Revista Mineira de Engenharia 31ª Edição

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IS S N 2447‑ 813X

FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

ANO 7

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EDIÇÃO 31 | JAN - MAR - 2016

ENSINO DE ENGENHARIAS: MUDAR É PRECISO CARREIRA É hora de exercitar a flexibilidade INOVAÇÃO Tomada inteligente chega ao mercado BOM EXEMPLO Combate ao Aedes Aegypti nas empresas

ENTREVISTA Mateus Moura Lima Gomes



EDITORIAL | PALAVRA DO PRESIDENTE

A Engenharia exige Respeito! Engenharia é Arte! Pressupõe dominar e aplicar conhecimentos científicos e empíricos, aliados ao desenvolvimento de habilidades específicas com o propósito de converter recursos naturais em formas adequadas (oferta de energia, construções, estradas, etc.) que atendam às necessidades humanas. Por isso, exige alto grau de profissionalismo que só pode ser obtido através de uma formação acadêmica consistente, seguida de esmero na aplicação do conhecimento tecnológico, aliado a uma postura ética no atendimento do interesse coletivo. Não resta, pois, dúvida alguma sobre a amplitude e a importância da engenharia para que as comunidades, sobretudo dos grandes centros urbanos, tenham qualidade de vida e equidade, contribuindo inquestionavelmente para o desenvolvimento econômico dos estados federativos e do País. Contribuição essa que reflete diretamente na vida das pessoas, na criação de empregos e renda, e no crescimento do PIB brasileiro. Mas no Brasil de hoje, parece que tudo isso foi esquecido. A atual recessão econômica, agravada pela crise política, atinge em cheio a atividade de engenharia, ceifando oportunidades e sequer oferecendo alternativa aos profissionais que chegam ao mercado de trabalho. Para alguns incautos, a atividade é vista hoje sob a ótica da ação condenável das empreiteiras envolvidas nos escândalos da Lava Jato. No mundo dos negócios, dos interesses corporativos e estratégicos, equivocadamente, a engenharia é

Augusto Drummond Presidente da SME tratada como mercadoria de segunda linha, como uma moeda de troca. Se uma obra não for feita por um engenheiro, pode ser feita por outro qualquer (a qualificação não é relevante), ou quem sabe importando mão de obra dos franceses ou dos chineses que também são bons nisso. É deplorável (muito embora não nos surpreenda pela visão apequenada) que nossos governantes atuais não entendam a Engenharia como atividade essencial e estratégica, a ser valorizada no planejamento dos empreendimentos e na consecução de objetivos sociais. Se é para ver a nossa profissão assim aviltada, é melhor que tenhamos a coragem de lutar para substituir no poder nossos despreparados governantes, através dos meios democráticos e constitucionais. Temos que dizer não à corrupção, temos que exigir planejamento nas atividades de governo e combater aqueles espertos empresários que querem transformar a atividade de formar engenheiros em máquina de auferir gran-

des lucros financeiros (e com a ajuda do dinheiro público do FIES). Nesse momento de fragilidade que o País e o setor de engenharia atravessam, é preciso que a atividade seja compartilhada entre profissionais que busquem o bem, que as soluções de cunho tecnológico sejam precisas e inequívocas, sem margem para irresponsabilidades como a queda de viadutos, rompimento de barragens e outras mazelas como assistimos em Minas Gerais. Estes recentes e lamentáveis episódios escritos por mãos movidas essencialmente pela obtenção de ganhos financeiros e/ou outras vantagens, típicas de nossa cultura e comportamento permissivos, têm que ter um ponto final. Até porque, em Minas Gerais, nem sempre foi assim. Em passado recente em nosso Estado, a ação de proeminentes engenheiros no exercício da profissão, da gestão pública e da política, criou a tradição de ganhos significativos para toda a comunidade. Vale lembrar as iniciativas marcantes e sobejamente conhecidas de profissionais como Lucas Lopes, Celso Mello de Azevedo, Aureliano Chaves de Mendonça, João Camilo Penna, Elizeu Resende, Alysson Paolinelli Itamar Franco e tantos outros que souberam honrar nossa profissão. É preciso, pois, dar um “basta” ao atual estado das coisas! Não podemos perder de vista a nossa missão de usar a criatividade, a inventividade e o poder de transformação para o bem de todos! A Engenharia Nacional exige Respeito! 3


VENHA PARA A SME COMPROMISSO COM VOCÊ! A Sociedade Mineira de Engenheiros, por meio de sua equipe, tem desenvolvido uma série de traba‑ lhos para atender cada vez mais e melhor a cada um dos associados.

Por meio de nosso site, da Revista Mineira de Engenha‑ ria e da produção de eventos, a SME tem se tornado, cada vez mais, um canal aberto para ouvir suas suges‑ tões e para representar seu interesse no setor.

Em seus 85 anos de existência, a SME trabalha para in‑ tegrar, desenvolver e valorizar a Engenharia, a Arqui‑ tetura, a Agronomia e seus profissionais, contribuindo para o aprimoramento tecnológico, científico, socio‑ cultural e econômico. COMPROMISSO COM O FUTURO Aprimoramento profissional e a inovação tecnológica também têm sido uma das grandes bandeiras da SME para oferecer os melhores serviços para você.

Mais informações: www. sme.org.br ‑ (31) 3292 3962 ou sme@sme.org.br

Augusto Celso Franco Drummond Presidente

Janaína Maria França dos Anjos Diretora

Alexandre Francisco Maia Bueno Vice-Presidente

José Andrade Neiva Diretor

José Ciro Mota Vice-Presidente

Krisdany Vinicius Santos de Magalhães Cavalcante Diretor

Luiz Henrique de Castro Carvalho Vice-Presidente Marita Arêas de Souza Tavares Vice-Presidente Virgínia Campos de Oliveira Vice-Presidente Alexandre Rocha Resende Diretor Antônia Sônia Alves Cardoso Diniz Diretora Fabiano Soares Panissi Diretor Humberto Rodrigues Falcão Diretor

Publicação

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Marcelo Monachesi Gaio Diretor

Fernando Henrique Schuffner Neto Flavio Marques Lisbôa Campos Francisco Maia Neto Jorge Pereira Raggi José Raimundo Dias Fonseca Levindo Eduardo Coelho Neto Luiz Celso Oliveira Andrade Paulo Henrique Pinheiro de Vasconcelos Rodrigo Octávio Coutinho Filho Wilson Chaves Júnior CONSELHO FISCAL

Túlio Marcus Machado Alves Diretor

Carlos Gutemberg Junqueira Alvim Presidente

Túlio Tamietti Prado Galhano Diretor

Conselheiros Alexandre Heringer Lisboa João José Figueiredo de Oliveira José Eduardo Starling Soares Marcelo Aguiar de Campos

CONSELHO DELIBERATIVO Ailton Ricaldoni Lobo Presidente Conselheiros Alberto Enrique Dávila Bravo Carlos Eustáquio Marteleto Eduardo Paoliello

Coordenador Editorial José Ciro Mota Jornalista Responsável Luciana Maria Sampaio Moreira MG 05203 JP

Revisão Editorial Jalmelice Luz ‑ MG 3365 JP jornalismo@sme.org.br Projeto Gráfico / Desgin Blog Comunicação Marcelo Távora tavora007@hotmail.com (31) 3309 1036 | (31) 9133 8590 Depto. Comercial Blog Comunicação & Marketing tavora007@hotmail.com (31) 3309 1036 | (31) 9133 8590 Tiragem: 10 mil | trimestral Distribuição Regional (MG) Gratuita Publicação | SME Sociedade Mineira de Engenheiros Av. Álvares Cabral, 1600 | 3º andar Santo Agostinho | Belo Horizonte Minas Gerais | CEP ‑ 30170‑001 Tel. (31) 3292 3962 sme@sme.org.br www.sme.org.br

Apoio Compromisso, Inovação e Avanço


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SAÚDE PÚBLICA Epidemia de dengue mobiliza empresas de Engenharia

ENTREVISTA Mateus de Moura Lima Gomes, responsável pela área de P&D da CEMIG

CAPACITAÇÃO Empresa Júnior investe na formação do engenheiro

ENGENHEIRO DO ANO Olavo Machado Junior recebeu a comenda, em 2015

P&D Estudantes da UFLA criam tomada inteligente

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LEGISLAÇÃO Engenheiros peritos podem ser penalizados em caso de acidentes

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MERCADO DE TRABALHO Crise exige de engenheiros mais flexibilidade

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GRADUAÇÃO Futuro incerto para os profissionais no Brasil

JOVEM ENGENHEIRO Josué Coelho do Amaral Júnior

MESTRES DA ENGENHARIA Marcelo de Oliveira Marques

ARTIGO Ronaldo Gusmão

ARTIGO Ailton Ricaldoni Lobo,

ARTIGO Licenciamento ambiental no setor elétrico


NOTAS DO SETOR

ABM WEEK 2016 Com a presença de especialistas renomados do Brasil e do mundo, a ABM WEEK 2016 deve atrair aproximadamente três mil profissionais da indústria e de empresas fornecedoras de produtos e serviços para o setor, além de acadêmicos, pesquisadores e estudantes.

A cidade do Rio de Janeiro sediará novamente o maior evento técnico-científico da América Latina nas áreas de metalurgia, materiais e mineração, a ABM WEEK 2016 que acontecerá de 26 a 30 de setembro. Serão realizados, simultaneamente, o 71º Congresso Anual, o 53º Seminário de Laminação, o 47º Seminário de Aciaria, o 46º Seminário de Redução, o 17º Simpósio de Minério de Ferro, o 4º Simpósio de Aglomeração, o 35º Seminário de Logística, o 37º Seminário de Balanços Energéticos, o 31º Encontro de Gases Industriais, o 20º Seminário de Automação & TI, o 16º Enemet - Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Metalúrgica, de Materiais e de Minas e o 7º Seminário de Trefilação.

Mais informações no site www.abmbrasil.com.br/abmweek2016

CONCRETO

O Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON promove, de 11 a 14 de outubro, em Belo Horizonte, o 58º Congresso Brasileiro do Concreto, fórum nacional

de divulgação e debates sobre a tecnologia do concreto e seus sistemas construtivos. O evento objetiva divulgar as pesquisas científicas, tecnológicas e as inovações sobre o concreto e as estruturas de concreto, em termos de materiais e suas propriedades, gestão e normalização, análise e projeto estrutural, métodos e sistemas construtivos, controle tecnológico e sustentabilidade. O evento é aberto aos profissionais em geral do setor construtivo, tecnologistas

de concreto, projetistas de estruturas, professores e estudantes de Engenharia Civil, Arquitetura e Tecnologia, profissionais técnicos de construtoras, empresas de energia, fabricantes de equipamentos e materiais para construção, laboratórios de controle tecnológico, órgãos governamentais e associações técnicas. Nas últimas edições, o evento contou com a participação de cerca de 1000 inscritos. Mais informações no endereço eletrônico www.ibracon.org.br.

IBAPE A nova diretoria do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE) tomou posse, em 23 de fevereiro de 2016, para um mandato de dois anos (2016 - 2017). O presidente eleito é o engenheiro civil e eletricista, Frederico Correia Lima Coelho. A vice-presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros, Marita Tavares, representou a SME na solenidade de posse. A solenidade foi realizada no Plenário do CREA- MG e contou com a presença de representantes de importantes entidades do setor de engenharia e arquitetura e do presidente do Confea, José Tadeu da Silva. Diretoria Executiva do IBAPE ‑ 2016

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Frederico Correia Lima Coelho,

Eng. Elcio Avelar Maia,

Eng. Nelson Nady Nór Filho,

presidente;

vice‑presidente de Comunicações;

vice‑presidente Administrativo e Financeiro;

Eng. Antemildo Batista de Andrade,

Eng. Pedro Augusto Kruk,

Eng. Wilson Lang,

vice‑presidente de Relações com o Mercado;

vice‑presidente Técnico;

vice‑presidente de Relações Institucionais.


CURSOS DE ENGENHARIA PARA ASSOCIADOS DA SME

PORTAL Lançado no Brasil um portal para profissionais dos setores elétrico e energético.Trata-se do Leonardo Energy, um projeto criado na Europa e que chega ao Brasil com conteúdo gratuito sobre economia sustentável por meio da eficiência energética. O projeto foi criado, em 2001, pelo European Copper Institute - órgão que promove o uso do cobre na Europa – e que se tornou ao longo dos anos uma grande comunidade online sobre economia sustentável por meio da eficiência energética. O projeto chega ao Brasil pelo Instituto Brasileiro do Cobre (Procobre). Por meio do site www.leonardo-energy.org.br, profissionais dos setores elétricos e enérgico têm acesso a notícias, palestras, artigos e webinars (seminários realizados online) realizados por profissionais sobre os seguintes assuntos: eficiência energética, energias alternativas renováveis, gestão da energia, gestão de ativos e segurança com a eletricidade e sustentabilidade.

Mais informações no site www.procobre.org.

ISSN A Revista Mineira de Engenharia (RME) recebeu do Instituto Brasileiro de Informação Ciência e Tecnologia (Ibict) o ISSN 2447-813k (International Standard Serial Number), sigla em inglês para Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas, que é o código aceito internacionalmente para individualizar o título de uma publicação seriada. Esse número se torna único e exclusivo do título da publicação ao qual foi atribuído, e seu uso é padronizado pela ISO 3297 (International Standards Organization). O uso do ISSN não é obrigatório, entretanto como único identificador de padrão internacional, confere vantagens ao editor uma vez que ele possibilita rapidez, produtividade, qualidade e precisão na identificação e controle da publicação seriada nas etapas da cadeia produtiva editorial. A Rede ISSN (ISSN Network) é

uma organização intergovernamental representada por 88 centros nacionais e regionais, em todo o mundo. A Rede foi criada em 1971, com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e implantada três anos mais tarde para apoiar o controle bibliográfico mundial de publicações seriadas, por meio de um código único, o ISSN (International Standard Serial Number). A Rede ISSN é coordenada pelo Centro Internacional do ISSN, com sede em Paris, e já possui, em todo o mundo, mais de 1 milhão de títulos de publicações seriadas identificadas com esse código. Constitui a mais completa e abrangente fonte de informação sobre publicações seriadas.

73ª SOEA O Sistema Confea/Crea e Mútua em defesa da Engenharia e Agronomia Brasileiras” é o tema central do 9º CNP (Congresso Nacional de Profissionais) que, em 2016, acontecerá em paralelo à 73ª Soea (Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia), em Foz do Iguaçu (PR), de 29 de agosto a 03 de setembro próximos deste ano. A vice-presidente da SME, Engª Virgínia Campos, participou, no último dia 26 de fevereiro/16, no Confea, em Brasília (DF), do 5º Encontro de Líderes Representantes do Sistema Confea/Crea e Mútua. Durante o encontro, foi decidido que os líderes deverão reforçar um movimento em prol da Engenharia, por meio da conscientização da sociedade sobre o papel e a importância da profissão.

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NOTAS DO SETOR

Desde a segunda quinzena de janeiro, pesquisadores da UFMG estão em campo com o intuito de conhecer a realidade de saneamento rural em todas as regiões do país. Os dados qualitativos, somados a informações do censo demográfico, vão ajudar a delinear o mapa sanitário que servirá de base para a elaboração do Programa Nacional de Saneamento Rural (PNSR). Feito esse diagnóstico, será desenvolvida uma matriz tecnológica que ofereça soluções para atender a diferentes escalas e realidades rurais, explica a coordenadora do trabalho, professora Sonaly Rezende, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola de Engenharia. Embora a Organização das Nações Unidas

Fotos de Foca Lisboa/UFMG

MAPA SANITÁRIO

Equipe da UFMG recolhe informações em 11 estados para ajudar a delinear o mapa sanitário brasileiro

(ONU) defina como direito humano o abastecimento de água e esgotamento sanitário, apenas 32% dos domicílios rurais brasileiros possuem redes de abas-

tecimento de água, e somente 5,2% têm coleta de esgoto, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2012. Com base no censo de 2010, o Plansab traçou metas de curto, médio e longo prazos para todos os aspectos do saneamento do País. Para o abastecimento de água considerado atendimento adequado (percentual de domicílios urbanos e rurais atendidos por redes de distribuição, poço ou nascente com canalização interna), o Plano prevê cobertura para água e esgoto de 93% da população em 2018, 94% em 2023 e 98% em 2033. Em 2010, esse percentual de cobertura era de 91%.

FALECIMENTO O professor Marcos Pinotti Barbosa, do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia, faleceu em Moscou, capital da Rússia, em 21 de fevereiro/16. Docente da UFMG desde 1999, Pinotti era uma das principais referências da Universidade nas áreas de empreendedorismo tecnológico e inovação. Pinotti coordenava o Laboratório de Bioengenharia (LabBio), dedicado às áreas de Engenharia Cardiovascular, Biofotônica, Tecnologia Assistiva, Biomimética, Medicina Regenerativa e Biomecânica, e o Laboratório de Pesquisa Aplicada à Neurovisão (Lapan), especializado em neurociências, visão neural, processos de cognição e tecnologia da informação aplicada a neurociências.

Marcos Pinotti formou-se em Engenharia Mecânica pela Unicamp, em 1989. Na mesma universidade, tornou-se mestre (1992) e doutor (1996) em Engenharia Mecânica. Como professor da UFMG, recebeu, em 2013, o Prêmio Fundep – principal distinção conferida na Universidade aos seus pesquisadores – na área de Tecnologias. Recentemente, o professor Marcos Pinotti vinha se dedicando à articulação de parcerias científicas entre a UFMG e instituições da Rússia. Pinotti era casado com Evgeniya Shamis, fundadora e diretora da empresa Sherpa S Pro, de Moscou, que presta consultoria ao governo russo na área científica.

BANCADA Os representantes da SME junto ao CREA-Minas tomaram posse na última semana de janeiro/16. São eles: Antônio Humberto Pereira de Almeida, Arnaldo Rezende de Assis, Celso de Araújo Pinto Coelho, Cláudio Miranda Marins, Dilvar Oliva Salles, Flávio de Azevedo Carvalho, Geraldo Magela Dolabela, Herzio Geraldo Bottrel Mansur, José Caldeirani Filho, Misael de Jesus dos Santos Sá e Werner Cançado Rohlfs. Os conselheiros, pelas suas formações, compõem as Câmaras Especializadas, que são a primeira instância de julgamento dos processos da regulação profissional e, em conjunto, constituem o Plenário do CREA-MG, a sua segunda e maior instância de julgamento regional.

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SAÚDE PÚBLICA

Epidemia de dengue mobiliza empresas de Engenharia da capital mineira

Luciana Sampaio Moreira

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Problema de saúde pública nacional, o Aedes aegypti não é uma novidade. Provavelmente chegou ao Brasil com os navios negreiros. Após o trabalho de erradicação da febre amarela, no início do século XX, o mosquito que hoje transmite dengue, febre Chikungunya e Zica vírus foi considerado eliminado durante a Era Vargas. Na época, o País até recebeu o reconhecimento de organismos internacionais por essa conquista.

De lá para cá, são 30 anos de um problema que desafia o poder público, o setor produtivo e a sociedade anualmente, durante a temporada das chuvas. No último dia 22 de fevereiro, a presidente Dilma Roussef assinou contrato para o desenvolvimento de uma vacina contra dengue por meio de parceria entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan, vinculado ao governo do Estado de São Paulo.

Mas a boa notícia durou pouco. Com o processo de industrialização e a falta de planejamento urbano das cidades, nas décadas de 1940 e 1950, surgiram novos criadouros para o mosquito. Entre eles, pneus e ferros velhos. Em 1967, o Aedes foi detectado em Belém e, em 1974, infestou Salvador. Anos mais tarde, espalhouse pelo País. A partir de 1986, a dengue ocorre de forma continuada, todos os anos.

O contrato prevê aporte inicial de R$ 100 milhões, nos próximos dois anos, para financiar a terceira e última fase de testes clínicos da vacina em voluntários, para comprovar a eficácia do imunizante. Além desse produto, o Instituto já estuda produzir uma vacina e um soro para neutralizar a ação do vírus Zica, o que demandará alguns anos de trabalho.Até lá, o grande vilão dessa his-

tória continua a ser o mosquito, que já mostrou uma capacidade superior de adaptação. Basta lembrar que uma tampinha de garrafa com água parada pode aumentar o número de casos na estatística. Mudança de conduta As epidemias anuais de dengue também afetam o setor produtivo, na forma de absenteísmo (faltas, afastamentos) e queda de produtividade. Assim, organizações de diversos segmentos também têm se engajado nessa luta. Na Construtora Patrimar, o trabalho do engenheiro de Segurança Darci Vieira é fundamental para a conscientização dos funcionários dos canteiros e da área administrativa sobre a necessidade de combater o mosquito. “Começamos nossa campanha em setembro de 2015, antes de co-


As epidemias anuais de dengue tam‑ bém afetam o setor produtivo, na forma de absenteísmo (faltas, afasta‑ mentos) e queda de produtividade. Assim, organizações de diversos seg‑ mentos também têm se engajado nessa luta.

Darci Vieira, engenheiro de Segurança da Construtora Patrimar

meçar o período de chuvas. A programação do Diálogo Diário de Segurança (DDS), que acontece todas as manhãs, reserva um dia da semana para abordar o tema”, comenta. Para dar maior peso às informações, a empresa convida técnicos e especialistas para falar a respeito da necessidade de eliminar focos de reprodução do Aedes aegypti, com distribuição de material impresso que os 800 funcionários – entre diretos e terceirizados – levam para casa.

Nas obras, a recomendação é clara. Limpeza das instalações, organização dos materiais, controle do uso do copo descartável e de latas, são alguns dos cuidados que são observados diariamente. “Nos projetos onde temos pontos de água, usamos água sanitária. Há obras em que o gasto chega a 200 litros do produto”, destaca. Quem monitora essas práticas são os chefes de Segurança, que ficam nos canteiros. Neste ano, o pessoal do Administrativo também será incluído na campanha. Uma cartilha foi especialmente

confeccionada e distribuída aos empregados que trabalham no escritório, durante o Dia Interno de Combate a Dengue. Realizado no dia 29 de fevereiro, o evento levou especialistas para conversar com os funcionários. Segundo o engenheiro, a Patrimar tem observado que geralmente, os casos de contaminação acontecem fora do local de trabalho. “Temos feito um trabalho que tem um alcance muito grande, já que extrapola os muros da empresa e chega à casa de todos os empregados”, afirma. Esse movimento, segundo DarciVieira, é o resultado de uma valorização crescente das áreas de Segurança e Saúde do Trabalho. Com 26 anos de carreira, das quais 15 como técnico e 11 como engenheiro do Trabalho, ele constata que atualmente, esse cuidado transcende o uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) durante a jornada diária.


SAÚDE PÚBLICA

“A Patrimar entende que o bom estado de saúde do empregado é fundamental para que ele não tenha faltas, períodos de afastamento ou apresente atestados médicos”, argumenta. Anualmente, a programação da Semana Interna de Prevenção a Acidentes de Trabalho (Sipat), aborda temas relacionados ao controle da glicose, pressão arterial, acuidade visual e problemas cardíacos, que podem interferir diretamente na capacidade produtiva do empregado.

minação dos focos. Temos consciência que o canteiro de obra é um grande local aberto que, se não cuidado, pode servir de criadouro para o mosquito. Essa é uma das prioridades da companhia neste momento em que a epidemia se alastra rapidamente pelo País”, aponta.

Marcely Souza, técnica de Segurança

O resultado já apareceu. Segundo o engenheiro, em 12 anos, o número de afastamentos caiu consideravelmente. Da mesma forma, a rotatividade também ficou menor. “Hoje temos pessoas com 20 anos de empresa, o que é raro no setor”, considera.

e estudante de Engenharia Ambiental

José Luiz Esteves da Fonseca, gestor executivo de Segurança, Saúde e Meio Ambiente da MRV Engenharia

Na MRV Engenharia, as ações de combate ao Aedes aegypti acontecem em todas as obras, instaladas em mais de 130 cidades de 19 Estados e Distrito Federal. Segundo o gestor executivo de Segurança, Saúde e Meio Ambiente da MRV Engenharia, José Luiz Esteves da Fonseca, a empresa promoveu uma série de mudanças no armazenamento de materiais para impedir o acúmulo de água. Paralelamente, a empresa realiza vistorias periódicas nos canteiros. Diariamente, os trabalhadores são orientados a identificar focos do mosquito no local de trabalho e em casa. “Desde o final de 2015, as ações de prevenção foram intensificadas pela companhia e também foram incluídos cartazes informativos e mutirões de limpeza para eli12

A área de 2.190 metros quadrados da A Geradora, instalada em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) é constantemente vistoriada pela técnica de Segurança e estudante de Engenharia Ambiental, Marcely Souza. A empresa atua no segmento de locação de equipamentos como geradores de energia, torres de iluminação e compressores de ar e climatização para segmentos como indústria, construção, infraestrutura, mineração, petróleo e gás e, ainda entretenimento. “Os 45 colaboradores da unidade estão mobilizados para essa questão de controlar a reprodução do mosquito Aedes aegypti. Temos feito mutirões semanais para identificar locais de risco com acúmulo de agua e abordamos o tema nas reuniões diárias de segurança, o que aumenta a eficácia das ações já implementadas dentro da empresa”, explica. A segunda parte do trabalho é atingir o círculo de relacionamentos dos empregados, para que as medidas adotadas sejam multiplicadas nas residências. O resultado tem sido positivo, com apenas um caso de dengue registrado. “Quando o colaborador retornou, compartilhou com a equipe a sua experiência”, ressalta.


Seconci‑MG também intensifica ações de conscientização

Sylvia Helena Costa, supervisora do Departamento de Serviço Social do Seconci‑MG

Braço social do Sindicato da Indústria da Construção

teiros. Outra iniciativa é a distribuição gratuita de uma

Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon‑MG), o Ser‑

revista do cartunista Celton, intitulada “O caso da rua

viço Social da Indústria da Construção Civil no Estado de

que não tinha dengue”.

Minas Gerais (Seconci‑MG) iniciou o seu projeto de combate a dengue em 1997. As primeiras iniciativas,

Na luta para erradicar o mosquito vale tudo. Em quase

já naquele ano, foram parte de um programa de

sete anos de atividades, o Seconci‑MG promoveu 9.600

conscientização dos trabalhadores e seus familiares.

visitas preventivas a canteiros de obras de Belo Hori‑ zonte e Região Metropolitana (RMBH), para um pú‑

Atendimentos médicos, cursos e palestras técnicos ofe‑

blico de 319.987 trabalhadores, até janeiro de 2016.

recidos na sede da entidade são um viés dessa iniciativa.

Nesse período foram realizadas 1602 palestras, assis‑

Paralelamente, as visitas dos técnicos aos canteiros de

tidas por 28.551 pessoas.

obras também é uma oportunidade para levar mais in‑ formações sobre o Aedes aegypti e as doenças que ele

O movimento das construtoras em buscar palestras

causa. “Não paramos desde então, mesmo porque, a

sobre o tema é espontâneo. O Seconci‑MG também atua

dengue também não parou”, afirma a supervisora do

junto ao Mobiliza SUS, que dispõe de uma equipe de téc‑

Departamento de Serviço Social do Seconci‑MG, Sylvia

nicos de mobilização social capacitada para falar sobre

Helena Costa.

essas questões. “Temos estimulado as empresas a ado‑ tar a linguagem do teatro para reforçar as orientações

O pacto nacional contra a dengue, criado em 2009, for‑

teórica, para passar o recado de forma lúdica”, afirma.

taleceu ainda mais a participação da entidade que tem se unido a órgãos públicos como a Secretaria Munici‑

Com isso, o número de casos de dengue tem caído. Se‑

pal de Saúde de Belo Horizonte para a produção de

gundo a gestora, tanto no atendimento médico quanto

material informativo e promoção de eventos nos can‑

nas obras, as notificações estão em queda.

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ENTREVISTA ‒ MATEUS DE MOURA LIMA GOMES

Graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), em 2005, mestre em Direito Público, especialista em Direito Administrativo e aluno de pós‑graduação em Direito Tributário, ele exerceu o cargo de procurador‑geral da Câmara Municipal de Belo Horizonte, entre 2012 e 2013. Agora, entre outras atribuições, também, é o principal responsável pelo bom andamento da área de P&D da CEMIG, um desafio distinto da sua carreira de origem, mas a prova incontestável de que, em se tratando de Energia, não há como desconsiderar a inovação, como parte do negócio.

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CEMIG mantém investimentos na área de P&D “Assim como pessoas, mercado e finanças, a tecnologia constitui um dos pilares de sustentação da estratégia de qualquer negócio, sendo, cada vez mais, fator de competitividade e otimização de resultados empre‑ sariais”. É assim que o advogado e vice‑presidente da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), Mateus de Moura Lima Gomes, define a área de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) da empresa.

Quais os principais projetos de P&D da CEMIG? O Grupo CEMIG é líder no Brasil em investimentos em pesquisa e desenvolvimento em geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, sendo responsável por 13% do total do setor no Brasil, mas investe também em outros setores. Dessa forma, atuamos em diversos segmentos e desenvolvemos projetos de P&D em várias áreas, quase sempre com a participação dos principais centros de pesquisa, universidades e empresas do País. O portfólio atual de projetos é muito diverso e procura atingir todos os negócios da companhia.Visando dar mais clareza e objetividade ao processo de planejamento estratégico de tecnologia, o programa foi subdividido em 12 grandes temas tecnológicos, onde os projetos e demandas são especificados, priorizados e selecionados, com o objetivo de trazer os melhores resultados para a empresa.

Na área de Sistemas Elétricos de Potência, podemos destacar o projeto de revitalização e repotencialização de transformadores de potência e desenvolvimento de transformadores de corrente a óleo vegetal, que teve início em 2009, com término no ano passado. Foi confeccionado um lote pioneiro de três transformadores instalados em subestações da CEMIG, com ganhos de potência, assim como trazendo menos riscos ao meio ambiente. Os temas são Fontes Alternativas; Meio Ambiente; Medição, Faturamento e Perdas Comerciais; Manutenção do Sistema Elétrico; Novas Configurações e Topologias de Linhas de Transmissão, Distribuição e Subestações; Operação do Sistema Elétrico; Novos Equipamentos e Materiais; Planejamento Elétrico e Energético da Expansão; Supervisão, Controle e Automação; Segurança Patrimonial e Pessoal; Gestão de Bacias, Reservatórios e Planejamento Energético e Gestão Empresarial, Mercado, Atendimento a Clientes, Regulação e Mercado. 15


ENTREVISTA | MATEUS DE MOURA LIMA GOMES

Ao mesmo tempo, são desenvolvidos, em parcerias com outras concessionárias, os projetos estratégicos, cujos temas são definidos pela Aneel pela sua relevância para setor elétrico, atendem às necessidades de várias concessionárias, e na reformulação das políticas setoriais de energia elétrica. Há ainda parcerias com outros agentes em projetos chamados cooperados, cujos resultados são compartilhados pelas empresas envolvidas. Os investimentos nessa área têm aumentado? Por que? Desde a criação do Programa de P&D Aneel, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento tendem sempre a aumentar, ano a ano, já que, geralmente, estão atrelados com a receita operacional líquida (ROL) das empresas. Além dos valores vinculados a ROL, a CEMIG ainda investe montantes relevantes em outros projetos de inovação e que também contribuem para o desenvolvimento de seus processos e serviços junto à sociedade. Neste primeiro ano de trabalho (2015‑2016), houve mudanças na área de P&D da CEMIG? Quais? O setor de P&D na CEMIG foi estruturado em 1999, numa parceria com Fundação Instituto de Administração da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FIA/FEA/USP) e, desde então, vem sofrendo adaptações uma vez que o mercado e o setor elétrico estão em constante evolução. A última atualização significativa ocorreu, no período de 2004 a 2007, por meio de uma parceria entre a CEMIG, PUC Minas, FDC e Unicamp, envolvendo capacitação, consultoria nas diversas áreas do setor. Dessa forma, o núcleo da Gestão, seus conceitos e valores, são sempre mantidos. 16

O que significa, para a CEMIG, esse setor? Assim como, pessoas, mercado e finanças, a tecnologia constitui um dos pilares de sustentação da estratégia de qualquer negócio, sendo, cada vez mais, fator de competitividade e de otimização de resultados empresariais. A CEMIG sempre considerou a tecnologia como insumo básico e estratégico. Gostaria de destacar que, nos Programas Anuais de P&D, buscamos atender às principais demandas tecnológicas das empresas do Grupo CEMIG, identificadas através dos processos de Planejamento Estratégico Empresarial, sendo os projetos avaliados e priorizados conforme metodologia de Gestão Estratégica de Tecnologia e mediante comprovação de viabilidade técnico-econômica. Com essa metodologia, busca-se uma maior integração entre as equipes, evita-se duplicidades e otimiza-se os recursos disponíveis para a melhoria de produtos e processos. Como consequência, a empresa assegura a utilização das tecnologias mais adequadas aos seus processos e respostas ágeis às alterações de cenários. O setor de P&D tem, como premissas básicas, o desenvolvimento tecnológico e a capacitação da CEMIG e de seus parceiros, aumento da segurança, redução de custos e melhorias operacionais, introdução de inovações no mercado, incremento da participação das fontes alternativas de energia na matriz energética, preservação do meio ambiente e responsabilidade social, com foco na maximização de benefícios para todos, tanto para a CEMIG como para seus parceiros e a sociedade.


A CEMIG sempre considerou a tecnologia como in‑ sumo básico e estratégico. Gostaria de destacar que, nos Programas Anuais de P&D, buscamos atender às principais demandas tecnológicas das empresas do Grupo CEMIG, identificadas através dos processos de Planejamento Estratégico Empresarial, sendo os proje‑ tos avaliados e priorizados conforme metodologia c o m provação de viabilidade técnico‑econômica.

Quais projetos desenvolvidos no último ano? E se já foram incorporados à rotina dos negócios? Os projetos de P&D são, em sua maioria, plurianuais, tendo uma duração, em média, de três anos na CEMIG, embora tenhamos projetos com duração de cinco anos. Projetos implantados, em 2015, foram iniciados em anos anteriores e estão produzindo resultados significativos nesse ano. Podemos citar como destaque o de “Revitalização e repotencialização de transformadores de potência e desenvolvimento de TCs a óleo vegetal”, já citado, e que desenvolveu transformadores com monitoramento online e transformadores de corrente, utilizando óleo vegetal não tóxico e ponto de fulgor acima dos demais, além de papel isolante a base de aramida, uma fibra sintética com alta resistência e baixo peso é conhecida no mercado com o nome comercial de kevlar. Dentre os ganhos ambientais, sociais, pode-se considerar os advindos da substituição do óleo sintético pelo bio-óleo. Outro destaque é o “Desenvolvimento de sistema integrado para supervisão e orientação à operação remota segura de usinas hidrelétricas”. O projeto produziu protótipos que foram instalados nas Usinas Emborcação e Sá Carvalho, ambas da CEMIG, e teve como objetivo converter dados de processo e de monitoramento de vibração do conjunto turbina-gerador em informações acionáveis em tempo hábil para auxílio à tomada de decisão. O sistema desenvolvido apresenta uma interface amigável dis-

de Gestão Estratégica de Tecnologia e mediante

ponível em todos os níveis hierárquicos da empresa para compartilhamento de informação em tempo real contribuindo para o desenvolvimento estratégico de inteligência do negócio. Este conhecimento permitirá a diminuição do risco do gerenciamento do empreendimento com consequente redução de custo e aumento de faturamento. Como é composta a equipe de profissionais do setor? Quantos engenheiros atualmente? Para o desenvolvimento das atividades o setor dispõe de sete profissionais do quadro próprio, sendo três engenheiros, dois analistas com formação superior e dois técnicos, além de um engenheiro contratado, bem como dois técnicos, e de um escritório responsável por analisar toda a documentação e prestação de contas dos projetos de P&D. Por outro lado, os projetos de pesquisa e desenvolvimento são conduzidos pelas diversas áreas do negócio da CEMIG para cada projeto em execução, há sempre uma equipe interna composta de, pelo menos, um gerente de projeto e um profissional de apoio administrativo. Em 2015, foram 60 profissionais, das diversas áreas do negócio, envolvidos em projetos de P&D, dos quais 40 deles são engenheiros. O modelo de Gestão Estratégica de Tecnologia (GET) estabelece que as políticas, diretrizes, normas, procedimentos e processos sejam propostos e conduzidos pelo setor de P&D e Inovação, subordinado à Vice-Presidência. 17


ENTREVISTA | MATEUS DE MOURA LIMA GOMES

Como a Engenharia pode contribuir para a inova‑ ção no setor elétrico? Há algum case de sucesso que gostaria de relatar? No desenvolvimento de projetos, sempre há a participação das diversas áreas da CEMIG, dependendo do projeto a ser desenvolvido. Como os projetos na sua maioria estão ligados às áreas técnicas, a participação da área de engenharia da CEMIG é sempre solicitada e, inclusive, vários engenheiros obtiveram títulos de mestrado e doutorando no desenvolvimento desses projetos. Há projetos sobre as energias alternativas? Quais? Dentro do tema Fontes Alternativas estamos atualmente com pelo menos dez projetos em andamento. As principais linhas de pesquisa dessa área são: cogeração, energia da biomassa (resíduos), energia solar, energia eólica, com destaque para o projeto Desenvolvimento de um Sistema para o Cálculo do Potencial de Geração de Energia através de Biomassa no Estado de Minas Gerais que produzirá o Atlas de Biomassa para o Estado de Minas Gerais. A CEMIG tem uma tradição nesse sentido. Como estão esses projetos? Há alguma novidade? A CEMIG historicamente buscou se posicionar na vanguarda tecnológica do setor elétrico brasileiro, indo 18

sempre além das obrigações impostas pela legislação, no que tange ao desenvolvimento e aplicação de tecnologia. A CEMIG foi a primeira concessionária brasileira a instalar uma usina eólica conectada ao sistema elétrico integrado, a Usina Eólio-Elétrica Experimental Morro do Camelinho, em 1994. Atualmente temos vários projetos em andamento conforme os respectivos planos de trabalho e os resultados até o momento, de maneira geral, se mostram promissores no levantamento de questões e informações para o subsidio ao posicionamento da CEMIG em relação ao tema e as linhas de pesquisa. A grande expectativa, principalmente devido aos incentivos regulatórios, encontrase sobre os projetos de geração distribuída através de energia solar fotovoltaica. A novidade é a divulgação, este ano, do resultado do Edital de Captação de Projetos CEMIG/FAPEMIG 014/2014, com a seleção de projetos associados a geração distribuída e a fontes alternativas, que a partir deste ano serão contratados para execução. Os projetos são de análise da viabilidade da energia fotovoltaica no Brasil, em face do marco regulatório da geração distribuída no setor elétrico, e de geração de eletricidade descentralizada, a partir dos gases residuais da carbonização.


Ter um setor de P&D já consolidado ‑ como é o caso da CEMIG ‑ é um diferencial para a empresa no seu segmento de atuação? Por que? Sim, porque o setor coordena as ações referentes ao desenvolvimento tecnológico na Empresa, buscando sinergias e evitando que as diversas áreas desenvolvam os mesmos projetos, minimizando os gastos com P&D e maximizando os resultados obtidos.Além disso, ciente do relevante papel que desempenha no desenvolvimento do mercado onde atua e da importância das parcerias e intercâmbios, o setor de P&D da CEMIG busca incrementar ações envolvendo universidades, centros de pesquisa e empresas interessados em promover e participar do desenvolvimento e da consolidação da excelência tecnológica em Minas Gerais. Acreditamos que o estabelecimento de parcerias internas e externas é de grande relevância para o desenvolvimento dos processos tecnológicos, a racionalização dos esforços, a ampliação da base de conhecimento e fixação de competência dentro e fora da Empresa. Há algum projeto de cooperação com outras enti‑ dades/centros de ensino ou organizações multina‑ cionais? Quais? Quase a totalidade de nossos projetos tem parceria com centros de pesquisas, universidades e até mesmo empresas privadas. Não é raro termos a participação de três atores – universidade ou centro de pesquisa, empresa e

entidade pública – no mesmo projeto, principalmente naqueles projetos que atendem a toda cadeia de inovação. Qual a sua expectativa para essa área, nos próxi‑ mos anos? Atualmente, o setor elétrico está passando por um momento de ruptura, a exemplo do que já ocorreu no setor de telecomunicações. Cada vez mais será necessário identificar ameaças e oportunidades e reagir de forma proativa a essas demandas. Nessa perspectiva, o objetivo principal para os próximos anos é buscar atender ao Grupo CEMIG de forma integrada, combinando sinergias e oportunidades entre as diversas competências, conhecimentos e capacidades disponíveis nesse ecossistema. Há vagas para engenheiros? Qual o perfil de profis‑ sional que a CEMIG procura para a área de P&D? Sim. O setor de P&D da CEMIG perdeu alguns profissionais recentemente, por desligamento da empresa para outras empresas, aposentadoria ou mudança para outras áreas dentro da própria empresa. O candidato deve apresentar algumas competências e habilidades como raciocínio lógico, praticidade e objetividade, criatividade, habilidade de comunicação, capacidade de trabalho em equipe, disponibilidade para compartilhar conhecimentos, bom relacionamento com as pessoas, liderança e ser capaz de gerenciar crises, de resolução de problemas e de tomada de decisões, além de um bom conhecimento técnico em diversas áreas. 19


CAPACITAÇÃO

O papel da Empresa Júnior na formação do engenheiro Lucas Costa Pinto Fiuza e Marcelo Dionisio Ferreira O Movimento Empresa Júnior (MEJ) surgiu com o intuito de preencher uma lacuna na formação acadêmica em grande parte das universidades: falta de experiência profissional dos alunos recém-formados. As empresas juniores têm transformado universitários em empreendedores, promovendo uma vivência de mercado e gestão para alunos de graduação. Essas organizações vêm tomando espaço nas Instituições de Ensino Superior (IES) no País. Hoje, são cerca de 300 unidades compostas por mais de 11 mil alunos, realizando um volume de 2,5 mil projetos por ano para o mercado. O Estado de Minas Gerais é destaque no Movimento, que está presente em mais de 40 países. Com expressiva extensão territorial e uma ampla distribuição de instituições de ensino, Minas Gerais detém a maior Fe20

deração de Empresas Juniores do mundo, com quase 60 associadas das mais diversas áreas de conhecimento que realizam projetos para os mais variados nichos de mercado. Com tamanha representatividade no Estado, o MEJ conta com o apoio de entidades importantes, principalmente dentro da engenharia, já que 35% das empresas juniores são formadas por estudantes da área. Uma das universidades mais relevantes no cenário acadêmico nacional, a Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, tem se mostrado aberta à inovação, com destaque para a Escola de Engenharia que apoia o Movimento Empresa Júnior há cerca de 20 anos. Nesse ecossistema, surgiu a Consultoria e Projetos Elétricos Júnior (CPE), em 1997, iniciativa pioneira de alunos da Engenharia Elétrica. Posteriormente, foi integrada pelas Engenharias de Controle e Automação e de Sistemas.


Marcelo Dionisio Ferreira

Lucas Costa Pinto Fiuza

Desde sua fundação, a maior preocupação da CPE sempre foi a formação de profissionais diferenciados, engenheiros completos, que aliem o conhecimento técnico às habilidades do ramo empresarial, e que com experiência corporativa, sejam capazes de orientar os seus trabalhos à resolução de problemas da sociedade, contribuindo para a construção de um mundo melhor pela engenharia. A CPE tem alguns compromissos que guiam a nossa jornada: as pessoas que aqui trabalham, a universidade que é o nosso berço, a sociedade que é onde estão os nossos clientes e o desenvolvimento da engenharia em Minas Gerais. A formação de profissionais completos e comprometidos com a sua função é uma das nossas diretrizes. Procuramos sempre ser um marco na vida dos alunos que aqui trabalham, proporcionando aprendizados que serão úteis tanto para a vida pessoal quanto para sua carreira. Gerenciar e executar projetos de engenharia fazem parte do nosso dia a dia. Projetos de instalações elétricas, eletrônica, eficiência energética, tecnologia da informação e automação residencial, nos movem na busca por conhecimento e experiência para resolver problemas dos nossos clientes. Contamos com o apoio dos professores na realização de projetos, o que garante a excelência dos nossos serviços e, ainda, permite o aprendizado em conjunto com os discentes.

Outra grande preocupação da CPE é sempre ser a melhor opção para os nossos clientes. Procuramos manter os nossos preços abaixo dos valores do mercado, a fim de contribuir com o desenvolvimento de negócios de micro e pequenos empreendedores, além de pessoas físicas que nem sempre podem arcar com os custos normais de um projeto. O trabalho dentro do Movimento Empresa Júnior não é remunerado, isso nos permite uma maior flexibilidade nos negócios e reforça a nossa razão de existir: maximizar o nosso aprendizado enquanto engenheiros. Empresas Juniores são iniciativas essenciais para o ensino no Brasil. O crescimento recente e o apoio de grandes empresas ao Movimento reforçam a necessidade de uma formação acadêmica orientada para a resoluções de problemas para a sociedade. É notável a grande contribuição que essa experiência tem proporcionado no desenvolvimento pessoal dos jovens em todo o País. Acreditamos que é preciso empreender as mudanças que consideramos necessárias, pois, certamente, a engenharia tem um papel essencial na construção de um Brasil melhor. Lucas Costa Pinto Fiuza, Presidente CPE Marcelo Dionisio Ferreira, Presidente do Conselho Administrativo CPE 21


ENGENHEIRO DO ANO

Cerimônia que comemorou o Dia do Engenheiro foi muito concorrida Luciana Sampaio Moreira Engenheiros, lideranças empresariais de diversos setores econômicos, empresários e gestores públicos municipais e estaduais, amigos e familiares marcaram presença na cerimônia de outorga da Medalha Engenheiro do Ano 2015. O evento foi realizado no dia 11 de dezembro, no auditório do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (SICEPOT-MG,) para homenagear o engenheiro eletricista graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMinas), ex-vice presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), em 1993 e 1996, e entre 2002 e 2006, membro do Conselho Deliberativo da entidade, entre 2006 e 2011, empresário de sucesso e presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), Olavo Machado Junior.

O presidente da SME, Augusto Celso Franco Drummond, abriu a cerimônia e lembrou o “elevado espírito 22

classista” do homenageado.“À frente da FIEMG, Olavo Machado Junior tem reafirmado o seu compromisso pessoal com a Engenharia e com os engenheiros mineiros”, afirmou. A Federação criou projetos como o Futuros Engenheiros, para capacitar os profissionais para as demandas da indústria. Ele também lembrou a parceria bem-sucedida com a SME para a realização do Prêmio de Ciência, Tecnologia e Inovação de 2015, e confirmou a continuidade dessa iniciativa para este ano.

O presidente do SICEPOT-MG, Emir Cadar Filho, falou da alegria de receber engenheiros na sede do Sindicato. “Esta é uma casa que está sempre aberta para a Engenharia. Essa noite vai ficar na nossa história, pela homenagem merecida ao Olavo Machado Junior que trabalha, incansavelmente, para engrandecer a atividade”, destacou.

O chanceler da Medalha “Engenheiro do Ano 2015” foi o engenheiro e ex-presidente da SME, entre 2005 e 2011, Márcio Damazio Trindade. Em seu discurso, ele lembrou a grandeza da Engenharia como ciência geradora de progresso. “Acompanhei a trajetória profissional de Olavo Machado Junior desde o início da carreira, como cidadão, líder empresarial e engenheiro que tem se posicionado no olho do furacão das questões relacionadas ao desenvolvimento nacional por meio do associativismo”, enfatizou. Trindade também enfatizou a trajetória de Olavo Machado Junior à frente da FIEMG por dois mandatos. “A responsabilidade da escolha que se transfere neste ato ao escolhido, face aos louros que vem colhendo e, também, espalhando na sua intensa mobilidade ao longo da carreira encetada e que desponta na constelação de legítimos profissionais que nosso Estado continuamente proporciona ao País, o ilustre amigo Olavo Machado Jr”, declarou.


A solenidade foi bastante prestigiada em homenagem ao presidente do Sistema FIEMG, Olavo Machado Junior.

Homem de negócios, considerado a maior liderança empresarial de Minas Gerais, o homenageado da noite não escondeu a emoção por receber o Título e a Medalha Engenheiro Ano 2015, ao lado de sua mãe, Dona Terezinha. Receber esse título foi uma surpresa muito grata. Foi o maior que recebi e vou levá-lo por toda a vida", declarou. Ele lembrou o exemplo do pai, que apontou os caminhos para que ele se dedicasse a uma carreira que gera incontáveis oportunidades de mudanças. “Agradeço também a minha mulher, Terezinha, pela compreensão e aos meus filhos que assumiram a empresa enquanto eu me dedico à FIEMG. Dá trabalho, mas vale a pena”, disse. Segundo ele, a Engenharia promove inovação, agrega valor aos produtos

e gera empregos de qualidade, por isso é fundamental para decisões sobre o futuro do País. “Não podemos permitir que a Engenharia seja colocada no banco dos réus como está acontecendo hoje”, afirmou.

Representando o governador Fernando Pimentel, o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico e engenheiro, Altamir Rôso Filho, destacou a interlocução honesta, franca e transparente de Olavo Machado Junior com o governo do Estado

para a valorização da indústria. “Não existe indústria forte sem Engenharia”, frisou. Uma das muitas surpresas da noite foi a presença do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade. “Essa é uma bela e justa homenagem. Conheci Olavo Machado Junior, em 1974, durante uma licitação na Imprensa Oficial e tivemos ódio um do outro. Mas depois disso, tivemos a oportunidade de trabalhar juntos e nos tornamos parceiros, sócios e amigos”, comentou. E completou dizendo que Olavo Machado Junior está sempre disponível e pronto a escutar e participar dos projetos que têm como objetivo fazer um País melhor, onde a indústria seja o principal ator dos processos de mudanças. 23


ENGENHEIRO DO ANO

José da Costa Carvalho Neto, presidente da Eletrobras

João Marcelo de Araújo Machado, filho do ho‑ menageado

Romeu Scariolli, presi‑ dente do Conselho de Educação da FIEMG

Tarcísio Caixeta, verea‑ dor da Cidade de Belo Horizonte

Homenagem acima de tudo justa a um profissional que se destaca pelo seu conhecimento de engenharia, gerencial, conduta e apoio à causa da Engenharia e da indústria mineira e brasileira.Figura humana extraordinária, mais que os parabéns a ele, temos que parabenizar a Engenharia por ter um representante como ele.

Falar dele é fácil e difícil. Fácil porque ele é uma pessoa fantástica, maravilhosa, com muitas qualidades, e muito competente. Difícil falar do pai da gente porque dá aquele nó na garganta.

O Olavo é um engenheiro que consegue exercer a Engenharia na sua plena concepção de ciência e arte. Ciência no purismo da Engenharia, mas arte na construção de obras extraordinária de relacionamento humano. Ele constrói pontes, apesar de qualquer obstáculo. Pessoa extremamente generosa que faz da Engenharia um instrumento para servir e construir uma sociedade mais humana.

O Olavo é uma das mais importantes lideranças da Engenharia minera. A frente da FIEMG, tem realizado um trabalho muito bom em defesa da atividade e da indústria do Estado. A SME foi extremamente feliz em escolhê-lo.

Ronaldo Gusmão, pre‑ sidente do IETEC

Teodomiro Diniz Ca‑ margos, presidente da Câmara da Indústria da Construção da FIEMG

Murilo Valadares, se‑ cretário de Estado de Transportes e Obras Públicas do Estado de Minas Gerais

Agnaldo Diniz, presi‑ dente do Conselho de Administração da Com‑ panhia de Fiação e Teci‑ dos Cedro e Cachoeira

Merecida homenagem da Engenharia, para os engenheiros. O Brasil precisa de engenheiros, de tecnologia, precisa de construir, trabalhar, investir e o Olavo representa tudo isso.

No momento atual, em que o Brasil vive uma situação adversa, o reconhecimento de um profissional como o Olavo faz com que a gente acredite em dias melhores, a partir do reconhecimento do mérito de quem merece.

Presente para a Engenharia, ele sempre batalhou pela Engenharia. Olavo é um profissional que honra a nossa carreira. Exemplo de um homem que aplica a teoria que aprendeu na prática para fazer coisas úteis para a sociedade, melhorar a qualidade de vida, com inovação e tecnologia, para a população.

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Mais que merecida e justa. Olavo congrega tudo o que um bom engenheiro tem. Homenageado pelo líder que é e pela facilidade de congregar pessoas e projetos. A segunda gestão foi por aclamação de 100% dos participantes. Ele lidera com simplicidade, objetividade e competência.



SME ENGENHEIRO DO ANO

Olavo Machado Junior homenageado com o Título e a Medalha Engenheiro do Ano de 2015

Olavo Machado, Teia Machado, Suzanne Drummond e Augusto Drummond

Luiz Custódio Martins, Djalma Morais, Augusto Drummond e Ailton Ricaldoni

Olavo Machado comemora o Título e a Medalha Engenheiro do Ano ao lado de sua mãe, Dona Terezinha, autoridades e dirigentes empresariais.

Emir Cadar Filho, Edson Durão Judice, Olavo Machado e Murilo Valadares

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Augusto Drummond, Marita Tavares e Olavo Machado

Roberto Simões, Olavo Machado, Bruno Falci e Augusto Drummond


A solenidade teve a participação de lideranças empresariais e políticas, engenheiros, formadores de opinião e diretores da SME

Olavo Machado e Edson Durão Judice, Engenheiro do Ano de 2014

Familiares comemoram com Olavo Machado Junior o Título e a Medalha Engenheiro do Ano 2015

Werner Rohlfs, Ailton Ricaldoni, Augusto Drummond, Olavo Machado, José Ciro Mota e Dilvar Oliva Salles

José da Costa, Alexandre Bueno, Olavo Machado e Flávio Campos

Jobson Andrade, Olavo Machado e Augusto Drummond

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PESQUISA & DESENVOLVIMENTO | P&D

Estudantes da UFLA apresentam ao mercado uma tomada inteligente Luciana Sampaio Moreira

Na primeira semana de abril, acontece o lançamento oficial da Tomada Smart, um equipamento desenvolvido por alunos da graduação e do mestrado em Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em parceria com a empresa Smarti9 Comunications, que tem base no Centro Regional de Inovação e Transferência (CRIT), a incubadora da mesma instituição, há três anos. Na prática, trata-se de uma extensão com quatro tomadas inteligentes controladas por meio de um smartphone conectado à internet. O objetivo do produto é usar o conceito de Smart Home e Internet das Coisas para tornar atividades corriqueiras do cotidiano mais práticas, com economia de energia elétrica. O primeiro lote do produto deverá custar R$ 250,00 para o consumidor final. Na linha de produção, pode ser reservado pelo site www.smarti9.com.br. “Vamos analisar a aceitação do mercado para planejar os lotes seguintes”, afirma o mestrando em Engenharia Elétrica, Caique Rocha Miranda, 24 anos, um dos membros da equipe que desenvolveu a tomada inteligente. Além dele, participaram do projeto os futuros engenheiros André Luiz de Souza, Stefano Andrade e Vinicius Lagrota Rodrigues da Costa, com a orientação do professor Fabrício Campos. Segundo o engenheiro, não existe no mercado brasileiro qualquer equipamento similar. E a Tomada Smart já chega 28

com diferenciais como a recarga inteligente de smartphones e tablets ou reestabelecimento automático da conexão com o roteador, sem que os usuários percebam essa operação. Outra funcionalidade interessante é o alerta de temperatura. Essas funções e outras vão permitir ligar ou desligar a cafeteira, fogão ou geladeira ou mesmo o ar condicionado, por meio de aplicativo instalado no aparelho celular, pela internet, de qualquer lugar do planeta. Há, ainda, uma tabela de horário que pode programar o período de funcionamento de qualquer uma das quatro tomadas de conexão disponíveis. O aplicativo já está desenvolvido para Android e em fase de testes para IOS. A t o m a d a i n t e l i g e n t e é u m b o m e xe m p l o d o q u e a “ I nternet das Coisas” possibilita: conforto e economia para os consumidores. Segundo Caique Miranda, dentro de 10 ou 15 anos, os produtos eletroeletrônicos virão de fábrica com a possibilidade de conexão com a internet. A proposta da tomada inteligente é fornecer esse diferencial para os aparelhos de hoje. “Estamos adiantando o processo porque muitas pessoas não vão querer ou poder trocar todos os equipamentos de casa, para ter essa possibilidade de acesso à internet”, afirma.


Caique Rocha e André Souza fazem parte da equipe de estudantes que desenvolveu a to‑ mada inteligente Smarti9 A tomada inteligente demandou investimento superior a R$100 mil, com recursos da Smarti9, para transformar em produto uma pesquisa que nasceu no laboratório de Engenharia da universidade. À frente desse projeto estão outros dois ex-alunos da instituição. Mestre em Engenharia Elétrica, engenheiro de telecomunicações e administrador de empresas, Diogo Fernandes e o também administrador, que comanda especificamente a gestão, Fernando Rezende. “Essa oportunidade que o CRIT/UFLA nos dá é o que possibilita fazer o elo entre academia e sociedade, por meio do desenvolvimento de produtos inovadores”, avalia o engenheiro empresário que projeta retorno do investimento em 18 meses. Além da tomada inteligente, a empresa desenvolve softwares e hardwares para empresas da região e atende a gigantes do mercado nacional como Cemig e Embraer. 29


LEGISLAÇÃO

Engenheiros peritos podem ser penalizados em caso de acidentes

Luciana Sampaio Moreira

epois dos holofotes, depoimentos emocionados e repercussão internacional, o rompimento da barragem de Fundão, localizada no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 quilômetros da cidade história mineira de Mariana, se transformou em case para estudo de engenheiros que atuam no segmento de perícia e auditoria da área de Meio Ambiente. O empreendimento é controlado pela Samarco Mineração S.A, em parceria com a Vale S.A e a anglo-australiana BHP Billiton.

D

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Marcelo Kokke, mestre e doutor em Direito pela PUC Minas e procurador federal da AGU, junto ao IBAMA.

A construção dessas estruturas que podem ser usadas para acumular água, disposição final ou temporária de resíduos, ou mesmo para acúmulo de detritos industriais, deve seguir o que estabelece a Política Nacional de Barragens (Lei nº12.334/2010), com no mínimo 15 metros de altura do fundo até a crista e capacidade de armazenamento de 3 milhões de metros cúbicos. Pela própria natureza do projeto, o texto prevê, ainda, a definição do dano potencial associado.

“No Brasil, os órgãos públicos responsáveis trabalham com base nas informações de laudos técnicos fornecidos por empresas externas, por profissional com registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) e especialista nessa área, para avaliar o risco potencial dessas estruturas”, ressalta. Esse processo é repetido anualmente, para a renovação da licença de operação, concedida pela Fundação do Estado de Meio Ambiente (FEAM) e Conselho de Política Ambiental (COPAM).

A licença ambiental para iniciar a operação é concedida após a análise técnica da estrutura pronta. Segundo o mestre e doutor em Direito pela PUC Minas, procurador federal da Advocacia Geral da União (AGU) junto ao IBAMA, professor de Direito da Escola Superior Dom Helder Câmara e de pós-graduação da PUCMinas, Marcelo Kokke, o problema desse sistema é o método adotado para fiscalizar as barragens no País.

PhD em Mineração e Prevenção de Acidentes, a advogada Karen Alvarenga, ressalta que os danos decorrentes do rompimento da barragem Fundão são incontáveis pelos impactos ambiental, social, humano e econômico. Mortes, perdas materiais e imateriais, poluição do ar, contaminação de solo e dos recursos hídricos, danos à fauna e floral local e fechamento de empresas estão nessa lista que tem aumentado a cada dia. “No geral, as empresas têm metas de


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Karen Alvarenga, PhD em Minera‑ ção e Prevenção de Acidentes, a advogada.

produção e não gostam muito de falar em risco com as comunidades porque sabem qual o real tamanho desse problema, em suas operações”, alerta. A confecção de um mapa de risco, em Minas Gerais, seria a medida mais correta a ser adotada após o acidente de Bento Rodrigues, segundo a advogada. Mesmo porque, há mais de 40 barragens instaladas e, com elas, grandes riscos para as comunidades e o meio ambiente do entorno. Clémenceau Chiabi Saliba Júnior, presidente do IBAPE‑MG. pós‑graduado em Engenharia de Avaliações

“O engenheiro pode ser responsabilizado nesse tipo de processo, embora sejam casos extremamente raros, que dependem fundamentalmente do grau de importância de alguma falha cometida, e o profissional tem amplo direito de defesa”, explica. A título de exemplo, o novo Código de Processo Civil (CPC) estabelece que o juiz pode ceifar os honorários periciais caso o trabalho não atenda aos objetivos propostas. Em outra esfera, caso a falha seja ética, o engenheiro poderá ser penalizado pelo CREA. Para o dirigente, a capacitação técnica é essencial para o bom resultado de um trabalho de perícia, e isso conta como ponto a favor do profissional, para a elucidação de questões técnicas pelo poder judiciário. “O IBAPE possui a certificação profissional, criada com o objetivo de sinalizar a credibilidade do profissional que atua na avaliação de imóveis e empreendimentos de Engenharia. O documento serve como carta de apresentação e atesta uma série de quesitos, como formação acadêmica, experiência e conhecimento especializado”, completa. O Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (IBAPE-MG) é associado ao IBAPE Nacional, fundado em 1979, e atua como entidade de classe que congrega os profissionais que atuam na atividade de avaliações e perícias de Engenharia.

e Perícias

O engenheiro civil, mestre em Engenharia Mecânica, pós-graduado em Engenharia de Avaliações e Perícias e presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (IBAPE-MG), Clémenceau Chiabi Saliba Júnior, os profissionais associados devem fundamentar as informações solicitadas em consonância com as normas técnicas vigentes, por meio de ensaios laboratoriais e documentos bilaterais. 32

Entre os pilares do trabalho desenvolvido estão a promoção da produção e difusão do conhecimento científico, para a melhoria da capacitação técnica de seus associados, por meio da realização de cursos de pós-graduação e extensão de diversos temas; congressos, seminários, simpósios, encontros técnicos e elaboração de Normas Técnicas, além da atuação institucional relativa à defesa dos legítimos interesses dos profissionais do segmento. Atuam em Minas Gerais, cerca de um mil profissionais. A maior parte dos projetos são das áreas de avaliações de bens ou relacionadas à construção civil.



acidente ocorrido em Mariana (MG) deverá se constituir em um divisor de águas entre a adoção de barragens de rejeitos convencionais e a redução dessa solução nos projetos a serem desenvolvidos de agora em diante.

O

Ao que tudo indica, isso já é algo claro para as empresas que atuam na área de desenvolvimento de projetos para mineração. Uma delas é a Tecnomin. O diretor geral, Jackson Oliveira Bragança, afirma que é de suma importância que seja divulgado para todos os profissionais que atuam no segmento mineral que há soluções técnicas para eliminar o uso de barragens de rejeito,“um ativo nem sempre seguro, que pode provocar degradação do meio ambiente e que está sujeito a riscos de toda natureza”, enfatiza. Depois do ocorrido, é necessário conscientizar todas as mineradores para que, nos novos projetos, sejam exaustivamente estudadas a adoção de soluções alternativas.“Para aquelas empresas que já estão em operação, é preciso estudar formas para desativar essas estruturas”, recomenda. Entre as alternativas existentes, ele cita o desaguamento das frações grosseiras do rejeito usando peneiras desaguadoras, filtragem de frações finais do rejeito com filtros 34

prensa, filtros de correia ou cerâmicos, utilização de espessadores de pasta ou, ainda, a codisposição de estéril da mina e rejeito em polpa. Dessa forma, ao invés de todo o rejeito ser direcionado para barragens, pode ser adotado um método de disposição a seco – dry stacking – para que esse material seja depositado como sólido, o que reduz a degradação do meio ambiente, reduz riscos e maximiza a recuperação da água e, consequentemente, o consumo desse importante recurso natural sem uso anterior. “A economia com a eliminação de barragens de rejeitos deve ser estudada caso a caso, porém, mesmo que essa solução seja, a princípio, a mais viável economicamente, a adoção dessa alternativa deve ser ponderada levando-se em consideração a degradação ambiental e os riscos dessa operação”, afirma Jackson Bragança. Outros temas importantes são a definição da rota de processo e a seleção dos equipamentos que serão usados mediante testes de laboratório e pilotos. Além disso, a disposição a seco também incluem uma série de estudos multidisciplinares que envolvem geotecnia, hidrologia, reologia, mecânica dos solos e meio ambiente, para garantir a estabilidade das pilhas e sua drenagem.

foto : http://www.pimentadeavila.com.br/

Eliminação de barragens de rejeitos em projetos de mineração

Tudo isso é possível porque, nos últimos anos, tem ocorrido um processo intenso de avanço tecnológico nesse segmento, em todo o mundo. As empresas fabricantes de filtros e espessadores encabeçam essa lista que inclui, também, novos floculantes, que tornam mais viáveis a utilização desses equipamentos. “Com as exigências cada vez mais rigorosas dos órgãos reguladores de meio ambiente para o licenciamento de projetos de mineração, o custo de aquisição de terras, a escassez de recursos hídricos e os riscos inerentes à utilização, será premente e quase inevitável a adoção de etapas de desaguamento de rejeitos nas rotas de processo e sua avaliação nos estudos econômicos dos projetos futuros de exploração mineral”, explica o empresário. Um exemplo é o projeto Cobre Boa Esperança, em Tucumã, no Pará, onde a Mineração Caraíba, mediante estudos elaborados pela Tecnomin, adotou a solução de uso de filtros prensa para eliminar a necessidade da construção de barragens. Está prevista uma economia de R$ 150 milhões, considerando-se que, devido ao terreno plano, a barragem originalmente seria do tipo pond, que demandaria um investimento considerável.



MERCADO DE TRABALHO

Com poucas vagas disponíveis, engenheiros devem exercitar a flexibilidade

Luciana Sampaio Moreira

Com taxa de desemprego de 7,6% em janeiro, a maior desde 2009, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seis capitais, entre as quais Belo Horizonte, e expectativa de repetir o crescimento negativo do último ano, 2016 não começa com grandes perspectivas para os profissionais. Postos de trabalho de diversas áreas foram eliminados em função da crise econômica que tem exigido das empresas uma gestão mais austera. Com isso, a ocupação recuou 1% ante dezembro (menos 230 mil pessoas) e caiu 2,7% ante janeiro de 2015 (menos 643 mil). Segundo o mesmo estudo, em relação a janeiro do ano passado, a indústria eliminou 298 mil postos de trabalho, uma queda de 8,5%, enquanto comércio, construção e serviços prestados a empresas, têm relativa estabilidade. Manter a motivação em alta é fundamental para atravessar bem esse momento de crise. Segundo o diretor do Grupo Nortearh, Carlos Alberto Caram Farah, toda a cadeia produtiva tem sido afetada pelo cenário de crise econômica. “Temos contratos com empresas de diversos segmentos para contratação de profissionais estratégicos.Aqueles que não foram paralisados estão reduzidos. Até 2015, o mercado ainda estava se movimentando”, constata. Nessas temporadas, tem aumentado o número de currículos de profissionais, a exemplo de engenheiros. Nessa lista 36

Carlos Alberto Caram Farah, diretor do Grupo Nortearh

estão desde os profissionais em início de carreira, que têm experimentado a redução de oferta de vagas nos famosos programas trainee, até pessoas de nível sênior, com qualificação superior e experiência estratégica para as organizações de diferentes setores. “Nas décadas de 1980 e 1990, o mercado estava recessivo para a área de Engenharia. O cenário mudou entre os anos 2000 e 2010. Mas a situação está diferente”, afirma. Tanto para quem tem um currículo, como para quem sonhou em ingressar no mercado de trabalho em um momento promissor. Essa é uma boa hora para exercitar a flexibilidade.


Segundo Caram, a formação pragmática dos engenheiros pode complicar esse processo. No entanto, o momento requer criatividade para encontrar alternativas.Apostar em qualificação técnica pode ser uma opção interessante para se preparar para futuros desafios, quando a situação de crise for

Heloísa Gontijo,

controlada.

diretora RH Stato, filial BH

“Muitas vezes, a condição psicológica do profissional é um problema”, avalia. Serviços como coaching ou mentoring podem contribuir para que a pessoa se mantenha em equilíbrio, para tomar as melhores decisões, ou manter-se em condições de

As oportunidades para os profissionais da área são raras e o

realizar o trabalho", afirma.

processo seletivo ficou mais concorrido. “É preciso reavaliar o currículo e incluir diferenciais”, explica.

Diretora de empresa de consultoria em RH Stato Regional Belo Horizonte, Heloísa Gontijo, lembra que a oferta de en-

Para quem trabalha como autônomo, com projetos de con-

genheiros no mercado de trabalho está cada vez maior.“Se-

sultoria, mesmo que seja em obras de amigos e parentes, pode

tores como construção civil, mineração e siderurgia, estão

ser um segmento interessante. Segundo a executiva, há muitos

praticamente estagnados em função da crise. Por outro lado,

engenheiros que estão “percorrendo” projetos de amigos

o governo também não anuncia novas obras”, constata.

para solucionar problemas. 37


MERCADO DE TRABALHO

Jaqueline Silveira,psicóloga e professora de MBA na área de Gestão de Pessoas

Existe o desejável e o possível. Ao avaliar os conhecimentos adquiridos, o profissional consegue encontrar novas formas de usá‑los e manter‑se em atividade

Nesse caso, a indicação é por meio do tradicional “boca a boca”, ou seja, quem aprova a qualidade do serviço prestado recomenda. Manter em dia a agenda de contatos pode ser um facilitador para divulgar essa oferta. A economia é cíclica e, da mesma forma como os tempos de crescimento não são eternos, as crises também não são para sempre. Como 2016 é um ano de Olimpíadas e, logo após, eleições municipais, os negócios devem ficar em compasso de espera. Para a psicóloga e professora de MBA na área de Gestão de Pessoas, Jaqueline Silveira, embora o cenário econômico seja complicado, há nichos que conquistam fatias de mercado interessantes, quando os grandes players reduzem sua presença e a concorrência fica menos acirrada. Oportunidades em pequenas empresas, mesmo com salários menores, inicialmente, são uma alternativa a ser considerada. “Existe o desejável e o possível. Ao avaliar os conhecimentos adquiridos, o profissional consegue

encontrar novas formas de usá-los e manter-se em atividade”, explica a psicóloga. Outra hipótese a ser considerada são as vagas para engenheiro em cidades do interior ou em outros Estados, onde há uma demanda reprimida por esses profissionais. Se há a disponibilidade para mudança de residência, essa é uma oportunidade que deve ser acompanhada. “Se no período anterior, o profissional podia escolher, neste é preciso ser flexível”, recomenda. No caso da Engenharia, os profissionais da área têm sido desafiados com menores salários e condições diferentes de trabalho. “As vagas para esses profissionais foram reduzidas, mas é preciso aguardar o que vai acontecer nos próximos meses e definir os rumos da carreira”, alerta. O importante, segundo Jaqueline Silveira, é manter a qualidade do trabalho executado, o comprometimento com o projeto e a motivação para evitar problemas de saúde e desgastes desnecessários com chefes, colegas de setor, subordinados ou familiares.



GRADUAÇÃO

Futuro incerto para os novos profissionais brasileiros Massificação da oferta de cursos e metodologias de ensino nem sempre garantem a qualidade da graduação Luciana Sampaio Moreira De um lado, o aumento da oferta de vagas para o ensino superior. De outro, uma política pública de financiamento para aqueles que sonham em ter um diploma de curso universitário. Foi com essa estratégia que o governo brasileiro conseguiu melhorar os seus indicadores de acesso à graduação. No entanto, o que parece ser uma solução perfeita, está se transformando em problema. Sim, a “Pátria Educadora” pede socorro para não colocar no mercado milhares de profissionais de todas as áreas, incluindo a Engenharia, sem a qualificação mínima necessária para contribuir efetivamente para o projeto de desenvolvimento nacional. Esse é o alerta que o engenheiro civil, professor e ex-diretor da Escola de Engenharia da Universidade de Minas 40

Gerais (UFMG), mestre, doutor e pós-doutor, respectivamente, pela COOPE-UFRJ, M.S.U e M.I.T./USA, e ex-executivo do Grupo Pitágoras/Kroton, Aécio Freitas Lira, tem feito por onde passa. Após uma carreira de 45 anos dedicada à docência e a implantação de projetos de educação, ele pretende dedicar-se, nos próximos anos, à tarefa de tentar “consertar” os efeitos danosos da massificação de oferta de cursos de Engenharia no Brasil. Em números, o processo em questão fica mais claro. As faculdades passaram de 770 cursos, em 2001, para 3 mil, atualmente. De 18 mil novos profissionais em 2001, o País graduou 80 mil, em 2015. No entanto, o resultado do último Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), que analisa os graduados logo após a formatura,


Aécio Freitas Lira, engenheiro civil, professor e ex‑diretor da Es‑ cola de Engenharia da UFMG, mestre, doutor e pós‑doutor, res‑ pectivamente, pela COOPE‑UFRJ, M.S.U e M.I.T./USA

Dessa forma, a nota final aumenta e, com ela, a impressão de que o País está no rumo certo. Mas a realidade é bem diferente. As outras 1.200 escolas que não foram avaliadas na última edição do ENADE, ainda, não têm dados concluintes. “Delas, 1 mil são péssimas”, prevê. está abaixo do mínimo necessário. Do total de escolas de Engenharia, apenas 1.814 foram avaliadas (60% do total). Desse percentual, 80% receberam notas entre 1 e 3, consideradas baixas. Na prática, o que deveria ser uma pontuação relativa à formação do novo profissional, acabou se tornando um índice que mede a performance das instituições. “O resultado do ENADE foi incorporado ao Conceito Preliminar de Curso (CPC) que dilui o mau resultado obtido pelos alunos, porque inclui infraestrutura (leia-se localização física e estrutura interna) e também titulação dos professores”, afirma Aécio Lira.

A exemplo do que já é feito pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que tem o seu “exame de Ordem”, e de um movimento similar ao que está em curso na formação em Medicina, o professor acredita que a garantia da qualidade do ensino de Engenharia pode ser assegurada por meio de uma avaliação dos formandos, o que daria origem a um selo de certificação para as escolas. “Apresentei essa proposta para o CREA-MG e para a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), que representa o setor produtivo estadual”, adianta. A ideia é fazer um teste piloto para avaliar

a qualidade da formação dos alunos e, consequentemente, das escolas. A proposta não termina aí. Seguindo o exemplo do que foi feito na Índia, que há 15 anos experimentou os efeitos nefastos da massificação da oferta de vagas para a graduação em Engenharia, ele sugere a criação de uma força-tarefa, composta por representantes de instituições de ensino de referência, para recuperar as instituições de ensino que estão abaixo do padrão mínimo de qualidade ne formação de futuros profissionais da área, a partir de propostas, a exemplo de formação de professores e melhoria da infraestrutura física. “Não se trata de uma visita do MEC para avaliar as condições antes de aprovar um curso, mas de uma consultoria técnica minuciosa. Hoje, o retorno das instituições de ensino que se beneficiaram com essa receita é muito pequeno, ou quase nulo”, enfatiza. 41


GRADUAÇÃO

São justamente as instituições que recebem notas baixas no ENADE/CPC em cursos presen‑ ci ai s que estão expandindo suas atividades para os programas de Ensino a Distância (EAD).

EAD Como tudo que é ruim pode piorar, são justamente as instituições que recebem notas baixas no ENADE/CPC em cursos presenciais que estão expandindo suas atividades para os programas de Ensino a Distância (EAD). Com preços mais competitivos que podem chegar a 1/3 do valor do tradicional, e uma série de argumentos e diferenciais capazes de atrair a atenção de estudantes que já não se adequam mais ao modelo clássico de aula, as escolas oferecem vagas sem a infraestrutura necessária de laboratórios, por exemplo. O sistema de avaliações também tem qualidade questionável. “Uma análise de qualidade só será feita na próxima década. Até lá, não haverá qualquer referência do que essas instituições oferecem de fato”, argumenta sem esconder a apreensão. Para Lira, em se tratando de formação de engenheiros, a EAD não pode ser entendida como oferta de certi42

ficado, mas parte da metodologia e da sala de aula. Nesse caso, a distância pode ser do professor, mas não do aluno. “Tenho alertado os órgãos fiscalizadores e legisladores, como a Associação Brasileira de Ensino em Engenharia (ABENGE), Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA) e, também, os Conselhos Regionais, mas o que me deixa pasmo é que não há qualquer perspectiva sobre o cenário futuro desse processo”, enfatiza Lira. O desenvolvimento de formas de avaliação pode contribuir, também, para o controle de uma tendência mercadológica que, no caso dos cursos de Engenharia, cria nomenclaturas as mais variadas para a graduação. “Como os Conselhos lidam com essa infinidade de novos cursos para fornecer a carteira necessária para exercer a profissão”, observa. Serviço ou produto? De prestação de um serviço essencial para o desenvolvimento nacional, a educação tem sido vista como ne-

gócio. Com poucos players “no páreo”, demanda reprimida em todas as regiões do País e parceria com o governo, que já entregou à iniciativa privada 75% da graduação nacional, esse é um ramo que tem experimentado trajetória ascendente. “As universidades recebem estudantes que têm uma formação fraca, desde o ensino básico. O vestibular é simbólico e qualquer um “passa”. A universidade tem que recuperar esse aluno, mas os programas de inclusão não existem porque significam investimentos”, pontua o professor. O rigor deve ser “dosado” para que os estudantes não migrem para instituições mais “liberais”. A Associação Brasileira de Ensino de Engenharia (ABENGE) é uma das instituições que atua para aprimorar a formação nacional, nessa área. O professor titular do Departamento de Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora, Valderli Fava de Oliveira, é o atual diretor de Comunicação da entidade.


Valderli Fava de Oliveira, professor titular do Departamento de Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia da UFJ e diretor de Comunicação da entidade.

Além da promoção de eventos nacionais anuais, como o Fórum de Dirigentes de Instituições de Educação Superior, no mês de maio, e do Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia (Cobenge), em setembro, e de outros regionais e setoriais relacionados a essa importante área, a entidade também tem uma publicação científica “Revista do Ensino de Engenharia”, com duas edições anuais, para abordar resultados de pesquisas nos segmentos de formação e exercício profissional. A atuação junto a diversos organismos do Distrito Federal que estão relacionados à formação em Engenharia, também, tem sido bem-sucedida. Em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), a entidade desenvolveu duas propostas de programas que estão em tramitação. O primeiro é para a capacitação de docentes da área Tecnológica e de Engenharia, por meio de mestrado profissional na área de Educação em Engenharia. O outro, não menos importante, é a implementação de cursos de Engenharia EAD pela Universidade Aberta do Brasil (UAB) em parceria com a UNIVESP (SP) e CEDERJ (RJ).

A ABENGE também faz gestão junto às diversas comissões do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) para o aprimoramento dos sistemas de avaliação de cursos e do ENADE para a Engenharia. A participação da entidade no Conselho Nacional de Educação (CNE) e no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA) segue a mesma linha, segundo o dirigente.

lhorar continuamente os cursos. De outro lado, há uma limitação em termos de recursos para a implantação da infraestrutura necessária ao funcionamento dos cursos, tanto nas públicas quanto nas privadas. Essa infraestrutura é cara e necessita de recursos públicos que devem ser destinados através de programas de fomento como ocorre nos países mais desenvolvidos”, observa Vanderli Oliveira.

Por meio de parcerias internacionais com a Associação Iberoamericana de Instituições de Educação em Engenharia (ASIBEI), amplia o foco de atuação da ABENGE. Há, ainda, um projeto em desenvolvimento com a Comunidade Europeia para instalação de laboratórios virtuais com financiamento do Programa Erasmus.

Enquanto a falta de políticas de fomento de desenvolvimento tecnológico é um problema, há uma base instalada capaz de atender à expansão dos cursos de Engenharia. Para o dirigente, a expansão deve ser baseada em sistemas adequados de infraestrutura e de financiamento e, ainda, de políticas públicas.

Entre os projetos já concretizados está o Observatório de Educação da Engenharia, iniciativa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), bem como as atuais diretrizes curriculares dos cursos dessa área (Resolução CNE/CES 11/2002). “Não se pode negar que, de maneira geral, houve melhorias na formação, principalmente em decorrência das avaliações e da preocupação em me-

“Deve-se também procurar entender que o perfil profissional do engenheiro é talhado não só para o exercício direto (como empregado) das atividades objeto da modalidade de Engenharia cursada. Esse perfil profissional é capaz de exercer com propriedade as atividades na interface da sua modalidade de formação, seja na gestão ou no empreendimento de negócios”, ressalta.


GRADUAÇÃO

Já participei de diversas discussões e entendo que o sistema CONFEA/CREAS deveria aplicar uma “prova de ordem”. Esclareço que a ABENGE não tomou posição quanto a esta questão mas, como é de sua tradição, apoiará qualquer iniciativa que profissional dos engenheiros.

Outro detalhe é que esse perfil profissional é fundamental em postos de gestão e tomada de decisão sobre políticas públicas. “Há pouquíssimos engenheiros exercendo estas atividades. O Brasil só teve um presidente engenheiro, Itamar Franco, assim mesmo em mandato tampão. Nos países que desenvolveram ultimamente como Japão, Coréia e China, há Engenheiros em diversos postos de tomada de decisão”, reflete. O Politburo da China tem tido predominância de engenheiros nos últimos anos. No Brasil, se hoje for levado um problema a Brasília, há uma grande chance de se ter como solução uma lei, visto que, há um predomínio de egressos de áreas afins ao Direito. “Não que existam advogados em excesso, o problema é a falta de engenheiros. Caso houvesse um equilíbrio, no mínimo a lei seria acompanhada de projetos de solução com base na Engenharia”, pondera o dirigente. 44

Novos cursos Atualmente, uma instituição que não for Universidade precisa de uma autorização do MEC para iniciar um curso. O documento só é concedido após aprovação em processo de avaliação realizado pelo INEP. De todo modo, um curso novo (de qualquer instituição) só pode colar grau se tiver o reconhecimento do Ministério. A portaria de reconhecimento só é emitida pelo MEC se o curso for aprovado em processo de avaliação “in loco” realizado pelo INEP, realizada por pares de avaliadores “ad hoc” devidamente capacitados pela entidade para esse fim. Atualmente, o sistema CONFEA/ CREAS concede atribuições profissionais aos egressos dos cursos de Engenharia que tenham a portaria de reconhecimento ou de renovação de reconhecimento, e que tenham cumprido as exigências do Sistema em termos de documentação depositada no Conselho da sua região de abrangência.

possibilite a melhoria da formação e do exercício

“Já participei de diversas discussões e entendo que o sistema CONFEA/CREAS deveria aplicar uma “prova de ordem”. Esclareço que a ABENGE não tomou posição quanto a esta questão mas, como é de sua tradição, apoiará qualquer iniciativa que possibilite a melhoria da formação e do exercício profissional dos engenheiros”, adianta. A aplicação de uma prova pode contribuir bastante para a melhoria dos cursos, visto que, não bastará diplomar os egressos. As instituições terão que se preocupar com a pontuação desses formandos também em uma prova para a habilitação profissional. O problema estaria na operacionalização, pois a Engenharia tem pelo menos 60 modalidades distintas que ainda se desdobram em mais de 100 ênfases (antigas habilitações) o que totaliza próximo de 200 diplomas distintos de engenheiro. O sistema CONFEA/CREAS, hoje, acomodam esses diferentes diplomas em 93 títulos (Resolução 473/02 CONFEA - Última Atualização: 10/07/2015).


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GRADUAÇÃO

A acreditação/certificação é mais complicada e poderia gerar conflitos de interesses, de acordo com o dirigente. “Como ficaria o caso dos não acreditados, sendo que possuem portaria de reconhecimento?”, questiona. Essa mudança só seria aprovada mediante alteração da lei. Para ele, a melhor opção é a aplicação de prova ao egresso, mesmo assim, após amplo debate com todas as partes interessadas do sistema de formação profissional.

uma forma não presencial. “O que é necessário para que

No caso dos cursos EAD, se bem implantados, não há problemas, diz Oliveira. Ele afirma que os recursos metodológicos e tecnológicos permitem que, hoje, grande parte das atividades de formação possam ser desenvolvidas de

Nesse grupo estão a experimentação laboratorial, que

seja garantida a qualidade é a capacitação do corpo docente e tutorial em termos metodológicos e de uso da tecnologia disponível, assim como a infraestrutura para assegurar a qualidade nas atividades presenciais, visto que, um curso de Engenharia não pode ser totalmente EAD”, alerta.

não pode ser executada por meio de simulação. Sem essas práticas, corre o risco de se ter um curso de Engenharia com formação insuficiente.

EAD ganha espaço como metodologia educacional

A

necessidade de tornar o ambiente educacional mais

profissionais para a instalação de uma faculdade de Engenha‑

atraente para os estudantes é, apenas, um entre os

ria de qualidade é um ponto a ser considerado.

muitos fatores que explicam o sucesso da EAD no

Brasil. Seja como tecnologia principal, bastante difundida nos cursos de curta e média duração, ou como metodologia com‑ plementar, essa modalidade também tem ganho espaço nas graduações, incluindo as Engenharias. O engenheiro eletricista, doutor em Engenharia Elétrica‑Auto‑

46

“Como qualquer outro curso ofertado na modalidade EAD, existem grandes vantagens. Vale dizer que a EAD não busca substituir o ensino presencial, mas apenas provê‑lo àqueles que, por algum motivo, estariam alijados definitivamente da possibilidade de realizar um curso superior de qualidade”, justifica.

mação pela FFEC da UNICAMP, presidente do Conselho Cientí‑

Mesmo que haja a necessidade de que os alunos visitem fre‑

fico da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) e

quentemente os polos de apoio presencial para a realização

diretor acadêmico da Universidade Virtual do Estado de São

de atividades de laboratório e de avaliações, geralmente se‑

Paulo (UNIVESP), Waldomiro Loyolla, destaca que a socializa‑

manal ou quinzenalmente, ou mesmo em certos períodos

ção da oferta de ensino superior para regiões onde dificil‑

predeterminados, isto é muito melhor do que o aluno não

mente se teria condições físicas, financeiras e de competências

ter a oportunidade de fazer o curso ou ter que deslocar‑se


Parte importante de um projeto de desenvolvimento nacional, a formação de engenheiros ainda está aquém da demanda do mercado nacional. Há um imenso passivo em obras de infraestrutura urbana, modais de transporte, abastecimento de água (qualitativo e quantitativo) e energias, que demandam a atuação dos profissionais da área. “Se levarmos em conta o que precisamos desenvolver, teremos que dobrar a quantidade de engenheiros que se formam atualmente. Com isso conclui-se que não houve expansão indiscriminada, no máximo não devidamente fomentada”, analisa.

seis anos, para adquirir uma experiência mediana. Para

O período de formação de um engenheiro é de cinco a

com desenvolvimento tecnológico superior”, conclui.

atuar plenamente, são necessários pelo menos dez anos de atividades. Se a proposta do País é chegar a um patamar de desenvolvimento superior em 2025, esse movimento deve iniciar-se imediatamente, para colocar no mercado mais de 100 mil profissionais a cada ano, em um patamar superior de qualidade. “O contrário significa continuar a ser um País dependente em termos tecnológicos e condenado a ser fornecedor de matéria-prima de baixo valor agregado para os países

Waldomiro Loyolla, engenheiro eletricista, doutor em Engenharia Elétrica-Automação pela FFEC da UNICAMP, presidente do Conselho Científico da ABED e diretor acadêmico da UNIVESP.

todas as noites para uma localidade próxima, onde exista

entre outras. Mais recentemente, também, as instituições

uma faculdade.

públicas têm ofertado programas, como a Engenharia Am‑ biental da UFSCar, as Engenharias de Computação e de Pro‑

A flexibilidade temporal é outro fator importante já que é o aluno que organiza a sua agenda de estudos. Da mesma

dução da UNIVESP e a Engenharia de Produção do CEDERJ, em cooperação com as universidades públicas do Estado do

forma, as idas aos polos de apoio, também, podem ser agen‑

Rio de Janeiro. “O alto custo para montar, nos polos de apoio

dadas em horários alternativos. O dirigente ressalta que o

presencial, os diferentes laboratórios exigidos para essas for‑

uso dessa metodologia permite agregar maior valor ao

mações é um fator que ainda inibe os investidores”, reco‑

grupo de docentes que poderá dar aulas de qualquer lugar

nhece.

do País ou do mundo. O sucesso da EAD está na disciplina do aluno.

Sobre a polêmica em relação à oferta de cursos de Engenha‑ ria por EAD, o dirigente afirma que a qualidade é determi‑

Nesse cenário, o crescimento do número de cursos de Enge‑

nada pela instituição responsável e não pela modalidade de

nharia na modalidade EAD permanece lento. Na maior parte,

ensino. O que falta é desenvolver modernas metodologias e

são oferecidos por instituições privadas nas modalidades

aplicativos que permitam que os laboratórios sejam opera‑

civil, elétrica, mecânica, computação, produção, ambiental,

dos via web.

47


JOVEM ENGENHEIRO | JOSUÉ COELHO DO AMARAL JÚNIOR

Na sala de aula, ele se prepara para a docência

ngenheiro civil e mestre em Engenharia de Materiais pelo Centro Federal de Ensino Tecnológico de Minas Gerais (CEFET-MG), Josué Coelho do Amaral Júnior, 25 anos, concluiu a graduação no segundo semestre de 2013, mas não quis ficar longe da sala de aula.

E

Depois do mestrado, que deve ser concluído em abril deste ano, e ao qual se dedica integralmente na condição de bolsista, ele já planeja seguir o caminho do doutorado e consolidar a sua titulação para incrementar a qualificação profissional na área de desenvolvimento de materiais para a indústria da construção civil. Para tanto, o engenheiro investe na própria capacitação técnica. “Acre48

dito que conhecimento nunca é demais e sempre tem algo novo para aprender. Além disso, é muito gratificante contribuir para o desenvolvimento tecnológico de uma área importante como essa”, afirma. Mas o grande objetivo de Josué Amaral Júnior é seguir a carreira de professor pesquisador de uma universidade federal. Sim, a sala de aula é uma possibilidade a ser considerada pelos engenheiros. Inclusive os recém-formados, como ele. “No ano em que me formei a crise econômica estava no início e minhas expectativas não eram boas. Hoje acredito que vamos ter uma melhora no cenário da Engenharia já no próximo ano”, projeta. Gosto pela carreira, mesmo nos períodos de “vacas magras”, flexibilidade para tomar decisões e

mudar de rumos, garra e vontade de aprender, são algumas competências que fazem a diferença para aqueles que pretendem se dedicar à transmissão de conhecimento e ao importante processo de formação de novos profissionais para o mercado brasileiro. A aposta na capacitação foi o caminho escolhido para aguardar a retomada do mercado de seu setor de atuação, paralisado pelas incertezas da economia nacional. Embora não possa trabalhar neste momento, o engenheiro tem se dedicado a adquirir conhecimentos que, de alguma forma, serão úteis nos futuros desafios profissionais, na sala de aula ou no mercado. A escolha da carreira não foi difícil. Desde a infância, Josué Amaral Júnior se interessa pela Engenharia Civil e pelas construções. “Sempre


gostei de construir e desconstruir o que fosse possível”, comenta. Como outros jovens que decidiram abraçar a atividade, o bom cenário econômico, que marcou o ano de 2008, para os profissionais da área e os salários pagos, naquele momento, também pesaram nessa importante escolha. O período da faculdade foi de experiências. O engenheiro fez dois estágios. No primeiro, ele ficou por seis meses em uma obra da construtora PHV. Depois, passou dois anos no escritório de proje-

Acredito que conhecimento nunca é demais e sempre tem algo novo para aprender. Além disso, é muito gratifi‑ cante contribuir para o desenvolvimento tecnológico de uma área importante como essa.

tos SNC Lavalin, com a incumbência de fazer os cálculos estruturais em concreto armado. “O que levo desses dois estágios é a certeza de que na Engenharia é preciso estar em constante processo de desenvolvimento profissional. As tecnologias aplicadas em qualquer área mudam muito e isso tem acontecido cada vez mais rápido”, constata.

nhar o desenvolvimento de sua

Além dos cursos de pós-graduação, ele também tem se dedicado ao estudo de línguas estrangeiras, o que é primordial para acompa-

divertir. Nas horas de lazer – que

área de atuação no mundo. Afinal, as pesquisas são feitas em diversos países e os resultados podem se transformar em soluções para problemas brasileiros, novos projetos de P&D ou contribuições preciosas para outros, em curso. Como os jovens de sua geração, Josué Júnior também gosta de se têm sido poucas – ele assiste filmes, sai com amigos e joga videogames. 49


MESTRES DA ENGENHARIA | MARCELO DE OLIVEIRA MARQUES

De aluno a diretor do Inatel, uma trajetória em projetos de educação

o dia 31 de março, encerra-se a extensa programação do Ano de Comemorações do Cinquentenário de atividades do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel). No início do mês, a instituição que tem sede em Santa Rita do Sapucaí, na região sul do Estado, recebeu uma bela homenagem da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Foi lançada, também, uma edição atualizada do livro “Inatel – Sonho e Realidade” que relata a história da escola.

N

À frente das comemorações do cinquentenário está um ex-aluno da instituição que, desde 2015, ocupa o cargo de diretor. Marcelo de Oliveira Marques, 48 anos, ingressou na área de projetos educacionais e, a partir daí, o interesse em experimentar a carreira de professor no Instituto. “Iniciei no Inatel como engenheiro responsável pela área de educação continuada, para oferecer ao mercado nacional cursos de extensão acadêmica e formação profissional. As características da minha atuação, no setor de educação empresarial, me aproximaram ainda mais da docência e das relações empresa/escola”, lembra. Logo depois da formatura, ele retornou para a sala de aula na condição de professor. O Inatel foi o primeiro emprego após a graduação e, até os dias atuais, a única instituição à 50

qual tem se dedicado. Com 20 anos de experiência, ele esteve sempre focado nas disciplinas profissionalizantes e específicas das áreas de sistemas de transmissão e redes de comunicação de dados. Marcelo Marques, afirma que o conhecimento que ele adquiriu ao lidar com o ambiente corporativo, tem sido bastante útil na sua trajetória como gestor.“Essas experiências me permitiram, junto com os demais colegas da instituição, buscar um caminho de desenvolvimento contínuo para o Inatel, aproximando-o do mercado nacional e internacional, criando oportunidades de parcerias bem-sucedidas que colocaram o Inatel em posição de destaque, pela modernidade e sintonia com as demandas nacionais”, explica. Nesse trabalho, a experiência adquirida na sala de aula, por meio do contato direto com os alunos, também, é fundamental. O professor sempre se aproximou dos alunos compreendendo as dificuldades do processo de ensinoaprendizagem. Para tanto, dedicou-se a fazer com que as aula, os conteúdos e explicações fossem apresentados da melhor forma. “Eu sempre busquei o maior desempenho dos meus alunos e o meu também”, enfatiza.


foto: Ricardo Benichio̲Inatel

Na memória Sem dúvida, ocupar posição de destaque nas comemorações do Cinquentenário do Inatel, na condição de ex-aluno que chegou à diretoria da instituição, é algo para lembrar por toda a vida.“Compartilho essa homenagem com todos os que um dia sonharam em trazer para a pequena Santa Rita do Sapucaí uma faculdade de Engenharia, e com aqueles que apoiaram a consecução dessa história” adianta. Mas a experiência como professor também tem seus momentos especiais. Certa vez, Marques encontrou-se com um ex-aluno que se tornou um empresário de sucesso no ramo de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). “Ele me disse que a forma como eu apresentava os conteúdos na sala de aula foi o modelo adotado para a gestão da própria carreira. São testemunhos que envaidecem, mas multiplicam meu compromisso como professor”, reafirma. Planos para o futuro Concebido inicialmente como escola de telecomunicações, o Inatel tem sete cursos dos quais quatro são graduações em Engenharia (Telecomunicações, Computação, Controle

e Automação e Biomédica); três de graduação em Tecnologia (Gestão de Telecomunicações, Automação Industrial e Redes) e, ainda, o mestrado em Telecomunicações. No total, são 1800 alunos. Entre as novidades da instituição está o Centro de Referência em Radiocomunicações, implantado com apoio do governo federal.“Esse projeto vai apoiar o País na definição de políticas, na realização de pesquisas e no desenvolvimento de tecnologias que serão, em breve, os principais vetores de desenvolvimento para diversas áreas da economia”, ressalta. Entre os projetos em curso está a pesquisa sobre a padronização da tecnologia 5G e de novos padrões para a “Internet do Futuro”, com a “Internet das Coisas”. O Inatel, também, recebeu da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) a autorização para atuar como uma de suas unidades para oferecer, às empresas nacionais e multinacionais instaladas no Brasil, um conjunto de serviços tecnológicos e de pesquisas direcionados para a inovação. Em contrapartida, esses projetos que contribuem de forma decisiva para a formação dos estudantes abrem oportunidades de estágios e bolsas. 51


ARTIGO

MARIANA, PARIS E WOLFSBURGO: INDIGNAÇÃO

Todos têm direito ao meio ambiente ecolo-

Muito antes de presenciarmos a tragédia socioambiental

gicamente equilibrado, bem de uso comum

em Mariana, já havia ocorrido uma tragédia da engenharia

do povo e essencial à sadia qualidade de

de Minas Gerais e do Brasil. Uma vergonha que todos nós

vida, impondo-se ao Poder Público e à co-

engenheiros estamos vivendo.

letividade o dever de defendê-lo e pre-

servá-lo para as presentes e futuras gerações.” (Art. 225, da constituição brasileira).

Voltando à constituição brasileira e a lei de crimes ambientais (lei 9605/1998), os dirigentes e acionistas dos empreendimentos são os responsáveis diretos pelos danos

Após esta tragédia da insustentabilidade: social, ambiental,

causados. No acidente da Samarco, se são culpados ou

econômica, cultural, político-institucional e espiritual para

não, só a perícia e a justiça irão dizer.

todos os seres vivos da bacia do Rio Doce, o mínimo que nos resta é a indignação. Não existe e não deverá existir

A Samarco precisa voltar a operar, se a sociedade permitir.

licenciamento ambiental simplificado e rápido para em-

Para mitigar os impactos causados pelo acidente, pleitea-

preendimentos complexos.

mos a aplicação de metade de seus lucros ou um percentual significativo de seu faturamento, até o último dia de

Ao ver a imagem do ministro da educação, Aloísio Merca-

operação da empresa.

dante, vestido com o colete da defesa civil na foto com a

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presidenta, logo pensei que ele viesse se reunir com a aca-

Algumas lições foram aprendidas com essa tragédia, em

demia de Minas, que é o estado brasileiro com o maior

um momento que se discute sobre os efeitos das mudan-

número de Universidades Federais, onze ao todo, para

ças climáticas no planeta na COP-21 em Paris, de como

apoiar imediatamente a sociedade com todo o conheci-

nos prevenir, mitigar e remediar seus efeitos sobre a vida

mento “depositado” nessas instituições de primeira linha

na terra, todas as obras de engenharia, assim como as bar-

brasileira que estão inseridas visceralmente na sociedade.

ragens de rejeitos, terão que ser adaptadas às mudanças

Atenção Ministro Mercadante, já passaram semanas e a

bruscas do clima em intensidade e extremidades. Como

academia ainda não se manifestou. Convoque-os, porque

ficará especificamente a segurança das milhares de barra-

é a sociedade que os mantém.

gens no Brasil?


Agência Brasil

O distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais

RONALDO GUSMÃO Engenheiro, técnico Industrial e presidente do IETEC

E em relação à sustentabilidade político-institucional,

a renunciar. E o que ocorreu no Brasil? Já imaginou o

onde estava o poder público? Representado pelos di-

governador de São Paulo esperando a presidenta em

rigentes do IBAMA, DNPM, FEAM, IGAM, IEF, Polícia

seu helicóptero para levar pessoalmente a multa para

Ambiental, Ministério Público, e outra infinidade de ór-

a VW?

gãos públicos dos governos estadual e federal. Como eles serão responsabilizados?

Não fez e não fará porque as mortes serão lentas e não abruptas como em Mariana. Três grandes motivos

Como no Brasil tudo é relativo, inclusive a aplicação

para todos nós ficarmos indignados, pela agressão de

da lei, vejam as duas manchetes publicadas no Jornal

todos os seres vivos da bacia do Rio Doce, e mais

Valor de 13/Nov/2015. “Volkswagen é multada em

ainda pelas vidas deliberadamente ceifadas pela VW e

R$50 milhões pelo IBAMA” e “Dilma anuncia primei-

pelos terroristas em Paris.

ras multas do IBAMA após rompimento de barragens”. A presidenta veio a Minas trazer a multa para a Samarco, mas não foi a São Paulo levar a multa para a VW. Por quê? Porque aqui já morreram 11 pessoas e ainda tem 12 desaparecidas. Quantas pessoas morrerão no mundo e no Brasil pela fraude causada pela VW nos mais de 11 milhões de veículos vendidos nos USA e as 17.057 picapes Amarok no Brasil, que poluem mais que o permitido pela legislação? Estes dirigentes sim fraudaram deliberadamente a legislação de diversos países, já foram multados no exterior, o presidente mundial da empresa foi obrigado

RONALDO GUSMÃO Presidente do Ietec; Engenheiro e Técnico Industrial; Ex-Presidente da Comissão Técnica de Informática e Telecomunicações da Sociedade Mineira de Engenheiros; Ex- Membro da Comissão de Informática e do Conselho de Recursos Humanos da Associação Comercial de Minas; Ex-Membro da Comissão de Empresários de Informática e do Conselho de Educação da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais; Ex- Diretor da Assespro; Ex-Diretor da Sucesu; Cofundador da Ponto Terra; Membro do Conselho da AMDA; Sócio Fundador da Fumsoft; possibilitou a fundação do capítulo de Minas Gerais do PMI – Project Management Institute; Idealizador e Coordenador Geral da Ecolatina. 53


ARTIGO

O País do contrário *Ailton Ricaldoni Lobo uem não se lembra ou nunca ouviu falar no “Kafunga”, Olavo Leite de Bastos, goleiro do Clube Atlético Mineiro, que durante muitos anos foi comentarista esportivo. Creio que poucos. Talvez, os mais jovens que ainda terão oportunidade de conhecer um pouco da história desse personagem lendário. Muitos podem estar se perguntando o motivo de trazer à baila o nome do “Kafunga”, nesse momento conturbado da vida econômica e política brasileira. Nos idos de 1960, o comentarista dizia que “O Brasil é o País do contrário, o certo está errado e o errado está certo”. Vejam que já se passaram 56 anos e a coisa não mudou. Pensando melhor, mudou sim, mas parece que para pior.

Q

Se observarmos o que ocorre hoje na sociedade brasileira, poderemos identificar uma inversão de valores, a perda de elementos simbólicos essenciais na formação de cidadãos, que culminam por exemplo no flagrante desrespeito à Bandeira de nossa Pátria. Faltam fronteiras que norteiem os direitos, mas, principalmente, o respeito e a responsabili54

dade que devem orientar as ações do cidadão mais simples aos dirigentes mais graduados, entre eles, os empresários e os políticos mais proeminentes. “Ordem e Progresso” é o lema inscrito na Bandeira Nacional que deveria ser o pilar da sociedade, responsável pela nossa satisfação e desenvolvimento. Porém, o que assistimos é exatamente o contrário, “desordem e, consequentemente, o progresso prejudicado”. Os exemplos são vários e estão colocados para a população pelos diversos veículos de comunicação. A economia do País está sendo solapada em função do descompromisso total com a realidade brasileira e o desenvolvimento do País. Isso perpassa todas as esferas de poder e é sustentado pelos bancos e pelos empresários gananciosos. Tudo fazem em nome do poder e não pela nação, não pelo desenvolvimento socioeconômico que resultaria em qualidade de vida para o nosso povo. Recentemente, ouvi um comentário de uma pessoa simples, que jamais poderia imaginar faria uma análise tão simples e ao mesmo tempo tão

profunda da condição do Brasil. Esse cidadão disse: “Nossa! Sempre imaginei que o Brasil fosse um País rico, mas não sabia que na realidade é um País muito, mas muito rico mesmo”. Sabe por quê? Em sua sabedoria, ele dá a resposta: “Porque a quantidade de dinheiro que se rouba e manda pra fora é algo que só tem em um País muito rico”. Esta é a uma verdade que não escapa aos olhos dos mais simples e nem dos incautos. Realmente, se pensarmos bem, o tanto que pagamos de juros da dívida externa, os financiamentos externos para obras em outros países; assim como o desperdício, a corrupção, o volume de dinheiro gasto por empresas sem produzir nada, o excesso de benefícios sociais oferecidos pelo governo, pressupõe-se que seja uma nação extremamente rica para, ainda assim, permanecer viva. Viva mas com muito sofrimento para seu povo que é a maior vítima desses descasos e desses malfeitores públicos. Mas o Brasil não é só rico neste aspecto. É também rico em fontes renováveis de energia a saber: hidráulica,


Ailton Ricaldoni Lobo, engenheiro eletricista, empresário e presidente do Conselho Deliberativo da SME.

solar, eólica e biomassa. Sabemos que a soberania de um país passa pela sua independência energética e o Brasil, se quiser, ou seja, se houver políticas públicas para estimular o desenvolvimento acadêmico, a inovação nas indústrias, a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias aplicáveis na geração de energia a partir dessas fontes, será soberano e independente energeticamente. O potencial das indústrias desses equipamentos geraria riqueza e muitos postos de trabalho.

Infelizmente, temos um País sem política industrial definida, onde o interesse do Estado é propiciar um ambiente econômico/financeiro que privilegia o capital especulativo. Essa política está sinalizada com uma alta taxa de juros, que estimula os bancos e os grandes investidores a tomarem dinheiro lá fora, ou mesmo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES), com taxas muito baixas, e a aplicarem com rentabilidade altíssima, com todas as garantias de liquidez e rentabilidade.

O jovem brasileiro que se habilita no programa “Ciência sem Fronteira”, que é por si só um belo projeto, precisa ter um posto de trabalho com seu nível de conhecimento acadêmico, para que ele possa se realizar profissionalmente e, também, retomar o recurso que foi investido na sua formação. Nada melhor do que possuirmos um parque industrial, com empresas de diversas partes, porém, que tenham seus departamentos de P&D e seus projetos de inovação, para abrigar esses profissionais que retornam de seus aperfeiçoamentos.

Bom, qual empresário aplicaria seus recursos em uma atividade produtiva, por exemplo na indústria com risco inferior ao rendimento de tal aplicação e, ainda mais, assumindo riscos de instabilidade tributária, jurídica, trabalhista e de logística. O que assistimos hoje é um total descompromisso com a política industrial por parte das atividades representativas do segmento, notadamente, aquelas onde a contribuição é compulsória. O que existe são ações pontuais e direcionadas àqueles segmentos que se despõem a colaborar com os políticos para obter os benefícios.

O princípio democrático acompanhou a evolução humana e resultou na formação de um dos regimes políticos mais aclamados da história, a DEMOCRACIA. Esta, entretanto, sendo mal exercida, poderá fugir ao seu princípio básico, transformando a participação em pura demagogia; permitindo práticas que favoreçam a projetos de poder para se perpetuarem, utilizando o instituto da reeleição, o qual deveria ser banido em todas as instâncias de poder, a saber: Executivo, Legislativo, Judiciário; bem como em associações de classe, sindicatos, federações, etc. Em toda instituição que adote o voto como instrumento de escolha do seu líder. Este exercício pleno da democracia propicia a renovação e surgimento de novas lideranças, evitando os vícios e abusos da permanência absolutista no poder. Daí a lembrança das grandes tiradas, as vezes polêmicas, mas certeiras do Kafunga, mas desta vez, para contrariá-lo. O Brasil não pode continuar sendo o País do contrário, onde o certo está errado e o errado está certo. Esse já seria um bom começo. 55


CDS | SME

COMITÊ DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Proposta da indústria para o aprimoramento do licenciamento ambiental: setor elétrico * Luisa Ferreira Braga e Renata Messias Fonseca

Em 09 de dezembro de 2015, a Confederação Nacional da Indústria – CNI e o Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico – FMASE entregaram a representantes do Governo Federal a Proposta da Indústria para o Aprimoramento do Licenciamento Ambiental: Setor Elétrico, que poderá ser lido na íntegra no site da SME.

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concerne à capacidade de acumulação dos reservatórios brasileiros, considerados essenciais ao equilíbrio da matriz elétrica nacional, à garantia da modicidade tarifária e à competitividade de nossa indústria.

O documento, elaborado entre os anos de 2014 e 2015, elenca os principais desafios enfrentados para a viabilização de hidrelétricas no Brasil, e apresenta propostas para cada um deles. Os dados compilados no documento foram obtidos a partir de pesquisas realizadas junto as empresas que compõem as associações do FMASE, e do levantamento de informações disponíveis no site oficial do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – IBAMA, relacionadas ao licenciamento ambiental federal de empreendimentos hidrelétricos. Já as propostas de solução foram formuladas pelo Grupo de Trabalho Licenciamento Ambiental do FMASE, refletindo os principais pleitos do setor elétrico para o tema.

Diante de todos os dados e opiniões angariados, o FMASE e a CNI concluem que avanços na condução dos processos de planejamento e licenciamento ambiental dos empreendimentos hidrelétricos somente serão possíveis por meio do estabelecimento de diálogos menos ideológicos, mediante a antecipação das salvaguardas ambientais para a fase de planejamento setorial, e a criação de regras de licenciamento ambiental mais objetivas e estáveis. Na visão do Fórum e da Confederação, a mudança do sistema vigente irá melhor o ambiente de negócios, trazendo maior previsibilidade de custos para a fase de leilão, como também contribuirá para reduzir a judicialização do processo de licenciamento ambiental, que sabidamente pouco contribui para solucionar os desafios existentes.

A ideia primordial dos autores é reabrir as discussões sobre os aspectos socioambientais envolvidos na viabilização de empreendimentos hidrelétricos, inclusive no que

Conheça abaixo os principais desafios e proposições apresentados na Proposta da Indústria para o Aprimoramento do Licenciamento Ambiental: Setor Elétrico:


Integração dos instrumentos de planeja‑ mento e gestão territorial Desafio: Tardio equacionamento de questões socioambientais afetas à fase de planejamento setorial, levando à exigência de que o empreendedor execute importantes ferramentas de planejamento, como a Avaliação Ambiental Integrada – AAI, na fase de licenciamento ambiental.

perícia, prevista nos arts. 66 e 69-A da Lei de Crimes Ambientais. Proposta: Adequação da redação da Lei de Crimes Ambientais para que seja excluída a modalidade culposa dos referidos delitos.

EIA/RIMA para usinas acima de 50 MW

Proposta: Elaboração e integração das ferramentas de planejamento pelo Poder Público antes do início do processo de licenciamento ambiental, sendo utilizadas como inputs ao processo, e não requisito obrigatório dele.

Desafio: Exigência de realização de EIA/RIMA para todos os empreendimentos hidrelétricos com capacidade instalada superior a 10 MW , em que pese os impactos de parte desses empreendimentos serem reduzidos e incidirem sobre pequenas áreas.

Manifestações dos Órgãos Intervenientes no Processo de Licenciamento e Balcão Único Virtual de Licenciamento Ambiental

Proposta: Previsão, em norma federal, de obrigatoriedade de realização de EIA/RIMA apenas para os projetos cuja capacidade instalada seja superior a 50 MW.

Desafio: Dificuldade na interlocução entre o órgão licenciador e os órgãos intervenientes no processo de licenciamento ambiental, acarretando o descumprimento de prazos legais e a necessidade de condução, na prática, de um processo individual de licenciamento perante cada órgão interveniente. Proposta: Criação de um balcão único virtual de licenciamento, que reunirá todos os entes envolvidos nesse processo e será coordenado pelo órgão licenciador, responsável por emitir pareceres e manifestações únicos sobre os estudos e documentos apresentados. Além disso, o balcão único atuaria também na fase de planejamento setorial, mediante a caracterização da área objeto do inventário hidrelétrico e participação na elaboração dos planos setoriais, como o Plano Decenal de Energia.

Alteração da Lei de Crimes Ambientais para restringir a responsabilidade criminal do agente licenciador à conduta dolosa Desafio: Engessamento da atuação dos agentes ambientais em razão da possibilidade de sua responsabilização pessoal, na esfera criminal, por imprudência, negligência e im-

Termos de Referência padronizados, de conteúdo mínimo e por tipologia de em‑ preendimento Desafio: Alta complexidade dos Termos de Referência – TR que orientam a elaboração dos estudos ambientais, sem que os estudos exigidos necessariamente tenham relação direta com os prováveis impactos da atividade ou empreendimento. Proposta: Elaboração de TR padrão para cada tipologia de empreendimento, a ser refinado de acordo com as características do empreendimento licenciado.

Regulamentação das Audiências Públicas Desafio: Ausência de regulamentação de aspectos essenciais relacionados à realização de audiências públicas. Proposta: Regulamentação, em norma federal, das regras e procedimentos para a realização de audiências públicas, em especial: delimitação das pessoas legitimadas a falar durante o ato; delimitação do tempo de fala de cada participante; possibilidade de envio prévio de questionamentos; definição da área diretamente atingida pelo empreendimento como local de realização da(s) audiência(s), entre outros.

O FMASE é composto por vinte entidades de classe de âmbito nacional dos segmentos de geração, transmissão, distribuição, comercialização e consumo de energia, sendo que, por meio da interação constante com o setor público, iniciativa privada, Organizações Não Governamentais - ONGs, academia e mídia, é hoje reconhecido como o principal interlocutor do setor de energia elétrica no Brasil para as questões socioambientais

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CDS | SME

Luisa Ferreira Braga, engenheira Ambiental e Coordenadora Socioambiental na ABIAPE.

Condicionantes Ambientais Desafio: Imposição de condicionantes ambientais que não guardam relação direta com os impactos do empreendimento e que têm como objetivo atender demandas que são de responsabilidade do Poder Público. Proposta: Obrigatoriedade de as condicionantes ambientais, e quaisquer outras imposições feitas no bojo do processo de licenciamento, guardarem relação direta com os impactos verificados nos estudos ambientais, devendo ser acompanhadas de justificativa técnica.

Emissão de Autorizações Pontuais conco‑ mitante à Licença Ambiental Desafio: Exigência de obtenção de inúmeras autorizações durante o processo de licenciamento, sem que exista a coordenação do momento de sua emissão e das condicionantes que as compõem. Proposta: Adoção de medidas para otimização do processo de obtenção de autorizações ambientais, que deverá, sempre que possível, ocorrer de forma concomitante à emissão da Licença Ambiental inerente à fase em que o processo de licenciamento se encontra.

existentes nos processos de planejamento e licenciamento ambiental de empreendimentos hidrelétricos no Brasil, garantindo-lhes maior eficiência e qualidade, especialmente por meio do fortalecimento das competências dos órgãos ambientais e da adequada participação dos órgãos intervenientes e interessados.

*Luisa Ferreira Braga é formada em Engenharia Ambiental e em Direito, e está concluindo o MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral. Atualmente é Coordenadora Socioambiental na Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia - ABIAPE. Renata Messias Fonseca é formada em Direito e especialista em direto penal e ambiental. É sócia de Borges & Almeida Advocacia, Coordenadora do Comitê de Meio Ambiente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica – ABCE e assessora jurídica do Fórum do Meio Ambiente do Setor Elétrico – FMASE. Coordenadoras do Grupo de Trabalho Licenciamento Ambiental do Fórum de Meio Ambiente de Setor Elétrico – FMASE.

O FMASE e a CNI acreditam que sua proposta oferece um norte para a solução dos principais entraves

2 - Determinação expressa no art. 2º, Xl, da Resolução Conama nº 01/1986.

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Este artigo está disponível na íntegra no site da SME, acesse o link: www.sme.org.br/artigolinceciamentosustentavel


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