Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021
Corrente d’escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil
Fundado por Afonso Rocha—julho 2017
www.issuu.com/correntedescrita
Página 23
Mundo
182 552 180 (infetados) 3 957 865 (mortos) Brasil
18 557 141 (infetados) 520 095 (mortos)
Censura ou racismo?
(pag. 14)
Corrente d’ escrita
Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha
Amigo Afonso! Obrigada pelo envio dessa nova ediçao da Corrente d’Escrita. Primeiramente gostaria de agradecer a inserçao da Antologia 2020 da ALBSC Seccional Balneario Piçarras, na ediçao anterior. Ficamos gratos e lisonjeados pelo rico espaço que destes ao nosso trabalho literario. E esta ediçao 44 esta recheada de ricas publicaçoes, e aqui destaco a abordagem sobre a Academia de Letras de Joinville, no brilhante comando da escritora e jornalista Maria Cristina Dias. Obrigada. Abraço fraterno! Cris Coutinho/Piçarras Sim, prezado Afonso, se posso dispor de espaço. Estou propenso a fazer um comentario sobre a linguagem na escrita de ROMANCE. Em cima do artigo publicado no Corrente nº 41 (fevereiro 2021), em "Dicas de Portugues", titulado "Gramatica
Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história a língua portuguesa e a cultura em geral. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário. O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.
perfeita nao garante um texto perfeito". Eu posso provar: deve revisar Romances, somente quem escreve romances, e mais ninguem. No meu caso, uma vez um revisor, em meu original, foi aplicar a gramatica, acabou descaracterizando totalmente o texto. Ele escreveu OUTRO livro. Isto e um alerta para quem escreve romance, manda fazer a revisao e aceita todas as correçoes depois vai verificar que seu livro ficou irreconhecível. Breve escreverei sobre isto. SDS
historia a ser amplamente divulgada, para que saibamos o porque das nossas mazelas. E a "Santa inquisiçao" entao, o que dizer do nosso catolicismo dominador pela força e pelo fogo!!! Mas como a Isabelle Valadares ... eu nao havia lido nada igual a forma humorística e bem destrinçada com que ela escreve. Esse foi um novo aprendizado. Muito grato Pansera/Chapecó
Rudney Otto P./Florianópolis Excelente, Cada vez melhor confrade Afonso. E o chocante e o artigo de Tiago Cordeiro e sua historia apos a independencia do Brasil. Maravilhosamente expressa e impressa o que mais chora era a proporçao da populaçao de 1/3 de brasileiros o restante 2/3 eram escravos, índios e mestiços. Mas isso nos leva a refletir que por essas e outras razoes somos a Patria abençoada, a Patria do Evangelho. E pior ainda e a quantidade de analfabetos, pode-se dizer contrariamente: so 10% eram alfabetizados, daí o resultado dos desmandos políticos desde esse recuado tempo na historia, pois 90% so podia obedecer. Essa e uma
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Editorial
Corrente d’escrita
Número 44—junho 2021
Corrente d’escrita está de volta.
Nesta edição de julho incorremos, voluntariamente, em dois “pecados”. Primeiro, trazemos um assunto que, não sendo genuinamente literário, não podemos, pela sua gravidade generalizada, deixar de abordar: trata-se da situação de pandemia que o Brasil, Portugal e o resto do mundo estão a enfrentar. Particularmente no que tange ao Brasil, com sua grandeza em termos territoriais e populacionais, não poderíamos deixar de tirar as devidas lições, 15 meses após o início desta catástrofe, sobretudo pelo descaso, irresponsabilidade e falta de decoro com que a situação tem sido encarada pelos mais altos dignitários de cargos públicos. E segundo, porque “retiramos” a exclusividade do Senadinho Literário de só trazer à estampa entrevistas com escritores e outros agentes literário que se exprimam em português. Mas a escolha é mais que merecida. Hoje, trazemos para vós, o Real Gabinete Português de Leitura, do Rio de Janeiro, um dos mais importantes baluartes literários do mundo lusófono. Também neste número lamentamos a perda de mais um notável homem da cultura, da literatura e das artes, o acadêmico Rodrigo de Haro, que nos deixou no passado dia 1 de julho, aos 82 anos de idade. Haro era membro da Academia Catarinense de Letras (cadeira 25), desde 2001; foi desenhista, pintor, poeta, contista, muralista, tendo integrado os movimentos artísticos do grupo Sul e do GAPF. Nasceu em Paris (França), mas viveu a maior parte de sua vida em Florianópolis/SC. Neste Corrente d’escrita contamos com a habitual colaboração dos escritores Oldemar Olsen Jr, Luiz Carlos Amorim, Donald Malschtzky, Pedro Eugênio Pra Baldi; as nossas rúbricas habituais, com um recorte sobre os campos de concentração que, no tempo da segunda grande guerra mundial, existiram no Brasil; a escritora Carolina Maria de Jesus; a venda de esposas, depois de mortas; a mais famosa brasileira de Portugal, Carmen Miranda, como referido noutro espaço, o texto de Afonso Rocha sobre as lições a tirar sobre a atual pandemia no Brasil e no mundo. Como colaboração entre a Corrente d’escrita e o Clube der Autores trazemos o artigo como construir uma linda capa para seu livro e ainda, as indispensáveis dicas de português, em colaboração com o professor e escritor Deonísio da Silva. Boas leituras. Afonso Rocha
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Vida/Atividade na Academia
Por falta de quorum, a ACL nao conseguiu eleger nenhum ocupante para as cadeiras 07 e 22. Estatutariamente, sao exigidos, em segunda votaçao, 19 votos para que um candidato seja eleito, o que nao aconteceu no passado dia 7 de junho, em Assembleia Geral Extraordinaria—via virtual. De acordo com as normas estatutarias, sera, posteriormente, publicado novo edital.
Lamentamos o fato de a ACL, a Academia Centenaria do estado, nao ter eleito um dos candidatos as cadeiras em disputa. A ACL, fruto de seus estatutos desajustados e de regulamentos processuais demorados, paralisa a sua propria atividade literaria. Ja nao e a primeira, a segunda e ate a terceira vez que tal acontece, e nao sera a ultima, se nao se alterar, pelo menos, o estatuto. Alem de todo o processo, desde a publicaçao do Edital ate a efetivaçao do voto, o processo e demorado, desajustado e muita coisa precisa ser revista. Muitos academicos nao comparecem nas sessoes e das quarenta cadeiras, seis estao vagas, o que, a prazo, pode conduzir a paralizaçao e desincentivo a propria literatura. Ver comentário pag. seguinte
do dia 4 de junho, para a posse de dois novos membros, Jose Andre Gesser e Sergio Silva Schulenburg, que ocupam, respetivamente, as cadeiras 03 e 18. Na oportunidade, a Academia realizou um Pedagio Literario, frente ao Casarao Born que abriga a sede da Academia, com o objetivo de fomentar os habitos de leitura do cidadao. Na foto, embaixo, os dois novos academicos com seus diplomas e os membros da Academia que puderam estar presente.
Tambem a Academia de Letras de Biguaçu/SC realizou, tomando os necessarios acomodamentos devido a pandemia, uma sessao solene, no passaPágina 4
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Nos relacionamentos que temos tido com as muitas academias de letras existentes em Santa Catarina e, sobretudo, com as nossas duas candidaturas a Academia Catarinense de Letras (ACL), bem como com a militancia na Academia de Letras de Biguaçu/SC e na Academia de Artes, Letras e Ciencias de Cruz Alta/RS, achamos oportuno avançar com algumas ideias que nos parecem pertinentes. Primeiro - O que deve ser uma Academia de Letras? E nosso entendimento de que entrar numa Academia nao e um fim em si; um deposito de capacidades que atingiram seu topo; um palanque de escritores lustrosos que "arrumaram as chuteiras” em fim de carreira; e, muito menos, uma vitrine onde se exibam títulos, medalhas, diplomas e outras honrarias. As Academias sao um palanque maior onde os seus membros tem maiores oportunidades de mostrar o seu real valor; uma porta aberta com maior visibilidade para a sociedade, a comunicaçao social, os poderes publicos e privados. Ou seja, o seu trabalho literario ou artístico, a sua atividade, deve ser, permanente, responsavel e mobilizadora para toda a comunidade. Uma Academia de portas fechadas ou sem atividade visível, sera como uma academia inexistente. Segundo – Qual o papel dos acadêmicos? Decorrente do que foi dito, as Academias de Letras, como seu nome indica, sao compostas por escritores atuantes e nao por personalidades e profissionais de outras areas. Nao faz sentido admitir um membro que nao produz, que nao escreve, que nao intervem no meio literario. Do mesmo modo nao faz sentido atribuir uma cadeira a uma personalidade por ser bem-falante, político, senador, deputado, vereador ou prefeito, ou entao porque escreveu uma boa tese de mestrado, de conclusao de curso, de partilha de bens. Um membro de academia escreve—e tem escrito tao pouco — romances, contos, cronicas, ensaios, poesias, etc. Simultaneamente, ate pode fazer as duas coisas, mas o que determina a sua entrada numa Academia deve ser a produçao e atividade literaria e artística. Terceiro – Regras de admissão As Academias devem ter regras de admissao claras, rígidas, mas funcionais e acessíveis. Tomemos o caso da ACL. Nos seus estatutos exige-se que o candidato, para entrar, obtenha numero de votos superior a 20 (em primeira votaçao) e a 19, numa segunda votaçao entre os dois mais votados na primeira. Numa Academia com 40 vagas, dificilmente um Página 5
candidato recebe mais que os 20 votos e, mesmo na segunda ronda de votos, os 19 votos requeridos pelo estatuto. Ate por que sera milagre que todos os 40 membros votem, tendo em conta as vagas (atualmente sao sete), doenças, ausencias varias, etc. Neste caso, e ate porque a ACL e a NOSSA Academia de nível estadual, deve, em meu modesto entendimento, alterar esta clausula estatutaria. As Academias tambem devem rever as normas e as regras de admissao. Hoje, no tempo da Internet, grande parte do processo, senao todo, deve decorrer atraves meios virtuais. Acho importante o candidato ter de fazer prova da sua produçao literaria com a entrega física de, pelo menos, um exemplar de cada uma de suas obras para efeito de arquivo bibliografico, mas acho desnecessario ter de apresentar dois ou tres exemplares desses trabalhos. Ate porque, esses livros dificilmente servirao de apoio a votaçao no processo de admissao. Hoje, o candidato pode, atraves de e-book/PDF, dar a conhecer a sua obra, atraves de um clik. Quarto – Dignificar a Academia e os seus membros E meu entendimento de que ha dois momentos de vital importancia para as Academias e para os academicos. Serao eles a sessao solene de posse e a sessao solene de saudade. Nem uma nem outra devem desmerecer acuidade e atençao. Nao sao atos banais como, infelizmente, tenho assistido. Chamam-se sessoes solenes precisamente porque sao SOLENES, marcam momentos importantes na vida e na memoria do escritor. E todos os membros devem, em meu entender, participar nobremente nestes atos. Estas sessoes nao devem, nao podem, ser banalizadas com um aperto de mao, uma referencia meio escondida no decorrer de outra atividade qualquer. O formalismo, o protocolo, existe... Por isso deve ser cumprido. Quinto – Academia e acadêmicos de portas abertas O escritor deve tirar a Beca, o Fardao e interagir na sociedade, vibrar com ela, atuando no sentido de mexer com as consciencias, por vezes adormecidas. O escritor deve ser um ator, e nao um espectador; nao deve temer sujar as maos; ele e um intranquilo pensador, um criador, um "mexiriqueiro" que quer construir com ideias novas, criativas, motivadoras. Um escritor, que se tem por imortal, so atinge essa nobre categoria, nao por entrar na Academia, mas porque escreve, produz, deixa obra feita. E infelizmente, a obra, tem sido muito pouca. Espero que estas reflexoes sirvam para levar o debate a todos que se preocupam com os baixos níveis de leitura, cultura, formaçao do cidadao; a todos que militam numa das Academias existentes ou que nelas queiram entrar. Afonso Rocha Escritor
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Fica na linda cidade do Rio de Janeiro que já foi capital do país e ainda continua sendo o maior centro turístico do Brasil. Chama-se Real Gabinete Português de Leitura e foi fundado em 1837 por um grupo de 43 imigrantes portugueses. Esta é a sua história...
Real Gabinete Português de Leitura História do Real Gabinete
Português de Leitura Por: Felipe Lucena
co e o neomanuelino. Corrente que evoca o exuberante estilo gotico-renascentista vigente a epoca dos descobrimentos portugueses, denominado “manuelino” em Portugal por haver coincidido com o reinado de D. Manuel I (1495-1521).
Em 2014, o Real Gabinete Portugues de Leitura foi eleito pela revista Time uma das vinte bibliotecas Maior acervo de obras lusitanas fora de Portugal, mais bonitas do mundo. A lista inclui predios historio Real Gabinete Portugues de Leitura tem quase dois cos como a antiga biblioteca da Trinity College, em seculos de riquíssimas memorias. Eleita uma das vinte Dublin, a biblioteca de Alexandria, no Egito, a famosa bibliotecas mais bonitas do mundo, essa construçao so poderia estar na Cidade Maravilhosa. Em 1837, um grupo de 43 emigrantes portugueses reuniu-se na casa do Dr. Antonio Jose Coelho Lousada, na antiga Rua Direita (hoje Primeiro de Março), nº 20, e resolveu criar uma biblioteca para ampliar os conhecimentos de seus socios e dar oportunidade aos portugueses residentes no Brasil. Aí nasceu o Real Gabinete Portugues de Leitura. Com mais de meio seculo de tradiçao no mercado imobiliario do Rio de Janeiro, a Sergio Castro Imoveis – a empresa - resolve contribui para a valorizaçao da cultura carioca. O atraente predio da atual sede do Gabinete foi projetado pelo arquiteto portugues Rafael da Silva e Castro e erguido entre 1880 e 1887. O estilo arquitetoniPágina 6
Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021 biblioteca publica de Nova York, entre outros.
exemplar da ediçao “princeps” de Os Lusíadas, de CaA fachada do predio foi trabalhada por Germano Jose moes (1572), as Ordenaçoes de D. Manuel (1521), um Salle em pedra de lioz em Lisboa e trazida de navio manuscrito da comedia “Tu, so tu, puro amor” de Mapara o Rio de Janeiro. A inspiraçao da frente do edifí- chado de Assis, e muitas outras obras. cio veio do Mosteiro dos Jeronimos de Lisboa. Machado de Assis tem outra historia que o liga ao Real As quatro estatuas que se encontram proximas ao Re- Gabinete Portugues de Leitura. As cinco primeiras al Gabinete Portugues de Leitura sao de: Pedro Alva- sessoes solenes da Academia Brasileira de Letras, sob res Cabral, Luís de Camoes, Infante D. Henrique e Vas- a presidencia dele, foram realizadas na Biblioteca. co da Gama. Os medalhoes da fachada retratam, res- Bonito e cheio de conteudo, o Real Gabinete Portupectivamente, os escritores Fernao Lopes, Gil Vicen- gues de Leitura pode ate ser uma casa portuguesa, te, Alexandre Herculano e Almeida Garrett. com certeza, mas tem muito do Rio de Janeiro. Aberta ao publico desde 1900, a biblioteca do Real Gabinete possui cerca de 350 000 volumes, nacionais e estrangeiros. Encontram-se obras raras como um
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Leituras...
Em “Voce Mulher Ainda Melhor”, a jornalista Ana Lavratti propoe um mes de transformaçao para o leitor Ana Lavratti fez uma seleçao de 30 mulheres, com contundente espírito empreendedor, para perenizar suas historias por meio de um livro de luxo: “Voce Mulher Ainda Melhor”. Cada personagem, cuidadosamente escolhida para compor este mosaico da força feminina, mantem estreito vínculo com Santa Catarina, como Sonia Hess de Souza, ex-presidente da Dudalina e vicepresidente do grupo Mulheres do Brasil, que reside em Sao Paulo mas e natural de Luiz Alves. Da vicegovernadora do Estado, Daniela Reinehr, nascida em Maravilha, a argentina Valeria Blanco, medica humanitaria que decola de Florianopolis para as regioes mais desassistidas do mundo, onde contribui voluntariamente nos mutiroes da Operaçao Sorriso, todas as mulheres retratadas no livro revelam muito mais do que o currículo. Ao longo da pandemia, abriram seu coraçao, revivendo Página 8
emoçoes, liçoes, dificuldades e triunfos, os cuidados com a saude e o espírito, como conquistaram a posiçao de liderança e como contribuem com o coletivo, em relevantes açoes sociais. A sugestao e que os 30 capítulos sejam degustados ao longo de um mes, contagiando o leitor de garra, coragem e proatividade. Entre as personagens, sete sao vencedoras do Premio ACIF Mulheres que Fazem a Diferença, duas sao vencedoras do Premio Sebrae Mulher de Negocios, e quatro sao Embaixadoras do Sebrae Delas. Com acabamento de luxo, em costura e capa dura, o livro tem design de Marcela Fehrenbach, finalista do Premio Jabuti de Literatura, e prefacio de Leticia Wierzchowski, das maiores escritoras da atualidade. BIO - Jornalista e Mestra pela UFSC, Ana Lavratti tem 30 anos de experiencia em TV, jornal, assessoria de imprensa e produçao literaria. E autora de seis livros e de 13 cases sobre mulheres empreendedoras premiados pela ACIF, ACIJ e SEBRAE. Sua trajetoria profissional inclui coberturas no exterior, cerimonial para a presidencia da republica e colunas sociais nos jornais Diario Catarinense e Notícias do Dia. Livro à venda na Essen Vinhos, em Florianópolis, ou pelo e-commerce www.loja.bioart.eco.br, a R$ 40,00. cada. Informações pelo www.analavratti.com.br
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Um trabalho de Ana Janete Pedri, com ilustraçoes de Marcos Alberto Gomes e traduçao de Aline Montiel (Ingles e Frances); Fernando Pita (Esperanto); Haneli Hass Lüdtke (Espanhol e Alemao); Neide Jane Zimmermann (Italiano) e revisao, do Italiano, de Georgia Cagneti. Ed. Areia, 2020—www.editorareia.com.br Página 9
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Primeira noite escapei, fui deitar depois que minha esposa ja estava dormindo, mas no segundo dia, apos um dia inteiro gelado, frio, alias para ser bem justo com a friagem estava horrorosamente frio, eu sei por que o Alemao do boteco estava com um casaquinho social por cima da camisa de manga curta de sempre. Estava aberto o casaquinho e nos frequentadores do distinto estabelecimento batíamos queixo com tres blusas e tomando cachaça, calculo que se o casaquinho dele estivesse fechado, teríamos morrido todos de frio, menos ele e claro! Cheguei em casa e nao teve escapatoria, a mulher perguntou se eu queria comer algo, disse que estava cheio, ela retrucou: - sei, tu ta cheio de cachaça mundiça entao va tomar banho! Zulivri que desculpa eu tinha? Nao teve jeito, me abracei com um pijama e um par de meias limpos, tirei a japona e o casaco, vesti um velho, mas felpudo e quentinho roupao e andei em direçao ao banheiro como um condenado ao ser conduzido ao cadafalso. Parei na porta do banheiro, fiz a cara mais piedosa do mundo e voltei so a cabeça, em direçao a minha algoz. Nao me deu nem bola ja tinha entrado no quarto e ligado a TV pra ver os dramalhoes novelescos, alheia ao meu proprio drama. Entrei, encostei a porta tirei o roupao e imediatamente abri o chuveiro pra ir esquentando a agua enquanto eu me livrava das tao quentinhas vestes. Mas a “guerra” começou, como se estivessem de espreita varios pingos gelados pularam no meu braço como agulhas hipodermicas congeladas, recolhi o braço instantaneamente e pus-me a esfregar com a outra
mao para afastar a desagradavel sensaçao, ja maldizendo aquele traiçoeiro aparelho, mas eu sabia que o jogo estava um a zero pro chuveiro. Com a mao por tras do jato d’agua fui experimentando, fechando, fechando e quando a agua parecia quentinha o maldito se desligou. Que odio, dois a zero pra ele. Tive que começar tudo novamente ate que parei antes de desligar, vitoria, eu estava começando a reagir no jogo 2x1 nessas alturas. Entao me despi e so entao me dei conta, droga esqueci o chinelo de tomar banho. Chamo a “braba”, nao chamo a “braba” para pedir que me traga os calçados. Optei pela segunda opçao porque achei a mais segura, seria estultícia tentar tira-la da frente da TV. Fui andando estoicamente pela geleira do chao do banheiro, como um valente pinguim num iceberg. Me enfiei embaixo do chuveiro e que maravilha, aquela agua quentinha a deslizar e aquecer minha cabeça, tronco e membros, delícia, cada pedacinho de meu queria se espremer embaixo daquele exíguo filete de agua quente. Ainda por cima o compressor do chuveiro e novo, e este que comprei porque o outro queimou, nao tem botao para desligar entao e oito ou oitenta. Mas apos muito sabonete e esfregaçao senti que eu estava me queimando naquela agua quase em ponto de fervura. Entao resolvi abrir um pouquinho o registro, so para terminar de me enxaguar, e o sacana do chuveiro estava justamente esperando esta oportunidade pra me sacanear novamente. Despejou um jato de agua fria que me gelou ate a alma. Fui ajeitando o registro ate que consegui deixar a agua quentinha novamente. Fui para baixo do jato d’agua e me esquentei, fiquei bem quentinho e desliguei o registro. Me sacudi um pouco dentro do box, tirei a agua do rosto e levantei os olhos para pegar a toalha que deveria estar pendurada no box. Que horror, para minha >>> Seg. pg. 12
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COMPORTAMENTOS
vando para ver se ele nao muda de ideia e revido “como e que voce sabe?”. Ele responde “o senhor pede sempre a mesma coisa”. Tenho vontade de rir, mas me contenho e descubro que, na verdade, quem tem de mudar sou eu e nao ele e me surpreendo afirmando “esta bem, e isso mesmo”... Ainda bem que nao se podem ler pensamentos porque senao, o local seria pequeno para tanta gargalhada.
Faz algum tempo que me percebo tentando mudar de habitos. E essa “coisa” que faz com que voce entre no cafe e procure o mesmo lugar no balcao. Alias, ja começa com a escolha do mesmo local para tomar o dito breakfast. O simples fato de estar dizendo isso revela que nao estou conseguindo exito nessa empreitada.
O cafe chega e fico observando a superfície do líquido. Tem algo estranho. Nao identifico logo. O leite parece estar manchado com tinta marrom. Vou acompanhando o traço, parece uma letra, coisa interessante, penso, sigo vendo outra letra e mais outra, daqui a pouco me dou conta que esta escrito “Bom Dia”. A saudaçao esta de ponta cabeça, a alça da xícara no lado esquerdo, a moça que teve a ideia, brilhante iniciativa, acrescente-se, deveria ser canhota... Olho para o interior do balcao e digo em voz alta, “bonito, gostei, obrigado!”.
Um artista, me dizem, deve estar sempre “aberto” ou “receptivo” para o novo, o inusitado, o diferente. No que concordo, porem, uma ideia e a concordancia pura e simples e outra, a iniciativa para levar adiante atitudes que denotem, na pratica, tal evidencia. Ou As duas atendentes me devolvem um sorriso de satisseja, da busca pelo diferente, pela novidade, pela cons- façao e agradecimento pelo trabalho, que saiu do contante (re)descoberta do obvio, enfim, estou tentando. vencional e foi prontamente reconhecido. Sei que incorporar certos habitos nos deixa mais pre- Aí me ocorreu observar os outros clientes para ver a guiçosos porque e mais facil repetir açoes conhecidas atitude de cada um. O casal ali a mesa parece em lua que tentar descobrir outras para se chegar a um mes- de mel, nao percebe nada, jogam o sache de açucar de mo objetivo. Afinal, qual seria a importancia pratica maneira convencional na xícara... O outro, um executide beber um cafe da manha no boulevard da Lagoa, ou vo, poe a colher na xícara sem desgrudar o olho do na estrada do Rio Tavares? O que e que muda? Nada, jornal... >>>> pag. seguinte repito sem refletir muito. Outro dia, como faço sempre (eu nao disse que nao estava adiantando nada?) fui ate uma panificadora distante uns dois km da minha casa, poderia ter ido a pe, mas o tal vento sul nao brinca e fiz o tradicional percurso do mesmo jeito. Como e de praxe, sentei-me no mesmo canto do balcao e o atendente pergunta “vai o de sempre?”... Olho para o sujeito enquanto ele repete “o bauru com uma media?”... Continuo obser-
Para divulgar (grátis) seus trabalhos no
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Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021 incredula constataçao eu tinha mais uma terrível decepçao, e outro desafio pela frente! Eu no box todo molhado naquela friaca e minha toalha la estava, pendurada na porta do banheiro a exatos 3km de onde eu estava. Bom, pelo menos naquela situaçao parecia que estava a uns 3km, porque eu precisaria atravessar aquele glacial para alcança-la. Mas tomei coragem, nao havia nada mais que pudesse ser feito, entao como disse tomei coragem e fui garbosamente caminhando impavido, ou melhor para nao faltar com a verdade, fui me encolhendo e tremendo de frio, mas sonhando com o macio aconchego da toalha. Apos horas caminhando naquela sofrencia polar, peguei a toalha e me envolvi nela triunfante. Meeeellll Deugi que terror, devido ao vapor que havia se formado no ambiente e se condensado na superfície da toalha, ela estava geladíssima. Me esfreguei o maximo e o mais rapidamente que consegui para me vestir tentando me agasalhar com meu aconchegante pijama as meias e o roupao! Se hoje estiver um frio incivilizado como ontem, eu prometo que vou dar uma de homem civilizado do primeiro mundo como franceses ou ingleses, e so tomo banho quando o tempo esquentar. Dou uma disfarçada e vou engambelar minha mulher, nao vou tomar banho, nao vou mesmo, esta decidido (se ela deixar). Que friozinho gostoso, fala o turista com vinte blusas touca, cachecol e luvas enrolado em um cobertor. Vai toma banho lazarento vai, duvido!
<<< Olsen Jr E a maldiçao do habito, penso, que faz com que nao se percebe aquela sutil gentileza. Quando estou saindo, a porta esta fechada por causa do vento, observo a mulher levemente atrapalhada com uma criança no colo se aproximando pelo lado de fora, abro a porta e fico esperando que entre. Ela passa por mim, poe a criança no chao, e antes que se afaste, exclamo “nao tem de que”... Ela me olha surpreendida e diz “desculpe, obrigada”. Volto la, apos uma viagem, alguns dias depois, a senhora do caixa me lembra da observaçao que fiz para a mulher com a criança... Sorrio e digo que certos habitos nos escravizam tanto quanto a ma educaçao. Peço o cafe (o de sempre) e fico surpreso porque nao vejo o “bom dia” escrito com chocolate em cima do leite, devolvo a xícara para a correçao, e sem o pretender, acabo de incorporar um novo habito, mas digo para as balconistas considerarem o gesto como um elogio.
Pedro Eugênio Pra Baldi Palhoça/SC
Elas riram, agradecidas... Huumm! Exclamo, menos mal!
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Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021 Por: Maria Fatima Ferreira Vitorio
Nosso Rio de Janeiro era assim. VC SABIA? No reinado de DOM PEDRO, a regiao de Jacarepagua/RJ eram fazendas onde estavam situadas as lavanderias da Corte Imperial. Por isso temos: O "Tanque", local das lavagens.
Fazenda antiga em Taquara—Jacarepaguá
O "Pechincha", era um lugar onde o povo ia pechinchar para comprar as roupas usadas que a corte nao queria mais e mandava vender ao povo. A "Freguesia" era o lugar onde
vendiam os produtos de limpeza geral e das lavagens das roupas da corte. "Ta a Quarar" era um local onde as lavadeiras traziam as roupas para quarar ao sol, porque eram campos grandes e ensolarados. Que com o tempo, passou a se chamar de "Taquara". O "Campo do Anil" era reservado so para as roupas brancas ficarem mais claras. E a "Praça Seca" , era o lugar onde se passavam as roupas com os ferros a carvao e la eram entregues nas carruagens que iam buscar as roupas limpas... Proximo de la ficava a Vila de "V alqueires" que era de um comerciante. "Cinco" alqueires, que por ser em algarismo romano Cinco = V Ficou, com o tempo sendo chamada de "Vila Valqueire". Sao historias do Rio de Janeiro. E sempre o povo que consolida os nomes dos locais; e o seu uso acaba por institucionalizar o seu nome.
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Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021
Todo ESCRITOR é leitor?
Luiz Carlos Amorim * Sou fundador e coordenador de um grupo literario ha mais de quarenta anos e faço parte de outros. Sou detentor da cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras, tambem. E, nos, participantes dessas agremiaçoes, gostamos muito de ler, alem de escrever, e lemos as obras de nossos pares, lemos os consagrados, ate bestsellers. Nao por obrigaçao, mas para conhecer o trabalho do proximo e deliciar-se com muita criaçao literaria de boa qualidade que esta sendo produzida por aí afora. Sou da seguinte opiniao: se eu nao ler, como esperar ser lido? E se nao ler, como saber o que e bom?
nas de grupos, alguns com milhares de participantes. Sim, milhares. Alguns tem quase mil membros, outros mais de mil, outros dezenas de milhares. Afinal, pensei, se sao escritores, sao leitores tambem. E tenho encontrado algumas coisas muito boas nesses grupos. Tem muita coisa la, nem sempre da pra ler tudo, mas faço questao de ler um pouco e curtir, se gostar. O que me assustou e que, verificando os posts, percebi que as curtidas sao mínimas, comentarios, entao, menos ainda. Muito poucos. A prosa, os poemas, etc. postados sao muitos, mas o que parece e que as pessoas, os “escritores”, so colocam conteudo la, mas nao olham o que foi colocado que nao e deles, nao leem o que foi publicado pelos seus pares. Existem muitos posts que, infelizmente, nao tem sequer uma curtida. E nao e neste grupo ou naquele, e na maioria. Estou acostumado a ler, curtir, comentar, tanto no Facebook como no Instagram, como em blogs. Entao foi um choque perceber que muitos “escritores”, no virtual – pois ja percebi que no real isso tambem acontece -, escrevem e publicam, esperam ser lidos, mas nao dao reciprocidade, nao apreciam a obra dos outros escritores. E muito triste ver tanta coisa na vitrine e ninguem, nem mesmo os escritores que as produzem, dando importancia a isso tudo. Uma pena.
Com o advento da internet, a possibilidade de publicar, de colocar o que se escreve a mostra, para poder ser lido, e muito grande. Os espaços sao muitos, os grupos de escritores nas redes de relacionamento, as revistas on line, os blogs e portais literarios dao guariComo ser escritor sem ser leitor? da a quase tudo que se escreve. Quem quiser publicar, o espaço virtual e amplo e democratico. Nao vamos entrar no merito da qualidade, pois a internet aceita quase tudo. O que me tem assombrado e que, apesar do espaço virtual ser democratico e uma quantidade incomensuravel de escritos ser publicada todos os dias, a quantidade de leitores nao acompanha o ritmo da produçao. E nao falo do leitor comum, aquele que e so leitor, que nao escreve. Falo do leitor escritor, do “escritor” novo, aquele que escreve e que publica, mas que nem sempre le os seus pares.
Existem muitos “grupos” no Facebook e colocam a gente em alguns deles sem nos consultar. De muitos eu caio fora. Mas dos grupos de poesia, de literatura, eu nao saí, mesmo que me tenham incluído aleatoriamente. Afinal, e o nosso meio, sao grupos de gente que * Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbraescreve, como a gente. Entao, ja que estou nos grupos, sileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 40 anos de literatura neste ano de 2017. resolvi interagir, publicando poemas, artigos sobre http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br literatura publicados em jornais, cronicas. Sao dezePágina 14
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Sementeiras de carinho
Igor, de Camboriu, que entende tudo por um vies absolutamente logico, o abraço lusitano da Marina, cedinho, antes de ir a escola e os parabens, via vídeo, do Matias, que me apresentou seus amigos, e do Benjamin, num parque em Nova York, sob um calor de mais de 32 graus. Centenas de mensagens nas redes sociais e de telefonemas completaram as lembranças.
Deve ter sido a tristeza da constante preocupaçao com tudo por causa da pandemia, mas ha anos nao me sentia tao grato pelas demonstraçoes de carinho recebidas. Eu, que sou meio crítico com a repetiçao de mensagens, dei-me conta de quanto e bela e abrangente a palavra “parabens”, simples, direta e carinhosa. Alem dela, cada sentença inesperada, cada elogio muitas vezes nao merecido, mais do que mexer com o ego, afagou o coraçao, ninou os tempos Na mesma epoca – a partir de 1962 - , o canadense cansados para que Herbert Marshal McLuhan cunhou a expressao: se revigorassem. “Aldeia Global”, referindo-se ao papel da tecnologia no Foi apenas uma encurtamento de distancias que levaria o Planeta Terdata para quem ja ra a um espaço tao interligado que reduziria tudo a viveu muitas, mas funcionar como uma pequena aldeia. O que parecia tornou-se especial uma ilusao, hoje e nosso dia a dia, tao comum que caugraças as semensa espanto pensar num mundo diferente. teiras que recebi Na semana passada, ao fazer 69 anos, entre outros, espalhadas. recebi presentes de minha filha e de meu genro, morando em Portugal. Compraram por la de uma empresa americana um livro impresso no Brasil e de uma empresa brasileira um vinho portugues, ambos entregues aqui pelos Correios. A Cida, aqui comigo, comprou de uma empresa nacional que contratou outra que o trouxe ate aqui. Em tempos pos-1964, melhor, pos-1968, quando aconteceu a segunda Revoluçao Francesa, buscavamos nossos caminhos, crentes de que havia varios, mas os nossos eram os melhores. Mais que ídolos, encontravamos conteudo no que eles diziam. Bob Dylan, entao um jovem muito jovem e talentoso, cantou o obvio, numa letra primorosa: “For the times they are a -changin...” acrescentando: “ou voce afunda como uma pedra”.
As felicitaçoes foram uma outra historia longa, prazerosa, a comprovar a aldeia global: ja cedo, numa chamada de vídeo transoceanica da Debora e continuando pelos netos: um beijo no celular enviado pelo
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Conheça um pouco sobre essa história
Casos com História Páginas do passado
Campo de concentração na Amazônia Muitas vezes nem mesmo sabemos que houve no Brasil campos de concentraçao. Mas, quando o Brasil acabou com as relaçoes que mantinha com os países do eixo (Alemanha, Italia e Japao) no ano de 1942, os imigrantes dessas naçoes passaram a ser enviados a campos de concentraçao. Os campos de concentraçao ja existiam no Brasil onde
Campos de concentração no Brasil Campos de concentraçao no Brasil para japoneses, italianos e alemaes: eles existiram (nem temos saudades) e quase ninguem sabe. Lu Yama A.
tinham sido presos anarquistas e capoeiras no ano de 1922. Na Amazonia existiu um desses campos de concentraçao para japoneses. La, varias famílias imigrantes do país foram enviadas e presas. O campo estava no município de Tome-Açu, a 200 quilometros de Belem, capital do estado do Para.
Acredita-se que ficaram confinadas ali 480 famílias de japoneses e eram considerados como prisioneiros de guerra. Os bens dessas famílias tambem foram roubados pela polícia sob ordens do governo. Eles nao tinham qualquer comunicaçao com o mundo exterior. E qualquer reuniao que fosse feita entre mais de tres Tratava-se de um período de guerra em que o gover- japoneses era fortemente reprimida. no brasileiro proibiu que se falasse outros idiomas e O campo de concentraçao na Amazonia so acabou com começou a perseguir alguns imigrantes, entre eles os o final da guerra. Muitas famílias saíram de la sem najaponeses. da e tiveram de começar uma nova jornada para reOs campos de concentraçao no Brasil para japoneses e algo raramente falado ate mesmo por historiadores e pesquisadores. Entretanto, ele existiu e tinha como objetivo deixar os japoneses e seus descendentes presos em nome da segurança nacional.
construírem suas vidas. Outro campo de concentraçao no Brasil para japoneses foi sediado na Granja do Canguiri, no estado do Parana. Ali, os pais eram separados dos filhos e forçados a trabalharem. Campo de concentração na Granja do Canguiri Alem disso, o governo do estado do Parana transformou o campo de concentraçao em uma atraçao. Estudantes eram enviados para la para verem os japoneses presos. Ou seja, tornou-se praticamente um zooloPágina 16
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gico.
campos de concentraçao.
As crianças foram levadas para o município de Castro, o governo dizia que iria educa-las corretamente. Enquanto isso, seus pais trabalhavam na plantaçao e tambem cuidando de galinhas. Com a separaçao das famílias, tornava-se mais difícil o pensamento de fuga e so restava para muitos pais e crianças aguardarem ate o dia em que fossem libertados.
Nao se sabe ao todo quantas famílias acabaram sendo afetadas por esse terrível ato do governo brasileiro. Diante de uma guerra os civis sao sempre os que mais sofrem.
No campo de concentraçao da Amazonia tambem estavam os prisioneiros de guerra que eram alemaes e italianos. Ja o campo de concentraçao no Parana abrigava principalmente japoneses. Entretanto, esses nao foram os unicos campos de concentraçao da historia do Brasil. Ha estudos que apontam que foram 31 ao total durante o período da II Guerra Mundial (1939-1945). Porem, registros oficiais dizem que eram apenas 12
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Gente com História O homem vai, mas a abra fica
postas. De acordo com a professora Nagila Oliveira, “Carolina construiu um fazer literario que se inscreve na vida – nao apenas particular, mas tambem coletiva”. E a arte narrativa, quando atada ao cerne da existencia, quando sabe revelar o humano (da dor ao sonho), pode mesmo ser materia do verdadeiro. Do vivo. Viva esta a produçao de Carolina. Quarto de despejo – diario de uma favelada, o mais famoso livro da escritora, em 2020 completou 60 anos de sua publicaçao, volume que e, a um so passo, marcante e atual. Porem, o legado caroliniano nao se restringe a um unico títu-
Carolina Maria de Jesus Carolina Maria de Jesus, a dona de um escrever vivo Heloísa Laconis *
Carolina Maria de Jesus e doutora, doutora honoris causa, reconhecimento vindo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em fevereiro de 2021. Título outorgado com aprovaçao unanime do Conselho Universitario da instituiçao, ele representa um exemplo recente de como as palavras da escritora tem, cada vez mais, transitado por espaços diversos e conquistado coraçoes leitores. Cento e sete anos apos o 14 de março em que a autora veio ao mundo, nascida em Sacramento (MG), a potencia de seu trabalho permanece acesa, formada por um escrever verdadeiro. Esse ultimo adjetivo, alias, foi a maneira que Clarice Lispector encontrou para demonstrar admiraçao pela obra da colega de ofício. A informaçao aparece em uma materia assinada por Paulo Mendes Campos, publicada na revista Manchete em 1961. Segundo o poeta, Clarice assim disse: “Como voce escreve verdadeiro, Carolina”. E o que significa escrever verdadeiro? Nao a verdade (visto que a literatura pressupoe uma elaboraçao no campo simbolico), nem verdadeiramente (uma vez que a escrita implica uma entrega total de quem a realiza). Verdadeiro. A essa pergunta varias sao as res-
lo: de Casa de alvenaria (1961) ao postumo Diario de Bitita (1982), ha muito o que ler e reler. De novo e de novo e sempre. Nagila e o jornalista Tom Farias, por exemplo, entraram no mundo da prosadora e de la nao mais saíram: ambos sao admiradores da romancista e a levam a outras pessoas. Nagila fala sobre a artista tanto em cursos quanto na revista Africa e africanidades, periodico on-line criado e editado pela educadora. Ja Tom e autor de Carolina – uma biografia (2018), resultado de uma escavaçao da memoria da homenageada. E sao eles, professora e biografo, que aqui continuam a celebrar a historia e as historias de Carolina. Confira as duas entrevistas a seguir. O grito que abriu caminho Quando voce descobriu a obra de Carolina Maria de Jesus? Nágila Oliveira: Meu primeiro contato com a obra de Carolina aconteceu em 1990, ainda durante a adolescencia. Moradora da Baixada Fluminense, na periferia do Rio de Janeiro, eu frequentava bibliotecas publicas, adquiria livros em sebos e com livreiros de rua. Foi com um deles que, apos barganhar o valor, comprei Quarto de despejo – nao apenas o primeiro livro de Carolina que li, mas tambem o primeiro título de uma escritora negra e de literatura afro-brasileira a que tive acesso. Na epoca, sendo eu uma jovem negra que buscava reafirmar identidades, essa leitura me impactou bastante: travei, enfim, um dialogo com ou-
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Local onde existiria a propriedade do Marechal
Ano IV — Número tra mulher negra acerca do racismo que havia sempre vivenciado. Hoje, anos depois, a cada nova releitura, vem a tona novas emoçoes e novos olhares sobre o ser mulher negra em nossa sociedade. Ninguem le Quarto de despejo e sai indiferente. Trata-se de um processo terapeutico para negros e nao negros. Como voce avalia a atualidade de Quarto de despejo? Entendo a escrita de Carolina como uma literatura da diaspora negra feminina dos tempos modernos. Ela foi filha de arrendatarios rurais descendentes de escravizados, forçada a migrar para Sao Paulo ao ver o avanço da pecuaria sobre as plantaçoes no interior mineiro e apos ter conhecido o carcere injustamente (foi presa duas vezes: da primeira, acusada de bruxaria por ler um livro espírita; da segunda, acusada de roubo por um padre). Na capital paulista, acompanhou a demoliçao de barracos, a retirada de moradores e o início da formaçao das favelas. Trabalhou como empregada domestica e catadora de papel. A partir dessa trajetoria, Carolina colocou em sua produçao reflexoes nao apenas sobre a fome dos territorios perifericos urbanos: em suas paginas, abordou temas como a ausencia do Estado, o racismo estrutural, o patriarcalismo, a violencia sistemica sofrida pelas mulheres, a truculencia da polícia, o assistencialismo interesseiro dos períodos eleitorais. E toda essa indignaçao esta em Quarto de despejo, um grito contra as mazelas sociais. Contudo, o livro nao deve ser compreendido somente como uma denuncia: nele a autora toca ainda em questoes existenciais e filosoficas. Essa variedade de assuntos, aliada a uma escrita visceral, explica a atualidade da obra. Como voce descreve o trabalho de Carolina com a língua portuguesa? Carolina estreia o que, decadas a frente, Conceiçao Evaristo vai conceituar como escrevivencia. O projeto literario da artista e multifacetado: mescla linguagem cotidiana com normas rebuscadas, flerta com o parnasianismo e o romantismo, alem de trazer doses de deboche, ironia e sarcasmo. Esse projeto, porem, acaba, por vezes, ofuscado por quem engessa Carolina na Página 19
definiçao “favelada que escreve”. Qual e a importancia de Carolina Maria de Jesus na literatura brasileira? Antes mesmo de Quarto de despejo, Carolina ja elaborava poemas e romances. Com Pedaços da fome (1963), vale ressaltar, ela se tornou a terceira mulher negra a publicar um romance no Brasil (a primeira foi Maria Firmina dos Reis, seguida por Ruth Guimaraes). Ha ainda outros títulos publicados e uma gama de produçoes que nao chegaram ao grande publico (em sua maioria, ao contrario do que muitos imaginam, nao e de carater testemunhal, tendo a ficcionista transitado por diferentes generos literarios, de contos a peças de teatro). Como educadora e pesquisadora, de que modo voce costuma apresentar a obra caroliniana aos estudantes? A inserçao de Carolina Maria de Jesus em sala de aula deve ocorrer em diversos momentos, pois a pluralidade de sua literatura permite variados usos e pontes com outras disciplinas. Na Educaçao Basica, trabalho com as obras de Carolina no contexto da sociologia: os livros suscitam discussoes a respeito de temas como racismo, industria cultural e reconhecimento de privilegios. Tem-se um aprendizado coletivo e muitas meninas passam a fazer referencias a Carolina, procuram por mais autoras negras e se abrem para expor suas ideias e seus escritos. Em cursos para docentes do Ensino Basico e Superior, percebo uma grande identificaçao, principalmente por parte de docentes negras e perifericas que nao tiveram acesso, em sua forma-
Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021 çao inicial, a literatura produzida por artistas negras. Varias dessas profissionais me contam que, se tivessem tido contato com Carolina Maria de Jesus durante a graduaçao, teriam construído outros trajetos pedagogicos com seus educandos. Se voce tivesse tido a chance de dizer algo a Carolina, o que teria dito? Carolina, seu grito foi capaz de abrir caminho para outras mulheres negras, o que possibilita que nos, as mulheres de agora, nao deixemos que erros do passado se repitam. Seus ecos estao presentes em nossas tessituras, praticas pedagogicas, pesquisas, coletivos, marchas, lideranças. Estamos recriando espaços de reexistencia de Carolina Maria de Jesus. Quando voce descobriu a obra de Carolina Maria de Jesus? Tom Farias: Sou escritor, crítico literario, professor, atuo na area de literatura. Desse modo, Carolina fazia parte das minhas leituras ha algum tempo. Em 2014, em seu centenario, fiz uma homenagem em um evento e, para tanto, li bastante sobre ela. Foi entao que notei: havia uma distorçao em torno da personalidade literaria da autora. Tudo o que encontrei acerca de Carolina a associava a pobreza e uma parcela consideravel dessas analises vinha de pesquisadores brancos. Isso me incomodou bastante. Pensei: vou escrever um livro sobre Carolina, porque quero entender quem ela foi antes, durante e depois do sucesso de Quarto de despejo. Como se deu o processo de realizaçao de Carolina – uma biografia? Meu trabalho para a feitura de uma biografia parte de uma investigaçao historico-literaria e de um envolvimento com as fontes. Fui as cidades de Sacramento (MG), Araxa (MG), Ribeirao Preto (SP), Franca (SP) e Sao Paulo, passei por cartorios, cemiterio, pela escola onde Carolina estudou, conversei com pessoas antigas, com os filhos dela (Jose Carlos e Vera Eunice), com Audalio Dantas, rodei por todos os lugares onde ela pudesse ter passado. Cavei uma memoria de Carolina para achar um fio condutor e, dessa maneira, humanizar sua figura, tirando o peso de “escritora favelada”. Um escritor que morou na zona sul e identificado como “zonasulnense”? Esse preconceito reduz o Página 20
valor da literatura caroliniana. Qual e a importancia de Carolina Maria de Jesus na literatura brasileira? Carolina era engajada na atividade literaria, tinha a missao de ser artista da palavra: costumava redigir cartas e bilhetes, escreveu romances, peças, esquetes para o circo, chegou a colaborar em jornal. Sua importancia vem do fato de que ela insere um vies novo na literatura brasileira. Nao se esperava o surgimento de uma voz narrativa do porte de Carolina, responsavel por uma centelha de revoluçao na linguagem (igual, nesse aspecto, a Cruz e Sousa e Mario de Andrade), como se afirmasse: “E assim que se faz. Eu sei como e que dança”. Ela inovou, experimentou e ha ainda tanto a ser descoberto (posto que muito de sua produçao permanece inedita). Se voce tivesse tido a chance de dizer algo a Carolina, o que teria dito? Eu faria um bilhete para Carolina. Nele iria agradecela por tudo o que ela representou e representa para nos, brasileiros negros, 56% da populaçao no Brasil. Agradeceria pelo grito de indignaçao que ela deu em uma patria que nao protege seu povo. Agradeceria pelas denuncias que fez contra a mortalidade, o feminicídio, o extermínio. Agradeceria por seus escritos, por ter dedicado sua vida para que esta naçao se tornasse, realmente, uma naçao brasileira: um lugar de iguais, onde as pessoas possam se alimentar todos os dias, morar bem, estudar. Agradeceria a Carolina por ter existido. Ela nos mostrou, mais nitidamente, as desigualdades que pesam sobre nos (sobretudo, em homens, mulheres e crianças negros, mas atingem tambem os nao negros). Carolina Maria de Jesus e uma das nossas maiores intelectuais e e preciso que reconheçamos isso. * In: ItauCultural.org.br
Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021 coço, cintura ou pulso, onde ficava exposta aos compradores. Em muitos casos, a venda podia ate mesmo ser anunciada em jornais locais, onde tudo era acertado com quem desejava a mulher, antes mesmo do dia do leilao. 2. Roupas mortais
Venda de esposas mortas VENDA DE ESPOSAS E FOTOS DE MORTOS 5 CURIOSIDADES SOBRE A ERA VITORIANA
A sociedade, tomada por costumes específicos, apresentou diversas narrativas durante o reinado da Rainha Vitoria. A era vitoriana foi o período que compreendeu o seu reinado em meados do seculo 19. A populaçao que vivia na Inglaterra naquela epoca seguia de crenças absolutas.
Na Era Vitoriana, existia a real possibilidade de que uma roupa pudesse te levar a obito. Muitas vestimentas da epoca poderiam conter componentes toxicos, inflamaveis e de alto risco, como o algodao branco esvoaçante. Alem disso, houve muitos incidentes com uso de chapeus, acessorio obrigatorio para completar o visual vitoriano, que na epoca eram feitos com mercurio. Ha registros de fabricantes da epoca usando pigmentos venenosos que podiam causar inumeras feridas e danificaçao na pele, alem de nauseas, diarreia e dores de cabeça na populaçao.
Outro problema enfrentado era a infestaçao de pulgas, piolhos e outros parasitas vetores de doença como tifo, que geralmente eram encontrados nas mudas Apesar disso, o período ficou muito conhecido por de roupas ou se alocavam nas saias das mulheres suas regras e costumes bastante curiosos e insolitos. quando essas esbarravam em lama e nas ruas sujas da Sabendo disso, o site Aventuras na Historia, separou 5 Inglaterra daquele período. curiosidades surpreendentes sobre a era que passamos a descrever. 3. O luto como algo sacro
Sabemos que o protestantismo ingles basicamente nasceu porque um rei, Henrique VIII, foi impedido pelo papa de se divorciar, criando assim um nova ordem da religiao onde ele permitiria o ato de separaçao. Mas parece que o direito ao divorcio nao teria chegado para toda a populaçao.
O rigor e a formalidade faziam parte do cotidiano vitoriano. Assim, varios rituais foram criados aquela epoca. Um deles ficou famoso pela celebraçao do luto. As pessoas temiam a morte e sentiam que, para honrar aqueles que partiram, deveriam estar em luto em qualquer lugar, seja quais fossem as situaçoes. Assim, foram popularizadas diversas regras a respeito da morte e do luto.
A venda de esposas surgiu no final do seculo 18, epoca em que a ruptura do casamento ainda era restrita a ingleses ricos. Assim, o povo mais humilde pareceu ter encontrado uma forma de se livrar de suas esposas dentro de transaçoes ilegais.
O primeiro foi o uso indiscutível de roupas e acessorios pretos. O tempo em que se usaria preto dependia da sua relaçao com o morto, podendo durar meses. Nenhum homem ou mulher poderia participar de eventos sociais ate que o luto acabasse.
1. Venda de esposas através de leilões
Leiloes eram organizados em espaços publicos, onde o Em outros contextos, havia regras e superstiçoes difemarido levava sua esposa ao local arquitetado para a rentes. Ao encontrar uma procissao funebre, era prevenda e a amarrava com uma corda ao redor do pes- ciso virar de costas. Outro ato era o costume de prenPágina 21
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der a respiraçao enquanto passavam por um cemite- cabeça para baixo e deixa-los girando por algumas rio. horas, no qual era chamado de terapia rotacional. 4. O bizarro manicômio Bethlehem Royal
5. Foto eterna
Um dos mais antigos do mundo, o manicomio usava uma tatica para exibir pacientes que, segundo o local, foram tratados e curados. Para isso eles divulgavam fotos dos pacientes de antes e depois de entrarem na clínica.
Na Era vitoriana o ato de fotografar pessoas ja mortas era comum. Na tentativa de eternizar a imagem daqueles que partiram, os mortos eram fotografados junto com seus parentes vivos. Na hora da fotografia muitos familiares se reuniam, enquanto estruturas de O “The Bedlam Asylum” ficou famoso por possuir co- madeira e metal eram colocadas no cadaver, para que nhecimentos rusticos sobre saude mental e por exer- simulasse a aparencia de uma pessoa viva. Giovanna de Matteo cer tratamentos diferenciados. Um desses metodos consistia em pendurar os pacientes em cadeiras de escritor—escreve (ou deve escrever) advogado—advoga (ou deve advogar) médico—cura (ou deve curar) Divulgue—Partilhe—Leia
Corrente d’escrita Aceda ao nosso site e inscreva-se: será sempre avisado quando tivermos novidades Página 22
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Lições sobre a pandemia Por: Afonso Rocha * O que a pandemia nos ensinou? Sim, repito o tema escolhido, em boa hora, para a Antologia de 2021 pela Academia de Letras de Biguaçu/SC, para que seus membros escritores se pronunciassem sobre os ensinamentos face a catastrofe humanitaria que atualmente invade o mundo e que melindra tao gravemente, e de que maneira, o Brasil.
do outro, se alojaram os que correm atras de crendices, egos pessoais, negando o inegavel, nao so a ciencia forjada pelos humanos ao longo dos seculos, mas tambem o conhecimento acumulado pelo conjunto do humanidade. E o pior, e que esta divisao da sociedade levou a que um grande numero de indivíduos ridicularizasse e desvalorizasse a propria doença, de nível pandemonico - tratando-a com o desprezo de que nao passava de uma “gripezinha”, de um “resfriadinho”, que se estavam a “superdimensionar” os perigos, afirmando-se de que nao passava de uma “coisa de medricas propria do povo brasileiro”, de que “todos vamos morrer”, etc. – levou a que o país nao se acautelasse, se preparasse e adequasse para enfrentar e minimizar os efeitos mortais da pandemia e o sofrimento da populaçao.
Escolhida em boa hora, ate porque, criada a CPI para analisar as açoes e as omissoes dos principais responsaveis, como escritores que somos, como homens de formaçao, amantes e praticantes das ciencias, nao poderíamos ficar indiferentes a esta catastrofe humaniOs cuidados e as regras ja testadas e apontadas por taria que nos afeta desde ha mais de um ano. organismos credíveis de nível internacional - como a Seria facil responder que aprendi a ser mais cuidadoOrganizaçao Mundial de Saude (OMS) - viriam a ser so com minha higiene, com minha saude mental e físiridicularizados e desvalorizadas - quiça atacados – ca e a ser mais seletivo nas relaçoes sociais, humanas, pelos maiores responsaveis pela gestao publica naciorespeitando e protegendo os direitos de cada indivínal – incluindo o presidente e o ministro, o que conduduo na sociedade como se fosse a mim mesmo. ziu ao alargar ainda mais do fosso entre os que queriMas as questoes pertinentes, ligadas ao vivenciar a am enfrentar a doença em bases tecnico-cientificas, o pandemia, nao sao assim tao simples. vírus ou verme letal, e os que se colocaram no lado da A pandemia mexeu, e muito, com o conceito de cida- irresponsabilidade, da arrogancia e da tirania. dania e o posicionamento que cada um de nos ocupa na sociedade. Assistimos, entristecidos, ao divisor de aguas entre o responsavel e o irresponsavel; entre o conhecimento tecnico-científico e o conhecimento empírico; entre o saber geral e o desconhecimento e ate, entre a burrice, a tirania, a arrogancia e o respeito pelo bom senso comum.
Foi – tem sido – uma luta entre David e Golias, encontrando-se dum lado os que querem enfrentar a pandemia e do outro os que desviam os olhos para outros interesses estranhos ao país e ao grosso da populaçao. Este divisor de aguas colocou, frente a frente, os poderes centrais da Uniao e do outro, os que de mais perto convivem com a realidade deste país: os Estados e os Logo que a covid-19 mostrou para o que vinha, dois Municípios. blocos se formaram na sociedade, tendo por base op- Quando a pandemia, perigosamente, mais apertou, çoes políticas e ideologicas que levaram ao estremar quando o numero de mortos aumentou assustadorade posiçoes antagonicas. Se de um lado se colocaram mente no país e ao nível mundial, o país nao estava os que acreditam no conhecimento tecnico-científico, preparado para dar uma resposta adequada e enfrenPágina 23
tar o flagelo, faltando pessoal especializado, hospitais, de infetados atinge 1, 056 milhao, quase tanto como IV —nio, Número - Mensal: julhotoda de 2021 leitos de UTI, mascaras,Anooxige gas, 45 luvas e outros a populaçao de Florianopolis e Joinville, as duas instrumentos de proteçao, bem como insumos e re- maiores cidades do Estado, enquanto que o numero medios para tratar de quem adoecia e aumentava de mortos (17 mil), iguala a totalidade da populaçao drasticamente as filas de espera nos hospitais e nos de Santa Cecília, que ocupa a 85ª posiçao, num total postos de saude. de 295 municípios. E mais grave, o negacionismo desses incautos, imaturos e irresponsaveis, isolou o país do concerto das naçoes civilizadas, tornando-se ainda mais difícil equipar o país com vacinas, materias-primas e equipamentos indispensavel, nao para tratar de uma gripezinha qualquer – como entao afirmavam -, de uma maleita do momento, mas para combater uma pandemia que so cresce dia apos dia, atinge ricos e pobres, velhos e jovens, mulheres e homens, como revelam os numeros oficiais do país e do estrangeiro.
E vemos, entristecidos, que alguns dos mais altos funcionarios e gestores do país, continuam a ridicularizar o sofrimento das pessoas, a minimizar os seus efeitos mortais, a contrariar as leis e a regulamentaçao prescrita pelos tecnicos do proprio Ministerio da Saude e outras autoridades, leva-nos a perder a esperança, e o respeito, por tal ou tais cidadaos levianos e irresponsaveis.
Mesmo nao sendo especialistas, perante esta realidade e triste, mas nao nos podemos alhear e meter a caEste meu posicionamento nao e um manifesto acusa- beça na areia como a avestruz. torio a uma so pessoa, mas o estrebuchar de alguem Temos de tirar lições para o futuro. que quer aprender e, porque tambem foi pego pelas E a primeira grande liçao, nao pode ser outra senao a garras do vírus mortal, fala com a autoridade de quem de constatar que o Brasil tem estado mal, muito mal e sofreu e chegou a perder o sentido e a noçao da prodespreparado, para resistir aos efeitos nefastos da pria vida, e que, ainda hoje, sofre com as sequelas que pandemia. Veja-se a dificuldade que enfrentamos para marcam seus dias. obter insumos e as tao necessarias e desejadas vaciQuando, em termos mundiais, se ultrapassam os 183 nas. milhoes, e como se toda a populaçao da Alemanha, da Logo a seguir vem outra grande liçao, que e a de que Turquia e da Guine estivesse infetada e como se o toso a ciencia e a experimentaçao científica sao valores tal de mortos (4 milhoes), igualasse toda a populaçao que ultrapassam fronteiras, universais, virando um da Croacia. No Brasil, com quase 19 milhoes de infetaimportante patrimonio da propria humanidade. Nao e dos, a situaçao e catastrofica. E como se toda a populaporque vieram dos países da America; dos países da çao das cidades de Sao Paulo e do Rio de Janeiro estiEuropa; dos países da Asia ou dos países da Africa, vesse doente e a populaçao do Distrito Federal e da que os saberes sao ou nao seguros e confiaveis, mas cidade de Maceio tivesse vindo a obito. porque, e no caso vertente, organismos supranacioEm Santa Catarina, nosso estado de eleiçao, o numero nais os superintendem e os avaliam. Nao pode, pois, nenhum homem ou conjunto de homens, por muita arrogancia e libertinagem que ostentem, agir contra esse saber acumulado e ja largamente testado. A terceira liçao que retiraria, entre este confronto de comportamentos, e a de que qualquer dirigente, eleito ou nomeado, nao pode gerir as questoes publicas como se fosse sua “republica”, sua quinta, fazenda ou chacara, fechando os olhos a sociedade, arrogando-se no direito de ir contra o saber – neste caso a medicina. Um bom gestor, independentemente dos seus credos religiosos, políticos ou clubísticos, tem de ter sempre em conta os interesses globais, e neste caso nacionais, respeitando as opinioes diversificadas da populaçao, independentemente da aparente força que ostenta ter Página 24
e de ser ocasionalmente maioria ou minoria. Um bom descobriu e viaja pelo mundo, pelos ares, foi a lua, Ano IV — - Mensal: julhomergulha de 2021 nas profundidades da terra e dos mares. A gestor e aquele que respeita osNúmero contra45 rios, as oposiçoes, e nao aquele que so sabe governar a favor do sua força e capacidade de realizaçao e imensuravel. “seu grupo” de apoio. Em gestores destes nao se pode Mas sua vida e curta e fragil. Num dia somos tudo e no confiar, nem hoje, nem amanha. outro somos nada. Quantos de nos perdemos familiaFoi (e) triste ver diariamente aparecer, nas antenas res e amigos, conhecidos, que ate ontem nos acompadas teves e nas paginas dos jornais, líderes políticos, nhavam e eram saudaveis e hoje se encontram sete religiosos, empresarios e gestores publicos nao cum- palmos abaixo do chao. Ainda ontem escrevíamos, prindo, e mesmo ate denegrindo e recusando, as me- sonhavamos, festejavamos, criavamos, idealizavadidas de vigilancia sanitaria aprovadas por quem de mos… e hoje, perdemos o confrade, o primo, o tio, a direito, para prevenir a pandemia e a propagaçao da irma, o pai, o avo, o neto. doença viral.
Por isso passei a dar mais valor as relaçoes humanas, as amizades, ao convívio e a partilha social; por isso procuro me aproximar mais do meu semelhante, lhe dedicando respeito e apoio; por isso aprecio mais, e melhor, a vida, a nossa vida.
A quarta liçao que retiro deste estado de calamidade publica, e que devemos respeitar o nosso espaço, sem invadir o espaço do outro. Minha saude depende da saude do outro, daquele com quem me relaciono em casa, no trabalho, na comunidade. Se eu nao cumpro os cuidados de segurança, ele fica em perigo; se e ele Afonso Rocha * que nao cumpre, sou eu que fico em perigo. E neste Escritor, editor, jornalista e palestrante, e formado em dilema nao ha terceira via. ciencias contabeis e especialista em gestao empresarial, Ha quem defenda a liberdade de cada um fazer o que quiser. A coberto desta pretensa democracia, desta pretensa liberdade, os negacionistas, para quem o mundo ainda e quadrado ou plano, incorrem num erro ainda maior, esquecendo que a nossa liberdade so existe porque respeitamos a liberdade do proximo. Nao se pode somente conceder liberdade, direitos e regalias “a nossa maioria” ou a “ nossa família”, quando o que esta em causa, e a saude e a segurança publica de toda a populaçao. Por esse motivo, e no caso vertente da pandemia, deve prevalecer, mais uma vez, o saber científico. E o que nos diz o saber científico? Que nao existe tratamento nem cura precoce. Que o tratamento, por enquanto, so pode ser assegurado pelo uso de mascara, pela higienizaçao das maos, pelo distanciamento social e pela toma da vacina, seja ela qual for, desde que aprovada por quem tem oficialmente esse dever. Nao existe segunda ou terceira via. Ninguem se pode furtar, sem justificaçao medica, a toma da vacina. Quem o fizer deve ser responsabilizado e punido por cometer crime publico. Com a saude publica dos cidadaos, nao se pode ser liberal e muito menos brincar. Por fim, mais um ensinamento que recolhi desta nossa experiencia coletiva: valorizar mais, e melhor, o ser humano. O ser humano e senhor das transformaçoes. O homem Página 25
membro da Academia de Letras de Biguaçu/SC, onde ocupa a cadeira 06 e tendo como patronesse a professora Antonieta da Barros; e membro da Academia de Artes, Letras e Ciencias de Cruz Alta/RS, ocupando a cadeira 21, tendo como patrono o poeta portugues Antonio Aleixo. Fundador e diretor da revista literaria “Corrente d’escrita” – Plantando cultura. www.afonsorochaescritor.com
Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021 da Lapa, bairro do Rio de Janeiro, aproximou a adolescente da musica e tambem influenciou nas suas referencias esteticas futuras. Em 1929, Carmen foi apresentada ao compositor Josue de Barros, profissional que a inseriu em teatros e clubes.
Portugal
Carreira A partir de 1930, Carmen Miranda entrou de vez no mundo da musica, cantando na Radio Sociedade. Logo seu disco foi lançado, e o seu sucesso veio com a marcha-cançao Pra Voce Gostar de Mim, mais conhecida como Taí, escrita por Joubert de Carvalho.
Brasil
Carmen Miranda Maria do Carmo Miranda da Cunha, artisticamente conhecida como Carmen Miranda (Marco de Canaveses, Portugal, 9 de fevereiro de 1909 - Los Angeles, Estados Unidos, 5 de agosto de 1955), foi uma cantora, atriz e dançarina luso-brasileira. Com fama internacional, Carmen Miranda era chamada de “A Pequena Notavel” e "Brazilian Bombshell" (brasileira sexy ou atraente). Carmen Miranda, portuguesa de nascimento e brasileira de criaçao, foi a primeira mulher a assinar contrato com uma radio no Brasil. Com seu estilo unico e talento para a musica e atuaçao, conquistou outros países, fixou morada nos Estados Unidos e chegou a ser a mulher mais bem paga de Hollywood, alem de ser a primeira sul-americana com uma estrela na Calçada da Fama. Infância e Adolescência Carmen Miranda nasceu em 9 de fevereiro de 1909, em Canaveses, Portugal. Filha de Jose Maria Pinto da Cunha, um barbeiro e de Maria Emília Miranda, veio para o Brasil com menos de um ano de idade. Na adolescencia, Carmen Miranda trabalhou em uma loja de chapelaria. A convivencia com a vida agitada Página 26
Sua carreira começou a ganhar novos ares ainda na mesma epoca, quando a cantora fez sua primeira turne na Argentina, país ao qual retornou diversas vezes nos anos seguintes. Ao entrar para a Radio Mayrink Veiga, Carmen Miranda tornou-se a primeira
Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021 mulher a assinar um contrato com uma radio brasilei- Pra você gostar de mim (Taí) (Joubert de Carvalho) ra. Balancê (Braguinha/Alberto Ribeiro) Em 1936, Carmen Miranda ganhou as telonas O que é que a baiana tem (Dorival Caymmi) com Alo, Alo, Carnaval, filme que proporcionou a can- Mamãe eu quero (Vicente Paiva e Jararaca) tora o dueto com sua irma, Aurora Miranda, na conhe- Camisa listrada (Assis Valente) cida cena da musica Cantoras do Radio. Ainda no mes- Tico-tico no fubá (Miguel Lima/Zequinha de Abreu) mo ano, Carmen passou a fazer parte do Cassino da No tabuleiro da baiana (Ary Barroso) Urca, local que servia como passaporte para carreira Adeus batucada (Synval Silva) O tic-tac do meu coração (Alcyr Pires Vermelho/ internacional em musicais. Walfrido Silva) A imagem amplamente ligada a Carmen Miranda e a Cachorro vira-lata (Alberto Ribeiro) sua fantasia de baiana. O vestuario foi adotado pela Touradas em Madrid (Braguinha/Alberto Ribeiro) cantora e atriz em 1939, quando participou do filE o mundo não se acabou (Assis Valente) me Banana da Terra, longa em que Carmen fez uma Como vaes você (Ary Barroso) de suas principais interpretaçoes musicais com O que Quando eu penso na Bahia (Ary Barroso) é que a baiana tem, de autoria de Dorival Caymmi. Chica chica boom chic (Gordon Mack e Warren Harry) A fantasia de baiana adotada por Carmen Miranda música do filme Uma noite no Rio sofreu variaçoes ao longo de sua carreira, mas sempre contou com brincos grandes (geralmente argolas) e Política da boa vizinhança um turbante repleto de frutas e flores, sapatos e sanEm meados da decada de 1930, os Estados Unidos dalias com plataforma e roupas com babados. O vesbuscaram aproximaçao com os países da America Latuario fez muito sucesso pelo mundo e passou a ser tina como forma de evitar que esses países se aliasutilizado como fantasia em diferentes festas, como sem as tropas alemas. Com o Brasil, o governo norteo Carnaval. americano utilizou a arte e financiamentos industriais Carmen foi uma mulher considerada de baixa estatu- para ganhar a simpatia do povo brasileiro e as autorira, medindo 1,52 m de altura, mas que chamava a dades locais. atençao por sua interpretaçao e sua caracterizaçao, o Em ascensao nos EUA, Carmen Miranda viu sua fama que lhe rendeu o apelido de “a Pequena Notavel”. crescer nesse período e tornou-se o elo de aproximaPrincipais músicas de Carmen Miranda çao cultural do Brasil com os Estados Unidos, representando a musica brasileira no territorio norteamericano. A Pequena Notavel teve sua figura diretamente ligada a chamada “Política da Boa Vizinhança”, fator que gerou desconfiança em uma parcela da populaçao e permanece em discussao, inclusive no meio academico, sobre sua influencia na “americanizaçao” do Brasil e responsabilidade pela difusao do estereotipo da “republica das bananas”. Página 27
Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021 Principais Filmes de Carmen Miranda O Carnaval cantado de 1932 (1932) A voz do Carnaval (1933) Alô, alô, Brasil (1935) Estudantes (1935) Alô, alô, Carnaval (1936) Banana da Terra (1939) Laranja da China (1940) Serenata tropical (1940) Uma noite no Rio (1941) Aconteceu em Havana (1941) Minha secretária brasileira (1942) Entre a loira e a morena (1943) Quatro moças num jipe (1944) Serenata boêmia (1944) Alegria, rapazes! (1944) Sonhos de estrela (1945) Se eu fosse feliz (1946) Copacabana (1947) O príncipe encantado (1948) Romance carioca (1950) Morrendo de medo (1953) Carmen Miranda interpreta a canção Chica Chica Boom Chic no filme Uma noite no Rio (1941). Casamento conturbado Carmen Miranda casou-se com o norteamericano David Sebastian, em 1947. David trabalhava em uma produtora de cinema e tornou-se empresario de Carmen apos o casamento. Biografos apontam David como influencia para a dependencia de Carmen Miranda no alcool, ja que a cantora passou a beber em excesso durante o casamento conturbado com seu marido alcoolatra. Por sua rotina de compromissos profissionais, Carmen tambem passou a usar barbituricos (remedios para insonia). Vício e morte Com o vício em alcool e remedios, Carmen Miranda voltou ao Brasil para um período de desintoxicaçao, em 1954. No ano seguinte, a Página 28
Pequena Notavel voltou aos Estados Unidos melhor dos sintomas, mas ainda dependente da medicaçao. Em 4 de agosto de 1955, Carmen Miranda fez sua ultima apresentaçao, uma gravaçao do The Jimmy Durante Show, seguida de uma festa em sua casa. Carmen Miranda morreu na madrugada de 5 de agosto de 1955, aos 46 anos, vítima de um ataque cardíaco, em sua casa em Beverlly Hills (Los Angeles, EUA). A cantora foi velada na California e, posteriormente, transportada para o Rio de Janeiro para as despedidas dos fas, amigos e familiares, sendo enterrada no Cemiterio de Sao Joao Batista. Homenagem Em 1960, foi elaborada uma escultura em homenagem a Carmen Miranda para ser exposta no Largo da Carioca, no Rio de Janeiro. Atualmente, a obra esta exposta na rua que leva o nome da artista, na Ilha do Governador. Por: Lorraine Vilela—Jornalista
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Fotos com História
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A arte com os pinceis
“Bebado”, pintura de Albert Anker (1868)
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Dicas de como divulgar um livro? Numa parceria:
Corrente d’escrita/ Clube de autores Como fazer a capa perfeita para o seu livro? Capas vendem. Simples assim. Iríamos ate alem dessa afirmaçao acima. Capas nao apenas vendem: elas possivelmente sao as melhores vendedoras de livro do planeta. E se voce acha isso pessimo, se acha que isso reflete uma especie de estereotipo de mau leitor que depende de uma imagem para se decidir… talvez esteja certo! Mas isso nao deixa de ser uma verdade.
Imagine-se agora olhando uma vitrine com dezenas ou centenas de livros de autores que voce nao conhece. O que voce faria para se decidir por um? Ler um trecho de todos? Dificilmente: ninguem tem tempo para isso. Muito provavelmente voce escolheria alguns e os folhearia para ver se se identifica com os textos. E como voce escolheria quais folhear? Se voce nao conhecesse os autores ou os enredos, muito provavelmente pela capa. E por isso que ela importa. O que voce JAMAIS deve fazer? Ignorar a importancia da capa por conta da empolgaçao de ter terminado de escrever seu livro, fazer qualquer coisa, de qualquer jeito, e publicar. Fazer isso e praticamente dizer ao leitor que nem voce mesmo acredita no seu livro ao ponto de ter dedicado um mínimo de zelo e de carinho para construir uma capa condizente com o conteudo.
Por isso separamos algumas dicas fundamentais para te ajudar a criar uma capa perfeita para sua obra. Alias, hoje, e extremamente comum que o leitor “deduza” a qualidade do texto a partir da qualidade Confira! da capa. Isso esta certo? Esta errado? A discussao e Por que capas importam tanto? irrelevante: se e assim que o leitor pensa e escolhe, e Toda historia começa por algum lugar. No caso de li- nesse mundo que o autor deve se enquadrar. vros, que demandam uma imersao maior por parte de leitores (uma vez que o proprio ato de ler requer mais 5 dicas para criar uma capa de livro tempo e concentraçao que qualquer outra maneira de se absorver historias), a necessidade de seduçao e sempre, sempre grande. 1. Saiba o que você quer transmitir No passado, ha um ou dois seculos, era normal que O primeiro passo para a capa perfeita e descobrir o capas mais artísticas sequer existissem. Mas nao adique, exatamente, voce quer. Isso pode parecer obvio, anta levar isso em conta como uma especie de argumas a quantidade de escritores que nao fazem ideia mento de que, la no passado, as pessoas liam mais e do que desejam ao iniciar um trabalho de criaçao de melhor. E uma afirmaçao saudosisticamente vazia: os capa e assombroso. A regra aqui e simples: se voce, tempos simplesmente eram outros. que escreveu o livro, nao sabe o que quer de capa, diNo passado, a variedade de livros era muito menor, ficilmente um capista conseguira produzir algo bom. dependia-se de livrarias fisicamente proximas e deciIsso significa que voce deve descrever, em detalhes, dia-se com base em críticas feitas por jornais que, tenuma imagem de capa, para que um artista a coloque do uma base infinitamente menor de títulos para revino papel? Claro que nao: voce e escritor, nao capista. sar, conseguia estruturar artigos completos o suficiMas quer dizer que voce deve saber sim, em detalhes, ente para fazer ou matar o sucesso de alguma obra. qual imagem, qual percepçao voce deseja transmitir Hoje, ha uma infinidade de livros sendo lançados to- ao leitor. Isso nos leva ao segundo ponto. dos os dias. Mais de 40 por dia apenas no Clube de Autores, alias. Hoje, ha livros impressos, e-books, audiolivros. Hoje, ha internet, deixando todos os livros 2. Sintetize sua mensagem em conceitos do mundo ao alcance de todo mundo. Todo livro do mundo tem uma mensagem central, Hoje ha abundancia, nao escassez. E abundancia se uma ideia basica que funciona como alicerce para toda a sua narrativa. Seja de maneira direta ou indireta, traduz em concorrencia. Página 31
Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021 obvia ou abstrata, voce deve ter essa ideia tangivel- tores que permite a contrataçao direta dos mais dimente clara, descrita, palpavel. versos prestadores de serviço relacionados ao mercaEssa sera a essencia do seu “briefing”, do seu pedido do editorial. La voce encontrara centenas e mais cenpara o capista que trabalhara em seu livro. E se, ao tenas de capistas oferecendo seus serviços a preços final do trabalho, voce nao achar essa mensagem com grande variaçao. Significa que todos sejam incrítransmitida na capa, e porque ela nao esta boa veis? Nao. (independentemente da sua qualidade artística).
Uma vez no Profissionais do Livro (ou em qualquer outra plataforma), voce deve vasculhar os comentarios de clientes feitos sobre aquele capista e, princi3. Sintetize seu livro palmente, visitar o seu site ou portfolio para ver se Nao adianta tambem entregar um livro inteiro para realmente gosta do seu estilo. Se nao gostar, nao conum capista e falar “se vire”. Sejamos praticos: a proba- trate. Simples assim. bilidade de um capista profissional que depende de Se gostar, contrate: mas seja extremamente rígido na escala (e, portanto, produz diversas capas por mes sua demanda e aprove apenas se realmente amar a para sobreviver) efetivamente ler o seu livro inteiro e capa. mínima. Sintetize-o. Tenha clara a mensagem que deseja transmitir e entregue ao capista material para que ele pos- Saiba quanto custa publicar um livro sa se aprofundar, incluindo uma sinopse eficiente e A capa e so o que eu preciso para o meu livro funciotrechos que voce acredita que sejam “exemplares”. nar? Claro que nao – ha muitos livros com capas incríveis que nunca venderam mais que meia duzia de exemplares. Ha mais, muito mais envolvido 4. Tenha referências de capas em transformar uma historia em um sucesso de venO capista que voce arrumara (falaremos disso logo das. A capa e so um dos elementos fundamentais. mais) ate pode entender a mensagem do seu livro – mas ele dificilmente sabera o seu gosto pessoal se voce nao passar referencias praticas. O que sao essas referencias? Capas de outros livros que voce gosta. Va a uma livraria no final de semana, pesquise na internet, tire fotos, enfim: reuna algumas imagens que sirvam de inspiraçao para o profissional que estiver trabalhando para voce. Referencias, alias, nem precisam ser apenas de capas incríveis. E tao importante dizer o que quer quanto dizer o que nao quer. Leia também: As 10 piores capas da história 5. Arrume um bom capista A nao ser que voce seja um designer ou um entusiasta da diagramaçao – o que certamente facilita a vida – nao tenha duvidas da necessidade de arrumar um para trabalhar para voce. Como? Pode ser um amigo ou um profissional de mercado – tanto faz. O importante e ter em mente que este sera um profissional fundamental para seu livro. FUNDAMENTAL Neste sentido, recomendamos que voce navegue no Profissionais do Livro, plataforma do Clube de AuPágina 32
www.issuu.com/correntedescrita
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Dicas de português Pedi a meu querido amigo Mario Paiva que me sugerisse [algo pronto-a-comer], que no Brasil chamam fast food . De variantes para as palavras do lexico lusofono da cronica. novo o Ingles. Atras de mim, senta-se um senhor que me Ele me atendeu. Eis o delicioso resultado: parece um [cabeça de turco, que no Brasil chamam] testa O lexico, modos de dizer e construçao de frases variam bas- de ferro. Nos arredores, todos sabem que ele e dono de tres tante de regiao para regiao, pelo que achei mais util rees- boates onde trabalham brasileiras! Portanto, as casas percrever como eu o faria, nos casos de grandes diferenças tencem a outros donos! entre nossas semanticas. Estou escrevendo/a escrever no meu telemovel/celular e peço antecipadas desculpas por qualquer falha...
Voltei a sentar-me. Peguei no [o] telemovel, mas o telefone da Maria deu interrompido [deu impedido o telefone da Maria]. Ia desligar, mas no display [porem no ecran (tela)] passou a dar o trecho de um filme sobre o satelite [a luabebe ??? (satelite)] dos russos. Fiquei a pensar: como e que conseguiram filmar essa luazinha [filmaram essa luinha] no espaço sideral? Mas deveria ser filmezinho [filminho] brasileiro: estava escrito “com o Sputnik, os comunistas venceram a primeira batalha da guerra espacial, em 1957”. Em russo, Sputnik quer dizer companheiro!
Sou aderente (assinante) e nao paro na portagem [no pedagio], mas o polícia pede-me [o guarda me pede] os documentos do autocarro. Olha-os bem e diz: “Esta tudo em ordem, mas tenha cuidado porque la a frente [adiante], depois daquela ruela [azinhaga {*} ] ao lado do predio, esta um animal/bicho (amarrado?) [ha uma azemola] na rua/ estrada. Se travar [pisar no breque] assustado, o carro pode -se despistar. O senhor nao esta com os copos, pois nao? Chamei o empregado de mesa [garçom], pedi uns pipis (miudos de frango), que comecei a comer com gosto, rega[entre as dez e as onze (bebado), esta?] dos a um copo de vinho alentejano. Mas quase que nao paRespondo que nunca bebo/tomo bebidas alcoolicas! [ingiro go: o dinheiro que trazia, eu [o] tinha-o gasto para pagar as bebida de alcool nunca!] Na semana passada estava numa propinas [no pagamento de propina] (taxa) na universidafesta, o empregado de mesa [o escançao (sommelier)] pasde, hoje foi dia de matrícula! Quase que fiquei [fico] com o sava a toda a hora com o jarro [a jarra] de vinho, eu sempre rabo a seringa! recusava e ele voltava a oferecer sempre que passava [sempre oferecia de novo] . Esta [Essa] gente perdeu a me- Quando ia a sair [saindo], um reguila (briguento) desatou moria! Mas o bom homem, passando a mao pela arma [coça [passou] a discutir com alguns escalda-favais (idem) e esa fusca (arma)] no coldre, [e me manda prosseguir] me pirra-canivetes (ibidem). E estavam a comer maças [comendo reineta (maça)], bastante divertidos [bem pandemandou seguir. gos (alegres)]! O empregado de mesa era meio tolo/ Chego a praia, depois de passar pelo animal/bicho parado atrasado [O garçom era meio saloio (bobo){**}], deveria ter [pela azemola (besta de carga)] , mas era um cavalo chamado a polícia logo! [badano (cavalo)]. O polícia confundira-se. O banheiro (salva-vidas) esta instalado bem acima das ondas, vestido Grande confusao aconteceu no liceu [Que sarilho (bagunça) de calçao vermelho, pronto a salvar algum afogado. Algu- que deu no liceu (escola)], meu Deus! mas maes estao a levar os putos (meninos) para a casa de {*} Azinhaga e tambem o nome da povoaçao onde nasceu banho [sanita], que outros conhecem por retrete. No Brasil Jose Saramago. {**} "saloio" significa "caipira". dizem privada, sanitario, toalete tambem w.c., abreviando a expressao do Ingles water closet (armario d´agua). Vejo ao longe um puto (menino) cheio de [adesivos] pensos (esparadrapos). Pergunto a uma moça [rapariga (moça)] , so para meter conversa [bater uma prosa], pois ela e um borrachinho (gatinha), o que houve com ele. Responde-me que esta assim esfolado/ferido [estrafegado] porque foi atacado por um cao [canzarrao]. Foi uma confusao dos diabos [grande o chule (bagunça)]. Entro na fila [Posto-me atras da bicha (fila)] e espero a minha vez. Estao a servir sanduíches e outros pratos rapidos Página 33
Ano IV — Número 45 - Mensal: julho de 2021
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Canasvieiras—270 anos, retrata a história e as gentes que fundaram este distrito de Florianópolis/SC. Criado oficialmente a 15 de abril de 1835, o povoado já existia desde os primórdios da fundação do arraial Nossa Senhora do Desterro, em 1673, por Francisco Dias Velho. Recebeu um grande incremento populacional com a chegada dos primeiros açorianos em 1748. No tempo, o povoado estava integrado na freguesia de Santo António de Lisboa desde 1750. O seu nome deriva da existência na região de um grande canavial (cana-do-rei, ou simplesmente cana). Muitos escritores, particularmente Virgílio Várzea escreveram sobre Canasvieiras. Afonso Rocha dá-nos, com este seu recente trabalho, um novo olhar e uma previsão futurista do balneário mais famoso de Floripa.
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As mulheres, os homens, as crianças e os idosos; a comunidade LGBT; os negros, os índios, os ciganos, os imigrantes e todos os demais desprotegidos, são perseguidos, violentados, agredidos e estuprados... Nesta obra intimista, Afonso Rocha passeia-se pela sua própria experiência, mas também a de todos nós, como comunidade, para que se dinamize e reforce a forma de combater estas mazelas, estes crimes bárbaros (a pedofilia, estupro), já considerados o holocausto do século XXI.
Através de estórias imperdíveis, Afonso Rocha leva-nos até 500 anos atrás, quando os portugueses chegaram ao sul do Brasil, onde criaram família, cultivaram tradições e culturas que viriam a “marcar” a cultura catarinense. Sangue Lusitano é a história do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, de suas vilas e cidades e de seus povos (indígenas, portugueses, negros e outros que se lhes juntaram posteriormente). Um livro a não perder.
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Olhos D’Água—Histórias de um tempo sem tempo, relata-nos as vivências do povo português entre 1946 e 1974 e a sua resistência à ditadura e ao fascismo do regime de então. Por outro lado, configura uma autobiografia do autor (Afonso Rocha) nas suas andanças pelo período escolar, pelo serviço militar; a guerra colonial em África; a emigração em França; a resistência, até à revolução dos cravos... Um livro a não perder, sobretudo para quem gosta de história.
Trovas ao Vento, é uma coletânea de poemas e outros pensares, enriquecida com o contributo de outros poetas convidados naturais do Brasil, Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Angola e da Galiza, como expressão do pensar lusófono. Um encontro de expressões diferentes, manifestadas pela língua comum que nos cimenta e faz pensar português. Um livro de cabeceira, não para ler, mas para pensar e refletir.
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Corrente d’ escrita
Número 37 - setembro 2020
I N É D I TOS n a a ma z o n . c o m
Casa dos Livros e da Leitura
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