Corrente d'escrita 44 - junho 2021

Page 1

Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

Corrente d’escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil

Fundado por Afonso Rocha—julho 2017

www.issuu.com/correntedescrita

Censura ou racismo?

(pag. 14)


Corrente d’ escrita

Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha

Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história a língua portuguesa e a cultura em geral. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário.

O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.

Obrigado pelo nº 43 do Corrente d'escrita, prezado Afonso. Valeu a correçao, de maio para junho da Assembleia. Que voce consiga ser aceito (muito bem, diga-se de passagem), a ACL. Rudney Otto/Florianópolis __________ Parabens, Afonso! Prezado amigo Afonso, Essa ediçao tambem esta primorosa. Li seu ultimo quadro literario Corrente. Agradeço o abraço em letras que voce Destaco a vida do casal Giuseppe e Ani- nos da, no aconchego literario. ta Garibaldi, desconhecida para mim Rita Cássia/Joinville ate aqui. __________ A historia da naçao portuguesa, nossa mae patria, e outro referencial na his- Boa noite Afonso toria de um povo. A mensagem para Parabens por mais essa ediçao maravireflexao na entrada de uma universida- lhosa. de da Africa do Sul tem muito de vera- Janice Marés Volpato/Governador cidade: para destruir uma naçao nao e Celso Ramos necessario bombas ou mísseis de longo __________ alcance; basta reduzir sua qualidade de ensino. O Corrente continua excepcional... com Torço para o amigo alçar-se a cadeira muita informaçao relevante e excelenn. 7 da nossa consagrada Academia tes conhecimentos de textos que nos Catarinense de Letras juntamente com permitem esclarecer, conhecer e desUmberto Grillo ou Luiz Felipe Schuch vendar muitos entraves da nossa histo(meus amigos), este para a cadeira n. ria, mas 2 deles me chamaram a aten22. çao nesse numero . Outras materias ganham tambem espe- 1. O texto sobre Anita Garibaldi da Isacial relevo em seu quadro. bel Valadares esta fantastico ...leve, Cumprimento-o pelo trabalho enrique- descontraído, bom humor e nao tem cedor, ate certo ponto pioneiro, altivo e como nao aprender sobre essa heroína promovedor da cultura em geral. catarinense...muito bom Alcides dos Santos Aguiar/ 2) o artigo Apos a independencia do Florianópolis Brasil... tambem tras muito conheci__________ mento sobre nossa historia e seu ver-

dadeiro desenrolar. De forma muito didatica os autores abordem esse tema com tantas controversias e falsas informaçoes de maneira limpa e verdadeira... Maria da Luz Machado/Floripa __________ Cumprimentando-o cordialmente, parabenizo pelo excelente jornal, bem informativo. Acredito nas condiçoes de voce ocupar a cadeira n° 07 da Academia. Todavia, peço venia, para divulgar Albig no vosso jornal. Castro Caldas/Biguaçu

ESCREVA Apoie, critique e faça sugestões. A sua opinião é importante para nós. Participe! Envie-nos seus textos para publicação.


Editorial

Corrente d’escrita

Número 44—junho 2021

Corrente d’escrita volta ao convívio de seus leitores mais uma vez com uns dias de antecedência. Por motivos funcionais, e de carater particular, a edição de junho sai antecipada e a edição de julho só sairá por volta do dia 10. Aproveitaremos esse tempo para viajar pelo Estado de Minas Gerais, absorvendo registros históricos da região e para amadurecer projetos, ao nível literário e cultual, dos quais, Corrente d’escrita será porta voz.

Nesta edição apresentamos as colaborações já habituais (neste mês temos: Afonso, Olsen, Donald e Deonísio); recebemos Maria Cristina Dias, presidente da Academia Joinvilense de Letras e outros temas, tais como: lugares onde morou Cruz e Souza; o Brasil e os Judeus; as noivas que chegaram do Japão; as cidades brasileiras de origem portuguesa que são Patrimônio Mundial; rúbricas sobre a língua portuguesa e outras novidades. Trazemos para o tema da capa uma ação que reputamos racista, preconceituosa e, porque não, paladina da censura e da criação artística. Veja na página 14. Como estamos praticamente a meio do ano, com a campanha de vacinação a decorrer mais lentamente do que seria de esperar, ao ponto de chegar a paralisar em grande parte dos Estados por falta de insumos e outros constrangimentos, quero partilhar a preocupação quanto à situação no país. Se olharmos bem para os números, o que vemos? Ao nível mundial, é como se nos dez maiores estados brasileiros a população estivesse toda infetada, e que no estado de Tocantins, toda a população tivesse vindo a óbito. Os estragos são demasiados elevados: dia a dia nossos pais, nossos filhos, nossos avós, nossos netos, nossos amigos e companheiros morrem. Onde “isto” irá parar? Para já faço daqui um apelo: não deixem de se vacinar na primeira oportunidade que surja; guardem o distanciamento que não seja indispensável; lavem as mãos, e não alimentem politicas negativistas. Como sempre, agradecendo o vosso habitual bom acolhimento, ficamos à espera de vossas sugestões, criticas e colaborações. Não deixem de nos escrever. Corrente d’escrita, é nossa, é vossa, é de todos nós. Afonso Rocha

Página 3


de 2019

Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

A nossa convidada de hoje é a Academia Joinvilense de Letras (AJL), na pessoa de sua presidente, a Jornalista e escritora Maria Cristina Dias. Joinville é a maior cidade do Estado, com 600 mil habitantes é um dos polos industriais mais importantes que sustentam a economia Catarinense.

ACADEMIA JOINVILENSE DE LETRAS Nome oficial da Academia: Academia Joinvilense de Letras Cidade: Joinville (SC) Nome do atual presidente: Maria Cristina Dias Número de cadeiras: 40 cadeiras Data de fundação: 1969 Endereço nas redes sociais: https://academiajoinvilense.com.br/ https://www.facebook.com/ academiajoinvilense Corrente – Embora o nosso principal objetivo seja falar e divulgar a Academia, é importante que o seu principal, e atual responsável nos fale um pouco da sua pessoa, quer como presidente desta insigne instituição, seus eventuais trabalhos ligados às letras, às artes e à cultura em geral, quer sobre a sua atividade ocupacional e cívica. Resposta – A gestao 2020/2022 da Academia Joinvilense de Letras tem como presidente a jornalista e escritora Maria Cristina Dias e como vice-presidente o medico Ronald Fiuza. Sou jornalista e escritora, mestre em Patrimonio Cultural e Sociedade e, como ja afirmado acima, atualmente presido a Academia JoinPágina 4

vilense de Letras. Fui coordenadora do Museu Nacional de Imigraçao e Colonizaçao, de Joinville, e criadora do site “Maria Cristina Dias – Historias Vividas, Historias Contadas” (mariacristinadias.com.br). Meu foco de trabalho e a memoria regional e livros de memoria de famílias e empresas. Tenho tres livros publicados, duas coautorias e sete publicaçoes biograficas (entre livretos e revistas). Ronald Fiuza e conhecido neurologista e neurocirurgiao de Joinville e Santa Catarina, que tem muito interesse na literatura. Tem quatro livros publicados na area medica, inclusive um grande ensaio sobre a biologia da consciencia e em abril lançou seu primeiro livro de cronicas. Corrente – Então passemos agora à Academia. Quando foi fundada? Com quantos fundadores? Há alguém, desse grupo inicial, que queira relevar? E atualmente, quantas cadeiras tem a Academia? E destas quantas estão ocupadas? Qual é a forma de


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 seleção? Nesse processo de escolha, digamos assim, que critérios pesam mais, as suas obras? A sua atividade profissional? O seu curriculum político e/ou cívico? Do ponto de vista de gênero, quantas mulheres e quantos homens fazem parte atualmente da Academia? E em termos de idade: quantos têm até 40 anos? Quantos entre 41 e 70 anos e, finalmente, com idade superior ou igual a 71 anos?

Resposta – A Academia Joinvilense de Letras foi fundada em 15 de novembro de 1969 e teve como primeiro presidente – e grande incentivador – o escritor e historiador Adolfo Bernardo Schneider. A semente da academia, porem, foi lançada anos antes, no início da decada de 1960, quando um grupo formado pelo escritor, orador e teatrologo Jose de Diniz; o advogado e político Eugenio Doin Vieira, o escritor e professor Augusto Sylvio Prodohl e Adolfo Bernardo Schneider se reuniram e criaram, em janeiro de 1961, o “Instituto Joinvillense de Cultura”. Nessa epoca, o presidente era Jose de Diniz e o vice-presidente, Adolfo Bernardo Schneider.

quando o presidente Jose de Diniz faleceu repentinamente, em 24 março de 1961. Depois, dois integrantes se afastaram de Joinville: Eugenio Doin Vieira foi eleito deputado federal, e mudou-se para Brasília; e Augusto Sylvio Prodohl começou a lecionar Sociologia na Universidade Federal de Santa Catarina, e foi morar em Florianopolis. Sozinho, Schneider nao conseguiu levar adiante a iniciativa. A ideia de reunir pessoas ligadas as Letras com o objetivo de estimular a produçao literaria e intelectual local foi retomada em 1969. Na epoca, o entao prefeito de Joinville Nilson Wilson Bender formou uma comissao presidida por Adolfo Bernardo Schneider – e a partir do trabalho desse grupo foi fundada oficialmente, em 15 de novembro de 1969, a Academia Joinvilense de Letras, tendo como sede provisoria a Biblioteca Publica Municipal Prefeito Rolf Colin. A AJL e a segunda mais antiga academia de Letras de Santa Catarina – antes dela so havia a Academia Catarinense de Letras (ACL), fundada em 1920 .

A solenidade de inauguraçao da AJL, realizada nos saloes da Sociedade Harmonia-Lyra em 1969, contou com a presença de personalidades renomadas no O Instituto Joinvillense de Cultura, porem, nao foi pa- meio intelectual brasileiro, como o escritor Aurelio ra frente. Os estatutos ja estavam sendo elaborados, Buarque de Holanda Ferreira, que representou a Aca-

Homenagem da Câmara de Vereadores de Joinville no 50.° aniversário da Academia (1969-2019) Página 5


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 demia Brasileira de Letras. Os Estatutos originais previam que a AJL possuiria um numero maximo de 50 membros. Em um primeiro momento, entretanto, apenas 39 personalidades assumiram como “fundadores” – 14 inicialmente e outros 25 nos primeiros anos da decada de 1970. Em 2013 mais um membro ingressou na academia. E os estatutos foram alterados para que a instituiçao se mantivesse com 40 membros. A partir do final da decada de 1970, porem, a AJL foi, aos poucos, reduzindo as atividades. Com o falecimento do presidente Adolfo Bernardo Schneider, em 2001, ela ficou totalmente inativa – embora oficialmente ainda existisse.

Maria Cristina Dias

cos faz a defesa do postulante, destacando a consisA retomada ocorreu em 2013, quando o advogado e tencia de sua obra e sua trajetoria na vida cultural da pesquisador Paulo Roberto da Silva começou a resgacidade. tar a historia da AJL e a mobilizar os academicos ainda vivos e a comunidade para reativa-la. A primeira reuniao dessa nova fase ocorreu em 14 de Corrente - Do ponto de vista de gênero, quantas outubro de 2013 e nela os membros-fundadores re- mulheres e quantos homens fazem parte atualmanescentes elegeram o escritor e advogado Carlos mente da Academia? E em termos de idade: quanAdauto Vieira como presidente para o trienio tos têm até 40 anos? Quantos entre 41 e 70 anos e, finalmente, com idade superior ou igual a 71 2013/2016. anos? A partir daí, houve um esforço para recompor os quadros da academia (ja que muitos dos fundadores ja haviam falecido) e consolidar a AJL no cenario cultu- Resposta - O perfil dos academicos e bem ecletico e ral de Joinville como uma instituiçao que estimula a expressa a diversidade da nossa sociedade. Atualproduçao literaria e intelectual na cidade. mente a AJL tem nove academicas e 21 academicos. A Atualmente, a AJL conta com 40 cadeiras das quais 30 maioria tem esta na faixa entre 41 e 70 anos, mas teestao ocupadas. O processo de seleçao para novas va- mos um academico que ainda nao chegou aos 40 anos. Acima de 70 anos temos dez academicos. gas esta aberto e mais dois academicos deverao ingressar em breve. A seleçao e feita por eleiçao, em esCorrente – Entre os atuais membros da crutínio secreto, mediante voto pesAcademia, quantos deles se dedicam ao rosoal, considerando-se eleito o canmance/conto, a historia, a poesia, ao ensaio, didato que obtiver maioria simples a assuntos científicos/sociais? dos votos dos Academicos presentes a Assembleia Geral a ser convocada para tal fim. Para se candidaResposta – E difícil fazer este calculo portar, o escritor deve ser brasileiro que a maioria deles se dedica a duas ou mais nato ou naturalizado e residir no modalidades – e nao param de se reinventar em Joinville (SC) ha, pelo menos, Adolfo Bernardo Schneider e descobrir novos caminhos literarios. TePrimeiro presidente da AJL cinco anos ininterruptos.. Ele deve mos romancistas, contistas, cronistas, poetas encaminhar o pedido de inscriçao por meio de carta a e ensaístas, mas tambem contamos com um crítico de Presidencia (em duas vias), fazendo constar, resumi- arte e escritor de roteiros cinematograficos, um dradamente, seu currículo e seu interesse em integrar a maturgo e varios que se dedicam a publicaçoes tecniAcademia, bem como apresentar um exemplar de ca- cas em suas areas de atuaçao. da uma de suas publicaçoes, o que ficara incorporado a biblioteca da AJL. Corrente – Como vive, financeiramente a Academia? Antes da eleiçao propriamente dita, um dos academi- Tem apoios do poder publico? De alguma outra entiPágina 6


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 dade privada? Que outros recursos sao mobilizados seus academicos, que ja esta na quarta ediçao. Manpara “alimentar” a vossa atividade? Voces tem local tem tambem uma biblioteca que esta sendo reestruturada e cujo foco sao autores joinvilenses e catarinenproprio onde funcionam e recebam publico? ses. Ela pode ser acessada mediante contato com nosso bibliotecario, Hilton Gorresen. Resposta – A Academia Joinvilense de Letras sobrevive hoje unicamente de sua mensalidade e nao tem Em funçao da pandemia de Covid-19 em 2020 e nesse quaisquer apoio publico ou de outras entidades priva- início de 2021, algumas atividades tiveram que ser das. Atualmente estamos empenhados em tirar o nos- readequadas. Assim, os Cafes Academicos que anteriso CNPJ para tentar buscar outras fontes de recursos ormente eram realizados na nossa sede, diante de para viabilizar os projetos literarios da instituiçao. uma mesa com lanche, passou a ser virtual. O “Ensaio” Nossa sede esta localizada na Sociedade Harmonia- de 2020 foi lançado em ediçao impressa e online e Lyra, tradicional instituiçao cultural de Joinville. O para 2021/2022 estamos preparando a ediçao que local e cedido gentilmente pela Lyra e e la que realiza- marcara os primeiros 50 anos da AJL. mos nossas reunioes e cafes academicos mensais, as Nossa abrangencia e municipal e nos ultimos anos ja solenidades de posse dos novos integrantes e eventos realizamos açoes envolvendo estudantes de ensino fundamental e medio Joinville, como o Concurso Liteda AJL. rario Carlos Adauto Vieira, que contou com duas ediçoes, alem de palestras nas escolas quando convidaCorrente – Entre as atividades periódicas da Aca- dos. demia, quais as que gostaria de destacar? A Academia tem publicações periódicas definidas? Corrente – Quer deixar alguma mensagem para os nossos leitores? Resposta – A Academia Joinvilense de Letras realiza mensalmente a sua reuniao ordinaria e um Cafe Academico, onde sao debatidos temas relativos a cultural, Resposta - A Academia Joinvilense de Letras e uma literatura, historia, entre outros, muitas vezes com casa de amigos, sempre disposta a receber os escritouma pequena palestra de um dos academicos. Anual- res e amantes da escrita e da leitura em suas mais dimente publica o “Ensaio”, uma coletanea de textos de versas formas. Entre as nossas missoes esta a preservaçao do legado literario deixado pelos escritores de Joinville (estendendo a Santa Catarina) que nos antecederam e estamos nos empenhando para que isso seja cada vez mais consolidado e difundido. Entrem em contato conosco pelas nossas redes sociais. Teremos toda a satisfaçao em atende-los. Reunião de trabalho na AJL Página 7


Corrente d’ escrita

Leituras...

par a cadeira que pertenceu ao historiador Carlos Humberto Correa (1941-2010).

Ele e autor de livros importantes como “Sao Jose da Terra Firme” (2007), “Desterro” (2010), “Ilha de Santa Catarina – Florianopolis” (2015) cuja capa reproduziDivulgamos a capa do livro “Ilha de Santa Catarina— mos mais abaixo e “Colonia Blumenau no Sul do BraFlorianópolis”, em homenagem ao seu autor, o escri- sil” (2019). tor, membro da Academia Catarinense de Letras, falecido por enfarte, no dia 6 de junho de 2021, Gilberto Gerlach. “Foi um grande! Aprendi muito com ele, que vá na luz e no amor”, escreveu a cineasta Luiza Lins. “Lamentável, devo a ele os melhores filmes que assisti na vida”, disse Neno Brazil. Gilberto Gerlach, que morreu vítima de um infarto em casa, ficou conhecido por sua paixao pelo cinema e por administrar o cineclube Nossa Senhora do Desterro, no CIC (Centro Integrado de Cultura), fundado em 1968. Cinefilo de carteirinha, Gerlach chegou a conhecer os atores Clint Eastwood e Elizabeth Taylor e o diretor japones Akira Kurosawa. O pesquisador considerava maio o melhor mes do ano, pois era quando se mudava para a Europa, com a mulher Carmen Lucia e desfrutava do Festival de Cannes, onde teve presença cativa por quase duas decadas. Em novembro de 2011, Gerlach foi eleito membro da ACL (Academia Catarinense de Letras) e passou a ocu-

O escritor e cinéfilo, ainda em vida, tinha declarado seu apoio (por escrito) à nossa candidatura à cadeira 07 da Academia Catarinense de Letras (ACL), pelo que lhe fico eternamente grato. Afonso Rocha


Corrente d’ escrita

PRÊMIO CATARINENSE DE LITERATURA DO CENTENÁRIO A Academia Catarinense de Letras (ACL) realizou, no passado dia 13 de maio de 2021, a outorga dos diplomas, que conferiram a atribuição dos prêmios abaixo descriminados.

Prémio Centenário da ACL Celestino Sachet Prêmio Othon Gama d’Eça Sylvio Back Pelo conjunto da obra Romance—obra: O bosque da invernada dos fundos André Ghiggi Caetano da Silva Conto—obra: Tudo é e não é Raul Caldas Filho Poesia—obra: A guardadora da ponte e outras biografias inventadas Rubens da Cunha Crônica—obra: Entre águas e impulsos do Rio Tijucas Celso Leal da Veiga Júnior Ensaio—obra: Imperadores de opereta Ernani Buchmann História—obra: Primeira circum-navegação brasileira e primeira missão do Brasil à China Marli Cristina Scomazzon Jess Franco


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

Ainda sobre o escritor

mais de 30 anos, numa evocaçao a memoria desta civilizaçao que desapareceu, destes rituais esquecidos.

GILBERTO GERLACH Nossa amizade vem do berço. Nascemos quase no mesmo ano e desde logo, antes dos primeiros estudos no Grupo Escolar Francisco Tolentino, ao lado de nossas casas, ja comungavamos de uma mesma obsessao, a Lanterna Magica.

Nada somos quando nao guardamos nada. Este livro e uma homenagem a todos os josefenses que construíram nosso passado. Agradecemos a extraordinaria sensibilidade dos dirigentes da Prefeitura Municipal de Sao Jose, por tornar possível a realizaçao desta obra.

O vizinho cinema Raja, os gibis e os fotogramas extraídos dos filmes pelo operador Jurandir, na decada de Gilberto Gerlach e Osni Machado. In Prefácio do livro São José da Terra Firme 50, faziam parte do nosso imaginario. Nos dias de sol —Postada no facebook por Cesar LS/Florianópolis brincavamos nas praias e chacaras, dos padres franciscanos, nos Matos da Coruja e do Cantagalo. Sao Jose dos anos 50 era um pequeno paraíso, um jardim das hesperides sempre oferecendo as mais prazerosas sensaçoes. A cidade dispunha de um calendario de festas religiosas que atraia de tres a quatro mil forasteiros chegados a cavalo, em charretes, carretas ou aranhas – poucos automoveis. Tudo seguia um ritual sacro de celebraçoes no interior das igrejas e nas procissoes. A do Senhor do Bom Fim descendo pela noite a luz de archotes e velas; a do Senhor dos Passos pela rua Do Fogo ate sua Capela a entrada da Ponta de Baixo, com o canto da Veronica ao lado da Madalena e Sao Joao desvendando o sudario, as idas e vindas dos jovens Imperadores, as massas de promessa, as balinhas de coco... Depois, o Carnaval, com a lembrança dos bals masques levados no Theatro; a Quaresma rigorosa em período de reflexao, e tantas outras festas que a comunidade cumpria com sua presença, no ato de fe e confraternizaçao. Todo este buliçoso movimento apreendido em nossas mentes infantis levou-nos a este roteiro tecido por

Divulgue—Partilhe—Leia

Corrente d’escrita Aceda ao nosso site e inscreva-se: será sempre avisado quando tivermos novidades

www.issuu.com/correntedescrita Página 10


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 nas sombras da ignorancia e da estupidez.

REFLEXÃO | Escritor, esse "bicho" complicado e "matreiro"...

Mas, e voltando ao início deste deambular, pergunto: e o escritor?

Que faz ele para divulgar sua obra? Para cativar e se aproximar de potenciais leitores? E ele proprio, sera Ele escreve bilhetinhos, anotaçoes que poucos enten- um leitor? Lera obras de seus pares? Falara dos coledem, relatorios, sobre a historia e estorias, realidades gas e de suas obras? e ficçoes, poemas, fantasias... Tenho receio que nao. Nos lançamentos de livros de Com sua arte, ele afaga o sentimento do leitor e espa- outros escritores raramente comparecem, nao compram nem divulgam suas obras, nem, tampouco as lha, na sociedade, o encanto do sonho e da aventura. comentam. Se olharmos para suas paginas nas redes E os leitores? Como reagem perante suas criaçoes? sociais nao respingamos uma notícia, um comentario Depende do trabalho do escritor, do trabalho de divul- – apoio ou critica - sobre tais obras. gaçao, mas tambem, e diria mesmo, da sensibilidade e Hoje, com o crescimento das redes sociais e da tecnopredisposiçao do proprio leitor. logia, encontramos livros a venda por menos de 10 Mas… e os nao leitores? reais (desses 10, o escritor ganhara 3). Outros ate sao Ah, esses e caso para estudo, para nao dizer, em come- gratuitos. Sera que a procura cresceu? Nao o suficienço de conversa, que e um caso perdido. Os argumen- te, sobretudo, nao o que deveria crescer. tos sao mais que muitos: falta de cultura, falta de in- Durante esta grave e mortífera pandemia cheguei a centivos, falta de dinheiro, falta disto e daquilo, mas, oferecer livros em PDF... eu diria para facilitar o remate, falta de vontade e eduE sabem o resultado? Foi uma míngua de gente que se caçao. mostrou interessada! Se la atras, desde o ensino basico, fossemos educados Pode isto? Para refletir. a perguntar POR QUE?… Se fossemos habituados a nos interrogar sobre a origem e os fundamentos das coisas, da vida, se nos acostumassem a IR A PROCURA…, hoje, com certeza, entraríamos numa livraria, num site de livros, numa biblioteca para ler/comprar a produçao literaria dos nossos escritores e sobretudo daqueles que se exprimem na nossa língua comum, o portugues. Mas, infelizmente, essa cultura, esse habito, essa necessidade de procura nao esta patente no nosso modo de vida. Daí que os livros, os jornais, os noticiarios das teves e outros meios de comunicaçao fiquem "esquecidos"

Quer divulgar seus livros? Envie-nos um exemplar ou cópia em PDF, com uma breve apresentação.

Página 11


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

DURÕES, ALCÓOLATRAS E GENIAIS

os escritores que admiro e que me “fizeram a cabeça” eram alcoolatras. E nao se trata de “beber socialmente”, eles bebiam mesmo.

O livro relaciona 43 autores (homens e mulheres), entre eles, cinco ganhadores do Nobel e l5 do premio Pulitzer sem contar os vencedores do National Book Award, uma especie de ”Who’s who” dos mais celebrados romancistas, contistas, poetas, dramaturgos, O poeta Castro Alves encontrou num sebo um livro jornalistas e críticos americanos. Todos beberroes que ele havia dedicado a um amigo. Nao teve duvidas. inveterados. Comprou a obra e acrescentou a dedicatoria que la Bem diagramado, em capa dura, traz uma caricatura estava, a observaçao: “Por favor, eu insisto” e com no- do escritor, alguma curiosidade de sua vida, um rodava data, remeteu-a outra vez ao desavisado. pe com as principais obras publicadas em negrito, e Lembrei do fato porque todas as sextas-feiras envio a em seguida o seu drinque favorito com a maneira de cronica para um seleto grupo denominado “Os Velhos prepara-lo destacada e por fim, um trecho de uma de de Guerra”, atualmente com 166 membros, e apenas suas obras em que fala de alguma bebida. um reclamou que ainda nao recebeu o texto da ultima Se servir de consolo para os puritanos, o livro traz semana. duas advertencias, uma de Abraham Lincoln “Aprendi com a experiencia que as pessoas que nao tem vícios Deixa pra la, tambem insisto. tem muito poucas virtudes” e a outra, dos proprios Chegou as livrarias na semana passada (e ja li) a obra autores “lembrem-se de que alguns coqueteis nao fa“Guia de Drinques dos Grandes Escritores Americazem de voce um bebado, e de que nenhuma quantidanos”. Como lembrou Truman Capote “Esta profissao e de de bebida pode fazer de voce um escritor”, entao uma longa caminhada entre um drinque e outro”. Mas estamos conversados. >>> o livro vem assinado por Edward Hemingway (ilustrador/caricaturista e neto do escritor Ernest Hemingway) e Mark Bailey. A ideia da obra nasceu quando ambos estavam num bar no Greenwich Village, vespera de natal, enquanto bebiam cerveja e sentindo -se um pouco nostalgicos. Some-se aí a beleza da neve caindo em Nova York e o desanimo que pairava no ambiente onde se encontravam repleto de escritores. Foi quando eles lembraram que “nos bons e velhos tempos as coisas teriam sido muito diferentes”. Porque os escritores gostam de beber, nem todos – eles observam – mas a grande maioria. Francamente, a exceçao de Kafka, acredito que todos

Para divulgar (grátis) seus trabalhos no

Corrente d’Escrita Envie-nos seus textos (maximo: 4 mil toques para cronica, conto ou ensaio). Página 12


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

Não notas que eu já não sou eu? Que me falta o brilho nos olhos e a alegria que me saltava dos labios e contagiava em redor, a força das manhas que me despertava desassombradamente, em rompante, e eu cantava o hino da vida, pes descalços e braços abertos, abraçando o ar, mais ainda a brisa, as maresias do mar adorado. Ha quanto tempo nao vejo o mar? Nao notas que me enclausuro como alguem que desviveu? Que me fecho como se na tumba, e enrolo as pernas como um bicho?

Para os consumidores vale o alerta do poeta Raymond Carver “Ninguem começa na vida com a intençao de se tornar um falido ou um alcoolatra”. Curiosamente, o seu drinque favorito (e meu tambem) era o BloodMary. Diz a lenda que o drinque foi inventado por Fernand “Pete” Petoit no Harry’s New York bar em Paris no final dos anos 20 e levado para os Estados Unidos depois da Lei Seca. Ha controversias. Li em uma revista Status (uma ediçao especializada em drinques) na decada de 1970 e que deve estar em alguma caixa aqui em casa, que o drinque foi criado para “curar” a ressaca (e isso e coisa de ingles, lembram-se do inventor do sandwich? Entao?).

Os tres principais sintomas da ressaca: sede, inapetenNao me ves a pele macilenta, palpebras descaídas, o cia e ausencia do paladar. O suco de tomate hidrata, a meu cabelo branco como po da estrada percorrida a vodka devolve o apetite e os condimentos (limao, piesmo num verao agreste, seca, esgotada, sulcada como menta, sal e molho ingles) deixam o paladar em forma. se rachada a machado pagao? Se fosse um frances o inventor, teria posto angostura Nao me sentes o gelo dentro e as raízes nodosas dos no lugar do molho ingles, nao e verdade? velhos baobas, grossos, gordos e resilientes por ele O escritor Raymond Chandler afirmava “Acho que um queimadas como se por um fogo maligno? homem deveria ficar bebado pelo menos duas vezes Nao te das falta do meu canto? Das notas que, harmo- por ano, apenas por princípios”. niosamente, oscilavam entre agudos e contraltos e Apesar de cervejeiro, H. L. Mencken orgulhava-se de que, agora graves, sao apenas lamentos em eterno ser onibíbulo, ou seja, de beber todas as bebidas almurmurio? coolicas conhecidas - e “gostar de todas elas”. ... Nao me sentes diferente? Tao diferente que ja nao sou O livrinho e divertido e interessante. eu, mas outra, e ainda assim outra que, sem alma, deEm materia de beber, cada um, cada um... clara a todo o instante que ja morreu? Qual e o corpo que nao olhas quando me olhas? Qual e “Prosit!” o rosto que nao ves quando me ves? Porque ja sao quase oito horas da manha e ainda nao Quao raso e o teu olhar que me atravessa da pele a bebi nada hoje!

alma, e ainda assim ignora que eu, tao amarga quanto esma, faço o luto de mim mesma? Ana Kandsmar/Lisboa-Portugal In, Somos Imortais, mas Temos que Morrer Primeiro

Divulgue—Partilhe—Leia

Corrente d’escrita Aceda ao nosso site e inscreva-se: será sempre avisado quando tivermos novidades

www.issuu.com/correntedescrita Página 13


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

BEÓCIOS & PAPALVOS

Hilton Görresen *

ca do que a massa cinzenta, criaram essa fama. Nao sei se esse povo ainda existe, mas o termo permaneceu na pena de nossos beletristas. E papalvo? De acordo com o etimologista Deonísio da Silva, a palavra e a junçao de “papo + alvo”, para designar a codorniz, ave muito boba, que se deixa(va) apanhar facilmente pelos caçadores. Passou a designar igualmente os curtos de inteligencia.

Nao, o título aí em cima nao e a denominaçao de nenhuma firma comercial ou escritorio de advogados. E que encontrei num livro de cronicas antigo a expressao “embair os beocios”. Beocio – mesmo sem olhar no dicionario – ja se imagina o que seja. E o tipo de palavra que voce nao pode dirigir a ninguem, se nao quer ouvir a opiniao sobre sua mae. Mesmo assim, resolvi confirmar o sentido. No corretor ortografico do micro nao ha registro da palavra. Sugere substituir por bocio. Vou ao dicionario e constato: embair os beocios quer dizer, simplesmente, engazupar os papalvos.

Hoje, esses termos se tornaram fracos, ja nao expressam mais uma boa ofensa. Sao coisas de parnasianos. Quem poderia dizer que os futuros beneficiarios de uma obra que nunca saiu do papel foram embaídos? Ou que alguns políticos embaíram seus eleitores?

Se voce, leitor, nao percebeu, isso quer dizer, no portugues atual, enganar os bobos. Quem sabe os bobos prefiram ser embaídos, ou mesmo engazupados, que sao termos mais cultos, mais respeitosos. E alguns ate façam gosto em ser chamados de beocios ou papalvos. Assim fica-se na duvida, muitos vao achar que estao sendo elogiados.

Tema da nossa capa... Reação de Paulo Arenhard (no seu Facebook)

– Fulano, você é o maior beócio que já vi! – Nem tanto, nem tanto. Bondade sua! – Seu filho é um grande papalvo! – É de família. Puxou pelo avô, o velho Gaudêncio. E olha que, no caso, estao sendo duplamente ofendidos: burrice e ignorancia de vocabulario. No meu tempo, que e muito mais recente, dizia-se: enganar o bobo na casca do ovo. Nao e uma expressao tao elegante e olha que e meio idiota, meio beocia; o que a casca do ovo tem a ver com o assunto? Mas por que motivo o termo “beocio” virou sinonimo de ignorante, simplorio, ingenuo, sem noçao? Beocios eram os habitantes da Beocia, na Grecia antiga. Por serem um povo guerreiro, que usava mais a força físiPágina 14

Nao, hoje somos manipulados, enganados, explorados, subtraídos; embaídos nunca. Isto e coisa para beocios e papalvos. Escritor, colunista, membro da Academia Joinvilense de Letras.

A exposição que o Shopping Villa Romana (Iguatemi Florianopolis) rejeitou, cancelou, censurou!

É muita cara de pau da Direção do Shopping, que convidou o artista em dezembro, cancelar a exposição no dia do evento. Seriam expostas pinturas de 10 rostos negros, no dia 13 de maio, data da abolição da escravatura. Segundo o artista, Bruno Barbi (@artedobrunobardi) a justificativa do Villa Romana, é que a exposição poderia "melindrar" os clientes .

Pra mim racismo explícito!


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

Minuto de silêncio SABIA QUE O MINUTO DE SILÊNCIO FOI INVENTADO EM PORTUGAL?

os comerciantes que regressam com o seu peculio e vao instalar-se nas suas províncias, todos recordavam com admiraçao o nome do ilustre homem de Estado, como ficou registrado na Ilustraçao Portuguesa, de 26 de fevereiro de 1912, lamentando a sua morte e noticiando a missa de setimo dia em sufragio da sua alma.

De todas as “invençoes” portuguesas, a mais universal A morte do Barao do Rio Branco causou um forte ime mais difundida e, sem duvida, o minuto de silencio. pacto em Portugal. O parlamento portugues na sua O minuto de silencio com o qual se presta homenagem reuniao do dia 13 de fevereiro, sob a presidencia de a um morto ilustre ou a mortos em catastrofes. Aresta Branco, em homenagem ao morto ilustre, susTudo começou em 1912 com a morte do Barao do Rio pendeu a sessao por meia hora – como era tradicional. Branco, ministro dos negocios Estrangeiros do Brasil Ja na reuniao do Senado no dia seguinte, sob a presie pessoa muito querida em Portugal, por ter sido um dencia de Anselmo Braamcamp e secretariada por dos primeiros estadistas a patrocinar o reconheci- Bernardino Roque e Paes de Almeida, inovou e revomento da Republica Portuguesa em 1910. lucionou. “O presidente, aludindo ao falecimento do Jose Maria da Silva Paranhos Junior nasceu no Rio de Sr. Barao do Rio Branco, recordou que os altos serviJaneiro a 20 de abril de 1845, filho do tambem diplo- ços por aquele estadista prestados ao seu país e a cirmata que se tornou famoso sob o título de Visconde cunstancia de ser ele ministro quando o Brasil reconheceu a republica portuguesa”, escrevia o Diario de do Rio Branco. Político competente, o barao foi ministro dos Nego- Notícias sobre a sessao.

cios Estrangeiros durante os governos presidenciais de 1901 ate a data de sua morte em 10 de fevereiro de 1912. Antes da Republica, Paranhos Junior servira com igual empenho a causa da monarquia. A sua morte teve tal repercussao no Brasil que o governo fez um decreto adiando o carnaval, para que esse período de festas nao coincidisse com o luto nacional. Como ministro dos Negocios Estrangeiros, Rio Branco foi o responsavel pela demarcaçao das fronteiras, trabalho que executou com engenho e arte, dilatando ainda mais o ja vasto territorio brasileiro com a anexaçao do atual estado do Acre, que pertencia a Bolívia (1904), uma area em litígio com a Guiana Francesa, que abrangia quase todo o atual Estado do Amapa, e resolvendo em favor do Brasil um litígio fronteiriço com a Argentina, incorporando em definitivo uma area territorial de 30.621 km quadrados. Em Portugal havia um verdadeiro culto pelo Barao do Rio Branco, o estadista ilustre que o Brasil perdeu, e o seu nome era entre nos tao querido e tao espalhado que raro dos portugueses de uma certa cultura o desconhecia. Todos os que amam o Brasil e seguem atentamente os seus movimentos políticos e literarios, os que la vao em busca de um pouco de bem-estar, os artistas que viajam anualmente na terra nossa irma, Página 15

Continuando com a evocaçao do DN: “Honrou tambem o Barao do Rio Branco as tradiçoes lusitanas da origem da sua família e por tudo isso propos que durante dez minutos, e como homenagem a sua memoria, os senhores senadores, se conservassem silenciosos nos seus lugares. Assim se fez…”. Cumpriu-se, assim, o primeiro momento de silencio que se tem notícia, numa sucessao que se vem prolongando ate os nossos dias. Depois deste dia, todas as vezes que morria alguem passível de homenagem, o parlamento portugues repetia o gesto. Com o tempo, de dez minutos passou a cinco, depois a um, como atualmente. Em seguida, as casas legislativas europeias copiaram o modelo portugues e daí para o resto do mundo, ganhando visibilidade sobretudo nos estadios desportivos.


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

Os maus dias...

ve. Poesia simples mas profunda, as vezes carregada de tristeza, como “O ultimo suspiro soprou na areia quente/ minhas maos quebradas acenaram um tímido adeus.” E o que fazemos agora.

Antes que venham os maus dias Telefonema tao cedo, no sabado, nao poderia ser boa coisa: “Tio, o paizinho se foi”, fala com voz triste a Leca, sobrinha e afilhada. Depois de anos lutando contra o Parkinson, Arlindo se entregou. Apesar da lucidez, o sofrimento foi grande, ele, um homem que adorava viajar e tinha muitos amigos, ja nao conseguia se levantar sozinho e outras coisas mais. Se algo nao lhe faltou, foi o carinho dos filhos, netos e especialmente o amor da esposa, Helga, que a vida inteira lhe dedicou toda atençao e, com o agravamento dos sintomas da doença, se tornou onipresente ao seu lado por todos esses anos. No meio disso, um farol de alegria para sua vida: o nascimento da bisneta que o iluminava com suas constantes visitas.

Coincidentemente, leio pela terceira vez a maravilhosa obra “Rotas Lairianas”, de Lair Bernardoni. Logo no início, usa passagens bíblicas com precisao e muita beleza. Cita Eclesiastes, onde esta: “Lembra de teu Criador nos dias de tua mocidade, antes que venham os maus dias e cheguem os anos dos quais diras: “Nao tenho neles prazer”. Esse alerta casa com “Carpe diem”, escrita por Horacio um tempo depois; ambos nos exortam a usufruir cada momento, o que, embora nao esteja explícito nos textos, deve incluir fazer, dizer, acenar, sorrir e seja o que mais for para mostrar o quanto cada pessoa nos e importante. Assim, quando se forem, nossa tristeza vira carregada de gratidao.

Considerando-se a dor, descansou; mirando sua vida, valeu muito a pena. A manha nem chegara a metade, mensagem da presidente da Associaçao das Letras, Simone Nascimento, dava conta que Fatima, nossa colega escritora, acabara de falecer. Estava internada por complicaçoes da Covid e seus familiares e nos, seus amigos, fizemos tudo que se pode fazer nessa situaçao, mesmo que sirva mais para a gente do que para quem e alvo de nossos esforços: seguir diariamente sua condiçao, oraçoes, torcida, votos de melhoras. Havia Maria em seu nome (Maria de Fatima Joaquim Cardoso), um nome forte, mas ela so usava “Fatima”. Carregava sempre um sorriso, sorriso pequeno, como a nao querer que fugisse para durar mais, e, com ele, deixava claro: contem comigo. Se precisasse de alguem para ajudar, la estava ela, apesar das dificuldades que enfrentava diariamente. Sua poesia tem aquilo que se busca constantemente: a beleza da simplicidade, o que nao e nada facil de achar quando se escrePágina 16

John Donne (1572-1631)


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 ca, na Bouça (La Bouza). O ultimo falante de portugues morreu no início do seculo XX.

Casos com História Páginas do passado

8. Vale de Xalima (onde o portugues, fortemente dialectalizado e chamado fala de Xalima). O dialeto portugues e falado nos concelhos de Sao Martim de Trevelho (San Martín de Trevejo), As Elhas (Eljas) e Valverde do Fresno (Valverde del Fresno), ao noroeste da Estremadura espanhola. A regiao e conhecida como Os Tres Lugares.

9. Ferreira de Alcantara (Herrera de Alcantara), onde o portugues dialectal ali falado e chamado firrenho.

A língua portuguesa e a Galiza A língua portuguesa e falada em territorio espanhol desde a fronteira com a Galiza, ate o coraçao da Estremadura. Sao varios os concelhos da Raia fronteiriça que, historicamente, tem o portugues como idioma proprio. Como regra geral, sao pequenas aldeias ou concelhos com um forte declínio demografico, relativamente castelhanizados e secularmente esquecidos. De norte ao sul são:

Ainda persiste na comarca de Alcantara e na povoaçao vizinha de Santiago de Alcantara, onde a influencia do portugues faz-se ouvir em muitas expressoes. 10. Cedilho (Cedillo), na comarca de Alcantara.

11. Valença de Alcantara, o portugues e falado em diversas aldeias da regiao de Valencia de Alcantara; As Casinhas (Las Casinas), Jola, O Pinho (el Pino), Fontanheira (la Fontanera), Sao Pedro (San Pedro) e muitas 1. Na Galiza, na franja ocidental das Asturias e na par- outras… te ocidental da bacia do Sil, e na regiao e arredores de 12. A Codosera (La Codosera), na comarca de AlcantaLubian se considerarmos o galego como uma variante ra. do sistema galego-portugues. 13. Olivença e Talega. O portugues e falado na sua va2. Ermesende (Hermisende, oficialmente em castelha- riante oliventina na cidade e nas suas aldeias: Sao no) na comarca da Seabra (Zamora) e em algumas Francisco (San Francisco), Sao Rafael (San Rafael), aldeias que a rodeiam. Vila Real de Olivença (Villarreal), Sao Domingos de 3. Rihonor de Castilla, onde existe uma fala mista de Gusmao (Santo Domingo de Guzman), Sao Bento da transiçao. Contenda (San Benito de la Contienda), Sao Jorge da 4. Calabor, aldeia do concelho de Pedralba de la Pra- Lor (San Jorge de Lor). dería na comarca da Seabra (Zamora).

O portugues falado na Espanha nao e protegido pelo 5. A Fregeneda (La Fregeneda oficialmente em caste- governo espanhol ou pelos governos regionais de Caslhano) povoaçao perto de Sao Felix dos Galegos. Na tela e Leao e Estremadura, e tambem nao tem o apoio toponímia podem notar-se vestígios galego- do Governo Portugues. portugueses. O uso do portugues, muitas vezes apenas sob a forma 6. Sao Felix dos Galegos (San Felices de los Gallegos de dialeto e quase a desaparecer, mas historicamente em castelhano), localidade que pertenceu a Portugal falado pela sua populaçao, e gradualmente substituído pelo castelhano numa sociedade profundamente em varios momentos nos seculos XIII, XIV e XV. diglossica que foge do conflito da sua identidade, 7. Almedilha (La Alamedilla) na província de SalamanPágina 17


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 abandonando a sua língua portuguesa.

falada aumentou progressivamente, devido a escola, A fala da Estremadura ou fala de Xalima (em estreme- ao serviço militar e aos meios de comunicaçao. nho: A Fala) e uma variedade linguística do galaico- As primeiras referencias filologicas conhecidas sobre portugues usada por cerca de 10 500 pessoas na parte a fala foram realizadas por Fritz Kruger, em 1925, e mais ocidental da província de Caceres, na Espanha, por Otto Fink, em 1929, ao estudarem o castelhano junto a fronteira portuguesa. E utilizada numa area dialectal da zona. Jose Leite de Vasconcelos realizou conhecida por vale de Xalima (ou Jalama) ou vale do uma outra investigaçao entre 1929 e 1933, ainda rio Ellas (o Eljas), no noroeste da província de Cace- mostrando fenomenos que nunca voltaram a registarres, na regiao espanhola da Estremadura. Foi declara- se nos estudos seguintes, que a aproximava do Portuda Bem de Interesse Cultural pela administraçao da gues, sendo entao a opiniao de se tratar de um dialeto Estremadura em 20 de Março de 2001. do Portugues unanime. E tambem conhecida por galego da Estremadura e por valego. Tradicionalmente, nao existe um nome unico que abranja as tres variantes que se falam em cada um dos tres concelhos do vale.

O primeiro investigador a referir-se a esta fala como de origem galega, comparando-a com os forais de Castelo-Rodrigo (1209) e relacionando-a com a possível chegada de povoadores galegos a zona nos seculos XII e XIII foi Lindley Cintra, em 1959: “O falar fundamenOs nomes populares são: talmente galego, mas com leonesismos, de Castelo RoO Manhego (manegu, na sua fala), falado em Sao Mardrigo e Riba-Coa no sec. XIII, o falar tambem essencitinho de Trebelho. almente galego da regiao de Xalma, outra coisa nao O Valverdeiro (valverdeiru, na sua fala), falado em sao, segundo creio, do que falares destes nucleos de Valverde do Fresno. repovoadores galegos tao frequentemente recordados O Lagarteiro (lagarteiru, na sua fala), falado nas Ellas. pela toponímia”. Segundo alguns filologos, existe uma forte relaçao entre estas falas e os dialetos portugueses falados no Concelho do Sabugal, em Portugal. No vale, existem cerca de cinco mil falantes destas tres variantes. Como consequencia da emigraçao, existem cerca de tres mil naturais da regiao que vivem fora e que mantem o uso familiar da língua. Regressam no verao, reforçando a utilizaçao do idioma.

Clarinda de Azevedo tambem se refere a esta repovoaçao, afirmando a sua relaçao com um galaicoportugues arcaico e portanto maior proximidade com o Galego actual. Jose Luís Martín Galindo cre que as falas sao anteriores a uma possível repovoaçao galega, mas esta tese nao conquistou muitos partidarios.

Xose Henrique Costas Gonzalez nos seus estudos afirma a galeguidade destas falas estabelecendo a sua oriA fala e a língua habitual da populaçao, com a excep- gem na repovoaçao por galegos nos seculos XII e XIII e çao dos funcionarios do estado, da polícia e de outras a interferencia de leonesismos como consequencia pessoas vindas de fora do vale. Nao ha perda linguísti- dum longo contacto com o leones. ca com as geraçoes mais novas, ainda que Valverde se A existencia de palavras galegas na Serra de Gata e no possa dizer ser o concelho mais castelhanizado. A par- sudoeste de Salamanca poderia indicar que a extensao tir de 1960, o numero de castelhanismos na língua da fala na Idade Media tivesse sido maior do que na

Anime-se. Apoie e participe no

Corrente d’Escrita Faça-nos chegar seus contos, cronicas, poesias (maximo 4 mil toques) com ou sem foto. Página 18


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 atualidade. Frías Conde tambem se mostra partidario da galeguidade destas falas. Jose Enrique Gargallo Gil fala de um galego-portugues fronteiriço e arcaizante, admitindo uma maior vinculaçao com o galego de que com o portugues. Juan Manuel Carrasco Gonzalez classifica a fala como a terceira variedade do galegoportugues. A peculiar língua da aldeia espanhola de La Codosera.

Na zona raiana, a vila de La Codosera na Província de Badajoz, a sua fala corresponde a forma Alentejana das povoaçoes proximas de Portugal, com a unica diferença de incluir algum castelhanismo. A vitalidade da mesma e absoluta. O Portugues e ensinado na escola, e e a língua de comunicaçao preferida e a populaçao tem muito orgulho nas suas ligaçoes a Portugal, sendo este mesmo uma das fortes componentes da identidade da vila, que de resto segue em muito a tipicidade de uma vila alentejana.

as suas raízes nem a nacionalidade portuguesa. Se bem que a maior parte dos habitantes tem dupla nacionalidade, ha quem ainda so possua a nacionalidade portuguesa.

Deonísio Da Silva Do Fernando Pestana, breve liçao sobre a polemica dos generos. Moço >>>>> moça Monge >>>> monja Cantor >>>> cantora Oficial >>>>> oficiala Fregues >>>> freguesa Juiz >>>>>>> juíza Alemao >>>> alema

Ao contrario do que se possa pensar, La Codosera nao fazia parte do territorio de Olivença. Como explicar entao esta forte presença da língua portuguesa e de habitos culturais portugueses? Em primeiro lugar, durante seculos foi muito frequente a emigraçao de portugueses para esta pequena aldeia. E, talvez ainda mais importante, e muito frequente o casamento entre portugueses e espanhois, sendo que nos ultimos censos foram registados, apenas em La Codosera, 200 casamentos entre cidadaos dos 2 países.

Judeu >>>>>> judia

A emigraçao a partir de Portugal para La Codosera deu-se especialmente desde a freguesia de Esperança, no concelho de Arronches. Apareceram assim aldeias gemeas como Rabaça/La Rabaza ou Marco/El Marco, que realmente sao a mesma aldeia partida apenas em duas pela fronteira. Outras aldeias como Bacoco, La Tojera (Tojeira), La Varse e outras foram tambem povoadas por portugueses.

Ja as da coluna da esquerda tem um padrao de terminaçao, alguma MARCA em comum?

La Codosera, no entanto, ficou como uma especie de aldeia mista, sendo que ha uma romaria anual na Igreja de Chandavila, que expressa esse caracter misto da regiao, onde confraternizam portugueses e espanhois. Uma curiosidade a salientar e o facto de os pais terem enviado os seus filhos a escola portuguesa apos a Guerra de Espanha de 1936-1939 para nao perderem Página 19

Se isso fosse um teste psicotecnico, quais palavras voce diria pertencerem ao mesmo genero? As da coluna da direita, certo? Sabe por que? Simples. Todas elas tem uma MARCA em comum: a vogal A que vem ao fim delas. E essa marca que indica o genero feminino. Facil, nao?

Hmmm... Obviamente nao! Afinal, temos O, E, R, L, S, Z, AO, U... Sabe o que isso quer dizer? Que nao existe uma marca distintiva para indicar o masculino.


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

Gente com História O homem vai, mas a abra fica

Cruz e Sousa nasceu e passou a sua primeira infancia na regiao conhecida como Chacara do Espanha, atras da Catedral Metropolitana, perto do atual Teatro Alvaro de Carvalho. No local existia uma grande propriedade que pertencia ao Marechal Guilherme Xavier de Sousa, para quem trabalhavam os pais do poeta.

Cruz e Souza Há 123 anos morria o poeta

Cruz e Sousa

Foto rara de Cruz e Souza—Documentário sobre...

Como informa a historiadora Graciane Daniela Sebrao, na dissertaçao de mestrado “Presença/ausência de africanos e afrodescendentes nos processos de escolarização em Desterro – Santa Catarina (1870-1888)”, Udesc, 2010.

Conheça os locais, no Centro se Florianópolis/SC, onde nasceu e cresceu o poeta. A maioria dos florianopolitanos conhece a belíssima obra poetica do desterrense Joao da Cruz e Sousa, nascido em 24 de novembro de 1861, e que da nome ao Palacio que sedia o Museu Historico de Santa Catarina, no centro da Capital. Porem, pouco se conhece sobre os locais onde nasceu e cresceu o maior poeta simbolista do Brasil, que morreu no Rio de Janeiro, em 19 de março de 1898, e cujos restos mortais descansam no jardim do Museu Historico. Página 20

Local onde existiria a propriedade do Marechal


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 de liberta. “Por isso, o menino nasceu livre”, conta Graciane. Em 1870, o Marechal Guilherme (nome de rua onde esta a Igreja do Rosario), deixou a família do poeta uma parte do solar, em testamento. No entanto, alguns anos depois, de acordo com a pesquisa da historiadora, a família se mudou para a Praia de Fora, onde o pai de Cruz e Sousa conseguiu construir uma casa. A Praia de Fora estava localizada na atual Beira Mar Norte, aproximadamente, entre a Avenida Gama D’Eça e a Rua Arno Hoeschel. Apos dirigir o jornal Tribuna Popular, ser professor e lançar o primeiro livro “Tropos e Fantasias”, em 1890, partiu para o Rio de Janeiro onde seguiu a sua brilhante trajetoria de poeta e ativista. Morreu de tuberculose, em Minas Gerais em 19 de março Mural ao lado do Palácio Cruz e Souza (Billy Culleton) de 1898. “A família morava no porao amplo do sobrado de Marechal Guilherme Xavier de Sousa e Clarina Fagundes Xavier de Sousa, para os quais trabalhavam seus pais. A propriedade, que depois ficou conhecida como Chacara do Espanha, ficava proximo a Igreja Nossa Senhora do Rosario e ao Teatro Santa Isabel (atual TAC).” Seu pai foi escravo do casal ate 1864, quando o marechal o libertou. Sua mae Carolina, porem, ja estava na condiçao Página 21

Em baixo—Praia de Fora na década de 1950 (Registro da família von Wangenheim, Coleção Desterro Antesdonte)


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 ministro meses antes, ele os chamara de "assaz (muito) perniciosos" e "inassimilaveis, que so sabem trabalhar - sem o menor escrupulo e so visando o lucro - como intermediarios de negocios, nada produzindo de util". Os documentos - que estao sendo incorporados ao Arquivo Virtual Sobre Holocausto e Antissemitismo (Arqshoah) - jogam luz sobre um lado pouco conhecido da historia da imigraçao no Brasil.

Formação étnica do Brasil

O Brasil e os Judeus A época em que o Brasil barrou milhares de judeus que fugiam do nazismo. Por: João Felle BBC News Brasil—SP

Segundo Tucci, as recusas de visto a judeus seguiam ordens do alto escalao do governo. A partir de 1937, o Ministerio das Relaçoes Exteriores emitiu ao menos 26 circulares secretas impondo barreiras a entrada do grupo, considerado indesejavel para a formaçao etnica do povo brasileiro numa epoca em que o Brasil estimulava a migraçao de europeus brancos e cristaos. Restriçoes semelhantes foram impostas a estrangeiros negros e asiaticos. No caso dos judeus, porem, as barreiras afetavam um grupo que se via cada vez mais acuado por medidas discriminatorias em boa parte da Europa. Calcula-se que cerca de 6 milhoes de judeus tenham sido mortos pela maquina de guerra nazista, o maior genocídio do seculo 20.

Moradores do bairro judeu em Chelmza, Polonia, país invadido por tropas nazistas em 1939—credito: Yad Vashem

Em julho de 1938, o consul do Brasil em Budapeste (Hungria), Mario Moreira da Silva, enviou ao ministro das Relaçoes Exteriores, Oswaldo Aranha, uma circular secreta em que informava ter recusado a concessao de vistos a 47 pessoas "declaradamente de origem semita" (judeus) que buscavam migrar para o Brasil.

Adolf Hitler discursa para soldados em Dortmund, em 1933; nos

Eles tentavam fugir enquanto o governo hungaro, alia- anos seguintes, Alemanha pos em marcha plano para exterminar judeus—credito: Yad Vashem do da Alemanha nazista, punha em marcha uma serie de políticas antissemitas - que, seis anos depois, culminariam com o envio de meio milhao de judeus hun- As regras que barravam judeus vigoraram mesmo garos para campos de extermínio. apos o Brasil declarar guerra a Alemanha e enviar solO consul em Budapeste ja havia se posicionado contra dados para a Italia, so perdendo validade no fim do a entrada de judeus no Brasil. Em ofício enviado ao governo de Eurico Gaspar Dutra, em 1950, quando os Página 22


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 horrores do Holocausto ja haviam sido amplamente difundidos. "Os documentos derrubam o mito de que o Brasil sempre recebeu imigrantes de portas abertas e reforçam a postura colaboracionista do governo Vargas com a política antissemita da Alemanha", afirma Tucci a BBC News Brasil. Segundo ela, o governo impunha restriçoes a judeus e outras minorias por meio de documentos secretos enquanto, no exterior, buscava apresentar o Brasil como um país "com projetos humanitarios e salvacionistas". Uma circular que tratava do tema ordenava que a recusa de vistos a judeus deveria "ser justificada sem qualquer referencia a questao etnica". Família Gottlieb em 1939; grupo fugiu para o Brasil com certidoes falsas de batismo Autora de varios livros sobre o antissemitismo no Brasil, Tucci estuda os documentos desde 1995, quando o Itamaraty abriu seu acervo sobre o tema. Ela diz Na epoca, outros orgaos do Estado tambem adotavam acreditar que os numeros de vistos recusados a ju- políticas racistas. No artigo Discriminaçao e Intolerandeus tenham sido muito superiores aos que ja conta- cia: os indesejaveis na seleçao do Exercito brasileiro, o bilizou. pesquisador do Arquivo Historico do Exercito (AHEx) Fernando da Silva Rodrigues cita normas que impediam o acesso de judeus, negros e muçulmanos as escoJudeus 'subversivos' las que formavam os oficiais da corporaçao. As regras foram definidas em 1937 pelo entao ministro da GuerA primeira das circulares secretas listava uma serie de ra, Eurico Gaspar Dutra, e valeram ate 1946. regras para barrar "numerosas levas de semitas, que os governos de outras naçoes estao empenhados em Deportação de Olga Benário afastar dos respectivos territorios". A justificativa, segundo o ministerio, era impedir a entrada de migrantes que buscavam, "numa inadmissível concorrencia ao comercio local e ao trabalhador nacional, absorverem, parasitariamente, (...) uma parte apreciavel de nossa riqueza, quando, alem disso, nao se entregam, tambem, a propaganda de ideias dissolventes e subversivas".

Muitos historiadores ja analisaram os laços entre o governo Vargas e o regime nazista na Alemanha, quando os dois países mantinham acordos secretos para a troca de informaçoes sobre militantes comunistas. A cooperaçao mais celebre envolveu a deportaçao pelo Brasil da judia alema Olga Benario, conjuge A circular determinava, entre outros pontos, que nao do líder comunista brasileiro Luís Carlos Prestes. Defossem dados vistos a judeus, exceto nos casos em que volvida a Alemanha, ela foi presa e executada numa tivessem conjuges brasileiros, possuíssem bens no camara de gas no campo de Bernburg, em 1942. país, pretendessem viajar a turismo ou tivessem Foi so apos sucessivos ataques de submarinos ale"notoria expressao cultural, política e social". As mes- maes e italianos a Marinha Mercante brasileira e sob mas restriçoes nao se aplicavam a europeus cristaos. forte pressao dos EUA que o país rompeu os laços diCaso o consulado suspeitasse que um judeu tentava se plomaticos com as potencias do Eixo (Alemanha, Italia passar por cristao para obter o visto, poderia pedir e Japao), em 1942, unindo-se dois anos depois aos sua certidao de batismo e suspender o processo ate Aliados nos campos de batalha. que, "por meio de investigaçao, se consiga esclarecer a duvida". Segundo a circular, as regras haviam sido elaboradas pelos ministerios das Relaçoes Exteriores e do Trabalho e aprovadas pelo presidente Getulio Vargas.

Os documentos do governo brasileiro indicam que a afinidade entre o governo Vargas e a Alemanha nazista ia alem da oposiçao ao comunismo - e que muitos altos diplomatas brasileiros tinham visoes antissemitas. Tucci diz que o proprio chanceler Oswaldo Aranha,

Página 23


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 homenageado em Israel por seu papel na Assembleia Geral da ONU que resultou na criaçao do país, em 1947, expos ideias antissemitas e concebeu parte das ordens secretas que barravam a entrada de judeus no Brasil.

Ministerio das Relaçoes Exteriores a reforçar as barreiras contra o grupo. Uma circular orientava os consulados brasileiros a "nao visar passaportes de judeus" - o que, segundo Tucci, fechou as portas para muitos velhos e crianças orfas que haviam sobrevivido ao Holocausto e buscavam uma nova patria. Apesar das restriçoes, milhares de judeus conseguiram se mudar no Brasil antes e depois do Holocausto, dando origem a uma comunidade que conta hoje com 120 mil membros, segundo a Confederaçao Israelita do Brasil (Conib). Tucci diz que boa parte do grupo entrou no país com documentos falsos, com vistos de turistas ou passando-se por cristaos.

Judeus identificados por faixas nos braços em Varsovia, Polonia, em 1941

Em carta enviada em 1938 ao entao interventor federal em Sao Paulo, Adhemar de Barros, Aranha alertava sobre os riscos da imigraçao de judeus para o Estado. "O israelita, por tendencia milenar, e radicalmente avesso a agricultura e nao se identifica com outras raças e outros credos. Isolado, ha ainda a possibilidade de vir a ser assimilado pelo meio que o recebe (...). Em massa, constituiria, porem, iniludível perigo para a homogeneidade futura do Brasil", escreveu o chanceler. Aranha disse que poucos dias antes havia sido procurado por um judeu austríaco radicado no Brasil, Frederico Zausmer, que pedia a regularizaçao migratoria de outros 300 judeus residentes em Sao Paulo - fato que, para o chanceler, despertava "justas suspeitas da existencia de um 'Getto' ja em formaçao nessa capital". Naquele anos, guetos eram os bairros nos países sob jugo nazista onde judeus eram obrigados a morar, e de onde foram recolhidos e enviados aos campos de extermínio. Velhos e crianças órfãs

Alma Adler, idealizadora da boneca Estrela; família foi auxiliada pelo advogado Jose Mindlin para conseguir trazer todos os integrantes para o Brasil—acervo Heimann

Foi o caso da família formada por Avraham, Frymet, Markus, Salomea, Josef e Sara Gottlieb, judeus poloneApos a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), muitos ses que conseguiram vistos na embaixada brasileira dos formuladores das restriçoes a migraçao de judeus em Roma com certidoes falsas de batismo. permaneciam no governo brasileiro. Em 1948, o ConOutros contaram com a ajuda de judeus brasileiros selho Nacional de Imigraçao e Colonizaçao instruiu o Página 24


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021 proeminentes, como o advogado Jose Mindlin (19142010), que negociou pessoalmente a concessao de vistos com autoridades. Mindlin teve papel central na reunificaçao de varias famílias, como os Adler, judeus alemaes.

causto), em Jerusalem.

Tucci conta que, em 1938, o comerciante Moritz Adler foi preso pelos nazistas e levado a um campo de concentraçao perto de Frankfurt. Mindlin foi acionado por parentes do alemao que ja estavam no Brasil e conseguiu um visto para que ele deixasse o país rumo ao Brasil com a esposa, Frieda. O consulado do Brasil em Frankfurt, porem, negou os vistos para as duas filhas do casal, Tilly e Elsberg.

Neto e autor de uma biografia sobre Oswaldo Aranha, Pedro Correa do Lago foi procurado por intermedio de sua editora, mas nao respondeu.

A mae resolveu ficar com as crianças, e Moritz viajou sozinho. A família so voltou a ficar completa no fim de 1941, quando Mindlin obteve os vistos para as meninas. No Brasil, os Adler criaram a Estrela, ate hoje uma das principais marcas nacionais de brinquedos.

Questionado pela BBC, o Itamaraty afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que as políticas migratorias da epoca eram elaboradas pelo Ministerio da Justiça e que os diplomatas apenas as executavam.

Ressurgimento do antissemitismo Tucci diz que conhecer a postura do Brasil em relaçao a judeus que fugiam do nazismo tem grande valia num momento em que o mundo volta a debater formas de lidar com grandes levas de migrantes e refugiados.

"Temos aqui um espelho muito interessante para repensar uma serie de políticas e açoes restritivas que Houve ainda judeus que chegaram ao país graças a estao sendo adotadas por varios países", afirma a prodiplomatas que se recusaram a cumprir as ordens res- fessora. tritivas. Um deles foi Luiz Martins de Souza Dantas, Tucci afirma ainda que a discriminaçao dos judeus embaixador do Brasil na França entre 1922 e 1943, nos tempos de Vargas e Dutra serve de alerta para o que concedeu centenas de vistos a judeus sem infor"revigoramento do antissemitismo" no Brasil e no mar ao governo a origem etnica dos requerentes. mundo. "O antissemitismo sempre reaparece nos moUma das famílias salvas por Dantas foi a da pintora mentos de crise, nas erosoes do pensamento demotcheca Lise Forell, que em 1940 embarcou no navio cratico, quando os mitos sobre a existencia de uma Alsina rumo ao Brasil com os pais, avos maternos e grande conspiraçao judaica para dominar o mundo um tio. Forell teve uma carreira de sucesso no Brasil, ressurgem com outras roupagens", diz a historiadora. expondo obras no Museu de Arte de Sao Paulo (Masp) e em varias galerias.

O embaixador Souza Dantas, ao centro, com Oswaldo Aranha (esq.) e Getulio Vargas (dir.)

Por causa da insubordinaçao de Dantas, Vargas instaurou um processo administrativo contra o embaixador, que passou 14 meses detido na Alemanha apos tropas nazistas invadirem a embaixada brasileira, em 1942. Em 2003, ele foi reconhecido como um Justo entre as Naçoes pelo Yad Vashem (Museu do HoloPágina 25


de 2019

Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

No dia em que chegaram as noivas EM 1959, SANTOS RECEBE UMA “CARGA” DE NOIVAS JAPONESAS As tao aguardadas noivas desembarcam no cais santista, atraindo os olhares curiosos dos brasileiros, que souberam antecipadamente da inusitada historia. Porto de Santos, quinta-feira, 23 de abril de 1959. O dia mal tinha amanhecido e o cais do porto santista ja estava apinhado de gente. Dezenas de famílias estavam proximas ao armazem de bagagens aguardando a atracaçao do “America Maru”, que vinha de uma longa viagem, de 53 dias, desde Yokohama, na Terra do Sol Nascente.

“Hanayome”, dissera o comandante exibindo um sorriso malicioso. O brasileiro conhecia o equivalente japones para varios nomes de cargas, mas aquele lhe era novidade. E que “hanayome” significa “noivas”, e entre os trezentos e cinquenta passageiros da embarcaçao, vieram doze jovens “casadas por procuraçao” em sua terra natal, justamente com jovens japoneses, que aqui haviam desembarcado tres anos antes para conhecer de perto as possibilidades de trabalho na agricultura ou em diferentes ocupaçoes no comercio ou na industria. Chegados como imigrantes, os moços haviam sido incorporados a Cooperativa Agrícola de Cotia e nela encontraram condiçoes de trabalho e ganho que os autorizavam a assumir, entre outras coisas, o compromisso serio do casamento.

A bordo do navio niponico vinha uma “carga” especial, que chamou a atençao do inspetor da Alfandega quando este, ainda no largo da barra, questionou o coman- Desta forma, logo que o “America Maru” atracou e dante a respeito do que estava sendo trazido ao Bra- amarrou-se ao cais, lagrimas escorriam dos dois lados, dos olhos dos que estavam em terra e dos que sil.

Página 26


de 2019

Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

vinham a bordo do navio.

champanhe o encontro com os maridos e algumas autoridades que foram ate Santos recebe-las, como o consul-geral do Japao, Uyeno, Kiyomi Ohira, diretorgerente da Cooperativa Agrícola de Cotia, Otavio Teixeira Mendes Sobrinho, diretor do Departamento de Imigraçao e Colonizaçao no Estado de Sao Paulo, e Gilberto de Carvalho Pimentel, chefe da Inspetoria de Imigraçao em Santos.

A notícia do desembarque inusitado logo percorreu o cais e despertou a curiosidade dos brasileiros. Muitos aventaram e ate apostaram que testemunhariam a decepçao dos homens niponicos em terra, ao verem suas esposas, acreditando que o casamento fora as cegas. Ledo engano. Os rapazes, que estavam muito bem vestidos, sapatos lustrosos e cabelos alinhados, ja conheciam suas mulheres e elas tambem os conheci- Entre os jovens que aguardavam ansiosamente na beiam. ra do Cais de Santos estava o lavrador Sadatsugu TaO cartaz de “boas-vindas” escrito em japones, dava mura, de 27 anos. Ele aguardava com expectativa a chegada de sua esposa Mitsuko Tamura, de 25 anos. início a doze historias de amor no Brasil. Ambos haviam sido colegas de estudos em SaitamaAssim, apos o cumprimento de todo o protocolo de ken. Concluído o curso equivalente ao científico no desembarque, as 11 horas, deu-se finalmente o enconBrasil, Tamura partiu para estudar mecanica. Mas, tro dos namorados. Mas quem imagina que eles correnao tendo melhores oportunidades no Japao, resolveu ram um na direçao do outro e ficaram rodopiando de ir para Brasil, na qualidade de imigrante, para trabamaneira efusiva, imaginou errado. lhar em Sao Jose dos Campos numa fazenda da CoopeNao houve beijos, nem “chuva de arroz”, nem alianças, rativa Agrícola de Cotia. Quando alcançou condiçoes nem ao menos apertos de mao. O que houve foi ape- de unir-se em matrimonio com sua amada, enviou nas um cumprimento respeitoso de um aceno de mao procuraçao para o casamento para poder trazer a sua e reverencia. Mitsuko. Tamura ja tinha preparado tudo: moveis, Porem, eles estavam no Brasil, onde algumas novas casa e todos os pertences. Perguntando se ia casar no regrinhas poderiam ser incorporadas. Assim, a moda religioso, declarou: “Nos casaremos so no civil. Se o ocidental, as recem-casadas brindaram com taças de patrao quiser casaremos no religioso”. Página 27


Ao seu lado estava Hideo Isezaki, de 24 anos, de Mor- Durante o almoço oferecido pela Colonia Japonesa de Anode IV Cotia. — Número 44 - desconfiaMensal: junhoSantos, de 2021com direito a comidas típicas do Japao, como ro Grande, proximidades Falante, de 2019 do, “arrastando” o portugues, estava a espera da sua makizushi (folhas de algas marinhas com arroz enroesposa Shinoe, de 23 anos. Ambos nasceram em Kot- lado, peixe em conserva, ovos); kombu (algas marichi-Ken e sempre trabalharam na lavoura. Suas famí- nhas); camarao gigante; saladas a moda niponica e lias eram conhecidas e estavam certas de que haveria sashimi (peixe cru em fatias), iniciou-se uma serie de felicidade na uniao dos dois. discursos, como os do consul Uyeno, de Teixeira MenAs doze noivas pisam pela primeira vez na terra onde des Sobrinho, do DIC e de Kiyomi Ohira, diretorfariam sua vida, sendo recepcionadas por outras que gerente da Cooperativa Agrícola de Cotia. aqui ja moravam. Elas sorriem, aguardando os eleitos Depois do almoço as esposas recem-chegadas ao Brade seus coraçoes. sil foram levadas a conhecer a cidade de Santos e a Entre as doze moças, havia uma que se destacava. tardinha rumaram para Sao Paulo, de onde seguiram Usando um chapeu elegante, ela chamou a atençao para os sítios onde seus maridos ja estavam alocados. dos reporteres que cobriam aquele fato inusitado. A Nove ficaram em terras paulistas, dois foram para o moça era Yumiko Nibino. Muito sorridente, ela empu- Parana e um para o Rio de Janeiro.

nhava uma maquina fotografica e parecia ser a mais feliz de todas. Ao contrario de suas colegas, ela chegou a correr para encontrar-se com o marido, Katsuhiko Nibino, de 25 anos, lavrador do sítio Nishimoto, em Sao Roque. Yumiko tinha 21 anos, era filha de lavradores e conheceu Nibino em Kin-Ken. Por sua alegria, Yumiko foi apelidada pelos fotografos e cinegrafistas como a vedeta do Porto de Santos. Era, sem sombra de duvida, o par mais fotogenico do dia. Apos deixarem a area do porto, os noivos e os convidados foram para o Hotel Ushio, que ficava na Rua Braz Cubas, onde estava instalada a sede do Atlanta Futebol Clube. Ali, no terraço do predio, se reuniram os casais: Hideo e Shinoe, Katsuke e Mitiko, Shiguemitsu e Mitsuko, Shunzuke e Moyo, Kazuyoshi e Etsuko, Miyoko e Fugio, Eikiti e Junko, Ktsuji e Satoyo, Itio e Mariko e Katsuniko e Yumiko. Página 28

Ansiedade, enquanto se espera...


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

Portugal

Brasil

7 Cidades Brasileiras de origem Portuguesa, que são Patrimônio Mundial Tiradentes Do outro lado do oceano Atlantico, no nosso irmao Brasil, existe patrimonio de origem portuguesa que e reconhecido mundialmente e classificado como Patrimonio Mundial. Sao cidades belíssimas, que fazem lembrar as nossas proprias cidades, mas repletas de sabor tropical tao característico do Brasil. A mistura entre as influencias portuguesas e brasileiras deu origem a 6 cidades brasileiras de origem portuguesa que sao Patrimonio Mundial. Ouro Preto Fundada no final do seculo XVII, a cidade de Ouro Preto foi o ponto de convergencia dos mineradores de ouro e o centro da exploraçao de minas auríferas no Brasil do seculo XVIII. A cidade declinou com o esgotamento de suas minas a princípios do seculo XIX, todavia subsistem muitas igrejas, pontes e fontes que testemunham seu passado esplendor e o talento excepcional do escultor barroco Antonio Francisco Lisboa, “Aleijadinho”. Página 29


Ano IV — Número 44 - Mensal: junho de 2021

Salvador Primeira capital do Brasil (15491763), Salvador tem sido um ponto de confluencia de culturas europeias, africanas e ameríndias. Em 1588 se criou nela o primeiro mercado de escravos do Novo Mundo, destinados a trabalhar nas plantaçoes de cana de açucar. A cidade tem conservado numerosos edifícios renascentistas de qualidade excepcional. As casas de cores vivas, magnificamente estucadas a princípio, sao características da cidade velha.

Diamantina Diamantina e uma cidade colonial engastada como uma pedra preciosa em um inospito maciço montanhoso. E um testemunho da aventura dos mineradores de diamantes do seculo XVIII, assim como do influxo exercido pelas realizaçoes culturais e artísticas do ser humano em seu marco de vida. Foi do brilho de uma pequena pedra preciosa que nasceu Diamantina. Quando ainda no seculo XVIII, os bandeirantes chegaram e fizeram as primeiras lavras, no corrego do antigo Arraial do Tijuco, reza a lenda, que a luz que aparecia nas aguas dos rios Jequitinhonha e Sao Francisco, brilhava tanto, que acabou chamando a atençao dos desbravadores. Eles estavam a procura de ouro na regiao, mas acabaram por encontrar diamantes. Página 30


Corrente d’escrita

Número 44—junho 2021

Paraty O Centro Historico de Paraty remonta aos idos de 1820, quando suas ruas ja possuíam seu calçamento pe de moleque. A presença das aguas, com a invasao das mares na lua cheia, a cultura do cafe e da cana, o porto e seus piratas e a maçonaria, determinaram o traçado do Centro Historico de Paraty. As ruas foram todas traçadas do nascente para o poente e do norte para o sul. Todas as construçoes das moradias eram regulamentadas por lei, podendo pagar com multa ou prisao, quem desobedecesse as determinaçoes. A maçonaria deixou sua forte marca nas fachadas dos sobrados com desenhos geometricos, em relevo. O Centro Historico, considerado pela UNESCO como o conjunto arquitetonico colonial mais harmonioso e Patrimonio Nacional tombado pelo IPHAN. Sua ruas, protegidas por correntes que impedem a passagem dos carros, preservam ainda o encanto colonial, aliado a um variado comercio e a expressoes culturais e artísticas muito intensas.

Olinda O Centro Historico de Olinda, tambem chamado de Cidade Alta, abrange a area historica do município brasileiro de Olinda, no estado de Pernambuco. Quase um terço da area total do município e tombado. A preservaçao desse sítio historico começou na decada de 1930, quando os principais monumentos foram tombados. A partir daí foram promovidas varias açoes no sentido de preservar todo o patrimonio historico, cultural e arquitetonico do município. O sítio foi declarado Monumento Nacional pelo Congresso Nacional em 1980, e em 1982 foi reconhecido como patrimonio mundial pela UNESCO. Fundada em 1535 por Duarte Coelho Pereira, primeiro donatario da capitania, em um sítio elevado que favorecia a defesa da povoaçao e controle da regiao, Olinda se tornou capital e um importante polo economico no fim do seculo XVI, enriquecida com a cana-de-açucar. Página 31


Corrente d’escrita

Número 44—junho 2021

São Luís O Centro Historico de Sao Luís compreende uma area de 220 hectares de extensao em Sao Luís, capital do Maranhao. Cerca de 3000 imoveis estao tombados pelo patrimonio historico estadual, e 1400 pelo IPHAN. Parte desse sítio foi declarado Patrimonio Mundial em 1997, por seu conjunto arquitetonico colonial portugues adaptado ao clima do local. A principal característica arquitetonica do centro historico e mesmo a preocupaçao com o clima, quente e humido. Entre as soluçoes, estava o uso de azulejos na impermeabilizaçao das fachadas de taipa. As plantas sao em “L” ou em “U”, com grandes telhados e venezianas. Os predios arquitetonicos constituem sobrados, casas terreas e solares. Os sobrados possuem ate quatro pavimentos, sendo o terreo loja comercial e os outros pisos residencias. Os solares, sobrados sumptuosos, possuem muitos detalhes refinados, e as casas terreas, por fim, passíveis de varias classificaçoes (por exemplo, morada inteira: porta com duas janelas de cada lado; meia morada: porta lateral e duas janelas).

Pandemia, outra vez… (em jeito de fotografia)

Todos se amedrontaram, mas calaram, debocharam, ridicularizaram… Faltou o mérito da palavra, faltou o dinheiro, faltou tudo. E nós, cada vez mais isolados… A gripezinha virou altas febres, filas nos hospitais e até nos cemitérios... Um ano depois, o equivalente à população dos dez maiores Estados do Brasil tinham sido aprisionados pelo verme; a população do Piauí tinha virado óbito, e as vacinas, chegam — quando chegam — a conta gotas… Quando não há juízo na cabeça, o corpo é que paga! Afonso Rocha

Página 32


Corrente d’escrita

Número 44—junho 2021

Fotos com História

Amolador, uma arte (profissão) em extinção

Página 33


Corrente d’escrita

Número 44—junho 2021

A arte com os pinceis

Iniciamos este nova seção com Fernando Pessoa. Desconhecemos a autoria e o ano.

Página 34


Corrente d’ escrita

Dicas de como divulgar um livro? Numa parceria:

Corrente d’escrita/ Clube de autores

Como escrever e formatar um livro no Word Se voce esta se perguntando como utilizar o principal editor de textos do mercado para escrever o seu livro, veio ao lugar certo! Ja fizemos um post, ha algum tempo, sobre programas feitos para se escrever livros. Ha toda uma lista de programas específicos – mas a indiscutível realidade e que o Word continua sendo, de longe, o mais utilizado. Isso e um problema? Claro que nao. Afinal, mesmo sendo o avo dos editores de texto, o Word e extremamente poderoso e se manteve pratico ao longo de todos os seus anos de “envelhecimento”. A grande questao e – e isso vale para todos os programas – saber utiliza-lo direito. Mas, antes de dar sequencia ao tema, cabe destacarmos uma informaçao super importante: aqui no Clube de Autores temos modelos de arquivo Word prontos para livros dos mais diversos tamanhos. E so baixar e começar a usar. Confira: Templates e modelos para livros no Word. Os passos abaixo, no entanto, sao para aqueles que querem começar do zero, criando seu proprio modelinho de trabalho. Veja as dicas: Como formatar um documento de Word para escrever uma obra?

impressao. Para publicar no Clube de Autores, por exemplo, e necessario utilizar nossas padronizaçoes para garantir a qualidade da obra. Alem disso, e muito mais pratico começar escrevendoo nas medidas corretas do que tentar ajustar tudo depois de pronto. Aqui vem uma pequena dificuldade: cada versao do Word, para cada tipo de sistema operacional (Mac ou PC, por exemplo) costuma ter “caminhos” diferentes para se configurar a pagina. De qualquer forma, nao ha muito segredo: basta ir a “arquivo” ou “layout” e localizar a opçao de configurar pagina. Se voce encontrar o tamanho ideal (como A5, A4 ou outro), otimo: selecione-o e voce ja estara pronto para seguir adiante. Se nao encontrar, sera necessario inserir as medidas de maneira personalizada. Para facilitar, use essa tabela de referencia com base em todos os formatos aceitos aqui pelo Clube: A5 (14,8cm x 21cm) A4 (21cm x 29,7cm) Pocket (10,5cm x 14,8cm) Quadrado (20,0cm x 20,0cm)

2. Configure as margens Se voce parte do princípio de que quanto mais paginas “economizar”, mais conseguira publicar o seu livro a um preço competitivo, pense novamente. Livros com margens apertadas e fontes (letras) minusculas cansam leitores, geram um tipo de preguiça que costuma afastar leitores e indicaçoes instantaneamente. Isso sem contar com o obvio: na pratica, a economia de paginas dificilmente somara mais que alguns centavos no preço final. Para criar um livro de forma adequada, e fundamental trabalhar com margens agradaveis e eficientes. Agradaveis para o leitor, que precisa se sentir bem ao folhear as paginas; e eficiente para as graficas, uma vez que margens apertadas podem gerar cortes nos textos durante a etapa de impressao. O Clube de Autores costuma recomendar as seguintes margens (embora voce possa utilizar as que preferir): Para livros A5 > Superior e inferior: 2,54cm; Laterais: 1. Ajuste o tamanho do papel A primeira coisa que voce precisa fazer e configurar o 1,91cm tamanho da pagina para um formato adequado para Para livros A4 > Superior e inferior: 2,54cm; Laterais:


Corrente d’ escrita 1,91cm Para livros Pocket > Superior e inferior: 1,50 cm; Laterais: 1,20cm Para livros Quadrados > Superior e inferior: 2,54cm; Laterais: 2,54cm Como configurar as margens? No mesmo lugar que voce configurou o tamanho do papel, bastando que voce selecione a opçao de margens e insira as que desejar. 3. Insira numerações, cabeçalhos e rodapés O Word tambem permite que se insira numeros e informaçoes basicas de arquivo de maneira simples. O caminho – que novamente depende da versao e plataforma operacional que estiver utilizando – costuma ficar sob a opçao de “inserir”, no menu principal. Uma vez la, escolha a opçao de inserir numeros de pagina: e simples assim. A opçao para se inserir cabeçalhos e rodapes costuma ficar sob a area de “elementos do documento”, mas normalmente pode ser acessada quando se da um duplo-clique sobre a area onde costuma ficar o cabeçalho ou o rodape, na propria pagina que estiver editando. A partir daí e so escolher o tipo de texto que deseja inserir ou mesmo se deseja alterna-lo entre paginas pares e ímpares (por exemplo, deixando o título do livro nos cabeçalhos pares e o nome do autor nos ímpares). Nao ha regras editoriais aqui e nossa sugestao e que voce mesmo veja em livros que tiver a mao algumas opçoes e tome sua decisao com base nelas.

5. Trabalhe com quebras de página, não “enter”! Terminou um capítulo e deseja passar para a proxima pagina? A pior coisa que voce pode fazer e sair clicando em “enter”, no teclado, ate chegar a pagina seguinte. Por que? Porque qualquer ediçao mínima que fizer no texto demandara que voce o revise por completo para garantir que todos os capítulos nao tenham “se movido” quando voce acrescentou uma ou outra linha. Ao inves disso, seja pratico. Terminou um capítulo e deseja mudar de pagina? De um “enter” depois do ultimo texto, apenas para garantir, e depois va ao menu “inserir” e selecione a opçao de “quebra de pagina”. Pronto: isso garantira que cada capítulo comece e termine de maneira independente do anterior e do proximo e evitara erros do genero.

6. Insira índices dinâmicos E aqui que os estilos entram em cena. Cada texto que voce marcou como “título” sera devidamente entendido como título pelo Word. E daí? Daí que basta que voce abra uma pagina no começo do livro (usando a instruçao de quebra de pagina que comentamos acima, no item 5) e simplesmente selecione a opçao de “inserir” (no menu) “índices e tabelas” (ou, dependendo da versao do Word, apenas “índice”). Voce podera escolher o modelo do índice que preferir e, depois disso, magica: um índice automatico se formara, com numeraçoes automaticas, de acordo com a paginaçao em que cada título seu se encontrar. Ha, aqui, uma dica importante: o Word nao costuma manter o índice atualizado automaticamente. Assim, 4. Utilize os estilos de textos sempre que mudar qualquer coisa no texto, va ao índiIsso pode parecer besteira, mas acredite: nao e. Esti- ce, clique com o botao direito do mouse sobre ele e los de texto servem para facilitar todo o trabalho, in- selecione a opçao de atualizar. E simples assim. cluindo a formataçao de índices dinamicos. O caminho e simples: escreva o texto livremente, sem E depois de ajustar a formatação? se preocupar com formataçoes. Quando terminar, Bom… agora e escrever o livro! Perceba que essas seis aplique os estilos nos lugares certos. instruçoes sao simples, praticas, e podem ser seguidas Como? Selecione, por exemplo, o título do capítulo e, sem muito estresse. Mas fique atento a essas questoes em seguida, ache no menu a opçao de formatar e cli- de versoes. E possível que voce precise passear um que em estilos. Uma janela se abrira com uma lista pouco pelo menu do Word ate encontrar essas opçoes imensa de estilos. Seja pratico: selecione algum estilo que mencionamos aqui, mas nao se assuste: elas estade título (ou “heading”) para os títulos e o estilo rao la. “normal” para o restante do texto. Isso e o suficiente para escrever um livro? Claro que Siga assim para o livro inteiro. Voce vera ja como isso nao: o Word e apenas o programa por onde faze-lo. sera util.


Corrente d’ escrita

Dicas de português... milhoes de zeros atribuídos a alunos cuja entrada na universidade foi impedida por insuficiencia no portugues. E triste, mas necessaria exclusao. Como vai aprender quem nao domina a língua culta, se todas as disciplinas sao ensinadas em portugues? Esses textos foram escritos por ignaros e analfabetos? Nao! Foram e sao redigidos por profissionais competentes, a maioria deles ja com curso superior! Onde e como a universidade falhou na preparaçao? Como podemos evitar futuras derrotas? Como consertar a situaçao? Sera que escrevemos mal porque lemos pouco? Temos dificuldades porque nossa gramatica e muito complicada? O que podemos fazer para resolver o problema? A empresa Oficina das Palavras, com sede em Curitiba (PR), que administra nossos direitos autorais, de texto, voz e imagem, foi criada em 2005 para viabilizar nossos trabalhos de professor, escritor e conferencista, depois que nos aposentamos por tempo de serviço na Universidade Federal de Sao Carlos (SP). Tínhamos exercido atividades docentes ou sido professor por quase quatro decadas (1968 a 2003). E desde entao nao paramos de trabalhar. De 2003 a 2020, permanecemos vinculados a Universidade Estacio de Sa.

PORTUGUES: FALAMOS BEM, MAS ESCREVEMOS MAL. POR QUE?

O proposito da Oficina das Palavras e coordenar esforços para melhorar sempre o desempenho em língua portuguesa e suas literaturas nessas atividades, especialmente nos atos de ouvir, falar, ler e escrever.

Deonísio Da Silva *

Ja prestamos trabalhos importantes a universidades como a Estacio (RJ), no Rio e em outros estados da federaçao, a Unisul (SC), a editoras diversas, especialmente a Lexikon, "De onde menos se espera, daí e que nao sai nada", escreIbis Libris, ao grupo editorial Almedina, a radio Band News veu Apparício Torelly, Barao de Itarare. e a comissoes julgadoras de concursos, entre outros. O brasileiro e senhor de uma habilidade verbal impressioCuidemos da língua portuguesa, vítima de tentativas de nante. Nos estadios, nos restaurantes, nos bares, nas ruas e assassinato a tecladas diariamente na mídia. em muitos outros lugares, e facil comprovar que nao somos Fechemos este artigo reiterando a advertencia bemum povo silencioso. humorada do gaucho Apparício Fernando de Brinkerhoff A beira de copos, pratos e rostos, falamos com objetividade, Torelly, o Barao de Itarare: "De onde menos se espera, daí e clareza, desenvoltura e graça. Todos nos entendemos admique nao sai nada". ravelmente. Todos temos o que dizer e sabemos como dize Quem tem o gosto de ler escreve melhor. Ate mesmo sem lo. querer. O texto sai das teclas com naturalidade, tal como as Quando, porem, precisamos escrever, parece que a língua palavras saem da boca. nos assusta, as ideias travam e de nossas cabeças nao sai nada que mereça o papel. * escritor e professor, da Academia das Ciências de E facil reunir exemplos de que escrevemos mal. E so conLisboa e Doutor em Letras pela USP. Seu livro mais recente é sultar anuncios, editais, placas, memorandos, cartas, ofí"De onde vêm as palavras" (São Paulo, Editora Almedina, 18a cios, relatorios, petiçoes, sentenças. E em anos recentes as edição, 1.192 páginas). redaçoes do Exame Nacional do Ensino Medio (Enem) e os


Corrente d’ escrita


Corrente d’ escrita

Livros à venda—impressos narealgana@gmail.com

Canasvieiras—270 anos, retrata a história e as gentes que fundaram este distrito de Florianópolis/SC. Criado oficialmente a 15 de abril de 1835, o povoado já existia desde os primórdios da fundação do arraial Nossa Senhora do Desterro, em 1673, por Francisco Dias Velho. Recebeu um grande incremento populacional com a chegada dos primeiros açorianos em 1748. No tempo, o povoado estava integrado na freguesia de Santo António de Lisboa desde 1750. O seu nome deriva da existência na região de um grande canavial (cana-do-rei, ou simplesmente cana). Muitos escritores, particularmente Virgílio Várzea escreveram sobre Canasvieiras. Afonso Rocha dá-nos, com este seu recente trabalho, um novo olhar e uma previsão futurista do balneário mais famoso de Floripa.

Página 39


Corrente d’ escrita

Livros à venda—impressos narealgana@gmail.com

As mulheres, os homens, as crianças e os idosos; a comunidade LGBT; os negros, os índios, os ciganos, os imigrantes e todos os demais desprotegidos, são perseguidos, violentados, agredidos e estuprados... Nesta obra intimista, Afonso Rocha passeia-se pela sua própria experiência, mas também a de todos nós, como comunidade, para que se dinamize e reforce a forma de combater estas mazelas, estes crimes bárbaros (a pedofilia, estupro), já considerados o holocausto do século XXI.

Através de estórias imperdíveis, Afonso Rocha leva-nos até 500 anos atrás, quando os portugueses chegaram ao sul do Brasil, onde criaram família, cultivaram tradições e culturas que viriam a “marcar” a cultura catarinense. Sangue Lusitano é a história do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, de suas vilas e cidades e de seus povos (indígenas, portugueses, negros e outros que se lhes juntaram posteriormente). Um livro a não perder.

Página 40


Corrente d’ escrita

Livros à venda—impressos narealgana@gmail.com Olhos D’Água—Histórias de um tempo sem tempo, relata-nos as vivências do povo português entre 1946 e 1974 e a sua resistência à ditadura e ao fascismo do regime de então. Por outro lado, configura uma autobiografia do autor (Afonso Rocha) nas suas andanças pelo período escolar, pelo serviço militar; a guerra colonial em África; a emigração em França; a resistência, até à revolução dos cravos... Um livro a não perder, sobretudo para quem gosta de história.

Trovas ao Vento, é uma coletânea de poemas e outros pensares, enriquecida com o contributo de outros poetas convidados naturais do Brasil, Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Angola e da Galiza, como expressão do pensar lusófono. Um encontro de expressões diferentes, manifestadas pela língua comum que nos cimenta e faz pensar português. Um livro de cabeceira, não para ler, mas para pensar e refletir.

Página 41


Corrente d’ escrita

Número 37 - setembro 2020

I N É D I TO S n a a m a z o n . c o m

Casa dos Livros e da Leitura

Página 42


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.