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“A compreensão humana não é um exame desinteressado, mas recebe infusões da vontade e dos afetos; disso se originam ciências que podem ser chamadas “ciências conforme nossa vontade”. Pois um homem acredita mais facilmente no que gostaria que fosse verdade. Assim ele rejeita as coisas difíceis pela impaciência de pesquisar; coisas sensatas, porque diminuem a esperança; as coisas mais profundas da natureza, por superstição; a luz da experiência, por arrogância e orgulho; coisas que não são comumente aceitas, por deferência à opinião do vulgo. Em suma, inúmeras são as maneiras, e às vezes imperceptíveis, pelas quais os afetos colorem e contaminam o entendimento.” Francis Bacon, Novum Organon (1620) É triste constatar que a preguiça mental é fator relevante a “idiotizar” a sociedade moderna, inclusive em países desenvolvidos. A escolha do sobrenatural em detrimento de explicações científicas dá-se pela escolha do caminho mais fácil. Estamos atrás do mais fácil, não do mais profundo! Uma parte significativa da população mundial passa sua efêmera vida crendo em deuses, mitos, poderes psíquicos, pseudociências e ignorando pequenos entendimentos, descobertas básicas, simples para entender o mundo à sua volta. No Brasil, além dos analfabetos, vicejam os analfabetos funcionais, que leem e não compreendem e aqueles que apesar de saberem ler, não tem o conhecimento mínimo de ciência, tão fervorosamente buscada e entregue na forma de publicações, livros. O brasileiro detesta ler, lê pouco ou prefere lixo, que é de mais fácil entendimento! Estou falando de um universo de 80% da população absolutamente despreparada! São pessoas que não sabem que o último dinossauro morreu antes do homem; não sabem que antibióticos matam bactérias, mas não vírus; não sabem que o homem moderno tem só alguns milhares de anos; não sabem o que é teoria da evolução; não sabem que existem partículas menores que átomos; creem em homeopatia; creem que ainda somos o centro do mundo; pensam que a Terra é uma esfera perfeita! Sem falar que somos mal colocados em conhecimentos de matemática, química, geografia e história. Em certos países desenvolvidos esta estatística é também elevada. Nos EUA mais de 60% da população pensam que os homens brincavam com os “dinos”. Mais de 70% da população não sabem sobre antibióticos. Saem-se bem em testes e pesquisas sobre conhecimento, países como Canadá, Japão, Finlândia, Coreia do Sul. O desconhecimento abre o espaço para que as religiões enganem o povo, que doutrinado desde cedo, não mais consegue livrar-se da droga implantada. Esta é a AUTORES DIVERSOS
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prova do fundamentalismo e religiosidade presente nos EUA atual. Nem precisamos falar que no Brasil igrejas são criadas todo dia, e evoluem do barracão de zinco, às catedrais luxuosas em poucos anos. A ignorância presta este serviço. Ela é o pilar da existência de tantas denominações, cada qual com sua maneira bizarra de arregimentar mais fiéis e continuar o ciclo vicioso. Coexistem ignorantes e estúpidos neste meio. Também coexistem a malandragem, pilantragem, criminalidade, espaços vislumbrados por mal intencionados que enxergaram um meio de fertilidade para a execução das suas maldades. Por falta de conhecimento e desta impregnação teísta que pergunto se é possível ter um discussão produtiva, enobrecedora, com pessoas neste nível de conhecimento. Como podemos elaborar respostas para seres que não tiveram um mínimo de educação, que não leram sobre ciência, genética, química, física, matemática, filosofia, matérias cruciais para o entendimento da modelagem explicativa do funcionamento das leis naturais, distante das paixões das pseudociências? Em nossas discussões neste blog, tenho presenciado em várias oportunidades, idéias não compreendidas, ou desprezadas, desvio ou fuga do cerne da pergunta por falta de capacidade de julgamento, discernimento ou ignorância total sobre o tema. Os teístas se utilizam muito do desvirtuamento dos rumos da pergunta. Perguntas são permitidas de todas as matizes. Explicações necessitam de um mínimo de entendimento ou de coerência para evidenciar o argumento. O que temos lido ultimamente são “crentes” tentando explicar ciência, modernidade, com um livro ultrapassado, cheio de superstições esdrúxulas, e ainda sem nunca terem lido um autor versado na questão inquirida. Não se vê os teístas responderem que leram filosofia, física, química, genética, só leem bíblia e o que o pastor manda. Também é fato os crentes sempre recorrerem a experiência pessoal, sentimento, emoção para explicar a ausência dos seus deuses, opinião que nada vale ou acrescenta ao conhecimento. Sentir emoção não explica o funcionamento das coisas, não revela a regra natural. Coisa simples como discutir sobre como se concebeu que o seu deus é o correto, dentre os milhares existentes, é um tortura para os teístas. Não admitem que são apenas suposições imaginárias, parecem fugir da resposta clara, dizendo que foram invadidos pela “graça” divina do deus da região! Admitir que a Bíblia não serve para a atualidade seria fácil, com um mínimo de senso de humanismo, mas os crédulos não aceitam a idéia, mesmo sabendo que na sociedade moderna não pode haver escravos, mulheres tem os mesmos direitos, assassinatos não são permitidos em nome da vontade doentia de um deus. A tolerância parece não ser uma virtude nos teístas. Não aceitam outros credos e ainda desejam que todos vivam sua imbecilidade intrínseca, desejando igualdade na “burrice” e não a altivez da sabedoria. Por estes motivos é que a verdade parece não ser o objetivo dos teístas e que nossas respostas coerentes com a realidade não estão sendo postas à prova, analisadas, verificadas e sim simplesmente desprezadas ao lixo. Não estão, os teístas, valorizando os bons argumentos e sim procurando a todo custo implantar o regime escravagista da ignorância, utilizando de desonestidade apenas para arregimentar mais adeptos. Porque as respostas infantis sobre explicações da vida dada por um crente, causa-nos vergonha. Talvez tenha crédulos que desejam apenas uma busca para amenizar a fatalidade da morte, um desejo de ser filho do super-herói, desejo AUTORES DIVERSOS
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da imortalidade, mas a fantasia não deixa de existir, e a grande massa de ignorantes quer mesmo é nos dominar com algo tão absurdo e infantil, quanto ilusório. O problema nem é o fato de poder causar males ou não, mas o fato de ardilosamente nos desviar do caminho do conhecimento, da verdade, tão custosamente introduzida por experiência acumulada, de cientistas devotados toda uma vida, a nos deixar um legado, continuamente repassado para diminuir o sofrimento, provocando um melhor bem-estar da curta vida humana. Até a ciência pode ser usada contra a humanidade, mas não devemos abandoná-la e sim coibir ações iníquas, criando soluções para isto, porque o desejo de conhecer é imperativo na mente sã. Só temos que aceitar que a verdade às vezes pode ser mais cruel que a fantasia. A ilusão nos é mais consoladora, ás vezes, mas não significa que seja correto pregá-las como verdade! Enquanto buscamos a verdade, os teístas tentam fugir dela por diversos motivos, sob a égide do Império da ignorância, preguiça mental, falta de leitura.
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— Seu Deus não existe. É uma invenção. Uma lenda. Por que você acha que eu estaria disposto a conversar sobre lendas? Vai ser assim que eu vou atender às Testemunhas de Jeová de agora em diante, quando aparecerem no meu portão. Eu gosto de fazer esse tipo de experiência; gosto de ver a reação das pessoas e ouvir as tolices que elas dizem, só porque acham que precisam falar alguma coisa em resposta. Entretanto, acho que a quase totalidade dos ateus considera um contrassenso essa afirmação; a de que Deus não existe. Parece que o argumento é o de que, como não é possível ter uma “certeza matemática” sobre o que se está afirmando, então a afirmação não tem lógica. Agora vê se eu tenho cara de quem vai se preocupar com lógica enquanto despacho, do meu portão, pessoas que acreditam que uma burra resolveu falar para seu dono que não merecia os açoites que ele estava lhe desferindo. E outra: pergunte a um deles se existe algum outro deus além do Deus que eles cultuam. Sua resposta vai ser “Não, não existe nenhum outro deus”. Quem tá preocupado com lógica aqui, não é, irmã? Ô Glória!!! Mas como é estranho você me dizer que Deus existe, que te ama e te protege, que atende aos teus pedidos e te enche de bênçãos, se você age exatamente como eu, que não acredito em deus algum.
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Ora, Deus concedeu a graça do seu filho ter feito uma excelente prova no último ENEM, fofa? E sem ter estudado absolutamente nada?!! Que ótimo! Que maravilha! Que milag… O quê? Ah, então ele se matou de estudar o ano todo, igualzinho ao meu amigo ateu aqui… Ah, tá… Sim, mas Deus te livrou daquela doença terrível, não foi? (Não vem ao caso mencionar que foi ele mesmo quem criou a doença e permitiu que você a contraísse.) E tudo o que você precisou fazer foi orar, suplicar de mãos postas, rogar para que… Hein? Foi tudo pelo plano de saúde? Mas, pelo menos, nenhum mal te atinge, né, amiga? Mil vão cair à tua direita, e dez mil à tua esquerda antes que… Mas, peraí… Isso também é uma mentira: você está sujeita aos mesmos perigos que eu, um descrente, e, exatamente como eu, você faz tudo ao seu alcance para se proteger deles, às vezes se dando bem, às vezes se dando mal. Que coisa interessante, não acha? É tudo como se… como se… Como se Deus não existisse.
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Os crentes leem “a palavra”. Pregam “a palavra”. Consideram “a palavra” sagrada porque é “a palavra” de Deus. E “a palavra” é a Bíblia. Mas para agirem assim, eles entendem a Bíblia — ‘os livros’, em latim — como um todo: o livro. Portanto “a palavra” de Deus é “o livro”. Uma coisa macro. Não vai adiantar nada apontar detalhes. Deus só está nos detalhes quando convém. Ou nos detalhes que convêm. Se você quiser saber se eles realmente estão querendo dizer que acreditam que uma cobra convenceu uma mulher a cometer um pecado; ou quando você mostra tal e tal contradição, tal e tal erro histórico, ou tal e tal absurdo, que seria absurdo em qualquer época ou em qualquer mundo, o crente vai sempre alegar que esse detalhe é uma alegoria, ou apenas um erro dos seres humanos falhos que Deus usou para escrever sua “palavra”. E esta, como um todo, permanece válida, perfeita e imutável. Uma vez tive a coragem de perguntar a um amigo religioso como ele diferenciava o que era alegoria do que não era. Ele disse que o Espírito Santo iluminava a pessoa que lia a Bíblia com a intenção de entender “a palavra” para que ela própria fizesse essa diferenciação. Eu perguntei: O mesmo Espírito Santo que “iluminou” os que escreveram os textos? Se ele não conseguiu fazer com que os autores dos livros sagrados evitassem misturar sua natureza humana falha na hora de escrever, o que garante que não vai ocorrer o mesmo com os que vão lê-los? Meu amigo não me respondeu porque ficou muito aborrecido com a minha ignorância acerca dos desígnios divinos que, pelo que entendi, ele conhecia bem. Eu, no lugar de Deus, se tivesse criado uns tantos bichinhos de estimação que já estariam, desde o nascimento, condenados ao Inferno que eu construí para os que não seguissem as minhas regras, acharia bem mais justo que eles soubessem que regras seriam essas através de AUTORES DIVERSOS
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um livro sagrado onde elas ficariam bem claras: “Quero isso assim, não assado.” E qualquer trecho que os meus robozinhos azarados lessem da minha Bíblia não iria mostrar nada dizendo o contrário. Chamo de “robozinhos” porque eles teriam que seguir à risca as minhas regras; senão, eu os lançaria no Inferno onde haveria pranto e ranger de dentes. E “azarados” porque essa seria a única opção. Bom, pelo menos eu seria um deus bem mais honesto do que o Deus cristão: o que estivesse escrito no meu livro sagrado seria o que eu queria dizer. Nada de alegorias; nada de pegadinhas; nada de contradições. Se eu dissesse que quem trabalhasse no sábado deveria ser morto a pedradas, era assim que teria que ser. Sempre. Ninguém diria nada em contrário, nem eu mesmo se me transformasse no meu próprio filho. E se ele, por acaso, tivesse falado demais e prometido que voltaria da morte trazendo todo o seu reino ainda no tempo de vida daqueles que o ouviam, eu, como Pai, teria mantido a promessa. Teria antecipado o Juízo Final em 2 mil anos e resolvido tudo de uma vez. Não teria, de forma alguma, corrido o risco de ninguém ter percebido o óbvio: que se não aconteceu como o filho de Deus anunciara, só poderia ter sido porque deveria haver, dentre eles, um imortal. Mas mesmo a Bíblia estando cheia dessas contradições, desses erros e desses absurdos, esse tipo de coisa não abala o crente, não perfura a blindagem da sua fé. Porque são apenas detalhes. E tão pequenos e sem importância que nenhum padre ou pastor dá atenção a eles. E “a palavra” permanece divina, sagrada, absoluta e perfeita. Mesmo que, nos detalhes, ela seja apenas ridícula.
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Obrigado, Senhor, por não interferir: ― ― ― ― ― ―
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quando milhares de pessoas morrem de fome, de frio, de doenças e de maus tratos todos os dias no mundo; nas guerras que já mataram milhões em teu nome; nas catástrofes naturais que exterminam os que não te veneram, juntamente com quem acredita em ti e te ama, e confia que tu irá livrá-los do mal; na violência desmedida contra os indefesos e humildes, que só têm a ti para pedir proteção; nas mortes, depois de meses em agonia, dos que sofrem de doenças incuráveis (mesmo se tiverem orado a ti para minorar sua dor, ou antecipar seu próprio fim); no abuso físico, psicológico e sexual de inocentes por aqueles que, por causa do teu nome, adquiriram poder e respeito entre os homens, e usam desse poder e desse respeito para estuprar nossas crianças; e, finalmente, obrigado, Senhor, por ter arquitetado essa gincana em que bilhões e bilhões de seres humanos, durante milhões e milhões de anos, tiveram que superar todo tipo de desafio — contra animais selvagens, contra o clima, contra as catástrofes naturais, contra doenças, contra pragas, contra outros grupos rivais — para poder sobreviver neste planeta, e isso apenas para o Senhor poder escolher a quem premiar e a quem condenar no final. Espero que o Senhor esteja se divertindo bastante. Amém!
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Os crentes fanáticos que eu conheço não me suportam. E não me suportam porque não costumo ouvir calado as besteiras que eles falam sobre a sua crença. Eles não me suportam porque eu lhes mostro, sem meias palavras, que seus motivos para acreditar em Deus são completamente sem sentido, fruto apenas do desejo de que as tolices em que acreditam sejam mesmo verdade. O crente é, em essência, um tremendo covarde. Um covarde. Ele treme de medo ante a ideia de seu próprio aniquilamento; ele não suporta pensar que sua vida não esteja sendo guiada pelo GPS divino; ele não cogita a possibilidade de não haver uma missão para a qual ele foi “enviado” para cumprir; ele não conseguiria sobreviver sem a sensação de que há alguém atendendo aos inúmeros pedidos que ele faz o tempo todo… Mas ele não tem forças nem coragem para admitir isso para si mesmo diante do espelho. Daí ele precisa de quem lhe reforce a fé; daí ele precisa da sua comunidade de fingidores; daí ele precisa da sua religião. E religião é isso: um clube de covardes lamurientos. Já reparou nas letras das músicas evangélicas? Pois repare. Você vai ouvir somente uma corrente sem fim de lamúrias, de choramingos, de clamores desesperados feitos em voz chorosa; você vai ouvir uma série interminável de pedidos de todos os tipos; para que Deus lhes dê bens materiais, para que lhes receba no Paraíso, para que lhes salve de inimigos e do “Inimigo”, para que os cure, para que os proteja, para que os console, para que os recompense… Eles pedem, pedem, pedem e pedem… Em troca, para agradar a essa fonte inesgotável de dádivas, eles lhe babam o ovo sem dó nem piedade: tu és santo, tu és lindo, maravilhoso, único, todo-poderoso, AUTORES DIVERSOS
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supremo, fiel, fabuloso… tu és o rei dos reis, senhor dos senhores… eu te amo, não vivo sem ti, dependo de ti, minha vida não vale nada sem ti, não há outro deus diante de ti… e por aí vai, numa subserviência, numa bajulação e numa devoção forçada que enoja! Crente nenhum ama Deus. Amor passa muito, muito longe dessa mesquinhez toda. Os crentes apenas se submetem a ele, por acharem que é o deus mais poderoso que há, ou, sendo o único deus, por temerem seu Inferno e cobiçarem seus prêmios. Uma atitude tão humilhante, quanto cretina. O amor que os cristãos alegam ter por Deus não é amor. E, ainda que fosse, seria o tipo de amor mais vagabundo que poderia existir, dedicado a um ser que nem mesmo existe.
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Acho que todo mundo já recebeu uma daquelas apresentações em PowerPoint concebidas como forma de propaganda da fé cristã. Elas têm a clara intenção de te mostrar evidências da existência de Deus, ou transmitir alguma lição de moral cristã, ou mesmo só te mostrar como Deus te ama e quer muito o teu bem.
Um parente ou amigo que tenha recebido uma dessas, concordou tanto com o que viu que achou válido encaminhar o e-mail pra todo mundo da sua lista de contatos. E você, se for também um cristão, vai fazer o mesmo. Se as pessoas já não estivessem tão cegamente comprometidas em acreditar naquilo tudo, poderiam perceber a farsa em que estão metidas, justamente analisando esse tipo de material. Há alguns anos, recebi uma dessas apresentações, repleta de fotos chocantes, que contava uma estória mais ou menos assim:
Em 2001, um rico empresário americano, de férias em Jerusalém, entra em uma padaria para comprar um lanche. Ele fica desolado ao ver o tamanho da fila para fazer o pedido, mas um judeu, que era o próximo a ser atendido, deixa que ele entre na sua frente. O empresário, então, faz sua compra, agradece a gentileza do nativo e vai embora. No momento seguinte, a padaria sofre um atentado à bomba e o americano percebe que, se não fosse pelo judeu, ele ainda estaria lá dentro. Com esse pensamento, ele volta correndo ao lugar da explosão para ver o que teria acontecido com o homem que havia lhe cedido o lugar. Ele o encontra; gravemente ferido, mas vivo, sendo amparado por um filho. O empresário precisa voltar aos Estados Unidos, mas deixa seu número de telefone e se compromete a prestar todo auxílio financeiro que for preciso para que o homem que lhe salvou a vida se recupere dos ferimentos. AUTORES DIVERSOS
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Meses depois, na manhã do dia 11 de setembro, quando se preparava para ir trabalhar no World Trade Center, o empresário recebe uma ligação do filho do judeu, dizendo que precisava que o pai fosse levado para a América para se submeter a mais uma delicada cirurgia. O empresário garante que entrará em contato com o cônsul americano em Israel, para que seja providenciado o transporte urgente do judeu para os Estados Unidos, e, em virtude disso, decide não ir trabalhar naquela manhã, escapando assim do ataque às Torres Gêmeas. O slide final tenta empurrar goela abaixo dos menos avisados uma mensagem grotescamente sem sentido:
Viu só como um ato de amor é recompensado por Deus? Perto de três mil pessoas morreram nos atentados de 11 de setembro. Mas que Deus é esse que só se preocupou em salvar um furador de fila?
“Barbeiros não existem! Se existissem, não haveria tanta gente com cabelos grandes e barba por fazer”. Provavelmente você já recebeu esse e-mail. O argumento pretendido é o de que não se pode inferir que Deus não existe por haver mal e sofrimento no mundo. Se há, é porque “as pessoas não procuram Deus, assim como há cabeludos e barbudos porque esses não vão ao barbeiro”. Chega a ser revoltante perceber que ninguém se incomoda com a falácia por trás desse raciocínio, e como as pessoas se apressam em divulgá-lo, esperando que seus contatos de email façam o mesmo. Essa comparação entre Deus e o “barbeiro” não é apenas tola e infundada, mas também nociva. É a forma como as pessoas religiosas espalham entre nós a sua visão deturpada da realidade, como se elas pudessem encontrar algum conforto em contaminar a todos com o mesmo tipo de doença que contraíram. AUTORES DIVERSOS
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O barbeiro não tem nenhum plano para a vida dos cabeludos, nem rejeita cortar o cabelo de alguém em benefício desse plano. Se fosse para seguir o mesmo raciocínio do e-mail, você teria que esperar que aqueles que procuram por Deus estivessem vivendo uma vida tranquila, confortável, repleta de saúde, alegrias e realizações. Como não é o caso, é preciso admitir que Deus não atende a todos os seus “clientes”. A comparação não serve. O crente só acha que serve porque ele foi treinado para admitir coisas inadmissíveis, e projetar no mundo exterior o que só existe dentro da sua cabeça. É por isso que ele vai com tanta frequência à sua boca de culto: lá ele pode usufruir e compartilhar de forma plena, sem interrupções, sem contestações e sem ressalvas, todos os prazerosos efeitos de sua alucinação.
Todo dia alguém perde um voo, pelos mais variados motivos. O avião decola com um a menos a bordo, e ninguém se importa com isso. Entretanto, quando acontece um desastre aéreo sem sobreviventes, aquele passageiro que ficou pra trás ganha status de celebridade por um ou dois dias. Nas ruas, as pessoas começam a falar numa interferência divina, num Deus misericordioso e bom que fez aquela pessoa chegar atrasada ao portão de embarque, salvando assim sua vida tão preciosa, e poupando sua família e amigos de sofrer a tragédia de sua morte. Como se os que morreram no acidente não gostassem de viver, e não fossem fazer falta a ninguém. Mas, enfim, o que é um milagre? Transformar água em vinho? Ressuscitar um defunto? Curar um cego? Você classificaria isso como milagres? Aposto que sim. No filme Poder Paranormal, a personagem de Sigourney Weaver tem uma fala que eu considero sublime:
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“Há dois tipos de pessoas por aí com um dom especial: os que realmente acham que têm
algum tipo de poder; e os que acham que não podemos desmascará-los. Ambos estão errados.” Tudo o que você considera milagre pode ser agrupado em três categorias: ou é uma ilusão, ou é uma farsa, ou simplesmente não é um milagre. Nada do que está na Bíblia pode ser considerado um milagre, mesmo que ainda não tenhamos definido o que “ser um milagre” significa. A constatação óbvia de que relatos de milagres não são milagres escapa à compreensão do crente, que precisa acreditar, por definição. Mas a imagem de um cachimbo não é um cachimbo, e isso não precisa ser endossado por ninguém para continuar sendo verdade. Nas bocas de culto de diferentes denominações evangélicas, você não vai ver ninguém transformando água em vinho, mas pode ouvir alegações sem fim de cura dos mais variados tipos de doenças, e presenciar cegos voltando a enxergar, e paralíticos voltando a andar. Esses últimos são arroz de festa, e são a parte que envolve a farsa. Os primeiros — os doentes “curados” — é uma mistura de farsantes pagos com pessoas iludidas. E é nessas pessoas que se revela uma face altamente danosa da fé, uma vez que muitos se apegam totalmente à esperança de cura em um Deus imaginário, e acabam não procurando os meios efetivos de se tratar de uma doença real. Christopher Hitchens, em Deus não é grande, deu a seguinte definição de milagre:
E acrescentou:
Quando as fraudes são reveladas, quando as ilusões se tornam insustentáveis, pessoas religiosas e perspicazes passam, então, a enxergar os milagres nas coisas mais simples, em que não se faz extremamente necessário que haja uma perturbação ou interrupção do rumo esperado e estabelecido das coisas. Quando os profetas de Baal desafiaram o profeta Elias a provar, em público, que Deus era real, Elias fez uma oração pedindo que Deus se manifestasse e acendesse uma fogueira bem ali, à vista de todos. Mal tinha acabado de fazer o pedido, caiu do céu o fogo do Senhor e a fogueira foi acesa [1Reis, 18:36].
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Mas já faz muito, muito tempo que Deus anda com o fogo baixo. Experimente agora fazer uma oração pedindo alguma coisa, e espere pra ver o que acontece. Claro, não vale trapacear, tipo, você pedir proteção pra sua casa antes de dormir, já tendo trancado todas as portas e janelas. Ou pedir pra ele fazer você passar naquele concurso para o qual vem se matando de estudar nos últimos cinco anos. Orações podem ser úteis em alguns casos. Talvez orar te acalme numa crise de estresse; faça você não se sentir tão sozinho durante uma noite de insônia e preocupação; nem tão desamparado em situações de desespero; talvez te conforte em momentos de angústia. Há quem consiga resultados mais eficientes recorrendo a coisas como exercícios físicos, um telefonema para um amigo, o apoio de parentes próximos, um comprimido. Mas a questão é que nem todo mundo gosta de se exercitar; nem todo mundo tem bons amigos, ou parentes próximos disponíveis, ou a droga certa à mão. Aí Deus acaba sendo mesmo o último recurso. Nesses casos, quando Deus é o último recurso, a necessidade premente de que ele “faça efeito” é tanta que você passa a se sentir mais calmo, menos sozinho, e menos desamparado. Talvez seja um sistema de autodefesa do organismo, um subproduto do instinto de sobrevivência, que faz você reagir de uma forma real diante de situações reais, valendo-se de algo irreal. A ilusão de que orar para Deus traz resultados concretos em sua vida é que te faz acreditar que ele existe, quando, de fato, só existem você e a sua vontade de satisfazer as suas necessidades de conforto, proteção, amparo e companhia. O problema é que a vida está cheia de fogueiras que, para ser acesas, precisaria que Deus existisse mesmo. Inconscientemente, você sabe que não vai poder contar com Deus nesses casos e, então, tranca suas portas e janelas à noite, e se mata de estudar para passar naquele concurso. É você que acende as suas fogueiras. Porque você sabe que, do contrário, teria que encarar o seu próprio, doloroso, inevitável, revelador e solitário momento de deusilusão!
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Uma decepção semelhante à de comprar leite no supermercado e, ao chegar em casa, perceber que a data de validade expirou há uma semana.
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A Bíblia é uma coleção de mitos que alimentam a crença em divindades diferentes: o Deus hebraico, o Deus cristão, Jesus Cristo, o Espírito Santo (?) e Alá. E isso sem contar a versão que cada corrente religiosa, no Ocidente, dá ao Deus bíblico hoje em dia. Na verdade, isso ocorre num nível quase que pessoal. Cada um cria para si o Deus mais conveniente, com as qualidades que julga necessárias, com o caráter bem semelhante ao seu próprio, e com as exigências que mais facilmente ele, crente, acha que poderá atender. A evidência mais evidente da existência de Deus que poderia ser apresentada a um ateu é, justamente, aquela que prova que Deus é uma criação humana: a Bíblia. Todo crente que eu conheço e que você venha a conhecer também não acredita no Deus bíblico. Pelo menos não da forma como ele é descrito lá. Compreensivelmente, ninguém se atreveria a tentar estabelecer qualquer vínculo de afetividade ou respeito com o Deus odioso relatado no Antigo Testamento, com sua preferência por uma etnia específica, queda por maldições, tesão por sacrifícios, fascínio por execuções, e profundamente necessitado de uma assistência técnica do SEBRAE, para tocar sua “obra” adiante com um mínimo de eficiência. Nenhum crente, não importa de que denominação religiosa, crê realmente na divindade que escolheu a Bíblia para se revelar a ele. Daí a necessidade de se criar um Deus à la carte. A falha desse estratagema é que não há como se justificar tal atitude senão dizendo que parte daquela revelação é fruto de intervenção humana, em meio à revelação propriamente dita. Isso porque não é possível explicar como o crente pode diferenciar qual é qual. Tudo o que diz respeito a Deus no mundo real ou é uma fraude, ou uma ilusão. Todas as suas supostas manifestações são fruto da visão deturpada que o crente tem das coisas, quando não da sua própria ignorância. Uma e outra imprescindíveis para que ele continue convencido de que suas orações não estão sendo entregues apenas ao vento. AUTORES DIVERSOS
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Quando preenche seu plano de voo para ir de uma localidade A para uma localidade B, o piloto é obrigado a informar, também, pelo menos uma localidade C para onde o voo seguirá, no caso de não ser possível completar o pouso na localidade B pretendida, por conta de mau tempo, ou mesmo indisponibilidade temporária da pista. A localidade A é chamada de “origem” do voo; B, de “destino”; e C, de “alternativa”. Por conta disso, regras internacionais prescrevem que a aeronave seja abastecida o suficiente para, a partir de A, chegar até a alternativa C, passando pelo destino B, mais ainda uma quantidade x de combustível que lhe permita voar por mais 45 minutos além de C, como margem de segurança. Dependendo da época do ano, por exemplo, devido ao clima, ao engarrafamento aéreo, ou a uma combinação disso, uma aeronave precisará manter-se em espera por quase uma hora, sobrevoando algum ponto já nas imediações do seu destino, antes de ser autorizada a pousar em certos aeroportos dos Estados Unidos. Atrasos e esperas precisam ser levados em conta na hora do abastecimento, o que não permite que ninguém pense em fazer economias nas despesas com o combustível. Isso além de outros muitos fatores, como se o voo será realizado com vento a favor ou contra, ao longo da rota; peso da aeronave, de todos os passageiros e bagagens somados; altitude em que o voo irá se realizar; temperatura do ar e demais condições climáticas nas localidades envolvidas. E o que pouca gente pensaria em pôr no cômputo: o peso do próprio combustível.
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O querosene que uma aeronave carrega nos tanques também pesa, e uma boa parte dele terá a única função de transportar-se a si mesmo. Mas aqui há um detalhe: o combustível vai se consumindo ao longo do voo, à medida que o tempo passa. A quantidade de querosene que chega ao destino é bem menor do que aquela que decolou com a aeronave, e isso também precisa ser calculado. Portanto, para que um piloto responsável possa determinar com quantas libras de combustível irá abastecer sua aeronave, ele precisará se preocupar com variáveis tão diversas como as distâncias entre A e B, e B e C; altitude do voo, vento contrário, temperatura, e condições climáticas nessa altitude; atrasos previstos para a rota; número de passageiros que irá transportar e o peso de suas bagagens; peso inicial do combustível com que irá decolar, e quanto desse peso será diminuído ao longo da viagem, nos trechos A-B e B-C. É um procedimento muito, muito complexo, e muito, muito sério, o de calcular a quantidade certa para abastecer uma máquina de várias toneladas que vai se elevar a quilômetros do solo transportando pessoas. Não há espaço para erros. E também não há espaço para fé. Nesse episódio, vou contar a história de um voo em que se resolveu incluir uma variável não prevista no cálculo do combustível: Deus.
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Só há um meio de transporte mais seguro do que o avião: é o elevador. Mas, já que você não pode ir à Disneylândia dentro de um, melhor pegar um voo comercial. Empresas de grande porte dos Estados Unidos, por exemplo, só perdem uma aeronave devido a acidente aéreo a cada 4 milhões de decolagens. Você tem quatro vezes mais chances de morrer atingido por um raio do que por viajar num voo da United Airlines. Para que ocorra um desastre aéreo é preciso que uma série de pequenas falhas se somem, não sejam percebidas ou corrigidas a tempo, e que tais falhas se combinem, numa ordem macabra, com determinados eventos. Se uma falha fosse corrigida ou não tivesse existido; ou se a ordem dos eventos fosse alterada em algum ponto, geralmente, o acidente não teria acontecido. Independentemente das preocupações que passem pela sua cabeça enquanto afivela o cinto dentro de um avião, eu quero crer que você nunca iria incomodar uma comissária de bordo (elas detestam ser chamadas de aeromoça) nesses moldes: — Por favor, pergunte ao piloto se ele lembrou de encher o tanque. Quando se entra num avião, eu acho que a última coisa que a gente iria temer seria que o combustível acabe antes do voo chagar ao aeroporto de destino. Mas quando você está a bordo de uma aeronave que não é da United Airlines, e sim de uma pequena companhia aérea iniciante no ramo; quando você não está num país como os Estados Unidos, mas no Brasil, onde as autoridades não são famosas por exercerem sua função como deveriam; quando seu voo está indo para um lugar onde o combustível é 40% mais caro do que o que é vendido no aeroporto de onde você vai decolar, e para onde a aeronave vai retornar logo em seguida… Bem… Já nesses casos… Você teria mesmo motivos para se preocupar! AUTORES DIVERSOS
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Isso porque o piloto em comando poderia ficar tentado a fazer o percurso de A para B e, depois, de B para A, enchendo o tanque apenas uma vez, em A, onde o combustível é 40% mais barato do que em B. No trecho de volta, de B para A, o combustível estaria “contado”: apenas o suficiente para cumprir o trajeto. Sem margem para erros nem imprevistos. Só com a ajuda de Deus um voo assim poderia terminar bem. Mas o grande problema com Deus é que ele só se dispõe a ajudar as pessoas quando elas tomam todas as precauções que tomariam se ele não existisse.
No dia 21 de novembro de 2008, o deputado Dudu da Fonte, presidente do Partido Progressista em Pernambuco, pousou em Teresina num Boeing 737-800 da Gol, vindo de Brasília. Ele estava ali para as comemorações de aniversário de 40 anos de um colega de partido, e para ver o show da banda Calypso, no dia seguinte, que iria dividir o palco com o cantor Daniel e a dupla Zezé di Camargo & Luciano. Durante o show, no sábado à noite, Dudu da Fonte foi convidado por um amigo, um dos empresários da banda Calypso, a voar de carona para Recife no recém-adquirido avião do músico Chimbinha, guitarrista, compositor e empresário da banda. O deputado aceitou no ato. Ele havia feito uma reserva num voo da TAM que sairia de Teresina na manhã seguinte, às onze e trinta, com pouso previsto no seu “domicílio eleitoral” apenas para as quatro da tarde do domingo, devido a uma escala em Fortaleza. Com a carona, poderia embarcar às 9 horas e, num voo direto, chegar à capital pernambucana antes da hora do almoço. Na manhã de domingo, na hora marcada, Dudu da Fonte compareceu para pegar sua carona. A aeronave era um King Air (rei dos ares), modelo Beech 200, e ele foi o último dos 8 passageiros a embarcar, ficando, assim, com o último assento disponível: uma cadeira individual, bem atrás do copiloto. A viagem transcorreu tranquila até que, mais de duas horas depois da partida, quando o piloto já havia abaixado o trem de pouso e recebido autorização da torre de AUTORES DIVERSOS
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controle para pousar, ele ouviu vários alarmes tocarem ao mesmo tempo na cabine bem ao seu lado. Olhou curioso por cima dos ombros dos pilotos e viu a pista de pouso do aeroporto de Recife à sua frente. — O que houve? — ele perguntou. — Bote o cinto e abaixe a cabeça que a gente vai fazer um pouso de emergência — o copiloto respondeu. Ele obedeceu em parte: botou o cinto. Pouco tempo depois dos alarmes terem começado a disparar, ele viu a pista de pouso se deslocar para a direita e para cima, emoldurada que estava pelo para-brisa, enquanto a aeronave inclinava-se para a esquerda e apontava o nariz para baixo, perdendo altura rapidamente. Ouviu ainda o comandante pedir para que lhe prendessem aos cintos de segurança, que haviam passado toda a viagem soltos por trás da sua poltrona, mas o copiloto não teve tempo de atendê-lo. Em poucos segundos, deu-se a colisão contra o solo, numa área urbana a quatro quilômetros da cabeceira da pista de pouso. A aeronave teve as asas arrancadas com o impacto e dividiu-se em três partes. Mas não explodiu: os tanques de combustível estavam completamente vazios.
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O avião de prefixo PT-OSR decolou de Recife para Teresina com os tanques cheios: 1.461 litros de querosene de aviação. No trecho de ida, Recife-Teresina, a aeronave consumiu 676 litros daquele total, sobrando nos tanques 785 litros, o que, em tese, seria suficiente para voar de volta a Recife, com “folga” de 109 litros: 785 (nos tanques) – 676 (consumo de Recife para Teresina) = 109 Ou seja, tudo dando certo, o piloto pousaria em Recife com 109 litros de querosene de sobra, quantidade suficiente para 21 minutos de voo em nível de cruzeiro, quando a aeronave está nivelada em alta altitude. Pela legislação aeronáutica internacional, entretanto, aquele avião teria que ter deixado Teresina com, pelo menos, 1.026,7 litros de combustível. Com essa quantidade, a aeronave poderia ter voado até o destino, Recife, e, se necessário, teria conseguido prosseguir para o aeroporto de alternativa, tendo, ainda, combustível extra para voar mais 45 minutos, como margem de segurança. Mas o piloto não parecia estar preocupado com a segurança, e não abasteceu o avião em Teresina, onde o preço do combustível era 40% maior do que em Recife. Por isso, no ato do preenchimento do seu plano de voo, ele foi obrigado a mentir e informar que a aeronave tinha autonomia para voar durante 4 horas, quando, matematicamente falando, ela poderia se manter no ar por apenas 2 horas e 31 minutos. Só que essa matemática foi feita admitindo-se o voo nivelado em altas altitudes, onde o ar é rarefeito. Durante as decolagens e pousos, em que o aparelho executa várias manobras abaixo das nuvens, o ar mais compacto exige um consumo bem maior de combustível. Comparativamente, é a mesma razão pela qual seu carro consome mais no tráfego da cidade, onde se AUTORES DIVERSOS
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usa muito as primeiras marchas para vencer a inércia, do que quando se mantém a uma velocidade constante em quinta marcha numa BR. Não se sabe se por ter desconsiderado isso, ou se por puro esquecimento da situação crítica do combustível, o piloto não declarou emergência quando, a 10 minutos do pouso, o controlador de voo o instruiu a fazer um desvio de 3 minutos, afastando-se do aeroporto, por causa de um Boeing de uma empresa comercial que iria pousar à sua frente. Ora. Então, você está pilotando um avião abastecido para voar 2 horas e 31 minutos (matematicamente falando). Como você sabe que já voou por 2 horas e 10 minutos, dá para calcular de cabeça que lhe restam apenas 21 minutos de voo. Mas você sabe, também, que está voando abaixo das nuvens, onde o ar mais denso exige um maior consumo de combustível do que nas altas altitudes, que foi o que se considerou naqueles cálculos. Logo, você conclui que não tem 21 minutos de voo. Talvez tenha só uns 10. Talvez menos. Aí o que acontece? O controlador te manda voar 3 minutos se afastando do aeroporto, para dar passagem a outra aeronave. Contando com os 3 minutos que você vai ter que voar de volta, lá se vão 6 preciosos minutos dos 10 que você “acha” que tem. Numa situação dessas, bastaria que o piloto tivesse transmitido na frequência de rádio da torre de controle algo como: — MAYDAY! MAYDAY! MAYDAY! Estamos quase sem combustível aqui! O controlador de voo, também levando em conta a legislação aeronáutica internacional, teria dado prioridade ao pouso do King Air em emergência, tirando da frente qualquer voo que fosse lhe atrasar o pouso. Mas o piloto não fez isso. E seu copiloto — que não era habilitado naquele tipo de aeronave, e estava voando ali a convite do piloto, seu amigo, apenas para um treinamento informal — bem… o copiloto não sabia nada a respeito do pouco combustível que restava nos tanques. Durante as investigações, ele disse que, depois que os alarmes começaram a soar ao mesmo tempo na cabine, ele só veio a conhecer o problema quando o motor esquerdo do King Air parou de funcionar, fazendo a aeronave se inclinar perigosamente para a esquerda, enquanto o piloto gritava em desespero ao seu lado: — O combustível! O combustível!!!
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Sim, o deputado Dudu da Fonte sobreviveu à queda do avião em que viajava de carona de Teresina para Recife. E eis o que disse à imprensa sobre o ocorrido: O piloto mostrou sangue-frio. Na hora do impacto, colocou o lado dele para que batesse primeiro no chão. Foi um herói. Acredito muito em Deus e sei que “Ele” operou um milagre na minha vida.
Não, o piloto não “colocou o lado dele para que batesse primeiro no chão” na intenção de salvar a vida do nobre deputado. O aparelho bateu com o lado esquerdo porque foi o motor desse lado que falhou primeiro. E, se estivesse mais a par dos acontecimentos, Dudu da Fonte não teria chamado de herói a pessoa que foi responsável por aquele desastre. Quanto a ter sido um milagre de Deus ele ter sobrevivido… Bom… Isso só mostra que o crente é um arquiteto que, invertendo a ordem das coisas, trabalha no projeto de um prédio que já foi construído, obrigando-se a ajustar o desenho na prancheta ao que está diante dos seus olhos, materializado em concreto, vidro e aço. Dudu da Fonte precisou entender o que tinha acontecido de forma que os eventos se ajustassem ao seu prédio já pronto: sua crença religiosa. Assim ele concluiu que foi salvo por uma intervenção do ser mágico em que acredita e que, em troca, oferece proteção. Das dez pessoas a bordo daquele voo, apenas duas morreram: um passageiro e o piloto. O suficiente para que esses engenheiros de obras prontas vissem aí a mão do seu Deus. Mas onde eles veem um milagre eu vejo apenas uma probabilidade: existe, sim, chance de haver sobreviventes num pouso forçado de uma aeronave de médio porte, após uma pane-seca a baixa altura.
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O que eu consideraria, então, um milagre? Alguém escapar da queda de um avião que ficou sem combustível a 10 quilômetros de altitude. Ou se o King Air em que viajava o deputado Dudu da Fonte tivesse conseguido voar mais 5 minutos, até a pista de pouso, sem uma gota de querosene nos tanques. Mas isso jamais aconteceria. O que aconteceu foi o que pode, eventualmente, acontecer após um desastre aéreo desse tipo: haver sobreviventes. Nesse, oito pessoas conseguiram escapar, o que incentiva o religioso a enxergar um milagre. Claro que, se não tivesse morrido ninguém, teria sido um milagre ainda maior, mas qualquer vida poupada já evidencia a existência de um Deus misericordioso e bom. Mas quando ninguém é tirado vivo dos destroços de uma aeronave, curiosamente as pessoas religiosas deixam de falar em milagres. E fala-se apenas em tragédia. Deus é só um carimbo que as pessoas põem nas coisas boas quando — e se — elas acontecem
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Minos, um dos muitos filhos de Zeus, fez um pacto com o deus Poseidon para tornar-se rei. Quando foi coroado soberano da ilha de Creta, o deus dos mares exigiu que Minos cumprisse sua parte do acordo e lhe sacrificasse um touro branco em sua homenagem. O rei Minos, entretanto, encantouse de tal forma com a beleza do animal que Poseidon forneceu para o sacrifício que tentou enganar o deus matando outro touro no lugar. Enfurecido com tamanho insulto, Poseidon fez com que a esposa de Minos se apaixonasse pelo touro branco, vindo a engravidar dele. Quando nasceu o que se esperava ser o primeiro filho do rei, todos em Creta souberam que seu monarca havia sido amaldiçoado pelos deuses, pois sua esposa dera à luz uma criança com cabeça de touro, que o povo passou a chamar de Minotauro: o touro de Minos. Resignado com o castigo, Minos continuou com sua infiel esposa Pasífae — de cuja união nasceriam ainda Ariadne e Androgeu —, mas precisava descobrir o que fazer do monstro que achavam ser seu filho. Recorreu, então, aos serviços de Dédalo, o maior artífice de Atenas, e ordenou-lhe a construção de um labirinto gigantesco para aprisionar o Minotauro. Muitos anos depois, Minos viu Androgeu ser morto pelos atenienses durante uma batalha. Como vingança pela morte do filho, depois de conquistar Atenas, ele ordenou que 7 moças e 7 rapazes da cidade fossem escolhidos, todo ano, para serem lançados no labirinto, como oferenda ao Minotauro, que os devorava. Não podendo aceitar que tamanha maldade perdurasse indefinidamente, um herói ateniense, chamado Teseu, decidiu matar o Minotauro dentro de seu labirinto. Tão logo aportou na ilha de Creta para consumar seu intento, Teseu conheceu Ariadne, filha de Minos, e os dois se apaixonaram. Uma vez informada do plano, Ariadne decidiu ajudá-lo, e lhe ofereceu um enorme novelo de lã, com o que o herói iria se guiar no caminho a percorrer de volta, para fora do labirinto, depois de exterminado o perigoso monstro. O plano funcionou como esperado e os dois amantes fugiram juntos da ilha de Creta, deixando o rei Minos desconfiado de que Dédalo havia ajudado o casal, pois era impossível achar a saída do labirinto depois que se entrava nele. Como punição, Minos ordenou que Dédalo e seu filho, Ícaro, fossem mantidos presos para sempre dentro da obra que havia construído. No labirinto imenso, o engenhoso Dédalo juntou penas de pássaros e coletou cera de colmeias para construir dois pares de asas, que amarrou em Ícaro e em si mesmo. Antes da fuga, Dédalo instruiu seu filho para que não voasse nem muito baixo, de modo que as ondas do mar molhassem suas penas; nem muito alto, para que o sol não derretesse a cera que as mantinha unidas. Eles já estavam a salvo da sua prisão, para muito além dos últimos muros do labirinto, quando Ícaro esqueceu-se do conselho que recebera e voou em direção ao sol. Fascinado com a sensação de liberdade e poder que experimentava, sentindo-se mais como um deus do que como um mortal, ele voou tão alto que os gritos de seu pai não mais se podiam ouvir. Como Dédalo havia previsto, toda a cera das asas derreteu com o calor. E enquanto o sol indiferente fazia resplandecer contra um céu azul milhares de penas soltas, Ícaro precipitava-se em queda vertiginosa, afogando-se, junto com sua ilusão de grandeza, nas frias águas do mar Egeu. AUTORES DIVERSOS
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Escrevi o episódio 1 baseado em duas fontes: o relatório final de investigação do acidente com o PT-OSR, disponibilizado na internet pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos; e em uma entrevista concedida pelo copiloto da aeronave ao site da revista Isto É. O episódio 2 também é de minha autoria, elaborado após a leitura de alguns textos obtidos na internet com a pesquisa “Ícaro + mitologia grega” no Google. Dito isso, que os textos são inéditos e que eu sou o autor, acho que posso listar mais ainda algumas semelhanças entre eles: foram escritos em língua portuguesa; são uma narrativa em terceira pessoa; relatam as mortes de seres humanos que estavam se deslocando através do ar; fazem referência a pessoas e a lugares; e, por fim, são textos que talvez sirvam para nos trazer um bom ensinamento, a chamada moral da história — devemos seguir os conselhos e orientações daqueles que certamente tenham a devida competência para dar esses conselhos e orientações. No caso do piloto da aeronave sem combustível, a legislação aeronáutica; no caso de Ícaro, a instrução dada pelo próprio pai. E que tipo de diferenças eu poderia listar? A extensão: o episódio 1 é umas cinco vezes maior que o 2. A fama do tema: é muito mais provável que qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, seja criança, adulto ou idoso, saiba alguma coisa sobre a história de Ícaro do que sobre o acidente sofrido pelo avião da banda Calypso. O distanciamento geográfico-temporal: em relação a nós que vivemos no Brasil, no século 21, estamos mais próximos, no tempo e no espaço, dos acontecimentos narrados no episódio 1. O estilo: o relato do acidente aeronáutico ocorrido em Recife é essencialmente jornalístico, enquanto o outro foi escrito no estilo literário. E, por último, o texto sobre a queda do PT-OSR descreve um fato verídico, enquanto que a narrativa de um filho que desobedeceu o pai e teve suas asas desfeitas pelo calor do sol é fictícia, ou seja, foi inventada, não aconteceu. Acredito que alguém possa ainda encontrar mais um ou dois itens a inserir em uma ou outra lista. Acho também que ninguém irá discordar das que foram apresentadas acima, com as diferenças e semelhanças que eu mesmo encontrei entre esses dois textos que produzi. Agora, mesmo que você não creia em deuses, dispense uns cinco ou dez minutos do seu tempo em intensa reflexão filosófica, antes de responder a essa minha pergunta: AUTORES DIVERSOS
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O que é que te permite classificar o episódio 2 como sendo um mito, um relato de algo que nunca aconteceu de verdade? Se você é um religioso cristão, entretanto, sugiro que se dê mais do que cinco ou dez minutos. Isso porque eu acho que você não vai querer usar argumentos que eu poderia, eventualmente, aproveitar para classificar, também como sendo um mito, uma história de um certo meliante que foi torturado até à morte, passou menos de quarenta e oito horas sepultado, voltou dos mortos e saiu voando, sem asas e sem combustível, para o mais alto dos céus.
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Se uma história se parece com uma fábula, é porque ela é uma fábula… Quando você considera o mundo honestamente, a coisa é assim mesmo tão simples quanto parece. Não tem “mas”, nem meio “mas”. Fábula é fábula; realidade é realidade; e dá pra saber qual é qual sem muito esforço. Uma coisa é um príncipe escolher uma plebeia para ser sua esposa; outra é um príncipe ser transformado num sapo por uma bruxa malvada, e ter o encanto quebrado por uma plebeia que, por algum motivo, resolveu beijar um sapo na boca… Pode acreditar em mim quando eu digo que dá para identificar uma fábula quando se lê uma. Nelas, acontecem coisas que não poderiam ocorrer no mundo real. Não importa quantas pessoas acreditem que bruxas existem (e que podem transformar qualquer um, seja príncipe ou não, em sapo), bruxas não existem, e pessoas não podem ser transformadas em sapos… Intuitivamente falando, eu “sei” que a história de Ícaro é uma fábula. Mas o que me permite concluir que é assim, racionalmente? Seria preciosismo meu apontar o evidente equívoco AUTORES DIVERSOS
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do seu autor no desfecho da história: a temperatura não aumenta à medida que alguém voa para cima, em direção ao sol. Na verdade, ela diminui. Na próxima vez em que viajar de avião, lembrese de ouvir as informações que o piloto geralmente fornece quando a aeronave atinge o nível de cruzeiro. A temperatura do ar externo estará várias dezenas de graus abaixo de zero. Ícaro não correria o risco de ter a cera de suas asas derretidas só por voar mais alto. O verdadeiro problema de Ícaro é que ele jamais levantaria voo com um par de asas feitas de penas de pássaro e coladas com cera. É isso que “entrega” o mito. Como eu disse: é fácil identificar uma fábula, quando você considera as coisas honestamente. Basta sentar numa poltrona confortável, pensar sobre o assunto por um ou dois minutos, para concluir que tal e tal coisa seria impossível de ocorrer no mundo real. A opção seria você dizer para si mesmo e para quem mais quisesse ouvir: “Não, não é impossível. Aconteceu mesmo. Eu acredito.” Isso é o que se chama Fé. E fé é algo de muita serventia para o crente, quando tudo o mais funciona bem. Porque, quando não é o caso, o que sobra ao temente a Deus é aquilo com o que qualquer outro “não temente” poderia contar também: a sorte. E o que se pode entender por “sorte”? Uma situação de risco — como estar voando a baixa altura num avião sem combustível — da qual você saiu ileso, quando o esperado era que se machucasse muito; da qual saiu com lucro, quando a probabilidade era a de que amargasse um enorme prejuízo; ou da qual você saiu vivo, quando havia grande chance de ter morrido. Fé só é útil em retrospecto, quando se está num leito de hospital, dando entrevista sobre o acidente aéreo do qual você foi um dos sobreviventes. É quando se costuma esquecer que os que morreram também tinham fé em escapar. O que eles não tiveram foi sorte.
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Mais de 40% das pessoas que viajam regularmente de avião declaram que têm medo de voar. Em prol do bom entendimento, o que elas temem, na verdade, não é o voo, mas a queda. Consciente ou inconscientemente, essas pessoas são atormentadas pelo pensamento onipresente de que, para chegarem vivas ao seu destino, muita coisa precisa funcionar direito. E esse “muita coisa” quer dizer muita coisa mesmo! Os inúmeros sistemas da aeronave — hidráulicos, elétricos, mecânicos, eletromecânicos, eletrônicos e aerodinâmicos — que garantem o voo em si; as dezenas de equipamentos eletroeletrônicos dispostos no solo, nos aeroportos e ao longo da rota, que dão suporte à navegação e às comunicações com o controle de voo; as condições climáticas, e por aí vai… Alguém que morre de medo de voar terá seu comportamento justificado se descobrir que um avião caiu porque o piloto quis economizar no combustível. E mais justificado ainda esse medo se tornaria se ele viesse a saber que, tecnicamente falando, todo avião que pousa é um avião que cai. A diferença entre um acidente aéreo e um pouso bem-sucedido é que um pouso é uma queda muito bem planejada. Quando a aeronave, a baixa altura e numa velocidade crítica, perde completa e definitivamente sua sustentação no ar, a pista de pouso já está bem ali embaixo: reta, plana e asfaltada, pronta para ser percorrida pelos pneus do trem de aterrissagem. Tem gente grande que até bate palmas, logo após o reverso dos motores frear a aeronave, sem se dar conta de que o avião em que viajava acabou de cair.
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A crença em Deus pode ser comparada a um voo numa aeronave que não recebeu combustível suficiente para chegar ao destino. Desconhecendo essa realidade, o crente pode conservar a calma impassível dos ignorantes, até o instante em que os alarmes começarem a soar na cabine de comando, para despertá-lo do seu sonho de Ícaro. Fé pode ser muito útil em alguns poucos casos, e tremendamente danosa em todos os outros. A utilidade dela se percebe, por exemplo, na tranquilidade demonstrada por aqueles 60% que declararam que não têm medo de voar. Eles acreditam que tudo vai dar certo, que a aeronave foi abastecida como deveria, e que ela “nunca” vai cair. É essa crença que os deixa livres e despreocupados, na sala de embarque, para fazer compras de última hora, ler um livro ou mandar alguns e-mails. É um conforto individual. Quando se trata de coletividade, entretanto, a fé religiosa sempre trouxe muito mais malefícios do que benefícios. Como quando alguém quer economizar 40% na despesa com o combustível, e faz um voo suicida contando apenas com a proteção de um personagem de um livro de fábulas. O ateísmo é um pouso, mas não no sentido de ser uma queda planejada, porque não é possível alguém planejar se tornar ateu. Mas é um pouso no sentido de ser uma volta consciente à terra, depois que se percebeu o risco que é contar com um combustível que simplesmente não foi colocado nos tanques. O ateu é um Ícaro que não renegou a sua origem mortal compartilhada com cada ser vivo deste planeta; que não foi prepotente a ponto de ignorar a voz da razão; que não se embriagou no orgulho de se achar especial demais; que não se extasiou no sonho encantado de ser o que não é. O ateu é um Ícaro que não deixou que o sol derretesse sua cera, nem que o mar molhasse suas penas, voando alto o suficiente apenas para elevar-se acima dos muros de um labirinto feito de mentiras e de ilusões, para pousar logo depois em terra firme e em liberdade. O labirinto do qual ele escapou foi construído há muitos milênios, para aprisionar as mentes daqueles que se acham e se comportam como se fossem a coisa mais importante do universo. Lá dentro, eles todos consomem suas vidas numa prisão gigantesca, e morrem, um a um, na queda inevitável após o voo suicida em direção a um céu que jamais poderão alcançar.
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Do Blog Tyrannosaurus Rex
Wishful thinking é uma expressão da língua inglesa, ainda sem equivalente em português. E bem precisa de um por ser relativamente difícil de pronunciar (assim como o temido “bluetooth”). Trata-se de um tipo de falácia, ou erro de raciocínio, que consiste no seguinte:
“eu gostaria (muito) que X fosse verdade (ou mentira) portanto X é verdade (ou mentira)” Colocado dessa maneira parece absurdo que alguém possa pensar assim mas é algo muito mais comum do que parece e ultimamente está até na moda. Algumas características deste tipo de falácia: • • • •
aparente ingenuidade / simplicidade otimismo (ou pessimismo) exacerbado têm algo a ver com memória seletiva dão ótimas frases de efeito em discursos para impressionar a platéia
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• constituem excelentes frases para manuais de auto-ajuda • abundam no discurso politicamente correto e nas religiões Vejamos um exemplo: “Todos são iguais perante a lei!” Repare no ponto de exclamação no final. É uma daquelas frases que as pessoas estufam o peito e enchem a boca para declarar com orgulho e pompa. Até deveria ser verdade, mas não é. Por acaso as pessoas que fazem tal afirmação (tão comum) desconhecem todas as leis que dão privilégios a uns em detrimento de outros? Será que não sabem que juízes se aposentam com salário integral enquanto elas próprias receberão apenas uma fração do que ganhavam? Será que não sabem que parlamentares têm direito a “foro privilegiado” e elas não? Será que não sabem que pessoas com curso superior têm direito a “cela especial” e outras não? Desconhecem a existência da fiança que separa quem pode pagar dos que não podem? Etc, etc. Na verdade sabem, por isso a afirmação não revela ingenuidade ou ignorância mas antes um desejo. A pessoa não afirma o que “é” mas o que “deveria ser”, na sua opinião, ou seja, aquilo que deseja. Uma maneira bem clara de explicar o que é wishful thinking é como sendo “a expressão não da verdade mas de um desejo”. O desejo de que afirmação seja verdadeira é tão forte que a pessoa ao afirmar em voz alta, com forte convicção, tom bombástico, está tentando convencer a si própria da veracidade da sua afirmação. E se pode convencer a si mesma com a artimanha quem sabe não poderá convencer seu interlocutor, pensa. O Blog da Crítica sugere o termo “Falácia da Esperança” para wishful thinking. É um bom nome, já que se trata de uma falácia, um erro de raciocínio; e da esperança – esperança ou desejo de que algo fosse verdade. Por essa razão eu sugeriria também a denominação “Falácia do Desejo”. Outra sugestão mais espirituosa seria “síndrome Seicho No Ie” (ver abaixo). Mais alguns exemplos: “Todos são iguais e têm os mesmos direitos!” Uma frase com duas afirmações e as duas falsas. É uma pequena variação da anterior e bem ao estilo dos “politicamente corretos”. Deveria ser assim também mas não é. As pessoas não são iguais e não têm os mesmos direitos. E isso está claro na legislação. De fato, o “politicamente corretismo” é uma tentativa de fazer um agrado ao ego das pessoas com eufemismos ou até mentiras, se necessário. “O Wandherkleysson não mora numa favela mas numa comunidade!”. Legal! Assim o Wandherkleysson troca o constrangimento pelo orgulho, a sociedade fica mais tranqüila ao amenizar sua revolta, o governo não precisa gastar tanto com urbanização e todos ficam felizes. Não será surpresa, então, a constatação de que o “politicamente corretismo” é uma forma de wishful thinking. Ou, para abusar da cacofonia: o wishful thinking abunda no “politicamente corretismo”! AUTORES DIVERSOS
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Vejamos então mais um exemplo da cartilha dos politicamente corretos: “Ninguém é burro, todo mundo é inteligente!” Bonito isso! Pena que também não é verdade. Claro que tudo depende da definição de “inteligência” mas qualquer que seja a definição sempre haverá a média, os acima da média e os abaixo dela. O que se pretende, na verdade, com essa frase é fazer um afago no ego dos burros… e no de seus pais. Asinum asinus fricat. Já imaginou, leitor, que triste a constatação de que seu filho é um completo tapado? Não será bom e reconfortante consolo para os desafortunados pais de uma criança burrica ouvirem tal afirmação? Haverá, assim, alguma esperança para ele. O garoto não é burro.. apenas… bem.. tem “outro tipo de inteligência”. Não será uma sumidade mas… deve ser bom em alguma coisa, o estrupício! Ah, a natureza… sempre tão politicamente incorreta… Mas voltemos aos exemplos… “Todos são iguais perante a lei!” Esta é uma variante da que foi discutida acima. Reparou que em todos os exemplos dados até agora aparecem as palavras ‘todos’, ‘todo mundo’, ‘ninguém’? Dica: Para não errar na hora de formular leis que descrevem fenômenos humanos ou sociais evite palavras como ‘todos’, ‘ninguém’, ‘sempre’, ‘nunca’, ‘jamais’ e similares; substituaas por variantes mais prudentes, e realistas, como ‘a maioria’, ‘a minoria’, ‘muitos’, ‘poucos’, ‘em geral’, ‘raramente’, etc. Por exemplo: “Todos os homens são safados!” Versão corrigida: “Muitos homens são safados!” (Este serve também como um exemplo de corporativismo.) Vamos em frente: “O corpo humano é uma máquina perfeita!” Wishful thinking é desejo. Qual seria o desejo neste caso? Se o corpo humano fosse de fato perfeito seria um argumento a favor dos criacionistas, ansiosos em alardear a perfeição da criação divina. Mas nem é preciso fazer faculdade de medicina para ver alguns “furos” do corpo humano. Os dados abaixo foram tirados da mídia: AUTORES DIVERSOS
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• 85% das pessoas terão artrose a partir dos 60 • 75% das pessoas tem, teve ou terá dor nas costas (e o autor deste texto faz parte desse número) • 60% das mulheres adultas têm mioma • 35% (dos brasileiros) têm alguma alergia • 30% das pessoas tem rinite alérgica • 25% (dos brasileiros) têm hipertensão • 5% a 17% têm dislexia • 10% a 20% tem asma • 10% a 15% das mulheres sofrem de depressão pós-parto • 14% da população tem alguma deficiência • 11% tem, teve ou terá alguma fobia • 1% é psicopata • o sistema respiratório das aves é mais eficiente que o nosso permitindo que elas obtenham duas vezes mais oxigenio que nós; • os dentes dos dinossauros eram muito mais eficientes que os nossos e quando um se quebrava crescia outro no lugar; • as mulheres perdem muito ferro pelas abundantes menstruações e com o avanço da idade perdem muito cálcio, estando mais sujeitas à anemia e osteoporose; • os homens têm mamilos! E um de seus pontos fracos, os testículos, pendem vulneráveis fora do corpo! E etc, etc. Temos que admitir, o corpo humano é um perfeito exemplo… de imperfeição! “Quem não deve, não teme!” Este até já se tornou um dos bordões do Datena. E para contestá-lo posso dar um exemplo pessoal: em 2001 tive meu carro roubado. O ladrão, com o revólver na minha cabeça, não quis só o carro mas também minha carteira; na ocasião ofereci que levasse o dinheiro mas deixasse meus documentos, mas ele fez questão de levar tudo. Meus documentos podem ter sido usados para abrir empresas de fachada ou para aplicar diversos outros golpes e, portanto, a partir desse dia eu corro o risco de ser preso injustamente pelos crimes de outras pessoas. Foi exatamente isso que aconteceu com um homem no Paraná (Homem é preso 4 vezes após ter documentos furtados). Quem já teve seus documentos roubados não deve… e teme! E mesmo quem (ainda) não os teve, como pode não temer com tantos casos de prisões injustas? Cito alguns: ― ― ― ― ―
Inocentes Presos Um inocente preso há quatro anos Motorista inocente passa 4 anos preso em São Paulo Inocente fica preso por 19 anos e morre ao saber de indenização Inocente esteve preso 27 anos
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― Japonês é libertado da prisão após 48 anos no corredor da morte Com certeza o leitor já entendeu a idéia. Por isso vou citar mais alguns exemplos sem maiores explicações: “A justiça tarda mas não falha!” “A voz do povo é a voz de deus!” “Deus é brasileiro!” (curioso exemplo de wishful thinking coletivo) “A vida começa aos quarenta!” “No final a verdade sempre aparece!” Doença não existe! (Seicho No Ie) E mais uma pérola do Datena: “Deus protege as crianças e os bêbados!” Como se vê pelos exemplos podemos reformular a definição de wishful thinking para: “ter algo como verdadeiro apenas por desejar que assim seja” e, substituindo-se “ter algo como verdade (sem provas)” por “acreditar”, temos: “acreditar em algo, ou que algo é verdadeiro, mesmo sem provas, apenas por desejar que assim seja”. Fica claro porque a religião é uma forma de wishful thinking. Então vejamos alguns exemplos sacros: “O Senhor é meu pastor e nada me faltará.” “Aqui se faz, aqui se paga!” (“Os bonzinhos são recompensados e os mauzinhos são punidos.”) “Você vai para o inferno, ateu!” “Jesus te ama!” Sim… O Wishful thinking na religião abunda! Ideologias em geral podem ser dogmáticas como religiões e podem ter o mesmo efeito que estas em pessoas com preguiça de usar seu intelecto ou desprovidas de qualquer discernimento (militantes). Vejamos alguns exemplos em que é necessária uma grande dose de fé (desejo de que seja verdade): AUTORES DIVERSOS
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“O comunismo é a ditadura do proletariado.” “Lula não teve nada a ver com o ‘Mensalão’!” “If you look for truth, you may find comfort in the end; if you look for comfort you will not get either comfort or truth only soft soap and wishful thinking to begin, and in the end, despair.” C. S. Lewis “Wishful thinking is not idealism. It is self-indulgence at best and self-exaltation at worst. In either case, it is usually at the expense of others. In other words, it is the opposite of idealism.” Thomas Sowell “Wishful thinking is one thing, and reality another.” Jalal Talabani
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Dizer que a religião é inútil daria a entender que se não faz bem, mal também não faz, mas isso não é verdade, a religião é nociva e perniciosa. Eis alguns motivos: 1)
Existem uns poucos motivos para se co-meçar uma guerra:
a) ambição (poder, riquezas, terras) b) “bullying” (intimidação covarde) c) vingança d) sentimento de superioridade (“limpeza étnica”) e) religião Todas coisas ruins, e não é à toa que a religião figura dentre elas. A religião, na verdade, está intimamente ligada ao sentimento de superioridade – o sentimento de “superioridade” cultural e religiosa estimula o desejo de “limpeza cultural e religiosa” de outras culturas/religiões consideradas “inferiores”. Essa “limpeza cultural” é eufemisticamente AUTORES DIVERSOS
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chamada de “evangelização”, podendo ou não tomar proporções de guerra dependendo da resistência oposta a ela. Exemplos: Cruzadas, destruição de povos e culturas nativas americanas, “limpeza étnica” de Israel contra os palestinos, perseguição aos judeus[1], etc.
“A man who is convinced of the truth of his religion is indeed never tolerant. At the least, he is to feel pity for the adherent of another religion but usually it does not stop there. The faithful adherent of a religion will try first of all to convince those that believe in another religion and usually he goes on to hatred if he is not successful. However, hatred then leads to persecution when the might of the majority is behind it.” Albert Einstein 2)
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Os religiosos afirmam ter certeza de tudo que sabem através da religião. A religião e a fé lhes dão essa certeza, e a certeza do conhecimento é o maior empecilho à curiosidade, à investigação, ao aprendizado. A religião estimula seus fiéis a abandonar a razão, o bom senso, a racionalidade. Exemplo: pessoas membros de algumas seitas crêem que a Terra é plana e quadrada, essa “certeza” baseada na fé as impede de aceitar a realidade. Descobrir o verdadeiro formato da Terra não será melhor que acreditar que ela tenha este ou aquele formato? As pessoas religiosas, mesmo se dizendo caridosas, pias e movidas pelo amor e solidariedade, não se importam em ver uma pessoa sofrendo atrozmente com dores insuportáveis por dias, meses, anos, colocando-se irredutivelmente contra a eutanásia, o suicídio assistido, interrupção da gravidez em casos de anencefalia ou outros casos, etc. A religião também se coloca contra pesquisas científicas que podem pôr fim ao sofrimento de milhões. Intransigência, egoísmo, insensibilidade e arrogância acima da compaixão. A religião não pode se atualizar ou evoluir, como querem alguns, pois isso significaria que (1) seu deus mudou de opinião (!?) e os informou disso, e nesse caso os livros sagrados e os dogmas devem ser alterados; ou (2) estarão confessando que os dogmas religiosos foram criados por pessoas e não por um deus onisciente. A situação (1) é absurda demais até para um crente, a situação (2) jamais ocorrerá, assim a religião está condenada à estagnação e à imobilidade pela sua própria pretensão em ser a “verdadeira palavra”. A menos que… a sua hipocrisia seja maior que a sua pretensão. Além de ser estranho que criacionistas sugiram que a evolução se aplique à religião. A religião só consegue se manter viva por gerações utilizando-se da lavagem cerebral iniciada já na infância. Os sacerdotes sabem que uma pessoa criada desde o nascimento numa religião dificilmente abandonará essa religião depois de adulta, por isso exigem que seus membros se comprometam a batizar e educar seus filhos observando seus preceitos. Um dos feitos mais eficientes, engenhosos e cruéis dos religiosos foi conseguir convencer pais e mães a violentar intelectualmente seus próprios filhos e usá-los para perpetuar o poder da religião, o obscurantismo e a ignorância. “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.” Provérbios 22:6
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Contando com seus membros em todos os segmentos da sociedade e do governo, as igrejas conseguem a aprovação de leis que as protejam e, sempre que possível, torne obrigatório o ensino religioso nas escolas, para continuação da lavagem cerebral iniciada pelos pais, imposição de algum tipo de censura, e outras. As pessoas religiosas afirmam agir de acordo com a “palavra de deus”, obedecem cegamente o que dizem seus livros “sagrados” e, freqüentemente, os interpretam de maneira a obter corroboração ao que eles mesmos pensam:
“[…] tem gente que me diz que eu não devo legislar como cristão, mas é nisso que eu acredito e faço o que Deus manda […]” (Deputado Henrique Afonso justificando o “bolsa-estupro”) Tanto criminosos quanto tiranos freqüentemente utilizam os mesmos expedientes para justificar o que querem fazer e convencer as pessoas da retidão de suas ações: “Mas já que colocamos como ponto central desta percepção e desta profissão de fé a manutenção e a segurança para o futuro como sendo formada por Deus, nós servimos, assim à manutenção de um trabalho divino e cumprimos o desejo divino, não no segredo do escuro de uma nova casa de adoração, mas abertamente perante a face do Senhor.” (discurso de Adolf Hitler em Nuremberg em 6 de setembro de 1938 ) “Acredito que Deus fala através de mim. Sem isso, não poderia fazer meu trabalho.” (George W. Bush) 8)
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Muito tempo gasto inutilmente em preces e cultos. Muito dinheiro e trabalho gasto na construção de templos e igrejas. Tempo, dinheiro e trabalho que seriam melhor aproveitados de diversas outras maneiras. A crença em milagres, curas, intervenções divinas estimula a passividade, a apatia e o conformismo. Exemplo: Segundo uma antiga profecia dos Astecas, um dia um deus branco chegaria. Quando os espanhóis chegaram eles acharam que a profecia tinha se cumprido e Hernán Cortés era o tal deus branco. Por essa razão não lutaram contra a dominação espanhola. Se não fosse por sua crença nessa profecia a história poderia ter sido diferente. A religião é utilizada tanto por sacerdotes quanto por governantes para controlar as pessoas, obter poder e riquezas. Exemplo: na Índia milhões de pessoas consideradas de casta inferior aceitam passivamente essa condição por acreditar que seja vontade divina. As pessoas religiosas não hesitam em utilizar quaisquer métodos para tentar converter outros e se possível eliminar os opositores, assim como os regimes ditatoriais. Exemplos: A Inquisição, a destruição de outras culturas[2], perseguições religiosas. A religião obtém tanto mais penetração, controle e sucesso quanto mais ignorantes forem as pessoas. Por isso estimula a censura e destruição de livros, obediência cega a sacerdotes, dogmas e livros sagrados, ao mesmo tempo em que se protege dos ataques dos críticos acusando-os de estarem a serviço do “mal”. Tanto em regimes teocráticos quanto em ditatoriais as primeiras pessoas a serem eliminadas são justamente sábios, cientistas, professores, filósofos, livre-pensadores, artistas e opositores
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em geral. A ignorância é o primeiro pilar da religião. Exemplos: o Index do Vaticano, a ignorância reinante na Idade Média. A religião utiliza conceitos como o pecado para criar gerações de traumatizados e escravos que se recusam a pensar com racionalidade por medo de punições eternas. Exemplo: muitas pessoas (principalmente mulheres) sofrem com o dilema de sentir prazer no sexo e o medo de que sexo seja pecado. A religião faz as pessoas acreditarem que precisam dela para viver. Esforça-se para convencê-las de que sem ela sua vida não teria sentido, seriam infelizes, vazias, que a humanidade não teria ética e que sobreviria o caos pois “sem deus tudo seria permitido”. O medo é o segundo pilar da religião. A religião freqüentemente afirma que certas coisas, como doenças, acontecem a algumas pessoas como punição divina, criando preconceito e estigma, alimentando medo e ignorância; A religião quando não é contra a ciência, ou seja, contra o conhecimento, tenta apropriar-se dela e falseá-la para dar um novo verniz a seus dogmas. Ex: o neo-criacionismo; O deus cristão é preconceituoso, homofóbico, misógino e genocida, tornando a religião uma desculpa para o preconceito, o ódio e a intolerância; Por ser contra o controle populacional e o planejamento familiar incentiva inúmeros problemas causados pelo excesso de população; A religião deveria se ater aos problemas espirituais dos seus seguidores e entender que suas regras e opiniões só valem para esses mesmos seguidores, porém, quer impor suas regras também a não-seguidores ao se meter na política e na elaboração de leis, como se fosse dona da verdade; A Igreja tem como política dar cobertura a pedófilos e sádicos, e a julgar pela quantidade deles nos seus quadros deve haver alguma correlação. A crença numa vida após a morte e a crença de que essa suposta vida após a morte seja mais importante que esta vida estimula a colocação em segundo plano, a desvalorização, a diminuição, da única coisa que realmente temos: esta vida. A crença numa “justiça divina” incentiva o conformismo com a impunidade: “pode escapar da justiça dos homens mas não escapará da justiça divina“. A religião consegue convencer as pessoas de que são coisas boas:
– a circuncisão e a mutilação genital; – morrer e matar em nome de um deus; – dar dinheiro a pilantras que afirmam falar em no-me de um deus; – não permitir que seus filhos façam transfusão de sangue; – trancar-se num convento e passar a vida toda rezando; – batizar crianças e ensinar-lhes religião; –… 24)
Até hoje a religião não ajudou em nada a humanidade. Os únicos que se beneficiam com a religião são sacerdotes e governantes que a utilizam em benefício próprio;
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CONCLUSÃO
Do ponto de vista pessoal: A religião apóia-se no medo e na ignorância; torna as pessoas medrosas, fracas, vulneráveis, apáticas, passivas, manobráveis. Do ponto de vista social: A religião não é uma questão de foro íntimo a partir do momento em que tenta doutrinar crianças, envia seus evangelizadores e missionários para tentar nos converter, seus pregadores voluntários (?) para nos aborrecer no metrô, seus vendedores de bíblias, colocam programas religiosos em vários canais de TV e rádio, suas bancadas evangélicas que crescem perigosamente fazem leis baseadas em suas crenças pessoais que nos afetam a todos, crentes ou não. Por isso aqueles que já descobriram como é nociva a religião fariam bem em assumir um papel mais ativo para que a religião seja apenas uma questão de foro íntimo, e para adultos. Ou menos que isso. A religião é perniciosa, não pára de crescer e é muito difícil de se extirpar – é um câncer social.
Christianity is the most ridiculous, the most absurd and bloody religion that has ever infected the world. Voltaire
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Argumentos Ontológicos são aqueles que tentam provar a existência de deus a priori, através de silogismos. Um dos mais conhecidos foi, supostamente, proposto pela primeira vez por Anselmo de Cantuária, no século XI. É mais ou menos assim… 1. Nossa compreensão de deus é um ser tal que não se pode conceber nada maior que ele. 2. A idéia de deus existe na nossa mente. 3. Um ser que existe tanto na nossa mente como na realidade é maior que um ser que existe apenas na nossa mente. 4. Se deus existe apenas na nossa mente então podemos conceber um ser ainda maior que existe na realidade. 5. Não podemos imaginar algo que seja maior que deus. 6. Portanto, deus existe. Por mais que pareça piada muita gente leva isso a sério. Repare que a linha 1 introduz uma definição para deus (“um ser tal que maior não se pode conceber”) – isso é necessário para se provar que o deus que existe é aquele que foi definido. Muda-se a definição e o raciocínio terá necessariamente de mudar. A linha 3 tem outra definição, qual seja, uma conveniente definição para a palavra “maior”. A linha 4 utiliza e portanto depende da definição da linha anterior. A linha 5 repete a definição de deus da linha 1. O raciocínio todo depende de várias definições escolhidas convenientemente e termina por afirmar que algo existe apenas porque pensamos. É AUTORES DIVERSOS
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um jogo de palavras. Se algo existe então sua existência pode ser comprovada mas não pela filosofia. A filosofia não pode provar a existência de nada, isso é tarefa das ciências empíricas. De fato, o argumento é tão fraco que até “são” Tomás de Aquino o rejeitava. É claro que a banal constatação de que esse tipo de argumentação é bobagem não constitui prova da inexistência de deus, isso prova apenas algo que já sabemos, que alguém que deseja acreditar em algo irá fazer de tudo, até tentar manipular a razão para encontrar o que deseja. Por exemplo, vamos mudar algumas definições e ver o que acontece: 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Nossa compreensão de deus é um ser tal que não se pode conceber nada maior que ele. Um ser que só cria o bem é maior que um ser que cria tanto o bem como o mal. Deus é o maior de todos os seres portanto deus só cria o bem. Deus criou tudo o que existe portanto tudo o que existe é o bem. O mal existe. Portanto deus não existe.
Isso demonstra outra coisa que já sabemos: podemos criar jogos de palavras para provar o que quisermos (os antigos gregos já se divertiam com isso há milênios). Então como distinguir silogismos válidos e verdadeiros de jogos de palavras e embustes? Alguém que busca a verdade mas ainda não sabe para que lado pender poderia pensar consigo: “se as palavras podem ser manipuladas tanto por uns como por outros como vou fazer para descobrir onde está a verdade?”. Boa pergunta, gafanhoto, e a resposta é: aprendendo a pensar por conta própria. Isso posto podemos aproveitar o mesmo argumento de “santo” Anselmo para provar a existência do Super-Pateta™ [1]. Vejamos: 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Nossa compreensão do Super-Pateta™ é um ser tal que não se pode conceber nada maior que ele. A idéia do Super-Pateta™ existe na nossa mente. Um ser que existe tanto na nossa mente como na realidade é maior que um ser que existe apenas na nossa mente. Se o Super-Pateta™ existe apenas na nossa mente então podemos conceber um ser ainda maior que existe na realidade. Não podemos imaginar algo que seja maior que o Super-Pateta™. Portanto, o Super-Pateta™ existe.
Se o argumento ontológico de “santo” Anselmo é válido, então provamos não só que o Super-Pateta™ existe mas também (e ainda mais fascinante) que o Super-Pateta™ é deus! Ou deus é o Super-Pateta™, como preferirem.
“Acreditar é mais fácil do que pensar. Daí existirem muito mais crentes do que pensadores.” – Bruce Calvert
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“All ontological arguments are a case of bad grammar.” – Bertrand Russell
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