqui e sempre, a luta pela liberdade! Conversas em surdina, recados incompletos, ordens em código, escondidos intentos. Nas planícies espraiadas, nos subúrbios das cidades, nos campos, nas minas, nas fábricas...

Por todo lado se avança na busca pelo fim do inferno prepotente, que destrói sentimentos, apaga os sonhos, e aprisiona o futuro. Mas aqui e agora… na madrugada do campo, de rosas nem sempre floridas, os peitos enchem, os homens pensam, idealizam e planeiam a rota dos sonhos que querem alcançar, acordando as sementes, que adormecidas, geram sonhos doutros ideais. E um dia, numa madrugada bem alta, avisado pelo clarim, os militares acordam, e de baionetas em riste, ufanos e astutos, enfrentam o carrasco, que amedrontado e cobarde, vai fugindo. O sol derruba a sombra, e os sonhos dantes calados, num braçado de cravos vermelhos, o povo salta para as ruas, cantando e bailando, num som de sorrisos e abraços, num destemor sem igual, porque aqui e agora, cumpriu-se PORTUGAL. Afonso Rocha (homenagem ao 25 de abril 1974)

Nota: O presente poema, de Afonso Rocha, dedicado à LIBERDADE, foi selecionado pela Chiado Editora, de Portugal/Brasil, para integrar a antologia, em dois tomos (num total de mais de 1.500 trabalhos), intitulada Liberdade—Antologia de Literatura Contemporânea, Volume II, edição portuguesa. À venda, através da editora (valores de Portugal): um tomo: 25,00 euros, dois tomos: 40 euros.

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Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

Gente com História O homem vai, mas a abra fica

fazendeiro e a escrava Balbina, a líder espiritual dos escravos na senzala da Fazenda Bananal, sob cujo catre foram encontradas as roupas ensanguentadas dos mortos. Em vez de acusada, Balbina e promovida a principal testemunha de acusaçao, a despeito de a lei proibir que escravos deponham contra seu senhor. Vítima de uma conspiraçao armada por seus adversarios, Coqueiro e julgado duas vezes de forma parcial e condenado a morte. Logo a condenaçao e ratificada pelos tribunais superiores, e D. Pedro II nega-lhe a graça imperial. Pela primeira vez no Brasil um homem

Manoel da Motta Coqueiro rico e com destacada posiçao social vai subir a forca.

O mais tragico erro judiciario da Historia do Brasil, ao No dia 6 de março de 1855 Coqueiro e enforcado na contar o drama pessoal de Manoel da Motta Coqueiro, Praça da Luz, em Macae. Na vespera do enforcamento o homem inocente cuja condenaçao a morte acabou recebe em sua cela um padre, a quem confessa sua com a pena de morte no Brasil. inocencia e revela o nome do verdadeiro mandante do Meados do seculo XIX: o norte da província do Rio de crime de Macabu, que ele conhecia, mas prometera Janeiro se esmera em criar uma atmosfera digna da nunca revelar de publico. Corte para receber o imperador Pedro II. A aristocraNo patíbulo, Coqueiro jura inocencia e roga uma malcia rural tem completo controle político da regiao em diçao sobre a cidade que o enforcava: viveria cem torno de Campos dos Goytacazes, estrategica por ser, anos de atraso. A maldiçao se cumprira com rigorosa ao mesmo tempo, potencia agrícola e porto ilegal de precisao. escravos; nela, conquistar um pedaço de terra e fazePouco tempo depois do enforcamento descobre-se lo prosperar e uma tarefa epica. que o fazendeiro tinha sido a inocente vítima de um Era um momento de grandes decisoes nacionais: o terrível erro judiciario. O unico crime de Coqueiro Brasil acabara com o trafico de escravos, aprovara a fora roubar a mulher de um primo influente e contraprimeira lei empresarial do país e promulgara a pririar alguns interesses. Apos a acusaçao, virou alvo de meira lei de terras, extinguindo o sistema de sesmaritremenda conspiraçao política, da qual participaram as. polícia, justiça, igreja, governo e quem mais pode se No ano de 1852 um crime brutal abala Macabu e re- aproveitar da situaçao. A imprensa estava nesse meio. volta as cidades vizinhas. Uma família de oito colonos Abalado, o imperador Pedro II, um humanista em fore assassinada em uma das cinco propriedades de Mamaçao, decide que dali em diante ninguem mais sera noel da Motta Coqueiro e da sua esposa Ursula das enforcado no Brasil. Virgens. Todos os indícios apontam para o fazendeiro; as autoridades policiais locais e seus adversarios polí- O crime A começar da chuvosa noite de sabado, 11 de setemticos, imediatamente o acusam do crime. A imprensa acompanha as investigaçoes com estarda- bro de 1852, quando seis a oito homens invadiram lhaço e empresta a Coqueiro um apelido incriminador uma casa no meio do mato, numa pequena fazenda - a Fera de Macabu. A principal testemunha contra o chamada Macabu, proxima a cidade de Macae, no Norte do Estado do Rio de Janeiro. Em questao de minuPágina 22


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021 que, no caso de a acusaçao nao surtir efeito, o açoite seria severo. Tambem nao era comum que um branco, fazendeiro, rico e letrado se visse submetido a juri popular com base num inquerito que ficou pronto em apenas 90 dias e nao apresentava nem a confissao do crime nem provas materiais da autoria. Curiosidades

— O enforcamento injusto do fazendeiro Manoel da Motta Coqueiro, ocorrido em Macae ... provocou a extinçao da pena de morte no Brasil. Quando o imperador Petos, o agricultor Francisco Benedito, sua mulher e seis dro II tomou conhecimento da inocencia daquele hofilhos do casal (um rapaz, duas moças, duas crianças e mem a quem tinha negado a graça imperial, decidiu uma menina com menos de tres anos) foram assassique ninguem mais seria executado no país. nados. — O Brasil foi o primeiro país a extinguir a pena de Dois dias depois de andar errante pelo mato, uma mumorte por uma decisao de foro íntimo do imperador. lher jovem e bonita encontrou abrigo na fazenda de O princípio legal que estabelecia a pena de morte, enAndre Ferreira dos Santos. Era Francisca, filha mais tretanto, continuou subsistindo no Codigo Criminal velha do casal assassinado e a unica moradora de Maate a proclamaçao da Republica. Segundo os historiacabu a fugir da chacina. Francisca estava gravida do dores do Direito Penal, o primeiro país a extinguir rico fazendeiro Manoel da Motta Coqueiro. A um so legalmente a pena de morte foi Portugal, em 1867; tempo, Coqueiro era declarado inimigo de Andre Ferreira dos Santos e tambem do agricultor Francisco — No momento da execuçao, ocorrido na cidade de Benedito, que trabalhava em terra de sua propriedade Macae, Coqueiro rogou uma maldiçao secular sobre a cidade que o enforcava: ficaria cem anos sem se deem regime de "meeiro". senvolver. Prevaleceu, a partir daí, o sentimento de O desentendimento entre Coqueiro e Benedito ficou dor coletiva que sucede toda execuçao - Macae viveu publico apos a gravidez de Francisca. O fazendeiro cem anos de torpor, de um consciente arrependimenqueria indenizar o colono pelas benfeitorias e toca-lo to coletivo. Nao se desenvolvia por uma serie de rapara longe. Benedito relutava em fazer o acordo porzoes estruturais e conjunturais que acometiam todos que sonhava em usar o herdeiro para obter parte das os pequenos municípios entao existentes no país. Mas propriedades de Coqueiro. Era natural, portanto, que os macaenses nao pareciam (ou nao queriam) entenrecaísse sobre ele a suspeita de ser o mandante do der assim: para eles, todos os problemas, coletivos ou crime. Suspeita que ganhou ares de verdade depois individuais, eram atribuídos a maldiçao; todas as desque uma escrava contou ao delegado que ouvira os graças eram culpa da praga de Coqueiro. Numa extraoutros escravos dizerem que foi Coqueiro quem os ordinaria coincidencia historica, no justo momento mandou fazer a chacina. em que a maldiçao vencia, em 1955, a recem-fundada O que nao era natural nem legal, no Brasil de 1852, Petrobras começava pesquisas que, vinte anos depois, era que escravos acusassem seu patrao. Para conter revelariam as maiores reservas brasileiras de petrorevoltas de negros, o regime era desumanamente bru- leo na chamada Bacia de Campos, que fica no mar, to e a propria pena de morte so sobrevivia em razao bem em frente... a Macae. dessa repressao. Nao era legal porque os escravos poFonte: deriam mentir, interessados numa condenaçao do A Fera de Macabú – Carlos Machi/Gisele Marcos senhor que os levaria a alforria. E nao era natural porPágina 23


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021 gestao dos seus bens e da sua documentaçao. A razao evocada no decreto e simples: “a existencia do Tribunal da Inquisiçao e incompatível com os princípios adotados nas bases da Constituiçao”. Terminava assim um longo período de 285 anos, durante o qual a Inquisiçao teve existencia legal em Portugal.

A Inquisição O tribunal do Santo Ofício, conhecido como tribunal da Inquisição, funcionou em Portugal durante quase 300 anos até ser extinto por ordem das cortes em 1821. A última pessoa executada num auto-de-fé foi um padre jesuíta, Gabriel Malagrida, ainda no século XVIII.

Ao longo desse tempo, a Inquisiçao sofreu modificaçoes, reformas e conheceu diferentes fases, com momentos em que foi a instituiçao mais poderosa e temida em Portugal e alturas de crise e de fraqueza, ate ter entrado em declínio a partir do governo do Marques de Pombal. Quais foram os principais traços da Inquisiçao ao longo desses 285 anos?

Quando foi introduzida em Portugal por D. Joao III, em 1536, o Santo Ofício era um instrumento de vigilancia No dia 5 de abril de 1821 foi publicado o decreto que social e ideologica de um país que tinha convertido a extinguiu o tribunal do Santo Ofício em Portugal, apos força e incorporado na comunidade catolica muitos votaçao unanime das Cortes Constituintes nesse senti- milhares de judeus. do, a 31 de março. O texto compunha-se de 5 breves Juntava-se a preocupaçao com as heresias protestanartigos que determinavam a aboliçao do tribunal, a tes, numa epoca em que as diferenças religiosas eram revogaçao de todas as suas leis e ordens, a entrega consideradas uma seria ameaça a unidade política e a dos processos pendentes a jurisdiçao dos bispos e a paz social do reino. A Inquisiçao estava, portanto, ao

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Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021 estava instalado. Visitas dos Inquisidores O Brasil recebeu visitas de inquisidores cujo objetivo era investigar comportamentos e inibir qualquer pratica alheia aos princípios estabelecidos pela igreja. Historicamente se fala em tres ou quatro visitas: a primeira entre 1591 e 1595, a segunda entre 1618 e 1621, a terceira entre 1627 e 1628 e a quarta, supostamente, entre 1763 e 1769.

O primeiro inquisidor do Brasil se chamava Heitor Furtado de Mendonça. Os inquisidores, por sua vez, nomearam clerigos que seriam os responsaveis pelo controle dos habitos e costumes nessa colonia portuguesa, cujo objetivo principal era exterminar qualquer pratica adversa do catolicismo. Investigações e Práticas de Heresia serviço da ortodoxia catolica, sempre atenta a praticas e comportamentos considerados como nocivos pela ideologia e moral dominantes. Contava com proteçao da Coroa e, de um modo geral, com o apoio da populaçao. O seu alvo preferencial foram os cristaos-novos, cuja designaçao se tornou um verdadeiro estigma social. Na primeira metade do seculo XVIII, a obsessao pelos cristaos-novos abrandou e a Inquisiçao passou a dedicar a sua atençao a outras heresias, como a maçonaria.

Nao so os padres eram orientados a observar o comportamento dos fieis; alem desses qualquer pessoa poderia acusar outra, inclusive anonimamente, o que propiciava a vingança entre vizinhos ou parentes em decorrencia de desavenças cotidianas. Havia uma lista preparada pela igreja onde constavam os que eram considerados crimes de heresia, dentre os quais se incluía feitiçaria, praticas judaicas, bigamia, adulterio, sodomia, entre outros.

Assim, os principais perseguidos, os considerados hereges (ameaça para a doutrina crista) eram curandeiros e especialmente judeus convertidos - os cristaos Por esta altura, havia ja vozes que se insurgiam contra novos - que se acreditava que mantivessem as escona sua existencia, mas so com Pombal a Inquisiçao so- didas seus costumes religiosos. freu alteraçoes profundas. Vale lembrar que os primeiros habitantes do Brasil Inquisição no Brasil eram os índios cujas praticas de cura de enfermidades A Inquisiçao no Brasil teve início no período colonial. iam sendo disseminadas pelos novos habitantes e as No momento em que o Brasil era descoberto, o movi- quais deram origem aos curandeiros, entao perseguimento acontecia - ja desde o seculo XII - na França, na dos. Italia e em Portugal e na Espanha. Uma vez que era No que respeita aos cristaos novos (judeus) eles tipreciso combater a heresia (ameaça para a doutrina nham sido obrigados a se converter em Portugal, mas crista) tambem nas suas respetivas colonias, o movi- tendo muitos fugido para o Brasil, Portugal acreditava mento se estendeu a elas, atingindo assim o nosso pa- que distantes teriam a oportunidade de regressar ao ís entre os seculos XVI e XVIII. judaísmo praticando sua fe e tendo espaço para a sua Embora o controle da inquisiçao tenha estado presen- divulgaçao. te no Brasil, seu desenvolvimento difere do que se Torturas passou em Portugal, onde o Tribunal do Santo Ofício Desde que houvesse suspeiçao, os clerigos nomeados Página 25


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021 abriam processos (foram abertos cerca de mil no Bra- ria da Inquisiçao do Brasil, em Belo Horizonte. Nessa sil), na sequencia as pessoas eram presas - muitas ve- capital, o dia 31 de março foi criado em memoria as zes sem conhecer o crime de que eram acusadas - e vítimas da inquisiçao.

eram extraditadas para Portugal para la serem julga- O Museu conta com uma sala de vídeo e uma bibliotedas e torturadas atraves de metodos como a roda ou o ca onde existem documentos originais da epoca da pole ou mesmo a morte na fogueira. inquisiçao, bem como nele estao expostas replicas que Museu da Inquisição no Brasil foram feitas dos equipamentos de tortura. Em agosto de 2012 foi inaugurado o Museu da Histo-

"Arrependo-me e peço perdao porque pequei". Pela primeira vez em dois anos de martírio, Guiomar Nunes disse o que os inquisidores queriam ouvir. A multidao reunida na praça do Comercio, em Lisboa, na tarde de 17 de junho de 1731, gritava contra os hereges, enfileirados diante de um palanque, onde se encontravam autoridades políticas e religiosas. Diante de 3 mil pessoas euforicas, um a um, os sete reus foram chamados a contriçao uma ultima vez. Acusada de judaísmo, a pernambucana entre eles resistiu muito antes de confessar. Enfrentara interrogatorios duríssimos na prisao. Suas palavras derradeiras, porem, nao bastaram para o Tribunal do Santo Ofício. O inquisidor se ajoelhou no tablado montado para a ocasiao e, enquanto os auxiliares retiravam-lhe a capa e o barrete, os condenados eram aspergidos com agua benta. Em seguida, receberam suas sentenças. Aos 47 anos, Guiomar foi garroteada - estrangulada com uma especie de torniquete -, e seu corpo, consumido no meio da praça por chamas de ate 6 m de altura. Ao pedir perdao, conseguiu evitar que fosse queimada viva. Do outro lado do Atlantico, no Engenho de Santo Andre (na atual Paraíba), o vendedor de latas Luís Nunes de Fonseca acabara de se tornar viuvo, com oito filhos do casal para criar. Guiomar morreu em Portugal porque o Brasil nao torturou ou fez arder seus hereges em fogueiras. Mas ela foi delatada e presa em um processo iniciado por aqui. E nao foi a unica. Página 26


de 2019

Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

Anita—200 anos depois.

Ah o amor... E o que mais levaria uma brasileira a virar martir na Italia?

DOC.COM

Pra vocês Anita e Giuseppe Garibaldi! Um dos casais mais bafonicos do seculo XIX. Um casal diferente; ela, uma Catarinense nascida em Laguna, filha de Portugueses pobres; ele, um italianao nascido em Nice, na epoca um territorio da Sardenha (atualmente territorio frances), filho de burgueses. Enfim, duas vidas diferentes que se cruzaram e se apaixonaram perdidamente. Parece coisa de novela, mas nao e. Ah, tia, isso e normal um gringo gostar de uma brasileira e se apaixonar. E sim, o anormal e no início do seculo XIX, mais precisamente entre 1836 e 1845, um casal lutar junto em diversas batalhas, no Brasil, no Uruguai e na Italia, e serem considerados herois dos dois mundos, "America e Europa". Quem mais?

Pois bem, vou começar contando a historia de Garibaldi, pra gente chegar ate a hora em que ele conhece Anita. Nasceu em 1807, era um revolucionario desde que se conhecia por gente, gostava de brigas e aventuras, era um especialista em fuga da escola, o que deixava seus pais em maus lençois. Quando criança, chegou a arquitetar uma fuga para ir brigar pela unificaçao Italiana em Genova, mas graças a um padre foi interceptado com tres coleguinhas em Monaco.

Porem, esse seu lado "fujao" o ajudou muitas vezes na vida. Na infancia, salvou uma mulher de um afogamento; nadava muito bem e sempre se encantou com o mar, contrariando seus pais que o queriam medico ou advogado. Aos vinte anos, ja era da Marinha Mercante, e nossos meninos hoje saem do exercito nessa idade. Antigamente vivia-se menos, mas as responsabilidades vinham muito antes, ninguem enfiava o filho embaixo da asa ate tarde. Nem os nobres. O bonito era ver o filho novo chegar nas altas patentes, ser formado etc... Antigamente a molecada tinha que se jogar pra vida, tinham menos "bocos". Entao, nessa fase, Giuseppe começa a navegar pela Página 27

Russia, Mar Negro, Turquia... Ou seja, regioes tomadas de navios de guerra, comercio, negreiros, e que deram a Giuseppe muita experiencia nautica. Aos vinte e cinco anos torna-se capitao de uma grande embarcaçao. Nessa epoca, acontece sua primeira importante fuga, quando e sequestrado por piratas. Seis anos depois ele volta a sua cidade natal e se une ao movimento nacionalista de unificaçao da Italia. Nesta fase, conhece Giuseppe Mazzini, que e o maior propagador da ideia libertaria. Assim, Gari se torna capitao de Mar e Guerra para lutar pelos revolucionarios, mas e preso pelo exercito realista, contra esse movimento, e condenado a morte. So que antes seria exilado por um tempo em Marselha, ate que consegue fugir pra Tunísia e desenrola uma identidade falsa, provavelmente com seus camaradas carbonarios. Assim, embarca para o Brasil, onde ja tinha amigos revolucionarios que haviam sido exilados. Gari era membro de uma sociedade secreta que conspirava pela unificaçao Italiana, era contra o clero e contra o poder absolutista. Estes o ajudaram a fugir, e como era do seu conhecimento que havia muitos italianos e muitos Carbonarios aqui no Brasil, nao pensou duas vezes:


- E pra la que eu vou!

Ano de IV — Númeroconhece 43 - Mensal: maio de 2021 Em 1836 ele chega ao Rio Janeiro, logo de de 2019 cara o Conde Tito Lívio, que era outro Carbonario, e o Luiz Rosseti, que tambem era um grande jornalista revolucionario e foi um dos responsaveis pelo marketing no Brasil de quem era Giuseppe, e depois na Italia sobre a importancia de Giuseppe no Brasil. Mas vamos por partes pra nao enrolar. Giuseppe fez muito pela revoluçao Farroupilha, mas nao foi o maior heroi dela. Na Italia ele chegou como se tivesse sido o idealizador, organizador, etc e etc, justamente pelo marketing vendido daqui do Brasil pelos italianos; inclusive, depois de chegar na Italia, ele continuava usando os trajes de Gaucho pra que fosse reconhecido como o tal Garibaldi que foi heroi no Brasil. Pra eles era como se eu chegasse vestida de branca de neve em Paris, no mínimo estranho, mas ele vestiu e vendeu esse personagem na Europa, e em qualquer reuniao importante ia vestido de Gaucho. Entender a participaçao dele e entender a Revoluçao Farroupilha e assunto muito extenso, mas vou tentar nao me alongar: to Gonçalves, que estava preso no Rio de Janeiro, e A Revoluçao Farroupilha aconteceu no Sul do País; na tenta ajudar ele a fugir; so que deu ruim, descobriram epoca, o Brasil nao era dividido como agora, eram os planos e foi uma zica danada. Entao, Bento e transprovíncias, e cada província tinha seu presidente. O ferido pra uma prisao de segurança maxima na Bahia, que chateava a maioria das províncias era que esses no meio do mar, e de la ele consegue fugir nadando, presidentes nao eram escolhidos pelo povo, nao eram logico, mar baiano quentinho tirou de letra, e chega no minhocas da terra, ta entendendo? Vinha um cara la Rio Grande do Sul pra se unir aos Farroupilhas. da Bahia, que plantava coco e ficava na rede, que com Garibaldi havia recebido do Bento Gonçalves, uma vinte graus usava touca, pra tomar conta de um lugar carta de Corso. Ja falei sobre isso: diferente de um pique so tinha estancieiros, criadores de gado, que nun- rata fora da lei, um corsario era um pirata licenciado, ca tinham visto coco na vida e nadavam quando esta- ou seja, podia saquear, pilhar, afundar, fazer o que va fazendo tres graus. Aí a gauchada ficava "P" da vida quisesse, que ele tinha uma autorizaçao pra ser pirata; e nao queria mais, queriam escolher seus proprios e assim o fez, capturou um navio dos imperiais presidentes. Outra coisa era que como sua fonte de (Imperio) chamou de seu e partiu. renda era o comercio de carnes, queriam que diminu- Foi parar no Uruguai, foi preso, torturado, perdeu o íssem o valor dos impostos, pois gado nao dava em navio, conseguiu fugir a pe (fugiu de novo), e finalrio, nao era barato transportar, caçar, destrinchar, mente chegou no Rio Grande do Sul. salgar, enfim... E a carne vinda do Uruguai, que era mais farto, acabava saindo mais barata e eles nao pa- Ali se juntou aos Farroupilhas, e na fazenda da irma gavam impostos. Entao, os revoltosos queriam a dimi- do Bento Gonçalves liderou a construçao de dois navinuiçao do imposto pra eles, o aumento pro vizinho, os enormes, um de dezoito toneladas e um de vinte queriam escolher seu proprio presidente e o Imperio toneladas, so que fizeram os navios na encolha, em terra, pois se o Imperio percebesse o que estavam fadisse: "Nao". zendo iam destruir antes do projeto finalizar, e assim Simples assim. nosso Gari fujao arma uma verdadeira expediçao pra Aí neguim resolveu quebrar tudo, vamos nos divorciar levar os barcos para o mar. Foram precisos duzentos dessa miseria e vamos ser independentes. Assim co- bois e carroças gigantescas mas, conseguiram levar meça a Guerra dos Farrapos ou Revoluçao Farroupi- ate Laguna. lha, que era um movimento de pessoas ricas que que- Quando ele chega em Laguna, atraves de uma luneta, riam a separaçao do Sul do país do restante do Brasil. ele ve Anita e se apaixona por ela a primeira vista. Ele Bah! Tche! Mas que barraco! Pensava que o povo do diz em cartas que estava olhando pela luneta em misSul era tudo fino! sao militar e ele ve a mulher que ia ser sua pro resto

Pois bem, voltando a Anita e Garibaldi.

Garibaldi, atraves desses Carbonarios, conhece o BenPágina 28

da vida (Dela ne? Porque ele casou tres vezes).


Eles chegam, tomam Laguna, a transformam em uma de roupas e foi atras dele. Ano IV e— 43 volta - Mensal: maio Anita de 2021nasceu em 1821, era de uma família muito poespecie de base Farroupilha eleNúmero olha em e pen2019 sa “cara, cadede a mulher?" bre e sempre se interessou pela causa revolucionaria. Eles fundam a Republica Juliana (lembrando que estamos em Julho de 1839, por isso o nome Juliana=julho capite? Mas a Republica volta a ser do Imperio em novembro)

No dia 15 de novembro de 1839, aconteceu a batalha naval de Laguna e ela trabalhou levando muniçao para os revolucionarios, sendo a unica mulher na batalha. Essa eles perderam, meteram o pe. Ela começou a Mas voltando a gata, os dias passam e Gari nao ve lutar com ele, aprendeu a manejar espadas, armas, mais a mulher, acha ate que tinha visto uma miragem, zarabatana, cavalgava bem, nadava (e “foram feitos ate que um dia vai tomar um cafe na casa de um dos um para o outro” que se fala, ne?). Farroupilhas e da de cara com ela, Anita. E eles ficam Em janeiro de 1840, aconteceu a batalha dos Curitibahipnotizados, ele chega a escrever em seus livros que nos, uma emboscada em mata fechada, e foi um mastinha certeza de que se conheciam de vidas anterio- sacre, as pessoas foram enterradas no local mesmo. res. Ela era casada com um sapateiro da cidade, tinha Anita foi presa e pediu que deixassem ela ir ao campo dezoito anos de idade. Na verdade, Anita havia sido pra procurar o corpo do marido, para ela mesma o estuprada por um tropeiro aos catorze anos, e foi dar enterrar. queixa na polícia antes de falar com a família. Sua mae, que era viuva, ficou puta da vida e casou ela com O General era um ex-crush da Anita, que a mae dela o primeiro que quis. Entao, ela estava la naquela vida nao deixou casar pois ele era soldado do imperio. Acachata, casada e com odio, e surge o italianao bonitao bou depois acontecendo o que aconteceu e ela casanpra acabar de vez com o marasmo na vida dela. De vez do a filha com o que pintasse. Ela pediu ao general com aquele olhar do Gato de Bomesmo! E naquele momento ele usou seu pouco portugues e tas do Shrek: - Deixa eu procurar meu marido, por favor, eu sou legal, se fosse a sua esposa pedindo ao Garibaldi ele deixaria. Deixa vai?

disse: tu vais ser minha! E ela??? Respondeu: - Ja e!

General coraçao mole deixou e ela ja imaginava que O marido nao estava em casa, estava lutando com os Gari fujao tinha escapulido, e corajosamente sai voada Imperialistas, era o momento ideal. Pegou meia duzia no meio dos corpos, os imperiais metendo bala POW-

Giuseppe Garibaldi

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POW-POW e ela pula em um rio caudaloso, cheio de ça a mostrar serviço e luta a favor da unificaçao italiaIV —Aprendeu Número 43com - Mensal: maio na, de 2021 pedras, e foge nadando,Anocara! o marie por isso eles sao tao amados em Roma. So que as de 2019 tropas Francesas começam a marcar pressao, mandao. Ela encontra Garibaldi e eles vao para Mostardas, on- dam quinze mil soldados para perseguirem eles, que de ficam um tempo, entocados, pois alem do Exercito eram tres mil. Eles ja sao especialistas em fugas e mais Farroupilha precisar pegar folego, Anita estava gravi- uma vez partem a mil, cruzam os Alpes; nisso, nossa heroína parideira ja esta no quinto filho. Eles atravesda. E la nasce seu primeiro filho, Menotti. sam os Pirineus, sob clima muito frio, ela contrai uma E quando Menotti tinha apenas doze dias, repetindo, pneumonia, e quando chegam em San Marino, ela conDOZE DIAS, os Imperiais cercam a casa deles. Papai trai uma febre Tifoide (essa febre e contraída de uma Gari fujao foge por uma porta, e Anita, mais uma vez, bacteria de coisas malcozidas ou falta de higiene em corajosamente sai pela outra e foge de cavalo, com o alimentos, tipo uma salmonela, Leopoldina morreu bebe em um dos braços e uma arma no outro. disso tambem), e gravida do quinto filho, ela morre no Essa cena inclusive ganhou uma estatua no centro de dia 4 de agosto de 1849, aos vinte e oito anos, e Gari Roma. nao pode sequer enterra-la. Te pergunto: por que? Eles se reencontram e em 1841, percebendo que a Porque ele tinha que continuar fugindo gente. Revoluçao mais uma vez nao ia dar em nada, ele pede O corpo dela e levado pelos inimigos que estavam no desligamento da causa e vao morar no Uruguai. encalço. Teve sete exumaçoes ate ser liberado, e so em A Revoluçao nao conseguiu separar o Sul do restante 1938, quase noventa anos depois, ela e enterrada no do País, mas todos os revolucionarios foram anistia- centro de Roma, proxima a estatua em homenagem a dos, conseguiram passar a escolher seus presidentes e ela. Entao, Garibaldi segue sua trajetoria revolucionaconseguiram implantar o imposto sobre o charque ria, fugindo pra sobreviver mas nao abandonando seus ideais de liberdade e independencia, vai para os importado, entao nao foram tao mal assim. Estados Unidos, Peru, luta pra caramba e vira um heNa verdade verdadeira, a participaçao de Garibaldi no roi de verdade. Gari se casou mais duas vezes, e morBrasil vendeu mais o peixe dele na Italia do que proreu aos setenta e quatro anos, sofrendo muito de arpriamente foi de grande significancia. Nao que ele nao trite, sem andar. Alexandre Dumas, aquele dos tres fosse um homem de coragem, mas ele nao fez a aula mosqueteiros, escreve tres livros sobre ele, narrados do Capitao Nascimento com Napoleao, ele nao era espor ele. E assim Giuseppe Garibaldi colocou seu nome trategista e nem era "Faca na caveira"; quando o bicho na historia, em mais de cinco mil praças, mais de quipegava, ele metia o pe e largava ate Anita pra tras. Ennhentas ruas pelo mundo, escolas, hospitais, cidades, tao, ela sim foi uma heroína na Revolta Farroupilha, monumentos e crianças. E nossa heroína brasileira, ele foi meio "coadjuvante", mas lembra la no início apesar de ser tambem nome de rua, escola, estatua, que falei dos amiguinhos jornalistas dele? Entao, esses etc, so e comentada e reverenciada nas historias do amiguinhos so mandavam notícias nos jornais interSul do país. Se nao fosse a minisserie "A Casa das Sete nacionais elogiando-o, dizendo que ele fez e aconteMulheres", aqui no Rio de Janeiro nem saberíamos ceu, mas aqui quem fez mesmo foi o Bento Gonçalves quem era ela, pois eu nunca estudei ou ouvi o nome e a Anita, mas, pra variar, machismo da epoca nao iria dela na escola. Se voce e de outra parte do Brasil e oulhe dar essa moral toda, ne? viu falar de Anita na educaçao infantil tradicional, deiEm Montevideo eles se casam legalmente e concebem xe aqui nos comentarios. O povo quer saber! mais tres filhos. So pra constar: o nome "farrapos" nao era porque usaEm 1848, ele consegue uma autorizaçao pra mandar vam roupas velhas e ela e os quatro filhos para Nice, para morarem na casa esfarrapadas, os hoda família dele, e chegando la vende mais ainda o pei- mens da farroupilha xe dele como heroi, afinal, ele era condenado a morte eram homens ricos, na Italia, entao, ele precisava de um perdao pra voltar com um exercito rico. e consegue esse perdao. Chega de poncho e tudo, be- Eles sao chamados asbendo chimarrao, fazendo picanha invertida no sal sim pois usavam um grosso e por cima da carne seca, ops, do Costelao Gau- pedaço de tecido vercho. melho amarrado no Entao eles começam a se envolver nas causas liberta- braço pra se diferencirias de Roma, e na Proclamaçao da Republica de Roma arem e de forma pejorativa foram chamados os dois estavam la. de "Esfarrapados", mas Aí chegou a hora do bonitofero mostrar o que aprenPor: Izabelle Valladares/RJ podia ser ate um lenço deu com a gata de Santa Catarina no Brasil. Ele comede seda. Página 30


Ano IV — Número 43 - Mensal: maio de 2021

Portugal

Brasil

sas relaçoes. Nada mais quero com o governo portugues e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal". Minutos depois, diante da guarda de honra que o esperava mais a frente, desembainhou a espada para determinar: "Sera nossa divisa de ora em diante: Independencia ou Morte!", descreveu o chefe da guarda, o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo. Moda tupiniquim Poucos meses depois, nas principais cidades do novo país, muitos homens começaram a mudar alguns de seus habitos. O deputado baiano Cipriano Barata, por

Após a independência do Brasil Perto das 16h30 de 7 de setembro de 1822, um rapaz de 23 anos alcançava o alto de uma colina ao lado do riacho Ipiranga, nos arredores da vila de Sao Paulo, seguido de alguns acompanhantes. Era o príncipe regente dom Pedro, montado numa mula, coberto de poeira e com as botas sujas de lama. A viagem fora mais uma vez interrompida pela diarreia incomoda que o perseguia desde a partida de Santos, antes do amanhecer.

exemplo, passou a se vestir exclusivamente de algodao brasileiro e a usar chapeus feitos de palha de carnauba - no que foi rapidamente imitado. Os nacionalistas mais empolgados penteavam o cabelo de forma a deixar uma risca definida no meio da cabeça. Era a chamada estrada da liberdade, uma forma de simbolizar os caminhos abertos pela Independencia. O uso do cavanhaque, incomum entre os portugueses, tambem foi adotado para marcar diferença. De uma hora para outra, pegava mal fumar os adorados charutos cubanos - era obrigatorio valorizar o produto nacional. Cachimbo, nem pensar, pois tornou-se símbolo dos exploradores europeus. Exagero? Muitas famílias trocaram seus sobrenomes de batismo por expressoes indígenas.

O alferes Francisco de Castro Canto e Melo, que vinha de Sao Paulo com notícias dramaticas, alcançou a comitiva, prestes a retomar o curso. Antes que ele desse seu recado, porem, chegaram a galope dois mensageiros do Rio de Janeiro. Traziam cartas de Jose Bonifacio de Andrada e Silva, da princesa Leopoldina e do Um ramo da família Galvao, de Pernambuco, passaria consul britanico na capital, Henry de Chamberlain. a se chamar Carapeba. O jornalista, advogado e polítiO sucessor do trono portugues nao podia esperar noco negro Francisco Gomes Brandao, um dos fundadovidade pior. Lisboa havia cassado sua regencia sobre a res da Ordem dos Advogados do Brasil, adotou o nocolonia e anulava suas decisoes anteriores. Um memme Francisco Ge Acaiaba de Montezuma (homenagem bro da comitiva, o padre Belchior Pinheiro de Oliveira, tambem aos astecas). relataria quatro anos depois o que viu naquela tarde: "Dom Pedro, tremendo de raiva, arrancou das minhas Os modismos foram so a vitrine mais singela das maos os papeis e, amarrotando-os, pisou-os e os dei- transformaçoes na vida nacional - iniciadas, e verdaxou na relva. Caminhou alguns passos, silenciosamen- de, em 1808, apos o desembarque da família real. A te. De repente, estancou ja no meio da estrada, dizen- terra pela qual dom Pedro se apaixonou a ponto de do-me: ‘As cortes me perseguem, chamam-me de ra- romper com Portugal, reagiu com empolgaçao a senpazinho, de brasileiro. Pois verao agora quanto vale o saçao de autonomia. Quando deixou o Rio de Janeiro, rapazinho. De hoje em diante estao quebradas as nos- em 1831, o soberano havia legado uma naçao ainda Página 31


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turbulenta politicamente, mas ja estabelecida como Sao Paulo e Minas Gerais aceitaram de pronto as orImperio do Brasil. dens de dom Pedro. Esse processo foi mais lento soO cenario que encontrou as vesperas do Grito do Ipi- bretudo no Norte, no Nordeste e no Sul. A Guerra da ranga, escreve Laurentino Gomes em 1822, indicava Independencia, iniciada em fevereiro de 1822, durou que o país "tinha tudo para dar errado: de cada tres 21 meses e matou de 2 a 3 mil pessoas. "Em 1825, o brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mula- governo brasileiro sequestrou os bens de portugueses tos, índios ou mestiços. Era uma populaçao pobre e que ainda contestavam a independencia no Rio, na carente de tudo. O medo de uma rebeliao escrava pai- Bahia, em Pernambuco, no Maranhao e no Grao-Para. rava como um pesadelo sobre a minoria branca. Os E os intimou a deixar o país", diz Isabel Lustosa, historiadora ligada a Fundaçao Casa de Rui Barbosa. analfabetos somavam mais de 90% dos habitantes". O confronto acabou de afundar as finanças quase falidas do novo governo, limitando investimentos urgenEm importantes cidades, a novidade significou a realites e gerando inflaçao. Entre 1825 e 28, ela dobrou. So zaçao literal do lema Independencia ou Morte. Nas a dívida externa superava 1 bilhao de reais em valoruas, defensores do Brasil e de Portugal se estranhares atualizados. vam e, nao raro, discutiam e se agrediam. Em alguns lugares, era preciso ter coragem para aderir a onda do A infraestrutura das províncias mais afastadas da cacavanhaque. Em Salvador, em 1824, um padre se re- pital nao tinha mudado muito desde a chegada de cusou a prosseguir com o cortejo funebre enquanto o dom Joao. Ainda se dormia em redes e esteiras, se codefunto nao fosse barbeado. Bahia, Piauí e outras pro- mia com a mao e se andava em ruas escuras e estreivíncias pegaram em armas para garantir a autonomia tas - mesmo no Rio de Janeiro, a iluminaçao a gas so brasileira e a unidade do territorio nacional - desfe- estrearia em 1860. Mas as diferentes regioes ja ticho diferente do que ocorreu nas colonias vizinhas, nham mais contato com os acontecimentos no centro de poder. Dom Pedro I continuou a abrir estradas, que que acabaram fragmentadas. passaram a ligar a Bahia a Pernambuco, Minas Gerais A adesao ao comando do imperador, porem, nao foi a Goias, o Grao-Para ao Maranhao. automatica em todas as regioes. Rachas provincianos somavam-se a luta com os portugueses. Somente Rio, Nas maiores cidades, uma nova classe de trabalhadoConfronto

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Corrente d’escrita res se desdobrava com mais de uma ocupaçao, algo inedito depois de tres seculos de controle estrito das atividades profissionais e das fontes de renda dos suditos de Lisboa. Barbeiros eram musicos nas horas vagas, pedreiros cortavam cana, advogados mantinham lojas, medicos davam aulas.

Número 43—maio 2021 Apesar da grande desigualdade social, a miseria e a fome nao eram tao comuns - diferentemente do que acontecia sobretudo no interior em tempos de seca, como a que assolou o sertao nordestino em 1825 e levou a primeira grande onda migratoria interna. No Sudeste, as industrias incipientes ganharam folego especialmente fabricas de barcos, polvora e tecidos. A produçao de algodao, cafe e gado ocupava cada vez mais espaço, em detrimento do açucar e da mineraçao. Mas as transformaçoes mais radicais aconteceram mesmo na sede do Imperio: o Rio de Janeiro.

As mulheres tambem se viravam bem. Cozinhavam e costuravam para a família e ainda vendiam nas ruas quitutes, toalhas e roupas com a ajuda de um ou dois escravos. "A Independencia da um novo dinamismo as províncias. As pessoas tem uma grande mobilidade social, economica e cultural. Escravos e livres se movi- A capital mentam muito e exercem atividades economicas vari- Sob o impacto dos 13 anos de estadia da corte, tudo adas. mudou na cidade. A populaçao saltou de 43 mil habiSurgiu uma primeira geraçao de ex-escravos livres. E tantes, em 1799, para 79 mil, em 1821 (ou 110 mil eles, em especial as mulheres, ganharam um grande com a area rural). A capital ja tinha uma primeira gepoder com a possibilidade de se casar com brancos e raçao de medicos formados no Brasil, nas faculdades com a liberdade para exercer diversas atividades eco- de medicina do Rio e de Salvador. Em uma epoca de nomicas simultaneas", diz Eduardo Franco Paiva, his- condiçoes sanitarias precarias, cujo sistema de esgoto toriador e professor da UFMG. "Por outro lado, a che- consistia em grandes latoes de dejetos carregados por gada de escravos, que continuavam sendo vendidos escravos, esses doutores começavam a substituir os em grandes quantidades no Brasil, manteve um gran- barbeiros com suas sanguessugas. de intercambio cultural com a Africa. Tambem havia Era uma forma de reduzir a mortalidade em geral, o contato com estrangeiros de outros lugares." impacto das mortes no parto e, principalmente, das febres de março, que faziam diversas vítimas todos os

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Corrente d’escrita anos. "Sistematicamente, as mortes eram bem superiores aos nascimentos. A cidade crescia graças apenas as migraçoes de pessoas que para la eram atraídas. Mas, no geral, a populaçao foi sendo beneficiada por todas as mudanças", diz Maria Luiza Marcilio, professora da USP. Havia um afluxo grande de estrangeiros. Em 1818, os suíços formaram a primeira colonia de imigrantes nao portugueses em Nova Friburgo. Apesar da falencia em 1821, o Banco do Brasil ja havia ajudado a alterar a economia da cidade, que, ate a decada de 1810, vivia basicamente do escambo. O porto do Rio concentrava a metade do comercio exterior nacional, sobretudo embarcando cafe (que, em 1840 somava quase 50% de toda a pauta de exportaçoes) e importando produtos ingleses ineditos por aqui, de tecidos a lampioes. As pessoas rapidamente se acostumaram a se vestir mais de acordo com a moda europeia (mesmo escravos adotaram ternos, mas nao podiam calçar sapatos. Os pes descalços denunciavam sua condiçao). A língua francesa se tornava mais comum. No começo dos anos 1830, a rua do Ouvidor ja estava tomada por lojas francofonas.

Número 43—maio 2021 Deum de sua autoria; falando a verdade e um tanto teatral, que e defeito de meu Marido". Aluno de Joseph Haydn e colega de estudos de Ludwig van Beethoven, o maestro Sigimund von Neukomm vivia no Rio desde 1816. A influencia dessa vida pujante era tal que ganhava importancia o sotaque carioca, mais aportuguesado e menos marcado por expressoes indígenas do que no resto do país. "Muito antes ainda (do advento) da televisao, os habitantes do Rio ja influenciavam a fala dos habitantes das outras províncias", escreve o historiador Luiz Felipe de Alencastro em Historia da Vida Privada no Brasil. A Constituição O Primeiro Reinado, claro, foi um período de intensa atividade política. A elite se dividia em varias correntes, a começar por monarquistas e republicanos (que em 1822 se aglutinaram em torno de dom Pedro para confrontar as cortes portuguesas - grandes responsaveis pelo processo que levou a Independencia). A Assembleia Constituinte, instalada em maio de 1823, seria dissolvida em novembro, mas, em 1824, o imperador promulgou a primeira Constituiçao do país (considerada ate liberal para a epoca).

Faltaram soldados nativos para as lutas de independencia nas províncias, mas as escolas da Guerra e da Marinha constituíam uma crescente classe de militares. A populaçao se acostumou com facilidade a resolver suas pendengas na Casa de Suplicaçao do Rio, criada por dom Joao VI, origem do Supremo Tribunal Federal.

O Poder Moderador dava a ele autoridade sobre os demais poderes, mas a Carta garantiu liberdade de culto, de imprensa (em termos, pois havia determinadas perseguiçoes) e deu outro status a figura do eleitor. Homens maiores de 25 anos, livres, alfabetizados e com renda de 100 mil-reis escolhiam os cidadaos que podiam votar e ser votados desde que atendesO Teatro Sao Joao, a Biblioteca Real e os jornais locais sem a certos requisitos. faziam a vida cultural ficar muito mais diversificada e Os religiosos seriam valorizados - ate porque eles reacessível, a ponto de ate mesmo alfaiates manterem presentavam parte consideravel da ínfima parcela seu proprio veículo de comunicaçao. Em 1826, o sur- alfabetizada da populaçao. Na decada de 1820, eles gimento da Academia Imperial de Belas-Artes tirava eram 23% de todos os deputados. Os padres raramenos desenhistas dos quarteis, onde eles se limitavam a te usavam batinas, mantinham negocios e, com muita rabiscar plantas de terrenos. frequencia, mulher e filhos. Os pianos eram uma peça obrigatoria nas casas mais ricas e o imperador dedicava tempo as composiçoes musicais. Em carta ao pai, o rei Francisco I da Austria, a imperatriz Leopoldina escreveu: "Envio-vos nesta ocasiao uma Missa de Neukomm, que merecera sem duvida o vosso bom acolhimento. O meu Marido tambem e compositor e faz-vos presente da Sinfonia e Te Página 34

As discussoes a respeito dos rumos do novo país nao ficavam restritas as elites (embora pelo menos parte dela tenha feito valer sua vontade, evitando o fim da escravidao, por exemplo). "A populaçao estava longe de estar a reboque das camadas dirigentes", escrevem os historiadores Gladys Sabina Ribeiro e Vantuil Pereira em O Brasil Imperial: "O povo foi ator político


Corrente d’escrita fundamental na trama do Primeiro Reinado, tanto por meio de revoltas ou burburinhos quanto usando mecanismos formais, como petiçoes, queixas e representaçoes". Os debates da constituinte foram acompanhados por populares, que gritavam palavras de ordem pedindo direitos civis e apresentavam por escrito centenas de sugestoes aos deputados.

Número 43—maio 2021 dencia do Brasil e a unidade do territorio. Com ele, despontava uma naçao com identidade propria. Dali em diante, a verdadeira transformaçao ocorreria com o fim da escravidao, em 1888. No ano seguinte, seria proclamada a Republica.

Com o desmonte da assembleia, o intendente de polícia Estevao Ribeiro de Resende mandou seus homens as ruas para apreender os panfletos com chamados a revoluçao. Negros e mulatos eram a maior preocupaçao das autoridades - se reuniam em tabernas nos arredores da cidade, area cheia de quilombos. Um grupo chegou a fundar um "Club dos Malvados" com motivaçoes políticas e raciais. Ja liberais radicais organizaram um atentado contra o imperador. Na noite em que assinou Primeira República a Constituiçao, ele e a família foram ao teatro. Um gru- Primeira Republica e o período da historia no Brasil po tocou fogo em poltronas, mas ele saiu ileso. compreendido com o fim da monarquia em 15 de noO rei voltou a enfrentar resistencia política intensa vembro de 1889 ate a Revoluçao de 1930. dos deputados. Seus vínculos com Portugal, que vivia Tambem foi denominada pelos historiadores de Repuum período turbulento, incomodavam os brasileiros. blica Oligarquica, Republica dos Coroneis e Republica A derrota na Guerra da Cisplatina, em 1828, havia afe- do Cafe com Leite. tado seu prestígio, ja abalado pelos escandalos de alCom a vitoria da Revoluçao de 30 e a fim de reforçar a cova. Em 1831, dom Pedro voltou a dissolver seu miideia que começava um novo tempo, passou a ser chanisterio. Foi o estopim para uma serie de manifestamada pejorativamente de Republica Velha. çoes populares, que culminaram com a família real abandonando o Rio na surdina. Em seus ultimos tres Resumo anos de vida, porem, ele mudaria tambem os rumos O primeiro presidente da dita Primeira Republica foi de Portugal. Marechal Deodoro da Fonseca e o ultimo, Washington Luís. O sucessor Dom Pedro I indicou imperador o filho de 5 anos e deixou como tutor um dos patronos da naçao, Jose Bonifacio. O Brasil mergulharia numa decada de revoluçoes e turbulencias, ate que dom Pedro II assumisse o cargo e garantisse a estabilidade política (ao menos temporariamente) nao alcançada pelo pai.

Em 1891, Deodoro da Fonseca renuncia e, em seu lugar, assume seu vice-presidente, Floriano Peixoto. Por sua parte, o primeiro presidente civil foi Prudente de Moraes, eleito em 1894. Para fins de estudo, a Primeira Republica e dividida em dois períodos:

A Historia reconheceria, porem: Pedro de Alcantara Republica da Espada (1889-1894): governos dos miliFrancisco foi um dos nomes mais importantes da tra- tares de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. jetoria do país. Nao se limitou a garantir a indepen- Republica Oligarquica (1895-1930): governos das oliPágina 35


Corrente d’escrita

Número 43—maio 2021

garquias rurais de Sao Paulo e Minas Gerais. E o chamado coronelismo, praticado, principalmente, pelos cafeicultores, aliados aos produtores rurais de outros estados.

Constituiçao brasileira especificava que somente os homens podiam votar, mas nao proibia explicitamente o voto feminino. Esta brecha foi aproveitada para que algumas mulheres solicitassem seu direito ao voDurante este período, o país esteve regido pela Cons- to. tituiçao promulgada em 1891. A Carta Magna estabe- No entanto, a maioria da populaçao era analfabeta e lecia o regime presidencialista, o voto aos maiores de dos 12 milhoes de habitantes, somente 10% conse21 anos, liberdade de culto, obrigatoriedade do casa- guia participar do processo eleitoral. As eleiçoes eram mento civil, entre outras medidas. marcadas por fraudes e os coroneis indicavam em A Primeira Republica se caracteriza por um período quem o eleitor pobre deveria votar, o chamado voto de cabresto. conturbado da Historia do Brasil. O resultado das eleiçoes estava a cargo da Comissao Verificadora. Essa comissao era favoravel ao presidente e, nao raro, distorcia resultados aprovando nomes de deputados e senadores aliados. A economia deste período era predominantemente rural, com enTambem foram registrados conflitos nas grandes cifase na produçao de cafe, que correspondia a mais de dades como a Revolta da Vacina (1904) ou a Revolta 50% das exportaçoes brasileiras durante toda a Prida Chibata (1910). meira Republica. A elite política e economica garantia sua permanencia Tambem fazia parte a produçao de açucar, algodao, no poder atraves de eleiçoes fraudulentas e troca de borracha e cacau. favores. A economia, dependente do cafe, tentava se O estado que concentrava a maior produçao de cafe, diversificar com uma incipiente industrializaçao. neste momento, era Sao Paulo. A regiao tornou-se um A política dos governadores era o sistema de alianças polo de atraçao tanto para brasileiros como para imibaseado na troca de favores políticos. grantes. Deste modo, os governadores apoiavam a eleiçao de Industrialização um Congresso Nacional favoravel ao presidente. Em troca, recebiam mais recursos e garantiam nomeaçoes Nesta epoca, vemos o crescimento da industria, com em cargos políticos aos aliados. Outro nome dado a destaque para a cidade de Sao Paulo que concentrava este sistema político era "política do cafe com leite". 31% das fabricas do Brasil. Esse nome fazia referencia a alternancia de poder de Paralelo ao crescimento do operariado, ha o início dos presidentes oriundos de Minas Gerais e Sao Paulo ou movimentos operarios reivindicando melhores condique eram apoiados por esses estados. çoes de trabalho e garantia de direitos trabalhistas. O novo regime nao consegue satisfazer os sonhos dos mais humildes e guerras como a Guerra de Canudos (1893-1897) e Contestado (1912-1916) sao travadas deixando milhares de mortos.

Os dois estados eram dominados pelo PRM (Partido Muitas dessas organizaçoes eram comandadas por Republicano Mineiro) e PRP (Partido Republicano imigrantes que trouxeram novas ideias que estavam Paulista). em voga na Europa como o anarquismo. Apesar de ser um mito difundido, a maior riqueza de Com a eclosao da Primeira Guerra Mundial (1914Minas Gerais era o cafe e nao o leite. Ja Sao Paulo era o 1918) e a dificuldade de importar produtos industriaestado líder deste produto. No início da primeira re- lizados, a industria no Brasil ganhara mais relevancia. publica foi instituído o voto aberto para maiores de 21 anos aos cidadaos que sabiam ler e escrever. No Tiago Cordeiro entanto, soldados e religiosos estavam excluídos do In Aventuras na História (set-2020) processo eleitoral. Afonso Rocha (1.ª República) Ja as mulheres viviam uma situaçao ambígua, pois a Página 36


Corrente d’escrita

Número 43—maio 2021

Fotos com História

Imperador Dom Pedro II usando trajes típicos, durante visita ao Rio Grande do Sul, em 1865, durante a Guerra do Paraguai.

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Corrente d’ escrita

Dicas de como divulgar um livro? Numa parceria:

Corrente d’escrita/ Clube de autores Como escrever releases par divulgar o seu livro?

Antes de mais nada, vale lembrar que os releases sao feitos para contar novidades a jornalistas. Ou seja, precisam utilizar a linguagem que voce ve nos jornais digitais ou impressos: devem ser objetivos, atrativos, relevantes e completos. Veja as dicas abaixo: Defina um “gancho”: uma informaçao so e notícia quando fala sobre algo relevante para a sociedade (ou um grupo de pessoas específico). Somente contar que voce publicou um livro nao torna o conteudo noticiavel. E preciso selecionar um “gancho jornalístico” relevante para despertar o interesse das pessoas. Um evento, um feito notavel, uma super curiosidade etc.

Depois de publicar um livro, e hora de colocar as açoes de divulgaçao em pratica. Uma boa estrategia de marketing pode incluir LIVE’s de lançamento da obra no Instagram, parcerias com influenciadores, publicidade paga e… releases para a imprensa! E e sobre isso Comece pelo mais importante: o primeiro paragrafo que vamos falar hoje. do seu texto precisa explicar o que, como, quando, onE se voce ainda tem duvidas sobre o assunto, fique de e porque algo aconteceu ou vai acontecer. Se sua tranquilo! Como autor de livros, e natural que alguns intençao e falar sobre o evento de lançamento de sua conceitos jornalísticos e publicitarios saiam do seu obra, explique brevemente logo no início sobre o que escopo de experiencia. Por isso, preparamos um con- se trata. teudo especial para ajuda-lo e tirar todas as suas duviSeja objetivo e breve: nao torne o texto muito pessoal, das. Confira! cheio de adjetivos sobre sua obra ou opinioes particuO que são releases e para que servem? lares. Seja breve e lembre-se de que toda frase precisa Press Releases sao comunicados a imprensa. Sao mui- conter uma informaçao. Se ela nao contribui para o to populares no ambiente corporativo, pois servem entendimento do tema, considere descarta-la. como boletins que atualizam os jornalistas sobre noti- Bônus: inclua seus contatos pessoais, datas e horarios cias das empresas. Alem de atenderem a demanda dos em caso de eventos, link para seu blog ou redes sociprofissionais de comunicaçao por informaçoes que ais e, se possível, envie tambem um exemplar do livro possam ser noticiadas, tambem sao uma importante para o jornalista (pode ser a versao digital). Assim, o ferramenta da assessoria de imprensa, pois ajudam profissional tera tudo em maos para compartilhar sua na divulgaçao de conteudos. Legal, ne? historia.

Por que autores de livros deveriam utilizar press Como enviar press releases? releases? Depois de escrever e revisar seu release, e hora de Todo escritor que quer vender suas obras ficaria feliz envia-lo aos jornalistas. Selecione portais locais caso em estampar uma pagina de jornal, ganhar uma men- esteja começando sua carreira literaria. Assim sera çao em um post de blog ou ser repostado nas redes mais facil conseguir um espaço pois havera menos sociais. Afinal, essas açoes trazem visibilidade para competiçao. seu trabalho! Os contatos dos profissionais normalmente estao desPorem, para ter mais chances de ser notado, e funda- tacados em suas redes sociais ou no site da empresa mental se apresentar e procurar ativamente por opor- onde trabalham. Procure os endereços de e-mail e distunidades. Por isso o press release e tao importante: e pare todos ao mesmo tempo. Caso queira divulgar nogratuito, pode ser escrito pelo proprio autor e e sim- vamente uma notícia no futuro, lembre-se de criar um ples de produzir. novo texto, com novas informaçoes. Jornalistas so puComo escrever um Press Release? blicam novidades e um conteudo que ja foi disponibi-


Corrente d’ escrita teudo sera anexado. Confira as dicas para acertar no envio! Escreva um Assunto breve e descritivo (use palavraschave que resumam o texto); Depois do “Ola, tudo bem?” apresente-se rapidamente e fale sobre o motivo do e-mail (compartilhar um release sobre determinado assunto); Coloque seus contatos ao fim do e-mail e agradeça.

Ah! E lembre-se de revisar com cuidado o conteudo, evitando erros gramaticais ou de digitaçao e tornando a mensagem simpatica e atrativa. Em seguida e so aguardar as respostas! Caso nao obtelizado pela concorrencia provavelmente sera ignora- nha nenhuma nas primeiras vezes, nao desanime. Os do. retornos negativos tambem sao uma forma de aprenDicas para escrever o e-mail: dizado e te ajudarao a melhorar sua estrategia seguinAlem de um bom texto para convencer os jornalistas, te.

No Face de Ana Kandsmar / Portugal

vale dar uma atençao especial ao e-mail em que o con-

Corrente d’escrita / Clube de Escritores


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Dicas de português... rado a sete palmos, as sete notas musicais, os sete pecados capitais, os sete sacramentos, as sete maravilhas do mundo antigo, as sete cores do arco-íris, os sete anoes, o gato de sete vidas, as sete virtudes (tres teologais e quatro cardeais) e ainda temos que perdoar setenta vezes sete, isto e, sempre. E saber de onde elas vieram.

Deonísio da Silva colige a historia secreta das palavras e expressoes instruindo, entretendo e frequentemente divertindo seus leitores e ouvintes em colunas semanais ao comentar as frases aqui reunidas. Manda quem pode e obedece quem precisa, mas no Brasil nao se usa o imperativo para mandar. Este e usado para pedir. Para mandar, usa-se o subjuntivo, o indicativo ou qualquer inventado na hora, mas nao o imperativo. Nas oraçoes, a expressao rogai por nos pede ou manda? Publique-se e uma ordem? Mudando o verbo, poder-se-ia mandar ou pedir na lanchonete faça-se um sanduíche ? Era sinal de sorte nascer de re, apontando primeiramente o bumbum e ainda assim sobreviver, num tempo em que a mortalidade infantil era estratosferica. Este e o berço provavel da expressao que diz ser sortudo quem nasce com o bumbum virado para a lua.

Ditos populares, expressoes e proverbios apresentam verdadeira obsessao pelo numero sete. Pintar o sete, bicho de sete cabeças, guardado a sete chaves, enter-


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Livros à venda—impressos narealgana@gmail.com

As mulheres, os homens, as crianças e os idosos; a comunidade LGBT; os negros, os índios, os ciganos, os imigrantes e todos os demais desprotegidos, são perseguidos, violentados, agredidos e estuprados... Nesta obra intimista, Afonso Rocha passeia-se pela sua própria experiência, mas também a de todos nós, como comunidade, para que se dinamize e reforce a forma de combater estas mazelas, estes crimes bárbaros (a pedofilia, estupro), já considerados o holocausto do século XXI.

Através de estórias imperdíveis, Afonso Rocha leva-nos até 500 anos atrás, quando os portugueses chegaram ao sul do Brasil, onde criaram família, cultivaram tradições e culturas que viriam a “marcar” a cultura catarinense. Sangue Lusitano é a história do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, de suas vilas e cidades e de seus povos (indígenas, portugueses, negros e outros que se lhes juntaram posteriormente). Um livro a não perder.

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Livros à venda—impressos narealgana@gmail.com Olhos D’Água—Histórias de um tempo sem tempo, relata-nos as vivências do povo português entre 1946 e 1974 e a sua resistência à ditadura e ao fascismo do regime de então. Por outro lado, configura uma autobiografia do autor (Afonso Rocha) nas suas andanças pelo período escolar, pelo serviço militar; a guerra colonial em África; a emigração em França; a resistência, até à revolução dos cravos... Um livro a não perder, sobretudo para quem gosta de história.

Trovas ao Vento, é uma coletânea de poemas e outros pensares, enriquecida com o contributo de outros poetas convidados naturais do Brasil, Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Angola e da Galiza, como expressão do pensar lusófono. Um encontro de expressões diferentes, manifestadas pela língua comum que nos cimenta e faz pensar português. Um livro de cabeceira, não para ler, mas para pensar e refletir.

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Livros à venda—impressos narealgana@gmail.com

Canasvieiras—270 anos, retrata a história e as gentes que fundaram este distrito de Florianópolis/SC. Criado oficialmente a 15 de abril de 1835, o povoado já existia desde os primórdios da fundação do arraial Nossa Senhora do Desterro, em 1673, por Francisco Dias Velho. Recebeu um grande incremento populacional com a chegada dos primeiros açorianos em 1748. No tempo, o povoado estava integrado na freguesia de Santo António de Lisboa desde 1750. O seu nome deriva da existência na região de um grande canavial (cana-do-rei, ou simplesmente cana). Muitos escritores, particularmente Virgílio Várzea escreveram sobre Canasvieiras. Afonso Rocha dá-nos, com este seu recente trabalho, um novo olhar e uma previsão futurista do balneário mais famoso de Floripa.

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Número 37 - setembro 2020

I N É D I TO S n a a m a z o n . c o m

Casa dos Livros e da Leitura

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