Corrente d'escrita n° 53

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Ano V — Número 53

Mensal: maio de 2022

Corrente d’escrita Plantando Cultura * Santa Catarina * Brasil

Fundado por Afonso Rocha—julho 2017

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Corrente d’ escrita

Florianópolis Santa Catarina Brasil +55 48 991 311 560 narealgana@gmail.com www.issuu.com/correntedescrita Fundador e diretor: Afonso Rocha

Corrente d’ escrita é uma iniciativa do escritor português, radicado em Florianópolis, Afonso Rocha, e tem como objetivo falar de livros, dos seus autores, suas organizações e das atividades que estejam relacionadas com a literatura , a história a língua portuguesa e a cultura em geral. Chamaremos para colaborar com o Corrente d’ escrita escritores e agentes literários, a qualquer nível, cuja colaboração será exclusivamente gratuita e sem qualquer contrapartida, a não ser, o compromisso para divulgar, propagar e distribuir este Magazine Literário. O envio para publicação de qualquer matéria (texto ou foto) implica a autorização de forma gratuita. As matérias assinadas são da responsabilidade exclusiva de seus autores e não reflete, necessariamente, a opinião de Corrente d’ escrita. As imagens não creditadas são do domínio público que circulam na internet sem indicação de autoria. As matérias não assinada são da responsabilidade da redação.

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Editorial

Corrente d’escrita

Número 50—fevereiro 2022

A nossa pagina de abertura homenageia a liberdade de imprensa.

Os homens e mulheres, independentemente da cor, do credo, da origem social, dos sonhos de cada um, que deram a vida pela liberdade de existirem e de pensarem livremente. E nao foram poucos os que tiveram de pagar com a vida a coragem de falar alto e de dizerem o que pensavam. Hoje, a liberdade de imprensa ainda esta agrilhoada em alguns países, e as dificuldades impostas aos jornalistas e aos proprios orgaos de imprensa sao tantas, que poderíamos dizer que no Brasil, e liberdade de imprensa esta amordaçada. Em respeito a algumas efemerides, esperamos que tenha comemorado no passado dia 1 de maio o dia da literatura brasileira e que no dia 5 se comemora o dia mundial da cultura lusofona; no dia 7 comemora-se o dia do artista plastico e no dia seguinte o dia do pintor; dia 18 e dia de comemorar os museus e no dia 21 e o dia da língua nacional. E nao esqueça que a “nossa” língua nacional e a língua portuguesa…

Agendado para este mes de maio a entrega dos premios catarinense de literatura 2021 (dia 19). A atribuiçao destes premios e importante como incentivo para quem se dedica a escrita. Esperamos que a Academia Catarinense, que procede a esta escolha, continue neste caminho. A nomeaçao de tres prestigiados escritores (Pericles Prado, Miro Morais e Olsen Jr) para a seleçao de 2021, foi acertada e tomada em boa hora. Afonso Rocha Página 3

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Atualidade

Lygia de Azevedo Fagundes nasceu no dia 19 de abril de 1918 na rua Barao de Tatuí, do bairro de Santa Cecília, na cidade de Sao Paulo. [8] Quarta filha de Maria do Rosario Silva Jardim de Moura, conhecida como Zazita, uma pianista, e Durval de Azevedo Fagundes, procurador e promotor publico, que tambem trabalhou como advogado distrital, comissario de polícia e juiz. Em funçao do trabalho do pai, a família mudou-se muitas vezes para varias cidades do estado, vivendo em Apiaí, Assis, Itatinga e Sertaozinho. Nesses municípios, recebia o cuidado de babas dotadas de um farto repertorio de lendas. Foram aquelas mulheres que deram a menina um sem-fim de historias povoadas por mulas sem cabeça e lobisomens, o que a influenciou a criar seus proprios contos nas ultimas paginas de seus cadernos escolares, os quais contava nas rodas de conversa.

dama da literatura brasileira" e "a maior escritora brasileira" - que nos deixou no passado dia 3 de abril — enquanto viva, foi uma escritora brasileira, considerada por academicos, críticos e leitores, uma das mais importantes e notaveis escritoras brasileiras do seculo XX e da historia da literatura brasileira. Alem de advogada, romancista e contista, Lygia teve grande representaçao no pos-modernismo, e suas obras retratavam temas classicos e universais como a morte, o amor, o medo e a loucura, alem da fantasia.

literaria foi com o livro de contos Porao e Sobrado (1938), o qual foi bem recebido pela crítica; o sucesso se repetiu com Praia Viva (1944). Apos ter concluído o curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo de Sao Francisco, em 1946, onde conhecera Mario de Andrade e Oswald de Andrade, Paulo Emílio Sales Gomes, entre outros, integrou a academia de letras da faculdade e colaborou com os jornais Arcadia e A Balança. No ano seguinte, ela casou-se com Gofredo Teles Junior, com quem teve Gofredo da Silva Telles Neto, casando-se novamente em 1962 com Paulo Emílio Salles Gomes. O terceiro livro de contos dela, O Cacto Vermelho, lançado em 1949, recebeu o Premio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras. Seu primeiro romance, Ciranda de Pedra, publicado em 1954, foi bem recebido pela crítica e publico, tornando-a nacionalmente conhecida.

Em paralelo a carreira literaria, ela trabalhou como Procuradora do Instituto de Previdencia do Estado de Sao Paulo, cargo que exerceu ate a aposentadoria, e foi presidente Nascida na cidade de Sao Paulo, da Cinemateca Brasileira, fundada cresceu em Sertaozinho e outras pelo marido Paulo Emílio. pequenas cidades do interior pau- A decada de 1970 foi de suma imlista, e desde pequena demostrou portancia para Lygia e marcou seu interesse pelas letras. Aos oitos exito literario e consagraçao interanos, mudou-se para o Rio de Janei- nacional, dado que foi naquele períro, permanecendo la por cinco odo em que ela publicou algumas anos. De volta a Sao Paulo, matricu- de suas obras mais aclamadas e lou-se no Instituto de Educaçao Ca- prestigiadas: Antes do Baile Veretano de Campos e passou a inte- de (1970), cujo conto que da título Lygia, tambem conhecida como "a ressar-se por literatura. Sua estreia ao livro venceu o Grande Premio no Página 4


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Atualidade rio (1964), Misterios (1981), As Na 17.ª ediçao do Premio Camoes, Horas Nuas (1989) e Invençao e maior laurea concedida a escritores Memoria (2000). de países com o portugues como a A escritora teve seus livros traduzi- língua oficial, ocorrida em 2005, dos para o alemao, espanhol, fran- Lygia foi anunciada a vencedora. ces, ingles, italiano, polones, sueco, Ganhadora de todos os premios tcheco, alem de inumeras ediçoes literarios importantes do Brasil, homenageada nacional e internaciem Portugal. onalmente, tornou-se, em 2016, aos Encontra-se colaboraçao da sua 92 anos, a primeira mulher brasiautoria na revista luso-brasileira leira a ter sido indicada ao preAtlantico. mio Nobel de Literatura.

Concurso Internacional de Escritoras, na França; As Meninas (1973), que ganhou o Premio Jabuti, da Camara Brasileira do Livro, o Premio Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras e "Ficçao" da Associaçao Paulista de Críticos de Arte; e Seminario dos Ratos (1977), pelo qual ganhou o Pen Club do Brasil. Ela ingressou na Academia Paulista de Letras em 1982, e, em 1985, ocupou a cadeira numero dezesseis da Academia Brasileira de Letras, tomando posse em 12 de maio de 1987. Naquele mesmo ano, tornou-se membro da Academia das Ciencias de Lisboa. Dentre seus outros sucessos estao: Verao no Aqua-

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Atualidade

Academia divulga vencedores do Prêmio Catarinense de Literatura de 2021 27 de abril de 2022

A Academia Catarinense de Letras aprovou o resultado do Prêmio Catarinense de Literatura, referente ao ano de 2021, com as indicações da Comissão Especial presidida por Péricles Prade e integrada por Miro Morais e Olsen Junior. Os vencedores foram os seguintes: O premio pelo conjunto da obra vai homenagear o falecido poeta e escritor Lindolf Bell, celebrando o cinquentenario de lançamento de seu premiado livro As Anamárias. Os demais contemplados foram: Cristovao Tezza, na categoria Romance, com o livro A tensão superficial do tempo; Carlos Henrique Schroeder, no genero Contos com Aranhas; Sergio Medeiros, em Poesia com O passo do macaco; Ana Lavratti destaque em Crônica, com a obra Você mulher ainda melhor; Nelma Baldin, em História, com o livro Tão fortes quanto a vontade; e Dennis Radunz, em Ensaio, com Roça barroca: mundos torrentes. A solenidade de outorga do premio sera realizada pela Academia no proximo mes de maio.

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A cultura e essencial ao crescimento de qualquer civilizaçao e o cooperativismo tem como um de seus princípios apoiar e valorizar açoes que possam ajudar no desenvolvimento da sociedade. A fim de incentivar a cultura e a literatura brasileira e dar visibilidade a tantos escritores talentosos que o país possui, lançamos o Prêmio Nacional Unicred de Literatura. Poderao participar escritores que possuam obras do genero Romance publicadas nos anos de 2020 e 2021. O vencedor recebera como premiaçao o valor de R$ 25 mil. Informações: Período de inscrições: de 17 de março a 31 de maio Valor da inscrição: R$ 150,00 Divulgação dos Resultados: dia 25 de outubro

Vencedores Prêmio Catarinense de Literatura 2021 (continuação)

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Mensal: maio de 2022 "Nao, obrigado. So me avalia bem, por favor. E minha primeira semana. Demoraram a me aceitar. Mais velho, ne?"

INCENTIUVO Á CULTURA O Programa de Incentivo a Cultura (PIC) voltou a receber inscriçoes de projetos via plataforma Prosas. Recentemente o Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina (TCESC) revogou a medida cautelar que suspendera o Programa apos avaliar que a Fundaçao Catarinense de Cultura (FCC) cumpriu todos os requisitos que ensejaram a interrupçao das atividades. A lei estadual de mecenato, viabilizada pela deduçao do ICMS, foi lançada pelo Governo de Santa Catarina em setembro de 2021. Ate o momento, o PIC recebeu 60 propostas de projetos. Destas, 18 foram aprovadas, 7 foram reprovadas e 35 encontram-se em processo de analise.

O meu pai. O seu pai. De bicicleta. Na chuva. Entregando lanche. Ja fiz e ja vi muito post aqui discutindo a questao do Uber, ifood, rappi e da exploraçao da mao de obra e ja li MUITA gente defendendo que tudo bem esses trabalhadores serem explorados pelas grandes empresas porque "pelo menos nao estao em "Pedi um sanduiche pelo rappi pra casa recebendo bolsa família". comer com os filhotes nessa sexta Eu mesma quase ja nao conseguia feira chuvosa enquanto a gente assis- mais pedir qualquer um desses servite um filminho e conversa. ços porque cada vez que um entrega-

Sanduiche

O cara da entrega chega, educadíssi- dor chegava eu tinha vontade de mo e me pede para descer. Achei es- morrer... tranho porque, em regra, eles sobem, Subi com o lanche arrasada. ne? Falei que sim, claro. Desci. Nao consegui dizer que a entrega Chego na portaria e ele parece o meu dele foi maravilhosa e nem aumentar pai. a gorjeta porque ele ja finalizou a Esta molhado, tira meu lanche da entrega, mas so sei que nem consegui mochila, entrega dizendo "aproveita comer o lanche. Tem gosto de lagrique ta quentinho. Desculpa nao su- ma e suor.

O Programa, considerado o maior investimento no setor cultural ja realizado no Estado, disponibilizara mais de R$ 75 milhoes por ano ao setor. Os valores dos projetos sao limitados ao teto de R$ 150 mil pa- bir, mas e porque uso bicicleta e se ra pessoa física e R$ 1,2 milhao pa- roubarem fico sem trabalhar". ra pessoa jurídica. Fico olhando pra ele. Ele parece o Apos a aprovaçao do projeto, a FCC meu pai. O seu pai. O nosso pai. Mais emite uma carta de captaçao, junta- velho. Um rosto cansado, com um mente com autorizaçao para aber- sorriso tímido. tura de conta no Banco do Brasil. A Olho pra bicicleta. Olho pra ele. Sorpartir desse tramite, os proponen- rio de volta. Falo que nao tem probletes estao aptos para captar os re- ma nenhum, pergunto se quer uma cursos aprovados junto as empre- agua. sas que pagam o ICMS em Santa Ele parece o meu pai. O seu pai. Ele Catarina. veio pedalando. Na chuva. Penso no :: Saiba mais sobre o PIC: https:// meu pai que esta em um hotel fazencultura.sc.gov.br/editais-e-acoes/ da agora tomando um cha quentinho programa-de-incentivo-a-cultura e lendo um livro.

Fico pensando por quanto tempo a gente vai continuar normalizando esse tipo de exploraçao empresa x trabalhador. Voces viram o entregador do ifood na cadeira de rodas que trabalhou por 10h e so conseguiu beber uma agua para conseguir receber alguma coisa e fazer valer o dia?

Vi o vídeo da nossa amada Rita, a do Tempero Drag, onde ela fala assim: a gente ve que perdeu a nossa humanidade quando olha para o outro passando por uma situaçao desumana e nao se importa mais com ele. Pior. Acredita que ele mereceu estar daPerguntei se ele queria uma agua. quele jeito.'" Que pedalar cansa.

Flávia Viana. In TV Vento Sul/Florianópolis

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carne e osso, com virtudes e defeitos como os dos comuns dos mortais. No presente artigo, centramos a nossa atençao na rainha D. Amelia.

CASOS com História

Páginas do passado

Maria Amelia Luísa Helena de Orleaes e Bragança, nasceu em 1865, em Inglaterra.

Amelia era filha do Conde de Paris, membro da monarquia, fazendo parte de linhagem real francesa. O O contexto Antes de centrar a nossa atençao seu pai era Luís Filipe Alberto de na rainha, convem conhecer um Orleaes. pouco melhor o contexto em que O casamento ela surge. D. Carlos I nasceu no dia

Lesbianismo de Dona Amélia HISTÓRIAS O lesbianismo da rainha D. Amélia A vida dos reis e das rainhas é repleta de momentos interessantes. Há diversas curiosidades que deve conhecer. O lesbianismo da rainha D. Amélia. Por Márcio Magalhães

Portugal tem uma historia longa, com quase 900 anos de existencia. Grande parte desse tempo foi passado com reis e rainhas a decidirem os destinos da naçao. Os reinados sempre motivaram grande atençao por parte do povo. Os reis sempre foram vistos como seres distintos, que tiveram uma educaçao diferente da dos outros, que viveram experiencias que nao estao a disposiçao do comum dos mortais. Contudo, apesar da aura de quase deuses na terra, os reis tambem cometeram erros, tambem desempenharam momentos menos dignos da realeza. A vida dos reis e das rainhas sempre concentraram os olhares, sendo tratados de forma especial. Porem, os monarcas sempre mostraram serem pessoas de Página 9

28 de setembro de 1863, na cidade de Lisboa. O filho de D. Luís I e de D. Maria Pia de Saboia reinou entre 1889 e 1908, pois faleceu no dia 01 fevereiro de 1908 (na capital, em Lisboa).

O casamento e um momento marcante para a maioria das pessoas, mais ainda naquele tempo. Dona Amelia de Orleaes casou com D. Carlos em 1886, o qual, posteriorO rei que ficou conhecido pelo cog- mente, se tornou rei. nome de “O Martirizado” casou-se Esta relaçao foi frutuosa, dando com D. Maria Amelia Luísa Helena tres filhos: D. Luís Filipe, D. Manuel de Orleaes. E neste contexto que II e D. Ana Maria (que faleceu a nassurge aquela que se tornara a ulti- cença). O casamento representou ma rainha portuguesa, integrando parte importante da sua vida, que assim a família Real de Portugal. ficou marcada por tragicos aconteA Rainha Dona Amelia de Orleaes cimentos, como veremos. foi mulher do rei D. Carlos, ficando O lesbianismo da rainha para a historia como a ultima rainha de Portugal. O seu nome era Enquanto rainha, Dona Amelia de


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Orleaes desenvolveu uma açao de A DIFÍCIL ARTE DE SATIRIZAR apoio aos necessitados, tendo funHilton Gorresen dado a Assistencia Nacional aos Tuberculosos, em 1899. No ano de 1905, Dona Amelia de Orleaes criou o Museu dos Coches. A Rainha dedi- Os persas possuíam um deus, Mani, cujo corpo era formado mecou-se ainda a pintura e ao dese- tade pelo Bem e metade pelo Mal. Tudo dependia do lado pelo nho.

qual era olhado. A satira e um pouco assim, fica no limite entre essas duas forças. Passeia pelo avesso das coisas, dependendo No ano de 1908, presenciou o as- do leitor para determinar em que metade se localiza, a do bem sassinato do marido e do filho mais ou a do mal. Cronologia final

velho. Partiu para o estrangeiro com D. Manuel, por via do golpe de Um autor, no fundo, satiriza a si mesmo, seus medos e fraque5 de outubro de 1910, sendo obri- zas. As vezes, para disfarçar, inventa um personagem. O mau leigada a partir de Portugal. A Rainha Dona Amelia de Orleaes faleceu em Versalhes, em 1951. Os restos mortais de Dona Amelia de Orleaes foram trasladados para Portugal e, atualmente, repousam no Panteao dos Braganças, ao lado do marido e dos filhos. A última rainha

tor nao se conforma: busca “dar nome aos bois” como se satira fosse transcriçao de fatos reais. O satírico e um fingidor. Cria situaçoes absurdas, subverte a realidade, utiliza linguagem formal e solene para tratar de insignificancias, tornando claro, pelo exagero, que nao passam mesmo disso: insignificancias. A satira começa pela visao das coisas. E preciso nascer com o olhar satírico, detectar absurdos, controversias, mesquinharias, e logo buscar comparaçoes, substituir contextos, para coloca-los a ridículo. Nao deixa de ser um ensinamento, um convite ao leitor para ver os fatos de outros modos, enriquecer a consciencia crítica, ao mesmo tempo em que se diverte.

A ultima rainha do país (Augusta Vitoria de HohenzollernSigmaringen casou-se com o ultimo rei de Portugal, D. Manuel II). No entanto, nao foi rainha, pois quando se casou com o Rei D. Manuel II, a Monarquia Portuguesa tinha sido O leitor deve estar preparado para reconhecer as artimanhas. abolida, sendo assim considerada Seguir as pistas (o título, o tom do texto, os vocabulos empregaDuquesa de Bragança. Amelia de Orleaes, a ultima rainha de Portugal, viveu uma relaçao lesbica com Josefa de Sandoval y Pacheco, que era condessa de Figueiro, na epoca conhecida como Pepa Sandoval.

dos, o falso moralismo, os exageros, paradoxos) a fim de nao confundir a satira com um texto dissertativo. As vezes, os objetivos da satira sao frustrados. Defeito de clareza, as palavras tambem tem muitas faces, sao irmas da imprecisao. Ou defeito do leitor, que entende tudo ao pe da letra, busca um dos lados do deus Mani. Do tipo ao qual voce pergunta: como vai? E ele responde desfiando um rosario de doenças e dificuldades. Nao possui o senso do faz-de-conta.

D. Josefa de Sandoval y Pacheco era 5ª Condessa de Figueiro, tendo sido a dama camarista da Rainha D. Amelia. Josefa de Sandoval y Pacheco foi dama camarista da Rainha D. O satírico sempre foi e sera um contestador, um inconformaAmelia ao longo de 25 anos, tendodo. Um rebelde terrorista que busca detonar as convençoes, os a acompanhado mesmo no exílio.

burocratismos utilizando um bodoque. O mal (ou o bem) e que

Ela foi esposa de Antonio de Vasconcelos e Sousa, conde de Figuei- seu projetil as vezes consegue acertar no coraçao do gigante. ro.

In A GAZETA DE SBS EM 23.04.2022 Página 10


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varas se alimenta na beira da estra- É setembro em Londres! da e as palavras se espalham no texto para tambem se alimentar. A nobreza e a realeza Segue o novo paragrafo que enfrenta uma vaca assustada que fugiu do pasto e, a sua aproximaçao, tenta pular a cerca e nao consegue, e o texto precisa procurar passagem para poder pastar mais tranquilo. Repousa um pouco, a agua acaba e a inspiraçao fica ofegante ate a chegada da menina que, a cada vez que voce passa em frente a casa de seus Pedal e letras pais, oferece agua fresca, lava sua E comum que escritores tenham garrafa cheia de po e serve a inspisua imagem confundida com ere- raçao mais refrescante da jornada. mitas em seus esconderijos secre- Ha morros e, nao havendo, de ontos, repletos de conhecimentos de conhecer as paisagens que se ocultos nas frestas, onde passam estendem e aproximam o horizonpara a tela os segredos do universo, te? Como conhecer as palavras esporem, embora o ato de escrever, condidas em sua beleza ancestral em si, seja solitario, seu combustí- em antigos escritos? Ha que folhar vel depende de quao gregario o es- as paginas, ha que subir os morros, criba seja - extrapolemos o signifi- ha que aprender a faze-lo e, para cado de gregario para que a afirma- isso, pedalar mesmo no plaino, raçao faça sentido; algo como “tudo pido e com marchas leves, ate que que nos cerca”. mente e musculos se acostumem e A escrita e um esporte para a mente. Amante do pedal, sinto-me tentado em colocar no papel uma mistura de oportunidades e sensaçoes que acontecem em um esporte para a mente e outro para o corpo, ate porque um afaga o outro.

tudo se regozije ao mirar a silhueta do desconhecido. Em momentos, fluem faceis as letras, o vento e mao amiga a escolher as palavras, as combinaçoes, as figuras, e basta seguir a rota. E ele muda de direçao, coquete que e: de propulsor, passa a ser força contraria. A duvida se instala, e preciso muito mais esforço e o resultado mal passa de uma folha em branco, ate ser lida com mais vagar e o vento ser entendido como carregador de sementes trazidas de quadrantes distantes.

E bom ter uma rota, um objetivo, e voce escreve/pedala ate topar com um atalho tentador e segue por ali, mas ele acaba ja adiante e e preciso voltar. Nao deu para usar, mas as palavras ja escritas habitaram em voce e ficarao na lembrança, assim como a caninana no meio do caminho, de barriga cheia, tomando sol. Hora de refrescar-se com a agua Voltar a rota original e a soluçao e, trazida pela menina. do inesperado, um bando de capiPágina 11

Em todos os cantos, Fascinada estou E setembro em Londres! Pedra apos pedra, Suor, trabalho, Certamente lagrimas E sangue tambem. Mil anos depois Eu me curvo Perante a beleza Da obra do homem! Soma de odores, Amores, feitores Em replica facil E canto gregoriano. Em cores comparsas De trejeitos, sem jeito, Pele insone No meio da noite! Um pouco de dor Escapando do carpete Sobreposto as tabuas antigas, Centenarias! Um pouco de alegria suspirada Atravessa a tinta Que recobre a demao primeira, Ja esquecida, Um pouco de vida Da pouca vida Encerrada em quartos fechados, Espaços cheios De historias esquecidas! No ranger das tabuas Ouço gritos e suspiros, Gemidos calados, Risadas contidas E, de olhos fechados, Vejo-os. Sao muitos, Alguns felizes, Outros nao; Alguns leves, Outros carregando o mundo.


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Só eu e você nesse jogo de envolviE a vida brota da semente, mento. dos poucos segundos de êxtase. Tuas mãos como um brinquedo Deixa passeiam pelo meu corpo.

Eu, você e o jogo Eu gosto de tudo que compõe o seu corpo, toda a simetria física que te coloca em pé. Eu gosto do gosto que fica depois de te beijar, do seu hálito misturado com o meu. Você tem muito do que meu desejo quer, muito do que meu corpo pede. Você me enlouquece a cada encontro, me desvira e vira e desvira de novo.

Te fantasiar é o meu esporte favorito, mas fica melhor ainda quando é real. Deixa eu te dizer como eu quero, depois me diz como prefere. Deixa eu tocar essa parte tua, essa parte desconhecida, essa parte que despertou minha curiosidade. Deixa eu tocar o lugar de que você gosta. Deixa eu entrar no teu, no teu corpo, por dentro dele. Dançar no teu interior, no teu segredo. Deixa eu dançar nossa música favorita. Deixa essa atmosfera fluir do jeito que está, nós dois, essa música, esse suor e essa vontade.

Minha língua gosta de passear em você, escorrendo gota por cada canto, provocando arrepios na suas ideias, Deixa eu te dizer a verdade quando instigando o que tem de melhor em minha boca te encontra, essa boca que te deseja, essa boca você. que te espera. Quero te ouvir pedir, me pedir mais de mim, quero te oferecer aquilo que ninguém te deu. Quero que se descubra e me descubra, sem culpa, sem rótulos, sem receios. Página 12

Te quero, minha boca diz.

O Segredo da Noite Neste instante já não sou nada, somente corpo, boca, pele, pêlos, línguas, bocas.

Não revelam segredos desvendam apenas o pudor do mundo, descobrem a febre dos animais. Então nos tornamos um ao mesmo tempo em que a escuridão explode em festa. A noite amanhece sem versos, com a música do seu hálito ofegante. O sol brota de dentro de mim. Breves segundos. Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.

É setembro em Londres! (Continuaçao) Uns me olham com doçura, Outros indiferentes, Mas nenhum me expulsa E isso basta. Desde o primeiro instante, Num compasso de eternidade, Senti, Ouvi, E aceitei. Tantos gritos calados, Tanta vida contida, Densa, lenta, Fios perdidos, Esquecidos Mas ainda latentes, Presentes, Influentes. E setembro em Londres! Ana Janete Pedri


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Uma imagem impensável de ser vista no Brasil, ou em outro país onde se exagera nas manifestações antirracistas. Aqui, o primeiro ministro de Portugal, em diálogo com um “afrodescendente” (como diríamos no Brasil), em que o próprio se assume como aquilo que é: preto. Página 13


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Perfil

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sidade como uma mulher madura de 28 anos. Depois de se formar em Historia, vira professora da rede publica do Rio de Janeiro e tenta continuar seus estudos no mestrado, mas e boicotada dentro da universidade, pela forma como pensava Historia. Ela nunca deixa a pesquisa, mas ao mesmo tempo, foca

vida multiterritorial que permite a contemporaneidade do pensamentos da historiadora. “Ela e muito atual. Todas as coisas que ela escreveu e pensava com relaçao a ser mulher, negra e nordestina ainda podem ser utilizadas hoje”. Basta ver este enxerto escrito pela

Maria Beatriz Nascimento “Quilombo é uma história. É uma palavra que tem história”, escreveu a historiadora Maria Beatriz Nascimento (1942-1995).

na militancia, trilhando outro caminho”, resume Rodrigo dos Reis, doutorando em Historia pela Universidade do Estado de Santa Cata“É importante ver que, hoje, o rina (UDESC) e que esta preparanquilombo traz pra gente não do o lançamento de um livro sobre mais o território geográfico, mas a obra de Beatriz. o território a nível duma simbo- A trajetoria e produçao fragmentalogia. Nós somos homens. Nós da da historiadora foi compilada e temos direitos ao território, à analisada em produçoes como Eu terra. Várias e várias e várias sou atlantica: sobre a trajetoria de partes da minha história contam vida de Beatriz Nascimento, do soque eu tenho o direito ao espaço ciologo Alex Ratts, e tambem no que ocupo na nação.” trabalho de preservaçao dos textos Quilombo, territorio e corpo sao por Bethania Gomes, filha da histoconceitos que a tambem professo- riadora e que junto com Ratts reura, ativista e poeta nascida em Ara- niu a produçao poetica e ensaística caju (SE) trabalhou durante toda no livro Todas [as] distancias. uma vida de movimentos. Formada em Historia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela deslocou-se entre academia e militancia no movimento negro, confrontando ambientes universitarios ensimesmados e tecendo um pensamento historico a partir de vivencias e andanças. “O percurso da Beatriz Nascimento foi fracionado. Ela entra na univerPágina 14

pesquisadora em 1974 (Disponível no livro Eu Sou Atlantica), sob as problematicas de se estudar historia a partir dos referenciais brancos da academia: “Nao podemos aceitar que a Historia do Negro no Brasil, presentemente, seja entendida apenas atraves dos estudos etnograficos, sociologicos. Devemos fazer a nossa Historia, buscando nos mesmos, jogando nosso inconsciente, nossas frustraçoes, nossos complexos, estudando-os, nao os enganando. So assim poderemos nos entender e fazer-nos aceitar como somos, antes de mais nada pretos, brasileiros, sem sermos confundidos com os americanos ou Dentro da universidade, a obra dela africanos, pois nossa Historia e ouainda e pouco discutida , mas vem tra como e outra nossa problematiganhando espaço como objeto de ca”. estudo em mestrados e doutorados Alem de historiadora, Beatriz Nasde uma nova geraçao de pesquisa- cimento foi poeta. Ela utilizou a dores. Para Patrícia Batista, mes- linguagem poetica para versar sotranda em crítica cultural pela Uni- bre temas que tambem abordava versidade do Estado da Bahia na sua pesquisa academica, como (UNEB) e autora do artigo A pers- raça, territorio e quilombo / Credipectiva do quilombo sob o olhar da to: Divulgaçao escritora negra Beatriz Nascimento, e justamente essa trajetoria de A memória no corpo negro


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Mensal: maio de 2022 pessoa de pe descalço dentro do terreiro se conectando com seus antepassados em um momento sem passado e sem futuro. Isso para a Beatriz como historiadora e muito importante. Ela usa essa metafora para dizer que e possível renascer, que o negro tem uma historia ser contada”, elucida Reis.

Segundo pesquisadores da vida e trajetoria de Beatriz, ha uma radicalidade em seu pensamento como historiadora. Nos anos que estudou e se deslocou, Beatriz criou, em sintonia com pensadores como Lelia Gonzales e Abdias do Nascimento, uma analise historica a partir de pensamentos e praticas de matriz africana e afro-brasileira, negando a historicidade normativa circunscrita a pensadores europeus.

Para Rodrigo, o que Beatriz traz nos seus escritos, e que a Africa do passado nao existe mais: “O que o negro em diaspora fez? Ele criou seu proprio mundo. E dentro desse lugar, que sao os quilombos, ele cria essa nova identidade. Quando acabaram os quilombos em termos historicos, por causa da repressao, ele vem a ser simbologia. Aí entra o corpo e a memoria; Quem carrega o quilombo sao os proprios corpos E na diaspora transatlantica entre negros”, afirma Africa e Brasil, em que sujeitos ne- O pensamento historico de Beatriz, gros trazem consigo os saberes de a partir do territorio e do corpo, suas culturas e territorios, deixan- encontra uma síntese audiovisual do para tras naçoes hoje inimagina- no filme Orí (1989), dirigido por veis e produzindo aqui novas for- Raquel Gerber. O documentario mas de viver e saber, que Beatriz narra os movimentos negros brasibasilou sua pesquisa, como explica leiros entre 1977 e 1988, tendo o Reis: quilombo como ideia central e a “Ao se deslocar, o corpo negro su- oralidade da historiadora como porta dois continentes de memoria. guia dessa historia. Aqui ele teve que inventar sua propria historia e ela passa pelo corpo, porque alem de ser guardiao da memoria, o corpo foi a materia a ser utilizada e buscada. Para nos negros estarmos hoje no Brasil, em algum momento da historia alguem foi buscar um corpo negro.” Página 15

“Orí e uma palavra ioruba que esta relacionada com a questao da religiosidade matriz africana. E um conceito polissemico, mas uma das definiçoes possíveis e corpo – cabeça – territorio. O Orí seria a ligaçao, ou a descriçao de todos esses elementos trabalhando juntos: Uma

Beatriz Nascimento emprestou sua oralidade e poetica para o filme Orí, dirigido por Raquel Gerber. Na foto, a historiadora e a diretora / Credito: Divulgaçao O quilombo como espaço simbólico no corpo em movimento Entre 1974 e 1996, a pesquisa de Beatriz Nascimento voltou-se para os quilombos. Seus exercícios de contextualizaçao e ampliaçao do conceito aconteciam em dois ambitos. Um era o historico, em que ela criticava a falta de olhar para os quilombos tanto como formaçao historica e potencia ideologica. No outro, ela fez um deslocamento transatlantico, viajando ate países como Angola para entender porque e como se constituíram os quilombos de la, como influenciaram os brasileiros, que se tornaram territorios distintos, de formaçao do ser e estar do sujeito negro. “O que ela procura dentro dos quilombos e um continuum (modo contínuo) da historia. Existia uma forma de ser e estar no mundo que foi desenvolvida dentro dos quilombos e nao se encerrou ali. Beatriz nao faz uma transposiçao direta – que o que era quilombo virou favela ou terreiro de candomble – mas ela entende que ha uma certa transmissao psíquica, de um ethos


Ano V — Número 53 (conjunto de valores, comportamentos e culturas de uma determinada coletividade, epoca ou regiao) de ver e estar no mundo que foi criado nessas relaçoes aquilombadas”, elabora Reis.

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ali se constitui uma especie de quilombo tambem. Beatriz fala que e difícil para um branco entender o quilombo, porque e um espaço negro tao negro que o negro pode ser ele mesmo ali.”

De acordo com o historiador, foi estudando nao so formaçoes classicas de quilombos, como Quilombo dos Palmares, mas tambem terreiros de candomble de Recife e Salvador, que o corpo assume seu lugar de importancia na historiografia de Beatriz. Em principal, o corpo em movimento, e que por estar em movimento, consegue tornar a historia do negro sempre em constante renovaçao.

Embora a trajetoria de Beatriz tenha sido interrompida de maneira brusca por violencias que ela nunca deixou de denunciar nas suas trajetorias academicas e de militancia – a historiadora foi vítima de feminicídio – o que ela deixou para o mundo foi a impossibilidade de que sua propria pesquisa ficasse parada no tempo. Porque e do movimento que o pensamento e a produçao negra se alimenta, como Rodrigo “Antes da instituiçao e do territorio conclui: quilombo, existe a instituiçao fuga. “A nossa historia, a historia negra, Para se ter quilombo, existem cor- esta sempre sendo contada, ela nao pos em fuga procurando humani- e estagnada. E isso que Beatriz tendade. Ela como poeta entende a ta mostrar. Sao negros em movifuga no simbolico, ou seja, nao so mento dentro do movimento negro como forma historica de como es- que fazem a historia. Podemos exses homens e mulheres planejavam pandir isso para todos os territosuas vidas, mas tambem do corpo e rios e o movimento em busca dessa hu- lugares. manidade. Como se da essa huma- Precisanidade? Quando esses corpos se mos esreconhecem entre si, quando esta- tar em vam no quilombo”, envelopa o his- movitoriador. mento e A pesquisadora Patrícia ainda traz em fuga, a questao para movimentos ainda contra mais atuais:: “Quando o negro se essa anjunta em movimentos do hip-hop, tivida quando esta no terreiro, na favela, que ten-

ta tirar nossa força vital. Esse e o desafio da populaçao negra no Brasil. Estar em movimento.” A produçao desta reportagem nao teria sido possível sem a leitura do trabalho das pesquisadoras Debora Alcantara e Maria Pinn. Debora Alcantara e doutoranda no Departamento de Ciencia Política da Universidade Federal de Minas Gerais (DCP/UFMG) e escreveu o artigo A categoria política quilombola na encruzilhada: um olhar possível do encontro das vertentes epistemicas de colonial e das autoras amefricanas Beatriz do Nascimento e Lelia Gonzalez. Maria Pinn e doutoranda do Programa de Pos-Graduaçao em Historia da Universidade Federal de Ouro Preto e escreveu o artigo Beatriz Nascimento e a invisibilidade negra na historiografia brasileira: mecanismos de anulaçao e silenciamento das praticas academicas e intelectuais.

Para divulgar (grátis) seus trabalhos no

Corrente d’escrita Envie-nos seus textos (maximo: 4 mil toques para cronica, conto ou ensaio). Página 16


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Mensal: maio de 2022 Brasil que, com todas essas suas dificuldades, os seus problemas os seus fracassos, e um Brasil onde ser negro nao e opobrio, onde ser pobre nao e desonroso [...] seria uma Java americana, mais rica, mais progressista, mais produtora de cafe ou de cacau que o Brasil de hoje, porem dominada por alguns daqueles preconceitos que tantos dos norte-europeus [...]levaram para o Oriente: um Oriente onde ha um ranger de dentes, uns extremos de odios entre brancos e gentes de cor, entre ricos e pobres, entre europeus e nao-europeus [...].”

Holandeses no Brasil.

O Brasil teria, pondera, mantido vantagem economica na produçao do açucar, do ouro, do cacau, dos diamantes, da borracha; e provavel que fosse “quase tao potencia quanto os Estados Unidos ou a Uniao Sovietica” e “e quase certo que aqui brancos e gentes de cor nao seriam – tivessem os holandeses – se apoderado de parte do Brasil ,num so povo brasileiro, porem dois: uns brancos, outros de cor; uma casta tida por abençoada por Deus, como ensinou Calvino, por ser rica, e os pobres, por serem pobres, havidos, de acordo com o mesmo ensino, por sub-homens, por subgente, por enjeitados do proprio Deus; a pobreza tida por extrema vergonha [...] e nao como para os que hoje somos brasileiros condiçao que nada tem de indigque o Brasil tivesse tido nao um na.” (Idem). Pedro portugues mas um Adrian holandes [...] como seu descobridor Ruy Rebello Pinho: “[...] o direito oficial; e que, em vez de pas- aplicado pelos holandeses no Brasil sar [...] a pertencer a um Portu- nao difere substancialmente do digal [...]tivesse passado a ser reito portugues da epoca.

E se o Brasil houvesse sido colonizado pelos holandeses? Responde-o Gilberto Freyre (Alhos e bugalhos, Nova Fronteira, 1978, p. 139-140): [...] colonia de uma Holanda [...] ? Todavia, a preocupaçao de manter “Mas – ha eruditos que ainda hoje Provavelmente isto: em vez de um os territorios conquistados, de doperguntam – nao teria sido melhor minar os portugueses e seus aliaPágina 17


Ano V — Número 53 dos, de obter os lucros exigidos pela Companhia das Indias Ocidentais, tudo isto da as leis flamengas e a sua aplicaçao maior crueldade e, nao raro, um cinismo chocante.

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holandesa no Brasil, o holandes Gaspar Barleu, autor de livro encomiastico da obra dos seus patrícios no Brasil, elogia-a, com restriçoes; ja o conde de Nassau aponta seus defeitos. (Historia do Direito [...] Penal Brasileiro, p. 152). Por sua Verdade e que portugueses, índios vez, Manuel Calado nao a perdoa. e negros nao desejavam um Brasil Admite qualidades no Prínciholandes. E mesmo Nassau acabape [Maurício de Nassau], mas o inria sendo obrigado, sem duvida, a clui nas negociatas feitas entao. Aos admitir esta realidade, por bem ou do Supremo Conselho, aos do Conpor mal”. (Historia do Direito Penal selho Político, ao Fiscal, aos escabiBrasileiro, p. 193). Quanto a organizaçao judiciaria nos [escabinos eram juízes; os conselhos funcionavam como tribunais Na organizaçao judiciaria holandesa, no Brasil, havia os escoltetos, chefes administrativos dos municípios que exerciam, tambem, funçoes como exatores fiscais, promotores de justiça e chefes de polícia, remunerados com porcentagens ou comissoes sobre as multas que infligiam, com cujas falcatruas revoltava-se Manuel Calado, testemunha contemporanea da presença holandesa e a que dedica paginas a fio do seu livro “Valeroso Lucideno”. Diz ele: [...] saiam seus Escoltetos cada seis meses pelos campos, e matos, com outros ministros da Justiça; e chegavam as casas dos moradores, e nenhum havia que nao ficasse condenado em dinheiro, ainda que tivesse feito milagre no cumprimento de suas prematicas; e os Escoltetos todas as condenaçoes que faziam eram para si, e dali davam metade aos do Conselho [colegiado governante], segundo suas diabolicas mancomunaçoes [...]. (Historia do Direito Penal Brasileiro, p. 144145). O proprio conde de Nassau reconheceu a existencia do vício daninho das atribuiçoes dos escoltetos Página 18

e ponderou que o remedio para isso sera abolirem-se as penas dos delitos leves e varias leis; apodouos de sanguessugas, dotados de insaciavel cobiça. E acrescenta, acerca da moralidade dos ocupantes deste cargo: [...] conviria entregar estas funçoes somente aos mais conceituados, afastando-se delas os ladroes que, como Gueiroes, vao arrebatar o alheio com seis maos. (Historia do Direito Penal Brasileiro, p. 145).


Ano V — Número 53 de apelaçao] nega qualquer interesse em fazer justiça. A organizaçao judiciaria flamenga objetivava a dissipar e destruir a Província de Pernambuco, cujos moradores, constrangidos das muitas crueldades e traiçoes [praticadas contra eles, pelos holandeses] lhes entregassem todas suas fazendas, e havendo de ficar na terra fossem mais que cativos, e escravos trabalhando de dia, e de noite, nao para si, senao para seus inimigos. (Historia do Direito Penal Brasileiro, p. 152). Sobre a ganancia holandesa, ajuizou Nassau que os seus compatriotas sao homens tais que preferem sofrer danos na vida a sofre-lo na fazenda: esta e para eles mais cara que a menina dos olhos. (Historia do Direito Penal Brasileiro, p. 153).

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O governo holandes no Brasil proibiu aos moradores possuírem, domesticamente, qualquer tipo de arma, sob pena capital. Para o descobrimento das que porventura existissem, prometeu alforria aos escravos que denunciassem os seus senhores. Diz Manuel Calado que os holandeses, a proposito, usavam de uma maldade nunca vista, e era que davam de beber aos negros cativos, e lhes diziam que se queriam ser forros mexericassem a seus senhores que tinham em tal, e tal parte as armas escondidas, as quais os mesmos Flamengos haviam escondido nos mesmos lugares, em odios dos Portugueses, e com intençao de por esta via lhes roubarem as fazendas, e alguns foram destruídos e condenados com este estratagema, muitos moradores se foram esconder nos matos com temor (Historia do Direito Penal Brasileiro, p. 217). Ou seja, os holandeses embriagavam os escravos e prometiam-lhes a liberdade caso denunciassem os seus senhores, por possuírem armas que os proprios promitentes ocultavam, nas casas dos senhores, perfídia com que perderam a muitos; outros, refugiaram-se no sertao.

gues, como na Europa em geral tambem se usava. Neste capítulo, os holandeses nao foram comparativamente brandos, mas tao feros ou mais do que os outros povos. Arthur Virmond de Lacerda

Na obtençao de provas para fins judiciarios, os holandeses valiam-se da fraude: aos condenados (catolicos) enviavam predicantes calvinistas, que se lhes apresentava como padres catolicos, a quem declaravam fatos, na ilusao de o fazerem por confissao e protegidos pelo sigilo respectivo. De posse das informaçoes, os embusteiros comunicavam-nas as autoridades que, com base nelas, sentenciavam os Outro metodo empregado pelos confitentes a morte. (Historia do holandeses consistia na tortura, que em Portugal e no Brasil portuDireito Penal Brasileiro, p. 170). Divulgue—Partilhe—Leia

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22 DE ABRIL Quando os portugueses chegaram a Porto Seguro Eis o grande dilema: Cabral descobriu o Brasil, ou o Brasil descobriu o Cabral. Um Cabral navegador ousado cheio de planos a serviço do rei lusitano. Como se pode descobrir algo que ja existe? As terras brasilis ja existiam desde memoraveis epocas. Seu povo formou-se mediante a junçao de varias naçoes aqui existentes, cada qual com sua cultura, sua religiosidade, suas crenças, seus sonhos, suas necessidades. Evidente que estes povos nao viviam em total harmonia, em uma paz angelical como se imagina. Afinal nos seres humanos temos nossas falhas, e com o povo nativo destas terras tupiniquins nao era diferente, no entanto nao dava o direito de o homem branco intruso se apoderar deste solo sul-americano. Afinal o que comemoramos neste 22 de abril? A descoberta de uma nova terra, um novo eldorado para a coroa de alem-mar? Ou mais precisamente uma invasao esdruxula onde seus verdadeiros donos foram escravizados, massacrados, vilipendiados? Para a historia oficial nao

Colonialismo E facil, hoje, ano da graça de 2022, espezinhar ou desvalorizar a presença dos portugueses no brasil. E facil tentar espezinhar o país que temos hoje, responsabilizando os portugueses de 1500. Ou seja, e uma ingratidao tentar morder a mao que nos alimentou ou, melhor dizendo, escarrar na sopa que nos matou a fome. Todas as colonizaçoes tiveram seus processos historicos proprios e nao podem servir de avaliaçao em relaçao uns aos outros. Mas todos, indiscutivelmente, cometeram grandes erros, atrocidades, exageros. Mas isto e vendo esses casos com os olhos de hoje. Sem ter presente que naquele tempo tudo ocorria sem cartilha, sem bula, sem mestre de cerimonia. Tudo era novo, para quem ja estava no terreno e para quem acabava de chegar.

e uma coisa nem outra, simplesmente um achado por acaso diante de um “acidental” erro de percurso. Como diz o dito popular: “o que é achado não é roubado”. Se o dito e verdadeiro e esta no consenso popular, onde esta a tal injustiça? A tal pilhagem das terras brasilis? Devemos estar “equivocados” com tanto devaneio acerca deste 22 de abril. Hoje e uma data “especial”, e dia de festa que, alias, se iniciou no dia 19 de abril dia dos legítimos donos deste solo, ou nao? O que estes aborígines analfabetos? Truculentos? Que so andavam pelados pelas matas caçando para sobreviver? Nao gostavam de trabalhar, pois so viviam deitados na rede vendo o tempo passar? Que acreditavam em espíritos da floresta? Seguiam os ciclos da lua? Conversavam em torno de uma fogueira, respeitavam os mais velhos ouvindo suas historias “infantis”? Consultavam seus pajes aceitando seus conselhos? Nao, nao pode ser isto, o que representa esta data tao “especial” para o nosso país? Devemos reverenciar nossos nobres “descobridores” que nos trouxeram o despertar de uma nova consciencia, um novo mundo cheio de ambiçoes e aculturaçao? Entao neste 22 de abril, comemoramos o que mesmo? Valmir Vilmar de Sousa (Veve) 22/04/18

nho, como teve a colonizaçao da America, da Australia, de Africa, da Oceania. Os portugueses, em tempos remotos, tambem foram "colonizados" pelos celtas, pelos fenícios, pelos visigodos, pelos romanos... No que concerne ao Brasil, os portugueses conquistaram novas terras (aos espanhois) para os brasileiros; exploraram a riqueza (metais preciosos, agricultura) que os indígenas nao exploravam; abriram vias de comunicaçao, que nao existiam; construíram monumentos que, ainda hoje, sao referencia mundial; criaram fronteiras reconhecidas internacionalmente e forjaram um identidade propria, nacional, brasileira. Naquele tempo, os brasileiros pagavam um imposto (20%) muito inferior ao que pagam em 2022, o chamado quinto dos infernos..

Quando os portugueses chegaram, ja por ca andavam Os portugueses nao chegaram a Porto Seguro para outros povos, que para se instalarem, expulsaram ou aprisionar os indígenas, para os massacrar, para os aniquilaram os povos que tinham chegado antes deroubar. A partir daí o processo teve seu proprio camiles.... Ninguem e “santinho” nesta questao da colonizaPágina 20


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çao. Todos os povos que vieram antes dos portugueses, tem tanto direito as terras que ocuparam, como os povos que vieram depois deles. E tao brasileiro o portugues que veio na sequencia de Pedro Alvares Cabral, como brasileiro e o alemao, o italiano, o japones, o espanhol que vieram depois da independencia. O conceito de país, de naçao, de patria, naqueles tempos, era bem diferente do que passou a vigorar apos a chegada dos portugueses. Hoje, e facil condenar os portugueses, mas em 1500, quando nem Brasil existia como país, estava tudo por fazer, por descobrir e, sobretudo, por aprender. Outros tentaram. Os franceses, no Rio de Janeiro; os holandeses, em Pernambuco; os espanhois, nas terras do Sul e, ate, os americanos, nas terras da Amazonia. Mas ninguem, a nao ser os portugueses, conseguiram criar um país estruturado com fronteiras, com bandeira, com hino, com identidade propria, apesar dos malefícios reinantes nos dias de hoje.. Sou portugues, mas sou, como sempre fui, contra o colonialismo, no sentido político do termo, fosse ele portugues, ingles, frances, holandes, americano ou russo. Em Africa, nos anos sessenta, coloquei-me ao lado dos africanos na luta pela sua autodeterminaçao e independencia; se vivesse em 1822, estaria ao lado dos independentistas, como dom Pedro I, um portugues nascido em Queluz (Portugal) que "comandou" a separaçao, como em 1889, estaria ao lado dos republicanos, contra a monarquia. Afonso Rocha

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A política de sigilo de Portugal na época dos descobrimentos A caravela com velas latinas conjuga duas características principais: a dimensao das vergas e as proporçoes do casco.[1] Segundo Charles Boxer, a madeira apropriada nao era encontrada facilmente em Portugal. O pinhal de Leiria que a Coroa havia mandado plantar para garantir o fornecimento de madeira para as embarcaçoes portugueses nao produzia madeira de qualidade duradoura, de modo que a maior parte era importada de Biscaia e da Europa Setentrional.[2] Jaime Cortesao (na figura) por sua vez, mostra que a tecnologia dos artesaos portugueses era mantida em sigilo. O carvalho para as quilhas vinham do Alentejo proximo ao Algarve que se tornou importante construtor naval, o pinho para os casos vinham das costas de Portugal onde as arvores eram abatidas exclusivamente para construçao naval. Velas e cardames eram produzidas em Lagos.[3] Cadamosto registra as vantagens do uso das caravelas, elogio subscrito pelo proprio papa Nicolau V na bula de 1454 em que concedeu ao Infante D. Henrique o monopolio das expediçoes marítiPágina 22

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mas [4]. O historiador Jaime Cortesao em A Política de Sigilo nos Descobrimentos de 1960 destaca a eficiencia da maquina política do Imperio Ultramarino Lusitano em manter em segredo as rotas, as tecnicas de navegaçao e as fontes de riqueza. Tanto D. Joao II (que reinou de 1481 a 1495) como D. Manuel (que reinou de 1495 a 1521) especialmente proíbem que em qualquer carta de marear seja figurada a costa ocidental africana ao sul do rio do Congo. Segundo Jaime Cortesao talvez a política de sigilos ja pode ser identificada desde 1454. O descobrimento do Brasil em 1498 seria um dos exemplos de empreendimentos mantidos em sigilo por Portugal. Os primeiros tratados tecnicos de navegaçao começam a surgir apenas em 1570 uma vez que a tecnica de construçao das caravelas era mantida em sigilo pelos navegadores portugueses e transmitida oralmente.[5] As Ordenaçoes Manuelinas opuseramse que pilotos, mestres e marinheiros portugueses servissem a naçoes estrangeiras. D. Manuel condenou Diogo Pires de Sines a perda de seus bens por haver vendido uma caravela a estrangeiros. Em 1454 um comerciante foi executado por ter vendido sua caravela a um comprador ingles [6]. Durante a construçao da base naval de Sao Jorge da Mina em Gana o rei mandou destruir duas urcas de 400 toneladas para sustentar o mito de que somente as caravelas dispunham dos meios para fazer a viagem de ida e volta a costa da Guine.[7] Duarte Leite, contudo, contesta a tese de sigilo de Cortesao pois navegadores

estrangeiros “Luis de Cadamosto, Antonio Usodimare e o trio de Bartolomeu, Antonio e Rafael de Nole ficaram conhecendo a Guine e ao mesmo tempo roteiros, cartas de marear e outras tecnicas nauticas dos portugueses”. Para Alvaro Pimpao “nao encontrar fatos cartograficos e economicos valiosos para a epoca nao nos da o direito de supor que foram obrigados a omitilos” [8]. Apesar de navegadores genoveses Antoniotto Usodimare e Antonio de Noli e o veneziano Luis / Alvise de Cadasmoto terem navegado em naus portuguesas Jaime Cortesao alega que eles nao tiveram acesso aos segredos de construçao das caravelas.[9] Em 1504 D. Manuel proibia que as cartas nauticas registrassem qualquer indicaçao alem das ilhas de Sao Tome e Príncipe [10]. A saída de documentos cartograficos para o estrangeiro era passível de pena de morte conforme descrito numa carta de 1501. [11] Um reflexo desta política de segredo nas navegaçoes foi a carta de Pero Vaz de Caminha mantida em segredo na Torre do Tombo por tres seculos. [12] O mapa/planisferio de Cantino de 1502 que mostra o Brasil e a linha de Tordesilhas foi mantido em sigilo e descoberto casualmente pelo diretor da Biblioteca Estense no forro de uma salsicharia em 1859. [13] A carta nautica mostra, copiado possivelmente por um espiao italiano de um original portugues, uma descriçao bastante precisa da costa africana em especial da costa ocidental a norte do rio Congo.[14]


Ano V — Número 53 Um agente italiano, depois do regresso de Pedro Alvares Cabral da India, em 1500, queixava-se “E impossível obter uma carta de viagem, porque o rei decretou a pena de morte para quem mandasse alguma para o estrangeiro”.[15]

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nial portugues, Lisboa: Ediçoes 70, numental Comemorativa do Cente1969, p. 72 nario de Independencia do Brasil, [3]MIGLIACCI, Paulo. Os descobri- Porto, Litografia Nacional, 1921, mentos: origens da supremacia eu- Primeira Parte: O descobrimento, ropeia, Sao Paulo: Scipione, 1994, V.1 Os precursores de Cabral, p. p. 41; BOORSTIN, Daniel. Os desco- CXXVI

bridores, Rio de Janeiro: Civilizaçao [11]VASCONCELLOS, Ernesto; GAA cartografia era a arma secreta Brasileira, 1989, p.158 MEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Cardos príncipes. No seculo XVI Joao [4]https://digitarq.arquivos.pt/ los. In: Historia da Colonizaçao PorFrederico recusou-se a publicar o details?id=3907997 tuguesa no Brasil, Ediçao Monumapa da Saxonia mesmo estando mental Comemorativa do Centena[5]Caravelas e Naus – Um Choque no centro da Europa e nao alguma rio de Independencia do Brasil, Tecnolo gico nos se culos XV e XVI, regiao distante da Europa.[16] OuPorto, Litografia Nacional, 1921, produçoes, 2013 Primeira Parte: O descobrimento, tro reflexo do segredo da cartogra- Panavideo fia portuguesa pode-se observar na https://www.youtube.com/watch? V.1 Os precursores de Cabral, p. propria denominaçao do novo con- v=7xUEZt0_osc... CXXVII tinente. O geografo alemao Marti- [6]COSTA, Sergio Correa da. Brasil, [12]GOMES, Laurentino. Escravinho Waltzmuller ou Waldseemul- segredo de Estado, Sao Paulo: Re- dao, Vol. I, Sao Paulo: Globo, 2019. ler, a quem Humboldt chama de cord, 2001, p. 104 p.111 “homem obscuro”, publicara em [7]COSTA, Sergio Correa da. Brasil, 1507 uma Cosmografia em que pe- segredo de Estado, Sao Paulo: Re- [13]BARDI, Pietro, O ouro no Brasil, Sao Paulo: Banco Sudameris, 1988, la primeira vez o novo continente cord, 2001, p. 103 p. 11 aparece designado como America [8]ALVES, Daniel Vecchio. Reconsicom base nas cartas de Americo [14]BOXER, Charles. O imperio coVespucio, ou seja, o excesso de zelo deraçoes Historiograficas sobre a lonial portugues, Lisboa: Ediçoes na preservaçao do segredo acabou Teoria do Sigilo de Jaime Cortesao. 70, 1969, p. 50 transferindo a honra de batizar o Revista Expediçoes, Morrinhos/GO, [15]BOORSTIN, Daniel. Os descocontinente a um geografo alemao v. 9, n. 3, mai./ago. 2018 bridores, Rio de Janeiro: Civilizaçao que jamais esteve na America.[17] [9]CORTESAO, Jaime. Os descobri- Brasileira, 1989, p.250 [1]COSTA, Sergio Correa da. Brasil, mentos portugueses, Lisboa: Livros [16]MOUSNIER, Roland. Os seculos segredo de Estado, Sao Paulo: Re- Horizonte, Vol. II, p. 389, 400 XVI e XVII. Tomo IV, 2° volume, Hiscord, 2001, p. 96 [10]VASCONCELLOS, Ernesto; GA- toria Geral das Civilizaçoes, Sao [2]BOXER, Charles. O imperio colo- MEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Car- Paulo: Difusao, 1957, p. 20 los. In: Historia [17]VASCONCELLOS, Ernesto; GAda Colo- MEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carnizaçao los. In: Historia da Colonizaçao PorPortu- tuguesa no Brasil, Ediçao Monumental Comemorativa do Centenaguesa no Bra- rio de Independencia do Brasil, sil, Edi- Porto, Litografia Nacional, 1921, çao Mo- Primeira Parte: O descobrimento, V.1 Os precursores de Cabral, p. CXXI António Abrantes Página 23


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doc.com

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versao costumavam ser punidos com castigos "de forma exemplar" ou seja, com intensidade suficiente para convencer os demais a nao repetir gestos de desobediencia.

Na ocasiao, ele estava analisando os registros dos nascidos no seculo 19 em propriedade rural mantida pelos beneditinos na Baixada Fluminense, a Fazenda Sao Bento de De quebra, a luta pela aquisiçao de Iguassu. liberdade — ou seja, a compra de "Na hora de qualificar os pais, o uma carta de alforria — costumava monge nao os qualificava como ser mais difícil para um escravo de 'escravos da Ordem de Sao Bento',

Escravos da religião Como viviam as pessoas escravizadas pela Igreja no Brasil

ordem religiosa do que para al- mas sim como 'escravos da religuem que estivesse sob o jugo de giao'." um senhor leigo. Para o pesquisador, residia aí uma Por outro lado, a libertaçao dos es- diferença fundamental entre o mocravizados por mosteiros e conven- do de vida dos escravos mantidos tos ocorreu em 1871, 17 anos antes por instituiçoes religiosas: o fato de da assinatura da Lei Aurea, em o senhor nao ser uma pessoa, mas 1888. sim uma entidade.

As grandes instituiçoes religiosas do Brasil colonial e imperial tive- "Escravos da religião" ram negros escravizados — e mui- Autor do recem-lançado livro Estos. cravos da Religiao (Ed. Appris), Pesquisas recentes apontam para pesquisador na Universidade Fedeum numero de escravos muito aci- ral Fluminense (UFF) e idealizador ma da media do que havia nas do podcast Atlantico Negro, o histograndes propriedades rurais, prati- riador Vitor Hugo Monteiro Franco cas de incentivo a procriaçao para revira arquivos da Ordem de Sao aumentar a quantidade de mao de Bento desde 2014. obra e ate mesmo uma tabela de O material foi tema de sua iniciaçao preços para quem quisesse com- científica, de sua monografia de prar a alforria — com criterios es- conclusao de curso, de seu mestrapecíficos para precificar cada ser do e, agora, esta sendo esmiuçado humano. em seu doutorado. Os escravizados mantidos por mosteiros e conventos tambem eram obrigados a professar a fe catolica, participando de missas, momentos de oraçoes e recebendo os sacramentos.

"Parece simples, mas nao e. A situaçao geral da escravidao no Brasil e de escravos privados, de senhores leigos. No caso dos 'da religiao', eles nao pertenciam a um monge específico, eram de propriedade coletiva. E isso teve repercussoes na vida dessas pessoas para sempre, porque influenciava na forma, no dia a dia deles", diz o historiador. Franco ressalta que o cotidiano desses negros escravizados estava "regulado" pelos habitos religiosos do catolicismo e da vida monastica.

"Uma das principais descobertas foi o proprio termo 'escravos da "Por mais que a sede dos religiosos estivesse no centro do Rio e a fareligiao'", conta ele. zenda na Baixada Fluminense, sem"Nao foi um termo que eu criei. E pre havia um monge cuidando de um termo da epoca, que encontrei la. Era o chamado padre fazendeiem livro de batismos. Foi um cho- ro", contextualiza. Os que se rebelavam quanto a con- que para mim." "Ele fazia o trabalho espiritual: baPágina 24


Ano V — Número 53 tizava as pessoas, casava-as, sepultava-as. Os beneditinos eram um tipo de senhor que conhece muito bem sua escravaria, anotando tudo em muitos detalhes." "Os monges conheciam cada momento, cada fase da vida dos seus escravizados. Por mais que as propriedades fossem enormes, eles tinham o controle administrativo sobre aquelas pessoas, ao contrario dos senhores leigos, que muitas vezes tinham um contato muito pequeno com os escravizados", compara. "Isso dava (aos religiosos) um poder muito grande. Ser 'escravo da religiao' significava ter sua vida controlada por uma instituiçao religiosa", acrescentou Monteiro Franco. Em 1871, somente os beneditinos tinham um total de 4 mil escravizados

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Franco, a Fazenda de Iguassu cos- Para os monges senhores de escratumava ter um numero constante vos, religiao era uma coisa, negode cerca de 130 escravos. cios eram outra. Pelo menos e o "Destoava muito das outras fazen- que fica claro em outro achado do das da regiao, em que havia em me- historiador Monteiro Franco: nos dia 10 escravos por senhor", afirma registros de batismo, a maior parte das crianças era registrada como o pesquisador. sendo filho de mae solteira. Mas essa propriedade nao era a maior das beneditinas. Em Jacare- Havia uma razao economica para pagua, a fazenda dos religiosos ti- isso. "Ate pouco tempo atras se nha mais de 300 escravos. Em acreditava que as ordens religiosas de maneira geral incentivavam o Campos dos Goitacazes, 700. casamento por causa do valor cris"E essas sao so as tres maiores pro- tao do matrimonio e tambem para priedades dos monges de Sao Ben- um fator de incentivo da reproduto", diz Franco. "E muita gente. Era çao da comunidade escrava, do a principal ordem escravista do ponto de vista senhorial", pontua o Brasil. Eu nem considero a Ordem pesquisador. "Mas o que encontrei de Sao Bento uma grande proprie- foi a maior parte das mulheres cotaria [de escravos]. Era uma mega mo maes solteiras." proprietaria, estava acima dos grandes proprietarios, era a elite Segundo ele, isso nao significa que essas mulheres nao tivessem relada elite." cionamento estavel ou que vivesIncentivo à gravidez sem na promiscuidade. Uma maneira de garantir a abun- A questao chave estava na propriedancia de mao de obra escrava era dade da criança que nasceria dessa o incentivo que os monges davam gravidez. Em caso de mae e pai sapara que as escravizadas tivessem cramentalmente unidos, poderia muitos filhos. haver alguma discussao se o filho

E nao era um rebanho pequeno para ser controlado. De acordo com as pesquisas de Franco, quando os religiosos emanciparam seus escravos, em 1871, somente os beneditinos tinham um total de 4 mil escra- "As mulheres que procriavam pelo menos seis filhos conseguiam privivizados. legios, tais como nao realizarem "Eram tres as principais ordens trabalhos 'penosos'", conta o historeligiosas escravistas do Brasil: os riador Robson Pedrosa Costa, autor jesuítas, os beneditinos e os carme- do livro Os Escravos do Sanlitas. Em menor escala, os francis- to (Editora UFPE) e professor no canos tambem", elenca. Instituto Federal de Pernambuco e A primazia da Companhia de Jesus na Universidade Federal de Perfoi ate o seculo 18. Em 1759, contu- nambuco (UFPE). do, os jesuítas foram expulsos do A partir de 1866, as maes de pelo Brasil. menos seis filhos passaram a ser a

pertenceria ao senhor da mae ou do pai. Entao, os beneditinos preferiam nao oficializar relaçoes estaveis quando as mulheres de sua fazenda tinham homens de fazendas vizinhas. Quando ambos eram da mesma propriedade, aí sim, o sacramento do matrimonio era concedido.

Tais condutas fizeram com que os E aí os beneditinos assumiram essa liberdade gratuita — desde que beneditinos conseguissem manter posiçao. Durante o seculo 19, perí- elas "estivessem devidamente casa- um grande numero de escravos no seculo 19, mesmo com a dificuldaodo analisado pela pesquisa de das", pontua o historiador. Página 25


Ano V — Número 53 de, para os latifundiarios escravocratas, decorrentes da Lei Eusebio de Queiros — que, a partir de 1850, proibiu o trafico negreiro. "Estas instituiçoes [religiosas] construíram, ao longo dos seculos, grandes corporaçoes, muito semelhantes a grandes empresas pautadas em um complexo sistema organizacional", afirma Costa.

Mensal: maio de 2022

Aquele que pleiteava a alforria precisava fazer uma petiçao aos religiosos. Nao havia negociaçao direta. "Estamos falando de uma propriedade institucional", lembra o historiador Franco. "Nao era simples. Os monges liam a petiçao e colocavam para votaçao, usando favas pretas para marcar as negativas e favas brancas para sinalizar positivo."

"No caso dos beneditinos, foi possível entender que a instituiçao foi capaz de construir um sistema de gestao eficiente e duradouro, que garantiu o fornecimento de escravos para as suas propriedades sem recorrerem ao trafico."

A partir da decada de 1850, a Ordem de Sao Bento criou uma tabela de preços para casos de alforria. Pelo documento, o preço dos escravizados variava conforme saude, idade e sexo.

Alforrias

tamente respeitados, Franco nao compactua com essa ideia. Primeiramente porque e enfatico ao dizer que a privaçao da liberdade a que um escravo esta sujeito ja e, por si so, uma grande violencia.

presos depois de matarem, de tanto espancar, um escravizado. Isso no seculo 18", conta ele. "Olha o nível da violencia." Ele tambem se deparou com relatos de fugas em que o escravo, uma vez capturado, era submetido a um "castigo exemplar". O mesmo acontecia para quem nao demonstrasse seguir a fe catolica.

"Ha um registro de uma visitaçao realizada por um monge (encarregado de vistoriar os trabalhos do padre fazendeiro), que dizia que era bom que o mesmo nao descuidasse do espiritual dos escravos, "O valor ia aumentando de acordo para ver se eles estavam seguindo "Claro que eles compraram escra- com a idade ate a fase mais produ- os preceitos do cristianismo", aponvos no seculo 19, mas foram pou- tiva. A partir da adolescencia, eles ta Franco. passam a entender que um homem "E, verificando que nao estivessem cos", completa o professor. pleno de saude vale mais do que seguindo, que fossem punidos A estrategia consistia em incentivar uma mulher", explica Franco. exemplarmente. Se nao se redimisa procriaçao e a tentativa de manutençao das famílias. "Eles evitavam "Esse documento mostra com todas sem, que fossem vendidos." ao maximo vender seus escraviza- as letras qual a posiçao de um se- Mas em que trabalhavam os dos, principalmente a separaçao de nhor de escravos: transformar as "escravos da religião"? famílias, uma instituiçao sagrada pessoas em commodities", define Boa parte deles fazia um trabalho para os monges. Apenas os cativos ele. semelhante a qualquer outro escraconsiderados 'incorrigíveis' deveri- Violência e trabalho vo de propriedades rurais. As instiam ser vendidos. Mas eles foram Embora haja uma corrente que tuiçoes religiosas tinham muitas poucos. As famílias escravizadas acredite que a escravidao impetra- terras e nelas cultivavam cana de eram extensas e duradouras. Isso da por religiosos fosse mais branda açucar e outros insumos valiosos garantia a perpetuaçao do quanti- do que a conduzida por senhores para a economia da epoca. Quem tativo de escravos", explica Costa. leigos, pelos valores cristaos supos- fazia esse trabalho era a mao de Pratica relativamente comum entre escravizados no Brasil, a compra da liberdade era mais difícil para um "escravo da religiao". Enquanto no caso daquele que servia a um senhor leigo bastava convence-lo — com acordos e, muitas vezes, um valor em dinheiro — no caso dos monges era preciso passar por um processo formal. Página 26

Alem disso, ele encontrou registros que atestam atos de crueldade. "Tem um caso, em um fazenda de Cabo Frio, tambem dos beneditinos, em que dois monges foram

obra escrava. No caso dos religiosos, contudo, havia tambem muitos escravos com trabalhos especializados. Carpinteiros, ferreiros, oleiros, sapateiros, boticarios, enfermeiros. "Alem daqueles que serviam os monges no claustro: botavam a comida na mesa, tocavam o sino da capela, seguravam o livro na hora da missa, e por aí vai", diz o historiador Franco.


Ano V — Número 53 Nesse sentido, a Ordem de Sao Bento investiu em capacitaçao. Como eles tinham grandes propriedades com necessidades específicas, passaram a treinar os escravos que pareciam mais aptos a trabalhos específicos. "Para eles, era melhor fazer isso do que pagar um sujeito livre para desempenhar esses papeis", afirma.

Mensal: maio de 2022 "varias vozes começaram a sugerir que as ordens religiosas eram instituiçoes inuteis e pessimas administradoras de seus bens".

Estado e as ordens religiosas", pontua Franco. "Estava ocorrendo um embate político em que cada vez mais a classe política e outros setores da elite brasileira acreditavam que os religiosos tinham propriedades demais, escravizados demais e eram improdutivos. Por outro lado, o Estado via a chance de se apropriar das propriedades dos religiosos."

Esses que tinham ofícios especializados nao eram inimputaveis a sofrerem castigos. "Encontrei um registro de um monge que se dedicava a ensinar ferraria a escravos. E ele era tao violento que acabou sendo deslocado de posiçao", exemplifica Franco. Ao libertar os escravos na mesma Desempenhar essas funçoes especi- epoca da promulgaçao da Lei do ais, por outro lado, conferia prestí- Ventre Livre, as instituiçoes catoligio dentro da comunidade escrava. cas geraram uma comoçao nacioE muitos desses profissionais aca- nal. bavam conseguindo fazer trabalhos "por fora" e, assim, juntar dinheiro para, no futuro, comprar a alforria. Abolição prematura

"Prevendo uma maior intervençao do Estado e do Parlamento, a Ordem de Sao Bento do Brasil ja havia se antecipado, decretando a liberdade de todo as crianças nascidas a partir do dia 3 de maio de 1866", "A aboliçao nao significa simples- diz ele. mente a questao humanitaria por Essa medida teve impacto nas autotras da liberdade do indivíduo, mas ridades. O imperador Dom Pedro tambem uma questao de ordem Segundo (1825-1891) presenteou o economica sobre aqueles que voce entao abade geral com uma caixa teria de estar empregando", afirma de ouro cravejada de diamantes. Ja o historiador Philippe Arthur dos o deputado Tavares Bastos (1839Reis, pesquisador na Universidade 1875), voz abolicionista, declarou Estadual de Campinas (Unicamp). que o gesto era "um ato generoso e

As ordens religiosas libertaram seus escravos ao longo de 1871, ou seja, 17 anos antes da Lei Aurea. A primeira instituiçao a fazer isso foi a Ordem de Sao Bento. Aos poucos, os beneditinos foram seguidos pe- "O custo de manutençao desses indivíduos, em geral era muito mais los demais religiosos. dispendioso ter os escravos do que Segundo os pesquisadores, esse importar pessoas de fora e pagar movimento era resultado de um salario", acrescenta. embate da Igreja Catolica com o O historiador Costa lembra que Estado. desde a Independencia, em 1822, "Havia uma relaçao de tensao entre Página 27

"Quando os debates sobre a aboliçao se acirraram a partir de 1865, novamente as ordens, consideradas grandes escravistas, foram colocadas na berlinda. Uma lei de 1869 instituiu que as instituiçoes religiosas deveriam libertar todos os seus escravos em um prazo de 10 anos. Ate la, poderiam liberta-los ou criar contratos de prestaçao de serviço por tempo determinado", detalha o historiador.

solene" — e que deveria ser seguido pelas demais instituiçoes religiosas. Em 1871 veio a libertaçao total dos "escravos da religiao". Edison Veiga BBC News Brasil—maio de 2021


Ano V — Número 53

Mensal: maio de 2022

Fotos com História

O amolador ou afiador de facas e tesouras

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Ano V — Número 53

Minha língua, minha pátria.

Mensal: maio de 2022

sui o costume de escrever diariamente pode adquirir o habito e melhorar suas tecnicas de escrita. Confira o nosso passo a passo a seguir com algumas dicas simples para voce aprimorar suas habilidades e estruturar um bom texto e aprender como escrever bem.

çao em sala de aula. Portanto, se voce esta pensando em entrar no ensino superior ou mesmo tem o interesse de cursar uma segunda graduaçao, invista no habito da leitura. Outra dica valiosa e se aproveitar da internet para enriquecer sua biblioteca! Existem diversos sites com obras gratuitas para voce baixar e ler quando e de onde quiser, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento da sua escrita. Lembre-se dessa regrinha: quanto mais leitura, mais confiança para escrever bem.

Como escrever bem?

Leia mais e de tudo

Voce ja parou para pensar em como a escrita e importante para as nossas vidas? Seja durante o processo de aprendizado na epoca da escola, seja para ingressar no ensino superior, seja para participar de um processo seletivo no mercado de trabalho, saber se expressar por meio das palavras e um recurso fundamental para ir alem. Mas afinal, como escrever bem e tornar isso um habito no dia a dia?

Como muitos habitos que adquirimos em nossas vidas, o de escrever bem tambem passa por outras areas que precisam ser aprimoradas. E nesse caso, nada melhor para melhorar a sua escrita do que fomentar a leitura! E nao estou falando apenas de ler livros. Se vo- Estude a língua portuguesa ce nao tem o costume de ler uma Quando falamos de uma boa redaobra por mes, fique tranquilo. çao, e imprescindível que ela siga Voce pode começar com um tema algumas normas de estrutura, mas que seja do seu interesse: checar principalmente as regras de portuuma coluna de curiosidades cientí- gues. Nossa língua adora pregar ficas, ler sobre os ultimos lança- “truques” e confundir com seus admentos do cinema ou mesmo se jetivos, substantivos e tempos verbais. Por isso, estar em dia com as atualizar das notícias diarias. principais regras ortograficas e Com a internet, fica mais facil se fundamental para escrever bem. atualizar sobre diversos temas, mesmo aqueles que nem somos Os apaixonados pela língua geralacostumados. E com isso, voce po- mente escolhem uma graduaçao que tenha a ver com a area, code aproveitar o momento de leitura mo e o caso do curso de Letras, que para observar a estrutura das re- forma profissionais prontos para portagens, dos textos de entreteni- lecionar no ambito da educaçao ou mento, de um relato pessoal. Cada tambem trabalhar com produçao e texto tem sua propria característi- revisao de materiais. ca, mas e possível ficar atento que a maioria deles segue uma mesma Mas nao pense que a língua portupadronizaçao, com começo, meio e guesa e util apenas para quem trabalha na area. E fundamental domifim. nar a língua para trabalhar mesmo Quando estamos na graduaçao e em profissoes ligadas ao campo mais comum se deparar com textos científicos, e eles sao fundamentais das ciencias ou exatas.

Essa e uma duvida que surge muitas vezes por quem sonha em entrar na faculdade ou mesmo para quem esta em busca de uma segunda graduaçao, afinal a redaçao tem um peso bastante consideravel na maioria dos metodos de entrada disponíveis nas instituiçoes de ensino. Ha diversas dicas e macetes que voce pode implementar no dia a dia para criar o habito de escrever bem e desenvolver sua capacidade de interpretaçao. Manter a leitura em dia, estudar a língua portuguesa e suas variantes, estar sempre por dentro do noticiario nacional e internacional e ate mesmo assistir filmes e series podem contribuir para o enriquecimento da língua.

para orientar o Trabalho de ConSaber diferenciar “mas” de “mais”, E nao pense que saber como escre- clusao de Curso (TCC), as regras da quando utilizar a crase e entender ver bem e um privilegio para pou- ABNT que precisamos seguir e a regra dos porques sao alguns macas pessoas: mesmo quem nao pos- mesmo um discurso ou apresentacetes importantes para quem quer Página 29


Ano V — Número 53

Mensal: maio de 2022

aprimorar a escrita. Ha diversas cartilhas disponibilizadas online para quem deseja tirar duvidas e revisar seus materiais. Outra dica bacana e saber utilizar sinonimos para enriquecer ainda mais o seu texto, dessa forma as palavras nao se repetem frequentemente e voce deixa o conteudo mais interessante de ler. Peça para alguém corrigir seus textos Uma etapa fundamental da escrita e revisar o conteudo constantemente. Reler as frases para encontrar sentenças repetidas, analisar os erros de digitaçao e de pontuaçao, tudo isso contribui para deixar o texto mais agradavel ao final da produçao. Mas de vez em quando e normal deixarmos passar alguns errinhos na hora de escrever, afinal nos acostumamos com o habito e nossa vista fica um pouco “viciada” ao longo do tempo. Por isso, contar com a ajuda de um colega ou profissional da area para revisar seu conteudo e uma etapa importante no processo de escrita. Uma coisa e fato: nem sempre temos alguem disponível no momento para ajudar a revisar textos, nao e mesmo? Uma das vantagens ao utilizar plataformas digitais para redigir e contar com algumas ferramentas disponíveis para ajudar no processo de revisao. Quem opta por escrever no Microsoft Word, por exemplo, pode utilizar diversas funcionalidades para deixar o texto mais bem diagramado. Essas funçoes tambem estao disponíveis no Docs.. Página 30

De qualquer forma, e importante que voce utilize um olhar “de fora” na hora que finalizar o texto. Pode ser de um amigo proximo, da mae, da tia, do professor... Como sera a primeira vez que eles se deparam com o texto, provavelmente vao encontrar alguns errinhos que voce tenha deixado passar por conta do olhar viciado que comentamos anteriormente.

des que ja sejam prazerosas no dia a dia, e alinhar temas do seu interesse com o aprendizado sao uma excelente pedida para escrever. Que tal começar um diario para falar sobre como foi o seu dia? Ou entao escrever uma carta para um amigo? Isso pode influenciar o desejo pela escrita e ainda conectar voce a algo que tanto gosta.

Livros, musica, podcasts, filmes, notícias, tudo isso contribui para expandir nossos conhecimentos acerca de diferentes temas. Quanto mais curiosidades fizerem parte do Alimente sua criatividade com seu dia, mais conteudo voce tera conhecimento para escrever sobre determinados Quais sao os seus hobbies preferi- assuntos. dos? Que tipo de musica mais gosta Por isso, nao deixe de utilizar o de ouvir? E na hora de assistir fil- tempo livre para aprender alguma mes, qual o seu genero preferido? coisa nova. Conhecimento nunca e Seus gostos pessoais podem ajudar demais, e serve como uma verdana hora de escrever bem, e vamos deira mao na obra para quem quer explicar o porque. escrever melhor dia apos dia. Um profissional da area tambem ajuda a direcionar melhor sua escrita para otimizar ainda mais suas proximas produçoes.

Quando ainda nao temos o costume de sentar para escrever ao menos um pouco todos os dias, precisamos buscar motivaçoes em ativida-

Liste suas ideias para o texto Sobre o que voce gostaria de escrever? Criar um cronograma antes mesmo de começar o texto e uma


Ano V — Número 53

Mensal: maio de 2022 vimento e conclusao. Introdução: considerada por muitos a parte mais importante do texto, afinal e aqui que voce prendera a atençao do leitor. Ninguem merece começar um texto desinteressante, nao e mesmo? Dessa forma, e importante ser direto sobre qual tema sera abordado e dar uma “previa” do conteudo ao leitor, para cativar sua atençao ate o fim; Desenvolvimento: exposto o tema do texto, e hora de disseca-lo por completo. Aqui entram os argumentos para defender o seu ponto de vista, com dados, pesquisas, informaçoes e todas os outros recursos que voce julgar importantes para a argumentaçao; Conclusão: chegando ao ponto final da redaçao, e interessante fazer um resumo de tudo que foi abordado e fechar o assunto da maneira que achar melhor. Uma dica valiosa para essa etapa e deixar uma pergunta reflexiva ao leitor, o convidando para tirar suas proprias conclusoes sobre o tema.

etapa fundamental para quem precisa redigir uma redaçao ou mesmo escrever sobre algo específico. Comece fazendo uma lista de ideias que surjam na cabeça, curiosidades sobre o assunto, sua experiencia com o tema, enfim, um direcionamento que voce poderia seguir.

opinioes diversas de especialis- Essas dicas servem tanto para um tas. Tudo isso contribui para o ar- texto mais pessoal como como para gumento do seu texto. uma redaçao dissertativa, por Estabeleça uma estrutura para exemplo, o modelo mais tradicional seu texto a cair no vestibular. Ao seguir essas Depois de listar algumas ideias, o regras basicas, voce tera sucesso proximo passo para escrever bem em diversas areas da sua vida.

Ao colocar no papel tudo que vem a sua mente, fica mais facil organizar as ideias de acordo com a prioridade e o peso que voce dara a cada uma delas. Busque fontes em livros e na internet para servir de dados concretos para o texto, como pesquisas, entrevistas, dados e

E claro que um bom vocabulario e o domínio das regras da língua portuguesa sao essenciais para escrever bem, mas e preciso entender tambem qual a funçao do seu texto e para qual publico ele sera direcionado.

Página 31

e estruturar o seu texto. E isso tambem vem na etapa pre-produçao. Entender como funcionam as estruturas da escrita ajudam a tornar esse momento mais facil e prazeroso. Portanto, antes mesmo de começar a escrever, tenha em mente como ele sera transcorrido. Comece pelo basico: introduçao, desenvol-

Prefira a simplicidade


Ano V — Número 53 Mas aí vai uma dica que vale para quase todos os textos que voce fara (exceto dissertaçoes científicas, que de fato exigem um vocabulario mais tecnico): linguagem simples e direta e sempre a melhor opçao.

Mensal: maio de 2022

da formataçao utilizada.

Se a leitura parecer cansativa, pode ser o caso de adicionar mais vírgulas ou encurtar as frases. Esse metodo funciona, porque ao ler o texto, voce consegue enxergar seu ritQuando queremos expor nossa opi- mo e deixa-lo mais agradavel para niao ou mesmo argumentar sob um o leitor. ponto de vista, a melhor forma de Pratique, pratique, pratique conversar com o leitor e de maneira pratica, por meio de clareza e E para aplicar todas essas dicas simplicidade. Nao e preciso usar de como escrever bem, a dica e expressoes do juridiques para de- uma so: praticar! Se voce nao tem o fender um argumento, e isso tam- habito de escrever, tenha em mente que nao e no primeiro dia que tudo bem vale na hora de escrever. vai fluir naturalmente. Ja dizia o Utilize as boas praticas do portu- ditado: a pratica leva a perfeiçao! gues e invista em sinonimos conhecidos do dia a dia para deixar seu Por isso, nao tenha medo de cometexto leve, tornando a leitura mais çar aos poucos, o importante e dar agradavel e compreensiva para o o primeiro passo. Comece com um leitor. Lembre-se que a fluidez de diario ou blog pessoal, invista em um texto faz toda a diferença, poemas se for do seu gosto pessoal e quanto mais a vontade voce se ou ate mesmo receitas culinarias. sentir para escrever, mais natural Voce vera que, com o passar do vai ficar o resultado final. tempo, escrever se tornara uma açao natural e trara confiança ao Leia seu texto em voz alta longo dos textos. Seja para conseAgora que voce ja esta chegando guir uma promoçao no trabalho, nos finalmentes e ja tem uma boa seja para conquistar a tao sonhada estrutura de texto moldada, entrada na faculdade, escrever e importante fazer aquela revisao bem abre muitas portas para o geral para conferir se esta tudo em mercado. Nao importa quanto temordem. Uma pratica muito comum po voce tenha por dia, e possível e eficaz para entender o seu texto e reservar um momento para colocar le-lo em voz alta assim que termi- essas dicas em pratica e criar connar – voce tambem pode ler por teudos incríveis. blocos ou paragrafos, vai depender

Que tal começar a escrever esse novo capítulo para a sua vida? Tire um tempo para escrever como foi o seu dia hoje, ou sobre quais objetivos voce quer para os proximos anos. A busca por escrever bem e uma jornada que começa de forma simples e traz mais e mais aprendizados a cada dia. Agora que voce ja sabe que a leitura e fundamental para aprender a escrever bem, quer melhorar o seu habito e enriquecer ainda mais o seu vocabulario para a escrita? Confira o texto a seguir: 5 sites legais para baixar livros gratis. 1)

Universia;

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Ano V — Número 53

Vírgula sim, vírgula não

Mensal: maio de 2022

assim, a ideia de que a Ana tem vírgula. Ora vejamos os principais mais irmaos para alem desse). casos: Na frase (2), a oraçao “que mora em Paris”, estando entre vírgulas, da-nos uma informaçao acessoria, pelo que a sua omissao nao altera o sentido global da frase: o irmao da Ana nao vem ao casamento (concluindo nos que ela so tem um irmao).

A vírgula e, e digo-o convictamente, o sinal de pontuaçao que mais dor de cabeça da a quem escreve. Mesmo para quem tem boas competencias de escrita, muitas vezes a hesitaçao surge: “Deve-se ou nao coloA presença vs. ausencia de vírgulas car uma vírgula neste contexto?” determinou, efetivamente, uma Ha quem conheça as regras do uso mudança de significado nestas frada vírgula e as aplique bem, ha ses. quem as desconheça totalmente e ainda ha quem ache que a vírgula Feita uma reflexao sobre a imporde pouco ou nada serve. Sera mes- tancia da vírgula, vejamos, agora, em linhas gerais, os contextos obrimo assim? gatorios e proibidos do uso da vírConvido-o a analisar comigo as fra- gula. ses seguintes, que diferem apenas na presença vs. ausencia de vírgu- A vírgula marca uma pausa breve e las. Podera comprovar que, de fac- deve ser usada nos principais casos to, uma vírgula pode alterar o signi- que se seguem: ficado de uma frase: Casos obrigatórios (1) O irmao da Ana que mora em (a) Usa-se para separar a saudaParis nao vem ao casamento. çao do vocativo: Boa tarde, Mafal(2) O irmao da Ana, que mora em da. Paris, nao vem ao casamento.

(b) Usa-se para separar oraçoes A frase (1) tem um significado dife- relativas explicativas: O Luís, que e rente da frase (2), concorda? Siga, o melhor aluno da turma, recebeu um premio de merito. por favor, o meu raciocínio: Usa-se para separar expresNa frase (1), a oraçao “que mora (c) em Paris”, estando sem vírgulas, soes adverbiais de tempo, de lugar, restringe o ambito do nome irmao, de modo, etc.: Na semana passada; ou seja, indica-nos que so o irmao em Coimbra; na sequencia do seu da Ana que reside em Paris e que contacto telefonico… nao vem ao casamento (dando-nos, Em suma, a vírgula usa-se para separar elementos que nao sao essenciais na frase, isto e, que podem ser omitidos sem que a frase fique incompleta ou incorreta. Pelo contrario, todos os elementos que sao fundamentais para a compreensao de uma frase nunca se separam por Página 33

Casos proibidos (a) Entre o sujeito e o predicado: A livrança proveniente do contrato de Leasing, foi anulada. (b) Entre o verbo e os seus complementos: O diretor informou os colaboradores, de que o horario das reunioes sera alterado. (c) A separar uma oraçao relativa restritiva: Os atletas, que nao passarem na fase eliminatoria, nao poderao participar na Final. Termino com um desafio: por que razao a frase seguinte, sem quaisquer vírgulas, nao esta correta? * Os linces que são mamíferos estão em vias de extinção. Sandra Duarte Tavares

Sandra Duarte Tavares e doutoranda em Ciencias da Comunicaçao e mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras de Lisboa. E professora convidada da Faculdade de Ciencias Humanas da Universidade Catolica Portuguesa, na Formaçao Avançada em Tecnicas de Alta Performance de Comunicaçao Oral, e da Universidade Lusofona na Licenciatura de Comunicaçao Aplicada. Colabora, desde 2008, com a RTP em programas televisivos e radiofonicos sobre Língua Portuguesa e e cronista na Revista Visao (ediçao digital), integrando a Bolsa de Especialistas. E autora e coautora de varios livros sobre Língua Portuguesa e Comunicaçao. Conta ainda com 12 anos de experiencia como consultora linguística e formadora de Comunicaçao em diversas empresas e instituiçoes.


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OUTONO, uma forma de pensar a MOMENTOS, que poderiam ser de vida. Quando se atinge tres quartos de um seculo, a vida tem outros horizontes, outros prazeres, outros estados de alma. Os temas das conversas sao diferentes, as preocupaçoes sao outras, mas, e sobretudo, a experiencia e as liçoes da vida sao muito mais enriquecedoras e valorizadas.

CANASVIEIRAS — 270 anos, retrata a historia e as gentes que fundaram este distrito de Florianopolis/SC. Criado oficialmente a 15 de abril de 1835, o povoado ja existia desde os primordios da fundaçao do arraial Nossa Senhora do Desterro, em 1673, por Francisco Dias Velho. Recebeu um grande incremento populacional com a chegada dos primeiros açorianos em 1748. No tempo, o povoado estava integrado na freguesia de Santo Antonio de Lisboa desde 1750. O seu nome deriva da existencia na regiao de um grande canavial (cana -do-rei, ou simplesmente cana). Muitos escritores, particularmente Virgílio Varzea escreveram sobre Canasvieiras. Afonso Rocha da-nos, com este seu recente trabalho, um novo olhar e uma previsao futurista do balneario mais famoso de Floripa. Página 34

Foi isso que o autor quis testemunhar com este OUTONO—cronicas & arrufos, um conjunto de 75 narrativas—uma por cada ano, que tomam a forma de cronicas, contos, ensaios, reportagens. Umas mais longas, outas mais curtas; umas mais distantes, outras mais recentes, mas todas com endereço e nome. Sao testemunhos de vida e de estados de alma.

amargura, de tristeza, de sofrimento, mas tambem de alegria, de comemoraçao, de comemoraçao, mas, embora possam ser tudo isso, sao, sobretudo, MOMENTOS de poesia e de reflexao. Afonso Rocha mistura poesia com pensamentos de cariz fisiologico, mas sobretudo, de pensamentos refletivos tomados ao longo das vivencia do quotidiano.


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Sangue Lusitano e a historia do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, de suas vilas e cidades e de seus povos (indígenas, portugueses, negros e outros que se lhes juntaram posteriormente). Um livro a nao perder.

As mulheres, os homens, as crianças e os idosos; a comunidade LGBT; os negros, os índios, os ciganos, os imigrantes e todos os demais desprotegidos, sao perseguidos, violentados, agredidos e estuprados... Nesta obra intimista, Afonso Rocha passeia-se pela sua propria experiencia, mas tambem a de todos nos, como comunidade, para que se dinamize e reforce a forma de combater estas mazelas, estes crimes barbaros (a pedofilia, estupro), ja considerados como o holocausto do seculo XXI.

SANGUE LUSITANO, atraves de estorias imperdíveis, Afonso Rocha leva-nos ate 500 anos atras, quando os portugueses chegaram ao sul do Brasil, onde criaram família, cultivaram tradiçoes e culturas que viriam a “marcar” a cultura catarinense. Ao longo dos tempos Página 35

Trovas ao Vento, e uma coleta-

Olhos D’Água — Historias de um tempo sem tempo, relata-nos as vivencias do povo portugues entre 1946 e 1974 e a sua resistencia a ditadura e ao fascismo do regime salazarista de entao. Por outro lado, configura uma autobiografia do autor (Afonso Rocha) nas suas andanças pelo período escolar, pelo serviço militar; a guerra colonial em Africa; a emigraçao em França; a resistencia, ate a revoluçao dos cravos. Em 25 de abril de 1974. Um livro a nao perder, sobretudo para quem gosta de historia.

nea de poemas e outros pensares, enriquecida com o contributo de outros poetas convidados naturais do Brasil, Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Angola e da Galiza, como expressao do pensar lusofono. Um encontro de expressoes diferentes, manifestadas pela língua comum que nos cimenta e faz pensar portugues.


Corrente d’ escrita

Número 37 - setembro 2020

I N É D I TOS n a a ma z o n . c o m

Casa dos Livros e da Leitura

Página 36


Corrente d’ escrita


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