Corrente d'escrita 48

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Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021

Corrente d’escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil

Fundado por Afonso Rocha—julho 2017

www.issuu.com/correntedescrita

RJ Página 23

SP


Corrente d’ escrita

Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha

Boa tarde, estimado amigo e colega Afonso Rocha! Como de habito, acabei de me deleitar com as diversas novidades que apresenta nesta sua ultima versao do “Corrente d´Escrita” (n° 47). Meus parabens pelos detalhes com que aborda os diversos artigos e eventos de “nossas historias – portuguesa e brasileira”, principalmente com as minucias e novidades nem sempre conhecidas ou mesmo lembradas. Sempre consigo me transportar a memoria do meu passado, posto que revejo na mente e tambem no coraçao, diversas passagens da minha vida pessoal e profissional, pois viajei por 131 países no mundo e convivi com muitas culturas religioes e habitos de povos diferentes, numa epoca em que ainda se lutava pela independencia de certas “colonias”, como Angola e Moçambique, da parte de Portugal, o Zimbabue, e tantas outras das respectivas Metropoles. Inclusive, pernoitei a 500 metros do acampamento guerrilheiro, em Zambia, ao tempo do Presidente

Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história a língua portuguesa e a cultura em geral. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário. O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.

Kaunda, na casa de um representante em potencial para vender nossos produtos (brasileiros) naquele País. Visitei ao todo, 30 países africanos, profissionalmente, como pesquisador e abridor de mercados externos para empresas brasileiras, tendo tido a felicidade de tambem ainda conhece-los em sua epoca colonial, em que os brancos ainda nao eram tao discriminados quanto atualmente. Como algo inusitado: na baía de Luanda, em Angola, conheci a Ilha de Mussulo, onde a “vida africana e seus costumes” eram bem vigentes. Exemplo: o candidato a um casamento, tinha que oferecer um dote em dinheiro e mais outro tanto em ovelhas ou outros animais semelhantes, para poder levar sua futura esposa para coabitar. No caso que nao lhe conviesse continuar a manter o casamento, poderia devolver a filha ao pai e receber de retorno tambem o dote, num prazo de 30 dias. Imagino como seria encarado esse tipo de costume aqui no Brasil.... No Norte da Africa, o Egito e um país que oferece imensas possibilidades de conhecer a Historia Antiga. Estive dentro da Piramide de Keops, ate o salao onde estava colocado o sarcofago do Farao, e tambem na Esfinge. A noite jantei numa tenda em pleno deserto e pernoitei sobre o rio Nilo, no barco Isis, que era o prolongamento do hotel, no qual estava hospedado. No Oriente Medio, com exceçao do Sultanato de Oma, conheci todos os países,

com suas culturas. Nao quero me estender a respeito de minhas viagens, porem, dizer, ainda que em Macau, na R.P. da China, assisti a um velorio, para saber como ele se desenvolveu e diferenciava de nossos velorios brasileiros. Tambem conheci o Afeganistao, o Nepal, a India, o Paquistao, o Iran e tantos outros países da Asia, observando seus habitos e costumes, alem de suas respectivas culturas. No meio do caminho entre Baghdad e a Babilonia, os norte-coreanos montaram um museu tridimensional, mostrando uma guerra dos persas contra os iraquianos, que poucas pessoas conhecem, mas e rico nos seus detalhes. Enfim, poderia detalhar ainda muitas informaçoes, inclusive culturais, porem nao desejo sobrecarrega-lo com minhas andanças pelo mundo. Faço votos para que tenha um otimo fim de semana e possa desfrutar de saude nesta nova semana que ora se inicia. Cordial abraço. Hans Kress. ALJ –JOINVILLE.

AVISO: Só os textos não assinados vinculam e responsabilizam a Corrente d’escrita e a direção. Os textos e opiniões assinados responsabilizando exclusivamente os seus autores.


Editorial

Corrente d’escrita

Número 44—junho 2021

Para ilustrar nossa capa de outubro, trazemos imagens de duas das maiores instituições brasileiras ligadas, por um lado à educação, à literatura, aos livros e, por outro, às artes do seu todo. Referimo-nos à Biblioteca Nacional, sedeada no Rio de Janeiro, inaugurada a 29 de outubro de 1810 e ao Museu das Artes, sedeado em São Paulo, inaugurado a 2 de outubro de 1947. Mas o mês de outubro é bem representativo e digno das artes, da poesia e das letras. Dia 12, é o Dia Nacional da Leitura; dia 13, o Dia Mundial do Escritor; dia 20, Dia Mundial da Poesia e do Poeta e, dia 29, o Dia Nacional do Livro. Temos bem o que comemorar. Haja vontade.

No Perfil hoje falamos do Zeca Afonso, um músico, poeta, cantor que animou a resistência ao fascismo em Portugal; um texto sobre os mártires de Uruaçu; a vida daquele que é considerado por muitos como “o pai dos paulistas” e uma história sobre a invasão Holandesa. E ficamos a saber um pouco mais sobre os gaúchos, esses nossos irmãos do estado mais ao sul do Brasil; sobre algumas regras que balizam a língua portuguesa e um texto que coloca em causa o próprio acordo ortográfico (AO). E, claro, só temos a agradecer as preciosas lições do nosso amigo, professor e acadêmico Deonísio, bem com as colaborações de outros prestigiados amigos, como Silvio Vieira, Hilton e Donald. Uma iniciativa aguardada no âmbito do SC Mais Cultura, era o Programa de Incentivo à Cultura (PIC), também conhecido por Lei do Mecenato. Por meio deste programa serão destinados incentivos fiscais a partir da dedução de parte do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), num valor de até 0,5% da fatia estadual do tributo, o que equivale a R$ 75 milhões (em 2021). O contrato já foi assinado e as inscrições abertas. Para saber mais, consulte a Fundação Cultural Catarinense. Boas leituras. Afonso Rocha Página 3

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Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021

Vida/Atividade na Academia

Albig - 25 anos Vinte e cinco anos e uma vida. Um quarto de seculo. Cinco lustres. Muitos momentos de alegria, de gratificantes convívios, de produçoes poeticas, literarias, formativas. Mas tambem, com certeza, momentos de muita dedicaçao, de atinado esforço físico e intelectual, regados com lagrimas e suores, mas que, no final destes 25 anos, desde os mais antigos aos mais novos academicos, numa voz uníssona, poderemos dizer: sim, valeu a pena. Que o digam a nossa grande estrela e confreira Dalvina de Jesus, a nossa matriarca e líder fundadora, bem como tambem a companheira desde os primeiros momentos, Osmarina Maria Silva, que nos iluminam, apoiam e ajudam e seguir com suas experiencias, com empenho na construçao de uma Academia ainda maior que ja se tornou numa referencia regional. Biguaçu, que nos acolheu e mantem o berço, tambem hoje esta, e sempre estara de parabens, por acolher os 40 imortais que compoem a nossa gloriosa Academia de Letras de Biguaçu. A todos confrades eu saudo e desejo longa e produtiva vida no caminhar literario, no caminhar artístico e no caminhar científico. Salve pois, Biguaçu e a sua Academia de Letras, 20 de setembro de 2021. Afonso Rocha - Cadeira 06. Página 4

Com a presença dos representantes do poder municipal (prefeito, vice-prefeito e presidente da Camara de Vereadores), a Academia de Letras de Biguaçu festejou no passado dia 20 de setembro os seus 25 anos de vida. Na mesa da sessao solene (foto abaixo), o presidente da Albig, Fernando Henrique da Silveira, o vice-presidente Carlos Caldas e uma das cofundadoras Osmarina Maria da Silva. Estiveram presentes outros representantes do poder municipal de Governador Celso Ramos; Moacir Pereira, presidente da Academia Catarinense de Letras e outros escritores, nomeadamente de Palhoça e Sao Jose, vereadores e amigos das letras e da cultura. Apos a sessao solene houve ainda apresentaçao de livros dos escritores da casa, um pequeno sarau poetico e um coquetel.


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Vida/Atividade na Academia ACADEMIA CATARINENSE DE LETRAS No âmbito do preenchimento das vagas em aberto na Academia Catarinense de Letras (ACL), quisemos ouvir os candidatos que, no seio da Academia de Letras de Biguaçu ombreiam com nossa própria atuação — Ver matéria no Corrente d’escrita de setembro), aos quais fizemos três pequenas perguntas iguais. Eis as respostas:

William Wollinger Brenuvida

da palavra-conceito “entusiasmo”, como resultante, etimologicamente, do grego enthousiasmós, e se traduz por sopro divino, a exaltação do espírito. Para essa exaltação do espírito, eu, ao colocar em movimento o sentido, compreendo por ardor, por aquilo que nos move, por algo que nos afeta. E como se a imagem (ou a materialidade) que olhamos, nos olhasse de volta. E isso e muito importante porque essa coisa, em verdade, nao simplesmente nos olha, essa coisa nos ve. Entao, o motivo nao pode ser, exclusivamente, a razão única de ser, ou mesmo, nao pode ser, simplesmente, a causa de qualquer coisa. Esse motivo, se revela na afetaçao. O que me afeta? Escrevo “por/com paixao”. Escrevo “com (e) por” entusiasmo/inspiraçao. Escrevo “a partir” (e nao atraves). Para mim, algo deve causar estranhamento, inquietaçao, deve afetar. Escrever tem relaçao com o afeto, com a memoria, com a pratica social e linguageira. Tudo o que me/nos atravessa auxilia o/no processo da escrita. Ao colocar meu nome a disposiçao da Academia Catarinense de Letras (ACL), o motivo, se da pelo atravessamento de afetos. O primeiro e o atravessamento literario. Sou incansavel leitor, desde tenra idade. Li Monteiro Lobato, Pedro Bandeira, Ganymedes Jose e Ana Maria Machado. Li Machado de Assis, Lima Barreto e Cecília Meirelles, tambem Victor Hugo, Emilio Salgari e Arthur Conan Doyle. Li Ziraldo, Carlos Drummond de Andrade e Rachel de Queiroz. Li Graciliano Ramos, e continuo lendo Milan Kundera, Eni Orlandi, Michel Pecheux, e costumeiramente leio as produçoes literarias catarinenses. Quem quer escrever, tambem deve buscar ler.

1° - O que o motiva, caro confrade, a se candidatar à ACL?

Pretendo continuar aprimorando a escrita literaria, bem como a científica. Desafiar, sempre, unir esses dois mundos: o literario e o científico, que hoje continuam digladiando entre si, e penso podem contribuir muito. Ha tecnicas importantes que precisam ser preservadas, outras aprimoradas. E ha questoes que vao alem das tecnicas – tanto no literario, quanto no científico.

Vou retomar um debate que realizei para a Revista da Academia de Letras de Biguaçu (ALBIG) quando fui questionado acerca daquilo que me entusiasma enquanto referencia no mundo literario, social, cultural e político. La, na entrevista para ALBIG, nos valemos O que me move e continuar criando, ir alem do trivial. Página 5


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021

Vida/Atividade na Academia Des(a)fiar o texto como quem tece uma renda, um balaio. Se o conhecimento nao puder ser compartilhado, entao, qual e o sentido de participar de uma instituiçao que atua/se move nos meios culturais?

Participei de um encontro internacional de escritores, em Trento, na Italia, e diversos eventos literarios nacionais. E continuo trilhando, associativamente, trabalhos e pesquisas, participaçoes na Casa dos Açores de Santa Catarina, na Academia de Letras de Biguaçu, na 2° - E por que os acadêmicos da ACL deverão votar Academia de Letras de Governador Celso Ramos, e na em seu nome, preterindo outros candidatos? Academia de Letras de Nova Trento. Tambem, no InsEscolher e uma ardua decisao, e ao mesmo tempo, tituto de Genealogia de Santa Catarina, e no Instituto uma atitude nobre, principalmente quando se trata de Historico e Geografico de Santa Catarina. uma instituiçao tao importante como a Academia Ca- Penso que os academicos da ACL avaliarao esta nossa tarinense de Letras (ACL). Cada academico da ACL, trajetoria. por posiçao e trajetoria, tem o direito estatutario de escolher o(s) novo(s) academico(s). Sendo assim, eu 3° - Uma vez eleito, o que se propõe promover e/ encaminhei, conforme o solicitado pelo edital ou fazer, no seio da ACL, na promoção da literatu005/2021, uma breve biografia e um exemplar de ra e da língua portuguesa? obra publicada. Tomei a decisao, tambem, de pedir o A Academia Catarinense de Letras (ACL) e uma instivoto dos academicos, encaminhando uma pequena tuiçao cultural-literaria que reune nomes importantes biografia e bibliografia, e publicaçoes curtas, em prosa da Literatura Catarinense para realizar algo que Joao e poesia, para a analise e apreciaçao destes escritos. Cabral de Melo Neto tao bem deixou preconizado: “O Encaminhei a cada academico, poesias, cronicas e conpoeta faz a língua se conservar e andar para a frente.”. tos, e um ensaio historico. Mas, somente ao poeta vai servir essa recomendaçao? Penso que reuni, ao longo de mais de 20 anos, em San- Penso que aí esteja a grande beleza deste escritor. Pota Catarina, um trabalho que dialoga com o sociocultu- eta nao e apenas aquele escreve por/em versos. Poeral, com o socio-historico, com o socioambiental. Fui tas somos todos nos que impregnamos e fazemos voluntario em diversas açoes, o que inclui a constru- transitar em nossas obras de/com poesia. E quando çao do predio da escola de educaçao especial, e a res- Joao Cabral de Melo Neto coloca em movimento esse pectiva sede da APAE de Governador Celso Ramos. ato de conservar e “andar para frente”, ele fala da línSomo duas graduaçoes, em Direito e Comunicaçao gua, e ele sempre-já-lá a transforma em Linguagem. Social (Jornalismo), duas pos-graduaçoes, uma latu sensu (especializaçao em Direito Processual Penal) e outra strictu sensu (mestrado em Ciencia da Linguagem), e estou cursando outra pos-graduaçao strictu sensu (doutorado em Ciencia da Linguagem).

Ao colocar os sentidos em suspensao, em movimento, nos escritores nos enxerguemos poetas, nos nos enxerguemos artífices (nao apenas das palavras), aproximando a Literatura e a Ciencia, o verso e a possibilidade do verso, a cronica do conto, o desafio do romanTenho uma modesta publicaçao científica, em que ce, e uma nova maneira de escrever que nao seja apetransitam uma dissertaçao, duas monografias, um nas um “discurso sobre determinado objeto”. TCC, artigos, alem de capítulos de livros e ensaios. E por isso que eu coloquei meu nome a disposiçao, Tambem, desenvolvi cinco vídeo-documentarios, na como candidato a ACL. Esta instituiçao tem por objetiarea socioambiental. vo conservar e fazer andar para frente a Língua (e a No campo literario, somos quatro livros-solo, e um Linguagem). E desta forma tambem que vamos remelivro em parceria. Tenho diversas publicaçoes em an- morar e engrandecer os escritores do passado, e vatologias de prosa e poesia, e obtive os primeiros luga- mos permitir vislumbrar uma nova safra de escritores, com o olhar atento dos confrades que sao interes em alguns concursos literarios pelo país. Página 6


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Vida/Atividade na Academia grantes deste seleto grupo de escritores. setembro de 2021

José Braz da Silveira

sentar a todos. 3 – Uma vez eleito, o que se propõe promover e/ ou fazer, no seio da ACL, na promoção da literatura e da língua portuguesa? Resposta: Depois de conhecer profundamente o regimento interno da ACL, me prontificarei a ajudar a Diretoria em tudo que precisar e que estiver ao meu alcance. Em uma instituiçao como a ACL nao se deve “sonhar so”, pois os sonhos coletivos estao muito proximos da realidade. Pensar juntos, planejar juntos e fazer juntos.

1 – O que o motivou, caro confrade, a se candidatar a ACL? Resposta: Sempre me senti motivado pelas questoes ligadas a historia, a cultura e principalmente a literatura e a Língua Portuguesa. A Academia Catarinense de Letras e uma das mais importantes Instituiçoes de nosso Estado. Integrar a ACL e ter a oportunidade de atuar ao lado de outras pessoas imbuídas dos mesmos propositos sera uma grande satisfaçao. 2 – E por que os acadêmicos da ACL deverão votar em seu nome, preterindo outros candidatos? Resposta: Em um certame como esse, nao havera perdedores. Um dos concorrentes ocupara a cadeira em disputa e os demais sentirao a satisfaçao de ter participado de um processo justo. Se eu tiver a sorte de ser o escolhido, lutarei diuturnamente para reprePágina 7


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Perfil

Trazemos ao perfil de hoje, um grande cantor popular e, sobretudo, um músico e poeta. Zeca Afonso foi um cantor da resistência ao fascismo e à ditadura em Portugal. Uma de suas canções—Grândola Vila Morena, serviu de senha para o arranque da revolução que derrubou a ditadura.

Zeca Afonso Zeca Afonso Pouca gente, dentro do espaço lusofono, nao ouviu falar de Zeca Afonso. Grande poeta, autor de musica e interprete, sobretudo de cançoes da resistencia e do embalar. Animou muitas rodas de conversa e atividades dos trabalhadores e dos emigrantes portugueses, desde a Europa, a Africa, America, Canada. Nao foi por mero acaso que sua obra “Grandola Vila Morena” foi a senha que despoletou a revoluçao que poria fim a ditadura e ao regime fascista em Portugal na noite de 24 para 25 de abril de 1974.

de seus sobrinhos, tambem musicos: Joao Afonso Lima e Antonio Afonso Lima. Em 1937 regressa a Aveiro, mas parte no mesmo ano para Moçambique, onde se reencontra com os pais e os irmaos em Lourenço Marques. No ano seguinte, volta para Portugal, indo viver em Belmonte, com o tio Filomeno, que ocupava o cargo de presidente da Camara. Completa a instruçao primaria nesta localidade, vivendo num pesado ambiente salazarista, em casa do tio e sendo forçado a usar o traje da Mocidade Portuguesa.

Em 1939 os seus pais foram viver para Timor, onde seriam cativos dos ocupantes japoneses durante tres De uma família burguesa, Jose Manuel Cerqueira anos, entre 1942 e 1945. Afonso dos Santos nasceu na Freguesia de Gloria, em Aveiro, filho do juiz Jose Nepomuceno Afonso dos Durante esse período, Zeca Afonso nao teve notícias Santos e da sua mulher, Maria das Dores Dantas Cer- dos pais. queira, professora da instruçao primaria, no dia 2 de Frequentou o Liceu Nacional D. Joao III e a Faculdade Agosto de 1929. de Letras de Coimbra, e integrou o Orfeao Academico Viveu em Aveiro ate aos tres anos, numa casa do Lar- de Coimbra e a Tuna go das Cinco Bicas, com a tia Ge e o tio Chico, bem como com seu irmao Joao Cerqueira Afonso dos Santos. Aos tres anos de vida foi levado para Angola, onde o pai havia sido colocado como delegado do Procurador da Republica, em 1930 e onde nasceria, em Silva Porto, a sua irma Maria Cerqueira Afonso dos Santos, mae Página 8

Academica da Universidade de Coimbra. Nessa altura revelou-se um interprete especialmente dotado na cançao de Coimbra, tendo assimilado o ambiente de mudança que, naquela altura, se estava a começar a manifestar naquela localidade. Em 1948 completa o Curso Geral dos Liceus, apos duas reprovaçoes.


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 Conhece Maria Amalia de Oliveira, uma costureira de origem humilde, com quem vem a casar em segredo, dada a oposiçao da família. Continua na vida associativa, fazendo viagens com o Orfeao Academico de Coimbra e com a Tuna Academica da Universidade de Coimbra, ao mesmo tempo que integra a equipa de futebol da Academica. Em 1949 inscreve-se no curso de Ciencias Historico-Filosoficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Volta a Angola e Moçambique, integrado numa comitiva do Orfeao Academico de Coimbra.

baça, Aljustrel, Lagos, e Faro. Em 1956 e colocado em Aljustrel e divorcia-se de Maria Amalia. Em 1958 envia os filhos para Moçambique, que ficam ao cuidado dos avos. Entre 1958 e 1959 e professor de frances e de Historia, na Escola Comercial e Industrial de Alcobaça.

Apesar das exigencias da sua profissao, nao esqueceu as suas ligaçoes a Coimbra, onde gravou o seu primeiro disco, em 1958. Foi influenciado pelas correntes de mudança que se faziam sentir naquela localidade e pelo convívio com figuras como Antonio Portugal, FlaEm Janeiro de 1953 nasce-lhe o primeiro filho, Jose vio Rodrigues da Silva, Manuel Alegre, Louza HenriManuel. Para sustentar a sua família, Zeca Afonso da ques e Adriano Correia de Oliveira, que marcou espeexplicaçoes e faz revisao de textos no Diario de Coim- cialmente a sua obra Coimbra. bra. Pela mesma altura grava o seu primeiro disco, Em Maio de 1964 Jose Afonso atua na Sociedade MusiFados de Coimbra. Tem grandes dificuldades econo- cal Fraternidade Operaria Grandolense, onde se inspimicas, como refere em carta enviada aos pais em Mo- ra para fazer a cançao Grandola, Vila Morena. A musiçambique. Ainda antes de terminar o curso, e-lhe per- ca viria a ser a senha do Movimento das Forças Armamitido leccionar no Ensino Tecnico. das no golpe de 25 de Abril de 1974, permanecendo Cumpriu, de 1953 a 1955, em Mafra e Coimbra, o Ser- como uma das musicas mais significativas do período viço Militar Obrigatorio; pouco depois, começa a lecci- revolucionario. Ainda naquele ano sao lançados os onar, passando, sucessivamente, por Mangualde, Alco- albuns Cantares de Jose Afonso e Baladas e Cançoes.

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Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 Residiu, entre 1964 e 1967, em Moçambique, acompa- restos mortais descansam no cemiterio setubalense nhado pelos dois filhos e pela sua companheira, Zelia, de Nossa Senhora da Piedade. tendo ensinado na Beira, e em Lourenço Marques. Nesta altura, começa a sua carreira política, em defesa Grândola, Vila Morena dos ideais de independencia, o que lhe valeu a atençao Zeca Afonso dos agentes do governo colonial. Quando regressa a Portugal, em 1967, e colocado como professor em Setubal; no entanto, fica a leccionar pouco tempo, pois acaba por ser expulso do ensino oficial, depois de um período de doença. Para sobreviver, começa a dar explicaçoes. A partir desse ano, torna-se definitivamente um símbolo da resistencia democratica. Mantem contatos com a Liga de Unidade e Açao Revolucionaria e o Partido Comunista Portugues — ainda que se mantenha independente de partidos e acaba preso pela PIDE. Apos a Revoluçao de 25 de Abril de 1974, acentua a sua defesa da liberdade, tendo realizado varias sessoes de apoio a diversos movimentos, em Portugal e no estrangeiro; retoma, igualmente, a sua funçao de professor. Continuou a cantar ao mesmo tempo que se envolve em numerosas sessoes do Canto Livre Perseguido, bem como nas campanhas de alfabetizaçao do MFA. A sua intervençao política nao para. Os seus ultimos espetaculos terao lugar nos Coliseus de Lisboa e do Porto, em 1983, numa fase avançada da sua doença (esclerose lateral amiotrofica). No final desse mesmo ano e-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa a distinçao. A 23 de Fevereiro de 1987, em Vila Nogueira de Azeitao, perto de Setubal, onde Zeca Afonso morou nos ultimos anos de vida com a sua companheira Zelia, a morte chega para o levar. O seu funeral na "cidade do peixe" foi um evento massivo, tendo saído a rua perto de vinte mil pessoas para prestar um tributo postumo a esta grande figura da musica portuguesa. Os seus

Composição de: José M. Afonso Grândola, Vila Morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade Dentro de ti, ó cidade O povo é quem mais ordena Terra da fraternidade Grândola, Vila Morena Em cada esquina, um amigo Em cada rosto, igualdade Grândola, Vila Morena Terra da fraternidade Terra da fraternidade Grândola, Vila Morena Em cada rosto, igualdade O povo é quem mais ordena À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola, a tua vontade Grândola, a tua vontade Jurei ter por companheira À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade

Para divulgar (grátis) seus trabalhos no

Corrente d’escrita Envie-nos seus textos (maximo: 4 mil toques para cronica, conto ou ensaio). Página 10


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Leituras...

João José Leal apresenta-nos CINCO TEMPOS— CRONICAS, numa linguagem simples, objetiva e coloquial, tendo em sua tematica garimpada nas aguas, nem sempre mansas, desse colossal oceano que e o cotidiano da vida humana e social, segundo suas propria palavras. A obra forma uma coletanea de cronicas, cujos textos misturam ficçao e realidade para abordar assuntos relacionados a diversidade do cotidiano e da existencia humana. Os textos estao reunidos em cinco partes ou serie de cronicas e abordam temas peculiares a um determinado tempo ou momento. A pandemia causada pela Covid-19 que contagiou e ja levou a morte milhoes de pessoas; a internet, essa teia magica de comunicaçao social; os lemas das Campanhas da Fraternidade que tem sido um chamado a solidariedade e a justiça social; os momentos de ilusao e de magia vivenciados nas festas de final de ano e, enfim, as estaçoes do ano, que convidam a refletir sobre as matas, as flores, os passaros, o frio ate com neve, eis os assuntos abordados nesta coletanea de cronicas, com 187 paginas, a p/b com 15x21cm. __________________ Joao Jose Leal e membro da Academia Catarinense de Letras, onde ocupa a cadeira 31. Nasceu em Tijucas em 1941; estudou no Colegio “Divino Espírito Santo”, onde concluiu o curso primario; cursou o Ginasio e Classico no Instituto de Educaçao “Dias Velho”; em 1961, ingressou na Faculdade de Página 11

Direito da UFSC, obtendo o diploma de bacharel em Direito, em 1966; e mestre em Direito pela Universidade Livre de Bruxelas e Livre Docente-Doutor em Direito Penal—UGF/RJ; em 1967, ingressou no Ministerio Publico de Santa Catarina, onde se aposentou em 1992, tendo exercido a funçao de Procurador Geral de Justiça. Na area das ciencias criminais publicou diversos cursos e mais de um centena de artigos especializados. Ha mais de vinte anos, escreve cronica semanal para o jornal impresso “O Município”, de Brusque e de outras cidades catarinenses. Publicou os livros de cronicas: Páginas de uma Cidade e Estórias de Cidade—Crônicas Tijucanas.


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Em vias de completar 75 anos, Afonso Rocha presenteia-nos com mais um trabalho narrativo, intermediando entre cronicas, contos e outros arrufos, entendendo por arrufos posturas e birras sociais, indispensaveis e oportunas nos dias de hoje. Correndo ao leve da tecla, o autor traz-nos retratos vivos de suas vivencias, seus sentires, suas observaçoes ao longo de seus 25 lustros, de seus 75 outonos, nao fugindo aos amargos de boca que sao as criticas e os louvores, dedicados com carinho pedagogico a que os merecer. Alinhadas sem pergaminhos historicos, na ordenaçao do alfabeto bem portugues, tentou o autor fugir, ao cansado da rotina tematica e da enrolaçao nem sempre desejavel para quem gosta e aprecia uma boa leitura.

como por exemplo: “no cair da folha”, “no terceiro quartel”, “no lusco fusco”, “no final da vindima” ou “vencendo as cercanias”, foram sugestoes que me invadiram as ideias, mas que, em momento de decisao final, acabaram por ficar atolados no bau das possibilidades. OUTONO sugere o cair da folha da arvore que cresceu, vingou e que atingiu o seu declínio natural. Tambem eu, autor, me encontro na melhor idade, permitindome falar alto e so fazer o que me der na real gana. Na verdade, respeitando sempre o meu semelhante ou o meu igual, sou dono de mim mesmo, o patrao de minhas angustias e de meus devaneios. OUTONO, vem com 264 paginas, capa coloria e miolo a p/b, com paginas de 16 x 23 cm.

O autor, alem de fundador e diretor do Corrente d’escrita, ocupa a cadeira 21, na Academia de Artes, Letras e Ciencias de Cruz Alta/RS e a cadeira 06, na AcaChamamos OUTONO a este estrebuchar dos tempos, demia de Letras de Biguaçu/SC. mas muitos outros títulos poderíamos ter escolhido, Pedidos: narealgana@gmail.com

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ALMEDINA - NOVOS CAMINHOS PARA AUTORES BRASILEIROS

entre os moradores sobrevem as paixoes, os odios, os amores, a traiçao e a solidao, as esperanças, tristezas e alegrias que acompanham o homem para onde quer que ele se desloque.

Miro Morais e tambem conhecido por "A coroa no reino das possibilidades", denso e profundo estudo da porçao açoria"Caminho sem volta", do veterano escritor catarinense Mina da alma de milhoes de brasileiros. ro Morais, e "Alice deve estar viva", estreia do ator gaucho Werner Schunemann, sao dois promissores romances que o A editora Almedina trouxe em 2021 o romance de estreia grupo editorial Almedina lança este ano no Brasil e em Por- de José Mattos, "Dias Contados", narrativa a la romance policial, que se passa no Rio. Vieram no mesmo ano "O tugal. olhar da aguia", romance de Carlos Nejar; "Cronicas, ta Werner Schünemann faz sua estreia no genero e quem ja o.k.?", de Carlos Eduardo Novaes, e "Tiranos", de Ernani leu os originais sentiu o lampejo do bom escritor, capaz de Buchmann, precioso e sintetico rol de ditadores que se produzir, nao apenas bons livros, mas tambem novos leitornaram personagens referenciais de romances latinotores. americanos. Integra a coleçao, intitulada 'Abelha: Mel & Enquanto a narrativa do gaucho e contida e tera menos de Ferrao", um meticuloso estudo de Martin Wille sobre as 200 paginas, a de Miro Morais e de estilo caudaloso e tera pesquisas dos alemaes Martius e Spix no Brasil. E saem mais do que o dobro do colega do estado vizinho. ainda este ano " O ultimo dia de Cabeza de Vaca", ficçao Miro Morais e conhecido do publico pelas relevantes fun- alucinante e de tom surrealista, como e proprio a realidaçoes desempenhadas sempre com brilho e ser autor de de das Americas, do jornalista Fábio Campana, levado pela covide logo depois de fazer a revisao do autor, e livros marcantes. "Lagoa dos Cavalos', romance de José Carlos Gentili baseO romance "Candido assassino”, de 1982, que ganhou o ado na vida do padre Feijo, regente imperial do Brasil. prestigioso Premio Cruz e Sousa, baseou-se na historia real Para celebrar o bicentenario da heroína de dois mundos, de um criminoso indultado no Natal. A caminho de Joinville, Anita Garibaldi, a editora preparou dois livros. "Balada por para visitar a família, nao fez jus ao ato de clemencia e matou dois idosos para roubar-lhes o dinheiro. “Senti ali uma Anita Garibaldi & Outras Historias Catarinautas", de Deonísio da Silva, reuniao de narrativas curtas cujas tramas e grande traiçao a minha crença no ser humano”, disse o espersonagens se passam em Santa Catarina, e prefaciado critor em entrevista, quando contou como escreveu o romance. Miro Morais tinha conhecido um presidiario reinci- pelo senador Esperidiao Amin, "recente amigo de infancia do autor". E ja esta no prelo "Anita Garibaldi revive", do dente na Penitenciaria Estadual e aproveitou esta experienconhecido jornalista Moacir Pereira, autor de livros relecia para compor seu personagem problematico. vantes sobre personalidades, temas e problemas catarinenJa em “O reino dos esquecidos” toma conta das tramas o ses e colunista em jornais diarios e na televisao. fidalgo Manoel Manso, que deixa o Rio de Janeiro imperial, Novos e bons livros estao sendo preparados para 2022. O no seculo XIX, e vai para a fictícia Bravata, no Sul do Brasil, para implantar sua utopia: um povoado onde todos podem povo do livro encontrara boas opçoes literarias no catalogo do grupo editorial lusofono, muito conhecido do segmento viver felizes. de obras referenciais das Humanidades, mas sem ter publiA bravata torna-se realidade e das selvas surge uma babel cado literatura brasileira ate entao. Os autores e livros pude raças e línguas que entretanto vao expor as contradi- blicados constituem-se em novos caminhos para os autores çoes inerentes a essencia do ser humano e coisas jamais brasileiros. imaginadas pelo fundador. A utopia sai de seu controle e

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Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021

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Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 ternas de luzes esverdeadas, espiando o misterio.

A curva mal-assombrada

Sera que eram os olhos do falecido que moravam naquelas redondezas ou ate mesmo um extraterrestre tentando passar alguma mensagem?

O pio apavorante da coruja avisava do perigo iminente. Os poucos transeuntes desavisados que por ali passavam, logo apressavam o passo ou corriam em dispaO vilarejo ficou em polvorosa. rada ate avistar o vilarejo. Nao havia duvidas que O fedor logo se espalhou no ar e os urubus alvoroça- eram os olhos do falecido. O mais prudente nessas dos deram sinal que havia nas proximidades algum horas de panico era correr sem parar. animal morto. Alguns moradores criaram coragem e Depois da descoberta do terrível e cruel assassinato se embrenharam no mato. nas imediaçoes da curva, poucos se arriscavam a pasLa estava o velho jogado no corrego, sem as partes sar por ali a noite. Quando passavam nao se atreviam íntimas que foram cortadas, provavelmente, com uma a olhar para os lados. faca. Os urubus ja tinham arrancado seus olhos e ouCom vento forte e noite de lua cheia, a coisa ficava tras partes ja se encontravam em decomposiçao. Crimais apavorante ainda. Varias figuras estranhas danme monstruoso. çavam no caminho e corriam com a gente. Ora na Nas imediaçoes do corpo, estava tudo revirado, assim frente, as vezes ao lado. O pior e quando se percebia a como no barraco de chao batido onde o velho morava. figura bem atras da gente, nos calcanhares. Nao adianHavia quinquilharias e roupas velhas espalhadas pelo tava correr. Ela era implacavel na silenciosa perseguichao ensanguentado. Um velho chapeu de couro foi o çao. que mais despertou a atençao dos moradores, pois o Naquela noite, um sujeito muito estranho entrou no velho sempre foi visto usando chapeu de palha. unico boteco do vilarejo. Economico nas palavras e Ao redor das figueiras cavaram uma enorme vala, por nos gestos. Pediu uma cachaça e se acomodou num certo a procura do ouro que o velho guardava escon- canto do bar. O chapeu de couro tapando seus olhos dido. Pura lenda, mas que despertou a cobiça de mui- dava-lhe um ar mais misterioso e suspeito. Afinal, fata gente. O caminho era estreito e de chao arenoso, zia quase uma semana daquele assassinato. margeado por florestas e capoeiras. Na sequencia, uma curva mais estreita ainda, ladeada por duas enormes figueiras. Bem ali, um filete de agua escura, mercurizada, parecia sangue e atravessava o estreito caminho, desaparecendo no meio dos arbustos. As figueiras, com seus enormes galhos de densa folhagem, refletiam no caminho estranhas figuras em noite de lua cheia.

Seria esse o assassino cruel do velho? O estranho engoliu a cachaça e saiu apressado em direçao as figueiras. Assim que o indivíduo saiu do boteco, virou conversa obrigatoria nas rodas de batepapo. Os anos se passaram e hoje as figueiras ja nao existem mais. Por ali passa a estrada asfaltada que vai ate o Porto de Itapoa.

Passar por ali a noite era coisa de gente destemida. Mesmo de dia os valentes apressavam o passo e os Proximo ao local, numa guarita improvisada, o sujeito medrosos a evitavam. As luzes brilhantes espiavam o estranho que apareceu no vilarejo e o vigilante noturandar dos que passavam e se movimentavam entre as no. folhagens das figueiras. No meio da mata escura provocavam mais medo ainda. Os olhos dessas estranhas Silvio Vieira figuras piscavam e desapareciam no meio dos galhos e Educador e Consultor empresarial folhagens. Quando estaticos, pareciam pequenas lanJoinville/SC Página 15


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021

O NOSSO FALAR

Para a Mãe África (Eu me rebatizo) Em memória a Miguel Maria da Costa Ao som de todos Os sagrados tambores... Para arte profana... Para o povo que sofre… A dor eviterna da diáspora! Eu me rebatizo! *** Vou me rebatizar. Para ti oh Mãe África! *** Dos ridículos da vida... Volto para ti! Para a minha sacrossanta Mãe África, *** Volto para ti… Com todo o rigor. Para música profana! *** Eu me rebatizo. Para toda a música profana... Do batuque e para dança! Para toda a música profana... O batuque... Eu volto somente para ti Oh minha divina Mãe África... Samuel da Costa é poeta em Itajaí SC

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Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 tu ta falando com a outra?

O Perneta veio com a bengala em riste. Errou o golpe, desequilibrou-se, estatelando-se no chao. Os outros envolveram-no com abraços, desviando sua atençao do oponente. Doca ofereceu-se para ir buscar bebida. Correca, com o medo nos olhos, suspirou de alívio:

A outra era a Doca, atualmente embarrigada, nao se sabe por qual dos ocupantes da praça. Perneta nao admitia INCIDENTE NA PRAÇA replicas. Erguendo a bengala, descarregou-a nas costelas da Maria Preta. Circunstantes pararam a fim de apreciar o tumulto. Bernabe ria com o unico den- – Poxa, se eu soubesse que tratavio era te. Correca, que andava de olho na mu- um palavrao, nao tinha me metido a Certo dia, passando pela frente do fo- lata, ficou incomodado. Lembrando-se besta! rum, o indigente Correca ouviu, numa da discussao ouvida horas antes, diridiscussao entre causídicos: o nobre giu-se ao Perneta: colega e intratavel! Que palavras boni– O nobre colegua e um tratavio! tas – pensou. Nada como a gente ser – Que? Repete isso se tu e home! estudado. Voltando a praça, lugar de reuniao dos indigentes, encontrou a turma as voltas com uma garrafa de branquinha. O primeiro gole era para o Perneta, considerado o líder. Perneta depositava a bengala na grama, arreganhava a boca desdentada e emborcava a garrafa. O líquido escorria pela barba rala. Depois era a vez do Caracu. A garrafa pela metade passava ao Bernabe, o indecente. Esse deitava-se na grama, debaixo da velha mangueira, e sorvia a cachaça como se estivesse num festim na antiga Roma.

– Um tratavio! E dos grandes! – Reforçou Correca. O pequeno Correca era meio misterioso. Surgira de repente na praça, nao se sabe de onde. O Perneta avançou furioso: – Vem aqui, seu titica! Vou te mostra quem e batavio!

Em torno da praça gravitava a vida de todos; a noite, depois de perambularem pelas ruas, dormiam debaixo das arvores e utilizavam a bica d’agua para os atos de higiene. Acabada a bebida, o Perneta dirigiu-se seco a Maria Preta: te vira, mulher. Vai arranjar mais! – Vai tu, aleijado do inferno! Pensa que

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Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021

UMA CIDADE FEITA DE ACORDES

que fundaram a cidade: “No Bohmmerwald, na Baviera, vivia um povo alegre.... No navio Zanzibar..., cantaram para se alegrarem mutuamente e criarem mais forte esperança na nova patria para onde se dirigiam”. Sao mais de 140 anos de intervalo entre a primeira viagem de Roy e Michelle e a dos imigrantes que vieram para ca. As mudanças, nesse período, foram profundas, mas uma coisa nao mudou: em Sao Bento do Sul, os acordes habitam os lares, saem as ruas, alegram as praças, lotam os espetaculos.

Um pouco mais de quatro metros quadrados para ser cozinha, deposito, escritorio e dormitorio nao e exatamente o que se chama de conforto, menos ainda se isso inclui o espaço da cabine da caminhonete em que Michelle Weiss e Roy Rudnick, em 2007, iniciaram sua viagem de 1033 dias ao redor do Os instrumentos musicais devem mundo, passando por 60 países. ter vindo nas bagagens, pois mal Antes de sair, combinaram que o havia alguns habitantes, ja se formaior palavrao que poderiam usar mavam grupos musicais. Ensaios na aventura era “droga” e para as viravam acontecimentos de convíeventuais discussoes, uma tirada vio, uma vez que eram feitos nas simples e genial: se um começasse casas dos integrantes dos grupos e a discutir, o outro começava a can- logo as bandas passaram a animar tar e ambos teriam que cantar jun- acontecimentos comunitarios. A era o instrumento agregador da tos. comunidade. Deu tao certo que, entre 2014 e 2017 realizaram a segunda viagem. Historias nao faltam, como o Max Agora, de volta a Sao Bento, contam Jackusch (e possível que a grafia com a Serena, sua composiçao, que nao seja essa) que cantava em qualquer lugar, do Uhlig, que ensinava ja vai fazer tres anos qualquer instrumento e que foi Michelle e Roy nao sao os unicos preso por se entusiasmar e tocar sao-bentenses a usar a musica para clarinete a noite, na rua, do baile criar bem-estar; o historiador Jose feito ao ar livre, em chao batido, ao Kormann conta sobre os imigrantes som de dois tocadores de gaita de

boca e assim por diante. Banda Augustin, Banda Uhlig, Banda Oxford, Schutzenkapelle, Banda Muller foram algumas das bandas do Seculo 19, início do Seculo 20, mas nao eram apenas bandas: Adolfo Webber Senior fundou a Sociedade Musical Euterpe, dedicada a musica erudita, onde surgiu Hugo Fischer, e havia a Orquestra Sinfonica Sociedade Harmonia. Uma banda e um coral com mais de cem anos de existencia ainda persistem no meio de dezenas de conjuntos, corais, bandas, grupos, escolas de musica etc.: a Sociedade de Cantores 25 de Julho, no Bairro Bela Aliança, fundada em 1881, e a Banda Treml, fundada em 1913. Com tantas notas e acordes plantados, a seara nao poderia ser outra: em São Bento do Sul a musica se mistura ao ar respirado de forma indissoluvel.

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Catolica aos trinta catolicos martirizados no interior da de capitania Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro 2021 do Rio Grande — cujo territorio daria origem

Casos com História Páginas do passado

a província do Rio Grande do Norte e posteriormente ao estado do Rio Grande do Norte. Foram vitimas de dois morticínios, ambos no ano de 1645, no contexto das invasoes holandesas no Brasil. O primeiro massacre ocorreu na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho de Cunhaú, município de Canguaretama; o segundo foi na comunidade de Uruaçu, no município de Sao Gonçalo do Amarante. Sao vinte e cinco santos e cinco santas. Foram beatificados pelo Papa Joao Paulo II em 5 de março de 2000. No dia 23 de março de 2017 o Papa Francisco autorizou a canonizaçao dos trinta martires do Rio Grande do Norte. A canonizaçao ocorreu em uma cerimonia no Vaticano, em 15 de outubro de 2017.

Mártires de Cunhaú e Uruaçu Leonardo Freire

Mártires de Uruaçu e Cunhaú Rio Grande do Norte Durante uma missa que aconteceu em 3 de outubro de 1645 em Uruaçu, Rio Grande do Norte, tropas holandesas comandadas pelo judeu alemao Jacob Rabbi executaram todos os fieis que estavam na missa dominical, presidida pelo Padre Ambrosio Francisco Ferro que tambem foi torturado e martirizado. Depois da Eucaristia, os holandeses fecharam as portas da igreja e mataram 80 fieis ferozmente, arrancaram suas línguas para nao proferirem oraçoes catolicas, braços e pernas foram decepados, crianças foram partidas ao meio, e grande parte dos corpos foi degolada. O campones Mateus Moreira que estava na igreja, teve o coraçao arrancado pelas costas enquanto exclamava: "Louvado Seja o Santíssimo Sacramento". Os Santos Martires foram canonizados pelo Santo Padre, o Papa Francisco, em 15 de outubro de 2017, na Praça de Sao Pedro, Vaticano. _______________ Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu ou Protomártires do Brasil e o título dado pela Igreja Página 19


Nascido na cidade de Vouzela, regiao norte de PortuAno IV — Número 48 - Mensal: outubro 2021 gal,deem 1493, nosso personagem foi casado com Catarina Fernandes das Vacas.

Gente com História O homem vai, mas a abra fica

Sua chegada ao Brasil se deu em 1515, ou seja, com pouco mais de 20 anos de idade. Nao se sabe se ele era um naufrago, colono ou um degredado (criminoso condenado ao exílio). Por outro lado, sabe-se que Ramalho teve grande relaçao de amizade com Tibiriça sendo, inclusive, casado com uma delas, chamada Bartira. Esse aventureiro teve muitas mulheres e filhos durante sua vida, sendo que alguns de seus descendentes sao bastante famosos, como a Rainha Silvia, que foi casada com Carl Gustv XVI, da Suecia e a escritora

O pai dos paulistas João Ramalho A cidade de Sao Paulo, quando era apenas um pequeno vilarejo, precisou ser defendida por um “barbaro”, aliado dos índios e que conhecia a regiao como ninguem. Estamos falando de Joao Ramalho e o cerco de 9 de julho.

Lygia Fagundes Telles. Voltando a sua importancia para Sao Paulo, Ramalho se tornou um homem muito poderoso graças a relaçao amistosa com os tupiniquins. Segundo o alemao Ulrich Schmidel, em seu livro “Viagem ao Rio da Prata”, ele era capaz de mobilizar 5 mil homens em um so dia, se fosse necessario.

O poderoso portugues teve, tambem, papel fundamental na exploraçao do territorio brasileiro, sendo Ramalho e considerado o patriarca dos mamelucos, que ajudou Martim Afonso de Souza na busca de ouro pai dos paulistas o “fundador da paulistanidade”. e prata na regiao que hoje e Cubatao.

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Local onde existiria a propriedade do Marechal


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 Segundo a Revista Apartes, a jornada foi longa e, nas palavras de Eduardo Bueno, autor do livro Capitaes do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores, o caminho foi o seguinte: Em barcos a remo, foram da Vila de Sao Vicente ate Piaçaguera de Baixo (atual Cubatao). Entao caminharam por terras alagadas ate Piaçaguera de Cima, onde começaram a subida da Serra de Paranapiacaba (lugar de onde se ve o mar, em tupi). Ao chegarem a nascente do Rio Tamanduateí, seguiram o curso das aguas, saíram da mata fechada e entraram em um vasto campo sem arvores. Ainda acompanhando o rio, chegaram a colina onde se localizava a Aldeia de Piratininga. No local, seria erguida a Vila de Sao Paulo. Na regiao do planalto, Ramalho vivia em uma vila chamada de Santo Andre da Borda do Campo, regiao que ficava em algum ponto de Sao Bernardo do Campo. No ano de 1553, o primeiro governador geral do país, Tome de Souza, transformou a vila em povoado e Ramalho foi vereador e prefeito, alem de guarda de toda a regiao. Mesmo sendo uma das pessoas mais importantes da vila, Ramalho foi expulso de uma missa realizada na Capela de Santo Andre, pelo padre Leonardo Nunes. A alegaçao do sacerdote era que o portugues havia sido excomungado por nao respeitar os votos de matrimonio e ter varias mulheres. O famoso cacique Tibiriça viria a falecer nesse mesmo Mesmo com esse acontecimento, Manuel da Nobrega, ano e, em homenagem a sua bravura e cooperaçao, acabou batizando sua esposa Bartira, que escolheu o seus restos se encontram, ate hoje, na cripta da Catenome cristao de Isabel Dias, e celebrou seu casamento dral da Se. catolico com Joao Ramalho. O sogro de Ramalho tam- Joao Ramalho morreu em 1580, em avançada idade. E bem recebeu o batismo e passou a se chamar Martim o fundador da dinastia de mamelucos que, no seculo Afonso Tibiriça, em homenagem ao explorador que seguinte, tera lugar de destaque na empreitada coconhecera anos antes. A pedido de Nobrega, Joao Ra- mercial-militar conhecida como “bandeira”. malho mandou um de seus inumeros filhos, Andre, acompanhar o padre em uma expediçao pelo interior do territorio em busca de mais índios para catequizar. Em 1562 aconteceu o terrível conflito entre os portugueses e seus aliados contra uma aliança formada pelos Tamoios, Guaianazes, Tupis e Carijos. Esse cerco, que se deu em um dia 9 de julho, foi a principal contribuiçao de Ramalho a Sao Paulo, afinal, graças a sua bravura e sua influencia, conseguiu defender o povoado do ataque indígena. Página 21


invadir a capital do Reino do Brasil e com bastante Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 muniça o. Os arrasadores disparos de canhoes e, depois, o vandalismo dos invasores, acarretam inumeros prejuízos a cidade, inclusive ao predio da Camara onde estava instalado o Arquivo Historico, cujos documentos sao completamente destruídos pelo fogo.

Invasão holandesa A invasão holandesa de Salvador em 1624 por Albenísio Fonseca

Salvador, 9 de maio de 1624. A cidade amanhece sob o domínio e os efeitos do bombardeio de uma esquadra holandesa composta por 26 navios, sob o comando de Jacob Willekens. Na vespera, mesmo sob fogo cruzado do Forte de Santo Antonio, eles conseguem alvejar os canhoes da Ponta do Padrao e desembarcam no Porto da Barra. Grupamentos de vanguarda seguem pela Ladeira da Barra e despenhadeiros ate alcançarem a Porta de Sao Bento. Passam a madrugada no Mosteiro “ao sabor de vinhos e confeitos” que encontram no local. Ali, esperam o dia amanhecer e tomam o centro da cidade. Conforme Ricardo Behrens, no livro ‘Salvador e a invasao holandesa de 1624-1625’, “relatos portugueses e holandeses contam que o confronto teve início no dia anterior quando os da cidade receberam com disparos um batel com bandeira de paz enviado pela frota, antes mesmo de ouvirem a embaixada. Em resposta, os invasores descarregaram seus canhoes no costado da cidade, nos fortes e nos navios que estavam no porto”. A visao da armada, por si so, provoca panico e correria na maioria dos habitantes. Por mais que soubessem da probabilidade dos ataques, a cidade nao dispunha de nenhuma estrategia especial. D’El Rey nao estabelecera nenhum recurso para armamentos.

De acordo com o historiador Affonso Rui, no livro ‘Historia política e administrativa da cidade de Salvador’ “os oficiais encarregados da documentaçao, como boa parte da populaçao, fogem para Abrantes”, relata. Os 3.400 homens, entre aventureiros e mercenarios que compunham a esquadra invasora, nao encontram maiores resistencias para render o governador-geral da colonia, D. Diogo Mendonça Furtado, e aprisiona-lo na chamada Casa dos Governadores (no que viria a ser o Palacio Rio Branco, na atual Praça Tome de Souza), em pleno coraçao da urbe, uma das mais importantes cidades da America, entao capital do Brasil. O governante portugues ja houvera se mostrado preocupado com o despreparo belico do Brasil e chegou a entrar em choque com a Igreja, que nao via necessidade de preocupaçoes militares. Assim, os holandeses nao tiveram muitos problemas para tomar a cidade e Mendonça Furtado assina sua rendiçao um dia depois. E levado prisioneiro para Amsterdam, com outras 12 pessoas, entre auxiliares e jesuítas, de onde somente sao libertados em 1626. Segundo Behrens em sua dissertaçao de Mestrado ja convertida em livro, “ha uma serie de conferencias publicadas na Revista do Instituto Geografico e Historico da Bahia, nº 66, de 1940. Trata-se de uma publicaçao em comemoraçao a derrota de Maurício de Nassau ao tentar invadir a Bahia em 1638. Alem das conferencias, foram publicadas as sugestoes feitas pelos membros do Instituto para comemorar a data, dentre as quais se destaca a ideia de confecçao de uma serie de placas comemorativas, a exemplo da que existe ainda na entrada do Mosteiro de Sao Bento”.

A permanencia dos holandeses em terras baianas duraria praticamente um ano. Cabe ao bispo Dom Marcos Teixeira, posteriormente denominado Bispo Guerreiro, promover a resistencia. Atraves da tatica de emboscadas impede os invasores de sair da cidade. Em 27 de março de 1625, a esquadra de reforço portuguesa-espanhola, comandada pelo espanhol D. FradiJa os holandeses – cuja armada partiu do porto de que de Toledo Osorio, chega a terras baianas. Foram Texel em dezembro e a viagem durara, portanto, qua- mais de 40 dias de batalha e, em 1º de maio, obtem a se seis meses – estavam imbuídos do proposito de primeira rendiçao. Página 22


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021

A colonia era controlada, entao, por espanhois, durante a denominada Uniao Iberica (1580-1640) que junta as duas coroas apos o desaparecimento de Dom Sebastiao de Avis, na Batalha de Alcacer Quibir, no Marrocos, na guerra contra os mouros, em 1578, quando ambicionava a vitoria sobre os muçulmanos para a gloria do cristianismo. Vale entender mais: A “morte” de Dom Sebastiao provoca uma crise sucessoria em Portugal, tendo em vista que o rei nao deixara herdeiros. Seu desaparecimento gera o “sebastianismo”, especie de crença messianica que estipulava seu retorno ao reino e que se estenderia por tres seculos como símbolo do nacionalismo portugues. A soluçao encontrada para o trono e seu tio-avo, o cardeal D. Henrique (Henrique I, de Portugal), que, ja bastante idoso, falece em 1580, marcando o fim da dinastia de Avis. Com isso, o trono portugues passa a ser disputado por outras dinastias europeias, que reivindicavam ligaçao de parentesco com Dom Sebastiao.

pelos espanhois em 1580, instaurando a monarquia dualista: duas coroas sob um mesmo monarca. Portugal so readquire a independencia 60 anos depois quando tem início o reinado de D. Joao IV, fundador da dinastia de Bragança. E no período da Uniao Iberica que ocorrem tambem as invasoes francesas. Holanda e França, que antes mantinham relaçao amistosa com Portugal, confrontam-se diretamente com a Espanha. A supremacia iberica passa a ser questionada por aquelas naçoes europeias que desejavam tambem lucrar com o processo de colonizaçao. E isso envolvia tanto razoes de carater economico, no que pese o controle do comercio de açucar e da extraçao de metais, quanto de ordem religiosa, na medida em que a Espanha era catolica enquanto a Holanda e parte dos franceses haviam aderido ao protestantismo. O período conhecido como “Brasil Holandes”, em que vigorou uma sofisticada administraçao holandesa em parte da costa nordeste brasileira, ocorre exatamente nesse contexto. Nao ha registros de legados holandeses na Bahia, ao contrario dos verificados em Pernambuco, como os franceses no Rio de Janeiro e no Maranhao.

O entao rei da Espanha, Felipe II, um dos mais poderosos monarcas da epoca, era neto de Dom Manuel, O Venturoso, que, por sua vez, era tio de Dom Sebastiao. Essa ligaçao parental e reivindicada por Felipe II e Primeira tentativa de invasão acontece em 1599 usada como legitimaçao para a invasao de Portugal Outras tentativas de invasao dos holandeses ja haviPágina 23


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 am sido registradas na Bahia, mas nao foram bemsucedidas. Na impossibilidade de dominar a capital do Brasil, eles conseguiram se estabelecer em Pernambuco e estenderam seus domínios por grande parte do Nordeste ate serem expulsos, definitivamente, da Colonia, em 1654. A primeira tentativa holandesa de conquistar Salvador ocorre em dezembro de 1599, quando o almirante van Leynssen envia sete navios ao Brasil, comandados pelos capitaes Hartman e Broer. Os ataques na Baía de Todos os Santos duraram quase dois meses. Os holandeses afundam varias embarcaçoes portuguesas e pilham engenhos no Reconcavo. Mas fracassam no objetivo de conquistar a cidade. Nos anos seguintes, piratas holandeses continuam atacando navios espanhois e portugueses nos oceanos Atlantico e Indico. Em 1604, tentam novamente conquistar Salvador, dessa vez com uma esquadra de seis navios comandada por Paulus van Caerden. O ataque, similar ao primeiro, tem como resultado o mesmo fracasso. Nos anos seguintes, dezenas de navios com cargas do Brasil sao atacados pelos holandeses. Em 1621, eles fundam a Companhia das Indias Ocidentais, empresa patrocinada pelo governo holandes com participaçao de investidores privados e que visava, principalmente, a exploraçao comercial da America. No seculo XVI, Portugal mantinha boas relaçoes comerciais com os holandeses, mas esse quadro muda com o advento da Uniao Iberica em 1580.

epoca. Desembarcam no litoral pernambucano e conquistam Olinda e Recife com relativa facilidade. O entao governador Matias de Albuquerque retira-se para o interior com homens e armas e funda o Arraial do Bom Jesus, uma fortificaçao de onde partiam os ataques aos invasores. Como na invasao da Bahia, os luso-brasileiros adotam a guerra de emboscadas na tentativa de impedir os holandeses de penetrar nas terras onde estava a maioria dos engenhos. A resistencia, no entanto, nao contem o avanço holandes, que chega a receber apoio de moradores da regiao, como e o caso de Antonio Fernandes Calabar. A colaboraçao, muito mais que traiçao, visava livrar-se do domínio portugues. Derrotado, Matias Albuquerque manda incendiar os canaviais a sua volta e retira-se para Alagoas. Antes, porem, consegue prender Calabar e manda executa-lo.

Sete anos depois, em 1637, a Companhia das Indias Ocidentais decide reconstruir os engenhos com o objetivo de voltar a obter lucro com o açucar brasileiro. Para liderar esse projeto, envia ao Brasil o conde Joao Maurício de Nassau-Siegen, com o título de governador-geral. A acumulaçao de riquezas da Companhia das Indias Ocidentais reflete-se na administraçao e na reconstruçao de Recife, a capital do Brasil holandes. Nassau teve a habilidade de convidar alguns senhores de engenho para participar da administraçao. Nao lhes oferece cargos importantes, mas nao ignora suas Um ano antes, em 1579, as províncias do norte dos reivindicaçoes. Mantem uma tolerancia religiosa, sem Países Baixos haviam formado a Uniao de Utrecht, do- obrigar os colonos luso-brasileiros a converterem-se cumento assinado por diversos estados dos Países ao protestantismo dos holandeses. Baixos que se debatiam para obter a independencia No afa compreender melhor o Brasil, Maurício de Nasda Espanha. Em 1581, declaram formalmente sua in- sau manda vir da Holanda 46 estudiosos, pintores e dependencia. A Espanha, entretanto, so a reconhece- cientistas para estudar e registrar as características ria em 1648, 24 anos depois de a Companhia das In- da terra, dada a curiosidade despertada pela rica faudias Ocidentais decidir pela invasao de Salvador sob a na e pelas belezas naturais da regiao. Os holandeses alegaçao de sentir-se prejudicada em seus negocios foram pioneiros nesse tipo de estudo sobre o Brasil. no Atlantico pelo domínio espanhol sobre Portugal. Os pintores Frans Post e Albert Eckhout deixam belísA expulsão dos invasores no contexto internacional Fevereiro de 1630. Navios e canhoes holandeses entram de novo em aguas brasileiras. Dessa vez invadem Pernambuco, maior produtor mundial de açucar na Página 24

simas pinturas da colonia holandesa nordestina. Os cientistas estudaram doenças tropicais e sua possível cura. O primeiro observatorio astronomico das Americas foi construído em Recife. Maurício de Nassau tentou ainda dar maior autonomia economica a colonia para nao depender em demasia do mercado externo.


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 Em 1640, Portugal consegue independencia da Espanha. Em agosto de 1645, os colonos luso-brasileiros conseguem importante vitoria no Monte das Tabocas. O governo da Bahia envia auxílio e Recife e sitiada. A vitoria, todavia, nao conseguiu desalojar os holandeses, muito bem guarnecidos por mar. As lutas prosseguem por tres anos. No final de 1648, os holandeses sofrem grande derrota na Batalha dos Guararapes. Ainda assim, Recife continua em poder da Companhia das Indias Ocidentais.

puta pela hegemonia dos mares. Os ingleses chegam a auxiliar os rebeldes anti-holandeses no Brasil. Os governantes portugueses aproveitam o enfraquecimento dos invasores e enviam um grande reforço para os colonos no Brasil, em fins de 1653. Finalmente, em janeiro de 1654, os holandeses se rendem. Terminava ali o período de domínio holandes no Brasil. Mas somente em 1661 o governo holandes reconhece que nao tinha mais direitos sobre o Brasil.

A situaçao internacional, contudo, ajuda a acabar com Em próximas edições voltaremos, ao assunto da presença e o impasse no conflito entre holandeses e colonos no gestão Holandesa no Brasil. Brasil. A Inglaterra declara guerra a Holanda, na dis-

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Mais lembrava a guapa vestimenta de algumas tribos Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro 2021 do altiplano da America do Sul. Jose Claudio indídegenas

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Machado, com sua bombacha de dois panos, nao perdia a oportunidade de tacar o pau em cima dos moços, quase todos estudantes universitarios filhos de famílias do campo que, amiude, a noite, peregrinavam pelos espaços culturais que lembravam as suas origens, aqui na cidade grande. Era ponto de honra usar a pilcha gaucha quando se ia ate a Pulperia, ao Joao de Barro e outros bares e botecos da Cidade Baixa, que, devido ao momento, entronizaram em suas cozinhas inumeros pratos da culina-

A Dama do desfile farroupilha Por: Joaquim Moncks (*)

ria gaucha tais como o arroz a moda dos carreteiros, o espinhaço de ovelha, a vaca atolada, o arroz de china pobre. Muita cerveja, na primavera e no verao, algum vinho no outono e inverno, eram as preferencias para bebericar. A gauchada reunia-se em interminaveis charlas, muitos namoricos, pares que rodopiavam nos pequenos palcos ao som de muita musica crioula dançante.

Conheci Liliana Cardoso, prendada musa do gauchismo – ainda nao teria dez anos – no bem apresentado bolichao chamado Pulperia, noturno palco artístico situado na Travessa do Carmo, ao lado da EPATUR, centro de Porto Alegre, a capital gaucha. Estavamos no inverno de 1985, primavera da redemocratizaçao. No mais, cantarolavam dores de cotovelo na versao do gaucho a pe, embretado monarca com cancha curta Lili era uma criaturinha linda, como todas as crianças. para as costumeiras estripulias juvenis. Na memoria Chamava a atençao os seus olhinhos vivazes, a sua recente, o cavalo, o campo, com seus coxilhotes, lanpouco aparente inquietude, o seu embevecimento çantes e canhadas, la nos seus sítios de medias ou pequanto a arte da palavra, prestando atençao em tudo quenas propriedades rurais, nos eventuais sobressala sua volta, quando sentavamos a mesa pra ver o que tos frente ao incerto futuro, gozando os acalantos de melhor havia em arte gauchesca naquele final dos emocionais de suas famílias. Os pais nem tanto, mas chamados anos de chumbo, eis que convivíamos neles os filhos sabiam que na capital, na grande cidade que desde 1964, portanto, vivenciavamos os estertores do feria suas adolescentes memorias, conseguiriam meperíodo de anormalidade democratica. Os meios de lhores oportunidades para se saírem vencedores no comunicaçao social anunciavam a abertura e a reandejar de futuros caminhos. construçao da vida institucional do país. Fervilhavam anseios político-sociais e havia, nos diversos grupos Sempre havia espaço para a declamaçao de alguns de jovens, uma manifesta ansia de construir um novo versos regionalistas e uma la que outra payada de frontera, com forte uso de vocabulos de raiz platina. A tempo de liberdade de palavra e açao. Pulperia e os pulpedos sazonais em alguns bairros A Pulperia reunia todas as possíveis tendencias e penfora do centro da capital, vale dizer, entreveros de sares da gauchesca genuína, variegados legados de vertentes e raízes nativistas tinham esse dom: reunipraticidade e ate alguns gauchinhos de apartamento, am quem gostava de pensar e prosear sobre o futuro que se achegavam aos recintos com suas bombachas da "patria gaucha", recitar, sacolejar os quartos, dizer apertadinhas e faixas atadas a cintura deixando um versos crioulos, fazer musica cantando as agruras do penduricalho que nascia na cintura e ia ate o joelho. campesinato, a migraçao rural desordenada; vivia-se Página 26


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 a discutir poemas de cantochao, letras de musica com forte apelo e conteudos libertarios, que denunciavam a falta de trabalho e de oportunidade para os que de seu nada tinham, os guetos de miseria nas periferias, etc., assuntos que serviriam de tematica e de aporte para as composiçoes musicais que pululavam no velho Rio Grande, especialmente depois da realizaçao da 1ª California da Cançao Nativa, em 1971, na idealizaçao de Colmar Duarte e Henrique Freitas Lima e as sucessivas ediçoes do certame, consecutivamente realizadas em Uruguaiana, na fronteira oeste do Rio Grande, sob as bençaos do Absoluto. Verdade e que os festivais de musica regional gaucha encantavam o publico e se tornou muito comum que as iniciativas musicais locais, aquelas nascidas nos municípios, nos varios quadrantes da naçao riograndense convergissem para a capital, sendo tema predominante em cada mesa dos arrinconados, desde o lusco-fusco do cotidiano poente, nos espaços culturais da capital. Vez em quando, violao, gaita, um bombo leguero, pandeiro e muita entrega ao churrasco com cheiro de campo e mato. Era ponto de honra, apos a cerimonia de lançamento de tais eventos culturais em espaços cola-fina, dar-se uma chegada nos bolichos de habitos e freguesia proletaria, com um bom assado, muita ceva e algazarra nas calçadas, para articular parcerias, discutir tematicas, confraternizar e montar grupos para a devida participaçao nos festivais interioranos de musica e campechana poesia.

de seus consortes. Para alguns (e muitos) o ambiente representava a felicidade, o estar “com sorte”, zeloso de prazer e de futuros. E da-lhe gaita, violao, canto, verso e arrasta-pe... Foi neste clima que convivi com Liliana Cardoso, graciosa e faceira em seu impecavel vestido de prenda gaucha, que varias vezes vi chegar acompanhada de seu pai, o Jose Luiz Cardoso e Dona Dione, pais corujas e parceiros. Deu bonita essa guria, dizia o paciencioso Ze, meu parceiraço de ideais libertarios e de credos de amor e humanidade, o pai que jamais teve duvidas em apresentar a noite para a adolescente Lili, ao pe dos palcos da digna arte da palavra gauchesca, enquanto se formatavam sua personalidade, gostos e prioridades. Enfim, sua cabecinha de moçoila tracejava o futuro nos saloes do pensamento a todo momento. E se me corre nas veias do remissivo pensamento aquilo que falava Dona Dione: boa filha, inteligente e dedicada. Vai honrar a família!

Pois bem, e aquela mocinha que dedico a minha sincera e humilde verve, como depoente saudoso das vívidas decadas de 80/90 do sec. 20, agradecendo o amor que Liliana Cardoso tem oferecido a todos que tiveram ou tem, hoje, a oportunidade de observar a obra, a magnitude de criaçao, o seu poder de palavra, o seu oportuno “empoderamento” como expressao sempre jovem da mulher voltada aos meandros da arte, ciosa de sua digníssima etnia, para a qual “vidas negras imNa Pulperia e no Bolicho do Domingao e da Helen, portam”, enfim e ao cabo, um exímio exemplar da fesede informal do republicano separatista "Patria Li- minina negritude gaucha neste início do sec. 21. vre", com seus lenços pretos, inequivocamente de luto frente ao centro-federalismo emanado de Brasília, Por fim, sou um penhorado agraciado, por carinho e movimento este composto por desassombrados, al- convite, um dos seus padrinhos do consorcio matriguns de a cavalo e uma tropilha de pes-no-chao, fun- monial com Solon Duarte, rica figura de amigo. Liliana dado em 1981, no Parque da Harmonia, ambos cen- Cardoso, a sempre Lili, prenda prendada e fortaleza, e tros de conveniencia e convivencia dos nativistas, re- a dedicada mae de Andres Montemuro, ja moço, e de gionalistas, tradicionalistas e outros entusiastas, ho- Perola, a caçulinha. mens e mulheres, nao so embebidos do dístico ufanis- Dia desses, talvez, Perola va querer usar o seu vestido ta da mui leal e valerosa Portinho dos selos e resquí- de prenda, traje preferencial e de honra em todo o cios imperiais, mas tambem pelo espiritual de haver territorio do Rio Grande de Sao Pedro, homenagem sido o baluarte da Legalidade, de 1961, em seu sem- aqueles tutores cujos atos de ancestralidade nos perpre pulsante perímetro central, seguidamente ocorria, mitem falar de respeito e amor “a la patria gaucha”, o la pelas tantas, a presença de alguma prenda caseira espírito ancestral indormido que nos permitiu chegar dos noturnos frequentadores querendo saber notícias ate aqui. Página 27


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 Como o Rio Grande e um rico berço de culturas, havera, decerto, algum padrinho para documentar as raízes de Perola Cardoso Duarte, quando chegar sua hora e vez. Porque berço ela tem e, por certo, tera futuro de comprometimento. Passo de Torres, Santa Catarina, 31 de agosto de 2021.

(*) Joaquim Moncks e tenente coronel da BM, na reserva, professor de criminologia, advogado, poeta e ensaísta. Autor da Lei das Pilchas Gauchas, quando deputado estadual a constituinte (1989) e conselheiro honorario do Movimento Tradicionalista Gaucho (2017), em: recantodasletras.com.br.

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Fotos com História

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A arte com os pinceis

Trabalho do artista Ivan Pili—compositor e pintor, Cagliori, Italia, 1976

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Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021

Como fazer? cia ou vivencia pessoal. E, se somos uma especie que se diferencia das demais justamente pela nossa capacidade de contar historias, nada mais natural que escolhermos como base para elas o mais universal dos assuntos: o amor.

Como escrever um livro de romance?

E aqui entramos com um punhado de dicas (ou boas praticas) algo que, se nao servirao como livro de receita – pois nao ha receitas aqui – certamente ajudarao a inspirar ou ao menos a “guiar” o escritor.

Dicas para escrever um livro de Existem diversas formas de escre- romance: ver um livro de romance. Neste ar- 1. Leia livros sobre amor tigo, daremos algumas dicas funda- Esse negocio de querer escrever e mentais para começar o seu! Confi- nao gostar de ler e algo simplesra: mente disfuncional. E mais: as desAntes de seguirmos, cabe de imediato um esclarecimento: um romance nao e, necessariamente, um livro de romance. Por algum motivo qualquer, no nosso idioma, um romance e todo e qualquer livro, em prosa, que narre uma historia (mesmo que ela sequer contenha mençoes a amor ou coisas do genero). Um livro de romance, no entanto, ja envolve, sim, historias de amor. E e deles que falaremos aqui. Primeiro, porque mais de 25% de todos os livros publicados aqui no Clube sao relacionados, de alguma forma, ao amor. E, segundo – mas nao menos importante – pelo obvio: o amor e, provavelmente, o mais importante dos assuntos da humanidade e o unico ao qual todos da nossa especie, de alguma forma, tem algum tipo de experienPágina 31

culpas comuns (como falta de tempo) sao ridículas. Sempre, sempre se arruma tempo para o que se realmente deseja fazer. E tudo uma questao de prioridades. E se voce quer ser um escritor, o primeiro passo e abraçar a leitura de todas as formas. Cada vez que voce mergulhar em um universo criado por outro autor, afinal, voce tera uma aula de estilo, de construçao de trama, de personagens. Voce pode nao encontrar o seu estilo neles, mas certamente colecionara exemplos que o ajudarao a entender o que prende o leitor. Nesse sentido, de bastante espaço para os classicos, os livros que se imortalizaram no tempo. O motivo? Se Dom Quixote, para ficar em um exemplo, esta ha seculos encabeçando a lista dos mais vendidos da

historia da humanidade, e certamente pela capacidade narrativa de Cervantes. 2. Viva na realidade, não na utopia A maior diferença entre realidade e utopia e a complexidade. Em utopias, tudo funciona como um reloginho: quem ama e sempre correspondido, os conflitos sao superficiais, mesmo os problemas sao de uma facilidade irrealmente ingenua. Bom… a vida nao e assim e o leitor sabe. A consequencia: a capacidade de retençao de atençao, de engajamento, despenca. E e precisamente isso que desejamos evitar ao mergulhar mais a fundo na realidade. Ao estruturar uma trama qualquer, baseie-se no mundo real: agregue complexidade, contratempos, dificuldades e, em suma, “normalidade”. Deixe seus personagens mais tridimensionais, com qualidades e falhas, acertos e erros. Se, ao terminar uma leitura crítica, voce sentir que algo estiver perfeito demais para ser verdade, sente e reescreva. A verdade e o que mais se deve buscar em um livro, mesmo que seja uma ficçao. O que e distopia e como incluir essas características a sua historia? 3. Cace o espírito do tempo Sabe uma das principais regras que Shakespeare utilizava para compor as suas peças? Ele sempre, sempre criava alguma trama com base nos


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 “trending topics” da Inglaterra. Othello foi escrito quando Elisabeth I expulsava os mouros de Londres; o Rei Lear se baseou em um caso jurídico real que se transformara na grande fofoca do reino; MacBeth foi feita para celebrar, por meio de metaforas, a linhagem do monarca James I , para quem a peça foi escrita.

da infancia de um personagem secundario – a questao nao e essa. Mas, na medida em que um personagem va ganhando prioridade na historia, a importancia de fazer o leitor entender o seu passado vai ficando cada vez mais relevante. Somente assim, afinal, aquele senso de intimidade entre leitor e protagonistas vai ganhando um espaço O que aprendemos com o grande fundamental para que o engajamestre? Simples: que um pano de mento com a historia seja efetivafundo popular, principalmente mente construído. quando assume proporçoes gigan- Quer uma dica? Monte uma linha tescas, e perfeito para fazer a audi- de tempo e um resumo da historia encia se conectar com a trama e se de cada um dos seus personagens deixar envolver pelas historias dos antes de se alongar muito na trama. personagens. Pode ser que voce nem utilize par4. Não há boas histórias românti- tes desse historico mas, no mínimo, ele servira para garantir que voce cas sem grandes conflitos nao coloque açoes e palavras na Ta… talvez ate haja uma ou outra boca de um personagem que dificilque nao tenha me ocorrido – mas o mente as executaria. fato e que sao raras. O que envolve o leitor, afinal, nao e a estrutura do 6. Cuidado com o piegas personagem em si, mas sim as suas Um dos maiores riscos de um livro reaçoes seguindo momentos de de romance e deixa-lo escorregar conflitos internos e externos. para o piegas, forçando a barra em Naturalmente, quanto mais confli- situaçoes naturais e trocando a tos, mais facil construir reaçoes a densidade pelo sentimentaloidisaltura (desde que sejam consisten- mo. tes com a personalidade dos perso- A soluçao, aqui, normalmente foge nagens). de algo que o proprio autor possa 5. Crie personalidades para seus resolver sozinho: envolve um leitor crítico. personagens Ha, normalmente, dois caminhos: selecionar um ou mais amigos críticos ou contratar um crítico literario. Seja qual for o caminho, o importante e que voce escolha alguem realmente crítico em quem confie (evitando envolver alguem que voce sabe que vai te elogiar livremenNao que voce precise, claro, se te pela propria relaçao que ja tealongar infinitamente nos detalhes nham) e que deixe de lado o ego Entramos em um quinto e fundamental ponto: personagens nao devem ser descritos apenas como rostos e atitudes. Todos devem ter um passado proprio, um historico que de consistencia a cada uma de suas atitudes quanto a tudo.

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(preparando-se para receber e lidar com eventuais críticas mais pesadas). Esteja disposto a reescrever trechos inteiros do seu livro com base em feedbacks. E entenda que isso faz parte do processo. 7. Siga as dicas básicas que servem para todos os gêneros Isso pode parecer generico demais (e talvez seja mesmo), mas ja escrevemos aqui uma serie de dicas importantes sobre como escrever um livro que se aplicam tanto a romances quanto a outras tematicas diversas. 8. Inspire-se em grandes obras para contruir seu próprio estilo Exemplos de obras primas nao nos faltam: Machado de Assis esculpiu Bentinho e Capitu em um extremo, Guimaraes Rosa entregou Riobaldo e Diadorim em outro, Hemingway, Garcia Marquez, Pamuk, Kazuo Ishikuro e tantos mais nos brindaram com as maiores perolas da literatura baseadas justamente nesse genero maximo. Mas, se amor e um sentimento universal, a tecnica de se estruturar um romance envolvente certamente e bem mais individual. Basta, alias, comparar alguns desses exemplos citados acima. Por mais incríveis que sejam, em nada o platonicismo do Amor nos Tempos da Colera (Garcia Marquez) sequer se assemelha com a distopia de Nao me Abandone Jamais (Kazuo Ishiguro). ainda assim, ambas sao obras primas indiscutíveis. Colaboração Clube de autores/ Corrente d’escrita


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Minha língua, minha pátria

BICHOS QUE SE TORNARAM SOBRENOMES Os bichos nao estao apenas ao redor da casa ou no pasto, estao tambem nos sobrenomes lusofonos, costume vinculado a crenças em totens, de que sao exemplos Lobo, Tigre, Coelho, Carneiro, Raposo, Passarinho, Cabrito(a), Camelot, Cabra(l), Cordeiro, Bezerra, Cavalo, Vaca, Touro, Tourinho, Abelha, Aranha (como Graça Aranha e Oswaldo Aranha), Barata, Leao, Gato, Cao (Diogo Cao, navegador). Os antigos romanos tinham Fabius (de faba, legume) e Catulo (catus, gato). Os escandinavos deram origem a Bernardo (do sueco baer, urso). Os índios brasileiros tinham Jaguar (onça), Piragibe (espinha de peixe), Poty (camarao), Vieira. Tambem as arvores exemplificam a presença de totens em sobrenomes como Albuquerque e Carvalho (o etimo do Latim quercus, carvalho), Feijao, Farin(h)a, Oliveira, Pinheiro, Nogueira, Parreira, etc.

nou-se nome proprio feminino, a MINICONTO comparaçao foi com a beleza, a de"Ela o chama de Picasso, eu sei por licadeza e a mansidao da ovelha. que, mas talvez seja obsceno reveCamoes, a referencia solar da lite- lar". (D. S.) ratura portuguesa, fez um lindo O miniconto e um genero que vem soneto sobre a paixao de Jaco por sendo praticado cada vez mais por Raquel, fechando os 14 versos com prosadores de ficçao que seguem, uma declaraçao de amor: “Mais serainda que nao com tanta brevidade, vira, se nao fora, para tao longo o modelo do hondurenho, criado na amor, tao curta a vida”. Guatemala, Augusto Monterroso, a E que Labao, o sogro, quando Jaco quem conheci nos anos 80: lhe pediu Raquel em casamento, "Quando acordou o dinossauro ainimpos como condiçao que o futuro da estava la ". genro trabalhasse sete anos em troHemingway tambem praticou o ca da filha. E o enganou ao final do genero: "Vende-se um par de sapaperíodo, entregando-lhe, nao a bela tos de bebe. Nunca usados ". Raquel, mas a feia Lia, que tinha “remela nos olhos” e cujo nome tem Dalton Trevisan tambem o pratica o significado de vaca selvagem e e o chama haicai: "O amor e uma corruíra no jardim. De repente ela cansada. canta e muda toda a paisagem ". Jaco foi fiel a etimologia do proprio nome. Gemeo de Esau, mais tarde E Wladyr Dupont tem um, classico: enganaria o irmao, com um prato "Estou apaixonado por meu sogro. de ervilhas. E, aconselhado pela E sou correspondido ". mae, Rebeca, cujo nome quer dizer No caso do de Monterroso, pergunanimal atado com laço, vestiu-se de tei a sua namorada, que entao daticouro de cabrito para enganar o lografava textos do marido em Hapai, Isaac, que, ja cego, sabendo que vana, em janeiro ou fevereiro de Esau tinha os braços cabeludos, 1985, se o original tinha vírgula e quis conferir se era mesmo o pri- onde estava, pois isso mudava tudo. mogenito que vinha buscar a ben- Ela nao soube dizer, o marido estaçao, mas Esau ja vendera o direito a va dormindo, peguei o aviao antes primogenitura para Jaco por um dele acordar e nunca soube se tem prato de lentilhas. vírgula.

Ele ja andava desconfiado de Jaco, cujo nome quer dizer trapaceiro. Esau, que quer dizer peludo, era filho de Isaac, que quer dizer riso: sua avo Sara, esposa de Abraham, sorriu ao receber do anjo a notícia Exemplo curioso e o nome Raquel, de que ela, aos 80 anos, engravidaovelha em Hebraico, a palavra tor- ria e daria luz aquele menino. Página 33


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Minha língua, minha pátria Pedro Luis Azevedo in Arte, Cultura...

"ABORTO" ORTOGRÁFICO "E nosso dever moral, e nossa obrigaçao, desobedecer a uma lei (leiase ordem) injusta" (Martin Luther King) Ha poucas coisas que me provoquem tanta irritaçao e tantas vezes seguidas. Nao me consigo habituar. Nem sequer tolerar. E algo visceral, os meus nervos recebem um estímulo tao desagradavel e alergico que os neuronios ficam arreliados gravemente. Ver escritos "ato", "ata", "exceto", "perentorio", "otimo", "espetador", "fatura", "para", "conceçao", "receçao", "otica", "arquiteta", "contato" (e por aí fora...), em vez de "acto", "acta", "excepto", "peremptorio", "espectador", "factura", "para", "concepçao", "recepçao", "optica", "arquitecta", "contacto"... e tao triste e repugnante como dar de caras algures com uma ratazana de esgoto. O "Acordo Ortografico" ("A"O90) so existe atraves duma Resoluçao do Conselho de Ministros (RCM) e nao por uma Lei (ou Decreto-Lei). Isto quer dizer que a Lei ortografica em vigor continua a ser a mesma que era antes da RCM. Sucede tambem que uma simples Resoluçao apenas se aplicaria a Administraçao Publica e nao ao sector privado e a sociedade em geral. Acresce ainda que o "A"O90 nao e acordo nenhum porque nunca houPágina 34

ve os signatarios suficientes para entrar em vigor (os países de expressao oficial portuguesa). E o subterfugio que arquitectaram para bastarem 3 países a ratifica-lo (atraves do chamado Segundo Protocolo Modificativo, de 2004), colocou em causa o proprio objectivo central do pretendido acordo: unificar a ortografia dos países da CPLP. Uma farsa, portanto. Assim sendo, aplicar o "A"O90 apenas com base numa RCM (Resoluçao do Conselho de Ministros), que nao e valida para privados, que nao diz respeito a um tratado internacional (ate hoje incumprido), e que tampouco se adequa a ortografia utilizada nos outros países envolvidos, e uma aberraçao linguística, uma inutilidade e um motivo de ridículo da língua portuguesa (e especialmente de Portugal), no plano internacional. Aos outros países europeus com os seus idiomas espalhados pelos quatro cantos do mundo, como e o caso do ingles, do frances ou do castelhano, nunca passou pela cabeça dos seus governantes ideia tao bizarra e estupida. As varias variantes de uma língua continuarao inexoravelmente o seu caminho, indiferentes a acordos talhados sobre um artificialismo bacoco e violador dos seus livres cursos e evoluçoes historicas. O "A"O90 e um clamoroso atentado a etimologia, a morfologia, a fonetica, e ate a estetica, da nossa línguamae. Um aborto ortografico, a fealdade injectada na língua portuguesa.

Mas de tudo isto, o que mais me choca nao e a insistencia dos nossos governantes em aplicar a força algo anti-natura e lesivo dos interesses do nosso país, como e a mutilaçao da língua, elemento vital a nossa identidade. Estamos infelizmente habituados a muitas decisoes desse cariz nos nossos decisores políticos. Nem tampouco a incompetencia e a irresponsabilidade dos deputados da A.R., que assobiam para o lado e manipulam de forma abjecta a aceitaçao a discussao de uma petiçao para revogarem a aplicaçao do "acordo", subscrita por dezenas e dezenas de milhares de cidadaos (com a honrosa excepçao, faça-se justiça, do PCP, unica força política que condena sem tibiezas este aborto ortografico). O que mais lamento e a incultura generalizada da sociedade perante o tema, a aceitaçao acefala duma alienaçao gritante dos fundamentos e raízes do portugues, a passividade, inercia e indiferença de quase todos perante o boçalizar da língua. O que mais me exaspera e a obrigatoriedade espuria imposta as escolas e a generalidade dos estabelecimentos de ensino de aplicarem esta ilegalidade (porque o e!), apesar da forte oposiçao da generalidade dos professores de portugues (penalizando na notaçao academica e disciplinar quem se atrever a opor-se a enormidade). Tudo isto diz muito sobre o nosso atraso cultural, sobre a ausencia duma opiniao publica formada e informada, sobre a ligeireza, in-


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021 consciencia e servilismo de empresas, organismos, associaçoes, orgaos de comunicaçao social, cidadaos, que repetem como papagaios aquilo que julgam ser modernidade, quando simplesmente estao a demonstrar a ignorancia estrutural de que o nosso Portugal ainda padece. E que e caracterizadora de um país subdesenvolvido. O resultado e tao miseravel que a populaçao, perante a falsa obrigaçao (que se pensava ter força de lei) de aplicar o "A"O90, e na ansia de demonstrar a sua subserviencia a quem manda, desatou a cortar, a torto e a direito, os ces e os pes, o que levou ao aparecimento das maiores aberraçoes ortograficas, como "baterias", "impatos", "tenicas", "fiçao", "adataçao", "atidao", "abruto" e "adeto", alem de cortarem tambem outras consoantes, como, por exemplo, o 'b' em 'ojeçao', ou o 'g' em 'dianostico'". Um caos, a nossa língua enlameada e enxovalhada. Nao ha escritor, ensaísta, poeta, tradutor, pensador ou linguísta de nomeada que defenda o "acordo". Sao esmagadoramente CONTRA. Ou seja, todos aqueles que se exprimem de forma mais sublime na escrita da nossa língua, os seus maiores construtores e expoentes. Engana-se rotundamente quem olha displicente para este tema achando-o secundario, marginal, sem relevancia. A esses, bastam as palavras de Pessoa: "A minha patria e a língua portuguesa." "'Sim, porque a ortografia tambem e gente. A palavra e completa vista e ouvida." Que pensara um escritor ao deparar-se com esta insipiencia e obscurantismo do nosso povo, travestidos de modernizaçao linguística? Que sentira um poeta ao colocar a caneta no papel, prevendo a pressao do Página 35

editor para desfigurar a sua inspiraçao? Sinto vergonha. Como portugues, sinto este tema com uma profunda tristeza na alma. ___________________________

9º dicionario inedito publicado pela Editora Moan!

Esta obra e o dicionario que faltava na area da linguística e da historia da Língua Portuguesa! O corpus usado neste trabalho, como em todos os meus dicionarios ineditos, sao exemplos de textos das literaturas brasileira e portuguesa, letras da MPB e dos gibis. Portanto, voce sabera que X'EU foi registrado por Guimaraes Rosa e Jose J. Veiga; OLHOMETRO por Monteiro Lobato; VAMBORA por Domingos Olímpio em LuziaHomem (em 1903 - sendo o primeiro registro), em varios gibis: Luluzinha Teen, Super-Homem etc. e virou título homonimo de uma cançao da Adriana Calcanhoto; COSQUINHA foi registrado por Mario

de Andrade, Gabriel O Pensador, e esta no gibi da Magali, do Bafo de Onça etc. Lembro que essas expressoes nao estao em nenhum dicionario da Língua Portuguesa. Portanto, este dicionario tornou-se um documento inedito apos sua publicaçao! Filo para oferecer de presente a todos que tem curiosidade sobre as palavras, e em especial para os estrangeiros que estudam o portugues do Brasil e que desconhecem esses vocabulos usados no dia a dia por todos nos! Os professores de Língua Portuguesa tambem podem utiliza-lo em sala de aula e mostrar aos alunos os METAPLASMOS (o processo de transformaçao de um vocabulo ao longo do tempo) : sinalefa, rotacismo, lambdacismo, metatese, palatizaçao etc. e mostrar em quais textos esses vocabulos populares sao usados e em quais devem ser evitados. O dicionario contem 372 expressoes (350 vocabulos e 22 locuçoes). Agradeço pelo prefacio ao professor, especialista em Língua Latina e doutorando em Teologia pela Pontificia Universita Gregoriana, de Roma, Italia, o padre Marcos Andre M. dos Santos. Esta obra esta na Amazon, e demais livrarias on line. Quem quiser adquirir comigo com dedicatoria entre em contato: facebook.com/ wagner.azevedopereira.3


Ano IV — Número 48 - Mensal: outubro de 2021

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Canasvieiras—270 anos, retrata a história e as gentes que fundaram este distrito de Florianópolis/SC. Criado oficialmente a 15 de abril de 1835, o povoado já existia desde os primórdios da fundação do arraial Nossa Senhora do Desterro, em 1673, por Francisco Dias Velho. Recebeu um grande incremento populacional com a chegada dos primeiros açorianos em 1748. No tempo, o povoado estava integrado na freguesia de Santo António de Lisboa desde 1750. O seu nome deriva da existência na região de um grande canavial (cana-do-rei, ou simplesmente cana). Muitos escritores, particularmente Virgílio Várzea escreveram sobre Canasvieiras. Afonso Rocha dá-nos, com este seu recente trabalho, um novo olhar e uma previsão futurista do balneário mais famoso de Floripa.

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As mulheres, os homens, as crianças e os idosos; a comunidade LGBT; os negros, os índios, os ciganos, os imigrantes e todos os demais desprotegidos, são perseguidos, violentados, agredidos e estuprados... Nesta obra intimista, Afonso Rocha passeia-se pela sua própria experiência, mas também a de todos nós, como comunidade, para que se dinamize e reforce a forma de combater estas mazelas, estes crimes bárbaros (a pedofilia, estupro), já considerados o holocausto do século XXI.

Através de estórias imperdíveis, Afonso Rocha leva-nos até 500 anos atrás, quando os portugueses chegaram ao sul do Brasil, onde criaram família, cultivaram tradições e culturas que viriam a “marcar” a cultura catarinense. Sangue Lusitano é a história do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, de suas vilas e cidades e de seus povos (indígenas, portugueses, negros e outros que se lhes juntaram posteriormente). Um livro a não perder.

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Olhos D’Água—Histórias de um tempo sem tempo, relata-nos as vivências do povo português entre 1946 e 1974 e a sua resistência à ditadura e ao fascismo do regime de então. Por outro lado, configura uma autobiografia do autor (Afonso Rocha) nas suas andanças pelo período escolar, pelo serviço militar; a guerra colonial em África; a emigração em França; a resistência, até à revolução dos cravos... Um livro a não perder, sobretudo para quem gosta de história.

Trovas ao Vento, é uma coletânea de poemas e outros pensares, enriquecida com o contributo de outros poetas convidados naturais do Brasil, Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Angola e da Galiza, como expressão do pensar lusófono. Um encontro de expressões diferentes, manifestadas pela língua comum que nos cimenta e faz pensar português. Um livro de cabeceira, não para ler, mas para pensar e refletir.

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Corrente d’ escrita

Número 37 - setembro 2020

I N É D I TOS n a a ma z o n . c o m

Casa dos Livros e da Leitura

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