Os malefícios oriundos da religião

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OS MALEFÍCIOS ORIUNDOS DA RELIGIÃO

CARLOS ROBERTO COMINI

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a forma insidiosa como somos apresentados à religião, logo ao nascer, via de regra, uma imposição de nossos pais, é natural que ela esteja tão arraigada no seio de qualquer sociedade, especialmente em um país tradicionalmente católico como é o caso do Brasil.

Cristãos, só para citar, passam toda a sua vida negando a realidade e embotando suas mentes com histórias as mais absurdas possíveis, tais como uma cobra falante, jumenta falante, fruta mágica, arbusto mágico, seres fantásticos, enfim, toda uma coleção de coisas que só se veem em contos da carochinha. Mas o livro onde estão todas essas particularidades, a famosa bíblia, é cultuado como sagrado, infalível, de autoria divina, embora tenha sido assentado por escrito por mãos meramente humanas. E ainda por cima, é o manual de instruções para regular toda e qualquer atividade humana, das mais comezinhas até as mais relevantes. Como é possível que pessoas razoáveis aceitem ser manipuladas por algo tão grotesco como os ensinamentos da religião? Como podem, passivamente, abrir mão da razão, que é uma das faculdades da mente humana, e pautar sua vida em coisas ilusórias, negando toda a realidade? Sim, porque o que a religião prega não está, de nenhuma maneira, em sintonia com o mundo físico. Exemplo disso é a defesa do design inteligente, no qual alega-se que tudo o que existe só veio a ser possível graças a uma intervenção de um ser grandioso, inteligentíssimo, perfeito em sua plenitude. E com tais soberbas faculdades fez tudo num passe de CARLOS ROBERTO COMINI

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mágica, desde as coisas mais simples até as mais complexas, tudo funcionando perfeitamente, sem qualquer resquício de defeito. Isso é o que está escrito na bíblia. Ocorre justamente o contrário. A Terra está repleta de imperfeições. Todos os organismos vivos passam pelos mesmos estágios de nascimento, crescimento, reprodução, envelhecimento e morte. Sem contar as aberrações que acometem, em maior proporção, seres humanos. Má formações congênitas, em todas as raças humanas atestam claramente que, se houvesse um design inteligente por trás de tudo, nem um único caso anômalo seria encontrado em qualquer tempo. Como também, a perfeição ensejaria que os organismos não adoeceriam, não envelheceriam, não entrariam em colapso e nem morreriam. Isto não se coaduna com a ideia de uma criação perfeita, vinda de um criador perfeito. Ademais, criação suscita uma pergunta para a qual não há resposta satisfatória. Se há criação, como se dá esse ato? Do nada, num estalar de dedos, as coisas se materializam? Mas não são os próprios religiosos os primeiros a afirmar que do nada não pode advir nada? Ah, mas quando se trata de Deus, não há a necessidade de explicações lógicas. Tudo se resume a acreditar sem questionar. É assim que funciona a tirania imposta pela religião. Quando a ciência afirma que a vida no planeta veio a existir de forma ocasional, sem a necessidade de um criador, os crentes logo se insurgem dizendo que o acaso não pode ser autor de coisa nenhuma. Só que não há sequer uma única evidência que corrobore o mito da criação. Afinal, se o ato de criar resume-se a moldar algo de matéria pré-existente, como a lenda da criação do homem a partir do barro, isto é meramente a transformação de matéria amorfa em produto acabado. Com a sutil diferença do sopro da vida, dada pelo hálito divino em suas narinas. Essa afirmação carece de toda e qualquer fundamentação lógica, dado o seu teor ilusório, mágico, como se fosse possível alguém ser concebido desse modo. Grotesco. Patético.

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O ato de criar, por si só já revela-se como algo impossível de ocorrer. Não há argumento que sustente ideia tão absurda. Só mesmo cancelando nossa razão e inebriando-se de muita fé para que tal conceito seja possível. Pois essa tão propalada fé é a mais pura expressão de desonestidade intelectual, haja vista que perverte o juízo em prol da aceitação tácita do improvável. Desarrazoadamente, crê-se porque isto traz conforto. Não pensamos mais na questão e damo-nos por satisfeitos com essa resposta pronta, no fundo, torcendo para que estejamos certos, mas em nosso âmago, a dúvida dormitando, impassível. E assim, vamos levando a vida nessa enganação, fingindo que está tudo bem, ou pelo menos, imaginando que uma hora a coisa muda para melhor. Esperança. Desejo. Expectativa. Nada mais apropriado para designar o que seria a fé. Só que no plano físico isso não tem muita probabilidade de acontecer. Sejamos sinceros, o desejo puro e simples de que uma expectativa materialize-se não fará com que de fato, aconteça. Ocasionalmente, pode dar certo, mas aí já estamos entrando no terreno das coincidências. Se alguma coisa pode ter explicação fora da esfera religiosa, então a supremacia de uma suposta verdade irrefutável cai por terra. Portanto, a religião presta um desserviço à humanidade quando planta esses conceitos tão distorcidos na mente dos incautos. Tudo não passa da perpetuação pelo poder, da dominação, da opressão. E, principalmente, a dominação pelo medo, pura e simplesmente. O medo é o combustível que mantém a chama da fé sempre acesa na mente crente. Medo de se estar aborrecendo a divindade e com isso, sofrer punições inimagináveis. Quem quer que se dedique a analisar quaisquer livros ditos sagrados sem estar anestesiado pela dita fé, só chega a uma simples conclusão: toda a imaginação humana está contida nestes livros, com seus erros e imperfeições, eivado de misticismo, tolices, coisas meramente hu-

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manas, tal como qualquer um pode constatar. Nada existe que transcenda a capacidade humana de inventar, tirar da cartola as respostas absurdas para quaisquer questões que sejam suscitadas. Vejamos: De onde viemos? Porque estamos aqui? Para onde vamos? A existência de qualquer ser vivo tem um propósito? Existe vida após a morte? Poderia passar o resto da vida filosofando a respeito dessas e de outras inúmeras perguntas que o homem se faz desde os primórdios da humanidade, sem, no entanto, nunca achar uma resposta que seja definitiva. Outro problema com as perguntas é o modo como elas são insidiosamente formuladas. Basta mudar o modo como elas nos são apresentadas para que façam algum sentido. Por exemplo: Ao invés de se perguntar “De onde viemos”, o correto seria perguntar: “Como foi que surgiu a vida na Terra?” Essa sim uma pergunta coerente e lógica. Afinal, todo mundo, ou quase todo mundo, conhece ou tem alguma noção dos processos que originam os vários tipos de vida existentes no nosso pálido ponto azul, nossa joia faiscante, nossa casa, a Terra. Embora haja seres que se reproduzam de maneira diferente, a maioria dos seres advém de reprodução sexuada, o que envolve a participação de dois indivíduos, macho e fêmea. Isso implica no raciocínio puro e simples de que a vida surge internamente, seja no útero materno ou no ovo de aves e répteis. Então qual a causa de crer em estórias tão absurdas, inventadas pela fértil imaginação humana e com isso querer contaminar todas as mentes com essas mentiras? Não é porque não temos todas as respostas que devemos parar de pesquisar e aceitar um dogma como sendo a última e definitiva palavra que irá encerrar a questão. Temos que ter a honestidade intelectual de não fazer afirmações que não exijam provas. Afinal, nada existe que não seja natural. Isso de sobrenatural é um conceito tão vago que não merece sequer o respeito da consideração. Como bem o disse Christopher Hitchens, um pensador inglês, autor do livro “Deus não é Grande”, “o que pode ser afirmado sem provas, também pode ser rejeitado sem provas.”

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Enfim, o propósito desse escrito é tão somente provocar uma reflexão honesta sobre o mal que a religião causa ao ser humano por tornalo um ser idiotizado, apalermado, medroso e covarde, incapaz de pensar por si mesmo, tendo que se submeter aos mandos e desmandos de uma ideologia assassina e opressora, com ideias retrógradas, medievais, não mais aplicáveis a uma sociedade sobremaneira mais racional, alimentada por informações atualizadas, cientificamente comprováveis, muitas já consagradas pelo empirismo. A Ciência, apesar de ferrenha oposição da religião, em geral, ainda é a melhor opção para se tentar entender o porquê das coisas. Ela não traz respostas prontas, inquestionáveis, proibidas à contestação. Ela é o fruto do esforço humano por todo o tempo que o homem habita o planeta e que nos permitiu chegar até os dias atuais, sobrevivendo às mais adversas condições, enfrentando com altivez à tirania da religião e tornando possível uma vida melhor, mais aprazível em todo esse nosso mundo, que ao contrário do que se pensa, é extremamente hostil à proliferação da vida. A humanidade, com certeza, já estaria extinta, se não fosse pelo progresso oriundo das conquistas e feitos científicos. Se tivéssemos dependido exclusivamente da religião, ainda estaríamos andando de carroções puxados por animais, morreríamos de causas pra lá de banais, estaríamos todos condenados a uma vida de sofrimento e provação, tudo isso chancelado por uma promessa ridícula de uma segunda vida, dessa vez, repleta de benesses num paraíso improvável, comandado por um deus impossível. Parafraseando a própria bíblia, “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, no dia em que a humanidade se convencer que a verdade não se encontra nestes livros caducos e obsoletos e sim naquilo que podemos, de alguma forma, experimentar e testar, de forma a separarmos o que nos ajuda a viver daquilo que pode nos aniquilar, aí sim a humanidade será próspera e feliz, livre de qualquer misticismo inútil e doentio.

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